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COM QUE ROUPA EU VOU?

Com a redução do isolamento social, crescem a ansiedade na hora de se vestir e o medo de voltar a ser julgados pelo olhar do outro

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por LEONARDO NEIVA

Acostumada a ficar um boa parte do dia desse último um ano e meio de pandemia dentro de sua casa, a pesquisadora Caroline Pilger de 33 anos compartilhou com sua terapeuta uma preocupação. Durante o cotidiano doméstico, hoje quase todo ocupado pela escrita de uma tese de doutorado, seu cardápio de roupas não passa de cinco combinações. A mais frequente, ela diz, é a malha do bom e velho pijama. E, embora tenha se mudado recentemente, não chegou nem a tirar a maiorias das roupas de dentro das caixas de mudança. No período da pandemia, pintar os cabelos também não se fez mais tão necessário quanto antes e a prática de se depilar ficou mais rara — um problema ao sair num dia mais quente, sem poder botar uma calça curta. Mas contou à terapeuta que se viu obrigada a voltar a sentir o aperto do sutiã — sem o qual tem vivido por meses a fio. No geral, a expressão descreve esse estranhamento ao se arrumar para voltar a frequentar lugares antes habituais. O escritório, um restaurante, um parque, uma reunião familiar um pouco maior. Sensação pela qual só passa, vale dizer, quem realmente se isolou de forma mais restritiva durante a pandemia.

Para Caroline, viver mais tempo longe do olhar dos outros fez com que muita notasse que várias

Elisa Garcia De La Huerta Elisa Garcia De La Huerta

mulheres me relataram uma preocupação por ter engordado e começar a sair de casa”, conta Caroline cuja tese diz da variedade de corpos femininos e da imposição de padrões de beleza

Peter DeVito

Elisa Garcia De La Huerta

das preocupações diárias com a estética tinham mais a ver com uma pressão estética da sociedade do que vontade própria. “Aí voce começa a se perguntar e questionar por que fazia todos esses procedimentos, por que passava por essa adequação? Por que preciso ter sempre as unhas cuidadas ou estar sempre usando maquiagem? Não que não possa, mas a pandemia me trouxe esses tipos de reflexões para dentro da cabeça.”

Esse tipo de pressão, é sentida por todos o tempo todo, mas sempre acaba sendo pior para as mulheres, constantemente cobradas para se encaixarem nos padrões.

Memes e gordofobia

Talvez você ainda se lembre deles ou até se depare com algum. Lá no início da pandemia, pipocaram por toda a internet memes sobre como estaríamos ao final desse período isolados. E, invariavelmente, a previsão era sempre a mesma. “Eram versões diferentes do mesmo corpo magro ao lado mesmo corpo, só que aumentado de forma exagerada em lugares como o Photoshop e outros aplicativos. Ou então comparando uma pessoa magra a uma gorda, como se fosse um antes e um depois da quarentena”, diz Caroline.

O olhar da família

Depois de um ano em que foi impedida pela pandemia de viajar, a

brasileira Anelise Ribeiro, 33, que vive em Lisboa, voltou ao país natal em agosto para visitar a família, aproveitando a folga em meio ao verão da Europa. Muito ligada em moda e consumista declarada, os 4 meses de lockdown obrigatório em Portugal, seguidos de um inverno que também a manteve em casa, motivaram uma mudança forçada de hábitos novos.

Para usar em casa, comprou dois moletons confortáveis. Apesar da vontade constante de sair de casa, quando as restrições a afrouxaram ela continuou usando roupas mais práticas e menos fashion mesmo fora de casa, porque não se sentia tão bem com as roupas que usava antes. Segundo Carol, em Portugal, e em quase todo o continente europeu, costuma-se prestar menos atenção nas outras pessoas, o que a permitiu que mudasse seu estilo de forma permanente. “Minha família se surpreendeu porque estou com um estilo muito menos patricinha e mais esporte. Antes nunca usava, agora só ando de tênis.”

Um exemplo de reclamação que a psicologa Ana Fanganiello escuta em seu consultório tem a ver com a volta de reuniões familiares, especialmente no Natal. Ela aponta o meio familiar como um espaço julgador, onde há menos inibição para falar se uma pessoa engordou ou se mudou de algum jeito, o que pode trazer inseguranças. “Dentro da família, pelo ponto de vista de antes, não de como é hoje. Ali se espera que você não mude grandes coisas, por isso qualquer mudança causa um choque”, explica Ana, que é especialista no assunto.

Elisa Garcia De La Huerta

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