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COLABORADORAS

LUCIA MONTEIRO

Professora-adjunta de cinema na uff, com pósdoutorado na usp e na Universidade Grenoble Alpes. Graduada em jornalismo pela usp, com mestrado e doutorado pela Sorbonne Nouvelle e usp. Foi professora na Sorbonne Nouvelle e na Universidad de las Artes. Atualmente, é co-organizadora de livros e curadora de várias amostras de cinema.

FLÁVIA BRITO

Professora Livre-Docente na fauusp, historiadora (uff) , arquiteta e urbanista (usp). Trabalhou no Iphan, foi diretora do Inepac e conselheira no Condephaat e Conpresp. Destacam-se seus estudos sobre a Paisagem Cultural do Vale do Ribeira e imigração japonesa em Registro. Atualmente, é Diretora do Centro de Preservação Cultural da usp.

LÍVIA PINENT

Doutora e mestre, membro de grupos de pesquisa na ufrgs e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da UM. Pesquisadora de comportamento de consumo, cultura material, comunicação estratégica, moda e arte com abordagem antropológica. Em seus trabalhos, procura trazer um novo olhar mais amplo para o campo da moda.

CLARA CANELLA

Apresentadora e roteirista do Canal Totorial, o projeto de games do Porta dos Fundos. Anteriormente, trabalhou como Subeditora de Games na redação do ign Brasil, e passou pelo Branded Content do AdoroCinema, ign e mgg no grupo Webedia. Recentemente, foi comentarista nas finais de fifa e Club World Cup, o mundial de clubes de fifa.

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a gente

Oi, pessoal! Bem-vindas à nossa revista .fem!

Nossa missão é ajudar mulheres que querem entrar no mundo dos negócios da indústria criativa, ou simplesmente têm curiosidade na área, mas sentem que falta apoio e acesso a essas informações. Aqui, você vai aprender de um jeito didático e inclusivo. Por favor não confunda a gente com aquelas revistas chatas e superficiais, feitas pra agradar o público masculino. Sério, a gente vai ficar chateada!

A .fem traz informações divididas em quatro temas principais: Audiovisual, Programação, Moda e Jogos. Usamos uma linguagem visual e verbal divertida, para uma leitura leve e estimulante. Queremos ser tanto um entretenimento para seu dia quanto o impulso que você precisava para se arriscar nesse mundo. Vamos te inspirar com mulheres importantes de cada uma dessas áreas, novos destaques, dicas, entrevistas, alem de informações inevitáveis como economia e empreendedorismo. Um olhar único sobre esses universos! Esperamos que você não só aprenda com a nossa revista, mas também se divirta e se sinta mais conectada com esse tema que muitas vezes é tão distante para nós, mulheres. Queremos te dar a confiança que falta para entrar de cabeça nesse mundo que parece tão desafiador e inacessível.

E claro, não poderíamos nos declarar uma revista para mulheres criativas sem ter páginas interativas que estimulam sua criatividade. Então, pegue sua caneta favorita e uma tesoura sem ponta, e mergulhe no universo da .fem, pronta para viver algumas experiências nostálgicas e outras inéditas. Por meio da nossa revista, desejamos promover confiança, autoestima e identidade para nossas leitoras.

Esperamos que vocês gostem! Xoxo, .fem

Escola Superior De Propaganda e Marketing

Turma DSG 3A 2024_01

Projeto 3

Marise de Chirico

Produção Gráfica / Materiais e Processos

Mara Martha Roberto

Motion Graphics

Henrique Sobral

Marketing Estratégico

Leonardo Aureliano da Silva

Infografia e Visualização de Dados

Marcelo Bautista Pliger

Finanças Aplicadas de Mercado

Alexandre Ripamonti

Ergonomia

Auresnede Pires Stephan

Carolina Bustos Raffainer

Cor, Percepção e Tendências

Paula Csillag

Projeto Editorial e Gráfico

Adriana Cerveira Cintra

Bruna Lagazzi De Marchi

Isabella De Donno Firetti

Maria Eduarda do Nascimento Furlan

Rafaela de Melo Pereira Espires Miguel

drica bru bella duda lela

Conheça Carolina Markowicz, diretora e roteirista de sucesso

Investir no audiovisual é investir na economia brasileira

A lente criativa das mulheres: os desafios no audiovisual publicitário

14 mulheres importantes

28 blablabla

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PROGRAMAÇÃO

Conheça Nina da Hora, jovem que hackeia o sistema para o bem

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A importância da programação para o futuro do trabalho

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Mulheres e tecnologia: o mercado ainda não é tão favorável como deveria

40 mulheres importantes

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AUDIOVISUAL
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MODA

Conheça Day Molina, estilista indígena expoente na moda brasileira

Setores do MICBR: moda pode atingir faturamento de US$ 1 trilhão

Editorial

66 mulheres importantes

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JOGOS

Conheça Ana Ribeiro, desenvolvedora referência de jogos indie

Games no Brasil geram R$ 13 bilhões, mas carecem de política nacional

A presença de mulheres no mercado de games cresce a cada ano

104 mulheres importantes 118 blablabla 126 pitel

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04 a gente 10 esquenta 130 lupa 132 se as estrelas falassem 144 poema visual
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QUAL É A BARBIE REPRESENTANTE DA SUA ÁREA CRIATIVA?

A INDÚSTRIA CRIATIVA E QUATRO GRANDES MERCADOS DENTRO DELA

A indústria criativa engloba todos os setores nos quais a criatividade é uma dimensão essencial nos negócios, tendo como resultado uma produção de riqueza cultural, econômica e social. Essa indústria tem papel importantíssimo na Economia do Conhecimento, onde o conhecimento é priorizado, sendo ele e o trabalho criativo fatores de produção essenciais e valiosos.

As constates mudanças no mundo dos negócios e principalmente nas relações de trabalho e consumo, tornam os profissionais criativos de interesse para todas as indústrias. Esses têm conhecimento de novos caminhos, cenários e tendências que geram valor para as empresas, e assim para a sociedade. Por muito tempo, a indústria criativa não recebeu devido impulso e reconhecimento, com certos mercados mais tradicionais sendo valorizados. Agora, a indústria criativa além de crescer sozinha, cresce dentro desses outros mercados, que começaram a compreender que a área não deve ser subestimada, ganhando cada vez mais valor. É levado em conta o fato de que os trabalhos que nascem da criatividade estão em todo lugar, movimentando e dando identidade ao nosso mundo.

Cada vez mais essa indústria ganha reconhecimento, com diversas pessoas e empresas se interessando e começando a trabalhar na área. Atualmente, mais de 130 mil empresas brasileiras atuam nesse mercado, que movimenta em média R$ 230 bilhões por ano. É possível ver que na última década o valor desse mercado duplicou. Quando analisados os dados mundiais, esses números são maiores ainda, com alguns países priorizando a criatividade e o seu emprego no dia-a-dia (inclusive, geralmente os países com essa prioridade apresentam uma economia

desenvolvida). Dados comprovam que a promoção da criatividade, esse novo modelo econômico, impulsiona um crescimento inclusivo e sustentável de economias tanto locais quanto globais.

Com a difusão dessas tecnologias de informação e comunicação, o conhecimento começa a produzir grande retorno que supera limitações materiais. Esse retorno não se diz apenas em razão da economia e valor monetário, mas principalmente em razão do enriquecimento cultural do nosso mundo. Em meio a essa reorganização estrutural, a economia criativa apresenta papel estratégico. O comportamento da economia não segue mais uma fórmula, sendo gradativamente menos tangível, uma vez que passou a se moldar muito às preferências dos consumidores. Aí se insere o profissional criativo, que por meio do mapeamento de tendências e comportamentos dos consumidores, compreende melhor e assim otimiza a experiência dos mesmos; promovendo inovação, desenvolvimento, produção, distribuição e consumo.

Enquanto a indústria criativa ganha seu devido reconhecimento, abre espaço para inúmeras e inéditas formas de entretenimento, comunicação e aprendizagem, que foi exatamente de onde nasceu nossa revista. Nossa existência não seria possível sem que o mundo estivesse aberto à essa nova forma de linguagem. A criatividade se abre em um leque de inúmeras possibilidades, sendo muito difícil citar todas as áreas de atuação possíveis. Por conta disso, decidimos focar em quatro mercados que se encontram dentro da indústria criativa: audiovisual, programação, moda e jogos. Te convidamos a vir aprender um pouco mais sobre cada um deles.

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AUDIOVISUAL

Quem trabalha com audiovisual é encarregado pela concepção, execução e planejamento de obras em formato de vídeo, áudio, fotografia ou animação. Suas opções de atividade são muito amplas, variando entre realização de orçamentos, edição de imagem e som, elaboração de roteiros, direção, distribuição, etc. Uma grande desinformação é que nessa área existe apenas o cinema, mas tudo que relacione ao mesmo tempo som e visual é considerado parte da indústria. Essa área fornece diversas possibilidades, na frente ou atrás das câmeras.

As oportunidades para quem trabalha com moda são inúmeras. Podem abrangir todas as etapas entre manufatura e venda do produto, isso incluindo posicionamento de marca, desenho de produtos, uso e venda, etc. Temos por exemplo gerentes de marca, designers, modelos, estilistas, produtores, etc. A pessoa que trabalha com moda deve sempre estar ligada não apenas a tendências da própria área, mas qualquer acontecimento que possa afetar o processo e mundo da própria indústria. Temos como exemplo o estudo de tendências econômicas, artísticas e culturais.

PROGRAMAÇÃO

O programador é aquele responsável pela criação de softwares como aplicativos, programas, sistemas, sites e games, por meio de uma linguagem de códigos digitais. A programação é considerada uma das profissões mais promissoras do futuro, por conta do interminável desenvolvimento da tecnologia. Um programador não se limita apenas a trabalhar em empresas voltadas para a tecnologia, e pode atuar em qualquer empresa que utilize tecnologia em seus bens e serviços, conferindo ao profissional diversas possibilidades de atuação.

O profissional que trabalha com jogos pode atuar em diferentes áreas, que incluem projetar, identificar, vender ou jogar os games. Além disso, é possível trabalhar na área de comunicações do jogo. Temos por exemplo designers de jogos e personagens, responsáveis pelo desenho do jogo, programadores, engenheiros de som, roteiristas e testadores de jogos. Além dessas opções, uma nova área que ultimamente cresce muito é a do streaming de jogos, onde enquanto joga, a pessoa se filma para compartilhar o vídeo ao vivo ou posteriormente.

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MODA JOGOS

AUDIO VISUAL

AS MULHERES MAIS IMPORTANTES NO AUDIOVISUAL

CONHEÇA QUATRO IMPORTANTES MULHERES BRASILEIRAS QUE ATUAM OU ATUARAM NA INDÚSTRIA DO AUDIOVISUAL

POR PALLOMA RABÊLLO

Cineasta, produtora, roteirista e atriz Considerada uma das mulheres mais importantes no cenário do cinema brasileiro nos anos vinte e trinta, Maria do Carmo Santos Gonçalves, ou simplesmente Carmen Santos foi uma incrivel cineasta, produtora de cinema, roteirista e atriz brasileira. Carmen teve sua estreia como atriz no ano de 1919, e assim começa sua trajetória, onde ela desenvolveria, nos anos seguintes, inúmeras funções dentro do cenário do audiovisual, sendo elas: produtora, roteirista e diretora. Um grande destaque na carreira de Carmen Santos foi a fundação da Brasil Vox Film no ano de 1933. A companhia cinematográfica foi rebatizada em 1935 como Brasil Vita Filme e foi responsável por diversos clássicos do cinema brasileiro, como o filme de romance/ drama, Argila de 1942, do renomado cineasta Humberto Mauro.

Fotógrafa, roteirista, produtora e cineasta Rosa Maria Berardo, além de ser uma profissional da área de audiovisual, também já atuou em sua carreira como professora e jornalista. Possuí diversos filmes de ficção e documentários exibidos em vários Festivais de cinema nacionais e internacionais. Rosa Maria é citada no Dicionário de Filmes Brasileiros de Antônio Neto. Ela ficou muito conhecida por seu trabalho de produção de imagens fotográficas e fílmicas sobre cultura, identidade cultural, alteridade, gêneros e etnias, entre outros. Ela também foi a idealizadora da primeira Escola de Cinema de Goiás, a SKOPOS, no ano de 2001. Em 2011, Rosa Maria criou a Maison du Cinema, que era um ateliê de ensino da teoria e prática do cinema, para capacitação dos alunos na realização de curta-metragem de ficção e também animação em Stop Motion.

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Micaela Neto Zuhair Mohamad ROSA MARIA BERARDO CARMEN SANTOS

Cineasta

Adélia Sampaio é uma cineasta brasileira do Cinema Novo que marcou a história do audio visual sendo a a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem na história do nosso país. O filme em si é o “Amor maldito”, de 1984, que foi um grande sucesso. No ano de 2018, Adélia dirigiu o curta “O Mundo de Dentro”, que estreiou no Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. Atualmente, todos sabemos das complicações de fazer cinema no Brasil, para qualquer pessoa. Adélia se destaca por ter conseguido quebrar essas barreiras e se estabelecer como um grande nome logo no século XX, sendo uma mulher negra. Além de dirigir os filmes, ela trabalhou em diversos outros nos papéis de escritora, produtora e diretora de arte. Por trás de todos seus trabalhos, Adélia procura trazer à telona os temas pela lente de uma mulher negra brasileira.

Diretora, roteirista, produtora e cineasta

Além de Viviane Ferreira atuar no cenário do audiovisual brasileiro, ela também é advogada, ativista e fundadora da Odun Filmes, empresa produtora voltada para o audiovisual identitário. Depois do longa lançado em 1984 por Adélia Sampaio, apenas em 2019 outra diretora negra estreou nas telonas comandando um filme de ficção. Viviane Ferreira foi eleita Presidente do Comitê Brasileiro de Seleção do Oscar 2021 e em 2020 lançou o filme “Um dia com Jerusa”, que foi indicado para Melhor Longa-Metragem na Mostra de Cinema de Tiradentes. Todo o elenco do filme é composto por atores negros. Viviane é também uma das fundadoras da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro, que visa combater o racismo estrutural e referenciar possibilidades de construção coletiva dentre pessoas negras e no cenário de audiovisual.

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Ricardo Borges Marcus Leoni ADÉLIA SAMPAIO VIVIANE FERREIRA

CAROLINA

CAROLINA MARKOWICZ, A DIRETORA E ROTEIRISTA DE SUCESSO

ROTEIRISTA DESPONTA COMO REVELAÇÃO DO CINEMA NACIONAL COM ‘CARVÃO’

SE VOCÊ AINDA NÃO OUVIU FALAR DE CAROLINA MARKOWICZ, pode apostar: isso não tardará a acontecer. A diretora e roteirista paulistana de 40 anos desponta como uma das maiores revelações atuais do cinema nacional. Que o diga o cineasta Walter Salles, admirador do trabalho desta diretora.

Carolina não alivia conflitos. Ela não está interessada em finais felizes. Tampouco em pegar leve. Em seus filmes, crava fundo o dedo na ferida para esfregar na cara da sociedade a vida como ela realmente é. Escolhe falar de temas complexos, se inspirando nas contradições e na hipocrisia do ser humano para provocar. Tudo regado a um humor sarcástico, ácido, desconfortável.

Um dos maiores filmes de destaque nacional deste ano, espera aguardada após a estreia no Festival de Toronto, Carvão, da diretora e roteirista Carolina Markowicz, chega às salas nacionais. Protagonizados por Maeve Jinkings, o filme acompanha uma família que possui uma pequena carvoaria no quintal de casa, em Joanópolis, interior de São Paulo. Irene, Jairo (Romulo Braga) e o filho, Jean (Jean Costa), dividem a rotina com o avô, um senhor bastante debilitado pela idade avançada, que já não sai mais da cama, não ouve também não fala.

A vida quase pacata ganha uma reviravolta com a chegada de um estrangeiro, interpretado por César Bordón (ator argentino), que aluga um dos quartos por uma boa quantia de dinheiro. A presença estranha causa um sentimento de perigo iminente, fazendo Irene se questionar se vale a pena colocar tudo a perder. Flertando com a nossa ideia do que seria o absurdo, Carolina questiona a falta de realidade do brasileiro e se mostra uma das diretoras nacionais mais talentosas dessa geração.

O longa lança uma crítica mordaz à opressão sofrida pela comunidade LGBTQIA+, com direito a cura gay e discursos religiosos homofóbicos iguais aos de personagens da realidade brasileira. “É como enxergo o mundo”, resume a diretora. A seguir, ela comenta sobre as entrelinhas de Carvão com ninguém menos que Walter Salles:

POR PAULA JACOB FOTOS NORMAN WONG

Não há cinematografia que sobreviva sem que jovens cineastas venham redefinir o que foi realizado pelas gerações anteriores, oferecendo novos reflexos de uma identidade nacional em transformação acelerada. “Carvão” me impactou justamente por possibilitar isso. Pela sua extrema originalidade, pela forma como mescla diferentes gêneros cinematográficos para falar do Brasil atual, pela rara expressividade de suas imagens, pela excelência de seus atores e pela precisão e inventividade de sua direção. Como nasceu um filme tão único e necessário quanto “Carvão”?

Cresci no interior de São Paulo, em uma cidade extremamente pequena, onde o número de habitantes mal ultrapassava os dedos das minhas mãos. Desde os primeiros momentos da minha vida, fui cativada pelas peculiaridades desse ambiente singular. A vida no interior é um mosaico de experiências intrigantes, onde a sensação de liberdade se mistura com uma complexa teia de relações sociais. É fascinante como essa sensação de liberdade se manifesta de maneira tão distinta. Por um lado, existe a percepção de que se tem mais autonomia desde cedo para explorar os espaços amplos e abertos, sem os empecilhos típicos das grandes metrópoles. As ruas tranquilas convidam a caminhadas descompromissadas, e os campos verdejantes parecem estender-se até onde a vista alcança. Essa liberdade aparentemente ilimitada é uma das marcas registradas da vida no interior. No entanto, há uma contrapartida intrigante nesse cenário idílico. No interior, todos se conhecem, e todos conhecem a história uns dos outros. Não há como escapar aos olhares curiosos dos vizinhos ou à atenção das fofoqueiras de plantão. Essa proximidade constante cria uma rede invisível de vigilância social, onde cada ação e escolha são observadas e, muitas vezes, comentadas. A pressão para se conformar aos padrões locais e às expectativas da comunidade é uma realidade palpável, moldando sutilmente a maneira como nos comportamos e nos relacionamos com os outros.

ONDE O BIZARRO É TRIVIAL E ONDE QUALQUER INTERESSE

São tradições arraigadas, que ajudam a compreender por que o conservadorismo acaba ganhando tanta força e longevidade nas cidades de interior. É um ciclo que se retroalimenta. E se de algum modo explica porque estamos assim hoje, é possível que estejamos assim amanhã. Creio que Carvão foi minha tentativa de olhar pra isso, de nos perceber, para evitar ou aplacar o “estar assim amanhã”.

Os absurdos com os quais nos deparamos hoje em dia em nosso país foram o gatilho para que eu imaginasse essa história como ela é, onde o bizarro é trivial e onde qualquer interesse escuso pode ser justificável em nome de Deus ou da família.

Nos anos Bolsonaro, aquilo que parecia moralmente inaceitável no Brasil dos anos 2000 se torna brutalmente corriqueiro. Ao mesmo tempo, o país volta ao mapa da fome, e questões sociais que pareciam estar em parte atendidas se aguçam. Há hoje um esgarçamento do tecido social brasileiro que “Carvão” capta bem, evidenciando como o cinema brasileiro é capaz de oferecer reflexos potentes de nossos conflitos.  Você poderia falar disso?  É precisamente essa a intenção de “Carvão”. De fato, a gestão Bolsonaro conseguiu um retrocesso assustador em todos os aspectos. Essa flexibilidade moral e a naturalização da

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SER
EM NOME DE DEUS OU DA FAMÍLIA
ESCUSO PODE
JUSTIFICÁVEL
Carolina Markowicz recebendo o Tribute Award, sendo a primeira brasileira a ganhar este prêmio no Festival de Cinema de Toronto Carolina Markowicz recebendo o Tribute Award, sendo a primeira brasileira a ganhar este prêmio no Festival de Cinema de Toronto

barbárie são elementos dessa receita devastadora para nosso país e futuras gerações. O ataque ao nosso cinema se dá justamente por sua capacidade cirúrgica de crítica, de contundência.

“Carvão” busca realizar uma crítica incisiva aos poderes políticos e religiosos, retratando-os como manipuladores habilidosos que se utilizam de inverdades e falácias em benefício próprio. A obra é uma sátira mordaz da distorção de valores que permeia nossa sociedade contemporânea, oferecendo uma reflexão profunda sobre questões éticas e morais. Com um elenco talentoso composto por Maeve, César Bordón, Rômulo Braga, Camila Márdila e Pedro Wagner, o filme cativa o espectador com sua atmosfera de suspense e intriga, proporcionando uma experiência cinematográfica memorável e impactante.

O crítico Carlos Marcelo diz que o cinema brasileiro recente indica duas formas possíveis de superação de impasses em um país despedaçado: Intensificação de conflitos (“Bacurau”), exacerbação dos afetos (“Deserto Particular”).  Você pensa que “Carvão” pertence a uma dessas duas tendências, ou abre uma nova frente de investigação e de propostas?

Realmente, é incrível a riqueza e diversidade do cinema brasileiro, assim como o talento e a profundidade dos nossos artistas e cineastas.

Cada obra reflete sensibilidades únicas, proporcionando uma jornada emocionante e enriquecedora para o espectador. É motivo de grande orgulho observar como o nosso cinema se destaca não apenas nacionalmente, mas também internacionalmente, contribuindo para um diálogo cultural e social mais amplo.

“Carvão” parece propor uma satirização do abjeto, buscando confrontar o espectador com elementos perturbadores de nossa realidade social e política. Ao retratar a aspereza, a dessensibilização e a brutalidade armada, o filme metaforiza esses aspectos para que sejam percebidos como ultrajantes. Através dessa representação simbólica, convida-nos

a refletir sobre a natureza do abjeto e a urgência de enfrentá-lo e superá-lo como sociedade. Essa abordagem provocativa e confrontadora do filme é uma forma poderosa de despertar consciências e estimular ações em direção a um Brasil melhor. Ao expor as feridas e contradições da nossa sociedade, “Carvão” desafia-nos a questionar o status quo e a buscar caminhos para a transformação e a justiça. É através de vozes únicas e diversas como essa que podemos verdadeiramente construir um futuro mais justo e igualitário para todos. É crucial ressaltar que você mencionou dois nomes masculinos de grande destaque. Sinto-me profundamente honrada em fazer parte dessa nova onda de cineastas brasileiras, cujas obras estão ganhando cada vez mais reconhecimento e espaço nas telas. Este é um momento inspirador, onde vemos mais mulheres ocupando o cenário cinematográfico e contribuindo com suas vozes únicas e perspectivas enriquecedoras, moldando assim o futuro do cinema nacional com sua criatividade e talento inquestionável. Que orgulho ver os filmes de mulheres brasileiras ganhando o mundo como vêm fazendo. É fundamental esse movimento de reversão de modelos consolidados que vem ocorrendo. Vozes femininas, vozes do interior e questões sensíveis tratadas não necessariamente nas grandes cidades, mas também nas pequenas.

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Carolina Markowicz no local onde ocorreram as gravações do filme ¨carvão¨ Carolina Markowicz no local onde ocorreram as gravações do filme ¨carvão¨
ME DÁ MUITO

ORGULHO EM VER OS FILMES DE MULHERES BRASILEIRAS GANHANDO O MUNDO COMO VÊM FAZENDO

“Carvão” é um filme marcado por atuações excepcionais, com uma Maeve Jinkings em estado de graça. Ela é ao mesmo tempo o sismógrafo e a bússola moral do filme, e podemos ler em seu rosto toda a extensão dos conflitos com os quais a sua família se defronta.  Os não-atores, como o menino que vive o personagem de Jean, me lembraram os jovens atores de “Onde é a casa de meu amigo”, do mestre Abbas Kiarostami.  Essa coabitação entre atores e não-atores é um desafio complexo, e “Carvão” a possibilita de forma luminosa. Como foi o processo de preparação dos atores do filme para chegar a esse resultado?

É uma honra trabalhar ao lado de atores tão talentosos e engajados como Maeve, César Bordón, Rômulo Braga, Camila Márdila e Pedro Wagner. A colaboração deles não apenas enriquece o filme, mas também eleva todo o processo a um patamar privilegiado desde o início. Sempre sonhei em trabalhar com esses artistas excepcionais, e tive a oportunidade e a honra de construir, junto com eles, o tom peculiar que caracteriza o filme. Juntos, buscamos essa mistura de tons e essa atmosfera de estranheza que define a narrativa, mergulhando de cabeça nesse desafio criativo.

A inserção de não-atores foi fundamental para entender o modus operandi da pequena cidade, a prosódia, os trejeitos, e me agrada

demais essa mistura entre atores excelentes e experientes e pessoas que nunca sequer quiseram atuar. É um choque térmico em que a naturalidade total acaba sendo a única intersecção possível para funcionar. Não há meio termo.

O garoto Jean foi um presente. Um menino de uma sensibilidade e inteligência impressionantes. Era assustador como ele captava tal qual um radar a energia de cada cena e contribuía com o que ela demandasse, ora seguindo o roteiro, ora no improviso.

Isso também ditou o tom do filme. Tive a ajuda valiosa da Silvia Lourenço na preparação também. Foram muitas conversas, vivências. Em termos de tom, a regra era: por mais absurdo que tudo aquilo fosse, jamais piscaríamos para o espectador.

“Carvão” começa a nascer para o mundo em uma hora que os filmes brasileiros se tornaram raros, por causa do cerco que um governo de extrema direita fez ao setor cultural brasileiro nos últimos 4 anos. O que você espera desse contato inédito do filme com plateias de diferentes países? Espero sinceramente que o filme consiga transmitir de maneira vívida a atmosfera do momento que atravessamos na sociedade. Em um contexto onde a brutalidade parece ter se tornado uma moeda corrente, surge a pertinente questão: qual o verdadeiro papel da cultura? Em uma sociedade saturada pelo abjeto, percebe-se uma falta de diálogo e uma ausência de horizonte claro.

É crucial destacar que esse conservadorismo não se restringe ao Brasil; ele é uma tendência observada em várias partes do mundo. Portanto, se cada indivíduo que assistir ao filme puder ser levado a uma reflexão profunda sobre o momento presente, isso representará uma conquista de imenso valor. A capacidade de despertar consciências e promover diálogos construtivos é uma das grandes potencialidades do cinema como forma de arte e expressão.

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O COFRE

INVESTIR NO AUDIOVISUAL É INVESTIR NA

ECONOMIA BRASILEIRA

BENEFÍCIOS ECONÔMICOS QUE A PRODUÇÃO DE UM FILME OU SÉRIE TRAZ PARA O PAÍS

POR TAMARA RODRIGUES FOTOS DIVULGAÇÃO

O AUDIOVISUAL NÃO APENAS É UM SETOR DE CONSIDERÁVEL impacto socioeconômico, mas também apresenta um potencial significativo de retorno aos cofres públicos. Conforme revelado por um estudo recente da Spcine, uma empresa de cinema e audiovisual da Prefeitura de São Paulo, cada R$ 1 investido na produção de um filme ou série na cidade resulta, em média, em um retorno superior a R$ 20.

Os benefícios decorrentes do setor audiovisual se desdobram de diversas maneiras distintas, sendo elas direta, indireta e induzida. Os impactos diretos estão intrinsecamente ligados à produção de filmes ou séries, englobando aspectos como o pagamento de impostos e salários aos profissionais envolvidos. Este aspecto não só contribui para o aumento da receita fiscal, mas também para a criação de empregos e o estímulo ao crescimento econômico.

Além disso, a produção audiovisual induz investimentos indiretos, tais como a contratação de serviços de transporte, hospedagem e alimentação, entre outros. Estes investimentos, por sua vez, impulsionam o desenvolvimento de diversos setores da economia, como o turismo e os serviços, estabelecendo uma cadeia de valor que se estende para além do próprio setor audiovisual.

Ao remunerar salários e adquirir serviços, o setor audiovisual também gera impactos induzidos. Os profissionais contratados tendem a gastar seus salários em outras atividades e serviços, como aquisição de bens de consumo, pagamento de contas e lazer. Este aumento no consumo estimula a atividade econômica em diferentes setores, desencadeando um efeito multiplicador que beneficia a economia como um todo.

Essa interconexão entre o setor audiovisual e outros segmentos da economia contribui para dinamizar de maneira ampla e sustentável a economia brasileira. Ao fomentar o crescimento de múltiplos setores e gerar empregos em diversas áreas, o setor audiovisual desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico do país, contribuindo para a diversificação e a resiliência da economia como um

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todo. Essa dinâmica, conhecida pelos economistas como multiplicador de renda, é essencial para promover um crescimento econômico equitativo, duradouro e eficiente.

Os dados fornecidos pela Spcine fornecem uma ilustração concreta dessa questão: anualmente, mais de 200 mil empregos diretos e quase 300 mil empregos indiretos são gerados pelo setor audiovisual. Além disso, são pagos cerca de R$ 3 bilhões em salários diretos e outros R$ 4 bilhões em serviços movimentados indiretamente pelo audiovisual. Esses números são especialmente importantes no contexto de retomada da economia após a pandemia de covid-19. Segundo um levantamento da consultoria internacional Olsberg SPI, quase 70% dos gastos de uma produção são direcionados a setores periféricos, o que inclui serviços administrativos, construção, alimentação, hospedagem, transporte, serviços jurídicos e de segurança, entre outros.

Diante desses impactos, Dantas diz que o setor deve ser encarado como um investimento e não como gasto. “O audiovisual é um dos setores mais importantes da economia atual. O que está acontecendo com o surgimento do streaming é uma expansão dos gastos, a produção no nível internacional cresceu muito. É um enorme multiplicador. atacar um mercado desses é um absurdo. É acabar com a sobrevivência, não só das pessoas, mas também da própria cidade. O audiovisual é muito importante e precisa ser encarado dessa maneira”, afirma o professor sobre as críticas ao setor.

Dantas destaca a importância das film commissions, que oferecem assistência para a realização de produções visando transformar a cidade em um cenário a céu aberto. Além disso, menciona o programa de cash rebate. Esse programa consiste em um financiamento parcial de produções internacionais ou com grande potencial de internacionalização realizadas dentro do país.

O objetivo primordial dessas iniciativas é não só atrair investimentos externos, mas também catalisar o desenvolvimento econômico local

e regional, promovendo uma sinergia entre a indústria audiovisual e diversos setores da economia. As film commissions, desempenham um papel crucial ao simplificar a logística e fornecer suporte para que certa cidade opere como um local de filmagem atrativo. Esse processo não apenas facilita a captação de recursos financeiros externos, mas também estimula a economia local, criando uma rede de oportunidades que reverbera em diversos setores, como turismo, hospedagem, alimentação, transporte e serviços, impulsionando o crescimento econômico sustentável em várias camadas da sociedade. Essa rede beneficia diretamente a própria cidade, além de indiretamente continuar movendo cada vez mais o mercado audiovisual.

Ademais, a inclusão social e a democratização do acesso à cultura são outros aspectos positivos resultantes da expansão do setor audiovisual brasileiro e mundial. Iniciativas que promovem produções independentes e regionais permitem que vozes e histórias de comunidades diversas sejam ouvidas e valorizadas, espalhando conhecimento e cultura por nossa sociedade. Esse processo não só enriquece o panorama cultural do país, mas também fomenta a conscientização e o diálogo sobre questões sociais relevantes, normalmente pouco comentadas, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e informada.

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O audiovisual no Brasil é um mercado em contínua expansão
dindin
O audiovisual no Brasil é um mercado em contínua expansão

Dantas ressalta de maneira enfática que esses investimentos não são subsidiados diretamente pelo orçamento governamental, mas sim financiados pelos próprios recursos gerados pelo setor audiovisual. Essa autossustentabilidade financeira demonstra a robustez e a eficácia dessas iniciativas, destacando sua capacidade de impulsionar o crescimento econômico de forma independente e duradoura. Além disso, ele enfatiza a importância do setor audiovisual na preservação e promoção da cultura nacional como um ativo extremamente valioso para a identidade do país.

O professor argumenta de forma convincente que é crucial reconhecer e cultivar a interseção entre a indústria audiovisual e a identidade cultural brasileira. Ele destaca que uma indústria audiovisual vibrante não apenas impulsiona a economia, mas também desempenha um papel fundamental na projeção e disseminação da identidade cultural do país em escala global. Essa projeção não apenas fortalece o soft power brasileiro, mas também enriquece o cenário cultural internacional ao promover a diversidade e a riqueza cultural do Brasil.

Ao enfatizar a importância dessa interconexão, o professor ressalta a relevância estratégica de investir no setor audiovisual como uma forma de promover ativamente a identidade e os valores culturais do Brasil em âmbito global. Essa abordagem não só fortalece a posição do país na arena internacional, mas também contribui para o diálogo intercultural e para o enriquecimento mútuo entre nações.

Portanto, ao reconhecer e valorizar a influência positiva da indústria audiovisual na projeção da identidade cultural brasileira, o país pode consolidar sua posição como um importante ator cultural no cenário mundial, promovendo o entendimento e a apreciação da diversidade cultural brasileira em todo o mundo.Para ele, é crucial adotar uma abordagem estratégica e perspicaz nesse sentido, enfatizando a importância vital de preservar e enriquecer a diversidade e singularidade da identidade cultural brasileira enquanto se busca estimular o crescimento

INVESTIR NO SETOR AUDIOVISUAL, VAI ALÉM DE ALOCAR RECURSOS, SENDO UM INVESTIMENTO NO FUTURO

econômico. Investir no setor audiovisual, de acordo com sua visão, vai além de simplesmente alocar recursos; é um investimento direto no futuro e na prosperidade do Brasil como um todo. É uma forma de promover a inclusão social, fortalecer a coesão cultural e impulsionar o desenvolvimento humano. Essa abordagem holística não apenas fortalece a posição do Brasil no cenário global, mas também constrói uma base sólida para um futuro mais próspero e inclusivo para todos os brasileiros. Ao reconhecer o poder transformador do setor audiovisual e sua grande capacidade de influenciar positivamente a sociedade e a economia, o Brasil pode garantir um desenvolvimento sustentável e resiliente, ao mesmo tempo em que celebra e preserva sua rica herança cultural.

Portanto, ao apoiar e fortalecer o setor audovisual, o Brasil não apenas estimula seu desenvolvimento econômico, mas também consolida sua posição como uma potência cultural e econômica no cenário global, criando uma base sólida para o crescimento sustentável e a projeção internacional de sua identidade cultural única e multifacetada, contribuindo para a construção de um futuro próspero e inclusivo para todos os brasileiros.

Além disso, ele ressalta de forma bem enfática a importância de valorizar a nossa cultura brasileira, especialmente considerando outros

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países que já reconhecem seu valor. Ele destaca que políticas públicas desempenham um papel fundamental nesse processo, e argumenta veementemente que essas políticas devem ser projetadas de forma integrada, trabalhando em uníssono com a preservação da identidade cultural e direcionando-se à promoção da produção independente. Somente por meio de uma abordagem abrangente como essa, segundo ele, o mercado audiovisual brasileiro poderá verdadeiramente florescer e expandir-se de maneira significativa. Para ampliar ainda mais esses benefícios e maximizar seu impacto positivo, é fundamental ressaltar a importância das políticas públicas de incentivo e fomento. Tanto a Spcine quanto a Ancine (Agência Nacional do Cinema) desempenham papéis essenciais nesse contexto, implementando programas específicos voltados para o desenvolvimento do setor audiovisual. Entre esses programas, destacam-se as film commissions, que visam transformar cidades brasileiras em cenários atrativos para produções cinematográficas, e o programa de cash rebate, que oferece incentivos financeiros parciais para produções internacionais ou com potencial de internacionalização realizadas no Brasil.

O objetivo principal dessas iniciativas é atrair investimentos estrangeiros para o país. As film commissions são criadas para simplificar a logística e facilitar o processo de filmagem em locais específicos, resultando em um influxo de capital que anteriormente não estava disponível. Esse capital é então reinvestido na própria comunidade local, gerando um ciclo de desenvolvimento econômico sustentável. É importante ressaltar que esse investimento não é proveniente diretamente do orçamento do governo, mas sim gerado pelas atividades do setor audiovisual, demonstrando sua capacidade de autossustentação e contribuição para a economia nacional.

Além do aspecto econômico, essas iniciativas também têm um impacto significativo no fortalecimento da indústria audiovisual nacional e na projeção internacional da cultura brasileira. Ao atrair produções

ISSO NÃO SÓ ENRIQUECE

A DIVERSIDADE CRIATIVA DA INDÚSTRIA

AUDIOVISUAL BRASILEIRA, TAMBÉM AMPLIA

SUA VISIBILIDADE GLOBAL

estrangeiras para o país, as film commissions e programas de cash rebate não apenas geram receita, mas também promovem o intercâmbio cultural e a colaboração entre profissionais brasileiros e estrangeiros. Isso não só enriquece a diversidade criativa da indústria audiovisual brasileira, mas também amplia sua visibilidade global, posicionando o Brasil como um poderoso centro poderoso de produção e criatividade no cenário internacional. Essa colaboração transnacional contribui para o enriquecimento do repertório cultural do Brasil e para o fortalecimento de suas relações diplomáticas e comerciais com outros países. Em resumo, o setor audiovisual vai além de ser meramente um motor econômico; ele desempenha um papel crucial e multifacetado na preservação, promoção e enriquecimento da identidade cultural brasileira. Valorizar a produção independente e implementar políticas públicas eficazes são incontestáveis para garantir o crescimento sustentável e vibrante desse setor vital. Com iniciativas inovadoras e abrangentes como as film commissions e o cash rebate, o Brasil está em uma posição privilegiada para fortalecer exponencialmente sua indústria audiovisual, simultaneamente impulsionando o desenvolvimento socioeconômico e ampliando a projeção internacional de sua cultura inestimável e diversificada, enraizada em sua rica herança histórica e cultural.

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Claquete: símbolo icônico do Audiovisual Claquete: símbolo icônico do Audiovisual

COMO SER INDIFERENTE AO OSCAR ESNOBANDO AS MULHERES?

REFLEXÃO SOBRE COMO A LISTA DOS INDICADOS AO PRÊMIO PARECE

MAIS

UMA TENTATIVA DE O PATRIARCADO MANTER O CONTROLE

Sou tomada por sentimentos ambivalentes todo janeiro, quando a Academia anuncia a lista dos indicados ao Oscar. Primeiro tento ignorar o assunto. Lembro que se trata de uma instituição conservadora, que raramente premia o melhor do cinema e para a qual o mérito artístico não é o critério mais importante. Talvez num grau ainda mais acentuado do que em outras premiações, ser ou não indicado é resultado de um jogo de forças brutal, no qual sucesso comercial, estratégia política e negociação pesada contam muito, além de outros fatores insondáveis para espectadores e especialistas. A verdade é que acabo me dobrando. Às vezes consigo me manter esnobando o assunto por uma semana; neste ano, não me segurei por mais do que 5 minutos. Fui logo lá conferir na lista quantos filmes faltam para eu ver, fazer minhas apostas, torcer. Comemorar e lamentar.

Comecemos pela festa. Pela primeira vez, há três títulos dirigidos por mulheres entre os dez indicados para o prêmio de melhor filme. “Anatomia de uma queda”, de Justine Triet, “Barbie”, de Greta Gerwig, e “Vidas passadas”, de Celine Song. Das três, apenas Justine Triet concorre à estatueta de melhor direção. Em número de indicações, o campeão, por enquanto, é “Oppenheimer”, de Christopher Nolan: concorre em treze categorias, seguido por “Pobres criaturas”, de Yorgos Lanthimos (onze indicações), e “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese (dez). “Barbie” aparece na quarta posição, com oito indicações. Gerwig não disputa a estatueta de melhor direção e Margot Robbie, a protagonista, não foi indicada. Comoção, polêmica, críticas e memes surgiram imediatamente. Quando comecei a ler sobre o assunto, depois

dos meus 5 minutos tentando ignorá-lo, já pipocava um gif engraçadíssimo com a cara de “Ken não entendeu” do Ryan Gosling ao ser indicado como ator coadjuvante, enquanto Gerwig e Robbie ficaram fora da disputa. Difícil não fazer uma relação com o assunto do filme. Afinal, a lista dos concorrentes ao Oscar vai sempre mostrar o patriarcado resistindo a abrir mão de posições de poder – ainda que, para isso, faça concessões aqui e ali? Além disso, eu adoro, e acho um feito e tanto ter uma diretora de origem coreana disputando o prêmio de melhor filme.

Estou festejando também que Lily Gladstone está na disputa pelo prêmio de Melhor Atriz. Ela cresceu em uma reserva no estado de Montana e é a primeira mulher indígena na categoria. Seu desempenho é mesmo fantástico, embora eu não goste muito do filme de Scorsese. Pareceu-me autoindulgente e longo demais (isso considerando que um de meus filmes preferidos tem mais de seis horas).

Acredito também que subestima a inteligência da plateia, ao mostrar uma ação e, logo em seguida, apresentar um diálogo onde os personagens narram o ocorrido. Não precisa, é redundante. Se o roteiro tivesse sido escrito por aluno meu, ganharia uma revisão do tipo “por que repetir isso?”.

Diante da complexidade de sentimentos que surgem a cada anúncio dos indicados ao Oscar, percebo que minha relação ambivalente com o evento reflete não apenas as críticas à natureza conservadora da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, mas também a esperança renovada trazida pela inclusão e diversidade crescente na indústria cinematográfica. Este ciclo de reflexão e celebração nos lembra da importância de continuar a apoiar e promover uma comunidade cinematográfica diversa.

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A LENTE CRIATIVA DAS MULHERES: OS DESAFIOS NO AUDIOVISUAL PUBLICITÁRIO

ESTEREÓTIPOS E DESIGUALDADES SÃO OBSTÁCULOS QUE DIRETORAS ENFRENTAM

A TRANSFORMAÇÃO DA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL PUBLICITÁRIA para mulheres começou com o movimento Free the Bid, iniciado em 2017, nos Estados Unidos. “O Free the Bid visava garantir a presença de pelo menos uma mulher em concorrências publicitárias, desafiando o ciclo vicioso que excluía as diretoras por falta de experiência em alguns segmentos”, explica Marianna Souza, presidente da APRO (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais) e porta voz do Free The Work Brasil.

“Com o tempo, o movimento evoluiu para o Free the Work, ampliando seu escopo para promover a diversidade em todas as formas, incluindo negros, profissionais LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. Atualmente, lidero esse movimento no Brasil”, diz Marianna.

Além da dificuldade de participar de concorrências, existe ainda um problema mais profundo, que mascara a inclusão feminina. De acordo com uma pesquisa realizada pela Free the Work, no Brasil, as mulheres têm maior representatividade em alguns segmentos específicos, como beleza e moda, onde elas são 64% das diretoras, lifestyle, que aparece em segundo, com 37,8%, e documentário, em terceiro, com 31,1%. A pesquisa coletou 45 respostas de diretoras em 2022 no país.

Os dados evidenciam a dificuldade das diretoras de participarem de projetos além daqueles atribuídos ao universo feminino. “O que está acontecendo na publicidade hoje é que as mulheres estão competindo entre si. E isso não é sobre competição feminina superficial, é sobre uma disputa por projetos reais. Elas estão competindo por trabalhos, enquanto os diretores homens continuam a liderar as produções mais caras e prestigiadas”, destaca Mariana Youssef, diretora de cena na Saigon Filmes, produtora de filmes publicitários criada em 2014, com sedes no Brasil e México.

Assim como presente em outras indústrias, no audiovisual também existe uma disparidade salarial entre os gêneros. média mensal das mulheres do setor era de R$ 4.433,44, e a dos homens era R$ 5.592,58.

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LIDIA CAPITANI FOTOS BARBARA GABRIELLE

A PERSPECTIVA FEMININA

Para as mulheres atuantes no segmento, não é correto afirmar que a inclusão feminina se limita ao benefício da sensibilidade que ser mulher teoricamente oferece. O diferencial está, na verdade, na conexão com o público-alvo. “Um exemplo disso são os comerciais de absorventes que, por anos, mostravam mulheres em situações irreais. Elas usavam calça branca justa e andavam de bicicleta durante o período menstrual. Isso claramente não ressoa com a experiência real de muitas mulheres”, reflete Marianna Souza.

Nesse contexto, a perspectiva feminina se torna essencial para o desenvolvimento de uma mensagem que se conecte verdadeiramente ao público-alvo do conteúdo publicitário. A premissa se estende a qualquer produto, para além daqueles considerados do universo das mulheres, de forma esteriotipada, visto que as mulheres também dirigem carros e bebem cerveja.

Rejane Bicca é diretora de atendimento na O2 Filmes, produtora brasileira fundada pelos cineastas Fernando Meirelles, Paulo Morelli e Andrea Barata Ribeiro, e responsável por grandes filmes como Cidade de Deus, Ensaio sobre a Cegueira e Marighella, e também por séries mais recentes como Manhãs de Setembro e Cangaço Novo, ambas disponíveis na Amazon Prime Video. Rejane reflete como os anunciantes ainda têm receio de incluir mulheres na direção de determinados produtos. “Antigamente, quando eu indicava uma mulher para dirigir um comercial de carro, por exemplo, a resistência era muito mais agressiva. Hoje, mesmo quando recebemos um ‘não’, é um ‘não’ mais educado”. Em concordância com Rejane, a pesquisa da Free the Work revela um tímido aumento de 6,4% das entrevistadas que afirmaram trabalhar com temáticas variadas. Além disso, 40% das diretoras acreditam que houve um crescimento no volume total de pedidos de orçamento em relação aos anos anteriores, o que revela uma evolução favorável às mulheres no setor do audiovisual.

Nessa jornada, as ações do Free the Bid e da Free the Work foram essenciais para criar uma demanda por profissionais femininas. O desafio agora é romper com o ciclo vicioso que não oferece oportunidades para diretoras sem projetos de segmentos específicos.

“Temos mulheres qualificadas e profissionais que estão totalmente à altura. O desafio está em superar o medo das marcas e dos diretores de marketing em arriscar, devido à pressão por resultados”, aponta a presidente da APRO.

DA BASE AO TOPO

Além da necessidade das marcas superarem esse medo, existe também uma demanda de formação e oferta de oportunidades para jovens profissionais. A apro, por exemplo, tem a iniciativa “Novos Olhares da Publicidade”, em colaboração com o Instituto Criar, que funciona como uma pós-graduação para jovens que concluírem um ano no instituto. O curso permite uma imersão nas dinâmicas do cotidiano de uma produtora, fornecendo uma compreensão da indústria e promovendo oportunidades para os alunos.

A inclusão da diversidade, porém, não pode estar restrita à base. Ela precisa também movimentar o topo da cadeia, como pontua Rejane Bicca. “Acredito firmemente que ao termos mais mulheres em posições de liderança, conseguiremos criar um ambiente mais equitativo”.

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Cena da série de comédia brasileira Lov3 com direção de Mariana Youssef disponível no Prime Video Cena da série de comédia brasileira Lov3 com direção de Mariana Youssef disponível no Prime Video

Isso inclui não apenas as produtoras e diretoras, mas também as lideranças das marcas. “Como líder, devemos oferecer essa confiança às mulheres em nossa equipe. Acreditamos plenamente que temos o talento, a competência e a habilidade para criar filmes tão bons quanto aqueles dirigidos por homens”, destaca Rejane.

Nesse sentido, Thatiane Almeida, diretora da MAGMACX, produtora de audiovisual brasileira lançada em 2020, reforça a necessidade de abrir espaço para as diretoras que estão no meio há algum tempo. “Percebo que o mercado está progredindo, especialmente quando se trata de abrir portas para novos talentos”, pontua. “Contudo, também vejo que diretoras que já estavam ativas quando comecei a me interessar por cinema ainda têm dificuldades para entrar nas listas principais de talentos em direção”, provoca Thatiane. Em sua visão, as produtoras têm a responsabilidade não apenas de diversificar seu elenco de diretores, mas de promover a carreira de seus talentos femininos.

NÃO BASTA BOA VONTADE

Para Mariana Youssef, parte da solução do problema é a implementação de um sistema de cotas que inclua mulheres e outros grupos sub representados nas concorrências de projetos audiovisuais publicitários. “A questão é que, embora haja pessoas dentro das marcas e agências que desejem mudar essa realidade, precisamos de algo obrigatório, que seja uma norma”, pontua. Isso inclui não somente a quantidade de filmes dirigidos por mulheres e outros grupos, mas também uma porcentagem do orçamento total de projetos do ano.

Outro ponto importante, também levantado por Youssef, é a necessidade de mapear e divulgar dados relativos à representatividade de gênero, raça, e outros marcadores nesse ecossistema. Nesse sentido, a própria Ancine tem investido em pesquisas, em especial com o programa Aliança Sem Estereótipos, sob coordenação da ONU Mulheres. O movimento busca conscientizar anunciantes e agências sobre a

TEMOS O TALENTO,

E HABILIDADE DE CRIAR FILMES TÃO BONS QUANTO AQUELES DIRIGIDOS POR HOMENS

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COMPETÊNCIA
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Cena da série Manhãs de Setembro produzida pela produtora independente O2 Filmes onde Rejane Bicca é diretora de atendimento Cena da série Manhãs de Setembro produzida pela produtora independente O2, filmes onde Rejane Bicca é diretora de atendimento

importância de eliminar os estereótipos, em especial de gênero e raça, nas campanhas publicitárias, além de divulgar dados sobre a questão. Como uma das cabeças do movimento e em posição de poder para promover a mudança, Marianna Souza destaca um passo relevante para o aumento da presença feminina na direção audiovisual.

“Em 2021, firmamos um acordo de cooperação técnica entre a APRO e a ONU Mulheres, estendendo nossos esforços para o programa Aliança Sem Estereótipos. Nosso objetivo é não apenas mudar a representação nas telas, mas também nos bastidores, desafiando a predominância masculina nas posições de base no universo audiovisual. Acreditamos que estabelecer metas concretas, como garantir pelo menos 20% de participação feminina, é essencial para promover essa mudança necessária”.

O PAPEL DE CADA UM

Estamos em desenvolvimento e existe uma gradual evolução acontecendo. Entretanto, as oportunidades para as mulheres mostrarem seu trabalho em produções com maiores orçamentos e recursos continuam sendo limitadas. “Minha experiência me diz que, se não lutarmos pelas nossas diretoras e pelos projetos nos quais acreditamos, nunca teremos a chance de fazer algo diferente. Minha persistência no passado, embora às vezes tenha enfrentado barreiras, está sendo recompensada hoje”, ressalta Rejane Bicca.

A estrutura é demasiadamente pesada, como placas tectônicas que sustentam um sistema de exclusão e desigualdade. A transformação depende fortemente do apoio e da ação conjunta de todos os atores desta indústria. “Acredito que a responsabilidade está nas mãos de várias partes. As agências e os clientes por exemplo têm um peso considerável, pois são eles que costumam tomar todas as decisões finais. Mas nós, como criadores, também podemos moldar essas estruturas. É uma responsabilidade que deve ser assumida por todos.

ACREDITAR NAS PRÓPRIAS

IDEIAS E INSISTIR NELAS, DESDE QUE SEJA FEITO COM RESPEITO, É ESSENCIAL PARA ATINGIR O SUCESSO

AOS NOVOS TALENTOS

Por fim, Thatiane deixa um recado para a próxima geração de diretoras: “a autoconfiança é fundamental para qualquer diretor, especialmente para as mulheres e diretores negros, que como qualquer minoria, muitas vezes se sentem isolados nesse circuito. É essencial poder acreditar nas próprias ideias e insistir nelas, desde que seja feito com respeito aos demais envolvidos e o processo, é crucial para o sucesso”, aconselha.

As “grandes explosões” de carreiras femininas no mercado do audiovisual são muito menos frequentes do que a das carreiras masculinas neste mesmo cenário, e muitas vezes elas demoram mais para acontecer. As diretoras vivem em um constante limiar entre o sentimento de desejo de trabalhar em projetos com orçamentos significativos e a necessidade de construir um portfólio com grandes orçamentos. As poucas que conseguem alavancar suas carreiras tiveram que batalhar muito para conquistar o espaço que têm, quando se comparado aos homens . Seja atrás das câmeras ou na gestão, elas sabem que estão em cadeiras de privilégio e usam esse privilégio para escancarar a porta do mercado audiovisual. Cada vez mais a presença feminina cresce no mercado, com essas profissionais e diretoras já estabelecidas abrindo caminho para a entrada de novas mulheres na indústria audiovisual.

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LEVANTE: FILME BRASILEIRO NO CANNES

FILME ACOMPANHA UMA JOGADORA DE VÔLEI QUE DESEJA

INTERROMPER UMA GRAVIDEZ, MAS SE VÊ SEM SAÍDAS

A cineasta Lillah Halla (do premiado curta-metragem Menarca) estava observando a fronteira entre Brasil e Uruguai quando percebeu uma coisa: era preciso apenas cruzar uma fronteira político-geográfica para ser permitido interromper uma gravidez. Do lado uruguaio, o procedimento passou a ser legal em 2012. No Brasil, é proibido e ainda agita os dois lados da discussão. Foi aí, nesse pensamento de fronteira, que nasceu a ideia de Levante. O longa-metragem, que estreou no Brasil dia 22 de fevereiro desse ano, fala sobre Sofia (Ayomi Domenica), jovem jogadora de vôlei que se vê grávida bem no auge de sua carreira dentro das quadras - uma olheira, inclusive, quer levá-la para o Chile para jogar profissionalmente. Ela não quer seguir com a gestação e pretende, acima de tudo, focar no esporte. É aí que começa o embate, com pessoas pressionando a jovem para manter a criança. O fato é que o filme, na jornada de Sofia, questiona a legalização econômica do aborto. Em determinado momento, uma personagem diz que quem tem dinheiro vai lá e paga. Mas e quem não tem? A pergunta vai para a plateia. Essas ideias todas, que antes estavam apenas no papel, viraram esse filme maduro que é Levante. Percebe-se como Halla realmente tem algo a falar aqui. Não à toa, o longa-metragem se destacou em premiações e festivais: foi exibido nas mostras paralelas do Festival de

Cinema de Cannes, em 2023, e foi considerado o melhor filme de estreia pela Fipresci, a Federação Internacional de Críticos de Cinema, durante o próprio festival.

Também recebeu os prêmios de melhor filme no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz e no Mix Brasil e de melhor filme ibero-americano no Festival de Palm Springs, além de melhor direção de ficção no Festival do Rio.

Ainda que a questão da interrupção da gravidez seja o principal norte na trama de Levante, elenco, diretora e a roteirista María Elena Morán destacam como o filme, na verdade, não é exatamente uma história apenas sobre isso - mas, na verdade, passa por essa reflexão.

É um filme que fala sobre a cartografia do gênero, sobre políticas que atravessam existências e, acima de tudo, corpos. É sobre essa questão essencial do que é um levante: um grupo de pessoas que se unem em prol de uma transformação ou, então, de um objetivo.

No entanto, enquanto o filme Levante mergulha nas complexidades da questão da legalização do aborto, também destaca um aspecto muitas vezes negligenciado: a disparidade econômica que permeia essa discussão. Isso adiciona uma camada ainda mais profunda à narrativa, transformando Levante em não apenas um filme sobre a luta pelo direito ao próprio corpo, mas também sobre as desigualdades que permeiam essa luta.

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AS MULHERES MAIS IMPORTANTES NA PROGRAMAÇÃO

CONHEÇA QUATRO IMPORTANTES MULHERES BRASILEIRAS QUE ATUAM OU ATUARAM NA INDÚSTRIA DE PROGRAMAÇÃO

Empreendedora da Rede Mulher

Formar mulheres para melhorar o mundo, esse é um dos grandes objetivos de Ana. Ela é fundadora da Rede Mulher Empreendedora, tendo ajudado mais de 270 mil empreendedoras pelo país. A iniciativa, iniciada em 2010, é formada por uma plataforma e eventos em que são compartilhados conteúdos e divulgadas as empresas de mulheres de todo o Brasil, tendo se tornada a maior rede no país. Saída de uma pequena cidade no interior de Alagoas, Ana mudou-se com a sua família ainda criança para São Paulo. Apesar das dificuldades financeiras, os pais dela faziam questão de investir na educação. Depois de ter passado por importantes multinacionais, ela sentiu uma necessidade de se superar no ambiente corporativo e decidiu começar a ajudar outras mulheres a impulsionar seus negócios no mercado.

Empresaria e cocriadora da NuBank Você já deve ter ouvido falar sobre o movimento das fintechs, e é possível que tenha uma conta ou conhece alguém que já falou do Nu Bank. Cristina Junqueria é um dos nomes por detrás do sucesso da startup financeira que, há pouco tempo, atingiu valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares. Nascida em Ribeira Preto, ela é uma das fundadoras da fintech e seu nome tem peso, sendo reconhecido como um dos mais importantes da tecnologia no mercado. Formada em Engenharia de Produção, ela atuou durante anos no setor financeiro em grandes organizações, nas quais adquiriu vasta experiência como executiva. Em 2013, ela decidiu pedir demissão e embarcar em uma nova jornada, como a criação do NuBank, junto de mais dois sócios. Hoje, ela ocupa a cadeira de vice-presidente da empresa.

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Priscila Prade Emma Hinchliffe CRISTINA JUNQUEIRA ANA FONTES

Fundadora da Ponte21 e Mastertech

Camila Achutti é uma das fundadoras da con sultoria em inovação Ponte21 e da plataforma de educação em tecnologia Mastertech, eleita como a mais atraente do país. Esta plataforma tem o objetivo de democratizar a tecnologia, ensinando aos jovens técnicas não só de programação, mas também de inovação. Camila Achitti é formada em Ciências da Computação, porém ela decidiu empreender, a fim de mostrar não só o poder da tecnologia e as transformações causadas por ela, mas também fortalecer o empreendedorismo nessa mesma área. Ela é a fundadora do blog “Mulheres na Computação”, um espaço dedicado a discutir e incentivar a presença feminina no setor tecnológico. Esse blog rapidamente se tornou uma referência, inspirando muitas mulheres a ingressarem e se manterem na área de tecnologia.

Técnica de tecnologia e gestão de negócios

A executiva de TI, Nina Silva é uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo. Além desse título, Nina é sócia-fundadora do Movimento Black Money. O MBM, como também é conhecido, tem como um dos seus principais objetivos o desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor, estimulando assim a inovação entre jovens e empreendedores negros pelo mundo. Um dos principais frutos do projeto comandado por Nina já conta com uma fintech chamada D’Black Bank, que visa o fornecimento de crédito aos empreendedores negros. A executiva, é formada em Administração, mas atuou por muitos anos na área de TI, tendo passagem por empresas como L’Oréal, Oi, Hasbro e Honda e experiência de mais de 17 anos nesse mercado. Ela foi considerada a Mulher Mais Disruptiva do Mundo pela Woman in Tech.

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Veronica Cortizo Gustavo Pacete CAMILA ACHUTTI NINA SILVA

NINA DA HORA

CONHEÇA NINA DA HORA, JOVEM QUE HACKEIA O SISTEMA PARA O BEM

CIENTISTA DA COMPUTAÇÃO DEBATE

TECNOLOGIA SOB O OLHAR ANTIRRACISTA

POR MARÍLIA MARASCIUOLO FOTOS ROBERTA BORGES

PESQUISADORA, CIENTISTA, PALESTRANTE, ESCRITORA, ATIVISTA influencer. Essas são as carreiras de Ana Carolina Silva das Neves da Hora, mais conhecida como Nina da Hora. Aos 28 anos, recém-formada em Ciência da Computação, a jovem é bolsista do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), colunista da revista MIT Technology Review Brasil e membro do Conselho Consultivo de Segurança para o aplicativo TikTok.

Além disso, ocupa um espaço de destaque nas redes sociais, onde se posiciona como “a Hacker Antirracista”. Nesse contexto, hackear significa quebrar os padrões esperados da sociedade e da academia, superando obstáculos de uma área predominantemente masculina e branca.

Filha de uma professora de literatura, extremamente batalhadora, a cientista da computação cresceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Desde cedo, recebeu incentivo à leitura e ao aprendizado — mas se encantava mais com as sucatas eletrônicas do que com as letras presentes nos livros.

No curso de Ciência da Computação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Nina realizou-se como cientista participando ativamente de diversas pesquisas e estudos. “Realmente acredito que quero estar cada vez mais presente, em sala de aula ou até fora dela, para que essa disseminação do conhecimento perpetue. Que outras pessoas aprendam e deem continuidade”, afirma Nina da Hora, que acumula mais de 100 mil seguidores em suas redes sociais.

Tudo dentro dos seus objetivos para a sua própria carreira. “Estou tendo que lidar com esse novo reconhecimento sem precisar colocar muita base para ficar branca, sem disfarçar nada, sem ter que me esconder atrás de um personagem”, pontua. A GALILEU, Nina da Hora fala sobre os diversos desafios que enfrentou (e ainda enfrenta) para se tornar referência em tecnologia, principalmente no ramo da programação, e opina sobre debates aquecidos do setor, como segurança digital, o papel das big techs e o famigerado chatbot ChatGPT.

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Cientista da computação, pesquisadora e ativista e colunista da revista MIT Technology Review

Cientista da computação, pesquisadora e ativista e colunista da revista MIT Technology Review

Na sua infância, você foi incentivada a buscar uma carreira na ciência?

Eu venho de uma família de professoras, sempre tive incentivo à educação. Ninguém era da área de exatas, mas, conforme fui crescendo, percebi que essa definição da ciência somente ligada ao processo científico e acadêmico limita as possibilidades que podem surgir na área. Fui uma criança e adolescente incentivada ao estudo pelas pessoas ao meu redor, principalmente minha família, até porque minha mãe é professora, então em casa a educação sempre foi levada a sério. Para computação, estudei muito com livros. Fui ter computador próprio só aos 8 anos. Hoje demoro a responder mensagem, e-mail, Telegram — WhatsApp eu nem tenho, porque nunca fui acostumada a esse ambiente em que tudo parece ser muito urgente e imediato. Na infância e adolescência, eu gostava de passar horas lendo, escrevendo, conversando com pessoas.

Você poderia ter se profissionalizado em outra área, como a literatura, o que foi tão atraente na ciência?

Eu lia muitas histórias e biografias de cientistas renomados, só que não tinha acesso a cientistas pretos. Foi quando criei o podcast Ogunhê, que era como um diário das minhas pesquisas. Mas os livros que eu encontrava contavam de descobertas como a Teoria da

Relatividade [de Albert Einstein] ou quando Isaac Newton descobriu as três leis da Física. Isso aconteceu numa época em que essas pessoas tinham momentos de descanso e oportunidade de refletir, coisa que recentemente não temos mais.

A ciência sempre me chamou atenção por isso. Costumo dizer que tem uma diferença de cientista para pesquisador. O pesquisador é o que está atrelado a produtividade insana que parece que você não tem outras coisas para fazer a não ser entregar artigos. O cientista é o que está olhando para o objeto de pesquisa, de estudo, e tem que relacioná-lo com o ambiente.

Então, o que me chamou atenção na ciência são essas possibilidades que podem surgir em momentos que você não está dentro de um laboratório, de um escritório. E é por isso que boa parte da minha vida fazendo ciência não foi dentro de um lugar fechado, limitado, mas sempre em lugares abertos.

Como você mesma falou, a ciência não olha para as pessoas pretas ou para as mulheres. Quais foram os desafios que enfrentou ao longo da sua trajetória?

O acesso ao estudo de tecnologia sempre foi um grande desafio para mim, especialmente por ter sido criada em Duque de Caxias. Lá, embora o conhecimento fosse compartilhado, era difícil obtê-lo devido às limitações de transporte e recursos financeiros. Quando decidi ingressar no campo da computação, enfrentei ainda mais dificuldades, pois minha mãe questionou como eu conseguiria adquirir as ferramentas e o computador adequado para programar softwares e robôs.

Foi então que comecei a trabalhar com sucata, me proporcionando uma valiosa habilidade: entender o funcionamento de peças eletrônicas. Desmontei muitos DVDs para analisar os sensores de presença e de aproximação, bem como descobrir como funcionava a tecnologia por trás das diferentes frequências de rádio, como AM e FM.

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Enquanto eu não podia atuar diretamente na área, aproveitei o tempo para aprender, o que foi possível desmonstando e entendendo essa parte mais física, técnica.

Passado o obstáculo do acesso, o segundo obstáculo é o que mais permeia o meu trabalho: as pessoas não reconhecerem, não acreditarem numa mulher negra retinta nessa área. O reconhecimento que tenho hoje é muito recente.

Na universidade, as pessoas sempre me colocavam como se eu não fosse da computação. Logo que entrei, um dos professores falou: “você se comunica muito bem, não acha que está no curso errado?”. Existe essa ideia de que pessoas da computação, da tecnologia, devem ser homens brancos, de óculos, que não falam com ninguém e ficam no computador. Mas ainda bem que as pessoas estão percebendo o quanto isso limita as possibilidades.

E quais são os obstáculos que você considera que ainda precisa superar nessa área da programação?

O primeiro obstáculo foi me desenvolver como cientista fora de um determinado padrão esperado das universidades. O segundo são as violências que acontecem por ser mulher e principalmente por ser uma mulher negra — as piadas, a falta de crédito, tudo isso ainda existe e acho que vai existir por muito tempo.

Para mim, é muito importante estar num ambiente com, por exemplo, a Jaqueline Goes [que é biomédica pesquisadora de pós-doutorado no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo], e a Sônia Guimarães [física e também professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica], que são todas mulheres negras dentro da área da ciência, que estão por perto se ajudando. Nós estamos sempre trocando figurinhas. São pessoas do meu vínculo, tanto profissional quanto pessoal, que contribuem tanto para que esses obstáculos fiquem pelo menos um pouco menores.

EXISTE A IDEIA DE QUE PESSOAS DA COMPUTAÇÃO SÃO HOMENS

BRANCOS, DE ÓCULOS, QUE FICAM APENAS NO COMPUTADOR

Eu acabo fazendo muitas associações entre as áreas, e isso ainda é muito novo na área da  computação. Apesar da ciência da computação nascer da junção de filosofia, matemática, engenharia elétrica e um pouco de comunicação, vejo uma dificuldade, entre quem trabalha nessa área, de entender que precisamos fazer associações entre o que aprendemos na computação com outros temas. Caso contrário, não conseguiremos avançar no desenvolvimento de tecnologias de fato úteis para a sociedade.

Uma das suas principais bandeiras é a luta antirracista. Como você enxerga o papel da tecnologia e da computação nessa causa?

Somos um pouco confusos sobre como usar a tecnologia. Ainda é muito difícil as pessoas negras estarem nesses ambientes, alcançarem e passarem por esse obstáculo do acesso, depois pelo obstáculo da oportunidade pra trabalhar e ainda mais pelo do reconhecimento.

Enquanto não for possível ter pessoas pretas à frente das tomadas de decisões de como essas tecnologias serão criadas, desenvolvidas e principalmente, utilizadas, ainda teremos um enorme abismo entre a luta antirracista, que já desempenhamos independentemente da tecnologia, e as ferramentas que podem ajudá-la a acontecer.

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Hoje, existem problemas em relação a pessoas negras com tecnologias de inteligência artificial – voz, imagens ou mais textuais. São problemas que podem ser resolvidos devidamente com as tecnologias repensadas por pessoas pretas e para pessoas pretas. Diz Nina da Hora: “Enquanto não for possível ter pessoas pretas à frente das tomadas de decisões de como essas tecnologias serão criadas e desenvolvidas, teremos um grande abismo”.

O quanto as redes sociais representam um espaço de organização e mobilização no dia a dia?

Precisamos diariamente buscar o equilíbrio desses usos, porque é muito fácil que um ótimo discurso e uma ótima luta se percam em meio a um modelo de comunicação, ou de mediação da comunicação, que não privilegie as boas interações.

É crucial considerar como essa geração mais jovem, com idades entre 17 e 19 anos, utiliza as plataformas digitais como meio de expressão. O debate deve se concentrar em entender como estão se expressando e os impactos dessa expressão em suas vidas. Uma questão importante é a exposição da vida pessoal, que pode ser usada contra elas sem seu consentimento posteriormente.

É necessário questionar se essa é a direção ideal para o desenvolvimento de uma contra narrativa eficaz. Isso levanta certas preocupações sobre privacidade, segurança online e controle das próprias informações pessoais. Portanto, ao discutir as formas de expressão digital dessa geração, é essencial considerar não apenas os benefícios, mas também os desafios e riscos.

Por outro lado, entendo que essas plataformas permitem que você se comunique muito rápido. Isso é bom, porque você tem que criar uma linguagem simples para explicar algo complexo. A grande questão é deixar algo complexo sem a importância que de fato carrega. E isso me preocupa em alguns temas que são bastante caros para a sociedade.

O PRIMEIRO OBSTÁCULO

FOI ME DESENVOLVER COMO CIENTISTA FORA DE UM PADRÃO ESPERADO DAS UNIVERSIDADES

Em que momento você se percebeu uma hacker e como usa isso para atuar em diferentes causas?

Primeiramente, ao tentar fugir do padrão acadêmico, acabei percebendo que seguir o modelo tradicional não resolveria os problemas que enfrentaria na universidade. Para mim, isso já é uma forma de hackear. Respeito as regras, mas acredito que elas podem ser adaptadas e hackeadas para melhor se adequar às minhas necessidades.

Organizo meu tempo de estudo e pesquisa de maneira não convencional, priorizando a audição sobre a leitura devido à minha vida agitada. Além disso, adaptei o uso de aplicativos de comunicação digital, como o Telegram, reservando momentos específicos para responder mensagens, o que me permite focar mais na pesquisa.

Uma abordagem adicional é simplificar meu trabalho para torná-lo compreensível até para minha avó, assegurando que seja acessível a todos. Em certas ocasiões, isso implica em não produzir tanto conteúdo online, conforme o estágio da minha pesquisa. É essencial manter o foco na comunicação clara e acessível, mesmo ao lidar com pensamentos científicos e metodologias complexas. Além disso, essa prática também ajuda a fortalecer minha própria compreensão do assunto, ao encontrar maneiras simples de explicar conceitos

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intricados. Assim, não apenas contribuo para uma divulgação mais ampla do conhecimento, mas também cultivo uma compreensão mais profunda da minha área de estudo.

Qual é o potencial da inteligência artificial, que parece estar cada vez mais sofisticada e humanizada?

Logo que surgiu o ChatGPT, todo mundo da educação no Brasil pensou que o sistema educacional tinha acabado. Essa é uma tecnologia que está sendo desenvolvida desde 2017. A tentativa deles é de obter uma escrita o mais perto possível da escrita humana.

Tem ainda a questão da humanização. Acho que esses algoritmos ainda são muito superficiais e desinformados. O chat cria referências bibliográficas que não existem, com nomes de pesquisadores e cientistas. Realmente sou defensora dos professores, então acredito que o chat só vai prejudicar a educação por métodos que estimulam os alunos a decorar. Vem então o desafio de encontrar quais perguntas você tem que provocar, que façam os alunos não conseguirem achar as respostas no Google ou no chat.

Você acha que vai chegar o momento em que a IA representará uma ameaça aos trabalhadores?

Acredito que essa ameaça não está na própria tecnologia em si, mas sim nas pessoas por trás do desenvolvimento dessas ferramentas. Os responsáveis têm modelos de negócio que visam alcançar hegemonia em determinadas áreas, influenciando outros desenvolvimentos e ideias. Esse fenômeno representa uma preocupação significativa, pois pode moldar não apenas o panorama tecnológico, mas também pode mudar os aspectos sociais, econômicos e culturais de toda uma sociedade. Eu acredito que em alguns países já exista essa prontidão para substituição, mas os resultados ainda não são significativos o suficiente para que se substitua a força, a interação ou o pensamento

humano por essas máquinas, com esse nível de inteligência que nós temos, então ainda há tempo para estudarmos mais e entendermos os riscos.

Nos últimos meses, a gente viu demissões em massa no setor das big techs. Como você enxerga o papel que essas empresas de tecnologia têm na nossa sociedade?

Elas ultrapassaram os limites de sua influência. No entanto, atualmente, percebemos mais o problema de permitir que decisões sejam tomadas por um grupo restritoe não diverso. Para mitigar esses danos a curto prazo, tem sido debatida a necessidade de regulamentações. Ainda não há um modelo de moderação de conteúdo que contemple os diferentes contextos que vivemos em uma hora de uso de uma dessas plataformas disponíveis. E arrisco dizer que não vai ter, porque são contextos muito diferentes vivendo ao mesmo tempo nessas plataformas e no mundo.

Já as demissões que estão acontecendo impactam no mercado de trabalho. Quais são as condições para criar as ferramentas que essas empresas lançam? Como elas estão sendo aplicadas? Elas já foram evoluídas para esse tipo de contexto? Por fim, quando olhamos para as big techs, também começamos a olhar para os dados. A privacidade, como isso é armazenado, compartilhado, terceirizado.

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Nina Da Hora sendo a voz da mudança na Ciência da Computação brasileira Nina Da Hora é a voz da mudança na Ciência da Computação brasileira

FUTURO TECH

A IMPORTÂNCIA DA PROGRAMAÇÃO PARA O FUTURO DO TRABALHO

PROFISSIONAIS E EMPRESAS PRIORIZAM INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS

ESCOLA SUPERIOR DE REDES FOTOS DIVULGAÇÃO

A PROGRAMAÇÃO

É ESSENCIAL PARA O PRESENTE E O FUTURO DO mercado de trabalho, seja para profissionais de TI ou para empresas que contratam esse tipo de força de trabalho, porque já estão focadas em manter suas vantagens competitivas sobre a concorrência.

Somente através desta atividade é possível continuar a rápida evolução da Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial (IA) ou tornar o ambiente de nuvem corporativa adequadamente sustentável para o número crescente de dispositivos conectados à rede.

Além disso, a programação é capaz de resolver, de maneira muito ágil, problemas relacionados à jornada de compra do Cliente omnichannel, ou seja, em que o cliente consome um produto ou serviço e converge a solução através de vários canais em um integrado. Conhecendo os pontos críticos da comunicação virtual da empresa - processos internos ou externos - a programação sabe como mitigá-los.

De um modo geral, a programação é descrita como o ato de escrever e estruturar um conjunto de instruções (código) para que um computador ou sistema possa executar tarefas específicas. Tais instruções são escritas em uma linguagem de programação compreensível pelos profissionais e depois traduzidas para uma linguagem que o computador interpreta, como Javascript ou C++ e Python, entre outros.

O CENÁRIO DE PROGRAMAÇÃO NO BRASIL EM 2023

Uma das melhores maneiras de entender a importância da programação para o futuro do mercado brasileiro é verificar os números nesta área da atividade de TI (tecnologia da informação).

Apesar das taxas significativas de demissões no início do ano, a “codificação” - ou seja, programação usando códigos - ainda é uma carreira com vantagens e espaço.

De acordo com um artigo do G1, o setor de tecnologia cresceu 34,3% entre janeiro e outubro de 2022 e teve mais de 70 mil novas oportunidades abertas. A pesquisa salarial do canal Code Fonte TV, realizada

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na área, reuniu informações importantes sobre esse tópico, como: o salário médio mais alto para programadores, aqueles que responderam ao questionário de pesquisa, está no estado de São Paulo, com um salário de R$8.862,02, enquanto Roraima representou a média mais baixa, com um salário de R$4.682,32;

• 45,5% dos profissionais estão satisfeitos com seu salário;

• 24,8% estão buscando algum grau;

• 13,8% têm entre quatro e seis anos de experiência na área;

A especialidade mais ativa é a Web (44,25%), seguida pelo Back-end (28,79%), enquanto a menor é a IoT (0,18%).

Assim, os números do setor, tanto os compilados neste estudo quanto no artigo do grupo O Globo, demonstram que a programação é uma carreira com oportunidades de crescimento e especialização em diferentes segmentos.

Do ponto de vista das empresas que contratam TI, as vantagens da programação são numerosas, entre as quais a mais proeminente é a adaptabilidade a um cenário que integra ambientes virtuais e físicos de maneira cada vez mais fluida.

Como dissemos no início deste artigo, um profissional de programação - ou, como também é chamado, um desenvolvedor (dev) - é responsável por escrever e testar códigos para a operação de aplicativos, sites e programas de computador. Em outras palavras, a programação é essencial para que todas as funções do dia-a-dia sejam realizadas, como pagamentos digitais, uso de um aplicativo de mobilidade urbana, troca de mensagens, etc. Em resumo: o profissional de programação transforma aplicativos presenciais reais em aplicativos úteis e reais também no ambiente digital.

No contexto da transformação digital, impulsionada, acima de tudo, pelas implicações do isolamento social e pela maior conectividade já

PROFISSIONAL DE

PROGRAMAÇÃO

TRANSFORMA PROGRAMAS PRESENCIAIS EM APLICATIVOS

ÚTEIS E REAIS TAMBÉM NO AMBIENTE TECNOLÓGICO

experimentada pela humanidade, a área de TI será cada vez mais exigida, inclusive no que diz respeito aos programadores.

De acordo com a Associação de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e Tecnologias Digitais, a estimativa é que, até 2025, haverá uma escassez de 797 mil profissionais de TI no mercado brasileiro. Portanto, é interessante observar as possibilidades de um funcionário de TI neste cenário. Veja alguns abaixo:

• Programador de back-end: profissional que desenvolve códigos que permitem a execução das funcionalidades de um sistema operacional e sua segurança. Ele é responsável pela operação “nos bastidores”.

• O programador de front-end: se concentra na criação e verificação de códigos que permitem ao usuário visualizar as funcionalidades de um site, software, aplicativo, etc. É o contato com o usuário.

• Programador de pilha completa: é um profissional que domina as habilidades de back-end e front-end. Entende como o desenvolvimento web funciona e é capaz de orientar a empresa em estratégias e melhores práticas.

Nesses três campos de atividade, os programadores também podem construir carreiras em diferentes áreas, como:

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Um bom setup é algo indispensável para um programador
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Um bom setup é algo indispensável para um programador
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Programação é um mercado em ascensão. Programação é um mercado em ascensão.

Desenvolvimento de Web; desenvolvimento de software; análise de sistemas; engenharia de computação; engenharia de dados; administração de banco de dados; ciência de dados.

Existem razões estratégicas e operacionais para uma empresa investir em profissionais de programação e tecnologia da informação (TI). Profissionais de programação e TI são essenciais para impulsionar a inovação nas empresas. Eles têm a capacidade de desenvolver novos produtos, serviços e soluções tecnológicas que podem melhorar a competitividade da empresa no mercado.

A programação contribui para os processos de automação de tarefas do dia-a-dia, o que pode aumentar significativamente a eficiência operacional das empresas, reduzindo custos e liberando recursos para atividades de maior valor agregado.

O mundo está em constante evolução tecnológica. Portanto, os profissionais de programação permitem que as empresas se adaptem mais rapidamente às mudanças do mercado, às novas tendências tecnológicas e às demandas dos clientes.

Os profissionais de TI podem criar sistemas que coletam, processam e analisam dados relevantes para tomar decisões estratégicas. Os programadores podem transformar os insights de informação decorrentes dessa lógica em possibilidades reais de melhorias nos sistemas operacionais, comunicação com o usuário, disponibilidade e acessibilidade de sites, software, aplicativos e outras plataformas. Isso permite que as empresas obtenham uma visão mais profunda de seu desempenho, mercado e clientes, resultando em decisões mais bem informadas, garantindo maior prevenção de erros.

Com as ameaças cibernéticas em ascensão, deve-se considerar investir em profissionais e programadores da Segurança de Informações, sendo isso essencial para a proteção dos ativos digitais de uma empresa, evitando riscos associados a violações de dados e ataques cibernéticos, grande preocupação atual da sociedade.

PROFISSIONAIS DE PROGRAMAÇÃO PODEM CRIAR APLICATIVOS E SOFTWARES PERSONALIZADOS

PARA ATENDER ÀS NECESSIDADES ESPECÍFICAS DOS NEGÓCIOS

Talvez essa seja a vantagem de investir em programação que está mais conectada ao futuro do mercado de trabalho.

As empresas que têm profissionais de programação podem criar aplicativos e softwares personalizados para atender às necessidades específicas dos negócios e clientes, avançando a experiência geral do usuário e adotando uma abordagem para personalizar experiências, que representa a principal tendência no mercado atual.

Setores emergentes assim como a Internet das Coisas (IoT), realidade virtual e inteligência artificial têm o potencial de transformar muitas indústrias. Portanto, os profissionais de programação são essenciais para aproveitar essas oportunidades de crescimento.

Contratar profissionais de programação e TI permite que as empresas desenvolvam soluções internamente, reduzindo a dependência de fornecedores externos e custos associados. O mercado de trabalho para profissionais de programação e TI é altamente competitivo. Ao adotar uma estratégia interna de priorização de talentos, as empresas podem atrair e reter os mais qualificados, criando uma equipe altamente qualificada e engajada.

Um dos principais desafios para os gerentes de RH no cenário de trabalho atual é se adaptar às demandas do mercado, dos próprios usuários e funcionários - todos mais exigentes.

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POR QUE É IMPORTANTE TER MULHERES NA TECNOLOGIA?

REFLEXÃO SOBRE A PARTICIPAÇÃO FEMININA NO SETOR: COMO O MUNDO E OS HOMENS PODEM SE BENEFICIAR COM A NOSSA PRESENÇA

A discussão sobre igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho não é de hoje. A realidade é que a luta das mulheres por espaços entendidos como próprios para os homens é contínua. Na área da tecnologia, ambiente majoritariamente masculino, apesar de a participação das mulheres não ser incentivada e dos incontáveis desafios, os números mostram que a representatividade feminina no setor vem aumentando.

Segundo um levantamento realizado pela Catho no início deste ano, as mulheres representam, hoje, 23% dos profissionais do setor, 2,1 pontos percentuais acima do ano de 2021, em que elas representavam 21,48%.

Quando iniciei minha carreira, não era uma questão de gênero, mas havia pouquíssimas mulheres nesse mercado. Não era um mercado que as atraía, creio que por conta do estigma de que matemática e lógica não eram inerentes ao gênero feminino, desencorajando a participação.

Apesar dos avanços, ainda estamos muito longe de um cenário de equidade, principalmente quando falamos sobre mulheres ocupando cargos de liderança na indústria tecnológica. A nossa força feminina ainda está em desvantagem, e é preciso colocarmos mais peso, força, holofote e mais ações afirmativas como metas de contratação, programas, projetos e grupos, para que a mudança seja mais rápida e efetiva. Ainda estamos lutando contra um sistema machista para o tema da inclusão.

Vou citar um exemplo pessoal: no começo da minha carreira, quando busquei cargos de liderança, achava que eu deveria ter uma postura mais “masculina” do que eu realmente era, pois todos os meus gestores eram homens. Com o passar do tempo, entendi que as minhas

características femininas eram um diferencial na minha gestão e eu poderia me tornar uma pessoa mais empática. É comum, mas enxergo que não deveria, que as mulheres olhem para a área de tecnologia e pensem que não é para elas. A falta da sensação de pertencimento e de referências no setor são fatores desmotivantes que contribuem com a insegurança feminina.

Mas não é só na área da tecnologia que as mulheres deixam transparecer a ‘síndrome da impostora’ - conceito usado para explicar a baixa confiança das mulheres em suas vidas profissionais.

A escola tem papel fundamental para incentivar e empoderar mulheres para o mercado. Ainda no Ensino Médio, ocorre a falta de incentivo às meninas no envolvimento nas áreas de tecnologia e programação. É preciso reforçar a ideia de que esta não é uma área somente de “meninos”.

A área de tecnologia é muito ampla e tem foco em vários segmentos, permitindo participação de qualquer gênero.

Para além da falta de incentivo, outro desafio é a desmistificação da carreira. Um dos fatores que impedem o crescimento do mercado para as mulheres é o mito de que carreiras técnicas exigem pessoas diferenciadas em termos de formação, conhecimento e QI (automaticamente, os homens são considerados). Em TI, temos carreiras de todos os tipos, como em qualquer outra indústria.

O caminho ainda é longo para o mundo justo e merecido pelas mulheres na tecnologia, mas a situação evolui ano a ano - mesmo que a tímidos passos - nessa profissão tão necessária nos dias de hoje. A união de apoio e determinação derruba qualquer estereótipo, pois prova, por fatos e dados, que todos têm a ganhar com ambientes mais diversos.

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TECH GIRL

MULHERES E TECNOLOGIA:

O MERCADO AINDA NÃO É TÃO FAVORÁVEL COMO DEVERIA

UMA ANÁLISE DO SETOR, DICAS PARA INVESTIR E A IMPORTÂNCIA DAS MULHERES NESSE MERCADO

POR SEBRAE ILUSTRAÇÕES CAMILLA AVELLAR

A TECNOLOGIA É A ÁREA MAIS PROMISSORA DO BRASIL PARA ELAS. É esse segmento que aponta as novidades dos outros ramos, como beleza, saúde e educação, por exemplo, e mostra como a sociedade vai se comportar no futuro. A tecnologia é uma aposta para quem gosta de analisar e desenvolver habilidades como a inovação. Porém, de acordo com um estudo divulgado pelo programa YouthSpark, da Microsoft, as mulheres representam apenas 25% dos empregados em áreas técnicas de tecnologia da informação.

Mas a tendência é que esse cenário mude nos próximos anos. Muitos programas de incentivo à participação feminina nas áreas de tecnologia e inovação estão surgindo para combater o machismo no setor. Assim, as mulheres têm quebrado paradigmas e preconceitos, ajudando no desenvolvimento mundial com as suas ideias.

Esse movimento já é mais antigo em outros países. Uma pesquisa feita pelo HackerRank, que é uma empresa que se baseia em dados do governo americano, mostra que 65% das vagas do setor de TI foram preenchidas por mulheres nos Estados Unidos, entre janeiro e setembro do ano de 2018.

A tendência é que esses números só aumentem. Além de ser um passo essencial para o desenvolvimento social dos países ao redor do mundo, esse movimento de equidade de gênero no setor tecnológico promove também o crescimento econômico. O PIB (Produto Interno Bruto) de diferente lugares é maior quando as mulheres assumem posições de destaque no mercado de trabalho de áreas promissoras.

Desempenho e produtividade em empresas têm relação direta com a diversidade de gênero e maior participação feminina nas equipes. Por isso, inserir as mulheres no mercado tecnológico é também um ato de desenvolvimento e eficácia. Quanto maior a diversidade de um grupo de colaboradores, mais chances eles têm de inovar e produzir produtos, serviços e soluções que tenham maior abrangência diante do público cada vez mais exigente.

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Um levantamento realizado pelo Peterson Institute for International Economics, em 2016, apontou que instituições que têm mais diversidade de gênero em cargos de liderança possuem maior rentabilidade. O aumento foi de cerca de 15% na lucratividade, o que apresenta uma diferença muito grande para a receita da empresa.

Essa pesquisa evidencia a necessidade do empreendedorismo feminino relacionado à tecnologia e inovação para o desenvolvimento econômico e social do país e da sociedade, cultivando isso, é possivel trazer mais rentabilidade para a empresa. Cada mulher que supera as barreiras impostas pelo machismo deve ser uma fonte de inspiração para que outras conquistem a mesma coisa em suas carreiras e quebrerm as barreiras do preconceito.

Dentre algumas das mulheres que têm cargos de destaque no setor estão:

• Sheryl Sandberg, a chefe operacional do Facebook, que está nessa posição desde 2008, ajudando no planejamento e geração de valor para a rede social;

• Susan Wojcicki, diretora-executiva do YouTube e que já teve papel fundamental no crescimento de ferramentas como Google Imagens e Google Books

• Ada Lovelace que escreveu o primeiro algoritmo da história do setor.

A LÓGICA DESEMPENHA UM PAPEL CRUCIAL NESSE PROCESSO, PORQUE É O QUE

POSSIBILITA A COMPREENSÃO PROFUNDA DOS AMBIENTES

PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA ÁREA DE TECNOLOGIA

São inúmeros os benefícios que seguem o investimento nas áreas de tecnologia e inovação, que tornam esses um dos setores que mais crescem no Brasil e no mundo. O primeiro ponto é que o empreendedorismo tecnológico conta com muitas oportunidade de investimento. Essa importância vem do fato de que quase todos os passos da sociedade e mundo sofrem com interferência e auxílio do mundo digital nos dias de hoje.

Além disso, as chances de garantir independência financeira são muito altas. Seja para quem quer tirar a ideia de um novo negócio do papel ou buscar um cargo em uma empresa na área, a busca por independência e estabilidade tem, nesse setor, mais probabilidade de dar certo, dado que as carreiras ligadas a tecnologia são cada vez melhor remuneradas, principalmente em relação às carreiras mais “tradicionais”, não ligadas ao setor tecnológico.

O mundo tecnológico também é muito dinâmico. A flexibilidade é um benefício para quem deseja trabalhar na área. Isso acontece porque as empresas investem no meio digital como forma de melhorar as relações e os resultados da instituição, garantindo mais conforto e comodidade, vistos como benefícios essenciais para a produtividade. Outra vantagem de investir na carreira em tecnologia e inovação é a possibilidade que você tem de começar um empreendimento digital posteriormente. Os trabalhos relacionados à tecnologia rapidamente desenvolvem habilidades e agregam conhecimentos importantes, então você vai conseguir ampliar sua base de informações, o que te ajudará na hora de começar um novo negócio fundamentado em tecnologia, mesmo que não seja diretamente ligado a ela.

A flexibilidade no investimento inicial da sua carreira é outro benefício que o mundo tecnológico tem a oferecer. Por ser um mercado que está em constante crescimento, as possibilidades de trabalho de acordo com a área escolhida são diversas.

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Além disso, para começar a atuar no setor, você não precisa ter a formação de Ensino Superior. Claro que este é um diferencial, mas se você ainda não começou ou concluiu a faculdade, não se preocupe, pois ainda é possível investir na vida profissional. Ter dedicação e desenvolvimento de habilidades como inovação e capacidade cognitiva já são um diferencial reconhecido.

A competitividade do setor de tecnologia é mais uma vantagem para quem quer investir na área. É por meio da movimentação do setor que as pessoas estão sempre buscando melhorar e inovar por meio das suas habilidades e capacidade de criar soluções que afetem positivamente a vida de todos.

Dessa forma, além de impactar e transformar vidas, você vai estar sempre em busca de novidades. É mais difícil se acomodar quando se trabalha na área de tecnologia, o que é uma oportunidade excelente para quem quer sair da zona de conforto e testar seus conhecimentos.

Além dos benefícios já mencionados, o setor de tecnologia oferece uma vasta rede de suporte e aprendizado contínuo. Com a disponibilidade de cursos online, bootcamps e comunidades de desenvolvedores, é possível atualizar-se constantemente sobre as últimas tendências e ferramentas do mercado. Esse ambiente de aprendizado contínuo não só melhora suas habilidades técnicas, mas também aumenta suas chances de empregabilidade e crescimento na carreira.

A oportunidade de trabalhar em projetos inovadores é outro grande atrativo da área tecnológica. Profissionais de tecnologia frequentemente participam de iniciativas que estão na vanguarda do desenvolvimento, seja criando novas aplicações, melhorando a segurança cibernética ou desenvolvendo inteligência artificial. Esse envolvimento com tecnologias emergentes proporciona um senso de realização e contribui significativamente para o avanço da sociedade, solucionando por meio da tecnologia problemas complexos (antigos ou novos) e criando novas oportunidades econômicas.

Por fim, mais uma das vantagens que merecem destaque é a ampliação da visão proporcionada pelo trabalho com tecnologia. Devido às constantes mudanças de cenário nesse campo, os profissionais estão sempre capacitados a enxergar além do óbvio. Essa capacidade de perceber o que precisa ser aprimorado ou destacado é uma habilidade essencial que transcende o âmbito profissional, podendo ser aplicada também na vida pessoal.

A carreira em tecnologia proporciona uma plataforma ideal para o empreendedorismo. Com a acessibilidade crescente a ferramentas de desenvolvimento e plataformas de lançamento de produtos, muitos profissionais de tecnologia têm a oportunidade de transformar suas ideias inovadoras em startups de sucesso. Assim, a tecnologia não só oferece um caminho sólido para a estabilidade profissional, mas também abre portas para a criação de negócios, permitindo que os indivíduos explorem todo o seu potencial criativo e empresarial.

Ao desenvolvê-la, você estará mais apto a identificar e aproveitar todas as novas oportunidades que surgirem. A lógica desempenha um papel crucial nesse processo, pois é o pensamento crítico que possibilita uma compreensão mais profunda dos ambientes, além de viabilizar a implementação de mudanças para aprimorar os resultados de todos os colaboradores envolvidos.

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Design do jogo Hay Day criado pela brasileira Camilla Avellar que hoje é design lead na Supercell Design do jogo Hay Day criado pela brasileira Camilla Avellar que hoje é design lead na Supercell

COMO COMEÇAR A INVESTIR NA CARREIRA?

Se você tem interesse nas áreas de tecnologia e inovação e não sabe por onde começar a investir nesse ramo da sua carreira, vamos te ajudar. Por meio de autoconfiança e esforço, você vai conseguir transformar a sua vida profissional e desconstruir pensamentos que ainda estão enraizados em muitas empresas. Para começar a trilhar a carreira em uma instituição, é importante fazer pesquisas e analisar aquelas empresas que têm maior potencial de crescimento e que apoiam ou têm programas de incentivo à participação de mulheres na área. Conhecer o perfil das empresas é importante para começar a se candidatar às vagas ofertadas por elas.

As instituições que buscam investir na diversidade de gênero e empoderamento feminino no setor de tecnologia e inovação são aquelas que têm como objetivo utilizar habilidades e conhecimentos complementares dentro da sua equipe. Dessa forma, o potencial de sucesso aumenta e os resultados são positivos em frente ao mercado.

A partir daí, você deve continuar investindo nas suas habilidades e conhecimentos. Tanto na organização quanto fora dela, as oportunidades devem ser sempre aproveitadas. Quanto mais atualizada você estiver, mais qualificada será profissionalmente.

Se, depois de investir nas próprias competências, você tiver o interesse de abrir o próprio negócio na área de tecnologia, é importante saber o momento certo de dar esse passo. Dessa forma, o sucesso do novo empreendimento se dá a partir de pesquisas de mercado e entendimento da economia.

Uma das opções é o investimento em uma startup. Essa possibilidade exige custos baixos, pode ter alta rentabilidade e é uma aposta que tem crescido muito em diferentes países ao redor do mundo. Ela tem como carro-chefe o trabalho com soluções que sejam criativas e inovadoras. Você também pode se tornar uma profissional autônoma ou freelancer. Dessa forma, os seus serviços oferecidos vão depender de qual habilidade você quer investir mais. Prestar consultorias e ajudar a planejar sistemas que melhorem o desempenho de outras empresas são apenas algumas das oportunidades nesse universo de possibilidades. Apostar em uma nova empresa de tecnologia e inovação é também uma maneira de inspirar outras mulheres do ramo a investirem em suas carreiras. Assim, o resultado é gerar uma rede de apoio mútuo, que vai incentivar o empreendedorismo feminino e a superação de obstáculos impostos pelo mercado.

AS OPORTUNIDADES NO MERCADO

Como você deve saber, a área de tecnologia é muito conhecida por oferecer inúmeras oportunidades de investimento. Vamos falar sobre apenas algumas delas mas, quanto maior for a sua criatividade, maiores as chances de se destacar.

Investir na introdução de meninas e jovens mulheres que estão começando no mundo dos negócios na tecnologia é uma oportunidade de mercado que tende a crescer. Além de ser uma forma de combater o machismo no ramo profissional, esse tipo de serviço é inspirador e inovador, sendo essencial para a busca de novos talentos e desenvolvimento de habilidades criativas.

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De Recife para o mundo, Camilla Avellar hoje é design de games na Supercell e esteve no time de criação do jogo Hay Day De Recife para o mundo, Camilla Avellar hoje é designer de games na Supercell e esteve no time de criação do jogo Hay Day

A própria experiência pode ser utilizada para quem deseja investir nessa tendência. Quais foram suas maiores dificuldades ao entrar no mercado? Faça dessa pergunta a norteadora do projeto e aplique em localidades onde as mulheres empreendedoras sejam uma pauta que pode, e deve, ser explorada.

Proporcionar essa visibilidade para novas empreendedoras, programadoras e desenvolvedoras é uma forma de empoderamento que tem um espaço cada vez maior no mercado. Os temas de equidade estão sempre em pauta e devem ser aproveitados para a divulgação de trabalhos e atualização de informações.

Investir em iniciativas com propostas educacionais e capacitadoras é uma ótima oportunidade, tal que gera resultados financeiros e de conhecimento e desenvolvimento pessoal. Esse tipo de serviço tem se destacado cada vez mais, porque a troca de experiências faz com que a falta de mulheres no mercado não seja mais o destaque e sim a necessidade de lutar para mudar esse cenário e apoiar umas às outras. Isso traz uma visão nova e refrescante à luta, deixando de lado a ideia de que as mulheres só estão sofrendo sem poder reagir.

Pensar nas próprias experiências também pode ajudar a criar um novo ramo dentro do setor. Pense em por exemplo quais são os problemas que você mais enfrenta no dia a dia. Pensar nessa questão e ampliar a discussão para outros grupos de mulheres é uma forma de identificar lacunas que precisam ser preenchidas com novidades no mercado. Com tais lacunas identificadas, fica mais fácil saber onde se deve agir, quando e como.

Dessa forma, seja na área profissional ou no cotidiano em casa, cuidados com os filhos, saúde e bem-estar, buscar soluções que facilitem a sua vida e melhorem o seu desempenho nas atividades é um passo para iniciar um novo empreendimento. Muitas pessoas podem passar pelas mesmas problemáticas e se identificar com o que está sendo oferecido pela sua empresa.

A INCLUSÃO DAS MULHERES NO MERCADO GARANTE A

PRODUÇÃO E EVOLUÇÃO DE FACILITADORES PARA A VIDA DE TANTAS OUTRAS

A IMPORTÂNCIA DAS MULHERES NA TECNOLOGIA

E por que é tão importante a presença feminina na área de tecnologia? Sendo este um ramo utilizado por todas as pessoas nos dias de hoje, é preciso uma análise dos mais diferentes públicos em relação aos produtos e ferramentas que estão surgindo. Só assim pode-se fazer melhorias.

A inclusão das mulheres no mercado de inovação garante a produção, criação e evolução de facilitadores para a vida de outras mulheres. Afinal, só elas entendem o próprio cotidiano e podem pensar em produtos, serviços e soluções que podem transformar as suas vidas. Tanto nas economias emergentes quanto em países que têm o desenvolvimento consolidado, a tendência é que o envelhecimento da população torne os setores como saúde e serviços sociais ainda mais evidentes e necessários. Essas áreas de atuação são dominadas, em sua maioria, por mulheres.

Dessa forma, unir esses conhecimentos e habilidades vai tornar o trabalho das mulheres ainda mais importante. Vale lembrar que essas são habilidades que as mulheres já lidam diariamente em seus trabalhos.

Podem e devem ser explorados também cargos de gestão, planejamento e setores comerciais ligados a empresas do ramo de tecnologia e inovação, experiências importantíssimas.

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INCLUSÃO DAS MULHERES PROGRAMADORAS

INICIATIVA

Com o objetivo de passar por todo o ciclo de inserção da mulher no mercado de tecnologia, a consultoria {elas} programam_ criada pela engenheira Silvia Coelho, LinkedIn Top Voice 2022, trabalha desde a formação dessas mulheres em programação front e back-end, campanhas de engajamento até processos de recrutamento e seleção de talentos femininos para empresas e organizações. Tem como objetivo inspirar, conectar e gerar oportunidades profissionais para aumentar a participação de mulheres na área da tecnologia.

Para ampliar o debate sobre esse tema tão urgente e contar as diversas histórias de mulheres no ramo, surgiu o podcast, que pode ser acessado nas principais plataformas. Elas Programam Podcast conta a história de mulheres anônimas na tecnologia para inspirar meninas e mulheres a quebrar estereótipos e conquistar seu espaço nesse mercado ainda majoritariamente masculino. Porque afinal escrever códigos é contar uma história, e história é substantivo poderoso e feminino.

Além disso, a empresa oferece oportunidades por meio de campanhas, como a #contrateumaDevaJr. Essa camanha tem como objetivo conectar desenvolvedoras Jr com outras empresas contratantes. As inscrições são fáceis e acessíveis: a participante deve usar um template disponibilizado pela empresa e postar o final em seu LinkedIn.

Como criadora de conteúdo e influenciadora, Silvia também compartilha em suas redes dicas preciosas, percepções e eventos que ajudam mulheres na jornada. Seu perfil cresce cada vez mais, atraindo jovens programadoras que desejam atuar no mercado mas não sabem por onde começar. Sua atividade constante nas redes sociais ajuda com que essas outras jovens tenham fácil acesso a informação e comunicação com o projeto.

Com compromisso de proporcionar oportunidades e suporte, a consultoria {elas} programam_ vai além do convencional ao oferecer um ambiente inclusivo e estimulante para as mulheres na tecnologia. Desde a formação técnica até a integração no mercado, cada etapa é cuidadosamente planejada para criar uma trajetória de sucesso para as participantes. Através de parcerias estratégicas e programas inovadores, como a campanha #contrateumaDevaJr, a empresa demonstra um compromisso em promover a diversidade e a igualdade de gênero no setor, transformando não apenas carreiras individuais, mas a própria cultura empresarial.

Paralelamente, o impacto da iniciativa transcende as fronteiras virtuais, alcançando comunidades e inspirando uma nova geração de mulheres a abraçar a tecnologia como uma ferramenta para a mudança e expressão, promovendo empoderamento e inovação.

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MODA

AS MULHERES MAIS IMPORTANTES NA MODA

CONHEÇA QUATRO IMPORTANTES MULHERES BRASILEIRAS

QUE ATUAM OU ATUARAM NO CENÁRIO DA INDÚSTRIA DA MODA

Modelo e ativista

Gisele Bündchen, uma das modelos mais importantes de todos os tempo, continua a deixar sua marca após mais de 20 anos de carreira. Embora tenha se aposentado das passarelas em 2015, ela continua a estrelar campanhas de moda e comerciais. Em breve, lançará um livro de memórias e autoajuda. Gisele é uma presença constante em capas de revistas, acumulando mais de 500. Foi a modelo mais bem paga do mundo entre 2004 e 2016, segundo a Forbes, com uma fortuna avaliada em 150 milhões de dólares. Em 2013, também pela Forbes, foi listada entre as 100 mulheres mais poderosas do mundo. Além da carreira na moda, Gisele dedica-se ao ativismo social, especialmente às causas ambientais, apoiando projetos de proteção à Amazônia e o programa “Energia Sustentável para Todos” da onu.

Empresária e consultora de moda Ícone da moda brasileira, e uma das figuras mais influentes do setor. A empresária e consultora de moda, nascida em Siena na Itália no ano de 1939 e radicada no Brasil desde os cinco anos, assumiu a Santaconstancia em 1987, uma renomada tecelagem fundada por seus pais na década de 1940. A empresa é uma das líderes do ramo têxtil no país, fornecendo tecidos para renomados estilistas. Aos 78 anos, Costanza possui mais de 519 mil seguidores no Instagram, escreve uma coluna na Vogue e mantém um blog no e-commerce Shop2gether. Ela é autora de três livros: “O Essencial” (1999), “Confidencial – Segredos de Moda, Estilo e Bem-Viver” (2009) e “Meu Caderno de Estampas” (2015). Conhecida como a “papisa da moda”, Costanza é admirada por seu conhecimento e estilo.

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Janette Nolen Gustavo Ramos GISELE BÜNDCHEN COSTANZA PASCOLATO

Diretora de branding do grupo InBrands Adriana iniciou sua trajetória no curso de de senho industrial na faap. Com mais de 20 anos de experiência na Ellus, marca que completou 45 anos em 2017, Adrian é uma das grandes responsáveis pela identidade urbana, rocker e transgressora da marca, onde começou como trainee. Interessada pelo lado alternativo da moda, Adriana ajudou a trazer frescor para a indústria com seu estilo rock ‘n’ roll. Agora, ela tem o desafio de levar adiante e estender o know-how da Ellus para outras grifes. Além de sua atuação na Ellus, Adriana Bozon também tem contribuído significativamente para a moda brasileira em geral. Ela é frequentemente convidada para participar de eventos de moda, como a São Paulo Fashion Week, onde suas coleções são aguardadas por outros, sempre com grande expectativa.

Diretora de Planejamento do grupo Icomm Esta paulistana, graduada em Administração pela ESPM e com um Master em Marketing pelo IBMEC, lidera o planejamento dos e-commerces Shop2Gether e OQVestir, que faturaram R$160 milhões em 2017. Suas responsabilidades incluem desenvolver planos de marketing e selecionar novas marcas. Ela está entusiasmada com novos designers, como Neriage, Wymann, Baum & Haut, Bitti Colares e Paola Vilas, entre outros. Ana Isabel também contou que enfrenta o desafio de ser ouvida em uma diretoria predominantemente masculina, destacando a importância de equilibrar razão e emoção. Além de seu trabalho na moda, ela também se envolve em causas sociais, participando de projetos como a Love2gether, do qual é embaixadora, que perfura poços artesianos em regiões carentes da Paraíba.

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Gustavo Catena Paulo Dalessandro ADRIANA BOZON ANA ISABEL CARVALHO

DAY MOLINA

CONHEÇA DAY MOLINA, ESTILISTA INDÍGENA EXPOENTE NA MODA BRASILEIRA

A STYLIST, ESTILISTA E DIRETORA CRIATIVA QUER

USAR SUA VOZ PARA DESCOLONIZAR A MODA

DESCENDENTE DE UMA FAMÍLIA INDÍGENA DO NORDESTE, A stylist, estilista e empreendedora Day Molina, 32 anos, tem sido uma voz importante, especialmente no mundo da moda, no combate ao racismo e na conquista de espaço para que mais profissionais indígenas possam surgir e prosperar.

“Antes de ser estilista e diretora criativa, eu sou ativista”, conta a indígena de 32 anos, que criou a #DescolonizeAModa. Dayana está usando sua voz – e redes sociais – para levantar um debate de importância na indústria: representatividade. “O meu ativismo hoje é essencial para que se enxergue os povos originários com respeito e que se abra espaços para que possamos abraçar e expandir criativos indígenas. Há muito talento invisibilizado.”

Day entrou na moda por acaso. “Minha bisavó era costureira no sertão de Pernambuco, mas eu tinha muito problema em fazer moda, pois sempre achei muito excludente, nunca vi nossa beleza representada nesses espaços”, conta em uma conversa que tivemos pelo zoom.

Ao procurar um trabalho para se manter, ela acabou indo parar no ateliê de um figurinista “e comecei a me apaixonar pela história da roupa, criação e reaproveitamento têxtil”. E lá ela foi se desabrochando enquanto criativa também, começou a fotografar e flertar com a moda.

Conseguiu uma bolsa de estudos e foi para Buenos Aires fazer direção de arte e fotografia. Voltou ao Brasil, fez outros cursos e começou a trabalhar com produção de moda e styling. Isso foi há 12 anos. Seu primeiro trabalho como stylist foi assinando um editorial autoral com uma marca de sua cidade, Niterói, em 2008.

Hoje, Day assina ensaios para veículos como Fashion Revolution, Carta Capital, EOL e Oká Magazine, a primeira revista cultural criada, feita e pensada por indígenas criativos (a próxima edição sai neste mês e tem capa criada por ela). Ela se divide entre sua atuação como stylist e como estilista de sua própria marca, a Nalimo, que lançou há quatro anos e é representante do Fashion Revolution em Niterói.

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POR CAMILA YAHN FOTOS IVAN PACHECO

Day criou o perfil

Day criou o perfil

@indigenasnamoda, conectando indígenas de todo país para discutir a moda nacional

@indigenasnamoda, conectando indígenas de todo país para discutir a moda nacional

Sendo a primeira mulher no Brasil a enfatizar a representatividade indígena na moda, como você vê o impacto dessa iniciativa?

Minha perspectiva de moda não fica apenas na parte estética. É também um pouco de antropologia. Parte da necessidade de construirmos um cenário de moda mais democrático. Que expresse nossa cultura, nossa gente, nossas histórias, tendo grande representatividade. O sentido da moda para mim não é apenas de uma estilista que cria, mas de uma ativista pensando a moda com propósitos sociais.

Você tem provocado discussões e reflexões importantes no meio, como você vê e interpreta isso?

O fato de eu ter visibilidade tem provocado discussões no meio. Por exemplo, as pessoas não entendem que apenas colocar uma modelo no desfile ou na capa não é representatividade. Que marca contratou um fotografo indígena? Quem contratou uma mulher indígena? Uma mulher trans indígena? Tem poucos indígenas envolvidos na moda. Isso reflete a desigualdade, é um rolê tóxico, uma estrutura racista e excludente. Se a gente não falar da pauta indígena, também estamos sendo racistas. Então está começando a existir uma reflexão.

Como é essa questão em outros países?

Aqui tem poucas marcas e criativos indígenas. Lá fora o movimento é muito grande. Tem modelos indígenas que estão protagonizando revistas como Vogue. Mas aqui a gente tem ainda esse tabu.

Quando você começou a trabalhar as questões indígenas nos processos criativos?

Sempre levantei essas questões no olho no olho e me dei conta que não era suficiente. Percebi que isso também era importante porque provocaria mudanças estruturais de algo que só era falado entre amigos, numa bolha. Comecei a levantar reflexões e percebi que o nível

de consciência das pessoas estava finalmente aumentando. Dentro do Fashion Revolution já levantava essas questões tão importantes, dentro de grupos de estudos sempre falava de raças e etnias. Mas não vejo essa mudança estrutural na moda ainda, falta muito.

Algo mudou nesses anos em que você tem atuado na moda?

Eu não acho que mudou. O que aconteceu é que as pessoas começaram a se tornar mais conscientes. Nesses 12 anos, criei muitas imagens que não tinham essa linguagem que me representava. Quando a gente é jovem, quer se adequar a esses espaços até que entendemos que se a gente não trabalhar para mudar, nada vai mudar de fato.

Como você percebe a geração atual de criativos indígenas?

A nossa geração de criativos indígenas é a que está fazendo uma revolução pois ela está em outros espaços para além da aldeia. Ninguém questiona um branco pra saber se ele vai viver na cidade ou no campo. O quanto nossos avós e ancestrais não eram interessantes pra essa sociedade branca? Pessoas pobres e analfabetas nunca foram aceitas.

O racismo alimenta uma estrutura que mostra um nível de ignorância tão forte a ponto de achar que indígenas não consomem.

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O RACISMO

ALIMENTA UMA

ESTRUTURA QUE

MOSTRA UMA IGNORÂNCIA TÃO FORTE A PONTO DE PENSAREM QUE INDÍGENAS NÃO CONSOMEM

Quais são as principais problemáticas da apropriação cultural na moda?

É uma violência porque ela deslegitima algo que é sagrado culturalmente. O cocar tem muitas simbologias.

A apropriação cultural tira o direito de fala de alguém e banaliza uma coisa que é do outro.

E a moda tem essa relação muito forte com a estética então ela se apropria de coisas que não entende, não respeita, mas se apropria desses elementos e estilos.

Sobre sua marca Nalimo, o que te inspirou a criá-la? E seu processo?

Há 4 anos criei uma marca minimalista que reflete minhas escolhas pessoais. Sempre fui muito básica e nunca tive necessidade de vestir tudo, ter todas as tendências. Curtia isso pro meu trabalho como stylist, mas não pra minha vida. E achava importante ter também consciência e respeito às pessoas, por isso ela também tem uma relação forte com a sustentabilidade.

Como você define a Nalimo? É uma marca minimalista e atemporal. Trabalho com preto, branco e cinza e tenho roupas que vestem diversos corpos, independente de temporada. Faço muito do processo da marca: desenho, crio, modelo, desenvolvo as peças pilotos, penso as campanhas.

Quais os propósitos da Nalimo?

Quero fazer algo que seja bom, durável, inovador. Acho uma questão inovadora quando as pessoas veem uma marca minimalista criada por uma indígena. Minha marca é uma marca humana e, por trás dela, tem uma mulher indígena. Trabalho com todos os perfis e padrões na Nalimo. Conversando com uma editora, ela comentava: “mas sua marca não tem nada indígena…”. Eu poderia fazer o marketing do oportunismo falando que minha marca é indígena, mas não é esse o diálogo que eu construo. Construo o diálogo que vai quebrar preconceitos. Esse é o lugar onde muitas pessoas querem ver pessoas indígenas.

Você fala muito sobre descolonizar a moda e romper barreiras de apagamento. Como esses processos podem acontecer de forma potente, como a moda pode ser essa agente de mudança?

Visibilidade é poder. Dê visibilidade a quem você acredita que merece poder. O que você está proporcionando quando compartilha um conteúdo? Você está dando poder a uma pessoa com uma causa importante e necessária e contribuindo para que o mundo se torne um lugar melhor. É importante inserir pessoas e não excluir.

Precisamos descolonizar o nosso olhar, torna-lo menos eurocêntrico e normativo. A beleza não mora no padrão, é uma coisa subjetiva. São assuntos urgentes a serem trocados. Tudo começa com oportunidade. Sem oportunidade, indígenas não terão voz.

Como você vê a evolução da moda brasileira em termos de inclusão? Estou mostrando ao mundo o quanto é potente uma mulher como eu (de origem indígena) ter o seu trabalho reconhecido por seu talento. Acho que não há nada mais interessante e contemporâneo que isso. Uma empresa disposta a encorajar mulheres só tem a ganhar. Que seja uma inspiração importante para quebrarmos estereótipos e preconceitos tão enraizados na sociedade.

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TRILHONÁRIO

SETORES DO MICBR: MODA PODE ATINGIR 1 TRILHÃO DE DÓLARES EM FATURAMENTO

ENTENDA COMO A MODA MOVE ECONOMICAMENTE A INDÚSTRIA BRASILEIRA

POR SHEILA DE OLIVEIRA FOTOS FERNANDA FRAZÃO

O MERCADO DA MODA BRASILEIRO VAI TERMINAR O ANO DE 2023 com 6,55 bilhões de peças comercializadas, segundo estimativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Parte dessas vendas é resultante do e-commerce – formato impulsionado pela pandemia da Covid-19 que, hoje, se consolidou e se transformou em um importante vetor econômico.

Em 2020, o formato de e-commerce cresceu 40% e os marketplaces, 81%, como aponta o Retail Touchpoint. Com isso, o setor representa 78% de todo consumo online no país.

Além da relação moda e tecnologia, a terceira edição do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (micbr) 2023, que será realizada entre os dias 8 e 12 de novembro, em Belém do Pará, vai reunir empreendedores criativos de todo o Brasil para troca de experiências em projetos autorais, peças ecológicas, arte indígena, além da moda inclusiva – colocando o consumo consciente no centro do debate sobre a relação cultura e economia.

De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (unctad), atualizado em janeiro de 2022, a moda e o design geraram mais de US$ 2,5 trilhões em venda anuais em todo o mundo. Esse valor é referente a vestuário, acessórios, design e mídia.

No Brasil, a cidade do Rio de Janeiro é um bom exemplo do crescimento do setor da moda. No ano de 2022, o município arrecadou cerca de R$ 314,8 milhões em icms com indústria e comércio, e gerou mais de 90 mil empregos (46 mil em regime clt e outros 44 mil de microempreendedores Individuais – mei).

Tido como segmento de maior faturamento global no e-commerce B2C (direto ao consumidor), registrou vendas de US$ 525 bilhões anuais. E a expectativa é de que o faturamento, em 2025, seja de até US$ 1 trilhão de dólares em todo o globo.

A artista, estilista e empreendedora e ativista, Patrícia Kamayurá, é uma presença confirmada no micbr de 2023. Ela é uma entre os 18

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criativos selecionados para representarem o setor nessa terceira edição do mercado. Esse convite é de imensa importância, principalmente quando considerada a história da estilista.

Através da moda étnica, a estilista apresenta a cultura viva dos Grafismos Sagrados do seu povo. Há 16 anos trabalhando com artes índigenas, ela iniciou sua trajetória ao produzir as próprias roupas.

“Minha caminhada na moda, como mulher indígena vem cheia de quebra de paradigmas. Eu vou na contramão do ‘fast fashion’, buscando uma moda sustentável, trazendo para o meu público artes ancestrais, o modo artesanal na pintura. Sempre falo que minha moda é arte, luta e resistência! Meus ancestrais resistiram para que sua cultura e tradição pudessem chegar até minhas mãos. E eu acredito que ‘O Futuro da Moda é Ancestral’”, explica a artista.

Em 2017, Patrícia começou a criar as suas próprias artes. Hoje é pioneira em moda indígena no Brasil. “O mundo está de olho na Amazônia, no que ela oferece. A população no Norte tem uma cultura forte, linda, os povos indígenas resistem e lutam para sobreviverem e manterem as suas culturas, além das populações ribeirinha estarem incluídas nesse contexto. Valorizar a cultura e a sustentabilidade, e trazer o emprendedorismo junto, é importante”, analisa Patrícia Kamayurá.

O micbr é uma realização do MinC e oei e conta com o patrocínio master de mrcas como da Vale e do Instituto Cultural Vale. Também apoiam a iniciativa o Sebrae, o YouTube, a Caixa Econômica Federal (cef) e o Banco da Amazônia (basa). A programação das palestras e oficinas é apresentada pela Vale e Instituto Cultural Vale, com apoio do British Council. A Apex-Brasil é parceira nas rodadas de negócios e atividades de formação de redes.

O Mercado das Indústrias Criativas é realizado, ainda, com apoio do Governo do Estado do Pará, por meio das Secretarias de Cultura e Turismo, e pela Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural de Belém e da Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana.

Esse apoio institucional é fundamental para fortalecer e promover o setor criativo, proporcionando um ambiente propício para o desenvolvimento econômico e cultural da região.A edição 2023 do micbr selecionou empreendedores de moda com perfil autoral – entende-se aqui:

Em um cenário global altamente competitivo, a produção de moda no Brasil se destaca não apenas pela qualidade dos produtos, mas também pela sua autenticidade e conexão com a rica herança cultural do país. Empresas e profissionais que se dedicam à criação de vestuário, calçados e acessórios, bem como à prestação de serviços de design para a cadeia de moda, têm como objetivo não apenas oferecer produtos e serviços de alta qualidade, mas também contar histórias e expressar identidades por meio de suas criações.

Ao romper com os limites convencionais dos elementos funcionais do produto, esses criadores buscam incorporar conceitos e simbolismos que refletem a diversidade e a riqueza da cultura brasileira. Valorizando materiais, tradições e fazeres locais, eles tecem uma teia de significados que vai além do simples ato de vestir-se, transformando cada peça em uma manifestação tangível da identidade e da criatividade brasileira.

Essa abordagem fortalece a indústria da moda brasileira, promovendo o desenvolvimento

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O manequim é parte essencial da processo crativo de uma peça
dindin
O manequim é parte essencial do processo criativo de uma peça

A MODA BRASILEIRA É APENAS

UM MEIO DE CELEBRAR A DIVERSIDADE, PROMOVER A CRIATIVIDADE E PRESERVAR AS TRADIÇÕES

econômico e a geração de empregos, mas também contribui para a preservação e valorização da cultura nacional. À medida que essas empresas e profissionais continuam a explorar novas formas de expressão e a colaborar com comunidades locais em todo o país, eles desempenham um papel vital na batalha que é a construção de uma indústria da moda mais inclusiva, sustentável e culturalmente enraizada. Assim, a produção de moda no Brasil não é apenas uma atividade econômica, mas sim um meio de celebrar a diversidade, promover a criatividade e preservar as tradições que tornam o país único. Ao reconhecer e valorizar essa conexão entre moda e cultura, podemos criar um futuro onde o vestuário não apenas nos veste, mas também nos conecta com nossas raízes e nos permite contar histórias sobre quem somos e de onde viemos.

A internacionalização da moda brasileira é outro aspecto crucial que merece destaque. Designers e marcas brasileiras têm ganhado reconhecimento global, participando de desfiles internacionais e estabelecendo parcerias com varejistas estrangeiros. Essa expansão internacional não só coloca o Brasil no mapa da moda mundial, mas também abre novas oportunidades econômicas e culturais. A moda brasileira, com suas cores vibrantes, estampas ousadas e materiais únicos, atrai consumidores de todo o mundo, criando um intercâmbio cultural que enriquece tanto os criadores quanto os consumidores. Além disso, o avanço tecnológico tem desempenhado um papel significativo na evolução da moda no Brasil. A adoção de novas tecnologias, como a impressão 3D, tecidos inteligentes e e-commerce, tem permitido que os designers brasileiros inovem e alcancem um público maior e mais diversificado. A tecnologia também facilita a personalização e a produção sob demanda, reduzindo desperdícios e promovendo a sustentabilidade. Essas inovações estão transformando a maneira como a moda é criada, produzida e consumida, colocando o Brasil na vanguarda da moda sustentável e tecnológica.

Outro fator importante é o fortalecimento das redes e associações de moda no Brasil. Organizações como a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (abit) e o Instituto Nacional de Moda e Design (in-mod) têm sido fundamentais na promoção e no apoio aos designers e empresas de moda brasileiras. Essas entidades oferecem recursos, treinamento e oportunidades de networking, ajudando a profissionalizar o setor e a elevar os padrões de qualidade e inovação. Elas também desempenham um papel crucial na defesa dos interesses da indústria da moda brasileira em nível nacional e internacional.

A moda brasileira também tem um forte compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Muitas marcas estão adotando novas práticas de produção ética, utilizando materiais sustentáveis e apoiando comunidades locais, promovendo benefícios para ambas as partes. Iniciativas como a reciclagem de tecidos, o uso de fibras orgânicas e a valorização do artesanato local estão se tornando cada vez mais comuns. Essas práticas não só reduzem o impacto ambiental da produção de moda, mas também promovem a justiça social e o empoderamento das comunidades envolvidas. A moda sustentável é um reflexo da consciência crescente sobre a importância de cuidar do planeta e das pessoas que nele vivem.

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QUAL É O VERDADEIRO PAPEL DA MULHER NA MODA?

REFLEXÃO

SOBRE

A

HISTÓRIA

E PADRÕES DA PRESENÇA FEMININA NA MODA: ONDE ESTAMOS E PARA ONDE IREMOS

Quando ouvimos falar de moda, o gênero feminino logo vem à mente e por inúmeros motivos. Pode ser porque lembramos de Coco Chanel e da revolução que ela conduziu nas roupas e nos negócios. Ou porque lembramos das nossas mães e avós nas suas máquinas de costura. Ou ainda por causa da conotação negativa da moda, e bastante associada ao feminino, que é a frivolidade.

A palavra moda é feminina. A moda. Ela parece um reino nosso por direito. Mas sinto dizer que ela não é e nunca foi nossa, e se não lutarmos, nunca será. Somos importantes agentes, mas na maioria das vezes apenas orbitamos o entorno desse mundo ainda bem patriarcal.

No Brasil, de acordo com a abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), 75% da mão-de-obra da indústria têxtil é feminina, e destas, apenas 15% estão em posições de liderança. Eu não tenho os números absolutos, mas não é difícil imaginar aqui a discrepância na porcentagem de homens na indústria da Moda que ocupam cargos de chefia.

Ainda é muito raro encontrar uma colega ativa na mesa de negociação. Quando as mulheres estão no jogo, elas estão no lado artístico e operacional (design, marketing, secretariado, etc), e não do lado do juíz. No meu trabalho por exemplo, eu tenho o privilégio de conhecer várias mulheres incríveis no setor. Gestoras de marcas sustentáveis, fundadoras de startups disruptivas. Mas na triste maioria das vezes, tem um homem decidindo por trás delas. Um co-fundador, um presidente, um investidor, o que seja. A palavra final vem do homem lá de cima sempre. Eles são os responsáveis pela parte séria do negócio. Deixem as futilidades para as meninas.

Mesmo internamente, a moda é considerada fútil. Por isso que existe uma diferença bastante demarcada no sistema entre a Moda/marcas e a Indústria Têxtil, essa dominada por negócios familiares liderados por homens. Quer um exemplo? A Prada. Miuccia Prada divide o comando da empresa centenária com o seu marido, Patrizio Bertelli. Ela é a diretora criativa enquanto ele cuida dos negócios, sendo ambos ceo da holding. Miuccia herdou a Prada da sua mãe, Luisa, que só assumiu a empresa depois do pai morrer, já que o velho Mario Prada não queria nenhuma das mulheres da família trabalhando na empresa.

Nós, mulheres, somos 80% da mão-de-obra da moda mundial, mas com uma maioria esmagadora de trabalhadoras exploradas. O negócio da Moda vale 3 trilhões de dólares. Empresas como a lvmh (dona da Dior, Louis Vuitton e outras) valem mais de 300 bilhões de dólares.

Qual o impacto que isso teria na economia mundial se a Moda fosse mesmo uma indústria liderada por mulheres?

O que significaria para a economia mundial se todas as trabalhadoras têxteis recebessem salários dignos?

O que mudaria se houvesse representatividade dessa maioria feminina nos cargos decisores da Indústria Têxtil? O dinheiro mudaria de mãos. Mudaria todo o cenário. Mudaria a moda. Mudaria o mundo. Mulheres em cargos de liderança já provaram ser mais empáticas, usar práticas mais sustentáveis, investir em crescimento orgânico, ao contrário do predatório. E isso é tudo o que o mundo precisa. Sem querer ser otimista, mas já sendo, eu estou ansiosa para encontrar mais mulheres do que homens na lista de CEOs dos conglomerados de moda. E já estou trabalhando para fazer isso acontecer.

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MODATIVISMO: MODA FEMINISTA ANTIRRACISTA

CONCEITO REPENSA AS BASES DA MODA ABRINDO ESPAÇO PARA CULTURA E ANCESTRALIDADE DE MULHERES PRETAS

Diversos setores artísticos e comerciais estão passando por um momento de reestruturação para se tornarem mais diversos e, assim, incluir as populações dissidentes. A moda também é um exemplo desse movimento, e tem tentado se atualizar para abarcar diferentes tipos de corpos e existências. Dentro desse processo, a designer de moda, educadora e ativista Carol Barreto contribuiu com a criação do conceito ModAtivismo, que busca repensar os atuais pilares que guiam a moda a partir das lentes do antirracismo e do feminismo negro. Com esse conceito, se busca transferir a estética, ancestralidade, culturas e saberes de pessoas pretas ao centro do processo criativo.

O intuito também é de promover capacitação e gerar oportunidades para mulheres negras que querem se consolidar na área da moda. Nas palavras de Carol, “é preciso entender que cada experiência de vida diferente tem muito mais a contribuir e ter um olhar respeitoso à relevância das origens subalternizadas”.

A ModAtivista, como se autodenomina em referência ao conceito, é um dos principais nomes da moda brasileira da atualidade. Carol recebeu prêmios e reconhecimento a nível global por suas criações afrofuturistas que não só vestem os corpos, mas criam obras de arte inspiradas na ancestralidade, vida e experiências do povo negro do Recôncavo. A designer já marcou presença em passarelas

do Brasil e do mundo, passando por Senegal, Angola e França – aliás, Carol foi a primeira brasileira negra a apresentar uma coleção de moda em Paris –, além de ter trabalhos expostos em galerias de arte pelos eua e México.

Além do impacto notável no cenário da moda, o trabalho de Carol Barreto transcende as passarelas e as galerias, alcançando também esferas educacionais e sociais. Como educadora, ela tem liderado workshops e palestras que visam conscientizar sobre as questões de representatividade na moda, capacitando não apenas futuros designers, mas também consumidores a reconhecerem e valorizarem a diversidade. Sua abordagem pedagógica inovadora enfatiza a importância da narrativa individual e coletiva na construção de uma indústria mais inclusiva e empática.

Além disso, o impacto cultural e econômico do trabalho de Carol Barreto é tangível, especialmente em comunidades historicamente marginalizadas. Sua abordagem colaborativa e seu compromisso com a justiça social têm ajudado a fortalecer a economia local, incentivando o surgimento de iniciativas empreendedoras lideradas por mulheres negras e ampliando o acesso a oportunidades no setor da moda. Assim, o legado de Carol Barreto não se limita apenas à inovação estética, mas também à construção de um futuro mais inclusivo e equitativo para a indústria da moda.

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SOLTE SUA IMAGINAÇÃO E CRIE LOOKS FABULOSOS

PEGUE UMA TESOURA E SE AVENTURE NAS DIVERSAS COMBINAÇÕES POSSÍVEIS DENTRO DESSE CLOSET MÁGICO!

ILUSTRAÇÕES ISABELLA FIRETTI

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Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4
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JOGOS

AS MULHERES MAIS IMPORTANTES NOS JOGOS

CONHEÇA QUATRO IMPORTANTES MULHERES BRASILEIRAS QUE ATUAM OU ATUARAM NO CENÁRIO DA INDÚSTRIA DOS JOGOS

Apresentadora, atriz e host da eSport

Nyvi Estepha, nascida em 1991 deu início à sua carreira como atriz durante a adolescência, participando de episódios do programa  Hermes e Renato na  mtv. Em 2013, ela expandiu sua atuação ao campo da apresentação, envolvendo-se em campeonatos nacionais e internacionais de  eSports, além de comandar  live streamings Em 2021, Nyvi participou da campanha de lançamento do novo jogo da Riot Games, “WildRift”. Em 2023, ela assumiu a posição de apresentadora do Panamerican Esports Games, o maior evento gamer do continente. Nos seus 10 anos de carreira, Nyvi foi homenageada no Prêmio eSports Brasil 2023, sendo reconhecida como pioneira e empreendedora, uma referência para o público feminino e uma parte fundamental da história do desenvolvimento dos games no Brasil.

Apresentadora e gamer profissional Raphaela Laet, também conhecida como Briny e Nerissa, é uma das musas dos jovens fãs de jogos na Internet do Brasil. É popular através das suas transmissões ao vivo e discussões de jogo em mesa redonda no seu canal do YouTube. Antes da sua carreira em games, ela trabalhou como dançarina, vidente e também como terapeuta holística. Ela comentou em um entrevista sobre o ódio gratuito e assédio que a maiorias das meninas sofrem (ou ja sofreram) dentro da comunidade dos jogos. Nerissa espera então que seu trabalho sirva de inspiração para essas mulheres: “Eu espero que isso mostre para todas as meninas, que elas podem correr atrás dos seus sonhos e também a superarem o machismo em qualquer área profissional, assim como qualquer barreira emocional, psicológica ou física”.

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Renata Salgado Sabrina Amaral RAPHAELA LAET NYVI ESTEPHAN

Produtora de jogos na Hermit Crab

Nascida em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Luisa formou-se na pucrs, em produção audio visual, em desenvolvimento de jogos digitais. Hoje é produtora na Hermit Crab. Lá ela lidera equipes que têm a missão de lançar jogos em mercados premium e free-to-play, e garante a qualidade máxima dos produtos. Ela também está envolvida em um outro projeto, o Women Game Jam, cujo foco é criar jogos ao público cis/trans feminino e não binário. Sem contar que ela também possui jogos premiados, como AstroBunny, Hipnotizado e Chiiip. Esses jogos demonstram suas habilidades técnicas e capacidade de contar histórias cativantes. Seu trabalho exemplifica o potencial dos jogos como uma forma de arte e entretenimento, além de destacar seu compromisso com a inovação e a excelência na indústria de jogos.

Designer de jogos e produtora

Renata Rapyo teve um início curioso na administração, porém logo percebeu que não era isso que queria. Em seguida, aventurou-se na publicidade até que finalmente se sentiu em casa fazendo design, mais especificamente dos jogos. Hoje, quase uma década depois, ela é ceo e produtora de jogos na Rogue Snail, o famoso estúdio responsável pela franquia Relic Hunters. O estúdio já conta com parceiras emblemáticas com a Netflix Games e, Gearbox. Renata também faz parte da organização da versão latino-americana da Women Game Jam, mais importante evento de produção de games feitos pelas mulheres. Além de designer, ela também é produtora. Tendo criado games como Jamming Dilemma, Cook Me a Story e Logic Pic. Antes da Rogue, ela teve passagens por outras empresas do segmento.

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Letícia Santos Manuel Leon LUISA CECÍLIA RENATA RAPYO

ANA RIBEIRO

CONHEÇA ANA RIBEIRO, DESENVOLVEDORA REFERÊNCIA DE JOGOS INDIE

MULHER BRASILEIRA RESPONSÁVEL POR

PRODUZIR JOGOS EM REALIDADE VIRTUAL

PIXEL RIPPED 1989 E PIXEL RIPPED 1995 SÃO OS MELHORES JOGOS em realidade virtual da atualidade. Sempre nas listas de experiências obrigatórias de serem experimentadas em rv.. Mas para nós esses jogos significam um pouquinho mais, pois são games indies desenvolvidos por brasileiros, além de ter uma mulher brasileira por trás de todo esse incrível projeto: Ana Ribeiro.

E é justamente com a própria Ana Ribeiro, criadora da franquia Pixel Ripped que eu consegui conversar. Em nossa conversa Ana me contou muito sobre o processo de criação de Pixel Ripped, suas percepções a respeito da realidade virtual como nova tecnologia e algumas das suas histórias mais engraçadas. E é sobre isso que vamos falar hoje nessa matéria mais que especial!

Ana Ribeiro é filha de uma artista plástica e de um médico, em sua jornada até virar uma desenvolvedora de games em realidade virtual, passou por muitas coisas. Entre elas, trabalhou no Tribunal de Justiça de São Luís do Maranhão, se formou em Psicologia pela Ceuma, foi empreendedora com uma empresa de empadinhas e muito mais.

Mas entre idas e vindas nessas jornadas, sua vida “gamer” começou bem cedo e perdura até hoje. Ana Ribeiro jogou videogame durante toda a sua vida, tendo feito parte, inclusive, de um clã profissional de Counter Strike nos anos 2000, conhecido como Myth.Ladies. Seu inglês básico veio dos videogames e, em um momento de questionamento sobre sua própria vida, conseguiu uma bolsa de mestrado na Inglaterra em desenvolvimento de games pela National Film and Television School.

E foi aí que toda a história do surgimento de Pixel Ripped realmente começou! O projeto foi inicialmente a soma de dois fatores: primeiramente um sonho vívido de Ana sobre um videogame no qual os gráficos iam evoluindo com o tempo. Além disso, um bug em uma das primeiras versões de Pixel Ripped (que nada tinha a ver com o projeto final) fez com que a personagem pixelada saltasse da TV para o “mundo real”, causando comoção em todos que jogaram.

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POR GISELE PERES FOTOS KOMEI HARADA

Você iniciou o desenvolvimento do primeiro Pixel Ripped ainda em 2014, por que resolveu entrar de cabeça na realidade virtual naquela época?

A realidade virtual se encaixou perfeitamente com a minha visão, pois ela permite que o jogador mergulhe completamente no mundo que criei. Quando tive a ideia, já possuía um headset desde 2013, o Oculus DK1 na época, que era o Kit de Desenvolvimento da Oculus quando eles ainda estavam em campanha no Kickstarter liderada pelo Palmer Luckey. Para quem não está familiarizado, Palmer Luckey foi o visionário por trás e é considerado uma figura seminal no renascimento da realidade virtual.

A ideia de trabalhar em um ambiente “2D” simplesmente não me anima tanto. A imersão proporcionada pela realidade virtual, o ambiente “3D” oferece um potencial criativo e uma experiência única que eu não consigo encontrar em outros formatos.

A realidade virtual é um prato cheio pra você criar, inúmeras coisas, então se você quiser inovar, tem muita oportunidade que não foi explorada ainda e isso me fascina muito, é um mundo novo e muito divertido de conhecer e fazer parte. Depois que você descobre o vr é muito difícil você querer fazer algo no ambiente “2D” novamente, porque você fica limitado a uma tela né? Pra mim, acho muito difícil desenvolver algo em “2D”.

A GENTE

SENTE QUE OS

PROJETOS QUE

FAZEMOS

SEMPRE TÊM

MUNDOS QUE

TE LEVAM

PARA OUTRO UNIVERSO FANTASIOSO

Qual foi a sua primeira experiência com a realidade virtual?

Nessa universidade, a National Film and Television School, eu tinha um colega que era de um ano à frente do meu que tinha o headset e ele fez o projeto dele de mestrado em realidade virtual. Foi o Albert, eu tive muita sorte de estar no universo com essas pessoas incríveis e eu testei o jogo e fiquei “Meu deus! Eu tenho que pegar um agora! O que que é isso!“. Eu fiquei querendo fazer tudo com isso, querendo fazer um jogo com isso, não queria tirá-lo da cabeça!

Acabou que eu fiquei com o headset, mas não tinha uma ideia de um jogo que casasse bem com a mídia. Tinha muito na época jogos que só trocam a câmera e botam em VR, daí não funciona. Eu queria algo que usasse o melhor da tecnologia e fizesse sentido para aquela mídia, que não pudesse ser feito sem aquela mídia.

Tanto Pixel Ripped 1989 quanto 1995 falam muito sobre o ato de jogar ou brincar, algo que também é recorrente em outros projetos da ÁRVORE como YUKI e The Line. Você diria que esse traço nostálgico está se tornando uma identidade nos seus projetos?

Hoje a gente entende que na empresa (ÁRVORE), todos os nossos produtos tem esse quê de nostalgia, essas notas de nostalgia. Virou uma referência. A gente sente que os projetos que a gente faz sempre têm mundos que te transportam pra um lugar fantasioso. YUKI também tem muita nostalgia, temos também o The Line que até ganhou um Emmy. Foi o primeiro Emmy do Brasil que não tava na categoria internacional, concorrendo com o mundo inteiro!

O Pixel foi o primeiro lançamento da ÁRVORE, e acredito que isso possa ter influenciado o nossos projetos subsequentes. A sinergia entre nós pode ter contribuído para que todos os nossos projetos compartilhassem essa identidade única e coesa. A experiência com o Pixel pode ter estabelecido um padrão de qualidade e estilo que se tornou característico da ÁRVORE.

+dela 108 .fem jogos

O Pixel Ripped 1995 foi lançado em plena pandemia, vocês tiveram alguma dificuldade no lançamento dele?

Pensando na Pandemia, a gente usou muito o Meta Horizon Workplace até no desenvolvimento de criação. A gente ficou dois meses lá dentro criando, três pessoas. Eu sinto que é o futuro mesmo do desenvolvimendo em realidade virtual: você estar dentro do vr construindo, foi uma experiência que eu nunca tive desenvolvendo jogos, essa de você estar desenvolvendo dentro do mundo que você está criando com o time.

Mas durante a Pandemia isso ajudou mais na festa. A gente queria comemorar o lançamento do Pixel Ripped 1995 e não tinha como a gente estar presencialmente juntos e aí a gente fez uma festa no Rec Room, tinha um mundo que foi criado por um programa de podcast que a gente participou. Daí eles criaram esse cenário do jogo para a entrevista e três meses depois nós lembramos disso e perguntamos se poderíamos usá-lo para a festa.

Eles nos ajudaram a organizar tudo daí podemos chamar os fãs para participar e o time todo estava junto, mesmo que virtualmente. Foi bom a gente ter o vr para poder comemorar, pois hoje nós temos as memórias dessa festa, diferente de caso a gente tivesse feito uma ligação.

Pixel Ripped 1989 possui Dot como protagonista e a garotinha Nicola. Mas, nas primeiras versões do game essa menina era um menino. O que significou pra você essa mudança de personagens? Quem me deu a ideia de ser uma menina foi meu diretor na época do mestrado. A primeira ideia pro jogo era meio “deprê”. Você era um jogador que estava em casa sentado no sofá jogando videogame e você nunca saía daquele sofá e envelhecia lá.

Parece que a ideia não tinha chegado lá ainda, sabe? Eu tava meio estagnada nesse passo do projeto. Aí o diretor do mestrado falou algo que eu nem tinha me tocado antes, porque eu já tinha pensado automaticamente que um gamer ia ser um homem. Daí ele falou assim:

“Por que você não muda a personagem pra uma mulher? Você vai conseguir botar suas referências com mais facilidade”. Daí eu troquei pra uma personagem feminina e começou tudo a fluir as ideias.

Sendo você graduada no curso de psicologia, você acha que sua formação teve alguma influência na construção do ambiente nostálgico e acolhedor de Pixel Ripped? Eu sinto que todo conhecimento é válido. Eu estudei por cinco anos isso, será que de alguma forma isso não me influenciou? Influenciou sim! Eu gostava muito realmente do Behaviorismo e Psicologia Comportamental e tudo de game design é reforçamento positivo e negativo, é toda essa parte de reforço do jogador. É tudo muito casado.

A Dot tem clara inspiração em personagens como Megaman e Samus Aran, mas existem outros personagens dos videogames que te inspiraram na criação da heroína do seu jogo de Pixel Ripped?

Eu sinto que a personagem da Dot é interessante porque, pra mim, quando eu criei a Dot, eu pensei em criar uma personagem que não existiu na minha infância. Porque quando eu jogava nessa época, muitos devem lembrar, as personagens femininas começaram a aparecer em jogos de luta e beat’em up… e era uma! Tinha

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Ana Ribeiro fazendo cosplay da personagem que desenvolveu, a heroína Dot Ana Ribeiro fazendo cosplay da personagem que desenvolveu, a heroína Dot

no Golden Axe uma mulher, Street of Rage tinha uma mulher e um negro e tinham os personagens principais que nunca eram uma mulher. Eu cresci amando Mario, Megaman, Sonic… Daí a Dot representar essa personagem que eu queria que tivesse existindo: que fosse badass, mas mulher. Então ela virou tipo uma junção de todos esses heróis. A roupa dela é verde pra representar o Link de The Legend of Zelda, ela tinha uma coroa pra representar a Peach e um cabelo que fazia referência à Star Wars, mas acabou ficando de fora. O cabelo loiro e os acessórios rosa continuaram sendo referência à Princesa Peach, do Mario. A Dot perde os pixels que nem o Sonic perde seus anéis. A laser gun é do Megaman e ela pula como Megaman… Então ela é essa junção de todos esses personagens.

Pensando no contexto da realidade virtual como um todo, hoje vivemos um contexto bem distinto de 2014, quando você começou a embarcar nesse nicho. O que você notou de diferença em relação à indústria nesses quase dez anos como desenvolvedora? Continua mudando e mudando e mudando. Mas ainda estamos no início. Eu gosto dessa comparação que foi feita pelo Ricardo em uma apresentação e eu sempre uso por ser brilhante pra explicar onde nós estamos em relação a realidade virtual.

Se você comparar a realidade virtual com a indústria do celular, a gente em 2013 quando lançou o Oculus DK1, a gente estava no “tijolão” sabe? Aquele celular grandão, pesado, com todos aqueles botões e uma tela super pequena. E hoje a gente ainda não chegou no “primeiro iPhone”. A gente sente que o Quest 2 é o equivalente àquele Blackberry sabe? Porque estava quase lá.

As pessoas sabiam o que ia ser, mas ainda não estava lá. Mas quem tinha o Blackberry ainda eram aquelas pessoas bem tech, tava começando ainda a abrir pra mais pessoas, mas não era ainda aquela massificação do tipo “todo mundo tem” como foi quando o iPhone

A

DOT REPRESENTA O IDEAL DE PERSONAGEM QUE EU QUERIA QUE TIVESSE

apareceu. Então a gente espera que esse ano (2022) finalmente chegue o nosso “primeiro iPhone”. Mas ainda estamos na expectativa. Mas pra chegar lá a gente sente que tem que ser um óculos menor mesmo.

Existe algum outro projeto ou game lançado em realidade virtual que você admira muito para além das suas próprias criações?

Sem hesitar, eu mencionaria o Demeo. Trata-se de um jogo de tabuleiro em realidade virtual que pode ser jogado sozinho ou em multiplayer com até quatro pessoas. No entanto, o que mais me fascina nele é a sensação de realmente entrar no tabuleiro, ficando na escala dos próprios personagens. Você executa suas jogadas com cartas e dados, enquanto ve os personagens se movendo e interagindo, o que para mim é quase mágico.

Além disso, o multiplayer é incrível, permitindo jogar com amigos, trazendo uma nostalgia ao poder entrar em um tabuleiro e ver os personagens em ação. Essa experiência é verdadeiramente mágica para mim e torna o Demeo um jogo excepcional.

Outro aspecto é a variedade de cenários e desafios que o jogo oferece, mantendo cada sessão de jogo empolgante e refrescante. Desde explorar masmorras sombrias até enfrentar inimigos poderosos, o Demeo nunca deixa de surpreender e entreter.

+dela 110 .fem jogos
EXISTIDO: QUE FOSSE BADASS E MULHER

A desenvolvedora maranhense “virou” documentário

A desenvolvedora maranhense “virou” documentário

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GAMES NO BR

GAMES NO BRASIL GERAM R$ 13 BILHÕES/ANO, MAS CARECEM DE POLÍTICA NACIONAL

O BRASIL APLICARÁ E FINALMENTE

APROVEITARÁ SEU POTENCIAL NOS JOGOS?

POR MÁRCIA SILVA E LUÍZA BRASIL

NÃO É NEGÁVEL A RELEVÂNCIA ECONÔMICA DE UM SETOR QUE movimenta 200 bilhões de dólares ao redor do globo, tornando-se o principal setor de entretenimento e mídia do século XXI. Movimentando mais do que o cinema e a indústria fonográfica, os games estão se tornando cada vez mais centrais nas estratégias econômicas das principais economias do mundo, e o Brasil– que movimenta 13 bilhões de reais e fatura 1,2 bilhão de reais por ano – desponta com a oportunidade de se tornar um dos protagonistas nesse setor. O que mais falta para o nosso País olhar para a indústria de jogos digitais?

Segundo a consultoria Newzoo (2023), o Brasil é o décimo maior mercado de games do mundo, com mais de 100 milhões de jogadores que gastaram 2,7 bilhões de dólares em 2022. A perspectiva é que os jogadores brasileiros gastem perto de 3,5 bilhões de dólares até 2025, em uma taxa de crescimento médio acumulado de 10% ao ano desde 2020. Principal mercado da América Latina, e segundo maior mercado do Sul Global, atrás apenas da China, ainda há muito espaço para crescer. Com gasto anual médio de apenas 62,3 dólares por usuário pagante, o jogador brasileiro gasta menos da metade da média do consumidor europeu e um quinto do jogador norte americano. Enquanto representamos mais de 3% dos jogadores de todo o mundo, ainda somos apenas 1,5% do mercado consumidor mundial. Com os padrões de consumo brasileiro se aproximando da média dos países ricos, o Brasil tem potencial em saltar para a sexta colocação global em consumo, ultrapassando o Reino Unido.

De um mercado consumidor pujante e crescente, surge uma emergente cena de criação de jogos nacionais, que vêm se multiplicando de forma vertiginosa na última década. A estimativa da Pesquisa da Indústria Brasileira de Games da Abragames é que, entre 2014 e 2018, o número de desenvolvedoras tenha crescido cerca de 167%, e entre 2018 e 2022, estima-se que o crescimento tenha sido de 152%. No começo da década tínhamos em torno de 150 empresas de games, em

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114 .fem jogos
dindin
Mapa do jogo “Super Mario World” Mapa do jogo “Super Mario World”

2018 nos aproximamos de 400 e no ano de 2022 ultrapassamos as barreiras de 1000 empreendimentos. Esses dados comprovam apenas que essa indústria só começou a crescer, e não vai parar.

Se o país possui tanto potencial para o setor, porque ainda não estamos cobrando uma política nacional para o desenvolvimento do mercado de jogos eletrônicos no Brasil? O que para muitos foi, durante muitos anos, simples “brincadeira de criança” se transformou em uma indústria multibilionária capaz de chamar a atenção do establishment político nacional das nações do centro do capitalismo global para sua relevância na obtenção de divisas, criação de empregos de qualidade e, claro, na construção de um soft power que possa superar as fronteiras nacionais dos países criadores de jogos – do famoso encanador italiano Mario, criado pela japonesa Nintendo até o herói Gerald, da aventura multimídia The Witcher, da polonesa CD Red Projekt.

O entretenimento é apenas a ponta do iceberg nas oportunidades econômicas do setor. O que torna o jogo digital único em relação às demais formas de entretenimento é a sua capacidade de gerar imersão, empatia e conexão com o usuário, por meio da inerente interatividade que os universos gamificados podem gerar. Utilizando esse conceito dos jogos, os metaversos emergem como tentativas de outros ambientes de interação colonizarem dimensões da vida das pessoas: da interação social ao ambiente de trabalho. Muito além do mercado doméstico dos videogames de entretenimento, as aplicações de tecnologias interativas para as áreas da educação e da medicina valem alguns bilhões de dólares.

O setor de jogos eletrônicos – que representa a fronteira entre a ciência, a tecnologia, a inovação, a cultura, a saúde, a educação, a geração de emprego e renda – no entanto, só pode ser compreendido, do ponto de vista da sua produção, a partir de uma visão de “setor estratégico” para o País. Foi pensando assim que o setor de jogos eletrônicos começou a engatar.

O QUE PARA MUITOS FOI, DURANTE ANOS, UMA SIMPLES
“BRINCADEIRA DE CRIANÇA” SE TRANSFORMOU
EM UMA POTENTE INDÚSTRIA

BILIONÁRIA

Os principais pólos da indústria de games, que concentram bilhões de dólares de faturamento, foram planejados com políticas públicas. Seja com isenções fiscais, estímulos tributários ou políticas de indução ao desenvolvimento, não há desenvolvimento do setor de games sem indução efetiva e atuação do Estado como parceiro.

O Canadá se tornou um polo de produção que emprega 200 mil pessoas e gera 3 bilhões de dólares para o PIB do país após créditos fiscais que subsidiam entre 17,5% e 40% os salários dos trabalhadores dessa indústria. Um total de 1.640 jogos foram produzidos no Reino Unido com um desconto tributário de 20% em cima do gasto para produção de jogos em território britânico. Esses jogos geraram um investimento de 4,4 bilhões de libras no país.

Na União Europeia diversos países apoiam o setor com seus esquemas de fomento cultural. A França, que fomenta o setor desde 2007, avaliou que a cada euro investido no setor, foram captados 8 euros em investimento privado. Seguindo esse exemplo, o governo alemão lançou em 2023 um fundo anual de 78 milhões de euros para financiar o desenvolvimento de jogos

A Finlândia, país com população menor do que a cidade de São Paulo, tornou-se uma das capitais globais da indústria de games, produzindo hits como o Angry Birds, da Rovio, após

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um pesado investimento. Entre 2004 e 2016, foram 100 milhões de euros em empresas de jogos, enquanto o volume de negócios acumulado da indústria foi de cerca de 8,5 bilhões de euros. A maior empresa de jogos finlandesa em termos de volume de negócios, a Supercell, pagou sozinha 622 milhões de euros em imposto de renda corporativo entre 2012 e 2016. Um estudo local indicou que os investimentos públicos no desenvolvimento de jogos geram receitas fiscais pelo menos 20 vezes maiores. A indústria dos jogos tem sido, portanto, um investimento altamente lucrativo para o Estado finlandês. Esses exemplos só nos demonstram o óbvio: indústrias como a dos jogos eletrônicos – na qual o volume de investimento é alto, o tempo de maturação do produto é longo e o retorno é incerto – demandam a ação do Estado como indutor do processo de investimento. No Brasil, algumas políticas já apontam esse resultado. Cada real investido em ações de missão comercial pelo estado de São Paulo para o setor de jogos, por exemplo, apresentou retorno de 20 reais. O investimento na indústria de games não é um gasto a “fundo perdido”. Esses exemplos apontam que o Estado como investidor se torna política estratégica fundamental para darmos um “game over” nas dificuldades de disputa em um mercado global.  Aqui, dois exemplos são importantes: alguém tem dúvidas da necessidade de participação do Estado na produção automobilística? Ou mesmo no setor do agronegócio? São segmentos da economia nacional que empregam milhares de pessoas e movimentam bilhões de reais. Tal qual fazem os games. Por que devemos permanecer investindo somente em áreas tão tradicionais e deixando de posicionar o Brasil na economia criativa, global, inovadora, limpa e geradora de empregos de qualidade? A quem interessa o retrocesso?

Hoje, o País é responsável por 1,4% do mercado de consumo global de jogos, mas corresponde a somente 0,1% do mercado mundial de produção de jogos. A soma dessas posições nos leva a uma conclusão

OS RESULTADOS REVELAM UM CENÁRIO DE PROFUNDA COMPETÊNCIA E CRIATIVIDADE ENTRE OS DEMAIS

óbvia: numa área em que a criatividade e o talento artístico imperam, estamos exportando de recursos para empresas globais, quando temos plena capacidade de inverter esta posição e ser protagonistas em desenvolvimento. Segundo demonstra a última pesquisa anual do mercado, conduzida pela Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos, oferece insights valiosos sobre o estado atual da indústria de jogos no país. Contrariando a noção de que a falta de capacidade técnica é um obstáculo, os resultados revelam um cenário de profunda competência e criatividade entre os estúdios brasileiros. Um impressionante 93% desses estúdios desenvolvem suas próprias Propriedades Intelectuais, destinadas a uma ampla gama de plataformas globais. Este é um testemunho do talento e da habilidade dos desenvolvedores brasileiros em criar conteúdo envolvente e de alta qualidade para jogadores em todo o mundo.

A diversidade das plataformas onde essas Propriedades Intelectuais são distribuídas é igualmente notável. Com cerca de 38% voltados para dispositivos móveis, 20% para computadores e 17% para consoles, os estúdios brasileiros demonstram uma compreensão profunda das diferentes necessidades e preferências dos jogadores em cada uma dessas plataformas ditas acima. Essa adaptação estratégica não apenas amplia o alcance dos

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ESTÚDIOS BRASILEIROS

O entretenimento é apenas a ponta do iceberg nas oportunidades econômicas do setor.

O entretenimento é apenas a ponta do iceberg nas oportunidades econômicas do setor.

jogos brasileiros, mas também solidifica a posição do país como um participante significativo no mercado global de jogos, aumentando a cada dia o seu potencial de virar uma base na indústria.

Os dispositivos móveis, por exemplo, representam uma parcela significativa do mercado devido à sua acessibilidade e popularidade crescente entre os jogadores casuais e hardcore. O investimento de 38% nesse segmento mostra que os desenvolvedores brasileiros estão atentos às tendências globais e às oportunidades de crescimento. Jogos para computadores, representando 20%, atendem a uma base de jogadores que busca experiências mais imersivas e complexas, enquanto os consoles, com 17%, continuam a ser uma plataforma essencial para títulos de alta qualidade e grandes lançamentos.

Além disso, os estúdios brasileiros não se limitam apenas à produção de jogos. Eles demonstram uma habilidade notável em todas as etapas da cadeia de produção e serviços relacionados à indústria de jogos. Desde a concepção inicial e a gamificação até a programação avançada, passando pelo desenvolvimento de jogos de tabuleiro, roteiros criativos, jogos de treinamento e até mesmo campanhas de propaganda e publicidade, os desenvolvedores brasileiros mostram uma versatilidade excepcional.

A criação de jogos de tabuleiro, por exemplo, revela um compromisso com formas tradicionais de entretenimento, enquanto a produção de roteiros criativos destaca a importância da narrativa envolvente em jogos eletrônicos. Os jogos de treinamento, têm encontrado aplicação em diversos setores, como educação e treinamento corporativo, demonstrando a capacidade dos desenvolvedores brasileiros de inovar e aplicar suas habilidades além do entretenimento puro.

Essa capacidade de abranger uma variedade tão ampla de atividades relacionadas aos jogos não apenas fortalece a indústria local, mas também a prepara para competir em escala global. Através da criação de conteúdo inovador e da oferta de serviços de alta qualidade, o Brasil

está bem posicionado para continuar se destacando e conquistar uma posição proeminente na indústria de jogos internacional.

Além do desenvolvimento técnico, os estúdios brasileiros investem em pesquisa e desenvolvimento, adotando novas tecnologias como realidade aumentada (ar), realidade virtual (vr) e inteligência artificial (ia) para criar experiências de jogo mais imersivas e interativas. Essa busca constante por inovação é crucial para se manter competitivo em um mercado global dinâmico e em rápida evolução.

Os estúdios também têm colaborado com empresas internacionais, participando de parcerias estratégicas que ajudam a impulsionar o reconhecimento global dos jogos brasileiros. Eventos como feiras de jogos e conferências de desenvolvedores são plataformas onde os estúdios brasileiros podem mostrar seu talento e inovação, abrindo portas para novas oportunidades de negócios e colaborações com outras empresas.

Em suma, a combinação de diversidade de plataformas, versatilidade na cadeia de produção e um forte enfoque na inovação tecnológica coloca os estúdios brasileiros em uma posição de destaque. Com uma indústria vibrante e crescente, o Brasil está preparado para deixar uma marca indelével no cenário global de jogos, atraindo jogadores e investidores de todo o mundo.

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POR QUE AS MULHERES NÃO PROTAGONIZAM OS GAMES?

REFLEXÃO SOBRE O DIA DAS MULHERES E COMO CELEBRAR AS NOSSAS CONQUISTAS SEM SE ESQUECER DAS LUTAS

O Dia Internacional da Mulher tem diferentes pesos e significados ao redor do mundo. No Brasil, a data possui forte apelo comercial ao ser praticamente conhecida como “o dia de dar chocolates, flores e parabéns’’ para as mulheres. Não que receber chocolates seja necessariamente ruim, mas esse dia é realmente sobre isso?

No Brasil, os tais atos de cavalheirismo dividem grande espaço com discussões importantes sobre a mulher na sociedade. A disparidade de salários, a falta de representatividade e de oportunidades em relação aos homens também está presente no universo gamer que, desde sempre, é dominado pelos homens.

Embora o público feminino tenha conquistado mais espaço, o cenário ainda é visto como um lugar masculino, mesmo que, de acordo com os dados, ele não seja. Isso pois foi construído ao longo da história o imaginário de que jogos eletrônicos são “coisa de homem”, e assim a maioria das mulheres não foi incentivada a jogar desde pequena. Nesse contexto, nós mulheres devemos nos ajudar e criar uma rede de apoio para nos “auto acolher”. Existem grupos na internet que são inteiramente focados na criação de um espaço seguro para mulheres que estão inseridas no universo dos videogames. Nesses grupos, as pessoas se unem para jogar e conversar sobre games e cultura geek. O espaço também dá oportunidade para que as mulheres relatem suas experiências, tanto positivas quanto negativas, e iniciem discussões sérias sobre sua posição na indústria. Além disso, é uma rede de apoio para que mulheres possam ajudar umas as outras a enfrentar quaisquer dificuldades em relação aos jogos, de modo a evitar situações de desconforto.

Não é coerente culpar as mulheres pela minoria no mercado, uma vez que é injusto querer que, por exemplo, nós sejamos ativas em um local em que não nos sentimos completamente seguras. Por muitos anos não liguei um microfone em partidas online, e me lembro até hoje do dia que decidi falar em um jogo de Call of Duty multiplayer e fui bombardeada de comentários ofensivos ou abusivos.

Sendo muito honesta, até hoje não costumo ligar microfone em jogos, me comunico apenas quando estou entre amigos. Muitos falam que preciso me impor, e eu acredito que sim, mas nem sempre tenho condição emocional para lidar com tamanha falta de respeito. É preciso também respeitar os meus próprios limites.

Hoje, inserida no mercado de games, ainda me cobro excessivamente e me culpo por não saber de tudo, mesmo que isso seja impossível. Parte disso é causado por ansiedade, e parte por ter passado longos anos sendo questionada sobre minha paixão.

Considero parte do meu trabalho falar sobre a importância de conceder oportunidade à mulheres, para que possamos cada vez mais mostrar que somos capazes. Por fim, queria agradecer às mulheres que me inspiram diariamente no trabalho, e que além disso, exerceram por diversas vezes o papel de rede de apoio profissional, mesmo que não saibam.

Reforço que o Dia das Mulheres serve como celebração das conquistas realizadas até agora, mas também como um lembrete de que a luta contra a desigualdade, em todas as frentes, continua. Com isso, mulheres gamers continuarão lutando para defender nosso espaço, que por muitas vezes não é reconhecido.

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GAME’S GIRL

PRESENÇA DE MULHERES NO MERCADO DE GAMES CRESCE A CADA ANO

UMA ANÁLISE DO PAPEL DA MULHER NO SETOR, SEUS DESAFIOS E COMO SE POSICIONAR

POR PAULA JACOB ILUSTRAÇÕES AMORA BETTANY

O MERCADO DE GAMES FEMININO CRESCE DE EXPONENCIALMENTE. A ascensão pode ser comprovada pela edição mais recente da Pesquisa Games Brasil – PGB 2020. De acordo com o levantamento, o público gamer feminino já chega a um percentual de 61,9%. Sem contar homens, crianças e idosos, que aumentam ainda mais o número de consumidores.

Dessa forma, as perspectivas iniciais mostram um mercado com potencial promissor para os negócios liderados por mulheres com foco no nicho de games.

O MERCADO DE GAMES NO BRASIL

Com mais de 75,7 milhões de jogadores, o país movimentou cerca de US$ 1,5 bilhão em 2018 conforme indica um dos relatórios da consultoria Newzoo. Os números transformam o Brasil no 13º maior mercado de games do mundo, além de estar entre os cinco maiores consumidores de conteúdo mobile.

Dados da Fundação Getúlio Vargas – fgv indicam que há mais de 220 milhões de celulares no país, o que explica a popularidade da plataforma para jogos. Entre os principais motivos para a preferência de 86,7% estão: ter o smartphone sempre à mão, poder jogar de qualquer lugar e a qualidade gráfica. Ou seja, um nicho a ser explorado por empreendedores.

Vale destacar também que a 19ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia/PwC prevê um cenário bastante otimista para 2022. A projeção é que o mercado de games tenha um crescimento de 5,3% e um faturamento equivalente a US$ 1,756 bilhão.

A PRESENÇA DAS MULHERES NO MERCADO DE GAMES

O crescimento da área e as possibilidades de atuação, começam a abrir espaço para a diversidade. Um mapeamento da Associação Brasileira das Empresas Desenvolvedoras de Jogos Online, a Abragames, mostrou que a indústria de jogos contava com 15% de mulheres no mercado.

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do

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Ilustração promocional do jogo Celeste de Amora Bettany que é um exemplo de empreendedora no mercado dos games. Ilustração promocional jogo Celeste de Amora Bettany, que é um exemplo de empreendedora no mercado dos games.

Sem contar o domínio maior dos homens, ainda há relatos de assédio, comentários sexistas, diferença nos salários, entre outras adversidades. Não apenas no ambiente de trabalho, mas também dentro dos jogos. Apesar de ser mais voltada para o entretenimento, a produção brasileira de jogos conta com segmentos que os pequenos negócios podem explorar em busca de inovação:

• Advergames como forma de divulgar marcas;

• Games para dispositivos móveis – celulares e tablets;

• Jogos educativos, pesquisas científicas e treinamentos corporativos;

• Business games com simulações de negócios;

• Gamificação em programas de fidelidade e produtividade;

• Realidade aumentada e realidade virtual.

Assim como as possibilidades, as áreas de atuação também são muitas. Desde atuar como produtoras independentes, em líderes do setor ou até mesmo abrir o próprio negócio, há oportunidades em diversos segmentos. Dados coletados pelo Ministério da Cultura, por meio do 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, indicam as áreas mais populares atualmente:

• Programação e desenvolvimento de jogos;

• Gestão de projetos;

• Administrativo e financeiro;

• Arte e design;

• Marketing e vendas.

Nesse cenário, é possível destacar o desenvolvimento de jogos como uma das carreiras mais promissoras. Criar as narrativas dos games, assim como o estilo visual, 2D ou 3D, também são áreas alternativas dentro do nicho. Embora ainda conte com a presença mais forte de

O PERCENTUAL ELEVADO DE NOVAS JOGADORAS MOSTRA O CRESCIMENTO DO INTERESSE DAS MULHERES POR JOGOS ELETRÔNICOS

homens no mercado, as mulheres começam a conquistar o seu espaço. Há alguns fatores que levam a esse caminho. Acompanhe a seguir!

MUDANÇA NO COMPORTAMENTO DE CONSUMO

O percentual elevado de jogadoras mostra o crescimento do interesse das mulheres por jogos eletrônicos, novos tipos de games e hardware mais robusto. Experiências únicas, narrativas diferenciadas, realidade virtual e desafios complexos são algumas das possibilidades que vêm sendo exploradas com um foco maior nesse público.

A valorização da presença feminina na indústria de jogos, seja como empreendedora, desenvolvedora ou jogadora, deve-se principalmente a uma mudança de comportamento. De olho no crescimento do nicho entre as mulheres, as empresas têm buscado esse público para o lançamento e a divulgação de novos produtos.

Vale destacar também que o contato com os games desde cedo pode influenciar na escolha da carreira profissional. Muitas pessoas transformam um hobby em profissão. E não é diferente para o mercado de jogos eletrônicos. Isso significa, além de uma demanda maior, mais vagas, maiores chances de cargos elevados e reconhecimento profissional. Sem contar que a perspectiva feminina ajuda a

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disseminar uma cultura de igualdade de gênero e diversidade. São temas cada vez mais relevantes no mercado de trabalho e em todas as outras áreas.

O impacto visual é uma das maiores provas dessa mudança de comportamento. Os trajes mais apelativos cederam lugar a personagens cheias de poder, carisma e energia. O foco maior é na narrativa, a fim de atender o que esse público potencial espera.

PERSPECTIVA FEMININA COMO TENDÊNCIA

Dessa forma, a tendência é ouvir cada vez mais as mulheres para decisões estratégicas sobre produtos e para aproximá-las do universo gamer. Além disso, utiliza-se a perspectiva feminina da indústria para fomentar uma mudança de mindset, ou mentalidade, quando os videogames entram em pauta.

Ao abrir espaço para a diversidade, o mercado favorece a presença das mulheres em todos os aspectos, como empreendedora, desenvolvedora ou jogadora. As empresas ganham novas aliadas, os games contam com outras perspectivas e toda a cadeia produtiva gera mais lucro rapidamente.

Adotar uma postura mais inclusiva contribui para a imagem do negócio. Afinal, é na percepção do que acontece ao seu redor que estão os melhores insights.

Seja pela representatividade ou como potencial de consumo, a perspectiva feminina veio para agregar e atender às demandas de um mundo globalizado. Para passar de fase, é preciso aproveitar todas as oportunidades à sua volta.

DICAS PARA EMPREENDER NO MERCADO DE JOGOS

No Brasil, os novos negócios são liderados, em sua maioria, por empreendedoras. Elas representam 51% das empresas abertas, o que mostra o crescimento das mulheres no mercado de games e em muitas outras áreas em todo o cenário nacional.

Apesar do movimento positivo em prol da diversidade, muitas donas de negócios ainda recebem menos do que os homens. Um percentual que chega a 22%. Esse, aliás, é um dos desafios do empreendedorismo feminino no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – pnadc, principalmente na área de games.

Diante dos desafios, porém, o empoderamento no mundo dos negócios recebe incentivos. Isso abre portas para novas ideias, bem como gera oportunidades para que as mulheres sigam em frente, seja em busca da independência financeira ou de uma fonte de renda. Confira, a seguir, algumas dicas para prosperar no mercado de games.

CONHECIMENTO CONSTANTE

Não apenas para quem quer empreender, mas também a todas as mulheres que buscam o aprendizado constante, o conhecimento é o melhor investimento. Por isso, é importante fazer uma especialização dentro da área de jogos eletrônicos, a fim de se tornar uma autoridade.

Quanto mais se aprende sobre o nicho, mais fácil fica definir o melhor caminho para a sua empresa seguir. No setor de games não é diferente. Acompanhar as últimas tendências em jogos, ouvir os clientes e avaliar a concorrência são algumas formas de se especializar. Deve-se sempre estar atento à esses fatores.

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ANÁLISE DO MERCADO

Com conhecimento atualizado, é possível se aprofundar no seu mercado e reconhecer fatores importantes para o negócio. Comportamento dos jogadores, influências no desejo de consumo, perfil da clientela, concorrentes em destaque, enfim, cada detalhe fará a diferença.

A partir da análise, as empreendedoras terão insumos para planejar ações estratégicas e ganhar diferencial competitivo em um mercado competitivo como o de games. Sem contar a possibilidade maior de aproveitar melhor as oportunidades a fim de gerar crescimento e projetar lançamentos que atendam o público.

POSICIONAMENTO E DIVERSIDADE

O conhecimento da área ajuda na análise de mercado que, por sua vez, contribui para definir o melhor posicionamento da empresa. Os clientes, inclusive gamers, preferem marcas que se posicionam diante de assuntos socialmente relevantes e que adotem a diversidade. Vale para o seu dia a dia e para o próprio ambiente dos jogos.

É uma postura que pode trazer dois tipos de resultados. Um deles tem a ver com o vínculo e a proximidade maior com os jogadores. O outro trata das visões criadas dentro e fora da empresa, o que acaba por imprimir uma voz mais ativa ao empreendimento, aumentando a credibilidade no mercado de games.

NETWORKING E TROCA DE IDEIAS

Seguindo o fluxo, com um bom posicionamento de mercado, o networking, ou rede de contatos, começa a ganhar corpo. Criar laços com os jogadores, colaboradores, fornecedores e negócios complementares pode levar a parcerias futuras, seja no desenvolvimento de jogos ou na estratégia de divulgação.

No caso das mulheres, vale entrar em contato com outras empreendedoras do ramo para trocar ideias ou propor ações conjuntas.

AO ABRIR ESPAÇO PARA A DIVERSIDADE, O MERCADO FAVORECE A PRESENÇA DAS MULHERES EM TODOS OS ASPECTOS DA ÁREA

Por meio da transformação digital, a web tem muitas ferramentas para incentivar o compartilhamento de experiências e a união de forças.

INVESTIMENTOS FINANCEIROS

Gerenciar um negócio é muito mais do que acompanhar receitas e despesas ou promover o lançamento de jogos. É saber cortar custos quando necessário e investir em ativos que trazem boa rentabilidade. Isso significa gerar lucro para investimentos financeiros.

As aplicações podem ter objetivos diversos, desde reservas de emergência para imprevistos até produtos financeiros mais rentáveis para alavancar o negócio. O mais importante é estar preparada para lidar com qualquer situação e prosperar.

Se sente inspirada para se lançar como essas mulheres no mercado de games? Não é apenas uma área incrivelmente promissora nos dias de hoje, mas também oferece uma gama diversificada de oportunidades para mulheres empreendedoras. Incorporar a perspectiva feminina no desenvolvimento de jogos não só revitaliza a indústria, mas também promove a inclusão e estimula uma troca de ideias mais ampla e enriquecedora. Ao se envolver ativamente nesse campo em expansão, as mulheres não apenas estão moldando o futuro dos games, mas também estão desempenhando um papel vital na diversidade e inclusão.

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QUEBRE PADRÕES COM TOWERFALL ASCENSION

CONHEÇA A CRIAÇÃO DE AMORA BETTANY, CRIADORA E DESENVOLVEDORA DE JOGOS INDIE

POR RAFAELA MELO

“Towerfall Ascension” é um jogo eletrônico indie que rapidamente conquistou o carinho de diversos gamers. É um jogo de tiro, onde seu personagem passa por fases enquanto cumpre diversos objetivos, tudo isso no multijogador. A estrutura criativa do jogo atraiu e interessou diversas pessoas, mas o que chama muita atenção são os ideais do jogo.

Além da diversão, o jogo apresenta uma visão que busca quebrar estruturas tradicionais, por meio principalmente dos visuais dos personagens, que não seguem normas impostas para vestimenta de acordo com o gênero. Por exemplo, um dos arqueiros usa roupas cor de rosa, e isso não o desvalorece ou tira de seu mérito quanto herói. Por outro lado, uma das principais personagens femininas veste trajes inteiramente azuis.

Como o mundo dos jogos infelizmente ainda não se mostra tão permissivo para a entrada de mulheres e ideais que desafiem a tradição, manifestações sutis e subjetivas (como por exemplo as vestimentas desse jogo) são cruciais. Isso faz com que pouco a pouco, mesmo que sem perceber, jogadores sejam expostos à mudança. Existem muitos jogadores que concordam com esses ideais, mas essas sutilezas se mostram de imensa importância, pois jogadores “cabeça dura”, que nunca se permitiriam pensar nessa quebra de estrutura, são também expostos a isso.

Essa visão é muito refrescante e necessária para o mundo dos games, espaço tradicionalmente projetado por e para homens. Essa inovação veio do olhar de Amora Bettany, única mulher integrante da MiniBoss (empresa criadora de jogos independentes) até aquele momento. Suas ideias já conquistaram e mudaram a visão dos homens de sua equipe, e aos poucos se disseminarão por outros jogadores.

Amora Bettany é uma jovem criadora de jogos, diferenciada por sua originalidade, criatividade e sucesso em um campo predominantemente dominado por homens. Sua paixão pelo universo dos jogos começou cedo em sua vida, e primeiramente como hobby. Até que em 2010, com apenas 18 anos, decidiu seguir seu sonho como carreira.

Em entrevista com a PureBreak sobre sua trajetória, Amora pontuou “mas ainda assim, eu achava que não ia passar de um hobby”. Com esse comentário, foi capaz de traduzir o sentimento de diversas meninas e mulheres que desejam trabalhar nesse mercado, e pelo preconceito e falta de apoio se julgam incapazes. Além da desigualdade de presença e tratamento entre homens e mulheres na área, ainda existe o preconceito com os jogos em si. Infelizmente, essa área ainda não é levada a sério quanto profissão, e muito ainda deve ser mudado para que essa indústria consiga se fortalecer em nosso país e no mundo.

pitel 126 .fem jogos
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QUAL DOS DOIS? MARIO BROSS OU A PRINCESA PEACH?

DESCUBRA QUAL DOS DOIS VOCÊ É DE ACORDO COM SUAS SOBREMESAS FAVORITAS

POR ELOISE LEONARD

Qual bolo você prefere?

Red velvet

Chocolate

Baunilha

Caramelo

Qual cookie é mais gostoso?

Baunilha

Baunilha com chocolate

Gingerbread

Chocolate com doce de leite

Qual é sua torta favorita?

Cereja

Chocolate

Morango

Abóbora

Qual desses sorvetes você ama?

Chocolate

Morango

Baunilha

Oreo

Qual desses donuts você comeria?

Morango

Geleia

Chocolote

Baunilha

Qual é o picolé mais delicioso?

Chocolate

Pessego

Morango

Kiwi

Qual guloseima você comeria?

Pirulito

Sneakers

Kinder ovo

Chocolate

Por fim, escolha um docinho.

Cinnamon roll

Tortinha de limão

Donut

Fini

quizz 128 .fem jogos
a. b. c. d. a. b. c. d. a. b. c. d. a. b. c. d. a. b. c. d. a. b. c. d. a. b. c. d. a. b. c. d.
GABARITO Se você escolheu mais B e D você é o Mario Bross. Assim como ele, você é divertido e seu senso de humor cativa as pessoas! Se você escolheu mais A e C você é a Princesa Peach. Assim
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como ela, você é uma pessoa gentil, leal e amorosa!

MULHERES OCUPAM 1

A CADA 3 CARGOS NOS NEGÓCIOS

PRESENÇA DE HOMENS E MULHERES NOS NEGÓCIOS

Homens

Homens outros 0,5% Mulheres outros

65,7% Homens

16,4% Mulhe negras

34,3% Mulheres

Homens ancos brancas

DADOS: Sebrae – Empreendedorismo por raça-cor/gênero no Brasil | Relatório Fios da Moda | Serasa Experian | Ancine | Indústria Brasileira de Games | Agências Sebrae

lupa 130 .fem
34,4%
0,9%
4%

PRESENÇA DE MULHERES POR SETOR NA INDÚSTRIA CRIATIVA

131
NÚMERO DE MULHERES EMPREENDEDORAS NO BRASIL (MILHÕES) 9,5 10 9,9 10,3 10,3 75% 7% 8,3 9,1 9,5 10 8,6 9,9 10,3 10,3 2016 20 1 7 2018 2019 2020 2021 2022 2023 40% 75% 29% 17%

HORÓSCOPO DO TRIMESTRE

O TRIMESTRE SERÁ MARCADO PELA FORTE AÇÃO DE MARTE, TRAZENDO ENERGIA PARA DIFERENTES ÁREAS DA VIDA

POR PERSONARE

se as estrelas falassem 132 .fem

ÁRIES

21/03 a 20/04

Num sentido positivo, a primeira coisa que se observa é um incremento significativo de energia na vida das pessoas nascidas com o Sol em Áries. Uma qualidade vibrante tomará conta do espírito e impelirá as pessoas a caminharem destemidamente na direção de objetivos que almejavam.

CÂNCER

21/06 a 22/07

Ao longo de todo o mês, esse ciclo sugere que as pessoas de Câncer se sentirão mais motivadas a buscar reconhecimento e sucesso. Um sentimento poderoso de ambição marcará as atitudes das pessoas desse signo, impulsionando-as a realizar metas de curto e médio prazo.

LIBRA

23/09 a 22/10

TOURO

21/04 a 20/05

Esse ciclo estimula a curiosidade e a acuidade mental das pessoas desse signo, possibilitando definições, ideias e planejamentos que se destacarão, principalmente, por se revelarem estratégias muito pragmáticas. É possível que algumas soluções eficientes apareçam para problemas antigos.

LEÃO

23/07 a 22/08

Período favorável a estudos, continuidade ou início de cursos, leituras, mas, principalmente, viagens longas. As pessoas de Leão tenderão a conhecer novos lugares. Mesmo quem não puder viajar, fará bem em sair da rotina e se aventurar em novos lugares na cidade em que mora.

ESCORPIÃO

23/10 a 21/11

GÊMEOS

21/05 a 20/06

O trimestre será marcado pela passagem do planeta Marte em um de seus estados mais poderosos ao longo dos últimos dois anos. Isso impactará a vida social das pessoas do signo de Gêmeos, oferecendo várias oportunidades de aproximação com amizades extremamente ativas.

VIRGEM

23/08 a 22/09

Pode ser um momento em que aspectos antes ignorados são trazidos à luz, seja porque as pessoas de Virgem procuraram por isso ou por circunstâncias externas que conduziram à descoberta. Nem tudo o que se descobrirá será necessariamente bom, mas a verdade é sempre melhor que a ilusão.

SAGITÁRIO

22/11 a 21/12

CAPRICÓRNIO

22/21 a 20/01

O primeiro aspecto é o das relações. Há um risco aumentado de brigas e conflitos e, até mesmo, de disputas envolvendo as pessoas de Libra e outras que, a princípio, deveriam ser aliadas. Como Mercúrio também está envolvido no processo, há uma tendência a excesso de problematizações. Há um trânsito de Marte que ocorre o trimestre inteiro e sugere pequenos problemas práticos envolvendo a casa e sua família. Coisas que podem ser bem irritantes, mas que, por tomar consciência delas, Capricórnio terá atitudes que, talvez, tenha postergado por um bom tempo, mas são precisas.

Caso a pessoa de Escorpião esteja solteira, o mês é magnífico para paquerar, conhecer novas pessoas, se abrir a encontros. Caso esteja acompanhada, o alinhamento entre Vênus e Júpiter sugere muitas oportunidades de ajustes e melhorias para a relação. Isso vale para relações de trabalho também.

AQUÁRIO

21/01 a 18/02

Este é um período propício para fortalecer os laços familiares e criar uma atmosfera acolhedora em casa. Se você for de Aquário, é bem possível que sinta vontade de receber amigos e familiares em casa, promovendo eventos sociais que fortaleçam os laços afetivos, facilitando a comunicação.

PEIXES

19/02 a 20/03

O apreço por desafios e aventuras, já tão forte em Sagitário, estará mais intenso, o que sugere um período ativo, dinâmico e divertido. Mas é importante tomar cuidado com excessos! Cair na farra é bom, mas respeitar limites é essencial para a manutenção de uma boa saúde física e psíquica. Como Mercúrio é o planeta da aprendizagem, ao longo desse trânsito, as pessoas piscianas sentirão uma grande motivação para adquirir novas habilidades que aumentem seu valor profissional e, por consequência, melhorem a vida financeira, trazendo muita satisfação pessoal.

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poema visual 144 .fem

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