NOVA EDIÇÃO ESPECIAL DA REVISTA PZZ ABAETETUBA

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Oratórios & Ladainhas Artes Devocionais na Amazônia Abaetetubense por Jones Gomes A fotógrafa Marise Maués revela os remos de Abeté

ARTE l CULTURA l ECONOMIA l FOTOGRAFIA LITERATURA l DOCUMENTÁRIOS l HISTÓRIA ANO X l Nº 31 l SET 2020

A poética, a filosofia e a técnica sobre o Miriti por João de Jesus Paes Loureiro

ABAETETUBA

CIDADE DA ARTE CAPITAL MUNDIAL DO MIRITI

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itinerário economia

história

especial

Edição 31| 2020

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HISTÓRIA

FOTOPOESIA

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ABAETETUBA FUNÇÃO E GÊNESE

O professor de história Jorge Machado revela a função e a gênese de Abaetetuba. Uma síntese do livro “História de Abaetetuba” que mostra como o lugar avançou de vila para município, a vila que cresceu e assumiu proporções de cidade.

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POVO DAS ÁGUAS

David Rodrigues fotografa o cotidiano abaetetubense e principalmente momentos que via parecer ao de sua infância

ECONOMIA

RELIGIOSIDADE

OS ENGENHOS E O REGATÃO........48 AÇAÍ DE ABAETÉ......................................56

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ESPECIAL

CÍRIO DE NOSSA SRA. DA CONCEIÇÃO

O culto à Nossa Senhora da Conceição é a mais antiga devoção católica do povo de Abaetetuba. No fim do mês de novembro e início de dezembro acontecem as homenagens a Nossa Senhora da Conceição em Abaeté.

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ETNO FOTOGRAFIA

IEMANJÁ EM ABAETETUBA.......................30

ARTE VISUAL

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REMOS DE ABAETÉ

A fotógrafa, pesquisadora e artista visual Marise Maués faz das reminiscências de sua memória em Abaeté uma relação entre vida e a arte.

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IDENTIDADE

A exposição da artista visual Nina Matos mergulha no universo do retrato, passeando por registros de seus familiares e anônimos, em época e contextos diferentes.

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BRINQUEDOS DE MIRITI

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NINA ABREU: RESISTÊNCIA

Um trecho da tese de doutorado de João de Jesus Paes Loureiro. Dona Nina Abreu é artesã e a face da resistência que ousou criar, em uma ciadade maracada pela invisibilidade, arte popular. Suas mãos ainda tecem os vários sonhos das crianças e adultos.

Editores Carlos Pará 2165 - DRT/PA Jones Gomes Edição Amazon Black Gold Diretor de Arte RIlke Penafort Pinheiro Impressão Marques Editora Distribuição Belém, Pará, Brasil Contatos (91) 98335-0000 email revistapzz2020@gmail.com Twitter @revistapzz Facebook https://www.facebook/revistapzz cartas Trav. Francisco Nobre 1157 Mutirão - Abaetetuba (PA) 68.440-000 www.revistapzz.com.br Patrocínio

MÚSICA

AZYMUTAL NO EP “TRAZ DE VOLTA”.............. 88 A GUITARRA DE SOLANO............................... 90 ERA DO JAZI........................................... 92 SANDÁLIA DE EMBUÁ ........................... 96 HIP-HOP - A BATALHA DO MIRITI............. 98

Paceiros

LITERATURA

NEUZA RODRIGUES.................................100

TRADIÇÕES

A TIRAÇÃO DE REIS................................102

MEMÓRIA

MUSEU DOTOCANTINS.............................108

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crítica Jones da Silva Gomes

ABAETETUBA, CIDADE DA ARTE UMA POÉTICA DA RESISTÊNCIA NAS MARGENS DE ABAETETUBA

A

cidade é um dos berços da imaginação e lugar de experiências estéticas que mediam relações sociais. Weber (1999) em sua tipologia não deixou de aproximar as imagens das comunidades para a distinção das cidades no ocidente: “Cidade principesca, cidade de agricultores, cidade de consumidores, cidade de produtores”. Neste sentido, uma cidade da arte nasce de um número variado de comunidades. A cidade tornou-se o centro de preocupações sociológicas desde os primeiros registros do pensamento social no século XIX, todavia, aqui ela ressurge como uma metáfora da vida comum que também é imaginada pela arte. E Abaetetuba é uma Cidade da Arte, porque a exemplo de seu mito fundador a Pacoca, emerge como encantaria na cena urbana pelas comunidades da arte, isto quer dizer que em suas ilhas, ramais, ruas, praças, ateliês, quintais, ginásios e palcos, existe um “estar juntos” mediado pela arte e expresso em sonoridades, poesias, gestos, cores, objetos, sabores e semânticas culturais das margens das cidades ribeirinhas da Amazônia. Ora as linguagens das artes reapresentam formas de pertencimentos e a criatividade da cultura popular, vindo a ser entendida aqui, como forma de se contrapor ao entretenimento que ganhou ênfase nos últimos 40 anos, juntamente com os meios de comunicação que também ajudaram na proliferação da violência midiática e na desvaloriza-

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HELLY PAMPLONA

ção da cultura local. Contudo, os eventos de arte na cidade desobedeceram os processos desagregadores originados no entretenimento e deram continuidades as tradições estéticas de cunho (religioso, narrativo e visual) desta cidade ribeirinha. Essa percepção me veio quando passei a questionar a naturalização das imagens, e, como morador da cidade refleti sobre o lugar do imaginário no compartilhar da obra de arte. Estes são os resultados de minha tese de Doutorado, cujo título versou sobre a “Cidade da Arte: Uma poética da resistência nas margens de Abaetetuba-PA”, defendida em 2013 no PPGSA/ UFPA, nela abordo a cidade pela dimensão estética em interface com os fatores históricos e culturais, buscando vincular: fatos, obras, pes-

soas e grupos numa análise tipológica do tipo Weberiana. Compreendi que o imaginário institui relações de ajuda mútua por meio da arte. Ora, as ausências de espaços de artes, tais como, os já consagrados no mundo ocidental, como: teatros, museus, salas de música e dança, formação de público e crítica de arte, e o alto consumo de drogas, além do acesso restrito a renda, educação e saúde; em seu conjunto reforçam o desconhecimento dos processos estéticos processados nesta Abaetetuba submersa. A condição de cidade ribeirinha dará a arte o papel de reler as paisagens amazônicas inscritas em ilhas, mitos, rios, objetos, gestos, ritmos, sons, memórias e reinventá-los pela criação mútua. E, assim, que ocorrem em suas frestas cotidianas de cidade outras imagens, tais como: “Cidade dos Brinquedos”, “Cidade da Quadra Junina”, “Cidade dos Autos”; Cidade da Semana de Arte e Folclore” com surpreendentes talentos, observamos nestes eventos que os jovens e adolescentes figuram em grandes espetáculos com uma vanguarda de poetas, músicos, coreógrafos, dançarinos, artesãos e atores mais experientes, além dos colaboradores e agentes públicos que doam-se a experiência. Daí tratar-se de uma cidade encantada na cultura, naquilo que Loureiro (2000) considera ser uma poética do imaginário possível nas expressões populares Amazônicas. Por isso, observo

O que fiz foi então identificar em que medida a arte popular pode gerar um estar juntos em meio a dispersão causada pela cidade? Em resposta, identifiquei comunidades no liminar das poéticas compartilhadas nos eventos pelas várias tradições.

que os eventos promovem a criatividade pela poética ribeirinha, sendo realizações estéticoculturais fomentadas pela sociedade local num tempo de gerações. Os estudos sobre o imaginário e fontes oriundas deste eventos como: poemas, músicas, cenas, objetos, danças, pinturas, esculturas e ajudaram-me a pensar: a) um conjunto de símbolos compartilhados pela arte que se constituem em imagens da Cidade de Abaetetuba; b) Uma emoção compartilhada nos eventos que inscrevem as comunidades da arte na cena urbana. Assim, a cidade da arte deriva de motivações investigativas oriundos da necessidade de compreender dadas criações culturais. Entendo por comunidade da arte, as relações sociais mediadas pela obra onde um mundo artístico se autoproduz. O que fiz foi então identificar em que medida a arte popular pode gerar um estar juntos em meio a dispersão causada pela cidade? Em resposta, identifiquei comunidades no liminar das poéticas compartilhadas nos eventos pelas várias tradições. Portanto, as tradições orientam as práticas artísticas difundindo imagens das cidades ao longo da história, a partir das reciprocidades entre artistas, espectadores e colaboradores nos eventos da cidade. Em cada um dos eventos temos imagens parciais da Cidade que no seu conjunto configuram formas, gestos e movimentos compartilhados na urbanidade das águas. Por isso, demonstramos que a forma como se produz arte nas cidades ribeirinhas pode ser entendida na locução sincrética do fenômeno da cultura. No momento em que artistas e produtores voltam-se para os mitos, memórias e fazeres de uma cidade submersa, suas margens tornamse centro por onde a estética ribeirinha gravita. Entendo que estas artes circunscritas que foram aos eventos que lhe dão vida, pontuam relações que se singularizam na cultura pelo imaginário, que reapresentam experiências comunicativas mediadas por símbolos e estruturam as imagens de cidade que vivenciamos. A Abaetetuba de símbolos como: a Pacoca, o Rio, a Palmeira do Miriti, perpassa processos criativos que configuram laços afetivos em torno de si. Neste sentido, consideramos que os eventos cumprem uma função pedagógica ao permitir uma vivência de cidade pela comunidade de significação, nas relações solidárias ou ainda encantadas, pelas paisagens culturais dos jardins de símbolos desta floresta “cifrada” que é a Amazônia.

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história

Jorge Machado

ABAETETUBA A

Amazônia do início do século XVIII era, para muitos, promessa de riquezas e de sonhos realizados. Da Europa, muitos aventureiros e exploradores partiram para o novo mundo em busca da riqueza. Poucos a encontraram. Antes, bem antes da chegada dos aventureiros, toda a região em torno de Beja já havia sido visitada pelos missionários Jesuítas em trabalho de catequese. Porém, só com a chegada dos comerciantes e dos interesses econômicos é que os povoados dito “civilizados” começaram a surgir, devido basicamente à política de não interferência dos missionários na cultura indígena. Francisco Azevedo Monteiro, português de nascimento, atraído por promessas de riqueza, partiu para o novo mundo. Monteiro era proprietário de uma sesmaria (sesmarias eram lotes de terra inculta que os Reis de Portugal cediam a quem se dispusesse a cultivá-las), no rio Jarumã desde 1712. Diz a Tradição que, viajando com toda a família, de Belém para a sua propriedade, Francisco Monteiro foi acossado por violenta tempestade, tendo sofrido desvio da rota pela qual viajava. Era o dia 8 de dezembro de 1724, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição.

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Estando anexada ao território de Belém, a freguesia de Abaeté passou a receber, em vários aspectos, grande influência da Capital. Assim, houve um rápido desenvolvimento e cogitouse da possibilidade de uma Vila de Abaeté. Monteiro, temendo por sua vida e pela dos seus, prometeu à santa que, caso encontrasse salvação, no local onde aportasse erigiria uma capela em Sua honra. Conseguiram aportar no local onde hoje se localiza o chamado “Cruzeiro”, no início da atual Travessa Pedro Rodrigues, às margens do rio Meruú (conhecido em frente à cidade como Maratauíra). Aí, Monteiro construiu a capela, como pagamento da promessa. Em seguida, tomou posse da terra e comunicou o fato ao governador da Província do Pará. É bastante provável, embora não certo, que o viajante estivesse percorrendo a região com objetivos exploratórios, visando descobrir possíveis fontes de cravo, canela e outras especiarias. Tendo decidido

ACERVO JORGE MACHADO

O PROFESSOR DE HISTÓRIA JORGE MACHADO REVELA A FUNDAÇÃO E GÊNESE DE ABAETETUBA, UMA SÍNTESE DO LIVRO: HISTÓRIA DE ABAETETUBA. MOSTRA COMO O LUGAR AVANÇOU-SE DE VILA ATÉ O PLENO ESTABELECIMENTO DO MUNICÍPIO. A VILA QUE CRESCEU E ASSUMIU PROPORÇÕES DE CIDADE, O QUE JÁ APONTAVA PARA A NECESSIDADE DE MAIORES PERSPECTIVAS PARA EVOLUÇÃO.


ficar no lugar onde foi parar em decorrência da tempestade, transferiu suas posses para o novo lugar, no rio Meruú (Maratauíra). Dando vazão a sua religiosidade, Monteiro deu graças à padroeira do dia, N. Sra. da Conceição, construindo a capela. Assim teve início o culto à Imaculada Conceição, a padroeira dos abaetetubenses, tradição religiosa ligada definitivamente à história de Abaetetuba. Construída a capela, em torno da mesma se foram

PAISAGEM TRANSFORMADA Só com a chegada dos comerciantes e dos interesses econômicos é que os povoados dito “civilizados” começaram a surgir, devido basicamente à política de não interferência dos missionários na cultura indígena.

agrupando alguns casebres dando origem a um povoado. A este, Francisco Monteiro denominou Povoado de Nossa Senhora da Conceição de Abaeté. Porém, apesar da constante procura, as riquezas que buscava não se revelaram, se existiam. Ademais, o povoado levava uma vida miserável e, sem ter outra atividade capaz de gerar desenvolvimento econômico, tendia à desagregação. Assim, partindo para novos empreendimentos, Monteiro regressou à capital da província deixando a terra que lhe pertencia entregue aos cuidados dos escassos moradores. Mais tarde transferiu sua propriedade ao Governo para que se utilizasse dela. Francisco de Azevedo Monteiro merece o crédito e a alcunha de fundador de Abaetetuba por ter, sem dúvida, lançado as bases do povoado que mais tarde evoluiria na vila de Abaeté. Entretanto, o grande responsável pela formação do vilarejo foi Manoel da Silva Raposo. Por volta de 1773, vieram estabelecer-se no povoado várias famílias marajoaras. Manoel Raposo integrava uma dessas famílias.

Raposo trabalhou liderando os moradores do lugarejo. Reconstruiu a antiga capela construída por Francisco Monteiro, bem perto da orla fluvial, e anexou a esta uma casa destinada à permanência dos missionários quando em visita ao povoado. Conseguiu alinhar as poucas casas existentes, dando origem à primeira rua do povoado, hoje Travessa Pedro Rodrigues. Ao redor da capela, no local onde está o “Cruzeiro”, construíram o primeiro cemitério do, na época, povoado. Em meados dos anos 1990, as obras para construção de galerias para águas pluviais na Travessa Pedro Rodrigues revelaram vestígios dos alicerces da capela de Manoel Raposo e do cemitério que, nos dizeres de cronistas da época, ficava atrás de referida construção. O trabalho de Manoel Raposo atraiu outras famílias para o povoado. Essas famílias, por sua vez, fixaram residência e passaram a dedicar-se à agricultura de subsistência e ao extrativismo. Por seu empenho, Raposo conseguiu do Governo a posse de quase toda a sesmaria que outrora pertencera a Francisco Monteiro. A FREGUESIA DE ABAETÉ O Padre Aluízio Conrado Pfeil, antigo servidor do povoado Samaúma, em uma de suas visitas à região, estimulou os moradores do povoado, organizou-os melhor e colaborou com Raposo na administração do lugar. Este, grato pelo auxílio, doou à Igreja, pouco antes de falecer, a sesmaria que havia recebido do governo. A oferta levou Padre Pfeil a, primeiro aumentar a sesmaria às antigas dimensões da sesmaria de Francisco Monteiro. Depois, solicitou a seus superiores a elevação do povoado à categoria de Freguesia, no que foi

Francisco de Azevedo Monteiro merece o crédito e a alcunha de fundador de Abaetetuba por ter, sem dúvida, lançado as bases do povoado que mais tarde evoluiria na vila de Abaeté. Entretanto, o grande responsável pela formação do vilarejo foi Manoel da Silva Raposo.

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história

Com a Vila de Abaeté, avançouse mais no caminho para o pleno estabelecimento do município. A Vila cresceu e assumiu proporções de cidade, o que já apontava para a necessidade de maiores perspectivas para evolução. Tais perspectivas surgiram quando o governador Lauro Sodré, através da lei no 324 de 6 de julho de 1895 elevou a antiga vila à categoria de CIDADE.

atendido. Contudo, a nova freguesia estava anexada ao território eclesiástico de Beja, embora tal anexação tenha sido efêmera, uma vez que no ano seguinte ambos os territórios foram anexados ao da Capital. ABAETÉ VILA E MUNICÍPIO Estando anexada ao território de Belém, a freguesia de Abaeté passou a receber, em vários aspectos, grande influência da Capital. Assim, houve um rápido desenvolvimento e cogitou-se da possibilidade de uma Vila de Abaeté. Porém, o distrito de Abaeté era relativamente novo comparado aos vizinhos lgarapé-Miri, Cametá e Beja. Não parecia, portanto, que Abaeté pudesse crescer administrando seu próprio território. Através da Lei no 118 de 11 de setembro de 1844 o território de Abaeté foi anexado ao de lgarapé-Miri. Entretanto, tal anexação pouco durou, visto que Igarapé-Miri mal reunia condições de administrar seu território, muito menos os dois. Assim, uma nova lei, n. 121 de 19 de outubro de 1844, além de revogar a lei n. 118 ainda anexou ao território de Abaeté a ilha Jacarequara, antes pertencente ao território de Igarapé-Miri. Porém, mesmo com o desmembramento, Abaeté não ganhou autonomia político-administrativa, visto que nova lei, de nº. 885 de 16 de abril de 1877 viria anexá-la novamente ao território de Belém. Em 1880, José Araújo Danim, governador provincial, desmembrou o território de Abaeté, incluindo Beja, do da capital e o transformou em município autônomo, elevando a antiga freguesia à categoria de Vila.

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A 7 de janeiro de 1881 instalou-se a primeira Câmara Municipal na VILA DE ABAETE. Ainda haviam dúvidas sobre onde se localizaria a sede do município, pois Beja, mesmo menos desenvolvida, reivindicava para si tal direito por ser considerada mais antiga. Mas, a 23 de março de 1883 teve fim a questão, quando foi juridicamente instalada em Abaeté a sede do município de mesmo nome. ABAETÉ CIDADE Com a Vila de Abaeté, avançou-se mais no caminho para o pleno estabelecimento do

município. A Vila cresceu e assumiu proporções de cidade, o que já apontava para a necessidade de maiores perspectivas para evolução. Tais perspectivas surgiram quando o governador Lauro Sodré, através da lei nº. 324 de 6 de julho de 1895 elevou a antiga vila à categoria de CIDADE., A 15 de agosto de 1895 o Dr. João Hozanah de Oliveira, procurador geral do Estado, procedeu à instalação da Cidade. Com isso, os aspectos jurídicos cederam lugar aos aspectos territoriais concernentes à estruturação do patrimônio municipal, cujo território era de propriedade da Igreja Católica.


ACERVO JORGE MACHADO

OS NOMES DE ABAETETUBA Desde o início, quando Francisco Monteiro demarcou sua sesmaria, denominou a sua comunidade de POVOADO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE ABAETÉ, primeiro pela sua devoção à virgem, segundo pelo nome do rio que banha parte da cidade. O nome foi logo abreviado para ABAETÉ, como ficou conhecido. O próprio termo Abaeté, originário do Tupi. significa “homem forte, valente e prudente. Homem ilustre”. Essa denominação perdurou até quando da publicação do decreto 4505 de 30 de setembro de

1943. Proclamava o mesmo que não haveria no Brasil mais de uma cidade ou vila com a mesma denominação. Nota-se existir, no Estado de Minas Gerais, o município e a cidade de Abaeté. Por ser a Abaeté de Francisco Monteiro a mais nova, ficou decidida a mudança do nome desta para ABAETETUBA. A denominação de Abaetetuba originou-se por força de Decreto-lei do Governo do Estado do Pará. Tal denominação foi sugestão do historiador Jorge Hurley. É a junção do nome Abaeté com o sufixo “tuba”, que em Tupi significa “lugar de abundância”. Assim, podemos definir o nome ABAETETUBA como “lugar de muitos homens ilustres e verdadeiros”.

Desde o início, quando Francisco Monteiro demarcou sua sesmaria, denominou a sua comunidade de POVOADO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE ABAETÉ, primeiro pela sua devoção à virgem, segundo pelo nome do rio que banha parte da cidade. O nome foi logo abreviado para ABAETÉ, como ficou conhecido. O próprio termo Abaeté, originário do Tupi. significa “homem forte, valente e prudente. Homem ilustre”.

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história

Tal denominação durou até 1961, quando o Deputado Wilson Pedrosa Amanajás, enquanto deputado estadual, mudou o nome para ABAETÉ DO TOCANTINS. Segundo ele, tal denominação estaria mais arraigada na tradição local. Contudo, em 1963, o Deputado João Reis conseguiu que a cidade e o município voltassem a se chamar Abaetetuba, denominação que perdura até hoje. IGNÁCIO MOURA: CRONISTA DO TOCANTINS Em 1896, sob o governo de Lauro Sodré, o engenheiro Ignácio Baptista de Moura, cametaense de nascimento (1857), empreendeu viagem pelo vale do Tocantins com a finalidade de inspecionar o burgo de Itacaiúnas, no sul do Pará. Tal expedição acabou por realizar importante estudo histórico e etnográfico da região do Tocantins e adjacências. Sua viagem está brilhantemente relatada na obra DE BELÉM A SÃO JOÃO DO ARAGUAIA, em cujo capítulo 2 o autor narra sua passagem pela Cidade de Abaeté. Deixemos ao cronista do Tocantins que relate, em belíssimo estilo, sua passagem por Abaeté no final do século XIX: “Quando nos acordamos na madrugada de 5 [de Março de 1896], a aragem do rio tinha a frescura doce das manhãs tropicais. Já havíamos deixado atrás as vilas de Conde e Beja com diminuta população, mas com importância agrícola relativa à cultura da mandioca. Deixávamos o torvelinho da baía, e navegávamos nas águas plácidas do rio Abaeté, onde poucas horas depois teria de atracar a Alcobaça. Um perfume de baunilha nos vinha suavemente da mata, de um e de outro lado, e um cheiro forte de fermento de cana se fazia sentir, por vezes, dando sinal de canaviais maduros ou de algum engenho de aguardente em operosa faina. Abaeté e Igarapé-Miri são dois municípios onde a indústria da aguardente tem procurado competir com a que vem de Pernambuco. Outros habitantes se ocupam na fabricação da goma elástica ou na lavoura da mandioca, produzindo a farinha branca ou amarela, aqui chamada farinha d’água, que exportam para a capital do Estado e também para a cidade de Cametá. Poucas horas depois, atracamos ao trapiche ou ponte da cidade de Abaeté, situada em uma ponta de terra, entre as confluências dos rios Jurumã e Abaeté, e a margem esquerda do rio Moju e Igarapé-Miri. Encontramos nesse porto o vapor General

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ACERVO JORGE MACHADO


REFERÊNCIAS 1. SANTOS, Roberto. Um século de economia paraense (1800-1900). Pará Desenvolvimento - n. 4/5, p. 55-75, 1968. IDESP - Belém - Pará 2. CUNHA, Euclides. Um paraíso perdido: reunião dos ensaios amazônicos. Petrópolis, Vozes/INL, 1976. 3. Muitos comerciantes estabelecidos

hoje na cidade de Abaetetuba tiveram a origem de seus negócios em engenhos ou no comércio de regatão. Pelo menos dois grandes grupos empresariais de Belém do ramo supermercadista, cujos fundadores são oriundos do Município de Igarapé-Miri, tem em sua origem negócios com engenhos ou regatão.

Jardim. O município de Abaeté tem 12.054 habitantes, na sua maior parte lavradores e industriais. A cidade de Abaeté, em 1758, sendo desmembrada do município de Beja, então vila, a que pertencia, formou por seu turno um município independente, contanto, portanto, cento e cinqüenta anos de existência, sendo atualmente uma das cidades mais comerciais do Estado do Pará. O sistema potamográfico do município é importante: rios caudalosos cortam-no em todos os sentidos, formando ilhas aprazíveis e férteis, lançando-se uns nos outros e, por fim, no majestoso Tocantins, que aí forma as duas enseadas entre a ilha do Capim, as quais são conhecidas vulgarmente com o nome de baía de Beja e baía de Marajó. O Sr. H. Amanajás, a quem devemos a maior parte destas notas, é administrador do Diário Oficial do Estado, e redigiu por muito tempo O Abaeteense, que se publicava ali hebdomadariamente. Entre os rios do município conta-se o Meruú, possante corrente d’água, que nasce no município de Igarapé-Miri, percorre-o em grande parte, comunica-se com o Tocantins pelos furos do Anapu, Mitipucu, Panacuera, Tucumanduba, Maracapucu e furo do Capim; com o Moju, pelo Igarapé-Miri e Canal; recebe no seu percurso o Cagi, o Santo

Antonio, o Tauerá, o Acaraqui, o Abaeté, o Jurumã e outros pequenos rios, e lança-se no Tocantins, formando esse grupo brilhante de ilhas, que constitui uma parte do território de Abaeté, e em cuja extremidade está colocada a ilha do Capim, com o seu utilíssimo farol. Quando saltamos na ponte de Abaeté, havia uma porção desse paneiros [de farinha de mandioca] empilhados na frente do trapiche, à espera de embarque para Belém. Visitamos a cidade, cheia de uma edificação antiga e sem gosto, com 3 grandes ruas, 5 travessas, 2 praças e 2 igrejas católicas. A rua fronteira ao rio quase é um seguimento de pontes, que dão desembarque para os estabelecimentos comerciais, que ali abundam. Fiz uma ligeira visita ao padre Pimentel, vigário daquela freguesia católica e um dos mais antigos sacerdotes do clero paraense, o qual me deu algumas informações para o meu canhenho de viagem. A cidade tem cerca de 1.000 habitantes, famílias quase todas de autoridades ou de comerciantes. O Paço Municipal funciona em um bom prédio de sobrado. Algumas horas depois, desatracávamos do porto da cidade e continuávamos rapidamente a viagem, já um pouco incomodados pelo calor canicular que começava a fazer à bordo. Às duas da tarde, chegávamos ao trapiche Hypólito, porto, quase obrigatório da navegação do Tocantins até para os vapores da Amazon Company, por causa da compra da lenha para as fornalhas dos mesmos e do embarque ou desembarque dos passageiros dos arredores. O Senhor Hypólito faz ali um excelente comércio de compra e venda de garrafões com aguardente, potes com mel de cana, cacau, borracha, etc. Foi ali o único porto do interior do Estado em que vi funcionar uma pequena linha telefônica, comunicando aquele estabelecimento comercial com um engenho pertencente a um cunhado do Sr. Hypólito, situado a mais de um quilômetro de distância. Depois de algumas curtas indagações, continuamos a viagem, e quase uma hora depois deixávamos aquela navegação de pequenos canais ou rios, para entrarmos no desassombrado estuário do Tocantins. A fresca e rija viração dos horizontes largos substituiu a aragem cálida e intermitente dos rios estreitos: era o franco esplendor das tardes belíssimas da minha terra, onde o céu, de um azul diáfano e imaculado, se casa com a múrmura quietude das matas e com a corrente límpida do rio.”

BIOGRAFIA Jorge Ricardo Coutinho Machado é escritor (contista), roteirista e professor universitário. Nasceu em Abaeté do Tocantins a 26 de Março de 1963. Nessa época, de 1962 a 1963, Abaetetuba não existia e a cidade tinha aquele nome poético que a ligava ao rio. É doutorando em Educação em Ciências no IEMCI/UFPA. Atualmente é professor da Faculdade de Educação da UFPA. Seu primeiro livro, Terras de Abaetetuba, (CEJUP, 1986) é um abrangente inventário sobre os aspectos históricos, geográficos e culturais do município. Também publicou Memória Photográphica (Imprensa Oficial do Pará, 1998), sobre a memória visual da Cidade de Abaetetuba e O que é alquimia? (Brasiliense, 1991, Coleção Primeiros Passos), livro que trata de história da química e pretende ser uma introdução ao estudo desse assunto. OBRAS DE FICÇÃO Belém (coletânea de autores paraenses) - FUNTELPA, 1987; Contos Paraenses (antologia de autores paraenses) - CULTURAL CEJUP, 1988 Novos Contos Paraenses - CULTURAL CEJUP, 1988; O domingo da Epifania (contos) - SECULT/ PA, 1991; O Círio (coletânea de contos sobre o Círio de Nazaré) - CULTURAL CEJUP, 1995. Fundou em 2001 a EDIÇÕES ALQUIMIA, que publicou algumas de suas obras (O Município de Abaetetuba, História de Abaetetuba, Glossário Abaeteense, Histórias de Visagens vol.1, Histórias e Visagens vol. 2, Nosso Folclore) em formato semi-artesanal e escreveu o roteiro de Aquele que voltou, curta metragem em vídeo adaptado de um de seus contos. Recebeu em 2012 o Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura (Fundação Cultural do Pará) na categoria Conto com Mater Purissima: Histórias da Festa de Conceição em Abaeté do Tocantins. Escreve atualmente Floresta negra: contos de terror amazônico.

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história

VILA DE A APRAZÍVEL E BUCÓLICA VILA DE BEJA É UM DISTRITO DO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA, PARÁ, DE ONDE DISTA CERCA DE 24 QUILÔMETROS PELA RODOVIA PA-403. BEJA, INCLUSIVE, SURGIU, COMO POVOAÇÃO, BEM ANTES QUE A CIDADE DE ABAETETUBA, SEDE DO MUNICÍPIO.

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DE BEJA

FOTOGRAFIAS: GRUPO CUÍRA

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história ÁGUAS DE BEJA Ai que saudades do meu tempo nesta praia onde toda a minha infância com todos ia brincar. A natureza era a maior riqueza o rio era uma beleza nele aprendi a nadar. Os japiins que cantavam na mangueira tinham festa à tarde inteira antes da noite chegar. A turma vinha na lenha cozinhando e tocando na viola para a lua nos olhar. Uma barraca cheia de poetas que fazia umas canções de lembranças pra chorar. Águas lá fora gaivotas a voar o encanto cantando

VELEJANDO EM BEJA Hei! Praia de Beja, num barco à vela nesse nevoeiro pronto para navegar me leva menina pra bem longe do mar. Praia de Beja me deixa ficar neste entardecer pra que eu possa cantar. Quero ver o por-do-sol. Caminhar pela areia, sentir o cheiro da sereia que um dia vai chegar. É fácil ser livre e um dia poder amanhecer dormindo em seus braços perdidos neste azul com a brisa nos olhos vendo o sol entristecer. Ritacínio Carvalho A beleza do lugar.

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Ritacínio Jaci da Silva Carvalho nasceu em Abaetetuba em 18 de agosto de 1958. Aos 12 anos fez o seu primeiro trabalho poético com o poema MÂE. Participação ativa no cenário cultural do município. Na UFPA, participou do FESTICON (em Conceição do Araguaia), do II Concurso de Poesia no SERPRO e de todas as Semanas de Arte e Folclores de Abaetetuba, nos concursos de poesia, ou como jurado. Publicou poemas em livros de Antologias, como: I ENCONTRO DE POESIA NA PRAÇA, em 1991 e ANTOLOGIA POÉTICA, em 1989, em 1991 e ANTOLOGIA POÉTICA, em 1989, em Belém do Pará.

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história

A aprazível e bucólica Vila de Beja é um distrito do Município de Abaetetuba, Pará, de onde dista cerca de 24 quilômetros pela rodovia PA-403. Beja, inclusive, surgiu, como povoação, bem antes que a cidade de Abaetetuba, sede do Município. Historiadores contam que por volta de 1635 padres Jesuítas, vindos de Belém, chegaram a um aldeamento indígena da tribo Mortiguar, em frente à ilha do Capim, nas margens da Baía do Marajó. O denominaram de "Samaúma". Com a expulsão dos Jesuítas, dos domínios portugueses, promovida pelo ministro Marquês de Pombal, o seu irmão, Francisco Xavier Mendonça Furtado, então governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará, a denominou de "Beja", homônimo do distrito existente em Portugal, seguindo a prática de batizar as localidades do Pará, com nomes de cidades portuguesas. Contando com uma aprazível orla de praia com cerca de 2 quilômetros, hotel, pousadas, e barracas/ restaurantes, Beja é o balneário de Abaetetuba. O local de lazer. Sua atividade econômica decorre basicamente da agricultura, pesca, e turismo. O mês de julho é a alta temporada, e sua população que gira em torno de 10 mil habitantes praticamente quadruplica. Nesse mês são realizados shows musicais, atividades culturais e esportivas diversas. Em agosto celebra-se a festa de São Miguel, padroeiro da Vila, com arraial em frente à sua centenária igreja, que remonta aos tempos dos Jesuítas. Por Jaime Brasil

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religiosidade

CÍRIO DE NOSSA SRA. DA CONCEIÇÃO O CULTO A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO É A MAIS ANTIGA DEVOÇÃO DO POVO CATÓLICO DE ABAETETUBA. NO PERÍODO DE FINS DE NOVEMBRO A INICIO DE NOVEMBRO ACONTECEM AS HOMENAGEM A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA.

A

s homenagens do povo católico do lugar início no século XVIII. Diz a Tradição que, viajando com toda a família, de Belém para a sua propriedade, Francisco Monteiro foi acossado por violenta tempestade, tendo sofrido desvio da rota pela qual viajava. Era o dia 8 de dezembro de 1724, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição. Monteiro, temendo por sua vida e pela dos seus, prometeu à santa que, caso encontrasse salvação, no local onde aportasse erigiria uma capela em Sua honra. Trouxe de Portugal uma imagem de N.S. da Conceição esculpida em cedro mogno da Amazônia, e adquiriu, junto à Coroa, a área do atual município de Abaetetuba. A partir de então, o pequeno aglomerado passou a ser denominado de Vila de N. S. da Conceição de Abaeté. Assim a história da Festividade de N. S. da Conceição se funde à história do Município. Francisco Azevedo Monteiro esteve pela primeira vez no aglomerado dos abaetés no ano de 1724, no dia 8 de dezembro, dia em que já se comemorava N. S. da Conceição em Portugal. Desde então, a pequena população do lugar passou, anualmente, prestar homenagem à Santa Padroeira. Mas, só a partir de 1912, o Círio da Imaculada Conceição passou a ser oficial, isto é, já pôde contar com a presença de sacerdotes e com a coordenação paroquial. Assim, o círio 2016 será o 104°, na contagem oficial registrado na Paróquia de Abaeté. A festa de N. S. da Conceição deste ano tem como tema: “Da Igreja que somos a Igreja que Cristo quer”.

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A Festividade de N.S. da Conceição do Município de Abaetetuba é uma das maiores manifestações do povo católico do Baixo Tocantins. Quando os portugueses que vieram colonizar o Brasil já trouxeram consigo o culto a Nossa Senhora da Conceição. A programação religiosa começa, com a “Romaria Ciclística”, pois Abaetetuba é a cidade do interior do Pará com maior número de bicicletas. A bicicleata, com a imagem da Santa, percorre as principais ruas da cidade. No Sábado, acontece a “Romaria fluvial”, na qual participam centenas de embarcações que partem da Capela de N.S. de Nazaré, na Costa Sirituba, para o porto da cidade. Ao chegar ao porto da cidade, começa outra homenagem em forma de procissão. È a “Moto romaria”, da qual participam milhares de motoqueiros e motos-taxista, que, após percorrerem diversas ruas da cidade, chegam à Catedral da Santa Padroeira. Nesse mesmo dia, há a Transladação da imagem de N. S. da Conceição até a igreja de N. S, do Perpétuo Socorro no bairro do Algodoal, local de onde sairá o Círio no Domingo. A Festividade de N.S. da Conceição do Município de Abaetetuba é uma das maiores manifestações do povo católico do Baixo Tocantins. Quando os portugueses que vieram colonizar o Brasil já trouxeram consigo o culto a Nossa Senhora da Conceição. O navegador português Francisco de Azevedo Monteiro introduziu desse culto no povoa-


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NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

EDNEY S0UZA

Imagem mistificada de Maria, a Imaculada Conceição refere-se a um dogma através do qual a Igreja declarou que a concepção da Virgem Maria foi sem a mancha “macula em latin” desde o primeiro instante de sua existência.

do de Abaeté em 1724, quando veio tomar posse da sesmaria doada pelo Rei de Portugal. O culto a Nossa Senhora da Conceição encontrou terreno fértil entre os nativos do lugar, que se encarregaram de perpetuar essa devoção. Desde a criação do povoado de Abaeté, até a criação da Vila de Abaeté em 1880, foram 156 anos de devoção dos nativos e habitantes do lugar a Nossa Senhora da Conceição. Isso significa mais de um século e meio de devoção à Virgem da Conceição, com a precária assistência de padres, pois estes tinham um enorme território para dar assistência catequética. A 1ª procissão Oficial de Nossa Senhora da Conceição aconteceu no dia 8/12/1912, ainda na Igreja do Divino, situada na então Travessa Nova, em frente à Praça do Divino ou Praça da Conceição. Então, a devoção à Virgem da Conceição já vai avançando para os seus trezentos anos. Quanto ao Círio de Nossa Senhora da Conceição, sabemos que é uma procissão bem antiga, alEra o dia 8 de dezembro de 1724, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição. Francisco Monteiro, temendo por sua vida e pela dos seus, prometeu à santa que, caso encontrasse salvação, no local onde aportasse erigiria uma capela em Sua honra.

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religiosidade

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EDNEY S0UZA

guns historiadores de Abaetetuba contabilizam mais de cem procissões. Ao longo dos anos, a Procissão sofreu algumas mudanças, foi inserida a sonorização da procissão, através da Rádio Conceição, o uso da TV para gerar as imagens e comentários da procissão do círio. Houveram mudanças dos percursos da procissão do círio. Foram introduzidas outras procissões: círio fluvial, moto-romaria, círio mirim e auto da padroeira.

MANIFESTAÇÃO RELIGIOSA A principal manifestação religiosa do município de Abaetetuba é o Círio em homenagem à padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição. O seu culto constitui uma das mais antigas tradições do Município, com início datado de 1812. A festa tem início no final de novembro, com novenário e um arraial, que conta com a realização de leilão e a presença de barraquinhas com comidas e bebidas típicas. A procissão com destino à igreja Matriz sai no dia 8 de dezembro de um bairro diferente a cada ano. Outra festa religiosa importante no Município é a Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, realizada no bairro do Algodoal. Os festejos, com novena e arraial, iniciam-se uma semana antes da procissão, que sai às ruas no dia 27 de julho, seguida de missa e do concurso de “bonecas” (meninas vestidas de bonecas), sendo que os recursos financeiros angariados são destinados às obras sociais da paróquia. Além dessas importantes comemorações religiosas, cabe destacar, ainda, a festa em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, realizada do dia 1º ao dia 8 de setembro, cujos festejos são acompanhados de procissão, novenas e arraial. No dia do encerramento, são encenadas peças teatrais de caráter religioso.

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Oratórios & Ladainhas

ARTES DEVOCIONAIS NA AMAZÔNIA ABAETUBENSE Jones da Silva Gomes

A

s artes devocionais no Brasil estão atreladas ao catolicismo popular, e vem de uma longa tradição. A dimensão da fé como fenômeno construído historicamente pelo povo através do reconhecimento da realidade do sagrado, é firmada neste caso na crença na imagem, e, está é característica proeminente do sincretismo católico que migrou da Europa para as vastas regiões do Brasil como o Nordeste e a Amazônia. Desde a colonização dos portugueses em nosso território, os oratórios, as ladainhas e os festejos de santos materializam experiências espirituais muito singelas de cunho místico, estético e popular, originados pela devoção a determinado santo de quem acredita-se receber proteção divina, via uma relação que mediada pela imagem, atravessa concepções que muitas vezes congregam os interesses dos indivíduos e comunidades, no sentido de obter-se respostas que vão desde a consecução da saúde ao bem estar material e espiritual. OS ORATÓRIOS DE ILHAS E RAMAIS Os oratórios que observamos nas casas dos ribeirinhos das ilhas de Abaetetuba, abrigam num cantinho da sala, congregando as muitas imagens de fé que dão sentido ao seus cotidianos. Ora, os oratórios tem sofrido com as interferências das imagens midiáticas, entretanto, quando o olhar alcança os cenários de imagens, orações, velas, cores, sons e afetos, materializam um imaginário transbordante

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de narrativas e sentimentos de piedades. Isto tudo porque a devoção em oratórios configura-se numa arte do diálogo com o sagrado, agregando as esperanças daqueles que cofiam no poder da devoção por meio de rezas, cantos e gestos, segundo Russo: A palavra oratório, em sentido lato, significa um lugar relativamente pequeno, dedicado à oração e ao culto de Deus; Neste sentido [...] qualquer pessoa pode ter em casa um oratório, destinando para ele um local apropriado; resguardado em seu interior: quadros, estátuas, etc., em que se possa meditar, rezar o santo rosário, fazer alguma novena, etc, individualmente ou com toda a família [...]. (Santos apud Russo, 2014: 12). Os primeiros oratórios datam dos primórdios da Idade Média, sendo pequenos armários que podiam guardar não só o santo protetor, mas tudo que se relaciona à devoção cotidiana (Inventário de proteção do Acervo Cultural, 2006), propiciando um ambiente adequado às reflexões e orações. A ocorrência de oratórios se fazia comum nas residências, principalmente em casos em que a presença de templos era pequena, fato este que justificava a necessidade de construção dos pequenos altares, espécies de nichos semelhantes a caixas, nos quais ficavam guardadas as imagens dos santos, brasões, objetos particulares, dentre outros itens que pertenciam aos simpatizantes. Entendidos como partes de uma cultura material, os oratórios como objetos que são, remetem a relações de caráter material e imaterial, são portanto patrimônios. Porém, a história dos oratórios não se limita unicamente ao sentido místico da religião, percebe-

A Festividade de N.S. da Conceição do Município de Abaetetuba é uma das maiores manifestações do povo católico do Baixo Tocantins. Quando os portugueses que vieram colonizar o Brasil já trouxeram consigo o culto a Nossa Senhora da Conceição.


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religiosidade

mos o estético, memorial se manifestarem. Já como bens patrimoniais proporcionam através de experiências visuais: “a construção de um passado, de um tempo vivido ou não vivido, mas experimentado através da percepção pelos que a observam e com ele interagem. Desta forma a imagem carregada de representatividade materializada em um objeto transforma-se em patrimônio, no sentido stricto da palavra, como herança que fica, testemunha de um período e significante para um determinado grupo”. (Santos, 2014: 23). O certo é que a devoção em oratórios está envolta de muitos signos comunicativos, sendo uma prática cultural popular herdada de geração pra geração. Assim, imagens dos oratórios denotam sentidos: cada curva, cada berço, cada relevo pode ser considerado a imagem de uma memória, do mesmo modo, que as imagens dos santos. Por

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mais que sejam parte do conjunto religioso, representam uma comunidade ou família. Em pesquisa realizada a partir do ano de 2016 no Grupo de Estudos sobre o Imaginário, Arte e Sociedade (GAPUIAS – UFPA/Campus Abaetetuba) coordenado pelo professor Dr. Jones da Silva Gomes com o auxílio dos bolsistas do CNPq (Almir Marques, Emanuelly Maués, Nezilu Santos, Erika Natalia) que desenvolveram a pesquisa “Artes devocionais nas Ilhas e Ramais da Cidade de Abaetetuba”, descobrimos entre um a quatro oratórios em média em algumas comunidades como: Baixo Jarumã, Abaetezinho, Cataiandeua, Urubueua, Campopema, Baixo Itacuruça, Genipaúba, Maracapucu-miri, Quianduba, Costa Maratauíra e Sirituba. Este fenômeno aponta para as permanências destas formas de artes ligadas as devoções do catolicismo

popular dos ribeirinhos da Amazônia Tocantina. Alguns oratórios identificados na Cidade datam do final do século XIX e início do século XX, sendo considerados relicários de famílias, outros de uma história recente, são decorados e adornados, moldados e cuidados pelos seus proprietários sobre matérias e técnicas mais comuns de se encontrar, as imagens, entretanto são quase sempre antigas, porque são passadas de geração pra geração. Rezadores de Ladainhas de São Miguel Arcanjo do ramal do Cataiandeua- Abaetetuba/PA Outra arte devocional insurgente nas ilhas e ramais de Abaetetuba, as ladainhas são orações que formam uma série de invocações curtas e respostas repetidas, sugerindo um sentimento de piedade para com o sagrado, compondo uma prece longa que cantada por capitulantes e comu-


nidades, introduzem a reza em “latim”- um latim interpretado a partir do universo linguístico do ribeirinho amazônico- versos que estão imersos no simbolismo dos santos católicos Prática ainda encontrada no Nordeste Brasileiro, na Amazônia está cada vez mais distante dos centros urbanos, mesmo das cidades ribeirinhas. Ao adentrar o ramal do Cataiandeua- área rural do município de Abaetetuba- no dia 29 de setembro de 2017, nossa equipe de pesquisa encontrou pela primeira vez os rezadores de ladainhas de São Miguel Arcanjo, e o que chamou atenção foi o modo como aquelas vozes penetraram a percepção de sujeitos devotados a outros timbres. As ladainhas são capituladas pelo Sr. Ângelo Palheta- Capitulante/ suplente, Professor João Farias Muniz acompanhante, Manoel Palheta- segunda voz, Domingas

Barreto Palheta contra alto, Raimunda Barreto e Maria de Nazaré Muniz acompanhantes- versos que são respondidos por um coro de comunitários. Segundo Dona Raimunda a festividade em devoção a São Miguel ocorre acerca de 80 anos na comunidade, impulsionadas por antigos moradores (Sr. Palheta e o Sr. Cassiano), até hoje as ladainhas ocorrem nas casas dos moradores nos 40 dias que antecedem o círio do padroeiro no mês de setembro, geralmente durando em torno de 30 a 40 minutos, compreendendo também momentos de encontros e entretenimento. Para ela, rezar a ladainha- arte que aprendeu desde criança- envolve um sentimento de fé, um pedido que se transforma numa oração cantada, e, que marca a memória desta devoção na comunidade rural de Abaetetuba.

“a construção de um passado, de um tempo vivido ou não vivido, mas experimentado através da percepção pelos que a observam e com ele interagem. Desta forma a imagem carregada de representatividade materializada em um objeto transforma-se em patrimônio, no sentido stricto da palavra, como herança que fica, testemunha de um período e significante para um determinado grupo”

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religiosidade

FESTEJO DO BOM

JESUS DA CANA VERDE

RIO MARACAPUCU MIRI A

lém dos oratórios e ladainhas, as festas de Santo na Amazônia configuram um acontecimento sacro-profano muito importante para as comunidades de ilhas e ramais. Na Cidade de Abaetetuba são diversos os santos padroeiros, em alguns casos, uma comunidade festeja vários santos. A comunidade de Bom Jesus da Cana-Verde situada no Rio Maracapucu-Miri, comemora o Santo de mesmo nome, o Círio que é realizado no no mês de outubro por moradores e ex-moradores devotos do santo, acontece há mais de 100 anos, porém ao

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longo do tempo já sofreu mudanças. Depois de um período de peregrinação, o Bom Jesus volta pra sua comunidade uma semana antes do início do festejo, em vista de seu andor ser decorado e trocar-se os mantos, depois coloca-se novamente no andor e dá-se início ao círio tão esperado. O CÍRIO MIRIM E A ESTÉTICA RIBEIRINHA O círio mirim é um desfile de barcos, que ao longo da procissão no rio vão apresentando as criações (ornamentos e arranjos) dos seus

pequenos proprietários, o que for considerado mais bonito pela comunidade leva o prêmio. Na foto abaixo, a canoa dois irmãos que foi representando as plantas da localidade, usaram também os frutos regionais, destacando o uso da palmeira de miriti para confeccionar os paneiros de plantas, no centro uma imagem do santo em uma canoa. A poética suscitada pela expressão das crianças e captadas pelas mãos do fotografo catalão Aran Rodrigues eterniza esse momento de piedade religiosa nas margens ribeirinhas da Amazônia.


ARAN RODRIGUEZ

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literatura

uaraci:mito e simbolismo Jones da Silva Gomes

UMA POÉTICA DA RESISTÊNCIA NAS MARGENS DE ABAETETUBA

U

ma reflexão acerca dos elementos narrativos e simbólicos da palmeira classificada pelos botânicos como Mauritia Flexuosa, e, que para os moradores da cidade de Abaetetuba é conhecida como Miritizeiro, encontrada em abundancia nas regiões de ilhas da Amazônia brasileira; o reconhecimento da narrativa vem num momento de constantes ameaças deferidas a Palmeira pela derrubada da floresta e o assoreamento dos rios, prejudicando sensivelmente seu uso nos vários tipos de artesanato e dietas alimentares pelos povos ribeirinhos. A narrativa traz à tona aspectos simbólicos relacionados a tradições indígenas, por isso, para compreende-los utilizei-me dos estudos sobre o imaginário e textos que tratam da relação da palmeira com a sociedade local, bem como, de sua expressão na cultura e arte popular, afim de considerar a importância do reconhecimento da narrativa como tomada de consciência de uma cultura imaterial, já que Uaraci é o mito de origem do Miritizeiro que provavelmente está atrelada aos índios da região do Baixo Tocantins, oralidade que chega até nós pela imagem das “Mãe das frutas” Mãe que “a tudo provê” e que foi registrada de forma inédita pela folclorista Abaetetubense Maria de Nazaré Lobato. Identificamos que tal linguagem traduz um simbolismo universal, bem como, uma poética peculiar, tratando-se de uma palmeira encantada. No mito é destacado o sacrifício da heroína pela tribo numa teleologia do renascimento pelo vegetal, alusão a conhecida árvore da vida, um dos arquétipos coletivos que os estudos do imaginário tentaram compreender quando investigaram as es-

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trutura dos mitos nas sociedades arcaicas (ELIADE, 1992; DURAND, 1989). Segundo a narrativa registrada por Maria de Nazaré Lobato: “Uaraci era de uma tribo amazônica, jovem de beleza irresistível, pele tostada pelo efeito do calor, cabelos longos como o reflexo do sol, andar majestoso como o de uma deusa satírica totalmente diferente, assim era Uaraci. Filha única do cacique Uarucá. Possuía toda sabedoria da cura pelas plantas da selva, da caça pelo domínio que tinha sobre os animais e da pesca por seu fascínio pelas aguas dos rios e igarapés. Uaraci era considerada como um ente sagrado por seu pai e todos a respeitavam, por sua meiguice, a qual se igualava a da própria lua, a quem adorava. Causava paixão em todos os jovens de sua tribo, porém parecia não amar ninguém. Em noites de luar, Uaraci que se dava à beira do regato e contemplava o reconhecimento da narrativa vem num momento de constantes ameaças deferidas a Palmeira pela derrubada da floresta e o assoreamento dos rios, prejudicando sensivelmente seu uso nos vários tipos de artesanato e dietas alimentares pelos povos ribeirinhos a lua cheia com fascínio e deslumbramento. Amava a lua? Mas a lua não é uma mulher? Se perguntava cheia de aflição. Essa visão não lhe sai da cabeça, do pensamento, como a certeza atroz e alucinante de que não pertencia a esse mundo, porém queria ser útil de alguma forma, antes de partir. Uaraci caiu doente, misteriosamente, definhava a cada dia, até que em uma noite de lua, veio morrer àa beira do regado. O pai muito triste escolheu um terreno onde a água pudesse bater de vez em quando, e enterrou Uaraci, próximo a água que tanto amava. Os dias passaram, mas Uarucá não deixava de visitar aquele local, notou entretanto que ali brotava uma estranha palmeira a qual logo se encheu de cachos com frutos vermelhos. Nesse dia, ao se chegar no local, ouviu a voz de sua filha que dizia, Prova desse fruto, tu e toda a nossa tribo, ele é o alimento produzido por mim, para o alento de todos, aproveitará dessa palmeira desde a raiz, até a mais pequenina folha. E assim aconteceu; Com o tempo deram o nome de Miritizeiro aquela palmeira prodigiosa e para o fruto tão gostoso o nome de Miriti; e Uaraci foi considerada como semelhante a mãe das frutas.

No Tupi-Guarani, Ua: Fruta, Ra: semelhante, Ci: Mãe”. (LOBATO, 2004, p.25). Ora, se dá Palmeira tudo será aproveitado desde as “raízes a última folha”, decerto, que este simbolismo agregador que aponta para diferentes usos desde a culinária chegando ao artesanato artístico, tem um sentido de unir uma tribo. Contemporaneamente esta configuração estética arrolada pelos brinquedos de Miriti que são oriundos das leves buchas de suas ramasmaterial tão leve como as mãos dos artesãos que o entalham numa conjugação de imaginação e forma, revela também uma ética capaz de recolocar os laços sociais; tratando-se de um alimento gerador de beleza e sensibilidade, imaginação e solidariedade, próprios do horizonte da arte popular que agrega e atualiza as formas míticas. Nestes fenômenos que gravitam em torno do cultural, e, que Durand (1989) classifica como “resistências do imaginário” vemos um mundo encantado pela cultura, bem como, vai evidenciar Loureiro (2012) e vivido nas cotidianas faces. Por isso, o vegetal como o centro da realidade de uma tribo, e, hoje de uma cidade, deixa-se olhar pelas margens dos rios e ramais, de feiras e quintais, de Museus, ateliês, lentes de fotógrafos e poetas. O simbolismo do “centro” explorado por Eliade (1992), e, aqui revisto na eminente aparição de Uaraci no regaço, dá a sacralidade do gesto uma atualização do mito. Narrativa como modelo exemplar que ecoa das margens e as muitas palavras que significam um alimento, traduz-se por uma Palmeira Santa que reverberam dos sonhos dos muitos artesãos e suas comunidades da arte, que de forma diversa alimentam-se da imponente mãe das frutas.

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etno fotografia

Antonildo Sena Rodrigues

O FESTIVAL DE IEMANJ EM ABAETETUBA 30 www.revistapzz.com.br


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etno fotografia

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N

ós, abaetetubenses, intitulamos Abaetetuba como a pérola do Tocantins, o termo também é usado pela população da cidade de Cametá em relação a sua região, por suas riquezas naturais como flora e fauna, por suas praias, pela presença de regiões alagadas ou de terras firme, enfim por sua beleza natural. É um dos municípios da região Amazônica que recebe grande influência da cultura ribeirinha, por ter nascido à margem do rio Maratauíra. Das margens de diversos rios emanou a maciça parte da população que hoje vive no centro urbano da cidade. Somos geneticamente formados pelo caboco, ribeirinho, que segundo Serrat (1990) é fruto da composição genética do índio, do europeu com o negro. Também conhecida como Capital Mundial do Brinquedo de Miriti, pela bela arte de produzir brinquedos e artefatos ligados ao cotidiano amazônico e estão entre os elementos mais tradicionais no Círio. Confeccionados a partir da fibra leve da palmeira também conhecida como buriti, chamada de isopor da Amazônia. Nesse contexto caboclo, de gente religiosa e trabalhadora que a 40 anos se desenvolve o FESTIVAL DE IEMANJA, celebração de cunho sincrético onde se louva Santa Maria e Saúda Oxum e Iemanjá, celebração desenvolvida pelo seguimento religioso de Matriz Africana, Mina Nagô, genuinamente paraense, sobre responsabilidade do Sacerdote Babalorixá Paulo de Oxóssi (Paulo Cardoso) que a quatro décadas dirige o TEMPLO CRISTÃO AFRO NAGÔ DE OXÓSSI URUCÁIA, localizado na cede do município. Todo cuidado é tomado, o envolvimento de todos é importante, desde a preparação, ornamentação, arrumação etc. tudo é público, o ritual, a celebração o povo tem participação em tudo e acompanha o processo, as doações, os preparativos e o desenvolvimento, caráter este que faz desse momento um momento de devoção popular. Segundo Pai Mario Kandulemy, antes era restrito, não tinha a participação da sociedade, as viagens eram em Kombi, com o tempo as condições melhoraram e foram conseguindo ônibus e mesmo assim, ainda era restrito, só para os filhos de santo a alguns adeptos. Com o passar do tempo as coisas tomaram outro rumo, se antes não tinha a grande participação popular, hoje é bem diferente. Abaetetuba se apresenta para o mundo divulgando seu caráter plural de resistência e devoção, a partir de manifestações dos cultos aos Orixás, Santos e Encantados, valorizando a religiosidade popular em consonância com as instituições oficiais.

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artesarte plรกsticas visual

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REMOS DEABAETÉ

MARISE MAUÉS

Marise Maués

A FOTÓGRAFA, PESQUISADORA E ARTISTA VISUAL MARISE MAUÉS FAZ DAS REMINISCÊNCIAS DE SUA MEMÓRIA EM ABAETETUBA, LUGAR ONDE NASCEU, UMA RELAÇÃO DURADOURA ENTRE A LEMBRANÇA, A VIDA E A ARTE. DEPOIS DE PUBLICAR NA PZZ MATÉRIA SOBRE AS RABETAS. AGORA REVELA EM NOSSAS PÁGINAS A ARTE DO REMO

“TODA CRIAÇÃO DE OBJETOS RESPONDE A CONDIÇÕES SOCIAIS E TÉCNICAS PRESENTES NUM DADO MOMENTO HISTÓRICO. SUA REPRODUÇÃO TAMBÉM OBEDECE A CONDIÇÕES SOCAIS” (MILTON SANTOS)

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artesarte plásticas visual

F

atos ocorrem em nossas vidas que, tendo-se passado em nossa infância ou juventude, ficam impregnados em nossa mente, e dificilmente são desvencilhados. Ficam ali latentes em algum escaninho de nossa memória, como por exemplo, o lugar onde se passou a infância. Não sou imune a esse particular, visto que minha memória se encontra cheia dessas reminiscências. Durante a infância convivi com rios, furos e igarapés, que se transformaram em uma relação duradoura. Embora tenha deixado meu local de nascimento, Abaetetuba, ainda em tenra idade, costumava navegar as águas de vários rios quando passava férias na casa de meus avós maternos. Pelo menos três vezes ao ano, na minha juventude, essas viagens eram realizadas. Aconteciam sempre a bordo de um dos mais variados tipos de embarcações da região, que alternavam desde montarias movidas à vela e remos, até barcos de médio e grande porte. Na infância, as viagens eram feitas sempre em montarias, quando meu avô ia nos buscar no porto da cidade de Abaetetuba. OOs rios da Amazônia já foram cantados em verso e prosa, ante a relação quase que umbilical que os habitantes da Amazônia têm com esses caminhos de águas. Assim, as estradas e caminhos de águas transpostos pelo ribeirinho equivalem à rua pela qual o habitante da zona urbana faz seu trajeto cotidiano. Decorridos mais de cinco séculos da “conquista” da Amazônia pelo colonizador europeu que se deu sobremaneira sob a égide da navegação fluvial, ainda persiste uma dependência dos habitantes da região do transporte fluvial, quer para o seu deslocamento, quer para escoar os seus produtos. Nesse sentido, o amazônida, em especial, os habitantes da zona rural ribeirinha continuam envidando esforços no sentido de realizar seu deslocamento pelos rios da região em um menor espaço de tempo. Essa parcimônia no que concerne ao tempo despendido no deslocamento revela-se ainda mais imperiosa na atualidade. Inicialmente a navegação era feita somente à tração humana e quando muito, para imprimir maior velocidade ao transcurso, se valia de embarcações movidas a velas. Essa navegação era levada a efeito pela utilização de diversos tipos de embarcações como: montarias, cascos, reboques e batelões. A montaria é uma embarcação confeccionada com três tábuas no fundo e duas na farca, uma proa e

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A pá do remo, que é a parte inferior e que submerge na água na hora da remada recebia policromia e detalhes de vegetais como: flores, caules e folhas; pássaros, como o beija-flor; escudo dos times de futebol paraense, além de nome de algum afeto, como: filhos, esposa, namorada, bandeiras, e ainda, versos ou versículos bíblicos e as iniciais do nome do seu proprietário.

uma popa, e bancos, recebendo monocromia ou policromia. Na pintura monocromática a preferência geralmente é pela cor vermelha ou verde. A policromina aplicada na montaria recebe o nome de pintura de cinco cores. Vejamos como o interlocutor Lael conceitua essa pintura: [...] cinco cores porque o fundo do casco é vermelho, as farcas são brancas, tem uma lista de amarelo e tem o beiço que pode ser azul e ainda tem duas bandeiras na frente e duas atrás. Aí faz uns desenhos no banco e a isso chama-se pintura de cinco cores. Quando um rapaz era vaidoso a sua montaria era pintada com forte apelo estético e este procurava equipá-la de acessórios, tais como: remos decorados, sentador e cadeado para que a montaria não fosse furtada. Vejamos nesse particular o que nos fala o Sr. Maximiano: “Nesse tempo quem tinha uma montaria pintada era bacana. Ter tudo organizado era uma moda da gente. Eu pintei essa montaria com cinco cores. Comprei um remo, cadeado e um santador. Eu equipei a montaria”. O rigor estético evidenciado em algumas montarias, também servia como uma espécie de cartão de visita de um rapaz frente a uma moça e com isso ele supunha conquistar a sua eleita. Contudo, a pintura de cinco cores não é mais aplicada às montarias, sendo usual a pintura monocromática. As montarias recebiam nomes em sua lateral frontal e tinha o propósito de identificá-la, pois caso “fugisse” - expressão usada pelos caboclos para falar que a montaria se desprendeu – e fosse levada pela maré, quem a encontrasse poderia devolver ao seu proprietário. Havia ainda quem identificasse na mesma o nome do rio do proprietário.

REMOS As montarias e os cascos são impulsionados com a utilização de remos de pá curta. Os remos podem receber monocromia ou policromia. No passado, com maior incidência eram bastante decorados e recebiam entalhes em seu cabo.

Os cascos são embarcações menores que as montarias. Com capacidade geralmente para uma ou duas pessoas e podem ser confeccionados nos mesmos moldes que a montaria, ou ainda de um único tronco de árvore escavado. As montarias e os cascos são impulsionados com a utilização de remos de pá curta. Os remos podem receber monocromia ou policromia. No passado, com maior incidência eram bastante decorados e recebiam entalhes em seu cabo. A pá do remo, que é a parte inferior e que submerge na água na hora da remada recebia po-


MARISE MAUÉS

licromia e detalhes de vegetais como: flores, caules e folhas; pássaros, como o beija-flor; escudo dos times de futebol paraense, além de nome de algum afeto, como: filhos, esposa, namorada, bandeiras, e ainda, versos ou versículos bíblicos e as iniciais do nome do seu proprietário. A substituição de montarias por rabetas tem acarretado uma diminuição nas encomendas deste acessório e, quando solicitados carecem na maioria das vezes de apuro estético que caracterizava o gosto dos mais velhos. Ainda são recebidas encomendas de remos estilizados, mas já se pode

notar outro elemento alheio à cultura local, como por exemplo, escudos de times de futebol de outros Estados. O reboque era uma modalidade de embarcação com capacidade de transporte de pessoas e cargas superior à montaria. Navegava à tração humana com auxílio de remo de faia14. O tamanho do reboque determinava quantas pessoas iriam conduzi-lo. Assim, se fosse pequeno duas pessoas poderiam manejá-lo, sendo que um remador se posicionava na parte dianteira da embarcação de frente para os passageiros, imprimindo-lhe veloci-

Quando um rapaz era vaidoso a sua montaria era pintada com forte apelo estético e este procurava equipá-la de acessórios, tais como: remos decorados, sentador e cadeado para que a montaria não fosse furtada.

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artesarte plásticas visual

dade e o segundo seguia atrás (popa) denominado piloto (o piloto não remava com faia e sim com remo), cuja função era dar direção à navegação. Se fosse maior era manejada por três pessoas, sendo duas na frente e o piloto atrás. Em tempos posteriores foi adotado o uso do leme nessas embarcações quando foi suprimido o piloto. Nesse caso, os dois remadores dianteiros conduziam a embarcação controlando a sua direção com uma corda atrelada ao leme. Essa embarcação recebia uma coberta, denominada de toldo, ou torda no linguajar caboclo. Segundo Maria Sampaio, o toldo era produzido a partir de talos de miritizeiro, envira, palha e cipó titica e servia de proteção das intempéries às mulheres, crianças e aos gêneros alimentícios. Essa forma de navegação caiu em desuso pelos moradores das comunidades ribeirinhas de Abaetetuba há muito tempo. Outra forma de embarcação à tração humana bastante utilizada foi o batelão. Eles foram utilizados em atividades dos engenhos de Abaetetuba para o transporte de cana-de-açúcar, matéria-prima empregada na produção de cachaça. No auge da produção de aguardente tendo, inclusive, Abaetetuba auferido o título de terra da cachaça, essa modalidade de embarcação exerceu papel importante na economia do município, o que concorreu para que houvesse estaleiros navais nos próprios engenhos, com vistas à efetivação de reparos nos mesmos. Profissionais da carpintaria naval como calafates, pintores e carpinteiros eram empregados neste ofício. Os batelões também foram largamente utilizados nas olarias para o transporte de barro para fabrico de artigos de cerâmica como: tijolos, telhas e louças. Eram movidos à faia. Esse meio de transporte ainda é utilizado, contudo hoje é movido a motor. O uso dos batelões na economia da região pode ser verificado na fala do Sr. Raimundo Nonato, morador do rio Campompema, carpinteiro naval quando expõe que sua experiência no ramo da arquitetura naval ocorreu nos engenhos de Abaetetuba, pois seu pai era calafate e levava os filhos para aprenderem o ofício, O papai trabalhava no estaleiro. O Hernani Carvalho tinha uns engenhos e nós trabalhava dentro do estaleiro do engenho. Também tinha outros estaleiros em Abaeté que o papai trabalhava. Aí eu comecei a ajudar ele dentro do estaleiro. Só que ele não trabalhava de carpintaria. Ele

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A montaria é uma embarcação confeccionada com três tábuas no fundo e duas na farca, uma proa e uma popa, e bancos, recebendo monocromia ou policromia. Na pintura monocromática a preferência geralmente é pela cor vermelha ou verde. A policromina aplicada na montaria recebe o nome de pintura de cinco cores.

trabalhava de calafate e pintor. Ai eu aprendi a profissão com ele. Lobato (1993) contabiliza o número expressivo na ordem de 30 engenhos que estiveram em atividade em Abaetetuba até o século XIX. Outro acessório utilizado nas embarcações como o casco e as montarias foi o sentador, que era uma espécie de banco utilizado geralmente quando a pessoa saía a passeio, tendo o propósito de impedir que as roupas ficassem molhadas pela ação da água que entrava na montaria ou casco. Esse acessório era confeccionado a partir de madeiras da região, recebendo em seu acabamento verniz e/ou policromia. O sentador mais estiloso para a época era aquele confeccionado com acapu e pau amarelo, porém o custo de um exemplar era maior pela nobreza da madeira. Por tal razão, algumas pessoas utilizavam como artifício a aplicação de tinta nas cores amarelo e preto em imitação às aludidas madeiras. Nesse particular se manifesta Lael: Na canoa a remo, tinha o remo e o sentador. Colocava o sentador no banco para sentar e assim quando dava a maresia de um barco molhava o banco, mas não subia na pessoa aquela água por causa do sentador que colocava bem no meio do banco para ele proteger a gente. Eu já passei tinta em sentador. É uma pinta mais simples. Tinha uns que pediam assim, uma ripa amarela e uma ripa preta, pois ele é todo feito de ripinha. Também poderia passar só uma cor de tinta. A panacarica foi outro acessório utilizado nas montarias. Era uma coberta posicionada na proa das montarias, cuja função era proteger os man-


MARISE MAUÉS

REMOS DECORADOS As montarias e os cascos são impulsionados com a utilização de remos de pá curta. Os remos podem receber monocromia ou policromia. No passado, com maior incidência eram bastante decorados e recebiam entalhes em seu cabo.

timentos nas viagens do interior. Era confeccionada com talos de arumã, jupati ou mirti, e forrada com folha de ubim. Das embarcações acima referidas somente as montarias e os cascos são vistos com mais frequência, sendo utilizada em pequenas viagens, como por exemplo, no transporte de matapi ou malhadeira, por ocasião da pesca do camarão e do peixe e, ainda, na coleta de lenha, dentre outros afazeres menores. Isso decorre em razão do aparecimento dos motores movidos a combustível. Conforme a fala do Sr. Maximiano Miranda, há mais ou menos quatro décadas o deslocamento das populações ribeirinhas era feito em grande parte por montarias, pois poucas pessoas possuíam barco a motor, “[...] no começo, quando eu me entendi não tinha barco a motor. Era só remo. Que dizer, tinha, mas não era toda a pessoa que tinha motor”. A substituição de montarias por rabetas tem acarretado uma diminuição nas encomendas deste acessório e, quando solicitados carecem na maioria das vezes de apuro estético que caracterizava o gosto dos mais velhos. Ainda são recebidas encomendas de remos estilizados, mas já se pode notar outro elemento alheio à cultura local, como por exemplo, escudos de times de futebol de outros Estados.

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artes plásticas

IDENTIDADE Nina Matos

“ORA, A PARTIR DO MOMENTO QUE ME SINTO OLHADO PELA OBJETIVA TUDO MUDA: PONHO-ME A “POSAR”, FABRICO-ME INSTANTANEAMENTE EM OUTRO CORPO, METAMORFOSEIOME ANTECIPADAMENTE EM IMAGEM. ESSA TRANSFORMAÇÃO É ATIVA: SINTO QUE A FOTOGRAFIA CRIA MEU CORPO OU O MORTIFICA A SEU BEL-PRAZER. “ (ROLAND BARTHES)

M

inha exposição individual ID entidades, realizada de setembro a novembro de 2018, na Elf Galeria em Belém, mergulhou no universo do retrato, passeando por registros familiares e anônimos, em épocas e contextos distintos , ligados por aspectos subjacentes de identidades e pontos de interseção. Os personagens ali, re-tratados, transitam em campos de afeto, memória , aspectos culturais e sociais de um lugar . Interessa-me, as alegorias de identidade, os simulacros e interferir em imagens potentes que suscitam perscrutações, produzindo pinturas e construções digitais, que partem sempre do que imanam, tais capturas. A fotografia, como ponto de impulsão, veículo que em boa medida, identifica tudo e todos de maneira inequívoca, é ressignificada pelo exercício de uma pintura, que não se identifica completamente com o real, mas, interpreta e cria, imagens outras. Com obras , que flutuam em linhas tênues de representações de identidades, retratando tempo e fantasias individuais , talvez, de como a pessoa fotografada posa para a objetiva , vestindo uma imagem irreal de sua identidade ou onde os retratados interpretam a si mesmos em novos papéis . As obras, surgem de três momentos: - das fotografias de um álbum de família , onde capturo imagens que mesmerizam o meu olhar, desde a infância, e que são recorrentes na minha produção, por carregarem valores sentimentais e identitários; - nos recortes de

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iconografia histórica, do Álbum da Festa das Creanças. Descripções e photographias, 7 de setembro de 1905. AILLAUD & Cª PARIS. Estado do Pará, onde constam registros raros de um desfile de escolas públicas, do início do século XX em Belém, mostrando um determinado grupo de crianças da Amazônia que, pelas condições cultural, social, histórica e econômica as quais estava imerso, não tinha acesso ao gênero retrato, sendo talvez, tais imagens, os únicos retratos para os quais posaram na vida. A partir desse universo, construo digitalmente e pinto a Série Glorious Jungle, que opera conexões/associações e insere tais personagens, em cenários de passados pretensamente gloriosos , patrióticos e míticos de um lugar, aludindo ao mimetismo do período, de uma sociedade que forjou simulacros, de modernidade e aristocracia e que viveu a opulência e o revés econômico gomífero, e do qual, esse grupo esteve sempre à margem; - e finalizo, com um conjunto de retratos em construções digitais da Série “Tributo : alegorias, espiritualidade e posteridade” , que reflete situações de domínio e mimetismo de padrões sociais erguidos às custas de criminosos apagamentos identitários e culturais de povos tradicionais , surgindo de apropriações de iconografia e bibliografia histórica, que refletem questões perenes de conflitos e identidades sociais, operando através de um olhar crítico social sobre representações oficiais construídas e seus significados.


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artes plรกsticas

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Nina Matos, nasceu em Abaetetuba-Pa, formação em artes visuais pela Universidade Federal do Pará, iniciou carreira artística em 1990, já tendo participado de diversas coletivas em cidades como Belém, São Paulo, Rio de Janeiro e Almada (Portugal). Realizou as individuais: “Pinturas” (1991), ”Imagens Insólitas” (1994), ”Banquete Sincrético” (2001) e “Inéditos e Dispersos” (2002), “Aniversário de Dois” (2014) e ID entidades” (2018). Tem participação em diversos Salões Nacionais de Arte incluindo premiações no Arte Pará, Salão Unama de Pequenos Formatos e Salão da Paraíba. Em 2005 recebeu Bolsa de estudo do Ministério da Cultura da Espanha para cursar arte em Madri, em 2006 foi selecionada no Rumos Visuais do Itaú Cultural, em 2014 participou do “Circuito das Artes/ Triangulações” em várias cidades do Brasil. Coordenou a Galeria Municipal de Arte, dirigiu o Museu de Arte de Belém (2002/2004) e o Museu Casa das Onze Janelas (2007/2010) onde instituiu o Prêmio SIM de Artes Visuais . Atuou no Conselho Nacional de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura – Cnic/Minc, como Conselheira Titular de Artes Visuais nos biênios 2011/2012 e 2013/2014. Atualmente desenvolve ações de curadoria no Museu de Arte de Belém. Possui obras em coleções particulares e nos acervos do Museu de Arte de Belém,Museu do Estado do Pará,Museu Casa das Onze Janelas,Casa da Memória da Unama, Fundação Cultural de João Pessoa, Fundação Rômulo Maiorana, Museu da UFPA e Museu de Arte Brasil Estados Unidos – MABEU.

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artes visuais

POVO DAS ÁGU AO FOTOGRAFAR O COTIDIANO ABAETETUBENSE E PRINCIPALMENTE MOMENTOS QUE EU VIA PARECER COM O QUE VIVI NA INFÂNCIA, ESPECIALMENTE NAS ILHAS ONDE TENHO VÁRIOS FAMILIARES, EU FOTOGRAFAVA PARA DEPOIS DESENHAR, COM ISSO A QUESTÃO DE RETRATAR ALGO QUE JÁ VIVI ME AJUDA A ETERNIZAR ESSES MOMENTOS QUE SÓ TINHA EM MEMÓRIA, FOTOGRAFEI POR ALGUNS ANOS SUAS VIVÊNCIAS, COSTUMES E TRADIÇÕES, COM MAIS

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FREQUÊNCIA FIZ FOTOS DAS IDAS E VINDAS ENTRE OS RIOS E A CIDADE, DA DIVERSÃO DAS CRIANÇAS NAS ÁGUAS E ATÉ MESMO NA CAPTURA DO CAMARÃO COM O MATAPI EM PLENA TEMPESTADE AMAZÔNICA, POVOS DAS ÁGUAS SÃO HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS QUE VIVEM EM CERCA DE 72 ILHAS QUE CONSTITUEM A CHAMADA REGIÃO DAS ILHAS, UM POVO SUPER RECEPTIVO E ACOLHEDOR - DAVID RODRIGUES


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artes visuais

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economia

OS ENGENHOS E O REGATÃO Jorge Machado

O REGATÃO É UMA JORNADA QUE AINDA ESTÁ PARA SER CONTADA NOS SEUS DETALHES. REPRESENTOU A MAIOR DINAMIZAÇÃO COMERCIAL DO MUNICÍPIO (E DE TODO O BAIXO-TOCANTINS) EM TODA SUA HISTÓRIA E FOI O RESPONSÁVEL PELA CIRCULAÇÃO DE RIQUEZAS ENTRE O BAIXO-AMAZONAS E O BAIXO-TOCANTINS, BENEFICIANDO A PRODUÇÃO DOS ENGENHOS.

D

as relações com a natureza amazônica, ao mesmo tempo pródiga, ciclópica e às vezes opressora, nasceram as necessidades de sobrevivência em um meio hostil, que em Abaetetuba inicialmente se estabelecem sobre a agricultura de subsistência e o extrativismo e, posteriormente, sedimentam-se na indústria primitiva e em trocas comerciais seguindo as “ruas amazônicas”, os rios, que unem livremente as comunidades ribeirinhas da Amazônia. Dois exemplos de empreendimentos de abaetetubenses que marcaram a história do município são os engenhos de aguardente (que possibilitaram ao município a alcunha de “Terra da Cachaça”) e o comércio de regatão, autênticas “mercearias” que percorriam os rios da região e que foram, em certa época, importantes atividades econômicas. O SISTEMA DE AVIAMENTO E OS ENGENHOS DE CACHAÇA No entender de Roberto Santos , o sistema de aviamento foi instituído como um sistema de crédito capaz de induzir à progressiva monetarização da economia amazônica, que era essencialmente de escambo até então. Foi forma de ampliar as fronteiras econômicas da região, junto com estímulos externos (oriundos da explosão na demanda por borracha a partir de 1895) e a superação de dois

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ACERVO JORGE MACHADO

estrangulamentos regionais: o primitivo sistema de transportes e a escassez de mão-de-obra. A rigor, o aviamento do século XIX era a adaptação regional em miniatura do que ocorria no Brasil. Em Abaeté esse sistema perdurou praticamente em toda a existência dos engenhos de cachaça. O centro das operações de aviamento era uma casa comercial que funcionava anexada ao engenho, onde uma primitiva contabilidade registrava no “caderninho” as retiradas dos trabalhadores do engenho e a sua produção na forma de um salário combinado com o dono do engenho. No final do mês havia o acerto de contas onde as retiradas eram abatidas do devido ao trabalhador. O estímulo inicial de ter e poder usar o dinheiro era, porém, uma ilusão para o trabalhador. Seu isolamento e a quase absoluta exclusividade do seu vínculo com o dono do engenho (reforçada por um paternalismo que oferecia apadrinhamentos e atendimentos

médicos de emergência como pequenos curativos, afomentações, aplicação de injeções, etc.) faziamno perder a liberdade de usar o que ganhava, se é que sobrava algo além do estritamente necessário à subsistência. A moeda praticamente só servia como meio de cálculo, pois o escambo persistia, embora disfarçadamente. Euclides da Cunha, em seus ensaios amazônicos (p.109) chama esse sistema de “a mais criminosa organização do trabalho que ainda engenhou o mais desaçamado egoísmo”. Sobre o seringueiro que era submetido ao aviamento, declara o jornalista-escritor: “O homem, ao penetrar as duas portas que levam ao paraíso diabólico dos seringais, abdica as melhores qualidades nativas e fulmina-se a si próprio, a rir, com aquela ironia formidável. (...) O seringueiro realiza uma tremenda anomalia: é o homem que trabalha para escravizar-se.” Esses sistema econômico primitivo suportou quase um século da principal atividade econômica de Abaeté, atividade sem paralelos na história do município, importante suporte ao comércio de regatão (e por ele suportada numa perfeita simbiose) que gerou muita riqueza, embora não tenha necessariamente distribuído essa riqueza, mas a concentrado nas mãos de poucas famílias de empresários, que com os lucros capitalizados posteriormente mudaram de ramo ou de cidade . Os engenhos funcionaram sempre de acordo com uma concepção primitiva de produção e de relação econômica. Os mesmos maquinários do século XIX que iniciaram a produção ainda eram utilizados no seu ocaso ao final dos anos 1960. Nenhum melhoramento tecnológico nos equipamentos ou genético na matéria-prima foi introduzido e, talvez, aí esteja a razão de sua decadência. Costuma-se atribuir à Justiça e a relações trabalhistas mais sofisticadas o fim dos engenhos de cachaça. Tal representa um grande equívoco, uma vez que a decadência dos engenhos devese principalmente ao atraso tecnológico e ao apego ao sistema de aviamento em detrimento de práticas financeiras mais modernas.

No entender de Roberto Santos , o sistema de aviamento foi instituído como um sistema de crédito capaz de induzir à progressiva monetarização da economia amazônica, que era essencialmente de escambo até então.

Costuma-se atribuir à Justiça e a relações trabalhistas mais sofisticadas o fim dos engenhos de cachaça. Tal representa um grande equívoco, uma vez que a decadência dos engenhos deve-se principalmente ao atraso tecnológico e ao apego ao sistema de aviamento em detrimento de práticas financeiras mais modernas. Com a abertura econômica da Amazônia ao grande capital, nos anos de 1960, as bebidas destiladas produzidas no nordeste e no sudeste do país invadiram a região, amparadas por financiamento bancário, por uma publicidade implacável e por preços sem concorrência. Essa invasão destruiu a indústria local, incapaz de reagir com o vigor necessário, o que dependeria de financiamento e medidas de planejamento econômico estratégico, ações que nunca vieram. Os engenhos surgiram inicialmente de pequenas moendas familiares onde se fabricava a rapadura, o mel, o açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente, com a linha do Amazonas, teve caminhos para o escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará. Às moendas familiares coube continuar a fabricação do mel e da rapadura (uma vez que o açúcar refinado passou a ser importado) que ainda assim tinham mercado garantido, embora agregassem pouco valor ao produto, num processo rústico de produção que condenava à estagnação quem nele permanecia. Bem diferente era o que acontecia com a cachaça. O Estado, percebendo os grandes lucros oriundos dessa atividade econômica e as inúmeras possibilidades de sonegação fiscal, depressa estabeleceu coletorias que cuidavam da arrecadação de impostos e da emissão de “selos” a serem colocados so-

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economia

bre as tampas das garrafas de cachaça numa prova de que o produto nada devia à fazenda estadual. Na virada do século XIX para o XX e até mesmo depois de 1912, ano que em geral tem sido estabelecido para demarcar o final da belle époque amazônica - período de riqueza e delírio para uma elite pretensamente afrancesada que gravitava em torno da exportação do látex coagulado da seringueira e que teve seu mundo radicalmente modificando quando o látex produzido a partir de seringueiras cultivadas na Ásia passou a ser comercializado e desbancou o produto extraído penosamente de seringais naturais da amazônia, levando a região à falência - os engenhos de Abaeté continuaram produzindo e sustentando, ainda que em menor escala, certa elite local que chegava a importar lanchas de ferro e maquinário para os engenhos. Com as linhas fluviais do Tocantins e do Amazonas, o produto - de excelente qualidade, aliás - era exportado e isso garantiu a sobrevivência dos engenhos até o início dos anos 1970, tendo o último dos engenhos vindo a encerrar sua produção regular já no século XXI.

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O COMÉRCIO DE REGATÃO O regatão foi a mais notável aventura comercial dos abaeteenses, uma jornada que ainda está para ser contada nos seus detalhes. Representou a maior dinamização comercial do município (e de todo o Baixo-Tocantins) em toda sua história e foi o responsável pela circulação de riquezas entre o Baixo-Amazonas e o Baixo-Tocantins, beneficiando a ambos. Esse tipo de atividade comercial funcionou com a instalação de verdadeiros armazéns à bordo de embarcações dos mais diversos tipos e calados, que saíam de Abaeté rumo ao Baixo-Amazonas indo geralmente até Santarém, embora algumas se aventurassem até o Peru. O início da atividade ainda era em embarcações a vela, passando depois para barcos movidos a motores diesel. Contam os que participaram dos primeiros anos do regatão que quando faltava vento e a maré corria conta o movimento do barco era necessário que os marinheiros, ladeando o rio, puxassem o barco de terra através de um grande cabo, o que demandava um esforço físico enorme

que extenuava a todos. Na ida, os comerciantes levavam os produtos de Abaeté, principalmente a cachaça, os refrigerantes (os mais famosos eram o guaraná Amazônia, o guaraná Abaeté, o guaraná e a cola Alvorada) o mel e a rapadura, bem como querosene, sal e açúcar refinado, medicamentos e produtos industrializados adquiridos de atacadistas em Belém do Pará. Na volta, traziam os produtos da região, principalmente o pirarucu salgado, as peles de animais silvestres e a juta, importante fibra vegetal que abastecia os teares da CATA (Cia. Amazônia Têxtil de Aniagem) em Belém, na fabricação de sacos de aniagem. A criação da zona franca de Manaus, em 1967, implantou uma zona de livre comércio de importação e exportação na Amazônia e abasteceu os viajantes que retornavam “do Amazonas” (na verdade, como já dito, a maioria ia somente até Santarém, mas de lá recebiam os produtos da zona franca de Manaus) para Abaetetuba com produtos importados, aparelhos eletro-eletrônicos, brinquedos, perfumes (como o famoso Artimatic ou o Reve d’or e o Ramage, que muito sucesso faziam nas festas e nas tardes de domingo) ou cortes de seda importada


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que alegravam as costureiras e as jovens às vésperas da Festa de Conceição. Aproximadamente na mesma época houve a proibição da caça e comercialização da pele de animais silvestres, embora os regatões ainda tenham continuado a trazer as peles, principalmente as de jacaré, que atingiam alto preço no mercado exportador. A decadência do regatão deve-se a dois fatores principais: a abertura das grandes rodovias amazônicas, como a Belém-Brasília, a Santarém-Cuiabá e a Brasília-Acre, e a elevação dos custos de operação das embarcações, principalmente devido ao choque do petróleo de 1973. No primeiro caso, os produtos começaram a entrar direto do centro-sul para o Baixo-Amazonas sem o custo de ir até Belém para só depois chegarem àquela região. No segundo caso, a elevação dos custos de manutenção e operação das embarcações tornava inviável a competição com outras formas de comércio direto com o Baixo-Amazonas, notadamente a praticada por grandes armazéns atacadistas do Centro-Sul, como aqueles do interior de Minas Gerais que, em caminhões, depressa dominaram o mercado da região com bons preços e prazos maiores, uma

vez que financiados por grandes bancos, o que não acontecia com os regatões, que não dispunham de qualquer forma de financiamento para oferecer crédito aos clientes além do caderninho de contas e do ajuste destas durante a viagem de volta, cerca de 30 dias depois da ida. Muitos comerciantes praticaram o comércio de regatão intensamente, com mais vigor no final dos anos 50 e toda a década de 1960. Ao perceberem o início da decadência, procuraram mudar de ramo, geralmente estabelecendo-se como comerciantes em Abaetetuba ou em cidades vizinhas. Alguns ainda praticam o regatão até hoje, no início do século XXI, embora realizando essa atividade comercial de forma bastante diferente, valendo-se daquilo que a tecnologia coloca hoje à disposição. Sobre esta, aliás, vale ressaltar que a precariedade das comunicações na época dos regatões era impressionante. Os viajantes valiam-se principalmente do telégrafo sem fio, serviço prestado pelos correios. Havia as cartas tradicionais e as mensagens pelo rádio (um serviço conhecido como “alô interior”) De Santarém era possível telefonar aos berros para os poucos aparelhos que a COTELPA (Companhia Telefônica

A decadência do regatão deve-se a dois fatores principais: a abertura das grandes rodovias amazônicas, como a Belém-Brasília, a SantarémCuiabá e a Brasília-Acre, e a elevação dos custos de operação das embarcações, principalmente devido ao choque do petróleo de 1973.

Paraense) instalara em Abaeté. Rádios, somente os de ondas médias e ondas curtas instalados em poucas cidades do interior, além das estações de Belém. Deixar as famílias em casa e sair para comercializar pelo rio Amazonas de cidade em cidade era, como vimos, uma aventura, uma história de coragem ainda por ser contada.

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economia

CACHAÇA DEABAETETUBA A CACHAÇA INDIAZINHA É PRODUZIDA NA DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, NA CIDADE DE ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ. INDÚSTRIA PRODUTORA DE CACHAÇA. PRIMEIRA DESTILARIA QUE PRODUZ A CANA E FABRICA A CACHAÇA NO ESTADO DO PARÁ.

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baetetuba tem mais de 200 anos de tradição na produção de Cachaça Artesanal de Alambique. Devido a excepcional qualidade das Cachaças produzidas aqui, obteve no passado reconhecimento nacional e internacional. Fato comprovado no Brasão da cidade que simboliza; os canaviais; os engenhos e o meio de transporte predominante da época, os regatões, barcos à Vela responsáveis pelo transporte da Cachaça pelos rios da floresta. De acordo com o historiador Jorge Machado “Os engenhos funcionaram sempre de acordo com uma concepção primitiva de produção e de relação econômica. Os mesmos maquinários

do século XIX que iniciaram a produção ainda eram utilizados no seu ocaso ao final dos anos 1960. Nenhum melhoramento tecnológico nos equipamentos ou genético na matéria-prima foi introduzido e, talvez, aí esteja a razão de sua decadência. Com a abertura econômica da Amazônia ao grande capital, nos anos de 1960, as bebidas destiladas produzidas no nordeste e no sudeste do país invadiram a região, amparadas por financiamento bancário, por uma publicidade implacável e por preços sem concorrência. Essa invasão destruiu a indústria local, incapaz de reagir com o vigor necessário, o que dependeria de financiamento e medidas de planejamento econômico estratégico, ações que nunca vieram.

Os engenhos surgiram de pequenas moendas familiares onde se fabricava rapadura, mel, açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente teve escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará.

A CACHAÇA INDIAZINHA

É produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, na Cidade de Abaetetuba no Estado do Pará.

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economia

Os engenhos surgiram inicialmente de pequenas moendas familiares onde se fabricava a rapadura, o mel, o açúcar mascavo (chamado na região de “açúcar moreno”) e que posteriormente, com a linha do Amazonas, teve caminhos para o escoamento da produção, que começou a crescer em razão do aumento da demanda e resultou na instalação das primeiras máquinas a vapor destinadas à produção exclusiva da aguardente, cuja qualidade fez fama em todo o estado do Pará. Às moendas familiares coube continuar a fabricação do mel e da rapadura (uma vez que

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o açúcar refinado passou a ser importado) que ainda assim tinham mercado garantido, embora agregassem pouco valor ao produto, num processo rústico de produção que condenava à estagnação quem nele permanecia. Bem diferente era o que acontecia com a cachaça antigamente, o empresário Omilton Quaresma após estudo de viabilidade de mercado e no intuito de manter a tradição do seu município, resolve criar a CACHAÇA INDIAZINHA, produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA. A Modernidade chegou e a Tecnologia avançou

consolidando a produção na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, que ainda sim, mantem viva e guardada a Sete Chaves, a Arte da Produção de uma Cachaça Única e Especial! Tradição passada de gerações em gerações para produção da Cachaça Artesanal genuinamente amazônica. Para a produção da Cachaça Indiazinha, o cuidado com a qualidade começa desde a lavoura. O plantio de cana-de-açúcar é realizado sem o uso de agrotóxicos e a colheita ocorre no ponto Ótimo de maturação, com corte realizado de forma manual, sem o uso prévio de queimadas.


A cachaça INDIAZINHA OURO de Abaetetuba está entre as 50 MELHORES CACHAÇAS do Brasil. No resultado do III Ranking Cúpula da Cachaça analisada pelos maiores especialistas do Brasil. A cachaça INDIAZINHA OURO ficou em 19 lugar. Na fase final, "Degustação às cegas", os 12 especialistas do Brasil se reuniram e analisaram aspectos visuais, olfativos e sensoriais de cada uma dessas maravilhas da produção brasileira, estabelecendo pontuações para uma série de quesitos, sem saber as marcas que estão provando. A média estatística das notas de cada amostra definiu as posições no Ranking e a "Cachaça do Ano".

A FERMENTAÇÃO É NATURAL E SEM ADITIVOS QUÍMICOS. A Destilação é lenta e harmoniosa. Realizada em alambiques de Cobre que reproduzem a combinação perfeita entre aromas e sabores Amazônicos, reafirmando o poder da terra em que é obtida a Cachaça Indiazinha. Após destilada, segue para descanso por meses e até anos em tonéis de madeiras

A CACHAÇA INDIAZINHA é produzida na DESTILARIA DE CACHAÇA DA AMAZÔNIA, na Cidade de Abaetetuba, no Estado do Pará. nobres, em especial amazônicas que dão um toque original e genuíno para a Cachaça Indiazinha. Após o descanso a Cachaça Indiazinha é então filtrada e engarrafada. Fruto do rigoroso processo de Controle de Qualidade tem-se, então uma Cachaça especial que traz dentro da garrafa os Sofisticados Aromas e Sabores da Floresta mais Magnifica e Encantadora do mundo, a Amazônia.

Funcionamento: Das 8h às 18 hrs - segunda a sexta Contato: Omilton Quaresma:(91)98368-6237 Instagram: @cachacaindiazinha Facebook: https://www.facebook. com/cachacaindiazinha

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economia Benedito de Brito Almeida - Mestre Abaetetuba PPGCITI Campus Abaetetuba. Professor Dr. Yvens Cordeiro

AçaídeAbaeté A PRODUÇÃO DE AÇAÍ NO BRASIL POSSUI SIGNIFICATIVA PARTICIPAÇÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO, É DINÂMICO E FORTEMENTE INFLUENCIADO PELA PREFERÊNCIA DOS CONSUMIDORES QUE TAMBÉM TEM REDIRECIONADO A PRODUÇÃO PARA CRESCENTES AUMENTOS NA DIMENSÃO TERRITORIAL UTILIZADA NO PROCESSO PRODUTIVO, ONDE UM DOS CASOS É A AGROINDÚSTRIA DO AÇAÍ NO ESTADO DO PARÁ RESPONSÁVEL POR 95% DO FRUTO

N

o Estado do Pará, o processo produtivo voltado para a produção do açaí foi responsável por 51% da produção extrativa nacional, em 2011 e em relação à Região Norte por aproximadamente 54% da produção extrativa regional, conforme dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2013). Nos anos anteriores a participação do Estado nunca foi inferior a 90%. A valorização do fruto vem despertando o interesse de outros estados da região, como por exemplo, o Amazonas, que nesse ano contribuiu com 44% da produção regional. A produção do açaí se destaca por exigir planejamentos adequados e em longo prazo, contudo observa-se que o açaí manejado apontou resultados significantes no aumento da produção, objetivando a maximização de lucro pelo produtor a partir do equilíbrio obtido no processo de produtividade e adequação e organização do arranjo produtivo. Nas últimas três décadas, o açaizeiro vem se destacando por seu impacto positivo na economia local principalmente para o estado do Pará, com a exploração extrativa do palmito e a partir dos anos 80 com o aumento do consumo do suco ou “vinho” de açaí, uma bebida feita do fruto. Enquanto o palmito é principalmente exportado para fora do país, o suco do açaí é um dos principais produtos da alimentação do povo paraense, com

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destaque para o município de Belém que constitui o seu principal mercado consumidor (NOGUEIRA, 1997; GUIMARÃES et al, 2004). Neste sentido, o crescimento do processo produtivo em termos de áreas utilizadas para novos plantios gerou impacto de 44% na expansão da produção nacional, a produção de açaí no município de Abaetetuba estar concentrado em área de várzea. Portanto, na economia familiar da população ribeirinha da Amazônia, como a pesca e a produção de açaí têm demonstrado significativa contribuição na economia, ainda observava-se a falta de politicas publicas e se fazem necessárias estratégias que permitam a continuidade desta atividade. Diante do exposto é importante destacar que o manejo ambiental pode ser destacado mediante os seguintes benefícios. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo compreender a dinâmica da caracterização do processo de produção, destinos comerciais e produtividade atrelada ao manejo até o processo de escoamento e comercialização da produção do açaí extrativista. ÁREAS DE ESTUDO O município de Abaetetuba está localizado na região do Baixo-Tocantins, tem 141.110 habitantes, e possui uma área de 1610,606 Km2 (IBGE-2010). Além dos produtos comuns das feiras Abaetetuba

A produção do açaí se destaca por exigir planejamentos adequados e em longo prazo, contudo observa-se que o açaí manejado apontou resultados significantes no aumento da produção, objetivando a maximização de lucro pelo produtor a partir do equilíbrio obtido no processo de produtividade e adequação e organização do arranjo produtivo

conta também, com pescados característicos da região, camarão de água doce e a poupa de miriti que é um fruto que simboliza o município que é conhecido como capital mundial do miriti. É evidente que a economia da cidade gira em torno da agricultura, do extrativismo, da pesca, da caça e do artesanato, também conta com 72 ilhas que são responsáveis pelo grande abastecimento principalmente de açaí. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA A pesquisa foi realizada com 24 produtores rurais das ilhas do município, relacionados à agricultura familiar da produção de açaí. Foi utilizado o método de análise comparativa, com transformação das variáveis produções agrícola, produtividade, área plantada, como embasamento as teorias da


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economia FOTOS: HELLY PAMPLONA

produção e aumento da produtividade. Levando em consideração o tamanho da área de produção dos 24 produtores entrevistados. A estratificação dos grupos definiu as seguintes amostras: tamanho da área cultivada; rasas colhidas, vendidas e consumidas; safra e entre safra, preço de rasa em período estacional de safra (inicio, pique e final) de açaí extrativista e manejado. As propriedades dos entrevistados foram selecionadas aleatoriamente de forma a garantir maior confiabilidade nos resultados obtidos e mapeadas a partir de produtores pertencentes à cooperativa COOFRUTA. Os questionários utilizados foram compostos por questões semiestruturadas subdivididas em duas partes: a primeira visa abordar as questões econômicas envolvidas no processo de produção, a segunda foi estruturada de forma a permitir o entendimento sobre a dinâmica e a caracterização da produção e dos custos de produção (processo de manejo da área e variação de preço quanto ao escoamento da produção por rasas), retornos sociais (melhoria da qualidade de vida dos produtores) e características ambientais a partir do uso da terra. RESULTADOS E DISCUSSÕES Quanto à média de preços da rasa de açaí comercializada pelos ribeirinhos na safra de 2012. O mercado do açaí está em alguns anos em rápido crescimento o que tem aumentado à demanda,

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o preço dos frutos e também atraído novos investimentos (PAGLIARUSSI 2010). Neste sentido é visível que preço da rasa ou lata de açaí vem sofrendo constantes variações, até mesmo por conta da oferta e da procura. É visível a importância do açaí na mesa dos paraenses, seu consumo já faz parte da cultura do estado. Isso faz com que na época de inicio da safra quando a procura é alta e a oferta baixa. A safra segundo os produtores é o período em que a produção atinge seu pico que vai geralmente de agosto a dezembro. Neste momento, existe uma grande quantidade de fruto que é ofertado nos principais mercados de Belém (principal centro consumidor do Estado do Pará), oriundos das ilhas próximas a Belém das microrregiões de Cametá e Arari (VEDOVETO 2008). Neste período o preço do açaí sofre uma queda significativa devido a grande disposição de produtos no mercado baixando o preço. Na produção do açaí observa-se a distribuição de períodos estacionais quanto à produção, definidos por períodos de safra e entressafra, nesta questão têm-se o período final da safra onde é caracterizada pela queda na produção de açaí e alta no preço. O período da entressafra é aquele em que a produção é muito pequena para abastecer uma demanda muito alta acarretando na alta do preço.

QUANTO À PRODUTIVIDADE E O TAMANHO DA ÁREA SEGUNDO A ESTAÇÃO DE SAFRA DO ANO. A produção no setor agrícola tem sido fundamental na conjuntura econômica do Estado do Pará, o estudo da produção agrícola com a produtividade é extremamente importante, pois estar atrelado à questão de que é importante a produção não com uma fonte de renda inesgotável, relacionado com o tamanho de terra do agricultor. Haja vista que o trabalho desenvolvido é analisado levando em consideração a produção de safra do ano de 2012, o objetivo deste é analisar a produção e a produtividade em função do comportamento da produção e da produtividade do açaí manejado de área de várzea. O açaí extrativista manejado possui resistência aos fatores climáticos e de alto risco para o produtor, ganhou produtividade devido a melhoria com a tecnologia do manejo orientado por assistência técnica, deixando a cultura resistente aos efeitos climáticos e doenças. Para (FIGUEIREDO 2007) existem produtores eficientes de todos os tamanhos, e sugere que a produtividade não é necessariamente decrescente com o tamanho. O que importa é o tipo de tecnologia empregada, a qualidade do gerenciamento, e as vantagens competitivas desenvolvidas através do tempo. Percebe-se, o crescimento da produção e produtividade atrelado ao tamanho da área, podemos observar um exemplo entre os


A safra segundo os produtores é o período em que a produção atinge seu pico que vai geralmente de agosto a dezembro. Neste momento, existe uma grande quantidade de fruto que é ofertado nos principais mercados de Belém (principal centro consumidor do Estado do Pará), oriundos das ilhas próximas a Belém das microrregiões de Cametá e Arari (VEDOVETO 2008).

produtores quanto a produção e produtividade relacionada com o tamanho da área, onde observa-se que o tamanho da área não está relacionado com a produtividade, uma vez que alguns agricultores possuem uma área menor e consequentemente maior produção. QUANTO À PRODUTIVIDADE E O TAMANHO DA ÁREA SEGUNDO A ESTAÇÃO DE SAFRA DO ANO. CASTANHAL, 2012 A produtividade é um indicador econômico que relaciona valores de produção com quantidades dos fatores de produção utilizados, sendo, portanto, um indicador importante para a análise comparativa da produção, em que no setor agrícola todos os três fatores de produção, terra, capital e trabalho têm grande importância, o indicador. A produção no setor agrícola tem sido fundamental na conjuntura econômica do Estado do Pará, devido à valorização do seu preço no mercado, o aumento da produção de açaí tem direcionado o aumento da produtividade agrícola, melhora o nível de vida das populações envolvidas e aumenta a ofertas, o que consequentemente aumenta a renda da população.

CONCLUSÕES Esta pesquisa evidencia que a produção do açaí extrativista manejado é considerada rentável para a agricultura familiar e ainda neste resultado mostra sua importância na contribuição do agronegócio brasileiro, onde seu processo produtivo é forte gerador, seja no nível de produção, produtividade, oscilação de preço e a comercialização. Outro fator informado pelos produtores é a tendência de elevação do preço por rasa, que se encontra relacionado à safra e entressafra, estes são apontados como a principal fonte de elevação da produção. Devido o mercado e a produção do açaí ser fortemente influenciado pela preferência dos consumidores, os produtores podem obter um lucro razoavelmente elevado por hectare, e este não estar atrelado somente à extensão territorial, justificase por produção e produtividade. Por outro lado, a reestruturação e reorganização dos produtores pode levá-los a agregação de valor a produção desenvolvida, conforme a necessidade do mercado, de seus segmentos e dos consumidores, redirecionando assim o sistema produtivo até mesmo através de órgão de administração, como cooperativas e assistência técnica. Portanto, o desenvolvimento do sistema produtivo deve ocorrer de forma que os agentes envolvidos procurem solidificar suas práticas atrelando-as a estruturas de cooperação e de governança eficientes, de modo a viabilizar agregação de renda, desenvolvimento sócio local e inserção social.

5. REFERÊNCIAS Disponivel em: http://www.ibge.gov.br/ cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=150010. IBGE 2010 Informações estatísticas. Acesso em 11/08/2013. Ás 22 H: 00M FIGUEIREDO, A. M. R., MOREIRA, A. R., DE, R. A. E. O. P., & DA POBREZA, R. E. D. U. Ç. Ã. O. Explicando as Diferenças na Produtividade Agrícola no Brasil. XLV congresso da sober, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007. PAGLIARUSSI, M. S., dos Santos, M. O., PESSOA, J. D. C., & Kronig, T. Proposta de um modelo matemático para a cadeia produtiva agroindustrial de açaí no Pará. SOUZA,N.J. Desenvolvimento econômico. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1999. 415p. VEDOVETO, M.; Vidal, E. J. da S. BAUCH, S.; AMARAL, P. Caracterização do mercado de açaí (Euterpe oleracea Mart.) em Belém entre 2006 e 2008. Universidade de São Paulo. Belém, 2008. Disponivel em: www.ncsu.edu/ project/amazonia/brazil_proj/Result/rel_Mariana_final.PDF. Acesso em:17/08/2013

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poesofia ADEMIR ROCHA

O PLANTADOR DE

CANAVERDE S

obre o Monumento do Plantador de Cana-Verde, obra em concreto criada por Ray Cardoso para homenagear o Ciclo Canavieiro de Abaetetuba, e que foi colocada à beira-rio, em frente da cidade de Abaetetuba, e que pelo alvorecer e entardecer criava um efeito belíssimo junto com as luzes do nascente e poente, essa peça, sabese lá por que razões, foi retirada do local em que estava e, desde aí, desapareceu sem nenhuma explicação plausível de parte dos administradores do município. Como esse antigo Monumento do Plantador de Cana-Verde era a peça mais representativa do Ciclo Canavieiro de Abaetetuba, o Coordenador do Campus Universário de Abaetetuba (2013), junto com seus pares da mesma entidade, e por estudantes que procuram resgatar a HistóriaMemória de Abaetetuba e, em especial a História-Memória do Ciclo Canavieiro de Abaetetuba, convidaram o multi-artista Ray Cardoso para executar outra obra em concreto que pudesse resgatar essa importante parte de nossa Cultura, peça a ser montada em uma Praça que está sendo implantada nesse importante Campus. Ray não se fez de rogado e executou outro importante

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Monumento do Plantador de Cana-Verde, que foi solenemente inaugurado em 4/4/2013, com a presença de convidados especiais, TV Record, Professor e escritor Jorge Machado, Professor Garibaldi Parente, demais professores, alunos e tantos outros convidados para essa inauguração. Foram momentos de palestras, poesias e valiosas informações partidas de Jorge Machado e outros convidados desse verdadeiro Ato Cultural. Esse novo monumento, no nascente e no poente, ou outras quaisquer horas do dia, causa os belos efeitos visuais do anterior, ou até mais expressivos que aquele. Um novo monumento foi encomendado pelo Coordenador do Campus, e na imaginação do artista Ray Cardoso, será um monumento com 3 varas de cana entrecortados, sustentando uma fraqueira (garrafão) de 15 litros, isto é, o maior dos antigos garrafões e esse garrafão jorando "pinga", para também ser implantado no Campus, como parte da História-Memória do Ciclo Canavieiro de Abaeteuba. O belo verso abaixo, publicado pelo cantor e poeta Adenaldo Santos Cardoso, na página Xarão Cultural, do poeta João de Jesus Paes Loureiro, foi recitada no dia da inauguração do novo Monumento ao Plantador de Cana Verde.


HELLY PAMPLONA

CANTO ANGUSTIADO AOS PLANTADORES DE CANA Plantador de Cana Verde, das terras de Abaetetuba, por que só tu quem trabalha, por que teu filho não estuda? Plantador de cana verde, das terras de Abaetetuba. Teus braços plantam doçuras, colhem braçadas de dor, o sol que te cresta a pele, doura a praia do senhor. Teus braços colhem doçuras, colhem braçadas de dor.

Trabalhas luas e sóis, vai teu patrão ao Senado votar as leis que te fazem viver mais escravizado. Trabalhas luas e sóis, vai teu patrão ao Senado. Quantos filhos já tivestes? Quantos deles já morreram? Uma cruz de cana verde foi o quanto que tiveram. Quantos filhos já tiveste? Quantos deles já morreram?

Tuas mãos acendem esperanças de um certo verde esplendor. É um verde mar que propagas, um doce mar plantador. Tuas mãos acendem esperanças de um certo verde esplendor.

Quantos filhos na moenda perderam o braço e a infância? que plantar cana e moê-la é seu brinquedo e folgança? Quantos filhos na moenda perdaram o braço e a infância?

Não vês, porém, que esta cana é cano cruel que aponta o lucro do teu patrão para o teu lar que não janta? Não vês. porém, que esta cana é cano cruel que aponta? Acaso foste a uma escola que teu patrão te mandasse? Acaso teu filho estuda na escola que não estudaste? Acaso foste a uma escola que teu patrão te mandasse? Teu filho acaso não nasce como nasce o do patrão? Por que só o dele é doutor e o teu não tem instrução? Teu filho acaso não nasce como nasce o do patrão?

Deu-lhe o patrão outro braço? Deu-lhe o patrão outra infância? Em vez de matar no pólen a sua flor de esperança? Deu-lhe o patrão outro braço? Deu-lhe o patrão outra infância? Não deu porque de teu filho só quer a mão que trabalha. A mente que pensa e cria envolve em metal mortalha. Não deu porque de teu filho só quer a mão que trabalha.

Não há ninguém que nascesse para aprender, outros não... Teu filho merece escola como o filho do patrão. Não há ninguém que nascesse para aprender, outros não...

Só quer que a sua cartilha seja da cana cortada. Mas essa cana arrebenta os sulcos de tua alvorada. Só quer que a sua cartilha seja o da cana cortada. Que verde alvorada verde há de brotar de tua mão, plantador de cana verde ao som de voz: hoje não! Que verde alvorada verde há de brotar de tua mão.

Teus braços farão rolar os canaviais da injustiça. pondo final nesta infâmia pondo final nesta liça. Teus braços farão rolar os canaviais da injustiça. Então vais viver decente da cana que tu plantaste. Então vais comer o açúcar da cana que tu plantaste. Então vais vestir a roupa da cana que tu plantaste. Então vais tomar remédio da cana que tu plantaste. Então vais jantar a carne da cana que tu plantaste. Então vais educar teu filho da cana que tu plantaste. Então vais plantar tua casa da cana que tu plantaste. Então vais morrer como homem da cana que tu plantaste. Plantador de cana verde das terras de Abaetetuba, a liberdade é mais doce que a cana nova e polpuda! Plantador de cana verde das terras de Abaetetuba! (Poesia extraída do livro “João de Jesus Paes Loureiro, o meu irmão”, autoria de Raimundo Nonato Paes Loureiro) JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO

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especial

João de Jesus Paes Loureiro

UM TRECHO DA TESE DE DOUTORADO DE JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO APRESENTADO NA UNIVERSIDADE DE SORBONNE EM PARIS COM ORIENTAÇÃO DE MICHEL MAFFESOLI APRESENTA OS BRINQUEDOS DE MIRITI COM A ARTE DE ENCANTAR O OLHAR E COLORIR A VIDA, REPRESENTAÇÕES DO UNIVERSO LÚDICO DO POVO DE ABAETETUBA

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SITUAÇÃO E CONTEXTO Os brinquedos de miriti são uma forma de artesanato artístico característico da cidade de Abaetetuba. São fabricados com material da polpa ou bucha do miriti, palmeira abundante no município e comum nas áreas de várzea da Amazônia. Abaetetuba fica localizada na zona fisiográfica Guajarina, a margem direita do rio Tocantins, em frente a baía de Marapatá, no Baixo Tocantins. É cidade antiga do Pará, fundada no século


FOTO: ARAN RODRIGUEZ

rial perfeitamente seco. São brinquedos artisticamente criados, que revelam a necessidade e o desejo de concretizar na matéria os frutos de sonhos e experiências vividas. “Eu aprendi a fazer brinquedo da minha cabeça mesmo, olhando os outros fazendo, eu aprendi, mas nunca imitei ninguém”, explica o artesão Antonio Silva.” A VAGA HISTÓRIA DAS ORIGENS

XVIII em um ponto situado a 50 km em linha reta da capital do Estado. A topografia é plana, sendo o solo representativo de três tipos: o solo de várzea, na chamada Zona das Ilhas, constituída, em parte, por mais de 45 ilhas; os tesos; e, finalmente, os solos de terra firme. Em virtude do clima quente e seco, sujeito a enchentes periódicas dos rios e igarapés, os miritizais se desenvolvem no alagado. A importância dessa situação climática e percebida na produção, fabricação e acabamento dos brinquedos, que exigem mate-

A origem histórica dos brinquedos de miriti está perdida no tempo vago da cultura oralizada na Amazônia. A rememoração e a oralidade da tradição são vias que reimplumam as asas da imaginação, ultrapassando a realidade prática, na eterna busca das fontes, que caracteriza o desejo de autoconhecimento e conhecimento da vida que move todos os homens. O caboclo da Amazônia não poderia fugir a essa atitude e condição. Em Abaetetuba, acredita-se que foram as crianças que começaram a utilizar o miriti para fazer pequenos brinquedos, sobretudo pela maciez do material para entalhe e sua possibilidade de flutuar nas águas dos rios, igarapés, lagos e poça d’água deixadas pela chuva. Eram pequenas montarias e vigilengas navegando por entre as inúmeras atividades lúdicas infantis. Costuma-se associar o início da comercialização dos brinquedos de miriti ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, na suposição de que tal fato tenha ocorrido já durante a realização do primeiro Círio, em 1793. Hoje, esses brinquedos estão de tal maneira integrados a essa procissão, que se constituem num de seus mais representativos signos culturais. O Círio de Nazaré é uma procissão religiosa culminante do culto da padroeira dos paraenses, realizada todos os anos no segundo domingo de outubro. É uma espécie de apoteose epifânica da fé do povo do Pará percorrendo as ruas de Belém. Representa uma modalidade de síntese cultural, pela complexidade e diversidade de realidades e simbologias que constituem o seu processo e a sua estrutura. De origem latina, cereus, o vocábulo “círio” designa uma tocha grande como a vela pascal. Tanto em Portugal como no Brasil, serve para designar romarias ou mesmo procissões de maior porte em celebração do santo padroeiro do lugar. Isidoro Alves considera que o Círio exerce na festa do padroeiro o papel de intercâmbio ritual, no processo de tro-

cas simbólicas. É um poderoso aglutinador, em torno de uma generalizada ideia de identidade regional”, constituindo-se em “um campo ritual de cruzamentos de várias dimensões da vida social”. Estima-se, atualmente, que cerca de um milhão de pessoas-romeiros — acompanham o Círio de Nazaré durante suas 4 ou 5 horas de percurso, desde a Sé Catedral, na Cidade Velha, até a suntuosa Basílica de Nazaré, no centro da cidade, num percurso que se estende por 4,5 Km, aproximadamente. As circunstâncias de vinculação com o Círio revelam o caráter cíclico e periódico dos brinquedos de miriti. De certa maneira, há um componente de mercado motivado durante a festa, o que estimula essa periodicidade é, ao mesmo tempo, explica o caráter social evidente no processo desse artesanato artístico. Torna-se, inclusive, um elemento a mais no conjunto plástico da monumental procissão. Nessa condição pode ser visto também como uma “arte representativa de uma festividade tradicional de cunho religioso, com características essencialmente da Amazônia”. Essa relação pode ser testemunhada pelos próprios artesãos. Seu Abaeté, por exemplo, explica que foi vendo os brinquedos sendo vendidos no Círio que aderiu a ideia de se tornar também um fabricante. “Eu acho tão bonito aquilo. Se eu não vou, eu me sinto ruim. Eu não vou só vender os brinquedos não... eu vou pra ver a Santa também” (As coloridas girândolas de miriti). No entanto, sua produção atende também a outras finalidades, isto é, como pagamento de promessas feitas a Santa, depositadas no carro dos milagres (onde são depositados ex-votos no decorrer da procissão), miniaturas de barcos ou casas, em reconhecimento a uma graça alcançada. A própria literatura da Amazônia já registra essa utilização ritual dos brinquedos de miriti. O personagem central do conto Carro dos Milagres, de Benedicto Monteiro, diz: “Olhe compadre, nem quero lhe contar a triste sina deste meu barco a vela feito de tala de miriti. Eu trouxe ele, mas foi pra colocar no Carro dos Milagres”. São numerosos os artesãos que confirmam essa hipótese: Começou a ideia de vender com as canoinhas de promessa. No Círio de Nazaré, o promesseiro levava aquelas canoinhas, que ele fazia promessa. Uma pessoa do interior, por exemplo, fez uma promessa de uma canoa dele que sumiu. Se aparecia, ele levava uma monta-

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ria para Nossa Senhora”. Portanto, o uso desses brinquedos é diversificado. É um sinal de sua plurissignificação. Servem como signo mágico-religioso na forma de ex-votos, de brinquedos propriamente, de recordação da festa ou da região, de objeto estético entre os artistas plásticos e colecionadores, de elemento de decoração, de artefato museológico da cultura popular. “Quem compra mais é a criança (...) Outros compram pra enfeite, mas é mais brinquedo de criança. Qualquer brinquedo pode servir de enfeite. Muita gente de fora compra pra recordação. Agrada. Luís Carlos Morais afirma que o brinquedo “tem sua função sócio educativa no lazer,na religião, como adorno, objeto decorativo para turista ou coisa de agrado para uma pequena parcela de admiradores. O SUPORTE MATERIAL Os brinquedos são modelados em um material que é a bucha do miritizeiro, uma polpa vegetal fibrosa e leve, de grande maciez e flexibilidade. O miritizeiro, que é uma palmeira abundante na região de Abaetetuba, comum nas áreas alagadas, tem uma altura que varia de 30 a 50 metros. Seu nome científico é mauritia flexuosa. Trata-se de um material familiar de múltiplo uso, seja como meio de subsistência para os índios e caboclos, uma vez que seu fruto tem agradável sabor e inúmeras utilidades; seja como material de construção de habitações; seja pelo uso de suas talas na magnífica cestaria regional; seja na fabricação dos brinquedos com a polpa ou bucha. O miritizeiro é, portanto, uma árvore cultural da região onde estão disseminadas, embora predominem nos baixos ou áreas alagadiças resultantes do transbordamento dos rios. Um dos motivos da intensa produção dos brinquedos em Abaetetuba resulta da grande quantidade de tremendais de miriti existentes no município. A densa rede potâmica que o divide em um arquipélago, com ilhas que também são entrecortadas de rios, lagos e igarapés, criou condições para que se tomasse abundante essa espécie vegetal no município. Para que a polpa ou bucha do miritizeiro fique apropriada ao trabalho de entalhe, deve ser observada uma adequada metodologia. Em primeiro lugar, retiram-se as talas, que são fibras duras que revestem a polpa. Em seguida, as toras da polpa são postas ao sol para secar

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VALDELI COSTA

TRADIÇÃO E FÉ Costuma-se associar o início da comercialização dos brinquedos de miriti ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, na suposição de que tal fato tenha ocorrido já durante a realização do primeiro Círio, em 1793. Hoje, esses brinquedos estão de tal maneira integrados a essa procissão, que se constituem num de seus mais representativos signos culturais. rcialização dos brinquedos de miriti ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, na suposição de que tal fato tenha ocorrido já durante a realização do primeiro Círio, em 1793. Hoje, esses brinquedos estão de tal maneira integrados a essa procissão, que se constituem num de seus mais representativos signos culturais.

a fim de que o material adquira a consistência adequada ao entalhe. Os artesãos vão adquirindo o material ao longo do período de novembro de um ano até julho do outro quando os trabaIhos serão iniciados, para que fique bem seco no período menos úmido e quente do inverno. Nessas condições o miriti fica com a textura adequada ao corte e ao lixamento. “0 miriti, a gente compra ele verde e bota pra secar com a quentura do tempo, dentro de casa. No sol, ele seca por fora, mas não fica bem seco. Dentro de casa, da tempo pra ele secar todo, descansa. Então ele fica bem apurado.” O PROCESSO DE TRABALHO COM O MATERIAL A fabricação do brinquedo de miriti estabelece a relação profunda que há entre o artista e sua obra. O fabricante é um artesão que tem a execução material de sua obra acompanhada de uma interação é um gesto estetizante em sua modelagem. É evidentemente possuidor de uma

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técnica apurada, a serviço de uma concepção de forma significante no contexto cultural em que está inserido. Fabricando integralmente o seu objeto estetizado, ele reproduz ou cria modelos, assumindo sua completa execução. “Pra mim é uma arte, porque tem gente que faz aquilo que vê, eu crio” (Seu Abaeté, in Amazônia Hoje, p. 18). Em aditamento a essa visão do brinquedo reconhecendo sua artisticidade, opina o pesquisador Luís Carlos Morais: “Pelo visto, o brinquedo de miriti se apresenta como arte (...). Os fabricantes de brinquedos de miriti trabalham fazendo sua obra, com reduzida utilização de instrumentos mecânicos e sem o caráter de série, próprio dos casos em que se utiliza a máquina. É grande sua habilidade manual. “A gente tem de estar com a cabeça fria. Trabalhar com muito cuidado, às vezes eu largo e vou embora, dar uma volta. Quando a gente tá fazendo o brinquedo, tem de tá com o olhar certo, com

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a visão certa, porque qualquer vacilo a gente tá se furando, se cortando.” As obras apresentam uma individualidade ou diversidade real em meio a uma aparente uniformidade, nunca sendo absolutamente iguais. Por isso, constituem-se objetos estilizados na modalidade de artesanato artístico, garantindo cada peça sua originalidade. Dentre seus principais procedimentos técnicos de criação estão o corte, o lixamento, a montagem e a pintura. E aparentemente fácil modelar pelo corte a polpa do miritizeiro. Ela é extremamente macia e não tem fibras que dificultem o corte e os entalhes. Mas as facas precisam estar afiadas e a concentração permanente. A penetração da lâmina, o corte, o lento desbastar de seus contornos tem uma voluptuosidade carnal. A matéria não oferece quase resistência. A faca penetra como se estivesse trabalhando numa forma suspensa no ar. A maneira dos ceramistas que, especialmente na

O miritizeiro, que é uma palmeira abundante na região de Abaetetuba, tem uma altura que varia de 30 a 50 metros. Trata-se de um material familiar de múltiplo uso, seja como meio de subsistência para os índios e caboclos, uma vez que seu fruto tem agradável sabor e inúmeras utilidades; seja como material de construção de habitações; seja pelo uso de suas talas na magnifica cestaria regional; seja na fabricação dos brinquedos com a polpa ou bucha. O miritizeiro é, portanto, uma árvore cultural da região onde estão disseminadas, embora predominem nos baixos ou áreas alagadiças resultantes do transbordamento dos rios.


VALDELI COSTA

TRADIÇÃO E FÉ Costuma-se associar o início da comercialização dos brinquedos de miriti ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, na suposição de que tal fato tenha ocorrido já durante a realização do primeiro Círio, em 1793. Hoje, esses brinquedos estão de tal maneira integrados a essa procissão, que se constituem num de seus mais representativos signos culturais. rcialização dos brinquedos de miriti ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, na suposição de que tal fato tenha ocorrido já durante a realização do primeiro Círio, em 1793. Hoje, esses brinquedos estão de tal maneira integrados a essa procissão, que se constituem num de seus mais representativos signos culturais.

poteria, vão com as mãos esculpindo formas no ar, assim os fabricantes desses brinquedos vão recortando suas formas no miriti. O artesão de brinquedos vai penetrando na intimidade da matéria miriti, a medida que nele vai objetivando sua imaginação seu desejo. Vai atribuindo sentidos a matéria extraída natureza. Seu ponto de partida é uma espécie de espiritualidade poética. Pela fragilidade do material e como se fosse entalhando o efêmero. Os objetos e as figuras resultam numa simplificação de traços, persistindo os essenciais significantes, sem detalhamento naturalista, pois a textura do material não permite, assim como as lâminas de entalhe utilizadas. Há uma perfeita adequação entre procedimento, instrumentos e material para a obtenção desse resultado estético que define um gênero de criação. Dessa maneira, o artesão de brinquedos miriti é uma espécie de entalhador do sonho.

A fabricação do brinquedo de miriti estabelece a relação profunda que há entre o artista e sua obra. O fabricante é um artesão que tem a execução material de sua obra acompanhada de uma interação é um gesto estetizante em sua modelagem. É evidentemente possuidor de uma técnica apurada, a serviço de uma concepção de forma significante no contexto cultural em que está inserido. Fabricando integralmente o seu objeto estetizado, ele reproduz ou cria modelos, assumindo sua completa execução.

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O artesão de brinquedos de miriti faz de suas mãos um instrumento vivo e inefável de sua relação com a matéria. Como se dialogasse com o miriti, ela vai extraindo as suas formas imanentes, vai convertendo — numa operativa conversão semiótica - a forma natural em forma expressiva. Ação libertadora de energia, a mão, além de veiculo de trabalho, parece conter o sentimento do artesão nela impregnado. Elas vibram com intensidade diante da matéria leve e efêmera que é a polpa do miriti, no ato de atribuir-lhe a duração individualizadora da forma artística. Geralmente sentados no chão ou numa pequena banqueta, o fabricante de brinquedos estabelece com os materiais e objetos uma intimidade familiar e efetivizada. É o seu mundo. Com as mãos ele segura cuidadosamente um pedaço de miriti, confere sem pressa sua condição material, acaricia-o com as mãos ou algum instrumento a sua superfície levemente rugosa, a fim de torná-la uniforme e lisa. Corta com mi-

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nuciosa delicadeza os contornos configurando as pecas ou partes do brinquedo. Não parece ferir, nem agredir a matéria que se oferece rica de possibilidades. Toca naquela polpa como no próprio corpo da ternura. Segura a lâmina como o poeta sua pena, como o pintor segura o pincel. Separa do geral da matéria domesticada o particular que e o brinquedo, criando um objeto estético universal na sua significação. Cria um objeto distinto da natureza. Esse inútil essencial que constitui a magia dessas formas tão frágeis e singelas da beleza, esse mundo miniaturizado que o artesão sonhou naquela matéria e que vai nascendo de suas mãos. “A curiosidade da infância, o artista a prolonga e privilegia além dos limites dessa idade. Ele toca, ele apalpa, ele estima o peso, ele mede o espaço, ele modela a fluidez do ar puro e prefigura a forma, ele acaricia o contorno de todas as coisas, e é da linguagem do olhar — um tom quente, um tom frio, um tom pesado, um tom vazio, uma linha dura,

A maneira dos ceramistas que, especialmente na poteria, vão com as mãos esculpindo formas no ar, assim os fabricantes desses brinquedos vão recortando suas formas no miriti. 0 artesão de brinquedos vai penetrando na intimidade da matéria miriti, a medida que nele vai objetivando sua imaginação seu desejo. Vai atribuindo sentidos a matéria extraída natureza. Seu ponto de partida é uma espécie de espiritualidade poética. Pela fragilidade do material e como se fosse entalhando o efêmero.


EDNEY SOUZA

uma linha mole.” O artesão desnuda a polpa do miriti de sua veste de talas. Imprime nela uma forma econômica simples. A mesma mão que faz barcos de verdade, constrói casas, forja o ferro, navega e pesca, é a que imobiliza no miriti o acaso do seu devaneio. A mão do trabalho pesado fazendo o trabalho da leveza. Após a conformação da figura pelo entalhe, é necessário o amento, a fim de que as formas tenham suas superfícies entornos alisados ou amaciados. Toda aspereza deve ser desbastada. As superfícies devem estar suavizadas para o recebimento das cores, do toque das mãos e do olhar. É um processo, de suavização da matéria que se processa após os cortes modeladores. Objetiva-se a eliminação das farpas da polpa do miriti, a fim de que as peças tenham superfície alisada e suavizada. Pode-se dizer que é também um gesto de ternura. O objeto estético é criado por meio de movi-

mentos que traduzem uma aproximação efetiva da matéria, uma efetivação crescente, a medida que a obra se vai configurando. Como o ceramista, o fabricante de brinquedos de miriti acaricia as formas objetivadas de sua imaginação criadora, impregnando-as de uma humanidade concentrada, transferida pelo toque das mãos, da pele, da emoção sensível. Com o uso complementar do cabo da lâmina do entalhe, a superfície porosa adquir uma impermeabilização que favorece a pintura. Quando há brinquedos compostos de várias partes, eles precisam ser montados — fixados por cola ou estiletes de tala — para receber a forma final. Os brinquedos estão prontos mas ainda apresentam a cor neutra do miriti. Alguns artesãos mantém neles essa tonalidade. Outros, pintam-nos de cores ou signos. Poucos fabricantes, como, por exemplo, Antonio Jarumã, substituíam ou substituem a pintura das figuras por vestimentas. “Eu comecei a fazer com a idade de

7 anos. Aprendi lá no interior, em Jarumã. Fiz da minha cabeça, ser ninguém ensinar. Tinha uma turma de 5 a 6 moleques. A gente ia pra beira do igarapé, tirava miriti, botava pra secar e fazia barco pra brincar na água. Fazia avião, fazia currupio. A gente fazia barco grande, de vela de pano, enchia de pedra e punha pra disputar no rio. Tinha 8 a 10 canoas correndo todo dia de domingo. Fomos aprendendo assim, cadê qual fazia um mais bonito. A tinta, cada um fazia de açaí, porque não tinha tinta, não havia nem de anilina. Então nos pegávamos o açaí preto, amassava ele puro e botava limão. Ficava vermelho. Quanto mais limão, mais muda a cor, mais vermelha a tinta. Agora eu não uso mais porque ficou tão caro o açaí, e tem também a facilidade de ter tinta.” O fabricante desse artesanato artístico atenta para a sua artisticidade mesmo quando sua finalidade é lúdica ou utilitária. Trata-se de uma espécie de arte do tipo equivalente as artes

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momentâneas como as instalações ou a arte do cartaz. Nessas artes, a sua destruição está intimamente ligada a sua existência. A destinação para o eterno próprio das artes auráticas, opõem uma fragilidade mortal e sem conflitos, incorporando a brevidade como um valor inerente a elas mesmas. Artes do efêmero - o cartaz, as instalações, os brinquedos de miriti - tem na destruição pelo uso uma contingência constitutiva e não uma forma de valor negativo. No entanto, utilização como brinquedo propriamente é apenas um dos destinos desse artesanato artístico, capaz de alcançar durabilidade nos museus de arte popular e na decoração.

é uma forma intercambial de jogo e de beleza. Mesmo porque, sendo a arte um análogo do jogo, essa intersecção analógica constitui um dos fatores de legitimação do brinquedo de miriti como artesanato artístico. Após a valorização da estética industrial, certas discussões sobre arte e utilidade perderam em grande parte seu fôlego. Evidentemente que, na mão das crianças, a função dominante do brinquedo de miriti é a de jogo. Mas é o mesmo que acontecera, em condições equivalentes, com os bonecos e bois do mestre Vitalino, que estão entre os mais representativos artesanatos artísticos brasileiros. O que ocorre no brinquedo de miriti é que persiste nele ainda a finalidade lúdica,

te que faz aquilo que vê, eu crio”. Como todo artesão, ele vende pessoalmente seus objetos: “Eu acho tão bonito aquilo. Eu não vou só vender os brinquedos não... eu vou pra ver a Santa também”. Todos esses artesãos se confessam levados pelo prazer de fazer e vender os seus produtos. A perfeição desse jogo, a harmonia das formas produzidas, a originalidade, a composição plástica,- o cromatismo resultam em sua esteticidade. Em sua localização como artesanato artístico, onde se percebe “o encontro de uma técnica e de uma intuição”, o brinquedo de miriti situa-se na zona fronteiriça entre a arte e a criação extra-artística. Nele, a função estética é

Os brinquedos de miriti estão impregnados de uma artisticidade singular adequada ao material do qual é feito, representando a penetração dessa esteticidade nutrida no devaneio operativo e poetizante da vida amazônica. Revela uma sensibilidade instintiva participando objetivamente das formalizações da vida. O brinquedo de miriti é uma confluência dessas duas tendências que permitem converter em uma formasensível o desejo de liberdade do espírito, 0 caráter lúdico convive com a beleza, 0 brinquedo de miriti, por sua aparência artística é sua destinação lúdica,

se tendo deslocado a produção para o campo prioritário da recepção ou do consumo dominantemente artístico. Aliás, esse componente lúdico ainda é presença também dominante na produção. Os seus artesãos se confessam gratificados com esse trabalho, como pode ser testemunhado por seu Abaeté que, vendo o sucesso comercial de venda dos brinquedos durante o Círio de Nazaré, em Belém, ou o Círio de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Abaetetuba, conclui que “era bonito e dava dinheiro certo”: “Pra mim é uma arte, porque tem gen-

muito mais visível do que em outros tipos de brinquedos e outras formas de artesanato da própria região, como os brinquedos de madeira e a poteria. Pela forma, pela cor, pelo conjunto expressivo e originalidade, o brinquedo de miriti e valorizado como objeto por via de sua aparência formal. Com isso, ele adquire uma independência ante a realidade. Foi por esse motivo de evidenciação estética que esse brinquedo ultrapassou o público infantil destinatário, para conquistar com uma finalidade não finalística ou lúdica, mas estética, um outro

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estética. O que atrai nele não e a complexidade de efeitos, as o tempo de uma simplicidade atraente da infância nele concentrado. Volta-se aqui, ao conceito de temps comprime ou concentrado de Gilbert Durand. Esses objetos deflagradores do tempo de uma vida, que fazem com que todo um passado possa emergir de uma taça de chá, ante o doce sabor de uma singela madalena. Esse fenômeno acontece em objetos intensamente energizados pela cultura, que são como um botão de epifania prestes a desabrochar ao toque dos dedos de um momento qualquer no curso da existencial. Uma energização que se processa por acumulação de

ou nas coleções particulares, houve a conversão em brinquedos para serem contemplados e não mais para brincar. Convertem-se em objetos para os adultos. Há uma transposição de estados, uma conversão semiótica de artesanato em arte. Um trajeto cruzado por meio do qual cresce a função estética a medida que decresce a função lúdica e utilitária. Sem poder competir com a sedução e a eficácia dos brinquedos industriais, eletrônicos ou mecânicos, o brinquedo de miriti se resguarda protegido por sua cativante singeleza

tempos e de vidas, sucessiva consolidação de significados universais, por via de uma cadeia de emoções individuais. Esses frágeis brinquedos de miriti, como um poema, como uma canção, como fragmentos de vida durando na memoria emotiva, quando são reencontrados em outras épocas ou lugares, recompõem todo um passado. Como todo caso de tempo comprimido (temps comprime) são como o repetido rebrotar da fonte do devaneio.

A maneira dos ceramistas que, especialmente na poteria, vão com as mãos esculpindo formas no ar, assim os fabricantes desses brinquedos vão recortando suas formas no miriti. 0 artesão de brinquedos vai penetrando na intimidade da matéria miriti, a medida que nele vai objetivando sua imaginação seu desejo. Vai atribuindo sentidos a matéria extraída natureza. Seu ponto de partida é uma espécie de espiritualidade poética. Pela fragilidade do material e como se fosse entalhando o efêmero. EDNEY SOUZA

público para esse “mundo sem idade”, de que faia Luis Carlos Morais. Mukarovwsky considera que o artesanato artístico pode ser configurado historicamente nos fins do século XIX e inícios do século XX. São casos em que se opera uma evidenciação dos aspectos estéticos, evoluindo para casos em que a função utilitária se degrada, a intensidade de uso vai sendo anulada, surgindo objetos que, sendo anteriormente de uso — como, por exemplo, taças — não podiam mais ser usados, mas somente apreciados. Eram taças para ver e não para beber. No caso dos brinquedos de miriti, fora do uso como brinquedo infantil, mas apreciados nos museus e nas decorações,

TIPOS E CARACTERÍSTICAS DOS BRINQUEDOS A execução material das representações do seu imaginário faz do trabalho de fabricação dos brinquedos de miriti uma atividade de cunho artesanal, uma vez que o fabricante tem a responsabilidade completa nos objetos produzidos. Utilizando a mão e um instrumento reduzido, ele mesmo comercializa seus produtos. Na sua condição de artesanato artístico, o brinquedo de miriti “é o produto único de uma atividade que

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se situa, algumas vezes, sobre o plano das atividades imaginárias de um grupo social dado”. Ele vai revelando o inesperado na sua matéria leve. O que antes era superfície, ângulos, rugosidade, vai-se refazendo em asas, braços, pernas, pássaros, figuras. A rugosidade se converte em maciez sob o toque das mãos dialogando com a matéria. Liberando o imaginário aprisionado na matéria. E as figuras de brinquedo intermedeiam relações entre uma e outra alma. Por sua aparente ingenuidade, o brinquedo de miriti representa uma espécie de glória efêmera da emoção, renovando e embelezando a matéria vegetal, que se torna cativante por recriar para o adulto uma encenação, a mis en scêne de um estado de infância que vai ficando cada vez nos bastidores, à medida que o tempo passa. Para as crianças há uma adesão identificadora, uma vez que naqueles pássaros, aves, animais e homens no trabalho, há uma singela representação daquilo que elas não têm ainda a ventura de criar. Vai-se promovendo, ao mesmo tempo, uma pedagogia do gosto, uma educação da sensibilidade nos moldes teorizados por Schiller, visto que as crianças são atraídas para formas de beleza a partir de materiais e técnicas simples da região, do seu contexto, demonstrando-lhes possibilidades criadoras na relação com seu mundo. Um exemplo de como a matéria à sua frente pode se tornar sentimento e emoção. É nessa condição formadora de percepções de beleza — criação e recepção — como na educação da sensibilidade que repousa uma das características sociais da estética perceptível nos brinquedos de miriti. É um dos elementos que unem a população em torno de uma emoção partilhada, expansiva e extensiva. Essa atitude e emoção estéticas que penetram continuamente na vida, como uma das relações essenciais dos homens com a realidade. Como objeto estético, o brinquedo de miriti é o signo de sua própria simbolização. Dessa maneira, vão sendo orquestradas e renovadas as relações entre o caboclo amazônico e sua realidade sobre a qual seu comportamento se reflete. A respeito dessa relação entre a norma estética e a organização social, Mukarowsky demonstra bem que é a condição social do homem que lhe permite compreender-se o caráter variável e obrigatório da norma estética. O contexto cultural amazônico, em que se observa uma intersecção do mágico no real, explica essa valorização estética do

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brinquedo de miriti e a sua esteticidade singela presente ou dominante. A variedade dos objetos produzidos é muito grande relacionamento entre o simbólico e o real, podendo-se dar alguns exemplos ilustrativos: A “montaria”, que é a representação em pequena escala de uma canoa ou igarité indígena. Pode ser encontrada pintada ou sem pintura. Sua forma destaca-se pela plasticidade, reproduzindo fielmente as proporções do modelo original. A “canoa de vela” é um tipo mais complexo, uma vez que exige a cobertura no tombadilho, mastros, lemes com mobilidade e pintura onde aparecem, a par das cores básicas, os signos que fazem parte dos códigos semióticos das canoas grandes que navegam pelos rios da Amazônia. Os “navios ou motores”, seja do tipo “gaiola” ou “marabaense”, construídos segundo os modelos de grande porte, exigem maior complexidade na fabricação e na pintura. O mesmo acontece com os “iates” de dois mastros com velas, que se assemelham a um tipo de embarcação comumente utilizada para o transporte de gado bovino da ilha do Marajó. A “cobra-que-mexe” é uma reprodução na região. Ela é engenhosamente articulada, o que lhe permite um movimento coleante de réptil quando agitada pelo vento ou arrastada no chão por um fio. Divididas em partes de miriti que são unidas longitudinalmente por uma tira de pano que passa pelo meio da cabeça à cauda, as cobras-que-mexem tem no movimento um elemento visual constitutivo de sua função. Não é apenas uma cobra: é uma cobra-que-mexe. Outro componente dessa fauna de miriti é o “tatu”. O tatu também incorpora o movimento e tem nisso um de seus sinais de interesse. Tendo no corpo, que é o apoio do conjunto, uma tala enfiada numa das partes laterais, pode ser manipulado com a mão que o movimenta para a esquerda ou para a direita, oscilando como uma balança imaginária. Em consequência disso, a cabeça e o rabo, que são móveis, oscilam, numa estilização dos movimentos do animal vivo. O que permite esse movimento é um pequeno peso pendente em um fio sob o casco do tatu, cujas pontas estão atadas, de um lado, à cabeça e, de outro, ao rabo. Outro brinquedo de grande aceitação é o “soca-soca” representado por dois homens trabalhando com piladores, isto é, triturando uma substância imaginária no pilão. Estão ambos


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sentados segurando a mão-de-pilão para usar, um de frente para o outro. Entre eles fica o pilão. Por um artificio de fabricação, basta um pequeno movimento nas bases onde estão sentados — duas tiras articuladas e superpostas — para que, alternadamente, batam com a mão-de-pilão no pilão. Pintados com cores primárias, eles constituem um interessante objeto plástico e, à semelhança dos outros brinquedos, podem ser agrupados em forma de painel de grande efeito visual.

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Na mesma linha de concepção do conjunto cromático e plástico estão as “pombinhas”. São duas pombas pousadas numa - tira de miriti, uma de frente para a outra. Entre elas demorase uma vasilha com imaginários grãos. Do pescoço articulado ao corpo de cada ave sai a ponta de um cordão que se une amarrando um pequeno peso que fica pendurado embaixo. Segurando-se numa tala que está espetada na base do brinquedo e oscilando-se pendularmente à esquerda e à direita provoca-se um movimento

que faz as figuras simularem estar bicando alimento na vasilha. Os “dançarinos” representam um casal dançando. Estão abraçados e o movimento da dança pode ser provocado pelo vento, caso estejam pendurados, ou pelas mãos, à semelhança de marionetes. Esses dançarinos usam roupas de pano, o que os difere dos outros brinquedos. São alguns exemplos da variada tipologia dos brinquedos de miriti, representativas da invenção e do fértil imaginário do caboclo. Trabalhan-


FOTOS: VALDELI SOUSA

do com o miriti, complementam com outros materiais segundo a necessidade: algodão, argila, tecidos baratos, talas, fios, cola, resinas, tintas, etc. Vão se acumulando novos elementos desde que exigidos pelo processo de fabricação e atendendo às novas ideias criativas dos artesãos. Os brinquedos de miriti são expostos ou levados à venda em uma estrutura que tem a forma de uma cruz de braço duplo, feita com pedaços do mesmo material, tendo por volta de 2 metros na haste vertical e 1 metro nos braços horizontais.

Trabalhando com o miriti, complementam com outros materiais segundo a necessidade: algodão, argila, tecidos baratos, talas, fios, cola, resinas, tintas, etc. Vão se acumulando novos elementos desde que exigidos pelo processo de fabricação e atendendo às novas ideias criativas dos artesãos.

Nessa estrutura são presos os brinquedos, formando uma espécie de painel de grande beleza visual. Os brinquedos são colocados sem uma necessária ordem, de modo que essa acumulação de formas, cores e movimento resulta em um conjunto estético original e atraente. São as “girândolas” ou “girandas”, como popularmente são conhecidas. O nome é apropriado: girândolas. O conceito de girândola é de buquê, conjunto de fogos de artifício, travessão em que se reúnem certo número de foguetes que sobem e estouram simultaneamente. Os brinquedos reunidos em girândolas são como fogos de artifício imobilizados no ar e no tempo. Permanecem com seu esplendor exposto, suspenso e sem se extinguir diante de olhares atraídos por essas formas e cores exibidas como uma composição plástico-cromática. Uma espécie de resplendor barroco levado pelas ruas. Uma árvore de signos. Deixado ao acaso das demandas do mercado e da produção individualizada, o brinquedo de miriti exerce uma dupla função que se alterna ou substitui como dominante: a lúdica e a estética. Ambas estão relacionadas com suas relações com o mercado. A demanda maior de mercado” resulta de sua situação lúdica. São relações que oscilam de forma pendular e inversante dentro da cultura. Quando a função estética domina, a lúdica torna-se secundária e vice-versa. Ocorre de uma forma dinâmica no campo sociocultural e o fenômeno que se vem denominando de conversão semiótica, isto é, uma alteração de dominante pela mudança de relação cultural no percurso de um objeto, de um acontecimento, de um signo. Ora triunfa o utilitário-lúdico, prosaico; ora o estético-expressivo, poético. Entendidos como ponto de encontro, “há neles” uma

perfeita conjugação entre razão e emoção. Construídos como se obedecessem tão-somente à necessidade, sem excessos, sem desperdícios, o que resulta em pura poesia”. Representam um jogo de puxões: são produzidos manualmente para o público restrito e não-orientado, embora motivado, da época do Círio de Nazaré, em Belém ou do Círio de Nossa Senhora da Conceição, em Abaetetuba. Exprimem, nesse jogo, o devaneio de seus fabricantes: “Onde eu estou está cheio de criança. Todo o meu trabalho é feito para as crianças”. Embora haja a fabricação de um número limitado de tipos dessa forma de artesanato, cada um dos objetos apresenta uma singularidade artística individualizadora. Todos têm uma forma, mas nunca uma fôrma. São, portanto, densamente simbólicos. Nenhum é idêntico ao outro, em sua condição artesanal. “Ora, o que caracteriza o objeto onde o inacessível não é mais deixado ao acaso da procura e da execução individuais, mas que é hoje em dia condenado e sistematizado pela produção, que assegura através dele (e a combinatória universal da moda) sua própria finalidade.” Quando vão para as mãos do colecionador, do decorador ou para museus, os brinquedos de miriti experimentam o fenômeno que Jean Baudrillard chama de abstração da função. Quando é usado como brinquedo, ele não é um objeto estético, mas um brinquedo. Nas mãos do colecionador ou nos museus, ele é esvaziado de sua finalidade ou função, convertendo-se em objeto estético. Há a transferência de dominante nesse processo de conversão semiótica do brinquedo de miriti. Ele deixa de ser um instrumento para tornar-se um objeto auto-reflexivo. Não é mais um caminho para uma finalidade exterior a ele, mas um caminho para si mesmo. Não é mais curiosidade e instrumento de jogo para quem o utiliza, mas objeto de paixão de quem o possui. O PAÍS SUBMERSO Em texto de abertura da Exposição de Brinquedos Populares promovida pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Belém, em 1984, o pintor Emmanuel Nassar afirma que foi atraído pelos brinquedos pelo seu colorido, forma e curiosidade. Em seguida pelo interesse de resgatar o que ficou perdido no tempo, de alegria e, certamente, de emoção. “Algo me

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“Ora, o que caracteriza o objeto onde o inacessível não é mais deixado ao acaso da procura e da execução individuais, mas que é hoje em dia condenado e sistematizado pela produção, que assegura através dele (e a combinatória universal da moda) sua própria finalidade.”

dizia que aqueles brinquedos fazem parte daquilo que chamo de ‘país submerso’, que é o verdadeiro país por baixo da aparência imposta pelos padrões culturais internacionais.” Para ele é necessário uma verdadeira arqueologia a fim de descobrir-se o Brasil encoberto, onde restam fragmentos de culturas extintas ou desaparecidas. Idealiza uma espécie de retorno à identidade original, a partir do que todos se tornassem sujeitos a sua própria voz. De certa maneira, essa ideia de compreensão profunda da sociedade amazônica por meio de sua arte, revelando-se seu mundo cultural submerso, coincide com “o destaque de Francastel que arte é um método de escolha para compreender a cultura escondida e os sentidos secretos de uma sociedade, pois que através das visões do paleolítico nós percebemos as primeiras classificações naturais do espírito e o dualismo provável da visão de mundo das sociedades primitivas”, reiterado por Roger Bastide, ao estudar as origens das belas-artes numa perspectiva sociológica”. Para Emmanuel Nassar, um dos pontos de convergência visível e social desse mundo submerso está nos brinquedos populares. “Na sua construção não estão as odiosas barreiras entre a ciência e a arte, entre o criar e o fazer, que tanto caracterizam a esquizofrenia da sociedade em que vivemos.” Os brinquedos de miriti são uma epifanização de uma cultura amazônica submersa sob as camadas culturais que se foram espalhando na Amazônia. Revelam, portanto, essa outra que está além das evidências, essas raízes submersas prontas a aflorar em atividades de cunho material ou simbólico do imaginário. Esse outro que a cultura amazônica é além das aparências e que vem das realidades psicossociais encobertas por

tantas fases de colonização ou desenvolvimento não engajado na cultura. Esse país submerso pode revelar-se pela mitologia, por exemplo, nas encantarias situadas numa realidade além do real e da cultura manifesta. Ou mesmo nas cidades encantadas submersas no imaginário, como Abaetetuba, transfigurada na ilha da Pacoca e guardada pela boiúna, a cobra-grande mítica. Nos brinquedos de miriti aparece uma espécie de outra natureza miniaturizada, gulliverzada, fruto do encontro entre a técnica e a intuição. Uma espécie de memória da natureza e da infância esculpida no efêmero da polpa do miriti. Esse mundo sem idade guardado na memória da cultura originária e que constitui o lugar das realidades imaginárias, enraízadas na existência coletiva da sociedade amazônica. Uma outra característica, enfim, do brinquedo de miriti como artesanato artístico é sua efemeridade. Uma fragilidade que contraria sua condição de brinquedo e o aproxima da condição de objeto estético, sob a qual ele pode resistir ao tempo. Isto significa que a fragilidade material de seu suporte de miriti é mais coerente com a condição de artesanato artístico do que de sua destinação como brinquedo. Na sua outra condição marcada pela artisticidade artesanal, ainda que a fragilidade do suporte de miriti permaneça, a condição de esteticidade lhe atribui maior permanência no caso de seu uso como arte decorativa, nas mãos do colecionador ou na vitrine dos museus. O certo é que sua eficácia está também ligada à sua fragilidade. Como certas flores que têm a duração de um dia, o brinquedo de miriti é um artesanato artístico que não se propõe como duração indeterminada. Sua existência é a da brevidade. Faz do efêmero sua matéria e não tem na duração sua qualidade. Seu tempo é uma forma de acaso. Como o cartaz, a publicidade, a “instalação”, seu tempo é limitado à sua utilidade ou função. Somente o colecionador refaz sua aura. Não apresenta nem raridade nem especial dote em seu material. Todo seu efeito advém da estetização que o transfigura. É o jogo entre a finalidade o destino desse artesanato. O eixo em torno do qual se opera movimento dialético da conversão semiótica na mudança cultural de dominância de instrumento lúdico-para objeto estético, que pela fragilidade de seu material renuncia à expectativa aurática de duração ou eternidade.

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NINABREU RESISTÊNCIA CULTURAL

C

vidade que ajudou a sustentar sua família, mas, que é prova da responsabilidade do artista diante do mundo e de seu tempo. D. Nina Abreu nasceu no dia 11 de setembro de 1935, mulher negra de cabelos brancos, com sorriso sempre ao alcance das pessoas, é uma fonte por onde jorram muitas memorias e vivencias. Conhecida pelo titulo de rainha do Folclore, continua a ser exemplo da resistência cultural na região. Fundou o clube do Pedrinho ainda no final década de 1980 e o Centro Cultural e Artesanal (CCANA) no mesmo período, foi incentivadora do teatro e das quadrilhas juninas e participou em muitos momentos do carnaval quando ainda prevale-

ciam os blocos e as Escolas de Samba, sem dúvida é uma das grandes referências quando se trata das pesquisas voltadas para Arte e o Folclore Abaetetubense. Ao lado disso temos estas imagens de D. Nina Abreu, feitas em seu ateliê de brinquedos de miriti pelo fotografo espanhol (catalão) Aran Neas Rodriguez, num colorido próprio de seus temas, a artesã e produtora cultural, ainda reina na forma como dá vida e movimentos aos seus brinquedos. No entanto, seu atelier é um retrato do quadro de abandono por parte do poder publico que se mostra distante, mas, é prova de que também na simplicidade encontramos a arte e a alegria, independente da vontade politica.

ARAN RODRIGUEZ

om frequência somos levados pela cultura popular a observar as resistências que o imaginário produziu no afã de se libertar de preconceitos, limitações e enquadramentos, e, sobretudo, numa civilização do paradoxo das imagens, pouco resta aqueles que desejam mostrar sua arte, tendo como referencia suas tradições. D. Nina Abreu é a face brilhante de uma artesã que com muito empenho, ousou criar numa cidade marcada pela invisibilidade das produções culturais; suas mãos que ainda tecem os muitos sonhos das crianças e adultos desta Amazônia ribeirinha são testemunhas vivas dessa história que envolve não somente uma ati-

Jones da Silva Gomes

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PÁSSAROS JUNINOS Com base em suas memórias e vivencias os pássaros juninos que ocorrem na cidade de Abaetetuba (Festival de Cordões de Pássaros e Bois Juninos), foram registrados no estudo feito no Baixo Tocantins pelo Prof. Paes Loureiro, então, pesquisador da Fundação Cultural do Pará “Tancredo Neves”, nele podemos encontrar esses detalhes: “D. Nina começou a brincar o pássaro desde 15 anos de idade, quando sua mãe, que organizava pássaros abandonou essa atividade, que foi assumida por Nina. Lembra-se de ter organizado os seguidores de pássaros juninos, nos últimos anos: A patativa, A borboleta Encantada, O Periquito, O papagaio, A arara, O pavão do Reino, O beija-flor e o Canário. Algumas das encenações como A borboleta Encantada e A Arara obtiveram tamanho sucesso, que foram representadas três anos seguidos cada uma delas. Os enredos do auto, bem como as letras das músicas são escritos pela própria Nina, enquanto que as músicas até bem pouco tempo eram de autoria do Sr. Agenor Ferreira da Silva (Banda Virgem da Conceição). As apresentações das peças eram feitas inicialmente em um palco construído na própria residência da organizadora. Com os anos o palco se deteriorou e atualmente D. Nina Abreu consegue armar um tablado em frente a sua casa, contando com poucos recursos financeiros obtidos graças a um livro de ouro que faz correr nas casas comerciais da cidade. A mesma é responsável, além do texto, pelo guarda-roupa, maquilagem, cenário, iluminação e outras providências mais imediatas que a encenação requer. Queixa-se das dificuldades financeiras. Os enredos de pássaro junino em Abaetetuba seguem uma matriz mais ou menos comum, que revela uma certa miscigenação com outras manifestações da época como o bumba: festeja-se o noivado dos namorados ou o aniversário das noivas, quando um boi ou um pássaro é roubado, inicia-se a perseguição e quando o animal é recuperado, festeja-se com um alegre carimbo. Às vezes o animal é perseguido por um caçador, tal como os pássaros de outras regiões do Pará. É Curioso observar que em Abaetetuba o pássaro junino inclui com frequência as figuras lendárias como o Saci Pererê e a Matintaperera. Os personagens que tradicionalmente aparecem nesse tipo de auto em outras regiões, tais como: o caçador, a florista, o príncipe, estão também presentes, um dos personagens mais populares entre o público local é o cômico Miguel Pereira da Silva, antigo membro do grupo que por seus improvisos arranca fortes gargalhadas do público, fazendo números nos intervalos das encenações”. (LOUREIRO, 1989, p. 12-

13). Anos depois, talvez inspirado pela obra de Nina Abreu, Loureiro em seu livro “Pássaros da Terra”, reescreve essas vivencias, que também aparecem em sua poética musicada numa espécie de opereta cabocla. Elas acabam por revelar experiências teatrais mais lúdicas advindas da espontaneidade do teatro popular. AÇÃO TEATRAL Mas suas contribuições com o teatro não param por ai, o Centro Cultural e Artesanal Nina Abreu (CCANA), sempre foi local de agregar os amantes da arte, Grupos de teatro como Outros Abaetés, Outros da Terra, Arte e Molecagem, Nova Geração, Viva Voz, Dublê de Corpo, Terra Chão, assumiram em parceria com a Rainha, a realização do I Festival de Teatro da Cidade de Abaetetuba no ano 1992, Nina Abreu marcou este momento ofertando o prêmio “Pinto de Ouro”, passando ganhar cada vez mais o respeito dos artistas da região. Como forma de incentivar jovens e adolescentes, no despertar das atividades culturais, funda nos idos da década de 1990 o grupo Parafolclórico “Abaete CCANA”, que muitas contribuições deram ao que nós conhecemos hoje por quadra junina de Abaetetuba. BANHO DE CHEIRO Outro evento cultural que marcou gerações de Abaetetubenses foi o tradicional banho de cheiro da Tia Nina, ela que religiosamente cumpria o ritual desde a década de 1960, onde os festejos de São João Batista realizavam-se em sua casa na passagem do dia 23 para o dia 24 de junho, já no encerramento da quadra junina, movimento esse que dá continuidade a uma tradição bastante comum no interior do Brasil, mas, que aos poucos foram perdendo sua vivacidade, como as fogueiras, comidas típicas, danças a caráter e casamentos na Roça. O banho de cheiro teve tanta influencia em nossa cultura, que foi carinhosamente descrito pela escritora paraense Eneida de Moraes. Este ritual que se alimenta do símbolo da água como fonte de renovação e purificação, esta assentado no imaginário do catolicismo que aqui tomou formas sincréticas e populares de culto aos Santos. E isto tudo está associado ao costume de colher as ervas, folhas, cipós, cascas e raízes cheirosas de certas plantas para o preparo do “banho”. Entre essas plantas, temos Patchouli, Priprioca, Cipó-catinga, Cipó uíra, Pau de Angola, Alecrim, Najarana, Vindicá, Casca do buiuçu, Casca de capetiu. Esses produtos chegam à cidade pelas estradas e rios e são vendidos nas feiras, antes

de casa em casa. Na noite da festa de São João tomase o banho cheiroso de corpo inteiro para livrá-lo das impurezas e azares e ter sorte o resto do ano. Neste interim está lá a matriarca dos costumes, que humildemente se coloca de prontidão, para antes do amanhecer do dia, lavar o corpo dos presentes e alimentar suas almas num novo ciclo da vida que os aguarda, tudo isso, como exigência da crença e da fé do artista popular num mundo que já perde o encanto e a cor. BRINQUEDOS DE MIRITI Contudo, é com os brinquedos de Miriti que Dona Nina Abreu vai se dedicar nos últimos anos, foi inspirado nela que Andrei Miralha num curta de animação chamado “Nossa Senhora dos Miritis”, retratou o trabalho de uma artesã às vésperas do Círio de Nazaré, quando procura pagar a promessa de fazer sozinha uma procissão inteira em brinquedos de miriti. Mas, cansada acaba dormindo, e, neste intervalo um milagre acontece- os brinquedos ganham vida e passam a fazer o trabalho; ao raiar do dia a procissão está terminada. Está é uma realidade dos muitos artesãos que se arvoram em produzir sua arte pro círio, num ensejo de arte e fé que contagia toda Belém de alegria. Aprendiz do Mestre Jarumã ela cria as formas inspirada pelo espontâneo e o cômico do lugar que elegeu para amar. Estas mãos que tecem sonhos veem traduzir a infância e o brincar numa certa percepção de beleza que envolve a arte cuja feitura se perde no tempo, e que desde menina praticava- já que fazia seus próprios brinquedos- é com o manejo da faca, sovelas ou pistolas que ela utiliza cola, tintas e pinceis, entalha e pinta a bucha de miriti; o resultado vem em formas variadas oriundas de sua imaginação: o casamento de ribeirinhos conhecido como fofoia, o pato do Círio, o Ribeirinho e o rebolation são algumas de suas criações que encantam o olhar transeunte e de colecionadores que aguardam suas peças no Miritifest ou na Feira do Círio de Nazaré em Belém. Contemporânea do Mestre folha, Mestre Paú, Mestre Dico, Mestre Marinho, Mestre Cambota, agora a Mestre Artesã Nina Abreu se imortaliza em nossas memorias como grande expoente da cultura Abaetetubense. Não é pra menos, já que até a poesia se encaixa em sua feminina alma de rainha de todos nós: “Com sua saia rendada, cheinha de puro amor, cabelos brancos de neve, da Nina, minha fulô, a Boiúna vira e mexe bem debaixo do seu pé, Bubuiando no remanso, castigando a maré” (Letra de Nonato Loureiro “Nina Fulô” musicado pelo Grupo Sandália de Ambuá no álbum de 10 anos)

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ponto de cultura

FÁBRICA DE SONHOS:UMA COMUNIDADE DA ARTE A

fábrica de sonhos, assim intitulada, é um espaço artístico e comunitário localizado no bairro do Cristo Redentor na rua Padre Mario Lanceotte Abaetetuba/ PA, com seus laços institucionais atrelados a MIRITONG (Associação de Arte Miriti) sendo parte dos esforços do Mestre artesão Valdeli Costa e de sua família (Aldelita, Gizelle, Gessica, Gabriela e Elvis Leno), busca incentivar a inserção social pelas artes e o cuidado com as crianças em condições de vulnerabilidade, trata-se de um trabalho que ultrapassa o mero entretenimento e tem sido motivador para os moradores do bairro, que passaram a ver ali uma possibilidade de que seus filhos não só tivessem contato com as artes,

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bem como, alçassem uma vida social mais ampla com dimensões solidárias e formativas. O Projeto iniciou no ano de 2002 com ofertas de oficinas de teatro, dança, música e artesanato, além disso, conta hoje com a expressão do áudio visual, exposições e apresentações artísticas. Tem promovido também com os títulos de reconhecimento aos artistas locais, alcançando parcerias reconhecidas, tais como: o Museu do Folclore, Sebrae, UFRA e UFPA (através do Museu do Tocantins), o projeto também conseguiu criar um grupo de teatro chamado MIRITINS- nascido no dia 20 de novembro de 2017- o grupo composto somente por crianças (Isis, Raiana, Andersom, Talita, Tamily, Miguel Vitor, Francisco , Alax)

e virou atração na cidade com suas performáticas apresentações com temas religiosos e folclóricos. Atualmente é coordenado pela graduanda em Letras pela (UFPA) Gizele Alves e pelos arte educadores José Antônio e Augusto Neves. Segundo Gizele o objetivo é de contribuir através do teatro para a formação do ser cidadão, segundo ela: Aqui procuramos trabalhar muito mais do que peças teatrais, mas também o respeito, a solidariedade, o companheirismo e Incentivar ao estudo, ao bom convívio familiar e social. Nosso público alvo são crianças e adolescentes das redondezas, os quais não tem muitas opções saudáveis de interagir e de se nutrir de Cultura”.


Foto: Dri Lima

O Projeto iniciou no ano de 2002 com ofertas de oficinas de teatro, dança, música e artesanato, além disso, conta hoje com a expressão do áudio visual, exposições e apresentações artísticas. Tem promovido também com os títulos de reconhecimento aos artistas locais, alcançando parcerias reconhecidas, tais como: o Museu do Folclore, Sebrae, UFRA e UFPA (através do Museu do Tocantins), o projeto também conseguiu criar um grupo de teatro chamado MIRITINS

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pontoespecial de cultura

INÃ Izadora Schettert*

BRINQUEDOS DE MIRITI Q uando começamos a sonhar a INÃ, nos abrimos para viver uma experiência de retorno aos materiais e brincadeiras que habitaram a nossa infância. Como educadoras, sentimos a força que tem oferecer brinquedos feitos de miriti, balata, sementes, palha de tucumã. Aqui é preciso desenvolver outro corpo, outra motricidade, outra sensibilidade para entrar em relação com a resistência específica da fibra de miriti, por exemplo, com sua textura, maciez e leveza que surpreende. É um encontro único. Acreditamos também na possibilidade de construir novas pontes entre a região amazônica e o restante do planeta através desse contato lúdico. Nosso convite em cada brinquedo é para a preservação, aprendendo a usufruir de suas riquezas e sabedorias naturais e culturais com a floresta em pé. Nessa jornada de muito aprendizado pra gente, encontros, tantas perguntas, histórias, observações, tentativas, encantos e incômodos surgiu esse convite para escrever aqui na PZZ. E foi justamente um incômodo que nos mobilizou a acreditar que podemos contribuir com a edição: a questão do lixo. Mais especificamente o plástico. Também pulsa em nós o desejo de afinar nossa empresa com todos os atravessamentos ambientais que estamos vivendo, especialmente com o

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aumento da temperatura global provocado pelas atividades humanas. É urgente, como mostra o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), usado como base para as negociações do Acordo de Paris, quando lideranças do mundo inteiro, inclusive do Brasil, reunidas em 2015, assinaram uma série de providências que visam a atrasar impactos desastrosos para a vida como a conhecemos. Dentre eles a savanização da Amazônia e a inundação de cidades costeiras ainda neste século, na nossa geração. O Brasil se comprometeu a reflorestar 12 milhões de hectares da Amazônia, mas até agora não houve nenhum movimento nesse sentido e o presidente eleito, Jair Bolsonaro, suas nomeações e declarações desconexas e preocupantes, aparentam não compreender que qualquer projeto de futuro passa necessariamente por esse tema. Aqui na INÃ decidimos não esperar pelas instituições para fazer nossas escolhas. O cenário ideal pra mudar não existe, a mudança é uma construção diária. Adotamos a postura do zero plástico em nossos produtos e embalagens e é desejo nosso mobilizar a rede para abrir mão desse material que ainda não recebe o descarte correto e vai parar nos nossos oceanos, emitindo gases tóxicos e aniquilando a vida, começando pela marinha. Criamos um material aparentemente muito prático, mas foi esse pensamento imediatista

e desconectado que nos trouxe ao cenário que vivemos hoje. Precisamos iniciar os processos cuidando desde o início até o fim deles. Adotar essa postura e ir atrás de outras possibilidades está sendo uma estrada incrível de percorrer. No caso dos brinquedos de miriti, a primeira coisa que chamou atenção foi o tipo de cordinha utilizada nos clássicos móbiles de passarinho: nylon ou lã sintética. Depois a quantidade de saco plástico utilizado para embalar os passarinhos. Nós optamos por comprar as estruturas para o móbile e fazer nossa própria montagem utilizando cordinhas feitas com a palha do próprio miriti. Nossa clientela se encanta com a apresentação de que tudo ali vem da mesma palmeira e que ela não precisa ser cortada para gerar aquele brinquedo. O resíduo do miriti está sendo aproveitado para acomodar os produtos nas caixas de papelão e ainda estamos em busca de alternativas para a cola quente. Do ponto de vista do cuidado com o nosso planeta, a nossa casa, o tempo já deixou de estar a favor. Sempre soubemos que seria um processo, mas essa aventura de fazer diferente está nos provando que é ressoando e ressignificando que um dia a gente muda tudo, que um dia a gente muda grande.

*Izadora e Lorena Empreendedoras da INÃ Lúdicos do Brasil


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música Jones da Silva Gomes

NAZARÉ

LOBATO

MARIA DE NAZARÉ CARVALHO LOBATO É UMA DAQUELAS MULHERES QUE NASCERAM PARA TRILHAR UM MUNDO KAMAIG. ELA QUE INTERMEDIOU A LINGUAGEM DAS ÁGUAS SOBRE AS VASTAS DIMENSÕES DO SER HUMANO NESTAS MARGENS AMAZÔNICAS, PELOS RIOS QUE CABEM A AURORA DA CULTURA DE ABAETETUBA: MARACAPUCU, GENIPAÚBA, ARIENGA, CAMPOMPEMA, ETC, NAVEGOU UM LEGADO.

D

izem que quando falam os que escutaram os suspiros dos mitos, como no canto do Uirapuru, toda floresta para e escuta. Se há motivos para engrandecer os dotes femininos na promoção de nossa cultura, que oportunamente se mostra a cada novembro no Auto da Padroeira, por ocasião da festividade de Nossa Senhora da Conceição, diria que seria merecido lembrarmos com todo respeito a grandeza do nome de Maria de Nazaré Carvalho Lobato, uma daquelas mulheres que nasceram para trilhar um mundo KAMAIG. Ela que intermediou a linguagem das águas sobre as vastas dimensões do ser humano nestas margens amazônicas, pelos rios que cabem a aurora de nossa cultura: Maracapucu, Genipaúba, Arienga, Campompema, etc, navegou um legado. Na família adotou o artesanato de Miriti por onde educou no trabalho artesanal os filhos, netos e tantos quantos pudessem aprender, ao lado do companheiro e Mestre artesão Marinho Lobato, escreveu uma página importante da história do brinquedo de Miriti na cidade de Abaetetuba. Também ajudou a criar a Semana de Arte e Folclore já nos idos do ano de 1981 como legado de gerações; intérprete daqueles

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presságios dos Ecos da Terra anuncia o espirito dos encantados na praça pública; em outra órbita sua presença na quadra junina sempre se formou pela marcante pesquisa por onde muitos grupos de quadrilhas foram ao encontro dos seus banzos, Maresias e folguedos. Ou quem sabe ainda nos primórdios de sua sensível cabeça de tecelã da palavra, vieram os poemas que desde Chora e ri Abaeté a X+: por Afã penduricaram nas vozes, folhetins, ritmos e livros por onde ganharam um força tamanha. E como não olhar para os horizontes de nossos tempos e não lembrarmos desta torrente de ternura que emoldurou as lendas e os mitos de nossos irmãos- os índios ancestrais. O que falar da Pacoca? Poço da Moça? Perola do Tocantins? Imagens que se revestiram de universalidade cósmica narrativas únicas, trilhadas pela doce imaginação de sua negra cabeleira. Ora, no final de sua emoldurada trajetória víamos uma mulher intensa que se misturava a ação efetiva das ruas e no palco da vida celebrava inteira sua cultura, e, ainda sim nos espantarmos com sua força, seus achados que desde Fatolendas passando por Mitos: Miragens da História e Fagulhas e Fragmentos, pareciam não ter fim. Tanto, que a própria Academia Paraense de Letras não coube existir sem

sua pincelada, pensamento do fundo, num profundo simbólico que justifica a complexidade e beleza de nossas relações culturais. É por tudo isso, que Nazaré Lobato continua aqui... presente como nunca nos momentos dos eventos culturais, nas pesquisas, nas obras, nos gestos de todos nós, e por eles imaginamos o desenrolar de uns versos para o futuro que sua poética refletia, ou quem sabe a coloquemos a altura das sonhadoras guerreiras indígenas, que como a bela Uaraci desejou nutrir um povo, dando-lhe visão e sustento.

Na família adotou o artesanato de Miriti por onde educou no trabalho artesanal os filhos, netos e tantos quantos pudessem aprender, ao lado do companheiro e Mestre artesão Marinho Lobato, escreveu uma página importante da história do brinquedo de Miriti na cidade de Abaetetuba. Também ajudou a criar a Semana de Arte e Folclore já nos idos do ano de 1981 como legado de gerações


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música

AZYMUTAL LANÇA O EP ”TRAZ DE VOLTA” AZYMUTAL É UMA BANDA DE ROCK CRIADA EM 2001 EM BELÉM, TOCAVA COVERS PELA NOITE DA CAPITAL PARAENSE, SE DESFEZ APÓS 1 ANO E MEIO DE ESTRADA, EM JULHO DE 2016 UM DOS SEUS INTEGRANTES DA PRIMEIRA FORMAÇÃO (EDNEY SOUZA) RESOLVEU RESSURGIR COM A BANDA NA CIDADE DE ABAETETUBA SUA ATUAL RESIDÊNCIA. A NOVA FORMAÇÃO É COMPOSTA POR : EDNEY SOUZA (VOCAL), CÁSSIO SILVA (GUITARRA E BACK VOCAL), EDUARDO SANTOS (GUITARRA) JOÃO PINHEIRO (BAIXO) E JULIAN SANTOS (BATERIA). HÁ 2 ANOS VEM TOCANDO COVERS DE DIRE STRAITS, QUEEN OF STONE AGE, AUDIOSLAVE, RED HOT CHILLI PEPPERS ENTRE OUTRAS, PELOS BARES DE ABAETETUBA ONDE JÁ POSSUEM FIÉIS SEGUIDORES . A BANDA VEM TRABALHANDO RECENTEMENTE NO SEU TRABALHO AUTORAL E PRETENDE LANÇAR NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2019. SERÃO 6 CANÇÕES COM INFLUÊNCIAS DAS BANDAS DA QUAL FIZERAM COVERS, SÃO ELAS: TOCAIA DE UM OLHAR, FAZER O BEM, ALGUÉM MELHOR, TRAZ DE VOLTA, RIO COR DE SANGUE E KAMIKAZES.

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música Ademir Rocha

A GUITARRADA

DE SOLANO SOLANO É POUCO REVERENCIADO FORA DE SEU REINO. A GUITARRA DE SOLANO É IMUNE A EGOS ALTERADOS, LIMPA DE EFEITOS E TRANSPARENTE DE TÉCNICA. NADA DE DISTORÇÕES, NADA DE VELOCIDADE. SUA GUITARRADA É ASSIM, UMA MÚSICA ESSENCIALMENTE INSTRUMENTAL E VIBRANTE, PENSADA PARA FAZER O BAILE FERVER COM O SOM PURO DE UMA GIBSON, UMA FENDER, UMA YAMAHA JAPONESA OU UMA CONDOR BRASILEIRA.

S

e o Rio Mississippi cortasse o Pará e em suas margens brotasse cupuaçu em vez de algodão, blues seria só festa e BB King, um caboclo chamado Mestre Solano. Aos 72 anos, 60 de carreira, 17 discos lançados, só Deus sabe quantos vendidos, Solano é um totem pouco reverenciado fora de seu reino. Instituiu no final dos anos 70 a guitarrada, uma música tão brasileira e saborosa quanto o açaí, chamada assim a partir dos anos 90, quando sua progenitora, a lambada, entrou em decadência. Solano com sua Gibson, uma das quatro guitarras que possui (da mesma marca de Lucille, a menina dos olhos de BB King), acaba de lançar o mais cuidadoso álbum de sua discografia. Como só agora teve dinheiro de uma empresa patrocinadora, a Natura, honrou cada centavo. Mestre Solano - O Som da Amazônia tem 13 temas do guitarrista paraense, sete deles inéditos. Conta com outro hábil das seis cordas do Amapá, Manoel Cordeiro (pai do cantor Felipe Cordeiro), na faixa As Belezas do Marajó. E com o grande violonista de Santarém Sebastião Tapajós, que protagonizou a rara cena de deixar suas terras e ir a Belém apenas para

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gravar o tema que fez ao amigo, Rei Solano. A guitarra de Solano é imune a egos alterados, limpa de efeitos e transparente de técnica. Nada de distorções, nada de velocidade. Sua guitarrada é assim, uma música essencialmente instrumental e vibrante, pensada para fazer o baile ferver com o som puro de uma Gibson, uma Fender, uma Yamaha japonesa ou uma Condor brasileira. O tema é apresentado primeiro, geralmente sobre uma base rítmica de carimbó, bolero, lambada ou brega - o que no Norte não tem carga pejorativa nem é sinônimo de Reginaldo Rossi. E o improviso vem depois, mas não com o efeito vulcânico do blues. Cada frase pensada sobre as harmonias primitivas têm vida própria, como se fossem novos temas. Solano chegou até aqui se equilibrando em épocas de seca e dias de glória. Gravou seus primeiros três discos pela Continental, ainda decodificado pelo Sul e Sudeste como um “cantor brega”. Seguiu depois para a Atração e RGE até desaguar no amazônico leito dos independentes. Sua vitória maior foi com Ela É Americana, de 1975, regravada por Dorgival Dantas, Aviões do Forró, Alípio Martins e Arnaldo Antunes. Se fosse BB King, estaria milionário. “Os vendedores diziam que não

A guitarra de Solano é imune a egos alterados, limpa de efeitos e transparente de técnica. Nada de distorções, nada de velocidade. Sua guitarrada é assim, uma música essencialmente instrumental e vibrante, pensada para fazer o baile ferver com o som puro de uma Gibson, uma Fender, uma Yamaha japonesa ou uma Condor brasileira. davam conta de repor meu disco nas lojas. Este com Ela É Americana deve ter vendido demais, acho que mais de 200 mil cópias”, ele calcula. Sua história melhor se deu dentro de uma prisão. Se fosse BB King, já teria seu filme. Fim de semana na penitenciária de Belém, 1970. Solano fazia um show para os detentos, que em dias de festa andavam livres pelo pátio central. Quando terminou a terceira ou a quarta música, um deles se aproximou. Era Denizar, homem perigoso de Abaetetuba, mesma cidade de Solano, no interior do Pará, condenado por matar um cabra e esfaquear outro. Como a justiça dos


TERRUÁ PARÁ - DIVULGAÇÃO

Terruá Pará / Renato Chalu

homens já o condenara, restava a Solano estender-lhe a mão. No meio da conversa, Denizar o surpreendeu. “Se você quiser, eu te faço uma guitarra muito melhor do que essa sua aí.” Solano aceitou meio que duvidando. As mesmas mãos que tiraram a vida de um homem seriam capazes de esculpir uma guitarra melhor que a dele? Meses depois, a encomenda estava pronta. Solano voltou à penitenciária e lá estava sua prometida: uma belezura de três captadores, cor de vinho, máscara preta e esculpida no cedro. “Com o tempo, acabei vendendo o instrumento. Como me arrependo”, diz ainda Solano. As sementes da guitarrada chegaram ao Brasil pelo radinho de pilhas Sharp de três faixas que o menino Solano ouvia ainda em Abaetetuba. Quando tentava sintonizar as emissoras de Belém, seguia de chiado em chiado até pescar uma cumbia colombiana, um bolero dominicano ou um calipso hondurenho. Em vez de emissoras brasileiras, os rádios do Norte sintonizavam as ondas saídas das antenas do Caribe. “Foi assim que começamos esse estilo aqui no Pará. E digam

o que quiser: assim como o axé é da Bahia, a guitarrada é 100% paraense.” Assim como o blues é de BB King, a guitarrada é de Mestre Solano. GUITARRADA, é um estilo musical instrumental do Pará surgido no início da década de 1970, que mistura o choro, o carimbo, o merengue, o maxixe, a cúmbia e a lambada, em uma mistura de ritmos que leva a guitarra ao papel principal da composição. As maiores expressões da guitarrada são os mestres Vieira , Curica e Aldo Sena. Em Abaetetuba temos o Mestre Palheta, na localidade Abaetézinho, que nada fica a dever aos grandes nomes da Guitarrada do Pará e esse mestre se apresentou na XXXI Semana de Arte e Folclore, acontecida recentemente na cidade. Em Abaetetuba os rítmos lambada e guitarrada eram e ainda são muito tocadas nas residencias locais e dançadas nas festas e, principalmente, na quadra junina, quando os brincantes se esmeram em executar coreografias variadas ao som desses alegres e vibrantes rítmos musicais. Os discos CDs de lambada e guitarrada são fartamente vendidos por camelôs da cidade nas vozes dos cantores e grupos musicais do Pará.

As sementes da guitarrada chegaram ao Brasil pelo radinho de pilhas Sharp de três faixas que o menino Solano ouvia ainda em Abaetetuba. Quando tentava sintonizar as emissoras de Belém, seguia de chiado em chiado até pescar uma cumbia colombiana, um bolero dominicano ou um calipso hondurenho. Em vez de emissoras brasileiras, os rádios do Norte sintonizavam as ondas saídas das antenas do Caribe. “Foi assim que começamos esse estilo aqui no Pará. E digam o que quiser: assim como o axé é da Bahia, a guitarrada é 100% paraense.” Assim como o blues é de BB King, a guitarrada é de Mestre Solano.

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música POR GRUPO CUÍRA: EDNEY SOUZA, LUÍS AZEVEDO E VALDELI COSTA

ERA DO JAZI

O grupo Cuíra com o intuito de homenagear os músicos mais antigos da cidade de Abaetetuba criou o projeto “Era do Jazi”, na qual rendeu ensaio fotográfico, um documentário e muitas histórias.

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MADE IN ABAETETUBA - PARÁ

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música

ADEMAR Maestro Ademar de Almeida Cardoso, nascido em maio de 1936 nas ilhas de Abaetetuba. Aprendeu música com os irmãos, pois tinha a importante missão de levar as músicas escritas pelos mestres da cidade para as ilhas do município, nessas idas e vindas, quando percebeu já conhecia a música. Aos 14 anos de idade já era famoso por tocar pistão muito bem, então começou a estudar trompete, que lhe acompanhou até os 30 anos de idade, o que lhe abriu portas para a banda oficial do corpo de bombeiro de Belém, assim tendo a oportunidade de aprender diversos mais instrumentos. Em 1980 foi enviado ao Rio de Janeiro para aprender Teoria Musical, se tornando maestro formado em música. Além de compositor, hoje rege a banda Santana de Igarapé Miri e Banda Carlos Gomes em Abaetetuba. O maestro sempre diz que foi através da música que conseguiu tudo para si e sua família, e é assim até hoje.

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CLORIOMAR Cloriomar Trindade Margalho, nasceu no dia 19 fevereiro de 1954, na cidade de Abaetetuba. Hoje tem 63 anos. Começou a aprender tocar com 15 anos bateria, depois violão e guitarra. Aprendeu a tocar sozinho, olhando os amigos tocarem. Daniel Margalho foi quem mais lhe ajudou e lhe convidou para tocar com ele. Tocaram muito na Boate Iracema e o dono batizou a banda Muiraquitãs. Depois tocou nas bandas Águias, Os Gênios, Gerasom. Tocou em vários municípios como Tucuruí, Igarapé Miri, Barcarena, Vila dos cabanos, Breves, Cametá. Gravou dois discos com o mestre Vieira de Barcarena como guitarra base e cantou algumas músicas também. Tem filhos e netos que tocam. Trabalhou como educador musical.

CORONÉ TUNICA Antônio de Oliveira, 59 anos, natural de Ourém, mas aos 8 anos foi registrado em Abaetetuba, começou na música em 1975, e ganhou em 76 o primeiro cachê, quando começou a história artística, sendo o vocalista do Piçarra, tocou em várias bandas como Manivela, Populares de Igarapé Miri, Som Líder dentre outros, em vários lugares da região. Na banda Relíquia passou 20 anos, foi seu principal destaque, onde faziam os bailes de carnaval nos mais importantes clubes, era bem requisitado, o cachê era muito bom, os músicos eram bem reconhecidos e valorizados. Foi Muiraquitã Boy. Hoje é cantor, locutor e compositor, membro da Carlos Gomes, também faço propagandas de televisão. Acredita que esteja faltando estímulos dos nossos representantes políticos para incentivar os espaços culturais, mas tem esperança de que isso mude. O maior celeiro de artista está no interior, mas precisa de espaço para trabalhar, ter condições financeira para gravar seu trabalho. Viveu só da música por muitos anos. Órfão de pai e mãe, teve tudo para ir para o lado errado da vida, mas a música apareceu em um melhor momento, foi Deus o livrando do mal caminho.

ZÉ BORÓ

PA

José Maria Silva de Miranda, 64 anos, natural de Abaetetuba, conhecido como Zé Boró, começou a trabalhar com 15 anos sendo balconista de supermercado, nessa época já tinha abandonado os estudos e ganhou de uma tia um violão, rapidamente aprendeu a tocar e logo depois foi chamado para fazer um teste em uma banda chamada “Popular”, passou e com ela percorreu vários lugares no estado e acabou passando 7 anos em Belém, retornou a Abaetetuba e fez parte de uma banda chamada Muiraquitãs, tocavam de tudo principalmente o carimbó, nessa época passavam 3 meses viajando, fazendo shows. Os músicos eram melhores remunerados. A sua grande inspiração foi seu pai, grande seresteiro, sua trajetória musical se resume em participação em 7 bandas, o seu legado foi transferido aos netos que também tocam.

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PALHETA

NILAMON

JOÃO PERNA

TOMÁS

PALHETA Nasceu no Cataiandeua, hoje com 82 anos, trabalhou desde cedo nas roças, e que toda a família tinha vocação para música, que infelizmente não teve a oportunidade de estudar, mas mesmo assim criou muitas coisas legais, tocou em várias bandas, passando por diversos esquemas, já tocou em vários lugares do Pará . A inspiração mais importante em sua vida foi o senhor Margalho ele ia as festividades o olhar tocar Banjo, aprendeu olhando. As criações de guitarrada surgem do nada, no seu momento de inspiração. Os filhos também são autodidatas, herdaram o dom da música. Com a música sustentou a família. Hoje ele trabalha na comunidade no período das festividades da igreja. Já tocou por todo o Estado do Pará. Hoje tem a felicidade em tocar com os filhos Acredita que os jovens que procuram o lado obscuro da vida o fazem porque querem uma vez que ele é aprova viva de que alguém sem condição financeira venceu na vida através da arte.

Luís Barros Sena, mais conhecido como Nilamon, nasceu no dia 25 de agosto de 1933 na cidade de Abaetetuba, aprendeu a tocar com o pai e amigos aos 9 anos de idade, começou com o cavaquinho e hoje toca vários instrumentos como bandolim, cavaquinho, violão, viola, guitarra, bateria, surdo, trombone, saxofone entre outros. Foi 7 anos presidente da banda Virgem da Conceição. Trabalhou na construção da sede da Carlos Gomes em 1947 e 1948. Gravou dois CDs autorais sozinho, tocando todos os instrumentos.

João Ferreira, 87 anos, nasceu no Rio Panacuéra, município de Abaetetuba, toca pandeiro, bumbo, surdo, e ainda canta, tocava no Jazi , e se apresentava com traje esporte fino, começou a tocar com 15 anos, aprendeu com o professor Agenor Silva, o conheceu em Abaetetuba. Tocou em várias bandas em vários lugares do Estado do Pará, a sua inspiração sempre foi a música sacra, uma vez que juntar o dom com a fé. Conseguiu ganhar muito dinheiro com a música, o que mais o encanta hoje em dia são as ladainhas cantadas com a sua filha.

Tomás Ferreira pereira, 86 anos, natural de Abaetetuba, tocava trompete depois trombone, aprendeu com o pai que tocava trompete, a mãe na época ficava chateada quando ele queria mexer no instrumento musical do pai, mas sempre que o pai saía ele pegava e tocava apesar do pai falar que era ferramenta de trabalho, mas com o tempo o pai o convidou para estudar música, mesmo trabalhando na lavoura e pesca para ajudar o pai, ele começou a solfejar , não tinha dinheiro para comprar o próprio instrumento, com 14 anos, foi chamado para tocar em uma festa a noite e desde então não parou , tocou em orquestra, nos “populares“ dentre outros, já tocou em Brasília e vários locais do Estado do Pará, foi professor de música. Tem consciência de que hoje em dia não dar para sobreviver de música, ao contrário de antigamente, uma vez que criou seus filhos com a sua arte.

O Cuíra: Com o intuito de fazer a diferença aqui em Abaetetuba, três amigos (Edney Souza, Luís Azevedo e Valdeli Costa) se uniram para revolucionar a cultura em geral e criaram o Cuíra, acreditando na filosofia e ética de que “ Ser como humano é ser como os outros” é acreditar que tenhamos que fazer alguma coisa hoje para podermos enxergar os outros em nós amanhã, é incentivando, valorizando e divulgando sua arte. facebook.com/cuiraproducaocultural/

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música

Sandália d Jones da Silva Gomes

O

grupo Sandália de Ambuá, cujo trabalho é uma elegia ao samba de raiz, faz lembrar os bons tempos deste estilo musical, já nos seus 22 anos de estrada, guarda referencias de grandes festivais, projetos culturais e de produção autoral, realizando um apoteótico registro da arte, em particular do samba. Suas singelas letras criadas por Alfred Moraes, José Wilton Nascimento, Fernadinho, Mauro Fernandes, Nildo Freitas e outros, alcançam singela recepção do público. O grupo foi o primeiro a ser considerado no interior do Pará, como voltado para o samba nos seus diversos estilos: do enredo ao choro, do breque ao samba-canção, seguindo uma linha poética bem própria de divulgação dos símbolos e ícones da cidade. A letras e melodias seguem temáticas românticas e de cunho regional, pela profundeza marcam uma outra roupagem da produção recente do samba, que em nada se compara ao pagode que reina no mercado atual. O primeiro CD do grupo surge com o contagiante Fina Louça, lançado em 2003. Destacamos aqui as faixas Conhecendo Abaeté, Rio Maratauíra, Musa do meu Samba, Fina Louça, Hino de Nossa Senhora da Conceição, Pot-pourri dos Muiraquitãs. O segundo CD lançado em 2008, cujo título corresponde à comemoração dos dez anos, temos faixas como: Nina fulô, Lágrimas, Pot-pourri Abaetetuba, Vida Boêmia, Vertente Abaeteuara, Meadmiremiriti. É uma proposta que mescla composições do grupo, homenagens e gravações de outros autores. Por último, lançado em 2011 o CD “Fina Arte” é uma coletânea de músicas dos artistas locais, conhecidas das gerações de Abaetetubenses amantes da boa arte, faixas como “Cabelos ao Vento”, “Maria Fumaça” e “Nova Geração”. Vejamos o depoimento, de um dos integrantes do grupo que chama a atenção para o finalidade com que foi criado o grupo, para

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entendermos um pouco o conteúdo deste grandioso trabalho na Cidade da Arte: “O grupo Sandália de Ambuá apresenta, nesta obra, variadas vertentes do samba, perfazendo um painel do samba de raiz produzido por estas plagas. Uma viagem de samba do samba de breque ao samba de choro; do partido-alto ao samba de enredo, do samba de canção ao jongo, permeia a proposta musical do grupo. O projeto foi desenvolvido com a preocupação de salvaguardar a origem melódica e rítmica do verdadeiro samba, haja vista a proliferação de caricaturas musicais do gênero, que infelizmente estão sendo impostas pela mídia, como novidades descartáveis e passageiras. Sentimo-nos reféns desses enlatados musicais que se vestem grotescamente, com frases inócuas e apelativas, caricaturas de samba em detrimento do lirismo e da poesia, elementos que sempre caracterizam a essência da boa música popular brasileira”. (Depoimento dado por José Wilton Nascimento).


de Ambuรก

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hip-hop

PROJETO NATIVO MARGINAL BATALHA DO MITITI “ONDE NÃO HÁ ATIVIDADES CULTURAIS, A VIOLÊNCIA VIRA ESPETÁCULO”.

T

endo essa concepção, o projeto nativo marginal Batalha do Miriti foi pensado com intuito de criar opções de entretenimento cultural e interação social para moradores de bairros periféricos, estimulando a busca por conhecimento políticos e acadêmicos através de diálogos, poesias, músicas e batalha de rimas. A idealização do projeto começou em outubro de 2018 e logo após, em novembro, caracterizou-se a primeira Batalha do Miriti na praça da Bandeira. Desde então, o projeto realizou no mínimo uma batalha por mês, as quais ocorrem sempre em locais públicos distintos e está crescendo tanto em número de participantes quanto em nível de conhecimento debatido a cada edição, 1 ano e 11 meses depois de ter ousado sonhar de forma coletiva, a batalha do Mirití alçou voos mais altos. A soma das energias de cada Mc, cada pessoa que cola nas nossas rodas de rimas, somadas à dedicação do grupo organizador e de indivíduos que acreditam na arte e na cultura como ferramentas de transformação de seres humanos levou o integrantes do projeto para a batalha Estadual de Mcs (que representa o caminho para o Nacional) - trabalho em Mutirão fomos representadxs pelo jovem Adrilan de apenas 16 anos e que começou a rimar depois de conhecer a BDM além dos movimentos culturais o projeto

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conta também com trabalhos sociais, como a coleta de 1 quilo de alimento não perecível como inscrição dos MC’s que batalham, e todo o alimento coletado é doado para o projeto social compaixão, através desses movimentos sociais a BDM é convidada para participar em eventos, seja palestrando ou recitando poesias. A Batalha do Miriti, ao longo do seu período de existência, tem se configurado como um espaço de diálogos de resistência baseados na auto-gestão e livre expressão. O caráter crítico, característica inerente ao Hip Hop, é mantido na Batalha de maneira bastante empenhada e com objetivo essencial de realizar um espaço onde o conhecimento e a poesia sejam protagonistas expressados pela juventude periférica do município de Abaetetuba. Considerando o mesmo município como um lugar de poucas oportunidades de cultura para a juventude, associado ao alto índice de criminalidade e os baixos índices de escolaridade, a importância da Batalha do Miriti torna-se ainda mais evidente. Sendo um espaço onde a juventude interessada no rap se encontra e dialoga, a Batalha é um espaço de resistência nesse contexto. Dando protagonismo a juventude periférica e dando importância para a sua voz, a sua poesia, a sua livre expressão. Juntamente disso, a Batalha se processa em si mesma, ou seja,

da

re uma


A idealização do projeto começou em outubro de 2018 e logo após, em novembro, caracterizou-se a primeira Batalha do Miriti na praça da Bandeira. Desde então, o projeto realizou no mínimo uma batalha por mês

ela tem a capacidade de construir-se na sua própria feitura. Com as regras não permitindo ideologias opressoras (machismo, racismo, homofobia), a Batalha processa imediatamente esses temas dando resposta rápida que a torna educativa sobre esses temas. Os temas levantados também são de extrema importância. Nas poesias, onde há espaço livre para as pessoas recitarem, há a discussão de temas relevantes para a construção da juventude como seres sociais e sociáveis, críticos da sociedade. As poesias falam sobre negritude, empoderamento, feminismo, depressão entre outros temas de suma importância. Em síntese, a Batalha do Miriti é uma gama de possibilidades que giram em torno desses diálogos de resistência, é mais do que dar um microfone pra um(a) jovem da periferia rimar, é fazer ele(a) perceber que a voz dele (a) é importante. Eu poderia pensar duas vez no inicio, um grupo de

tornando FAMILIARES a cada edição, o movimento conectou vidas, criou laços entre pessoas que se vêm uma nas outras e estreitou laços já existentes. Aos poucos as diversas vozes da juventude Preta e periférica foram ocupando o espaço que elas mesma ajudaram a construir: Mcs começaram a rimar por conta da batalha; manas e manos por meio da poesia passaram a expor seus sentimentos e ajudaram outrxs a expor também. Virou um encontro de almas que se renovam ao mesmo tempo que militam pela sua cultura, pelas suas comunidades, pelas suas próprias vidas. Não sei o que esperavam que eu dissesse sobre a BDM, mas não dá pra ser técnico quando se trata de esperança, e não me refiro aos espaços que ocupamos (universidades, escolas, batalha estadual, praças, atos, etc...) mas a cada pessoa que vive cercada pela covardia do sistema e opta por uma caneta e um caderno. 1 ano de caminhada e nossa jornada ainda é longa, mas já temos várias colheitas na nossa história que

jovens com tantas desvantagens enfrentando uma sociedade excludente, mas tínhamos a nós mesmos. Eu olhei no olho de cada um e vi muita coisa e nada me lembrava a palavra “medo”. Já sabíamos das dificuldades que viriam, contudo, estavamos focados no que queriamos e todos estávamos dispostos a construir/desconstruir (inclusive, se não principalmente, a nós mesmos). Lembro os rostos chegando e literalmente se

nos motiva a seguir. Não é só uma batalha, saca? É a Batalha do Mirití. É a família BDM! A coragem de promover um espaço que frequenta seres humanos diferentes e de todas as idades por acreditar que é possível transformar a realidade é algo que eu poderia chamar de fé/esperança, etc. Mas prefiro dizer que ISSO É BDM. “Sagrado é o Trabalho em Mutirão!”

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literalmente

NEUZA Jones da Silva Gomes

RODRIGUES NEUZA RODRIGUES, ESCRITORA E DRAMATURGA FAZ REFERÊNCIAS A MODALIDADES PARTICULARES DE UTILIZAÇÃO DA LINGUAGEM, AO ACERVO HISTÓRICO, RELIGIOSO, AOS COSTUMES DO POVO DE ABAETETUBA, EM MEDIDAS, DE TAL GRAU ENVOLVENTES, QUE NOS TRANSPORTAM PARA AS CENAS. ESTA PRÁTICA LITERÁRIA, POR VEZES, É ROTULADA DE RESGATE CULTURAL.

N

euza Rodrigues nasceu em Abaetetuba no dia 08 de Julho de 1952, frequentou o colégio Augusto Meira em Belém, e, se formou graduanda em Letras e Artes pela UFPA -com as dificuldades descritas por uma amiga- de quem furava os sapatos de tanto andar pra chegar na universidade. E a Neuza sonhadora e guerreira segundo relatos, ia agrupando sempre os jovens no afã de ajuda-los pela arte, reinventando a crítica social no teatro e na sua música. Segundo o Dr. em Linguística da USP Sandoval Nonato alguns temas lhe eram muitos presentes: “entre ele, aquele da cultura local, em sua dimensão ética e política, como aparece na crítica ao modelo civilizatório que torna o trabalhador ribeirinho “um canoeiro de carro-de-mão” e transforma seu corpo em “quase concreto”, registrada na antológica canção “Lamento Tocantino”. Mas, será na educação que a professora de língua portuguesa das Escolas Leônidas Monte e Esmerina Boa Habib se destacara numa versátil experiência que irá compatibilizar com seu engajamento, mas, bem antes disso já costurava sua passagem no grupo Neófitos, com farta produção cultural de quem já havia se

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colocado no mundo, como protagonista das muitas histórias. No final da década de 1980 cria o grupo de Teatro Viva Voz, que durante dois anos apresentou a peça: “Soledade: A lenda”, obtendo 10 em crítica e público no Festival de teatro do Centur no início de 1990, o grupo também visitou outros municípios do interior do Pará, além de participar em festivais de teatro no Município de Abaetetuba. Outros projetos para o teatro foram engavetados, como o trabalho de nome “utopia”. Neste mesmo período realizou em parceria com a prefeitura de Abaetetuba o projeto “Pacoca” sediado na vila de Beja, um espaço para a valorização dos artistas locais e do imaginário caboclo presente no vilarejo, no veraneio o espaço era uma alternativa as forças do entretenimento fácil que destruíam o meio ambiente e a cultura da vila, lá também incentivou o grupo de Boi Bumbá “Estrela Dalva”. Por outro lado, já participava ativamente do carnaval de rua da Cidade pelo “Império de São Lourenço”, “Manhoso” e “Unidos da Francilândia”, e, no mesmo período foi idealizadora e fundadora do grupo de Dança Raízes do Campo, que veio a se firmar como grande revelação

da Quadra Junina. Ao longo das muitas semanas de Arte e Folclore, Neuza Rodrigues notabilizou-se em ganhar prêmios no âmbito da poesia “um poema para Abaetetuba” e na música “Uma Canção para Abaetetuba”. Contudo, sua produção musical recente, versa sobre a religiosidade presente no catolicismo popular do qual também se coloca como devota de Maria, nos volumes 1 e 2 do CD- olhos da padroeira- fica bem explicita esta tendência compartilhada em parcerias e experiências no mundo da fé. Músicas como Auto da padroeira: procissão das artes, Oração Maria, A Bandeira de Nossa Senhora, figuram na lista das já conhecidas canções populares. E não para por ai...Na literatura “O artesão de Sonhos” seu conto, foi agraciado com a Menção Honrosa no IX Concurso de Contos da Região Norte, promovido pela UFPA, segundo o poeta e cronista Raimundo Sodré, ele: “reapresenta uma tragédia ribeirinha costurada com os tenazes fios do suspense e matizada com o gracioso lirismo caboclo, iluminado pelos fachos de Zé Fogueteiro, o conto mira-se no espelho do dialeto abaetetubense e se arvora por um caminho que vai


muito além do proselitismo da língua. Assim, nos brinda com impressões, com imagens, com dores e sabores. Neusa na literatura, é cor, é som, é luz, é quase cinema. E ali, nos dizeres dos personagens, ali, eu vi Cazuza riscar o miriti com precisão, e ali, vi o charme do dialeto afrancesado, e ali, como todo crente, eu vi a ilha da Pacoca virando um mundo encantado de luz.”. Este apoteótico convívio com a palavra e a cultura popular também rendeu nos últimos 15 anos a produção do “Auto da Padroeira”, evento que conduz com ajuda de muitos amigos e das comunidades católicas da cidade em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, é um momento muito esperado pela população que participa dos festejos. Segundo a própria Neuza o Auto da padroeira surgiu de uma promessa a Santa: “Minha mãe se encontrava muito doente

e, então, eu fiz uma promessa que se ela melhorasse, eu passaria a realizar um Auto em honra à Nossa Senhora da Conceição, minha mãe melhorou e eu no ano de 2002, comecei a fazer parte da organização do Auto da Padroeira”, cantando a toada com muita emoção nossa artista demonstra ainda caber diálogos entre a arte e a fé: “Oh! Senhora do andor, Mãe de nosso Senhor viemos te pedir, lá adiante a arte do povo espera por ti”. Assim, finaliza o canto em homenagem a nossa senhora, mas, o legado desta heroica figura de nossos tempos, corresponde a imagem de uma vida dedicada a arte e cultura, por isso, grande amiga... te recebemos com o prêmio-ENCANTADA- de Reconhecimento de Mestra da Cultura Abaetetubense, concedido pela MIRITONG, CUIRA e UFPA/ABAETETUBA.

Será na educação que a professora de língua portuguesa das Escolas Leônidas Monte e Esmerina Boa Habib se destacara numa versátil experiência que irá compatibilizar com seu engajamento, mas, bem antes disso já costurava sua passagem no grupo Neófitos, com farta produção cultural de quem já havia se colocado no mundo, como protagonista das muitas histórias.

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tradições

Jones da Silva Gomes

A Tiração de Reis

J

aneiro, para alguns grupos de Tiração de Reis na cidade de Abaetetuba, é o mês de se distribuir e receber “dons”. Movidos pelo imaginário do nascimento de Cristo, a rememoração da imagem do menino Deus, que desceu dos céus e tornou-se homem para salvar a humanidade partilhando o amor; e dos Reis magos que seguiram a estrela guia, no intuito de conhecer e dar oferendas à criança- Salvador do Mundo- é atualizada nos cortejos pelas ruas e casas da cidade de Abaetetuba, renovando o símbolo da comunhão entre os devotos. Em 378 d. C, o Papa Júlio I fixou a data de 25 de dezembro, solstício de verão no hemisfério norte, momento em que sol prolonga o dia, para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, ficando a data de 6 de janeiro como dia de Reis (encontro dos Reis com o Menino). Por volta do ano de 1600, esta simbologia do encontro passou a fazer parte das comemorações católicas em toda a Europa e já na América colonizada. Em Portugal, em meados do século XVII, as Folias tinham a finalidade de divertir o povo, uma dança rápida acompanhada de pandeiro, inspirada num grupo de mulheres chamado de As Pastorinhas, que no natal batiam as portas esmolando- símbolo de humildade- em homenagem ao Espírito Santo. As festas da Natividade, pouco a pouco, foram sendo acrescidas de elementos diversos que caracterizam cada uma dessas manifestações no resto do Brasil, adquirindo o espírito religioso que conserva até hoje. A Folia quando revive uma narrativa iniciada em Mateus, capítulo 2, 1-12 descreve a visita dos três reis magos: Baltazar, Gaspar e Belquior, que, segundo a lenda, foram do Oriente à Judéia para adorar Jesus Cristo, o fazem reafirmando aos mesmos con-

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is em Abaetetuba

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tradições

teúdos dramatizados em torno do símbolo da luz, a estrela de Belém é um guia na escuridão. Segundo Srª. Hélia Quaresma professora graduada em Ciências das Religiões, e, uma das organizadoras do evento, a ideia é enfatizar o fato religioso: “O objetivo é mostrar, levar a palavra de Deus, porque Deus se materializou e a importância de estar no meio de nós aqui na terra, o que foi que ele veio fazer? Qual a finalidade? A visita aqueles homens, aqueles sábios, que eram conselheiros de reis, então, eles tinham esse conhecimento, porque fizeram esse percurso a pé?” O ano de 2006 é considerado importante marco para a retomada do movimento de Reis na cidade, onde realizaram-se cortejos em conjunto que depois se dispersavam pelas casas de moradores de diversos bairros. É o que mostra a reportagem do jornal o liberal: “Grupos culturais do municipio de Abaetetuba,

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fazem hoje e amanhã a Tiração de Reis, uma versão amazônica da tradição que lembra o nascimento do menino Jesus”. Segundo a Srª. Hélia atualmente “O percurso é livre e distribuído por bairros como era antigamente”, nele pode-se ouvir ao longe um grupo de músicos e cantadores, trajando um colorido com chapéus de palha e fitas de cetim, entoando versos que anunciam o nascimento do Menino Jesus e homenageando os Reis Magos, acompanhados geralmente de fogos e curiosos que vão se aglomerando em torno da pequena romaria. O evento na cidade é de longa data, Dona Hélia que organiza a 27 anos a Tiração de Reis- através do grupo Nossa Senhora da Conceição no Bairro de São Lourenço- onde exerce o papel de mestra da folia, nos conta que também existem outros Grupos, tais como: Grasom, Menino Deus, Nazaré, Girassol. Nossa Senhora da Conceição e São Dimas. O músico e com-

As festas da Natividade, pouco a pouco, foram sendo acrescidas de elementos diversos que caracterizam cada uma dessas manifestações no resto do Brasil, adquirindo o espírito religioso que conserva até hoje.

positor Luiz Barros Sena que coordenou anos atrás o grupo Gaspar, em entrevista ao jornal declara sua participação na Folia: Comecei tirando Reis com os meus pais. Quando conheci a festa, morava no interior, onde meus pais foram trabalhar com lavoura, e voltei para cá, aos 12 anos. Mas lá a barra pesava! Eu viajava na canoa, a festa começava dia 5, ao meio dia


e a gente tirava Reis à noite inteira. Às vezes chegava na casa do cara mais dormindo do que qualquer outra coisa. (O LIBERAL, 05 jan. de 2006, p. 12). Nesses últimos anos acompanhamos essas pequenas romarias que estetizam o olhar comum e permitem as famílias que recebem, rememorarem trajetórias de vidas, recontarem histórias sagradas. A imagem da bandeira e o estandarte, o presépio feito especialmente para aquele momento, revelam um rompimento com o cotidiano Os instrumentos utilizados geralmente são o violão, reco-reco ou chocalho, cavaquinho, banjo, triângulo, pandeiro; em outros grupos destacam-se as tubas, saxofone, trompetes e trombones e mesmo a sanfona, muito utilizado no nordeste. Grande parte do cortejo é acompanhado de músicas na entradas e saídas das casas, esta fodia é bastante conhecida pelos foliões:

Meu senhor dono de casa Dê licença para entrar Vinde ver o santo Reis que acaba de chegar. Quando o tempo é chegado Isto é por devoção Este Reis que a vos pedimos É pra dar de coração. O senhor dono de casa Por favor queira ouvir Mandar dar ao santo Reis O que nós viemos pedir. Ao adentrar as casas geralmente tocam-se alguns outros pedidos musicais de foliões ou familiares, incluindo repertórios regionais, carnaval, músicas românticas e religiosas. Estas canções são uma diversão a mais para os foliões, uma forma

de animá-los na jornada noturna do ir e vir de casa em casa. A bandeira e os estandartes são outros elementos cenográfico e símbolos dessa caminhada, por levar o nome do grupo que fará a homenagem, geralmente ao lado de uma criança que carrega o Menino Deus no presépio confeccionados por artesãos da cidade. A indumentária varia conforme o gosto e posses de cada grupo, não havendo uma constante quanto ao tecido, feitio e cores. Alguns componentes do grupo trajam roupas coloridas geralmente as primarias: azul, vermelho, amarelo, com chapéus enfeitados e fitas coloridas, camisas padronizadas com imagens do grupo. Os personagens somam geralmente doze pessoas a 15 pessoas, sendo elas: mestre, contramestre, os três reis magos, e, foliões. Noite adentro o evento ocorre, no dia seguinte- o6 de janeiro- também visitam outras comunidades completando mais um ciclo de homenagens ao Menino Deus.

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universidade

puxirum das artes Jones da Silva Gomes

UMA POÉTICA DA RESISTÊNCIA NAS MARGENS DE ABAETETUBA

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om o objetivo de compartilhar atividades artísticas de discentes e docentes da Faculdade de Formação e Desenvolvimento do Campo, UFPA/ Campus de Abaetetuba, realizou-se o “II Puxirum das Artes” promovido pelo Museu do Tocantins, no dia 14 de dezembro no Ginásio de Esporte. Além de atividades extensivas, também foi entregue um prêmio como reconhecimento aos artistas locais que compõem o território do Baixo Tocantins. Em Tupi, “Puxirum” significa ajuntamento de um dia para realizar alguma tarefa e os ribeirinhos tomaram esse significado como sendo um mutirão, atividade que tem por base a ajuda mútua no trabalho das comunidades. Trata-se, portanto, de um Mutirão das Artes que contou com produções dos discentes da turma de Educação do Campo/2018 com colaboração de arte educadores. Houve também a entrega de um título simbólico (certificado) e uma escultura em miriti criada pelo artesão Valdeli Costa. Segundo o coordenador do Evento Prof. Dr. Jones da Silva Gomes coordenador do Museu do Tocantins, este ano o Prêmio Puxirum das Artes contemplou três músicos que são referências na cidade.

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Antônio Brito de Souza (Mestre Toti) Nasceu em 23/11/1944. Cantor e compositor do grupo trovadores do céu, membro do grupo da 3ª idade do CRAS São Sebastião, seu Toti foi capitulante de ladainha na região de ilhas de Abaetetuba de onde é sua origem. Com o dom faceiro das narrativas que emanam de sua imaginação criadora, é, um exímio versista para as rodas de carimbo e outras cantigas.


José Raimundo Quaresma Fonseca (Zezé) nasceu no dia 29/08/1966, nos idos dos anos de 1980 participou do grupo experiência, ocasião em que ganhou sua primeira bateria do consagrado e lendário Laque da banda Muiraquitãs, desde então passou a participar de grupos de jovens como GEN, sempre atrelado a música ajudou a criar o grupo musical Voo Livre, Joelho de Camarão e a Banda Metrópole. Zezé como instrumentista e arranjador participou da composição de muitas músicas em festivais na região e capital do Estado, como professor é membro criador do curso de música reponta da maré, como baterista atualmente faz parte do grupo Pérola Negra.

Raimundo Claudio Lobato (Ney Viola): Nasceu no dia 18/08/1966, desde a década de 1980 compõe e interpreta canções populares e de seu repertório regional é Arte Educador no (CEU), Participou de inúmeros festivais de música na cidade e região com músicas autorais, produziu eventos de arte como Cesta de Música, Projeto Maresia, Mostra de Teatro, Pau e Corda e Piracema. Compôs e Lançou o CD experimental “A cara do meu Canto” 2002, parcerias com tantos outros artistas como Alexandra Sena, Priamo Brandão, Nego Nelson, Adenaldo Cardoso, Miguel Boboca, Mestre Vieira. Atualmente coordena a produtora Mundiando E organiza e produz formações sobre os métodos musicais no curso (Reponta da Maré).

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museumemória comunitário

Jones da Silva Gomes

MUSEU DO

TOCANTINS D

isponibilizar acervos, coleções, catálogos de cultura popular da Amazônia, além de áudio visuais. Sobretudo, proporcionar um espaço para discutir o patrimônio material e imaterial, a identidade e a memória dos povos de rios e florestas, campos e cidades ribeirinhas estão entre os objetivos de o Campus abrigar o Museu do Tocantins. Segundo o professor da UFPA. Jones da Silva Gomes, coordenador do Museu, a galeria expõe a cultura e história da área de influência do Campus de Abaetetuba. Por isso, o espaço ganha um papel fundamental, que permite aos projetos que o apoiam detectar “uma riqueza cultural imensa, que paradoxalmente convive com a ausência de espaços que potencializem seu reconhecimento.” A galeria é aberta e direcionada a todos os públicos: acadêmicos, escolas e, principalmente, às comunidades que interagem com as doações do patrimônio que compõe as pesquisas e ações extensivas. A galeria é aberta e direcionada a todos os públicos: acadêmicos, escolas e, principalmente, às comunidades que interagem com as doações do patrimônio que compõe as pesquisas e ações extensivas.

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Atrativos – Além de promover diversas oficinas e apresentações artísticas relacionadas com a dança. música e teatro, o Museu possui um acervo de livros sobre a cultura popular: “Temos fotografias, objetos do artesanato popular das comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas, além de pinturas representativas da mitologia e lendas locais”, afirma Jones Gomes. Museu do Tocantins – O museu é um espaço multifuncional (formativo e extensivo) que surge da necessidade de conservação, investigação, exposição e contemplação dos conjuntos patrimoniais, sejam eles de valor histórico, científico ou artístico, para fins de reconhecimento das práticas artísticas e culturais das comunidades do Baixo Tocantins.

Serviço: Museu do Tocantins Local: sala II do Bloco II, no Campus Abaetetuba Horários de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h Texto: André Gomes – Assessoria de Comunicação da UFPA


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A ABAETÉ DE BEJA E DO MIRITI, AGORA, TAMBÉM VAI SER A ABAETÉ LÍDER DO LÍDER.

Os moradores de Abaetetuba vão ter mais um grande motivo pra amar essa terra: o Líder Abaetetuba tá chegando. Logo, logo, Abaeté e municípios vizinhos vão ganhar um verdadeiro centro de compras que, além do supermercado Líder, vai ter Magazan, Farmalíder, Ótica Líder e Home Center, tudo num só lugar. Serão 21.153,94m2 de puro conforto, qualidade, variedade e preços baixos pra você, morador de Abaeté, fazer a festa. E festa na cidade, você já sabe: só tem hora pra começar.

Você é líder do Líder


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