O BREVE VERBO Saudações, internautas! mudança dos valores frente às novas tecnologias, Sabemos que aqui não é uma página da web, abordando a política em seu mais amplo espectro. tampouco a internet. Não usamos abreviações, Todas essas discussões surgiram na Ágora da emojis e, os textos daqui, felizmente, não são Grécia Antiga, mas a ágora do agora é outra – ela compostos por breves verbos. é digital, globalizada, e em constante processo A @gora é a revista pra quem sabe que o de atualização de sistema. mundo mudou e o quanto é inútil relutar diante Entretanto, não podemos te oferecer respostas dos avanços da ciência. Pelo contrário, é preciso prontas, caro leitor. Toda história tem três lados estudá-la e aprofundar-se além dos 140 caracte- – mas os fatos são relativos. Sendo assim, vamos res. O simbolo do arroba é amplamente usado apenas te ajudar a tirar suas próprias conclusões. na tecnologia para indicar localização, contudo, Para tal, nesta edição, você encontrará reo ambiente cibernético é desterritorializado por flexões sobre a falta do calor de um aperto de natureza. Nesse espaço, abraçamos o mundo mãos na seção o teu dueto, polêmicas sobre o digital e físico para que eles possam coexistir – algoritmo do Twitter na seção luz azul (ironicapois na nossa revista, o lugar é agora. mente, fora das telas), matérias sobre os últimos Serão esses paradoxos abordados por aqui. trends mundiais, relatos de #exposed, hacktivistas, Percebemos a necessidade urgente de analisar espionagem do governo e muito mais! os fatos, as histórias e, sobretudo, a crescente Vem dar um enter na nossa revista :)
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colaboradores SERGIO INGRAVILLE Ilustrador e designer que cria desenhos conceituais sobre a modernidade. Ele é o artista das nossas colunas assinadas @maisvisto
MEGS LANG Artista, designer gráfica, e ilustradora escolhida para ilustrar a seção de artigos de duas posições distintas – matam @megsslang
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Curso de Graduação em Design com Habilitação em Comunicação Visual e Ênfase em Marketing
PROJETO INTEGRADO 3º SEMESTRE AIURI REBELLO Repórter. Já trabalhou em algumas das principais redações do país e dedica-se ao jornalismo investigativo. Autor da nossa matéria sobre Vigilância no Córtex @aiurirebello
PROJETO III – CULTURA E INFORMAÇÃO Profª Marise de Chirico PRODUÇÃO GRÁFICA Profª Mara Martha Roberto COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM II Profª Celso Cruz MÓDULO COR E PERCEPÇÃO I Profª Paula Csillag MARKETING II Profº Neusa Santos
YO AZ Ilustrador que não gosta de se identificar. Responsável pelas ilustrações das páginas fixas e da matéria Vigilância no Córtex @YoAz27
PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Ana Júlia Marchetti Bruna Chinelato Renan Nascimento Sofia Tomazella
Só papos 10
SACAS?
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RADAR
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ENTREVISTA
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O TEU DUETO
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LUZ AZUL
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REVIVER
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COLUNA
5 dicas para não cair em Fake News
Documentos secretos de Biden desafiam versão de Bolsonaro sobre ditadura
Lévy fala sobre os desafios da vida no mundo digital
O calor por trás de um aperto de mão
Twitter acusado de ter viés racista
Sua coleção de memes do mês
Familismo amoral e a “res publica”em tempos de populistas
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A LUPA PULA As notícias através do trending topics do Twitter
#ESSE Perfis do Twitter que vale a pena você conferir
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COLUNA
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PORTFÓLIO
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Uma carta aberta aos legisladores brasileiros
Compilação das obras do ilustrador Yo Az
COLUNA Uma partitura de três incógnitas
MATAM Dois pontos de vista, um tema
O TRECO CERTO Uma seleção dos melhores livros de política
AME O POEMA Poema visual
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#EXPOSEDCG: RELATOS DE ASSÉDIO NA INTERNET
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ANONYMOUS: RETORNO DO HACKTIVISMO NO MUNDO
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CRIMES NAS REDES SOCIAIS
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BOCA A BOCA NAS ELEIÇÕES SERÁ PELAS REDES
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CORTÉX: DA PLACA DE CARRO AO CPF O TRIBUNAL DA INTERNET
sacas 5 DICAS PARA NÃO CAIR EM FAKE NEWS Brasil do Amanhã Fake News é como ficaram conhecidas aquelas notícias falsas que tem um tremendo poder de viralização, sem necessariamente estarem relacionadas a um fato real. De maneira geral, elas oferecem um forte apelo emocional, são extremadas e com um viés muito claro. Numa época em que as redes sociais são muito ativas e os comunicadores via celular, como WhatsApp, estão cada vez mais disseminados, as fake news encontram um terreno fértil para prosperar. Mas como reconhecê-las? A Plataforma 2018: Brasil do Amanhã separou cinco dicas:
Sempre verifique as fontes da informação – organizações ou pessoas das quais você nunca ouviu falar aparecem na matéria, mas não resistem a uma pesquisa no Google? Mau sinal.
Cheque as datas: notícia tem data de validade – o mundo muda muito rápido e uma notícia pode ter sido verdade – há dez anos atrás. Não se deixe enganar por matérias muito antigas.
Desconfie de posicionamentos radicais – notícias verdadeiras trazem pelo menos dois pontos de vista. No Jornalismo, é conhecido como acesso ao contraditório. Fake News costumam ser acirrados na defesa de apenas um lado da questão, sem ouvir o outro.
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Lazaro Gamio/Axios
Se outros meios de comunicação não deram a mesma informação, ela pode ser falsa – hoje, dificilmente um veículo consegue reter uma notícia como exclusiva por muito tempo. Se o conteúdo estiver em apenas um lugar, desconfie.
Leia a matéria completa, e não apenas o título – a Internet é um manancial infinito de informações, enquanto atenção é artigo raro. Por isso, certos editores usam chamadas sensacionalistas ou parciais, que tendem a atrair mais os olhos dos leitores, mas que não necessariamente refletem o teor da matéria. Por isso, sempre leia a reportagem completa.
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‘DOCUMENTOS SECRETOS’ DESAFIAM VERSÃO SOBRE DITADURA SE HAVIA alguma dúvida de que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o presidenciável democrata Joe Biden estão em lados políticos opostos, o debate entre Biden e o atual presidente Trump na última semana tratou de dissipá-las. Na ocasião, Biden, favorito para vencer o pleito de 3 de novembro pelas atuais pesquisas, criticou a devastação da Amazônia e aventou até sanções econômicas ao país. O meio ambiente, no entanto, está longe de ser o único tema de discordância entre Biden e Bolsonaro. O ex-vice-presidente americano está no centro de uma das empreitadas pelas quais o presidente brasileiro mais demonstrou desprezo e resistência: a apuração, pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), de crimes e violações cometidos por
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agentes públicos durante a ditadura militar, passada entre 1964 e 1985. Em 17 de junho de 2014, Biden, o então vice-presidente na gestão Barack Obama, desembarcou em Brasília com o objeto especial na bagagem: um HD com o total de 43 documentos produzidos por as autoridades americanas entre os anos de 1967 e 1977. A partir de informações passadas não só por vítimas, mas por informantes dentro das Forças Armadas e dos serviços de repressão, os relatórios americanos detalhavam informações sobre censura, tortura e assassinatos cometidos pelo regime militar do Brasil. Até aquele momento, a maior parte dos documentos era considerada secreta pelo governo dos Estados Unidos, que apoiou e colaborou com a ditadura durante boa parte do período em que os militares
Lynda Brown
estiveram no poder durante todo o período de desenvolvimento do país. Biden sabia bem do que se tratava. E sabia também que produziria impacto real ao passar a mídia para as mãos da então presidente brasileira Dilma Rousseff, ela mesma uma das oposicionistas que foi torturada nos porões da ditadura. Entretanto, a gestão Obama-Biden queria gravar seu nome no ato de abertura dos documentos, como um manifesto pela transparência e pelos direitos humanos. Mais do que isso, queria melhorar relações diplomáticas com base na troca de informações altamente relevantes para a história de países como Brasil e Argentina. No caso do Brasil, isso era ainda mais estratégico já que a revelação, meses antes, de que a Agência Nacional de Segurança Americana havia espionado
conversas da mandatária brasileira abalou o alicerce das relações entre ambos os países. “Estou feliz de anunciar que os Estados Unidos iniciaram um projeto especial para desclassificar e compartilhar com a Comissão Nacional da Verdade documentos que podem lançar luz sobre essa ditadura de 21 anos, o que é, obviamente, de gigantesco interesse da presidente”, afirmou Biden, sorridente, ao lado da presidenta Dilma.
SEM DITADURA A própria definição dada por Biden do regime militar é hoje refutada por Bolsonaro, que nega ter havido ditadura no país. “Espero que olhando documentos do nosso passado possamos focar na gigante promessa do futuro”, concluiu Biden. Cinco anos após esse encontro entre Dilma e Biden, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro desqualificou por completo as revelações
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última vez em fevereiro de 1974, quando foi preso no Rio de Janeiro por agentes do DOI-CODI. Oliveira jamais voltou a ser visto. Ele morreu nas mãos dos agentes. “A Comissão da Verdade? Você acredita em Comissão da Verdade? Você quer um documento para isso, meu Deus do céu? Documento é quando você se casa, quando você se divorcia. “Eles têm documento dizendo o contrário?” acrescentou o presidente Bolsonaro.
Jack Daly
MAS, AFINAL, O QUE HÁ NOS DOCUMENTOS DE BIDEN?
feitas pela CNV, das quais os documentos trazidos por Biden são peças fundamentais para. “A questão de 64 não existem documentos se matou ou não matou, isso aí é balela, está certo?”, disse o presidente Bolsonaro. O atual presidente respondia à imprensa, que questionava uma declaração sua dada no dia anterior para atingir o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Bolsonaro disse pra Santa Cruz que poderia esclarecer a ele como seu pai havia desaparecido. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da OAB, foi visto pela
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“O suspeito é deixado nu, sentado e sozinho em uma cela completamente escura ou refrigerada por várias horas. Na cela há alto-falantes, que emitem gritos, sirenes e apitos em altos decibéis. Então, o detido é interrogado por um ou mais agentes, que o informam qual crime acreditam que a pessoa tenha cometido e que medidas serão tomadas caso não coopere. Nesse ponto, se o indivíduo não confessa seu erro, ele é submetido ao crescente sofrimento físico e mental até ele finalmente confessar aquilo que fez.” “Ele é colocado nu, em uma pequena sala escura com um chão metálico, que conduz correntes elétricas. Os choques elétricos, embora alegadamente de baixa intensidade, são eventualmente se tornam insuportáveis. O suspeito é mantido nessa sala por muitas horas.” Assim, a comunicação diplomática informa que 126 pessoas teriam passado por um tratamento parecido após relatado, além de outras formas de sevícias, como o “pau de arara” para correção caso os indivíduos opusessem algo.
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não há privacidade na rede O pensador francês Pierre Lévy defende que, hoje, todos estão aptos a categorizar, avaliar e navegar pela informação na rede
Wenjia Tang
por Carlos André Moreira
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Em entrevista, Lévy falou sobre os desafios da vida em rede e sobre como alguns deles não têm ligação direta com o mundo digital, mesmo que a sociedade tenda a tratá-los desta forma: crimes cibernéticos, controle de informação e da liberdade de expressão são apenas dilemas antigos que podem utilizar as tecnologias de seu tempo, mas que não nascem da tecnologia. Você concorda que o mundo digital é um modelo em que os indivíduos são produtores e armazenadores de dados? Muitas pessoas estão usando o Facebook, por exemplo. Milhões de pessoas estão usando Pinterest, Twitter, Instagram, seja qual for a rede. Todas essas pessoas usam a rede social de graça. Assim, o dinheiro tem de vir de algum lugar. Publicidade é a resposta clássica para resolver o problema do financiamento de mídia. Mas, para mim, não é um problema que a publicidade tenha acesso aos dados de modo que as redes sociais possam ser financiadas. O problema, para mim, é que as pessoas comuns não tenham esse acesso à informação que elas próprias produzem. Também é constantes as discussões sobre as políticas de privacidade na rede. Qual sua opinião? O que eu digo aos meus estudantes é que a internet, em geral, é um espaço público. Então, quando você escreve ou posta em uma rede social, tem que partir sempre
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Michal Bednarski
da suposição de que todo mundo está vendo. Mesmo o e-mail. Se você usa Gmail, deve saber que o Google usa seus dados para análises estatísticas aplicadas para mandar publicidade. Logo, você não deve presumir que há privacidade nas conhecidas redes sociais. Se você ainda assim quer ter privacidade, o que é uma preocupação legítima, você tem duas opções: uma delas é usar encriptação de dados, e a outra é guardar o que você quer dizer para você mesmo, ou falar atrás de portas fechadas, ou algo como isso (risos). É um fato: as redes sociais são espaços públicos. E em relação de aumentar o acesso público aos benefícios do conhecimento? Penso que é um progresso quando mais pessoas têm acesso ao conhecimento. Por exemplo, se você tem uma cidade com biblioteca pública e uma sem, a cidade com biblioteca está melhor. Mas claro que os equipamentos técnicos
e materiais não são o suficiente. As pessoas precisam ter a habilidade de ler e escrever, devem ter educação e cultura para poder tirar vantagem dessa disponibilidade da informação. Não é tão simples como imaginam. Se queremos aprimorar o acesso geral ao conhecimento, há esforços a ser feitos nos aspectos técnicos, mas também nas partes culturais e educacionais da inteligência coletiva. Não é uma questão só de acesso físico. Então também precisamos de uma espécie de “alfabetização” digital básica? Exatamente. A nova alfabetização não é só aprender as letras do alfabeto, ou a ler e escrever, mas também estar apto a selecionar as fontes de informação, a ser capaz de analisar dados, a ser capaz de interagir em grandes comunidades online. São coisas relativamente difíceis, e são habilidades que deveriam ser aprendidas com destaque ainda no período de escola.
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Seria esta uma forma de afastar o sentimento de que a rede é perigosa, por conta de crimes e roubos de dados? A internet é uma ferramenta técnica fantástica para a comunicação, para o armazenamento da memória e do conhecimento, para análise de dados. Mas isso não suprime o fato de que nela atuam ladrões, por exemplo. Só que as pessoas já roubavam bancos muito antes da internet, ladrões que roubavam usando todas as ferramentas tecnológicas que houvesse. Para mim, não há relação entre uma coisa e outra. Não é porque há uma ferramenta nova que um dilema moral básico da espécie humana vai desaparecer em um passe de mágica. Ainda temos pessoas honestas e desonestas. Criminosos podem usar a tecnologia, e a polícia também pode, então há um equilíbrio. Perguntei sobre pois o parlamento do Brasil vem discutindo leis que talvez criminalizem manifestações de opinião. Os governos sempre tentam limitar a liberdade de expressão. É sua tendência natural. A oposição deve, por seu turno, lutar por essa liberdade. É uma coisa muito antiga e não é exclusiva da internet, começou com a imprensa em papel. Outro aspecto disso é que quase todos os governos tentam saber secretamente o que os cidadãos estão dizendo, tentam espionar seus cidadãos. Ao longo de todo o século 20 foi assim: governos abrindo cartas, por exemplo. Hoje, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, as instâncias oficiais tentam controlar a comunicação das pessoas. Isso é verdade nas democracias mais abertas, como Estados Unidos ou países da Europa, e mais verdade ainda na China, na Rússia, na Arábia Saudita. Na verdade, isso não tem a ver especificamente com a internet. Tem a ver com a relação entre governos que são mais ou menos autoritários e seu povo. Não é uma questão técnica, é política, atualizada com qualquer nova invenção técnica
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Não é porque há uma ferramenta nova que um dilema moral básico da espécie humana vai desaparecer em um passe de mágica
Ronaldo Braga
ou uma nova forma de comunicação. É por isso que eu não estou muito interessado nisso, porque não diz respeito abertamente à internet. O que diz respeito diretamente à rede são as novas oportunidades para as pessoas se comunicarem, cooperarem, criarem novas operações de troca de informações. É esse, portanto, o ponto que estou tentando enfatizar. O que você acha da privatização das bibliotecas universitárias, digitalizadas por corporações que cobram acesso a elas? Se falamos de conhecimento científico, penso que o verdadeiro problema, os verdadeiros vilões, não são o Google, por exemplo, e sim os editores de publicações científicas. Porque, a pesquisa científica é, em geral, financiada pelo público. Mas na universidade, atualmente, você precisa publicar esses resultados em uma revista ou jornal científicos, de editoras especializadas. E
essas editoras são empresas comerciais que vendem para as bibliotecas os resultados das pesquisas produzidas. Isso não está correto. Penso que a resposta certa a essa questão seria publicar esses resultados gratuitamente, por exemplo, em blogs. É uma grande tendência atualmente a criação de redes sociais voltadas especificamente para pesquisadores, como ResearchGate, Academia.edu ou Mendeley e assim por diante. O que se vê nessas redes sociais é que os papers e trabalhos circulam entre os próprios pesquisadores, livremente, e você não precisa pagar a um editor. Os editores foram úteis até determinado momento, enquanto só tínhamos a imprensa, porque se os trabalhos não fossem publicados, o conhecimento não poderia ser disseminado. Mas hoje em dia não precisamos mais de editores, podemos espalhar as informações disponíveis gratuitamente em blogs e redes sociais, por exemplo. Seria necessária uma mudança de mentalidade em todo o nosso sistema, não? Sim. Há certos trabalhos publicados em revistas científicas que ninguém lê, e alguns trabalhos que ainda não foram publicados em revistas porque ainda não foram totalmente concluídos circulam entre os pesquisadores interessados no mesmo problema e tem grande influência.
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#ExposedCG: relatos de assédio na internet No Brasil, as últimas semanas foram marcadas por uma série de depoimentos no Twitter com a hashtag #exposed por Guilherme Correia e Mylena Fraiha | ilustrações Marina Duarte
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Foram milhares de relatos de mulheres de diversas cidades, que sofreram violência sexual, física ou psicológica, que até então sentiam receio ou dificuldade de revisitar o episódio traumático, mas se sentiram encorajadas a falar sobre o assunto. No Brasil, as últimas semanas foram marcadas por uma série de depoimentos feitos no Twitter com a hashtag #exposed. Em diferentes localidades, o fenômeno surgiu e evidenciou denúncias em comum, todas tipificadas em leis: situações em que mulheres foram abordadas na rua, em festas ou por ex-parceiros, além de exposição de “nudes” na internet. Este tipo de onda de denúncias ocorreu anteriormente em outros momentos e despertou mobilizações dentro e fora da rede. Desde 2015 denominados por veículos e movimentos como marco de uma “Primavera das Mulheres” no Brasil, atos de contestação contra a cultura do estupro e o machismo têm ganhado força, além dos levantes contra projetos de lei conservadores que tramitam no Congresso Nacional. Uma dessas mobilizações foi a “Greve Internacional Feminista”, que no exterior contou com adesão maciça, porém relativa no Brasil. Os movimentos surgidos naquela época atingiram recentemente o que pode ser considerado estopim e passaram a ocupar as ruas e gerar ondas de denúncias criminais. Várias destas ações tiveram início nas redes, a partir de tags nas quais mulheres expuseram casos de violência física e simbólica que sofreram. Foi assim com a hashtag #MeToo (eu também, em português), surgida após relato da atriz mexicana Salma Hayek contra o produtor Harvey Weinstein; e
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#MeuAbusadorSecreto, na qual brasileiras contaram casos que sofreram – relembrada ao lado da recente tag #Exposed.No Twitter, os relatos começaram nas cidades de Londrina, Curitiba, Porto Seguro e Aracaju. No final de maio, foi iniciada a versão de Campo Grande. A #ExposedCG chegou nos assuntos mais comen“Não ver ninguém se mobilizar” foi o que tados em todo o Brasil durante a motivou a estudante a coletar relatos. Para ela, manhã desta última terça-feira. incentivar outras mulheres a relatar as próprias A tag em relação à capital de MS vivências em anonimato seria encorajador para – estado que possui a terceira maior possíveis vítimas. A expectativa foi correspondida: incidência de denúncias de violên- até a publicação desta reportagem, houve mais cia doméstica – surgiu no perfil da de 20 mil tweets com a hashtag, com alcance estudante universitária “Elizabeth” de cerca de 14 milhões de contas entre os dias Brum. “Vi várias outras hashtags dois a cinco de junho. durante o mês de maio, em outras “Expor casos e vítimas foi muito importante cidades. E tava esperando ansiosa- porque existe uma repressão pessoal de quem mente pela daqui, porque sabia que sofre, e uma relutância em denunciar porque a ia ser algo grande, até por conta dos gente é sempre subjugada pelas autoridades, já índices de violência contra a mulher que vivemos numa sociedade machista e Campo que são grandes aqui”, afirma Brum. Grande é uma cidade super conservadora”.
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Medo de dizer para alguém e não ter credibilidade, diz a universitária, acaba por desencorajar o ato mais importante para vítimas – a denúncia. “Poder expor uma situação anonimamente sem precisar mostrar a cara, acho que foi o que encorajou as pessoas a se sentirem mais encorajadas”.
DENÚNCIAS, EXPOSIÇÕES E ESPAÇO PÚBLICO: REPERCUSSÕES Também inserida na onda de denúncias, Helena foi uma das vítimas que decidiu integrar a mobilização no Twitter. Ela afirma que seu agressor também teria praticado abuso psicológico e sexual com outras meninas. “Eu respondi o tweet dela falando que também havia passado pelas mesmas coisas com ele [agressor], mas eu até então não tinha escrito nenhum relato. Só que se o tweet for procurado pela hashtag, realmente existem muitos outros relatos sobre ele. Não fui só eu, outras meninas também já expuseram ele”. Anteriormente, o mesmo rapaz havia passado por outras denúncias nas redes sociais. Ao compreender que sua história tinha similaridades com casos de outras meninas que se relacionaram com o mesmo homem, Helena concluiu que se tratava de um padrão de comportamento do agressor. “Ele já foi exposto outras vezes nas redes sociais. Eu não tinha conhecimento, nem visto nada até hoje, mas eu não ficaria surpresa porque eu conheço ele. Ele era um pouco agressivo e chantagista também. Então
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Expor casos foi muito importante pois existe uma repressão pessoal de quem sofre, e uma relutância em denunciar
várias meninas vieram falar comigo e ver esse movimento me incentivou”. O caso de Helena também gerou represálias. A jovem conta que um representante do agressor entrou em contato por telefone, com o intuito de coagi-la a apagar o tweet. “Ele me pediu de uma forma agressiva para eu me retratar. Não me chamou para nenhuma reunião, apenas simplesmente me ligou e enviou mensagens”. O movimento digital conhecido como exposed chegou à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), onde ao menos um boletim de ocorrência foi registrado com motivação na tag. Uma das páginas que acolheu relatos das vítimas fez uma publicação, na qual de compromete a acompanhar depoentes. “Várias pessoas me relataram que se sentiram mais seguras e elas decidiram denunciar formalmente. Esse é o próximo objetivo, fazer com que as pessoas consigam levar para a justiça para ser feito os processos legais. Mas antes, as pessoas precisam acreditar no que está sendo dito”, relata Elizabeth Brum.
A mobilização também evidenciou a cultura de normalização de abusos sexuais. Como aponta Helena, muitos dos agressores diziam não reconhecer a vítima ou até mesmo o ato praticado como uma forma de violência. “A gente percebe que tem relatos de homens que nem sabiam quem era a garota que tava denunciando na exposição, porque trata-se de uma atitude recorrente. Por ser comum, isso não marca a vida do homem. Ele segue vivendo a vida dele normalmente. Enquanto isso, o abuso marca a vida de uma mulher para sempre”. Segundo o artigo 213 do Código Penal brasileiro, o crime de estupro é caracterizado pelo ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Ou seja, o crime de estupro pode ser praticado por conjunção carnal (penetração) ou por qualquer ato libidinoso. Nesse sentido, toda prática que venha a ferir a liberdade sexual de alguém é considerado crime, mesmo que não haja o contato físico entre autor e vítima.
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VIOLÊNCIA ESTRUTURAL Os relatos também trouxeram à tona casos de assédio no ambiente escolar. Pelo menos cinco professores de escolas particulares em Campo Grande tiveram os próprios nomes envolvidos em denúncias anônimas de abuso, depois da repercussão gerada pela tag. Entre as palavras mais citadas nos tuítes, foram encontrados os termos “professor” e “assédio” – além de casos de violência contra menores de idade ou de relatos sobre assédio ainda na infância. A alta incidência da palavra “professor” entre os relatos sugere um padrão de abusadores que se aproveitam da relação hierárquica entre professor e estudante. Para a artista e professora Fernanda Santa Rosa, “posição nenhuma como professor dá o direito de humilhar quem está aprendendo (…) Falo como profissional da educação, isso não existe, está errado”. Fernanda, que é também estudante, reforça a necessidade de não invalidar a vítima. “Não interessa se a pessoa dança, atua na área há mais tempo que você. O seu questionamento, seu incômodo, seu desconforto são válidos”. O padrão comportamental revela uma realidade que as estatísticas já demonstram. Mato Grosso do Sul lidera o ranking de violação de direitos de crianças e adolescentes. Segundo dados divulgados em 18 de maio pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, foram 67,1 registros de denúncia no Disque 100 para cada 100 mil habitantes no ano passado. A média nacional foi de 41,3. No ranking de violência sexual contra adolescentes menores de idade, o Mato Grosso do Sul também lidera e a maioria das vítimas é do gênero feminino (94,8%, in RGE, Mato Grosso do Sul”, 2015).
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Para além do âmbito criminal e da necessária consolidação de denúncias oficiais contra eventuais episódios de violência, esse tipo de mobilização estimula reflexão social. A exposição pode ser o primeiro passo para a tomada de consciência. Fernanda Santa Rosa acredita que o assunto precisa ser discutido e exposto. “Diversas vezes a gente se reconhece numa outra fala, ou
começa a falar e entende o que está acontecendo conosco. Também é muito importante, como estamos falando de abusos feitos por homens, que eles pesquisem e que façam autocrítica. E não é só sobre repreender ou apontar o amigo, mas sobre escuta e aprendizado”. Santa Rosa diz que é necessário aos homens “observar o que está fazendo, quais posturas dessas está reproduzindo e buscar a mudança, pois podemos conversar – e é uma gentileza nossa –, mas eles também têm como pesquisar.”
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O CALOR POR TRÁS DE UM APERTO DE MÃOS O CONTATO físico interpessoal é um dos maiores sacrifícios em tempos de coronavírus. A falta dos abraços, beijos e toques pode impactar o bem estar do ser humano, animal considerado extremamente social. Foi realizada uma conversa com Idan Frumin, a neurocientista do Israelense Weizmann Institute of Science e autor de um estudo de 2015 sobre a importância social de um gesto especialmente humano e que todos nós indivíduos praticamos: o aperto de mãos. Por que o ser humano tem o costume de apertas as mãos? O senso comum afirma que o indivíduo faz isso para sinalizar ao outro que não estamos, portanto, armas. Não me permito acreditar nisso. A teoria que eu apoio, e que seguirei
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apoiando, é a de que usamos esse gesto para obter uma amostra da informação olfatória do outro com quem socializamos. É um meio socialmente aceitável de obter dicas sobre o odor corporal de outros indivíduos que precisamos analisar ou conhecer. Qual a importância do olfato para a socialização humana? O homem é uma criatura muito social. Deste modo, dependemos do senso de olfato para tomar algumas decisões importantes, como por exemplo, determinar o caráter de outro indivíduo. Precisamos saber quem é ameaçador e quem não. No entanto, fazemos tudo isso de forma subconsciente e instintiva, sem percebermos. Deste modo, ele é utilizado para identificação e para análise de confiança.
Gianluca Folí
Como a informação olfativa vai da mão ao nariz? Seres humanos têm o costume de tocar o rosto de modo recorrente. É assim que a assinatura olfatória do outro, que obtemos a partir do toque de mãos, chega até o nariz. Então, a interpretamos, instintivamente. Somos os únicos animais no planeta a segurar as mãos? Desse modo específico, acredito que sim. Entretanto, outros animais fazem coisas parecidas. Cachorros, por exemplo, obtêm a informação olfatória que buscam por meio das glândulas anais do outro cão. Vale lembrar que nem todas as culturas humanas usam o aperto de mãos,
os franceses por sua vez, preferem a conhecida troca de beijos na bochecha. Os esquimós, por exemplo, que vivem em locais onde deixar as mãos quentes e abrigadas é essencial, esfregam os narizes uns nos outros com o mesmo objetivo que eles também. Como que a pandemia do COVID-19 afeta a socialização? Com a pandemia e a diminuição do contato físico, perdemos boa parte da informação da qual precisamos para inspecionar o outro. Um bom exemplo é o próprio toque constante do rosto e a ação automática de cheiras as próprias mãos. A intenção é a de que ao não tocar o próprio rosto, diminuamos a disseminação de patógenos. Entretanto, esse toque é psicologicamente necessário. Em nosso aperto global, o aperto de mãos passou a ser risco de vida e deixou de representar aquilo que representava no passado, trazendo assim uma nova significação. Evitá-lo pode levar à introversão e à depressão.
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Seebastien Thibault
O Tribunal da Internet A cultura do cancelamento chama atenção, principalmente nas redes, por incentivar pessoas a pararem de apoiar determinadas personalidades em razão de erro ou conduta reprovável por Thays Bertoncini e Erica M. V. Honda
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De acordo com o dicionário australiano Macquarie, a “cultura do cancelamento” foi eleita o termo do ano de 2019, e não é para menos. Mesmo não tendo um marco exato de origem, a cultura do cancelamento aparentemente teve início a partir da mobilização de vítimas de assédio e abuso sexual (Movimento #MeToo), que ganhou ainda maior visibilidade em 2017 por força das denúncias realizadas em Hollywood. Desde então, mesmo o Movimento #MeToo traduzindo a coragem de se expor problemas há anos escondidos, a cultura do cancelamento vem seguindo um caminho que aparentemente diferencia-se da iniciativa de conscientização e debate de assuntos relevantes no âmbito digital e no âmbito real, como assédio, racismo, homofobia, machismo, etc. A cultura do cancelamento tem chamado a atenção, principalmente nas redes sociais, por tratar-se de uma onda que incentiva pessoas a deixarem de apoiar determinadas personalidades ou empresas, públicas ou não, do meio artístico ou não, em razão de erro ou conduta reprovável. Nos termos da definição da palavra “cancelar”, a ideia do movimento é literalmente “eliminar” e “tornar sem efeito” o agente do erro ou conduta tidos como reprováveis. Ao analisarmos o movimento sob o prisma das modalidades de regulação da Internet proposta por Lawrence Lessig, composta por: direito, normas sociais, mercado e arquitetura, podemos considerar a cultura do cancelamento como uma sanção imposta pelos próprios usuários no âmbito na Internet, diante da violação de normas sociais existentes. Assim como as demais modalidades
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Christoph Niemann
de regulação, as normas sociais são eficientes, uma vez que inibem o comportamento é reprovável por parte da comunidade que assim o entende da mesma forma. Exemplo que demonstra a eficiência das normas sociais é a campanha de boicote à publicidade (#StopHateforProfit), iniciada no último dia reforçando as políticas já existentes contra o 17. A ideia foi aderida por diversas discurso do ódio. Ocorre que, especificamente empresas que manifestaram inte- com relação à cultura do cancelamento, e ao resse em suspender seus anúncios contrário do Direito em que há um devido proem uma das maiores redes sociais cesso legal para justificar uma punição ou não, o da Internet, de modo a protestar “tribunal da Internet” não costuma oportunizar contra “discurso de ódio” e pressio- sequer o exercício do contraditório. A cultura nar a empresa para adotar medidas do cancelamento costuma ter efeitos imediatos, satisfatórias e criar mecanismos efi- onde a onda de boicote tem início tão logo o erro cientes de combate. ou conduta tidos como reprováveis são notados Em contrapartida, outra gigante e expostos. Tal imediatismo, porém, traz à tona da tecnologia, informou maiores certa intolerância e muita polarização, demonsmedidas internas e externas para trando assim que a sanção antecede a defesa. combater o racismo e aumentar Dessa forma, o ambiente virtual torna-se hostil, a representatividade na empresa, seletivo e, por vezes, injusto.
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Mariana Pereira
Nota-se que, a partir da constatação de erro ou conduta reprovável por um grupo de pessoas, cria-se um movimento na rede social de exposição para que, não somente os usuários deixem de “seguir” a pessoa ou de comprar determinada marca, por exemplo, mas também para que parem de dar visibilidade ao trabalho por alguém ou determinada empresa. Por meio da onda de ataque aos perfis em redes sociais, os efeitos são sentidos em todos os aspectos: vida pessoal de pessoas físicas que perdem trabalhos, contratos, patrocínios e até desenvolvem problemas psicoemocionais, bem como na atividade de empresas que deixam de realizar vendas, atender clientes, etc. Um dos exemplos recentes da cultura do cancelamento nas redes sociais foi ocorrido com uma digital influencer do mundo fitness que, durante a pandemia e o isolamento social, meses após ser diagnosticada e “se curar” do coronavírus, reuniu alguns amigos em sua casa, fazendo publicações da “festinha”. A anfitriã foi imediatamente cancelada nas redes sociais, com a consequente perda de diversas parcerias e rescisão de contratos. E apesar do pedido de desculpas e reconhecimento do erro, o cancelamento se manteve, beirando o linchamento virtual e fazendo com que ela desativasse seu perfil nas redes sociais. Nesse contexto, observa-se que “Tribunal da Internet” não realiza seus julgamentos com igualdade ou proporcionalidade. Primeiro, porque
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É simplesmente impossível apontar qual ação é “oficial” ou não deixa-se de discutir ideias e passa-se a discutir pessoas ou empresas. Segundo, porque poucos preferem ouvir, entender e formar uma opinião antes de atacar. Terceiro, porque outras pessoas ou empresas envolvidas em situações análogas, por exemplo, não sofrem sanções na mesma intensidade que as “canceladas”. Quarto, porque, no mundo virtual, é muito tênue a linha entre a crítica construtiva e o ataque revestido ofensas. Apesar dos julgamentos, porém, a cultura do cancelamento também pode gerar um efeito contrário ao pretendido, já que a proporção da exposição faz com que a pessoa ganhe mais visibilidade nas redes sociais e, a depender de seus próximos passos, acabe transformando a visibilidade do ocorrido a seu favor, fazendo mais sucesso e ganhando mais engajamento. Numa breve analogia, comparar o Direito com o “Tribunal da Internet”, seria como se, após a sentença do “cancelamento”, o recurso do “cancelado” fosse provido para afastar a condenação. O que pode-se extrair de interessante na dicotomia da cultura
do cancelamento é que, não apenas comportamentos reprováveis são objeto da onda de boicote, mas também opiniões contrárias sobre determinados temas. E em que pese a liberdade de expressão seja um direito fundamental, isso acontece porque muitos usuários ao se depararem com divergências, ao invés de promoverem um debate saudável, dão lugar à cultura do cancelamento, que propaga o boicote de pessoas físicas ou jurídicas. Acontece que, além do mero “cancelamento”, os ataques virtuais tornam-se massificados e, por muitas vezes, extrapolam os limites da livre manifestação de pensamento de modo a ensejar, de fato, um linchamento virtual que, mesmo revestido de boa intenção, pode provocar uma propagação de discurso de ódio e ainda, incorrer em crimes como injúria ou difamação. Em situações como esta, o “cancelado” que não encontra formas de se justificar sobre o ocorrido em tempo de reparar sua imagem, acaba por
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adotar medidas judiciais em face daqueles que propagaram ofensas, divulgaram informações eventualmente falsas e coisas do tipo. A cultura do cancelamento, portanto, que teve origem em um movimento que promovia denúncia e discussão de temas relevantes, hoje em dia acaba acarretando o descarte do debate saudável, impondo, de forma imediata, a sanção ao agente, sem viabilizar a defesa prévia ou eventual aprendizado, uma vez que não possui viés de educar e reintegrar, mas apenas excluir. E ainda que tal movimento tenha maior relevância quando nos referimos a pessoas ou empresas de notoriedade pública, é certo que atinge pessoas anônimas que, a partir de eventual erro ou conduta reprovável, podem ser igualmente “canceladas” por um grupo de amigos, colegas de trabalho, entre outros. A pergunta que fica diante de tantos julgamentos e sanções imediatamente impostas sem a possibilidade de defesa ou reflexão é: como seria se todos fossemos “cancelados” por um erro ou conduta reprovável, já que estamos em constante evolução? Na mesma medida em que a imperfeição é reconhecida, é crescente o número de pessoas que optam por não compartilhar seus pensamentos sobre determinados temas por receio do cancelamento e dos danos - psicológicos, de imagem e patrimoniais - dele decorrentes. Nas palavras do atual Ministro Alexandre de Moraes: a liberdade de expressão constitui um dos
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fundamentos essenciais de uma sociedade democrática e compreende não somente a informações consideradas como inofensivas, indiferentes ou favoráveis, mas também aquelas que possam causar transtornos, resistência, inquietar pessoas, pois a democracia somente existe a partir da consagração do pluralismo de ideia e pensamento, da tolerância de opiniões e do espírito aberto ao diálogo. E, deste modo, na direção inversa ao entendimento defendido pelo Supremo Tribunal Federal inclusive no histórico julgamento da ADPF 130, percebe-se que, pessoas com medo da cultura do cancelamento virtual, deixam, portanto, de colaborar com a democracia.
Com isso, o propósito de exposição de temas para que haja liberdade de comunicação social, garantindo-se a livre circulação de ideias e informações de forma pluralista, na realidade, tornou-se uma ferramenta de autocensura ao invés de promover o debate, como a contranarrativa. A cultura do cancelamento, na forma como praticada atualmente, afeta, ainda que de maneira indireta, o exercício dos direitos da livre manifestação de pensamento e da liberdade de expressão, obstando o debate de questões que, de forma saudável, traria benefícios para a sociedade ainda promoveria o progresso intelectual e a evolução pessoal de cada um.
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TWITTER ACUSADO DE TER VIÉS RACISTA O TWITTER ESTÁ investigando por que sua rede neural para gerar visualizações de fotos aparentemente opta por mostrar imagens de pessoas brancas com mais frequência do que rostos negros. A suspeita foi apontada por usuários da rede social após um experimento. Eles postaram vários exemplos de postagens com o rosto de uma pessoa negra e de uma branca para provar que a prévia do Twitter mostrava rostos de brancos com mais frequência. Os usuários também descobriram que o algoritmo de visualização da rede social escolhia preferencialmente os personagens de desenhos animados não negros. Um usuário tentou postar sobre um problema percebido por ele no reconhecimento facial de Zoom, que não mostrava o rosto de um colega
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negro nas ligações. Quando ele postou no Twitter, também percebeu que a plataforma favorecia o seu rosto branco em vez do rosto de seu colega negro. Em outras montagens feitas pelo usuário, o sistema também continuou priorizando a foto do senador branco, o que gerou indignação na rede social e acusações de racismo do algoritmo do Twitter. O Twitter disse que testou vieses raciais e de gênero durante o desenvolvimento do algoritmo. Entretanto, acrescentou: “É claro que temos mais análises a fazer.” “Testamos esse viés antes de enviar o modelo e não encontramos evidências de preconceito racial ou de gênero em nossos testes. Entretanto, está claro que temos mais análises para fazer. Iremos continuar a compartilhar o que aprendemos, quais ações tomamos e abriremos o
Jack Dalys
usuário brasileiro fez experimentos parecidos e o resultado foi o mesmo, no qual fotografias de pessoas brancas continuaram sendo priorizadas. As redes neurais artificiais, tal qual as usadas pelo Twitter, por exemplo, são modelos computacionais que se inspiram no sistema nervoso central
código para que outros possam revisar e replicar”, afirmou a plataforma por meio da sua conta no Twitter. O diretor de tecnologia do Twitter, Parag Agrawal, disse ter gostado de ver o escrutínio dos usuários e disse estar ansioso para aprender com ele. “Esta é uma pergunta muito importante. Para resolver isso, analisamos nosso modelo quando o enviamos, mas ele precisa de melhoria contínua. Eu amo este público, aberto e rigoroso, e estou ansioso por aprender com ele”, afirmou em postagem. Após a publicação, um de um animal, fazendo com que a máquina não apenas seja capaz de aprender, mas de reconhecer padrões. Especialistas têm alertado que a inteligência artificial poderá contribuir para perpetuar preconceitos se as empresas não prestarem atenção aos dados usados para alimentá-la.
CIBERCULTURA, CIBERDEMOCRACIA E CIBERESPAÇO Pierre Lévy é um filósofo de nacionalidade francesa e um dos principais a tratar dos impactos das tecnologias digitais sobre a sociedade. Este tem como objetivo apresentar os principais conceitos abordados por ele ao longo de sua carreira e estudos.
O VIRTUAL A relação do homem com a tecnologia fez surgir novos espaços de ação cultural e social. Espaços que não existem fisicamente, mas que se concretizam na memória do computador, de modo virtual. As
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memórias dos computadores” e que não se aplicam os limites físicos aos quais estamos sujeitos no mundo concreto, apenas no virtual.
A CIBERCULTURA
Verasu Saetae
Seguindo esse raciocínio, Pierre Lévy vislumbra que devido a essa diferença de limites, a experiência humana nesse novo espaço é diferente da que temos no mundo presente, o que acaba por gerar novos modos de conduta e de interação social, que só são possíveis no ciberespaço. A esse novo modo como nos organizamos e agimos no ciberespaço o autor chama de Cibercultura, a qual tem três característica: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. Concluindo, a experiência das comunidades virtuais aperfeiçoa os saberes e, deste modo, ele acelera o aprendizado de seus membros, atingindo-se, assim, a inteligência coletiva, que “seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última”.
coisas que acontecem intermediadas pela tecnologia do computador, são, também, reais, pois nos afetam concretamente. Elas apenas não estão aqui, no mundo presente.
O CIBERESPAÇO O virtual acontece, portanto, em outro lugar, diferente do lugar atual e presente no qual estamos fisicamente presentes. Esse lugar virtual é chamado de ciberespaço, que Lévy define “como o espaço da comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das
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CIBERDEMOCRACIA A liberdade e o rompimento de fronteiras típicas desta nova realidade proporcionaria o desenvolvimento de uma nova consciência política, denominada ciberdemocracia. Deste modo, uma das principais evidências das inevitáveis mudanças no campo político está presente na libertação da humanidade de suas tradicionais forças controladoras. Portanto, a ciberdemocracia pressupõe que a ideia de Estado esteja descolada da ideia de território. O pertencimento se dará por uma escolha racional de um espaço semântico de afinidades e não pelo acaso do nascimento em um.
Caco ardo Galh
Iturrus ADÃO garai
JEANVÃO GAL
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Rodrigo dias
isadora Daurizo
juniĂŁo
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Nando Motta
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jota camelo
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nando motta tiano s Cri ueira Siq
luana lisboa
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Familismo e a ‘res publica’ em tempos de populistas CRISTINA PINOTTI Graduada em administração pública pela FGV, concentra seus trabalhos, na teoria da corrupção e da história da operação Mãos Limpas
SERGIO INGRAVALLE Ilustrador freelance alemão que concentra seu trabalho na combinação de elementos gráficos e digitais para a criação de projetos únicos
FOGOS DE ARTIFÍCIO lançados contra o Supremo Tribunal Federal e palavras de ordem a favor do seu fechamento são ameaças facilmente identificáveis e, felizmente, a vigorosa reação da sociedade tem sido eficaz na sua neutralização. Mais difícil é interpretar e resistir ao estrago provocado pela disseminação sistemática do ódio e da falta de respeito à vida humana, diligentemente manipulada para provocar a polarização da sociedade, com o consequente aumento da desconfiança entre as pessoas e nas instituições. Chegamos a mais de 100 mil mortos pela covid-19 – o número poderia, por certa vez, ser muito menor, mas “e daí”? Tal quadro nos obriga, então, a destrinchar as ideias e os valores que sustentam esse movimento, para conter o seu fortalecimento. Hoje
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olho para o papel da confiança nas interações sociais, cuja presença favorece atitudes cooperativas e construtivas em favor da “res publica”, a coisa pública, produzindo o desenvolvimento econômico, político e social de um país. A ausência da confiança gera um terreno fértil para o surgimento de populistas. Um dos elementos mais importantes do que se define como “capital social” de um país, a confiança entre as pessoas é o principal alvo contra o qual atiram governos autocráticos. Na defesa dos seus interesses, e na busca da perpetuação no poder, se dedicam não só a reescrever as leis (as instituições formais), mas também a alterar os valores e crenças das pessoas (informais). A ausência de confiança entre as pessoas é encontrada em países, regiões ou grupos que geralmente permanecem à margem do desenvolvimento econômico e social, onde impera o que Edward Banfield nomeou de “familismo amoral”, cujo lema é: só respeite e só confie na sua família, jamais em estranhos. Além da certeza de que só deviam confiar na própria família, as
pessoas esperavam que todas as outras assim se comportassem, restringindo a existência de comportamentos colaborativos apenas ao interior de cada família. O medo de serem enganadas levava as pessoas a enganar as outras, conduzindo a sociedade a um pernicioso círculo vicioso baseado na desconfiança. Outra faceta do familismo amoral se manifesta na esfera política. Para os moradores de Chiaromonte, participar da política não significa cuidar da res publica no interesse da coletividade e sim desfrutar de um instrumento que dá acesso a vantagens pessoais, estendidas aos familiares. A expectativa é que todos os que entram na política são aproveitadores corruptos, pois predomina a crença de que ações que visem o bem comum só podem ser motivadas por segundas intenções, que mais adiante se manifestarão na busca do benefício privado. O interesse social não é representado politicamente, criando-se outra faceta do círculo vicioso da perda de credibilidade das instituições. Essas crenças e comportamentos conduzem a uma visão pessimista sobre a possibilidade de as coisas melhorarem na sociedade e a um profundo fatalismo, impedindo o desenvolvimento coletivo, asfixiando a economia, e criando um terreno fértil para que populistas assumam e permaneçam no poder. Vítimas que somos de tantos anos de “nunca antes neste país”, “nós contra eles”, “e daí”, “vou intervir” e tantas outras pílulas diárias de venenos destilados e espalhados pelos extremos do espectro político, cabe a cada um de nós resgatar a confiança mútua e fortalecer os laços sociais.
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CÓRTEX: DA PLACA DE CARRO AO CPF Conheça o Cortéx, sistema de vigilância do governo que integra de placa de carro a dados de emprego por Aiuri Rebello | ilustrador Yo Az
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Sem alarde, o Ministério da Justiça está expandindo uma das maiores ferramentas de vigilância e controle de que se tem notícia no Brasil. Trata-se do Córtex, uma tecnologia de inteligência artificial que usa a leitura de placas de veículos por milhares de câmeras viárias espalhadas por rodovias, pontes, túneis, ruas e avenidas país afora para rastrear alvos móveis em tempo real. O Córtex também possui acesso em poucos segundos a diversos bancos de dados com informações sigilosas e sensíveis de cidadãos e empresas, como a Rais, a Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério da Economia. A poucos cliques, oficiais podem ter acesso a dados cadastrais e trabalhistas que todas as empresas têm sobre seus funcionários, incluindo RG, CPF, endereço, dependentes, salário e cargo. Em tese, é uma ferramenta poderosa de combate ao crime. Na prática, o sistema pode ser usado para monitoramento e vigilância de cidadãos, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, lideranças políticas e manifestantes, em uma escala sem precedentes. O Ministério da Justiça, oficialmente, nega que o sistema seja integrado à base de dados do Ministério da Economia. Mas não é o que mostra um vídeo enviado ao Intercept por uma fonte anônima. Na gravação, feita em abril deste ano, o capitão da Polícia Militar de São Paulo Eduardo Fernandes Gonçalves explica como usar a ferramenta. Desde 2018 cedido pelo governo de São Paulo à Seopi, a Secretaria de Operações Integradas da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Fernandes demonstra a
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e quem te visitou. Também podem cruzar esse histórico com informações pessoais e dados de emprego e salários, incluindo boletins de ocorrência e passagens pela polícia. No vídeo, o que se vê é uma ferramenta poderosa que está à disposição de milhares de pessoas das forças de segurança e setores de inteligência dos governos federal, estaduais e até municipais, tudo sem critérios claros de controle sobre seu uso. A fonte que enviou o vídeo ao Intercept, que não se identificou por medo de retaliações, estima que cerca de 10 mil servidores tenham acesso ao sistema.
QUEM, QUANDO E ONDE EM SEGUNDOS facilidade em se cruzar informações a partir de um registro de placa de carro. A Rais está entre as bases de dados da demonstração. “O que é interessante aqui? Que, com base no CNPJ, eu recupero a relação de todos os funcionários que trabalham hoje na empresa”, diz Fernandes na apresentação. “Cruzando essas informações aqui com as bases de CPFs, que os senhores também terão à disposição, é possível ter uma relação bem rápida de onde essa pessoa mora”. Os agentes conseguem a partir da placa do carro saber toda a sua movimentação pela cidade, com quem você se encontrou, quem te acompanhou nos deslocamentos
No sistema, quando um “alvo móvel” é cadastrado e passa por uma câmera com capacidade de leitura de placas, leva dois segundos para os agentes de inteligência ou policiais interessados serem avisados até por push no app do celular. A partir daí, é possível realizar uma série de tarefas: continuar monitorando o alvo, mandar o policial mais próximo tentar abordá-lo ou cruzar as informações do veículo e seu dono com diversas outras à disposição do governo federal. O vídeo mostra que são acessíveis com o Córtex bancos de dados do Denatran, o Departamento Nacional de Trânsito; o Sinesp, Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública; o cadastro nacional de CPFs; o cadastro nacional de foragidos; o de boletins de ocorrência; e o banco nacional de perfis genéticos; além do Alerta Brasil da Polícia Rodoviária Federal e do Sinivem, o Sistema Integrado Nacional de Identificação de Veículos em Movimento.
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Funcionário público do governo de São Paulo cedido para o Ministério da Justiça, Fernandes trabalha desde pelo menos 2018 na área de inteligência do governo. Lá, trabalha na diretoria de tecnologia, onde recebe mais de R$3 mil acrescidos ao seu salário de policial para participar de um “grupo de trabalho responsável por elaborar propostas de soluções tecnológicas”. Nas contas do governo federal, é um servidor “mobilizado”. Nas redes sociais, é um fã incondicional do presidente Bolsonaro. “Jogando aqui, fazendo a consulta, tem uma placa aqui, ele pertence a um funcionário da empresa que administra o aeroporto, e transitou em Guarulhos nesse dia”, diz o PM no vídeo, mostrando detalhes do deslocamento do funcionário, que inclui avenidas, sentido e horário. “Às 20 horas ele tava no sentido bairro-centro, então ele tava voltando”, diz Fernandes. “Aí vai a criatividade. Joga a placa do carro, levanta itinerário, quem tava junto, levanta. Ou melhor, pega a placa do carro, vai pro CPF do proprietário, vai pra Rais, vê onde trabalhava, vê quem trabalhou junto”, disse ele. Os dados dos alvos ficam armazenados por dez anos e o índice de acerto nas leituras é de 92 por cento, segundo a demonstração em vídeo da tecnologia.
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Quem não cumpre fica sem o repasse de recursos federais para área de segurança pública
No tutorial, Fernandes afirma que todos os movimentos dentro do Córtex ficam registrados e são auditáveis. “Se houver algum tipo de desvio nesse uso, o profissional que fez isso vai sofrer as consequências do cadastro indevido”, alerta o agente no vídeo. Apesar disso, ele não explica que consequências seriam essas. Na prática, a operação do Córtex e o próprio trabalho da Seopi não possuem regras claras além de estarem cercados de sigilo.
INTEGRAÇÃO NACIONAL O embrião do que viria a se tornar o Córtex surgiu ainda no governo Dilma Rousseff, com a criação do Sinesp, Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e Sobre Drogas. A iniciativa pretendia unir em um único sistema informações de bancos de dados estaduais como boletins de ocorrência, veículos com alerta de furto e roubo, presos e foragidos. Pouco antes a Copa do Mundo de 2014,
o governo federal lançou o Centro Integrado de Comando e Controle Nacional, que reunia representantes e informações das secretarias de segurança pública das cidades-sede do evento e imagens em tempo real de câmeras viárias e de segurança espalhadas por estas cidades. A principal preocupação do governo era a eventual ação de grupos terroristas, crime organizado e manifestações que colocassem em risco o evento como as que aconteceram no ano anterior. Já em 2015, um decreto da presidente sistematizou, ampliou e oficializou o uso do Alerta Brasil – criado pela PRF em 2013, também em meio aos investimentos em segurança pública para o mundial de futebol da Fifa. Até o final do ano passado, de acordo com informações da PRF, pelo menos 12 estados compartilhavam suas câmeras com o Córtex: Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro (RJ),
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Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima e Amapá. Dentre estes, as secretarias de segurança pública de RJ, SC, AP, AC, GO, MT e RR e DF estavam conectadas com o Córtex.Além dos governos estaduais existem parcerias — e acesso às câmeras — diretamente com os municípios.
BRAÇO VIGILÂNTE DO MINISTÉRIO Alerta Brasil foi uma das tecnologias precursoras do Córtex. Em setembro do ano passado, o então ministro da Justiça, Sergio Moro, disse no Twitter que os dois sistemas estavam completamente integrados. “A unificação dos sistemas de monitoramento viário Alerta Brasil 3.0 da PRF e Cortex da SEOPI, ambos do MJSP, levará à redução de custos e a criação de um sistema integrado com seis mil pontos de monitoramento no país”, afirmou Moro. “Às vezes, integrar exige só olhar para quem está do seu lado”. Inúmeras cidades fazem parte do sistema, que recebe também as imagens de concessionárias de rodovias estaduais, vias urbanas e rodovias federais. “Não dá para dizer que o uso atual do Córtex é ilegal hoje em termos jurídicos, mas dá para afirmar que é profundamente problemático e potencialmente ilegal”. Questionado, o Ministério da Justiça não informou o número exato de parcerias com governos estaduais e municipais para o uso da ferramenta. Disse apenas que “é importante ressaltar que o sistema está sendo desenvolvido com o trabalho de técnicos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, além das contribuições dos usuários dos estados que aos poucos são inseridos no contexto do sistema”. No total, a Seopi é composta por quatro diretorias e dez coordenadorias. Quando assumiu a pasta da Justiça após a saída de Moro, o ministro André Mendonça trocou nove das 13 pessoas que chefiavam estes órgãos. Os nomeados por Mendonça foram os responsáveis pelo dossiê contra antifascistas – e também cuidam do Córtex.
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TECNOAUTORITARISMO Não há uma lei, decreto, portaria ou qualquer norma oficial pública que regulamente o uso do Córtex dentro da Seopi. Perguntei ao Ministério da Justiça quais as normativas legais, os dispositivos de controle e quem fiscaliza seu uso. O governo se limitou a dizer que o Córtex opera de acordo com o Sistema Único de Segurança Pública, que determina o intercâmbio de informações entre órgãos, mas não estabelece limites e proteção à privacidade. A Lei Geral de Proteção de Dados, que entrou em vigor em agosto de 2018, prevê o uso de dados pessoais dos cidadãos para atividades de segurança pública, segurança
nacional e investigação criminal. “A LGPD deu um passo importante que foi separar isso em alíneas. Segurança pública é uma coisa, segurança nacional é outra, atividades de investigação é outra. Ter essa clareza e separação de poderes é muito importante. Existe um processo muito amplo de contestação disso no mundo todo”. Na Europa e nos EUA, exemplifica, a adoção de novas tecnologias de vigilância é discutida publicamente, e há separação jurisdicional entre informações sob guarda de entes governamentais diferentes. “É um termo novo para um problema antigo. Essa preocupação das capacidades de vigilância e uso de tecnologias para segurança e vigilância é um tema clássico”, afirma. O Ministério diz que a Seopi usou o Córtex nas operações de segurança das eleições em 2018, Operações Luz na Infância 5 e 6 (que resultou na prisão de mais de 90 pessoas acusadas de crimes sexuais contra crianças e adolescentes), assim como no “monitoramento nacional dos impactos da Covid-19 para segurança pública.” E que “a integração de informações de monitoramento urbano permite a detecção de veículos com indicativo criminal registrado para emprego exclusivo nas atividades de segurança pública para repressão ao crime organizado”.
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CRIMES NAS REDES SOCIAIS
Anna Parini
Crimes de ódio, pornografia infantil e neonazismo aumentam até 5.000% na pandemia, revelam dados inéditos sobre redes sociais por Tatiana Dias
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Em18 de agosto, uma conta brasileira, tuitou, em inglês, “E se Hitler estivesse certo?”. Dois dias antes, o tuiteiro era um dos que engrossavam o coro contra o aborto da criança de dez anos estuprada pelo tio, no horrendo espetáculo que a extrema direita criou para capitalizar sobre a tragédia. A conta do tuiteiro, que surfa no “politicamente incorreto”, permanece no ar apesar das inúmeras denúncias. Embora viole os termos de uso da plataforma, o post é só mais um no tsunami de crimes digitais que inundou as redes sociais desde o início da pandemia do coronavírus. Neonazismo, pornografia infantil e crimes de ódio – que incluem violência contra a mulher, homofobia e racismo – explodiram na internet nos últimos três meses, mostra um levantamento feito a pedido do Intercept pela Safernet. Os dados levantados pela ONG, que monitora violações de direitos humanos na internet, mostram que o período entre março e julho de 2020, os primeiros três meses de pandemia, foi marcado por um aumento astronômico de crimes online. Ao mesmo tempo, as ações das redes sociais para remover esse tipo de postagem não cresceram, então, no mesmo ritmo. O maior número de violações compiladas de pornografia infantil: foram 42.931 nos primeiros três meses de pandemia, mais do que o dobro das 20.860 registradas no mesmo período do ano passado. Elas se concentram, principalmente, no Twitter, Facebook e Instagram, além de fóruns anônimos (os “chans”) e sites de troca de arquivos de imagem.“Esse aumento já era esperado porque as pessoas estão ficando mais em casa.
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Jack Daly
Assim como aumentou o acesso à pornografia legal, o acesso criminoso à pornografia que se utiliza a exploração sexual de menores também tende a aumentar”, me disse de 238%. Lá, uma ação coordenada promoveu Yasodara Córdova, pesquisadora de uma enxurrada de conteúdos do tipo, o que fez tecnologia e sociedade, aluna do a rede social estabelecer uma nova política para mestrado em políticas públicas da tentar coibir esse tipo de comportamento. Harvard Kennedy School. “E o fato Já o Twitter é a rede social favorita dos neonade as crianças não estarem indo à zistas. Se em 2019 a rede social registrou só 43 escola aumenta a possibilidade de denúncias, em 2020 foram 2.369 – um aumento estarem em casa com os agressores, de mais de 5.000%. Também cresceu o número já que 70% são de alguém da família de tuítes removidos pela rede social: em 2019, e próximo às crianças”, explica. só quatro foram de letados; neste ano, foram Os dados mostram que, em ge- 1.370. Houve aumento no Facebook e Instagram, ral, 2020 registrou cinco vezes mais mas em num patamar muito menor. denúncias de compartilhamento de “O Twitter é a caixa de ressonância por excelênpornografia infantil do que 2019 – cia do debate público sobre política no Brasil. As o maior aumento foi no Instagram, células neonazistas sabem disso e procuram
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A pandemia provocou mudanças abruptas na rotina das pessoas, famílias e das escolas ter uma presença relevante na plataforma para influenciar, repercutir e recrutar novos simpatizantes, sobretudo os jovens”, me disse Thiago Tavares, presidente da Safernet. Apesar de o Twitter ter criado uma nova política, mais dura, para remoção de símbolos e discursos nazistas – e isso ter, em parte, motivado migrações para o Gab e para o Parler, novas redes sociais com menos moderação – os influenciadores extremistas não abrem mão de estar lá. A Safernet atua desde 2005 no combate a crimes e violações de direitos humanos nas redes sociais, operando canais de denúncias como o denuncie.org.br. O levantamento considerou manifestações recebidas na plataforma da ONG e analisadas pelo núcleo técnico de combate aos crimes cibernéticos da Procuradoria da República em São Paulo, parceiro da organização mencionada. Cada denúncia corresponde a um link – todas são avaliadas posteriormente para saber se há crime ou não. Por isso, há uma margem de erro. O número de páginas removidas é dinâmico e analisa em tempo real quais desses links saíram do ar. Esse
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número é diferente das denúncias recebidas pelas próprias plataformas, que, em geral, não são então divulgados. Os números mostram que crimes de ódio, como racismo, homofobia e incitação à violência, também cresceram. Houve quase três vezes mais denúncias de racismo em 2020 do que em 2019. Nisso, a pior rede social é o Facebook. No ano passado, nós já alertamos que a rede social ignorava uma série de denúncias contra páginas de supremacistas brancos. Para o Facebook, comentários como “coincidência as regiões com maior concentração branca (com exceção de Japão e Coreia do Sul) serem desenvolvidas, e os restantes subdesenvolvidos, não é mesmo?” não eram considerados racistas. Casos de violência online contra a mulher (que incluem assédio à divulgação de imagens íntimas sem consentimento) também dobraram. O Twitter foi a rede com o maior número de denúncias, mas também foi a que mais se movimentou para remover postagens criminosas, enquanto o Facebook, o número de posts removidos diminuiu.
Theresa Chiechi
A organização detectou também um aumento em categorias relacionadas à pandemia, como conteúdos xenófobos contra asiáticos e apologia e incitação ao suicídio, além do “aumento expressivo de novas imagens de violência sexual contra crianças e adolescentes”. Para piorar, a pandemia afetou a capacidade de moderação e revisão das redes sociais, o que prejudicou os sistemas de remoção de conteúdo.
A CHANCELA DO BOLSONARISMO A radicalização e o aumento no número de crimes de ódio na internet também foram percebidos pelo antropólogo David Nemer, que pesquisa grupos bolsonaristas e dá aulas na Universidade de Virginia, nos EUA. Para ele, esse aumento está diretamente relacionado com a chancela dada por Bolsonaro. Segundo Nemer, compartilhar esse tipo de conteúdo é “uma forma de atacar o politicamente correto”, uma das maneiras como o bolsonarismo delimita os inimigos e também reúne a própria base.
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@RODPOCKET Rodolpho Rodrigo Abusado no uso de memes, apresenta um humor com notícias fictícias que engana os desatentos do mundo digital. Parece que essa galera do Twitter gosta mesmo de reclamar e brincar com as situações da vida, tanto que o responsável pelo @rodpocket se identifica no seu Instagram como “colecionador de mágoas na vida real”, característica bem vista pelos seguidores. Editor do Sensacionalista e roteirista da Globo
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@RICAMCONSULT Ricardo Amorim Outro famoso homem de negócios na websfera brasileira é Ricardo Amorim. Eleito pela Forbes como uma das 100 pessoas mais influentes do país, ele é muito celebrado por criar palestras de alta qualidade sem utilizar uma linguagem muito complexa. Seguir o seu perfil no Twitter significa ter acesso privilegiado a ideias e debates construtivos para qualquer gestor. Economista, apresentador do Manhattan e presidente da Ricam Consultoria
O DILEMA DAS REDES Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis Um docudrama estado-unidense dirigido por Jeff Orlowski. O filme é composto por relatos dos criadores de softwares e algoritimos das grandes redes de hoje em dia. Ele analisa o papel das redes sociais e os danos que elas causam à sociedade, aos individuos e à democracia. Estados Unidos • 2020 • 89 min • disponível na Netflix
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@GUSTAVOCAETANO Gustavo Caetano Gustavo Caetano é, no momento, um dos principais nomes do empreendedorismo brasileiro. Criador da Samba Tech e palestrante de sucesso, ele já foi considerado o CEO do ano, além de acumular prêmios nacionais e internacionais. Autor do Best seller Pense Simples e CEO da Samba Tech
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@GEORGMARQUES George Marques Abusado no uso de memes, apresenta um humor com notícias fictícias que engana os desatentos do mundo digital. Parece que essa galera do Twitter gosta mesmo de reclamar e brincar com as situações da vida, se identificando, portanto, na sua conta do Instagram como “colecionador de mágoas na vida real”. Ex-Intercept. Especialista em comunicação pública/política. Jornalista, Relações Públicas
O DILEMA DAS REDES Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis Um docudrama estado-unidense dirigido por Jeff Orlowski. O filme é composto por relatos dos criadores de softwares e algoritimos das grandes redes de hoje em dia. Ele analisa o papel das redes sociais e os danos que elas causam à sociedade, aos individuos e à democracia. Estados Unidos • 2020 • 89 min • disponível na Netflix
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Uma Carta Aberta Aos Legisladores Brasileiros LEANDRO DEMORI Editor executivo do Intercept Brasil e autor de “Cosa Nostra no Brasil, a história do mafioso que derrubou um império“
SERGIO INGRAVALLE Ilustrador freelance alemão que concentra seu trabalho na combinação de elementos gráficos e digitais para a criação de projetos únicos
O BRASIL AMA a Internet. Mais da metade dos brasileiros estão online, e este número está crescendo rapidamente. De acordo com um relatório recente, 71% dos brasileiros conectados ficam online pelo menos uma vez a cada hora – mais do que em qualquer outro país. Cidadãos de todas as esferas da vida estão utilizando a Web para construir negócios e criar empregos. Na verdade, estima-se que o sector das TIC irá representar 10,7% do PIB brasileiro em 2022 – essencial em tempos de turbulências econômicas globais fortes. Claro, os benefícios da conectividade vão muito além do financeiro. Apenas para dar um exemplo, 60% dos usuários brasileiros da Web acessam recursos educacionais. Enquanto isso, muitos cidadãos estão utilizando a Web para fortalecer uma democracia
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vibrante – debatendo on-line questões políticas e se comunicando com políticos eleitos. O Brasil ocupa o segundo lugar na América Latina no barômetro Open Data da Web Foundation – ou seja, os cidadãos estão usando dados abertos na Web para exigir transparência e prestação de contas de figuras públicas. Estes benefícios estão protegidos porque em 2014 – depois de um longo período de debate e consultas – vocês, brasileiros, reconheceram que para a Internet verdadeiramente beneficiar e empoderar a todos, certos fundamentos devem ser reconhecidos e protegidos. Eles incluem o direito de acesso à rede a preços acessíveis para todos, o direito de se expressar online livremente, o direito de se comunicar com segurança e privacidade, e a necessidade de assegurar que todo o conteúdo é tratado da mesma forma, sem priorização, bloqueio ou censura. Seu país tornou-se o primeiro a dar o passo corajoso para colocar em prática uma “Carta de Direitos” para a Internet – o Marco Civil da Internet. Esta abordagem visionária já teve impactos globais. Da
Itália até a Nigéria, outros países estão tentando imitar o Brasil. E por isso, a Internet ama o Brasil. É por isso que estou triste em saber que os princípios consagrados no Marco Civil podem estar sob ameaça diante de um novo relatório contra crimes cibernéticos que está sob análise no legislativo. É importante garantir a segurança de todos os que usam a Web, mas este relatório contém muitos aspectos preocupantes. Propostas que ameacem a neutralidade da rede ao fornecer novos poderes para bloquear aplicativos ou retirar conteúdo do ar são profundamente preocupantes, pois representam um duro golpe contra a liberdade de expressão online. Enquanto isso, permitir a identificação de pessoas associadas a endereços IP sem um mandado judicial pode constituir uma ameaça à privacidade online – criando um efeito inibidor da liberdade de expressão, e com repercussões negativas para os negócios e a democracia. E estes são apenas alguns dos aspectos preocupantes do relatório. O Brasil precisa de uma Internet livre e aberta – para colher as oportunidades no horizonte e enfrentar os desafios que temos pela frente. E a Internet livre e aberta precisa que o Brasil continue sendo uma referência para o progresso e um modelo para a região e para o mundo. Eu peço aos brasileiros que rejeitem as propostas atuais deste relatório, considerem maneiras alternativas de combater crimes cibernéticos e que se comprometam novamente com os princípios do Marco Civil que protegem a Internet como ela deve ser – um espaço aberto, colaborativo do qual todos possam se beneficiar.
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Anonymous: retorno do hacktivismo no mundo
ZEDGE
A menos que você esteja vivendo em uma bolha virtual, podemos dizer que, suas redes sociais foram inundadas por postagens, notícias e discussões a respeito dos Anonymous por Ramon de Souza
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O movimento hacktivista descentralizado – que, vale lembrar, não possui uma estrutura organizacional, não podendo assim ser categorizado como “grupo” – tomou os holofotes da mídia após retomar as atividades depois de anos em hiato. Tal retorno foi marcado, primariamente, por ações em protesto à morte de George Floyd, um homem negro morador da cidade de Minnesota (EUA), após ser estrangulado por um policial durante uma abordagem claramente abusiva. Em consonância com a indignação popular, ativistas cibernéticos passaram a cometer uma série de investidas virtuais, incluindo um ataque DDOS que desligou temporariamente o website da polícia de Minnesota e a circulação de um suposto banco de dados com emails e senhas do distrito policial. Ademais, em vídeos e publicações no Twitter, os envolvidos nas ações miram ainda o presidente Donald Trump e promete divulgar em breve mais provas de violência física cometida pela polícia norte-americana – documentos estes que teriam sido roubados de um servidor de um escritório de advocacia de Nova York. O grupo hacker mais famoso de todos os tempos deu seus primeiros passos dentro do 4chan, um site com fóruns de discussão sobre qualquer assunto, até hoje em funcionamento. Em meados de 2003, os usuários que não se identificavam nos debates tinham suas mensagens postadas com uma simples assinatura: anonymous. Não demorou para que surgisse a ideia de criar uma identidade que unificasse anônimo. No início, os anons agiam por pura diversão mas aos poucos, a zoeira foi dando lugar a a ações de engajamento.
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E POR AQUI, COMO FICA? No Brasil, porém, a atuação do movimento foi marcada por desconfiança e incredulidade. No dia 1º de junho, a conta do Twitter @AnonymouBrasil publicou um suposto vazamento contendo dados pessoais de Jair Bolsonaro, seus familiares (Flavio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro), dos ministros Abraham Weintraub e Damares Alves e do deputado estadual Douglas Garcia. Luciano Hang, empresário responsável por cofundar a rede de lojas Havan, também foi uma vítima. Entretanto, a conta foi derrubada pouco tempos após a divulgação dos dados, e muitos internautas ficaram com uma pulga atrás da orelha ao perceber que grande parte das informações “vazadas” são públicas, podendo ser obtidas através de uma simples busca na internet. Ademais,
prints que circulam pela web mostram o perfil em questão realizava publicações através de um iPhone – hacktivistas experientes dificilmente usariam o app padrão do dispositivo da Apple, sem qualquer camada de anonimização. De qualquer forma, a Polícia Federal já anunciou a abertura de um inquérito para investigar o incidente e outra conta (@AnonymouBr1) surgiu no Twitter reclamando a responsabilidade pelo vazamento das informações.
DIFÍCIL DE DEFINIR Tanto nos EUA quanto no Brasil, o “retorno” dos Anonymous está sendo encarado com um tanto de ceticismo. Antes, é importante lembrar da
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Johanes Lynn
dificuldade em apurar atos realizados em nome do movimento justamente por sua natureza descentralizada: não existe um “membro dos Anonymous”, e sim um ativista que utiliza o nome do coletivo para realizar as suas ações (que pode ou não estar de acordo com as ideologias pessoais de outra célula ou indivíduo). Isso significa que o maior trunfo da iniciativa também se prova sua maior fraqueza pelo ponto de vista prático, visto que é simplesmente impossível apontar qual ação é “oficial” ou não – existem perfis em redes com mais ou menos tempo de existência e que fazem mais ou menos sucesso por conta de seu número de seguidores, mas esses nem sempre são fatores confiáveis para levar em conta a credibilidade de uma célula. Os Anonymous, vale lembrar, surgiram em meados de 2003 nos fóruns estilo “imageboard”, especialmente no famoso 4chan, onde era possível publicar mensagens sem se identificar (com sua assinatura, dessa forma, sendo registrada como Anonymous). Usuários desse tipo de serviço passaram a agir como se Anonymous fosse o mesmo indivíduo e a ideia se popularizou transformando-se em um meme. As primeiras ações registradas como realizadas por Anonymous foram sutis: em 2006, vários membros do 4chan organizaram “pegadinhas” contra a plataforma de interação social Habbo Hotel. Foi só em 2008 que o movimento passou a ser considerado hacktivista, após uma série de
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O maior trunfo da iniciativa também se prova sua maior fraqueza, visto que é simplesmente impossível apontar qual ação é “oficial” ou não ataques públicos contra a Igreja da Cientologia, o que incluiu a interrupção de suas linhas telefônicas, envios massivos de faxes e o lançamento de ataques DDOS contra seu site oficial.
CONTROVÉRSIAS Nos últimos tempos, o movimento foi supostamente responsável por uma série de ataques cibernéticos coordenados, quase sempre em
exemplo, à Ku Klux Klan, divulgando dados de supostos membros da organização supremacista em 2015. Ao mesmo tempo, porém, outra célula
causas como censura na internet e autoritarismo governamental. Lá fora, os Anonymous já demonstraram solidariedade em questões raciais, declarando assim guerra, por
do movimento dirigiu ataques contra o movimento Black Lives Matter. Levando todos esses aspectos em conta, é natural que tal “retorno” dos Anonymous cause confusão e desperte a curiosidade popular.
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No fim das contas, a retomada do uso de tal nome para diversas investidas não marca a volta de um grupo organizado, mas sim da cultura hacktivista como um todo enquanto forma de protesto social ou político. Agora, se cada ato individual de protesto é válido ou não é algo que apenas cada indivíduo, com base em suas ideologias, pode responder.
É POR ESSE TIPO DE AÇÃO QUE O ANONYMOUS É CONHECIDO? A primeira grande operação do Anonymous a ganhar o noticiário foi contra a Igreja da Cientologia, em 2008. O grupo usou ataques DDOS para derrubar alguns sites da organização. Também foram realizados trotes telefônicos e enviadas mensagens de fax para atrapalhar as comunicações da entidade. No ano seguinte, em meio à crise financeira global, o grupo apoiou o movimento da Primavera Árabe e atacou a empresa Sony Entertainment por sua tentativa de impedir o hackeamento de plataformas do PlayStation 3, além de apoiar os protestos Occupy Wall Street. Eles continuaram endossando causas similares e realizaram atos contra o establishment ao redor do mundo, mas sua projeção midiática diminuiu nos últimos anos. A imagem revolucionária e o desejo de combater entidades poderosas, porém, parecem ter apelo nas crises atuais por que passam os EUA e o Brasil.
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Dan Bejar
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Uma partitura de três incógnitas BRUNA CHINELATO Estudante de Design Visual na ESPM e escritora amadora que adora fluxos de consciência e simbolismos nas entrelinhas
SERGIO INGRAVALLE Ilustrador freelance alemão que concentra seu trabalho na combinação de elementos gráficos e digitais para a criação de projetos únicos
É PRECISO ESCREVER sobre algo que urge. Grita pelo peito e dança entre palavras. Cada um sabe o que aflige seus espíritos, especialmente, no ano de 2020, onde jogamos um constante jogo de would you rather. Tem vírus letal pairando pelos ares, confinamento social, queimadas no pantanal e um verdadeiro cenário das pragas do Egito com direito até mesmo de chuva de gafanhotos. Adicionada à equação tão complexa que possui no mínimo, três incógnitas, há a internet, para balançar ainda mais as estruturas do x, y e z. O mundo virtual vem alterando a realidade em escala aterrorizante. Ao começar pelo próprio conceito abstrato da realidade, pois cada um aceita a que lhe é apresentada. Não
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fosse só isso, vivemos em uma era em que o cancelamento de pessoas – sim, eu disse pessoas – não só é facilitado, como incentivado. Uma era onde discursos polarizados e de ódio ganham força, plateia, e quase o Tocantins inteiro de palmas. Onde, os cinzas perdem cada vez mais tonalidades entre o preto e o branco. E, pra quem insiste em viver no cinza, é verdadeiramente assustador. Porém, hoje percebo que o mundo é feito de ciclos. O ciclo da lua, o ciclo menstrual, o ciclo das estações, o ciclo de epidemias… Graças aos relatos históricos, que também são, de certa forma, uma ficção – mas essa reflexão fica pra outro texto – notamos comportamentos que se repetem. Parece tão utópico que até mesmo o Eterno Retorno de Nietzsche começou a fazer sentido. Por fim, a grande real, é que estamos todos apenas seguindo o fluxo enquanto tocamos uma interminável música de violino nessa partitura que é a vida.
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Boca a boca nas eleições será pelas redes
Kritika Roy
Especialistas avaliam influência dos meios digitais num contexto no qual, pela pandemia, eventos não devem ocorrer em espaços físicos por Tatiana Dias
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Após cumprirem um papel determinante nas eleições de 2018, as redes sociais terão, sobretudo no cenário da pandemia, ainda mais importância nos pleitos de âmbito municipal em todo o país este ano. Especialistas avaliaram ao R7 a influência dos meios de comunicação digitais num contexto no qual os comícios e outros eventos oficiais de partidos e candidatos em espaços físicos não devem ter a mesma adesão – sendo ela por parte dos políticos ou dos eleitores –, devido às medidas sanitárias de combate ao novo coronavírus. Cientista política e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Rosemary Segurado observa que, “sem a menor dúvida”, as redes sociais terão função ainda mais definitiva nestas eleições. “Já foram importantes na última eleição. Foi uma eleição paradigmática sob o uso das redes, mas era num contexto sem pandemia.”, aponta a cientista entrevistada. O professor Glauco Peres da Silva, do Departamento de Ciência Política da USP avalia o cenário de forma similar à de Rosemary. “O ‘boca a boca’ será pelas próprias redes. Os grupos de WhatsApp, por exemplo, que faziam as campanhas tomarem outra cara há dois anos, agora parecem ser o recurso principal”, diz. Com a campanha nas ruas – tradicional nas eleições pelo Brasil – podendo ser deixada de lado, o professor considera que os candidatos deverão usar de criatividade para driblar essa distância imposta pela pandemia. Algo que, segundo ele, pode ser bem aproveitado:
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Lino Rodrigues
Agora, só as redes podem fazer o candidato chegar aos eleitores
“A internet facilita a formação de o eleitor se engaje a ponto de espalhar ideias nichos: você não precisa falar para e programas de governo de um determinado todo o público ao mesmo tempo, candidato. “Se é essa a tendência que vai marcar mas pode falar para grupo particu- o processo eleitoral de 2020, tem que explorar lares de eleitores, com mensagens como ampliar a possibilidade do candidato chegar específicas para eles. Saber adequar mais perto do maior número de eleitores”, explica. a mensagem a esses grupos e não A evolução das tecnologias, o surpreendente uma para todo mundo me parece crescimento de internautas e o comportamento ser a chave principalmente para ci- dos eleitores mostraram que o cenário de 2014 dades grandes, onde a divisão do seria diferente. Nas últimas eleições, uma cameleitorado é mais clara”. panha política, de fato, foi realizada nas redes Se sem as campanhas em espaço sociais por candidatos, eleitores e militâncias. físico o alcance dos candidatos aos “Nunca vi tanta gente discutindo política como diferentes perfis de eleitorado di- na timeline do meu Facebook nessa eleição”, minui, Segurado acredita que uma afirma a fisioterapeuta Camila Marques. Deste aposta pode ser uma espécie de modo, certamente, a opinião dela pode ser com‘efeito viral’, fazendo assim com que partilhada por muitas pessoas.
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FAKE NEWS Assunto amplamente debatido nas eleições de 2018 e também posteriormente, as fake news devem vir com maior força em um cenário onde a internet será ainda mais utilizada pelas campanhas políticas. “As redes sociais são potencialmente um espaço importantíssimo para informar sobre o processo eleitoral e outros temas. Mas é importante que se estabeleça mínimos critérios de se checar se essa informação é correta, adequada”, aponta Rosemary Segurado. Glauco Pires acredita que o assunto será amplamente debatido e, desta vez, as redes sociais estarão mais atentas e preocupadas com a veiculação de fake news, chegando inclusive a restringir publicações ou até perfis de candidatos que compartilharem conteúdos falsos. Neste ponto, a professora discorda: “Não estou muito otimista em relação a isso. Não temos o processo eleitoral oficializado, mas nós já temos fake news tentando candidatos ou pré-candidatos ou partidos, buscando atacar os adversários com desinformação. Tendo a achar que será maior”. Ciente de que o compartilhamento de notícias falsas se dá por diversos meios digitais, Rosemary aconselha aos eleitores que, ao “recebermos uma informação, temos que ir num grande meio [de comunicação], pesquisar se está correto, para ter os outros lados do mesmo tema, sem confiar cegamente no que está sendo divulgado”.
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Marco Melgrati
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O CONTROLE por Leandro Karnal
REVOLUCIONÁRIOS antigos, do sé- portando, aprofunda o tema. Inculo 19 e início do 20, acreditavam telectuais comprometidos com um na tomada do poder pela força, com ideal revolucionário deveriam fazer, uso explícito de violência. Teóricos em parte, o que já era feito na socomo Marx e homens de ação como ciedade tradicional. O controle da Lênin pensaram assim. Depois da universidade, da imprensa, do deGrande Guerra, houve mudança na bate com o público ocorreria com o concepção. Sim, o espírito de Lênin objetivo de atingir hegemonia e que ainda podia inspirar movimentos esta levaria a uma transformação armados como o chinês, porém, um do capitalismo para o socialismo. sardo concebeu uma virada. Antônio Influenciados por ideias similares, Gramsci (1891 – 1937) desenvolveu Theodor W. Adorno escreveu sobre o conceito de hegemonia cultural. “Indústria Cultural” e afirmaram: “A O controle de um grupo sobre produção capitalista os mantém tão outro raramente ocorria apenas por bem presos em corpo e alma que coerção e violência. Era necessário eles sucumbem sem resistência ao um consenso de quem era domi- que lhes é oferecido. Assim como nado. Só existiria uma hegemonia se os dominados sempre levaram mais ela pudesse lançar mão de recursos a sério do que os dominadores a culturais que legitimassem o poder. moral que deles recebiam, hoje em Sim, no marxismo clássico existe a dia as massas logradas sucumbem noção de ideologia como aquilo mais facilmente ao mito do sucesso que vela a dominação. Gramsci, do que os bem-sucedidos”.
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O mundo do século 21 é o das redes sociais. Controlar a opinião pública já era importante na Roma Republicana. Hoje, é central em qualquer projeto político. Assim, o pensamento gramsciano foi e é seguido por muitos ativistas culturais de esquerda. O curioso e que já indiquei em crônicas anteriores é que despontam os “gramscianos de direita”. Também, em certo sentido, “intelectuais orgânicos” no sentido de se sentirem incumbidos de uma missão, como seus adversários. A consciência da ação revolucionária implica, para gramscianos destros e sinistros, a ideia de que é mais importante controlar um diretório acadêmico ou um jornal do que armas no sentido literal. Todo “gabinete
de ódio” é uma estratégia na luta pela opinião pública e pela militância de frases, destruição de reputações, deformação de ideias etc. Está fora de moda fazer greves como os caminhoneiros no Chile contra o presidente Allende ou os metalúrgicos de SP contra a ditadura militar. Sim, querida leitora e estimado leitor: há greves e lockouts de direita. Piquetes em porta de fábrica são antigos. Ainda que odiando o nome e o conteúdo, grande parte do sucesso da direita atual veio de uma estratégia gramsciana. Vamos ver um pouco de passado recente. A crítica ao regime militar fez surgir o livro Brasil: Nunca Mais, um chocante relato de torturas a partir de inquéritos militares. O livro tinha capa vermelha. Com o mesmo tipo gráfico só que com capa verde e amarela (Brasil Sempre). Se o meu lado mata e tortura, é algo “justificável”. Se o outro lado mata e tortura, é uma monstruosidade. Pior, quando os dois lados são notórios assassinos, os indivíduos se preocupam então de discutir apenas quem foi que matou mais.
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ESTUPIDEZ ENDÊMICA por Olavo de Carvalho
ALGUMAS IDEIAS espalham-se com grande sucesso não apesar de serem estúpidas, mas precisamente porque o são. A estupidez maciça exerce um poder anestésico e paralisante sobre a inteligência humana, detendo o seu movimento natural e fazendo-a girar em falso em torno de alguma crença idiota por anos, décadas ou séculos, incapaz de livrar-se do seu magnetismo perverso ou de pensar o que quer que seja fora do círculo de ferro da idiotice consagrada. O exemplo mais assombroso é este: é impossível descobrir ou traçar qualquer conexão lógica entre as liberdades civis e a estatização dos meios de produção. São não apenas heterogêneos, mas antagônicos. A candura com que diversos homens adultos falam em “socialismo com liberdade” – isto quando não chegam a acreditar que essas duas
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coisas são a mesma, ou que uma decorre da outra com a naturalidade com que as bananas nascem das bananeiras – é a prova inequívoca de uma deficiência intelectual alarmante, que desde há um século e meio se espalha sem cessar pelas classes cultas, semicultas e incultas com a força avassaladora de uma contaminação viral, sem dar sinais de arrefecer mesmo depois que a experiência histórica comprovou que poderia ser percebido antecipadamente por mera análise lógica. A pergunta é simples e brutal: como é possível que a centralização do poder econômico, expandindo-o automaticamente sobre toda a sociedade e investindo-o da força suplementar do aparelho repressivo do Estado, venha a torná-lo menos opressivo e tirânico do que milhares de poderes econômicos parciais e
limitados, espalhados como farelo, desprovidos do poder de polícia e em perpétua concorrência uns com os outros? Ninguém deveria precisar de mais de alguns segundos para atinar com a resposta óbvia: Não, não pode. Nem se pode negar que os próprios clássicos do “socialismo científico” tenham ajudado a tornar essa resposta ainda mais patente, quando declararam alto e bom som que o que se seguiria ao capitalismo não seria uma democracia e sim a ditadura do proletariado. O que eles não explicaram jamais, nem nenhum de seus seguidores pediu jamais que o fizessem, foi como essa ditadura, uma vez vitoriosa e consolidada, poderia transmutar-se numa democracia exceto pelo método de liquidar-se a si mesma, dissolvendo o monopólio estatal e distribuindo o poder econômico
entre os particulares – outra impossibilidade lógica ilustrada por uma longa e sangrenta experiência histórica que um pouco de inteligência tornaria perfeitamente dispensável. Em suma, a fé nas virtudes libertárias do socialismo é sinal de uma deficiência cognitiva grave, que se espalha como praga e se arraiga no fundo dos cérebros por virtude da própria estupidez originária que a produz e determina. Mas, como uma vez aprisionado na idiotice o cérebro humano nada consegue conceber fora dela ou sem referência a ela, o sucesso propagandístico da ideia socialista trouxe consigo uma multidão de cretinices derivadas e secundárias, cujo poder de persuasão não se rende nem mesmo ante a evidência dos fatos. Uma delas é a crença, hoje um dogma de evangelho, de que a educação universal obrigatória tem o poder de aplanar as diferenças socioeconômicas. Pois deveria ser lógico e intuitivo que, se a exigência de credenciais escolares se impõe até nas profissões mais simples e modestas, credenciais mais altas e difíceis de obter se espalharão de maneira concomitante e automática.
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o treco certo 1984 George Orwell Aclamada distopia que se passa em um país controlado por um regime totalitário. Nela, um homem vai se rebelar contra o sistema – mas cada ação e até cada pensamento dele está sendo vigiado pelo Big Brother. R$ 25,90 • Cia das Letras • ano 2019 • Disponível no Submarino
O PROCESSO Franz Kafka Uma crítica à burocracia, o livro conta a angustiante história de um homem preso e julgado por um crime que desconhece, e que por este motivo, não é incapaz de se defender e provar sua inocência. R$ 22,90 • Cia de Bolso • ano 2005 • Disponível no Submarino
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ODIADOS PELA NAÇÃO Charlie Brooker Episódio da série de ficção, Black Mirror, em que duas detetives investigam uma série de assassinatos relacionados à um escândalo nas mídias sociais. Elas fazem uma descoberta assustadora que dá uma pista inquietante sobre o caso. Estados Unidos • 2016 • 89 min • Disponível na Netflix
O DILEMA DAS REDES Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis Um docudrama estado-unidense dirigido por Jeff Orlowski. O filme é composto por relatos dos criadores de softwares e algoritimos das grandes redes de hoje em dia. Ele analisa oo papel das redes sociais e os danos que elas causam à sociedade, aos indivíduos e à democracia. Estados Unidos • 2020 • 89 min • Disponível na Netflix
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o treco certo NOVO NORMAL Agora É Que São Elas, Rádio Novelo Podcast, no qual todas as semanas, mulheres de diferentes pontos do espectro político conversam sobre termas quentes do Brasil e do mundo, a partir de diálogos, dissensos respeitosos e consensos produtivos. Brasil • 2019 • Disponível no Spotify
BRAINCAST Carlos Merigo Podcast que debate a intersecção entre criatividade, tecnologia, cultura digital, inovação e negócios. Braincast é o seu posto avançado no chamado futuro. Brasil • 2005 • Disponível no Spotify, Apple Podcasts, B9 e Radio Net
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AUTO DA BARCA DO INFERNO Cia Império Teatral Peça teatral releitura da obra literária de Gil Vincente, uma complexa alegoria dramática representada pela primeira vez em 1517. É a primeira parte da chamada trilogia das Barcas. Os especialistas classificam-na como moralidade, mesmo que muitas vezes se aproxime da farsa. São Paulo, Brasil • R$ 22,00 • 20h • Auditório Maristela de Oliveira
A MORATÓRIA Jorge Andrade Peça teatral brasileira, escrita no contexto da transição entre a República Velha e a Era Vargas. A obra relata a história de uma família de cafeicultores dos anos 20 que perdera a fazenda devido à crise de 1929 e a nova ordem imposta po Vargas nos anos de 1930. São Paulo, Brasil • R$ 20,00 • 19h • Teatro Maria Della Costa
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