Pzz cameta

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O GRUPO REMANSINHO VEM PERPETUANDO O BANGUÊ

BAMBAÊ DO ROSÁRIO- ritual de origem africana que acontece na vila de Juaba

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cametá celeiro histórico artístico cultural

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PZZ CAMETÁ / ROTEIRO POESOFIA A Poesia de Alberto Mocbel

HISTÓRIA

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A Evolução Histórica de Cametá por Alexandre Pantoja

MUNDO SENAI

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Ampliação e Revitallização do Centro Integrado de Educação Profissional SENAI/CAMETÁ

EDUCAÇÃO

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UNIVERSIDADE E AMAZÔNIA por Doriedson Rodrigues*

ECONOMIA

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A Produção do Açaí na Amazônia Por Rosivanderson Baía A Pesca do Mapará Por Dieh Kleine Sacramento

MÚSICA Mestre Cupijó

PATRIMÔNIO O Museu Histórico de Cametá Raimundo Penafort

ARTES VISUAIS Cólera Morbus por Renata Maués Andrelino Cotta; o Poeta do Pincel por Carlos Pará

DOCUMENTÁRIO

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Mapa Pictográfico da Cultura Ribeirinha por Viviane Menna

MESTRES DA CULTURA

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Engole Cobra / Mestre Zenobio / Eulário Tenório

DIÁRIO DE VIAGEM Luan Rodrigues registra o Carnaval das Águas

CULTURA POPULAR O Banguê Ecológico por Viviane Barreto Samba de Cacete por Carlos Amorim Bambaê do Rosário por Benedita Celeste

TURISMO

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Turismo Comunitário

CINEMA

Editor Responsável Carlos Pará 2165 - DRT/PA Diagramação Carlos Pará Fotografias Adriana Lima Laércio Rodrigues Luan Rodrigues Mila Maluhy Roberta Brandão Vicente Caldas Olhar Fotográfico Produção Executiva Carlos Pará Luan Rodrigues Viviane Barreto Webdesigner Andrey dos Anjos Revisão Final: Elias Teles Impressão: Gráfica Sagrada Família Distribuição Belém, Pará, Brasil Contatos (91) 98335-0000 email revistapzz@gmail.com Twitter @revistapzz Facebook https://www.facebook/revistapzz

cartas Revista PZZ Av. Magalhães Barata, 391, Belém, Pará, Amazônia, Brasil Cep 66093-400 Cnpj : 10.243.776/0001-96 Issn: 2176-8528 site: revistapzz.com.br

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O Cinema em Cametá por Vicente Caldas

FOTOPOESIA

Edição 26 | 2017

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Parceiros

A Fotopoesia de Vicente Caldas

OLHAR FOTOGRÁFICO

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Expedição do Grupo Olhar fotográfico em Cametá

POINT Bar do Gato

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PZZ CAMETÁ / POESOFIA

alberto mocbel

Alberto Mocbel é poeta, contista, artista e escritor. É um amante da arte, é inventor, é profeta (e por isso, prospectivo). Na verdade Mocbel é um criador. é produtor de textos onde avulta o grande ser humano que é com coração transbordando de amor por Cametá e os cametaenses.

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ocbel é um fazedor de sonhos. Escritor de prosa saborosíssima, seus livros revelam um homem apaixonado pelo que faz e faz bem: literatura impregnada de esperança e de alta crença no seu semelhante. Criador da prosa prenhe de inolvidáveis reminiscências de um tempo e de uma gostosa Cametá de outrora e com isso, enriquece o cenário, fazendo história, sendo o agradável e importante memorialista onde todos vão se abeberar no afã de saber de que está cheio o texto pleno de contexto, intertexto e hipertexto das coisas de Cametá, com substantivos e adjetivos, a prosa simples e por isso mesmo, profunda desse narrador que recolhe em toda parte munição para nos contar as coisas e losas de Cametá, a história e a estória, aquilo que ao outro, nada e, vira

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crônica perfumada nas mãos de mago para nos recontar o que virou cultura popular, porque o povo é o lar do escritor. São preciosos os textos de Mocbel, for-

Mocbel é um fazedor de sonhos. Escritor de prosa saborosissima, is livros revelam um homem apaixonado pelo que faz e faz bem: literatura impregnada de esperança e de alta crença no seu semelhante. matados em livros ou nas páginas dos jornais onde e o atento porta voz do cotidiano de sua gente e de sua região, é o líder mostrando rumos, apontando caminhos,

se indignando, clareando, ofertando ideias, resistindo e registrando a prosa dos seus conterrâneos nos paires do afeto, nos matapis interativos de seus sonhos, nos aviús, no samba de cacete da resistência do que sabe onde quer chegar e chega, com sucesso. A Aldeia hoje é dos Parijós, tambem dos Mocbel, num exemplo de convivência da ternura entre raças e povos, mostra de paz que nasce no Tocantins, opera mundi. De tanto ler Cametá (do mesmo modo, contemporaneamente, o fazem, os talentosos Penafort e Victor Tomer entre outros), Mocbel tornou-se o próprio livro e vivo, itinerante, próximo, amigo, carinhoso e feliz! Aproveitemos a sabedoria de Alberto Moia Mocbel e como seus discípulos, digamos: obrigado, mestre.”


FOTO: adriana lima

“O POETA CAMETAENSE” Alberto Mocbel é poeta, contista, artista e escritor. Já foi Prefeito de Cametá por dois mandatos.

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PZZ CAMETÁ / POESOFIA

TERRA BOA E ABENÇOADA EXALTAÇÃO A CAMETÁ, EM HOMENAGEM AOS SEUS 350 ANOS DE FUNDAÇÃO. Terra boa e abençoada, Que encanta o viajor, Fonte que inspira a saudade, Fonte que inspira o amor. Terra boa e abençoada, Orgulho do Tocantins, Onde as águas são mais verdes, Onde as matas são jardins. Terra boa e abençoada, Que sonha e vive o luar, Onde, ainda, os passarinhos Pelas manhãs vem cantar. Terra do ritmo quente; Do famoso Siriá, Onde o Samba de Cacete Incita a gente a dançar. Terra que inspira a seu povo Amor e felicidade, Cada rua uma esperança, Cada esquina uma saudade. Terra dos homens notáveis, O berço dos Camutás, Dos Parijos denodados, Dos soberbos Pacajás. Terra-mãe de um povo bravo Que aos cabanos enfrentou, Dominando seus excessos Com coragem e com ardor. Terra que vive o presente, Sem o passado esquecer E usa em prol do futuro. A experiência e o saber. Terra onde reina a fartura Do aviú, do mapará, Do acaí - o pão do pobre Da castanha do Pará. Terra-Jardim dos Artistas. Plena de tantos valores, Onde vivi minha infância, Meus encantos, meus amores. Terra boa e abençoada! Pelos deuses encantada! Bandeira de encantos mil! Cametá! Berço da glória! Pilar-orgulho da História! Chão querido do Brasil!

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AMAZÔNIA, PARAÍSO DA ESPERANÇA De repente a Amazônia desperta, Do sono milenar em que sempre viveu. Rasgaram-lhe as vestes impiedosamente. Vilipendio tamanho, nunca, antes, sofreu. Devastaram suas matas inda virgens. Revolveram suas terras tão puras, Velhas árvores, de troncos gigantes, Foram ao chão ante a estranha loucura. A fera temível, fugiu assustada, O réptil vil, desapareceu, O pássaro deixou filhotes no ninho, A natureza, parece, enlouqueceu. O índio guerreiro que o temor ignora, Que de luta leal jamais se escondeu, Diante da fúria cruel, diferente, Caminhos difíceis, a fugir, percorreu. E a virgem floresta outrora intocável, A força brutal, então, sucumbiu. Feriram-lhe o corpo, abalaram-lhe a alma, Violaram a beleza que Deus construiu. Em resposta, imitando o exemplo de Cristo, Ofereceu aos algozes o outro lado da face, Abriu suas entranhas e disse ao progresso Que tirasse as riquezas de que precisasse. Ofereceu-lhe um abraço fraterno, Pra que juntos buscassem um novo porvir. Hoje são a certeza pra nós, para o mundo, De horizontes felizes ao nosso Brasil. Amazônia querida, das nossas Amazonas! Orgulhosa princesa que assombras o mundo! Diante de tanta riqueza, de tanta bonança, Infeliz quem te chama de “Inferno Verde”; Em vez de inferno és, sim, paraíso E teu verde o encanto da nossa esperança. SONETOS CABOCLOS Já ta em riba da hora, Cum licência, meu ermão, Vu metê meu fato nuvo, É festa de São João! Mermo “lambendo pachiba” Teje aqui, teje aculá, Vendu o ronco dos fogueti, A genti “vara” em Cametá! E “isturdi” essa verdadi, Te garantu, meu cumpadi, Mas num é cunversa não.

Quandu chega o mês de junho, Bandera do Santo em punho, Eu sinto uma cumichão! Du cumeçu ao fim da festa, Fica tudo arrivirado, E na cabeca do puvo, É dumingu ô feriado. Cum a vinda dos romero, Du sítio ô da capitá, Antão, é um Deus nos acuda! Rebuliça Cameta! Uns percura a catedrá - Nossa isgreja seculáPra fazê suas oração. Otros perfere ficá Dandu vorta no arraiá, No meio d’animação Quandu pinta no zuvido Azuada costumera Podi cunta que é o”mastro” E o cantu da lavadera”! Cumeça, no barracao, A dança do Bui Bumbá. A”Marujada” e as “Quadrilha” Dão um show, de arrepiá! Nu leilao, os escolado, Arremata os sirimbabu E mas, num importa quantu. Vez que, nu fim da festa, Essa genti que num presta, Passa o caloti no santu! Tem mapará, maniçoba, Tem pato no tucupi E na mesa nunca farta, Camarão frito e açaí. De nuiti é ficá zanzando, Patetando... teteé, Despus um banho de chero, De bubuia, na mare! Assim é a nossa festança, Uma fonte de esperança! Muita fé, muita emoção! Ouvindo os velhos dobrados, A gente volta ao passado. E balança o coração! Com us balão se misturando Lá cum as estrela, no céu


E os fogus culurido, “Quebra poti”, “pata cega”, “Tiração de argulinha,” “Corrida de pé no saco,” “pau de sebo” e bandeirinha! A criançada apruveita, Essa hora de culheita, Pra gastá os seus boró, Pirulito, bom-bocado, Bulachinha, rabuçado, Currupio, corro-corró Quagi nu fim da nuvena, Abre as porta dos salão, Tem festa pra tudo canto É hora da varrição. Com o Samba de Caceti Cumeça o sangue isquentá, E a muçada se balança, Na onda do siriá! É purissu, cumpanheru Que a festa do padruero, Da “Capitá do Aviú”, É a maió felicidadi Mata dô, mata sodadi, EU NUM GUENTO...EU JÁ ME VU!!!! TOCANTINS A propósito da erosão que, periodicamente, arrasta para as profundezas das águas, partes do querido chão cametaense. Amo o verdor de tuas águas; Intranquilas e agitadas; Sorrindo, em seu caminhar! Amo tua luta aguerrida! Amo as vidas que tua vida Está sempre a semear! Os teus “navios encantados”! Teus “botos enamorados”! Sereias e aparições São mensagens divertidas! São passagens coloridas São gostosas ilusões! Gravaste em minha lembrança, Os bons tempos de criança, Que já distante se vão, Quando em teu leito fagueiro, Tomava os “banhos de cheiro”

Nas noites de São Joao! Entanto és imprudente; Tua travessura inocente, Nos faz chorar e sofrer! E a maior tristeza encerra, Ver, aos poucos, nossa terra, Em teu seio perecer! Cada pedaço de chão Que sacia a sofreguidão De tua entranha infernal, Dói muito mais que a saudade Dói em profundidade, Como o golpe de um punhal! A nossa luta é a defesa: É conter tua natureza; Garantir nosso viver. Por que feres tanto a gente?! Por que a fúria inclemente?! Por que o castigo?! Por que?! Mais eis que embora sofrido, Meu povo reconhecido, Enaltece o teu valor, Glorifica a tua beleza E num gesto de nobreza, Canta ao mundo em teu louvor! Verde manto cristalino! Em tuas mãos o destino Deste sagrado torrão! Que é pela sua memória, Suas conquistas e glórias, Patrimônio da União! Teus cruéis últimos feitos Reabriram em meu peito As chagas da emoção! Ouve estes versos doridos, Que o poeta, entristecido, Fez, em forma de oração: “Tocantins! Tocantins! Te acalma! Este grito vem da alma! Cruza as armas do terror! Aceita a “bandeira branca “ Que Cametá te levanta! Pedimos paz! Por amor! OS SINOS ESTÃO CALANDO Os sinos da minha Terra, Sempre plenos de emoção, Estão tristes, estão mudos, Perderam sua vibração. Sua falta ‘inda é mais sentida Ao adormecer do dia, Quando alegres repicavam A hora d’Ave Maria. Os sinos da minha Terra Vibrando blim-blão, blim-blão, Eram vida, festa, harmonia,

Eram parte da oração. Os seus suaves acordes, Com as preces se confundiam E juntinhos iam subindo Rumo aos céus, rumo a Maria. Hoje sós e abandonados, Entregues a solidão, São tristeza, são saudade, São mudas recordações. Calar os sinos da Igreja É calar a tradição; É ferir sem justa causa A fé do povo cristão. Que voltem a tanger os sinos, Cujos acordes são hinos De paz, de amor e alegria. Que vibrem suavemente, Que cantem junto com a gente, As preces d’Ave Maria.

LUZES DA INSPIRAÇÃO

Capa do livro LUZES DA INSPIRAÇÃO de Alberto Mocbel. Obra publicado em 2009. Coletânea de poemas organizada pelo próprio autor em Cametá-Pará-Amazônia.

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PZZ CAMETÁ / HISTÓRIA

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DE CAMETÁ Alexandre Pantoja segundo capítulo DA monografia do Curso de Especialização em Gestão Pública da Cultura REALIZADO PELO CAMETAENSE ALEXANDRE PANTOJA

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e acordo com os Anais do Arquivo Público do Estado do Pará (Tomo IV – 1965), constantes no acervo do Museu Histórico de Cametá, o processo de ocupação da calha do Rio Tocantins se inicia num período bem anterior à chegada dos portugueses na região. Ainda na primeira metade do século XVI, os navegantes espanhóis Orellana e Pinzon visitaram e cartografaram a foz do referido rio bem no ponto onde ele faz confluência com o rio Amazonas sem, no entanto, adentrá-lo. Em 1612, o conquistador francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardièri, fundou a cidade de São Luís do Maranhão, estabelecendo amizade com os índios Tupinambá, no vale do rio Pará. Em guerra contra os Camarapins, os franceses subiram as águas do rio Tocantins, derrotando os índios Pacajá e Parissó – tribos que juntamente com a dos Caamutás e Murajubas ocupavam a região onde hoje se localiza Cametá. Ameaçados pelos portugueses, desistiram de explorar a região, sendo assim expulsos pelos luso-brasileiros da Amazônia e do litoral maranhense. Desse contato dos

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franceses com a tribo Caamutá surgiu importante rota de comércio entre bretões e nativos e, ainda segundo FAUSTO, muito provavelmente aqui se fundou uma importante e bem guardada feitoria francesa que, no entanto foi totalmente abandonada pelo estrangeiro quando da queda de São Luis e retomada das terras

Em 1612, o conquistador francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardièri, fundou a cidade de São Luís do Maranhão, estabelecendo amizade com os índios Tupinambá, no vale do rio Pará. Em guerra contra os Camarapins, os franceses subiram as águas do rio Tocantins, derrotando os índios Pacajá e Parissó – tribos que juntamente com a dos Caamutás e Murajubas ocupavam a região onde hoje se localiza Cametá. da Amazônia pela Coroa Lusitana. Logo depois da fundação das cidades de Santa Maria de Belém do Grão-Pará (Belém) e Vigia de Nazaré (Vigia), os colonizadores foram atraídos pelas rique-

zas - e pela posição estratégica para o controle do acesso ao território recém conquistado - da região do rio Tocantins. Nesse sentido, lutas várias foram travadas entre Portugueses, Franceses e holandeses, empenhados na conquista da “calha” amazônica. Por fim, sob o símbolo da Cruz de Cristo e pela espada, os portugueses se fixaram à margem esquerda do rio Tocantins em definitivo. Tal processo se inicia em 1617 quando Frei Cristóvão de São José, Frei Manuel da Piedade e Frei Cosme de São Damião, religiosos Franciscanos, sobem o rio Tocantins desembarcando numa margem de terra à esquerda do rio. Firma-se então o primeiro contato entre a “civilização Cristã” e os índios Camutás. O trabalho de evangelização, desenvolvido por Frei Cristóvão de São José, motivou a progressiva transferência do antigo aldeamento dos Caamutás para o local onde anteriormente os religiosos haviam construído uma ermida (pequena capela) e, a partir daí, em meados do ano de 1620, tal povoamento passou a ad-


quirir dinâmica social, populacional e econômica, configurando um núcleo populacional que passou a ser conhecido como Camutá-tapera. Em 1624, conforme narram ao Anais do Arquivo

O trabalho de evangelização, desenvolvido por Frei Cristóvão de São José, motivou a progressiva transferência do antigo aldeamento dos Caamutás para o local onde anteriormente os religiosos haviam construído uma ermida (pequena capela) e, a partir daí, em meados do ano de 1620, tal povoamento passou a adquirir dinâmica social, populacional e econômica, configurando um núcleo populacional que passou a ser conhecido como Camutá-tapera Público do Pará (1965), o superior da Ordem dos Capuchos de Santo Antônio, Frei Cristovão de Lisboa visita, juntamente com os Freis Sebastião de Coimbra e Domingos de São José e os

padres João da Silva e Manoel de Pina, a povoação dos Camutás. Emocionouse com a visão aprazível e progressista do lugar, com arruamento bem disposto, estaleiros navais pequenos mas em pleno funcionamento e com o belo trabalho de “conquista de almas” feito por Frei Cristovão de São José e seus irmãos junto à tribo dos Camutás. Em 1631, comandada por Raimundo Noronha, detentor de poderes de General de Estado, partiu de Cametá uma das primeiras expedições contra os estrangeiros que faziam incursões no vale amazônico. Com canoas guarnecidas, flecheiros e remeiros; essa expedição desalojou os ingleses da região de Gurupá; Ainda de acordo com os Anais do Arquivo Público do Estado do Pará, assentando os alicerces de futuras capitanias o Capitão-Mor Feliciano Coelho de Carvalho, em 19 de Junho de 1632, parte de Cametá numa expedição para combater os estrangeiros que invadiam e buscavam se instalar na região. Contando com uma esquadra de 127 canoas, 247 praças de linhas e 5.000 índios caamutás a expedição expulsou os

EXPEDIÇÃO FILOSÓFICA A importância de Cametá no contexto de controle do território amazônico pela Coroa Portuguesa. Esta Vila, localizada às margens do rio Tocantins, ocupou, no século XVIII importante papel na consolidação da Amazônia como território luso e a principal via de comunicação entre o Pará e o Mato Grosso. Ainda nos fins do século XVIII Cametá é visitada pela célebre expedição Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783/92) onde se produziu a mais antiga imagem que hoje se tem conhecimento da fachada da então Vila de Cametá (1784).

ingleses da região do Xingú, varrendo do mapa o Forte de Cumair. Por tais serviços a Coroa Portuguesa outorga a Feliciano Coelho de Carvalho, através de Carta Régia de 14 de Dezembro de 1633, uma sesmaria (lote de terra inculto ou abandonado, que os reis de Portugal cediam a sesmeiros que se dispusessem a cultivá-lo) com extensa área territorial dentro da qual se localizava o povoado de Camutá.

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PZZ CAMETÁ / HISTÓRIA

Um dos primeiros cuidados do donatário foi instalar na sua Capitania um “engenho para moagem da cana indígena”. Fundava-se dessa forma, o primeiro engenho de açúcar, de que se há notícias no Tocantins. A 24 de Dezembro de 1635, véspera de Natal eleva-se o povoado à categoria de vila, com o pomposo nome de VILA VIÇOSA DE SANTA CRUZ DE CAMUTÁ. Essa, a homenagem, que o donatário rendia aos diligentes povoadores indígenas, ao símbolo cristão que Frei Cristóvão de São José, levantara pela primeira vez em terras do rio lendário e ao esplêndido desenvolvimento do núcleo franciscano. No ano de 1637, mediante Carta Régia datada de 26 de Outubro, acontece a demarcação da extensão geográfica das terras que passaram a ser reconhecidas com o nome de Capitania de Feliciano Coelho de Carvalho ou terras de Camutá. Dizia o Rei nesse documento que deviam ser entendidas como ter-

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ras de Camutá as existentes: “Entre o Rio Pará (onde deságua o Tocantins) e o primeiro braço do Rio das Amazonas (Xingú), com as léguas que houver do estreito que hoje chamão de Camutá até sair ao Rio Gorupá (Gurupá), margem direita do Amazonas”. Anais do Arquivo Público do Estado do Pará (Tomo IV – 1965). Em 28 de Outubro desse mesmo ano partiu de Camutá - considerada então importante porto militar segundo relatos históricos - a celebre expedição de Pedro Teixeira em busca de conquistar para Coroa Portuguesa a totalidade das terras às margens do Rio das Amazonas. Com 700 soldados e 1.500 indigenas distribuídos em mais de 50 grandes canoas a expedição logrou êxito à Coroa Portuguesa, ao mesmo tempo que promoveu verdadeiro genocídio contra as populações indígenas da região de Camutá haja vista que a quase totalidade dos homens nativos jovens e adultos foi alistada na expedição e, desses, pouquíssimos retornaram para as terras de Camutá.

CIDADE COLONIAL Orla de Cametá em 1908

Explicitam os historiadores de Cametá que, no ano de 1643, os religiosos Franciscanos foram substituídos na missão por frades Carmelitas dos quais se tem pouquíssimos relatos por conta de sua breve passagem à frente da direção da Vila, haja vista que, segundo documentação, em 1655 os religiosos da Companhia de Jesus (Jesuítas), já eram os responsáveis diretos pela direção “espiritual” da Vila. Em 1682, conforme carta enviada ao Príncipe de Portugal por Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, donatário da Capitania de Camutá, a Vila Viçosa era próspera e razoavelmente bem estruturada a ponto de atrair casais e novos habitantes que almejavam sair de outras capitanias e nela se instalar, razão pela qual Antônio Albuquerque Coelho de


Carvalho informava e pedia permissão da Coroa Portuguesa, para receber e fixar em Camutá estes novos moradores que provinham de outras capitanias (fato que causava desavenças com outros donatários que viam suas capitanias declinando populacionalmente em razão da migração de seus antigos habitantes para Vila Viçosa). Por variadas razões que vão da erosão do solo até epidemias diversas – em especial a epidemia de bexiga - fez-se a mudança da Vila Viçosa do local onde inicialmente se localizava para uma outra área de terra onde, atualmente, se encontra a cidade de Cametá. Transferiu-se progressivamente então a Vila, no período entre 1670 e 1690, para o lugar primitivamente chamado Parajó estendendo-se posteriormente para o lugar que era chamado pelos índios de Murajuba, por conta do fenômeno natural da erosão que também castigava as ribanceiras do Tocantins naquele local assentando-se ali a Vila

Viçosa em definitivo, local esse onde hoje se localiza a cidade de Cametá. Durante os anos de 1693 a 1759 (conforme se encontra relatado nos Annais do Arquivo Público do Estado do Pará – Tomo II, 1ª parte, 1955) a administração da Vila esteve a cargo dos Capuchos da Piedade (Capuchinhos) sendo estes logo substituídos na direção da Vila por membros da Ordem dos Mercedários, religiosos estes que fizeram construir a Igreja de Nossa Senhora das Mercês em nossa cidade. Durante a administração dos Capuchinhos fez-se erguer na Vila Viçosa a atual e imponente Igreja Matriz de São João Batista, que teve sua construção finalizada em 1757. A elaboração do projeto da igreja coube ao célebre arquiteto-mor da região norte, o italiano Antônio José Landi, que tinha incumbência de projetar prédios públicos e religiosos para as cidades da Amazônia. A planta original, não foi executada na íntegra, inclusive tendo ela

ARQUITETURA COLONIAL Durante a administração dos Capuchinhos fez-se erguer na Vila Viçosa a atual e imponente Igreja Matriz de São João Batista, que teve sua construção finalizada em 1757. A elaboração do projeto da igreja coube ao célebre arquiteto-mor da região norte, o italiano Antônio José Landi, que tinha incumbência de projetar prédios públicos e religiosos para as cidades da Amazônia.

influenciado em linhas gerais, a fachada atual da Igreja das Mercês também em Cametá e construída logo após a Ordem dos Mercedários assumir a administração espiritual da Vila (1759). Existe um livro editado por Landi em 1747 em Bologna (Itália) contendo desenhos de vários arquitetos, entre os quais o da Igreja de São João Batista de Bologna que apresenta inúmeros traços correspondentes à fachada de São João Batista de Cametá. Daí se

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concluiu que o atual projeto da igreja de Cametá, é uma composição do Projeto Oficial de Landi com as linhas da igreja italiana. Sobre a Igreja das Mercês iniciada em 1759, provavelmente a finalização dos trabalhos se deu no em período próximo à independência do Brasil em 1822, o que se concluiu por sabermos que a última parte, de uma Igreja, a ser construída é o coro, além do que, na viga mestra de acapú que sustentava o coro dessa Igreja, encontrava-se a inscrição “21 de setembro de 1821”, de onde se deduz ser esta data de conclusão ou inauguração. No ano de 1754, Francisco Albu-

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querque Coelho de Carvalho, descendente direto do primeiro donatário da Capitania cedeu, em troca de uma pensão anual de (03) três mil Cruzados, seus direitos de propriedade da Capitania de Camutá que, a partir de então, foi incorporada aos domínios da Coroa Portuguesa passando seu núcleo populacional a gozar das prerrogativas de Vila. Um recenseamento feito pela Coroa Portuguesa em 1784 contava entre a população da Vila Viçosa em cerca de 6.000 almas e afirmava estar passando a Vila por fase de pouco progresso indicando ainda que deveria a Coroa prover as receitas para construção da

TRAÇOS ARQUITETÔNICOS

A planta original, não foi executada na íntegra, inclusive tendo ela influenciado em linhas gerais, a fachada atual da Igreja das Mercês também em Cametá e construída logo após a Ordem dos Mercedários assumir a administração espiritual da Vila (1759). Existe um livro editado por Landi em 1747 em Bologna (Itália) contendo desenhos de vários arquitetos, entre os quais o da Igreja de São João Batista de Bologna que apresenta inúmeros traços correspondentes à fachada de São João Batista de Cametá.


Casa de Câmara e Cadeia Pública, ainda inexistentes no local. Em sua história como Município reconheceu-se que, em 1713, a povoação adquiriu o conhecimento legal na categoria de Vila, convertendo-se “ipso-facto” em Município, muito embora não se encontrem instrumentos legais que corroborem tal proclamação. Em 30 de Abril de 1841 foi promulgada a Lei nº. 87, que elevou Cametá à categoria de Comarca e, sete anos depois, em 24 de Outubro de 1848, lhe foi outorgado o reconhecimento e foi elevada a categoria de Cidade. Assim vimos a importância de Cametá no contexto de controle do terri-

tório amazônico pela Coroa Portuguesa. Esta Vila, localizada às margens do rio Tocantins, ocupou, no século XVIII importante papel na consolidação da Amazônia como território luso e a principal via de comunicação entre o Pará e o Mato Grosso. Ainda nos fins do século XVIII Cametá é visitada pela célebre expedição Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783/92) onde se produziu a mais antiga imagem que hoje se tem conhecimento da fachada da então Vila de Cametá (1784). Certo é que, findo o século XVIII começa a fase mais agitada da vida da então Vila Viçosa. Os embates que marcaram o período anterior à Inde-

pendência contaminaram Cametá e todo resto do Grão-Pará e desencadearem um dos maiores movimentos populares de que se tem notícia no Brasil: a Cabanagem. A Cabanagem é a Revolução popular mais importante da Amazônia e está entre os mais significativos movimentos de contestação da política Brasileira no período imperial. Explodiu depois da declaração da independência do Brasil, pela insatisfação dos povos tradicionais da Amazônia diante do despotismo do Governo Central que insistia em negar aos habitantes mais antigos da região o direito da cidadania.

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PZZ CAMETÁ / HISTÓRIA As agitações chegaram ao interior onde também os nativos paraenses não mais aceitavam a presença de portugueses nos cargos da administração pública e onde negros aquilombados e demais miseráveis viam nos ideais da independência uma esperança de liberdade e melhores condições de vida. Cametá, então, tomava corpo da revolução, uma vez que, contagiados pelos ideais de liberdade, os cametaenses viveram até a hora da independência, momentos cheios de dúvidas. Em 28 de Setembro de 1823 é reconhecida em Cametá a Independência do Brasil pelo Tenente-Coronel José Justiniano de Moraes Bittencourt. No entanto, a chacina do Brigue Palhaço em outubro de 1823, aterrorizou os paraenses e, de Cametá partiu um grito de revolta. Ao saber da ocorrência a nova Junta Governativa da Província mandou para Cametá, a 30 de outubro do mesmo ano, uma barca artilheira com 30 soldados e 40 marinheiros com ordem para bombardear a Vila, provocando verdadeiro pânico e até evacuação da então Vila de Cametá. Mas os cametaenses resistiram ao ataque. O Cametaense e então Arcebispo da província do Grão-Pará, D. Romualdo Coelho - o primeiro paraense e um dos primeiros brasileiros a ascender ao episcopado - com seu imenso prestígio, procurou pessoalmente apaziguar as manifestações, ganhando êxito por alguns momentos. Logo, porém, com as violências de legalistas externos e locais contra os patriotas de Cametá, quando reajustada a obra de paz, deuse o fracasso da missão pacificadora de Dom Romualdo e este protestou com alma perante o governo. O clima de insatisfação por parte dos cametaenses perdurou por vários anos até a eclosão do movimento nativista que passou a história com o nome de Cabanagem, quando na noite do dia 07 de Janeiro de 1835 os cabanos invadiram e tomaram a cidade de Belém, assassinando o presidente da Província, Bernardo Lobo de Souza. O Primeiro Governo Cabano teve como presidente foi Felix Antônio Clemente Malcher (07/01 a 19/02/1835), o qual fora deposto e preso por seus próprios companheiros; assumindo a presidência Francisco Antônio Vina-

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gre (21/02 a 20/06/1835). O terceiro e último presidente cabano foi o jovem Eduardo Angelim (23/08/1835 a 13/05/1836). Da mesma forma que se colocou oposta ao governo da Província quando do massacre do Brigue Palhaço e contra os desmandos governamentais, Cametá se viu também amedrontada com alguns atos perpetrados por parte dos Cabanos em Belém e outros locais da Província e assim transformou-se Cametá, de foco de idéias e lutas nativistas, em um centro de defesa da legalidade. Cametá, no período que Belém encontrava-se sob domínio Cabano, passou a sediar o Governo Legal da Província sendo a única cidade do Estado, além de Belém, a abrigar oficialmente o governo. Ao comando do Padre Prudêncio das Mercês Tavares, “O Padre Coronel – Comandante do Batalhão do Norte”; Cametá tornou-se um dos principais pontos de resistência à Cabanagem. Padre Prudêncio chegou a arquitetar um plano militar para retomar Belém

Da mesma forma que se colocou oposta ao governo da Província quando do massacre do Brigue Palhaço e contra os desmandos governamentais, Cametá se viu também amedrontada com alguns atos perpetrados por parte dos Cabanos em Belém e outros locais da Província e assim transformou-se Cametá, de foco de idéias e lutas nativistas, em um centro de defesa da legalidade. Cametá, no período que Belém encontrava-se sob domínio Cabano, passou a sediar o Governo Legal da Província sendo a única cidade do Estado, além de Belém, a abrigar oficialmente o governo.


Ao comando do Padre Prudêncio das Mercês Tavares,“O Padre Coronel – Comandante do Batalhão do Norte”; Cametá tornou-se um dos principais pontos de resistência à Cabanagem. Padre Prudêncio chegou a arquitetar um plano militar para retomar Belém que ora se encontrava sob o poder Cabano. Padre Prudêncio comandou pessoalmente a morte de mais de centenas de cabanos na região de Cametá, evitando juntamente com as forças legalistas a invasão de Cametá; a qual é conhecida na história como “A Cidade Invicta”

que ora se encontrava sob o poder Cabano. Padre Prudêncio comandou pessoalmente a morte de mais de centenas de cabanos na região de Cametá, evitando juntamente com as forças legalistas a invasão de Cametá; a qual é conhecida na história como “A Cidade Invicta”, aquela que resistiu aos cabanos; fato esse que até hoje causa sérias celeumas e debates acalorados sobre a posição e atuação de Cametá no bojo da luta cabana. Em 1841, foi o cametaense Dom Romualdo Antonio de Seixas, então Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, quem presidiu a coroação do Imperador Dom Pedro II. Orador sacro, Senador do Império e figura de renomada sabedoria o Cametaense Romualdo de Seixas foi uma das figuras mais importantes de sua época. Após os embates sangrentos da Cabanagem, Cametá padeceu com um novo e ainda mais mortal inimigo: o Cólera Morbus. Em 1855 a epidemia da doença dizimou grande parte

da população local. Segundo relato do Dr. José Ferreira Cantão, em carta enviada a Belém no mesmo paquete onde veio a falecer o então presidente da Província Dr. Ângelo Custódio, assim encontrava-se a cidade quando da sua chegada: “A cidade parecia erma; as portas e janelas das casas todas fechadas; ninguém nas ruas, apenas de tempos a tempos um morador passava quase correndo, com um lenço a tapar-¬lhe a boca e o nariz. Os mortos só não ficavam insepultos porque o sub¬-delegado de Polícia, com uma energia admirável, empregava a força, obrigando os populares a carregarem os cadáveres para uma carroça, que os conduzia ao cemitério. A autoridade em pessoa dirigia o serviço, mas não poucas vezes aconteceu-lhe ficar isolada no caminho, porque os condutores, ao aproximar-se da necrópole, tomados de um Invencível horror, abandonavam a carroça e internavam¬-se de carreira, pelo mato”. Dr. Cantão veio a Cametá trazer o socorro em companhia do cametaense e então presidente da Província Dr. Ângelo Custódio Corrêa. Este último prestou brava assistência aos seus irmãos cametaenses e acabou por contrair a doença que lhe tirou a vida na viagem de regresso poucos dias depois. Seu corpo encontra-se no cemitério de Cametá. Outro “adversário” histórico dos

cametaenses é o processo de erosão das margens do Rio Tocantins provocado pela força de sua correnteza, o que já havia influenciado na mudança da então Vila Viçosa para o local onde hoje se encontra a cidade. Inúmeros foram, através dos tempos, os projetos para salvar a frente de Cametá. O primeiro deles, a construção do cais de arrimo de Cametá, iniciou-se em 1871 e foi concluída em 1882 e logo depois do paredão erguido entre o rio e a margem da cidade, concluído em 1888. Neste paredão se fez erguer uma escada de mármore por onde deveria desembarcar o Imperador D. Pedro II que visitaria a cidade em 1886. Por razões de saúde o Imperador foi impedido de concretizar tal intento enviando, no entanto, a Cametá como seu representante o Conde D’Eu, esposo da princesa Isabel. O belo cais de arrimo deu aspecto primoroso à cidade e foi denominado “Porto Real” em substituição a antiga denominação de “Porto Feliz”. Ainda no século XIX passaram por Cametá os famosos naturalistas estrangeiros Robert Avé-Lallemant (1859), alemão; Henry Bates(1848-1859), inglês e o francês Henri Coudreau (1895-1897). Sobre a cidade fizeram inúmeras citações e Coudreau chegou a se surpreender com o traçado das ruas e fachada dos sobrados que, segundo ele, remetiam ao que ele já havia visto inúmeras vezes na Europa. Afirmou o naturalista: “É a mais bela e aprazível cidade por essas bandas”. O inglês Henry Bates fez também apaixonado e raro relato acerca da cidade: “A vista do rio, descortinada de Cametá, é soberba. A cidade fica situada, como já disse, num trecho elevado da margem, que contrasta com as terras baixas e plantas da região. Em toda a imensa extensão, as águas verde-escuro se mostram pontilhadas de ilhas rasas, cobertas de palmeiras; a vista rio-abaixo, porém, se mostra inteiramente desimpedida, sendo limitada apenas pela linha do horizonte, onde a água e céu se encontram, lembrando o mar. As águas, levadas pelo vento, escavam nas margens pequenas baías, ao redor das quais de formam praias arenosas”. (...) a cidade é composta de três ruas compridas e paralelas ao rio, cortadas perpendicularmente por outras mais curtas. As casas são muito simples e, como a maioria de-

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FOTO: TONINHO CASTRO - MEGADRONE

las na região, compostas por um sólido arcabouço de madeira e barro, caiado e branco. Algumas delas têm dois ou três pavimentos. A cidade conta com três igrejas dedicadas a São João, Mercês e a Senhora do Perpétuo Socorro respectivamente e com um pequeno teatro localizada num belo sobrado às margens do rio onde à época em que lá estive, uma companhia local encenava algumas peças ligeiras portuguesas com bastante talento e bom gosto (...) BATES, 1979 [1876]; p. 69)10. Na segunda metade do XIX Cametá recuperou sua pujança e se transformou num dos mais prósperos portos da Amazônia. Toda produção de cacau e borracha da calha do Rio Tocantins era taxada e negociada na alfândega cametaense. A prosperidade da região atraiu não só visitantes curiosos mas inúmeros outros estrangeiros que aqui vieram “fazer a América”. Franceses, Judeus Marroquinos, Árabes e outros grupos étnicos vieram em grande número tentar a sorte em Cametá. Especialmente os Judeus aqui constituíram uma próspera comunidade que nos fins do século XIX chegou a contar com

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quase 7000 membros. Marca desse período pode ser vista e constatada no Cemitério Judaico de Cametá, construído na área interna do Cemitério Cristão da Soledade, que conta com cerca de 70 lápides. O século XX marca novamente uma fase não tão próspera para Cametá. Com o declínio do comércio gomífero a cidade foi progressivamente tendo reduzida sua importância na cena econômica da Amazônia. A abertura de estradas, a aviação e outras novas formas de transporte tiraram do de Cametá a condição de rota indispensável do comércio na calha do Rio Tocantins e diminuíram o fluxo de mercadorias, bens e serviços na região. Hoje a cidade novamente retoma sua face progressista e busca recuperar sua importância histórica no cenário nacional. Patrimônio Histórico Nacional, Cametá – com seus 393 anos de história – merece todo e qualquer auxílio na luta pela resgate de nossa identidade e nossa memória que deve ser conhecida e identificada como patrimônio de todos.

Hoje a cidade novamente retoma sua face progressista e busca recuperar sua importância histórica no cenário nacional. Patrimônio Histórico Nacional, Cametá – com seus 393 anos de história – merece todo e qualquer auxílio na luta pela resgate de nossa identidade e nossa memória que deve ser conhecida e identificada como patrimônio de todos.


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PZZ CAMETÁ / SENAI

Carlos Pará

SENAI CAMETÁ

CAMETÁ COMEMORA A AMPLIAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL SENAI/CAMETÁ QUE HÁ 33 ANOS JÁ CaPACITOU MAIS DE 10 MIL PESSOAS PARA O MERCADO DE TRABALHO, E MAIS UMA VEZ SE REINVENTA E TRAZ A POPULAÇÃO UMA ESCOLA ESTRUTURADA, MODERNIZADA, COM A CAPACIDADE AMPLIADA DE MATRÍCULAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS, PARA EXPANDIR AINDA MAIS SUA ATUAÇÃO EM ÁREAS ESTRATÉGICAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

O

SENAI Cametá passou a fazer parte da rica história de Cametá em 28 de outubro de 1982 na gestão de Gabriel Hermes, presidente da FIEPA na época. Estavam presentes na inauguração o então presidente da República, João Batista Figueiredo, Alberto Mocbel, prefeito de Cametá; Jarbas Passarinho, Senador; Oziel Carneiro, Diretor do Banco do Brasil; e o diretor Regional do SENAI, o ilustre cametaense Gerson Peres. Esse evento foi um acontecimento marcante na época, mobilizando toda a cidade para o acontecimento. O Sistema FIEPA trazia ao município uma instituição que contribuía decisivamente na vida de muitos jovens, através da qualificação profissional, capacitando em diversas áreas técnicas. Cada um desses talentos formados pelo SENAI contribuem para o desenvolvimento não só de Cametá, mas de todo o Baixo Tocantins. O SENAI é uma espécie de pioneiro. Hoje Cametá tem UFPA, UEPA e IFPA, mas o SENAI se constituiu como parte da família cametaense, um patrimônio vivo da história. Desde seu surgimento, a instituição se tornou um ponto exponencial na educação profissional, sendo fundamental na mudança de vida dos jovens e contribuindo com o

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desenvolvimento de Cametá e de toda a região. E hoje trinta e cinco anos depois, o Sistema FIEPA entrega uma escola ainda mais moderna e de acordo com a realidade da indústria contemporânea. Juntando-se a arquitetura histórica da cidade, está a moderna estrutura do SENAI. Instalada bem no centro urbano, a escola foi projetada pelo engenheiro José Maria

O Sistema FIEPA trazia ao município uma instituição que contribuía decisivamente na vida de muitos jovens, através da qualificação profissional, capacitando em diversas áreas técnicas. Cada um desses talentos formados pelo SENAI contribuem para o desenvolvimento não só de Cametá, mas de todo o Baixo Tocantins. Cabral, que trouxe uma arquitetura circular à fachada da escola, algo inovador para a construção civil da época. Desde a sua inauguração, o Centro de Integração Ensino Profissionalizante, o SENAI de Cametá, já certificou mais de 10.000 profissionais para o mundo do trabalho.

Para o atual presidente do Sistema da Federação das Indústrias do Pará – Fiepa, José Conrado Santos que inaugurou as obras de revitalização do Centro Integrado de Educação Profissional SENAI Cametá diz que: “É uma grande satisfação para o Sistema FIEPA entregar a unidade do SENAI Cametá renovada e ampliada. Esse evento de hoje faz parte da programação da diretoria da FIEPA, envolvendo o SESI, o SENAI e o IEL, em revitalizar todas as Escolas do nosso Sistema. Com a Escola que estamos entregando à Comunidade de Cametá, praticamente toda revitalizada, triplicada para formar novos profissionais e empreendedores. Desde quando fui eleito presidente do Conselho deliberativo do SEBRAE no Pará onde passei por 04 anos, passei a fazer essa conexão entre formação técnica e empreendedorismo. Muitos dos alunos que saíam dos cursos do SENAI não sabiam fazer orçamento, planejamento organizacional e o conceito de empreender. Então essa ponte entre o SENAI e o SEBRAE propiciou isso também. O aluno quando sai hoje do SENAI procuramos dar uma carga horária de 20 horas de empreendedorismo para ele. Para que inclusive o estimule a ter seu próprio negócio. Pois nós não garantimos que saia do SENAI e consiga de imediato uma


SENAI CAMETÁ Unidade do SENAI Cametá renovada e ampliada para formar novos profissionais e empreendedores. .

JOSÉ CONRADO SANTOS vaga na indústria. Mas eles podem montar sua própria empresa. Vamos ver como o SEBRAE pode atuar dessa forma em Cametá. Outra aproximação importante que realizamos agora foi a do Poder Municipal com a Escola do SENAI, empenhados em formar não só profissionais, mas cidadãos que possam contribuir com o município. E o mais importante é formar profissionais

que possam se estabelecer no município e contribuir com a economia e com o progresso da cidade de Cametá. A prefeitura não mediu esforços junto com a Câmara Municipal em doar esse terreno que é uma área excelente onde nós vamos construir um novo auditório com capacidade para 250 pessoas em terreno de mais de 2 mil metros quadrados doado pela Prefeitura Municipal, anexo à escola que será, junto ao Sistema FIEPA, um local de desenvolvimento sustentável de Cametá. O objetivo é que o local também sirva de indutor para novos negócios, palestras e conferências, levando ao município, um centro de reunião de excelência. E ao lado desse empreendimento vamos iniciar o projeto de Boulevart das Artes, um centro de Economia Criativa que favorece a produção e a comercialização de trabalhos feitos por artistas, artesãos, músicos, escritores, estilistas, e outros, contribuindo desta forma para o desenvolvimento da economia e do turismo. O Centro Integrado de Educação Profissional do SENAI Cametá mais uma vez se reinventa e traz à população uma escola estruturada e ainda mais moderna. Após dois anos de trabalho em obras de ampliação e revitalização, a unidade ampliará sua capacidade de matrículas para os próximos anos, além de expandir ainda mais sua atuação em áreas estratégicas de

GERSON PERES educação profissional. Com os investimentos, em torno de 5 milhões, o SENAI Cametá otimizará seu atendimento. A partir das melhorias, a escola tem sua capacidade instalada triplicada, representando aumento de 500 alunos/ano matriculados. No espaço, foram construídas novas sa-

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PZZ CAMETÁ / SENAI

DÁRIO LEMOS - DIRETOR DO SENAI “É muito gratificante concluirmos o processo de revitalização dessa Unidade do SENAI que durou pouco mais dois anos com essa empreitada de reforma e ampliação dessa escola que hoje estamos entregando a população de Cametá. Não podemos deixar de honrar a equipe que viabilizou esse trabalho, uma equipe incansável para a viabilização da educação profissional no Pará. Aqui em Cametá, tínhamos 03 laboratórios e hoje estamos com 09 sendo que 01 deles com capacidade para ofertar 07 cursos diferentes. O melhor laboratório de confecção de moda e costura que temos aqui no Pará é no SENAI de Cametá. Sem dúvida é um presente que estamos deixando para a população de Cametá.” las de aulas e acrescentados cinco laboratórios para atender as áreas de alimentos, vestuário, eletrônica, eletricidade, construção civil, veículos automotores, automação, metalomecânica e informática. Os investimentos também incluem a aquisição de novos equipamentos, modernizando os laboratórios de acordo com os avanços tecnológicos da indústria e, assim, potencializando o fomento da atividade industrial em Cametá e municípios vizinhos. São mais de 30 cursos ofertados, em diversas áreas, nas modalidades de Aprendizagem, Qualificação Industrial, Iniciação e Aperfeiçoamento Profissional e Habilitação

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Técnica. A formação da mão de obra local também funciona como incentivo para que mais indústrias se instalem na região, melhorando a situação econômica dos municípios atendidos. Por isso, tenho grande satisfação em anunciar a entrega das obras de revitalização do Centro Integrado de Educação Profissional do SENAI em Cametá. A modernização da unidade certamente fará com que o SENAI Cametá continue firme em sua missão de aumentar a competitividade das indústrias e levar o desenvolvimento por meio da capacitação profissional” conclui o presidente do Sistema FIEPA, José Conrado Santos. Com as mudanças, o SENAI Cametá se atualiza profissional e tecnologicamente, criando um ambiente favorável para os empreendimentos que queiram se instalar no município. “Com a educação profissional, ganha quem se qualifica é também todo o estado, já que você melhora a competitividade, organiza melhor o mercado de trabalho e amplia a possibilidade da mobilidade social, como acontece nos países desenvolvidos. Com esses investimentos queremos expandir a capacitação de pessoas e potencializar a atividade industrial em Cametá e nos municípios vizinhos”, destaca o Assessor Especial do Sistema FIEPA, Gerson Peres. “Com as novas instalações, estão previstos para o SENAI Cametá, na modalidade de Qualificação Profissional, os cursos de Panificação, Costureiro Industrial, Pedreiro de Alvenaria, Eletricista de Manutenção em Rede de Alta e Baixa Tensão e Rede de Computadores. Na modalidade de Aperfeiçoamento Profissional, as novidades serão os cursos de Noções de Costura Industrial, Moda Praia, Noções de Costura Industrial, Técnicas de Manutenção do Sistema de Injeção Eletrônica Diesel, Técnicas de Manutenção do Sistema de Injeção Eletrônica de Motocicleta, Técnicas de Controle de Portão de Garagem e Mecânico de Manutenção em Motores de Popa. Além desses, será lançado o curso técnico em Eletroeletrônica, estratégico para a região. Temos um programa o “Mundo SENAI” que acontece em todas as escolas do SENAI no Brasil no período de outubro a novembro. E agora com a inauguração oficial desta obra abrimos as portas para a população. Para alunos, empresários e a sociedade possam ver a nossa estrutura, onde e como desenvolvemos nossos cursos nos laboratórios e assim as pessoas possam se

JORGE MENTELES interessar e buscar uma profissão na área industrial. O que mais gratifica agente é saber que um ex-aluno consiga estar empregado e tenha seu próprio negócio e que tenha condições de gerar emprego e renda no município e o sustento de sua família. Por isso também o objetivo da instituição é ter um bom número de ex-alunos dentro do seu quadro de instrutores, como forma de incentivo para as novas gerações. Procuramos valorizar o que é nosso e quando os alunos percebem isso, acabam dando um pouco mais do seu esforço, aumentando o nosso nível de aprendizagem. É uma prática que pretendemos continuar”, afirma o Diretor Regional do SENAI, Dário Lemos. Para Jorge Monteles - Coordenador da Unidade do SENAI de Cametá que assumiu em outubro de 2015 a direção do SENAI Cametá “Hoje nós adequamos a realidade do setor industrial, em diversas áreas e formamos mão de obra capacitada para o mundo do trabalho. A partir dessas melhorias a escola tem sua capacidade triplicada representando o aumento de mais de 500 alunos por ano. Foram construídas novas salas de aula. Novos laboratórios nas áreas de alimento, vestuário, automação, eletricidade e informática. Com todas essas melhorias a previsão de metas para 2016 é de 3099 matrículas nas modalidades de aprendizado industrial, aperfeiçoamento e curso técnico. A intenção, já para 2016, é iniciar serviços de atendimento em produtos de qualificação profissional para importantes industrias do Baixo Tocantins e regiões vi-


zinhas, como, por exemplo, a Eletronorte, a Dow Corning e a Biopalma. Com os laboratórios ainda mais adequados as demandas da indústria, a expectativa é que a procura pelas ofertas do SENAI se amplie e que atraia novos investimentos para dentro do município. “Hoje contamos com uma estrutura que simula a realidade do setor industrial em diversas áreas e formamos mão de obra capacitada para quem precisar se instalar aqui. Por exemplo, temos algumas indústrias de alimentos em Cametá que terão agora uma grande oportunidade de se reinventarem, pois trouxemos ao município tudo o que tem de mais moderno na área com os novos laboratórios de Panificação e de Manipulação de Polpa de Frutas. Além disso, estamos com um laboratório do segmento de vestuário que se equivale aos melhores do país. Com essa iniciativa, podemos multiplicar os fornecedores de roupas na cidade para grandes empresas e, dessa forma, fomentar a economia local”, detalha Meireles. Dirigir o SENAI de Cametá é uma grande honra e um grande desafio. Tenho certeza que com toda a equipe que compõe o quadro funcional desta unidade, iremos manter a qualidade dessa escola que tanto dá orgulho aos cametaenses”, finaliza o diretor. Depois do descerramento da placa de inauguração da ampliação do SENAI CA-

METÁ, realizadas pelo presidente da Fiepa e pelo Diretor Regional do SENAI, foi realizada uma visita guiada pelas instalações da nova unidade. Das 15 escolas fixas que o SENAI possui no estado do Pará, apenas o SENAI Cametá tem o diferencial de ser um centro integrado com a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Hoje, dos 8 mil alunos da rede pública de ensino, 1.000 do Ensino Médio vestem a camisa do SENAI, nos turnos da manhã, tarde e noite. A parceria tem sido fundamental para elevar a qualidade da educação no município. O principal legado para os alunos da rede pública que passam pela estrutura disciplinar do SENAI e acaba refletindo diretamente nos nossos alunos e contribuindo de maneira grandiosa na formação deles . A intenção é manter o convênio de sucesso e estreitar ainda mais a relação, com mais ofertas para cursos profissionalizantes. Atraídos pelas atualizações que o SENAI está promovendo, desejamos fechar um acordo para que o maior número possível de novos alunos consiga fazer cursos de educação profissional no seu contra turno de aula. Sabemos que isso fará toda a diferença, pois o SENAI representa a industrialização, desenvolvimento e oportunidade para os nossos jovens”, conclui o diretor Regional do SENAI, Dário Lemos.

“Com todas essas melhorias, o SENAI realizou, em 2016, 1.744 matrículas nas modalidades de aprendizado industrial, aperfeiçoamento e curso técnico. A intenção, em 2017, é matricular 3.106 novos alunos, sendo 893 em caráter gratuito. Além disso, a escola irá avançar na oferta de serviços de atendimento em produtos de qualificação profissional para importantes industrias do Baixo Tocantins e regiões vizinhas, como, por exemplo, a Eletronorte, a Dow Corning e a Biopalma”.

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PZZ CAMETÁ / SENAI

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FOTOS: aSCOM FIEPA

Os investimentos também incluem a aquisição de novos equipamentos, modernizando os laboratórios de acordo com os avanços tecnológicos da indústria e, assim, potencializando o fomento da atividade industrial em Cametá e municípios vizinhos.

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PZZ CAMETÁ / EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE E AMAZÔNIA Doriedson Rodrigues*

Desde a década de oitenta do século passado o Campus Universitário do Tocantins/Cametá – UFPA vem desenvolvendo ações educativas de pesquisa, ensino e extensão no contexto da Microrregião Cametá, a partir, inicialmente, de cursos flexibilizados pelo Campus da UFPA de Belém para a sede do Campus, em Cametá.

A

o longo de mais de 25 anos o Campus Universitário Tocantins / Guamá - UFPa, avançou consideravelmente em termos de oferta de cursos para a região, passando de 02 cursos, Letras Português e Pedagogia, para 10 cursos, a partir da implantação de Letras Inglês, Matemática, História, Ciências Naturais, Educação do Campo, Geografia, Sistemas de Informação e Agronomia. Além disso, em dezembro de 2013 tivera a aprovação do Mestrado em Educação e Cultura, constituindo-se o primeiro campus do interior, depois de Belém, a possuir um mestrado na área de Educação na UFPA. Não menos importante está o crescimento do corpo docente ao longo desses mais de 25 anos, saindo de aproximadamente 10 professores efetivos para 83 vagas, entre mestres e doutores. Hoje, o Campus possui 39 vagas com doutores, 29 professores fazendo doutorado, 02 realizando mestrado e 13 mestres. E ainda estamos com um conjunto de professores substitutos, desenvolvendo ações formativas por meio dessa Unidade da UFPA. Quadro esse que representa a possibilidade de mais pesquisas e ações de ensino e extensão para a região, como o provam os inúmeros projetos de pesquisa e extensão aprovados pelos docentes do Campus, permitindo que jovens acadêmicos possam se constituir bolsistas, pesquisadores e extensionistas em formação. É nessa direção, por exemplo, que o

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Campus vem aprovando projetos de pesquisa financiados por agências de fomento, como o CNPQ, por exemplo, que vêm possibilitando Cursos de Formação por meio da Casa Familiar Rural de Cametá, bem como Cursos voltados para a produção de material didático para a Educação de Jovens e Adultos para os municípios de Cametá, Mocajuba, Oeiras do Pará, Limoeiro do Ajuru e Baião, dentre outros projetos, além de termos avançado quanto à presença marcante do Ensino Superior nesses municípios.

Não menos importante está o crescimento do corpo docente ao longo desses mais de 25 anos, saindo de aproximadamente 10 professores efetivos para 83 vagas, entre mestres e doutores. Hoje, o Campus possui 39 vagas com doutores, 29 professores fazendo doutorado, 02 realizando mestrado e 13 mestres. Não é à toa, por exemplo, que o Campus Universitário do Tocantins/Cametá é o primeiro Campus da UFPA a ofertar um curso de graduação na zona rural de sua sede, como o está sendo o Curso de Educação do Campo para a Vila do Carmo, em Cametá. Não menos importante está o fato de sermos o Campus da UFPA com

04 Núcleos Universitários – Núcleo Universitário Sérgio Maneschy de Mocajuba, com aproximadamente mais de 300 discentes; Núcleo Universitário de Oeiras do Pará, com aproximadamente mais de 250 discentes; Núcleo Universitário de Baião, com aproximadamente mais de 350 discentes; Núcleo Universitário de Limoeiro do Ajuru, com aproximadamente mais 300 discentes. Ou seja, nos últimos anos passamos a ter metade dos discentes do Campus presentes em nossos 04 Núcleos, materializando ainda mais a perspectiva da interiorização da interiorização da UFPA, vivendo os ônus e os bônus de se continuar com um projeto dessa natureza, por compreendermos a importância de se garantir aos trabalhadores o acesso ao Ensino Superior. Hoje, o Campus Universitário do Tocantins/Cametá como um todo possui aproximadamente 3.000 discentes, bem como muitos projetos de pesquisa e de extensão, constituindo-se um agente propulsor de uma perspectiva de desenvolvimento focada na formação de sujeitos que trabalhem pela emancipação humana, garantindo que um conjunto de jovens oriundos do Ensino Médio, como estudantes do SENAI – Cametá, dentre outros Estabelecimentos de Ensino da Microrregião Cametá, possam ter acesso ao ensino superior com qualidade. É nessa direção que anualmente o Campus oferta mais de 500 vagas, por meio dos processos vestibulares, tanto para a sede do Campus como


para seus 04 núcleos universitários. Todavia, em face desse crescimento, há de se considerar os desafios que estão postos. Nessa perspectiva, não se pode deixar de compreender a necessidade de continuarmos o debate para a Criação da Universidade Federal da Amazônia Tocantina, a UFAT, que permitirá novos cursos e fortalecimento cada vez mais dos que já se encontram no Campus, dentre outras conquistas. A esse respeito, escrevemos, há alguns anos, um texto em parceria com o colega professor da UFPA, Dr. Gilmar Pereira da Silva, em que expúnhamos o seguinte: Em que pesem esses avanços, o contexto histórico atual vem exigindo que os campi se articulem em torno de um projeto maior para a região, impactando-lhe cada vez mais positivamente, com maiores recursos, mais docentes, novos cursos e um maior número de vagas, para que a criação da Universidade Federal da Amazônia Tocantina, a UFAT, torna-se uma realidade a ser cada vez mais perseguida, muito já contribuindo para isso as ações aqui descritas. Trata-se, então, de um novo processo histórico nos rumos da Universidade Federal do Pará como instituição voltada para o desenvolvimento regional, criando-se as condições para o surgimento de uma nova

Universidade, como se procedeu para com a criação da UFOPA, em Santarém, e a UNIFESSPA, em Marabá. Hiperbolicamente diríamos que a interiorização da

Hoje, o Campus Universitário do Tocantins/Cametá como um todo possui aproximadamente 3.000 discentes, bem como muitos projetos de pesquisa e de extensão, constituindo-se um agente propulsor de uma perspectiva de desenvolvimento focada na formação de sujeitos que trabalhem pela emancipação humana , garantindo que um conjunto de jovens oriundos do Ensino Médio, como estudantes do SENAI – Cametá, dentre outros Estabelecimentos de Ensino da Microrregião Cametá, possam ter acesso ao ensino superior com qualidade. UFPA vai se interiorizando cada vez mais, já constando no PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) da UFPA, aprovado em 2011, a criação da Universidade Fede-

ral da Amazônia Tocantina – UFAT, além de inúmeras audiências que estão sendo realizadas nos municípios da região, discutindo-se a UFAT, seus impactos na região, o modelo de universidade que a região necessita. Para tanto, não se pode deixar de considerar a necessidade de mais áreas para o Campus, que ampliem cada vez mais as condições de pesquisa, ensino e extensão dessa grande Unidade da UFPA presente na Microrregião Cametá. A esse respeito, considerável doação de particular o Campus recebera em 2015, ganhando 04 hectares, que possibilitam a implementação de área experimental para os cursos de Agronomia, Geografia e Ciências Naturais, bem como para Educação do Campo, além de garantir o espaço necessário para as instalações do Campus II (em que pesem as novas e amplas instalações do Campus I inauguradas em setembro de 2014, permitindo a melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão cada vez mais, com equipamentos multimídias, além de um Infocentro em processo de construção, dentre outros projetos em tramitação na UFPA), de modo a atender a construção de complexos de laboratórios e atelier de aprendizagens para os 10 cursos do Campus, o que pressupõe busca de novos recursos para tanto, quer por meio

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da Eletronorte, emendas parlamentares, dentre outras fontes de investimentos. Outrossim, não menos importante está a necessidade de buscarmos condições para que nossos discentes possam ter casa de estudante, dentre outras perspectivas estruturais, como alimentação gratuita, de modo a permitir a presença dos jovens em condições de maior dificuldade de permanência na Instituição. A esse respeito, o Campus recebera emenda parlamentar para a construção da Casa do Estudante, acrescida de investimentos da própria Universidade, de modo a construirmos a Casa do Estudante em área doada pelo Executivo Municipal de Cametá. Some-se a essa realidade o fato de o Campus ser uma das Unidades da UFPA com maior contingente de auxílios moradia e permanência, por meio da Pró-Reitoria de Extensão, com aproximadamente, em 2014, 450 discentes atendidos pelos programas (considerando-se, aqui, somente as turmas da sede do Campus, pois o número tende a aumentar quando se consideram os discentes dos Núcleos Universitários), gerando no município de Cametá mais de 150.000 reais mensais.

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No mais, há de se considerar que esTambém há de se considerar a necessidade de continuarmos lutando pela estru- sas descrições analíticas do crescimento turação dos espaços formativos presentes do Campus e dos desafios que nos estão nos Núcleos Universitários (E também postos, dentre outros aqui não elencados, partem de um princípio de gestão, que expusemos em editorial de jornal do Não menos importante está o Campus, no prelo e escrito com o título crescimento do corpo docente ao “O Campus Universitário do Tocantins/ Cametá-UFPA e seu compromisso com longo desses mais de 25 anos, a região”, em parceria com o Dr. José Pesaindo de aproximadamente 10 dro Garcia Oliveira – à época Vice-Coorprofessores efetivos para 83 vagas, denador do Campus, o qual passamos a transcrever como notas conclusivas deste entre mestres e doutores. Hoje, texto. o Campus possui 39 vagas com Antônio Gramsci, intelectual italiano do início do século XX, defendia que todoutores, 29 professores fazendo os trabalhadores tivessem acesso à doutorado, 02 realizando mestrado dos cultura, dominando os conhecimentos e 13 mestres. relacionados às ciências, que resultam do trabalho humano, bem como aqueles depara a sede), como a construção de labo- correntes das relações humanas no camratórios e bibliotecas, mas sempre com o po de seus direitos e deveres. Sua preocupação com essa formação, entendimento do avanço que a presença dos mesmos nos municípios significa para dentre outras razões também importana região, devendo-se constituir bandeira tes, decorria da existência sofrida que vide luta a garantia da presença da Univer- vera numa região da Itália com enormes sidade nesses espaços enquanto projeto dificuldades políticas, sociais, econômiestratégico para o desenvolvimento local. cas, defendendo, diante disso, que os


trabalhadores tivessem condições de se constituir dirigentes dos rumos da sociedade, de modo a superar as relações que historicamente desumanizam a vida. Isto posto, em termos do Campus Universitário do Tocantins/Cametá – UFPA, acreditamos que esses princípios têm norteado a presença dessa Unidade da UFPA na Microrregião Tocantina, quando se busca, por exemplo, o fortalecimento dos Núcleos Universitários de Baião, Mocajuba, Oeiras do Pará e Limoeiro do Ajuru, por meio de parcerias sem as quais essa perspectiva ficaria difícil de ser viabilizada. Atualmente, por exemplo, cada um desses Núcleos garante espaço acadêmico para em média mais de 300 discentes em cada um deles realizarem um curso superior, tal qual fora o Campus de Cametá em sua fundação na década de oitenta. Não menos importante encontra-se a institucionalização de um Programa de Mestrado no Campus Universitário do Tocantins/Cametá, a partir de seu corpo docente, permitindo que mais filhos e filhas de trabalhadores/trabalhadoras possam se constituir cada vez mais pesquisadores no campo da Educação e Cultura. É essa perspectiva, então, de formação humana que pode explicar, dentre outras possibilidades, o compromisso do Campus Universitário do Tocantins/Cametá - UFPA com a região, buscando-se, por exemplo, novas vagas para docentes e técnico-administrativos, condições para que seus servidores se qualifiquem academicamente cada vez mais, instalações que propiciem a sempre presença e fortalecimento do ensino, da pesquisa e da extensão, de modo que mais filhos e filhas de trabalhadores/trabalhadoras estejam em uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade. De fato, avançamos muito nesses últimos anos, com 04 Núcleos Universitários, aproximadamente 3.000 discentes, um Mestrado, um forte corpo docente, mais de 15 técnico-administrativos, novas instalações e equipamentos, o que também tem imposto à gestão, com suas Faculdades e Programa de Mestrado, bem como aos demais espaços do Campus, novos desafios. E como dizíamos em editorial de Jornal do Campus, no prelo, “O Campus Universitário do Tocantins/Cametá -UFPA e seu compromisso com a região”,

em parceria com o Dr. José Pedro Garcia Oliveira – à época Vice-Coordenador do Campus, “[...] que bom que eles [os desafios] existam, movendo essa Unidade da UFPA para a superação dos mesmos, buscando-se novas conquistas, numa sempre relação cíclica e dialética de avanços-conquistas/desafios/novos avanços-conquistas”, como o que nos impõe a construção de um doutorado, assim como um mestrado interdisciplinar, dentre outros

Avançamos muito nesses últimos anos, com 04 Núcleos Universitários, aproximadamente 3.000 discentes, um Mestrado, um forte corpo docente, mais de 15 técnico-administrativos, novas instalações e equipamentos, o que também tem imposto à gestão, com suas Faculdades e Programa de Mestrado, bem como aos demais espaços do Campus, novos desafios. desafios, sempre com o entendimento de que tudo isso somente é possível em decorrência do apoio dos docentes, técnico-administrativos, prefeituras, movimentos sociais, discentes, partindo-se do princípio, em Tecendo a Manhã (do poeta João Cabral de Melo Neto), de que um Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro: de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. Isto posto, compreendemos, em conjunto com o atual Vice-Coordenador do

Campus, o colega Prof. MSc. José Domingos Fernandes Barra (Doutorando em Educação) e os colegas Professores e Técnico-Administrativos, que o Campus Universitário do Tocantins/Cametá é um projeto de interiorização que tem dado certo, porque resultado de um compromisso coletivo de Universidade na região, que deve continuar sempre em fortalecimento, com a MISSÃO de “Produzir, socializar e transformar o conhecimento na região da Amazônia Tocantina para a formação de cidadãos capazes de promover uma sociedade sustentável, ética, igualitária e justa na área do ensino público”, bem como a VISÃO de “Ser um centro de referência e excelência na produção científica, cultural e tecnológica na região do baixo Tocantins, com vistas à constituição da Universidade Federal da Amazônia Tocantina”, conforme seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDU), aprovado no Campus neste início de 2015. E compreendemos ainda que muito podemos fazer pela região, como já o estamos fazendo, ao lado de Instituições Parceiras no desenvolvimento do Ensino Superior na Microrregião Cametá, como a Universidade do Estado do Pará – Campus Cametá, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnológico – Campus Cametá, a Universidade Aberta do Brasil, bem como ao lado dos movimentos sociais, Prefeituras e Poder Legislativo, Escolas de Ensino Médio, Sociedade Civil, Governo do Estado, Parlamentares Estaduais e Federais, dentre outros segmentos comprometidos com a formação humana, fazendo Cametá se constituir diariamente uma cidade universitária e a região um grande espaço de vivência universitária, com pesquisa, ensino e extensão.

* Universidade e Amazônia: a interiorização do Campus Cametá – UFPA Prof. Doriedson Rodrigues Doutor em Educação Mestre em Letras Coordenador Geral do Campus Universitário do Tocantins/Cametá – UFPA doriedson@ufpa.br

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PZZ CAMETÁ / ECONOMIA

A PRODUÇÃO DO AÇAÍ NA AMAZÔNIA Rosivanderson Baía Corrêa

ROSIVANDERSON BAIA CORRÊA PREPARA SUA TESE DE DOUTORADO SOBRE A PRODUÇÃO DO AÇAÍ NA AMAZÔNIA. OBSERVANDO OS AVANÇOS E RETORCESSOS NA PRODUÇÃO DESSE PRECIOSO PRODUTO COBIÇADO POR EMPRESAS FORA DO PARÁ

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os últimos anos principalmente a partir da década de 1990 temos visto uma crescente onda de interesse a nível nacional e internacional sobre um dos principais produtos da Amazônia: o açaí (euterpe olerácea mart.). Antes havia ocorrido ainda a demanda pelo palmito da mesma palmeira nas décadas de 1970 e 1980 devido ao esgotamento das palmiteiras (euterpe edullis) que fornecia matéria prima para as indústrias de processamento de palmito em expansão. O açaí ao longo dos tempos sempre foi fonte de alimento de comunidades tradicionais, cidades ribeirinhas e não obstante outras cidades da Amazônia. O suco de açaí regionalmente chamado de “vinho” de açaí consumido na gastronomia amazônica associado ao peixe, seja ele assado, frito, muquiado, associado ao camarão, associado ao charque frito, pirarucu, jacaré etc. Consumido com farinha comum (d’água) ou de tapioca, alguns preferem com açúcar, mas esse já sendo um hábito citadino, que diria o

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nosso caboclo a observar alguém colocar açúcar no açaí? Mas o consumo externo a Região Amazônica se deu de forma diferenciada, se no imaginário caboclo sempre ao tomar uma tigela com açaí pensouse numa rede para deitar e curtir uma soneca, fora da Região o produto é

Nos últimos anos principalmente a partir da década de 1990 temos visto uma crescente onda de interesse a nível nacional e internacional sobre um dos principais produtos da Amazônia: o açaí (euterpe olerácea mart.). vendido como sinônimo de energia principalmente para praticantes de atividades esportivas, bem como nas academias. Adicionando-se guaraná, flocos, morango, banana.... Fonte alimento e de subsistência das

comunidades ribeirinhas amazônicas agora torna-se um produto capturado pela economia-mundo, commodity a ser negociado na bolsa de valores. Cria-se uma nova rede imbricada e complexa no território amazônico, surgem novos atores sociais, empresas transfiguradas em associações, criando laços para conseguir fidelizar o produtor a vender o produto para os mesmos. Permanecendo velhas relações como adiantamento em dinheiro para compra da produção, não estaríamos frente a um novo/velho sistema de aviamento?. Permanecem trabalhadores meeiros, diaristas, reforçando a precarização do trabalho daqueles que não tem um pedaço de terra para trabalhar e tem que vender sua força de trabalho. Frente a essa complexidade, em concorrência, surge uma nova variedade de açaí, se é que podemos ousar denominar assim, para concorrer com o açaí ribeirinho, manejado em áreas de várzea, dependente da natureza: das chuvas, do clima, das estações do ano, das enchentes das marés. Surge o açaí de terra-firme assumindo várias denominações, mas com um


Cria-se uma nova rede imbricada e complexa no território amazônico, surgem novos atores sociais, empresas transfiguradas em associações, criando laços para conseguir fidelizar o produtor a vender o produto para os mesmos. Permanecendo velhas relações como adiantamento em dinheiro para compra da produção, não estaríamos frente a um novo/ velho sistema de aviamento?.

propósito: produzir o ano todo a partir da utilização de irrigação, da utilização de insumos para que o mesmo produza o ano todo. São milhares de hectares de açaí já plantados em área de terra firme na Amazônia. Estamos frente a uma nova configuração territorial, o agrohidronegócio passa a produzir açaí e concorrer com o açaí tradicional da Amazônia. Mesmo sabendo que essa produção vendida hoje pelas comunidades ribeirinhas não conseguiu lograr os efeitos desejados no território e a melhoria da qualidade de vida dessas comunidades, simplesmente por que as mesmas não conseguem agregar valor, entregando a produção para que outros atores sociais faça o processamento de seu produto, mas entendemos que o fato da venda dessa produção tem dado contribuição significativa a reprodução sócio-econômica das mesmas.

ROSIVANDERSON BAIA CORRÊA

Possui graduação em GEOGRAFIA (LICENCIATURA E BACHARELADO) pela Universidade Federal do Pará, Mestrado em Geografia pelo Programa de Pósgraduação em Geografia- PPGEO-UFPA (2010).. cursando Doutorado (2013) pela Universidade Estadual Paulista-UNESP Campus de presidente Prudente. Docente da Universidade Federal do Pará- UFPA - CAMPUS DE CAMETÁ. Pesquisa os Temas: Desenvolvimento Regional, Geografia da Amazônia, Usos do Território, Comunidades Tradicionais produtoras de açaí na Amazônia. Pesquisador membro do Grupo de Estudos e pesquisas em Dinâmica Regional e Agropecuária – GEDRA da Universidade Estadual Paulista e do Grupo de Estudos em Organização do Território na Amazônia Tocantina – GEOTAT da UFPA Campus de Cametá.

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PZZ CAMETÁ / ECONOMIA

A PESCA DO MAPARÁ Por Dieh Kleine Sacramento *

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FOTOS: Dieh Kleine Sacramento

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mapará (Hypophthalmus edentatus) é uma espécie de peixe teleósteo, siluriforme, da família dos hipoftalmídeos. Tais animais podem ser encontrados tanto na Amazônia quanto no rio Paraná, possuindo dorsos azulados, ventres esbranquiçados. Também são chamados de cangatá, mandubi, mapará-de-cametá e mapurá. Principalmente em Cametá a prática já virou uma tradição que passa de geração em geração por pescadores, todos situados na região do Baixo Tocantins, considerada uma das mais tradicionais da Amazônia, formada predominantemente por populações ribeirinhas. No evento, os pescadores realizam o tradicional método do “borqueio”, que nada mais é do que uma das técnicas de captura de peixes. O cardume é localizado para fazer um cerco com duas grandes redes e, assim, aprisionar o mapará. O termo “borqueio” seria “bloqueio” na linguagem local. Neste ano o Sr. Jonas de apenas 36 anos é o líder da equipe, trabalha há mais de 20 anos pescando no rio Tocantins e diz que todos os anos o “borqueio” é esperado pelos trabalhadores da região.

PESCADO O trabalho começa na noite anterior, com os pescadores vigiando a local onde será a pesca. Jonas lembra que a vigilância do local é para que intrusos não joguem veneno na água ou soltem fogos de artifício espantando os peixes como já aconteceu em anos anteriores. A pesca começa por volta das 5h da manhã com os pescadores lançando as duas redes fechando o Rio em dois pontos e aos poucos diversos pescadores em canoas vão remando e empurrando uma rede em direção à outra, enquanto isso o “taleiro” vai com sua experiência colocando uma enorme vara dentro da água para ir sentindo a quantidade de peixe que está ficando dentro do cerco, no mesmo momento em que diversos mergulhadores vão até o fundo do Rio em uma profundidade de até 8 metros e pegam nos chumbos da rede e vão levando para frente, até que uma rede passe por baixo da outra formando uma espécie de saco com as duas redes, os mergulhadores chegam a ficar até 4 minutos embaixo d’água, um atividade muito perigosa e desgastante visto a pouco visibilidade da água e até mesmo porque alguém pode se enganchar na rede. E após um longo dia de captura, os peixes são divididos igualmente em grupo, inclusive para as famílias das comunidades locais que não participam da ação, porém são consideradas “dona das áreas”. Cerca da metade do resultado pertence ao “dono” da rede, que por sua vez ainda tira 20% da sua cota e redistribui na comunidade. O restante é distribuído entre os demais moradores. A pesca em grande escala permanece por cerca de um mês e vai reduzindo o ritmo até o mês de junho que é quando encerra a pesca nessa escala e os pescadores param para que possam deixar os peixes se reproduzirem para o próximo ano.

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FOTOS: Dieh Kleine Sacramento

PESCADO

A pesca em grande escala permanece por cerca de um mês e vai reduzindo o ritmo até o mês de junho que é quando encerra a pesca nessa escala e os pescadores param para que possam deixar os peixes se reproduzirem para o próximo ano.

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Principalmente em Cametá a prática já virou uma tradição que passa de geração em geração por pescadores, todos situados na região do Baixo Tocantins, considerada uma das mais tradicionais da Amazônia, formada predominantemente por populações ribeirinhas. 36

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* Dieh Kleine Sacramento, É Assessoria de Comunicação da Prefeitura.DE CAMETÁ


instagram.com/sistemafaepa

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PZZ CAMETÁ /MÚSICA

MESTRE CUPIJÓ Tony Leão da Costa

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Um “mestre” importante no período dos anos 1970, não necessariamente do carimbó, mas do siriá, foi Joaquim Dias de Castro, ou simplesmente mestre Cupijó, como ficou conhecido.

m terceiro “mestre” importante neste período [anos 1970], não necessariamente do carimbó, mas do siriá, foi Joaquim Dias de Castro, ou simplesmente mestre Cupijó, como ficou conhecido. Segundo o que consta, o nome Cupijó surgiu em sua infância no município de Cametá, na região do baixo Tocantins. Como era um garoto doente até certa idade e não podia consumir comidas sólidas, vivia a reclamar para seus pais dizendo que iria fugir para o rio Cupijó, caso não lhe dessem a alimentação que queria. Resultado disso foi que a sua família acabou o apelidando pelo nome do rio que ele dizia que iria fugir. Surgia assim o nome pelo qual ele ficou conhecido desde o início de sua carreira [i]. Cupijó também vinha de uma família ligada à música. Ele era filho de Vicente Serrão de Castro, figura importantíssima da música do município de Cametá. Seu pai nasceu em 1891 e foi remanescente do apogeu daquela cidade tocantina na época do intendente Heitor de Mendonça. Vicente Serrão de Castro foi regente da tradicional Banda de Música Euterpe Cametaense, e mestre-capela e regente do Coro Lira Angélica. Foi autor de vasta obra, em que constavam valsas, serenatas, quadrilhas, dobrados e música sacra [ii]. Graças a isso Cupijó teve contato muito cedo com a música. Seu primeiro instrumento foi o surdo, depois o prato, mas desde muito novo aprendeu segundo a leitura de partitura. Mais tarde aprendeu a tocar banjo, bateria, clarinete e violão.Tocou na Banda Euterpe Cametaense, a mesma que foi dirigida por seu pai. Sua estréia como músico se deu tocando bateria em um conjunto de propriedade de seu pai, o “Ases do Ritmo”, em um baile de fim de ano, em 1960 [iii]. Em 1961 passou a dirigir a Banda Euterpe, já que seu pai havia falecido, e também passou a atuar definitivamente no “Ases do Ritmo” nos aos 70. Além disso, dedicou-se a ensinar música gratuitamente, tendo uma escola de música em sua casa. Também dirigiu por certo período o coral da Matriz da Prelazia de Cametá. Em 1973 lança o siriá em LP pela primeira vez, ao mesmo tempo em que o carimbó estourava no mercado regional. Em 1975 já chegava com o siriá a várias áreas do Brasil. Nesta época, seu

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terceiro disco, “Mestre Cupijó e seu ritmo”, foi gravado pela gravadora Continental. Mesmo no período de maior divulgação do siriá, Cupijó dizia preferir o sossego de sua cidade interiorana. Não gostava muito de ir a Belém e a outras cidades maiores, só o fazia devido às necessidades inerentes à sua carreira. Essa badalação da cidade grande estava ligada também à badalação dos ritmos da moda. Neste sentido ele dizia que preferia o siriá “autêntico”, que ajudou a difundir. Falava ainda que talvez mais adiante começasse a ocorre com o siriá o mesmo que estava ocorrendo com o carimbó. Reclamava que o interesse dos mais “espertos” na busca do lucro estava se sobrepondo ao interesse da “autenticidade”. É importante observar que Cupijó se dizia um artista da música folclórica e não da música popu-

Cupijó também vinha de uma família ligada à música. Ele era filho de Vicente Serrão de Castro, figura importantíssima da música do município de Cametá. Seu pai nasceu em 1891 e foi remanescente do apogeu daquela cidade tocantina na época do intendente Heitor de Mendonça. lar. Arrematava: “hoje o siriá é mais verdadeiro porque é menos sofisticado”[iv]. Cupijó se dizia um divulgador do folclore paraense, uma pessoa ligada por vivência a esse folclore: “Moro no interior, vivo, danço, conheço, bato tambor, toco, pino (...) sei a linguagem do homem do interior, converso com ele e vivo minha vida como um homem do interior”[v]. Daí que tinha forte aversão aos músicos da capital que tendiam a ir ao interior para conhecer as músicas daquela população com os seus gravadores na mão e depois gravavam como se fossem suas. “E não há nenhuma providência sobre esse comportamento. O Folclore deve ser visto como cultura do povo, anônimo”[vi] - concluía a este respeito. É interessante observar que esse tipo de rec-

lamação não foi exclusividade de Cupijó. A ida de músicos da cidade aos pequenos municípios e áreas rurais em busca da coleta do carimbó parecia ser um fato rotineiro neste momento. E isso acabava levando expectativas de ganhos financeiros e reconhecimento por parte dos tradicionais criadores, que após algum tempo não viam o resultado de seu trabalho aparecer. Com o passar dos anos, muitos compositores de carimbó começaram a se recusar a dar entrevistas ou a cantar suas músicas a pessoas que chegavam com gravadores ou câmeras de TV. A desconfiança se dava, pois para os criadores interioranos a presença destes “pesquisadores” poderia significar por um lado o registro acadêmico ou folclórico do carimbó, mas, na maior parte das vezes, significava a simples coleta para gerar gravações de discos onde as músicas apareceriam depois como de “domínio público”. Para o criador que acabava criando expectativas de algum ganho econômico ficava a decepção e desconfiança com qualquer um que viesse da cidade grande em busca de conhecer e registrar o carimbó [vii]. Cupijó ficou conhecido como o principal divulgador do siriá, música aparentemente originária do município de Cametá. Segundo a interpretação de alguns antigos moradores de Cametá entendidos no assunto, o siriá seria na verdade uma espécie de batuque aparentado com o carimbó. Para Mario Martins[viii], que era uma espécie de pesquisador da música cametaense, o nome siriá teria na sua origem o termo cereal, que com o passar do tempo ficou sendo conhecido pela população da cidade como a corruptela siriá. Seria uma criação tipicamente da cidade de Cametá. Para outros, a palavra síria tinha origem no local onde os escravos de Cametá pescavam o siri. Assim como teria ocorrido com palavras como “canaviá”, originária de canavial, e “arrozá”, de arrozal, teria surgido uma palavra, siriá, para referir-se ao local de pesca do siri, num processo de corrupção da palavra junto às comunidades pobres [ix]. Do ponto de vista musical, o siriá tinha proximidade com outras manifestações folclóricas como o marabaixo de Macapá[x] e mesmo o carimbó. Na opinião de Cupijó, a diferença maior entre carimbó e siriá estava relaciona-


Mestre Cupijó da à maneira como se dançavam cada ritmo, já que o siriá veio principalmente do roçado, do mutirão, sendo uma dança para grandes espaços, onde os movimentos de corpo acompanham a letra da música. Esse trabalho corporal de que falava Cupijó era conhecido em Cametá como “caianas”[xi]. Outras diferenças ainda segundo Cupijó seriam derivadas de uma maneira especial de tocar o curimbó - tambor - no siriá. Nele o tocador que está em cima do instrumento faz um movimento de calcanhar, ou mesmo de ponta de pé, sobre o couro, em sua parte inferior, abaixo de onde as suas mãos estão funcionando como baquetas, esfregando-o. Este movimento modifica a afinação do instrumento na hora de tocá-lo. Por fim, no mesmo tambor, que chega a ter até 2 metros de comprimentos, em que um tocador bate no couro com a mão em uma das extremidades, há uma segunda pessoa que batuca na madeira do tambor com pequenas baquetas de madeira rija, acompanhando o som que sai do couro[xii]. Para Cupijó, essas seriam as principais diferenças, mas como vimos acima isso ocorre também no carimbó, como por exemplo naquele feito por Verequete. O certo é que carimbó e siriá surgem e se tornam populares ao mesmo tempo, em um mesmo processo de valorização das músicas populares do interior. Em junho de 1971, no jornal “Cametá”, José de

Assunção elogiava o prefeito da cidade por colocar o Siriá nas festividades oficiais. Dizia que até aquele momento o siriá era uma música que existia apenas na parte profana e não oficial das festividades municipais, sobretudo

Do ponto de vista musical, o siriá tinha proximidade com outras manifestações folclóricas como o marabaixo de Macapá[x] e mesmo o carimbó. Na opinião de Cupijó, a diferença maior entre carimbó e siriá estava relacionada à maneira como se dançavam cada ritmo, já que o siriá veio principalmente do roçado, do mutirão, sendo uma dança para grandes espaços, onde os movimentos de corpo acompanham a letra da música. nas zonas rurais. Não era tocado para a “sociedade” do município, apesar de sua longa existência que remontava ao período colonial, provavelmente de criação negra e indígena.

Falava ainda que já era tocado com os “jazz”[xiii] nos “salões sociais”, mas que mantinha contudo suas características originais[xiv]. No mesmo período em que o carimbó começava a ganhar espaço em Belém, ocorria um processo parecido em Cametá com o siriá. Em Cametá, o carimbó e o siriá no início de sua popularização eram tocados apenas no final das festas. Mas no momento máximo de sua difusão, o grupo de Cupijó chegava a tocar em 10 municípios do estado em um curto período de tempo. Apesar disso, os músicos do grupo nunca deixaram seus empregos, já que mesmo com tantos shows, diziam não ser possível viver de música por volta de 1973 [xv]. Em Belém, o siriá de Cupijó, assim como ocorreu com Pinduca, apareceu e conquistou espaço primeiramente nos clubes de subúrbio, como o Imperial e o Satélite, por exemplo. O Siriá aparece em Belém mais ou menos no mesmo período que o carimbó. No início dos anos 70 já se comentavam sobre esse novo gênero musical que vinha do interior do estado, mais particularmente do município de Cametá. Contudo, a postura de parte da intelectualidade e juventude em Belém será diferenciada em relação a Cupijó. Pinduca era visto por parte destes setores como uma espécie de deturpador do carimbó, por ter colocado em seu conjunto instrumentos modernos,

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PZZ CAMETÁ /PERSONAGENS

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Mestre Cupijó

Marcelo Lelis

como guitarra e baixo elétrico, e bateria. Já a visão sobre Cupijó foi outra, bastante boa desde o início, pelo menos é o que podemos perceber em um artigo escrito por Paes Loureiro no jornal Folha do Norte em 1973 [xvi]. Neste texto, Paes Loureiro reconhece em primeiro lugar a longevidade do siriá que lutou para sobreviver “durante longo anonimato”. Reconhece também o município de Cametá como uma cidade culturalmente muito importante na região, por ser “o manso território onde lutam contra o tempo e a indiferença, as últimas verdadeiras manifestações de nossa tradição popular”[xvii]. Mas o que fica fortemente visível em seu texto é a importância singular atribuída ao “Mestre Cupijó”, que aparece quase como um herói defensor da cultura e do povo da região. Aliás, de fato torna-se um herói no discurso Paes Loureiro já que é comparado a Pedro Teixeira, que realizou a fantástica aventura de navegar o Rio Amazonas em sua totalidade entre os anos de 1637 e 1638 [xviii], e também é relacionado à cabanagem que teve em Cametá um ponto de apoio muito importante [xix]. Assim comenta Paes Loureiro: Mestre Cupijó reeditou Pedro Teixeira, aquele que conheceu o Rio das Amazonas, trazendo até nós, para nosso conhecimento, a alma de sua cidade, que no seu sopro confere vida ao barro primitivo de uma alegria, a que a luta brava da civilização começa a nos desacostumar. Nele (...), entre barrancos de bemóis, corre o lento rioTocantins, piscoso de lendas e mistérios; (...) nele brincam as crianças humildes de Cametá, fazendo cirandas em sustenidos e bequadros; nele se ergue a Cabanagem em punhos, deflagrando tambores e alegorias; nele percorre, na veia das melodias, o sangue legítimo da verdade popular (...). Mestre Cupijó toca pelo amor de tocar. Ainda não aprendeu a vender a sua arte, porque seria mercadejar a sua alma [xx]. E a recíproca parecia ser verdadeira. Em 1976, referindo-se ao contexto musical de Belém, e à questão da difusão da música “folclórica” e popular paraense, Cupijó tece observações elogiosas à nova geração de músicos que surgia, assim como a artistas já de velha história. O relato a seguir é interessante para percebermos que artistas como Cupijó, do interior, aparentemente com pouco contato com o mundo das classes médias urbanas e seu meio cultural, reconheciam o papel desse grupo na construção de uma música popular com feições regionais. O reconhecia como grupo, sobretudo, onde encontrávamos desde o veterano Waldemar Henrique até os novatos. Ele dizia: “Penso que nosso estado é muito feliz. Não apenas no campo folclórico, ao qual eu pertenço, como, também, na música popular. Chego mesmo a pensar que no Pará se pinta uma nova interprete nacional, com Fafá de Belém. E os compositores como Waldemar Henrique, Paulo André Barata e Paes loureiro, Vilar, Proença, foram uma constelação que muito me anima lá pelo meu interior [xxi].


Bibliografia [i] LIMA, Elza. Cupijó: mestre do cancioneiro popular. O Liberal, Belém, 01 ago. 1993. Caderno 3, p. 10. [ii] SALLES, 1985, op. cit. [iii] Mestre Cupijó lança CD para comemorar carreira. O Liberal, Belém, 28 ago. 1999. Caderno Cartaz, p. 6. [iv] COUTO, Jesus. Hoje, siriá ao vivo, em Belém. A Província do Pará, Belém, 10 abr. 1976. 2º Cad., Transa Musical, p. 6. [v] Ibidem. [vi] Idem. No mesmo sentido, outra entrevista de Cupijó in: Mestre Cupijó, o rei do siriá, está elaborando o seu quinto LP. A Província do Pará, Belém, 15 jul. 1977. 1º Cad., p. 7. [vii] Um outro exemplo de indignação sobre esse tipo de atitude pode ser visto no depoimento de D. Zazá, amiga de Mestre Lucindo, um popular criador de carimbó do município de Marapanim que se tornou conhecido em Belém já nos anos 80. D. Zazá chega inclusive a dizer que a partir de certo momento se recusaria a dar entrevistas ou a cantar o carimbó para qualquer pessoa que fosse até ela a não ser que fosse paga por isso. Dizia ainda que durantes anos seguidos eles teriam apenas recebido promessas de gravação e de recebimento de direitos autorais, coisa que nunca acontecia. Cf. Entrevista com D. Pequenina (esposa de mestre Lucindo) e D. Zazá. Museu da Imagem e do Som do Pará. (FV 91/12). Estas entrevistas parecem ter sido feitas nos anos 90, após a morte de Lucindo. [viii] SILVA, Coely. Entrevista à Mario Martins: As verdades históricas do carimbó, que é “curembó”. O Liberal, Belém, 23 jul. 1974. p. 8. [ix] MODESTO, Márcia. A influência negra na dança e no canto paraense. Cultural, Belém, set. 1988. p. 8. [x] Batuque e dança de mestiços e negros do estado do Amapá. Sua área de maior incidência é a cidade de Mazagão Velho e o bairro do Laguinho, onde ficava o antigo quilombo do Curiaú. Cf. SALLES, 2007, op. cit. p. 198. [xi] MARIA, Luíza. Cupijó o mestre do siriá, op. cit. [xii] COUTO, Jesus. Siriá é lançado para todo o Brasil através da Continental. A Província do Pará, Belém, 20 abr. 1975. 2º Cad., Transa musical, p. 5. [xiii] Em muitas cidades do interior, as bandas de baile dos anos 40, 50 e 60 eram conhecidas por jazz ou “jazzes”. Eram na verdade fruto da popularidade de bandas instrumentais, com presença de muitos instrumentos de sopro, que foi comum em todo o Brasil a partir do dos anos 30. Cf. SALLES, 1985, op. cit. [xiv] ASSUNÇÃO, José. Siriá. Cametá, Cametá, 23 jun. 1971. Opinião, p. 5. [xv] MARIA, Luíza. Cupijó o mestre do siriá. O Liberal, Belém, 25 nov. 1973. 3º Caderno, p. 9. [xvi] LOUREIRO, João de Jesus Paes. Mestre Cupijó. Folha do Norte, Belém, 12 abr. 1973. 2º Caderno, p. 1. [xvii] Ibidem, p.1. [xviii] A famosa expedição de Pedro Teixeira fez parte do processo de conquista e ocupação da Amazônia pela coroa portuguesa, num momento em que nações estrangeiras ameaçavam ocupar definitivamente o território português nestas terras, particularmente os franceses que já haviam fundado a cidade de São Luis do Maranhão. No processo de expulsão destes povos e de conquista - nada amistosa como se sabe - dos indígenas ocorreu esta expedição. Entre 1637 e 1638 setenta soldados e mil índios liderados por Pedro Teixeira, partiram de Cametá, navegando pelo rio Amazonas até seu alto curso, penetrando nos rios Napo e Coca. Desta parte em diante os expedicionários foram por terra e alcançaram à cidade de Quito, que na época era a capital do Vice-Reino do Peru. Cf. NETO, José Maia Bezerra. A conquista portuguesa da Amazônia. In: FILHO, Armando Alves; JÚNIOR, José Alves; e NETO, José Maia Bezerra. Pontos de história da Amazônia, v. I. Belém: Paka-Tatu, 2001. [xix] Cabanagem: movimento insurrecional ocorrido no Pará entre 1935 e 1940, que teve forte atuação das camadas populares contra as elites locais. É considerado como um dos maiores movimentos revolucionários populares do período imperial brasileiro. Cf. NETO, José Maia Bezerra. Cabanagem a revolução do Pará. In: FILHO, JÚNIOR e NETO, 2001, op. cit. [xx] LOUREIRO, João de Jesus Paes. Mestre Cupijó, op. cit. [xxi] COUTO, Jesus. Hoje, siriá ao vivo, em Belém. 1976, op. cit, p. 6. * Historiador. Texto publicado originalmente no blog Mim Comigo Mesmo 25.9.12

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PZZ CAMETÁ / MUSEU

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MUSEU HISTÓRICO DE CAMETÁ Prof. Eliel Pompeu Rodrigues

MUSEU HISTÓRICO DE CAMETÁ cidade e em vários cantos do Brasil e exte- Cametá que, em 2008, passou a funcionar em nova sede e a ter como patrono o mesRAIMUNDO PENAFORT DE SENA rior. Apesar de a cidade de Cametá ter sido declarada Patrimônio Histórico Nacional, poucos são os benefícios advindos disso que possam fomentar a atividade econômica do turismo. Não é visível a preservação dos prédios públicos e, particularmente, dos de real valor histórico no município. Alguns documentos históricos estão no Museu de Cametá, embora sem catalogação. Parte do casario antigo da Primeira Rua foi demolido ou assolado pela erosão do rio, que já desgastou muito a orla da cidade. Ainda há a destacar os prédios antigos, como as igrejas de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (na Aldeia), da Matriz, o Grupo Escolar Dom Romualdo de Seixas e a Prefeitura. Esses prédios integram um roteiro turístico chamado de Museu Contextual. O nome do Museu de Cametá é atribuído a Raimundo Penafort de Sena que nasceu em 23 de Janeiro de 1924. Negro e de família humilde, já na infância manifestou elevado dom artístico, esculpindo brinquedos de barro e madeira. Teve como grande mestre o escultor cametaense Antônio Jeremias Rodrigues, com quem iniciou os primeiros passos na arte de esculpir e do qual se tornou o mais proeminente discípulo. Nos anos de 1940 serviu às Forças Armadas e nesse período adquiriu maiores conhecimentos de música e começou a expor seus primeiros trabalhos profissionais. Nos anos de 1950, o historiador, escultor, pintor, músico e educador Penafort, forma os seus primeiros discípulos. A arte ganhava as primeiras marcas do mestre, na

Com um atelier completo esculpiu dezenas de imagens sacras que comercializava, atendendo a encomendas especiais. Entre as várias exposições realizadas, está a que aconteceu na cidade de São Paulo, na

O nome do Museu de Cametá é atribuído a Raimundo Penafort de Sena que nasceu em 23 de Janeiro de 1924. Negro e de família humilde, já na infância manifestou elevado dom artístico, esculpindo brinquedos de barro e madeira. década de 1950. Lá exibiu imagens sacras de fino traço e que receberam inúmeros elogios de especializada platéia com Mestre Penafort representando com louvor a arte cabocla da Amazônia Tocantina. Ensinou marcenaria, pintura, desenho, canto e música em sua escola de “Belas Artes”. Chegou a ser reconhecido como “Aleijadinho Cametaense” por seus trabalhos de entalhe em madeira e esculturas em igrejas da cidade. Foi diretor do Museu Histórico de Cametá durante 46 anos, onde se dedicou à cultura e história de Cametá. Sua atuação à frente do Museu Histórico de Cametá teve a marca do empreendedorismo do seu trabalho. Fomentou e desenvolveu inúmeras pesquisas acerca da história e da cultura genuinamente cametaenses. Tais pesquisas desenvolvidas pelo professor Penafort fazem parte hoje do arquivo documental do Museu Histórico de

tre Penafort passando a se chamar Museu Histórico de Cametá Raimundo Penafort de Sena. O Mestre Penafort, como era chamado com um misto de respeito e carinho pela população de Cametá, faleceu no dia 16 de Setembro de 2002, acometido de uma parada cardíaca aos 78 anos de idade. O Museu Histórico de Cametá foi fundado em 17 de Fevereiro de 1968, durante o governo do então prefeito municipal Manuel Veiga. Era localizado à Avenida Floriano Peixoto, nº. 200, bairro Central. Em de 21 de Junho de 2008 foi transferido para a Rua Benjamin Constant, S/N ao lado da SETTOB. Depois da gestão do Mestre Penafort, o Museu Histórico já contou com diversos coordenadores, cada um - ao seu modo e dentro das materialidades e condicionantes políticos e econômicos de cada gestão municipal – deu sua contribuição para o enriquecimento artístico, histórico e cultural. Em 2017, após convite do Secretário Municipal de Cultura, Turismo e Desportos, Dymitrius Pompeu Braga, assumimos o compromisso de revitalizarmos o Museu e contribuirmos para o cumprimento eficiente de seu papel social junto à comunidade cametaense. Para isso, elaboramos junto à SECULTD local um Plano Plurianual de Ações a serem desenvolvidas para garantirmos a harmonia funcional da instituição, entre os quais citamos: a) Desenvolver curadoria do acervo histórico, objetivando a divulgação e disponibilização destes; b) Valorizar e conservar de diversas

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maneiras o conjunto de elementos que preservam a cultura local; c) Implantar curadoria de forma eficiente e eficaz; d) Implantar sistema de controle de temperatura e umidade; e) Padronizar o acervo do arquivo histórico assim como promover a digitalização do mesmo; f) Promover ações temáticas alusivas aos marcos históricos de Cametá; g) treinamento dos funcionários no que se refere à manipulação e conservação do acervo material e artístico e estratégias de apresentação do acervo aos visitantes, principalmente a crianças; h) Projeto Escola no Museu: semanalmente convidamos uma turma do 4º ou 5º ano do Ensino Fundamental para visitar o Museu acompanhado de seus professores; i) Projeto Museu Online: Site na internet onde qualquer cidadão terá acesso a fotografias e materiais históricos descritivos da cultura local e de particularidades de nosso acervo; j) Integração via internet com instituições de Ensino Superior da rede pública e particular para acesso a arquivos de Trabalhos de Conclusão de Cursos ou outras materiais que abordem a história e a cultura

Mestre Penafort

Prof. Eliel Pompeu Rodrigues

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CÓLERA

O

artista Constantino Pedro Chaves da Motta, que participou do cenário artístico no século XIX, é pouco conhecido e sua produção se perdeu quase que completamente, restando no Pará, apenas para apreciação do público, raras obras como a pintura Cólera Morbus, do acervo do Museu Histórico de Cametá e o retrato de Dom Pedro II localizado no Museu do Estado do Pará. No que se refere a tela Cólera Morbus, objeto dessa pesquisa, trechos chamam atenção pelo conteúdo de informação que nos leva a determinar o período de sua execução. Meira Filho (1985, p. 9) transcreve relatório apresentado a Assembléia provincial pelo presidente Henrique Rohan, datado de 15 de agosto de 1856, onde é feita a encomenda da pintura histórica como uma forma do artista demonstrar os conhecimentos adquiridos durante sua estada na Europa: [...]Às expensas da Província, foi estudar pintura

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histórica em Roma o pensionista Constantino P. Chaves da Motta. Parecendo-me justo que se lhe proporcionasse a ocasião de apresentar um trabalho, por meio do qual se pudesse conhecer seu aproveitamento, encarreguei-o de compor um painel tomando por assunto a heróica dedicação do falecido vice-presidente Ângelo Custódio Correa, vítima de epidemia que o anno passado assolou está província. [...] para que a verdade histórica não fosse prejudicada na mais insignificante circunstância, deliberei que o pensionista fosse a Cametá, a fim de não só tomar a paisagem da Pátria do ilustre finado, como para obter todo e qualquer esclarecimento que julgasse necessário, para a execução do seu projeto. A tela encomendada para servir de prova de ofício, retrata a comitiva do Vice-presidente da Província Ângelo Custódio Corrêa à cidade de Cametá, prestando solidariedade a comunidade assolada pela cólera. Após a conclusão

da obra, Meira Filho (1975, p.13) esclarece que ela ficou guardada no Liceu Paraense (hoje Colégio Estadual Paes de Carvalho), sendo posteriormente entregue ao município de Cametá, não se conhece, até o momento, o período que ocorreu tal transferência. Portanto pode-se dizer que mais de cento e cinquenta anos após a sua feitura, está de volta ao cenário das artes paraense à obra de Constantino Pedro Chaves da Motta que recentemente passou pelas últimas etapas de restauração. O inicio da recuperação desse valioso bem para a história da arte paraense se deu com o estabelecimento de um convênio firmado entre a Secretária de Estado de Cultura e a Prefeitura Municipal de Cametá. Este convênio de cooperação técnica institucional tinha claro como objetivo a restauração da tela Cólera Morbus, pertencente ao acervo do Museu Histórico de Cametá Raimundo Penafort de Senna. A tela é uma pintura a óleo que apresenta atualmente


MORBUS

O artista Constantino Pedro Chaves da Motta, que participou do cenário artístico no século XIX, é pouco conhecido e sua produção se perdeu quase que completamente, restando no Pará, apenas para apreciação do público, raras obras como a pintura Cólera Morbus, do acervo do Museu Histórico de Cametá e o retrato de Dom Pedro II localizado no Museu do Estado do Pará.

CÓLERA MORBUS A tela encomendada para servir de prova de ofício, retrata a comitiva do Vice-presidente da Província Ângelo Custódio Corrêa à cidade de Cametá, prestando solidariedade a comunidade assolada pela cólera. as seguintes dimensões: 157 cm de altura por 335 cm de comprimento. Sua configuração original pelas características encontradas é que poderia apresentar entre 200 a 210 cm de altura, pois observamos que para a construção da tela o tecido (suporte) era constituído em três pedaços de cerca de 60 a 70 cm cada um, cerzido de forma delicada com pequenos pontos de costura. De grande dimensão, a obra apresentava avançado estado de degradação, com comprometimento estrutural tanto da pintura como de sua moldura. O suporte da obra e a camada pictórica possuíam danos resultantes do descaso e do abandono de décadas, com rasgos, vincos, ondulações, ressecamento, perdas de policromia, perdas de suporte e escurecimento da camada de verniz, o que comprometia a visualidade da gama cromática, onde quase não se podia perceber a temática abordada. O trabalho foi realizado levando em consideração todos os critérios restaurativos, seguin-

do os princípios da legibilidade, estabilidade e reversibilidade, garantindo a sua integridade, facilitando e possibilitando que no futuro novos procedimentos restaurativos possam ser utilizados sem o comprometimento da Pintura. A restauração trouxe a luz importante informações sobre a Pintura de Constantino Pedro Chaves da Motta, comprovando, corrigindo e desmitificando alguns dados referentes à sua composição formal e estética e as comprovadas alterações sofridas ao longo dos anos. Restaurada, ela retoma seu status entre as pinturas históricas de maior importância do Estado do Pará, podendo ser novamente apreciada por todos. Iniciado em Outubro de 2009, o trabalho de restauro deste patrimônio cametaense e de nosso Estado foi encerrado no início de 2011 e hoje, 08 de Julho de 2011, o povo cametaense e os visitantes vindos de vários cantos do Estado e do Brasil recuperam o direito e a possibilida-

de de novamente apreciarem no Museu Histórico de Cametá esta belíssima obra de arte. Também o prédio do Museu foi totalmente restaurado e ganhou um moderno sistema de climatização, o que possibilita segurança e condições adequadas de preservação de nosso acervo e maior conforto aos nossos visitantes. É a Prefeitura Municipal de Cametá e o Governo do Estado do Pará trabalhando para que a “Pérola do Tocantins” brilhe cada vez mais. Parabéns Cametá!

Texto: MAUÉS, Renata de Fátima da Costa. O desvelar da obra de Constantino Pedro Chaves da Motta. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 2, abr./jun. 2011.

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PZZ CAMETÁ /ARTES VISUAIS

Carlos Pará

O POETA DO PINCEL Andrelino Cotta é o poeta do pincel, que tem deliciado os amantes da pintura, com magníficos trabalhos, elogiados pela crítica, obtendo prêmios nas exposições oficiais a que se tem apresentado.

N

ascido em Cametá – PA, no ano de 1896, Andrelino Cotta destacou-se pela produção artística realizada após a sua vinda para a cidade de Belém, onde passou a trabalhar na revista A Semana, como caricaturista e, depois dos anos 30 do século XX ganhou espaço pelas exposições dos seus quadros nos salões de arte que ocorriam na capital do Pará. Importante notar que Andrelino Cotta fez parte de uma geração de artistas que militou no modernismo de um modo muito peculiar. Além de seu interesse pela pintura, muito jovem esteve inserido no cenário intelectual paraense como caricaturista na revista A Semana e também como capista de folhetos de cordel publicados pela editora Guajarina, assim como ilustrador do jornal Folha do Norte e da Revista Pará Ilustrado, na década de 1940. Sua formação como pintor foi feita inteiramente no Pará, com José Porfírio de Leão, José Girard e Clotilde Pereira e, já em 1931, começa a dar aula de arte decorativa no Colégio Lauro Sodré, com grande prestígio nos círculos intelectuais da cidade (LIMA, 2011). (O museu como patrimônio, a república como memória: arte e colecionismo em Belém do Pará (1890-1940)Aldrin Moura de Figueiredo).

POETA DO PINCEL

Andrelino Cotta é o poeta do pincel, que deliciou os amantes da pintura, com magníficos trabalhos, elogiados pela crítica, obtendo prêmios nas exposições

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oficiais a que se teve apresentado. Seus quadros expostos à apreciação do público foram inspirados no emaranhado de nossas florestas e na vida pacata do caboclo amazônico, merecendo por isso, a atenção de quantos se interessam pela arte.

EXPOSIÇÃO CASA LOUEREIRO

As atividades de exposição e comercialização, até os anos 1950, não encontravam um lugar apropriado com estrutura para este fim, somente em 1951 é que o primeiro espaço foi inaugurado, a Galeria Loureiro, com um curto período de atividades, quatro anos apenas. Neste período de existência abrigou exposições de “Andrelino Cotta, em 1951; de Leônidas Monte, em 1952; de Baltazar da Câmara, de Tadachi Kaminagai e a coletiva de pintura e escultura de Ruy Meira e João Pinto, em 1954” (MEIRA, 2008, p.112). Em exposição de quadros na Galeria Loureiro que ficava no Centro de Belém na rua Manoel Barata 200, Andrelino Cotta participou da data em que se comemora o Dia do Trabalho onde expôs cerca de cinquenta telas a óleo moldadas em vários motivos regionais. “Vai o artista das cores mostrar a sua tendência para os cenários praianos, folclóricos, aspectos suburbanos poéticos e rústicos, águas tranquilas e sombreadas de matupás, bem característica da nossa Amazônia” menciona nota publicada na Folha do Norte.

Essa galeria foi muito visitada por autoridades e intelectuais durante toda a exposição, bastante frequentada pelos amantes da arte, já tendo sido adquiridas varias telas, uma galeria de quadros de sua autoria imaginados em motivos amazônicos: 1- “Fim de Tarde; Trechos do Ariramba - Mosqueiro; Reflexos do Sol Poente; Tronco à margem; Água Corrente; Floresta Sombria; Trechos da Praia; Marituba; Coqueiros na Praia; Clareira na Floresta; À Margem do Rio Corrente; Nostalgia do Sol Poente; As árvores rebrilham ao Sol; Poesia Verde; Trecho de Praia - Chapéu Virado; Recanto do Chapéu Virado - Mosqueiro.


Noite de São João - Acervo do Museu Histórico do Estado do Pará - MHEP.

NOTAS SOCIAIS PELOS BASTIDORES SOCIAIS

Andrelino Cotta, figura expressiva em nossos meios artísticos pelo seu valor na perícia de manejar o pincel, inaugurou no dia 7 do corrente, no salão da “Casa Loureiro”, mais uma exposição de suas telas de motivos amazônicos. Não foi sem razão, que as dezenas de pessoas amantes da arte de Velasqyez, Rubens, Leonardo da Vince, Van Gogh e tantos outros pintores célebres, comparece do, para admirar o sentimento artístico de Andrelino Cotta, transportando para a tela, pois em nossa apreciação, esse pintor paraense é um verdadeiro poeta do pincel, que canta a poesia do belo através de seus traços em cores harmoniosas em que a batureza é a principal musa....

De quarenta e cinco telas se compõe a exposição de Andrelino Cotta e, muitas delas já foram adquiridas, o que bem representa o sucesso que essa exposição de pinturas está obtendo e o reconhecimento, por parte dos entendidos da arte do valor desse pintor paraense. É assim, Andrelino Cotta vai obtendo os louros que o seu sentimento de artista valoroso merce, como também, vai soerguendo a cultura artística em nosso Estado, onde o artista luta contra vários fatores, fatores esses, que, se o artista não amar com ideal a sua arte, acaba fracassando, Andrelino Cotta, porém, jamais esmoreceu, muito embora enfrentasse e enfrente as vicissitudes de sua nobre arte, acaba fracassando. Andrelino Cotta, porém, jamais esmoreceu, muito embora enfrentasse as vicissitudes de sua nobre

arte, porque cada vez mais capricha e aprimora o seu talento e o seu dote de um eximio pintor. Essses “Bastidores Sociais” , não podia deixar de focalizar a exposição das deslumbrantes telas de Andrelino Cotta e por isso, fomos até o local da referida exposição, onde contemplamos e admiramos a beleza da natureza amazônica, transportada para a tela em cores harmoniosas pelo pincel mágico desse grande pintor, que é Andrelino Cotta. Está portanto de parabéns, o pintor Andrelino Cotta, por mais esse seu sucesso nas artes e que ele continue sendo apóstolo delas, obtendo os êxitos, que o seu grande e reconhecido pendor artístico conquistou e sempre há de conquistar, para a grandeza do mundi artístico do Pará! (Jornal Folha do Norte).

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Casa de Farinha - Acervo do Museu de Arte de BelĂŠm - MABE.

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PZZ CAMETÁ /ARTES VISUAIS

Amassadora de Açaí - Acervo do Museu de Arte de Belém - MABE.

Tacacazeira - Acervo: MABE.

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Barcos a Vela - Acervo do Museu de Arte de Belém MABE.

Litoral do Mosqueiro - Acervo do Museu de Arte de Belém - MABE.

O ARTISTA DAS CORES O pintor cametaense Andrelino Cotta participou de várias exposições e expôs muitas obras em vários motivos regionais. O poeta do pincel ou o artista das cores, atingiu a técnica dos grandes mestres da pintura e mostrou sua tendência para os cenários praianos, folclóricos, aspectos suburbanos poéticos e rústicos, águas tranquilas e sombreadas de matupás, bem características da nossa Amazônia.

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PZZ CAMETÁ /DOCUMENTÁRIO

Viviane Mena Barreto

MAPA PICTOGRÁFICO DA CULTURA RIBEIRINHA

O MAPA PICTOGRÁFICO DA CULTURA RIBEIRINHA AMAZÔNICA PARAENSE DESENVOLVIDO como tese de mestrado PELA PESQUISADORA VIVIANE MENA BARRETO, Tem como objetivo criar um novo conjunto de imagens sobre a Amazônia e através da divulgação nos meios de comunicação inserir estas paisagens no imaginário do do Brasil. uma expedição multicultural, uma grande viagem, pelas comunidades caboclas.

E

sta pesquisa situa-se no universo das Cartografias Pictográficas e tem como carta de itinerário o ciclo de festas populares dos caboclos ribeirinhos da Amazônia Paraense. Tem como objetivo criar um novo conjunto de imagens sobre a Amazônia e através da divulgação nos meios de comunicação inserir estas paisagens no imaginário do resto do Brasil. Esse é o diferencial desta dissertação: são duas vias que confluem no mesmo ponto, saem da artista e pesquisadora e vão seguindo infinitamente enquanto representação plástica construída através de uma grande viagem, pelas comunidades caboclas. O universo conceitual de Jerusa Pires Ferreira inspirou os primeiros tópicos teóricos da dissertação. Utilizamos também a obra de Ana Maria de Morais Beluzzo sobre os Artistas-Viajantes; o universo de Darcy Ribeiro e João de Jesus Paes Loureiro sobre a cultura cabocla e suas poéticas; os livros de Marlyse Meyer para entender as antropofagias da cultura popular e a teoria do mundo invertido de Bakhtin para refletir sobre os mascaramentos na festa popular. Então, amplia-

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mos o universo do festeiro, retirando-o do localismo e redimensionando-o na universalidade a partir dos estudos de Paul Zunthor. Mas não pensamos teoricamente com aparelhos estáticos. Pensamos de modo que a teoria nos propiciasse a deslocação do olhar através da nossa própria obra pictórica, encarada como veículo de comunicação entre estes dois mundos. Nesse campo, discutimos a possibilidade de criação e

A categoria de Artista-Viajante vai ser o norte desta dissertação. Ela tem a ver com a viagem em si, ou seja, com a idéia do rio, que tomamos como epígrafe; tem a ver com a grande viagem pela memória; tem a ver com a idéia da conexão entre o meu trabalho de reflexão e o meu trabalho plástico. difusão de redes imagéticas através de projetos artísticos midiatizados que mostram o imaginário das minorias. E finalmente questionamos a necessidade da divisão de

uma só cultura em erudita e popular. O corpus de análise adotado trata das mudanças dos papeis sociais do festeiro e exemplifica processos de atualizações de uma tradição, através do carnaval de Juaba, região de Cametá e do Boi de Máscaras de São Caetano de Odivelas. As conclusões alcançadas mostram como a comunidade festeira cria um território encantado e como a artistaviajante midiatizando esta voz amplia seu alcance. Nesta edição especial da Revista PZZ vamos destacar o Capítulo II da dissertação denominado Comédias Flutuantes. O texto foi elaborado a partir de pesquisas realizadas na região de Juaba, Cametá/PA entre 2003 e 2005. ARTISTA-VIAJANTE A pesquisa que desenvolvi sob orientação de Jerusa Pires Ferreira no programa de Comunicação e Semiótica situa-se no universo das Cartografias Pictográficas da Amazônia Paraense e tem como carta de itinerário o ciclo das festas populares dos caboclos ribeirinhos. É um trabalho de característica artística, construído sobre um projeto de captação de memória. A categoria de Artista-Viajante vai ser o nor-


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PZZ CAMETÁ /DOCUMENTÁRIO te desta dissertação. Ela tem a ver com a viagem em si, ou seja, com a ideia do rio, que tomamos como epígrafe; tem a ver com a grande viagem pela memória; tem a ver com a ideia da conexão entre o meu trabalho de reflexão e o meu trabalho plástico. Enfim, ela é a chave desta grande viagem que é ver, representar e depois conectar para pensar sobre este percurso. Viajando através do rio Amazonas e seus afluentes falei com os fazedores da festa, seus filhos, amigos e vizinhos. E percebi que estes artistas, além de estarem ligados a festa, desenvolvem uma pluralidade de atividades tradicionais. A mesma senhora que é parteira também mantém a tradição do samba nos roçados de mandioca de Juaba. O dono da festa de Nossa Senhora do Rosário bate tambor para o enredo do boi-bumbá. Estes são alguns dos muitos entrevistados que

Nesse campo, discutimos a possibilidade de criação e difusão de redes imagéticas através de projetos artísticos midiatizados que mostram o imaginário das minorias. colaboraram para a construção desta dissertação. Com eles compartilhei da alegria das festas, brinquei nos cordões carnavalescos, nas comédias da bicharada e nas encenações itinerantes do boi de máscaras. Ao mesmo tempo em que pintava estas festas, descobri os ofícios desses caboclos e me solidarizei com suas dificuldades. Desta forma a festa que vou mapeando nesta viagem, inclui vivências, descobertas, avanços, retrocessos, trocas, dádivas e energias corporais vitais e é isso que chamo cartografia. O Mapa Pictográfico é um trabalho que se desenvolveu criando mil tentáculos, mil idas e vindas e provocou interferências sobre o social das cidades por onde passou nestes últimos quatro anos. Integrando as expedições fluviais da Universidade Federal do Pará pelo interior da Amazônia (IFNOPAP) fui onde os artistas estavam, entrei em suas casas, dormi em suas redes, escutei suas histórias. E foi com esta intimidade que fotografei e pintei o que me pareceu mais importante da festa. Achei que dividir os resultados das pesquisas de campo com eles era a coisa certa a se fazer. Assim voltei às comunidades ribeirinhas nos anos seguintes a pesquisa de campo para devolverlhes através de exposições, suas imagens modificadas por minha linguagem visual. Levei exposições desta cartografia a Abaetetuba, Cametá, São Caetano de Odivelas, ao arquipélago do Marajó e a algumas cidades do rio Xingu. Inicialmente as mostras eram flutuantes e aconteciam no interior do Catamarã Pará, mas outras atividades também aconteceram em salões paroquiais, trapiches e residências.

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PICTOGRAFIAS O universo das Cartografias Pictográficas da Amazônia Paraense tem como carta de itinerário o ciclo das festas populares dos caboclos ribeirinhos. É um trabalho de característica artística, construído sobre um projeto de captação de memória. Acima o Mestre Engole Cobra da Comunidade do Joaba, Cametá (PA).

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PZZ CAMETÁ /DOCUMENTÁRIO

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mCametá, relato o encontro com lavam pela aldeia ou iam de uma aldeia a os mascarados da Bicharada, gru- outra, cantando e fazendo o maior barulho po muito famoso na região, que possível com tamborins, sinetas, cornetas, encena comédias denunciando a ou até mesmo panelas e outros utensílios de ameaça de extinção da fauna da metais.” Segundo relato de Alchimedes Vital Bafloresta e dos rios. Usar fantasias de pelúcia parece uma prática meio surrealistas para tista, o Cordão de Mascarados Última Hora, o clima de verão amazônico. Mas é o que foi criado para brincar em um aniversário. Ele acontece quando eles tentam reproduzir conta que “no dia marcado, umas seis horas fielmente, na aparência e nos movimentos, antes da festa começar, eles se esconderam com as máscaras na floresta rio abaixo, se cerca de 60 animais da floresta. No carnaval em Juaba, vila quilombola do prepararam no mato escondidos e a noite se município de Cametá situada às margens do mascararam para não serem identificados rio Tocantins, quando chega a comunidade pelos convidados. Naquela época, antes da algum grupo de mascarados de barco, vindo festa de aniversário começar, era feito uma das ilhas vizinhas, para encenar comédias reza em ação de graças para o aniversariancarnavalescas, a plateia da terra firme não te e só depois a música começava. Quando se integra à brincadeira. Os atores principais os brincantes chegaram na vila a reza já chegam e saem incógnitos usando másca- havia acabado. Então eles foram remando devagar, em um casra de papel machê, ou de co grande, tocando plástico que reproduzem o samba o rosto de políticos como Em Cametá, relato o encontro ededançando cacete só com as Lula, Bush, Bin Laden etc. com os mascarados da Bicha- máscaras e a roupa do rada, grupo muito famoso na corpo. Então, quando a fornada do Vital e o Bloco de Mascararegião, que encena comédias terminou samba, como eles didos Última Hora zem em Cametá, eles denunciando a ameaça de não se mostraram , fo“Naquele tempo, no extinção da fauna da floresta e ram embora mascaracarnaval, o Cordão de mascarados tinha as palestras dos rios. Usar fantasias de pe- dos, e ninguém soube dele. Não era assim estas lúcia parece uma prática meio quem eram eles.” palavras de hoje. Porque surrealistas para o clima de Na obra Carnaval naquele tempo os carnavalistas ajogavam poesia. verão amazônico. Mas é o que de 1994 Umberto Eco significados e Hoje em dia não, a poesia acontece quando eles tentam explica simbologias ligadas deles é balanceando a família: se o camarada bebe, reproduzir fielmente, na aparên- a esta festa. O autor que “o ritual se fica porre, se a mulher cia e nos movimentos, cerca de explica de travestimento se não trata bem o marido; é 60 animais da floresta. relaciona com muitas isso a poesia deles. Naquesuperstições e rituais le tempo não, eram aquelas lindas poesias que eles falavam, igual ligados com o culto de um só ser andrógino como a Princesa Isabel falou o discurso dela original que logo se dividiu em duas formas pro D.Pedro...” conta Benedita Cardoso Go- separadas...o princípio masculino e feminimes, agricultora e parteira residente na vila no...o yin e yang”. E é o que se observa nas apresentações dos cordões de mascarados de Juaba. Sob o manto da tradição do entrudo do rio Tocantins. Vital descreve a primeira português, os ribeirinhos que já se pintavam formação do cordão ‘Ultima Hora’ como e faziam o carnaval em família muito antes “um grupo composto por dez personagens, de 1946, começaram com essa tradição dos sendo cinco homens vestido de mulheres e cordões. “Chama-se entrudo o antigo Carna- cinco mulheres vestida de homem que saíval português, o termo significa “entrada”, am em um casco grande, com remos de faia. segundo dizem para festejar a entrada da Em 2003 o grupo era formado somente por primavera....As práticas festivas eram gerais homens que ainda saiam travestidos. Para no país; existiam sobretudo em determina- Eco “o travestimento é considerado como das regiões e aldeias... um cortejo seguia um uma instância de neutralização ritual de boneco chamado Entrudo ou João... em um oposições semioticamente significativas, e ou vários festins se comia chouriços, salpi- neste caso a oposição macho/fêmea. ” Mas cões, presuntos...aconteciam troças entre os a androgenia e a bissexualidade não têm nejovens de ambos os sexos ou entre as famí- nhuma relação com a sexualidade proprialias da vila ....arremesso de água ou mesmo mente dita. Para entender este conceito “é de líquidos repugnantes, de farinha, lama, necessário não se limitar a interpretação biocinzas ... grupos de mascarados perambu- logicamente sexual do conceito de opostos

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e pensar na imagem de um super-homem imaginado que unifica pelos opostos” A turma fantasiada não remava, porque eles precisavam ficar bonitos, só dançando e tocando. Por isso, além dos dez atores, iam no barco o piloto e três remeiros: dois deles iam no faia e um ia na parte detrás da embarcação. Assim nasceu o Bloco de ‘Última Hora’, do ‘Tentem’ um entre os muitos grupos existentes ainda hoje nas ilhas em torno de Juaba. Além dele, tem o Rei da Brincadeira do Rio Pacovatuba, o Pirata do Amor do Turema, o Bola Preta do Viseu, o Linguarudo de Santana e os Príncipes Foliões de Mutuaca. Esses cordões trazem junto ao nome a designação da sua ilha ou de um furo de rio - denunciando sua origem. Hoje os blocos não viajam mais de barco a remo, são transportados em barcos a motor. Mas a trupe continua com a mesma hierarquia de palhaços que saem das ilhas


pessoas mascaradas assumem novos papeis sociais. No barco onde viajávamos nove pessoas usando máscaras , chapéus e capacetes pintados, coloridos, alguns enfeitados com penas. Homens vestidos de mulher trajavam saias coloridas bordadas, uma mistura de cores fortes com lantejoulas e rendas. Os outros usam uma espécie de terno de cetim. Todos estão anônimos com máscaras de papel machê amarela, verde, rosa de onde dentes enormes ou bocas exageradas criam um mesclado de medo e bom humor. “A máscara reveste. A máscara despe. O homem perde a sua personalidade social, é o seu escudo protetor, a sua representação diante do social. A máscara veste o indivíduo

As máscaras artesanais do cordão Última Hora misturam-se às de plástico industrial compradas em qualquer mercadinho na época do carnaval e que reproduzem pierrôs e políticos que estão no poder.Mas em Joaba elas são transformadas com bigodes, cavanhaques e outras grafismos feitas a mão o que da o toque da personalidade do brincante.

mascarados com fantasias de cetim encenando comédias carnavalescas sobre acontecimentos da época, e fatos que durante o ano movimentaram a opinião pública de Juaba, Cameta e do Brasil . Entramos no barco a óleo quando já estava quase escurecendo. A banda vai tocando marchinhas de carnaval. A música do sax, trompete e dos tambores cobre o som de popopó do motor a óleo de nossa barca que por vinte minutos avança pelo rio até o sítio de Vital Batista. Por algum tempo a paisagem era só de mata, vento, música e o pôr do sol. Mas logo surgiram algumas casas cercadas de muitas plantas: açaizais, capins, miritizeiros, ucubeiras, turiás, aningais. A floresta domina por um bom tempo o cenário das margens do Tocantins e só então começam a surgir pequenas praias. Crianças empinando pipas aqui, namorados caminhando abraçados mais adiante em outra praia, parece que todos aproveitam o pôr do sol na

orla que se formou na maré vazante. O sitio de Alchimedes Vital Batista só tem uma casa. Alguns patos nadam no rio ao lado das crianças. Três delas, com cerca de nove anos trocaram as brincadeiras no rio pelas delícias de comer mangas ao pé da árvore. Outras sentadas na praia sobre uma canoa usam roupas de cetim colorido. Quando elas veem que a banda chegou não esperam o barco ancorar. Começam a dançar e chamar os brincantes que estavam dentro da casa. Logo mais pessoas fantasiadas aparecem na janela, na porta da casa, na praia. Jacob Klintowitz na obra Máscaras Brasileiras, de 1986, explica que “ o vestuário é o primeiro elemento de comunicação, o primeiro que impressiona o público e produz uma sensação visual de profunda significação. Ele transmite mais segurança aos participantes que o ritmo ou a melodia.” As

de uma personalidade arquétipa, de um padrão ancestral, de uma nova potencialidade”, conclui Jacob. Às máscaras artesanais do cordão Última Hora misturam-se às de plástico industrial compradas em qualquer mercadinho na época do carnaval e que reproduzem personalidades midiatizadas e políticos que estão no poder. Mas em Juaba elas são transformadas com bigodes, cavanhaques e outras grafismos feitas à mão, o que dá um toque da personalidade do brincante. Klintowitz entende que “a máscara significa o espírito, o sopro inatingível, o imaterial, o espírito vital da natureza. A máscara tem a função de concretizar o abstrato e travestir o ser humano da qualidade espiritual. Quando um homem reveste-se da máscara e das roupagens e pinturas rituais, ele abandona sua encarnação cotidiana e mortal para, naquele momento ser e representar o espírito” Mestre Zenóbio, músico e produtor cultural que com seu sax tenor acompanha a maioria dos cordões de mascarados de Joaba sabe bem disso. Ele criou um novo tipo de cordão conhecido como Cordão da bicharada.

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PZZ CAMETÁ /DOCUMENTÁRIO

A BICHARADA DO MESTRE ZENÓBIO E A COMUNIDADE DA FESTA Em 1975 Zenóbio Gonçalves Ferreira começou a se preocupar com tanta coisa que vinha acontecendo na Amazônia: poluição, desmatamento, assoreamento dos rios. Então ele reuniu os amigos e “ tivemos a ideia de criar um grupo de animais que levassem uma mensagem aos nossos governantes para que parassem com a devastação. No primeiro ano criamos 28 bichos de malva e juta, criamos uma domador e fomos fazer comédias. O cavalo, o boi, o leão, o urubu, a girafa, o jacaré contavam um pouco das dificuldades da sobrevivência na selva. “ E os brincantes impressionavam os ribeirinhos que nunca tinham ficado tão próximos dos animais ou escutado o que falavam. Mestre Zenóbio criando a Bicharada fez uma atualização do Cordão de mascarados. Mudou os personagens e o discurso e nestes últimos 30 anos, vem ganhando cada vez mais popularidade. Apresenta-se no carnaval, nas

Vital descreve o cordão Ultima Hora original como “um grupo composto por dez personagens, sendo cinco homens vestido de mulheres e cinco mulheres vestida de homem que saíam em um casco grande, com remos de faia .Hoje em dia o grupo é formado somente por homens que ainda saem travestidos. festas da padroeira nas ruas da vila de Juaba e em Cametá onde lotou o estádio de futebol. Em 2003 eram mais de 64 personagens, feitos de pelúcia que imitam com detalhes a pele, os pés, as caudas, as jubas dos animais da floresta. Nos anos seguintes o cordão da Bicharada chegou a reunir 100 brincantes fantasiados. Nas apresentações da Bicharada os atores imitam os movimentos dos animais. A preguiça move-se lentamente, o jacaré rasteja, o gorila, entre um e outro pulo, para um tempo para se coçar, enquanto um banda composta por um sax, um reco-reco, um banjo, um tambor e um cavaquinho executa marchinhas carnavalescas. Um dia a mídia descobriu mestre Zenóbio e ele apareceu em 2004 no Fantástico. Em 2005 no programa do Faustão. Depois disso, os brincantes começaram a sonham com o dia em que as festas de Juaba ficarão tão famosas quanto o boi de Parintins. A apresentação da bicharada sempre é a

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Mestre Zenóbio e a Bicharada, obra em aquarela sobre seda de 2004. atração principal do fim de semana festivo que encerra as homenagens feitas aos padroeiros São José e Nossa Senhora da Misericórdia. Por dez dias, desde cedo Zenóbio, homem alto, magro e meio calvo começa a trabalhar pela festa. Além da apresentação artística da bicharada e de acompanhar com seu sax as apresentações de vários grupos, ele é responsável pela organização do Festival Cultural Juabense, onde se apresentam cerca de trinta manifestações da cidade e da vizinhança. A comunidade prepara a praça para a festa com bandeirinhas e estandartes coloridos. Enquanto as mulheres organizam as prendas do leilão e enfeitam a igreja com flores de plástico os brincantes da bicharada se revezam: uma hora consertam as fantasias dos animais recolocando o que caiu na última apresentação com cola quente, agulha e linha; outra hora preparam o arraial. Os homens montam o palco e depois da estrutura pronta começam a fazer a decoração dele

com folhas e galhos para simular uma floresta. Hoje a bicharada se apresentará lá, no palco-floresta hipnotizando a criançada que quando pode assedia a bicharada puxando o rabo dos animais, tentando passar mão na pelúcia macia. Longe de lá outros brincantes também se preparam para suas apresentações. O dono do boi Campineiro retira do forro da casa o boi todo enrolado em plástico, tira o pó acumulado por cerca de um ano e começa a arrumar o couro do animal. É o Mestre Zenóbio quem consegue também os materiais necessários para a manutenção das brincadeiras. Passeando pelas ruas de Juaba pode se ver fantasias de quadrilha no varal tomando sol, em outra casa um homem devoto de Nossa Senhora do Rosário ajeita farda que vai usar na sua apresentação. Seu nome é João Procópio de Aragão Tavares, 68 anos, lavrador, ele é coordenador do Bambaê do Rosário. Apesar de ter perdido uma das mãos traba-


MESTRE VITAL Segundo alguns relatos, os antepassados de Vital criaram o Cordão de Mascarados Ultima Hora, para brincar em um aniversário.Ele conta que “no dia marcado, umas seis horas antes da festa começar, eles se esconderam com as máscaras na floresta rio abaixo, se prepararam no mato escondidos e a noite se mascararam pra não serem identificados pelos convidados.

lhando em uma serralheria ele ainda toca tambor para muitos grupos da cidade. “Todos dançantes do Bambaê dançam porque fazem a promessa pro santo. Eu fiz promessa de um ano cantar na festa, são quinze versos um independente do outro em um rito permeado de rezas e da coroação do rei e rainha da festa. Mas o meu irmão que era um representante da festa morreu e eu no mesmo ano peguei a responsabilidade pra mim de colocar o santo.” Explica Seu Procópio como é conhecido na vila. Foi de sua mãe Maria Lopes de Aragão, que era muito católica, que ele herdou sua fé. Além dele ela teve mais cinco filhos, poucos para a média local. Um pouco mais adiante, andando através de uma rua toda gramada em uma casa de madeira, uma mulher de cabelos brancos passa com cuidado suas melhores roupas para usar no dia da festa. Ignorando que as ruas de Juaba são de areia ela separa um sapato preto com salto carrapeta para engraxar. Mais uma vez ela irá sair pelas ruas da vila arrecadando verbas para pra comprar fogos, velas pra colocar no altar do padroeiro. Dulcinéia Garcia Machado,73 é ornamentadora da festa de São José. Ela dá uma cooperação de dez reais para

comprar flores lâmpadas e tudo que for de bom para enfeitar o altar. Além disso, ela cuida da Praça São José Machado Silva que será responsável pelos rojões, que de hora em hora deverão ser disparados em reverencia a santa, no dia de hoje, já que cada rua se responsabiliza por um dia da novena. Dulcinéia prometeu ao santo ser ornamentadora. Como ela muitos devotos no dia da festa estão pagando promessas. Tem devoto que no dia da missa dão farinha pra tudo quanto é criança, outros fazem promessa de varrer ou lavar a igreja. Cada noite tem uma que faz sua promessa de ornamentar o altar. Dulcineia explica: “Por exemplo hoje é minha mordomagem, aí eu vou, faço o melhor que eu puder lá e assim que é essa festa.” Na verdade, em muitas ruas às vezes, moram apenas uma família. Entre sobrinhos, primas e irmãs foi se formando, por exemplo, a rua Correia de Mendonça que será responsável pelos fogos de artifício da festa de São José. Através dessa rua chegase a igreja da vila. Lá, durante toda festa Manoel Tavares Alho, 74 anos, um trabalhador rural de pouca estatura e muita disposição desempenha uma função muito importante na festa: ele é responsável por bater o sino pra São José e pra Nossa Senhora do Rosário durante a novena. Como todos os moradores da comunidade ele também acumula outras funções na festa. Ele vende rifa durante o leilão dos donativos arrecadados e participa da mordomagem: joga fogos para o santo, compra velas, distribui a sopa para a comunidade visitante que vem das ilhas pra rezar por São José. Mas o que Seu Manoel mais gosta mesmo é de bater o sino da igreja coisa que só faz por ocasião da festa de santo ou quando chega algum cadáver. Assim vai se formando a paisagem do Festival Cultural Juabense. No arraial chegam os ambulantes vendendo roupas e brinquedos. Mas, a sensação das crianças este ano foi o vendedor de bolinhas. Um negro carioca da baixada fluminense que com roupa de jogador de basquete americano viaja de festa em festa fazendo uma

performance circense para vender por 50 centavos uma espécie de ioiô. As crianças seguem o homem conhecido por Bolinha até um carrinho de hambúrguer que está estacionada ao lado do tabuleiro da tacacazeira . Ele come um lanche observado pelas crianças que não estão familiarizadas com fast-food e se dirige a uma mesa de jogos de azar, onde um homem ardilosamente manuseia dados sobre um tabuleiro colorido que mistura emblemas de futebol com jogo do bicho. Desde cedo, uma aparelhagem de som toca brega ininterruptamente até o pôrdo-sol, quando todos se rendem ao ritmo e dançam sensualmente na praça. Não muito longe dali, aonde ainda se escuta o som da aparelhagem uma senhora não poderá ir a festa. O nome dela é Benedita Cardoso Gomes. Ela é a parteira da cidade e enquanto todos estavam no “leva- leva” do festival ela corria para fazer mais um parto. “Às vezes passemos a noite tudo, sete horas na assistência. Os médicos se admiram da minha resistência. E tem vez que eu só chego de uma casa e vou pra outra. Tem casa que ainda é bão, que tratam bem a gente, mas tem casa que a gente passa devagar. Tudo isso bole com a gente. Tem casa que anoitece e só de manhã a gente vai ver um gole de água e de café. As pessoas não sabe reconhecer não.” Dona Benedita não recebe quase nada pelos partos que faz. Alguns dão dez reais, outros, dão cinco. Mas o máximo que já recebeu foi quinze reais. Ela conta que trabalha nisso porque fica com pena de não salvar aquela vida, de ficar se culpando porque não foi ajudar a salvar mais um bebê. No mês de julho de 2003 Benedita aparou doze crianças. Ela aprendeu o oficio no seu corpo mesmo, não foi em ninguém. Ela teve seus oito filhos em sua casa, que era distante da vila. Dona Benedita conta : “Eu mesmo preparava tudo, aí quando a parteira chegava, eu já tinha tomado meu café e eu mesmo cortava o cordão umbilical. Ihhhh, o bebe já tava mamando, que tempo, eu já tinha preparado tudinho” Nenhuma de suas filhas seguiu a profissão, mas todas tiveram muitos filhos. Durante a entrevista quando a filha de Dona Benedita entra na sala escuto este relato: “Olha, esta aqui teve nove filhos todos caiu na minha mão. Tem a outra que teve dez, um só não caiu na minha mão nove caiu na minha mão e tudo nove graças a Deus ainda estão. Um que o marido insistiu de tirar fora de mim, minha filha morreu no acesso do parto,” conta ela com tristeza. E concluí: “nós mulheres, nós não somos só de um tipo. Nós temos mulher esguia, nós temos mulher alta, mulher de pente baixa e essas mulher é que fica mais dispendioso atender”

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PZZ CAMETÁ /DOCUMENTÁRIO

Neste festival, mesmo sem partos pra fazer dona Benedita não vai aparecer na festa porque morreu sua neta que ia completar 16 anos e ela não suporta estar no meio das pessoas e ver as amigas da jovem dançando. Porque gostar de dançar, ela gosta. E todas suas filhas aprenderam a dançar samba. Seu sobrinho é profissional pra bater tambor. Assim, nas redondezas Dona Benedita é famosa não apenas por ser parteira – função muito importante de se desempenhar nesta vila distante duas horas de barco da cidade de Cametá, dos hospitais, dos médicos e das farmácias. Ela é famosa por suas rodas de samba de cacete que organiza por ocasião do plantio de seu roçado. No dia em que encontrei Dona Benedita ela vinha andando do interior carregando um paneiro cheio de mandioca nas costas. Ela vinha fazer farinha. Eu estava fazendo um ensaio fotográfico sobre a casa de farinha .Começamos a conversar através de sua filha que parecia um personagem ideal para ilustrar a fi-

Já havia iniciado a série sobre a casa de farinha ao pintar um catitu.Este quadro de 2004 causa um estranhamento. Por um lado aparece toda engenhosidade e a alta esteticidade desta maquina de moer mandioca por outra remete a uma roda de Duchamp refuncionalizada. gura da mulher agricultora. Ela, de pele escura usava um lenço colorido amarrado a cabeça e nas costas fazia de um peneiro uma espécie de mochila. Já havia iniciado a série sobre a casa de farinha ao pintar um catitu. Este quadro de 2004 causa um estranhamento. Por um lado aparece toda engenhosidade e a alta esteticidade desta máquina de moer mandioca por outra remete a uma roda de Duchamp refuncionalizada. Na busca de obter imagens sobre a casa de farinha fotografei todas as etapas da feitura da farinha e por outro lado decidi que na próxima viagem vou acrescentar a este diário de viagens digital imagens da pesca, do catador de caranguejos também. Assim, a cada novo encontro esta Artista-viajante vai mais ao encontro do Brasil ribeirinho, país eminentemente caboclo, uma nação que vive às margens do desenvolvimento, fruto de uma complexa fusão, de uma interação, nem sempre isenta de conflitos, entre o branco e seu patrimônio colonial português e o índio com sua fórmula adaptativa à floresta tropical. Uma nação que vem somando novos repertórios com a cultura do negro, do nordestino, do judeu, do europeu, assim, “onde a igreja tem um peso decisivo, os homens comuns vão elaborando também sua cultura; um modo específico de sentir, de se relacionar, de se exprimir, de narrar de imaginar, de comemorar, de festar.”

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PZZ CAMETÁ /MESTRES

Roberta Brandão

MESTRE ZENÓBIO mestre Zenóbio, idealizador do evento e do Cordão da Bicharada. “A captação de recursos é feita na raça, com a realização de pequenas promoções como bingo, rifas e campanhas de arrecadação de doações e vem sendo realizada entre filhos e amigos de Juaba.

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enóbio Goncalves Ferreira, de 69 anos, pai de 4 filhos, atualmente morador de Belém, é frequentador assíduo de Juaba e um dos fundadores de um dos cordões de mascarados mais famosos da vila quilombola: o “Cordão da Bicharada” .Por isso os moradores de Juaba o chamam de Zenóbio da Bicharada. Além de ser idealizador do Cordão, Zenóbio também é um dos idealizadores do festival de Cultura de Juaba que tem 20 anos de existência. Neste encontro o mestre foi o grande articulador destas conexões ribeirinhas apresentando os festeiros, traçando as rotas desta viagem, agendando barqueiros e festeiros bem, como, articulando por telefone para que fossemos recebidos na vila, tivéssemos acesso a um barco e encontrássemos as pessoas-chave para o desenvolvimento desta pesquisa. Zenóbio entrou em contato com a música e a folia nas águas desde cedo. Herdou do pai, o maestro da big band “Jazz e Orquestra Aliança”, Raimundo Inácio Ferreira o mestre Mimico, o gosto pelas brincadeiras do cordão e a veia musical: toca percussão e saxofone. A fama de Zenóbio ultrapassa a região de Juaba e até mesmo do município de Cametá. Zenóbio e a Bicharada já se apresentaram em programas relevantes no aspecto da audiência como o Programa Fantástico, programa do Faustão e o programa Central do Brasil, realizados pela Rede Globo de televisão. Esse cordão foi idealizado no ano de 1975, mas realizou sua primeira apresentação em Janeiro de 1976. Com 40 anos de existência a Bicharada, que tem em sua ata de fundação nomes como Afonso Aragão, Alex Aragão, Zé Maria, Manuel Rodrigues Tenório, Lucia da Veiga, Juvêncio Aragão além do mestre Zenóbio, trata-se de uma espécie de cordão de mascarados, entretanto, ao invés de comédias protagonizadas

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por palhaços ou arquétipos da sociedade, os animais são os principais personagens. “A ideia desse cordão foi inspirada nos cordões de mascarados, e como todo cordão tinha um tema eu pensei em fazer algo diferente das comedias apresentadas, resolvi que os principais personagens deveriam ser os bichos. Pra falar de desmatamento, poluição e dificuldade pra sobreviver”, relata Zenóbio. O grupo musical que acompanha os

A Bicharada, que já chegou a contar com cerca de 100 fantasias, iniciou as atividades com o nome de “Rancho Animalesco”, mas a própria população tratou de batiza-la com outro nome. E ao ver a embarcação chegando a casa do ribeirinho repleta de gente fantasiada de animais, apontava o dedo pro Rio Tocantins e dizia: La vem a Bicharada.“Nós tratamos de acatar o nome, ne?”, explica Zenóbio. O grupo iniciou apenas com uma fantasia, que na realidade era uma experimentação artesanal.

brincantes fantasiados de bichos que encenam comedias ecológicas utiliza instrumentos como Saxofone, trompete, cavaquinho zabumba e um tarol. Executando marchinhas, a “Bicharada” fala da preservação da Natureza e da dificuldade que os bichos encontram para sobreviver. A inspiração por temas ecológicos, motiva os integrantes fantasiados de animais: preguiça, arara, tatu e outros a encarar o desafio de representar movimento dos animais vestidos com pe-

sadas roupas de pelúcia. “Tem que dar uma treinada com a fantasia, pra gente saber se leva jeito, se o camarada leva jeito praquilo”, pontua o mestre. A Bicharada, que já chegou a contar com cerca de 100 fantasias, iniciou as atividades com o nome de “Rancho Animalesco”, mas a própria população tratou de batiza-la com outro nome. E ao ver a embarcação chegando a casa do ribeirinho repleta de gente fantasiada de animais, apontava o dedo pro Rio Tocantins e dizia: La vem a Bicharada. “Nós tratamos de acatar o nome, ne?”, explica Zenóbio. O grupo iniciou apenas com uma fantasia, que na realidade era uma experimentação artesanal. O primeiro animal a ser representado foi o leão. O macacão da roupa foi costurado pela esposa de um dos fundadores do Cordão, Zé Maria. O corpo do macacão era de serapilheira (composta por restos vegetais como folhas, caules, ramos, frutos, flores e sementes) e a juba reproduzida feita de malva (Uma planta cultivada no Amazonas, que ao ter suas casca batida, transformar-se em fibra) e tingida. Os moldes da feição do animal e outros detalhes e desenhado pelo próprio mestre. “Deu positivo”, conta Zenóbio. A partir da primeira experimentação que deu positivo, o cordão produziu nesses moldes artesanais mais 18 fantasias. Além dos animais ainda existia o personagem do apascentador, uma espécie de pastor palhaço, ele que apresentava os animais para a plateia. “Como estávamos na época do carnaval, não poderíamos fugir do colorido, e também como as animais são nos tons marrom, preto, escolhemos fazer a fantasia do apascentador no tecido de Cetim e bem colorido”, reporta Zenóbio. As letras apresentadas cantadas nas comedias do Bicharada tem três autores. De 75 a 78, as letras são de Mestre Mimico, pai


FOTO: ROBERTA BRANDÃO

Mestre Zenóbio de Zenóbio falecido em 80. Depois as letras começam a ser escritas por Afonso Aragão, que era um brincante famoso do cordão e interpretava o apascentador dos animais, após seu afastamento por motivos de doença, Vital Batista, do grupo Engole Cobra, começa a escrever as comedias. “Como eu já tocava no cordão de mascarados junto com o Vital I e devido nossa amizade, começamos a experimentar e ele escreve letras e comedias até hoje”, afirma mestre Zenóbio. A Bicharada nunca se apresentou todos os anos, na época do carnaval, pois tem no seu regulamento (uma espécie de pacto oral) o compromisso de sair com todos os seus fundadores e organizadores. Na época em que faleceu o pai de Afonso Aragão, por exemplo, ninguém saiu. No ano em que seu Mimico faleceu, também não houve cordão. Entretanto, o fato do cordão não estar saindo atualmente para brincar no carnaval, não é devido ao compromisso que um brincante tem com o outro, o motivo de o cordão não sair mais hoje é por falta de incentivo do poder público.

Com cerca de 100 fantasias, Zenóbio e sua família por não terem condições financeiras para conseguir realizar a manutenção de fantasias ou fabricar novas interromperam as apresentações. A forma artesanal de fazer as indumentárias foi deixada pra trás. Segundo relatos do mestre o comerciante que ofertada Malva faliu, a serrapilheira saiu de circulação, além do fato desta forma artesanal ser muito mais trabalhosa e requerer muito mais tempo. A obra de Zenóbio, de certa forma, está mais disponível na internet que a de Vital. Mas, apesar de para um site de busca o mestre não ser um completo anônimo, não ha músicas com gravações oficiais - de qualidade - para ouvir informações atuais para contextualiza-los. Até os programas “famosos” a que o mestre compareceu não estão disponíveis na rede. Dentro desse cenário de agitação cultural de Juaba que está sendo desenvolvido pela Casa Fora do Eixo e faculdade Estácio FAP, Zenóbio volta a ter expectativas em relação a produção cultural. “Se a Bicharada

Com cerca de 100 fantasias, Zenobio e sua familia nao tem condifoes fmanceiras para conseguir realizar a manutencao de fantasias ou fabricar novas. A forma artesanal de fazer as indumentarias foi deixada pra tras. tornar a existir se deve a essa parceria entre Casa Fora do eixo, Viviane Menna e Estácio FAP. Por que na verdade, eu nem queria lembrar mais desse negócio. Por que foi uma coisa que a gente lutou, representou o estado lá fora e não tivemos nenhum reconhecimento do próprio estado”, conclui o mestre. Mestre Zenóbio vem sendo um articulador importante nesta história de movimentar o cenário cultural de Juaba. E uma liderança para o acontecimento do Festival de Juaba, além de ter sido facilitador para a concepção deste projeto.

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PZZ CAMETÁ /MESTRES

ENGOLE COBRA TEM VERSÃO DA MÚSICA CURUPIRA REMIXADA E LANÇADA MUNDIALMENTE por Viviane Menna Barreto

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MESTRE VITAL Segundo alguns relatos, os antepassados de Vital criaram o Cordão de Mascarados Ultima Hora, para brincar em um aniversário.Ele conta que “no dia marcado, umas seis horas antes da festa começar, eles se esconderam com as máscaras na floresta rio abaixo, se prepararam no mato escondidos e a noite se mascararam pra não serem identificados pelos convidados.

mediaram esta conexão. Desde 2013 o projeto de Extensão Cartografias Amazônicas vem trabalhando para construir elos entre personagens da Amazônia, ainda submersos no isolamento da exclusão digital e formadores de opinião espalhados pelas diversas plataformas disponibilizadas no ciberespaço. Graças a este conjunto de ações, mestre Vital Batista e seu grupo estabeleceram novas conexões

Como traduzir a subversão artística, a história, a luta e a vontade de Vital Batista em conscientizar a humanidade para transformar nosso mundo em um mundo mais justo? Como criar um personagem capaz de fazer com que os corruptos fossem presos independente da orientação política

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esse artigo iremos contar uma história inusitada, que envolve um diálogo entre a tradição e a modernidade. Trata-se da parceria entre o projeto Uana System que utiliza elementos tecnológicos para mesclar as mais diversas referências visuais e sonoras da amazônia e a genialidade do Mestre Vital Batista, cantador popular do rio Tocantins que criou o grupo Engole Cobra. Desde novembro de 2016 a música do Mestre está sendo levada por DJs internacionais para pistas de dança espalhadas pelo mundo, em uma viagem audiovisual tropical onde a tradição de ritmos amazônicos, remixados por meio de sofisticadas intervenções digitais, atualizam e recriam esta versão da música ribeirinha. Uma série de ações de professores e acadêmicos da faculdade Estácio FAP

que retiraram sua produção cultural do localismo redimensionando-a na sociedade globalizada. Hoje em parceria com a Uana System uma versão remixada da música Curupira foi incluida em coletanea internacional e lançada muldialmente. A versão eletrônica de Curupira está disponivel no link https://soundcloud. com/uanasystem/engole-cobra-curupira -uana-system-rmx/recommended onde pode ser escutada gratuitamente. Mas como isso aconteceu? Desde 2013, estudantes de comunicação da Estácio FAP vem desenvolvendo parcerias com mestres da cultura cabocla residentes nas margens do rio Tocantins. Nesses encontros além de aprender a reconhecer a diversidade cultural amazônica os estudantes detectam e atendem demandas de comunicação dos mestres criando narrativas em múltiplas plataformas que colaboram com a difusão da cultura amazônica. No contexto atual

da globalização acelerada este deve ser um dos papeis das instituições de ensino superior, ou seja, por meio da promoção de pesquisa, estudos e diálogos com foco nas populações tradicionais e suas culturas, pode-se possibilitar o trânsito entre os saberes acadêmico e popular de modo a potencializar a estrutura da faculdade e a força produtiva dos estudantes para fazer a diferença na vida de ribeirinhos e mestres de nossa cultura. Em Cametá estas experiências foram muito intensas graças a riqueza cultural da região, ao encontro produtivo com artistas do Carnaval das Águas, em especial com o músico e poeta popular Alquimedes Vital Batista, que além de atuar como brincante e compositor de inúmeras comédias carnavalescas foi fundador do grupo de banguê ecológico Engole Cobra e junto com o Mestre Zenóbio do cordão da Bicharada, compõe um dos grandes repositórios das memórias orais do rio Tocantins. Vital nasceu em 1946 em uma ilha chamada Juba em Cametá nas margens do rio Tocantins, foi criado na ilha do Tentem e hoje mora na praia do Arari próxima a vila quilombola de Juaba. O grupo Engole Cobra tem Vital como cantador, seu filho Pedro Rodrigues Batista Neto, conhecido pelo apelido “Cafu”, é tocador de bumbo e Leocadio José, seu Loló, de 78 anos, toca a onça ou curica no grupo mas também é importante personagem da região pois é responsável pela manutenção da tradição religiosa afro brasileira conhecida como Bambaê do Rosário. Os músicos do Engole Cobra sempre se apresentam fantasiados e com o rosto encoberto por mascaras ou pinturas e Vital explica os motivos disso: “Desde jovem eu já tinha aquela intuição de ser crítico, em cima da realidade, e via que todos os depredadores da natureza e corruptos são como cobras por isso criei o Engole Cobra, que é um bicho imaginário que come os corruptos” As apresentações do Engole misturam visual exótico com ritmos como o banguê, siriá, samba de cacete, xote, forró entre outros ritmos dos folguedos que só em Cametá se manifestam e vem contribuindo para denunciar a corrupção, promover o imaginário amazônico e a consciência ambiental desde os anos de 1990 quando inspirado no movimento dos caras pintados Vital iniciou esse trabalho.

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PZZ CAMETÁ /MESTRES

No carnaval de 2013, após um encontro fotográfico com estudantes e ativistas da Casa Fora do Eixo Amazônia a então estudante de jornalismo Roberta Brandão em parceria com Braulio Habib tiveram como recorte do TCC (trabalho de conclusão de curso) a produção musical do Engole Cobra. Assim os estudantes reuniram músicos de Belém comandados pelo produtor cultural Fabio Ramos para produzir voluntariamente a gravação do CD independente “SOS pra natureza”. Integraram o projeto dez músicos de Belém, entre os quais estão Fabio Ramos no teclado, Charles Santana no baixo, Pepeco, Fred Azevedo, Pedro Villanueva nas guitarras, Neyvicton Trindade no violão, Bruno da Cocota, Denis Lopes, Ale No-

Como traduzir a subversão artística, a história, a luta e a vontade de Vital Batista em conscientizar a humanidade para transformar nosso mundo em um mundo mais justo? Como criar um personagem capaz de fazer com que os corruptos fossem presos independente da orientação política gueira na percurssão e Braulio Habib na bateria. Finalizadas as gravações, aconteceu um concurso dentro da disciplina Comunicação para produzir a capa do CD do mestre. Cerca de 60 alunos fizeram suas criações e apresentaram em evento no Gotazkaen onde o trabalho do aluno Felipe Mendonça foi selecionado. O estudante Hugo Tomkiwitz produziu então o lançamento deste CD com show no Centro Cultural SESC Boulevard em julho de 2014 como parte de seu trabalho de conclusão de curso. O show contou com vários reforços: a projeção visual de do artista visual Luan Rodrigues a partir das imagens fotográficas produzidas em fevereiro do mesmo ano pelas estudantes Lândia Assis, Roberta Brandão, além de Julio Cesar Chagas e os integrantes da Casa Fora do Eixo Amazônia Christian Braga, Luan Rodrigues, Anna Carolina Almeida Batista e Débora Flor. Vital é um contador de histórias capaz

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de entreter uma plateia por horas. Ele fala sobre carnaval, imagínário amazônico, meio ambiente, sobre sua luta contra os depredadores da natureza entre outros casos. Mas com apoio da tecnologia seu trabalho pode ser melhor apresentado no SESC. Sua fala foi reforçada pela apresentação do audiovisual “Sonoridades e Memórias do Rio Tocantins – a história do Mestre Vital Batista - o Engole Cobra”, produzido pelo estudante Paulo Castro e disponivel no link https://www.youtube. com/watch?v=IYR5kgWc_3g e também graças a ilustração do simbolo do Engole Cobra criado pelo aluno Renan d’Oliveira e projetado como animação durante o show (ver matéria sobre a criação da ilustração disponível nesta edição). Apesar da boa repercussão destas ações após a conclusão do evento restou

um sentimento de orfandade com relação ao futuro do mestre, uma vez que sem este apoio o Engole Cobra teria muitas dificuldades para reunir novamente uma banda e produzir seus shows. Daí surgiu a ideia de inserir o Mestre Vital em um novo processo de produção, mais tecnológico capaz de eliminar a necessidade de se ter uma grande estrutura musical que o acompanhasse como ocorreu no SESC. Assim surgiu o projeto de TCC ELETROMESTRE em 2015 que levou os universitários Erlon D’Carmo, Renan Ferreira e Irla Alves a buscar em parceria com os também estudantes Waldo Squash e Will Love da banda Gang do Eletro uma nova roupagem para as canções do Mestre Vital que funcionassem dessa vez como uma base para ser usada em


apresentações futuras de Vital Batista. O grupo criou um protótipo do projeto com a música “Curupira” que ganhou duas versões eletrônicas realçando a melodia e a peculiaridade dos instrumentos regionais utilizados pelo grupo. Posteriormente o DJ e produtor Waldo Squash e e o artista visual Luan Rodrigues integrantes do duo Uana System fizeram uma nova versão da música Curupira e iniciaram apresentações pelos festivais de música eletrônica no Brasil e exterior e finalmente publicaram a versão na plataforma online Soundcloud, utilizada para publicação de áudio por profissionais de música e onde pode-se compartilhar, promover e distribuir a composição. O músico Waldo Squash explica que o processo de recriação da música Curu-

pira foi resultado de muita pesquisa. “Fui misturando uns loops (levadas, de aproximadamente um compasso, que se repetem) que estavam guardados no seu computador, até que chegou no loop da música. Então ouvi muitas vezes a música para entender e sentir o que se encaixava, daí as frases dos sintetizadores, assim como harmonia, foram sincando até eu perceber que não precisava inserir mais nada. Ficou uma música diferente, mas dentro da nossa percepção adequada para o estilo Amazônico,” conclui. Pouco tempo depois o produtor norte americano Stephen Bowen Anderson Jr do Kafundó Records escutou a música no Soundcloud e por email manifestou interesse em licenciar os direitos de distribuição da composição Curupira que seria incluída no quarto volume digital da Ka-

fundó que desde novembro de 2016 está sendo distribuindo pela internet em uma coletânea que música de raiz do norte do Brasil. Na mitologia amazônica Curupira é uma entidade protetora do coração da floresta e parece que este ser encantado resolveu proteger também Vital Batista, nosso herói amazônico de 71 anos, esquecido entre os rios e as florestas, mas que graças a jovens artistas paraenses ressurge envolvido pela sonoridade das batidas eletrônicas e das projeções visuais lisérgicas driblando o descaso do poder público e ganhando novo folego para espalhar a energia dos mitos do Norte à novas gerações e novos públicos.

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FOTO: ROBERTA BRANDÃO

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ENGOLE

COBRA

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estre Vital é músico, luthier (profissional especializado na construção e reparo de instrumentos de corda, como guitarra e violão), casado e pai de nove filhos. Desde o início da década de 1960 se envolveu com a cultura popular participando de várias manifestações locais como brincante, tocador e compositor. Na década de 1990, ele reuniu-se com um quarteto de amigos com objetivo de criar sátiras para criticar a realidade local e a política nacional e apresentar em sua comunidade durante “a tiração de ano” e a festa de Santo Reis, no réveillon. Para incorporarem seus personagens, os músicos pintavam o rosto. Nascia, assim, o grupo Engole Cobra, com a missão de representar a natureza e a sociedade. Vital I é um pensador ribeirinho que vive isolado com a família em uma praia paradisíaca próxima à Juaba, sem luz elétrica e na companhia de uma antiga máquina

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de escrever, de onde extrai seus versos. Os instrumentos usados pelo grupo, como tambor e violão de quatro cordas, foram fabricados pelo próprio mestre. O ritmo executado é o banguê ecológico, a dança dos engenhos que fala de preservação do meio ambiente. Suas performances musicais estão reunidas em CDs e DVD. Apesar do talento, Vital não se vê como músico, mas como um cantador. “Sou um amador da cultura, não sou um profissional, apenas um curioso”, sintetiza. Mais do que isso, ele é um cronista que se aventura em escrever a memória não oficial do interior do Pará. Atualmente, o mestre está reconstruindo a memória das ilhas entrevistando antigos moradores da região e datilografando todas essas informações.

Como traduzir a subversão artística, a história, a luta e a vontade de Vital Batista em conscientizar a humanidade para transformar nosso mundo em um mundo mais justo? Criar um personagem capaz de fazer com que os corruptos fossem presos independente da orientação política


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FOTO: LUAN RODRIGUES

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EULÁRIO TENÓRIO

DO SANTOS

E O CORDÃO ÚLTIMA HORA Por Viviane Menna Barreto

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FOTO: LUAN RODRIGUES

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ulálio Tenório dos Santos, 52 anos, conhecido como Vital 2, trabalha com seu barco comprando e vendendo mercadorias ao longo do rio, mas sua paixão é o cordão Última Hora. Ele é o “herdeiro” cultural de Alchimedes Vital Batista, O Engole Cobra. que na década de 1970, brincava com o cordão de mascarados “Última Hora”, da comunidade do Tentém. O cordão foi fundando em 1934 por Cornélia Raniere e irmão Atilio, moradores da região, e que se inspiraram nas brincadeiras de Zé Pereira (manifestações carnavalescas portuguesas do começo do século XIX). O objetivo inicial dos fundadores era fazer uma festa surpresa para os amigos e, para isso, fabricaram máscaras de papel machê, organizaram uma banda e montaram uma encenação, que incluía personagens como palhaços. Após deixar de se apresentar na década de 1980, o “Última Hora” retomou os trabalhos em 1990, quando o Vital I do Engole Cobra convidou o artesão e

ator Eulário Tenório do Santos para retomar o grupo. De tanto andar na companhia de Vital, o Alchimedes Batista, Eulário é conhecido como Vital II. É ele quem faz as máscaras dos brincantes e todo vestido de preto coordena as apresentações. A casa do Vital como de muitos ribeirinhos é composta por palafitas e pontes, de forma que ele não sofre com as variações do nível da água. Sala, dois quartos e cozinha. No fundo, há a horta suspensa de temperos, o cercado para o porco além e outro para o macaco de cheiro da casa, Chiquinho, que divide seu espaço com dois gatos. Só bem longe da casa no final da ponte há o banheiro. Vital 2 constrói suas máscaras em casa. Antes trabalhava a partir de um molde de barro o qual recobria com jornal utilizando-se da técnica de papel machê. Hoje consegue fazer máscaras mais duráveis reciclando embalagens plásticas de

Vital 2 constrói suas máscaras em casa. Antes trabalhava a partir de um molde de barro o qual recobria com jornal utilizando-se da técnica de papel machê. Hoje consegue fazer máscaras mais duráveis reciclando embalagens plásticas de 5 litros de vinho e isopor. 5 litros de vinho e isopor. Artista das formas e das cores, com ambas técnicas obtêm um lindo resultado que nas apresentações encanta a plateia composta por crianças e adultos que se reúnem nos salões onde ocorrem as apresentações do cordão carnavalesco. Os cordões multicoloridos navegam o dia todo se apresentando para as comunidades ao longo do rio, entoando marchinhas tradicionais. São compostos por dezenas de brincantes mascarados e alguns cabeçudos que dançam em cima

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Vital 2 constrói suas máscaras em casa. Antes trabalhava a partir de um molde de barro o qual recobria com jornal utilizando-se da técnica de papel machê. Hoje consegue fazer máscaras mais duráveis reciclando embalagens plásticas de 5 litros de vinho e isopor. do teto da embarcação, balançando bandeiras e estandartes em um desfile que transforma o rio em passarela. Os brincantes desfilam com roupas, máscaras e perucas muito coloridas. Quando chegam nos trapiches os carnavalescos são anunciados pelo dono do cordão e se apresentam nos salões comunitários que sempre estão lotados. Durante cerca de quarenta minutos, eles ironizam a plateia - é certo que já não tecem as críticas políticas como faziam no passado - mas, vibrantes, fazem piadas e fofocam sobre a vida cotidiana da comunidade, em teatralizações alternadas pelas apresentações da banda composta por metais e tambores. Além deles, a região reúne outros importantes cordões, tais como os Atentados da Folia, o Rei da Brincadeira do rio Pacovatuba, o Pirata do Amor do Turema, o Bola Preta do Viseu, o Linguarudo de Santana e os Príncipes Foliões de Mutuaca. Esses cordões trazem junto ao nome a designação da sua ilha ou de um furo de rio - denunciando sua origem. Hoje os blocos não viajam mais de barco a remo, são transportados em barcos a motor e todos os anos no mês do carnaval se apresentam para os ribeirinhos da região que aguardam ansiosos os enredos das novas apresentações e a animação dos cordões do rio Tocantins.

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FOTO: LUAN RODRIGUES

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PZZ CAMETÁ /DIÁRIO DE VIAGEM

O CARNAVAL

DAS ÁGUAS Por Luan Rodrigues

O FOTÓGRAFO LUAN RODRIGUES EM SEU ROTEIRO DE VIAGEM NAVEGA COM SUAS LENTES PELO RIO TOCANTINS E FUROS A BUSCAR O INSTANTE MÁGICO DO ENCONTRO COM O CARNAVAL DAS ÁGUAS CELEBRADO PELA POPULAÇÃO RIBEIRINHA DE CAMETÁ. MANIFESTAÇÃO CULTURAL POPULAR RICA DE CORES, ANIMAÇÃO E CRIATIVIDADE.

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Hoje os blocos não viajam mais de barco a remo, são transportados em barcos a motor e todos os anos no mês do carnaval se apresentam para os ribeirinhos da região que aguardam ansiosos os enredos das novas apresentações e a animação dos cordões do rio Tocantins.

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Os cordões multicoloridos navegam o dia todo se apresentando para as comunidades ao longo do rio, entoando marchinhas tradicionais. São compostos por dezenas de brincantes mascarados e alguns cabeçudos que dançam em cima do teto da embarcação, balançando bandeiras e estandartes em um desfile que transforma o rio em passarela.

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Os brincantes desfilam com roupas, máscaras e perucas muito coloridas. Quando chegam nos trapiches os carnavalescos são anunciados pelo dono do cordão e se apresentam nos salões comunitários que sempre estão lotados.

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Hoje os blocos não viajam mais de barco a remo, são transportados em barcos a motor. Mas a trupe continua com a mesma hierarquia de palhaços que saem das ilhas mascarados com fantasias de cetim encenando comédias carnavalescas sobre acontecimentos da época, e fatos que durante o ano movimentaram a opinião pública de Joaba e do Brasil .

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PZZ CAMETÁ /CULTURA POPULAR

Viviane Mena Barreto

O BANGUÊ ECOLÓGICO O banguê ecológico da família Tenório dos Santos FOI fundado por pescadores na virada do ano de 1981 para divertir a comunidade ribeirinha que reside isolada entre rios, furos e igarapés que cercam a vila de Juaba no município de Cametá

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oi no fundo de uma bacia com na- trada do ano e da festa de reis. Eles saem em cos de carvão retirados do fogão a uma jornada de quase vinte horas de cantoria lenha que João Tenório escreveu e oferecem em cada casa uma apresentação as primeiras composições do gru- com quatro ou cinco músicas po Remansinho. Era o ano de 1981 Eles chegam nas casas dos amigos de e os pescadores decidiram divertir a comuni- surpresa, pedem licença para entrar e se dade ribeirinha nas festas de Reis e de final de apresentam. No dia de reis cantam músicas ano. Então, eles juntaram baldes, latas, um religiosas, as reisadas. No dia primeiro de jareco-reco e um violão velho e começaram a neiro, para festejar o ano novo, apresentam ensaiar o banguê. músicas engraçadas A casa de João e que falam de aconEra o ano de 1981 e os pescadores tecimentos locais e de seus amigos situadecidiram divertir a comunidade se entre rios, furos e fatos do cotidiano. igarapés que cercam a O bangue é traribeirinha nas festas de Reis e de vila de Juaba no munidição passada de pai final de ano. Então, eles juntaram cípio de Cametá. Nespara filho na região baldes, latas, um reco-reco e um ta região do baixo Tode Cametá. João Tecantins existem várias violão velho e começaram a ensaiar o nório, 52, é o comvilas e povoados origipositor de todas as banguê. nados de mocambos letras e também toca e quilombos. E foi nesse cenário que campo- violão com seus filhos Adnilson, 22, que toca neses negros e seus descendentes criaram há reco-reco, Gersio Andrei, 20, que toca onça e muito tempo os versos do banguê, palavra Jerry Santos, 25, professor de matemática e que significa engenho de açúcar, em dialeto tocador de zabumba. Além da família a banafricano, e que batizou um estilo de dança e da é formada pelos amigos Marcio e Elizeu música que acontecia nesses locais. que tocam tamborim e Edinho que toca sanHoje em dia há poucos grupos de banguê fona de bambu. ativos. O Remansinho renovou esta tradição Enquanto a noite não chega e as redes da entre os moradores do rio Tentem quando família ainda permanecem desatadas na sala o pescador João Tenório dos Santos aos 16 da casa de madeira, o grupo ensaia animado, anos, incentivado por seus amigos Neucival- ao final de mais um dia de pesca. Na região os do Garcia, Joaquim Rodrigues e Alchimedes pescadores usam rede, anzol, espinhel e maVital Batista montou seu grupo e saiu em um tapi. Mas a pesca está cada vez mais difícil. O casco a remo para se apresentar para a co- Tucunaré, a pescada, a acaratinga e o camamunidade. E há 36 anos esse ritual vem se re- rão estão rareando e o que sustenta mesmo o petindo no início de janeiro por conta da en- povo das ilhas do rio Tocantins é o açaí e a fé.

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Mesmo assim esses homens ao final de mais um dia de trabalho se reúnem tocam e cantam para preservar a tradição. Aos 36 anos de existência o grupo já participou de vários shows culturais na vila de Juaba, em Cametá, mas ainda não gravou nenhum cd. Em 2017 foram convidados pelo Projeto de Extensão da Estácio FAP Cartografias Amazônicas para gravar algumas de suas criações inéditas e integrarão a programação musical do TEDx Cesupa. No rio Tentem ao entardecer podemos encontrar os músicos ainda ensaiando sentados sobre o chão de madeira em torno de um caderno universitário onde relembram as letras de mais de uma centena de músicas inéditas. A melodia animada pela percussão narra os acontecimentos da vida ribeirinha, ironiza fatos


FOTO: MILA MALUHY

políticos e com uma crítica bem-humorada zomba das inovações que chegam na região. Escutar atentamente estes cantos possibilita a descoberta de muitos elementos da identidade cultural ribeirinha uma vez que os músicos fazem um mapeamento detalhado do cotidiano e revelam diversas realidades do homem amazônico. Quando fui encontrar o grupo Remansinho aguardei por quase uma hora João Tenório retornar do igarapé onde foi colocar cerca de vinte matapis no rio. Ao pôr do sol, tomando um cafezinho no trapiche de sua casa, pude observar o ir e vir mais intenso dos barcos quebrando a rotina calma do rio Tentem. É assim em todos as tardes quando os pescadores saem de canoa a remo para mais uma vez depositar esperanças nas armadilhas colocadas no rio. Pela manhã, antes do nascer do sol, quando a pesca dá certo João

Quando fui encontrar o grupo Remansinho aguardei por quase uma hora João Tenório retornar do igarapé onde foi colocar cerca de vinte matapis no rio. Ao pôr do sol, tomando um cafezinho no trapiche de sua casa, pude observar o ir e vir mais intenso dos barcos quebrando a rotina calma do rio Tentem.

E hoje em dia acabou Mas o culpado Disso tudo acabar É o povo que não deixa O nosso peixe desovar

Quando natureza e cultura se unem na Amazônia, os esforços do cotidiano viram enredo para rememoração das tradições e graças a inspiração desses artistas ribeirinhos a comunidade ganha novas narrativas e a memória coletiva da população é aliretorna com quase 4 litros de camarão e mentada nesses rituais que garantem uma garante a refeição da família. Nos versos do das únicas diversões para esse povo esquecibanguê “Mariscador” João Tenório preocu- do pelo poder público. pado com a devastação da Amazônia procura educar o pescador e canta: Sinto saudades Dos 30 anos que passou Tinha peixe com abundancia

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PZZ CAMETÁ /CULTURA POPULAR

Carlos Amorim

SAMBA DE CACETE O visitante, turista ou viajante que subir em Cametá nos dias festas; seja Carnaval, São Benedito, São João Batista (o padroeiro) ou até mesmo na data de aniversário da cidade/ município - 24 de dezembro - e até na semana da Pátria, provavelmente, assistirá e dançará o samba-de-cacete.

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É assim que Patrícia de Nazaré Carvasamba de cacete é uma dança afro-brasileira que, lho (Cametá, 2015), neta de uma das dancom data de origem in- çarinas do grupo cultura samba de cacete certa, provavelmente co- de dona Iolanda do Pilão, descreve a dança meça no século XVIII, nos no Trabalho Conclusão de Curso (TCC), de mocambos. E das comunidades negras sua autoria e intitulado “A influência da culfixou-se em Cametá inicialmente na co- tura africana no samba de cacete de dona munidade do Mola, distrito/vila de Ju- Iolanda do Pilão”. TCC que orientei no curso aba. Depois difundindo-se para Tomásia de Letras Língua Portuguesa na UFPA/Cae arredores. Chegou à cidade de Cametá metá. Ao lado da malemolência e da cadência vindo de Vacaria, às proximidades de ritmada, que se assemeAjó, instalando-se e O samba de cacete é uma lha ao movimento das afetando a família marés e maresias dos de dona Iolanda do dança afro-brasileira que, da região, cantamPilão que arregimencom data de origem incerta, rios se as cantigas que fazem tou logo as famílias dos batedores Edu- provavelmente começa no século lembrar ladainhas. Mas o ardinho e Chiquito. XVIII, nos mocambos. E das forte desta manifestação é o tambor que A dança começa em comunidades negras fixou-se cultural recebe o nome de curimpassos suaves e a em Cametá inicialmente na bó. medida que se vai Os instrumentos utienvolvendo no ritmo comunidade do Mola, distrito/ lizados no samba de cada dança, a velocidavila de Juaba. cete são confeccionados de vai aumentando, pelos próprios brincantes os dançarinos se posicionam em rodas e dançam em pares da região, os quais usam dois tambores de que podem ou não ser fixos, podem dan- madeira de preferência o aracapuri que dá çar também sozinhos sempre ocupando som e resiste ao baque, um maior e outro grande parte do salão. Possui uma coreo- menor para poder dar um som diferente. grafia bem simples de aprender e rica em São feitos de troncos ocos de árvores e seus movimentos. O corpo do homem couro de veado, de preferência que o couro fica levemente curvado, sempre dançan- seja do veado vermelho o qual dá maior à do por volta da mulher e seguindo seu música, e apresenta mais resistência a batucada. (CARVALHO, 2015) embalo. (CARVALHO, 2015)

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As saias das damas são sempre floridas – na dança elas costumam também ornar o cabelo com flores - e os dois batedores sentamse no tronco, fazendo a percussão na parte da frente do tambor, onde está o coro de veado; enquanto um terceiro faz percussão, na madeira oca da parte de trás do tambor com os cacetes – que são dois rolinhos de madeira – os grandes responsáveis pela sonoridade deste tipo de samba. A existência desta expressão cultural é encontrada em várias localidades da região do Baixo Tocantins, mas principalmente em Cametá e Umarizal, município de Baião; lá também ligado à tradição africana. Sendo que na cidade Cametá está visceralmente ligado à figura de dona Iolanda Lopes dos Santos – a dona Iolanda do Pilão – que no dia 03 de novembro de 2015 completou 75 anos de idade, festados com galhardia oficial no dia 08 de novembro em uma festa ou brincadeira (como preferem chamar dona Iolanda e seus brincantes, dançadoras e batuqueiros) orga-


nizada pela Secretaria Municipal de Cultura e Universidade Federal do Pará – UFPA/ Cametá. Às cinco da tarde, do dia 08 de novembro de 2015, na rua do Pilão, como ficou conhecida a Rua Ângelo Correa, em Cametá, o samba começou . Os convidados pessoais de dona Iolanda, para o almoço de aniversário, esperaram pela rodada de samba de cacete e os convidados para o show em homenagem aos 75 anos chegavam aos poucos e se misturam; juntos cantavam, cadenciados pelo batuque dos dois tambores e dos cacetetes, dentre muitas cantigas, as seguintes: ROSA ô rosa, ô rosa minha flor quem foi que te apanhou dessa roseira fui eu rosa, fui eu rosa fui eu te ajuntei dessa poeira

Dona Iolanda, no alto de sua sabedoria, queria atrair jovens para a continuidade desta manifestação cultural; principalmente batedores de tambor, pois, hoje, com 83 anos, Eduardinho está cego em decorrência de glaucoma, consequência do diabetes e seu Chiquito, também com 70 anos, sofreu recentemente um AVC.

CADÊ O ANEL menina cadê o anel, olê, olá que tu tiraste do meu dedo olê olá E quem namora tem coragem, olê, olá Venha buscar não tenha medo, olê, olá Na dança do samba de cacete os homens - do batuque - “tiram” (=começam) a cantiga, as mulheres fazem o coro e todo mundo dança essa brincadeira cadenciada, musicada e regada a bebidas alcoólicas. Na tarde/noite cultural que foi em homenagem a dona Iolanda e, portanto, ao Samba de Cacete, não poderiam faltar seu Eduardinho e nem seu Chiquito os velhos batedores do tambor do samba de cacete. Dona Iolanda, no alto de sua sabedoria, queria atrair jovens para a continuidade desta manifestação cultural; principalmente batedores de tambor, pois, hoje, com 83 anos, Eduardinho está cego em decorrência de glaucoma, consequência do

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FOTO: adriana lima

PZZ CAMETÁ /CULTURA POPULAR

“DONA IOLANDA DO PILÃO” Na cidade Cametá, o Samba de Cacete está visceralmente ligado à figura de dona Iolanda Lopes dos Santos – a dona Iolanda do Pilão – que no dia 03 de novembro de 2015 completou 75 anos de idade, festados com galhardia oficial no dia 08 de novembro de 2015

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FOTO: adriana lima

“Taca fogo neste foguete. Vamos acabar com esta girândola. Agora que queremos ver. Quem é o dono deste samba...” diabetes e seu Chiquito, também com 70 anos, sofreu recentemente um AVC. Os três veteranos da brincadeira do samba de cacete se ressentem unissonantes de que os jovens não querem mais dançar o samba de cacete e esta também era uma questão de CARVALHO (2105) para a escritura do TCC. Embora ela, a autora do TCC, como neta de brincante do samba de cacete não participe desta manifestação cultural. Dona Iolanda, mesmo, conta que dos sete filhos que teve só uma (01) dança o samba e um (01) neto, agora, sabe bater o tambor. Achamos por bem perguntar se a escola poderia ajudar aos mestres de cultura na divulgação e preservação da tradição cultural. E eles respondem que sim. Mas cabe ressaltar que na homenagem a dona Iolanda foram os jovens cametaenses que marcaram presença de peso. Eles a homenagearam com MPB, Reggae e Rock. As bandas Metal Hands, Mapará Elétrico e já famosa Resistência Cabana deram show. Também estiveram lá os grupos musicais Los Parente e Atmosfera Jah/Crasse Baixa. Antes disso o escritor cametaense Francisco Mendes, autor de Fragmentos – Poesias (dentre outros) já havia homenageado Dona Iolanda com um cordel chamado “Dona Iolanda do Pilão – Vida: Samba de Cacete a São Raimundo Nonato”. Chicão, como o conhecemos carinhosamente, escreve: “Entre tecnologia e tradição/Sempre alguém a resistir/Comadre Iolanda é uma dessa/ Sempre faz a Cultura florir/Samba de cacete como arma/Espantando a vida do carma/Pra tradição difundir”.

Quando a gente pergunta a dona Iolanda há quanto tempo ela dança o samba de cacete; a resposta é “desde 5 anos”. Começou a aprender, com a mãe, as letras e os passos do samba. Também quando perguntamos sobre essa história de “Pilão” ela explica com a singeleza que a caracteriza que sua mãe havia herdado um santo para o qual fazia a festa. Sempre em agosto e este era São Raimundo Nonato.

Embora, por vezes o Samba de Cacete possa ser confundido com o Siriá e o Carimbó, devido às semelhanças entre eles. Esta manifestação que atravessou os quilombos, os convidados das roças, os vilarejos e chegou á cidade de Cametá é única. Ocorre que alguém vendeu o santo e o saudoso mestre Raimundo Penafort presenteou a mãe de dona Iolanda com uma nova imagem de São Raimundo Nonato, mas quando foram botar a imagem do santo no altar ele era “muito gito, gitinho mesmo” então enfeitaram um pilão (desses de socar tempero) e colocaram o santo em cima para aparecer mais alto. Daí, quando descobriram essa façanha o santo “virou” São Raimundo Nonato do Pilão. Dona Iolanda diz que hoje celebra apenas uma missa a São Raimundo devido à violência e à “bandidagem” que a

desaminaram de continuar realizando a novena e a festa. Animação mesmo ela e seu grupo têm para “brincar” o samba de cacete. “A palavra samba de cacete é oriunda de samba e cacete. Supõe que samba seja originário da palavra africana semba da língua de Luanda que significa umbigada, por outro lado, a palavra cacete é usada pela semelhança de dois cacetinhos utilizados na marcação na parte de trás do tambor” (CARVALHO, 2015). Embora, por vezes o Samba de Cacete possa ser confundido com o Siriá e o Carimbó, devido às semelhanças entre eles. Esta manifestação que atravessou os quilombos, os convidados das roças, os vilarejos e chegou á cidade de Cametá é única. Nas palavras de Carvalho (2015) “O samba de cacete é uma tradição do povo cametaense, que mostra toda a sensualidade e gingado do povo da região Tocantina (...) Os participantes cantavam sua melodia que referiam aos acontecimentos do dia a dia como do trabalho, do amor, de melancolia, etc.”. Então, encerremos este texto com uma letra de samba de cacete, TACA FOGO: Taca fogo neste foguete/Vamos acabar com esta girândola/Agora que queremos ver/Quem é o dono deste samba. SAMBA DE CACETE – DONA IOLANDA DO PILÃO E A FESTA POPULAR por Carlos Alberto Amorim Caldas. Professor de Pscicologia do Campus Universitário do Tocantins/ UFPA - Cametá.

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PZZ CAMETÁ /CULTURA POPULAR

Benedita Celeste de Moraes Pinto *

BAMBAÊ DO ROSÁRIO Na Dança do Bambaê do Rosário, prática cultural de origem africana que acontece na vila de Juaba, no município de Cametá, região do Tocantins, no Pará – norte da Amazônia, rei e rainha são personagens principais. Os rituais de acompanhamento, coroação, saudação e descoroação dos reis do Bambaê giram em torno das homenagens que os componentes dessa prática cultural prestam a Nossa Senhora do Rosário, todos os anos, no mês de outubro.

S

egundo a tradição oral local a Dan- No pós-abolição, a festa de Nossa Senhora do ça do Bambaê é originária do antigo Rosário migrou para a vila de Juaba quando a quilombo do Mola ou Itapocu, no imagem desta Santa foi levada pela líder Maria município de Cametá, constituído em Luiza Piriá ou Pirisá, que também levou junto a meados do século XVIII, por negros Dança do Bambaê do Rosário. Esta líder negra fugitivos ou resistentes também teria “invendo processo escravistas. tado” ou recriado na Desde então, essa prá- Segundo a tradição oral local a Dança povoação de Juaba tica cultural vem sendo festa de predo Bambaê é originária do antigo “uma recriada, reinventada e tos”, como afirmou o quilombo do Mola ou Itapocu, no repassada, há mais de promesseiro Leucádio um século de geração município de Cametá, constituído em José Tavares: “festa de a geração. Na memória era São José, meados do século XVIII, por negros branco dos mais velhos, a lemNossa Senhora de Mifugitivos ou resistentes do processo sericórdia, e festa nosbrança recorrente é de que uma pequena imasa, dos nossos avós, escravistas. gem de Nossa Senhora dos pretos era Nossa do Rosário teria chegaSenhora do Rosário”. do ao Mola dentro da trouxa de roupas de uma Os componentes do Bambaê do Rosário consnegra fugida, fato que foi visto pelos quilombo- tituem-se em um grupo de 46 a 100 pessoas, las como um milagre, pois acreditavam que a podendo variar de um ano para o outro. São “Virgem do Rosário” teria ido para o quilombo homens, mulheres e crianças que se reúnem, com a finalidade de abençoar e proteger seus exclusivamente durante as festividades de filhos. Tal imagem teria sido recepcionada com Nossa Senhora do Rosário, para prestarem horezas e louvores, através dos rituais do Bambaê, menagens àquela que consideram sua “santa que se configurou como a parte religiosa da fes- mãe e protetora”. Os devotos “do Rosário”, na ta, dando início a um compromisso dos devotos sua maioria, de cor negra, moram na zona rural para com a “Mãe Branca”, como chamam “aVir- do distrito de Juaba, são habitantes de alguns gem do Rosário”, enquanto o lado profano era povoados rurais, remanescentes de antigos quicelebrado com muitas comidas, bebidas, dan- lombos, como Laguinho, Porto Alegre, Seringal, ças, Samba de Cacete e cantorias de Bangüê. Bom Fim, Boa Esperança e Porto Seguro, que E, nesses moldes, os festejos em honra a Nossa durante o ano todo se preparam para “passar a Senhora do Rosário se prolongaram por muitos festa do Rosário”. É comum se tirar um pedaço anos na povoação do Mola. da roça de mandioca, cuja produção é exclusi-

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vamente destinada para esse fim, ou então criar “serimbabos” para a venda, cuja é destinada aos gastos da festa. No dia anterior à abertura da festa, os devotos da “Virgem do Rosário” que moram na zona rural se deslocar para a vila de Juaba, quando vasilhas, roupas, serimbabos e crianças pequenas são transportados em carros de boi ou até mesmo em paneiros de pernas, que romeiros e roceiras carregam nas costas. Essas pessoas se alojam na residência de parentes e amigos, para participarem da festa da “padroeira dos negros”, “da mãe dos pobres e desvalidos” ou da “Mãe Branca”, como a chamam com simplicidade, carinho e fervor. São os promesseiros, como se autodenominam, que por ocasião da festa “vêm selar seus compromissos com a Virgem do Rosário”. E assim, durante os dez dias de festividade dessa Santa, eles permanecem na vila de Juaba, dedicando-se exclusivamente aos rituais do Bambaê.


Se apresentar no Bambaê, para seus promesseiros, é um ato de fervor, fé e louvor, estreitamente ligado às suas vivências, marcado pelo comprometimento com a oralidade e a ancestralidade do povo negro. Modos de vida, experiências, toque de tambor, danças, rezas e rituais possuem relação com o território dos seus autores, por isso, transferindo-os para um outro espaço físico, os festeiros não vêem sentido para suas práticas culturais, como afirmou João Procópio, morador da vila de Juaba e antigo “chefe do Bambaê”, “não tem como obrigar ninguém, porque o compromisso deles no Bambaê é na festa do Rosário mesmo. Fora dessa época não tem Bambaê, nem que ofereçam transporte e alimentação de graça”. Uma alvorada do Bambaê, que acontece na madrugada do primeiro dia das festividades de Nossa Senhora do Rosário, demarca o início dos rituais dessa prática cultural. A partir do anoitecer, o Bambaê do Rosário inicia suas atividades com a Ave Maria, se estendendo aos rituais de

voca-se fervorosamente os milagres da Virgem do Rosário”. Alcançando a graça, o promesseiro comporá o grupo do Bambaê, dependendo do tempo estipulado na promessa, que poderá ser de um ano ou até a vida toda. No caso dos reis, Uma alvorada do Bambaê, que acon- estes sempre variam de ano para ano, pois a tece na madrugada do primeiro dia indumentária desses personagens é bastante luxuosa e, portanto, de custos onerosos. São das festividades de Nossa Senhora do postos muito valorizados dentro do grupo, poRosário, demarca o início dos rituais rém não tão acessíveis a qualquer promesseiro. Chefes, reis e alferes são personagens que dedessa prática cultural. A partir do sempenham papéis relevantes nessa prática anoitecer, o Bambaê do Rosário inicia cultural. A importância dos chefes está na lidesuas atividades com a Ave Maria, se rança, na organização do grupo e na sustentados cantos, que são sempre versados em estendendo aos rituais de coroação, ção duas vozes. Maria Luiza Piriá ou Pirisá, na consaudação, acompanhamento e descoro- dição de organizadora e líder, reinou através dos rituais do Bambaê, através dos quais tinha ação do rei e da rainha.. uma firme liderança sobre os demais compopromessa feita a Nossa Senhora do Rosário. nentes, após sua morte, o posto de líder foi semContam que quando uma pessoa está muito pre ocupado por mulheres, até Maria Aragão enferma, com uma doença muito grave, “incoroação, saudação, acompanhamento e descoroação do rei e da rainha. A maioria dos componentes do grupo diz que sai no Bambaê do Rosário por cumprimento de uma

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passar a função para João da Cruz,este para Raimundo Aragão, mais conhecido por Mundico, e, após o falecimento de Raimundo Aragão, assumiu a liderança seu irmão e filho adotivo, João Procópio Aragão, com o falecimento de deste a liderança deste grupo atualmente se encontra sob a reponsabilidade de Leucádio José Tavares, mais conhecido por Loló. Aos reis são delegados lugares especiais e reverências. E são os únicos personagens do grupo a permanecerem durante os atos litúrgicos no altar-mor da igreja. Os reis não se apresentam em qualquer hora, há momento certo para estarem no grupo. A presença do rei e da rainha é acompanhada de honrarias, como o cortejo ou acompanhamento, quando os reis saem às ruas protegidos por sombrinhas, carregadas pelos mestres-salas, e sob a escolta de guardas de honras que seguram o manto real. Outros personagens importantes do Bambaê são os alferes, atualmente representados por dois homens e uma mulher ou ao inverso, aos quais é designada a missão de carregar os estandartes dessa prática cultural e de Nossa Senhora do Rosário, que são três bandeiras: uma do Bambaê, de cor vermelha, e duas da “Virgem do Rosário”, de cor branca. Juntamente com os chefes, os alferes saem na frente do grupo, uma espécie de abre alas do Bambaê. Aliás, um papel que era desempenhado por

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Maria Luiza Piriá, antiga líder fundadora. Nas lembranças dos mais velhos, aparecem outros personagens que no passado se somavam ao grupo, como os senhores e os criados. Nos dias de hoje, esses personagens se diluem nas apresentações do grupo, verificou-se no decorrer da pesquisa que há poucas referências acerca desses personagens. Contudo, eles ainda so-

Segundo antigos promesseiros do Bambaê do Rosário, no passado, após o grupo terminar sua participação na alvorada, no primeiro dia da festa, se dirigiam para a casa do juiz do círio, que ofertava para os membros do grupo e demais pessoas, café, chocolate, bebidas, como: pinga, vinho, gemada, desembirra ou gengibirra e muita comida. brevivem na memória de alguns entrevistados. Todos os componentes do Bambaê, com exceção dos alferes, que carregam os estandartes, tocam instrumentos que acompanham as folias. Os chefes tocam caixas ou tambores,

que são em média de dois (entre caixa maior e menor), uma onça ou cuíca e um tamborim. Os demais componentes do grupo se alternam, sacudindo maracás ou chocalhos feitos por eles mesmos de pedaços de latas ou tampas de garrafas e raspando o rec-rec ou reco-reco (feito de bambu), que são friccionados com pregos ou arames. Segundo antigos promesseiros do Bambaê do Rosário, no passado, após o grupo terminar sua participação na alvorada, no primeiro dia da festa, se dirigiam para a casa do juiz do círio, que ofertava para os membros do grupo e demais pessoas, café, chocolate, bebidas, como: pinga, vinho, gemada, desembirra ou gengibirra e muita comida. Todos festejavam entre si dançando embalados pelas batucadas do Samba de Cacete e pelas cantorias do Bangüê. Diferente de tempos passados, quando a parte profana da festa era produzida pelos e para os brincantes do Bambaê do Rosário, atualmente cada membro do Bambaê arca com a sua própria alimentação, pois não acontecem mais os encontros festivos. Após os rituais do Bambaê, cada membro do grupo vai para casa trocar de roupa e, quando quer dançar, beber e divertir-se, vem para o barracão comunitário de São José, onde acontece a parte profana das festividades do Rosário. Mas isso, como disse o promesseiro Celino Furtado, mais conhecido


por Dilo, “tem que pagar a bebida que consumir. Se a pessoa não tiver dinheiro não entra no barracão, só fica olhando do lado de fora os outros se divertirem”. Tem razão Giddens ao afirmar, que o ritual conecta firmemente a reconstrução contínua do passado com a ação prática, e a forma como o faz é patente. O ritual traz a tradição para a prática, mas é importante observar que ele também tende a ficar separado, de uma maneira mais ou menos clara, das tarefas pragmáticas da atividade cotidiana. (GIDDENS, Antony,1997). Contudo, a festa, na opinião de Del Priore, ajuda as populações a superar o trabalho, o perigo e a exploração, mas reafirma, igualmente, laços de solidariedade ou permite aos indivíduos marcar suas especificidades e diferenças. Na roda da festa, como na roda da vida, tudo volta inelutavelmente ao mesmo lugar, os jovens aprendendo com os velhos a perpetuar uma cultura legada pelos antepassados. Espaço de múltiplas trocas de olhares, de tantas leituras e de tantas funções políticas e religiosas, a festa e o seu calendário transformam-se, no período colonial, nas frentes simbólicas entre o mundo profano e o mundo sagrado (DEL PRIORE, Mary, 1994). Na simbologia da coroação do rei e da rainha de folguedos de origem africanos, como a Dança do Bambaê do Rosário, na vila de Juaba,

Município de Cametá, no Pará, surgem indícios da existência de alguns tipos de impérios em grupos africanos e, conseqüentemente, esses impérios eram reedificados nos mocambos ou quilombos, como ocorreu no antigo quilombo do Mola, ou até mesmo, de forma clandestina, no interior das senzalas e livremente nas irmandades de homens de cor, em confrarias como, de Nossa senhora da Boa Morte, Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Nas irmandades ou confrarias os negros recriavam, reinventavam e repassavam diferentes formas culturais dos seus ancestrais, muitas das quais foram se perpetuando ao longo do tempo. As evidências de organizações de origem negras, no município de Cametá, se fundem. Coroação de reis, cortejos, cantos e danças diante de imagem de santos, como acontece com os rituais do Bambaê do Rosário e do Marierrê, que também coroa rei e rainha, por ocasião da festividade de São Benedito e Santíssima Trindade, no mês de dezembro na vila de Carapajó, em Cametá. A maioria das irmandades, principalmente aquelas que agrupavam homens livres, forros, escravos, ex-escravos e mulatos, surgiram ligadas a festas, músicas, danças, cantos e às mais variadas formas de folguedos de origem negra, uma vez que as irmandades ou confrarias acabavam se constituindo em lugares nos

quais os negros puderam expressar-se livremente, fato este que acabou dando, desde o período colonial, uma forma própria à cultura brasileira e, também, de toda a região tocantina, pois seus exemplos característicos estão representados em manifestações culturais como batuques, sambas de rodas, Bambaê de Caixa (no Maranhão), Samba de Cacete, Marierrê, Bambaê do Rosário, Bangüê, entre outras mais. Os sons tristes dos tambores e dos atabaques, que incomodavam o silêncio e o sono na casa grande, representavam para os negros a preservação cultural de um povo que conseguiu, apesar das vicissitudes da vida, deixar na cultura brasileira, símbolos de lutas, resistências, muitos costumes e tradições, como acontece na Vila de Juaba, no município de Cametá. * Benedita Celeste de Moraes Pinto - Doutora em História Social, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Pará e Coordenadora do Centro de Pesquisa do Campus Universitário do Tocantins - UFPA/Cametá. É líder dos grupos de Pesquisas Quilombolas e Mocambeira: história da resistência negra na Amazônia (GPQUIMOHRENA) e História, Educação e Linguagem na Região Amazônica (GPHLRA).

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PZZ CAMETÁ /TURISMO COMUNITÁRIO

Viviane Barreto

TURISMO COMUNITÁRIO Já é possível conhecer o Carnaval das Águas nas ilhas de Cametá hospedado na casa de ribeirinhos. A festa que acontece entre os meses de janeiro, fevereiro e março transforma o rio em passarela quando ao ritmo das bandinhas de fanfarra brincantes dos cordões de mascarados embarcados dançam e encenam comédias em uma espécie de teatro popular que lembra as encenações medievais.

Além de acompanhar essa festa, os ra da região da ilha Grande de Juaba que visitantes podem vivenciar práticas tra- em contato com a professora Viviane dicionais do viver caboclo baseadas na Menna Barreto da Estácio FAP, durante relação constante entre o homem e na- atividades do Projeto Cartografias Amatureza. Hospedados em casas simples, zônicas, manifestou interesse em invesconstruídas sobre palafitas, dormem tir seus conhecimentos acadêmicos na em redes e se banham nas aguas do rio região e assim poder colaborar com a Tocantins sentado nas escadinhas dos valorização cultural e desenvolvimento econômico destrapiches. Está é sem sas comunidadúvida uma opção poética de turismo. Mas o melhor é conviver com des. Nos dias 21 a Mas o melhor é as pessoas e com a harmonia 24 de abril na ilha conviver com as pescomum das famílias ribeirinhas Grande foi dado soas e com a harmonia comum às famí- que se dividem nas tarefas diárias, o primeiro passo intuito de lias ribeirinhas que se que incluem a pesca artesanal, com promover uma dividem nas tarefas a fabricação de armadilhas cultura turística diárias, que incluem a pesca artesanal, a fapara pegar camarão, a extração nas localidades das ilhas que bricação de armadilhas e manufatura do açaí, base da fazem parte do para pegar camarão, a extração e manufatualimentação cabocla, ou ainda a projeto de turisra do açaí, base da ali- coleta de frutos e sementes como mo de base comunitária e busmentação cabocla, ou cacau usado na fabricação de cou-se promover ainda a coleta de frutos e sementes como chocolates e da andirobá, ocuúba e o envolvimento moradores cacau usado na fabrio murumurum que são geralmente dos locais na gestão cação de chocolates e usados para a fabricação de do projeto. Váda andirobá, ocuúba rios representane o murumurum que cosméticos. tes da comunidasão geralmente usados de e expoentes para a fabricação de da cultura local como Alchimedes Vital cosméticos. O projeto Portas do Rio ainda está Batista do Arari, Reginaldo do Carmo em experiência, foi planejado em 2016 Siqueira Moraes do Rio Mutuacá de Baipela graduanda em turismo UFPA, xo e Eulálio Tenório dos Santos do rio Franciele Rodrigues Carneiro, morado- Tentem participaram do planejamento,

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organização e construção do roteiro com base nos saberes, práticas cotidianas e nas manifestações culturais próprias da região. A ideia foi buscar um turista diferenciado, ligado a comunicação, arte e ecologia e traze-lo para conhecer a cultura local para de alguma forma fazer turismo colaborando com a comunidade no sentido de produzir recursos, novas narrativas, difundir a cultura e possibilitar a mobilização de uma rede de novas parcerias na comunidade e fora dela. E em fevereiro de 2017 aconteceu a primeira experiencia sob gestão da família Tenório dos Santos que recebeu em sua casa no rio Tentem, durante o carnaval, um grupo de quatro turistas de São Paulo. Nesta conexão realizaram esta vivência cabocla a fotografa Mila Maluhy, a galerista Edes Francesca Dalle Molle, o arquiteto e artista visual Lazaro Jr Tribst e o estudante de arquitetura Rodrigo Tribst que por alguns dias trocaram a cidade pelo cotidiano dos


FOTO: MILA MALUHY

festeiros e descobriram um pouco dos saberes e sabores ribeirinhos. Edes Francesca ficou impressionada com a acolhida da família, acostumada com curadoria de exposições, percebeu as paredes da casa do mestre como uma instalação. O cuidado estético na exposição e montagem dos objetos, utilitários e de decoração, dispostos em quase a totalidade das paredes da sala e da cozinha predominantemente verde, são índices de pura arte, comentou ela. O artista visual Lazaro Tribst e seu filho Rodrigo aproveitaram para realizar vários desenhos impressionados pela visualidade amazônica dos rios, furos e igarapés. Além do carnaval o grupo assistiu a uma apresentação do grupo Remansinho de banguê, aprendeu as técnicas de confeccionar mascaras utilizadas pelo cordão Última Hora e ganhou de presente amostras da farinha cametaense e muitas imagens do carnaval das aguas. A fotografa Mila pode acompanhar de

perto as apresentações do carnaval das crianças e construiu seu ensaio fotográfico com muitos closes feitos a bordo do barco dos mascarados e fotos panorâmicas realizadas a bordo de um barco especialmente reservado apenas para sua cobertura fotográfica. Não bastasse tudo isso os visitantes puderam acompanhar os pescadores na abertura da temporada da pesca que coincidentemente aconteceu esse ano na quarta-feira de cinzas. Foram experiencias significativas, onde tanto os turistas quanto os visitantes puderam ter momentos de aprendizado e troca de saberes. Ao final da estadia a família ribeirinha, com uma modéstia típica dos caboclos, pediu desculpas por qualquer coisa, mas já era tarde. Todos estavam apaixonados pelo Pará, que apesar de todo abandono, é um estado extraordinário, com uma população calorosa e uma natureza exuberante.

Edes Francesca ficou impressionada com a acolhida da família, acostumada com a curadoria de exposições percebeu as paredes da casa do mestre como uma instalação. O cuidado estético na exposição e montagem dos objetos, utilitários e de decoração, dispostos em quase a totalidade das paredes da sala e da cozinha predominantemente verde, são índices de pura arte, comentou ela.

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PZZ CAMETÁ /TURISMO COMUNITÁRIO

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FOTO: MILA MALUHY

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PZZ CAMETÁ /CINEMA

Vicente Caldas

CINEMA CAMETAENSE Cametá é conhecida por sua importância histórica e politica na Região do Baixo Tocantins, seu carnaval homérico e sua imensa e efervescente diversidade cultural, única em todo o estado e digna de um Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) só seu. E gora, também, quer ser conhecida pela sua produção cinematográfica local. Cametá já possuiu duas modestas salas são e Dalila; Roma em Chamas; Simbar e comerciais de cinema, sendo elas o Cine o Gladiador entre outros. Funcionava nas Príncipe, que funcionou na Rua Frei Cris- quartas e sábados, dias em que os filmes tóvão de Lisboa, em frente a Praça Rai- chegavam de Belém, alugados da firma mundo Peres “Praça do Titio”, no prédio Manoel Teodoro de Miranda, vindos nos alugado do já extinto Circulo Operário aviões da linha Marabá Táxi Aéreo, de Cametaense. De propriedade do senhor propriedade do Sr. Maurillo Ataíde, que Feliciano Valente tinham como aviadode Mendonça, e res os Srs. Calixto e sob a gerencia do Cametá já possuiu duas modestas “Murilinho”. Também Sr. Renaldo Braga salas comerciais de cinema, sendo vinham nos navios “Marikaia”, o Cine elas o Cine Príncipe, que funcionou de linha Cametá-BePríncipe teve o seu Monte na Rua Frei Cristóvão de Lisboa, lém-Cametá: único projetor, um Horebe e Lusti, mas IEC 16mm, finan- em frente a Praça Raimundo Peres só quando não havia ciado pelo cunhado “Praça do Titio”, no prédio alugado táxi Aéreo para Cado Sr. Feliciano Vametá. No auditório do já extinto Circulo Operário lente, o Sr. Corinto do Cine Príncipe ocorCametaense. De propriedade Ranieri. E em conriam shows diversos, do senhor Feliciano Valente de traponto ao Cine entre eles, os de artisPríncipe, o Cine Ca- Mendonça, e sob a gerencia do Sr. tas famosos daquela metá, de proprieépoca, tais como o Renaldo Braga “Marikaia” dade do senhor Alda Carioca Adriana bertino Barros, que (Adriana Rosa dos funcionou no prédio onde é hoje a loja Santos), Fredson (Fredson Cerqueira), Maçônica de Cametá, na Avenida Felicia- Aurélio Santos e Ademar Silva. No peno Coelho com a Rua 13 de maio. ríodo das férias, além das exibições de Mas a principal sala de cinema de Cametá filmes, ocorriam gincanas e um concurso era o Cine Príncipe, fundado à 15 de Fe- de cantores entre os Grupos Ferro quenvereiro de 1966 tendo suas atividades en- te e Santa Fé, organizados pelos funciocerradas em Outubro de 1979, na ocasião nários do Cine Príncipe, entre eles: Luiz em que o Sr. Feliciano Valente de Men- Perez, Renaldo Braga “Marikaia”, João donça muda-se para Belém com a famí- Miguel Trindade, Luiz Pompeu, Ademir lia. Exibiu, durante seus 13 anos de exis- Ranieri, Odoneias Portilho “Cabidela”, tência, filmes como: Dijango volta para Antônio Cunha, Nonato Santos e Merci matar; Ringo e o Justiceiro; Tarzan; San- Gonçalves. No prédio do Cine Príncipe,

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CINE PRÍNCIPE O Cine Príncipe funcionou na Rua Frei Cristóvão de Lisboa, em frente a Praça Raimundo Peres “Praça do Titio”, no prédio alugado do já extinto Circulo Operário Cametaense. De propriedade do senhor Feliciano Valente de Mendonça também funcionava um Estúdio de propaganda, o estúdio “Remy Barros” e uma loja de venda de discos e fitas k7, muito frequentada pela juventude daquela época. Nos seus últimos anos de funcionamento, o Cine Príncipe resumiu sua atividade cinematográfica a filmes religiosos, exibidos durante o período da semana santa.

A RETOMADA Atualmente, a cidade não conta mais com nenhuma sala publica ou privada dedicada a exibição comercial de filmes blockbusters, nacionais ou documentários, possuindo só um Cine Clube, sendo este um projeto de extensão do Campus UFPA Cametá, o “Cine Clube UFPA”. Mas a história do cinema em Cametá vai muito além do que já teve, e recomeça nos anos 2000 com o coletivo cultural “Contra Maré” que organizava o “Cinema Popular”, que eram


FOTO: VICENTE CALDAS

exibições ao ar livre de, principalmente, documentários e filmes comerciais não licenciados, comprados em qualquer banca de camelô na feira livre da cidade. O projeto durou até meados de 2008. Já o Cine Clube UFPa surgiu como um projeto de extensão criado pelo Prof. Dr. Edir Augusto em 2011, e realizava exibições semanais para a comunidade acadêmica e ao entorno do Campus UFPa Cametá, divididas em 3 categorias: Cine Kids, Cine Pop e Cine Cult, sempre aos sábados. Em 2013, o Cine passou a exibições mensais, de filmes licenciados, e sob a coordenação do Professor Dr, Ariel Feldmam e dois bolsistas: Tárcio Souza e Paulo Girard. Em 2014, entro como voluntário no projeto e implemento a exibição de filmes nacionais e cinema documental, como forma de valorizar a nossa produção Nacional e fomentar o

consumo de produções documentais de o 1º e único Festival de Documentários de curta ou longa-metragem, com ênfase na Cametá. Em 2013, participei do edital Tela produção documental Amazônica. Brasil para a produção de curtas, com o tema: “Como seria o mundo sem regras”, O INÍCIO DAS PRODUÇÕES LOCAIS que resulta no meu primeiro Curta, intitulado “Mundo sem regras”. Em 2014 tiveNão se sabe bem ao certo quando e quem mos duas grandes produções, sendo elas: começou ou qual foi o primeiro filme pro- “Cametá, histórias para se ouvir e contar”, duzido em Cametá com alguma mínima produzido pela TV Cultura do Pará em parlinguagem cinematográfica, mas temos ceria com a UFPa Cametá, sob a direção notícias de um curta de ficção produzido de Roger Paes, do qual eu participei como em 2011 intitulado “O Visage”, produzido produtor local e ator, e “Amazônia dos enpor um coletivo, e de curtas ficcionais pro- cantados”, uma produção independente duzidos em 2012 por alunos do Sistema sob a direção do escritor Cametaense HaModular de Ensino (SOME/SEDUC), atra- roldo Barros, produção de época rodado vés do projeto Cinema Popular do CinEdu- em Cametá, limoeiro do Ajuru e Belém. car Pará, no distrito de Juaba em Cametá, E em 2015, “Lembranças”, em fase de pós entre eles: “Matinta perera” (2012) e “Lu- -produção, produzido e dirigido por mim, dovico na Terra da Maniva” (2014), todos e “Senhorinha”, resultado de uma oficina exibidos no Festival do Urubu que já está de formação de documentaristas, coorna sua 5ª edição, e pode ser considerado denada pelo produtor cultural Felipe Pam

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PZZ CAMETÁ /CINEMA

Equipe do Cinema Paraíso em Cametá.

Projetista doCinema Paraíso emCametá SHOWS e o projetor IEC 16 mm No auditório do Cine Príncipe ocorriam shows diversos, entre eles, alguns dos artistas famosos daquela época, plona do NPD (Núcleo de Produção Digital) da Casa das Artes, antigo IAP (Instituto de Artes do Pará), e ministrada pelo cineasta independente Gilberto Mendonça. Ainda este ano, está prevista a produção dos curtas “Banguê 5 de Ouro de Maú” e “Cine Príncipe”, este último em fase de pesquisa e pré-produção, todos produzidos pela Aturiá Filmes e parceiros, entre eles a UFPA Campus Cametá através de seu Cine Club e o NDP da Casa das Artes da Fundação Cultural do Estado do Pará.

ATURIÁ FILMES E O NUCIPA

A Aturiá Filmes é a primeira produtora de cinema legitimamente Cametaense, criada em 2013 com o objetivo de fomentar e profissionalizar as produções locais, tem como objetivo produzir audiovisual de baixo custo e máxima qualidade bem como dar condições e habilitar os produtores locais a participarem de editais de cinema e audiovisual. O NUCIPA (Núcleo de Cine e Produção Audiovisual), é um projeto em franca construção e em bus-

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o dogma 95 de Lars Von Trier e Thomas Vinterberg, que nos faz acreditar que é possível produzir cinema de baixo custo com o mínimo de recursos em mãos, mas de excelente qualidade técnica e artística. Temos uma linguagem própria e estética diferenciada, voltada pra nossa ancestralidade e aspectos históricos, sociais e culturais que definem não só os “O futuro reserva muitas coisas homens e mulheres Cametaenses, mas boas para o cinema Amazônida todo aquele nascido Cametauara e que se Tocantino, pois estamos só no orgulha de ter nascido em um dos municípios da Amazônia Tocantina. Estamos só começo de uma longa, rica e começando, e muita gente talentosa tem promissora história em produção se voltado para o cinema que queremos cinematográfica na Amazônia fazer, e daqui pra frente a coisa tende a Tocantina”. tomar um rumo mais definido, com a FUTURO criação de espaços públicos de exibição e O futuro reserva muitas coisas boas para futuramente, uma estrutura para formao cinema Amazônida Tocantino, pois es- ção profissionalizante e produção audiotamos só no começo de uma longa, rica visual. e promissora história em produção cinematográfica na Amazônia Tocantina. Temos uma concepção de cinema, tal qual ca de financiamento através de editais públicos. Funcionará como um núcleo de produção digital dentro do projeto de extensão Cine Clube UFPa, garantindo formação técnica e acesso a tecnologias e equipamentos destinados a produção cinematográfica local.


CINE CAMETÁ O Cine Cametá, de propriedade do senhor Albertino Barros, que funcionou no prédio onde é hoje a loja Maçônica de Cametá, na Avenida Feliciano Coelho com a Rua 13 de maio.

“Temos uma concepção de cinema, tal qual o dogma 95 de Lars Von Trier e Thomas Vinterberg, que nos faz acreditar que é possível produzir cinema de baixo custo com o mínimo de recursos em mãos, mas de excelente qualidade técnica e artística”.

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PZZ CAMETÁ / FOTOPOESIA

Fotografias de Vicente Caldas

ALÉM DO OLHAR Vicente Caldas, cametaense, fotógrafo, produtor audiovisual, documentarista e propietário da produtora Aturiá Filmes, se interessa por pessoas de diferentes culturas, retratando com suas lentes o cotidiano, de forma a mostrar ao grande público a grande diversidade cultural, natural e social da Amazônia Tocantina.

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VICENTE CALDAS Cametaense, estudante de Sistemas de Informação pela UFPa Campus Cametá, fotógrafo, produtor audiovisual na área institucional, documentarista e proprietariado da produtora Aturiá Filmes. Fotografo e cine documentarista, se interessa por pessoas de diferentes culturas, registrando com suas lentes seus espaços e cotidiano, de forma que possa mostrar ao publico a grande diversidade cultural e social da Amazônia Tocantina. Fotojornalista e fotografo documental, possui diversos ensaios fotográficos publicados em jornais, revistas e periódicos nacionais. Seu interesse por fotografia e cinema vem desde a sua infância. Cinéfilo assumido, em 2013 passou de um assíduo apreciador de filmes a produtor de seus próprios filmes, documentários, que costuma dizer serem recortes de vidas e histórias de sua Amazônia Tocantina. É também membro do Cine Clube UFPa. Tem como influencia em seu trabalho, a técnica e a estética de Ansel Adams e Sebastião Saldado e se considera um grande apreciador da obra de fotógrafos como Edward Weston, Henri Cartier-Bresson, Dorothea Lange, Steve McCurry, Robert Capa, Robert Adams e Paul Strand. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/josevicentecs Pagina no Facebook: (Vicente Caldas Fotografia) https://www. facebook.com/jvicentecaldass/ josevicentecs@hotmail.com

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PZZ CAMETÁ / OLHAR FOTOGRÁFICO

OLHAR FOTOGRÁFICO

Através do convite de amigos o grupo OLHAR FOTOGRÁFICO foi visitar a cidade de Cametá. Saímos de Abaetetuba pela manhã passamos pela cidade de Igarapé Miri até chegarmos na primeira balsa atravessando o rio Meruú, uma travessia bem rápida. A próxima parada foi na comunidade de Carapajó, onde embarcamos em uma balsa e viajamos por duas horas pelo rio Tocantins até chegarmos a cidade de Cametá. Viagem tranquila e com lindas paisagens.

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Olhar fotográfico é fruto da vontade de um grupo de fotógrafos de Abaetetuba – PA, que vendo a necessidade da organização da classe na busca do bem comum, lazer, divulgação do estado do Pará bem como as cidades do interior. O grupo é formado por 9 fotógrafos: Alisson Lopes, Diego Viégas, David Rodrigues, Edney Souza, Joanaldo Silva, Luis Azevedo, Marcelo Vaz, Sérgio Rodrigues e Valdeli Costa. Todos do grupo fotografam por hobby, nenhum depende diretamente da fotografia. As reuniões são constantes para fotografar, rios, ramais, os costumes, cotidiano, igarapés, feiras e cidades vizinha de Abaetetuba. Suas fotos são publicadas principalmente em uma página do facebook (https://www.facebook.com/fotosabaetetuba/) e lá são curtidas, comentadas e compartilhadas. O Olhar fotográfico já realizou algumas exposições em Abaetetuba, exposição no Museu do Objeto Brasileiro (A Casa) em São Paulo – SP, já participou de duas publicações: 1. A fotografia no olhar infantil: coletânea, textos e contextos; 2. Miriti - Mãos

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que Tecem Sonhos. Através do convite de amigos o grupo foi visitar a cidade de Cametá. Saímos de Abaetetuba pela manhã passamos pela cidade de Igarapé Miri até chegarmos na primeira balsa atravessando o rio Meruú, uma travessia bem rápida. A próxima parada foi na comunidade de Carapajó, onde embarcamos em uma balsa e viajamos por duas horas pelo rio Tocantins até chegarmos a cidade de Cametá. Viagem tranquila e com lindas paisagens. Nossa primeira parada foi conhecer a feira e lá fizemos vários registros. Fotografamos açaí, farinha, peixes, roupas, feirantes, pessoas comprando, barcos, rabetas multicoloridas. Em frente ao mercado de peixe descemos e vimos alguns feirantes oferecendo mapará para alguns botos, e ali nos deslumbramos com aquela cena, os botos comendo mapará. Conhecemos a orla de Cametá, praças, igrejas, bares, restaurantes, igarapés e a linda praia da Aldeia, cartão postal da cidade. Ficamos muito felizes com a beleza da cidade e a hospitalidade e simpatia do povo cametaense, esperamos voltar mais vezes.

Conhecemos a orla de Cametá, praças, igrejas, bares, restaurantes, igarapés e a linda praia da Aldeia, cartão postal da cidade. Ficamos muito felizes com a beleza da cidade e a hospitalidade e simpatia do povo cametaense, esperamos voltar mais vezes.


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113 FOTO: EDNEY SOUZA

FOTO: EDNEY SOUZA


FOTO: ARAN RODRIGUEZ

FOTO: ARAN RODRIGUEZ

PZZ CAMETÁ / OLHAR FOTOGRÁFICO

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FOTO: JOANALDO SILVA

FOTO: JOANALDO SILVA


FOTO: MARCELO VAZ

FOTO: MARCELO VAZ

PZZ CAMETÁ / OLHAR FOTOGRÁFICO

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117 FOTO: VALDELI COSTA

FOTO: VALDELI COSTA


O Bar do Gato EM Cametá é um ambiente onde você pode ouvir uma boa música ( MPB, Reggae, Jazz,Blues,Rock Pop) por ser um ambiente exótico, envolvente em plena Amazônia, Onde se pode degustar excelentes Bebidas geladas, Drinks e Licores Regionais dos mais variados sabores ( açaÍ, araçá,cupuaçu,caju do mato,muruci,cacau,tamarindo, jacaiacá, jenipapo, tangerina, maracuja,marajá, gengibre etc...) É inesquecível para os visitante casuais.

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ocalizado em Cametá é gerenciado por Flávio Gaia (o Gato), o Bar do Gato é o bar mais underground de Cametá, o point (quase) obrigatório para os turistas. Na foto, Flávio Gaia, dono do Bar do Gato, que além de ser ex-secretário de Cultura, é figura popular na cidade e que merece estudo inclusive pelo enorme acervo memorial de Cametá, que foi juntando ao longo dos anos. É muito material e o poder público deveria estudar a possibilidade de organizar e expor para que a cidade usufrua desse rico registro impresso. (Blog: Salomão Laredo)

FLÁVIO GAIA 118

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FOTOs: ADRIANA LIMA

BARDOGATO


O cara que conhece o digital como poucos vai falar sobre o banco que conhece os paraenses como ninguĂŠm.

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Banpará Digital. Porque digital é melhor pra você.

GRIFFO

De digital eu entendo, e posso dizer que o Banpará deu um salto de qualidade, igualando-se aos grandes bancos do país. O Banpará é o banco que mais cresceu no país, na sua categoria. Com lucros crescentes e sustentáveis, ficou mais forte e deu um salto de qualidade, tornando-se um banco digital tão bom e inovador quanto os grandes bancos brasileiros. Para facilitar a vida dos paraenses em tempo real, criou o Internet Banking, o Mobile Banking e agora inovou mais uma vez com o Banpará Digital. Neste ambiente inteiramente tecnológico, único no Brasil, você conta com terminais de autoatendimento, telas interativas, mesa digital e um atendente virtual para dar orientações financeiras e tirar suas dúvidas por teleconferência. Pode consultar e realizar diversas transações em sua conta, fazer investimentos e aproveitar todos os produtos e serviços do banco, além de poder ter o seu cartão Bcard disponibilizado na hora e já sair utilizando em toda rede credenciada. Tudo com a facilidade que só o digital oferece. Siga o Banpará e venha conhecer essa novidade que só existe aqui. Banpará Digital. Pode acessar que o ambiente é todo seu.

Marcelo Tas

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