Revista da SDC nº 04

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ANO 1 / No 4


Direção da revista Mauricio Maia Luiz Guilherme Ourofino Leo Bindes Projeto gráfico e diagramação Fábio Brasil Fotografia Marcelo Conde Alexandre Araújo Capa Gervásio Teixeira / glteixeira.com.br Editor-chefe Mauricio Maia Reportagem Luciana Stavale Revisão Aline Canejo Revista voltada exclusivamente para os associados da Sociedade do Charuto Ltda. Atendimento ao cliente atendimento@sociedadedocharuto.com.br (21) 3042 4815 (21) 3042 4816


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EDITORIAL

editorial ESTÁ NOS NOTICIÁRIOS: VAI TER COPA! Não adianta fugir. A partir do dia 12 de junho, parte da nossa vida prática será interrompida para que a gente passe a acompanhar os jogos. E não basta apenas saber dos resultados. É necessário entender do assunto, estar por dentro de tudo o que está rolando. Durante um mês, em quase todas as nossas tardes, teremos grandes oportunidades de nos reunir e, de frente para a tela plana (ainda existe tabacaria sem tevê de tela plana?), discutir escalações, assistir a grandes e memoráveis jogos e, lógico, secar o Messi. Tudo na companhia de um puro, claro. Mas, enquanto a bola não rola, ousamos afirmar, nesta edição, que há muito em comum entre o mundo do tabaco e o mundo da arte. Quem de nós nunca se pegou admirando os desenhos que a fumaça produz quando estamos degustando um bom charuto? A capa desta revista foi, durante todas essas quatro edições, uma obra original de autoria de um artista brasileiro, “Gervásio”. Muitos associados nos escreveram elogiando as capas. Outros tantos queriam saber mais informações sobre o artista. Estimulados por isso, convidamos o criador das capas da SDC para um bate-papo, carregado de cores vibrantes. Divertida também foi a conversa que tivemos com o entrevistado do mês, Joaquim Cabral, o empresário que, aos 90 anos, segue comandando com o entusiasmo de um iniciante a maior rede de lojas de bebidas importadas e comestíveis finos do Rio de Janeiro e que já teve como clientes habituais Dutra, JK, Getúlio e Lacerda. “Vai na Lidador que tem! Se estiver procurando champanhe francês tem; um caviar russo, também!”, brinca ele, aproveitando para fazer um merchan da empresa. Esse sabe das coisas. Sabe tanto que mandou fazer um charuto só para ele. E ainda ganha dinheiro com isso. Fico aqui imaginando que charuto estarei fumando na tarde de 12 de junho, na estreia do Brasil. Ainda não sei. Certeza, de fato, é que, se o Brasil ganhar, acenderei o mesmo em todos os demais jogos da Seleção, já que ele será eleito o charuto da sorte. Se perder ou empatar? Bem, se o charuto for bom, vou dar outras chances... Pra cima deles! Mauricio Maia


sumário 05 seleçÕES do mÊS 10 entrevista O entusiasmo vibrante do empresário português Joaquim Cabral, uma lenda viva que habita o Centro do Rio de Janeiro

14 especialista Gervásio Teixeira, artista plástico, criador das capas da SDC

18 memórias de fumaça Alexandre Avellar, fundador do site Conexão Tabaco

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19 Próximas seleções Veja o que a SDC reservou para o mês de junho

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SELEÇÕES DO MÊS

Maio


SELEÇÕES DO MÊS Seleção

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Puro Habano

Cohiba Siglo II o magnífico Para comemorar os 500 anos de descobrimento do Novo Mundo por Cristóvão Colombo, a Cohiba lançou, no ano de 1992, a Linha 1492 (Série Siglos), com 5 vitolas, uma para cada século (o Siglo VI somente foi incorporado dez anos mais tarde, em 2002). O Cohiba Siglo II, assim como os demais puros desta série, tem sabor mais suave que o restante dos modelos Cohiba. Possui o aroma delicado e inigualável característico da marca, uma queima perfeita, fluxo constante e retrogosto marcante. E, embora suave no começo, seu sabor se acentua após o segundo terço. Por ser considerado um dos mais equilibrados da linha, é muito cobiçado em todo o mundo. Uma experiência que se deve ter.

Origem Marca Nome comercial Formato Vitola

Cuba Cohiba

Cohiba Siglo II Parejo Petit Corona

H. Upmann Robusto Edición Limitada 2012 uma edição realmente especial Os charutos de Edição Limitada são lançados a cada ano e fabricados com folhas de tabaco cuidadosamente selecionadas e envelhecidas por um período de, pelo menos, 2 anos. Uma característica relevante que identifica essas produções especiais é a capa utilizada para estes charutos, que vem das folhas superiores do tapado, a planta do tabaco cubano cultivado à sombra, e que deixa os charutos mais escuros. O H. Upmann Robusto Edición Limitada 2012 possui um agradável e impressionante aroma a frio, que depois de aceso também se destaca. A queima oferece uma fumaça rica e densa, com tiro regular. É um charuto muito saboroso, complexo e encorpado. Sem dúvida, uma Edição Limitada vencedora.

Origem Marca Nome comercial Formato Vitola

Cuba H. Upmann

Robusto Edición Limitada 2012 Parejo Robusto

Apresentação

Tubo de alumínio (petaca com 3) ou caixa de madeira com 25 unidades

Apresentação

Caixa de madeira com 25 unidades

Medidas

129,0mm de comprimento por 16,7mm de anel calibrador

Medidas

124,0mm de comprimento por 19,8mm de anel calibrador

Calibre

Médio (cepo 42)

Calibre

Grosso (cepo 50)

Força

4/5

Força

2/5


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SELEÇÕES DO MÊS Seleção

Montecristo Nº 4 o preferido do “Che” A marca Montecristo foi fundanda em 1935 por Alonso Menendez, pai de Felix Menendez, o produtor cubano que se estabeleceu na Bahia e fundou a Menendez & Amerino. O nome da marca foi inspirado no romance O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumás, e tornou-se incrivelmente popular em todo o mundo. Hoje, a marca responde por cerca de um quarto das vendas de charutos da Habanos S.A., e o Montecristo Nº 4 tornou-se o charuto cubano mais vendido do mercado mundial. Com queima perfeitamente regular, fluxo fácil e aromas espetaculares, pode-se sentir todo o prazer possível que um puro habano proporciona. O “Monte 4”, como é chamado no Brasil, foi o charuto preferido do líder revolucionário Ernesto “Che” Guevera e é o ideal para aqueles que são iniciantes na arte de fumar charuto. Um charuto que não pode faltar em seu umidificador.

Origem Marca Nome comercial Formato Vitola Apresentação

Cuba Montecristo

Montecristo Nº 4 Parejo Petit Corona Caixa de madeira com 25 e 10 unidades, ou petaca com 3 e 5 unidades

Volta ao Mundo

Flor de las Antillas Robusto a joia do seu humidor Primeira linha com formato pressionado da Tabacalera My Father Cigar, a marca Flor de las Antillas é uma homenagem à Cuba, já que é assim que a ilha caribenha é conhecida. Este puro nicaraguense é muito bem construído, e a mistura contém o melhor tabaco daquele país. A capa é linda e de cor escura, com um brilho oleoso e um aroma a frio gratificante. A fumada do Flor de las Antillas Robusto é densa e elegante, com tiro regular, oferecendo notas claras de pimenta. É um charuto complexo, com fumaça encorpada e surpreendentemente suave, e a consistência da cinza impressiona. Com inteira justiça, o Flor de las Antillas Robusto foi eleito o melhor charuto do ano pela revista americana Cigar Aficionado, que fez o seguinte comentário: “Deliciosos desde a primeira puxada, com notas de nozmoscada e pimenta branca e força o suficiente, sem ser avassalador. Eles são difíceis de largar.”

Origem Marca

Nicarágua My Father Cigars

Nome comercial

Flor de las Antillas Robusto

Formato

Parejo box pressed

Vitola

Robusto

Apresentação

Caixa de madeira com 25 unidades

Medidas

129,0mm de comprimento por 16,7mm de anel calibrador

Medidas

126,0mm de comprimento por 19,8mm de anel calibrador

Calibre

Grosso (cepo 42)

Calibre

Grosso (cepo 50)

Força

4/5

Força

5/5


SELEÇÕES DO MÊS Seleção

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Nacional

Monte Pascoal Belicoso

Monte Pascoal Robusto

o preferido entre os preferidos

um charuto de personalidade

A Monte Pascoal é a mais nova marca produzida pela Tabacos Mata Fina, uma empresa genuinamente brasileira lançada em 2007. Feitos com a seleção das melhores folhas de tabaco do fértil solo do Recôncavo Baiano e seguindo a rica tradição tabaqueira da região, os charutos Monte Pascoal rapidamente alcançaram a preferência do exigente consumidor brasileiro. E o Monte Pascoal Belicoso figura entre os primeiros desta preferência nacional, pela qualidade, pela construção e pelo sabor. Com um agradável aroma, uma queima suave e muito regular e retrogosto marcante, não é à toa que tem sido considerado o melhor charuto nacional.

o rigoroso controle exercido pelo grupo Tabacos Mata Fina na sua linha de produção pode ser facilmente verificado no Monte Pascoal Robusto. Bem construído, o charuto é encorpado, tem puxada regular, fumaça densa e sabor homogêneo. A mistura do tabaco Mata Fina com o Mata Norte lhe dá complexidade aromática e força, características que tornam este puro nacional um grande charuto e o consolida como um dos melhores robustos do Brasil.

Origem

Brasil

Origem

Brasil

Marca

Monte Pascoal

Marca

Monte Pascoal

Nome comercial

Monte Pascoal Belicoso

Nome comercial

Monte Pascoal Robusto

Formato

Figurado

Formato

Vitola

Belicoso

Vitola

Parejo Robusto

Apresentação

Caixa de madeira com 10 e com 25 unidades

Apresentação

Caixa de madeira com 10 e com 25 unidades

Medidas

140,0mm de comprimento por 21,0mm de anel calibrador

Medidas

124,0mm de comprimento por 19,8mm de anel calibrador

Calibre

Grosso (cepo 53)

Calibre

Grosso (cepo 50)

Força

3/5

Força

3/5


09 Seleção

SELEÇÕES DO MÊS

Exclusivos

Cohiba Behike 52

o segredo mais bem guardado da Cohiba com quase 50 anos de existência, a prestigiada marca Cohiba tem-se destacado por estabelecer as diretrizes e tendências do mercado mundial com suas diferentes linhas de charutos premium. A linha Behike é a quarta linha de charutos da marca Cohiba e a mais exclusiva da sua história. Com três novos formatos, BHK 52, BHK 54 e BHK 56, o grande diferencial desta linha é a incorporação, pela primeira vez na composição de um habano, da folha do tabaco chamada MedioTiempo. Também denominado Fortaleza 4, a Medio Tiempo é uma folha muito escassa vinda das duas folhas superiores da planta do tabaco cultivado ao sol, as quais dão um caráter excepcional ao charuto em termos de sabor e equilíbrio. O Behike 52 tem uma fumada densa e aveludada, com excelente queima, o que permite apreciar e desfrutar toda a intensidade e os sabores oferecidos por esta mistura requintada e única, que o levaram a ser considerado o melhor charuto do ano de 2010 pela Cigar Aficionado.

Origem Marca Nome comercial Formato Vitola

Cuba Cohiba

Behike 52 Parejo pig tale Petit Robusto-T

Davidoff Puro d’Oro Gigantes um inesquecível momento de prazer A adição deste magnífico charuto à série Puro d’ Oro, da Davidoff, introduzida em 2010, vem coroar um trabalho de mais de dez anos em busca da perfeição. Com seu imponente e majestoso formato Super Robusto, o Davidoff Puro D’Oro Gigantes é o mais longo charuto da premiada série. Um projeto corajoso que combina uma seleção de tabacos amadurecidos em seu miolo e seu capote com a inebriante capa Yamasa escura, tudo em um anel calibrador 56. Estes dão ao Puro D’Oro Gigantes um perfil de sabor equilibrado, em uma fumada poderosa e surpreendentemente refinada, em que os aromas intensos se desenvolvem em toda a sua complexidade. Uma verdadeira festa para os sentidos.

Origem Marca

República Dominicana Davidoff

Nome comercial

Puro D’Oro Gigantes

Formato

Parejo pig tale

Vitola

Super Robusto

Apresentação

Caixa de madeira laqueada com 10 unidades

Apresentação

Caixa de madeira com 10 unidades

Medidas

119,0mm de comprimento por 20,64mm de anel calibrador

Medidas

140,0mm de comprimento por 22,2mm de anel calibrador

Calibre

Grosso (cepo 52)

Calibre

Grosso (cepo 56)

Força

5/5

Força

5/5



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ENTREVISTA

joaquim cabral guedes Uma lenda viva que habita a Rua da Assembleia, no Centro do Rio de Janeiro NA MESA REPLETA de papéis de uma pequena sala que serve de escritório, de repente Joaquim Cabral interrompe a conversa e, com duas canetas tipo pincel, uma azul e outra vermelha, começa a escrever o nome de um vinho chileno e o seu preço em um pequeno pedaço de cartolina branca. A ação quebra um pouco o ritmo da conversa e provoca um silêncio meio solene à mesa, que é imediatamente quebrado com a seguinte frase do Sr. Cabral: “uma das funções de que mais gosto de fazer é escrever, à mão, os preços dos produtos que ficam expostos nas minhas lojas”. Aos 90 anos, o português Joaquim Cabral Guedes consegue unir a experiência de seus 72 anos dedicados à Lidador, rede de lojas que comanda, ao entusiasmo típico de um iniciante, característica que o exemplo anterior demonstra que ele jamais deixou arrefecer em toda a sua carreira. Trata-se de uma combinação poderosa, como comprovam os resultados da rede no decorrer desta longa e fértil relação. Gentilmente, “Seu Cabral”, como é conhecido, fez uma pausa em sua agenda para receber a equipe da SDC no local em que mais gosta de estar: o escritório da empresa, provisoriamente instalado na Rua Buenos Aires, no Centro do Rio. Estava à nossa espera e nos recepcionou exatamente da forma que acabou se tornando sua marca pessoal: elegantemente vestido e sempre na companhia de um chapéu-panamá e de um charuto na mão. “Essa dupla me acompanha há anos”, diz ele simpaticamente. Educado e atencioso, ele conta sua história com toda a paciência do mundo e afirma que ainda está em total atividade. “Sou daqueles que, quando param de trabalhar, ficam doentes!”, revela Seu Cabral, colocando mais um preço em outra mercadoria. Ele conta que tudo começou em 1924, quando seu tio Antônio Cabral Guedes decidiu abrir, na rua da Assembleia, no Rio de Janeiro, um pequeno estabelecimento comercial de bebidas e comestíveis finos. “Cheguei ao Brasil em 1942 e logo comecei a trabalhar na loja do meu tio. Naquele momento, não poderia imaginar que aquela lojinha se tornaria, um dia, a maior e mais completa rede de importadora e delicatéssens da cidade do Rio de Janeiro”, diz ele. Em poucos minutos de conversa é possível perceber o homem batalhador, esforçado e gentil. Tinha apenas 18 nos quando veio para o Brasil. Era um jovem estudante de economia em uma Europa em guerra e com poucas oportunidades em sua área. Aceitou, então, o convite do tio, que não conseguia tirar férias desde a abertura da loja, em março de 1924. “Olha

que coincidência: eu nasci em fevereiro de 1924 e a loja foi aberta em março do mesmo ano. Acho que já estava escrito!”, brinca, entre risos. Ele conta que, ao chegar ao Rio, ficou encantado com a cidade. “O Rio de Janeiro era fascinante, lindíssimo. O bonde passava na frente da loja para cima e para baixo. Era tudo muito diferente!”, diz, lembrando, com nostalgia, de como era a cidade que o acolheu em definitivo. Em um ano de trabalho, sentiu-se confiante e falou para o tio tirar uns dias para descansar. O tio acabou se surpreendendo com a energia e a obstinação do sobrinho e propôs uma sociedade. “Como ele não tinha filhos, me chamou para conversar e perguntou se eu queria ser seu sócio. Não pensei meio segundo e aceitei!”. Seu Cabral fala baixo, de forma pausada, e o tempo todo. É objetivo e espontâneo. E gosta de contar histórias. Conta que tanto ele quanto seu tio Joaquim nasceram em Maia, cidade que pertence ao Distrito do Porto, Região Norte de Portugal e cujo nome é uma homenagem a Dom Gonçalo Mendes da Maia, um destemido comandante


ENTREVISTA militar nascido naquela região em 1079 e um dos maiores amigos do primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques. Em razão de suas épicas conquistas nos campos de batalha, sempre em defesa da soberania de Portugal, Dom Mendes da Maia ficou historicamente conhecido como O Lidador. A escolha pelo nome da rede de lojas surgiu naturalmente, e parecia algo já determinado pelo destino. De forma educada, pergunta se pode acender um charuto. Aproveita, então, para contar que teve o prazer de experimentar seu primeiro charuto há, aproximadamente, 50 anos. E logo virou um aficionado. Mas foi em uma viagem à Europa que o comerciante provou um charuto que o deixou maravilhado. Tenta lembrar a marca, mas a memória o trai. “Era um robusto, sabe?”, diz o experiente comerciante. Cabral gostou tanto que guardou um dos charutos e, de volta ao Brasil, entrou em contato com o produtor cubano Félix Menendez, na Bahia. Queria mostrar aquele charuto. E conseguir fazer algo parecido. “O Felix criou um charuto muito semelhante ao que eu havia experimentado na Europa. Com o mesmo formato e com uma mistura especial feita só para mim”, lembra ele. “O Lidador, como chamei o charuto, é vendido apenas nas nossas lojas”, conta orgulhoso. Desde então, Felix Menendez e Joaquim Cabral Guedes tornaram-se grandes amigos. “Tenho uma grande admiração pelo Felix. Já trocamos muitas experiências de vida; ele já me contou toda a sua história, tanto a de Cuba quanto a que fez, aqui no Brasil. É um grande prazer ser amigo dele!”. A matriz da Lidador, na rua da Assembleia, foi palco de muitas histórias que esse paciente senhor

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tem prazer em contar. Ele diz que nos fundos da casa funcionava um discreto mas finíssimo bar e, ao final do dia, alguns distintos cavalheiros passavam por ali para tomar um uísque e fumar um charuto. A ideia era relaxar, sem pressa. “Eu mandava os funcionários para casa, fechava as portas e ficava até altas horas conversando e fumando com eles”. O endereço já teve frequentadores ilustres como Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand, Flexa Ribeiro, Oscar Bloch, os irmãos Soares Sampaio, Octávio de Souza Dantas, Oscar Machado da Costa, Góes Monteiro e Machado Coelho. “Todos estes e mais centenas de outros tantos, não tão ilustres mas não menos importantes e não menos amigos, fizeram com que o nome Lidador entrasse para a história da cidade”, afirma o empresário. A parede de seu escritório confirma isso. Há várias fotos espalhadas ali. Ele nos mostra uma delas, em que aparece ao lado de Carlos Lacerda. “O Lacerda foi um grande amigo”. Ele conta que o jornalista passava em frente à loja todos os dias, no fim do expediente. Em uma dessas vezes ele entrou na loja e pediu para chamarem o dono da casa. “Muito sem graça, ele me contou que havia perdido a carteira e estava sem dinheiro. Eu não pensei duas vezes: fui no caixa e retirei 500 cruzeiros para emprestar a ele. Eu lia A Tribuna da Imprenssa todo dia. Sabia que ele era o proprietário”, diz o comerciante, sorrindo. “Desse dia em diante ele passou a frequentar a loja todos os dias, no fim do expediente. Já era deputado federal e, mesmo depois de se tornar governador da Guanabara, bebia seu uísque lá no bar dos fundos e


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ENTREVISTA

não queria que ninguém o servisse. Tinha de ser eu, sempre”, lembra o experiente comerciante. Seu Cabral também conta que foi ali que os irmãos Soares Sampaio decidiram criar a Refinaria de Exploração e Petróleo União S/A, localizada em São Paulo. “A refinaria União nasceu lá na Lidador da Assembleia”, revela, todo orgulhoso. Mas, com um Centro da cidade em profunda transformação, até mesmo este verdadeiro marco da tradição de um Rio de Janeiro de outros tempos teve de se render às mudanças exigidas. No lugar onde a matriz da Lidador funcionava, na Rua da Assembleia 65, será erguido um edifício comercial com 17 andares. Os dois prédios da primeira metade do século passado sairão de cena para surgir a Torre Lidador, com sua fachada envidraçada e moderna. Seu Cabral, no entanto, afirma que a loja matriz voltará ao seu lugar original quando o edifício estiver pronto. “Reabriremos no térreo, e manteremos o charme e o refinamento do estabelecimento fundado por meu tio, em 1924. Retornaremos”, garante. Uma das suas grandes satisfações é que, além de gostar do que faz, ele está rodeado de pessoas que ama e que estão dispostas a dar continuidade ao legado construído. “Meus dois filhos foram criados praticamente dentro da Lidador e sempre trabalharam comigo”, diz ele. Os quatro netos também estão a frente do negócio, visitando todas as 14 lojas espalhadas pela cidade. Ao falar dos filhos, Seu Cabral faz uma pausa momentânea em seu entusiasmo para comentar que o filho mais velho, Vítor, havia falecido há poucos dias. “Mas

estamos aí tocando a empresa. Não podemos parar, né?”, retoma a conversa, sem dar espaço para a tristeza quebrar o clima alegre e contagiante da entrevista. Muito religioso, ele é devoto de Nossa Senhora da Estrela da Manhã. Tem imagens dela pelo escritório, montou um lindo altar em casa e para onde vai carrega a santinha no bolso, junto com muitas fotos de um retiro que fez, na companhia de sua esposa, na Comunidade Mãe Rainha Estrela da Manhã, localizada no município de Trajano de Morais, no interior do Rio. Neste local, ele garante que presenciou uma aparição de Nossa Senhora: “Ela se deixou fotografar e eu guardo essa lembrança com muito carinho”, diz, sorrindo. O par de horas de convívio com este senhor de trajetória vitoriosa, dono de um largo sorriso no rosto e com muitas histórias para contar foram agradáveis e inspiradoras. Seu relato mostra claramente que as portas vão se abrindo para quem trabalha com dedicação e honestidade. “E também para quem sabe demonstrar gratidão a todos que ajudam a abrir essas portas”, complementa esse homem comum e de hábitos simples, que parece querer desfrutar intensamente dessa dádiva que é a vida, até o último minuto que lhe for concedido.


ESPECIALISTA/ARTISTA PLÁSTICO

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gervásio teixeira “A vida é uma grande fumaça” o artista plástico Gervásio Teixeira Lima nasceu na cidade de Frei Paulo, Sergipe, no ano de 1952. Sua obra combina a expressividade com a sofisticação e a inteligência de um artista autodidata que tem na sedução pelo mar fonte de inspiração e consegue criar um universo de cores vibrantes que bem representam a luz do lugar onde nasceu e a força do povo nordestino. Em Paris, onde viveu durante os anos de 1981 e 1982 após ser selecionado pelo Governo francês para estudar na prestigiosa Escola Nacional de Belas Artes de Paris, desenvolveu e aprimorou a técnica de pintura em murais. “Os espaços públicos são muito interessantes para a exposição da arte, pois são capazes de impactar centenas ou milhares de pessoas de uma única vez”, afirma Gervásio, que já expôs suas obras em vários espaços culturais do Brasil. Fumador aficionado de cachimbos, Gervá, como é conhecido pelos amigos, recebeu nossa equipe em seu ateliê, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Além de um rádio antigo constantemente sintonizado na rádio MEC-FM, e

quadros, gravuras, tintas, pincéis e móveis também confeccionados pelo artista serviu de cenário à agradável entrevista concedida pelo criador das capas da revista SDC. SDC – Quando soube que a arte seria o seu caminho definitivo? G – Por questões políticas, meu pai, um farmacêutico, foi obrigado a abandonar a cidade de Frei Paulo em meados da década de 1960. Eu e meus 13 irmãos fomos todos morar em Aracaju.


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ESPECIALISTA/ARTISTA PLÁSTICO

Colecionava gibis e os negociava para conseguir ingressos para os cinemas da cidade, e nessas andanças solitárias conheci a Galeria de Arte Álvaro Santos, até hoje referência no Estado do Sergipe. Com o passar do tempo cada irmão tomou o seu rumo, e eu sendo o décimo segundo irmão, quase o caçula, fui um dos últimos a procurar o meu destino. Me apaixonei pela arte de forma instintiva; quanto mais contato tinha, mais me envolvia. Aos 16 anos comecei a produzir as minhas primeiras peças e aos 18 já tinha certeza de que esse seria o meu caminho definitivo. SDC – Expôs suas obras na Galeria Álvaro Santos? G – Sim, mais tarde. Várias vezes. SDC – Chegou a ter uma formação clássica como artista? G – Sempre fui um autodidata, tendo de aprender com a prática e o aperfeiçoamento contínuo das técnicas de pintura. Cheguei a frequentar cursos superiores de Comunicação e Letras, mas não me adaptei. SDC – Como foi a sua chegada ao Rio de Janeiro? G – Tinha 18 anos quando vim pela primeira vez ao

Rio de Janeiro. A intenção era conhecer os espaços culturais que a cidade poderia me oferecer. Ficava hospedado na casa de um de meus irmãos, à época, sargento do exército. Vim e voltei para Aracaju um número incontável de vezes antes de me transferir definitivamente para cá, o que somente ocorreu com o falecimento de minha mãe, com quem mantinha uma ligação afetiva muito grande. Naquela época, olhava tudo com uma perspectiva de que o tempo não passaria, não para mim. Mais tarde descobri que estava equivocado (risos). SDC – A década de 1970 foi um período duro da história brasileira. Você havia optado por ser artista. Como foi isso? G – Sozinho, era um garoto do Nordeste que só tinha a mim, a meus sonhos e os meus trabalhos para me apegar. Mostrei em São Paulo na Bienal Nacional de São Paulo em 1974. Eu era muito engajado politicamente naquela época. Via a minha arte como uma tradução para uma luta política. Passei muitas noites no apartamento de Copacabana da Helô Amado, uma socialite da época, conversando sobre política. Naquele momento significava colocar em risco a sua própria vida. Cheguei a ficar em dúvida em expor na Bienal. As notícias eram de que artistas haviam sido presos ou estavam desaparecidos. Já havia exposto as minhas obras em Salvador e no Rio de Janeiro também, mas era cada vez mais difícil trabalhar com liberdade sem o receio de se tornar vítima do sistema. SDC – Pensou em abandonar? G – Passei a década de 1970 em busca de um caminho, uma afirmação. Estudei Comunicação em uma instituição privada, na Estácio de Sá, depois fiz Letras e Artes Plásticas na UFRJ. Não concluí nenhuma das três. Nunca abandonei o que sou como artista, mas procurava me instrumentalizar com o conhecimento formal


ESPECIALISTA/ARTISTA PLÁSTICO

das salas de aula, o que mais tarde encontrei nos livros, os quais mantenho comigo até hoje. SDC – Como foi sua experiência na França? G – Me candidatei e fui selecionado para uma bolsa do Governo francês. Morei em Paris entre 1981 e 1982, onde aprimorei a técnica de pintura em murais. Os espaços públicos são muito interessantes para a exposição da arte, pois são capazes de impactar centenas ou milhares de pessoas de uma única vez. Frequentei o ateliê de Olivier Debret, um importante artista francês, e morei em Cité des Arts, um dos espaços mais importantes para um artista na cidade de Paris. Tudo isso a convite do Governo Frances, o que me orgulha muito, porque não imaginava que tinha essa qualidade toda. O prefeito de Paris, à época Jacques Chirac, recepcionava os artistas residentes da Cité des Arts, dando para se perceber a importância que tinha aquele lugar. Posso dizer que foi uma experiência muito boa e marcante na minha vida. SDC – Há um engajamento ecológico em boa parte de suas obras. Conte-nos um pouco sobre isso. G – Pelo que lembro, foi na década de 1970 que surgiu esse engajamento pela natureza. Na época não existia a expressão “ecologia”, como a conhecemos hoje. O que me chamou atenção foi a construção da Transamazônica no Governo Médici. Participei da Rio 92 com livro publicado, ilustrado por mim, focado na figura do Chico Mendes, que foi o réquiem para floresta. A Dalva Lazoroni fez um poema em cima dos meus desenhos, o que resultou na canção para Chico Mendes. No fim, sempre tive essa visão e preocupação com o espaço em que vivemos, com o equilíbrio entre o bem-estar e a evolução da raça humana e a preservação do meio ambiente para que o mundo não venha a perder as cores da minha infância, e que tanto me inspiram. SDC – E o cachimbo? Como chegou a ele? G – Queria fugir dos cigarros, mas era um incômodo. Comecei a frequentar uma tabacaria no Centro do Rio de Janeiro, isso há mais de 30 anos, cotidianamente. Chamava-se Tabacaria Gryphus. Lá, comprei meu primeiro cachimbo. Naquela tabacaria, que mais tarde veio a se tornar a fonte de tantos encontros e amizades, convenci o proprietário, Seu Walter, a colocar umas pequenas mesas e cadeiras feitas por mim para melhor acomodar os seus clientes. Penso que um charuto ou um cachimbo reúne as pessoas, agrega as pessoas. São fontes de amizade e prosa. Se pensarmos bem, a vida é uma grande fumaça!”.

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SDC – Falando em prosa, o que foi o Tabaco e Poesia? G – Na Tabacaria Gryphus surgiu um movimento de certa forma encabeçado por mim. Como tenho uma ligação muito grande com a questão cultural, introduzi a leitura da poesia. A ideia era de ser lida uma poesia todos os dias, ali pela hora do almoço, um pouco depois. Durou alguns anos e foi fonte de grande felicidade para mim. Assim surgiu o Tabaco e Poesia. Tinha até uma ata com mais de 40 pessoas. As pessoas levavam seus poemas e cada um lia o que quisesse ler. Como tudo o que acaba, acabou. SDC – Levou cachimbos para a França? G – Sim, claro. Desde que comecei, só fumo cachimbos, cotidianamente. SDC – Ainda produz arte? G – Tenho 45 anos de trabalho documentado. Assim como você tem os seus sentimentos os artistas têm os seus momentos, as fases, e assim os artistas se expressam. Já tive uma fase política, outra com engajamento na questão da ecologia, e até momentos líricos, lúdicos. Hoje simplesmente tenho o prazer de pintar e sempre sou estimulado pelos motes do momento histórico. Agora vem a Copa do Mundo de Futebol, depois as Olimpíadas. Mas, respondendo à sua pergunta, quanto à permanência da produção artística, nunca deixei de trabalhar. Estou sempre procurando ser instigado por um novo desafio, uma nova visão e compreensão do mundo que nos cerca.


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Todos os cartões são aceitos. Não abrimos aos domingos e feriados.


MEMÓRIAS DE FUMAÇA

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Por Alexandre Avellar

Do charuto falso ao conhecimento Como em todo mercado voltado para o consumo de luxo, o charuto cubano sofre muito com as falsificações. Estima-se que 80% dos charutos vendidos como cubanos no mundo sejam falsificados. O grande problema é que até o fumante ter conhecimento suficiente para distinguir os produtos, provavelmente, já terá fumado muito charuto ruim enganado. Eu tive o desprazer de fumar muitos charutos falsos na minha vida até ter o conhecimento e o discernimento para diferenciar o “gato” da “lebre”. Partimos do princípio de que se estamos comprando o charuto em uma tabacaria estamos levando o produto original, mas isso nem sempre acontece. Comecei a fumar meus charutos em uma tradicional tabacaria de Belo Horizonte. Perdi a conta de quantos charutos falsos fumei até chegar ao ponto que me fez perceber que eu realmente precisava conhecer mais sobre este produto que me chamava tanto a atenção. Comprei um umidor com 25 unidades do San Cristóbal de La Habana (marca ainda pouco conhecida no Brasil), na vitola Salomones, por R$ 2.600,00. Ok, um belo investimento no que me foi vendido como um charuto muito especial em um umidor de produção limitada. Sem dúvidas o charuto era muito especial, pois nem em Cuba existia. Em viagem posterior à Havana fui informado que aquela vitola nunca havia sido produzida para a marca San Cristóbal de La Habana e o umidor poderia ser encontrado facilmente nas feiras de artesanato da cidade por aproximadamente 100 dólares. Vocês imaginam a minha cara e a minha irritação ao descobrir isso. Não pelo dinheiro, porque acho que às vezes

temos de nos dar alguns presentes e, como um apaixonado pelo charuto, normalmente meus presentes são relacionados a este prazer, mas sim pelo fato de ter pago a determinada quantia em um produto falso. Ao questionar o gerente da casa ele me disse que os produtos da loja eram bons, só que eram desviados da fábrica etc. Bom, como um produto pode ser desviado da fábrica se nem está em produção? Há um ditado comum neste meio que diz: “Quanto mais interessante a história, mais falso é o charuto”. E é verdade! Por isso recomendo sempre aos amigos a comprar charutos em tabacarias que vendam produtos da Emporium Cigars, importadores exclusivos dos charutos cubanos para o Brasil. Procure sempre pelos selos da Emporium Cigars para evitar cair nos muitos golpes aplicados nesse ramo. Outra sugestão é comprar seus charutos cubanos nas lojas La Casa del Habano e Especialista en Habanos, dois selos conferidos pela Habanos S.A. a tabacarias comprovadamente sérias e com produtos garantidos. Se há um lado bom neste episódio é que, após aquela compra, decidi estudar mais sobre o charuto. Isso me proporcionou conhecer mais sobre o produto e degustar coisas melhores, aliando o conhecimento ao prazer. Hoje tenho um site que se chama Conexão Tabaco e é uma das principais referências sobre charutos no Brasil. Por meio do site busco compartilhar informações sobre o mundo do charuto para que todos fiquem sempre por dentro dos lançamentos e novidades do mercado e evitar que outras pessoas caiam no mesmo golpe de que fui vítima tantas vezes.

Alexandre Avellar é fundador do site Conexão Tabaco, hoje a principal referência sobre charutos no Brasil, e foi Nominado a Hombre Habano en Comunicación no XV e no XVI Festival del Habano, em Cuba. Ministra cursos sobre degustação de charutos e escreve para várias publicações no Brasil e no exterior.


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A Sociedade do Charuto (SDC) nasceu do desejo de os amantes do charuto se manterem bem informados sobre o fascinante mundo do charuto. Aliado a isso, sempre existiu a necessidade de se estar tranquilo quanto à procedência daquilo que se adquire. Com este pensamento, ousamos construir mais e além. Somos seguramente o primeiro grande portal de informações voltado exclusivamente para os aficionados, pessoas que gozam de um estilo de vida singular e, até agora, inexplorado. Na Sociedade do Charuto esses aficionados tornamse membros, passam a compartilhar suas experiências e conhecimentos com os demais e conhecem novos produtos e lugares, ouvindo especialistas e interagindo entre si. Tudo isso no ambiente seguro de um verdadeiro clube voltado para os apreciadores de charutos. A SDC foi desenvolvida para nós, fumadores de charutos, que temos como hábito e princípio apreciar as boas coisas da vida.



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