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OÃO

FAZENDA BACURI: CHEF VALFIR SABOR CAETEUARA um modelo de produção sustentável

SÍTIO FENIX FARINHA SABORIZADA

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SEU BENÉ O MESTRE DA FARINHA MAIOR PRODUTOR NACIONAL, COM 5 MILHÕES DE TONELADAS AO ANO, O PARÁ RECEBE PELA XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE MANDIOCA E O II CONGRESSO LATINO AMERICANO DE MANDIOCA ONDE ESPECIALISTAS VÃO APRESENTAR AS MAIS RECENTES PESQUISAS SOBRE MANEJO, GENÉTICA E APLICAÇÃO. FOTOGRAFIA

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LITERATURA

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GASTRONOMIA


Parque Estadual do Utinga. Preservação ambiental, esporte, lazer e cultura no mesmo habitat. Um presente da natureza e do Governo do Pará pra você. O Parque Estadual do Utinga, maior reserva natural de Belém e um dos melhores espaços para caminhadas e trilhas da cidade, ganhou um novo projeto arquitetônico e paisagístico. Virou o habitat de quem ama a natureza. 28 mil m2 de paisagismo, pórtico de entrada, Centro de Acolhimento, ciclovia, bicicletário e estacionamento para 500 veículos. Lagos artificiais, Centro de Visitação com área para exposições, trapiches, café, mirante e o Centro Global de Gastronomia da Amazônia. Além de uma pista com 4 quilômetros totalmente pavimentada. Venha visitar, contemplar e viver momentos inesquecíveis com sua família no Parque Estadual do Utinga. Um presente do Governo do Pará pra você, pra Belém e pra todo o Pará.

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ITINERÁRIO

PARÁ: RAÍZ gastr(ec)onômica

Edição 29 | 2018

#pzz_29 Editor Responsável Carlos Pará 2165 - DRT/PA

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om 300 mil hectares plantados e uma produção que passa de três milhões de toneladas, o Pará é o maior produtor de mandioca do Brasil e também o maior consumidor da raiz. A importância de verticalizar a produção da mandioca no Estado aproveitando esse potencial estudando e trabalhando o melhoramento genético da raiz, manejo de solo e aproveitamento da cultura na alimentação animal, entre outros temas são importantes para o desenvolvimento da cadeia produtiva. Dentro dessa perspectiva o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Mandioca tem como meta alavancar a produtividade em pelo menos 33%, chegando à média de 20 toneladas por hectare (hoje são 15 toneladas produzidas por hectare no Pará). O programa inclui várias ações previstas para estimular o controle integrado de pragas, plantio direto, uso de variedades tolerantes à podridão das raízes, difusão do trio da produtividade, roça sem queima, calagem, adubação, entre outras. A Revista PZZ- Arte, Educação e Cultura é o projeto inovador na Amazônia, um marco na formação de uma audiência atenta à produção artística, cultural e econômica em nossa região.Estamos envolvidos na construção coletiva do conhecimento, da produção cultural, da comunicação social, das políticas culturais, trabalhando ações fundamentais para atingirmos outro nível de desenvolvimento social em uma região marcada por alienações culturais, injustiça social e colonialismo histórico. A Revista PZZ divulga o que não é pautado na mídia tradicional e mostra rostos e práticas de nossa identidade cultural. E agora lançamos esta edição especial no evento promovido pela Sociedade Brasileira de Mandioca (SBM), Corporación Clayuca e Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap). O XVII Congresso Brasileiro de Mandioca e o II Congresso Latino-Americano e Caribenho de Mandioca com uma grande programação de cursos, palestras e painéis vai divulgar as mais recentes tecnologias e uma exposição de equipamentos e produtos derivados da mandioca. Nesta edição apresentamos a vida e obra de Benedito Batista da Silva, Seu Bené, descendente de índios e negros, trabalha na agricultura desde os 10 anos de idade. Mora no município de Traquateua, região bragantina onde era a território da cidade de Bragança, celeiro de produção de farinha desde os índios Tupinambás certificada com a origem da melhor farinha do mundo. Conhecer a história do Seu Bené é reconhecer a Amazônia, aprender a cultura brasileira, entender a produção de um dos derivados da mandioca presente na alimentação do povo brasileiro.

Diagramação Carlos Pará Produção Executiva Carlos Pará Fotográfa: Adriana Lima Impressão e Acabamento: Marques Editora Distribuição Belém, Pará, Brasil, Portugal Contatos (91) 98335-0000 email revistapzz2018@gmail.com Twitter @revistapzz Facebook https://www.facebook/revistapzz cartas Av. Magalhães Barata, 391, Belém, Pará, Amazônia, Brasil Cep 66093-400 Issn: 2176-8528

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FEIRA

INTERNACIONAL

DE TURISMO FITA 2017

CONSIDERADO O MELHOR TUCUPI DO PARÁ, VIGIA DE NAZARÉ TEM COMO TRADIÇÃO NO CONSUMO DE SUAS RIQUEZAS GASTRONÔMICAS O SUMO DA MANDIOCA TEMPERADO COM ERVAS NATIVAS, TRANSFORMA EM VERDADEIRO SABOR SELVAGEM

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VIII Feira Internacional de Turismo da Amazônia em quatro dias de evento, reuniu cerca de 30 mil pessoas que visitaram a oitava edição da feira, realizada no Hangar em setembro do corrente. A FITA 2017 movimentou R$ 5 milhões de reais em negócios, de acordo com números da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Pará (Faciapa), responsável pela realização da feira promovida pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Turismo (Setur). A programação da Fita 2017 incluiu a Oca do Conhecimento com seminários, palestras, oficinas e cases de sucesso; a Vitrine Cultural, com produtos do arranjo produtivo local do programa Alimentação Fora do Lar e produção associada das rotas turísticas implementadas pela Setur (Belém-Bragança, do Queijo do Marajó, do Cacau e Chocolate, do Vale do Xingu, da Comida Ribeirinha e Peixe da Esquina); espaço destinado ao Passaporte Pará, para comercialização de destinos, rotas, roteiros e produtos turísticos do Estado; homenagens a São Benedito e Nossa Senhora de Nazaré, além de apresentações culturais de artistas e a gastronomia dos seis polos de turismo paraense: Belém, Amazônia Atlântica, Araguaia Tocantins, Marajó, Tapajós e Xingu. Para o presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Pará (Faciapa), Fábio Lúcio, o balanço da feira é positivo. “A gente pensava em 25 mil pessoas nos quatro dias. Deve estar chegando em 30 mil. São 120 estandes, com 150 expositores. www.revistapzz.com.br 5


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ABERTURA

não só para o mundo e para o Brasil, mas para o próprio paraense. Quando a Setur chamou a Faciapa, o objetivo era unir a força do poder público com a força da iniciativa privada. E quem faz esses negócios? É a iniciativa privada. O governo tem a função de fomentar, ser indutor, dando ferramenta, logística para que o empresário faça negócio. A união de forças fez com que a gente entendesse melhor esse sistema, para que a gente possa vender as riquezas, a culinária e a cultura do Pará. Muitos paraenses ainda não conhecem o Pará, que é um estado continental”, afirma Fábio Lúcio. “A gente precisava vender o Pará O secretário de Estado de TurisForam 35 palestras, workshops e outras reuniões que ocorreram de forma setorizada, como as agências de viagens que se reuniram e não estava dentro da programação. Três mil pessoas capacitadas nessa feira. Negócios fechados na ordem de R$ 5 milhões, na feira e pós-feira. Tem negócio fechado aqui, mas que vai dar continuidade. Hotéis e pousadas do interior venderam muitos pacotes até o final do ano. Cito como exemplo, a Fazenda Vitória e a Pousada dos Guarás que venderam muitos pacotes. Esse volume de venda vai continuar após a feira”, explicou.

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mo, Adenauer Góes, definiu a importância da Fita como elemento agregador para fortalecimento de um pacto em prol do turismo. “A Fita tem como objetivo energizar o setor e consolidar produtos do destino turístico Pará. Foram 35 palestras, cursos e seminários na Oca do Conhecimento. Mais de 100 estandes e 150 expositores no pavilhão da feira”. Ainda segundo ele, “essa é uma proposta de integração em torno de uma atividade econômica, que é o turismo, e de uma região, a Amazônia. Um pacto entre a gestão pública, empresariado e a sociedade. A Amazônia representa 60% do território brasileiro. Mas o Brasil ainda desconhece essa região


em vários aspectos. A Fita nasceu com essa proposta de congregar os países da Pan-Amazônia, tendo o turismo como um vetor capaz de diminuir essas distâncias”. O sócio-proprietário do Hotel Fazenda Vitória, Robson Gonzaga Martins, disse que a feira é uma vitrine. “Já somos um pouco conhecidos em nossa região, mas aqui tem gente de todo canto do Brasil. Pessoas que ainda não nos conhecem têm a oportunidade de conhecer a gente mais de perto e tirar as dúvidas do nosso pacote, que é muito diferenciado da normalidade dos hotéis. Está sendo muito bom de negócio. Assim que tiver outra feira igual a essa vou estar presente. Além de fazer novos

contatos, estou tendo contato direto agora com Portugal. Provavelmente, vamos fechar grupo direto de Portugal para o hotel”, contou. Para a Chef Lucinha Santos a importância de participar da FITA 2017 foi de grande valia e agradeço enormemente a Secretaria de Turismo do Estado do pará em proporcionar experiências com outros chefs e no aperfeiçoamento da nossa atividade através dos cursos e das palestras onde aprendemos mais e qualificamos nossa atividade”, declara a Chef que representou o município de Vigia, nordeste paraense.

O secretário de Estado de Turismo, Adenauer Góes, definiu a importância da Fita como elemento agregador para fortalecimento de um pacto em prol do turismo.“A Fita tem como objetivo energizar o setor e consolidar produtos do destino turístico Pará. Foram 35 palestras, cursos e seminários na Oca do Conhecimento. Mais de 100 estandes e 150 expositores no pavilhão da feira”.

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“Foi bom ver o público circular pelo Hangar nos quatro dias do evento e conhecer, além dos tradicionais destinos turísticos paraenses, municípios como Magalhães Barata, que levou para a Fita uma rota alternativa aos interessados em passear pela Ilha de Algodoal, em Marapanim, no polo Amazônia Atlântica”, afirma Jair Costa, do Departamento de Cultura e Turismo de Magalhães Barata. “Como fazemos limite com Maracanã e Marapanim, temos a opção de fazer travessias para praias que pertencem ao município de Maracanã, como as de Algodoal e de Fortalezinha. É uma rota alternativa segura e viável economicamente, já que não depende de maré para fazer a travessia, podendo ser feita a qualquer hora do dia”, comple8 www.revistapzz.com.br

tou. Para quem deseja explorar Magalhães Barata, Jair Costa informa que há boas opções de hospedagem e a garantia de desfrutar de uma cidade pacata e com infraestrutura de lazer para aproveitar o dia, como os balneários da Vila Santo Antônio, Arraial, Cafezal e Nazaré do Refúgio, que oferecem igarapés com águas geladas e transparentes, além de bares e restaurantes com comidas e iguarias regionais. “Observamos que os visitantes que nos procuram para conhecer nossa cidade querem tranquilidade e qualidade de vida. É justamente isso o que Magalhães Barata tem para oferecer”, comentou. Polo Xingu O município de Vitória do Xingu também apresentou suas potencialidades no ecoturismo, na

pesca esportiva e no turismo de barragem, levando para a VIII Fita chocolates orgânicos produzidos na região, geleias e compotas para degustação, além de vídeos e panfletos informativos produzidos pela Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (Semat) e brindes confeccionados por cooperativas locais. A gestão municipal disse apostar no turismo para permanecer sustentável após a construção de 93% da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, investindo em infraestrutura, apoio à produção local e valorização dos produtos originários da bacia hidrográfica do Xingu. “Com o cacau como grande protagonista, Vitória do Xingu e toda a região investem juntamente com o Governo do Estado, por meio da Setur, em uma rota turística e gastronômica do cacau”, disse o titu-


lar da Semat, Darli Silva Costa. Marajó e Araguaia Tocantins O destino Soure foi representado pela equipe da Secretaria Municipal de Turismo e empresários que vendem os atrativos do Marajó, além de expositores dos produtos da região, destacando as belezas naturais, a cultura, o artesanato, a culinária e todas as potencialidades turísticas do pólo marajoara. Para o prefeito Guto Gouvêa, a participação de Soure no evento “foi mais uma oportunidade de reforçar o que a cidade tem para oferecer, além de fechar negócios que fomentem a economia do município”. Com estande próprio, o destino Parauapebas, no Polo Araguaia Tocantins, participou pela primeira vez como expositor de uma feira distante do município, levando

uma equipe formada por representantes do Departamento de Turismo de Parauapebas, guias da Cooperativa dos Artesãos da Região de Carajás, artesãs da Cooperativa Mulheres de Barro e um representante do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Parauapebas optou em levar seus atrativos naturais e culturais, com exposição de peças de artesanato produzidas pelas artesãs da ‘Mulheres de Barro’, uma cartilha com 32 páginas que destaca os atrativos de Parauapebas e a exibição de um vídeo promocional sobre os 12 atrativos naturais que o município possui dentro da Floresta Nacional dos Carajás”, disse Marcos Santos, coordenador municipal de Turismo de Parauapebas.

Também participaram com estande próprio os destinos: Redenção (Polo Araguaia Tocantins), São Caetano de Odivelas (Polo Amazônia Atlântica), Belterra e Santarém (Polo Tapajós) e Belém. Distribuídos nos estandes por região estavam Augusto Corrêa, Bragança, Castanhal, Curuçá, Irituia, Salinópolis, Capanema, São Miguel do Guamá e Tracuateua (Amazônia Atlântica); Barcarena, Marabá e Tucuruí (Polo Araguaia Tocantins); Altamira, Senador José Porfírio e Medicilândia (Xingu), Jacareacanga (Tapajós) e Breves e Cachoeira do Arari (Marajó). Por Julie Rocha

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SÃO PAULO

FITA SP 2017

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Secretaria de Estado de Turismo do Pará (Setur), na edição especial da Feira Internacional do Turismo da Amazônia (Fita), levou para São Paulo (SP) o evento Cozinha do Pará, A Obra-Prima da Amazônia, que visa divulgar e promover a gastronomia paraense para o público paulistano, com seus ingredientes típicos, e fomentar e incentivar o turismo gastronômico no Pará. Os encontros aconteceram no Mercado de Pinheiros, e incluíram bate-papo com chefs e produtores locais sobre a importância da gastronomia paraense, suas origens e curiosidades, além de empresas apresentando, vendendo e oferecendo degustação de produtos típicos, como a distribuidora Combu – Produtos da Amazônia e a Empório Poitara. Os paulistas puderam sentir e experimentar os aromas e sabores da gastronomia paraense. O local foi o restaurante Tordesilhas, o primeiro a receber a mais autêntica e original culinária do Norte do País, como parte da programação da VIII Feira Internacional de Turismo da

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Amazônia (FITA), em São Paulo. A programação ainda se estendeu nos dias, 2 de setembro, pelos restaurantes Dalva e Dito, e Capim Santo, além do Mercado Pinheiros. A chef local Mara Salles, acompanhada do chef paraense da cidade de Santarém, Saulo Jennings Simões, bolaram um cardápio que uniu o requinte de uma metrópole cosmopolita com elementos gastronômicos da cultura tapajônica, região oeste do Pará. De entrada, Mojica de Aviú, Lasca de Mapará Grelhado e Vinagrete da Floresta, Bolinho de Piracuí, Geleia de Cupuaçu e Pimenta. Nos pratos principais Feijão de Corda em Vagem assado na brasa e leite de castanhas, Arroz de Tacacá (arroz + camarão seco + camarão fresco + tucupi + jambu), Piracaia (Surubim na Brasa) e tubérculos. Para sobremesa, frutas locais e Doce Tapajós (frutas de época e doces da região). “A gente vai fazer uma Piracaia”, palavra indígena que significa peixe frito ou peixe queimado (pirá+caia), que Saulo redefine como “um ato de assar o peixe, à beira do rio”, e diz que vai “tentar levar essa essência para a mesa dos pau

PATO NO TUCUPI Este foi o prato servido no jantar do Restaurante Capim Santo da Chef Morena Leite, para os operadores, imprensa e agentes de turismo receptivo em São Paulo . Pato no tucupi com mil folhas de mandioca ao molho de arubé. Chefs Meia Noite, Ofir e a boeira Lúcia Torres. Orientação Técnica Morena Leite.


FOTO: RENATO CHALU www.revistapzz.com.br 11


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SÃO PAULO

Os aspectos naturais da ilha se são as capoeiras, restingas, e um manguezal abundante em quase todo seu território, com uma diversidade de pássaros migratórios e animais silvestres. Apresenta grande extensão de praias (Praia da Areia Branca, Praia do Cupim, Praia de Camará-Açu e Praia do Cajueiro). Na Praia

listas para eles terem a sensação de estar à beira de um rio no Pará, comendo um peixe assado”, ressalta. O chef santareno ainda levou algumas entradas. “Surpresas de textura diferentes de outros peixes da região a exemplo do mapará, servido com ervas, essências da floresta, pimenta, farinha e a transformação do famoso tacacá num suculento risoto, e as sobremesas, geleias de frutas da Amazônia”, explica. Fita 2017 - Programada para acontecer em dois momentos distintos, em São Paulo e depois em Belém, a oitava edição da Fita 2017 tem suporte estratégico firmado no marketing promocional, comercialização dos produtos e destinos nas diretrizes dos planos estratégicos “Ver-o-Pará”, da Setur, e o “Pará 2013”, que recomenda a verticalização das cadeias produtivas do turismo. Um dos desafios da equipe da Setur, sob a ótica do Ver-o-Pará, 12 www.revistapzz.com.br

é ampliar a oferta no Estado para gerar, ativar o consumo, aumentar o número de visitantes em todos os seis polos turísticos, subir o gasto médio e a permanência - que atualmente atinge a média de sete dias, no máximo, isto quando atrelada ao Círio de Nazaré, o produto mais consumido por turistas do Brasil e do exterior. Economia do turismo - Para o secretário de Estado de Turismo, Adenauer Góes, o Pará está preparado para cumprir algumas etapas da “economia do turismo” nos seis polos turísticos, cada um com referências geográficas e culturais bem definidas, a partir do perfil dos produtos turísticos trabalhados no Pará. “Por exemplo, em Belém, temos um turismo cultural bastante organizado, um sistema de museus, a nossa música, danças, um Festival de Ópera que o País conhece e, principalmente, uma

gastronomia com prestígio cada vez maior no Brasil e no restante do mundo. Belém encanta quem nos visita”, afirmou o secretário Adenauer Góes. Workshop - Em um dos eventos do programa, o workshop “Pará, A Obra-Prima da Amazônia”, em São Paulo, a equipe da Setur detalhou as ações de planejamento, gestão e execução em construção para tornar o Estado um destino turístico no País. A eclética programação contemplou uma ação promocional com operadores, agentes de viagens e jornalistas especializados. Para avançar as novas etapas do “turismo como atividade econômica”, a feira alinhou ampla parceria do empresariado do Pará com entidades do setor no Brasil. Nessa perspectiva, a organização fechou para essa rodada de negócios a participação da Federação das Associações Comerciais do Pará, por meio da Faciapa, da Associação Brasileira de Viagens


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1- Açaí com farinha 2 - Peru no Tucupi 3 - Arroz Paraense 4- Maniçoba 5- Peixe com molho de camarão 6 - Tacacá

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ENSAIO

gastronomia por álvaro espírito santo

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A construção da gastronomia do Pará - Os três primeiros séculos (XVII a XIX) INTRODUÇÃO A Amazônia recebeu, desde o período colonial, uma plêiade de estudiosos estrangeiros, em missões científicas de origens diversas, que procuravam entender a complexidade dessa imensa região. Além do exame dos recursos naturais – com seus diversos matizes – a cultura do homem amazônico sempre esteve sob o foco do olhar do estrangeiro. No universo cultural, a gastronomia, sem status de objeto central de pesquisa, foi observada a partir dos produtos consumidos e hábitos alimentares, muitas vezes inusitados, sob o prisma cultural estrangeiro. A consolidação dos registros consignados, em especial na literatura dos viajantes, permite a formação de um mosaico que configura a evolução da gastronomia do Pará ao longo dos primeiros três séculos.

SÉCULO XVII

1867 - James Orton: Uma Cozinha Amazonica.

no pará

Com a chegada dos franceses ao Maranhão, em 1612, é possível vislumbrar o cenário da alimentação dos índios tupinambás, habitantes da região que se constituiria na futura Província do Grão-Pará e Maranhão. Os frades Claude D`Abbeville e Yves D`Évreux, integrantes da Ordem dos Capuchinhos de Paris e residentes do Convento Franciscano da rua Saint-Honoré, documentaram a experiência dos franceses na então denominada Ilha do Maranhão. D´Abbeville observou que os tupinambás não tinham um horário fixo para as refeições, como a hora do almoço e do jantar, pois comiam a qualquer hora, quando sentiam fome, e o faziam de forma sóbria, sem exageros (D`ABBEVILLE, 2008:323). Ressalta ele que a mandioca, de quatro tipos diferentes, estava no centro da dieta alimentar tupinambá. A farinha produzida das raízes da planta era costumeiramente adicionada ao caldo de www.revistapzz.com.br 15


ENSAIO

Caรงa do Javali

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INTRODUÇÃO A Amazônia recebeu, desde o período colonial, uma plêiade de estudiosos estrangeiros, em missões científicas de origens diversas, que procuravam entender a complexidade dessa imensa região. Além do exame dos recursos naturais – com seus diversos matizes – a cultura do homem amazônico sempre esteve sob o foco do olhar do estrangeiro. No universo cultural, a gastronomia, sem status de objeto central de pesquisa, foi observada a partir dos produtos consumidos e hábitos alimentares, muitas vezes inusitados, sob o prisma cultural estrangeiro. A consolidação dos registros consignados, em especial na literatura dos viajantes, permite a formação de um mosaico que configura a evolução da gastronomia do Pará ao longo dos primeiros três séculos.

SÉCULO XVII Com a chegada dos franceses ao

Maranhão, em 1612, é possível vislumbrar o cenário da alimentação dos índios tupinambás, habitantes da região que se constituiria na futura Província do Grão-Pará e Maranhão. Os frades Claude D`Abbeville e Yves D`Évreux, integrantes da Ordem dos Capuchinhos de Paris e residentes do Convento Franciscano da rua Saint-Honoré, documentaram a experiência dos franceses na então denominada Ilha do Maranhão. D´Abbeville observou que os tupinambás não tinham um horário fixo para as refeições, como a hora do almoço e do jantar, pois comiam a qualquer hora, quando sentiam fome, e o faziam de forma sóbria, sem exageros (D`ABBEVILLE, 2008:323). Ressalta ele que a mandioca, de quatro tipos diferentes, estava no centro da dieta alimentar tupinambá. A farinha produzida das raízes da planta era costumeiramente adicionada ao caldo de peixe ou carne, originando uma sopa chamada de nugã. A carne era obtida nas caçadas de animais silvestres, como a paca, a cutia, a capivara e o queixada, chamado pelo fran-

Caça de Tartasrugas

A carne era obtida nas caçadas de animais silvestres, como a paca, a cutia, a capivara e o queixada, chamado pelo francês de javali.

cês de javali. Quanto à fauna aquática, D’Abeville relaciona os peixes pirápen, parati, curemã-açu, e o peixe-boi, como alimentos largamente utilizados pelos indígenas, que preferiam os produtos cozidos ou assados e tinham por hábito o uso de um tempero que, nas refeições, era adicionado gradativamente às porções levadas à boca, sendo constituído por sal e pimenta moída. A essa mistura denominavam jonquere. (D´ABBEVILLE, 2008:325). O frade francês anotou ainda a existência de roças de mandioca, além de plantações de batata, ervilha, fava, milho e alguns tipos de ervas. Entre as bebidas, destacou o caju-cauim, obtido dos frutos do cajueiro, o qual classifica como excelente e “forte como os vinhos regionais de França e com essa particularidade: quanto mais velhos, melhores” (D´ABBEVILLE, 2008:321). A obra de D`Évreux complementa a de D´Abbeville no relato dos costumes tupinambás. Na cultura alimentar, assinala as atividades indígenas na busca de suprimentos, notadamente a pescaria, a caça dos jacarés e a procura da tartaruga. Apresenta as impressões gustati-

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1834 - Orbigny - Belém

SÉCULO XVIII O padre João Daniel, na clássica obra Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, elaborada nas prisões portuguesas, rememora suas observações sobre a vida amazônica, nos dezesseis anos em que viveu na região, traçando um vasto painel sobre os aspectos naturais e culturais do século XVIII, inclusive acerca dos costumes alimentares. Dois ícones da culinária paraense - o açaí e o tacacá - são registrados pelo padre jesuíta como iguarias de larga popularidade, já habitualmente consumidas pela população. Lembra o autor a existência de quatro tipos de farinha: “a farinha de água, a farinha seca equivalente à broa, a farinha carimã e a farinha tapioca. Sobre elas, faz uma detalhada descrição das características e do processo de produção, além de evidenciar que são oriundas de uma planta cuja estrutura tem

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denominações diversas: “a sua haste se chama maniba, a folha, maniçoba, e a raiz, mandioca, de que há várias espécies (DANIEL, 2004:413). Aliás, sobre a folha maniçoba, assegura que é “excelente para cozer com carne, peixe, e qualquer outro guisado” (DANIEL, 2004:419). Da raiz mandioca se obtém o tucupi, “veneno refinado comido cru”, mas que, após o cozimento, “é um excelente tempero nos guisados, aos quais dá uma especial galantaria: e por isso a carne e peixe cozidos em tucupi têm muita graça, e os índios e ainda os brancos de ordinário não o perdem” (DANIEL, 2004:419). O jesuíta reporta-se também às frutas da Amazônia com uma descrição pormenorizada daquelas que eram mais consumidas e foram incorporadas aos hábitos alimentares entre os anos de 1741 e 1747. La Condamine, por sua vez, na sua passagem pelo Pará, no mesmo

século, em 1743, assinala que navios mercantes mantinham uma conexão entre o Pará e Lisboa. Eles traziam produtos que atendiam “as comodidades” dos habitantes locais e levavam, na viagem de volta, “a casca da madeira de cravo, a salsaparrilha, a baunilha, o açúcar, o café e sobretudo o cacau, que é a moeda corrente na região e faz a riqueza dos habitantes.” (LA CONDAMINE, 1992:108).


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1867 - Keller-Pescador com pescado


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SÉCULO XIX Henry Bates e Alfred Wallace, contemporâneos de Charles Darwin, realizaram na Amazônia, no século XIX, pesquisas que se aproximaram da concepção científica do trabalho do autor da Origem das Espécies. Durante os oito anos em que viajou na Amazônia, e em especial por territórios que hoje integram o Estado do Pará, Bates registrou na sua obra “Um Naturalista no Rio Amazonas” várias impressões sobre os hábitos alimentares locais. Vivenciou, inicialmente, um certo conflito entre suas experiências culinárias originais e a oferta de alimentos regionais: “...a carne era um alimento tão imprescindível ali naquele clima extenuante quanto o era na Europa seten20 www.revistapzz.com.br

trional. Uma tentativa feita por mim para viver só de legumes e verduras falhou inteiramente e eu não conseguia habituar-me ao detestável peixe salgado que os brasileiros comiam.” (BATES,1979:84). Ao ampliar seu convívio com as comunidades regionais, o pesquisador inglês registra, naquela obra, o cardápio do seu cotidiano alimentar, que é indicativo do padrão alimentar da segunda metade do século XIX no Pará. A dieta alimentar incluía o consumo de peixes, como o pirarucu, tanto fresco como salgado. Esta última forma implicava na adoção de uma prática ancestral de origem portuguesa para conservação do produto. Além dessa espécie, outras são nominadas pelo autor: “acari, acará, peixe

agulha, sarapó, surubi, pirapeua e piramutá”. Ao olhar arguto de Bates não escapa o uso de dois ingredientes que se perpetuaram e estão presentes nas criações culinárias contemporâneas: o arubé e o tucupi, ambos produzidos a partir da mandioca, mas através de processos distintos. No caso do arubé, que é uma pasta similar à mostarda, o autor observa que sua produção “é feita fervendo-se o suco da mandioca até engrossar e temperando-o depois com pimenta” (BATES,1979:126) . O tucupi, por sua vez, é elaborado “fervendo-se ou aquecendo-se o suco da mandioca durante vários dias, depois de separado da fécula, temperando-se o molho com pimenta e peixes miúdos” (BATES,1979:126). Na avaliação


Preparo do Cauim, bebida fermentada dos povos indígenas da América do Sul. O Cauim é feito através da fermentação da mandioca. e

Ritual de Preparo do Cauim

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ENSAIO

Pirarucu

do autor, o arubé “dá um excelente sabor ao peixe” e o tucupi lembra o sabor da “essência de anchovas”. Seu olhar registra as frutas, destacando a laranja, a goiaba, o abacate, o abiu, o jenipapo, a banana, o melão e a melancia. Registra também a existência de hortas com produtos importados da Europa, como os repolhos e cebolas, além de plantações de cacau, fumo, mandioca, milho, arroz, cana-de-açúcar, algodão e ananás. As palmeiras açaí, bacaba e pupunha – presentes na mesa contemporânea – foram também identificadas por Bates na dieta do paraense do século XIX. Alfred Wallace, na obra Viagens pelo Amazonas e Rio Negro, apresenta um panorama da alimentação no qual assegura que o principal produto da dieta local é a carne de vaca. Assegura ainda que há uma distinção no cardápio usual da população. “A farinha, o arroz, o peixe salgado e as 22 www.revistapzz.com.br

frutas constituem o principal alimento dos índios e dos negros” (WALLACE, 2004:51). Por outro lado, os brancos alimentavam-se de “peixe salgado, bananas, pimenta, laranjas e açaí” (WALLACE, 2004:51). Esta parcela da população também consumia manteiga de origem irlandesa ou americana, entre outros produtos importados. Além disso, na produção do pão, utilizava farinha de trigo oriunda dos Estados Unidos. Wallace acrescenta novas frutas à lista elaborada por Bates: biribá, fruta-pão, maracujá, nozes, entre outras. Observa também a importância do pirarucu na dieta alimentar: “é um peixe seco, que se come com farinha, constituindo o alimento principal da população nativa”. (WALLACE,2004:66). Anota também o consumo de tartaruga, um hábito alimentar que remonta ao século XVII. E a presença do pato, ave que, ainda no século XIX, comporia um dos mais tradicionais pratos típicos da culinária paraense: o pato no tucupi.

* Alvaro Negrão do Espirito Santo é professor da Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará,onde fez a graduação em Turismo e o mestrado em Geografia.É autor ,em parceria com o jornalista Fernando Jares Martins,do livro Gastronomia do Pará-o sabor do Brasil. Atualmente é doutorando em Turismo e Cultura na Universidade de Coimbra e exerce a função de Diretor daSecretaria de Estado de Turismo e Coordenador-geral do PRODETUR/PA.


O Pirarucu (The-pirárucu), ilustração de Franz Keller-Leuzinger, utilizada por James Orton, 1873 (gravura, 10,8 x 6,9 cm)

Caça dos Jacarés, ilustração de Franz KellerLeuzinger.

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REVISTA PZZ_SEU BENÉ

SEU BENÉ O MESTRE DA FARINHA TEXTO: CARLOS PARÁ /// FOTOGRAFIAS: DRI LIMA Benedito Batista da Silva, descedente de índios, 70 anos, trabalha na agricultura desde os 08 anos de idade. Mora no município de Traquateua, região bragantina, nordeste paraense, vizinha da cidade de Bragança, celeiro de produção de farinha desde os índios Tupinambás, certificada com a origem da melhor farinha do mundo. Conhecer a história do Seu Bené é reconhecer a Amazônia, aprender o Brasil.

N

uma estrada do interior de Traquateua, Região Bragantina, nordeste paraense, polo produtor de farinha de mandioca, a equipe da Revista PZZ, conduzida pelo professor mestre e diretor da Secretaria de Estado de Turismo (Setur) Álvaro Espírito Santo e de sua esposa, a professora e produtora de eventos Ângela Espírito Santo, saímos de Belém com destino à casa de farinha de Benedito Batista da Silva, para convidá-lo a participar da Feira Internacional do Turismo – FITA 2017. Ao chegarmos na estrada de terra que passa pelos campos sagrados e alagados de Traquateua chegamos em sua residência e fomos recepcionados por sua filha que segurava em seus braços sua pequena filha que com olhos curiosos via mais um grupo de se abalava de algum ponto da terra para conhecer o Mestre da Cultura. Seu Bené, produtor rural, pesquisador e empresário que cultiva e trabalha na roça desde os 12 anos de idade, planta mandioca e algumas espécies de macaxeira, dos produtos feitos a partir da cadeia da mandioca, trabalha especialmente com a farinha e a tapioca. Em sua concepção, a mandioca é uma cultura herdada de seus ancestrais e utiliza técnicas próprias de cultivo e colheita através de sua observação e prática cotidiana fazendo brotar da terra seu alimento e seu sustento sem a necessidade de agrotóxicos. A atual forma de cultivo é familiar, envolvendo sua espo-

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sa e sua filha. A partilha do trabalho na produção é realizado principalmente junto à companheira Dona Maria, responsável pelo trabalho de peneiração da massa da mandioca e no preparo revezando com seu marido. Ao lado de sua casa uma roça com a plantação, ao fundo, mais uma coivara de plantio. Sua casa de farinha evoluiu bastante, hoje é toda de alvenaria mas ainda exige uma ampliação e reforma, em seus cálculos uns 75 mil reais ajudavam para transformar sua indústria como modelo na região. Gentilmente seu Bené vai contando um pouco de sua história e o passo-a-passo da produção em que tudo é aproveitado. A farinha do seu Bené vem dentro de uma cestaria com talas e folhas de guarimã usada para transportar o produto de forma extremamente artesanal mantendo a qualidade e a tradição indígena. Vive de forma tranquila e recebe muito bem todos que o procuram relatando toda sua labuta. Com uma xícara de café servida ouvimos além do processo de produção, a vida que se entrelaça no vai e vem da pá no tacho de cobre. A força, a prática, os sonhos, as lembranças, todas se alinhavam na produção da farinha mais gostosa do mundo. Depois fomos convidados para almoçar onde fomos servidos com uma galinha caipira e um porco assado com limão acompanhado da melhor farinha do mundo.


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SEU BENÉ

Benedito Batista da Silva, descedente de índios e negros, 70 anos, trabalha na agricultura desde os 08 anos de idade. Mora no município de Traquateua, região bragantina, nordeste paraense, vizinha da cidade de Bragança, celeiro de produção de farinha desde os índios Tupinambás, certificada com a origem da melhor farinha do mundo. Conhecer a história do Seu Bené é reconhecer a Amazônia, aprender o Brasil.

PROFISSIONAL AUTODIDATA

Hoje Seu Bené é diplomado como professor e mestre da farinha. Atribui o seu dom, a sua inteligência e o seu trabalho como dotes de Deus. Em sua casa já recebeu alunos e profesores de universidades que vão conhecer no local de sua fábrica, em sua casa, o cultivo da mandioca e a produção da farinha.

Hoje Seu Bené é diplomado como professor e mestre da farinha. Atribui o seu dom, a sua inteligência e o seu trabalho como dotes de Deus. Em sua casa já recebeu alunos e profesores de universidades que vão conhecer no local de sua fábrica, em sua casa, o cultivo da mandioca e a produção da farinha.

Ministra palestras e participa de eventos de gastronomia por toda a parte do Brasil e do mundo onde promove a Amazônia e fala da sua relação com a natureza, da sua produção e do cultivo artesanal da mandioca em contraponto ao modelo tecnológico utilizado por latifúndiários que utilizam máquinas e agrotóxicos para garantirem uma grande produção preocupando-se pouco ou nada com a qualidade do produto e com o uso do solo. “Nós somos os que sabemos fazer os trabalhos da terra. Nós somos mestres reconhecidos em nosso trabalho de agricultura pelo que a gente faz e sabe fazer bem feito, com técnicas simples herdadas de nossos antepassados, os índios tupinambás, nossos avós e nossos pais. Algumas pessoas que entram nesse processo precisam ter uma vivência comprovada, pois para aprender desse traba26 www.revistapzz.com.br


Nosso produto é totalmente natural pois quando você coloca um veneno no adubo, você prejudica a natureza, os pássaros que se alimentam dos frutos e onde você vai plantar o seu feijão, a batata, o gerimum, a mandioca, toda a sua alimentação estará contaminada de veneno e a consequência disso são as piores doenças e os males do mundo. Porque depois você vai comer, seu próprio veneno. lho precisam saber ler o tempo da natureza, as fases da lua, o clima, conhecer a planta e seu comportamento no solo. E principalmente, não usar agrotóxicos na terra. Nosso produto é totalmente natural pois quando você coloca um veneno no adubo, você prejudica a natureza, os pássaros que se alimentam dos frutos e onde você vai plantar o seu feijão, a batata, o jerimum, a mandioca, toda a sua alimentação estará contaminada de veneno e a consequência disso são as piores doenças e os males do mundo. Porque depois você vai comer, seu próprio veneno. Aqui nós trabalhamos de forma natural, sem agrotóxico, não usamos veneno. Esse é um dos primeiros conselhos que falo nas minhas palestras e nos cursos para as comunidades que querem produzir farinha de qualidade, dessa que colocamos em nossa mesa, para servir na mesa dos consumidores e nos principais eventos de gastronomia no mundo. Então, foi por esse motivo, o de fazer uma farinha diferenciada, trabalhando com honestidade e de forma limpa, que chegamos a essa qualidade que me levou ao reconhecimento de professor e de mestre. Mas o principal diferencial de tudo isso mesmo é

fazer farinha com amor. Tudo o que você faz com amor brota de forma diferente, pois você não se preocupa tanto com o dinheiro que você vai ganhar mas como aquilo que você plantou, como vai crescer e depois colher o que você vai comer e alimentar sua família. Essa é a lógica e a minha ciência”.

O INICIO

Aprendi a fazer farinha com a minha mãe, trabalhando na roça, sempre moramos no interior onde aprendi a plantar e a colher. Cada ser humano tem um dom, uma vocação para fazer alguma coisa. Nós que trabalhamos na agricultura não passamos por escola. Eu cheguei onde cheguei colocando a mão na enxada, suando debaixo do sol, observando, medindo o tempo do preparo, aprendendo a cada dia com tudo e hoje dou aula em comunidades. Trabalhar com a roça e com a mandioca é uma luta diária e um exercício prático que o conhecimento teórico e das letras não lhe levam a isso. Quem estuda nos livros e não tem a prática de lavrar a terra só na lida diária que você aprende. Produzimos no campo e a farinha é vendida na cidade. Quando ia em Bragança levava uma mostra da minha farinha para buscar clientes e aos poucos fui criando uma rede de clientes que consumiam e levavam meu produto para outros lugares do Brasil e a minha farinha ia para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e não sei mais pra onde. Fiquei conhecido primeiramente assim.

PROJEÇÃO

Um dos momentos mais importantes e inesperados da vida do seu Bené foi a participação no evento em Turim na Itália. Do Norte do Pará, atravessou o oceano atlântico primeira vez que viajou de avião e chegou no continente europeu achou muita dificuldade na comunicação numa babel de línguas. O público do evento pode conhecer www.revistapzz.com.br 27


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Aqui nós trabalhamos de forma natural, sem agrotóxico, não usamos veneno. Esse é um dos primeiros conselhos que falo nas minhas palestras e nos cursos para as comunidades que querem produzir farinha de qualidade, dessa que colocamos em nossa mesa, para servir na mesa dos consumidores e nos principais eventos de gastronomia no mundo. Então, foi por esse motivo, o de fazer uma farinha diferenciada, trabalhando com honestidade e de forma limpa, que chegamos a essa qualidade que me levou ao reconhecimento de professor e de mestre. Mas o principal diferencial de tudo isso mesmo é fazer farinha com amor. Tudo o que você faz com amor brota de forma diferente, pois você não se preocupa tanto com o dinheiro que você vai ganhar mas como aquilo que você plantou, como vai crescer e depois colher o que você vai comer e alimentar sua família. Essa é a lógica e a minha ciência”. www.revistapzz.com.br 29


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Nosso produto é totalmente natural pois quando você coloca um veneno no adubo, você prejudica a natureza, os pássaros que se alimentam dos frutos e onde você vai plantar o seu feijão, a batata, o gerimum, a mandioca, toda a sua alimentação estará contaminada de veneno e a consequência disso são as piores doenças e os males do mundo. Porque depois você vai comer, seu próprio veneno.

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GASTRONOMIA FOTO: ADRIANA LIMA

PZZ_FITA2017

MULHER DE FIBRA Maria de Nazaré Rodrigues Pereira nasceu na zona rural de Bragança e desde cedo aprendeu a fazer a farinha com seus pais, que era o meio de sobrevivência da família. Casou-se e foi morar em Belém, separou-se por querer trabalhar e conseguir sua independência, formou-se em pedagogia, aposentou-se e decidiu voltar para o campo acompanhado de um dos filhos para produzirem na propriedade de 75 hectares do SÍTIO FÊNIX. 32 www.revistapzz.com.br


SÍTIO FENIX

SOB OS OLHOS DE UMA MULHER Uma mulher DE FIBRA à frente de um empreendimento diferencial na produção milenar de um alimento: a farinha. Nazaré RODRIGUES PEREIRA e sua família criaram um produto diferenciado e extremamente rico, a farinha saborizada. A tradição repassada pela família encontrou solo fértil na mulher que se formou em pedagogia mas amava a terra e pra ela voltou seu olhar, suas mãos e sua força repassando à seus herdeiros o amor à terra e à farinha.

É

por meio de uma história pessoal que pretendoemos mostrar a importância da mulher na agricultura como geradora de renda e conhecimento, empreendedora, agente ambiental e tantas outras funções que impulsionam a agricultura familiar e o desenvolvimento socioeconômico. Na região Nordeste do Pará, Bragança é conhecida por ter uma farinha muito gostosa, lavada, amarelinha, crocante e de sabor intenso que combina com quase tudo, seja no paladar do doce ou salgado. Várias famílias do município tentam incorporar seus herdeiros na produção desta farinha que é feita de forma bem artesanal, garantindo assim toda característica peculiar do alimento e a renda mensal dos mesmos. Maria de Nazaré Rodrigues Pereira nasceu na zona rural de Bragança e desde cedo aprendeu a fazer a farinha com seus pais, que era o meio de sobrevivência da família. Casou-se e foi morar em Belém, separou-se por querer trabalhar e conseguir sua independência, formou-se em pedagogia, aposentou-se e decidiu voltar para o campo acompanhado de um dos filhos para produzirem na propriedade de 75 hectares do SÍTIO FÊNIX. Entrou em uma associação, onde mostrou que os sócios tinham e podiam produzir na terra para se sustentarem. Incentivou e ajudou várias famílias a criarem frango caipira e cultivarem verduras para venderem para a prefeitura. Já ela, estava sempre pensando em como realizar seu sonho de ter uma casa de farinha, mas que fosse diferente daquelas que conhecia desde pequena, que pudesse produzir a tão famosa farinha, mas com economia de tempo. Foi buscar parcerias junto ao SENAR para melhorar o ponto de torragem, permitiu a realização de cursos em

sua propriedade para a comunidade de perto aprenderem e qualificar-se, garantindo uma melhor renda econômica. Buscou parceria com a EMATER para melhor seleção de mudas de mandioca e projetos que pudessem contribuir com o meio ambiente durante a produção da farinha como: reaproveitamento da água do tanque onde a mandioca ficava de molho, buscar tipos de matéria prima para manter o forno aquecido que não fosse apenas pela queima de lenhas, entre outros... Nessas suas buscas, decidiu inovar, fazer a farinha que já era famosa aparecer de forma diferente sem perder suas características peculiares. Colocou no mercado de Bragança as Farinhas Gourmet que são: farinha com charque, farinha com jambu, farinha com açaí e farinha com camarão. Não são farofas, é a farinha mais gostosa do Brasil agregada de outro valor nutricional e que foram vistas por algum tempo com olhares tortos, e que o desafio

Maria de Nazaré Rodrigues Pereira nasceu na zona rural de Bragança e desde cedo aprendeu a fazer a farinha com seus pais, que era o meio de sobrevivência da família. Casou-se e foi morar em Belém, separou-se por querer trabalhar e conseguir sua independência, formou-se em pedagogia, aposentou-se e decidiu voltar para o campo acompanhado de um dos filhos para produzirem na propriedade de 75 hectares do SÍTIO FÊNIX.

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REVISTAPZZ_SÍTIO FÊNIX_DONA NAZARÉ

Farinha com Jambu

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Esta mulher com suas raízes no campo ousa sonhar de uma forma diferente, respeitando e reconhecendo de onde vem o seu fruto para o trabalho, levando em conta o meio ambiente, sabendo que os recursos naturais finitos e que pra isso durar precisa de um planejamento, que esteve presente desde o início da construção do seu sonho e que se estende na busca de mais conhecimentos e parcerias dos órgãos que através de estudos, detém uma melhor visão do que pode ser feito para uma melhor preservação e sustentação da qualidade em vez da quantidade.

de hoje é produzir para atender todos os clientes que já são da capital e até de outros estados, já que a produção em boa parte continua artesanal em família, garantindo assim o sustento dos mesmos, já que a família cresceu. O próximo passo foi buscar a certificação da ADEPARÁ, fiscalização que garante higiene na produção do alimento. E a da Identificação Geográfica, que será serão um parecer de uma universidade que demonstrará a origem da fama da farinha d´água de Bragança e seu valor cultural e histórico, e a descrição oficial do modo de produção. Esta mulher com suas raízes no campo ousa sonhar de uma forma diferente, respeitando e reconhecendo de onde vem o seu fruto para o trabalho, levando em conta o meio ambiente, sabendo que os recursos naturais finitos e que pra isso durar precisa de um planejamento, que esteve presente desde o início da construção do seu sonho e que se estende na busca de mais conhecimentos e parcerias dos órgãos que através de estudos, detém uma melhor visão do que pode ser feito para uma melhor preservação e sustentação da qualidade em vez da quantidade.

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Farinnha funcional com chia, soja, gergelim e castanha do Parรก

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Farinha com Açaí, Tapioca e Charque

Farinha com Camarão

Farinha com Açaí, e Tapioca

D. Nazaré e seu filho Davi

Máquina de Prensar mandioca

O Sítio Fênix está localizado em Bragança, nordeste paraense, na Estrada do Aeroporto. Funcionamento: Das 19h à meia noite Contato: Juana Galvão: (93)98401-6144 Instagram: @espacoalterdochao Facebook: Espaço Gastronômico Alter do Chão www.espacoalter.com.br

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FOTO: RENATO CHALU

Carlos Pará

CHEF OFIR

SABOR SELVAGEM Chef Ofir Oliveira atua há mais de três décadas na divulgação, valorização e resgate da culinária da Amazônia, a qual tem origem indígena com forte influência africana.Ele também é reconhecido internacionalmente por utilizar a gastronomia como meio de conscientização para a preservação do meio ambiente.

O

Chef Ofir Oliveira há mais de trinta anos atua no ramo da gastronomia. Recentemente foi proposto a ele, o título de Doutor Honoris Causa pela Faculdade do Pará – ESTÁCIO/FAP em decorrência de sua contribuição cultural, científica e acadêmica para o desenvolvimento e disseminação dos valores inerentes à Região Amazônica. Título que o próprio chef destina ao povo bragantino de onde adquiriu os conhecimentos, a inspiração de seus principais pratos e de sua devoção ao santo protetor dos pretos, São Benedito, santo milagreiro que favorece a fartura e multiplica o alimento da mesa dos bragantinos. Atualmente grandes universidades do Pará, do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, através de seus alunos, estudam as propostas, ideias e experiências do mestre Ofir. O fato de terem outorgado a maior condecoração que uma instituição pode conceder a uma personalidade, aprovado por unanimidade, favorece para a construção de uma política pública unindo e integrando governos, universidades, institutos e a sociedade como um todo. O reconhecimento e a certificação do trabalho, a experiência de vida desse nobre Chef, que foi convidado a ser o coordenador do Curso de Gastronomia que será implantado no Pará, faz o diferencial

na área da Gastronomia. A partir da gênese da gastronomia amazônica é que falamos da gênese da gastronomia Brasileira.

ORIGEM

Ofir nasceu dentro da floresta amazônica, em Calçoene, no Amapá, onde sua mãe nasceu também. Seu pai nascido na Bolívia, era filho de imigrante nordestino. Depois vai para Bragança e se torna regatão e leva tabaco para trocar por Ouro nas minas de Oiapoque. “Nasci em uma pequena cidade do interior da Amazônia, onde convivi com rios, animais, florestas e costumes indígenas de uma Amazônia intocada, que deixaram em mim conteúdos afetivos que seriam importantes para minha expressão artística anos depois. Minha mãe era professora de culinária, cozinhava com maestria. Ela fazia banquetes em Bragança e eu ajudava a fazer e servir. Lembro de um banquete para umas 400 pessoas em decorrência da consagração do Bispo Dom Miguel Maria Giambeli quando foi encomendado para ela fazer. Tudo foi feito de forma impecável e eficiente” lembra Ofir. “Meu pai foi o primeiro a montar uma fábrica de rádio em Bragança, o único que estudava eletrônica em Bragança, montava aparelhagens há 60 anos atrás, logo no início das aparelhagens. Criou uma geração ensinando eletrônica. E a sua mãe ensinou uma geração dando aulas de culinária em Bragança” relembra o Chef.

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REVISTAPZZ_CHEF OFIR NOBRE

SABOR SELVAGEM

O chef é fundador da Associação Sabor Selvagem e criador das expedições amazônicas trazendo alunos de universidades de gastronomia do Brasil e do exterior para interagir com as comunidades ribeirinhas da Amazônia, líder do Convivium SlowFood. “Estamos preocupados em trabalhar uma culinária autêntica do Brasil nas universidades. O ensino de gastronomia se preocupa em plagiar, em copiar as técnicas dos outros. Ou seja, a francesa, a inglesa, chinesa e outras de qualquer lugar, menos da Amazônia” explica o Chef. O Chef Ofir Oliveira já participou em Faro (Portugal) das comemorações do Ano do Brasil em Portugal dando aula magna em Coimbra, levando os sabores e saberes do caboclo. Foram esses posicionamentos que proporcionaram ao Chef um reconhecimento local, regional, nacional e internacional.

ESPAÇO SABOR SELVAGEM

O Espaço Sabor Selvagem é um lugar destinado a pesquisa e experimentação gastronômica e funciona como restaurante, escola e laboratório. A ideia do espaço é desenvolver cursos e oficinas de culinária amazônica de raiz, e assim criar um calendário de ações voltadas para a educação cultural e gastronômica na região. Desta forma pretendemos atingir o máximo de pessoas interessadas nessa área, além de estimular a valorização e a divulgação destes conhecimentos tradicionais para o Brasil e para o mundo. O Espaço será inaugurado nos dias 10 e 11 de junho com um curso de farinha ministrado pelo Mestre Bené de Bragança, considerado um dos melhores mestres farinheiros do mundo, juntamente com showcookings do chef Ofir Oliveira. Mais informações: (91) 98155-4000 / 21216096 / E-mail: restaurantesaborselvagem@ gmail.com

SLOWFOOD

"Hoje trabalhamos o conceito do Slow Food, uma política ecologicamente correta. Todo o meu trabalho é fundamentando na culinária e na cultura Amazônica como um todo e acaba se tornando um referencial da gastronomia” comenta Ofir. “Nós colocamos as técnicas amazônicas que possuem o nosso conhecimento ancestral e inovador em alguns casos, para o contexto atual. Essas técnicas poderão serem usadas pelo mundo a fora. Porque são resultados de milhares de anos sendo executadas com 40 www.revistapzz.com.br

O SlowFood tem como principal característica o uso de ingredientes de procedência natural.

eficiência. Ou seja, além do aproveitamento dos produtos dentro de tecnologias amazônicas. A ciência que desenvolvemos tem um papel fundamental e preponderante no processo de elaboração de um prato, mas o que nós propomos, não é o que vai ser servido na mesa do almoço ou do jantar, de forma colorida ou bem apresentada, nem tão pouco só um festival, mas sim, através dos festivais, das aulas de gastronomia de cozinha e cultura amazônica podemos executar uma política pública. O conceito do Slow Food, envolve o trabalho familiar e comunitário, gerando renda para os pequenos produtores (agricultores e pescadores) e garantindo o consumo próprio, o excedente de todo

o pescado na safra é jogado fora para não reduzir o preço. Se perde e não se aproveita. Na proposta do slow food vamos aproveitar o excedente, industrializá-lo com um produto de altíssima qualidade e valorar as espécies que não são cotadas no mercado mas que possuem uma riqueza de nutrientes e sabor incondicional como o Bagre, o Cangatão, Dourada, a nível de sabor são excepcionais" explica o Chef.


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CHEF VALFIR

SABOR CAETEUARA O Chef e pesquisador da gastronomia amazônica, o bragantino Valfir Ribeiro, 44 anos, inova a gastronomia caeteuara com pratos unindo a tradição e o requinte da gastronomia contemporânea, um apaixonado pelo seu trabalho, pela natureza, pela vida e pelo seu torrão natal: bragança do pará.

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FOTO: RENATO CHALU

molho velôute de tucupi de mandioca capanema c/ patola de caranguejo empanada. (finger food).

O

Chef e pesquisador da gastronomia amazônica, o bragantino Valfir Ribeiro, 44 anos, começou desde pequeno influenciado por sua mãe a trabalhar com alimentos. Em 1992 se formou no Grande Hotel Águas de São Pedro-Senac, depois como Bartender na IBA (International Bartender association) e Sommelier na ABS (associação brasileira de sommelier). Trabalhou por grandes bandeiras hoteleiras 5 estrelas e empresas de eventos. Participou do primeiro VOP na categoria barman. Em 2004 montou seu próprio negócio no ramo de eventos. Então, em 2008 decidiu voltar às suas origens e voltou a Bragança sua terra natal, onde montou o restaurante Mandicoeira Café Bistrô, focado na alimentação de raiz das comunidades tradicionais. Hoje o Mandicoeira virou Instituto onde é presidente e proprietário do Emporium Caeteuara onde atua como Chef e pesquisador em resgate de alimentos tradicionais da cultura bragantina e amazônica. Com a chegada dos fastfoods está se pendendo o costume de se consumir produtos tradicionais ricos em nutrientes e sabores. Atualmente o chef Valfir Ribeiro

representa a união entre a ética e o prazer da alimentação e consegue restituir ao alimento sua dignidade cultural, favorecendo a sensibilidade do gosto e a luta pela preservação e uso sustentável da biodiversidade. Protege espécies vegetais e raças animais, contribuindo com a defesa do meio ambiente, da cozinha típica regional, dos produtos saborosos e do prazer da alimentação. “Está se pendendo o costume de consumir produtos tradicionais e ricos em nutrientes, por isso elaborei um prato que combina o pescado, o cação, acompanhado do mingau feito da mandicoeira. Com isso queremos que os bragantinos retomem este antigo hábito”, explica o chef. Em seu cardápio podemos aprender a apreciar um cardápio vasto de receitas e sabores e reconhecer a diversidade de saberes e sabores da gastronomia amazônica. Valfir propõe um novo senso de responsabilidade na busca do prazer. Em sua práxis enquadra-se perfeitamente o conceito de Ecogastronomia, uma atitude capaz de combinar o respeito e interesse na cultura enogastronômica com apoio para aqueles que lutam para defender os alimentos e a biodiversidade agrícola no mundo todo, mais saudável e sustentável, com base no conhecimento das comunidades locais .

Em 2004 montou seu próprio negócio no ramo de eventos. Então, em 2008 decidiu voltar as suas origens e voltou a Bragança sua terra natal, onde montou o restaurante Mandicoeira Café Bistrô, focado na alimentação de raiz das comunidades tradicionais. Hoje o Mandicoeira virou Instituto onde é presidente e proprietário do Emporium Caeteuara onde atua como Chef e pesquisador em resgate de alimentos tradicionais da cultura bragantina e amazônica.

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REVISTAPZZ_CHEF VALFIR

spaguette de jambu c/feijão caupi no molho de macaxeira c/ aviú e tucupi preto em pó.

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abafadinho de arraia em cama de farinha lavada e temperada.

mujica de lagosta c/ farinha lavada.

purê de mandioca capanema c/ ervas frescas e caranguejo assado e desfiado.(finger food)

É com essa percepção e agudeza de espírito que consegue com extrema delicadeza e técnica transformar os elementos da sua cultura em experiências sensoriais inesquecíveis. Para quem tiver o interesse e a oportunidade de provar suas invenções pode encontrá-lo em Bragança no Emporio Caeteuara. Contatos: (91) 98519-4268 bragancaexpedicionaria@gmail.com

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REVISTAPZZ_FAZENDA BACURI

FAZENDA BACURI

NA BIOFACH ALEMANHA A Fazenda Bacuri foi selecionada através de uma chamada pública da Secretária Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário- SEAD em outubro de 2017 para participar da Missão Comercial á Alemanha. O SEBRAE apoio o Empreendimento com a passagem de IDA e VOLTA a Alemanha.

A

fazenda Bacuri levou para a BIOFACH 2018 os produtos da sua linha de produção, tipo geleias e licores de frutas da Amazônia com base na sociobiodiversidade. “É um produto inovador pois estamos sendo pioneiros em produzir geleias e licores orgânicos de frutas típicas oriunda do bioma amazônico onde esse sabor ainda é desconhecido. No entanto, para a nossa satisfação quando o produto é degustado tanto por brasileiros e estrangeiros o comentário e sempre “verry tast” ( muito gostoso, bom ). Então hoje a nossa grande meta é mostrar ao mundo como essas frutas além de ser saborosas são nutritivas e mostrar o quanto somos capacitados para produzir geleias e licores de alta qualidade. A importância da missão para o empreendimento foi muito enriquecedora, pois nos mostrou que estarmos no caminho certo para a jornada do mercado internacional e mais importante é que eles tem interesse em produtos diferentes. Tivemos a 46 www.revistapzz.com.br

oportunidade de divulgar e mostrar que temos produtos de qualidade a serem oferecidos. Nesse evento, a maior feira de produtos orgânicos do mundo, observamos que é um caminho sem volta os produtos bio e não apenas na alimentação mas também para os produtos de belezas e fitoterápicos. Uma grande oportunidades para produção de matéria prima para chás, fitoterápicos e biocosméticos. Foi uma grata supresa saber que esses clientes tem interesse em conhecer a historia de como é produzido e por quem e feito os produtos. Mas uma vez ficou bem esclarecido que em se tratando de produtos orgânicos eles entendem que não é possível grandes quantidades e sim precisamos avançar em tecnologia de engenharia de processo para produzir com qualidade e reponsabilidade social e ambiental. Foram feitos bons contatos que precisamos fazer o dever de casa que é o pós feira. É valido salientar que uma missão dessa magnitude é importante que haja uma comissão do Sebrae/

Pará para conhecer e de suma importância para o mercado de alimentos e biocosméticos uma vez que a Amazônia é o Foco.

SISTEMA FIEPA / CIN

“A Fazenda Bacuri integra o Projeto de Internacionalização do Centro Internacional de Negócios - CIN (SISTEMA FIEPA)/ SEBRAE que tem sido um grande parceiro no processo de exportação facilitando o acesso ao mercado internacional. A Fazenda Bacuri atua na verticalização da produção de frutas da Amazônia, agregando valor ao produto. Durante o projeto de verticalização gera diretamente 15 empregos diretos. Para participar da EXPOALIMENTARI no Peru contamos com o apoio do Estado com as passagens aéreas através da SEDAP e do Sistema FIEPA. “Hoje a Fazenda Bacuri é um Case de Sucesso que está caminhando para a exportação. Eles estão fazendo treinamento de capacitação para que o empreendimento possa entender o


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PRODUTOS DA SOCIOBIDEVERSIDADE A Fazenda Bacuri trabalha com geleia, doces, compotas, licores de frutas da sociobiodiversidade: Bacuri (geleia, geleia com pimenta, compota, licor, cupuaçu; Cupuaçu (Doce, Geleia, geleia de cupuaçu com pimenta, licor; Taperebá (licor); Açaí (geleia, licor); Genipapo (licor); Buriti (geleia, licor); Sapoti (licor); Muruci (licor, compota). O diferencial da fabricação dos produtos , sao bem diferentes do mercado em virtude de sermos os protures dos frutos que produzem.

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Fotos: Adriana Lima mercado nacional e internacional. Por exemplo, formação de preços, mercado exterior para se adequar, passaporte para levar os produtos para as férias internacional sem que tenham problemas na alfândega. O CIN tem ajudado este empreendimento a entender como é o processo de exportação e também fazendo contato com trades e especialista no mercado” declara Raul Fernandes, diretor do CIN. “Eles estão nos apoiando na divulgação do trabalho pois acreditam que é um produto de qualidade e que tem um mercado que precisa ser explorado. Para você ter uma ideia estarmos fazendo uma parceria que quer comprar manteiga de Bacurizeiro para exportar para o Estados Unidos. No final do mês estaremos recebendo a visita da empresária e da empresario da Beraca. O mundo está voltado para a produção de biodiversidade. Essa produção que ninguém conhece, mas ela existe, é a nova moda do consumo internacional” ”. Explica a agricultora e engenheira florestal Hortência Osaqui, que administra há 11 anos a propriedade localizada no município de Augusto Corrêa. Hortência esteve recentemente na EXPOALIMENTARE em Lima, no Perú, representando a produção orgânica da Amazônia, com Apoio do Sistema FIEPA e do SEBRAE.

ROTA GLOBAL A Fazenda Bacuri através do CIN foi selecionada para participar da Rota Global, que oferecerá consultoria gratuita para empresas consolidarem ou começarem a atuar no comércio internacional. O Rota Global é uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria a União Industrial Argentina (UIA) e o Parque Tecnológico de Extremadura (Fundecyt-PCTEX), na Espanha, e tem o apoio do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). O Rota Global é executado pela Rede de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN), presente em todas as federações estaduais de indústrias, e será financiado com R$ 1,2 milhão obtido junto à AL-Invest, programa da Comissão Europeia de fomento à competitividade de micro, pequenas e médias empresas da América Latina. -------------------------------------------------FAZENDA BACURI Contato: (91) 98702-8680 Endereço: PA 242 Bragança Augusto Corrêa km 15,Augusto Correa / PA

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CHIPS ORGÂNICo de

maNDIOCA

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Fotos: Adriana Lima No passado, na época da Semana Santa ou mesmo em alguns festejos nas comunidades, os agricultores rurais da região da Amazônia Atlântica faziam uns bolinhos de massa de manidoca com coco para tomar com café. A partir desta receita, a Fazenda Bacuri com uma pitada de inovação, criou o Chips orgânico de massa de mandioca com coco. www.revistapzz.com.br 51


REVISTAPZZ_MANIOCA

MANIOCA

SABORES DA AMAZÔNIA 52 www.revistapzz.com.br


U

ma história de amor e mistério. Amor de família e mistério da floresta. A Manioca nasceu da paixão de uma família pela culinária do Pará e da vontade de proporcionar para todo brasileiro a chance de experimentar a riqueza de sabores da Amazônia. A história começa no Restaurante de culinária paraense “Lá em Casa”, um dos mais tradicionais do Brasil. Foi lá, após décadas servindo gostoso, que a cozinheira Anna Maria Martins e seu filho o Chef Paulo Martins plantaram as sementes do que hoje é a Manioca. Os ingredientes e sabores preparados por Paulo corriam o Brasil de Norte a Sul, encantando clientes e dando origem a novas e criativas experiências culinárias nas mãos dos mais renomados Chefs brasileiros. Do fornecimento camarada de matéria -prima para outros restaurantes até a profissionalização do negócio, foi um pulo, uma evolução natural para quem já está há 42 anos no ramo da alimentação. Hoje, a Manioca tem parceria com o Instituto Paulo Martins, que se dedica a fazer pesquisas e incentivar o aperfeiçoamento da produção de ingredientes para que os sabores da Amazônia Paraense possam ser apreciados em qualquer lugar do Brasil com a mesma qualidade que só ingredientes frescos e artesanais podem proporcionar. Assim são os produtos Manioca, sem nenhum aditivo químico, verdadeiramente naturais e artesanais. Na opinião de Joanna Martins “a missão da Manioca é aproximar a Amazônia dos apreciadores da boa mesa e ser referência nacional na manipulação criativa e no conhecimento dos sabores da Amazônia. Nosso propósito é ofertar insumos e produtos alimentícios naturais e padronizados de origem Amazônica”. A empresa MANIOCA há mais de três anos no mercado, nasceu da ideia do Chef Paulo Martins que desde o início do Festival Gastronômico Ver-o-Peso da Cozinha Paraense teve uma demanda espontânea dos chefs nacionais e internacionais que vinham participar do evento, interagir com chefs locais e desfrutar da diversidade da cozinha local. A vasta disponibilidade de matéria-prima autêntica e única em nossa região dá essa exclusividade e o caráter exótico da gastronomia amazônica. A farinha d’água, a farinha de tapioca, o tucupi, o açaí, o cumaru, e muitos outros produtos eram levados como lembranças de Belém do Pará e que serviam mais para o consumo próprio desses chefs do que para serem usados de forma comercial em

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Joanna Martins

seus restaurantes. Em 2015 a família Martins resolveu criar a empresa para fazer um trabalho de forma empresarial para sua demanda que vinha aumentando. A partir da criação da Marca a preocupação foi manter um padrão de qualidade de alimentos comercializados além de desenvolver novos produtos com selos de certificação de inspeção sanitária e outros. “Assim podemos atender a demanda dos restaurantes de São Paulo, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro e outros. Fornecemos a farinha d’água, a farinha de tapioca, o tucupi, polpas de frutas, geleias, temperos. Trabalhamos com duas linhas de produtos, os de revenda de produtores parceiros que vem de 54 www.revistapzz.com.br

Bragança, Santa Isabel, Castanhal e de Santarém (feijão manteiguinha) que não são de nossa marca mas que emprestamos o rótulo para comercializar em nossa rede de distribuição e para isso acompanhamos e orientamos a produção para melhorar a qualidade do produto. Outra linha dos produtos são produzidos com a nossa Marca como é o caso das geleias de pimenta de cheiro, taperebá, açaí, jambú e de priprioca, e doce de cupuaçu que é um produto desenvolvido desde o tempo da minha avó que industrializamos” declara entusiamada Joanna Martins. Tucupi Preto – Produto natural indígena tradicional que estava se perdendo, muito mais relatos de produção em outros estados da

Amazônia do que aqui no Pará. O processo é uma redução de 40 litros de tucupi para se chegar em 1 quilo do tucupi preto, totalmente concentrado bem pastoso e bem denso. Atualmente, resolvemos dissolver em água e sal e fazer um tempero tipo molho inglês ou molho de soja. Recomendamos possa ser utilizado no sushi substituindo o shoyo pelo tucupi preto, sabor fermentado bem similar. Farinha D’água – Hoje compramos só de um produtor, Seu Bené da Região Bragantina. A tapioca compramos de Americano e o tucupi e o jambu de Santa Isabel.


O Espaço Manioca está localizado no mesmo lugar onde funciona o Restaurante Lá em Casa Funcionamento: Das 08h à meia noite Contato: Joanna Martins: (91)98401-6144 Instagram: @espacoalterdochao Facebook: Espaço Gastronômico Alter do Chão www.espacoalter.com.br

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REVISTAPZZ_ENSAIO FOTOGRÁFICO

Paulo Vergolino

Farinha com amor e sabor Fotografias de Paula Giordano.

Paula Giordano investiga para além do mero registro, o detalhe - notamos em seu sensível trabalho, alguns pontos que não podem ser desconsiderados, entre outros a busca quase que obsessiva pelo detalhe, onde nada escapa à essa atenta lente.

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PZZ BRAGANÇA / ENSAIO FOTOGRÁFICO

A

lgo nos chama a atenção quando vemos aqui para a região Sudeste do Brasil, um grupo cada vez maior de profissionais da culinária, a nos confessar que não podem prescindir deste ou daquele produto importado do Norte do País. Seria porque hoje a região está finalmente saindo do tão esperado e longo sono do esquecimento? Certamente não. Somos um País de dimensões continentais e ao longo dos anos foram se criando verdadeiros micro-países dentro de um mesmo país. Assim é o Pará, o Amazonas, o Ceará, o Rio Grande do Sul e toda essa pluralidade de estados que forma o que chamamos a nossa grande Casa. Precisamos

“Atualmente os chefs, designers, artistas, historiadores estão, junto com a modernidade, percebendo que voltar ao passado e reaprender com o que foi feito, redescobrindo-o mais e mais vezes, faz muito bem. Basta misturá-lo com o presente, salpicando um cadinho de pimenta, que o futuro passa a ser bem melhor, ou menos insosso. ” apenas olhar para dentro e não cultivar e consumir a história dos outros. Assim aconteceu com o grande visionário Mário de Andrade (18931945) que, em suas viagens pelas regiões na época fora do eixo Rio/São Paulo, já pregava a valorização do que verdadeiramente era nosso – a Cultura. Atualmente os chefs, designers, artistas, historiadores estão, junto com a modernidade, percebendo que voltar ao passado e reaprender com o que foi feito, redescobrindo-o mais e mais vezes, faz muito bem. Basta misturá-lo com o presente, salpicando um cadinho de pimenta, que o futuro passa a ser bem melhor, ou menos insosso. Em se tratando de Norte, 58 www.revistapzz.com.br

região importantíssima para a coroa portuguesa desde a criação e fundação das 14 primeiras capitanias hereditárias, durante o período colonial nos séculos XVI ao XVIII, junto com a horda de novos habitantes que por aqui chegavam - portugueses, franceses, holandeses, espanhóis e africanos (vindos como escravos do atual Senegal, de Gambia, da Nigéria, de Angola, Tanzânia e Moçambique) encontravam-se os indígenas – comedores de mandioca, de tartaruga, de peixe, de frutas, de gente e de toda sorte de alimentos que esta vasta, rica e recém descoberta terra pudesse produzir. Ora, não é novidade para nenhum de nós que a miscigenação tão ventilada e cantada em verso e prosa, quando se trata de ser brasileiro, só pôde existir, porque havia comida em abundância para suprir a instauração de uma nova Portugal. E assim se fez e assim se faz até hoje. O alimento é algo que ultrapassa fronteiras e se torna indispensável pelo simples fato de sermos humanos. Entre muitos alimentos que hoje fazem parte do nosso cotidiano estão alguns que são imprescindíveis para o bom humor à mesa de qualquer cidadão nascido por aqui. O milho, o café, a banana, o coco, a cana de açúcar, o feijão e a mandioca, apenas para chamar a atenção para alguns. Segundo pesquisas recentes e consultas à publicações e aos mais variados sites especializados, só o último dessa lista é verdadeiramente brasileiro. Relatos sobre a mandioca são identificados desde 1615, como na publicação francesa do acervo da Biblioteca Nacional de Paris “Suite l’Histoire des choses plus memorables advenuës em Maragnan ès années 1613 & 1614” em que integrantes de uma expedição daquela nacionalidade relatam ter sentindo-se mal ao ingerir farinha sem o costume de fazê-lo, ou mesmo em Turim, no ano de 1911, quando tipitis são usados para decorar um dos interiores do Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional, realizada naquela cidade e com grande participação dos produtos da indústria florestal do Pará, sobretudo


Giordano investiga para além do mero registro, o detalhe - notamos em seu sensível trabalho, alguns pontos que não podem ser desconsiderados, entre outros a busca quase que obsessiva pelo detalhe, onde nada escapa à essa atenta lente. do município de Bragança, que para lá enviou seus produtos. Em 1963 encontramos o autor do livro “Santa Maria de Belém do Grão Pará”, Leandro Tocantins, a reproduzir receitas de pato no tucupi, açaí e maniçoba, todos saboreados, segundo ele, com farinha de mandioca ou farinha d’água. O que percebemos depois desses interessantes relatos, é que a mandioca – assim como a farinha feita dessa raiz tuberosa, vem acompanhando o desenvolvimento das gentes do Norte há centenas de anos - só no Brasil já foram identificadas cerca de 4.000 variedades, segundo dados da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) - a própria farinheira, tão comum nas mesas nortistas e nordestinas é uma peça de design brasileiro, criada para suprir o mercado nacional. Esse amor pelo produto em questão remonta a costume tão arraigado na alma do povo brasileiro e, sobretudo do paraense - comer e servir bem. A farinha, que complementa magistralmente o queijo e a goiabada, é usada também para engrossar sopa, enfeitar doces de bacuri, cupuaçu e está, paulatinamente, sendo descoberta pelo turista estrangeiro, ávido de novidades. Em que pese uma crescente demanda pelo produto, a produção caseira resiste até hoje. Regiões como o município

de Bragança, criado por decreto em 1854, são produtoras dos melhores tipos. Percebemos que a produção não se industrializou ali porque, do contrário, é prezada por ser feita dessa forma – caseira – e ensinada através das gerações de produtores, o que de alguma forma contribui com certa poesia e tipicidade, tão raros nos tempos atuais. Esse olhar, voltado para o que é genuíno, por incrível que possa parecer, é recente. O cotidiano passa através do olhar de quem tem capacidade de enxergar algo corriqueiro e/ou até comum, para se tornar coisa que beira o extraordinário. Assim foi a descoberta da fotógrafa Paula Giordano, que nos presenteia com essa exposição sobre a farinha de Bragança - como paraense, a artista foi buscar um dos muitos aspectos do que é pertencer a essa terra e, esse pertencimento a levou a registrar momentos de quem trabalha a produção da farinha. O seu conjunto fotográfico está aqui reunido e condensado por conta das limitações do próprio espaço, a uma pequena constelação não superior a 20 trabalhos, selecionados de um conjunto de mais de 600 fotos. Giordano investiga para além do mero registro, o detalhe notamos em seu sensível trabalho, alguns pontos que não podem ser desconsiderados, entre outros a busca quase que obsessiva pelo detalhe, onde nada escapa à essa atenta lente. Portanto, saltam aos nossos olhos as formas da palha que trançada forma o tipiti, o negrume dos tachos de ferro que esquentam e torram a farinha, a mão amorosa do produtor que mistura a pasta da mandioca e em um gestual constante e quase sagrado produz seu sustento, enfim, aspectos que são trazidos para a capital do Pará, só possíveis por quem decidiu não desligar seu passado. Até porque certos www.revistapzz.com.br 59


PZZ BRAGANÇA / ENSAIO FOTOGRÁFICO

A fotógrafa não se coloca como um elemento alheio ao momento e sim, por amor ao que faz, segue retendo esses momentos mágicos onde a história é viva e a cultura acontece sem aborrecer o que e quem é fotografado. aspectos, não podem ser esquecidas ou apagados de nossa memória cultural. Nada mais justo do que homenagear essa gente que trabalha e derrama o fruto do seu trabalho em nossas refeições. Paula optou por isso - voltou as suas origens, encontrou o nascedouro do elemento fotografado e o trouxe graciosamente para nós através do seu labor. Outro aspecto que nos pareceu relevante na obra da artista, foi a importância dada ao colorido, presente em cada uma das peças aqui expostas. Paula Giordano gosta da cor e sabe registrar o contraste entre o foco e o não foco. Sentimos quase que uma explosão de colorido que se justifica quando em conjunto com a sombra. O processo de trabalho não é esquecido pelo seu olhar - que parecem não interferir na feitura da farinha mais do que o necessário. A fotógrafa não se coloca como um elemento alheio ao momento e sim, por amor ao que faz, segue retendo esses momentos mágicos onde a história é viva e a cultura acontece sem aborrecer o que e quem é fotografado. Acreditamos que as práticas artísticas, de um modo geral fazem bem, assim com o conhecimento que nunca se esgota. Aqui juntamos alguns elementos históricos e artísticos para que em conjunto e em constante diálogo, possam contribuir um pouco com este trabalho de fotografia que nasce com a certeza de sucesso. Longa vida à farinha do Pará e a quem, ao molde de Paula Giordano, dela não se esquece, enchendo a boca de água só em recordar de tal preciosidade. Paulo Leonel Gomes Vergolino – Curador independente e Membro da Associação Paulista dos Críticos de Arte APCA . Inverno de 2015. 60 www.revistapzz.com.br


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PZZ BRAGANÇA / ENSAIO FOTOGRÁFICO

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PAULA GIORDANO Tem como enfoque do seu trabalho, o homem e suas diversas formas de expressão. Fotografia precisa ter emoção. Sempre manteve relação com diversas formas de arte como pintura, dança e teatro; contudo, é no estudo da fotografia e no desenvolvimento de suas habilidades nesse universo, há cerca de três anos, que vem encontrando espaço para seu desenvolvimento artístico, pessoal, e a expressão de sua sensibilidade. Procura não se prender a regras ou estéticas simplesmente, busca desafios a cada novo trabalho, o que lhe faz produzir trabalhos diversificados. Investe seu olhar qualificado na procura incansável pelo que há de sentimento na imagem. Em novembro de 2013 teve sua primeira participação em concursos de artes, sendo selecionada para a XXII Mostra de Artes Primeiros Passos CCBEU, com a fotografia entitulada “Sem Farinha não há trabalho”. Em dezembro de 2013, foi contemplada com o terceiro lugar no concurso de edital de pautas para 2014, da Galeria Theodoro Braga do CENTUR. Em novembro de 2014, apresentou sua primeira exposição individual, entitulada "Casa de Farinha", nessa galeria. Em dezembro 2014, participou com 2 obras, da exposição coletiva "Instâncias da Luz", na Galeria Fidanza do Museu de Arte Sacra de Belém. Possui obras no acervo de ambas as galerias. Em abril de 2015, foi selecionada pela galeria Urban Art Belém e seus curadores, para participar da Exposição Coletiva "Eu Vivo Belém", com a obra "Torre de Rapunzel". Em Junho de 2015, foi convidada pelos curadores Adan Costa e Rodrigo Barata a participar da exposição "De Vagar - Coletiva sobre o silêncio e seus resgates", apresentando o tríptico da série "Ouvindo a solidão". Atualmente, cursa pós graduação em "Arte Fotográfica" na Faculdade Estácio-IESAM e desenvolve projetos fotográficos voltados para a religiosidade, a relação do homem com o divino. Em maio de 2016 realizou a exposição “Entre Luz e Escuridão – Fotografias”,na Galeria Theodoro Braga.

paulagiordano@yahoo.com

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GASTRONOMIA

TUCUPI DE VIGIA CONSIDERADO O MELHOR TUCUPI DO PARÁ, VIGIA DE NAZARÉ TEM COMO TRADIÇÃO NO CONSUMO DE SUAS RIQUEZAS GASTRONÔMICAS O SUMO DA MANDIOCA TEMPERADO COM ERVAS NATIVAS, TRANSFORMA EM VERDADEIRO SABOR SELVAGEM

FOTOGRAFIAS: ADRIANA LIMA

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300 L

VENDA DE TUCUPI

Em média 300 litros por vendedora na Feira Livre Municipal de Vigia é vendido pelas simaticas vendedoras de Tucupi.

O TUCUPI DE VIGIA

VENDA DE TUCUPI

Em média 300 litros por vendedora na Feira Livre Municipal de Vigia é vendido pelas simaticas vendedoras de Tucupi. Em média 300 litros por vendedora na Feira Livre Municipal de Vigia é vendido pelas simaticas vendedoras de Tucupi.

Os nacionalistas queriam liberdade, respeito à cidadania, melhores condições de vida. Queriam também uma divisão mais justa de cargos, pois os melhores pertenciam aos Portugueses e amigos destes, que mandavam e desmandavam no Brasil. Havia os moderados, pregando a pacificação dos ânimos, porém sem um argumento forte, que garantisse o atendimento a reivindicação dos nacionalistas e contentasse os poderosos, aferrados as suas posições como se fossem elas direitos pessoais, sagrados e vitalícios. Entre os paraenses (e na Vigia era fato bem claro, gerando até queixas ao imperador), o desentendimento com os lusitanos não deixava um caminho de conciliação. Agravando o conflito, estava na memória do povo a violência da escravidão negra, o genocídio praticado contra os índios, o golpe fatal no excelente trabalho dos jesuítas, a ganância dos comerciantes lusos e as grandes riquezas que, empobrecendo o Brasil, iam enriquecer Portugal. Mais recentemente, a perseguição, culminando na prisão de Filipe Patroni (bacharel, filho do Acará, bisneto do fundador da Vila da Vigia, procurador da Província do Pará no Reino, lutador inteligente e incansável contra os abusos, defensor de nossa autonomia, e responsável pelo nosso primeiro Jornal - O Paraense - de março de 1822). E ainda: a prisão do cônego Batista Campos, articulista substituto de Patroni, com o fechamento do jornal pela censura do governo, sob a violência das baionetas. Estava na memória do povo a covarde deposição da primeira Câmara, só de brasileiros, eleita em Belém, e a remessa de 267 prisioneiros políticos paraenses a Lisboa (quando a maioria morreu), após a revolta de 14 de abril de 1823 e a de Muaná, contra a tirania portuguesa, representada pelo general José Maria www.revistapzz.com.br 65


GASTRONOMIA FOTO: ADRIANA LIMA

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O SABOR DE VIGIA

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eixes, camarões, caranguejos, carne, mandioca, pimentas, folhas e ervas perfumadas compõe a base da gastronomia vigiense, fruto da cultura indígena e portuguesa, do pescador e do ribeirinho que põe na mesa o alimento que nutre a população e a cultura de Vigia de Nazaré. Entrar pela cozinha desse lugar é aventurar-se por uma das regiões mais ricas do Estado do Pará em variedades de ingredientes e de pescado onde reina a gurijuba, a pescada branca, o baiacu, o cangatão e o bandeirado; onde o caboclo da floresta, pequeno agricultor que planta a mandioca, faz a farinha e extrai o suco da mandioca-brava no tipiti, o tucupi, um dos ingredientes símbolos da região. Essa fusão do rio e da floresta preparam-se inúmeros pratos de diversas formas: com ou sem o molho de tucupi ou de pimenta, ou pimenta com tucupi, no avoado com pirão, cozido, no bafo, defumado, no moqueio, frito, cru. Uma das oportunidades de experimentar esses sabores é conhecer o Restaurante Arapucão capitaneado pela Chef Lucinha Santos, onde o banquete chega à mesa completo: “Aqui no Arapucão utilizamos os ingredientes principais, produzidos aqui, não só pela qualidade, mas por serem orgânicos e pelo sabor original, que faz o diferencial no preparo. Herdamos conhecimentos e técnicas dos nossos antepassados, passados de mãe pra filha. Não abro mão do tucupi da Vigia que pra mim é o melhor do Pará. Fazemos comidas simples, mas com muito sabor” explica a Chef.

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ARAPUCÃO

O Restaurante Arapucão é um lugar destinado à pesquisa e experimentação gastronômica e funciona como restaurante e ponto turístico de Vigia.


Caldeirada de Peixe, Bolinho de Gurijuba, Salada de Peixe sĂŁo alguns dos 50 pratos oferecidos pelo Restaurante ArapucĂŁo www.revistapzz.com.br 67


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GASTRONOMIA

CHEF LUCINHA SANTOS

Desde os 7 anos de idade a Chef de Cozinha Lucinha Santos já tinha um encanto pelas facas, louça e armário de sua casa. Foi tudo natural que foi descobrindo, comenta: “Minha mãe deixava os afazeres da casa onde tinham 05 mulheres e eu sempre gostava da cozinha onde aprendi a preparar galinha caipira, carne de porco, pato no tucupi, e o que tivesse em casa. Quando tinha entre 9 e 10 anos também íamos passar o Círio em São Caetano de Odivelas onde moram meus tios e lá me esperava um cação que eu cortava e preparava com todos os sabores que aprendi, chegou a ser parte do cardápio do momento. Depois fui para Belém e queria fazer o curso de nutrição na Universidade Federal ou Educação Física na UEPA, passei em Educação Física, me formei e comecei a trabalhar como professora, tive um problema na voz e fui trabalhar na biblioteca. Lá eu assistia o programa da Olga Bonjovanni. Via e anotava, fiz um caderno de receitas. Comecei assim, a fazer as receitas e levava para vender na escola, fui considerada rainha da empada, colocava no forno as 5 da manhã e o meu marido levava pra mim. Depois comecei a me empenhar e a fazer pratos grandes para poder ganhar mais também, procurei me especializar, chegando a fazer cursos de gastronomia, inclusive com o Chef Paulo Martins. Hoje fico feliz com meu trabalho pois nosso restaurante tornou-se um ponto turístico da cidade de Vigia.

CALDEIRADA DE CANGUETÁ À MODA DO CHEF OFIR

FOTO: ADRIANA LIMA

PIZZARIA

Pizza de gurijuba defumada com jambú, um dos sabores mais cobiçados na pizzaria do Arapucão.

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Antes de montar o restaurante começamos com uma pizzaria, lá em casa mesmo, no pátio de casa. Fiz uma pesquisa de campo em Vigia e não tinha nenhuma pizzaria, vendíamos os sabores tradicionais e inovamos o cardápio com as pizzas de gurijuba defumada e a de gurijuba com jambú e camarão ao molho de tucupi com pimenta.


ROLÊ DE GURIJUBA

CALDEIRADA DE GURIJUBA DEFUMADA (RECEITA)

BOLINHO GURIJUBA

Porção para 04 pessoas - 02 litros de tucupi de vigia - 01 maço de jambú grande - 01 cebola - 05 folhas de chicória - 03 dentes de alho - 1/2 pimentão verde - 01 tomate grande Opcional: Folhas de Alho, Alfavaca e Ovo. - 08 pedaços de gurijuba defumada. Tempo de preparo: 20 a 30 minuitos

HAMBURGUER

Desde os 14 anos o chef Lucas Santos, filha do casal Lucinha Santos e Floriano Ó de Almeida, decidiu seguir o caminho da gastronomia. “Sempre gostei de hamburguer e pagava caro para comer um sanduwiche de hamburgues com carne fina e cheio de fritura. Depois que fiz um curso que me veio a ideia de fazer um hamburguer grelhado e implementar com o pão preto para chamar a atenção.

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GASTRONOMIA

Mestra da CULTURA TEXTO: SUELEN SILVA* /// FOTOGRAFIAS: YASMIN ALVES

“Mulheres atuantes no campo das culturas tradicionais ainda são invisibilizadas devido as assimétricas relações de poder e gênero existentes na sociedade. MESTRAS DA CULTURA é um projeto desenvolvido pelo Sesc Boulevard (Belém, PA) que objetiva justo dar visibilidade a histórias e contribuições de mulheres mestras nessa área. O texto aqui publicado traz a história de Zezé Gama, participante na primeira edição do projeto, cozinheira de Cachoeira do Arari (Restaurante Fundo de Quintal) e profunda conhecedora da cultura alimentar marajoara.”

M

aria José da Conceição Feio nasceu em 16 de janeiro de 1962 e cresceu na Fazenda São Fernando, nos campos do Marajó. Lá viveu uma infância que ela descreve como tranquila e de fartura, com liberdade para brincar com os nove irmãos e o suficiente para uma vida sem sobressaltos. As brincadeiras de roda, com as bonecas feitas de pano e de ossos de animais, os jogos de pedra (como “bole-bole”), entre outras, ainda constam vivas em sua memória. Mas a fazenda não reservava muitas perspectivas para o futuro da família, que se mudou para Cachoeira do Arari quando Zezé tinha nove anos. Dali ao longo da vida se afastou por pouco tempo, para realizar o trabalho já citado em Belém e também investir em sua formação educacional na cidade. Mas Cachoeira acabou sendo seu lugar de afeto, onde construiu laços duradouros com a comunidade e para onde logo retornou, sem vontade de sair novamente. Casada aos 18 anos (e devido a isso teve substituído o sobrenome por Gama), teve 04 filhos. Nesse tempo de-

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dicado à educação da prole, que é – não nega – sua grande paixão, ela mesma reconhece que se sentia “muito parada”. “Como era só o meu marido que trabalhava, eu sempre fiquei em casa. Depois chegou a vez dos filhos e eu acabei abrindo mão dos meus estudos em favor deles“. Só conseguiu se dedicar aos estudos e a uma carreira própria, algo que sempre desejou, depois que passaram a ofertar cursos na cidade de Cachoeira no período noturno e os filhos já haviam crescido. Assim formouse professora do magistério e técnica em contabilidade, podendo se dedicar a outros afazeres. Não se furtando ao trabalho, se envolveu junto com a comunidade na implantação do Museu do Marajó na cidade. Com o objetivo de educativa e interativamente contar histórias e estórias do homem e da cultura marajoara, o Museu foi fundado em 73 pelo padre italiano Giovanni Gallo em Santa Cruz do Arari, e por motivos políticos e logísticos transferido para Cachoeira do Arari na década de 80. Zezé junto de muitos outros habitantes (fazia parte da filosofia do padre o trabalho colaborativo) ajudou a limpar e organizar o antigo galpão de uma fábrica, localizada em frente de sua própria casa, próximo

do porto. Ali o museu foi (re)inaugurado em 12 de dezembro de 1987, sendo a sua abertura um marco para o município. Com centenas de peças arqueológicas datadas do tempo que a região foi habitada por povos indígenas, obras interativas e documentos históricos, ele ajudou a comunidade a começar a ver suas práticas, costumes, imagens e histórias, ver a si mesma, enfim, com orgulho de ser o que é. O empreendimento atraiu e empolgou não só os habitantes locais, como visitantes de outras cidades, estados e países. “Nós temos dois tempos. O tempo antes de Giovanni Gallo e depois. Antes dele a gente não dava importância para saber de onde a gente veio, como tudo começou, quem eram nossos antepassados, quais eram as nossas raízes. Quem resgatou isso tudo para nós foi Gallo. Ele dizia que isso não era uma exposição de peças. A busca era que quando as pessoas entrassem aqui, elas reconhecessem o homem marajoara através do que tem dentro do museu”. Associada do museu, Zezé participava das reuniões quando não estava envolvida com seus novos trabalhos: conselheira tutelar e assessora de contabilidade da prefeitura. Com a mudança da gestão municipal seu trabalho foi


MADE IN MARAJÓ

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GASTRONOMIA

interrompido, mas seu reconhecimento junto a comunidade como alguém comprometida com as causas marajoaras se manteve. Na época, Zezé já sabia cozinhar muito bem, experiência adquirida trabalhando desde cedo e depois atendendo às necessidades da própria família. Ao perceber o fluxo de pessoas para visitar ou trabalhar temporariamente no museu, começou então a fornecer marmitas para um ou outro grupo, conforme a necessidade. A novidade e os elogios logo se espalharam, a clientela aumentou e então ela resolveu transformar o quintal de sua casa em um espaço para atender as pessoas. Assim nasceu o Restaurante Fundo de Quintal. Se deu conta que estava, como que por acaso, retornando à história da própria família e sua relação profunda com a culinária enquanto elo de afeto e identidade. “A minha relação com a cozinha dá impressão de que está no sangue. Porque na minha família todo mundo cozinha. Tenho sobrinhos chefs em outras cidades e irmãs que trabalham em Belém voltadas para a cozinha. Então já é uma coisa 72 www.revistapzz.com.br

praticamente de família. Mas meu contato mesmo com a cozinha se desenvolveu no período que eu passei em Belém sendo acompanhante de uma senhora. Eu via a cozinheira fazendo e fui olhando, gostando… Sempre fui curiosa para querer aprender as coisas. Depois casei e eu tinha que fazer comida. Então foi natural.” É nesse restaurante que desde 2003 atende seus clientes e conforme os pedidos faz como poucas pessoas na região as receitas tradicionais do Marajó, muitas delas catalogadas por Giovanni Gallo e sobre as quais há referências no próprio Museu, como a canhapira, o frito do vaqueiro e o tamuatá. Seu conhecimento vai além dos preparos. Passa também pelas histórias por trás de cada prato e sua importância para a região, uma vez que a culinária local se relaciona com a dinâmica da vida marajoara que faz parte, também, de sua própria história. O restaurante foi aberto coincidentemente no mesmo ano em que Gallo faleceu. Ele, quando já debilitado, se preocupava com o futuro do empreen-

dimento na sua ausência. “‘Quem vai cuidar do museu?’ Ele perguntava isso pra gente. Gallo estava indo embora e quem estava se preparando para cuidar do museu? Então eu pensei: se ele veio da Itália, se dedicou e lutou tanto – a gente via o esforço que era manter isso aberto -, então quando ele fosse embora isso era responsabilidade de quem? Era nossa. ‘Se nós não fizermos nada por isso, vai acabar’, eu pensava“. Com a morte de Gallo, o Museu passou um período sendo gerido por um grupo eleito por votação entre os associados. Em 2010 e preocupada com os rumos que o espaço estava tomando, Zezé se candidatou e foi eleita para fazer parte da equipe gestora do Museu no cargo de secretária, função que ocupa até hoje, com a constante renovação dos votos dos associados nela. Sua atuação sempre aguerrida já conhecida pela comunidade acabou fazendo com que ela seja agora uma das pessoas mais indicadas e procuradas quando se trata de conhecer o Museu e a culinária do Marajó. Não é exagero dizer que é também graças ao seu de-


CULINÁRIA MARAJOARA A culinária marajoara é muito rica. Nós temos a piranha que é um peixe muito utilizado aqui na ilha do Marajó e que dizem que é afrodisíaco. No Museu tem uma receita de como preparar. Temos também o frito do vaqueiro, a linguiça marajoara, o tamuatá e a canhapira.” (Zezé Gama) Na foto: Tamuatá com tucupi, vendido no Restaurante Fundo de Quintal Conheça o Museu do Marajó e o Restaurante Fundo de Quintal, na mesma rua. Endereço: Avenida do Museu, 1983, Cachoeira do Arari (PA). Há travessias Belém – Cachoeira saindo do Terminal Hidroviário de Belém. Chegando em Cachoeira há diversas opções de pousada. www.revistapzz.com.br 73


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GASTRONOMIA


dicado trabalho, correndo da cozinha de seu restaurante para o museu, reunindo um grupo de mulheres para bordar motivos marajoaras e conseguir alguma renda para o espaço, buscando articulações e parcerias com iniciativas públicas e privadas, entre outros afazeres, que o legado iniciado por Gallo persevera em Cachoeira do Arari, junto de seu próprio esforço de valorização da culinária local. “Eu ocupo a função de secretária do Museu sem nenhum ressarcimento. Meu ressarcimento é quem reconhece o trabalho que a gente faz, que é muito mais valioso que dinheiro. O dinheiro acaba, o reconhecimento fica. Posso te dizer que depois do trabalho no Museu no Marajó a Zezé foi reconhecida. Eu não só me doei ao Museu como o Museu está me ajudando. Por que vocês estão aqui hoje? Se eu estivesse só na minha cozinha talvez eu não estivesse falando com vocês. Então posso dizer que é válido tudo o que faço. E eu faço porque acho que é meu dever fazer.” Zezé é assim: uma cozinheira, articuladora, gestora e batalhadora. Mulher que não descansa – “Não gosto de ficar desocupada. Não consigo ficar parada!“-, mãe e vó apaixonada pela família que construiu. O Museu do Marajó chegou à vida de Zezé como terreno propício para fazer brotar uma semente que ela mesma já carregava com íntimo desejo de fazer fertilizar, aguardando o tempo que julgava correto. Zezé certamente tem muito do que se orgulhar e valorizar em sua própria trajetória, que cresceu com fortes raízes depois de tanto tempo de espera para fazer hoje o que mais gosta: trabalhar e ser reconhecida pelo o que faz, enquanto vê, também, a família encaminhada e feliz. Ela finaliza: “Não existe uma planta sem raiz. Uma planta sem raiz é uma planta morta. Para ser um mestre de cultura você tem que saber valorizar de onde veio.”

* Suelen Silva é mestre em Antropologia (UFPA) e responsável pela Atividade Humanidades no Centro Cultural Sesc Boulevard. Texto originalmente publicado em www.sesc-pa.com.br/mestras”

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GASTRONOMIA

Museu do MARAJÓ TEXTO: MARINETE BOULHOSA /// FOTOGRAFIAS: YASMIN ALVES

O ARTIGO DA PROFESSORA Marinete Silva Boulhosa “MUSEU DO MARAJO E SUA IMPORTANCIA PARA O RESGATE, CONSERVAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA CULTURA MARAJOARA”

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Resolver o problema da comida, em outras palavras, da sobrevivência, não é tudo. Para conseguir um verdadeiro desenvolvimento é necessário que o homem também cresça, daí a necessidade de dar impulso à cultura. (Gallo, 1996).

D

entro desse princípio, o Padre Giovanni Gallo criou o Museu do Marajó, projeto que nasceu a “tiracolo” da Cooperativa de Pesca, como elemento canalizador das atividades promocionais desta Cooperativa. A Cooperativa, nem nasceu, abortou, mas o Museu do Marajó tornou-se um importante centro de pesquisa, conservação e divulgação da cultura marajoara. O museu do Marajó nasceu em 1972, na cidade de Santa Cruz do Arari, uma pequena cidade às margens do lago Arari, quando Giovanni Gallo começou a estudar a cultura marajoara e a colecionar peças arqueológicas da cerâmica marajoara que eram facilmente encontradas pelos quintais e margens de rios e lagos, uma vez que a região de Santa Cruz corresponde a uma importante área de sítios arquiológico, no Marajó. Assim, de modo informal nasce o “Nosso Museu de Santa Cruz do Arari”. Posteriormente, Gallo foi obrigado a mudar-se para Cachoeira do Arari, cidade visinha à Santa Cruz e lá, em uma antiga fábrica de óleo falida, o museu foi instalado. Em 12 de dezembro de 1987 o Museu do Marajó foi inaugurado, contendo uma área de 20km², às margens do rio Arari. Sobre a instalação do museu em Cachoeira, seu próprio fundador destacava:

“Está geograficamente no lugar certo, mas politicamente não”, porque a cidade, à época, não dispunha de infraestrutura para hospedar um museu. Mas, Gallo explica que a escolha foi proposital, no objetivo de que o museu contribuísse para o desenvolvimento da cidade, pois qualquer obra para possibilitar à visita ao Museu, impulsionaria o turismo e resultaria em benefícios para Cachoeira do Arari e sua gente. Assim, apropriando-se dos conhecimentos adquiridos da cultura marajoara em sua convivência com o povo da ilha, diante dos poucos recursos disponíveis, mas apelando para a criatividade e curiosidade do brasileiro, Gallo, com ajuda da população local, instala o Museu do Marajó, que apesar de sua simplicidade, até hoje impressiona os visitantes através de sua técnica de visitação e de seu principal objeto de estudo. Um museu diferente Duas particularidades fazem do Museu do Marajó um museu diferente e único : a) a técnica de comunicação: um museu interativo ou para quem tem os olhos nas pontas dos dedos; b) o objetivo fundamental: o homem, não o objeto. a) Técnica de comunicação: um museu interativo ou para quem tem os olhos nas pontas dos dedos.

Museu do Marajó foi criado como sociedade civil sem fins lucrativos, que visa o desenvolvimento da comunidade marajoara através da cultura. Está legalizada em todos os níveis: no Conselho Nacional de Serviço Social, no Conselho Nacional de Museus e no Cadastro do Ministério da Cultura. Tem Inscrição Estadual, CNPJ, Atestado de Utilidade Pública Municipal e Estadual. Atualmente o Museu do Marajó Padre Giovanne Gallo enfrenta graves problemas físicos e financeiros e suas ações, em função desta situação, está restrita à visitação pública, mas matém-se como principal atração turística cultural da cidade de Cachoeira do Arari e o mais impornate centro de pesquisa e divulgação da cultura e identidade marajoara.

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GASTRONOMIA

Diante da preocupação de apresentar o material do museu de forma dinâmica e manter uma comunicação com o público, o museu apresenta uma técnica de comunicação diferenciada. Gallo criou uma resposta personalizada, que oscila de acordo com o interesse do visitante, permitindo vários níveis de visita. Explorando uma particularidade do brasileiro, observado pelo Padre Gallo, a técnica de comunicação com o visitante parte da idéia que o brasileiro tem os “olhos nas pontas dos dedos”, ou seja, para ver ou compreender algo, precisa tocá-lo. Assim, em lugar de coibir o visitante, o museu incentiva-o a tocar em quase tudo. Para seu idealizador o ideal foi incentivar o visitante a seguir “este estilo nacional”. Nesse sentido o Museu é um grande brinquedo! Ora puxa-se um barbante, ora rola-se uma manivela. “Quanto mais o visitante mexe com os painéis, mais novidades ele descobre” (GALLO, 1986). Além de tocar praticamente em tudo, no Museu do Marajó, o visitante é quem define seu nível de visitação, indo até onde lhe interessa. A técnica de visitação foi chamada de “computador caipira”. Assim, com re78 www.revistapzz.com.br

cursos de barbantes, painéis, tabuletas, desenhos, pinturas, fotografias, bonecos de barros, entre outros artefatos, e muita pesquisa e dedicação o museu vai revelando seus segredos. b) o objetivo fundamental: homem, não o objeto

o

Outra particularidade do Museu é que seu objetivo principal não é mostrar o objeto, mas o homem que está por trás do objeto, que é o produtor da cultura. “O homem é a nossa peça mais importante”, declara Gallo (1996). Tendo como referência o homem, e nesse caso o homem marajoara, o Museu tem a preocupação de comunicar a vida, a lida, as crenças, as práticas culturais do mundo desse homem que vive nos campos, nas margens dos rios, nas floretas da grande ilha. É o próprio Gallo que afirma que fora as peças arqueológicas (cerâmicas originais), o resto são “coisinhas banais’’, porém atrás delas está o homem marajoara com sua forma de ver o mundo. Ao tratar da fauna e flora marajoara, das atividades econômicas, da saúde, da religiosidade, das crenças, entre outros,

por exemplo, o museu o faz partindo da relação do homem marajoara com esse ambinte, partindo da cosmologia desse caboclo. Assim, ao visitar o Museu do Marajó, o visitante tem a oportunidade de entrar em contato com o mundo do homem marajoara, e compreender parte desse universo. Como museu interativo e construído na linha de um ecomuseu, onde o homem não mais participa como paciente, mas como autor mesmo de suas exposições e a comunidade é atingida com suas ações, o Museu do Marajó, além da exposição permanente, dá ênfase a comunidade. Exemplos dessas ações são: - A casa do Artesanato : trabalho de bordadeiras que reproduzem os motivos arqueológicos marajoaras em camisa. - Escola-oficina : Oficinas de cerâmica e grafismo com jovens da periferia - Arquivo cultural : (projeto) coleção de lembranças do passado, as estórias, as lendas, as toadas, recolhidas dos idosos da cidade. Assim, o Museu do Marajó, no contexto da nova museologia,


O PAINEL DAS LENDAS Um grande painel de madeira, recoberto por tabuletas com a identificação das lendas amazônica. Para um visitante, basta olhar, ler os nomes e seguir em frente. Para outro mais curioso ou interessado, pode-se levantar as tabuletas e observar uma representação plástica da lenda, com bonequinhos de barro. Para quem deseja saber um pouco mais, na parte interna da tabuleta, um texto narrando a lenda amazônica. Com esta técnica é possível atingir todas as camadas de visitantes que se transformam em participantes, pois são eles que escolhem a dimensão do diálogo, indo até onde lhes interessa.

Diante da preocupação de apresentar o material do museu de forma dinâmica e manter uma comunicação com o público, o museu apresenta uma técnica de comunicação diferenciada. Gallo criou uma resposta personalizada, que oscila de acordo com o interesse do visitante, permitindo vários níveis de visita.

foi idealizado e se mantém com a preocupação de estabelecer uma comunicação com o visitante, pois como salienta Clara D´Alambert (1990), uma exposição transcende ao simples agrupamento de objetos. Ela é um meio de comunicação que permite ao publico aprender e vivenciar experiências, no nível intelectual e emocional. E quem visita o Museu do Marajó comprova essa experiência espreconceituosa e corajosa ”.

Referências BOULHOSA, Marinete da Silva. Museu do Marajó: resgatando, preservando e divulgando a cultura marajoara. Belém - PA, 1997 (Monografia – graduação em turismo – UFPA). BOULHOSA, Marinete da Silva. Ecoturismo e identidade cultural: a natureza sob o prisma do caboclo marajoara. Belém-PA, 2002 (Monografia – Especialização em Ecoturismo NUMA/UFPA). D´ALAMBERT, C. C.; MONTEIRO, M. G. Exposição: materiais e técnicas de montagem. São Paulo: Secretaria de Estado de Cultura, 1990. DERBY, Orville Albert. A ilha de Marajó. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi de História Natural e ethnographia. Belém, n.2, 1898. GALLO, Giovanni. Marajó a ditadura da água. Belém: Secult, 1980. GALLO, Giovanni. O homem que implodiu. Belém: Secult, 1996. LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica: Uma poética do imaginário. Belém PA: CEJUP, 1995. SUAN0, MARLENE. O que é museu. São Paulo: Brasiliense, 1986.

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GASTRONOMIA

Chef DELANO SOUZA Chef Delano Souza tem como base de estudos gastronômicos a culinária raiz marajoara. Adepto à utilização de produtos orgânicos e artesanais de qualidade superior, produzidos de forma que respeite tanto o meio ambiente quanto as pessoas responsáveis pela produção das meterias primas utilizadas em seus preparos. Com vários pratos autorais e releituras de clássicos brasileiros, surpreende seus comensais com uma comida saudável e rica em sabores inéditos da Amazônia 80 www.revistapzz.com.br


O Chef Delano Souza, nascido em Belém do Pará, fascinou-se pelo mundo da gastronomia ainda aos 13 anos sob a influência do grande talento culinário de sua mãe, Maria das Graças. Profissionalmente, esteve à frente da Cantina Dom Victor, São Luís- MA e também esteve à frente da Choperia Beer Platz, em Palmas-TO, ambas servindo um pouco da culinaria paraense. Assessor comercial da Petrobras Distribuidora S/A há exatos 30 anos, veio transferido de Cuiabá no Mato Grosso para Belém em março de 2014 após passar vinte e seis anos residindo fora do estado do Pará. Foi então que resolveu colocar em pratica um sonho antigo de abrir um restaurante temático na Ilha do Marajó. Com o objetivo de ampliar seus conhecimentos culinários passou a estudar gastronomia na UNICESUMAR. Sua cozinha tem como

base de estudos a culinária raiz marajoara, aonde busca as origens da alimentação quilombola e indígena da Ilha de Marajó. Adepto à utilização de produtos orgânicos e artesanais de qualidade superior, produzidos de forma que respeite tanto o meio ambiente quanto as pessoas responsáveis pela produção das matérias-primas utilizadas em seus pratos autorais e releituras de pratos tradicionais da culinária marajoara e com isso promete surpreender os mais exigentes comensais, alem de fomentar uma nova cultura para os seus parceiros e amigos.

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PZZ BRAGANÇA / ECONOMIA

O CACAU DO PARÁ QUALIFICAÇÃO E INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA

Governo amplia qualificação e inovação na cadeia produtiva do cacau Por Fernanda Graim

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chocolate do Brasil deverá ganhar novo destaque no comércio internacional, num momento em que o Pará desponta como campeão na produção de cacau e começa a atrair indústrias importantes para a cadeia produtiva do fruto no Estado. Segundo relatório da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), a safra no Pará em 2017 foi de 132.720 hectares, com produção de mais de 120 mil toneladas de amêndoas secas. Se forem levados em consideração também os dados do IBGE, o Estado chega ao

total de 125.104 toneladas na safra do ano passado, o que representa 54% da produção brasileira, superando a tradicional produção da Bahia, que amargou sua pior safra no ano passado, em razão de estiagem. Mas a Bahia ainda mantém a liderança do setor por concentrar maior quantidade de empregos e dominar a industrialização das amêndoas. Uma realidade que começa a dar os primeiros passos para mudar no Pará. A produtividade da cadeia cacaueira no País foi o assunto debatido no dia 21, em audiência no Senado Federal, em Brasília, na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR),


onde se discutiram políticas públicas para estruturar a assistência técnica e garantir suporte financeiro à produção. Na manhã seguinte, 22, a Barry Callebaut, maior fabricante de chocolate do planeta, já instalada em Ilhéus e Itabuna, municípios baianos que industrializam praticamente todo o cacau produzido na Bahia e também o do Pará, apresentou projeto à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedeme), para instalar uma indústria de liquor de cacau no Pará. Um investimento de mais de R$ 100 milhões. Mas, não é só isso. A indústria de processamento de derivados do cacau Ocra Cacau da Amazônia Ltda, instalada na estrada do Tapanã, em Belém, no segundo semestre do ano passado, começou a produção do “nibs de cacau” – grãos tostados e quebrados – cuja etapa completa se dará agora no fim de março. Paralelamente, a empresa se prepara para a montagem da segunda e terceira etapas necessárias à fabricação da massa de cacau, manteiga de cacau e torta de cacau, dando início a um novo e promissor nicho de negócio, vital à industrialização do chocolate na Região Metropolitana da capital paraense (RMB). A Ocra foi prospectada pela Sedeme, recebe incentivos fiscais do Estado e é considerada uma das maiores processadoras de cacau do País, atendendo aos mercados interno e externo, com compradores na Europa e Estados Unidos. Em todo País, só existem outras três empresas do naipe da Ocra Cacau da Amazônia. São duas na Bahia e uma no Rio de Janeiro. O gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), Raul Tavares, observa que a participação brasileira no mercado mundial de frutos e amêndoas é ínfima. “Não existe comercialização de frutos. No ano agrícola internacional do cacau (outubro - setembro) 2016-2017, segundo a ICCO (Organização Internacional do Cacau), o Brasil participou com 4% da produção mundial’’, disse Tavares. Contudo,

perguntado sobre a participação do Estado do Pará na produção brasileira, de frutas e amêndoas, ele assegurou que no ano civil brasileiro (2017), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Pará participou com 54%. “Como pode ser visto, com 54% da produção nacional, o Pará superou a Bahia’’, acrescentou o gerente do CIN/Fiepa. “O Pará, através da estratégia da Ceplac em incentivar e apoiar a implantação de cacaueiros somente em áreas alteradas, desde o ano de 1994, já recuperou, em termos de área, cerca de 140 mil hectares. Tal estratégia tem contribuído para a mitigação do passivo ambiental no Estado do Pará. Atualmente, existem cerca de 185 mil hectares de cacaueiros implantados aqui. Como essa atividade se reveste de um cultivo permanente e em Sistema Agroflorestal, estão armazenadas nessas plantas cerca de 200 milhões de árvores, aproximadamente 23 mi-

Crescimento da Produção A alta taxa de crescimento anual da produção de cacau em território paraense, que chegou a 7%. Em 2016 foram produzidas aproximadamente 118 mil toneladas do fruto. A cadeia cacaueira gera 265 mil empregos, sendo 53 mil diretos e 212 mil indiretos.

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lhões de toneladas na forma de carbono sequestrado; é a contribuição da atividade cacaueira, desenvolvida por 25 mil cacauicultores, para a limpeza do meio ambiente mundial’’, ressaltou o gerente Raul Tavares. De acordo com a Ceplac, o Pará tem produtividade média de 911 quilos por hectare e estimativa de crescimento de 7% a 9% ao ano até 2030. A força do segmento cacaueiro paraense tem distinção no Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Em outubro passado, o MDIC elegeu o Arranjo Produtivo Local (APL) de Cacau e Chocolate da região do Xingu, no Pará, como referência no 4º Encontro de Núcleos Estaduais, que antecedeu a 8ª Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos Locais, que ocorreu em novembro em Brasília. O APL de Cacau e Chocolate da região do Xingu tem apoio institucional da Sedeme, que mantém o Núcleo Estadual de Arranjos Produtivos Locais do Estado do Pará (NEAPL/PA), como estratégia do governo estadual de incentivar e estru84 www.revistapzz.com.br

turar APLs a fim de fomentar à industrialização da produção de matérias-primas naturais do Estado, conforme diretriz do planejamento estratégico Pará 2030. O segmento do cacau e do chocolate na região do Xingu é apenas um entre dezenas de APLs que vêm sendo construídos, coletivamente, em parceria com o setor produtivo, no âmbito da Sedeme. O programa prevê, entre outras ações, reuniões permanentes, para debates dos desafios e oportunidades para o desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais. Além disso, o APL do Chocolate do Xingu é registrado nos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCT). O titular da Sedeme, Adnan Demachki, admite que atualmente a maior parte da produção paraense, cujo município de Medicilândia, na Transamazônica, é o maior produtor, é exportada em forma de amêndoa, daí o esforço do Governo em fomentar o beneficiamento das amêndoas em território paraense.


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REVISTAPZZ_FAMÍLIA_SICILIA

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GAUDENS

CHOCOLATE família sicília inova e lança a marca de chocolate gaudens no mercado de luxo com um produto feito somente de iguarias brasileiras, agregando ao Gaudens, criou a Castella, creme semelhante à Nutella, com ingredientes orgânicos, vindos de Santa Isabel (PA) e Tomé Açú (PA) à base de cacau e castanha-do-pará e que não leva leite na composição.

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origem de Ângela Sicilia no universo gastronômico, começou décadas atrás, com a trajetória de sua família. “Meu pai e minha mãe vieram da Itália e sempre estiveram no ramo de restaurantes. Já fiz imersão de 45 dias na Itália conhecendo a cultura, técnicas e sabores, para colocar na prática em seu restaurante que funciona em Belém, primeiramente Don Guiseppe, em homenagem ao patriarca, e atualmente Família Sicilia. E por amar a cultura paraense fez uma fusão de culturas que denomina sua gastronomia de ítalo-amazônica. Alguns pratos inovou em seu cardápio como o raviolle de maniçoba, a gurijuba defumada que mais parece uma adoque e é servida como um cappacio, o peixe com crosta de tapioca e muitos outros pratos bem interessantes. Seu irmão Fábio Sicilia, Chef formado pelo Italian Culinary Institute for Foreigners (ICIF), no Piemonte, é também somellier profissional, diplomado pela Associazione Italiana Sommelier e atualmente é Chocolatier e criou a Gaudens, que em latim significa “orgasmo”. A ideia foi lançar a marca no mercado de luxo com um produto feito somente de iguarias brasileiras, agregando ao Gaudens, criou a Castella, creme semelhante à Nutella, com ingredientes orgânicos, vindos de Santa Isabel (PA) e Tomé Açú (PA) à base de cacau e castanha-do-pará e que não leva leite na composição. Percebendo que os chocolates da infância não têm mais o mesmo gosto e que estão com percentuais maiores

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de gordura hidrogenada e açúcar refinado, a família Sicilia, tem tido um cuidado todo especial, buscando no cacau orgânico um chocolate mais original e extremamente mais saboroso, pois o sabor é mais intenso, mais rico em propriedades nutricionais e mais puro, o que faz um ingrediente de extrema qualidade para a produção de produtos e pratos refinados e de sabor inigualável. Os irmãos também estão à frente e são adeptos do Slow Food, movimento que propõe resgatar o prazer da alimentação unindo-se à ecogastronomia, preservando os sabores e a biodiversidade agrícola familiar, respeitando a sustentabilidade na gastronomia. O restaurante Famiglia Sicilia, traz junto à tradição familiar italiana a gastronomia paraense tradicional, criando pratos que combinam os sabores, tornando-o um espaço de 88 www.revistapzz.com.br

criação e colocando a cidade de Belém no circuito gastronômico nacional e internacional. A Chef Ângela Sicilia, foi uma das representantes de Belém nos encontros das Cidades Criativas da Unesco, um na China, em Parma (Itália), e Dénia (Espanha) e vem difundindo os sabores amazônicos além da floresta ganhando notoriedade internacional pela competência que vem sendo representada. A receptividade da nossa gastronomia é muito boa.

https://www.famigliasicilia.com/

O restaurante Famiglia Sicilia, traz junto à tradição familiar italiana a gastronomia paraense tradicional, criando pratos que combinam os sabores, tornando-o um espaço de criação e colocando a cidade de Belém no circuito gastronômico nacional e internacional. A Chef Ângela Sicilia, foi uma das representantes de Belém nos encontros das Cidades Criativas da Unesco, um na China, em Parma (Itália), e Dénia (Espanha) e vem difundindo os sabores amazônicos além da floresta ganhando notoriedade internacional pela competência que vem sendo representada.


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DONA NENA

FILHA DO CUMBU

Dona Nena produz chocolate orgânico, em barra , pó. Tudo 100% cacau. Tudo de forma artesanal com ajuda de familiares e das comunidades locais. Aos poucos vai se tornando uma referencia nessa arte gastronômica que seduz chefs e turistas que vão à Ilha do Combu experimentar essa iguaria amazônica

O

s habitantes da Ilha do Cumbu, região insular de Belém do Pará, tem como destaque a produtora rural e chocolatier Izete dos Santos Costa, Dona Nena, a Filha do Cumbu que junto com sua família e trabalhadores locais produzem um chocolate orgânico apreciado por chefs renomados internacionalmente. Thiago Castanho além de utilizar como ingrediente de seus pratos requintado comercializa em seus restaurantes essa iguaria, outro chef Alex Atala também serve e comercializa em seus restaurantes. Em 20 minutos de travessia sobre as águas do Rio Guamá desembarca-se no lugar que se transformou em ponto turístico da região. O sucesso foi tanto que o local ficou conhecido por Ilha do Chocolate. O Cumbu tem uma produção grande de açaí e é comum ver o 90 www.revistapzz.com.br

trânsito de pôpôpôs, rabetas e barcos transportando o ouro negro da Amazônia para os diversos portos de Belém especialmente a Feira do Açaí no Ver-o-Peso.

FILHA DO CUMBU

Experimentar o chocolate da Dona Nena é embarcar numa viagem dentro do universo gastronômico amazônico para sentir o sabor telúrico das matas que também produzem o açaí, o cupuaçu, a pupunha, o taperebá, o uxi, o biribá, o tucumã, a miriti, o patchouli, o cumarú, o jambo e tantas outras espécies que o solo e o clima da ilha produz. Desde 2006, ela vem trabalhando no resgate de cultura em uma área de proteção ambiental e sustentável fazendo intervenções para melhorias da produção de cacau. A fabricação do chocolate artesanal já era realizada para consumo próprio e sempre fez parte de sua vida. Seus pais produziam e vendiam para atravessadores, mas nunca beneficiaram o produto.


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PRODUÇÃO ARTESANAL Depois de descascar as sementes a outra etapa de trabalho manual: moê-las. Antigamente os pais usavam um pilão grande de madeira para macerar as sementes do cacau. Ela adaptou o processo usando um moedor, destes de carne. A cada manivelada, uma pasta escura vai surgindo, caindo na bacia. A massa de cacau é densa, e é apenas com ela que a cozinheira recheia as folhas de cacaueiro, num formato que lembra o de algumas pamonhas de milho. No total, ela produz entre 15 a 18 kg de massa toda a semana.

PLANTAÇÃO

O cacau é plantado em uma agrofloresta, em um sistema que permite produzir alimentos sem derrubar a mata. Nena nasceu na ilha do Combu. "Nós fazíamos caminhada dentro da mata, para estudar, passando igapó, córregos pequenos, conheço isso aqui na palma da mão", lembra. E é aqui que ela pretende viver e trabalhar até o fim da vida. "Não troco essa ilha pela selva de pedra, não. Só para resolver as coisas rápido e voltar para cá no mesmo dia. Ninguém passa fome. Necessidade na floresta ninguém passa. Sou muito feliz", conclui. Em casa, tinham o costume de reservar parte das sementes de cacau para o “chocolate da família”, uma barrinha 100% orgânica, que por anos foi exclusividade dos Santos Costa. E por uma necessidade de incrementar a renda da família aos poucos foram desenvolvendo o prazer em negócio. Daí surgiu a Marca Filha do Combu e uma pequena agroindústria que necessita de mão de obra, 92 www.revistapzz.com.br

energia, embalagens, distribuição. Agora, com diversos outros restaurantes de Belém usando seu chocolate como matéria-prima, tem dias que sua produção não dá conta da demanda. São 80 kg produzidos por mês entre barras 100% cacau, pó de cacau, brigadeiro e outros.

Conhecida como Dona Nena, essa empresária cacaueira produz em um terreno de 14 hectares, onde todo o processo, da colheita à pila do cacau, acontece em sua própria casa, cujo quintal abriga uma samaúma centenária e o chão está forrado com coloridas flores de jambo.


PRODUTOS

Da barrinha, e da criatividade de Dona Nena, foram surgindo outras receitas e, hoje, a linha conta com 21 produtos que vão desde bombons, brigadeiro, brigadeiro de pote, até o cacau em pó, triturado e líquido – como suco e licor. Tudo feito de forma artesanal feito a mão. Primeiro a colheita, a seleção dos frutos e o corte para a extração das sementes. As amêndoas vão para o tipiti, utensílio indígena de palha usado para extrair o chamado “mel do cacau”, que vira licor. O cacau ainda passa por um processo de fermentação, secagem no sol e no forno antes de ser descascado, moído ou triturado. São dias de trabalho e quilos de cacau para conseguir atender a tanta demanda. “Além do meu cunhado, que mora aqui do lado, fizemos dois parceiros fixos que nos fornecem cacau”. Dona Nena visitou propriedades até encontrar fornecedores que se adequam ao mesmo padrão de qualidade de sua produção. Ela paga R$ 1 a mais do preço de merca-

do para garantir a qualidade. E porque não aumentou a própria plantação? “É que isso não é uma plantação, é cacau nativo. Ele está todo interligado com a floresta. Eu não trabalho com monocultura”. E nem pensa em trabalhar. Recusou propostas de grandes marcas que queriam industrializar o seu cacau. “Claro que eu penso em melhorar a estrutura, mas sempre mantendo a minha linha de produtos artesanais”. Atualmente, Dona Nena fornece produtos para os principais restaurantes de Belém, tem um distribuidor em São Paulo e também envia itens por correio para outras partes do Brasil. Sabe que, por meio de chefes de cozinha parceiros, os produtos já chegaram até a Europa e Estados Unidos. “É muita felicidade. Mas para mim o mais importante é ver a valorização do produtor. Porque geralmente o produto chega na mídia e quem menos lucra é o produtor”. Dona Nena lembra dos tempos

em que muitas pessoas da ilha tinham que ir até Belém em busca de emprego. “Ia trabalhar em casa de família, construção, mas agora a oportunidade está aqui”, diz. “Eu já não posso sair porque tenho trabalho mais que suficiente”. Além de coordenar a produção e as visitas de grupos, Dona Nena está fazendo o manejo em seu terreno, que é uma limpeza que permite que as árvores cresçam e recebam a luz do sol. Para dar conta de tanto trabalho, este ano pretende contratar funcionários. “Quero registrar todos, o cacau já tem uma imagem marginalizada, de trabalho escravo, infantil, e eu não quero isso aqui”. Ao lado da casa da família, que até ano passado servia também de fábrica e estoque, agora é possível ver um charmoso chalé. O cheiro inconfundível do cacau leva o visitante até a loja com os produtos beneficiados da onde é possível ver, por uma janela de vidro, a cozinha recém construída. O espaço é a maior conquistas que o cacau proporcionou à Dona www.revistapzz.com.br 93


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GASTRONOMIA

Empório CHICANO TEXTO: CARLOS PARÁ /// FOTOGRAFIAS: CARLOS PARÁ

O Empório Chicano tem por finalidade resgatar, promover e preservar a identidade da Colônia Chicano, comunidade localizada em Santa Bárbara do Pará, Amazônia, Brasil. Onde moram aproximadamente 500 pessoas, uma comunidade tradicional rica em cultura saberes ancestrais. UM EMPREEDIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA QUE AGREGA MÃO DE OBRA, PRODUTOS E SERVIÇOS LOCAIS EM PROL DO DESENVOLVIMENTO LOCAL.

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Empório Chicano tem por finalidade resgatar, promover e preservar a identidade da Colônia Chincano, comunidade localizada em Santa Bárbara do Pará, Amazônia, Brasil. Onde moram aproximadamente 500 pessoas, uma comunidade tradicional rica em cultura saberes ancestrais. Além de que as Práticas de Solidariedade é um fenômeno social vivo, por isso o Empório é um Empreendimento de Economia Solidária onde se comercializa produtos de agricultura familiar, orgânico e serve refeições limpa, justa e segura. O Empório hospeda o Convivium Colônia Chicano, do Slow Food. O proprietário do espaço gastronômico Cesar De Mendes já foi apelidado pelo Paladar de Indiana Jones do chocolate, em capa de setembro do ano passado, quando ele descobriu uma variedade de cacau no Pará e, com a ajuda do ambientalista Roberto Smeraldi, batizou-a como Jari Picante, no Paladar Cozinha do Brasil. Ela está em dois dos quatro

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tabletes De Mendes, que trazem a latitude e a longitude das plantações nos rótulos e são vendidos também em São Paulo. As barras são: 47% cacau (variedade Jari), que leva leite de búfala e manteiga de cupuaçu, 63% cacau (variedade Maranhão), 65% (Jari) e 72% (Maranhão). São varietais, como no vinho, sem misturas. A variedade Jari ele compra da Cooperflora, que coleta cacau à beira do rio Jari; e a Maranhão vem de comunidades de várzea em Barcarena. Apesar de não plantar cacau e só fazer o chocolate, cerca de 300 kg por mês, De Mendes ensinou extrativistas da floresta a fermentar as amêndoas de cacau por cerca de 12 dias (acima da média, que é de 5 a 7 dias). Isso resulta em chocolates de sabores complexos – a barra 65% (Jari) traz frutas como manga e kiwi à boca; já a 63% (Maranhão) tem bom defumado e gordura que lembram bacon. No ramo desde 2005, o engenheiro químico De Mendes lançou sua marca em 2013. Como não é dono de toda a produção de cacau, até estimula colegas a comprarem parte dela, para que os

Empório Chicano Um empreendimento de economia solidária extrativistas continuem estimulados a fermentar o cacau com essa qualidade – e não se voltem só ao açaí e à castanha-do-pará, por exemplo. Uma das chocolateiras que andou recentemente por suas terras foi a paulistana Luisa Abram, que faz barras em São Paulo e também compra do Acre as amêndoas de cacau de várzea, de plantios selvagens em terras alagadiças.


CADEIA PRODUTIVA

Para o engenheiro químico Cesar de Mendes, diretor da empresa Chocolate De Mendes, “a cadeia produtiva do cacau está muito bem organizada. Porém, o que se precisa é comunicação entre os atores, já que, às vezes, um está atrás de uma tecnologia que o outro já possui. Mais um ponto a ser observado seria o final da cadeia. Precisa-se de um estímulo na área de comercialização”.

PALADAR DO CHOCOLATE

As barras são: 47% cacau (variedade Jari), que leva leite de búfala e manteiga de cupuaçu, 63% cacau (variedade Maranhão), 65% (Jari) e 72% (Maranhão). São varietais, como no vinho, sem misturas. www.revistapzz.com.br 95


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GASTRONOMIA

PALADAR DO CHOCOLATE As barras são: 47% cacau (variedade Jari), que leva leite de búfala e manteiga de cupuaçu, 63% cacau (variedade Maranhão), 65% (Jari) e 72% (Maranhão). São varietais, como no vinho, sem misturas.

MOQUECA CHICANA:

O Empório Chicano no cumprimento de sua missão apresenta um Resgate/"CreAtividade"... a Colônia Chicano tem aproximadamente cem anos, pra mais, como comunidade, e por ter ficada isolada por muito tempo, por via terrestre, naturalmente os membros voltaram-se para si, inclusive na formação de famílias, desenvolveram uma forte relação solidária que resiste ao tempo.... no calor do tempo a "panela" das etnias de índios, negros e libaneses levou sabores para a panela dos Sabores, Saberes e Fazeres, lhes conferindo uma personalidade cultural agradável, simpática, sincrética e lenificante... Entre tantas práticas o consumo de João Gomes (Caruru) é peculiar e interessante... Caruru - Ela é nativa da América, O caruru é uma planta silvestre, comestível, de grande valor nutritivo, e não convencional na gastronomia brasileira. A planta existe em muitos lugares. Por muitas vezes é considerada um mato, uma erva daninha. No Pará é Conhecida popularmente como Caruru e Bredo na Bahia e em Pernambuco. Aqui, na Colônia Chicano possui o nome de

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João Gomes, segundo a EMBRAPA essa denominação surgiu no início do Século XX em Ananindeua, onde era e é usada para diversas receitas, inclusive, um dos pratos típicos conhecido como caruru. Em termos nutricionais, essa planta se destaca pela presença de cálcio, ferro, potássio e das vitaminas A, B1 e B2. Por essa composição, o bredo é bom para a visão, para o tratamento da osteoporose, da anemia, para estimular a imunidade e o metabolismo. Ele ainda é indicado para tratar inflamações da bexiga, as doenças do estômago e a prisão do ventre. O Prato - O caruru antigamente era um refogado com as folhas de caruru e ervas que os índios faziam para acompanhar carnes de caça e peixes. Já os escravos utilizavam as folhas do caruru para complementar suas refeições, acrescentando a pimenta e o dendê. Com o passar do tempo o caruru foi sendo substituído pelo o quiabo. Porém não houve alteração no nome do prato. A Moqueca Chicana é um passeio pelos costumes alimentares e formas de consumo da Colônia Chicano, é composta de Posta de Filé de Peixe cozido no tucupi reduzido, com Frutas de época(banana, mamão, goiaba, caju, etc...), João

Gomes, Camarão e Ovos acompanhada de Arroz e Capitão(massa de mandioca mole temperada e assada em volta na folha da bananeira, é ESPETACULAR... fica o convite para uma degustação... Colônia Chicano é uma comunidade localizada em Santa Bárbara do Pará, Amazônia, Brasil. Onde moram aproximadamente 500 pessoas, uma comunidade tradicional rica em cultura saberes ancestrais. O Empório Chicano tem por finalidade resgatar, promover e preservar a identidade deste povo, vendendo produtos e serviços. Além de que as Práticas de Solidariedade é um fenômeno social vivo, por isso o Empório é um Empreendimento de Economia Solidária onde são comercializados produtos de agricultura familiar, orgânico e serve refeições limpa, justa e segura. O Empório hospeda o Convivium Colonia Chicano, do Slow Food. Como faziam as avós. É assim que sete mulheres da Comunidade Chicano, de Santa Bárbara, no Pará, aprenderam a cozinhar os pratos tradicionais da culinária paraense. Seu maior orgulho é a maniçoba, que começa pelo porco ainda vivo até o processo de defumação dos ingredientes.


Além de ajudar no preparo, Maria de Nazaré cede sua casa como local de reunião e preparo dos alimentos. “Minha casa é bem grande e é lá que elas reúnem para fazer os defumados, a maniçoba, o frango no tucupi. Ali a gente se reúne também para conversar, definir cardápios, trocar conhecimento, se articular para o fornecimento de produtos”, revela. Além dos pratos típicos, elas também vendem frutas colhidas na comunidade. Elas já procuram por um novo local, que funcione como um polo para agrupar e dar formação para mais mulheres.

SLOW FOOD À MODA CHICANA

O jeito antigo de cozinhar foi resgatado por meio de oficinas trazidas pelo Slow Food, movimento internacional cujo princípio básico é o direito ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais feitos com respeito ao meio ambiente e aos produtores. “Nós temos uma relação muito legal com a Comunidade Chicano. Teve um dia que cheguei lá e elas estavam se organizando para fazer uma feira. Perguntei o que elas iam produzir para vender e elas disseram que fariam suco de cupuaçu e bacuri. E eu perguntei: ‘e o tucumã, o araçá, o murici? Tudo isso que tem aqui nas árvores, por que vocês não aproveitam?’ Então a gente começou a trabalhar junto com elas a valorização da biodiversidade”, conta Tainá Marajoara, facilitadora do Slow Food Brasil no Norte. O projeto começou com um curso sobre a produção de embutidos, o que acabou se tornando a especialidade do grupo de mulheres. “A diferença do que é produzido por nós está no defumado. Tudo o que a gente coloca na maniçoba, por exemplo, somos nós que produzimos. Para colocar a linguiça de porco, a gente mata o porco, prepara a linguiça, defuma, para poder ser usada. Assim como o toucinho e outros ingredientes. Com certeza é mais gostoso”, garante Maria de Nazaré dos Santos, 48, uma das cozinheiras Chicano.

Além das encomendas, elas realizam uma feira gastronômica, uma vez por mês, no espaço Chicano Clube, dentro da comunidade, onde passaram a adotar o nome de Convivium Slow Food Chicano. “Convívio” é o nome dado aos grupos locais do Slow Food, que articulam relações com os produtores e fazem campanhas para proteger alimentos tradicionais. Atualmente existem 46 convívios em todo o país. No Pará, só existem as cozinheiras Chicano e o Convivium Amazônia, do chef Fábio Sicilia. Quem também apoia as mulheres Chicano é o chocolatier César De Mendes. “Eu moro na comunidade e tenho uma fábrica de chocolates finos lá dentro. Existe certas solidariedades entre nós – elas colaboram com o meu trabalho e eu com o delas. Antes mesmo do slow food, a gente já pensava essa preocupação com a natureza. Na verdade foi só um encontro de filosofias”, declara. Alguns dos ingredientes para seus chocolates, como o cupuaçu, são fornecidos pelas mulheres Chicano. A dificuldade delas era se articular fora da comunidade; e Mendes, que já tem uma grande rede no ramo gastronômico, foi atraindo parceiros, como os institutos Paulo Martins e Iacitatá. “A gente está trazendo uma série de cursos de empreendedorismo, de técnicas gastronômicas, para que elas

possam dinamizar um pouco mais o conhecimento delas, trazer renda, tudo a partir de algo básico, que é o alimento bom, justo e limpo – que é o que prega o slow food”, explica Mendes. O nome “Chicano” que continuam a usar, segundo contam as mulheres, foi do homem que chegou e limpou a área onde hoje existe a comunidade. Ali, ele teve nove filhos que foram ficando e lhe dando netos e tataranetos, o que formou a comunidade, acostumada a ver todos os seus moradores como parte de uma única família. Algo que pode influenciar e muito no sabor do que é feito ali, como declara Marli Malcher, 27, uma das cozinheiras do Convivium Chicano. “A gente fica feliz em incentivar as pessoas a preparar seu alimento, buscar coisas saudáveis. Eram apenas nossas avós que sabiam fazer aquela comida típica desde os ingredientes. A gente já estava acostumada a se alimentar muito mais do industrializado – pior, já estava passando isso para os filhos. Eu adoro cozinhar. Faço com vontade para que as pessoas sintam prazer naquele alimento, como eu sinto. Somos um grupo do interior, mas com muita garra, gosto pelo que faz e prazer em fazer junto, como uma família”, ela define.

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O OLHAR DE

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EMI OKADA PEREIRA, Sempre gostou muito de fotografia, porém não tinha muito tempo para se dedicar a esta arte, começou a uns três anos atrás com um celular Samsung, porém as fotos não tinham muita qualidade ( por conta do modelo antigo do celular), foi então que adquiriu um celular motorola o qual teve uma melhora significativa na qualidade das fotos, e até junho de 2017 todas as suas fotos eram divulgadas na internet e redes sociais pelo celular. Agora passou a utilizar uma camera Powershot SX510 CANON, fácil de transportar por ser pequena é fácil de manusear, a qual utiliza de forma amadora. “Tenho tido muitas alegrias e recompensas com o meu hobby, como ter minhas fotos com destaques as várias páginas da internet de fotografias, e ter 10 fotos de minha autoria (todas tiradas com celular) divulgadas nacionalmente nas loterias CAIXA. Não tenho um estilo fotográfico definido, depende muito do que eu estou sentindo ou querendo me expressar no momento da fotografia. Sou filha de imigrantes japoneses, nasci e me criei em Santarém do Pará, a qual tenho muito orgulho de ser paraense e divulgar nossas belezas e riquezas para o mundo” declara a fotógrafa.

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GASTRONOMIA FOTO: RENATO CHALU

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ALTER DO CHÃO ESPAÇO GASTRONÔMICO

ESPAÇO GASTRONÔMICO ALTER DO CHÃO: UMA APOSTA NO TAPAJÓS. Com pouco mais de um ano de funcionamento o Espaço Gastronômico Alter do Chão já se tornou referência em gastronomia em Santarém, no oeste do Pará. O “Espaço” nasceu da vontade da proprietária, Juana Galvão, de mudar totalmente de vida.

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om pouco mais de um ano de funcionamento o Espaço Gastronômico Alter do Chão já se tornou referência em gastronomia em Santarém, no oeste do Pará. O “Espaço” nasceu da vontade da proprietária, Juana Galvão, de mudar totalmente de vida. Ex-executiva de multinacionais, em 2015 Juana deixou o emprego na África e sua a sólida carreira de mais de 15 anos e se dedicou a avaliar o mercado e as oportunidades. “Quando decidi largar tudo eu tinha uma única certeza que era Alter do Chão o lugar onde eu iria morar e investir”, conta ela com a convicção de ter feito a escolha certa. Adepta da boa comida e viageira assumida, identificou uma oportunidade no ramo da gastronomia. Com Alter do Chão sendo cada vez mais divulgada e conhecida o turismo vem aumentando consideravelmente e novas portas estão se abrindo para empreendedores do setor de turismo nesse canto da Amazônia”, diz Juana. Alter já foi citada pelo jornal britânico The Guardian como a melhor praia do Brasil (Top 10 beaches in Brazil) e tem sido assunto em revistas e jornais de grande circulação no Brasil e no mundo. “Parece ser a bola da vez”, completa.

PARAENSE DE CORPO E ALMA

Filha de um paulista com uma mineira, Juana nasceu no interior de São Paulo. Quando tinha três ano de idade, em 1979, se mudou com os pais para Belém onde morou até o ano 2000 quando se mudou para Barcarena, município próximo de Belém. Depois morou em Oriximiná (entre 2002 e 2007) e Juruti (de 2009 à 2013). Sua carreira a levava a morar em lugares com culturas e sabores sempre diferentes. Amazônia, Pantanal, savana da África e cerrado do Distrito Federal foram algumas das regiões por onde ela se aventurou

e por onde sua paixão pela gastronomia era moldada. “Acho que a mistura do sangue mineiro com a cultura paraense é responsável por essa minha ligação com a boa comida. Lembro de ficar encantada com o cheiro e o sabor das comidas feitas nos fogões à lenha da minhas avós. De ser a única da família que tinha interesse em cozinhar com minha tia – na casa dela que até hoje são realizados os eventos de família como Natal e Ano Novo. Eu gostava de aprender cada detalhe. Minha casa sempre foi cheia de gente nos fins de semana. Ou mesmo durante a semana meus vizinhos iam até em casa em busca de comida, pois se não tivesse nada pronto eu rapidinho providenciava com os ingredientes existentes na geladeira”, relembra Juana. Além disso, ela conta que busca conhecer e entender os elementos utilizados na culinária dos locais visitados durante suas viagens. “Em uma viagem que fiz ao Peru pedi ao motorista do táxi que me levasse para comer algo típico. Ele estava pronto para me levar em restaurante da moda quando eu expliquei que eu queria ir onde ele, o motorista, levaria sua família para almoçar em um domingo. Foi nesse dia eu comi o melhor ceviche da minha vida acompanhado de uma Inca-Kola bem gelada - refrigerante de uma planta chamada Lúcia-lima e que tem aroma cítrico -, ao som de É o tchan ecoando das televisões penduradas nas paredes do restaurante!”. Conta que durante dos dois anos que viveu na África provou gafanhoto e um pequeno pássaro, mas que não teve coragem de provar os ratos assados vendidos ao longo das rodovias do Malaui, país onde morou. “De certa forma a alimentação desta região da África tem muitas similaridades

"Acho que a mistura do sangue mineiro com a cultura paraense é responsável por essa minha ligação com a boa comida. Lembro de ficar encantada com o cheiro e o sabor das comidas feitas nos fogões à lenha da minhas avós. De ser a única da família que tinha interesse em cozinhar com minha tia – na casa dela que até hoje são realizados os eventos de família".

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GASTRONOMIA

com o Brasil e com o Pará. Lá eles tem um prato que usa a folha da mandioca assim como temos a maniçoba, diga-se de passagem é meu prato paraense favorito. Eles tem também uma bebida feita com a fermentação do milho que se parece com a nosso caxiri feito com a mandioca”.

O RESTAURANTE

De frente para o cartão postal de Alter, a Ilha do Amor, o restaurante tem um atmosfera incrivelmente agradável e integrada com o meio ambiente. Tudo é pensado nos detalhes e um exemplo disso são os cardápios do Espaço que foram artesanalmente confeccionados pelo Ateliê da Mata com madeira de refugo, dando um toque especial e chamando a atenção dos clientes. “Desde os ingredientes das receitas, passando pela decoração e bebidas eu priorizo o que temos local e regionalmente”, diz ela que optou em oferecer apenas cervejas feitas no Pará em seu cardápio.

AS ESTRELAS

O desejo de transformar o prazer de comer em vivência foi o que inspirou Juana a fundir a cozinha de raiz e os elementos da gastronomia contemporânea. O cardápio está em constante experi-

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mentação. “Estamos sempre testando novos ingredientes e novas receitas”, comenta. O restaurante também abre suas portas para outros chefs apresentarem seus trabalhos. Imagina um ceviche de pirarucu fresco que leva, entre outros elementos, laranja, manga verde, chicória, leite de coco e pimenta wai wai (etnia que habita o alto rio Trombetas) servido com chips de banana da terra. Ou uma versão tapajônica do stake au poivre, filé alto empanado na pimenta do reino em grãos, com molho feito com redução de tucupí e servido com ninhos de mandioca fritos temperados com puxuri, semente considerada a noz moscada da Amazônia. Ainda, uma suculenta posta de pirarucu em uma cama de musseline de macaxeira com queijo defumado e farofa de piracuí. O difícil vai ser escolher a sobremesa, mas vá de abacaxi flambado na cachaça com calda de maracujá e ibisco acompanhado de creme de nata com cumaru - semente aromática. Para fechar a noite um café agroflorestal da Amazônia coado na frente do cliente.

COLHENDO FRUTOS

Em um ano de existência o Espaço Gastronômico Alter do Chão coleciona vá-

rias conquistas. Já foi assunto em jornais, canais de televisão, revistas, tais como Casa Vogue e Estilo. Também já foi notícia fora do Brasil, com a matéria do canal de TV privado de maior importância na França, o TF1. Nomes importantes da gastronomia já passaram pela cozinha do Espaço. Chef Checho Gonzales da Comedoria Gonzales, especializado em ceviches no mercado de Pinheiros em São Paulo; Roberto Smeraldi, chef e crítico gastronômico; a equipe do Soul Kitchen - plataforma de entretenimento que tem como foco a gastronomia feita por amigos para amigos; entre outros. A incrível chef Bel Coelho, apresentadora do “Receita de Viagem” na TLV Discovery, também esteve no restaurante e se encantou com a famosa coxinha de jambu.

CULTURA

O Espaço já abrigou exposição fotográfica, lançamento do DVD, shows importantes, tal como do violonista Sebastião Tapajós, oficinas de circo e de tambores de carimbó, entre outras. Sob o comando do produtor cultural Roberto Borovick, todos os sábados são embalados pelo melhor do carimbó.


abacaxi flambado na calda de maracujá e hibisco com creme de cumaru.

Coxinha de Jambu

Pirarucu na crosta de castanha com jambu

Ceviche Tropical

Refrigerante Inca Cola

O Espaço Alter do Chão está localizado no mesmo lugar onde fora construída a primeira edificação da vila, a extinta “Pousada Alter do Chão”, na Rua Lauro Sodré nº 74. Funcionamento: Das 19h à meia noite Contato: Juana Galvão: (93)98401-6144 Instagram: @espacoalterdochao Facebook: Espaço Gastronômico Alter do Chão www.espacoalter.com.br

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CACHAÇA DE ABAETETUBA TEXTO: CARLOS PARÁ /// FOTOGRAFIAS: MARCELO VAZ

A CACHAÇA INDIAZINHA é produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, na Cidade de Abaetetuba no Estado do Pará. Indústria Produtora de Cachaça. Primeira Destilaria que produz a Cana e fabrica a Cachaça no Estado do Pará. 106 www.revistapzz.com.br


FOTOS: mARCELO vAZ

A CACHAÇA INDIAZINHA é produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, na Cidade de Abaetetuba no Estado do Pará.

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baetetuba tem mais de 200 anos de tradição na produção de Cachaça Artesanal de Alambique. Devido a excepcional qualidade das Cachaças produzidas aqui, obteve no passado reconhecimento nacional e internacional. Fato comprovado no Brasão da cidade que simboliza; os canaviais; os engenhos e o meio de transporte predominante da época, os regatões, barcos à Vela responsáveis pelo transporte da Cachaça pelos rios da floresta. De acordo com o historiador Jorge Machado “Os engenhos funcionaram sempre de acordo com uma concepção primitiva de produção e de relação econômica. Os mesmos maquinários do século XIX que iniciaram a produção ainda eram utilizados no seu ocaso ao final dos anos 1960. Nenhum melhoramento tecnológico nos equipamentos ou genético na matéria-prima foi introduzido e, talvez, aí esteja a razão de sua decadência. Com a abertura econômica da Amazônia ao grande capital, nos anos de 1960, as bebidas destiladas produzidas no nordeste e no sudeste do país invadiram a região, amparadas por financiamento bancário, por uma publicidade implacável e por preços sem concorrência. Essa invasão

destruiu a indústria local, incapaz de reagir com o vigor necessário, o que dependeria de financiamento e medidas de planejamento econômico estratégico, ações que nunca vieram. Os engenhos surgiram inicialmente de pequenas moendas familiares onde se fabricava a rapadura, o mel, o açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente, com a linha do Amazonas, teve caminhos para o escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará. Às moendas familiares coube continuar a fabricação do mel e da rapadura (uma vez que o açúcar refinado passou a ser importado) que ainda assim tinham mercado garantido, embora agregassem pouco valor ao produto, num processo rústico de produção que condenava à estagnação quem nele permanecia.

Os engenhos surgiram inicialmente de pequenas moendas familiares onde se fabricava a rapadura, o mel, o açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente, com a linha do Amazonas, teve caminhos para o escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará.

Bem diferente era o que acontecia com a cachaça antigamente, o empresário Omilton Quaresma após estudo de viabilidade de mercado e no intuito de manter a tradição do seu município, resolve criar a CACHAÇA INDIAZINHA, produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA www.revistapzz.com.br 107


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DA AMAZÔNIA. A Modernidade chegou e a Tecnologia avançou consolidando a produção na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, que ainda sim, mantem viva e guardada a Sete Chaves, a Arte da Produção de uma Cachaça Única e Especial! Tradição passada de gerações em gerações para produção da Cachaça Artesanal genuinamente amazônica.

reproduzem a combinação perfeita entre aromas e sabores Amazônicos, reafirmando o poder da terra em que é obtida a Cachaça Indiazinha.

Para a produção da Cachaça Indiazinha, o cuidado com a qualidade começa desde a lavoura. O plantio de cana-de-açúcar é realizado sem o uso de agrotóxicos e a colheita ocorre no ponto Ótimo de maturação, com corte realizado de forma manual, sem o uso prévio de queimadas.

Após o descanso a Cachaça Indiazinha é então filtrada e engarrafada. Fruto do rigoroso processo de Controle de Qualidade tem-se, então uma Cachaça especial que traz dentro da garrafa os Sofisticados Aromas e Sabores da Floresta mais Magnifica e Encantadora do mundo, a Amazônia.

A Fermentação é natural e sem aditivos químicos. A Destilação é lenta e harmoniosa. Realizada em alambiques de Cobre que 108 www.revistapzz.com.br

Após destilada, segue para descanso por meses e até anos em tonéis de madeiras nobres, em especial amazônicas que dão um toque original e genuíno para a Cachaça Indiazinha.

A cachaça INDIAZINHA OURO de Abaetetuba está entre as 50 MELHORES CACHAÇAS do Brasil. No resultado do III Ranking Cúpula da Cachaça analisada pelos maiores especialistas do Brasil. A cachaça INDIAZINHA OURO ficou em 19 lugar. Na fase final, "Degustação às cegas", os 12 especialistas do Brasil se reuniram e analisaram aspectos visuais, olfativos e sensoriais de cada uma dessas maravilhas da produção brasileira, estabelecendo pontuações para uma série de quesitos, sem saber as marcas que estão provando. A média estatística das notas de cada amostra definiu as posições no Ranking e a "Cachaça do Ano".


FOTOS: mARCELO vAZ

A CACHAÇA INDIAZINHA é produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, na Cidade de Abaetetuba no Estado do Pará. Funcionamento: Das 8h às 18 hrs - segunda a sexta Contato: Omilton Quaresma:(91)98368-6237 Instagram: @cachacaindiazinha Facebook: https://www.facebook. com/cachacaindiazinha

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

O grupo Cuíra com o intuito de homenagear os músicos mais antigos da cidade de Abaetetuba criou o projeto “Era do Jazi”, na qual rendeu ensaio fotográfico, um documentário e muitas histórias.

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MADE IN ABAETETUBA - PARÁ

POR GRUPO CUÍRA /// Edney Souza, Luís Azevedo e Valdeli Costa

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ADEMAR

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Maestro Ademar de Almeida Cardoso, nascido em maio de 1936 nas ilhas de Abaetetuba. Aprendeu música com os irmãos, pois tinha a importante missão de levar as músicas escritas pelos mestres da cidade para as ilhas do município, nessas idas e vindas, quando percebeu já conhecia a música. Aos 14 anos de idade já era famoso por tocar pistão muito bem, então começou a estudar trompete, que lhe acompanhou até os 30 anos de idade, o que lhe abriu portas para a banda oficial do corpo de bombeiro de Belém, assim tendo a oportunidade de aprender diversos mais instrumentos. Em 1980 foi enviado ao Rio de Janeiro para aprender Teoria Musical, se tornando maestro formado em música. Além de compositor, hoje rege a banda Santana de Igarapé Miri e Banda Carlos Gomes em Abaetetuba. O maestro sempre diz que foi através da música que conseguiu tudo para si e sua família, e é assim até hoje.

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CLORIOMAR

Cloriomar Trindade Margalho, nasceu no dia 19 fevereiro de 1954, na cidade de Abaetetuba. Hoje tem 63 anos. Começou a aprender tocar com 15 anos bateria, depois violão e guitarra. Aprendeu a tocar sozinho, olhando os amigos tocarem. Daniel Margalho foi quem mais lhe ajudou e lhe convidou para tocar com ele. Tocaram muito na Boate Iracema e o dono batizou a banda Muiraquitãs. Depois tocou nas bandas Águias, Os Gênios, Gerasom. Tocou em vários municípios como Tucuruí, Igarapé Miri, Barcarena, Vila dos cabanos, Breves, Cametá. Gravou dois discos com o mestre Vieira de Barcarena como guitarra base e cantou algumas músicas também. Tem filhos e netos que tocam. Trabalhou como educador musical.

CORONÉ TUNICA

Antônio de Oliveira, 59 anos, natural de Ourém, mas aos 8 anos foi registrado em Abaetetuba, começou na música em 1975, e ganhou em 76 o primeiro cachê, quando começou a história artística, sendo o vocalista do Piçarra, tocou em várias bandas como Manivela, Populares de Igarapé Miri, Som Líder dentre outros, em vários lugares da região. Na banda Relíquia passou 20 anos, foi seu principal destaque, onde faziam os bailes de carnaval nos mais importantes clubes, era bem requisitado, o cachê era muito bom, os músicos eram bem reconhecidos e valorizados. Foi Muiraquitã Boy. Hoje é cantor, locutor e compositor, membro da Carlos Gomes, também faço propagandas de televisão. Acredita que esteja faltando estímulos dos nossos representantes políticos para incentivar os espaços culturais, mas tem esperança de que isso mude. O maior celeiro de artista está no interior, mas precisa de espaço para trabalhar, ter condições financeira para gravar seu trabalho. Viveu só da música por muitos anos. Órfão de pai e mãe, teve tudo para ir para o lado errado da vida, mas a música apareceu em um melhor momento, foi Deus o livrando do mal caminho.

ZÉ BORÓ

José Maria Silva de Miranda, 64 anos, natural de Abaetetuba, conhecido como Zé Boró, começou a trabalhar com 15 anos sendo balconista de supermercado, nessa época já tinha abandonado os estudos e ganhou de uma tia um violão, rapidamente aprendeu a tocar e logo depois foi chamado para fazer um teste em uma banda chamada “Popular”, passou e com ela percorreu vários lugares no estado e acabou passando 7 anos em Belém, retornou a Abaetetuba e fez parte de uma banda chamada Muiraquitãs, tocavam de tudo principalmente o carimbó, nessa época passavam 3 meses viajando, fazendo shows. Os músicos eram melhores remunerados. A sua grande inspiração foi seu pai, grande seresteiro, sua trajetória musical se resume em participação em 7 bandas, o seu legado foi transferido aos netos que também tocam.


PALHETA

Nasceu no Cataiandeua, hoje com 82 anos, trabalhou desde cedo nas roças, e que toda a família tinha vocação para música, que infelizmente não teve a oportunidade de estudar, mas mesmo assim criou muitas coisas legais, tocou em várias bandas, passando por diversos esquemas, já tocou em vários lugares do Pará . A inspiração mais importante em sua vida foi o senhor Margalho ele ia as festividades o olhar tocar Banjo, aprendeu olhando. As criações de guitarrada surgem do nada, no seu momento de inspiração. Os filhos também são autodidatas, herdaram o dom da música. Com a música sustentou a família. Hoje ele trabalha na comunidade no período das festividades da igreja. Já tocou por todo o Estado do Pará. Hoje tem a felicidade em tocar com os filhos Acredita que os jovens que procuram o lado obscuro da vida o fazem porque querem uma vez que ele é aprova viva de que alguém sem condição financeira venceu na vida através da arte.

NILAMON

Luís Barros Sena, mais conhecido como Nilamon, nasceu no dia 25 de agosto de 1933 na cidade de Abaetetuba, aprendeu a tocar com o pai e amigos aos 9 anos de idade, começou com o cavaquinho e hoje toca vários instrumentos como bandolim, cavaquinho, violão, viola, guitarra, bateria, surdo, trombone, saxofone entre outros. Foi 7 anos presidente da banda Virgem da Conceição. Trabalhou na construção da sede da Carlos Gomes em 1947 e 1948. Gravou dois CDs autorais sozinho, tocando todos os instrumentos.

TOMÁS

Tomás Ferreira pereira, 86 anos, natural de Abaetetuba, tocava trompete depois trombone, aprendeu com o pai que tocava trompete, a mãe na época ficava chateada quando ele queria mexer no instrumento musical do pai, mas sempre que o pai saía ele pegava e tocava apesar do pai falar que era ferramenta de trabalho, mas com o tempo o pai o convidou para estudar música, mesmo trabalhando na lavoura e pesca para ajudar o pai, ele começou a solfejar , não tinha dinheiro para comprar o próprio instrumento, com 14 anos, foi chamado para tocar em uma festa a noite e desde então não parou , tocou em orquestra, nos “populares“ dentre outros, já tocou em Brasília e vários locais do Estado do Pará, foi professor de música. Tem consciência de que hoje em dia não dar para sobreviver de música, ao contrário de antigamente, uma vez que criou seus filhos com a sua arte.

JOÃO PERNA

João Ferreira, 87 anos, nasceu no Rio Panacuéra, município de Abaetetuba, toca pandeiro, bumbo, surdo, e ainda canta, tocava no Jazi , e se apresentava com traje esporte fino, começou a tocar com 15 anos, aprendeu com o professor Agenor Silva, o conheceu em Abaetetuba. Tocou em várias bandas em vários lugares do Estado do Pará, a sua inspiração sempre foi a música sacra, uma vez que juntar o dom com a fé. Conseguiu ganhar muito dinheiro com a música, o que mais o encanta hoje em dia são as ladainhas cantadas com a sua filha.

O Cuíra

Com o intuito de fazer a diferença aqui em Abaetetuba, três amigos (Edney Souza, Luís Azevedo e Valdeli Costa) se uniram para revolucionar a cultura em geral e criaram o Cuíra, acreditando na filosofia e ética de que “ Ser como humano é ser como os outros” é acreditar que tenhamos que fazer alguma coisa hoje para podermos enxergar os outros em nós amanhã, é incentivando, valorizando e divulgando sua arte. https://www.facebook.com/cuiraproducaocultural/

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

MARGENS DO

MOJUIM

CURADORIA: RAY NONATO /// FOTOGRAFIAS: AND SANTOS E JAIME SOUZA

A

mostra fotográfica “Margens do Mojuin” apresenta o cotidiano de uma parte da população da cidade de São Caetano de Odivelas visando a conservação da Amazônia pelo uso sustentável dos recursos naturais e participativo da comunidade. A pesca é uma das principais atividades praticadas no município, além de ser a maior fonte de alimento e trabalho, ela constitui a identidade do povo local. A exposição dá uma amostragem da multiplicidade e da simplicidade e da produção da pesca, retratando pessoas que ganham a vida na rotina voltada a esta atividade às margens do Rio Mojuim, de modo não excludente e sim personificada dando valor a elas próprias como parte da sociedade. O trabalho fotográfico do artista visual AND SANTOS conta com a participação do grande fotógrafo da região JAIME SOUZA que também retrata o cotidiano de ribeirinhos. A exposição fotográfica tem como curador RAY NONATO, fotógrafo renomado no meio jornalisticodo Estado do Pará. Em parceria com a PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DE ODIVELAS, é cortesia a comemoração do aniversário da cidade cultural e artística de São Caetano de Odivelas

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