PZZ MArabá

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HISTÓRIA l FOTOGRAFIA l MÚSICA l LITERATURA l DOCUMENTÁRIOS l ARTES VISUAIS l ANO X l Nº 30 l NOV 2018

MARABÁ A ARTE DO BICO DE PENA TEVE SUA INTRODUÇÃO EM MARABÁ POR AUGUSTO MORBACH E FOI ATRAVÉS DA DIFUSÃO DA TÉCNICA ENTRE OS ARTISTAS MARABAENSES QUE SE FORMOU UMA VERDADEIRA ESCOLA ARTÍSTICA

Da periferia de Marabá à poesia de Airton Souza

Círio Musical, projeto de inclusão social

A História de Marabá contada www.revistapzz.com.br por Virgínia Matos

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sumário

história

música

indústria

Edição 30| 2018

Diretor Executivo Carlos Pará 2165 - DRT/PA

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HISTÓRIA

LITERATURA

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DO EXTRATIVISMO AO POLO INDÚSTRIAL

A história de Marabá é a história de nossos pais e avós; é a história do mais humilde castanheiro, do pescador, do carregador do cais, da mulher que quebra o coco babaçu ou pila o arroz, do lavrador que luta na terra, do garimpeiro, do piloto, do comerciante, do marinheiro, do motorista, do professor, do carpinteiro, da lavadeira da beira do Tocantins.

ECONOMIA

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POR QUE INVESTIR EM MARABÁ

Desenvolver políticas públicas para atrair novos negócios para o Estado e promover o Pará como o melhor destino para investir.

INSTITUCIONAL

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SISTEMA FIEPA EM MARABÁ

FIEPA atua na indústria, educação, saúde, segurança e qualidade de vida.

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CASA DE CULTURA

A Fundação Casa da Cultura de Marabá completou 34 anos de Fundação.

RELIGIOSIDADE

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CÍRIO DE MARABÁ

A devoção de Nazaré em Marabá reúne mais de 200 mil devotos em uma procissão pelas ruas da cidade.

AIRTON SOUZA

O poeta Airton Souza encontrou na arte a transformação da relaidade.

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Diagramação Resistência Comunicações Marketing Guerreiro Comunicações Impressão: Gráfica Sagrada Família Distribuição Belém, Pará, Brasil

PRÊMIO AMAZÔNIA

O Prêmio Amazônia de Literatura recebeu quase 500 inscrições

ARTE VISUAL

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Contatos (91) 98335-0000 email revistapzz2018@gmail.com Twitter @revistapzz

AUGUSTO MORBACH

Em Morbach vida e obra se fundem. 68 72 84 90 94

Editores Carlos Pará 2165 - DRT/PA Fabrício Castanho

GARIMPEROS ESCOLA DO BICO DE PENA DOMINGOS NUNES DONA Z MARGEM

Facebook https://www.facebook/revistapzz cartas Av. José Malcher 2020 São Brás - Belém (PA).

CARAJÁS VISUAIS

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ENTRE RIOS

O projeto “Carajás Visuais - Entre Rios e Redes” nasceu do intercâmbios entre profissionais das artes visuais das regiões norte e sudeste do país.

Issn: 2176-8528 site: revistapzz.com.br Patrocínio

MÚSICA

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CAFRE, UM CANTO ABERTO

Parceiros

Uma pesquisa, experimentação, difusão artística e resistência, o CAFRE.

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LARIZA

A cantora e compositora Lariza lança seu novo EP.

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REDE DE HOSPITAIS PÚBLICOS SALVA MILHARES DE VIDAS EM TODO O PARÁ.

Inaugurado em outubro, o Hospital Materno Infantil de Barcarena está em pleno funcionamento.

A entrega do Hospital Materno Infantil de Barcarena, com 69 leitos, e o de Ipixuna do Pará, com 35 leitos, aumentou para 16 o número de hospitais públicos que integram a rede estadual de média e alta complexidade, implantada e administrada pelo Governo do Estado. A rede, que diariamente salva milhares de vidas em todo o Pará, é resultado do maior programa de implantação de hospitais públicos da história paraense. Antes, o Pará contava apenas com 3 grandes hospitais públicos de referência para média e alta complexidade - Hospital de Clínicas, Ophir Loyola e Santa Casa. E todos ficavam na capital, Belém. Hoje a rede está presente em todas as regiões do Estado e conta, também, com o Metropolitano de Urgência e Emergência, Galileu, Jean Bitar e Oncológico Infantil, na Grande Belém; e mais os Hospitais Regionais do Baixo Amazonas, em Santarém; do Sudeste do Pará, em Marabá; do Araguaia, em Redenção; da Transamazônica, em Altamira; do Marajó, em Breves; e do Leste, em Paragominas, além do Hospital Geral de Tailândia. 4 www.revistapzz.com.br


Hospital Público de Ipixuna do Pará, já inaugurado

Hospital Abelardo Santos, em Icoaraci, será inaugurado em dezembro.

Hospital de Abaetetuba entra em funcionamento em dezembro

Hospital Regional dos Caetés, em Capanema, em fase de conclusão

Regional do Oeste do Pará, em Santarém. Primeiro hospital público do Norte a receber certificado ONA-3 - creditado com excelência.

Com o Materno Infantil de Barcarena e o de Ipixuna do Pará já são 16 hospitais em todo o estado. E serão 19 até o final do ano.

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GRIFFO

Com isso, foram disponibilizados mais 1.834 leitos hospitalares públicos para a população paraense. Mas até o final do ano esse número vai crescer para 2.256 leitos, com a inauguração dos hospitais Abelardo Santos, em Icoaraci, com 269 leitos; Hospital Regional do Caetés, em Capanema, com 57 leitos; e Hospital de Abaetetuba, com 96 leitos. Estão em obras e em fase final de conclusão os Hospitais Regionais do Tapajós, em Itaituba, com 160 leitos, e o do Nordeste, em Castanhal, também com 160 leitos. É esse o resultado do programa que garante às famílias paraenses acesso a tratamentos sofisticados e de alta qualidade, inclusive transplantes, sem necessidade de deslocamentos para a capital ou outro Estado. Um programa que coloca a rede hospitalar perto do cidadão, salvando vidas, em respeito a toda a população paraense.


história

A história de Marabá é a história de nossos pais e avós; é a história do mais humilde castanheiro, do pescador, do carregador do cais, da mulher que quebra o coco babaçu ou pila o arroz, do lavrador que luta na terra, do garimpeiro, do piloto, do comerciante, do marinheiro, do motorista, do professor, do carpinteiro, da lavadeira da beira do Tocantins... 6 www.revistapzz.com.br

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FOTO: JORDÃO NUNES

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história de Marabá é a história de nossos pais e avós; é a história do mais humilde castanheiro, do pescador, do carregador do cais, da mulher que quebra o coco babaçu ou pila o arroz, do lavrador que luta na terra, do garimpeiro, do piloto, do comerciante, do marinheiro, do motorista, do professor, do carpinteiro, da lavadeira da beira do Tocantins. Foram eles, em sua luta diária, que tentaram tornar esta terra melhor para todos. Eles são tão importantes quanto os grandes proprietários, os chefes políticos, os líderes que têm seus nomes gravados nas placas das ruas e dos monumentos. O que nós almejamos é que cada leitor destas páginas sinta nelas a presença viva de seus familiares, dos vizinhos e amigos, de tantos que vieram para Marabá em busca de terra, de trabalho, de estudo e oportunidades para os filhos. Quisemos espelhar neste artigo a vida do povo de Marabá, suas lutas, suas vitórias. PRIMEIROS HABITANTES Antes do Chico aqui chegar, Habitavam povos de outras raças, Que dominavam terras, rios e matas: Gavião, Xicrin, Suruí, Paracanã, Arara e Assurini”. (Ananias Pereira) A parte Sudeste do Pará, onde se localiza o município de Marabá, foi povoada apenas por indígenas até fins do século passado. Muitas pessoas pensam que os indígenas constituem um só povo, com uma única cultura e uma mesma língua; outros se referem a eles como pessoas do passado, ignorando que, somente na porção Sudeste do Pará, vivem hoje 28 povos, distribuídos em 46 aldeias e totalizando 4300 pessoas. QUANTOS ERAM OS INDÍGENAS DESTA REGIÃO, NO FINAL DO SÉCULO XIX? Não existem dados exatos sobre a população indígena antes da chegada dos chamados civilizados, mas pesquisas históricas e arqueológicas indicam que o número de aldeias e pessoas era muitíssimo maior que o de hoje. Em nossa região, como em todo o Brasil, houve uma redução rápida da população indígena, um verdadeiro extermínio, provocado por vários fatores: epidemias de moléstias trazidas pelos brancos, apresamento de índios para o trabalho escravo, assassinato de populações inteiras

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DO EXTRATIVISMO VEGETAL AO POLO INDUSTRIAL Até o início da década de 1980 a economia de Marabá era baseada no extrativismo vegetal. No início o extrativismo girava em torno do látex do caucho, cuja lucrativa exploração atraiu grande número de nordestinos. Desde o fim do século XIX (1894) até o final da década de 1940, o extrativismo foi marcado pelo ciclo da borracha que contribuiu sobremaneira para a economia do município e da região. Porém, a crise da borracha levou o município a experimentar o ciclo da castanha-do-pará, que capitaneou por anos a economia municipal. Houve também o ciclo dos diamantes, nas décadas de 1920 e 1940, que eram principalmente encontrados no leito e às margens do rio Tocantins. Depois o ciclo das sidúrgicas e mineração. Agora o comércio e serviços em expansão.

que se encontravam em áreas de interesse para o aventureiro branco (seringais, castanhais, áreas de pastagens naturais, áreas ricas em minérios). Assim, desde o século XVI, muitos indígenas moradores das margens do rio Tocantins foram escravizados por grupos de aventureiros que, saindo de Belém e Cametá, subiam o rio em grandes barcos a remo. Vinham para esta região em busca de homens para trabalhar nas lavouras que abasteciam as cidades litorâneas. Grande parte dos indígenas capturados morria durante a viagem, ou logo depois, pelo contágio com doenças e pelo excesso de trabalho a que eram submetidos. Evidentemente esse tipo de contato, cujo objetivo era explorar a força de trabalho indígena, não permitiu qualquer observação das culturas e das línguas nativas. Em nossa região, como em todo o País, as diversas

culturas nativas foram sufocadas pela cultura do homem branco. Também os religiosos, como Franciscanos e Jesuítas, reuniram indígenas, com o intuito de convertê-los ao cristianismo e adaptá-los ao modo de vida dos “civilizados”, o que significava colocá-los para trabalhar em roças, sem qualquer respeito por costumes, crenças e tradições dos autóctones. Nesse processo de extermínio dos indígenas somente se salvaram os grupos que, penetrando nas matas, seguindo o curso dos igarapés, foram para regiões de difícil acesso aos colonizadores. No entanto, a partir dos últimos anos do século XIX, descobriu-se nesta região o caucho, e os índios voltaram a ser confrontados com os brancos, que adentravam a mata em busca das árvores da goma elástica. Poucos anos depois, por volta de 1920, foi a castanha-do-pará que atraiu os brancos para o interior da floresta, provocando novos conflitos e mortes.


FOTO: JORDÃO NUNES

Em todas essas lutas o homem branco era vencedor. Vivendo dispersos, os índios não tinham formas de se unir para enfrentar o invasor; além disso, suas armas eram rústicas – arcos, flechas, bordunas – enquanto os brancos utilizavam armas de fogo. Um exemplo da terrível redução da população indígena é a que ocorreu com o povo Kaiapó: antes de 1910 calculava-se que somavam 6 a 8 mil pessoas; em 1918 já estavam reduzidos a 500 pessoas e, em 1929, a apenas 27 pessoas: ou seja, de cada 222 indivíduos restou apenas 1, no curto intervalo de 20 anos! A HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS Os grupos indígenas que sobreviveram e conseguiram manter suas culturas são hoje testemunhas de uma história de sofrimentos, mortes e

muita resistência. Veremos alguns aspectos da história de quatro povos que ainda vivem nas proximidades de Marabá: os povos Suruí Aikewara, Gavião, Parakanã e Xicrin do Cateté. Esses povos são, em nossos dias, exemplos de como é possível usufruir dos recursos naturais sem causar a destruição do meio ambiente. Além do mais, eles nos mostram como se pode viver em comunidades onde cada um produz de acordo com sua capacidade e todos desfrutam dos recursos obtidos, não havendo, em suas aldeias, nem pobres, nem ricos. AGRICULTURA INDÍGENA Um dos problemas da moderna agricultura é o empobrecimento do solo e o aumento de pra-

MAIOR CENTRO DE NEGÓCIOS E DE COMPRAS DA REGIÃO Marabá é um município brasileiro localizado no sudeste do estado do Pará, Região Norte do país. É o município sede da Região Metropolitana de Marabá. Se localiza cerca de 500 quilômetros ao sul da capital do estado. Sua localização tem, por referência, o ponto de encontro entre dois grandes rios, Tocantins e Itacaiúnas, formando uma espécie de “y” no seio da cidade vista de cima. É formada basicamente por seis distritos urbanos interligados por rodovias. O povoamento de origem europeia da região de Marabá principiou no início do século XIX, porém, somente consolidou-se com a chegada de imigrantes árabes, goianos e maranhenses, em 1894. A emancipação municipal se deu em 1913, ocorrendo a elevação da sede para categoria de cidade em 1923.

gas e doenças. Isso se deve à monocultura, que exclui a heterogeneidade natural do meio, onde diversas espécies animais e vegetais garantem o equilíbrio ecológico. A forma de agricultura praticada por grupos indígenas de nossa região não agride a natureza. Uma pesquisa realizada entre os índios Kaiapó da aldeia Gorotire, no sul do Pará, ilustra como é possível cultivar a terra sem prejuízo do ecossistema, pelo emprego de técnicas que respeitam as características de cada área e estimulam a diversidade. Ao plantar, os Kaiapó parecem imitar a natureza. Quando iniciam uma roça, introduzem grande quantidade de espécies; no princípio plantam espécies de vida curta; a seguir, árvores frutíferas; finalmente cultivam espécies florestais de grande porte, como a castanha-do-pará, que legam a netos e bisnetos. Para o plantio dessas árvores, os kaiapó trazem mate-

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história

A busca de castanha fez com que os brancos penetrassem nas matas, atingindo territórios ocupados pelos povos indíginas do sudeste do pará, Aikewara, resultando em novas violências de parte a parte. Com tantas agressões, os Aikewara tornaram-se arredios, evitando qualquer aproximação.

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rial orgânico das áreas próximas, promovendo assim uma adubação do solo. Os autores dessa pesquisa acreditam que outros povos indígenas – Xavante, Canela, Gavião, Xicrin e Apinajé – utilizaram formas semelhantes de cultivo, interferindo positivamente no ecossistema. (Fonte: Anderson & Posey, 1978).

REMANESCENTES Os grupos indígenas que sobreviveram e conseguiram manter suas culturas são hoje testemunhas de uma história de sofrimentos, mortes e muita resistência.

O POVO SURUÍ, OU MELHOR, AIKEWARA Um dos povos encontrados na região de Marabá é o Suruí, nome dado pelos brancos, pois eles mesmos se autodenominam Aikewara, que significa simplesmente “Nós”. Os Aikewara se expressam num dialeto tupi-guarani. Em 1892 esse povo foi visto pelo pesquisador francês Henri Coudreau, próximo à região onde posteriormente seria a cidade de Marabá. Mais tarde, em 1923, um grupo foi avistado nos arredores da cachoeira de Santa Isabel, no rio Araguaia, por Frei Antonio Sala. Nessa época o branco começou a fixar-se na região, passando

a ocorrer conflitos com os indígenas. Em certa ocasião, por exemplo, alguns índios, tendo saído para caçar, flecharam animais domésticos criados pelos brancos em uma fazenda. Isso aconteceu porque eles não entendiam que alguém criasse aqueles animais, nem tinham a noção de propriedade particular. Eles não imaginavam que estivessem prejudicando alguém, sendo surpreendidos pela violenta reação dos brancos: alguns índios Aikewara foram mortos e os demais se refugiaram no interior da floresta. A busca de castanha fez com que os brancos


FOTOGRAFIAS DO ACERVO DA FUNDAÇÃO CASA DE CULTURA DE MARABÁ

penetrassem nas matas, atingindo territórios ocupados pelos Aikewara, resultando daí novas violências de parte a parte. Com tantas agressões, os Aikewara tornaram-se arredios, evitando qualquer aproximação. Somente na década de 1950 o padre Frei Gil Gomes Leitão, da Ordem dos Dominicanos, preocupado com o destino dos indígenas, conseguiu ser aceito pelos Aikewara, passando a auxiliá-los e a protegê-los das agressões dos brancos. Algumas vezes, aproximações aparentemente inofensivas causavam aos indígenas resultados tão trágicos quanto os ataques e agressões. Em 1960, por exemplo, estando Frei Gil ausente da aldeia, ocorreu que um grupo de homens sem escrúpulos aproximou-se dos Aikewara, ganhou a confiança deles e convenceu-os a caçar animais selvagens, para lhes fornecer as peles. Com tal atividade, muitos índios afastaram-se da vida tribal e dos trabalhos de preparação de roças; a par disso, o contato com os brancos provocou um surto de gripe que matou grande parte da população indígena. Avisado da tragé-

REMANESCENTES O contato com a população branca trouxe surtos de pneumonia, gripe e sarampo, que dizimaram grande parte dos indígenas. os que sobreviveram passam por um processo de aculturação e procuram manter sua identidade cultural

dia, Frei Gil retornou à aldeia, expulsou os aventureiros e lutou pela sobrevivência e pela restauração da dignidade dos restantes Aikewara. Foi ainda Frei Gil quem conseguiu, através de um decreto presidencial, a interdição da área indígena aos demais moradores da região. Por essa época – fins dos anos 60 – a região sofria uma ocupação acelerada, por parte de pequenos lavradores oriundos de Goiás, Maranhão, estados do Nordeste e do Leste.

O contato entre brancos e índios aumentou, havendo frequentes trocas de produtos e pequenos negócios. Na década de 70 os Aikewara foram envolvidos pela movimentação militar, em função da Guerrilha do Araguaia. Quatro índios foram obrigados a trabalhar como “batedores”, ou guias do Exército. A região foi cortada por várias estradas, sendo que uma delas, a OP-2, atravessou o território Aikewara no sentido Norte – Sul. Em agosto de 2010 a TV Globo mostrou um vídeo sobre o projeto “Crianças Suruí – Aikewara: entre a tradição e as novas tecnologias na escola”, desenvolvido pela UNAMA (Universidade da Amazônia) e patrocinado pelo projeto “Criança Esperança”. A população atual dos Aikewara é de pouco mais de 300 habitantes, vivendo na “Área Indígena Sororó”, próximo à Serra das Andorinhas, às margens da BR-153, entre os municípios de São Geraldo e São Domingos do Araguaia.

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história

MODO DE VIDA DOS AIKEWARA A “Área Indígena Sororó” é motivo de orgulho para os Aikewara, pois abriga uma floresta nativa bem conservada; eles se definem como povo da floresta. Apenas pequenas áreas são reservadas à agricultura. Por estarem situados próximo de uma estrada de rodagem, sofrem sérios problemas de incêndios criminosos, provocados provavelmente por cigarros jogados pelos ocupantes dos veículos que ali trafegam. Em 2010 um desses incêndios causou grandes prejuízo à vegetação nativa, aos cursos d’água, à criação de abelhas e às roças. No território dos Aikewara cada família tem sua roça, onde cultiva dois tipos de mandioca, dois tipos de milho, arroz, algodão, batata, cará, inhame, cana-de-açúcar e vários tipos de banana. Criam gado, galinhas e abelhas. Apreciam também a carne de caça, realizando caçadas no período de dezembro a maio, época em que há menos trabalho nas roças. Fazem coleta de frutos da floresta: castanhas-do-pará, cupuaçu, bacaba, cacau do mato, abiu, ingá,

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babaçu, mamão do mato, almescão, pequi. No verão utilizam o açaí. Cultivam limão, lima, laranja, manga, goiaba, maracujá, caju. A atividade agrícola constitui, hoje, tarefa basicamente masculina. As mulheres participam do plantio da mandioca, mas a confecção da farinha é encargo dos homens. OS POVOS GAVIÃO Diferentes grupos Timbira, que pertencem ao tronco linguístico Jê, receberam a denominação “Gavião”, mas os indígenas dessa etnia, localizados na “Reserva Indígena Mãe Maria”, próximo a Marabá, pertencem a três subgrupos: a. Os Parkatêjê, “povo da jusante”; b. Os Kyikatêjê, “povo da montante”, porque foram morar a montante do rio Tocantins, no Estado do Maranhão (sendo conhecidos também como “grupo do Maranhão”); c. Os Akrãtikatêjê, “turma da montanha” que morava na cabeceira do rio Capim, no município de Tucuruí. Vamos falar um pouco sobre cada um desses

subgrupos, dando maior destaque aos Parkatêjê, que são em maior número e lideraram as principais lutas pela preservação de sua cultura. OS PARKATÊJÊ Os Parkatêjê sempre foram temidos, mas na verdade eram desconhecidos dos brancos. Estes passaram a atacá-los a partir de 1920, quando o interesse pela castanha levou à exploração das matas da margem direita do rio Tocantins. À medida que crescia a importância econômica da castanha, aumentavam os conflitos, a tal ponto que, nas décadas de 1930, 1940 e 1950 as autoridades e donos de castanhais organizavam expedições para extermínio do povo Parkatêjê. Relatos encontrados nos jornais de Marabá, nos anos de 1949 e 1950, descrevem vários ataques de índios a castanheiros e a moradores de Ipixuna, mas não falam sobre as expedições de extermínio perpetradas pelos brancos; a exceção é um artigo na revista Itatocan, de janeiro de 1953, que denuncia um “massacre de parte de


FOTOGRAFIAS DO ACERVO DA FUNDAÇÃO CASA DE CULTURA DE MARABÁ

uma tribo Gavião no lugar Marrecos, pouco abaixo de Saranzal, pelos moradores deste local”. A descrição traz trechos impressionantes: “a índia, como implorando misericórdia, apresentava o filhinho na sua frente. Nada comoveu ao bárbaro assassino, que com um golpe no rosto tirou-lhe metade da cabeça, degolando em seguida o colomi...”. O autor do relato informa ainda que os Parkatêjê eram inofensivos e que se aproximavam das margens do Tocantins, em certas épocas do ano, em busca de alimentos: “E os moradores de Marabá ainda se recordam do velho Coronel Messias, que recebia os Gavião em sua propriedade de Mãe Maria, todos os anos, não sendo molestado por eles em seus trabalhos extrativos na mata”. Os primeiros contatos de paz, já com os Parkatêjê esfacelados e empobrecidos, deram-se em 1956, através de expedição organizada por Frei Gil Gomes Leitão em companhia de Hilmar Harry Kluck, um militar reformado a serviço do SPI (Serviço de Proteção aos Índios, hoje FUNAI). Eles levaram alimentos e remédios para os indígenas.

Nessa época os Gavião se concentravam nas proximidades de Itupiranga. O contato com a população branca trouxe surtos de pneumonia, gripe e sarampo, que dizimaram grande parte dos indígenas. O líder, então, era o jovem e valente Krohokrenhum. Quando ele viu seu povo morrendo, pegou as crianças órfãs e deu-as aos brancos, dizendo: “Vocês podem tomar conta, vocês criam; eu vou ficar só, porque eu sei que vou morrer”. Mais uma vez a assistência de Frei Gil salvou o povo Parkatêjê do extermínio. Quem conta é Krohokrenhum: “Frei Gil chegou, aí começou... leva “rancho”, leva tudo, café, açúcar, farinha... ih! Muita farinha. Ele levou quatro “caras” lá, eles fizeram a roça. Oito “linhas” que os caras fizeram, queimaram, plantaram mandioca, banana. Só uma vez. Aí nós começamos (no outro ano), fizemos roça, plantamos...”. Em 1964, sob orientação do Serviço de Proteção aos Índios, mudaram-se os Parkatêjê para o local denominado Mãe Maria, em

área de 62.000 hectares, concedida a esse povo desde 1943, através de decreto governamental. Eles estabeleceram sua aldeia na altura do Km 30 da rodovia BR332. Assim, os Parkatejê passaram a ser o grupo indígena mais próximo do núcleo urbano de Marabá. Krohokre nenhum chamou de volta os Parkatêjê que estavam dispersos, e recebeu indígenas de outras etnias, que se encontravam isolados. A atual aldeia dos Parkatêjê é composta de casas de alvenaria dispostas em círculo, forma tradicional das aldeias Timbira. Na escola da aldeia ensina-se aos jovens e crianças, além do currículo habitual, o dialeto e a história do povo Timbira. Todos participam de cantos e danças tradicionais, realizam jogos de flechas e corridas de toras; gostam também de assistir à televisão, usar computador, filmadoras e, principalmente, jogar futebol. Em 2010 o subgrupo Parkatêjê reunia 450 indivíduos. (Fonte: FUNASA).

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história

OS KYIKATÊJÊ No final da década de 60 o grupo Kyikatêjê encontrava-se na região do Igarapé dos Frades, em conflito com os civilizados na disputa por terras. Funcionários da FUNAI convenceram os Kyikatêjê a morar na Reserva Mãe Maria. Eles haviam se afastado do grupo Parkatêjê no início do século 20 por motivo de guerra entre esses grupos; assim, ao retornarem, formaram uma aldeia separada, chamada “Ladeira Vermelha”, na altura do Km 34 da BR 332. A partir da instalação dos projetos governamentais que afetaram as terras dos Gavião, os Kyikatêjê foram obrigados a reunirem-se aos Parkatêjê.

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Essa convivência forçada trouxe muitos problemas. Afinal, em 2001, os Kyikatêjê saíram da aldeia Parkatêjê e formaram sua própria aldeia, na altura do Km 25 da BR 222, dentro da mesma Reserva Mãe Maria. PRESERVANDO A CULTURA, MAS AGREGANDO OUTRAS Como os demais Gavião, os Kyikatêjê preservam a tradição da Corrida de Toras. Em revezamento, as equipes correm carregando pesados troncos de buriti nos ombros. Para nós, habituados a competir sempre para ver quem é o melhor, eles oferecem uma preciosa lição: não consideram

importante valorizar o primeiro lugar, o que mais vale é o divertimento e a participação: fazem uma grande comemoração quando as equipes conseguem chegar juntas ao ponto final! Mas quando é para competir, eles sabem fazer bonito: gostam muito de futebol e participam do campeonato paraense com o GAVIÃO KYIKATÊJÊ FUTEBOL CLUBE, primeiro time indígena do futebol brasileiro. Também o técnico, Zeca Gavião, é o primeiro indígena a ter essa profissão, no Brasil. OS AKRÃTIKATÊJÊ Os Akrãtikatêjê, ou Gavião da Montanha, ocupavam umas terras altas, que consideravam


Passaram-se meses sem que o governo mandasse dar começo a obra conforme prometera, o mato, que ali cresce admiravelmente, prejudicou todo o serviço de rocagem, e Carambola começava por desanimar. Contudo, não desanimou inteiramente e escreveu ao seu

sagradas, mas foram desalojados dali para a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, no início da década de 1970. A expulsão de sua terra ancestral trouxe muito sofrimento, com perdas de vidas. Hoje os Akrãtikatêjê vivem na Área indígena Mãe Maria, esperando por decisão judicial que permita a aquisição de área própria, para refazerem sua aldeia e tentarem resgatar suas tradições. (Disponível em merciogomes.blogspot.com). O POVO PARAKANÃ, OU MELHOR, AWAETÉ O povo Parakanã se autodenomina Awaeté, que significa “gente de verdade”. A língua dos

Parakanã pertence à família Tupi-guarani. Os Parakanã sempre se situaram entre os rios Xingu e Tocantins, em área do atual município de Tucuruí. A construção da Estrada de Ferro Tocantins, a partir da década de 1920, trouxe os primeiros conflitos dos indígenas com os brancos. Anos mais tarde, quando ainda se processava a lenta tentativa de construção da ferrovia, tais confrontos provocaram uma crise entre o Marechal Rondon e o político paraense Magalhães Barata. Em 1944, o engenheiro-diretor da Estrada de Ferro Tocantins, Carlos Teles, estando em presença de Magalhães Barata, autorizou os funcionários da empresa a atirarem nos índios,

assim que os avistassem na ferrovia. Uma incursão de 30 homens armados, chefiados por Teles, não encontrando os Parakanã, destruiu sua aldeia. Em 1949, Magalhães Barata enviou telegrama para o Marechal Rondon, reclamando que o representante do Serviço de Proteção aos Índios, em Tucuruí, estava impedindo os policiais de afugentarem os Parakanã, os quais, “armados com rifles, ameaçavam os moradores da cidade”. Em resposta, Rondon negava que os Parakanã usassem armas de fogo e declarava que os ataques indígenas eram uma resposta às violências que sofriam e às chacinas “em que se destacavam as perversidades do paranóico “Pá Virada” contra indefesos curumins assassinados pelo infame processo de esfacelar-lhes os crânios de encontro aos troncos das árvores”. “Pá Virada” ou “Pá Torta” era um bandido famoso pelas crueldades e violência que empregava contra os índios. Na década de 1970, com a abertura da Rodovia Transamazônica e a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, iniciaram-se os contatos da FUNAI com os Parakanã, que viviam dispersos, formando grupos isolados. Somente em 1984 foi contatado o último grupo. Hoje os Parakanã habitam uma Terra Indígena de 351 mil ha, nos municípios de Repartimento, Jacundá e Itupiranga. Ali mantém cinco aldeias. Há outra área dos Parakanã nas proximidades do rio Xingu, municípios de Altamira e São Félix do Xingu. A população indígena Parakanã, que em 1984 era de 347 pessoas, passou em 2004 a somar 900 indivíduos.

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história

O POVO XIKRIN DO CATETÉ Os Xikrin do Cateté pertencem ao grupo Kaiapó, nome do povo e da língua que utilizam. Localizam-se atualmente nas proximidades do rio Cateté, afluente do rio Itacaiúnas, em área de mata rica em mogno e castanheiras. Antes da ocupação do homem branco, os Xikrin do Cateté viviam numa área mais extensa, ocupando temporariamente diversas aldeias espalhadas pelo sul paraense. Com a entrada de caucheiros e castanheiros iniciaram-se as hostilidades, que culminaram com o massacre de 180 índios, em 1930. Os Xikrin mudaram-se, então, para os arredores do rio Bacajá e cabeceiras do rio Itacaiúnas; mas como essa área também era rica em castanheiras, em breve novos choques ocorreram, obrigando o grupo indígena a retornar para o rio Cateté.

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A partir de 1966 os padres dominicanos Frei Gil Gomes Leitão e Frei José Caron passaram a viver entre os Xikrin, dando assistência médica e orientação sobre formas de sobrevivência econômica. A terra ocupada pelos Xikrin passou a ser invadida por madeireiros, a partir de 1977; mas como nessa época a área já estava delimitada e demarcada, pertencendo legalmente aos índios, houve processo judicial para retirada dos invasores. Apesar das muitas violências sofridas, os Xikrin conseguem, hoje, manter as tradições, o emprego da língua kaiapó e o respeito pela natureza. Em 2010 a população Xikrin era de 1.631 pessoas. (Fonte: FUNASA). Em abril de 2008 as festas do Dia Nacional dos Povos Indígenas, realizadas na Aldeia Xikrin do Cateté, duraram quatro dias e foram testemunhadas por jornalistas e outros convidados.

A FUNDAÇÃO DO BURGO Burgo do Itacaiúna / 1926 Fotografia de A. Bastos Acervo Fotográfico Miguel Pereira

Houve casamentos, danças religiosas e a Festa do Marimbondo, tradicional rito de passagem dos jovens guerreiros Xikrin. PELO RIO TOCANTINS, DESDE 1590 Os rios Tocantins e Araguaia eram conhecidos dos brancos desde 1590, quando os bandeirantes paulistas Domingos Luiz Grou e Antonio de Mace-


do realizaram uma expedição até esta região. Depois deles, muitos viajantes aventuraram-se por estes rios em busca das chamadas “drogas do sertão”: canela, baunilha, pau-brasil, plantas medicinais, peles de animais, aves ou penas, e também ouro e pedras preciosas. Seguiram-se muitas expedições de aventureiros em busca de riquezas ou apresamento de índios, e viagens de padres jesuítas que desejavam catequizar e atrair tribos indígenas para as missões situadas nos arredores de Belém. A CRIAÇÃO DE GADO LEVA AO POVOAMENTO A pecuária teve início no Brasil a partir do Nordeste, onde o gado bovino era criado para dar apoio à indústria açucareira: ele servia para

transportar a cana, movimentar as moendas, fornecer a matéria-prima para a confecção de utensílios de couro, alimentar os trabalhadores e usineiros. Aos poucos a procura por carne e couros foi aumentando, o que provocou a expansão da pecuária. Inicialmente a criação de gado dependia da ocorrência de pastagens naturais, pois não se pensava ainda no cultivo de capim. Por esse motivo os rebanhos foram se espalhando pelas áreas de campos, atingindo o sul do Maranhão, região denominada “Sertão dos Pastos Bons”, em meados do século XVIII. As primeiras cidades do sul do Maranhão e da antiga parte norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins, começaram a surgir no século XIX: Carolina, Grajaú, Boa Vista do Tocantins (atual Tocantinópolis), Barra do Corda, Porto Franco,

As lutas de Boa Vista provocaram, a partir de 1892, o êxodo de muitas famílias que buscaram lugares mais calmos para viver e produzir, sem os riscos de ataques de bandos armados. Essas famílias mudaram-se para cidades próximas, como Imperatriz e Grajaú, ou seguiram para regiões ainda pouco habitadas, nas margens dos rios Tocantins ou Araguaia.

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São Vicente (atual Araguatins) e Imperatriz, que se chamava inicialmente Santa Tereza da Imperatriz. A partir de 1873 foi aberto um “caminho de gado”: uma estrada que, beirando o rio Tocantins, ligava o sul do Maranhão a Belém. Na verdade essa estrada era simplesmente uma trilha, que permitia o transporte das boiadas, a pé e apenas durante os períodos de seca. E, Marabá? Bem, nossa cidade ainda demorou algum tempo para surgir. Mas, no final do século XIX, fixaram-se nestas margens tocantinas, onde deságua o rio Itacaiúnas, os primeiros habitantes não indígenas. É o que veremos a seguir. O BURGO DO ITACAIÚNAS E A DESCOBERTA DO CAUCHO Foi assim que uma catástrofe política povoou o deserto” (Carvalho, p. 229). Vamos nos situar: Em 1889 o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República brasileira, sendo eleito presidente em 1891, tendo como seu vice o candidato da chapa oposicionista, Marechal Floriano Peixoto. No final de 1891, Deodoro da Fonseca renunciou ao cargo, assumindo a presidência o Marechal Floriano Peixoto. Este tratou imediatamente de destituir os governadores que eram fiéis a Deodoro, causando com essa medida uma grande agitação política em todo o País. Veremos agora como essa agitação afetou a história de Marabá – uma cidade que ainda nem existia. A REVOLUÇÃO DE BOA VISTA DO TOCANTINS No Estado de Goiás os seguidores de Floriano Peixoto eram liderados por Leopoldo de Bulhões, enquanto seus opositores reuniam-se em torno de um partido católico comandado pelo cônego Inácio Xavier da Silva. Bem ao norte de Goiás (hoje Estado do Tocantins) localiza-se a cidade de Tocantinópolis, então denominada Boa Vista do Tocantins. Em Boa Vista dominava o Coronel Carlos Gomes Leitão, florianista, que tinha o apoio de Leopoldo de Bulhões. Mas a oposição ao Coronel Leitão também era forte, reunindo-se em torno do Prefeito (na época denominado Intendente) Francisco Maciel Perna. As hostilidades entre os grupos do Coronel Leitão e de Maciel Perna aumentaram a partir de 1892, resultando em sérios confrontos arma-

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dos. O padre dominicano Frei Gil de Vilanova, que residia na cidade de Porto Nacional, foi chamado para intermediar a paz. Por infelicidade, no momento das negociações um seguidor de Maciel Perna, exaltado, matou Alexandre Gomes, irmão do Coronel Carlos Leitão. A situação agravou-se, com lutas e mortes em toda a região. Conseguindo o apoio de forças federais vindas do Maranhão, o Coronel Leitão tomou o poder

em 1893; mas grande parte da população de Boa Vista juntou-se a Maciel Perna, cercou a cidade e conseguiu um tratado de paz, lavrado com a autoridade policial. Leitão discordou, provocou a substituição da autoridade policial e retomou o controle da cidade. Novas lutas ocorreram em 1894; os seguidores de Maciel Perna cercaram Boa Vista durante um mês, e a fome obrigou o grupo liderado por Carlos Leitão a capitular, em setembro de 1894.


A DESCOBERTA DO CAUCHO

A DESCOBERTA DO CAÚCHO O Caúcho / 2011 Artista: Domingos Nunes Acervo Pinacoteca Municipal Pedro Morbach

tins ou Araguaia. Dessa forma surgiram Santa Maria das Barreiras, em 1892, Conceição do Araguaia, em 1897, e Itupiranga, fundada em 1892 por Lúcio Antonio dos Santos. Após a capitulação, em 1894, o Coronel Carlos Leitão seguiu para Belém, conseguindo o apoio financeiro do governador Lauro Sodré para fixar-se com cerca de 100 pessoas nas proximidades do rio Itacaiúnas, onde planejava instalar uma colônia agrícola. A FUNDAÇÃO DO BURGO

O ÊXODO PROVOCADOE PELA REVOLUÇÃO As lutas de Boa Vista provocaram, a partir de 1892, o êxodo de muitas famílias que buscaram lugares mais calmos para viver e produzir, sem os riscos de ataques de bandos armados. Essas famílias mudaram-se para cidades próximas, como Imperatriz e Grajaú, ou seguiram para regiões ainda pouco habitadas, nas margens dos rios Tocan-

Muitos dos seguidores do Coronel Leitão já se encontravam nas proximidades do rio Itacaiúnas, onde tentaram se estabelecer no local denominado “Quindangues”. Mas como ali foram frequentes os casos de febres (provavelmente devido à malária), o grupo resolveu mudar-se para as margens do rio Tocantins, num local que dista dezoito quilômetros da atual cidade de Marabá. Instalou-se ali o “Burgo Agrícola do Itacaiúnas”, no dia 5 de agosto de 1895. Um relato do escritor Ignacio Baptista de Moura informa que, em 1896, havia no Burgo do Itacaiúnas 222 habitantes; as roças estavam produzindo e iniciava-se a criação de gado. Um fato interessante relatado por Ignacio Moura: nesse ano de 1896 uma “extraordinária enchente” atingiu o Burgo, inundando barracas construídas mais próximo ao rio Tocantins. Talvez por esse evento Moura tenha encontrado os 222 habitantes instalados em apenas 28 barracas. No ano seguinte, porém, o viajante francês Henri Coudreau encontrou no local apenas 80 moradores, e atribuiu o fracasso da colônia agrícola à atração dos moradores pela exploração do caucho e coleta da castanha-do-pará.

Em busca de campos naturais para a criação de gado, os habitantes do Burgo Agrícola do Itacaiúnas empreenderam várias incursões através dos igarapés, rios e matas que cercavam a região, sem, entretanto, alcançarem resultados satisfatórios. Dois criadores de gado, os irmãos Hermínio e Antonio Pimentel, naturais de Riachão, no Maranhão, ao trazerem uma boiada de Carolina para a feira anual do Pará, foram obrigados a permanecer algum tempo no Burgo, pois ali chegaram pelo final do ano – no inverno, portanto – e o rio Tocantins estava cheio, impedindo a travessia dos animais. Entusiasmados com a ideia de descoberta de campos naturais, organizaram algumas expedições. Numa delas, no final do ano de 1896, descobriram que certas árvores muito comuns nas margens dos rios Itacaiúnas e Tocantins eram pés de caucho, árvores produtoras de látex, à semelhança das seringueiras. Iniciou-se, a partir daí, a exploração sistemática do látex, que estava tendo aceitação crescente no mercado externo, sendo usado na fabricação de pneus e de aparelhos para laboratórios. Quanto à castanha-do-pará, bem mais abundante na região, não tinha naquela época grande valor comercial, sendo colhida apenas para o consumo local. A EXPLORAÇÃO DO CAUCHO O caucho é uma das espécies vegetais produtoras de látex, como também o são a seringueira, a mangabeira, a maçaranduba ou balata, dentre outras. O nome científico do caucho que era encontrado em Marabá é Castilloa elástica, árvore que alcança de quinze a vinte metros de altura, tendo seu tronco cerca de meio metro de diâmetro. O látex extraído dos pés de caucho coagulava e era em seguida recolhido, lavado e prensado, formando as pranchas. Essas pranchas, amarradas umas às outras com cipós, denominavam-se “miricicas” e eram transportadas como se fossem balsas, rio abaixo, por homens que as conduziam com forquilhas às mãos, para desviar de pedras, remansos e ilhotas. A borracha do caucho é inferior à da seringueira; além disso, seu processo de exploração tem uma característica cruel: em vez de se fazer incisões

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história

A exploração do caucho na região próxima ao Burgo do Itacaiúnas atraiu multidões de homens, vindos principalmente do Maranhão e do norte de Goiás, mas também do Piauí, do Ceará e de outros Estados nordestinos.

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no caule, o que permitiria a exploração de cada árvore por anos e anos, como é o caso da seringueira, o caucho é sangrado a golpes de machadinha e depois a árvore é derrubada, extraindo-se então o restante do látex. O motivo alegado para a derrubada do pé de caucho é a sua fragilidade: uma vez golpeada, a árvore morre, ou definha por longo tempo, não renovando a seiva. Ao extrair todo o látex da árvore, era possível obter até 30 quilos do produto. Isso fazia com que o caucheiro (o homem que coletava o látex do caucho, às vezes denominado também seringueiro) se deslocasse constantemente, em busca de novas árvores, para extrair delas todo o látex. E é por esse motivo que não existem mais, nas áreas remanescentes de mata do sul e sudeste do Pará, nem um só exemplar de caucho!

ENCHENTE DE MARABÁ Fotografia de A. Bastos Acervo Fotográfico Miguel Pereira

UM ERRO HISTÓRICO O pesquisador francês Henri Coudreau empreendeu a exploração do rio Itacaiúnas, no ano de 1897. No relatório da viagem concluiu que “o rio Itacaiúnas é um caminho que não leva a lugar algum (...); nada pode oferecer que não seja a pouco rendosa castanha e um caucho de baixa cotação” (Coudreau8, p.91). Agora, imaginem só! O rio Itacaiúnas e seus afluentes formam-se e banham toda a Serra


dos Carajás: simplesmente a maior província mineral do Planeta! Que “fora”, seu Coudreau! MARABÁ, PRIMEIROS TEMPOS: DA ORIGEM A 1920 “Lá em baixo, no Marabá Houve um grande barulhão; Mataram Ludugério De faca e rifle na mão; Escapou Celso Bandeira Por debaixo de um caixão”. (SAMPAIO, Antonio. Revista Itatocan, mar.1967, p. 12). A exploração do caucho na região próxima ao Burgo do Itacaiúnas atraiu multidões de homens, vindos principalmente do Maranhão e

do norte de Goiás, mas também do Piauí, do Ceará e de outros Estados nordestinos. Entre os aventureiros destacavam-se, desde o início, os comerciantes, muitos deles originários de Grajaú, importante centro de comercialização de gado e peles, naquela época. Eram os comerciantes que traziam para os caucheiros os equipamentos e suprimentos necessários para adentrarem as matas; eram eles, também, que compravam o látex coletado e transformado em pranchas. Foram os comerciantes que fizeram surgir Marabá na foz do rio Itacaiúnas, ponto estratégico para o escoamento da produção de látex do rio Itacaiúnas, seus afluentes e rio Tocantins. Conta a tradição que, a 7 de junho de 1898, o maranhense Francisco Coelho da Silva, originário de Grajaú, inaugurou um barracão comer-

cial, no ângulo formado pelos rios Tocantins e Itacaiúnas, local denominado Pontal, em alguns documentos antigos. Também se diz que o nome Marabá foi dado, por Francisco Coelho da Silva, à sua casa comercial: era uma homenagem ao grande poeta maranhense Gonçalves Dias, autor do poema denominado “Marabá”. Francisco Coelho da Silva Em O Sertão, de autoria de Carlota Carvalho, lê-se que Francisco Coelho era ex-sargento do Exército e que havia trabalhado como seringueiro no Estado do Amazonas, às margens dos rios Purus, Juruá e Javari, onde conheceu também o caucho. Contraindo malária, voltou para o Maranhão, casou-se e instalou açougue em Grajaú. Espírito aventureiro, sentiu-se atraído pelo povoamento do Itacaiúnas e, com ajuda de parentes de Carlos Leitão, foi residir no Burgo.

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história

Em 1919, com a crise da borracha, houve mais um conflito, desta vez de cunho político: o coronel João Anastácio de Queiroz, alegando perseguição política, depôs o Intendente, Pedro Peres Fontenelle, acusando-o de autoritário. O coronel Queiroz armou a população e conseguiu um acordo com o chefe do destacamento militar, enviado pelo governo do Estado; dessa forma ele tomou o poder. Este conflito marca o momento do declínio do caucho e o início da exploração da castanha-do-pará.

No entanto, desejando ter mais liberdade para realizar seus projetos, saiu do Burgo e instalou-se no Pontal, em 1898. O Barracão Marabá era um comércio, onde Francisco Coelho vendia tudo aquilo que os homens que trabalhavam com a extração do caucho necessitavam. Alem disso, o Barracão era um açougue. O proprietário trouxe consigo 70 bovinos acreditando encontrar pastos naturais, achando ia fazer bons negócios com o rebanbo. (Guerra. 2004, p. 55). Além de vender bebida alcoólica, o estabelecimento contava ainda com mulheres solteiras que ficavam a disposição daqueles homens que passavam tanto tempo na mata. Com a notícia de

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FUNDADOR DE MARABÁ

Escultura de Francisco Coelho da Silva


que havia no povoado do Pontal um barracão de divertimentos para os trabalhadores da mata, o comércio de Francisco Coelho aumenta a freguesia, e consequentemente, o povoado do Pontal ia crescendo cada vez mais.* (Arão Marque da Silva, 2010). Logo o noe do ponto comercial passou a designar a pequena vila que ali se foi formando. Marabá surgiu e cresceu rapidamente, pois a notícia dos lucros com a exploração do caucho correu pelo sertão maranhense e nordestino. A historiadora Carlota Carvalho, em seu interessante livro O Sertão, assim relatou: Desde o Piauí, todo o sertão exportou víveres, carne de porco; toucinho, farinha seca e de puba, açucar, rapadura, cachaça, tabaco, doces, queijos, galinhas, ovos, bois vivos, porcos e vacas paridas, até laranjas, abóboras e inhames para a fantástica e maravilhosa Marabá, surgida de repente, como obra de magia, na foz do escuro rio Tacaiúna”. (CARVALHO, p. 221). AS LUTAS E AS ENCHENTES DOS PRIMEIROS TEMPOS O Coronel Carlos Gomes Leitão faleceu no Burgo de Itacaiúnas no dia 13 de abril de 1903, em situação de grande penúria. Esse fato possivelmente assinalou o fim do Burgo e a mudança dos últimos moradores para o pontal do Itacaiúnas. No ano seguinte, 1904, uma briga entre patrões de caucheiros e seus capangas permaneceu na memória dos antigos marabaenses. Antonio de Araújo Sampaio assim escreveu: “As brigas e os atritos se originavam por qualquer discussão sem importância. A lei, o direito, eram ditados pela voz do ‘44’ de papo amarelo. A autoridade era o patrão que dispusesse de maior número de seringueiros ou capangas às suas ordens. Os tiroteios e as desordens eram constantes. Mas a que alcançou maior repercussão e proporções aconteceu em 1904, entre dois grupos armados que travaram um intenso tiroteio, apoiados pelos patrões Francisco Casimiro e Celso Bandeira. Este último fugiu com seus homens depois de ferido, deixando um deles, de nome Ludgério, morto no local da luta. Celso Bandeira escapou à fúria de seus adversários refugiando-se em casa do coronel Atanásio Gomes, onde ocultou-se sob uma caixa de madeira.” (SAMPAIO, Antonio. História de Marabá. Revista Itatocan, mar. 1967, p. 12).

Talvez para controlar brigas como essa, o governo do Pará transferiu, pelo Decreto nº 1344-A, de 23 de dezembro de 1904, a sede da Circunscrição Judiciária e Subprefeitura do Burgo para Marabá. Nesse decreto apareceu, pela primeira vez em documento oficial, a denominação “Marabá”. Por esse tempo Marabá chegava a ter 1500 habitantes, porém mais da metade era constituída por pessoas que ali viviam por temporadas, para o trabalho nas matas de caucho. Em 1906, e depois novamente em 1910, enchentes mais violentas destruíram os casebres e barracões comerciais de Marabá. Alguns comerciantes pensaram em mudança da povoação para lugares mais altos, mas a localização era excelente, do ponto de vista comercial, e tudo foi reconstruído. Um grave conflito ocorrido em Marabá ficou conhecido como “Rebelião dos Galegos” e teria ocorrido em 1908. A questão envolveu interesses do comerciante goiano Norberto de Melo, estabelecido em Marabá desde os primeiros tempos, em oposição a comerciantes sírios e libaneses, denominados “galegos”. Foi tão sério o conflito que, diz a tradição, o governo do Pará enviou um representante para mediar a questão. A queda nos preços da borracha provocou outro conflito, em 1917. Alguns caucheiros chegaram a Marabá para vender a borracha coletada, mas, não encontrando comprador, resolveram saquear o comércio local. Os comerciantes reagiram à bala, causando várias mortes. Em 1919, com a crise da borracha, houve mais um conflito, desta vez de cunho político: o coronel João Anastácio de Queiroz, alegando perseguição política, depôs o Intendente, Pedro Peres Fontenelle, acusando-o de autoritário. O coronel Queiroz armou a população e conseguiu um acordo com o chefe do destacamento militar, enviado pelo governo do Estado; dessa forma ele tomou o poder. Este conflito marca o momento do declínio do caucho e o início da exploração da castanha-do-pará. “O então humilde povoado foi-se transformando em tumultuoso aglomerado humano, onde a lei era quase desconhecida e se primava pelo rápido enriquecimento, sendo válidos todos os recursos. Mas, já naquela época, o pequeno vilarejo também hospedava homens de relativo conhecimento, o que provocou as primeiras ideias de independência”. (MARABÁ, p.99).

A INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO: CINCO DE ABRIL DE 1913 Marabá crescia, mas não tinha escola, nem correio, nem autoridades. Dependia de Baião para todas as decisões, e nem sempre os marabaenses eram atendidos em suas petições e necessidades. Pedidos de desmembramento do município foram encaminhados ao governo do Pará, mas não foram aprovados. Os comerciantes então se uniram e, orientados por João Parsondas de Carvalho, advogado provisionado, iniciaram entendimentos com o governo de Goiás para que Marabá fosse incorporada àquele Estado. Foi uma atitude astuciosa, pois serviu para alertar o governo paraense que, afinal, atendeu à reivindicação, sancionando a Lei nº 1278 que criou o município de Marabá, a 27 de fevereiro de 1913. A instalação do município de Marabá ocorreu pouco tempo depois, no dia cinco de abril de 1913. Em 1914 Marabá passou a ser sede de Comarca, pelo Decreto nº 3057, de sete de fevereiro de 1914. O primeiro Juiz de Direito, doutor José Elias Monteiro Lopes, procedeu à instalação da Comarca a 27 de março de 1914 O DECLÍNIO DA EXPLORAÇÃO DO CAUCHO A exploração do caucho na região de Marabá iniciou-se quando a produção amazônica estava no auge, em fins do século XIX. Pouco depois, a partir de 1912, os preços começaram a cair, o que se acentuou com o final da Primeira Guerra Mundial, em 1919. O motivo desse desinteresse pelo látex brasileiro foi o início da produção racional da borracha em seringais cultivados, na Malásia e outros países asiáticos. A borracha cultivada entrou no mercado mundial com preços mais baixos, conquistando os países compradores. Com a queda nas vendas, a crise foi terrível em toda a Amazônia, com graves reflexos nas capitais, Manaus e Belém. Marabá teve a sorte de encontrar uma saída: a exploração da castanha-do-pará, que começava a apresentar interesse no mercado mundial. Adiante veremos, com detalhes, como se processou o importante ciclo da castanha-do-pará. Marabá, de 1923 a 1940. “Apesar de tudo, a cidade guarda muito do seu

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caráter provisório, dado o fato do predomínio praticamente absoluto deuma atividade sazonal, não permitir que boa parte da população se fixe em definitivo” (VELHO, p. 57). ELEVAÇÃO DE MARABÁ À CATEGORIA DE CIDADE: 1923 A vila de Marabá, sede municipal desde cinco de abril de 1913, foi afinal elevada à categoria de cidade, a 27 de outubro de 1923, pela Lei Estadual nº 2207. A solenidade de instalação, em Marabá, deu-se no ano seguinte, a 13 de maio de 1924. Nessa época a população local chegava a 2.000 pessoas. Um fato importante ocorrido no ano anterior, 1922, foi a extinção do município de São João do Araguaia, que passou a pertencer ao município de Marabá, por decreto, a partir de 29 de dezembro de 1923. ACONTECIMENTOS E PROGRESSOS Em 1925 formou-se em Marabá a Associação Marabaense de Letras, reunindo as pessoas cultas da cidade. Essa Associação publicou três números de uma revista intitulada “Marabá”.

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Os principais membros da Associação Marabaense de Letras foram: o juiz Doutor Ignacio de Souza Moitta, o dentista Francisco de Souza Ramos, o secretário municipal Arthur Guerra Guimarães, o jovem professor Antonio Bastos Morbach, o farmacêutico Manoel Domingues, o poeta e microscopista Lauro Paredes, o químico Arthur de Miranda Bastos, o médico e poeta João Pontes de Carvalho, e ainda: Antonio de Araújo Sampaio, Afro Sampaio, Guilherme Bessa de Oliveira, Olímpio Fialho, Maria Salomé Carvalho, Aprígio Ottoni, João Montano Pires, Alfredo Rodrigues de Monção. Em 1926 uma grande enchente inundou a cidade, destruindo casas e expulsando todos os moradores. No mesmo ano, o preço da castanha sofreu forte desvalorização, reduzindo ainda mais a renda dos moradores. Passada a enchente, a cidade foi reconstruída no mesmo local. A partir de 1927 Marabá passou a ser o maior produtor de castanhas da região tocantina. Em 1928 foi fundada a primeira “loja maçônica” de Marabá: “Firmeza e Humanidade Marabaense”, com 22 membros. No ano de 1929 a cidade recebeu iluminação, através de uma usina de geração de energia, à base de lenha.

No dia 3 de outubro de 1931 foi inaugurado o Mercado Municipal, na Rua 5 de abril, ao lado da Igreja de São Félix de Valois. Ainda em 1931 chegou a Marabá o primeiro hidroavião, um “Catalina” da empresa Condor. Nesse mesmo ano veio a Marabá, de barco, o Coronel-aviador Lysias Augusto Rodrigues, permanecendo na cidade por uma semana. Sua missão foi a de escolher uma área adequada para o aeroporto, e entabular negociações com as autoridades municipais para o preparo do terreno. Somente quatro anos depois, a 17 de novembro de 1935, inaugurou-se o aeroporto de Marabá – na ocasião apenas uma pista de terra – com o pouso do avião monomotor Waco CSO C-27, do Correio Aéreo Militar, pilotado pelo mesmo Coronel Lysias. Nessa ocasião era prefeito de Marabá o Dr. Francisco de Souza Ramos. Em 1935, conforme relato do Dr. Júlio Paternostro, no seu livro Viagem ao Tocantins, a cidade de Marabá tinha 460 casas, a maioria construída de palha. A população fixa era de 1.500 habitantes, número que dobrava no período da safra da castanha. Não havia cais, nem arborização nas ruas, nem água encanada, nem hotéis. A cidade contava com um pequeno pos-


FOTOGRAFIA DE JORDÃO NUNES

FOTOGRAFIA DE A. BASTOS. ACERVO FOTOGRÁFICO MIGUEL PEREIRA

to de saúde do Estado, como único recurso médico. No ano de 1939 foi inaugurado o Grupo Municipal José Mendonça Vergolino, com seis salas de aula e um salão. Marabá recebeu a visita de membros da família real brasileira, em setembro de 1937: D. Pedro de Orleans e Bragança (filho do Conde d’Eu e da Princesa Isabel; era, portanto, neto de D. Pedro II), seus filhos Pedro Gastão (então com 24 anos) e Maria Francisca (com 23 anos). Integrava a comitiva real o fotógrafo austríaco Mário Baldi (1896 – 1957), que em diversas viagens ao interior brasileiro registrou a vida de índios Bororo e Carajá. Em 1940 a população fixa de Marabá era de 2.984 habitantes. Ainda em 1940, o Tenente Umberto Peregrino, pousando em Marabá num avião Lockeed, observou que a cidade: “é um aglomerado flutuante, não há nenhum vínculo, nenhuma solda à terra. Quando termina a safra, ao entrar a seca, para tudo, Marabá murcha e esvazia-se de milhares de sertanejos. Por isso que Marabá não tem colégios, nem hospitais, nem clubes, nem cinemas, nem estradas. Tem ‘bares’ e desenvolvida prostituição, ativos ou paralisados, segundo o ritmo da castanha.”

Vamos, agora, voltar um pouco no tempo, para traçarmos o percurso do ciclo da castanha-do-pará. O CICLO DA CASTANHA-DO-PARÁ “O castanheiro era um explorado em todo o processo, trabalhando por preços vis, comprando mercadorias a preços avultados, e ainda sendo ludibriado na medida do produto”. (Hilmar Kluck. Os castanheiros. Marabá, 1984, p. 176). Muitos foram os produtos extraídos nas matas desta parte da Amazônia: caucho, castanha-do-pará, óleos de copaíba e andiroba, peles de animais, madeiras, plantas medicinais, coco babaçu. Dentre todos, a exploração da castanha-do-pará foi a atividade extrativista preponderante em Marabá, até meados dos anos 80 do século XX. Essa atividade foi responsável pelas grandes fortunas dos proprietários de castanhais e pelo crescimento da cidade. Os homens que trabalham na coleta e quebra dos ouriços são chamados “castanheiros”. A castanha era exportada, até o início da 2ª Guerra Mundial, principalmente para a Inglaterra e a Alemanha. O porto inglês de Liverpool era o principal receptor. Durante a 2ª Guerra (1939 – 1945), os Estados Unidos passaram a ser os únicos compra-

dores estrangeiros. Após esse período, os americanos conservaram a liderança na importação da castanha brasileira, através dos portos de Nova York e Los Angeles. O INÍCIO DA EXPLORAÇÃO, A PARTIR DE 1920 Nos primeiros anos de existência de Marabá, a castanha-do-pará era coletada apenas para o consumo local. Depois, no período que vai de 1913 a 1920, já ocorria alguma exportação, embora de pequeno impacto na economia local. Em 1913, por exemplo, Marabá exportou apenas 20 hectolitros. O ano de 1920 marca o início da exploração da castanha-do-pará em grande escala, coincidindo com a desvalorização da borracha. Assim, em 1921, a produção já chegava a 27.965 hectolitros e, em 1923, alcançava 61.700 hectolitros de castanha. Depois, em 1927, Marabá passa a fornecer 60% de toda a castanha do Estado, suplantando as regiões de Alenquer e Óbidos. Toda a castanha ia para Belém e de lá era exportada. A Europa descobria o valor da castanha-do-pará, empregada na fabricação de doces e na extração do óleo para fins medicinais e cosméticos.

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história

TRANSPORTE DE CASTANHAS Baldeação de Castanhas/ 1926 Fotografia de A. Bastos Acervo Fotográfico Miguel Pereira

trazidas de Belém no retorno dos barcos que levavam a castanha; essas mercadorias eram então distribuídas, rio acima, para as cidades ribeirinhas, e delas para o sertão. SISTEMA DE EXPLORAÇÃO E COMÉRCIO DA CASTANHA

Se, na época do caucho, Marabá tornara-se importante mercado consumidor de produtos do sertão, com o ciclo da castanha intensificaram-se tais importações. Mais que isso, Marabá transformou-se em porto de intercâmbio comercial com todo o médio Tocantins, servindo às localidades do norte goiano e do sul do Maranhão. A partir de 1920 desenvolveu-se mais amplamente a navegação em barcos a motor, o que favoreceu o transporte de mercadorias,

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No início a castanha-do-pará foi explorada no sistema de extração livre; não havia patrão, as terras não tinham dono. Com a crescente valorização do produto, pessoas mais abonadas – geralmente os comerciantes – passaram a contratar castanheiros,ou financiá-los. Aos poucos esses patrões, valendo-se de apoio político, obtiveram, do governo estadual, direitos sobre os melhores castanhais, e passaram a exercer o monopólio comercial. Como num círculo vicioso, o poder econômico trouxe a esses patrões o do-

mínio da política local. Foi assim que surgiram os grandes donos de castanhais, chefes políticos que controlavam a cidade, o comércio e a produção de castanha, desde a extração até a exportação. Por volta de 1925 implantou-se o sistema de arrendamento de castanhais: era uma espécie de aluguel, os castanhais eram entregues pelos chefes políticos a determinadas pessoas, para serem explorados durante uma safra. O TRANSPORTE DA CASTANHA O principal sistema de transporte da castanha era o fluvial. No trajeto entre os castanhais e Marabá empregavam-se, inicialmente, os batelões, grandes barcos impulsionados por ganchos e forquilhas, com auxílio do remo e da voga. Álvaro de Barros Lima conta que: “A aproxima-


PRODUÇÃO DE CASTANHAS Castanheiros a espera do Barco, 1926. Fotografia de A. Bastos. Faz parte do acervo do arquivo Fotográfico de Miguel Pereira.

ção dos batelões era anunciada pelo tan-tan cadenciado dos calcanhares dos barqueiros, batendo o convés da embarcação, acompanhado de quadrinhas alusivas às suas vidas, seu trabalho e seus amores”. Posteriormente passou-se a usar também os “pentas”, barcos com motores de popa e capacidade para nove a dez toneladas. Para o transporte entre Marabá e Tucuruí, ou Belém, usavam-se os “motores”, barcos de maior

calado, dotados de motores a diesel instalados no centro da embarcação. Havia nesse trecho do rio Tocantins perigosas cachoeiras e corredeiras, especialmente nas proximidades das antigas povoações de Jacundá e Jatobal. DONOS DE CASTANHAIS, CHEFES POLÍTICOS Na década de 1920 intensificou-se no Pará a formação de latifúndios. A posse de grandes áreas foi decisiva para a consolidação do poder econômico e político de alguns grupos ou famílias. Esse poder concentrado nas mãos de poucos é denominado oligarquia. Na região castanheira do rio Tocantins o poder oligárquico, a partir de 1920, passou a ser exercido pelo político e comerciante de castanha Deodoro de Mendonça, juntamente com fami-

liares e amigos. Nascido em Cametá, Deodoro de Mendonça era sócio da firma Dias & Cia. que, representada por seu cunhado, Lusignan Dias, fixou-se em Marabá no ano de 1927. Aqui a empresa contratava os arrendamentos de castanhais, tendo a posse de muitos deles e dominando a compra e o transporte da castanha. Em 1930, com a chamada “Revolução de 30”, de cunho militar, assumiu o governo do Pará o interventor Magalhães Barata. Este deu forças a uma firma de comerciantes de castanha denominada A.Borges & Cia., que passou a controlar os melhores castanhais e a comercialização do produto. No entanto, em 1935, passando o governo estadual às mãos de José da Gama Malcher, e exploração dos castanhais voltou às mãos de Deodoro de Mendonça. Nesta segunda fase, porém, o domínio não foi absoluto, pois havia a concorrência da firma A. Borges & Cia. De seu

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história

A busca por diamantes no leito dos rios Tocantins e Araguaia, iniciada desde as cabeceiras, em Goiás, foi avançando rios abaixo e acabou chegando a Marabá. A primeira notícia da descoberta de diamante refere-se a meados da década de 1920, quando chegou a Itupiranga o baiano Miguel Novaes, ou “Miguel Mutengo”, que fez explorações nos rios Cametá Grande e Cametauzinho.

titular, Antonio Borges, partiram violentas acusações contra Deodoro de Mendonça, no ano de 1938. Embora abalado por denúncias de “negociatas escandalosas”, o poder de Deodoro de Mendonça resistiu até fins dos anos 40. “Negociatas Escandalosas” . Em documento encaminhado ao presidente da República, Antonio Borges denunciou as “negociatas” que Deodoro de Mendonça e outros políticos realizaram para apropriar-se de castanhais e dominar o comércio de castanha. Borges afirmou que parentes e amigos de Mendonça requeriam áreas de castanhais para exploração e, a seguir, repassavam essas terras para ele, ”em pagamento de dívidas”. Posteriormente tais apropriações passaram a ser feitas sem qualquer intermediário; os castanhais de serventia pública, ou “castanhais do município” passaram para as mãos de Deodoro de Mendonça; áreas arrendadas para opositores políticos eram simplesmente transferidas para Mendonça, seus parentes e correligionários. O GRUPO MUTRAN Vinda de Grajaú, a família de sírios liderada por Nagib Mutran fixou-se em Marabá no final da década de 1920. Trabalhando inicialmente como “aviados”

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da firma A. Borges & Cia, os Mutran passaram a arrendar ou comprar castanhais, firmando-se economicamente e entrando na política local. Na década de 1940, com a retirada da firma Dias & Cia. do comércio marabaense, o grupo que passou a se destacar no controle econômico da castanha foi o de Mutran. Ligando-se ao governador Gama Malcher, Nagib Mutran liderou, em Marabá, o partido político UDN e, após duas tentativas frustradas, conseguiu eleger-se prefeito municipal, em 1958. Nessa época os castanhais pertencentes à oligarquia Mutran somavam mais de 45 mil hectares. COMO SE PROCESSAVA A EXTRAÇÃO DA CASTANHA E A EXPLORAÇÃO DOS HOMENS No processo de extração da castanha trabalha-

vam, diretamente, os castanheiros, os tropeiros, os barqueiros e os estivadores. Indiretamente outras categorias de trabalhadores eram envolvidas: armadores e operários de estaleiros, pequenos comerciantes, lavradores e criadores de gado. Dominando tudo estavam os patrões, ou donos dos castanhais, e os exportadores que adquiriam a produção e encarregavam-se das transações com os compradores estrangeiros. Os castanheiros, ou extratores, penetravam na mata no início do inverno, assim que as cheias permitiam a navegação nos igarapés. O patrão, dono do castanhal, fornecia as mercadorias necessárias e dava um adiantamento financeiro, para o sustento das famílias que ficavam na cidade. Esses gastos iam para a “conta” do castanheiro: era o sistema de aviamento, ou, como se dizia, a “aviação” .


carregava 150 litros ou mais! Havia também casos de castanheiros que enganavam os patrões, fugindo com o adiantamento recebido antes do início da safra. Era, pois, um regime selvagem, não havendo compromisso nem respeito de parte a parte. Inicialmente os castanhais explorados situavam-se a pouca distância dos rios e igarapés. Mais tarde, ampliando-se a exploração para o interior, houve a necessidade de emprego de tropas de burros, para a retirada da castanha coletada. Como consequência, abriram-se rústicas estradas e foram construídas pontes de madeira em alguns trechos. O DIAMANTE

Terminada a colheita da safra, iam os castanheiros ao acerto de contas com o patrão. Quase sempre, por mais que o castanheiro trabalhasse, ou por menores que fossem as retiradas de mercadorias no “barracão” do patrão, o encarregado conseguia provar que o saldo do castanheiro era mínimo; algumas vezes ficava até com dívidas! Como era possível isso? Ocorre que os preços das mercadorias fornecidas eram determinados pelo patrão, bem como o valor da castanha, que era pré-fixado, muitas vezes bem abaixo do valor de mercado. Havia ainda a fraude na medida da castanha coletada, que era o hectolitro, uma caixa de madeira com capacidade para 100 litros. Quando o patrão, ou o encarregado, ia medir a castanha colhida, enchia o hectolitro com uma enorme “cabeça”, e assim cada caixa, em vez de conter 100 litros,

A busca por diamantes no leito dos rios Tocantins e Araguaia, iniciada desde as cabeceiras, em Goiás, foi avançando rios abaixo e acabou chegando a Marabá. A primeira notícia da descoberta de diamante refere-se a meados da década de 1920, quando chegou a Itupiranga o baiano Miguel Novaes, ou “Miguel Mutengo”, que fez explorações nos rios Cametá Grande e Cametauzinho. Um dia, subitamente, foi embora, depois de vender um diamante a um comerciante local. Esse garimpeiro deixou, entre seus contemporâneos, a suspeita de que tenha encontrado outros diamantes de maior valor. Somente anos depois, em setembro de 1937, uma descoberta de diamantes na Praia Alta, próximo à embocadura do rio Tauiri, desencadeou a febre do garimpo. Essa descoberta é atribuída ao piloto de barcos Jorge Francisco, oriundo de Porto Nacional. No ano seguinte, 1938, Nicolau Gaby iniciou a exploração no rio Tocantins, mais abaixo, no Puraquequara, e Deusdedith Pinheiro explorou o canal do Capitariquara. A partir daí a população regional passou a dedicar-se alternadamente à coleta de castanha, no inverno, e à garimpagem de diamantes, no verão. Inicialmente a garimpagem foi feita apenas nos pedrais; em seguida passou-se a usar bombas para secar canais, encontrando-se nesses leitos muitas pedras valiosas. Pouco depois, em 1940, iniciou-se a garimpagem dentro d’água, com o uso de escafandros, surgindo então os destemidos mergulhadores que arriscavam a vida na correnteza do rio Tocantins, com equipamentos precários.

No período de 1941 a 1944 estima-se que cerca de dez mil garimpeiros produziram, ao longo de 220 km do rio Tocantins, aproximadamente 68 mil ct ( ), sendo mais de 50% pedras lapidáveis. Cerca de 10% da produção brasileira, nesse período, era fornecida pela região de Marabá. O garimpo do diamante destacou-se durante os anos da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), salvando Marabá de uma crise financeira, pois a exportação da castanha sofria as consequências da guerra: preços baixos e entraves no transporte marítimo para a Europa ou para os Estados Unidos. Com o surgimento dos garimpos, novos lugarejos se formaram: Tauiri, Ipixuna, Bagagem, Sumaúma, São Pedro. As vilas de Jacundá e Itupiranga ganharam movimento, com a abertura de casas comerciais e a chegada de muitos aventureiros. No bairro de São Félix e na vila de Espírito Santo foram fundadas escolas primárias, mantidas pela Fundação de Assistência aos Garimpeiros (FAG), órgão do Ministério do Trabalho. Com o fim da guerra as atividades garimpeiras continuaram, mas aos poucos os veios diamantíferos se esgotaram. O CRISTAL DE ROCHA O cristal de rocha começou a ser explorado na região durante a 2ª Guerra, especialmente entre os anos de 1940 a 1944. A exploração iniciou-se nos garimpos de Xambioá, a beira do rio Araguaia, e posteriormente estendeu-se até a embocadura daquele rio. Um garimpo muito citado e o da Chapada do Chiqueirão, de onde foi retirado, em 1959, bloco de cristal de 286 quilos! A vila de Apinagés, no município de São Joao do Araguaia, também foi centro de uma rica lavra de cristal de rocha. Como o diamante, também o cristal de rocha era uma atividade garimpeira feita no verão, sem maiores conhecimentos técnicos, nem equipamentos. OS ANOS DE 1940 e 1950 OS ”SOLDADOS DA BORRACHA”: NOVA FASE DE EXPLORAÇÃO DO CAUCHO No decorrer da 2ª Guerra Mundial, os seringais cultivados do Oriente foram ocupados pelos japoneses.

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história

Os Estados Unidos viram-se então obrigados a recorrer à borracha brasileira, o que provocou nova corrida aos seringais e cauchais da Amazônia. O governo federal criou então o Banco de Crédito da Borracha, em 1942, estimulando todos os amazônidas a participarem do “esforço de guerra”: o banco passou a comprar toda a borracha produzida, exportando a maior parte e atendendo também à indústria nacional. Na região de Marabá iniciou-se então nova fase de exploração do látex do caucho, planta que ainda era abundante na região de Itupiranga. Instalou-se em Marabá um escritório de representação da “Rubber Development Corporation”, encarregada de adquirir toda a produção. Falava-se na “batalha da borracha” e os caucheiros eram denominados “soldados da borracha”. A produção de caucho exportada por Marabá chegou, em 1946, a 162.773 quilos, mas no ano seguinte reduziu-se quase à metade: apenas 86.051 quilos. Essa segunda fase da exploração do caucho não teve grande importância para a economia de Marabá, pois nessa época a castanha já dominava. Também em âmbito nacional, e apesar do apelo dos Estados Unidos, a produção de borracha foi, nesta fase, muito pequena. DIVISÃO TERRITORIAL EM 1947 Em dezembro de 1947 foi criado o município de Itupiranga, desmembrando-se de Marabá as áreas dos distritos de Itupiranga e Jacundá (a antiga vila de Jacundá, situada às margens do rio Tocantins). A instalação do município de Itupiranga deu-se a 14 de julho de 1948 e o primeiro prefeito foi Gentil Bittencourt Cohen. Com essa divisão, Marabá ficou com um território de 46.159 Km². OS ÚLTIMOS ANOS DA DÉCADA DE 1940 Em 1945 instalou-se um posto de saúde do SESP (Serviços Especiais de Saúde Pública), em Marabá. Dois anos depois, em 1947, foi fundado pelo SESP um Clube de Saúde, no Grupo Escolar, com a finalidade de desenvolver atividades educativas de saúde e fornecer a merenda escolar (o que ocorreu a partir de abril de 1948). O Clube de Saúde contava com uma biblioteca, promovia reuniões, competições esportivas e concursos. Uma grande enchente cobriu Marabá, em março de 1947. Foram atingidas 750 casas da Marabá Pioneira,

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obrigando a população a transferir-se para o bairro do Amapá, abrigando-se em barracões de palha. Terminada a enchente, todos os moradores voltaram à velha península e, mais uma vez, reconstruíram a cidade. O jornal A Safra noticiou, em 1949, a liberação de uma verba federal de “um milhão de cruzeiros” para que a Prefeitura construísse um hospital. Somente em 1952, pelo mês de outubro, foi concluído o primeiro bloco do antigo hospital da Fundação SESP, na Rua Cinco de Abril. Ainda em 1949 foi inaugurado o Curso Santa Teresinha, das Irmãs Dominicanas; com as pioneiras Irmãs Colomba, Maria Deodata, Celina Teresa e Domingas iniciava-se o depois famoso Colégio Santa Teresinha. O final da década de 1940 marca o surgimento de alguns movimentos classistas em Marabá. Em janeiro de 1949 os pilotos de barcos a motor reuniram-se e estabeleceram condições para o trabalho nos rios Tocantins e Araguaia: aceitavam os preços estipulados pela Capitania de Portos, desde que fossem obedecidas as normas do Ministério do Trabalho (8 horas diárias, repouso intermediário, ajuste de contas mensal); caso contrário, ou seja, trabalho dia-e-noite, travessia de perigosas cachoeiras, enfim, a “rotina costumeira”, exigiriam preços estipulados por eles. (Manifesto assinado por 35 pilotos, em A Safra, 1(42):3, de 9.01.1949). Na mesma data os ferroviários da Estrada de Ferro Tocantins pleitearam várias reivindicações, como “abono de Natal e liquidação dos salários atrasados”. ACONTECIMENTOS DOS ANOS 50 Com os trabalhadores se organizando e cobrando direitos, os patrões se alertaram: em 1951 os donos de castanhais criam uma associação de classe, que anos depois vai se transformar no Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá. Aliás, por essa época a maior parte dos “castanhais do município” já está em mãos de particulares; e em 1954 a Lei de Arrendamento de Terras é modificada, permitindo o Aforamento perpétuo: isso leva a um aumento de investimentos nas áreas rurais. O ano de 1957 registra uma nova enchente de grandes proporções, o que não impede que todos voltem para suas casas quando as águas se retiram. A POSSE DA TERRA E O INCREMENTO DA PECUÁRIA

Em 1954 o governo do Estado do Pará introduziu modificações na Lei de arrendamento de terras: castanhais, após curto tempo de arrendamento, passavam às mãos dos arrendatários de forma definitiva, numa forma de aforamento perpétuo. Nessa época, também, muitos dos chamados “castanhais do município” ou castanhais de serventia pública já estavam em mãos de particulares, graças a aforamentos concedidos pela prefeitura. A certeza da posse veio trazer modificações no uso das terras. Os proprietários passaram a investir, abrindo estradas, fazendo roças e, principalmente, aumentando a criação de gado. Outro fator contribuiu para o incremento da pecuária: o aumento da população urbana de Belém e das grandes cidades paraenses, for-


trecho, que vai do rio Araguaia (Porto da Balsa) até Marabá, com extensão de 126 quilômetros. Sem manutenção ou asfaltamento nos trechos que atravessam o Pará e o Amazonas, a Transamazônica, no período das chuvas (outubro a março), torna-se um grande atoleiro, pesadelo de motoristas e moradores que até hoje lutam para torná-la transitável. O AUMENTO DA CONCENTRAÇÃO DE TERRAS

mando dessa maneira um bom mercado consumidor. Também Marabá crescia: se em 1950 tinha menos de 5.000 habitantes, em 1955 já atingia cerca de 6.000 habitantes. Marabá passou então a ampliar suas áreas de pastagens, atendendo ao consumo local e exportando para Belém. Para esse fim, o governo do Estado instalou uma linha de aviões que fazia o transporte do gado abatido. CHEGAM AS ESTRADAS E TUDO COMEÇA A MUDAR Em 1960 foi construída a rodovia Belém – Brasília, que provocou a ocupação e o adensamento populacional do sul do Pará.

Para a região de Marabá abriram-se novas possibilidades comerciais, diminuindo a dependência do mercado de Belém. Os produtos do sul do Brasil passavam a chegar por estrada, até Imperatriz, e a seguir por via fluvial, em barcos que desciam o rio Tocantins, desembarcando em Marabá. Depois, em 1969, abriu-se uma nova estrada: a antiga PA-70, hoje denominada BR-222, ligou a Belém – Brasília a Marabá; embora a estrada fosse precária, possibilitou o tráfego rodoviário e a chegada de ônibus interurbanos. A ligação com Belém deixou de ser feita exclusivamente por via fluvial ou aérea. Quase ao mesmo tempo abriu-se a famosa rodovia Transamazônica, ou BR-230, que pretendia ligar o Nordeste à Amazônia. Em fins de 1971 entregava-se ao tráfego o primeiro

Em 1966 o governo federal criou a SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, e o BASA – Banco da Amazônia, que passaram a aplicar recursos em nossa região, através dos chamados “incentivos fiscais”, sob a forma de crédito a grandes empresas do sul do País e a grupos internacionais. Surgiram os projetos agropecuários, ao lado da expansão de empresas de extrativismo de madeira. A partir daí acelerou-se a destruição das florestas e a transformação de castanhais e áreas de cultivo de roças em pastagens para o gado. Reduziu-se drasticamente a possibilidade de trabalho para muita gente: a pecuária ocupa grandes áreas, mas emprega um pequeno número de pessoas, os vaqueiros e peões; e as empresas madeireiras também geram poucos empregos. Essa política governamental deu continuidade à concentração das terras nas mãos de poucos. Surgiram novos latifúndios e muitos pequenos lavradores foram expulsos de suas terras, iniciando-se assim um período de graves conflitos fundiários. Em conclusão, podemos constatar que os recursos públicos usados nos financiamentos não geraram o desenvolvimento regional, nem melhoraram a vida do povo; pelo contrário, houve o acirramento da violência, da miséria, do desemprego. MARABÁ E O CONTROLE FEDERAL Em 1970 um decreto federal criou uma área para fins de reforma agrária, ao longo da rodovia Transamazônica. Logo depois, em abril de 1971, o Decreto-lei nº 1.164 declarou “indispensáveis à segurança nacional” as terras devolutas situadas numa faixa de 100 quilômetros de largura, de cada lado das estradas da Amazônia Legal. Essas decisões federais afetaram sobremaneira o nosso município, pois grande parte de sua área passou para o controle federal.

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história

Outra interferência do governo federal foi o Decreto-lei nº 1.131, de 30 de outubro de 1970, que declarou o município de Marabá “área de segurança nacional”. A partir dessa data os prefeitos passaram a ser nomeados pelo Governo do Estado, com aprovação do Conselho de Segurança Nacional. Esse decreto vigorou até 1985. Por que tantas interferências do governo federal? Acontece que o governo militar instalado em 1964 voltou suas atenções para a Amazônia, por várias razões: a) Estratégicas – por ser pouco habitada, a região poderia abrigar organizações inimigas do regime ditatorial; b) Econômicas – era uma área de grandes riquezas vegetais e minerais; c) Sociais – sendo pouco povoada, poderia servir como polo de atração para milhares de nordestinos que, em virtude das grandes secas, buscavam o sul e o sudeste, aumentando naquelas regiões os problemas urbanos; d) Políticas – foi essa uma época de grandes projetos governamentais, desenvolvidos graças

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a empréstimos obtidos no exterior (aumentando consideravelmente a nossa dívida externa). Nada mais grandioso que povoar a Amazônia, conhecida internacionalmente! Marabá, situada no limite da floresta, representou uma das “portas de entrada” dos projetos governamentais. Por tal motivo foi esta região alvo de tantas intervenções federais. A COLONIZAÇÃO OFICIAL O governo federal, adotando o lema “segurança e desenvolvimento”, procurou ter maior controle da Amazônia. Foram duas as linhas de ação do governo: por um lado, o favorecimento do grande capital, que obteve vastas extensões de terra a preços irrisórios, além de financiamentos a juros baixíssimos e mesmo a fundo perdido; por outro lado, a atração de mão de obra barata, especialmente homens do Nordeste, aos quais foram oferecidos lotes de 100 hectares. Enquanto os grandes proprietários, valendo-se dos “incentivos fiscais”, instalavam serrarias ou

enormes fazendas de gado, levas de nordestinos eram trazidos, de avião, pelo INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – e instalados nos lotes demarcados ao longo das rodovias. O governo federal lançou o lema que ficou famoso nos anos 70: “AMAZÔNIA: TERRA SEM HOMENS PARA HOMENS SEM TERRAS” Os nordestinos recebiam seus lotes, mas não tinham recursos, nem técnicas agrícolas adequadas, nem equipamentos, nem conhecimento desta região que, pela primeira vez, enfrentavam. De sua experiência anterior, pouco traziam que servisse para resolver os problemas encontrados no espaço conquistado com a derrubada da floresta. Sobreviventes da seca, deparavam-se com uma região onde o excesso de chuvas carregava os nutrientes de um solo já pobre. A malária e outras doenças tropicais levavam à morte aqueles homens, enfraquecidos pela constante miséria. Na década de 70, descrevia-se a trágica experiência dos nordestinos na Transamazônica com o seguinte trocadilho:


FOTO: JORDÃO NUNES

Itinerário do colono De JUAZEIRO parti, Passei por IMPERATRIZTE, Cheguei na MARABAGUNÇA, Me alistei no INCRAVADO, Viajei pela TRANSAMARGURA, Terminei na ALTAMISÉRIA. O governo, tão generoso com os grandes capitalistas, não cuidou de financiar os colonos da Transamazônica. Sem reservas financeiras, eles não tinham como sobreviver ao fracasso do primeiro ano e vendiam seus lotes a outras pessoas, saindo em busca de outros meios de sobrevivência. Com esse tipo de política de ocupação, podemos perceber que não houve estímulo à fixação do homem à terra. Não houve, também, incremento à produção de bens de consumo e alimentos, abrindo-se uma exceção apenas à carne bovina. Nós exportamos nossos produtos “brutos”, isto é, pouco ou nada beneficiados (castanhas, madeiras, minérios) e importamos quase tudo de que necessitamos, até mesmo frutas, verduras e cereais.

CRESCIMENTO URBANO DE MARABÁ ATÉ 1980 A ligação rodoviária de Marabá com outras partes do País provocou, como já vimos, grande afluxo populacional. Logo em seguida ocorreu a colonização oficial, a istribuição de incentivos fiscais a projetos agropecuários, e o desenvolvimento dos “Grandes Projetos”, como a Hidrelétrica de Tucuruí e o Projeto Carajás. Esse conjunto de alterações provocou o aumento populacional de Marabá, que se concentrou principalmente na área urbana. Entre 1960 e 1970 a população aumentou de forma assustadora, mas depois dobrou de tamanho na década seguinte, entre 1970 e 1980. O aumento populacional no decênio de 1960 a 1970 só não foi maior porque houve o desmembramento dos distritos de São João do Araguaia e Santa Isabel, para criação do município de São João do Araguaia. Por outro lado, nota-se nesse período a impor-

tância da abertura da rodovia PA70, quando se verifica o desenvolvimento do bairro de São Félix: em 1965 havia ali apenas três casas, mas em 1970 já se contavam 297 residências. Podemos verificar o crescimento de Marabá pelos dados oficiais da Fundação IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ ANO

NÚMERO DE HABITANTES

1950

11.130

1960

20.089

1970

24.474

1980

59.915

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico do Pará

Esse crescimento populacional não se distribuiu de maneira uniforme por todo o município: concentrou-se na zona urbana do município de Marabá. Dados da Fundação IBGE mostram que,

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até 1960, havia maior população na zona rural do que na cidade de Marabá; a partir do censo de 1970 notamos que essa relação se inverte, passando o perímetro urbano de Marabá a concentrar maior população que o restante do município.

FOTO: JORDÃO NUNES

DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE MARABÁ Por que a população saiu da zona rural e concentrou-se na sede urbana? Para responder a essa questão, basta recordar alguns pontos tratados nos capítulos anteriores: as dificuldades enfrentadas pelos colonos, a concentração de terras nas mãos de poucos, os conflitos fundiários. Essa alta concentração populacional provocou a expansão territorial da zona urbana. Na margem esquerda do rio Itacaiúnas, o bairro do Amapá cresceu e a população se estendeu por um novo bairro, a Cidade Nova. Do outro lado da cidade, a SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) desapropriou uma área de 1.650 hectares para implantação do “plano de expansão urbana de Nova Marabá”. O projeto da Nova Marabá foi preparado por um escritório de arquitetura do Rio de Janeiro e apresentado às autoridades municipais no final de 1975. As primeiras famílias fixaram-se no novo bairro em 1977. OS ANOS DE 1980 “Qual será o futuro de Marabá, que ficou com quase 70% da população localizada na Sede, sem a menor perspectiva de renda?” (Boletim do Cepasp, nº 2, p. 4, maio 1988). NOVO AUMENTO POPULACIONAL Serra Pelada foi o principal motivo de grande crescimento populacional, a partir de 1980. No período que vai de 1980 a 1985 houve um aumento extraordinário da população. A Fundação IBGE constatou que o crescimento populacional do município de Marabá ocorreu a uma taxa de 18,5% ao ano, numa contagem que não incluiu a população de Serra Pelada. Já a Fundação SESP fez uma contagem do número de habitantes e incluiu a Serra Pelada, constatando um crescimento maior: a taxa passou a 27% ao ano.

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Temos assim os seguintes dados: POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ ANO

NÚMERO DE HABITANTES

1980

59.915

1985

140.73

Fonte: IBGE, sem inclusão de Serra Pelada

Taxa de crescimento = 18,5% ao ano. Ou: POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ ANO

NÚMERO DE HABITANTES

1985

205.000

Fonte: FSESP, com inclusão de Serra Pelada

Taxa de crescimento = 27% ao ano. Como a população de Serra Pelada era temporária, muito flutuante e constituída apenas por homens, sem as famílias instaladas no local, parece-nos mais adequado o índice da FIBGE. A população continuou crescendo, após 1985; uma pesquisa domiciliar, encomendada pela Prefeitura em 1988, revelou que a população urbana, na área da sede do município de Marabá, passava de 90 mil habitantes. Além do crescimento da população da sede, outros núcleos habitacionais sofreram aumento populacional. Em 1985 temos os seguintes dados:


PA-150. Esses dois núcleos, tendo surgido em função do garimpo, cresceram rapidamente, enfrentando enormes problemas de violência, altos índices de prostituição e precariedades infraestruturais de toda espécie. INÍCIO DOS CURSOS UNIVERSITÁRIOS EM MARABÁ Em 1987 A Universidade Federal do Pará (UFPA) instalou O Campus de Marabá e deu início aos cursos por etapas, voltados ao aprimoramento dos professores de ensino fundamental e médio. NOVAS DIVISÕES DO MUNICÍPIO DE MARABÁ: 1988

POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARABÁ Núcleo Habitacional

NÚMERO DE HABITANTES

Morada Nova

3.577

Murumuru

798

Brejo do Meio

1.201

Matrinchã

798

Em maio de 1988 foram desmembrados de Marabá mais de 26 mil km², para a criação dos municípios de Curionópolis e Parauapebas (que incluía a área de Eldorado de Carajás, emancipado em 1991, Água Azul, também tornado município em 1991, e Canaã dos Carajás, emancipado em 1994). A área do município de Marabá passou a ser, então, oficialmente, de 15.128 km². Além disso, deixou de receber a maior fatia do Imposto Único de Minerais (IUM) que a Vale passou a pagar a Parauapebas. O jornal Correio do Tocantins, em 29 de abril de 1988, encerrava seu editorial sobre o tema, refletindo o seguinte: “O que torna um país, um estado ou um município desenvolvidos, é a produção industrial, de bens, de serviços, de capital, enfim, produção. Aqui, nunca fomos produtivos. Sempre extraímos nossas riquezas, de maneira predatória, esgotando paulatinamente esses recursos naturais que nos alimentaram até agora. Se sairmos com inteligência desse estágio para tornarmo-nos uma unidade produtiva, então nem sentiremos a dor da mutilação desse espaço agora perdido”. (Correio do Tocantins, 6 (18): 3, 29.04 a 05.05.1988).

Fonte: FIBGE, contagem rápida, julho de 1985.

ALGUNS ACONTECIMENTOS DOS ANOS DE 1990

Serra Pelada provocou ainda a formação de novos aglomerados urbanos: Curionópolis, no km 30 da rodovia PA-275; Eldorado, no km 2 da mesma PA-275, no entroncamento desta com a

A Lei Orgânica de Marabá foi promulgada em 5 de abril de 1990. Como relatamos anteriormente, o município de Marabá sofreu a partir de 1980 um crescimento populacional vertiginoso,

mas com oscilações: passou de 59.915 há contagem do IBGE feita em 1985, sem a inclusão de Serra Pelada (que nesse ano teria, conforme levantamento realizado pela Fundação SESP, 65.000 pessoas). Entretanto, em 1991, o Censo registrava um decréscimo populacional em relação a essa contagem: 123.668 habitantes no município de Marabá, sendo 21.233 na zona rural e 102.435 na área urbana. Depois, em 1996, uma contagem feita pelo IBGE revelou a retomada do crescimento: 150.095 habitantes. Em 1992 foi realizada, pela primeira vez, a FICAM – Feira da Indústria, Comércio e Arte de Marabá. No final da década, em 1999, no dia 26 de junho, foi inaugurado o Parque de Exposições Agropecuárias de Marabá, no km. 10 da Rodovia PA-150. No aspecto cultural a década trouxe vários avanços. Em 1992 tiveram início os cursos regulares do Campus da UFPA em Marabá. Em 1993 criou-se a Escola Municipal de Música. Nesse mesmo ano a Prefeitura fez o tombamento do Mercado Municipal, da Igreja de São Félix de Valois e do Palacete Augusto Dias, garantindo dessa forma a preservação de edifícios de valor histórico. Afinal, em 1999, foi oficializado o Núcleo de Arqueologia de Marabá, que já vinha desenvolvendo trabalhos de pesquisa desde 1978 OS ANOS DE 2000 A 2011 A população no ano 2000 em Marabá ultrapassou a marca dos 200 mil habitantes: conforme o IBGE, 214.908 pessoas residiam em Marabá, ocupando 48.308 domicílios. A população da área urbana era enorme: 155.597 habitantes; nas vilas e povoados concentravam-se outros 19.037 moradores, espalhando-se os restantes 40.274 habitantes na zona rural do município. A década que então se iniciava não sofreu um crescimento populacional muito impactante; o censo de 2010 registrou uma população de 233.669 habitantes no município. Ocupando uma área de 15.128,368 Km², a densidade populacional é de 15, 45 habitantes por km². Bairros, Vilas, Assentamentos Atualmente o município de Marabá é composto do núcleo urbano, formado pelos bairros: Marabá Pioneira, Nova Marabá, Complexo Integrado Cidade Nova, São Félix, Novo São Félix e Morada Nova. Em

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história

sua zona rural formaram-se muitas vilas, assentamentos e projetos de assentamento. As vilas do município de Marabá são as seguintes: Vila Alto Bonito (Itacaiúnas, Açu – Fazenda Gameleira), Vila Alto Bonito (PA 150 – Garimpo das Pedras), Vila Barro Vermelho, Vila Boa Esperança, Vila Boa Vista, Vila Brejo do Meio, Vila Café, Vila Canaã, Vila Capistrano de Abreu, Vila Cupu, Vila Deus Quer, Vila Espírito Santo, Vila Geladinho, Vila Imbaúba, Vila Itainópolis, Vila Josinópolis, Vila dos Maranhenses, Vila Maravilha, Vila Matrinxã, Vila Monte Sinai, Vila Murumuru, Vila Nova, Vila Nova Esperança, Vila Nova Conquista, Vila Pau Seco, Vila Planalto, Vila Quatro Bocas, Vila Rio Branco (Assentamento Rio Branco), Vila Rio Preto Vila São Domingos, Vila Santa Fé, Vila Santa Maria, Vila Santa Marta, Vila São Francisco (Assentamento Bandeirantes), Vila São João (Estrada do Rio Preto, Km 74, penetração 9 km), Vila São João (Serra do Encontro, Km 54, Rio Preto: PA Tartaruga), Vila São José , Vila São Pedro, Vila São Raimundo, Vila Sapecado, Vila Sarandi, Vila Sororó, Vila União. Os assentamentos e Projetos de Assentamento (PAs) mais conhecidos são: Volta do Tapirapé (após a Vila Capistrano de Abreu, 22 km), PA Volta do Tapirapé (após a Vila União, 45 km), Assentamento Escada Alta (Pa 150, Km 33), Assentamento Cabaceiras (Pa 150, Km 22), Assentamento Cedrinho (Pa 150, Km 46), Assentamento Cigano dos Palmares (Vicinal 4), Assentamento Castanheira Cachoeira (Pa 150, Km 70, Penetração 18 Km), PA Antônio Carlos Magalhães – Km 45, Penetração 23 Km , Assentamento Patuá (Fazenda Revemar , 9 Km da Pa -150, sentido COSIPAR), PA Quilombo dos Palmares, PA Lajedo (Vila Sapecado, Estrada Vila Itainópolis). Vida cultural NO ASPECTO CULTURAL VÁRIOS EVENTOS OCORRERAM:

l A Universidade Estadual do Pará (UEPA) inaugurou em 2000 sua sede própria, na Agrópolis Amapá; l Os II Jogos dos Povos Indígenas foram realizados em Marabá, na Praia do Tucunaré, reunindo 25 tribos, em outubro de 2000; l A Fundação Casa da Cultura de Marabá inaugurou a “Aldeia da Cultura”, complexo cultural na Folha 30, Nova Marabá, em 2002; l Nesse mesmo ano foi criado o Conselho Municipal do Meio Ambiente, tão necessário diante das agressões à natureza; l Um museu com peças históricas e de cunho militar foi trazido para Marabá em 2005, pelo “Regimento Floriano”, o primeiro grupo de artilharia de campanha de selva: trata-se

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do “Espaço Cultural Floriano Peixoto”, aberto para visitação; l O Mercado Municipal foi restaurado, passando a abrigar uma biblioteca pública. Foi inaugurado no dia 20 de setembro de 2008 recebendo a Biblioteca o nome de “Orlando Lobo”; Nesse mesmo mês e ano (26 de setembro de 2008) ocorreu a fundação da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, com 30 cadeiras destinadas a autores da região que tenham obras publicadas; l A Orquestra Sinfônica de Marabá foi criada em 2009; lA Casa da Cultura promoveu a escolha popular de um nome para o Espaço Cultural a ser instalado no Palacete Augusto Dias, sendo mais votado o nome de Francisco Coelho. Foram dispostas quatro urnas, que recolheram a votação popular durante um mês, entre setembro e outubro de 2009. No ano seguinte – 2010 – a Câmara Municipal deixou o antigo Palacete, mudando-se para a Agrópolis Amapá.

Indústria No aspecto da industrialização, em 2004 a produção de ferro gusa no distrito industrial de Marabá atingiu 1.674.720 toneladas; e em 2010 já tínhamos 10 indústrias produzindo ferro gusa; no entanto, os problemas de emprego de mão de obra escrava e péssimas condições de trabalho na produção de carvão levaram várias entidades a uma tomada de posição: a Procuradoria da República, o Campus da UFPA em Marabá e a Comissão Pastoral da Terra elaboram a “Carta de Marabá” com propostas para enfrentamento do trabalho escravo contemporâneo e a reinserção social dos trabalhadores (29 de novembro de 2010). Em 2007 registrou-se o início da implantação do Projeto Salobo, com produção de cobre, ouro, prata e molibdênio. A ALPA (Aços Laminados do Pará) iniciou em 2010 as obras de infraestrutura para sua fábrica, que pretende produzir anualmente 2,5 milhões de toneladas de placas de aço. Economia No aspecto econômico, o Cadastro Geral de Empresas trazia, em 2009, o registro de 3.000 empresas no município de Marabá, que contava com 12 agências bancárias. Política No campo político, em 2004 houve a redução do número de vereadores com assento na Câmara Municipal: passou de 17 para 12 o número de parlamentares. Em 2006 o Tribunal Eleitoral divulga o número de

eleitores do município: 111.481 votantes. Em 2011 os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva são assassinados no assentamento Praialta/Piranheira, município de Nova Ipixuna (24 de maio de 2011). Sobre o casal assassinado, declarou o delegado Marcos Augusto Cruz: “Eram pessoas que estavam inseridas em um contexto de lutas sociais. Eles eram ambientalistas, viviam em um assentamento e têm uma história de conflitos de interesses com madeireiros e fazendeiros da região” . (Disponível em: < http://oglobo.globo.com/pais/para-delegado-dizque-extrativistas-foram-mortos-em-tocaia-2765698>. Acesso em: 12 jan. 2012) Em dezembro de 2011 um plebiscito realizado no Pará verificou o interesse da população em dividir o Estado em três: Estado de Carajás. Estado de Tapajós e Estado do Pará (remanescente). Venceu o“não” à divisão do Estado, mas o debate foi útil para o reconhecimento da desatenção dos governantes em relação ao interior paraense. Constatou-se também que a participação dos habitantes não deveria limitar-se à opinião dada nas urnas: seria necessário que todo o processo fosse discutido e construído pela população. Outros aspectos Outros temas de destaque são: a inauguração, em 2003, das obras da orla do rio Tocantins, na Marabá Pioneira, permitindo a preservação da beira do rio, dando mais segurança e espaço de lazer para a população; a inauguração do novo Fórum “Dr. Elias Monteiro Lopes”, sede da Comarca de Marabá, em novembro de 2004, e sua reinauguração, após reformas e a divulgação de graves falhas na construção inicial; a homenagem ao jornalista João Correa da Rocha, dando seu nome para o aeroporto de Marabá, no ano de 2010. Em 2011 a Infraero registrava um fluxo médio mensal de 20 mil passageiros, que viajavam em aeronaves de 4 empresas aéreas, operando 15 voos diários. * Maria Virgínia Bastos de Mattos, paulista, mudou-se para Marabá em 1978. Trabalhou por muitos anos na Casa da Cultura. Foi redatora nos periódicos Penta e Pedra Escrita. Atualmente reside em Goiania mas participa das edições do Boletim Técnico da Fundação (mariavmattos@ig.com.br).


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economia

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Por Igor Nascimento EM MARABÁ, CODEC APRESENTA GUIA DO INVESTIDOR AO SETOR PRODUTIVO Desenvolver políticas públicas para atrair novos negócios para o Estado e promover o Pará como o melhor destino para investir. Esses são alguns dos objetivos estratégicos da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (CODEC), instituição do governo do Pará que funciona nos moldes de uma agência de desenvolvimento econômico e atua como uma das principais portas de entrada para investimentos no Pará. Presidida pelo empresário Fábio Lúcio Costa, que também preside a Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Pará (FACIAPA), ao longo de 2018, a CODEC firmou seu compromisso com a melhoria do ambiente de negócios no Pará ao implementar ações que visam tornar a economia do estado mais forte e competitiva. REDE LOCAL DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS Com o objetivo de colaborar com a gestões municipais e apresentar as melhores práticas em atração de investimentos, a equipe de novos negócios da CODEC já contabiliza atendimentos a cerca de 15 municípios de diversas regiões paraenses com o workshop “Interiorização e Capacitação em Atração de Investimentos para os Municípios do Pará” - evento destinado a capacitar servidores das prefeituras locais e membros das associações comerciais para apresentar as potencialidades de seus municípios a investidores interessados em empreender em suas regiões. “O workshop é uma excelente oportunidade para troca de conhecimentos porque a partir desses eventos o município começa a enxergar suas potencialidades e a estimular a criação de políticas de desenvolvimento econômico sustentável”, ressalta Yago Prates, Assessor da CODEC que faz parte da organização do evento. Ainda de acordo com ele, a capacitação é crucial para o estímulo à busca de parcerias institucionais entre governo federal, estadual e entidades do terceiro setor. Como resultado dessa capacitação, o município de Marabá, no sudeste paraense, foi o primeiro a

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economia

dar início ao processo de produção do Guia do Investidor, publicação construída em parceria entre CODEC, Prefeitura de Marabá e Associação Comercial local que reúne dados econômicos e aponta as melhores oportunidades para quem quer investir no município. GUIA DO INVESTIDOR DE MARABÁ Foi durante a Feira InterCorte 2018, importante evento para a cadeia produtiva brasileira realizado em Marabá em maio deste ano, que o Guia do Investidor de Marabá foi apresentado oficialmente pelo presidente da CODEC, Fábio Lúcio Costa, em uma ocasião que reuniu diversas autoridades como o governador do estado, Simão Jatene e o prefeito de Marabá, Sebastião Miranda, que na oportunidade, assinou o termo de entrega do material que passaria a ser utilizado pela Secretaria Municipal de Mineração, Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia (SICOM) em ações voltadas à atração de novos negócios para o município. “Estamos muito satisfeitos em entregar esse material na oportunidade deste grande evento que é a InterCorte”, declarou na ocasião, Fábio Lúcio Costa, presidente da Codec. Segundo ele, o Guia do Investidor é uma grande ferramenta de promoção do Estado como destino para investimentos. “Essa entrega significa muito para o Pará e para o município porque representa mais um avanço na política de atração de investimentos que, sem dúvida, trará muitos benefícios não apenas para Marabá, mas para toda a região”, destacou. Além do Guia do Investidor de Marabá, a Codec também disponibiliza em versões impressa e digital e em quatro idiomas (português, inglês, espanhol e mandarim) o Manual do Investidor do Pará, um passo a passo elaborado com o objetivo de simplificar o acesso de investidores às instituições públicas e privadas necessárias para viabilizar novos negócios. Aponte sua câmera para este QR Code e acesse a versão digital do Guia do Investidor de Marabá ou digite: goo.gl/audosB

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A Codec presidida pelo empresário Fábio Lúcio Costa, que também preside a Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Pará (FACIAPA), ao longo de 2018, a CODEC firmou seu compromisso com a melhoria do ambiente de negócios no Pará ao implementar ações que visam tornar a economia do Estado do Pará mais forte e competitiva.

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indústria

SISTEMA FIEPA EM MARABÁ Sistema FIEPA atua na área da indústria, tornando-se referência em educação, saúde, segurança e qualidade de vida a região de Marabá

Presente desde 1978, o SENAI Marabá colabora para o desenvolvimento do sudeste paraense com capacitação de mão de obra e serviços para atender as demandas dos grandes projetos que constantemente se instalam na região, alcançando treze municípios vizinhos. Há seis anos a unidade passou por processo de ampliação e revitalização, quadruplicando sua capacidade instalada.

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Voltado para atuar em prol do desenvolvimento do setor produtivo paraense, o Sistema FIEPA está presente em todo o estado com unidades fixas e móveis do SESI e do SENAI e diversas ações e soluções para atender a indústria e seus trabalhadores. Em 2019, completará 70 anos como a porta-voz dos interesses do setor industrial perante a sociedade e ao poder público, participando ativamente das principais ações que determinam os rumos da economia do estado. Em Marabá, o Sistema Indústria está presente com as unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI), contribuindo para a formação e capacitação da mão de obra da região e, principalmente, trabalhando para melhorar a qualidade de vida de quem trabalha e vive na cidade. Presente desde 1978, o SENAI Marabá colabora para o desenvolvimento do sudeste paraense com capacitação de mão de obra e serviços para atender as demandas dos grandes projetos que constantemente se instalam na região, alcançando treze municípios vizinhos. Há seis anos a unidade passou por processo de ampliação e revitalização, quadruplicando sua capacidade instalada. Moderna e alinhada com as necessidades da indústria, a unidade tem capacidade para atender até 1.500 alunos por dia, nos turnos manhã, tarde e noite. Ao longo dos 40 anos de existência, já foram mais de 60 mil pessoas capacitadas pela escola para o mercado de

“Colocamos à disposição dos alunos os mais modernos laboratórios, que estão de acordo com as necessidades das indústrias. Nosso modelo de capacitação é essencial para que, quando formados, os alunos tenham grandes chances de ingressar no mercado de trabalho ou ainda atualizarem seus conhecimentos regularmente”, afirma Dário Lemos, Diretor Regional do SENAI e Superintendente do SESI no Pará.

trabalho. Atualmente, este centro oferta mais de 300 cursos nas áreas de Metalmecânica, Automotiva, Eletroeletrônica, Automação Industrial, Informática, Metrologia, Vestuário, Construção Civil, Alimentos,


“Temos muito orgulho de poder oferecer qualidade de vida para quem mora em Marabá e de formar mão de obra na cidade. Marabá e toda a região sudeste formam um polo industrial de grande importância para o desenvolvimento paraense, por isso a atuação do Sistema Indústria busca ser cada vez melhor e mais efetiva.”, conclui José Conrado Santos, presidente do Sistema FIEPA.

Segurança do Trabalho, Eletricidade e Refrigeração. “Temos à disposição dos alunos os mais modernos laboratórios, que estão de acordo com as necessidades das indústrias. Nosso modelo de capacitação é essencial para que, quando formados, os alunos tenham grandes chances de ingressar no mercado de trabalho ou ainda atualizarem seus conhecimentos regularmente”, afirma Dário Lemos, Diretor Regional do SENAI e Superintendente do SESI no Pará. MAIS INVESTIMENTO NO APOIO À INDÚSTRIA Já em 2017, foi a vez da Escola SESI Marabá passar por melhorias. A reforma contemplou mais de 10 mil m² e renovou as instalações da escola que atende alunos da

Ao longo deste período, já qualificou mais de 60 mil pessoas, contribuindo para o desenvolvimento de ações voltadas para a qualificação de mão de obra e de educação para o trabalho e cidadania, proporcionando melhor qualidade de vida para a população que vive no Sudeste do Pará e, por meio de consultorias e serviços nas áreas de tecnologia e inovação, que viabilizam o aumento da competitividade das indústrias nesta região.

Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos, e também o clube onde são ofertadas diversas modalidades esportivas e atividades físicas (musculação, hidroginástica, voleibol, futsal, futebol de campo, aula de dança e avaliação física). Toda a unidade recebeu melhorias - os blocos administrativos e pedagógicos, banheiros, pórtico de entrada, a área recreativa, a academia de ginástica, parque aquático, vestiários, salão de eventos, ginásio poliesportivo e uma academia ao ar livre, oferecendo mais acesso à população à saúde e qualidade de vida. A mesma unidade é responsável por atender a cidade e os municípios do entorno com serviços de Saúde e Segurança do Trabalho e Promoção da Saúde, garantindo melhor qualidade de vida aos trabalhadores das indústrias locais. “Temos muito orgulho de poder oferecer qualidade de vida para quem mora em Marabá e de formar mão de obra na cidade. Marabá e toda a região sudeste formam um polo industrial de grande importância para o desenvolvimento paraense, por isso a atuação do Sistema Indústria busca ser cada vez melhor e mais efetiva.”, conclui José Conrado Santos, presidente do Sistema FIEPA.

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indústria

CASA DE CULTURA

A Fundação Casa da Cultura de Marabá completou 34 anos de Fundação. As comemorações reuniram servidores, alunos, parceiros e público em geral, incluindo a inauguração de duas obras executadas neste ano - construção do muro em torno dos prédios que compõem a entidade e um Galpão de Música.

A O ano de 2018 está terminando com excelentes notícias para os amantes da cultura e riqueza regional, pois a FCCM reiniciou as pesquisas na Serra das Andorinhas, que estavam paralisadas há alguns anos. Com equipe multidisciplinar de doutores, mestres e técnicos, a Casa da Cultura vem se dedicando ao registro das riquezas históricas e naturais daquele depositário natural da história. 44 www.revistapzz.com.br

Casa da Cultura, como é chamada carinhosamente pela comunidade, foi fundada em 15 de novembro de 1984 e tornou-se uma referência para pesquisadores, turistas, estudantes e aos quem busca conhecer melhor o sudeste paraense. “A divulgação do nome de nossa cidade, seus valores, tradições, a linguagem, bens culturais, materiais e imateriais, e as surpreendentes descobertas científicas nas áreas de arqueologia, espeleologia, botânica, zoologia, entomologia e antropologia têm alcançado enorme repercussão, no Brasil e fora dele. E nesta nova etapa, tempos muito a comemorar”, diz Vanda Américo, presidente da Fundação Casa da Cultura. O Museu Municipal instalado na instituição recebeu mais de 50.000 visitantes de janeiro deste ano até agora, em novembro, com interessados vindos de vários municípios, estados e até de outros países. Além dos setores de pesquisas, a FCCM dispõe da Companhia de Artes, que tem destaque em Marabá pelas belíssimas apresentações que realizam nas escolas e para os alunos que visitam a fundação. A comemoração também contou com a participação de todos os alunos do Projeto “Música em Todo Canto”, criado no ano de 2017, no intuito de atender crianças e adolescentes em situação de vulnerabili-

dade social que residem em diversos bairros considerados periféricos da cidade de Marabá. O ano de 2018 está terminando com excelentes notícias para os amantes da cultura e riqueza regional, pois a FCCM reiniciou as pesquisas na Serra das Andorinhas, que estavam paralisadas há alguns anos. Com equipe multidisciplinar de doutores, mestres e técnicos, a Casa da Cultura vem se dedicando ao registro das riquezas históricas e naturais daquele depositário natural da história. Atenta a seus deveres com a preservação da cultura local e do meio ambiente, a FCCM, em parceria com a comunidade indígena Aikewara (Suruí do Sororó) está desenvolvendo um projeto de reflorestamento dos castanhais da aldeia, que outrora fora atingido por incêndios de grande proporção, prejudicando demasiadamente aquela comunidade. Como parte da parceria, a Fundação participou do registro do tradicional Ritual do Karuara, ligado ao mundo sobrenatural dos espíritos, que ajudam inclusive na “fertilidade” da terra. A Casa da Cultura comemora seu aniversário e a população de Marabá e região ganha o presente, com um espaço bem estruturado, com servidores preparados para melhor receber seus visitantes e pesquisadores.


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religiosidade

CĂ?RIO DE M 46 www.revistapzz.com.br


TEXTO E FOTOS DE CARLOS PARÁ Quando a vida faz nascer o mês de outubro Eu descubro uma graça bem maior Que me faz voltar no tempo e ser menino E ao som do sino ver a vida amanhecer Ver o povo em procissão tomando as ruas Anunciando que é Círio outra vez Que a Rainha da Amazônia vem chegando Vem navegando pelas ruas de Bélem Corda que avança o corpo cansa Só pra alma descansar É o meu olhar chorando ao ver o teu olhar em mim Tão pequenina na Berlinda segues a recolher Flores e amores que o teu povo quer te dar Ó Virgem Santa, teu povo canta Senhora de Nazaré! Tu és Rainha e tens no manto as cores do açaí Soberana e tão humana tão mulher Tão mãe de Deus Nossa raça, nosso sangue Descendência que acolheu O mistério encarnado continuas revelando E por isso hoje é Círio outra vez

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religiosidade

A

devoção de Nazaré e a romaria do Círio em Marabá reúne mais de 200 mil devotos em procissão pelas ruas da cidade. A procissão vai da catedral de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na Marabá Pioneira até ao Santuário de Nazaré na folha 16. A emoção toma conta dos fiéis ao longo do percurso de quase 8 quilômetros. Uma missa na Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro marca o início da romaria de Nossa Senhora de Nazaré, depois da celebração, os devotos fazem a romaria rodoviária. Entre os pontos da parada da berlinda, uma homenagem do Grupo Líder com alunos de música no Projeto Círio Musical, coordenado pelo professor Melquiades Justiniano, abrilhantou as homenagens quando os jovens do projeto tocaram de forma instrumental hinos de Nossa Senhora. A cantora

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A festa de Nazaré tem um grande significado, em especial a todos os católicos de Marabá, que sempre viveram momentos de muita alegria, e devoção. Todo ano a cidade se prepara para essa festa que vem aumentando a participação de devotos. lírica Patrícia Oliveira fez parte da homenagem cantando de forma magistral seu repertório de canções como “Aleluia”; “Senhora e Rainha”; “A escolhida” e uma sequência com as tradicionais músicas “Senhora da Berlinda”; “Lírio Mimoso”; “Virgem de Nazaré” e “Maria, Maria”, que emocionou a todos. Para o Diretor Administrativo-Financeiro do Grupo Líder, Oscar Rodrigues,


“Nossa grande satisfação em apoiar o Círio de Marabá 2018 vem por meio da fé em Maria, Mãe de Jesus e pelo Círio de Marabá que já faz parte da tradição do município. O Grupo Líder em Marabá, além de erguer a maior loja do grupo varejista paraense no município, com 5.300 metros quadrados, gostaríamos de mostrar que essa oportunidade de investir nessas crianças é um real incentivo à inclusão social por meio da música, ao mesmo tempo em que elas podem transmitir à população, um futuro com mais paz e justiça social”. A festa de Nazaré tem um grande significado, em especial a todos os católicos de Marabá, que sempre viveram momentos de muita alegria, e devoção. Todo ano a cidade se prepara para essa festa que vem aumentando a participação de devotos. É comum ver no roteiro das procissões as residências estarem enfeitadas com

Entre os pontos da parada da berlinda, uma homenagem do Grupo Líder com alunos de música no Projeto Círio Musical, coordenado pelo professor Melquiades Justiniano, que tocaram de forma instrumental hinos de Nossa Senhora. A cantora lírica Patrícia Oliveira fez parte da homenagem cantando de forma magistral seu repertório de canções.

toalhas brancas e pequenos altares enfeitados de flores nas portas das casas. A festividade acontece no terceiro domingo de outubro, durante o qual Nossa Senhora de Nazaré é homenageada por seus paroquianos.

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religiosidade

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DESCRITIVO DO MANTO O manto para o círio de 2018, trouxe uma expressão linda sobre Maria, o seu Sim a Deus, sim este que foi usado como tema principal do Círio 2018. "Eis aqui a serva do senhor". O manto foi inspirado na passagem biblíca de Lucas cap. 1 ,34-35. E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, pois não conheço homem. E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. No centro da parte superior do manto se encontra o Espírito Santo e dele sai raios luminosos que irradiam toda superfície do manto, que ao agir ela fica totalmente envolvida pela sombra do Espírito Santo, assim como diz o versículo 35 do cap. 1 de Lucas. O poder do altíssimo te cobrirá com sua sombra. O jardim de lírios da parte inferior do manto representa a pureza virginal de Maria, e o sinal de penitência e abstinência daquela que escolheu deixar de lado o desejo da carne. Maria que concebeu pela força do Espírito Santo e deu à luz ao nosso Salvador Jesus, continuou virgem antes e depois do parto, pura de corpo e alma imaculada. Os pássaros que sobrevoam o jardim de lírio beijando as flores, representa todo povo de Deus que acolhe Maria como Mãe e a Rainha das Flores, a mais bela entre todas elas, o lírio mimoso, e nós à beijamos com todo carinho de filho amado.

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religiosidade

IMAGENS DO CÍRIO Imagens de amor, gratidão, emoção e fé. Retratos em preto e branco que mostram toda a devoção do povo marabaense por Nossa Senhora de Nazaré. A Romaria de Nossa Senhora de Nazaré em Marabá leva anualmente mais de 200 mil pessoas movidas pela fé, pelas tradições religiosas ou ainda pelo agradecimentos das graças, benção e dos milagres em suas vidas. As fotografias realizadas pelo jornalista Carlos Pará tem um caráter documental numa perspectiva sociológica e antropológica que não esgota as possibilidades cognitivas cuja manifestação religiosa permite. Sem a cor das imagens, a dramaticidade da fé de um povo sofrido que luta na labuta diária em uma terra de muitos imigrantes capixabas, nordestinos, goianos, maranhenses, um tecido social de muitas origem que formam o povo de Marabá.

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religiosidade

PALCO DO 38º CÍRIO DE A Prefeitura de Marabá, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e do Cine Marrocos, com apoio do Grupo Líder e da Sinobrás, realizaram a maior festa religiosa do sudeste do Pará, o Círio de Nazaré. Em sua 38ª edição no município, o Círio já faz parte do calendário oficial de eventos da cidade e esse ano aconteceu no dia 21 de outubro, terceiro domingo do mês. A Prefeitura dispôs toda a estrutura e sonori-

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zação para os palcos que forão montados em dois pontos, um na Marabá Pioneira e o outro na Nova Marabá. Na praça Duque de Caxias, onde foi instalado o maior palco, aconteceu a missa da troca do manto e logo após o Círio Musical, no sábado à noite, que antecedeu a procissão. É lá também que foi realizada a missa campal no domingo pela manhã. Segundo Melquíades Justiniano, coordenador do Cine Marrocos e do Círio 2018, com esse

apoio de empresas como a Sinobras, Grupo Líder, Prefeitura e outras empresas, foi possível a realização de uma rica programação artística e cultural. Passaram pelo palco, na noite depois da trasladação, os “Cantores de Deus”, na manhã de domingo (21), Patrícia Oliveira e um grupo de tenores da capital Belém , além de cantores locais, como Nilva Burjak, Júnior e Diácono Fabrício. “Temos certeza absoluta que foi uma edição espe-


MARABÁ cial, em que a cada momento os romeiros, fiéis, e participantes só aumentam. Não só na quantidade, mas no encantamento, na participação e transformando esse momento, num momento em que se cultua a paz e que nos possibilita uma reflexão”, declarou Melquíades. Houve também um palco na VP-08, onde a Prefeitura tradicionalmente presta homenagens a padroeira do Pará. Além disso, a programação cultural continuou no dia 28 de outubro, no

recírio. O palco foi montado na folha 16, com a apresentação da cantora religiosa, Irmã Ana Paula. Segundo Melquíades Justiniano, coordenador do Cine Marrocos e do Círio 2018, com apoio de empresas como a Sinobras, Grupo Líder, Prefeitura e outras empresas, foi possível a realização de uma rica programação artística e cultural. Passarão pelo palco, na noite depois da trasladação, os “Cantores de Deus”, na manhã de domingo, Patrícia Oliveira e um

grupo de tenores da capital Belém , além de cantores locais, como Nilva Burjak, Júnior e Diácono Fabrício. “Temos certeza absoluta que foi uma edição especial, em que a cada momento os romeiros, fiéis, e participantes só aumentam. Não só na quantidade, mas no encantamento, na participação e transformando esse momento, num momento em que se cultua a paz e que nos possibilita uma reflexão”, declarou Melquíades.

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literatura

AIRTON SOUZA O poeta Airton Souza foi criado pelas redondezas do bairro Laranjeiras, no Núcleo Cidade Nova. Ali cresceu e viveu grande parte de sua juventude sob o estigma daquela área ser uma das mais perigosas e violentas de Marabá encontrou na arte a transformação da realidade.

A

irton Souza nasceu em Marabá, no Pará. É poeta, professor, leitor e estudante. É licenciado em História e pós-graduado em metodologia do ensino de História e licenciado em Letras – Língua portuguesa, pela UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e Mestrando em Letras, com ênfases nos estudos culturais, pela UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. O poeta é membro de diversas academias de letras e instituições literárias, entre elas a ALSSP – Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, cadeira nº 15, patrono o poeta Max Martins, a Academia de Letras de Marabá – ALMA, na cadeira nº 09, com o patrono o poeta Aziz Muntran Filho, membro correspondente de muitas Academias, entre elas: Academia de Letras de Goías Velho; Academia de Letras e Artes de Fortaleza e da Academia Imperatrizense de Letras. Fundou junto com outros escritores a Associação dos Escritores do Sul e Sudeste do Pará e foi eleito o primeiro presidente dessa instituição literária e também fundou a ALB – Academia de Letras do Brasil – Seccional Sul e Sudeste do Pará. Airton Souza possui uma intensa atividade voltada à promoção do livro e leitura, como realizações de saraus e encontros literários entre escritores

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e leitores. Atualmente é reconhecidamente um dos maiores ativistas culturais das regiões do Sul e Sudeste do Pará. Além disso, coordena diversos projetos literários, entre eles o Sarau da Lua Cheia, um dos maiores saraus do Estado do Pará; o Anuário da Poesia Paraense e o Projeto Tocaiunas, um dos maiores da Amazônia na publicação de

A primeira publicação em livro solo se consolidou somente no ano de 2009, com a publicação do livro “Incultações Noturnas”, edição artesanal, editada por uma gráfica em Marabá e que teve a tiragem de somente 65 unidades, que foram distribuídas aos amigos em Marabá. livros independentes e, que chegou a sua 3º edição, somando-se assim a publicação de mais de 45 livros solos publicados por diversos escritores brasileiros. Também idealizou e coordena o Prêmio Amazônia de Literatura. Além disso, Airton Souza já venceu diversos prê-

mios literários importantes, entre eles: Menção Honrosa por duas vezes no Prêmio Proex de Literatura, promovido pela Universidade Federal do Pará - UFPa, Prêmio Cannon de Poesia, Menção Honrosa no Prêmio LiteraCidade, com o livro Face dos Disfarces, Vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir de 2014, um dos mais importantes da Estado do Pará, com o livro de poemas Ser não sendo, um dos vencedores do IV Prêmio Proex de Arte e Cultura, promovido via edital pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA, com o livro de poemas manhã cerzida. Em 2015 venceu alguns prêmios, entre eles o III Prêmio Nacional de Literatura da UFES, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo, com o livro Cortejo & outras begônias, na categoria poesia, que tinha 95 livros inscritos de todo o país, foi ainda Menção Honrosa no Prêmio Nacional de Literatura Asabeça, da Editora Scortecci, de São Paulo, com o livro de poemas Pragmatismo das flores, um dos vencedores do Prêmio Nacional Machado de Assis, na categoria poesia, promovido pela Editora Canal 6. Venceu em 2016 o I Prêmio Nacional de Poesia Asila, promovido pela Editora Cem Nome, de São Paulo e é finalista do Prêmio Nacional de Literatura Kazuá, com o livro de poemas Um aceno


O FAZEDOR DE BORBOLETAS Livro mais recente publicado pelo em 2018 pelo professor, escritor e poeta de Marabá Airton Souza. Infantil. Belém do Pará/PA, Editora Folheando, 2018. Vencedor d vários prêmios em 2017.

AIRTON SOUZA

Nasceu em Marabá, no Pará. É poeta, professor, leitor e estudante. É licenciado em História e pós-graduado em metodologia do ensino de História e licenciado em Letras – Língua portuguesa, pela UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e Mestrando em Letras, com ênfases nos estudos culturais, pela UNIFESSPA – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Recentemente ganhou o PRIMEIRO LUGAR na modalidade nacional, na categoria poesia no 14° Concurso Literário Mário Quintana 2018, promovido pela Sintrajufe, do Rio Grande do Sul. Além disso, idealizou o Prêmio Amazônia de Literatura e o Anuário da Poesia Paraense.

aos girassóis, que terá seu resultado divulgado em novembro de 2016. Em 2017 Airton Souza venceu mais de 27 prêmios literários, entre os quais merecem destaque primeiro lugar no Prêmio Cruz e Sousa de Poesia, promovido pela editora Do Carmo, de Brasília, que teve como premiação a publicação do livro de poemas pragmatismo das flores, em uma edição em espanhol, venceu também os prêmios da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, o Prêmio da Academia Paraense de Letras, em duas categorias, ou seja, o Prêmio Clóvis Meira, categoria Monografia e o Prêmio Vespasiano Ramos, categoria poesia, o Prêmio da Academia Ferroviária de Letras, o Prêmio da Academia Brasileira de Médicos Escritores, o Prêmio Porto de Lenha, na categoria Poesia, ficando em terceiro lugar, o Prêmio da Fundação Cultural do Pará, que é promovido pela Fundação Cultural do Pará e, que venceu com o livro de poemas o tumulto das flores, o Prêmio ALACIB, primeiro lugar na categoria poesia, o Prêmio Carlos Drummond de Andrade, promovido pelo Sesc, de Brasília. Já nesse ano de 2018 o poeta venceu mais de 15 prêmios literários, entre os principais estão: o 12º Prêmio Festipoema, o Prêmio Ganymedes José e

o Prêmio Vicente de Carvalho, ambos pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, venceu em três categorias o Prêmio da ABRAMES 2018, que é promovido pela Academia Brasileira de Letras de Médicos Escritores, o Prêmio Folheando de Literatura, vencendo em duas categorias, prêmio este promovido pela Editora Folheando, de Belém do Pará, venceu também o Prêmio UNIFOR, promovido pela Universidade de Fortaleza e o Prêmio Mário Quintana de Literatura 2018, promovido pela Sintrajunfe, do Rio Grande do Sul. Airton Souza é considerado um dos grandes poetas das regiões do Sul e Sudeste do Pará e publicou mais de 32 livros de poemas, 01 de prosa, vários livros destinados ao público infantil e juvenil e, possui alguns inéditos. Sendo atualmente o escritor com maior número de livros publicados na região de Carajás. É autor de alguns livros infanto-juvenis A aranha Mariana & uma estória de amor, Mundico quer ser de ferro, O fazedor de borboletas, Quem Guarda as Chuvas? e Quem levou o dia? Esses dois últimos publicados pela Twee Editora, de Belém do Pará. Airton já participou de mais de 100 antologias literárias e seus poemas já foram traduzidos para o inglês, espanhol e alemão, com dois livros publicados bilíngues.

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literatura

ALGUMAS PUBLICAÇÕES DE AIRTON SOUZA/ PRÊMIOS Em 2017 Airton venceu mais de 27 prêmios literários, entre os quais merecem destaque primeiro lugar no Prêmio Cruz e Sousa de Poesia, promovido pela editora Do Carmo, de Brasília, que teve como premiação a publicação do livro de poemas pragmatismo das flores, em uma edição em espanhol.

Livros publicad IIncultações Nortunas/Poesia. Marabá/PA, Hiper Gráfica, 2009. Tiragem de 65 unidades, semi artesanal. O cair das Horas/Poesia. São Paulo/SP, Scortecci Editora, 2011. Habitação Provisória. Poesia. São Paulo/SP, Scortecci Editora, 2012. Infância Retorcida/Poesia. São Paulo/SP, Giostri Editora, 2012. Monção de Aplausos concedido pela Academia Gurupiense de Letras em 2013. Rua Displicente/Poesia. Belém/PA, Editora LiteraCidade, 2013. À boca da noite/Poesia. São Paulo/SP, Giostri Editora, 2013. Mormaços de Cinzas /Poesia. Rio de Janeiro/RJ, Multifoco Editora, 2013. Face dos disfarces/Poesia. Belém/ PA, Editora LiteraCidade, 2014. Menção Honrosa no Prêmio Nacional de Poesia LiteraCidade 2013.

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Pó é Mar/Poesia. Guaratinguetá/SP, Editora Penalux, 2014. Ser não sendo/Poesia. Belém/ PA, Fundação Cultural do Pará, 2014. Vencedor do Prêmio de Literatura Dalcídio Jurandir 2013 na categoria livro completo de poesia. Psicografia/Poesia. Guaratinguetá/ SP, Editora Penalux, 2014. Rios que somos/Poesia. Belém/PA, Editora LiteraCidade, 2014. Coleção do Projeto Literário Tocaiunas. Amor à mostra/Poesia. Belém/PA, Editora LiteraCidade, 2014. Cio/Poesia. Belém/PA, Halley Editora, 2015. Coleção do Projeto Literário Tocaiunas. Manhã Cerzida/Poesia. São Paulo/ SP, Giostri Editora, 2015. IV Prêmio Proex de Arte e Cultura 2015, promovido pela Universidade Federal do Sul e


dos de Airton Souza Sudeste do Pará – UNIFESSPA. Rota descampada/Poesia. Guaratinguetá/SP, Editora Penalux, 2015. Olhos Vítreos/Poesia. São Paulo/ SP, Giostri Editora, 2015. Último gole de ontem/ Poesia. Belém do Pará/PA, Editora Literacidade, 2015. Setembrais/Poesia. Belém do Pará/PA, Editora LiteraCidade, 2015. Selecionado para a coleção Sementes Líricas. Marias/Poesia. Gurupi/TO, Editora Veloso, 2015. Livro de poemas ilustrados pelo artista plástico Bino Sousa. Cartas de amor e revolução/ Prosa. Belém/PA, Editora Cromos, 2016. Parte desse livro venceu o Prêmio LiteraCidade Prosa 2014 e foi finalista no Prêmio Internacio-

nal de Prosa de Culturas Lusófonas 2016. Cortejo & outras begônias/ Poesia. Vitória/ES, EDUFES Editora, 2016. Vencedor do III Prêmio UFES Nacional de Literatura 2015, na categoria livro completo de poesia. Quem levou o dia?/Infantil. Belém do Pará/PA, Twee Editora, 2016. Quem guarda as chuvas?/ Infantil. Belém do Pará/PA, Twee Editora, 2016. Aurorescer /Poesia. São Paulo/SP, Editora Penalux, 2016. A aranAha Mariana e uma estória de amor/Infantil. Belém do Pará/PA, Editora 3 Artes, 2016. Mundico quer ser de ferro/ Infantil. Selo Senta pra ler – Literatura Infantojuvenil. Belém do Pará/ PA, Cromos Editora, 2016.

Pragmatismo das flores/ Poesia. São Paulo/SP, Editora Penalux, 2017. Menção Honrosa Prêmio Asabeça de Literatura 2015, Menção Honrosa no Prêmio Miau de Literatura 2017 e Primeiro Lugar no Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa 2017). Pragmatismo de las flores/ Espanhol/Poesia. Brasília/DF, Editora Do Carmo, 2017 . Menção Honrosa Prêmio Asabeça de Literatura 2015, Menção Honrosa no Prêmio Miau de Literatura 2017 e Primeiro Lugar no Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa 2017. Crisântemos depois da ausência/Poesia. São Paulo/ SP, Giostri Editora, 2017. Menção Especial no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira

de Escritores do Rio de Janeiro – Prêmio Vicente de Carvalho 2017 e Primeiro Lugar no Prêmio Literário APL 2017, promovido pela Academia Paraense de Letras. O tumulto das flores/Poesia. Fundação Cultural do Pará, 2018. Vencedor do Prêmio Nacional de Literatura Dalcídio Jurandir 2017, promovido pela Fundação Cultural do Pará. O fazedor de borboletas/ Infantil. Belém do Pará/PA, Editora Folheando, 2018. Vencedor dos seguintes prêmios: Prêmio ABRAMES 2017 Academia Brasileira de Letras de Médicos Escritores, Prêmio Literário Jovens que escrevem 2017, Prêmio Literário da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais – 2017.

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AIRTON SOUZA

Airton Souza possui uma intensa atividade voltada à promoção do livro e leitura, como realizações de saraus e encontros literários entre escritores e leitores. Atualmente é reconhecidamente um dos maiores ativistas culturais das regiões do Sul e Sudeste do Pará. Além disso, coordena diversos projetos literários. Na foto ao lado, com sua esposa Leonice Souza.

Prêmios Literários 2012 • V Prêmio Literário Canon de Poesia, promovido pela Editora Scortecci, de São Paulo – Vencedor na categoria poesia; 2013 • Prêmio Dalcídio Jurandir, promovido pela Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves - 1º Lugar na categoria poesia com o livro de poemas Ser Não Sendo. 2014 • Prêmio LiterCidade, Prosa, pela Editora LiteraCidade - 1º Lugar na Categoria Crônicas; • IV Prêmio Proex de Arte e Cultura 2014/2015, promovido pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará ¬ UNIFESSPA – 2º Lugar com o livro de poemas Manhã Cerzida. 2015 • I Prêmio Literário Machado de Assis, promovido pela Canal 6 Editora – Vencedor na categoria poesia; • III Prêmio UFES de Literatura, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo - 1º Lugar na categoria poesia com o livro de poemas Cortejo & outras begônias. 2017 • Prêmio CAPT de Literatura – 2º lugar na categoria poesia; • Prêmio Maravilha de Palavra, promovido pela Editora Litteris, Rio de Janeiro – 1º Lugar na categoria poesia; • Prêmio Carlos Drummond de Andrade, promovido pelo Sesc de Brasília – Menção Honrosa na categoria poesia; • 5º SFX de Literatura. Vencedor nas cate-

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gorias: Conto e Poesia; • 1º Prêmio Cruz e Sousa, promovido pela Editora Do Carmo, de Brasília – • 1º Lugar na categoria poesia; • 15º Prêmio Literário Paulo Setúbal – Menção Honrosa na categoria Crônica; • 1º Prêmio Literário Jovens que escrevem – promovido pela Editora A. R. Publisher, de São Paulo – Menção Honrosa nas categorias: Conto e Poesia; • Prêmio Maria José Maldonado, promovido pela Academia Volta-Redondense de Letras – Vencedor na categoria poesia; • XI Concurso Literário de Presidente Prudente – Prêmio Ruth Campos, promovido pela Secretaria de Cultura de Presidente Prudente, de São Paulo – vencedor na categoria conto; • Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores – UBE RJ – Promovido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro - Prêmio Vicente de Carvalho, na Categoria poesia com o livro de poemas Crisântemos depois da ausência – Menção Especial; • Prêmio de Literatura da ABRAMES, promovido pela Academia Brasileira de Médicos Escritores. Primeiro Lugar na categoria Conto, com o texto: O fazedor de Borboletas; • Prêmio Miau de Literatura, promovido pela Editora Costelas Felinas, de São Paulo. O livro “pragmatismo das flores”, recebeu menção honrosa, na categoria poesia – livro completo; • Prêmio ALACIB, promovido pela Acade-

mia de Letras, Artes e Ciências do Brasil, de Minas Gerais. Primeiro Lugar na categoria poesia; • Prêmio Porto de Lenha, promovido pela Editora Porto de Lenha, de São Paulo. Terceiro Lugar na categoria poesia; • Prêmio Internacional de Poesia Estado de Sítio, do México. Menção Honrosa na categoria poesia; • Prêmio Nacional de Literatura da Fundação Cultural do Pará, promovido pela Fundação Cultural do Pará. Primeiro Lugar na categoria poesia livro completo, com o livro de poemas “O tumulto das flores” • Prêmio da AFL, promovido pela Academia Ferroviária de Letras, do Rio de Janeiro. Primeiro Lugar na categoria Crônica e Terceiro Lugar na categoria Ensaio; • Prêmio da APL, promovido pela Academia Paraense de Letras. Primeiro Lugar nas categorias Poesia e Monografia, com os livros “Crisântemos depois da ausência” e “A fluidez na poética de Max Martins”. 2018 • Prêmio Folheando de Literatura, promovido pela Editora Folheando, de Belém do Pará. Primeiro Lugar na categoria Crônica e Segundo Lugar na categoria poesia. • Prêmio de Literatura UNIFOR, promovido pela Universidade de Fortaleza. Segundo Lugar na Categoria Poesia; • Prêmio Poesia Agora, promovido pela Editora Trevo, de São Paulo. Menção Honrosa, na categoria Poesia.

• I Prêmio Joaquim Távora, promovido pela Prefeitura Municipal de Joaquim Távora, São Paulo. Quarto Lugar na categoria poesia. • 28º Concurso Internacional ALPAS, promovido pela Academia Internacional de Letras ALPAS. Terceiro lugar na categoria conto; • 8º Concurso Internacional de Contos Vicente de Cardoso, menção honrosa na categoria conto; • Prêmio Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, promovido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. Menções Honrosas nas categorias poesia (Prêmio Vicente de Carvalho) e literatura infantil (Prêmio Ganymedes José); • Prêmio Carlos Drummond de Andrade, promovido pelo Sesc de Brasília. Menção Honrosa na categoria poesia; • 12º FestiPoema, promovido pela Prefeitura de Pindamonhagaba, de São Paulo. Segundo Lugar na categoria poesia; • XVIII Concurso Literário JI/AEPTI, promovido pela Prefeitura de Itatiba, de São Paulo. Segundo Lugar na categoria Conto; • Prêmio Mário Quintana, promovido pela Sintrajufe, do Rio Grande do Sul. Primeiro Lugar na categoria poesia; • Concurso Nacional de Literatura da ABRAMES, promovido pela Academia Brasileira de Médicos Escritores. Primeiro Lugar na categoria conto, Primeiro Lugar na categoria Crônica e Menção Honrosa na categoria ensaio.


Poemas de Airton Souza distante do sopro dos dias a pele engendra um abismo de devoção e vela não tem jeito a semântica da chuva [ sob o exílio no mundo ] ensina como andar sem flores reescritura as pálpebras redesenhar a excedente palavra: solidão perto do que há dentro da voz rarefeita de percurso e tormenta grita o emblema: ruína não há prece para curar a ausência do que falam as chaves atravessar a porta pela última vez é constatar que o amor agora é outra explicação sem linguagem ou metafísica que o amor supera chão vence a fraqueza do sono & caminha pela exígua casa com mãos dadas a frivolidade de um coração vazio amar também é saber: todo epitáfio é escrito com ternura!

à clarividência dos sermões tinha nas retinas um rosário construído a base de mármore pronto a orientar a escrita [ à medida que dilacera o homem ] no arcabouço dos ossos refazia a confidência da divindade ao interpretar as sensações de êxodo em uma certa noite se vestiu de memória & foi argumentar o grito: por que me abandonaste, pai?

para o personagem Florentino Ariza, do romance O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Marquez

à clarividência dos sermões tinha nas retinas um rosário construído a base de mármore pronto a orientar a escrita [ à medida que dilacera o homem ]

ninguém se importará com o evangelho amarrado ao mastro do morto

no arcabouço dos ossos refazia a confidência da divindade ao interpretar as sensações de êxodo

com a peremptórica história içada ao significado de seu nome incontornável ao batismo da palavra amor

em uma certa noite se vestiu de memória & foi argumentar o grito: por que me abandonaste, pai?

com o tombo & o chão clarividente à curar a ausência no flanar pela cidade o tempo confessa os homens a si ou assim mesmo: coléricos importa confessar aqui: a comoção é um viagem de amantes tardios.

o exercício da contiguidade bíblica é argumentar paisagens [ rarefeita de espanto ] & trucidar homens e seus testemunhos caligraficamente a contiguidade bíblica traz o desígnio à palavra amor faz dos ossos um lugar ou idioma repleto de imputada beleza e discrepâncias a contiguidade bíblica de olhar para o mundo e a provisão silenciosa das casas cada vez mais abrindo evangelhos na dor.

há naufrágios demais nesse corpo que quer margem repertório de queda no espelho que noticia mergulho e presença um dia há de se revogar a paisagem selvagem das fotografias não reveladas & as ruínas dos conventos que só permitem segredos e silêncios.

na rua dois meninos com línguas de atravessar dilúvios sulcam alguma calamidade do chão [ como quem limpam ossos sem pensar nas dores dos donos ] na tentativa de desanoitecer a infância mesmo que esses dois meninos conduzissem um índico inteiro nos olhos ainda seriam pequenos para compreenderem os órfãos que sonham todas as noites com um inventário dos pais & os epílogos de chãos sem túmulos só os órfãos sabem que não basta internalizar razões ou rostos lavrar a carne depois da igreja vazia é preciso redesenhar as tragédias do mar sem porto ou margens.

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literatura

PRÊMIOAMAZÔ NOITE DE PREMIAÇÃO COM OS ALUNOS DA ESCOLA AGRÍCOLA

O

Prêmio Amazônia de Literatura, projeto idealizado e coordenado pelo poeta marabaense Airton Souza e, que nesta primeira edição contou com a parceria da Prefeitura Municipal de Marabá, através da Secretaria Municipal de Cultura de Marabá, também da Editora Kazuá, de São Paulo e da Editora Folheando, de Belém do Pará, realizou na noite do dia 26 de novembro, na Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo a cerimônia de premiação, com entrega dos troféus, medalhas e certificados aos vencedores(as) do certame literário. Nesta primeira edição, com inscrições gratuitas e realizadas através do preenchimento de um formulário no site do prêmio, o Prêmio Amazônia de Literatura

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recebeu quase 500 inscrições e com a participação de mais de 300 escritores(as) brasileiros e de mais de 50 estudantes marabaenses. A iniciativa premiou em

O Prêmio Amazônia de Literatura recebeu quase 500 inscrições e com a participação de mais de 300 escritores(as) brasileiros e de mais de 50 estudantes marabaenses. A iniciativa premiou em quatro categorias cerca de trinta e seis escritores. quatro categorias cerca de trinta e seis escritores. Entre a categorias estavam: poesia, conto, livro completo e a categoria

estudante, está última voltada exclusivamente para estudantes matriculados e frequentes da rede de ensino de Marabá, das escolas públicas e particulares. O resultado do projeto será a publicação de dois livros, uma antologia com os contos e poemas vencedores e um livro completo inédito, ambos que serão lançados ainda em dezembro e que serão distribuídos aos vencedores e também as bibliotecas públicas das regiões do sul e sudeste do Pará. O I Prêmio Amazônia de Literatura contou com um corpo de júri formado por professores universátios, poetas e escritores. Na categoria poesia foram jurados(as) a professora universitária e poeta Eliane Pereira Machado Soares, a professora universitária e poeta Francisca Cerqueira,


Entre os principais objetivos do Prêmio Amazônia de Literatura estão o processo de incentivo a leitura e principalmente o de reconhecer e promover os talentos da literatura brasileira, já que o prêmio apesar da denominação de Amazônia é um certame em que todos os escritores residentes no país podem concorrer.

VENCEDORES DE POESIA

ZÔNIA o professor e poeta carioca Luiz Otávio Oliani. Na categoria conto o júri foi: a professora Aline Pinheiro, a professora e escritora Evilangela Lima e o professor, poeta, acadêmico de direito e artista plástico Jorge Washington T. Marques. Na categoria livro completo o júri foi formado pela professora e poeta Elzenir Gomes e o professor e poeta Wendell Berg de Sousa. Entre os principais objetivos do Prêmio Amazônia de Literatura estão o processo de incentivo a leitura e principalmente o de reconhecer e promover os talentos da literatura brasileira, já que o prêmio apesar da denominação de Amazônia é um certame em que todos os escritores residentes no país podem concorrer.

1º Lugar - Daniel da Rocha Leite - Mundana 68 /18 2º Lugar - Oly Cesar Wolf - Do que me sinto 3º Lugar - Rubenio Marcelo - Contemplador de silêncios

MENÇÕES HONROSAS

4º Lugar - Paulo José Pereira da Silva - Sou Taperebá, Sou Andiroba 5º Lugar - Ricardo Mainieri - Ira na íris 6º Lugar - Ricardo Jorge Pocinho e Silva fragmentos 7º Lugar - Luciana Brandão Carreiro - Para atirar dardos 8º Lugar - Javier Di Mar-y-abá - Enseada 9º Lugar - Jeferson Bordignon - Sincronicidade

VENCEDORES CONTO

1º Lugar - Fabiano de Jesus Santos Graça Secas vidas 2º Lugar - Douglas Nélio de Oliveira - Pirrônico 3º Lugar - Elienai Ferreira de Oliveira - Sopa de Pedras

MENÇÕES HONROSAS

4º Lugar - Arzírio Cardoso - Gatos em cima do telhado 5º Lugar - Josiclei de Souza Santos - O exilado 6º Lugar - Daniel da Rocha Leite - Sobre este corpo não morremos mais 7º Lugar - Rômulo César Lapenda R. de Melo

- Gully 8º Lugar - Weiller Mateus Silva Rodrigues Olhos Negros 9º Lugar - André Luís Soares - Por dentro da alma

VENCEDORES ESTUDANTE

1º Lugar - Sara Danielle Batista do Nascimento - Presa na metamorfose 2º Lugar - Hilquias Oliveira dos Santos - O gato 3º Lugar - Mirosmar de Sousa - Por que o preconceito?

MENÇÕES HONROSAS

4º Lugar – Gabriel dos Santos Silva - Floresta Nacional do Tapirapé Aquiri 5º Lugar - Ema poemas - O amor de Elise

LIVRO COMPLETO

1º Lugar – Livro: Chão Partido – Jonas Pessoa do Nascimento 2ª Lugar – Livro: Verdes Cortes – Carlos Correia Santos 3º Lugar – Livro: O atravessador de livros & outros contos das terras de Uaraci – Pedro Augusto Dias Baía

MENÇÕES HONROSAS

4º Lugar – Livro: Madalena – Nathália Cruz 4º Lugar – Livro: Caminhos para Longitude – Marcos Samuel da Costa

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arte visual GILENO MÜLLER

augusto morbach AUGUSTO MORBACH FOI O INTRODUTOR DA TÉCNICA DO BICO DE PENA EM MARABÁ. UM HOMEM SIMPLES DE ALMA INQUIETA QUE DEIXOU UM LEGADO ARTÍSTICO INCONFUNDÍVEL COM SEUS TRAÇOS FIRMES DE NANQUIM RETRATANDO AMIGOS, A REALIDADE E A NATUREZA FÍSICA E IMAGINÁRIA DE MARABÁ

E

m 1911 nasce o Filho de Frederico Carlos Morbach e Rosa de Lima Bastos Morbach, em 9 de fevereiro, em Santo Antônio da Cachoeira, hoje município de Itaguatins, no norte do Estado de Goiás, na casa do coronel Augusto Cezar de Magalhães Bastos, seu avô. Em 1917, Augusto Morbch fica órfão aos seis anos e passa ao convívio de Arthur Guerra Guimarães casado com sua tia Vicência Bastos Guimarães. Nessa dependência, enquanto a tia ensina-lhe as primeiras letras, o tio recusa os desenhos que tira, a carvão, pretendendo que o ascendrado realismo temático seja substituído pela alegoria, por motivos alegres. Os trabalhos de Augusto Morbach não são estimulados pelo tio, secretário do Conselho Municipal de Marabá por este não julgar conveniente a divulgação de imagens negativas da região. Aos oito anos de idade, incorporado à família de Arthur Guerra Guimarães, passa a residir na sede do município de Marabá. Em 1920, o juiz Ignácio de Souza Moitta – em Marabá desde o ano anterior – instala e mantém o educandário Arthur Porto, que terá como discente Augusto Morbach. No educandário cultiva estreita amizade com o seu diretor, juiz Ignácio Moitta – seu padrinho de crisma – e

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com sua esposa, a professora Arzuilla Horta de Souza Moitta. Enquanto o juiz, como intelectual, incuti-lhe o gosto pelos clássicos, a esposa ensina-lhe as únicas noções que recebeu de ritmo, forma, espaço, luz e sombra. Em 1925, retrata a lápis o “querido mestre amigo”, juiz Ignácio Moitta, no que se constitui a sua mais antiga criação de que se tem notícia. Casa-se com Doralice Fontenelle Morbach, em 12 de novembro, em Porto Franco, no Estado do Maranhão, a quem, quando monitor no educandário Arthur Porto, havia ensinado História e Geografia, com quem teve 4 filhos: Frederico, Pedro, Carlos Arthur e Rômulo. Nessa época, como registrou, “hiberna na vida da castanha”, como intermediário entre o castanheiro e o aviador, ainda amargurando a negativa do Secretário Geral do Estado, que recusou sua matrícula nos estabelecimentos de ensino da capital. Ingressa, em 1935, ao serviço público ocupando, em curto período, o cargo de administrador das feiras e mercados da Prefeitura Municipal de Marabá. Neste mesmo ano, morre seu tio Arthur Guimarães, em 12 de novembro, ele assume os encargos de chefe da família. Em 1939, com o comércio dos castanhais arruinado pela Segunda Guerra Mundial, passa a dedicar-se ao garimpo e extração de madeira. Mal sucedido no garimpo, perde três fazendas em Goiás e hipoteca o castanhal “Balão”, para saldar os compromissos.

Conhece, em 1940, acidentalmente, em Marabá, Líbero Luxardo, a quem retrata num esboço. Descobrindo o artista, Líbero Luxardo pede-lhe que ilustre o seu poema Tocantins, Rio de Três Estados. E, antes de editado o poema, em Belém, promove exposição, das 14 ilustrações realizadas por Augusto Morbach, as quais emocionam a intelectualidade da época , reunida em torno das revistas Novidade e Terra Imatura. Inicia, em 1941, sua colaboração na revista Novidade, de Otávio Mendonça e Inocêncio Machado Coelho, na forma de ilustrações, capas e artigos; ilustra Terra Imatura, revista dirigida por Cléo Bernardo de Macambira Braga. Publica, na edição de agosto da revista Novidade um poema de sua autoria, intitulado “Dentro da noite à luz clara do luar.” Participa do I Salão Oficial de Belas Artes, realizado na Biblioteca e Arquivo Público do Estado, sob a inspiração do diretor da mesma, Dr. Osvaldo Viana, obtendo segundo prêmio. Concorre, em 1941, no II Salão Oficial de Belas Artes, obtendo o primeiro lugar com o desenho “A admiração do índio”. Em 1954 retorna ao serviço público, desta vez como secretário da Prefeitura Municipal de Marabá, cargo no qual permaneceu até 1961, quando vem residir com a família em Belém e assume a função de procurador da Prefeitura Municipal de Marabá. Colabora em 1963 com “O Cinqüentenário”, número único do jornal comemorativo do cinqüentenário da criação do município de Marabá. Em 1964 ingressa, em 1 de março, no Jornal do Dia, como ilustrador, atendendo ao convite de Cláudio Sá Leal. Finda a relação de emprego com o Jornal do Dia, a 1 de abril, quando encerra a sua circulação. Em 1966, figura como chefe de redação do jornal O Democrata, de Marabá, cujo primeiro número circula a 1 de novembro, sob a direção de Helius Monção e de propriedade de Aziz Mutran Neto. Juntamente com um de seus irmãos, Antonio Bastos Morbach, em 1968 edita a revista Itatocan. Em 1973, com Pedro Morbach, seu filho, inicia mostra de desenhos na Galeria Angelus , sob o patrocínio do Sindicato dos Jornalistas. Em 1976 inicia mostra de desenhos na Galeria Angelus, sob o patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, e com a coordenação de Eduardo Abdelnor. Inicia, em 1979, na Galeria Theodoro Braga,


Em Morbach vida e obra se fundiram no entusiasmo pelas descobertas de novas opções para expressar os seus (nossos) temores e o futuro imprevisível dos mais legítimos valores regionais. Mostra de desenhos e pinturas, Atendendo ao convite da Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SEMEC faz dez desenhos em nanquim sob papel, com vistas ao projeto de natal. Em 1980 é incluído na coletiva “13 anos de arte em Belém”, coordenada por Sebastião Godinho e realizada nas galerias Angelus e Theodoro Braga, simultaneamente, no período de 10 a 18 de junho. Inaugura, a 1 de outubro, mostra de desenhos e pinturas na galeria Theodoro Braga, sob o patrocínio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Falece no Hospital São Luiz – em conseqüência de insuficiência respiratória e cardíaca e enfisema pulmonar – a 22 de fevereiro de 1981.

Augusto Basto Morbach deixou-nos emoções e sentimentos puros nascidos e cultivados nas originais experiências concretas da vida real e vivida. Reteve (as)certas visões do passado, marcadas de surdas e intermináveis incertezas, para despertar-nos nas necessidades presentes. Nos seus impulsos criativos, mais do que formas, tons e linhas, encontramos a compreensão e a satisfação substitutiva ao que para ele foi importante e necessário no vale do Tocantins/Araguaia. Exteriorizando com autenticidade e rara nobreza imagens interiores, envolveu-nos com a sua arte de temática inquietante para que, deliberada e conscientemente, ficasse o criador em paz.Em Morbach vida e obra se fundiram no entusias-

mo pelas descobertas de novas opções para expressar os seus (nossos) temores e o futuro imprevisível dos mais legítimos valores regionais. Registraremos, com especial carinho pelos originais, que tudo – ou quase – foi dito, há mais de quarenta anos, o que dispensa as nossas deduções, definições e adjetivos, mesmo nesta edição artesanal e para reduzido consumo afim. Desse modo, mesmo dispondo, agora, de um valioso referencial, não objetivamos violar a simplicidade do artista, ou promover-lhe a modéstia. Adotaremos as origens, os depoimentos mais sinceros e conseqüentes, por sabermos menos oportuna a nossa tentativa de revelar Augusto Bastos Morbach, por todas as reticências recolhidas em nossos encontros incompletos.

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O Dilúvio segundo os Maué (1975). Nanquim sobre papel. "Quando o índio maué pronunciou certa palavra sagrada, a árvore que continha todos os frutos da terra desmanchou-se na água, invadiu toda a Terra com a dispersão dos frutos, galhos, partes do tronco, por toda a grande planície. Então todos os índios da Terra puderam desfrutar de tudo: frutas, peixes, etc., e surgiram, ao mesmo tempo, montanhas do sistema de Roraima". (anotação do artista no verso da obra).

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Augusto Morbach foi quem levou a técnica de Bico de Pena para o Sudeste do Pará. Homem de vida simpes e irrequito de alma criativa deixou legado artístico para o estado e pa ao mundo. Com seus traços firmes de Nanquim retratando amigos, a realidade e a natureza física e imaginária de Marabá. Filho de Frederico Carlos Morbach e Rosa de Lima Bastos Morbach, nasceu em 9 de fevereiro, em Santo Antonio da Cachoeira, hoje município de Itaguatins, no norte do Estado de Goiás, na casa do coronel Augusto Cezar de Magalhães Bastos, seu avô, mas viveu como homem da terra, filho do Tocantins.

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GARIMPE MORBACH ESCREVE DE MARABÁ PARA NOVIDADE NOVIDADE, FEVEREIRO, 1941

N

o "Brasil de minha alma atormentado e aflito" - fica essa Amazônia, verde, grandiosa e rica. Todo mundo sabe disso mas, o que o resto do mundo não sabe nem conhece, é a mizéria em que vive essa milionária. O braço mestiço que tentou desbravá-lo no tempo dos cauchais, feriu-o de morte em vez de domá-lo. A Amazônia surgiu aos olhos do mundo maravilhado, brincando com o dinheiro, um fausto que causava inveja - mas, aquela época nos fez recordar a magnificência da côrte portuguêsa ao tempo de Napoleão - Os fidalgos cobriam a peruca com poeira de ouro das minas brasileiras. E vestiam seda e se afogavam em rendas maravilhosas e eram lestos no minueto, românticos na gavota. E tinham a graça exigida pelos salões aristocráticos. Daí, veio Junot, em nome do ilustre, mostrar-lhes a verdade da coisa, o reverso da me... O rumor dos votos franceses, com aquele mundo elegante, sem trabalho, sem sangue. Vem o ardor de um combate. Aquilo era sonho. Quando a crise veio, dissolveu também com um sopro apenas, a magnificência dos nababos Amazônicos. Porque o caucheiro matou a árvore da vida Amazônica. E os guias da terra dominam afogados em ouro e a vida era fácil. O inglês levava as sementes carinhosamente e o caboclo mutilava os cauchais. Agora que a guerra exige mais pneumáticas e apresenta mil e uma aplicação para o látex - só a lembrança perdura, nos monumentos que ficaram como testemunhas daquela vida que o vento levou - O caucho não existe mais. Veio a castanha. E já se passaram trinta anos dessa outra fase - desapareceram os botes a remo, morosos e inseguros. Vieram os motores rápidos. Tudo no Brasil envolve com o tempo - A castanha continua sem amparo, como o caucho, e qualquer vento virá como esse que ameaça lá das bandas da Europa fará desaparecer tudo. A garimpagem, por exemplo, que nada aproveita

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aos cofres do Estado, ameaça a castanha - Há uma das charadas amazônicas - Ao lado de uma riqueza, outra maior e por isso mesmo a região paradoxalmente ameaçada de sofrer as agruras de uma crise desastrosa. O braço mestiço, cansado de sofrer, encontrou no garimpo a porta de saída da jaula em que sempre viveu. E a ameaça continua, porque ninguém cuidou, durante tanto tempo, de arredar as pedras do caminho por onde se segue, sem saber para onde, esse jeca-tatu, pançudo, triste e humilde, quando não é por demais arrogante e agressivo. Uma advertência de Bruno de Menezes: "as flores dos lagos, orquídeas da mata, não servem ao homem que a febre acabou". Infelizmente até hoje, da Amazônia, só tem feito propaganda das flores dos lagos e orquídeas da mata. A "Brasil Vuts" aparece agora no resto do Bra

A garimpagem, por exemplo, que nada aproveita aos cofres do Estado, ameaça a castanha - Há uma das charadas amazônicas - Ao lado de uma riqueza, outra maior e por isso mesmo a região paradoxalmente ameaçada de sofrer as agruras de uma crise desastrosa. sil como na amêndoa vinda dos confins da oceania ou das costas d'África, numa propaganda tardia. De Bruno, outra advertência que deve estar presente nas carteiras governamentais: "Agora que o tempo da inércia vai longe, voltemos ao homem escravo na terra, que espera o futuro mas não despertou!


EIROS M

orbach surgiu numa noite de inúteis discussões. Haviam terminado o jantar. Benjamim aparecera no salão com o seu indefectível guarda-chuva. O chapéu de feltro claro , sombreando os olhos escuros. Trazia as últimas notícias do rádio. Por esse tempo, a heróica França ainda lutava. Os ânimos erguiam num desusado calor, até que os choques apaixonados afugentavam os tímidos que se iam “peruar” a “sinuca”, ou expor a cabeça escaldada, ao frescor da noite, na praça que fica defronte da Prefeitura. Morbach não falava. Nervoso, policiava o pensamento. Os olhos pisca-que-pisca atrás das lentes de aumento, dirigiam-se, irrequietos, de canto a canto, de um a um. Ria-se, às vezes, e ia queimando cigarros sobre cigarro. Ele e Aldo, saíram, dando demorada volta pela praça . Foram à sinuca. Jogaram, Aldo perdeu. Já era tarde. Rumaram ao café da Bebela. Quase meia noite. No dia seguinte, um menino levou à pensão um embrulho que Aldo abriu, verificando, surpreendido, que era o seu retrato. Desenho a pincel, com tinta azul, comum, na entrecapa de um livro de contas-correntes. Num grosseiro papel de embrulho estava escrito: É um esboço. Não sei se presta. Rasgue-o, se não gostar. - Morbach” . . . . Aldo identificou-se, desse modo, com o extraordinário artista, que é Augusto Morbach. Um contemplativo. Um receptor de profunda sensibilidade e aguda penetração. Sua arte refletia grande tortura, e um desejo quase divino de atingir a própria perfeição. Arte estranha e sugestiva. Seus traços seguros, demonstravam uma consciência definida, uma organização completa e clara, orientada num sentido novo, o qual sem ser revolucionário , possuía um poder de interpretação tão lúcido, de maneira que, mesmo invertendo totalmente a cor da coisas, os contornos plasmados segundo a sua sensibilida-

de criadora, não modificava, na essência , o sentido emocional da paisagem original. Morbach era simples. Um temperamento bucólico. Calmo,lento no andar, pausado no falar, parecia uma paisagem amazônica vista em superfície, porque em verdade é ela um tumulto díspar que avassala e enlouquece. Sua vida era uma epopéia. Um correr incerto, atrás da estabilidade, numa tentativa para abandonar a vida prosaica de pequeno negociante, e conseguir dedicar-se, um dia, inteiramente, à sua arte. Pobre, de seu trabalho rústico na castanha, arrancava o pão para o lar. E nem sempre os fados lhe eram propícios. Os anos bons serviam apenas para tapar os buracos abertos pelos maus ... E assim ia vivendo. O artista era feliz, porque encontrava na sua arte meios para esquecer as próprias agonias. Assim vivia Morbach. Às vezes . . . a selva tornava-se amiga. Ele a compreendia muito bem. . . As coisas iam mal? Não havia remédio ? - Então, embrenhava-se nas matas . Espingarda ao ombro, absorto, “siderando” na espera, sondando uma onça, um tapir, ou um caetetu. O tempo passava . .. Nem sempre o artista dispunha de dinheiro para o papel , os pincéis e a tinta . . . Custavam tão caros ! Foi do Dr. Abílio que boiou a ideia, Morbach ilustraria um poema que Aldo escrevera sobre o rio Tocantins. Feliz ideia, porque foram esses desenhos que o tornaram conhecido mais tarde em Belém do Pará. Morbach fez sucesso. Os intelectuais paraenses não lhe regatearam encômios. Fizeram, aliás, a justiça que era de esperar-se e Morbach, que hoje procura a fortuna nos aluvionais diamantinos do Tocantins, entregue à rude garimpagem, por certo agradecera as palavras de admiração e estímulo da culta mocidade que formou a brilhante plêiade de “Terra Imatura”, revista da época. (Trecho do romance Marabá do escritor Líbero Luxardo)

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arte visual Cátia Weirich

BICODEPENA EM MARABÁ A arte do bico de pena teve sua introdução em Marabá por Augusto Morbach e foi através da sua difusão entre os artistas marabaenses que se formou uma verdadeira escola artística, com destaque para Pedro Morbach, Antonio Morbach, Domingos Nunes, Rildo Brasil, China, Barros e Milhomens, Walney Oliveira e Wendas Miranda. Temáticas recorrentes e inovações quanto ao suporte. Valor iconográfico e histórico, além do valor artístico das obras produzidas em Marabá.

H

á cerca de 1000 anos, na cidade de Nanquim na China, quando um chinês recebia uma encomenda para podar bonsai (árvore em miniatura), junto com a remuneração pelo trabalho de mão-de-obra era-lhe pago o valor da caçada. E que, naquela época, a tinta que se usava para desenhar com pena era extraída do polvo marinho, animal aquático com enormes tentáculos, que se defendia de predadores, como o tubarão, soltando uma tinta escura ao seu redor. Após capturar o animal, o chinês ainda tinha a difícil tarefa de retirar a tinta de sua bolsa interna, para armazená-la em um frasco de vidro. Em seguida, com a tinta já adquirida e a planta a ser podada já selecionada, numa folha de papel era rascunhado o modelo de como seria a planta depois da poda. Por esse árduo trabalho de caça e extração, a tinta ficou conhecida por esse nome em homenagem a cidade de Nanquim. Alguns anos depois, percebeu-se que os rascunhos feitos em papel poderiam facilmente ser comercializados como quadros. Nasceu assim a técnica de desenho e gravura chamada bico-de-

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O Bico-de-pena/nanquim é uma técnica usada em desenho e gravura consiste em traçar linhas finas e paralelas, retas ou curvas, muito próximas uma das outras, criando um efeito de sombra ou meio tom. Nesse caso, as zonas de luz são assinaladas com pontos mais dispersos; e as de sombra, com pontos mais concentrados. Essas nuances de claro/escuro produzem a sensação de volume ou de profundidade. -pena. Em seguida, com essa mesma técnica, os chineses também passaram a retratar fatos da época, pessoas importantes representações de famílias. Esta técnica foi difundida no ocidente pelos os primeiros viajantes que estiveram no oriente, como Marco Polo, por exemplo, de maneira que hoje ela foi integrada as práticas de arte do desenho em alguns lugares do mundo . O Bico-de-pena/nanquim é uma técnica usada em desenho e gravura que consiste em traçar linhas finas e paralelas, retas ou curvas, muito

próximas uma das outras, criando um efeito de sombra ou meio tom. Nesse caso, as zonas de luz são assinaladas com pontos mais dispersos; e as de sombra, com pontos mais concentrados. Essas nuances de claro/escuro produzem a sensação de volume ou de profundidade. (www. itaucultural.org.br/eciclopedia- ic/index texto verbete).

O INÍCIO DO BICO DE PENA EM MARABÁ A técnica bico de pena chegou em Marabá com Augusto Morbach (1911 - 1981) o qual tinha uma alma simples e extremamente bonita. Dentro da alma, bem no âmago desta, tinha um caleidoscópio mágico, que ele representava com desenhos que se multiplicavam com seus traços firmes de nanquim. Retratava tudo o que Ihe causava admiração: pessoas, prédios antigos, animais, igrejas... A criação lhe exigia esforços sobre-humanos quando o esmero se fazia vital a conclusão da obra. Nascido em Santo Antônio da Cachoeira, atual


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Itaguatins, no Estado de Goiás hoje Tocantins, Augusto chegou ao Pará no ano de 1919 e fixou residência no município de Marabá. O contato que manteve com o povo da região foi determinante em sua obra que iniciou através dos ensinamentos que Dona Arzilla Moitta, esposa do Juiz Inácio Moitta, lhe ministrou. Morbach ficara órfão aos 6 anos de idade e desde então viveu com sua tia Vivência Bastos Guimarães esposa de Arthur Guimarães. Inácio o encaminhou a literatura clássica. Morbach já nutria há algum tempo uma sede por conhecimento não somente no campo da literatura, mas também da pintura. Os reveses econômicos, no entanto, atrapalharam os anseios do pintor, que se viu após a morte de seu tio Arthur, com maiores responsabilidades em casa. Tempos depois, já casado com Doralice Peres Fontenelle, teve o encontro com Líbero Luxardo, escritor e poeta paraense, que o convidou a ilustrar um de seus poemas que já seriam editados, o “Tocantins, rio de três estados”, do aceite do convite resultaram 14 ilustrações que compuseram uma exposição em Belém. Daí por diante, começou a destacar-se com suas obras retratando a beleza da natureza, a gente, as conquistas e o sofrimento do povo local. Redator-chefe do jornal “O Democrata” de Marabá, Morbach foi uma das figuras mais queridas e admiradas das artes do nosso Estado. Augusto Morbach faleceu em 1981, em Belém, onde residia desde 1961. Curiosamente esse talento familiar continuou, pois temos Pedro Morbach, nascido em 1935, filho de Augusto e, sem Dúvida nenhuma, o maior herdeiro dos dotes artísticos do pai. Pedro vive exclusivamente de sua arte, com vitoriosas exposições realizadas pelo Brasil (em 1969, no Teatro Nacional de Brasília; em 1973, na Galeria Angelus, em Belém juntamente com o pai; em 1975; em 1978, em São Paulo; em 1974 e 1987, em Marabá; em 2008 e 2009, na Elf Galeria, em Belém). Já dizia em 1987 Pedro Morbach, em uma de suas entrevistas ao Correio do Tocantins: “A pintura faz parte da minha vida. Creio mesmo que eu antes mesmo de engatinhar já fazia alguns rabiscos no chão da minha trajetória. Hoje, embora não tenha seguido nenhuma escola de artes, faço do meu trabalho um reviver das raízes culturais da minha região. Talvez a denúncia de todos esses crimes que estão sendo cometi-

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“MARABÁ” O Livro MARABÁ de Líbero Luxardo teve a ilustração da capa feita por Augusto Morbach. Nesse romance Morbach é personagem que dialoga com Aldo, alter ego de Líbero.


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Castanhais por Augusto Morbach


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dos à sua ocupação irracional. Quero ver se pelo menos esses registros servirão para marcar um tempo muito bonito que já é saudade. Antigamente eu e alguns companheiros de minha infância saíamos por aí, como diz Casemiro de Abreu, de camisa aberta ao peito e pés descalços, braços nus, correndo atrás dessa natureza maravilhosa que agora estão destruindo. Para mim, o ingresso de Marabá no ciclo industrial é o começo da agonia de

uma vida que já foi vivida e que agora vai ser somente retratada nos trabalhos dos artistas e dos poetas da região. Que pelo menos esses prevaleçam”. Posteriormente, o neto de Augusto Morbach, Antonio Morbach, nascido em 27/02/1959, também reproduz suas interpretações da realidade regional em obras incomparáveis, inicialmente em bico de Pena e, em seguida, utilizando outras técnicas.

Essa continuidade da técnica pela familia Morbach fez com que em muitas salas de famílias de Marabá haja uma obra do Augusto ou do Pedro Morbach, difundindo e valorizando ainda mais a técnica do bico de pena/nanquim.

“A pintura faz parte da minha vida. Creio mesmo que eu antes mesmo de engatinhar já fazia alguns rabiscos no chão da minha trajetória. Hoje, embora não tenha seguido nenhuma escola de artes, faço do meu trabalho um reviver das raízes culturais da minha região. Talvez a denúncia de todos esses crimes que estão sendo cometidos à sua ocupação irracional.”

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PEDRO MORBACH “Quero ver se pelo menos esses registros servirão para marcar um tempo muito bonito que já é saudade. Antigamente eu e alguns companheiros de minha infância saíamos por aí, como diz Casemiro de Abreu, de camisa aberta ao peito e pés descalços, braços nus, correndo atrás dessa natureza maravilhosa que agora estão destruindo. Para mim, o ingresso de Marabá no ciclo industrial é o começo da agonia de uma vida que já foi vivida e que agora vai ser somente retratada nos trabalhos dos artistas e dos poetas da região. Que pelo menos esses prevaleçam”.

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Um dos percursores das artes visuais nesta região e de renome internacional na técnica do nanquim, o artista Pedro Morback começou a desenhar ainda criança influenciado por seu pai retratando em óleo sobre tela fatos importantes de nossa região, e´ característica de Pedro Morbach obras retratando a vida de ribeirinhos, castanheiros e o folclore.

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CemitĂŠrio dos Castanahais 1997 de Domingos Nunes. Acervo: pinacoteca

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Com o intuito de entendermos melhor o amor, a criatividade e acima de tudo, o talento dos artistas locais, conversamos com Domingos Nunes. Ele nos relata como e quando percebeu e, consequentemente, desenvolveu suas habilidades com o desenho e a técnica bico de pena em nanquim. "Desde o tempo de primário já fazia desenhos a lápis, inspirado nos filmes faroeste e espadachins que costumavam ser exibidos nos matinês de domingo no Cine Marrocos. Ainda no primário, pelos meus 9 ou 10 anos, percebia que me destacava entre meus colegas pelas capas de trabalhos bem desenhadas. Passei, então, a desenhar com caneta "bic". Com 13 anos comecei a pintar com tinta a base d’água. Mas algo me encantava, as obras de Augusto Morbach, as quais eu observava atentamente, em visitas ao palacete da Prefeitura Municipal onde meu pai trabalhava. Consegui então dinheiro para comprar minha primeira caneta-tinteiro e iniciei meus trabalhos com bico-de-pena aos 19 anos. Passei a vender meus trabalhos e fui descoberto pela Fundação Casa da Cultura. Realizei minha 1ª exposição com apoio do Prof. Noe Von Atzingen, grande articulador da cultura em nossa cidade e região. Essa exposição teve grande repercussão popular, o que expandiu o conhecimento da população e fez com que eu vendesse muitas obras. Pouco tempo depois, minhas obras, juntamente com a de outros colegas, foram levadas para o exterior, mais especificamente para a Alemanha, onde passaram um ano em exposições. E gratificante ver um sonho se realizando. Hoje pinto telas em óleo, que tem boa aceitação no mercado, e dessa forma vou galgando degraus em minhas conquistas." O que nos chama atenção e nos causa admiração nesses artistas e sua capacidade de adaptação da técnica, de forma autodidata. Podemos citar como exemplo disso os artistas Ronaldo Pimentel, que utiliza fundos de caixas de fosforo como base em seu miniaturismo com bico-de-pena; Netinho da Princesa, com sua técnica mista em bico de pena e giz de cera; Walney Oliveira e Herval Rossano, que trabalham com o desenho em bico-de-pena/nanquim sobre folhas desidratadas, um trabalho esplendoroso e descoberto por acaso, como nos relata o artista Walney Oliveira: "No ano de 1999, quando ainda trabalhava na Fundação Casa da Cultura de Marabá como téc-

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nico em administração da Pinacoteca Municipal Pedro Morbach, descobri por acaso uma de minhas melhores habilidades, a de desenhar na superfície de folhas colhidas nas árvores. Ocorreu que em um determinado dia, ao desenhar em uma folha de Clitória fui aconselhado pelo Biólogo Noe Von Atzingen a explorar mais essa técnica. Os primeiros trabalhos foram feitos em folhas prensadas em livros. Com o apoio do Professor Noé, foi possível identificar e catalogar inúmeras folhas da região, além de melhorar o processo de desidratação das folhas em estufa apropriada e o acondicionamento correto das mesmas. Os primeiros trabalhos foram todos adquiridos pelo Professor Noé, como forma de incentivo a produção de outros, com cada vez mais qualidade. Hoje, já é possível encontrar alguns desses trabalhos em várias cidades do Brasil, e até mesmo em outros países, como Alemanha na cidade de Berlim, no Canadá, em Portugal e na Itália. Os motivos pelos quais ainda continuo a desenhar com nanquim em superfície de folhas previamente desidratadas, e para manter uma linha de trabalho com uma característica própria, e também para denunciaras agressões feitos pelo homem à fauna, à flora e ao meio ambiente como um todo. O projeto "Amazônia em Folhas", criado em 2004, foi desenvolvido justamente para retratar a realidade da nossa região e ajudar a preservar, mesmo que folhas, parte das nossas florestas, de nossos rios e de nossa cultura." O nanquim, em Marabá, teve e ainda tem seus períodos, pois ainda hoje surgem novos talentos reprodutores dessa técnica e, consequentemente, admiradores dos grandes precursores. A predominância de obras com a arte em bico de pena/nanquim na Pinacoteca Municipal Pedro Morbach é indiscutível: encontramos 263 obras de vários artistas locais, de diferentes gerações.

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A perspectiva de crescimento da técnica de bico de pena é incontestável, pois alguns artistas, como Walney Oliveira seguem ministrando cursos para jovens e adultos admiradores dessa arte, para que aprimorem seus dons, e quem sabe, mantenham viva essa técnica tão rica e interessante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente podemos encontrar 237 obras na técnica bico de pena em nanquim registradas na Pinacoteca Municipal Pedro Morbach. As primeiras notícias de obras em bico de pena em Marabá remontam a 1932, com Augusto Morbach. A partir de 1976, Pedro Morbach passa a produzir também com essa técnica. Quase quarenta anos depois, nas décadas de 60 e 70, surgem quatro novos talentos - Domingos Nunes, Antonio Morbach, Junior China e Rildo Brasil; na década de 80, aparecem oito novos artistas na arte bico de pena - Waldimar Lopes, Walney Oliveira, Jose Ireno, Washington Marcks, Jonas Barros, Herval Rossano, Netinho da Princesa e Danilo Bastos. Finalmente, na década de 90, surgem oito novos talentos - Ronaldo Pimentel, Wendas Miranda, Barros e Milhomem, Evertom M.N., Arilson Ferreira, Lucia Fecuri e Rita Corrêa. Com isso podemos citar 21 artistas que trabalharam ou trabalham com bico de pena na região. Considerando que atualmente Augusto Morbach é falecido, e Pedro Morbach deixou de produzir devido a problemas de saúde, as obras existentes destes grandes artistas estão cada dia mais valorizadas. A perspectiva de crescimento da técnica de bico de pena é incontestável, pois alguns artistas, como Walney Oliveira seguem ministrando cursos para jovens e adultos admiradores dessa arte, para que aprimorem seus dons, e quem sabe, mantenham viva essa técnica tão rica e interessante.

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AGRADECITNENTOS Ao Arquivo Histórico de Marabá Manoel Domingues e a Pinacoteca Municipal Pedro Morbach pela disponibilização de seu acervo para pesquisa, onde encontramos relevantes referências sobre a renomada família Morbach. Ao professor Noé Von Atzingen, pela oportunidade, apoio e incentivo no desenvolvimento deste trabalho. Aos Artistas plásticos Walney Oliveira e Domingos Nunes que se disponibilizaram em nos relatar sua história na arte marabaense. A Marize Morbach, pela disponibilidade e apoio no desenvolvimento deste trabalho.

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Carlos Pará

DOMINGOS

NUNES

Domingos Nunes é desenhista, pintor e artesão. No desenho utiliza, sobretudo a técnica do Nanquim ou Bico de Pena, aperfeiçoando um estilo cada vez mais próprio. Possui uma tendência à pintura moderna, mas são os temas e as coisas da região que atraem a atenção do artista.

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omingos Nunes dos Santos, desenhista, pintor e artesão nasceu em 01/01/1950, na cidade de Marabá, considerado um dos artistas mais famosos e influentes da história da arte marabaense é autodidata e começou a desenhar aos 12 anos de idade. No tempo de primário já fazia desenhos a lápis, desenhos de faroeste onde os artistas sacavam seus revólveres

Possui uma tendência à pintura moderna, mas são os temas e as coisas da região que atraem a atenção do artista. Procura dar destaque em suas obras para temas que envolvem o castanheiro em sua luta diária, caboclos e paisagens ribeirinhas. dos coldres, ou espadachins, lutas de gladiadores, incentivados pelos filmes das matinês, nas tardes de domingo no Cine Marrocos. “Então passei para caneta escrita fina BIC, fazia desenho do “Conan o Bárbaro” com sua pujança em musculatura. Eu fazia questão de fazer bem feito os traços, os

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sombreados, me fiz assim um exímio desenhista detalhista. Ainda no primário descobri, lá pelos meus nove, dez anos de idade que me destacava entre meus colegas na parte dos desenhos. Por causa das belas capas dos trabalhos em equipe tinha grandes disputas dos colegas e admiração dos professores. Já com meus doze, treze anos me interessei por pintura, pintei várias telas com tinta à base d’água pois não trabalhava ainda para comprar materiais próprios. Já com dezenove anos vi na prefeitura, hoje Câmara Municipal, onde meu pai era zelador, lindos desenhos a nanquim nas paredes do palacete que eram do artista plástico Augusto Morbach o qual tive o privilégio de conhecê-lo com vida, me encantavam seus quadros. Assim, seguindo os passos do grande artista Augusto Morbach comecei a praticar bons trabalhos, primeiramente para presentear colegas e parentes. Ao decorrer do tempo em horário de folga, colocava em prática minhas habilidades artísticas. No início, meus primeiros desenhos foram feitos com caneta BIC preta, papelão e papel de embrulho usando a técnica “nanquim”.

MARABÁ PRIMEIROS TEMPOS

O Pontal do Cabelo Seco /1992 Domingo Nunes. Acervo Pinacoteca Municipal Pedro Morbach


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epois comecei a trabalhar e logo investi em um bico de pena e um tinteiro “frasco” com tinta à nanquim. Comprei papel canson próprio para desenhar e assim me saí bem, fazia paisagens regionais, do castanheiro, do seringueiro, do garimpeiro (ele é filho de garimpeiro de diamante) do ribeirinho. Os temas e as coisas da região atraem a atenção do artista. Segundo o artista, o castanheiro leva uma “vida dura e sofrida” o que mostra sua preocupação com os problemas regionais; talvez esteja aí a explicação para a predominância dos temas regionais em suas obras. Vale ressaltar que Domingo Nunes define-se como “um artista detalhista” e “vidrado em motivos regionais” . Depois, passei a vender meus trabalhos e foi aí quando a Casa de Cultura de Marabá me descobriu e a convite do Sr. Noé fiz a minha primeira exposição que teve grande abrangência popular e da imprensa local. Tive grande apoio do Noé, grande articulador da cultura em Marabá e na região. Vendi várias obras, fiquei muito gratificado mas os preços oferecidos não eram lá muito animadores, pelo grande empenho que eu fazia para tal. Minha notoriedade foi crescendo na cidade e comecei a vender para repartições públicas, casas e restaurantes de Marabá. Através da Casa da Cultura, consegui amplitude internacional, mandamos várias obras para a Alemanha, minhas e dos colegas: Antonio Morbach, Rildo Brasil, Jonas Barros, e outros. A exposição ficou um ano por lá. Agora faço telas à óleo, ou acrílica no quintal da minha casa em Marabá onde são bem aceitas e com bons preços mas é muito difícil manter minha obra, mesmo assim, vou tocando o meu sonho. Em agosto de 1997 participou com vários trabalhos da exposição de artistas marabaenses na universidade de Berlin, na Alemanha. Expôs individualmente em Tucuruí / PA, na V Feira do Livro e na I Feira de Cultura Paraense. Mostrou também seu talento nos hotéis Itacaiúnas em Marabá e no Hilton Hotel em Belém do Pará, com a exposição “Escola de Nanquim de Marabá”.

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Ao decorrer do tempo em horário de folga, colocava em prática minhas habilidades artísticas. Depois, passei a vender meus trabalhos e foi aí quando a Casa de Cultura de Marabá me descobriu e a convite do Sr. Noé fiz a minha primeira exposição que teve grande abrangência popular e da imprensa local.


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DONAZ Airton Souza

DONA EZITA E A TÊNUE RELAÇÃO DE UMA ARTE NAÏF NA AMAZÔNIA ORIENTAL

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Z

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ntre tantas propostas discursivas e reflexivas que a produção artística de Dona Ezita pode suscitar, estão à latência de temáticas que convergem diretamente e, ao mesmo instante, para fatos históricos, culturais e sociais, sobretudo, centrado nas condições históricas, sociais, culturais, políticas, intelectuais entre outras questões, ligadas a condição das mulheres. Direcionando assim toda uma parte estética de suas obras aos questionamentos e problematizações das relações: mulheres versus mundo. Dona Z faz convergir, perceptivelmente, em suas obras fatores históricos e sociais para marcar e problematizar temáticas ligadas à liberdade e aos valores das mulheres e suas relações exteriores com o mundo. Nesse sentido, é imprescindível ressaltar que as cinco obras de Dona Z, aqui analisadas, constrói uma linguagem pictórica, apontam para a condição polidiscursiva e, apontando para uma latente monodiscursividade em torno da

figura feminina. Assim, Ezita Machado marca de várias maneiras as relações discursivas e estéticas dentro de suas obras, um exemplo é a ausência de títulos nas obras que é, em parte, outra maneira de problematizar e deixar em aberto às relações: artista, público, obra e interação, marcando assim uma espécie de interatividade histórica a revestir ainda mais o imaginário para com as suas obras. Dona Ezita busca romper, por exemplo, com o senso comum e ideário patriarcal em que as mulheres são incluídas dentro do prognóstico do chamado “sexo frágil”. Assim, a artista conjuga um discurso visual na tentativa de refazer outros discursos sobre um discurso aparente e que foi sendo fixado como verdade ao longo do tempo. Já em relação às características de uma arte naïf, visivelmente presentes na produção artística de Dona Z, faz-se necessário destacar que ao mesmo tempo em que a artista traz a lume marcas de uma arte naïf ela vai rompendo com outras fortes características ligadas à estética da própria arte naïf.

Em termos gerais, ao construir essa gênese dentro de sua obra, Dona Ezita, abre-a para outras possibilidades conceituais dentro de sua produção artística. Pois, ao mesmo tempo em que temos uma aparente simplicidade e uma possível liberdade representacional nas obras, a artista mescla essas condições com realidades discursivas e complexas de fatos históricos, sobretudo, problematizando e questionando, por exemplo, determinadas condições sócios históricas das mulheres, o que representa dentro do conceito de arte naïf, uma espécie de rompimento, já que segundo os teóricos dessa área, a arte naïf, prima entre outras coisas, por representações pictóricas mais próximas das irrealidades dos fatos. Outra marca de rompimento com a arte naïf é quando Dona Ezita faz com que sua obra realce as aparentes proporções naturais das coisas e dos seres presentes em suas obras, mesmo que supostamente estão todos a fazerem parte de um mesmo plano, isso aponta, sem sobra de dúvida, para uma relação muito próxima

Dona Ezita busca romper, por exemplo, com o senso comum e ideário patriarcal em que as mulheres são incluídas dentro do prognóstico do chamado “sexo frágil”. Assim, a artista conjuga um discurso visual na tentativa de refazer outros discursos sobre um discurso aparente e que foi sendo fixado como verdade ao longo do tempo.

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do que venha a ser as marcas de uma presente perspectiva. No entanto, uma das características mais preponderante de uma arte naïf presente nas obras de Dona Z, que esta ligada diretamente em relação ao uso das cores. Uma vez que, este uso, dentro da relação conceitual de uma arte naïf, vem sempre marcado pelo caráter de um colorido exuberante, ao passo que as cores trazem à tona todo o trabalho artístico revestido pela aplicabilidade das pinceladas com cores muito fortes e, aparentemente disformes umas das outras, marcando assim uma espécie de delineamento entre elas. Assim, dentro dessa perspectiva, uma das mais subjacentes características da arte naïf nas obras de Dona Ezita, aqui analisadas, estão diretamente centradas nas aplicações de cores chocantes, vivas, notáveis e exuberantes. Ainda conforme podemos verificar os sistemas simbólicos que Dona Ezita reelaboram mesclam a intrínseca relação entre paisagens e a condição humana, principalmente, a condição feminina, é o que dentro dos conceitos naïfs podem ser considerados uma maneira de trazer à tona os elementos periféricos, tão forte dentro da própria condição da arte naïf. Historicamente, a artista plástica Dona Ezita expõe a partir da relação histórica da condição das mulheres uma complexidade imaginaria problematizadora que contribuirá para traze a lume algumas narrativas subalternizadas, sobretudo, em torno da figura feminina. Essas aparentes deformidades do corpo, visivelmente representada nas obras de Dona Ezita são as tramas simbólicas, culturais, históricas e sociais, a partir de um movimento para simbolizar significações representacionais da condição primeira das mulheres. São, em parte, os processos discursivos sendo incessantemente reelaborados dentro da produção artística de Doza Z. É o que se considera também na arte naïf como sendo a reelaboração da chamada Arte Incomum, produzida por essa artista sentimentalmente disposta a problematizar e questionar movimentos históricos em que as mulheres foram postas nas condições desumanas de subjugadas. Sendo, por tanto, nas obras de Dona Z uma das condições primordiais, mas, não somente isso, a de referendar a temática feminina como uma referência cultural, na sua produção artística, que nos parece ora tão subjetiva e ao mesmo tempo tão coletiva. Condição esta que não deixa de ser também uma das características da arte naïf.

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Historicamente, a artista plástica Dona Ezita expõe a partir da relação histórica da condição das mulheres uma complexidade imaginaria problematizadora que contribuirá para traze a lume algumas narrativas subalternizadas, sobretudo, em torno da figura feminina.


Dentro ainda do que se compreende como parte conceitual de arte naïf, nas obras de Dona Ezita, há uma relação muito forte da representatividade simbólica de elementos da natureza, tais como: animais, plantas, árvores, rios, entre outros. Esses elementos e seres da natureza que estão presentes nas obras de Dona Ezita são partes das caracterís-

ticas muito contundentes da simbologia conceitual da arte naïf, quando, por exemplo, encontramos na obra de Dona Ezita a representação da natureza em seu estado puro e ao mesmo tempo selvagem. Contudo, conforme vimos, em Dona Ezita todas essas relações não são aleatórias, pois, estão dentro de uma composição discursiva e histórica,

revestidas por complexas relações de intencionalidades, para além de uma simples representação, ao passo que, suas narrativas, pictoricamente, são racionais, culturais, históricas, questionadoras, problematizadoras e abrangem temáticas multifacetadas tanto nas relações natureza e seres, quanto, natureza e suas relações com o mundo.

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Foi por volta do ano 2000 que se enveredou de vez pelas artes plásticas, quando adotou o nome artístico de Dona Z, contribuindo assim com a criação do GAM - Galpão de Artes de Marabá, juntamente com Antônio Botelho Filho , o Botelhinho, o qual ela considera como um filho. 94 www.revistapzz.com.br


BIOGRAFIA DE DONA “Z” Dona Z é Ezita Silva Machado e nasceu em 09 de setembro de 1947, no interior do Maranhão. Filha de Corina Silva Porto e Cícero Bento da Silva. Com sete irmãos, desde criança, encantada pelo o ofício do pai, que tinha uma oficina de movelaria, despertou o gosto pelo fazer artístico através da observação dos trabalhos desenvolvidos por seu pai em sua movelaria. Ezita Silva Machado foi uma migrante, viveu em alguns lugares, pequenas cidades deste país, em três estados, Goiás (hoje Tocantins), Maranhão e Pará. Nessa escalada, fez de tudo um pouco, como acontece com a maior parte dos brasileiros pobres e com pouca escolaridade, assim, além de dona de casa, foi doceira, fabricando doces caseiros e bolos para vender, foi ainda costureira e também cabeleireira, além de manicure (e pedicure, como se dizia), também desenvolveu atividades como vendedora ambulante e de loja, professora, apesar dos poucos estudos, por ser autodidata e valorizar os estudos e a leitura como um patrimônio imperecível e intransferível. Foi por volta do ano 2000 que se enveredou de vez pelas artes plásticas, quando adotou o nome artístico de Dona Z, contribuindo assim com a criação do GAM - Galpão de Artes de Marabá, juntamente com Antônio Botelho Filho , o Botelhinho, o qual ela considera como um filho. No auge de sua produção artística, produziu muitas obras, no estilo naïf, cujo tema surpreende a muitos e contrasta com seu jeito severo de se comportar de se vestir (com roupas longas e com mangas): mulheres nuas ou quase nuas, em movimentos extravagantes, rodeadas de natureza, pintadas com corres vivas, simples. Assim, essa mulher de aparência frágil, mas firme e forte feito uma rocha, trouxe ao mundo sua arte singela e significativa, contribuindo para um mundo onde a problematizações e questionamentos das relações históricas estejam sempre em voga.

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MARGEN arte visual

Kilzzy Lucena Marcone Moreira apresenta projeto que reúne arte e carpintaria naval. “Margens”, projeto aprovado via um edital (Bolsa de Estímulo à Produção em Artes Visuais) da Fundação Nacional das Artes (Funarte), dará a possibilidade ao artista de poder compartilhar o resultado de três meses de trabalho com ribeirinhos e barqueiros da cidade numa apresentação pública no auditório do Campus I da Universidade Federal do Pará, em Marabá,

PROJETO MARGENS Após participar da Bienal Internacional de Curitiba, da coletiva “Mundos Cruzados”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e de ver o seu trabalho na itinerância do Prêmio Marcantonio Vilaça que passou por cidades como Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, o artista plástico Marcone Moreira se dedica a finalização do seu maior projeto em 2013 e engana-se quem pensa que será uma exposição. O projeto “Margens”, aprovado via um edital (Bolsa de Estímulo à Produção em Artes Visuais) da Fundação Nacional das Artes (Funarte), dará a possibilidade ao artista de poder compartilhar o

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resultado de três meses de trabalho com ribeirinhos e barqueiros da cidade numa apresentação pública no auditório do Campus I da Universidade Federal do Pará, em Marabá. Ao elaborar o projeto, Marcone teve a intenção de dar continuidade à pesquisa que realiza desde 2000 sobre a visualidade das populações ribeirinhas de Marabá. Nos últimos projetos o resultado foi a apropriação e ressignificação de peças dessas comunidades, mas desta vez o artista sentiu necessidade de aprofundar as relações de trabalho com os barqueiros, com uma atenção especial ao sistema econômico e simbólico dos mesmos. “Margens” teve como foco a dinâmica de troca ma-

terial e simbólica, que permitiu ao artista ir além da apropriação de elementos residuais das canoas, algo que faz parte da sua prática artística. A ideia foi participar ativamente de toda uma rede de relações dos barqueiros, por meio da construção de três novas canoas em um dos estaleiros à margem do rio Tocantins, percebendo uma nova relação entre o trabalho do artista e o universo da carpintaria naval. As canoas usadas serão desmontadas para a realização de uma série de futuros trabalhos que rearranjem o seu potencial estético e simbólico. Natural da cidade de Pio XII, no Maranhão, Marcone adotou Marabá há mais de dez anos como moradia e celeiro de suas pesquisas voltadas ao universo visual


NS de uma cidade entrecruzada por dois grandes rios, o Tocantins e o Itacaiúnas. “O meu processo de pesquisa envolve o interesse sobre os estaleiros localizados às margens desses rios, onde observo e recolho material destinado à produção do meu trabalho. É necessário refletir sobre o universo das embarcações, sua iconografia e técnicas construtivas. Isso contribui para o entendimento da minha prática artística, para noções de autoria, apropriação, construção e desconstrução, alta e baixa cultura, dentro do imaginário ribeirinho de Marabá e da Amazônia”, comenta Marcone, que em sua fala na UFPA pretende focar no processo e nas características experimentais do projeto que foi documentado a cada etapa.

AS ETAPAS PARA CHEGAR À MARGEM Tendo o acompanhamento periódico da pesquisadora em arte, Marisa Mokarzel, o projeto foi organizado em três etapas. Primeiro foi feito um mapeamento que localizou e os estaleiros de construção de embarcações em Marabá. Junto aos carpinteiros navais foram recolhidos dados sobre procedimentos, técnicas construtivas e decorativas das canoas. Foi elaborada então uma proposta de trabalho coletivo e levantamento de necessidades técnicas para a execução do trabalho, segui-

do da constituição de uma equipe e aquisição de madeiras, tinta, ferramentas de construção, etc. Foram consumidos dois meses na etapa de produção, nos quais as três canoas foram construídas e passaram pela fase de pintura e calafetação (técnica de isolamento das fendas com algodão e breu). As canoas novas zforam então trocadas pelas usadas, que seguiram para o atelier do artista para serem desmontadas. Marcone já finaliza o projeto com a organização de um catálogo que documenta todo o processo e que será distribuído no dia da apresentação na UFPA.

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carajรกs visuais

ENT & RE 98 www.revistapzz.com.br


FOTO: REGINA SURIANE

TRE RIOS REDES PROJETO CARAJÁS VISUAIS

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FOTO: JONAS CARNEIRO

carajás visuais

O

projeto “Carajás Visuais Entre Rios e Redes” partiu da realização de intercâmbios e interlocução entre profissionais das artes visuais: artistas, curadores, críticos e fomentadores culturais das regiões norte e sudeste do país. A iniciativa propôs uma cooperação inter-regional envolvendo esses profissionais agindo em rede, tendo Marabá como a cidade polo de integração regional; e as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, como eixos de redes. Três importantes ações foram destacadas, iniciando com o I Encontro Cultural da Região Carajás, uma residência artística com intervenção de pintura contemporânea em 30 barcos de madeira e exposições resultantes dos processos de criação e produção artística. A iniciativa teve o patrocínio da

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Rede Nacional Funarte de Artes Visuais (9ª edição).

ENCONTRO / INTERCÂMBIO Na primeira ação, artistas e agentes culturais residentes no sudeste do país (São Paulo e Rio de Janeiro) participaram do I Encontro Cultural de Artes Visuais que aconteceu na cidade de Marabá (PA), polo da região sudeste do Pará, fortalecendo as relações entre as redes local e nacional a partir de conexões entre as duas regiões. A presença de representantes do núcleo de artes visuais da FUNARTE, pela primeira vez na região; do MINC – Regional Norte; de membro do colegiado de artes visuais da CNPC; e do Instituto de Arte do Pará estimulou a participação de artistas e gestores culturais oriundos de municípios

A iniciativa propôs uma cooperação inter-regional envolvendo esses profissionais agindo em rede, tendo Marabá como a cidade polo de integração regional; e as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, como eixos de redes. Três importantes ações foram destacadas, iniciando com o I Encontro Cultural da Região Carajás, uma residência artística com intervenção de pintura contemporânea em 30 barcos de madeira e exposições resultantes dos processos de criação e produção artística.


FOTO: REGINA SURIANE

do entorno que integram a rede Carajás de cooperação cultural. A concepção do encontro, fundamentada na valorização do rio e da comunidade ribeirinha, na produção artística e sua relação com o contexto amazônico, e no fortalecimento das redes, promoveu uma extensa programação composta por roteiro turístico em seis espaços culturais de artes visuais, onde foram apreciadas 262 obras de 52 artistas; oficinas, palestras e rodas de conversas, pré-seleção e curadoria de obras de artistas, abertura de exposições, intercâmbios e projeção de curtas produzidos na região. Residência Artística - Na segunda ação, em formato de residência, o artista Maurício Adinolfi, de São Paulo, iniciou um processo de formação, criação e

produção coletiva junto à comunidade ribeirinha, de barqueiros e pescadores atuantes nas margens do rio Tocantins, vinculados a Associação dos Barqueiros Marítimos de Marabá. Acompanhado do artista Antônio Botelho e Marcone Moreira, além de gestores e mediadores culturais Deize Botelho e Jonas Carneiro, Adinolfi focou na intervenção artística que resultou na pintura, inicialmente de 10 barcos de madeira, identificados como “Penta” ou “Paco” muito utilizados pela comunidade e turistas na travessia da cidade às praias de rios, no período de veraneio. Logo esse número foi ampliado para 30 barcos com a manifestação de parceria da secretaria de cultura de Marabá. A pintura nos barcos, aliada ao processo de formação, aprimoramento e intercâmbio, culminou com a

Na primeira ação, artistas e agentes culturais residentes no sudeste do país (São Paulo e Rio de Janeiro) participaram do I Encontro Cultural de Artes Visuais que aconteceu na cidade de Marabá (PA), polo da região sudeste do Pará, fortalecendo as relações entre as redes local e nacional a partir de conexões entre as duas regiões. A pintura nos barcos, aliada ao processo de formação, aprimoramento e intercâmbio, culminou com a realização de uma performance fluvial, na orla do rio Tocantins com os próprios barcos revitalizados em cores e tendo o rio como espaço e corpo de ação, celebrando os 100 anos de Marabá e homenageando o trabalhador do rio, no dia 01 de maio/13.

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salador na vida dos habitantes locais que, historicamente, se organiza em torno dos rios Tocantins e Itacaiúnas. Assim, a possibilidade da construção da hidrovia no Rio Tocantins vem chamando a atenção de artistas e ativistas locais, impondo-se desde o início da pesquisa, como tema central de debate na região. Dessa forma, a exposição se desdobrou em três eixos fundamentais para se pensar a cultura da região de Carajás: Rio (vida e abandono), o Território (propriedade e disputa) e a Exploração (humana e econômica). O diálogo e a reflexão sobre este outro Pará ainda desconhecido no sudeste do país e a discussão acerca da arte contemporânea, gerou um ciclo de debates realizado durante o período de exposição, ressaltando os temas: “Arte e não-arte: limites borrados”- discussão sobre os procedimentos contemporâneos de apropriação, a noção de autoria e o trabalho de arte como intervenção política; “Conjuntura atual em Carajás”; Relato sobre o contexto sociocultural e político da região de Carajás e o processo de articulação da presente exposição; “Realidade social e a construção da obra de arte”como o artista contemporâneo incorpora certos acontecimentos sociais em suas práticas. Relação entre política e atuação artística. Desdobramentos - Carajás Visuais “Entre Rios e

Redes” desencadeou uma série de reflexões sobre a arte e o contexto sociocultural amazônico, a preservação do rio e o cuidado com o meio ambiente, a valorização da memória e do patrimônio cultural. Além disso, a iniciativa desdobrou-se em diversas conquistas culturais: as imagens aéreas feita pela fotógrafa Regina Suriane foram selecionadas pelo Arte Pará 2013; e compôs uma exposição de artistas brasileiros na sede da Casa Brasil durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016, no Rio de Janeiro (RJ). O artistas Maurício Adnolffi (São Paulo)publicou artigo sobre sua experiência e foi estimulado a realizar projetos similares com intervenção em barcos em outros estados/países. O barqueiro e artesão naval Antônio Sérgio Pompeu, presidente da Associação dos Barqueiros Marítimos de Marabá foi reconhecido como Mestre de Cultura pela Fundação Cultural do Pará. Fortaleceu-se a ideia de criação da Casa do Rio, como forma de preservação da memória da história dos cuidadores do rio. Desdobrou-se ainda na publicação de um vídeo e artigos de Deize Almeida Botelho (Assistente Social e Socióloga), resultante de uma bolsa de pesquisa concedida pelo Instituto de Artes do Pará (IAP), em 2013 e de seu estudo de Mestrado em Dinâmica Territorial e Sociedades na Amazônia. realizado na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).

FOTO: MAURÍCIO ADINOLFI

realização de uma performance fluvial, na orla do rio Tocantins com os próprios barcos revitalizados em cores e tendo o rio como espaço e corpo de ação, celebrando os 100 anos de Marabá e homenageando o trabalhador do rio, no dia 01 de maio/13. Curadoria/Exposição – a exposição “Onde o Rio Acaba”, finalizando o projeto na cidade de São Paulo teve como objetivo principal apresentar ao público paulista, aspectos da produção artística e da realidade cultural da região Carajás, sudeste do Pará. A curadoria para composição da coletiva no Ateliê 397 (SP) iniciou durante o Roteiro Turístico ocorridos nos espaços culturais de artes visuais da cidade onde artistas e curadores de artes tiveram oportunidade de conhecer a produção atual e acervos da Fundação Casa de Cultura de Marabá, Universidade Federal do Pará, Galpão de Artes de Marabá, Associação dos Artistas Visuais do Sul e sudeste do Pará, Galeria Vitória Barros e Memória da Cidade. Os curadores observaram um assunto que vem mobilizando as atenções da classe artística na região: a implantação da hidrovia para escoamento da produção da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo que tem um foco de atividade justamente na região de Carajás, onde se encontra uma grande mina de ferro. A implantação da hidrovia trará um impacto avas-

FOTO: HELDER MESHIAS

carajás visuais


FOTO: MAURÍCIO ADINOLFI

FOTOS: JONAS CARNEIRO

Equipe do projeto na pintura dos barcos, na Roda de conversa e no Galpão de Artes de Marabá - GAM

LINK PARA O VÍDEO E OS ARTIGOS: Arte Relacional na Amazônia: estudo sobre a ação barcos Estética Tocantina youtube.com/watch?v=TgW-5S2dwk https://periodicos.ufpa.br/index.php/ revistamargens/article/view/3036 OUTROS LINKS SOBRE O PROJETO. tallentusamazonia.com. br/2018/09/15/carajas-visuais-entrerios-e-redes/ anpap.org.br/anais/2013/ANAIS/ simposios/08/Mauricio%20Adinolfi.pdf OBSERVAÇÃO: Texto publicado no Catálogo Rede Nacional Funarte de Artes Visuais (9ªedição). Revisão de conteúdo com acréscimos de desdobramentos, concedidos por Tallentus Amazônia, em 2018.

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música

Deize Botelho *

CAFRE: UM CANTO ABERTO OS FESTIVAIS DA JUVENTUDE NA DÉCADA DE 1980 EM MARABÁ

O presente trabalho trata-se de uma descrição e análise do processo de pesquisa, experimentação e difusão artística, nomeada CAFRE, Um Canto Aberto, contemplado com o edital de Prêmio Experimentação, Pesquisa e Difusão Artística 2016, vinculado ao Programa de Incentivo à Arte e à Cultura – Seiva, da Fundação Cultural do Estado do Pará. A pesquisa teve como objetivo, selecionar 10 músicas premiadas em antigos festivais da década de 1980, ocorridos na cidade de Marabá, sudeste do Pará, trabalhadas em experimentações de novos arranjos musicais, resultando na produção de um CD Matriz e em uma apresentação musical na cidade de Marabá (PA). * Pesquisadora em Arte, Cultura e Sociedades. Mestre em Dinâmica Territorial e Sociedades na Amazônia pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). Bolsista da CAPES-Brasil. Graduada em Serviço Social (PUC/GOIAS). Especializada em Métodos e Técnicas de Elaboração de Projetos (PUC/MINAS) e em Saúde Pública (UNAERP/SP). deize.botelho@gmail.com. Travessa do Pescador, 91 Bairro Novo Horizonte CEP68503-440 Marabá, Pará.

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O

s festivais de músicas autorais em Marabá tiveram início na década de 1980. Denominados, Canto Aberto em Festival Regional (CAFRE), foram constituídos por cinco versões, ocorridas entre os anos de 1980 a 1984; antes de serem nomeados Festival da Canção em Marabá (FECAM). No intervalo entre o CAFRE e FECAM, ocorreram mais dois festivais: Festival Privê e Festival de Verão de MPB, em 1985 e 1986, consecutivamente (SOBRINHO, 2010). O FECAM tornou-se um dos festivais mais conhecidos do Norte do País, chegando a sua 17ª versão, no ano de 2015. A expansão gradativa do FECAM, sob a administração da Prefeitura Municipal de Marabá, desde sua 2ª versão, gerou um certo inconformismo dos músicos locais pelo fato de se sentirem excluídos das premiações frente ao alto nível das apresentações dos músicos oriundos de outros municípios/ estados, que terminavam conquistando a maioria das premiações. Sendo assim, em 1996, entendeu-se que era importante a realização de um Pré -Festival, sob a sigla Pré-FECAM, a fim de selecionar e qualificar as apresentações dos músicos locais, garantindo seis vagas no certame maior. O 14º FECAM recebeu uma denominação diferente, em 2001: “FECAM das Artes”. Diferenciou-se por ter agregado diversas linguagens artísticas, durante uma semana de oficinas e mostras em espaços de escolas e praças, ocupados prioritariamente por artistas regionais, findando com o tradicional festival de música, no estádio Zinho Oliveira. A mudança na concepção deste festival foi resultado do movimento Pró-FECAM, ocorrido em 2000, protagonizado por artistas, grupos, organizações culturais, jornalistas e comunidade em geral, que por meio da música; dança; cinema; artes visuais; teatro de rua; poesia e cultura popular, manifestaram recusa à atitude de governantes municipais, pela suspensão dos

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música

Nilva Burjack

festivais desde sua 13ª versão, em 1998. Assim como, pelo fato da Justiça Eleitoral Estadual ter proibiu a realização do festival no ano 2000, alegando que este poderia ter uma conotação política em ano eleitoral. O Pró-FECAM, realizado na frente do estádio Zinho Oliveira, tornou-se um marco na história do movimento artístico em Marabá por reivindicar mudanças estruturais no festival e refletir sobre os rumos da política cultural no município (BOTELHO, 2016). Pois bem, retornando a origem dos festivais, o CAFRE foi criado por um grupo de jovens nomeado Movimento da Juventude Marabaense em Cristo (MOJUMAEXTO). Nascido em 1978, no interior da Igreja Católica para dar assistência aos cânticos das missas dominicais, os jovens se contrapunham a um período em que a violência no campo era pauta constante dos movimentos sociais (MATTOS, 2013). Abrigados numa sala cedida pela Diocese de Marabá no espaço “Alavanca” , o MOJUMAEXTO teve uma forte relação com o Movimento de Educação de Base (MEB) que atuava no mesmo espaço, ampliando suas visões políticas e, por conseguinte, suas militâncias artísticas, sociais e culturais (BOTELHO, 2016). As primeiras versões, I e II CAFRE, protagonizadas pelos jovens do MOJUMAEXTO ocorreram em 1980, sendo a primeira, no mês de julho, na quadra de esporte “Osorinho”, com um público aproximado de 800 pessoas; e a segunda no mês de outubro, no Estádio Zinho Oliveira; ambos os espaços, localizados no

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João Brasil

Os jovens que se movimentavam a partir dos festivais conviviam com o cerceamento da liberdade de expressão, em uma década marcada pelo regime militar (1964-1985) e pela economia extrativista imposta pelos governos nacionais às comunidades amazônicas (BOTELHO, 2016).

Núcleo Pioneiro da cidade de Marabá (PA). O II CAFRE teve um público de 1.200 pessoas e contou com a parceria do Grupo de Liderança do Colégio Santa Terezinha. As versões do III, IV e V CAFRE já tiveram como protagonistas, os Jovens Unidos de Marabá (JUMA), fundado em novembro de 1981 com o objetivo de criar, preservar, defender e exigir a cultura marabaense (MARABÁ, 2013). Em documento do JUMA, os jovens afirmam: “Estamos dispostos a continuarmos com a nossa luta em benefício da cultura desta região, apesar das dificuldades que nos deparamos, com a censura, dentre outras coisas”. Nesta frase, os jovens afirmam as dificuldades vivenciadas no processo de realização dos festivais, resistindo aos entraves externos que a dinâmica política lhes impunha na localidade (MARABÁ, 2013). O Festival Privê (1985) e o Festival de Verão de MPB (1986) foram organizados por grupos

Carlinho Veloz

Zeca Toca

de jovens autônomos. Em 1987, o Centro de Cultura Popular de Marabá (CCPM) deu continuidade aos festivais de música, alterando sua nomenclatura para a sigla FECAM. (SOBRINHO, 2010). Os jovens que se movimentavam a partir dos festivais conviviam com o cerceamento da liberdade de expressão, em uma década marcada pelo regime militar (1964-1985) e pela economia extrativista imposta pelos governos nacionais às comunidades amazônicas (BOTELHO, 2016). Os festivais representavam uma forma de resistência popular a esta violência descabida, ao possibilitar a liberdade de expressão por meio da música, mesmo quando estas eram sujeitas à análise prévia da polícia federal.

DOS CONCEITOS APROPRIADOS E METODOLOGIA ADOTADA. Dos Conceitos Apropriados. Aproprio-me da concepção certeauniana de resistência (1998), por entender que esta perspectiva é a que melhor expressa o sentimento e atitude da juventude dos anos de 1980. Nesta perspectiva, a resistência é caracterizada pela “micro” ação de enfrentamento de situações indesejadas, por gente simples que dribla e/ou mina as regras estabelecidas. É definida como pequenas subversões humanas, sem um propósito aparente, mas que joga com; e proliferam no interior do sistema que lhe é


antins

Mariana Botelho

As canções dos festivais da década de 1980, trazem à tona, a história da cidade e de uma Amazônia que luta pela preservação e valorização de seus rios, florestas; e por um mundo de paz entre os homens e a natureza. Há esperança da liberdade nos versos em travessuras dos cantadores.

imposto (CERTEAU, 1998). Para entender as relações de poder estabelecidas pela dinâmica territorial imposta para a região ao longo das últimas décadas, pautada nos interesses do avanço do capital econômico nacional e internacional, por meio da exploração de riquezas naturais; e, no controle dos movimentos sociais mediante o regime de ditadura militar, apreendo o estudo sobre os sistemas simbólicos, em Bourdieu (2012). Os sistemas simbólicos cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre a outra (violência simbólica), dando o reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam...(BOURDIEU, 2012) Com base no enunciado, reflito sobre a realidade do período histórico em análise, que incita a criação poética e musical dos participantes dos festivais.

Javier di Mar-y-abá

No período em que o Brasil vivenciava a ditadura militar (1964-1985), Marabá foi decretada área de segurança nacional pelo Decreto Lei No 1.131, de 30 de outubro de 1970; a região vivenciou a Guerrilha do Araguaia (1972-1974) e implantação do projeto Grande Carajás, em 1980 (MATTOS, 2013). Neste contexto, os festivais tornaram um instrumento de denúncia de violação de direitos por meio de suas canções. Mesmo submetidos às censuras da Polícia Federal, os artistas driblavam as limitações impostas e cantavam as suas letras originais (BOTELHO, 2016).

DA METODOLOGIA ADOTADA Parto do exame preliminar de parte do acervo histórico dos primeiros festivais de música em Marabá (PA), ocorridos nas décadas de 1980 e 1990, resguardados pela Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM) e pela Secretaria de Cultura de Marabá (SECULT). São: fotos, recortes de jornais, cartazes, letras de músicas, artigos sobre o assunto, dentre outros materiais já digitalizados. Na FCCM foi possível encontrar informações sobre os Festivais da Canção em Marabá (FECAM), do I ao XVII FECAM, supridas de cartazes e letras das músicas premiadas. Sobre os CAFRE (S), não havia informações. As informações sobre os festivais Privê e Verão de MPB foram coletadas em entrevistas com organizadores e participantes destes festivais .

Belim Amoury

Os festivais representavam uma forma de resistência popular a esta violência descabida, ao possibilitar a liberdade de expressão por meio da música, mesmo quando estas eram sujeitas à análise prévia da polícia federal.

Na SECULT, tive acesso à relação nominal das músicas inscritas e premiadas, do I ao V CAFRE (s), acrescida da relação de participantes do corpo de jurados e da banda base. Acervo escaneado no seu formato originário, cedido por membros do JUMA. Entretanto, não havia registro das letras e melodias necessárias à execução da proposta. Assim, constatei a insuficiência de informações sobre as composições premiadas nos festivais da década de 1980. Como também, algumas contradições de informações oficiais sobre seus autores e intérpretes premiados. Surgiu aqui, o maior desafio da pesquisa proposta: localizar os autores e intérpretes; superar os contrastes de informações; e estimulá-los ao resgate de suas próprias obras. Ao verificar a ocorrência de dez versões de festivais na década pesquisada e uma relação de 146 títulos de composições musicais, com a identificação de autores e intérpretes (muitos constando somente o primeiro nome ou apelido), concentrei esforços na busca

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música

de contatos com os autores a fim de resgatar as letras e músicas originais. Como também, solicitar a cessão de direitos de uso das obras. Resumidamente, realizei os seguintes procedimentos: • Consultas em acervos bibliográficos da: Secretaria Municipal de Cultura (SECULT-Marabá); Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM); publicações em jornais impressos (Correio do Tocantins, Opinião); Livros e artigos publicados sobre o assunto. • Consultas em acervo particulares, fonográfico e de imagem; de arquivos postados em sites, blogs e Facebook. • Contatos e entrevistas semiestruturadas com compositores e intérpretes; jurados e organizadores dos primeiros festivais de

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músicas. Assim como através de familiares de autores já falecidos. Priorizei um método qualitativo, participativo, por meio de entrevistas semiestruturadas, visitas domiciliares, contatos telefônicos e/ou virtuais, em busca de mais informações sobre as composições e compositores, residentes em Marabá e em outros municípios/estados brasileiros. Fiz uso de ferramenta de captura de áudio, para apreensão de algumas narrativas sobre os festivais, de letras e melodias originais. Concentrei esforços no resgate de 10 composições premiadas nos festivais da década de 1980. A decisão partiu da constatação de que a maioria das composições, não havia sido resguardada e corriam

"Ao verificar a ocorrência de dez versões de festivais na década pesquisada e uma relação de 146 títulos de composições musicais, com a identificação de autores e intérpretes (muitos constando somente o primeiro nome ou apelido), concentrei esforços na busca de contatos com os autores a fim de resgatar as letras e músicas originais."


o risco de cair no esquecimento popular. Os critérios adotados para a definição das composições foram simples. Segui a listagem de músicas premiadas, obedecendo a sequência natural de premiações (1° a 5° lugar e aclamação popular), considerando o julgamento já realizado pelo corpo de jurado, atuante na época. Priorizei pelo menos uma música de cada versão do festival. Tinha certeza que o principal desafio seria localizar os compositores para a liberação de direitos autorais após três décadas de realização do primeiro certame. Na dificuldade do encontro com os compositores contemplados com o 1º Prêmio, partia-se imediatamente e sequencialmente para o 2° e 3° da lista

de premiados. Ao final da busca quase exaustiva, foram encontrados autores, atualmente residentes nas cidades de Marabá (PA), Campina Grande (PB), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Imperatriz (MA), São Luís (MA), Niterói (RJ). Uma vez encontrado, desafio superado. Trago à cena a relação das composições premiadas na década de 1980, a fim de alimentar nossas reflexões e análises. O conjunto de títulos das obras dos autores premiados revela um indício da força de resistência do movimento artístico, contrapondo-se à dinâmica política e econômica imposta pelos governos brasileiros numa época regida pelas forças militares.

Os festivais tornaram um instrumento de denúncia de violação de direitos por meio de suas canções. Mesmo submetidos às censuras da Polícia Federal, os artistas driblavam as limitações impostas e cantavam as suas letras originais (BOTELHO, 2016).

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música Relação de Músicas Premiadas com Destaque para as Composições Resgatadas. Festival

Data 11/07/1980

I CAFRE

Prêmio 1º Lugar

2º Lugar 3º Lugar 24/10/1980 1º Lugar

II CAFRE

2º Lugar

Compositores e Interpretes Candido Antonio Mesquita e Status Elite Moises Lopes Costa (Compositores). Antonio Morbach Neto (Interprete) Menino Abando- Luiz Wagner (compositor e interprete) nado Balada Para Um Aldemar Siqueira (compositor e interprete) Terrestre Queda Dos Ouriços Carlos Alberto Martins Barros Arribação

2º Lugar

Desagua

3º Lugar

Reino das Flores

José Valdir (compositor e interprete)

17/07/1981 1º Lugar

Nas Flores a Esperança Queimadas

16/07/1982 1º Lugar

3º Lugar

Peneira Filho da Liberdade Proteção ao Verde

Participação

Adeus Marabá Adeus

2º Lugar

IV CAFRE

15/07/1983 1º Lugar V CAFRE

2º Lugar 3º Lugar

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Cacaso e Cantomes (Compositores); Amaury Moreira (Interprete) Aldemar Siqueira (Compositor); Ildete Santana Da Silva(Interprete Candido Antonio Mesquita Ronaldo Alves (compositor e interprete)

3º Lugar

III CAFRE

Título

Nega Fulô

Aragua-ai Clemente Berrante

Zeca Tocantins (Compositor) Grupo Trempe de Barro (Interprete) Manoel Martins (Manelão) Francisco Luis de Souza Miguel Serrano (compositor). Vavilson Gomes (interprete) Daniel Barros (compositor e interprete) Carlos Alberto Martins Barros (compositor). Claudia Regina (interprete) Waldearino Paz Nascimento (Compositor); Evadir Sarmento (Interprete)


1º Lugar

Festival Privê

Festival Verão de MPB

I FECAM

1985

1986

3º Lugar

Não Machuque as Flores Depois Do Canto Do Acauã Vida Singela

Lourival Tavares (Compositor) Zeca Tocantins (Interprete) Francisco Xavier dos Santos

1º Lugar

Peixe Menino

Francisco Xavier dos Santos

2º Lugar

Terceira Mutação Ademir Braz e Va Da Paz de ESOJ

2º Lugar

1º Lugar 24/07/1987 2º Lugar 3º Lugar

II FECAM

Marabá

Marcelo Flores (Belém)

Evaldo Bogea (Compositor). João De Barro E Belim Amoury (Interprete)

Homens Passa- Silvio Vinhal (Compositor) Deirinho ze Botelho (Interprete) Euforia Que Não Dalvan Marabá Faz Sentido

29 e 1º Lugar 30/07/1988 2º Lugar

Lembranças

Jose Herênio e João Brasil

Chegou o Trem

3º Lugar

José e Maria

Alemberg Quindim Néviton Carlos e Ivan Coimbra (compositores). Grupo Harmonia (interprete)

4º Lugar 28 e 29/07/1989 1º Lugar

Rastro de Luz

Ananias Pereira

Prisma

Carlinho Veloz

2º Lugar

Rosinha

Francisco Xavier dos Santos

3º Lugar 4º Lugar

Força Jovem Luz da Minha Canção

Dalvan Marabá Dalvan Marabá (compositor). Ariana (interprete)

5º Lugar

A Fina Flor

Amaury Moreira

III FECAM

Fonte: MARABÁ, 2013.

Aclamação Popular Cai na Real

Nildo Brasil

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música

No universo das canções analisadas, imerso na composição que abre o canto em temporada dos festivais de outrora: Status Elite. Que o meu filho nasça bem propenso. Não seja empecilho, nem imite, pense. Que o lenço branco sempre se agite. Que enxugue os prantos, os homens da elite. Laralauêêê Laralauááá Laralauêêê Larauêêê Laralauááá Que as plataformas sejam rígidas. E as novas normas não sejam cumpridas. Que a democracia viva seu conceito. Que tenha valia o nosso direito Laralauêêê Laralauááá Laralauêêê Larauêêê Laralauááá Que o cão arbítrio volte ao seu ermo. Que olhem os flancos1, os homens da elite Que democracia viva seu conceito. Que tenha valia o nosso direito (Candido Mesquita e Moises Costa) Nos versos de Status Elite, os autores retratam a indignação da comunidade local sujeita a todos os tipos de violência física e simbólica orquestradas pelas forças militares que aqui se instalaram em nome da defesa da Amazônia brasileira. Para Candson Mesquita, filho de um dos autores da composição, seu pai foi embora de Marabá, quando ele ainda era criança. Não sabia do seu paradeiro, mas ouviu dizer que ele foi embora da cidade por medo de morrer. Um de seus amigos havia sido assassinado na rua2. O processo de busca do paradeiro de Candido Mesquita, para a aquisição de direito de uso de sua obra, resultou na constatação de sua morte em 08 de maio de 2016, na cidade de Belém (PA), onde viveu os últimos anos. O anúncio da morte do autor me deixou de luto durante alguns dias, chegando a pensar em interromper a presente pesquisa, já que sua composição foi um marco em minha adolescência, me fazendo resguardar na memória trechos de sua música e

o seu nome. O fato é que, após o luto vivido, me vi na incumbência de continuar. Precisava informar ao filho, a morte do pai. Para minha surpresa, o filho ao saber da notícia, pediu que eu falasse sobre o seu pai, pois desconhecia grande parte de sua história e composições. Cantarolei a primeira estrofe. Tomado pela emoção do momento o filho agradeceu, afirmando sentir a ausência do pai, que não via desde sua infância. Pois bem, há exatamente 36 anos após o I CAFRE, percebo que a estrofe inicial revela o sentimento do pai para com o filho que estava nascendo, em meio a uma realidade de violência e cerceamento da liberdade de pensar e agir. O artista (...) é interprete da história, guerrilheiro cultural com-prometido à arte, cultura e liberdade. Uma obra artística que uni-versos da história promovendo uma reflexão atingida pela visão, audição, tato, presente, memória e alma, ao imprimir com a proteção do passado, compor com o som da atmosfera e tocar na rigidez da corda vertical que outrora equilibrou a histeria dos helicópteros ordenados sobre nossos sonhos naturais. O que fazer com essa paisagem? O que fazer com essa paisagem viva e muda, já que a arte ou a criatividade deve ser livre? (...) no “limite da arte”, HÁ ALQUIMIA! Sim, no limite da arte, há alquimia que transformam rígidos asilos do passado em energia renovada ao recriar a história refletida3. (BOTELHO FILHO, 2016.Pág.01). A reflexão trazida por Botelho Filho (2016) ressalta a obra artística que une versos em tempo de histeria do poder, como uma forma de viver a liberdade. A reflexão refere-se à exposição coletiva sobre a Guerrilha do Araguaia, realizada na Galeria Vitória Barros, em 2016. No entanto, a apropriação desta é devida diante da temática abordada. As canções dos festivais de outrora unem versos da história imprimindo as relações de poder, os amores e dissabores do lugar que se renova a cada dia em busca da liberdade.

UM CANTO ABERTO

As composições musicais vinculadas aos primeiros festivais de música ocorridos em

Marabá (PA), nos anos de 1980, seguem o estilo dos festivais ocorridos em todo o Brasil, na mesma época. No entanto, suas especificidades e singularidades caracterizam-se pelo encontro da diversidade de artistas que transitaram (e ainda transitam) no sudeste paraense; pela relação da comunidade local com os processos de violências sofridas em função das intervenções políticas e econômicas, vivenciadas em nome da segurança nacional e do desenvolvimento econômico local; e pelas mudanças ocorridas em seu cotidiano que afetam a vida dos homens, rios e matas. Outrossin, pela celebração da beleza da natureza e dos povos que aqui habitam. A coletânea musical “Um Canto Aberto” são vozes que trazem no canto, um clamor pela vida e liberdade. As canções trazem à tona, a história da cidade de Marabá (PA), do norte e nordeste brasileiro; e de uma Amazônia que ainda luta pela preservação e valorização de seus rios, florestas, comunidades nativas e por um mundo de paz entre os homens e a natureza. Os compositores e intérpretes em suas “micro” ações de resistências empreendida pelos Cantos Abertos parecem ter tomado consciência do poder simbólico instituído à época, que violavam seus direitos de liberdade. Estes viam nos festivais de música e no próprio Canto uma forma de reagir à violência física e simbólica as quais estavam sujeitos. A pesquisa realizada resgatou parte da memória musical dos festivais ocorridos em Marabá, Pará. As letras e melodias que corriam risco de perda e cair no esquecimento popular ganharam novas possibilidades e impulsionam pesquisas complementares, contribuindo com a ampliação do acervo histórico e musical dos órgãos oficiais de cultura do município de Marabá (PA) e do Estado do Pará. Torna-se uma fonte de informação com potencial de desdobramento na construção de textos críticos e artigos sobre a temática, na difusão do conhecimento e no estímulo artístico aos novos protagonistas da cena musical paraense.

Status Elite: Composição de Candido Antônio Mesquita e Moises Lopes Costa. Candido Antônio Mesquita (conhecido por Nena) faleceu em 08 maio 2016, na cidade de Belém, Pará. A letra da música Status Elite, não foi encontrada por seus familiares e amigos da década de 1980, nem nos arquivos dos festivais da Fundação Casa da Cultura de Marabá e da Secretaria de Cultura de Marabá. A letra e melodia apresentada no âmbito deste trabalho foi reconstruída a partir da memória de Antônio Morbach Neto (interprete que defendeu a música em 1980) e Deíze Almeida Botelho (pesquisadora e participante dos festivais). O seu filho, Candson Mesquita, concedeu os direitos de uso da obra. O compositor Moisés Lopes Costa não foi localizado pela pesquisadora. Candido Mesquita também ganhou o 1º Prêmio do III CAFRE (1981), com a música “Queimadas”. No entanto, a letra da música não foi encontrada.

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FICHA TÉCNICA Direção Musical Val André Botelho Pereira Deíze Almeida Botelho Produtor Musical Walkimar Guedes Gravação e Mixagem Rogério Gomes dos Santos Arranjos Musicais Deíze Botelho Walkimar Guedes Instrumentistas Itair Rodrigues - Baixista Guedes Amorim Junior - Baterista Adriano Tavares – Violão Ricardo Souza- Teclado Walquimar Guedes – Saxofone Soprano e Tenor, Flauta Transversal Fabio Alves de Oliveira – Acordeom Joseph Abraão- Guitarra Semiacústica Júlio Cesar - Viola Interpretes Belim Amoury - Carlinhos Veloz – Clauber Martins - Deíze Botelho - Javier Di Mar-y-abá João Brasil Filho - Mariana Botelho - Nilva Burjack - Sérvio Dias - Zeca Tocantins. Estúdio de Gravação Calango Studio Arte Gráfica Netto Marabá Artes Visuais Antônio Botelho Nilson Hamada Fotografias Val André Botelho Pereira Deize Botelho O artigo completo sobre o CAFRE foi publicado no Boletim N°09 da Fundação Casa da Cultura de Marabá, distribuído para o Brasil e outros países latinos americano.

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música LETRAS DE MÚSICA QUEDA DOS OURIÇOS

PENEIRA

O CANTO DO ACAUÃ

Compositor: Carlos Martins Barros Interprete: Mariana Botelho

Compositor: Zeca Tocantins Interprete: Zeca Tocantins

Compositor: Lourival Tavares Interprete: Clauber Martins

Quando chega o fim do ano Não importa quantos planos Os ouriços caem... Multidões incandescentes Olha só que tanta gente aqui se vai

Ôh peneira, peneira o chão Ôh peneira, peneira o chão Peneira a mente dessa nova geração Peneira a mente dessa nova geração

Um dia desse eu vi o canto do Acauã Fiquei todo arrepiado Como uma dor no coração Pensei comigo, não demora chega a seca Vou deixar a minha terra Sem levar meu grande bem

Caravana, barco-à-vela Dentre todas as mais belas, a castanheira... Exportar pra o estrangeiro Só no mês de fevereiro, que vai pro oriente E os ouriços caem, dando som especial Lá bem longe, muito longe, ele é o maioral Refrão. Bendita terra em que nasceu Nem tai pra Galileu, e o tempo vai Vai com “200” lamparinas Com os buracos das narinas, cheirar o chão Esse homem com a família Já esta no fim da fila pra ir embora... Não importa ouro, diamante Pois a castanha já é o bastante pra lhe satisfazer De mãe-d’água a sereia Vai tirar a tal carteira pra entrar na mata... A mulher logo dizendo Quando “Cê” foi nem ao menos Me deixou uma cartinha Põe o paneiro na cabeça Acha que volta nesta terça pra fazer o pão... Que Deus vá lhe abençoando Que Deus vá lhe acompanhando O jovem marabaense, diz que plantou a castanheira, que hoje é grande produção... É abastarda riqueza dessa grandiosa região. Declamado

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Mariazinha, o meu sertão Só tem grilheiros porque morreu lampião Você bem sabe, eu te dizia Depois do dia sempre vem a escuridão BIS (3 vezes) Aprendi através do sofrimento A lutar pelo o que me é de direito Meu juízo é minha própria consciência Que libera ou condena meus defeitos Na batalha eu sou forte combatente Na defesa da causa do oprimido E se alguém me mandar ficar calado Rasgo a voz, pulo alto, berro e grito E que este grito desperte nesta gente Que trabalha e é mal remunerada Sobre julgo morre escravizada Sem ter dor, nem piedade, nem clemencia E meus versos se torne vencedor Desta luta cruel e desigual Revertendo esse quadro social Construindo uma nova consciência Oh peneira, peneira o chão Oh peneira, peneira o chão Peneira a mente dessa nova geração Peneira a mente dessa nova geração

Adeus rosinha, vou pro Rio de Janeiro Ser servente de pedreiro Ou chofer de caminhão Pegue esta Rosa E guarde como lembrança E tenha a esperança de me ter no coração BIS Fui pra estrada com os olho raso d’gua Vi passando um pau de arara, pro chofer dei com a mão Uma carona que me levou pelas estradas Procurando uma fada, que enfadasse esta paixão Hoje Rosinha, tô no Rio de Janeiro E uma saudade danada, flecha meu coração Aqui a barra, não tá de brincadeira Tô em busca de uma amada Que me arranca a solidão


PEIXE MENINO

MARABÁ

LEMBRANÇAS

Compositor: Javier di Mar-y-abá Interprete: Javier di Mar-y-abá

Compositor: Evaldo Bogéa Interprete: Nilva Burjack Participação: Belim Amoury

Composição: José Herênio e João Brasil Filho Interpretação: João Brasil Filho

Nasci num lugar sossegado Lavado por dois rios Cidade Velha cheirando a guardado Sem guerras, poços (portes) ou fios

Itacaiunas Velho amigo meu Há muito tempo eu não te via as águas Mas noto que elas guardam ainda a cor De minha tristeza e minhas mágoas Nesse instante de dentro da canoa Derramo os meus olhos no teu leito E te vejo invadindo o Tocantins Como invade a saudade no meu peito As lembranças flutuam-me na mente Na tela do passado, eu revejo O quadro infantil de minha vida Pintado de mil sonhos e desejos Quantas vezes meu velho Itacaiunas Eu naquele suor naquela frágua Corria das peladas no “granito” Pra deixar o meu suor em tuas águas É isso aí, meu velho caudaloso Nós dois guardamos coisas em comum És irmão do majestoso Tocantins Que também não esqueço em tempo algum

Seguir o curso das águas E tão fácil, é tão banal Se eu já sei no que vai dar Era a nascente da fonte Ir ao princípio de tudo Quero a luz do teu olhar Vou seguindo rio acima Na proteção das ressacas Feito beradeira Minhas abas de ilusão Vão nadando em travessuras Que é este o meu destino E o coração peixe menino Vai amando onda em onda Ou brincando de esconder bis Se por acaso as paixões Me cercam em redemoinhos Nas cachoeiras da estrada Paro um pouco, depois dou uma rebanada E espanto a solidão E o meu ego tão narciso Quase explode num sorriso Se envaidece do que sei Que a paisagem da ribeira É miragem passageira Desvanece num piscar Que a morte nasce com a vida E é preciso outras vivencias Pra eu poder entender o mar

Chegou forçado o progresso No meu pequeno lugarejo Me separando dos amigos Que há muito tempo não vejo Não vejo, não vejo, não vejo. Não vejo, não vejo, não vejo. Deixei a vida a contragosto E fui parar na metrópole Hoje eu me sinto com recurso Pois minha ira desceu à galope À galope, à galope, à galope À galope, à galope, à galope Travaram logo uma guerra Morreu soldados e civis Titularam muitas terras Mas o brasileiro nada viu Tiraram a roupa da Serra Em busca do amarelo Brasil Em minhas lembranças conservo O que foi bom, e o homem destruiu.

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música

Lariza A cantora e compositora Lariza lança seu novo EP que reúne composições sobre ser mulher, espiritualidade, sociedade, natureza, amor e autoconhecimento, com uma musicalidade marcada por diversas influências da música popular brasileira contemporânea. Os arranjos têm como base a melodia que a cantora já havia criado junto à poética de João Urubu, com a sonoridade de violão e violinos, mas também da percussão inspirada no lundu, música e dança típica do Pará, com origem africana

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A

cantora e compositora marabaense Lariza iniciou sua carreira no final de 2014 na 1ª Virada Cultural de Belém se apresentando ao lado de João Urubu na ocupação Solar das Artes realizada no prédio Solar da Beira. Em 2015 participou em sua cidade natal do projeto Fé no Canto, de Jane Martins aprovado pela PROEX da UNIFESSPA em 2015, que reuniu cinco compositores da terra para a gravação de um CD, momento em que teve sua primeira experiência em estúdio. Entre 2015 e 2016 se apresentou ao lado de João Urubu em diversos espaços que incentivam a música autoral na cidade entre eles Espaço Cultural Apoena, Casa Oiam (Tereza&Aryanne), Gotazkaen. Do final de 2016 para 2017 em diante (ano em que se mudou oficialmente para Belém), ao lado de Lucas Guimarães e Jimmy Góes se apresentou na Mostra SESC de Cinema no SESC Boulevard e participou do Festival Sonora – Ciclo Internacional de Mulheres produzido pela cantora Sammliz no Ziggy Hostel Club. A cantora chegou a se apresentar em Goiânia-GO no espaço Evoé Café com Livros ao lado dos músicos Bernar-


A jovem cantora imprime em suas composições as percepções sobre ser mulher, sobre espiritualidade, sociedade, natureza, amor e auto conhecimento e tem sua musicalidade marcada por diversas influências da música popular brasileira contemporânea. Dona de uma voz potente e em expansão, Lariza é uma das tantas cantoras que atuam na cena cultural de Belém, trazendo nas suas raízes do sudeste do Pará as palavras e a força de uma mulher que não deixa de acreditar e que faz da arte sua ferramenta de (r)existência e interação com o mundo

RELEASE EP LARIZA

do Silva e Rafael Fernandes, num evento produzido pelo Formigueiro Cultural (produtora local). Em 2018, a cantora fez intervenções solo no Festival MULHER VIVA!, organizado pela vocalista do grupo Cobra Venenosa Carimbó&Poesia e ativista cultural Priscila Duque e em Castanhal no evento II Onda feminista, organizado pelo grupo Zo’é - Grupo Feminista de Estudo e Ação Política. Se apresentou novamente na Mostra SESC de Cinema do SESC Boulevard, mas dessa vez com o show intitulado “Lança” ao lado de Murilo Savage, Tâmara Aviz e Jimmy Góes, que também foi apresentado no Espaço Colab durante uma das edições do Circular Campina Cidade Velha. Neste segundo semestre do ano, a cantora se prepara para concluir na EMUFPA – Escola de Música da UFPA o Curso Técnico em Canto Popular ministrado pela Profª. Mestra Joelma Silva Bezerra. Lariza acaba de lançar seu primeiro EP, gravado no Studio Z com o apoio do produtor cultural Na Figueredo e aprovado no Prêmio de Produção e Difusão Artística da Fundação Cultural do Pará. Nesse tra-

balho, canta sobre um coração repleto de desejos e descobertas. Retrata o sentir de uma menina que passa a ser mulher, que não tem medo de mostrar o que sente e anseia por desabrochar na vida. Uma mulher que se questiona sobre os mistérios do existir, que reflete sobre as relações com seu próprio corpo, que é encantada pelo encantar-se e que já entendeu que na vida só o amor transforma. Um trabalho cheio de doçura, de intensas emoções e repleto do sabor de se fazer algo pela primeira vez na vida. A jovem cantora imprime em suas composições as percepções sobre ser mulher, sobre espiritualidade, sociedade, natureza, amor e auto conhecimento e tem sua musicalidade marcada por diversas influências da música popular brasileira contemporânea. Dona de uma voz potente e em expansão, Lariza é uma das tantas cantoras que atuam na cena cultural de Belém, trazendo nas suas raízes do sudeste do Pará as palavras e a força de uma mulher que não deixa de acreditar e que faz da arte sua ferramenta de (r)existência e interação com o mundo.

O primeiro EP da carreira da cantora e compositora Lariza (22) marca um momento importante da sua jovem trajetória musical, iniciada no final de 2014 na 1ª Virada Cultural de Belém. O EP Lariza consolida suas primeiras composições Vida que Morre, Repouso, Precipício, Carne Santa e Me Deixe Amor. O trabalho conta com a direção e produção musical e direção artística de João Urubu, identidade visual de Tereza & Aryanne e direção vocal de Thalia Sarmanho, e ainda com os instrumentistas Rebeca Bertazo, Felipe Saef, Camila Barbalho, João Urubu, Lucas Guimarães, Jimmy Góes, Reiner, Ismael Rodrigues, Diego Vattos e a participação especial de João Urubu, Thalia Sarmanho e Renato Torres. O EP foi gravado com o apoio de Na Figueredo no StudioZ, onde também foi mixado e masterizado. As gravações tiverem início em outubro de 2017, e em 2018 o EP foi contemplado pelo Prêmio de Produção e Difusão Artística da Fundação Cultural do Pará. Nesse trabalho, Lariza canta sobre um coração repleto de desejos e descobertas. Retrata o sentir de uma menina que passa a ser mulher, que não tem medo de mostrar o que sente e anseia por desabrochar na vida. Uma mulher que se questiona sobre os mistérios do existir, que reflete sobre as relações com seu próprio corpo, que é encantada pelo encantar-se e que já entendeu que na vida só o amor transforma. Um trabalho cheio de doçura, de intensas emoções e repleto do sabor de se fazer algo pela primeira vez na vida. O EP LARIZA está disponível em todas as plataformas digitais e também no YouTube. Para ouvir acesse: linktr. ee/larizaziral

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Lariza acaba de lançar seu primeiro EP, gravado no Studio Z com o apoio do produtor cultural Na Figueredo e aprovado no Prêmio de Produção e Difusão Artística da Fundação Cultural do Pará. Nesse trabalho, canta sobre um coração repleto de desejos e descobertas. Retrata o sentir de uma menina que passa a ser mulher, que não tem medo de mostrar o que sente e anseia por desabrochar na vida. Uma mulher que se questiona sobre os mistérios do existir, que reflete sobre as relações com seu próprio corpo, que é encantada pelo encantar-se e que já entendeu que na vida só o amor transforma. Um trabalho cheio de doçura, de intensas emoções e repleto do sabor de se fazer algo pela primeira vez na vida.

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