Revistaupbelem 001web

Page 1

R E U Q OMNIA TUDO DI R ZE

ressante, útil. Tudo que é inte dade. Tudo que é novi é feita por ra ito A Omnia Ed «DPDP« SUR¿«VVLRQDLV«TXH e se o que fazem e qu iro para te in r po entregam do mundo! aproximar você

ano 1 | #1

abril

m é l Be

#EuComoCultura

limitação. Informação sem quem tem Conteúdo para conteúdo.

Alex Atala: o alimento como patrimônio cultural

#Ah, o Marajó... As delícias imperdíveis de um passeio pelas ilhas

#Natália Matos A ótima novidade da música paraense azine.com.br revista@upmag ine.com.br www.upmagaz

capa - UP 001.indd 1

#A volta dos 70 A era do desbunde no aconhego do lar

04/05/2015 22:13:09


Famiglia Sicilia25anos

Aprimorando paladares e experiências

High Quality

Até 3X nos cartões

Camisetas Tamanhos Especiais

(91) 98800.7242 @joiacorporation

Compre online joiacorporation.com

capa - UP 001.indd 2

Receba em casa Boaventura, 1303, SL. 5

04/05/2015 22:13:11


Reservas: +55 91 4008.0001 | www.famigliasicilia.com.br


#índice

#entrevista

08

A paraense Natália Matos e a música que vem conquistando o Brasil

#capa

32

Alex Atala na luta pela valorização cultural da Gastronomia tupiniquim

#especial

40

Em tempo de food truck, lanches e comidas típicas seguem imbatíveis

#partiu

52

O Marajó, seus campos, encantos e... o inesquecível queijo marajoara.

#estilo

24

O charmoso estilo setentista está de volta aos corações e lares

Capa: Alex Atala | foto divulgação

#expediente

Up Belém | ano 1 | #1

4

Criação e realização | Omnia Editora Projeto Gráfico | Omnia Editora Jornalista Responsável |Elvis Rocha - DRT/PA 1712 Colaborou na Up Belém #1 | Lorena Filgueiras Colunistas | Cassius Martins, Dina Batista e Sueid Abou, Joanna Martins e Daryan Dornelles. Comercial | Bando Comunicação: 91 3349.1790 Site | www.upmagazine.com.br Críticas, elogios e sugestões de pauta | revista@upmagazine.com.br Impressão | Gráfica Santa Marta Tiragem | 5.000 exemplares A Revista UP Belém é uma publicação mensal da Omnia Editora. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.


Joanes, na Ilha do Maraj贸

5


#editorial

Muito prazer, somos a Up Belém. Ainda agorinha não nos conhecíamos, nós e vocês. Mas estejam certos que num intervalo menor do que uma chuva gostosa da tarde descobriremos juntos, entre risos e boas histórias, as afinidades que marcarão a relação que começa neste número 1. Porque somos de um lugar de gente calorosa, que cultiva raízes com a mesma naturalidade que mantém olhos e coração abertos para o que o mundo lá fora tem de melhor. Esse espírito caboclo e cosmopolita é o que norteará os rumos da revista que você começa a folhear agora. Isso é a Up Belém. Uma publicação que reúne Alex Atala, um dos melhores chefs do mundo, e Ivanete Pantoja, tacacazeira vinda criança de Mocajuba para ganhar a vida na capital. Ele, que capitaneia o movimento #eucomocultura, que pretende conscientizar o país para o valor da gastronomia como bem cultural. Ela, que no dia a dia alimenta trabalhadores e turistas e faz do meio de vida uma manifestação viva da tradição. Uma revista que aposta no novo e foi ouvir as histórias de Natália Matos, cantora paraense que, aos 26 anos e um álbum homônimo recém-lançado, conquistou a admiração de cobras criadas da música local e nacional - Dona Onete e Zeca Baleiro estão aí que não nos deixam mentir. Que foi ao Marajó contar causos deliciosos das ilhas e quis saber as razões do revival dos anos 1970 nos estilos de decoração e rastreou a origem das onipresentes hashtags. Tudo isso entre dicas e mais dicas de beleza, cultura e consumo, assinadas por especialistas de peso em cada área. E olha: é só o primeiro número. Nós queremos muito mais. 6


CABELEIREIROS SÃO ANJOS QUE ESPALHAM BELEZA COM MÃOS

SALÃO CASSIUS MARTINS Shopping Bosque Grão Pará Av. Centenário, 1052 Belém - Pará

Rua Bernal do Couto, 119 www.cassiusmartins.com.br Tel.: +55 91 3225.6615 / 3225.5606


8

#entrevista


Suingue & Concreto por Elvis Rocha | Fotos Dudu Maroja

Natália Matos une Belém e Sampa para virar uma das boas novidades da música nacional

C

hove muito em Belém. Em um café no centro da cidade, aguardo minha entrevistada enquanto olho

mais uma vez o caderno de anotações e repasso mentalmente as faixas do álbum que o trânsito caótico do final da tarde permitiu ouvir quase na íntegra. Atrasada e pedindo desculpas, Natália Matos chega. É pequena e bonita. Olhar atento. Gravador ligado, não demoro a entender como essa garota de 26 anos, arquiteta de formação, artista por natureza, aglutinou a nata de músicos e compositores de Belém e São Paulo para a gravação de “Natália Matos” (2014, Natura Musical), um instantâneo suingado e lírico das duas cidades que a definiram. Ela sabe exatamente o que quer. Sob a batuta do produtor Guilherme Kastrup e parti-

cipações de Zeca Baleiro, Kiko Dinucci e Felipe Cordeiro, além de composições de gente Almirzinho Gabriel, Ronaldo Silva, Dona Onete, Romulo Fróes e a própria Natália, o álbum ganhou rapidamente a atenção de jornalistas no Brasil e de sites especializados em música ao redor do planeta, como o Beehype (http://beehy. pe), que elegeu o debute da cantora paraense um dos 30 melhores lançamentos do país em 2014. Com pelo menos três músicas bem executadas na programação da Rádio Cultura (“Coração Sangrando”, “Cio” e “Beber você”) e apresentações-chave na capital, como a participação na edição 2013 da Mostra Terruá Pará e o lançamento do álbum no Teatro Margarida Schivasappa, Natália batalha agora uma exposição maior no estado e já planeja a sequência do trabalho. 9


10


Nesta conversa, ela falou das influências, da paixão pela música produzida entre os anos 1920 e 1940, da repercussão do disco de estreia e de suas maiores referências emocionais e estéticas: a Cidade das Mangueiras, sua terra natal, e a Terra da Garoa, onde viveu por oito anos. Confira. Bem no começo da carreira, ainda fora de Belém, fazias apresentações em rodas de chorinho, interpretavas Aracy de Almeida, Noel Rosa... Como se formaram essas preferências? Talvez isso estivesse guardado em algum lugar da minha memória afetiva, algo que meus pais ouviam. Mas meu encontro de fato com essa música feita ali, dos anos 20 até os 40, foi a partir da ULM (Universidade Livre de Música), em São Paulo, onde fiz canto popular por dois anos. O início do curso foca os compositores do início do século passado, e foi uma oportunidade maravilhosa de conhecer um lado da história da música que eu não conhecia. Ouvi João de Barro, Geraldo Pereira, o próprio Noel, Ismael Silva, Lupicínio Rodrigues. Tínhamos que fazer algumas provas e um dos meus primeiros trabalhos foi com (cantarola) “O cinema falado é o grande culpado...” (Não tem Tradução, de Noel Rosa). Então me apaixonei pelo Noel e depois conheci a Aracy. Mais tarde fui chamada por um amigo para substituí-lo numa roda de samba em São Paulo e aí dei início à minha carreira profissional como cantora. Foste muito jovem pra São Paulo e lá, entre outras coisas, te formaste em Arquitetura. Queria que falasses um pouco sobre como essa ”paisagem mental” moldou tua visão como artista. Lá eu vivi o fim da minha adolescência e o começo da vida adulta, então a cidade acabou sendo o meu

11


contexto. São Paulo é viver num susto, né? Me apaixonei por aquela coisa doida, as milhões de informações, as artes todas acontecendo. E teve o fato de ter escolhido a Arquitetura. Comecei a trabalhar num escritório de arquitetura e exposições logo depois da faculdade, e escolhi o design de exposições. Isso me segurou na Arquitetura por mais tempo, mas ao mesmo tempo foi o que me tirou. Fiz um hiato de dois anos da música, tranquei a ULM pra terminar o curso de Arquitetura, e sentia muita falta. Foi uma época que eu estava me consolidando como Arquiteta, tinha sido designada pra ser a responsável pela exposição sobre a Elis Regina, que montamos em São Paulo e Porto Alegre, e foi nesse momento em que decidi que, apesar da possibilidade de me consolidar como arquiteta num lugar bacana, num ambiente próximo da arte, eu queria mesmo tentar a música. Eu já tinha nessa época um projeto aprovado na Semear do que viria a ser o meu primeiro disco, e com ele criei coragem. O projeto foi aprovado em 2011 e eu saí do escritório em junho de 2012. Foi nessa época que decidiste voltar pra Belém? Eu decidi passar férias em Belém e encontrei uma cidade efervescente. O Felipe (Cordeiro) ainda tava morando aqui; os holofotes todos voltados pra cá. Essa coisa da música paraense estar acontecendo no país eu acompanhei de perto lá em São Paulo, não só indo aos shows, mas recebendo o Felipe e outros amigos na minha casa, conversando, vindo pra cá de vez em quando. Essa troca alimentou de alguma forma a vontade de seguir meu caminho, mas eu ainda não sabia muito o que eu tava fazendo. Sabia que eu queria seguir meu caminho. Passei seis meses aqui, vi de perto a cena e comecei a dialogar. Em São Paulo criei muitas referências. Quando vim pra cá foi a hora de olhar pra mim, pegar meu caderninho e ver no que aquilo podia dar. 12


13


14


Os compositores do álbum são, em sua maioria, paraenses, e muitos dos músicos que tocam no disco são paulistas. Essa maneira de unir as duas cidades no álbum foi proposital? O disco é reflexo de um momento e da minha trajetória até ali. Minha ideia sempre foi gravar compositores daqui, mas eu sabia que não queria fazer Guitarrada. Adoro guitarrada, amo esse resgate do brega, mas não queria que o meu disco soasse igual a tudo que vinha sendo feito. E não apenas por querer ser diferente, mas por saber que minhas referencias também eram outras. Queria que tudo aquilo que tinha vivido estivesse impresso, então comecei a cogitar pessoas. Inicialmente eu pensava no Kiko (Dinucci, guitarrista e compositor paulista), que pra mim é um grande símbolo da atual música paulistana, e no Felipe. Queria juntar os dois, mas não aconteceu. Aí o Felipe me apresentou o Guilherme Kastrupp (produtor do álbum), que abraçou a ideia. Queria que o disco soasse moderno, mais contemporâneo, mas não que isso esfriasse a nossa música. E quanto tempo levou pra fechar o repertório, arranjar e finalmente chegar ao formato final? Uns quatro meses. Fechar repertório não, porque já fui com as minhas preferidas marcadas e com ideias pra elas. Foi um processo bem objetivo. Tivemos uma semana de pré-produção e uma de produção de bases. Os arranjos do disco foram feitos coletivamente. A banda era eu; Rodrigo Campos; Rodrigo Caçapa - um pernambucano que toca viola -; Zé Nigro no teclado e baixo; e o Guilherme na bateria. A percussão foi gravada depois, com o Márcio Jardim (músico paraense), que é onde eu queria um sotaque mais daqui. Muitas das músicas foram gravadas ao vivo, de maneira bem orgânica mesmo. Aprendi muito com o Guilherme e tenho vontade de fazer outras coisas com ele. Mas agora

15


quero viver mais esse primeiro disco, fazer mais shows e então partir pro segundo disco. Como foi a aproximação com o Zeca Baleiro e o convite para o dueto em “Coração Sangrando”? O Guilherme foi o produtor do disco infantil dele. Gravei as bases do meu disco e vim pra Belém. Depois voltei pra São Paulo e o Baleiro tava lá gravando o álbum dele. O Guilherme mostrou algumas coisas que tínhamos gravado, ele gostou e me chamou pra cantar no disco. Depois fiz o “Baile do Baleiro” com ele aqui em Belém e achei que era a oportunidade de chamá-lo pra cantar no meu disco. Era a reta final de gravação e ele ficou de compor uma música pra mim. Fez um carimbó lindo, mas o Guilherme não queria colocar mais nada no disco por conta dos prazos. Acabou que mostrei a música da Dona Onete, ele se apaixonou, gravou e tá lá no álbum. E hoje qual é tua opinião sobre o cenário de Belém no que diz respeito ao planejamento e manutenção de uma carreira profissionl na música? Hoje a gente ainda depende muito de editais porque não existe política cultural. Não existe oficina, curso de formação de mão-de-obra, não apenas para os músicos, mas para as pessoas que fazem parte da cadeia. É complicado e aí a gente vive tendo que criar alternativas. Isso é cansativo e por isso ficamos reféns de edital, porque ele te dá certa perspectiva de trabalhar. Falaste no segundo disco. O que já existe em relação a ele? Tenho ideias. Acho que o segundo disco vai ser mais introspectivo, mais voltado pra mim, pra música que eu sei fazer, minhas referências mais universais como intérprete. E quero mais composições minhas nele. EM TEMPO INTERNET: WWW.NATALIAMUSICA.COM 16


17


#FicaDica

A Up Belém avisa: há programas para todos os gostos [e bolsos] rolando de Norte a Sul do país! Confira alguns que selecionamos para vocês: KM 35 O artista visual Emanuel Franco comemora 35 anos de carreira e apresenta a exposição “KM 35”, em que reúne objetos e instalações visuais. Onde: SESC Boulevard, Castilho França, 522/523. Em frente à Estação das Docas. Quando: até o dia 10 de maio. Informações: 91 3224 5305 / 5654 | 4005 9584 Ed Sheeran Ele tem apenas 23 anos, mas coleciona números [e prêmios] impressionantes: quase dois milhões de cópias do disco de estreia, só no reino Unido e pelo menos meio milhão nos Estados Unidos. Bem recebido e elogiado pela crítica, Ed Sheeran tem produzido como nunca: gravou com Taylor Swift, One Direction e Pharrell Williams. No Brasil, para divulgar seu novo disco, faz duas apresentações em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. Onde: Espaço das Américas, Rua Tagipuru, 795 - Barra Funda - São Paulo - SP Quando: 28 e 29/abril, às 21h30 Ingressos entre R$200 e R$360 Informações: (11) 3864.5566 Onde, no Rio de Janeiro: HSBC Arena Quando: 30/abril, às 22h Informações: 21 3035.5200

Picasso e a Modernidade Espanhola Com cerca de 90 obras a exposição evidencia a influência de Picasso na arte moderna espanhola e os traços mais importantes e originais da sensibilidade artística que o pintor e seus contemporâneos espanhóis imprimiram ao cenário internacional das artes. A exposição faz referência ao percurso de Picasso como artista e como mito, até chegar à realização de Guernica; à sua relação com mestres da arte moderna espanhola, como Gris, Miró, Dalí, Domínguez e Tàpies, entre outros presentes na mostra; e a suas contribuições para uma noção de modernidade voltada para o tempo presente. Curadoria: Eugenio Carmona. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil - SP, Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Quando: Até o dia 08/junho Informações: (11) 3113-3651/3652

18



Din a

Su ei

Ab

O look do dia

ou

#QuerSerFashion

ta tis

d

20

Ba

Desde que começamos o querserfashion.com, nosso principal objetivo era repassar que, sim, é possível ter estilo, se vestir bem dentro do mundo real. Mas o que chamamos de “mundo real?” Mulheres que trabalham, criam seus filhos, têm o seu tempo como maior preciosidade e ganham seu dinheirinho com muito esforço e competência. Por isso sempre compartilhamos peças das nossas amadas fast fashions – acreditamos que é chic sim repetir roupa e que na maior parte do tempo o que ocorre são mais days off do que grandes produções no dia a dia! Assusta-nos a ideia de um surto coletivo de todas se vestirem iguais. Não, não queremos isso! Essa uniformidade das peças e uma necessidade intrínseca de “parecer ricas and grifadas” nos deixa nauseadas. O que a gente tem para oferecer não é nada idealizado; nada de mulher perfeita, mas cheia de realidade! E quando a realidade é boa, essa, sim, funciona. Vista-se de vida, de opinião, de acertos... e por que não de erros? Experimente, tente sem medo dos olhares de recriminação. Desfaça-se de pessoas chatas; nada de ditadura da moda, porque nem todo dia é dia de #lookdodia, mas todo dia é dia se ser você!

Dina Batista e Sueid Abou são autoras do Quer Ser Fashion, blog de moda, beleza, maquiagens e experiências. Adoram novidades e acreditam que para ter estilo é necessário, sobretudo, ter atitude. www.querserfashion.com | @dina_batista @sueidabou



#vitrine

1 MAPA DE UMA MENTE FEMININA Por Dina Batista e Sueid Abou Abro meu notebook, mil coisas vêm à mente... Pagar contas, ver extrato no banco, fazer post do blog, responder e-mails... Mas confesso que a emoção quase sempre prevalece à razão... e aí começa a sina: 1) EU PRECISO comprar as cápsulas de goji berry. verdenutri.com.br 2) Mas antes preciso adquirir o livro sobre boa forma da Cameron Diaz. www.saraiva.com.br 3) Nossa, vem chegando o feriado. Cadê meu biquíni baphônico?!? Instagram: @lolitaatelier 4) Não tenho roupa para o baby chá da amiga! shoponline.iorane.com.br (Corta para fatura do cartão de crédito!) :/ 5) Sou/preciso ser uma pessoa desapegada dos bens materiais, vou vender alguns itens que não uso do meu closet ... Ahhh!! mas esta bolsa está tão baratinha! (Arrematei) Aplicativo: enjoei 6) Santos chineses! Deixa ver o que estou “precisando” (aqui, vou pegar imagens das compras inusitadas) www.aliexpress.com Resumo: Mil janelas abertas, um item comprado, vários escolhidos como preferidos e amanhã começa a sina novamente... A gente se encontra mês que vem!

22

5


2

3

6

4

23


#estilo

Nos embalos da casa retrô da redação | fotos divulgação

A era do desbunde está de volta nos lares e decorações bem ao estilo setentista

N

o início do mês de março, o Brasil acompanhava com atenção o final feliz de Sandra e Rafael, per-

sonagens de Ísis Valverde e Marco Pigossi na novela “Boogie Oogie”. A trama, escrita por Rui Vilhena, renovou o interesse pela moda e costumes dos extravagantes e coloridos anos 1970, década em que o folhetim foi ambientado. Como já era de se esperar, a novela acabou resgatando a moda da época e aumentou a procura por itens e acessórios que dessem um toque setentista ao dia a dia, seja nas roupas ou na decoração de ambientes. “A principal característica dessa época é a extravagância óptica”, diz o arquiteto e designer de interiores José Júnior. De fato, qualquer alusão à década em que a Disco Music, John Travolta e Farrah Fawcett reinavam sobre o planeta não pode prescindir de cores, muitas cores, regra que também se aplica aos ambientes. Marrom, laranja, amarelo, rosa e verde pistache são algumas das dicas para quem deseja reviver aquele tempo na intimidade do lar. “O saudosismo é a chave-mestra nesses remakes. A liberdade da moda, a febre da disco music são coisas que fizeram esse momento

descontraído, e a casa refletia isso”, reforça Júnior. Em época de crise econômica, não é todo mundo que está com aquele dinheiro sobrando para investir na 24


25


O uso de cores e papĂŠis de parede ĂŠ uma marca registrada dos anos 1970, que combinou psicodelia e sobriedade como nenhuma outra dĂŠcada

26


compra de móveis vintage, normalmente mais caros se a preferência recair pelos originais de época. Se você se enquadra nesse grupo, não desista. Uma boa solução, de acordo com os especialistas, é a utilização de cobertores, almofadas e tapetes destacando as tão aclamadas cores neon combinadas a tons terrosos, além do “ferrugem” e itens metalizados. Esses pequenos detalhes, espalhados pelos cômodos da casa não só emprestam vida ao ambiente, como facilitam na reconstituição daquele aspecto retrô desejado. Nos anos 1970 o mundo ainda vivia a rebarba da psicodelia, iniciada na década anterior e que invadiu capas de discos e a mentalidade da juventude, na bagagem da contracultura. Já integrada aos costumes e ao status quo na década seguinte, os temas viajantes tão característicos dos álbuns roqueiros dos sixties foram transportados para os ambientes com o uso sem reserva de papéis de parede, outra característica marcante do design de interiores setentista, com o uso exagerado de estampas florais, geometrismos ou paisagens de campo. Na internet, sites como 27


www.papeldeparededosanos70.com (esse, um dos pioneiros no renascimento do papel de parede decorativo) oferecem uma infinidade de opções assinadas por profissionais especializados no tema. E o mobiliário? A década de 1970 viu a popularização do acrílico, do plástico, do vidro e do cromo como matérias-primas para as viagens futuristas de designers ao redor do mundo. Mesas de cromo e vidro e móveis de madeira com linhas e estofados finos dominavam a paisagem residencial da época. O contraste entre o rústico e o moderno convivia harmonicamente no mesmo ambiente. “O acrílico virou hit e o design das naves espaciais em objetos do cotidiano dominavam os ambientes. Também eram modernos os móveis de bambu com tecidos de botânica; cadeiras e mesas de acrílico e metal. Carpetes altos, fofos e coloridos e alvenaria curva com arcos brancos faziam toda a diferença”, reforça José Júnior. Móveis vintage não costumam ser baratos, mas nada que uma visita a um brechó ou uma boa pesquisa na internet não resolva, já que hoje não são poucas as lojas que oferecem réplicas fiéis aos clientes. Aí é tirar a calça boca de sino do guarda-roupas, pôr aquela trilha sonora no spotify e deixar a casa “linda pra chuchu”. 28


Móveis de madeira com estofados finos também são uma ótima para quem quer reviver os 70´s no aconchego do lar 29


s

artin

s

#look

Ca s

sM iu

O Visagismo nosso de cada dia Ir ao cabeleireiro tem muito a ver com desejo e a vontade de ter um cabelo deslumbrante, uma satisfação pessoal. Muitas vezes as mulheres, e até os homens, chegam com ideias pré-definidas de cortes que viram em celebridades ou a última “tendência” que apareceu na mídia. O que é bem perigoso. A tendência do momento pode se tornar uma das suas maiores inimigas. E você nem percebe até que acorda de manhã e se dá conta de que deveria ter levantado uma hora antes só para deixar o cabelo do jeito que imaginou. Sabe o que é necessário ocorrer entre a tendência e o corte perfeito para você? O visagista. Nunca ouviu falar? Pois é, este profissional é quem vai escutar atentamente sua opinião, ler seu biotipo e estilo de vida para, enfim, obter a melhor versão do que você quer e criar algo que vá atender às suas necessidades e expectativas. Não esqueça - essa é para levar sempre na memória - uma tendência deve ser sempre apenas a inspiração, o pontapé inicial. Afinal ninguém é idêntico, então o resultado não será o mesmo. E isso é que é legal em poder contar com um visagista. Este profissional não 30

é apenas um profundo pesquisador de beleza e leitor de pessoas, é ainda a pessoa que mais domina toda a matemática por trás da técnica e os sinais da personalidade, da etnia, estrutura óssea e dos fatores comportamentais que constroem a equação do corte mais indicado para cada um, personalizado. Ao mesmo tempo é o artista que revela o encanto escondido nos trejeitos e no interior de cada um. O resultado? É sempre um largo sorriso de quem acabou de se redescobrir! Pode parecer simples, mas cuidar bem da imagem é algo super importante e tem mais valor do que se imagina. Ou você não reparou em alguém que ficou estranho [ou belíssimo] com o novo visual? Isso faz toda a diferença na vida, no dia a dia e, principalmente, na autoestima de qualquer um. A melhor dica de beleza que pode existir é: procure um visagista e personalize aquele corte que você amou em alguém ou viu na capa da revista. Mas é preciso ter confiança, porque ele(a) vai precisar de um bocado de liberdade para revelar toda a beleza que pode estar escondida em você.

Cassius Martins é cabeleireiro, paulistano de nascimento e paraense de coração. www.cassiusmartins.com.br


Aspectos como formato do rosto e cabeça, além dos tons de pele são fundamentais na hora de pensar um corte de cabelo ou coloração. Nada é aleatório e, em se tratando de mudanças de visual, “copiar o corte de alguém” não é uma receita certa.

31


#capa

Ele come cultura

por Lorena Filgueiras | Fotos Rubens Kato e Sérgio Coimbra

A cruzada de Alex Atala pelo reconhecimento da gastrononomia como patrimônio cultural brasileiro

Q

uando findamos a reunião de pauta há quase um mês e foi definido que Alex Atala seria o primeiro

entrevistado, a primeira capa da Up Belém, tínhamos em mente que seria difícil chegar até ele. Afinal, é o primeiro número desta revista e, por experiência, sabemos que assessorias, de praxe, pedem para avaliar a linha editorial e a qualidade gráfica do material – para só então decidirem se seus assessorados vão conceder entrevista. Não foi diferente conosco e, por isso mesmo, houve um momento de respiração mais ofegante. Pedi a uma amiga [amiga em comum do chef] que nos ajudasse. Ela explicava em mensagem instantânea que tratava-se de uma estreia e queria saber se ele toparia bater um papo conosco. A resposta dele veio com um delay de um dia [que pareceram anos]. “Desculpe a demora em te dar um retorno. Estou na Espanha, em um evento, mas será um prazer dar essa entrevista.” Optei por iniciar este texto com essa revelação de bastidores para mostrar quão acessível é Alex Atala. O homem, considerando uma das figuras mais influentes dentro e

fora da Gastronomia, é uma pessoa de hábitos simples, confessadamente apaixonado pelo Brasil e pelas coisas de sua terra. De tão defensor da 32


33


34


Gastronomia nacional, em abril de 2013, um novo projeto nasceu: o Instituto ATÁ, fundado por Atala e uma equipe multidisciplinar que reúne fotógrafos, empresários, publicitários, um antropólogo e um jornalista. O projeto tem a proposta de aproximar o saber do comer, o comer do cozinhar, o cozinhar do produzir, o produzir da natureza. Recentemente, ele iniciou um movimento para que a culinária brasileira seja reconhecida como cultura. Esse foi o assunto que dominou nossa conversa – além de, é claro, falar sobre o Pará, terra que o chef adora. Tens levantado a bandeira de que Gastronomia é cultura e está à frente do movimento “Eu como cultura”. Qual o objetivo dele? O Instituto ATÁ tem como principal objetivo fazer com que no Brasil a Gastronomia seja reconhecida como parte indissociável da cultura do país. Por que isso é importante? Para que seja possível proteger toda a cadeia do alimento, da terra à mesa. É preciso criar um ambiente em que os pequenos produtores consigam sobreviver da agricultura orgânica e sustentável sem serem prejudicados pelo mercado, que privilegia os produtos cultivados em grandes lavouras que utilizam químicos; que comunidades possam espalhar pelo Brasil sua cultura por meio de ingredientes que produzem (como a pimenta jiquitaia, produzida na Amazônia brasileira pela comunidade Baniwa), que seja possível a comercialização dos méis de abelhas nativas brasileiras, que por apresentarem características “não comuns” ao mel que conhecemos – mais úmidos – sofrem uma série de limitações por conta da legislação vigente. Todas essas ações proporcionam uma rede de proteção à nossa biodiversidade. E nossa biodiversidade é cultura. 35


Por que é tão difícil reconhecer a Gastronomia como tal? Achas que o brasileiro tem essa consciência ou ele precisa ser educado? Como a maior parte do conhecimento sobre os ingredientes e receitas das regiões do país são pouco difundidos, encontramos algumas barreiras ideológicas e físicas para construir o pensamento de que Gastronomia é cultura. Um dos futuros projetos do Instituto ATÁ, em parceria com a nutricionista Bela Gil, é promover o ensino sobre cultura alimentar como parte integrante da grade curricular em escolas do ensino fundamental. Com esse projeto, será possível fazer com que as crianças de todo o Brasil tenham contato com ingredientes e receitas típicas do país desde cedo e assim possam perpetuar o conhecimento da gastronomia nacional por gerações. Quais as conquistas, até o momento, do #eucomocultura? Já impactamos mais de 2 milhões de usuários nas redes sociais com a #eucomocultura desde o início da campanha. Todos os dias recebemos fichas do abaixo-assinado na caixa postal do Instituto ATÁ. Fizemos o evento “Gastronomia é Cultura que se Come”, em São Paulo, com a ajuda de parceiros, e reunimos uma grande rede de pessoas que foram especialmente para assinar o documento e difundir a campanha. Como fazer parte deste movimento? Todos podem participar da campanha “Eu Como Cultura”. No site do movimento (eucomocultura.com.br) é possível imprimir e assinar o documento. Quanto mais assinaturas a pessoa conseguir, melhor. Postar fotos nas redes sociais com um prato escrito o seu ingrediente preferido com a hashtag (#eucomocultura) da campanha também é importante, pois assim a informações chegam ao maior número de pessoas possível. Deixar o documento para ser assinado em estabeleci36


37


38


mentos também é uma opção, pois assim se recolhe o maio número de assinaturas possível. Mudando rapidamente o foco, sem sair do assunto: conheces a cultura gastronômica do Pará a fundo. O que mais te encanta aqui? A autenticidade, a legitimidade, a cultura e os saberes populares tão bem incluídos e representados na Gastronomia brasileira. Há algum ingrediente paraense que tenhas conhecido (e experimentado) e pensado: “O resto do Brasil precisa conhecer isto”? Todos os ingredientes que trabalhamos no D.O.M. (ou mesmo antes do D.O.M.) sempre foram sabores que acreditei desde as minhas primeiras idas à Amazônia até a convivência com o mestre Paulo Martins. És presença confirmada e muito aguardada no Ver-O-Peso da Cozinha Paraense 2015. Qual a primeira coisa que pretendes fazer ao chegar aqui? Comer açaí com peixe frito.

EM TEMPO Alex Atala estará na 13ª edição do Ver-O-Peso da Cozinha Paraense, o maior e mais longevo festival Gastronômico do Norte do Brasil e cujo apogeu será no período de 27 a 31 de maio de 2015. Mais informações em: www.veropesodacozinhaparaense.com.br AGRADECIMENTOS Giuliana Bastos Letícia Ginak Tânia e Joanna Martins

39


#especial

Na rua, gostosuras por Elvis Rocha | fotos Dudu Maroja

Em tempos de Food Truck, vendedores de lanches e comidas típicas seguem soberanos

R

eza a lenda que o McDonalds demorou décadas a chegar em Belém, entre outras razões, por medo

da concorrência. Pode ser anedota, mas o fato é que carrinhos de iguarias típicas e lanches de rua fazem parte, tal qual a chuva da tarde e os corredores de Mangueiras, da paisagem afetiva de quem vive a capital paraense. Num tempo em que de São Paulo a Nova Iorque a comida de rua ganha ares gourmet com a popularização dos Food Trucks, as ‘tias’ e ‘tios’ que alimentaram gerações seguem firmes na missão de

oferecer comida gostosa, rápida e barata, criando laços entre nativos e turistas no definidor de identidades e ancestral ato de comer. “Seria mais fácil mudar o sistema político da Rússia do que fazê-los abandonar o pão preto; a China abandonaria sua versão do socialismo mais facilmente do que o arroz”, diz o antropólogo Sidney W. Mintz no ensaio “Comida e Antropologia, uma breve revisão” [Revista Brasileira de Ciências Sociais, 2001]. A observação, propositalmente exagerada, ajuda a entender o porquê de, a despeito de shoppings e redes de fast-food, o caruru no almoço, o tacacá do final da tarde e o cachorro-quente da noitinha nunca arrefeceram em Belém. “O que aprendemos sobre comida está inserido em um corpo substantivo de materiais culturais historicamente derivados. A comida e o comer assumem, assim, uma posição central no aprendizado social por 40


41


Thiago Sรก, da The Nine, estudou por meses os hรกbitos culinรกrios do paraense para montar o cardรกpio da sua sanduicheria

42


sua natureza vital e essencial, embora rotineira.” Em outras palavras, a maniçoba degustada no passeio público não mata apenas a fome, mas também honra a tradição de nossa cultura alimentar e urbana. O empresário Thiago Sá, com um histórico familiar de negócios no ramo [“três carrinhos de lanche falidos na juventude”], sabe bem disso. Para lançar seu empreendimento mais maduro, a The Nine Burger, uma sanduicheria charmosa no centro do Umarizal, pesquisou com afinco os hábitos alimentares das diversas regiões do estado, dedicando atenção especial durante três meses à história da comida de rua em Belém. O resultado, além do cardápio com novas roupagens para clássicos da culinária local, rendeu a Thiago uma compreensão mais ampla dos elos entre necessidade, empreendedorismo e criatividade no modus operandi de quem atua no ramo. “As barracas de comida são um fenômeno muito antigo em Belém. Há 150 anos já existia a ‘tia’ do tacacá, do cuscuz, da tapioca. Como somos historicamente uma sociedade em que grande parcela da população trabalha na informalidade, essa acaba sendo uma alternativa comum, inclusive pela percepção equivocada sobre a suposta simplicidade do negócio”, explica o empresário. “Como as relações costumam ser familiares, quem faz a comida é normalmente quem vende, então existe uma especialidade muito grande, o que acaba se tornando um dos diferenciais para se manter no negócio. É daí que vem o ‘Tacacá da Fulana’; o ciclano que tem um carro de cachorro-quente que oferece trinta opções de molho pros clientes. Como quem trabalha com comida de rua e carros de lanche normalmente não vai repensar os produtos, ter longevidade, oferecer o clássico com qualidade e algo que se destaque faz toda a diferença.” A descrição caberia muito bem como resumo da trajetória do Big Mengão, uma das mais antigas refe43


Big Mengão: desde os anos 1960 conquistando a clientela e reforçando sua marca na cidade

44


rências em lanches da cidade. Idealizado pelos flamenguistas Abílio Botelho e Benedita Araújo no final dos anos 1960, o negócio hoje é tocado por oito dos nove filhos do casal, ostentando uma rede composta por dois carrinhos de lanche no centro da cidade e cinco lojas espalhadas em pontos estratégicos de Belém, Ananindeua e Icoaraci, com direito a delivery, planos de expansão e um nome no mercado que não fica atrás de nenhuma das grandes franquias internacionais a quem faz concorrência. “Estudei Administração para entender melhor o negócio e começamos o trabalho de ampliação, com abertura de lojas. O que faz o Big Mengão crescer, apesar da concorrência grande, é a certeza de que quem o frequenta vai comer algo gostoso, feito com cuidado e preço acessível”, conta Marcos Botelho, um dos responsáveis pela administração dos negócios da família. Até o final de 2017, ele adianta, Parauapebas e Marabá devem receber filiais do Big Mengão. “O povo dessa cidade conhecerá nosso leitão (risos). Nosso plano é continuar crescendo.” Também foi com os pais que Ivanete Pantoja, uma mocajubense de 41 anos, aprendeu as manhas na cozinha antes de assumir o comando do “Tacacá Raízes da Mandioca”, um carrinho de comidas típicas montado pela família há 39 anos bem em frente ao Centro Arquitetônico de Nazaré. Com voz mansa e interrompendo a conversa várias vezes para resolver assuntos práticos do dia, ela explica a rotina que começa às 8h30 e se estende até o final da noite, e como inventou a “Varuçoba”, prato que, recente no cardápio, conquistou de imediato a clientela. “Muita gente chegava aqui e queria provar um pouco de cada comida típica, principalmente os turistas, que sempre pediam para misturar os pratos. Aí pra facilitar eu decidi montar esse prato, que mistura vatapá, caruru e maniçoba”, lembra. Ivanete, que articula para este ano a criação da Associação das Tacacazeiras e Comidas Típicas de Belém, “pra gente se fortalecer”, comercializa em mé45


dia 100 pratos diários, do arroz com galinha ao vatapá, além do tradicionalíssimo tacacá, com preços que variam entre seis e doze reais. Estabelecimentos informais como o “Raízes da Mandioca”, aliás, acabaram sendo responsáveis pela paixão imediata de Marcelo Katsuki, crítico gastronômico do site da Folha de São Paulo, pelos pratos típicos comercializados nas ruas de Belém. Habitué de eventos de divulgação da culinária da Amazônia como o Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, da Família Martins, Marcelo fez questão de conhecer feiras tradicionais da cidade e buscar informações sobre a comida consumida de fato no dia a dia da população. O resultado: uma admiração para o resto da vida. “Comi de tudo: do tacacá aos espetinhos, tapiocas e pastéis. Mas o que mais gostei foi uma porção de vatapá com camarão seco e arroz de

46


Ivanete Pantoja aprendeu as manhas da cozinha com os pais e mantÊm viva a tradição das tacacazeiras bem no centro da cidade 47


jambu, servido num pratinho de plástico. Uma refeição prazerosa e barata. A comida de rua de Belém é uma expressão autêntica da cidade e dos seus habitantes. Faz parte da cultura, do cenário e dos hábitos do paraense. Ao contrário da comida de rua de São Paulo, que estava desaparecendo por falta de regulamentação e agora está ressurgindo com o movimento dos food trucks, com comidas bem feitas, mas caras e que não caracterizam uma comida de rua local autêntica.”

- Segundo a Secretaria Municipal de Economia (Secon), existem atualmente cerca de três mil e quinhentos trabalhadores informais cadastrados em Belém, de vendedores de comidas típicas a carrinhos de cachorro quente, café da manhã e lanches em geral. - Para se regularizar, o trabalhador precisa de um requerimento junto à Secon, informando o ponto de venda de interesse, para que então uma equipe da Secretaria faça uma visita técnica e analise a possibilidade da autorização. - É necessária a apresentação de documentos como a carteira de Manipulador de Alimentos, fornecida pelo Departamento de Vigilância Sanitária (DEVISA), vinculado à Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). - O DEVISA também é responsável pela fiscalização da qualidade dos alimentos e a higienização dos pontos de vendas espalhados pela cidade. - A Lei Estadual Nº. 7.549, de setembro de 2011, determina Pato no Tucupi, Maniçoba, Tacacá, Vatapá e Chibé como Patrimônios Culturais Imateriais do Estado - A Lei municipal Nº 8.979, promulgada em janeiro de 2013, declarou a Vendedora de Tacacá Patrimônio Cultural Imaterial de Belém. - No dia 13 de setembro é comemorado em Belém o Dia das Tacacazeiras.

SERVIÇO Big Mengão Lanches Endereço: Travessa 14 de Março, 905 - esquina com a Rua Antônio Barreto - Umarizal - Belém - 91 4141.1249/3223.7876 Tacacá “Raízes da Mandioca” Avenida Nazaré, sem número, esquina da Avenida Generalíssimo Deodoro - Nazaré - Belém - 91 98358.3147 The Nine Burguer Rua Diogo Móia, 1114, entre Travessa 14 de Março e Avenida Alcinco 48

Cacela - Umarizal - 91 3276.3636


Tomar um tacacá no final da tarde é cultuar nossa tradição e respeitar as raízes de nossa formação cultural 49


Jo an

Ma

rtins

#opinião

na

O que é Gastronomia? Se você olhar no dicionário ou jogar a palavra numa busca rápida pela internet, verá que Gastronomia é “o ramo que abrange culinária, bebidas, além dos ingredientes e materiais utilizados neste meio”. O que pouca gente sabe é que Gastronomia envolve também aspectos sociais e culturais; não é sinônimo de comida cara ou refinada, mas, sim, de comida boa, feita com ingredientes de qualidade, com carinho e cuidado. Além de ser um importante fomentador do Turismo (e vice-versa, é claro). Pois é, a Gastronomia está em todos os lugares. Até nas suas memórias. Vai me dizer que não tem uma comida que te leva a lembranças familiares? Pode ser a canja da vovó ou aquela macarronada com salsicha que você amava comer aos domingos. Minha memória mais antiga é da cozinha da casa da Vó Nita (Anna Maria), que era uma doceira de mão cheia. Ah, aquele bolo de chocolate ou o doce de leite com cupuaçu... Aliás, os doces

50

dela, até onde eu sei (e volta e meia me contam) povoam não só a minha lembrança: seus Papos de Anjo eram divinos! Há, com certeza, muita poesia envolvida quando a gente fala de Gastronomia, mas há também problemas reais, sobre os quais a gente precisa pensar com urgência, antes que seja tarde demais: desde a falta de incentivos (e o mais grave: de reconhecimento) ao setor até a falta de estudos mais profundos (e catalográficos) de ingredientes e receitas que estão se perdendo com o tempo. Nem toda fonte de recurso é inesgotável e no caso da Gastronomia, receitas locais e ingredientes estão ficando para trás. Não podemos deixar isso acontecer! A culinária paraense, me atrevo a dizer, é a mais autêntica do Brasil – nossa riqueza vai muito além do que se vê! Tenha orgulho! Valorize o que é nosso. E cobre das autoridades que nosso patrimônio (não só o material) seja preservado. Até mês que vem!

Joanna Martins é publicitária, organizadora e curadora do festival Ver-O-Peso da Cozinha Paraense e diretora do Instituto Paulo Martins.



#partiu

Sabor marajoara por Lorena Filgueiras*

Depois de visitar o Marajó e provar suas delícias a vida nunca mais será a mesma

C

hove nos campos de Cachoeira. Não, esta matéria não tem cunho literário (em-

bora não haja como não associar), mas é inevitável não lembrar do livro homônimo de Dalcídio Jurandir ao cruzar a estrada enlameada que nos leva a Cachoeira do Arari, na ilha do Marajó. Chove muito e a paisagem se transforma. Um convite generoso me levou a percorrer [sem exagero algum] a via láctea marajoara: as fazendas, sítios e pequenas propriedades onde o queijo do Marajó [uma joia da gastronomia e cultura paraenses] é produzido. Mas voltemos ao começo. Recebi um generoso convite do Instituto Paulo Martins para visitar o Marajó e não pensei duas vezes em aceitá-lo. Afinal, há muito,

desde criança para ser mais precisa, não ia lá. Papai costumava ministrar cursos de interiorização pela UFPA e lá íamos nós: ele, mamãe, eu e Marília, minha irmã. Eram férias em família e construí memórias afetivas de Soure. Ao chegar em Soure [depois de algum tempo de viagem], revi a cidade e, confesso, achei mal tratada. Não lembrou, em nada, a cidade na qual passei grandes momentos da minha infância. É importante frisar que o Marajó não é Soure [a “capital” marajoara]. Mal chegamos e só tivemos tempo de largar as mochilas e bolsas no hotel. Paramos para almoçar no 52


53


O queijo “manteiga” do Marajó, aquele que derrete o coração do mais exigente gourmet

54


restaurante que ficava no térreo do hotel e não poderia ter sido melhor. Famintos, cansados e ansiosos, foi um conforto à alma ver uma caldeirada perfumada chegar à mesa... junto com um pirão inacreditável. Seguimos para o restaurante da Dona Jerônima, uma senhora simpaticíssima, que nos recebeu com suco de taperebá e muita prosa. Dona Jerônima é uma estrela – acostumada ao assédio de emissoras de televisão, ela conta com muita simplicidade que vive na ponte aérea Belém-Minas-São Paulo, para ministrar cursos de cozinha. Dona de um tradicional restaurante e de um complexo de turismo, ela segreda que “muitos atravessam de Belém para o Marajó somente para tomar a sopa de turu”. Turu é um molusco retirado de dentro da madeira e matéria-prima de iguarias. Não experimentei porque dona Jerônima viajaria naquele mesmo dia, mas prometi que voltaria. Partimos em direção à casa do Péua, apelido do Haroldo Palheta da Silva, produtor de queijo do Marajó. Sorridente e muito amável, ele mostrou como a certificação do queijo [uma conquista recente e sobre a qual 55


pretendo falar futuramente] trouxe grandes conquistas aos produtores da região. O Péua produz, na época da “safra”, quase 100 kg de queijo. “As chuvas mexem com o metabolismo das búfalas”. Toda manhã o Péua leva os queijos para vender nas balsas e barcos e quase sempre volta pra casa com toda a produção vendida. Ele convida a comer o queijo fresquinho – uma consistência única e que parece derreter na boca. Pergunto pra ele qual é a diferença entre o queijo do Marajó tradicional e o queijo do Marajó Manteiga. Ele explica que o “manteiga” é que é o original – ele é mais firme e tem menos gordura. Com alguns pacotes de queijo nas mãos, partimos para um outro produtor. Ou essa era a intenção porque chovia muito e achamos melhor descansar e seguir para lá no dia seguinte. O Marajó é a região onde há a maior concentração de diferentes espécies de búfalos no mundo. Por isso não estranhe: eles reinam absolutos por lá. É muito comum vê-los transitando languidamente pelas ruas. Eles são majestosos, bonitos e... mansos, dóceis. Não estou dizendo para você correr pro abraço. Vá com calma, com movimentos gentis, mas mantenha-se atento

56


Enquanto degusta as delícias marajoaras, o visitante pode apreciar a região onde há a maior concentração de búfalos do planeta 57


A belíssima entrada da “Mironga”, um pedaço do paraíso nas ilhas

58


aos movimentos da cabeça [por conta dos chifres]. A Polícia do Marajó, por exemplo, não utiliza cavalos na montaria – e sim, búfalos =) De manhã cedo, já sem chuva, rumamos em direção ao sítio do Prudêncio, no caminho para Cachoeira do Arari. Ele nos esperava com a esposa Ariceli e a Magali, uma vaca simpaticíssima e carinhosíssima. Aliás, é preciso reiterar aqui que eu tenho muito orgulho de ser paraense. Somos carinhosos, acolhedores e adoramos uma visita! A Ariceli passou um café novinho, fresco. Colocou leite de búfala morninho em uma jarra [o leite de búfala não tem o pitiú, como o paraense denomina o odor característico do peixe, do ovo e do leite] e queijo do Marajó, igualmente fresco. A estrela foi uma manteiga de garrafa. O Marajó não tem a tradição da manteiga de garrafa, mas se você visitar alguma queijaria, não deixe de perguntar. Por fim, não deixe de visitar a Mironga, cujo proprietário é o o Carlos Augusto Nunes Rodrigues, o Tonga. Soou familiar? Tonga brinca que ele inspirou a famosa música. O lugar é um pedaço do paraíso e o queijo da Mironga tem uma textura inacreditável! Peça para experimentar o doce de leite feito lá [me agradeça depois]. Há uma música paraense que diz mais ou menos assim: “quando eu morrer, se eu não for pro céu, eu vou lá pro Marajó”. Faz todo o sentido. 59


A manteiga de garrafa produzida no Marajó não deixa nada a desejar às mais tradicionais do país

60


COMO CHEGAR Para chegar de carro Soure, é preciso embarcar em Icoaraci, distrito de Belém. A balsa tem um andar superior e por um valor a mais na passagem, você vai na área vip – um grande camarote com várias poltronas, TVs e ar-condicionado. Três horas depois (se a balsa estiver a favor da maré), você desembarca em Salvaterra, no Camará. Se você optar por ficar em Salvaterra, ótimo. Se optar por ficar em Soure, você vai encarar mais alguns km e atravessar pra lá de balsa também. Aos que optarem ir de barco, basta ir ao Terminal Hidroviário de Belém. Durante a alta temporada (julho), recomendo que você compre passagens e/ou tickets pra balsa com antecedência.

Se você puder ir a Cachoeira do Arari, opte por fazê-lo em janeiro, quando ocorrem os festejos em homenagem a São Sebastião. Não deixe de visitar o museu do Marajó, uma obra linda do padre Giovanni Gallo... ...e, em dando tempo, não perca a oportunidade de visitar Joanes. Falando em mistérios e encantarias, dizem que por lá tem um poço, da época dos negros escravos e que tomar um banho com aquela água renova a energia da gente.

(*) Lorena Filgueiras viajou para o Marajó a convite do Instituto Paulo Martins. 61


#f@q

O mundo é uma hashtag por Lorena Filgueiras

Você sabe, elas estão por toda parte. Essenciais para uma realidade cada vez mais conectada Ele já foi chamado de “símbolo da libra” e também de “símbolo numérico”. Na música é, para alguns, sustenido, e mais recentemente, com a popularização da linguagem de internet, hashtag. Para simplificar a uma palavra, hashtag é uma etiqueta, que torna mais fácil agrupar tópicos, assuntos e mesmo opiniões a respeito de um determinado tema. É uma maneira de catalogar mensagens por meio de uma codificação manual em texto. Você já tinha visto no Twitter (onde ela se popularizou) e, em 2013, viu as hashtags chegarem ao Facebook. Com esta codificação, as palavras assim identificadas surgem como hiperligações – ao clicar na palavra hiperligada você será redirecionado a uma lista de mensagens/perfis/páginas nas quais a mesma hashtag foi usada – tornando possível, portanto, que você acompanhe [em tempo real] essas manifestações. Sem mencionar que o uso de hashtag é uma ferramenta muito útil [fundamental, na realidade] para acompanhar e gerenciar a presença de uma marca nas redes sociais e, assim, saber exatamente o que é falado sobre ela. Em termos numéricos, a hashtag virou parte essencial do grande negócio que é a internet. Segundo levantamento divulgado à época (2013) da implementação do uso das #s no Facebook: 62


- 56% das 100 principais marcas no Facebook passaram a utilizar hashtags nas suas publicações; - 38% das 100 principais marcas no Facebook utilizaram hasgtags em pelo menos duas das suas publicações; - 18% das 100 principais marcas no Facebook fizeram uso as hastags mais de 5 vezes; - 6% das 100 principais marcas no Facebook utilizaram as hastags em mais de 10 das suas publicações.

Tão essencial, tão conectado. Por isso a Up Belém, não abre mão das hashtags. Mande sua dúvida, aquela que sempre martelou em sua mente e você nunca teve coragem de perguntar para nós: revista@upmagazine.com.br

63


Quais são as hashtags mais utilizadas? O que significam? #regram repostagem de uma imagem que alguém já tinha postado antes. É sempre legal indicar que a foto não é originalmente sua, assim tudo fica bem explicado e creditado. #hype é o assunto que está “dando o que falar” nos círculos fechados das pessoas mais modernas. Geralmente é algo passageiro, produto da própria moda comportamental. A palavra deriva de hipérbole, figura de linguagem que representa o exagero de algo ou uma estratégia para enfatizar alguma coisa. #selfie tirar uma foto de si mesmo (com ou sem ajuda de espelhos) pode ser irresistível, mas compartilhá-la nas redes sociais é moda nova e já bastante difundida, principalmente entre adolescentes. E tem muita celebridade aderindo, sinal de que não é por falta de fotógrafo… #throwbackthursday ou #TBT é uma hashtag usada quando os usuários do Instagram postam fotos antigas. Como a rede é conhecida por sua instantaneidade imediatista, nada mais adequado (e estimulante) que identificar e separar bem aquelas publicações com cheirinho de naftalina, né? Começou pelo #ThrowbackThursday e se expandiu para o #FlashbackFriday e #WaybackWednesday. Porque relembrar é preciso. #OOTD é a versão inglesa (outfit of the day) do “look do dia”. Ao invés de usar a ultra famosa hastag #lookdodia, que é acessada apenas por falantes da língua portuguesa, é possível taguear sua foto com o #ootd para atrair likes internacionais. #DIY a abreviação de Do it yourself é perfeita para mostrar a todos que aquele trabalho manual tem um passo-a-passo e pode ser feito por qualquer um, desde que saiba seguir as instruções. Como não são necessários recursos profissionais, arregace as mangas e mãos à obra! #foodporn Nada de pornografia, essa tag é usada para indicar comidas absurdamente gostosas e provocantes. As que dão vontade de se lambuzar. Sabe quando a calda da cobertura de um bolo está super brilhante ou quando o sanduíche despretensioso fica bem colorido? Foto na hora porque é foodporn. #justnow Essa tag indica que a foto ou post foi feito exatamente naquele momento da publicação. Instantaneamente tagueado e informado. Ótimo para quem tem stalkers de plantão, ansiosos por notícias quentinhas e ao vivo!

64


Feita por pessoas e sorrisos

Dr. Rogerio G. M. Nogueira Implantodontia/Periodontia

Dr. Antonio J. S. Nogueira Odontopediatra/ Ortodontista

Dr. Fabricio Malcher Clinica Geral/ Protese E Estetica

Dra. Renata S. M. Nogueira Ortodontista/ Endodontia Convenio: Uniodonto

Av. Governador JosĂŠ Malcher, 168 - Sl 103 | Centro Empresarial Bolonha 91 3241.0919


Da ry

#retratosecanções

an

Do

es rnell

O Hugo (Carvana) é um grande ator e diretor de mão cheia! O que mais me encantou nele foi o seu jeito "não estou nem aí, mas quero fazer bem!".

66

Daryan Dornelles é fotógrafo, carioca, amante de vinis e de cliques memoráveis. A cada edição da Up Belém ocupará este espaço para contar histórias sobre suas imagens favoritas. www.daryandornelles.com


Famiglia Sicilia25anos

Aprimorando paladares e experiências

High Quality

Até 3X nos cartões

Camisetas Tamanhos Especiais

(91) 98800.7242 @joiacorporation

Compre online joiacorporation.com

capa - UP 001.indd 2

Receba em casa Boaventura, 1303, SL. 5

04/05/2015 22:13:11


R E U Q OMNIA TUDO DI R ZE

ressante, útil. Tudo que é inte dade. Tudo que é novi é feita por ra ito A Omnia Ed «DPDP« SUR¿«VVLRQDLV«TXH e se o que fazem e qu iro para te in r po entregam do mundo! aproximar você

ano 1 | #1

abril

m é l Be

#EuComoCultura

limitação. Informação sem quem tem Conteúdo para conteúdo.

Alex Atala: o alimento como patrimônio cultural

#Ah, o Marajó... As delícias imperdíveis de um passeio pelas ilhas

#Natália Matos A ótima novidade da música paraense azine.com.br revista@upmag ine.com.br www.upmagaz

capa - UP 001.indd 1

#A volta dos 70 A era do desbunde no aconhego do lar

04/05/2015 22:13:09


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.