ZINT ⋅ Edição #9: Oscar 2018

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EDIÇÃO #9 // OSCAR 2018 FE VEREIRO 2018

NA EDIÇÃO 1 2 0 b ati m en to s po r m in uto, academ y awar ds, br un o m ar s, c h o q u e d e cultur a, jó han jó han n sso n , la casa de papel, lady b i r d - a h o r a de voar , m aze r un n er , o in sulto, o m en in o que f ez u m m u seu, pan ter a n egr a, pequen a gr an de vida, r upaul’s d r ag r ac e , sem am o r , taher eh m afi, the go o d do cto r , the g o o d p l ac e, tr am a fan tasm a, tr ês an ún cio s par a um cr im e


em homenagem

Esta é uma Edição especial. Jamais esperávamos que nosso sonho de tirar a ideia do papel daria certo, receberia tanto apoio, carinho e ajuda. E hoje, mais do que nunca, precisamos agradecer a todos que se envolveram de alguma forma. Mas, principalmente, essa Edição é um agradecimento especial e uma homenagem a uma pessoa muito especial: Roberto Barcelos. Roberto é mais que um colaborador. Roberto é um amigo querido, especial e único, que sempre apoiou e ajudou demais a ZINT. Além de escrever textos tocantes, envolventes e que mostravam seu olhar particular e profundo sobre a vida, ele sempre ajudou com comentários e dando sua opinião em outros textos. Infelizmente, essa é a última edição com um texto do Roberto. Curiosamente, ele escreveu sobre o filme francês 120 Batimentos por Minuto. Assim como os ativistas na trama do filme se esforçam para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento da Aids, Roberto sempre foi contundente com suas fortes opiniões. Seu jeito alegre, brincalhão e um pouco sem limites, deixava todos os seus amigos com muito mais do que 120 batimentos por minuto. Quem conhecia Roberto sabe do que estou falando. Hoje, fica a saudade dele e as boas memórias de quem teve o prazer de te conhecer. Beto, essa é pra você. Essa é por você. Descanse em paz, Otaku.


A ZINT é uma revista mensal e gratuita voltada às áreas de Arte, Entretenimento e Cultura, em formato de publicação digital. Acreditamos na nossa independência editorial e esperamos que, dentro dos mais variados formatos de textos, possamos trazer alguma abordagem inventiva ou inédita aos assuntos que permeiam o campo do jornalismo cultural.

João Dicker & vics

Editores-chefes e idealizadores da ZINT


O QUê QUE A ZINT TEM? Aproveitando das possibilidades de uma publicação online, a revista conta com algumas interações bem legais. Para que nenhum leitor fique sem usufruir 100% do oferecemos, um manual de como funciona a ZINT.

Com uma publicação online, as possibilidades de interações são promissoras. Usando a plataforma digital ao nosso alcance, a revista pode sempre vir acompanhada de objetos interativos. A

ZINT

aproveita de todos esses recursos, e você pode usufruir de tudo de uma forma bastante simples e rápida. Capítulos

Em primeiro lugar, é interessante apontar que a revista funciona por Capítulos. As barras laterais correspondem ao capítulo correspondente: Verde-Grama para Filmes, Laranja para Literatura, Roxo para Música, Azul-Céu para Séries, Magenta para Indicações, AzulMarinho para Tirinhas, Verde Água para Playlists, e, claro, Amarelo para Capa. Assim, fica fácil identificar o tipo de conteúdo em que você se encontra.


Vídeo e Áudio

Com uma revista de Entrenimento e Cultura em mãos, é simplesmente impossível não relacionar as matérias com um conteúdo digital. Um vídeo, um filme, uma música, uma playlist. No papel físico, tais interações são impossíveis de serem atingidas por motivos óbvios. Mas digitalmente, tudo é muito fácil. Toda vez que um matéria vier com qualquer tipo de conteúdo de Vídeo/Áudio, a imagem de destaque virá acompanhada de ícones correspondentes, como a ícone vermelha do Youtube. Se a matéria tiver mais de um conteúdio audiovisual, cada imagem disponível ao longo da matéria terá os mesmos ícones. Basta passar o mouse ou o dedo por cima da imagem, que ela se mostrará como um link. Clique, e seja redirecionado para o conteúdo! No caso de vídeos únicos (e não em playlist), o player será aberto dentro da própria revista, não interferindo na sua experiência.

Links

Além do conteúdo audiovisual principal, as vezes as matérias contém inúmeros outros links de Vídeo/ Áudio, tornando difícil colocar ícones para todos. Também acontece de uma matéria ter um link para outra matéria. Para isso, foi criado uma forma bem fácil de identifica-los: todos os links são sublinhados. O sublinhamento tem o efeito do marca-texto, parecendo que aquela parte do texto foi, de fato, destacada por um. Esta é a identificação de um link; uma linha grossa em Amarelo, a cor oficial da revista. Rodapé

O easter-egg da revista. No rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint. online sublinhado também é um link. Neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog. //


IDEALIZADORES

colab

DESENHO

colab

DIAGRAMAÇÃO

ga nh ador es da ac adêmia

|


colabs

TEXTO

idealizadores; joão dicker, vics

em ordem alfabética, da esquerda para a direita

eq uipe da edição

desenho; rafael rallo diagramação; victoria cunha // vics texto; ana luisa santos, bárbara lima, bruna curi, bruna nogueira, carolina cassese, gabi carvalho, giulio bonanno, guilherme rodrigues, raquel almeida, roberto barcelos, ruth berbert, stephanie torres, victoria cunha // joão dicker, vics


CALENDÁRIO CULTURAL QU I.

01 QU I.

01 Q U I.

01 Q U I.

01

uma proposta e nada mais

sex .

balogh

09

final fantasy xv: royal edition

sex .

xbox one

09

2ª e última Temporada

QU I.

estrela da sorte

dom.

a mulher na janela

QU I.

operação red sparrow

dom.

american idol

A MALDIÇÃO DA CASA WINCHESTER

s e g.

DUDA E OS GNOMOS

sex.

MOTORRAD ATLANTA

2ª Temporada

05 06 01 01

OPERAÇÃO RED 08 SPARROW 08 QU I.

qui.

QU I.

01

de mary

para ps4,

de nora

roberts

de matthews

jason

q ui .

covil de ladrões

q ui .

medo profundo

q ui .

TODAS AS RAZÕES PARA ESQUECER

QU I.

Q U I.

PROJETO FLÓRIDA

QU I.

o passageiro

THE ACADEMY AWARDS

QU I.

os farofeiros

01 do m.

04 do m.

04 s eg.

05 s eg.

05 2018

90 Edição A

08 08 08

skovron

um dia ainda vamos rir de tudo isso de ruth

jan

manus

13

qui.

15

qui.

08 qu i.

08 FEV

de funn

16 the oath

1 TEMPORADA A

mar

q ui .

13 ABR

a. j.

16ª Temporada

devil may cry hd collection

para pc,

ps4, xbox 360

engano irresistível de vi

keeland

rise

1ª Temporada

tomb raider a origem maria madalena

2 A TEMPORADA

se x .

scott

love

13

Q UI .

2 A TEMPORADA

de jon

13

jessica jones 15

the good fight império das tormentas

11

15h17 - tem para paris

Q U I.

01

11

only human

álbum de calum

para pc,

the crew 2

ps4, xbox 360

malévola: a rainha do mal

de serena

MAI

valentino

JUN


a agenda traz as datas dos principais lançamentos e estreias do mês de MARÇO para as áreas de FILMES, LITERATURA, MÚSICA, SÉRIES e JOGOS.

sex .

16

fatti sentire

álbum de laura

qui.

timeless

d o m.

círculo de fogo: 28 a revolta 29 q ua .

pausini

22

the americans

6ª e última Temporada

q ui .

nada a perder

18

2ª Temporada

ter.

assassin’s creed rogue

QU I.

22

q ui .

xbox one

com amor, simon

12 heróis

sea of thieves

sex.

staying in tamara’s

q ui .

uma dobra no tempo

surviving mars

sex.

ps4, xbox 360

23

shadowhunters

sex.

3ª Temporada

23

krypton

dom .

20 ter.

20 ter.

20 ter.

20

para ps4,

para pc,

para pc,

23

ps4, xbox 360

1 TEMPORADA A

qua.

dom.

21 Q U I.

22 Q U I.

22 Q U I.

22 QU I.

22 JUL

25 25

a melhor escolha

dom.

pedro coelho

s e g.

por trás dos seus olhos

te r.

station 19

te r.

para pc,

jogador n o1

a way out

qui.

29

outlander: o resgate no mar - parte 1

q ui .

gabaldon

29

silicon valley

se x .

trust

SE X .

de diana

5ª Temporada

1ª Temporada

30 sa b.

1ª Temporada

31

railway empire

sa b.

para pc,

ps4, xbox 360

31

roseanne

sab.

10 A TEMPORADA

OUT

nov

SIREN

1ª Temporada

EXPECTATIONS

3O

the terror

27

SET

29

ps4, xbox 360

2ª Temporada

26 27

ezra

santa clarita diet

25

1 A TEMPORADA

AGO

álbum de george

29

31

álbum de HAYLEY

KIYOKO

A SERIES OF UNFORTUNATE EVENTS 2ª Temporada

para pc,

ATTACK OF TITAN 2

ps4, SWITCH, xbox 360

STREET FIGHTER: 30TH ANNIVERSARY COLLECTION para pc,

ps4, SWITCH, xbox 360

para pc,

DEZ

extinction

ps4, xbox 360

2019


dicionário // guia do entretenimento

Não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, ficando sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados pelas pessoas da área. E as vezes, até mesmo quem está inteirado, pode acabar desconhecendo alguma palavra do meio. Por essa e outras, a ZINT se prontificou a explicar alguns dos termos utilizados no mundo do entretenimento, em todas as áreas que a revista cobre. Mês a mês, novas palavras irão figurar por aqui, de acordo com as matérias que forem publicadas e os termos que as mesmas apresentarem. Ficar fora da conversa? Nunca mais!


r em a ke

refazer // o REmake é uma das novas febres de Hollywood. o termo é utilizado para designar filmes que serão refeitos para se encaixarem na nossa atualidade. geralmente, um REmake vai manter quase todas as características de seu filme original, como enredo e trama, apenas renovando o seu elenco e colocando-o nos dias atuais. << “Footloose - Ritmo Contagiante”, de 2011, é um remake do clássico “Footloose Ritmo Louco”, de 1984. “Carrie - A Estranha”, de 2013, é um remake de “Carrie, a Estranha”, de 1976. Em ambos os casos, o remake e o origina tem tramas idênticas. >>

b u z z sing le single promocional // o buzz SINGLE refere-se à uma música que é lançada com a ideia de gerar publicidade em cima de um álbum. muitas vezes, o buzz SINGLE acaba sendo uma música que foi lançada como single, mas não foi bem recebida nos charts, sendo renomeada apenas como buzz.

<< As faixas “Call It What You Want” e “Gorgeous”, de Taylor Swift, foram lançadas para gerar publicidade para o álbum “reputation.”, funcionando como buzz singles. >>

revival reviver // a tradução do termo REVIVAL é um pouco difícil, mas seu significado é bastante prático: uma renovação especial de uma série que já terminou. neste caso, há duas situações: a primeira é a repaginação de uma série já finalizada, colocando-a nos tempos atuais, mantendo a premissa da original; a segunda, é a de trazer de volta à vida/grade uma série, com seu elenco original, seja em partes ou completo. nesta segunda ocasião, as temporadas costumam ser comemorativas, funcionando (inicialmente) como uma minisséries. << Atualmente, os revivals vem ganhando força, com “Gilmore Girls: A Year in the Life”, “The X Files”, “Will & Grace” e “Roxanne”. Para as repaginações, “Dynasty” e “One Day at a Time” são exemplos perfeitos. >>


oscar 2018 pรกg. 24

gra pantera ne pรกg. 52

fi ta h e r e h m a pรกg. 76

s bruno mar pรกg. 80

the good doctor pรกg. 88


[

especial p.18

]

[

p.76

Restabelecimento dos estilhaços Gabi Carvalho

Os indicados ao Oscar João Dicker

Raquel Almeida

[ filmes ] p.34

Um voo feminino

p.40

Trama do artista

p.82

As projeções futuras de Jóhann Jóhannsson Giulio Bonanno

[ séries ] p.88

O novo drama médico que está dominando a TV Stephanie Torres

Giulio Bonanno

p.90

p.44

Terror, racismo e cinema de qualidade João Dicker p.48

Um futuro mal amado

Shantay, you stay Bruna Curi p.94

Achou que a gente não ia falar de Choque de Cultura? Victoria Cunha

Giulio Bonnano p.50

Um estudo político e histórico de influências humanas

p.98

Bella, ciao

Ana Luisa Santos, Bruna Nogueira p.102

João Dicker

Sejam bem vindos ao Lugar Bom

p.52

Cultura, representatividade e realeza João Dicker p.62

O desfecho digno de Maze Runner Bruna Curi p.66

A sátira de Alexander Payne Carolina Cassese p.68

vics

[

p.72

A história de admiração de Pedro Lucas Bárbara Lima

]

indicações p.110

Sete filmes de terror para 2018 Gabi Carvalho

[

Corpos que morrem à 120 batimentos por minuto Roberto Barcelos

]

Guilherme Rodrigues

p.36

Ruth Berbert

p.80

O hexa de Bruno Mars

Carolina Cassese

Um anúncio sobre redenção

música

SUMÁRIO

[

p.24

90º Oscar: A edição mais especial da cerimônia

]

literatura

tirinhas p.116

]

Era da Máquinas Rafael Rallo

[

playlists p.120

Todas

Equipe ZINT

]


OSCAR 2018



OSCAR 2018 A cerimônia mais importante do cinema norteamericano, o The Academy Awards, acontece na noite do dia 4 de março. A 90ª edição do prêmio não só traz o comediante Jimmy Kimmel como o host, como também coloca em evidência o Time’s Up, um importante movimento que vem ganhando força e espaço na indústira cinematográfica dos Estados Unidos (e do resto do mundo)



no ssas criticas A ZINT se responsabilizou em fazer críticas de todos os filmes indicados a categoria de Melhor Filme, mas já fizemos publicações além do prêmio

concorrendo na categoria de melhor filme »

18

mais cobiçado da noite. Para ler nossas críticas, basta clicar na imagem correspondente e você será redirecionado para a página ou publicação. //

Concorre a cinco e s tat u e ta s, entre elas de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz

Concorre em s e t e c at e g o r i a s, entre elas a de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante

CONCORRE A SEIS CATEGORIAS, ENTRE ELAS A DE MELHOR FILME, melhor direção e m e l h o r at o r

Concorre a treze prêmios, entre eles o de Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Direção e Melhor Atriz Coadjuvante

Concorre e m q u at r o c at e g o r i a s, como a de Melhor Filme e Melhor Ator


Concorre a dois prêmios: Melhor Filme e Melhor Atriz

Concorre a seis prêmios, entre eles o de Melhor Filme e Melhor Ator

Concorre a q u at r o p r ê m i o s, entre eles o de Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Diretor

Concorre em o i t o c at e g o r i a s, como Melhor Filmes e Melhor Diretor

c o n c o r r e n d o e m o u t r a s c at e g o r i a s

O I n s u lt o

S e m Am or

A rt ista d o D e s a st re

O Re i d o S h o w

The Square: A arte da discórdia

Star Wars: Os Últimos Jedi

B l a d e Ru nne r 2049

e m rit m o d e f u ga

19


COMO FUNCIONA O

T E X T O //

joão dicker

d i a g r a m a ç ã o //

vics


N []

Na noite de domingo, 04/03, acontecerá a 90ª cerimônia do Oscar, considerada a premiação mais importante e cultuada da indústria cinematográfica e que é promovida anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O prêmio é um reconhecimento dos melhores trabalhos daquele ano, englobando ao todo 24 categorias que se dividem nas mais variadas áreas. Os Membros da Acadêmia

A Academia, fundada em 1927, é composta por aproximadamente 8.000 membros, divididos em 17 classes. Apesar de ser composta majoritariamente por norte-americanos, a filiação é aberta a profissionais do ramo cinematográfico de todo o mundo. Para se tornar um membro é necessário ser indicado ao Oscar em alguma categoria ou então ser convidado pela Academia, por meio da sugestão de pelo menos dois membros ativos da instituição. Para Ser Indicado

O processo é recheado de protoco-

los burocráticos e complexos, começando com o preenchimento de um formulário chamado Official Screen Credits (Creditações Oficiais do Filme, em tradução livre). Os produtores do filme preenchem essa ficha com todas as especificidades da produção, apontando as categorias que o filme pretende concorrer. A Academia, então, reúne esses formulários e faz uma lista denominada Reminder List of Eligible Releases (Lista-lembrete de Lançamentos Legíveis, em tradução livre), que consiste na lista dos filmes elegíveis para a premiação. Assim, a organização envia uma cédula de indicações e uma cópia dessa lista de candidatos para todos os membros da academia. Uma vez que os integrantes receberam suas cédulas, eles passam a ter um prazo de duas semanas para restringir suas escolhas. Mas como é feita a votação? Os Indicados

A escolha do vencedor de cada categoria pode ser separada em duas etapas: uma primeira para definir os indicados de cada categoria e a segunda que elege zint.online | 21


os vencedores da estatueta. É importante ressaltar que na primeira etapa, as indicações são definidas dentro das respectivas áreas de trabalho, ou seja: atores votam nos indicados para atuação, diretores para direção e assim por diante. Entretanto, o prêmio mais cobiçado, que coroa o vencedor da categoria de Melhor Filme, possui uma regra distinta que engloba todos os votantes da Academia, enquanto a categoria de Melhor Filme Estrangeiro é responsabilidade de um comitê específico. A escolha dos indicados de cada categoria se dá por meio de voto preferencial, em que, na primeira etapa, os votantes enumeram suas escolhas em ordem preferencial de 1 a 5, em uma espécie de ranking. As cédulas, então, são enviadas para uma empresa que faz a contagem. Nesse momento a contabilização considera somente as primeiras escolhas de cada ranking, estabelecendo uma “nota de corte” para que um concorrente entre para a lista final de indicados. Se ao final desta contabilização ainda não tenhamos 5 concorrentes com o esse número de votos neces-

22| zint.online

sários, aquele que recebeu menos votos como nº 1 dos rankings é eliminado e seus votos são redistribuídos para as segundas opções de cada uma de suas respectivas cédulas individualmente. Esse processo se repete até que todos os 5 indicados da categoria sejam definidos. Novamente, a categoria de Melhor Filme tem suas peculiaridades, funcionando também com o voto preferencial mas permitindo que os votantes enumerem até 10 escolhas de longas-metragens. Para se tornar um candidato, um filme precisa ser a escolha favorita do ranking de pelo menos 5% das cédulas de votação. Lembrando que nesta categoria todos os votantes podem escolher seu favorito. Os Vencedores

Uma vez estabelecidos os indicados, uma nova cédula é produzida e enviada para os membros da academia para que estes possam votar em todas as categorias existentes na premiação, não só em suas próprias classes como na escolha dos indicados. A contabilização dos vencedores se da por meio de votos únicos e absolutos, exceto (novamente) para a categoria de Melhor Filme. O grande vencedor do Oscar é escolhido a partir do mesmo processo das indicações: na cédula definitiva os membros da Academia estipulam um ranking de preferência de acordo com o número de filmes indicados no ano (em 2018 são X). Assim, a contagem dos votos ocorre da mesma forma que no período de indicações, ao eliminar os menos votados e redistribuir os seus votos até que um filme atinja o número mágico de [50% + 1 dos votos absolutos]. E, então, este é o grande vencedor! //


INFO GRÁFICO: A MECÂ N I CA

DA VOTAÇÃO DO OS CA R

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A EDIÇÃO MAIS ESPECIAL DA CERIMÔNIA T E X T O //

RAQUEL ALMEIDA

d i a g r a m a ç ã o //

vics


H []

Há dois anos atrás, a cerimônia do Oscar entrou para a história. Não porque houve alguma gafe de proporções similares da que viria a acontecer no ano seguinte (coitados da senhora Bonnie e do senhor Clyde), mas sim pela evidente inércia evolutiva da Academia. Em 2016, ano em que fomos agraciados com a bela performance de Idris Elba em Beasts Of No Nation, todos os indicados das principais categorias de atuação foram, sem exceção, brancos. Straight Outta Compton foi lançado

naquele ano e, ainda assim, o filme passou batido e foi indicado à Melhor Roteiro Original - que me pareceu mais um prêmio amargo de consolação. Nenhuma diretora indicada. Nenhum diretor negro. O Iñarritú segurava ali a barra de ser estrangeiro, mas não é como se os outros privilégios que o foram concedidos não fossem suficientes para deixá-lo bem confortável. A 88ª edição do Oscar foi marcada pela hashtag #OscarSoWhite e astros como George Clooney e o grande cineasta Spike Lee

trouxeram essa discussão à tona, deram declarações fortes e contundentes sobre a ausência de indicados negros e, num movimento curioso, a Academia colocou Chris Rock para comandar a noite (ainda bem, porque ele não deixou ninguém esquecer o que estava acontecendo ali). Acho que cabe dizer aqui que as esperanças de consumir um cinema industrial mais diverso e representativo foram severamente podadas na manhã em que eu acordei e vi nas notícias que o Trump havia sido

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A a t r i z A ly s s a M i l a n o é a r e s p o n s á v e l p o r d a r i n í c i o a o " # m e t o o " n a s r e d e s s o c i a i s ( " e u ta m b é m " , e m t r a d u ç ã o l i t e r a l ) , u m a h a s h ta g e n c o r a j a n d o a s pessoas a compartilharem suas histórias de abuso sexual

eleito presidente dos Estados Unidos. Imagino que qualquer um que tenha alguma proximidade com qualquer manifestação artística tenha sentido basicamente a mesma coisa que eu. Em 89 anos de cerimônia, somente uma mulher ganhou Oscar de Melhor Direção. Se aos trancos e barrancos só uma figura feminina foi premiada em uma das mais importantes categorias da noite, eu não conseguia acreditar que estaria próximo o dia em que esse feito se repetisse ou que, de fato, minorias começassem a ocupar algum lugar na indústria. Bom, ao que parece, eu estava - felizmente - errada. No ano seguinte ao #OscarSoWhite, muitos aproveitaram a oportunidade de terem um microfone diante da audiência de diversos países do mundo para dar voz à questões como racismo, xenofobia e sexismo dentro da indústria cinematográfica. Gael Garcia não mediu palavras para criticar a política de imigração implantada pelo novo presidente americano. Janel26| zint.online

le Monaé, que naquele ano interpretou Mary Jackson no longa Estrelas Além do Tempo, fez um discurso lindo e necessário sobre como as mulheres negras são ofuscadas da história - o filme estrelado pela atriz e cantora é exatamente inspirado em Katherine Johnson, primeira mulher negra promovida à chefe de departamento da NASA e de fundamental importância nos grandes feitos espaciais da organização. Não posso me esquecer de citar o gesto do Asghar Farhadi, que não compareceu à cerimônia como protesto às novas políticas de imigração de Trump. O diretor foi premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e comunicou por uma carta que sua ausência foi em respeito aos estrangeiros que foram desrespeitados pela lei que dificulta ou proíbe a entrada de imigrantes nos EUA. A cerimônia de 2017 se encerrou com a incrível confusão da troca de envelopes do vencedor de Melhor Filme, mas a produtora de


Moonlight - Sob a Luz do Luar, Adele Romanski, tratou de não deixar a gafe ofuscar a importância de um filme com temática LGBTQI+ de protagonistas negros ganhar o prêmio mais cobiçado da noite: “Dedico esse prêmio às meninas e aos meninos negros que se sentem marginalizados. Que este filme possa inspirá-los a alcançarem seus sonhos”. É muito bonito ver como a arte vai muito além da beleza ou do primor técnico; é também resistência, é manifestação política e outdoor para mudanças. O Oscar 2017 foi o começo de um ano que viria a ser um grande plot twist para a indústria. Casos de abuso não são novidade nos bastidores dos filmes: sabemos que os cabelos da Shelley Duval caíram de tanto estresse no set de O Iluminado, sabemos da cena de estupro em O Último Tango em Paris, sabemos dos muitos casos que envolvem o nome do Woody Allen mas, no ano passado, muita poeira empurrada para debaixo do tapete foi descoberta. As coisas começaram a ser de fato expostas após o surgimento das denúncias (sim, no plural) contra o poderoso

produtor norte-americano Harvey Weinstein. Atrizes, modelos e funcionárias que passaram pela The Weinstein Company superaram o medo de terem suas carreiras arruinadas e trouxeram à tona diversos episódios de abuso sexual que sofreram, todos cometidos pelo perturbado Harvey. O produtor foi demitido de sua própria empresa, expulso do Sindicato de Produtores, da Academia e da BAFTA. O que veio depois desse episódio foi só o carimbo que faltava para confirmar e provar pra todo mundo que há um problema institucionalizado de comportamento abusivo de homens no cinema. Kevin Spacey foi um nome de peso que também pegou carona no trem para a ruína. O ator Anthony Rapp, da série Star Trek: Discovery, denunciou o astro de House of Cards por abuso sexual. Rapp, na época, tinha apenas 14 anos. Spacey não demorou para se manifestar diante da alegação e disse que não se recordava do episódio, e ainda achou que seria uma boa ideia aproveitar a ocasião para tornar pública a informação de que é gay. Spacey foi afastado de House Of Cards, que teve sua produção suspensa até segunda ordem, além de ter perdido o papel no filme Todo o Dinheiro do Mundo, que concorre a algumas categorias no Oscar desse ano. O filme já estava montado, pronto e o ator

O "Time's Up" é um movimento com o objetivo de erradicar os casos de abuso sexual ( p r i n c i p a l m e n t e ) e m H o l ly w o o d , m o s t r a n d o q u e ninguém mais vai ficar calado sobre os assédios e "o tempo acabou" para todos os abusadores. I n ú m e r a s at r i z e s fa z e m pa r t e d o g r u p o, c o m o M e r y l S t r e e p, E m m a W a t s o n , S h o n d a R h i m e s , K e r r y W a s h i n g t o n , A ly s s a M i l a n o , A m e r i c a F e r r e r a , R e e s e Whiterspoon, Lena Waithe e Tracee Ellis Ross

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de quem o fez. Cinema é subjetivo, é visão de mundo, é experiência pessoal. Homens como Harvey Weinstein são responsáveis por criarem um imaginário em que esse tipo de comportamento é aceitável “em nome de algo maior”. Eu falo dos anti-heróis que mascaram a podridão da personalidade com lapsos de genialidade ou lealdade. O Michael Corleone. O Dr. House. O Walter White. O Travis Bickle. Esses personagens condicionam nossos pensamentos a um caminho perigoso que separa muito tranquilamente a personalidade conturbada dos feitos realizados, e quanto mais esse gesto acontece, mais espaço é aberto para abusos morais, psicológicos e sexuais velados pelo poder e prestígio desses homens perante a indústria e o público. Tá, mas isso a gente conversa com mais detalhes em outro momento. Vamos falar de Oscar. Os últimos dois anos deixaram o cenário do

K at h ry n B i g e l o w é a p r i m e i r a ganhadora do Oscar de “Melhor Direção”, em 2010, por “Guerra ao Terror” G r e ta G e r w i g c o n c o r r e a o O s c a r de Melhor Direção por seu trabalho em "Lady Bird - A Hora d e V o a r " , s e n d o a q u i n ta m u l h e r a s e r i n d i c a d a à c at e g o r i a

sairia na corrida pela indicação a Melhor Ator Coadjuvante mas, após a polêmica, o diretor Ridley Scott ordenou que todas as cenas com Spacey fossem retiradas do filme e regravadas com o ator Christopher Plummer, que curiosamente foi indicado à Melhor Ator Coadjuvante pelo papel. O Dustin Hoffman rodou. Ed Westwick também. E Brett Ratner. E James Toback. Eu teria prazer de engrandecer a lista de nomes de abusadores em Hollywood, mas vamos fazer um esforço e tentar focar no lado bom de tudo isso. Esse tipo de coisa é importante pra gente repensar até que ponto vale a pena passar por cima do ser-humano-autor em nome da perpetuação de sua obra. Eu, particularmente, encaro cinema como uma expressão artística e, portanto, não consigo consumir o filme à parte 28| zint.online


cinema meio bagunçado e incerto mas a onda que vem trazendo os efeitos dessas mudanças nos festivais começou sutil, lá em Cannes, quando Sofia Coppola quebrou um jejum de 56 anos e foi a segunda mulher a ganhar o prêmio de Melhor Direção no festival (a primeira foi a cineasta soviética Yuliya Solntseva, em 1961). Greta Gerwig zerou o Rotten Tomatoes. Corra!, um filme sobre racismo, foi um sucesso de bilheteria e entrou para o brilhante time de filmes de terror que têm rolado nos últimos tempos. Essas coisas fizeram uma faísca se iluminar e foi assim que a esperança de ver um panorama mais diverso e democrático no cinema voltou a existir. A nonagésima edição da cerimônia acontece dia 4 de março e essa é, possivelmente, a lista de indicados ao Oscar que mais me deixou feliz até hoje. Não só pela qualidade das produções

Em 90 anos de oscar, Rachel Morrison é a primeira mulher a s e r i n d i c a d a n a c at e g o r i a “ M e l h o r F o t o g r a f i a” Aos 89 anos, Agnès Varda é a pessoa mais velha a receber u m a i n d i c a ç ã o a o O s c a r . E s ta é a primeira nomeação de Varda, que concorre com “Visages, Villages” ao Academy Award d e “ M e l h o r D o c u m e n tá r i o”

ali mencionadas (sério, quem já conseguiu escolher um filme preferido?) mas pelo significado que existe por trás de grandes favoritos à estatueta. Bom, primeiro vamos ao fato de que demorou NOVENTA ANOS para uma mulher ser indicada à Melhor Fotografia. A primeira figura feminina a constar na categoria é Rachel Morrison, fotógrafa de Mudbound - Lágrimas Sobre o Mississipi. Gosto de contar a história de um moço com quem eu conversei uma vez que me disse que “diretor de fotografia” é profissão de homem porque os equipamentos são pesados. Qual será a desculpa esfarrapada que ele deve usar hoje em dia, na época das DSLR? Além do mais, reduzir o papel do fotógrafo à segurar equipamentos é um sinal de que você não está entendendo absolutamente nada sobre

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M ary J. B l i g e é a pr i m e ir a p es s oa a s er i nd ica da , ao m es m o t em p o, na s cate g o r i a s de “ Mel hor At ri z Coa d j u va n te ” e “Mel hor C anç ão O r ig in a l” , ambas p or “Mu db o u n d : L ág ri mas S ob re o M ississipi”

como funciona a feitura de um filme. Volte 5 casas. Não me recordo de outra vez em que a categoria de Melhor Direção esteve tão diversa: Greta Gerwig é mulher, Guillermo del Toro é mexicano (chora, muro!) e Jordan Peele é negro (o único a ser indicado a Melhor Produtor, Melhor Roteirista e Melhor Diretor no mesmo ano). O James Franco, outro nome envolvido em denúncias de abuso sexual, tomou um drible da Academia e foi ignorado pela sua atuação em O Artista do Desastre, o mínimo a ser feito depois de terem glorificado Casey Affleck mesmo após ele ter sido exposto e denunciado por abuso sexual, no ano passado. Além disso, Me Chame Pelo Seu Nome arrancou suspiros e elogios de críticos e recebeu três indicações nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Melhor Filme, sendo o segundo ano consecutivo em que temos uma produção de temática LGBTQI+ em grande destaque. Essa é a edição em que temos a pessoa mais velha da história a concorrer à uma estatueta: a grande, talentosa, sensível e inspiradora Agnès Varda, com 89 anos, foi indicada na categoria Melhor Documentário com Visages, Villages. Bom, mas e aí? Qual o grande ponto de tudo isso? Sem querer subjugar as outras manifestações 30| zint.online

artísticas, mas considero o cinema uma união sinérgica que mistura literatura, música, artes plásticas, teatro e arquitetura nas proporções perfeitas. Nesse sentido, acho que a sétima arte é uma espécie de universo paralelo em que se pode replicar a vida com alguma proximidade da realidade. Assim, através do fenômeno da identificação, fica fácil perceber como filmes têm o tremendo potencial de se tornarem referências para nosso comportamento, de transformar um pensamento, de promover mudanças e de levantar bandeiras sociais e políticas muito necessárias. Quando um abusador recebe em mãos o prêmio mais cobiçado por qualquer ator no mundo, mais vítimas certamente estarão passíveis de serem atacadas. Não indicar o James Franco é muito necessário, embora eu também consiga concordar que a atuação dele é ótima. Desmontar um filme totalmente pronto para não dar espaço a um homem acusado de molestar uma criança de 14 anos é muito necessário. É radical mesmo, eu também acho, mas enquanto medidas como essas não são tomadas, não há transformações significativas. Indicar filmes realizados por mulheres é muito necessário, porque a gente sonha em estar lá também. Nós não só temos o desejo, como também temos a sensibilidade e a capacidade de

D e e R e e s é a pr ime ir a ne gr a a r e c e b e r uma ind ic aç ão na c ate go r ia " R o te ir o A da pta d o " , r e s ulta d o d e s e u tr a b a l ho c o m o fil me " Mud b o und : L ágr ima s S o b r e o Mis s is s ipi" , no q ua l ta mb é m d ir ige


emplacar filmes inesquecíveis na indústria do cinema. Cada vez que aparece uma imagem da Kathryn Bigelow segurando um Oscar, as mulheres acreditam na possibilidade de serem enormes e respeitadas. Quando se lê o nome da Greta Gerwig, também. Quando a maldição de 90 anos sem uma mulher fotógrafa sendo indicada ao Oscar se quebra, a gente começa a acreditar (só começa) que nosso trabalho não vai ser diminuído, questionado ou menosprezado pelo simples e básico fato de sermos mulheres. Quando Moonlight, um filme sobre homossexuais marginalizados e negros vence o prêmio mais importante da noite, sobe ao palco toda uma legião de pessoas que encontrou no filme uma brecha pra dizer que eles existem, e que as histórias deles não são menos importantes, bonitas ou especiais que as nossas. Quando inteiramos

o segundo ano consecutivo em que um dos grandes nomeados da noite é um filme LGBTQI+, todas essas pessoas representadas pelas letras da sigla se sentem vistas e respeitadas. A representatividade é importante não só pelo gesto de se ver ali na tela de alguma forma, mas é também um instrumento de mudança social. Assistir minorias, pouco a pouco, chegando em lugares de prestígio em indústrias elitistas e masculinas como a do cinema é muito inspirador. E, no fim das contas, é o que nos move em direção a uma lógica de produção de filmes mais democrática, diversa e mais humana. Desejo de verdade que os próximos anos da premiação sejam animadores e bonitos como esse está sendo. Porque, afinal, qual a graça da arte se ela não for plural? Se eu gostasse de ver mais do mesmo, eu assistiria filmes do Woody Allen. :) //

O O s c a r 2 0 1 8 ta m b é m t r a z o u t r o s r e c o r d e s. M e ry l S t r e e p é a p e s s o a c o m o m a i o r número de indicações ao prêmio, já tendo sido nomeada 21 vezes. Enquanto isso, O c tav i a S p e n c e r é a at r i z n e g r a q u e m a i s c o n c o r r e u a o O s c a r , s e i g u a l a n d o a V i o l a D av i s ( t r ê s i n d i c a ç õ e s ) , a l é m d e s e r a p r i m e i r a at r i z n e g r a a r e c e b e r d u a s nomeações consecutivas após a sua vitória (Histórias Cruzadas, em 2011)



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filmes

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Um voo feminino “Lady Bird - A Hora de Voar” marca a estreia de Greta Gerwig como diretora e conquista aprovação recorde T E X T O //

carolina cassese vics

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C

om aprovação de 99% no Rotten Tomatoes (conquistando o título de produção mais bem avaliada pela imprensa norte-americana desde Toy Story 3, em 2010) e cinco indicações ao Oscar (Academy Awards), o longa Lady Bird - A Hora de Voar (2017) chegou aos cinemas brasileiros no último dia 15. O longa tem roteiro e direção de Greta Gerwig, conhecida pelo seu envolvimento com o movimento Mumblecore, manifestação artística do cinema independente nova-iorquino. Lady Bird narra a história de Christine McPherson (Saoirse Ronan), uma adolescente que vive na pequena cidade de Sacramento, Califórnia. Teimosa, a garota insiste em ser chamada de Lady Bird e sonha em estudar em uma cidade maior, "onde a cultura está" ou "onde os escritores vivem em bosques", longe de sua mãe (interpretada por Laurie Metcalf). A relação mãe e filha é um ponto central na trama. Os diálogos entre as duas, repletos de discussões e ironias, garantem muitas das melhores cenas do filme.

Nas palavras da diretora, que já participou de filmes como Para Roma com Amor (2012) e Frances Ha (2009; também participou da criação do roteiro), a produção é “um filme sobre querer deixar um lugar, e secretamente uma carta de amor para esse lugar. E é um filme sobre uma filha, que secretamente é sobre a mãe”. Sobre as atuações de Saoirse e Laurie, Greta afirma: “São atrizes muito diferentes, mas se equiparam. Ambas são poderosas, compreensivas e têm essa interpretação muito clara. Vê-las contracenar foi pura alegria durante todos os dias". O elenco é sem dúvida um grande acerto. Pode-se dizer também que um considerável ponto forte do longa é a construção da personagem principal. Christine é uma mulher complexa, com opiniões fortes e dona de sua sexualidade (amém filmes escritos e dirigidos por mulheres). É notável também o fato de sua mãe acabar por ser a responsável pelo sustento da família, já que seu pai fica desempregado. O longa venceu como Melhor Filme Cômico e Melhor Atriz em Comédia (Saoirse Ronan) no Globo de Ouro, e está indicado ao Oscar nas categorias Melhor Filme, Melhor Atriz (Saoirse Ronan), Melhor Atriz Coadjuvante (Laura Metcalf), Melhor Direção e Melhor Roteiro Original. Ainda que seja a única mulher concorrendo ao Academy Awards de Melhor Direção em 2018, a indicação de Greta Gerwig é bastante representativa: a cineasta é, somente, a quinta mulher a ser indicada na categoria ao longo dos 90 anos da premiação, além do longa ser, pasmem, apenas o 13º longa dirigido por uma mulher a concorrer na categoria de Melhor Filme. Lady Bird também carrega referências biográficas da diretora, que nasceu em Sacramento e frequentou uma escola católica. Ainda que não seja a mais cotada para ganhar a estatueta máxima do Academy Awards, a produção é inegavelmente aclamada pela crítica, e conquistou muitos corações pela abordagem sensível e honesta. No final das contas, Lady Bird - A Hora de Voar é sobre afeto. // oscar 2018

// i n d i c a ç õ e s Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Atriz: Saoirse Ronan, Melhor Atriz Coadjuvante: Laura Metcalf

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Um anúncio sobre redenção A história de vidas e crime comuns contada de forma grandiosa

T E X T O //

ruth berbert

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vics

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cenário de Três Anúncios Para Um Crime (2017) é uma típica cidade do interior sulista dos Estados Unidos, onde todos parecem ter conhecimento sobre tudo que acontece dentro de seus limites. Desde o começo do filme, percebemos que comentários racistas e homofóbicos serão parte contundente dos diálogos, assim como palavrões e xingamentos machistas. Mas, na verdade, o 36| zint.online

Nota do Editor: este texto contém spoilers.

que mais incomoda é a dúvida que se instala sobre o quão espessa é a linha que separa vingança do que chamamos “fazer justiça com as próprias mãos”. O responsável pelo roteiro e direção é Martin McDonagh, que apesar de ser o autor de várias peças adaptadas no cinema e por dirigir o ótimo Na Mira do Chef (2008) ainda procura seu lugar ao sol. Após levar o Prêmio do Público no Festival de Toronto, parece que sua hora de brilhar se aproxima.


Os rumores não são superestimados. A atmosfera violenta não provém apenas das frequentes cenas de brigas, ameaças e mortes, mas de uma trama muito bem elaborada onde três personagens partilham o foco enquanto somos obrigados a fragmentar nossos sentimentos. Experimentamos altas doses de amor e ódio por Mildred Hayes (Frances McDormand), Bill Willoughby (Woody Harrelson) e Jason Dixon (Sam Rockwell). E, aos poucos somos salvos da obscuridade de seus atos graças aos pontuais momentos de perdão. Mesmo quando achamos impossível superar o ocorrido, lá estão os personagens do longa para nos aliviar e provar o contrário. Há sete meses sofrendo pela morte da filha que foi estuprada e carbonizada, Mildred não se conforma com o arquivamento do caso, pela falta de pistas e testemunhas. Ao observar três outdoors abandonados na mesma estrada em que o crime aconteceu, ela faz uma última tentativa para chamar a atenção do xerife da cidade, Bill Willoughby. Pelo nome do filme é fácil adivinhar o tamanho da repercussão que essa pequena atitude gerou. Incêndios, pessoas sendo jogadas de janelas e o aparecimento de um suspeito são algumas das consequências no desenrolar dessa trama envolvente. Você pode até tentar não se compadecer com os obstáculos que os ‘três protagonistas’ enfrentam na tentativa de serem boas pessoas, mas, com certeza, falhará de forma miserável.

Mildred Hayes é uma mulher particularmente desagradável, triste e endurecida pela vida. Observamos seu sofrimento nas mordidas nos cantos dos dedos, na delicadeza ao ajudar um simples inseto em apuros e no seu humor sufocado pela desesperança. Mildred nos conquista pela dor. Uma mulher que sofreu nas mãos do marido e não suporta ver a filha receber um destino ainda pior. Mas, acima de tudo, uma mãe devastada pela culpa. Graças à avassaladora atuação de Frances McDormand podemos sentir na pele seu desolamento e revolta. Odiamos sua impulsividade enquanto amamos sua determizint.online | 37


S e m a c e i ta r q u e o c a s o d a m o r t e d e s u a f i l h a a i n d a e s t e j a c o m o " a b e r t o " , Mildred aluga três outdoors que, juntos, formam "Estuprada enquanto morria. E ainda nenhuma prisão? Como pode, xerife Willoughby?"

nação em fazer justiça. Jason Dixon é um policial tão repugnante que torna-se um dos suspeitos do crime no início do filme. Racista e homofóbico, ele abusa de sua autoridade em momentos de total descontrole e raiva, protagonizando a maioria das cenas violentas. Um personagem que desejávamos ver morto durante o incêndio na delegacia, mas que depois agradecemos por estar vivo. Após sobreviver às queimaduras, Jason arrisca a própria vida para prender o assassino de Angela Hayes, quando o longa nos alegra com a chance de um final feliz. Sam Rockwell está irreconhecível e sua atuação é digna de muitos aplausos. Odiamos a intolerância do policial, mas amamos sua disposição em ajudar uma mulher que o desprezava. Bill Willoughby é o xerife da

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cidade, um personagem apagado até que a luz da sua morte, ou das palavras contidas em suas cartas, o permitem roubar o filme por alguns minutos. Com suas falas acolhedoras e compreensivas, ele se mostra um homem benevolente e justo. Principalmente por uma de suas cartas ser destinada a Mildred, na qual ele lamenta não ter encontrado o assassino do caso Hayes e a perdoa de forma implícita pela exposição nos outdoors. “Com amor nós conquistamos a calma e com ela desenvolve-se a razão”, ele diz. Bom, é por isso que a despeito de odiarmos sua conivência com a má conduta de seus subordinados, amamos seu equilíbrio ao lidar com certas dificuldades. A trilha sonora também encanta. Melodias que remetem às canções medievais são intercaladas com músicas clássicas e outras do estilo country, e tudo parece estar em perfeita sintonia, apesar da irreverência na composição. Nem todas as cenas dramáticas recebem músicas lentas e tristes. Isso traz surpreendente notoriedade, assim como as longas pausas em silêncio, como uma forma de respeito ao sofrimento de cada personagem em cena.

Apenas corações que abarcam bondade são capazes de se redimir. Com suas lágrimas e olhares de compaixão, Mildred e Dixon demonstram arrependimento verdadeiro, livrando nossas consciências por amá-los. Porém, seria correto esquecer seus erros e apoiá-los na busca de destruir um inimigo em comum? A verdade de nada vale à justiça sem a apresentação de provas. Mas, não seria igualmente injusto deixar um estuprador à solta? Capaz de nos fazer questionar nossos princípios, Três Anúncios Para Um Crime chega ao Oscar 2018 com seis indicações e com grandes expectativas para o dia 4 de março. //

oscar 2018

// i n d i c a ç õ e s Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor M o n ta g e m , M e l h o r A t r i z : Frances McDormand, Melhor Ator Coadjuvante: Sam Rockwell, Woody Harrelson

E n q u a n t o o p o l i c i a l D i xo n f i c a t r a n s t o r n a d o c o m o s o u t d o o r s, o x e r i f e W i l l o u g h by t e n ta m a n t e r a paz entre os dois e fazer com que Mildred retire os anúncios


Trama do artista T E X T O //

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Giulio Bonanno

que define a arte? Como se define um artista? Confrontando ideias, desejos e sensações, Trama Fantasma (2018) representa a obra de um indivíduo como efeito dos próprios pensamentos, e como o próprio apego pelo ofício e suas criações ameaça privá-lo de um olhar mais amplo sobre o mundo. Dirigido e escrito direto para o cinema por Paul Thomas Anderson, o filme nos apresenta Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), em seu hipotético papel derradeiro como um estilista de pulsos firmes e poucas aberturas, mas com uma vocação ímpar para projetar vestidos. Em um passeio esporádico, conhece a garço-

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d i a g r a m a ç ã o //

vics

nete Alma (Vicky Krieps) e a corteja com sucesso, levando-a para morar em sua casa e servir de musa. Uma estranha relação começa a se desenvolver e pouco podemos prever a respeito do destino de ambos. Sob a luz de chamas, somos impulsionados para a trama com um depoimento introdutório de Alma. Ela nos descreve Woodcock como um homem exigente e eis que a cena seguinte exibe o estilista tomando alguns cuidados com a aparência e se arrumando para trabalhar. Sua vaidade transcende o próprio corpo. A maneira como mantém seu ofício, somando-se ao perfeccionismo performático na hora de executar coisas rotineiras (tomar café da manhã, abastecer o carro) acabam compondo os traços que marcam a personali-


dade metódica do britânico. Durante o primeiro ato, temos vários takes com o rosto de Daniel Day-Lewis filmado em contraluz; um que pessoalmente me marcou acontece durante o primeiro encontro com Alma, no restaurante. Mais tarde, descobrimos suas amarguras quando o homem relata memórias sobre a falecida mãe e o vestido que ela usava. Elementos que contrastam com o retrato de idealização almejado pelo estilista, catalisando a sensibilidade do espectador. A tensão sexual sugerida a cada medida que Woodcock tira de Alma não só conduz a narrativa, como dá um panorama para construirmos nossas próprias leituras sobre a vida de ambos os personagens e quais rumos serão tomados a partir dali. No caso de Alma, não temos contato com nenhum tipo de história prévia; sua posição no filme não difere muito da de um manequim na vitrine. Misturando Síndrome de Estocolmo com divertidas subversões do mito de Pigmalião, elegância é o que não falta nas nuances que o roteirista confere ao casal principal. Suas incursões na direção de fotografia até funcionam, mas não dotam da inspiração exigida pela narrativa. Tons frios e quentes se mesclam sem a devida sutileza e me pareceu comum estranhar as mesmas partes da casa em momentos diferentes (sem que fosse apresentada uma necessidade convincente). Em compensação, três departamentos brilham aqui

com muita força: design de produção (Mark Tildesley), figurino (Mark Bridges) e música (Jonny Greenwood). O design de produção é talvez um dos primeiros aspectos que reparamos abertamente no filme. Frequentemente percebemos o uso de roupas incompletas, associado aos planos-detalhe envolvendo linhas e agulhas. Igualmente eficiente são os móveis, pisos e paredes mergulhados no branco, destacando o


colorido estampado pelas vestes. A aplicação das cores no filme chama atenção. Mais uma vez, os primeiros encontros do casal protagonista nos dão pistas. Enquanto opta por sabores de geleias de frutas vermelhas, Woodcock não esconde preferência pelo luto, materializado em um adereço especial incorporado ao terno preto que usa constantemente. Ao longo da projeção, vemos o personagem homeopaticamente adotando cores mais leves, como lacunas gradualmente preenchidas pela musa em seu coração. O sofrimento contido de Woodcock o atrapalha de viver com plenitude. O corpo do 42| zint.online

estilista carece não só de vigor, como de natureza e sinceridade. Sua figura pode ser facilmente confundida como a própria mansão em que vive, que, mesmo abrigando rituais repletos de pontualidade e etiqueta, não deixa de permanecer como um efêmero pontinho branco rodeado pelo dossel de árvores verdes e robustas. Precisamente, sua irmã Cyril (Lesley Manville) se materializa para "protegê-lo" de um mundo hostil e desconhecido, repleto de surpresas e intoxicações. Jonny Greenwood, mais conhecido pelo seu trabalho como guitarrista principal do Radiohead, exibe aqui um tato até então pouco conhecido


devido sua beleza, alma é condidada pa r a s e r a m u s a d o e s t i l i s ta reynolds woodscock, mas a relação entre os dois não é um conto de fadas

para composições que flertam com o barroco (num diálogo com o luto) e o impressionismo (referência às sensibilizações que faltam em Woodcock?). Dona absoluta de grande parte das emoções geradas durante o filme, a música já aparece radiante, ampliando os contornos do pomposo estilista. A falta da mesma gera boa dose de tensão em um jantar especial, quando o filme parece rejeitar o som da primeira nota que ousar ondulações. Aos poucos, um espectro de novas sensações vai ganhando espaço. Semelhante aos concertos de Vivaldi, Greenwood abusa de pianos e quartetos para instituir, de forma ex-

tra diegética, o sentido da vida que talvez mais falta à Woodcock. Por mais brilhante que seja, um artista também sofre de bloqueios e recaídas. É lindo ver como sua obra reflete suas tragédias, mas não caracteriza o mínimo sinal de ambição. Perdido e estagnado, o personagem de Daniel Day-Lewis é um símbolo do homem que, imerso no passado e aprisionado pela técnica, ignora o aflorar de novos sabores, timbres e relações. Mesmo com a própria definição de arte ou do papel do artista dependendo de múltiplas percepções, é na alma que talvez possa residir um necessário denominador comum. //

oscar 2018

// i n d i c a ç õ e s Melhor Filme, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Diretor: Paul Thomas Anderson, Melhor Atriz Coadjuvante: Lesley Manville, Melhor Ator: Daniel D ay - L e w i s

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Terror, racismo e cinema de qualidade T E X T O //

joão dicker

Recentemente, a indústria audiovisual tem demonstrado sinais de mudanças no que diz respeito a representatividade e diversidade nas produções. Graças a críticas feitas por inúmeras pessoas, tanto dentro quanto fora da indústria, os estúdios e empresas passaram a responder os avanços e mudanças de pensamentos do mundo contemporâneo. Desta forma, ainda que de forma embrionária, minorias passaram a ser melhor representadas, na televisão e no cinema, em 44| zint.online

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vics

grande parte pelo aumento das oportunidades dadas aos profissionais que fazem parte de tais minorias e entendem suas dificuldades e anseios. Obras como Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) e Pantera Negra (2018), alcançaram sucesso de público e crítica não só por abordarem temáticas importantes para o imaginário do mundo contemporâneo e por dar espaço e voz a uma minoria, mas por serem produções de alta qualidade. Mas de todos longas recentes, talvez Corra! (2017) seja um dos filmes que mais marcará época com o passar do tempo, por propor uma análise social das tensões raciais existentes na sociedade contemporânea como premissa de uma obra que combina gêneros cine-


matográficos com perfeição, se assumindo como um filme pungente e importante. Na trama acompanhamos o jovem negro Chris (Daniel Kaluuya) que namora Rose Armitage (Allison Williams), uma garota branca que pretende levar seu namorado para conhecer sua família. A partir desta premissa simples, Jordan Peele desen-

volve um filme repleto de nuances e críticas sociais afiadas ao racismo nos Estados Unidos, mas que também ultrapassa limites regionais sendo facilmente identificável situações que acontecem no Brasil. Com a chegada na casa dos pais e o consequente convívio com a família, o roteiro usa de Chris para guiar o espectador por acontecimentos assombrosos, explorando as inúmeras possibilidades do que pode estar por vir. Peele, conhecido por seus trabalhos em comédia, estreia na direção de um longa-metragem demonstrando um controle criativo excepcional. O ritmo crescente e tenso da produção permite um jogo psicológico com o espectador, que acaba sentindo na pele o desconforto e a desconfiança do personagem de Kaluuya. A sensação de perigo e urgência não se exaure em momento algum, graças a uma direção primorosa em dar vida a um texto igualmente envolvente, que cria uma sensação incessante de desconfiança. E é dessa desconfiança que Peele constrói o verdadeiro suspense: Chris não se sente confortável naquele ambiente, justamente por não parecer verdadeiramente bem vindo, sensação ressaltada pelas estranhas presenças dos funcionários da casa, Georgina (Betty Gabriel) e Walter (Marcus Henderson), únicos negros além do protagonista. Ainda, Daniel Kaluuya, demonstra uma amplitude emocional impressionante ao dar vida ao des-

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conforto de Chris em risadas forçadas e desvios de olhares, mas também ao variar para olhares profundos de desespero com facilidade. As atuações de Catherine Keener e Bradley Whitford como os pais de Rose agregam muito na construção do horror, que por meio das tentativas de interação desajustadas e incômodas cria um atrito entre as personagens e aumenta a atmosfera hostil ao protagonista. Keener é uma um poço de tranquilidade incômoda, que esconde uma inquietude desagradável, enquanto Whitford é artificial em sua interação com Chris, evidenciando as camadas ainda não descobertas. Contrária ao desconforto dos pais, Alisson Williams vive uma namorada compreensiva, aberta e inocente a algumas formas de racismo.

Da esquerda p a r a a d i r e i ta , as personagens, M i s s y, D e a n e R o s e A r m i ta g e , Georgina e Chris

Se dos horrores que a trama apresenta na virada do segundo para o terceiro ato, e principalmente em seu desfecho, Peele discute o racismo ostensivo e claro, é na inocência de Rose que consegue abordar as atitudes mais sutis da sociedade, mas que são igualmente preconceituosas. Enquanto os personagens de Keener e Whitford servem para abordar os liberais americanos preconceituosos que "votariam em Obama por uma terceira vez", como o próprio filme coloca, a personagem de Williams funciona como um arquétipo de um "dedo na ferida da sociedade", evidenciando atitudes muitas vezes normalizadas ou que são pouco problematizadas. Além de toda análise social presente, o diretor demonstra uma consciência madura de como mesclar gêneros em um filme só, fazendo com que o equilí-


p e e l e d i r i g e K a l u u ya d u r a n t e a s filmagens de “corra!”, em uma das cenas mais marcantes da película

brio de comédia e terror agreguem um ao outro. Os alívios cômicos presentes no melhor amigo do protagonista, Rod Williams (LilRel Howery), funcionam não só como um desafogo da tensão, mas acabam deixando o espectador em uma breve sensação de tranquilidade que, ao ser novamente transformada em tensão quando voltamos a acompanhar a casa dos Armitage, amplifica o desconforto da ambientação. Em seu ato final, Corra! entrega tudo o que prometeu ao longo da projeção, em um desfecho que, mesmo utilizando de uma explicação expositiva um pouco desconexa com todo desenvolvimento narrativo anterior, não prejudica a conclusão tensa que possui. Mesmo depois de sua revelação mais forte em uma cena que resolve o quebra-cabeça construído na trama, Peele consegue manter o espectador preso a jornada de Chris, reservando um último momento tão angustiante e pungente quanto a problemática social trabalhada. //

oscar 2018

// i n d i c a ç õ e s Melhor Filme, Melhor Ator: Daniel K a l u u ya , M e l h o r D i r e t o r : J o r d a n Peele, Melhor Roteiro Original

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UM FUTURO MAL AMADO

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Sem Amor (2017) é, também, um filme sem esperança. É uma obra de arte fria, apática e repleta de questionamentos sobre os rumos que a sociedade moderna vem tomando. Estruturada sob uma narrativa bem linear, a película não mede esforços para proporcionar incômodo e incredulidade, sendo ao mesmo tempo bem sucedida em projetar sobre os espectadores uma atmosfera densa e terrivelmente real. Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão se divorciando. Entre eles, sempre havia o jovem Alexey (Matvey Novikov), um garoto de 12 anos fruto do problemático relacionamento. Após um período de ausência com seus respectivos amantes, os pais percebem que seu filho desapareceu e iniciam uma angustiante busca enquanto revisitam seus passados cheios de rancor e amargura. O filme é dirigido por Andrey Zvyagintsev, responsável também por Leviathan (2014), Elena (2011) e O Retorno (2003). Queridinho de muitos festivais, Zvyagintsev detém uma

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giulio bonanno

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filmografia repleta de discursos provocantes, alimentados especialmente (porém não exclusivamente) pela instabilidade social e política característica da Rússia e dos países vizinhos após Guerra Fria. O realizador não desperdiça oportunidades de provocar elementos do establishment local. Sem Amor é trabalhado em torno de críticas pouco ou nada sutis aos meios de comunicação, aos sistemas de produção e consumo e aos signos mais intrínsecos de segregação e da intolerância. Em essência, um filme que lamenta a miserável colheita que uma geração seguinte herda de uma sociedade insustentável e egoísta. Iniciado por planos de uma floresta abandonada e coberta de neve, o filme já adota um clima de desconforto ao conferir importância ao abandono, ao desolamento e à escassez de vida que permeia o local. Não à toa, somos rapidamente distraídos pela família de patos atravessando a lagoa. São pitadas de ternura em um poço de calamidade que iremos sentir falta nos 120 minutos seguintes de projeção. Uma escola convenientemente demarcada pela bandeira do país local toca o sinal. Crianças saem demonstrando o alívio típico


de quem se prepara para voltar para casa. Uma delas, de casaco vermelho e semblante fechado, é acompanhada pela câmera até determinado ponto. De repente, paramos. Alexey está fora de quadro e nos perguntamos para onde ele foi. Ao melhor estilo Michael Haneke, renomado diretor austríaco por trás de A Fita Branca e Amor, a economia narrativa nos primeiros minutos sugere uma capacidade admirável de Zvyagintsev para estabelecer uma ambientação. Demonstração inegável de sua segurança no ofício, uma vez que o filme inteiro se sustentará a partir dessas construções iniciais. Falando em construções, percebemos como elas literalmente moldam o teor incisivo da obra. Observamos seus personagens constantemente enclausurados pelas quatro paredes de um apartamento. As janelas

I nter p r eta da p o r M a ryan a Spivak , Z h enya é o ti p o d e p es soa escr avizada p el a atenç ão à tel a do celular

sempre fechadas, sendo muitas delas adornadas por extensas cortinas que escondem a neve recorrente. Em cenas externas, Zhenya não consegue parar de mexer no celular ou fumar. Boris é desses que dirige o carro com o rádio ligado nas alturas e se preocupa muito mais com suas aspirações profissionais do que com suas conexões afetivas, sejam elas do passado ou do presente. Quando ambos transam com seus respectivos parceiros, é uma ode ao prazer imediato, ao hedonismo egoico e midiático que o diretor estranhamente proporciona e a gente, estranhamente, aproveita. Nada disso teria o mesmo efeito sem o trabalho calculista do diretor de fotografia Mikhail Krichman, colaborador habitual do diretor. Sua preferência pelos planos abertos consegue apequenar os personagens, ridicularizando a maneira como descontam suas ruínas pessoais na incapacidade parental. Uma breve cena apresenta o pai diante das janelas de um prédio abandonado. Em um dos sufocantes episódios de procura pelo garoto, o personagem surge enquadrado cercado pela indiferença que cultivou. Realçada pela trilha sonora alarmante, a narrativa é organizada dentro um roteiro concreto (escrito pelo diretor em parceria com Oleg Negin, outro colaborador frequente) que sacrifica a criação de um ritmo mais dinâmico para impor ainda mais visceralidade e insegurança ao espectador. A solução parece ir e voltar; somos alimentados impiedosamente por hope spots ao longo da trama que nos fazem querer que tudo simplesmente se resolva para que tenhamos um pequeno alívio após a sessão. Quando aproximamos do fim, o terror politizado que se acumulara ao longo de duas horas se concretiza. Percebemo-nos lidando com uma mensagem para os tempos futuros. Uma carta recheada de rancor e amargura assinada pelas mãos de uma instituição que sabe de suas responsabilidades, mantém fardos e legados de tragédias, porém reluta em refletir e mudar de posição. //

oscar 2018

// i n d i c a ç õ e s Melhor Filme estrangeiro: rússia

zint.online | 49


Um estudo político e histórico de influências humanas T E X T O //

joão dicker

d i a g r a m a ç ã o //

victoria cunha

A EXPERIÊNCIA DE ASSISTIR O Insulto (L’Insulte, 2017), filme libanês indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, pode ser desafiadora por provocar o espectador à ficar descrente com a narrativa devido aos acontecimentos apelativos. Esse efeito parece ser uma das artimanhas do diretor Ziad Doueiri para deixar o espectador em conflito eterno ao longo da projeção, colocando- na posição de juiz e impedindo-o de escolher um lado no julgamento histórico, moral, ético e humano que o O Insulto se propõe a fazer a partir de acontecimentos triviais do dia-a-dia. Dessas trivialidades, nos deparamos com o confronto entre Toni (Adel Karam), um cristão libanês, e Yasser (Kamel El Basha) um refugiado 50| zint.online

palestino que trabalha como uma espécie de mestre de obras. Tal confronto, originado por um desentendimento enquanto Yasser trabalhava na rua de Toni, acaba tomando proporções nacionais quando heranças históricas, culturais, políticas e de povos passam a permear o processo que o libanês abre contra o palestino. Também roteirizado por Doueiri, o longa se assume como um bom drama de tribunal que se permite de convenções narrativas e um jogo de câmera arrojado para sustentar a crescente tensão presente na trama. O diretor é perspicaz na forma como transita com a câmera dentro do tribunal, transformando o ambiente não só em um verdadeiro palco


para seus atores trabalharem, mas também em uma alegoria espacial de como pequenos problemas e situações do dia a dia podem ter muito mais a dizer sobre a sociedade. É do processo judicial desnecessário e iniciado por orgulho e raiva que as tensões sociais de um país que vive a muitos anos em guerra e conflitos escalam para níveis alarmantes. Ainda, o roteiro do longa é afiado e preciso em conseguir construir as tensões sociais, contextualizando a sensação de não-pertencimento e xenofobia quanto aos palestinos na sociedade libanesa e não configurando um julgamento moral quanto ao que cada um dos envolvidos no embate judicial fez, exigindo que o espectador complete os acontecimentos com sua própria bagagem histórica, cultural e moral. Isso, talvez, possa ser um problema para quem não conheça a história do Líbano ou não esteja profundamente a par das tensões sociopolíticas existentes no Oriente Médio, mas não estraga ou prejudica consideravelmente a experiência de assistir a O Insulto. Parte deste mérito é graças ao texto e a direção interessante de Doueiri, que conseguem usar do conflito entre os protagonistas como uma espécie de alegoria a situação política, social e cultural que o Líbano se encontra a anos, sem demonstrar perspectivas de mudanças. Também, o elenco dá mais fôlego a narrativa ao transformar os personagens unidimensionais e de personalidades muito demarcadas em pessoas críveis e com dualidades. Adel Karam dá vida a um homem amargurado, agressivo e movido a raiva, contrapondo a integridade e tranquilidade de Kamel El Basha como Yasser. Rita Hayek dá vida a voz da razão de Toni, demonstrando uma amplitude dramática importante para garantir a funcionalidade de sua personagem como o que humaniza seu marido agressivo.

A dupla de advogados, tanto de defesa quanto de ataque, interpretados por Diamand Bou Abboud e Camille Salameh transformam a sala de tribunal em um campo de batalha que passa a evocar emoções fortes e intensas, sempre capturadas pelo jogo de câmera arrojado de Doueiri. Ao final, O Insulto consegue ser um ótimo estudo social de um país repleto de conflitos sociais e relações conturbadas que são apresentadas ao público por meio de alegorias e de um trabalho de direção interessante, sustentado por atuações coesas e por um ritmo crescente de tensão que prendem os olhos do espectador naquele embate judicial iniciado por uma trivialidade humana. // oscar 2018

// i n d i c a ç õ e s Melhor Filme estrangeiro: líbano

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T E X T O //

joão dicker

d i a g r a m a ç ã o //

vics

Cultura, representatividade e realeza


C

Com a sua estreia no Universo Cinematográfico da Marvel em Capitão América: Guerra Civil (2016), o Pantera Negra conquistou a atenção do público interessado nos filmes do gênero por apresentar um estilo de combate próprio, um background interessante com enorme potencial a ser explorado e por ser um personagem que, mesmo que com pouco tempo de tela, havia mostrado uma interessante profundidade para ser desenvolvida em outros longas. Com diversos nomes de peso entrando para a equipe de produção majoritariamente formada por negros, como o excelente diretor Ryan Coogler, uma enorme lista de bons atores e o envolvimento de Kendrick Lamar na produção da trilha sonora original do filme, Pantera Negra (2018) não só passou a ser um longa com uma importante marcação a respeito de diversidade e inclusão em Hollywood, como também carregava a expectativa de ser uma das melhores películas da Marvel até então. Com a chegada do filme, nos deparamos com uma produção que entrega tudo o que havia prometido com muita personalidade, identidade politizada e apuro estético marcante.

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Neste reencontro com T'Challa (Chadwick Boseman), vemos o herói momentos antes de ser coroado Rei da fictícia Wakanda, herdando oficialmente não só as responsabilidades políticas e os cometimentos místicos que permeiam a cultura da nação africana, mas também os erros e fantasmas do passado que foram cometidos por seu pai, T'Chaka (John Kani), enquanto era rei. Assim, na medida em que a figura de seu pai é desnudada com as revelações de seus erros, T'Challa passa por sua jornada de aprendizado e crescimento para se tornar o líder que Wakanda precisa em momentos tão conturbados. Todo esse caminho que levará a sua ascensão como rei edificante perpassa, também, pela contraposição que o antagonista do longa, Erik Killmonger (Michael B. Jordan) faz com o protagonista. Ele não é somente o inimigo a ser derrotado para que o herói prove para o mundo e para si mesmo a sua força e capacidade, mas sim a subversão de tudo o que a família de T'Challa havia construído para o reino de Wakanda e suas leis. A caracterização de ambos como balança 54| zint.online

equilibrada agrega um drama robusto e envolvente ao longa, assegurando o peso necessário para que a jornada pessoal do herói possa ser sentida e facilmente relacionada pelo espectador. É um trabalho de roteiro eficaz de Coogler e Joe Robert Cole, que encontram nas possibilidades de enfrentamos de ideologias e pensamentos de T'Challa e Killmonger o palanque perfeito para criar as tensões políticas e o contexto histórico, cultural e social de Wakanda, ao passo que vão gradativamente apresentando as nuances de cada personagem. Destas várias camadas, saem outras oportunidades para os ótimos personagens secundários brilharem, ora devido as inteligentes inserções do roteiro, ora pelas atuações impecáveis de todo o elenco de apoio. Michael B. Jordan faz o melhor vilão da Marvel até então, superando o carismático Loki de Tom Hiddleston, ao entregar emoções genuinamente identificáveis e transparecer as (justificáveis) motivações de seu personagem com contundência e sem a corriqueira megalomania de vilões espalhafatosos. Chadwick Boseman carrega o protagonismo do longa com presença e imponência, mas entregando toda fragilidade do personagem quando necessário, tornando a história do Pantera mais intimista para o espectador. Se o protagonista é um herói (e porque não um rei) chadwick boseman no uniforme do super-herói pantera negra, manto passado de geração a geração por todos os reis de wakanda


Michael B. Jordan e Chadwick Boseman como Killmonger e T'Challa, respectivamente

em construção, mostrando imperfeições, tormentos e inseguranças, os personagens que permeiam sua vida são a base e o apoio para que ele se supere e, principalmente, aprenda a governar. Com isso, o incrível elenco ganha o devido espaço e tempo para brilhar. Danai Gurira dá vida a General Okoye, a chefe das Dora Milaje, com uma interpretação que transmite toda a força, lealdade e integridade moral de uma pessoa que apesar de seus princípios e valores, compreende a necessidade de proteger a história de sua terra natal. Lupita Nyong'o traz toda a ternura, leveza e compaixão para Nakia, que funciona muito mais do que apenas como envolvimento amoroso de T'Challa, mas sim como uma espiã astuta e destemida. Angela Basset, apesar de receber menos atenção do roteiro, faz a Rainha-Mãe Ramonda com


O elenco de "Pantera Negra". Na escada, d a e s q u e r d a p r a d i r e i ta : M i c h a e l B . J o r d a n , L u p i ta N y o n g o ' o , D a n a i G u r i r a e L e t i t i a W r i g h t. E m p ĂŠ , d a e s q u e r d a p r a d i r e i ta : F o r e s t W h i ta k e r , D a n i e l K a l u u ya , C h a d w i c k B o s e m a n e A n g e l a B a s s e t t.



l at i t i a w h r i g h t é s h u r i , p r i n c e s a d e Wakanda. a irmã caçula de t’challa é r e s p o n s á v e l p o r t o d o o d e p a r ta m e n t o tecnológico de wakanda

uma importância e presença na vida de seu filho, ao passo que sua filha caçula, Shuri (Letitia Whright) agrega uma dinâmica de personagem viva e realista para o relacionamento dos irmãos, além de funcionar como um alivio cômico certeiro e orgânico. Além de tantas mulheres negras espetaculares em seus respectivos papeis, Daniel Kaluuya, com uma atuação que trafega entre a intensidade e a contenção, e Winston Duke, com uma presença de tela forte e marcante, dão vida a personagens que ajudam a compor toda a criação de mundo rico que Wakanda vem a ser, ao mesmo tempo que seus personagens agregam a jornada de aprendizado pessoal e político de T'Challa. Wakanda, inclusive, é uma personagem a parte do enredo. A construção da nação africana não é só uma importante parte da narrativa por ser o centro das discussões e dos embates ideológicos que o protagonista precisa enfrentar, mas também é criada com um esmero estético, uma riqueza de cores e um grafismo 58| zint.online

estilizado que combina as tradições africanas a uma verve de design moderno e futurista incríveis. O design de produção e a direção de arte do longa fazem uma celebração da cultura africana em cada traço, textura e cor dos figurinos, da maquiagem e dos cenários, ao passo que a cinematografia capta as cores quentes vivas das áridas planícies do continente em uma contraposição a predominância de preto e tons de roxo escuro da cidade e, principalmente, das cenas noturnas do longa. É um trabalho que merece todo reconhecimento pela exuberância


em que cria um país pulsante e cheio de costumes, valores e tradições, colocando Wakanda e o visual de Pantera Negra no mesmo patamar que as cores pops e vivas de Guardiões da Galáxia e Thor: Ragnarok como os filmes mais bonitos do MCU, mas com uma identidade mais marcante em relação aos outros dois. Além da valorização da cultura africana presente na estética e visuais, o filme é complementado por uma trilha sonora estupenda, que produzida por Kendrick Lamar combina ritmos, melodias e batidas ligadas a diferentes manifestações da cultura negra ao longo do mundo, passando pelo R&B, soul, trap, hip-hop, junto à ritmos africanos. É um trabalho impecável do artista, que faz com que a sua identidade musical transforme a trilha do longa em um complemento para toda a construção dos dilemas pessoas e políticos de T'Challa, trazendo os temas comuns as suas composições originais como empoderamento, identidade e espiritualidade. Dentro de toda estas particularidades que Pantera Negra entrega, Ryan Coogler traz um frescor para a tão falada "fórmula Marvel", explorando da essência descontraída e alegre da Casa das Ideias de uma maneira diferente do que outros diretores haviam feito. Se Taika Waititi inseriu seu humor ácido e satírico em Ragnarok,

Coogler injeta um ritmo narrativo dinâmico e forte ao filme, ao mesmo tempo que não perde a oportunidade para demarcar um discurso político, social e ideológico forte dentro dos questionamentos que os próprios personagens vivem. A essência dos longas da Marvel está presente, com um humor subjacente a narrativa mas que não predomina ou suaviza a carga dramática que o filme carrega, o que já ocorreu diversas vezes em outras películas do MCU. Por outro lado, ao se render ao uso excessivo de CGI (computação gráfica) nas

Danai Gurira é Okoye, General das forças femininas conhecidas como Dora Milaje, parte das Tribos da Borda, designadas a proteger o Rei de Wakanda

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sequências de ação, Coogler acaba perdendo a oportunidade de criar embates mais fortes e marcantes, principalmente ao lembrarmos dos movimentos de câmera arrojados para filmar as ótimas coreografias nas cenas de luta em Creed: Nascido para Lutar (2015), também dirigido por ele. Se por um lado os duelos das tribos são bem coreografados, com estilos de combate bem definidos e que funcionam como caracterização para as especificações culturais de cada uma, além de uma incrível sequência de ação dentro de um cassino que é seguida por uma ótima perseguição de carros, por outro, o confronto final entre T'Challa e Killmonger acaba como uma oportunidade perdida de o diretor demonstrar toda sua inventividade e qualidade na direção de confrontos corpo a corpo, devido ao uso excessivo de efeitos especiais que deixam as cenas menos pungentes e com uma paleta de cores que prejudica a coreografia do combate. Contudo, esse deslize não diminui a experiência criada por Coogler, que escolhe fazer n o f i l m e , l u p i ta n y o n g ’ o é n a k i a , u m a e s p i ã p a r t e dos cães de guerra, uma operação que consiste em a g e n t e s d e w a k a n d a i n f i lt r a d o s e m d i v e r s o s p a í s e s

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d a e s q u e r d a pa r a a d i r e i ta , de cima pra baixo 1. a mina de extração de vibranium e centro tecnológico de wakanda; 2 . o u n i f o r m e d e c o m b at e de killmonger; 3. Forest W h i ta k e r é Z u r i , u m conselheiro espiritual; 4. as d o r a m i l a j e b ata l h a m c o n t r a os jabari; 5. t’challa, nakia e o koy e at e r r i s s a m e m wakanda; 5. Angela Bassett é Ramonda, a Rainha-Mãe

um desfecho com uma mensagem política clara e que deixa inúmeras possibilidades narrativas para o futuro de Wakanda e não só de T'Challa, mas de todos os personagens que circundam essa nação colorida, moderna e rica em cultura e tradições. Ao corresponder as expectativas criadas como produto audiovisual, Pantera Negra se assume como um dos filmes de herói mais autorais de todos, extrapolando os limites da tela ao fazer um posicionamento importante para a representatividade na indústria cinematográfica. // zint.online | 61


O desfecho digno de

Maze Runner T E X T O //

bruna curi

d i a g r a m a ç ã o //

victoria cunha

Nota do Editor: o texto possui spoilers.

E

m 2009, o escritor norte-americano James Dashner lançou o livro Correr ou Morrer (o primeiro da série Maze Runner, composta por seis volumes). Na época, é provável que ele não imaginava que, anos mais tarde, sua obra viria a ser um verdadeiro fenômeno mundial entre os jovens leitores, ou até mesmo ganharia 62| zint.online

uma adaptação para o cinema. O primeiro filme da trilogia, Maze Runner: Correr ou Morrer, foi lançado em setembro de 2014, sendo considerado um dos longas mais rentáveis daquele ano. Além disso, foi recebido de forma positiva pela crítica especializada, recebendo elogios pela atuação de alguns atores e pela premissa integrante, colocando-o entre uma das


melhores adaptações dos livros distópicos para jovens adultos. Após quase quatro anos desse sucesso, chegou aos cinemas em janeiro de 2018 o último filme da famosa trilogia: Maze Runner – A Cura Mortal. Os acontecimentos da película se passam após os acontecimentos do segundo capítulo (Maze Runner: Prova de Fogo, 2015), quando alguns membros da C.R.U.E.L. atacaram o refúgio nas montanhas onde os rebeldes se escondiam. No ataque, alguns membros importantes da resistência, como Minho (Ki Hong Lee) e Sonya (Katherine McNamara), foram levados pela organização. Agora, Thomas (Dylan O’Brien) está decidido a embarcar em uma missão perigosa para resgatar seu amigo Minho. O laço construído por eles dentro do labirinto é forte demais para ser quebrado ou esquecido, então abandoná-lo não é uma opção. Contudo, Thomas não está sozinho nessa missão e conta também com a ajuda de Newt (Thomas Brodie-Sangster), Caçarola (Dexter Darden), Brenda (Rosa Salazar) e Jorge (Giancarlo Esposito). Logo no início dessa aventura, eles precisam enfrentar a ameaça dos cranks (seres humanos infectados pelo vírus conhecido como Fulgor, que transforma as pessoas em uma espécie de zumbi), mas apesar de todos os perigos nada se compara a conseguir a entrar nos domínios da C.R.U.E.L.. O quartel-general da instituição é altamente

Mesmo des c on fi an do da joven , T e re s a é a úni ca qu e p ode ajuda r T h o mas em s e u p l an o

protegido por seguranças e com tecnologias muito avançadas, e, por serem “propriedades” da organização, Thomas, Newt e Caçarola possuem um localizador embutido em seus corpos, tornando-os facilmente localizáveis. É nesse momento crucial da trama que eles decidem recorrer à Teresa (Kaya Scoledario). Mesmo duvidando das intenções da jovem, que já havia os traído no passado, ela é a única que pode ajudar Thomas e seus amigos se infiltrarem na C.R.U.E.L., além de ajudar a resgatar o Minho,


que é o motivo central de toda a missão. Essa trama aos poucos se mostra muito mais grandiosa do que aparenta, uma vez que é revelada a crítica situação em que o vírus do Fulgor está se espalhando entre as pessoas, com as tentativas de encontrar uma cura parecerem distantes de serem alcançadas. É Teresa que acaba descobrindo que o sangue de Thomas pode ser a resposta para a cura, colocando o rapaz em um dilema: concentrar-se em ajudar o seu amigo e outros jovens capturados pela C.R.U.E.L. ou se juntar a Teresa para tentar encontrar uma cura definitiva. É interessante observar a lealdade existente entre Thomas, Newt, Minho e Caçarola, cuja o confinamento no labirinto formou uma amizade forte o suficiente para arriscarem suas vidas uns pelos outros. O grande destaque vai para Newt (a atuação do Thomas Brodie-Sangster é emocionante), que deixa seu bem-estar de lado para garantir o resgate do amigo, colocando Minho como sua maior prioridade.

N ewt, Th om as e M i n h o t e n ta m escapar o qua rt e l-ge n e r a l da C.R.U.E . L .

Outro destaque de atuação é Dylan O’Brien (a evolução ao longo da franquia é evidente), que carrega uma grande carga dramática e consegue deixas transparecer muito bem as suas emoções. O mesmo pode ser dito sobre Kaya Scodelario, que consegue entregar ao público uma personagem mais complexa, de caráter dúbio. O filme é repleto de cenas de ações bem dinâmicas e muito bem construídas (além de inúmeros plot twits, incluindo a volta de um personagem que todos acreditavam que tinham morrido), que é uma marca registrada do diretor Wes Ball. No início de sua carreira, Ball chegou a trabalhar supervisionando efeitos es-


T h o m a s , J o r g e , N e w t, F r y p a n e B r e n d a s ã o pa r t e d o t i m e d e r e s g at e d e M i n h o

peciais, de modo que acabou desenvolvendo um olhar diferenciado tanto para os efeitos práticos, quanto para o CGI (computer-generated imagery, o que pode ser traduzido para imagens geradas por computador). Maze Runner: A Cura Mortal vem chamando atenção pelos excelentes números de sua bilheteria. Logo que estreou, o filme faturou R$7,2 milhões na primeira semana aqui no Brasil, e também foi líder de bilheteria nos Estados Unidos. O longa, no entanto, teve uma bilheteria pequena em solo norte-americano, arrecadando até hoje pouco mais de 52 milhões de dólares (contra os US$ 62 milhões de sua produção). Mundialmente, são quase US$ 240 milhões. Apesar de deixar alguns detalhes sem explicação no final do filme, como a questão da cura, que foi pouco explorada na película (não se sabe se depois o Thomas utilizou seu sangue para produzi-la ou não), Maze Runner: A Cura Mortal entrega um desfecho digno para essa trilogia e no final presta uma homenagem a todos os personagens que fizeram parte dessa história. // zint.online | 65


A sรกtira de Alexander Payne T E X T O //

carolina cassese

d i a g r a m a รง รฃ o //

victoria cunha

66| zint.online


E

m Pequena Grande Vida, dirigido por Alexander Payne, um estudo científico descobriu a possibilidade de encolher os seres humanos, com a finalidade de economizar fontes de alimentação e água. Um mundo reduzido seria, teoricamente, mais equilibrado e sustentável. Paul Safranek (Matt Damon) é um terapeuta ocupacional que não se sente realizado profissionalmente e passa por dificuldades econômicas. Ao se deparar com a possibilidade de encolher e viver em uma nova realidade (onde seus gastos seriam bem menores), não pensa duas vezes em aceitar a oportunidade. O filme narra, em tom cômico, a adaptação do protagonista a essa nova vida. Por causa desse tom, muitos dos personagens da trama são construídos de forma caricata, como Dursan Mirkovic (Christoph Waltz), um estrangeiro

rico e mulherengo, enquanto outros personagens, como a interpretada por Hong Chau, oscila entre a comédia e o drama. O longa também passa a impressão de ser desorganizado, uma vez que muitas subtramas emergem na narrativa sem uma amarra do roteiro, sendo difícil saber em qual arco devemos focar. A montagem, por sua vez, também não ajuda o desenrolar do filme, apresentando um longa com diversas cenas que poderiam ser facilmente retiradas da edição final. Por outro lado, a película é bem sucedida na reflexão que faz em relação à situações de exploração e desigualdade em sociedades cuidadosamente planejadas e aparentemente perfeitas. É perceptível que o filme tem a pretensão de abordar temas diversos e fazer uma crítica ao american way of life, que acaba perdendo a chance de ser melhor construída e mais pontual. É inegável que Alexander Payne é um importante nome do cinema contemporâneo, tendo acertado em longas consideravelmente prestigiados como Sideways – Entre Umas e Outras (2004), Os Descendentes (2011) e o excelente Nebraska (2013). Pequena Grande Vida pode decepcionar os fãs do diretor por não exibir aspectos técnicos e artísticos surpreendentes, mas garante risadas e boas reflexões, graças a sua interessante premissa inovadora e os questionamentos sobre sustentabilidade, desigualdade e ganância. //


CORPOS QUE MORREM À 120 BATIMENTOS POR MINUTO T E X T O //

roberto barcelos

d i a g r a m a ç ã o //

vics


C

Com diversas personagens que dividem o tempo de tela com suas tramas pessoais, os mais relevantes são os soropositivos que começaram a se informar sobre a doença. O acompanhamento deles ao desenvolvimento lento e tardio por um paliativo pelas indústrias farmacêuticas gera uma crítica ao modelo econômico que elas seguem, o qual o lucro é mais importante do que a cura. Seus dramas ganham espaço no decorrer do filme ao humanizar a batalha ininterrupta por um tratamento que, em teoria, deveria ser de acesso para todos. Campillo desloca a película até o campo da militância ao mostrar a luta pela vida e a sensação de incapacidade dos protagonistas, frente aos efeitos colaterais do tratamento e a morte de colegas soropositivos. Nesse ponto, o roteiro colabora para que o espectador compreenda os estresses e as explosões dos personagens mais afetados, enquanto buscam por esperança de conseguir novas possibilidades de vida e aproveitá-la. Eles se abrem para falar sobre a contaminação, quebrar tabus e falácias relacionadas aos preconceitos com os LGBTQI+. A noção de urgência é colocada em pauta durante o longa, pois a morte permeia,

Câmera na mão e cortes secos dão o tom de documentário da obra 120 Batimentos por Minuto (2017), dirigido por Robin Campillo e vencedor do Grand Prix 2017 no Festival de Cannes. O longa-metragem retrata a militância da ACT UP, grupo francês que ficou famoso na década de 90 por promover ações não-violentas em defesa da prevenção e tratamento contra a Aids. Didático, o roteiro de Campillo e Philippe Mangeot demonstra conhecimento profundo sobre as ações e estratégias que o grupo utiliza para ganhar atenção midiática e combater as insuficiências propositais das indústrias farmacêuticas.

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direta ou indiretamente, todos os envolvidos na luta contra a Aids. 120 Batimentos por Minuto não perde tempo em suas duas primeiras partes: ele pulsa entre os cortes e a montagem de cenas diferentes com a estratégia narrativa do flashback, mas mantem o fôlego e torna claro para o espectador a pluralidade presente na ACT UP por causa dos seus integrantes com diferentes pontos de vista. Além de mostrar as investidas contra as empresas farmacêuticas e a militância que deve ser feita na rua, por meio da ocupação dos espaços públicos e a luta para desconstruir argumentos falaciosos sobre a Aids. Contudo, em alguns momentos, o filme freia e respira ao adquirir um tom intimista e são nesses pontos que o relacionamento entre Sean (Nahuel Biscayart) e Nathan (Arnaud Valois) assume o protagonismo. Com 140 minutos de filme, a rela70| zint.online

ção entre os dois ajuda a amortecer o tempo de duração que pode ser considerado cansativo para muitos espectadores. Porém, não há excessos de sentimentalismo ou pragmatismo, pois o foco principal de Campillo é mostrar a luta contra o conservadorismo francês. É importante, também, compreender o papel dos dois como um elemento capaz de criar empatia, algo capaz de ir além da compreensão sobre o cenário político e


social apresentado no final. O trabalho dos atores torna as dificuldades enfrentadas no momento em algo que vai além do registro em tela, mas aproxima de cada um ao lembrar que o doente é alguém com vínculos afetivos. Nesse ponto, a câmera trabalha como um elemento narrativo importante para amenizar o tom de documentário da obra e criar uma estética mais suave, apesar de fria em sua coloração e um pouco opaca quando cores mais quentes surgem na tela. Campillo exerce a função do cinema como um objeto político e de ativismo por meio dessa arte e suas imagens, com a ficção próxima ao real e o documentário quando o tom didático da obra esclarece e ensina sobre uma realidade marginalizada. 120 Batimentos por Minuto retumbe no cenário da indústria cinematográfica, não se rende aos clichês da sexualidade ou do drama e deixa clara a necessidade de discutirmos mais sobre as DST’s, principalmente a Aids, e os corpos que morrem todos os anos e poucos percebem. //

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A história de admiração de Pedro Lucas

T E X T O //

BÁRBARA LIMA

O Menino Que Fez Um Museu é um documentário instigante, que mostra um Brasil repleto de arte pelo olhar de Pedro Lucas, de apenas 11 anos. O garoto de Dom Quintino, distrito do Crato, no Ceará, fez um museu simples, mas 72| zint.online

d i a g r a m a ç ã o //

victoria cunha

repleto de cultura e da história do cantor Luiz Gonzaga, com todos os adereços que tinha, sejam discos ou o marcante chapéu de Lampião, usado por Gonzaga. Essa história encantou não só o Ceará, como está encantando o Brasil inteiro.


Sérgio Utsch, o jornalista correspondente de Londres pela SBT de São Paulo é um dos apreciadores dessa bela história. A ideia do longa começou a ser esboçada em um trem saindo da Ucrânia. Ele e o seu cinegrafista Louis Blair vinham de coberturas muito pesadas. Além do conflito no leste da Ucrânia, e da tomada da Criméia pelos russos, eles também cobriram inúmeros atentados terroristas e a Batalha de Mossul no Iraque. No meio desses confrontos, o que eles já tinham era o projeto de gravar um documentário no Brasil. A inspiração final veio de um vídeo no Facebook, em que Pedro Lucas mostrava a sua própria criação: o museu feito em homenagem a Luiz Gonzaga. Utsch, Blair e o jornalista Fábio Damasceno, ao chegarem no Ceará gravaram intensamente por dez dias. Não foi difícil gravar, segundo Sérgio, pela desenvoltura que o garoto tinha com as câmeras e pela liberdade que os três tinham de criar. Eles usaram sete câmeras diferentes (entre elas um drone), além de terem a criatividade de fazerem também entrevistas e imagens em movimento. Uma dessas entrevistas é de Fatima Correira, que foi professora da família de Pedro Lucas. Ela, que também é poeta, escreveu um cordel para o menino; essa cena é capturada de forma que faz todas essas técnicas casaram-se muito bem. É possível perceber apenas pelo trailer do longa-metragem que tudo foi muito bem construído e criado: a fotografia, a composição de

cores, e os detalhes cênicos geraram uma grande manifestação artística. Louis Blair, tinha o olhar de quem conhecia o Brasil pela primeira vez, o que foi essencial para suas filmagens, e Fábio Damasceno possui técnicas mais jornalísticas, e opta por trabalhar mais a luz e posicionar o entrevistado. Eles criaram um documentário que conquista o telespectador pela beleza e diversidade da nacionalidade brasileira. Sérgio conta que não tinha muita esperança no mercado nacional, devido a narrativa ter sido construída para um público estrangeiro, explicando detalhadamente o que é aquele Brasil construído na perspectiva de Pedro Lucas. E Sérgio foi surpreendido, O Menino Que Fez Um Museu conquistou um dos principais palcos do cinema brasileiro, a Mostra de Tiradentes. No dia 22 de janeiro, na estréia oficial do filme, durante a sua exibição no Cine Praça em Tiradentes, começou a chover, e ao mesmo tempo que algumas pessoas foram embora, muitas ficaram embaixo de árvores e guarda-chuvas assistindo e apreciando a cultura brasileira presente em cada particularidade do documentário. “A diretoria do Festival queria parar o filme, mas não pôde porque muita gente ficou até o fim pra assisti-lo”, conclui Sérgio. Segundo ele, foi muito emocionante ter o seu longa abençoado pelas montanhas de Minas Gerais e espera que O Menino Que Fez Um Museu ganhe visibilidade no cenário mundial, com a bela história de Pedro Lucas. //

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[

literatura

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Restabelecimento dos estilhaços Lançamento da continuação de série distópica de Tahereh Mafi acontece em Março Imagine viver em um mundo distópico concentrado em guerras por territórios e lideranças ditatoriais. Pássaros não voam mais pelo céu, toda comida e água são racionadas, a população vive em péssimas condições de vida. Agora, adicione mutantes, romances proibidos e um toque de poesia, e você terá a famosa trilogia jovem adulto Estilhaça-me, de Tahereh Mafi (o acento vai para a última sílaba, “reh”), uma jovem escritora de origem islâmica. Publicado em 22 países, o primeiro livro da série narra a vida de Juliette Ferrahs, uma adolescente que foi trancada pelo exército do Restabelecimento, acu76| zint.online

T E X T O //

gabi carvalho

d i a g r a m a ç ã o //

victoria cunha

sada de ter assassinado uma criança. Ela possui poderes sobrenaturais que fazem com que seu toque seja letal e, assim, o líder do Restabelecimento, principal instituição no poder, vê uma grande oportunidade de usá-la como uma arma a seu favor. Então, Juliette tem que escolher entre ajudar na guerra, simpatizando com os ideais únicos do Restabelecimento, ou lutar contra ela. Com o desenrolar da história, vemos não só o desenvolvimento da personagem de Juliette neste cenário, como também o de outras duas personagens importantes da série: o comandante da instituição,


Warner, e um de seus soldados, Adam. E é dentro desse triângulo que Incendeia-me, terceiro livro da série, termina, trazendo um final aberto idolatrado por uns, e odiados por outros. Assim, Mafi cria um universo fantasioso com uma simplicidade lírica escondida entre celas sujas e escuras, ambientes frios e faíscas de esperança, que dançam na invisibilidade do ar. E, se você já adora essa grande novela ou está curioso para saber mais sobre a história, não tema. Abra espaço em sua estante porque, no próximo dia 06 de março, Tahereh Mafi lançará mais um volume para a série. Depois de quatro anos, a autora entrega para os fãs Restore Me (ainda sem tradução para o português), que trará a continuação da história de Juliette pouco tempo após o término do último livro lançado. Além disso, a própria autora já confirmou: a nova era de Estilhaça-me trará um arco com três livros, que são continuação da série, e não spin-offs, como os lançados entre os três primeiros volumes da série.

Pouco foi confirmado sobre Restore Me, mas a autora, usuária ávida do Twitter, vez ou outra responde a perguntas dos internautas, revelando diversos, pequenos e interessantes detalhes sobre a nova era estilhaçada. Entre a apresentação de novos personagens negros, muçulmanos e LBGBTQ+ e a revelação de que o livro trará a novidade de uma narrativa em dois pontos de vista (de Juliette e Warner), Mafi brinca e emociona os fãs, contando também quais seriam as cores favoritas de cada personagem, como cada um está se sentindo depois do grande acontecimento do último livro e, até mesmo, solta pequenos trechos da obra. Apesar do lançamento nos Estados Unidos, ainda não há previsão de publicação aqui no Brasil pela Novo Conceito, editora responsável pela série. Ainda, a série teve seus direitos vendidos à Warner Bros., para a produção de um filme. A trilogia também ganhará uma série televisiva, sob os direitos da ABC Studios, com a própria autora sendo parte da produção. //

Tah ereh M a fi e m postage m n o I n stagr a m

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música

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O hexa de Bruno Mars T E X T O //

guilherme rodrigues

No evento mais esperado do mundo da música, a zebra apareceu e o talentoso Bruno Mars foi o maior vencedor da noite. Com seu álbum 24k Magic, ele conseguiu somar seis prêmios, incluindo o de Álbum do Ano, com o já citado último trabalho do cantor, e o de Canção do Ano, com a canção That’s What I Like. Mas o que leva um álbum a ser tão premiado? Quais aspectos musicais que fazem um trabalho ser amplamente aclamado pela crítica especializada? Antes de qualquer coisa, é preciso fazer um breve passeio pela história da música pop, para entender onde ela chegou e seus responsáveis por ditar os rumos tomados. O termo Música pop sig80| zint.online

d i a g r a m a ç ã o //

O Grammy 2018 vai na contramão das apostas e o maior premiado da noite é Bruno Mars

victoria cunha

nifica “Música Popular”, que faz um contraponto à suposta “Música Erudita”, estilo tido como elitizado e muito restrito. O pop é o total contrário disso, ele é fácil de entender e feito de uma forma que agrade a grande população, sendo mais comercial, muitas vezes simples e, principalmente, palatável. A música pop evoluiu muito dos anos 50 até os dias de hoje, o que antes era classificado como tal, como os Beatles e os Rolling Stones, hoje encontra outra definição devido às constantes mudanças que o estilo sofre. Sim, mudanças. Muito diferente de outros estilos, que costumam ter ramificações, o pop tem apenas mudanças, não importa o quanto o estilo musical se altere,


ele não vai receber denominações como “pop alternativo, ou “pop psicodélico”, ele é apenas o “pop”. O que se tem por definição desse estilo hoje é uma mistura de bases semelhantes a música eletrônica e os vocais potentes dos personagens que compõem esse cenário. Há também quem aposte na mistura de vários estilos em um só ou quem aposte em utilizar certos aspectos de um estilo só, para criar uma característica marcante para o artista, caso do ganhador de seis prêmios na noite do Grammy. Brunos Mars apareceu para o mundo musical em 2010 e despertou o interesse e fascínio de várias pessoas. Não era à toa, o mundo ainda lamentava a morte do maior expoente da história da música pop, Michael Jackson. As semelhanças e comparações logo começaram a aparecer, a influência do Rei do pop no músico recém-chegado até então era gritante. Sua forma de compor era parecida, seu timbre de voz era parecido, as melodias eram parecidas e as referências gritantes da música negra eram outra semelhança presente nas músicas de Mars, que evoluiu ainda mais com o tempo. Os aspectos musicais presentes na composição do músico sempre lembravam uma música ou outra de Michael, o que começava a levantar perguntas sobre o futuro do artista. Será que tínhamos um novo gênio? Sim, nós tínhamos. Assim como muitos outros gênios que surgiram na história da música, era nítido o tamanho da capacidade que ele tinha, suas composições eram cativantes, com suas letras carregadas de sexualidades e seus instrumentais que remetiam ao Funk e ao R&B. Além disso, sua voz e seu alcance vocal eram impressionantes, daqueles que faziam parecer fácil cantar e compor. As performances também nunca deixaram a desejar. Com o tempo, não sabendo se foi porque acostumamos com as características, muitas vezes repetitivas, ou

talvez até pelo fato do enorme número de outros talentos surgindo e o mercado ter passado por enorme transformação, o cantor deu uma apagada em sua luz. Até que resolveu se destacar no ano em que todas as apostas eram a já gasta e repetitiva música latina de Justin Bieber, e os gritos de protesto e revolta de Kendrick Lamar. O álbum 24K Magic veio com tudo, dessa vez com uma diversificação musical imensa, Bruno Mars soube mostrar que sabe sim se adequar ao mercado e suas mudanças, mas sem esquecer suas influências. Com uma carga de musicalidade negra (Funk e R&B) muito presente, ele conseguiu não ser tão enjoativo e repetitivo quanto era antes, suas músicas agora variam, passam um pouco pela influência do rap que fica em evidencia nessa nova fase da música pop, apostam mais para as melodias marcantes e o alcance vocal do cantor e, claro, mostram toda a influência do Rei do Pop no cantor. Esse álbum ainda reforça como Mars também sabe mudar o ritmo e o andamento das músicas, ele também sabe escrever músicas lentas e românticas com muito talento. É inegável a crescente de Bruno Mars desde o seu sucesso até aqui e isso fica em evidência quando seu último álbum é o maior ganhador da noite do Grammy em 2018. A obra veio para provar que o artista soube se atualizar e acompanhar as tendências que vinham na música desde então, ela também seguia um modelo certo, típico de álbuns que ganham Grammy atualmente: Tem a música “baladinha”, tem a música lenta, tema a música mais elaborada, o trabalho já foi feito pensando em tudo e abusou dos melhvores aspectos musicais de Bruno Mars. O Grammy não errou em premiar o cantor com as seis estatuetas e surpreender o grande público e finalmente, já era hora de renovar os talentos. //

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As projeções futuras de

Jóhann Jóhannsson T E X T O //

giulio bonanno

d i a g r a m a ç ã o //

victoria cunha


T

êm vezes que o mundo e a vida nos presenteiam sem ter que pedir ou esperar. Seja com uma linda paisagem, uma boa xícara de café ou um simples gesto fora do script; algo que devemos cultivar sempre é o de experimentar coisas novas e observar. Ser corajoso o bastante para inventar e curioso o suficiente para prosseguir. Curiosidade, aliás, que nunca pareceu faltar para Jóhann Jóhannsson. Nascido em Reykjavík, capital da Islândia, Jóhannsson começou sua carreira musical no final dos anos 90, lançando projetos coletivos que, aliando muitos gêneros em voga da época, buscavam um denominador comum. Ídolos conterrâneos e contemporâneos como Björk e o coletivo Sigur Rós também serviam de influência. Muito antes de escrever sua primeira trilha sonora, Jóhann era um ávido colecionador de timbres que ditariam o rumo de uma carreira fulminante na música e no cinema. Eu o descobri quando A Teoria de Tudo (2014) recebeu indicações ao Globo de Ouro em 2015 para Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Filme de Drama e, mais discretamente, Melhor Trilha Sonora. Como tímido entusiasta da cultura islandesa, fiquei curioso quando li o nome de Jóhannsson (um nome bastante típico em seu país) entre os indicados. Já nutria muita vontade de conferir a cinebiografia de Stephen Hawking. Com um islandês até então desconhecido fazendo a trilha sonora, a vontade só aumentou. Veio a

premiação e, também, uma surpresa: mesmo concorrendo com os medalhões Hans Zimmer, Alexandre Desplat e Trent Reznor (este, por Garota Exemplar, minha preferência na época), o novato abocanhou o prêmio e assegurou sua primeira indicação ao Oscar. Assim como John Williams e Steven Spielberg ou Ennio Moricone e Sergio Leone, Jóhann Jóhannsson e o emergente diretor Denis Villeneuve formaram uma rentável parceria, provavelmente uma das mais marcantes entre diretores e compositores desta década. Vieram três filmes, Os Suspeitos (2013), Sicario: Terra de Ninguém (2015) e A Chegada (2016). Todos foram muito bem recebidos pela crítica e ajudaram a difundir o nome de Villeneuve em Hollywood. As abordagens que Jóhannsson trazia para os filmes de Villeneuve sempre foram bastante intrigantes. As trilhas não buscavam se apoiar em leitmotifs fáceis e tampouco faziam questão de reforçar sensações pontuais na tela. Semelhante às

Jó h ann Jóh a n n s s on co m o Gl obo de Ouro de "Melhor T ri l h a S on ora " , po r seu t raba l h o e m "A Teori a de T udo"

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composições de Clint Mansell, Steven Price ou Mica Levi, suas trilhas compõem trabalhos que buscavam contornar e investigar todo o perímetro de suas cenas, como se conseguíssemos enxergar objetos fora de foco ou fora de quadro, ou mesmo adivinhar os pensamentos de um personagem específico. Uma tendência que vem só ganhando força, especialmente no circuito de séries e filmes

independentes. Voltemos a fita. Antes de ganhar renome na sétima arte, Jóhannsson projetou sua carreira como músico e compositor experimental. Sua breve passagem o marcou como um dos nomes mais promissores da música clássica moderna, bem como da música ambiente (mais especificamente, do drone - gênero em que uma ênfase especial é dada ao sustento de uma única nota de sintetizador). Sua discografia constitui terreno fértil para renovar as amplitudes que um determinado tom ou timbre podem provocar. Recomendo o que poderia ser uma espécie de divisor de águas: And in the Endless Pause There Came the Sound of Bees, que serviu para acompanhar o curta-metragem Varmints (indicado ao BAFTA em 2009). Com variável sutileza, esse disco dialoga uma elegante peça orquestral com instrumentações mais modernas, resultando em uma reflexão convidativa sobre as paranoias que nos acometem em meio a tanto estímulo sobrenadante. O que, enfim, caracterizava a música de Jóhannsson? Difícil dizer. São muitas amálgamas sonoras canalizadas por uma mente criativa e, arrisco opinar: objetiva. Talvez seja isso! Objetividade. A música de Jóhann era como um mapa que, apesar das curvas, encruzilhadas, pistas e reviravoltas, giravam em busca de um objetivo.


Abusando de uma interpretação bastante sintomática, creio ser esse objetivo a confrontação do papel que uma espécie autodenominada racional tem perante o planeta que habita. Sua inquietude pelos contrastes do progresso e do abandono subsequente, evidenciado no álbum Fordlândia, ou mesmo suas angústias refletidas em cada breve faixa de Orpheé, seus malabarismos equacionais de piano apresentados no filme sobre Hawking ou suas investigações lexicais que pintaram o estandarte de A Chegada denotam um artista confuso quanto à sua posição carnal, porém ciente de suas projeções futuras. Como todo cidadão moderno, Jóhannson reflete sobre vigas que se erguem e vidas que se seguem em prol de estimular nossas percepções para além deste mundo. Se for para destacar uma, diria que Melancholia é a sua música que mais me instiga. Não possui a urgência nem a sobriedade como muitas outras peças criadas para Sicario, porém existe algo nela tão intenso, tão profundo e tão explícito. O feroz dedilhado de violão assume a figura de um rolo compressor sobre cada vida que nos deixa, cada ferida que surge e cada cicatriz que fica. Uma leitura bastante fiel para uma película recheada de desilusões, conspirações e pessimismo que merecerá, ainda por muito tempo, ser reconhecida. Pois apesar de vivermos na correria, tropeçando em tudo quanto é sarjeta e escalando tudo quanto é muro, ainda ousamos acomodar as nossas mentes para apreciar um lindo pôr do sol. Mais alguns minutos e a noite se inicia. Por meio de sua obra, essa é a imagem do artista que nos deixou e que se consolida. Descanse em paz, Jóhann Jóhannsson. // zint.online | 85



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sĂŠries

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O novo drama médico que está dominando a TV T E X T O //

stephanie torres vics

d i a g r a m a ç ã o //

S

haun Murphy é um brilhante cirurgião recém-formado, capaz de diagnosticar e resolver os casos mais raros da medicina com uma eficiência louvável. Porém, ele tem que lidar com o seu próprio diagnóstico que o coloca dentro do espectro autista. Essa é a premissa de The Good Doctor, série do canal ABC e a produção seriada mais assistida da TV aberta norte-americana atualmente.


Freddie Highmore interpreta esse protagonista que, apesar da genialidade, tem que enfrentar sua dificuldade social e o preconceito de seus colegas e superiores para fazer seu trabalho e salvar vidas. Após cinco anos interpretando o psicopata Norman Bates na série Bates Motel, personagens com transtornos mentais parecem ter ser tornado a especialidade de Highmore, que já garantiu uma indicação ao Globo de Ouro pela sua atuação em The Good Doctor, na categoria Melhor Ator em Série Dramática. No entanto, os dilemas da série não giram apenas em torno dos conflitos profissionais de Shaun. Enquanto cada episódio traz em média dois casos médicos diferentes (que normalmente são resolvidos no mesmo capítulo), somos também apresentados ao passado do cirurgião, aos seus desafios pessoais e aos de seus colegas e pacientes. A série se insere no contexto atual tratando de assuntos como sexismo, abuso sexual, transexualidade e preconceito. As semelhanças do formato e do enredo com House não são mera coincidência. David Shore é o criador de ambas as produções. A impressão que se tem é de que o Dr. Murphy é uma versão mais sensível do Dr. House, mas essa diferença é o que acaba se tornando o atrativo da história. Porém, The Good Doctor tem dividido a crítica, que apontam como ponto fraco a previsibilidade na trama e a forma como o autismo é abordado.

Em contra partida, a audiência vem mostrando um quadro diferente, cujo público já ultrapassou séries consagradas como The Big Bang Theory e Grey’s Anatomy, esta última também da ABC. Inspiração

The Good Doctor foi inspirada em uma série sul-coreana de 20 episódios, que se chamava apenas Good Doctor. A produção estreou em 2013 e também foi um grande sucesso no país. Uma curiosidade interessante, é que o protagonista original se chamava Shi-on; a escolha de chamar o médico americano de “Shaun” foi uma tentativa dos responsáveis de manter o nome mais próximo da versão oriental. Porém, o principal ponto em comum entre as duas produções está na história inicial. O piloto de ambas é extremamente parecido, contendo até mesmo falas iguais. Mas com o avanço no enredo, David Shore optou por dar um ritmo acelerado e começar a seguir um caminho diferente, adaptando a série para o público americano. The Good Doctor é exibida no Brasil pelo canal pago AXN. // zint.online | 89



Shantay, you stay T E X T O //

bruna curi victoria cunha

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As primeiras impressões do primeiro episódio da 3ª temporada de All Stars

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No dia 2 de fevereiro de 2009 foi ao ar, pela primeira vez, o reality show RuPaul’s Drag Race, apresentado pela famosa drag queen RuPaul. A premissa do programa se baseava em encontrar carisma, originalidade, coragem e talento em uma drag queen que receberia o título de “America’s Next Drag Superstar”. O sucesso do reality foi tanto que em 2012, três anos após a estreia do programa, foi lançado o spin-off RuPaul’s Drag Race: All Stars. Desta vez, o show baseia-se em convidar ex participantes de RPDR para competir novamente pela tão cobiçada coroa e por um lugar no “Drag Race Hall of Fame”.

O spin-off funciona de maneira similar ao programa original, sendo composto de mini desafio, desafio principal e eliminação. A única mudança introduzida na segunda temporada foi o formado das eliminações: ao invés dos jurados escolherem uma drag para voltar pra casa, sãos os próprios participantes que fazem a escolha. Assim, ao final de cada episódio, as duas melhores drags no desafio semanal fazem o famoso“Lipsync For Your Legacy” (que consistem em performar a dublagem de uma música) e a vencedora ganha o poder eliminar uma das duas piores competidoras, além de um “bônus” de 10.000 dólares. Terceira Temporada No dia 25 de janeiro deste ano, estreou a terceira temporada de RuPaul’s Drag Race: All Stars, marcado por inúmeras surpresas (algo que já é de se esperar vindo da Mama Ru), muita comédia e uma zint.online | 91


pitada de shade. As queens que retornaram ao programara foram: Aja, BenDeLaCreme (que recebeu o título de Miss Simpatia na sexta temporada), Chi Chi Devayne, Kennedy Davenport, Milk, Morgan McMichaels, Shangela (ex participante da segunda e terceira temporada, a única drag que participou de duas temporadas de RPDR), Thorgy Thor e Trixie Mattel. Algo que ninguém podia prever ou imaginar foi o retorno de Bebe Zahara Benet, a primeira vencedora de RuPaul’s Drag Race. Caso Bebe ganhe a terceira temporada do All Stars, ela será a primeira drag na história do programa a ganhar duas coroas. O primeiro episódio do All Stars 3 trouxe o mini desafio “Reading is Fundamental”, já conhecido pelo público, consagrando BenDeLaCreme como a vencedora. O desafio principal da semana consistia nas queens participarem de um Show de Talentos, mostrando o que sabem fazer de melhor. Enquanto algumas optaram por fazer algo parecido com os seus respectivos shows, como cantar e dançar, outras optaram por fazer algo mais diferente (destaque merecido para Thorgy Thor, que tocou a música Sissy

That Walk em um violino, algo completamente inédito para alguns dos jurados). Contudo, nem todas as participantes foram capazes de agradar ao público e despertar interesse nos jurados, que também analisaram detalhes da roupa, sapato e maquiagem.

Da es qu erda pr a d ir e ita : M o r ga n M cM i ch a e l s, A j a , S ha nge l a , B e b e Za ha r a B e ne t, Mil k, K ennedy Dav e n po r t, Ch i Ch i D e vayn e , B e n D e L aC r e me , Tho r gy Tho r e Tr ix ie Matte l


els, uma decisão criticada por algumas competidoras, que defendiam a eliminação de Chi Chi Devayne devido as duras críticas dos jurados. Mesmo não tendo ideia de quem será a ganhadora do AS3, uma coisa é certa: as competidoras voltaram mais fortes e estão dando o seu melhor para alcançar a coroa. Até lá muitas coisas podem acontecer, já que RuPaul é conhecida por aprontar diversas surpresas.

O momento mais emocionante do episódio é o lipsync entre BenDeLaCreme e Aja, as duas queens que mais se destacaram na opinião dos jurados. Dublando Anaconda, de Nick Minaj, as drags tiveram uma disputa acirrada, cheias de caras, bocas, piruetas e momentos icônicos (como o salto de Aja, gerando o meme “is she gonna jump from there?”). Quem levou a melhor, no entanto, foi BenDeLaCrame, que escolheu eliminar Morgan McMicha-

Polêmica Como modo de promover nova temporada do All Stars, Mama Ru convidou as vencedoras das edições anteriores, Chad Michaels e Alaska Thurnderfuck, para fazer uma promo para o ciclo. No vídeo, elas aparecem caracterizadas como as aias da série The Handmaid’s Tale, fazendo piadas sobre algumas situações do reality show, como reviravoltas e vinganças. As ganhadoras ainda criticaram ironicamente o RPDR por não oferecer o reconhecimento e a fama que elas esperavam. Porém, a brincadeira não agradou a todos. Muitos internautas criticaram o vídeo pelo fato dele ironizar personagens que são subjugadas por homens nas telas. Apesar disso, RuPaul chegou a afirmar na sua conta do Twitter a importância da série na atualidade. //


Achou que a gente não ia falar de Choque de Cultura? SE EQUIVOCOU, AMANTE DA SÉTIMA ARTE!

T E X T O //

victoria cunha

d i a g r a m a ç ã o //

vics


Rogerinho e Renan, respectivamente Caito Mainier e Daniel Furlan


Maurilio e Julinho, respectivamente Raul Chequer e Leandro Ramos


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azer humor no Brasil pode parecer tarefa fácil para muita gente. Afinal, a quantidade de memes e virais orgânicos no país é imensa, sendo muitas das vezes sem explicação alguma. Mas humor de qualidade com alcances altíssimos são para poucos. Podemos citar os pioneiros Hermes e Renato, e também o gigante Portas dos Fundos, mas nenhum deles chega aos pés de Choque de Cultura. Falo com tranquilidade. Por mais ridículo que pareça, o Choque de Cultura consiste em quatro motoristas de vans ilegais do Rio de Janeiro comentando absurdos sobre clássicos do cinema (e apenas cinema, porque ambiente de música é ambiente de droga). Cada um com sua peculiaridade, os quatro personagens compõem o grupo de motoristas que analisam trailers de filmes, tanto atuais, como o indicado ao Oscar O Rei do Show, quanto o clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço. Por se tratarem de motoristas pilotos de vans da cidade do Rio de Janeiro, é frequente ouvirmos piadas e comentários relacionados a carros, trânsito e velocidade, assim como elogios à “melhor franquia de todos os tempos”, que, segundo eles, se trata de Velozes e Furiosos. Na pele de Rogerinho, Maurílio, Julinho e Renan, vivem os humoristas Caito Mainier, Raul Chequer, Leandro Ramos e Daniel Furlan, respectivamente. Dos quatro citados, apenas Chequer e Furlan são atores de formação e experiência, o que faz com que os fãs considerem seus personagens um pouco mais característicos do que os outros. Todos os quatro responsáveis pelo programa são profissionais de competência incrível, e dizem que puxaram inspiração de pessoas próximas para a criação de cada personagem. Maurílio, por exemplo, o “teclinha SAP” que alegra o Brasil com suas explicações técnicas sobre a sétima arte, foi inspirado no irmão de Raul Chequer, seu intérprete. O estilo rápido de falar e a língua presa de Renan (Daniel Furlan) vêm de um vendedor de mate da praia do Rio, e Julinho da Van, garante Leandro Ramos, é praticamente uma cópia do pai do ator. O humor diferenciado do quarteto de Cho-

que de Cultura faz sucesso devido o talento que eles têm para isso. Além dos comentários non sense, é possível encontrar também algumas beliscadas disfarçadas na política e também na vida real. Ian SBF, um dos criadores do canal Porta dos Fundos, comenta: “O humor precisa trazer algo da vida de quem assiste”. Além dele, Antonio Tabet (Kibeloco e Porta dos Fundos) já confessou: “esses caras são hilários!”. E Bruno Sutter, percursor de Hermes & Renato, também comenta sobre o grupo: “Eles juntaram dois mundos, né? Como água e óleo. Cinema e motoristas de van. Em premiações como o Oscar, vemos entendidos de cinema. Mas qualquer um pode falar sobre isso. Esse é o segredo”. Por mais absurdo e esdrúxulo que sejam os comentários feitos pelos personagens (“Não tinha um adulto consciente para colocar uma pistola na mão dessa criança?”, Julinho no episódio sobre Stranger Things), vários deles possuem um fundo de crítica social ou cinematográfica. No sétimo episódio, por exemplo, Julinho e Renan fazem comentários sobre Johnny Depp e seu problema com bebidas alcoólicas e violência, ator que já foi acusado de abuso e violência doméstica por sua mulher. Além disso, Maurílio, Rogerinho, Julinho e Renan também dizem que “a justiça é injusta”, ao citar o filme O Plano Real, que diz muito sobre a política brasileira. Como hoje em dia está todo mundo conectado, os números do programa sobem a cada dia. O primeiro episódio a atingir dois milhões de visualizações foi o “MARVEL vs DC”, lançado dia 1o de fevereiro, enquanto os outros vídeos possuem menos da metade de views. Mas esse é apenas um dos aspectos que mostra um rápido crescimento dos gladiadores do audiovisual – só em 2018, quase 1 ano e meio depois do primeiro vídeo ir ao ar, já podemos ver diversos tipos de merchan com bordões e fotos de Choque de Cultura, sem falar das incontáveis fantasias de carnaval pelo Brasil todo. É por isso que Choque de Cultura é o maior programa de crítica cinematográfica do país. E se me permite um protesto: a produção não é um “Transformers”, mas é um bom produto audiovisual. // zint.online | 97


Bella, ciao Vilões cativam o coração do público desafiando a lei e o sistema na série La Casa de Papel

T E X T O //

ANA LUISA SANTOS

T E X T O //

bruna NOGUEIRA

d i a g r a m a ç ã o //

vics

D a e s q u e r d a pa r a a d i r e i ta : B e r l i m ( P e d r o A l o n s o ) , H e l s i n q u e ( D a r ko P e r i c ) , O s l o ( R o b e r t o García), Nairóbi (Alba Flores), Professor (Álvaro Morte), Moscou (Paco Tous), Denver ( J a i m e L o r e n t e ) , R i o ( M i g u e l H e r r á n ) , T ó q u i o ( Ú r s u l a C o r b e r ó ; n o d e s ta q u e )

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I

magine o crime perfeito: roubar a maior quantia possível de dinheiro, sem prejudicar a população, sem machucar ninguém, saindo impune, tendo em suas mãos a polícia, o governo e a mídia. A missão parece impossível, mas com planejamento, talvez, talvez dê certo. Reúna os melhores bandidos que você encontrar, pessoas tão cruéis, quanto inteligentes e que não tenham nada a perder. Agora tudo o que você precisa é de cinco meses de preparação em um local fora de qualquer suspeita. Tudo pronto, agora é só entrar na Casa da Moeda e imprimir a quantia máxima de seu próprio dinheiro, num curto período de tempo, sem gerar uma hiperinflação. Não se esqueça de planejar milimetricamente cada detalhe e prever saídas para todas as situações possíveis. O imprescindível é: sempre confiar no plano. Bem vindo a La Casa de Papel, originalmente uma minissérie de drama e suspense criada por Álex Pina para o canal espanhol Antena 3. Na Espanha, os 15 episódios foram exibidos de maio a novembro de 2017. Posteriormente, a Netflix adquiriu os direitos de distribuição global e reeditou os episódios, que foram divididos em 13, na primeira temporada, que estreou no Brasil em dezembro.

O restante, ou a segunda temporada, entra no catálogo em abril. Entretanto, estes episódios já estão disponíveis em algumas outras plataformas. Utilizando de uma temática clássica da TV e do cinema de assalto, transformando tudo em algo surreal e absurdo, a trama, que conquistou os brasileiros e se tornou um dos assuntos mais comentados na internet, gira em torno de um plano mirabolante para roubar a Casa da Moeda da Espanha. Oito ladrões com nomes de cidades, Berlim (Pedro Alonso), Denver (Jaime Lorente), Helsinque (Darko Peric), Moscou (Paco Tous), Nairóbi (Alba Flores), Oslo (Roberto García), Rio (Miguel Herrán) e Tóquio (Úrsula Corberó), liderados pelo Professor (Álvaro Morte), se trancam no prédio com dezenas de reféns na esperança de realizar o maior roubo da história do país. O plano consiste em imprimir a maior quantidade possível de notas de euro sem lastro, para que não seja rastreado, e ao final, saírem todos ilesos, como heróis da história. Enquanto isso, o Professor, que tem (quase) toda a situação sob controle, comanda tudo do lado de fora. Enquanto os bandidos estão dentro do prédio, ele negocia o sequestro com zint.online | 99


a polícia, precisamente a inspetora Raquel Murillo (Itziar Ituño), roubando algo muito mais importante que o dinheiro: tempo. A série dá espaço para as personagens se desenvolverem, possibilitando a criação de um sentimento por cada uma delas, até mesmo aquelas consideradas menos importantes, como os reféns. A narrativa também se apresenta de maneira sutil, porém clara: podemos ver as relações que se desenvolvem entre as personagens, de amor e amizade, mostrando que aquele bando de criminosos pode se tornar uma família. A ótima atuação é um dos pontos que mais chama atenção e fator principal para a conexão entre o público e as personagens. Todas têm força própria, são intensas e dotadas de personalidades intricadas. Além disso, o roteiro nos deixa com os nervos à flor da pele, sendo emocionante, repleto de reviravoltas e bem amarrado. Um dos fatores que mais impulsionou o 100| zint.online

sucesso da série é a utilização de cliffhangers, um recurso de roteiro que na tradução significa “beira do abismo”. São mudanças na narrativa que colocam as personagens em auge de um conflito, quando tudo pode dar errado em um segundo. Metaforicamente, o roteiro está à beira desse abismo, e fisicamente o telespectador está à beira do sofá, com a respiração acelerada e mão parada na pipoca. A série é recheada de detalhes marcantes, como os olhares sedutores de Tóquio, a perspicácia de Nairóbi ou as perdas de controle de Berlim, assim como a curiosidade acerca de suas histórias e suas relações interpessoais, uma vez que é vetada a existência de vínculos sentimentais no grupo. O detalhe mais característico e emblemático da série são as máscaras. Nos momentos em que aparecem para a polícia ou para a mídia, todos os bandidos usam macacões vermelhos e cobrem o rosto com máscaras de Salvador Dalí, o pintor


catalão conhecido por suas obras no estilo surrealista. O rosto, que representa o crime, resume todo o plano e a narrativa da série. Assim como nas pinturas, o crime apresentado na narrativa extrapola a lógica apenas o suficiente para assustar, mas ainda se mantém legítimo o bastante para ganhar o coração do público. Quando a identidade de alguns assaltantes é revelada, eles param de usar as máscaras, e começam a revelar um pouco de suas histórias de vida, saindo do surrealismo e fazendo deles pessoas mais reais. Marcante é a palavra certa para descrever a trilha sonora, com músicas em espanhol, inglês, italiano e até português, do pop ao clássico. A faixas são precisamente bem colocadas, criando a atmosfera perfeita para o crime. Entre elas, a que mais se destaca é Bella Ciao (“Adeus, querida”, na tradução do italiano). A canção, símbolo da resistência italiana contra o fascismo, está presente nos momentos mais importantes da trama e se tornou o hino da produção, ficando na cabeça de vários espectadores. La Casa de Papel recebeu diversas indicações, ganhando prêmios como Melhor Roteiro no Premios IRIS e Melhor Direção nos Premios MiM Series. Ainda que não tenha sido divulgada uma terceira temporada, ficamos ansiosos para a chegada da segunda parte na Netflix, além de boquiabertos com a genialidade dessa série, que é sucesso e já tem lugar cativo no coração dos brasileiros. //


Sejam bem vindos ao Lugar Bom T E X T O e d i a g r a m a ç ã o //

vics

Nota do Editor: esta matéria contém leves spoilers.



D a e s q u e r d a p a r a a d i r e i t a , a s p e r s o n a g e n s T a h a n i , J a s o n , E l e a n o r , J a n e t, C h i d i e M i c h a e l

V Você já parou para pensar na possibilidade de realmente existir um Paraíso e um Inferno? Se sim, você acredita que iria pra qual dos dois lugares, baseado nas suas ações até agora? Mas e se, por um "erro de processamento", você acabasse indo para o lugar oposto daquele que você merece? Essa é a premissa de The Good Place, série do canal norte-americano NBC.

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Criada por Michael Schur (responsável pelas geniais Parks & Recreation, The Office e Brooklyn Nine-Nine), a produção segue a vida de Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), uma mulher que nunca foi boa por um momento de sua vida. Após morrer em um cômico acidente (ela é atropelada por uma fila de carrinhos de supermercado desgovernados), Eleanor descobre que existe sim um Paraíso e um Inferno. Porém, devido a um erro de processamento, ela foi mandada para o Céu, conhecido como o Lugar Bom, invés do Lugar Ruim, para onde ela realmente deveria ter ido. Agora, a personagem de Bell precisa continuar com a mentira e esperar que ninguém descubra que aquele não é o seu lugar. A série é uma maravilhosa e deliciosa surpresa da Fall Season 2017/18. Com 13 episódios em sua primeira temporada, o programa acompanha as desastrosas tentativas de Eleanor em aprender a ser uma pessoa boa e merecer o seu lugar no Lugar Bom, caso um dia venham a descobrir o erro. Logo, ela encontra e conta o seu segredo para Chidi Anagonye (William Jackson Harper), um


professor de Ética que não consegue tomar decisões sem antes passar um intenso brainstorm e (re) analisar cada uma de suas escolhas, sendo obrigado a aceitar o desafio de ensinar Eleanor em ser boa. A produção logo mostra uma trama mais complexa, mostrando ao telespectador que Eleanor não foi a única que teve o mesmo erro de processamento. Jianyu Li é um monge budista que adotou o voto de silêncio pro resto de sua vida. Mas, na verdade, Jianyu é Jason Mendoza (Manny Jacinto), um DJ amador, fã do time de futebol americano Jacksonville Jaguars, dançarino e vendedor de drogas falsas. Assim como Eleanor, Jason percebeu a falha e simplesmente continuou vivendo como Jianyu, sem saber exatamente o porquê.

"The Good Place" faz bom uso de seu talentoso elenco, dando a cada personagem espaço para se desenvolver e criar uma conexão com o público, tornando improvável que o telespectador não se apaixone por cada um deles

bell é responsável por uma das personagens mais e n g r a ç a d a s e c a r i s m át i c a s, e s ta n d o m u i ta s v e z e s p*** da vida por não poder falar palavrões devido a u m f i lt r o d e b o a s m a n e i r a p r e s e n t e n o l u g a r b o m


na sé ri e, a at ri z M aya R u d o lph par ti c i pa da reta f i na l da se gunda t emp orada c o m o u m espé c i e de j u í za ab s olu ta par a t odos os as s u nto s r e fe rent es ao al ém ( co m o se fosse deu s em p es s oa)

Na trama, ele é a alma-gêmea designada de Tahani Al-Jamil (Jameela Jamil), uma poderosa e rica filantropa paquistanesa. Eventualmente, Tahani se mostra como uma típica mulher rica e privilegiada, que gosta de se gabar e enaltecer sua própria pessoa, alegando ser amiga íntima de inúmeras celebridades. O time ainda é reforçado por Michael (Ted Danson), o Arquiteto do Lugar Bom ao qual Eleanor foi designada. O ser celestial é como um grande anfitrião, apresentando o bairro para cada novo morador, assim como para todos os antigos inquilinos. Michael é acompanhado de Janet (D'Arcy Carden), uma espécie de

Inteligência Artificial onipresente cujo objetivo é ser a assistente pessoal de cada pessoa vivendo no Lugar Bom, tendo conhecimento infinito de toda a informação presente no universo arquivada no seu programa. The Good Place logo estabelece que é uma das melhores, mais bem elaboradas e

na s e gunda te mpo r a da , Jason Ma ntzo uka s é d e r e k, um a i e s túpid o e c r ia nç ão


mais bem executadas séries dos últimos tempos. O time de roteiristas não está para brincadeiras e vai tornando a trama cada vez mais complexa, cheia de cliffhangers inteligentes (e não apenas viewer-baiters) e plot twists que mostram um quadro ainda maior do que aquele já estabelecido. A deliciosa comédia passa de forma rápida e interessante, deixando o telespectador curioso e realmente interessado no próximo Capítulo. A série acaba se beneficiando de seu menor número de episódios, podendo não perder tempo em

sub-tramas que não adicionam nada à trama principal. Aqui, todos os arcos se ligam de alguma forma, e nada é deixado para escanteio. Ainda, o show conta com participações especiais de diversos rostos conhecidos, como Adam Scott, Dax Shepard (marido de Bell), Marc Evan Jackson, Jason Mantzoukas e Maya Rudolph. Embora não tenha sido nomeado em grandes premiações como o Primetime Emmy Awards, The Good Place ganhou o prêmio de Série Nova Mais Excitante (em 2016) e Melhor Ator para Ted Danson (em 2017) no Critics' Choice Television Awards. The Good Place teve o season finale de sua segunda temporada dia 1 de fevereiro, com uma terceira temporada já confirmada pela NBC e uma encomenda de 13 episódios (assim como as duas primeiras). O programa foi muito bem recebido pela crítica: o primeiro ano possui 91% de aprovação no Rotten Tomatoes e 71% no Metacritic, enquanto o segundo ano leva 100% e 87% dos críticos de cada um dos sites, respectivamente. A série é distribuída mundialmente para exibição pela Netflix, estando presente no catalogo nacional com os episódios sendo lançados com um dia de atraso. //

Mar c Evan Jackson é S hawn, o che fe de Mi c hael e supe rviso r de t odo o setor de Ar quitetos

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INDICAÇÕES

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sete FILMES DE TERROR PARA 2018 // T E X T O

gabi carbalho

// D i ag ra mação

» UNSANE estreia: março direção: Steven Soderbergh Razões para ver: Primeiro filme de terror do diretor vencedor do Oscar por Traffic (2001), foi todo filmado com a câmera de um iPhone e tem como protagonista Claire Foy.

VICS


» aniquilação estreia: março direção Alex Garland Razões para ver: Baseado na Trilogia Comando Sul, do escritor americano Jeff VanderMeer, o longa promete ser uma aventura de terror, trazendo em seu elenco Natalie Portman, Gina Rodrigues, Tessa Thompson, Oscar Isaac e outros nomes renomados do cinema norte-americano.

» Os Estranhos: Caçada Noturna estreia: março direção Johannes Roberts Razões para ver: Estrelando Christina Hendricks, Martin Henderson, Bailee Madison e Lewis Pullman, o filme foi escrito por Bryan Bertino e Ben Kentai. O longa traz a sequência do filme de 2008, Os Estranhos, dirigido por Bertino.


» Um Lugar Silencioso estreia: abril direção John Krasinski Razões para ver: O roteiro original do filme só continha uma linha de diálogo. Além de dirigir o longa, John Krasinski também atua como protagonista e, juntamente com sua esposa, Emily Blunt, compõem o casal do longa. A atriz Millicent Simmonds, que interpreta a filha, também é surda na vida real.

» Hereditary estreia: junho direção: Ari Aster Raz’ões para ver: O filme alcançou sucesso entre os críticos no Festival de Cinema de Sundance, sendo chamado de “o Exorcista da nossa geração” e traz Toni Collette e Gabriel Byrne no elenco.


» the predator estreia: setembro direção Shane Black Razões para ver: Originalmente concebido como um reboot da franquia de filmes O Predador (1987), o longa dirigido e co-escrito por Shane Black foi confirmado como uma continuação da saga, na qual também atuou. O filme trará em seu elenco os atores Jacob Tremblay, Sterling K. Brown, Olivia Munn e Boyd Holbrook.

» suspiria estreia: sem data de lançamento direção Luga Guadagnino Razões para ver: Inspirado no clássico de terror de Dario Argento, o longa, que herdará mesmo título em inglês, será repaginado pelo diretor. Jessica Harper, atriz que estrelou o original, retorna para o elenco, juntamente de Tilda Swinton, Dakota Johnson e Chloë Grace Moretz.



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tirinhas

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Era das Máquinas Rafael Rallo

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PLAYLISTS

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art ist as



tem รกti cas


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