Revista da SDC nº 05

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ANO 1 / No 5


Direção da revista Mauricio Maia Luiz Guilherme Ourofino Leo Bindes Projeto gráfico e diagramação Fábio Brasil Fotografia Marcelo Conde Alexandre Araújo Capa Gervásio Teixeira / glteixeira.com.br Editor-chefe Mauricio Maia Revisão Aline Canejo Revista voltada exclusivamente para os associados da Sociedade do Charuto Ltda. Atendimento ao cliente atendimento@sociedadedocharuto.com.br (21) 3042 4815 (21) 3042 4816


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EDITORIAL

editorial O PRIVILÉGIO DE ESTAR NO PAÍS DA COPA Abrigar uma Copa do Mundo, definitivamente, não é para qualquer um. O país está em festa e, até aqui, parece ter superado todos os obstáculos para que esta seja a Copa das Copas. A Seleção – além de Neymar e “São” Júlio César – tem feito sua parte, pelo menos até aqui. Até o fechamento desta edição, o Brasil já havia mandado para casa o Chile, que conseguiu se classificar derrotando, nada mais, nada menos, a atual campeã do mundo, a Espanha. Coisas do futebol. Por falar em futebol, para nossa alegria, Eurico Miranda, um dos mais polêmicos dirigentes do futebol brasileiro, abriu espaço em sua agenda para conceder uma entrevista bem bacana à SDC. O encontro, lógico, era para falar sobre charutos, uma de suas paixões, mas as polêmicas que retrataram sua vida não ficaram de fora. Uma entrevista franca, em que é possível entender o que leva alguém a se transformar em um verdadeiro símbolo de uma instituição. E o amor e o ódio que se originam quando se passa a confundir essa pessoa com a própria instituição. E, ao final da entrevista, o velho Eurico, com a franqueza habitual, cravou não só que será candidato nas próximas eleições do Vasco da Gama, agendadas para agosto, mas que voltará ao comando da equipe carioca. E, como o frio do inverno vem chegando, convidamos o renomado sommelier carioca Paulo Prado para um bate-papo superesclarecedor sobre vinhos e possíveis harmonizações com charutos. Boas baforadas! Mauricio Maia


sumário 05 seleçÕES do mÊS 11 entrevista Eurico Miranda fala de sua segunda paixão, os charutos, e promete voltar: “O Vasco é nau sem rumo”

17 especialista O sommelier Paulo Prado dá várias dicas sobre vinhos e como harmonizá-los com charutos

19 Próximas seleções Veja o que a SDC reservou para o mês de julho

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SELEÇÕES DO MÊS

Junho


SELEÇÕES DO MÊS Seleção

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Puro Habano

Montecristo Open Eagle

Montecristo Open Master

a suavidade perfeita

o sabor com elegância

A Montecristo é a mais conhecida e quem sabe a mais apreciada marca da Habanos. Seu nome é uma homenagem ao romance épico O Conde de Montecristo, de Alexandre Dumas. A linha Montecristo Open nasceu em 2009, criada para ser mais leve, com 4 vitolas, que incorporam uma liga de menor força que as tradicionais vitolas Montecristo, mas que mantêm um agradável sabor forte e picante, característico da marca. O Montecristo Eagle apresenta um tiro com fluxo aberto, porém com todo o sabor e o inigualável blend característico da marca se apresentem. Um charuto para se ter no umidor.

O Montecristo Open Master é um charuto muito bem construído, equilibrado do início ao fim, com destaque para sua capa oleosa. Tem excelente queima, com cinzas firmes e escuras, que faz dele um charuto sólido, com constância de paladar, sempre leve e agradável. O tiro possui um fluxo ótimo, característica da linha Open. Uma escolha perfeita para os recém-chegados ao mundo da Habanos e também para aqueles conhecedores que buscam um charuto mais liso, mais relaxado.

Origem Marca

Cuba Montecristo

Origem Marca

Cuba Montecristo

Nome comercial

Eagle

Nome comercial

Master

Formato

Parejo

Formato

Parejo

Vitola

Robusto Extra

Vitola

Robusto

Apresentação

Caixa com 20 unidades, petaca com 3 unidades e tubo de alumínio

Apresentação

Caixa com 20 unidades, petaca com 3 unidades e tubo de alumínio

Medidas

150,0mm de comprimento por 21,43mm de anel calibrador

Medidas

124,0mm de comprimento por 19,84mm de anel calibrador

Calibre

Grosso (cepo 54)

Calibre

Grosso (cepo 50)

Força

3/5 (médio)

Força

3/5 (médio)


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SELEÇÕES DO MÊS Seleção

Volta ao Mundo

Montecristo Open Junior

La Aroma de Cuba Monarch

equilíbrio e distinção

orgulho da família Garcia

É charuto da linha Open de menor porte, de tiro fácil e textura compatível com a proposta dos Open. A queima, quando bem trabalhada, é perfeita. O Open Junior possui um tiro com fluxo adequado e proporciona uma excelente fumada, do início ao fim. Destaca-se, ainda, para o excelente caráter aromático. É uma opção atraente especialmente para os apreciadores que não abrem mão de um cafezinho no meio da tarde.

Fabricada com orgulho por Jose ‘Pepín’ García & Co., a La Aroma de Cuba é uma das marcas de charuto mais populares e de crescimento mais rápido no mundo hoje em dia. Totalmente feito à mão, o La Aroma de Cuba Monarch apresenta uma mistura encantadora, rica e picante das melhores folhas de tabaco da Nicarágua. O aroma a frio é deliciosamente marcante. A fumada, embora no início seja branda, ganha corpo e força, tornando o LADC Monarch um charuto rico, complexo e muito bem equilibrado.

Origem Marca

Cuba Montecristo

Origem Marca

Nome comercial

Junior

Nome comercial

Formato

Parejo

Formato

Vitola

Short Panatela

Vitola

Nicarágua La Aroma de Cuba

Monarch Parejo Toro

Apresentação

Caixa com 20 unidades, petaca com 3 unidades e tubo de alumínio

Apresentação

Caixa de madeira com 20 unidades

Medidas

110,0mm de comprimento por 15,09mm de anel calibrador

Medidas

150,0mm de comprimento por 20,64mm de anel calibrador

Calibre

Grosso (cepo 52)

Calibre Força

Fino (cepo 38) 3/5 (médio)

Força

4/5 (forte)


SELEÇÕES DO MÊS Seleção

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Nacional

Dannemann Artist Line Double Corona Mata Fina a complexidade e sabor da linha Artist Line Sinônimo de inquestionável qualidade, a Dannemann é a mais antiga fábrica de charutos do Brasil. Em razão do sofisticado processo de produção da linha Artist Line, em que se renuncia à prensagem nos tradicionais moldes de madeira, esses charutos são considerados, por muitos, os melhores nacionais. O Double Corona é um charuto encorpado e rico, de sabor sóbrio, queima perfeita e fluxo adequado. Trata-se de um charuto excepcional que merece ser valorizado.

Origem Marca Nome comercial Formato Vitola

Brasil Danemamm

Artist Line Double Corona Parejo Double Corona

LeCigar Robusto Mata Fina premium nacional campeão A Manufatura Tabaqueira LeCigar Ltda. iniciou suas atividades em 1998 e rapidamente conquistou vários prêmios. Confirmando a sua qualidade nos anos seguintes, chegou a ser eleita como a fabricante do melhor charuto nacional em 2002 em uma avaliação realizada pela revista Playboy. O charuto é elaborado com a capa Bahia-Brasil ou Mata Fina, que se caracteriza pela cor escura. Com boa construção e queima, além de um fluxo moderado, o LeCigar Robusto Mata Fina tem um aroma agradável, que proporciona uma degustação suave, com retrogosto bem interessante e persistente.

Origem Marca Nome comercial Formato Vitola

Brasil Le Cigar

Robusto Mata Fina Parejo Robusto

Apresentação

Caixa de cabinet com 25 unidades

Apresentação

Caixa com 25 unidades e petaca com 5 unidades

Medidas

186,0mm de comprimento por 19,84mm de anel calibrador

Medidas

120,0mm de comprimento por 19,05mm de anel calibrador

Calibre

Grosso (cepo 50)

Calibre

Grosso (cepo 48)

Força

3/5 (médio)

Força

3/5 (médio)


Existem charutos que são muito bons, existem grandes charutos e existem charutos Exclusivos.

Padrón 1964 Anniversary Series Diplomatico Maduro

Origem Nicarágua

A série Padrón 1964 Anniversary foi introduzida em 1994 para comemorar o 30º aniversário da Padrón Cigar Company, e o Diplomático Maduro figurou na lista Top25 de 2013 da revista Cigar Aficionado. Todos os tabacos utilizados nestes charutos são envelhecido por, no mínimo, quatro anos, criando um sabor suave e complexo.

A SDC tem mais uma opção de associação para você – a Seleção Exclusivos. São quatro seleções por ano: fevereiro, maio, agosto e novembro, sempre dois charutos de altíssimo padrão. No mês de maio, os Exclusivos são: Behike 52 e Davidoff Puro d’Oro Gigantes. Assim como a Seleção Puros Habanos, Seleção Volta ao Mundo e a Seleção Nacionais, para receber a Seleção Exclusivos basta inscrever-se em nosso site (www.sociedadedocharuto.com.br). Para qualquer dúvida, ligue para o telefone 0800-0206702 ou mande um e-mail para contato@sociedadedocharuto.com.br.

Todos os meses a SDC seleciona e entrega em casa os charutos para seus associados. Existem três níveis de associação mensal: Seleção Puros Habanos, composta de três charutos cubanos, Seleção Volta ao Mundo, com três charutos oriundos de qualquer parte do mundo e Seleção Nacional, constituída por quatro charutos produzidos no Brasil. Os critérios para a escolha dos charutos para a Seleção Mensal são qualidade, variedade em tipo, origem e procedência. Junto com os charutos, o associado recebe a revista da SDC. O associado sabe com antecedência qual é a próxima seleção por meio do site, da newsletter e da revista. O associado pode suspender ou cancelar o recebimento da sua Seleção sempre que desejar. Não há taxa de associação. As entregas são feitas sempre a partir do dia 20 de cada mês, podendo estender-se até a primeira semana do mês seguinte.



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ENTREVISTA

eurico miranda O mais emblemático e carismático dirigente da história do Vasco Por Mauricio Maia “Vocês não são da crônica esportiva, não é?”, pergunta Eurico, enquanto acende um charuto. À negativa, e às apresentações, seguiu-se um papo de cerca de duas horas em que Eurico Miranda, um dos dirigentes mais polêmicos e influentes da história do futebol brasileiro e conhecido pela ferocidade com que dirigiu o Vasco da Gama, desvelou-se em gentileza e paciência insuspeitadas com a equipe da SDC. “Gosto de falar sobre charutos. É minha segunda paixão. Você sabe qual é a primeira, não sabe?”, pergunta o dirigente, sorrindo. Nosso encontro aconteceu em seu escritório, localizado no Centro do Rio de Janeiro. Em sua sala, há várias fotos espalhadas pela parede de times campeões do Vasco – todos em períodos em que Miranda, como vice-presidente ou presidente de futebol, estava à frente do clube. Ele aparece em várias dessas fotos, de terno ou suspensório. Ladeando o monitor do computador que fica na parte lateral da mesa, duas fotos. Em uma, o dirigente está com a esposa e os filhos e, na outra, ele aparece cercado pelos netos. Na parede atrás de sua cadeira, um quadro pintado à mão que reproduz uma conhecida foto do presidente fumando. Este muito solícito e simpático Eurico que entrevistamos diz que foi fumante de cigarros por 30 anos e que sua relação com os charutos começou de modo casual. “Eu gostava de acender um puro sempre que um filho ou sobrinho meu nascia, ou o filho de um amigo mais chegado. Gostava de distribuir charutos, nessas ocasiões”, lembra. “Era uma comemoração de um fumante de cigarros”, diz ele, recostando-se na cadeira e dando uma longa baforada em seu charuto. O presidente, como gosta de ser tratado, conta que, um belo dia, resolveu que era hora de deixar de fumar cigarros. E permaneceu sete anos sem fumar nada. “Só que aí começou um período em que o Vasco, comigo no comando, passou a ter uma série de conquistas. E, em uma comemoração qualquer, não me lembro agora qual, acendi um charuto. Daí em diante, passei a fumar em todas as ocasiões, em todas as solenidades. O charuto passou a ser uma marca minha”.

Pergunto se essa rotina de fumar charutos, assim como os suspensórios – outra marca sua – reforçou a imagem de arrogância e prepotência. “Talvez isso tenha sido proposital”, responde ele, observando detidamente a brasa produzida na ponta do charuto após outra longa baforada. “O suspensório, não. Uso para segurar as calças, mesmo”, sorri. Para o cartola, o charuto representa muito mais que um símbolo de poder. “Ele me faz refletir. Sou um cara de reações intempestivas. Se eu estiver fumando um charuto, eu vou pensar mais, elaborar melhor o pensamento. O charuto, por várias vezes, evitou que eu cometesse excessos”, diz Miranda, que garante não tomar nenhuma decisão sem antes fumar um puro. Aproveito para saber se, além dos cubanos, ele fuma outros charutos. “Só fumo cubano, todo mundo que me conhece sabe disso. Esse aqui (ele olha para o charuto que está fumando) é um Partagas, edição comemorativa. Um bom charuto, sem dúvida, mas não se equipara ao Cohiba Siglo VI”, explica, revelando sua preferência. A trajetória Eurico Miranda nasceu em 7 de junho de 1944, no Rio de Janeiro. Seu nome, Eurico Ângelo de Oliveira Miranda, é uma dupla homenagem: ao general brasileiro Eurico Gaspar Dutra e ao avô Ângelo, um ferrenho opositor ao salazarismo, em Portugal. “Meus pais deixaram Portugal na década de 1930, fugindo da ditadura de Salazar”, conta ele. “Papai veio primeiro e deixou minha mãe grávida, lá em Arouca, uma pequena cidade no norte de Portugal. Somente depois de trabalhar muito é que ele conseguiu trazê-la para o Brasil”. No Rio, os pais de Eurico moraram primeiro no subúrbio de Brás de Pina. “A casa era imensa, mas ficamos pouco tempo ali”, lembra. Depois, foram morar na Urca, onde o pai abriu a Padaria Miranda, que virou referência no bairro. Aos 13 anos, Eurico ajudava o pai no balcão e, na eventual ausência de um funcionário, entregava


ENTREVISTA os pães, de bicicleta, ao amanhecer. “Mas meu pai exigia que isso não atrapalhasse os estudos”, diz. Ele conta que o comportamento de brigão vem de infância. Por isso, foi convidado a se retirar do tradicional colégio jesuíta Santo Inácio, onde estudava com outros dois irmãos. “Eu não admitia que aqueles riquinhos babacas da Zona Sul ridicularizassem o Vasco ou a colônia portuguesa”. Já ali ele demonstrava sua disposição para combater qualquer tentativa de diminuir sua família, o povo português ou o Vasco da Gama. Formou-se em fisioterapia e chegou a exercer a profissão antes de decidir ingressar na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Fui um advogado atuante. E até hoje ainda dou consultoria”, explica. Foi durante o curso de direito que Eurico, então com 23 anos, ingressou nas atividades administrativas do Vasco da Gama, em 1967, como diretor de cadastro. Em razão das origens lusitanas, sua família era toda vascaína. “Minha mãe me levava ao estádio de São Januário sempre que podia”, recorda-se. “Mas eu não gostava só de futebol, não. Eu vibrava com uma cesta no basquete, com uma vitória no remo, com uma competição na piscina. Se tivesse corrida de velocípede, eu torceria pelo garoto que estivesse representando o Vasco”, conta, exaltado. Vasco, a grande paixão Falar do Vasco faz os olhos deste senhor de 70 anos – 47 deles dedicados ao clube – brilharem. “Você quer saber como é que começa essa minha simbiose com o Vasco?”, pergunta o velho dirigente, olhando para o interlocutor por sobre os óculos, uma outra característica sua. “Eu, como torcedor de arquibancada, vi, várias vezes, a instituição Vasco da Gama ser prejudicada”. Ele explica que existia, e ainda existe, um ranço de preconceito contra o Vasco, por ser um clube da Zona Norte, que sempre representou a colônia portuguesa e as classes mais pobres da sociedade. “Então, me fiz uma promessa. Prometi que tiraria o Vasco da condição de coadjuvante e o levaria à condição de protagonista, que é o seu lugar”, diz o ex-presidente, corrigindo com o isqueiro a queima do charuto. “E cumpri minha promessa”. De fato. Nos vinte anos anteriores à sua chegada ao comando do futebol do clube, o time havia ganhado apenas dois campeonatos estaduais e um brasileiro. A partir de 1986, quando Eurico se tornou o homem forte do clube, o Vasco arrebatou sete campeonatos cariocas, dois brasileiros, uma Taça Libertadores e a Copa Mercosul – além de ser finalista de várias competições de que participou. Além das conquistas nos campos, seguiram-se as das quadras, piscinas e raias. Eurico tornou-se conhecido da grande mídia em 1980, quando participou efetivamente da volta ao clube de Roberto Dinamite, que tinha sido vendido em 1979 ao Barcelona. Sem espaço no clube catalão, o maior ídolo do Vasco estava

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próximo de jogar no Flamengo. Na ocasião, Eurico, em um programa de esporte na TV, prometeu à grande torcida vascaína que, se Roberto voltasse ao Brasil, seria para jogar no Vasco. “Digo a você, com toda a franqueza: não foi por causa do Roberto. Foi pelo fato de ele ir para o Flamengo. Seria um golpe duro demais para o vascaíno”. A reestreia do ídolo ocorreu em um domingo, no Maracanã, contra o Corinthians, de Sócrates. Roberto fez os cinco gols da vitória do Vasco por 5 a 2. Naquele dia, a torcida cruzmaltina, em reconhecimento, cantou “Eu, eu, eu, o Eurico prometeu”. Surgia, ali, uma referência para o torcedor do Vasco. Eurico Miranda começava, assim, a fazer história, ou a mudar a história. A instituição Vasco da Gama tinha, finalmente, alguém com peito para enfrentar qualquer um em nome dela. Invasões de gramado, discussões, voz alterada, chutes nas portas e uma grande habilidade para promover e, principalmente, defender o Clube da Colina. “Comigo, o Vasco deixou de ser um time calado e passou a reagir. Nunca aceitei esse secundarismo que tentam impor ao Vasco”, diz ele. O grande polêmico É certo que sua estratégia de atuação foi contestada por muitos. Mas ninguém pode negar que o caráter centralizador – ou autoritário, se preferir – do dirigente, além de uma incrível vocação para gozar os adversários, nas vitórias, transformaram Eurico Miranda no símbolo de um Vasco forte e temido. Numa sensacional estratégia de marketing, passou a provocar o Flamengo, o clube de maior torcida no Rio. A contratação de Bebeto, ídolo rubro-negro, em 1989, foi a cereja do bolo. O grande clássico carioca, que antes era Flamengo e Fluminense, passou a ser Flamengo e Vasco. Mas o clube da Gávea não era o único alvo de suas provocações. Em 1999, o Fluminense disputava a Série C do Campeonato Brasileiro. Ele conta com entusiasmo que, na semana de um clássico entre Vasco e Fluminense, pelo Campeonato Carioca, declarou que o Vasco tinha a obrigação de vencer por três gols de diferença, já que jogariam contra um time da Terceira Divisão. “Declarei que não pagaria o ‘bicho’ aos meus jogadores pela vitória se o Vasco não vencesse por uma diferença de três gols”. Naquele domingo, mais de 100 mil pessoas foram ao Maracanã e viram o Vasco de Eurico vencer por 3 a 0. Nas arquibancadas, ouviu-se, novamente, o coro “Eu, eu, eu, o Eurico prometeu”. Mas a revolta dos torcedores do Tricolor com o “Homem do Charuto” duraria pouco tempo. Em 2000, Eurico foi um dos principais articuladores


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ENTREVISTA

da virada de mesa que proporcionou o retorno do Fluminense à Primeira Divisão do Brasileiro. “Acho que devo ter alguns admiradores lá na torcida deles”, brinca. O Campeonato Brasileiro de 1987 Outra polêmica envolvendo o nome do dirigente ocorreu no ano de 1987, quando foi criado o Clube dos 13, associação das principais equipes de futebol do Brasil. A entidade foi encarregada de organizar o Campeonato Brasileiro, chamado aquele ano de Copa União. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não respaldava essa competição. Eurico foi acusado de, como interlocutor do Clube dos 13 junto à CBF, concordar com a proposta de que o campeão brasileiro saísse de um quadrangular entre os vencedores da Copa União com o Módulo Amarelo, uma espécie de Segunda Divisão. “Se eu não concordasse em colocar no regulamento que haveria o cruzamento, não haveria campeonato. Como representante do clube dos 13, eu negociei para ter o campeonato. O regulamento foi aprovado dessa maneira. Só que, posteriormente, os clubes decidiram que não haveria o cruzamento”, conta Eurico, novamente corrigindo com o isqueiro a queima do seu charuto. Pergunto se ele participou dessa decisão do Clube dos 13. “Sim, também participei. A maioria entendia que não era pra ter o cruzamento”. E se o Vasco fosse o campeão? “Se eu faria o cruzamento? Claro que faria. Ah, mas os clubes não entenderam assim. Paciência! Mas eu cruzaria. Estava no regulamento! Essa é a verdade. Não tem outra verdade”, conta. A passagem pela CBF e a Câmara dos Deputados Eurico orgulha-se de ter, nos seis meses que esteve na CBF, criado a Copa do Brasil, conquistado a Copa América e classificado a Seleção para a Copa de 1990, na Itália. “Aí, o Ricardo Teixeira [presidente da CBF, à época] virou pra mim e disse que estava muito pressionado e que eu tinha de fazer uma opção entre o Vasco e a CBF. Eu disse: ‘Não continua. Minha resposta é clara.’ Eu fui para a CBF a pedido do Havelange, para ajudar o Ricardo que, quando assumiu, não sabia nem que futebol se jogava com 11 jogadores de cada lado. Aceitei, deixando bem claro que não sairia do Vasco”, dispara o dirigente. Eurico realmente não esconde de ninguém que o Vasco está acima de qualquer outra coisa na sua vida. Ele afirma que, durante sua trajetória, lhe foram oferecidas várias oportunidades para ocupar cargos importantes na esfera esportiva, seja no Tribunal de Justiça Desportiva, ou na própria

Federação Carioca de Futebol. “Nunca aceitei, nem aceitaria. Tenho absoluta consciência do que eu sou. Eu sou Vasco. Toda vez que o Vasco estivesse envolvido, eu seria parcial. Imagina, um dia, ter de votar contra o Vasco? Não há hipótese”, declara o dirigente, aumentando o tom. O maior exemplo disso, segundo Miranda, são os oito anos que exerceu mandato de deputado federal. “Se eu agisse como político, eu seria deputado até hoje”, garante. “Quando assumi, em meu primeiro discurso eu disse: ‘Eu sou representante do Vasco’”. Aos que o criticam por ter usado esta bandeira para se eleger deputado federal por duas vezes consecutivas, ele diz que nunca prometeu educação, emprego ou segurança aos seus eleitores. “Fui para Brasília para defender os interesses do Vasco. E recebi mais de 100 mil votos para isso”, diz o ex-parlamentar. Eurico garante que, como deputado federal, teve oportunidade de ajudar o Vasco, ou, melhor, não deixar que o Vasco fosse prejudicado, dando, como um dos exemplos, o fato de ter sido um dos mais ferrenhos opositores da aprovação da Lei Pelé. “Ela era muito pior, muito pior. Conseguimos cortar muita coisa. Mas essa lei, que prejudica muito os clubes, passou, infelizmente”, lamenta, sem esconder seu descontentamento. A polêmica com a Globo Em 2000, o Vasco disputava duas competições, a Mercosul e o Campeonato Brasileiro – a chamada Copa João Havelange – e tinha chegado às finais em ambas. Isso acabou ocasionando um problema com a televisão. Segundo Eurico, a Globo queria que o Vasco cumprisse o calendário, o que significava jogar terça-feira, quinta-feira e domingo.” Eu não concordei, lógico. Eles [a Globo] argumentavam que não poderia haver adiamentos em função da grade de programação. Como consegui o adiamento, eles passaram a me perseguir”, diz. No jogo de volta da final da Copa João Havelange, o Vasco viveu uma de suas maiores tragédias, com a queda de uma parte do alambrado do Estádio de São Januário. Eurico acusa a Globo de ter editado as imagens, no Jornal Nacional, de modo a parecer que ele estava apenas preocupado com a continuação da partida, já que, pelo regulamento, o Vasco poderia ser responsabilizado com a perda do jogo por 1 a 0, caso o jogo fosse interrompido. “Minha primeira preocupação foi em atender os feridos”, garante, irritado. O Vasco precisou provar no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) que havia condições de a partida continuar. A Súmula da partida ajudou. O árbitro fez constar que, embora houvesse condições de jogo, tinha recebido ordem superior para que fosse interrompido. “Isso acabou isentando o Vasco de qualquer responsabilidade. E foi por isso que teve outro jogo”, comenta o ex-presidente. No jogo da decisão, no Maracanã, o Vasco entrou em campo com o logotipo do


ENTREVISTA SBT, a principal concorrente da Globo, no uniforme. Eurico justifica aquela atitude: “Primeiro, a Globo queria que o São Caetano fosse declarado campeão. Depois, sugeriram dividir o título. O Vasco não podia ser tratado daquela forma”, fala, exaltado. “O estádio inteiro começou a cantar aquelas músicas do Silvio Santos: ‘Ritmo de festa’, ‘Quem quer dinheiro’, essas coisas”, diz Eurico, às gargalhadas. “Mas eu paguei um preço alto por contrariar a Toda-poderosa, ele diz. “Depois desse jogo, eles (a Globo) me asfixiaram financeiramente por 18 meses. Eu vinha de uma administração extremamente vitoriosa e, a partir daí, eu padeci bastante”, lamenta. “Mas depois a gente se acertou”, diz, reacendendo o charuto que se apagara. A saída do Vasco Eurico Miranda saiu dos holofotes em 2008, após perder a eleição à presidência do Vasco para Roberto Dinamite. Ele conta que sua saída do comando, além de ter sido muito mal contada, surpreendentemente, tem muito a ver com charutos. “Eu tive um problema sério. Tive um tumor de alta malignidade na bexiga e precisava me tratar. Dizem eles que me tiraram, mas, na verdade, eu saí”, diz o velho dirigente. O assunto, evidentemente, é delicado. Eurico Miranda, reacendendo seu charuto, faz uma longa pausa, antes de continuar. “Cinco dias depois da operação, eu já estava no batente e fumando meu charuto. Ao aparecer em público fumando, mostrava aos meus inimigos que eu estava bem”, conta ele. Fora do comando, manteve atuação política no clube. Atualmente, é o presidente do Conselho de Beneméritos. E o que dizer do futebol brasileiro atual? O assunto deixa Eurico visivelmente irritado. “O Corinthians, hoje, recebe da televisão 100 milhões de reais a mais que o Vasco. O Flamengo, 70 milhões a mais que o Vasco”. Ele denuncia que o futebol brasileiro está sendo conduzido para o que chama de ‘espanholização’. “Querem transformar esses dois clubes no Barcelona e no Real Madrid e deixar os outros como coadjuvantes. Eu nunca permitirei isso”, esbraveja. “O Corinthians recebeu R$ 500 milhões do BNDES para construir o Itaquerão! Você acha que, se eu estivesse à frente do Vasco, eu não iria estar pulando de tudo quanto é maneira contra isso? Meu Deus! O que que é isso? Por que esse privilégio?”, reclama, gesticulando muito Pergunto qual foi a maior tristeza de sua vida e, de bate-pronto, Eurico responde que foi a queda do Vasco para a Segunda Divisão. Ele conta que até chegou a ficar magoado com a torcida que, no jogo do rebaixamento, em São Januário, gritou seu nome e o culpou. “Mas depois fiquei sabendo que aquilo tinha sido planejado antes do jogo”, diz. Ele reafirma que, se estivesse no comando, o Vasco não cairia. “Nem da primeira vez, nem agora”, diz. Mas o que ele mais se ressente é pela forma como o torcedor vascaíno está sendo levado a acreditar que isso tudo que tem acontecido é normal. “O torcedor vascaíno não pode aceitar isso passivamente. Ele tem de recuperar o orgulho de ser Vasco. O Vasco não é coadjuvante!”, afirma. A família Eurico Miranda é casado há 45 anos com Sylvia. Tem quatro filhos e sete netos. Mencionar os netos faz Eurico parar, momentaneamente, de falar. “Eles são minha alegria”, conta, mostrando as fotos que tem dos netos espalhadas sobre sua mesa. “E todos são Vasco. E sabem

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que o vovô gosta de charutos”, complementa. Sem demonstrar mágua ou remorso, o outrora poderoso dirigente faz uma confissão. “Fazendo algumas reflexões, percebi que, entre minha família e o Vasco, muita vezes preferi o Vasco. Deixei de estar presente em vários aniversários do meus filhos por causa do Vasco”. Em momentos assim, ficam evidentes as duas facetas de Eurico. A do coração mole, que reconhece alguns erros, e só quem vê é quem está próximo. A mais exposta é a do machão intratável, homem cuja língua não deixa pergunta sem resposta. “Uma das coisas que mais me orgulha é a escola que fizemos para os meninos da base, o Colégio Vasco da Gama”, comenta Eurico. A instituição de ensino, que foi inaugurada em 9 de março de 2004, funciona dentro do complexo esportivo de São Januário. É mantida pelo clube e atende a crianças e adolescentes que defendem a Cruz de Malta nas mais diversas modalidades. Entre os “meninos” que obtiveram ali o diploma de ensino médio, Eurico cita Felipe Coutinho, Alex Dias e Alan Kardec. Religioso, Eurico vai à Igreja todo domingo, no bairro onde mora. “Tenho uma ligação muito grande com Nossa Senhora de Fátima. Sou devoto dela”, revela. “E já faz algum tempo que não vou ao santuário de Fátima, em Portugal. Preciso voltar, preciso voltar lá”, diz, olhos fixos na imagem da santa que fica em sua mesa. O Partagas de Eurico está chegando ao fim. Pergunto ao velho vascaíno qual foi seu jogo inesquecível. Sem pensar, ele responde que foi o jogo em que o Vasco venceu o Palmeiras por 4 a 3, na decisão da Copa Mercosul, em 2000, de virada. “Aquele é o Vasco vencedor! O Vasco de verdade”, conta ele, com emoção. Eurico Miranda, enfim, pudemos constatar, tem um grande e doce coração que pulsa sob uma fulgurante Cruz de Malta. E, que, dependendo do interlocutor e do assunto que esse interlocutor lhe oferece, Eurico pode ser um gentleman. À minha última pergunta, se um dia ele voltará a ser presidente do Vasco da Gama, ele sorri. E, com a certeza de quem se considera o único vascaíno capaz de passar por cima de quem tentar entravar os caminhos do Vasco, responde: “Eu já voltei”.


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ENTREVISTA

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ESPECIALISTA/SOMMELIER

paulo prado Eu me divirto muito ao oferecer uma solução aos clientes Por Luiz Guilherme Ourofino O Sommelier Paulo Prado é um carioca de 42 anos que foi desistindo da carreira de designer gráfico conforme se apaixonava pelos vinhos. Homem culto e corajoso, casado com Lydia Miya, a atual subchefe da famosa Chef Roberta Sudbrack, e pai de Pedro de 1 ano e 8 meses, já viajou o mundo buscando enriquecer seu currículo e declarando-se um sommelier abrangente e curioso, do tipo que ousa reescrever certas verdades e mitos relacionados ao mundo dos vinhos. Defende mesmo a quebra de certos protocolos com o fito de aproximar o vinho das pessoas. Em dias de Copa do Mundo e de eliminação da seleção da Espanha, Paulo Prado nos encontrou na conhecida tabacaria Esch Café do Leblon para esse agradável bate-papo. SDC — O que é ser Sommelier? PP — Bem, o papel de um bom sommelier é servir de interlocutor entre a carta de vinhos do restaurante e o cliente. O que acontece é que nem sempre o cliente tem o vernáculo ou o conhecimento necessário para se expressar. Nosso trabalho é fazer um diagnóstico, uma leitura da mensagem vinda do cliente, interpretando aqueles sinais e aliandoos à nossa expertise. Tudo isso para transformar aquele momento em uma grande experiência gastronômica. Costumo dizer que, ao menos aqui no Rio de Janeiro, os grandes sommeliers tiveram uma origem muito simples, e construíram suas carreiras por meio dessa habilidade de comunicação com o cliente. É a habilidade em entender o que o cliente quer, tanto do ponto de vista gastronômico quanto econômico. SDC — Conte-nos um pouco sobre você e sua vida profissional PP — Minha vida profissional começou como designer gráfico, formando-me pela PUC-RJ, profissão essa que exerci durante doze longos anos. Não me lembro ao certo quando, mas, em um momento, passei a me interessar por vinhos. Inicialmente, pensei em ingressar no comércio de vinhos e, nesse sentido, achei que precisava conhecer bem quem era o consumidor. Nesse ponto, ser sommelier não era meu objetivo. Tinha minhas dúvidas se eu conseguiria desenvolver

aquela atividade a contento. Com os estudos autodidatas em andamento, fiquei intrigado em entender como uma uva determinada poderia produzir um vinho de R$ 10,00 ou de R$ 10.000,00. Ou seja, o que era necessário para que aquela uva tivesse qualidades necessárias para alcançar um valor de mercado tão mais alto. Mais adiante, passei realmente a estudar e a me aprofundar por meio de cursos e provas aplicadas por institutos especializados. SDC — E quando foi que deu aquele ‘clique’? PP — Pois é. Era um passo importante. Em certo ponto, com os estudos, comecei a perceber a oportunidade de deixar o mundo dos vinhos um pouco mais democrático, que eu tinha algo a contribuir. Daí, passou a surgir a insatisfação com a vida profissional que tinha como designer gráfico. Percebi que dava para iniciar uma transição. Eu e minha então namorada, hoje minha esposa, viajamos para Nova Zelândia, onde concluí minha formação como sommelier no curso da Wine and Spirits Educacion Trust (WSET), referência no mundo dos vinhos. SDC — A partir daí, dedicou-se exclusivamente à nova profissão? PP — Sim. Voltei em 2009 e passei a trabalhar exclusivamente como sommelier e depois também como consultor em restaurantes e lojas especializados, como os Restaurantes Garcia & Rodrigues, Vino Club, Salitre e os hotéis da rede Requinte. SDC —Você vê mudanças no discurso sobre vinhos na atualidade? PP — Sim, muito. Me incomodava o discurso que se tinha há 10 ou 15 anos atrás. Era um discurso muito elitista, o qual teimava em afastar a celebração da vida por meio da bebida, criando uma série de formalidades e protocolos por parte dos sommeliers para a sua apreciação. Esse discurso ainda hoje prevalece, porém com menor intensidade. Vendo isso, resolvi agregar algo novo nesse universo por meio de uma abordagem mais aberta, mais curiosa, indo de encontro ao que até então se propalava. Me posiciono como um adepto dessa nova corrente de pensamento, que entendo ser uma tendência, e sei que tenho boas companhias nessa empreitada.


ESPECIALISTA/SOMMELIER SDC — Então devemos abandonar essas formalidades? PP — Não... (risos). Não é isso. Na verdade, acho que as formalidades e os protocolos são válidos e devem ser aplicados pelo sommelier com rigor em muitas ocasiões. O que digo é que uma abordagem mais aberta favorece uma interlocução mais eficiente e que não podemos nos afastar da ideia de que o vinho é uma bebida que aproxima e celebra. Sempre tive a intenção de abordar o assunto de uma maneira um pouco mais didática, desmitificando, de modo que se pudesse compreender aquilo que é importante se informar. Por exemplo, em um recente trabalho, em um restaurante aqui no Rio, a premissa era de “vamos fazer tudo diferente”, tanto na parte protocolar quanto na escolha da carta de vinhos. Acredito que as pessoas querem se afastar do conceito de que vinho é difícil. SDC — O que pensa da relação preço/qualidade dos vinhos? PP — É sabido que os preços dos vinhos no Brasil são elevados. Além da elevada carga tributária, existe uma certa inabilidade em se vender bem o produto, do ponto de vista do preço, claro. O mercado de vinhos brasileiro ainda é um mercado imaturo. Não existe consistência. Ninguém sabe para onde ele vai. Noutro dia, conversando com um taxista, ele me contou que levou a família a um restaurante que cobrava R$ 42,00 por meia garrafa de Miolo Seleção, um absurdo. SDC — Acha as margens abusivas então? PP — Não é bem isso. Em muitos restaurantes, a experiência do vinho é tida com o fim de transformar a experiência gastronômica em si, e as margens aplicadas mal pagam a estrutura necessária para se proporcionar essa experiência. Em média, a margem utilizada pelos restaurantes é de 60%, o que, dependendo do serviço, é insuficiente. SDC — Voltando aos vinhos, o que acha da produção nacional? O Brasil faz bons vinhos? PP — Sim, faz. Ocorre que nosso vinho é caro. Como tudo na vida, a gente tem de procurar fazer o que faz bem. Um dos erros históricos do Brasil foi tentar imitar outros países produtores do chamado “novo mundo”, como Chile e Argentina. A qualidade característica desses países é obter vinhos bastante concentrados, pois têm muita exposição ao sol, uma condição sanitária do solo perfeita e pouca chuva. Já aqui no Brasil, nossa vocação está muito mais perto da Europa, seja por conta das chuvas, das características do solo ou de exposição ao sol. Isso dá vinhos diferentes, claro, vinhos com acidez maior, vinhos com menos estrutura, o que os torna, inclusive, mais gastronômicos. Hoje, temos produtores que abraçam a

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ideia de que nossos vinhos são diferentes de nossos irmãos da América do Sul. SDC — Teria algumas dicas desses vinhos nacionais? PP — Um dos meus preferidos é de um pertencente ao projeto chamado Era dos Ventos. São incríveis vinhos artesanais com produção bem limitada. Outro projeto, mais em conta, é o Vallontano, comercializado pela Mistral aqui no Brasil. Poderia citar ainda o Quinta da Neve, comercializado pela Decanter, de Santa Catarina. SDC — Tem alguém que seja referência para você, como sommelier? PP — Certamente, o nome que me veio à cabeça é o de Manoel Beato, apesar de não conhecê-lo pessoalmente. É uma pessoa reconhecida como sommelier. SDC — Algo mais sobre vinhos antes de falarmos de charutos? PP — Fico um pouco ressentido quando vejo o sommelier tido apenas com a relação que ele tem com o vinho. Na formação de cursos, especialmente no exterior, valoriza-se muita também o envolvimento com outros tipos de bebida. Gosto muito desse tipo de experiência também. SDC — Sabemos que você aprecia fumar uns charutinhos vez por outra. Quando isso começou? PP — Faz um bocado de tempo. Não lembro ao certo. Acho que uns 20 anos. Alguém me ofereceu uma vez e achei abominável, porém alguma coisa clicou naquele momento. SDC — Que tipo de charutos curte? PP — Engraçado... Sempre digo que conhecer outros vinhos é importante. Em relação aos charutos não faço isso, talvez pelo hábito de fumar bem pouco. Gosto dos Montecristo e do Partagas, marcas clássicas. SDC — Vinhos vão com charutos? PP — Sou muito contrário à ditadura do gosto. Certamente existem algumas regras, coisas que combinam e que não combinam, até quimicamente, mas não afasto a hipótese. Tenho amigos sommeliers que são bem claros ao se manifestarem com uma opinião contrária ao do consumidor. Dizem que algo não vai funcionar e pronto. Não penso assim. Voltando aos charutos, e que se deixe claro que não sou um grande conhecedor de charutos, penso que funcionaria melhor os vinhos com mais concentração, de regiões com clima quente, que remetam a frutos mais doces. Evitaria um cabernet savignon, por exemplo, exceto os da Califórnia. Na verdade, o vinho deve ter ombro para segurar um bom charuto e isso exige um bom número de experimentos.


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