Revista PARQUES E VIDA SELVAGEM n.º 47

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Ano XIII • N.º 47 • 22 de junho a 21 de setembro de 2014

Entrevista PIRILAMPOS DA PENÍNSULA IBÉRICA Reportagem MEXILHÕES-DE-RIO: BIOINDICADORES

3 euros

IVA incluído

Interview Bioluminescent bugs Report Thick-shelled river mussels Report Paul do Taipal: Wetland

Reportagem PAUL DO TAIPAL

TERRAS ÁRIDAS E MEDITERRÂNICAS + CORDÃO DUNAR + MIGRAÇÕES ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + PARQUES DE GAIA + ATUALIDADE



EDITORIAL 3

Nuno Gomes Oliveira

Diretor da revista “Parques e Vida Selvagem”

Um novo ciclo O dia 15 de agosto, que se aproxima, sempre foi para mim a verdadeira viragem do ano; na nossa situação geográfica completa-se um ciclo de reposição da vida, é a altura de maior abundância de aves, por exemplo, pois há todas as nascidas no ano e começam a chegar do Norte as migradoras de inverno

A

De todas elas, sempre tive uma espécie-fetiche, o papa-moscaspreto (Ficedula hypoleuca) ou, como o povo lhe chama em algumas regiões, o “bate-a-asa”; chega ao Parque Biológico, vindo do Norte e Leste da Europa, invariavelmente por volta de 15 de agosto, e vai continuando a sua passagem migratória rumo a África até inícios de novembro. No passado recente era abundantíssimo, particularmente no mês de setembro mas, devido às alterações climáticas e consequente variação dos ciclos dos insetos de que se alimenta, a sua população, que se avalia em vários milhões de casais na Europa, tem vindo a decrescer continuamente. Quando vejo o primeiro papa-moscas do ano, fecho um ciclo e começo outro!

TURISMO DE NATUREZA: CONTRIBUTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL Não para de crescer o número de visitantes, especialmente estrangeiros, que visitam

Portugal em autocaravana e, muitos, utilizam o parque de autocaravanas do Parque Biológico de Gaia para estadia. No dia em que escrevia este texto (8 de agosto) tínhamos os 11 lugares do parque completos e, ao fim do dia, havia mais 9 autocaravanas no parque de estacionamento que ali pernoitaram. Em julho a taxa de ocupação foi de 54%; em 2014 já acolhemos 730 autocaravanas, e algumas ficaram vários dias no Parque Biológico. Esta forma de turismo é muito importante para o desenvolvimento local, pois os autocaravanistas fazem compras localmente, vão aos restaurantes próximos, ou seja, deixam dinheiro nas terras que visitam; é aquilo a que se chama turismo de base local. Acresce que o turismo de natureza faz com que afluam visitantes a regiões com menor movimento turístico, como Trás-osMontes, por exemplo. Sabemos que os bungalows e o parque de autocaravanas e campismo do Parque Biológico de

S Autocaravanistas no parque de estacionamento do Parque Biológico, à espera de lugar no Parque de Autocaravanas (08/08/2014, 19h00)

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4 EDITORIAL

Vinhais são, também, um sucesso. Há milhares que se deslocam do Centro e Norte da Europa para ver um abutre ou uma pega-azul no Douro Internacional, uma abetarda ou um peneireiro-cinzento no Alentejo. A biodiversidade tem um valor para a economia nacional e é preciso contabilizá-lo e, naturalmente, conservar e fomentar essa biodiversidade.

A DESCOBERTA DE NOVAS ESPÉCIES NÃO PARA O Instituto Internacional para a Exploração de Espécies, nos Estados Unidos, divulgou em maio que, durante 2013, foram descobertas em todo o Mundo 18 mil novas espécies. E não se imagine que foram apenas pequenos animais ou pequenas plantas: um dragoeiro (Dracaena kaweesakii Wilkin & Suksathan, 2013), árvore com 12 metros, tinha passado despercebida na Tailândia, até agora. O WWF (sigla em inglês de Fundo Mundial da Vida Selvagem) anunciou em junho a descoberta na região do rio Mekong (que nasce na província chinesa de Yunnan, atravessa Myanmar, Tailândia, Laos, Camboja e Vietname) de 367 novas espécies animais e vegetais, como por exemplo um esquilo-voador gigante que estava à venda num mercado do Laos e nunca tinha sido identificado na natureza. O Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau confirmou, em maio, a existência de uma pequena manada de elefantes-dafloresta (Loxodonta africana cyclotis) no Parque Natural das Lagoas de Cufada. Esta manada está isolada devido ao corte de árvores no seu corredor migratório habitual. A fragmentação dos habitats descrita no mapa, nestas como noutras espécies, é uma das causas maiores da diminuição das populações por empobrecimento genético.

ÁREAS PROTEGIDAS E A PROTEGER Finalmente foi dado um estatuto de proteção à Ria de Aveiro, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 45/2014, de 26 de junho, incluindo

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S Fragmentação das populações de elefante-africano (Loxodonta), incluindo o elefante-da-savana (Loxodonta africana africana) e o elefante-da-floresta (Loxodonta africana cyclotis). Fonte: African Elephant Status Report of IUCN

mais de 33 mil ha na Rede Natura 2000, com a designação de “Sítio Ria de Aveiro” e o código PTCON0061. Curiosamente a delimitação da área é sensivelmente igual à proposta por nós nos anos 70 do século passado e à prevista no Decreto n.º 20/75 que criava o Parque Natural da Ria de Aveiro, por iniciativa do Arq. Ribeiro Teles, mas que nunca foi implementado. De Baião vem, em junho, a boa notícia de que várias entidades se juntaram para salvar um valioso carvalhal (Quercus robur) de 15 ha, conhecido por carvalhal de Reixela. A parceria integra a Ecosimbioses, Associação Ambiental de Baião, o Agrupamento de Escolas de Vale de Ovil e a Câmara Municipal de Baião. O projeto prevê a instalação do Centro de Interpretação Ambiental da Reixela. Vem a propósito recordar que nos anos 80 do século passado a QUERCUS, através do Dr. Serafim Riem e com a possibilidade de apoio financeiro do suíço Bernd Thies (1951-1988), iniciou negociações com vista à aquisição do carvalhal da Reixela; as negociações não se concretizaram pois Bernd Thies viria a falecer num acidente rodoviário em Lisboa, em 1988. Deixou em testamento a criação da Fundação Bernd Thies, com sede na Suíça e que em Portugal apoiou financeiramente o Grupo Lobo. Não deixa também, de ser interessante

refletir sobre o nome do carvalhal: Reixela. Reixelo era o nome dado antigamente ao macho de cabra-brava, e na Beira e Trás-osMontes a carneiro novo, cabrito, etc. Haverá alguma ligação entre “Reixela” e corço ou, mesmo, cabra-brava?

OS PESTICIDAS E A FALTA DE POLINIZADORES Está a tornar-se de tal modo preocupante a falta, em todo o Mundo, de abelhas e outros polinizadores que o presidente americano Barack Obama ordenou, em junho passado, à Agência de Proteção do Ambiente que “avalie o efeito dos pesticidas, incluindo os neonicotinóides, sobre a saúde das abelhas e outros polinizadores, e tomar medidas se for necessário”, em 180 dias. Os neonicotinóides são uma classe de inseticidas derivados da nicotina, descobertos em 1972, e que desde 2004 são suspeitos de matarem as abelhas e outros polinizadores, suspeita confirmada em 2008. Estrasburgo, entre outras cidades, decidiu atrair os polinizadores ao espaço urbano instalando pradarias melíferas, fomentar abrigos para insetos e ir abandonando o uso de pesticidas.

OS MAMÍFEROS MARINHOS ANDAM A FAZER TURISMO? A 17 de julho um grande cardume (ou melhor,


Tomar um Porto com CONTINUA A SAGA DA ROLA-BRAVA, ATÉ À EXTINÇÃO! A rola-brava (Streptopelia turtur) é uma espécie migratória que vem criar à Europa e regressa a África no fim do verão, passando ali o inverno. A sua população na Europa sofreu um declínio de 69% entre 1980 e 2009; em Portugal, entre 2004 e 2010, teve um decréscimo de 31% (Fonte: SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves). Esse declínio populacional tem a ver com o abandono das práticas agrícolas tradicionais, a intensificação da floresta, o aumento da desertificação em África e a caça nos países mediterrânicos; calcula-se que pelo menos 10% da população de rola-brava é caçada anualmente na Europa (Fonte: SPEA). Ora apesar disso, no próximo dia 17 de agosto irá abrir, novamente, a caça à rola-brava em Portugal, podendo os 130 mil caçadores existentes abater dezenas de milhar de rolas-bravas. Mas, mais grave ainda, estamos a escrever a uma semana de 17 de agosto, e ainda há rolas-bravas no ninho, a alimentar crias, o que faz ampliar os efeitos da caça. Até quando?

Jorge Gomes

manada, pois são mamíferos) de roazescorvineiros (Tursiops truncatus) entrou no rio Douro e foi filmado a partir de um barco; nada que não acontecesse no passado, mas, nos tempos recentes, apenas exemplares isolados, desta e de outras espécies, têm sido por ali vistos. Ainda em julho, uma foca-comum (Phoca vitulina) resolveu usar como local de descanso, durante várias semanas, uns insufláveis existentes na baía de São Martinho do Porto (Alcobaça); não é espécie da nossa fauna e veio, provavelmente, arrastada do Norte pelas correntes marinhas. Uma outra foca-cinzenta (Halichoerus grypus) que dera à costa em 4 de janeiro na Praia da Mareta, em Sagres (Algarve), foi recolhida pela Polícia Marítima e tratada durante meses no Porto de Abrigo do Zoomarine (Albufeira), tendo sido enviada, através da TAP, em 5 de agosto para o Santuário de Focas de Cornish, em Gweek (Cornualha), que tratará da sua devolução ao habitat natural, no Atlântico Norte. Finalmente, em 27 de julho um juvenil de baleia-comum (Balaenoptera physalus) resolveu ir dar uma volta na Ria de Aveiro. Todos estes curiosos acontecimentos estão à disposição em vídeos, na internet.

J

á há muito tempo que desisti de revelar com quem gostaria de tomar um Porto. Fui acusado de parcialidade (o que é verdade), e de outras coisas mais. Mas desta vez não posso deixar de recordar o Professor Delgado Domingos, cientista e docente do Instituto Superior Técnico em Lisboa, falecido a 5 de julho passado, o cidadão conhecedor e probo que nos livrou de um programa e de uma central nuclear obsoletos, que a Westinghouse nos queria impingir nos anos 70, tendo então conquistado os amores de alguns políticos e governantes da época, quando o responsável em Portugal pelo controlo das radiações ionizantes e o licenciamento das instalações onde elas se produziam era um médico cuja principal atividade científica era escrever versos para as revistas do Parque Mayer, e um físico do então LNETI teve chatices por andar a medir a radioatividade dos rios portugueses, nomeadamente os que vinham de Espanha! Lembram-se da projetada central nuclear em Ferrel, Peniche? Lembram-se da canção de Fausto “Rosalina se tu fores à praia…”? Pois aquele professor foi a consciência científica e cidadã contra a sucatada atómica que então alguns tecnocratas que ainda andam por aí nos queriam impingir. Nas suas palestras sempre tentou que os seus ouvintes distinguissem a Física Nuclear dos projetos comerciais de produção de energia atómica a qualquer preço. Vou pois tomar um Porto em sua memória. (J. A. Gonçalves Guimarães, extécnico de Radiologia, com formação em proteção contra radiações ionizantes). in Eça & Outras, III Série, n.º 71 – sexta-feira, 25 de julho de 2014.


6 CARTOON Por Ernesto Brochado

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OPINIÃO 7

Eduardo Vítor Rodrigues Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia

Parque Biológico

garantir o futuro O Parque Biológico de Gaia, enquanto projeto e instituição, é um dos mais conseguidos projetos de sustentabilidade ambiental do nosso País

T

Águas e Parque Biológico de Gaia e, consequentemente, um afastamento, face aos princípios estabelecidos no já longínquo ano de 1983, da missão do Parque Biológico enquanto agente multiplicador dos desafios que se colocam a uma sociedade moderna nos domínios ambientais. S

Jorge Gomes

em contribuído durante as últimas três décadas para o desenvolvimento do concelho de Vila Nova de Gaia, instrumento fundamental na valorização do património, natural e construído, na assimilação por parte da população de práticas de preservação ambiental e respeito pela fauna e flora locais. Perante os constrangimentos legais, financeiros e regulamentares, associados à integração do Parque Biológico na estrutura da empresa municipal Águas de Gaia, impedindo simultaneamente a subsidiação ao investimento por parte da Câmara bem como o financiamento à exploração proveniente das receitas da faturação da água, o futuro desta tão importante estrutura impõe definições claras e sustentáveis. Ninguém perceberia um alheamento que significasse um gradual definhamento da empresa

Comemorações do Dia do Animal

O processo de reestruturação da empresa Águas de Gaia, cuja discussão se iniciou recentemente, que tem como um dos elementos primordiais a internalização do Parque Biológico na estrutura Camarária, visa, simultaneamente à estabilização organizacional e financeira da empresa mencionada, criar as condições objetivas, sejam materiais, organizacionais ou financeiras, para o reforço efetivo do projeto Parque Biológico. Salvaguardadas as condições objetivas de todos os colaboradores da empresa, fundamentais no percurso de desenvolvimento atingido, repostas as condições de atendimento integral dos requisitos dos reguladores, a possível internalização do Parque Biológico na Câmara Municipal irá permitir que se reinvista no projeto, projetando-o para além do seu objetivo inicial para outras dimensões desenvolvimentistas. A afirmação desse compromisso será a máxima expressão simbólica da importância e reconhecimento que o Parque Biológico possui na minha perspetiva de desenvolvimento municipal: um desenvolvimento inclusivo, integrador e sistémico, assente na valorização em primeira instância do património humano, social, cultural e ambiental do concelho de Vila Nova de Gaia.

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Na produção desta revista, ao utilizar um papel com 60% de fibras recicladas (Satimat Green) em vez de um papel não reciclado, o impacto ambiental foi reduzido em:

Verão 2014

1762 kg de aterro

159

litros de água

1590

kg de CO2 (gases de efeito de estufa)

38170

kWh de energia

3804

kg de madeira

2863

km de viagem num automóvel europeu de consumo médio

FICHA TÉCNICA Revista “Parques e Vida Selvagem” Diretor Nuno Gomes Oliveira Editor Parque Biológico de Gaia Coordenador da Redação Jorge Gomes Fotografias Arquivo Fotográfico do Parque Biológico de Gaia Propriedade Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM Pessoa coletiva 504763202 Tiragem 10 000 exemplares ISSN 1645-2607 N.º Registo no I. C. S. 123937 Dep. Legal 170787/01 Administração e Redação Parque Biológico de Gaia Rua da Cunha • 4430-681 Avintes Portugal Telefone 227878120 E-mail: revista@parquebiologico.pt Internet http://www.parquebiologico.pt Conselho de Administração Serafim Silva Martins Presidente executivo

Tiago Filipe Costa Braga Vogal executivo

José Manuel Dias da Fonseca Vogal não executivo

www.facebook.com/parquesevidaselvagem

Capa: Parque de autocaravanas do Parque Biológico de Gaia, foto de João L. Teixeira

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24 64

37

30 SECÇÕES

44 PIRILAMPOS

DA PENÍNSULA IBÉRICA

entrevista A Península Ibérica conta com bastantes mais espécies quando comparada com a Europa além-Pirenéus. Dois cientistas desta área, Raphael De Cock (Bélgica) e Ramón Guzmán Álvarez (Espanha), de passagem por Portugal e com a colaboração do Parque Biológico de Gaia, deram corpo a um workshop sobre pirilampos da Península Ibérica no passado dia 14 de junho.

54 MEXILHÕES-DE-RIO reportagem O ciclo de vida de algumas espécies de mexilhão-de-rio depende da truta. Em Figueiró dos Vinhos, no Posto Aquícola de Campelo, há um projeto LIFE ECOTONE em curso, que tem em vista repovoar os rios que reúnam condições para isso com esta espécie de bivalve, um bioindicador de eleição.

58 PAUL DO TAIPAL reportagem Com 233 hectares, o paul do Taipal está classificado como Zona de Proteção Especial para a Avifauna (ZPE). Além disso, goza do estatuto de Zona Húmida de Importância Internacional, sendo Sítio Ramsar. É um dos derradeiros exemplos deste tipo de zona húmida no Centro do país.

6

Cartoon

7

Opinião

10

Ver e falar

12

Fotonotícias

24

Contra-relógio

30

Dunas

37

Espaços verdes

47

Recuperar

51

O voo das aves

66

Migrações

70

Atualidade

74

Biblioteca

75

Crónica

82

Coletivismo

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10 VER E FALAR

Vidas de quem estuda a vida Todos os que trabalham em contacto direto com a natureza colecionam durante a sua carreira episódios memoráveis que nunca esquecerão. Pena é que essas peripécias fiquem usualmente guardadas apenas na memória de quem as viveu. Foi para trazer à luz do dia essas histórias que surgiu o projecto “BIOgrafias: Vidas de quem estuda a vida”, um livro onde 18 biólogos portugueses relatam na primeira pessoa as 35 aventuras e desventuras mais inesquecíveis da sua vida profissional. A raiz deste projeto surgiu das contribuições pontuais que um de nós (DV) desenvolveu com a revista inglesa “BBC Wildlife”, uma das publicações de referência na área da natureza e vida selvagem. Esta colaboração centravase na rubrica “Tales from the bush”, na tradução livre do inglês “Histórias do mato”, onde biólogos, conservacionistas e outros aventureiros partilhavam com o público os mais marcantes episódios da sua vida profissional. Eram histórias curtas, escritas sem jargão científico e giravam à volta do lado caricato, cómico ou dramático do dia-a-dia de quem trabalha na natureza. Foi então que surgiu a ideia de replicar o modelo em português e com protagonistas portugueses. Numa altura em que ser biólogo em Portugal parecia estar ligado apenas à falta de saídas profissionais, era oportuno passar a palavra a quem escolheu esta carreira e ouvir em primeira mão o que nos faz levantar da cama (às vezes a horas impróprias) dia após dia. Foi então altura de contactar outros profissionais do estudo da natureza para que se juntassem ao projeto. A resposta foi

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muito positiva e as contribuições foram várias, desde as histórias partilhadas por um total de 18 autores, às ilustrações do Gonçalo M. Rosa que acompanham cada história. Com o conteúdo definido faltava conseguir um apoio editorial que permitisse publicar o livro. Os contactos multiplicaram-se, mas durante mais de dois anos não obtivemos apoio para levar avante este projeto. Até que surgiu a luz ao fundo do túnel. A editora Escola de Mar decidiu apoiar o projeto, embora a falta de fundos obrigasse a um esforço conjunto entre editora e autores para angariar os 3000 euros necessários para uma primeira edição de 500 exemplares. A solução foi encontrada na forma de uma campanha de crowdfunding, organizada on-line através da plataforma PPL. O desafio não era simples: conseguir recetividade por parte do público para um livro que na realidade ainda não existia. Foi um mês de trabalho árduo para divulgar a campanha ao maior número possível de pessoas através de redes sociais, artigos em plataformas como o portal Greensavers ou entrevistas com meios de comunicação social. No final valeu a pena: recebemos o apoio de 162 pessoas e angariamos um total de 3400 euros! Ficou claro nessa altura que o esforço ia ser recompensado. O projeto estava, no entanto, ainda no início. Depois de reunido o montante necessário contámos com a preciosa ajuda do José Pedro Martins, da Mooda Project, que fez não só a paginação como o design da capa. Depois seguiram-se uma série de eventos promocionais, inseridos em iniciativas como a Semana Cultural da Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa, para divulgar o livro e fazê-lo chegar aos leitores. No final de contas este esforço parece ter dado frutos. Mais de metade dos 500 exemplares da primeira edição já foram vendidos e o livro encontra-se agora à venda na loja on-line Naturfun (www. naturfun.pt), onde tem recebido muito boas críticas.

Revistas anteriores Os pedidos de leitores no sentido de conseguirem adquirir também revistas mais antigas continuam a chegar. Como entretanto já não há exemplares em armazém para atender a essas solicitações, a alternativa de reunir uma coleção completa recai na internet: basta ir ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas – todas as anteriores edições da revista «Parques e Vida Selvagem» estão ali disponíveis.

E agora? Queremos continuar a promover este livro como um exemplo de comunicação direta entre quem trabalha com a natureza e a sociedade, mostrando de onde vem a paixão que nos move como profissionais e nos leva a seguir uma linha profissional que tantas vezes nos desafia a ultrapassar os nossos próprios limites. Esperamos portanto, que este livro inspire uma nova atitude para com os biólogos portugueses, e que em Portugal ser biólogo passe a ser sinónimo de ser apoiado, admirado e valorizado. O planeta agradece. Por Diogo Veríssimo e Miguel Pais


Os leitores

escrevem

Distribuída a revista de primavera as mensagens começam a chegar à redação

Que borboleta ĂŠ esta?

Ana Margarida escreve atravÊs de correio eletrónico: Necessito de ajuda. Hoje de manhã à entrada do meu gabinete encontrei esta borboleta. Pela forma do corpo pareceme uma borboleta noturna, tipo traça, mas a sua cor e recorte das asas nunca tinha visto. Camuflado verde... lindo! Jå procurei na net, nos poucos livros que temos cå sobre insetos, serå que conhecem a espÊcie? Obrigado pela ajuda. Nem sempre Ê fåcil, mas esta não complica muito: trata-se da espÊcie de borboleta noturna Mimas tiliae. Pertence à família dos Esfingídeos e a lagarta Ê verde, grossa, e costuma encontrar-se com alguma sorte nas tílias, de cujas folhas se alimenta sem alguma vez ser uma praga.

Sustentabilidade na Terra Uma professora escreve: ÂŤSou Ludovina Santo, professora na Escola SecundĂĄria do Cartaxo, e estou a lecionar a disciplina de Ambiente e Desenvolvimento Rural do Curso TĂŠcnico de Turismo Ambiental e Rural e a disciplina de CiĂŞncias Naturais 8.Âş ano “Sustentabilidade na Terraâ€?. Sou apreciadora da vossa revista e gostaria de saber se

hå possibilidade de a receber, e em que condiçþes. A melhor maneira de passar a receber a revista em sua casa passa por se tornar Amiga do Parque. AlÊm da revista, fica com um cartão que lhe permite durante um ano visitar o parque Biológico de Gaia sempre que quiser no seu horårio de abertura normal sem pagar entrada. Deve consultar a pågina 83 desta revista a fim de obter mais informaçþes.

JĂĄ sou fĂŁ!

Escreve Carla Mota: ÂŤOlĂĄ, tive oportunidade de ver uma das revistas e jĂĄ sou fĂŁ! Gostava de saber o que ĂŠ necessĂĄrio para ter a revista. Eu vivo numa aldeia e sou apaixonada pela Natureza, por isso gostava muito de ter a revista. Li uma dessas revistas num consultĂłrio de um mĂŠdico em Amarante, o Dr. Pereira Sousa, que ĂŠ do Porto. Fico Ă espera de resposta. Obrigada!Âť.

De segunda a sexta-feira

Aqu

das 10h00 Ă s 12h30 e das 14h00 Ă s 18h00

SĂĄbados, domingos e feriados das 10h00 Ă s 18h00

1SBJB EB "HVEB t 7JMB /PWB EF (BJB E 7FOIB WJTJUBS OPT Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 11


12 FOTONOTÍCIAS

Devagar

Jorge Gomes

se vai ao longe

Mais depressa ou a passo de caracol, os seres vivos sentem o bafo estival à sua maneira: com água e calor, um carvalho-alvarinho bem pode ao seu ritmo fazer brotar novos ramos e folhas rapidamente, mas nada comparado com o voo de um animal alado que aposta na velocidade para predar ou para se defender

Se falar de velocidade de crescimento entre plantas, esta bem pode andar no pelotão da frente. Em Portugal vive em estuários do Sul e, quando assoma o estio, é impossível não reparar nela, já que a planta é belíssima no que toca à sua floração. Não havendo bela sem senão, é parasita. Não resta outro remédio à Cistanche phelypaea. Planta saprófita, não possui clorofila, pelo que, basicamente, não consegue utilizar o sol para produzir açúcar, a energia básica que lhe sustenta o organismo. Tem por isso de parasitar outras plantas e

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extrair delas o que lhe é vital. Será vítima o valverde-dos-sapais que se agita ali perto ao vento? Fontes botânicas afirmam que a Cistanche parasita raízes de plantas do grupo das Chenopodiaceae arbustivas... A protagonista destas linhas pertence à família Orobanchaceae e é uma das cerca de 150 espécies existentes em todo o planeta, muitas delas da região mediterrânica, um hotspot de biodiversidade. Em fins de junho, vimos várias no estuário do Sado, altaneiras, erguidas até meio metro do solo arenoso. Na vizinhança há salinas onde os

pernilongos, Himantopus himantopus, se alimentam de invertebrados não longe dos ninhos, como os pequenos camarões da espécie Artemia salina. Curiosamente, noutra banda, nas águas do estuário, um mergulhão-de-pescoço-preto, Podiceps nigricollis, perseguia peixe debaixo de água. Os estuários do Sul recebem ao longo do ano bastante menos água doce oriunda da chuva, pelo que a salinidade faz-se sentir, fazendo com que a vegetação local se distinga substancialmente. Texto Jorge Gomes e Henrique N. Alves


Jorge Gomes

Viva o verão! Um dos pontos de interesse da vida selvagem que o Parque Biológico de Gaia hospeda há mais de 30 anos é a primeira geração da pouco conhecida apatura-pequena, a que os entomólogos chamam em todo o mundo Apatura ilia. Uma verdadeira borboleta do Norte, de habitats atlânticos e de tamanho médio-grande, este lepidóptero da família dos Ninfalídeos gosta de libar a seiva que brota dos carvalhos antigos e não é difícil vê-la nos primeiros dias de verão. Em julho vai desaparecendo, mas uma segunda geração reaparece no início de agosto. Na fotografia, um macho. O reflexo azulado que se entrevê denuncia-o.

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14 FOTONOTÍCIAS

Papa-moscas e não só Ligeirinhas mas sem pressa, a partir da segunda metade de agosto, durante cerca de mês e meio, há duas espécies de ave sensivelmente do tamanho de um pardal que são parecidas e começam a atravessar Portugal, rumo a África. Uma é o papa-moscas-preto, a outra é o papamoscas-cinzento. Apesar do nome parecido, distinguido apenas pela tonalidade, a verdade é que nem sequer são do mesmo género, embora se confundam à distância. Trazem já penas de inverno, pelo que os machos deixaram para trás o “fato” nupcial, bicolor, preto e branco, confundindo-se agora sem preconceito na cor com fêmeas e juvenis. No Parque Biológico de Gaia recebem uma menção especial e, com esta, difícil é os visitantes não repararem neles. Pousados num ramo, ora mergulham para o solo com o bico certeiro a apanhar um inseto ora logo voltam ao ramo de onde lhe tiraram a mira. À medida que passam, todas as fasquias de invertebrado que se mexam acima do chão entram mais depressa na cadeia alimentar desprovidos de etiqueta de pacote nutritivo. Na primavera, sem praticamente os vermos em Portugal, os que sobreviverem regressarão no ano que vem à Europa Central e do Norte para retomarem os ritmos da reprodução, levando os machos de novo um traje de gala bicolor. S Papa-moscas-cinzento, Muscicapa striata

João L. Teixeira

Mediterrâneo quente e seco

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A vegetação mediterrânica evoluiu ao sabor de estios quentes e secos, propícios a fogos. Numa evolução lenta, as plantas selvagens conseguiram responder com pequenas e vagarosoas adaptações que acabaram por fazer dos matagais mediterrânicos espaços especiais de biodiversidade. Contudo, quando o ser humano provoca incêndios quase todos os anos está a tornar-se ainda mais difícil resistir, e quem perde com isso é a espécie humana: com o solo a descoberto aumentam os desertos, sítios onde a água escasseia e a vida, se for viável, se faz de escolhos mil...


João L. Teixeira

S Papa-moscas-preto, Ficedula hypoleuca

Jorge Gomes

Pé na terra Dias compridos e noites amenas apelam a férias apetecidas. Entre a praia e o campo há muitos percursos de descoberta da natureza que pode fazer pelo seu próprio pé. Para observar a natureza, as correrias não ajudam... Máquina fotográfica para o que der e vier, caderno de campo a tiracolo e, havendo um par de binóculos, pé posto na terra, nunca se sabe o que vai aparecer... Um inseto cuja imagem ainda não tinha registado? Uma planta em que ainda não tinha reparado? Uma ave com comportamento peculiar, quando os juvenis abandonam o ninho ainda sob o cuidado dos pais? Um rato-de-água a nadar junto das margem de um ribeiro? Isto e muito mais encorpa a curiosidade que, neste período de reposição de energias, há de satisfazer se se puser a caminho. Depois não deixe de partilhar as suas novidades nas redes sociais e nos sites on-line com registo de dados. Conhecer a diversidade da vida ajuda a conhecer-se melhor a si próprio.

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16 PORTFOLIO

Céus que cativam o olhar

Jorge Gomes

As constelações envolvem a Terra e desenham novas fronteiras: o sonho de as explorar perdura no ser humano e este, sem resistir, deita a mão a telescópios e máquinas fotográficas para as aproximar de si S Abertura da exposição do concurso: à direita, Carlos Soares, membro do júri,

Já é a segunda edição anual do concurso nacional de fotografia do Observatório Astronómico do Parque Biológico de Gaia e os trabalhos continuam a revelar uma qualidade a que não se consegue ficar indiferente. O júri, formado por Pedro Ré, Paulo Casquinha e Carlos Soares, distinguiu estes trabalhos: Vencedor Geral, 1.º Prémio, «Rho», de João Casimiro Vieira; categoria Terra e Espaço, vencedor, «FOTO N4» de Miguel Claro, 2.º classificado, «2013-06-01T0100» de Jorge Miguel Resende Manuel; Sistema Solar, vencedor e concorrente único, «Lua» de Miguel Claro; Espaço profundo, vencedor, «Rho», de João Casimiro Vieira – este prémio, tendo sido distinguido para vencedor geral pelo júri, segundo o regulamento dilui-se sem ser cumulativo no do Vencedor Geral; 2.º classificado, «6 - Nebulosa Cabeça de Cavalo: H-Alpha» de Paulo César Mesquita; Prémio Júnior: vencedor, «Lua» de Anaísa Cristina Pereira Carvalho. Sábado, 7 de junho, foi altura de entregar os prémios. Pode contemplar estes trabalhos em exposição no salão de fotografia da natureza do Parque Biológico de Gaia, entre as 10h00 e as 18h00, até 29 de setembro.

João Casimiro Vieira e Jorge Resende Manuel, ambos premiados

S «Foto N4» de Miguel Claro, prémio vencedor da categoria Terra e Espaço

16 • Parques e Vida Selvagem verão 2014


all eral gera orr g d dor ed edo nce venc o ve é iio émi rém prém a p i i a, ieir Vi Vieir ro V

i iimiro imi asimi C Cas J ão Ca de Joã o»» de Rho Rh S ««Rh

S «Lua», «Lua Lua» d de e Mi Miguel guell Cl Claro Cla Claro, ro venc vencedor encedor d na cate categoria t goriia Si Sistema stem t aS So Sol Solar lar lar S «2013-06-01T0100», de Jorge Miguel Resende Manuel, 2.º prémio da categoria Terra e Espaço

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 17


18 PORTFOLIO

S «ISS, passagem por Lisboa a 28000 km/h» de João Carlos Gomes, categoria Terra e Espaço

T «Nebulosa Cabeça de Cavalo», de Paulo César Mesquita, 2.º classificado na categoria Espaço Profundo

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S «Nebulosa de Orion» de Paulo César Mesquita, categoria Espaço Profundo

T «O Fotógrafo», de Pedro Esteves, categoria Terra e Espaço

T «Janela» de Mário Luís Domingues Rocha, categoria Terra e Espaço


20 PORTFOLIO

S «Aurora», de João Casimiro Vieira, categoria Terra e Espaço

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c «Lua», de Anaísa Cristina Pereira Carvalho, Prémio Júnior d «O céu na água», de Guilherme Limas, categoria Terra e Espaço

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22 CONTRA-RELÓGIO

C

arl Sagan (1934-1996) asseverou que somos feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas vermelhas; somos do mesmo material que compõe uma estrela. Os átomos de carbono, nitrogénio e oxigénio em nossos corpos, assim como os átomos de todos os outros elementos pesados, foram criados em gerações anteriores de estrelas há mais de 4,5 mil milhões de anos. É incrível percebermos que em cada ser humano há mais seres vivos do que, por exemplo, a população mundial. Temos uma íntima relação com a biodiversidade: não é por mero acaso que no corpo de cada ser humano há mais ou menos 71% de água (a mesma percentagem que há no Planeta Terra), a nossa taxa de salinização do sangue (3,4%) é a mesma dos mares. Simplesmente, 60% do nosso corpo é oxigénio. Se incluirmos o carbono, hidrogénio e nitrogénio existentes no nosso corpo, temos então 95% da massa total do ser humano. De 92 elementos químicos existentes na natureza, 17 deles regulam todo o processo da vida. Todos os seres vivos, incluindo, claro, o ser humano (cuja origem filológica vem de “húmus” que significa “terra fértil, fecunda”) são construídos a partir de um código genético comum (são 30 aminoácidos e quatro ácidos nucleicos). Acredita-se que há algo próximo a 100 milhões de diferentes espécies vivas (fauna, flora, microorganismos) dividindo esse mundo com a nossa espécie; embora atualmente estejam catalogadas apenas 1,4 milhão de espécies. O biólogo e entomologista norte-americano Edward Wilson pontua que “num só grama de solo, ou seja, em menos de um punhado de terra, vivem cerca de 10 mil milhões de bactérias, pertencentes a seis mil espécies diferentes”. Participamos ativamente dessa rica convivência biológica, numa verdadeira simbiose (“sim”, em grego, significa “junto” e “bio” é a própria vida). Pela fotossíntese, as plantas, sob a luz do sol, decompõem o dióxido de carbono, “alimento” para elas, e libertam o oxigénio, “alimento” para a nossa vida e a dos animais. Com a participação do gás carbónico e da água, as plantas, nesse processo, produzem açúcares. A partir disso, outras substâncias são produzidas, como as proteínas e as gorduras que formam os nossos corpos.

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A vida e o

universo Marcus Eduardo de Oliveira

Economista, especialista em Política Internacional pela FESP e mestre pela USP

Somos “provenientes” de um longo processo biológico; somos “fruto” da biodiversidade. Em nosso corpo mantemos mais de 100 biliões de células compartilhando átomos com tudo o que está ao nosso redor, enaltecendo assim a exuberância da vida. Somos, dessa forma, parte do universo

Igual importância reside nas estrelas, que além de iluminarem as noites, têm a função de converter o hidrogénio em hélio e, da combinação entre esses gases, provém o oxigénio, o carbono, o nitrogénio, o fósforo e o potássio. Sem essa rica combinação não haveria os aminoácidos e nem as proteínas indispensáveis à vida. Pois isso tudo engloba a biodiversidade, esse termo cunhado pela biologia. Absolutamente tudo o que for feito à biodiversidade, às diferentes espécies de vida, também será feito a nós próprios, e atingir-nos-á. Agredir os ecossistemas, a biosfera (conjunto de todos os seres vivos, das amebas às baleias, das algas às árvores, dos vírus aos homens) é agredir a própria vida. Lamentavelmente, têm-se dado ações antrópicas de forma veemente no sentido da delapidação do espaço-natureza. Estudos apontam que entre 1500 e 1850 foi presumivelmente eliminada uma espécie a cada dez anos. Entre 1850 e 1950, portanto, em cem anos, eliminouse uma espécie por ano. Com o avanço das atividades humanas sobre a natureza, desde 1990 está a desaparecer uma espécie por dia. As estimativas para o futuro são ainda mais estarrecedoras. De acordo com a União Internacional para a Conservação

da Natureza, no mundo, por volta de 11% das espécies de aves, 25% dos mamíferos, 20% dos répteis, 34% dos peixes e 12% das plantas estão ameaçadas de desaparecimento para sempre nos próximos cem anos. Quando pensamos que toda a atividade humana se desenvolve dentro da ecosfera (dividida em quatro camadas: atmosfera, biosfera, hidrosfera e litosfera), damo-nos conta da real e intrínseca dependência que temos da natureza, quando dela extraímos todos os recursos necessários à produção e, para ela devolvemos resíduos resultantes dessa ação. Por isso é necessário um cuidado (a palavra “cuidado”, segundo a filologia, deriva do latim cura, termo usado em condições de amor e de amizade) todo especial para com a biodiversidade, bem como em relação ao planeta que nos abriga. Para tanto, todas as ações políticas e, principalmente, as económicas (visto que a economia é o eixo articulador de uma sociedade) deveriam, primeiramente, pautar-se pelas premissas dos enunciados ecológicos, expressos na busca da sustentabilidade, ou seja, de uma ação que procura devolver o equilíbrio à Terra e aos ecossistemas; que procura, outrossim, preservar a biodiversidade. Sem essa preservação, a vida corre sério risco de desaparecer.


Jorge Manuel Coutinho

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24 CONTRA-RELÓGIO PAR

Terras áridas e mediterrânicas

E

stes frágeis ambientes, lugar de muitas espécies endémicas, merecem atenção prioritária para evitar a perda irreversível de diversidade biológica. A diversidade biológica das terras áridas e sub-húmidas está bem adaptada às severas condições tipificadas por modelos inconstantes de precipitação que provocam secas e inundações, e em muitos casos temperaturas elevadas. As terras áridas são fonte de muitas das plantas de cultivo utilizadas em todo o Globo, tais como o trigo, a cevada e as azeitonas. Esta diversidade biológica está na

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base de muitos modos de vida locais, e mantêm uma grande percentagem da produção de alimentos que o ser humano consome. As principais pressões sobre a diversidade biológica nas terras áridas resultam da conversão de habitats para a agricultura, os transportes, o turismo e a indústria, assim como provêm da má gestão do solo e da água. As alterações climáticas têm um impacto particularmente forte nas zonas húmidas das terras áridas, das pradarias, dos bosques mediterrânicos, e na periferia dos desertos. As espécies exóticas invasoras afetam adversamente a diversidade biológica nativa.

A recolha excessiva de madeira para combustível, a sobreexploração das plantas, a caça excessiva de fauna silvestre e as práticas agrícolas insustentáveis agravam o problema. A conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica das terras áridas são essenciais para o desenvolvimento dos modos de vida e a redução da pobreza, já que a maioria das zonas áridas estão em países em desenvolvimento. E mais, como resultado da elevada proporção de comunidades locais que são responsáveis pela gestão dos recursos da diversidade biológica em terras áridas, estas zonas oferecem


factos &números

As terras áridas cobrem aproximadamente 47% de área terrestre da Terra e incluem regiões áridas e semiáridas, pradarias, savanas e as paisagens mediterrânicas

As terras áridas e sub• húmidas são o lar de aproximadamente dois mil milhões de pessoas, 35% da população mundial. Abarcam aproximadamente • 44% dos sistemas cultivados do mundo. Cerca de 90% das pessoas • que habitam terras áridas e sub-húmidas vive em países em desenvolvimento. Seis países (Botswana, • Burkina Faso, Iraque, Kazajstan, República da Moldávia e Turquemenistão) têm no mínimo 99% da sua superfície classificada como terras áridas e sub-húmidas.

João L. Teixeira

Devido às duras condições • (precipitações irregulares,

uma infinidade de oportunidades para a participação das comunidades na aplicação do Convénio sobre a Diversidade Biológica. Infelizmente, a união entre a diversidade biológica e a mitigação da pobreza amiúde não se espelha na planificação do desenvolvimento ou da redução da pobreza. O referido convénio tem um programa de trabalho para as terras áridas que pretende subsidiar lacunas de conhecimento, apoiar as melhores práticas de gestão e promover as relações entre os países e as instituições. . Fonte www.cbd.int

Dry and mediterranean lands Dry land occupy approximately 47% of the Earth’s surface and is comprised of dry and semi-dry Regions, Prairies, Savannahs and Mediterranean landscapes. These fragile environments, where many endemic species live, are worthy of urgent attention, in order to avoid the irreversible loss of biological diversity and possible extinction.

elevadas temperaturas, etc.), muitas espécies têm desenvolvido adaptações únicas. Os sapos do deserto permanecem a dormir sob a areia durante meses até que voltem as chuvas. Os tecelões sociais do Sul de África constroem ninhos comunitários que pesam até mil quilos para se isolarem o mais possível das temperaturas extremas. Os órix do deserto de Kalahari, antílopes, podem sobreviver durante semanas sem água. As terras áridas e sub• húmidas incluem importantes zonas de extraordinários endemismos, tais como a bacia mediterrânica, lugar de mais de 11700 espécies de plantas endémicas. Umas 2311 espécies • conhecidas das terras áridas estão ameaçadas ou em perigo de extinção.

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26 QUINTEIRO

Pirilampos lá de casa A questão levantou-se: por que não tenho pirilampos no meu jardim? Pois, é verdade que a maioria não os vê, mas outros, pelo país fora, provam que são uma exceção...

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Se consegue ver nalguma altura do ano pirilampos no seu jardim, este terá decerto um encanto a conservar, mas certo é que para isso as suas plantas terão de hospedar algumas lesmas e caracóis, o alimento das larvas da maioria destes insetos bioluminescentes

Aida Santos, Paredes

© Elenathewise - Fotolia.com

C

arlos Garcez mora na Venda do localização, mas também, pelo facto de, e Pinheiro, perto de Mafra, e escreve devido à morfologia territorial, não ser fácil a em 16 de junho sobre os pirilampos exploração agrícola de grandes culturas, como que voam de noite nas imediações: é o caso de Espanha, e consequentemente «Aqui no quintal são às dezenas. Não sei a destruição dos ecossistemas originais. distinguir o género e são difíceis de fotografar! Esperemos que continue assim». Não param quietos...». Ana Valadares mora no Algarve, na região de Está a referir-se aos machos de pirilampoLagos: «Vivo no campo e tenho um terreno lusitânico, Luciola lusitanica, que dão à asa relativamente grande. Normalmente encontropelo jardim. os perto de um pequeno relvado que tenho Com apenas um centímetro de comprimento, à frente de casa, junto a pontos de luz. Nas fazem um voo lento em que acendem e noites propícias posso observar muitas luzinhas apagam por alguns segundos verdes, lindo». Com esta palavras, a sua “lâmpada” biológica. Ana partilha uma fotografia de uma Por sua vez, Aida Santos, de espécie que não vimos ainda na Sobreira, em Paredes, digita nossa região, o pirilampo Nyctophila também nesse mesmo dia: reichii! «Acabei de fotografar estas Bem, mas a pergunta inicial ainda larvas de Lampyris (16-6não foi respondida... 2014, 15h30). A primeira larva Será que usa pesticidas ou Jorge estava debaixo de uma pedra. herbicidas? De noite, há iluminação Gomes Depois de a fotografar e a artificial? Coordenador da revista Parques e Vida Selvagem colocar novamente no local, Estas poderão ser algumas das encontrei a larva das fotos perguntas-chave que, tendo seguintes, com mais 4 mm de comprimento, respostas afirmativas, explicam a inexistência debaixo de outra pedra. Ambas estavam de pirilampos no seu quinteiro. junto de bichos-de-conta, pequenas aranhas Nenhuma fêmea de pirilampo consegue e milípedes. O local é exatamente debaixo de concorrer com uma qualquer lâmpada de uma varanda que lavo com frequência, não fabrico humano, os machos não a encontram, uso detergentes, só água. Junto, há também não se reproduz. um canteiro de morangueiros que vai sendo É oportuna outra pergunta: há caracóis e regado quase diariamente. Devo explicar que lesmas ao redor da sua casa? este terreno é de xisto quase compacto e a Bem, neste caso é ao contrário, se disser amplitude térmica é acentuada, é uma zona que não, então tudo indica que o alimento da de micro-clima», adianta. fase larvar da maior parte dos pirilampos não «Vou estar atenta a outras espécies. Acho existe, logo, o ciclo de vida dessas espécies foi que reconheço o macho de Luciola lusitanica. interrompido e extinguem-se no local. Vou tentar fazer registos». Os leitores mais imaginativos ainda podem Sensível decerto à Década da Biodiversidade, dizer: bem, mas por que não pode uma fêmea Aida Santos remata: «Não há dúvida que com ovos fecundados aleatoriamente vir a Portugal é, em termos biológicos e botânicos, depositá-los nesse jardim? uma espécie de nicho, não só pela sua Até aqui há obstáculos difíceis de contornar.

Cópula de pirilampos do género Lampyris: a fêmea é maior Espécie de pirilampo

Fêmea adulta com asas

Luciola lusitanica

x

Fêmea adulta sem asas

Lampyris iberica

x

Lampyris noctiluca

x

Lamprohiza mulsantii

x

Lamprohiza paulinoi

x

Phosphaenus hemipterus

x

Nyctophila reichii

x


Fireflies in the Garden

Ana Valadares, Lagos

Aida Santos, Paredes

The question arose: why don´t I have fireflies in my garden? Could it be true that most of us just don’t not see them; but others right across the whole country, prove this to be an exception. For the fireflies to flourish and continue their lifecycle, the plants in the garden must host some slugs and snails, which form the food of the larvae of insects that give joy to the night.

Carlos Garcez, V. Pinheiro

Larva de pirilampo do género Lampyris

Pirilampo Luciola lusitanica, macho

Pirilampo Nyctophila reichii, macho

Diversas fêmeas no estado adulto não voam. Umas porque não têm asas, acendem a luz para que os machos as encontrem; outras fêmeas adultas têm asas mas tanto quanto se sabe parece que não voam... Por isso, quem vê pirilampos no jardim poderá ainda viver junto de habitats que os integrem e o que observa na época própria do ano resulta das características das redondezas e pouco mais. Quando assim não é, no que toca aos jardins

em que não há vaga-lumes, poderá acontecer um dia que, acidentalmente, por exemplo no transporte de vasos de plantas ornamentais, uma postura fértil ou uma fêmea com ovos viáveis possa ser transportada para o seu jardim e, se houver condições adequadas, vingar no sítio. Não é boa ideia andar a catar pirilampos de outros sítios para os levar para o seu jardim, sobretudo se forem de longe.

Para além da poluição genética que possa sobrevir, diminuindo os recursos regionais da espécie em matéria de adaptação e sobrevivência às alterações do meio, a regra de ouro em qualquer parte é sempre esta: crie o habitat, respeite-o, e as espécies tenderão a aparecer. Se quiser saber mais, visite o grupo aberto criado no Facebook para esse efeito: https://www.facebook.com/groups/ vistepirilampos.

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28 QUINTEIRO

Utilização sustentável de produtos

fitofarmacêuticos 1.ª Parte

Miguel Folhadela Rebelo e Jorge P. N. Costa DRAPN - Divisão de Apoio ao Setor Agroalimentar

Sem rejeitar em absoluto a luta química, a Proteção Integrada evita-a ao máximo, reservando-lhe o papel de “recurso final”, só utilizado quando todos os outros meios de luta são ineficazes ou insuficientes, sendo que essa apreciação deve ter em conta fatores de natureza económica, ecológica e toxicológica

A

Lei n.º 26/2013 de 11 de abril, que regula as atividades de comercialização e de aplicação de produtos fitofarmacêuticos (PF) para uso profissional, e o DL n.º 86/2010 de 15 de julho, que regula a inspeção de equipamentos de aplicação desses produtos, transpõem para a ordem jurídica nacional a Diretiva n.º 2009/128/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de outubro, que estabelece um quadro de ação a nível comunitário para uma utilização sustentável dos pesticidas, promovendo o recurso à Proteção Integrada e à Agricultura Biológica, incluindo abordagens ou técnicas alternativas aos tratamentos com PF. Procura-se, assim, reduzir e disciplinar a utilização destes produtos, minimizando os riscos e os efeitos da sua utilização na saúde humana e no ambiente. A operacionalização das normas previstas no presente diploma foi possível com a instituição do “Plano de ação nacional do uso sustentável de PF”, também previsto nesta Lei. Tal operacionalização assenta, essencialmente, na definição de objetivos, metas e indicadores, e na implementação de medidas e ações a desenvolver, nomeadamente ao nível da formação e informação, da comercialização e da aplicação de PF. No presente documento pretende-se abordar os principais aspetos do atual enquadramento legislativo no âmbito da aplicação terrestre de PF, visando a

28 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

segurança e a redução do risco em todas as fases da utilização destes produtos.

A proteção Integrada e seus princípios Podemos definir Proteção Integrada como uma modalidade de proteção das plantas em que se procede à avaliação da indispensabilidade de intervenção no ecossistema através da estimativa do risco, do recurso a níveis económicos de ataque ou a modelos de desenvolvimento dos inimigos das culturas e da ponderação dos fatores de nocividade. A Proteção Integrada baseia-se, pois, no equilíbrio natural do ecossistema agrário ou florestal, valorizando o papel dos organismos

auxiliares, que são preservados na medida do possível, mas apostando, também, na manutenção de condições culturais favoráveis ao saudável desenvolvimento das plantas. Sem rejeitar em absoluto a luta química, a Proteção Integrada evita-a ao máximo, reservando-lhe o papel de “recurso final”, só utilizado quando todos os outros meios de luta são ineficazes ou insuficientes, sendo que essa apreciação deve ter em conta fatores de natureza económica, ecológica e toxicológica. Não abordaremos aqui as componentes da Proteção Integrada; os seus processos e as suas técnicas. Diremos apenas que, cerca de três décadas após a sua introdução em Portugal, considera-se hoje ser a sua prática comum à maioria dos agricultores. E embora tal ideia possa não corresponder exatamente à realidade, a verdade é que a Lei n.º 26/2013 determina que a partir de 1 de janeiro de 2014 todos os agricultores estão obrigados a orientar-se pelos seus princípios.

Aquisição De acordo com a Lei n.º 26/2013 os PF de uso profissional homologados em Portugal só podem ser comercializados em estabelecimentos de distribuição e/ou venda para isso autorizados pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). Tais estabelecimentos devem reunir os requisitos mínimos estabelecidos na Lei,


nomeadamente a existência de instalações de venda e/ou armazenamento exclusivos e adequados para os PF, operador(es) de venda reconhecido(s) pela Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) e técnico responsável acreditado pela DGAV. No território nacional só podem ser vendidos PF autorizados pela DGAV, com rótulo em português, a pessoas de maior idade e devidamente identificadas. A partir de 26 de novembro de 2015, no ato de compra de PF de uso profissional, os compradores devem também exibir a identificação de aplicador deste tipo de produtos. No caso dos PF de elevado risco, e com efeito imediato, o comprador deve exibir a identificação de aplicador especializado. Adiante falaremos das habilitações requeridas para o reconhecimento como aplicador de PF de uso profissional.

Transporte A primeira regra a respeitar no transporte de PF é a de que estes produtos devem ser transportados separadamente de pessoas, alimentos ou rações para animais. O transportador deverá assegurar que o meio de transporte se encontra em boas condições, de forma a não danificar as embalagens, e assegurar que estas são

Armazenamento na exploração agrícola/florestal

combustíveis, ser estruturalmente sólidas, possuir boa ventilação e ter fácil acesso a uma tomada de água. Devem, igualmente, estar devidamente sinalizadas e fechadas à chave, de forma a impedir o acesso a crianças ou pessoas não habilitadas. O chão do armazém deve ser impermeabilizado e ter capacidade para reter no interior qualquer líquido derramado (bacia de retenção). Os produtos devem ser arrumados em estantes e/ou prateleiras metálicas e resistentes. No armazém devem estar disponíveis um extintor, balde com areia, vassoura, apanhador e sacos de plástico fortes, para, em caso de acidente (incêndio ou derrame) serem utilizados. Devem, igualmente, estar acessíveis os contactos de bombeiros, serviços de emergência médica e serviços de informação anti-venenos. O armazém deve ter espaço suficiente para guardar os sacos de plástico com as embalagens vazias, até à sua entrega no posto de receção. Por fim, salienta-se a obrigatoriedade de existência do equipamento de proteção individual (EPI): fato impermeável, chapéu, viseira ou máscara, luvas de nitrilo e botas de borracha.

Conforme é referido na legislação em vigor, um dos objetivos principais da Lei é o manuseamento seguro dos PF´s, que também passa pelas condições do seu armazenamento nas explorações agrícolas/ florestais. Neste contexto, o armazenamento de PF´s deve fazer-se em construções ou dependências próprias, exclusivas para esse efeito (no seu interior não devem ser guardados produtos que não sejam fitofarmacêuticos), preferencialmente em locais isolados, mas obrigatoriamente situadas ao nível do solo e afastadas de cursos de água, poços, represas ou nascentes. Essas instalações devem ser constituídas por materiais de construção não

(Continua no próximo número)

bem acondicionadas, de forma a que não se desloquem, caiam ou danifiquem durante o transporte (ex: embalagens leves por cima de embalagens pesadas). No veículo de transporte deverá haver equipamento que permita a remoção e limpeza em segurança de qualquer derrame que possa ocorrer (balde com areia, vassoura, apanhador e sacos de plástico fortes).

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 29


João L. Teixeira

30 DUNAS

Cordão dunar

30 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014

T Cardo-marítimo

João L. Teixeira

É

a flora dunar, constituída por largas dezenas de plantas nativas, que dá consistência às dunas, cuja dinâmica já de si não é das mais estáveis. Com raízes que se estendem invariavelmente por uma extensão muito maior do que a parte visível da planta ao ar livre, estas funcionam à maneira de uma rede que dá consistência aos grãos de areia que modelam o ambiente dunar. Vila Nova de Gaia tem um litoral de cerca de 14 quilómetros de extensão. Neste espaço, pode passear nos passadiços e fruir da paisagem, do sol e da natureza que é própria das dunas. Durante o verão, por vezes conseguirá ver uma cria descuidada de borrelho-de-coleira-interrompida ou agachada na areia a desejar ser invisível ou a dar uma corrida e esconder-se algures. Não as persiga. Estas aves são nidífugas, pelo que, pouco depois de eclodirem – o ninho está nas dunas – tendem a dispersar mas ficam na mesma debaixo de olho dos progenitores, que continuam a alimentá-las. Quando o ser humano interfere, o ciclo vital não corre tão bem.

Henrique N. Alves

As dunas são um mundo, mas revelam ser frágeis: quando a população vai a banhos, sem passadiços e regeneradores dunares as plantas não resistem e as dunas desaparecem


Parque de

João L. Teixeira

Dunas da Aguda

S Esporas-bravas

O Os regeneradores dunares são estruturas que ajudam também a reter a areia das dunas com o objetivo de as estabilizar

nome vulgar de uma das plantas que mais acompanha quem passeia nas dunas é esporasbravas e é uma das muitas que está explicada no Parque de Dunas da Aguda. O nome que os botânicos lhe dão é bem mais complexo, em latim: Linaria polygalifolia. Com um ou com outro nome é linda de se ver e não deixa de ser extraordinária a forma como consegue florir num meio tão hostil como o solo arenoso, onde a água escoa sem demora e os nutrientes não abundam. Nem por isso é caso único. Neste parque, um projeto LIFE que perdura no tempo, há muitas outras plantas que apostam na diversidade para resistirem a quaisquer agruras. Esta pequena reserva natural tem em vista explicar a necessidade de se proteger as dunas e a sua biodiversidade e aguarda a sua visita. Em tempo de praia ou fora dele, não deixe de pôr ali o seu pezinho, mas sem sair dos passadiços.

Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 31


32 LITORAL

Impactos

humanos e naturais na zona intertidal

José Pedro Oliveira e Mike Weber Estação Litoral da Aguda

A Estação Litoral da Aguda ELA assinalou no dia 1 de julho de 2014 o seu 15.º aniversário de abertura ao público: durante este tempo atraiu 335 mil visitantes, o que perfaz uma média de cerca de 22 mil pessoas por ano

V

ocacionada para a educação ambiental, investigação científica marinha e o ensino universitário, tem como atrativos um Aquário com a fauna e flora aquáticas locais, e um Museu das Pescas dedicado à pesca artesanal. A ELA pertence à empresa municipal Águas e Parque Biológico de Gaia, e está aberta ao público todos os dias do ano. A primeira tese de doutoramento, elaborada na ELA, analisou a colonização biológica do quebramar da Aguda, ainda destacado. Agora foi concluída a segunda tese de doutoramento que incidiu sobre os impactos naturais e humanos na zona intertidal de algumas praias da costa norte de Portugal. Realizada ao longo dos últimos quatro anos, foi apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto pelo autor principal e curador do Aquário da ELA: As populações humanas sempre se concentraram perto de áreas costeiras e, de acordo com as previsões mais recentes, este comportamento deve aumentar nas

32 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

próximas décadas. Este fenómeno está associado a uma série de perturbações, que incluem diversas modificações da paisagem: • drenagens de zonas húmidas e sua conversão para o meio terrestre; • construções de estruturas de defesa costeira nas zonas intertidais, e de estradas e edifícios nas zonas adjacentes; • pesca excessiva de organismos marinhos com valor comercial; • poluição e atividades recreativas, que incluem o impacto causado pelo pisoteio em costas altamente frequentadas. Todos esses fatores podem operar individualmente ou interagir entre si, coexistindo ainda com outros distúrbios humanos, como as alterações climáticas e a acidificação dos oceanos; ou naturais, como as tempestades mais intensas e frequentes e a ação das ondas, com consequências ecológicas imprevisíveis, na maioria dos casos. O objetivo era avaliar as respostas das comunidades de algas e invertebrados marinhos da zona intertidal a distúrbios

S Contagem de espécies numa poça-de-maré

já existentes ou previstos para o futuro. Foram utilizadas quatro abordagens de forma a analisar, quer como os organismos lidam com estes distúrbios, quer como conseguem recuperar assim que estes terminam, nomeadamente: • calcular os efeitos das alterações da intensidade e da época da aplicação dos distúrbios; • avaliar a capacidade de organismos que


S Zona intertidal na praia da Aguda

S Zona intertidal durante a maré baixa

S Poluição intertidal

modelam os ecossistemas como os mexilhões, capazes de proteger outras espécies, de amortecer distúrbios, quer humanos, quer físicos, semelhantes aos causados por eventos climáticos extremos que ocorram simultaneamente; • comparar a variação ao longo do espaço e do tempo das comunidades naturais entre áreas altamente urbanizadas e outras de referência, menos impactadas;

• examinar a capacidade de recuperação de organismos bênticos após o fim de distúrbios experimentais. De entre as várias conclusões realçam-se: • o número total de espécies, um indicador da biodiversidade, que se manteve relativamente constante em todos os locais avaliados, ao longo do tempo, revelando uma semelhança considerável entre todas as praias investigadas; • a relação direta entre a intensidade do distúrbio (evidentemente dentro de determinados limites) e a heterogeneidade da comunidade; • a necessidade da inclusão de escalas temporais e espaciais adequadas em estudos ambientais; • a confirmação da capacidade de resiliência de organismos marinhos intertidais a grandes variações das condições ambientais e à ocorrência recorrente de distúrbios, conseguindo resistir-lhes ou recuperando deles rapidamente, sendo introduzidas

S Assoreamento intertidal junto ao quebramar da Aguda

apenas alterações na sua abundância mas mantendo-se a sua identidade. As conclusões obtidas no decurso deste doutoramento contribuem de forma relevante para o desenvolvimento do conhecimento científico que é essencial para uma integração sustentável entre a utilização humana do litoral e o bem-estar ecológico, procurando dotar as autoridades decisórias de ferramentas que possam facilitar a gestão ambiental desta zona de interface mar-terra.

ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA Rua Alfredo Dias, Praia da Aguda 4410-475 Arcozelo Vila Nova de Gaia Tel.: 227 536 360 fax: 227 535 155 ela.aguda@mail.telepac.pt www.fundação-ela.pt

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34 DUNAS

Estuário do Douro

D

ez anos depois do primeiro registo na Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED), 7/4/2004, o paparatos, Ardeola ralloides, volta agora a ser observado, e de novo na primeira semana de maio. A ave permaneceu pelo menos três dias na zona de sapal da Reserva. Apesar de ser uma ave colonial, em Portugal nidifica de forma isolada ou em pequenos núcleos, sendo rara e algo irregular. O “Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal” considera esta espécie “criticamente em perigo”. É uma espécie migradora que inverna em áreas a Sul do deserto do Sara, valendo destacar que a população

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Local de passagem importante para muitas aves migradoras, a Reserva Natural Local do Estuário do Douro continua a ser palco de inúmeras observações de vida selvagem

europeia está dependente das condições existentes na zona de invernada.

Borrelho-pequeno-de-coleira O borrelho-pequeno-de-coleira (Charadrius dubius curonicus) é uma pequena limícola que depois da reprodução se junta em bando. No passado era uma espécie que nidificava em muitos locais dos rios do Norte do país. As barragens do Douro e a utilização das margens para lazer, desportos e praias fluviais contribuíram para reduzir os areais que proporcionavam locais adequados à reprodução. A distribuição na Europa Ocidental é

muito fragmentada, sendo a subespécie “curonicus” muito migradora. Na Europa ocorre a subespécie “curonicus” que tem uma ampla distribuição Paleártica (do Atlântico até ao Pacífico), tendo esta subespécie um caráter migratório muito acentuado. É mais solitária que o borrelho-grandede-coleira (Charadrius hiaticula) que normalmente ocorre em bandos no litoral. J. A. Júnior em “Aves de Portugal” (1931) e William Tait em “Birds of Portugal” (1924) referem que no passado o Charadrius dubius curonicus efetuava a passagem para Sul “em certa quantidade na foz do rio Douro”. Esta espécie está registada para o estuário, contudo nos últimos seis anos não havia nenhum registo de ocorrência na zona. Assim, a presença desta ave


Ser andorinha-do-mar por uns dias

João L. Teixeira

E

que foi documentada na RNLED de 7 a 13 de junho de 2014 torna-se um registo importante. No passado era uma espécie nidificante em muitos locais dos rios do Norte de Portugal, nomeadamente no rio Douro. Hoje é pouco comum e muito localizada, tal como comprova o “Atlas das Aves Nidificantes em Portugal” (1999-2005). É de referir que este borrelho é uma espécie bastante filopátrica (fiel aos locais de ocorrência), o que pode ser uma caraterística determinante para que comece a surgir com mais frequência na RNLED que se tornou mais “apetecível” dadas as condições atuais de baixa perturbação e melhorias de habitat.

ntre 28 e 30 de junho foi possível observar um grupo de mais de três dezenas de andorinhas-das-barreiras (Riparia riparia) no mar batido por um vento moderado de Noroeste, rasando as ondas. Demonstravam grande perícia e agilidade, dignas de mestres de voo. Tal como o fazem as andorinhas-do-mar, as pardelas e os paínhos, aves nascidas para viver no alto-mar. Estas andorinhas-das-barreiras, pequenos Passeriformes terrestres (pesam 18-20 gramas), certamente não realizaram esta “aventura marinha” por teimosia, diversão ou para serem radicais, os riscos seriam demasiados… Não apresentando sinais de estarem a alimentar-se, provavelmente estariam a preparar-se para a primeira longa viagem, uma aventura que irá testar as suas capacidades de sobrevivência. As andorinhas-das-barreiras são aves migratórias e as suas vidas são feitas de desafios, que representam a sua sobrevivência. Dentro de poucas semanas estas pequenas andorinhas terão de realizar uma grande viagem rumo a África, onde irão enfrentar grandes desafios: o mar é um deles. Atravessar extensões de mar agitado exige uma certa preparação e “endurance”. Esta observação realizada na RNLED justifica que se chame à andorinha-dasbarreiras, andorinha-do-mar, demonstrando que não nos devemos preocupar excessivamente em rotular, mas sim observar, conhecer e apreciar o que nos rodeia. Quando visitar a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, se não conseguir identificar muitas das aves que observa não se sinta desmotivado. Desfrute e usufrua dos momentos que lhe proporcionam as aves que vê. A seu tempo vai dando conta que as conhece cada vez melhor. Fica esta lição: uma andorinha-das-barreiras também pode ser uma andorinha-domar…

Texto Francisco Bernardo e Paulo Paes de Faria Fotos Francisco Bernardo

Texto Paulo Paes de Faria

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36 MUSEU

Centro Interpretativo do Património da Afurada

João L. Teixeira

O Centro Interpretativo do Património da Afurada (CIPA) é um espaço destinado a interpretar, refletir e expor o ambiente e a atividade humana no território da Afurada. O CIPA foi palco da “Hora do Conto”, atividade em que um escritor convidado, neste caso Aurelino Costa, contou uma história a crianças em idade escolar. Esta foi a primeira sessão de uma série de "Horas do Conto" a realizar no CIPA com a colaboração da Biblioteca Municipal, e regressa em setembro com outros escritores. Entretanto, até 21 de setembro, uma das exposições que pode visitar neste espaço museológico leva o título «Remanso» e a autoria é de Osvaldo Gaia, um artista brasileiro proveniente de uma vila piscatória no Brasil. Resultado de uma parceria entre o Parque Biológico de Gaia e a Administração dos Portos do Douro e Leixões, o CIPA está equipado com modernos meios tecnológicos, englobando áreas com exposições permanentes e temporárias. Trata-se de um lugar «identitário e relacional» que ajuda à dinamização da Afurada e incentiva a presença de turistas. Mais dia menos dia, agora que o verão apela a sair e visitar, dê um pulo ao CIPA, que está aberto todos os dias, entre as 10h00/12h30 e 13h30/18h00. S «Remanso», da autoria de Osvaldo Gaia

T “Hora do Conto”, histórias para crianças em idade escolar

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João L. Teixeira

ESPAÇOS VERDES 37

Parque de Lazer de Sermonde

O presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, inaugurou o Parque de Lazer de Sermonde no passado dia 28 de julho

João L. Teixeira

Situado na proximidade da Suldouro, este novo parque possui um amplo jardim, um lago, um campo de futebol e uma área de equipamentos geriátricos. O presidente do Município de Vila Nova de Gaia disse que «esta obra, que começa por ser um espaço verde, vai agora continuar para espaço desportivo dedicado à população, mas não será cativo de nenhum mega-clube ou instituição». O presidente da União de Freguesias de Grijó e Sermonde, César Rodrigues, presente no certame, sublinhou que «este local devia ter sido inaugurado há dez anos», pois «era uma das contrapartidas à construção do aterro sanitário». Estas palavras não surpreendem na medida em que o parque agora inaugurado responde a um desejo de vários anos por parte da união de freguesias de Grijó e Sermonde. O Parque de Lazer de Sermonde foi alvo de um investimento de 29 mil euros e é mais um exemplo da expansão dos espaços de usufruto público no concelho de Vila Nova de Gaia. No evento percebeu-se haver vontade no futuro, por parte da Câmara Municipal, de investir em melhoramentos diversos, como a construção de um “court” de ténis e de um bar.

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38 ESPAÇOS VERDES

João L. Teixeira

Parque da Quinta do Conde das Devesas Embora se veja neste espaço verde mais flora além dos numerosos exemplares de camélia, a abundância de espécies deste grupo encontradas quando da construção do parque sugeriu que fosse dedicado um setor específico a este grupo de plantas. O Parque agrega perto de 130 exemplares destas árvores muito próximas do arbusto do chá e também chamadas japoneiras. Curiosamente, um estudo de Frederick Gustav Meyer (1959), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, indica que as camélias de Vila Nova de Gaia são os mais antigos exemplares até agora registados na Europa, plantados em 1550. Com as portas abertas para si todos os dias, das 10h00 às 18h00, pode chegar a este parque também através de GPS – 41º7’58.98”N/8º37’8.36”W, mas para ali chegar basta saber que o Parque do Conde das Devesas fica perto do Cais de Gaia, mais propriamente na Rua D. Leonor de Freitas.

S O Parque da Quinta do Conde das Devesas acolhe uma importante coleção de camélias

Parque da Lavandeira Em Oliveira do Douro, este parque centra-se no lazer dos seus visitantes. Proporciona percursos pedestres, locais para merendar, jardins temáticos e, entre outros motivos de interesse, muita animação. Os percursos no meio do avoredo, permeados com aprazíveis áreas para merendar, passam nas imediações de um lago, elemento central do Parque da Lavandeira. Dali vê-se a cafetaria, um local onde pode tomar um chá ou um café numa pausa dos passeios que ali fizer. Quem visita este Parque aprecia particularmente o percurso que, em pleno estio, proporciona abundante sombra e uma bela paisagem. Um espaço verde com estes atributos arrisca-se a ser o local ideal para a realização das mais diversas iniciativas. Não é de admirar por isso que novas atividades vão sendo marcadas à medida do calendário mais próximo. A melhor maneira de as acompanhar é através de uma consulta regular à agenda. Propriedade do Município de Vila Nova de Gaia, este moderno espaço verde, o Parque da Lavandeira, pode também ser visitado através de computador, no modo Street view/Google maps. Mas agora que o verão se passeia pelos seus dias, à sombra do arvoredo, mesmo que seja adepto da eletrónica, continua é a apetecer mais, isso sim, pôr-se a caminho e apurar os seus sentidos ao passear pelo seu próprio pé no parque.

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Agenda As mulheres do campo vêm à vila Aos sábados de manhã, venda de legumes sem pesticidas.

Yoga A orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a atividade em regime de voluntariado. Quartas e sextas-feiras às 9h45.

Tai Chi Às segundas e às quintas-feiras, aulas às 9h30. Entrada grátis. Participação nesta última atividade sujeita a marcação por e-mail: lavandeira@parquebiologico.pt Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook, no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira), ou telefonar para 227 878 138


S Borboleta-do-medronheiro, habitual no verão no Parque Botânico do Castelo

Parque da Ponte de Maria Pia

João L. Teixeira

Ao visitar o Parque Botânico do Castelo, em Crestuma, dificilmente deixará de ver este verão o maior lepidóptero europeu, pelo menos entre diurnas: a borboleta-domedronheiro, Charaxes jasius Linnaeus, 1767. Não é tida como ameaçada mas, curiosamente, a maior parte das pessoas não a conhece nem de vista. A presença de medronheiro neste sítio é responsável pela observação desta borboleta de asas grandes e voo vigoroso. Enquanto lagarta, esconde-se entre as folhas deste arbusto e vai crescendo até que, depois de crisalidar, se transforma em borboleta. É curioso notar as espécies de plantas de índole mediterrânica que existem neste parque botânico, mercê do microclima desta margem sul do rio Douro, que corre mais em baixo. Além dos medronheiros e das borboletas que dependem deles, muito mais há para dar gosto à vista no parque, que o fará apreciar a visita.

Jorge Gomes

Parque Botânico do Castelo

Este espaço verde oferece à população um novo local de lazer a partir dos antigos estaleiros dos caminhos-de-ferro junto à ponte de Maria Pia, que se encontravam desativados há anos. É uma ponte com história. Na sua época, a ponte de Maria Pia foi uma obra de engenharia que deslumbrou portugueses e estrangeiros. Inaugurada a 4 de novembro de 1877, contou com a presença do rei D. Luís I e com a rainha D. Maria Pia, que lhe deu o nome. Localizado na Alameda da Serra do Pilar, na freguesia de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, está aberto aos visitantes todos os dias entre as dez e as 18h00. O espaço da antiga linha de caminho de ferro Porto/ Lisboa, desativada com a construção da nova ponte ferroviária, ganhou, assim, um novo uso com vista a servir o interesse público.

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40 ESPAÇOS VERDES Agenda

Concurso de

Fotografia

Organizado pelo Parque Biológico de Gaia este concurso o conta já 12 anos e junta muitos fotógrafos da natureza. Este tipo de trabalho é uma das formas de dar a conhecer o património natural do país, fazendo com que daí derive uma maior compreensão no sentido de o conservar. Encontra o regulamento e a ficha de inscrição no site www.parquebiologico.pt indo a Atividades/Fotografia da Natureza. Dê um gosto ao dedo! Clic... clic, clic.

Elsa Santos

Até 30 de setembro pode concorrer à edição deste ano do Concurso Nacional de Fotografia da Natureza Parques e Vida Selvagem

A Conferência Nacional Infanto-juvenil pelo Ambiente "Dos rios aos oceanos, percursos entre muitas histórias", iniciativa apoiada por várias instituições, reuniu centenas de crianças em idade escolar no Parque Biológico de Gaia no passado dia 5 de junho. Trata-se de um projeto pedagógico concebido e desenvolvido pela ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental, da iniciativa da Comissão Europeia e promovido pelo Centro de Informação Europeia Jacques Delors (CIEJD), Direção-Geral dos Assuntos Europeus – Ministério dos Negócios Estrangeiros, na qualidade de organismo intermediário responsável pela execução do plano de comunicação para informação sobre a União Europeia em Portugal. Esta conferência nacional «tem por objetivo fortalecer a educação ambiental nos sistemas de ensino, propiciando atitudes responsáveis e comprometidas da comunidade escolar com as questões socioambientais locais e globais», informam os organizadores, e adiantam que configura «um espaço de reflexão e partilha de experiências por milhares de crianças. Estas, juntamente com os seus professores, mostram ter sensibilidade para as questões ambientais ao mesmo tempo que apresentam trabalhos artísticos de interesse relevante para suscitar novas atitudes». O evento contou com a presença da vereadora do Peloutro do Ambiente do Município de Vila Nova de Gaia, Mercês Ferreira.

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João L. Teixeira

Dos rios aos oceanos


H iniciativas que irão decorrer Há ia em breve no Parque Biológico de Ga qu q e podem interessar-lhe... Sábado no Parque Sá

(2013) , Líquenes e Fungos: “Graal” S Prémio na categoria Flora

Receba notícias por e-mail Para os leitores saberem das suas atividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt A alternativa será receber os destaques, sempre que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a newsletter@parquebiologico.pt

Mais informações Gabinete de Atendimento atendimento@parquebiologico.pt Telefone direto: 227 878 138 4430-861 Avintes - Portugal www.parquebiologico.pt.

Di 6 de setembro o Parque Dia pr prepara algumas atividades es especiais para os seus visitantes. C Com início às 11h00, há lugar a ao atelier “Abutres, recicladores n naturais”. À Às 14h30 decorre a conversa d do mês: “O abutre e suas a ameaças” (comemoração do D Dia Internacional do Abutre) e às 15h30 haverá uma visita g guiada por técnicos do Parque e, simultaneamente, percurso ornitológico. Em 4 de outubro, às 11h00, o atelier é preenchido com “Anilhagem científica de aves selvagens” e depois do almoço a conversa do mês será sobre a comemoração do Dia do Animal. Nestes dias, às 22h00 há observações astronómicas, se as condições meteorológicas o permi permitirem. Em cada um destes sábados há um novo Animal, uma nova Planta e um novo livro do Mês.

Anilhagem científica de aves selvagens Nos primeiros e terceiros sábados de cada mês, das dez ao meio-dia, os visitantes do Parque podem assistir a esta atividade na Quinta do Chasco de passagem pelo percurso de descoberta da natureza, se não chover. Está em causa o bem-estar animal. Orientada por anilhadores credenciados, há uma dúzia de formandos que prosseguem no objetivo de aprenderem sempre mais nesta iniciativa útil para um melhor conhecimento da população de aves da região. O Parque Biológico de Gaia colabora com a Central Nacional de Anilhagem, coordenada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das

Florestas, num projeto europeu de Estações de Esforço Constante, para monitorização das aves selvagens.

Oficinas de Verão Para crianças e jovens dos seis aos 14 anos. Decorrem nas semanas de 30 junho a 4 julho, de 7 a 11, de 14 a 18 e 21 a 25 de julho, de 28 de julho a 3 de agosto, de 4 a 8, 11 a 15, 18 a 22 e de 25 a 29 de agosto. A entrada diária é às 9h00 e a saída às 18h00. Saiba mais no Gabinete de Atendimento do Parque.

Vindima no Parque Dia 20 de setembro, sábado, entre as dez e o meio-dia e entre as 14h00 e as 15h00, há vindima no Parque.

Recriação da desfolhada Dia 11 de outubro, entre as 15h00 e as 17h00, o milho é rei, com a colaboração de um Rancho Folclórico. Contacte o Gabinete de Atendimento do Parque.

Abertura da exposição do Concurso Nacional de Fotografia da Natureza "Parques e Vida Selvagem" Dia 1 de novembro, sábado, às 15h00, abre esta exposição com a entrega de prémios aos concorrentes distinguidos pelo júri.

Observação de aves selvagens Nos primeiros domingos de cada mês, entre as dez e o meio-dia, leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias e binóculos à Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Com telescópio, estará um técnico do Parque para ajudar os presentes a identificar as aves do litoral a partir dos observatórios ali instalados.

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42 ESPAÇOS VERDES

Workshop de

pirilampos ibéricos Sábado, 14 de junho, o Parque Biológico de Gaia organizou um workshop sobre pirilampos da Península Ibérica, com coordenação científica de Raphael De Cock, investigador associado da Universidade de Antuérpia, Bélgica, e José Ramón Guzmán Álvarez, da Universidade de Córdoba, Espanha. O evento contou com cerca de 30 inscritos e teve uma parte teórica, durante a tarde, seguindo-se a componente prática de noite. Raphael De Cock começou por dizer que há na Europa 65 espécies de pirilampo, de oito géneros, sendo 11 as espécies da Península Ibérica.

É possível encontrar pirilampos nos habitats onde haja populações normais de caracóis e lesmas. Na fase de larva os pirilampos são seus predadores. Sítios que estejam nas redondezas de charcos e ribeiros, que não sejam iluminados de noite e onde não haja uso de pesticidas e herbicidas são promissores para excelentes observações e registos em várias épocas do ano. Regra justa e certeira: obrigatório fotografar no local, sem transporte do inseto luminescente. Depois, não deixe de partilhar essa informação.

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Jorge Gomes

Como procurar?

Para Portugal, concretamente, são dadas dez. A mais recente é o pirilampo-ibérico, Lampyris iberica, que até 2008 se pensava ser a mesma que Lampyris noctiluca, esta talvez a espécie europeia mais generalizada com distribuição muito além dos Pirenéus. Um investigador britânico, John Day, a dada altura descobriu que a enzima luciferase – que tem um papel importante na produção de luz – não condizia numa e na que é agora outra espécie. Na Península Ibérica, contudo, considera-se hoje que existem ambas. Ramon Álvarez, organizador do projeto Gusanos de Luz, em funcionamento em Espanha, explicou o seu gosto pelo tema e a participação obtida junto dos seus conterrâneos. Com vista a conseguir, com a ajuda de todos os que queiram colaborar, agregar dados sobre que espécies existem e onde, criou-se um grupo aberto no Facebook – https://www.facebook.com/ groups/vistepirilampos/ – ao qual qualquer pessoa interessada pode aderir e participar através da colocação das suas fotografias com respetiva data e local.


João L. Teixeira

O Dia Mundial da Criança e as Noites dos Pirilampos incluíram, no formato de teatro de fantoches destinado à infância, «O namoro dos Pirilampos», uma peça que dá um cheirinho dos encontros e desencontros imaginários do amor entre estes insetos que têm a particularidade de brilhar no escuro. Com um ciclo de vida que passa por ovo, larva, pupa e inseto adulto, os pirilampos são animais do grupo dos coleópteros e levam na peça nomes mais acessíveis, nomeadamente Luciolinha, Fosfanus, Pirilamponzinho, entre outros. A desclassificação de pretendentes sucessivos leva por fim a um final feliz. Com produção de Ilha Mágica, a dramatização da peça foi de Manuel Franklin e parte de um texto de Jorge Gomes. Os atores Diogo Azevedo e Andreia Rocha deram voz e corpo à peça.

Filipe Vieira

Namoro de pirilampos

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44 ENTREVISTA

Pirilampos – esses desconhecidos S Observação noturna de pirilampos durante o workshop

O

problema coloca-se de forma premente quando se fala de investigação científica. Como é possível haver ainda tanto para saber sobre estes pequenos insetos bioluminescentes? Face à Europa além-Pirenéus, a Península Ibérica conta com bastantes mais espécies! Aproveitámos a passagem por Portugal de dois cientistas desta área, Raphael De Cock, conhecido investigador belga ligado à Universidade de Antuérpia, e Ramón Guzmán Álvarez, de Espanha, coordenador do projeto “Has visto una luciérnaga?”. Ambos, com a colaboração do Parque Biológico de Gaia, deram corpo a um workshop sobre pirilampos da Península Ibérica no passado dia 14 de junho.

Como surgiu a ideia de realizar este workshop? Raphael De Cock – O facto é que, após alguns anos de colaboração, temos tido algum avanço em Espanha graças ao trabalho de Ramón Guzmán Álvarez através do seu projeto «Has visto una

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S Armadilha luminosa

Que os vaga-lumes atraem muita gente, disso não há dúvida: as Noites dos Pirilampos que o Parque Biológico de Gaia realiza há já muitos anos são prova disso…

luciérnaga?» (viste um pirilampo) que se apoia no site gusanosdeluz.es. Este workshop foi ótimo. Conseguiu-se partilhar conhecimentos e trocar ideias. Fiquei até surpreendido com a afluência e o interesse demonstrado pelas pessoas que participaram. Não há muita gente disposta a escutar palestras durante três horas seguidas. Tenho por isso razões para estar contente porque houve uma boa resposta. Surgiram as primeiras ideias e deram-se os primeiros passos no sentido de se estabelecer uma plataforma de índole nacional para observação e registo de pirilampos em Portugal. Além disso, a visita noturna ao Parque foi sensacional: observámos diferentes estádios de desenvolvimento e espécies de pirilampos. Vimos machos, fêmeas e larvas de Lampyris iberica, larvas e machos de Luciola lusitanica, e larvas, machos e uma fêmea de Lamprohiza mulsantii – isto é muito bom! Há algum interesse em que os leitores participem, e a população em geral, sobre o que se passa nos seus jardins e na sua região em matéria de ocorrência de pirilampos?


Bioluminescent bugs The problem is more urgent when it comes to scientific research. How is it possible that there is so much to learn about these bioluminescent bugs? When compared to the rest of Europe, the Iberian Peninsula has a much higher number of species. Without a doubt, Fireflies draw the attention of a lot of people: the very successful “Firefly Nights” organized by the Parque Biológico de Gaia are proof of that.

S Os pirilampos são seres frágeis e pertencem ao grupo dos coleópteros

S Raphael De Cock instala uma armadilha luminosa durante o Workshop sobre Pirilampos da Península Ibérica

Raphael De Cock – Na Bélgica (waarnemingen.be) e em Espanha (biodiversidadvirtual.org e gusansosdeluz. es) trabalhamos com muito bons resultados nesse sentido. Não é complicado pôr o sistema a funcionar. Além da atenção dos colaboradores, apenas se torna necessária a cooperação de pessoas que saibam

identificar a espécie que se vê nas fotografias e dar essa informação em tempo útil. Os pirilampos estão mesmo a desaparecer? Raphael De Cock – Não temos dados que permitam afirmar isso. Um bom começo será criar um sistema de colheita de observações de todo o país, uma vez que isso permitirá saber onde ainda

existem pirilampos e quais as espécies observadas. Um pouco por todo o mundo ouvimos pessoas a dizer que já não os veem em determinado lugar ou que são menos, mas isso também pode resultar da mudança do nosso ritmo de vida e de termos no modo de vida citadina um menor contato com a natureza. Estamos em plena Década da Biodiversidade, criada pelas Nações Unidas. Se não se investigar agora os pirilampos, depois poderá ser demasiado tarde? Raphael De Cock – Penso que já é tarde para saber tudo o que se podia saber. Apesar destes insetos serem especiais há poucos cientistas a investigá-los. Especialmente na Europa temos uma escassez de conhecimento geral sobre a sua biologia e distribuição, nem sequer um Livro Vermelho das espécies de pirilampo existe quando algumas destas parecem ocorrer apenas em áreas muito reduzidas e sem qualquer estatuto de proteção. Texto e fotos Jorge Gomes

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46 ENTREVISTA

No país vizinho, Ramón Guzmán Álvarez tem em mãos um projeto chamado “Has visto una luciérnaga?” que faz o levantamento das espécies de pirilampo: a que mais vê a voar nas Noites dos Pirilampos – Luciola lusitanica – em toda a Península Ibérica só está dada para Portugal

S Raphael De Cock e Ramón Guzmán Álvarez observam uma larva de pirilampo do género Lampyris

Em Espanha os pirilampos são luciérnagas «

É

uma alegria imensa observar estes insetos tão atrativos», diz Ramón Guzmán Alvarez e, completa, «poder contemplar o espetáculo da Noite dos Pirilampos, com tantos Luciola lusitanica no Parque…» deixa-o maravilhado quando o relógio já marcava as 22h00. Ao longo do percurso, no solo do bosque, há muitas luzes, que correspondem a larvas e fêmeas adultas de várias espécies de vaga-lume. Pelo ar, piscam os machos do género Luciola. De nacionalidade espanhola, morador na região de Sevilha, deslocou-se a Vila Nova de Gaia propositadamente para participar no Workshop sobre Pirilampos da Península Ibérica, que decorreu em 14 de junho no Parque Biológico de Gaia. «É extraordinário poder trabalhar neste projeto comum com colegas naturalistas portugueses. Integramos a mesma área de interesse e podemos aprender muito uns com os outros», explica e assinala: «Infelizmente, não pudemos contar com mais presenças provenientes de Espanha. É possível que o facto de Vila Nova de Gaia ficar distante e de, na realidade, não haver ainda muitos estudiosos de pirilampos no meu país, tenha tido como resultado essa

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ausência, mas a assistência e a hospitalidade portuguesa foram sensacionais». Inquirido sobre a validade do workshop, sublinha que «o principal resultado consistiu em dar sequência de algum modo ao objetivo que nos tínhamos proposto: contactar com os naturalistas portugueses e começar a colaborar num projeto comum sobre a distribuição e ecologia dos pirilampos». Adianta ainda que «tínhamos em vista apresentar o site que possuímos sobre os pirilampos de Espanha: “¿Has visto una luciérnaga?” – www.gusanosdeluz.es». Ramón afirma que é importante haver uma cooperação com a população em geral no sentido de esta dar notícia das suas observações através de fotografias: «As novas tecnologias permitem ampliar o nosso conhecimento da natureza através da participação social. De outro modo seria impossível recolher tanta informação como a que se obtém através destes colaboradores, e todos podem contribuir com informação de grande qualidade». Aqui e ali ouve-se pessoas que creem que os pirilampos já não brilham em tantos sítios como no passado. Ramón pensa que, «apesar de ainda não termos dados quantitativos para demonstrar

que os pirilampos estão a desaparecer, creio que é possível que isso possa estar a acontecer». Realmente, «as transformações recentes das paisagens rurais não vão na direção de favorecer os pirilampos, mas ao invés. O aumento da luminosidade noturna, a urbanização ou o uso excessivo de produtos químicos não são bons para estes insetos». O facto de se estar em plena Década da Biodiversidade, proclamada pelas Nações Unidas, é interpretado por Ramón como sendo «um bom estímulo para se ter mais empenho no sentido de conhecer melhor a biodiversidade». O eventual excesso de iluminação noturna, a chamada poluição luminosa, merece mais um reparo. Ramón diz que «é uma das grandes ameaças para os pirilampos porque é um fator de confusão para o acasalamento. Em todo o caso, quando se passeia de noite é apelativo contemplar tantas luzes e com tanta intensidade. Mas é realmente necessário?», pergunta e realça: «Além disso, deve custar muito dinheiro. Às vezes fazemos coisas um pouco exageradas», conclui. Texto e foto Jorge Gomes


ESPAÇOS VERDES 47

o Centro de Recuperaçã

O ano do mocho Não tendo a maior parte das pessoas noção disso, quando vê uma cria – os pais são discretos, não estarão à vista – pensa logo estar abandonada e naquela circunstância irá inevitavelmente morrer. No entanto, há perigos à espreita: estradas próximas, predadores domésticos, incêndios, etc. Nestes casos não hesite, dê-lhes mais uma oportunidade.

Será esta a história da maior parte das aves deste jaez entradas no centro de recuperação. Estando ao longo deste tempo a ser acompanhadas no seu crescimento, assim que se encontrarem em condições de regressar à vida selvagem serão rapidamente libertadas em habitat adequado.

Jorge Gomes

Neste início de verão já não havia como duvidar – 2014 é o ano do mocho no Centro de Recuperação de Fauna do Parque Biológico de Gaia. Uma quantidade invulgar de juvenis de mocho-galego deu entrada este ano no centro de recuperação. As razões não são claras ainda, mas é normal as diversas espécies de vida selvagem ano a ano flutuarem em termos de densidade das suas populações. Mais assim será quão mais instáveis se apresentarem as condições de sobrevivência em que se enquadram. O mocho-galego é uma ave de rapina noturna de pequeno porte que se adapta bem até aos subúrbios das grandes cidades. Como se alimenta de pequenos mamíferos, répteis de menor dimensão e até de insetos, acaba por encontrar nutrição e cria prole num nicho tantas vezes impercetível ao ser humano. Como acontece com outras aves de rapina noturnas, é habitual as crias de mochogalego abandonarem o ninho precocemente, embora fiquem debaixo dos cuidados dos progenitores.

Armadilhagem luminosa de borboletas noturnas

Em 4 e 5 de julho, às 21h00, o Parque Biológico de Gaia abriu as portas e muita gente fez questão de estar presente, ouvindo atentamente e colocando perguntas a Henrique N. Alves, técnico do Parque. As Noites dos Morcegos permitiram

HNA

mapa da biodiversidade de que fazemos parte. Nesta sessão fotografou-se para a listagem do Parque mais duas espécies — Bostra obsoletalis (Mann, 1884) e Caloptilia robustella ou Caloptilia alchimiella, havia só que analisar a genitália…

Rhodometra sacraria

HNA

esclarecer que estes mamíferos alados, animais «muitas vezes olhados como mau presságio», são de facto «inofensivos e não causam prejuízo, revelando-se úteis, pois destroem grandes quantidades de insetos, combatendo assim pragas agrícolas e florestais e limitando a ação desses eventuais propagadores de doenças». Dois dos géneros, Myotis e Pipistrellus, foram mais fáceis de identificar através do descodificador de ultra-sons. Dias mais tarde, em 17 de julho, entre as 21h00 e as 23h00, houve lugar no mesmo Parque à celebração das Noites Europeias das Borboletas Noturnas, igualmente com elevada afluência. Nestas sessões foi possível dar a conhecer aos visitantes fasquias de biodiversidade menos conhecidas, salientando o seu papel importante no

HNA

JG

Noites dos Morcegos e das Borboletas Noturnas

Moma alpium Caloptilia robustella ou Caloptilia alchimiella, havia que analisar a genitália para distinguir qual seria, se uma se outra

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 47


48 ESPAÇOS VERDES Fauna

S O juvenil de milhafre nascido este ano, à esquerda

Milvus migrans

milhafre-preto

Vieram para ficar

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O casal reprodutor selvagem chegou ao Parque Biológico de Gaia em início de março, vindo de África, e no verão já pelo menos uma cria de milhafrepreto, Milvus migrans, voava sobre o ninho que os visitantes mais atentos do parque se habituaram a ver junto ao açude, na árvore mais alta desta parte da margem do rio Febros. Uma leitura do Plano Setorial da Rede Natura 2000, disponível na internet, no que diz respeito a esta ave de rapina, aponta-a como espécie monogâmica que mantém o mesmo par durante vários anos, embora essa ligação seja

aparentemente sazonal nas populações migradoras. Adianta também que estes casais podem nidificar isoladamente ou em pequenos aglomerados, formando colónias geralmente pouco densas. Quando em viagem, é frequente vê-los entre março e agosto próximo das estradas, onde procuram e recolhem cadáveres de animais vitimados por atropelamento. Durante a época de reprodução, os casais dormem no ninho ou nas suas imediações. Os indivíduos não reprodutores e os adultos fora da época


Flora

Metzgeria furcata (L.) Dumort.

de reprodução formam dormitórios comunais, que podem ter dezenas ou mesmo centenas de indivíduos. No Choupal, em Coimbra, foram já contados por diversas vezes a entrar no dormitório cerca de 350 indivíduos. Os dormitórios podem localizar-se vários anos nas mesmas árvores. As crias atingem a independência em finais de junho e durante o mês de julho. Ambos os progenitores alimentam as crias, geralmente em número de uma a três. Voltarão para o ano?

Planta do grupo das hepáticas, com um corpo taloso que se bifurca repetidamente, com cerca de 2 mm de largura e vários centímetros de comprimento. Cresce aderente ao substrato, geralmente em planos verticais, em tufos achatados. A superfície ventral (superfície aderente ao substrato) tem pequenos pêlos hialinos que ajudam à fixação da planta. A intensidade da sua cor verde depende Cristiana Vieira e Helena Hespanhol do grau de luminosidade, mas os talos são quase sempre semi-transparentes dado que são uniestratificados (apenas CIBIO-InBIO uma célula de espessura), daí o nome comum se referir à semelhança com um véu. A zona central, não transparente do talo, corresponde à nervura. Esta planta pode reproduzir-se de duas formas: de forma assexuada, através de gemas em forma de disco que surgem na margem do talo; ou de forma sexuada, através de anterídeos (órgãos reprodutores masculinos) e arquegónios (órgãos reprodutores femininos) que se desenvolvem em plantas separadas, já que se trata de uma espécie dióica. Esta hepática é comum nos troncos de muitas espécies de árvores e arbustos autóctones ou alóctones, geralmente em territórios com altitude até aos 600 metros. Em Portugal, é comum nas zonas de influência atlântica e é uma espécie tolerante a alguma secura, mas não muita poluição atmosférica. Tal como outras plantas, as espécies do género Metzgeria apresentam disjunções intercontinentais, ou seja, as mesmas espécies podem ocorrer em continentes separados por grandes oceanos. No entanto, nem sempre a realidade é o que aparenta ser. A maior parte das espécies foi classicamente definida com base na sua morfologia (aspeto exterior e mensurável a olho nu ou com a ajuda de um microscópio), porém estudos genéticos recentes revelaram que as populações de Metzgeria furcata do continente americano pertencem a uma espécie diferente de outras duas espécies que ocorrem na Europa. Como estas três espécies só se distinguem ao nível genético designam-se de “crípticas”, porque é impossível distingui-las através da morfologia. Como tal, continuaremos a chamar-lhes o mesmo nome, mas sabemos que a sua taxonomia é mais complexa do que é pragmático reconhecer com as atuais formas de identificação de plantas baseadas em chaves dicotómicas. Mais uma vez, o avanço do conhecimento científico é mais rápido do que o Homem pode absorver nas suas rotinas de trabalho e de vida.

Paula Portela

João L. Teixeira

Hepática de véu

Parques e Vida Selva Selvagem agem ve verão erão 201 2014 14 • 49


50 ESPAÇOS VERDES Anilhagem

A

s aves são, provavelmente, o grupo de animais que mais fascínio suscita nas pessoas. Desde que há memória, e que ela se propaga na pedra, em papel ou por tecnologias mais recentes, o ser humano olha para as aves com um misto de inveja, adoração ou ódio. Muita da admiração que damos às aves vem da sua característica partilhada mais distinta, herdada dos seus antepassados dinossauros, que são as penas. Com as suas várias formas e cores, estas permitem às aves voar, protegerem-se do meio, exibiremse e camuflarem-se. A nós as penas têm servido, entre outras coisas, como adereço e material para escrever, mas também podem servir para as compreendermos melhor: quer seja por nos ajudar a distinguir as diferentes espécies entre si (por Portugal passam mais de 300 espécies todos os anos), quer para conhecermos melhor cada indivíduo. Nos vários locais no nosso país onde se realizam sessões de anilhagem, como no Parque Biológico de Gaia, anilhadores e formandos socorrem-se dos padrões da plumagem para saber mais informações sobre as aves que capturam, nomeadamente a sua idade. Perceber a estrutura etária de uma população de aves pode ser um passo importante para interpretar as tendências populacionais das espécies. Às vezes diferentes classes etárias têm plumagens bastante distintas. No entanto, se distinguir um melro macho com dois meses de idade de um adulto na primavera é fácil, dado que

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Jorge Gomes

O que pode a pena de um pássaro dizer? S Análise da plumagem de um melro na mesa de anilhagem científica

o juvenil vai ser castanho malhado e o adulto terá uma bela plumagem negra, se olharmos para esse mesmo juvenil no outono o caso tornar-se-á mais complicado, dado que ele já se parecerá com um adulto… será que dá para resolver este problema? Ao contrário dos nossos pelos, que são estruturas biológicas relativamente simples, as penas das aves têm uma grande complexidade e o seu crescimento é energeticamente bastante exigente, e por isso não podem ser renovadas constantemente. Assim, as aves tendem a concentrar a muda da plumagem em alturas específicas do ano, entre outros períodos mais críticos como a nidificação, a migração ou a invernada. Estas mudas consistem numa renovação completa ou parcial da plumagem, e muitas vezes o padrão difere entre juvenis e adultos – para a maioria das espécies de passeriformes europeus, a principal época de muda dá-se entre as épocas de nidificação e a de migração outonal, e enquanto os adultos tendem a fazer mudas completas, os juvenis fazem mudas parciais (geralmente penas do corpo). No outono e inverno seguintes, a maioria das aves já terá uma aparência de

adulto, mas os juvenis trarão em algumas das penas a marca da sua idade, pois têm penas de juvenil que ficaram por mudar – estas tendem a ser menos coloridas, mais translúcidas e com estrutura menos consistente. Quando uma ave sai do ninho ela tem de rapidamente ter um conjunto de penas no corpo todo que lhe permita voar e proteger-se, e por isso este crescimento acelerado traduz-se em penas de pior qualidade que as penas dos adultos. Para a maioria das espécies, estas diferenças são muito subtis, e somente com uma ave na mão e alguma experiência se poderão ver estes contrastes entre penas de adulto e de juvenil. Para algumas espécies, no entanto, isto pode ser visto pelo observador citadino um pouco mais atento. Neste outono que se aproxima, comece a olhar com atenção para os melros machos que passam à sua frente no jardim: todos parecerão pretos, mas as aves que nasceram nesta época de nidificação de 2014 terão algumas penas castanhas na ponta da asa, uma lembrança ao observador que apenas agora começam a enfrentar a aventura da vida! Texto Pedro Andrade


João L. Teixeira

BATER DE ASA 51

aves O voo das

Na Beira Alta, concretamente em Celorico da Beira, distrito da Guarda, foi recuperada em 15 de fevereiro de 2013 a anilha 23Z24781, que tinha sido aplicada na Bélgica – Marksplas, Antuérpia – em 12 de outubro de 2012 no primeiro ano de vida da ave. O pássaro em causa é mais uma vez um tordo – Turdus philomelos – e foi abatido por um caçador. Face aos dados registados, é de

concluir que este tordo se deslocou 1523 quilómetros entre o local da Estação de Esforço Constante de anilhagem científica belga, onde lhe foi aplicada a anilha, e o local de recuperação da mesma. Se algum dia chegar a sua vez de deparar com uma destas anilhas, não deixe de nos contactar. Trataremos de saber mais dados a partir dela, a fim de melhor se conhecer o voo das aves selvagens.

Universidade Júnior Na lógica das Oficinas de Verão, este ano a Universidade Júnior apresentou um novo programa de atividades. Num dos cenários em que decorre esta iniciativa, o Parque Biológico de Gaia, as oficinas direcionaram-se para temas específicos. Foi assim porque a Universidade do Porto abriu mais uma vez as suas portas, no verão de 2014, a cerca de 5 mil estudantes nas idades entre o 5.º e o 11.º ano de escolaridade. De segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 18h00, participaram em diversas atividades e projetos de investigação em áreas tão diversificadas como as ciências, as tecnologias, as humanidades, as artes ou o desporto. A propina de inscrição teve o custo de 75 euros por semana e incluiu o seguro escolar, o material das atividades e as refeições do dia.

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52 OBSERVATÓRIO

As distâncias das estrelas No início do século XVII, a Astronomia dava os seus primeiros passos como ciência Luís Lopes figura 1

A

recente confirmação do modelo Heliocêntrico proposto por Nicolaus Copernicus, as primeiras observações com um telescópio por Galileu Galilei e a formulação matemática das leis que descrevem o movimento dos corpos celestes por Johannes Kepler e Isaac Newton provocaram uma mudança radical na visão ocidental do Universo. Consequência incontornável desta revolução científica foi a ideia, herética durante muitos séculos, de que as estrelas não eram mais do que outros sóis, situados a grandes distâncias. A questão que se punha agora, e que se tornou central para a Astronomia, era a de determinar o quão distantes estavam as estrelas. Como veremos, o Universo não facilitou a vida aos astrónomos e esta é uma questão que atormenta ainda hoje os astrónomos profissionais (e alguns amadores também). Não se trata de um capricho, isto de conhecer a distância de uma estrela. Conseguir fazê-lo permite deduzir diretamente muitas outras coisas sobre a estrela em questão, por exemplo, o seu brilho, o seu tamanho e indiretamente a sua massa. Conhecer estes parâmetros das estrelas é essencial para o estudo da sua evolução e, em particular, de como sintetizam nos seus âmagos os elementos de que o mundo que nos rodeia é composto. O método mais simples e direto para a medição da distância de uma estrela é designado de método do Paralaxe. De forma

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muito resumida, trata-se apenas de medir um ângulo no céu – o ângulo de paralaxe – que depois é facilmente convertível na distância da estrela através de uma fórmula trivial. Baseia-se numa observação muito simples: um objeto próximo de nós parece moverse relativamente a objetos mais distantes quando observado a partir de duas posições diferentes. Por exemplo, na figura 1 o rapaz coloca o dedo polegar à distância de um braço estendido e observa-o alternadamente com cada olho (o outro olho deve estar fechado). Se fechar o olho esquerdo, observando com o direito, vê o dedo numa posição. Se fechar o olho direito, observando com o esquerdo, o objeto parece mover-se relativamente aos quadros na parede. O deslocamento aparente é inversamente proporcional à distância, isto é, objetos mais próximos apresentam um deslocamento maior. Medindo o ângulo correspondente ao deslocamento aparente do objeto e sabendo a distância entre os dois olhos podemos calcular facilmente a que distância se encontra o dedo. Para as estrelas o princípio é o mesmo mas com algumas adaptações (figura 2). O dedo representa a estrela que queremos observar, os quadros na parede são estrelas mais distantes na mesma zona do céu e os nossos olhos são substituídos por um telescópio que observa a estrela em dois pontos da órbita da Terra separados por seis meses.

Desta forma a distância entre as observações é de duas vezes a distância da Terra ao Sol, ou seja, cerca de 300 milhões de quilómetros. Quanto maior o deslocamento da estrela relativamente às estrelas mais distantes, mais próxima ela está. A metade do ângulo associado com esse deslocamento (no céu as distâncias medem-se em ângulos) é designado de paralaxe. A precisão da distância obtida depende apenas da precisão com que o ângulo de paralaxe é medido, e aqui é que começam as dificuldades. Com o advento do telescópio, vários astrónomos famosos dos séculos XVII e XVIII, por exemplo, Galileo Galilei, Robert Hooke, James Bradley e William Herschel, tentaram medir a distância de algumas estrelas que pareciam estar mais próximas, por outras linhas de raciocínio, mas as várias tentativas resultaram em fracasso devido à dificuldade de medir ângulos tão pequenos. Isto queria dizer que as estrelas estavam a distâncias enormes, muito para além do que os astrónomos da época poderiam antecipar. Finalmente, em 1838, o astrónomo alemão Friedrich Wilhelm Bessel conseguiu medir o ângulo de paralaxe para a estrela 61 da constelação do Cisne e calcular a sua distância em 10.4 anos-luz (o valor atualmente aceite é de 11.4 anos-luz). Quase de seguida, em 1839, o astrónomo real para a Escócia, Thomas Henderson, em missão na África do Sul, publicou o paralaxe para a estrela Alfa do Centauro, mostrando que se


figura 2

encontrava muito próxima do Sistema Solar, a apenas 3.3 anos-luz (o valor atualmente aceite é de 4.36 anos-luz). Ainda em 1839, o astrónomo alemão Friedrich von Struve calculou a distância à estrela Vega, uma das mais brilhantes do céu, em 26.1 anos-luz (o valor atualmente aceite é de 25.1 anosluz). A esta sucessão rápida de resultados, sucederam-se determinações semelhantes para outras estrelas, mas as medições eram tão difíceis que no final do século XIX apenas se conheciam as distâncias de 60 estrelas. O método de paralaxe continuou a ser utilizado durante o século XX mas, apesar dos avanços tecnológicos, as distâncias só conseguiam ser determinadas para estrelas até cerca de 300 anos-luz, e ainda assim com erros substanciais. Para lá dessa distância os ângulos de paralaxe eram demasiado pequenos para poderem ser medidos em observatórios situados na superfície da Terra. A interferência da atmosfera terrestre impossibilitava a medição de paralaxes mais pequenos. Com o início da conquista do Espaço, os astrónomos começaram a pensar num observatório espacial dedicado à medição de ângulos de paralaxe. No final do século XX, mais precisamente em 1989, foi lançado o primeiro destes satélites, o Hipparcos, que, apesar de vários problemas iniciais (um lançamento defeituoso impediu que fosse colocado na órbita correta), realizou observações que deram origem a um catálogo com posições, brilho

e paralaxes para cerca de 118 mil estrelas. Destas estrelas, cerca de 20 mil tiveram as suas distâncias determinadas com um erro inferior a 10% e 50 mil com um erro inferior a 20%. Destas estrelas, 400 foram medidas com erros de apenas 1% – até então apenas 50 estrelas tinham tido as suas distâncias medidas com uma precisão semelhante a partir de observatórios na Terra. Mas o estudo da nossa galáxia, a Via Láctea, e das estrelas que a compõem, necessita de maior precisão. Por exemplo, para conhecer a luminosidade real das maiores estrelas, designadas de supergigantes, é necessário determinar com exatidão as distâncias de uma amostra significativa. Num raio de mil anos-luz, distância a que os erros do Hipparcos já são da ordem dos 20%, existem muito poucas estrelas deste tipo. Outro exemplo diz respeito à estrutura da Via Láctea. Para perceber como as estrelas orbitam o centro da Via Láctea e a estrutura figura 3

dos seus braços espirais, é necessário obter distâncias e velocidades de milhões de estrelas, até à região do centro galáctico, com elevada precisão. Estes problemas deixados em aberto pelo Hipparcos motivaram o desenvolvimento de uma nova missão, mais ambiciosa. Depois de duas décadas de desenvolvimento, o observatório astrométrico Gaia (figura 3), sucessor do Hipparcos, foi lançado em novembro de 2013. Orbita atualmente o Sol numa localização especial conhecida por Ponto de Lagrange 2 (L2), em que a gravidade do Sol e da Terra se cancelam. Nesta altura encontra-se numa fase em que os cientistas e os técnicos da missão estão a avaliar e a calibrar os instrumentos. O observatório vai permitir determinar as distâncias de cerca de 20 milhões de estrelas com um erro de apenas 1% e para 200 milhões de estrelas adicionais, o erro vai ser inferior a 10%. Estrelas situadas na região central da Galáxia, a cerca de 27 mil anos-luz, vão ter a sua distância determinada com erros na ordem dos 10% apenas. Com os dados recolhidos ao longo dos 5 anos da missão será possível compilar um catálogo com as posições, paralaxes, temperaturas e velocidades de mais de mil milhões de estrelas. Este catálogo servirá várias gerações futuras de cientistas, contribuindo de forma decisiva para o conhecimento da Via Láctea, a nossa ilha no Universo, e das suas estrelas.

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54 REPORTAGEM

Mexilhões de água doce

sentinelas dos rios Em Portugal há várias espécies de mexilhões de rio: ameaçadas, estão no foco de uma parceria multi-institucional, ao abrigo do programa LIFEEcótono, que funciona no posto aquícola de Campelo, em Figueiró dos Vinhos

«

O

s mexilhões-de-rio são sentinelas da qualidade da água, mais do que os peixes», diz Paulo Lucas, coordenador do grupo de trabalho sobre Biodiversidade da Quercus. «Quando o meio se altera desaparecem: estão a indicar que algo aconteceu ali. Por outro lado, ao filtrarem grandes quantidades de água acabam por influenciar positivamente o meio ambiente, ou seja, acabam por ter um papel filtrador depurador – são aquilo que chamamos nanoetares», conclui e acentua: «Boas populações de mexilhão de rio indicam água de qualidade». O interesse deste trabalho já estava essencialmente definido, mas o assunto tinha ainda pernas para andar. Enquanto a névoa se afasta a passo de caracol, cedendo lugar ao sol, no tanque que espreitamos nadam, velozes, umas centenas de peixes de pequeno tamanho. Lembram ruivacos. Os tanques refletem uma ideia de naturalização, com a presença de várias espécies botânicas típicas dos nossos rios, como salgueiros, tabua ou feto-real. «O que fazemos aqui é simular o que acontece na natureza», refere Paulo Lucas. A água que ali corre vem da ribeira de Alge, nascida na serra da Lousã. Os mexilhões não se veem nesta primeira abordagem. São animais do grupo dos moluscos com um ciclo de vida que

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S Os juvenis de mexilhão, na fase em que são parasitas de algumas espécies de peixe, medem cerca de 200 mícron, pelo que não são visíveis a olho nu

engloba também o fenómeno fantástico da metamorfose. Mas como saber mais sobre as espécies que aqui se reproduzem para repovoamento das respetivas bacias hidrográficas? «São duas espécies de mexilhão de água doce, bem diferentes: o mexilhão-de-rio do Norte e o mexilhão-de-rio do Sul», explica. «O mexilhão-de-rio do Norte – Margaritifera margaritifera – tem um ciclo de vida em que parasita basicamente trutas e salmões». Ambas as espécies de peixe são do género Salmo, portanto, muito próximas. «Este mexilhão-de-rio precisa de os parasitar durante um período de tempo de vai de sete a nove meses. Nesta altura não os vemos à vista desarmada», clarifica. «Estão nas guelras! As fêmeas de mexilhão quando estão grávidas e prestes a libertar os juvenis lançam grandes quantidades de larvas na tentativa de que estas se fixem nos


Thick-shelled river mussels Margaritifera margaritifera and Unio tumidiformis are species of filter-feeding bivalve mollusks that can reach up to 70 years of age in the Iberian Peninsula. They are good Bio-indicators of the water quality, since they only appear in unpolluted streams, especially the former species. The “Life-Ecótono” project, using a multi-institutional cooperative approach, aims to ensure the survival of these and other species. O posto aquícola de Campelo é o cenário da reprodução em cativeiro de duas espécies de mexilhão-de-rio: «Eles ficam sobre a areia e filtram a água que circula em volta através de um sistema de cílios que retêm as partículas nutritivas»

S Nos diversos tanques do posto aquícola de Campelo cria-se um ambiente de transição face à libertação em rios da respetiva bacia hidrográfica

peixes. Seria importante ter muitas trutas no rio para haver possibilidades de maior êxito». Continua o técnico: «Primeiro, é um processo complicado! Têm de chegar ao hospedeiro e é preciso apanhar o hospedeiro naquele momento. E, chegando ao hospedeiro, é preciso que o processo corra bem durante a metamorfose. Mesmo que tudo corra bem

S Ruivaco e escalo

há uma mortalidade terrível a seguir…», descreve. Bem, uma vida complicada: «Por isso é que estes moluscos outrora, quando tudo estava mais equilibrado, e havia grandes populações de trutas e o homem não interferia tanto, havia possibilidade de se reproduzirem da melhor maneira».

Hoje em dia, onde ainda existem, vão sobrevivendo de forma periclitante. Estamos a falar de mexilhões que «duram 60 a 70 anos», mas «podem viver mais de cem anos, como está documentado, por exemplo, na Rússia». Um destes moluscos, no estado adulto, mede talvez dez centímetros!

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56 REPORTAGEM

«O outro, endémico da Península Ibérica, o mexilhão-de-rio do Sul – Unio tumidiformis – é diferente. Não se reproduz com a ajuda de trutas ou salmões, não necessita de águas tão oxigenadas, frias, com aquelas características que existem no Norte. Enquanto os rios desta região têm água todo o ano, os rios mediterrânicos secam no verão, restanto os pegos», poços de água, onde refugiam peixes e alguns outros organismos aquáticos, até que venham as chuvas. Na verdade, são mediterrânicos e «parasitam escalos. Como estes são peixes que gostam de viver em zonas um pouco mais oxigenadas, eles aí têm mais possibilidade de sobreviver». Em suma, «diante das alterações climáticas, torna-se fundamental proteger estas espécies». Fala-se nos anfíbios, mas estes «movimentam-se, estão dentro de água, estão fora de água, muitos têm ciclos de vida em que basta uma charca para sobreviver». Pelo contrário, «os mexilhões-derio precisam de massas de água com alguma dimensão, precisam de determinadas características de habitat que são importantes», diz Paulo Lucas, e remata: «Enquanto os peixes ainda se movimentam dentro dos cursos de água, os mexilhões têm uma locomoção muito reduzida». Por falar em peixes, este projeto LIFE abriga em Campelo algumas espécies endémicas da Península Ibérica, concretamente «o escalo-do-arade, o escalo-do-mira, a boga-do-sudoeste e o ruivaco-do-oeste». A funcionar desde 2008, o projeto tornouse possível graças a uma cooperação institucional com o Município local e o de Castro Daire, a Agência Portuguesa do Ambiente, o Aquário Vasco da Gama e o ISPA, merecendo uma homenagem especial o já falecido Professor Doutor Vítor Almada, mentor inicial do projeto em curso. Mesmo assim, compreende-se que «os repovoamentos deveriam ter um caráter excecional». A situação atual emerge de um quadro preocupante: «Temos cursos de água com galerias ribeirinhas degradadas. Em 2001, e este estudo esteve na base do Plano Nacional da Água, concluiu-se que dos 17 mil

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W Paulo Lucas: estamos a falar de mexilhões que «duram 60 a 70 anos»

quilómetros de galeria ribeirinha só 7500 tinham galeria bem estruturada», afirma Paulo Lucas. «Há efeitos combinados com outras situações – poluição, extração de água, atividades humanas que são por vezes incompatíveis, ocupa-se cada vez mais os cursos de água com barragens, com as questões relativas à conetividade, tudo isto exponencia efeitos das alterações climáticas até meados deste século. Também os poluentes derivados de práticas agrícolas insustentáveis, os incêndios sucessivos levam à necessidade de repensar o coberto vegetal que existe à volta das albufeiras». É igualmente por isso que se torna necessário «promover a nossa floresta autóctone. Se o Estado não se empenha


S Em julho passado, foram libertados 4 mil mexilhões-de-rio nascidos aqui no rio Paiva

S Nos tanques do posto aquícola há várias espécies botânicas típicas dos nossos rios, como salgueiros, tabua ou feto-real

tendo instrumentos ao seu dispor, se vamos deixar isto apenas às regras de mercado, isto não vai correr bem. O Estado pode restringir iniciativas ou incentiválas», a fim de que o interesse público seja salvaguardado. «Pode pensar-se que os mexilhões são algo de somenos importância, só geram efeitos a nível da conservação das espécies, mas não», na verdade, «são seres que beneficiam diretamente o meio», garante Paulo Lucas. Dá que pensar: neste caso, quem se trama é ainda o mexilhão, mas de nenhuma maneira irá sozinho. Texto Jorge Gomes Fotos João L. Teixeira

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58 REPORTAGEM

Taipal novos voos no caniçal

Um paul faz-se de mil voos, de água e lama, onde medra caniço, bunho e outra vegetação: em Montemor-o-Velho há 233 hectares com estatuto de Zona de Proteção Especial (ZPE), e embora sejam as aves selvagens que mais prendem o olhar ao paul, esta zona húmida é uma montra singular de património vital para o ser humano, a biodiversidade

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Taipal Wetland In Montemor-o-Velho, there is a 233-hectare of Wetland classified as Special Area of Conservation (SAC) of the Natura 2000 Network: although the wild birds are the most alluring part of this bog, it is responsible for safekeeping the whole range of the diversity of life; the Biodiversity.

SVista do Paul do Taipal a partir de um dos observatórios: a esmagadora maioria da sua vida selvagem está oculta no caniçal

«

U

m, dois, três, quatro, cinco, seis… 12, 13... só ali adiante estão 14 ninhos de íbis-preto», assevera Fernando Sabino, vigilante da natureza do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). «Eles também estão a nidificar mais lá à frente», aponta. A copa arredondada, longínqua, de alguns salgueiros que se destacam no vasto caniçal desenha o desfecho: «Neste paul há muito mais que 20 ninhos». Fernando pousa no parapeito do observatório de madeira os binóculos que o levaram ao mundo dos números e esclarece: «Os íbis-pretos começaram a aparecer há pouco tempo. Este ano vieram em força!». As aves escuras de longo bico encurvado, os íbis, não são dos animais mais conhecidos do cidadão comum.

S Fernando Sabino: «Os íbis-pretos começaram a aparecer há pouco tempo. Este ano vieram em força!»

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60 REPORTAGEM

O céu reverbera azul, batido por uma brisa morna. Sem apelo nem agravo, o verão fazse sentir, sob o sol. «Onze horas! É uma hora má. As aves param com o calor», alvitra Fernando Sabino. Serão tudo menos poucas as espécies de aves selvagens que estamos a ver nesta altura, até sem binóculos: andam na água patos-reais, vários ardeídeos como a garçabranca-pequena e a garça-boieira, a garçabranca-grande e o colheireiro, a garça-real e e a garça-vermelha... Uma cria de garça-noturna acaba de se ocultar entre o caniçal. À vista está o íbispreto, o corvo-marinho-de-faces-brancas e a gralha-preta, entre outras. Em voo contido, a lembrar posição alçada na cadeia alimentar, aparecem na paisagem duas águia-sapeiras, a rapina mais dependente das zonas húmidas. Fernando usa outro nome comum, tartaranhão-ruivodos-pauis. Vê-los deslizar sobre o garçal causa debandada. Um quase pára no ar por instantes... O caniçal dá abrigo a bastantes mais espécies do que as áreas livres que estão sob o nosso olhar: «Há muitas aves que não estão à vista porque se aparecem num descampado destes com as crias tornam-se presa fácil», acentua Fernando, e exemplifica: «É o caso das galinhas-de-água e dos galeirões. Tentam agora não andar em campos abertos por causa disso. Sabem que se forem apanhados ali com os juvenis são presa fácil. Os tartaranhões andam sempre a sobrevoar...». Aqui é bem possível que haja um casal, por vezes dois, mas um macho com duas fêmeas de águia-sapeira.

Garça-branca-pequena, à esquerda, e garça-branca-grande entre patos-reais – no inverno ver-se-ão ali muitas mais espécies de patos-bravos, agora na Europa Central e do Norte

Ninhos aos molhos No caniçal, nesta época haverá muitos ninhos de rouxinóis-dos-caniços, o pequeno e o grande, migradores inveterados! São ali observados também o chapim-defaces-pretas e a escrevedeira-dos-caniços, a felosa-dos-juncos e «garças, já contámos, eu o meu colega Paulo Tenreiro, à volta de 150 ninhos, os que conseguimos encontrar!», sublinha. «O calor ali dentro duplica! Aqui também se consegue observar o caimão», diz Fernando. Não se refere a um réptil, mas a uma ave aquática que esteve há poucas décadas perto de desaparecer de Portugal. «Nidifica aqui! Há tempos vi-o ali mais em baixo,

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S O voo da águia-sapeira a dado momento causa debandada geral, perante a hesitação de um juvenil de pato-real


S Ao ser construída, a estrada para a Figueira da Foz causou o alagamento destes terrenos: surgiu o paul sob a égide do caniçal

S À vista desarmada, três íbis-pretos voam e preparam-se para pousar junto dos colhereiros

estava a fotografá-lo enquanto alimentava o filhote. Têm umas patorras grandes. Apanhou o bunho, arrancou-o, depois cortou-o e deu-o à cria», diz. Embora a melhor altura de observação seja mesmo o amanhecer ou o entardecer, estamos agora de olho no paul do Taipal a partir de um velho observatório que, no instante em que lê estas linhas, já deverá estar reabilitado. Ora bem! Passou de novo à frente dos olhos de todos, a dois metros, e quase ninguém a viu. A envergadura é tímida, não chega a meia dúzia de centímetros no voo saltitante – é a cleópatra, Gonepteryx cleopatra, uma borboleta habitual nos habitats de influência mediterrânica. Acompanha-nos também Luís Leitão, técnico superior do ICNF licenciado em Geografia e ligado ao ordenamento do território. Refere

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que o Município local o contactou com vista a melhorar significativamente a infraestrutura de apoio ao ecoturismo na fasquia da observação de aves, para quem o paul é cada vez mais uma referência. A valências de vária ordem, com destaque para o monumental castelo que vigia o paul do Taipal, juntam-se as da vida selvagem. «Adquirimos estes terrenos na década de 90», explica Luís Leitão, referindo-se à zona apaludada. Emergem vantagens: permite uma gestão autónoma, bem melhor do que andar ao sabor do feitio de alguns proprietários privados. «O paul é esta área que se consegue ver e a ZPE vai além do paul», acentua. À esquerda do observatório vê-se a estrada para a Figueira da Foz. Quando foi construída tornou-se uma barreira que segregou estes terrenos alagados dos que se lhe seguem no Baixo Mondego. Além da estrada há hectares de arrozal que se diluem na linha do horizonte. Aqui o arroz deixou de ser cultivado: «Tudo o que vemos é do mais espontâneo que há». O caniçal está, contudo, em sucessão ecológica e isso quer dizer que esta tem de ser contrariada para que as espécies vegetais e animais que deram estatuto de proteção ao ecossistema não se deslocalizem: «A transição é rápida – há 30 anos era arrozal como do outro lado da estrada e agora está assim, uma área completamente naturalizada», explica. «É comum a drenagem natural a partir dos pontos mais altos do paul. As partes que vão ficando mais secas começam a ser invadidas por salgueiros», diz. «O salgueiral está a expandir. É aqui um processo natural, mas estes sítios têm importância devido à área alagada. Por isso há que atrasar um bocado o processo». Algo consensual? «Isto é sempre discutível. Mas são opções que devem ser tomadas. Como é que quero esta área? O que deu importância a este espaço? Ele não foi classificado por aquilo que há de vir a ser, mas pela importância que tem agora, pelos habitats, pela flora e fauna que ocorrem». Conclui: «Vamos ter de fazer algumas ações de rejuvenescimento do caniçal».

Relíquia do Mondego O vale do Baixo Mondego antigamente era uma enorme zona húmida. Com o tempo e o

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Fernando Sabino

62 REPORTAGEM

S Caimão, também conhecido como galinha-sultana

S De difícil observação, sempre no cerne do caniçal, o frango-de-água ouve-se com alguma facilidade

avanço da agricultura, a ideia de drenagem sucessiva dos terrenos vingou, pelo que hoje sobraram umas poucas amostras, como a Reserva Natural do Paul de Arzila, o paul de Madriz e este, o do Taipal, uma das derradeiras zonas húmidas da região. Neste verão vemos espécies que não estarão ali no inverno, como a garçavermelha por exemplo que em setembro T Luís Leitão: «Tudo o que vemos é do mais espontâneo que há»

regressa a África, e vice-versa, outras aves que estão a nidificar no Norte da Europa virão para aqui nas estações frias. É esse o caso dos patos-bravos, como o pato-trombeteiro, que irão começar a chegar ali no outono avançado. Aliás, na estação de esforço constante que ali existe orientada por Paulo Tenreiro são inúmeras as aves controladas com anilhas estrangeiras, de países como a França e a Inglaterra, a Holanda e a Bélgica, por exemplo. Difíceis de ver são os mamíferos, de que são exemplo a lontra e o texugo.

Noite e dia Aquela ideia de as aves estarem ativas de dia e de noite dormirem não é lá muito realista: «As que vemos no paul não têm aqui alimento suficiente — não é um local capaz de suportar tantas aves. Por exemplo, os patos-bravos só estão durante o dia nos pauis, de noite saem para os campos do


S O bunho servia de matéria-prima em séculos anteriores para manufaturar esteiras

Mondego e vão por vezes alimentar-se tão longe como os vales do rio Pranto e do rio Foja», assevera Fernando Sabino. «Penso que, a nível nacional, em termos de paul, de santuário, não há outro como este. Acredito que não haja!», insiste e

explica: «Não há porque é um espaço que tem um campo muito aberto e depois tem uma área envolvente grande que serve de suporte alimentar a esta zona. São muito próximas, está a ver? Basta só passar a estrada de Figueira e tem logo ali os

campos do Mondego», diz Fernando Sabino. Por isso, já sabe: perto de Coimbra, em Montemor, este paul espera por si. Texto Jorge Gomes Fotos João L. Teixeira

Paul do Taipal Reserva Natural do Paul de Arzila Rua do Bairro, 1, Arzila 3045-356 Coimbra (351) 239 980 500 rnpa@icnf.pt www.icnf.pt

Parques Parques e Vida e Vida Selvagem Selvagem primavera verão 2014 • 63


64 BLOCO DE NOTAS

Avifauna do

Estuário do Cávado

N

Jorge Araújo da Silva ECOLOGISTA, OBSERVADOR DE AVES E DIVULGADOR DA VIDA SELVAGEM

o final do último inverno, desencadeada pelas autoridades nacionais para enquanto a The Royal Society for combater os efeitos da poluição provocada the Protection of Birds (RSPB) pelo afundamento daquele petroleiro. Com os divulgava a grande quantidade holofotes da comunicação social apontados para de aves marinhas que, atingidas por uma a costa Norte, multiplicaram-se as promessas de invulgar série de tempestades no Atlântico, planos de prevenção, os anúncios de medidas estavam a ser arrojadas para as costas do de intervenção e, sob a designação de Operação Reino Unido, Ilhas do Canal, Norte de França Ganso Patola, foram convocados técnicos da S Papagaio-do-mar, Fratercula arctica e Golfo da Biscaia, também no litoral de conservação da natureza de várias regiões Esposende me inquietava a sucessão de airos do país, biólogos, veterinários e a sociedade (Uria aalge), tordas-mergulheiras (Alca torda) e, sobretudo, de civil em geral para a eventual necessidade de se proceder papagaios-do-mar (Fratercula arctica) encontrados mortos na à limpeza das praias e ao resgate de animais afetados. A linha da maré. temida maré negra acabaria por nunca ter chegado mas as O seu número era de tal modo elevado que logo me evocou aves petroleadas surgiram em catadupa. Foi assim criado o “Prestige”. Só que agora a tragédia tinha origem em causas o Centro de Acolhimento e Recuperação de Espécies de naturais. Ou não? Será que podemos afastar por completo Esposende (CARE 3) onde, apesar do carácter temporário e a possibilidade daqueles fenómenos extremos estarem da precariedade das instalações, se desenvolveu um trabalho associados às alterações que o nosso modo de vida provocou louvável e foi adquirida experiência e conhecimentos que no clima? importava não desperdiçar. Entre alguns dos envolvidos e Seja como for, estes incidentes lembraram-me a resposta outros que procuraram acompanhar as operações nasceu

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Volta e meia vem-me à memória o malfadado “Prestige”, o seu naufrágio na Galiza em novembro de 2002, o derrame do fuelóleo que transportava, a onda de voluntariado que as suas muitas vítimas motivou, o Plano Mar Limpo e principalmente as aspirações (frustradas) que então suscitou

então a esperança de ver definitivamente o estuário do Cávado dotado de um Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS) bem preparado como outros que naquela altura, vá-se lá saber porquê, foram preteridos pelos responsáveis do ICN. Mas menos de um ano depois do famigerado acidente já se percebia que, sem a cobertura mediática, pouco ou nada haveria de mudar na vigilância da nossa vulnerável costa e na proteção da sua fauna. Nem só o derrame de hidrocarbonetos justificava que os decisores já tivessem ido além da mera apresentação de cartas de intenções. Todos os anos são muitas as espécies afetadas por condições climáticas adversas ou pela exaustão durante as migrações e, em número crescente, apanhadas nas artes de pesca descartadas e que agora derivam como armadilhas à superfície de todos os oceanos. Estas circunstâncias, associadas à maior sensibilidade ecológica da população, tem trazido cada vez mais aves debilitadas ou até moribundas às mãos de quem deve zelar pela sua proteção, no pressuposto de que as conduzam aos CRAS, todos a muitas dezenas de quilómetros do Parque Natural do Litoral Norte. Com isto é

causado um óbvio embaraço ético. Por um lado, é necessário não frustrar quem legitimamente quer salvar uma ave, mesmo que esta não tenha qualquer interesse conservacionista. Por outro, o dever de gerir com equilíbrio os poucos recursos públicos que coloca no prato oposto da balança os gastos relacionados com aquela viagem. E não me refiro apenas ao preço do combustível. É certo que o tempo despendido por uma equipa de vigilantes e os encargos do transporte poderiam, muitas vezes, ser melhor aproveitados em ações de conservação mais prioritárias. Mas também me interrogo sobre os prejuízos ambientais: serão assim tão negligenciáveis os danos causados pelo CO2 libertado nessas deslocações? Enquanto andamos às voltas com estas questões, nos próximos meses aguardam-se os habituais gansos-patolas (Morus bassanus), negrolas (Melanitta nigra), gaivotas de várias espécies e outras aves largadas para convalescerem no hospital em que estamos a transformar o estuário do Cávado. Pois parece que um CRAS aqui, «Nunca Máis»!

S ganso-patola, Morus bassanus

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66 MIGRAÇÕES

Truta-marisca Salmo trutta Linnaeus, 1758

o mar no horizonte “Criticamente em perigo”, lê-se no “Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal” sobre esta espécie que, no nosso país, na forma migradora apenas ainda existe nos rios Minho e Lima

É

caso para dizer que há trutas e trutas. Aparentada com o salmão do Atlântico, nesta espécie de truta há tendências divergentes: se bem que todas nasçam nos rios, nem todas ali permanecem – há as que não hesitam em procurar o mar para ali crescer. Estas, no que diz respeito a voltar à mesma água doce, só mesmo para procriar... Imagino que para os manuais isto não venha de feição, mas como os peixes não os leem, apesar da grave crise que esta variação apresenta no mapa da biodiversidade, a tendência existe e deseja-se que seja para perdurar. O caso ainda está na penumbra, e requer muita investigação, mas não é de admirar que numa mesma espécie haja tendências variadas mediante as vantagens de adaptação a diferentes meios e à sobrevivência, com oportunidade de aproveitamento reprodutivo. A vida de qualquer truta-marisca começa de forma larvar quando da eclosão do ovo, num rio com águas pouco profundas e bem oxigenadas, correntes de velocidade moderada a deslizarem sobre gravilha ou cascalho. As margens estarão vestidas de amieiros, freixos ou salgueiros. Os juvenis permanecem nestes afluentes durante um ou dois anos. Assim que atravessam as transformações orgânicas que lhes vão permitir crescer e amadurecer sexualmente no oceano Atlântico, vivem no mar.

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A migração reprodutiva dá-se no período da primavera/verão e a maturidade sexual ocorrerá por volta dos quatro anos de idade. A truta-marisca, como o salmão, tem um comportamento conhecido por “homing”. Quer isso dizer que tendem a voltar ao afluente em que nasceram. Imagine se pelo caminho encontram obstáculos como uma barragem sem dispositivo que lhes permita ultrapassá-la? Ou, se conseguindo avançar na direção da nascente, encontra água poluída ou pouco oxigenada? Pode ocorrer a extinção local. Portugal é um país com um interesse particular para esta espécie porque é o limite sudoeste da sua distribuição. Entre as medidas de proteção situa-se a legislação nacional de defeso, o que impede durante esse período que este peixe seja objeto de pesca. Ajuda, mas não salvará por si só a forma migradora de uma provável extinção, se se observar que “a redução da população nos últimos 10 a 15 anos pode ter atingido 98% do número de indivíduos maduros e prevê-se que possa continuar a verificar-se nos próximos 10 a 15 anos ou em qualquer outro período com a mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução, embora geralmente compreendidas, não são reversíveis nem cessaram”.* Os fatores de ameaça a esta forma migradora de truta – e a outros peixes com evidente valor comercial como o sável e o salmão, entre outros – juntam poluição, obstáculos impeditivos de acesso aos locais de desova, a extração de inertes, a alteração do regime natural de caudais e a sobrepesca. O tamanho máximo desta truta assinala 140 cm e 50 kg de peso.

Texto Jorge Gomes

* “Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal”, edição ICNF


Brown trout

Rio Minho Rio Lima

João Luís Teixeira

Portugal is the southeastern limit of this species’ distribution, and as such is a very important Country for the Brown Trout. Among the various protection policies are a set of laws that define periods when hunting or fishing for certain species is banned, including the Brown Trout. The IUCN Red List of Threatened Species, where this species is listed as “critically endangered (CE)”, says that the Brown Trout appears in the Minho and Lima rivers as a part of its migratory route.

A truta-marisca e a truta-comum são uma mesma espécie, só que algumas escolhem crescer no mar, outras no rio

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68 RETRATOS NATURAIS

Vamos desenhar...

uma cobra-de-água

Cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix)

A ilustração zoológica é um domínio que abrange uma multitude de categorias, sub-categorias e até infra-categorias. Um exemplo desta especialização e sub-divisões pode ser constatado na ilustração herpetológica, que ilustra um ramo da zoologia, a herpetologia

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Neste, estudam-se os anfíbios e também os répteis na vertente taxonómica, ecológica, comportamental, etc. É pois um tipo de ilustração científica que se dedica à ilustração de dois grupos de animais diferentes, mas que foram agrupados por serem animais que, durante a sua locomoção, parecem de alguma forma rastejar (herpeto) e, fisiologicamente, são incapazes de conservar o seu próprio calor de forma constante. Assim um ilustrador herpetológico é um técnico que se especializou na ilustração destes magníficos seres, seja dos processos etológicos, ecológicos, fisiológicos e, de forma mais recorrente, na vertente anatómica, seja ela interna ou externa (a mais frequente, dita também ilustração figurativa, descritiva, ou taxonómica), quer de forma extantes (contemporâneas) ou extintas (fósseis). O campo de intervenção é assim extremamente vasto, como agora se depreende, e em nada limitativo, como à primeira vista pareceria... A ilustração de répteis e a ilustração de anfíbios regem-se por regras diferentes, no que à ilustração descritiva se refere. Incluem-se aqui as componentes/partes a serem traduzidas em imagem desenhada,

bem como a pose a escolher para o animal adulto, capazes de permitir uma diagnose e identificação fidedignas. Neste artigo vamos dedicar a nossa atenção à ilustração de répteis e, a título de exemplo, vamos centrar-nos na figuração de ofídeos, ou répteis que evolutivamente perderam os membros locomotores ou patas – as cobras, ou serpentes. Tal como a maioria dos peixes ósseos, também estes animais apresentam o corpo revestido de escamas (as quais são contudo epidérmicas, de queratina, ao contrário das dos peixes que são dérmicas, de tecido ósseo), pelo que especial atenção deve ser dada à forma, localização e dimensão destas unidades de revestimento e de proteção, bem como à sua textura, ornamentação e, principalmente, ao padrão que no conjunto de todas elas formam visualmente – o qual pode ser mais colorido e diversificado (como as cobras com cores aposemáticas, ou cores de alerta, e que enunciam um ser potencialmente venenoso e perigoso) ou cromaticamente mais uniforme. Como já tivemos oportunidade de referir em diferentes ocasiões, a vista ou norma em que o animal se desenha, tem como principal propósito conferir familiaridade na


observação do espécime, em que ele é mais frequentemente encontrado. Contudo, a pose pode introduzir uma outra dimensão na síntese gráfica da informação que irá ser traduzida em imagem – o comportamento mais típico do vertebrado. O compromisso entre a norma e a pose resulta pois de uma análise e ponderação, entre vários fatores e aquilo que verdadeiramente é importante transmitir naquela ilustração em particular. Por exemplo, numa ilustração em que seja importante observar a anatomia interna, diferenciando sistemas diferentes (o digestivo, do reprodutor; estes do excretor, etc.), a norma a desenhar é a ventral (com ou sem corte longitudinal mediano da cavidade abdominal) e a pose em vida é um

1

2

3

Cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix) 1. norma lateral 2. norma dorsal 3. corpo inteiro

fator que pouco influencia a forma como corpo vai ser desenhado (geralmente, em “s”, mais por uma questão de gestão e economia de espaço na área/formato disponível e a respeitar – uma vez que as cobras são bastante compridas – do que para mostrar um qualquer comportamento de locomoção). Regra geral a ilustração taxonómica de um ofídeo, passa sempre pela ilustração do corpo inteiro, em norma lateral ou dorso-lateral, em disposição longitudinal e ondulante (como se estivesse a locomover-se) ou então enrolado sobre si mesmo e como seja típico dessa espécie (embora esta escolha também represente numa clara economia de tempo e paciência do ilustrador, que assim poupa a reprodução de padrões repetitivos e, por conseguinte, o desenho redundante, em termos visuais e de acrescento de informação). Nestas composições podem

ser ainda encontradas figurações da extremidade posterior (término da cauda e pormenor ventral da cloaca), mas as mais correntes e importantes são as da extremidade cefálica. Esta é desenhada em norma lateral e dorsal, sendo que por vezes também se apresenta em vista ventral (mais usual em lagartos/lagartixas, para se ver a prega gular e/ou o padrão de escamas ventrais da mandíbula). Nestas duas vistas da cabeça, uma pequena alteração no número, forma e localização de algumas escamas pode, grosso modo e nas espécies do mesmo género, conduzir a que se passe de uma espécie para outra – como acontece nas cobras de água, a viperina (Natrix maura) e a de colar (N. natrix) – principalmente em ilustrações de linhas apenas (sem padrões, ou cores). E se a Bíblia diz que a serpente enganou Eva, o melhor é não nos deixarmos

encantar pelas serpentes e ficarmos bem atentos à sua realidade anatómica. Assim a metodologia usualmente descrita noutros artigos desta rúbrica (elaboração de uma lista de verificação dos carateres diagnosticantes que devem ser o obrigatoriamente ilustrados, seguido de desenho preliminar e arte final segundo a técnica de expressão plástica que mais se adequa ao propósito, ou que é mais familiar ao ilustrador) deve ser seguida à risca, para que o risco de errarmos e ilustrarmos a espécie não desejada seja minimizado. Feito isto, toca a serpentear riscos e cores! Texto e ilustrações

Fernando Correia Biólogo e ilustrador científico Dep. Biologia, Universidade de Aveiro fjorgescorreia@sapo.pt www.efecorreia-artstudio.com

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70 ATUALIDADE

Bisonte-europeu reintroduzido nos Cárpatos Em 17 de maio foram libertados, após 250 anos de ausência, nos Cárpatos, em território sob a égide da Roménia 17 bisontes-europeus. O Município de Armenis apelou a esta reintrodução tendo em conta que boa parte das terras comunitárias sob sua gestão abrem naturalmente as portas à vida selvagem. Os herbívoros são provenientes de estações europeias de reprodução e configuram a maior reintrodução de bisontes alguma vez ocorrida na Europa. Com isto, conta-se que dentro de uma década haja meio milhar de animais desta espécie a viver pelos seus próprios meios nestas montanhas. O bisonte-europeu é o maior mamífero selvagem terrestre europeu e outrora chegou a percorrer praticamente toda a Europa. Atualmente a população desta espécie conta-se em todo o mundo em cerca de 5 mil indivíduos. Deste número, apenas 3230 vivem em liberdade. Isso faz com que seja mais raro do que por exemplo o rinoceronte-negro.

O bisonte-europeu é o maior mamífero selvagem terrestre deste continente

Diversos estudos genéticos têm revelado uma complexa e antiga relação simbiótica que estará na origem da fotossíntese das plantas. Toda a imensa diversidade das plantas fotossintéticas da Terra reconduz a uma única célula verde. Há muitos milhões de anos uma ínfima alga terá engolido uma cianobactéria transformando-a numa central interna de energia solar. Uma hipótese deste género foi levantada durante a década de 60, mas não terá sido levada a sério. No entanto, em declarações prestadas à revista "Scientific American" de fevereiro de 2012, a bióloga molecular Dana Price, da Universidade de Rutgers, elucida sobre a história evolutiva das plantas e adianta que do grupo das Glaucophyta – um grupo de algas de água doce – se destaca a Cyanophora paradoxa. É assim porque em relação às demais plantas esta espécie ainda retém uma versão menos domesticada da cianobactéria original. Deduz-se então que células das plantas que hoje conhecemos são derivadas de uma união simbiótica afim. A razão para que isto tenha ocorrido pode estar ligada ao facto de alguns predadores de cianobactérias desviarem o seu interesse no sentido não de as deglutirem mas de as absorverem, seja pela escassez de presas seja pela abundância de sol.

70 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Palpita unionalis

Borboleta asiática Uma borboleta exótica que se tem estado a disseminar «pela Europa Central foi agora encontrada como nova espécie observada em Espanha, bem perto de nós, na Galiza (Pontevedra)», diz Eduardo Marabuto, biólogo. «Trata-se da Cydalima perspectalis, espécie aparentada com a nossa Palpita unionalis. É praga conhecida de uma planta largamente utilizada em jardinagem, o buxo (Buxus sempervirens), e talvez até já esteja em Portugal, especialmente no Norte do país». É uma questão de pouco tempo até ser encontrada. Quem vai ser o primeiro?

AtelierMonpli - Creative Commons

O aparecimento da primeira planta


João L. Teixeira

Berlengas: santuário natural Um novo projeto Life+ Berlenga vai pressupor um investimento de 1 milhão 380 mil euros e ajudará a repor os valores naturais do arquipélago. O projeto LIFE+ Berlengas “Conservação das espécies e habitats ameaçados da Zona de Proteção Especial (ZPE) das Berlengas através da sua gestão sustentável” foi um dos cinco projetos recém-aprovados para Portugal, no âmbito do Programa LIFE+ da União Europeia. Durante os próximos quatro anos, a Reserva Natural das Berlengas será alvo de um projeto de restauração ambiental que tem como principal objetivo garantir a preservação dos seus valores naturais. A parceria, que junta uma ONG, o Estado, uma autarquia e uma universidade, prevê assim aliar desenvolvimento sustentável, turismo responsável e conservação dos valores naturais da Reserva Natural das Berlengas num exemplo de gestão de uma Área Protegida. A cidade de Peniche e as Berlengas são um importante destino turístico do país, recebendo mais de 200 mil visitantes por ano.

Birdsnap: programa para observadores de aves

João L. Teixeira

Um investigador da Universidade de Columbia, Peter Belhumeur, nos EUA, desenvolveu um programa capaz de ajudar os observadores de aves selvagens a identificar aves que ainda não dominem. Com o seu iPhone, máquina fotográfica digital ou computador deve tirar uma fotografia à ave e clicar no olho e nas penas caudais. Depois deve introduzir o local e a data da observação. O programa chama-se Birdsnap e funciona à base de algoritmos que detetam partes da ave, como o aspeto do ventre e do bico. Não será muito diferente dos programas de reconhecimento facial já existentes. A diferença é que este novo programa em poucos segundos dá uma dica sobre a espécie que provavelmente estará a observar sem ter de folhear um livro na ordem das 300 páginas em busca da secção respetiva. S Rola-do-mar

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72 PROJETO PAR Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área de floresta em Vila Nova de Gaia com a garantia, dada pelo Município, de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência ao seu gesto em favor do Planeta

Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em carbono@parquebiologico.pt Parque Biológico de Gaia, Projeto Sequestro do Carbono 4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia

Sequestro de Carbono Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3 • Agrupamento Vertical de Escolas de Rio Tinto • Alice Branco e Manuel Silva • Alunos do 9.º ano (2012/13) da Escola Secundária do Castelo da Maia • Amigos do Zé d’Adélia • Amigos do Zé d’Adélia e Filhos • Ana Filipa Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana Luis e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula Pires • Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos, Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia Neves do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Ana Sofia Magalhães Rocha • Ana Teresa, José Pedro e Hugo Manuel Sousa • António Miguel da Silva Santos • Arnaldo José Reis Pinto Nunes • Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara Sofia e Duarte Carvalho Pereira • Bernadete Silveira • Carolina de Oliveira Figueiredo Martins • Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch • Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa & Garcia • Cónego Dr. Francisco C. Zanger • Convidados do Casamento de Joana Pinto e Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes Rodrigues • Departamento Administrativo Financeiro da Optimus Comunicações, SA DAF DAY 2010 • Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Escola Secundária de Ermesinde • Departamento de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Dinah Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda e Delfim Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola Básica da Formigosa • Escola Dominical da Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3 de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos, Projecto Pegada Rodoviária Segura, Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3 Escultor António Fernandes de Sá • Escola Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu Aprender a Viver de Forma Sustentável • Escola Secundária Augusto Gomes • Escola

72 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Secundária do Castelo da Maia • Família Carvalho Araújo • Família Lourenço • Fernando Ribeiro • Francisco Gonçalves Fernandes • Francisco Saraiva • Francisco Soares Magalhães • Graça Cardoso e Pedro Cardoso • Grupo ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária dos Carvalhos • Grupo Ciência e Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves • Grupo de EMRC da Escola Básica D. Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura Paredes • Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês, Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes da Silva • Joana Garcia • João Guilherme Stüve • João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita Mendes, Rita Moreno, e Sofia Teixeira, do 12.º A (2011/12) da Escola Secundária Augusto Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves • Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso • José António Teixeira Gomes • José Carlos Correia Presas • José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves • José, Fátima e Helena Martins • Lina Sousa, Lucília Sousa e Fernanda Gonçalves • Luana e Solange Cruz • Manuel Mesquita • Maria Adriana Macedo Pinhal • Maria Carlos de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta Lopes e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes da Costa e Manuel da Costa Dionísio • Maria Helena Santos Silva e Eduardo Silva • Maria Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela Esteves Martins Alves • Maria Violante Paulinos Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da Rocha • Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal •

Marisa Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes • Mateus de Oliveira Nunes Miranda Saraiva • Miguel Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão • Pedro Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos e Paula Sousa • Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Professores e Funcionários (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Protetores do Ambiente Professores e Alunos da Escola Básica de Canidelo • Regina Oliveira e Abel Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira • Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Serafim Armando Rodrigues de Oliveira • Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães Rocha • Tiago Pereira Lopes • Turma A do 6.º ano (2010/11) do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano (2008/09) da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma A do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma A do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 12.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma C do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma D do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E do 10.º ano (2008/09) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E do 12.º ano (2010/2011) da Escola Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º ano (2010/11) - Curso Profissional Técnico de Gestão do Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA (2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores (2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro •Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha


Colégio Luso-Francês

Posto de Abastecimento de Avintes

Para aderir a este projeto recorte o seguinte rectângulo e remeta para: Parque Biológico de Gaia • Projeto Sequestro do Carbono • 4430 - 681 Avintes • Vila Nova de Gaia O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono

Pretendo/Pretendemos aderir à Campanha Confie ao Parque Biológico de Gaia o Sequestro do Carbono apoiando a aquisição de

m2 de área florestal X € 50 =

Junto se envia cheque para pagamento

euros.

1 m2 = €50 - 4 kg/ano de CO2

Procedeu-se à transferência para o NIB 0033 0000 4536 7338 05305

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74 BIBLIOTECA

A Arte e a

Natureza em Portugal

Há cerca de 105 anos concluía-se a extraordinária e excecional publicação de “A Arte e a Natureza em Portugal”, um volume editado em oito fascículos e que obedece a três temáticas bem definidas: o património, os costumes e a paisagem

A

obra conta com mais de 350 reproduções fotográficas de grande qualidade Filipe Vieira e com uma boa dimensão, fruto do empenho de um fotógrafo, editor e empreendedor alemão sediado no Porto, Emílio Biel, a que se junta a cumplicidade de algumas das mais importantes figuras da cultura do seu tempo. É o caso do historiador de arte portuguesa e incentivador da própria obra, Joaquim de Vasconcelos – com quem partilhou a preocupação pelo estudo do património português – mas também de muitos outros colaboradores, como Carolina Michaelis de Vasconcelos, Gabriel Pereira, Ramalho Ortigão, Augusto M. Simões de Castro, Albano Belino, Júlio de Castilho e Manuel Monteiro; a direção de execução é de Fernando Brutt e Cunha Moraes (fotógrafo). O gosto romântico de “A Arte e a Natureza em Portugal” afirma-se pela profusa quantidade de paisagens e ruínas, imagens de grande beleza, muitas delas, sobretudo as do Sul de Portugal, fotografadas pelo próprio Cunha Moraes.

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Trata-se de uma obra volumosa, com mais de três centenas de fotografias sépia, impressas em fototipia, que surpreendem pela particular qualidade de execução: não era conhecida até à época de edição outra obra ilustrada com tal variedade e profusão de registos. Todos os volumes contêm uma introdução e incluem fotografias de

monumentos, obras de arte, costumes e paisagens, neste caso de Guimarães, Barcelos, Évora, Porto, Lisboa, Sintra, Lorvão, Coimbra e arredores. Em cada área geográfica abrangida existe um texto de apoio a cada fotografia. Os textos descritivos com “ritmo” de um guia turístico e descrições de aspetos culturais e costumes portugueses enriquecem o livro, uma verdadeira obra de arte e um marco importante para a fotografia portuguesa, representando o mais marcante repertório iconográfico do século XIX e início do século XX. Pode consultar a obra completa na Biblioteca do Parque Biológico de Gaia, agendando a sua visita.

“A Arte e a Natureza em Portugal” Album de photographias com descripções; clichés originaes; copias em phototypia; monumentos, obras d`arte, costumes, paisagens.

Diretores: F. Brutt; Cunha Moraes Porto 1902 Emilio Biel & C.ª - Editores


CRÓNICA 75

Jorge Paiva Biólogo

Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra jaropa@bot.uc.pt

Jorge Gomes

Utilidade e relevância da nomenclatura e taxonomia biológica

SUrze (Calluna vulgaris)

Nomenclatura

A nomenclatura vulgar dos seres vivos variou e varia ainda, desde frases [ex. “tremoceiro-de-folhas-estreitas” (Lupinus angustifolius) e “cercopiteco-de-gargantabranca” (Cercopithecus albogularis)], nomes com duas ou mais palavras [ex. “erva-ouriço” (Cenchrus echinatus) e “hiena-castanha” (Parahyaena brunnea)] até um único termo [ex. “medronheiro” (Arbutus unedo) e “babuíno” (Papio cynocephalus)].

O

s nomes vulgares, além da ausência de normas, têm outras desvantagens. De notar que, geralmente, são considerados como vulgares, os nomes vernáculos, embora, o nome vulgar não seja genuíno de uma região ou país. Por exemplo, “narciso” (espécies do género Narcissus) é um nome vulgar derivado do grego “nárkissos”, latinizado para “narcissus”. Estas plantas, nalgumas regiões de Portugal são designadas

pelo vernáculo “copinhos”, noutras por “campainhas” e noutras por “cucos”; na Zoologia também há muitos casos destes, como, por exemplo, a “águia-pesqueira” (Pandion haliaetus), que no norte de Angola é conhecida pelo vernáculo “pemba” e por “guicho” em Cabo Verde. Entre as desvantagens dos nomes vulgares ou vernáculos, destacamos: 1 - São muitas vezes indefinidos ou imprecisos; ex. “urze” aplica-se a várias espécies do género Erica e, até, à Calluna

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vulgaris; “zebra” aplica-se a várias espécies do género Hippotigris. 2 - Variam regionalmente, no mesmo país ou em diferentes países; ex. Arachis hypogaea tem as seguintes designações (entre muitas outras): (português) alcagoitas (Algarve), amendoim, mancarra (Guiné), ginguba (Angola); (espanhol) alfoncigo de tierra, cacahué, cacahuey, cacavet, mandavi, pistacho de tierra; kakahuete (basco); cacauete (catalão); arachide (francês); peanut (inglês); fistik (turco); erdnuss (alemão); mani (filipino); jordnöt (sueco); orzech ziemny (polaco); zemesriekstu (letónio); arachidi (italiano); kacang (indonésio); földimogyoró (húngaro); maapähkinä (finlandês); maapähkel (estoniano); pinda (holandês); arašíd (checo); kikiriki (croata); grondboontjiebotter (afrinans); badiava (albanês). Entre os animais, citamos, como exemplo, o atumbranco ou atum-albino (Thunnus alalunga), também designado por albacora ou alvacora (Açores); avoador (Angola); peixemaninha (Cabo Verde) ou asinha, bandolim e carorocatá (Brasil). 3 - Variam temporalmente; como, por exemplo as “couves” (Brassica oleracea) já se designaram por “veizas” (Idade Média), mais tarde por “veiças” ou “verças” ou “berças”, assim como ao “boi” (Bos taurus) chamavam “zevro” ou “zebro” no período entre o século XI e XII. 4 - O mesmo nome vulgar pode ser usado para seres diferentes; como, por exemplo “uva-de-cão” tanto pode ser Tamus communis, como Solanum dulcamara, como Sedum acre; o nome “pardal” é usado para designar aves do género Passer e do género Petronia. 5 - A escolha de um nome vulgar não obedece a qualquer regra. Em Biologia, a nomenclatura consiste na atribuição de um nome a um ser vivo e a grupos de seres vivos (famílias, ordens, filos, etc.), de acordo com as regras internacionais de nomenclatura biológica. Esta função é regulada pelos Códigos Internacionais de Nomenclatura (International Code of Nomenclature of Algae, Fungi and Plants; International Code of Zoological Nomenclature; International Code of Nomenclature of Bacteria e International Code of Virus Classification

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Classificação do reino Animal de Aristóteles

76 CRÓNICA

Enaima Vertebrados

(com sangue vermelho; vivíparos ou ovíparos) Internamente vivíparos 1. Homem 2. Cetáceos 3. Quadrúpedes vivíparos (parte dos Mamíferos) Ovíparos ou, por vezes, extremamente vivíparos Com ovos perfeitos 4. Aves 5. Quadrúpedes ovíparos (= Anfíbios e maioria dos Répteis) 6. Serpentes Com ovos imperfeitos 7. Peixes

Anaima Invertebrados

(sem sangue vermelho; vivíparos, vermíparos de geração espontânea ou por gemulação) Com ovos perfeitos 8. Cefalópodes 9. Crustáceos Com ovos especiais 10. Insetos, aranhas, escorpiões, etc Com gomos, massas geradoras ou de geração espontânea 11. Moluscos (exceto Cefalópodes), Equinodermes, etc. De geração espontânea 12. Esponjas, Celenterados, etc.

and Nomenclature). Estes Códigos, embora com regras semelhantes, são independentes, mas todos utilizam a nomenclatura binominal e em latim, estabelecida por C. Lineu (1707-1778). Os nomes das espécies são constituídos por duas palavras: uma, o género, um substantivo, iniciada por maiúscula, e outra, o restritivo específico, um adjetivo, em minúsculas, que tem de concordar em género (masculino, feminino ou neutro) e número (singular ou plural), com o respectivo substantivo (ex. Polygala albida e nunca Polygala albidum ou Polygala albidus). Apenas nos vírus, os nomes das espécies (sempre binominais) e géneros têm de vir acrescentados com o termo virus (ex. Beta gammavirus, é o nome da espécie; Betavirus é o nome do género). Nas bactérias os nomes científicos são binominais, como em qualquer outro ser vivo (ex. a muito badalada Escherichia coli… lê-se esqueriquia coli).


Jorge Gomes

Recentemente, os botânicos e os zoólogos estabeleceram alguns acordos nas regras de nomenclatura dos taxa [sigular taxon, termo de origem grega, proposto por H. Lam, (Congresso de Estocolmo, 1950), introduzido na 4.ª edição do International Code of Nomenclature of Algae, Fungi and Plants (1952), posteriormente adotado pelos outros Códigos e que serve para designar qualquer grupo taxonómico, seja qual for o respetivo grau (espécie, género, família, ordem, filo, etc.)]. Assim, por exemplo, em Botânica, o taxon Divisão passou a designar-se por Filo, tal como na Zoologia. Mas, continua a haver diferenças, como, por exemplo, na Zoologia é possível a tautonimia (o restritivo específico pode repetir o nome do género), como acontece com os nomes da raposa (Vulpes vulpes) e da lontra (Lutra lutra). Em Botânica isso não é permitido. Por exemplo, o feijoeirovulgar (Phaseolus vulgaris) nunca podia

Classificação do reino Animal de Lineu

SGineta (Genetta genetta)

Coração

(com 1 ou 2 ventrículos e 2 aurículas) sangue quente e vermelho Vivíparos 1. Mamíferos Ovíparos 2. Aves

Coração

(com 1 ventrículo e 1 ou 2 aurículas) sangue frio e vermelho Respiração pulmonar 3. Répteis Respiração branquial 4. Peixes

Coração

(com 1 ventrículo e sem aurícula) sangue frio e incolor Com antenas 5. Insetos Com tentáculos 6. Vermes

designar-se por Pahseolus phaseolus. Outra diferença é na citação dos autores, pois na Botânica não se cita o ano da publicação. Por exemplo, a geneta é Genetta genetta L., 1758, mas o nabo, como é planta, escreve-se o nome do autor sem data, Brassica napus L. Tanto na Botânica, como na Zoologia, admitem-se taxa infraespecíficos. Nestes casos, o nome de um dos taxa (o que inclui o tipo) tem de repetir o restritivo específico, sem autores. Como na Botânica se admitem vários graus de taxa infra-específicos (ex. subespécies e variedades), estas categorias têm que ser indicadas, abreviadamente, com o nome (ex. Alyssum alpestre L. var. alpestre e Alyssum alpestre L. var. incanum Boiss.). Como na Zoologia apenas se consideram subespécies, na citação do nome, não é necessário referir a categoria. Por exemplo, o búfalo-africano (Syncerus caffer Sparrman, 1779) tem cinco subespécies: Syncerus caffer Sparrman, 1779 caffer (búfalo-dasavana); Syncerus caffer Sparrman, 1779 nanus Boddaert, 1785 (búfalo-da-floresta ou pacaça); Syncerus caffer Sparrman, 1779 brachyceros Gray, 1837 (búfalosudanês); Syncerus caffer Sparrman, 1779 aequinoctialis Blyth, 1866 (búfalo-do-nilo) e Syncerus caffer Sparrman, 1779 matthewsi Lydekker, 1904 (búfalo-da-montanha), esta última não universalmente reconhecida. Nos seres procariotas e vírus não se consideram taxa infra-específicos, mas apenas estirpes genéticas, tal com existem também nas plantas e nos animais. Nos animais domésticos, extremamente modificados geneticamente e através de cruzamentos controlados, consideramse, muitas vezes, raças. Com as plantas cultivadas, como formam híbridos férteis mais viáveis e como a manipulação genética é mais fácil, a complicação na nomenclatura de “cultivares” (não há raças na Botânica) é enorme. Por isso, existe também um International Code of Nomenclature for cultivated plants cultivar. Muitas vezes aparecem nomes de autores entre parênteses [ex. Bellardia trixago (L.) All.]. Isso indica que o primeiro autor a utilizar o restritivo (neste caso trixago) é o que está entre parênteses (neste caso Lineu), num outro género ou para nomear um taxon infraespecífico.

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78 CRÓNICA

Na citação de autores, há mais algumas normas, mas não tão relevantes. Quando se citam nomes científicos em artigos de índole não científica, não se devem indicar autores, pois além do público não entender essa citação, evitam-se erros. O nome científico em latim e curto (apenas duas palavras) tem a vantagem de ser universal (igual em todo o Globo) e numa língua apátrida e “morta”, isto é, não sendo uma língua nacional, o nome não pode ser rejeitado com o argumento de estar numa língua de um país diferente.

Taxonomia

Taxonomia [do grego antigo taxis (dispor, organizar) e nomos (lei ou princípio comum), que significa dispor (organizar) segundo uma lei ou princípio] é a ciência que trata da identificação, nomenclatura e classificação de objetos, particularmente de natureza biológica. Muitos restringiram o termo Taxonomia apenas aos princípios básicos dos sistemas de classificação, considerando a Sistemática [do grego syn (junto) e histanai (colocar), que significa juntar (colocar com), sem dar a ideia de precisão] como sendo a classificação dos seres vivos segundo um determinado sistema nomenclatural. Assim, permanecia a necessidade de um termo coletivo único. Atualmente, taxonomista é o indivíduo que identifica, denomina e classifica seres vivos, considerandose sinónimos os termos Taxonomia e Sistemática.

I

dentificação é o reconhecimento de que um taxon é idêntico (semelhante) ou não a outro já conhecido. Essa identificação pode fazer-se recorrendo à bibliografia ou à comparação com exemplares devidamente identificados (ex., plantas secas, animais embalsamados, seres em soluções conservantes, em preparações microscópicas, etc.). Atualmente, nalguns casos, conseguem-se identificações através de recursos informáticos e fotográficos. Em Biologia para denominar os taxa, utilizam-se as normas da nomenclatura já referidas. A classificação consiste na colocação do ser vivo, ou conjunto de organismos, em grupos

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ou categorias, de acordo com determinado plano ou sequência e em conformidade com as regras internacionais de nomenclatura respetivas. As tentativas de classificação dos organismos são muito antigas, pois classificar é uma atitude própria do ser humano, que mesmo em épocas mais primitivas da civilização, depressa reconheceu os organismos vegetais e animais que podia usar na alimentação, os que o poderiam matar por violência ou envenenamento, os que o poderiam tratar ou curar, etc. Estas primitivas classificações foram, evidentemente, práticas e baseadas, portanto, na observação e utilização dos organismos. Com o aumento do conhecimento dos recursos naturais e a estabilização das civilizações, surgiram classificações mais racionais, com sistemas baseados em características estruturais e morfológicas. As origens deste tipo de classificação remontam a Aristóteles (384-322 a.C.), que classificou os animais baseando-se no sangue e processos de reprodução muito simplificados e a Teofrasto (370-285 a. C.), que classificou cerca de 480 plantas usando inicialmente os carateres mais evidentes, agrupando as plantas em árvores, arbustos, subarbustos e ervas. Para os subgrupos usou sucessivamente características mais aparentes como ovário ínfero e súpero, pétalas unidas ou não, tipos de frutos, etc. A estas classificações racionais opõem-se as classificações empíricas, mais utilizadas no agrupamento de objetos e não de organismos, como, por exemplo, a ordenação de uma biblioteca por ordem alfabética, pela cor da capa ou pelo tamanho dos livros. Estas classificações são artificiais, agrupam os organismos de acordo com conveniências práticas, principalmente como auxiliares de identificação e, geralmente, baseiam-se em poucos carateres ou apenas num único. A partir do século XVI, com os «herbalistas» publicam-se já muitas obras de Botânica e de Zoologia em latim, mas é com C. Lineu (17071778) que as classificações artificiais deixam praticamente de ter como base a classificação aristotélica. O célebre «Sistema Sexual de Lineu» para o Reino Vegetal é bem conhecido, mas, por ser baseado num pequeno número de caracteres (estames e carpelos), foi muito pouco seguido, até nessa época (por ex.: a classe Cryptogamia incluía, além de algas, fungos, líquenes, musgos, hepáticas,


Jorge Gomes

W Medronheiro (Arbutus unedo)

incluía também algumas plantas superiores fanerogâmicas, como as dos géneros Lemna e Ficus, e até corais e esponjas). Aconteceu o mesmo com o seu Sistema de Classificação Animal, muito semelhante ao de Aristóteles, bastante artificial e baseado apenas na estrutura do coração, sangue, tipo de respiração e formas de reprodução. Aos sistemas artificiais seguem-se os sistemas naturais, que procuram refletir a situação tal como se crê existir na Natureza, utilizando todos os elementos disponíveis. Estes sistemas naturais surgem na segunda metade do século XVIII, em consequência da enorme quantidade de plantas e animais vivos ou «preparados» que chegavam aos centros científicos europeus, provenientes de outros continentes. Assim, foi possível a verificação da existência de maiores afinidades naturais entre os organismos do que as indicadas nos sistemas artificiais. Este período, onde sobressaíram J. Lamarck (1744-1828) e a família Jussieu (16861779), impulsionou a sistemática e, com a rápida aceitação e difusão das teorias de C. Darwin (1809-1882), surgem os sistemas filogenéticos (do grego phylos - raças, estirpe e geneia - descendência) ou evolutivos, que classificam os organismos segundo a ascendência e descendência, de acordo com a sua sequência evolutiva, refletindo relações genéticas. Classificações artificiais e classificações naturais são classificações horizontais, pois, não admitindo a evolução dos organismos, consideram-nos sem dimensão no tempo, isto é, baseiam-se na semelhança estrutural, sendo pois, estáticas. São portanto classificações fenéticas, características do período prédarwiniano. As classificações filogenéticas são classificações verticais, por terem em consideração a dimensão no tempo, isto é, têm uma perspetiva dinâmica. São também designadas por classificações filéticas. As classificações elaboradas após a publicação da «Origem das espécies» (1859) de C. Darwin, e respetiva difusão, supunham que as semelhanças verificadas nos grupos fenéticos eram provavelmente o resultado da existência de um ancestral comum ao grupo, passando a considerar grupos fenéticos (como as famílias das Angiospérmicas) como grupos filéticos. Isso nem sempre é verdade, pois nem toda a evolução é divergente.

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80 CRÓNICA

Como se pode constatar, a história dos diversos sistemas de classificação, quer botânicos quer zoológicos, pode ser separada num certo número de fases marcadas por acontecimentos notáveis como os trabalhos de Aristóteles (384-322 a.C.) e Teofrasto (370-285 a.C.); a época lineana da «explosão taxonómica» (para a Botânica é data marcante 1753-1.ª edição do «Species Plantarum»); a publicação da «Origem das Espécies por meio da Seleção Natural» (1859) por C. Darwin; a redescoberta e difusão das leis de Mendel (1900); o incremento da cariologia a partir de 1920; a descoberta do microscópio eletrónico por Max Knoll e Ernst Ruska (1930-31); o início do desenvolvimento das técnicas de taxonomia numérica e da bioquímica (1957) e a estrutura da molécula de ADN (Ácido DesoxirriboNucleico) estabelecida por James Watson e Francis Crick em 1953. Durante estes períodos assumem também papel taxonómico relevante a anatomia, a palinologia, a paleontologia, a biogeografia e a embriologia. Assim, para a Botânica podemos considerar, resumidamente, as seguintes fases nos sistemas de classificação: Fase popular, fase com predominância da nomenclatura trivial (vernácula ou vulgar) como auxiliar na classificação das plantas. Esta fase vai até à civilização grega (século IV a.C.); Fase aristotélica (século IV a.C. — século XVI), durante a qual surgem as primeiras classificações escritas numa forma permanente e lógica com Aristóteles e Teofrasto, o “Pai da Botânica”, e respetivos continuadores (Dioscórides). A obra deste último «De Matéria Médica» pode ser considerada como primeiro «Herbal»; Fase dos herbalistas, através da Idade Média, trabalhos sobre plantas foram raros e todos baseados nas obras dos «Físicos» gregos como, por exemplo, A. Magnus (1193-1280), Bispo de Ratisbona, o primeiro a reconhecer Monocotiledóneas e Dicotiledóneas. Com a Renascença e o aparecimento da imprensa na Europa surgem obras de Botânica, algumas já em edições numerosas e razoáveis; os «Herbals», com o estudo das plantas com interesse (valor) para o homem,

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Sistema Sexual do Reino Vegetal de Lineu

particularmente como plantas alimentícias ou medicinais; Fase pré-lineana, que se estende do fim do século XVI até à obra de C. Lineu (meados do século XVIII) e que é considerada como a fase dos primeiros taxonomistas, entre os quais destacamos A. Caesalpino (1519-1603), considerado o «Primeiro Taxonomista» e J. P. Tournefort (1656-1708), o “Pai” do conceito de género; Fase lineana, com C. Lineu (1707-1778), considerado o fundador da taxonomia biológica, sendo o sistema nomenclatural atual baseado no utilizado por ele. Pode dizer-se que com Lineu nasceram os Códigos Internacionais

de Nomenclatura Biológica; Fase postlineana, que se estende desde a morte de Lineu (1778) até à publicação de «Origens das Espécies» de C. Darwin (1859). Este período post-Lineano, é o da fundação das famílias modernas e a época das grandes explorações de naturalistas pela Ásia, África, América e até Austrália; Fase filética, fase marcada pelas teorias evolucionistas de C. Darwin e A. R. Wallace, a redescoberta das leis de G. Mendel em 1900 e o incremento da cariologia, surgindo, então as classificações filogenéticas e os primeiros grandes sistemas de


Tradução “livre” ou à letra do Sistema Sexual de Lineu

classificação. Podem considerar-se três períodos nesta fase: Período postdarwiniano (até 1920), no qual não houve grandes progressos nas classificações que pudessem ser atribuídas às ideias evolucionistas; Período citogenéticobiossistemático (1920-1960), em que os rápidos avanços na citologia e na genética permitiram aplicar novos conhecimentos à taxonomia, sendo o período da introdução e aceitação do conceito de espécie biológica, com utilização de informação genética («pools» de genes), barreiras de procriação e o reconhecimento do valor taxonómico

do número de cromossomas (cariótipo) como bons «caracteres marcadores» para a delimitação de grupos taxonómicos e a elaboração de sequências evolutivas; Período da Biologia Molecular (1960…) com a sistemática bioquímica (Quimiotaxonomia), a Taxonomia Numérica (Taxometria) e a Sistemática Molecular. A primeira forneceu uma nova classe de dados para construir ou modificar as classificações e um meio valioso para pesquisa de relações filogenéticas, particularmente as que se referem a ancestrais comuns e sequências evolutivas; a Taxometria é

um campo que incide basicamente em problemas processuais ou operacionais, procurando reconstruir as relações evolutivas empregando meios numéricos. Não é uma pesquisa para obter novos dados, mas métodos de os tratar a fim de reduzir o factor subjetivo; a Sistemática Biomolecular é um ramo da Sistemática que analisa diferenças hereditárias moleculares, fundamentalmente nas sequências do ADN, de maneira a obter informações nas relações evolutivas dos organismos, com elaboração de classificações e árvores filogenéticas mais fiáveis. Foi assim que aconteceu uma autêntica “revolução” na classificação das plantas, com o desaparecimento de grupos como as Espermatófitas, as Dicotiledóneas e as Monocotiledóneas e a agregação de muitas famílias (ex. as Chenopodiaceae estão incluídas nas Amaranthaceae) e a divisão de outras (ex. as Asparagaceae e as Alliaceae foram separadas das Liliaceae). Finalmente, a determinação exata de um organismo é fundamental. Assim, por exemplo, conhecemos um caso de uma tese de mestrado, classificada com 19 valores, em que o autor estudou produtos químicos de uma planta tropical, indicando o nome da espécie, tendo-se baseado no nome vernáculo fornecido por um popular. Ora esse nome vernáculo corresponde a duas espécies de plantas, por acaso da mesma família, mas de géneros diferentes. Ora aconteceu que o nome científico que o autor refere na tese não é o da planta que ele utilizou nos estudos químicos. Conclusão, a tese estava toda errada. Em determinações para a Medicina Forense é necessário muitíssimo cuidado na determinação dos organismos (ex. cogumelos, plantas utilizadas em fitoterapia, material polínico). Outro exemplo é o estudo ao microscópio eletrónico de células ou organitos. Se a determinação do organismo estudado não é exata, os resultados ultraestruturais estarão todos errados.

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82 COLETIVISMO

O espetáculo da migração regressa em outubro O mês de outubro marca o regresso do Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, que já vai na sua 5.ª edição. O festival, que decorrerá entre os dias 2 e 5 de outubro, em Sagres, pretende receber 800 pessoas e promover o convívio entre os todos os visitantes quer sejam especialistas ou simplesmente amantes das aves, nomeadamente através de atividades relacionadas com a natureza, tais como as saídas de campo para observação de aves, as saídas de pelágicas para observação de cetáceos e de aves marinhas, os minicursos de diversas temáticas, as iniciativas de fotografia, os passeios a cavalo e as atividades de educação ambiental para os mais pequenos. Este ano, as atenções do festival centram-se na toutinegra-de-bigodes, um passeriforme que encontra no nosso país condições ideais durante a época

reprodutora e migratória, nomeadamente nas zonas de Trás-os-Montes e Beira Baixa. Apesar de ser uma espécie que não tem uma presença forte em Sagres, durante a época migratória é possível observar esta espécie com maior frequência entre setembro e início de outubro, período que coincide com a sua época migratória. Outras espécies também reúnem as preferências dos visitantes como a cegonha-preta, as águias, abutres e falcões. Sagres é um local muito rico no que diz respeito à avifauna nacional, acolhendo as mais variadas espécies e neste sentido o festival assume grande importância em termos socioeconómicos para a região, uma vez que serve como elemento dinamizador

do turismo de natureza deste concelho. A 5.ª edição é uma organização conjunta da Câmara Municipal de Vila do Bispo, SPEA e Almargem, e terá atividades gratuitas e outras com desconto de festival. As inscrições serão possíveis a partir de meados de agosto, altura em que será também divulgado o programa oficial. Mais informações em http://birdwatchingsagres.com Por Elson Baessa e Joana Domingues

Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves Avenida João Crisóstomo, 18 – 4º Dto 1000-179 Lisboa – Portugal Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39 spea@spea.pt • www.spea.pt

Dez exibições dez distritos Com o apoio do programa O Mundo na Escola do Ministério da Ciência e Educação, a exposição «Insetos em Ordem» está em itinerância pelo país desde outubro de 2012, tendo já passado pelos distritos de Faro, Évora, Santarém, Castelo Branco, Viseu, Coimbra, Porto, Viana do Castelo e Bragança. Durante os meses de verão não deixe de visitar os «Insetos em Ordem» no Museu Municipal de Arouca. Esta mostra já vai em mais de 40 mil visitantes. Sugerimos também que aproveitar a ocasião para explorar o Arouca Geoparque e conhecer o Museu das Trilobites Gigantes e a Casa das Pedras Parideiras. Para observar e registar a natureza, em especial a diversidade de insetos da Serra da Freita, sugerimos o percurso pedestre que passa pela Frecha da Mizarela, onde brevemente irá nascer mais uma Estação da Biodiversidade. Boas exposições, bons insetos, e boas férias! Por Patrícia Garcia-Pereira, Centro Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa - pnpereira@fc.ul.pt

82 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Mais informações www.mundonaescola.pt www.facebook.com/MundoNaEscola

Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal Museu Nacional de História Natural Rua da Escola Politécnica, 58 1250-102 Lisboa Tel. + Fax: 213 965 388 info@tagis.org • www.tagis.org


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