Jan/2020 nยบ1 R$ 25,00
tecnologia_linguagem_arte
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ctrl+alt+del Neste mundo tão complexo no qual vivemos, por onde anda a arte? Que caminhos ela pode trilhar? Como o habitante destes mundos novos se relaciona com ela e o que produz? Se antes nos perguntávamos, até futilmente, se fotografia e cinema eram arte, o que dizer então dos mundos virtuais, jogos eletrônicos e realidades aumentadas? Diante disso, a ASI.MOV será uma curadora de arte atual no universo da computação, dos meios digitais e da tecnologia, e também uma iniciadora de discussões sobre linguagem artística produzida dentro e através desse universo. A revista filtra a grande massa de informações e entregar ao seu leitor matérias e seções muito mais saborosas e didáticas em relação ao que o leitor encontraria por conta própria, atuando como guia e debatendo junto aos leitores o que tem acontecido na arte em termos de produção de linguagem, em virtude das novas tecnologias e meios, mantendo-o não somente atualizado como também capacitado a produzir e discutir essas tendências.
Escola Superior de Propaganda e Marketing Graduação em Design Turma DSG 3A • 2020.1 Projeto III (Cultura e Informação) • Marise de Chirico Comunicação e Linguagem II • Celso Cruz Marketing II • Guilherme Umeda Módulo Cor e Percepção • Paula Csillag Produção Gráfica • Mara Martha Projeto Editorial e Gráfico: Artur Merino Loes Caio Eduardo G. Costa Catarina Moura Luíza P. C. Soares
Nesta edição você encontrará muito o que fazer nessa quarentena com as seções Hashtag, se questionará sobre o futuro das artes na matéria do eixo JPG, aprenderá como O Cortiço se mistura com o Instagram na seção File do eixo PDF e se inspirará por Isaac Asimov depois de ler a matéria do eixo PDF.
Luíza Soares
Artur Loes Caio Eduardo
Catarina Moura
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Colaboradores Gustavo Audi
Tati Bernardi <Consagrou-se com seu site, onde a maior parte do público são mulheres. É também é colunista e cronista de revistas, blogueira e redatora da TV Globo.>
<Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Cibercultura e Games Studies, com ênfase interface, narrativa e imersão.>
Natasha Karavay <Designer de interiores, criando espaços públicos e privados de sketch para realidade. Interessada em minimalismo e sustentabilidade.>
Paulo Roberto Pires <É jornalista e professor da Escola de Comunicação da UFRJ. Tornou-se editor de livros - inicialmente na editora Planeta e, posteriormente, na Ediouro e na Agir.>
Gabriela Rassy <Jornalista enraizada na cultura, caçadora de arte e badalação nas capitais desse Brasil, entusiasta da cena noturna e fervida por natureza.>
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12 File Ocupação: tecnologia e artes plásticas 14 Host Felipe Pantone 16 Software Desenho de observação e IA 26 Hashtag 28 Download
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38 O que esperar dos interiores do futuro
Futuro das artes: o que mudará nos próximos 30 File 20 anos? Tendências de cores 2020 32 Host Yuri Suzuki 34 Software Tecnologia e o impacto nas profissões de design 46 Pop-up 48 Download
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Klarens Malluta
86 File Travis Scott e Fortnite 88 Host Owen Dennis: Trem infinito
74 Qual a nossa relação com a música na era digital
66 File Future Nostalgia 68 Host Rebeca de Moraes: robotização humanizada 70 Software Música 8D 82 Hashtag 84 Download
90 Backup Blade Runner (1982)
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102 Hashtag 104 Download
Inteligência articificial, algoritmos e o passado do futuro do cinema
100 anos de Isaac Asimov e seu legado para a era tecnológica
106 File O Cortiço no Instagram 108 Backup Por que Duna é tão importante para a literatura? 120 Upload Alunos criam programa de rádio 122 Hashtag 124 Download 128 Cookies
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Ocupação reúne música, tecnologia e artes plásticas Em cartaz na Cidade Universitária de 1º a 26 de abril, “Sons de Silício” desafia os limites da sonoridade
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[ desta segunda-feira, dia 1º, até 26 de abril, o Espaço das Artes da Escola de Comunicação e Artes (eca) da usp recebe a ocupação Sons de Silício. A exposição traz cerca de 20 instalações que exploram os limites do que é reconhecido como som, estimulando efeitos inusitados através do uso da tecnologia. Ela é coordenada pelo Grupo de Práticas público por ônibus na capital paulista Interativas (gpi) do Núcleo de Pesquisas – e em parceria com o projeto Interscity, em Sonologia, sediado no Departamen- que desenvolve pesquisas sobre cidades to de Música da eca. inteligentes. As parcerias, inclusive, foram um fator A Ocupação importante para o desenvolvimento de O musicista Júlian Jaramillo, um dos Sons de Silício, já que uma das proposcuradores da mostra, explica que to- tas também é cruzar a sonologia com das as obras expostas são objetos que diferentes áreas de conhecimento. Por produzem ou “escutam” sons, criando isso, algumas obras tiveram ajuda de novos dispositivos a partir dessas pos- colaboradores da Faculdade de Arquisibilidades de interação. “Além disso, tetura e Urbanismo (fau), do Instituto também há obras que são espécies de de Matemática e Estatística (ime), da sistemas, que transformam outros da- Escola Politécnica e até de ex-alunos e pessoas que não são ligadas à usp. dos em som”, completa. Para Jaramillo, que além de curador Um exemplo deste último caso é a instalação Buzu (2019), de autoria da ocupação é pós-doutorando do Dedo próprio Júlian Jaramillo, com Este- partamento de Música da eca, a exposiban Viveros e Fernando Iazzetta. Nela, ção também é importante justamente informações a respeito do sistema de por ser uma forma de ilustrar ao público ônibus de São Paulo são transforma- parte da produção científica da Univerdas em áudio, convidando o visitante sidade. “São obras de um artista, mas a usar a audição para entender como também o resultado de pesquisas em funciona esse importante componente andamento, por vezes financiadas com da vida urbana. A obra foi feita usando dinheiro público”, diz ele. “As pessoas se dados públicos da sp Trans – a autarquia perguntam: ‘O que fazem as pessoas na responsável pela gestão do transporte usp?’ e, se tentam ler um artigo científico, não conseguem compreender. A exposição busca também dar resposta a esse questionamento social.”]
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Felipe Pantone inaugura mural futurista nos Estados Unidos Com temas contemporâneos, o artista argentino/espanhol exibe seu trabalho no estado de Nova Iorque
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[o artista Felipe Pantone acaba de inaugurar um mural na cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque (eua). Conhecido por ser uma das estrelas do street-art contemporâneo e pelo estilo futurista, o seu trabalho dialoga com os tempos atuais e discute temas como transformação, dinamismo e hiperconexão.
A obra A obra, chamada de optichromie – buf, cobre a fachada de uma casa de shows e combina padrões geométricos em preto e branco com retângulos em diferentes gradientes, além de recriar uma espécie de arco-íris pixelado. É como se a pintura na parede tivesse digitalizado o local. Felipe Pantone adota o processo tecnológico necessário para desenvolver seus projetos, enxergando isso como parte de uma comunidade maior de inovação do fazer de imagens. Ele usa programas de modelagem para permitir que ele coloque seus projetos 3D. A iniciativa de leva-lo para o estado de Nova Iorque foi da Albright-Knox Art Gallery, que tem como objetivo incentivar as comunidades a interagir com a arte contemporânea, promovendo uma discussão sobre a cultura da região.
Quem é Felipe Pantone Auto didata, Felipe Pantone vem criando desde os 12 anos de idade. As obras geométricas remetem a softwares de modelagem e à estética 3D, além de fazerem referência a criações dos anos 1980 e 1990. As peças, em tamanhos grandes, brincam com cores e texturas, gerando ilusões de ótica – revelando a paixão de Pantone pela era da internet e pela alteração na percepção do tempo e do espaço. Ele recebe inspiração de outros artistas cinéticos, como Victor Vasarely e Carlos Cruz-diez, usando um efeito moiré similar, no qual as linhas causam a impressão de movimento. O artista argentino-espanhol trata esse, e outros estilos fortes de design gráfico, como elementos reconfiguráveis, que podem ser usados para criar murais, esculturas e pinturas.]
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Artista ensina Inteligência Artificial a gerar desenho de observação Programa desenvolvido por artista da eca simula desenho de observação através de imagens de câmera digital
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[ em pesquisa realizada na Escola de Comunicações e Artes (eca) da usp, o artista plástico Sergio Venancio desenvolveu um software de inteligência artificial chamado Extentio, que simula o processo de desenho de observação através de imagens geradas por câmeras digitais. Uma das inspirações para a criação do software veio do artista britânico Harold Cohen, que desenvolveu um robô capaz de desenhar e pintar na década de 1970. Cohen serviu de base para os estudos de Venancio. O Extentio começou a ser desenvolvido antes de Venancio ingressar no mestrado e, com o tempo, transformou-se em um tipo de simulador de desenho de observação. Foram incorporados conceitos ao estudo como o de Visão Computacional, área da inteligência artificial que treina computadores para interpretar e entender o mundo visual, e Machine Learning (Aprendizado de Máquina). O programa utiliza uma câmera treinada, através de algoritmos, para reconhecer determinados elementos, como o rosto de uma pessoa. “Quando as imagens são captadas, enquadradas e redimensionalizadas, o software, que traça apenas linhas, começa a desenhar usando-as como base. É uma simulação de desenho de análise, porque a análise e o desenho são feitos simultaneamente”, explica.
A reprodução de um desenho a partir de papel vegetal colocado sob uma fotografia é uma analogia que consegue esclarecer o funcionamento do Extentio. A máquina não reproduz exatamente a imagem captada pela câmera. Por exemplo, se o rosto que será desenhado tiver óculos e sobrancelhas da mesma cor, o programa pode produzir rabiscos pretos em torno dessa região que apresenta as mesmas cores. “Acabam saindo figuras um pouco longe da foto referencial. Por se tratar de um software de inteligência artificial é possível gerar formas improváveis e diversos outros estilos”, explica o artista. Quando questionado sobre a relação entre inteligência artificial e arte, Venancio diz que essa tecnologia não toma o lugar do artista, mas é uma ferramenta interessante para o processo criativo.
Exposição Pós-Gráfica As obras geradas pelo software desenvolvido por Venancio podem ser vistas na Exposição Pós-Gráfica, que reúne trabalhos de sete artistas que estudam poéticas visuais na eca e fazem parte do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais. O que une todas as produções é a utilização de processos diferentes de impressão, como gravura, fotografia e desenhos, por exemplo.]
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Futuro das artes: o que mudará nos próximos 20 anos? O futuro pode ser incerto, mas algumas coisas são incontestáveis: as mudanças climáticas e demográficas e a geopolítica. por Devon Van Houten Maldonado
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vale a pena, então, considerar como os artistas responderão a essas mudanças, assim como pensar a que propósito servem as artes plásticas, agora e no futuro. Relatos sugerem que, no ano de 2040, será impossível escapar dos impactos das mudanças climáticas provocadas pelo ser Um mundo das artes humano, o que faz dessa a maior questão mais inclusivo? no centro da arte e da vida nos próximos “Eu imagino que a arte daqui a 20 anos 20 anos. No futuro, artistas terão de lidar será muito mais fluida do que hoje”, diz com as possibilidades do pós-humano e a curadora Jeffreen Hayes à bbc Culture, pós-antropoceno – inteligência artificial, “no sentido de fronteiras entre mídias, colônias humanas no espaço e uma potencial grande entre os tipos de arte que são rotuladas catástrofe humanitária. como arte no sentido tradicional. Eu As políticas de identidade vistas nas artes plásticas também vejo a arte sendo muito mais em torno dos movimentos #MeToo (mulheres) e Black representativa da nossa demografia em Lives Matter (negros) crescerão, enquanto ambienta- crescimento e transição, com mais artislismo, políticas de fronteiras e migração estarão ainda tas de minorias étnicas, mais trabalhos mais em foco. identificados com mulheres e tudo que A arte se tornará cada vez mais diversificada e pode aparece no meio disso”. nem mais “parecer arte” do jeito que nós hoje a imaA exposição AfriCOBRA: Nation Time, ginamos. No futuro, quando estivermos atentos ao de Hayes, foi recentemente selecionafato de que nossas vidas terão se tornado visíveis na da como um evento paralelo oficial da internet para qualquer um e nossa privacidade tiver Bienal de Veneza de 2019, realizada em sido praticamente perdida, o anonimato poderá ser maio, levando a um público internaciomais desejável que a fama. nal o trabalho de um grupo de artistas Em vez de querer milhares, ou milhões, de likes e negros que trabalhavam na região sul seguidores, nós estaremos sedentos por autenticidade de Chicago, nos anos 1960. e conexão. A arte poderá, então, se tornar algo mais “Tenho esperanças de que em 20 anos, coletivo e experimental, em vez de individual. com todas as mudanças esperadas e com os artistas ajudando a liderar esse processo, as instituições comecem a ser não apenas determinadas, mas também mais preocupadas com as diferentes formas em que a arte pode ser apresentada, o que vai exigir equipes mais inclusivas, não apenas curadores, mas também líderes”, diz ela.
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A mudança antecipada por Hayes e Dieng não se traduz na nova emergência das artes plásticas negra, latina, lgbt, alternativa, feminista e outras, já que esses movimentos têm longas histórias próprias. Apenas significa que elas serão abraçadas ainda mais pelos mercados e instituições, que se tornarão eles mesmos mais diversos e informados por histórias de fora do cânone dominante, eurocêntrico e ocidental. O curador e artista senegalês Modou Dieng disse à bbc Culture que “o futuro da arte é negro”. Hoje, a arte africana, afro-americana, afro-europeia e afro-latina é uma tendência global, marcada por uma abertura a artistas da diáspora africana que trabalham com discursos além do corpo negro e do colonialismo. A abstração, curadoria e apresentação negra estão todas no centro das atenções. Ao crescer num Senegal recém-independente procurando por uma identidade enquanto povo, “nós vimos a migração como uma solução, não como o problema”, diz Dieng, cujos trabalhos estão incluídos na coleção permanente do Departamento dos Estados Unidos da América.
Ativismo e choque Campanhas de arte-ativismo são indicativas de tendências de mudança. O grupo de artistas e ativistas Decolonize This Place (Descolonize Este Lugar, em tradução livre), que se descreve como um “movimento orientado na ação e centrado em torno da luta de povos indígenas, libertação negra, a libertação da Palestina, assalariados globais e deselitização”, organizou protestos dentro do Museu de Arte Whitney, em Nova York, contra o vice-presidente Warren B. Kanders, dono de uma empresa que fabrica gás lacrimogêneo usado contra pessoas oprimidas em várias partes do mundo. Os artistas-ativistas do Decolonize This Place não são os primeiros da história a trabalhar pela ruptura. Já durante a Primeira Guerra Mundial, um grupo de artistas que se chamavam de Dada começaram a encenar intervenções experimentais de ruptura, como um protesto contra a violência sem sentido da guerra. O Dada foi considerado um movimento de vanguarda mais radical no início do século 20, seguido pelos artistas Fluxus nos anos 1960, que de forma parecida buscavam empregar choque e falta de sentido para mudar percepções artísticas e sociais
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Eu espero que a arte continue a ser um espaço para inovação formal, O legado desses movimentos performáexperimentação ticos continuou em trabalhos de artistas radical e ausência como Paul McCarthy e Robert Mapplethorpe. “O choque funciona como parte da tentade leis” tiva dos movimentos de mudar a sociedade”, escreve Dorothée Brill em O Choque e o Sem Sentido em Dada e Fluxus.” Essa empreitada é mostrada como algo ligado à rejeição, pelos artistas, da ideia de que produção artística precisa fazer sentido e ter um significado.” “Eu espero que a arte continue a ser um espaço para inovação formal, experimentação radical e ausência de leis”, diz o curador Chris Sharp, “para que continue a evitar a instrumentalização do capitalismo, da política e da ideologia, criando um espaço para um pensamento que não seja nem certo nem errado, mas um pensamento que não possa ser nem qualificado nem quantificado”. Quando conversamos, Sharp estava em Milão, na Itália, para uma feira de arte com sua galeria da Cidade do México antes de viajar para Veneza,. Aqueles que acreditam na ideia de “arte por si só” podem dizer que a arte como uma força não-quantificável precisa manter-se fora de normas sociais ou ideológicas ou correrá o risco de se tornar uma outra coisa. Alguns especialistas argumentam que é um terreno escorregadio quando a arte começa a se inclinar na direção do ativismo, porque o objetivo simplesmente não é esse - embora o curador também diga que é impossível que a arte seja apolítica.
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Protesto de ativistas do Decolonize This Place no museu Whitney, em NY
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Esse é um ponto de vista comprometido com a ideia da arte como uma força por si só, um processo de experimentação radical que resulta num trabalho artístico, um entre muitos numa linha de investigação, não um meio para ilustrar um fim ou impregnar um objeto com significado. Nenhuma conclusão deveria ser tirada sobre arte, no presente ou no futuro, porque é uma força contra o universalismo, que deve ser interrompido pelos artistas, como se dissessem ao mundo “acordem!”.
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O quadro Past Times (1997), de Kerry James Marshall, foi vendido por US$21,1 milhões, um recorde para um artista afro-americano vivo
A pintura (não) está morta Daqui a duas décadas, fará 200 anos desde que Paul Delaroche exclamou “a pintura está morta”, e há argumentos razoáveis a favor da ideia de que esse meio perdeu relevância como uma ferramenta de vanguarda. A ideia original de Delaroche foi repetida e reciclada infinitamente, enquanto novos meios ganharam espaço de destaque, mas a pintura não deverá desaparecer. As vendas de pinturas ainda são a maior força das casas de leilão, feiras de arte e galerias, dominando todas as vendas com maior valor. Pinturas modernas produzidas no século 20 continuam a se manter firmes como os trabalhos artísticos mais desejáveis mercado. Nove entre dez das pinturas mais caras vendidas até hoje foram produzidas entre 1892 e 1955, a única
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exceção sendo um Leonardo da Vinci descoberto recentemente, datado entre 1490 e 1519, que foi comprado num leilão por extraordinários us$450,30 milhões, o que fez dele o trabalho artístico mais caro já vendido. Todas as pinturas e obras na lista foram produzidas por homens hetéros brancos, entretanto - algo que não oferece um quadro de muita esperança e positividade em termos de igualdade para esse universo.
Em 20 anos, o mercado poderá não ser muito diferente do que é hoje – dominado pela pintura moderna – , mas talvez trabalhos da segunda metade do século 20, incluindo feitos por mulheres e artistas de minorias, comecem a adquirir mais valor. Em 2017, uma pintura de Jean-Michel Basquiat, Untitled (1984), estabeleceu um novo recorde como o trabalho artístico contemporâneo mais caro, vendido num leilão por us$110,40 milhões. No ano passado, o mercado para África e diáspora africana também estabeleceu novos recordes, com Kerry James Marshall alcançando impressionantes us$21,10 milhões por sua pintura Past Times (1997), uma marca inédita para um artista afro-americano vivo.
Multifuturismo Maite Borjabad, curadora de arquitetura e design Instituto de Arte de Chicago, diz que nós deveríamos estar “prontos para coisas que você não pode antecipar acontecerem”. Em outras palavras, nós não podemos esperar que vamos prever um futuro, mas sim nos preparar para muitos futuros. Um museu não é apenas um lugar para coisas existirem, mas uma plataforma para outras vozes serem ouvidas. De acordo, então, com Borjabad, o curador é um mediador.
Por meio de encomendas, por exemplo, o museu não é apenas um lugar para exibir arte, mas também um “incubador de ideias” por produzir trabalhos. “Eu acho que o futuro é plural, não é um futuro único”, diz ela à bbc Culture. “Instituições culturais e coleções são altamente políticas e perpetuaram e consolidaram um entendimento bastante dogmático da história”, afirma. “É por isso que coleções como a do Instituto de Arte são o material perfeito para nos ajudar a reescrever histórias, no plural, em vez de apenas uma história.” No ano de 2040, a arte poderá não parecer arte (ao menos que seja um quadro), mas será parecida com todo o resto, refletindo espíritos de época tão multitudinários e diversos quanto os próprios artistas. Haverá artistas-ativistas liderando alguma convulsão política; haverá experimentadores formais explorando novos meios e espaços (até mesmo no espaço sideral), e haverá mercados fortes na América Latina, na Ásia e na África. Então, no mundo da cultura pelo menos, o Ocidente poderá se ver tendo que correr atrás dos outros.}
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Exposições virtuais que promovem a arte para todos
OFICINA TROPICAL FRANCISCO VIDAL Oficina Tropical é uma recriação expográfica que reúne pintura, desenho sobre papel, tela ou composições de catanas e intervenções utópicoinstalativas, numa proposta artística carregada de jazz e espiritualidade.
SANDRA CINTO: DAS IDEIAS NA CABEÇA AOS OLHOS NO CÉU Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
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Zet Gallery Facebook, Instagram e Youtube
O visitante pode escolher para qual eixo da exposição pretende olhar enquanto a artista comenta o processo de construção e a seleção da curadoria. Sandra fala também sobre a importância da educação em sua obra e descreve o espaço como um ambiente amoroso.
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Björk Digital é uma viagem psicodélica emocional pela música da artista Mistura entre música e realidade virtual, a mostra é uma viagem pelo universo da excêntrica artista finlandesa por Gabriela Rassy e ilustração Isaac
Logo na entrada, um texto de Björk nos dá as boas vindas explicando seu processo criativo e a importância tanto da ordem das faixas, quanto do formato em realidade aumentada para Vulnicura, seu nono trabalho. A exposição está dividida em três partes. Na primeira, cada grupo de visitantes entra em salas com bancos e óculos de realidade virtual para assistir sentados aos clipes. O primeiro deles é Stonemilkes, com apenas uma paisagem de praia e a atuação de Björk se movendo entre as cenas. Uma versão em 360º–mas mesmo com as mesmas imagens, com os óculos você se sente de fato ali.
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Já na terceira sala, dois vídeos são rodados na sequência. O primeiro é uma viagem de cores e muita psicodelia com a música Quicksand. O segundo –e meu favorito até então–vinha com o surreal Mouth Mantra, que Björk fez quando precisou de uma cirurgia na garganta. Os dois chegam a dar uma pequena vertigem, então se segure no banquinho e aproveite a viagem. A experiência interativa segue para uma sala com mais dois vídeos em sequência, agora de pé. Para Family, entramos equipadas com controles remotos que, com os óculos de rv se transformam em mãos. Apertando os botões, os controles tremem. Já sem os controles, em Norget uma Björk gigante dança rodeada de luzes e chega a atravessar seu corpo. Uma doidera só!
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As tendências de cores de 2020 em design e tecnologia Como 2020 marca o início da nova década, quais serão as tendências de cores para este ano, e qual é a ciência por trás dessas escolhas? 30 asi.mov
[um novo ano já está chegando, e isso
Nos últimos anos vimos uma ascensão de cores vivas e explosivas, sobretudo roxo, pink e cores neon, muito presentes em ícones e interfaces de aplicativos. Um dos motivos para essa onda pode ser explicado pela alta competitividade do mercado: em um mundo abarrotado de informações tecnológicas, captar a atenção do usuário em uma fração de segundo pode ser uma estratégia vital. As cores vibrantes são percebidas muito mais rapidamente do que as neutras, e esse fator ajuda designers a comunicar suas mensagens de produto com mais agilidade e eficiência. Além disso, as cores elétricas também passam sensações futuristas aos clientes, dando a ideia de que as marcas são modernas, conectadas e atuais.
As três pesquisas foram unânimes em afirmar que a cor de 2020 será o verde. As pautas do momento são as ambientais, e devem influenciar as marcas do próximo ano, com todas as tonalidades da cor presentes na natureza. O excesso de tecnologia tem nos sobrecarregado e nos deixado mais estressados, logo, os tons naturais devem surgir para trazer, também, um pouco de alívio e sintonia com a vida real Os azuis claros também estarão presentes pelo mesmo motivo. A Coloro aponta que o principal verde do ano será o Neo-Mint, ou o verde pastel (como na página ao lado), que tomará o lugar do Millennial Pink (aquele dos cases de iPhone), mantendo a popularidade dos tons suaves, mas os direcionando à pegada eco-friendly. Da mesma forma, outras cores que remetem à natureza deverão aparecer em peso, como o laranja, mostarda, marrom e ameixa. Dentro das cores elétricas, o roxo e o rosa deverão dar espaço para os aquáticos turquesa neon e verde-água.
Afirmação da natureza
Escala Pantone
significa que as empresas estão focadas nas próximas tendências de cores que vão marcar (principalmente) as áreas de design, marketing, decoração e moda.
Explosão neon
O blog da Canva – uma plataforma on- Em setembro de 2019, a Pantone – line de design – publicou uma pesquisa maior autoridade mundial em cores com grandes designers dos eua sobre – lançou a sua tabela de previsões com suas previsões de futuro para as cores foco no mundo da moda. dominantes de 2020. Seus apontamentos seguem uma curva A marca de tintas Dunn-Edwards um pouco diferente, mas nem tanto: as Paints também lançou seu relatório cores para a primavera e verão de Nova de previsões, assim como a Coloro – Iorque serão aquelas que expressam instituto que decodifica as cores visíveis sentimentos de aconchego familiar, amiao olho humano e as sistematiza em zade e relações próximas, como laranjas, esquemas lógicos. amarelos, vermelhos e azuis.]
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Conheça o curioso novo parceiro da Pentagram O sound designer Yuri Suzuki se juntou a um dos maiores estúdios de design do mundo em uma aliança inusitada, mas promissora 32 asi.mov
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sound designer e também artista Yuri Suzuki se juntou ao estúdio Pentagram como seu vigésimo quarto parceiro, impulsionando a proeminente empresa para além do design gráfico tradicional. Ele tem trabalhado, junto com outros parceiros, em projetos de branding e outros, além de continuar com sua carreira pessoal.
Carreira de sucesso Suzuki fundou seu estúdio de design homônimo em 2010, onde, além de trabalhar com projetos artísticos, prestou serviços para grandes empresas como Audi, Google, Swarovski e Disney Research para criar experiências e instalações sonoras. Ele já apresentou projetos no Victoria and Albert Museum, no Museu de Design de Londres e na Tate Britain, todos na capital inglesa. Seu instrumento musical DIY, o Ototo, que permite ao usuário tocar música com qualquer objeto que conduz eletricidade, se encontra agora na coleção permanente do MoMA. Além disso, o designer é parte da comunidade Most Creative People da Fast Company.
Motivos da contratação “Nós vemos Yuri como um inventor e designer puro”, conta a designer e parceira da Pentagram Paula Scher, que ajudou na escolha por Yuri. “ Seu trabalho é tanto sobre ideias como sobre música, e do mesmo modo o resultado pode ser visualmente instigante”. Ainda assim, Suzuki é uma escolha inusitada para um estúdio de design
gráfico. “Fiquei um tanto surpreso no começo quando a Pentagram me convidou para me tornar um parceiro”, diz o sound designer, “Mas a Pentagram deseja explorar o campo do design de sons e de interação. De certa forma, acredito sermos a combinação perfeita”. De acordo com o parceiro da Pentagram e designer industrial Jon Marshall, a associação com Suzuki faz parte da reação do estúdio a um cenário de design em mudança. “O que acredito que esteja acontecendo é que clientes tem pedido por projetos que são experiências completas”, diz ele. “Os clientes têm demandas que não se encaixam perfeitamente em identidades visuais, produtos ou exibições”. As habilidades de Suzuki trarão um novo elemento para a prática de design na Pentagram. “Eu penso que ele, por si só, é muito mais multidisciplinar do que qualquer outro dos parceiros, e de forma crucial nos adiciona a arte e o som como dimensões a mais”, completa Marshall.
Resultados recentes Um dos projetos mais recentes resultantes da parceria com Suzuki são as chamadas Pentagram Fives, playlists de cinco trilhas sonoras inspiradoras escolhidas por ele em resposta a composições visuais criadas pela designer Sasha Lobe, parceira da Pentagram. As playlists, cujas capas são as criações de Lobe, estão disponíveis no Spotify e surgiram como forma de inspirar a equipe do estúdio que está trabalhando de casa em razão da epidemia de Covid-19.]
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Como a tecnologia impactou as profissĂľes ligadas ao design? ExperiĂŞncias de consumo automatizadas, entregas humanizadas: a tecnologia no design e nas artes 34 asi.mov
[a tecnologia fez com que os nossos smartphones e computadores se transformassem em ferramenta de estudos, leitura e aprimoramento profissional. O mercado das artes já se adapta às novas plataformas, onde é possível consumir conteúdo e produtos em tempo real, numa relação cada vez mais estreita entre quem produz e quem compra. “O que se percebe no mercado é que o acesso exponencial à informação trouxe para essas áreas o contato cada vez maior com o público”, analisa Aguilar Selhorst, professor de Design Estratégico e Design de Serviços nos cursos de pós-graduação da pucpr. Nesse cenário, há um contraponto valioso para os negócios: a tecnologia que facilita processos e estimula a criatividade, passou a demandar experiências de consumo mais humanizadas. “Damos grande importância para entrega de conhecimento técnico, como deveria ser. Entretanto, também devemos considerar outras competências muito importantes que passam por soft skills e compreensão de negócios na economia criatival”, destaca Aguillar
Tecnologia e humanização em alta Diante disso, fica mais fácil compreender por que as profissões ligadas à experiência do consumidor e tecnologia, como UX designer e especialista em sucesso do cliente, estão entre as mais promissoras para 2020. O design agora faz parte de segmentos que vão além da própria arte – os conceitos são utilizados para desenhar modelos de negócios, serviços
e até relações entre marcas e consumidores. “Administrar em tempo real isso tudo é praticamente impossível sem as tecnologias de informação, da comunicação, do desenho e da produção. Um exemplo claro disso são as impressoras 3D, que materializam, em menos de um dia, projetos que levariam semanas para serem testados”, exemplifica o professor. Quem ainda não se preparou para tantas mudanças ainda tem tempo de se especializar e fazer parte desse mercado de trabalho. Cursos de Arquitetura sustentável, Projeto de arquitetura, Planejamento e desenho de cidades, por exemplo, podem contar com disciplinas integradas às especializações em Coolhunting, Design de Interiores, Design de serviços, Design estratégico e Gestão de desenvolvimento e design de produtos inteligentes e conectados.
Por que ser um especialista? O grande volume de dados gerados pela tecnologia trouxe um novo olhar sobre a resolução de problemas: não há mais um caminho único e a abordagem sobre cada assunto se tornou multidisciplinar. Cada projeto é desenvolvido e ajustado com base em experiências e dados atualizados a todo tempo. Pensando nisso, algumas universidades tem ofertado cursos ligados à tecnologia e às novas mudanças no mercado de trabalho, como Comunicação digital e e-branding, Produção em cinema e mercado audiovisual, Direção de arte e handmade, Jornalismo 4.0 e História da arte e curadoria.]
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Os interiores do futuro O que esperar do design de interiores em um mundo com uma necessidade crescente por espaço, eficiência e natureza por Lilly Cao e ilustrações por Natasha Karavay
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Em 2018, a onu divulgou um artigo afirmando que 55% da população mundial já vivia em áreas urbanas, prevendo que em 2050 esse percentual chegará a 68%. Essa tendência à maior urbanização traz consigo várias implicações em relação à degradação ambiental e à desigualdade social. De acordo com a National Geographic, o crescimento urbano aumenta a poluição do ar, põe em perigo as populações de animais, promove a pois as cidades maiores geralmente demonstram taxas perda de cobertura urbana de mais altas de desigualdade econômica e o crescimento árvores e aumenta a probabili- descontrolado tende a produzir distribuições desiguais dade de catástrofes ambientais, de espaço, serviços e oportunidades. Para mitigar esses efeitos negativos da urbanização, como inundações repentinas. Esses riscos à saúde e fenôme- arquitetos vêm priorizando cada vez mais a sustentabilidade e a maximização do espaço disponível – pernos catastróficos podem ter mitindo que mais pessoas ocupem menos espaço com maior probabilidade de afetar uma área menor. as populações mais pobres, Com um interesse crescente em sustentabilidade, é provável que os interiores do futuro utilizem novas tecnologias e métodos mais inteligentes para minimizar o uso de energia e reduzir as emissões. Uma das maneiras mais significativas de ocorrer essa transformação é através do uso de materiais com baixo consumo de energia, passando de materiais de alta energia, como cimento, vidro, tijolo e aço, para alternativas como pedra, taipa, blocos de concreto e madeira.
Selva sem ser de pedra Com a indústria de cimento, por exemplo, sendo listada pela eia em 2013 como a indústria de manufatura com maior consumo de energia, uma menor dependência desse
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Colagens como está são uma maneira criativa e instigante de pensar em design de interiores
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material nas cidades de todo o mundo constituiria um passo importante na direção de uma vida urbana mais sustentável. Os interiores domésticos e profissionais do futuro podem, portanto, envolver mais interiores terrosos ou de madeira, em oposição aos cinzas frios e destacados dos modernos espaços de aço, concreto e vidro. Uma consideração importante nessa mudança é necessariamente a questão da localização, pois o transporte de materiais pesados pode contribuir muito para a energia incorporada e os custos gerais. Evitando as reivindicações universais de muitos movimentos da arquitetura moderna, podemos prever que interiores futuros se desenvolverão a partir de localidades, em conformidade com climas e paisagens particulares para reduzir passivamente o uso de energia e as emissões. Essa transformação não apenas ocorrerá utilizando materiais locais e eliminando os custos de transporte, mas a consideração do clima local permitirá que os arquitetos utilizem o projeto solar passivo e o resfriamento passivo para diminuir a necessidade de aquecimento e ar condicionado.
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As tendências apontam para mais cores e elementos naturais no futuro Behance
Eficiência no projeto Essas medidas preventivas serão auxiliadas por uma infinidade de novas tecnologias projetadas para otimizar o uso de energia e reduzir o desperdício de construção. Ao projetar novos espaços, é provável que arquitetos, engenheiros e trabalhadores da construção usem o bim (Building Information Modeling), uma tecnologia colaborativa que facilita o planejamento e a execução hiper detalhados para diminuir o desperdício, reduzir custos, melhorar a sustentabilidade e promover a criatividade. Em conjunto com o bim, os projetistas podem usar software de modelagem de energia para produzir edifícios que maximizam a eficiência energética. “Graças à perspectiva geral, os líderes de projeto ganham usando o bim, eles podem fazer tudo melhor, mais rápido e com menor custo – usando menos recursos. A capacidade de concluir os projetos de maneira eficiente e sem
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Concluir os projetos de maneira eficiente e sem problemas, […] permite que os visionários da arquitetura explorem opções criativas para ir além”
problemas, às vezes com antecedência, Eu, robô permite que os visionários da arquitetu- Em 2050, a internet das coisas estará integrada aos espaços domésticos, não apenas a título de ra explorem opções criativas para ir além. melhorar a eficiência da residência para o usuáPortanto, a colaboração suave, o feedback rio, mas também para limitar o uso de energia, rápido e a supervisão holística ajudam os parar o desperdício de alimentos e rastrear o planejadores do design a subir para levar seus uso da água, ajudando a reduzir as contas e projetos a novos patamares criativos.” Afirma o engenheiro civil Dr. Kai Oberste-Ufer diminuir a produção de resíduos. Os sistemas No entanto, os interiores futuros provavelde automação residencial desligam as luzes, mente não consistirão apenas em novos edifícios, além de suspenderem o aquecimento e o mas também incluirão estruturas existentes adap- ar-condicionado e pararem as torneiras e tadas através de retrofits. Esse setor tem crescido os fogões que foram esquecidos enquanto rapidamente, com mais de us$ 500 milhões sendo ligados. Esse tipo de tecnologia também é gastos na reforma de hotéis antigos apenas em 2018. capaz de abranger os novos sistemas de Grande parte dessa transformação ocorre através da segurança – é possível, por exemplo, que integração da tecnologia de construção inteligente. nos próximos 50 anos as chaves e os
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cartões-chave tenham sido substituídos pelas tecnologias de acesso móvel. “Os edifícios que medem a temperatura há muito tempo também medem a umidade e o co2, projetando salas de forma contínua e precisa para o máximo conforto dos ocupantes e impacto ambiental. Os dados biométricos armazenados evitam violações de segurança e aumentam a velocidade com que as pessoas podem fluir através dos edifícios” diz Dr. Kai
O interesse pela natureza e tecnologia também podem se manifestar esteticamente, com a abordagem minimalista dos materiais, custos e uso de energia, por exemplo, encontrando seu caminho na estética minimalista e no projeto biofílico. Provavelmente, os interiores serão cada vez mais projetados nas cores branco e bege, e terão os seus móveis em formas limpas e configurações simples. Jardins verticais, telhados verdes e hortas também estão chegando ao interior contemporâneo, o compromisso estético com a natureza espelhando uma crescente dedicação à sustentabilidade.
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Pequenos, verdes e inteligentes À medida que os espaços urbanos diminuem de tamanho, o projeto se torna cada vez mais inovador ao empregar espaços multifuncionais. Os espaços individuais podem acomodar uma cozinha, sala de estar e quarto de uma só vez, através de espaços de armazenamento integrados eficientes e plantas abertas com iluminação cuidadosa. Uma maneira inventiva pela qual os designers estão alcançando essa integração é através da retração de paredes, permitindo que os espaços se transformem completamente. Uma empresa chamada Skyfold, por exemplo, desenvolveu paredes dobráveis verticalmente com gráficos personalizáveis e acústica à prova de som, adaptável a uma ampla gama de espaços interiores para uma infinidade de finalidades. Outros projetistas podem usar móveis transformáveis, prateleiras multiuso ou armazenamentos retráteis. Eles se integram perfeitamente à tecnologia de construção inteligente, já que as retrações e transformações podem ser iniciadas por aplicativos ou automação móvel. Em resumo, espera-se que o interior dos edifícios mude drasticamente, mas em três eixos principais, que são a sustentabilidade, a tecnologia e a eficiência. Esses três impulsos de transformação irão ocorrer em conjunto, e cada um deles influenciará e facilitará o outro. Esperamos que, como resultado, as cidades sejam mais sustentáveis, flexíveis e inclusivas, embora ainda haja um longo caminho a percorrer.}
Os espaços individuais podem acomodar uma cozinha, sala de estar e quarto de uma só vez”
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Programas e projetos de design generativo COGUMELOS TIPOGRÁFICOS PROJETO DA PENTAGRAM
SUPERPOLATOR INTERPOLAÇÃO EM TIPOS Os softwares Superpolator e Skateboard, ambos do desenvolvedor LettError, permitem que o designer expanda suas famílias tipográficas ou gere novas fontes. Esses programas permitem gerar interpolações em famílias de fonte através de valores variáveis, gerando variações de peso.
disponíveis em superpolator.com.
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O estúdio de design Pentagram criou a identidade visual e o design do espaço da exibição Mushrooms: The Art, Design and Future of Fungi na icônica Somerset House em Londres. Igualmente mítico e psicodélico, informativo e inspirativo, o briefing da Pentagram foi criar uma identidade que capturasse a mágica dos cogumelos. O resultado: uma tipografia generativa, que cresce digitalmente, em contraste com uma estrutura sistemática de grid.
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Designers que sonham com ovelhas elétricas O avanço tecnológico e as inteligências artificiais podem chegar a substituir o porifssional de design? por Isaac e ilustração Isaac
Assistindo Netflix ontem, vi um episódio criatividade. E, então, você me pergunta, de uma série da qual gosto muito que me “mas uma máquina não pode ser criatifez pensar muito a respeito do futuro de va?”. Será que pode? E se puder? Será minha profissão como designer. que faz diferença? O acontecimento foi que um persoVeja, o que estou dizendo aqui é que não importa muito nesse caso se a mánagem perdeu seu emprego – a empresa quina pode ser criativa, ela precisaria ir descobriu que havia um programa que fazia tudo aquilo que ele costumava além disso, ela precisa tocar pessoas com fazer e não cobrava salário. suas ideias. Mas como fará isso, se ela Foi então que parei para pensar, “e se mesma não pode ser tocada? isso acontecer comigo?” Eu posso estar sendo otimista demais. Comecei a raciocinar então sobre as Afinal, quem é que não viu O homem características da minha profissão, sobre bicentenário e se perguntou se aquilo como o que faço é sempre algo para poderia mesmo acontecer? Mas, não alguém. Ok, até aí. Mas como a gente nos esqueçamos, quem escreveu essa faz isso? Bem, estudamos muito tempo história? Quem dirigiu o filme? Quem para aprender a usar as ferramentas que atuou? Você se convenceu pelo trabalho precisamos e observamos aquilo de bom humano, não de uma máquina. Se ao final disso você não se convene de ruim que foi feito no passado. Um pouco de pânico, uma máquina pode ceu, eu não me importo, pois o dia que aprender essas coisas muito rápido. isso acontecer eu certamente não estarei Agora que vem a parte que aqueceu mais aqui, e não haverá ninguém me meu coração: essa profissão precisa de ligando para dizer “eu te avisei”.
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Klarens Malluta Klarens Malluta é um designer gráfico albanês autodidata que vem desenvolvendo trabalhos há mais de sete anos no Photoshop. Ele se formou em engenharia elétrica mas isso não o impediu de seguir sua paixão por artes visuais, seu maior prazer na área é a experimentação. Suas grandes inpirações são os anos 80, formas geométricas e orgânicas e como elas conversam entre si. Seu trabalho procura mostrar seus sentimentos sobre a existência humana, o tempo, a mente e o significado da vida. Em 2017 ele começou a postar diariamente um trabalho em sua conta no instagram @klarenns, de animações a pôsteres, atingindo hoje 91 mil seguidores na plataforma. Ele também disponibiliza aulas em diversas plataformas online, buscando atingir várias pessoas e conecta-las por meio de seu trabalho.
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Dua Lipa: o futurismo fora de horas (Re)emergência no pop:uma semana após Abel Tesfaye ter estrangulado as tabelas de vendas, Dua Lipa ligou o turbo néon e persegue o troféu
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[ a proeza de Lipa não é comandar a atenção do mundo em quarentena, mas sim deliciá-lo. É intuitivo: Future Nostalgia é um trilho de pepitas de ouro e platina, certeiro no ritmo com que liberta serotonina – e inadvertido sinal dos tempos, sempre que Lipa a (lamenta não ter ficado em casa, b) proíbe o ouvinte de sair à rua. O que há meses seria banal, torna-se hoje um mote vital; pena nenhuma música conter metáforas com sabão. Pontos extra para uma campanha que, apesar dos obstáculos mirabolantes, se agarra ao amuleto imprescindível de uma coroação: o perfeito álbum com que podemos contar nos nossos mantimentos. “Perfeito” é um arredondamento funcional, aplicado a um projeto sem grandes planos de concertar um debate ou ser pioneiro, embora forje ambos os percursos. Boys Will Be Boys – um anticlímax orquestral no fim de um autêntico disco – deixa experimentar o temor de qualquer rapariga no caminho para casa.
Cheque sem cobertura não Afinal, ajudou a desovar um novo velho som em 2020. Mas o oximoro da futura nostalgia vem de trás para a frente. Lipa sabe que pediu emprestado a Rodgers e Moroder este delírio disco que é a espinha dorsal do álbum, sublimado na vencedora Don’t Start Now, na sucessora Break My Heart ou na lampejante Love Again. Também Kylie Minogue – a pedra-de-toque mais óbvia, ao lado das Madonnas de 1983 e 2005 – importou dos Daft Punk o quatro por quatro da
house francesa. Hallucinate lembra Voyager, de Discovery, segundo álbum dos capacetes franceses: malha de baixo em loop, batida a chocalhar em estéreo, sintetizador pianíssimo na secção final; só lhe falta o brilharete de guitarra rítmica.
Menos oráculo, mais expedição Future Nostalgia é uma colagem sónica suave, no limiar de dissolver os referentes e as décadas aonde vai beber; Cool e Physical mostram que os anos 80 hoje falados são uma adulteração pós-moderna sem significado. Esconde o trabalho que lhe exigimos: entre 10 e 12 concorrentes a êxitos, variedade q.b. com tempero para a coesão, refrães engendrados para a posteridade. Lipa supera esse triatlo do “álbum pop perfeito” como se demonstrasse um teorema, com uma facilidade que torna impossível a escassez de espécimes no mainstream. Falso. O seu primeiro registo, de 2017, será uma boa cápsula do tempo para entender os finais da década: tropicalismo vago, baladas r&b, arranques supersónicos para captar a atenção no Spotify, colaborações com produtores/DJs requisitados, sem ostracizar os refrães. Era um produto em que Lipa sintetizava com autoridade as tendências; da segunda vez por cá, define-as. Dua Lipa é, neste inenarrável momento, uma miragem.]
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Robotização humanizada: como nos adaptamos a novas tecnologias Rebeca de Moraes fala sobre como se dá a adaptação dos consumidores a novidades tecnológicas 68 asi.mov
[ a robotização da vida é mais outra tendência que já se faz presente em nossas vidas. Usamos assistentes virtuais para facilitar tarefas do cotidiano, usamos cada vez mais a voz – para ativar o gps, enviar mensagens no WhatsApp, tocar músicas – e já começamos a usar eletrodomésticos ligados à internet. A ASI.MOV conversou com Rebeca de Moraes, sócia-fundadora da consultoria Trop. Soledad e embaixadora do arco Robotização da Vida no Projeto Identidades, evento promovido pelo Grupo Padrão para comemorar os 25 anos da revista Consumidor Moderno e apresentar tendências de consumo contemporâneas.
Quando encontramos uma tecnologia nova, temos dificuldade de entender para quela serve e qual o sentido disso para nossas vidas. Então humanizar vai ao encontro dessa ideia, de naturalizar a tecnologia de forma imperceptível e usar aquilo como uma resposta para algum problema. Com a tecnologia mais presente nas nossas vidas o que muda no consumo? Em um primeiro momento, essas são ferramentas para basearmos o consumo dos nossos produtos. Então se você já vendia em uma loja virtual, pode fazer com que esse e-commerce responda á tendência do uso da voz e acrescentar essa interação.
O desejo da humanização dos robôs Ao mesmo tempo em que a gente permite que as máquinas entrem em massa nas nossas vidas, nós as queremos de forma humanizada. Isso não é um paradoxo? Nós precisamos que as tecnologias vão se tornando quase imperceptíveis nas nossas vidas. O celular é um exemplo disso. Ele foi evoluindo para virar quase uma parte do nosso corpo. Quando surge uma novidade falamos que aquilo é uma tecnologia nova. De repente, isso vira tão parte da nossa vida, de quem nós samos, que deixamos de chamar de tecnologia para chamar pelo nome, o que mostra como nós nos acostumamos com algo. É por esse tipo de processo que todas as tecnologias precisam passar. Precisamos que isso se integra às nossas vidas.
Não vamos sair do isolamento como entramos” Como a pandemia do novo coronavírus impacta o uso da tecnologia e o consumo? Essa pandemia acelerou loucamente a nossa vida virtual. Fazíamos cursos online, mas não com a mesma frequência com que fazemos hoje. Não nos exercitávamos dentro de casa ou fazíamos call com nossos amigos e agora isso acontece. Não vamos sair do isolamento como entramos.]
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Música 8D: quatro perguntas e respostas sobre a tecnologia de áudio Entenda como funciona e o que você precisa para curtir músicas 8D 70 asi.mov
[ música 8D é um estilo de áudio que
Onde encontrar música 8D?
causa a sensação de direção e movimento no espaço. A canção Hallelujah, por exemplo, apareceu em grupos de WhatsApp nos últimos dias. A versão da banda Pentatonix e vídeos de outros grupos pelo YouTube, chamam atenção pelas várias vozes reproduzidas de diversos lados. Para chegar nesse resultado, são necessárias determinadas técnicas de edição, e o efeito aparece melhor em fones de ouvido com som estéreo. Confira a seguir cinco perguntas e respostas sobre músicas 8D e saiba a melhor maneira de ouvir áudios do tipo. No Whatspp, a corrente que traz Hallelujah na versão 8d da banda Pentatonix circula com um texto que aponta para a sensação de “ouvir a música com o cérebro, e não com os ouvidos” e de “sentir a música vindo de fora, e não dos fones de ouvido”. A noção de posição também tem destaque: “Vai perceber a música passando, dando a volta por trás da sua cabeça, indo de um lado para o outro”.
É possível encontrar música 8D no YouTube principalmente, mas outros canais de streaming de som, como o SoundCloud, também oferecem algumas amostras. Há ainda artistas que se dedicam à criação de som com esse tipo de efeito, como o próprio grupo Pentatonix. No YouTube, o canal 8D Tunes é especializado nesse tipo de conteúdo e reúne produções de vários estilos de artistas do mundo tudo. Além disso, é possível encontrar também músicas de artistas famosos reeditadas para oferecer a sensação de som 8D, como.
O que é música 8D? Músicas 8D são amostras de som que levam a uma maior imersão, utilizando efeitos para causar a sensação de que os sons estão sendo reproduzidos em diversas direções. Isso acontece por meio de técnicas de mixagem feitas nos canais originais da gravação, dando um aspecto tridimensional. Ao ouvir áudios 8D, é possível sentir o eco, a distância e a direção dos sons, como se o usuário estivesse em uma apresentação ao vivo.
Áudio 8D é diferente de áudio 3D? A rigor, não há diferença técnica entre as duas ideias, já que ambas buscam simular a propagação de som de forma direcional por meio de técnicas de gravação, mixagem e efeitos de edição. Mas, em geral, o som 8D é obtido por meio de técnicas de edição, utilizando ferramentas de software. Já o som binatural, também chamado 3D, embora não dispense o uso de técnicas de pós, tem uma relação mais direta com os processos de gravação.
Por que é melhor ouvir música 8D em fones de ouvido? Basicamente, fones passam melhor a sensação de direção, já que reproduz de modo estéreo, facilitando a variação nos dois lados. A reprodução do som 8D em alto-falantes convencionais pode dificultar essa percepção.]
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Qual a nossa relação com a música na era digital Escutar música passa a ser um exercício cada vez mais banal, frequente e solitário por João Vitor Guimarães
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ouvir música, hábito que já foi restrito à Igreja, à nobreza ou à elite em outros tempos, tornou-se no mínimo corriqueiro à maior parte da população. De acordo com pesquisa realizada pelo ibge em abril de 2018, 69% dos brasileiros acessam a internet via celular. Com isso, a música na web, do clássico romantismo do polonês Chopin aos funks cariocas lançados constantemente pela indústria fonográfica do eixo Rio-São Paulo, está disponível para quem, dentro da referida porcentagem, quiser ouvir no lugar e no momento de sua preferência. Depois dos concertos ao vivo, do rádio, do Long Play (lp), da fita cassete, do Video Home Com a difusão do streaming, ouvir música System (vhs), do Compact Disc (cd) e do torna-se uma das principais atividades quando Digital Video Disc (dvd), é a vez do serviço se possui o acesso à internet. Uma vez que o de streaming. Nesta tecnologia, informa- consumo de streaming é acessível a qualquer moções multimídia são distribuídas através mento, dependendo exclusivamente da vontade de sistemas de redes de computadores, do ouvinte, escutar música passa a ser um exercício. entre eles a internet. O termo streaming, Sim, ainda ouve-se rádio, concertos e shows são emprestado do inglês, significa “fluxo de cada vez mais valorizados (financeiramente mesmo) dados e conteúdos”, destacando a veloci- e as tecnologias hoje obsoletas como o cd e o dvd dade e a intensidade com que tais dados não desapareceram por completo. No entanto, é são inseridos e transmitidos no sistema. inegável que plataformas como o YouTube, o Spotify e o Deezer se popularizaram muito nos últimos anos, chegando a criar tendências e moldar o estilo musical do consumidor, levando em conta o armazenamento de dados pessoais: o que acessamos fica registrado no sistema e não pode ser retirado, esquecido ou ignorado de maneira tão fácil. O conceito de streaming se estende ainda em relação à disponibilização de séries, filmes, livros e outras obras cuja aquisição era limitada ou condicionada por outros fatores. Assistir a séries que antes se restringiam a canais de televisão a cabo, por exemplo, tornou-se mais fácil e acessível, encaminhando as mídias mais tradicionais a um processo de remodelação e adaptação às novas demandas.
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Contudo, diferentemente de outras linguagens artísticas, mais academicizadas e associadas a momentos apenas introspectivos, a música está presente em momentos de grandes confraternizações, das mais efusivas e eufóricas como o carnaval, até momentos de reflexão e solidão, passando por concertos de música erudita e cantoras que popularizaram a “sofrência”. Banal, frequente e solitário. A música tida hoje como popular é uma das linguagens com menor grau de exigência de concentração e, também devido a isto, a de mais simples disseminação. É comum ouvir o termo “música chiclete” para indicar um tipo de canção repetitiva que chega a influenciar conexões neuronais, atraindo o ouvinte para a atenção e dispersando o foco de atividades alheias àquela música. Por mais que algumas canções sejam escutadas a fim de diversão e entretenimento, existem aquelas específicas que ultrapassam esta condição – independentemente de terem uma estrutura mais simples ou complexa, alcançando um grau de espelhamento e identificação com o ouvinte, seja pela própria letra, arranjo, melodia ou ritmo. Com isso, a escuta coletiva
de uma música pode aproximar-se da exposição de nós mesmos, daquilo que sentimos, pensamos e valorizamos – ou daquilo a que fomos conduzidos a sentir, pensar e valorizar – e de como escolhemos expressar tais elementos. Não é à toa que este cenário aparece em um período em que vivemos vidas individualizadas. Embora cada vez mais pessoas tenham acesso às mais diversas atividades, é inegável a maior procura de residências para se viver sozinho, com os próprios aparelhos tecnológicos, a própria comida, a própria rotina e a própria arte – ajustadas de acordo com as recomendações feitas pelos inúmeros aplicativos e dispositivos, que armazenam dados cujas informações nos revelam mais do que aquilo que acreditamos saber sobre nós mesmos.
Música e psicanálise A arte nos convida a sair da zona de conforto e procurar alternativas para compreendermos nossos pensamentos e atitudes por meio de reflexões e espelhamentos. Com base nessas ideias, a Discoteca Oneyda Alvarenga proporcionam momentos de escutas e debates na série Sou som: a música que toca em mim – em que os participantes, frequentadores dos serviços de saúde
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Arte conceitual inspirada no filme Guardiões da Galáxia da Marvel Studios
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mental do Hospital do Servidor Público Municipal (hspm) e o público em geral, selecionam algumas canções para serem ouvidas e compartilhadas em grupo –, fazendo com que a música seja a principal ferramenta de conhecimento, entretenimento e conexão. Após algumas sessões de escuta, o projeto se encaminha para a confecção de artes de capa de um cd na Folhetaria do ccsp e, por fim, à gravação das canções apresentadas juntamente com suas narrativas no Estúdio de Rádio do ccsp. Com o acompanhamento da psicanalista e psicóloga Thaís Rodrigues Silva, as rodas de escuta oferecem uma experiência sonora momentânea, indagando aos ouvintes que nunca entraram em contato com determinada música quais sentimentos aquela canção desperta ou apresentando músicas já conhecidas e suas possibilidades de interpretação. A primeira fase da atividade em questão se assemelha à musicoterapia – composta por rodas de escuta e compartilhamento de repertórios musicais afetivos –, pois o encontro apresenta “uma qualidade terapêutica àqueles que se encontram em grande sofrimento mental”, de acordo com Thaís. No entanto, o projeto vai além de uma técnica com finalidades de cura, avaliação e diagnóstico, já que é caracterizado “pela socialização e pelo pertencimento de seus membros – pertencimento dado pela experiência estética, fruto da percepção dos sentidos”.
Assim como toda linguagem e todo discurso, o impacto que determinada obra causa em cada um de nós é singular. Ao entrarmos em contato com qualquer tipo de texto – linguístico, visual, sonoro ou multimídia –, nosso cérebro recebe estímulos que podem alterar nossos processos cognitivos e O acervo e o público encaminhar nossa mente e nosso corpo para outro Os idealizadores do projeto Sou som: a tipo de pensamento e ação. No caso da música, música que toca em mim, Djayson Marpor exemplo, os estímulos enviados para nosso sistema nervoso são contrários ao estresse e ao cio e Marta Fonterrada, ainda não haviam mau humor e melhoram a criatividade. planejado a terceira edição da oficina, que veio à tona principalmente por sugestão da Para Thaís, “a música é uma relação sistêmica, psicanalista e da nova turma. “Queríamos um sistema de relações transcendentes, em desenvolver uma atividade e, ao mesmo tempo, que o impulso vibratório dá a característica utilizar o acervo, fazendo um ponto de ligação a uma voz ou a uma melodia. Dessa maneira, o som depende de uma experiência interior, dos materiais que as pessoas vão escutar com a própria vida delas, e como aquilo seria utilizado pressupõe um sujeito ouvinte que torna consna dinâmica em grupo”. ciente para si o estímulo vibratório. O som Em resumo, a dinâmica ocorre em uma roda, depende do ouvinte para transformar esse em que as pessoas escolhem uma música do fenômeno acústico em uma experiência acervo, todos escutam e quem escolheu aquela individual, em uma lembrança ou em um processo criativo”. canção se manifesta. O que uma pessoa fala é A arte que nos rodeia, portanto, serve jogado na roda e, assim, outras trazem diferentes linhas de raciocínio, contam histórias, algum relato como espelhamento dos nossos próprios sobre o artista ou sobre a música. costumes, ainda que eles sejam negados O diferencial da proposta não fica exatamente ou recusados em algumas ocasiões, e por conta da realização das ações, mas em como elas também como uma forma de estabelecer são costuradas e mediadas por um tipo de reflexão diálogos com outras opiniões, consideque não estamos acostumados a fazer, partindo da rações e valores que não os nossos. Nós música, de trilhas sonoras à mpb, para desenvolver somos o que ouvimos. coletivamente pensamentos e narrativas inerentes à trajetória de cada pessoa, levando em consideração a relação do sujeito com o tempo e com modos de expressar sua subjetividade por meio da arte. Paralelamente, o desinteresse de boa parte da população por assuntos tidos como arcaicos e obsoletos é notável. A ansiedade e a expectativa pelo novo, de tão altas e valorizadas, criam um desequilíbrio em comparação com o que já “passou” – e, dentro deste pensamento em
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A música é uma relação sistêmica, um sistema de relações transcendentes, em que o impulso vibratório dá a característica a uma voz ou a uma melodia” 80 asi.mov
que o imediato é prioridade, aquilo que já foi novidade um dia (e, portanto, não é mais) torna-se retrógrado, ainda que não o seja exatamente. A ideia de um lugar como uma discoteca espanta diversas pessoas, especialmente as mais jovens, cujo interesse pelo novo é compreensivelmente maior, na medida em que entrar em contato com o que retrata o momento presente, ou seja, com aquilo que outras pessoas e grandes grupos irão ouvir, é uma forma de pertencer a um contexto, uma comunidade e, com isso, se sentir completo.
Entrar em contato com a memória, incluindo seus aspectos individuais e transgeracionais, envolve uma busca pela incompletude (carência, para Freud) humana, que nos cerca do nascimento até a morte, influenciando nossos desejos e comportamentos. A questão está em como administrar esta incompletude e na possibilidade de fazer com que a arte – lançada ontem ou em 1850 – nos ajude a lidar com isso.}
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Programação: o que fazer em casa no isolamento
SALA DA CASA CASA NATURA MUSICAL até 26 de abril @casanaturamusical
A Casa Natura Musical está com a série Sala da Casa no Instagram. A ação conta com shows de aproximadamente 20 minutos, que são transmitidos ao vivo de sexta a domingo, às 19h. 10/04 Rosa Neon 17/04 Attooxxa 18/04 Urias 25/04 Romero Ferro 26/04 Felipe Cordeiro
Uma série de shows para incentivar o isolamento social:
ONE WORLD: TOGETHER AT HOME 18 de abril YouTube
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• Lady Gaga • Lizzo • Elton John • Paul McCartney • Chris Martin • Billie Joe Armstrong • Eddie Vedder • Alanis Morrissette
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Há vida inteligente nas lives das redes sociais Vá além dos sertanejos bolsonaristas ou ridiculamente embriagados por Tati Bernardi e ilustração Isaac
Por aqui, nenhuma paciência para pagodeiros ou sertanejos bolsonaristas ou riciculamente embriagados. Mas tem muita live boa para assistir durante o nosso confinamento. Seja no Instagram, seja no Youtube e até mesmo na televisão tem coisa boa. Das marcantes, por ora, cito Ivete Sangalo de pijamão com a familia; Liniker, dona da melhor voz da atualidade; e Lulu Santos, sempre espetacular. Também tenho acompanhado a Monica Salmaso e todos seus convidados, e toda a programação do Sesc. No One World: Together at Home, vi a Lady Gaga (amo sua voz!), e ela estava com aquela sobrancelha fake da “moda” (parece o logo da Nike). Elegi o John Legend como única pessoa famosa do mundo da musica com bom gosto
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para design de interiores, a casa dele é espetacular (e sua apresentação foi a mais bonita). Elton John cantando I’m Still Standing valeu a pena e, quando cada integrante dos Rolling Stones foi entrando (me senti no Zoom com eles), confesso que chorei. Vejo ainda o pastor Henrique Vieira para ter um pouco de fé, o biólogo Atila Iamarino para entender o que nos espera em termos de fim ou não da humanidade, e o Canal Brasil porque acho a Simone Zuccolotto muito deusa e também para me agarrar à esperança de que o cinema sobreviverá. O André Trigueiro diz o que está entalado em nossa garganta. O Marcelo Freixo conversou com o Marcos Nobre (presidente do Cebrap e professor de filosofia da Unicamp) e me encheu de esperança. a crise na saúde mais a sanitária mais a econômica tendem a tirar a popularidade do facista genocida.
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Fortnite: show de Travis Scott reafirma poder do jogo nos eSports Battle Royale da Epic Games volta a se notabilizar como fenĂ´meno dentro da cultura pop diante do ĂŞxito de evento com rapper americano
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[ o crossover entre Fortnite e o rapper americano Travis Scott terminou neste sábado e teve a participação de 27,7 milhões de jogadores únicos - sendo o pico de 12 milhões de usuários simultâneos - como principal destaque durante a “turnê” do cantor nos servidores do battle royale. O evento, que atingiu a marca de 45,8 milhões de visualizações, contou com grande produção gráfica e encantou pelo envolvimento com o público, que presenciou a confirmação da existência e da importância do game para o cenário de eSports.
Participações influentes No caso, o impacto positivo da parceria com Travis Scott é um exemplo claro de que o battle royale da Epic Games possui muito poder, tanto financeiro quanto popular. Não é toda empresa de eSports que consegue obter sucesso na participação de um dos artistas mais influentes do momento em um conjunto de ações dentro do próprio jogo. Além do mais, a impressionante performance gráfica demonstra o tamanho do cuidado que a publisher teve em preparar, de forma muito minunciosa, detalhe por detalhe.
Epic Games e seu sucesso repentino
Travis Scott
No geral, há não muito tempo, o Fortnite passou a ser subestimado e desvalorizado por grande parte da comunidade, que passou a enxergá-lo como algo ainda possuinte de muito potencial, mas que havia parado no tempo. Sequer as enormes premiações, marca registrada da Epic Games e uma das principais justificativas para o sucesso repentino do jogo, atraíram comentários positivos, sobretudo no Brasil. Inclusive, diversas comparações envolvendo outros games do mesmo gênero como, por exemplo, com Free Fire, Playerunknown’s Battlegrounds (pubg) e Call of Duty: Warzone, viraram rotina nas redes sociais. Justas ou não, é inegável considerar que, apesar de existir enorme concorrência, o Fortnite segue sendo o battle royale mais famoso e com maior apreço pelo público mundial.
Apesar da nova música lançada pelo rapper, durante a apresentação, ter feito com que o show ganhasse ainda mais ênfase do público, a elaboração de um contexto capaz de entreter e dimensionar os jogadores como se estivessem no show, de forma real, acabou roubando a cena. Sendo assim, é mais do que justo enaltecer a alta produção do evento dentro do jogo, que ofuscou o restante das peculiaridades e reascendeu a real dimensão do Fortnite. Muito além de números e valores, o sucesso da parceria da Epic Games com Travis Scott é o retrato de um imponente Fortnite mais do que capaz alcançar patamares ainda maiores. Além disso, foi a resposta clara e objetiva para recente desvalorização do jogo, que agora reafirma a sua verdadeira influência no cenário de eSports.]
@asi.movrevista 87
Papo com Owen Dennis, criador de Trem Infinito “Quando queremos contar uma história, a gente quer que tenha sentimentos fortes, significados fortes, mensagens fortes” 88 asi.mov
[trem Infinito me pegou já no trailer: a história de uma menina aventureira (Tulip), viajando por lugares malucos, psicodélicos, com a companhia de um robô que alterna personalidades (foi isso que eu havia entendido) e um cão da raça corgi (um rei, na verdade), tudo isso dentro de um trem com infinitos vagões. Cada vagão, uma paisagem e um cenário para uma aventura diferente. Todo episódio tem uma mensagem, uma lição que o espectador pode refletir. Fisgado, resolvi entao assistir à primeira temporada e fui surpreendido positivamente com uma história bem fechadinha, personagens carismáticos e alguns mistérios que obrigavam a maratonar a série, já de início: o que era o contador no pulso de Tulip? Como ela sairia do trem? E outros que vão sendo acrescentados com o avançar da trama.
Como foi o processo junto a Cartoon Network? Eu acho que não foi especialmente difícil dessa vez, principalmente por causa do sucesso de Over the Garden Wall, que as pessoas realmente gostaram. Então, na verdade, eu mostrei uma ideia que era parecida com o que já tínhamos feito: uma série fechada, com apenas dez episódios. E quando você propõe algo mais curto, as empresas aceitam melhor, elas não têm que se preocupar: “Ah, certo, vamos nos preparar para 100 episódios”, o que é um gasto financeiro bem grande. Então, algo menor, único, eles podem trabalhar de forma diferente, como um evento especial, divertido.
Por quê a duração dos episodios “sai do padrão”? Eu gosto de fazer episódios de 11 miIntrospecção fora das telas nutos que tenham uma história mais Fazia parte do projeto, desde o iní- abrangente, um arco maior geral. Eu cio, que cada episódio tratasse de um gosto disso porque quando você só tem tema do nosso dia a dia, do tempo em 11 minutos você tem que ficar muito, que vivemos? muito focado. Owen Dennis – Sim. Eu acho que Então, sua história precisa ser bem quando queremos contar uma história, direta porque o tempo é curto: qual a gente quer que tenha sentimentos é conflito do personagem principal, o fortes, significados fortes, mensagens que está acontecendo com ele e o que fortes, e que se saiba exatamente o que está no caminho dele – e é isso! Não há quer dizer para pode fazê-lo do melhor tempo para ir em outras direções, de jeito possível. Eu acho que isso é espe- ter uma “história A” e uma “história B”, cialmente comum em sci-fi. nem nada assim. As melhores histórias do gênero têm A segunda temporada de Trem Inuma mensagem social ou algum tipo de finito já estreou nos Estados Unidos, mensagem maior que a ficção científica porém ainda não tem uma previsão consegue retratar. para estreiar no Brasil.]
@asi.movrevista 89
Blade Runner (1982): Estamos vivendo o mês da trama do filme! A trama de ficção científica do diretor Ridley Scott, lançado em 1982, é ambientada em novembro de 2019 90 asi.mov
[ parece que finalmente chegamos ao futuro. Muitas coisas acontecem desde que o filme estreou. Muitas coisas aconteceram nesse ano. Será que a produção cinematográfica conseguiu acertar em suas diversas previsões?
A trama de 1982 Se estivéssemos vivendo na trama anunciada em 1982, estaríamos disputando espaço com robôs, utilizando carros voadores, vendo anúncios holográficos e ainda viajando para fora do Planeta para viver em colônias. O clássico regado a efeitos visuais muito elogiados, com um roteiro bem crítico, mostra uma Los Angeles do futuro superpopulosa, situada numa Terra cheia avanços industrias, em meio a uma sociedade capitalista extremamente poluidora e com uma qualidade de vida que deixa a desejar. Não podemos dizer que o filme não acerta, de certa forma, ao olhar para pontos bem importantes e, que hoje, de verdade, causam danos intensos ao planeta. Basta olhar o intenso ano em que vivemos, repleto de tragédias que poderiam muito bem ser evitadas pelo homem, se o capitalismo não viesse, muitas vezes, em primeiro lugar.
Do Androids Dream of Electric Sheep? Dirigido por Ridley Scott e escrito por Hampton Fancher e David Peoples é baseado no romance Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick. O longa, referência para o gênero, conta com Harrison Ford, Sean Young, Daryl Hannah, Brion James, dentre outros.
O presente enunciado pelo filme de ação de aventura chega a ser meio exagerado, com um mundo pós-apocalíptico que girava em torno de Rick Deckard (Ford), um caçador de androides, e uma sociedade bem danificada, cercada por uma perigosa e crescente evolução robótica e tecnológica. Animais em extinção ou ameaçados, recursos naturais escassos, poluição extrema.
O nosso futuro é real? Um futuro, ou presente, bem complicado. Restava apenas tentar a vida em outros planetas. Mas essa última previsão ainda não é realidade para nós neste ano de 2019. Não podemos colonizar outros lugares para além da Terra. E os robôs não se misturaram em nosso meio, pelo menos achamos que não. É, ainda é cedo. Carros voadores também não é algo que podemos andar hoje. Mas quem sabe em breve, num futuro bem próximo. Protótipos já existem, então pode ser questão de tempo. No entanto, certos pontos tocados pela produção são preocupantes. Animais já estão sim em extinção, a poluição chegou a níveis bem ruins, o que gerou escassez em algumas partes do mundo, além, claro, dos desastres, das tragédias e das desigualdades sociais. Estamos mesmo vivendo o futuro? Um filme de 1982 pode mesmo nos fazer pensar mais hoje do que quando foi lançado.]
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Inteligência artificial, algoritmos e o passado do futuro do cinema A tecnologia está mudando a forma como filme são feitos, mas cautela é importante para não ficarmos presos em um loop por Breno Damascena
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of “Super
” man Lives
A tecnologia, porém, parece perto de revolucionar este cenário. Nos últimos anos, diversas empresas surgiram oferecendo mais segurança para projetos inovadores e sugerindo caminhos mais assertivos para que os estúdios não percam dinheiro à toa. Diante das possibilidades de Superman Lives, talvez não seja coincidência, portanto, que a própria Warner tenha anunciado um acordo com a Cinelytic, startup de Los Angeles que usa algoritmos, para prever o sucesso de um filme antes de ser feito. A empresa usa utiliza dados variáveis para antever quanto dinheiro a obra pode ganhar com base no desempenho esperado em diferentes mercados. A partir de aspectos, como o gênero do longa ou os atores escalados, a plataforma analisa o possível comportamento do público. Na prática, os produtores podem, por exemplo,
The Death
I
os jovens de todo mundo lotam shoppings centers e cinemas de rua. Os ingressos para as próximas semanas estão esgotados há meses. Os pôsteres colados nas paredes da praça de alimentação e até as ilustrações nos sacos de pipoca amanteigada aumentam a expectativa para a sessão. Pessoas fantasiadas com uma capa azul e segurando histórias em quadrinhos aguardam na fila pelo momento mais esperado do ano. As luzes se apagam e o silêncio só é quebrado quando emerge a música clássica de John Williams. O ano é 1999 e Superman Lives acaba de entrar em cartaz. O filme dirigido por Tim Burton e protagonizado por Nicolas Cage apresentaria uma versão profunda e existencialista do famoso Homem de Aço. A adaptação de “A Morte do Superman”, série de histórias publicadas pela DC Comics, seria realizada pelo roteirista Kevin Smith. As gravações estavam prontas para começar quando assim, a Warner Bros. interrompeu a produção, ainda em 1998. Hoje, apenas criamos teorias sobre o impacto que a obra resultaria na cultura pop caso não tivesse sido cancelada.
Nicolas Cage atuando no filme de Tim Burton, Superman Lives, no ano de 1996
testar se um longa-metragem vai render mais dinheiro escalando Tom Hanks ou Idris Elba no papel principal. Com apenas alguns cliques, o software permite que os clientes possam moldar todo o cenário mudando alguns elementos individuais. É mais lucrativo escolher o Will Smith ou Robert Pattinson para um filme voltado para jovens com menos de 20 anos? Qual dos dois ajudaria a aumentar a receita financeira em países asiáticos? Se o valor investido for 100 milhões, qual será o lucro? E se o orçamento for de 15 milhões?
Apesar de todo o potencial, a Warner Bros. e a Cinelytic afirmaram que a tecnologia será usada apenas nas decisões de marketing e distribuição, no máximo auxiliando os executivos na hora de deliberar qual projeto deve ser apoiado, não interferindo no processo de desenvolvimento de um filme. Desta forma, os humanos continuariam sendo fundamentais para a produção ser realizada. O Cinelityc, entretanto, não é a única inovação do setor. A passos largos, o cinema – tradicionalmente conhecido por ser uma indústria criativa – vem abandonando a cautela e adota cada vez mais inteligência artificial e tecnologias de machine learning em seus processos. A Script Book, por exemplo, se propõe a prever o desempenho de um filme a partir do roteiro. Em uma apresentação, a empresa afirmou que a plataforma identificou retroativamente falhas em 22 dos 32 filmes da Sony que perderam dinheiro entre 2015 e 2017. Desta forma, se o estúdio tivesse utilizado os algoritmos da empresa no lugar de humanos para decidir o destino dessas obras, muito dinheiro teria sido poupado.
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Criado na Bélgica, em 2105, o ScriptBook é uma ferramenta em que os usuários carregam o arquivo pdf de um roteiro. Cinco minutos depois, recebem uma análise detalhada que antecipa, entre outras coisas, a provável classificação indicativa do Motion Picture Association of America; realiza uma análise dos personagens, avaliando as emoções deles; prevê o público-alvo, incluindo sexo e raça; e faz previsões da bilheteria.
O ScriptBook aponta que quando o sistema indica que um roteiro deve ter luz verde, ele tem uma taxa de sucesso de 84%. Segundo Azermai, a precisão é três vezes maior que a dos humanos. Outra startup, israelense Vault, garante que pode prever os públicos (local, raça, gênero, idade) mais assistirão um filme usando como base apenas o trailer dele.
Analise de Inteligência Artificial para determinar fatores que impactariam o publico na criação de um filme
ScriptBook Company
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Quanto mais precisos forem os nossos dados, melhor seremos capazes de envolver nosso público”
Como funciona um algoritmo? O Cinelityc, o ScriptBook e a Vault são apenas algumas das diversas tecnologias sendo implementadas continuamente no cinema. As ferramentas foram projetadas para influenciar a tomada de decisões em um setor que precisa alcançar o máximo possível, ao invés de propor a experimentação livre e descoberta espontânea. Para entregar estes resultados com assertividade, as startups aprendem com a melhor e, ao mesmo tempo, mais obsoleta fonte de conhecimento: o passado. É simples. Estes programas operam de acordo com dados, algoritmos e padrões introduzidos por humanos no sistema. Estas informações “treinam” a máquina para que ela possa entregar os resultados. O software do ScriptBook, por exemplo, foi concebido a partir de 6.500 scripts existentes. Os dispositivos em si não têm um ponto de vista. Quem os alimenta, porém, sim. Imagine que uma pessoa vai escrever um roteiro. O filme terá a perspectiva daquela pessoa sobre o mundo. O que ela acredita ser verdadeiro, o que ela
renega, as coisas com que interage, os lugares que visitou e as experiências que teve. No papel, estará aquilo que ela deseja ver na tela. Imagine, agora, se essa pessoa fosse, na verdade, todos os grandes sucessos do cinema. Seria um ótimo filme, certo? Depende. Sem abrir espaço para hipocrisias, é fundamental entender que, apesar de tudo, o cinema é uma indústria que visa o lucro. Existe, claro, espaço para a arte, mas os filmes, principalmente os hollywoodianos, ocupam o espaço de cultura de massa, com algumas lacunas para inclusão da tal arte que tanto defendem. Os filmes são feitos para entreter, questionar, confrontar, comover, desafiar e mexer com as emoções mais profundas do público, mas, acima de tudo isso, ganhar dinheiro. Fazer um filme custa muito. Em 1995, a Carolco Pictures descobriu isso da pior forma possível. Responsável por obras como “Instinto Selvagem” e “Exterminador do Futuro 2”, a produtora já vinha de um histórico negativo quando resolveu apostar as últimas fichas em “A Ilha da Garganta Cortada”. O filme arrecadou 10 milhões de dólares a partir de um orçamento de 98 milhões e se tornou um dos maiores fracassos de todos os tempos, decretando a falência do estúdio.
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Stranger Things
Criatividade na berlinda Defensores de tecnologias como as que foram apresentadas neste texto argumentam que as ferramentas podem ser utilizadas justamente para superar ideias obsoletas. A Cinelytic, por exemplo, ajudaria na identificação dos padrões positivos financeiramente, mas que o preconceito dos executivos não lhes permite enxergar (como produções voltadas para o público negro e lgbt). Enquanto o ScriptBook poderia auxiliar na promoção da diversidade nos filmes, detectando se incluem personagens femininas relevantes na trama, se os diálogos contêm preconceitos e aspectos parecidos. Fato é que a inteligência artificial já transformou o cinema de forma irremediável. A Netflix é retrato desta inovação. A maior rede de streaming do mundo se orgulha de seguir uma estratégia orientada a dados. A plataforma examina os perfis, ações e escolhas dos milhões de assinantes e já coletou uma quantidade quase infinita de informações dos usuários. Com estes dados, ela busca entregar o filme que mais o agradaria a dar um clique em determinada produção. De etiquetas especiais a produções voltadas para nichos, a Netflix tenta personalizar até a imagem que aparece na tela quando você entra no aplicativo. A confissão foi feita pelo próprio vice-presidente de produto da companhia, Todd Yellin, durante entrevista para divulgar o lançamento da segunda temporada
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de Stranger Things. E é provável que a utilização de ferramentas do tipo sejam cada vez mais comuns. Porém, a interferência da tecnologia em benefício do cinema pode fazer com que o maior prejudicado seja o próprio cinema. Ao passo em que Hollywood se dispõe a permitir que tecnologias emergentes participem mais ativamente dos processos de decisão, a inovação e engenhosidade podem ser colocadas em segundo plano. Na maior parte das vezes, quanto mais um filme parece pensar em bilheteria, menos inventivo, complexo ou questionador ele é. Afinal, o objetivo é agradar o maior número de pessoas possível. Desta forma, ideias malucas podem vir a ser descartadas instantaneamente. O cineasta visionário busca sempre desafiar o status quo para mostrar ao mundo o que o resto de nós não vê. Mesmo os produtores medíocres e ruins são pessoas apaixonadas pela arte,
se empolgam com filmes interessantes e tentam colocar na tela aquela visão de mundo transgressora, aquela obra extraordinária (muitas vezes não conseguem, claro). O problema é que estes cineastas não costumam fazer filmes populares e nem ganham dinheiro o suficiente para agradar os estúdios. A maior parte da indústria acredita que a maneira de atrair grandes audiências é contar histórias que o público já está acostumado e interessado, estrelando atores que eles já conhecem. E o pensamento não está errado: as 9 maiores bilheterias mundiais de 2019 foram adaptações, continuações ou remakes. A 10º colocação, “Ne Zha”, é um filme chinês que não estreou no Brasil e cujo faturamento nos EUA foi de apenas 3 milhões de dólares.
A Disney foi responsável por 7 destes 10 filmes. Isso sem contar “Homem-Aranha: Longe de Casa”, que é co-produção do conglomerado em conjunto com a Sony. Antes sinônimo de inovação, a companhia parece, agora, favorecer a nostalgia, cedendo terreno para os algoritmos que prezam mais pela certeza do que por tentar algo novo. O ambiente parece querer se consolidar sem espaço para os visionários, como o próprio Walt Disney. Martin Scorsese, um dos maiores diretores das últimas décadas, precisou da Netflix para colocar Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino juntos em “O Irlandês”. Ao lançar “Roma” na mesma plataforma, Alfonso Cuarón vencedor de dois Oscar provocou: “quais cinemas americanos exibiriam um filme mexicano, filmado em preto e branco e falado em espanhol?”. Enquanto os algoritmos inundam Hollywood, a tecnologia vem impactando até o trabalho desempenhado pelos atores. O recente remake de “Rei Leão”, a versão jovem de Will Smith em “Projeto Gemini” e a participação de Carrie Fisher, mesmo após a morte da atriz, no último filme da trilogia de “Star Wars” são amostras disto.}
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Programação: Quick Motion ENCONTRARTE AUDIOVISUAL OFERECERÁ AULAS GRATUITAS Opções de cursos para que adolescentes possam 21 de março, às 9h aprender na teoria e na oficina@encontrarte.com.br prática um pouco do dia a dia de quem trabalha com audiovisual. Quem quiser viver essa experiência e de forma gratuita, deve procurar o EncontrArte. TURMA 1: Terça e Quinta-feira, das 8h às 12h TURMA 2: Terça e Quinta-feira, das 14h às 18h Local: Centro Social São Vicente – Rua Governador Portela, 382 – Centro
CURSO DE CINEMA ENCONTRO VIRTUAL COM A CINEASTA SANDRA KOGUT Sandra Kogut. Documentarista, cineasta 22 de abril de 2020, às 15h e professora, participa, sala virtual do Meet (Google) nesta quarta-feira, no dia 22 de abril, de um encontro virtual com os alunos do Grupo de Estudos da Escrita e da Poética do Roteiro Audiovisual, do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza.
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Videogame é arte? Teríamos de definir Arte para sabermos se videogame é arte. Porém, expor tal definição desvalorizaria o próprio conceito Por Gustavo Audi e Ilustração Por Isaac
Só o pensar no que seria a arte já serve para se construir um sentido particular. E foi o que fiz ao questionar a posição do videogame dentro da arte. Para isso, recorri ao passado. O que vivemos hoje não é tão diferente do que já passamos pela história (claro que com as devidas particularidades). O meu ponto de comparação foi o Impressionismo. É importante citar que falar sobre arte não necessariamente a define. Todavia, entrar em contato com obras artísticas desperta (aguça) a sensibilidade na contemplação. É importante ver/ ouvir/ler/sentir para criar o senso crítico.
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O Impressionismo, de maneira geral, é um movimento artístico originado na pintura francesa do fim do século xix. O movimento começou, principalmente, com as obras de Manet, Monet, Pissarro, Renoir e Degas. Felizmente, esta obra foi vista por Monet e seus amigos, que os influenciou a criarem um grupo, posteriormente conhecido como Impressionistas. A inovação dos impressionistas estava em quebrar com a tradição idealista ou acadêmica, que buscava a retratação “perfeita” da realidade. Para fazer isso, eles simplesmente levaram o estúdio para céu aberto e passaram a usar, e valorizar, a luz natural sobre os objetos. Para nós, uma pintura como a de Monet não causa tanto estranhamento, chega a ser até agradável. Mas imaginem para uma sociedade não tão íntima com imagens como nós e fortemente acostumada com figuras perfeitas, volumosas, simétricas, iluminadas, em perspectiva e representadas em situações divinas, como a Vênus, de Cabanel, abaixo…
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Personagens de O Cortiรงo ganham perfil no instagram em atividade escolar Professora usa a rede social como aliada para engajar os estudantes e trabalhar um clรกssico da literatura brasileira
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[o projeto da leitura da obra clássica O Cortiço, de Aluízio Azevedo, associado a redes sociais, começou há seis anos. Inicialmente, utilizou-se o Facebook, depois, o Twitter e, em 2019, o Instagram. A escolha foi consequência do perfil dos estudantes, pois é a rede mais acessada por eles atualmente. Para a escolha do veículo utilizado, também foi avaliada a dinamicidade da rede, a potência para explorar a criatividade, a habilidade de síntese, o uso de linguagem não verbal, a relação com outros textos verbais, habilidades que poderiam ser exploradas com o uso do Instagram.
O processo O projeto durou aproximadamente seis semanas. Iniciou-se a atividade com a apresentação do conteúdo relacionado à obra, ou seja, o período literário Naturalismo. Foram expostos os aspectos históricos, as características, alguns fragmentos de textos do referido período e, na sequência, iniciamos uma conversa sobre o livro O Cortiço. Após esse momento teórico, o projeto foi explicado, e os estudantes acolheram-no com interesse e curiosidade.
O trabalho foi desenvolvido da seguinte forma: as turmas foram divididas em duplas e cada dupla era um personagem da obra. Cada personagem ganhou um perfil no Instagram, por exemplo: @ritabaiana22b (nome da personagem e identificação da turma). As personagens deveriam seguir e serem seguidas apenas pelos perfis da turma e o perfil da professora, @aluizioazevedo_literatura. As postagens tiveram um cronograma de leitura semanal para que todos estivessem na mesma parte da história. Além do cronograma, também havia regras para as postagens, número de stories, número de publicações no feed (linha do tempo) e comentários.
Objetivos Os objetivos desse projeto eram proporcionar aos estudantes uma leitura dinâmica e interessante de um clássico da literatura brasileira e aproximar a literatura da atualidade. Por meio das publicações, era possível observar com mais atenção e verdade os dramas vividos por cada personagem, unir o estudo da literatura às mídias digitais do século 21, potencializar a leitura dos clássicos, oferecer estratégias de leituras diversificadas e instigar a curiosidade.]
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Por que Duna é tão importante para a literatura? A obra mais popular de Frank Herbert mudou os rumos da ficção científica
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[ já faz mais de 50 anos desde que Duna foi lançado, dando início a uma saga literária que não viria apenas a se tornar a obra de ficção científica mais vendida Mas sobre o que é Duna? do mundo, mas também se tornaria Duna se passa 20 mil anos no futuro, referência para o gênero, inspirando em um universo em que os humanos milhares de produções sci-fi – até mes- já colonizaram outros planetas e estamo Star Wars. beleceram uma sociedade neles. O ano Criada pelo escritor Frank Herbert, a exato, de acordo com a nossa noção de franquia teve seis livros ao todo – o que, tempo, seria 21.267 d.C. diga-se de passagem, totalizam mais A trama acompanha o conflito entre de 3 mil páginas (!) – que contam, de as duas famílias mais poderosas da galáforma detalhada, uma história comple- xia – as dinastias Atreides e Harkonnen xa e cheia de minúcias. Duna se passa – que estão interessadas na mineração em um universo totalmente novo com do planeta Arrakis, também conhecido conceitos nunca pensados antes, como como Duna por ter terrenos arenosos e conta Daniel Lameira, editor da Aleph, um clima seco. editora que publica os títulos no Brasil: Lá, existe uma substância rara, apeliAntes de Duna, o sci-fi era ligado a dado de “especiaria”, que supostamente dois grandes movimentos dialéticos. O prolonga a vida humana, melhora as primeiro são as narrativas “pulp”, que capacidades mentais e até possibilita focam em um entretenimento rápido a dobra entre o espaço-tempo. O uso e curto, geralmente com bastante liber- contínuo deixa o usuário com os olhos dade criativa. Já o segundo é a era de totalmente azuis. ouro da ficção científica: “Com narraA especiaria só pode ser encontrativas mais elaboradas e maior cuidado da em Duna e é protegida por vermes científico, destacando os romances de gigantes com até 450 metros de comautores como Clarke, Asimov e Heinlein, primento, que vivem debaixo da areia e durante a década de 50”. são atraídos pelas bases de mineração. Além das criaturas, o planeta desértico também é habitado por seus nativos, os Fremen, que vivem como nômades debaixo das dunas e temem pela ocupação da dinastia Harkonnen, liderada por um barão ganancioso e cruel. Eles acabam se juntando com o protagonista Paul, o jovem duque da família Atreides, quem eles acreditam ser o profeta que vai salvar Duna.]
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Alunos gravam programa de rรกdio para estudar literatura Professora de literatura envolveu a turma em projeto interativo para estudar o modernismo
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[este projeto consistiu em fazer os estudantes viajarem ao início do século 20 para estudar a estética Modernista, fazendo pesquisa em livros e principalmente na internet. Comecei a encorpar o projeto da rádio dividindo a turma em cinco equipes. Cada uma ficou responsável por um movimento literário e dois autores.
O projeto
Resultado
O trabalho consistia em criar um programa de rádio com título relacionado ao nome de uma das obras dos autores, além vinhetas e toda a programação. Essas tarefas foram desenvolvidas em uma semana. Eu distribuía as demandas, e os estudantes faziam os estudos na sala do nte (Núcleo de Tecnologia Educacional) da escola ou até mesmo em casa. As aulas ou mesmo o grupo do WhatsApp eram usados para tirar dúvidas. Foram criados cinco programas: Rádio Abaporu, Rádio Caetés, Rádio Jubiabá, Rádio Sagarana e Rádio Poemas. As vinhetas foram gravadas com o apoio de professor e radialista idealizador do programa Aluno Repórter, que além de gravar com os estudantes, ministrou uma oficina de rádio na escola. As vinhetas foram pensadas para diferentes momentos da programação, bate papo com o autor, conversa de pé de ouvido, poemas musicados, minuto do movimento, entre outros.
Eles se engajaram tanto com a proposta que começaram a trazer novas sugestões. A princípio, cobrei relatórios escritos dos encontros das equipes. Uma equipe escolheu apresentar o relatório no bloco de notas, com fotos e áudios. Assim, todas as outras começaram a entregar nesse mesmo formato. A rádio estava ganhando corpo! Os programas foram gravados nos celulares, em algum espaço da escola, ou nas casas dos estudantes. Depois de gravados, eles foram editados em aplicativos e renderizados em mp3. Após esse processo, eles compartilhavam no grupo da turma, onde também estão a direção da escola, a coordenação pedagógica e os familiares convidados pelos os alunos.]
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100 anos de Isaac Asimov e seu legado para a geração da era tecnológica Seu trabalho ainda hoje ganha diversas reedições e adaptações para tv e cinema por Daniele Cavalvante
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em 2 de janeiro de 1920, nascia na Rússia, em Petrovich, o escritor e bioquímico Isaac Asimov. Autor com mais de 500 obras, incluindo romances, contos, ensaios e histórias de divulgação científica, ele foi um dos grandes nomes da chamada era de ouro da ficção científica nos anos 1950. Seu trabalho ainda hoje ganha diversas reedições e adaptações para tv e cinema. A palavra “robota” foi usada primeiro É uma vasta bibliografia que soma 463 para descrever os autômatos de uma peça livros e 46 obras editadas – um total de de teatro do autor tcheco de ficção cien509. Nessas páginas, Asimov explorou tífica Karel Capek (1890-1938). Sua obra diversos campos do conhecimento, e acabou se de 1920 contava uma história sobre autôtornando amplamente conhecido pelas obras de matos de aparência humana criados por ficção científica, principalmente por seus robôs. um cientista genial chamado Rossum. Em Foi em uma dessas histórias que Asimov criou um artigo escrito para o dicionário Oxford, as famosas Leis da Robótica, até hoje estudadas Čapek explicou que a princípio pensou em por engenheiros e por legisladores do mundo chamar suas criaturas de labori (do latim todo. Também é famoso por prever e debater labor, “trabalho”), e que seu irmão Joseph, abertamente alguns dos temas mais delicados também escritor, propor roboti, que acabou da nossa atual sociedade tecnológica. sendo uma opção mais sonora. Na peça de Čapek, os robôs fogem do Asimov e a robótica controle humano, desenvolvem sentiEmbora o conceito de seres autômatos já exis- mentos próprios e terminam por destruir tissem na literatura, através de contos como a espécie que os criou. Este é basicamente O homem de areia (1816), de E.T.A Hoffman, o enredo que inspirou uma infinidade de e O feitiço e o feiticeiro (1899), de Ambrose histórias de ficção científica na época – até Bierce, o termo robô tem origem na palavra a estreia de Asimov na literatura. tcheca “robota”, que pode ser traduzida como “trabalho forçado”. Essa ideia de que robôs são uma espécie de escravos da humanidade, que então se revoltam, foi bastante abordada antes de Asimov - ele próprio aproveitou o conceito, mas foi muito além disso.
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Em sua obra, Asimov preferiu abandonar a abordagem tradicional e se aprofundar no tema. É importante lembrar que, além de autor de ficção científica, Asimov era bioquímico, escrevia livros sobre ciência que explicam conceitos científicos, inclusive com cronologia histórica, além de trabalhos sobre astronomia e matemática. Por isso, sempre houve uma preocupação em lidar com a ciência com uma visão menos pessimista – e, certamente, mais realista, ponderando todos os prós e contras da evolução tecnológica à qual a humanidade se dirigia. Ele deixou sua visão bem clara ao escrever: “Tornou-se muito comum, nas décadas de 1920 e 1930, retratar os robôs como inventos perigosos que invariavelmente destruiriam seus criadores. A moral dessas histórias apontava, repetidas vezes, que há coisas que o homem não deve saber. No entanto, mesmo quando era jovem, não conseguia acreditar que se o conhecimento oferecesse perigo, a solução seria a ignorância”. Percebe-se aí a constante preocupação em defender a ciência, mesmo sem fechar os olhos para os problemas sociais que ela pode nos trazer.
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Yousuf Karsh
Isaac Asimov nasceu Isaak Yudovich Ozimov
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Assim, suas obras se tornaram um diferencial das demais histórias de ficção da época porque seus robôs ganharam nova complexidade e seus universos tinham as nuances importantes para uma discussão saudável sobre o avanço da tecnologia. Em seu primeiro conto sobre robôs, Robbie (1940), podemos ver grupos antirrobôs que protestam contra as máquinas, e uma criança que não consegue superar a perda de seu robô. O leitor se depara com dois lados da mesma moeda – o robô carinhoso com a criança e a realidade dos trabalhadores que perdem seus empregos. Em um de seus livros mais emblemáticos, Eu, Robô, Asimov nos apresenta um mundo em que humanos e robôs convivem em sociedade, explorando possíveis relações que dali poderiam surgir, assim como o desenvolvimento de “sentimentos” nas máquinas criadas pelos humanos. O filme homônimo é inspirado na obra. É nesta história que o autor introduz as famosas três leis da robótica. Mesmo sendo oriundas de um livro de ficção, elas são ótimas diretivas para robôs caso nossa ciência consiga desenvolvê-los de forma semelhante à dos livros.
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Mesmo quando era jovem, não conseguia acreditar que se o conhecimento oferecesse perigo, a solução seria a ignorância”
As três leis são: 1.Um robô não pode ferir um ser humano ou, por ócio, permitir que um ser humano sofra algum mal. 2.Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei. 3.Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis. Mais tarde Asimov acrescentou a “Lei Zero” acima de todas as outras: um robô não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal. Alexey Dodsworth, autor brasileiro de ficção científica, afirma que a primeira lei deveria receber maior ElPais atenção, haja vista que alguns robôs virtuais atualmente podem induzir humanos a cometer erros, promovendo até linchamentos em massa nas redes sociais. Também afirma que as leis devem ser seguidas, sob risco de a humanidade ser destruída caso o contrário. “Os robôs não terão culpa, já que os programamos sem os imperativos éticos propostos pelo escritor”, afirma Dodsworth. Outra obra de ficção de renome do autor é a Trilogia da Fundação, que inclusive ganhará uma adaptação no serviço de streaming da Apple. Posteriormente veio a se tornar Série Fundação, composta por um total de sete livros. A série conta, com riqueza de detalhes, as influências que o conhecimento científico pode ter em uma sociedade de proporções galáticas. Um conceito apresentado na obra é o da psicohistória, termo cunhado pelo próprio autor, que utiliza metodologias matemáticas e das ciências sócias para prever o futuro de sociedades.
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Há ainda uma série de contos que têm os robôs como tema central os robôs positrônico – um conceito criado por ele próprio; são robôs com cérebros que possuem inteligência artificial, constituído de platina-irídio, cujos circuitos produzem e eliminam pósitrons, partícula recém-descoberta na época em que o autor criava suas primeiras histórias. Inicialmente, os contos não foram concebidas como uma série, mas todas as história possuem o tema de interação de humanos, robôs e moralidade. Por isso, embora exista um punhado de inconsistência entre contos e romances, toda essa obra acabou sendo considerada como parte de um único universo. Muitos desses contos são de grande importância, como é o caso de O Homem Bicentenário, que recebeu o Prêmio Hugo e o Prêmio Nebula de melhor novela de ficção científica de 1976 e ganhou uma adaptação para o cinema estrelado por Robin Williams. No campo da não ficção, um dos As previsões de Asimov livros de Asimov foi o Cronologia das É interessante observar que, mesmo a psico-história Ciências e das Descobertas, um com- sendo um conceito fictício, o próprio Asimov foi capaz pilado de descobertas realizadas de fazer “previsões” para muito além de seu tempo para pela humanidade, datando desde as sociedades humanas, que ainda hoje vemos se concrea pré história até o ano de 1988. A tizando. Essas previsões foram realizadas em entrevistas, edição em inglês do livro conta com primeiro em 1964 para o The New York Times, e depois 791 páginas, e dentre as descober- em 1983, para o Toronto Star. Entre essas previsões, ele falou sobre existência de apatas listadas, estão a dominação do fogo, a invenção do microscópio e relhos corriqueiros no nosso dia a dia, mas inexistentes na a descoberta do dna. época: fornos de micro-ondas, televisores de tela plana e a própria internet, por exemplo. Outras previsões acertadas foram o ensino à distância (ead), mesmo que não nas mesmas proporções que Asimov imaginava. Também previu a substituição do trabalho humano pelo robótico, além da
Ele falou sobre existência de aparelhos corriqueiros no nosso dia a dia, mas inexistentes na época: fornos de micro-ondas, televisores de tela plana e a própria internet”
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Rowena Morril
inserção de aparelhos tecnológicos na vida cotidiana, que se tornariam essenciais (celulares que o digam). O mais importante na declaração sobre a internet e o ead não é a previsão da tecnologia em si, mas as possibilidades que ela traz para melhorar a vida das pessoas. Quando o entrevistador Bill Moyers questiona se as máquinas poderiam “desumanizar a aprendizagem”, o escritor oferece, mais uma vez, sua visão – a de que a internet, na verdade, seria benéfica por oferecer uma relação direta entre aluno e a fonte da informação. Essa reflexão servia para, já naquela época, ajudar a moldar a sociedade da melhor maneira quando essa tecnologia surgisse. Muitas das contribuições de Asimov para os dias de hoje vieram de livros de ficção. Isto pode ser um grande exemplo de como a arte pode ser um meio de transmitir conhecimento, e não está distante do conhecimento científico: muito pelo contrário, tais obras foram profundamente embasadas nas descobertas e previsões científicas que existiam na época. Podemos falar muito sobre como o impacto que as obras de Asimov, e de outros autores, podem influenciar a forma como lidamos com nossa realidade e como a imaginamos no futuro. Esse é um dos principais legados de Asimov - aprendemos com ele a antever não apenas os problemas que a tecnologia pode nos trazer, mas também seus potenciais benefícios. Assim, podemos preparar a sociedade para lidar com ambos os lados da moeda. Afinal, essa responsabilidade é nossa, que construímos hoje o mundo de amanhã.}
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Leitura ao vivo por atores
HARRY POTTER AT HOME Leitura por atores online
O projeto Harry Potter at home foi anunciado em um vídeo, que tem ainda as participações de David Beckham, Dakota Fanning, Eddie Redmayne, Stephen Fry, Claudia Kim e Noma Dumezweni. Cada um deles lerá uma parte da história. Daniel Radcliffe foi quem começou com o primeiro capítulo de Harry Potter e a pedra filosofal, O menino que sobreviveu. O vídeo está disponível no site oficial da franquia.
HOBBITATHON O ator e diretor Andy Serkis, mais conhecido por interpretar o personagem Gollum em O Senhor dos Anéis e O Hobbit, fará uma live dia 10/05 para ajudar a deixar a quarentena mundial do coronavírus mais leve.
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Maratona de leitura de O Hobbit por Andy Serkis
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Virginia Woolf e a barbárie Tão perigoso quanto o Führer discursando para multidões é o cidadão de bem que acredita conciliar o amor pelos seus com o ódio pelos outros por Paulo Roberto Pires e ilustração Isaac
“Agora nós estamos em guerra”, anotou jogaram no chão do jardim, assustados Virginia Woolf em 31 de agosto de 1940. com um rasante. Ainda assim, ela dizia A entrada de seu diário dá conta de que, encarar com relativa serenidade – “Se naquele sábado, Vita Sackeville-West, estou com medo? Intermitentemente” sua amiga e amante, telefonara para – a escalada de agressões que culminaria, dizer que não poderia ir à Monk’s House, em 7 de setembro, no primeiro grande a casa que Virginia e o marido, Leonard, bombardeio de Londres, a pouco mais mantinham em Rodmell, no condado de de cem quilômetros dali. Naquele ataSussex, na Inglaterra. Vita estava sitiada que e nos seguintes, foram atingidas em Kent, onde vivia, por bombardeios duas casas do casal e a editora que alemães. “Está dando para ouvir?”, re- fundaram, a Hogarth Press. Foi a última intervenção pública de petia ela, completamente desorientada, chamando atenção de Virginia para os Virginia Woolf sobre política. Pouco estrondos. “Estou exausta para tentar mais de cinco meses depois da publidescrever a sensação de falar com al- cação, na manhã de 28 de março de guém que pode ser morto a qualquer 1941, ela deixou a Monk’s House como momento”, escreve Virginia. se fosse dar uma caminhada. Às marO terror avançava aos poucos, in- gens do rio Ouse, encheu de pedras os sidiosamente. Eventuais treinamentos bolsos do casaco e deixou-se levar pela para sobrevivência, trincheiras aqui e ali. correnteza. A Leonard, escreveu: “Devo E o ronco persistente dos aviões. Duas a você toda a felicidade da minha vida”. semanas antes, Virginia e Leonard se Tinha 59 anos.
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class block: def
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__init__ o robô é um fingidor finge tão completamente = index que chega a str(fingir que é dor) a dor que na verdade não sente ()
def
update na dor return mas só
e os que lêem o que computa lida sentem bem = dic não as que ele não teve a que eles têm encode ()
def
calculate e assim nas linhas de código return descompila, a entreter a razão esse comboio de cobre self.calculate + que não se chama coração + “\nBlock Previous Hash: ” + “\n__________________”)
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