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Finais Alternativos

Textos de Fabrício Corsaletti Ilustrado por Maria Rosalem

FINAIS ALTERNATIVOS

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1

quando entendeu que era um cisne formou um exército de cisnes voltou ao lago dos patos e ordenou um massacre

2

quando entendeu que era um cisne entrou em depressão sentia-se pato entre os cisnes cisne entre os patos e assim como Noé viveu seiscentos anos depois morreu

3

quando entendeu que era um cisne passou o resto da vida dizendo “eu sou um cisne! eu sou um cisne!” os outros cisnes achavam que ele não tinha muito assunto

4

quando entendeu que era um cisne decidiu que queria ser tamanduá e se transformou no mais tamandualesco tamanduá do mundo dos cisnes

então lembrou sua vida de pato então lembrou sua vida de cisne gritou baixinho “foda-se tudo” e foi encher a cara de formiga

GOSTO DE OUVIR OS TROVÕES ANTES DA CHUVA

gosto de ouvir os trovões antes da chuva é das poucas coisas do mundo que não perderam a grandeza todo o resto é banal traumas amorosos dramas de família filmes livros a injustiça mesmo os mortos na tragédia tudo cansa tudo se transforma na sua própria imagem gasta só o trovão surpreende e cumpre o que promete a chuva vertical só o trovão não envelhece mal gosto muito de trovões de trovões e de abelhas

PIRA

em torno da pira em chamas o irmão da amiga da minha irmã me diz

quando cê tivé deprimido quando cê tivé bem fudido memo compra um sofá barato e taca fogo

num tem nada mió que vê um sofá queimá a espuma queima bunito ouve o que eu tô te falano compra um sofá lazarento e manda bala

TIGRES

escravos encarregados de transportar os barris para transporte e despejo de matérias fecais

dizem que a merda escorria por entre as frinchas das tábuas rajando o dorso dos homens à maneira dos felinos

ó tu que passeias pela História comendo pipoca de óculos escuros considera a sorte dos tigres brasileiros

POEMA DE MACONHEIRO

pensei que fosse o cachorro do vizinho as garras do cachorro na lajota da varanda mas era a chuva não fantasmas

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