ANO 1 / No 3
Direção da revista Maurício Maia Luiz Guilherme Ourofino Leo Bindes Projeto gráfico e diagramação Fábio Brasil Fotografia Marcelo Conde Capa Gervásio Teixeira / glteixeira.com.br Editor-chefe Maurício Maia Reportagem Luciana Stavale Revisão Aline Canejo Revista voltada exclusivamente para os associados da Sociedade do Charuto Ltda. Atendimento ao cliente atendimento@sociedadedocharuto.com.br (21) 3042 4815 (21) 3042 4816
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EDITORIAL
editorial Charutos e amigos tem tudo a ver Afirmamos isso devido a uma experiência muito legal que tivemos no segundo sábado do mês de abril, quando realizamos o primeiro encontro da SDC. Sem horários, sem compromissos, sem preocupações. Apenas vários bons amigos e charutos. Muitos charutos. Depois do produtor, na primeira revista, e do importador, na segunda, esse número da Revista da Sociedade do Charuto traz, como entrevistado do mês, o especialista. Cesar Adames é, podemos dizer, um PhD em charutos. Conversamos, também, com Leonardo Botto, um dos maiores militantes da cultura cervejeira deste país, que nos dá boas dicas de como harmonizar nossos charutos com a bebida mais amada do Brasil. Sejam bem-vindos à terceira edição. Boas baforadas! Mauricio Maia
sumário 05 seleção mensal 10 entrevista Cesar Adames, o maior especialista em charutos do Brasil, fala com exclusividade à SDC e relembra algumas das histórias que marcaram sua carreira
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16 acessórios 17 onde fumar Chez Fumoir, um lugar onde fumar é privilégio
18 especialista Leonardo Botto, um dos nomes mais festejados por aqueles que apreciam cervejas de alta qualidade
22 opinião
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Leo Bindes
23 Próximas seleções Veja o que a SDC reservou para o mês de maio
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SELEÇÕES DO MÊS
Abril
SELEÇÕES DO MÊS
Origem Cuba Marca Hoyo de Monterrey
Seleção
Puro Habano
Hoyo de Monterrey Epicure no 2 um robusto clássico
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marca Hoyo de Monterrey deve sua origem à famosa plantação de mesmo nome, localizada em San Juan y Martínez, no coração da região de Vuelta Abajo. O Epicure Nº 2 é um robusto clássico, de construção impecável, com um aroma a frio impressionante. Sua fumada é surpreendente, pois, embora seja extremamente suave no paladar, apresenta uma evolução gradual de força, com um tiro regular uma fumaça espessa e consistente. A vitola de comprimento curto e cepo 50 o tornam uma excelente opção para fechar uma refeição e justifica as razões que levaram este puro habano a ser considerado uma obra de arte cubana. Dê uma boa olhada no Epicure Nº2 e você entenderá por quê.
Nome comercial Epicure Nº 2 Fomato Parejo Vitola Robusto Apresentação Caixa de madeira de 25 unidades, caixa com maço de 50 unidades e caixa com 3 unidades em tubos de alumínio Medidas 124,0mm de comprimento por 19,84mm de anel calibrador Calibre Grosso (cepo 50) Força 3/5 (suave a médio)
Hoyo de Monterrey Epicure Especial a doçura, a elegância e a complexidade do estilo Hoyo
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ançado no Festival del Habanos de 2008, o Epicure Especial veio enriquecer a linha Epicure e hoje é considerado o crème de la crème da marca Hoyo de Monterrey. Com aparência magistral, com destaque para a oleosidade da capa, este puro habano tem na doçura aromática e sutil do seu sabor o seu aspecto distintivo. O excelente fluxo de fumaça, aliado à cinza bem consistente e queima uniforme, resultam numa fumada bastante balanceada e agradável para qualquer paladar. Se você é um fã de charutos cubanos leves com sabores complexos e maravilhosos, então este é o seu charuto.
Origem Cuba Marca Hoyo de Monterrey Nome comercial Epicure Especial Formato Parejo Vitola Robusto Extra Medidas 135,0mm de comprimento por 21,43 mm de anel calibrador Apresentação Caixa de madeira de 10 e 25 unidades, caixa com maço de 50 unidades e caixa com 3 unidades em tubos de alumínio Calibre Grosso (cepo 50) Força 2/5 (suave a médio)
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SELEÇÕES DO MÊS
Origem Cuba
Hoyo de Monterrey Petit Robustos
Marca Hoyo de Monterrey Nome comercial Hoyo de Monterrey Petit Robustos
o pequeno poderoso
Formato Parejo Vitola Petit Robusto
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m 2005 a marca Hoyo de Monterrey lançou o primeiro Petit Robusto do portifólio da Habanos. Desde então, o Hoyo de Monterrey Petit Robustos é um dos charutos cubanos de preferência daqueles que apreciam o formato de calibre grosso mas que não dispõem de muito tempo para a fumada. Com bela aparência, construção sem defeitos, sabores agradáveis e tiro equilibrado, o Hoyo de Monterrey Petit Robustos proporciona uma experiência de fumar complexa, doce e picante, inconfundível com qualquer outra. O desafio de fumar um puro pequeno, mas poderoso, é o que espera por você aqui.
Medidas 102,0mm de comprimento por 19,84mm de anel calibrador Apresentação Caixa de madeira de 25 unidades, caixa de papelão com 3 unidades Calibre Grosso (cepo 50) Força 3/5 (médio)
Seleção
Origem República Dominicana
Volta ao Mundo
Cuesta-Rey Centenario Pyramid no 09 cento e trinta anos de herança e tradição
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ascida como “La flor de Cuesta-Rey”, a Cuesta-Rey foi fundada em 1884 por Angel LaMadrid Cuesta e Peregrino Rey. Com uma rica herança de 130 anos, o charuto Cuesta-Rey antigamente era feito em Cuba e foi o charuto oficial do rei da Espanha Afonso XIII. Desde a década de 1980, os charutos Cuesta-Rey passaram a ser produzidos na República Dominicana por Arturo Fuente. O tabaco utilizado na coleção Cuesta-Rey Centenario é envelhecido por um período médio de cinco anos e são oriundos da República Dominicana (enchimento) e do Equador (capa Sumatra). O resultado desta mistura é um charuto requintado, de degustação sempre espetacular e considerado um dos melhores do mundo – o que faria Señor Cuesta ficar muito orgulhoso.
Marca Cuesta-Rey Nome comercial Cuesta-Rey Pyramid Nº 9
Formato Figurado Vitola Piramides Apresentação Caixa de madeira com 10 unidades Medidas 158,75mm por 20,6mm de anel calibrador Calibre Grosso (cepo 52) Força 3/5 (suave a médio)
SELEÇÕES DO MÊS
Origem Brasil
Seleção
Nacional
Dannemann Robusto Especial Feito à mão no Brasil
O
ano era 1873 quando um jovem imigrante alemão, Gerhard Dannemann, começou a produzir charutos em São Felix, na Bahia, com apenas seis empregados. Mais de um século depois de sua fundação, os charutos Dannemann ainda são feitos 100% de forma artesanal e hoje sinônimos de qualidade inquestionável. O Dannemann Especial é um charuto saboroso e regular do início ao fim, com queima perfeita, aroma leve e refinado e um retrogusto marcante. Com sabor suave e delicado, torna-se uma ótima opção para os iniciantes.
Marca Dannemann Nome comercial Dannemann Especial Formato Parejo Vitola Robusto Apresentação Caixa de madeira com 25 unidades Medidas 130,0mm por 18,26mm de anel calibrador Calibre Grosso (cepo 46) Força 3/5 (suave a médio)
Dannemann Artist Line Reserva Corona Mata Fina Um trabalho artesanal autêntico
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cobiçada linha Artist Line Reserva é a vitrine da Dannemann. Para a confecção desta linha, que é produzida principalmente para a exportação, são selecionadas as melhores torcedoras da fábrica e renunciase à prensagem nos tradicionais moldes de madeira, optando-se pelo enrolamento em papel e armazenamento durante várias semanas. Isso garante que o charuto mantenha sua forma. O aroma inconparável e a harmonia da mistura única conferem sabor, puxada e queima que agradam muito, fazendo com que o Artist Line Reserva Corona Mata Fina figure entre os charutos mais procurados nos cafés ao redor do mundo.
Origem Brasil Marca Dannemann Nome comercial Artist Line Reserva Corona Mata Fina Formato Parejo Vitola Corona Apresentação Caixa box de madeira com 25 unidades Medidas 141,0mm por 16,67mm de anel calibrador Calibre Grosso (cepo 42) Força 4/5 (médio a forte)
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Existem charutos que são muito bons, existem grandes charutos e existem charutos Exclusivos. Davidoff Puro d’Oro Gigantes
Origem República Dominicana
O Davidoff Puro D’Oro Gigantes destaca-se por sua natureza forte. Seu majestoso formato Super Robusto possibilita que os aromas intensos se desenvolvam em sua complexidade. Garantia de momentos memoráveis de prazer.
A SDC tem mais uma opção de associação para você – a Seleção Exclusivos. São quatro seleções por ano: fevereiro, maio, agosto e novembro, sempre dois charutos de altíssimo padrão. No mês de maio, os Exclusivos são: Behike 52 e Davidoff Puro d’Oro Gigantes. Assim como a Seleção Puros Habanos, Seleção Volta ao Mundo e a Seleção Nacionais, para receber a Seleção Exclusivos basta inscrever-se em nosso site (www.sociedadedocharuto.com.br). Para qualquer dúvida, ligue para o telefone 0800-0206702 ou mande um e-mail para contato@sociedadedocharuto.com.br.
Origem Cuba
Cohiba Behike 52 Destinado a atender ao verdadeiro aficionado que adora um charuto de qualidade e está disposto a pagar pela experiência, o BHK 52 é, realmente, único e gratificante. Incomparável.
Todos os meses a SDC seleciona e entrega em casa os charutos para seus associados. Existem três níveis de associação mensal: Seleção Puros Habanos, composta de três charutos cubanos, Seleção Volta ao Mundo, com três charutos oriundos de qualquer parte do mundo e Seleção Nacional, constituída por quatro charutos produzidos no Brasil. Os critérios para a escolha dos charutos para a Seleção Mensal são qualidade, variedade em tipo, origem e procedência. Junto com os charutos, o associado recebe a revista da SDC. O associado sabe com antecedência qual é a próxima seleção por meio do site, da newsletter e da revista. O associado pode suspender ou cancelar o recebimento da sua Seleção sempre que desejar. Não há taxa de associação. As entregas são feitas sempre a partir do dia 20 de cada mês, podendo estender-se até a primeira semana do mês seguinte.
ENTREVISTA
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cesar adames O maior especialista em charutos do Brasil
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os 50 anos, completados em fevereiro deste ano, Cesar Adames é tido como um dos mais importantes nomes em publicações voltadas para o universo gastronômico e de bebidas destiladas e fermentadas no Brasil. Mas é quando fala dos charutos, sua grande paixão, que percebemos por que ele também é considerado, neste tema, o maior especialista brasileiro na atualidade. Esteve presente em todas as edições do Festival del Habanos desde que o evento foi criado, em 1999, e participou do corpo de jurados do concurso Habanosommelier durante 10 anos consecutivos, sendo Presidente do Júri em 2010. No ano de 2009, foi nominado Hombre Habano. Foi o editor-chefe da revista Charuto et Cia., primeira publicação do Brasil voltada exclusivamente para este seleto público. A lista de personalidade que conheceu durante estes 22 anos dedicados ao charuto é longa, indo desde Eduardo Rivero Irizari – o homem que criou o charuto Cohiba – a Fidel Castro. Indagado se consegue dimensionar a importância que seu nome adquiriu no mercado de charutos, este gaúcho de Porto Alegre diz que nada disso o impressiona. “O que gosto mesmo é de contar histórias”, diz, sorrindo. A frase deu a tônica à entrevista de 1h30 que Cesar Adames concedeu à SDC. Cesar escolheu a elegante tabacaria Espaço Quai D’Orsay, nos Jardins, região nobre da capital paulistana, para nos receber. Ao chegarmos, ele estava bem instalado em uma das confortáveis poltronas de couro que ficam espalhadas na sobreloja. Na mão, um Lonsdale, ainda apagado. “Vocês já viram um ‘Monsdale’?” pergunta, sorrindo. “Assim eram chamados os Lonsdale enrolados por Enrique Mons, como esse”, explica. Acendendo o charuto com cuidado após cortá-lo, Cesar revela que o cubano Enrique Difarniu Mons, falecido recentemente, foi um dos maiores especialistas em habanos que conheceu. “Ele nos aguardava no aeroporto e, com seu Lada vermelho, nos levou para o Hotel Riviera”, lembra. “Aquela primeira viagem foi incrível. Éramos importadores oficiais, mas tivemos de ir à Cuba buscar charutos porque os cubanos não tinham o produto para enviar ao Brasil”. Certificado de que o charuto está corretamente aceso, dá um longa puxada, para conferir o fluxo. “O ritual do acendimento é o mais importante aprendizado do fumador de charuto”, ensina.
A história da primeira importação oficial de charutos cubanos para o Brasil O ano era 1992 e o então presidente Collor acabara de abrir o mercado brasileiro para as importações. Adames conta que a importação de charutos começa com Ney Sroulevich, o famoso cineasta brasileiro que produziu A Queda, Joana Francesa, O Homem Célebre e Se Segura Malandro. Além de produtor de cinema, Sroulevich era jornalista e membro do Partido Comunista Brasileiro. “Por conta de sua participação política, o Ney acabou se exilando em Cuba, depois de 1964. Lá, acabou ficando amigo de Fidel e de Raúl Castro”, diz. Ele revela que foi por causa da estreita relação entre o líder cubano e Sroulevich que sua mulher, Claudia Furiati, conseguiu abrir os arquivos da Revolução Cubana e escrever o livro Fidel Castro – Uma Biografia Consentida. “E foi por conta dessa amizade que o Ney ganhou, dos irmãos Castro, a concessão para ser o importador oficial do Brasil, assim como o irmão de Che Guevara ganhou a concessão para a Argentina”, complementa. Mas Sroulevich não era comerciante, era um
cineasta, e precisava de alguém que entendesse do negócio. Ele então se associou ao empresário paulista Sergio Alambert, que propôs tocar o negócio repassando a Ney 10% de comissão de tudo o que fosse comprado de Cuba. Sempre bem informado, Cesar sabia do projeto de trazer charutos de forma oficial para o Brasil. “Fui apresentado ao Sergio em um evento e, ao cumprimentá-lo, perguntei: Vem cá, você já tem
ENTREVISTA alguém pra cuidar de vendas e marketing na sua empresa de importação de charutos? O Sergio, surpreso com minha ousadia, disse que ainda não tinha contratado ninguém. Então, falei: muito prazer, meu nome é Cesar Adames e você acaba de me contratar”, diz o jornalista, entre risos. Foi dese modo que Cesar Adames se transformou no responsável pela área comercial da recém-criada empresa Havana Cigars, a primeira importadora oficial e exclusiva de charutos cubanos no Brasil. O Primeiro charuto Cesar e Enrique Mons na loja 5 y 16, na primeira viagem à Cuba. Mais abaixo, com Alejandro Robaina na LCDH Partagas, em Havana
Cesar conta que no início a operação de importação foi acanhada, cerca de 300 caixas de charutos, em dois ou três pedidos. “Lembro-me muito bem da primeira remessa chegando à casa
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da Rua Tupi, no Pacaembu, onde ficava o escritório da Havana Cigars”, diz, dando uma puxada mais forte em seu charuto e avivando a brasa. As marcas já conhecidas por aqui, como Romeo y Julieta Churchills, Montecristo No4 e Cohiba Lanceros acabaram rapidamente. Já as desconhecidas, como Bolivar, Davidoff, Dunhill e Sancho Panza, ninguém queria. Então Cuba decidiu não mais vender Montecristo e Romeu y Julieta para o Brasil. “Se for para vender só estes dois, não precisamos de importador no Brasil. Queremos que vocês trabalhem as outras marcas também”, reproduz Adames a justificativa dos cubanos para negar os pedidos feitos. “O mercado não conhecia aquelas marcas. Eu precisava conhecer e entender bem as características dos charutos para poder oferecê-los aos meus clientes. Eu precisava começar a fumar charutos”, comenta. O primeiro charuto foi um Bolivar Belicoso Fino. Uma opção pouco recomendada para quem nunca fumou. “Estávamos no intervalo de almoço na Havana Cigars e o pessoal tinha saído para comer na rua. Sabia que os caras iriam retornar dali a 1 hora, mais ou menos. Acendi, sentei e fumei rápido. Quando eles voltaram eu estava deitado, suando frio, pálido. Os caras, preocupados, queriam saber o que tinha acontecido, e eu só me lembro de responder: foi o Bolivar... mas vai passar...”, conta Cesar, tentando reproduzir a cena, com olhar vidrado no teto, arrancando gargalhadas de nossa equipe. “Ali aprendi minha primeira lição: charuto não combina com velocidade nem com estômago vazio”, diz, sorrindo. A primeira vez em Cuba, em 1992 Não se sabe se foi por mérito ou por falta de opção no mercado, mas a Havana Cigars conseguiu vender todo o estoque. Acabados os charutos, era hora de pedir mais. Novo obstáculo: agora os cubanos não tinham charutos para entregar no Brasil. Cuba ainda não estava preparado para o grande aumento da demanda dos charutos cubanos no mundo. E o incipiente mercado brasileiro não despertava o interesse cubano. “A solução era ir comprar os charutos diretamente em Cuba. A Treviso, holding cubana responsável pelo atendimento dos mercados da América Latina, nos daria uma carta autorizadora, garantindo o embarque como exportação e não como bagagem”, explica Cesar. “Fomos, então, buscar charutos em Cuba. Eu, que cuidava das vendas, o Otávio, responsável pela parte financeira da empresa e o dono da importadora, o Sergio. E é aí que entra o Mons, que foi nos buscar no
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ENTREVISTA
aeroporto, como eu contei antes”, relembra Cesar, erguendo o braço e mostrando o charuto que está fumando e que, nesta altura, alcança seu segundo terço. “Esta vitola exige conhecimento de quem está apreciando o charuto. Se as baforadas forem rápidas demais ou sem um tempo médio entre elas, o charuto irá aquecer demais, comprometendo seu gosto”, ensina o professor. Cesar conta que, após se instalarem no Hotel Riviera, Mons os levou direto à loja 5 y 16, da qual era o Diretor, à época. A conta, no final, alcançou a cifra de US$ 30.000,00. Tudo de charutos. Hoje a cifra pode não impressionar tanto. Mas os tempos eram outros. Para se ter uma ideia, uma caixa de Romeo y Julieta Churchill custava US$ 75,00; uma de Montecristo Nº 4, US$ 40,00. “Comprei tudo o que precisava ”, lembra ele. “Foram cerca de 500 caixas do que havia de melhor”. Paga a conta e após uma bela refeição no restaurante que ficava na parte dos fundos da loja, Cesar conta que Mons apareceu com um Churchill sem anilha e disse: “‘Eu quero que me diga que Churchill é esse’. E me deu o charuto”. Era um belo desafio, já que na loja havia cerca de 15 vitolas Churchill. “Cortei, acendi, duas ou três baforadas, e mandei: pelo perfil e força desse charuto aqui, eu acho que é um Bolivar Coronas Gigantes, falei, com o semblante sério. ‘Não, não é esse’, disse Mons. Bom, se não é um Bolivar, então, com certeza, é o Sancho Panza Coronas Gigantes, respondi imediatamente. O Mons deu uma sonora gargalhada e me cumprimentou: ‘parabéns, você realmente conhece charutos cubanos.’” Mais tarde, Sergio Alambert perguntou a Cesar, discretamente, como ele havia acertado, já que nunca tinham sequer visto aquele charuto antes. “Sergio, eu chutei o primeiro e chutei o segundo. Se eu tivesse errado, iria chutar o terceiro, o quarto... Até eu acertar!”, diz Cesar, às gargalhadas. “Até hoje ele não acredita na minha tremenda cara de pau”. Novos desafios e a lei antifumo Alguns anos depois, a Havana Cigar trocou de donos e Ricardo Mansur e Bobi Chen assumem a importação de charutos. Adames segue responsável pela área de vendas. Naquele mesmo ano, os novos importadores inauguraram a 1ª La Casa del Habano do Brasil e da América do Sul – e 4ª do mundo –, na cidade de São Paulo. Cesar acumulou as funções de gerente de vendas da importadora e também da loja, até se desligar em 1995. Trabalhou cerca de um ano na Fábrica Suerdieck, onde participou do lançamento do charuto Don Pepe, nos EUA. Depois disso, passou
Cesar e Compay Segundo
a se dedicar à prestação de serviços de consultoria e à coluna sobre charutos que assinava na Revista Gula. Nessa época, transformaria-se em um dos maiores colecionadores de livros de charutos do mundo. Mais tarde, tornou-se em editor-chefe da excelente revista Charuto et Cia. – a primeira publicação brasileira voltada exclusivamente para o mercado de charutos que, após 12 edições, viu-se obrigada a sair de cena em razão das severas sanções impostas pela nova legislação antifumo. Esta não fez distinção entre cigarro e charutos e dificultou o trabalho de todos os envolvidos no setor. “Como poderíamos manter uma revista voltada para fumadores de charutos sem o apoio propagandístico das grandes fábricas de charutos que anunciavam com a gente?”, questiona Cesar. O assunto faz com que o clima ameno da conversa mude. “Não sou contra as leis antifumo. Muito pelo contrário. Mas penso que ela deve coibir abusos, e não promover arbitrariedades. Devemos buscar um equilíbrio. Charuto não é cigarro, e, por princípio, desiguais devem ser tratados com desigualdade”. Bom senso e razão. Os Grandes Encontros Nestes 22 anos dedicados ao charuto, Cesar Adames fez grandes amigos e conheceu celebridades como Niki Lauda, Jeremy Irons, Jim Belushi entre muitos outros. Percorreu as feiras especializadas realizadas pelo mundo afora. Só à Cuba, foram cerca de 40 visitas, segundo ele. Em uma delas, orgulha-se de ter tido a oportunidade de entrevistar o produtor cubano Eduardo Rivero Irizari, o homem que criou o charuto Cohiba. Certa vez, esteve com Compay Segundo no Rio de Janeiro. Como tinha ouvido falar que o astro do documentário Buena Vista Social Club trabalhara na Fábrica Montecristo [que pertencera à família Menendez, antes da Revolução], comentou com ele que conhecia Felix Menendez, hoje produtor de charutos na Bahia. Compay não só confirmou que realmente trabalhou na fábrica Montecristo como ainda disse que cortara o cabelo de Felix várias vezes. “Duvidei, brincando, e ele me propôs cortar meus cabelos ali, para provar que era um excelente peluquero”, diz Cesar, entre risos. “Se existe uma coisa no mundo dos charutos que eu me arrependi foi não ter deixado Compay Segundo cortar meus cabelos”, lamenta-se Cesar. Infelizmente, o magnífico músico cubano faleceria pouco mais de um ano depois, em julho de 2003.
ENTREVISTA
Como Presidente do júri do concurso Habanosommelier, Adames (sentado à direita), observa um dos candidatos.
Outra história interessante se passou com Alejandro Robaina, o famoso produtor cubano que passou décadas viajando pelo mundo como embaixador não oficial dos charutos de Cuba. “O Olivier Anquier, após entrevistá-lo para seu programa de gastronomia no canal Multishow, pediu que Robaina autografasse um charuto para Antônio Fagundes, que era o astro de uma certa novela que na época fazia muito sucesso em Cuba”, conta Cesar. Algum tempo depois, em um encontro casual com Robaina, em Havana, Cesar o elogiou pela entrevista e aproveitou para dizer que Antônio Fagundes lhe mandara um abraço. Com o olhar severo, o padrino – como Robaina era chamado –, diz: “Peça pra ele me enviar a vaca que Anquier tinha me prometido em troca do charuto. Afinal ele não é o Rey del Ganado?”. Fidel Castro – a cereja do bolo O ponto alto do Festival del Habano é a subasta, o leilão que ocorre sempre no jantar de encerramento e cujo lucro é revertido para o sistema de saúde cubano. Nos primeiros leilões, os umidificadores leiloados levavam o autógrafo de Fidel Castro e, como não se sabia se as peças já estavam assinadas, havia sempre o rumor sobre a presença de Castro no encerramento, apenas para a assinatura dos umidificadores. Mas, no ano de 2004, Fidel não fez mistério. Chegou cedo e participou de todo o jantar, que ocorreu no Palácio Belas Artes, em Havana. Na grande mesa cercada de seguranças em que estava a sua comitiva, no meio do salão, encontravase um velho conhecido de Cesar, Jean Levi, que havia sido cônsul da França em São Paulo e, àquela altura, era embaixador da França em Cuba. Após o jantar, Adames conseguiu furar o bloqueio de seguranças e pediu que Levi o apresentasse a Fidel. O embaixador o apresentou como um grande periodista brasileiro especialista em charutos. “Fiquei muito emocionado, travado, sequer sabia
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o que falar. Mas falei. Comandante, muito prazer em conhecê-lo. Eu tive a oportunidade de conhecer Eduardo Rivero Irizari, que foi quem criou o charuto Cohiba, conheci Avelino Lara, que dirigiu a Fábrica de El Laguito por 20 anos, conheci Emilia Tamayo, que é a atual diretora da Cohiba. Faltavame apenas conhecer o maior propagandista deste charuto. Após um breve silêncio, Fidel sorriu. E, para surpresa de todos, durante 15 minutos conversou longamente com o brasileiro sobre a origem do charuto Cohiba. “É, provavelmente, é a maior lembrança destes 22 anos”, diz Cesar, após uma longa baforada no charuto enrolado pelo amigo Mons, agora já queimando seu terceiro terço. Hombre Habano O charuto está perto do fim e Cesar corrige a queima com seu isqueiro. Uma puxada, um toque com o calor da chama, outra puxada e pronto. Indagado se havia alguma decepção nesta caminhada, Cesar sorri. “Existe? Não sei. Mas a vida não é feita só de vitórias”. Ele conta que em 2009, no XI Festival del Habano, foi nominado para categoria Hombre Habano em las Comunicaciones, junto com um jornalista belga e outro russo. “Só o fato de eu ser nominado me transformou num superstar da noite para o dia”, brinca. “Durante aquela semana, aonde eu fosse era paparicado. Queriam apertar minha mão, tirar fotos. Internamente, pensava: esse é meu!”, diz, sorrindo. No jantar de premiação, Cesar foi colocado em uma mesa junto a Jose Ilário, editor da revista Epicur da Espanha, primeiro ganhador do prêmio, em 1996. “Se eu estava achando que podia ganhar, a presença de Ilário na mesa virou certeza.” Cesar lembra que convidaram, para divulgar o vencedor e entregar o prêmio, os dois atores norte-americanos Peter Coyote e David Soul, da antiga série Starsky and Hutch, renomados apreciadores de charutos cubanos. “Já estava pensando no discurso e me preparando para levantar da cadeira quando ouvi um dos americanos dizer, ao microfone: ‘Mr. Oleg Chechilov. Journalist of Smoke Journal, Rusia’”. A noite acabara mal para o brasileiro. No dia seguinte, Cesar lembrou-se da semana incrível que tinha vivido. Durante o dia, foi reconhecido e recebeu apoio dos amigos que fumavam charutos, por onde passava. E percebeu que não tinha motivos para ficar chateado. Até hoje, nos eventos oficiais, é apresentado como Cesar Adames, nombrado Hombre Habano. De fato, não há, mesmo, razão para decepção. Ser nominado para um prêmio que até hoje tem apenas 48 pessoas indicadas na categoria é motivo de orgulho. Para ele e para todos nós.
O mais carioca do Centro do Rio Bem no Centro do Rio, você encontra um restaurante do jeitinho que o carioca gosta: cerveja geladíssima, comida boa e papo agradável.
Todo sábado tem roda de choro das 13h às 16h30, sem couvert artístico. E, para os apreciadores de bons charutos, temos uma área externa especial.
Mas o Adelos não é só isso. Temos cervejas especiais e artesanais de várias nacionalidades e o nosso famoso bacalhau à lagareiro. Você nunca comeu um igual! Além disso, preparamos um espaço exclusivo com três televisores com imagem HD para você e seus amigos assistirem aos jogos da Copa do Mundo conosco!
Temos um encontro marcado com você em volta de uma boa mesa! Esse é o nosso jeitinho carioca de dizer seja bem-vindo!
Rua do Mercado, 51 - Centro / Tel: 2516-1734/2516-1358 Funcionamento: de segunda a sexta das 11h30 às 23h e sábado das 11h30 às 17h
Todos os cartões são aceitos. Não abrimos aos domingos e feriados.
ACESSร RIOS
www.sociedadedocharuto.com.br
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Cinzeiro de porcelana Montecristo Oficial Habanos
Guia oficial da Habanos S.A. El Mundo del Habano, totalmente ilustrado
Caixa umidora em cedro maciรงo Cohiba, Oficial Habanos
Pureira em couro Cohiba para 3 charutos, Oficial Habanos
www.sociedadedocharuto.com.br
Isqueiro maรงarico Honest com duas chamas
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ONDE FUMAR
chez fumoir Onde fumar é privilégio
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cenário é o bairro Savassi, um dos mais tradicionais e requintados de Belo Horizonte. Sinônimo de exclusividade dos membros da alta sociedade da capital mineira, com suas lojas de grifes famosas e um dos melhores shoppings da cidade, o local é também o endereço de um dos estabelecimentos mais charmosos do Brasil para se apreciar um bom charuto: o Bar e Restaurante Chez Fumoir. Com arquitetura refinada, o espaço para fumadores de charutos do Chez Fumoir possui excelente sistema de exaustão, temperatura e circulação de ar, que possibilitam bem-estar e conforto. Além disso, a varanda, inigualável, é daquelas que nos remetem a bons momentos com amigos e faz da correria cotidiana da cidade lá fora uma mera lembrança. Detentor da certificação La Casa del Habano, o Chez Fumoir tem um portfólio com as principais marcas da Habanos S/A devidamente abrigadas em uma belíssima sala umidificadora, que reúne as melhores condições de armazenamento possíveis. “Resolvemos equipar nosso estabelecimento com a melhor tecnologia disponível no mercado”, afirma Luís Eugênio Torres, o proprietário da casa. Este verdadeiro refúgio para os aficionados por charutos ainda oferece excelente serviço gastronômico, com grande variedade de pratos, bufê de petiscos, frios, frutos do mar, saladas, antepastos e pães. Destaque para o camarão à provençal, salteado com alho e azeite. Imperdível. E as bebidas que combinam com o prazer de fumar um puro? “Nossa carta de vinhos possui mais de 4.000 rótulos”, orgulha-se Torres. “E praticamos preços de delicatéssen”, emenda. Tanto
orgulho não é exagero: a adega do Chez Fumoir coleciona prêmios, dentre eles o prestigiadíssimo “Best of Award of Excellence”, da conceituada revista norte americana Wine Spectator, que concedeu ao Chez a classificação “Duas Taças”, distinção que, no Brasil, foi reconhecida somente a mais três estabelecimentos, nessa categoria. E, para aqueles que preferem o bom e velho malte escocês para acompanhar o charuto, a casa tem um acervo de 90 opções, com as melhores marcas. Você pode comprar a sua preferida, deixar guardada lá e, toda vez que visitar a casa, pedir a garrafa com seu nome. Com ambiente descontraído, em cada dia da semana os frequentadores têm uma atração. Quem aparecer na casa às quartas-feiras poderá participar da reunião de algumas confrarias. Para quem curte happy hour, quinta-feira é o dia perfeito, com Djs animando os clientes até a madrugada. Aos sábados, o encontro pré-balada tem ponto certo. Para todos se sentirem ainda mais à vontade, não é permitida a entrada de menores de 18 anos. Se você que tem o privilégio de viver em “Beagá” ou está na cidade apenas a negócios ou lazer, o lugar para degustar um charuto em um ambiente perfeito é o Chez Fumoir. Chez Fumoir - www.chezfumoir.com.br / (31) 3261-1361
ESPECIALISTA/MESTRE CERVEJEIRO
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leonardo botto Cerveja e charuto. “Um casamento muito mais comum do que podemos imaginar”
O
cenário cervejeiro nacional mudou muito desde que Leonardo Botto começou a criar, em meados de 2005, novos sabores para a bebida mais adorada do Brasil. Mas, para o mestre cervejeiro, que cresceu vendo a bisavó, que veio da Alemanha para o Brasil, produzir sua própria cerveja em casa, toda essa mudança só reforçou o olhar deste alquimista para o verdadeiro ponto de partida de sua atividade – a cerveja artesanal. Devoto declarado da escola belga de produção de cervejas, Botto hoje é um dos nomes mais festejados por aqueles que apreciam cervejas de alta qualidade. Multidisciplinar, é responsável pela criação e pelo desenvolvimento de cervejas para diversas microcerverjarias, presta assessoria para bares na elaboração de cartas de cervejas e é proprietário de uma importadora e distribuidora de equipamentos e insumos cervejeiros, além de membro fundador e atuante da Associação dos Cervejeiros Artesanais (ACervA). “É uma ideia hoje difundida por vários lugares do país”, conta. E ainda encontra tempo para ensinar como produzir cervejas caseiras, em cursos que ministra pelo Brasil. Inquieto, o mestre cervejeiro acaba de comemorar um ano do seu mais recente empreendimento, o Botto Bar, um aconchegante bar de chope artesanal, localizado na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro. “Uma casa
voltada aos amigos, à diversidade de estilos e à cultura cervejeira”, define. Foi ali que esse carioca autêntico, simpático, bom de piada e de molhar as palavras recebeu a equipe da SDC para um batepapo sobre este extraordinário universo da cerveja. Confira a seguir. SDC — Conte um pouco sobre você: onde nasceu, em que ano, suas experiências profissionais. LB — Nasci na “Cidade Maravilhosa”, em 1977, onde também me criei. Sou bacharel em Direito pela UFRJ, por formação, mas cervejeiro por vocação. Descoberta que fiz em 2005, após um tombo de moto (risos). Como sommelier de cervejas, me formei na primeira turma do Brasil, em 2010. Hoje trabalho criando e desenvolvendo cervejas para microcervejarias. Também presto consultoria para bares, no treinamento de brigada e elaboração de cartas de cervejas. De 2008 pra cá já ensinei mais 1.200 alunos a produzirem suas próprias cervejas caseiras, em cursos que dou pelo Brasil. Mais recentemente reuni um pouquinho do que aprendi nesta caminhada em dois empreendimentos, um bar especializado em chopes, o Botto Bar, e uma importadora e distribuidora de equipamentos e insumos cervejeiros, a Malte & Cia. SDC – Conta pra gente como foi sua trajetória
no mundo cervejeiro. Explica essa coisa de tudo começar com um tombo de moto... LB – (risos) Minha história com a cerveja nasceu bem ao acaso. Sempre tive muita vontade de conhecer mais sobre o processo cervejeiro, por causa de minha bisavó que veio da Alemanha para cá e, na década de 1960, já produzia sua própria cerveja. Mas o tempo necessário pra iniciar no hobby de produzir cerveja caseira veio a partir de um tombo de moto, que me deixou de molho por um bom tempo em casa. A partir daí, comecei a pesquisar na internet, achei um curso básico e fui atrás. Estudei muito pela internet, comprei livros no exterior, fiz diversos cursos. Empiricamente, fui conhecendo e testando as matérias-primas, suas importâncias para o resultado final, como misturálas... Ah, viajar é muitíssimo importante para aprender mais sobre cervejas! Aprender outras culturas e os estilos locais. Cursos e viagens se complementam. Mas onde mais aprendi foi com a experiência própria e adquirida com meus alunos, nos cursos de formação que dou. SDC — O que diferencia uma cerveja especial/ artesanal de uma cerveja popular? LB — Acho que a melhor definição é a participação do cervejeiro, impregnando suas crias com liberdade e personalidade. As grandes cervejarias, normalmente, fazem seus produtos com grande qualidade, isto não resta dúvida, mas são inspiradas em pesquisas e índices de rejeição, sempre buscando os menores desses índices. Buscam vender seus produtos em escala e, quanto menor o índice de rejeição, maiores são as vendas. A neutralidade é uma aliada, pois tudo com muito aroma e sabor tende a agradar alguns e desagradar outros. As
artesanais têm nos cervejeiros as pessoas que desenvolvem as cervejas, levando suas ideias para o marketing e o comercial, enquanto nas grandes verificamos o inverso, tendo nos cervejeiros gerenciadores de produção, normalmente. SDC — A questão da temperatura ideal da cerveja. Cerveja estupidamente gelada? Pode? LB — Não é o ideal... cada estilo e cada cerveja têm uma melhor temperatura para degustação, assim como cada copo mais adequado, mas nunca devemos degustar abaixo de 3 graus Celsius, pois, abaixo disso, a bebida muito gelada funciona como uma espécie de anestesia para nossas papilas. Isso esconde aromas e dificulta nossa percepção. SDC — O Brasil caminha para criar cervejas com frutos tipicamente nacionais (açaí, umburana…). Estamos no caminho certo? Não descaracteriza um pouco a cerveja? LB — Creio que não! (risos). Isto não é novidade no mundo cervejeiro, especialmente para a escola belga, que já milenarmente se utiliza de frutas, condimentos, especiais, madeiras e ervas, para aromatizar estilos de cervejas. Talvez a estranheza seja por conta de estarmos mais ligados à escola alemã de cerveja, na qual a bebida não
ESPECIALISTA/MESTRE CERVEJEIRO pode ser feita com nada além de água, malte de cevada ou trigo, lúpulo e levedura. Não estamos inventando nada de novo! SDC — Podemos harmonizar as cervejas com charutos? LB — Com certeza! E é um casamento muito mais comum do que podemos imaginar. Claro que esta harmonização não será com uma cerveja delicada como uma pilsen, pale ale ou uma de trigo, que sumiriam diante da força e da intensidade do mais delicado charuto. É preciso buscar cervejas com características similares às dos charutos e intensidade compatível, para que valorizemos as características de ambos. SDC — Quais os estilos de cervejas que combinam bem com charutos? LB — Sugiro as cervejas defumadas que, por semelhança, combinam em caráter com charutos, como as rauchbiers alemãs ou, melhor ainda, as cervejas defumadas com turfas (Peat-Smoked). Vale também a brincadeira com a Imperial Stouts, maturada em barris de madeira, intensas, complexas e que trazem um torrado como característica, não se perdendo ante aos aromas e sabores dos charutos. Sugiro alguns rótulos, como a canadense Unibroue Raftman, defumada com malte turfado, a alemã Aecht Schlenkerla Rauchbier, defumada também, mas com madeira. E as escosesas Ola Dubh, especialmente a 40, da Wood Aged. Espetacular! SDC — Como e por que surgiu essa ideia da AcervA Carioca (Associação dos Cervejeiros Artesanais Cariocas)? LB — A ACervA Carioca foi criada há quase oito anos, aqui no Rio. Parece pouco tempo, mas de lá para cá muita coisa mudou no cenário cervejeiro nacional. Naquela época éramos pouquíssimos que produzíamos cerveja em casa. Era difícil conseguir literatura, equipamentos e insumos. A nossa união foi no sentido de nos aprimorarmos, trocarmos conhecimento e facilitarmos a aquisição de insumos e equipamentos. O resultado disso foi muito maior do que pudéssemos imaginar. As ACervAs se difundiram pelo Brasil. Hoje já temos em São Paulo, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, Bahia, Distrito Federal, Goiás e Pará, entre outras. SDC — Fale sobre o curso que você ministra de Produção de Cervejas. Onde são realizados? LB — Os cursos que dou são voltados a ensinar o básico para o início no hobby de se produzir cerveja em casa, livre de conservantes e aditivos, com os melhores ingredientes, até porque são para gente ou para quem gostamos e de acordo com nossos gostos. Nos últimos 6 anos já ensinei mais de 1.200 pessoas a fabricarem suas próprias cervejas e, com meus alunos, muito aprendi também, a partir das dúvidas compartilhadas. Viajo o Brasil difundindo o hobby, ensinando e aprendendo. O
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curso começa com um breve histórico da cerveja, suas classificações e conceitos, matérias-primas e equipamentos, chegando até a parte prática, em que juntos elaboramos um estilo de cerveja, a qual cerca de um mês depois é degustada pela turma. Mais informações podem ser vistas no site www. bottobier.com.br. SDC — Conte-nos alguma lenda sobre cerveja e alguma curiosidade. LB — Existem algumas. Talvez a que mais seja propagada ainda, nos dias de hoje, seja a importância da água. Obviamente, para se ter uma boa cerveja, precisamos de uma boa água cervejeira, a qual deve ser potável, livre de impurezas, aroma e sabor e, sem cloro. Afinal cerca de 92% do que bebemos é água, num copo de cerveja. Antigamente não havia métodos eficazes de tratamento de água e as cervejarias buscavam se localizar próximas de bons pontos de água. Há muito isso não é mais necessário. O tratamento é simples e não é caro, podendo uma fábrica reproduzir características de água das mais diversas localidades, assim, conseguindo, com mestria, reproduzir estilos locais clássicos. Mas ainda vemos cervejaria se vangloriando da sua água, feita com água do degelo do monte Fuji, do aquífero Guarani e etc. Sempre que vejo muita propaganda na água, internamente, acho que talvez falte alguma coisa a mais na cerveja, pois há muito deixou de ser determinante. SDC — Você criou uma cerveja em homenagem ao nascimento de seu filho Vinícius. O que você pensou na hora de escolher os ingredientes? LB — (suspirando) Cerveja para mim é sempre uma celebração a momentos, a pessoas. Fazemos para o nosso gosto ou para quem gostamos. Esta é a filosofia que carrego e poder criar uma cerveja para celebrar o nascimento de um filho é um momento ímpar. Minha esposa também é cervejeira e procurei unir nossos gostos na elaboração da cerveja que gostaríamos de oferecer no “xixi” do nosso filho que estava a caminho, reunindo um pouco de cada uma das escolas cervejeiras, pois acredito que somos uma espécie de colcha de retalhos. Sofremos influência do meio e, enquanto pais, apresentamos as possibilidades e, no futuro, o filho escolherá o caminho dele. Na cerveja reuni os gostos meus e da mãe, com um pouquinho de cada escola cervejeira. Foi esta a ideia (risos). E o terceiro está a caminho, o que significa mais uma receita comemorativa por vir (risos). O Botto Bar fica localizado na rua Barão de Iguatemi, 205 Praça da Bandeira - Rio de Janeiro. Funciona de terça a sexta-feira a partir das 17h e sábados e domingos a partir das 14h. Não abre às segundas-feiras. Tel.: (21) 3496-7407
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EVENTO
1 encontro SDC
A SDC realizou no último dia 12 de abril o seu primeiro grande encontro. O evento ocorreu no Adelos, no Centro do Rio de Janeiro e foi prestigiado por vários amigos e associados. Um grande momento de descontração e de muitas baforadas.
Luiz Guilherme Ourofino, Leo Bindes e Mauricio Maia
Reynaldo de Carvalho aproveitou a oportunidade para se associar
Rodrigo Sperle e Sergio Freitas
Vinícius Martinho retrata bem a descontração do momento
Leo Bindes com Alexandre Avellar, do site Conexão Tabaco
Amigos e associados no registro histórico do primeiro encontro da SDC. Que venham os próximos!
MEMÓRIAS DE FUMAÇA
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Em Cuba...
e no Festival del Habanos! N
a última edição narrei minha viagem à Cuba, a chegada ao hotel, o encontro com amigos, as compras iniciais e, finalmente, os preparativos para o Festival deste ano. Agora me concentro no XVI Festival del Habano. Então vamos lá! Todo ano, o credenciamento para o Festival é feito no Palácio das Convenções de Havana, situado em um belo bairro residencial da cidade. Gente de todas as partes do mundo, em diversas filas. Muitos fumam charutos em um ambiente em que o ar-condicionado não dá vazão. Uma mistura de idiomas, fumaça e calor mas que, no fim, sempre dá certo. Assim, saio devidamente credenciado, mais uma vez. A Noche de Bienvenido é a abertura do Festival. É o momento em que o presidente da Habanos S.A recepciona os convidados e apresenta os lançamentos do ano. Logo na entrada, todos recebem uma pequena bolsa contendo algumas unidades desses lançamentos. Sempre fumo alguns ali mesmo e guardo outros para trazer para o Brasil. Esse ano a festa foi realizada no Havana Club, um clube feito para os milionários da prérevolução. Uma belíssima projeção de slides, exibidos na fachada principal do prédio, encantou os participantes. Estava curioso para ver e experimentar os novos puros. Sabia as marcas, mas não as vitolas. Na pequena bolsa, encontrei um Partagás Série D n°6, pequenino e robusto, com cepo 50 e 90mm de comprimento e a tradicional anilha vermelha da linha Partagás Série. Ao seu lado, um tubo de alumínio da Hoyo de Monterrey contendo o lançamento Le Hoyo de San Juan, um puro com tabacos produzidos única e exclusivamente na região de San Juan y Martinez, uma região onde se produz os melhores tabacos cubanos, dando força e equilíbrio ao charuto. Um Geniales, com 54 de cepo e 150mm de comprimento. Faltava uma vitola assim à marca. Será vendido em caixas com 10 e 25 unidades. As fitas que amarram todos os charutos no interior de suas caixas cabinet agora são brancas, e a anilha ganhou um novo desenho com uma faixa vermelha. Claro, não perdi tempo e taquei fogo nessa “iguaria”. Aprovado com louvor. Mais um grande puro cubano em linha, com previsão de chegada ao mercado em setembro. O pequeno Partagás Série D n°6 traz uma fumada rápida, porém intensa. Logo que se acende se percebe a força desse pequeno notável. São mais ou menos 20 minutos – dependendo, é claro, de quem está fumando –, de fumada com força e sabor, com uma queima perfeita. A apresentação é perfeitamente complementada pela nova caixa de 20 unidades,
Por Leo Bindes
ou uma bonita caixinha com cinco unidades. Por fim, depois de alguns drinques, dois charutos, muita diversão e conversa, encerrei minha primeira noite no Festival. No segundo dia do Festival, o compromisso foi no Museo de Bellas Artes de la Habana, com a La Noche de Trinidad, uma marca charmosa e elegante, com suas poucas vitolas em linha. Separei a minha melhor guayabera de manga comprida e lá fui eu. Por sorte consegui um táxi clássico de Cuba, um Buick 48, branco e vinho, que estava impecável. Cheguei em grande estilo ao tapete vermelho estendido em frente ao museu, sendo recepcionado por uma fileira de lindas cubanas, com uma sacola belíssima dourada e preta, em que os regalos estavam cuidadosamente armazenados, acompanhados de cortador e fósforos da marca, um bom kit da Trinidad. Começamos os serviços acendendo o Trinidad Vigia, cujo nome de galera é Torres. Novidade no vitolário cubano, um charuto grosso e curto. Logo em seguida recebemos a primeira edição limitada 2014, o Cohiba Robusto Supremo, mais um charuto bem grosso e curto, com a nova anilha holográfica e o segundo anel de edição limitada. Além disso, vinho branco de entrada, um cardápio assinado pelo chef holandês Ron Blaauw – duas estrelas no guia Michelin – e o sommelier, também holandês Cuno van’t Hoff. Depois de excelente jantar e algumas taças de vinho, encerramos a noite com uma garrafa de rum Vigia 18 anos colocada em nossa mesa. Finalmente chegamos ao último dia do Festival, com La Noche de Gala, meu terceiro dia de Festival. Para a noite estava prevista, além de um sofisticado jantar, a entrega do prêmio Hombre del Habano do ano. Não bastasse tudo isso, na ocasião foi lançado um charuto espacial. Nesse ano, o lançamento foi o H. Upmann n°2 Reserva Consecha 2010, um clássico pirâmide da H. Upmann com 52 de cepo por 156mm de comprimento, que utiliza em sua construção tabaco armazenado por, no mínimo, três anos. Apenas 5.000 caixas foram produzidas com essa reserva. Um luxo. Na ocasião também foi realizado um leilão de caixas umidificadoras, num total de seis caixas, sendo alcançado o incrível valor final de U$1.102.210,00 – inteiramente doados ao sistema de saúde cubana. A música ficou por conta de dois shows de primeiríssima qualidade: Edesio Alejandro, Grammy Latino 2010; e Adriano Rodriguez, Premio Nacional de la Música 2013. E assim terminou mais um Festival Del Habano. Hasta el próximo año!
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A Sociedade do Charuto (SDC) nasceu do desejo de os amantes do charuto se manterem bem informados sobre o fascinante mundo do charuto. Aliado a isso, sempre existiu a necessidade de se estar tranquilo quanto à procedência daquilo que se adquire. Com este pensamento, ousamos construir mais e além. Somos seguramente o primeiro grande portal de informações voltado exclusivamente para os aficionados, pessoas que gozam de um estilo de vida singular e, até agora, inexplorado.
Puro Habano
Cohiba Siglo II
H. Upmann Robusto Edición Limitada 2012
Monstecristo no 4
Na Sociedade do Charuto esses aficionados tornamse membros, passam a compartilhar suas experiências e conhecimentos com os demais e conhecem novos produtos e lugares, ouvindo especialistas e interagindo entre si. Tudo isso no ambiente seguro de um verdadeiro clube voltado para os apreciadores de charutos. A SDC foi desenvolvida para nós, fumadores de charutos, que temos como hábito e princípio apreciar as boas coisas da vida.
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