Pajubá

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bem vindes a

Se você tá segurando essa edição da pajubá, se prepare, porque você não tá só folheando uma revista, tá abrindo a caixa de Pandora da cultura queer brasileira. Aqui dentro, a gente não só abraça a diversidade –a gente vive ela no volume máximo.

Na pajubá, a gente dá voz à rebeldia, e aos gritos que foram silenciados por muito tempo. Chega de sussurro, bebê! É hora de falar alto, falar claro, e, mais que tudo, falar verdades. Nossas páginas são um espaço para celebrar quem você é, com todas as cores do arco-íris e muito gliter.

Então, se você tá pronto para essa viagem, se joga com a gente. Vem com tudo, que o mundo é nosso e a hora é agora!

Juliana
Felipe
Renato
Lia
Giovana
Bárbara

colaboradores

Rita Von Hunty é uma drag queen brasileira, reconhecida por sua inteligência afiada e humor sarcástico. Conhecida por seu trabalho como apresentadora, comediante e influenciadora, ela se tornou uma figura proeminente na cena drag nacional. Rita é famosa por abordar questões sociais e políticas de forma satírica e provocativa

Gloria Groove é uma artista brasileira multifacetada, conhecida por seu talento como cantora, rapper e drag queen. Com uma voz poderosa e letras marcantes, Gloria conquistou uma grande base de fãs com seu estilo único e sua presença de palco cativante. Gloria é reconhecida por sua ção da comunidade lgbtq+ e seu

Filipe Costa é um influenciador digital e maquiador profissinal, formado em Design. Possui suas redes sociais focadas no conteúdo relaciaonada a makes alternativas. Ofereceu suporde ao projeto modelando para a pajubá.

QUEBRA PADRÕES

Monge japonês é maquiador e inspira budismo LGBTQ+ no país

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BATMAN O ator do Batman, Kevin Conroy, escreveu uma história pessoal sobre ser um homem gay por trás de O Cavaleiro das Trevas

Bill e Bolacha
Vaza tia cida
Bafão
Transformar
Abalando Gaydar
Previsões Zoraide
Babado na Tela

hilton na área

Eleita vereadora mais votada da capital paulista

texto Gabriel Brolli

Forçada a frequentar a Igreja, sua família acreditava que o “mal” ligado à sua identidade de gênero seria, de alguma forma, curado por Deus. Entre constantes violências em casa e uma série de repressões que sofreu por sua expressão de gênero, Erika foi expulsa durante a adolescência, e encontrou referências nas travestis das esquinas de Francisco Morato. A ativista, então, entrou para o mercado da prostituição.

Depois de anos na rua, Erika retomou o relacionamento com a mãe, voltou para casa e ingressou num cursinho pré-vestibular. Na militância estudantil, encontrou sua vocação para a política. Convidada para integrar a Bancada Ativista (PSOL), saiu vitoriosa em 2018 como primeira candidatura coletiva eleita no estado de sp Importantíssimo porque estamos rompendo com uma mazela histórica da ausência desses corpos. Até agora, haviam sido eleitas apenas duas mulheres negras, o que revela o racismo institucional, estrutural e estruturante da nossa sociedade. Ocupar aquele lugar é trazer à tona e visibilizar o nosso corpo, nossa luta, nossa história, pautar a política que precisamos e que queremos. Criar uma fissura na laje das estruturar de poder, mostrar que é possível mudar esse cenário conduzido apenas por homens brancos cisgêneros. Nós, corpos negros, trans, periféricos, podemos existir e atuar para além dos espaços que nos foram sentenciados, como as esquinas, o cárcere, os manicômicos, lugares de desumanização.

Nossa presença ali significa retomar os nossos lugares enquanto cidadãs, retomar a nossa dignidade humanda que é roubada por esse Estado cotidianamente. Fazer uma política para a nossa população, com a nossa população, construir um marco histórico, deixar registrado na história que nós, apesar do histórico de violência, genocídio, repressão, conseguimos chegar como a mais votada da maior cidade da América Latina.

atletas divos

conheça esses atletas que saíram do armário

Em abril de 2013, Jason Collins se tornou o primeiro atleta em atividade entre as quatro principais ligas norte-americanas a assumir publicamente ser homossexual. Com uma bagagem de 13 anos na NBA, Collins jogou pelo Memphis Grizzlies, Minnesota Timberwolves, Washington Wizards, Atlanta Hawks, Boston Celtics e Brooklyn Nets, time no qual anunciou sua aposentadoria. Nos Nets, o ex-pivô jogou com a camisa 98, em referência ao ano que o estudante gay Matthew Shepard foi brutalmente assassinado. Jason se aposentou em 2014, aos 35 anos.

Orlando Cruz é um pugilista porto-riquenho atualmente classificado como número 4 entre os pesos-penas pela Organização Mundial de Boxe. Em 2012, ele se tornou o primeiro boxeador profissionalmente ativo a se assumir gay

foi convocado pelo St. Louis Rams

se tornou o primeiro jogador ente gay a ser convocado na NFL. sso gerou muita atenção da mídia smo um parabéns do presidente na arrack Obama, que disse que Rams e a NFL estavam “dando um portante na jornada de nossa

Jason Collins
Orlando Cruz

DESA

FIOS

LGBTQIA+ ainda enfrenta desafios, em relação a direitos como saúde, trabalho,educação, entre outros
Texto Funndo Brasil

lencamos os principais desafios sofridos por esses grupos, a fim de ampliar o seu conhecimento sobre as lutas dessas pessoas. Acompanhe:

Desafios da comunidade lgbtq+ no ambiente de trabalho É de conhecimento geral que nos últimos anos, o Brasil traz números cada vez mais preocupantes com relação à taxa de desemprego. Quando falamos então da situação da comunidade LGBTQIA+, os desafios são ainda maiores, uma vez que essas pessoas sofrem diariamente com o preconceito, exclusão, violação de seus direitos e dificuldade de acesso à educação e ao mercado. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Center for Talent Innovation, 61% dos funcionários gays e lésbicas decidem por esconderem sua sexualidade de gestores e colegas com medo de perderem o emprego.

A pesquisa ainda revelou outros dados alarmantes: 33% das empresas do Brasil não contratariam para cargos de chefia pessoas LGBTQIA+; 41% das pessoas LGBTQIA+ afirmam terem sofrido algum

90% de travestis se prostituem por não terem conseguido nenhum outro emprego

Pablo Vittar

Adolescentes travestis, transsexuais e transgêneros enfrentam ainda desafios que vão desde não ter seu nome social respeitado durante a chamada até o dilema de qual banheiro utilizar. O resultado é que raramente concluem os estudos e, frequentemente, são expulsos de casa e excluídos do mercado formal de trabalho.

Depois de suprimido dos Planos Municipais, Estaduais e Nacional de Educação, o debate da orientação sexual e identidade de gênero também foi ignorado pela terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — medida que coloca em xeque a formação de alunos para o respeito à diversidade e a concepção de escola como um espaço democrático de conhecimento e discussão.

Dificuldades na Pandemia

Assim como para a maioria das brasileiras e dos brasileiros, a pandemia agravou a situação das pessoas LGBTQIA+ em todo o país. Essa é uma afirmação sustentada por uma pesquisa feita pelo coletivo #VoteLGBT, que mapeou impactos da covid-19

A pesquisa, que ocorreu de modo online, ouviu 10 mil pessoas de todos os estados, com maior proporção de respostas na Região Sudeste. Os dados, que foram analisados por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostram que há desigualdades entre as pessoas LGBTQIA+, que envolvem acesso à saúde, renda e trabalho, e exposição ao coronavírus.

As transexuais e travestis são as mais vulneráveis, de acordo com Índice de Vulnerabilidade de LGBT+ ao COVID-19 (o VLC), marcador criado pela pesquisa que cruza essas dimensões.

As principais informações extraídas dos dados se referem à saúde e às dificuldades enfrentadas pelas pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho. Das pessoas entrevistadas, 28% já tinham sido diagnosticadas com depressão antes da pandemia. Esse número é quatro vezes maior do registrado no restante da população, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Além disso, 47% foam classificadas com o risco de depressão no nível mais grave. Já o índice de desemprego atingiu 21,6%, quase o dobro do registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Fundo Brasil apoia projetos para que dados tão alarmantes deixem de existir. São ações que trabalham para garantir os direitos das pessoas LGBTQIA+ em todo o país. Nossa atuação, por meio do seu apoio, ajuda pessoas LGBTQIA+ a lutarem contra as violações que sofrem constantemente, em todas as esferas de suas vidas.

Olga Lopo

É de conhecimento geral que nos últimos anos, o Brasil traz números cada vez mais preocupantes com relação à taxa de desemprego. Quando falamos então da situação da comunidade LGBTQIA+, os desafios são ainda maiores, uma vez que essas pessoas sofrem diariamente com o preconceito, exclusão, violação de seus direitos e dificuldade de acesso à educação e ao mercado de trabalho.

A realidade para as pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho é de um caminho cheio de obstáculos. Muitas vezes, elas precisam lidar com ambientes hostis, falta de oportunidades e discriminação aberta ou velada. Isso se reflete nos altos índices de desemprego e subemprego dentro dessa comunidade. As barreiras são inúmeras, desde o acesso a uma educação de qualidade até a inserção e permanência em um emprego digno.

Para mitigar esses desafios, é fundamental promover políticas inclusivas que garantam a equidade de oportunidades e o respeito aos direitos dessa população. Iniciativas de capacitação profissional, programas de inclusão e sensibilização nas empresas são passos essenciais para construir um mercado de trabalho mais justo e igualitário. Além disso, a conscientização e a educação da sociedade em geral são pilares fundamentais para combater o preconceito. O apoio a empresas e organizações que defendem a diversidade e a inclusão também é crucial. Elas desempenham um papel vital ao criar ambientes de trabalho acolhedores e justos, servindo como exemplo e incentivando outras empresas a seguir o mesmo caminho. Portanto, é urgente e necessário que a sociedade como um todo, incluindo governos, empresas e cidadãos, se una em prol da igualdade de direitos e oportunidades para a comunidade LGBTQIA+. Apenas através de um esforço coletivo poderemos construir um futuro onde todos possam ter acesso a uma vida digna, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Manifestação LGBT em São PAulo

estados que mais matam

aids hoje

Há 12 anos, população hétero assumiu a dianteira no Brasil com a tia cida. Por que então o preconceito segue?

“Não se preocupe você ainda vai viver uns 20 anos”. Foi assim que, em 1999 meu primeiro infectologista, que me diagnosticou com HIV, o vírus da imunodeficiência humana, tentou me tranquilizar após me passar minha primeira receita do coquetel de antirretrovirais que tomei.

Na época, minha dimensão de 20 anos era enorme, especialmente no dia do meu aniversário de 22 anos, quando tomei os remédios pela primeira vez.

Mas naquele ano já tinham ocorrido dois fatos muito importantes sobre a epidemia de aids, a síndrome da imunodeficiência humana: a primeira delas foi a descoberta de que o vírus poderia ser controlado graças a um coquetel de medicamentos (tanto que na época se comentava, muito discretamente, que tal pessoa já tomava “o coquetel” e estava em boas condições).

Ao oferecer tratamento gratuito universal para os infectados já em 1996, Serra e FHC não apenas ajudaram a frear o aumento da infecção com informação e proporcionando aos mais pobres o direito à vida, como ensinaram ao mundo, através dos profissionais do SUS, como se lidar com HIV.

Os remédios, que no começo eram muitos e tinham muitos efeitos colaterais, não apenas continuam funcionando como estão passando por atualizações em sua fórmula. Hoje, 21 anos depois de ter dito a mim mesmo que depois do vacilo eu tinha a obrigação de sobreviver, tomo apenas dois medicamentos. Desde 2001 mantenho minha carga viral indetectável e um nível alto de células CD4, que protegem nosso organismo contra infecções, tomando diariamente, sem nunca falhar, minhas pílulas. Faço também uma bateria de exames de sangue trimestral para investigar meus níveis de colesterol, se desenvolvi diabetes ou se me contaminei com alguma IST. Devido a esse constante monitoramento é que muitos médicos dizem que é muito mais seguro transar com um soropositivo em tratamento do que com alguém que diz ser negativo Em 1999, ser HIV positivo já não significava mais uma morte precoce, mas ainda era um terreno pantanoso. Eu demorei muitos anos para contar para as pessoas sobre minha condição. Quando descobri, contei para meus amigos de faculdade, um grupo de gays e héteros com quem tive o privilégio de conviver em Londrina e que carrego no peito até hoje. Sem o apoio dessas pessoas, que nunca fizeram disso um grande drama, talvez eu não tivesse sobrevivido dessa doença terrivel como a aids.

Para RH de empresa e chefe, por exemplo, nunca revelei – vai que resolvessem me cobrar mais pelo plano de saúde (embora eu sempre tenha me tratado pelo SUS) ou, pior, me demitissem. Colegas de trabalho foram pouquíssimos os que souberam. E parceiros sexuais nem todos, mas a grande maioria.

Talvez seja por isso que a primeira vez que abri publicamente minha sorologia foi apenas em 2018, em um post no Facebook, quando Bolsonaro e seus necropolíticos ameaçaram acabar com o tratamento gratuito do HIV pelo SUS. Achei necessário, novamente, expor minha história para mostrar que pessoas HIV positivas não são descartáveis, mas têm carreiras, famílias, pagam impostos, são cidadãs. E sua vida sexual não deve ser objeto de especulação ou mesmo régua moral para determinar quem tem direito ou não

E como fomos os primeiros a sofrer o efeito devastador da aids pelo mundo, nós LGBTQIAP+ também fomos os primeiros a aprender sobre como conviver com a doença, a nos defender dela e, assim, proteger as outras pessoas através da autoproteção.

estrutural. jornalista diz que não é e que ficou muito “triste” de ser considerado homofóbico. Já deve até ter falado por aí, em uma das lives em que se diz “vítima da cultura do cancelamento”, que tem amigos gays, provavelmente gays de bem, que se cuidam na Smart e que “tiveram um só parceiro a vida inteira”, a única casta de gays imaculada digna de ser aceita socialmente — e olhe lá! Na cabeça desse pessoal, aids é ainda aquele “câncer gay”, como chamavam os tabloides nova-iorquinos nos anos 1980, e gays ou são “heteronormativos monógamos” ou são verdadeiros “depósitos de IST” como já me chamou um jornalista esquerdomacho. Ah, mas e os gays soropositivos que transam sem camisinha? Não são eles que continuam transmitindo HIV? Em primeiro lugar, gays soropositivos com carga viral indetectável,

Pela minha experiência, dentro da comunidade gay, quase todo mundo já transou com alguém que é soropositivo, com ou sem preservativo, ou conhece alguém nesta situação. E essa pessoa provavelmente continua soronegativa. Porque talvez essa pessoa tome a PrEP ou porque o parceiro dessa pessoa seja um soropositivo de carga viral indetectável e que, segundo a ciência, é incapaz de transmitir o HIV, ou as duas. Isso significa que a epidemia tenha diminuído? O principal fator é a falta de informação. Os jovens veem a epidemia de aids como algo do passado ou, graças à eficiência dos medicamentos, algo superado. A ausência de campanhas educativas em escolas ajuda muito a propagação. Mas há outro dado importante que é ignorado por muita gente, especialmente homens heterossexuais, do presidente da República a jornalistas da grande mídia: de 2007 a 2019, segundo dados do Ministério da Saúde, os heterossexuais foram responsáveis por 58% dos novos casos de infecção por HIV. Já o caso do ex-comentarista da CNN Brasil é um pouco mais preocupante. Em 10 de julho de 2020, ele foi demitido após as repercussões negativas de seu comentário sobre a decisão do STF em suspender a proibição de doações de sangue por homens homossexuais. As

O ator do Batman, Kevin escreveuConroy, uma história pessoal sobre ser um homem gay por trás do Cavaleiro das Trevas

texto Kevin Tash

ator do Batman, Kevin Conroy, escreveu uma história pessoal sobre ser um homem gay por trás de O Cavaleiro das Trevas.

Em sua nova tradição de celebrar o Mês do Orgulho, a DC lançou seu livro antológico DC Pride. Este livro anual é uma série de histórias únicas sobre personagens queer da DC escritas e desenhadas por artistas LGBTQIA+. Essas histórias seguem principalmente personagens como Robin de Tim Drake, Harley Quinn, Superman de Jonathan Kent, Nubia e outros em aventuras curtas com seus entes queridos. Mas, este ano teve uma história um pouco complicada. A história final de DC Pride 2022 #1 é uma história pessoal escrita pelo ator de longa data do Batman, Kevin Conroy. Se o nome não soa nada, a voz certamente o faria. Começando em Batman: The Animated Series, Conroy dublava Batman desde o início dos anos 90. Ele até foi capaz de fazer uma aparição em live-action como Bruce Wayne, inspirado em Kingdom Come, no evento Crise nas Infinitas Terras da CW em 2019.

Escusado será dizer que ele é o favorito dos fãs. Muitas pessoas até argumentariam que ele é o melhor ator para interpretar o papel do Cavaleiro das Trevas. É por isso que foi surpreendente ler sua história pessoal, chamada Finding Batman, sobre como as lutas de sua vida contribuíram para sua atuação como Batman. E, infelizmente, as lutas que ele descreveu são familiares à grande maioria dos fãs gays, tornando sua história ainda mais impactante. Conroy contou sobre sua vida até o teste para Batman, principalmente em ordem cronológica, mas escrita da perspectiva dele olhando para trás nos dias atuais. Ele descreveu sua vida crescendo com um irmão que sofria de esquizofrenia e pais que viviam em um casamento abusivo que estava em ruínas. Além disso, ele cresceu nos subúrbios de uma família e área predominantemente católica. Como alguém que cresceu nos subúrbios do cinturão bíblico, o tipo de homofobia que ele experimentou soa muito verdadeiro. Isso acrescenta outra camada de tristeza, sabendo que pouca coisa realmente mudou nos últimos 50-60 anos.

Rejeição

Os homossexuais ainda enfrentam a rejeição das comunidades, o assédio de outros por ousarem ser um pouco abertos e são forçados a viver uma vida dupla. Uma apresentação externa, reprimindo partes básicas de sua personalidade e escondendo coisas sobre você para evitar ser considerado apenas uma existência. O outro; mais agradável e mais aberto, onde você pode realmente ser você mesmo perto de pessoas em quem confia de todo o coração. Tudo para simplesmente não ser, na melhor das hipóteses, rejeitado pelas pessoas que você ama ou, na pior das hipóteses, ser atacado ou morto. Parece um exagero, e muitas pessoas que não entendem quase sempre o chamarão de dramático demais.

Lembrei às pessoas a gravidade disso simplesmente contando como foi há apenas seis anos, quando ocorreu o tiroteio em massa na boate Pulse, em Orlando. Não ficava muito longe de onde eu morava na época e de uma cidade onde passei três anos morando logo depois. A tragédia absoluta que aconteceu naquela noite não passou despercebida pela comunidade. Se você não estivesse lá naquela noite,

ele também teve que lidar com a morte de alguns de seus amigos

própria história.

Já adulto, Conroy enfrentou preconceitos em sua vida profissional e pessoal. Ele era frequentemente ridicularizado por colegas de trabalho e empregadores que por acaso descobriam sua sexualidade. Porque não importa o quão bem você se esconda e se misture como “passageiro”, em algum momento as pessoas descobrirão.

Christian Bale

alguns de seus amigos mais próximos. Sem mencionar que esta é uma época em que a epidemia de AIDS colocou mais lenha na fogueira da

que o desfecho de uma piada. A década de 1980, até a década de 2000, Décadas depois de Conroy, mesmo quando eu era criança, tudo isso

embora os padrões de humor fossem totalmente diferentes na época,

como heterossexual, as pessoas já estão atacando ou intimidando você por ser suspeito de ser gay. Só porque você age ou gosta de algo que não é visto como “viril”. Ser demonizado é é algo com que praticamente

Cena de Bruce Wayne interpretado por Robert Pattinson

Os homossexuais ainda enfrentam a rejeição das comunidades, o assédio de outros por ousarem ser um pouco abertos e são forçados a viver uma vida dupla. Uma apresentação externa, reprimindo partes básicas de sua personalidade e escondendo coisas sobre você para evitar ser considerado apenas uma existência. O outro; mais agradável e mais aberto, onde você pode realmente ser você mesmo perto de pessoas em quem confia de todo o coração. Tudo para simplesmente não ser, na melhor das hipóteses, rejeitado pelas pessoas que você ama ou, na pior das hipóteses, ser atacado ou morto. Parece um exagero, e muitas pessoas que não entendem quase sempre o chamarão de dramático demais.

A necessidade constante de calcular cada palavra, gesto ou comportamento, mesmo em situações cotidianas, cria um estado de vigilância permanente. Isso me faz sentir isolado e ansioso, pois estou sempre me perguntando se serei aceito ou rejeitado. Em ambientes profissionais, essa repressão limita meu potencial de crescimento e desenvolvimento, já que muitas vezes não me sinto seguro para ser autêntico e expressar plenamente minhas ideias e talentos extraordinários.

Além disso, a pressão para manter essa “vida dupla” impacta significativamente minha saúde mental e física. Sei que a taxa de depressão, ansiedade e outros transtornos mentais é mais alta entre indivíduos LGBTQIA+ devido ao estresse contínuo causado pela discriminação e pelo estigma, e eu não sou exceção. O medo de ser descoberto ou a experiência de rejeição real me levaram a comportamentos autodestrutivos e ao abuso de substâncias como forma de lidar com a dor emocional. A luta pela aceitação, tanto interna quanto externa, é uma batalha constante que enfrento diariamente, e essa realidade precisa ser compreendida e abordada pela sociedade como um todo.

saí do cas ulo

todos devemos ter a chance de nos descobrir

texto Mandy Candy illustração Brian Stauffer

Na minha adolescência, desenvolvi algumas técnicas para faltar às aulas sem que minha mãe desconfiasse. Uma delas era deixar a janela do meu quarto entreaberta e fingir que estava indo para o colégio. Então, eu me escondia atrás da casa, esperava minha mãe ir para o trabalho e voltava para a cama. Outra técnica era pegar o ônibus para o colégio, mas descer alguns quarteirões antes do previsto. Em seguida, eu entrava numa locadora de videogames e só saía de lá depois que terminava o horário escolar. Cheguei a ser reprovada duas vezes por falta. No colégio, me sentia como uma presa no meio de caçadores. A espingarda era a boca. E a munição eram as piadas e os apelidos maliciosos Bastava eu entrar na sala de aula para ouvir: “Ih, olha a bichinha!” ou “Por que não anda como homem?” e ainda “Corta esse cabelo, poodle!”. Até hoje tenho pesadelos horríveis. Sonho do ensino médio e acordo tremendo da cabeça aos pés Mas o tempo em que estudava em Morungava, uma cidade de pouco mais de 6 mil habitantes a 23 quilômetros de Porto Alegre, ficou para trás. Hoje, aos 27 anos, moro em Gravataí, Rio Grande do Sul, dividindo um apartamento com um coelho, uma tartaruga e um porquinho-da-índia. Do meio-dia às 17h, trabalho como garçonete no restaurante de um amigo e, nas horas livres, dou voz a Mandy Candy, uma das mais badaladas youtubers atuais, com mais de 300 mil seguidores. Nos vídeos, falo de temas como qual banheiro uso e como contei ao meu namorado asiático que sou transexual.

Morar em Gravataí trouxe um novo fôlego para a minha vida. A cidade, apesar de não ser muito distante de Morungava, me ofereceu a oportunidade de recomeçar, longe dos olhares julgadores e dos apelidos cruéis. Aqui, encontrei um ambiente

mais acolhedor, onde pude começar a construir uma nova identidade.

A jornada não foi fácil, mas cada obstáculo que enfrentei me tornou mais forte. Trabalhar como garçonete me ajuda a pagar as contas e, mais importante, me mantém em contato com pessoas que, aos poucos, têm me aceitado pelo que sou. O restaurante do meu amigo é um ponto de encontro para muitos jovens e, entre eles, encontrei apoio e compreensão.

Nas horas livres, mergulho no universo de Mandy Candy. Criar conteúdo para o YouTube se tornou minha válvula de escape, um espaço onde posso ser eu mesma sem medo de julgamentos. Compartilhar minha história e experiências não só me ajudou a lidar com meus traumas, mas também a inspirar outros que passam por situações semelhantes.

Nos vídeos, abordo questões que muitos preferem ignorar. Falo sobre os desafios de ser uma mulher trans em um mundo que ainda está aprendendo a nos aceitar. Desde a escolha do banheiro até as conversas difíceis com parceiros sobre minha identidade, tudo é colocado à mesa com honestidade e transparência. Contar ao meu namorado que sou trans foi uma das conversas mais difíceis que já tive. Ele, vindo de uma cultura tão diferente, inicialmente teve dificuldades para entender. Mas, com o tempo, a paciência e muito amor, ele se tornou um dos meus maiores apoiadores. Hoje, caminhamos juntos, enfrentando os preconceitos e construindo uma relação baseada no respeito e na compreensão.

Ainda tenho muito a aprender e a conquistar. Os fantasmas do passado ainda me visitam de vez em quando, mas agora sei que não estou sozinha. lembro diariamente da importância de cuidar e ser cuidada.

voando Alto

Como equilibrio minha duas identidades diferentes

texto Lorelay Fox illustração Brian Stauffer

Por volta dos 17, 18 anos, um amigo meu começou a fazer drag e me convenceu a acompanhá-lo. Entrei nesse mundo e as coisas estavam dando certo. Na época, fiquei em segundo lugar no concurso que ele queria participar. A cena era forte na cidade nessa época e, até hoje, me inspiro nas drags que conheci em Sorocaba. Desde então, já estava criando a Lorelay. No começo, queria me olhar no espelho e me achar legal. Depois, quando passei a trabalhar como hostess de eventos, ainda na minha cidade natal, desejava que as pessoas se sentissem acolhidas, bem-vindas. Mais tarde, quando criei o canal no YouTube, há seis anos, misturei a publicidade com a drag e quis ser a comunicadora que desconstrói ideias, mostra como a arte pode contribuir nas discussões atuais. No último ano, na pandemia, ainda assumi uma função de entretenimento; espero que as pessoas que me acompanham passem um tempo gostoso comigo.

Hoje em dia, eu olho para a Lorelay como o padrão de beleza que quero para a minha drag, ainda que não seja o que se espera. Busco a beleza de alguém às vezes doidinha, às vezes mais séria; tento compor um aspecto sóbrio para que as pessoas não se assustem, porque o mundo drag assusta. Mas além da aparência, Lorelay é sobre autenticidade e conexão.

Quando estou em drag, sinto que posso ser uma versão ampliada de mim mesma, uma versão que desafia as normas e celebra a diversidade. Lorelay é minha resposta ao mundo que tenta nos colocar em caixas. Ela é minha forma de dizer que podemos ser quem quisermos ser, sem medo de julgamento.

Nos palcos e nas telas, Lorelay se tornou uma porta-voz não apenas para a comunidade LGBTQIA+, mas para todos que sentem a necessidade de se

quem odeia o orgu lho ?

Preconceito estrutural e suas manifestações

texto Rita Von Hunty illustração Brian Stauffer

Historicamente, durante suas crises estruturais mais profundas, o modelo capitalista produziu discursos que visavam encontrar um “inimigo comum” a toda sociedade. Com o fim dos modelos de trabalho escravo no século XIX, os países que dependiam de tal aparato reforçaram a ideia de que pessoas negras eram violentas, propensas ao crime, intelectualmente inferiores, moralmente corruptas, sexualmente predatórias, geneticamente impuras, adoradoras do demônio, e assim sucessivamente com outros insultos.

O mesmo discurso foi corroborado contra os judeus na Europa após o fim da Primeira Guerra Mundial e durante a ascensão do nazismo na Alemanha. Agora, a extrema-direita escolheu, para justificar a crise de seu modelo econômico e social, um novo bode expiatório: as pessoas LGBTQIAPN

Passado o mês de junho – que marca mundialmente a luta dessas pessoas contra os modelos sociais que pregam a exclusão de seus corpos da categoria de “seres humanos” – tivemos, no Brasil, ao menos dois episódios bastante sintomáticos do momento histórico que vivemos: a crise do modelo moribundo de vida e hegemonia no Ocidente, o capitalismo.

Cronologicamente, o primeiro caso acontece quando o apresentador Ratinho (Carlos Roberto Massa) diz, para milhões de pessoas, em seu programa de tevê, que “a Parada Gay (sic) é o carnaval dos viados e sapatões”. Ele sugeriu ainda que o evento fosse deslocado da Avenida Paulista para o sambódromo, sob a alegação de que a avenida deveria ser “deixada para a família. o apresentador reforça duas ideias: a de que a categoria “família” não está acessível para tais corpos e que eles deveriam ficar restritos a um espaçosegregado, longe dos olhos da sociedade.

comportamentos discriminatórios e reforçam a exclusão.

Esses exemplos são apenas a ponta do iceberg de uma retórica perigosa que está ganhando força em diversos países ao redor do mundo. O uso de grupos marginalizados como bodes expiatórios em momentos de crise econômica e social é uma tática conhecida, que visa desviar a atenção dos problemas estruturais reais e criar um “inimigo” palpável para a população. Na história, vimos isso acontecer repetidamente, com consequências trágicas.

No entanto, a resistência e a luta pelas liberdades civis e direitos humanos continuam fortes. O mês de junho, com suas Paradas do Orgulho e outras manifestações, serve como um lembrete poderoso de que a luta pela igualdade e justiça social está longe de terminar. É um momento de visibilidade e afirmação, onde a comunidade LGBTQIAPN e seus aliados se unem para celebrar suas identidades e resistir aos discursos de ódio e exclusão.

texto Murilo Saal fotografias Kodo Nishimura

ilho de monges, Kodo Nishimura cresceu em um templo. O budismo parecia ser o caminho natural para o jovem que vive em Tóquio. Mas ainda havia outra estrada a percorrer: o desafio de lidar com a sexualidade. Aos 30 anos, Nishimura unificou duas estradas. Como monge e maquiador, ele quer “encorajar as pessoas a serem esperançosas e se sentirem equilibradas. Uso ferramentas desses dois mundos, tanto a sabedoria antiga quanto a maquiagem mais moderna, e faço isso para que as pessoas percebam seu valor e prosperem livres de equívocos”, diz Nishimura ao TAB. Nishimura viaja o mundo para falar de empoderamento e beleza, tratando a comunidade LGBTQ+ e, de maneira mais ampla, pessoas que vivem em situação de vulnerabilidawwde. Seu empenho atraiu a atenção de um brasileiro. “Conversamos sobre como sua mãe era intolerante em relação à sexualidade dele por motivos religiosos, e ele buscava ajuda sob uma perspectiva budista. Aprendi no budismo que não temos que sentir culpa por ser quem somos. Hoje ele me envia fotos usando maquiagem e saia. Eu amei”, conta.

Em 2019, inspirados por Nishimura, monges e leigos no Brasil iniciaram um movimento LGBTQ+ chamado “Rainbow Sangha”, “uma comunidade onde as pessoas, budistas ou não, possam se sentir acolhidas pelo ensinamento e prática budistas”, nas palavras de Jean Tetsuji, reverendo da ordem Shin Otani Higashi Honganji do Templo Nambei Honganji Brasil Betsuin, em São Paulo, e um dos responsáveis pelo projeto inteiro divulgado.

O grupo também participou da Parada do Orgulho LGBTt de São Paulo em 2019. Na época, Nishimura havia enviado uma carta ao grupo. Durante o desfile, budistas recitaram as palavras dele. Nishimura também realiza trabalhos convencionais de maquiagem para artistas e empresas. “Conheci várias mulheres trans, e notei que elas poderiam se beneficiar com técnicas melhores de maquiagem. Ensino as pessoas a como cobrir os tons da barba e a dar uma expressão facial mais redonda e suave ao rosto, para que elas possam parecer com como se sentem por dentro. Sei o que é o desejo de parecer da forma como me sinto por dentro e como isso empodera um indivíduo”,

O maquiador participou do projeto fotográfico “Out In Japan”, que pretende dar visibilidade às minorias sexuais do Japão por meio de retratos de pessoas LGBTQ+ feitos por fotógrafos aclamados.

Queria ser uma princesa

Nem sempre Nishimura teve essa confiança. Durante a infância, ele se viu isolado na escola por se sentir envergonhado. Na época, não queria ser monge. “Queria ser uma princesa. Eu vestia uma minissaia de minha mãe e dançava as canções da Disney”, lembra. Certa vez, foi chamado de “bicha” no colégio e decidiu não conversar mais com os outros colegas. Quando chegou o momento de optar por uma faculdade, escolheu estudar nos EUA, influenciado pelas mensagens de liberdade propagadas por músicas e filmes americanos. Estudou Artes em Nova York e aprendeu a pintar e desenhar. Foi nessa época que a maquiagem virou profissão e um elemento importante de autoafirmação de seus praticantes.

Em uma ocasião, sua melhor amiga nos Estados Unidos estava passando por dificuldades com seu trabalho de escola. “Eu faria qualquer coisa para encorajá-la, então decidi maquiá-la”, diz.

Com um pouco de delineador e maquiagem, notou que a personalidade dela desabrochou. “Senti sua alegria refletida em mim. Isso fez impulsionar meu desejo de dominar a arte da maquiagem para que eu pudesse apoiar as pessoas importantes da minha vida. Em minha própria jornada para encontrar a beleza interna, percebi uma missão em ajudar pessoas iguais a mim”, afirma o maquiador.

De volta ao Japão, Nishimura já era um maquiador estabelecido

A questão central do budismo é o sofrimento, sua origem e sua extinção. No budismo não há visão criacionista

Modernização do budismo

Nishimura, então, foi compartilhar sua preocupação com seu mestre. E ouviu dele que, no Japão hoje, monges usam relógios e vestem roupas casuais. “Se isso ajuda você a espalhar a mensagem de igualdade de Buda, então eu não vejo problema”, concluiu o mestre, cujo nome Nishimura prefere manter no anonimato.

Modernização do budismo O aprendizado de Nishimura reflete uma tendência verificada no budismo japonês desde o final da Segunda Guerra Mundial. Segundo Ronan Alves Pereira, professor aposentado da Universidade de Brasília, em seu artigo “O Budismo Japonês: Sua História, Modernização e Transnacionalização”, até o fim do conflito, “budistas de índole mais progressista esforçaram-se para reformar a estrutura e prática feudais dessa tradição religiosa. Alguns se associaram a socialistas e cristãos unitarianistas, e buscaram harmonizar a doutrina e a prática budistas com ideias modernas relativas à ciência, aos direitos humanos e à sexualidade”.

Com o fim da guerra, “percebem-se contínuos esforços em modernizar o budismo. Esses esforços se traduzem na tentativa de estabelecer o budismo como a base para ‘um novo humanismo’; no questionamento das doutrinas tradicionais à luz da ciência moderna [...]; no esforço em conectar a doutrina com a vida diária das pessoas e com a necessidade de trabalhos sociais”

Nishimura diz ter uma rotina flexível em Tóquio. Como monge, é responsável por conduzir cerimônias como funeral, casamento e eventos sazonais. Também canta o nome de Buda, liturgia que faz parte do Jodo Shu, denominação budista à qual pertence. No budismo, cada denominação tem suas próprias regras. No Jodo Shu, espera-se que os monges cantem o nome de Buda para alcançar a Terra Pura. Em linhas gerais, os monges do Jodo Shu devem cantar, estudar e se

Os monges dessa denominação também têm permissão para casar. O casamento de monges foi permitido durante a era Meiji (1868-1912). Um decreto de 1872 autorizou os monges budistas a comerem carne e a casarem. Na época, a intenção era enfraquecer o budismo no país. Nem todas as denominações adotaram a regra e continuaram praticando o vegetarianismo e o celibato. Os monges do Jodo Shu se adequaram ao decreto, acreditando que eles poderiam caminhar junto

No Japão, com a tendência de queda do número de monges budistas, é comum filhos de monges poderem herdar o templo dos pais caso eles também se tornem monges. Esse seria um recurso para permitir a

Em sua denominação, uma vez monge, Nishimura será monge para sempre. Mas, por uma questão de sobrevivência, ele pode procurar trabalho para obter seu sustento financeiro. Quando tem oportunidade, Nishimura participa da liturgia junto com seu pai pela manhã e, à tarde,

maquiador, aproveita um breve momento no hotel para meditar. Além de fazer a maquiagem das candidatas do Miss Universo, Nishimura também faz trabalhos para comerciais, revistas e celebridades, como Andrew VanWyngarden, músico do MGMT, e a dupla Chloe x Halle.

“Eu adoro a forma como consigo viajar e explorar o mundo, tanto

vozes trans

Uma visão íntima das lutas e conquistas da comunidade trans no Brasil

O estudo da ANTRA identificou que no Brasil, no ano de 2022, foram registrados 131 homicídios e 20 suicídios de pessoas trans, motivados pela violência social. A professora Sandra Brignol, através do projeto MuTransDH, investiga os impactos da violação dos Direitos Humanos na saúde mental de mulheres transexuais e travestis. O foco da pesquisa está além das infecções sexualmente transmissíveis, comum nas pesquisas nacionais, abordando também sintomas depressivos e ideação suicida.

A metodologia de “pesquisa-intervenção” adotada por Brignol envolve fornecer benefícios diretos às participantes, como assistência médica e jurídica, antes de proceder com a coleta de dados através de entrevistas. O projeto colabora com iniciativas como o ‘Gato em Teto de Zinco Quente’ para fornecer suporte psicológico às participantes. Adicionalmente, o projeto aponta várias violações de direitos, como o desrespeito ao nome social e dificuldades em acessar benefícios sociais e empregos. Dentre as atividades realizadas pelo MuTransDH estão

seminários, palestras, postagens em redes sociais, rodas de conversa, e cursos de capacitação. Estas atividades são essenciais para a inserção social das mulheres trans e travestis, que frequentemente são marginalizadas e acabam recorrendo à prostituição como forma de sobrevivência. O projeto também realiza o SESCOTRANS, um seminário que busca capacitar profissionais de saúde para melhor atender a população trans e travesti, enfatizando a necessidade de um atendimento médico mais inclusivo e humanizado. Este esforço é parte de uma estratégia mais ampla para combater a discriminação e promover uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

Impactos da pandemia na população trans:

A pandemia intensificou as dificuldades já enfrentadas pelas travestis e mulheres transexuais no Brasil, uma comunidade que historicamente sofre com alta exclusão social e violência. Antes da COVID-19, muitas já viviam em condições precárias, com a maioria na prostituição e poucas acessando educação formal ou empregos estáveis. Com a crise sanitária e econômica, esperava-se uma redução na violência, mas ocorreu o contrário, com aumentos nos assassinatos e na violência doméstica. Isoladas em casa,

texto Mônica Almeida

muitas enfrentaram ambientes familiares hostis. As medidas emergenciais do governo não atingiram efetivamente esta população, forçando muitas a continuarem se expondo ao vírus para sobreviver.

Além dos impactos imediatos da pandemia, a crise econômica aprofundada coloca em questão o futuro dessas indivíduos. Sem políticas públicas eficazes que reconheçam e abordem suas necessidades específicas, travestis e transexuais enfrentam uma margem ainda menor de segurança econômica e social. Iniciativas comunitárias e esforços de organizações não governamentais, como a distribuição de renda mínima e cestas básicas pela Transvest, tornam-se vitais, mas são apenas soluções temporárias para problemas estruturais. Este cenário ressalta a urgência de uma reformulação nas políticas públicas, visando não apenas a sobrevivência imediata, mas também a inclusão sustentável dessa população no tecido social e econômico do país. A pandemia desnudou e ampliou as fissuras de uma sociedade que continua a falhar com uma de suas comunidades mais vulneráveis e marginalizadas. Esta realidade alarmante desafia a sociedade brasileira a enfrentar suas próprias falhas estruturais e a repensar como incluir efetivamente as travestis e mulheres transexuais. A continuidade da violência e exclusão contra esses indivíduos não apenas evidencia as insuficiências das políticas atuais, mas também sublinha a necessidade de uma mudança radical na maneira como o Estado e a sociedade civil reconhecem e protegem os direitos humanos de todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero. Somente assim poderemos esperar construir um futuro onde a igualdade não seja apenas uma promessa, mas uma realidade palpável para todos.

The batman
CLOSE
Fotografia: Equipe Pajubá Maquiagem e stylist: Filipe Costa Modelo: Filipe Costa
Uma

viagem

pelo mundo drag e sua política,beleza, arte e sua influência

texto Pedro Correa

Divonica: aquela que é glamouroso, famosa, especialmente por realizar alguma atividade no mundo do entretenimento; astro, estrela. Ícone, grandiosa, exemplar, inspiração

Babilônica: espetacular, excepcional, deslumbrante

Rupaul: considerado a drag queen mais bem sucedida comercialmente nos Estados Unidos

Berro: expressa uma reação intensa a algo muito engraçado, chocante ou impressionante

Mas esse não era meu rolê. Para Every, que é cria de uma cabeleireira e um cantor, o X da questão não é ser comparado a uma prostituta, mas sim o fato de que algumas pessoas intolerantes usam essa ideia pejorativa para bater e criticar sua arte, seu talento nato como drag. É um baixo astral que só vendo, aff!

Então, nesse babado todo, Every entra em cena com tudo, como uma diva indo para a batalha, tá? Ela se joga nos trajes sensuais, nas unhas postiças, peruca toda colorida e maquiagem de parar o trânsito, tudo isso pra reconquistar sua liberdade criativa e de expressão, quebrando as correntes que a sociedade tenta impor. Mas, querida, a jornada para ser aceita é longa e cheia de curvas, e é quase certo que você não vai chegar lá sem ganhar algumas cicatrizes nesse lacre. Ao se montar com suas armaduras todas coloridas e brilhantes, as drags tentam se proteger da intolerância causada pela ignorância alheia. Mas aí, elas enfrentam um novo tipo de preconceito, um novo tipo de dor: serem vistas só como um frisson, um exotismo que diverte e desperta a curiosidade, mas que no fim das contas, não recebe o respeito que merece. Um close errado da sociedade, viu?

“As pessoas fora da comunidade precisam entender que somos artistas estranhos, mas que também somos artistas como qualquer outro e que tudo bem ser diferente. Tem os kings, tem as drags, tem a galera que performa batendo cabelo, que performa mais teatral e que, em suas diferentes formas de ser drag, consegue mostrar essa estranheza para o público, mas também nessa estranheza mostrar que somos normais.” Esse relato é da drag queen e palhaça de luxo Cilindra, que se montou pela primeira vez em 2016, quando tinha 17 anos. No início, Cilindra abusava do preto nos olhos e arrasava no batom escuro na boca, mas com o tempo, seu estilo gótico não combinava mais com a vibe simpática dela. Ela nunca foi dessas drags que só usam o que tá na moda: ela veste o que tem em casa mesmo, bem naquela de improvisar os looks. É super conhecida por ser uma mistura da Úrsula, do filme A Pequena Sereia, com a cantora Elza Soares, um ícone! A nossa palhaça de luxo acredita que toda drag tem o direito de ocupar qualquer espaço, especialmente os mais inusitados. Ela lembra da primeira vez que contou histórias para crianças enquanto estava montada. Nesse momento, descobriu um mundo novo, muito além do batidão de cabelo e das performances noturnas em boates. Cilindra encontrou um novo sonho, uma nova maneira de usar sua drag para chegar em lugares diferentes. Porém, essa descoberta é meio agridoce, porque fica aquele pensamento: “Como não descobri isso antes?” Para outras queens, a pressão social que manipula a cultura drag como marionetes em um show reforça o equívoco de que a drag só pode ocupar um lugar e deve sempre se portar de determinada maneira. No cenário atual, pode parecer que essa arte nunca será valorizada ou encontrará o prestígio que merece. Mas, lembra que até mesmo Leonardo da Vinci demorou para ser reconhecido.

Origem

A moda e a maquiagem são elementos essenciais na construção das drag queens, como forma de retomar o controle de sua identidade, de sua expressão individual e, claro, sua criatividade sem limites. Transcendendo os clubes underground e ganhando cada vez mais espaço nos palcos, nas telas, nas redes sociais e na cultura popular, a arte drag está em ascensão, popularizada por personalidades como Pabllo Vittar, Gloria Groove, RuPaul e muitas outras.

Entre esses nomes famosos estão, inclusive, nossas duas entrevistadas: Rita Von Hunty e Bianca Dellafancy. No Dia Internacional das Drag Queens — data criada para dar visibilidade ao movimento cultural —, o gshow conversou com elas sobre essa relação das drag queens com a moda e beleza. Mas quando esse processo começou? No início dos anos 90, RuPaul, criador da franquia “RuPaul’s Drag Race” e uma das drag queensmais influentes e famosas do planeta, fez uma homenagem às supermodelos — então, no seu auge —, com o videoclipe e a canção “Supermodel”.

Rita destaca esse momento como uma proximidade entre a moda contemporânea e a arte drag: “Ela começa a produzir algo que, ao mesmo tempo, é uma sátira, uma paródia e uma homenagem. A música fez o maior sucesso. Ela fala o nome da várias supermodelos da época, como Cindy Crawford e Linda Evangelista.”

Segundo Bianca, a cultura drag questionadiretamente os limites e parâmetros pré-estabelecidos socialmente, podendo ser feita por qualquer pessoa, independente do gênero, da sexualidade, da idade ou do corpo: “Você faz absolutamente tudo o que quiser. A arte drag questiona os nossos papéis sociais. Esse pensamento de liberdade acaba respingando na moda, fazendo com que as pessoas repensem esse comportamento limitante. ”Para Rita, um dos principais elementos da cultura drag que foi incorporado à indústria da moda e beleza é, sem sombra de dúvidas, a técnica de perucaria: “À medida que a gente vai vendo avançar o uso da peruca, em especial na indústria fonográfica, as técnicas de perucaria, para que a peruca fique o mais realista possível, ou mesmo a estilização dessas perucas em penteados, isso vem da base da arte drag.”, ela menciona as técnicas de contorno e iluminação, que foram popularizadas pelas Kardashians, mas que começou a partir do contato delas com maquiadore“A cultura drag trouxe uma construção de maquiagem muito mais detalhada e que leva a um resultado mais polido. O contorno, o baking... Isso tem muita influência da cultura drag, que é feita há anos”, explica Bianca.

Rita também destaca as técnicas como enchimento, conhecido como padding: As meias-calças especiais, que ficaram famosas como as meias da Beyoncé,

Lacre: fazer algo muito bem

Baby Drag: artista drag que está no início da carreira

Kween: rainha!

mas eram as meias-calças das drag queens. Os espartilhos, as técnicas para criar uma ideia de cintura.”Rita aponta que a ideia de gênero, do que é tido como belo, vai sendo, com o tempo, questionada, combatida e parodiada pela cultura drag, já que existe espaço para todas as ideias de performance e estética:

“Uma drag como uma Miss Fame, inspirada naquilo que a gente entende como feminino, se opõe a uma Sasha Velour, que é uma drag babilônica que não usa peruca, careca, que está mais nesse espectro do edge, do avant-garde. Ou como a Bimini Bon-Boulash, que foi uma finalista do ‘RuPaul’s Drag Race UK’, e também faz essa estética mais puxada para o punk.”

Maquiagem afro futurista

“O que eu espero é que a arte drag possa, aos poucos, ir desconstruindo e rompendo essas ideias de gênero e que isso vá produzindo uma fluidez maior na ideia de qual corpo pode usar o quê”, explica Rita. Ela dá alguns nomes de figuras famosas que estão, de alguma forma, experimentando com gênero, mas esclarece que esse reconhecimento acontece de forma maior quando são homens brancos, inseridos em um padrão: “Homens negros já fazem isso há muito tempo, Billy Porter é um exemplo. Em contrapartida, atualmente, temos o Timothée Chalamet, o Harry Styles, esse é um ponto.”

“Mas a minha expectativa é de que, através dessa permeação na indústria cultural, na indústria da moda, da figura drag, as ideias de qual corpo pode usar o que e o que significa gênero na moda sejam gradativamente destruídas”, diz.

Bianca espera ver cada vez mais esse conceito da pluralidade, mas acredita que os caminhos, infelizmente, não estão tão abertos assim: “A cada passo que a gente dá em direção a uma evolução que seja mais diversa, mais acolhedora e receptiva, a gente recebe dois espaços contrários de grupos conservadores. Estamos caminhando, mas é um caminhar lento.”

“Como eu disse, qualquer um pode fazer a arte drag. Pessoas pretas, gordas, pessoas com deficiência e por aí. E ainda falta muito disso na moda, é uma coisa que a moda ainda tem muito para absorver. É essencial que a moda chegue em um lugar mais acolhedor.”

Se elas acreditam que a fama de artistas drag como Pabllo Vittar e Gloria Groove contribuíram para a popularização da arte, Rita e Bianca respondem com um sonoro “sim”. Para ambas, o papel dessas personalidades foi crucial para a ascensão e popularização recente da cultura drag no Brasil.

Além dessas divas, tem vários programas de TV que tão mostrando o babado todo da costura e da montação das drags e viraram um sucesso, fortalecendo demais a arte drag. Bianca tá toda empolgada e fala: “Amores, tem uma galera de programas babadeiros produzidos

Já chegaram a perguntar para minha mãe se o que eu fazia era prostituição

aqui no Brasil que merecem muito nosso close. Eles mostram tudo, desde a trajetória emocionante dos participantes até os rolês de família, aceitação e autoconhecimento, tá? Isso é super importante e dá um up gigante no valor da nossa arte.” Arrasou na visão, né?

Entre outros elementos da cultura pop, Rita destaca filmes como “Priscilla, a Rainha do Deserto”: “Essas obras da indústria cultural vão aumentando a longevidade da cena. Dos anos 60 para cá, ela tem esses momentos entre efervescência e platô.”

“Mas ‘RuPaul’s Drag Race’, por exemplo, está consolidando a drag como uma plataforma artística, como um mercado, como um setor de entretenimento e profissionalizando esse fazer. Peruqueiros, figurinistas, aderecistas e maquiadores ao redor do planeta estão tendo a arte drag como uma forma de trabalho.”

Rita, toda observadora, joga a real que nem tudo são flores: “Amiga, isso pode ter um lado meio ‘nhé’, sabe? Com essa popularização toda, a arte drag pode acabar se tornando só mais um produto de mercado, perdendo aquele toque único, aquela essência de cultura artística. Tem o lado bom de ser conhecida, mas também tem o risco de ficar pasteurizada, meio que perdendo a identidade.” E falando em ícones, Bianca e Rita não deixam de mencionar a lendária Márcia Pantera, que arrasou e virou musa do poderoso Alexandre Herchcovitch. Ele, que começou a carreira lá nos anos 90 desenhando looks para as drags, sempre teve esse contato íntimo com o universo drag. “Ele e a Márcia Pantera, junto com o Walério Araujo, são nomes icônicos que mostram como as drags influenciaram pra valer a moda”, dizem elas, toda orgulhosas do legado drag na moda.

“Márcia Pantera é uma drag preta e uma das primeiras a furar essa bolha da moda. Hoje em dia, eu trabalho diretamente com grifes, com eventos, fiz capa da Vogue... E sei que, para olharem as drags como possibilidade, isso veio de algum lugar. Precisamos reconhecer quem foi que capinou para a gente poder andar”, explica Bianca. Mesmo com tanto amor envolvido e uma melhora significativa na recepção do drag na sociedade, ainda há muito a ser feito. Um dos maiores empecilhos que perpetuam é o fato de o ser humano consumir constantemente arte na forma de música, teatro e nas relações.

Close errado:

Refere-se a uma situação ou ação que deu errado, que foi embaraçosa ou inapropriada

Abafa: Significa deixar um assunto de lado

interpessoais, mas ainda não perceber que as drag queens também são uma manifestação artística. Por isso, a jornada do drag é repleta de magia e desafios, mas, principalmente, da vontade de mostrar ao mundo a importância desta cultura e o valor da profissão. A arte é aquela coisa, né? Nunca é descartável porque sem ela, quem conta nossa história? Nessa nossa caminhada, a gente conheceu uma palhaça de luxo, uma professora de inglês, um marinheiro, uma publicitária, um maquiador filho de uma cabeleireira, e uma mulher que vive o drag dentro das paredes coloridas da Casa Fluida. Olha, eles podem não ter nada em comum à primeira vista, mas, no fundo, todos eles compartilham o mesmo desejo: manter o sonho drag brilhando e transformar o mundo num palco melhor para todos os artistas. Enquanto a sociedade não abrir os olhos para isso e não aprender a valorizar a arte em toda a sua glória, o mundo vai continuar cinza e sem graça. Então bora, gente, jogar um glitter nessa vida, colar uns paetês e fazer tudo brilhar! Porque, no fim das contas, a arte drag é isso: um splash de cor num mundo que às vezes insiste em ser preto e branco. É preciso reconhecer que as drag queens vão além de apenas entretenimento. Elas são agentes de mudança, desafiando normas e promovendo a aceitação e a inclusão. Cada performance é uma afirmação de identidade, uma celebração de diversidade e um ato de resistência. Ao valorizar e apoiar a cultura drag, estamos também abraçando a riqueza das expressões humanas e promovendo uma sociedade mais justa e vibrante. Então, enquanto houver drag queens espalhando sua magia pelo mundo, sempre haverá esperança de um futuro mais colorido e inclusivo. Que possamos todos aprender a ver a beleza e a importância dessas artistas, celebrando e defendendo seu espaço com orgulho e admiração. Afinal, como já disse alguém sábio, sem a arte, quem conta nossa história? Vamos todos jogar um glitter nessa vida e garantir que o brilho das drags nunca se apague.

eu endureço: meme originado no twitter por meio de um video do BBB

eu amo veyr: meme roiginado no twitter da Agatha Nunes

drink uno

Aprenda a fazer um jogo de unoAprendaalcoólico! a fazer um jogo de uno alcoólico!

com as cartas na sua mão o quanto antes. Sendo assim, tome um gole da bebida sempre que você precisar comprar uma nova. Isso adiciona uma camada extra de desafio e diversão ao jogo, garantindo que ninguém fique entediado.

Tome dois ou quatro shots se alguém jogar a “Comprar duas cartas” ou “Curinga comprar quatro cartas”. Se alguém jogar uma carta que faz você comprar mais cartas, prepare-se para beber! Se for uma carta “Comprar duas cartas”, tome dois shots. Se for uma “Curinga comprar quatro cartas”, então são quatro shots. Dê um shot para cada carta que você tiver que comprar, não importa se são duas ou quatro no total. Isso torna o jogo ainda mais emocionante e faz com que todos fiquem atentos, eu endureço toda vez.

Caso você dê o azar de receber três “Comprar duas cartas” seguidas, beba seis vezes e vire a loca do cu. Sim, às vezes o azar

bate à porta. Se você for o infeliz a receber três cartas “Comprar duas cartas” seguidas, prepare-se para beber seis vezes! É a hora

To bege: estar muito surpreso ou chocado com algo

Odara: bonito

Cacetuda: mulherão

Luxo:

Algo muito bonito, elegante ou de alto nível

trans luxo

Elliot Page e Hunter Schafer estrelam em campanhas da Gucci e Mugler

elacionamentos líquidos, nãomonogamia e bissexualidade estão com tudo na nova campanha do perfume Gucci Guilty, estrelada por ninguém menos que Elliot Page. A campanha, que desembarcou nas redes na última semana, é puro babado, confusão e gritaria, abordando os tópicos quentes que vivem pipocando no Twitter. Criando uma vibe de luxúria, glamour e sensualidade, tudo pensado para brilhar em 2023. Além de tudo, marca a estreia de Elliot, odarérrimo, que se declarou trans em 2020, nas passarelas da alta moda. Tá aí, um verdadeiro lacre na moda e na representatividade, to bege!

O vídeo é dirigido por Glen Lunchford e anuncia as fragrâncias feminina e masculina da Gucci Guilty. Nele, Elliot participa de um trisal com o rapper A$AP Rocky (marido de Rihanna) e a atriz Julia Garner, estrela da série Inventando Anna (Netflix) e escalada para viver Madonna na recém-adiada indefinidamente cinebiografia da Rainha do Pop. A campanha usa a música “Life is But a Dream”, dos Harptones, como trilha sonora, enquanto o trio se aconchegam umas nas outras em meio a um cenário Art Deco e inspirado nos anos 1970. “Eles celebram as incontáveis interações do amor, incorporando a auto aceitação completa e mostrando como uma mente aberta libera a forma mais pura

de expressão”, disse a Gucci, em comunicado enviado à imprensa. No anúncio postado em suas redes sociais, a grife ainda disse que a campanha é “uma ode à amizade e ao amor em todas as formas”.

Em entrevista à Elle, o trio afirmou ter se sentido confortável durante as filmagens. “Eu nunca tinha feito uma campanha antes, então me senti um pouco tímido no início, para ser sincero, mas Rocky e Julia são as pessoas mais amáveis e quando os conheci meus nervos evaporaram”, disse Elliot. Rocky ainda disse à publicação que prefere usar a fragrância feminina: “Eu realmente gosto do fato de que isso parece não ter gênero. Não é muito ‘dele’ ou ‘dela’ – é tudo nosso e eu gosto do fato de ser parte disso”.

As fantasias homoeróticas e sensuais já são velhas conhecidas nas campanhas de perfume da Gucci, especialmente na era Tom Ford, quando as imagens poderosamente hiperssexualizadas, assinadas por Terry Richardson, botavam todo mundo pra questionar: até onde pode ir a publicidade, gente? Agora, com Elliot Page entrando nesse babado, a representatividade tá mais forte, mas ele não tá sozinho nessa! Nossa

texto Carlos Machado

cacetuda Hunter Schafer, a nossa icônica Jules de Euphoria, também está causando com seu novo papel como o rosto do perfume Angel da Mugler. A campanha dela, dirigida pelo Quentin Derozier, é um arraso total, levando a gente pra uma vibe futurista onde a Hunter vira uma entidade intergaláctica poderosíssima, e pra deixar tudo ainda mais com cara de hit, tem “Dreamer” da Charli XCX na trilha sonora. E olha, já tá rolando um edit babadeiro na internet com “Alien Superstar” da nossa rainha Beyoncé, mostrando que a melhor música internacional do ano passado ainda deixa os fãs da diva morrendo de sede por um vídeo oficial. Honey, é muito poder para uma campanha só!

Em 2021, Hunter já havia participado do desfile digital de primavera/verão da Mugler. Em entrevista ao The Cut, ela ainda disse que Angel seria definitivamente uma fragrância que Jules usaria em Euphoria e detalhou sua relação pessoal com o aroma mais tradicional da grife. “Eu sinto que [o perfume] é uma visão muito legal sobre feminilidade e o que significa ser uma mulher hoje. A fragrância é tão complexa e contrastante. Ela tem essa base masculina e amadeirada e então um elixir doce, de baunilha, com um tipo de notas metálicas.”

As novas campanhas da Gucci Guilty e do Angel estão surfando na onda, tardia mas gloriosa, de modelos trans ganhando espaço nas grifes tradicionais. Querida, finalmente a moda tá acordando! Nos últimos anos, marcas poderosas como Chanel, Burberry, Moschino e Calvin Klein decidiram jogar no nosso time e apostar em talentos trans incríveis. Temos ícones como Teddy Quinlivan, Campbell King, Aaron Philip, e MJ Rodriguez arrasando nas passarelas e mostrando que inclusão não é só tendência, é necessidade, tá? É a diversidade

hunter
schafer

SUPER

um show que passa por todas as suas eras. Jão iniciou a Superturnê lotando o Allianz Parque
texto Roberto Bettini fotografia Equipe de Jão

h, seus bicha! Preparem-se para um close certo! O icônico Jão fez uma apresentação babadeira, dividida em quatro atos, cada um representando os elementos terra, ar, água e fogo. Esses elementos simbolizam seus quatro álbuns: “Lobos”, “AntiHerói”, “Pirata” e “Super”. Mas segura essa: as músicas dos discos foram todas misturadas durante o show, numa vibe bem power. Nosso divo cantou as 14 faixas do seu mais recente trabalho e, no total, a setlist teve 28 músicas, com 2 horas de show de pura pocnejo Antes de começarmos a falar sobre essa performance que deixou todo mundo na pista de dança desmaiada de tanto close, vamos fazer um throwback na história dos álbuns de Jão Em seu primeiro álbum, Lobos, que retrata o elemento terra, Jão canta sobre uma juventude que começou dia desses, e que precisam de motivação para seguir em frente, acreditar em si e que dias melhores virão. Lobos se trata de ambiguidade: ele quer amar, mas se amar demais, cansa; quer ser feliz, mas por todas as felicidades que passa, não se encontra, e quer ser livre, mas para se ver livre de todas as amarras, se isola, É um álbum muito pessoal e que fala muito sobre o artista e suas inseguranças. Mas claro, que “Se eu me desencontrar, a rua vai me proteger.”

Anti-herói é o segundo álbum do cantor, representando o elemento ar. O álbum é um desabafo sobre seu término. Fugindo do que o grande público gostaria de ouvir, Jão afoga em si mesmo para compor suas melodias mais bonitas. É um álbum sobre não só o Jão, mas sobre quem ele amou, e acima de tudo, é um pedido de desculpas. É um álbum sobre não só o Jão, mas sobre quem ele amou, e acima de tudo, é um pedido de desculpas.

Se jogando em novos ritmos e melodias, “Pirata” faz Jão encontrar uma forma mais otimista e extrovertida de falar de seus boy magia. Com produções bem trabalhadas e diversas harmonicamente, Jão se aventura principalmente pelo techno e consegue transformar canções tristes em dançantes, um verdadeiro close! É um álbum sobre póstérmino, superação e as recaídas da dor de um relacionamento que machucou e ainda machuca. Mas também, é um grito de liberdade e orgulho de ser quem você é, de ser feliz e se sentir viva na sua essência. Ele também explora sua sexualidade, como em “Meninos e Meninas”, onde o cantor revela ser bissexual: “Meu coração é grande e cabem todos os boy e meninas que eu já amei.”

O álbum SUPER fecha o ciclo dos representando o fogo. O artista mostra sua evolução e transformação ao longo desses mais de 5 anos de carreira. Da mais pura raiva, ao amor, SUPER mostra a versatilidade das emoções humanas, ligadas a um sentimento de nostalgia.

O álbum SUPER fecha o ciclo representando o fogo. O artista mostra sua evolução e transformação ao longo desses mais de 5 anos de carreira. Da mais pura raiva ao amor, SUPER mostra a versatilidade das emoções humanas, ligadas a um sentimento de nostalgia. Em cada faixa, Jão revela a intensidade das suas experiências e sentimentos, mergulhando o público em uma jornada emocional profunda e incendiária. Durante o show, Jão mesclou canções de todos os seus álbuns, criando uma experiência única e memorável. As transições entre as músicas fluíram com perfeição, fazendo com que o público se sentisse parte dessa jornada emocional e artística. Cada ato trouxe uma nova energia ao palco, com cenários, luzes e coreografias que refletiam os elementos representados no seu show

Os fãs vibraram a cada nota, a cada verso, mostrando que o legado de Jão está mais vivo do que nunca. Seu talento em combinar vulnerabilidade e força, melancolia e euforia, faz dele um dos artistas mais queridos e respeitados da atualidade. E aí, bicha, já garantiu seu ingresso para o próximo show? Porque uma coisa é certa: Jão não vai parar por aqui, e a gente vai continuar acompanhando cada close, cada lágrima e cada celebração desse ícone do pocnejo. mostra que ser quem somos é a maior vitória.

Esse show é uma celebração de quem a gente é

onde Jão relata que essa mulher deixou uma carta para ele “Naquele novembro, eu corri até a sua casa, mas só encontrei sua carta”, o cantor entrega uma carta para um fã, onde ele fala algo relacionado ao que ele sente. Seja na vida pessoal, profissional, mas principalmente sobre sua relação com o público e seus conselhos “Se você tem partes que precisam se soltar... solte!”

A penúltima música do show é Super, onde Jão encerra seu ciclo de quatro álbuns, ligando terra, ar, água e fogo em uma música emocionante “A terra que eu deixo espera a minha volta, o vento da queda já não me alcança A água ainda chove, mas já não me molha Eu estou em chamas”. Jão apresenta sua grandiosidade e como se consolidou um dos maiores artistas da nova geração no Brasil, avisa que é ele!

Para finalizar, Jão cantou sua música mais romântica: alinhamento milenar. Durante uma chuva de fogos, o cantor se despede do público junto de sua banda.

Durante todo o show, o artista apresenta visuais em seu telão gigante, como os elementos das eras e um prédio. Aposta em coreografias divertidas, como em Lábia e Gameboy, e claro, interaje muito com os fãs.

Divo: ícones de estilo e personalidade.

Deriva de “diva”, mas pode ser usado no masculino

Pocnejo: uma mistura de “poc” e “sertanejo”

Boy magia: um homem que é muito atraente

Bee:

uma forma carinhosa e afetuosa de chamar um amigo ou amiga, similar a “mana”

Pocs: modo carinhoso a se referir a homens gays jovens

Serviu cedo: alguém fez algo muito bem ”Cedo”, pode intensificar o elogio, sugerindo que a pessoa não perdeu tempo em se destacar ou arrasar

Quem é Pedro Tófani?

Jão diz na segunda noite: “A gente criou esse show para todo mundo que nasceu em uma cidade que não te acolhe, que não tem pais, ou amigos, ou família que te apoiem. Que sente demais, que sonha grande demais, que um dia acordou e sentiu que gostava de um menino, ou de uma menina, ou dos dois. Espero realmente que se você nunca se sentiu parte ou pertencente a algo, que você olhe hoje ao seu redor para as pessoas a sua volta e eu espero de verdade que você se sinta em casa. Porque eu me sinto em casa com vocês”.

Ao finalizar sua segunda apresentação, o artista serviu cedo e surpreendeu o público ao beijar seu produtor, Pedro Tófani, ao som de “Alinhamento Milenar”. “E de todos os boy e meninas que eu já amei, eu escolhi você. E em todas novas vidas que eu ainda for viver, eu vou te escolher”, ele declarou. O momento, transmitido ao vivo no Globoplay e Multishow, teve uma repercussão babadeira nas redes sociais. O ato foi celebrado por todas as pocs que torciam pelo casal e até por quem nem conhecia. Uma demonstração de amor e afeto que quebra todos os padrões em rede nacional, desafiando um sistema fundado em preconceito e discriminação.

Quem é fã de Jão desde o início, sem dúvidas, já sabe quem é este Pedro em questão. No entanto, se você começou a acompanhar o cantor há pouco tempo (ou nem acompanha, mas deveria), deve estar se perguntando quem é o rapaz que ele beijou logo após o show Pedro Tófani, além de produtor musical, é sócio e diretor criativo do cantor. Os dois se conheceram na faculdade, viveram um romance. Romance esse, apresentado em muitas de suas músicas.

Mas nem só de amor é feita essa história. Jão e Pedro deram um break em 2018, e o fim do namoro foi tema do seu segundo álbum: Anti-herói, onde o cantor aborda a história do relacionamento e a dor do término, deixando explícito em um dos shows dessa era (o primeiro), quando, durante a música: Nota de voz 8 o cantor diz “e se eu não gostar de mim, e se eu for mesmo tão pequeno, eu não devia questionar, me desculpa, Pedro.”

No programa “Lady Night”, Jão revelou um caso passado com um amigo da faculdade, Pedro. Em 2023, ele lançou o álbum “SUPER”, destacando a música romântica “Alinhamento Milenar”, inspirada em seu relacionamento reatado com Pedro, confirmando os rumores dos fãs sobre a volta do casal.

Entregou horrores: é usada para elogiar alguém que fez algo extremamente bem

É sobre: usada para enfatizar a essência ou o ponto principal de algo

Catucha: é uma gíria usada para se referir à amigos

fui na rave

A fotógrafa Mia Evans organizou uma exposição/Rave celebrando o espírito da comunidade queer da cidade

texto TJ Sidhu Fotografia Mia Evans

Evans entregou horrores ao apresentar “So Far”, uma exposição rave que reuniu cerca de 400 pocs da cena rave queer e trans. O evento contou com sets de 10 DJs trans e queer que serviram o close certo a noite toda. E, claro, a documentação de Evans cobriu as paredes do local underground íntimo, mostrando ravers bem montadas, abraços na pista de dança e a magia extática do amor queer. A noite foi um grande sucesso, com trilha sonora de hardcore gabber até o sol nascer, deixando todo mundo desmaiada de tanto close.

“Para mim, tornou-se importante mesclar as fotografias com o Gabber Hardcore porque a intensidade e a zueira da música pareciam combinar com a intensidade colorida das fotos”, diz Evans. “Sabíamos que se estivéssemos fazendo uma rave, na verdade estaríamos fazendo uma rave, então não havia dúvida de ter 10 DJs, todos com horários. Adoro ficar fora até de manhã cedo – é impossível chegar em casa quando uma rave termina às 4 da manhã.” .

No entanto, organizar uma rave significava muito mais do que simplesmente organizar uma noitada, é sobre isso e tá tudo bem. Para a fotógrafa, veio de um “lugar de libertação “espiritual”. Como para muitos de nós, as raves são um lugar sagrado – e apenas os grandes devotos do fim de semana conseguem isso.

“Eu realmente acho que mais pessoas deveriam tentar curtir sóbrias —é quando você descobre quais raves são realmente boas. Tem que haver boa música, boas pessoas, uma boa localização e é o momento perfeito”, afirmam. Como para tantas pessoas trans e queer, delirar tem sido

uma forma de Evans se conectar com sua comunidade, o que nem sempre é fácil para quem cresceu fora de grandes cidades como Londres ou Manchester.

São noites como So Far que destacam a necessidade de espaços seguros para a comunidade trans e queer – o que é necessário agora mais do que nunca, numa época em que a retórica anti-trans é relatada quase diariamente e a guerra que se segue contra as pessoas LGBTQ+ em todo o mundo. está ficando cada vez mais sinistro. Ninguém solta a mão de ninguém catuchas!

Rave Gabber LGBTQAP+

Yag:

Gay ao contrário

Desmunhecagens: Gesticular de forma efeminada

Uó: Algo ruim ou desagradável

Montado: Bem vestido, geralmente de forma extravagante

ele& garnet

personagens que você não sabia que eram lgbt

Frank Ocean

le” É um vilão do desenho meninas superpoderosas, e sua caracterização trás grande problematização de esteríotipos e preconceito uó com a comunidade lgbtq+. Podemos começar a análise com seus trejeitos afeminados, bem yagzinho, sendo, erroneamente, ligados diretamente á comunidade Gay. Entretanto não é somente essa característica que liga o personagem á comunidade. Ele é todo montado com suas roupas e comportamentos lembram muito o de drag queens, com maquiagens exuberantes, ações desminhecagens.

A problemática aqui não é apenas ele ser um enorme esteríotipo da comunidade e ser vilão, até por que, estamos cansados de história de gays tristes e queremos gays trambiqueiras. Mas este personagem não apresenta motivação nenhuma, uma vez que também é considerado a própria maldade, ser aquele que não pode ser nomeado. Mais especificamente, retrata o demônia como um membro da comunidade lgbtq+.

No final da primeira temporada de Steven Universo descobrimos que a Garnet, é, na

verdade, uma fusão de outras duas gems: Rubi e Safira. Algumas gems se fundem em modo de batalha, para se tornarem mais fortes; mas no caso das duas, não existe “lógica” aparente. Exceto o amor entre ambas, que simplesmente escolheram estar juntas o tempo inteiro. Caso esse fato fosse revelado desde o começo da temporada, o público não teria sido cativado ainda pela Garnet, e eventuais preconceitos interfeririam na fruição do desenho. Pais conservadores poderiam têlo vetado desde o princípio, por exemplo. Da forma como foi feito, os preconceitos foram desarmados. Kill them with kindness; cative seus inimigos com amor. É isso o que tenta nos ensinar Steven Universo, tanto em sua estrutura narrativa, quanto no retrato de um herói compassivo e corajoso, capaz de converter seus opositores. É lindo ver como essa relação vista como perfeita enfrenta seus desafios, existindo desentendimentos, mas finalizando sua história com um casamento e um dos primeiros beijos sáficos dos desenhos. Se você esperar para dizer às crianças e aos jovens LGBT que o que eles sentem tem importância, pode ser tarde demais! Você precisa conversar e precisa ser igual para todos. Falam que precisam sonhar com esse amor que vai satisfazer todas as suas necessidades. quer ser.

Steven Universo
Fotografia: Equipe Pajubá Produção: Donizete Oliveira
Trabalhar duro, se divertir muito: Como Rosalía faz sua música

Monos e manas:

modo carinhoso de se referir à homens e mulheres

Dá o nome:

Fazer algo muito bem, arrasar

Você disse que estava fazendo jornadas de 16 horas no estúdio para fazer o MOTOMAMI. Como é um dia típico para você quando está fazendo isso?

Ok, eu acordo todas as manhãs; eu treino, porque para minha saúde mental realmente me ajuda a malhar; eu tomo café da manhã; e então seriam 16 horas por dia, por meses e meses. Foi um processo difícil, não vou mentir para você. Foram muitos momentos de desabar no estúdio e passar o tempo enquanto alguns plug-ins estavam sendo baixados, se divertindo mas ao mesmo tempo trabalhando muito, muito, muito. Tentando encontrar a música, tentando encontrar o arranjo certo. Algumas das versões que você ouve, talvez haja seis ou sete versões da música até eu chegar na certa. “La Combi Versace”, nós mudamos completamente o arranjo antes de eu entregar o álbum.

De um modo bem básico, como você começa a escrever uma música?

Quando criei ‘Saoko’, eu queria misturar reggaeton com toques de jazz. A ideia parecia louca para alguns, mas fazia sentido para mim. Uma noite, no estúdio Electric Lady, eu estava esperando um músico que nunca chegou. Não querendo perder tempo, fui ao piano, criei um riff distorcido e comecei o beat. Introduzi a música com ‘Saoko papi, Saoko’, destacando a influência do reggaeton e meu amor pela música do Caribe desde o início. Depois de estabelecer o beat, passei uma semana escrevendo as letras, explorando o tema da transformação Para ‘Hentai’, entrei no estúdio com Pharrell e expliquei que queria criar uma balada inspirada em Cinderela, com um toque de Disney e intervalos ao estilo Frank Sinatra, algo que soasse delicado e gentil, mas com letras bem explícitas para destacar o contraste do projeto. Pharrell captou a ideia imediatamente e encontrou os acordes certos, então começamos a escrever juntos. Já ‘La Fama’ começou pelas letras; pensei que elas se encaixariam bem em uma bachata. Cada música do álbum tem sua própria essência e processo criativo. Desculpe pela longa resposta! [risos]

Não, está ótimo. Vamos voltar a “Saoko” e a ideia de ter reggaeton e jazz na mesma música. Como você pensou nisso? Porque eu amo Miles Davis e o Coltrane da mesma forma que amo Wisin & Yandel, Héctor, Lorna, ou Ivy Queen. Para mim, na minha cabeça, essas estrelas estão no mesmo nível. Como músico, é quem eu sou. Eu já disse antes e vou continuar dizendo: eu não vejo música de uma maneira que seja, Ah, isso está certo, isso está errado, isso é melhor, isso é pior. Isso te dá arrepios? Além disso, nas letras, você pode encontrar a mesma abordagem da espiritualidade, o mesmo nível de sexualidade… tudo isso, faz parte da vida.

Como foi diferente fazer MOTOMAMI comparado a El Mal Querer? El Mal Querer foi inspirado especialmente pelo clássico quarteto octossilábico muito presente no flamenco, mas este projeto tem todas as inspirações. Eu amo como Patti Smith escreve; eu amo como Ocean Vuong escreve também. Como músico, sempre esteve na minha mente: Como posso ser mais livre? Cada movimento que faço, faço buscando isso. Em MOTOMAMI há espaço para senso de humor, ironia. Isso é algo que não aconteceu nos outros projetos, talvez porque como artista eu não me sentia confortável me expressando assim ainda—também porque eu estava crescendo. Mas eu ainda

estou crescendo agora. Eu amo pensar que cada projeto deve ser diferente do anterior. Não me interesso de forma alguma por qualquer fórmula, ou algo do tipo.

MOTOMAMI é construído em deixar as coisas que acontecem afetarem minhas músicas e a maneira como escrevo— as viagens, tudo isso, deixar que isso afete sonoramente, visualmente. Eu adoraria expressar o que está acontecendo nestes três anos, então quando eu tiver 70 ou 80 anos e olhar para trás e ouvir este álbum, eu realmente posso sentir e ver o que estava acontecendo naquele momento. Eu não tenho tempo para manter um diário, e eu não gostava disso. Com este álbum, criei uma desculpa para realmente escrever sobre o que realmente estava acontecendo. Tentei transmitir a ambivalência, se isso faz sentido—um lugar ou contexto pode ser muito empolgante, mas ao mesmo tempo pode ser muito hostil. Há uma oscilação violenta entre sentir o vazio desta máquina, esta maquinaria, e o calor ou intimidade que a família ou seu povo pode te dar, sabe? Ou como o artifício que supõe sucesso às vezes, ou fama. Há contraste nesse sentimento contra o afeto.

Eu me perguntei sobre isso, porque você tem músicas como “La Fama” onde você fala sobre como a fama é vazia, mas grande parte do álbum é sobre família e Deus. Como você lidou com as mudanças em sua vida ao longo dos últimos três anos?

Minha vida mudou completamente com a exposição que veio com as redes sociais, e senti a necessidade de escrever sobre essa experiência. Meus artistas favoritos mudaram ao longo dos anos, refletindo uma evolução em meu gosto musical que se tornou mais humano e aberto. Por exemplo, antes eu não entendia Coltrane, mas depois de uma experiência reveladora ouvindo ‘A Love Supreme’ no trem para Barcelona, tudo fez sentido; percebi que sua música era sobre espiritualidade e liberdade. Também aprendi a apreciar artistas como La Niña de Los Peines e John Cage, cujas obras inicialmente desafiavam minha compreensão, mas que agora são algumas das minhas favoritas.

Você acha que ficar um pouco mais velha ajuda?

Quero dizer, estou animada para quando eu for mais velha. [risos] Por exemplo, minha avó—você pode ouvi-la na música “G3 N15”—é meu ídolo de toda a vida.

Eu queria perguntar sobre sua avó. Eu sei que sua irmã Pili faz todo o seu estilo, e que você nomeou MOTOMAMI depois de sua mãe. O que os laços dessas mulheres significam para você? As mulheres da minha família são minha maior inspiração. MOTOMAMI só existe graças à minha avó, mãe e irmã, que foram motomamis antes de mim. Lembro-me do cabelo loiro e encaracolado da minha mãe enquanto ela dirigia sua Harley, e eu, abraçada a ela, sentia o vento em Barcelona. Isso me faz sentir verdadeiramente mulher hoje. Sobre ‘Hentai’, essa música foi divertida de fazer porque explora a sexualidade feminina, um tema frequentemente julgado, mas para mim é apenas uma expressão de desejos. A música, uma balada simples de voz e piano, confronta o terno com o explícito. Apesar das críticas iniciais, acho que quando as pessoas ouviram a música completa e viram o vídeo, entenderam e reagiram positivamente. Esse desconforto que surge quando uma mulher expressa sua sexualidade abertamente já foi tema para artistas como Lil’ Kim, Madonna e Björk. As pessoas vão ter que se acostumar com isso! [risos]

Eu li em outra entrevista onde você falou sobre como pode ser difícil como uma mulher produtora se você trabalha com homens, porque as pessoas simplesmente assumirão que você não está fazendo o trabalho, como fizeram com a Björk.

Eu aprecio que você fale sobre a Björk, porque graças a Deus que ela abriu o caminho, graças a Deus que ela existe. Há mulheres que são [produtoras] com mentes grandes e lindas, mas eu sinto que não há luz suficiente colocada nisso. No final do dia, eu me esforço tanto como escritora, como produtora, e neste processo eu realmente, realmente, realmente cresci. Então eu só acho que é injusto quando às vezes as pessoas veem que há homens nos créditos e é como, oh, eles que fizeram—mano, eu sou a primeira a chegar no estúdio e a última a sair.

Do seu ponto de vista, de onde vem esse preconceito?

Eu gostaria que não ouvesse suposições. Eu gostaria que as pessoas pudessem ver... você pode perguntar a qualquer pessoa que esteve comigo no estúdio. Como se diz ‘não se me caem os anéis’? É assim que dizemos em espanhol: “Meus anéis não caem”. Quando eu tenho que trabalhar, eu trabalho muito. Se eu tenho que tocar as teclas, eu toco. Se eu tenho que fazer uma batida, eu faço. Mas no final do dia eu penso assim: o tempo dirá. Eu sei a verdade. As pessoas que estão comigo no estúdio, elas sabem a verdade. Seria ótimo para as futuras gerações ver mais mulheres no estúdio, porque para mim tem sido difícil. Há muito mais espaço para a forma como as mulheres são tratadas ser diferente.

Conte-me sobre trabalhar com a rapper dominicana Tokischa. Ela é a única participação no seu álbum além do The Weeknd. Ela escreve suas próprias coisas, ela vai ao estúdio, ela sabe o que quer. Eu amo que ela seja tão descompromissada com quem ela é e como ela é. Foi uma coisa incrível poder viajar para a República Dominicana, fazer música com ela. Em outros projetos, minha principal

afrontosa em muitos

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Zoraide: pessoa clarividente, esotérica.

Britney Spears Ela parece um tanto descontrolada na maior parte das vezes e se diverte até mesmo com sua própria desgraça.

Libra Cardi B Apesar da natureza diplomática e equilibrada dos librianos, a diva se envolve em

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