EDITORIAL Se chegasse à nossa cidade um homem aparentemente capaz, devido à sua arte, de tomar todas as formas e imitar todas as coisas, ansioso por se exibir justamente com os seus poemas, prosternávamos diante dele, como de um ser sagrado, maravilhoso, encantador. Mas dir-lhe-íamos que na nossa cidade não há homens dessa espécie, nem sequer é licito que existam, e mandá-loíamos embora para outra cidade, depois de lhe termos derramado mirra sobre a cabeça e de o coroado de grinaldas. PLATÃO. A República, Livro III, 398b.
Bem-vindos a este número, que possivelmente é o mais cor-derosa da história da Subversa. Parece que cai bem, neste primeiro de abril, dia em que se destaca a mentira e a enganação que acompanha a realidade, ombro a ombro, diariamente. Podemos até dizer que nesta data, curiosamente, falamos muito mais a verdade, à medida que a mentira é escancarada. Um dia para assumir que mentir faz parte. Pensando assim, no calendário da literatura não há outro dia senão o primeiro de abril. Não há outra forma de revelar a verdade senão através de sua face ficcional, existente em tudo. Não há literatura sem a expressão de uma forma única de escrever, ainda que toda a literatura seja também uma cópia infinita de mentiras anteriores. Como bem afirma o angolano Júlio de Almeida, em entrevista, “rir das próprias desgraças tem a vantagem de, sem escamotear o denunciar de erros e dificuldades em que se está envolvido, apresentá-los com a confiança de que serão ultrapassados”. Ou, ainda, a afirmação da portuense Daniela Sá, autora das ilustrações deste número, que desenha “quando não está a escravizar-se ou a ler”. É aí, justamente, onde parece estar a graça de tanta mentira.
Desejamos uma leitura cor-de-rosa a todos. As editoras.
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