O ESCRITOR E POETA RUY BARATA
O CHeIRO E A ALMA DE ENEIDA DE MORAIS
QUEM É A MULHER QUE VOA?
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helly Pamplona captura imagens Amazônidas
literatura do parรก
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sumário
literatura
artes plásticas
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geopolítica
poesia
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romance
audiovisual
A poética existencial e política de Ruy Barata, escritor homenageado na XVII Feira Pan Amazônica do Livro reacende a importância histórica de sua Obra. A trajetória do escritor e cineasta Vicente Franz Cecim rumo à Andara, seu Uni-verso amazônico rompendo as fronteiras regionais.
folclore
Nazaré de Mello e Silva Soares aborda a literatura oral e a relação simbólica dos mitos amazônicos.
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lançamento
Edmilson Rodrigues lança o livro Amazônia - Jardim de Águas Sedento.
música
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literatura
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teatro
MaestroWilson Fonseca
Vicente Malheiros da Fonseca relata a Vida e a Obra do grande compositor e maestro santareno Wilson Fonseca - Meste Isoca.
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teatro
Solo Marajó: A narrativa e a expressão literária do romance “Marajó” de Dalcídio Jurandir em 5 episódios marcantes no monólogo do ator e diretor Cláudio Barros.
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pará:O Mapa da Mina
Marcio Palheta desenha a geopolítica mineral do Estado e Christian Nunes fala das ações Territoriais na Amazônia.
AÇÕES TERRITORIAIS NAAmazônia
A riqueza advinda da mineração impulsionou o que seria a solução econômica para o Estado.
cinemacannes
O filme: Juliana contra o Jambeiro do Diabo pelo Coração de João Batista dirigido por Roger Larrat
Salão do Humor
cinema paraense
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A IV Mostra de Filmes da Amazônia chega configurando-se como uma das únicas plataformas de discussão, intercâmbio e circulação regional e internacional
V Salão Internacional de Humor
Desenhar piada sobre questões políticas e ambientais é uma arte que poucos conseguem se expressar.
economia
moda
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entrevista
José Conrado dos Santos - Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará é o atual coordenador do Programa Pró-Ação Amazônia.
Sandra Machado
A estilista que assina figurinos impressionantes, como a segunda pele indígena-futurista da Gang do Eletro e Iva Rothe, se destaca no centro da moda.
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cinema
fotoensaio
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ensaio Bruno Cecim sai pelo mundo a registrar o visível e o invisivel da realidade
documentário
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Oasilo das ma dalenas
1921, época em que as meretrizes tinham cadernete de identidade fornecida pelo Instituto Médico Legal do Pará
artes plásticas
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O exílio eaCor
Tikka inspira-se em Albert Camus para abordar, com distânciamento, o metafísico e a matéria, às vezes, ambos, para construír, sem dúvida, a sua própria maneira de existir.
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itinerário
fotojornalismo
Foto: Jordy Burch
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humor
Para Cecim, escrever é descer às profundezas dos antigos registros duma vivência anterior e interior e qualquer coisa encontrar que lhe dê sentido, significado para o existir, perceber e poder penetrar na memória do Universo, emergir do Vazio, da eterna condição inexprimível do verso que se mostra aos homens como substância múltipla e transitória do Uni-verso. E, ao retornar transfigurado, não ter mais palavras, só um imenso olhar, imenso como a noite que busca atravessar. O leitor, por sua vez, faz a sua própria Viagem a Andara invisível através das páginas visíveis de A asa e a serpente, Os animais da terra, Os jardins e a noite, Terra da sombra e do Não, Diante de ti só verás o Atlântico, O sereno, Música de areia, Silencioso como o Paraíso, Ó Serdespanto, K O escuro da semente, oÓ: Desnutrir a pedra. Travessia de uma noite de escuras árvores, de um mundo “onde não faltam mistérios”, uma floresta de símbolos onde podemos ver sem os olhos e passar “entre os homens que dormem com um rosto de pedra. entre a realidade, sonhos, vozes e silêncios, movimentos e inércias, o ar, o fogo, a terra, a água, o vegetal, minerais profundos e principalmente, insone, o animal.
Redação
A REVSTA PZZ NA ROTA DO DESENVOVIMENTO
O
Projeto Editorial da Revista Pará Zero Zero - PZZ: Arte, Educação e Cultura, em suporte impresso, digital e videográfico é o projeto editorial inovador produzido na Amazônia que possibilita o mapeamento, a divulgação, a reflexão, a crítica conceitual, a economia criativa, a diversidade, a circulação, o acesso e a cidadania às diversas expressões simbólicas da cultura brasileira, históricas, científicas, contemporâneas, de valor universal, formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória brasileira protagonizada por seus autores. A PZZ por caracterizar-se com uma programação eminentemente criativa, cultural, educativa, informativa, artística, empreendedora e inovadora procura elevar a qualidade de vida da população ao promover e aprofundar o diálogo sobre os conceitos de Arte, Comunicação e Cultura, estimulando o papel conscientizador e transformador do Conhecimento. Além do papel de revista, estimulamos a formação de redes sociais de artistas, leitores, escritores, pesquisadores, editores, produtores culturais e comunicadores na Amazônia. O perfil editorial da revista aos poucos vai se incorporando às complexidades e questões cruciais abordando a geopolítica, a indústria criativa e a economia. A economia do Pará está dividida em três eixos: projetos de desenvolvimento de energia, mineração, agronegócio e infraestrutura; economias tradicionais do extrativismo, agricultura familiar, pesca artesanal, economia de subsistência; e inovação, economia criativa, turismo, biotecnologia e todo o potencial de desenvolvimento de setores menos tradicionais e mais modernos da economia. É nesse sentido, e a partir desses três eixos, a Revista PZZ procura em suas próximas edições abordar assuntos pertinentes ao desenvolvimento da nossa região. Dentre essas realidades vale destacar que: o Pará possui a maior província mineral do planeta e as substâncias minerais de melhor qualidade; a mineração deve ser associada a questão do desenvolvimento econômico e da sustentabilidade como premissa; que essas riquezas minerais são finitas e, na essência, pertencem à sociedade que precisa ser compensada por sua exploração; o setor mineral é um dos alicerces para o desenvolvimento econômico do Pará e do país como um todo nas próximas décadas e grandes ainda são os desafios enfrentados pela mineração para melhorar a qualidade de vida da população. Além da mineração investimentos no setor pecuário, agricultor, turístico, cientifico, cultural, educacional e tecnológico fazem necessários. E neste momento podemos refletir sobre nossa atual situação no contexto nacional e internacional. É um assunto tão importante para o Estado e causa estranhamento a sociedade não discutir isso. Desta forma vamos articular políticas públicas voltadas principalmente para a os adolescentes, e disseminar a economia criativa, a cultura de paz e o desenvolvimento sociocultural da cidade para diminuir os índices de criminalidade e violência que são alarmantes. Encontramos na educação e no meio digital, ações transversais para estimular a formação cultural e educacional para incluir as novas tecnologias no cotidiano de jovens e comunidades excluídas do processo de financiamento a cultura, das políticas públicas, dos processos de produção e da inclusão digital. A modernização das relações facilita a educação, o aprendizado, a comunicação social, o protagonismo juvenil, o empreendedorismo e a formação de redes socioculturais e econômicas. Boa Leitura Carlos Pará Editor da Revista PZZ
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Edição 18 | outubro/novembro de 2013
Diretoria Executiva Carlos Pará e Fábio Santos Editor Responsável Carlos Pará 2165 - DRT/PA Editor de arte/Projeto Gráfico Rilke Penafort Pinheiro Produção Executiva Márcio Ponte, Pedro Vinna, Narjara Oliveira Fotógrafo Helly Pamplona Computer to Plate Hélio Alcântara Impressão: Gráfica Sagrada Família Distribuição Belém, Pará, Brasil. Assessoria Jurídica: Alfredo Nazareth Melo Santana 11341 OAB-PA Contatos (91) 3351-5188 - 9616-4992 - 9616-3400 email revistapzz@gmail.com Twitter @revistapzz Facebook @revistapzz cartas A Revista PZZ é uma publicação bimensal da Editora Resistência Ltda - Av. Duque de Caxias, 160, Loja 14, Belém, Pará, Amazônia, Brasil Cep 66093-400 Cnpj : 10.243.776/0001-96 Issn: 2176-8528 site portalpzz.com
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literatura poética
Alfredo Oliveira
O SIGNO ressoa RUY PARANATINGA BARATA, ESCRITOR HOMEAGEADO NA xVII FEIRA PANAMAZÔNICA DO LIVRO, REVELA A FILOSIFIA E POLITICA EM SUA OBRA
R
uy Guilherme Paranatinga Barata (Santarém, 25 de junho de 1920 — São Paulo, 23 de abril de 1990) foi um poeta, político, advogado, professor e compositor brasileiro. Filho único de Maria José Paranatinga Barata e do advogado Alarico Barros Barata, recebeu o nome Ruy em virtude da admiração paterna por Rui Barbosa. O indígena Paranatinga vem do lado materno, que significa rio (paraná) branco (tinga), “rio de águas claras”. Seu avô materno, Antônio Bentes Paranatinga, incorporou a palavra indígena Paranatinga ao sobrenome em homenagem ao rio Paranatinga, que nasce no norte de Mato Grosso e faz parte da grande bacia do Amazonas. O sobrenome original “Bentes” é da família que se
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instalou no baixo amazonas, ainda no século XVII, cujos membros eram judeus. Ruy foi alfabetizado pelo pai. Aos dez
Em 1943, publica seu primeiro livro de poemas Anjo dos Abismos, pela José Olympio Editora, com o decisivo apoio do romancista paraense Dalcídio Jurandir. anos vem para Belém para continuar os estudos. Primeiro, no internato do Colégio Moderno; depois, no Colégio Nossa Senhora de Nazaré, dirigido pelos Irmãos Maristas. Faz o pré-jurídico
no Colégio Estadual Paes de Carvalho, onde tem como professor o intelectual Francisco Paulo do Nascimento Mendes, de quem se torna amigo para a vida inteira, e se inicia na poesia escrevendo na revista literária paraense Terra Imatura. Em 1938 entra para a Faculdade de Direito do Pará. Em meio aos estudos jurídicos sente aumentar a paixão pela poesia. Mergulha fundo nos poemas de Maiakovski, Garcia Lorca, T.S. Elliot, Mallarmé, Rilke, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Jorge de Lima, entre outros. Abre-se ao pensamento de esquerda através da leitura do Manifesto Comunista de Marx e Engels. Em 1941 casa-se com Norma Soares Barata. Em 1943, forma-se em direito e,
LUIZ BRAGA
“O NATIVO DE CÂNCER” Ruy Barata morreu em 23 de abril de 1990, durante uma cirurgia, em São Paulo, para onde viajara a fim de coletar dados sobre a passagem de Mário de Andrade pela Amazônia.
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literatura poética como orador da turma, em plena ditadura do Estado Novo, faz um discurso em que pede a volta do país ao Estado de Direito e defende teses avançadas no campo da justiça social. Nessa fase, prefere trocar o exercício da advocacia pela presença na redação do jornal Folha do Norte, de Paulo Maranhão. Passa a frequentar a roda de papo do Central Café, no centro de Belém, liderada pelo professor Francisco Paulo do Nascimento Mendes, onde convive e integra a mais brilhante geração de intelectuais paraenses republicanos, que gravitou em torno de Chico Mendes. Entre eles, Mário Faustino, Paulo Plínio Abreu, Benedito Nunes, Haroldo Maranhão, Waldemar Henrique, Machado Coelho, Nunes Pereira, Cauby Cruz, Napoleão Figueiredo e Raimundo Moura.
Em 1943, publica seu primeiro
livro de poemas Anjo dos Abismos, pela José Olympio Editora, com o decisivo apoio do romancista paraense Dalcídio Jurandir.
Ainda em 1943, publica seu primeiro livro de poemas Anjo dos Abismos, pela José Olympio Editora, com o decisivo apoio do romancista paraense Dalcídio Jurandir. Nessa época, o pai de Ruy, Alarico Barata, exercia forte liderança política na região do Baixo Amazonas contra a violência do chamado Baratismo, liderado pelo então caudilho e interventor do Pará, Joaquim Magalhães de Cardoso Barata, que integrou o grupo de tenentes da Revolução de 1930. Em decorrência dessa luta contra o autoritarismo de Magalhães Barata, Ruy Guilherme Paranatinga Barata entra na política partidária e, aos 26 anos, em 1946, é eleito deputado para a Assembleia Constituinte do Pará, pelo Partido Social Progressista (PSP). Embalado pelo clima de explosão democrática que sucedeu a vitória dos aliados contra o nazi-fascismo na Europa, nenhum tema relevante aos direitos humanos escapou da percepção do jovem deputado naquela 10 www.portalpzz.com
Auto-Retrato Entre a espuma e a navalha sou legenda. O espelho neutraliza o ângulo da morte, a barba estrangulou a metafísica e o problema do mal é bem remoto. Aqui sim. Aqui resistirei à mímica, ao dicionário e ao laboratório. (a herança do punhal brilha de novo o fantasma de Abel não me intimida) Vejo a testa crescer entre espirais de fumo, o olhar que não vacila da ruga à pré-história e o peito rasgado pela fúria do poema. Aqui sim, aqui iniciarei a espécie nova, aqui derrotarei o homem-harpa e pronto estou para a descoberta do sexo. O pincel dá-me o poder do patriarca, a navalha reduz a timidez e o medo, o palavrão rola na boca e salva o mundo.
A Linha Imaginária Vida suplementar, tão próxima de ti, tão evidente, nas dobras deste enigma sereno. Um pensamento só, voltar à infância, um desejo qualquer, basta a esperança, e refloresces em dádivas e gestos. Este braço de mar é teu, - podes guardá-lo, esta paz, este azul, este piano, esta nesga de céu que o vento espalha. Tudo tão próximo de ti, tão ligado ao teu cotidiano, ao teu suor diurno, às tuas vigílias, às tuas palavras que emprestas uma outra significação. Só agora percebes a tua absurda neutralidade diante deste fim de tarde, deste sino que é a tua primeira e única
memória musical, desta noite, caindo leve sobre a tua cidade. Só agora buscas o espelho que procuravas evitar, só agora tentas restabelecer todos os elos que ainda justificam tua mísera existência, reconstituir todos os fatos, - mesmo os não evidentes o Fiat, a Paixão, os elementos, o riso do amigo mais amado. Só agora te permites a inutilidade deste gesto fraterno; só agora ousas confessar a saudade que há tanto tempo agasalhaste na sombra, - de ti mesmo, - dos teus brinquedos favoritos, - da mansa voz do teu primeiro amor. Só agora te serves desta aurora, tão próxima de ti, tão evidente, nas dobras deste enigma sereno.
Canção dos Quarenta Anos Poema, suspende a taça pelos dias que vivi. Espelho, diz-me em que jaca mais fiel me refleti. Quarenta anos correram e neles também corri. Quarenta anos, quarenta! (Quantos mais inda virão?) Morrerei hoje de infarto ou amanhã de solidão? Serei pasto da malária? Serei presa do avião? A morte engendra esperança A morte sabe fingir. A morte apaga a lembrança da morte que vai ferir. E em cada instante que passa a morte pode surgir. Quem pode medir um homem? Quem pode um homem julgar? Um homem é terra de sonhos,
sonho é mundo a decifrar : naveguei ontem no vento, hoje cavalgo no mar. Hoje sou. Ontem, não era. Amanhã de quem serei? Um homem é sempre segredos (Por qual deles purgarei?) Dos meus netos, qual o neto, em que me repetirei? Que virtudes foram minhas? Que pecados confessar? Que territórios de enganos a meus filhos vou legar? A quem passarei meu canto quando meu canto passar! Ah! como a vida é ligeira! Ah! como o tempo deflui! Este espelho não mais fala da criança que já fui, das minhas rugas ruindo apenas um nome rui. Quede rede balançando? Quede peixinhos do mar? Quede figo da figueira pru passarinho bicar? E o anel que tu me deste em que dedo foi parar? Dezembro chama janeiro, (fevereiro vai chamar?) Monte-Cristo se me visse não iria acreditar. Como está velho, diria a donzela Dagmar. Um homem cresce espalhando — o reino em que foi feliz. — Onde Athos? Onde Porthos? Onde o tímido Aramis? Um homem cresce querendo e cresce quando não quis. Crescer é rima de vida mas também é de morrer. Crescer é terna ferida que só dói no entardecer. Em cada raiz da morte há sempre um verbo crescer. E cresço: macho e poeta. (Subo em linha, volto em cor) cresço violentamente, cresço em rajadas de amor, cresço nos filhos crescendo, cresço depois que me for.
Cresço em tempo e eternidade, cresço em luta, cresço em dor, não fiz meu verso castrado nem me rendo ao opressor, cresço no povo crescendo, cresço depois que me for.
PUBLICAÇÕES DE RUY BARATA
hOMENAGEM A LEO BOY Saberás quem somos pela ausência da voz, pelo rio envelhecido e na fadiga das frases dissipadas. Diante de ti a nudez falará por nós pois as dádivas e sonhos dispersamos e as mãos vazias dissiparam o tempo. A fêmea e a cidade conquistamos, mas do Invisível a rosa que colhermos será sempre viçosa e fresca sobre a nossa tumba. Somos da terra o sal mas nem sabemos e deitados na Parábola morreremos na primavera das palavras novas, no segredo que faz nossa alegria. Estrangeiros na pátria que elegemos vazios do santo amor, pobres da Graça, a saudade da hora não cumprida, a tristeza do rei que inveja o escravo.
Capa do livro ANTILOGIA de Ruy Barata. Obra lançada em 2000 é uma coletânea de poemas organizada pelo próprio Ruy, entre janeiro e fevereiro de 1990.
Do livro A linha Imaginária Edição Norte - 1951
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legislatura. A luta pela paz num mundo traumatizado pela morte de milhões de seres humanos nos campos de batalha, o horror da ameaça atômica que exterminara as populações de Hiroshima e Nagasaki, o respeito à autodeterminação dos povos, o Estado de Direito no Brasil, a defesa da soberania da Amazônia e a luta contra a pobreza foram temas caros a Ruy Barata. Foi reeleito em 1950. Em 1951 publica os poemas de A Linha Imaginária (Edições Norte, Belém). A partir daí e depois, como deputado federal (1957 a 1959), se afirma como a voz progressista no Pará em defesa do monopólio
Capa do livro A LINHA IMAGINÁRIA Publicado em 1951 (Edição Norte). A coletânea de vinte poemas é dedicada à memória de Maria Hernandes Alvarez, nascida em Páramo-de-Sil, distrito de Leon, Espanha, e falecida em Santarém.
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literatura poética estatal do petróleo, das grandes causas nacionais e da paz mundial, nos momentos cruciais da chamada guerra fria. Em 1959 saúda a revolução cubana com o poema Me trae una Cuba Libre/ Porque Cuba libre está. Nesse mesmo ano, entra para a militância clandestina do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão. A filiação ao PCB tem reflexo na própria criação poética, que opta por evidenciar, nessa fase, um tom político. Sua poesia busca o caminho das palavras acessíveis à compreensão popular. Denuncia claramente a miséria e a injustiça social. Nessa época, provavelmente, dá início à construção de O Nativo de Câncer, poema inacabado com força épica a contar a história de uma cultura em face da invasão de culturas estranhas, um impressionante inventário das coisas e do homem amazônico, incluindo aí o inventário do próprio poeta, um nativo de câncer. O primeiro canto do poema foi publicado em fevereiro de 1960 no jornal Folha do Norte. Em 1964, com o golpe militar, foi preso, demitido de seu cartório (então 4º Ofício do Cível e Comércio da Comarca de Belém) e aposentado compulsoriamente do cargo de professor da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Pará, com menos de 10% de seus proventos. Para sobreviver passa a exercer a advocacia no escritório de seu pai, Alarico Barata, e escreve artigos e reportagens com pseudônimos, como Valério Ventura, para os jornais Folha do Norte e Flash. A partir de 1967, Ruy Barata, que tinha, desde a juventude, uma estreita ligação com a música, passa a compor em parceria com seu filho, o então jovem músico e instrumentista Paulo André Barata. Ruy mostra-se um exímio letrista para as melodias do filho. Compõem dezenas de músicas, de cunho rural e urbano, que se tornaram sucessos nacionais e internacionais. Em 1978 lança mais um capítulo do estudo sobre a Cabanagem, a revolução paraense de 1835, cuja publicação iniciara no ano anterior pela revista do Instituto Professor Sousa Marques (Rio de Janeiro): O Cacau de Sua Majestade, O Arroz do Marquês, 12 www.portalpzz.com
acervo da família
PARANATINGA - palavra indígina que significa rio (paraná) branco (tinga). Ruy Barata, à esquerda, em 1939, com 19 anos. Na foto à direita, em 1988, já com 68 anos.
A Subversão do Cacau e do Algodão, A Economia Paraense às Vésperas da Tormenta. Em 1979, com a promulgação da Lei da Anistia, Ruy Barata é aposentado como cartorário e reintegrado ao quadro de professores da Universidade Federal do Pará – e volta a ensinar Literatura Brasileira. Em1984, é publicada a primeira edição do livro Paranatinga, de Alfredo
miguel chikaoka
Oliveira, que traz um estudo biográfico sobre o poeta. Ruy Barata morreu em 23 de abril de 1990 durante uma cirurgia em São Paulo, para onde viajara a fim de coletar dados sobre a passagem de Mário de Andrade pela Amazônia. Deixou nove filhos. Sua estátua está nos jardins do Parque da Residência, antiga casa dos governadores do Pará, que hoje abriga a
Secretaria de Cultura do Estado. Empresta seu nome a uma avenida, ainda em construção, que margeia as águas da baía do Guajará em Belém. Em 2000 foi lançado o livro Antilogia, uma coletânea de poemas organizada e revisada pelo próprio Ruy, entre janeiro e fevereiro de 1990, pouco antes de sua morte, cuja edição reúne 14 poemas e uma das correspondências que lhe foram enviadas pelo poeta Mário
Faustino, onde comenta fragmentos de “O Nativo de Câncer”. O trabalho de Ruy Barata continua a inspirar músicas, poesias, vídeos, cinema, trabalhos escolares, teses, documentários, dança, artes plásticas e dezenas de outras manifestações políticas e culturais em todo o Pará, para reverenciar a memória do poeta que disse em uma canção: “Tudo que eu amei estava aqui". www.portalpzz.com 13
literatura do pará
Glaucia Gauguin
ver-o-peso, do visível ao invisível UMA ESCRITURA QUE VEM DA VOZ E DO INVISÍVEL, ECOA DA COSMOGRAFIA MANISFESTA EM ANDARA, uma compreensão de Amazônia e de nós mesmos: os seres e a região mais desconhecidOS do planeta.
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As raízes deste artigo, de certo modo, estão fincadas em experiências de infância. Digo isso considerando algumas lembranças de quando ainda criança. Daquele tempo lembro que meu pai contava-me muitas histórias, umas inventadas, outras conhecidas. Essas histórias e/ou estórias, na maioria das vezes, tinham como cenário a cidade onde nasci: Belém do Pará. Lembro ainda que logo no início do período de minha adolescência foi ele também quem me apresentou um livro marcante, “Banho de Cheiro” (Ed. Civilização Brasileira, 1962), de Eneida [de Moraes], que desvela muito da alma desta cidade, em tempos idos, e cuja dedicatória é escrita nestes termos: Para a minha cidade, na pessoa física que– para mim é minha mãe. /Para a minha cidade, suas ruas e praças, suas
manhãs claras e noites perfumadas de jasmim bogari; para os igarapés e os igapós, para os canteiros dos jardins públicos hoje abandonados, outrora moradas de rosas-meninas;/para a minha cidade, sua gente da Pedreira, do Umarizal, Jurunas; para a gente da S. Jerônimo, Nazaré e Independência./ Para a minha cidade tão pobrezinha agora, mas tão cheirosa sempre de pau-de-Angola e patchuli; / para a minha cidade, meus amigos de lá, minha família de lá, minha gente de lá. / Para a cidade de Santa Maria de Belém Grão-Pará, este livro. / Também para Lea, mina filha./ Precisarei falar de amor? O encantamento da narrativa de Eneida de Moraes, que cintila ou lampeja na dedicatória acima, em grande parte focada em Belém, me instigou a procurar a cidade (e sua alma) em vários
escritores paraenses: Bruno de Menezes, Walcyr Monteiro, Haroldo Maranhão, Max Martins, Dalcídio Jurandir, entre outros. Aos escritores acima aludidos, com interesse voltado para o conhecimento de Belém, acredito ter um débito referente à crescente intensidade de meu amor por esta minha cidade; a qual, no percurso de minha formação como cidadã, que se estende à atualidade, acabou por descobrir como um patrimônio – uma herança de valor inestimável, e, que, como tal, não deve jamais ser aviltada, desperdiçada, maltrada ou dilapidada. A partir desse breve contexto de como a literatura influenciou meu interesse pelo patrimônio cultural quando eu ainda não sabia exatamente o que expressão significava, elaborei este texto com base no romance Belém do Grão
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literatura do pará Pará, de Dalcídio Jurandir, com vistas à uma configuração do Ver- O- Peso, analisando as evidências de identidade e memória ligadas a este nosso patrimônio tão representativo na vida desta cidade, sugerindo ou propondo-as como elementos de uma possível estratégia didática no âmbito das artes visuais articulada à educação patrimonial, fazendo com que a comunidade desperte para a história e a formação de sua identidade através do patrimônio cultural. A suposição básica aqui é de que se utilizadas de maneira criativa essas evidências são capazes de despertar no educando (quer seja criança quer seja adulto) o sentimento de pertencimento no que diz respeito ao bem patrimonial considerado, o que, sem dúvida, é importante num processo de ensino libertador (no sentido paulofreiriano), que vise não apenas a valorização dos bens culturais, mas a formação de um tipo de pessoa que seja capaz de transformar a sua experiência em algo positivo para a sua vida e para a sociedade. No caso do Ver- O- Peso a reflexão se impõe não apenas como patrimônio material e imaterial. É muito mais. Implica o visível e o invisível, pois é a partir da relação entre o vivido e o imaginado que o escritor focaliza fatos, personagens e este lugar histórico que dialogam com outras histórias que povoam o seu imaginário, aproximando a sua literatura da realidade. Foi com esse entendimento que procurei na leitura de Belém do Grão Pará, a partir daí, na realidade concreta, com a ajuda da fotografia, refleti-lo na sua totalidade, ou criar elementos para isso no processo de ensino. Durante a leitura do texto dalcidiano, observei que o escritor aborda temas de reflexão que atravessa os tempos, retirados da experiência cotidiana, brotando como um dos traços mais marcantes de sua obra, pois o mergulho na culturalidade belenense e suas minuciosas observações sobre o modo de vida, os hábitos, as visões de mundo, os sonhos, os dramas individuais e coletivos, compunham uma abundante matéria-prima. Conforme diz Silva (2010, p.53): Dalcídio é um desbravador da alma humana e sua literatura traduz uma 16 www.portalpzz.com
Foto: Bruno Cecim
Meu único alimento foi a literatura oral, as lendas, os mitos, que aprendi desde criança a admirar através da minha mãe,
SÍMBOLO CUILTURAL Nazaré de Mello e Silva Soares é pedagoga, administradora escolar, professora, pesquisadora, MBA e Mestra em Ciências da Educação. É autora de 10 livros publicados sobre lendas e mitos. Membro do IHGP.
desmedida valorização da subjetividade do ser humano. Em seus romances estão presentes como característica marcante, os longos diálogos íntimos, em que se escancaram os sentimentos, os sonhos, as incompreensões, as frustrações e os sofrimentos mais profundos das pessoas. Nesse sentido o romance objeto de estudo facilita, de certo modo, a reflexão desejada conforme espero demonstrar com as observações a seguir. Dalcídio: O Artista do Verbo A ação do romance, situa-se em 1922 e acompanha a mudança do menino Alfredo, da ilha do Marajó para Belém, transcorrendo toda nesta cidade, salvo pelas passagens em que o menino se transporta para o seu local de origem, por obra da memória ou da fantasia. Em função disso, pode-se dizer, “trata-se de um romance eminentemente urbano, descrevendo uma Belém que, apesar de decadente, preserva certa sofisticação da época do esplendor da borracha (1870-1910)”. BGP. Em Belém do Grão Pará, lê-se, ao mesmo tempo, a história da família Alcantara, uma família de classe média, decaída do alto do status social que tivera no governo do prefeito Antônio Lemos, durante a alta da borracha, e a história de Belém dos anos 20, já decadente, mas com a estampa moderna parisiense que nela imprimira aquele Prefeito. Na tentativa de recuperar, pelo menos, a aparência da posição perdida, os Alcantara , sob a inspiração da fútil e gorda filha do casal, mudam-se da obscura rua onde moravam para Av. Nazaré, onde se concentravam os ricaços, em geral fazendeiros da ilha
do Marajó, mas vão ocupar aí uma casa em ruína, devorada pelos cupins. Quando a nova e chique residência ameaça desabar, a família, com ajuda dos empregados, carrega, de noite, os poucos móveis que lhe restam, para a acolhedora sombra das mangueiras, à beira da calçada. Nunes bgp. Nessa obra, além do humor irônico e ao mesmo tempo sútil tem se também um forte lirismo, que, de certo modo contamina o leitor num processo de identificação contínua com o cotidiano na contemporaneidade seja pelos arquétipos, ou pela maneira particular de nos remeter ao passado, propiciando um diálogo fecundo com a educação patrimonial, pois faz referência ao patrimônio cultural belenense em sua diversidade de manifestações, tangíveis e intangíveis, consagradas e não consagradas, como fonte primária de conhecimento e aprendizado, a ser utilizada e explorada como instrumento de motivação, individual e coletiva, para a prática da cidadania e o estabelecimento de diálogo enriquecedor entre as gerações. Convém lembrar aqui que a Belle Époque em Belém apresenta-se como uma contradição a qual Castro (2010, p.24) chama de experiência alegórica de modernidade, pois “vivencias e visibilidades do moderno sedimentadas no centro do capitalismo mundial foram trazidas para Belém”, (BASSALO: 2008, p. 43) “contrastando com a figuração social própria da cultura local, alicerçada nas necessidades e condicionamentos do homem amazônico, sem uma relação direta entre o desenvolvimento social da região e as representações estéticas criadas pelo mundo burguês da Europa industrializada.” Os dias do presente de Alfredo resgatam uma vida de Belém em que já se contava dez anos do fim daquela época. O ambiente era de nostalgia de um passado recente e para sempre arruinado. Outro aspecto a destacar é que, conforme registram os estudiosos, o regionalismo em Dalcídio Jurandir, em Belém do Grão Pará apresenta-se crítico: através de seus personagens ele denuncia as mazelas da sociedade, e dramas existenciais de caráter univer-
sal descrevendo a realidade peculiar onde vive seu povo. (cf. SILVA: 2010, p. 33, 39). Além disso: Não é demais lembrar que, na moderna ficção brasileira, Dalcídio Jurandir é um dos autores que mais apropriadamente cria um cenário romanesco adequado para a exposição das mazelas sociais, dos conflitos de classe, dos problemas do latifúndio, entre outros, oriundos do embate humano com a natureza amazônica. (NUNES: 2010, p. 36). Escrevendo os seus romances de maneira descritiva e plástica, como se estivesse fotografando com palavras, Dalcídio Jurandir dá visibilidade ao seu texto levando o leitor a ver a cena como se esta desenrolasse diante de seus olhos. À vista dessas impressões que absorvi no decorrer da leitura de Belém do Grão Pará, a partir de meu universo, as Artes Visuais, imaginei a possibilidade de associar ao processo da educação patrimonial, digamos assim, de forma criativa o amálgama composto pelo cenário do romance e pela minha percepção desse cenário e a realidade concreta que lhe deu origem. A Educação Patrimonial a luz de Dalcídio Jurandir. Os bens patrimoniais são materialidades e práticas culturais que se destacam no tecido urbano e nas manifestações populares por mediarem diversos e memoráveis fatos históricos e personagens ilustres ou por representarem heranças culturais, técnicas e estéticas de tempos passados. Os bens provenientes do passado carregam traços culturais de seu tempo e os interpretam no presente, compondo um espaço em suas múltiplas paisagens (PELLEGRINO, 2003). Há poucas décadas verifica-se uma significativa mudança na forma de compreender o patrimônio. Ramon Gutierrez (1992), traça algumas considerações sobre esse impacto, em que é percebido uma ruptura com uma visão histórica reducionista apoiada por uma ‘historiografia oficial’ que converte em patrimônio bens de origem aristocrática, religiosa, bélica ou estatal. Nessa nova concepção de patrimônio há a inclusão do cultural e das “dimenwww.portalpzz.com 17
literatura do pará sões testemunhais do cotidiano e os feitos intangíveis”. Superam-se as legislações que reconheciam os bens por sua antiguidade e são ultrapassadas as fronteiras que limitavam o ingresso ao status de patrimônio às edificações oficiais e igrejas. E, ao mesmo tempo, as obras arquitetônicas deixam de ser vistas como objetos isolados e tornam-se relevantes os conjuntos urbanos e territoriais e também a contextualização tanto física como social e cultural destes. Nesse sentido, a proposta da Educação patrimonial é motivar a integração distintos grupos sociais, constituinte de uma dada comunidade, intencionando a motivação de ações que propiciem a emergência de diversas proposições que assegurem a defesa e ativação da memória. O que se busca é a tomada de consciência das comunidades sobre a relevância da geração, valorização e resguardo de patrimônios culturais locais. É a recorrência ao cultivo da sensibilidade da população como forma de instrumentalizá-la dentro de seus universos comuns para identificação, entendimento e préstimo ao patrimônio cultural no seu âmbito de atuação. SABALLA(2007) As imagens ficcionalizadas por Dalcídio Jurandir evidenciam o domínio do escritor ao cultivo da sensibilidade, no romance o leitor se transporta para uma Belém do início do século XX, mas também é levado a visitar o que Pierre Nora definiu como “lugares de memória”, espelhos nos quais, os grupos sociais se reconhecem e se identificam, mesmo que de maneira fragmentada. Estes “lugares” da memória coletiva operam como “detonadores” de uma sucessão de imagens, idéias, sensações, sentimentos, e vivências individuais e de grupo num encadeamento de revivencias, ou de “reconhecimento” das experiências coletivas, potencializando o sentimento de pertencimento e de identidade, a consciência de nós mesmos e dos outros que compartilham essas vivencias. Horta( patmemidet) Chegavam ao Ver-O-Peso. – Hein, seu Quadro de honra, quer passar pelas igrejas? Estão de porta fechada. Ninguém reza neste mundo. [...] Alfredo 18 www.portalpzz.com
fitou-a, estranhando, e voltou a olhar as torres e os mastros, o rio e as mangueiras do Largo do Palácio. – Vem cá um pouco. Segurou a mão dele e o levou até a igreja de Santo Alexandre, junto do Arcebispado. Daquele casarão, afirmou Libânia, saíam os padres. Alfredo teve um vago arrepio: era uma escuridão lá por dentro! Para o menino, a igreja pareceu feita de uma pedra só. [...] Aqui nesta igreja está encantada um menina. De uma enorme
pedra só, a Santo Alexandre, com uma menina dentro encantada. Igreja feita ou ali nascida do próprio chão. Olhou para Libânia, no olhara dela o rosto da menina encantada na pedra. De queixo em cima, olhar subindo a torre, Libânia fascinada. – Aqui nesta igreja encantou-se uma menina, seca- seca, por ter levantado uma vassoura contra a mãe dela.[...] E voltaram correndo para o Ver- O- Peso, como perseguidos. Viva maré de março visitando o
fingindo enfado, competência, exigente no escolher. [...] Depois, aquela rapariga de perna inchada- inchada, no rosto um rouge como uma queimadura. A Carroça fazia mudança, atravancando a rua. [...] Desciam a calçada, ganhavam a linha do bonde, invadindo a cidade.(JURANDIR, 2004, p.132, 133, 134, 135 CAP. 9); No excerto acima é evidente a menção a alguns patrimônios consagrados, o Ver- O- Peso, o mercado de Ferro, as igrejas, as mangueiras, samaumeiras, e também àqueles não consagrados que destituem a “memória-poder”, a história da menina encantada, o rio, as marés de março, as proas de peixe, o provar de todas as farinhas, as linhas dos bondes, ou seja, os bens que estão agregados e socializados na memória coletiva, pois as lembranças dos
“Mas nós, aqui, entre peixes, sonhos e homens, nesta Amazônia em transe permanente, sabemos, ou deveríamos saber, que é preciso tocar o coração de Aquiles do real, ali onde ele é sensível e impaciente espera de um acontecimento total que o transfigure”.
Mercado de Ferro, lojas e botequins, refletindo junto ao balcão os violões desencordoados nas prateleiras. Os bondes, ao fazer a curva no trecho inundado, navegavam. As canoas no porto veleiro, em cima da enchente, ao nível da rua, de velas içadas, pareciam prontas a velejar cidade adentro, amarrando os seus cabos nas torres do Carmo, da Sé, de Santo Alexandre e nas samaumeiras do arraial de Nazaré. Libânia corria então para ver: os bons
barcos, panos cor de telha, cobriam o Ver- O- Peso com telhado de velas. Libânia apontava as montarias cheias potes queimados como a sua face, e bilhas de barro e as andorinhas curiosas dos mastros, das proas com peixe assando e as mãos de milho verde que descarregavam. [...] o gosto de provar todas as farinhas ali expostas nos paneiros em plena calçada não atingida ainda pela maré. Pôs-se a provar desta, daquela, amarelinha, a bem torrada,
acontecimentos são compartilhadas e vivenciadas por nós habitantes desta cidade em sua pluralidade. Neste sentido, estamos em contato com as nossas referencias locais, sendo oportuna a temática da identidade, que é um processo de identificações historicamente apropriadas que conferem sentido ao grupo (Cruz 1993). Ou seja, ela implica um sentimento de pertencimento a um determinado grupo étnico, cultural, religioso, de acordo com a percepção da diferença e da semelhança entre, entre «nós» e os «outros». vale dizer que diante das circunstâncias em que tendências globais se tornam referências de vida, as pessoas encontram-se num dilema que é viver num mundo cada vez mais homogêneo ou afirmar sua própria idenwww.portalpzz.com 19
literatura lançamento
João Henrique Neto
PESCA: ENCONTRO E DESENCONTRO O
livro PESCA – ENCONTROS E DESENCONTROS foca a pesca brasileira através duma visão de avaliação de objetivos, alcançados, ultrapassados ou simplesmente perdidos. O livro é fruto de 30 anos de trabalho do Sr. João Henrique Neto, em que se tentou fincar uma atuante política de pesca artesanal, empresarial e industrial, construindo uma força de trabalho em atividade de risco sócio-econômico, indiscutivelmente que necessita ser apoiada, levada à posição que merece ter e, continua almejando alcançar o destaque merecido no cenário da economia nacional, de um país continental, com toda a fronteira oriental e norte, banhada pelo Oceano Atlântico, com mais de 4.300 milhas marítimas. “Sonho restrito a uma noite de verão, realidade alcançável, se, os homens o tivessem querido, pois só deles dependia e continua dependendo, passar do sonho à realidade. Reúne ela todos os ingredientes necessários para fazer do
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Brasil um país auto-suficiente em pesca, como ainda manter um bom nível de exportações em algumas espécies, como camarão, lagosta, pargo, atum, piramutaba e outras, quando o Governo se decidir a encará-la e a enquadrar, dentro do respeito que merece pelo que representa no todo brasileiro. Até para ajudar a mitigar a fome de tanto brasileiro esfaimado e acabarem os fictícios “arrendamentos” que, nunca passaram e continuam, no aluguel puro de sua área de exploração econômica marítima. Beneficia ele, não o Brasil, sim, há muitos anos, interesses outros que conviria fossem esclarecidos e melhor conhecidos, para que igualmente melhor fossem combatidos, benéfico para muito poucos, nunca para uma potência que se apresenta como comercial, industrial e econômica aos olhos do mundo, que aluga seu mar territorial, à exploração de outros países, de uma potencialidade extrativa como a pesca, a outras nações, por incompetência do empresário-armador nacional ou pior,
por incompetência das entidades oficiais que superintendem a Pesca Nacional – atualmente uma Secretaria da Pesca”. Declara João Henrique Neto. O livro fala de um período de ação, considerando algumas confusões políticas e econômicas, que tornaram instável o setor na era do Presidente José Sarney. Quando ações nefastas que nomeava e removia superintendentes da então SUDEPE, Superintendência do Desenvolvimento da Pesca. Fala da nefasta era Color e este apaga da história da pesca a SUDEPE, como se ela fosse a culpada, não mais uma vítima das disputas políticas e da incompetência administrativa dos Governos. Filha sim, dos desmandos políticos e governamentais, apesar de, com todas as suas deficiências conhecidas, ainda conseguir respaldo no segundo escalão do Ministério da Agricultura, ativando muitos pleitos surgidos nos interesses da pesca. E depois que essa responsabilidade foi, transferida para um IBAMA sem expressão na ativi-
dade, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, cujo Ministério, nunca provou conhecer o que nela acontecia, como acabou sendo verificado e registrado pelos fatos ao longo dos anos. Relegada por tanto a um quarto escalão, onde sem dúvida não existia conhecimento dos múltiplos problemas que a assoberbam, onde os acontecimentos se atropelam e necessitam de uma ação imediata, acabou por se perder a maior valia do trabalho produzido por esses homens ao longo de anos. Acaba por isso a pesca, no ostracismo, no desmembramento ostensivo e contínuo, a culminar no confuso biênio de 1989/90, quando tem início o maior e mais brutal desequilíbrio estrutural, econômico e financeiro da história do setor. PESCA – ENCONTROS E DESENCONTROS, publicado pela editora Resistência, não é um quadro abstrato pintado em pinceladas desencontradas, em que a imaginação tem de encontrar a mensagem do pintor. Sim em cores bem definidas no enfoque de uma paisagem de tons bem gritantes, dos rios, igarapés, selva amazônica e oceano limítrofe de nossa costa, na apresentação de linhas definidas, onde os personagens se movimentam, tendo vida própria e onde os fatos falam por si, para imporem a visão de uma pesca, que vem nos últimos anos apesar de desmantelada e denegrida pela insolvência, persistindo em sobreviver, lutando contra ventos e correntes, para encontrar seu rumo e um lugar ao sol brasileiro. Simplesmente nestas páginas procuraremos focar e expor lutas, obstáculos surgidos, vencidos, perdidos, apresentar posições assumidas, por vezes contraditórias. Os entraves encontrados nos meandros burocráticos nessas décadas, os alertas transmitidos às entidades que tinham obrigação, dada a posição usufruída e representativa ocupada no governo de agir ou, ter agido, no momento certo, tomando a iniciativa das decisões sem a necessidade da pressão das entidades ligadas à pesca. Apresentar alternativas políticas, definir rumos a seguir, muitos deles pela obrigação de salvaguardar seus interesses, lutar por uma melhoria a não servir só às classes envolvidas, a pesca artesanal e industrial, mas
PESCA NO BRASIL “Apresentar alternativas políticas, definir rumos a seguir, muitos deles pela obrigação de salvaguardar seus interesses, lutar por uma melhoria a não servir só às classes envolvidas, a pesca artesanal e industrial, mas ao próprio Brasil cujos interesses cujos interesses foram olvidados, mas que deveriam ser prioritários na tomada de todas as decisões.”
ao próprio Brasil cujos interesses cujos interesses foram olvidados, mas que deveriam ser prioritários na tomada de todas as decisões. Infelizmente, parece que no Brasil, as entidades governamentais, e, por extensão o próprio Governo, não age, ou, não quer agir preventivamente, antecipando-se aos acontecimentos. Só quando o caos se impõe, os fatos se apresentam cruamente e o clamor público explode, a pressão se torna insustentável, se movimentam por imposição, normalmente atrasados e nem sempre pelo melhor caminho. Procuram remediar situações que teriam sido muito menos onerosas, financeira e socialmente, quando não, igualmente de muito menores custos políticos, se atacados e resolvidos no momento oportuno. Isto porque no momento em que o autor escreveu estas páginas, ainda ao Governo falta uma Política de Pesca definida, que vem sendo pedida por todos os intervenientes na pesca nacional, desde os primórdios dos anos setenta. Singra, anos a fio, por repartições governamentais e Congresso, podendo dizer-se ou, afirmar-se, que por falta dela, a pesca está perdendo sua segunda geração de desenvolvimento.
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música paraense
Vicente Malheiros da Fonseca
1º FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR DO BAIXO-AMAZONAS
A
conteceu em 1970... Em Santarém, a “Pérola do Tapajós”... Em 1967, eu integrei a Comissão Julgadora do Festival de Música promovido pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Pará, em Belém, presidida pelo Maestro Waldemar Henrique, o primeiro, no gênero, no Pará. No intervalo do Festival, apresentou-se o Chico Buarque de Hollanda. Em 1968, residente na “Casa da Juventude”, na capital paraense, participei ativamente da organização do “1º Festival da Música Popular da Amazônia”, realizado no Ginásio “Serra Freire”, ocasião em que também integrei a Comissão Julgadora desse certame musical, sob a Presidência de Waldemar Henrique. Em 1969, surgiu a ideia de um Festival em Santarém (PA), minha terra natal. Em 1970, então, foi realizado o 1º Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas, cuja Presidência da Comissão Organizadora tive a honra de exercer, por indicação de seus idealizadores e organizadores – uma plêiade de jovens idealistas –, dentre os quais tive a satisfação de integrar naqueles áureos tempos de juventude. Residindo em Belém, como aluno do Curso de Direito (UFPA), fiz contatos com as autoridades governamentais,
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com a imprensa e musicistas da Capital do Estado. Conseguimos apoio financeiro, publicidade e alguns integrantes do júri, dentre os quais Waldemar Henrique, para a realização da etapa final do evento, realizada no Cinema Olímpia, de Santarém, com enorme sucesso e com a participação de numeroso público que lotou literalmente as dependências daquela casa, em 19 de dezembro de 1970. Foi nessa ocasião que o Maestro Wilson Fonseca conheceu, pessoalmente, o Maestro Waldemar Henrique, que viajou para Santarém a fim de presidir a Comissão Julgadora do Festival. Fico muito feliz de ter proporcionado a aproximação entre os dois consagrados maestros paraenses. Waldemar Henrique era, na época, Diretor do Theatro da Paz, em Belém. Wilson Fonseca, o grande compositor santareno, no interior do Pará. Foi também na mesma oportunidade que Waldemar Henrique convidou Wilson Fonseca para se apresentar no Theatro da Paz, que acabou evoluindo para a realização da histórica “Semana de Santarém” (outubro/1972). Os idealizadores do Festival foram: Paulo Roberto Rabelo, José Machado, Apolonildo Brito, Edwaldo Campos e Vicente Fonseca. A equipe da apresentação da fase final
do Festival esteve sob o comando do radialista Osmar Simões. Não havia ainda televisão em Santarém. A decoração do ambiente ficou a cargo do artista Laurimar Leal. As medalhas, outorgadas aos ganhadores do Festival, foram confeccionadas pelo artífice João Sena. E a capa do convite para o evento era fruto do belo trabalho da talentosa artesã Dica Frazão. O convite era ilustrado com o texto poético da canção “O Canto do Uirapuru” (letra: José Wilson Fonseca; e música: Vicente Fonseca), um poema em forma de acróstico com o nome das sete notas musicais; e da “Canção de Minha Saudade” (letra: Wilmar Fonseca; e música: Wilson Fonseca), esta adotada como Hino do Festival. O poeta Emir Bemerguy completava a arte do convite com um belo texto explicativo sobre as razões da escolha do UIRAPURU como símbolo do Festival e da cunhagem do pássaro amazônico nas insígnias concedidas aos ganhadores do concurso. A Comissão Julgadora do Festival era assim constituída: Maestro Waldemar Henrique (Presidente), Isaac Dahan, Avelino do Vale, Maria Lúcia do Vale, Wilson Fonseca, Emir Bemerguy, Wilde Fonseca, Nélia Vasconcelos Dias, Sebastião Ferreira, Edenmar da Costa Machado, Vicente Fonseca e Cecília Simões.
José Agostinho da Fonseca Neto, meu irmão, ficou incumbido de preparar os principais arranjos das músicas do Festival, como integrante do Conjunto “Os Hippies”, dirigido pelo cantor Odilson Matos, o primeiro a gravar o bolero “Um Poema de Amor”, de autoria de meu saudoso pai. Eis os vencedores do Festival: I – Gênero Música Jovem: 1º lugar – “Corina” (Edwaldo Campos de Souza e Renato Siqueira. Intérprete: Francisco José Lemos – Joe); 2º lugar – “Louco fui demais” (Marcília de Souza. Intérprete: João Octaviano de Matos Neto); 3º lugar – “E nunca mais sair do teu caminho” (autora e intérprete: Fátima Oliveira). II – Gênero Tema Regional ou Folclórico: 1º lugar – “Corrida” (au-
Meschede); 2º lugar – “Chico Brasileiro” (Otacílio Amaral Filho. Intérprete: Luís Carlos Botelho do Amaral); 3º lugar –“Rosa Maria” (Arnaldo Batista Figueira. Intérprete: Ray Brito). Medalha melhor intérprete: João Octaviano Mattos Neto (Prêmio “Expedito Toscano”). Medalha melhor arranjo (Prêmio “Prof. José Agostinho da Fonseca”): “Iemanjá”. Wilson Fonseca (Maestro Isoca) guardava, em seus arquivos, em Santarém, gravações, em fitas magnéticas, da quase totalidade das músicas inscritas no Festival. Se esse inestimável material ainda estiver em bom estado, bem que poderia ser aproveitado para a gravação de um CD.
Promoção Social, Secretaria Executiva de Cultura e Secretaria Executiva de Educação), parte do Projeto Nossos Autores, coordenado pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares (SIEBE), lançado em Santarém (PA), em 17 de novembro de 2006. Nessa mesma obra também está transcrita a entrevista que concedi à jornalista Lana, publicada em sua página literária denominada “Lana em Tom Maior”, na edição de 22/23 de março de 1970 do jornal “A Província do Pará” (Belém-PA). Há referências ao memorável Festival no livro “A Vida e a Obra de Wilson Fonseca (Maestro Isoca)”, de minha autoria, editado pela Gráfica do Banco
tor e intérprete: Antônio Waughan); 2º lugar – “Iemanjá” (autores e intérpretes: João Sílvio e Íris Fona); 3º lugar – “Vida de Caboclo” (Maria Alciete Lemos Neves. Intérprete: Shirley Lima). III – Gênero Música Popular Brasileira: 1º lugar – “… E a vida passa” (Oldemar Alves de Souza. Intérprete: Carlos
A respeito do histórico e bem sucedido Festival existe farto material registrado, com ilustrações fotográficas, no livro “Meu Baú Mocorongo” (p. 749777, volume 3), de Wilson Fonseca, impresso por RR Donnelley Moore (SP) e editado pelo Governo do Estado do Pará (Secretaria Especial de
do Brasil, em 2012, em homenagem ao centenário de seu nascimento. Para quem quiser conhecer melhor esse inédito evento cultural – um dos mais importantes movimentos da arte musical no Baixo-Amazonas –, eu recomendo a leitura desse material histórico. Lá se vão mais de 40 anos!...
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moda pará
Felicia Assmar Maia
CONSPIRAÇÃO
A FAVOR DA
MODA
ArqUIVO
O estilista paraense Tony Palha desenvolve sua arte na moda sem deixar de lado o tino comercial.
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moda pará
Q
ue o universo sempre conspire a favor para que Tony Palha continue materializando sonhos na mais pura realidade, e fazendo do ofício de costurar roupas uma arte sublime que dá energia à beleza feminina. Quem assiste um desfile do estilista paraense consegue perceber que há uma troca de amor entre criador e criaturas, essas cada uma das peças que Tony Palha cria com o dom que Deus lhe deu. Aliás, Antônio Carlos Palha, de nascimento, acha que veio ao mundo destinado por Deus para fazer algo, um algo, que pode ser dito “algo mais”, que vem dando certo há mais de 25 anos, que ele explica como uma conspiração favorável do universo para quem tem talento, amor ao que faz e uma grande capacidade de se doar. E isso ele exercita através dos inúmeros desfiles beneficentes que fez durante sua carreira e através dos ensinamentos aos aprendizes que acompanham seu trabalho, como ultimamente tem feito com estudantes de moda em Belém. No Rio de Janeiro, onde mantém seu ateliê, muitos o chamam de “pé-de-coelho” devido sua capacidade de emitir fluídos positivos para aqueles com quem trabalha. E depois de muito suor e noites sem dormir, “tudo dá certo”, afirma Tony, com sua habitual energia e “sede” de conhecer sempre mais. “Não fechei nenhuma porta durante esses anos de profissão, na verdade sempre quis ‘ganhar’ o mundo, e foi trabalhando em prol da beleza que encontrei a felicidade”. Felicidade que Tony compartilha com as mulheres que ele veste, que por mais que dure uma única noite, eterniza-se na memória de quem vive aquele momento. “Não existe felicidade eterna, mas quando uma mulher se veste para um evento, ela experimenta um momento de intensa felicidade, “e é isso que faz a vida caminhar”, arremata Tony Palha.
O INÍCIO: BELÉM- RIO Antônio Carlos Palha nasceu em Belém numa família de seis mulheres e ele o filho mais novo, e por isso recebia mais “atenção especial” dos pais e das irmãs. No final da década de 70, já estudando Arquitetura, Tony foi para um congresso em Salvador, Bahia, e lá descobriu que não queria mais morar em Belém, 26 www.portalpzz.com
que queria ter experiências em outros lugares. Mas como dizer à família que iria embora? Esperou o final de 1979, formou-se, e foi embora para o Rio de Janeiro como se estivesse indo passar férias, mas a intenção era de por lá ficar. Ao chegar no Rio, ficou hospedado na casa de uma amiga, Malena Rodrigues, que era cantora e tinha belos vestidos de noite, que Tony admirava, afinal em Belém, ele já acompanhava os concursos das Rainhas do Carnaval e Miss Pará, e até guardava o sonho de vestir essas moças com criações suas. O Rio de Janeiro era o início do sonho, mas como ficar lá se ele não tinha emprego? Um dia, andando pelas ruas de Copacabana, passou por uma casa de tecidos e perguntou se eles não queriam um figurinista. Responderam que ele faria um teste e mandaram que voltasse no dia seguinte. Ao contar para a amiga Malena o que ocorrera, esta o achou um “louco”, porque jamais fizera aquilo antes, mas decidiu ajudá-lo. Deu a ele uma revista de moda e mandou que ele tentasse imitar os desenhos que estavam lá. Ele começou a desenhar, e não é que tinha talento para aquilo. Mas não bastava copiar, tinha que criar. Aí, ele abriu o baú da amiga cantora e lá encontrou lamés, tafetás, cetins e com os tecidos começou a criar usando a técnica da moulage, que na época ele não sabia do que se tratava, embora a intuição o guiasse para a criação. No dia seguinte lá estava ele na Casa Lindoia para começar o oficio. Uma das clientes que entrou na loja naquele dia foi a paraense Maria Augusta Teixeira, a famosa modista conhecida como Guta Teixeira, mas que Tony não conhecia. Primeiro ela observou os traços de Tony. Sentou-se então na sua frente e pediu que ele desenhasse três borboletas. Mesmo sem entender nada, Tony fez os desenhos e foi elogiado pela estilista, que lhe disse que tinha talento. Observando que o sotaque de Tony não era carioca, indagou de onde ele era. Ao saber que era paraense, interessou-se por ele, informando seu telefone e dizendo que ele poderia procurá-la. Com a intuição de que estava prestes a ingressar no universo da moda, pela qual tinha aptidão e talento, Tony foi ao apartamento de Guta Teixeira e se deslumbrou ao ver fotos dela ao lado de nomes da alta costura internacional como
Givenchy e Oscar de La Renta, este último uma espécie de padrinho da “Chanel brasileira”, que inclusive levou suas coleções para serem expostas na 5ª Avenida em Nova York. Tony Palha jamais vai esquecer o conselho de Guta, que lhe disse para não ter medo de “bater na porta”, pois nunca se sabe o que está do outro lado, mas um “guerreiro” precisa abrir a porta. Isso Tony levou para o exercício de sua vida profissional. Guta aconselhou Tony a ir para São Paulo e procurar o também paraense Dener Pamplona de Abreu, que já havia feito muito sucesso na alta costura no país, e que poderia ajudá-lo. Tony seguiu para a rodoviária do Rio e pegou um ônibus para São Paulo; não sem antes passar na Casa Lindoia, pois precisava do emprego, mas que acabou por recusar, pois que o patrão propusera assinar sua carteira de trabalho como vendedor. Isso ele não queria. Se saíra de Belém para buscar outros horizontes, como se conformar em ser vendedor, e como mostraria à família que progredira no oficio que escolhera para sua carreira profissional.
DE SAMPA PARA MILANO Chegou em São Paulo e, por engano, desceu na Estação da luz. Mas, essa também foi uma das vezes que o universo conspirou a favor. Com apenas 23 anos e sentindo-se perdido naquela cidade grande, sentou-se num bar para tomar um café e lá estava um paraense com quem começou a conversar. Esse lhe disse que conhecia uma paraense que trabalhava na TVS, do Silvio Santos. Era Acácia Cavallero de Macêdo. E levou-o na TV para encontrá-la. Foi Acácia quem o levou até Dener, que naquela época não tinha mais seu próprio ateliê, mas trabalhava numa loja de noivas da Rua São Caetano. Foi lá apenas para visitá-lo, mas foi logo ouvindo de Dener, já doente indebilitado, que este precisava de alguém para desenhar para ele, e expressou-se da seguinte forma: “esse rapazinho parece comigo”. Eu falo, você desenha....e o salário você resolve com aquelas lá dentro (referindo-se a dona da loja). Sem mesmo ter tempo para pensar, lá estava Tony trabalhando ao lado de Dener. Mas, infelizmente, foi por pouco tempo, pois mais ou menos
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moda pará seis meses depois, Dener faleceu. Pouco, Mas precioso tempo, relata Tony, que diz lembrar do “inventor de moda brasileira”, ensinamentos tais como a informação de que a mulher tem um “império” dentro dela. Ela é vaidosa e por isso ao criador de moda cabe a função de fazer com que a mulher goste mais dela mesma e para isso, em primeiro lugar, ele precisava gostar de mulher e de sentir prazer de fazê-la feliz. Quando Denner se foi, Tony assumiu o trabalho de criação na loja de noivas. Não era fácil, era preciso muito talento e arte. “Não era como hoje, que se tem rápido e fácil acesso à informação na Internet”, lembra Tony, que diz que muitas vezes ia ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para tentar achar nas bancas de revistas, algumas publicações internacionais de moda para pesquisa. Nessa época, Tony se inscreveu para um concurso da TV Manchete, que era promovido pelo programa do estilista Clodovil Hernandes. Foi classificado com dois vestidos, um no segmento de prêt-à-porter e outro de alta costura. Foi quando conheceu Markito, naquela altura uma revelação de alta costura, e que estava no auge da fama. Nessa época Tony trabalhava apaixonadamente, pois havia descoberto o “elixir da minha vida”, relata ele com brilho nos olhos. Brilho que Tony revela sempre que fala de suas criações. “Desenhava vestidos de noiva, fazia vitrines, organizava desfiles”, diz ele. Uma cliente então sugeriu que ele abrisse seu próprio ateliê e foi aí que outra “conspiração do universo” fez com que ele encontrasse um imóvel para alugar na Alameda Lorena, em São Paulo, quando abria um jornal para procurar nos classificados um carro para comprar. Já instalado em seu ateliê, Tony deu “asas à imaginação”, criando roupas de noite, bordadas e muito elaboradas. Conheceu gente famosa como Nice, na época casada com o Roberto Carlos, a cantora Wanderléia e as cantoras Ana e Cléo, do Trio Los Angeles. Para esta última fez muitos vestidos glamourosos e com quem passou a ter uma sociedade num ateliê maior. Mas, infelizmente, não deu certo. Um episódio que fez Tony sentir-se desgostoso e por isso decidiu “dar um tempo” na carreira. Não tardou muito para que o talento de Tony viesse à tona novamente, pois, ao 28 www.portalpzz.com
ser informado pela amiga Silvia Mufarej de que havia um concurso no consulado Italiano para uma bolsa de estudos no Instituto Marangoni de Design, em Milão, ele se inscreveu, e em meio a 350 candidatos, foi o vencedor. Em 1986, voou para “Milano”, como ele diz, e lá aprendeu o ofício da costura. Finalmente ele aprendia a fazer, para assim fazer o que sua imaginação mandasse, não mais dependeria de costureiras. Com o domínio da costura, confecciona suas criações e sozinho construiu as quinze peças de sua coleção de conclusão de curso. Também teve a oportunidade de fazer um curso sobre Teatro e Cinema com Frederico Fellini, o que muito contribuiu para a teatralidade que passou a imprimir em seus desfiles.
AFINAL, MAISON VALENTINO Curioso e observador, Tony procurava tirar de cada experiência, o aprendizado de uma vida. Certo dia andando pela avenida Monte Napoleone, em Milão, deparou-se com um rapaz fazendo a vitrine da Maison Valentino. Era Gianfranco Fenicia, então vitrinista das casas do famoso estilista, e que ao terminar o trabalho foi ao encontro de Tony para saber o porquê de ele ter ficado parado todo aquele tempo acompanhando o trabalho de montagem da vitrine. Após conversar com o paraense, o italiano disse que precisava de um assistente e que estava indo para Paris, e que se Tony quisesse poderia acompanhá-lo. E lá foram eles de trem, para Paris. Até hoje não sabe porque, mas o italiano só viajava de trem. Monsieur Valentino preparava a coleção inspirada no personagem Robin Hood, e seria desfilada por modelos que Tony conhecia pela fama internacional: Naomi Campbel, Linda Evangelista, Cláudia Schiffer, dentre outras. Foi um sonho, revela ele, mas que era real. E aí vem outra daquela “conspiração” de que Tony na época não tinha consciência, mas que, por certo, o universo já fazia a favor dele. Ao ser encaminhado para ajudar na prova de roupa, pegou um vestido de Valentino, um daqueles vermelhos glamourosos, com uma saia balonê, um dos hits dos anos 80, que de tão perfeito no lado do avesso, fez Tony prová-
-lo na modelo, dessa forma. Foi chamada sua atenção pelo assistente que Valentino, Jean Carlos Gianeti, mas Gianfranco (responsável pelo styling) disse que esperaria pela opinião do “mestre”. E não foi que Valentino gostou, pois o avesso mostrava um primoroso trabalho em tule, verdadeiro retrato da alta costura. Este foi o episódio de entrada na Maison Valentino, onde trabalhou durante dois anos, passando pelas três linhas da casa: prêt-à-porter, prêt-à-porter de luxo e alta costura. De lá só saiu para o show business, outro sonho que ele materializou.
DE VOLTA PARA O ACONCHEGO O caminho de volta para a Itália também seria o de volta pra o Brasil. Tony, então, participou do concurso Mitel Moda Premium, que acontecia na cidade de Florença (Firenzi), cujo prêmio para os três primeiros lugares era um stand no Milano Vende Moda. Como Tony garantiu sua colocação ficando em 3º lugar, participou da feira e expôs dois vestidos que ficaram famosos: Aids e Dona do Mundo. O primeiro foi uma denúncia contra o preconceito. Ganhou destaque em capas de revistas em Roma, até porque fez parte da exposição comemorativa dos 30 anos de magia de Valentino, uma iniciativa da atriz Elizabeth Taylor, que era curadora da exposição e grande ativista da causa da Aids no mundo. Com seus inúmeros laços vermelhos, a roupa posicionada na entrada da exposição, oferecia um souvenir aos visitantes. Os dois vestidos, Aids e Dona do Mundo, participaram da exposição que ficou em cartaz em Belém, no Boulevard Shopping, em outubro de 2013. A participação no Milano Vende Moda foi o inicio do caminho de volta para o aconchego do país natal. Era o ano de 1998, e uma brasileira que visitara a feira na Itália convidou Tony para vir ao Brasil mostrar sua moda em Belo Horizonte,onde ele começou a vestir mulheres importantes da sociedade local, inclusive a mulher do governador do Estado. No ano seguinte já com a volta para a Itália marcada, Tony conheceu o promoter Zeca Marques, que organiza o Magic Ball do Copacabana Palace, que acontece no sábado de Carnaval reunindo a alta sociedade do país e celebridades do
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moda pará mundo todo. E o fascínio pelas fantasias que Tony guardava desse os tempos de adolescência com as Rainhas do Carnaval paraense aflorou e ele embarcou no ritmo do samba e até hoje sua moda continua “dando samba” no famoso baile. Já fez fantasias para as jornalistas Glória Maria e Hildegard Angel, para a modelo Daniela Sarahyba e para a socialite Narcisa Tamborindeguy. Foi ficando no Rio e após conhecer Ruth de Almeida Prado, que na época morava às proximidades do Copacabana Palace, que muito incentivou seu trabalho, resolveu abrir seu ateliê na Cidade Maravilhosa. Uma de suas primeiras clientes foi a atriz Juliana Paes, ainda em início de carreira e que participar de Celebridades da Rede Globo, e precisa de um vestido para festa de lançamento da novela. Para Tony, aquela beldade tinha que explorar as belas pernas e criou para ela uma minissaia. Acertou em cheio: Juliana “arrasou”, descreve Tony maravilhado.
BELÉM- PARÁ AMAZÔNIA Em suas idas e vindas para visitar a família que mora em Belém,, Tony foi convidado pela TV Cultura para participar de um documentário sobre a vida e a obra de Dener Pamplona de Abreu. Durante as gravações, em mais uma daquelas “conspirações” a favor que o universo sempre lhe preparou, ele conhece Felicia Assmar Maia, coordenadora do Amazônia Fashion Week, o maior evento de moda da região norte. E ali recebeu o convite para participar do evento. Foram dois anos de ensaio para afinal adentrar nas passarelas de sua cidade natal, e em desfile contar a trajetória de sua vida. Foi em 2012, no Salão Karajás, do hotel Belém Hilton, que o paraense usou o tema “A Estela sobe” para mostrar uma carreira percorrida da Belém dos anos 80 à Belém do século XXI em 25 anos de carreira. Fascínio, glamour, elegância e criatividade foram qualidades daquela coleção inesquecível, quando o estilista couturier apresentou roupas que pareciam vir de um encanto, de um extraordinário poder de magia, capaz de traduzir a poesia do sonho em realidade. Rendas, organzas, sedas e tafetás em intensas tonalidades, ora fluídas e plissadas, ora com volumes inusitados, celebravam o encontro feliz
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da arte com a moda. Eram peças exclusivas desenhadas para momentos únicos, que e mesmo definiu como dreams in dresses (sonhos em vestido). Para Tony, o calor e a força da raiz paraense foram fundamentais em sua trajetória, tendo-lhe aberto as portas do mundo fashion. Em 2013, Tony Palha voltou às passarelas paraenses, mais uma vez no Amazônia Fashion Week, dessa vez com a coleção Criaturas, enfocando o bem e o mal que existe em cada pessoa, mas enfatizando que o bem sempre vence. A coleção explorou os brilhos e as novas tecnologias aplicadas à construção de moda. O final do desfile foi apoteótico com a apresentação de uma “noiva tecnológica”, que parecia acender e mudar de cor na passarela. Uma “odisseia no espaço” da Estação das Docas, em Belém.
MODA SUSTERNTÁVEL E ECONOMIA CRIATIVA “A Terra tem o suficiente para todas as nossas necessidades, mas, somente o necessário”. As palavras atribuídas ao grande pacifista Mahatma Gandi levam à reflexão da premência de se adotar atitudes sustentáveis, e dentre elas está inserida a questão da produção de itens de moda. Se a idéia é não agredir no planeta exaurindo seus recursos naturais, por que não reaproveitar, reutilizar? Esse deve ser o caminho a ser seguido pela moda para acompanhar o desenvolvimento sócio-econômico deste país de modo a permitir o atendimento das necessidades das presentes gerações sem comprometer o atendimento das gerações futuras. Além disso, vale salientar que atualmente as sociedades humanas têm enfrentado crises sociais, econômicas, ambientais e culturais, o que demonstra que o modelo de desenvolvimento adotado por esses grupos na contemporaneidade carecem de inovação. E, então, entram a criatividade e o intelecto como formas de promover um desenvolvimento não só sustentável como inclusivo. O grande desafio passa a ser o de transferir o foco do produto para o processo cultural, surgindo a relevante e tão em voga discussão sobre a economia criativa e o consequente aparecimento das indústrias criativas. A tradição da moda é de valorização do novo, daí que inovações científicas e tecnológicas são valorizadas além da
preocupação com os direitos autorais. A criatividade individual transforma-se em capital a ponto de ser apontada ao lado da cultura como um dos principais ativos econômicos do mundo contemporâneo. Um estudo da FIRJAN- Federação das Indústrias do Rio de Janeiro- realizado em 2008 constata que a economia criativa está em ascensão por incentivar uma espécie de democracia cultural advinda da comercialização de idéias e inovações. É o trabalho intelectual gerando valor econômico e revitalizando as indústrias tradicionais de produtos e serviços. A pesquisa da FIRJAN demonstra que as atividades da cadeia criativa correspondem a aproximadamente 16,4% do PIB nacional. E dentre os setores que aparecem como grandes responsáveis pela parcela mais significativa da indústria criativa em nosso país está a moda. Mas, ela ainda recebe pouco investimento. É preciso que se tenha a consciência de que no alvorecer deste século XXI, a moda produzida no Brasil só vai sobreviver se encontrar um diferencial. Hoje, a competição com a qualidade do produto europeu ou com o baixo preço do produto chinês só não levarão ao colapso do mercado de moda no Brasil, se os profissionais da área souberem usar seu pote3ncial criativo para gerar as soluções que a indústria nacionalçde vestuário tanto requer. Buscar as raízes da cultura brasileira, valorizar o conhecimento individual, pesquisar matérias primas alternativas, incentivar micro e pequenas empresas, fazer o intercâmbio entre o conhecimento do designer e do artesão, estudar alternativas de substituição da matéria prima importada pela nacional são algumas das atitudes que podem ser adotadas para “virar o jogo”. Alguns estilistas paraenses, como Tony Palha e Sandra Machado, já estão nesse caminho. E colhem frutos. Ao buscar a afirmação de uma identidade brasileira , passam a ter reconhecimento nacional e internacional. Nesse contexto, a atuação das universidades tem sido o combustível decisivo para gerar essa nova moda que transforma cultura em produto, mostrando o potencial de inserir aspectos locais em produtos de valor agregado. Que venha o investimento das empresas! Que venha a criatividade de nosso povo! Que venha a engenhosidade de nosso criadores de moda! Que o universo, enfim, conspire a favor da MODA PARAENSE! www.portalpzz.com 31
teatro paraense
FOTOs: andrĂŠ mardock
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Ester Sá
Quem é a mulher que voa? “Era uma vez uma atriz, que encontrou outra atriz, e desse encontro nasceu esse momento, que nós vamos viver a partir de agora”.
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FOTOs: anibal pacha
C
om entusiasmo recebi o convite da Revista PZZ para publicar parte deste ensaio, que criei em 2009, sobre o processo de criação do espetáculo teatral “Iracema Voa”. É uma chance de dividir com mais pessoas um pouquinho do processo criativo de concepção deste espetáculo, que é para mim algo muito especial. Acredito que o que vai escrito aqui seja do interesse de profissionais de teatro, ou outras linguagens da arte, e também para o leitor em geral, que se sinta curioso do “como nasce” uma obra artística. O espetáculo fala da vida e da obra de Iracema Oliveira, Mestra da Cultura Popular, Guardiã do Pássaro Junino Tucano, das Pastorinhas “Filhas de Sion”, coordenadora do grupo Parafolclórico “Frutos do Pará”, e dona de uma história entrelaçada com a cultura do estado do Pará. Mulher forte da qual tenho grande admiração e respeito. O espetáculo trás a temática da vida à tona sob o olhar artístico, emoldura, faz prestar atenção no simples, que é o que há de mais belo. É um teatro encontro. É um teatro essencial. O ensaio completo tem 96 páginas, é verdade, há muita coisa pra dizer. Mas fiz uma compilação de um pequeno trecho que, acredito, tem coerência destacado do restante da obra. Agradeço de coração a quem optar em se debruçar sobre estas páginas que seguem, estará dividindo um pouco de mim:
O espetáculo Iracema voa é um documento cênico do encontro entre duas mulheres artistas: Iracema Oliveira e Ester Sá. O espetáculo narra a trajetória da vida e da obra da artista Iracema Oliveira, destacada per-
IRACEMA VOA “Iracema Voa” é um encontro. Sou eu, atriz, que recebo as pessoas e conto-lhes sobre minha experiência de encontrar outra atriz, Iracema Oliveira. Narrando sobre sua vida e sua obra o espetáculo vai revelar muito mais: revela a mim mesma, a trajetória cultural da cidade, e das pessoas que nela viveram e vivem.
sonalidade da Cultura Popular Paraense. A pesquisa, realizada pela atriz Ester Sá, deu origem a dramaturgia deste espetáculo, que através da trajetória de Iracema, promove um encontro com parte da história cultural do estado do Pará. O espetáculo foi construído como um encontro, que por natureza do ato teatral, é eternamente refeito, a cada vez que novos olhares entram na sala de espetáculo. (Ester Sá, trechos do texto do folder do espetáculo Iracema Voa). Iracema Oliveira nasce em 21 de março de 1937. Aos sete anos de idade estreia na cena, vivendo o personagem Anjo Gabriel, na singela tradição das Pastorinhas , e no ano seguinte, levada pelo seu pai, o artista popular Francisco Avelino de Oliveira , estreia no Pássaro Junino Cigarra Pintada, como o personagem Porta-Pássaro . Além de coordenar, em conjunto com sua família, o grupo Parafolclórico “Frutos do Pará”. Iracema é uma das mais importantes representantes da cultura popular do Estado do Pará. Mestra popular ensina o conhecimento e o amor pela tradição dos Pássaros Juninos e a Pastorinhas, heranças que recebeu na infância e que leva como bandeiras de vida.
Um encontro que pegou de galho Os primeiros lampejos em direção à construção de “Iracema Voa” vieram do desejo de conhecimento. Eu vivia um momento em que, enquanto artista, me cobrava por conhecer tão pouco sobre a história da cultura de meu estado, e optei por construir um espetáculo que me proporcionasse, durante seu processo, estudar esse passado. Outras questões me moveram, e uma delas foi a admiração por Iracema Oliveira, pela sua trajetória artística, sua personalidade, e pela sua representatividade para a cultura popular do Estado do Pará. Iracema possui uma história de vida intimamente ligada à arte e a cultura popular: rádio, televisão, teatro moderno, cinema; teatro popular de Pássaros e Pastorinhas, além de movimentos da cultura popular como as quadrilhas juninas foram vivenciados por Iracema em alguma etapa de sua vida. Iracema é testemunha viva de todos esses acontecimentos, seria, portanto uma excelente guia para me revelar www.portalpzz.com 35
teatro paraense este passado. Reconhecia em sua trajetória uma ponte para o encontro com a história cultural do estado do Pará, além do fato de ela estar até os dias atuais em plena atividade, unindo passado e presente cultural. Fui até ela pedir autorização para a pesquisa, ela, com seu bom humor característico, disse-me: “Chique né, imagina... Má rapaz ,não tem problema...nós tamo ai né mana (...) Bora fazer essa porra ai!. Iracema abriu as portas de sua casa e de seu coração. Durante a pesquisa de campo, tivemos muitos encontros, num deles aconteceu um fato determinante, o qual agora vou lhes contar: Na primeira vez que visitei a casa de Iracema, ela me presenteou com pequena planta de seu quintal, arrancou um galho e me deu para que eu plantasse; e afirmou várias vezes: “...É boa porque pega de galho...pega fácil...pega de galho”. Mais adiante percebi que esse gesto dela passaria a ter um significado ampliado. O galho foi plantado em meu quintal e de maneira metafórica em minha pesquisa e minha vida. Cuidar, regar, observar essa planta, pensar como ela pegou de galho, se espalhou e continua viva fica sendo o motivo dessa empreitada. Este texto, então, estrutura-se como esta planta, que foi crescendo e se desenvolvendo, e que continua viva, em movimento, como a arte teatral.
Ao encontro de Iracema num campo florido Pesquisa de campo, com Iracema Oliveira, é coisa deliciosa de se fazer. Iracema me deixava à vontade, ao mesmo tempo em que com habilidade na narrativa ia me dando informações preciosas. Preferi proceder de maneira informal, tentando não interferir nem atrapalhar os andamentos dos afazeres dela. As entrevistas foram coletadas de forma ativa, ou seja, eu acompanhava suas atividades, muitas vezes solicitando a ela que me desse algo em que eu pudesse ajudar, como, por exemplo, bordar algum figurino. Porém, durante os ensaios eu apenas observava, não interferia com nenhuma opinião ou sugestão. Fotografava, filmava, e registrava o áudio. Meu gravador mp3 muitas vezes foi pendurado (como um colar) no pescoço de Iracema e o ensaio acontecia com o áudio na íntegra sendo capturado. 36 www.portalpzz.com
Desta vivência na pesquisa de campo, pude observar e assinalar dois pontos característicos, que posteriormente foram levados para o corpo do espetáculo: os procedimentos de Iracema, ou seja, o que ela faz, e a narrativa de Iracema, o que ela conta. Os procedimentos artísticos de Iracema, o seu modo de fazer e sua poética de criação ofereciam pistas que abriam possibilidades cênicas, ou seja, havia a possibilidade de eu me apropriar de tais procedimentos e transformá-los em matrizes para criação de cenas ou de elementos do espetáculo. O caso em questão refere-se a um proce-
“A intenção do artista é pôr obras no mundo. Ele é, nesta perspectiva, portador da necessidade de conhecer algo, que não deixa de ser conhecimento de si mesmo, (...) cujo alcance está na consonância do coração com o intelecto”. dimento que Iracema realiza em relação aos figurinos dos personagens dos Pássaros Juninos. Os figurinos contêm bordados em paetês e lantejoulas. E é característico dos Pássaros Juninos a alta rotatividade de figurinos, pois os personagens, durante uma apresentação, trocam de roupa muitas vezes. Também anualmente, os figurinos não se repetem, pois a roupa é um dos elementos surpresa e ícone de beleza e qualidade dos Pássaros. Então, Iracema procede da seguinte forma: ao invés de bordar diretamente na roupa, e desta forma criar um figurino único, que não poderá ser mudado, ela faz os bordados em tecidos separadamente, e depois os aplica nas roupas; desta forma, terminada a quadra, o bordado de uma roupa poderá ser reaproveitado e reconfigurado no ano seguinte, em outra peça de vestuário. Vou citar um trecho de meu relatório de pesquisa, onde eu falo e considero sobre esta possibilidade de metáfora. Estivemos na casa dela (de Iracema)
no dia 06/04/2008 em que ela e Dona Darcy, sua colaboradora fiel no pássaro junino estavam planejando os figurinos do pássaro para este ano, uma informação preciosa que consegui neste dia e que acredito posso usar como metáfora na dramaturgia é o fato de que os figurinos são fragmentados e reconstruídos a cada ano, ou seja, os bordados são tirados de roupas e aplicados em outras gerando novas configurações e novas
Iracema Oliveira nasce em 21 de março de 1937. Aos sete anos de idade estreia na cena, vivendo o personagem Anjo Gabriel, no ano seguinte, levada pelo seu pai, o artista popular Francisco Avelino de Oliveira, ingressa no Pássaro Junino Cigarra Pintada, como o personagem Porta-Pássaro.
combinações de vestuários para os personagens do pássaro. Essa imagem para mim é bastante significativa da artista que reinventa-se a cada ano, e, em minha concepção ela servirá de metáfora para significar um quebra cabeça de acontecimentos e sensações que montarei no espetáculo, aos olhos do espectador. Esta característica foi incorporada pela encenação, materializada no elemento cenário. O Cenário é moldado criando várias
reconfigurações que vão simbolizando etapas e ações da vida de Iracema.
Um campo cenário voador “Um imenso tecido que cobre tudo”. Essa foi a descrição da concepção do cenário que ouvi de Aníbal Pacha . Enquanto me explicava sua ideia com palavras, seu corpo falante e seus olhos brilhantes já tratawww.portalpzz.com 37
teatro paraense vam e me convencer, e dizia: “Eu sei que é algo que vai interferir no teu trabalho de atriz, modificar o teu corpo”. Dava um certo medo, Aníbal colocara um elemento que estaria entre meu corpo e o chão. Poderia ser liso, escorregar, havia riscos... Mas não pisar no chão é condição imprescindível pra se voar... Era um novo campo... Era o meu campo, pronto pra ser cultivado. Ele teria de ser para mim um ninho para a criação. Seria também um elemento a ser investigado, a ser moldado, em diferentes configurações, para gerar imagens, sugerir, participar e interagir na cena. Para confeccionar o cenário, chamei Mestre Nato; sua obra plástica com a arte da costura dialoga com a cultura popular e por este motivo achei que ele seria a melhor pessoa para criar esse cenário, aliás, toda a equipe do trabalho comungava desta opinião. O prazer com que Mestre Nato realizou esta construção contaminava a todos, era lindo vê-lo trabalhar. Iniciamos trabalhando com um tecido-dublê (era um tecido que tínhamos à mão e que tinha, em média, o mesmo tamanho do que pretendíamos usar) Resolvemos usá-lo provisoriamente para fazer experimentações antes de comprar o material para construção do definitivo. Toda a equipe experimentou formas de manipular o cenário, e juntos fomos descobrindo as suas possibilidades. O tecido ganhou a aplicação de uma franja, e ficou parecendo um grande tapete, então, acabou ganhando da equipe o apelido carinhoso de Tapete-Mágico (que por sinal, também voa!). Nosso Tapete-Mágico foi ganhando outras aplicações em tecidos e bordados, as quais são reveladas as funções conforme o andamento da encenação. Ao manipular o cenário ele vai dando movimentação ao espetáculo, pois é um elemento surpresa: transforma-se em adereços, transforma-se em figurinos, vai cena à cena se revelando. Além disso esse cenário tornou-se um suporte para os relicários de memórias culturais que a platéia é convidada a escrever na última cena do espetáculo. Este tapete-cenário ao se configurar e reconfigurar ganhou a característica que havia observado na pesquisa de campo, sobre a configuração e reconfiguração dos bordados, o poder de recriação e 38 www.portalpzz.com
reinvenção dos Pássaros Juninos. Outras ações de Iracema percebidas durante a pesquisa de campo foram incorporadas no espetáculo, estas estão descritas no ensaio completo.
Iracema conversa com as flores Outro ponto marcante e significativo da pesquisa de campo era material em áudio coletado nas gravações das entrevistas ativas. Iracema é uma pessoa com facilidade e fluxo de expressão. Nas entrevistas ela conta, explica, ensina, revela seu jeito de falar e de ser. Fala com propriedade de sua história e dos seus, aos quais ela representa, então, estas narrativas já despontavam como importante material para a confecção do espetáculo.(...) a narrativa dela foi uma das primordiais matérias da pesquisa e do espetáculo. “Iracema Voa” é obra fronteiriça entre arte e vida, não é um espetáculo de ficção. Havia minha preocupação quanto à abordagem e tratamento do objeto real, meu interesse em criar algo que dialogasse com a história, além da consciência ética para com os conteúdos a mim confiados. Iracema me confiou sua narrativa de vida e experiência, na forma a qual sua memória privilegiou: pontos marcantes, de significado para ela e para os seus. Qual a forma predominante de memória de um dado indivíduo? O único modo correto de sabê-lo é levar o sujeito a fazer sua autobiografia. A narração da própria vida é o testemunho mais eloqüente dos modos que a pessoa tem de lembrar.” (Ecléa Bosi) Da pesquisa de campo tínhamos nove horas, cinqüenta e cinco minutos e cinco segundos de áudio em entrevistas, mais sete horas em fitas de vídeo, incluindo as apresentações de seu pássaro nas mostras oficiais que acontecem em Belém do Pará. Em meados de junho de 2008, comecei a transcrever o material coletado em áudio. A opção de eu mesma realizar as transcrições foi uma estratégia, desta forma iria ouvir muitas vezes as falas de Iracema, e acreditava que isso poderia me ajudar no raciocínio: quanto mais íntima eu estivesse da matéria-prima da obra, mais seria fácil manipulá-la para a concepção, e eu estava correta nessa suposição. Embora fosse muito difícil achar símbolos gráficos para passar para o pa-
pel a forma como Iracema me narrou, com as inflexões, as pausas, a maneira dela de falar, eu conhecia essa forma, de cór e salteado, de tanto que os ouvi ao realizar as transcrições. Foi uma fase trabalhosa, porém deliciosamente rica, pois, o trabalho, quase “braçal” de transcrever não me exigia um raciocínio de montagem ainda, ou seja, eu não estava preocupada em compor cenas, nem encadeá-las num roteiro, eu apenas ouvia as entrevistas de Iracema somente com a preocupação de copiá-las
“A intenção do artista é pôr obras no mundo. Ele é, nesta perspectiva, portador da necessidade de conhecer algo, que não deixa de ser conhecimento de si mesmo, (...) cujo alcance está na consonância do coração com o intelecto”. para o papel. Exatamente por eu não estar ainda me cobrando a responsabilidade de criar cenas, o exercício da transcrição me florescia possibilidades; eu podia ter ideias e deixá-las ecoar livremente. Além do quê, ouvir a voz da entrevistada muitas vezes foi importante para o meu trabalho de atriz: pude perceber o timbre da voz de Iracema, o tom e sua maneira de falar. No início do mês de agosto de 2008, era chegada a hora de ir para a cena: experimentar, testar. Tínhamos o material bruto em mãos e esta fase indicava o momento de partir para a ação criadora. Agora, era ir à cena compor o espetáculo! Minha prática dramatúrgica é intimamente ligada com o processo de encenação, motivo pelo qual comumente eu realizo as duas tarefas. Não consigo sentar e escrever um texto e só depois encenar. Meu processo de escrita é um caminho de duas mãos, vou e volto da cena para o texto e do texto para a cena, muitas vezes. E foi isto que fiz quando achei que tinha em mãos, material suficiente para compor o espetáculo. Os textos transcritos me serviram como
um pré-texto bruto, ao qual eu poderia usar como uma massa, moldando a narrativa, porém, sempre atenta para não perder a essência do discurso, nem a espontaneidade da entrevistada. Também usei de outro recurso que foi separar as transcrições por blocos de assuntos, embora eu mantivesse a cópia original na íntegra para consultas. Outra fonte de consulta foi um mapa cronológico que criei, que me localizava a ordem que os fatos foram acontecendo na vida de Iracema e a relação temporal deles com o contexto histórico geral. Então, comecei a selecionar temáticas que achava importante estarem no espetáculo e a trabalhar dramaturgicamente. Fiz um arquivo no computador que chamei de texto em processo , lá elenquei temas possíveis para cenas. Colocava os blocos de depoimentos que falavam sobre determinado assunto e ia trabalhando ideias para as cenas, editando os textos, sem portando perder ou mudar o sentido que ela havia dado na entrevista. Devagar eu ia editando os textos das entrevistas transcritas, tirando excessos, recortando e colando falas que tivessem sintonia no discurso, assim como um editor de cinema faz numa ilha de edição . Com zelo e cuidado, o meu texto (meu depoimento, minha opinião, minha história) foi entrando, quando se fazia necessário.
Todo corpo é testemunha A minha fala entra ao lado da de Iracema quando comunica, interage, dialoga, depõe. A minha fala ficou sendo um fio condutor e um elo da história, a minha fala é narrativa do encontro, revelando não somente o que acontecia quando eu estava com ela, mas também os ecos que esse encontro foi causando em mim. Quando abro o espetáculo, deixo claro ao espectador que ele viverá um encontro comigo, em nenhum momento eles verão uma representação de um personagem. Estou ali, como pessoa, é a Ester em performance. Desta forma, explico ao espectador que lhes colocarei o meu olhar sobre a vida e a obra de Iracema Oliveira, e que cada um receberá e lerá o meu olhar através do seu. É importante frisar aqui a diferença da representação de uma peça teatral, nos moldes clássicos, de um trabalho perforwww.portalpzz.com 39
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Em 1954, com apenas 16 anos, Iracema estreia como rádioatriz , trilhando uma carreira sólida na era do rádio, onde participou de rádionovelas , programas humorísticos, e também de programas musicais, como cantora. Até hoje Iracema trabalha como radialista, em parceria com Santino Soares. Iracema participou como atriz de diversas peças de teatro apresentadas em Belém e no interior do Estado do Pará, sob a direção de Cláudio Barradas , dentre outros diretores. Também participou do filme “Brutos Inocentes”, do cineasta Líbero Luxardo , na década de 70. Na década de 80 assumiu a função de guardiã do Pássaro Junino Tucano, a qual executa até os dias atuais, levando anualmente à quadra junina sua apresentação. Também na quadra natalina, Iracema mantém viva a tradição das Pastorinhas com seu grupo “Filhas de Sion”.
mático no teatro. Nos moldes clássicos o ator representa um papel, vive um personagem, é outro. Na linguagem da performance o artista está em performance, defendendo uma idéia, uma concepção pessoal sobre a vida. Embora o ato teatral, em ambos os casos, nos traga sempre um ator “vivo” em relação com o espectador, na linguagem da performance é onde vamos ter com mais proximidade esse cruzamento de arte e vida. O artista em performance defende seu argumento de forma poética.: “Em performance a figura do artista é o instrumento da arte. É a própria arte.” (BATTCOCK apud COHEN, 2007, p.16) E é desta forma que pensamos o trabalho desenvolvido em Iracema voa. Sou eu, a atriz Ester, em encontro com a plateia, narrando sobre meu encontro com Iracema Oliveira. Quem está à frente do espectador é o ser humano que se propôs a estetizar a vida de outro e por esse motivo vira personagem da trama teatral. Quem conta esta história e a mesma pessoa que a buscou, encontrou e trilhou o caminho de sua produção. O depoimento sobre esse trajeto também estruturou o espetáculo, também é um pilar da encenação. Ao contar participo da trama, a fala do espetáculo também é a minha fala. Entrelaço minha história com a pesquisa e faço do meu depoimento um texto espetacular.
A voar sobre as flores O espetáculo foi uma experiência de concepção com a vida, que é mutável e em constante fluxo e proliferação. Esse ato de multiplicação que existe num espetáculo teatral acontece quando quem assiste é tocado de alguma forma pela experiência artística: sai da sala de espetáculo diferente de quando entrou, leva para sua vida algo do que foi vivenciado ali. Esse toque imaterial do encontro humano é o que temos vivenciado desde a pré-estreia do espetáculo. A forma como as pessoas o têm recebido nos trás muita alegria: as pessoas se emocionam, lembram de suas histórias, sentem-se parte do espetáculo. As histórias nele contadas transcendem a individualidade de Iracema, passam a ser do coletivo emocional que se estabelece a cada sessão. O espetáculo é afetivo, e aciona a afetividade das pessoas. Tocamos e somos tocados pela plateia. Algo que nos deixa muito feliz é o fato de
Iracema e sua família terem reconhecido no espetáculo uma homenagem. Acredito que, para Iracema, ver sua vida representada e reconhecida é uma renovação de suas escolhas. Ela gosta de se ver refletida no espetáculo, e sempre vai assistir suas apresentações, fazendo questão de levar parentes e amigos. Essa qualidade de relação humana que se estabelece nos deixa felizes. Toda a equipe: Eu, André Mardock, Sônia Lopes, Baety Magalhães,
A minha fala entra ao lado da de Iracema quando comunica, interage, dialoga, depõe, ficou sendo um fio condutor e um elo da história, a minha fala é narrativa do encontro, revelando não somente o que acontecia quando eu estava com ela, mas também os ecos que esse encontro foi causando em mim. que estamos presentes a cada apresentação, e outros artistas colaboradores Mestre Nato, Aníbal Pacha, Renato Torres, Karine Jansen dentre outros que direta ou indiretamente fazem parte desse trabalho, nos sentimos cumprindo nossas missões de artistas.
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MOVIMENTO
Yvana Crizanto
Um solo para minha terra A Onda Encantada: tecido acrobático, teatro, dança e magia
U
ma mistura de acrobacias no tecido, dança, performance teatral. O espetáculo que encantou o público de municípios do Pará e também do Amapá, em 13 apresentações de apresentações, foi de encanto: uma troca de experiências entre a bailarina e performer, Tatiana Benone, e quem assistiu de perto. A Onda Encantada integra o projeto Um Solo para Minha Terra, uma investigação cênica em dança-teatro-tecido acrobático contemplada pelo Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna/2012, e que em Belém teve apoio cultural do Instituto de Artes do Pará (IAP), Pará 2000, Hangar Centro de Convenções da Amazônia,
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Estação das Docas, Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e Governo do Pará. O projeto foi uma rica e profunda experimentação, diz a bailarina. Quando o espetáculo inicia é uma oportunidade de interagir com o público, sua cultura, a natureza do lugar, e situações que transformam cada uma das apresentações. Um Solo para Minha Terra foi uma homenagem da bailarina paraense à sua terra natal, utilizando o tecido acrobático, um aparelho circense, como um modo de ampliar as possibilidades da expressão corporal e dança. A suspensão alarga as fronteiras do espaço e relação com a gravidade, em expressões que ora estão a poucos metros da plateia,
ora crescem para até 7 metros. Ainda é possível ver a artista de perto, no solo, em uma cena de teatro e intervenções. A artista visitou expressivas cidades paraenses e também amapaense. A itinerância iniciou no mês de julho na ilha do Marajó, nas cidades de Soure e Salvaterra, e se estendeu Bragança, Santarém, e a capital amapaense, Macapá, até o mês de setembro. Em outubro, mês do Círio de Nazaré, a artista se apresentou na bela árvore samaueira do Hangar, e à beira do rio, na Estação das Docas. Encerrando a temçporada, três belas apresentações, em Casantahal e no sítio Jalam das Águas, em Benevides, culminando com arte uma vivência com a natureza.
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MOVIMENTO Em cada uma das cidades o espetáculo ocorreu na sede dos municípios e em comunidades mais distantes. A cidade de 400 anos, Bragança, recebeu A Onda Encantada, primeiro em uma apresentação na praça da Aldeia, um espaço vivo, de intensa atividade, seja de esportes, do passeio do final de tarde, de encontros e depois na Vila dos Pescadores, em Ajuruteua. Em Macapá, a cena foi vista por um grande público na festa de 70 anos da cidade e, dias depois, na comunidade Quilombo do Curiaú, uma paisagem típica da região, com um povo acostumado a interagir com a natureza. A bailarina busca se apresentar em locais próximos ao rio e mar, em árvores, com cenário exuberante da água, céu, e o pôr-do-sol. Todas as apresentações foram às 17h, utilizando-se da luz do dia para mostrar o que experimentou durante a vida acadêmica, no curso de dança da Universidade de Campinas (Unicamp), mas também nas tardes que esteve de férias com a família, na infância, em Mosqueiro, ouvindo os sapos cantarem ao fim de tarde. Retrata também as garças, tão próximas até mesmo de quem vive nos centros urbanos da região, e que podem ser vistas com toda sua exuberância em praias no Marajó. O objetivo foi levar o espetáculo solo acompanhado de um rico processo de troca de experiências também for a de cena em oficinas de improvisação em dança com o tecido acrobático, trabalho que tem recebido o foco da artista nos últimos anos. Trata-se de uma ação diversa para a dança, que explora o movimento do nível do corpo ainda no chão. Todas as oficinas são realizadas gratuitamente, e tem atraído público das mais diferentes faixas etárias. O Solo para Minha Terra ocorreu nos municípios também pelo apoio cultural das Secretarias Municipais de Cultura, de Soure, Salvaterra, Bragança, Macapá e Santarém, que possibilitaram espaços públicos para essa experiência cênica. A maioria das apresentações foram transmitidas online, em tempo real, em links que o público acessou pelos perfis do projeto nas redes sociais ou no site do projeto - www.tatibenone.com – no qual ainda é possível conhecer um pouco mais sobre a trajetória e proposta dos espetáculos, por meio de textos, vídeos e fotos. 44 www.portalpzz.com
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expedição filosófica
Agenor Sarraf Pacheco
MELGAÇO EM VOZES E VISUALIDADes: Por uma Outra Cartografia do Desenvolvimento Humano
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expedição filosófica
O
utubro emerge em nossas vidas despedindo-se dos festivos tempos do antecipado natal paraense. Uma ideia rizomática ganha corpo e avança em mentes sedentas pelo desconhecido: um capitão artista, uma artista descentrada, um historiador marginal, um trovador marajoara, um fotógrafo perspicaz, um fotógrafo NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) e um grupo multidisciplinar de alunos estavam prestes a se entrelaçar. Era preciso um tema midiático para atar nós de destinos e implodir os desejos criadores: IDH, Marajó, foram palavras mágicas que aguçaram a sede de desenhar uma outra cartografia do desenvolvimento humano para o premiado município de Melgaço: pior lugar para se viver digna e socialmente no Brasil, segundo relatório oficial publicizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD). O pensar decolonial, que valoriza as vozes, visualidades, trajetórias e tempos de dentro a partir do olhar local, no entanto, conduziu o despejar de nossas energias para outros territórios da cultura. Patrimônios materiais e imateriais de populações tradicionais marajoaras, apreendidos em saberes-fazeres de professores, parteiras, foliões, pajés, agricultores, vaqueiros, músicos, dançarinos, cantores, poetas, contadores de outras histórias, emergiram em pensares coletivos e orientaram composições cartográficas. Para captar a riqueza deste patrimônio invisibilizado pela mídia sensacionalista e mercadológica, uns desejaram fotografar ou desenhar, outros filmar ou narrar. Por dias caminhamos apenas com a ideia, muitos sonhos e desejos de experimentar o diferente, o diverso, o imprevisível. Sonhadores são seres sem fronteiras e conectados cosmicamente a forças colaborativas. Depois que a promessa das passagens escaparam de nossos horizontes e fomos obrigados a comprar o sonho de realizar os percursos, alcançamos a infraestrutura necessária por intermédio de gratas e generosas surpresas. Com (in)segurança, rasgamos, então, cursos e tempos de águas amazônicas. Euforia, desafio, poéticas, conexões, registros midiáticos de vivências nômades
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em tempo real iam compondo mapas de nossos repertórios compartilhados, enquanto deixávamos águas da baia do Guajará, rio Para, baia do Rosário, estreito de Breves para avistar Breves e fazermos nossos primeiros desembarques. Registros visuais e audiovisuais desestabilizaram cenas da vida urbana. Homens, mulheres, crianças, automóveis, barcos de variadas estéticas e designares foram enchendo nossas memórias di-
gitais. Três lanchas embarcaram nossas bagagens, junto a elas interligamos emoções, expectativas e curiosidades para avistar, navegar e mergulhar nas águas e histórias da baia de Guarycuru, nome que inspirou nossa expedição. À proporção que as lanchas aproximavam-se da terra de Nogueiras e Mamedes, a famosa Turquesa do Pará, como a batizou o imortal e popularmente conhecido Francisco Mamede, uma
MELGAÇO As vivências dos últimos quatro meses da gestão pública de 1996, sob a regência do capitão/prefeito, urdiram-se por labirintos e artimanhas de memórias que colhíamos para a produção de um documentário, exposições fotográficas, HQs (Histórias em Quadrinho), a serem socializados com variadas comunidades marajoaras, paraenses, brasileiras...
paisagem natural, culturalmente transformada não apenas pela ação física de mulheres e homens ao longo dos tempos, mas também pelo olhar sensível de visitantes, fotógrafos e curiosos, fazia fervilhar memórias, devaneios poéticos e visuais, histórias, narrativas literárias. Entre as muitas histórias que carregávamos, uma aflorava com intensidade de memórias do capitão e do historiador: o episódio de 12 de agosto de 1996, o
inesquecível ato de sublevação popular que resultou na queima do prédio onde funcionava a prefeitura, a câmara, os correios e anunciou para o Brasil a necessidade de intervenção estadual para Melgaço. Memórias de 16 anos passariam a atualizar-se a partir daquele desembarque. Inicialmente, antes destas rememorações invadirem teias da vida dos demais participantes da expedição, o pisar na antiga aldeia Guarycuru, depois Vila São Miguel de Melgaço, hoje município de Melgaço, estava sentimentalizado na representação social do poder oficial. Incrivelmente, o modo como o antigo capitão militar, hoje capitão artista, sorria, abraçava e emocionava-se ao ser acolhido pelo caloroso e carinhoso abraço dos mais diversos melgacenses, desmontava-se o nacionalmente instituído e hierarquizado lugar da autoridade política. As vivências dos últimos quatro meses da gestão pública de 1996, sob a regência do capitão/prefeito, urdiram-se por labirintos e artimanhas de memórias que colhíamos para a produção de um documentário, exposições fotográficas, HQs (Histórias em Quadrinho), a serem socializados com variadas comunidades marajoaras, paraenses, brasileiras... Por asfaltos, calçadas comidas, terras de chão batido, pontes de madeira, açaizeiros, ruas de rios, interagimos com moradores de Melgaço, cartografamos a riqueza patrimonial da cidade e da floresta, impressionamo-nos com o festival de brinquedos da pré-escola municipal; narrativa da parteira que, diferente de outras aparadeiras de vidas, não guarda em sua memória insucessos de seu ofício; o impactante altar barroco da Igreja de São Miguel Arcanjo e as histórias do santo padroeiro; a força e energia do patrimônio material musical e simbólico e a performance revelada nas cantorias dos foliões da paróquia de São Miguel; ficamos vidrados na confissão de vida socializada por uma pajé, mulher sábia no trato com plantas detentoras de poderes medicinais e espirituais. Na primeira noite como cartógrafos de vozes e visualidades melgacenses, mergulhamos e emocionamo-nos com um sarau artístico e cultural preparado pelo município para receber nossa expedição. Ao som de melodias de sopro, percussão e tambor ecoadas das habilidades em www.portalpzz.com 49
expedição filosófica manusear instrumentos pela Escola de Música, coreografia com músicas regionais como a dança do boto, performance de jovens capoeiras ou danças litúrgicas, as horas foram avançando e configurando um retrato da cultura amazônica registradas em flashes e áudios a partir do Marajó das Florestas. Poéticas de artistas da terra, homens e mulheres, bordadas e ampliadas com a voz e gestualidade do inconfundível Boto do Marajó, poeta do mundo, Antônio Juraci Siqueira, ecoaram em mentes e corações que assistiam, gravavam e aplaudiam aos números do espetáculo da literatura de Melgaço. Os convidados especiais, juntamente com a população local foram, ao final, brindados com poéticas musicalizadas em voz forte e afinada de Rildon Tavares. Na segunda manhã, cortando rios e avistando florestas, partiu a expedição para a milenar terra onde possivelmente habitaram as mais antigas nações indígenas melgacenses que se tem conhecimento em pesquisas arqueológicas. Na contemporânea fazenda Vitória, de Demétrio Cardoso, chegamos e fomos recebidos por latidos de cachorros avisando que o proprietário ou seu principal vaqueiro não se encontravam. Depois dos medos iniciais, fomos recebidos pelo vaqueiro auxiliar que nos conduziu para a fazenda e o incrível sambaqui. Num lance de vista, miramos restos de ostras, uruás, ossos de animais e pedaços de cerâmicas enterradas em terra preta, fertizada pelo cálcio. Das vozes do historiador e do poeta deslancharam histórias reais e imaginarias que revelam significados atualizados do uso do solo e do patrimônio material deixado por aquelas populações nômades da Amazônia. Com nossos equipamentos carregados de histórias e memórias do patrimônio melgacense, trafegamos a agitada e temível baia de Portel em tempos de fúria das águas para desembarcar na Comunidade do Paricatuba. Apesar do sol escaldante, o ronco da voadeira retirou as crianças de suas habitações e afazeres cotidianos para ver quem chegava. Em gesto comum ao mundo infantil marajoara que tudo sabe e informa porque são os mais exímios comunicadores do lugar, alteramos sua rotina e fizemos adentrar, a seu modo de ser e viver, no baú de repertórios que vínhamos colhendo. O baú engordou com narrativas 50 www.portalpzz.com
BARCARENA “Iracema Voa” é um encontro. Sou eu, atriz, que recebo as pessoas e conto-lhes sobre minha experiência de encontrar outra atriz, Iracema Oliveira. Narrando sobre sua vida e sua obra o espetáculo vai revelar muito mais: revela a mim mesma, a trajetória cultural da cidade, e das pessoas que nela viveram e vivem.
do morador mais antigo e fundador da comunidade, agricultor que socializou a arte do saber-fazer da farinha e pescador que aprendeu a profissão com o pai. No final da tarde, depois do retorno da expedição para Melgaço, uma cena envolveu a todos, levando, inclusive, aos participantes a entrarem na fila de disputa: na comunidade dos pescadores, localizada na Estrada do Moconha, um rústico e criativo balanço foi encontrado
como o maior brinquedo de crianças, jovens e adultos que ali tomavam banho. Uma indagação martelou nossas cabeças: o que significava para aquelas gentes deste outro lado do Marajó o conceito de desenvolvimento humano tão fortemente cobrado pelos meios de comunicação? O domingo amanheceu cedo para a expedição. Depois do café e de alguns inesperados incidentes, atravessamos
a baia Guarycuru, o rio Carnajuba, desta vez para conhecer uma pequena porção do labirinto de ilhas que conforma o roteiro das Ilhinhas: a comunidade São Sebastião, no rio Cacoal. Moradores locais, da circunvizinhança e aqueles que ficam em ires e vires entre Melgaço e Breves estavam se organizando para celebrar o culto dominical, com suas peculiaridades para viver a fé católica no espaço rural marajoa-
ra. Membros da expedição foram convidados a entrelaçar-se nos roteiros da celebração e compartilharam ideias que motivaram o movimento social local. Em seguida, vozes de uma parteira afroindígena dominaram as lentes de nossos equipamentos tecnológicos. A fala firme de quem soube administrar contradições e carências sociais pelo dom de trazer ao mundo vidas da/na floresta expandiu ângulos e questões dos repertórios em captação. Faltava uma última caminhada pelo solo onde verdejam e secam cacauais para completarmos os percursos planejados e continuamente remodelados: o sítio arqueológico do Cacoal. Rumamos, então, para o quintal e rasgamos as trilhas atualmente abandonadas pelos deslocamentos que os membros da comunidade precisaram realizar. Avistamos, entre folhas secas, pedaços de cerâmica, ostras, uruás. Neste ambiente de artefatos que unem diferentes tempos históricos, ouvimos da boca do dirigente da comunidade a história de uma botija de ouro enterrada que pela ganância do vizinho encantou-se e revelou-se apenas em pedaços de carvão. Como o patrimônio cultural local, as formas singulares de viver, divertir-se e experimentar a felicidade em suas outras dimensões não compõem o índice de desenvolvimento humano, já que as chamadas políticas públicas com base em outros padrões, geografias e temporalidades não são referências para análises oficiais, modos de ser diferente continuam sendo postos nas páginas subterrâneas das agências que produzem diagnósticos e dados da vida em cidades-florestas e espaços rurais marajoaras. Com essa iniciativa orientada pelo pensar e fazer cartográfico, a expedição Guarycuru almeja contribuir para que o acervo de registros da cultura marajoara e melgacense que será publicado nas mais variadas mídias escritas e digitais torne-se antídoto para os poderes instituídos deixarem aflorar suas sensibilidades humanas para lidar, dialogar e ouvir o outro, seja ele visibilizado em rostos melgacenses, marajoaras ou amazônidas, historicamente desqualificados e desrespeitados em seus direitos fundamentais. www.portalpzz.com 51
RILKE PINHEIRO
Carlos Parรก
O PARร NA ROTA DO Desenvol vimento 52 www.portalpzz.com
As novas perspectivas de desenvolvimento para a região amazônica colocam o Pará como um dos principais agentes do crescimento econômico brasileiro.
ECONOMIA NO PARÁ A economia do Pará está dividida em três eixos: projetos de desenvolvimento de energia, mineração, agronegócio e infraestrutura; economias tradicionais do extrativismo, agricultura familiar, pesca artesanal, economia de subsistência; e inovação, da economia criativa, do turismo, biotecnologia e todo o potencial de desenvolvimento de setores menos tradicionais e mais modernos da economia. É nesse sentido, e a partir desses três eixos, que o governo estadual busca contribuições de cada setor de gestão e produção para elaborar o Plano Pará Estratégico 2030 será publicado em outubro após uma série de oficinas com secretarias de governo e outros órgãos para a elaboração de propostas e incorporação de novas contribuições ao projeto. Mineração Atualmente, em escala de valores da movimentação, a mineração extrati-
va representa 1,5% do PIB brasileiro representado no Plano de Mineração Brasileira. No Pará chega a ser 10% a importância do setor na economia e tem uma importância imensa, hoje na estabilidade macroeconômica brasileira. A mineração econômica do Pará garante com 70% do superávit brasileiro. Uma atividade com investimentos de 30 bilhões de dólares anuais e com lucros exorbitantes precisa transferir parte desses dividendos em benefícios para a sociedade paraense. Ela é uma atividade que não se renova e por isso é uma atividade provisória. No Pará, o debate do desenvolvimento e da sustentabilidade envolve a quebra de paradigmas priorizando investimentos
no setor da educação, cultura, ciência e tecnologia, turismo e formação de redes integradas de formação, debate, reflexão, socialização e circulação de bens culturais que podem gerar novos valores e o incremento na economia do Estado. Os debates sobre Mineração no Estado são muito incipientes e a dimensão estratégica para o desenvolvimento
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Carlos Pará é pouco aproveitada. Não podemos ficar estáticos diante das grandes realidades da mineração. Diz a Secretária Adjunta da Secretaria de Indústria Comércio e Mineração – SEICOM, Dra. Maria Amélia. Dentre essas realidades vale destacar que: o Pará possui a maior província mineral do planeta e as substâncias minerais de melhor qualidade; a mineração deve ser associada a questão do desenvolvimento econômico e da sustentabilidade como premissa; que essas riquezas minerais são finitas e, na essência, pertencem à sociedade que precisa ser compensada por sua exploração; o setor mineral é um dos alicerces para o desenvolvimento econômico do Pará e do país como um todo nas próximas décadas e grandes ainda são os desafios enfrentados pela mineração para melhorar a qualidade de vida da população. Além da mineração investimentos no setor pecuário, agricultor, turístico, cientifico, cultural, educacional e tecnológico fazem necessários. E neste momento podemos refletir sobre nossa atual situação no contexto nacional e internacional. É um assunto tão importante para o Estado e causa estranhamento a sociedade não discutir isso. O que podemos fazer para transformar em bem estar e desenvolvimento econômico e sustentável. Como fazer uma atividade insustentável provisória para uma atividade sustentável, pela magnitude dos seus subsetores, indústrias extrativa e de transformação mineral, aliada à sua condição de grande indutor desenvolvimentista sobre os demais segmentos da economia. A sociedade paraense deve entender sobre este assunto que diz respeito ao Pará e ao Brasil . Difundir as informações do setor mineral para que a população se aproprie desse conhecimento e entenda o quanto a mineração está presente em nosso cotidiano e de que forma essa atividade pode contribuir para o desenvolvimento do Estado. De telefones celulares a aviões, computadores, geladeiras, ferros de passar, carros, utensílios domésticos, de estruturas de prédios a moedas, os minérios são ingredientes para diversos itens indispensáveis para o seu dia a dia. Incluindo o minério de ferro, níquel, cobre, fertilizantes, manganês e carvão à criação de um movi54 www.portalpzz.com
mento articulador de permanente diálogo entre seus diversos integrantes, a administração pública e a população em geral. Nossa missão está no fomento para uma mineração mais sustentável, a valorização de trabalhadores locais, criação de rede de fornecedores nos empreendimentos locais e incentivo à verticalização da produção mineral. Além da fiscalização da utilização dos recursos da CFEM(Compensação Financeira pela exploração de recursos Minerais), os chamados royalties da mineração, e da TRFM(Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários). Diz o Presidente da Simeneral, o Sr. José Fernando Gomes Júnior. Na Alepa foi criado uma Frente Parlamentar de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Mineração no Estado do Pará. Para liderar politicamente o enfrentamento a esses desafios é que a
Assembleia Legislativa instituiu, como Fórum permanente de debates e reivindicações, a Frente, com uma composição híbrida integrada por parlamentares e representantes de órgãos públicos, empreendimentos minerários, trabalhadores e da sociedade civil organizada - numa formação amplamente
Das 21 cidades que sediam atividade de mineração no que diz respeito à CFEM são destaque as cidades de Parauapebas, Canaã dos Carajás, Oriximiná e Juruti. representativa. A Frente abriu um canal para discutir diretrizes que cumpram os seus objetivos principais elencados no instrumento normativo que a instituiu, dentre
Fonte: https://sistemas.dnpm.gov.br. Adaptado pelo autor.
eles, notadamente, criar redes de fornecedores nos empreendimentos locais; fomentar a capacitação e o aproveitamento da mão de obra local; incentivar e fiscalizar o uso sustentável de royalties e compensações ambientais provenientes de empreendimentos mineradores; sugerir alternativas que previnam o colapso da economia local após a desativação das minas; e, acima de tudo, promover a mineração cada vez mais sustentável e verticalizar a produção mineral para internalizar a riqueza no Pará. É possível, com a adição de receita dos royalties e de uma boa relação institucional entre prefeituras e empresas, fazer com que o município melhore o Índice de Desenvolvimento Humano, através de uma eficiência nos serviços públicos, que vão de esgoto sanitário, passa pela atenção básica de saúde, infraestrutura urbana, geração de emprego e chega a uma lógica educacional de formação e qualificação de mão de obra especializada, dentro de uma estratégia
voltada para as necessidades do projeto, fazendo com que se aproveite a mão de obra local. Diz o deputado Vale A Vale é a maior produtora mundial de minério de ferro e pelotas, matérias-primas essenciais para a fabricação de aço.É a maior operação da Vale, localizada no norte do Brasil, na Amazônia. O minério de Carajás é considerado o minério de ferro de melhor qualidade do mundo. O Pará é o segundo Estado minerador do Brasil e possui a maior mina de céu aberto no mundo. O Pará é, hoje, o segundo maior produtor mineral do Brasil e, na visão do presidente da Federação dos Municípios do Estado do Pará (Famep), Helder Barbalho, tem potencial para ultrapassar Minas Gerais e se tornar o primeiro nos próximos anos. Mas, para que essa riqueza presente em solo paraense seja lapidada e, de fato, se
transforme em benefícios para os municípios, é fundamental uma interação maior e melhor entre empresas, prefeituras, governo estadual e federal, para que se possa preparar a cidade para receber projetos mineradores e construir planejamentos de longo prazo que deem suporte a essa atividade. Atualmente, o município onde se concentra a maior parte dos projetos e investimentos minerais em nosso Estado é Parauapebas, onde está localizada a mina de Carajás. Além dele, Canaã dos Carajás é outro município que se destaca como polo mineral. E temos também o eixo da PA 279, com Ourilândia do Norte e São Felix do Xingu com perspectivas muito interessantes de novos projetos se instalando ou a serem instalados nos próximos anos.
A riqueza advinda da mineração, por exemplo, impulsionou o que seria a solução econômica para o Estado Nacional, e fez surgir em diferentes regiões do território paraense cidades ligadas a mineração atraindo direta ou indiretamente um contingente populacional E, por fim, temos ainda Paragominas e Oriximiná, mas já com outro perfil de mineração. O nosso Pará é um estado privilegiado, porque no seu subsolo há uma riqueza fantástica, o que proporciona que sejamos a segunda maior bacia mineral do Brasil e, no meu entendimento, será o mais rico do país nas próximas décadas e até um dos mais ricos do mundo. Carajás começou com 15 milhões de toneladas anual, e agora com a descoberta da nova mina, a US11d começa com 90 toneladas por ano. Hoje, depois de 2000 para cá. Os grandes grupos tem que apresentar relatórios de responsawww.portalpzz.com 55
Carlos Pará bilidade social e se preocupar com sua imagem institucional porque podem afetar as bolsas de valores e suas ações financeiras. As comunidades tem um papel importante e principalmente nas redes sociais são fundamentais para atrelar programas de responsabilidade social corporativos importantes para aquilo que queremos para nossa atividade cultural, educacional, científica e nossa atividade econômica. Agora está sendo elaborado o Primeiro Plano de Mineração, o Cadastro das Mineradoras do Pará e uma Taxa sobre a Produção de Minérios, um Estado que convive há 5 décadas com a mineração e só agora se preocupa com a importância estratégica e desenvolvimentista que o setor agrega . Importante reverter para as atividades industriais, comerciais e criativas, a agricultura, a mineração, o audiovisual, a cultura que é o patrimônio sustentável que vai permanecer por muito tempo, vivemos nessa realidade e o momento é de fazer essa transição, essa ponte para o futuro. O modelo econômico adotado na região amazônica sempre produziu uma economia de saque, uma economia baseada na busca de extração de matérias primas para exportação sem qualquer valor agregado e sem consolidação em nível regional de qualquer excedente dessa exploração. Se no período colonial eram as especiarias (canela, urucum, drogas do sertão) agora são minérios, madeira, bovinos, soja, energia, biocosméticos ou seja, a mesma colonização oferecida num cardápio em forma diferente. Das especiarias passaram para as commodities, escoando a matéria-prima sem beneficiamento, taxação ou fixação na economia de excedentes econômicos. Isso gera um grande prejuízo econômico, impossibilidade de investimento público, incluindo outras dificuldades por ser uma região florestal em nível de redes de transmissão, de comunicação, internet sem banda larga, transporte desintegrado e em péssimas condições de circulação e comércio precário. É um desafio pensar e planejar o “Desenvolvimento Sustentável na Amazônia”, onde os Governadores dos nove Estados da Amazônia Legal (Pará, Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Amapá, Maranhão, Tocantins e Mato 56 www.portalpzz.com
Grosso) não tem um propósito comum de desenvolvimento regional e nem elevam ou promovem o debate que propicia sobre os principais temas, compromissos e questões a serem consideradas na construção de uma agenda comum dos Estados que possuem grandes riquezas minerais, vegetais, energéticas e não são beneficiados pelo processo exploratório que caduca amparado em leis arcaicas. Os desafios para um desenvolvimento baseado em recursos naturais renováveis com manejo ambiental, residem, entre outros, na consolidação de políticas públicas integradas, instituições de ciência e tecnologia, dos finaciamentos, do respeito a cultu-
ra tradicional dos povos e da vontade política de quem dirige as estruturas de poder. Buscar outro modelo de desenvolvimento para a região amazônica que não seja aquilo que nós temos enfrentado até hoje gerador apenas de pobreza, desigualdades e destruição da Natureza. Visando um modelo de crescimento sustentável para os Estados amazônicos, o que exige-se também é uma frente política forte por parte não apenas dos gestores, mas de frente parlamentar, de movimentos sociais e digitais que se interessam em reverter a situação de exclusão, exploração e degradação. A Amazônia brasileira representa mais de
É, preciso garantir que o estado nacional seja forte e torne forte o estado paraense para resistir às pressões internacionais, e assim o uso dos recursos naturais, como os minerais servir a própria lógica de desenvolvimento do estado nacional e local, a serviço de sua sociedade. Se a política de ordenamento territorial continuar sendo construída sem a presença efetiva da sociedade civil, não teremos novidades, além da aceleração da exportação dos minérios para outros países com pouca agregação de valor ao trabalho e ao produto, acirrando ainda mais os conflitos já existentes no estado do Pará.
um jogo estratégico O território amazônico é palco, produto e condicionante de dinâmicas territoriais diversas, onde as “peças” dos agentes moderadores do espaço estão postas à mesa, como em um jogo de tabuleiro, aguardando os movimentos estratégicos de avanço ou recuo de interesses,.
25 milhões de pessoas, 14% do eleitorado brasileiro, e por ser o menor coeficiente para as decisões presidenciais no Brasil acaba refletindo nas estruturas de poder político do país onde o coeficiente não é significante nem determinante, e o Congresso Nacional sempre prioriza questões regionais e partidárias. A Amazônia é responsável por apenas 8% do PIB brasileiro, ainda que o Pará contribua com metade do saldo positivo da balança comercial brasileira pela exportação do minério. Olhando nossa relação com o Brasil e com o mundo, a Amazônia é o centro das relações mundiais. O mundo não está pensando nos povos da Amazônia, o mundo está pensando na floresta naquilo que se beneficia da floresta que se destruiu. Não é pensando de quem vive aqui, pensando na floresta, existem 25 milhões de pessoas que parecem não viver aqui, o que se imagina é um grande vazio demográfico dentro das florestas que é um dos mitos que o mundo carrega dessa região. Mas estamos no centro mundo e devemos sabemos tirar vantagens comparativas e competitivas. Somos centro do mundo e estamos na periferia dos interesses do Brasil, estamos longe de ser a importância estratégica, econômica e geopolítica para o país. Somos o centro das discussões do planeta em questões geopolíticas, estratégicas, econômicas e pelo seu potencial energético, material, mineral e não cultural, humano. Historicamente a Amazônia sempre foi colonizada por povos europeus e norte-americanos por isso um região colonizada por mercantilistas ao longos dos últimos 5 séculos. Observando mais recentemente nossa história. Temos os Planos de desenvolvimento da Amazônia: PLANOS DE DESENVOLVIMENTO NA AMAZÔNIA Desde o inicio da década de 1970. Com a implantação dos Planos Nacionais de Desenvolvimento - PNDs, a Amazônia entra em uma fase de pesquisa e grandes mudanças em seu espaço geopolítico. O I Plano Nacional de Desenvolvi-
-mento vigorou entre os anos de 1972 a 1974, foi um plano econômico brasileiro, instituído durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, onde seu principal foco era o incentivo a pesquisas de fontes de recursos minerais a Amazônia. O governo do Médici também ficou marcado por um crescimento econômico que ficou conhecido como o milagre brasileiro. A classe pobre e a classe média obtiveram algum crescimento e o consumo de bens duráveis e a produção de automóveis, tornando-se comum, nas residências, principalmente, o ferro elétrico, o televisor e a geladeira. Em 1972 passou a funcionar a televisão a cores no Brasil e a Indústria Cultural favoreceu para o consumo brasileiro. Foi nesse período que o Brasil conseguiu crescimento econômico recorde, inflação baixa e projetos desenvolvimentistas como o Plano de Integração Nacional (PIN), que permitiu a construção das rodovias Santarém-Cuiabá, a Perimetral Norte, a Transamazônica, e grandes incentivos fiscais à indústria e à agricultura foram a tônica daquele período. Delfim Netto foi o Ministro da Fazenda nessa época, quando também foram construídas casas populares através do BNH. No seu governo, concluiu-se o acordo com o Paraguai para construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional, à época a hidrelétrica de maior potência instalada do mundo. No campo social, foi criado o Plano de Integração Social (PIS) e o Programa de Assistência Rural (PRORURAL), ligado ao FUNRURAL, que previa benefícios de aposentadoria e o aumento dos serviços de saúde até então concedidos aos trabalhadores rurais. Foi feita uma grande campanha de alfabetização de adultos através do MOBRAL e uma campanha para melhoria das condições de vida na Amazônia com a participação de jovens universitários chamado Projeto Rondon. Criado em 11 de julho de 1967, durante a ditadura militar, o Projeto Rondon tinha como lema “integrar para não entregar”, expressando um ideário desenvolvimentista articulado à doutrina de segurança nacional. O projeto promovia atividades de extensão universitária levando estudantes voluntários às comunidades carentes e isoladas do www.portalpzz.com 57
Carlos Pará interior do país, onde participavam de atividades de caráter notadamente assistencialistas, organizadas pelo governo. Segundo os críticos do projeto, a iniciativa também cumpria funções de cooptação do movimento estudantil. Entre 1967 e 1989, quando foi extinto, o projeto envolveu mais de 350 mil estudantes e professores de todas as regiões do País. Em 1970 o Projeto Rondon foi organizado como órgão autônomo da administração direta e, em 1975, transformado em Fundação Projeto Rondon. II PLANOS DE DESENVOLVIMENTO NA AMAZÔNIA Já o II Plano Nacional de Desenvolvimento, também chamado II PND (1975 -1979), foi um plano econômico brasileiro, lançado no final de 1974. Foi instituído durante o governo do general Ernesto Geisel e tinha como finalidade estimular a produção de insumos básicos, bens de capital, alimentos e energia. Foi o último grande plano econômico do ciclo desenvolvimentista e provavelmente, o mais amplo programa de intervenção estatal na economia do país. O plano só conseguiu se firmar porque o governo federal estreitou as parcerias com o capital privado nacional, estrangeiro e das oligarquias tradicionais, através do incentivo fiscal, implantação de infraestrutura, reduções de impostos nas importações de maquinários, etc., concluindo seu objetivo com ênfase na integração nacional. O II PND se propôs a realizar um ajuste estrutural na economia brasileira. Enquanto os ajustes conjunturais se referem a medidas de regulação da economia ou de gestão da política econômica no curto prazo (através da utilização instrumentos tais como taxa de câmbio, taxa básica de juros, regras para exportação e importação, tributação, etc.), o ajuste estrutural tem como objetivo reorganizar as bases da economia. À época da crise do petróleo, o Brasil era altamente dependente do petróleo, principal componente da sua matriz energética. O consumo vinha crescendo a taxas altíssimas, sendo que cerca de 80% do petróleo consumido provinha de importações. Uma das diretrizes 58 www.portalpzz.com
propostas pelo PND era a redução da dependência do petróleo árabe, através do investimento em pesquisa, prospecção, exploração e refinamento de petróleo dentro do Brasil, e o investimento em fontes alternativas de energia, como o álcool e a energia nuclear. Em outra frente, o plano buscou dominar todo o ciclo produtivo industrial ao investir pesadamente na produção de insumos básicos e bens de capital. O sucesso do II PND dependia de grande volume de recursos e de financiamento de longo prazo. Grande parte destes financiamentos foi conseguida com os petrodólares. Outra parte veio das linhas públicas de crédito, oferecidas pelo BNDES (antigo BNDE). O plano conseguiu êxito parcial, uma vez que, pela primeira vez na história, o Brasil conseguiu dominar todo o ciclo produtivo industrial. Contudo essa industrialização ocorreu a um preço alto, que fez a dívida externa explodir, o que acabou resultando na moratória, no final de 1982. II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979) PROGRAMA DE PÓLOS AGROPECUÁRIOS E AGROMINERAIS DA AMAZÔNIA (POLAMAZÔNIA) Ocupação Produtiva da Amazônia e do Centro-Oeste, a maior área do mundo ainda em escasso desenvolvimento agrícola ou industrial, a Amazônia constitui um desafio agrícola de proporções gigantescas. De um lado, como zona tropical úmida, a região conta com o fator favorável representado pela energia solar na maior parte do ano. Tal elemento torna, teoricamente, quase ilimitado o potencial produtivo da região. Por outro lado, é conhecida a relativa pobreza dos solos de terra firme, conquanto, dada a vastidão da área, seja possível identificar manchas de terra roxa e razoavelmente amplas áreas de floresta densa, a abundancia de insetos e microorganismos nocivos às plantas e aos animais, ressaltando a importância da pesquisa, para armar o sistema de defesa da produção. O III Governo da Revolução realizou
grandes investimentos, através principalmente do PIN (Plano de Integração Regional), de que decorreram a implantação de grandes eixos de penetração rodoviária, a revitalização da navegação fluvial, o aumento da oferta de energia aos núcleos urbanos de maior
A riqueza advinda da mineração, por exemplo, impulsionou o que seria a solução econômica para o Estado Nacional, e fez surgir em diferentes regiões do território paraense cidades ligadas a mineração atraindo direta ou indiretamente um contingente populacional porte, a introdução de moderno sistema de comunicações, a prospecção dos recursos naturais, o início de execução do Programa de Trópico Úmido. É necessário, agora, tirar proveito dessa infra-estrutura, para estratégia de ocupação produtiva da Amazônia. As bases dessa ocupação podem ser definidas como segue: 1) Utilização dos eixos naturais de penetração para a Amazônia e Centro-Oeste, e, principalmente, os importantes fluxos já caracterizados: o originário do Paraná e São Paulo, passando por Mato Grosso e encaminhando-se para Rondônia; o que, vindo do Nordeste, passa pelo Piauí e Maranhão em busca do Planalto Central ou do sul do Pará; 2) Ocupação por áreas selecionadas (e, pois, espacialmente descontinuas), escolhendo as terras mais férteis e concentrando a ação; e também, setorialmente seletiva, para desenvolver vantagens comparativas evidentes. A conjugação desses dois critérios leva à identificação de três tipos de programas, que não se excluem mutuamente. Programas de Aproveitamento Integrado de Vales (Tocantins-Araguaia, Tapajós, Xingu), Programas Setoriais de Base Empresarial e Programas de Colonização ao Longo dos Novos Eixos Vi-
ários (Transamazônica, Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém). Os principais programas setoriais a desenvolver são: pecuária de corte, extração e industrialização de madeira, mineração e indústrias eletrolíticas, lavouras selecionadas de caráter comercial e base agronômica assegurada, pesca empresarial, turismo. * Orientação das atividades de exportação, ligadas a corredoras de exportação, no sentido de vantagens comparativas nítidas e de setores dinâmicos do mercado internacional (carne, minérios, madeiras, celulose), para crescer 25% ao ano. Em consonância com a orientação definida, a ocupação produtiva da Amazônia e do Centro-Oeste deverá realizar-se através dos seguintes campos de atuação: I - Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia II - (POLAMAZÔNIA), com investimentos estimados em Cr$ 4 bilhões (com recursos do PIN, PROTERPA, FDPI, etc.) integrado, inicialmente, por cerca de 15 pólos de desenvolvimento, fora dos núcleos urbanos da região. O programa de Pólos Pecuários, que poderá permitir a elevação do rebanho da Amazônia para 5.000.000 de cabeças, até o fim da década, será desenvolvido principalmente no norte do Mato Grosso, norte de Goiás e sul do Pará, nas áreas de cerrado, cerradão e mata fina. O Programa será realizado segundo dois componentes estratégicos: sua adequada localização no espaço amazônico e a crescente tecnificação do setor. I - O Programa de Lavouras Selecionadas, que serão principal-mente lavouras permanentes, inclui entre outras: borracha, açúcar, cacau, dendê, frutas, pimenta, arroz. II - Complexo Mínero-Metalúrgico da Amazônia Oriental, compreendendo o esquema integrado de Carajás - Itaqui (minério de ferro e siderurgia), o conjunto bauxita-alumina-aluminio (Trombetas-Belém) e inúmeros outros empreendimentos associados ao aproveitamento do potencial hidroelétrico da região Araguaia-Tocantins (São Felix e Tucuruí). Os investimentos, até agora, estão estimados em Cr$ 16 bilhões, na primeira fase. III- Política de Desenvolvimento de Recursos Florestais e Uso Racional dos
Solos da Amazônia, objetivando, principalmente, transformar a exploração madereira numa atividade planejada, institucionalizada e permanente.
A riqueza advinda da mineração, por exemplo, impulsionou o que seria a solução econômica para o Estado Nacional, e fez surgir em diferentes regiões do território paraense cidades ligadas a mineração atraindo direta ou indiretamente um contingente populacional Tal política compreende: * Racionalização da exploração madeireira da região, deslocando-se a ênfase para a exploração de florestas de terra firme (viabilizada pela construção dos novos eixos viários). Adotar-se-á o sistema de Florestas de Rendimento, condicionando-se os projetos às exigências de regeneração conduzida e reflorestamento (com espécies nobres), de modo a permitir a exploração permanente da floresta, renovada continuamente e evitar a atividade de devastação ora existente. * Desenvolvimento da técnica de celulose com mistura de madeiras, à base da floresta existente, assim como realização de um programa intensivo de pesquisas florestais. Definição, por antecipação, das áreas destinadas a Parques e Florestas Nacionais, reservas Biológicas e Parques de Caça. IV - Conclusão do Distrito Industrial da Zona Franca de Manaus e execução de seu Distrito Agropecuário. III PLANO DE DESENVOLVIMENTO NA AMAZÔNIA O III PND deu seu ponto de partida em 1980 com o principal objetivo de gerar
o crescimento e aceleração da economia regional reorientando o processo de ocupação desencadeado pelo II PND, e neste plano que o estado assume a responsabilidade de mapear os mercados internos e externos possibilitando o desenvolvimento industrial e garantindo a implantação de mecanismos de exploração dos milhares de recursos naturais que a região amazônica oferece, é neste contexto que surge implantação do Programa Grande Carajás (PGC). Para Chagas (2009), um pacote de incentivos fiscais para abrigar os grandes projetos e o, O PGC, este megaprograma amazônico, é constituído de projetos “menores”, entre eles destacam-se, os mínero-metalúrgicos, com participação mista – até meados da década de 1990, quando houve a privatização da CVRD – entre o capital estatal e o capital privado, nacional e estrangeiro, constituindo assim uma poderosa joint venture. (CHAGAS, 2009, p. p119). O PGC foi o suporte econômico para abrigar também projetos “menores” espalhados em vários pontos estratégicos dos estados do Pará, Norte do Tocantins e oeste do Maranhão. Estes projetos de mineração localizam-se na área mais rica em recursos minerais do planeta e tem uma abrangência de 900 mil km² da porção territorial do estado brasileiro. Esses incentivos advindos do PGC foram fundamentais para a viabilização de outros projetos, dentre eles o carro chefe do PGC, o Projeto Ferro Carajás (PFC). O estado teve sua participação garantida na empresa estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), empresa de exploração mineral, também através da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), que garantiu os incentivos fiscais para que as empresas internacionais se instalassem aqui, o Banco da Amazônia (BASA) também entrou nesta pareceria através de incentivos financeiros e por fim o Fundo Constitucional de Financiamentos do Norte (FNO), que garantiu empréstimos bancários. Todos esses organismos estatais e mais o FNO eram parte de uma estratégia do estado para tornar a Amazônia mais atraente para os grupos econômicos privados que viessem a se instalar na região. (BRITO, 2001). A Amazônia atualmente é protagonista na exploração de recursos minerais no www.portalpzz.com 59
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Carlos Pará mundo, pois temos as maiores minas de minério de ferro e uma grande diversidade de minerais que estão em fase de estudos e inicio de exploração. O sudeste do estado do Pará lidera o maior ritmo de exploração destes minerais, dinamizando a economicamente o estado e seus municípios e consequentemente absorvendo os maiores impactos sociais e ambientais da Amazônia. A mineração tem forte participação na economia do Pará. Na balança comercial do estado, essa indústria responde por mais de 86% das exportações. Os dois grandes investimentos no Pará nesta década serão investidos em minérios e hidrelétricas, centenas de milhões e de alguns bilhões de investimentos privados e públicos serão destinados nas áreas de energia e mineração sendo a atividade econômica de maior capital desenvolvido, elevando a posição do Estado do Pará entre os 4 maiores exportadores nacionais além de gerar o segundo maior saldo de divisas do Brasil. O Estado do Pará vai assumir a liderança da economia mineral brasileira e dos US$ 64 bilhões que constam da programação das empresas, quase US$ 36 bilhões serão aplicados na extração de minério, (US$ 21 bilhões) na indústria de transformação, US$ 3 bilhões em infraestrutura e transporte e US$ 505 milhões em outros negócios. O segmento dos minérios farão parte de quase 90% da exportação paraense. O subsolo do Estado é muito rico e sua vocação mineral é inevitável, alcançando expressão internacional, com o minério de ferro, a bauxita, o cobre, o caulim, a alumina, o alumínio, a gusa, o aço e agora o níquel. Minérios são recursos não renováveis cuja lei de royalties é extremamente prejudicial à região e não deixa praticamente nada de investimentos e os impactos ambientais geram muito mais despesa do que deixa como benefício em termos de rendimento em função da lei Kandir. Na perspectiva deste contexto de “Desenvolvimento e Sustentabilidade”, o Governador do Estado do Pará, Simão Jatene, encaminhou o decreto para cobrar uma taxa de exploração mineral no Pará, a criação de uma taxa em valor hoje equivalente a R$ 6 por tonelada sobre a exploração mineral no Pará. O projeto que institui a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das
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Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerais (TFRM) foi legitimada por todos os Deputados na Assembleia Legislativa do Estado do Pará, com pedido de tramitação em regime de urgência. Junto com a instituição da taxa, no mesmo projeto, o Governo do Estado propôs também a criação do Cadastro Estadual de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerais (CFRM). A Receita pode chegar a R$ 2 bilhões a partir de 2014, com base nos dados da produção mineral paraense de 2009, data do último levantamento disponibilizado pelo Departamento da Produção Mineral (DNPM), a taxa de fiscalização proposta agora pelo Governo do Estado estaria gerando hoje uma receita anual de R$ 719,2 milhões. Com dados mais recentes, levando em conta o aumento da produção, e contabilizando também os valores relativos a bens minerais com menor potencial contributivo, pode-se inferir que a receita atual poderia situar-se em torno de R$ 1 bilhão anual, valor expressivo para um Estado cujo orçamento para este ano está fixado em R$ 12,4 bilhões enquanto o lucro da Vale em 2011 atingiu a marca recorde de R$ 37,814 bilhões. A empresa fechou 2011 com ganhos de 25,7% superiores aos do ano anterior e agora com a pers-
pectiva de aumentar a produção, deixando apenas vazios e zeros, parlamentares e governistas numa causa fizeram um ato que há tempos era para ser feito. A Vale possui um nível de organização extraordinário em sua produção, ordenando e subsidiando matéria-prima para o mercado econômico internacional, principalmente China, Japão e Estados Unidos, países que concentram ciência e tecnologia para a Indústria de Transformação. Na taxação da produção mineral no Pará, os valores calculados com base na produção mineral de 2009 abrangem apenas os seis produtos de maior peso na cadeia mineral paraense. Se a taxação de R$ 6,00 a tonelada, cuja instituição é agora pretendida pelo governo estivesse em vigor há dois anos, o minério de ferro teria gerado uma receita de R$ 553,854 milhões, vindo a seguir a bauxita (R$ 133,314 milhões), o manganês (R$ 11,568 milhões), o caulim (R$ 9,126 milhões), o calcário (R$ 8,748 milhões) e o cobre (R$ 2,616 milhões). Com o projeto de duplicação do volume de produção de minério de ferro na província de Carajás, já em fase de execução pela Vale, e com a implantação projetada de outros grandes empreendimentos no setor, a perspectiva é de que a TFRM venha a gerar para o Estado, a partir de 2014, uma receita anual em valores próximos à R$ 2 bilhões, recursos que talvez mal dê para reverter os danos sociais e ambientais que vem causando ao Estado paraense, mas é a forma de pensar em o discurso desenvolvimentista a partir das novas relações econômicas de um mundo que busca sustentabilidade . “Com os royalties minerais dessa receita adicional, o Governo do Estado criará uma fonte própria de recursos parecida à da Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Ao mesmo tempo, busca se ressarcir das pesadas perdas que o Pará vem sofrendo ano a ano desde a edição da Lei Kandir, em 1996, que desonerou as exportações, causando perdas para o nosso Estado” reforça Jatene. Cálculos conservadores estimam que o Estado já acumulou, ao longo dos últimos 15 anos, perdas financeiras da ordem de R$ 15 bilhões. A sangria de receita decorrente da Lei Kandir, aliás, é um pontos destacados pelo governador Simão Jatene, ao justificar a taxação da produção mineral.
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HISTÓRIA PARÁ
Leôncio Siqueira
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fidanza
RODEbragança N0 CÉU A FUMAÇA, E AS MARCAS DOS TRILHOS DO CHÃO!
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história do pará Leôncio Siqueira, residiu nas cidades de Vigia, Salinas, Maracanã e Bragança e viajou por toda a extensão da ferrovia e pelas vicinais que interligavam as cidades litoranas à linha tronco da Estrada de Ferro de Bragança. Convivendo com os costumes e culturas regionais, suas raízes, tão fortemente fincadas no Município de Bragança aonde viveu parte de sua infância, adolescência e juventude, se estenderam por todo o Nordeste Paraense. O caminho de ferro era naquela época a trilha que levava a qualquer lugar e despertava embriagantes sonhos que foram transportados para o papel e transformados no excelente trabalho deste escritor, que mereceu a crítica de instituições culturais como a Fundação Tancredo Neves (CENTUR) e o IPhan, com o qual colaborou na elaboração do Espólio da Estrada de Ferro de Bragança. Apesar de sua curta trajetória, Leôncio Siqueira conquistou admiração e reconhecimento do meio literário, que hoje o referencia na Literatura Paraense. Sua projeção conheça em 2008, com o lançamento da 1ª edição da obra Trilhos: O Caminho dos Sonhos “Memorial da Estrada de Ferro de Bragança”, patrocinado pela Prefeitura Municipal de Bragança, que imediatamente passou a ser considerada um importante marco literário paraense. O Projeto Lei Semear aprovou por dois anos consecutivos a reedição da obra. A 3ª edição, aprovada pela Lei Tó Teixeira, será lançada ainda este ano. No período de 22 à 27 de dezembro de 2008, Leôncio Siqueira, a convite da Cela – Casa de Estudos Luso Amazônicos, da UFPA, coordenada pela Dra. Maria de Nazaré Paz de Carvalho, ciceroneou a comitiva de Bragança de Portugal, que visitou pela primeira vez a cidade de Bragança do Pará. Na oportunidade sua récem lançada obra foi entregue como referência histórica do Município. Nos dias 2 e 3 de abril de 2012, participou do encontro acadêmico internacional entre as academias de Bragança do Pará e Bragança de Portugal ocorrido em Bragança do Pará. Em dia 15 de maio de 2008, foi empossado Membro da Academia de Letras e Artes de Bragança. Ocupando a cadeira de nº 19, patrono Dr. Armando Bor66 www.portalpzz.com
dallo, e recebeu da Câmara Municipal de Bragança o Título Honorifico de Cidadão de Bragança. Em 2009 foi convidado pelo IPHAN – Instituto de Pesquisas Histórica e Artística Nacional, através da Superintendente Regional Dra. Maria Dorothéa Lima a colaborar na localização dos bens patrimoniais da antiga Estrada de Ferro de Bragança, vinculada à Rede Rodoviária Federal, pertencente a União. O trabalho resultou na elaboração do Espólio da Estrada de Ferro de Bragança. Na oportunidade recebeu o reconhecimento literário da obra Trilhos: O Caminho dos Sonhos, obra que serviu como base para a localização dos referidos bens. Também em 2009, à convite do Município de Benevides, iniciou as pesquisas para a elaboração da obra “Benevides História e Colonização”, que será lançada em fevereiro de 2014. Em outubro de 2011, a Fundação Cultural Trancredo Neves, através da Diretoria de Leitura e Informação, sob a direção do Dr. Sérgio Massud, creditou à Obra Trilhos: O Caminho dos Sonhos, um novo reconhecimento da riqueza literária da obra, cuja reedição fora lançada naquele ano, no Auditório David Mufarrej, UNAMA, Campus Alcindo Cacela. No dia 27 de janeiro de 2012, foi empossado Sócio Efetivo do IHGP – Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ocupando a cadeira de nº 39, patrono Dr. Theodoro Braga. Ocupando hoje o cargo de Diretor da Comunicação Social desta tão importante instituição. Em fevereiro de 2013, assumiu o cargo de Vice Presidente da ALAB – Academia de Letras e Artes de Bragança, e, no junho de 2013, participou como palestrante, do “Artes e Livros – Encontro de Academias”, em Bragança de Trás-os-Montes em Portugal. “A Estação estava localizada na praça que antecedia a praça matriz, que se destacava no centro. Por ser a quadra da Estação totalmente descampada, tinha-se a impressão de ser uma complementação da praça”. “O cheiro de Frutas nos atraiu. Os aromas do cupu e do umarí confundiam-se no ar”. A literatura como criação e recriação de textos ou produção literária de um determinado lugar, sempre manteve uma
fronteira “tênue” com a história e a memória, ou seja, a ficção, a poesia não seria necessariamente uma invenção, mas uma descrição peculiar e artística da realidade, a cosmovisão do autor registrando um momento sublime da realidade. Basta para isso verificar os textos mais antigos que temos conhecimento, que através dos registros das lendas nos ensinam profundamente a origem de nossa civilização. Todos os grandes autores, desde os mais antigos aos mais modernos, que “abusam” do hibridismo dos estilos, alicerçam sua ficção em fatos históricos ou na memória pessoal ou coletiva. Um bom exemplo desse exercício literatura/ história e memória é o livro “Trilhos: O Caminho dos Sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de Bragança”) de José Leôncio Ferreira de Siqueira, que através de diversos recursos literários, o registro documental a prosa ensaística, a poesia, realiza um eloquente manifesto pessoal em defesa da preservação da memória de um empreendimento fundamental para o desenvolvimento e para a colonização da região Bragantina entre os anos de 1908 a 1964. A pesquisa documental e o depoimento/ ensaio poético, impregnado de lirismo de José Leôncio Ferreira de Siqueira é uma importante ferramenta na luta pela preservação de nossa memória, o passado responsável pelo presente, pois transportando em sua locomotiva literária “modos, recursos naturais, imigrantes, cheiros, lembranças pessoais, fatos históricos”, o autor multiplica não só o conhecimento, mas a “beleza” que também e parte de nossas origens. O objetivo da obra é resgatar fatos da história da construção da Estrada de Ferro de Bragança, estendendo-se a toda a região Bragantina. A obra é repleta de fatos da nossa história que se confundem com a história da Estrada. São destacadas na obra as fundações das colônias agrícolas criadas em toda a extensão da ferrovia, entre outros. A obra flutua entre a narrativa ficcional e a narrativa histórica, buscando delimitar uma fronteira entre a história da Estrada de Ferro e a vida daqueles que a construíram, com um universo imaginário, que passa desde os fatos guardados na memória do narrador. Como
marcantes podemos destacar o parto de sua mãe, descrito de forma emotiva, mostrando a qualidade do narrador, ao descrever a dor da morte de sua irmã, sem perder a leveza do bom escritor, que nos conta o fato trágico com a mesma plástica que descreve o fato lírico. Outro elemento importante na narrativa é a construção temporal. O fluxo de linearidade da obra é construída em consonância com o desenvolvimento da Estrada de Ferro, como se a obra e a Estrada fossem parte de um todo. Isto imprime no texto um realismo contemporâneo, aproximando o histórico do literário, pois a palavra é usada na obra com liberdade formal, enriquecendo o texto de fatos políticos, comprovados por uma pesquisa de qualidade e rica em informação. Isto amplia a obra para uma dimensão jornalística, dividida em pequenas crônicas, que contam as histórias dos municípios que surgiram, ao largo dos tempos, junto com a Estrada de Ferro de Bragança. “Um sonho, que permite ver as imagens formadas pela fumaça se transformarem e ouvir o apito do trem, que desliza incansável pelos trilhos dos sonhos, tentando alcançar o portal que o separa da realidade”. A Estrada de Ferro de Bragança é uma reunião de lembranças infindas, muitos, incontáveis momentos, fragmentos de um período marcante do Modernismo e da Evolução, onde a velocidade das máquinas era a velocidade do desenvolvimento, transportando o homem e o fruto de seu trabalho, interagindo completamente em todos os lugares nascidos de seu útero e distribuídos por toda a extensão da grande trilha que se interpunha entre Belém, Bragança e outros lugares interligados à linha férrea por vicinais, ocupando uma grande área denominada “Zona Bragantina”, que começa em Belém, tendo como marco a estação Ferroviária de São Brás e termina no rio Emboraí. Na segunda metade do século XIX, a Província do Grão Pará vivia o fausto da Belle Époque, a incalculável riqueza gerada pelo extrativismo da borracha destacava Belém, como a quarta cidade mais importante do País. Verdadeiros monumentos embelezavam as ruas da capital pavimentadas com tijolos de
madeira e paralelepípedos; gás encanado, telefone, Correios e Telegráfico submarinho, teatros, jornais, obras, que a cada dia pareciam se multiplicar na Capital Paraense. A população, no período de sessenta anos, passou de 20.000 para 80.000 habitantes. Não havia comida para tanta gente. A agricultura no Pará estava esfacelada, em consequência dos movimentos revolucionários culminados com a Cabanagem, que ceifaram mais de 30.000 vidas. Tudo era importado de outras províncias e do exterior; a população carente sobrevivia da pesca, da caça e da agricultura familiar. O Pará não possuía estradas, todas as cidades e localidades eram interligadas pelas águas. O governo Provincial, depois de várias tentativas, buscando solução para suprir a premente necessidade, decidiu explorar a área central do Nordeste Paraense, instalando colônias agrícolas entre Belém e Bragança, interligadas por uma estrada de ferro, responsável pelo escoamento da produção. A Estrada de Ferro de Bragança foi a primeira estrada construída no Pará, válvula do desenvolvimento de todo o Nordeste Paraense e o pilar da economia do Estado, pós-primeira grande guerra, transportando sobre suas fitas de aço a produção agrícola gerada na Região Bragantina. Durante os vinte e cinco anos de sua construção, mudanças gradativas foram observadas na região. À medida que os trilhos penetravam na inóspita floresta, surgiram às localidades de Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Izabel, Americano, Apéu, Castanhal, Anhanga (S. Francisco do Pará), Igarapé-Açú, Nova Timboteua, Peixe-Boi, Capanema, Tauari, Mirasselvas e Traquateua: para finalmente alcançar Bragança. As cidades litorâneas da região do salgado foram interligadas a estrada de ferro por vicinais, facilitando acesso à capital e o escoamento de seus produtos. Um gigantesco projeto que não deve ser medido pelos vinte e cinco anos que passou para ser concluído, começando em 24 de junho de 1883, inaugurando, em 03 de abril de 1808. Nossa perspectiva deve estar voltada para o conjunto da obra, literalmente falando, que
se soma e se transforma na magnífica arquitetura responsável pelo desenvolvimento de todo o Nordeste do Pará. Suas estações de 1ª classe, um total de seis (6), demolidas, com exceção da Estação de Icoaraci. Em toda a sua extensão, retratam essa grandiosidade, e ao mesmo tempo, o descaso de nossas autoridades com nossos acervos, que são o símbolo maior de “Nossa História”, ao autorizar sua irresponsável demolição. O governo criou o programa de imigração, instalando na região imigrantes espanhois, italianos, prussianos, belgas, franceses, portugueses, alemães, completado pela grande massa de nordestinos flagelados da seca do nordeste. A estrada de ferro interagindo em toda a sua extensão conduzia em seus vagões: cargas, cultura, moda, tecnologia, informações, noticias; aproximando pessoas de vários lugares e diferentes origens, que somados aos nativos, negros e mestiços, iniciaram um processo de miscigenação que deu origem a beleza do povo do Nordeste do Pará, fruto de todas as cores e de muitas raças. “Trilhos: O Caminho dos Sonhos” tem som e gosto de poesia. Reflete saudosa, a Estrada de Ferro de Bragança, cujos trilhos embalaram o sonho de milhares de seres humanos, que se instalaram e construíram suas vidas ao longo do seu percurso, criando vilarejos que se desenvolveram graças ao seu vai-e-vem diário. Nas suas composições, o trem carregava sonhos e ilusões. Alguns partiam para ver a capital, Belém, e voltavam. Iam e voltavam. Outros iam e nunca mais apareciam. Uns iam ficando pelas suas paradas com o sonho de construir suas vidas, outros fincavam o pilar em Belém, e havia aqueles que partiam para outros mundos, como fizeram Lindanor Celina (escritora) e Valdir Surubi (artista plástico). O trem era a segura ponte da travessia entre o sonho e a realidade ansiada. Para aqueles que viviam ou que nasceram na “cidade com um rio na frente e servida por um trem”, como sempre se referia a escritora Maria Lúcia Medeiros, a maria-fumaça era o mais seguro fio condutor para uma realização maior: a busca de um mundo novo. Viajar no tempo é ultrapassar os limites da história, admirar sua grandiosidade e identificar seus períodos e transforwww.portalpzz.com 67
história do pará mações. Meu saudoso amigo Bernardino Antunes em um dos nossos bons “papos” lá na Pérola do Caeté, falou-me certa vez: - Eu tinha onze anos quando viajei pela primeira de trem de Belém a Bragança; a viagem parecia que nunca terminaria, e eu não queria que terminasse. Eu não conseguia dormir porque imaginava que tudo era um sonho, a sensação de ver a floresta correndo em sentido contrário ao nosso, lugares diferentes, pessoas diferentes, o novo preenchendo a minha mente de lembranças inesquecíveis. A cidade grande que começava em São Brás, os armazéns aonde meu pai fazia as compras, os pastéis que davam água na boca, nunca antes tinha visto daquele tamanho! Eram enormes e rechonchudos! Não sei por quanto tempo contei da minha viagem para os meus amigos, acho que nunca parei, agora mesmo estou contando para você. Outra memória viva de tão embriagante período é o meu amigo Osmar França, ex-prefeito de Benevides, ex-funcionário da Bragantina, aonde ocupou o cargo de telegrafista. No ápice dos seus 87 anos, muito inteligente e com uma mente extremamente lúcida, falou-me do bonde puxado a tração animal que trafegava pelo ramal interligando Benfica a Benevides com uma extensão de 9 quilômetros. Disse-se ele mostrando o lugar: O bonde saia daqui da Praça N.Sª. da Conceição, seguindo pela a estrada do Maratá até chegar a Benevides na atual Rua Pinto Braga com Avenida Paul Begot. Nesta última estava a 1ª Estação Ferroviária de Benevides, A área construída estendia-se até o centro da atual avenida, toda coberta de zinco. Lembra-se que naquela época ainda chegavam muitos nordestinos em busca de terras, e que estes despejavam seus urinóis com fezes e urina pelas janelas do trem. Walter Arbage, político paraense, recordou com saudade os idos tempos de estrada de ferro em uma conversa que tivemos em seu gabinete. Dizia ele: As pessoas se reuniam na estação de Timboteua, ansiosas aguardando a chegada do trem, uma festa que se repetia todos os dias. A expectativa maior era pelas correspondências transportadas pelo trem. Ali mesmo era aberto o malote e lido os nomes dos destinatários, que 68 www.portalpzz.com
entre salvas de palmas e gritos de alegria recebiam suas correspondências. Tudo acontecia entre o ir e vir daquela maravilhosa e gigantesca máquina e seus vagões. Poucos são os que ainda lembram com detalhes a história de nossa ferrovia, quando muito, sabem apenas que havia uma estrada que se interpunha entre Belém e Bragança, por aonde um trem ia e vinha. A história foi relegada; o delicado momento de sua extinção, em 31 de dezembro de 1964, início de um governo ditatorial, diretamente interessado na consumação desse fato, favoreceu ainda mais que a amnésia do tempo acelerasse o processo de esquecimento. Os trilhos foram arrancados, as magníficas estações construídas ao longo de todo o percurso, símbolos arquitetônicos da cultura moderna que fazia parte da revolução mecânica, foram covardemente demolidas e devastadas pela força insensata e irresponsável de outra revolução. O abandono irresponsável de um incalculável patrimônio da Rede Ferroviária Federal, que somente a partir de 2007, começou a ser levantado pelo IPHAN, ou seja, quarenta e seis anos depois do acometimento dessa insanidade, já seriam suficientes, entretanto, a desarticulação da agricultura, responsável pela economia de todo o nordeste do Pará; o desemprego; o abandono do povo e suas lavouras que se perderam sem ter como escoar; as cidades e vilarejos que eram tocados única e exclusivamente pelo trem e que tiveram que rasgar caminho até alcançar a rodovia que passava á quilômetros de seus centros, transformou-se em cicatrizes perenes. A região estacionou no tempo por quase trinta anos, transformando a realidade que parecia um sonho, em pesadelo. Apenas a fumaça paira teimosamente no céu, confundindo-se com as nuvens, avistada pelos sonhadores que ainda vêem e escutam o trem e seu apito. Na época de sua extinção, a região bragantina estava integralmente organizada, como celeiro agrícola e industrial e concentrava um terço da população paraense. Seus algozes não consideram os benefícios culturais, sociais e econômicos gerados pela Bragantina. A extinção da Estrada de Ferro de Bragança constituiu um crime ao patrimô-
nio e a história de nosso Estado. O incansável trabalho do escritor e pesquisador José Leôncio Siqueira, retoma através da obra Benevides Historia e Colonização, a extensão desse registro, fundamentado em um dos mais ricos acervos históricos existente em nosso estado. Uma retrospectiva histórica que situa o Município de Benevides, e toda a região Bragantina a partir da fundação de Belém, em vários períodos de nossa história, agregado a fatos históricos nacionais, estaduais e municipais. Começa com a invasão das “Tropas de Resgate” à aldeia do Maguari (hoje Benfica, Distrito de Benevides), a ca-
tequese dos jesuítas e sua expulsão no Período Pombalino, destacando os fatos mais importantes desse período, que tem como protagonista Francisco Xavier de Mendonça Furtado, primeiro Governador do novo Estado do Grão Pará e Maranhão e irmão do Marques de Pombal, o grande mentor de todas as ações postas em pratica nesse período. As pesquisas bibliográficas, iconografias, fotográficas e acervos documentais impressos e manuscritos, são completados pelos dados coletados em mais de 6000 páginas de relatórios dos presidentes da Província e Consequentemente governadores do estado do Pará, no período de 1833 a 1930, dão à obra,
independente de sua credibilidade necessária, um rico conteúdo de informações de difícil acesso, centrados em um só tomo. A trajetória da Estrada de Ferro de Bragança desde a sua fundação até sua extinção, mostrando a sua importante participação no desenvolvimento de toda a Zona Bragantina, consolidando-se como a grande responsável pelo desenvolvimento do Nordeste do Pará. Conhecer e ser parte integrante da região bragantina, estar residindo à tres anos na cidade de Benevides e ter residido por mais de tres décadas na Zona Bragantina, foi imprescindível para identificar suas potencialidades, rique-
za, economia, costumes, política, educação, alma e sentimento, através das estórias que emergem da oralidade. As famílias tradicionais formadas por diversas raças aqui chegadas de diferentes países europeus, que se nacionalizaram mesclando-se a caboclos, nativos, negros descendentes de escravos e nordestinos flagelados da seca, que aqui chegaram fugindo das grandes secas do Nordeste e se instalou em toda a área destinada a colonização de Belém à Bragança. O trabalho mostra a conexão existente entre a região e vários períodos da História do Brasil e do Pará, sua importância no desenvolvimento de todo o Nordeste Paraense ao ser fundada como a primeira Colônia Europeia da Amazônia, com o objetivo de povoar e colonizar toda a região, interligada pela Estrada de Ferro de Bragança. O destaque maior de Benevides no cenário Histórico Estadual e Nacional é sem sombra de dúvida a data 30 de Março de 1884, data da Libertação dos Escravos da Província do Grão Pará, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, que aconteceu em 13 de maio de 1888. O reconhecimento estadual da magna data através do Projeto de Lei nº 056/2011, com Patrimônio Histórico Cultural e Imaterial do Estado do Pará. O Projeto foi sancionado pelo Governador em exercício, Helenilson Pontes, sob o n.º - 7.619, de 18 de abril de 2012. A justificativa histórica do referido projeto foi apresentada pelo escritor José Leôncio Ferreira de Siqueira. A magnitude deste rico acervo literário, com informações de indubitável fidelidade apoiada por fontes bibliográficas de extrema credibilidade credenciam este trabalho a uma nova referência de pesquisa literária, resgate da cidadania, dignidade e orgulho das origens do povo Benevidense e do Nordeste do Pará. José Leôncio Ferreira de Siqueira é diretor de comunicação social do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e vice-presidente da Academia de Letras e Artes de Bragança
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QUADRINHOS Arte, criatividade, ver-o-peso em quadrinhos
ARTE, CRIATIVIDADE,
VER-O-PESO EM QUADRINHOS A arte de Gidalti Jr é Pop. Das histórias em quadrinhos à publicidade, o artista vem produzindo uma sólida carreira nas artes e na comunicação.
A
extrema curiosidade por meios, gêneros e possibilidades de expressão artística faz de Gidalti um explorador, que, além de produtor visual, é pesquisador em processos de criação em artes visuais. Natural de Belo Horizonte, foi criado em Belém do Pará. Durante a infância adorava ler quadrinhos de super-herói. Em casa, via o pai desenvolver projetos e atividades ligadas à criação de logomarcas, desenho, texto, poesia e música, bem como à elaboração de jornais e revistas. Desenhava o tempo todo, em casa, em sala de aula, e, para isso, se servia de qualquer tipo de material, inclusive o verso de cartazes de campanha política em que seu pai se envolvia. Ficava impressionado com o fato de histórias poderem ser contadas sem limites a partir de um meio de expressão, disponível a qualquer ser humano: o desenho. Copiava e criava personagens e propunha aventuras
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a partir das referências das editoras Marvel de Dc comics. Na adolescência, seu tio Willy Trindade iniciou um programa de mecenato, o que muito o influenciou também em sua formação artística. Estudou durante alguns anos desenho e pintura no atelier do aquarelista Mario Barata, onde entrou em contato com pintores consagrados na história da arte, especialmente os franceses. Formou-se em 2006 Publicidade & Propaganda e em 2008 educação Artística: Hab. Artes Plásticas. Fundou em 2009, em Belém, junto com um amigo de faculdade, Claudio Moreira, a agência de publicidade Aquarela Comunicação, em que prestam serviço a agências, editoras, grandes lojas do varejo, mineradoras, indústrias e órgãos do governo, entre outros clientes. Em 2011, concluiu o Mestrado em Artes e logo depois iniciou sua carreira como professor, ministrando aulas na graduação e pós-graduação em cursos
de design e comunicação. Atuou como diretor de arte, na criação, no planejamento e na execução de campanhas publicitárias e em projetos diversificados como ilustração, design, storyboard, audiovisual e mídias digitais. Em 2013, mudou-se para em São Paulo a fim de expandir as possibilidades de conhecimento e de trabalho. Estuda história em quadrinhos na Quanta Academia de Artes, sob a orientação de Octávio Cariello; está finalizando a pós-graduação em História da Arte: teoria e crítica; e dedica-se à arte e ao roteiro do projeto de adaptação para quadrinhos do conto Adolescendo Solar, de Luizan Pinheiro. Esse projeto vem tendo bastante repercussão nas redes sociais e deve ser lançado no mercado, de forma independente, pelo artista. O conto tem Casqueta, um menor abandonado, como protagonista. ‘’Casqueta é um menino de 15 anos que vive abandonado no tradicional
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QUADRINHO
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mercado Ver-o-Peso em Belém. Desde o despertar até o anoitecer, Casqueta vai circulando em busca de abrigo, alimento, atenção e diversão. Entre travessuras e molecagens, vaga sem destino em meio à fartura de alimentos e ao visual exótico do bairro da Cidade Velha.’’ A história pretende explorar um dia na vida desse “experiente malandro”, sua dura vida de menor abandonado tratado como homem maduro; os contrastes estéticos e sociais daquele logradouro de Belém; a beleza estética da arquitetura clássica bem como a fartura e a variedade de gêneros alimentícios como mariscos, hortaliças, frutas, destacando-se o açaí, e de tipos de farinha. Fala também das pessoas, do povo do bairro da Cidade Velha e da chuva amazônica, e procura explorar o descaso, a solidão e a metáfora do menino urubu, que vaga sem destino em meio à abundância (para não repetir fartura) de alimentos. A dura vida de um menor abandonado tratado como homem maduro. Para conhecer mais sobre esses e outros trabalhos do artista, assim como receber notícias sobre lançamentos e seus futuros lançamentos e suas atividades no campo da arte), confira em www.gidaltijr.com, http://gidaltijr.blogspot.com.br/ ou em facebook.com/ gidaltijr.
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humor
criaturas de Jo達o bosco
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salão de humor
J
oão Bosco, cartunista, ilustrador, caricaturista e chargista do jornal O LIBERAL, de Belém do Pará, desde 1988. Possui vários prêmios nacionais e internacionais em salões de humor, cinco livros editados. Tem trabalhos publicados nas revistas Veja, Você SA, Semana, Imprensa, Focus, revista Francesa Le Monde Magazine. Livros didáticos das editoras Scipione, Saraiva,Moderna, ÁTICA e FTD. Em 2008 fez sua primeira exposição individual de caricaturas de empresários paraenses “cara e coroa” num total de 60 peças.Em 2009 fez a 2ª edição de “Cara&Coroa”com 86 caricaturas. Autor das tiras “Colarinho pão e vinho” ,”Capitão feijão” e “Mundo cão”, publicadas diariamente no caderno magazine de O Liberal. Presta serviços de ilustração, para várias agências de publicidades e produtoras de vídeo em Belém. Produz caricaturas por encomendas. O livro “Caricaturas de João Bosco” – Apresenta personalidades brasileiras e internacionais de destaque na música, na literatura, no cinema, nas artes e na política, incluindo Glauber Rocha, Ulisses Guimarães, Altamiro Carrilho, João Cabral de Melo Neto, Pablo Neruda, Luiz Melodia, Zé Ramalho, Eça de Queiroz, Ariano Suassuna, Pedro Almodóvar e Mario Moreno “Cantinflas”, John Coltrane, Chet Baker, Pixinguinha, Pedro Almodovar, Jackson do Pandeiro e Chico Buarque de Hollanda entre muitos outros vultos notáveis da arte, estão entre as celebridades reveladas pelo traço de Bosco publicadas no livro. Obra que traz 80 caricaturas de personalidades para festejar tempo de carreira no jornal O Liberal. Quando estudante do colégio Souza Franco, o jovem J.Bosco gostava de desenhar os professores. Ele levava isso muito a sério, enquanto os colegas de classe aproveitavam os desenhos para satirizar os docentes. O tempo passou, mas os traços ficaram na vida de J. Bosco, demonstrando que o talento do estudante só fez aumentar ao longo de 30 anos de carreira como artista gráfico. “O livro mostra a maturidade do trabalho do Bosco, mostra o amor, a dedicação e a pesquisa dele na área
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gráfica, um trabalho feito em via digital e que resgata o chamado ‘bico de pena’”, afirmou o cartunista Biratan Porto, 62 anos, dos quais 35 como artista gráfico. Além de Bira, jornalistas, publicitários, repórteres fotográficos, atores, escritores e convidados em
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Foram convidados a compor o júri desta edição do prêmio, Jean Galvão (SP), Ulisses Araújo (RJ), Cássio Loredano (RJ), Orlando Pedroso (SP) e François Gabourg (Martinica), cartunistas, caricaturistas, ilustradores, desenhistas e chargistas reconhecidos por seus trabalhos independentes em jornais, revistas e na internet
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geral prestigiaram o lançamento do livro, que pode ser encontrado em livrarias de Belém e na fan page Cara & Coroa no Facebook. Para o jornalista e publicitário Orly Bezerra, J. Bosco vive o cotidiano no jornal e retrata “o dia a dia com maestria, com uma leitura política, crítica e bom humor, o que é essencial a um cartunista, e pelo talento na caricatura, pelo traço do Bosco, esse é um trabalho diferenciado, com a marca desse autor”. Alípio Martins Júnior, amigo de J. Bosco, enalteceu o trabalho do “ícone dentre os artistas paraenses”. “J. Bosco Caricaturas” é o quarto livro autoral dele, que possui oito obras com outros artistas gráficos. J. Bosco destacou que teve grandes mestres ao longo da carreira, como “Biratan, meu grande professor, aqui em Belém”. Amigo inseparável do arwww.portalpzz.com 79
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Foram convidados a compor o júri desta edição do prêmio, Jean Galvão (SP), Ulisses Araújo (RJ), Cássio Loredano (RJ), Orlando Pedroso (SP) e François Gabourg (Martinica), cartunistas, caricaturistas, ilustradores, desenhistas e chargistas reconhecidos por seus trabalhos independentes em jornais, revistas e na internet
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tista gráfico Waldez, J. Bosco teve como organizadora do livro a mulher dele, Vânia Queiroz. O artista lançou o livro e um conjunto de canecas também de caricaturas. O artista do traço, todavia, foge ao óbvio e, ao invés de fazer uma retrospectiva de sua trajetória, optou por um trabalho original. Para o livro, ele trabalhou apenas com as cores preto e branco, como um resgate da tradicional dupla papel e nanquim. A partir dos rascunhos em papel, os desenhos foram digitalizados e finalizados no computador. “É uma forma de resgate à caricatura clássica em hachuras (traçado de linhas finas)”, explica.
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bruno pellerin
Lenon Rodrigues*
O PARĂ E A economia criativa e as potencialidades de diversidade cultural para a Economia Criativa em BelĂŠm
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Pará passa por um período de generosa visibilidade nacional. Na grande mídia, o Pará e o paraense estão representados, por exemplo, no grande sucesso de Gaby Amarantos e suas constantes aparições em programas como o Domingão do Faustão, Esquenta, Encontro com Fátima Bernardes, além de já ter emprestado suas músicas para compor as tramas diárias de algumas novelas globais. Para muitos esta não é a melhor forma de aparecer para
to, meio ambiente e sustentabilidade estão fortemente “impregnados” de Amazônia. A maior floresta tropical do mundo é o carro-chefe deste novo paradigma que, não concernindo apenas o Brasil, atinge uma escala supranacional. Há um pouco mais de um ano, estive na Rio + 20 e pude constatar a presença amazônica na programação das palestras temáticas e dos stands de empresas e instituições nacionais e internacionais mostrando seu interesse em investir na região, propondo alternativas sustentá-
tes do Brasil e do mundo lá presentes foram unânimes em afirmar a Cultura como o quarto pilar da sustentabilidade, junto com os três outros pilares habitualmente ressaltados: o econômico, o ambiental e o social. Dentro desta recente e ampla discussão no setor cultural, a dimensão econômica da Cultura e a sustentabilidade convergem para um conceito ainda em fase de formulação: a Economia Criativa, o novo paradigma da economia da Cultura. Desde 2005 o setor cultural brasileiro vem se
o Brasil, mas é incontestável a visibilidade e o alcance proporcionados pela toda poderosa Globo, mesmo que tal efervescente visibilidade possa ser efêmera. Seria correto afirmar também que, pelo “efeito Amazônia”, o Pará goza de certa visibilidade internacional, com a vantagem de poder se abrir para o mundo através de sua grande porta, Belém. Os debates recentes sobre desenvolvimen-
veis e inclusivas socialmente. De certo era fácil também identificar as empresas que se travestiam do paradigma da sustentabilidade para praticar o mais do mesmo tão nocivo à vida da floresta. Foi na Rio + 20 também que pude estar presente, durante uma semana, em uma série de palestras e debates sobre cultura e sustentabilidade promovidos pelo Ministério da Cultura. Representantes do setor cultural de várias par-
motivando com as novas possibilidades projetadas na onda da Economia Criativa. Os setores criativos, segundo o próprio Ministério da Cultura, que em 2011 criou a Secretaria da Economia Criativa, “são todos aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de valor simbólico, elemento central da formação de preço, e que resulta em produção de riqueza cultural e econôwww.portalpzz.com 85
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Em se tratando de Amazônia, nunca desejamos conceituar economia como algo tão presente na vida das pessoas, e sim apresentar o panorama (recente) da Economia Criativa no Brasil. mica”. É um conceito ainda em formação, mas as discussões que o permeiam, no Brasil apontam para uma tendência a descentralizar as ofertas e fazeres culturais, valorizando a diversidade cultural do país como elemento diferenciador e agregador, gerador de riquezas e promotor da inclusão social e da qualidade de vida da população. Tendem, da mesma forma, a valorizar os espaços públicos, como meio de encorajar as trocas socioculturais, de pôr a arte e a tecnologia em encontro constante com o público-cidadão, valorizando as atividades criativas. Estas seriam, no linguajar dos economistas da cultura, as cidades criativas. Belém, na condição de maior representante da cena cultural paraense (nada anormal em se tratando da capital do Estado) e da região amazônica, já tem um terreno fértil para plantar a semente das cidades criativas: uma programação cultural diversa e artistas que, de uma maneira ou de outra, estão presentes em menor escala na cena cultural nacional. A inauguração do escritório do Criativa Birô em Belém será mais um combustível para esta cena. É o momento de artistas, intelectuais, produtores culturais, empresários e o poder público terem maturidade e visão suficientes para se apropriarem das disum jogo estratégico O território amazônico é palco, produto e condicionante de dinâmicas territoriais diversas, onde as “peças” dos agentes moderadores do espaço estão postas à mesa, como em um jogo de tabuleiro, aguardando os movimentos estratégicos de avanço ou recuo de interesses,.
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Lenon Rodrigues*
Da esquerda para a direita: Paolo Carlucci, Marcia Lima, Carmen Lorenzetti, Rosa Helena Nascimento Neves, Monica Alvarez, Maurizio Giuffredi, Piergallini Rossella, Beatrice Buscaroli, Manuela Bergonzoni, Airton Lisboa Fernandes.
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um jogo estratégico O território amazônico é palco, produto e condicionante de dinâmicas territoriais diversas, onde as “peças” dos agentes moderadores do espaço estão postas à mesa, como em um jogo de tabuleiro, aguardando os movimentos estratégicos de avanço ou recuo de interesses,. cussões, ações e possibilidades geradas pelo novo paradigma da Economia Criativa e capitaneadas por este braço da Secretaria da Economia Criativa do MinC no Pará. Ter visão e maturidade significa, sobretudo, entender a transversalidade da cultura, incluí-la em outras esferas da vida social. Significa não só investir pontualmente em artistas e eventos culturais, mas promover um ambiente criativo. Para isto é obrigatório investir na qualidade de vida da cidade, dos espaços públicos, compreendê-los como um espaço vivo e democrático de trocas simbólicas e intelectuais. É, da mesma forma, imprescindível investir na formação da maior matéria prima da criatividade: o ser humano, quer seja na sua condição de criador ou de público-cidadão consumidor de produtos e bens simbólicos, pois como afirma Ana Carla Fonseca Reis, uma das maiores estudiosas da Economia Criativa no Brasil, “a criatividade é um combustível renovável e cujo estoque aumenta com o uso”. Desta maneira, o novo desafio que as cidades paraenses devem enfrentar, sobretudo Belém, é de consolidar o Pará como um polo nacional de cultura, exportador e importador de diversidade cultural, em harmonia com um ambiente sustentável, apoderando-se do território sem fronteiras da cultura como um meio e o um fim para a qualidade de vida da população. Quem sabe, em um futuro não muito longínquo, poderemos deslumbrar um cenário onde o Pará se revele ao Brasil, através de sua criação artística e intelectual, na condição de sujeito, e não apenas como um objeto exótico, sem voz ativa na construção de seu próprio imaginário; onde, por exemplo, a moda paraense, inspirada em traços e desenhos marajoaras, esteja presente nas vitrines das lojas do Brasil e do mundo; onde arquitetos e designers se inspirem nesses mesmos traços para desenhar fachadas de prédios, objetos de decoração e móveis; onde o Pará se transforme em um polo de produção e exportação de conteúdos audiovisuais, contando histórias em séries, filmes e animações inspiradas em contos, lendas e personagens da mitologia indígena; onde estas lendas e contos também ganhem novas releituras a partir da imaginação de escritores locais, presentes nas prateleiras de livrarias de todo o Brasil e, traduzido em outras línguas, nas prateleiras de lojas pelo mundo afora; onde todo este universo simbólico inspire a arte contemporânea local, e artistas paraenses participem de exposições e feiras de arte nacionais internacionais; onde Belém faça parte do circuito de grandes feiras e exposições de arte; onde a música paraense seja escutada frequentemente por brasileiros de todas as regiões do país. Enfim, um cenário onde grandes artistas, locais e nacionais, encontrem no Pará o espaço, o público e a inspiração para a sua criação. Lenon Rodrigues é formado em Políticas Públicas de Cultura na Univ. Paris VII. Atua c/ projetos culturais em Belém (PA) e Brasília (DF).
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fotoensaio
Helly Pamplona
eco-jornalista Paraense nascido na cidade de Belém, o fotógrafo Bruno Cecim veio ao mundo no ano de 1978. Parte da infância foi passada em Salvador. Na adolescência, estudou um ano em Washington (EUA), mas foi em São Paulo que o fotógrafo começou a trilhar seus primeiros passos no mundo das imagens.
Carlos Pará Nasci no Marajó no dia 13 de outubro de 1958, em uma fazenda chamada Perseverança, às margens do Rio Arari, em Santa Cruz do Arari. Minha juventude e boa parte da vida adulta foi no meio da natureza, convivendo com os animais em ambientes privilegiados da paisagem rural. Minha avó paterna fazia, sem ter bem o sentido do que é isso hoje, um trabalho de preservação. Na fazenda não se podia matar, não se podia usar baladeira para maltratar animais. Uma das brincadeiras de infância era fazer bichinhos com tabatinga, também molhava a ponta do dedo na água da cuia e desenhava no assoalho da casa. Assim, criado nesse clima de muita preservação, meu trabalho, anos depois, teve esse reflexo. Para mim foi, também, muito importante ter convivido na fazenda com uma tia que era fotógrafa e tinha um laboratório. E claro que no interior, principalmente, naquele tempo, tudo era muito mais primitivo, feito com equipamentos bem rústicos, mesmo! 0 certo é que ela revelava lá as fotos. Assim, desde menino fui criado brincando com os negativos, olhando ela revelar, envolvido com todo aquele processo artesanal, o qual me deixava fascinado. Esse fato me possibilitou um contato mais próximo do que era fotografar uma situação, e, depois, ver surgir toda aquela surpresa da imagem. A fotografia é assim, uma coisa que sempre tive amor, 90 www.portalpzz.com
sempre tive paixão. Eu comecei a fazer fotos muito pela vontade de ser fotógrafo, pois, nada naquele ambiente era favorável, em termos práticos, ao trabalho que dá ser um bom profissional da fotografia. Aprendi alguma coisa lendo revistas, comprava ummontão delas. Agora, fotografar é uma coisa que você aprende mesmo praticando. Àlm.il, a sensibilidade é algo que não se aprende na teoria. Gastei muito dinheiro e Hipo lendo as revistas e sonhando com aqueles equipamentos que via lá. Aquilo
tudo era muito distante para mim. No entanto, olhando com bastante curiosidade para aquelas páginas, fui criando coragem para enfrentar tudo que era crise, por causa da obsessão pelo ofício do fotografar. Há uns vinte anos, meus colegas de profissão faziam eventos sociais, casamentos, batizados, essas coisas que todo mundo faz, em cobertura fotográfica no interior. Foi nesse tempo, que resolvi focar meu trabalho para a questão ambiental, principalmente, a questão ecológica... A natureza era registrada por mim, pela máquina INSTAMATIC 177 X. A primeira câmera semi-profissional foi uma YASHICA MINISTER D, queixo duro, aquela que não tem como você tirar a lente, pois, ela é fixa. Sabe o que é você não ter opção de lente?! Existe uma lente específica para cada tipo de trabalho. Não dá para você fazer foto de inseto com a lente que você faz foto de paisagem... Para fazer boas fotos é preciso ter um bom equipamento. Trabalhar com fotografia é um investimento muito alto. Eu ia para o “interior do interior” fazer foto de pôr-do-sol só por gosto. Não vendia. Nas fotos de família sempre procurava criar alguma coisa... Soprava na lente da câmera para ficar embaçada, quando a câmera ia perdendo aquele embaçamento da lente, eu fazia a foto e a pessoa ficava envolta naquela atmosfera de sonho.
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Parece engraçado, mas, dava certo mesmo. A fotografia é isso, uma coisa para você aprender praticando. Assim, fui desenvolvendo o meu próprio estilo. Pegando a minha própria técnica. Acredito que cada fotógrafo tem que ter seu estilo, eu procuro ter o meu. E bom quando a gente ouve alguém falar que reconheceu uma foto nossa. Ainda que os créditos não estejam lá. Infelizmente, nem todo mundo reconhece que é preciso colocar o nome do fotógrafo. Esse problema, ainda hoje é muito comum. 0 meu acervo fotográfico começou a ser montado quando fui morar nas margens do Rio Gurupi. Eu saía para fazer tocaia de folhas, nas fontes de água aonde os bichos vinham se saciar. No mato, escondido, ficava vendo nambu beber água, pavãozinho-do-pará, pipira, sabiá-vermelho, sabiá branco, suí, suí-fogo, tém-tém rei, paca, veado, caititu. Tudo que é bicho vinha beber água ali. Naquela única fonte, que ás vezes, era apenas uma poça de água. Então, eu fazia fotos maravilhosas, só que não vendia, não via que aquilo tinha valor comercial, ainda mais, valor patrimonial. Minhas fotos, sempre foram vistas como curiosidades, não eram entendidas com a importância que eu dava para a vida rural. Hoje?! Não!! Eu sei que o trabalho que faço na Amazónia é parte de um patrimônio muito nosso, do Pará, até mesmo da Humanidade. Mas, me dá tanta tristeza saber que, daqui a algum tempo, muitos desses animais fotografados estarão extintos. Foi esse pensamento que me levou a publicar esse material, para ajudar as pessoas a perceberem o que se destrói quando se agride a floresta. E muita beleza,
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é muita riqueza. Há países onde isso não tem mais. Essa preocupação me levou à falência muitas vezes. Muitos foram os problemas, que enfrentei, pois, todo dinheiro que eu conseguia era para fotografar. Essa aventura, de estar todos os dias em contato com o meio ambiente, ainda preservado, ainda cheio de vida e perigos, era o que mais me levava a achar que compensava os conflitos e a incompreensão de muitos. 0 tempo foi se esticando e fui me tornando uma referência, dentro da cidade em que vivia. Os fotógrafos que iam de Belém para lá, tinham meu endereço. Aí, eu vendia fotos para eles. Fotos que eles nunca bateriam, porque é preciso um tempo diferente da pessoa que vai de passagem. Além do mais, a pessoa que vive no interior tem uma outra noção de tempo. 0 nativo conhece até pelo cheiro as manhas do mato. Eu tenho toda essa habilidade por ser um nativo. Tenho muito orgulho de ter conseguido o espaço que consegui, fazendo o que faço. Mas, justiça seja feita, esses profissionais que visitavam o interior onde eu morava, eles é que me incentivaram a procurar em Belém, aquilo que não encontrei nos lugares por onde passei. Há uns seis anos vim para Belém, com um monte de fotos debaixo do braço. Fotos de paisagens, da vida ribeirinha, de borboletas, de sucuri. Uma variedade de animais e cenas amazônicas, que mais pareciam imagens do paraíso, pois, quando eu faço uma foto assim, por exemplo, vejo um animal, “clicko”, ali no momento do click não é só aquela foto. Há toda uma atmosfera em volta daquilo. Existe todo aquele clima, o cheiro da floresta... Tudo isso fascina a gente. Você vê uma foto aqui, você não sabe o que eu vivi ali. Pôxa! Isso aqui é só uma foto?!?Não!! Foi muito mais do que isso... Agora, veja só!! Não tenho como trazer esse clima para cá, mas, eu gostaria de repartir com as pessoas isso. As coisas que vi, as coisas que eu vivi dentro do mato... E assim, fascinante, sabe?!, 0 mundo da fotografia de selva é
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uma coisa maravilhosa. A própria cultura, a nossa cultura é uma coisa muito forte, muito rica. A medicina natural é algo fora do comum. Tinha um camarada que pescava comigo, o João Curica. Aí disseram: - Égua, o João Curica teve derrame na maré, deu derrame lá no meio do rio. Aí o cara veio trazendo ele. 0 João Curica estava jogado no fundo da canoa, desmaiado, em coma! Aí, uns três dias depois eu encontro o João Curica jogando futebol. A mãe dele, descendente de índios, fez um remédio com banha de jacuram, misturada com banha de capivara, misturada com a raiz da sapequara, misturada com o suco da japecanga, cortado em cruz com três cibalenas... Aí, lá está o cara jogando bola, entendeu?! Agora, poucos se interessam de pesquisar. Nas comunidades da Amazónia convivendo com essa riqueza, há também, situações de muita pobreza. Uma contradição que não dá para entender num país tão rico de recursos naturais. Sentir-se impotente diante dessas realidades é muito desalentador. A fotografia é minha maneira de responder a isso tudo. Ela é prazerosa quando se trata da arte, mas, registrar certos fatos, como atender a um pai que me pediu para fazer uma foto de seu filho, morto por desnutrição. E demais! Há casas, onde você encontra pessoas, que tratam o ser humano com muita hospitalidade, dividindo o que tem naquele dia, do chibe ao refogado de mucura. Essa sinceridade emociona pela verdade do gesto... Bom, então é assim... As crianças no interior, na vida rural e ribeirinha, são muito criativas, a maioria de seus brinquedos são feitos por eles mesmos. Naquela vida que levam, acompanhando os pais, na lida diária. E um barquinho de papel, um banho de igarapé na boneca de plástico e assim, eles vão aprendendo o que é importante, para sobreviver na floresta. Uma criança de seis, sete anos sabe fazer peçonha, para apanhar açaí; sabe armar arapuca, para
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pegar animais; sabe pescar com soco, que é um puçá de talas; sabe tanta coisa, que a gente até se assusta. Eles aprendem a nadar com dois anos de idade; pulam na água com bóia feita de mututi, uma raiz levezinha que eles também usam para apoiar as malhas de pesca. No mato, a responsabilidade dos velhos e das crianças não tem diferença. Na hora de colocar um curral para pegar peixes, vai quem tem saúde, quem tem força para ajudar, seja velho, seja novo. E novo no interior, às vezes, é criança de três anos, que sai para trabalhar com adulto de setenta. Sempre me instigou essa maneira como os caboclos se relacionam e resolvem os seus problemas, com muita imaginação e com uma tecnologia, que só acha o jeito certo, quando está na frente do problema muitas vezes. Fico pensando que, é por isso que os velhos se misturam com os novos. E para sobreviver, para enfrentar tanta agrura. Essa coisa toda, ajuda a entender a fotografia como uma forma de educação, que não é só para estar nas escolas, mas, que também é. Ensinar as crianças a respeitar e amar a natureza, é uma esperança, né? Porque, infelizmente, a Amazónia está esquecida por nós. Ela parece tão grande, tão forte, que a gente pensa que ela nunca vai acabar. E sim! Não está sendo realmente valorizada como deveria. Eu penso nisso. Penso todo dia quando fotografo. Até por que, cada árvore, uma árvore só, se você for observar, e, a lente da máquina me permite fazer muitas vezes isso, é habitada por milhões de vidas. Então, Quando ela é queimada, ninhos de pássaros são destruídos, abrigos de muitos insetos e um montão de vidas microscópicas, importantes para o equilíbrio do meio ambiente. Tudo isso aí é destruído, também!!! Em Bragança, fui para um lugar que ficava a 8 km da beira da estrada, para dentro ia mata. Andava de manhã procurando animais para fotografar. A noite subia no mutá”, um gradeado que a gente faz como se fosse uma escada de varas amarradas :om cipó titica, em duas árvores finas, para não dar acesso a animais perigosos como i onça. Assim, eu dormia. Quando www.portalpzz.com 103
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descia de manhã, onde eu havia pisado, tinha >egada de onça. Tive muito medo de virar comida de onça, né? E lá era o que mais se ria. Eu passei uns três dias nessa aflição. Depois, fui embora com medo. Alguns neses depois, voltei lá e não consegui mais encontrar o lugar. Tinham derrubado udo para fazer pasto de gado. Eles queimaram tudo, os animais que não conseguiram escapar morreram, os que conseguiram fugir ficaram desgarrados de seu meio ambiente. Eu vejo a Amazónia assim, como uma coisa preciosíssima, maravilhosa e fascinante, mas, que infelizmente, não é dado o devido valor por nós. A Amazónia era para se ter assim, fazendo um trabalho permanente de preservação. Sério mesmo!! Que não fosse responsabilidade só de governo, que cada um levasse esse interesse como uma coisa sua. Um trabalho de preservação sério, com punição rigorosa para quem ferisse a lei... Tem lei para o meio ambiente; tem lei para a preservação dos animais; tem lei para preservar os direitos do cidadão, lei tem!! Mas, se não tem a informação, se não tem a consciência, como é que vai funcionar?! Futuramente, vamos sofrer muito, as consequências desse desrespeito todo. A natureza já está respondendo. Com o superaquecimento do Planeta, que é consequência do desmatamento incontrolável. ma coisa muito real, nessa questão de depredação do patrimônio da Amazônia é a biopirataria, a gente não tem como esconder isso aí. Estão levando ovos de pássaros raríssimos, através de portos e aeroportos da Região. Houve uma apreensão recente de ovos de arara azul, galo da serra, uirapuru, pássaros raríssimos!! Já pensou?! Levam os ovos para países que nem têm a mesma condição ambiental do lugar onde esses animais vivem; chegam lá colocam em
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chocadeira... Fora àqueles que morrem nos bagageiros, pelas péssimas condições de transporte. Tudo isso é coisa que ninguém consegue entender!! E no noticiário vira apenas uma informação entre as outras. O que fica?... Essa é uma questão que deveria ser de todos nós que vivemos aqui. Nós tínhamos que ter esse compromisso com a Amazónia, de respeitá-la, amá-la e preservá-la. Acredito que meu trabalho, daqui há uns 10, 20 anos, vai ter muito valor por causa disso, pois, os pássaros, alguns outros animais que fotografei, e mesmo, o modo como vivem as pessoas, só irão conhecer através da fotografia. Eu digo isso com muito pesar. Olha, só!! 0 jucu-
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ruxi, um réptil da família do camaleão, é todo vermelho. Uma época o couro dele valeu fortuna. Mataram muito jucuruxi. Meu pai, atualmente com 76 anos, só viu um na vida dele, e eu tinha o sonho de fotografar esse animal. As vezes achava que nem existia mais, fazia tocaia, fazia isca, e nada. Um dia desses, na floresta, vinha lá o caboclo saindo com um jucuruxi, pendurado na cartucheira. Aí eu segui com dele, fiz as fotos do jucuruxi, morto... E! Existe isso, o camarada mata por matar. Só pelo prazer de caçar mesmo... Se hoje eu ficasse milionário, não deixava a fotografia! Até problemas de saúde ela me ajudou a curar. Tive por quatro anos síndrome do pânico. Então! A fotografia,
além de ser uma opção de sobrevivência para mim - hoje vivo exclusivamente dela - é, também, uma terapia e um compromisso de vida. Desenvolvi muitos saberes observando os animais. Por exemplo, a paca, a cutia, o veado emitem um som, dentro da floresta, batendo com as patas num ritmo bem particular, fazem isso quando encontram uma árvore, que está soltando flores e frutos. Esse som ecoa ao longe na floresta. Isso atrai outros animais que vem comer os frutos. Assim, copiando esse código, já fiz muitas fotos boas. Só chamando no batuque. E impressionante! E muito legal mesmo! A natureza é uma coisa maravilhosa. Por isso, todo dia eu fotografo... Todo dia...
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Luciana Meideiros
Quando arvores pisicodelicas brotam Em mais de 20 anos de trajetória, Tarcísio Ribeiro, expõe “Cinco”. “Árvore em céu quente”, “Escuta”, “Ao por do sol”, “Ulalá”, e “Bailarina” são as cinco obras que integram sua recente exposição. Pinturas que foram realizadas em momentos diferentes de sua carreira artística.
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ivididas em três partes: o céu (copa da árvore); a terra (raízes) e o tronco (conexão entre terra e céu), as obras trazem cores vivas, que pulsam revelando folhas, galhos e outros mistérios da natureza. Amante de música, cinema e literatura, além das artes visuais, claro, Tarcísio Ribeiro nasceu em Bragança, onde viveu até os 18 anos de idade, quando se mudou para Belém. “A mais antiga entre elas foi pintada em 2006 e a mais recente em 2012, elas vão surgindo espontaneamente apenas a partir da necessidade de pintar, os quadros que se sucedem, em geral, tem cores e formas opostos”, diz o artista em entrevista ao Holofote Virtual. Trouxe desde lá, certamente, em sua veia artística, a admiração pela natureza e pela região amazônica. Isso tudo sempre foram inspiração, mas não espere necessariamente ver pai-
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sagens naturais, seus traços trazem interferências da vida que resultam em traços transcendentes. Atualmente envolvido com a criação de uma galeria para deixar obras suas em exposição permanentemente, Tarcísio conversou com o Holofote Virtual e contou mais do que o instiga e lhe leva a pintar. Luciana: São 25 anos dedicados à pintura. O que isso significa isso pra ti? Tarcísio: Ficou claro pra mim que a vida passa rápido, em determinado momento a morte se faz presente, então acho importante me aperfeiçoar no que gosto de fazer e participar onde vivo. Existem as coisas por fazer, escolhemos algumas, outras nos escolhem, outras são pensamentos que nem chegam a se materializar. Tenho planos com pinturas, trabalhos e estudos. Bom, é o mistério da vida, é sutil, vamos ver o que acontece.
Luciana: Ao longo desse tempo você muitas vezes trabalhou de forma solitária. Mas também fez exposições, vendeu quadros e também presenteou amigos. Como você analisa esta trajetória pública? Tarcísio: Olhando para o assunto dessa forma, lembro de amigos que nasceram junto com quadros e de alguma maneira fizeram e fazem parte deles. Não lembro de maiores adversidades provocadas pela pintura nesta dita trajetória pública. Em algumas situações as pinturas provocaram emoções, arrepios, lágrimas, são boas essas lembranças. Quero dizer com isso que fiz alguns amigos em virtude das pinturas, assim como estreitei laços de amizade. Luciana: Tuas reflexões sobre a vida estão ligadas ao que você produz, fatalmente. Quais seriam
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artes pláticas questões mais pertinentes na hora de pintar? Tarcísio: Creio que as músicas respondem essa pergunta por mim, melhor do que eu. Veja bem. Muitos dos assuntos (quase todos os assuntos) são tratados nas músicas e com muitas variações, muita graça, melodia, ritmo, então tem dias que é Tom Jobim, João Gilberto essa turma, tem outros dias que é o Prodigy, tem épocas de rock, épocas de samba. Ouvir música combina bem com minha forma de pintar. Quanto às conversas, enquanto estou pintando, prefiro assuntos mais descontraídos. Agora, o pensamento, o pensamento se governa. Luciana: E como estas trilhas embalam teu trabalho? Onde são refletidas? Tarcísio: Como falei a pouco, sim, permeiam, ditam ritmo das pinceladas grosso modo; ou acalmam a mente, os pensamentos, o coração, de modo sutil, o que permite pintar com maior atenção e criatividade. O problema na hora de pintar é o bloqueio, achar que o quadro em andamento está feio, duvidar da própria capacidade de superação, ou por outro lado, achar que está bom demais, ficar vaidoso no ato de pintar, todas essas coisas atrapalhem... e a música tem uma função bem importante neste momento. Luciana: Nesta exposição de árvores vês-e boa dose de psicodelismo... Tarcísio: Sim, também acho, mas não ligo muito não, é o jeito delas, no fundo são simpáticas. Brincadeiras a parte, creio que há similaridades de minhas pinturas com imagens psicodélicas, mas em uma rápida pesquisa na rede mundial de computadores, pode-se perceber que as imagens psicodélicas são um pouco mais “emaranhadas“ ou “confusas” do que minhas pinturas. E o psicodelismo já é uma experiência visual agradável aos olhos. Luciana: Quais outros alimentos nutrem tua arte? Tarcísio: Acredito que a dor é o principal alimento para a arte, os outros todos são bem menores. Mas não é ruim assim, a ideia é transformar a dor em quadros que transmitam sentimentos positivos, certa alegria, esse é o desafio. Luciana: Produzes em demasia? Tarcísio:Acho que produzo o bastante, mas gostaria de produzir ainda mais. Estive um tempo empenhado em organizar o espaço da Galeria T, que é onde distribuo meus quadros, foi um tempo gasto para distribuir 40 quadros aproximadamente expostos em 100 m3 de ga112 www.portalpzz.com
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leria, e isso leva tempo. Além disso, tenho outras tantas em telas enroladas. Por outro lado estou sempre envolvido com estudos e trabalhos sobre estatísticas, sistemas de informações e afins e isso também toma um tempo considerável. Luciana: Humm... Então a Galeria T é a grande novidade do momento? Tarcísio: Estou em vias de concluir o projeto Galeria T, que tem por objetivo manter uma exposição permanente com quadros de minha autoria. Em um primeiro momento, contém aproximadamente 30 obras, de diferentes momentos de criação. A obra mais antiga do acervo é de 1997, foi pintada a dedo e trata-se de um auto retrato, em acrílica sobre duratex. Outro quadro relevante na galeria são 27 miniaturas, divididas em quatro partes, que simulam a galeria em miniatura, pintado em 2002. Até chegar à série de pinturas sobre árvores serie iniciada a partir de 2007. A ideia é que, entre uma exposição e outra, sempre haverá possibilidade de visitação das minhas pinturas, em ambiente propício.
Luciana: Viver de arte é tua meta? Tarcísio: Não reclamaria de viver de arte não, porém também desenvolvi o hábito de gostar de trabalhar com estatísticas e sistemas de informações. Compreendo que tenho por onde contribuir nessa área também. O ideal pra mim é combinar essas atividades, e não só elas, mas também, ainda incluir outras não menos importantes, como culinária, esportes, atividades sociais e culturais, e o repouso.
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