A FLUXO é uma ponte de conhecimento e conscientização para os profissionais do compliance e RH de uma empresa. Estamos aqui para trazer assuntos de inclusão, diversidade e empoderamento para o mundo corporativo, e é nossa responsabilidade desafiar e redefinir essa cultura para garantir um espaço igualitário e inclusivo.
Queremos fazer com que essas minorias se sintam levadas à sério, e se encaixem no ambiente onde costumam se sentir menores. Na FLUXO você pode esquecer do protagonismo do conservadorismo e mergulhar nas mudanças da nossa geração, então segue o fluxo e se prepare para mudar a sua empresa!
Nessa primeira edição, a publicação é focada na cultura queer e a falta de oportunidades que essa comunidade enfrenta diariamente no mercado de trabalho. Você encontrará histórias pessoais, casos marcantes, marcas que abraçaram a causa e relatos que farão você se comover e entender o porquê dessa mudança ser tão importante. Esperamos que você flua conosco e entenda a história e rotina de quem estamos representando, e seja um vetor das nossas ideias e entenda porquê a supremacia conservadora não faz mais sentido.
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING
Graduação em Design Turma DSG 3B / 2024.1
PROJETO INTEGRADO TERCEIRO SEMESTRE
Projeto III - Marise de Chirico
Marketing Estratégico - Leonardo da Silva
Cor e Percepção - Paula Csillag
Produção Gráfica - Mara Martha Infografia - Marcelo Pliguer
PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO
Eduarda Cara Ortega
Guilherme José Bovolin
Maria Eduarda Lins Pereira
Mirella Suero Palazzini
Sarah Fernanda Oliveira Fagundes
Vitor Ramos de Vasconcelos Cunha
ANA CAROLINA SOUZA
@ana.carolsouza
Ana Carolina Souza é uma renomada especialista em Neurociência Comportamental com mais de 20 anos de experiência. Abertamente lésbica, Ana Carolina continua a impactar diversas áreas com sua expertise, combinando ciência e empreendedorismo de forma inovadora.
REINALDO BULGARELLI
@reinaldo.bulgarelli
Reinaldo Bulgarelli é um destacado ativista queer, atuando como Secretário Executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. Ele também contribui como colunista para o iG Queer, abordando temas vitais sobre os direitos e desafios da comunidade LGBTI+. Seu trabalho é essencial para fomentar a inclusão e o respeito nos ambientes corporativos e sociais.
HELENA VIEIRA
@helena.vieiras
Helena Vieira é escritora, dramaturga e transfeminista, além de colunista da revista Cult. Tem experiência como professora da pós-graduação em Gestão Cultural Contemporânea do Itaú Cultural e como formadora na Escola Superior da Magistratura do Ceará - ESMEC.
CAROLINA NALON
@carolinanalon
Carolina Nalon é uma palestrante experiente, conhecida por suas apresentações em diversas edições do TEDx. Fundadora do Instituto Tiê, ela é especialista em mediação de conflitos e Comunicação Não Violenta. Ela é uma ativista lésbica dedicada a promover um diálogo mais inclusivo e respeitoso na sociedade.
5. QUEM SOMOS?
7. COLABORADORES
15. ESQUENTA
Lista do que assistir para entender a FLUXO.
CONTRAFLUXO
17. DIVERGENTE
População LGBT nas favelas enfrenta dificuldades para acessar serviços.
SEGUE O FLUXO
35. CASES DE MARCA
Ambev abraça a causa.
61. CASES DE MARCA
Ben and Jerry’s abraça a causa.
63. CASES DE SUCESSO
Empreendedor transsexual compartilha sua história.
65. PARA ENTENDER
Cenário da comunidade LGBTQIA+ no Brasil.
RETICÊNCIAS
ASSINADO POR
81. 2 passos para promover uma cultura de autocuidado nas empresas
83. Lutar anda impossível? Notas inconjuriais para o futuro
85. Não somos todos iguais
87. Grupo de afinidade: A importância de um LGBTQ+ ser amparado na empresa
TIPS
89. O que ouvir?
91. Quem acompanhar?
93. O que apoiar?
95. CARTA DE TRABALHO
O que os astros prevêem sobre a carreira profissional dos signos no mês de junho
69. 27.
PARA REPERTÓRIO:
Filmes, séries e documentários que retratam e contam histórias reais de pessoas da comunidade LGBTQIA+, para você seguir o fluxo!
A MORTE E VIDA DE MARSHA P. JOHNSON de DAVID FRANCE
Um filme que explora a vida e o misterioso falecimento de Marsha P. Johnson, uma ativista transgênero que foi uma figura central nos eventos de Stonewall em 1969 e uma das pioneiras do movimento pelos direitos LGBTQIA+. O documentário destaca sua contribuição para o movimento de liberação gay e as circunstâncias suspeitas de sua morte em 1992, buscando trazer justiça e reconhecimento à sua história. lançamento: 6 de outubro de 2017.
RUPAUL’S DRAG RACE de MTV+
Uma série de competição de reality show onde drag queens competem em desafios de moda, atuação, canto e comédia para ganhar o título de “America’s Next Drag Superstar”. Criada e apresentada por RuPaul, a série é famosa por seu estilo vibrante, humor afiado e a promoção da aceitação e do orgulho LGBTQIA+. lançamento: 2 de fevereiro de 2009.
POSE
de RYAN MURPHY
Uma série dramática que retrata a subcultura dos bailes de Nova York no final dos anos 80 e início dos 90, focando nas vidas de personagens LGBTQIA+ negros e latinos. Inspirada pelo documentário “Paris Is Burning”, a série aborda questões de identidade, aceitação e a luta contra a discriminação, enquanto os personagens buscam amor, respeito e sucesso, servindo muitas vezes como uma homenagem viva ao espírito capturado no documentário. lançamento: 3 de junho de 2018.
MOONLIGHT
de BARRY JENKINS
Um filme que narra a vida de Chiron, um jovem negro que cresce em um bairro difícil de Miami, abordando as complexidades de sua identidade e sexualidade em três estágios distintos de sua vida: infância, adolescência e idade adulta. O filme explora temas de autoaceitação, masculinidade e as dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBTQIA+ em um contexto de pobreza e preconceito.
lançamento: 21 de outubro de 2016.
PARIS IS BURNING de JENNIE LIVINGSTON
Um documentário icônico que explora a cultura dos bailes drag em Nova York nos anos 80, focando em temas como raça, classe e identidade de gênero. Ele apresenta a luta e a resiliência da comunidade LGBTQIA+ negra e latina, destacando as “houses” que serviam como famílias substitutas e seus esforços para alcançar aceitação e sucesso através dos bailes. lançamento: 13 de março de 1991.
POPULAÇÃO LGBT NAS FAVELAS ENFRENTA
DIFICULDADES PARA ACESSAR SERVIÇOS
Pesquisa entrevistou mais de mil pessoas em dez comunidades do Rio
Texto
Mariana Tokarnia
Imagem Revista O Grito!
Apopulação LGBTQIA+ encontra uma série de dificuldades para acessar serviços públicos em favelas do Rio de Janeiro. Essa população acaba acessando menos serviços de educação e saúde, por exemplo, e está sujeita a violências.
O 1º Dossiê anual do Observatório de Violências LGBTI+ em Favelas reúne dados e relatos de episódios de agressão e exclusão vividos por lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans, queer, intersexo, assexuais e outras nesses territórios.
A pesquisa reuniu informações de 1.705 pessoas de mais de 100 bairros, territórios e favelas do município carioca. Os dados tratam de segurança pública, educação, saúde, moradia e empregabilidade e renda.
A população travestigênere – pessoas trans, travestis e não-binárias – é a que mais sofre com falta de acesso. Na educação, por exemplo, 25,5% de travestigêneres abandonaram a escola antes de concluir os estudos e sequer acessou o ensino médio, enquanto entre o restante dos entrevistados, as pessoas não trans, esse índice é de 8%.
Em relação ao emprego, o dossiê mostra que cerca de 9,4% dos respondentes estão vivendo com renda mensal abaixo de R$ 500. Dessas, 60% são pessoas travestigêneres. Outro dado mostra que 80% das mulheres lésbicas disseram ter sofrido assédio sexual no trabalho. Na saúde, 28% dos homens trans não conseguem acessar os medicamentos necessários no posto de saúde por ausência desses remédios.
Em relação à segurança pública, a maior parte dos respondentes (69,56%) disse ter ficado impossibilitada de acessar sua moradia em decorrência das operações policiais. Dentro desse grupo, cerca de 66,59% são pessoas negras. Além disso, 48,28% do total de respondentes do formulário já sofreram algum tipo de violência durante uma abordagem policial.
“O cenário que a gente encontrou é um cenário muito cruel. A gente realmente não esperava, foi algo que impactou bastante, porque a gente viu que estamos muito distantes de algumas coisas que são básicas, para falar no sentido mais claro”, diz uma das pesquisadoras do dossiê Agatha Christie dos Anjos.
O dossiê foi elaborado, segundo os autores, para suprir a ausência de dados específicos da população LGBTQIA+ nas favelas do Rio de Janeiro:
“Sob o argumento de que não existem evidências concretas acerca de tais violações, o poder público tem se ausentado de sua responsabilidade na garantia dos direitos fundamentais das pessoas de favelas no Rio de Janeiro, em especial no que diz respeito às pessoas LGBTI+ e negras. Contrariamente, são os próprios mecanismos do Estado a propagar uma série de abordagens violentas, invasões domiciliares por vezes criminosas e numerosos episódios de outras naturezas”, diz o texto.
Cantora Jub do Bairro vestindo blusa de artista Jorge Ladond
DESAFIOS NA SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS
LGBTQIA+
Esta matéria explora o impacto do estigma e da discriminação sobre o bem-estar mental desses profissionais e enfatiza a importância de ambientes corporativos inclusivos e acolhedores
TEXTO CAROLINA INGIZZA IMAGENS MOTOGUO
A saúde mental dos profissionais LGBTQIA+ no ambiente de trabalho é uma área crítica que necessita de uma atenção especial e constante, considerando a complexidade das pressões sociais e profissionais que esse grupo enfrenta diariamente. A luta por aceitação e reconhecimento no local trabalho é uma batalha contínua; o estresse adicional relacionado à identidade de gênero e orientação sexual frequentemente leva a sérios problemas de saúde mental, incluindo a síndrome de Burnout. Este esgotamento profissional, agora reconhecido legalmente, ilustra progressos nos direitos trabalhistas, mas também sublinha a necessidade de um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo e saudável. Com o agravamento dos casos de ansiedade e depressão, especialmente após a pandemia, observa-se que os membros da comunidade LGBTQIA+ são desproporcionalmente afetados. Pesquisas realizadas por instituições como o Instituto Cactus e Atlas Intel revelam que uma grande parte da população brasileira ainda não acessa serviços de apoio à saúde mental, com apenas uma pequena fração buscando tratamentos psicoterapêuticos. A situação é particularmente crítica entre a população LGBTQIA+, onde as taxas de prevalência de ansiedade e depressão são significativamente elevadas, destacando uma urgente necessidade de serviços de saúde mental inclusivos.
A LUTA POR
E RECONHECIMENTO NO LOCAL DE TRABALHO É UMA BATALHA CONTÍNUA
Homem e Mulher deitados em sofá
A saúde mental é influenciada por diversos fatores, incluindo renda, situação profissional, relações familiares e até a prática de atividades físicas. Pesquisas indicam que um estilo de vida ativo está diretamente relacionado a uma melhor saúde mental, reforçando a importância de promover hábitos saudáveis e ativos, especialmente para aqueles sob maior estresse.
No cenário corporativo, a criação de ambientes de trabalho inclusivos e acolhedores para os profissionais LGBTQIA+ é crucial. Estudos demonstram que esses trabalhadores enfrentam condições adversas de saúde mental desproporcionalmente em comparação com seus colegas heterossexuais, sublinhando a necessidade de políticas eficazes de inclusão e programas de bem-estar que abordem não apenas a saúde física, mas também a emocional, mental e psicológica.
A legislação atual reconhece a síndrome de Burnout como uma doença relacionada ao trabalho, o que permite o afastamento do trabalhador sem perda de remuneração No entanto, para a comunidade LGBTQIA+, essa proteção legal é apenas um dos passos necessários para assegurar um tratamento justo e equitativo no ambiente de trabalho.
As organizações devem ir além, criando campanhas de comunicação eficazes que reflitam uma cultura de inclusão das diversas minorias sociais do Brasil, de forma geral.
Homem deitado em sofá de couro
AS POLÍTICAS EFICAZES DE INCLUSÃO E PROGRAMAS DE BEM-ESTAR ABORDAM NÃO APENAS A SAÚDE FÍSICA
Ainda que haja um aumento na conscientização, o preconceito continua sendo uma realidade preocupante. O estigma associado à orientação sexual e identidade de gênero continua sendo um grande obstáculo, como evidenciado pelo alto número de mortes violentas e atos discriminatórios relatados anualmente. Contra esse pano de fundo, políticas públicas robustas e um compromisso sincero por parte das organizações são essenciais para promover um ambiente de trabalho inclusivo e saudável para todos.
A implementação de políticas inclusivas não só beneficia os trabalhadores LGBTQIA+, mas também melhora a cultura organizacional como um todo, contribuindo para um ambiente de trabalho mais produtivo e harmonioso. Empresas que promovem a diversidade e inclusão tendem a reportar melhores resultados devido ao aumento do engajamento dos funcionários.
Além das políticas internas, a colaboração entre empresas, organizações de direitos humanos, profissionais de saúde mental e a própria comunidade LGBTQIA+ é crucial para construir um ambiente mais justo e equitativo. Através de um diálogo aberto e contínuo, é possível identificar e eliminar as barreiras que impedem muitos profissionais LGBTQIA+ de alcançar seu pleno potencial no ambiente de trabalho.
Um aspecto frequentemente negligenciado no debate sobre saúde mental LGBTQIA+ no trabalho é a necessidade de programas de treinamento e sensibilização que eduquem todos os funcionários sobre a diversidade e a inclusão. Tais programas podem ajudar a reduzir o preconceito e a discriminação no local de trabalho, criando um ambiente mais acolhedor para todos. Outro ponto importante é o papel das redes de apoio dentro das empresas, como grupos de afinidade LGBTQIA+, que podem oferecer um espaço seguro para os funcionários discutirem suas experiências e desafios. Esses grupos também servem como um recurso vital para a gestão entender melhor as necessidades específicas de seus funcionários LGBTQIA+.
As políticas de saúde mental devem também considerar as especificidades dos diferentes subgrupos dentro da comunidade LGBTQIA+, como as pessoas trans e não-binárias, que muitas vezes enfrentam desafios ainda maiores no ambiente de
trabalho devido à falta de compreensão e aceitação de sua identidade de gênero. Por fim, é essencial que as iniciativas de saúde mental e inclusão sejam continuamente avaliadas e ajustadas com base no feedback dos funcionários e nas mudanças nas normas sociais e legais. Somente através de uma abordagem adaptativa e proativa é possível garantir que as medidas implementadas sejam eficazes e benéficas para todos no ambiente de trabalho, refletindo um verdadeiro compromisso com a igualdade e o respeito por todas as identidades.
Homem deitado em colchão com uvas
A LUTA DAS PESSOAS TRANS E A REPRESENTAÇÃO EM “POSE”
A série “Pose” é utilizada como um espelho dessa realidade, retratando os desafios e a resistência da comunidade trans
TEXTO OLÁVIO BENTO COSTA NETO IMAGENS POSE FX
A exclusão e marginalização das pessoas trans no mercado de trabalho são problemas crônicos que assolam não apenas o Brasil, mas diversas partes do mundo. Frequentemente, esses indivíduos são relegados a profissões estigmatizadas, como a prostituição, muitas vezes vista como uma das poucas vias de sobrevivência acessíveis devido à discriminação sistemática em setores mais formais da economia. Este cenário é vividamente retratado na série “Pose”, que, ao mergulhar nos desafios enfrentados pela comunidade trans nos anos 80 e 90, expõe tanto a crueza dessa realidade quanto a glamorização ocasional que a mídia pode imprimir a essas vivências.
“Pose” não apenas destaca a luta diária de suas personagens por reconhecimento e dignidade mas também sublinha a dupla marginalização enfrentada: a exclusão do mercado de trabalho convencional e os riscos e estigmas associados à prostituição.
A série faz um trabalho crucial ao trazer essas questões para o debate público, mesclando a dura realidade com elementos de resistência e celebração da identidade e cultura trans.
No Brasil, a situação não é menos grave. A ativista Walkiria La Roche aponta como a falta de oportunidades educacionais e profissionais empurra muitas pessoas trans para as margens da sociedade. Segundo ela, a crítica social que condena a presença trans na prostituição deve ser acompanhada por
Personagem
“Candy Ferrocity” de Angelica Ross na série Pose FX
ações concretas que ofereçam alternativas reais de ascensão social e profissional. Douglas Miranda, da Sedpac, reforça que a educação é uma ferramenta fundamental na transformação dessa realidade, sublinhando a importância de políticas educacionais inclusivas que preparem o terreno para uma inserção mais ampla no mercado de trabalho.
Apesar de alguns avanços em grandes corporações, que começam a incluir políticas de diversidade, muitos setores, especialmente as estatais e empresas menores, ainda mantêm uma cultura de exclusão. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTT) destaca que a maioria das pessoas trans não opta pela prostituição por desejo, mas por necessidade, evidenciando a falha do sistema em prover oportunidades iguais.
Liliane Anderson, uma voz ativa na comunidade trans, critica a hipocrisia de empresários que perpetuam o ciclo de exclusão e discriminação. Ela denuncia a contradição de como algumas dessas pessoas que negam oportunidades profissionais são as mesmas que se beneficiam dos serviços prestados por indivíduos trans em contextos de vulnerabilidade. Anderson clama por dignidade, trabalho e qualidade de vida, direitos fundamentais que devem ser assegurados a todos, independentemente de sua identidade de gênero, sexualidade, religião e posicionamento político.
Personagem
“Angel Evangelista” da série Pose FX
A MAIORIA DAS PESSOAS TRANS NÃO OPTA PELA PROSTITUIÇÃO POR DESEJO, MAS
POR NECESSIDADE
A série “Pose” oferece uma janela valiosa para essa realidade, ao mesmo tempo em que promove uma reflexão crítica sobre como a sociedade percebe e trata a comunidade trans. Através de suas narrativas complexas e personagens profundamente humanizados, “Pose” desafia o público a reconhecer a humanidade e a resiliência dessas pessoas, destacando a necessidade urgente de políticas eficazes que promovam a inclusão verdadeira no mercado de trabalho.
Esta matéria ressalta a urgente necessidade de mudanças estruturais que garantam não apenas a inserção no mercado de trabalho, mas também o respeito e a valorização da comunidade trans, combatendo o preconceito e a estigmatização que ainda prevalecem. Somente através de um esforço conjunto entre governos, empresas e a sociedade civil será possível construir um ambiente.
Para muitas pessoas trans, a luta pela sobrevivência no mercado de trabalho é agravada pela falta de acesso à educação formal. A discriminação nas escolas muitas vezes leva à evasão escolar, privando esses indivíduos das habilidades e qualificações necessárias para competir em um mercado de trabalho já hostil.
A falta de políticas educacionais inclusivas apenas perpetua o ciclo de marginalização, dificultando ainda mais a busca por oportunidades de emprego estáveis e bem remuneradas.
Além das barreiras educacionais, as pessoas trans enfrentam uma série de desafios ao tentar entrar no mercado de trabalho formal. Muitas empresas hesitam em contratar candidatos trans devido a preconceitos arraigados e estereótipos prejudiciais. Mesmo quando conseguem emprego, enfrentam discriminação no local de trabalho, que pode se manifestar de várias maneiras, desde comentários ofensivos até a negação de promoções e oportunidades de desenvolvimento profissional.
A falta de proteção legal adequada também contribui para a vulnerabilidade das pessoas trans no mercado de trabalho. Em muitos países, as leis antidiscriminação não oferecem proteção específica com base na identidade de gênero, deixando esses indivíduos desprotegidos contra a discriminação no emprego. Sem leis robustas que protejam seus direitos, as pessoas trans enfrentam o constante medo de perder seus empregos.
No entanto, apesar dos desafios, há sinais encorajadores de mudança. Organizações de direitos humanos e grupos ativistas estão trabalhando diligentemente para promover a igualdade no local de trabalho e pressionar por legislação mais abrangente de proteção aos direitos das pessoas trans. Além disso, empresas progressistas estão adotando políticas de inclusão e diversidade, reconhecendo o valor de uma força de trabalho diversificada e inclusiva.
É imperativo que esses esforços continuem e se intensifiquem, pois a exclusão e marginalização das pessoas trans no mercado de trabalho não apenas prejudicam esses indivíduos, mas também representam uma perda para a sociedade como um todo. Todos nós temos a responsabilidade de trabalhar juntos para criar um ambiente de trabalho onde cada pessoa possa ser valorizada, respeitada e capacitada a alcançar seu pleno potencial.
A DISCRIMINAÇÃO
NAS ESCOLAS MUITAS
VEZES LEVA À EVASÃO
ESCOLAR
Personagem “Blanca Evangelista” da série Pose FX
AMBEV CRIA PROJETO PARA CAPACITAR
EMPREENDEDORAS TRANS E TRAVESTIS
Além de aulas e materiais, a empresa destinou R$3 mil de capital semente para cada um dos 10 projetos
Texto Redação da Fast Company Brasil Imagem Fast Company Brasil
AAmbev anunciou, neste mês de outubro, uma nova ação de apoio à comunidade LGBTQIA+, por meio de seu programa de voluntariado, o VOA. Em parceria com a organização não-governamental TODXS, a empresa está impulsionando 10 projetos de empreendedorismo de pessoas trans e travestis. A diversidade na escolha das microempresas é interseccional: 50% dos participantes são do Norte e Nordeste e 80% são pessoas não brancas.
Além do acompanhamento e de mentorias remotas, as organizações apoiadas têm acesso a aulas em vídeo, apostilas e outros materiais de suporte. Os mentores da Ambev receberam um letramento da TODXS antes de começar o programa para fomentar a pauta da diversidade entre os líderes da companhia. No início do programa, a Ambev destina um capital semente de R$3 mil para cada um dos participantes. O objetivo é fazer com que eles consigam começar seus negócios para depois poderem caminhar sozinhos.
“Ajudar outras pessoas trans/ travestis a terem a visibilidade que merecem e seus talentos valorizados através de investimento financeiro e educacional é inspirador e gratificante. Precisamos cada vez mais de iniciativas como essas, que unem o setor privado com o terceiro setor, para transformar a realidade de
pessoas que ainda são marginalizadas na sociedade, no corporativo e no empreendedorismo”, afirma Gabriel Romão, gestor do projeto na TODXS.
João Daniel, um dos selecionados, já começou a dar atenção a detalhes que estava deixando passar, mas que fazem toda diferença. “Eles têm me ajudado muito, tirando dúvidas e se colocando à disposição caso eu precise de ajuda em outro momento. Estou cheio de ideias e ciente de que, com tudo o que tenho aprendido, os próximos passos da minha loja terão uma direção e um objetivo certo”, afirma.
Segundo Daniel, o projeto vem para ajudar em um dos maiores desafios dessa comunidade, que é a falta de apoio, reconhecimento e de espaço para que mostrar seu trabalho. “Muitas vezes precisamos escolher entre investir no nosso trabalho ou utilizar o pouco que temos para continuar tendo o mínimo”, diz o empreendedor.
“Não é fácil lutar tanto, correr tanto e ainda sim, muitas vezes, parecer não ser o suficiente para que a gente tenha a mesma visibilidade que pessoas cis – principalmente brancas – têm. Mas, com esse programa, espero obter ferramentas para executar meu trabalho da melhor maneira possível, saber como me comunicar melhor com meu público para oferecer sempre o melhor atendimento.”
Mulher fotografada pela Fast Company Brasil para redação
ERIKA HILTON FALA SOBRE A DA INCLUSÃO DE PESSOAS TRANS E TRAVESTIS NO MERCADO DE TRABALHO
Em entrevista ao portal do Serpro, a parlamentar aborda os desafios enfrentados por essa comunidade
Texto Comunicação do Serpro Imagens Serpro
Erika Hilton, do PSOL de São Paulo, é a primeira deputada federal negra e trans eleita na história do Brasil. Seu primeiro mandato na câmara federal foi conquistado com 256.903 votos no ano passado. Em 2020, foi a vereadora mais votada do país, exercendo, nos dois anos seguintes, a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo. Em conversa com o Portal Serpro, a parlamentar faz uma análise franca e informada sobre os obstáculos enfrentados pelas pessoas trans e travestis no mercado de trabalho e no mundo digital, destacando o papel da educação e da tecnologia como ferramentas de ação política e mudança social. Suas respostas revelam a complexidade das barreiras e apontam caminhos concretos para a transformação dessa realidade.
A deputada também fala sobre inciativas parlamentares, projetos de lei e ações de empresas públicas que trabalham para acelerar o processo histórico de inclusão dessas comunidades, citando o exemplo do Programa Agora 3T do Serpro, edital que promove uma seleção pública para patrocínio de projetos de impacto social para pessoas trans e travestis.
“Quando instituições públicas lideram essas ações, com uma postura ativa contra a discriminação na prestação de serviços ou nas atividades econômicas [...] demonstram para a sociedade brasileira que o Estado se importa em cumprir o seu papel de criar possibilidades de dignidade para todas as pessoas. Criam, portanto, uma agenda de direitos humanos com impacto significativo na promoção da igualdade, inclusão e diversidade”, analisa a entrevistada.
ERIKA HILTON, DO PSOL DE SÃO
PAULO, É A PRIMEIRA DEPUTADA FEDERAL NEGRA E TRANS
Deputada Érika Hilton fotografada em desfile
Deputada Érika
Hilton fotografada em fundo escuro
Quais são os principais desafios enfrentados pelas pessoas trans e travestis no mercado de trabalho atualmente?
Erika: Faltam principalmente igualdade de oportunidades, acesso à profissionalização e educação formal, além de suporte, em muitas empresas, para que essas funcionárias e funcionários exerçam suas atividades e progridam na carreira sem sofrer violência institucional e de gênero. Contudo, ressalto que os desafios são estruturais, há discriminação transfóbica antes mesmo do acesso ao mercado de trabalho. Por isso, 90% das pessoas trans e travestis são impulsionadas compulsoriamente à prostituição, conforme os dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) demonstram.
O mercado de trabalho formal, no geral, rejeita nossos corpos, então, o que resta para sobrevivência são os subempregos, as profissões precarizadas e outros, que apesar de serem dignos, expõem a violências e vulnerabilidades que poderiam ser evitadas a partir de direitos trabalhistas e existenciais dignos. Nós somos submetidas à discriminação e à estigmatização excessiva associada ao preconceito, o que envolve, portanto, o não acesso à direitos humanos fundamentais como educação, saúde, moradia digna e progridam na carreira sem sofrer violência institucional e de gênero.
O MERCADO DE TRABALHO FORMAL, NO GERAL, REJEITA NOSSOS CORPOS
Em sua opinião, quais são os benefícios para empresas e sociedade quando se promove a inclusão de pessoas trans e travestis?
Do ponto de vista do desenvolvimento econômico, a inclusão de pessoas trans e travestis nas empresas traz uma ampla gama de benefícios. Aumenta a capacidade financeira desses grupos vulnerabilizados, pois lhes proporciona acesso a oportunidades de emprego e desenvolvimento de carreira, o que pode melhorar suas condições socioeconômicas. Além disso, a diversidade de talentos e perspectivas trazida por profissionais trans e travestis pode impulsionar a inovação e a criatividade nas empresas, aumentando a competitividade no mercado. Em termos de inclusão social, o que é bom.
Como podemos superar possíveis resistências e preconceitos dentro das próprias empresas ao lidar com questões de diversidade de gênero?
Ninguém nasce odiando o outro. Penso que a educação é uma ferramenta poderosa contra o discurso de ódio e preconceitos. Promover espaços de aprendizagem, campanhas, formações e uma agenda de ações permanentes, dentro e fora das empresas, é uma forma de contribuir na luta contra a discriminação de qualquer pessoa.
São alguns dos caminhos para se construir um ambiente de trabalho seguro e acolhedor: políticas de profissionalização para progressão na carreira; respeito e inclusão do nome social nos cadastros internos, externos e nos objetos de identificação dos funcionários, como crachás; garantir acolhimento e respeito no processo de transição de gênero dos funcionários e, eventual necessidade de afastamento em razões de procedimentos de adequação de gênero; garantir o uso de banheiros e vestiários, de acordo com a autodeclaração de gênero das pessoas; garantir, também, que os servidores adequem-se à uniformização conforme sua expressão de gênero, além de garantir o direito à privacidade desses servidores, impedindo acesso a dados sensíveis de identificação, como o nome morto, por parte de colegas de trabalho e outros, sem autorização.
Já com objetivo de enfrentar qualquer violência sofrida no ambiente de trabalho, deve-se adotar protocolos de respeito à diversidade de gênero e canais para denunciar violências, com mecanismos que impeçam represálias contra as vítimas de tais ações.
Como a senhora enxerga a interseccionalidade entre questões de gênero e raça quando se trata da discriminação enfrentada pelas pessoas trans e travestis no mercado de trabalho?
A interseccionalidade refere-se à forma como diferentes sistemas de opressão, como o racismo, a intolerância religiosa, o etarismo, o capacitismo e a transfobia, se entrelaçam, afetando de maneira única e complexa a vida e as experiências das pessoas trans e travestis que também pertencem a diferentes grupos raciais, étnicos, sexuais e/ou de gênero.
As mulheres trans e travestis, em geral, já enfrentam barreiras significativas para o acesso ao emprego e para a ascensão em suas carreiras, devido à transfobia e ao estigma associado à sua identidade de gênero, além da baixa escolarização e profissionalização. Entretanto, quando a questão racial é adicionada à equação, os obstáculos se multiplicam, criando um cenário ainda mais desafiador.
No contexto do mercado de trabalho, as pessoas trans e travestis negras enfrentam desafios adicionais, resultado de múltiplas formas de exclusão, marginalização e invisibilidade nas políticas públicas e privadas de acesso ao trabalho digno. Para esse grupo, as únicas alternativas oferecidas têm sido a subalternidade e a precariedade, expostas nos índices socioeconômicos, como salários mais baixos, dificuldades de acesso à educação e treinamento, e menor representatividade em posições de liderança e poder nas empresas. A interseccionalidade refere-se à forma como diferentes sistemas de opressão, como o racismo, a intolerância religiosa, o etarismo, o capacitismo e a transfobia, se entrelaçam. Isso é resultado das desvantagens estruturais que pessoas trans e travestis de diferentes origens étnicas sofrem. Existe uma limitação das possibilidades de crescimento profissional e econômico para todos nós brasileiros LGBTQIA+.
AS PESSOAS TRANS E TRAVESTIS NEGRAS ENFRENTAM
DESAFIOS ADICIONAIS
E sobre o papel das empresas públicas? Qual é a importância desse segmento liderar esforços para combater a discriminação de pessoas trans e travestis?
Empresas públicas têm um papel fundamental na sociedade, pois sua influência abrange não apenas seus empregados, mas também seus clientes e a comunidade em geral, orientando para práticas de responsabilidade social antidiscriminatórias, com efeitos econômicos e sociais, podendo gerar efeitos multiplicadores positivos para o enfrentamento da transfobia institucional que impede pessoas trans de acessar o mercado de trabalho e participar do funcionalismo público.
Quando instituições públicas lideram essas ações, com uma postura ativa contra a discriminação na prestação de serviços ou nas atividades econômicas, seja por meio de ações afirmativas ou
de programas com finalidade o interesse social de minorias vulnerabilizadas, demonstram para a sociedade brasileira que o Estado se importa em cumprir o seu papel de criar possibilidades de dignidade para todas as pessoas. Criam, portanto, uma agenda de direitos humanos com impacto significativo na promoção da igualdade, inclusão e diversidade. O trabalho e o acesso à renda representam condições fundamentais à dignidade de um indivíduo. Quando as instituições públicas enxergam a urgência e necessidade de incluir populações que sofrem com a invisibilidade e obstáculos sistemáticos de acesso ao mercado de trabalho formal, é uma sinalização de que o Estado tem responsabilidade em reparar suas omissões em promover o trabalho digno para todos. Nesse sentido, as empresas públicas podem modelar novo apelo competitivo, liderando mudanças culturais para promoção de oportunidades iguais de emprego.
Quais políticas e iniciativas podem ser implementadas pelas empresas públicas para garantir um ambiente de trabalho seguro e acolhedor para pessoas trans e travestis?
As empresas públicas devem cumprir com a responsabilidade social fundamental em relação à sociedade que servem, já
que são financiadas com recursos públicos. Devem refletir a diversidade e a pluralidade da população que atendem. Por isso, promover e garantir práticas institucionalizadas de inclusão e a diversidade em quadros de empregados das empresas públicas é absolutamente essencial e de alta relevância para desenvolvimento das práticas econômicas.
Destaco que essa inclusão deve ser em todos os níveis de carreira e de tomadas de decisão. Não deve se limitar apenas ao quadro de empregados mais baixos, mas também deve abranger os altos cargos de liderança. Além disso, ao priorizar a inclusão, as empresas públicas podem criar ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos, pois equipes diversas tendem a ser mais criativas, inovadoras e resilientes, principalmente se fugirem das práticas de tolkenização de uma pessoa de grupos minorizados.
Deputada Érika Hilton no dia em que foi eleita
POR QUE A BEN & JERRY’S
ACREDITA QUE
TODA MARCA DEVERIA SER ATIVISTA
Sorveteria se associa a causas sociais e climáticas e garante que é melhor gerar controvérsia do que apatia
Texto Barbara Bigarelli
Imagem Serious Eats
Irritar alguns de seus consumidores é uma das decisões mais inteligentes que você pode tomar. É melhor gerar controvérsia do que apatia. Quem garante é Chris Miller, gerente de missão social e ativismo da sorveteria Ben & Jerry’s. O executivo lança mão do argumento para defender por que as empresas precisam se engajar nas questões da sociedade contemporânea. “Com o surgimento dos millennials e a ascensão dos canais digitais e das mídias sociais, tomar uma posição tornou-se algo ainda mais importante. É o que trará lealdade à sua marca”, defende Miller. “Falar só sobre sorvete acaba sendo chato. Perdemos consumidores rápido. Precisamos ser relevante para eles”. O executivo esteve em São Paulo nos dia 18 e 19 de setembro para palestra no “Sustainable Brands”.
Nas últimas quatro décadas, a sorveteria americana tomou partido em diversas causas ao redor do mundo. Defendeu os direitos LGBT, o casamento gay e o movimento negro Black Lives Matter, além de lutar contra a possível destruição de uma barreira de recife na Austrália e se envolver nas discussões sobre a rotulagem de alimentos geneticamente modificados. “No tempo em que as corporações se tornaram instituições mais poderosas que o governo e a sociedade, o mundo perdeu a fé e a confiança de seus cidadãos. Há aí uma oportunidade muito poderosa para as empresas e suas marcas atuarem como catalisador da mudança”, diz Miller. Segundo o executivo, as pessoas estão em busca de propósitos e causas. “Elas querem fazer parte da solução de alguns dos problemas mais urgentes que estamos enfrentando no mundo, mas não sabem como”. É aí que a Ben & Jerry’s atua.
A importância de uma causa para a marca, diz Miller, é maior do que a controvérsia que ela pode gerar com seus consumidores. “Nós não desenhamos campanhas pensando no que nossos consumidores irão gostar. Pensamos naquilo que queremos ajudar a mudar, no que está ligado a nossos valores. É claro que vão existir pessoas que irão discordar da nossa posição em algumas causas ou não gostar de nossa campanha”, afirma, citando o caso do apoio ao movimento Black Lives Matter. “Quando você toma uma posição em um assunto controverso, obrigatoriamente vai ter quem discorde. E isso é ok, aliás, é necessário”. Para Miller, é neste momento que a marca conquista, de fato, seus clientes. “Preferimos ser muito amados por poucos do que inofensivos para todos, prezando pela presença política”. Os fãs que ficam, diz o executivo, ajudam a impulsionar o engajamento da marca nas redes sociais e mídias digitais, trazendo resultados fora das telas. Um exemplo é a campanha “Save Our Swirled”, em 2015, que aproveitou o lançamento de um sabor novo para chamar a atenção sobre o uso de energias limpas. A Ben & Jerry’s pediu para os consumidores assinarem uma petição que seria entregue aos líderes reunidos na conferência global do clima da ONU, a COP 21, exigindo providências a serem tomadas para que o mundo usasse 100% de energia limpa até 2050. “Conseguimos 350 mil assinaturas ao redor do globo e entregamos a petição no primeiro dia da conferência”, afirma Miller. Segundo o executivo, as campanhas “custam centenas de milhões de dólares”, mas geram fãs e resultados financeiros. “Elas aumentam muito as vendas e também trazem um retorno interno de gerar engajamento e reter os talentos dentro da empresa, interna e externa”.
Foto antiga dos criadores da sorveteria “Ben & Jerry’s”
HOMEM TRANS
CRIA EMPRESA DE MANUTENÇÃO E CONTRATA PROFISSIONAIS LGBTQIA+
Quarto episódio da série Negócios Plurais conta a história do empreendedor André Vitor
Texto Folha de São Paulo Imagem Folha de São Paulo
Oempreendedor André Vitor, 32, teve a ideia de começar a prestar serviços de reparos residenciais quando viu um pedido, em um grupo no Facebook, de uma pessoa que precisava de ajuda com a restauração de uma mesa. Foi seu primeiro trabalho, pelo qual cobrou um valor simbólico.
Homem trans, hoje ele é dono da Rainbow, empresa de manutenção de São Paulo, que tem em sua equipe profissionais LGBTQIA+.
A história de André é tema do quarto episódio da série Negócios Plurais, sobre empreendedorismo e diversidade, realizada pela Folha em parceria com o Instagram. Toda semana, o jornal publica em seu perfil na rede social relatos em vídeo de empreendedores de todas as regiões de país.
André aprendeu na prática a fazer reparos quando foi morar sozinho, aos 23 anos, munido de uma caixa de ferramentas simples e instruído apenas por tutoriais no YouTube. “Por conta da minha socialização feminina, ninguém me ensinou nem a trocar um chuveiro”, conta.
Aos 13 anos, ele já não se sentia parte dos padrões da heteronormatividade - comportamentos esperados de cada gênero dentro da lógica heterossexual.
A aceitação demorou mais tempo. “Minha família é muito religiosa e eu tinha uma ligação forte com a igreja”, diz. Ele se descobriu transexual em 2007, quando ingressou na faculdade - cursou letras na USP (Universidade de São Paulo).
Depois do primeiro reparo, em 2015, André criou uma empresa de manutenção, a Maridas de Aluguel. O negócio durou apenas dois meses por dois motivos: primeiro, porque ele não deu conta de realizar tantos serviços e, segundo, porque já estava começando a fazer a transição para o gênero masculino.
Em 2019, ele tentou abrir um novo empreendimento, com uma equipe de cerca de 20 pessoas. “Eu tinha experiência em executar o serviço, mas não de gerenciar o negócio. Então encerrei.
Neste ano, ele decidiu empreender mais uma vez com a Rainbow Manutenção, em referência ao arcoíris da bandeira LGBTQIA+, e finalmente alcançou o sucessonprofissional e pessoal.
André Vitor, empreendedor trans entrvisado pela redação
BRASIL É O PAÍS COM
MAIOR POPULAÇÃO
QUE SE DECLARA LGBTQIA+
A pesquisa metade da população brasileira aprova a união entre pessoas do mesmo sexo
Texto New Mag Imagem Terra
OBrasil é o país com a maior população autodeclarada LGBTQIA+. O dado integra a pesquisa Global Advisor – LGBT+ Pride 2023, realizada pelo instituto Ipsos em 30 países.
Outro dado revela que metade da população brasileira aprova a união entre pessoas do mesmo sexo. Mais exatamente, 51% dos brasileiros são favoráveis à questão, segundo dados revelados pelo instituto, nesta quarta-feira (28/6), quando é mundialmente celebrado o Dia do Orgulho LGBT. Além desses números impressionantes, é crucial destacar o significativo progresso legislativo e social que tem ocorrido no Brasil em relação aos direitos LGBTQIA+. Nos últimos anos, diversas conquistas foram alcançadas, desde a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo até a implementação de políticas públicas que visam combater a discriminação e promover a igualdade de direitos. Essas mudanças não apenas refletem a evolução da mentalidade coletiva, mas também fortalecem os alicerces de uma sociedade mais inclusiva e justa para todos os seus cidadãos, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero. No entanto, apesar do progresso, desafios
persistentes ainda demandam atenção e ação contínua. A violência e a discriminação contra pessoas LGBTQIA+ ainda são uma realidade em muitas partes do país, exigindo um esforço coletivo para promover a educação, a conscientização e a implementação efetiva de políticas de proteção e combate à intolerância. O reconhecimento e a celebração do orgulho LGBTQIA+ são passos importantes nesse caminho, mas também servem como lembretes de que a luta pela igualdade e pelos direitos humanos é um compromisso constante que requer a participação ativa de todos os setores.
Além disso, é preciso fortalecer os espaços de diálogo e de representatividade para a comunidade LGBTQIA+, garantindo sua participação ativa nas decisões que afetam suas vidas e assegurando que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas em todas as esferas da sociedade. Somente por meio de um compromisso conjunto com a igualdade e a justiça social poderemos construir um Brasil verdadeiramente inclusivo, onde todos tenham o direito de viver autenticamente, sem medo de discriminação.
Drag queen e performer Íkaro
Kadoshi fotografada pelo portal Terra
CENÁRIO LGBTQIA+ NO BRASIL
Este infográfico apresenta uma visão abrangente das estatísticas de pessoas LGBT no Brasil, destacando as proporções e distribuições dessa comunidade em diferentes contextos sociais
Apesar da opressão cotidiana contra a comunidade, cerca de 12% dos brasileiros se declaram como não heteronormativos
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS
FLUXO • 69
OS AVANÇOS DA CAUSA LGBTQIA+ NO BRASIL –
E O QUE AINDA FALTA
Ativistas ouvidos pela DW traçam um panorama da evolução dos direitos civis para homossexuais, bissexuais e trans no país
Texto Deutsche Welle Imagem Deutsche Welle
Ativistas ouvidos pela DW traçam um panorama da evolução dos direitos civis para homossexuais, bissexuais e trans no país e ajudam a compreender as maiores urgências atuais para o segmento.Não faz muito tempo, ser gay no Brasil era praticamente assinar um atestado de marginalidade. A população não-heteronormativa não tinha direitos civis mínimos garantidos e precisava enfrentar não só o preconceito e a discriminação — que ainda persistem — como também tinham mais dificuldades do que o normal para conseguir uma vida digna.
Dos anos 1970 para cá muito mudou. Principalmente por conta da militância, do ativismo. Entre os marcos dessa primeira era de luta em prol de tais minorias está a fundação do jornal Lampião da Esquina — periódico que circulou entre 1978 e 1981 — e a fundação do Somos: Grupo de Afirmação Homossexual, também de 1978. Também gestada no mesmo período, a associação Grupo Gay da Bahia (GGB), oficializada em 1980, é a mais antiga organização em defesa dos homossexuais ainda em atividade.
“Na época, chamávamos isso de movimento homossexual brasileiro”, lembra o antropólogo Luiz Mott, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia, fundador do GGB e decano do movimento LGBTQIA+ brasileiro.Era um momento de sensibilizar a sociedade e, ao mesmo tempo, dar visibilidade a todos os
Luiz Mott, fundador do GGB e decano do movimento LGBT brasileiro
não-heteronormativos. Buscar direitos, em tempos ainda assombrados pela ditadura militar e toda a rigidez moralista. “Ser gay é legal”, apregoava o GGB; na prática, a orientação ainda carecia de legalidade.
Para Mott, a primeira conquista histórica do movimento foi o entendimento, por parte do Conselho Federal de Medicina, de que o termo homossexualismo precisava ser substituído por homossexualidade. “Conseguimos que fosse retirado da lista de transtornos sexuais e passasse, a partir de 1985, a ser uma orientação sexual tão saudável e normal como as demais”, frisa ele. Sim, em 1985, cinco anos antes da Organização Mundial da Saúde institucionalizar o mesmo em âmbito global.
Apoios importantes
O Grupo Somos conseguiu arregimentar diversas personalidades. Seus membros eram nomes respeitáveis como o escritor João Silvério Trevisan, o antropólogo Peter Fry, o artista plástico Darcy Penteado (1926-1987), o cineasta Jean-Claude Bernardet, entre outros. “Esses intelectuais, além do advogado João Antônio Mascarenhas [(1927-1998)], deram visibilidade pela primeira vez a uma população escondida, esquecida, marginalizada”, comenta Mott.
Luiz Mott em estúdio de gravação para podcast
O TERMO HOMOSSEXUALISMO
PRECISAVA SER
SUBSTITUÍDO POR
HOMOSSEXUALIDADE
Mascarenhas fundou e presidiu o grupo militante Triângulo Rosa, que funcionou do fim dos anos 1970 até 1988. “Ele foi o primeiro gay a falar no Congresso Nacional, em 1988”, cita o pedagogo Toni Reis, diretor-presidente da Aliança Nacional LGBTI+ e presidente da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, que ainda reconhece a importância, entre os pioneiros da luta LGBT no Brasil, do próprio Mott, da filósofa Rosely Roth (1959-1990) e da ativista Jovanna Baby.
“E também da Rogéria [(1943-2017)], que não era militante, mas foi uma artista que deu visibilidade à nossa causa, como atriz que estava em todas as novelas. Realmente contribuiu”, afirma Reis.
Os ativistas também reconhecem o papel de políticos, de jornalistas e de artistas simpatizantes. Mott recorda que o GGB realizou, nos anos 1980, um abaixoassinado “pela despatologização da
homossexualidade”. Foram 16 mil assinaturas, entre as quais de ilustres como os músicos Gilberto Gil e Caetano Veloso e políticos como Fernando Henrique Cardoso e Ulysses Guimarães (19161992), presidentes do Brasil.
Ele também recorda que mesmo naquele tempo pioneiro, muitos jornalistas e apresentadores de TV costumavam convidar militantes LGBTQIA+ para entrevistas, dando visibilidade à causa. “E como apoiadores mais importantes do movimento, lembro da psicóloga e depois deputada Marta Suplicy. Ela foi a nossa Princesa Isabel, encabeçando a luta pelo reconhecimento das uniões estáveis [entre pessoas do mesmo sexo]”, pontua Mott. “Seu apoio e do [então] marido, Eduardo Suplicy, além de políticos como Ulysses Guimarães e FHC foram fundamentais.”
O antropólogo enfatiza que Fernando Henrique foi “o primeiro presidente da República a escrever num documento, no plano nacional dos Direitos Humanos, sobre os direitos dos homossexuais, e depois falou a palavra homossexual ao defender o casamento homossexual”.
Presidente do Instituto Brasileiro Trans de Educação, a geógrafa Sayonara Nogueira recorda ainda o papel precursor da política Kátia Tapety, a primeira transexual a se eleger para um cargo político no Brasil. Ela foi vereadora por três mandatos consecutivos, eleita a partir de 1992, em Colônia do Piauí.
Em 2004 foi eleita vice-prefeita da cidade piauiense.
Avanços históricos
Em 1997, os homossexuais brasileiros pela primeira vez puderam, com orgulho, sair do armário. Ocorreu em São Paulo a primeira Parada Gay do país, reunindo de 500 a 2 mil participantes — a depender de quem fez as estimativas. Foi organizada por sete grupos de ativistas gays e dois núcleos de partidos políticos, um do PT, outro do PSTU
Um dos organizadores foi um dos pioneiros do ativismo LGBTQIA+ no Brasil, Beto de Jesus, hoje diretor para o Brasil da Aids Healthcare Association. “Pensando nossa história acho que temos um grande desafio à frente: precisamos voltar a ser um movimento comunitário, orgânico, solidário, com empatia, além de precisarmos urgentemente voltar as ruas para lutar pelos nossos direitos”.
Presidente do Instituto Brasileiro Trans de Educação, geógrafa Sayonara Nogueira
Deputada Kátia Tapety fotografada no senado
O BRASIL SEGUE
SENDO UM LUGAR PERIGOSO PARA A COMUNIDADE LGBTQIA+.
“O Brasil segue sendo um lugar perigoso para a comunidade LGBTQIA+. Por mais que as páginas LGBTQIA+ as redes sociais, sejam importantes elas não dão conta de envolver todas as pessoas e seguimos dentro da bolha”, acrescenta.
A partir das pautas das paradas anuais — que hoje são mais de 250 em todo o país — e da pressão dos ativistas, os direitos civis dos LGBTQIA+ avançaram. Em 2011, os homossexuais tiveram o reconhecimento do direito à união estável. Dois anos mais tarde, a Comissão de Constituição e Justiça aprovou jurisprudência determinando que cartórios também realizassem casamento civil para casais homoafetivos.
Desde 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) permite que casais do mesmo sexo formalizem processos de adoção de crianças. Tabu histórico, a doação de sangue por pessoas LGBTQIA+ passou a ser permitida no Brasil a partir de uma decisão de 2020 do STF
Nogueira lembra ainda a portaria do Sistema Único de Saúde (SUS) que, a partir de 2009, passou a inserir “o uso do nome social de pessoas trans no sistema”. E como isso acabou se espalhando por outras esferas da educação e da administração pública. “Até chegarmos à possibilidade da mudança do registro civil por via administrativa em 2018”, salienta Nogueira.
“E por fim, a criminalização da LGBTfobia em 2019 em que
as práticas homofóbicas e transfóbicas passam a ser enquadradas como crime de racismo até que o Congresso Nacional aprove uma lei específica sobre o preconceito contra esses grupos”, pontua a geógrafa. “E se pensarmos nestes avanços, temos que refletir que é tudo muito recente e com uma ausência do Legislativo em legislar sobre nossa comunidade que ainda enfrente sérios problemas e dificuldades devido ao preconceito e a discriminação.”
Voluntário da Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo de 2004 a 2008, o médico de família e professor universitário Murilo Moura Sarno cita ainda como avanço a normativa do SUS de bancar o acesso ao tratamento de profilaxia de pré-exposição para HIV, em 2017, “além da confirmação [no ano seguinte] de que pessoas indetectáveis são intransmissíveis para HIV.
Problemas atuais
Apesar dos avanços, problemas persistem. Para Mott, o principal é a letalidade — o quanto os crimes de ódio contra LGBTS ainda matam no país. O GGB anualmente divulga dados sobre a questão. No último levantamento, de 2022, foram 356 homossexuais e transexuais mortos, segundo a associação. Segundo o grupo, já foram contabilizados 7231 “homocídios”, no país, como Mott costuma chamar esse tipo de homicídio.
No governo FHC, a média anual era de 127 assassinatos. Na primeira era Lula, 163. Sob Dilma Rousseff, foram 296 por ano. Com Michel Temer no poder, 425 a cada 365 dias. Na gestão de Jair Bolsonaro, o número caiu um pouco — 303 mortes por ano. Mas houve uma pandemia no meio do caminho, o que pode ter significado também um período de maior reclusão e menos exposição.
“A morte de indivíduos é a pior forma de manifestação da homofobia”, argumenta o antropólogo. O preconceito ainda é grande e, para Toni Reis, a aceitação passa pelas religiões, tradicionalmente avessas a tudo o que não for heteronormativo. “Temos de abrir um diálogo desarmado, com muita empatia e solidariedade. Conversar com as religiões sem ataques. Falar que nós queremos ser felizes, construir nossas famílias, viver de nossa forma. E eles que vivam a forma deles”.
Nogueira acredita que o fim da discriminação precisa começar pela educação. “É preciso que as universidades tragam a temática da diversidade sexual para as grades curriculares e que o sistema de ensino invista na educação continuada de docentes. É na educação básica que temos de combater o preconceito e a discriminação em relação à nossa comunidade”, defende ela.
“Um outro desafio importante é retomar nosso protagonismo em relação ao HIV/Aids. Todo avanço que tivemos nesses 40 anos de pandemia deveu-se fortemente a articulação do movimento de homens gays e pessoas trans, que forçou a agenda política para elaboração de políticas públicas e garantia de direitos para as pessoas que vivem com HIV/Aids”, acrescenta Beto de Jesus. “Homens gays e pessoas trans seguem com alta prevalência ao HIV/Aids”. Assim concluindo seu pensamento no assunto discutido.
2 PASSOS PARA PROMOVER UMA CULTURA DE AUTOCUIDADO NAS
EMPRESAS
Ilustração CARLOS MOREIRA
Quando minha orientadora me questionou se o estresse é maior hoje do que no passado, ela estava desafiando a maneira como eu apresentava meus estudos sobre a fisiologia do estresse. Refletindo sobre isso, entendi que embora sempre tenhamos enfrentado estressores como predadores, conflitos e doenças, a frequência com que nos deparamos com situações estressantes na vida moderna é consideravelmente maior. Isso resulta em um desgaste maior para nosso organismo, aumentando a prevalência de doenças relacionadas ao estresse.
Durante minha graduação, eu não estava totalmente certa dessa perspectiva, mas com o passar do tempo e aprofundamento na área, essa visão se solidificou. Atualmente, as pessoas vivem rotinas altamente estressantes, que exacerbam os desafios impostos pelo mundo acelerado e hiperconectado em que vivemos.
DICA: PESSOAS CANSADAS NÃO TÊM AUTOCONTROLE.
O sono é uma parte fundamental do que chamamos de Motivação Básica, relacionada a necessidades essenciais para nossa sobrevivência. Quando o equilíbrio dessas necessidades é perturbado, o cérebro entra em estado de alerta, considerando essa situação como uma ameaça. Isso resulta em um redirecionamento de recursos cerebrais, e pessoas que dormem pouco ou mal têm dificuldades em resistir a impulsos e manter hábitos saudáveis.
Uma das consequências observadas é que pessoas exaustas tendem a consumir mais alimentos ricos em açúcar e gordura, passam mais tempo em frente às telas, e têm maior propensão a hábitos prejudiciais como o consumo excessivo de álcool e tabaco. Para combater esse ciclo, é crucial investir em programas que promovam uma rotina saudável de descanso, falar sobre higiene do sono, e incentivar atividades relaxantes durante os períodos de descanso.
Texto ANA CAROLINA SOUZA
LUTAR ANDA IMPOSSÍVEL? NOTAS INCONJUNTURAIS PARA O FUTURO
Embora a leitura destas notas possa parecer pessimista, elas devem ser vistas como uma fotografia do encadeamento triste dos acontecimentos que nos trouxeram até aqui. Entre as paixões da assimilação e a recusa das condições de movimento, enfrentamos desafios que nos levam a morrer de várias formas: tédio, raiva, incompreensão. Assim, é essencial reconhecer a necessidade de recriar formas, alianças e corpos para superar esses obstáculos.
Precisamos urgentemente revirar os escombros e limpar o terreno para construir algo novo. Esse é um movimento necessário e contrário à pressa pela vitória. Apesar da eleição de Lula representar uma mudança, ela não significa uma vitória completa contra as forças que nos derrotaram. Lula venceu Bolsonaro nas urnas, mas a extrema direita e suas forças de morte permanecem vivas e em crescimento.
O
ESTRIDENTE ATORDOAMENTO
Já sabemos que nossas vidas estão em risco. Os recursos para projetos e ações de promoção da cidadania LGBTI+ estão sendo cortados, e o ódio social, acirrado pela extrema polarização, nos atinge diretamente. Esses temores e tragédias têm sido anunciados e lamentados em redes sociais, debates e outras plataformas. Mesmo que por vezes pareça que as coisas vão bem, a realidade nos mostra que ainda estamos à beira da morte e da vulnerabilidade.
O ENCANTAMENTO DA BONANÇA: ESTADO E EMPODERAMENTO
Os últimos anos trouxeram avanços simbólicos importantes para os direitos LGBTI+, como o reconhecimento institucional e a presença em espaços governamentais. No entanto, essas conquistas muitas vezes mascaram a falta de medidas substanciais que poderiam efetivamente combater as estruturas de poder que perpetuam nossa exclusão. Este período de bonança é, portanto, um desencanto que exige um olhar crítico sobre como podemos realmente empoderar.
Texto HELENA VIEIRA
Imagem MARIA LOPES
NÃO SOMOS TODOS IGUAIS
Ilustração
Por muito tempo, eu, que me considero uma pessoa cabeça aberta e livre de preconceitos, achei que a melhor forma de defender os direitos humanos era lembrar que somos todos iguais. Por isso, quando comecei a trabalhar com comunicação não violenta [um processo que guia a resolução de conflitos no mundo todo e foi criado pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que morreu em 2015], espalhei aos quatro ventos a importância de uma sociedade mais empática. Fiz isso porque meus próprios relacionamentos haviam melhorado com a prática. Até que saquei um porém. Ele reside, por exemplo, no encontro entre um homem branco hétero de classe alta e uma mulher negra gay e pobre que clama agressivamente pelos seus direitos. Nessa situação, é possível que o homem diga: “Ela não vai conseguir o que quer falando desse jeito! Precisa aprender sobre empatia”. O julgamento, ainda que bem intencionado, ignora a diferença histórica e social dos dois, que têm pontos de partida bem diferentes. Pensando nisso, percebi que falar em empatia esquecendo dos privilégios pode ser perigosíssimo. Na minha vida, demorei para entender que eu sou uma pessoa privilegiada. Afinal, minha família tem a típica história brasileira: meu pai saiu da fazenda onde morava em Minas Gerais com 13 anos e só foi calçar o primeiro par de sapato quando se tornou metalúrgico em São Paulo. Minha mãe trabalhou desde os 14 anos, muitas vezes em dois empregos, para conseguir conquistar o que tem hoje. Nossa história foi de muito esforço e, porque estou completamente enredada nela, é fácil para mim imaginar que não tivemos privilégio algum. Mas basta um exercício rápido de consciência para perceber que seria muito mais difícil para minha mãe conseguir aquele primeiro emprego caso ela fosse negra.
Existe um exercício chamado “caminhada dos privilégios” que ajuda a entender os privilégios que temos ou não, e como estamos posicionados em relação a pessoas de diferentes grupos da sociedade. Um grupo de pessoas fica de mãos dadas e a partir de uma lista de frases anda para frente ou para trás. Coisas como “Se você não passa nenhuma parte do mês no cheque especial, dê um passo para frente”.
Texto CAROLINA NALON
JULIO MARQUES
GRUPO DE AFINIDADE: A IMPORTÂNCIA DE UM LGBTQ+ SER AMPARADO NA EMPRESA
Ilustração LARISSA CASTRO
Você pode ser aprovado em um processo seletivo e se desenvolver profissionalmente, mas logo percebe que foi aceito “apesar” de ser uma pessoa LGBTI+. Ao tentar discutir benefícios como plano de saúde para casais do mesmo sexo, nome social e licença parental, percebe-se sozinho, pois a empresa não reconhece suas demandas específicas.
Algumas empresas ainda veem essas demandas como problemas, enquanto outras as enxergam como oportunidades para inovação e transformação de políticas e práticas. Esta dualidade mostra o contraste entre organizações que resistem às mudanças e aquelas que buscam aproveitá-las para evoluir. Nesse cenário, falar sobre essas questões ainda é um grande desafio em muitos locais de trabalho.
Os grupos de afinidade, surgidos nos anos 1990, foram criados como espaços onde pessoas com características fora do padrão vigente podem trocar experiências e propor mudanças. Inicialmente dominados por homens gays, esses grupos têm evoluído para incluir uma variedade mais ampla de membros da comunidade LGBTI+. Essa evolução reflete uma mudança no entendimento e na valorização da diversidade dentro das organizações.
Nos Estados Unidos, esses grupos evoluíram para se concentrar mais nos recursos de negócios e na inserção do respeito aos direitos LGBTI+ em todos os aspectos operacionais da empresa. Esse modelo é conhecido como BRG (Business Resource Groups), que olha para o negócio como um todo, incluindo as relações com todos os públicos e as oportunidades para promover a diversidade.
No Brasil, a adaptação e a implementação desses grupos ainda são desafios. Falta mobilização para transformar integralmente os ambientes de trabalho e torná-los verdadeiramente inclusivos. A interação entre diferentes grupos de afinidade, como os de mulheres, pessoas negras e pessoas com deficiência, ainda é limitada, mas essencial para promover a interseccionalidade.
Texto REINALDO BULGARELLI
O QUE OUVIR?
Explore uma seleção de podcasts que se relacionam com o conteúdo da revista, focados nas experiências e desafios da comunidade LGBTQIA+
E AÍ, GAY?
de Felipe Dantas, Thiago Theodoro e Paulo Corrêa
O podcast “E aí, Gay?” é uma conversa animada e envolvente sobre diversos tópicos relacionados à vida, cultura pop, e questões LGBT+ de uma forma descontraída e informativa. Eles também abordam temáticas mais profundas e pessoais, sempre com um toque de humor e perspicácia. Além disso, o programa conta com episódios especiais como “E aí Gay +18”, onde são lidos e comentados contos eróticos enviados pelos ouvintes, promovendo um espaço de expressão livre sobre sexualidade.
DISPONÍVEL EM Anchor.fm e Apple Podcasts.
ME CONTE UMA FOFOCA
de Thiago Theodoro e Duda Dello Russo
O podcast traz um prato cheio de novidades e curiosidades do mundo das celebridades e da internet. O foco está nas fofocas e acontecimentos que envolvem figuras públicas e eventos da atualidade. Os episódios são lançados três vezes por semana: às segundas, quartas para apoiadores, e sextas, proporcionando uma rotina consistente de entretenimento para os ouvintes. Os apresentadores incentivam a interação com o público, convidando os ouvintes a enviar suas próprias fofocas e participar ativamente do conteúdo do podcast.
DISPONÍVEL EM Spotify, Deezer, e Amazon Music.
PARA TUDO
de Lorelay Fox
O podcast é uma criação da drag queen Lorelay Fox, que traz um mix vibrante de conversas sobre atualidades, cultura pop, e uma variedade de outros temas, tudo entregue com a sua característica voz aveludada. Lorelay não se esquiva de tópicos polêmicos e muitas vezes infunde o show com seu humor peculiar e “conselhos ruins”. Os episódios, que incluem desde reflexões sobre influenciadores na mídia até discussões sobre ETs e dicas de maquiagem, são transmitidos regularmente às segundas, quartas (exclusivos para apoiadores), e sextas-feiras.
DISPOÍVEL EM Spotify, Apple Podcasts, Deezer e Amazon Music.
SANTÍSSIMA TRINDADE DAS PERUCAS
de Bianca DellaFancy, Duda Dello Russo e LaMona Divine
Este trio traz uma abordagem humorística e incisiva às questões da cultura pop e experiências LGBT+, além de discutir notícias relevantes. O show se destaca pelo seu tom leve e divertido, combinando entretenimento e comentário social.
Este podcast é conhecido por seu envolvimento profundo com a audiência, onde os ouvintes são convidados a participar enviando suas próprias histórias ou temas para discussão, tornando cada episódio uma nova aventura coletiva. Os episódios são transmitidos semanalmente, mantendo os ouvintes sempre ansiosos pelo próximo conteúdo.
DISPONÍVEL EM Spotify e Podbean.
QUEM ACOMPANHAR?
Conheça as vozes mais vibrantes e influentes da comunidade LGBT, acompanhe as trajetórias, conquistas e os conteúdos inovadores de quem está moldando a cultura no mundo digital
CHICO FELITTI
@chicofelitti
Felitti ganhou destaque no jornalismo brasileiro através de seu trabalho na Folha de S. Paulo e é conhecido por seus podcasts envolventes e suas reportagens profundas que frequentemente exploram temas sociais e culturais complexos. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão o podcast “A Mulher da Casa Abandonada”, que se tornou um fenômeno de mídia, e seus livros como “Ricardo e Vânia” e “A Casa”, que foi finalista do Prêmio Jabuti. Ele também criou conteúdos narrativos inovadores, como o podcast “Além do Meme”, explorando histórias por trás de memes virais.
LUCA SCARPELLI
@transdiario
Luca Scarpelli é o criador do canal “Transdiário” no YouTube, onde compartilha sua jornada e experiências como homem trans. Ele começou a documentar sua transição em 2017, e desde então, tem se destacado por sua abordagem aberta e educativa sobre questões de gênero e transexualidade. Luca explora temas como disforia de gênero, representatividade e aceitação pessoal, oferecendo um espaço de reflexão e apoio para muitas pessoas na comunidade trans
RITA VON HUNTY
@rita_von_hunty
Rita é uma drag queen brasileira que ganhou destaque ao participar do reality show “Drag Me As A Queen” em 2017 e da série de TV “Do Seu Lado” em 2020. Rita é conhecida por seu canal no YouTube, Tempero Drag, que começou em abril de 2015 e já acumula mais de 1,2 milhão de inscritos. Seu conteúdo varia entre discussões sobre veganismo, política, sociologia, marxismo e literatura.
WANESSA WOLF
@wanessawolf
Wanessa Wolf, é uma conhecida personalidade da internet e streamer brasileira. Ela ganhou notoriedade através de suas transmissões ao vivo no Facebook, começando em 2018, onde cria conteúdo de jogos e comédia. Wanessa também é ativa em questões sociais, destacando-se em eventos como o Pride Gaming e arrecadando fundos para organizações pró-trans. Além disso, ela participou de várias produções televisivas e continua a expandir sua influência nas redes sociais.
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CHICO BROWNIE
@chicobrownie
André Cecílio iniciou seu negócio em 2015 vendendo brownies veganos e artesanais diretamente aos clientes. Motivado pela falta de oportunidades no setor gastronômico, ele buscava autonomia e crescimento pessoal através de seus produtos. Apesar dos desafios econômicos de gerenciar sozinho um negócio com recursos limitados, André mantém os preços acessíveis e consegue sustentar sua empresa, embora reconheça que o maior desafio ainda é alcançar uma progressão financeira significativa.
PANTYNOVA
@novapanty
A Pantynova é uma inovadora marca brasileira de bem-estar sexual, lançada em 2018, com um portfólio que inclui vibradores próprios, lubrificantes veganos e outros produtos intimistas, todos projetados para enriquecer a experiência sexual de forma natural e divertida. Com uma equipe integralmente LGBTQIA+, a empresa promove uma abordagem aberta sobre sexualidade, quebrando tabus e incentivando diálogos saudáveis.
PEDROCA ACESSÓRIOS CRIATIVOS
@ohpedroca
Pedroca Acessórios é uma marca vibrante e inclusiva fundada por Pedro Tameirão, que também é seu único funcionário. Com um forte compromisso em enriquecer o mundo da moda com acessórios únicos, Pedroca nasce de um misto de empenho e pesquisa, visando não apenas vender produtos, mas criar um espaço para compartilhar tendências e inspirações. Na Pedroca, a moda transcende gênero e idade, celebrando a criatividade.
ANOTHER PLACE
@anotherplace
Another Place desafia o convencional e celebra a autenticidade, oferecendo roupas que expressam a individualidade sem distinção de gênero. A marca representa a curva em um mundo de linhas retas, rejeitando rótulos e estereótipos antigos, e promovendo a liberdade de expressão através da moda. Another Place cria peças para aqueles que desejam romper com o padrão, abraçando a ideia de que a verdadeira originalidade envolve quebrar paradigmas e assumir-se em sua totalidade.
LED
@led_cd
Led, uma das maiores marcas brasileiras de moda agênero, destaca-se no cenário fashion desde sua participação no São Paulo Fashion Week em 2017. Criada pelo visionário Célio Dias, a marca mineira é conhecida por seus trabalhos manuais minuciosos e por uma identidade visual marcante, repleta de estampas irreverentes que capturam a atenção. O DNA da Led combina técnica artesanal com uma abordagem moderna e inclusiva à moda, oferecendo peças que transcendem as barreiras de gênero e celebram a expressão individual através do estilo.
ALEXANDRE PAVÃO
@alexandrepavaodotcom
Alexandre Pavão, um artista e designer de São Paulo, iniciou sua trajetória em Marília, explorando materiais não convencionais em suas criações desde cedo. Fundou sua marca homônima em 2006, enquanto ainda estudava no Ensino Médio, e se destacou ao entrar no mundo dos acessórios e calçados. Com um compromisso com o social evidente no projeto “Amor ao Próximo”, lançado durante a pandemia de COVID-19, ele continua a influenciar a moda com lançamentos que captam o zeitgeist, disponíveis exclusivamente através de suas redes sociais e site.
O JAMBU
@ojambu_bags
O Jambu é uma marca que se inspira na riqueza e diversidade da flora brasileira, especialmente na planta que lhe dá nome, conhecida por suas propriedades únicas que adormecem os lábios de quem a prova. Essa inspiração é transposta para a criação de bolsas e mochilas que visam proporcionar uma experiência sinestésica aos seus clientes, misturando sensações e estilos em cada peça. Com um compromisso com a inclusividade, O Jambu busca atender a todos, refletindo a diversidade e a brasilidade em seus designs.
OS ASTROS NO TRABALHO
O que os astros prevêem sobre a carreira profissional dos signos no mês de junho!
POr Carla Cartas Criatividade e inovação serão seus maiores ativos. Não tenha medo de experimentar novas abordagens ou tecnologias. Porém, mantenha a comunicação clara para evitar grandes e novas confusões.
AQUÁRIO • 21 JAN A 19 FEV
PEIXES • 19 FEV A 20 MAR
Pode ser um mês de instabilidade. Tenha cautela com decisões financeiras e contratos. Procure manter o equilíbrio e não se deixe levar por emoções no ambiente de trabalho.
ÁRIES •
21 MAR A 19 ABR
Oportunidades de avanço estão no horizonte, mas exigirão determinação e ação rápida. Seja proativo em projetos e não hesite em assumir a liderança.
TOURO •
20 ABR A 20 MAI
Mês de crescimento financeiro. É um bom período para investir em habilidades profissionais. Contudo, seja paciente com a burocracia e os processos lentos na vasta jornada de trabalho.
GÊMEOS •
21 MAI A 20 JUN
Junho traz um período de comunicação intensa. Use isso a seu favor em reuniões e apresentações. Cuidado com mal-entendidos ou informações desencontradas. Verifique tudo duas vezes.
CÂNCER • 21 JUN A 22 JUL
Emocionalmente, pode ser um mês desafiador. Questões não resolvidas podem afetar sua produtividade. Foque em criar um ambiente de trabalho harmonioso e procure apoio quando necessário.
LEÃO • 23 JUL A 22 AGO
Mês para brilhar e mostrar seu valor. Novos projetos podem proporcionar o reconhecimento que deseja. No entanto, cuidado para não negligenciar a equipe. Trabalhar em conjunto será crucial para evoluir.
LIBRA • 23 SET A 22 OUT
Relacionamentos no trabalho estarão em foco. Seja justo, mas assertivo. Negociações e parcerias podem ser vantajosas se houver clareza e equilíbrio. Evite tomar decisões importantes sob pressão e estresse.
VIRGEM • 23 AGO A 22 SET
Atenção aos detalhes será essencial, pois erros pequenos podem causar grandes impactos. Organização e planejamento ajudarão a evitar problemas. Esteja aberto a feedbacks construtivos.
ESCORPIÃO • 23 OUT A 21 NOV
Transformações no ambiente de trabalho podem ocorrer. Esteja preparado para mudanças e adapte-se rapidamente. Sua resiliência será testada, mas a superação trará benefícios a longo prazo.
SAGITÁRIO • 22 NOV A 21 DEZ
Um mês para explorar novas oportunidades e expandir horizontes. Viagens ou projetos internacionais podem ser promissores. Mantenha a mente aberta e aceite novos grandes desafios.
CAPRICÓRNIO • 22 DEZ A 19 JAN
Foco e disciplina trarão resultados significativos. É um bom momento para definir objetivos a longo prazo e trabalhar arduamente para alcançá-los. Cuidado com o excesso de trabalho.