zint edição #22: CAPITÃ MARVEL
MAR. 2019
e di to ri al
Mais alto, mais longe, mais rápido! A Edição de número 22 está entre nós e a Capa traz a mais nova Vingadora do Universo Marvel: Capitã Marvel, com a estreia de seu filme solo. Nas Highlights temos a análise de The Umbrella Academy e do mais novo álbum de Djonga! A publicação ainda traz matérias sobre o aclamado filme Nós, a estreia da série nacional Coisa Mais Linda, o retorno de Queer Eye e o aniversário de um importante álbum da Madonna! O Guia do Entretenimento traz novas três palavras para você aprender, enquanto o Calendário Cultural faz o lembrete de que abril tem a estreia de Shazam! e Vingadores: Ultimato! E não vamos esquecer da temporada final de Game of Thrones e um novo álbum de P!nk! Satisfeitos? Faça um bom proveito e boa leitura! <3
O QUê A ZINT TEM?
como uma publicação digital, as possibilidades de interações são promissoras. usando a plataforma ao nosso alcance, a revista sempre vem acompanhada de interatividade. aproveitamos de todos esses recursos e você pode usufruir de tudo sem muito mistério. »
paleta de cores;
para ficar fácil diferenciar as áreas de cobertura, cada uma delas possuem suas próprias cores, que ficam visíveis nas barras laterais da revista
vídeo;
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com uma revista de Cultura & Entretenimento, estamos sempre escrevendo sobre algo que possui um trailer ou um videoclipe, por exemplo. o ícone do Youtube é sempre visível para encontrar esse conteúdo audivisual. ao clicar na imagem, uma janela com o player será aberto e você poderá assistir ao vídeo!
se você está pelo app Issuu, é possível ler as principais matérias da Edição em versão “Stories”. na parte superior direita você pode ver um ícone de barras; basta clicar nele para ser levado para a área onde o conteúdo está em um formato de texto corrido
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algumas das nossas matérias vem acompanhadas playlists. quando isso acontece, eles são encontradas ao final da respectiva matéria. ainda, nas páginas finais de cada publicação, você pode encontrar todas as listas, com ícones para ouvi-las no Deezer, Spotify e Youtube
além do conteúdo audiovisual principal, as matérias contém outros tipos de links, como para páginas da internet, ou até mesmo outros vídeos e áudios. toda vez que essa identificação visual aparecer saiba que ela corresponde a um link. é só clicar!
rodapé;
o easter-egg da revista. no rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint.online sublinhado também é um link. neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog
colabs da edição a cada publicação, o nosso time de colaboradores muda um pouco
joão
vics
criador da revista; editor de conteúdo
criador da revista; diretor de arte
11 colaboradores participam dessa edição, com matérias sobre filmes, televisão e música!
clique aqui para ver todos nossos colabs
agnes nobre
ana luisa santos
bruna curi
carolina cassese
deborah almeida
guilherme luis
leonardo parrela
matheus leĂŁo
melissa vitoriano
rayanne candido
vitĂłria silva
agenda cultural as principais datas de estreias e lançamentos de abril [veja o calendário completo clicando aqui]
01
01
02
the twilight zone
ultraman
órfãos da terra
estreia da 1ªT
estreia da 1ªT
01
04
top chef brasil
shazam!
estreia da 1ªT
04
duas rainhas
estreia da novela (globo)
04
05
in the dark
free spirit
estreia da 1ªT
05
chilling adventures of sabrina estreia da 2ªt
khalid
05
kisses anitta
09
11
11
one punch man
de pernas pro ar 3
lutando pela família
12
12
Map of the Soul: Persona
Ventura
Anderson .Paak
14
15
19
no good nick
O Mau Exemplo de Cameron Post
23
25
estreia da 2ªT
estreia da 2ªT
estreia da 8ª e última temporada
Labrinth, Sia & Diplo Present... LSD LSD
BTS
game of thrones
12
Mortal Kombat 11
Nintendo Switch, PC, PS4, Xbox One
26
Hurts 2B Human P!nk
26
30
Love + Fear
The 100
Marina
estreia da 6ªT
vingadores: ultimato 30
Final Fantasy XII: The Zodiac Age Nintendo Switch, Xbox One
guia do en tre te ni men to
não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, podendo ficar sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados na área. por essa e outras, mês a mês, nos prontificamos a trazer três palavras, traduzidas, explicadas e exemplificadas
veja o dicionário completo
tracklist em tradução direta, o tracklist significa “lista de faixas”. sendo assim, constitui exatamente o que propõe-se: é a lista com as músicas presentes no respectivo álbum.
mockumentary o mockumentary é uma forma narrativa que simula e satiriza o documentário. a palavra é a união de duas outras, que em português significa “documentário de mentira”. geralmente, são usadas em produções do gênero de comédia.
hitmaker um hitmaker é o nome dado para aquelas pessoas capazes de produzirem e/ou comporem, com facilidade e agilidade, faixas que alcançarão grande êxito comercial, tornando-se um sucesso. geralmente, essas pessoas são as mais requisitas no desenvolvimento de um álbum, por acreditar-se que eles são capazes de dar ao artista pelo menos uma música famosa.
CONTEÚDO
filmes
16
Capitã Marvel Guilherme Luis p.22
p.28
p.32
Carolina Cassese
Rayanne Candido
Bruna Curi
p.26
p.30
Bruna Curi
Agnes Nobre
Nós
Suprema
A Caminho de Casa
Anavitória
Megarromântico
NA EDIÇÃO
televisão
38
The Umbrella Academy Vitória Silva p.42
p.44
p.48
p.50
Ana Luisa Santos
Agnes Nobre
Melissa Vitoriano
Leonardo Parrela
Coisa Mais Linda
Queer Eye
The L Word
The Newsroom
música
58
playlists
Djonga Matheus Leão p.64
Madonna Deborah Almeida
p.70
Todas as nossas listas musicais [ +2 ]
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filmes
]
por
guilherme luis diagramação
vics
CAPITÃ
MARVEL:
ZONA DE CONFORTO DE QUALIDADE 16
2019.
Ano em que o primeiro filme de herói concorre na categoria de Melhor Filme do Oscar. Pantera Negra (2018) foi um sucesso estrondoso e inesperado para a Marvel, contrariando um estigma que se criou por tanto tempo: o de que blockbusters protagonizados por negros, mulheres, LGBTQI+ ou representativos de qualquer outra minoria não teriam tanto público quanto os milhares de filmes protagonizados por homens brancos héteros cis. O filme não ganhou, mas deixou uma marca que deve mudar de vez a maneira como as gigantes dos cinemas veem essa questão. Capitã Marvel é o próximo (e atrasadíssimo) passo da Marvel, sendo o primeiro filme protagonizado por uma mulher dentre os 21 já feitos pela empresa. Vers (Brie Larson) faz parte da equipe de uma raça alienígena conhecida como os Kree, que vivem em guerra com os Skrulls (espécie que os fãs dos quadrinhos torciam para aparecerem logo no cinema). Após ser capturada durante uma batalha, Vers escapa e acaba caindo no planeta C-53, também conhecido como Terra. É aqui que a guerreira vai conhecer um Nick Fury (Samuel L. Jackson) muito mais novo e descobrir mais sobre essa guerra intergaláctica e sua própria identidade, já que não tem memória nenhuma do seu passado.
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O primeiro ponto a se destacar do filme é que ele de fato entende seu papel social. Não são erguidas bandeiras de feminismo de forma muito explícita ou didática, mas, ainda assim, a produção carrega mulheres (reais ou fictícias) que entendem a história (e a História) e não deixam a oportunidade passar em branco. Carol Danvers sempre fora desacreditada pelos homens da sua vida, mas nunca deixou de se levantar – ótimo momento com uma linda montagem de cenas, inclusive. Além disso, Capitã Marvel não esquece de adicionar outras mulheres à história: Maria Rambeau (Lashana Lynch) e sua filha Mônica 18 | zint.online
CAROL DENVERS, A PILOTA, E VERS, A LUTADORA KREE. NA SEGUNDA IMAGEM, BRIE LARSON POSA AO LADO DE JUDE LAW, SEU MENTOR NO FILME.
(Akira Akbar), que juntas à Carol formam uma família nada tradicional e cheia de amor. A história guarda
outras personagens mulheres importantíssimas, mas que não serão citadas para evitar spoilers.
Zona de conforto resume bem o que o filme é. Talvez o título Capitã Marvel frustre alguns por ser exatamente o que ele pretendia ser: divertido, colorido, engraçado e despretensioso, como qualquer outro filme da empresa. Ainda assim, o filme se arrisca em contar uma história de origem de forma não convencional. Carol Danvers não se lembra de seu passado e o fato de o público ir descobrindo junto com a personagem, gera curiosidade e é parte fundamental para um grande plot twist no meio do enredo. A virada é interessantíssima, tanto para antigos fãs quanto para quem nada conhece do universo da personagem. Falando nela, Vers/Carol/ Capitã Marvel não parece tão bem definida. Uma mistura de fatores como texto, diálogos, intenções e a atuação da própria Brie Larson fazem da protagonista uma personagem
inconsistente com o decorrer do filme. Enquanto há momentos em que ela se mostra muito dura e debochada, em outros ela assume um lado pastelão (ao imitar o grito de um vilão no meio de um duelo) que em nada combina com o texto apresentado anteriormente. Felizmente, o mais jovem e inexperiente Nick Fury faz excelente papel de balancear a dureza de Vers e protagoniza ótimas cenas de diálogo com ela. Ben Men-
NA TERRA, CAROL DENVERS REENCONTRA A AMIGA MARIA RAMBEAU E FORMA UMA AMIZADE INUSITÁVEL COM NICK FURY.
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A ZINT já fez outras publicações sobre a Marvel. Para ler todas as matérias relacionadas, basta clicar bem aqui!
delsohn entrega um chefe Skrull com ótimos momentos e tiradas. Já o general Kree, de Jude Law, decepciona por ser um personagem genérico e superficial – mais culpa do próprio texto do que do ator. O humor de Capitã Marvel pende mais pro exagero que pro equilíbrio. Como em quase todos os filmes do MCU, muitas das piadas não encaixam ou não cabem na ambientação da cena – principalmente as vindas de Vers. A gatinha Goose, porém, traz ótimos momentos à trama. Os efeitos especiais estão excelentes, quase sem falhas. A trilha sonora é acertada, com muitas mulheres dos anos 90. Figurino e cenários ajudam a compor a ambientação dessa década. Se passar nos anos 90, no fim, é muito mais um detalhe que um pilar da narrativa, então a obra depende muito menos da nostalgia como
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costumamos a esperar. Esse filme não é tanto de momentos grandiosos como foram os últimos da Marvel, de fato. Contudo, a experiência de muitos deve ter sido atrapalhada pela expectativa que o filme carrega em proceder Vingadores: Ultimato e que a própria personagem está carregando devido à cena pós-créditos de Guerra Infinita. Ainda assim, é uma história de origem decente, que cumpre seu papel de apresentar-nos essa grande personagem que ficou escondida por tanto tempo. Capitã Marvel acerta muito mais que erra. É consciente de seu tamanho, seu propósito e seu público. Os defeitos existem sim, mas como em qualquer outro filme. É preciso ter em mente que, pelo fato de ser muito representativo, o filme carrega uma responsabilidade social, mas que nada tem a ver com perfeição cinematográfica. É inegável que Pantera Negra tenha sido tão efetivo social e cinematograficamente falando, mas esperar que todos os próximos sejam assim é utópico demais. Carol Danvers teria feito muito bem a muitas meninas se tivesse sido lançada antes. Antes tarde do que nunca, mesmo assim. Que Vingadores: Ultimato traga uma personagem ainda mais consistente, bem escrita e entendida. E que ela dê a Thanos o que ele merece. //
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assustadores por
carolina cassese
epois do sucesso de Corra!, em 2017, o público e a crítica aguardavam com ansiedade o novo trabalho de JORDAN PEELE. Quando o elenco foi revelado, as expectativas só aumentaram. Nomes como Lupita Nyong’o, Winston Duke e Elisabeth Moss foram confirmados. O aumento no orçamento disponível para o diretor (de U$4,5 milhões, em Corra!, para U$ 20 milhões, neste) só fizeram com que muitos holofotes estivessem voltados para a produção,
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diagramação
vics
tornando-a uma das estreias mais esperadas de 2019. Em 21 de março, NÓS chegou aos cinemas do mundo inteiro. E Peele definitivamente não decepcionou. O diretor entrega um filme surpreendente, interpretativo, que mistura e subverte elementos do gênero terror, além de carregar diversas referências e críticas sociais (nem todas explícitas). A história, que se passa em 1986, é centrada nas férias de verão de uma família estado-unidense, formada pelo casal Adelaide (Nyong’o) e Gabe
(Duke) e por seus filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex). A personagem interpretada por Lupita precisa encarar o desafio de voltar em Santa Cruz, onde passou por uma experiência aterrorizante quando era criança. Em uma atração do parque de diversões local, cuja fachada é “Encontre a si mesmo!”, a garota se depara com o que parece ser justamente uma outra versão dela mesma. O encontro a traumatiza pelo resto da vida. Quando Adelaide retorna para o mesmo parque de diversões, tem início uma série de (aterrorizantes) coincidências. O terror ga-
nha forma quando o garoto Jason entra no quarto dos pais durante a noite e diz: “Tem uma família aqui na nossa garagem”. A relação dos personagens principais com esses intrusos (que se parecem muito com os próprios donos da casa) guia o restante do filme. O elenco de Nós merece um destaque especial. A expressiva Lupita Nyong’o é a dona do filme e captura o olhar do espectador de forma irreversível. Elisabeth Moss aproveita todo o seu tempo tela e entrega uma personagem vaidosa e intensa, ao passo que os atores mirins também não deixam a desejar. Shahadi Wright Joseph, a Zora, consegue ir muito além do arquétipo da adolescente rebelde. Vale lembrar que Jordan Peele apresenta uma significativa trajetória na comédia. Se em Corra! o personagem Rod (Lil Rel Howery) é responsável pela maioria dos alívios cômicos, em Nós esses momentos ficam a cargo de Gabe, o pai. Algumas falas podem parecer deslocadas, mas não tiram a tensão das cenas aterrorizantes. Pode parecer difícil imaginar que o cenário
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californiano é ideal para um filme de terror, mas Peele (assumidamente inspirado por Hitchcock, que gravou alguns dos seus clássicos nessa mesma região) não falha na missão de construir uma atmosfera sombria para o ensolarado local. Sua direção se mostra eficiente desde a primeira cena, quando a garota Adelaide se distancia dos pais e percorre um curioso caminho até a tal casa dos espelhos. Os movimentos de câmera, combinados com a fotografia e a trilha sonora, passam para o espectador uma sensação de estranheza e tensão crescente. O excelente uso da cor vermelha em momentos pontuais também é
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NÓS COMPROVA: O MUNDO É DE LUPITA NYONG’O E NÓS APENAS VIVEMOS NELE.
digno de nota, assim como o ritmo da produção. Mesmo não tratando da questão racial de forma explícita, Nós dá um passo importante em termos de representatividade. Segundo o próprio Peele, é como um cavalo de tróia (ou um “cavalo de tróia antirracista”, como definiu o El País), já que o público está vendo uma família negra como protagonista, mas não necessariamente precisa parar e pensar sobre essa questão em especial. “Esse filme não é sobre raça, mas existem tantas coisas nos EUA que são sobre raça. E esse filme é sobre os EUA”, garantiu o diretor, em entrevista ao site io9. A crítica que o filme faz à sociedade norte-americana pode ser percebida logo pelo título original (US, ou seja, United States). “Utilizo os Estados Unidos como alegoria, já que é um país repleto de medo do outro, do diferente, do imigrante. Quando esse medo nos move, somos incapazes de fazer uma autocrítica e a verdadeira ameaça se torna nós mesmos”, declarou o diretor ao El País. A frase “somos americanos” (que talvez seja explicativa demais), dita pelo clone de Adelaide em um momento crucial do longa, não deixa dúvidas sobre o alvo de Peele.
Há também claras alusões ao Hands Across America, evento beneficente que tinha o intuito de arrecadar entre 50 e 100 milhões para a caridade. A ideia era que milhares de norte-americanos dessem as mãos durante pelo menos quinze minutos e doassem uma quantia para os necessitados. Como recompensa, os participantes ganhavam uma camiseta comemorativa (peça que a personagem do filme Adelaide utiliza). Considerando que o evento foi patrocinado pelo então presidente Ronald Reagan, conhecido por suas políticas racistas e punitivistas, a manifestação como um todo parecia hipócrita – além de ter custado caro para os cofres e arrecadado bem menos do que o esperado. Do meio para o final do filme, pode-se perceber uma alusão ainda mais clara ao evento beneficente. Com o plot twist final, o espectador provavelmente ficará com vontade de ver Nós de novo para perceber os sinais e o jogo de percepção que o diretor cria ao longo da narrativa. Ademais, voltará para a casa com a cabeça fervendo, em busca de teorias que possam ocupar as lacunas que o filme propositalmente não preenche. No final das contas, Nós é definitivamente um filme sobre a sociedade norte-americana, mas também sobre nós, brasileiros (que tanto admiramos o “american way of life”); nós, seres humanos; nós mesmos e o outro. E sobre como somos frequentemente o nosso pior inimigo. //
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Lute como uma mulher por bruna curi
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d iagr am aç ão vics
o mês de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher e, coincidentemente, durante esse mês foram lançados filmes carregados de empoderamento feminino, com mulheres no papel principal, como foi o caso de de SUPREMA (2018). Dirigido por Mimi Leder, o filme traz no elenco Felicity Jones, Armie Hammer, Justin Theroux, Kathy Bates, Sam Waterston, Stephen Root, Jack Reynor e Cailee Spaney. Suprema é um filme biográfico que retrata a vida de Ruth Bader
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Ginsburg, interpretada por Jones, a primeira mulher a fazer parte da Suprema Corte dos Estados Unidos. Tudo começou no ano de 1956, quando Ginsburg resolve ingressar na faculdade de direito na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Por se tratar de um ambiente majoritariamente masculino, eram poucas as mulheres que estudavam direito naquela época e não demorou para que Ruth sentisse o sexismo na pele. Em sala de aula, a presença de uma mulher causa estranhamento para muitos, de forma que era comum ela ser questionada sobre o que estava fazendo ali: “Por que está aqui, Srta. Ginsburg, ocupando o lugar que podia ser de um homem?”
Apesar desses obstáculos, Ruth conta com o apoio de uma pessoa fundamental: Martin Ginsburg (Armie Hammer), seu marido. Assim como ela, Martin também estudava direito em Harvard. Ao invés de mandar ela desistir, ele lhe dá apoio, incentivo e a ajuda nesta luta. Em nenhum momento Martin tenta sobrepor-se a ela, ou “roubar o destaque” de Ruth; ele faz de tudo para ajudá-la e sem tirar o seu protagonismo. Ruth dedica seu trabalho à defesa das mulheres, lutando contra as leis diferenciadas com base no gênero. O filme mostra diversas leis que apresentavam distinções entre homens e mulheres, mas a mais marcante de todas é a que diz que o trabalho de cuidadores deveria ser realizado somente por mulheres, provando uma discriminação contra os homens. Dessa forma, Ruth Bader Ginsburg faz questão de procurar a Justiça para alterar tais leis, mostrando os efeitos negativos que elas tem para ambos os gêneros. A relação de cumplicidade estabelecida entre Ruth e Martin é interessante de observar, ainda mais levando em consideração o contexto da época. Ele reconhecia a inteligência de sua mulher e seu talento, e em nenhum momento tenta receber o mérito das ações. Além disso, também é inte-
ressante observar a relação entre mãe e filha, estabelecida entre Ruth e Jane (Cailee Spaeny). As duas têm um dos melhores embates da trama, incitando discussões sobre o movimento feminista e suas vertentes. O elenco do filme desempenha um excelente trabalho, com destaque para a performance de Felicity Jones. A atriz entrega com maestria o papel de uma mulher forte e confiante, que não se deixa abalar pelo ambiente hostil e dominado pelos homens. Ela é uma heroína do mundo real, palpável e que gera o sentimento de identificação para outras mulheres. Além de Jones, o filme traz outros destaques como Justin Theroux, Cailee Spaeny e Kathy Bates, que roubaram a cena em vários momentos. Suprema é um filme carregado de empoderamento, narrando a vida de uma mulher importante na luta contra a discriminação de gênero, uma pauta que até hoje é discutida. Apesar da evolução e das mudanças que foram feitas, ainda há muito mais o que evoluir. A luta é muito maior. O longa acaba sendo muito mais do que uma cinebiografia, indo além do que somente retratar a vida de Ruth Bader Ginsburg. Suprema traz à tona a discussão feminista, que coloca em pauta diversas questões e reflexões acerca do tema, que veio para inspirar milhares de mulher ao redor do mundo. //
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Laços afetivos que nem a distância desfaz por
rayanne candido
diagramação
vics
A CAMINHO DE CASA, baseado no livro de W. Bruce Cameron, acompanha a emocionante jornada de Bella (Bryce Dallas Howard), uma cadelinha que após
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ser separada de seu dono Lucas (Jonah Hauer-King), um estudante de medicina veterinária, embarca em uma viagem de aproximadamente 600 km para retornar a sua casa. Embora não seja difícil encontrar narrativas semelhantes ou, até mesmo,
imaginar o final da trama, é o percurso que faz toda a diferença. As produções que permeiam a história de caninos geralmente vem acompanhadas de um gatilho emocional e essa não seria diferente. Desde o início do longa, o telespectador já consegue se comover com Bella. Antes de ser adotada, a cadela vivia nas ruas sob os escombros de casas que estavam prestes a serem demolidas, ao lado dos felinos e a “mãe gata”. Quando Lucas decide leva-la para a sua casa torna-la parte de sua família, os dois passam a partilhar de aventuras e momentos incríveis. No entanto, a cidade de Denver é adepta de uma política em que cães da raça pitbull – o caso de Bella – são proibidos por questões de segurança. Por conta da pressão do controle de animais, Lucas decide levar a cachorrinha para longe dali, com o intuito de protege-la e ela não corra o risco de ser sacrificada. Porém, o amor e a lealdade falam mais alto e Bella resolve voltar sozinha para casa e reencontrar seu dono, comovendo todos que encontra em seu caminho. Ao decorrer de sua aventura, a cadelinha descobre vários cenários incríveis, cada um com sua peculiaridade, tornando tudo um verdadeiro espetáculo visual. Diversos personagens cruzam sua jornada, desde uma filhote de puma com quem cria uma profunda amizade, lobos selvagens – efeitos um pouco exagerados, em certos pontos chegam a parecer superficiais –, caçadores, até veteranos de guerra. A cada desafio, ela sente que está cada vez mais próxima de seu destino.
A narração de A Caminho de Casa é feita pela própria canina, dando um ar de diversão à história, uma vez que o telespectador acompanha a perspectiva não humana, ingênua e carismática da cachorrinha. E, como a forma de olhar as coisas é mais simples, o longa sutilmente dá visibilidade à temas importantes sem trata-los como elemento narrativo. É o caso do casal gay que acolhe Bella temporariamente, ou então determinadas frases como “isso é racismo canino”, o que provavelmente passa despercebido ao olhar infantil, mas marca presença para o público mais adulto. A trilha sonora é bem colocada e atinge as expectativas. É animada em momentos de descontrações – quase todos, ao se tratar de uma vida de cão – e consegue impulsionar a melancolia que é necessária nas cenas de distanciamento da cadelinha e de seu dono, principalmente quando ela está saudosista e começa a relembrar de tudo o que viveu ao lado dele, o que a motiva a continuar. A Caminho de Casa capturar a empatia do telespectador por envolver a história de uma jovem cadela e muito sentimentalismo. Apesar da história não ser inovadora, a trama reforça muitos pontos importantes como o amor, a lealdade e o companheirismo. Demonstra que com grandes mobilizações se alcança grandes mudanças. E ensina que existem laços que nem a distância desfaz, só basta querer. //
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Confira nossa Playlist temática da Anavitória.
DE TOCANTINS PARA O MUNDO por
AGNES NOBRE
O
duo ANAVITÓRIA é formado por Ana Caetano e Vitória Falcão, duas garotas de Araguaína, uma pequena cidade de Tocantins. A dupla iniciou a carreira em 2014, quando foram descobertas pelo empresário artístico e produtor musical Felipe Simas, que imediatamente se encantou pelo talento e a harmonia do dueto. Assim, a dupla
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diagramação
vics
lançou o primeiro EP Anavitória em 2015, marcando uma decolagem na carreira das artistas que conquistaram o Brasil com um estilo musical bastante autentico, conhecido como Pop Rural. Em 2016, o primeiro álbum completo, homônimo ao EP, veio ao mundo trazendo letras românticas irremediáveis e positivas, remetendo um amor leve de quem se ama apesar de qualquer coisa. Dentre as mais canções populares
estão Singular, Trevo (Tu), Agora Eu Quero Ir e Fica. No ano de 2018 trouxeram ao mundo o projeto O Tempo é Agora, álbum mais recente que fala sobre o amor de forma mais real e dolorosa. O disco foi apresentado e divulgado através do filme musical Ana e Vitória (2018), apresentando hits como Ai, Amor, Porque Eu Te Amo e Calendário. O DOCUMENTÁRIO Agora, depois de conquistar o Brasil, as meninas apresentam a vida que deixaram para trás quando adentraram a carreira musical. Em ANAVITÓRIA: ARAGUAÍNA – LAS VEGAS, documentário produzido pela Netflix, acompanhamos a vida no município tocantinense, a relação com suas família e as particularidades de uma vivência normal, sendo contraposta a vida de glamour que a rotina das artistas tem em turnês e nos palcos. Por meio dos relatos de seus familiares, vemos a experiência da transformação de duas garotas que antes não sabiam o que fazer da vida profissio-
nal, e, num piscar de olhos, se encontraram na música e se tornaram conhecidas em todo o país – e posteriormente, em pequenos passos, conhecidas pelo mundo. O crescimento de Anavitória se torna bem notável quando elas são indicadas ao Grammy Latino de 2017 em duas categorias. Na edição, o disco Anavitória concorreu na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo na Língua Portuguesa, enquanto a música Trevo (Tu), com Tiago Iorc (padrinho e produtor da dupla), ganha o gramofone de Melhor Canção em Língua Portuguesa. Mais tarde, a música premiada ganhou uma versão encantadora com o cantor português Diogo Piçarra. Apesar de ter menos de uma hora de duração, Anavitória: Araguaína – Las Vegas tem um objetivo bem simples: mostrar a trajetória das cantoras da cidade de origem até Las Vegas, onde ocorre o Grammy Latino. Mas, mais do que isso, o documentário procura compartilhar com todos a essência carismática das performers Anavitória e aproximá-las ainda mais dos fãs (conhecidos como Passarinhos), além de mostrar a simplicidade e leveza da dupla, que vem cativando todo o mundo. Uma alta, a outra baixa. Cachos e liso. Vestido branco e o outro preto. Elas são o oposto uma da outra, porém foram unidas pela música, por um sonho, numa cidade pequena. E pela característica leveza que espalham com suas músicas, elas cantam com seus pés descalços, sem medo de voar, acreditando no amor e nas pessoas. //
ANAVITÓRIA: ARAGUAÍNA – LAS VEGAS DISPONÍVEL PARA STREAMING NA NETFLIX. 2019; 50 min; Documentário zint.online | 31
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ISSO NÃO É UMA COMÉDIA ROMÂNTICA p o r bruna curi d iagr am ação vics
Você já imaginou como seria viver dentro de uma comédia romântica? Em um mundo que parece ser lindo e “cor de rosa”, com as pessoas cantando em momentos aleatórios e fazendo gestos grandiosos e românticos apenas para te conquistar? Essa é a premissa do filme MEGARRROMÂNTICO, dirigido por Todd Strauss-Schulson. Logo no início da trama, nós conhecemos Natalie (Rebel Wilson), uma arquiteta que não gosta de nada que envolva muito romantismo – ela abomina qualquer tipo de clichê dos filmes de romance. Esse pensamento foi construído ainda na infância da garota, enquanto ela assistia ao filme Uma Linda Mulher (1990). Ao ver essa cena, a mãe de Natalie faz questão de dizer que comédias românticas eram uma perda de tempo e que tais clichês apenas aconteciam com mulheres como a Julia Roberts:
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mulheres magras e esbeltas. Desde então, ela adotou uma postura mais cética em relação a qualquer coisa relacionada com romance. Era uma perda de tempo. Por conta desse seu comportamento, Natalie sempre foi muito fechada para as novas oportunidades da vida e nunca deixava alguém se aproximar dela. Mas, após sofrer uma tentativa de assalto e bater com a cabeça na pilastra, a sua muda radicalmente. É aqui que Megarrromântico entra em efeito: ela é transportada para dentro de uma comédia romântica. As ruas sujas e fedorentas de Nova York, se tornam limpas, cheirosas e são dominadas por uma paleta de cores no tom cor de rosa. Os homens olham no fundo dos olhos dela e a elogiam, enquanto as pessoas começam a cantar e a dançar no meio do nada. Seu apartamento, antes pequeno e feio, se torna grande e estiloso (até seu cachorro fica limpo), e o seu vizinho revela ser gay e disposto a ajudá-la em várias situações. E, claro, os palavrões são censurados. Natalie descobre então que foi parar dentro de uma comédia romântica, tudo o que ela mais detesta.
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Enquanto todos acham que ela está delirando, a única pessoa que parece acreditar nela é Josh (Adam DeVine), seu melhor amigo e colega de trabalho. Porém, justo quando estão tentando resolver esse problema, Josh tem um encontro inesperado com Isabella (Priyanka Chopra), uma modelo e “embaixadora do yoga”. Os dois começam a agir como se estivessem verdadeiramente apaixonados, como acontece nas comédias românticas, e Natalie é deixada sozinha para resolver o problema. Viver dentro de uma comédia romântica não parece ser tão ruim assim, de forma que Natalie resolve se arriscar nessa nova realidade. Ela dá uma chance para Blake (Liam Hemsworth), um australiano super rico que demonstra um grande interesse por ela. Até que os dois se divertem durante um tempo, mas algo parece estranho para Natalie, de forma que ela passa a correr atrás das respostas que estava procurando.
Megarrromântico é uma comédia romântica feita para criticar os clichês dos filmes de comédia romântica, o que é uma sacada muito engraçada e que rende momentos bem divertidos. Além disso, o filme também passa uma mensagem muito importante sobre amor e autoaceitação. O foco da película nunca foi encontrar um amor para Natalie, e sim ensinar ela a se amar. Toda essa transformação é necessária para que Natalie passasse a acreditar mais em si mesma, em sua capacidade e em seu potencial. O elenco do filme tem um ótimo desempenho durante a trama e é fundamental para ajudar a construir o humor da película. Outro aspecto positivo, que se destaca em Megarrromântico, é a direção de fotografia de Simon Duggan, que retrata a imagem positiva e sonhadora que as pessoas têm em relação a cidade de Nova York. O longa cumpre seu papel de ser engraçada, além de tratar outros assuntos como o amor próprio e a autoconfiança, trazendo uma discussão e reflexão interessantes. Megarrromântico é uma ótima opção de entretenimento para quem está a procura de um filme legal para assistir na Netflix. //
MEGARROMÂNTICO DISPONÍVEL PARA STREAMING NA NETFLIX.
2019; 1h28; Comédia, Comédia Romântica zint.online | 35
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televisĂŁo
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Uma série de super-heróis que não é sobre super-heróis p o r vitória silva
A
s séries de super-heróis não são nenhuma novidade na Netflix. Após ter produzido, em parceria com a Marvel, títulos como Jessica Jones, Demolidor e Justiceiro – todas elas canceladas – o serviço surge com uma nova aposta de adaptações de quadrinhos: THE UMBRELLA ACADEMY. Inspirada nas
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HQs criadas por Gerard Way e pelo brasileiro Gabriel Bá, a série conta a história de sete crianças com poderes grandiosos adotadas pelo bilionário Reginald Hargreeves (Colm Feore) para formarem uma academia de super-heróis. A trama se inicia um bom tempo depois do pequeno esquadrão ter cumprido diversas missões para
salvar o mundo. Com a morte de seu pai, os irmãos adotivos, pelo menos os que restaram, acabam sendo obrigados a se reencontrar após anos reclusos e distanciados vivendo suas vidas adultas. Além do mistério que rodeia a morte de Reginald, outros fatores como o retorno do Número Cinco (Aidan Gallagher) anunciando o apocalipse acabam desencadeando uma certa união entre eles, em meio a muitos desentendimentos. De início já é possível notar traços de personalidade bem distintos em cada um dos irmãos: temos o líder, o rebelde, o perturbado, o espertinho, a queridinha e a normal. Os flashbacks que mostram um pouco de sua infância nos permitem identificar os poderes de cada um, assim como o rígido e frio tratamento que recebiam do seu pai, fator que ajudou a criar os adultos problemáticos apresentados. E são essas personalidades conturbadas que humanizam as personagens e nos permitem nos aproximar e identificar
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com cada uma. Os defeitos e falhas em cada um, até mesmo no filho prodígio, não são escondidos em nenhum momento. Dessa forma, The Umbrella Academy torna possível, para o telespectador, se identificarmos com a família Hargreeves, comprando suas histórias e motivações pessoais. Isto se dá desde personagens como Klaus (Robert Sheehan), que nos conquista com seu bom-humor e seu triste romance no passado, e Vanya (Ellen Page), que nos trans-
mite um misto de raiva mas também de pena ao descobrirmos sua infância excluída por seus próprios familiares. Até mesmo os vilões da série fogem dos padrões ao qual estamos acostumados. Cha-Cha (Mary J. Blige) e Hazel (Cameron Britton) não carregam o tom frio e sombrio comum de ser identificado em dois assassinos de aluguel, a começar pelas máscaras que utilizam. Durante a sua missão para matar o Número Cinco, em diversos momentos ambos questionam o seu próprio trabalho, enquanto nos divertem com seus pequenos conflitos. Também é algo questionável dizer
A VERSÃO ORIGINAL DA THE UMBRELLA ACADEMY, EM QUADRINHOS. AS VERSÕES INFANTIS DA THE UMBRELLA ACADEMY.
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que eles seriam os grandes vilões da série, em meio à outros possíveis. Ademais do autoritário Sir Hargreeves, que pode ser considerado o vilão da infância das crianças, há também o apocalipse, vilão não materializado mas que se torna, de fato, o grande inimigo do grupo. Por fim, temos Leonard (John Magaro), que acaba por não ter uma trajetória bem construída na série pois entendemos suas motivações mas não o seu propósito final, que acaba sendo deixado em aberto. Um ponto de grande destaque produção da Netflix é a constante presença de momentos non-sense. Nos deparamos com uma série que possui um mordomo macaco, uma mãe robô, um homem gorila e uma criança casada com um manequim, mas que não tem a mínima preocupação em explicar nada disso. E mais, não há apenas um enredo que envolva The Umbrella Academy, e sim, pelo menos, umas três tramas dife-
rentes. Contudo, o público não precisa se preocupar em entender ou acompanhar a narrativa, uma vez que o trabalho do roteiro é eficiente em embarcar o espectador na história, passando por todos esses pequenos detalhes aleatórios como algo completamente comum. A trilha sonora da série também merece uma atenção especial, contendo sucessos de The Doors e Queen. As músicas são devidamente selecionadas e dão um tom mais dinâmico e divertido para as cenas, como acontece quando Hazel e Cha-Cha perseguem o Número Cinco em uma loja de roupas ao som de Don’t Stop Me Now. Por fim, pode-se dizer que The Umbrella Academy de fato consegue inovar em meio ao universo das séries de super-heróis ao apostar em uma abordagem mais humanizadora. E faz isso sem seguir a morbidez das séries da Marvel ou o caricaturismo das série da DC, produzidas em parceria e exibidas pelo canal The CW. A trama finaliza com um ótimo gancho para uma segunda temporada e nos deixa ansiosos para descobrir mais sobre o universo criado por Gerard Way e Gabriel Bá. //
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THE UMBRELLA ACADEMY NA NETLIX.
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Reflexões necessárias ao som de bossa nova POR
ANA LUISA SANTOS
No último dia 22, a Netflix Brasil estreou sua mais nova produção original. COISA MAIS LINDA, já bastante aguardada pelos brasileiros, chegou cumprindo o que prometia e deu o que falar entre o público. Produzida por Beto Gauss e Francesco Civita, os sete episódios foram assunto na internet, colocando a produção nos tópicos mais comentados do Twitter naquele fim de semana. Coisa Mais Linda narra a trajetória de Maria Luiza (Maria Casadevall), uma jovem paulista que deixa o filho com os pais e vai para o Rio de Janeiro viver o sonho de abrir um restaurante com o marido. Chegando lá, descobre que ele fugiu com outra mulher, levan42 | zint.online
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do todo o seu dinheiro. É nesse contexto que ela precisa encontrar um novo propósito e se reerguer. O lugar onde seria o restaurante precisa de uma reforma e, por ser mulher, ela não encontra nenhum recurso ou ajuda. Para transformar aquele espaço no tão sonhado clube de música, Malu conta com sua força de vontade e a ajuda de suas amigas, jogando por terra toda aquela história de rivalidade feminina. Adélia (Pathy Dejesus) é a primeira a oferecer apoio neste momento. Negra e favelada, ela trabalha como empregada doméstica para sustentar a filha e a irmã. A personagem traz à tona todo o racismo presente na sociedade daquela época, e que persiste até os dias atuais, protagonizando cenas fortes e muito reais. Lígia (Fernanda Vasconcellos), amiga de
infância de Malu, é casada e sonha em construir uma família. A moça tem uma bela voz e adora cantar, mas se vê impedida pelo marido de fazê-lo. É aí que se concentra outro ponto de tensão da série: os relacionamentos abusivos. Já Thereza (Mel Lisboa) é uma jornalista que escreve para uma revista para mulheres, mas que é produzida quase que totalmente por homens. Além de ser uma mulher independente, livre e pensar à frente do seu tempo, ela vive uma relação aberta e transparente com o marido. É nesse contexto que a trama de Coisa Mais Linda se desenrola. Enquanto cada uma lida com suas questões, elas se unem, mostrando como as mulheres evoluem e ficam cada vez mais fortes quando contam com o apoio umas das outras, desfazendo a ideia da rivalidade feminina. Com figurinos impecáveis e ótima atuação, a produção surpreende os brasileiros acostumados a criticar o que é produzido aqui. Ainda, a fotografia se destaca trazendo toda a cor e o calor do Rio, combinado ao tom vintage, conferindo a ambientação perfeita do final da década de 50 da Cidade Maravilhosa.
A trilha sonora brasileiríssima é um show à parte, já que a trama se passa na época do surgimento da bossa nova e faz referência a grandes nomes da música brasileira da época. No entanto, há uma clara separação de núcleos feita pela música, quando o cenário é a favela, a trilha é de samba, enquanto o jazz e a bossa dominam nos outros espaços, reforçando um estereótipo racista. Bem intencionada, Coisa Mais Linda se propõe a tratar de assuntos tabus, tanto na sociedade da época, quanto na atual. São muitas as questões polêmicas envolvidas, muitas delas tratadas de maneira bem leve. Por mais que seja ambientada há mais de 50 anos, a série trata de problemas reais da contemporaneidade, provoca a reflexão e abre caminho para as discussões, embora não chegue a se aprofundar. Em uma das cenas de maior repercussão, Adélia e Malu têm uma discussão onde a aristocrata é confrontada com a realidade da amiga, preta e pobre. Por vezes, além de carregar seus próprios dramas, Adélia ainda acaba sendo responsável por confrontar e trazer estas questões mais pesadas, principalmente diante dos chiliques da amiga. Coisa Mais Linda evidencia a evolução das produções brasileiras, que vêm melhorado cada vez mais e conquistando os espectadores, tanto no Brasil, quanto em outros países. O final é surpreendente e deixa a trama muito bem encaminhada para um desenrolar em mais episódios. A segunda temporada, no entanto, ainda não foi confirmada pela Netflix – por mais que seu público já esteja pedindo. //
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Ă&#x2030; hora de se amar agnes nobre diagramação vics por
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Os
Fab 5 retornaram na terceira temporada promovendo não apenas uma reforma na vida, mas também pregando a aceitação. Não é à toa que o trailer da temporada deixa claro que “essa é a temporada do amor próprio”, ilustrado ao longo de oito episódios. Vemos pessoas diferentes (conhecidas como Heróis), de culturas diversas e de pontos variados do estado do Kansas, mas que passaram por momentos difíceis na vida que vem as afetando de forma com que seja difícil seguir em frente e se veem sem opções. QUEER EYE estreou em 2018, teve duas temporadas no mesmo ano e agora estreia o seu terceiro ano. A série traz de volta Jonathan (Aparência), Antoni (Alimentação), Karamo (Cultura), Bobby (Design de Interiores) e Tan (Roupas) não só para proporcionar uma reforma externa, mas também procuram extrair do interior de cada participante o valor próprio, aceitação, busca da personalidade, identidade e autoconhecimento. A terceira temporada tem como seu maior foco a saúde mental, acima de qualquer questão mais estética e externa, fazendo jus ao slogan do programa “Mais que uma reforma“.
QE e comoção são sinônimos. Cada cena, mesmo em seus momentos de descontração, carrega muitas emoções vividas pelos perfis escolhidos pelos 5 Fabulosos. É satisfatório assistir ao programa e perceber os participantes superando seus obstáculos e encontrando a força que já tinham, mas que precisava ser despertada. Cada um dos cinco Especialistas tem seu dom, sua particularidade e usam isso para fazer o bem para a humanidade. O programa, que é um original Netflix e reboot de Queer Eye for a Straight Guy, é exuberante em aspectos culturais, não apenas por ser apresentado por cinco caras da comunidade LGBTQI+, mas porque são indivíduos incríveis que buscam quebrar os padrões de beleza imposta pela mídia. As transformações feitas não são forçadas e desconfortáveis para os participantes indicados, demonstrando preocupação, sensibilida-
A ZINT já fez outras publicações sobre Queer Eye. Para ler todas as matérias relacionadas, basta clicar bem aqui!
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de e combatendo a masculinidade tóxica – apontando isso em cada um dos homens que eles fazem o makeover, mostrando a importância em demonstrar emoções para uma boa saúde mental. Gratidão e a importância de valorizar suas origens são aspectos também bastante presentes nessa temporada de Queer Eye. Voltar ao passado e relembrar sem ter medo ou vergonha dele, abraçá-lo como forma de aceitação e superação são aspectos exuberantes bastante retratados ao longo dos episódios, deixando claro que “Pessoas são pessoas. Todos são capazes de mudar“. Os Cinco se apresentam bastante experientes e confortáveis em suas funções e também fora delas, visto que também passaram por dificuldades em suas vidas e lidam com elas até hoje. Dentre esses problemas, vamos eles falando sobre terem lidado com depressão, ansiedade, se
assumir para os pais, abandono da família e expulsão de casa, além de outros problemas familiares. Características e momentos infelizes que são importantes para moldar cada um deles, desenvolver suas respectivas personalidades e torna-los apropriados para orientar os Heróis da forma mais genuína possível. Sem auto depreciação, entender suas fraquezas e compreender que passar cinco dias sob a tutela do Fab 5 é um progresso, mas a mudança não parte só disso: cabe apenas si mesmo manter a transformação, que dura mais que apenas cinco dias. Se trata de ser bom com os outros e ter empatia – e, antes de tudo, ser bom consigo mesmo. Através disso, Queer Eye deixa claro que vai muito além de um programa de “reforma”. O Original Netflix vale muito a pena, funcionando tanto em momentos de descontração e entretenimento quanto para os mais profundos e de auto-análise. Resta apenas saber se seremos presenteados com mais uma temporada neste ano, como foi em 2018. //
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A DÉCADA DE
The L Word
S
endo um marco das produções audiovisuais, THE L WORD foi lançada no ano de 2004 no canal Showtime, retratando a vida e as relações de um grupo de mulheres lésbicas e bissexuais. Criada por Ilene Chaiken, a série durou até 2009, completando nesse mês de março uma década de seu término. O enredo de The L Word aborda assuntos comuns do cotidiano queer, dando destaque ao grupo de amigas formado por Bette Porter (Jennifer Beals), Tina Kennard (Laurel Holloman), Shane McCutcheon (Kate Moennig),
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por
melissa vitoriano diagramação
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Dana Fairbanks (Erin Daniels) e Alice Pieszecki (Leisha Hailey). Todas elas são mulheres de uma classe privilegiada de Los Angeles e compartilham suas vivencias. Com um ar de familiaridade, o grupo se encontra por vezes em um café chamado The Planet, propriedade de Marina Ferrer (Karina Lombard), uma mulher que possui alguns segredos a serem revelados ao passar dos episódios. O enredo da série gira em torno de uma “teoria” criada por Alice: todas as mulheres que se relacionam com mulheres estão ligadas por
pelo menos uma relação em comum, formando o que é conhecimento como Quadro. Essa “teoria” se torna algo acessível a toda a comunidade lésbica e bissexual, praticamente confirmando a tese de Alice quando as ligações de pessoa para pessoa não param de se formar. THE L WOMEN Os primeiros episódios de The L Word conta a tentativa do casal Bette e Tina de engravidar, mostrando a procura por um doador de esperma e a escolha de suas características para o bebê herdar, e assim, ter semelhança com o casal. Bette é diretora de um museu de artes de Los Angeles e nos mostra uma mulher de personalidade e ideias bem definidas, o que muitas vezes a deixa num papel autoritário. Tina é uma executiva que deixa seu trabalho para se dedicar a maternidade por vontade própria. Estando numa relação de oito anos, a história das duas as coloca em uma fase de dependência e acomodo na relação. O vizinho de Tina e Bette, Tim Haspel (Eric Mabius), é um homem hétero que convive bem entre a comunidade LGBTQI+. Jenny Schecter (Mia Kirshner), namorada de Tim, é uma mulher curiosa e uma escritora buscando autoconhecimento, tendo seu primeiro contato com o mundo homo ao se mudar para Los Angeles – uma perspectiva tratada com naturalidade. Jenny desperta o interesse de Marina em certo ponto da história, dando início a um questionamento sobre a sua sexualidade. A tenista Dana Fairbanks é uma jogadora em ascensão, criada por pais muito conservadores e a lésbica mais contida do grupo. Dona de um carisma sem igual, Dana é o ponto de alívio da maioria das cenas, trazendo sempre algo engraçado com certo nuance de ingenuidade. Shane é uma cabeleireira dona de um talento sem igual, tanto em seu trabalho como na vida amorosa. Carregando o papel de solteira desimpedida, é a sapatão mais
cobiçada da comunidade, mostrando sua liberdade e vontade de curtir a vida sem se prender em um relacionamento sério – pelo menos nos primeiros episódios da série. Jornalista e dona das cenas cômicas com sua curiosidade e sagacidade, Alice é dona do Quadro. Com o passar da série, ela se envolve com diversos tipos de pessoas e mostra que as relações podem sim ultrapassar a barreiras impostas por rótulos e determinações socionormativas. Além desse grupo principal, as temporadas consecutivas contam com personagens que agregam muito no enredo e no conteúdo informativo de The L Word, tratando de assuntos como transexualidade, mudança de concepções, aceitação, depressão e amizade. A série é uma importante produções televisivas, tratando do universo LGBTQI+ de uma forma mais sincera, além de mostrar realidades que muitas vezes são esquecidas pelos roteiros da grande mídia. UMA NOVA TEMPORADA Com seu retorno confirmado, The L Word terá oito novos episódios no final de 2019. O revival contará com pelo menos três atrizes da versão original (Jennifer Beals, Kate Moennig e Leisha Hailey), que também auxiliarão na produção dos capítulos. Em uma entrevista à Associação de Críticos de Televisão, em agosto de 2017, a criadora da série, Ilene Chaiken, disse que esses episódios não darão continuidade aos acontecimentos da sexta e última temporada. A produção ainda trará alguém que esteja mais antenada a atualidade da comunidade LGBTQI+ para a produção, o que é de grande importância para a adequação de um enredo que trate de assuntos contemporâneos. //
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UM OLHAR CRÍTICO E ATUAL PARA O
EXERCÍCIO JORNALÍSTICO por
leonardo parrela
d i agra m aç ão
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O
Jornalismo, provavelmente, é um dos campos mais romantizados na história da teledramaturgia. São muitos filmes, documentários, seriados e minisséries que o tema central envolve alguma ramificação da prática. Seja nos recentes Spotlight: Segredos Revelados (2015) e The Post: A Guerra Secreta (2017), ou no icônico Todos Os Homens do Presidente (1976), o exercício jornalístico sempre foi apresentado como uma possibilidade de justiça social e mudança no mundo, mas sem ser necessariamente problematizado. Atualmente, com o crescimento das ideologias e governos
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de tendências autoritárias, a popularização das mídias sociais e o desmantelamento de diversas instituições de poder, a imprensa tem encarado dificuldades não só na relação com as esferas políticas, públicas e sociais da contemporaneidade, mas também em sua própria existência. O seriado THE NEWSROOM, idealizado e criado por Aaron Sorkin, mente responsável por obras como Steve Jobs (2015), A Rede Social (2010), O Homem Que Mudou O Jogo (2011) e The West Wing (1999), é uma das produções audiovisuais que trata do jornalismo não só como meio, mas também como fim. Assim, a série mostra a cobertura jornalística de situações reais no fictício programa The Newsnight, da tam-
bém fictícia rede Atlantis Cable News (ACN). Em suas três temporadas, totalizando 25 episódios, Sorkin imprime sua identidade questionadora, ácida e irreverente para problematizar o exercício jornalístico, mostrando as virtudes e a importância de um jornalismo bem feito, questionando as escolhas anti-éticas do dia-a-dia da profissão e seus efeitos perante a sociedade, ao passo que também propõe uma análise crítica perante os EUA enquanto a dita nação da “líder do mundo livre e democrático”. GOOD EVENING, THIS IS NEWSNIGHT Centrada em Will McAvoy (Jeff Daniels), a série acomoanh o âncora do programa The Newsnight, líder de audiência do seu horário e que, reconhecidamente, apresenta um conteúdo jornalístico leve, que evita polêmicas e busca sempre não confrontar, deixando a imagem do apresentador intacta com os telespectadores e diretores da
ACN. Conhecido por ser o “Jay Leno dos programas de notícias“, Will tem sua personalidade transformada em poucos minutos de série, quando, em uma palestra universitária, ele foge completamente dos próprios padrões e dá uma resposta sobre o porquê os Estados Unidos não pode mais ser considerado como o melhor país para se viver no mundo. Após a resposta arrebatadora, Will é afastado temporariamente do programa, tendo uma grande surpresa quando retorna ao posto: o seu chefe, presidente da divisão de notícias da ACN, Charlie Skinner (Sam Waterston) contrata uma nova produtora para o seu programa sem o seu consentimento, a jornalista MacKenzie McHale (Emily Mortimer). A tensão entre Will e Mac aumentam quando a nova produtora traz consigo uma nova visão para o noticiário. O programa agora tinha como objetivo sair do lugar comum, não ser mais tão “café com leite” e apresentar um produto que, nas palavras de McHale “seja algo que
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faça diferença na vida do espectador”. A mudança, bancada pelo chefe Charlie, incomoda e tira Will da própria zona de conforto, sendo o fio condutor principal da primeira temporada. A nova maneira de fazer o programa movimenta a redação e traz críticas ao modo como os noticiários reportam os fatos. Ao longo dos episódios de The Newsroom, o roteiro desvenda sua nuances ao se aprofundar em polêmicas e mostrar alguns processos de apuração de situações reais, como a explosão da plataforma de petróleo da BP no Golfo do México, a captura e assassinato de Osama Bin Laden e o atentado contra a então deputada democrata Gabby Giffords. É justamente a veracidade dos acontecimentos retrata52 | zint.online
dos na série que o texto de Sorkin encontra a acidez necessária para expor suas críticas, tanto no sentido jornalístico quanto na esfera da sociedade civil. Os episódios trazem à tona dilemas envolvendo a rapidez para divulgar a notícia, a necessidade de ser o mais assistido para ser o primeiro veículo a informar o fato ou então demorar um pouco mais no processo de apuração para ser mais certeiro no que se informa. O ponto alto desse dilema é no quinto episódio, quando o jornal passa pelo processo de verificação de informações se o atentado matou ou não a deputada Giffords, abrindo espaços para a interpretação do espectador até mesmo quanto a invasão da sociedade do espetáculo e do sensacionalismo dentro do
jornalismo factual. Os episódios carregam o espectador para a rotina da produção de um noticiário, mostrando as situações de traquejo com as fontes, respeitar o que é dito nas entrevistas e o que é dito em off — e como tudo precisa ser bem encaixado para que não aconteça nenhum tipo de erro ou ruído na transmissão da informação. Além disso, mostra também como situações pessoais podem influenciar no trabalho, caso que acontece com boa parte das pessoas, e como isso pode refletir em erros que se tornam gigantes quando o assunto é Jornalismo, além das consequências que uma notícia erroneamente divulgada pode trazer. Seguindo a veia crítica de Sorkin, The Newsroom aborda as questões
políticas, econômicas e administrativas que envolvem toda a cadeia produtiva de material, conteúdo e informação veiculado por um meio de comunicação, evidenciando como os interesses de seus donos e empresários perpassam pela decisões editoriais dos jornalistas. Descontando os contornos dramáticos, próprios da ficção, essa situação faz o espectador refletir sobre como e quais fatos são abordados para a realização de um telejornal. Cada temporada é centrada num dilema envolvendo a maneira como o jornalismo é praticado, refletindo uma situação real. O segundo ano se desenvolve ao redor de dois temas: as Eleições americanas e uma investigação sobre a atuação do
exército norte-americano. Quando o assunto são eleições, a série problematiza a ética jornalística e os limites da liberdade editorial, sempre tendo o propósito de informar o que o telespectador precisa saber para influenciar o voto. A questão debatida volta sempre para uma das bases instituídas pela produtora Mackenzie McHale, ainda no primeiro ano da série: “qual é o tipo de informação necessária para formar o voto de um cidadão?” e “O programa está sendo parcial ou apenas estão reportando os fatos?”. Essas questões se desenvolvem paralelamente com o único tema fictício tratado nas notícias: a Operação Gênova (que é inspirada na cobertura jornalística feita pela CNN da Operação Tailwind).
Nela, são questionados, além dos métodos jornalísticos, a credibilidade dos profissionais que delatam e que apuram as notícias envolvendo um possível crime de guerra do exército estadunidense. Há de se pontuar que na 2ª temporada, Sorkin não economiza na romantização das situações, mas ainda sem perder a sua essência, sustentada pelos diálogos longos, dinâmicos e diretos, marca registrada do roteirista. A atuação do elenco principal, que além dos já citados conta com Jim Harper (John Gallagher Jr.), Maggie Jordan (Alison Pill), Don Keefer (Thomas Sadoski), Neal Sampat (Dev Patel) e Sloan Sabbith (Olivia Munn), dão outro patamar para The Newsroom.
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Não só nas composições de personagens e na transmissão de uma realidade para pessoas que se entregam a profissão, mas a própria participação nos intensos e complicados diálogos de Sorkin exigem um trabalho preciso do elenco, que em momento algum deixa por desejar. Os alívios cômicos e o desenvolvimento das histórias pessoais dos jornalistas é usado com frequência, mas sem que haja um esgotamento ou que atrapalhe a dinâmica da série. O êxito reside na forma como que o texto da série permite que os personagens sejam bem trabalhados, com espaços para os seus dilemas pessoais e cada um com sua singularidade respeitada. NOVOS TEMPOS, NOVO MUNDO A terceira temporada levanta o debate sobre o “Jornalismo Cidadão” , isto é, quando pessoas sem a formação jornalística também reportam notícias. No mundo contemporâneo em que a produção e reprodução de imagens, conteúdo e informação está cada vez mais acessível e disponível a todo momento. Um “cidadão comum”, sem a formação especializada, pode apurar, entrevistar, escrever e informar os desdobramentos de qualquer acontecimento. Além disso, há o desenvolvimento de um caso
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de espionagem quando uma fonte anônima entrega a Neal documentos secretos do governo norte-americano, situação que remete a vivida por Edward Snowden. A última temporada, que conta apenas com seis episódios, é também o desfecho da trama que amarra o final da série, com os personagens completando seus respectivos arcos. No fim das contas, The Newsroom se assume como uma dramatização diferente das já propostas para o Jornalismo. Todas as questões levantadas pela série, sobre apuração de notícias, dilemas éticos e morais, limites editoriais e interesses mercadológico na produção de informação ainda se mostram muito atuais. A série convida o espectador a mergulhar nos bastidores do Jornalismo e faz com que reflexões sejam propostas a partir de cada situação enfrentada pelos profissionais da ACN. O debate sobre como o Jornalismo deve ser realizado é executado com maestria e, o
caminho seguido pelo noticiário, por meio das escolhas feitas no roteiro de Sorkin, dão a tônica do posicionamento sobre questões extremamente atuais. Qual o espaço que a empresa deve dar para o seu canal de notícias agir, mesmo que isso cause consequências no seu orçamento? O Jornalismo é definido pelo interesse público ou é ele o agente definidor deste interesse? Até onde o noticiário pode ir na seara do entretenimento e até onde precisa ficar na esfera noticiosa? As três temporadas de The Newsroom acendem esses debates que, cada vez mais, são questões contemporâneas. Talvez por questionar o método de construção do noticiário e até criticar outras emissoras, um possível rumor de reboot da série (já negado por Aaron Sorkin) causou um certo frisson entre os fãs. Afinal, quais seriam os eventos que a equipe cobriria? Vendo diariamente os noticiários, pensamos nos mais diversos. Como não teremos o prazer de assistir esse retorno ao mundo de The Newsroom, vale a pena rever (ou assistir pela primeira vez) e se permitir que este debate sobre Jornalismo e sua importância para a sociedade nos faça enxergar a urgência de repensarmos as relações políticas, sociais, econômicas e culturais de nosso tempo. //
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THE NEWSROOM NA HBO GO.
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DJONGA
ROUBA CENA EM LADRÃO por 58| zint.online
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eará, 13 de março de 1830, nasce Antônio Vieira Mendes Maciel. Posteriormente: Antônio Conselheiro. Apelido que ganhou graças às jornadas no Nordeste do Império do Brasil, onde conseguiu seguidores seduzidos pelo seu discurso e seus ensinamentos. Popular entre os pobres por libertá-los das influências e das explorações que sofriam de padres e grandes latifundiários, era respectivamente odiado por estes. Acabou sendo preso, injustamente, o que resultou em mais adeptos. Absolvido, iniciou seu feito mais famoso: ocupou, junto de seus companheiros, uma fazenda abandonada na região de Canudos, sul da Bahia. O local prosperou e incomodou os mais poderosos do País. A polícia fora enviada para resolver o obstáculo e foi facilmente derrotada. Temendo uma retaliação, a Coroa envia milhares de soldados em quatro campanhas para destruir o lugar. Conselheiro morre e o massacre popular vira página nos livros de história do Brasil, intitulado Guerra dos Canudos. DJONGA, nome artístico de Gustavo Pereira, escolheu a data de nascimento de Antônio Conselheiro (citado em Deus e o Diabo na Terra do
Sol), durante os últimos anos – 2017 a 2019 –, para lançar seus três álbuns de estúdio. O mais recente, LADRÃO, é uma produção da gravadora independente Ceia Ent. O rapper belorizontino classifica este como o seu melhor trabalho, contando como principal tema o resgate das suas origens. As 10 faixas do álbum denunciam o racismo, o machismo na perspectiva de um homem, o preconceito e a desigualdade de classes e o cotidiano na vida do crime, principalmente no tráfico de drogas. Também, exaltam seu trabalho, sua família e amigos, ancestralidade, sua comunidade e suas conquistas e o rap. Costume do artista, conterrâneos participam de seus trabalhos, como o coral Rosa Neon e Jacques Cigarra, enfatizando o conceito de resgate aos seus. “Arte é pra incomodar, causar indigestão”. É nas palavras do próprio artista, que podemos descrever a capa do álbum, com direção de arte e capa de Alvaro Benevente. A fotografia apresenta Djonga com um sorriso histérico, corpo ensanguentado, ofertando correntes de ouro
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e dinheiro na mão direita, e uma cabeça sangrando, vestida de um capuz utilizado nas cerimônias da Ku Klux Klan (movimento extremista que defende a supremacia branca através de atos terroristas), na mão esquerda. A cena conta com Dona Nadir, avó do Gustavo, sentada em uma poltrona vermelha, recebendo os “presentes”, com ar de satisfação. A faixa inicial, Hat-Trick, é produzida por Coyote Beatz e Thiago Braga, assim como o restante do disco – com exceção de Deus e o Diabo na Terra do Sol e MLK 4TR3V1D0. Hat-Trick faz referência ao próprio álbum, o terceiro do artista, já que a expressão é comum quando um jogador faz três gols numa mesma partida. Pedindo passagem, o rapper fala sobre a importância do seu trabalho, evidenciando as portas que ele vêm abrindo e as barreiras que vêm quebrando. Citando O Rei Leão, Djonga compara os problemas na infância de diferentes classes sociais: as mais privilegiadas sofrem por
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ficções, enquanto a realidade dos mais pobres são tragédias reais. Para compor a trama, a saída musical explica como crianças periféricas são rotuladas de ladrão, antes mesmo delas saberem o significado da palavra. Bené segue a beat e o flow de rap, com conteúdo semelhante ao dos funks conscientes. A faixa objetiva alertar aos jovens sobre a vida curta no narcotráfico: “São aviõezinhos, mas tão a caminho do World Trade Center / Todo mundo sabe que vai dar merda”. O eu lírico conta da sua própria vivência para mostrar que o crime não compensa, e que além de não ser lucrativo financeiramente, empobrece o espírito e mata. Djonga mostra que o caminho vai ser duro, mas que como Elis Regina, em Como Nossos Pais, a vida real, mesma que complicada, é melhor que a ilusão. Com teor mais romântico, Leal traz leveza ao álbum, com um relacionamento sincero, mostrando o cortejo a “musa”, mas de uma forma racional, sem promessas vazias. A primeira participação do álbum aparece
em Deus e o Diabo na Terra do Sol, com o carioca Filipe Ret e produção de JNR. O título apresenta os dois rappers, no qual Deus é Djonga, como o próprio se autodenomina em sua conta no Twitter , e o Diabo é Filipe Ret, “Eu faço parecer fácil porque eu sou o primeiro Diabo / Muito antes de Baco“. Os dois rappers mostram a realidade nas periferias, confrontando ideias políticos, como o conceito de meritocracia (“Meritocracia de pobre só se a frase for: ‘Morreu porque mereceu’”), a falsa criação de um inimigo para justificar atos e maquiar verdadeiras ameaças (“Comunismo imaginário num capitalismo real”), e até a delação dos crimes ambientais em Minas Gerais e a violência policial e militar (“É. Tamo coberto de lama perguntando quanto VALE / (…) Não é Eduardo e Mônica, é Brumadinho e Mariana / Na lama, indecência por grana / Aonde quem pensa apanha / Foda-se o capitão e o general”).
A ZINT já fez outras publicações sobre Djonga. Para ler todas as matérias relacionadas, basta clicar bem aqui!
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A voz suave do MC Kaio, marca registrada do cantor de funk de Belo Horizonte, retoma o estilo romântico de Leal em Tipo. O contraste das vozes dos intérpretes torna a faixa agradável, cuja trama é uma relação saudável e palpável – temática comum nas faixas de mesmo estilo de Djonga. A faixa-título conta com vários jogos de palavras para ilustrar a mensagem do álbum: o Ladrão é uma espécie de personagem real que utiliza de artifícios legais para fazer reparação histórica. No verso “Falar em carne, faço a preta ser a mais cara do mercado”, antítese a música A Carne, de Elza Soares, Djonga mostra como o seu trabalho tem valorizado a ponto de mudar as regras do jogo. Mas para o rapper o sucesso só adianta se ele puder dividi-lo, ressignificando o dinheiro, “Tiro onda, porque mudo paradigmas / Meu melhor verso só serve se mudar vidas”. Outro ponto importante destacado na faixa é a importância que ele alcançou no cenário musical. Antes mesmo do lançamento do álbum, Djonga já era o assunto mais comentado no Twitter. Evidenciando a metáfora do polêmico clipe, A Música da Mãe, explicada em: “Dei voadora na
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cultura branca”. Em Bença, os valores, feitos e ensinamentos de Dona Nadir são exaltados. Além da avó, Gustavo mostra a importância de ter crescido com o pai, que não foi comum a seus amigos de infância. Djonga queixa o abandono parental, na maioria pelos pais, recorrente no Brasil: “É triste ver que os moleques da minha quebrada / Não teve a mesma sorte que eu / Um pai presente, no país onde o homem que aborta mais / Vai entender, né?”. O conjunto – falas do filho e da avó; menções do Pantera Negra, filme premiado protagonizado por um super-herói negro,
referência na luta racial; e menções a antepassados – indica a importância das raízes na construção indenitária e de caráter. A oitava faixa, Voz, conta com a participação de Dougnow e Chris MC. A primeira parte é responsabilidade de Dougnow, focando na denúncia da alta taxa de mortalidade de negros no País, da falta de visibilidade dos casos e da desigualdade social e racial: “De acordo com as pesquisas era pra ser só o beat / (…) O crime não é chroma key / Vai achar bizzaro, as ruas do seu bairro não são como aqui / (…) Vão ver minha caveira, cinco irmãos do gueto e um Palio / É só rajada / O boy que bate, bate a BM não dá nada”. Os últimos versos mostram casos em que inocentes foram acusados sem julgamentos e responsáveis são inocentados. A diferença no tratamento deve-se as questões raciais e sociais dos personagens. O refrão fica por conta dos convidados, onde se destaca como o negro é estereotipado na mídia e nas ações policiais. A segunda parte fica por conta de Djonga, que reforça as ideias apresentadas antes e acrescenta como venceu e chegou
no seu patamar atual. MLK 4TR3V1D0 é uma releitura de Moleque Atrevido, de Jorge Aragão. Djonga ousa na sua versão a capella, adaptando o clássico do samba a sua realidade e mostra a influência do gênero no rap e sua importância. Em Falcão, o rapper alcança o topo, em uma mistura de autocrítica e crítica a cena do rap. O eu lírico vive a dualidade do seu sucesso e a incapacidade de mudar outras realidades. Mesmo diante das adversidades, ele não desiste e segue sua luta em busca de justiça e igualdade. “Eu sigo naquela fé que talvez não mova montanhas / Mas arrasta multidões, e esvazia camburões / Preenche salas de aulas e corações vazios”. Elis Regina é acionada mais uma vez, em Romaria, e cabe a ela encerrar a música e o álbum. Ladrão traz temáticas essenciais para a discussão da sociedade e de estereótipos no Brasil. Djonga, que vem melhorando a cada trabalho, eleva o rap e a música como manifestação artística. Que assim como Antônio Conselheiro vem ganhando seguidores e solidificando suas batalhas. //
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Like a Prayer:
um álbum que sempre precisará ser escutado
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m 21 de março de 1989, MADONNA lançava seu quarto álbum em estúdio e um dos mais importantes de sua carreira. Aclamado até hoje, LIKE A PRAYER foi, sem dúvidas, uma grande marca para os anos 80, tanto pela história que conta quanto pela revolução que a artista causou com ele. Após três álbuns lançados (Madonna, Like a Virgin e True Blue), Madonna já tinha certa abertura para ousar e trazer temas e performances mais polêmicas. Like a Prayer veio, com suas 11 faixas, trazer muita polêmica e atenção para a cantora – talvez justamente o que ela pretendia fazer. O timing da norte-americana para lançar foi perfeito e proposital, uma vez que reflete bastante o mundo de 1989. Mesmo quem não viveu nos anos 80, sabe como a época foi complicada pelo descobrimento da AIDS e seus desdobramentos. A infecção foi responsável por, lentamente ou não, destruir a saúde de diversas pessoas. Por
isso, começaram a surgir teorias que explicassem o motivo de algo tão devastador. Uma hipótese foi de cunho religioso, alegando que a AIDS seria uma punição divina, associada principalmente aos homossexuais. O disco de Madonna veio como uma forma de quebrar esse tabu religioso, e trouxe também discussões sobre empoderamento feminino e a luta contra o racismo. Essas temáticas estão ligadas às lutas das mulheres por igualdade social e liberdade sexual, além de toda brutalidade policial que os negros viveram nas épocas, junto com o preconceito contra os casais interraciais. A sinceridade e coragem de Madonna foram cruciais para que a obra tivesse o êxito que alcançou. A canção que dá nome ao álbum causa polêmicas em seu lançamento, repercutindo até os dias de hoje. O clipe é um choque tremendo para os conservadores e religiosos – não dá para beijar uma versão negra de Jesus e passar batido, certo? Na época, houveram
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A ZINT já fez outras publicações sobre Madonna. Para ler todas as matérias relacionadas, basta clicar bem aqui!
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duras tentativas de censurar Like a Prayer (música), incluindo a retirada da cantora como porta-voz da Pepsi. Contudo, nada foi suficiente para fechar as portas que Madonna abriu e, a partir disso, diversos outros artistas tiveram a coragem de criticar as religiões. Ao lado de Like a Prayer, Express Yourself também veio para tomar lugar permanente como música que mudou e inspirou pessoas desde o lançamento. Numa época de forte repressão contra as mulheres e a comunidade LGBTQI+, Madonna trouxe uma canção que serviu de mantra para empoderar e dar coragem para que as pessoas lutassem pelos seus direitos. Em suas 11 faixas, Like a Prayer traz sentimentos diversos. Além de todas as quebras de tabus e empoderamento, a artista também coloca diversos aspectos da sua vida nas canções. Ao longo do álbum, ela retrata a morte de sua mãe, o difícil relacionamento com o pai, detalhes da sua infância, a relação com os irmãos e violência doméstica. Todo o empenho da artista não foi em vão. Like a Prayer vendeu 15
milhões de cópias ao redor do mundo, ficou entre os 100 melhores álbuns de todos os tempos pela revista Time e ocupou o primeiro lugar da Billboard Hot 100 durante um mês. É por conta de todas abordagens e críticas que o Like a Prayer torna-se tão atemporal. Ainda que os tempos tenham mudado, muitas lutas sociais continuam permanecendo e as discussões trazidas pela artistas são tão atuais quanto no seu lançamento. //
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