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VOLUME seis | NÚMERO

EDITORIAL

Se chegasse à nossa cidade um homem aparentemente capaz, devido à sua arte, de tomar todas as formas e imitar todas as coisas, ansioso por se exibir justamente com os seus poemas, prosternávamos diante dele, como de um ser sagrado, maravilhoso, encantador. Mas dir-lhe-íamos que na nossa cidade não há homens dessa espécie, nem sequer é licito que existam, e mandá-loíamos embora para outra cidade, depois de lhe termos derramado mirra sobre a cabeça e de o coroado de grinaldas.

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PLATÃO. A República, Livro III, 398b.

Bem-vindos a este número, que possivelmente é o mais cor-derosa da história da Subversa. Parece que cai bem, neste primeiro de abril, dia em que se destaca a mentira e a enganação que acompanha a realidade, ombro a ombro, diariamente.

Podemos até dizer que nesta data, curiosamente, falamos muito mais a verdade, à medida que a mentira é escancarada. Um dia para assumir que mentir faz parte.

Pensando assim, no calendário da literatura não há outro dia senão o primeiro de abril. Não há outra forma de revelar a verdade senão através de sua face ficcional, existente em tudo. Não há literatura sem a expressão de uma forma única de escrever, ainda que toda a literatura seja também uma cópia infinita de mentiras anteriores. Como bem afirma o angolano Júlio de Almeida, em entrevista, “rir das próprias desgraças tem a vantagem de, sem escamotear o denunciar de erros e dificuldades em que se está envolvido, apresentá-los com a confiança de que serão ultrapassados”. Ou, ainda, a afirmação da portuense Daniela Sá, autora das ilustrações deste número, que desenha “quando não está a escravizar-se ou a ler”. É aí, justamente, onde parece estar a graça de tanta mentira.

Desejamos uma leitura cor-de-rosa a todos.

As editoras.

4

“um livro para reler”: DICA DE LEITURA DOS colunistas

“UM, NENHUM E CEM MIL”, de Luigi Pirandello (ed. Cosac &Naify; trad. Maurício Santana Dias).

“Nesse romance o escritor siciliano trabalha com maestria sua própria concepção de humor, problematizando as concepçções de identidade e individualidade. Uma narativa tragicômica realizada em primeira pessoa, capaz de levar o leitor ao mais profundo de si mesmo”.

BOMQUEIROZ

[O LADRÃO DE CHAPÉUS]

“THE BIRTHDAY PARTY”, de Harold Pinter.

É um clássico e é teatro e em Portugal quase não se lê teatro - desde já duas razões bastante legítimas para se reler este livro. Pessoalmente, ainda me recordo vivamente da experiência de leitura deste livro e do impacto não só do seu desfecho, mas também de todo o enredo da ação dramática. Recordo-me de perguntar "mas o que é isto?" Trata-se de um texto vibrante, perturbador, atualíssimo e de leitura obrigatória.

ZÉLIA MOREIRA

[AUTOLUSOGRAFIAS]

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