SURFAR #38

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FAMÍLIA CHUMBINHO C O N H E Ç A A E X P E R I Ê N C I A D E V I DA D E U M A DA S FA M Í L I A S M A I S “ S U R F ” D O B RA S I L

TAHITI 1 6 PÁG I N A S M O ST RA N D O A P E R F E I Ç ÃO DA B A N C A DA D E T E A H U P O O

CAIO VAZ D E P RA N C H I N H A O U STA N D U P ? U M A E N T R E V I STA Q U E M O ST RA A T RA J E TÓ R I A D E S U C E S S O D O “ WAT E R M A N ” C A R I O C A

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João Vitor “Chumbinho”, aos 13 anos, em Desert Point.


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ÍNDICE

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Cauã Carriel usou toda a técnica adquirida em Maresias para pegar os tubos pesados em Desert Point. Foto: Pedro Tojal.

Tahiti - Temporada 2014

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Entrevista: Caio Vaz

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Família Chumbinho

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A Vida Que Eu Queria

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Ensaio Surfar

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Alguns dos melhores momentos de uma temporada de tubos pesados.

A Surfar entrevistou o “waterman” Caio Vaz, que espera se tornar o mais novo campeão mundial de Stand Up Paddle ainda esse ano.

Acompanhamos a rotina de uma das famílias mais surf do Brasil durante o maior swell que encostou na Indonésia no início da temporada.

Em uma conversa descontraída, Marcelo Trekinho e Bruno Pesca contaram o que têm vivido nas gravações da primeira série nacional de surf do Canal Off.

A modelo e estudante de Medicina Roberta Bittencourt posou para as lentes do fotógrafo Davi Borges.

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EDITORIAL Com os radares ligado no próximo swell Depois de montar uma base no North Shore durante todo o inverno, agora foi a hora de fazer o QG na Indonésia. Enviamos nosso fotógrafo Pedro Tojal para passar seis meses produzindo nas ondas indonesianas. Pode até parecer conversa de pescador, mas para nossa sorte essa temporada tem sido uma das melhores dos últimos anos. As ondulações chegaram a atingir 12 pés nas bancadas afiadas de Desert Point, uma verdadeira máquina de ondas para a esquerda que faz surfistas do mundo inteiro seguirem rumo a esse paraíso. A quantidade de imagens captadas é de deixar qualquer um de queixo caído e louco para pegar o primeiro avião e ir atrás de alguns “indobarrels” da vida.

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Uma das matérias que fizemos por lá foi da família “Chumbinho”. Acompanhamos o dia a dia deles e descobrimos por que essa é uma das famílias “mais surf” do Brasil. O pai Gustavo Chumbão é local de Saquarema e seus dois filhos, Lucas (18 anos) e João Vitor (13 anos), já possuem uma boa bagagem de viagens internacionais. Para você ter uma ideia do “potencial” do menor, João Vitor, aos 11 de idade, passou dois meses no Hawaii. Sua vontade de estar na água quando o mar subia era tão grande, que um belo dia ele fugiu com uma prancha do irmão para surfar em Waimea. Agora, aos 13 anos, emplacou a capa dessa edição com um tubão em Desert Point. A moeda de troca dos pais para


eles se manterem na água é tirar notas boas na escola. Uma bonita experiência de vida que essa família vive nos dias de hoje. Na entrevista do mês, fomos saber melhor sobre a trajetória vencedora do “waterman” carioca Caio Vaz que lidera o ranking na corrida ao titulo mundial de SUP. O atleta falou sobre seu início no surf e como suas origens na pranchinha o possibilitaram de se “reinventar” dentro d’ água quando perdeu o patrocínio principal que tinha com uma grande marca do surfwear. Para fechar essa edição, ligamos nossos radares e acertamos em cheio três swells seguidos no Tahiti. Com tubos ocos e largos, a temporada na Polinésia Francesa

não poderia passar em branco aqui na Surfar. Um destino muito procurado por surfistas de todo o planeta, além de ser muito fotogênico. No entanto, no dia que a revista estava indo para a gráfica, nós recebemos uma ligação do Pedro Tojal que fez aquela pergunta corriqueira: “Ainda tem espaço na revista? Acabei de fazer altas fotos em um swell dos sonhos num pico aqui na Indonésia”. A resposta veio de imediato: “Calma Tojal! Deixa para a próxima edição... Estamos indo pegar onda em uma valinha aqui em frente à redação, pois a galera está fissurada para fazer um surf depois de ver tanta onda boa nessa edição! Até a próxima e vamos todos pra dentro d’água surfar! José Roberto Annibal

Foto da capa : João Vitor Chumbinho surfando Desert Point. Pelo tamanho do tubo já dá pra gente ter uma noção de como estava pesado esse dia Foto acima: Linhas perfeitas em um final de tarde na Indonésia Fotos: Pedro Tojal.

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MAIOR DA SÉRIE

O local de Maresias KJ Norton usou toda a técnica adquirida nos tubos da região de São Sebastião para surfar as pesadas ondas do Grower, Indonésia. Foto: Pedro Tojal.

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BÔNUS INDONÉSIA


O que você fazia com nove anos de idade? O catarinense Yan Söndahl vem aproveitando sua infância dentro dos tubos do Grower, Desert Point. Foto: Pedro Tojal.






PIOR DA SÉRIE

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Ricardo dos Santos teve alguns milésimos de segundos para pensar como fazer essa aterrizagem “forçada” em Teahupoo. Torcemos aqui na redação que o plano de saúde internacional dele esteja em dia! Foto: Henrique Pinguim/ Liquid Eye.

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Kirstin/ ASP

POR TRÁS DAS ONDAS

Líder absoluto! O ranking da ASP estampa pela quinta vez em 2014 a foto de GABRIEL MEDINA na primeira colocação. Depois da vitória no início do ano em Snapper Rocks, Medina venceu em Fiji e se manteve na liderança ao terminar o J-Bay Open em quinto lugar. As direitas de Jeffreys, sexta etapa do WCT, eram consideradas um teste de fogo para Gabriel por ele nunca ter surfado de backside nos expressos sul-africanos. Mais da metade do Tour já se foi e a corrida pelo título está embolada entre a primeira e a sétima posição ocupada por Mineirinho. A torcida segue forte mandando muita energia para ver o nosso garoto prodígio fazer história e pela primeira vez colocar o Brasil no topo do surf mundial!

Medina vai defender a liderança do WCT 2014 nas últimas cinco etapas.



Annibal

POR TRÁS DAS ONDAS

“Quem são vocês para se impor aqui?”, disse “Fast” Eddie à ASP. A entidade quer diminuir a presença de havaianos no Pipe Master.

E agora ASP? No início de julho, o xerife do North Shore “Fast” Eddie Rothman soltou o verbo contra a ASP (Association of Surfing Professional) em uma entrevista na internet para o documentário I Want My North Shore 2. A polêmica foi gerada por causa das novas regras do Pipe Masters, que limitará a presença de havaianos convidados na competição. Com o objetivo de padronizar o WCT, o evento perde o privilégio de ter oito wildcards locais e terá apenas dois como todas as outras etapas do ano. Nos anos anteriores, os locais exigiam a presença de no mínimo 1/3 de competidores havaianos em campeonatos que eram realizados no North Shore. ---- por LUÍS FILLIPE REBEL

udo começou em maio quando a ASP anunciou um acordo de licença com a Vans Triple Crown of Surfing, assim a entidade passa a ditar as regras dos campeonatos em Sunset, Haleiwa e Pipeline, enquanto as marcas serão apenas patrocinadoras das etapas. Com essa decisão, a ASP tirou o peso dos donos das marcas de negociar com os locais a quantidade de participantes nos eventos, uma tarefa árdua. Na verdade, a ASP mexeu no “calo” dos havaianos. A presença desse grande número de representantes nas competições é como uma bandeira de resistência da comunidade local aos grandes eventos realizados em terras havaianas pela entidade máxima do surf. Em tom de desafio, “Fast” Eddie, o líder dos Da Hui, não economizou palavras (e muitos palavrões) para avisar à ASP que lá o buraco é mais embaixo: “Eles querem cortar para dois representantes do Hawaii no Pipe Masters. Ei, eles já cortaram para oito. Quer saber de uma coisa? Vocês estão jogando

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pedras na gente, dando socos em nós e agora não querem lutar? Vão se fuder! São 16 surfistas havaianos! Ah, vocês não vão fazer isso? Quem são vocês para se impor aqui?” Para tentar amenizar a polêmica, esse ano acontecerá o Pipe Trials, um campeonato que reunirá 32 especialistas em Pipeline, sendo que 26 obrigatoriamente havaianos, disputando duas vagas no evento principal e 100 mil dólares. A ASP acredita que esse evento dará mais visibilidade aos competidores do Hawaii. “Os mais promissores talentos do surf havaiano vão ter toda a oportunidade de reivindicar seu espaço em casa de frente para uma audiência global de televisão e uma cobertura online ao vivo”, destacou a entidade em seu site. Além disso, os dois que se classificarem para a competição principal receberão o pagamento pela participação mesmo que sejam eliminados no Round 1. Nos anos anteriores, apenas quem chegava ao Round 3 recebia alguma premiação e as estatísticas mostram que poucos convidados alcançavam essa fase.


“Onde estão os locais que moravam em Sunset Beach? E em toda Seven Miracle Mile? As pessoas vieram aqui e pegaram para eles, mas não estão satisfeitos com isso, eles querem o mar também! (se referindo à especulação imobiliária no North Shore) Boa sorte, vocês sabem que não desistiremos facilmente! Enquanto o surf funcionar do jeito que sempre foi, nós vamos aguentar firme, não vamos deixá-los tomarem isso da gente”. Em 2013, apesar do número de locais ter sido reduzido de 16 para somente os oito primeiros colocados no Volcom Pipe Pro, ainda teve o wildcard Shane Dorian, o melhor havaiano no ranking mundial Granger Larsen, e Kalani Chapman como substituto de um dos surfistas lesionados. Assim, por coincidência ou não, a exigência de pelo menos 1/3 dos competidores serem do Hawaii foi cumprida. Mas esse ano isso não será possível, já que no máximo dois locais conseguirão as vagas. Agora nos resta aguardar os próximos capítulos dessa briga de gigantes, que só deve ter fim em dezembro quando acontece o Pipe Masters.

Cestari/ ASP

Por um lado, alguns atletas do WCT achavam que o antigo formato acabava prejudicando aqueles que precisavam dos preciosos pontos na reta final para se manter na elite, já que na última e decisiva etapa do ano eles tinham que disputar baterias com locais especialistas nos tubos de Pipe. Por exemplo, quinze havaianos disputaram a prova em 2013, sendo onze não integrantes do WCT. Fora isso, a pressão de remar errado atrapalhando a onda de um local era um prenúncio de confusão na areia. Paulo Moura e Neco Padaratz já sentiram isso na pele. Mas do outro lado tem “Fast” Eddie, que aos 65 anos continua lutando pelo respeito às tradições da cultura local, assim como ficou conhecido nos anos 70, e não vai dar o braço a torcer facilmente. Ele acredita que o capitalismo está passando por cima da comunidade, quando vários surfistas lotam os principais picos com suas pranchas cheias de adesivos na temporada havaiana. Para “Fast” Eddie, ter a “Rainha” do North Shore reservada durante o Pipe Masters para uma esmagadora maioria de estrangeiros em pleno inverno havaiano é inaceitável!

Cestari/ ASP

Onde estão os locais que moravam em Sunset Beach? As pessoas vieram aqui e pegaram para eles, mas não estão satisfeitos com isso, eles querem o mar também! ------ EDDIE ROTHMAN

Em 2013, Miguel Pupo teve que buscar pontos em Pipeline para se manter na elite.

Durante o Pipe Masters, o crowd sai da água e vai para areia. Os locais não aprovaram as mudanças da ASP.

XXXXXXXX. Foto: XXXXXX.

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Dias de luta, dias de gl贸ria!


Fotos: Divulgação

Com apoio da Surfrider Foundation, Bocão comemora o sucesso do seu projeto social. Ao lado, fotos menores: Dia a dia na rotina à frente da Rocinha Surfe Escola.

á 42 anos nascia José Ricardo Santos, o “Pimentinha”, que corria descalço pelas ladeiras e becos da Comunidade da Rocinha, Rio de Janeiro, quando ainda moleque. Criado pela sorte, não conheceu seus pais biológicos e aos oito anos de idade descobriu que precisava trabalhar engraxando sapatos para sobreviver. Arteiro, Ricardo até os 16 anos gostava de soltar balões, mas num belo dia de 1988 descobriu na praia de São Conrado o esporte que mudou a sua vida. Foi o seu primeiro contato com as ondas e “parecia um sonho”, segundo ele. “Esse passou a ser o meu estilo de vida, a minha filosofia. Eu não tinha onde morar e dormia ali mesmo na praia. Aprendi a consertar pranchas e dava aulas de surf”, lembra Bocão da Rocinha, como hoje é conhecido. –––– por VIVIANE FREITAS

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FÁBRICA DE SONHOS

A residência nas areias de São Conrado abriu seus olhos para um esporte que até pouco tempo era marginalizado. Foram muitas experiências que mudaram também a forma como ele vê o mundo e a própria vida. A falta de oportunidades não tirou o brilho dos olhos e a pureza do seu coração. O surf sempre fez parte da sua rotina e a diversão virou trabalho sério entre consertos e aulas. E como toda luta exige dedicação, Bocão passou a investir em cursos que tornaram as suas atividades ainda mais profissionais. Entre as dezenas deles, ele exibe com orgulho seus diplomas de treinador e professor de surf concedidos pela International Surfing Association (ISA), educador físico provisionado reconhecido pelo Conselho Regional de Educação Física (CREF), salvamento e primeiros socorros avançados pelo Grupamento Marítimo (GMar), além de muitos outros concedidos por entidades como Sebrae e Fundação Getúlio Vargas. Parece que tudo foi fácil para este carioca e que sua vida sobre as ondas é um “mar de rosas”. Mas não é bem assim. O garoto pobre e sem família, que viveu desde os seis meses de idade em uma das regiões mais violentas da capital fluminense, tinha todos os motivos para escolher o lado negro da força. Entretanto, sua boa índole, honestidade e bom caráter – hoje reconhecidos por todos que o cercam – falaram mais alto. “O que mais me deixa feliz é ter o reconhecimento das pessoas pelo meu trabalho. É saber que estou compartilhando algo de bom. Ao longo dessa minha estrada, conheci muita gente famosa, conheci lugares e pessoas especiais, fui homenageado e participei de trabalhos importantes. Isso é muito gratificante”, reconhece.

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Em 1994 nascia o projeto social Rocinha Surfe Escola dentro de uma garagem abandonada na entrada do túnel Zuzu Angel, sentido Lagoa. O local era usado tanto de abrigo para as pranchas, que ganhava de doações, quanto de moradia. Há cinco anos, após uma grande reforma na área, o Surfe Escola passou a fazer parte do Complexo Esportivo da Rocinha e ganhou uma sede novinha. Motivo de alegria e muita dor de cabeça para este carioca sanguebom. Seu ponto privilegiado e valorizado passou, então, a ser motivo de cobiça de alguns antigos exploradores locais que o coagiram de maneira truculenta e covarde. A boa notícia é que o bem é mais forte e prevaleceu. Atualmente, já estão inscritas pouco mais de 40 crianças e adolescentes, com idade entre 8 e 18 anos, que dedicam seu tempo às aulas de surf, música, inglês (com professores gringos), escalada, estudo bíblico e cidadania. “Nossa didática nas aulas de surf é voltada para o trabalho de base. E quando o aluno já está bem adiantado, nós encaminhamos para outros parceiros”, explica Bocão. Toda estrutura do Rocinha Surfe Escola vem de doações de amigos, surfistas que se sensibilizam pela causa e até mesmo algumas empresas internacionais. “Montar essa escola era o meu grande sonho, não iria descansar enquanto não realizasse e hoje está funcionando bem direitinho. São 28 anos dedicados ao esporte com muito orgulho”, comemora. O projeto, no entanto, é apenas uma ferramenta de inclusão usada por Ricardo Ramos. O seu carisma conquistou a confiança de mães desesperadas, que veem em seu rosto uma esperança de não perderem seus filhos para a breve vida da criminalidade. “Cuidamos de um adolescente que pressionava muito a mãe para conseguir um emprego e ameaçava entrar para o tráfico de drogas do Complexo. Através do nosso esforço, hoje ele faz o curso seletivo para trabalhar no metrô de São Conrado. Estão todos felizes e a mãe aliviada”, lembra.

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01. O cantor Jack Johnson entre Bocão e dois alunos. 02. Dedicação às aulas. 03. Hora de aproveitar as boas esquerdas do Pepino. 04. Os primeiros passos começam na areia.

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FINALMENTE NO BRASIL A MARCA MAIS IRREVERENTE DO MUNDO


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REAPRENDENDO A VIVER Uma vida praticamente inteira em pausa, sem ser parte do mundo mesmo fazendo parte dele. Foi assim que se passaram os 25 anos da história de Fagner Lopes, hoje com 27. As limitações do autismo – disfunção diagnosticada ainda na infância – não o impediu de conquistar os mares. Os seus dois últimos anos foram intensos desde que conheceu as atividades do projeto social Rocinha Surfe Escola, em São Conrado. “Estou aprendendo a ser um surfista melhor. Quando a gente não desiste, consegue tudo”, diz Fagner, amarradão com a nova fase. O brilho nos olhos de Fagner não esconde a emoção ao falar das ondas e tantas outras descobertas. Hoje ele leva uma vida agitada, considerada normal para pessoas da sua idade, e pela primeira vez está aprendendo sobre a língua portuguesa, além de ter aulas de estudos bíblicos, inglês, música e escalada. “Escalar é muito difícil, mas quando a gente para e curte aquele visual, esquece tudo”, lembra ele, que adora encarar as trilhas do Pão de Açúcar e da Pedra da Gávea. E em 2013, Fagner teve o privilégio de surfar ao lado do cantor Jack Johnson, um dos apoiadores do projeto.

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FORMANDO PROFISSIONAIS Nascido e criado na Rocinha, Cristiano Gomes ainda se lembra de quando ganhava uns trocados equilibrando bolinhas no sinal aos seis anos de idade. Hoje, com 17, é um bom aluno e um talentoso competidor. Recentemente ficou em primeiro lugar na competição Rio Surf Camp, onde foi premiado com uma passagem para o Peru. O goofy footer se sente à vontade no quintal de casa e lamenta a transferência do Circuito Mundial de Surf para a Barra da Tijuca. “Se as disputas fossem aqui em São Conrado, eu poderia disputar como convidado e seria uma grande chance”, lamentou. Em 2013, Cristiano ficou em sétimo lugar no ranking do Circuito Estadual, competição na qual mantêm o foco dos treinos atualmente. Enfim, a ideia do projeto Rocinha Surfe Escola de resgatar os garotos da criminalidade vem dando certo e por volta de 900 alunos já passaram por lá. “Desde pequenos, os moleques brincam com réplicas de armas de fogo e isso cria o mau ‘hábito’, os maus pensamentos... Hoje muitos sabem que compartilho algo de bom”, conta Bocão. Contatos Rocinha Surfe Escola: Ricardo Bocão – (21)98317-8783 / (21)99885-6387 bocão_rse@yahho.com.br

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01. Dedicação nos primeiros acordes ao lado de Donavon Frankenreiter. 02. Diversão no mar. 03. Bocão com o cheque do prêmio concedido pela LAN de melhor projeto social. 04. Mutirão de lixo no Costão do Arpoador. 05. O aluno Igor aproveitando a marola da Barra. 06. Mestre e discípulo: Tom Curren e Cristiano Gomes. 07. Jack Johnson com Bocão e alunos conferindo o quiver. 08. Concentração em sala de aula no curso de Educação e Saúde.


C O S TA M E S A NEUTRAL GRAY | CAPTAIN FIN | CHILI PEPPER


O big rider australiano Dylan Longbottom, acostumado a pegar as bombas no Tahiti, desfrutou do maior swell da temporada na Indonésia que rolou no final de junho com ondas de até 10 pés. Perfeição em dose dupla! Foto: Pedro Tojal.


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XXXXXXXX. Foto: Pedro Tojal.


POR TRÁS DAS ONDAS

Gabriel Pastori testando e aprovando a nova Pororoca.

17 minutos de onda! Foi bem em cima da hora que recebi o convite para participar do décimo quarto Campeonato Brasileiro de Surf na Pororoca. A notícia veio como uma bomba e, da noite para o dia, voei até o Amapá para viver uma das experiências mais exóticas da minha carreira de surfista. Quando cheguei lá, descobri que a famosa Pororoca do Rio Araguari secou dando início às buscas por novas ondas de rio. Confira nas próximas páginas como foi essa aventura e as particularidades que o surf de água doce tem. ---- por GABRIEL PASTORI

fotos divulgação/ RAIMUNDO PACCÓ

POROROCA NA COPA

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O clima da Copa chegou até aos lugares mais remotos do país.

Arquivo pessoal

Depois de dois voos e onze longas horas de escala, finalmente eu cheguei ao meu destino: o Amapá. E se não fosse a Pororoca, dificilmente eu pisaria naquelas terras. Do aeroporto peguei um carro até o porto, e ao entrar no navio percebi que a viagem estava apenas começando. Foram mais umas quinze horas navegando noite e dia até chegarmos em um vilarejo, onde assistimos o primeiro jogo do Brasil na Copa. Numa realidade totalmente diferente, as famílias dessa vila vivem sobre palafitas e têm como principal fonte de renda a pesca e o açaí, que por sinal é muito bom e bem diferente do “açaí carioca”. Lá, eles nem sabem o que é xarope de guaraná e tomam o suco bem grosso com açúcar e farinha de tapioca. As antenas parabólicas da parte de fora das casas de madeira indicavam que ali havia televisões. Foi aí que eu pude ver de perto o poder do principal meio de comunicação de massa dentro de um país tão grande como o nosso. Dessa forma, no meio da floresta amazônica, as pessoas tinham acesso à mesma informação que eu tenho no Rio de Janeiro. Me impressionei quando vi casas e mais casas totalmente enfeitadas para a Copa e o povo vivendo aquela atmosfera que eles só conheciam pela telinha. Eu e toda a equipe assistimos ao jogo num galpão cheio de gente e comemoramos juntos, no meio da selva, a primeira vitória da seleção na Copa.

Os vilarejos sobre as palafitas estavam todos enfeitados.


A ESTRUTURA PARA CHEGAR ATÉ LÁ Diferente da maioria das surf trips, para se chegar até a Pororoca é necessário uma megaestrutura e estar junto de pessoas que conheçam muito bem o local. Sem isso é praticamente impossível. Para essa expedição foram usados dois navios de 60 pés, que funcionaram como nossa casa por cinco dias na selva. Além dessas embarcações, ainda tínhamos duas lanchas, onde ficavam os fotógrafos e filmmakers que acompanhavam a onda em alta velocidade e registravam tudo. Já para os surfistas tinham dois jet skis com uma banana inflável atrás, um para colocar a gente na onda e outro para o resgate de quem caía e ficava à deriva. A equipe da Abraspo, Associação Brasileira de Surf na Pororoca, comandada por Noélio Sobrinho, que está a 17 anos à frente de boa parte das expedições para as “ondas de rio”, me acompanhou. Além de toda comissão técnica, imprensa, piloto dos barcos e cozinheiras, fui na companhia do meu amigo Adilton Mariano, que foi quem me convidou para a trip. O cearense atualmente é conhecido como o “Rei da Pororoca” e detentor do recorde de 37 minutos em pé na onda, conquistando nessa viagem seu sétimo título de campeão brasileiro.

Como decidi tudo em cima da hora, eu não tive tempo de estudar e nem me informar sobre as condições de surf, os rios e como funcionava tudo aquilo. Assim que cheguei ao barco, comecei a perguntar sobre o fenômeno e de cara bateu certa tristeza. Quando perguntei sobre a Pororoca perfeita que alguns amigos meus já tinham surfado, recebi a seguinte resposta: “A onda do Araguari acabou. Grande parte de tudo que você já viu sobre Pororoca aconteceu no Rio Araguari”. Com mais de três quilômetros de largura e cerca de 30 quilômetros de extensão, esse rio era considerado o Hawaii de água doce. Por incrível que pareça, o Rio Araguari secou e, segundo o pessoal de lá, isso ocorreu devido a alguns fatores naturais e também pela intervenção do homem. Com a construção de uma hidrelétrica, parte da água que corria pelo Araguari foi desviada. Outro fator foi a formação de um novo rio que se iniciou por ser um percurso constante de manadas de búfalo. Com o tempo, o volume de água desse novo rio cresceu, o que também contribuiu para a secagem de diversas partes do Araguari, acabando com a formação da onda. Ao mesmo tempo em que fiquei chateado num primeiro momento, o fato de estar saindo para uma expedição que tinha entre outros objetivos buscar novas Pororocas era animador.

André Portugal

Divulgação/ Victor Benigno

A megaestrutura é indispensável para caçar a Pororoca.

A MELHOR POROROCA ACABOU...

Essa direita perfeita não corre mais pelas águas doces do Rio Araguari.

Acidentes de percurso sempre acontecem.

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Adilton Mariano, o “rei da Pororoca”.

Marcelo Bibita mostrando que tem experiência nas ondas de água doce.

DESBRAVANDO NOVAS “ONDAS DE RIO” O sentimento de estar indo para algo totalmente novo não estava só em mim. De certa forma, até os mais experientes da barca também estavam ansiosos para buscar e descobrir outra Pororoca que pudesse substituir o Rio Araguari. A primeira onda que surfamos, no Rio Livramento, não era novidade e também não estava tão boa. No entanto, serviu de treino e palco para o campeonato, vencido por Adilton Mariano que derrotou o paulista Marcelo Bonfim na final. Eu e o cearense Ícaro Lopes dividimos a terceira colocação. Depois de dois dias surfando por ali, o presidente da Abraspo, Noélio Sobrinho, decidiu ir até o Rio Sucuriju para buscar a nova Pororoca. Tivemos que ir de “voadeira” (lancha pequena), já que os práticos dos navios se recusaram a fazer a travessia alegando o risco de encalhar em águas que eles pouco conheciam. Cada um pegou uma muda de roupa, uma rede e partiu por cerca de três horas pelo mar até chegar ao Sucuriju. A longa viagem debaixo do sol da linha do Equador foi muito cansativa, mas logo que chegamos a pequena população local nos animou com a informação de que a Pororoca estava grande por ali. Pedimos abrigo para um cidadão local, armamos nossas redes na frente da casa dele e ficamos ansiosos à espera da onda.

Para minha felicidade e de toda a equipe, vimos e surfamos uma onda de verdade! A distância entre as margens do rio era curta e a população local também esperou e vibrou com a gente, que passamos surfando bem na frente da comunidade. Tudo aquilo que estava acontecendo era novo para aquelas pessoas, que não sabiam nem o que era uma prancha. A onda do Rio Sucuriju veio com quase um metro no primeiro dia e durou cerca de 20 minutos. Isso porque, por precaução, o Noélio decidiu parar num certo ponto, pois continuar perseguindo a onda poderia ser perigoso, já que ninguém ali conhecia bem o rio. Depois dessa onda no final de tarde, tentamos dormir nas redes para surfar na manhã do dia seguinte, mas passamos a noite em claro por causa dos mosquitos da selva. Assim que o dia amanheceu, peguei minha última onda da trip e fiquei cerca de 17 minutos entre descansos deitado na prancha e manobras na parede dela. Por fim, arrumamos as coisas para voltar de lancha até o navio que nos levaria para o Amapá.

O fenômeno é monstruoso e lindo ao mesmo tempo!

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O “tsunami” que vem do mar derruba tudo pela frente!

COMO FUNCIONA O FENÔMENO

Com a enorme variação de maré, diversos barcos ficam encalhados nas margens.

Arquivo pessoal

Surf + Pororoca + Copa do Mundo no Brasil.

Apesar de já ter visto diversos vídeos e matérias sobre a Pororoca, eu nunca tinha de fato entendido como uma onda daquele tamanho podia invadir um rio por mais de meia hora. Na teoria, o fenômeno acontece duas vezes ao mês, uma na lua nova e outra na lua cheia, devido à grande variação das marés. No entanto, é possível surfar cerca de três dias antes e três depois do dia dessas luas. A onda é a primeira enchente da maré que vem do mar depois de horas secando no rio. Diferente da onda do mar, a Pororoca é um nível de mar que entra no rio, como se fosse um verdadeiro Tsunami. Normalmente se surfa uma onda por dia, mas nessa expedição conseguimos surfar duas, já que pegamos uma maré seca na primeira luz do dia e outra no finalzinho da tarde. O fato de a água ser doce muda muita coisa no surf. Como a densidade é outra, a prancha flutua bem menos e o ideal é usar uma mais grossa ou de epóxi. Outra coisa que chama muita atenção é o barulho da onda chegando! A gente fica nos jet skis esperando nas águas paradas do rio com o som calmo da floresta, mas na hora marcada, antes mesmo de conseguirmos ver algo, é possível ouvir o ruído da onda chegando. Nessa hora, o coração bate mais forte e instintivamente todos começam a gritar, até os mais experientes. Assim que a onda é avistada, partimos em direção a ela. Na primeira oportunidade, a gente pula do jet e rema até a espuma bater. Depois disso, é só alegria! Surfar no meio da floresta é uma experiência que eu nunca vou esquecer e, assim que eu puder, parto para outra aventura dessas.

O tradicional ritual “Auêra Auara” dos surfistas da selva.

A Floresta Amazônica e suas particularidades.

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INSTAGRAM GRINGO

Fotos Arquivo Pessoal

Durante suas trips atrás dos maiores swells pelo planeta, os gringos aproveitaram para nos presentear com imagens alucinantes pelos diversos picos por onde passaram. Confira!

@anastasiaashley exibindo seu belo shape num momento de relax.

@joelparko sendo “rabeado” em seu tubo pelos paparazzi das águas.

@freddyp808 curtindo o final de tarde no seu quintal de casa.

@shanedorian agradeceu aos mexicanos com essa imagem alucinante das ondas de Puerto Escondido!

@mfanno e o visual por debaixo das ondas.

@jackrobinson_oficial levando seu surf para outro nível.

@rissmoore10 nas cores perfeitas do final de tarde em Fiji.

@josh_kerr84 entubando perfeito em um secret spot.

@whoisjob fazendo um “selfie” de um pico diferente na Costa Rica.

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INSTAGRAM BRASIL

Fotos Arquivo Pessoal

Apesar do vexame da seleção na Copa do Mundo, nosso time verde-amarelo no surf só nos dá motivos de orgulho com suas excelentes performances dentro d’água pelo mundo afora. Se liga nos cliques dos tops!

@filipetoledo registrando com sua GoPro todos os momento dentro d’água em Fiji na companhia de Gabriel Medina.

@ian_cosenza fez questão de nos presentar com esse visual alucinante em Bali.

@mgabeira partindo para mais uma caída num belo fim de tarde carioca.

@guilhermetripa mostrando seu surf de vários ângulos. Capa da Surfar #33 ao lado de um aéreo!

@matheusnavarro numa pausa entre as sessions com o seu cachorro Snow.

@stephanfigueiredo numa rasgada cheia de estilo!

@nicolepacelli descendo amarradona uma direita de Stand Up!

@pettersonthomaz mandando “good vibrations” no início de mais um dia de surf.

@yagodora pronto para tirar um tubão azul.

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SURFPRESCRIPTIONS MODELO NEW TOY DE 5’2”A 6’2” PRANCHA DOUBLE WING ROUND INCRIVELMENTE SOLTA E RÁPIDA PARA CONDIÇÕES PEQUENAS E MÉDIAS. PODE SER USADO 4 OU 3 QUILHAS


Bruno Lemos/Liquid Eye

WAINUI por BRUNO LEMOS

Raoni Monteiro surfou com perfeição as ondas da série.

O melhor pico de surf do Brasil Impressionante! Acho que essa seria a palavra ideal que eu usaria para descrever as ondas que vi na Barrinha depois que rolou o WQS de Saquarema. No ano passado, eu já havia ficado maravilhado com as ondas que quebraram na Praia da Vila, assim como dessa vez, quando um dia depois do término da janela do evento da ASP as ondas ficaram grandes e perfeitas em Saquá. Essa foi a primeira vez que pude realmente compreender e ver de perto o potencial incrível desse pico, que alguns dos locais da área chamam de “Secret”. Uma onda bem diferente do já conhecido point de Itaúna, pois é mais rápida, mais forte e que proporciona um tubão para a direita. O mais incrível é que, aparentemente, essa onda tem o potencial de ficar ainda melhor, isso porque a prefeitura local está tentando salvar a lagoa. Segundo os moradores, a areia da praia durante os últimos anos estaria fechando a entrada e saída de água da lagoa, por isso um píer foi construído. Mas agora a ideia é estendê-lo para que o canal fique sempre aberto, deixando dessa forma a entrada da lagoa desobstruída. Com isso, a obra ainda permitiria a entrada e saída de barcos, o que poderia estar criando também uma nova atividade e possivelmente um novo tipo de turismo na região. Mas enquanto isso não acontece, os benefícios desse projeto já beneficiaram uma parte da comunidade: os surfistas. Antes da construção do píer existia uma onda na Barrinha, um “slab” para a direita chamada de “sorriso”. “Era um tubo que dava em cima da pedra em condições raras, mas com a obra do píer essa onda acabou. Em compensação, o quebra-mar está retendo toda a areia vinda das frequentes ondulações de leste criando, assim, talvez um dos melhores fundo do país”, comentou com alegria o surfista local Raoni Monteiro, que naquele dia surfou com perfeição várias ondas da série. Depois de assistir uma manhã clássica de ondas incríveis, a impressão que tive nesse dia foi de que eu estava num dos picos de Salina Cruz, no México. O swell estava sólido, grande e alguns dos locais arriscavam dizer que havia séries de quase 10 pés! Entrar na água era quase impossível! Se não fosse a ajuda da equipe da área que faz o surf resgate e do Chumbão, que estavam de jet ski, acho que metade do

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crowd não estaria ali na água, pois vi muitos tentando varar a arrebentação e não conseguir. No outside as bombas entravam com frequência e quando as ondas chegavam ao inside os tubos rodavam forte. A maioria do crowd era de locais e grande parte dos surfistas estava de pranchas grandes, sendo que volta e meia saía alguém com prancha em dois pedaços na mão. É claro que com ondas dessa qualidade seria normal que os “haoles” quisessem saber qual a melhor forma de um dia virem a surfar, além disso, questões sobre o crowd e o localismo seriam naturais. Vi uma cena que definiu bem a situação. Em uma das melhores ondas do dia, três dos locais mais respeitados da área estavam na mesma onda, um veio lá de trás muito bem posicionado para entrar e sair do tubo, mas foi rabeado na cara dura. Enquanto esses dois gritavam entre si, o outro veio, dropou reto na frente deles e continuou na onda como se nada tivesse acontecido. A impressão que tive foi de que se entre eles a disputa já é acirrada, imagina um haole no meio dessa equação? Poderíamos até dar um desconto, pois nesse dia as ondas estavam absurdamente incríveis e todos queriam a boa da série! Sei que tem muita gente legal ali em Saquarema, mas quando o assunto é surf e onda boa, com certeza, a hierarquia do pico vai falar mais alto. Mesmo assim, vi vários caras de fora pegando ondas incríveis também, inclusive alguns gringos como Peter Mel e um italiano, que pegou alguns tubos impressionantes. As condições épicas duraram apenas algumas horas. Com a mudança da maré e a entrada do vento, as condições foram se deteriorando, porém o dia entrou para a história. Mais uma vez, a reputação de que Saquarema é o melhor pico de surf do Brasil continua e pelo jeito vai demorar muito para que essa imagem mude! Com a extensão do píer, a tendência é que tenha mais areia no fundo e que as ondas quebrem mais para fora, tornandose ainda mais extensas com a grande probabilidade de continuar a dar altas ondas ali naquele pico. Mas o problema mesmo vai ser sobrar uma da série para nós! BRUNO LEMOS é fotógrafo carioca radicado há mais de vinte anos no North Shore, Hawaii.



Cestari/ASP

POR TRÁS DA ONDAS

Tom Curren em um bottom turn perfeito.

Tom Curren rouba a cena em Jeffreys Bay Você imaginaria voltar a ver dois ídolos do esporte, Tom Curren e Mark Occhilupo, em Jeffreys Bay com 10 pés de onda? Pode acreditar, pois foi assim a estreia do ASP Heritage Series, que tem o objetivo de formar baterias entre lendas do esporte em algumas etapas do WCT. Logo de cara o confronto reuniu a linha refinada de Curren contra as “patadas” do aussie Occy, o único goofy footer a vencer em J-Bay. Convidamos o nosso mestre do estilo FABIO GOUVEIA para fazer uma análise desse heat memorável que roubou a cena do evento. ---- por LUÍS FILLIPE REBEL Instagram

A bateria foi disputada no último dia de competição que amanheceu com direitas de até três metros em algumas séries. O forte vento deixou as condições difíceis para alguns tops que cometeram erros de leitura das ondas nos primeiros confrontos. Até que chegou a hora do cinquentão Tom Curren entrar na água e roubar a cena. Tom surfou com muita fluidez, entrou em um tubaço e saiu com as mãos para o alto. Um 10 perfeito! Quem foi rei nunca perde a majestade! A partir de então, só se falava nele. Nas redes sociais e sites especializados, todo o destaque foi para o americano, o que deixou a vitória de Mick Fanning até um pouco em segundo plano. A frase “O verdadeiro campeão de J-Bay foi o Tom Curren” bombou nas mídias sociais após o evento. Com a palavra, Fabio Gouveia!

Medina posa com seus ídolos.

Cestari/ASP

PRIMEIRO DE TUDO, COMO VOCÊ VIU A PERFORMANCE DOS DOIS EM J-BAY? FABIO GOUVEIA: Era uma bateria muito esperada e o mar se propôs a estar no mesmo nível dos caras. Deu altas ondas! Pena que o vento estava um pouco forte. Acredito que tenha prejudicado um pouco, principalmente o Occy (48 anos). E os caras já têm idade (risos). Mas o Tom Curren arrebentou. Ele é realmente quem está mais em forma. A gente vê muito mais o Tom nos picos de surf do que o Occy, que está muito mais trabalhando nos campeonatos. Mas eu acredito que depois dessa bateria o Occy vai querer correr um pouco atrás. Deu para ver que, apesar de ter surfado onda boa e tal, ele não estava na forma física para fazer frente com o Tom (risos).

Mr. Curren deu aula para “molecada” da elite!

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MUITO SE FALOU SOBRE OS TOPS ESTAREM COM DIFICULDADES PARA SURFAR A ONDA NO COMEÇO DO DIA. O QUE O TOM PODE PASSAR COMO APRENDIZADO PARA A ATUAL E AS NOVAS GERAÇÕES? FIA: Primeiro, na internet não parece estar ventando tanto, mas pode crer que é o dobro daquilo ali. Quem conhece aquela onda sabe que estava muito difícil. É que ambos (Occy e Curren) são mestres lá. Eu acho que o Tom pode passar a calma dele na onda em si. Alguns tops como o Joel e o Mick, esse um pouco mais elétrico, faziam a linha parecida com a dele, mas alguns outros batiam prancha em momentos que não precisavam bater. O surf está totalmente diferente, e para essas manobras que a galera executa hoje em dia, não existe mais aquela batidinha com o joelhinho pra dentro. Mas é sempre bom quando caras assim se apresentam para manter vivo esse lance da harmonia que aliado às manobras atuais é o futuro.

ENTÃO VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTE O ASP HERITAGE SERIES PARA MANTER VIVAS AS RAÍZES EM UM ESPORTE QUE NÃO PARA DE SE REINVENTAR? FIA: Com certeza. Esses dois são ícones e

poderia estar caindo com 2 polegadas a mais. Por exemplo, uma prancha menor quando chega naquele momento que você está lá em cima com aquele vento fica muito mais skate, muito mais papel. O Occy me parece que estava com uma 6’9, apesar de ela aparentar ser bem larga, e tava meio estranho. Então, eu senti o Tom Curren mais confortável. Tem se falado que ele estava com uma 6’6. Eu não achei. (Tom usou uma Al Merrick 6’2 x 18 1/4 x 2 3/16 de 25.5L) Mas o que que eu vou falar? O Mick Fanning tava com uma 5’10, se eu não me engano, e tava surfando super bem. Colocou umas quilhas maiores. Hoje em dia tem muito isso, a galera aumenta o volume, diminui em polegadas e bota quilhas maiores. Eu venho fazendo isso direto e funciona. Acredito que aquele surfista que consiga surfar bem com uma prancha um pouco maior em ondas maiores, vai se dar bem porque tem todo esse fator de preencher a composição.

E PARA TERMINAR, O QUE VOCÊ ACHOU DA CRIAÇÃO DO ASP HERITAGE SERIES?

FIA: É muito irada essa iniciativa da ASP de fazer uma bateria com esses legends aí. Porque os caras representaram muito pro surf e é sempre bom para manter os caras na ativa. A primeira vez que eu vim pro sul em 86 teve uma bateria de apresentação no OP Pro entre Picuruta, Felipe Dantas, acho que David Husadel e mais algum outro surfista que não lembro agora. Essa bateria era super maneira. Eu ali como iniciante, aspirante a ser um profissional um dia, fiquei muito amarradão. Isso é muito legal porque valoriza o esporte, o atleta e os próprios surfistas da atualidade, pois no futuro eles vão poder ser relembrados pelo que fizeram. O surf precisa resgatar e manter os ídolos.

Cestari/ASP

o surf deles, apesar de não ter o lance das manobras aéreas, está atual quando se trata de uma onda como Jeffreys Bay ou Sunset. Então, vale muito esse mix de estilos. O cara que mixar bem essa parada do ultra radical com o surf de borda e de uma boa leitura em ondas como Bells e Jeffreys vai sair na frente, vai manter o espetáculo radical e harmonioso. Acho que todo atleta que está ali no WCT tem em mente isso. Em algumas condições de onda você necessita surfar mais clássico porque não tem como sair voando toda hora. J-Bay foi o exemplo disso, o cara que não investe em um tipo de surf que aquela onda requer, não vai passar a bateria.

QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE O TAMANHO DAS PRANCHAS QUE OS ATLETAS USARAM? FIA: Eu vi os caras caindo com 5’10, 5’9. Acho que essa galera

Occy continua reinando absoluto como o único goofy campeão em J-Bay.

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NA MEDIDA Local de Honolulu, WADE TOKORO, 48 anos, começou a shapear em 1985 junto com seu irmão Kerry. “Nós amávamos surf e gostávamos de trabalhar com as mãos, então foi natural começar a fazer pranchas”, conta. Durante um tempo, Tokoro shapeou para a Blue Hawaii, do também shaper Glenn Minami, e depois para a Local Motion, até que no início da década de 90 lançou a Tokoro Surfboards. Com mais de 40.000 shapes, o havaiano tem entre seus clientes ao longo desses anos vários surfistas internacionais do WQS e WCT e hoje conta em sua equipe com atletas renomados, como Sunny Garcia, Jamie O’Brien, Seth Moniz, Reo Inaba, Gregg Nakamura, Keanu Taylor, além dos brasileiros Marco Giorgi, Lucas Vicente e YURI GONÇALVES, com quem mantem uma parceria de sucesso há sete anos.

YURI GONÇALVES POR WADE TOKORO

WADE TOKORO POR YURI GONÇALVES

Aparceria com oYuri começou em 2007 numa trip minha para o Brasil, mas eu já me impressionava com o surf dele antes. Toda vez que ele vem para o Hawaii, surfamos juntos e discutimos as performances das pranchas e design, assim trabalhamos para pegar o feedbackdoequipamento.Alémdisso,tambémmantemos contato por e-mail. Gosto do jeito que ele surfa, muito progressivo e rápido, e também fico impressionadocomseusaéreos.Então,semprebuscomelhorar nos designs para levar o surf a um nível superior. As pranchas doYuri para o Brasil são mais baseadas em gerarvelocidade,controleedriveporcausadasondas de beach break. Na Indonésia, com ondas mais perfeitas, lisas e a maioria em fundos de coral, o quiver é baseado em desempenho e controle. Já no Hawaii, onde podem variar ondas pequenas de performance ou muito grandes e de muita força, as pranchas precisam cobrir uma variedade enorme de 5’11 até 10’6 e ter mais controle e remada. Mas a prancha do dia a dia temsido a MXpara osmarespequenose médios,com design rocker médio no bico, rocker menor na rabeta econcavesprofundosnaáreadarabetaparamantê-la rápidaesolta.Nossoobjetivoésempreevoluirnaturalmenteemdesigndepranchaseestamostrabalhando nobalancedelasemcontatocomaágua.Éumprocessosemfimdeaprendizagem,oquetornaissodivertido.

ComeceiausaraspranchasdoTokoroaindamoleque. Ele estava junto com meu amigo e patrocinadorTales Hartmann quando o conheci.Aideia de usar as mesmas pranchas que alguns tops do WCT na época me deixava amarradão.Agora eu uso pelo prazer de surfar com uma prancha que responde a todos aos meus requisitos. Sempre que vou ao Hawaii, passamos um tempo conversando sobre o equipamento que estou usandoeoqueachoquepoderiamudar,mastambém mantemos contato direto online durante o ano. O fato de nos conhecermos bem e dele saber como eu surfo éfundamentalparaosucessodanossaparceria.Normalmente o Tokoro já sabe o que preciso, porém ele me escuta bastante quando falo de outras pranchas e tentamos absorver isso para as nossas.Ahumildade dele ajuda muito! Tenho um quiver para qualquer situação, desde 5’8 maroleira até minha Jaws Gun 10’6. Mas tenho uma 6’0 especial que desenvolvemos ano passado e me possibilita entubar com muita segurança. Ao mesmo tempo é uma prancha macia que permite manobras fortes e com rapidez. Estamos sempre procurando desenvolver algo novo e trabalhando bastante em cima das minhas guns. Esse ano optei por virar big rider e agora tenho muitos desafios, pois o surf de ondas grandes é um mundo à parte que exige bastante preparo físico e determinação, além de sabedoria e humildade. O Brasil é um berçário de bons big riders e eu quero ser o próximo!

6’0 x 18 7/8 x 2 5/16 - rabeta squash

Everton Luis

Yuri Gonçalves testando seu foguete nas ondas de Desert Point.



NA WEB

“O TOUR FAVORECE OS

“OBRASILSEMPRETEVEGRANDESSURFISTAS NO PASSADO, MAS TALVEZ ELES NÃO

TIVESSEMOAPOIOPARAPERCORRERTODO

REGULARES... É DIFÍCIL! A GENTE

OCAMINHO.COMMAISAPOIODASGRANDES

TEMQUEESTARPREPARADO,NÃO

VAMOSVERMAISBRASILEIROSSUBINDONO

LOTADO DE ETAPAPARAADIREITA

EMPRESAS, EU ACREDITO QUE AINDA

RANKING. ESTE É APENAS O COMEÇO!”

TEMCOMOMUDARISSO.JÁESTAVA E COLOCARAM MAIS UMA.”

@Adriano de Souza

FÉ EM DEUS. AÍ SIM É VIVER, AÍ SIM É SER

FELIZ.AMOSURFAR!ENÃOSEESQUEÇAQUE

que vem se envolvendo constantemente em casos polêmicos no WCT.

“O MAR ENSINAMUITOAVIVER. ÀS

ESQUERDA E MANDAR BEM.”

APRIMEIRADASÉRIEPARAPEGAR

QUALQUER CONDIÇÃO, DIREITA OU @Kelly Slater

QUE FEZ POR MIM NÃO.”

que se rendeu ao talento de Gabriel Medina ao analisar o que já rolou no WCT 2014.

@Raoni Monteiro

VÁRIOSCAMINHOSPARASEGUIR,SÓTENHODE

“ELE É MÁGICO! ELE PODE SURFAR

QUEM ME BOTOU NO WCT FUI EU. CORRI

ATRÁSEFIZMINHAPARTE.NÃOFOININGUÉM

DENTRO DE DOIS ANOS TALVEZ EU POSSA

PARARDESURFARPROFISSIONALMENTE.HÁ

Facebook

Instagram “CAIR, ERRAR, APRENDER, LEVANTAR

PROCURAR PRAZER PESSOAL. TENHO 26 E

@Jeremy Flores

falando sobre a volta de Jeffreys Bay ao calendário do WCT, o que colocou mais uma direita no circuito.

ACABEÇAE SEGUIR EM FRENTE COM MUITA

TUDO O QUE AS PESSOAS APOSTARAM EM

MIM. MAS CHEGOU O MOMENTO DE TAMBÉM

ENCONTRAR O QUE MAIS ME EXCITAR.”

@Gabriel Medina

falando sobre o recente sucesso dos brasileiros no WCT em entrevista ao site da ASP.

Site Stab “ATÉAGORATENHOPROCURADODEVOLVER

Instagram

Facebook

Kirstin/ ASP

Fique por dentro do que a comunidade do surf anda falando nas redes sociais pelo mundo afora!

respondendo as críticas que tem recebido devido à má fase no Tour.

Acompanhe a Surfar pelo Twitter: www.twitter.com/revistasurfar.com.br

VEZESTEMOSQUEDEIXARPASSAR A MELHOR DE TRÁS.” @Sylvio Mancusi para a galera que curte umas frases de autoajuda.



Tahiti

Thiago CamarĂŁo aproveitou muito bem sua estadia no paraĂ­so! Ele descia de grab para depois soltar e sair dos canudos cheio de estilo.

A RAD O P TEM 014 2


A

ssim que foi eliminado precocemente do Billabong Rio Pro, John John Florence pegou imediatamente um avião em direção ao Tahiti. Se John John, criado nos tubos de Pipe, estava indo para lá, era sinal que teria onda boa no radar. E não podia ser diferente, a previsão indicava o primeiro grande swell a atingir a bancada de Teahupoo. Não foi apenas um, mas três seguidos com tubos ocos que chegaram aos 12 pés. Assim, estava oficialmente aberta a temporada de onda no Tahiti e a gente não podia ficar fora dessa festa. Acompanhe nas próximas páginas algumas imagens do que rolou nesse paraíso da Polinésia Francesa. –––– texto e fotos por HENRIQUE PINGUIM 69


Marcus Lavinius Leonardo Neves

Água cristalina, muito verde, locais amigáveis e imensos arco-íris. Bem-vindo ao Tahiti!

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Leonardo Neves

Jadson André não esconde seu amor por essa onda, que é a sua preferida do Tour. Difícil não concordar com ele.

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ADA POR TEM 014 2

Annibal

As belezas taitianas.

Tahiti

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Ricardo dos Santos estava no Rio de Janeiro monitorando o swell para largar tudo novamente e pegar os tubos da vida. Ele cruzou o planeta para surfar apenas dois dias, mas n達o se arrependeu.

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Tahiti

ADA POR TEM 014 2

O baiano Franklin Serpa relaxado na sua segunda temporada taitiana.

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John John foi ao Tahiti voo para dar continuidade ao seu novo filme. Suas performances deixaram todos de boca aberta!

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Jesse Mendes fazendo tudo parecer muito fĂĄcil.

Breno e a onda da sua vida.

Thiago CamarĂŁo sendo observado pela plateia.

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Tahiti

ADA POR TEM 014 2


Henrique Pinguim

O japonĂŞs Keito Matsuoka nos trilhos do West Bowl.

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O freesurfer Nelson Pinto mostrando o caminho a ser feito.

ParaĂ­so transparente.

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Moorea e seus cartões-postais.

Ian Gouveia prestes a aumentar sua coleção de tubos.

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Tahiti

ADA POR TEM 014 2

Um grupo de havaianos desembarcou no Tahiti para o primeiro swell da temporada com a miss達o de gravar o novo filme de John John Florence. Koa Smith aceitou o convite do seu amigo e aproveitou bem a oportunidade.

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Arq. Pessoal

Caio sempre preparado para todas as ocasi천es.


F

ilho de surfista, o carioca Caio Vaz, 20 anos, herdou do pai o amor pelo esporte e o respeito pelo mar. Aos oito, Caio começou a competir de pranchinha nos campeonatos do circuito amador, mas foi apenas seis anos depois que ganhou mais visibilidade na mídia ao fazer um papel de surfista na novela Três Irmãs da TV Globo em 2008. Após essa oportunidade, o surfista fechou um patrocínio de dois anos com uma grande marca de surfwear, porém que não se renovou. Apesar disso, ele nunca abandonou suas origens “salgadas” e jamais pensou em desistir: “A coisa que eu mais gostava era surfar.” Então, Caio foi em busca de inspiração e partiu para uma trip com a família para o Hawaii. Na volta, durante um verão totalmente flat e de água gelada, tudo mudou em sua vida. Por influência de seu irmão mais novo Ian, que já competia, Caio descobriu uma nova paixão: o Stand Up Paddle. Deixando a pranchinha e a carreira de ator em segundo plano, ele resolveu investir na modalidade até chegar a disputar as etapas do circuito mundial de SUP, que na época não eram tão populares como nos dias de hoje. Caio deu a volta por cima. Começou a fazer um programa no Canal Off chamado “Irmãos Vaz”, que está na sua terceira temporada e mostra a rotina da dupla nas competições, além de ter ganhado destaque na mídia por conseguir adaptar bem as manobras da pranchinha no SUP. Atualmente, ele lidera o ranking do Stand Up World Tour com apenas duas etapas para o final do circuito. O apoio da família, o amor pelo mar e a gana de vencer foram essenciais para tudo isso acontecer. Em uma entrevista descontraída, Caio conversou com a Surfar sobre o momento que está vivendo e a expectativa de se tornar o novo campeão mundial. –––– por JOÃO CEZIMBRA

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Rick Werneck

C a i o e n c a r a n d o a L a j e d o S h e r at o n d e p r a n c h i n h a . A o l a d o , c o m a fa m í l i a d u r a n t e u m a s u r f t r i p pa r a R e g ê n c i a . VOCÊ VEM DE UMA FAMÍLIA DE SURFISTAS, SEU IRMÃO E SEU PAI PEGAM ONDA. COMO TUDO ISSO COMEÇOU NA SUA VIDA? Começou com o meu pai, que

O SEU INÍCIO DE CARREIRA FOI BEM DIFERENTE, QUANDO VOCÊ COMEÇOU A FAZER O PAPEL DE UM SURFISTA NA NOVELA TRÊS IRMÃS DA TV GLOBO EM 2008. COMO FOI ESSA OPORTUNIDADE? Com certeza me ajudou. Eu tinha 14

Annibal

hoje está com 49 anos e sempre nos incentivou a ir surfar.Tem fotosnossasdequandoéramospequenoscomboiaemcimadas pranchas. E por ele estar toda hora na praia, em contato com o mar, a gente herdou isso dele. Começamos a ir também com a famíliareunidaechegouummomentoemqueeueoIan(irmão mais novo e quinto colocado no circuito mundial de Stand Up) queríamosirnosdiasdesemanatambém(risos)!Comseisanos, nósentramosemumaescolinhaparatermaissegurançadentro d’águaeaosseteganheiminhaprimeirapranchadaminhaavó. Depois, com uns oito anos, começamos a fazer um treino mais focadoparacompetiçãocomoCaioMonteiro(técnicodesurffalecidoem2007).OengraçadodessaépocaéqueoIantinhamuitomedodomarehojeagentecaisemprejuntonosdiasgrandes.

anos e já competia quando pintou essa oportunidade de fazer a novela. Foi uma época em que eu estava muito bem no surf. Lógico que eu não era um Medina, que era um dos que batiam defrentecomigo,comooJessé,SidneyGuimarães...Euiapara SãoPaulocompetirdireto.OFilipinhoeraumpoucomaisnovo, masestavasemprealitambém,ganhandodagentenacategoria acima. Nunca fui um dos caras tops, sempre brigava, mas não tinha o surf que eles tinham. E a novela ajudou na minha visibilidade,nomeumarketing,digamosassim,mecolocandoemevidência.Porém,poroutrolado,fezcomqueossurfistastirassem ondacomigodeprego(risos)!Euchegavanapraiaeficavamfalando:“Ah,olhaomolequinhodanovela”.Elesnãosabiamque eu já surfava. Não que eu ligasse para isso, mas senti que rolou esse tipo de preconceito, principalmente na época da novela e ainda por cima sendo na Globo, com uma grande divulgação. VOCÊ GOSTARIA DE TER CONTINUADO NA CARREIRA DE ATOR? Antes de fazer

Em 2010, Caio relaxando após uma session em Pipe ao lado de Filipinho e Kona Oliveira.

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a novela, eu já fazia teatro e umas fotos de modelo também. Daí,rolouaoportunidadecomessepersonagemquetinhamuito a ver comigo, mas eu nunca fui muito bom em teatro, gostava maisdoambiente. Depoisdissorolouachancedeparticipardo filme “AOnda da Vida”, que foi logo um ano depois da novela e tambémeraumpapelmuitobacana,ondetinhamuitoavercom a realidade.Após a novela não tive mais oportunidades, mas o filme vai sair agora, quatro anos depois (no mês de julho).


James Thisted

J u n ç ão p e s a da ! V i tó r i a n a p ra i a d e S u n s e t n a p r i m e i ra e ta pa d o C i r c u i to M u n d i a l d e S U P .

Curtindo um surf de peito com seu irmão Ian. Pedro Monteiro

novelaacabou,ganheiumpatrocíniodedoisanosdaBillabong, que não se renovou ao término do contrato. Na época, eu tinha 17anoseestavaemumasituaçãoondefiqueiultrapassadono surfpelostops,sempatrocínio.Masacoisaqueeumaisgostava erasurfar,entãofaleiparamimmesmo:“Beleza,voucontinuar surfando.”Emuma dasminhasviagens,eu estava no Hawaii e tinha um Stand Up na casa onde ficamos, daí, comecei a pegar umas marolas, nada demais. Quando voltei ao Brasil, meu pai entrou na onda de comprar um Stand Up para a família. Era um verão, um mar flat, geladíssimo, e a única coisa que a gente queria fazer era pegar onda de Stand Up. Virou uma disputa pelapranchaqueeragigante(risos)!Nãoconseguíamosfazer manobra nenhuma, mas era muito mais maneiro do que com umapranchinhaboiandoecongelando(risos)!Essafoiaminha transição. Depois meu pai deu para o meu irmão uma 8.11, que eraumapranchasuperousadanaépoca,umahighperformance, e o Ian começou a surfar muito! Lembro que fiz uma viagem e, assim que voltei, ele já estava dando batida, rasgada, 360º e batendo de frente noscampeonatinhosdeStandUpjunto com a galera pioneira aqui do Rio, que era o Jaime Rocha, Bezinho Otero,ThiagoMariano,VictorVasconcelloseRafaelCury.Finalmente fiquei muito a fim de entrar para o SUP! Nessa época, o Ian conseguiu um patrocínio daArt in Surf e quando ele ganhavaaspranchasnovaseupegavaasvelhas!Daíparafrente,começamosanosdestacarnoscampeonatoseagoraquemfazas minhaspranchaséoClaudioPastor.Foibizarroporqueerauma épocadeevoluçãomuitorápida!Quandoosshaperscomeçaram a apoiar, automaticamente nós dois evoluímos muito, pois os tamanhosdaspranchasforamdiminuindoeasmanobrascomeçaram a sair bem mais. Hoje eu surfo com uma 7.1.

Ricardo Stratievsky

COMO FOI ESSA TRANSIÇÃO DO SURF PARA O STAND UP PADDLE? Quando a

D i s p u ta n d o u m e v e n to d e S U P Rac e .

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Pedro Tojal

O waterman Caio Vaz investindo nos tubos de Lakey Pipe, IndonĂŠsia.



SergioRio

C o lo c a n d o p ra d e n t r o n u m a d i r e i ta n o i n í c i o d e j u l h o n a p ra i a d o L e b lo n . SER UM BOM SURFISTA AJUDOU VOCÊ NESSA NOVA FASE? Acho que em

“ P a r a m i m , o S UP é u m a a d a p ta ç ã o su r f . O s m o v i m e n t o s d o c o r p o s ã o m e s m o s , o q u e é a l g o m u i t o l e g a l .”

tudonessavidavocêtemqueseadaptar.Sãofases...Paramim, oSUPéumaadaptaçãodosurf.Osmovimentosdocorposãoos mesmos, o que é algo muito legal. E tem o remo também, que noiníciovocêachaquesóatrapalha,maséessencialparatudo. Eledávelocidade,possibilidadedemanobras,aéreos,etc.Sem dúvida, a galera surfista tem muito mais facilidade e acho que acabei me encaixando bem.

do os

QUANDO O MAR SOBE, COMO VOCÊ ESCOLHE A PRANCHA IDEAL PARA CAIR?

Semprelevoasduaspranchasparapraia:umaStandUpeuma pranchinha gunzera. Quando está grande e dá pra entrar de StandUp,voucomela.Masquando o marestábizarrodegrande(risos),euvoudepranchinha.EtambémporcausadoPrêmio Greenish,quepremiaamaiorondasurfadanoBrasil.Infelizmenteelessóaceitampranchinha.Então,avalioseéumaboaoportunidade ou não. O maior mar que eu peguei foi aquele da Lage do Sheraton em 2010 (ver página 102). Foi uma loucura! Eu não tinha prancha nenhuma para cair, liguei para o Bruce, filho doBocão,edisse:“Bruce,arrumaalgumapranchacomseupai. Vêseelemeempresta,porfavor,euestousemnenhumaaqui!” Fui lá de noite e peguei uma 6.9 emprestada, bem velha. No dia seguinte,ofotógrafoPedroMonteiromeligoudemanhãefalou: “Caio,oTrekinhoacaboudemeligarefalouqueoSheratonestá fechando tudo, a Baía inteira”.Acho que tinha uns 15 pés. Eu não ia entrar no mar, mas como construí uma amizade muito forte com o Gabriel Sodré, após o falecimento do seu pai Caio Monteiro, e ele já tinha caído lá, ficou me botando a maior pilha: “VamosláCaiozinho,vamoscomigo!”.Então,euresolvientrar!

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Bruno Lemos/ Liquid Eye

Tr e i n a m e n to e m to d o s o s t i p o s d e o n da s , C a i o e stá s e m p r e d e n t r o d ’ ág ua .

COMO É A SUA PREPARAÇÃO FÍSICA? Desde pequeno eu faço yôga e

bioginásticanaacademiaOrlandoCaniparaaumentaraminha flexibilidade.Agora pratico triatlon, que na opinião me ajudou bastante.Antigamente eu chegava na final dos campeonatos completamente morto e agora minha resistência está melhor! FaçoessetreinamentocomoMarceloEsquilo,emCopacabana. Minharelaçãoédeumrespeitoabsurdo!Eutenhomedodecondições extremas, mas gosto de sentir essa adrenalina do mar grande. É claro que eu não sou um Burle ou um Gordo (risos)! Estou em um nível muito abaixo deles, mas eu gosto de sentir essaemoçãodedescernumabombaoutomarumasérienacabeça.Amo o mar, pegar onda de peito, de qualquer jeito...Aindanãosoubomemtodasasmodalidades,masachomuitolegal esseconceitowatermandesempreseexercitardentrod’água.

Instagram

VOCÊ SE CONSIDERA UM WATERMAN? COMO É A SUA RELAÇÃO COM O MAR?

COMO É FAZER A SÉRIE “IRMÃOS VAZ” NO CANAL OFF ? Acho incrível isso

que o Canal Off está fazendo, dando essa chance para as pessoas verem mais de perto o que a gente faz e dar mais visibilidadeparaosatletasdivulgaremseuspatrocinadores.Éperfeito tambémporqueagenteviajaparapegarasmelhoresondasdo mundo!EstoumuitofocadonocircuitomundialdeSUP.Sócom asetapasdesseano,euestivenoHawaii,Alagoas,AbuDhabie agoratemCalifórniaeFrançaparadefinirocampeão.Alémdas viagens para os campeonatos, fazemos mais umas duas para o programa.

“Minha

rel aç ão é de um

r e sp e i t o a b su r d o !

Eu

tenho medo de condições e xtrema s, ma s gosto de s e n t i r e ss a a d r e n a l i n a d o m a r g r a n d e .”


Bruno Lemos/ Liquid Eye

C a i o atac a n d o P i p e l i n e e m g ra n d e e st i lo . A b a i xo , c o m e m o ra n d o a v i tó r i a e m S u n s e t B e ac h . O RETORNO DO PROGRAMA NAS RUAS ESTÁ SENDO LEGAL? O retorno está

aumentando bastante. O “Irmãos Vaz” já está na terceira temporada e, cada vez mais, eu e o Ian estamos fixados com o programadentrodagradedaprogramaçãodocanalOff.Narua,as pessoasjánosreconhecem,masoúnicoproblemaéquesempreéhomem.Poucasvezesasmulheresvêmfalarcomagente (risos)! E COMO SÃO ESSES COMPROMISSOS “EXTRACAMPO”? É tranquilo! Dá

tempodedividirascoisas.Quandoagenteestáfilmandoésempre surf. O último episódio, nós fizemos na Califórnia e no final detardeficamosnoMotorHomeanalisandotudoem“slowmotion”.Filmamos,analisamostudoetínhamosacabadodepegar onda. Tudo é surf! Muito bom (risos)! QUAL FOI O SEU DIFERENCIAL PARA VENCER A ETAPA DE SUNSET? Acho que

a vantagem que tive em Sunset foi a vontade de ganhar. Nas últimas três finais, eu fiquei em segundo, então já estava ficando maluco. Nunca tinha feito uma final em Sunset, mas os dois anos que competi lá eu tinha surfado bem, de sair da água e

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Bruno Lemos/ Liquid Eye

Bruno Lemos/ Liquid Eye SergioRio

S u r f d e A l aia. A baixo, surf de pranchinha no El evado do J oá , R i o .

“A c h o q u e a v a n ta g e m q u e t i v e e m S u n s e t f o i a v o n ta d e d e g a n h a r . N a s ú lt i m a s t r ê s f i n a i s , e u f i q u e i e m s e g u n d o , e n tã o j á e s tav a f i c a n d o m a l u c o .” todomundoacharquetinhapassadoabateria,masacabeinão avançandonassemis.Esseanoagentechegoulámuitofocado. Vinte dias antes alugamos uma casa em frente ao pico, então surfamosmuitoemtodosostiposdecondições:commargigante, maré vazia, maré cheia, mar pequeno...Tomei muito caldo, mas eu amo surfar lá! VOCÊ GANHOU O RESPEITO DOS HAVAIANOS POR CAUSA DISSO? Acho que

sim. Tem uma galera muito maneira do Hawaii que compete SUP. É uma energia diferente, uma galera mais acolhedora. Nãoseiseéporqueocircuitoestácomeçandoagora,mastodo mundosempresecumprimentaetemumrespeitomútuo,talvez mais visível que no surf de pranchinha. ENTÃO ESSE ANO A SUA PRIORIDADE É O TITULO DE CAMPEÃO MUNDIAL? Sim,

se Deus quiser! Esse final de ano, eu tenho mais duas etapas. Seeuganharumadelas,jámeconsagrocampeão.Dependendo daposiçãodoKaiLenny(segundocolocadonoranking),seele formuitomal,eutambémjásoucampeão.Apróximaetapaéna Califórnia,ondeeleganhouanopassadoeeutireiemsegundo.

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DANILO COUTO

CLOUDBREAK



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A melhor coisa que pode acontecer na vida de uma criança é ter um pai surfista e uma mãe coruja. Se a mãe fosse surfista, não teria ninguém para preparar aquele café reforçado e filmar as sessões de surf. E se o pai não fosse surfista, os filhos não poderiam perder aula para surfar um mar perfeito. LUCAS YAN e JOÃO VITOR deram a sorte da vida quando nasceram do encontro entre GUSTAVO CHIANCA e MICHELLE CABRAL. Os “Chumbinhos”, como são conhecidos, viajam o mundo afora atrás de campeonatos e das melhores ondas. No mês de julho, nossa equipe acompanhou o dia a dia deles durante uma trip para a Indonésia e lá descobrimos por que essa é uma

Fotos: Divulgação

das famílias mais “surf” do Brasil. –––– texto e fotos por PEDRO TOJAL

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Lucas Chumbinho, apesar de não ter uma bagagem muito grande em eventos de surf, já tem contabilizado 12 trips internacionais no seu currículo. Nessa última, ele surfou com o pai e o irmão as perfeitas esquerdas de Desert Point.

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DE CERTA FORMA, ACABO USANDO O SURF COMO MOEDA DE TROCA, POIS SEM BONS RESULTADOS NA ESCOLA NADA DE SURF TRIPS INTERNACIONAIS, PRINCIPALMENTE PARA O HAWAII, QUE É A NOSSA PREFERÊNCIA. –– CHUMBÃO EXPLICANDO A RELAÇÃO DE PAI-SURFISTA COM SEUS FILHOS QUE NÃO QUEREM SAIR D’ÁGUA.

Gustavo não se formou em faculdade e mesmo assim é um empresário de sucesso. Em vez de dedicar seu tempo às salas de aula, ele preferiu trabalhar e curtir a vida. Aos 19 anos, ele abriu sua empresa de roupas e acessórios infantis e hoje já emprega mais de 100 pessoas. Por ter seu próprio negócio, sempre conseguiu tempo para surfar, andar de moto e saltar de paraquedas. Além dos bens materiais conquistados ao longo do tempo, Gustavo conquistou o bem mais precioso que um homem pode ter: uma família unida. Seus dois filhos, Lucas “Chumbinho” de 18 anos e João Vitor “Chumbinho” de 13 anos, têm como ídolo máximo o pai e, diferente da maioria dos adolescentes, eles sempre querem estar em família (se for dentro d’água melhor ainda!). Os dois são chamados de Chumbinho, o mesmo apelido de infância do Gustavo, que agora é conhecido como Chumbão. “Penso com minha humilde inteligên-

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cia que a vida é um trabalho em equipe e ninguém consegue se projetar sozinho. Faço isso na minha família. Seria muito mais fácil eu não viajar e teria várias justificativas, como: não posso me ausentar da empresa, não tenho dinheiro, não tenho tempo... Ficar com a família durante 30 dias juntos em alguns momentos é bastante estressante, porém depois vale cada minuto. Os momentos vividos ali fazem uma história maravilhosa, pois são muitas as adversidades vividas juntos. Surfar com meus filhos e ver eles se divertindo, evoluindo e sendo reconhecidos vai muito além dos meus melhores sonhos”, fala Chumbão. Michelle foi criada na Região dos Lagos e Chumbão passou sua infância em Campo Grande, zona oeste do Rio. Na adolescência, Gustavo se mudou para Saquarema e aos 20 anos conheceu Michelle, que na época pegava onda de bodyboard. Tiveram


Gustavo Chumbão, acostumado com as ondas de Itaúna, mostrou todo o seu “know-how” nas esquerdas indonesianas.

seus dois filhos, que aprenderam a surfar em Saquarema com dois anos de idade, usando boias de braço e coletes infláveis. Criaram Lucas e João durante a semana na Barra da Tijuca, já nos finais de semana iam para Saquarema. Desde então, eles enfrentam qualquer tipo de condição de mar. Com 11 anos, João Vitor foi para o Hawaii com o irmão e o seu treinador Raoni Silva, freesurfer profissional. Diferente dos garotos da sua idade, que só queriam surfar Rocky Point e V-Land, Chumbinho só falava de Pipe, Off The Wall e Waimea. Raoni tentava segurar o moleque, botar ele para surfar ondas mais “lights”, mas ele só queria as bombas. Depois de tomar vários “nãos” para cair nos picos mais cabulosos, João Vitor resolveu ignorar os avisos do treinador, pegou uma 7’8 do irmão e fugiu sozinho para Waimea. Sentiu de perto toda a pressão da

Michelle gravando a session da família: parceria fora e dentro d’água.

“The Bay”. Tomou uma bronca tão grande que nunca mais desrespeitou Gustavo. Inclusive o que não falta nessa família é respeito. Várias vezes, eu escutei o Chumbão conversando com os filhos sobre a importância da escola e os principais valores da vida: respeito, união, saúde, amor e trabalho. “Em relação aos estudos dos meninos, colocamos isso sempre em primeiro plano, entendo como obrigação prioritária dos pais. E, de certa forma, acabo usando o surf como moeda de troca, pois sem bons resultados na escola nada de surf trips internacionais, principalmente para o Hawaii, que é a nossa preferência,” diz o pai. Além de ótimos surfistas, eles estão se transformando em homens prontos para encarar o mundo. O Lucas é mais tímido e o João é um “pestinha”, mas apesar das diferenças eles se admiram e são muito companheiros.

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Lucas Chumbinho, de 18 anos, marcou presença e fez bonito no maior swell que quebrou na Indonésia até o final de julho. Já João Vitor, 13 anos, não recebeu “passe livre” dos pais para cair nesse dia e ficou na areia torcendo para o irmão sair desse tubão.

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João Vitor não se intimidou com a bancada rasa do Grower, jogou pra dentro e ganhou o destaque do dia. Os dois irmãos têm o mesmo sonho: serem atletas do WCT. Página ao lado: se depender da família, eles terão todo o apoio para conquistar isso.

Durante o período que ficamos na Indonésia, nós viajamos juntos para Desert Point em um dos maiores swells da temporada. No maior dia de ondas somente o Lucas pôde surfar, já que os pais Gustavo e Michelle acharam melhor que João não se arriscasse. As ondas passavam dos 10 pés, a maré estava seca e a corrente muito forte. Seria um grande risco para uma criança de 13 anos se aventurar naquelas condições, então eles vetaram e João obedeceu. Da areia, ele viu o irmão dar um show de surf e ser destaque do swell, tendo surfado umas 20 ondas perfeitas no “point” e mais outras 10 insanas no Grower. Essa session só serviu para

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deixar João Vitor mais instigado. No dia seguinte, o mar diminuiu um pouco e “o pestinha do surf” estava com a energia máxima. Os pais deram o aval e o moleque ficou 10 horas dentro d’água pegando altos tubos de backside sem a mão na borda, o que lhe rendeu a capa dessa edição. Nos dois dias de swell, os irmãos se destacaram no meio do crowd e sempre que saíam do mar eram parabenizados pela galera na areia. Apesar das viagens de free surf, os Chumbinhos têm o mesmo sonho: serem competidores no WCT e campeões mundiais de surf. Lucas já fez 12 viagens internacionais para treinar. Para ajudar a re-


Chumbinho em dois momentos: dropando Waimea na última temporada e pegando a “Melhor da Série” na Indonésia.

alizar esse objetivo, Chumbão criou a equipe Triple Lead, que significa triplo chumbo. O objetivo dele é proporcionar treinamento, viagens e equipamento para que seus filhos consigam atingir seus sonhos. “O Lucas só fez viagens para treinar, competição não, porque eu sempre priorizei a escola, os estudos. Agora é que vamos dar uma investida de dois a três anos no surf profissional. Porque a única maneira do cara se projetar a nível WCT é pelo WQS. Então, a gente vai botar ele para correr umas etapas e, se ele se der bem, vamos dar sequência na carreira”, conta Gustavo.

Além de representar o apelido da família, a Triple Lead também tem relação com os três esportes que Chumbão pratica: surf, motocross e skydive. Com tanta adrenalina, essa equipe deveria se chamar “Four Lead”, já que Michelle tem nervos de ferro para enfrentar tantas emoções. Qual a mulher que aguenta ver o marido pular de um avião, dar rodopios de moto e ainda ver os filhos surfando ondas enormes e perigosas?! Se os meninos serão campeões de surf ou irão para faculdade, só o futuro irá dizer, porém uma coisa é certa: a experiência de vida que os quatro estão tendo é um privilegio cada vez mais raro de se ver nas famílias de hoje.

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EM FEVEREIRO DE 2012, AOS 11 ANOS DE IDADE, JOÃO VITOR PASSOU DOIS MESES NO NORTH SHORE. PEGOU ALTOS TUBOS, FEZ MUITAS FOTOS E DEIXOU MUITO MARMANJO EM COMBINAÇÃO. APROVEITAVA O FATO DE SER APENAS UMA CRIANÇA PARA IMPREGNAR GERAL NO PICO. REMAVA DE UM LADO PARA O OUTRO, RABEAVA E DEPOIS FAZIA CARA DE ANJINHO. QUEM NÃO CONHECE ATÉ ACREDITA! NA ÉPOCA, ELE CHEGOU A LEVAR O APELIDO DE O PESTINHA DO SURF. –– PUBLICADO NA SURFAR #24/ MAIO 2012. AGORA, NA TEMPORADA DA INDONÉSIA, JOÃO FAZ A CAPA DA SURFAR #38 COM APENAS 13 ANOS DE IDADE.

João Vitor, Indonésia 2014.

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Annibal

O que MARCELO TREKINHO, um surfista profissional correndo o WQS há 10 anos, e BRUNO PESCA, um economista formado pela Universidade Federal doRiodeJaneiro(UFRJ),poderiamteremcomum além de morar no mesmo bairro? O espírito de “chutar o balde” e largar a rotina para buscar as melhores ondas do planeta ao lado do amigo de infância. Esse é o “A Vida Que Eu Queria”, que foi a primeira série nacional de surf do Canal Off e tem tudo a ver com o slogan “Sonhe. Explore. Descubra.” –––– por LUÍS FILLIPE REBEL


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Fotos: Instagram


Fabio Minduim

Onde tudo começou... A amizade dos dois vem das caídas no Pontão do Leblon.

O INÍCIO DA PARCERIA

SURFISTA DE FINAL DE SEMANA X SURFISTA PROFISSIONAL

Trekinho queria ficar no Rio quando em 2010 resolveu abandonar as competições. Por causa disso, Pesca se encontrava em uma situação no mínimo inusitada ao convidar o amigo para viajar atrás da direita do filme “Castles In The Sky” de Taylor Steele: convencer um surfista apaixonado a ir surfar tubos perfeitos sem crowd na Índia. A parceria de sucesso entre eles quase não aconteceu, já que Treko estava relutante e de saco cheio de viajar devido aos campeonatos. Após Pesca conseguir convencê-lo, eles deram início à primeira temporada que não foi memorável apenas para quem assistiu, mas também para os dois. Conversando descontraidamente no Jobi, bar da zona sul carioca, a empolgação e os destaques eram quase sempre relacionados às primeiras viagens. Qual a melhor onda? “P-Pass.” A melhor trip? “Índia.” Alguma decepção? “Acho que nenhuma. Mas em Big Island a gente não pegou tanta onda boa.” Claro que várias trips de outros anos também foram lembradas. Afinal, mesmo que você seja o surfista mais realizado do mundo, uma barca em Mentawai ao lado dos amigos que surfam juntos desde pequenos continua sendo um sonho concretizado. “A gente pegou El Salvador com um tamanho muito bom e Mentawai também muito perfeito! Um swellzão em West Java que foi foda, um esquerdão... Foi tudo na segunda temporada, mas realmente na primeira pegamos as melhores ondas que a gente gravou”, falou Treko.

Assim que esse assunto começou, Pesca, 33 anos, já se ajeitou na cadeira e disse: “Esse aí é o ponto que eu mais gosto.” E ele é o principal personagem nessa “comparação”, pois é um surfista comum ao lado de Marcelo Trekinho, atleta profissional de alto nível que faz 35 anos esse mês. A partir disso, chegamos a ouvir piadas como “O Marcelo surfa e o Bruno Pesca” ou algumas críticas negativas. Só que Trekinho sai logo em defesa do amigo: “O que muita gente não sabe é que o Pesca gosta de onda grande. Ele já foi para Mavericks, surfou lá com Skindog, Danilo Couto... Desde moleque, quando o mar subia no Pontão do Leblon, ele estava sozinho dentro d’água. Não precisa chamar fotógrafo, câmera, ninguém! Quando está grande, o cara está lá fora!” E as investidas nos dias de ressaca no Leblon renderam a Bruno o seu apelido Pesca. “Não tinha habilidade e nem físico porque eu tinha treze anos de idade. Eu entrava, pulava da pedra, ia lá para trás e não conseguia pegar onda. Aí eu ficava zoando de um lado: ‘Vocês não entraram no mar, calem a boca!’ E eles do outro: ‘E você entrou e ficou pescando’. Sempre gostei de surfar no Pontão. Quando tinha o plantão do RJ-TV dizendo que as ondas estavam enormes e que um surfista encarou, eu era esse moleque que estava matando aula lá atrás da pedra”, contou ele.

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Fabio Minduim

Pesca considera Trekinho o melhor sufista de alaia do mundo.

A democrática praia de Galápagos.

Clemente

Pura Vida! Costa Rica.

Mercado de peixe lotado.

Divulgação/ Richard Kotch

Bate-papo em Galápagos.

“O QUE MUITA GENTE NÃO SABE É QUE O PESCA GOSTA DE ONDA GRANDE.”

Pesca em um dos incontáveis tubos que já pegou no “A Vida Que Eu Queria”. A tartaruga das Galápagos vive mais de 200 anos.

Supertubes, Jeffreys Bay.

Rolé de bike no Canadá.

As gunzeiras fazem parte do quiver do Pesca.

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Fabio Minduim Poemape, Peru.

Os amigos de infância.

Richard Kotch

Rasgada, tubos e aéreos. Trekinho faz de tudo nos episódios do programa.

Galápagos.

No “A Vida Que Eu Queria”, Trekinho é surfista e filmmaker. Equador. Direitas perfeitas, água quente e pouco crowd.

Pesca nas gravações da quarta temporada mostra toda a sua evolução.

Bruce Gold, a lenda de J-Bay.

O frio canadense.

Terceiro lugar no campeonato de longboard em Tel Aviv, Israel.

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Annibal

Os “borrachudos” do litoral norte de SP maltratam.


A NOVA FASE DA CARREIRA DE TREKINHO

Apesar de contabilizar algumas caídas nas geladas ondas de Mavericks, Bruno não se considera um big rider. “Adoro ir lá surfar, mas definitivamente não me considero um surfista de ondas grandes. Todas as vezes que entrei em Mavericks, eu fiquei com muito medo. Eu vou nas fáceis e estou mais interessado em evoluir mentalmente do que na onda em si. Já entrei lá umas oito, nove vezes... Acho que em três ou quatro não dropei nenhuma. Hoje em dia para se dizer ‘big rider’ você tem que estar preparado para encarar coisas muito sérias, como Jaws. E a distância da realidade entre o Pontão do Leblon e Mavs é tão grande quanto as minhas manobras com as do Trekinho (risos)”, falou Pesca. O “A Vida Que Eu Queria” traz um choque de realidade que muitos surfistas de longa data driblam a vida inteira: a enorme diferença entre um profissional e um surfista fissurado de fim de semana. E as habilidades do Bruno passaram a ficar expostas para avaliação ao aparecer em um canal de televisão recheado com imagens dos melhores surfistas do Brasil. Vivendo em um esporte que vende sonhos, a imagem mais presente na cabeça dos surfistas é algo como Rob Machado entubando em uma onda perfeita na Indonésia, emendando em um cut back sem enterrar a borda. Normal... É isso que o mercado nos mostra e o que assistimos todo dia nas mídias de surf. “Eu tenho alguns amigos que têm barcos nas Mentawai e todos falam isso: ‘A gente não põe filmmaker, só fotógrafo.’ Na foto você registra um momento com uma cavada, uma rasgada e parece que é uma coisa incrível. O cara vai postar no Facebook, imprimir, botar na parede, mandar para os amigos por e-mail. Mas em um vídeo você vê que a rasgada foi fraca, a cavada foi em câmera lenta, o freio de mão estava puxado, que não estava no tubo, estava na boquinha e dois segundos depois já caiu”, explicou Pesca.

A dedicação e profissionalismo nos dez anos em que Marcelo Trekinho participou de eventos pelo mundo afora deixou seu patrocinador tranquilo para entender que o ciclo competitivo dele tinha chegado ao fim e, consequentemente, liberá-lo para tentar uma carreira no free surf. “Sabíamos que o Treko enquanto competidor foi um verdadeiro atleta. Hoje como freesurfer dá um ótimo retorno, porém são frutos de seu trabalho nos anos de competição que o levaram a ter um programa e ser reconhecido como o ‘Trekinho surfista profissional’. Ele está focado no seu programa e o trabalho está rolando bem bacana, sem pressão”, destacou Daniel Cortez, team manager da Volcom Brasil. E foram as caídas mais relaxadas do free surf em ondas perfeitas que puderam mostrar uma performance surpreendente até para ele mesmo. “O Treko pôde mostrar uma capacidade que ninguém tinha visto. Talvez ninguém tinha visto porque ele nunca tinha feito mesmo. Tiveram algumas viagens que ele falou: ‘eu nunca surfei um mar tão bom como esse e nunca surfei tão bem assim antes’ ”, lembrou Pesca.

“TIVERAM ALGUMAS VIAGENS QUE ELE (TREKO) FALOU: ‘EU NUNCA SURFEI UM MAR TÃO BOM COMO ESSE E NUNCA SURFEI TÃO BEM ASSIM ANTES’ ”

UM NOVO FOCO PARA O PROGRAMA Devido à polêmica em torno do surf do Bruno Pesca, eles perceberam que podiam dar uma atenção especial a isso colocando Trekinho como “coach” a partir da segunda temporada. Isso levou Pesca a receber o reconhecimento nas ruas com as pessoas comentando sobre a sua evolução e se tornou um dos principais feedbacks do programa, que no começo tinha apenas a vibe do cara que larga o escritório, encontra o amigo e vai pegar onda. A evolução foi natural, até porque Pesca estava há muito tempo sem surfar com regularidade. E o ponto alto em relação à sua performance foi atingido nos dias que eles passaram no México em um point break para a direita. “Acho que foi na viagem para o México que ele deu um salto na evolução. Ele chegou com cinco Al Merrick novinhas. A gente pegou uns mares muito bons para manobrar, umas ondas longas lá em Salinas. A água quente e ele cheio de pranchas novas fissurado para experimentar. E prancha, para evolução do cara, é fundamental”, afirmou Trekinho.

O reconhecimento que o programa está trazendo para Trekinho o leva a se dedicar em tempo quase que integral nas gravações para o “A vida que eu queria”. Por outro lado, a agenda para fazer alguns outros trabalhos que a carreira de freesurfer proporciona ficou mais curto. “A galera tem ido para a Indonésia e geralmente estou em outras trips para gravar pro canal. Não tem coincidido de eu poder ir. Gosto de participar dos campeonatos de melhor tubo, melhor aéreo, como aquele que a Surfar fez no Hawaii”, contou. Porém, esse ano ele conseguiu ir a El Salvador com a equipe da Volcom para produzir material exclusivo da marca. Daniel Cortez afirma que o patrocinador quer o deixar à vontade sem direcionar o trabalho dele: “O Treko é um dos atletas linha de frente do time da Volcom BR. Já é um cara experiente e maduro, bastante profissional. Não tem a necessidade de ficar sendo direcionado. Confiamos plenamente no seu trabalho e sabemos muito bem do seu potencial.”

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Fabio Minduim

Depois de viajar o mundo, Trekinho ainda pega altas ondas no quintal de casa.

“ESTOU MAIS AMARRADÃO HOJE DO QUE QUANDO COMPETIA PORQUE PEGUEI AS MELHORES ONDAS QUE EU JÁ SURFEI!” E ELES HOJE VIVEM A VIDA QUE QUERIAM? MARCELO TREKINHO: “Pô, está legal pra caramba viajar para Largado na areia depois do surf. Satisfação total!

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fazer o programa! Eu ainda não tinha ido para P-Pass, não tinha surfado Keramas daquele jeito e não tinha entrado naquele mar em West Java que a gente entrou. Não ia ter outra oportunidade de cair nessas condições perfeitas se não fosse para o programa. Estou mais amarradão hoje do que quando competia porque peguei as melhores ondas que eu já surfei! O programa direcionou minha carreira para um lado onde posso me manter na praia fazendo o que mais gosto e ainda aumentar minha renda. As pessoas podem ver ali como faço as avaliações do surf do Pesca e se sentem à vontade em me procurar para ajudar a melhorar suas performances, pois o programa me aproxima do público. Tenho uma relação muito boa com a Volcom, estou na equipe desde 2002 e nunca faltou nada para eu seguir minha carreira como competidor e agora como freesurfer. O ‘A Vida Que Eu Queria’ teve total importância nesse caso, me mantém assim envolvido com o esporte, que é a minha praia, onde posso desempenhar um bom trabalho.”


Divulgação/ Richard Kotch

Pesca em P-Pass, a viagem que eles pegaram as melhores ondas.

“SINTO QUE A COISA MAIS INTERESSANTE DA MINHA HISTÓRIA AINDA VAI ACONTECER, EU PERSIGO ISSO.”

BRUNO PESCA: “Hoje, felizmente, vivo a vida que eu queria sim, porém estou longe de estar satisfeito com ela. Grato e muito feliz sim, mas satisfeito nunca! Sempre quero mais, acreditando que o melhor está por vir ainda! Então, eu estou sempre atrás de mudanças. Estou feliz, tenho bastante surf pela frente. Tem outro lado da minha vida que nada tem a ver com o surf, mas nele também há surfistas em que tento unir as coisas. Por exemplo, estou montando um canal na internet sobre gente que muda o mundo e foi inevitável pensar no Waves For Water, ONG do meu amigo Jon Rose, que é um surfista incrível. Eles levam água potável para pessoas pelo mundo que não a tem. Uma em cada seis pessoas no planeta não tem. E sinto que a coisa mais interessante da minha história ainda vai acontecer, eu persigo isso.”

De frente para as direitas de J-Bay. Quem não queria?

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Pedro Tojal

Em um dia que as ondas chegaram a 10 pĂŠs, o freesurfer carioca Ian Cosenza saiu da ĂĄgua aplaudido por havaianos e australianos depois de pegar muitos tubos, como esse em Desert Point.

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Pedro Tojal

O visual de Super Suck, uma verdadeira mรกquina de onda!

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Pedro Tojal

O tube rider pernambucano Rodrigo Trajano mostrando todo o seu conhecimento adquirido nas muitas temporadas em Fernando de Noronha.

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J-BAY OPEN

Mick colecionou tubos na final em que se consagrou tricampeão.

Cestari/ASP

EVENTOS

A volta de J-Bay: Mick tricampeão e Medina líder

Cestari/ASP

O J-Bay Open, sexta etapa do circuito mundial, cumpriu todas as expectativas em torno da volta das perfeitas direitas sul-africanas ao World Tour. Rolaram altas ondas de 6 a 10 pés, performances memoráveis, resultados inesperados e até polêmica nos bastidores. Na decisão entre amigos, Mick Fanning levou a melhor sobre Joel Parkinson e embolou a briga pelo título mundial que continua com o brasileiro Gabriel Medina na ponta. ---- por LUÍS FILLIPE REBEL

AS HONRAS DA CASA

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Os sul-africanos voltaram a ver de perto o surf da elite mundial.

Cestari/ASP

Logo no primeiro dia de competição, Jeffreys Bay já resolveu mostrar por que foi um grande erro deixá-la fora do circuito por três anos. As condições estavam clássicas com direitas perfeitas que chegavam a dois metros. E Jordy Smith, o representante da casa no WCT, fez questão de dar as boas-vindas. O sul-africano deu sapatada, surfou bonito e encontrou tubos incríveis para somar 19,80 pontos de 20 possíveis. Com um 10 perfeito, ele ainda descartou um 9,50. “Eu entrei na bateria com um sentimento muito especial pela volta de J-Bay ao Tour e deu tudo certo para mim. Isso é bom não só para nós surfistas, mas também para a população local e para as crianças, que começam a ver seus ídolos surfar essa onda, que é uma das melhores direitas do mundo”, disse Jordy. Entre os brasileiros, Mineirinho foi o único que passou direto para o Round 3, mas Gabriel Medina se recuperou na repescagem contra o wildcard local Dylan Lightfoot. No dia seguinte, Alejo Muniz e Miguel Pupo também se classificaram após as baterias verde-amarelas contra Filipe Toledo e Jadson André, respectivamente.

Mineirinho mostrou conhecimento da onda de Jeffreys.


Cestari/ASP

Apesar de ter vencido duas vezes em J-Bay e ter dado um show de surf na primeira fase, Jordy Smith dessa vez só chegou até Round 3.

VÁRIAS SURPRESAS NO ROUND 3

brasileiros ao conseguir uma virada no último minuto contra o espanhol Aritz Aranburu. Sem maiores sustos, Mineiro também se classificou ao eliminar o havaiano Sebastian Zietz. A última bateria da terceira fase ainda guardava mais uma ótima surpresa. Alejo Muniz despachou o até então segundo colocado do ranking Michel Bourez em um difícil e apertado confronto. Depois, ele foi o único brazuca a se garantir nas quartas sem precisar passar pela repescagem com uma vitória em cima de Mick Fanning e C.J. Hobgood.

Cestari/ASP

Kirstin/ASP

A onda de J-Bay costuma ser bem difícil para quem surfa de backside. Mas C.J. Hobgood e Matt Wilkinson ignoraram isso para surpreenderem no terceiro round. Um eficaz C.J. eliminou o “local hero” Jordy Smith. Já Wilko ficou responsável pelo show! O imprevisível australiano pegou os melhores tubos do dia para deixar Kelly Slater amargurando um 13º lugar, seu pior resultado no ano. Na bateria seguinte, Medina administrou muito bem a pressão de competir logo após a eliminação precoce de um concorrente ao título mundial. Ele testou o coração de muitos

Wilko subiu doze posições no ranking com o terceiro lugar.

Depois das lesões, Alejo vem ganhando confiança.

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J-BAY OPEN

Cestari/ASP

EVENTOS

Kolohe Andino não se intimidou e voou em J-Bay.

DAY OFF MOVIMENTADO As ações não pararam nem durante os quatro lay days antes do dia da final. O site da revista Surf Europe colocou uma grande polêmica no ar ao anunciar que o comitê disciplinar da ASP estava estudando uma punição para Jeremy Flores. O francês sofreu uma virada do havaiano Sebastian Zietz no final da bateria no Round 2 e aplaudiu ironicamente a decisão de dentro d’água. Ao sair, ele partiu para briga dentro da torre dos juízes. “Jeremy é recorrente nesse tipo de comportamento, pois a sua personalidade é forte. No entanto, nunca tinha visto ninguém com a cabeça tão descontrolada em 15 anos de carreira, mesmo que depois tenha se acalmado”, falou Richie Porta, chefe de juízes da ASP. A punição para Flores demorou poucos dias para sair. Ele ficará fora das competições até o dia 27 de agosto, além de ter que pagar uma multa de 6.000 dólares. Assim, não poderá competir no Tahiti, onde costuma se destacar, e no evento prime US Open of Surfing em Huntington Beach.

Até a decisão, o melhor do dia foi Joel Parkinson. Parko venceu na semi com uma nota 10 o aussie Matt Wilkinson, que vinha surpreendendo durante o campeonato. Mas no início da final, Fanning fez nove pontos ao se encontrar nos tubos, a principal arma de Parkinson no evento. E não parou por aí! Mick colecionou mais alguns canudos para aumentar o score. Joel até tentou reagir, mas o melhor que conseguiu foi um 7,43 e, faltando três minutos, saiu d’água sem tempo de voltar para o outside. “Nunca, nem em sonho, imaginei fazer uma final aqui em Jeffreys Bay com o Joel. Estou muito feliz por isso. Também estou bastante cansado, mas muito satisfeito porque foi um dia que o sonho se tornou realidade. Foi um dia incrível de ondas e só tenho que agradecer à ASP e a todos os envolvidos por trazer o WCT de volta”, comemorou o mais novo tricampeão Mick Fanning (2002, 2006 e 2014). O atual campeão mundial conquistou a sua segunda etapa do ano, se igualando em vitórias a Michel Bourez e Medina, que segue firme e forte como líder do WCT 2014.

Um swell épico chegou para o último dia e os competidores tiveram que encarar ondas de dois a três metros. Em uma final entre dois bicampeões em Jeffreys, Mick Fanning venceu Joel Parkinson de forma consistente. Ele mostrou que o físico está em dia ao vencer as quatro baterias que disputou, sendo uma delas de 45 minutos em condições bem cansativas. Os três brasileiros que ainda estavam na briga conquistaram a quinta colocação. Mineiro e Gabriel começaram o dia com vitórias na repescagem para se juntar a Alejo nas quartas, mas nenhum deles conseguiu passar desta fase. Apesar da eliminação, Medina surfou bem contra Owen Wright em uma das baterias mais acirradas.

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Cestari/ASP

FANNING TRICAMPEÃO E MEDINA LÍDER

Parko toda hora se escondia dentro de um tubaço.


Annibal

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Kirstin/ASP

EVENTOS

J-BAY OPEN

Medina surfou pela primeira vez a onda de Jeffreys Bay e defendeu bem a liderança com uma 5º colocação.

Cestari/ASP

RESULTADO J-BAY OPEN 2014 1 - Mick Fanning

5 - Gabriel Medina

2 - Joel Parkinson

5 - Alejo Muniz

3 - Owen Wright

5 - Adriano de Souza

3 - Matt Wilkinson

5 - Taj Burrow

RANKING WCT - MASCULINO

Cestari/ASP

O J-Bay Open deu as melhores ondas do WCT 2014 até o momento.

Mick e Joel juntos contabilizam cinco títulos em J-Bay.

130

1 - Gabriel Medina

(BRA)

36.150 pontos

2 - Joel Parkinson

(AUS)

34.400

3 - Mick Fanning

(AUS)

32.650

4 - Taj Burrow

(AUS)

31.950

5 - Michel Bourez

(TAH)

30.500

6 - Kelly Slater

(EUA)

30.350

7 - Adriano de Souza

(BRA)

30.100

17 - Miguel Pupo

(BRA)

13.700

20 - Filipe Toledo

(BRA)

12.500

23 - Alejo Muniz

(BRA)

10.200

28 - Jadson André

(BRA)

6.750

34 - Raoni Monteiro

(BRA)

3.000


Comida japonesa com vista pro mar.


Lucas Fonseca

NOVA GERAÇÃO

Matheus Faria aperfeiçoando seu surf na Praia Brava.

IDADE: 19 ANOS PATROCÍNIOS: HD, JOCA SECCO, MARÉ, FLY e TOP SURF QUIVER: 5’8, 5’5 e 5’9 SHAPER: JOCA SECCO SURFISTA PREFERIDO: GABRIEL MEDINA MELHOR MANOBRA: TUBO

MATHEUS FARIA

132

Local da Praia do Pecado, MATHEUS FARIA já nasceu com a água salgada correndo nas veias. “Vim de uma família de surfista. Ela foi o início de tudo e sempre me incentivou no surf”, diz. Seu começo nas competições não poderia ter sido melhor: nas ondas de Saquarema. Mas sua maior dificuldade no início da carreira foi o nervosismo, que ele aprendeu a controlar com o passar do tempo. Hoje, com 19 anos, o macaense acumulaentreseusmelhoresresultadoscomo amador o de campeão Carioca (2006 na Grommets e 2008 na Iniciantes) e a vitória numa etapa do brasileiro em 2011. Jácomo profissional, a vitória no campeonato de tubos e aéreos da Red Bull em Fernando de

Noronha no final de 2012, que ele considera como a melhor de todas, além da quarta posição do Carioca Pro em 2013.Acostumado a treinar em fundos de pedras em Macaé, onde as ondas são mais fortes, o garoto diz que conseguiu definir bastante sua linha de surf, mas também gosta muito deArraial do Cabo para treinar aéreos e tubos, que considera “suas cartas na manga” para derrotar seus adversários.Agora, Matheus está na Califórnia para competir o Pro Junior em Huntington Beach em busca da vaga para o mundial. Logo depois, ele pretende seguir para Indonésia e o Hawaii para treinar em ondas pesadas e produzir imagens para as mídias especializadas.


R D O

S U R F

C

O

A

A R P

B LU

D

A

SI L

O R I E

09-10 AGOSTO 2014 BARRA DA TIJUCA - RJ

B J A N E I R O

R


Fred Pompermayer

NOVA GERAÇÃO

Italo Ferreira voando alto.

IDADE: 20 ANOS PATROCÍNIO: OAKLEY QUIVER: 5’5, 5’7, 5’9, 5’10, 6’0, 6’2 e 6’5 SHAPER: TIMMY PATTERSON (SILVER SURF) SURFISTAS PREFERIDOS: CLAY MARZO, DANE REYNOLDS, JADSON ANDRÉ e GABRIEL MEDINA MELHOR MANOBRA: AÉREO

ITALO FERREIRA

134

Local de Baía Formosa, ITALO FERREIRA começousuasprimeirasremadasincentivado pelos primos que sempre surfaram. “Eu sempre olhava eles fazendo todas aquelas manobras e resolvi fazer igual. No início foi bem difícil porque minha família não tinha condiçõesparacomprarumapranchanova, então comecei a surfar com uma tampa de caixa que meu pai usava para guardar os peixes (risos)”, lembra. Logo depois, o nordestino conseguiu uma prancha e daí pra frente foi tudo dando certo. Aos onze anos começou nas competições já com pé direito, vencendo o primeiro campeonato que participou. Mesmo com dificuldades para conseguir patrocínio no início da carreira, ele não desistiu e seguiu em frente, tendo entre seus títulos mais marcantes

o de Campeão Brasileiro Pro Junior e Sul Americano Sub 21, ambos em 2012, além do terceiro lugar em Los Cabos esse ano, seu primeiro WQS 6 estrelas. Italo gosta de viajar bastante para pegar ondas perfeitas e, assim, aprimorar seu surf, principalmentesuasmanobraspreferidas,osaéreoseas batidas de backside. Entre suas trips, Hawaii, Bali, Fernando de Noronha, México, Costa Rica eArgentina, porém ele não pensa duas vezes em qual será a dos sonhos: Mentawaii. Esse ano o surfista tem como meta competir os WQS 6 estrelas primes e, “se Deus permitir”, entrar no WCT: “Meu plano para o futuro é estar entre os 34 melhores surfista do mundo. Sei que não será fácil, mas com muita fé e perseverança eu vou conseguir!”




ENSAIO

Roberta Bittencourt 23 anos fotos Davi Borges


PRÓXIMO NÚMERO

Ondas secretas no México.

Henrique Pinguim/ Liquid Eye

MÉXICO

EXPEDIENTE Editor Chefe: José Roberto Annibal – annibal@revistasurfar.com.br Redação: Déborah Fontenelle (Chefe de Redação) – deborah@revistasurfar.com.br João Cezimbra – joão@revistasurfar.com.br Luís Fillipe Rebel – luisfillipe@revistasurfar.com.br Arte: João Marcelo – joaomarcelo@revistasurfar.com.br Fotógrafo staff: Pedro Tojal – tojal@revistasurfar.com.br Colunistas: Bruno Lemos, Felipe Cesarano e Otavio Pacheco. Colaboradores edição – Texto: Gabriel Pastori, Henrique Pinguim e Viviane Freitas. Fotos: André Portugal, Bruno Lemos, Cestari/ASP, Davi Borges, Everton Luis, Fábio Minduim, Fred Pompermayer, Henrique Pinguim, James Thisted, Kirstin/ASP, Lucas Fonseca, Pedro Monteiro, Raimundo Paccó, Ricardo Stratievsky, Richard Kotch, Rick Werneck, Sergio Rio e Victor Benigno.

Publicidade: Thaís Havel – thais@revistasurfar.com.br Marcelo Souza Carmo – marcelo@revistasurfar.com.br Sérgio Ferreira – serginho@revistasurfar.com.br Financeiro: Claudia Jambo – claudia@revistasurfar.com.br Tratamento de Imagem: Aliomar Gandra Jornalista Responsável: José Roberto Annibal – MTB 19.799 A Revista Surfar pertence à Forever Surf Editora e as matérias assinadas não representam obrigatoriamente a opinião desta revista e sim de seus autores. Endereço para correspondência: Av. Ayrton Senna, 250, sala 209, Barra da Tijuca, Cep:22793-000. Circulação: DPACON Cons. Editoriais Ltda - dpacon@uol.com.br Tel: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional: Dinap S/A - Distribuidora Nacional de Publicações Contato para publicidade: (21) 2433-0235 / 2480-4206 – surfar@revistasurfar.com.br Surfar #38 é uma publicação da Forever Surf Editora.

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