RASGO

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R$32,50 • EDIÇÃO 01 • JUNHO 22

mulheres. negócios. padrões.








Cara leitora, Esperamos que este seja um ambiente seguro e confortável. Aqui, enquanto folheia e imerge neste espaço criado para lhe ajudar no seu processo de reconstrução pessoal, você pode ser vulnerável e livre de amarras. Diferentemente das revistas tradicionais de negócios, a revista RASGO tem um olhar crítico em relação às posições impostas às mulheres no presente para que possamos construir um futuro melhor. Com a sua ajuda, buscamos ser catalisadores de uma mudança. Uma mudança importante e necessária na forma como percebemos a beleza e as imperfeições, como nos percebemos como mulheres. Assim, a partir de cada fragmento, cada “imperfeição” e cada edição da revista, damos voz àquelas que rompem com os padrões impostos a nós. Falando de Indústria da beleza, Influencers, Educação financeira e Cultura, nós a convidamos a uma jornada de autoconhecimento e reconstrução. Seja bem vinda à RASGO.

Escola Superior de Propaganda e Marketing Graduação em Design Turma DSG3A 2022.1 Projeto III Marise de Chirico Cor, Percepção e Tendências Paula Csillag Produção Gráfica Marcos Mello Finanças Alexandre Ripamonti Marketing Estratégico Leonardo Aureliano Projeto Editorial e Gráfico Ana Clara Henriques de Oliveira Beatriz da Silva Ferreira Gabriela d’Avila Pereira Giulia Escobar Rios de Almeida Matheus de Carvalho Feresin



Colaboradores @anendfor

Fernando Schlaepfer

Rayssa Galvão @rayneon

@mellotipografo

Marcos Mello

Gabie Fernandes @fernandesgabie @rayneon

@beacorradi

Bia Corradi

Ju Ilha @souljuilha



SU MÁ RIO

INDÚSTRIA

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Padrão de beleza imposto pela mídia

28

A estética feminina como padrão cultural

42

Corpo: Mercado lucrativo

INFLUENCERS

52

Lela Brandão: Conforto é revolução

64

O império construído por Bianca Andrade


DIN DIN

CULTURA

76

100

86

110

Finanças também é assunto de mulher

Autonomia financeira é também se empoderar

Rita Von Hunty: “Temos saída”

Mulheres negras no papel principal

12 26 40 48

Corpos Curvas: para consumir Hematomas: anorexia Isabela Von Haydin

50 60 70 72

Corpos Peles: Ray Neon Cores: para reconstruir Gabie Fernandes

74 84 94 96

Corpos Cravos: tarot Dobras: dicas Maria Nogueira

98 108 116 118

Corpos Estrias: Lizzo Cicatrizes: para curar Clarissa Wolff


CORPOS

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PADRÃO DE BELEZA IMPOSTO PELA MÍDIA Nossos direitos jamais foram tão violados como nos dias de hoje texto por Henriette Valéria da Silva foto por cottonbro de Pexels



Hoje, mulheres são escravas da indústria da beleza 16 |


INDÚSTRIA

T

emos vivido a era dos direitos humanos, mas por desconhecer o poder de influência que a mídia, através dos meios de comunicação, exerce em nossas vidas, em como penetra em nossa mente, não percebemos que nossos direitos jamais foram tão violados como nos dias de hoje. Temos visto um verdadeiro massacre humano, de mulheres, adolescentes se matando para atingir um inatingível padrão de beleza imposto pela mídia. Em uma sociedade democrática, as mulheres tornaram-se escravas da indústria da beleza, tão difundida pelos meios de comunicação, os quais tem dilacerado a nossa juventude, pessoas que estão perdendo o prazer de viver, tornando-se solitárias, por estarem inconformadas com sua forma física, controlam alimentos que ingerem, para não engordar; esta escravidão assassina a autoestima, produz uma guerra contra o espelho e gera uma auto rejeição terrível.

Diante disso, procuramos mostrar através de pesquisas, o que estas influências tem feito com nossa juventude, sendo estes os motivos que levaram o rumo desta pesquisa, a não conformação com esta situação, este massacre, de pessoas se matando para estarem como os meios de comunicação difundem que tem que ser para se dar bem na vida. O que leva uma pessoa a se destruir dessa forma? A perder o prazer de viver? Tudo isso para atingir um padrão de beleza? Estas indagações não nos deixa calar diante dessa fábrica de pessoas doentes e frustradas que tem sido nossa sociedade. Padrão de beleza e sociedade Ao longo dos anos e mais precisamente depois da Segunda Guerra Mundial, a mulher vem adquirindo direitos e mudando sua forma de atuação na sociedade. Elas estão se especializando, através de estudos e qualificações profissionais, promovendo, assim, um melhor planejamento familiar e conquistando maior respeito e admiração, pois estão conquistando não só uma posição atuante fora de casa, como também um lugar de ascenção social.

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Hoje, podemos ver mulheres independentes, As cobranças que as mulheres confiantes e distribuindo confiança, temos no têm feito a si mesmas para atinBrasil uma mulher no comando do país, Dilma gir o padrão de beleza imposto, Rousseff, entre tantos outros exemplos de mu- lhes prejudicado em todos os lheres no comando de empresas, na chefia de sentidos, tanto psicológicos, cargos públicos, entre outros. como em seu corpo. A sociedade exige uma dupla ou tripla O conceito de mulher, dona de casa, mãe e esposa, jornada de trabalho (cuidar da mudou. As mulheres ainda são mães, esposas e casa, do marido, das crianças, dona de seu lar, porém, junto a tudo isso, estão do emprego, do curso de espeno mercado de trabalho atuando de forma efetiva cialização, do cabelo, da estétidiversas funções. As conquistas são constantes, ca, dentre outros, sempre com e as quebras de tabus são diárias, em meio a esta um sorriso no rosto e energia). avalanche cultural que temos vivido. Diante de tudo isso vem o caos, o stress, a não aceitação de seu Descarte, em meio a todas essas conquistas, corpo, as dietas malucas sem temos visto, ao mesmo tempo, também um recomendação médica, distúrverdadeiro “massacre humano”, no qual pes- bios alimentares e compulsões, soas, principalmente mulheres, dilaceraram mais tarde, doenças como aneseu prazer de viver e sua liberdade para atingir mia, bulimia e anorexia nervoo inatingível padrão de beleza, pregado pelas sa e transtornos psicológicos mídias e perpetuado em nossas vidas, a nossa podem surgir e causar grandes volta constantemente. estragos na sua vida.

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INDÚSTRIA Os meios de comunicações tem imposto um estereotipado padrão de beleza feminina, os comerciais, desfiles, novelas, propagandas tem mostrado que para ser aceito na sociedade deve ser magra, vestir manequim 36. Nas capas das revistas vemos belos corpos de modelos magérrimas, a pura perfeição. Diante disso vem a cobrança de ser assim, para se sentir bonita e atraente, sexy, bem vista e aceita pela sociedade, assim como afirma Bohm: “O padrão estético de beleza atual, perseguido pelas mulheres, é representado imageticamente pelas modelos esquálidas das passarelas e páginas de revistas segmentadas, por vezes longe de representar saúde, mas que sugerem satisfação e realização pessoal e, principalmente, aludem à eterna juventude” (BOHM, 2004, p.19). As mulheres, que ao longo dos anos vêm lutando por sua liberdade de expressão, independência financeira e direito de voto e de ir e vir, consideradas por muitos anos como o sexo forte, mostram-se hoje como o sexo considerado frágil e escravas do padrão de beleza imposto pela mídia em todos os meios de comunicação. Indústria da beleza O discurso da mídia decorre de uma pluralidade de produtos e avanços tecnológicos a fim de aprimorar a estética e forma física. Vemos todos os dias surgirem novos produtos de emagrecimento, são pílulas, sucos, comidas diet, light e zero, parelhos de ginásticas, academias com uma imensidão de aparelhos, vídeos com séries de exercícios pra se fazer em casa e perder medidas, revistas especializadas em perda de peso em tantos dias, cosméticos, cirurgias plásticas, redução de estômago.

A indústria da beleza se torna prejudicial ao passo que capitaliza de forma abusiva os corpos, mercantilizando principalmente os femininos

O país pode estar na maior crise financeira de todos os tempos, mas a indústria da moda não para de crescer rapidamente. Para todos os lugares que olhamos, é possível ver a influência do culto ao corpo “perfeito”, uma barriga sarada, curvas na medida “certa”, uma constante luta contra a balança, uma conta de calorias presente em cada refeição. Os meios de comunicação apresentam diariamente o glamour da beleza ideal e do sucesso, de pessoas magras e “em forma” se dando bem em tudo que fazem, sem sofrer nenhum tipo de preconceito, com intensa ascensão social.

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Obsessão pela forma física e os transtornos A perda de peso já se tornou o objetivo da maioria das mulheres, e a indústria da beleza mostra que é algo possível de se alcançar: “basta ter vontade”, pois todos os dias surgem novas formas, tecnologias que permitem uma rápida e satisfatória transformação. A mídia, em sua forma televisiva, prega o poder, beleza, mobilidade social, através das modelos e - logo - as mulheres, sentem a necessidade de terem aquele corpo. Assim, recorrem constantemente a procedimentos para satisfazer esse desejo que a mídia reforça. O ideal de corpo perfeito. Mas assim como diz Cury em seu livro, a ditadura da beleza e a revolução das mulheres, que gostaria que as pessoas descobrissem a beleza única que cada uma tem e não procurasse ser igual a ninguém: “Aprenda diariamente a ter um caso de amor com a pessoa bela que você é, desenvolva um romance com a sua própria história. Não se compare a ninguém, pois cada um de nós é um personagem único no teatro da vida” (CURY, 2005, p.1). Em contraste a essa ideia, temos os meios de comunicações, como, por exemplo, blogs, sites de relacionamentos, incentivando as pessoas a serem iguais Às modelos, se sacrificarem para ficar magra, encontramos termos como Ana e Mia, para designar as doenças, anorexia e bulimia, respectivamente. Onde muitas adolescentes se identificam e aprendem a como perder peso, como passar horas sem se alimentar, a como controlar a ansiedade. Estes blogs tem influenciado meninas de todo o mundo, ensinando com ser uma pessoa anoréxica e em como enganar os pais, para que não percebam de imediato o que elas estão fazendo consigo mesmas, se matando, desistindo da vida para atingir o inatingível padrão de beleza.

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A mídia ajuda a reforçar um padrão inalcançável, mas lucrativo. As mulheres são as mais afetadas e prejudicadas, enquanto muitos ganham dinheiro com isso

As pessoas que tem estes transtornos alimentares, costumam enfrentar uma guerra todos os dias com o espelho, todas as vezes que se olham no espelho, se veem gordas, deformadas, não gostam do que ver em sua frente, nunca conseguem se sentir bem consigo mesma. Isso acontece muitas vezes com pessoas que já estão abaixo do peso considerado saudável. O pior de tudo isso é que temos visto milhares de pessoa sofrendo dilaceradas pelo mal que tem assolado famílias ricas e pobres, muitas meninas morrendo de fome tendo de tudo em casa para comer, parece utopia, mas é realidade de muitas pessoas, é um imenso contraste, enquanto a indústria de alimentos vendem gorduras exuberantes, a indústria da beleza luta com regimes e defende o uso de alimentos de baixo valor calórico ou nenhuma caloria.


INDÚSTRIA O resultado é uma paulatina deterioração física Indústria do consumo e mental, que começa com sintomas leves, como O século 19 foi o século das maiores conquistas tonturas, tremedeiras, fraquezas, gastrites, varia- que as mulheres tiveram ao longo de sua história; ções de humor, complicações cardiovasculares a luta pelo direito de votar, opinar, igualdade de e renais, podendo levar a morte àquelas sem trabalho, frequentar universidades. A sociedade amparo médico e familiar. abriu espaço para as mulheres serem livres e independentes, mas no século 20, vimos que Diante disso, é uma missão impossível compreen- a indústria do consumo, que tanto ajudamos a der o que leva uma pessoa a fazer isso consigo construir, tem feito as mulheres escravas de um mesma, desistir de lutar pela vida, querer muitas padrão inatingível de beleza. vezes a morte, do que ter uns quilos a mais. A maior indignação e por que não dizer revolta A indústria do consumo tem o objetivo de que nos dá, é que todo esse sofrimento poderia vender produtos, sejam eles nocivos ou não, ser evitado se as pessoas acreditassem na sua como: carros, cervejas, roupas, calçados, ou até beleza genuína e singular, que não encontrás- mesmo comidas, usando o corpo da mulher semos o reforço e incentivo à mudança corporal, como ferramenta de publicidade e propaganda. a esse padrão estético inalcançavel e lucrativo. Hoje, o corpo vende tudo, mas esta imagem

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de corpo perfeito, esta espetacularização da moda, tem trazido consequências drásticas à nossa sociedade, milhares de pessoas insatisfeitas consigo mesmas e seus corpos em frente ao espelho só lhes mostra defeitos, as pessoas não enxergam mais sua beleza interior, existe sim um vazio enorme em seu interior, pois querem ser o que não são, querem ser como as modelos das capas de revistas e comerciais. Estes efeitos causados pela indústria do consumo, na sociedade, só lhes trás mais crescimento e sucesso, por que pessoas insatisfeitas correm às lojas para comprarem objetos afim de satisfazerem seus desejos, acabar com a ansiedade, aumentar sua auto estima. Mas esses prazeres são passageiros, pois logo após alguns segundos, já querem outro produto, pois o que comprara a pouco tempo já se tornou obsoleto, tudo isso devido a vida líquida em que vivemos nessa sociedade moderna, onde nada se firma, não dar tempo as coisas tomarem forma, os avanços são constantes, as modas passageiras, a cada minuto surge uma nova tecnologia. Assim como nos diz Cury: “Estamos mais ricos financeiramente hoje, mais muito mais miseráveis e infelizes interiormente” (CURY, 2005, p. 39). A indústria do consumo tem o objetivo de promover inconscientemente a insatisfação e não a satisfação, como muitas pessoas pensam e se deixam influenciar. Pessoas satisfeitas, bem humoradas, com auto estima não precisam da paranoia de viver comprando desenfreadamente, ou viver correndo atrás das coisas que estão na moda, a qual muda todo dia, trazendo assim um desgaste constante, viver trocando carro, celular, roupas, calçados; Pessoas bem resolvidas consomem mais ideias do que estética. A cada dia as pessoas estão sendo vistas por essa indústria de consumo, como mais um número de cartão de crédito, mais um comprador em potencial, e não como uma pessoa que deve ser valorizada por sua inteligência, capacidades e beleza interior.

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Não importa o que as indústrias da moda, da beleza e dos meios de comunicações nos impõem, ou os produtos que colocam no mercado, prometendo milagres da beleza, do rejuvenescimento, dizendo que isso fará ser bem aceito na sociedade e ter ascensão social, não adianta estae se matando para atingir o inatingível, pois cada pessoa tem uma beleza, e devem ser aceitas como são, se cuidarem e serem vaidosas faz parte da natureza de cada mulher, o importante é não se deixar escravizar por isso. O envelhecer é nosso destino, viver feliz e com dignidade deve ser a nossa meta.

A insatisfação generalizada com os próprios corpos destrói a autoconfiança das mulheres e alimenta o consumismo em um ciclo vicioso


INDÚSTRIA

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CURVAS

Para Consumir @shop.alaya

Shop Ayala traz conforto e inclusão em peças de roupa. Do tamanho 42 ao 58, a marca preocupa-se em oferecer vestuário de boa qualidade e estéticamente bonitos em um nicho bodyposite e que promove a autoestima das clientes. Seguindo o slogan “Para potencializar a sua essência na hora de se vestir”, Ayala segue mudando o mercado da moda nacional e impactando positivamente muitas mulheres.

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@studiometropole

O Studio Metrópole tem sede na capital São Paulo e faz a diferença na vida de inúmeras mulheres por meio do pole dance. Ajudando a empoderar quem faz as suas aulas e oferecerecendo uma experiência agradável, saudável e de suporte e estímulo para o aprendizado do exercício, o espaço também conta com uma ótima estrutura. Movimentar-se é essencial e o Studio Metropole é um lugar excepcional para começar e evoluir.


@marimariamakeup

Mari Maria MakeUp alcança diferentes cores. Já bem estabelecida no mercado, a marca conta com um portfólio diverso, cujos produtos garantem que pessoas com diferentes tons de pele, desde a retinta até a mais clara, possam usar maquiagens de qualidade. A proposta é permitir que todas possam explorar a sua própria beleza e se expressar da forma que quiserem.

@pantys

Pantys é uma empresa pioneira. Seja por seus produtos confortáveis e que atendem as necessidades de suas clientes, quanto por desmistificar a menstruação e propor uma linha de negócio socialmente e ambientalmente ética. Suas calcinhas absorventes, dentre os demais itens em seu portfólio, são imperdíveis para uma vida confortável e de auto aceitação.

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A ESTÉTICA COMO PADRÃO CULTURAL A capitalização do corpo: a beleza foi e é moeda de troca na luta por voz na sociedade texto por Thamiris Magalhães foto por Fernando Schlaepfer



A beleza, em sua própria essência, é algo relativo 30 |


INDÚSTRIA

E

xistem várias concepções históricas sobre as mulheres ao longo dos milênios. “Assim, a condição da mulher, na atualidade, em termos de ‘estética corporal’, é resultado de uma construção cultural. A beleza, em sua própria essência, é algo muito relativo”, avalia Rosângela Angelin na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. “Prova disso é que os padrões de beleza foram se modificando e diferem entre si, dependendo da cultura de cada nação.

Quando observamos o papel da mulher na sociedade da Idade Média, no mundo ocidental, percebemos, de forma clara, que a mesma coisa ainda hoje perdura, com raras exceções”, reflete. Para ela, as mulheres seguem sendo constrangidas à invisibilidade social e, portanto, ao silêncio em público. “Aliás, quem muito bem ilustra essa situação é Michelle Perrot, que compreende que estar bonita e vestir-se bem se tornou um capital de troca e uma forma de ser notada na vida pública. As mais bonitas e bem vestidas são as que mais se destacam. Tal cultura estética, aliada ao incentivo do capitalismo para tornar-se bonita, segue infelizmente sendo determinante na busca da aceitação social”. Rosângela Angelin é doutora em Direito pela Universidade de Osnabrück (Alemanha), docente do mestrado e da graduação em Direito da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus Santo Ângelo-RS. É membro do grupo de pesquisa Tutela dos Direitos e sua Efetividade. Ainda, membro do grupo de estudos Direito, Cidadania e Políticas Públicas, da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, e coordenadora do grupo de pesquisa: “Direitos humanos, cidadania e a consolidação dos direitos sociais: estudos sob a ótica do constitucionalismo contemporâneo e da teoria da complexidade de Edgar Morin”. Colaboradora na execução de projetos com mulheres agricultoras junto à ONG Associação Regional de Desenvolvimento e Educação.

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IHU On-Line – Em seu entendimento, por que a mulher ainda hoje continua sendo o alvo mais visado e atingido da “estética” corporal dominante em nossa sociedade? É importante que tenhamos presente a existência de várias concepções históricas sobre as mulheres ao longo dos séculos. Assim, a condição da mulher, na atualidade, em termos de “estética corporal”, é resultado de uma construção cultural. A beleza, em sua própria essência, é algo muito relativo. Prova disso é que os padrões de beleza foram se modificando e diferem entre si, dependendo da cultura de cada nação. Quando observamos o papel da mulher na sociedade da Idade Média, no mundo ocidental, percebemos, de forma clara, que a mesma coisa ainda hoje perdura, com raras exceções. As mulheres seguem sendo constrangidas à invisibilidade social e, portanto, ao silêncio em público. Aliás, quem muito bem ilustra esta situação é Michelle Perrot, que compreende que estar bonita e vestir-se bem se tornou um capital de troca e uma forma de ser notada na vida pública. As mais bonitas e bem vestidas são as que mais se destacam. Tal cultura estética, aliada ao incentivo do capitalismo para tornar-se bonita, segue infelizmente sendo determinante na busca da aceitação social.

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IHU On-Line – A que se deve o fato da crescente corrida das mulheres para as academias de ginástica e para a medicina estética, bem como o uso de produtos dietéticos para emagrecer? Por que a maioria delas ainda busca um corpo perfeito? O que isso revela? Em primeiro lugar, deveríamos perguntar o que significa ter um corpo perfeito. Ou ainda: quem determina esses padrões de “perfeição” e por quê? A partir de que critérios? A sociedade é composta por padrões de comportamento social e moral que criam identidades tidas como “ideais”. A corrida desenfreada para as academias de ginástica e para a medicina estética, o a utilização de produtos dietéticos para emagrecer, a anorexia e a bulimia, revelam uma espécie de “ditadura da beleza” à qual a maioria das mulheres se condiciona em busca de um corpo “perfeito”. Antes considerada um atributo da natureza, a beleza passou a ser encarada como uma questão de “conquista” e, nessa lógica, torna-se imprescindível investir tempo e dinheiro a fim de se alcançar a aprovação da sociedade. Creio que isso revela um empobrecimento do ser humano, uma dialética da busca desenfreada por um padrão físico, muitas vezes inatingível.


INDÚSTRIA

IHU On-Line – De que maneira o capitalismo se apropria da “beleza” nos dias de hoje? Essa é uma pergunta muito importante para compreendermos o papel das mulheres na atual sociedade globalizada e consumista que conhecemos. A maior propagação dos “modelos de beleza” ocorre através dos grandes meios de comunicação social que se preocupam em reforçar os ditames do consumismo neoliberal, construindo padrões tidos como bonitos, corretos e obrigatórios . A busca da beleza acabou gerando um mercado muito lucrativo e atraente. Com muita propriedade, a renomada escritora americana Naomi Wolf afirma, em seu livro O mito da beleza: como as imagens da beleza são

usadas contra as mulheres (Rio de Janeiro: Rocco, 1992), que a “beleza é um sistema monetário assim como o ouro. É o último e o melhor sistema de crenças que mantém a dominação masculina intacta. Assim, o capitalismo usa as mulheres ‘bonitas’ como isca para a venda dos seus produtos, lucrando com a discriminação das consideradas ‘feias’ que buscam o maior número de produtos possíveis para compensarem sua “feiúra”.

A beleza é moeda e reflexo da sociedade e de seus valores mais intrínsecos e enraizados culturalmente

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IHU On-Line – Qual o cenário das políticas públicas que beneficiam a estética feminina? É relevante que se diga que o Sistema Único de Saúde – SUS dispõe de várias políticas públicas direcionadas ao atendimento da saúde das mulheres envolvendo questões estéticas, como, por exemplo, implantes de próteses mamárias em mulheres vítimas de câncer, cirurgias de redução mamária e cirurgias bariátricas. Percebe-se que as políticas públicas no Brasil procuram beneficiar não apenas a estética feminina, de forma isolada, mas também a saúde da mulher. Considero essa uma alternativa plausível e acertada, muito embora a saúde pública ainda não atenda a todas as pessoas que necessitam de cuidados envolvendo a manutenção da vida. Vale salientar que o Estado tem o dever de garantir políticas públicas que reforcem e viabilizem o acesso aos direitos fundamentais das mulheres e a equidade nas relações de gênero, especialmente quando se trata de mulheres com condições econômicas menos favorecidas ou em vulnerabilidade social. IHU On-Line – Há vantagem da mulher “bonita” perante as outras formas de beleza? Como a mulher que não está dentro do padrão estético convencional é vista dentro da sociedade? Há preconceito? Em quais esferas ele é mais notado? Os padrões de beleza feminina condicionam uma identidade que não é somente imposta para as mulheres, mas reconhecida por toda sociedade. Nesse sentido, as mulheres que se “enquadram” nesses padrões, passam a ser reconhecidas e aceitas no convívio social. Para as demais, a vida costuma ser um pouco mais difícil. Muitas vezes, elas encontram dificuldades que se inserem no contexto do próprio lar, quando, por exemplo, mães induzem as filhas a fazer dieta para ficarem “bonitas”. Também é possível perceber esse preconceito na escola, mais tarde no mercado de trabalho e, inclusive, nas relações afetivas. Os padrões de “beleza física” acabam gerando uma inversão de valores nos quais a busca por um corpo perfeito é considerado um sinônimo de aceitação social, geralmente confundida com a felicidade.

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IHU On-Line – Como é possível definir o conceito de beleza na sociedade contemporânea? Atualmente, os padrões ocidentais de beleza são os que mais prosperam nos meios de comunicação social. É comum observar que através do marketing estético se multiplicam os exemplos alcançados com produtos cosméticos e intervenções cirúrgicas. Mulheres jovens, magras, de preferência com seios grandes e firmes, com cabelos bem tratados e que se vestem com figurinos “da moda”. No Brasil, cabe destacar um novo aspecto de padrão de beleza. O “bumbum grande” evidencia um “belo atributo” do corpo feminino. As consequências desses padrões redundam numa infinidade de casos em que jovens sofrem com anorexia e bulimia, insatisfeitas com a sua vida, em busca do “corpo perfeito” e da tão difundida “juventude eterna”.


INDÚSTRIA

IHU On-Line – Você viveu por alguns anos Europa, onde estudou a vida das mulheres de culturas diferentes da nossa. Nesse sentido, que aspectos lhe chamou mais atenção na diferença da cultura feminina? Nesse período, pude constatar e confirmar, através do convívio com mulheres de diferentes nacionalidades, que a beleza e o papel feminino na sociedade é uma construção cultural. O conceito de “estética feminina” é muito variado. Para a sociedade alemã, embora sendo ocidental, a beleza da mulher não está condicionada ao corpo, como vemos com tanta evidência no Brasil. Talvez isso se deva às conquistas do movimento feminista que propiciou uma nova identidade, mais igualitária, em que os atributos do corpo não são fatores determinantes no reconhecimento da identidade feminina.

A mulher e o corpo feminino são constantes alvos dos moldes sociais, cabe a nós reconstruirmos e lutar para a emancipação

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IHU On-Line – Você trabalha atualmente com mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família. Como você percebe esse tipo de política pública para as mulheres do país? O Estado brasileiro tem se esforçado para a viabilização da equidade nas relações de gênero e, através de políticas públicas de inclusão, tem contribuído para isso, como ocorre no caso do programa governamental Bolsa Família. Entendo que esse programa trouxe uma grande novidade no âmbito das políticas públicas no Brasil: o recurso é repassado diretamente para as mulheres da família, ao contrário de outras políticas públicas que repassavam os recursos para o “chefe” da família. Essa atitude governamental demonstra um saldo positivo na qualidade de vida das famílias beneficiárias, visto que os valores percebidos, embora sejam valores monetários baixos, são aplicados integralmente no grupo familiar. Além disso, a possibilidade de poder gerenciar os recursos propicia uma elevação da autoestima dessas mulheres. Por terem as políticas públicas um caráter temporário, o governo previu a ação conjunta de mecanismos interventivos (cursos de capacitação e acompanhamento) a fim de acompanhar essas mulheres, de modo a alcançar a emancipação financeira e, com ela, um estado mínimo de dignidade e cidadania. Porém, a complexidade da estrutura econômica, social e legal do Estado acaba dificultando essa intencionalidade que é barrada, principalmente, em virtude da burocracia institucional e da falta de recursos para tais fins.

Lamentavelmente ainda é “normal” continuarmos sendo vistas e consideradas pelos contornos físicos de nossos corpos, o que evidencia um empobrecimento da capacidade de olhar o ser humano

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IHU On-Line – Você acredita que está havendo avanços nas políticas públicas para mulheres no Brasil? Em que sentido? As mulheres historicamente têm resistido ao papel que lhes foi imposto de invisibilidade social e travado embates que geraram avanços na emancipação e no reconhecimento de suas identidades como protagonistas da história. Isso influenciou o mundo jurídico através da criação de leis e políticas públicas de reconhecimento da alteridade e dos direitos de cidadania. Creio que é possível indicar vários avanços alcançados pela mobilização das mulheres, realizada através de movimentos de mulheres e feministas, entre os quais caberia destacar: a) o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres preconizado na Constituição Federal de 1988 bem como o reconhecimento das mulheres rurais como trabalhadoras; b) a criação de delegacias especializadas para as mulheres; c) a criação do Sistema Único de Saúde e as políticas públicas de saúde voltadas para a saúde das mulheres e da família; d) o combate à violência doméstica, através da Lei Maria da Penha e de políticas governamentais; e) ações voltadas à geração de renda para as mulheres; f) a criação da Secretaria Especial de Políticas Públicas para Mulheres, no âmbito Federal; g) a política de cotas nas eleições.


INDÚSTRIA IHU On-Line – As mulheres já tiveram tratamento diferente no decorrer da história da humanidade e, nos primórdios, eram consideradas deusas. A naturalização da opressão foi uma construção ocorrida no decorrer dos milênios? Como podemos desmistificar o fato de sermos consideradas seres secundários na vida pública, sendo que nem sempre foi assim? Uma releitura das descobertas arqueológicas, apresentadas em especial por Riane Eisler e Maturana, demonstra que, desde o início da humanidade, existiram sociedades mais pacíficas e as mulheres tinham um papel de destaque na vida social, sendo consideradas deusas, pois eram capazes de gerar a vida. Porém, tal posição social não significava uma relação de dominação feminina sobre os homens. Tanto no período paleolítico como no neolítico, a relação entre os gêneros era de parceria, respeitando-se as diferenças. Com o passar dos tempos, essa condição foi sendo alterada e as diferenças entre os sexos transformaram-se em desigualdades, gerando a opressão das mulheres pelos homens. Dessa forma, percebe-se que a identidade e a opressão das mulheres sempre foi uma construção social, e não um determinismo biológico, como equivocadamente ainda é afirmado. Portanto, parece que a chave para a desmistificação da condição feminina é a “desnaturalização” da opressão. Essa tarefa foi assumida pelos movimentos de mulheres e feminista, propiciando uma maior valorização e protagonismo das mulheres na sociedade. Porém, ainda precisamos avançar mais. Talvez o exemplo mais ilustrativo desse fato diz respeito às mulheres que se encontram no mercado de trabalho, em suposta situação de igualdade com os homens, e seguem sendo as responsáveis pelas “obrigações domésticas” e o cuidado com as crianças. É preciso ressaltar que outro elemento importante para equalização das relações de gênero diz respeito ao Estado. Este deve contribuir na efetivação das normas jurídicas que versam sobre a isonomia nas relações de gênero e garantem direitos de cidadania para as mulheres. Enfim, construir uma relação mais equitativa entre homens e mulheres é uma tarefa conjunta que envolve toda a sociedade.

IHU On-Line – Por fim, você gostaria de acrescentar algo? Embora as mulheres, ao longo de muitos anos, com muita luta e persistência, tenham conquistado direitos e se afirmado em vários espaços da sociedade, lamentavelmente ainda é “normal” continuarmos sendo vistas e consideradas pelos contornos físicos de nossos corpos, o que evidencia um empobrecimento da capacidade de olhar o ser humano. Maria Rita Kehl , com muita lucidez, afirma que “a maior beleza está no corpo livre, desinibido em seu jeito de ser, gracioso porque todo ser vivo é gracioso quando não vive oprimido e com medo. É a livre expressão de nossos humores, desejos e odores; é o fim da culpa e do medo que sentimos pela nossa sensualidade natural; é a conquista do direito e da coragem a uma vida afetiva mais satisfatória; é a liberdade, a ternura e a autoconfiança que nos tornarão belas. É essa a beleza fundamental”.

A diversidade agora ganha espaço a partir do engajamento do público artevista, que vai contra o fluxo tóxico historicamente construído pela indústria da beleza

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HEMATOMAS

Anorexia

Mulheres são mais atingidas pela anorexia, um dos transtornos psiquiátricos e alimentares com maior índice de mortalidade atualmente

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Anorexia nervosa é um distúrbio alimentar resultado da preocupação exagerada com o peso corporal podendo provocar diversos problemas físicos preocupantes e graves. A pessoa se olha no espelho e, embora extremamente magra, se enxerga obesa. Com medo de engordar ainda mais, exagera na atividade física, jejua, vomita, toma laxantes e diuréticos.

Sintomas ! Perda exagerada e rápida de peso sem nenhuma justificativa; ! Recusa em participar das refeições familiares; ! Preocupação exagerada com o valor calórico dos alimentos; ! Interrupção do ciclo menstrual e regressão das características femininas; ! Atividade física intensa e exagerada; ! Depressão, síndrome do pânico, comporta mentos obsessivo-compulsivos; ! Visão distorcida do próprio corpo; ! Pele muito seca e coberta por lanugo. Causas Predisposição genética; Conceito atual de moda que determina a magreza absoluta como padrão de beleza e elegância; Pressão da família e do grupo social; Alterações neuroquímicas cerebrais, especialmente na concentração de serotonina e noradrenalina.

Grupos de risco Constituído, principalmente, pelas adolescentes. A família deve observar especialmente as meninas que disfarçam o emagrecimento usando roupas largas e soltas no corpo e encontram desculpas para não participar das refeições em casa. Tratamento Uma vez diagnosticada a anorexia, a reintrodução dos alimentos deve ser gradativa, a fim de evitar sobrecarga cardíaca. Há casos em que se torna imprescindível a internação hospitalar para que o tratamento gradual seja controlado por nutricionistas. Medicamentos antidepressivos podem auxiliar. Recomendações Encaminhe para atendimento médico urgente a pessoa que, por acaso, você surpreendeu com pouca roupa e que está esquelética. Às vezes, os familiares não percebem a extrema magreza, porque os portadores de anorexia costumam usar roupas largas que disfarçam a perda de peso. Dê apoio emocional e esteja presente.

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CORPO: MERCADO LUCRATIVO Pela primeira vez, o Brasil se tornou o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo texto por Clarissa Neher foto por cottonbro de Pexels



O corpo é um capital importante no Brasil 44 |


INDÚSTRIA

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ela primeira vez, o Brasil se tornou o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, passando inclusive os Estados Unidos, líderes de longa data no ranking. Entre os fatores responsáveis estão o aumento do poder aquisitivo da população e a propagação de padrões de belezas que valorizam um ideal de “corpo perfeito”. Em 2013, mais de 11,5 milhões de procedimentos cirúrgicos estéticos foram realizados no mundo, 12,9% deles no Brasil (1,49 milhão). Os EUA ficaram em segundo lugar, com 1,45 milhão, seguidos do México, com 486 mil, e da Alemanha, com 343 mil.

“O corpo é um capital no Brasil e se tornou um mercado muito lucrativo. No caso das cirurgias plásticas estéticas, houve uma popularização em seu acesso, sendo que muitos médicos realizam pacotes e facilitam o pagamento, o que antes era apenas restrito às classes sociais mais abastadas”, avalia a psicóloga e mestre em antropologia pela Unicamp Andrea Tochio. Os procedimentos mais realizados no Brasil foram a lipoaspiração (227 mil), o aumento das mamas por silicone (226 mil), a elevação dos seios (139 mil) e a abdominoplastia (129 mil). Operações mais acessíveis A melhoria das condições econômicas da população é citada pelo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (Sbcp), João de Moraes Prado Neto, como um dos fatores que ajudam a explicar a expansão desses procedimentos no país. O médico aponta também o aumento no número de cirurgiões plásticos, como outro fator nesse processo. O crescimento da concorrência e a consequente diminuição dos custos dos materiais contribuíram para reduzir o preço das operações. Em cinco anos, o número de cirurgias plásticas realizados no país mais do que dobrou, passando de 629 mil em 2008 para 1,49 milhão em 2013. “Vivemos atualmente uma época do tributo à beleza, da tirania da forma, que me parece, às vezes, muito exagerada, mas de qualquer maneira foi um dos motivos para elevar o número de cirurgias não só no Brasil, mas no mundo”, afirma o presidente Prado Neto.

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Para Andrea Tochio, as cirurgias estão relacionadas a um ideal de “supervalorização e exaltação do corpo”, no qual as pessoas são vistas como responsáveis por sua aparência. “Pode-se afirmar que as cirurgias plásticas são maneiras de se adequar aos padrões de beleza atuais que associam beleza, juventude e magreza e, em especial no Brasil, o corpo trabalhado, cuidado, sem marcas indesejáveis, como rugas, estrias, celulites, manchas, e sem excessos, como gordura e flacidez”, avalia a autora do livro O psicólogo com bisturi na mão: um estudo antropológico da cirurgia plástica. Padrões de beleza associados a situações positivas, como aceitação em círculos sociais, oportunidades ou melhores salários, e a esperança de solucionar problemas e melhorar a autoestima são alguns dos motivos que levam muitas pessoas a optar por uma cirurgia estética. Riscos Apesar da popularização, Prado Neto alerta que, assim como qualquer cirurgia, os procedimentos “As cirurgias plásticas quando cirúrgicos estéticos também apresentam riscos. bem indicadas, realizadas de O especialista reforça que alguns fatores podem uma forma correta e segura aumentar a seguranças nesses processos. Um trazem inúmeros benefícios, deles cabe ao médico: a pré avaliação ampla do porém, a mídia e a sociedade paciente para possíveis riscos cirúrgico e anes- devem caminhar juntas no sentésico e - assim - evitar maiores complicações. tido de problematizar e realizar uma análise crítica em relação Outros dois aspectos estão nas mãos do paciente: aos limites, motivos e consea escolha do profissional e também do local on- quências dessa busca incessande a cirurgia será realizada. Prado Neto reforça te pelo ideal do corpo perfeique esse procedimento deve ser realizado por to e tudo o que ele simboliza especialistas, que são certificados pela Sbcp. atual na sociedade brasileira”, A sociedade possui mais de 5.500 integrantes opina Tochio. e disponibiliza em seu site a lista de médicos qualificados. Ele reforça que é preciso ter cuidado, pois muitos profissionais que não são devidamente qualificados divulgam esses procedimentos como se fossem algo banal, como se estivessem vendendo cremes ou eletroeletrônicos.

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Enquanto sofremos e odiamos a nossa imagem, o corpo torna-se cada vez mais uma indústria rica e poderosa no país


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Aprendi com meus pais a odiar meu corpo texto por Isabela Von Haydin ilustração por Beatriz Corradi

À minha frente tem uma foto dos meus pais sorrindo. Eles eram bem magros. Hoje, uma foto deles dois já seria um pouco diferente: algumas linhas de expressão emoldurando traços, um tanto de cabelinhos brancos e uns bons quilos a mais. Eu não diria que meus pais hoje são gordos, mas eles também não são magros. Ao longo dos últimos 23 anos cada um deles deve ter ganhado umas dezenas de quilos, crises e memórias a mais. Cresci sendo uma criança bem mirradinha e pequena. Tive uma fase gordinha também, mas ninguém reclama de uma criança inchada de corticoide. Eu comia aos montes e engordava em paz. Até que me curei, fui crescendo e ouvindo meus pais se maltratarem por se transformarem fisicamente. Observar um casamento envelhecer tem suas particularidades. O tempo costuma unir ou afastar as pessoas, mas pouca gente fala do que acontece enquanto o nosso corpo se modifica. Meu pai definitivamente não é um homem em desconstrução. Na verdade, ele é o exato oposto e ama dizer como não é politicamente correto. O mesmo vale para minha mãe, mas aqui podemos ver mais nuances, afinal estamos falando de uma mulher. O tempo correu e as críticas pegaram carona na transformação de jovens longilíneos em adultos com curvas. Então sim, eu cresci ouvindo que é errado ser gorda e fui internalizando isso. Meu pai ama dizer como minha mãe engordou e eu quando mais nova a defendia fervorosamente. Como pode alguém apontar o corpo de alguém dessa forma? Mas os anos vieram e com eles um bocado de maturidade e hoje vejo que meu pai é tão prisioneiro de seu corpo quanto minha mãe de seus comentários. A retrucada confiante da minha mãe foi o suficiente para assustar meu pai. Apesar de ela seguir insatisfeita com seu corpo, o trata com mais gentileza e não aceita que outros façam diferente. Hoje ela redescobriu o exercício físico e quer saber de uma coisa? Faz por saúde e porque ficar cheia e endorfina é incrível. Quanto a mim, sigo tentando me equilibrar nessa corda bamba louca e desaprender tudo que aprendi com os meus pais. Quem foi que disse que eles sempre sabem o melhor para a gente? Será que consigo desaprender até chegar na próxima geração?

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CORPOS

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LELA BRANDÃO: CONFORTO É REVOLUÇÃO Criadora de conteúdo criou marca de roupas durante a pandemia. Conheça sua trajetória texto por Isabela Rovaroto foto por Lela Brandão Co.



Uma mulher confortável em si é uma revolução 54 |


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m ano depois de lançar sua marca de roupas, Lela Brandão, de 27 anos, comemora resultados acima do esperado: mais de 20 mil peças vendidas e um faturamento de 2,2 milhões. Em entrevista à EXAME, a empreendedora fala sobre o início de sua carreira como autônoma, a criação da própria marca de roupas durante a pandemia, além de compartilhar desafios e novidades do e-commerce e dar dicas para quem quer começar a empreender.

A carreira dela na internet começou há mais de sete anos, como artista. Durante a faculdade de Arquitetura, Lela começou a fazer pinturas em parede — anos depois, criou um curso online sobre o tema. Ela começou desenhando para amigos e familiares, e após criar um portfólio robusto, usou as redes sociais para conseguir seus primeiros clientes. A procura pelas obras aumentou e ela percebeu que era possível se sustentar empreendendo na internet. Lela se manteve financeiramente por meio da arte em parede por quatro anos e conquistou todos os seus clientes nas redes sociais. Ela já fez mais de 400 pinturas em parede e trabalhou para grandes marcas como Amazon, Natura e Guaraná Antarctica. Atualmente, é dona da marca de roupas Lela Brandão Co., produz conteúdo para o Instagram e o Youtube, onde soma mais de 330 mil seguidores, e tem um curso de Arte em Parede, que está na segunda turma.

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Trajetória Antes de criar a própria marca, Lela teve uma loja online em parceria com a Superhaulis, empresa de estamparia e confecção. Viktor Murer, namorado e sócio na Lela Brandão Co., junto com outros dois amigos, cuidavam da logística e da produção. Eram comercializados prints, itens de papelarias e camisetas estampadas, que vendiam muito bem.Muitos seguidores se interessaram pela forma como ela se vestia. A combinação entre estilo e conforto chamava atenção, apesar das dificuldades em encontrar peças assim em lojas de departamento.

Na pandemia, Lela percebeu um aumento atípico nos valores das matérias primas e os prazos de produção e entrega foram estendidos, o que deixou os produtos mais caros e, consequentemente dificultou as vendas da loja. “É muito difícil o cliente compreender isso quando compara preços, por exemplo, com o mercado fast fashion. Na nossa empresa alguns valores inegociáveis são a Por que então não criar uma marca que reúne as remuneração justa dos profisduas coisas? O namorado e sócio, Viktor Murer, sionais e a qualidade dos nosapoiou a ideia e já tinha experiência com con- sos produtos. Nosso desafio é fecção, enquanto Lela tinha o domínio das redes comunicar isso para os nossos sociais e do marketing. Foi assim que em 2020 clientes e manter nossos precomeçaram a elaborar a marca Lela Brandão ços finais os mais acessíveis Co., que foi lançada emcinco meses. dentro do possível”, ela afirma.

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INFLUENCERS

Assim como Lela, muitas pessoas criaram seu negócio na internet durante a pandemia. No Brasil, o varejo digital faturou R$126,3 bilhões em 2020, de acordo com um levantamento elaborado pela Neotrust, empresa de inteligência de mercado focada em e-commerce. O setor de Moda e Acessórios corresponde a quase 20% dos pedidos feitos no ano, seguido pelo segmento de Beleza, Perfumaria e Saúde, que representa 14,4% do total. Na divisão por gênero, as mulheres foram responsáveis por 57,3% dos pedidos de 2020.

Um padrão tão restritivo e limitado não consegue representar a gama imensa de possibilidades de corpos da espécie humana

Conforto e segurança “Usar roupas confortáveis salvou a minha vida”. Na adolescência, Lela enfrentou distúrbios alimentares e dismorfia corporal, transtorno no qual a pessoa desenvolve um foco obsessivo em uma característica física considerada um “defeito”. Nessa época, ela usava roupas menores e apertadas como estímulo para perder peso. Hoje, ela defende o uso de roupas confortáveis, que se adaptem e respeitem as mudanças naturais dos corpos. “Na Lela Brandão Co. a gente acredita, essencialmente, em duas coisas: em roupas adaptáveis, e que uma mulher confortável em si é uma revolução”.

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A existência de negócios como o da Lela dá esperança e motivação para muitas, tanto para empreender quanto para resistir e tranformar a sociedade

Rotina Para gerir tantos projetos ao mesmo tempo foi necessário crescer e organizar a equipe. Três vezes por semana, Lela vai para o escritório da marca, onde faz reuniões, grava e fotografa conteúdo, aprova e cria peças, participando da escolha de matéria prima até das estratégias de lançamento. Nos outros dias, ela se dedica à produção para suas redes sociais e publicidades e conta com apoio de uma assessoria, que alinha os projetos e publicidade. Como começar o próprio negócio e empreender? Para as mulheres que sonham em ter o próprio negócio, Lela acredita que ter coragem é importante para conseguir expor seu trabalho. “Ultrapassar a barreira da vergonha é essencial para empreender online. Se você não mostrar o que você faz, as pessoas não têm como comprar ou te contratar. Não tenha medo, as pessoas certas vão te apoiar, te ajudar e até comprar de você”. Além disso, a jovem alerta sobre a importância da segurança financeira nesse processo. “Não jogue tudo para o alto para começar. Eu levei meu trabalho em paralelo com estágio por alguns anos até ter segurança de que eu conseguiria me manter com a renda que a arte me trazia. É preciso ter paciência e confiança na mesma medida”.

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PELES

Ray Neon Uma entrevista com Raíssa, a influencer que engaja o movimento bodypositive no Brasil

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Não sei se foi mais difícil aceitar meu corpo ou meus cachos

Quem acompanha o movimento bodypositive aqui no Brasil provavelmente já ouviu falar da Raíssa Galvão ou Ray neon, como é conhecida na internet. Apesar de hoje ser inspiração para várias meninas que também querem aceitar seu corpo, a carioca de 24 anos nem sempre teve uma relação de paz consigo mesmo. Em entrevista, a influenciadora relembrou momentos difíceis que viveu na infância, a história que deu início a sua trajetória na internet e, claro, compartilhou dicas perfeitas para o amor próprio.

Por volta dos 13 anos, Raíssa chegou a ficar 10 dias sem comer para conseguir seu objetivo. “Meu corpo começou a rejeitar até água, minha mãe me encontrou no chão e tentou colocar um pão na minha boca, mas neguei por saber a quantidade de caloria presente no alimento. Isso continuou até meus 16 anos, mais ou menos. Eu sempre vou carregar o transtorno alimentar, sei disso, mas hoje consigo lidar uma forma muito mais saudável. Apesar de amar meu corpo, preciso ficar atenta aos gatilhos“.

O Ballet sempre foi algo presente na sua vida. A frustração de nunca conseguir emagrecer Acontece que ao mesmo tempo que era muito era tanta que Raíssa decidiu que iria fazer algo prazeroso, aquilo trouxe dores e consequências drástico: uma cirurgia bariátrica, mas desistiu complicadas para a vida de Ray. “Eu não tinha no dia do procedimento para dar uma chance nenhum ambiente em que conseguia me sentir para si mesma. Dessa vez, não era sobre ter segura: nem em casa, nem no ballet, nem na um novo corpo, mas aceitar e ser grata pelo escola. Tive bulimia desde os 10 anos, comecei a que ela já tinha. “Comecei a entender mais vomitar depois que ouvi quando disseram que sobre autoestima quando uma ex-namorada eu não iria conseguir uma vaga por ser gorda, me apresentou o feminismo. Eu entendia que não importaria o quanto fosse boa. Um dia tinha algo de errado, mas pensava que era covi as bailarinas mais velhas, que eram minha migo. Quando finalmente aprendi o que signiinspiração, dizendo que vomitavam. Achei que ficava gordofobia as coisas ficaram mais claras essa seria a solução para ser magra”, relembra na minha cabeça”, revela.

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PELES Um dos marcos na sua vida foi o ano novo que passou com uns amigos em Cabo Frio e a jornalista era a única menina gorda. Apesar de ter sido difícil, foi o ponta pé para começar a compartilhar sua experiência com pessoas ao redor do Brasil. “Decidi compartilhar essas reflexões no Instagram e aquela viagem passou a ser um momento para eu me amar, me conhecer e entender mais do meu corpo. Lembro de falar sobre a primeira foto que não editei minhas celulites, mostrei meu peito caído e lidei com cada insegurança que sentia. A internet se tornou uma rede de apoio e ao mesmo tempo que as outras pessoas me ajudavam, conseguia ajudá-las também. Daí comecei a aprender sobre o ativismo gordo, o movimento bodypositive e consegui compreender que ser gorda era um exercício diário e um ato político. O corpo gordo já diz muito apenas por existir“, afirma. A moda sempre fez parte da sua vida, não é a toa que decidiu seguir estudando isso na faculdade, mas a falta de acesso a roupas sempre fez parte da sua realidade. “Eu queria poder reproduzir os looks das famosas, mas não conseguia ter acesso. Foi aí que entendi que queria conseguir dar essa oportunidade para outras mulheres, trabalhar com esse universo e torná-lo acessível para meninas que tinham o mesmo corpo que o meu“, explica. “É muito caro comprar roupa, principalmente no segmento plus size, então minha dica é procurar bazares e brechós. Vale a pena explorar, procurar e usar a criatividade para conseguir ter autonomia e customizar suas próprias roupas a partir de uma peça”, garante. Apesar de trabalhar dentro desse universo, a Ray sabe que ainda falta muito para que a moda traga diversidade como pauta principal na hora de produzir coleções – principalmente quando falamos de fast fashion..“Criar roupa plus size não é sobre aumentar o aumentar o tamanho, tem a ver com ergonomia, versatilidade, enfim… tanta coisa! Se você não entende as necessidades e as variações de um corpo, nunca vai dar certo mesmo”, reflete.

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A história de Ray é compatível com a de muitas outras mulheres, que sofreram e sofrem com os padrões e pressões impostos


Outra grande questão da vida da Raíssa foi seus fios que hoje são sua marca registrada! Os cachos foram motivo de insegurança por muito tempo. “Confesso que não sei se foi mais difícil aceitar isso ou meu corpo. Eu fiz progressiva desde os 8 anos, não fazia ideia de como ele era, a curvatura, nem a cor porque pintei e alisei desde muita nova, achava que nunca iria conseguir voltar com ele cacheado. Minha mãe criticava muito, mas um dia parei de dar ouvido para as opiniões dela. Decidi cortar meu cabelo, deu errado e corri pro barbeiro”, conta entre risos. Foi aí que, sem querer, a Ray deu início a sua transição – com um big chop que rolou por acaso e fez toda a diferença. “Quando eu cheguei em casa, achei que minha mãe ia querer me matar, mas ela ficou sorrindo por me ver tão feliz. Eu pude me entender, sem me esconder por trás dele. Lembro que nessa época, me conectei muito com quem eu era. Acho que toda mulher poderia fazer isso um dia pra se entender como pessoa. A gente usa o cabelo como escudo, mas confesso que me senti um mulherão de cabelo raspado”, diz sorrindo orgulhosa. Por fim, ela deu três dicas perfeitas que podem ajudar muito seu processo de autoestima. A primeira delas é dar unfollow em pessoas que não te fazem bem. A gente não precisa consumir conteúdos tóxicos. Vale a pena procurar influenciadoras e garotas que tenham seu corpo para começar a mudar seu olhar e conseguir se enxergar dentro desse grupo! Outra ideia é escrever uma carta para si mesma usando toda sua gentileza e amor para reler naqueles dias que você não está se sentindo tão bem e relembrar a mulher poderosa que você é. Por último, a Ray compartilhou uma meditação linda que costuma fazer para agradecer seu corpo. “Eu digo o quanto sou grata pelos meus braços para conseguir abraçar quem amo, pela minha boca que faz com que eu consiga dizer tudo que penso, minhas pernas por me acompanhar por lugares incríveis e por todas as funções que consigo realizar graças a ele“.

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O IMPÉRIO CONSTRUÍDO POR BIANCA ANDRADE A influencer à frente de três marcas de sucesso que equilibra influência e expertise em negócios texto por Rafaela Fleur foto por Forbes



Os fracassos vão acontecer, e tudo bem 66 |


INFLUENCERS

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uem cursou o ensino médio nos anos 2000, bem sabe: o grupo pop mexicano RBD foi uma febre, daquelas quentíssimas e que demoram muito para passar. No Colégio Estadual Júlia Kubitschek, localizado no Centro do Rio de Janeiro, essa efervescência também chegou. Por lá, uma estudante que morava na Maré, periferia da Zona Norte carioca, dividia o seu tempo entre cantarolar as músicas pops do sexteto (mas não só - menção honrosa à Beyoncé e Rihanna também) e exibir os lábios sempre pintados de pink. Sempre mesmo. Todo dia. Religiosamente. O hábito a fez receber o carinhoso apelido de Boca Rosa. Hoje, aos 26 anos, Bianca Andrade continua sendo chamada assim. A diferença, porém, é que deixou de ser uma jovem periférica para se tornar uma empresária milionária do ramo da beleza.

À frente de três corporações de sucesso, ela é diretora criativa da Boca Rosa Beauty, CEO da Boca Rosa Produções e assina toda a criação da Boca Rosa Hair - marca própria dentro do grupo de beleza Cadiveu. Além das empresas, soma mais de 388 milhões de views no Youtube, 14 milhões de seguidores no Instagram (@bocarosa), é influenciadora, atriz, ex-BBB, produtora, apresentadora. No ano passado, só com a Boca Rosa Beauty, ela faturou 120 milhões. Bianca é um produto da internet e quando decidiu entrar no mundo dos negócios sempre esteve claro que a sua imagem seria a sua força online. Isso, apesar de deixá-la vulnerável, é o diferencial e o que garante o seu sucesso: o branding amarrado, atual e a qualidade dos produtos.

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Com a pandemia, Bianca precisou recalcular a rota e refletir sobre a forma de gerir os seus negócios. A principal mudança foi transformar a comunicação das marcas em uma experiência digital. A estratégia funcionou e fez a Boca Rosa Beauty atuar brilhantemente online. Em dezembro, a marca lançou a coleção de delineadores coloridos Glam Line, com uma campanha incrível estrelada por seis drag queens brasileiras. O negócio deu tão certo que, em uma hora, todas as cores estavam esgotadas. Com o sucesso, ficou claro que o investimento no online daria ainda mais resultados e seria o denominador comum para o público-alvo.

O retorno financeiro esperado só começou a aparecer em 2013, com dois anos de Boca Rosa no ar - e também não era muita coisa. O pagamento do YouTube pelas visualizações foi menos de R$ 500. Pouco, mas o suficiente para ela, que só tinha maquiagens baratinhas, realizar o sonho de ir à loja da MAC e comprar um pó compacto, uma base e um corretivo. Com o tempo, Bianca entendeu que tinha um propósito maior de impactar pessoas e de fazer, com a sua imagem, algo maior.

Bianca contradiz tudo aquilo que a sociedade espera de uma mulher em cargos de liderança. É jovem, pansexual, colorida, extremamente diver- Fundada em 2018, dentro do tida e zero burocrática na hora de se comunicar. grupo de maquiagem Payot, a E ela sabe bem que esse é o seu grande trunfo. Boca Rosa Beauty chegou com Com isso, ela foi capaz de entrar no BBB e – com 28 produtos - sombras, glosses, uma estratégia bem definida – conquistar um batons líquidos, delineadores, grande público offline, triplicando as vendas da bases, glitters, rímeis e paletas. Boca Rosa Beauty. Um ano depois, em 2019, em parceria com uma marca braApaixonada por maquiagem e convicta de que sileira de cosméticos chamada seu rosto jamais estaria estampado na Rede Glo- Cadiveu, a empresária lançou a bo (mal sabia ela, que além de ter participado Boca Rosa Hair, linha de produdo BBB, já foi colunista do programa “É de ca- tos para todos os tipos de cabesa”), Bia, aos 16 anos, decidiu que iria focar no los e feita com proteína vegetal. mundo da beleza. Criou um Youtube e começou Essa última está passando por a gravar vídeos dando dicas fáceis, baratas e um processo de rebranding, que úteis de maquiagem. mira na sustentabilidade e vai resultar em embalagens recicladas e recicláveis, menos uso de plástico e matérias-primas veganas. Já a Boca Rosa Produções, tem como foco principal desenvolver os conteúdos audiovisuais protagonizados pela empresária e publicá-los.

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INFLUENCERS Em todos os três empreendimentos, Bianca lidera e participa ativamente de cada passo dado. Ela afirma que “Não é porque sou influenciadora que sou menos CEO, uma coisa não anula outra” e cabe aos outros lidarem com isso. Em um ano de tantos movimentos como foi 2020, Boca Rosa decidiu abrir espaço na sua vida para mais uma grande responsabilidade: ser mãe. Grávida de quatro meses do menino Cris, fruto do seu relacionamento com o youtuber Fred, do canal Desimpedidos, ela confessa que a gravidez foi pensada com muito cuidado. Em 2021, Bia comemora 10 anos de carreira, e promete novidades especiais para celebrar o marco. Por enquanto, ainda é surpresa, mas a empresária adianta que os próximos produtos serão lançados com um grande suporte audiovisual, conectando diretamente as suas marcas com o seu YouTube. Muitos sonhos ocupam o futuro de Bianca: estabelecer a Boca Rosa Beauty internacionalmente, ter um segundo filho daqui a quatro anos e, principalmente, continuar inspirando outras mulheres a irem atrás do que desejam. A empresária gosta de sempre lembrar que: “Sempre quis crescer, mas não sozinha. Tem muitas Biancas por aí, muitas garotas de origem humilde que não podem desistir daquilo que sonham”.

Bianca é um ótimo exemplo de mulher, mãe e empreendedora para acompanhar e se inspirar. É possível.

Precisamos reconhecer o nosso valor e a nossa potência, quero ver mulheres incentivando outras mulheres

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CORES

Para

Reconstruir @anapaulaxongani _ANA PAULA XONGANI

Influencer digital e multiempresária em Comunicação e Moda, Xongani mostra o seu dia a dia e rotina corrida com transparência e realismo, inspirando mulheres a empreenderem e se autoaceitarem. Sempre com calma, paciência e bom humor, ela faz de sua voz resistência para outras, principalmente pretas, e mães.

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@patiavelinoo

_PATRÍCIA AVELINO Criadora de conteúdo e maquiadora profissional, Patrícia dá um espaço para mulheres que querem se amar e exalta a importância do rompimento com a ditadura da beleza. Dando dicas de rotinas que são essenciais para esse processo, ela auxilia seus seguidores a se tornarem o seu próprio padrão estético.


@todebells

_ISABELLA TRAD Modelo e influencer digital, Isabella tem um perfil descontraído, porém sem nunca deixar de comentar as causas sociais pelas quais luta. Dançando e se divertindo, ela procura ajudar outras pessoas a acolherem os seus próprios corpos, as suas “imperfeições” e mostra que todes são lindes, capazes e dignos de amor.

@lxccarvalho

_LUANA CARVALHO Criadora de conteúdo para várias redes sociais, Luana traz uma moda acessível e desconstruída, ajudando seus seguidores - principalmente mulheres - a encontrarem o seu estilo e uma rotina de autocuidado. Sempre lutando contra o racismo e a gordofobia, ela oferece um espaço livre de preconceitos e pressões.

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Toda mulher consegue ser além do que se espera texto por Gabie Fernandes ilustração por Beatriz Corradi

Eu sempre amei um conto de fadas. Adorava ouvir histórias, passava horas grudada na barra da saia da minha avó ouvindo as mesmas lendas da sua juventude. Vovó descascava laranjas, e me perguntava: “Já te contei do meu tio que virou um lobisomem!?”. Ela já havia me contado, inúmeras vezes, mas eu sempre respondia que não. Eu amava aquela história! Eu amava toda e qualquer história. Surpreendendo a zero pessoas, eu me tornei escritora. E a minha primeira grande personagem foi eu mesma. Eu mesma protagonizei meus primeiros roteiros, uma obra fictícia, mas nem tanto, que eu batizei de uma breve série de mim. Quando eu era pequena, eu fantasiava sobre o meu futuro e fazia pequenos acordos comigo mesma: ter tatuagens e ler todos os livros do mundo. Algumas eu cumpri, outras estão bem longe. Eu planejei cada passo para ser uma mulher incrível. Fiz as tatuagens, várias delas, mas não me senti mais incrível do que no dia que sentei à mesa com a minha mãe e minha tia, e discuti sobre amor. Aquelas duas mulheres, com vivências e relações tão diferentes, me falando o que acham, o que esperam e o que sentem sobre amor valeu mais do que mil livros sobre o tema. Então eu percebi que mulheres incríveis são feitas de outras mulheres incríveis. E que não há lista no mundo que me deixe mais perto do meu objetivo do que estar aberta a conversar com outras de nós, tão iguais e diferentes de ao mesmo tempo. Simone De Beauvoir tem uma famosa frase que explica bem esse conceito: “Não se nasce mulher, torna -se”. Ser mulher requer aprendizado e, para como todo e qualquer nível de conhecimento, é necessário referência – e para isso não precisa ir longe. Grandes mulheres estão em todo canto! Somos muitas e temos tanto a oferecer. Aprendi, ouvindo as mulheres que me cercam, que todas nós somos abundantes. Entregamos à vida uma generosidade sem igual e toda mulher tem a capacidade única e exclusiva de ser além do que se espera. Não há lista no mundo, história ou fábula que me faça ser menos do que sou: e eu sou incrível! Somos, na verdade. Agradeço a Gabriela que anos atrás se se preocupou em cuidar dos mínimos detalhes para que eu fosse maravilhosa. Agradeço imensamente, mas agora eu assumo daqui, e eu não vou sozinha. Vamos todas e vamos juntas.

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FINANÇAS TAMBÉM É ASSUNTO DE MULHER Como a independência financeira pode ser uma ferramenta de empoderamento feminino texto por Estúdio NSC foto por Yan Krukov



O empoderamento defende os diretos das mulheres 78 |


DIN DIN

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desigualdade de gênero em nossa sociedade traz consequências negativas para as mulheres. Afastamento de posições de poder, salários menores, menor acesso à informação, oportunidades desiguais no mercado de trabalho e outros tipos de violência. Nesse contexto, o empoderamento feminino ganhou importância e espaço nas discussões sociopolíticas. O empoderamento feminino é uma ação pensada em conjunto, com o objetivo de defender os direitos das mulheres. Mas o que isso tem a ver com o mundo das finanças, e a independência financeira das mulheres? Continue lendo este artigo, vamos falar mais sobre o empoderamento financeiro feminino. Empoderamento feminino e as finanças se tornam relevantes quando percebemos a ausência de figuras femininas em espaços como o mercado financeiro. Quem detém controle dos recursos financeiros possui liberdade, independência e poder nas tomadas de decisão. Cenário bem diferente da realidade de muitas mulheres. Essa ideia de que os homens são os únicos capazes de gerir as finanças pessoais ainda é comum. Porém, já sabemos que hoje, muitos lares brasileiros são sustentados por mulheres e muitas delas em situação de vulnerabilidade. Mesmo assim, a presença de mulheres no mercado de trabalho é desigual: estão em menos cargos executivos, além de receberem salários menores e o acesso reduzido à educação financeira.

Vale ressaltar que as mulheres são as responsáveis por movimentar parte considerável da economia local de um país. Segundo o Banco Mundial, 75% da compra de bens de consumo é feita por mulheres que já alcançaram a independência financeira. Mais um motivo pelo qual o empoderamento financeiro para mulheres precisa atingir mais espaços na sociedade.

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Apesar da autonomia financeira, os desafios são inúmeros . Como falamos logo acima, as mulheres movimentam bastante a economia e costumam ter regularidade no uso de seu dinheiro: usando no comércio local, na padaria, nas lojas. Mas ainda assim os obstáculos são diversos para essa grande parcela da população. O ambiente machista do mercado financeiro ainda coloca a mulher numa posição de má investidora. Quando na verdade, o número de mulheres investindo tem crescido e a “falta” de educação financeira está mais ligada ao acesso reduzido à informação. Outro obstáculo está no mercado de trabalho. Muitas mulheres encontram dificuldade em conciliar a família com a vida profissional. Uma desigual divisão de tarefas, onde a parceira tem mais de uma jornada: casa, filhos e trabalho. Para aquelas que desejam empreender, o caminho para conseguir créditos e financiamento também é escasso. O acesso a recursos financeiros geralmente é negado. Qual a importância do empoderamento financeiro feminino para a independência financeira das mulheres? Muito do empoderamento feminino está ligado a representatividade. Ou seja, é importante que mulheres encontrem outras mulheres parecidas em uma posição de independência financeira. Essa representatividade abre possibilidades para que o empoderamento financeiro feminino ganhe força e faça sentido para a narrativa de outras mulheres que se encontram em situações ruins. Mulheres com autonomia financeira e que empreendem costumam gerar emprego e oportunidades para outras mulheres. Essa rede de apoio e a consciência coletiva presente no empoderamento feminino proporcionam situações como essa. Elas acabam fomentando uma rede de crescimento, aprendizado e apoio.

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DIN DIN Além disso, a importância de ter o empoderamento financeiro como pauta e ferramenta na independência financeira das mulheres também está em tópicos, como:

dência financeira. E todo esse conteúdo é possível encontrar disponível online.

3.Empoderamento e poder – Proporcionar segurança e estabilidade fi- feminino: procure não deinanceira na velhice: a expectativa de vida das xar seu dinheiro parado mulheres é de sete anos a mais em relação Dinheiro parado não rende. E aos homens, mas muitos ainda são depen- pensar no futuro é um ponto dentes. A autonomia financeira trará liber- importante para toda mulher dade e uma aposentadoria mais tranquila. que busca sua autonomia fi– Começar a investir: com educação financeira, nanceira, pois ficar dependente fica mais fácil investir e aumentar patrimônio. dos altos e baixos da situação – O empoderamento financeiro feminino dá econômica pode ser arriscado. poder de escolha à mulher, sobre sua própria Busque por investimentos que vida e decisões que a impactam. façam sentido para os seus planos e para o seu futuro. 1. Seja responsável e cuide do seu próprio dinheiro e o administre Não tenha medo de se inseÉ muito comum mulheres escutarem de seus rir no mercado financeiro e parceiros ou familiares que elas não sabem construa sua independência administrar bem o seu dinheiro. Não se deixe e empoderamento financeiro enganar, parte do empoderamento financeiro junto com um investimento. feminino é lembrar que você é sim dona do seu Ele vai proporcionar para você dinheiro e pode decidir como e o que fazer com um futuro tranquilo e seguro. ele. Pedir ajuda não é o problema, desde que você tenha controle dos seus gastos e investimentos. Por isso, é importante se organizar e sempre ter em mãos o seu planejamento financeiro: definindo metas, calculando orçamento, gastos e outros pontos de sua finança pessoal. Aproveite e comece a fazer uma reserva de emergência. A autonomia , independência, financeiApesar de ser um assunto tradicionalmenra vai muito além de ter dinheiro na conta, é te masculino, finanças deve ser explorado por também sobre estar preparada para lidar com mulheres, principalmente para que haja situações difíceis e inesperadas. independência plena 2. Invista sempre na sua educação financeira No Brasil, o dinheiro é tabu e a educação financeira não é comum em escolhas, por exemplo. Mas para ser um adulto organizado e bem-sucedido financeiramente, você precisa dela. Não deixe para depois, busque de pouquinho em pouquinho estudar e aprimorar sua educação financeira. Através dela é possível aprender a ter uma relação mais saudável com o dinheiro e encontrar formas de conquistar a indepen-

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CRAVOS

TA ROT O mês de Junho será um mês turbulento e cheio de desvios, mas virá por um propósito. Momentos de introspecção serão extremamente úteis para tomadas de decisão e para definir o seu caminho, sem preconceitos com a rota necessária tudo te sintonizará com o seu sonho. Lembre: após a tempestade, sempre há paz e colheita.

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Entregue-se e não resista - não é a mudança que traz sofrimento e dor, e sim o apego pelas coisas que precisam ir. Então, entregar-se para o fluxo da vida e para o que está acontecendo pode se tornar um dos segredos para um mês de junho sem grandes problemas. Quando estamos nos desviando do nosso propósito somos alertados, sinais são enviados para que voltemos ao caminho ideal. Logo, preste atenção e aceite o disposto a você, o que está acontecendo faz parte e está te levando para onde almeja.


É uma carta (5 de Espadas) de muita luta, que pede para que não deixe a mente e a ansiedade interferirem nessa entrega. Pode também vir a tratar de ambientes que te condicionam a ter pensamentos negativos. Assim, clareza e calma serão essenciais para trilhar esse mês - meditação e atividades introspectivas podem ser úteis. Por fim, seja feliz a cada instante, mesmo diante dos desafios que se apresentam um novo tempo surgirá com um pedido para que você continue a sua caminhada de evolução.

A carta pede desapego às nossas próprias crenças e à nossa própria mente. Deve-se sair da rigidez mental e confiar mais na vida, nos momentos e nas turbulências do processo. Além disso, é necessária uma mudança de perspectiva quando em certas situações vivenciadas, enxergar por diversos e diferentes ângulos para uma compreensão adequada. Reforça-se o que a “o enforcado” traz: é muito difícil se desviar do seu caminho, pare e veja onde o desvio se deu e mude a rota - tenha um ato de coragem e fé.

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AUTONOMIA FINANCEIRA É TAMBÉM SE EMPODERAR A igualdade de gênero não é apenas uma questão social e política, mas também econômica texto por Estúdio NSC foto por Eugene Angoluk



Com o objetivo de capacitar mulheres financeiramente 88 |


DIN DIN

A

cada década, as mulheres têm conquistado mais direitos que lhes garantem maior poder e autonomia nas decisões. Enquanto a sociedade do século passado ainda acreditava que o único objetivo da figura feminina era cuidar da casa e da família, sendo obediente ao marido como provedor, agora, as reivindicações por igualdade têm tido cada vez mais resultados palpáveis, reflexos do empoderamento.

A partir do código eleitoral de 1932 e da Constituição de 1934, o voto feminino foi permitido no Brasil. Em 1962, mudança na legislação instituiu que mulheres casadas não precisavam mais da autorização do marido para trabalhar e passariam a ter direito à herança e a chance de pedir a guarda dos filhos. Em 1977, a Lei do Divórcio foi aprovada e em 1996 o Congresso Nacional obrigou os partidos a inscreverem pelo menos 20% de mulheres nas chapas eleitorais. A representatividade em cargos públicos ainda é baixa, assim como em posições de chefia em grandes empresas. Elas ainda recebem menos quando estão na mesma posição do que um colega homem. Ainda há no que avançar, mas é inegável que hoje a mulher possui mais controle de decisões sobre a própria vida do que há 50 anos. E um dos fatores que representa esse poder é a independência financeira. Como muitas mulheres eram “dólar”, sem experiências ou conhecimentos técnicos para um emprego formal, eram mais comuns casos de violência doméstica onde a mulher não saía de casa por falta de alternativa para se manter. Por isso, conquistar rendimentos do seu próprio salário, ter o controle e total planejamento dos recursos financeiros é essencial nos dias de hoje e torna a mulher menos suscetível a não conseguir se livrar de problemas conjugais. A igualdade de gênero não é apenas uma questão social e política, mas também, econômica: um aumento para pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança está diretamente associado a um aumento de 15% na lucratividade das empresas, segundo um estudo do Peterson Institute for International Economics.

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Mulheres na renda variável: Hoje, apesar do crescimento no número de mulheres investidoras, elas ainda são minoria na bolsa. No entanto, o crescimento de contas femininas na bolsa de valores deu um salto nos últimos quatro anos. Entre — Além disso, mulheres que alcançam a indepen- 2017 e 2020 o crescimento foi dência financeira têm uma vida mais confortável, de quase 500%. Em maio de conseguem se planejar e têm capacidade de atin- 2021 as mulheres representam gir seus objetivos, como ampliar o patrimônio pouco mais de 27% dos investiou garantir uma aposentadoria tranquila. Com a dores cadastrados na B3. transformação na sociedade, também queremos tomar as decisões que dizem respeito à nossa — Com as sucessivas quedas nas vida financeira e participar das decisões no âm- taxas de juros nos últimos anos, bito familiar. Não é à toa que vemos mulheres a Selic chegou à mínima históbuscando mais informações quando o assunto rica de 2% no ano passado, o é dinheiro e investimentos — reforça Belloli.. que intensificou a migração de investidores de renda fixa para renda variável. Aqui, não quero dizer que investir em ações é o ideal para todas nós: vale ressaltar que o maior e melhor investimento que você, mulher, pode fazer na sua vida é investir em conhecimento. Busque saber e entender sobre o mercado, faça o seu planejamento financeiro respeitando o seu momento de vida e os objetivos que você quer conquistar. Isso vai fazer a diferença para você lá no futuro — pondera a especialista. Aline Belloli, especialista de investimentos de Warren, acredita que a inserção no mercado de trabalho viabiliza a independência financeira das mulheres. Isso é fundamental, já que possibilita que elas tenham autonomia para decidir seu futuro, seja ele criando a família, mudando de profissão ou, mesmo, empreendendo.

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DIN DIN

Plataforma de educação financeira possui curso exclusivo para mulheres: Pensando nas necessidades específicas delas, na plataforma de educação financeira da Warren está disponível um curso de finanças femininas. O curso é indicado para mulheres que buscam maior autonomia e controle financeiro, possuem dificuldade para gastar apenas o que ganham e costumam fechar o mês no vermelho, buscam orientação para administrar melhor seu dinheiro para realizar seus sonhos, querem aprender a ganhar mais dinheiro e poupar, querem investir melhor o próprio dinheiro e criar fontes de renda passiva, construindo um caminho para uma aposentadoria tranquila.

A designer Luiza teve acesso aos cursos da Warren educação e aprovou os resultados obtidos até o momento, em — Nenhum de nós nasceu sabendo montar um plano financeiro nem aprendeu na escola. Por isso, a Warren elaborou um guia completo com mais de 10 aulas gravadas. Assim, elas podem aprender a guardar dinheiro e poupar do melhor e mais eficaz jeito possível.

Empoderar-se vai além de aspectos estéticos. A educação financeira tem um papel crucial para a confiança e autoestima profissional

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DOBRAS

Dicas práticas Educação Financeira exige estudo e prática dos diversos conceitos que permeiam o assunto

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1. Entenda e controle suas despesas Saber para onde vai seu dinheiro e, mais especificamente, quanto dele está empregado em cada área, ajuda a saber quais gastos cortar ou diminuir. Para isso, você não precisa mais utilizar ferramentas complicadas ou penosas, como caderninhos ou planilhas de gastos, é possível utilizar apps como Mobills, para facilitar os orçamentos e registros.

4. Ganhar, economizar e investir Esse é um tripé que deve ser seguido por todos que têm a educação financeira como objetivo. Terminar o mês zerado ou devendo é péssimo. Por isso, você precisa urgentemente reduzir seus gastos para cumprir as duas outras etapas do ciclo: economizar e investir. O ideal é que pelo menos 10% dos seus ganhos sejam destinados à reservas financeiras. Caso esteja endividado, o primeiro passo continua sendo a 2. Defina metas e objetivos redução dos gastos, mas com foco em pagar as É difícil poupar sem objetivos financeiros e me- dívidas primeiro e, só então, focalizar e investir. tas em mente. Por isso, trace seus objetivos de curto, médio e longo prazo, e faça metas finan- 5. Utilize um aplicativo (app) de educação ceiras para eles. Você verá que fica bem mais e controle financeiro fácil destinar uma parte da renda a um sonho Como já citamos, aplicar os conceitos de eduque tem definições concretas. cação financeira por meio de um maior controle do seu patrimônio é possível através de 3. Desenvolva o hábito de poupar aplicativos de gestão financeira. Com eles é A pessoa educada financeiramente busca sempre possível rastrear gastos e fazer os registros minimizar seus gastos e, para isso, está sempre no momento em que as despesas ou receitas querendo economizar. Exercite hábitos simples, acontecem, evitando erros por esquecimento. como: pesquisar preços antes de uma compra, Todavia, mesmo com tantas facilidades, os livros buscar por descontos ou programas de cashback, ainda continuam sendo a fonte de conhecimento pechinchar e analisar a possibilidade de adquirir mais rico. Então, você deve estar se perguntando: produtos mais baratos. com tantas opções, por quais devo começar? A dica de ouro para quem quer poupar é: per- Assim como todo prédio tem um alicerce, uma gunte-se sempre se aquela despesa é necessária boa educação financeira deve ser trabalhada em e qual seu benefício. Essa regra é primordial cima de bons livros que vão servir como base para para fugir do consumismo e poupar muito mais. seus demais aprendizados e fundamentações.

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O que é uma protagonista forte? texto por Maria Eduarda Nogueira ilustração por Beatriz Corradi

Historicamente, os principais contadores de história têm o hábito de criar personagens femininas apenas como suportes para o crescimento de um personagem masculino. Até hoje, observamos exemplos assim nas diversas manifestações da cultura pop, seja escrita ou audiovisual. A mulher misteriosa que muda a vida do personagem principal, com seu jeito “diferente”, mas muito sexy; a mulher solitária em um grupo de homens ou então a mulher que morre a fim de dar um propósito para o desenvolvimento da trama masculina. Esses são apenas alguns exemplos dentre -muitos - mais estereótipos. Após reivindicações do movimento feminista, a função de personagem que serve para impulsionar o desenvolvimento do protagonista homem perdeu espaço. Mas não significou que elas fossem representadas realmente como mulheres reais. Há, hoje, dois principais atributos que fazem com que uma personagem seja considerada “forte”: força física e habilidade de não se abalar com problemas pessoais. Em contraposição, as personagens “fortes” poderiam ser vistas como uma evolução nas histórias. Porém, o que as caracteriza como fortes é a aproximação com o universo masculino. O encaixe nesse padrão é enaltecido, enquanto a sensibilidade e a fragilidade causam distanciamento. O estereótipo de mulher forte poderia passar despercebido. Se não fosse pelo fato de que é extremamente prejudicial para as mulheres da vida real: a pressão para se manter sempre inabalável e perfeita afeta a saúde mental feminina de uma maneira muitas vezes imperceptível. Mas devastadora. Inspirar-se em personagens de livros, filmes e séries pode ser um ótimo fator motivador, tanto para garotas adentrando no universo da cultura quanto para mulheres já aposentadas. No entanto, há um limite. Mulheres não precisam ser muralhas impenetráveis, sem emoções. Não precisamos provar o nosso valor através de atributos que se aproximam das características tidas como “masculinas”. Não precisamos esconder as nossas fragilidades: o simples fato de existirmos em um mundo machista e sexista já nos torna fortes demais.

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INDÚSTRIA

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CORPOS

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RITA VON HUNTY: “TEMOS SAÍDA” Rita von Hunty: “O Brasil é o país do Mano Brown, Emicida e Pabllo Vittar. Temos saída” texto por Thamiris Magalhães foto por Fernando Schlaepfer



Enquanto nós estivermos vivos, dá para lutar 102 |


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restes a embarcar para França e Portugal para ministrar aulas como professora convidada em universidades, Rita von Hunty pode ser vista no comando da terceira temporada de “Drag Me As a Queen”, do canal E!, que nesta edição conta com a participação de celebridades. Além da vida acadêmica e do reality show, a drag queen ainda tem duas colunas, um canal no YouTube e seus trabalhos como atriz e professora. Com tanta coisa acontecendo, Rita (persona de Guilherme Terreri Lima Pereira, formado em Arte Cênicas pela UniRio, bacharel em Letras e Literatura Inglesa na USP), avisa que não tem nenhum sonho pendente: “Pessoalmente, estou bem”. Mas nem sempre foi assim. Guilherme, quando criança, sonhou (e muito!). “Lembro que a minha primeira ideia de ocupação era ser astronauta e piloto de avião, acho que gosto de olhar as coisas a partir de uma nova perspectiva. Também tem alguma coisa da liberdade e do perigo que deve ter me encantado na infância. Agora, morro de medo de altura”, confessa ao GLMRM. “Logo em seguida, aos seis ou sete anos, assisti ‘O Exorcista’ e decidi que queria ser exorcista para tirar o capeta das pessoas, e acho que para poder usar saia também [risos]. Lá pelos doze, treze anos, já queria ser professora. Hoje, sou uma arte-educadora. De alguma forma, concretizei meu desejo de infância”. Se por um lado, faltam sonhos pessoais, por outro, sobram os coletivos. Entre eles, a revolução da classe trabalhadora. “Enquanto estivermos vivos, dá para lutar. Só não dá depois da morte, mas uma ideia nunca morre. Então, se atuamos no campo da produção e da circulação de ideias, continuamos lutando mesmo depois de mortos. Olha o tanto de livro da galera que já nos deixou fisicamente, mas continua nos orientando teoricamente”, diz Rita que aproveita para desabafar, com esperança, sobre a atual situação do país: “É preciso entender o que está acontecendo e a forma como isso destrói nossas possibilidades de vida, de melhores acessos e de construção de alternativas. Temos saída? Sim. O Brasil é o país do Jorge Amado, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Tom Jobim, Mano Brown, Emicida, Pabllo Vittar, dentre outros. A arte não para e, quando nos atacam, crescemos ainda mais”.

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Raízes “Meu interesse político vem desde sempre. A história da minha família materna, a paterna não tenho contato, é de uma fuga da Europa por conta da ascensão nazifascista. A família da minha avó, de judeus, foge de Portugal, e a família do meu avô, de trabalhadores e intelectuais, foge da Itália. Chegando aqui, eles se casam, vivem a geração deles e os filhos fogem durante a ditadura, porque meus avós tinham medo de que o Brasil virasse uma experiência nazifascista. Meu avô é uma das pessoas que trabalhou na fundação e construção do Partido dos Trabalhadores, em Ribeirão Preto. Minha avó era uma mulher muito engajada politicamente, assim como minha mãe. Então, eu cresço em uma casa na qual meu avô nos contava sobre o que era o fascismo italiano e qual é o reflexo das questões políticas na nossa vida cotidiana. ” Arte e política “Não existe apartamento entre arte e política. Aliás, não existe apartamento entre nada e política. O sonho de quem nos domina politicamente é que a gente veja essa esfera apartada, mas o que a gente come, como a gente transa, como a gente dorme, onde a gente mora, tudo é político. Quando conseguimos ver isso é um ponto sem retorno. A arte é política desde que o mundo é mundo. Quando o teatro surge na Grécia, ele é uma ferramenta social de produção de catarse e reflexão. A tragédia ateniense passava sempre fora de Atenas, para que aquela população conseguisse distanciamento da questão, que é sempre política, para analisá-la. Na Grécia Antiga, não existe o ‘eu’. As tragédias gregas versam sobre as questões sociais, do imaginário e do simbólico daquele povo. ”

Rita é força, arte e política. É resistência em um país machucado pela negligência com parcelas da sociedade

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CULTURA Lapidando a obra “O processo de criação ou de externalização de uma drag é muito parecido com o processo de externalização de outras coisas. Sempre faço o paralelo com a criação do palhaço. O ator ou o performer circense, quando faz palhaçaria, coloca uma lente de aumento sobre coisas que acha engraçadas e descabidas de si mesmo. Em algum lugar, a Rita é uma mega performance de pequenas coisas minhas. Eu tenho um senso de humor um pouco corrosivo. Brinco que falo três línguas com fluência: profanação, sarcasmo e ironia. E isso está muito traduzido no meu fazer como Rita. Boticcelli [pintor italiano renascentista] falava que a obra de arte só existe se estiver inacabada. Então, ele não dava a última pincelada no quadro. Era a ideia de que aquela obra estava aberta a leituras para sempre. À medida que estou vivo e viva, vou me fazendo como Guilherme e como Rita. Afinal, nenhum dos dois está pronto. Quem acha que está pronto morreu. ” Rita por Guilherme “Fazer drag é um significado político. Não decidi fazer meu trabalho de arte-educador nas artes plásticas. Decidi por fazer uma arte marginalizada e negligenciada. Além disso, é uma arte que tem como matéria primeira o tabu do gênero, a ideia de que gênero não existe, de que é uma ficção social, um aparato, um dispositivo criado pelos que estevam no poder, a partir de um momento historicamente e culturalmente definido. A escolha da expressão estética da Rita brinca com uma imagem que é considerada respeitosa, polida, de direito, de bem, boa, bonita e agradável. Existe um campo de disputa estético que consagra o belo à elite e relega o feio ao resto do povo. Existe também uma tentativa de subversão dessa lógica. Hoje, uso essas armas [estéticas] contra quem as usou primeiro para nos machucar. Tem uma piada que a gente faz quando a drag é feita por um homem gay que esse homem escutou muito que ele falava como uma menininha, corria e se comportava como uma mulherzinha, era afeminado. Aí, a gente volta como uma mulherzona. E isso é uma piada, porque não tem nada de mulher cis na drag.

A drag fala sobre a ideia absurda da expectativa do papel de gênero. ‘Homem’ e ‘mulher’ são uma abstração teórica, uma prática, um desempenho, uma perfomance. No final do dia, o único jeito de ser uma boa mulher é se você não for”.

“A drag tem como matéria primeira a ideia de que gênero é uma ficção social”

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ESTRIAS

Lizzo

Entre a positividade e o amor próprio. A cantora que tem revolucionado a Indústria

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Número um no Hot 100 da Billboard, dona de um dos álbuns mais bem avaliados pela crítica esse ano, atração do Coachella, companheira de cena Jennifer Lopez no filme Hustlers e a primeira mulher negra a ser capa da Vogue, só se fala dela:

E se você, por algum acaso da vida ainda não sabe Apesar de todo o sucesso atual, Lizzo sempre quem é Lizzo, essa é a sua chance de conhecer sofreu preconceito por parte do público e - princium pouco mais da história dessa mulhe versátil, palmente - dos críticos mais tradicionais. Porém, carismática, negra, gorda e vinda do rap. Cantora, com um sorriso ou muito carisma, ela responde compositora, atriz, musicista, apresentadora e às críticas infundadas e gordofóbicas com talenrapper. É assim que podemos começar a des- to e usando a sua influência nas redes sociais crever Melissa Viviane Jefferson. Nascida em para incentivar outras pessoas a se amarem, a Detroit, nos Estados Unidos, em 27 de abril de amarem o corpo que têm. 1988, Lizzo cresceu em uma família apaixonada por música gospel, estudou música clássica As suas músicas, da mais comercial até a mais com especialização em flauta, e se formou na “fora da curva”, sempre têm clipes e letras que Universidade de Houston, no Texas. Aos 31 anos, exaltam a liberdade feminina, o poder do corpo pode-se dizer que ela está no melhor momento gordo de fazer tudo aquilo que impõem como de sua carreira. barreira e a sua beleza. A cantora vem sendo convidada para programas renomados de TV no mundo todo, além de estar fazendo inúmeras parcerias — com nomes como Charli XCX e Missy Elliot — e ao que tudo indica esse é só começo de um futuro próspero na indústria da música.

Lizzo é sinônimo de superação, amor próprio e talento. É uma mulher e artista que rompe padrões e ajuda a restituir a Indústria de forma saudável, mpactando todos os que a seguem e consomem suas músicas de forma positiva e, mais que isso, revolucionaria.

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MULHERES NEGRAS NO PAPEL PRINCIPAL Conheça Harmonia Rosales: Pintora recria obras com mulheres negras como protagonistas texto por Soraia Alves e João Gabriel Tréz foto por Sophia Quach McCabe



Estrutura dominante feminina e negra 112 |


CULTURA

U

sando obras de arte clássicas para levantar questionamentos na atualidade, a pintora cubana Harmonia Rosales, que mora em Chicago, tem feito versões de obras históricas colocando mulheres negras como protagonistas. Com essa iniciativa, Rosales mostra como essas figuras foram negligenciadas da história da arte: “Não estávamos lá? Será que todos nós não ajudamos a construir essa terra em que vivemos? ”, indaga a artista. Uma das obras analisadas por Rosales é “A Criação de Adão”, de 1508. Se a obra pretende retratar o momento da criação da humanidade, por quê todos os personagens pintados por Michelangelo são brancos? Além disso, se esse é o nascimento da humanidade, por que o há apenas homens na cena?

Obviamente algumas perguntas são respondidas pelo contexto histórico de quando as obras foram produzidas. Ninguém está dizendo que Michelangelo era racista ou misógino. O fato aqui é ver como a sociedade está há muito tempo sendo vista e representada por apenas um olhar: masculino e branco. Essa estrutura dominante de gênero e raça é o que tem ditado a História, e não é diferente com a história da arte. A proposta de Rosales é imaginar como seriam essas obras clássicas se a estrutura dominante fosse outra: feminina e negra. O trabalho de Rosales é poderoso. A forma como ela usa a arte para contestar modelos arraigados faz as pessoas verem alternativas que questionam as ideologias da humanidade até hoje: “Reimagine. Recupere. Empodere”. É este o lema que não só estampa o site oficial da artista norte-americana de ascendência afro-cubana Harmonia Rosales, mas norteia a produção da pintora. Focando em um discurso a favor do empoderamento feminino negro e na diáspora africana, ela recria obras clássicas de nomes como Leonardo da Vinci e Botticelli colocando o protagonismo em figuras negras, especialmente mulheres.

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CULTURA Harmonia traz representatividade e - mais do que isso - traz debates sobre aspectos estruturais da sociedade que devem ser reconstruídos

Criando debates em torno de representações, história da arte e protagonismos, Harmonia, segundo biografia do site oficial da artista, era fascinada na juventude pelos mestres renascentistas e suas habilidades e composições impecáveis. No entanto, “ela nunca conseguiu se relacionar (com suas obras) porque retratavam principalmente uma hierarquia masculina branca e a mulher subordinada idealizada, imersa em uma concepção eurocêntrica de beleza”. Os trabalhos de Harmonia já vêm repercutindo nas redes sociais há pelo menos cinco anos, quando a releitura dela do afresco de Michelangelo “A Criação de Adão” viralizou ao reimaginar Deus e Adão como mulheres negras. Atualmente, o Museu de Arte, Design e Arquitetura da Universidade de Santa Barbara, na Califórnia, acolhe a exposição “Entwined” (“Entrelaçada”, em inglês), que traz obras da artista afro-cubana. A mostra segue em cartaz até 1º de maio.

“Reimagine. Recupere. Empodere”

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ESTRIAS

Para

Curar Spotify

Netflix

_BOM DIA, OBVIOUS _EU NÃO SOU UM HOMEM FÁCIL A Obvious é uma plataforma de narrativas fe- Eu não sou um homem fácil é um filme francês mininas, com ela, Marcela Ceribelli, diretora que mostra um mundo no qual os papéis foram criativa e CEO da plataforma, consegue conversar trocados. Damien, um homem machista e bem com outras mulheres além das redes sociais, sucedido, vê-se preso em uma realidade em que por meio do podcast, que conta com discus- as mulheres são as opressoras e toda a história sões sobre relacionamentos, exercícios físicos, do patriarcado é invertida. De forma leve, diamor-próprio, saúde mental, carreira e mais. vertida, mas sem deixar a grande crítica de lado, Os assuntos são tratados com seriedade, mas esse filme põe todos que o assistem para refletir sem perder o clima de bate-papo entre amigas. sobre os tabus e padrões da nossa sociedade.

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Netflix

_ONE DAY AT A TIME “One Day at a Time” é o tipo de série que te abraça e te acomoda. Com críticas sociais fortíssimas e necessárias, o seriado traz protagonistas mulheres que são exemplos de superação (uma mãe solo latina e a sua filha que faz parte da comunidade LGBTqIA+). Trazendo cenas cheias de representatividade, carinho e morais, quem assiste se emociona e ri - às vezes ao mesmo tempo - com essa obra imperdível.

Livrarias e Amazon

_OS SETE MARIDOS DE EVELYN HUGO “Os sete maridos de Evelyn Hugo” é um livro de Taylor Jenkins Reid que trata de uma história de amor intenso, privações, fama e os caminhos que percorremos para cuidar de quem amamos. A autora trabalha diversos temas sociais durante a narrativa, desde descoberta de identidade a relacionamentos abusivos. É uma obra não só uma obra de romance, mas também de perseverança e muito aprendizado.

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Pelo direito de não ser minha melhor versão texto por Clarissa Wolff ilustração por Beatriz Corradi

Hoje eu acordei e pensei: eu não quero ser minha melhor versão. Não quero beber bastante água, meditar por 20min, acordar às 5:45 e definir metas para o dia. Aliás, mentira: eu tenho uma meta, a meta é não ter metas de ser uma pessoa melhor. Eu sou uma maratonista: acordo todos os dias e faço um treino exaustivo de horas a fio para exercitar minha saúde mental. E, assim como correr, sair alguns dias da disciplina faz a gente voltar 4 casas no jogo da vida, digo, da atividade física. Mas, diferente de correr, não existe um dia de descanso.Todos os dias, da hora de acordar até a hora de dormir, eu preciso correr essa maratona. A cadelinha de Pavlov condicionada por reforços positivos do poder do hábito que habita em mim saúda a cadelinha de Pavlov que habita em você. Eu mentalizo que não quero fazer nenhuma manifestação para ficar rica, mais saudável, hiper produtiva – eu sei, eu sei, segundo todos os livros de autoajuda, não, desenvolvimento pessoal, a culpa é toda minha. Desculpa, universo. A culpa Cristã reembalada em cores vibrantes ignora contextos sociais, foca no indivíduo e na exigência da vida perfeita – ou pelo menos no caminho até lá. A cocaína agora vem junto com a couve, liberando a mesma dopamina que aparece quando a gente vê aquele avanço no gráfico do aplicativo que computa cada uma das nossas decisões e cada um dos passos que demos hoje, melhor ainda se tivermos superado aquele nosso colega com quem compartilhamos conquistas. Amém, Schadenfreude. Hoje, eu vou pular os cuidados com a pele, deixar de passar protetor solar, o que é algo que nunca faço, e se eu faço depois eu choro e me arrependo. Hoje, tem só uma coisa anotada na minha agenda: pelo direito de não ser minha melhor versão.

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INDÚSTRIA

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