zint edição #19: AQUAMAN
DEZ. 2018
e di to ri al
Permissão para entrar a bordo! O ano de 2018 chegou ao fim, trazendo consigo a última Edição do ano. Na Capa deste mês, Aquaman, aproveitando a estreia do primeiro filme solo live-action do herói. Com uma publicação mais enxuta, o único Highlight é a análise da primeira temporada de Titans! Mas além dos já citados, temos matérias sobre os filmes O Retorno de Mary Poppins e Bumblebee, e falamos sobre as estreias de Hilda e She-Ra e as Princesas do Poder, além do especial de Natal de O Mundo Sombrio de Sabrina! Como sempre, três palavras novas figuram no nosso Guia do Entretenimento. E o Calendário Cultural faz aquele serviço de te avisar que Janeiro é um mês cheio de lançamentos e estreias, com as últimas temporadas de Desventuras em Série e Gotham, além dos aguardados filmes Homem-Aranha no Aranhaverso e Vidro. E lembrando: a temporada de premiações televisionadas dá seu pontapé com o Globo de Ouro 2019, que acontece no dia 06 de janeiro! Boa leitura! <3
O QUê A ZINT TEM?
como uma publicação digital, as possibilidades de interações são promissoras. usando a plataforma ao nosso alcance, a revista sempre vem acompanhada de interatividade. aproveitamos de todos esses recursos e você pode usufruir de tudo sem muito mistério. »
paleta de cores;
para ficar fácil diferenciar as áreas de cobertura, cada uma delas possuem suas próprias cores, que ficam visíveis nas barras laterais da revista
vídeo;
stories;
com uma revista de Cultura & Entretenimento, estamos sempre escrevendo sobre algo que possui um trailer ou um videoclipe, por exemplo. o ícone do Youtube é sempre visível para encontrar esse conteúdo audivisual. ao clicar na imagem, uma janela com o player será aberto e você poderá assistir ao vídeo!
se você está pelo app Issuu, é possível ler as principais matérias da Edição em versão “Stories”. na parte superior direita você pode ver um ícone de barras; basta clicar nele para ser levado para a área onde o conteúdo está em um formato de texto corrido
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algumas das nossas matérias vem acompanhadas playlists. quando isso acontece, eles são encontradas ao final da respectiva matéria. ainda, nas páginas finais de cada publicação, você pode encontrar todas as listas, com ícones para ouvi-las no Deezer, Spotify e Youtube
além do conteúdo audiovisual principal, as matérias contém outros tipos de links, como para páginas da internet, ou até mesmo outros vídeos e áudios. toda vez que essa identificação visual aparecer saiba que ela corresponde a um link. é só clicar!
rodapé;
o easter-egg da revista. no rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint.online sublinhado também é um link. neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog
colabs da edição a cada publicação, o nosso time de colaboradores muda um pouco
joão
vics
criador da revista; editor de conteúdo
criador da revista; diretor de arte
13 colaboradores participam dessa edição, com matérias sobre filme, literatura e televisão, além de uma nova playlist!
clique aqui para ver todos nossos colabs
bruna curi
bruna nogueira
carolina cassese
clarice pinheiro cunha
debora drumond
deborah almeida
isabela oliveira
joĂŁo dicker
juliana almeida
melissa vitoriano
mike faria
vics
yuri soares
agenda cultural as principais datas de estreias e lançamentos de janeiro [veja o calendário completo clicando aqui]
01
desventuras em série
estreia da 3ª e última Temporada
03
03
dragon ball super broly - o filme
estreia da 5ª e última Temporada
gotham
06
06
wifi ralph: quebrando a internet
the golden globe awards 2019 07
08
brooklyn nine-nine
good trouble estreia da 1ªT
estreia da 6ªt
07
10
homem-aranha no aranhaverso
máquinas mortais
13
15
true detective
roswell, new mexico
estreia da 3ªT
17
estreia da 1ªT
17
vidro
como treinar o seu dragão 3
17
20
star trek: discovery
creed ii
estreia da 2ªT
25
25
dna
treat myself
27
28
29
rent: live musical
i am the night
kingdom hearts iii
25
resident evil 2 pc, ps4, xbox one
backstreet boys
estreia da 1ªT
31
boy erased: uma verdade anulada
meghan trainor
ps4, xbox one
31
vice
guia do en tre te ni men to
não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, podendo ficar sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados na área. por essa e outras, mês a mês, nos prontificamos a trazer três palavras, traduzidas, explicadas e exemplificadas
veja o dicionário completo
punchline basicamente uma piada, a punchline é um artifício cômico que, geralmente, conclui a piada como um todo. também, pode ser uma frase ou uma conclusão engraçada para algo que foi dito ou uma resposta para uma determinada situação.
cgi o CGI é uma abreviação para Computer Graphic Imagery, que traduz-se para Imagens Geradas por Computador. é, basicamente, todo e qualquer efeito visual criado, adicionado e/ou aperfeiçoado através de computação gráfica. em termos modernos, o CGI pode ser usado desde o mais simples efeito (como a adição de um animal, por exemplo) até aos trabalhos mais complexos, como a criação de alienígenas e outros mundos.
visual album o visual album traduz-se como “álbum visual”, sendo, basicamente, um disco que vem acompanhado de videos que ilustram o conceito por trás do disco. geralmente, o álbum visual dá título aos trabalhos que dão videoclipe a cada uma das faixas do trabalho, mas o mesmo nome pode ser dado para aqueles que acompanham apenas um curta-metragem para ilustrar o álbum como todo. Enquanto o Lemonade, de Beyoncé, é um visual album com clipes para cada uma das faixas, o BLUESMAN, do Baco Exu do Blues, possui apenas um curta-metragem.
CONTEÚDO
Fil mes
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Aquaman João Dicker
p.24
Mary Poppins Bruna Curi p.30
A Princesa e a Plebeia Deborah Almeida p.32
Bumblebee João Dicker p.36
O Ódio que Você Semeia Deborah Almeida p.40
Colette Bruna Curi p.44
Shiki Oriori: Sabores da Juventude Yuri Soares p.48
The Ballad of Buster Scruggs Juliana Almeida
NA EDIÇÃO
literatura
p.54
Fernanda Schindel Bruna Nogueira
te le vi são
62
Titans vics p.72
O Mundo Sombrio de Sabrina Carolina Cassese
p.74
p.76
Debora Drumond
Mike Faria
Baby
The Victoria’s Secret Fashion Show
p.80
p.82
Clarice Pinheiro Cunha
Carolina Cassese
Hilda
O Método Kominsky
p.84
p.86
Melissa Vitoriano
Debora Drumond
She-Ra e as Princesas do Poder
Apenas CÃES
p.88
p.92
Isabela Oliveira
Bruna Curi
Reta Final
Arquivo Morto
p.98
Todas as nossas listas musicais [ +1 ]
playlists
[
filmes
]
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UMA FANTÁSTICA AVENTURA CAFONA PELOS
SETE MARES por JOÃO DICKER diagramação VICS
Na Edição #6, nós falamos sobre a Liga da Justiça. Para ler a matéria, basta clicar aqui!
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Q Quando o primeiro trailer de AQUAMAN foi liberado, ficou claro que a DC Comics e a Warner Bros. haviam entendido que precisavam mudar drasticamente sua empreitada no cinema. Apesar de terem iniciado essa transformação em Mulher-Maravilha (2016), que já havia apresentado mais humor, leveza e menos sobriedade do que existia no universo criado a partir da visão de Zack Snyder, o filme do herói aquático abraça de vez a despretensão e a cafonice para entregar um filme que dosa com perfeição o quanto se deve levar a sério e o quanto se pode divertir com si mesmo. Essa característica, inclusive, é uma das mais latentes no longa. Aquaman é, sem dúvida nenhuma, um filme divertido, seja ele para o público ou para a equipe envolvida em sua produção.
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É justamente essa energia boa e alegre, personificada em seu protagonista e na performance de canastrão de Jason Momoa, que conseguem justificar e ressaltar perante um roteiro inconsistente e inchado. Naturalmente, o texto foca em apresentar todo o universo submarino e a mitologia dos Sete Mares por meio da história de Arthur Curry, filho da Rainha Atlanna (Nicole Kidman) com o pescador Thomas Curry (Temuera Morrison), que precisa retornar para o reino de Atlântida quando seu meio irmão Orm (Patrick Wilson), atual comandante da civilização submersa, decide iniciar uma guerra contra a superfície. Para evitar o conflito entre os dois mundos, o Aquaman precisa regressar para o reino e exigir seu lugar como herdeiro legítimo ao trono, impedindo que Orm coloque em rota seu plano de dominação.
Com uma premissa simples e tradicional, o roteiro usa de inúmeras convenções da jornada do herói para construir o arco do protagonista, como a negação de seu dever como "o escolhido"; o treinamento com um sábio para se tornar o herói (que aqui é trabalhado em flashbacks, também como uma
justificativa de que já havíamos sido apresentados ao personagem em Liga da Justiça); uma derrota em sua jornada que lhe faz pensar que não é capaz de superar seu antagonista; e também a aventura com diversas etapas e obstáculos que o fazem crescer e se tornar o grande herói pronto para a
Jason Momoa foi escolhido como o Aquaman quando o Universo da DC ainda estava em construção, sendo convidado por Zack Snyder para quebrar a imagem de bobão que o personagem possuia. Sua primeira aparição foi no polêmico Batman vs Superman: A Origem da Justiça, em 2016, logo depois sendo um dos protagonistas de Liga da Justiça, de 2017.
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Em Aquaman, Arthur e Mera entram juntos em uma jornada para encontrar o tridente desaparecido de Atlan, capaz de controlar os oceanos e que até então é tratado apenas como uma lenda.
derradeira missão. Há, também, muita exposição de conceitos para apresentar a mitologia dos Sete Mares e o contexto em que o reino submarino está mergulhado, além de conter um inchaço significativo que causa digressões, principalmente em toda a trama envolvendo o Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II). Apesar de ter uma origem sólida e bem construída, inclusive interligada a jornada do protagonista, o Arraia acaba sendo só uma ferramenta narrativa de obstáculo na jornada do Aquaman no mundo da superfície.
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AMBER HEARD no uniforme de MERA, personagem capaz de controlar a água com suas mãos
O tom divertido supera as fracas piadas do roteiro, que - com exceção de uma ótima brincadeira com o livro/filme do Pinóquio - não se sustentam como punchlines e também não funcionam na desastrosa relação entre Mera (Amber Heard) e o protagonista. Há uma falta de química gritante entre os dois, seja para sequências que exigiam um entrosamento cômico ou naquelas que demandavam um
apelo mais romântico e sensual. Apesar desta inconsistência, a narrativa se sustenta graças a energia divertida, descontraída e bem humorada da trama, carregada pela atuação canastrona de Jason Momoa e também pela cafonice assumida do longa. Se é evidente que o ator está se divertindo ao viver o personagem, a sensação é de que os roteiristas David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beal,
assim como o diretor James Wan, se permitem explorar dessa cafonice como meio para construir o longa. E como funciona! Dando vida à imensidão de conceitos apresentados, James Wan faz um filme de fantasia épico, tanto em escala quanto em tom, potencializando a diversão em uma jornada de aventura. O diretor, consagrado por criar algumas das principais franquias do gênero de terror dos últimos 15 anos (Jogos Mortais, Invocação do Mal e Sobrenatural), já havia mostrado suas habilidades como comandante de filmes de grande orçamento em Velozes e Furiosos 7 (2015), mas em Aquaman ele sobe um nível na escala de realizador. Wan trabalha as sequências de ação com maestria, usando de uma câmera móvel nas sequências em terra firme, que passeia pelo embate quase que como uma testemunha ocular do que acontece, tornando os confrontos em um ballet violento. Já as lutas debaixo d’água, assim como
Tanto nos quadrinhos quanto no filme, Orm é o principal antagonista da trama. Motivado pela poluição do mar causada pela superfície, ele tem o desejo de reunir os Sete Mares sobre o seu comando e usar o poder de Atlântida contra os humanos.
todos as cenas subaquáticas, são muito bem resolvidas quanto ao efeito estético de estar submerso e ganham uma conotação mais fantasiosa, permitindo uma engenhosidade maior do CGI e do tom épico. O diretor ainda guarda um climax verdadeiramente grandioso, digno de uma batalha de exércitos de filmes de fantasias medievais, como Senhor dos Anéis, mas submersa nos oceanos e recheada de criaturas marinhas grotescas. Há, também, um plano esteticamente muito bonito, em que o herói e Mera saltam adentro das profundezas do oceano empunhando um flare avermelhado, sendo perseguidos por um cardume de monstros marinhos em um movimento
PATRICK WILSON é ORM, também conhecido como Mestre dos Oceanos.
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O Arraia Negra é um dos grandes vilões do cânone de Aquaman, sendo um serhumano com uma super armadura fabricada com tecnologia de Atlântida.
YAHYA ABDULMATEEN II usando a armadura do ARRAIA NEGRA.
espiral que torna tudo coreografado com uma plasticidade arrebatadora. Assim como a direção, todos os aspectos visuais do longa compensam as falhas do roteiro por apresentar um universo submarino rico em cores e texturas. Cada um dos reinos possuem suas próprias características, que são apresentadas na transformação de conceitos em visual - sejam nas roupas, na arquitetura dos prédios, no tom das construções ou nas criaturas que são 22 | zint.online
utilizadas para combate. Não só as naves aquáticas têm formas e curvas inspiradas em animais marinhos, mas também possuem uma movimentação quase que orgânica, parecendo ser o resultado de tecnologias avançadas com uma inspiração no movimento natural destes bichos. O Reino de
Atlântida por si só é construído com um esmero visual altíssimo, mesclando um futurismo neon colorido com construções pitorescas e estruturas altas, vistas em filmes como Blade Runner (1982) e O Vingador do Futuro (1990). Seguindo o tom geral e explorando das falas engessadas do roteiro, o elenco assume também uma posição de diversão com as próprias atuações, se permitindo um exagero providencial para a construção dos personagens. Momoa pode não ser um ator com amplitude dramática, mas compensa no carisma, energia e simpatia, vivendo um Arthur Curry/Aquaman descolado e fanfarrão. Patrick Wilson entende o tom do longa e consegue usar do exagero na atuação para trazer peso e imponência a Orm/Mestre dos Oceanos, ao passo que Yahya Abdul-Mateen II garante intensidade e rancor a um Arraia Negra que acaba esquecido pelo roteiro, principalmente do segundo ato para a frente. Nicole Kidman e Willem Dafoe também sofrem com a falta de tempo de tela, mas mostram a que veio quando têm oportunidades. Ela captura a atenção com uma presença de tela forte e magnetizante, ele traz sobriedade e in-
teligência para um personagem fadado ao espaço de coadjuvante. Amber Heard claramente se esforça no papel de Mera e traz personalidade para a personagem, mas a heroína acaba com um papel dramático que constantemente relembra o protagonista (e o espectador) das responsabilidades e importância da procura pelo tridente, causando um ruído com todo o tom da projeção. Por mais falho e inconsistente que seja, Aquaman traz um frescor muito necessitado para o universo cinematográfico da DC Comics, seja em seu clima descontraído e sua qualidade despretensiosa, ou na riqueza de cores que dão um tom lúdico ao filme. James Wan entrega uma aventura envolvente e empolgante, respaldada por um Jason Momoa que personifica a essência do filme e do herói: um que se permite divertir enquanto salva o mundo. //
ATLANNA, mãe de Arthur e Rainha de Atlântida, ganha vida no corpo de NICOLE KIDMAN.
Atlântida é cheia de cores e vida própria. Os prédios do reino submerso são tecnológicos e com uma cor meio neon, além das formas que lembram plantas aquâticas e até mesmo determinados animais, como a água-viva. Os automóveis também seguem a mesma linha e alguns tomam formas de peixes. Por sua vez, o exército do local monta diversos animais, como tubarões, cavalos-marinhos e alguns mais exóticos e fantásticos.
MARY
POPPINS: PRATICAMENTE PERFEITA EM TODOS OS SENTIDOS por
BRUNA CURI
diagramação
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vics
H
Há 54 anos era lançado no cinema o longa MARY POPPINS, baseado nos livros homônimos de P.L. Travers e com Julie Andrews no papel da famosa babá. Na Londres de 1910, o banqueiro George Banks (David Tomlinson) e sua esposa Winifred (Glynis Johns) estão desesperados para encontrar uma babá para seus filhos, decidindo publicar um anúncio no jornal. George está determinado a encontrar alguém de punhos firmes para tomar conta de seus filhos, Michael (Matthew Garber) e Jane (Karen Dotrice), já que a última babá pediu demissão. Ao saber do desejo dos pais, Michael e Jane resolvem escrever também um anúncio listando as qualidades que a futura babá deveria ter: ser jovem, divertida e engraçada, o oposto que seu pai estava procurando. Furioso com o comportamento de seus filhos e as exigências deles, George rasga o anúncio deles e joga na lareira. Porém, milagrosamente, os pedaços do anúncio se juntam e voam até uma nuvem, onde uma pessoa especial e mágica pode ser encontrada: Mary Poppins (Andrews).
No dia seguinte, diversas candidatas aparecem na porta dos Banks para realizar a entrevista, apresentando o perfil descrito por George e sua esposa no anúncio. Mas um vento misterioso faz com que todas as possíveis candidatas acabem indo embora, restando apenas Mary Poppins, que usa seu guarda-chuva mágico para chegar até o local. Por sua vez respondendo o anúncio escrito pelas crianças, ela é exatamente o que Michael e Jane tinham imaginado; e apesar de algumas dúvidas, George concorda em contratar Poppins. Assim, a babá se torna a responsável por tomar conta das crianças, além de tentar tornar mais harmônica a convivência entre pais e filhos. Na época em que foi lançado, Mary Poppins foi um verdadeiro sucesso. O mundo ficou encantado com o filme da Disney, que mesclava músicas, coreografias e animação 2D. O carisma da babá mágica foi capaz de encantar a todos, chegando a render seis estatuetas do Oscar de 1965: Melhor Atriz para Julie Andrews, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição, Melhor Canção Original com Chim Chim Cher-ee e Melhor Trilha Sonora Substancialmente Original.
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ANTES E AGORA. ACIMA: EMILY BLUNT COMO MARY POPPINS AO LADO: JULIE ANDREWS COMO A FAMOSA BABÁ.
O RETORNO Agora, em dezembro, a continuação desta história chega aos cinemas de todo o mundo. O RETORNO DE MARY POPPINS se passa pouco mais de 20 anos depois do original, na cidade de Londres, refletindo os efeitos da Grande Depressão. Novamente, a casa dos Banks é o ponto central dessa história. Michael (Ben Whishaw) e Jane (Emily Mortimer) continuam morando na casa de sua família, mas as coisas não estão nada fácil para eles. Após a morte de sua esposa Kate, Michael fica desamparado junto de seus três filhos: John (Nathanael Saleh), Anabel (Pixie Davies) e Georgie (Joel Dawson). Para piorar, além de ter que lidar com a perda, Michael está correndo o risco de perder a casa após se afundar em dívidas. Se antes Mary Poppins (Emily Blunt) tinha ido à casa dos Banks a pedido das crianças, que escreveram um bilhete detalhando como seria a babá perfeita, agora ela retorna a vida da família sem nenhum pedido, simplesmente aparecendo quando vê a necessidade de ajuda. 26 | zint.online
Por conta da situação complicada, as crianças se mostram bastante céticas. Em um primeiro momento elas não acreditam na magia de Poppins, que passa a ter um papel fundamental para recuperar a doçura e inocência das crianças. Ela não está ali para educar ninguém, como fez com Michael e Jane há 20 anos, mas sim para trazer o espírito infantil puro e alegre àquela família. E para lhe ajudar nessa missão, Mary vai ser auxiliada por Jack (Lin-Manuel Miranda), o caris-
MARY POPPINS (1954) GARANTIU À DISNEY UMA INDICAÇÃO AO OSCAR DE MELHOR FILME, SENDO O ÚNICO FILME DO ESTÚDIO A GANHAR A COBIÇADA ESTATUETA DE OURO.
EMILY MORTIMER E BEN WHISHAW COMO OS IRMÃOS JANE E MICHAEL BANKS, RESPECTIVAMENTE
mático acendedor de lampiões, e Topsy Poppins (Meryl Streep), sua prima. Emily Blunt encarna com maestria o papel de Mary Poppins, interpretando a babá do jeitinho que tanto conhecemos e que foi imortalizado por Julie Andrews, mas ao mesmo tempo trazendo originalidade e sua própria identidade para a personagem. Lin-Manuel Miranda também se destaca ao interpretar o carismático Jack, trazendo todo seu conhecimento e dom para a musicais (vale lembrar que ele é a mente criativa por trás de Hamilton, um dos mais cultuados e premiados musicais da história da Broadway) tornando o seu personagem tão querido como o Bert (Dick Van Dyke), da produção de 64. Apesar do roteiro dar pouco o que fazer para Colin Firth, o ator também se destaca no papel de Sr. Wilkins, o ban-
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VOCÊ SABIA? Mary Poppins é uma série de oito livros publicados entre 1934 e 1988 pela escritora britânica-australiana P. L. Travers. Acreditando que um filme não faria jus à sua história (e odiando a ideia de um longa ou desenho animado com seus personagens), Travers se recusava a vender os direitos da série literária. O próprio Walt Disney foi responsável em negociar diretamente com Travers, e levou quase 30 anos para conseguir que a autora assinasse o contrato cedendo os direitos, que só aconteceu em 1961 – três anos antes da estreia de Mary Poppins. O negócio, no entanto, veio com requisitos: a autora exigiu que Walt desse a ela o poder de também aprovar o roteiro. Como trata-se de uma adaptação, é fácil perceber (para quem leu os livros) que há diversas mudanças ao longo do filme, que mistura diferentes aventuras dos oito capítulos. Uma das maiores, inclusive, refere-se à própria Mary Poppins, que no longa é retratada como uma personagem (muito) mais doce do que realmente é no material fonte. Ao longo da produção, Travers brigou com a Disney em diferentes momentos, como as cenas que misturam live-action e animação 2D – que ela queria tirar do filme. O relacionamento entre a escritora e o estúdio foi tão desgatante que, no final, ela não foi convidada para a première do filme em Los Angeles – recebendo o convite apenas depois de muita luta da parte dela. Eventualmente, em 1977, 13 anos após o lançamento do filme, Travers deu uma entrevista falando sobre o arrependimento por ter vendido os direitos de seus personagens, afirmando que o filme “não tem nada a ver” com seus livros. Em 1990, ela foi convidada como consultora do musical da Broadway inspirado na história de Poppins, onde uma das exigências foi que a equipe deles não poderia ter nenhum envolvimento com a produção da Disney – algo que acabou entrando em seu testamento, como uma cláusula para os direitos de seus livros. Mas como a Disney está fazendo O Retorno de Mary Poppins? O filme não é uma adaptação dos livros, sendo uma história inédita com os personagens – cujos direitos ainda estão nas mãos do estúdio.
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queiro ardiloso ambíguo que antagoniza o longa. Ainda menos que Firth, Meryl Streep tem uma pequena participação na película, mas marca presença ao protagonizar uma das cenas mais hilárias do filme. Já o elenco mirim (Saleh, Davies e Dawson) brilham dentro de uma narrativa que lhe exigem maturidade e presença de tela, uma vez que contracenam com atores mais experientes e talentosos. Os fãs de Mary Poppins também vão se emocionar com a pequena mas especial participação de Dick Van Dyke, que emociona a todos que conheciam o seu trabalho como o famoso limpador de chaminés Bert. Para o filme, o diretor Robert Marshall também chegou a convidar Andrews para fazer uma pequena participação em O Retorno de Mary Poppins, mas a atriz negou o convite. Segundo o diretor, a resposta
da veterana foi simples: “Este é o show de Emily e eu quero que ela conduza isso. Ela deveria conduzir isso. Isto é dela. Eu não quero estar por cima disso”. Por mais que O Retorno de Mary Poppins seja uma continuação da clássica história, muitas pessoas acabam confundindo com um remake devido às similaridades com o filme anterior. De fato, o longa carrega uma carga nostálgica, seja nos números musicais ou nas cenas, que são bastante parecidas – é como se estivessem fazendo uma referência ao primeiro filme. O Retorno de Mary Poppins peca em não apresentar muitas inovações e originalidade, mas são indiscutíveis os méritos do filme e o trabalho feito continua impecável. Com ótimas atuações, uma trilha sonora incrível, cenas divertidas e muita nostalgia, o longa consegue conquistar o público. É inegável o quanto a película é emocionante, trazendo ao público, novo ou velho, uma continuação à altura da tão amada babá. //
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Como de costume, os reinos do filme são lugares fictícios, mas seus nomes podem ser encontrados no mapa. Montenaro é uma vila italiana e Belgravia é um distrito londrino. Mas bem queríamos que existissem mesmo!
Um salve aos cliches de v
NATAL
por
A
deborah almeida
os amantes de filmes natalinos, a Netflix lançou um longa para aquecer os corações neste final de ano e renovar as esperanças. Para completar o combo clichê, A PRINCESA E A PLEBEIA ainda conta com personagens sósias e coincidências para lá de improváveis, do jeito que os românticos incuráveis amam.
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diagramação
vics
Esse interessante trabalho de atuação fica a cargo de Vanessa Hudgens, a eterna Gabriella Montez de High School Musical, vivendo aqui as duas protagonistas: Stacy De Novo e Lady Margaret Delacourt, que têm realidades completamente diferentes. Enquanto Stacy é uma talentosa confeiteira de Chicago, Margaret é a Duquesa de Montenaro, prestes a se casar com um príncipe que mal conhece. As duas se encontram quando Stacy, seu melhor amigo e sócio Kevin Richards (Nick Sagar), e a filha de
Kevin, Olivia (Alexa Adeosun), vão à Belgravia, uma semana antes do Natal, para participar de um concurso de culinária. Arrisco dizer que Belgravia foi o cenário perfeito para a história e deixou o romance ainda mais mágico, com direito a muita neve e decorações natalinas por toda a cidade, bem no estilo de O Quebra-Nozes. Após se encontrarem e reconhecerem a semelhança, a Duquesa propõe que troquem de lugar por dois dias, para que ela possa viver um pouco longe de tudo o que envolve a realeza antes que se case com Edward (Sam Palladio), príncipe de Belgravia. Apesar de ficar um pouco insegura, Stacy aceita e a história começa a desenrolar. A partir dai, a Duquesa tem um gostinho do que é viver como uma pessoa comum, sem todas as obrigações que a coroa trás
e podendo desfrutar do lado positivo do anonimato. Por outro lado, Stacy começa a trazer um pouco mais do mundo real para dentro do palácio, contestando diversos hábitos da nobreza e inspirando a todos ali à pensarem um pouco mais no próximo. Um dos principais problemas da trama do longa, dirigido por Mike Rohl, é o exagero de elementos e conceitos apresentados de uma so vez, criando uma rapidez incomoda no desenvolvimento. Juntar o concurso de confeitaria com a troca das meninas e suas respectivas adaptações às novas vidas deixou tudo um tanto quanto bagunçado, fazendo com que todos os fatos fossem passando muito depressa. O próprio concurso, que motivou a viagem e que causa o encontro, é deixado de lado e não se fez tão importante no desenrolar da trama. Claro que, como um bom filme natalino, A Princesa e a Plebeia tem um final extremamente provável e fácil de desvendar nos primeiros minutos. Não que isso seja um defeito, visto que a proposta é ser um conto de fadas natalino, sem quebrar corações ou expectativas. Não é uma narrativa para esperar reviravoltas enigmáticas, nem um roteiro impecável e desafiador. É apenas uma história gostosa de assistir no final da tarde, capaz de arrancar boas risadas e que enche o coração de sonhos. Quer algo que combine mais com o clima de Natal? //
A PRINCESA E A PLEBEIA DISPONÍVEL PARA STREAMING NA NETFLIX. 2018; 1h41; Comédia Romântica zint.online | 31
por
joão dicker
diagramação
vics
A volta as origens de
TRANSFORMERS 32
Q
uando o primeiro Transformers chegou ao cinema em 2007, o público que cresceu com o divertido desenho animado original do fim dos anos 80 pôde ter um gostinho do que seria um filme live action da batalha entre Autobots e Decepticons. Apesar de um primeiro filme divertido e com potencial para estabelecer uma franquia, a visão de Michael Bay à frente de todo o projeto nos cinemas trouxe uma proposta visual e narrativa que, mesmo com bilheterias expressivas em alguns filmes, não conseguiu sustentar uma construção de franquia coesa e verdadeiramente de sucesso. Depois de 11 anos de tentativas falhas de renovar a franquia, em filmes que exploravam de uma mitologia dentro do mundo dos Autobots e de sua relação com os humanos, a franquia Transformers finalmente parece entender o que precisa fazer para ter sucesso no cinema, e, porque não, fazer jus a um universo rico e divertido que marcou a infância de uma geração. Essa salvação é BUMBLEBEE, novo longa da franquia que chegou aos cinemas brasileiros em dezembro, apresentando uma história mais intimista e que evoca uma sensação nostálgica dos anos 80 para entregar um filme de ação divertido, espirituoso e que consegue renovar a franquia. De cara, Bumblebee já mostra a que veio com uma sequência que aquece o coração de qualquer fã que assistiu o desenho animado, trazendo vida aos últimos dias de uma Cybertron interessante e com sequências de ação que, apesar de breves, já estabelecem o tom do que vira pela frente: há uma troca das constantes explosões e dos cortes excessivos na montagem por uma
coreografia digital mais pensada e clara, tornando tudo mais vistoso e prazeroso de acompanhar. Esse domínio da direção para os embates é mérito de Travis Knight, diretor que assume o posto deixado por Michael Bay para trazer frescor a um universo que a muito tempo exigia uma renovação de conceitos e caminhos. Depois de um ótimo trabalho no incrível Kubo e As Cordas Mágicas (2016), Knight assume o comando da película trazendo um mantra: "menos é mais". É verdade que Bumblebee é o filme menos épico de toda a franquia, faltando claramente um grande escopo para tudo o que está jogo, mas a escolha por fazer um filme mais intimista e menos pretensioso é um acerto enorme para a produção. Apesar de não trazerem inventividade, as cenas de ação são envolventes, divertidas e bem dirigidas, permitindo que o espectador entenda o que acontece na tela também graças a um CGI bem trabalhado, dando vida e organicidade aos robôs. O design do robô amarelo que protagoniza o longa é um belo destaque do design de produção, que encontra uma mescla de uma pegada oitentista de um fusca amarelo com a tecnologia e simplicidade do Transformers mais fofo e carismático de todos. A personalidade do robô é, inclusive, um grande acerto do roteiro. Escrito por Christina Hodson, o texto acompanha a simplicidade visual das cenas de ação para uma história mais intimista e de menor escala, trazendo Bumblebee para a Terra como protetor do planeta, que pode ser a última esperança dos Autobots de encontrar um refúgio após fugirem de Cybertron. Quando é encontrado pela jovem Charlie (Hailee Steinfeld), uma garota deslocada que não se encaixa em sua família e em sua rotina desde que perdeu seu pai, o robô
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HAILEE STEINFELD E BUMBLEBEE EM SEU ICÔNICO FORMATO DE FUSCA AMARELO
volta a vida sem sua memória e sua fala (explicando o porque de sempre se comunicar pelo rádio nos primeiros filmes da franquia), precisando se encontrar para obter sucesso em sua missão. Dessa premissa, o roteiro passa a evocar o sentimentalismo nostálgico de longas dos anos 80, principalmente no que diz respeito a relação de Charlie com o robô, como no grande sucesso E.T.: O Extraterrestre (1982), além de utilizar da dinâmica disfuncional entre a dupla protagonista como o mote para a jornada de crescimento e encontro pessoal da garota, assim como é visto em O Gigante de Ferro (1999). Não que Bumblebee tenha o mesmo impacto e sentimento que estes outros dois projetos, mas existe personalidade e uma energia muito espirituosa neste longa, fazendo com que algumas digressões e excessos do roteiro sejam pouco caso para um filme que acerta em muitos pontos. Memo, por exemplo, personagem vivido pelo jovem Jorge Lendeborg Jr., 34 | zint.online
não funciona muito como o par humano da protagonista, mas rende algumas boas cenas de humor. O delirante cientista Powell (John Ortiz), existe claramente para ser o contra-ponto militar ao personagem de John Cena, mas cai em uma representação caricata e clichê de um cientista louco mergulhado nos estudos para a Guerra Fria, sem trazer nada de novo ou de divertido. Cena, por outro lado, traz muito carisma e personalidade para seu Agente Burns, que sem a energética e divertida performance do ator tornaria o militar em mais um clichê desnecessário do roteiro – que traz algumas bizarrices, como a representação datada de patricinhas fúteis do high school americano.
Contudo, mesmo que exagere um pouco na necessidade de personagens ou inclusões na trama principal, o roteiro acerta muito ao priorizar a dinâmica de Charlie e Bumblebee, explorando de uma relação divertida de aprendizado, crescimento pessoal e autoconhecimento. Cheio de personalidade em seu design, na forma como se movimenta e no comportamento assustado de uma criatura em um ambiente em que não está a vontade, o robô ganha carisma e entrega divertidas cenas de um humor físico. Por outro lado, Hailee Steinfeld brilha como protagonista, carregando as poucas cenas em que exigem de uma amplitude dramática mais presente, ao mesmo tempo que emana carisma e sensibilidade, tornando a relação da e Charlie e do robô ainda mais empática. Assim como a energia nostálgica e o design de produção, a trilha sono-
ra também tenta evocar uma vibe oitentista, mas não tem o mesmo sucesso que os dois primeiros. Ao recorrer a canções símbolos da época, mas que já foram exaustivamente trabalhadas em outros longas, a coletânea de canções não carrega a mesma personalidade que seus protagonista e que todo o filme têm, não funcionando também para a construção diegética nostálgica da película. Ao final, mesmo que com alguns pequenos deslizes, Bumblebee entrega o tão desejado e necessário frescor para a o universo de Transformers, abrindo a possibilidade para uma renovação da franquia e para uma exploração mais profunda de toda a vasta mitologia que envolve os seres de Cybertron. //
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por
deborah almeida
diagramação
VICS
Até onde vai o racismo? 36 | zint.online
“Faça o que mandarem você fazer. Mantenha as mãos à vista. Não faça movimentos repentinos. Só fale quando falarem com você”. Essas foram as instruções dadas pelos pais de Starr, protagonista de O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA, logo que a jovem completou 12 anos. As ordens são para o caso da jovem ser abordada por um policial, sendo um dos principais ensinamentos para a sobrevivência dos negros moradores do gueto – e que, neste caso, salvou sua vida um dia. Escrito por Angie Thomas e publicado em 2017, o livro ganhou neste mês uma adaptação para os cinemas, que traz vida a história de Starr (Amandla
O título foi inspirado no bordão T-H-U-G-L-I-F-E, do rapper norte americano Tupac Shakur (também conhecido como 2pac). Logo no início, Khalil explica à Starr que isso significa The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody. Nas palavras de Khalil: “O ódio que a sociedade nos dá quando somos pequenos morde a bunda dela quando crescemos e ficamos doidos”.
Stenberg), uma adolescente americana de 16 anos que mora numa comunidade chamada Garden Heights. Contudo, diferentemente dos outros adolescentes do gueto, ela estuda na Williamson, uma escola particular com alunos majoritariamente brancos. Por isso, Starr vive em dois mundos distintos e precisa encará-los de maneiras diferentes. A "versão de Williamson" preocupa-se em não ser “negra demais” e nunca usar gírias do gueto, enquanto a "versão zint.online | 37
de Garden Heights" esconde qualquer característica adquirida “dos brancos” e teme que seu pai descubra seu namoro com um garoto branco. Desde que foi para essa escola, Starr aprendeu que não deve misturar os dois mundos. Ainda que sua vida já seja bastante complicada, tudo piora quando seu melhor amigo de infância, Khalil (Algee Smith), é assassinado a sangue frio por um policial enquanto voltavam de uma festa. Para agravar a situação, ela é a única testemunha e, quando resolve depor, começa a ser ameaçada, tanto pela polícia quanto pelos chefões do bairro. Ela precisa então decidir se vai usar sua voz para lutar contra a injustiça que tirou a vida de Khalil ou se irá proteger sua vida e sua família. Dirigido por George Tillman Jr., o filme consegue passar de maneira bem clara a ideia principal do livro, falando de maneira crua e madura sobre o racismo e suas consequências pesadas na vida de milhões de pessoas, capaz de
Você lembra? Amandla Stenberg, a Starr, é a personagem Rue de Jogos Vorazes.
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acabar com a vida de uma pessoa. Por ser uma adaptação, alguns trechos e situações não foram colocadas nas telas, mas nada que prejudicasse a narrativa ou deixasse o roteiro incompleto. O trabalho do elenco, que ainda conta com KJ Apa (Chris, namorado de Starr), Russell Hornsby e Regina Hall, que vivem os pais da protagonista, é muito bom e o casting é feito com perfeição, encaixando os atores em seus respectiovs papéis. O grande destaque é Amandla, que no papel de protagonista não poderia representar uma Starr melhor. O Ódio Que Você Semeia não é um filme fácil de ver. É doloroso e violento, porém necessário de ser assistido por todas as pessoas. A história de Starr, infelizmente, não é única. Uma quantidade incontável de negros sofrem diariamente com o ódio de mundo racista. Justamente pelo mundo racista em que vivemos, é importante que todas as pessoas vejam para que sua mensagem seja transmitida devidamente. É um filme para chorar, arrepiar, sentir raiva e, principalmente, entender como o ódio pode ser prejudicial à sociedade.
O Ódio Que Você Semeia (livro) ficou em #1 lugar na lista do The New York Times por 50 semanas.
EXIBIÇÃO NO BRASIL Ainda que o livro tenha alcançado muito sucesso e as expectativas para a adaptação tenham sido grades, o filme não foi devidamente transmitido no Brasil. A exibição, a encargo da Fox Film Brasil, aconteceu em apenas 14 cinemas do país, sendo que sete deles somente na cidade de São Paulo. Não existe uma explicação plausível para isso, uma vez que uma grande quantidade de pessoas estavam esperando pela exibição e, inclusive, fizeram reclamações no perfil do Instagram da empresa. A má distribuição de filmes com assuntos de cunho social não é uma novidade no país. O filme Com Amor, Simon, romance com protagonista homosse-
xual, teve sua data de estreia adiada em duas semanas, também pela Fox Film. Novamente sem nenhuma justificativa, fica clara a marca do preconceito que perpetua no nosso país. //
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Colette:
o nascimento de uma escritora por
bruna curi
C
om uma carreira de 23 anos e papéis importantes, a atriz Keira Knightley é conhecida por atuar, principalmente, em filmes de época, como Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003), Orgulho e Preconceito (2005), A Duquesa (2008) e Anna Karenina (2012). Por mais que alguns papeis sejam parecidos, cada personagem sempre tem uma singularidade que se destaca e a atriz sempre se entrega aos papéis com grande maestria. Agora, em dezembro, o seu mais novo filme, COLETTE, estreou nos cinemas brasileiros. 40 | zint.online
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vics
O longa é inspirado na história da autora Sidonie-Gabrielle Colette (Knightley), ou simplesmente Colette, uma jovem francesa que vive no interior da França com seus pais, Sido (Fiona Shaw) e Jules (Robert Pugh). Porém, a vida da jovem escritora muda após ela conhecer Willy (Dominic West), um famoso escritor por quem se apaixona. Depois do casamento, o casal vai morar em Paris, que se destaca por ser uma cidade artística e intelectual.
Com o novo estilo de vida que levam na capital francesa, que exige gastos exorbitantes, não demora para que Willy comece a ter dificuldades financeiras. Então, para manter o alto padrão de estilo de vida que levavam, ele sugere que Colette vire escritora-fantasma – ela escreveria um livro, enquanto ele assinaria como autor. Apesar de se sentir insegura em relação ao assunto, Colette resolve aceitar a ideia e utiliza suas vivências e experiências da vida no campo como inspiração. É dessa forma que acaba surgindo o romance Claudine, publicado em 1900, se tornando um verdadeiro sucesso. Sendo um verdadeiro best-seller, é sugerido que uma continuação da história seja publicada. Acompanhando o sucesso, diversos produtos como cigarros, balas e roupas começam a levar
DOMINIC WEST E KEIRA KNIGHTLEY ESTRELAM COLETTE COMO WILLY E A PERSONAGEMTÍTULO, RESPECTIVAMENTE
o nome do livro, o que aumenta ainda mais os lucros do casal. Assim, Claudine se torna uma marca famosa, enquanto Willy é considerado um gênio. Com os problemas financeiros do casal no fim, a relação deles começa a se desgastar. Colette se envolve com Georgie (Eleanor Tomlinson), uma jovem recém-casada, e logo descobre que Willy também está se encontrando com ela, logo em seguida começando a se envolver com Missy (Denise Gough). Para a época, Missy podia ser considerada uma mulher peculiar: ela se veste como um homem, e seu corte de cabelo curto também segue o padrão masculino. Logo, Colette se vê interessada e fascinada por Missy, seguindo um relacionamento meramente sexual, sem nenhum tipo de compromisso. Contudo, não se pode negar a amizade que acaba nascendo entre as duas e Missy é a grande responsável em abrir os olhos de Colette para o mundo a sua volta, assim como para a angústia existente em seu casamento. A moça sabe que não foi Willy que escreveu Claudine e consegue enxergar a manipulação emocional que ele faz com Colette.
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DENISE GOUGH É A PERSONAGEM MISSY, PRIMEIRO INTERESSE AMOROSO DE COLETTE
Dirigido por Wash Westmoreland, de Para Sempre Alice (2014), o longa consegue retratar de maneira grandiosa a vida de Colette, fazendo jus ao trabalho da escritora francesa mesmo com uma trama de ritmo lento. Com um roteiro bem trabalhado, com personagens complexos e bem desenvolvidos, o filme conta uma história envolvente sobre transformação, liberdade e empoderamento feminino. É, facilmente, um dos melhores trabalhos de Knightley em toda sua carreira. Na película, ela consegue retratar muito bem a mudança
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sofrida pela personagem, que, de garota ingênua do campo, se torna uma mulher confiante e cheia de ideias; algumas à frente do pensamento da época. E toda essa transformação de Colette ocorre de forma ritmada com o roteiro do filme. Por sua vez, Dominic West representa um papel consistente do início ao fim. Por mais que seu personagem fale diversos absurdos (como a sua visão de que as mulheres são inferiores aos homens, exceto quando o assunto é traição; “os homens precisam disso, não são tão fortes quanto as mulheres”), é fácil perceber que ele acredita fortemente naquelas ideias. No geral, West e Knightley passaram grande credibilidade ao formarem um casal típico do século XX. Ainda, Colette faz um excelente trabalho na construção de Paris durante o
início do século XX – que por si só é bastante fotogênica, apresentando cenários belíssimos. Além disso, eles conseguem contextualizar muito bem toda a euforia envolvida na Belle Époque, período em que os avanços científicos e a arte (movimentos como o art noveau e impressionismo) foram exaltados. Os figurinos de Andrea Flesch ajudam a compor esse clima presente do século, sem contar que as roupas mostram toda evolução pela qual Colette vai passando. Colette vai muito além do que apenas retratar a vida de Sidonie-Gabrielle Colette. O filme conta uma história poderosa, emocionante e inspiradora (assim como a própria escritora e suas obras), sendo possível ver algumas questões atuais sendo abordadas, mesmo com uma ambientação na Paris do século XX – como o empoderamento feminino ou sobre relacionamentos abusivos. Com um enredo consistente do início ao fim, e ótimas atuações, a película entrega com peso na temporada para o Oscar. //
A COLETTE DA VIDA REAL NA PRIMEIRA IMAGEM ABAIXO, E A COLETTE DO FILME
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AMOR EM XANGAI
Shiki Oriori: Sabores da Juventude por
H
YURI SOARES
á pouco mais de um ano, a ZINT publicou uma matéria sobre o vigésimo aniversário da Netflix e seus planos de expansão. Sem perder tempo com grandes comemorações, a empresa anunciou no decorrer de 2017 estratégias para manter sua hegemonia frente aos demais serviços de streaming. E o serviço de streaming tem cumprido com o prometido. De janeiro a outubro deste ano, a Netflix gastou cerca de 6,9 bilhões de dólares na aquisição e produção de filmes e séries de diversas linguagens e gêneros. 44 | zint.online
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A empresa tem apostado em grandes nichos, principalmente no público fã de animes e demais produções orientais. Os lançamentos de animações japonesas na plataforma foram expressivos nos últimos doze meses. Compostos majoritariamente de títulos já consagrados em outras mídias, pode-se dizer que quase todos eles trouxeram resultados positivos à gigante de streaming, sendo que por outro lado o fracasso veio com as tentativas de reboot e adaptações live-actions, que até o momento não conseguiram agradar crítica e público. Algo que a Netflix parece ter como obsessão e tenta aprimorar.
O meio termo é tão singular que se resume a um longa: SHIKI ORIORI: O SABOR DA JUVENTUDE (também conhecido como Si Shi Qing Chun, título original em chinês, e Flavors of Youth, na versão internacional). A coprodução nipo-chinesa teve seus direitos de distribuição mundial adquiridos pela Netflix antes mesmo de estrear no Anime Expo Premiere, realizado em julho. Desenvolvido pelos estúdios CoMix Wave Films e Haoliners Animation League, o filme chegou ao catálogo da gigante em agosto e, apesar da divulgação modesta, ínfima pode-se dizer, as expectativas da empresa foram altas. A aposta no título foi estratégica: aproveitar do sucesso estrondoso de Your Name (2016), a maior bilheteria de todos os tempos no Japão, para emplacar mais um anime de grande retorno comercial. Shiki Oriori, era, até aquele momento, a mais recente obra da produtora CoMix Wave Films, responsável pelas aclamadas animações do japonês Makoto Shinkai, diretor e roteirista de
Your Name, O Jardim das Palavras (2013), Cinco Centímetros por Segundo (2007), entre outros. Contudo, a tentativa de surfar na popularidade de outro filme não funcionou muito bem, não conseguindo agradar o público como se esperava. O filme é uma antologia que tem como proposta enaltecer a máxima “a felicidade está nas coisas simples”. Ao contar três histórias cotidianas por meio de curtas ambientados em cidades da China, cada um de um diretor diferente (dois chineses e um japonês), o longa retrata de maneira nostálgica e sentimental as vivências simples da juventude pautadas em questões universais como comida, família e amor. O MACARRÃO DE ARROZ A primeira trama de Shiki Oriori gira, quase que exclusivamente, em torno do Bifum San Xiam, macarrão típico da cidade natal de Xiao Ming (Crispin Freeman). Narrada em primeira pessoa pelo jovem adulto, a história é ambientada na capital Pequim, mas as imagens que predominam são as lembranças de Xiao Ming no período da infância a adolescência. O enredo é interessante. A perspectiva de acompanhar o prato tradicional é relevante e se adéqua as fases vividas pelo protagonista. Por outro
O MACARRÃO DE ARROZ
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lado, peca pelo excesso de narração em off, resultando na escassez de diálogos. O personagem anuncia seus sentimentos a todo momento e as cenas pouco retratam a tristeza narrada, pois quase não recriam as situações que evidenciam a melancolia pretendida. O curta é o mais dramático dos três. A trilha sonora tem os característicos pianos e violinos em tom melancólicos, mais evidentes conforme a história se desenrola. Um tipo de música esperado para o desfecho previsível. Dirigido por Jiaoshou Yi Xiaoxing, O Macarrão de Arroz apresenta arte visualmente bonita. As cenas detalhadas do processo de preparo do macarrão são ricas em cores, provocam o apetite e mexem com os sentidos, pois fazem imaginar o cheiro e sabor da refeição. Quase um MasterChef em anime. NOSSO PEQUENO DESFILE DE MODA Dirigido por Yoshitaka Takeuch, diretor de CGI de Your Name, o segundo curta figura como o pior da coletânea. O enredo ambientado em Guangzhou, uma das maiores cidades do sul chinês, conta a história
das irmãs Yi Lin (Evan Rachel Wood) e Yi Lu – uma famosa modelo em crise e uma estudante de design aspirante a estilista, respectivamente. Aqui, obviamente, seria de se esperar que o que move a trama é a ligação das irmãs com roupas. Na prática, no entanto, as roupas são apresentadas em um plano de fundo sem muita relevância. A forma como as vestimentas são introduzidas passa a sensação de foram adicionados a trama quase que de última hora, para suprir a necessidade de algo simples e rotineiro, um dos temas de Shiki Oriori. Meio desnorteada, a história foca em clichês da indústria da moda, retratados diversas vezes em outras películas hollywoodianas. Lin sustenta todos os estereótipos de modelo egocêntrica e fútil. A crise por envelhecer em uma profissão que exige padrões de beleza desenrola o enredo, mas nada que surpreenda. O curta foge da premissa de retratar os aspectos culturais da China, mas, ao menos, apresenta um aceitável desenvolvimento de personagens.
NOSSO PEQUENO DESFILE DE MODA
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Se Takeuch tivesse investido mais neste último quesito, muito provavelmente o resultado para quem assiste seria mais satisfatório. AMOR EM XANGAI Última parte do filme, Amor em Xangai é situada, obviamente, em Xangai, a maior cidade da China. Obra do diretor Li Haoling, a história possuí a melhor enredo da antologia. Bem articulado, o curta apresenta Li Mo, Xiao Yu e Pan, três amigos de infância que se separaram após ingressar no ensino médio. Mas, tudo muda quando Li Mo, já adulto, encontra uma fita cassete com gravação de Xiao Yu, o grande amor de sua vida. Esse episódio alcança o que seu roteiro propõe. É uma ótima construção de romance, mesmo com os clichês do gênero. Além disso, assemelha-se muito com as obras de Makoto Shinkai. Compartilha das mesmas reviravoltas empolgantes de Your Name e Cinco Centímetros por Segundo. Assim como nos filmes de Makoto, aqui, as personagens não precisam verbalizar o que sentem. A história criada por Haoling é também a que melhor retrata
os fatos culturais, sociais e econômicos da China. Os desenvolvimentos urbano e tecnológico de Xangai, mundialmente conhecidos, não passam despercebidos nessa trama. Em certa medida são até criticados. Dentro dos padrões, as cenas desse romance são belas, de traços singulares. Apesar disso, a qualidade das imagens está um pouco atrás das grandes animações japonesas. Amor em Xangai tenta, mas não alcança com total maestria, o estilo seinen, que é aquele mais adulto com traços mais próximos do real. O que não diminui o valor do curta. CONSIDERAÇÕES Shiki Oriori: O Sabor da Juventude não atinge com totalidade o se propõe, entretanto mostra-se bastante eficiente em seu plano de fundo de anime turismo. Ao mesmo tempo que promove as cidades chinesas, o longa expõe e problematiza, mesmo que de maneira sútil, os contextos do processo de industrialização chinês. Apesar de fraco, consegue retratar a essência da juventude e, dependendo do espectador, pode ser uma boa opção de filme. Para os entusiastas de cultura oriental, com certeza vale a pena assistir, sem muitos compromissos. Sem sucesso popular, Shiki Oriori conseguiu se manter no meio termo entre as produções disponíveis no catálogo da Netflix. Além disso, é um aceno da empresa e do estudo japonês para o mercado cinematográfico chinês, o segundo maior do mundo. //
SHIKI ORIORI: O SABOR DA JUVENTUDE DISPONÍVEL PARA STREAMING NA NETFLIX. 2018; 1h13; Anime, Romance zint.online | 47
O novo velho oeste
por
The
THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS, o mais recente trabalho de Ethan e Joel Coen, os famosos irmãos cineastas estadunidenses por trás de filmes como Fargo (1996) e Onde Os Fracos Não Têm Vez (2007), trata-se de uma obra antológica composta por seis contos não relacionados entre si sobre o faroeste americano.
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JULIANA ALMEIDA
diagramação
vics
No entanto, indo muito além de um simples filme do gênero western, as histórias contadas durante o longa distribuído pela Netflix trazem as mais diversas reflexões sobre a vida, de uma forma tão mórbida que chega a ser até mesmo cômica. E nesse clima começa o primeiro conto, com o homônimo Buster Scruggs cantando enquanto cavalga pelo velho oeste com seu traje perfeitamente branco e sua fala cheia de sotaque. Embora Tim Blake Nelson nos apresente um personagem polido e engraçado, logo vemos o jogo mudar quando ele é ameaçado, deixando pelo menos uma dezena de cadáveres para trás e nos mostrando porque ele está sendo procurado nas redondezas. A rapidez de Buster pode servir
também como aviso sobre o desenrolar da obra que está por vir, sendo talvez esse o motivo de ter sido escolhido como o inicio. O telespectador deve ficar com os olhos abertos o tempo todo, ou perderá informações importantes para o entendimento do enredo dos contos a seguir. A partir desse momento, ainda na comédia, vemos Near Algodones, protagonizado por James Franco, trazendo a história de um ladrão de bancos que se dá mal ao encontrar um banqueiro extremamente armado. Rápido e sem grandes diálogos, essa narrativa dá o pontapé na mudança do humor para a melancolia, onde assistimos a espera da morte, que não parece ser tão bem vista pelo personagem como era para
JAMES FRANCO DÁ VIDA À NEAR ALGODONES, PRIMEIRO PERSONAGEM DO FILME
o protagonista anterior. Nesse conto também vemos pela primeira vez os nativos americanos dos Irmãos Coen, que não deixam de seguir a tradicional representação hollywoodiana de guerreiros sanguinários. Por fim, vemos o personagem cumprir seu destino que lhe foi fadado desde o inicio, desta vez, em frente a uma multidão aplaudindo. O conto seguinte já não tem o fundo de humor dos anteriores, mostrando um clima sombrio e gelado raramente associado ao oeste selvagem americano. The Meal Ticket conta a história da trupe itinerante de Liam Neeson, um homem calado responsável por cuidar do personagem sem pernas e braços de Harry Melling. Com uma atuação extremamente boa, Melling nos sufoca lentamente com as angustias de seu papel que
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transparecem muito bem no seu olhar durante toda a trama. Assistimos sua triste dependência com Neeson, que cada vez mais desumaniza o portador de deficiência, reduzindo-o diversas vezes a uma ferramenta para ganhar dinheiro. E é nesta mesma lógica assustadoramente apática do personagem que o conto tem um fim silencioso, onde é impossível não se incomodar com o triste fado de Harry Melling. All Gold Canyon, a mais reflexiva das narrativas apresentadas, traz a relação do personagem de Tom Waits com a natureza ao seu redor. Com paisagens estonteantes como pano de fundo, vemos o homem buscando um grande bolsão de ouro, atividade essa que levou as pessoas a habitar o oeste americano, e que se trata da caça da vida do personagem. Ao decorrer da história, vemos a ganância tomando forma em tudo que há de ruim nos homens, refletindo de maneira nociva na natureza. É nesse conto também que começamos a questionar se não foi um
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NO TERCEIRO CONTO DO FILME, TOM WAITS É O PERSONAGEM CENTRAL DA TRAMA
erro um filme, que tem como diretor de fotografia Bruno Delbonnel, não ter sido distribuído nos cinemas, já que as paisagens causam um impacto muito grande a aqueles que o assistem. O penúltimo e mais longo dos contos, The Girl Who Got Rattled, traz a história da jovem Alice Longabaugh, que viaja pelo oeste americano com seu irmão em direção ao casamento em que foi prometida. Durante diversas reviravoltas, a moça acaba sozinha em meio à caravana, com o cachorro e uma divida para honrar herdados de seu irmão. Com a história mais complexa entre todas as apresentadas no filme, o conto peca ao ter Zoe Kazan como protagonista, já que a atriz só consegue despertar alguma compaixão dos telespectadores em sua cena final.
Fechando The Ballad of Buster Scruggs, temos o conto com maior quantidade de diálogos entre todos. The Mortal Remains mostra um grupo viajando para um destino em comum, onde entre eles se encontram dois caçadores de recompensas que levam consigo um cadáver. Ao longo de toda a história observamos os discursos traçarem as personalidades que estão ali presentes e logo começamos a criar teorias de o que se encontra no destino final para cada um deles, destacando-se uma senhora que diz estar indo ao encontro de seu marido. É neste conto que percebemos se tratar realmente de um filme dos Irmãos Coen, já que os diálogos bem construídos, mesmo que sem muito objetivo, se mostram de forma mais explícita. Quando finalmente chegam ao
seu destino final, o fúnebre conto tem seu ápice em sua aura mística, encerrando o longa que se interliga pela morte. De uma maneira geral, The Ballad of Buster Scruggs trata-se de um filme muito bonito e bem construído. A ordem que os contos se dispõem é perfeita para que em momento algum o espectador deixe de sentir o clima cômico, porém mórbido que acompanha os personagens, e que traz uma representação completamente diferente das outras já vistas do tão conhecido velho oeste americano. Ao não lançarem a obra no cinema, entretanto, os Irmãos Coen correram o risco de terem desperdiçado ótimos enredos e uma belíssima fotografia que acabou reduzida a exibição nas telinhas. No entanto, o filme em si é bom o suficiente para que esqueçamos que estamos em casa e para que fiquemos imersos em seu universo. Para aqueles que buscavam mais uma tradicional obra Coen, não foi dessa vez que encontraram, porém é uma ótima parceria dos diretores com a Netflix, agradável para os olhos e intrigante para nossas mentes. //
THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS DISPONÍVEL PARA STREAMING NA NETFLIX. 2018; 2h13; Comédia, Drama zint.online | 51
[
literatura
]
Joana,
de Fernanda por
bruna nogueira diagramação
vics
Da empatia ao feminismo, Fernanda Schindel conta como é ser uma escritora de primeira viagem. FOTO DE BRUNA NOGUEIRA
“Já teve dias em que parece que tudo o que conquistou com tanto esforço se esvai por água abaixo? Quando tudo na vida de Joana aparentava estar indo bem, e ela se via bem-sucedida em seu trabalho e feliz no relacionamento amoroso, sua vida, de repente, é soterrada por dias de decepção e angústia. Uma separação repentina – e sem explicações – e uma tragédia que acomete a mãe de Joana afeta toda a família. Porém, no instante em que Joana se vê sem saída, acaba descobrindo uma luz, a força espiritual capaz de trazer ensinamentos valiosos, curiosamente surgida quando mais precisava, e por quem menos se esperava”. Essa é a sinopse do livro História de Joana, escrito pela brasileira de 27 anos, Fernanda Schindel, 54| zint.online
que publicou o primeiro livro que redigiu na vida em uma das editoras mais conhecidas no país, em
uma única tentativa. A autora nasceu em Porto Alegre, estudou teatro na faculdade e após uma vida inteira apaixonada por artes e por viver personagens, resolveu criar sua própria história e conta como foi o processo escrita como uma autora iniciante. Em seu romance de estreia, Fernanda apresenta uma mulher que tem tudo muito estável e muito certo até que um dia sua vida dela começa a desmoronar aos poucos. A escritora explica que a história é sobre “a realização de quando a gente percebe que está na hora de mudar, de se reinventar”. “Nesse mesmo momento em que ela perde o trabalho e o marido acontece uma reconexão com a mãe dela, ela havia se afastado da mãe dela por questões de opiniões contrárias e ela acabou afastando todo mundo da família dela. Quando ela se vê sozinha quem dá suporte é a família, então ela tem uma reconexão com a mãe e as irmãs. São coisas assim que eu acho que todo mundo passa pelo menos uma vez na vida e que são fáceis de se identificar.” Ao falar sobre como foi escrever seu primeiro livro, Schindel conta que sempre teve vontade e que constantemente tentou escrever, até mesmo quando era adolescente, mas sempre sentiu que
seu próprio julgamento era maior do que sua habilidade de escrever. “Eu sempre quis fazer isso e sempre tive diários de coisas escritas. Quando eu precisei passar por uma operação na coluna, pensei que seria uma boa hora para sentar e juntar umas histórias. Algumas eram da minha vida, algumas de pessoas próximas a mim e algumas eu exagerava e inventava um pouco e aí surgiram as personagens”. A autora explica que sentia vontade de falar sobre tudo e então começou a escrever muito. Diferente do que acontece com muitos autores, ela não passou pelo famoso bloqueio criativo – na verdade, foi o completamente oposto. Depois ter produzido bastante conteúdo, seu próximo passo foi fazer cortes para deixar a narrativa mais linear, com uma linha temporal dos acontecimentos mais clara. “Eu acho que no próximo livro eu vou fazer diferente, porque essas coisas de ter uma linearidade nas coisas me incomoda um pouco porque a gente não vive assim. A gente vive um dia e o outro dia pode não tem nada a ver com o que aconteceu antes, são coisas muito esparsas e pontuais que lá na frente a gente vê uma conexão, não é uma coisa tão óbvia assim. Então quero criar histórias mais cortadas ou histórias de várias pessoas”, afirma.
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PROCESSO DE PUBLICAÇÃO Para a autora de primeira viagem, a parte mais difícil da escrita foi valorizar o seu próprio trabalho. Ela também comenta que ainda tem se esforça para explicar a história, já que ele foi uma combinação de experiências pessoais tão significativas que seu maior trabalho antes de publicar foi cortar informações. “Quando eu achei que eu tinha terminado, a primeira coisa que eu fiz foi mandar para a minha mãe e para a minha irmã. A minha irmã nunca terminou de ler, mas a minha mãe leu e disse que eu tinha que tentar publicar ele assim. Aí eu decidi mandar para as cinco editoras que eu considerava as maiores – e a primeira que eu mandei já aceitou o livro do jeito que estava”, conta. A editora foi a Novo Século e o livro foi lançado sob o selo de primeiros livros de jovens escritores, conhecido como Talentos da Literatura Brasileira. Segundo a autora, a edição feita no livro foi mínima, já que ela cresceu lendo e sempre escreveu sobre tudo que lhe vinha à cabeça.
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Ao falar sobre o processo de publicação, Fernanda comenta que se sentiu mal orientada por parte da editora e lamenta a falta de um contato pessoal. “Eu não sabia nada e eu falei isso para a primeira pessoa que eu tive contato na editora. Aí eles fizeram tudo, da diagramação à publicação, mas eu acho que faltou um pouco me guiar, porque eu acho que eu faria algumas coisas diferentes. A única coisa que eu aprovei foram as capas. No final, eles não mexeram em quase nada, a não ser pontuação ou travessão, que eu não sabia muito. Mas quanto ao texto, eles não mudaram nada”, completa. Durante a publicação de História de Joana, Fernanda participou de algumas divulgações, mas diz que teve pouco contato com o público no geral, e recebeu mais retorno de seus amigos, familiares e conhecidos, que iam direto até ela para dar sua opinião. Após o lançamento do livro, a autora foi para o sul da França, encontrar com uma tia que mora na cidade de Seraincourt. Lá, ela se encontrou com outras mulheres que levam a
escrita muito a sério, em especial a literatura feminina. “Minha tia trabalha com cultura há muito tempo e está sempre inserida nesses grupos. Quando eu cheguei lá, ela organizou esse evento em que nós doamos uma cópia do livro para a biblioteca da cidade e em troca eu palestrei. Eu pensei que não ia ter ninguém né, ninguém me conhece e sou brasileira! Quando eu cheguei lá tinha algumas pessoas, inclusive a prefeita da cidade!”, conta Schindel. LITERATURA FEMININA E FEMINISMO Literatura feminina é uma literatura feita por mulheres para mulheres. Mesmo que não carregue a palavra "feminismo", o gênero textual está intrinsecamente ligado ao movimento de empoderamento delas. São autoras relatando sua perspectiva de vida enquanto mulheres através de personagens principais que quase sempre são mulheres, com o objetivo de gerar identificação direta ou indireta com o público feminino. Vale a pena lembrar que o gênero não exclui de forma alguma os leitores homens, apenas relata vi-
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vências e experiências com as quais outras mulheres compreendem em um conceito mais íntimo. “A palestra na França foi muito importante porque a gente concordou que um livro escrito para mulheres pode ser lido por homens, mas ele vai ser entendido melhor por mulheres. Apesar da gente buscar uma igualdade, as mulheres ainda hoje passam por coisas que os homens não compreendem, então como a gente ainda não chegou em um ponto de total igualdade e compreensão entre os seres, algumas coisas de contextos sociais e até mesmo na área de trabalho são entendidas melhor por mulheres”. O machismo impõe que mulheres se tornem mães e donas de casa, sempre pensando no conforto do outro. E a escrita, sob o ponto de vista da autora, pode re-significar isso. Muitas mulheres são criadas para cuidar do próximo, o que pode fazer
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FOTO DE BRUNA NOGUEIRA
delas serem mais empáticos, tornando-as capazes de entender melhor o problema do outro e escrever melhor sobre temáticas comuns e sociais. “Talvez seja uma questão cultural de criação, porque as mulheres praticamente em quase todas as culturas são produzidas para serem mães, então a gente tem que ter um conhecimento e uma relação empírica de se relacionar com qualquer ser e ajudar e confortar e dar carinho”, explica Fernanda. Ao falar sobre a melhor parte de escrever um livro, a autora fala justamente sobre esse sentimento de empatia e o quanto ele significa para ela. “O mais importante de todo esse processo foi que eu provei para mim mesma que as coisas que eu sinto podem ser identificadas por outras pessoas e que isso pode se transformar em inspiração e motivação, conseguir tocar pessoas para mim foi o melhor”. 58| zint.online
O CAMINHO PARA NOVOS ESCRITORES “Parece que eu fiz o movimento contrário, ao invés de conhecer a área para depois trabalhar nela, eu primeiro publiquei o livro para só depois conhecer a área. Eu tive muito contato com outros escritores, fizemos trocas de livros e a gente conversa, e eu vi que o que para mim basicamente não foi tão difícil, outras pessoas têm encontrado mais dificuldade." Publicar no Brasil não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se leva em conta a crise editorial que está tomando conta do país. Em 2017, a Cosac Naify, uma das maiores editoras brasileiras, fechou as portas. Em 2018, a Livraria Cultura declarou falência, embalo que pode ser seguido pela Saraiva que tenta sair do vermelho, com dívidas que chegam a R$ 675 milhões, fechando uma loja atrás da outra.
No dia 27 de novembro, o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, publicou uma carta aberta a respeito do atual cenário. “O livro é a única mídia que resistiu globalmente a um processo de disrupção grave. Mas no Brasil de hoje, a história é outra. Muitas cidades brasileiras ficarão sem livrarias e as editoras terão dificuldades de escoar seus livros e de fazer frente a um significativo prejuízo acumulado”, pontuou Schwarcz. Diante de números nada animadores no mercado editorial, a pergunta paira: E para quem escreve? O que resta? Luiz acredita que ainda há esperança para livros impressos e finaliza sua carta aberta pedindo que os leitores divulguem e comprem mais exemplares. “Divulguem livros com especialíssima atenção ao editor pequeno que precisa da venda imediata para continuar existindo, pensem no editor humanista que defende a diversidade, não só entre raças, gêneros, credos e ideais, mas também a diversidade entre os livros de ambição comercial discreta e os de ambição de venda mais ampla. Todos os tipos de livro precisam sobreviver”, afirmou. É preciso, no entanto, que se leve em conta que a crise que atinge as editoras agora é a mesma que vem afundando jornais e revistas no mundo inteiro. A tecnologia é vista por muitos como uma competidora desleal, mas é inegável a sua força. A venda e a divulgação de e-books tem sido cada vez maior, e é possível fazer dinheiro e uma carreira em cima desse meio. Não é atoa que o Kindle tem crescido cada vez mais no ranking de vendas da Amazon. O tablet de leitura se tornou até mesmo um veículo de publicação, publicando, no dia 4 de dezembro, uma coleção de 30 contos de autores brasileiros contemporâneos. É importante ressaltar que Fernanda Schindel tem apenas 26 anos e escreveu porque sentia que precisava escrever, e não porque tinha a certeza de qualquer retorno financeiro ou apenas
profissional. Não é um caminho traçado por muitos, mas talvez seja o melhor para quem sonha em ver um livro de sua autoria nas prateleiras de uma livraria. Enquanto houver leitores, haverá livros, seja qual for o formato. Se o mercado impresso está difícil, se lançar no mundo online pode acabar sendo até mais recompensador. Para jovens escritores ou para os amantes da literatura que não sabem por onde começar, Schindel deixa um conselho: “Comece a escrever por coisas com que você se relaciona, escreva da sua própria experiência, da experiência pelos olhos de outras pessoas, compreenda outros pontos de vista e coloque para tudo o que sentir. A gente sente muita coisa e só se dá conta quando a gente coloca para fora. Ficar segurando ou escrever só uma frase não é o suficiente, quanto mais você puder exercitar a visão sobre as coisas melhor escritor você irá se tornar”. //
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televisĂŁo
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NOTA DO COLAB: ESTE TEXTO CONTÃ&#x2030;M LEVES SPOILERS.
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ESTE NÃO É O SEU HABITUAL JOVENS TITÃS Bem produzida, o carro-chefe do serviço de streaming DC Universe dá uma roupagem mais adulta para a famosa equipe de heróis adolescentes texto e d iagramação:
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N
ão é mais segredo para ninguém o quanto produções audiovisuais envolvendo super-heróis são lucrativas. Mulheres e homens em colant ou armaduras de metal representam, basicamente, a nova fase de Hollywood, que não para de produzir filmes e séries inspirados em quadrinhos e graphic novels. E TITANS é um desses produtos. A série é o carro-chefe da DC Universe, streaming da DC Comics voltado, inicialmente, para abrigar todas as suas produções originais. O serviço estreou no dia 12 de outubro, inaugurando com o episódio piloto da produção que re-imagina o universo do time de heróis adolescentes conhecidos como Jovens Titãs. Na Netflix, a temporada completa estreia dia 11 de janeiro. Nesta versão mais adulta, após a trágica morte de seus pais, os famosos trapezistas conhecidos como Graysons Voadores, o adolescente Dick Grayson (Brenton Thwaites) é adotado por Bruce Wayne. Morando na mesma casa que o Batman, ele adota o manto do Robin e passa a combater o crime de Gotham ao lado do vigilante. Porém, após começar a perceber o lado obscuro e violento de seu parceiro, Grayson, já adulto, decide abandonar a vida e tentar seguir um caminho diferente, agindo dentro da lei. Como um detetive na cidade de Chicago,
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ele se depara com o caso da jovem Rachel Roth (Teagan Croft), que está fugindo de casa após ver sua mãe assassinada por um desconhecido homem. Mas Rachel possui outro segredo. Dentro da garota vive uma poderosa entidade, capaz de tomar conta de seu corpo quando ela menos deseja. Ela, que não conhece o seu verdadeiro poder, muitas vezes acaba causando acidentes além de seu controle. O interesse de Grayson vem quando Roth verbaliza ter sonhado com o acidente que matou seus pais. Enquanto os dois personagens se conhecem, em outro continente Kory Anders (Anna Diop) acorda com perda de memória. Perseguida por assassinos de aluguel e sem saber seu próprio nome, Anders inicia uma busca para reaver sua identidade. A primeira descoberta é que uma garota chamada Rachel é o centro de todas suas respostas. Quando a jornada dos três personagens finalmente se cruzam, conhecemos Garfield “Gar” Logan (Ryan Potter). Amigável e de cabelo verde, o garoto possui a incrível habilidade de reordenar as moléculas de seu corpo – no entanto, a única forma que ele consegue assumir é a de um tigre. Agora, com o quarteto de vindouros heróis apresentado, a série ganha o fôlego para introduzir sua mitologia.
GAR, RACHEL, DICK E KORY AINDA NÃO SÃO OS TITANS QUE CONHECEMOS, MAS EM BREVE ELES SERÃO MUTANO, RAVENA, ASA NOTURNA E ESTELAR, RESPECTIVAMENTE
TITÃS PARA ADULTOS Inicialmente com 12 episódios, Titans estabelece seu tom sombrio já com o episódio piloto. Polida, o seriado tem um grande apuro técnico, indo desde o cuidado com a fotografia, que dá consistência ao teor adulto da série e à fantasia do mundo real em que a produção está inserida, até as cenas de ação, que se traduzem como uma dança muito bem coreografada. Como é de se esperar, o grande trunfo da série está em seus personagens e aspecto dramático. As histórias acontecem de forma natural, sem deixar óbvio que tudo ali é pensado e executado por
um grupo de roteiristas e produtores. Somos então apresentados a um Dick Grayson amargurado, completamente ressentido por seu tempo com o Batman. O Robin original percebe o quanto a influência de Bruce está impregnando seu cerne, tentando a todo custo sair de sua sombra. É essa mesma amargura que resulta no icônico “Foda-se o Batman!”, como já revelado no trailer – embora, na série, o momento ocorra em um contexto diferente. Grayson quer encontrar a sua própria identidade e se distanciar o máximo possível da influência do Morcego.
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É interessante perceber que nessa encruzilhada, o personagem de Brenton possui dois contrapostos. Um é Jason Todd (Curran Walters), introduzido plenamente no episódio Jason Todd (S01E06). O novo Robin não está interessado na fase de interrogatório e sempre bate antes de fazer as perguntas. Violento e cheio de si, ele orgulha-se plenamente de trabalhar ao lado de Bruce. A satisfação da parceria é tamanha que Todd não consegue entender os motivos que levaram Grayson à desfazer laços com o Batman. Do outro lado da balança está Donna Troy (Conor Leslie), a Moça-Maravilha, introduzida no episódio Donna Troy (S01E08). A heroína, criada em Temíscira pela própria Mulher-Maravilha, está mais próxima daquilo que Dick tanto quer ser. Aconselhando 66 | zint.online
o amigo, Donna aponta que “a Mulher-Maravilha nasceu para proteger os inocentes, enquanto o Batman foi criado para punir os culpados”, encorajando Dick a ser esse protetor que ele almeja. Esse pequeno momento dá o pontapé para empreitada de Grayson em assumir o manto do Asa Noturna. O único problema do personagem está em ter praticamente todo o protagonismo da série (arrisco dizer
DICK GRAYSON É O ÚNICO DOS TITÃS A TER UM UNIFORME – AFINAL: ELE INICIA A SÉRIE JÁ ESTABELECIDO COMO O ROBIN ORIGINAL
que se não fosse Titans, o programa provavelmente chamaria Dick Grayson e os Titãs). Não que o personagem de Thwaites não mereça o cargo (afinal, ele é o líder dos Titãs), mas isso acaba tomando um tempo valioso de outros personagem – como acontece com Gar. Sufocado na trama, o maior desenvolvimento do futuro Mutano acontece apenas após os eventos do episódio Asylum (S01E07), ainda se construindo de forma muito secundária. Rachel Roth, por outro lado, tem muito mais tempo em tela. Seu arco é o que move a história da série como um todo, tendo o seu pai como esse grande vilão invisível. Mas, enquanto o poderoso demônio conhecido como Trigon (Seamus Dever) não aparece, a menina que será a heroína Ravena começa como uma garota assustada e sem sentimento de pertencimento. Mas se nos primeiros episódios ela desconhece sua força e
tenta saber mais sobre sua família, Rachel termina a temporada se sentindo parte de algo, ao lado de Dick, Kory e Gar, e começa a entender melhor o conceito de como é possível controlar a entidade que habita seu corpo – bem ilustrado no finalzinho do episódios Jason Todd e no decorrer de Asylum.
ABAIXO, NA IMAGEM MAIOR, RACHEL E GAR SE CONECTAM IMEDIATAMENTE, EM UMA DINÂMICA FACILMENTE COMPARÁVEL A DE IRMÃOS. NA MENOR, GAR EM SUA FORMA MUTANTE COMO UM TIGRE VERDE
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NO MATERIA FONTE, KORY ANDERS É KORIAND’R, PRINCESA DO PLANETA TAMARAN. NA TERRA, COMO SUPER HEROÍNA, ELA ASSUME O NOME ESTELAR
Por sua vez, Kory Anders é a responsável por roubar as cenas. Na responsabilidade de Diop, a atriz mostra a força de sua atuação ao entregar uma destemida personagem. Em pequenos flashs que surgem em sua cabeça, percebemos que muito da identidade de Anders está travada em sua memória. Como um gatilho, vemos sua habilidade de combate transparecer no alerta de perigo, assim como o “primeiro contato” com o seu super poder: a capacidade de absorver energia solar e reutilizá-la de outras formas, como jatos de fogo. Infelizmente, o seu arco sofre quando 68 | zint.online
ela finalmente descobre sua identidade. Koriand’r (S01E10), que leva o nome real de sua personagem e supostamente deveria ser um episódio focado nela pelo mesmo motivo, passa a maior parte da narrativa apostando no mistério que gira em torno da família biológica de Rachel. Para piorar, o capítulo gasta uma significativa parte mostrando a viagem de Kory até o local com as respostas que ela tanto deseja. No final, três minutos é tudo que o público ganha para conhecer a origem de Koriand’r, assim como a polêmica missão que a trouxe à Terra – diretamente ligada à Rachel. Mas se Koriand’r falha em dar o merecido protagonismo à Anders, Hank and Dawn (S01E09) triunfa ao focar nos personagens que dão título ao episódio. No capítulo, vemos como a dupla de vigilantes Rapina e Columba veio a existir. Respectivamente, Hank Hall (Alan
ROBIN E ROBIN: NA MITOLOGIA DOS JOVENS TITANS, DICK GRAYSON DEIXA O MANTO DO HERÓI PARA SE TORNAR O ASA NOTURNA, ENQUANTO JASON TODD PASSA A ASSUMIR O TÍTULO
Ritchson) e Dawn Grange (Minka Kelly) são os alter-egos por trás dos heróis. O grande trunfo do capítulo, que eleva a carga dramática da série, está na história de Hank, vítima de abuso sexual quando criança. Envergonhado, ele sente a constante necessidade de provar sua masculinidade (mes-
mo que, fisicamente, ele seja a personificação do “homem macho”), sendo desnecessariamente violento pelos motivos mais banais possíveis e sempre escondendo suas reais emoções, até mesmo de seu irmão. Hank and Dawn é cruel e poético, sendo um episódio bastante emocional, com Dawn como a principalmente responsável por ajudar Hank a dar o primeiro passo para a superação do passado. zint.online | 69
NA PRIMEIRA IMAGEM AO LADO: HANK HALL E DAWN GRANGE EM SEUS RESPECTIVOS UNIFORMES DE RAPINA E COLUMBA. NA SEGUNDA: CENA DO EPISÓDIO QUE LEVA O NOME DELES
TITÃS: UM DIA... Titans não foge de possuir os seus erros, mas o mais expressivo deles é uma decisão tomada pelos produtores executivos, que de última hora resolveram cortar o episódio 12 e tratar o 11 como o season finale. No capítulo, intitulado Dick Grayson, a série mergulha na mitologia do Bruce Wayne e mostra o Robin como a única salvação de Gotham após o Batman enlouquecer e decidir matar todos os seus icônicos antagonistas. A problemática está ao analisar o conteúdo da temporada como um todo. Com Koriand’r, fica muito claro que a ideia era reunir, no capítulo cortado, os oito heróis introduzidos ao longo dos 10 primeiros episódios. Mesmo sendo bom
e tendo um final interessante, o único gosto que fica é de justamente estar faltando um episódio. É verdade que Dick Grayson tem os seus méritos, e mesmo sendo muito bom, o capítulo está longe de se sustentar como o fechamendo da temporada – afinal, originalmente, este não era o trabalho dele. Sem contar que nunca chegamos a vislumbrar o quarteto principal chegando ainda mais perto de seus papéis de heróis como o Asa Noturna, Estelar, Ravena e Mutano. Uma lacuna, inclusive, que é acobertada por uma cena pós-créditos, que introduz dois novos e famosos heróis da mitologia dos Titãs. Para piorar o quadro, o tal capítulo não será colocado como o premiere da segunda temporada. De acordo com os próprios produtores, ele será “canibalizado” e exibido como parte da trama já pensada para o o episódio.
O lado positivo dessa balança é que Titans entrega uma primeira temporada mais positiva do que negativa. O primeiro ano termina com o seu tom uniforme, sendo compreensível o motivo de termos versões mais adultas dos Titãs. A série ainda faz uma boa escolha de elenco principal, com foco para Brenton Thwaites, em seu Dick Grayson perdido internamente, e Anna Diop, como a incrível e memorável Kory Anders/ Koriand’r. Como secundário Alan Ritchson também merece apreço pelo seu Hank Hall/Rapina violento, inseguro e psicologicamente “quebrado”. O mérito se estende
PISCOU, PERDEU: DONNA TROY USA O LAÇO DA VERDADE EM TITANS pela decisão de introduzir os protagonistas e personagens de forma compassada. Mesmo com
um final que nos prive de vê-los próximos como OS Titãs, quase todos eles ganham um episódio próprio para serem aprofundados (uns mais que outros). E ao deixar claro que a Liga da Justiça e a Patrulha do Destino co-existem no mesmo universo (esse segundo fica a cargo do quarto episódio, Doom Patrol), fica impossível não esperar que em algum momento haja, pelo menos, um crossover entre os Titãs e a Patrulha, quando ambas as equipes estiverem de fato formadas e a todo vapor. No final, ainda que tenhamos uma decisão infeliz para o fechamento, Titans completa a primeira temporada com personagens multidimensionais, inseridos dentro de uma sólida mitologia. E com um arco narrativo construído cuidadosamente, tudo indica que a história desses novos Jovens Titãs está muito longe de acabar. //
ASSISTA
TITANS NA NETLIX A PARTIR DO DIA 11 DE JANEIRO.
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NOTA DA COLAB: ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS.
Um solstício próspero por
A
carolina cassese
Netflix definitivamente se preparou para o Natal deste ano. Filmes como A Princesa e a Plebeia, Crônicas de Natal, O Príncipe de Peoria e O Milagre de Natal foram incluídos no catálogo, além de especiais de reality shows e seriados. No Twitter, o serviço de streaming também compartilhou a já tradicional lista de todos os episódios natalinos de Friends (1994 - 2004). O 11º episódio de O MUNDO SOMBRIO DE SABRINA, lançado no último dia 14, integra o time de produções idealizadas especialmente para essa época do ano. Com quase uma hora de duração, Um Conto de Inverno é repleto de referências a eventos históricos, mitologias e diversos elementos da magia oculta. Logo no início 72 | zint.online
diagramação
vics
do episódio, Tia Zelda (Miranda Otto) menciona o Tronco de Yule, objeto conhecido por afastar os espíritos malignos. Sua queima é uma tradição antiga em muitos países europeus. Há alusões também à lendas islandesas e outras histórias folclóricas. Se a primeira temporada exala um clima de Halloween (e foi lançada estrategicamente no dia 26 de outubro), a ambientação do especial de Natal, que se passa na véspera do feriado, é igualmente bem construída. Dessa vez, Sabrina (Kiernan Shipka) quer garantir que sua relação com os colegas mortais continue a mesma, já que eles descobriram sua verdadeira identidade. Susie (Lachlan Watson) e Roz (Jaz Sinclair) ainda estão confusas, mas permanecem ao lado da bruxa.
A protagonista também se sente aflita por não ter a presença dos pais em um período do ano tão tradicional. Ela toma, então, uma decisão arriscada: fazer uma sessão espírita para convocar sua mãe, que, como descobrimos no final da primeira temporada, está presa no limbo. Para realizar tal feito, Sabrina conta com a ajuda das inseparáveis irmãs Agatha (Adeline Rudolph), Prudence (Tati Gabrielle) e Dorcas (Abigail F. Cowen), em uma das melhores do especial. O episódio é eficiente também em revelar alguns segredos da família Spellman, que é assombrada por uma entidade em pleno feriado festivo. Personagens que se destacaram ao longo da primeira temporada, como Ambrose (Chance Perdomo) e Madame Satã (Michelle Gomez), continuaram notórios e responsáveis pelos alívios cômicos da produção. A presença do gato Salem, no entanto, é quase nula - e faz falta, especialmente para aqueles que têm recordações do felino falante de Sabrina, A Aprendiz de Feiticeira (1996 - 2003).
Na Edição #17, nós falamos sobre O Mundo Sombrio de Sabrina. Para ler a matéria, basta clicar aqui!
Leve, o capítulo tem início, meio e fim muito bem definidos, cujas brechas para os próximos episódios, que serão lançados em abril de 2019, são evidentes. É possível perceber, por exemplo, que Sabrina continuará levando uma vida dupla, se dividindo entre seus amigos mortais e o mundo bruxo. O relacionamento da protagonista com Harvey (Ross Lynch) chega ao fim e o trailer da próxima temporada já mostra Sabrina com Nicholas (Gavin Leatherwood). Surgem, ainda, três novos vilões no final do capítulo. O trio aparece carregando presentes, provável referência aos três Reis Magos das histórias bíblicas. O showrunner da série, Roberto Aguirre-Sacasa, promete que a segunda rodada será “sexy e divertida”, já que os espectadores estão familiarizados com o universo da produção. "Eu sinto que, agora que já construímos este mundo, podemos brincar um pouco nele. A segunda temporada é mais ousada", afirmou em entrevista à Entertainment Weekly. Por conta do sucesso da produção, a Netflix já anunciou que O Mundo Sombrio de Sabrina terá ainda uma terceira e quarta parte, para a alegria dos fãs. Indiscutivelmente, outros natais (ou solstícios de inverno, como dizem os bruxos) virão. //
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O MUNDO SOMBRIO DE SABRINA NA NETLIX.
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, y b Ba
debora drumond diagramação vics por
Vamos refletir
BABY, nova produção original da Netflix, estreou dia 30 de novembro trazendo polêmicas e uma leve sensação de dejà-vú. Um grupo de amigos, relativamente bem de vida, acaba se envolvendo com prostituição e drogas. Isso soa familiar, não é mesmo? A série, ambientada em um bairro de classe média na Itália, retrata a história de um grupo de adolescentes que se sentem sufocados pelas expectativas de seus pais e acabam vivendo uma vida dupla para escapar da rotina. Chiara (Benedetta Porcaroli) e Ludovica (Alice
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Pagani) são as personagens principais e que conduzem a narrativa. As amigas têm personalidades bem opostas, com a primeira delas sendo a garota popular da escola que tira boas notas e faz diversas atividades extracurriculares, enquanto a segunda é a outsider que não tem amigos e não se importa com as aulas. A partir de um incidente em que as jovens acabam se aproximando, ambas adentram em um mundo sombrio de sexualização e dinheiro, passando a levar duas vidas que insistem em não coexistirem. Com a trama tangenciando uma temática envolvendo a exploração sexual, Baby
foi acusada pelo Centro Nacional de Exploração Sexual dos Estados Unidos de promover o tráfico sexual. Vale lembrar que a produção é livremente inspirada em um caso real ocorrido na Itália, em 2014, que ficou conhecido como “Baby Squillo”. Na época, duas adolescentes de Parioli, um bairro de classe média em Roma, foram descobertas na prostituição apenas para terem dinheiro suficiente para bancar uma vida de luxos (como roupas de grife e
produtos eletrônicos). O caso repercutiu enormemente na mídia naquele momento, e as mães das garotas chegaram a ser presas. A temática de jovens que se sentem vazios e necessitam de
algo mais liberal e perigoso para se sentirem vivos não é novidade no universo das séries. Tanto Skins (2007 - 2013) quanto Gossip Girl (2007 - 2012), e até mesmo a recente Elite (2018–), retratam essa realidade do jovem do século XXI. A produção original da Netflix se diferencia, no entanto, ao apostar a construção de sua narrativa na história de um caso real, levantado à polêmica do tráfico sexual e prostituição de menores. Baby também merece reconhecimento por ir contra uma maré. De uma forma geral, as séries adolescente que retratam essa temática do jovem rebelde dificilmente mostram as consequências e implicações reais que os riscos de se envolver com drogas podem trazer para a vida do indivíduo. Baby, no entanto, cumpre bem esse papel, mostrando que não é tudo glamour e dinheiro, além de ter um papel mais reflexivo nessa questão – tudo, sem deixar de entreter. //
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BABY NA NETLIX.
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UM DESFILE DE conceitos e preconceitos por
mike faria
O Victoria’s Secret Fashion Show é um evento televisivo anual que une moda e música, mas sofre quando o quesito é diversidade e representatividade. 76 | zint.online
diagramação
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Angels. Assim são chamadas as modelos da badalada marca Victoria’s Secret. Símbolo de glamour, elegância e beleza, a marca e as modelos que estrelam as propagandas e desfiles tornaram-se referência no mercado da moda e cosméticos pela tradição e padrão de trabalho e aparência. Uma prova disso é o The Victoria’s Secret Fashion Show, evento anual realizado pela marca de lingerie e produtos de beleza, que se trata de um grande desfile que expõe ao público os destaques das lingeries de todo o ano, com performances musicais e toda uma estrutura para compor um verdadeiro espetáculo.
Neste ano, iniciando com a música This is Me, da trilha sonora original do longa O Rei do Show, para embalar os passos empolgados e fortes das modelos, o desfile aposta no reconhecimento e exaltação da personalidade para nortear a apresentação. Os convidados musicais deste ano foram Halsey, Bebe Rexha, Rita Ora, Shawn Mendes, The Chainsmokers, The Struts, Leela James e Kelsea Ballerini, que contribuíram também para dar o tom e enriquecer a investida sensual e deslumbrante do evento. Com grande destaque e tradição principalmente nos Estados Unidos, onde a marca se originou e desenvolve seus produtos, revelou nomes como Adriana Lima, Gisele Bündchen e Alessandra Ambrósio, as famosas Angels brasileiras. Mas para participar do desfile final, este ano realizado na cidade de
Nova York, as modelos são selecionadas e passam por um processo rigoroso de treinamento e cuidados com a saúde. Tudo para que elas se enquadrem nos moldes aceitos e admirados pelo público presente na plateia e os telespectadores de casa, que assistem ao desfile e tem nas meninas um modelo de sucesso e exuberância. Cores vibrantes, performances explosivas e poses bem colocadas são alguns dos aspectos que evidenciam como o desfile é todo montado também para a TV, sendo um evento planejado para ser espetacularizado, que pretende impressionar não só pessoalmente, mas a distância também. E o nome, "Fashion Show", não deixa mentir. Assim, o evento se revela como um produto midiático, um programa, um show que precisa agradar o público, parceiros e patrocinadores para, também, garantir a audiência e permanência nas próximas oportunidades, ultrapassando assim apenas
Na oportunidade, o evento marca a despedida de Adriana Lima, que após quase 20 anos de trabalho se despediu e deixa o posto como angel brasileira. Ela é apontada como a modelo mais influente da marca na atualidade, segundo pesquisa da empresa de métricas de mídias sociais D’Marie. Ainda, entre as brasileiras que participaram do desfile deste ano estão Barbara Fialho, Gizele Oliveira e Lais.
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WINNIE HARLOW VEM GANHANDO CADA VEZ MAIS ESPAÇO NO MUNDO DA MODA, SENDO UM DOS NOMES MAIS REQUISITADOS DOS ÚLTIMOS ANOS NAS PASSARELAS DE TODO O MUNDO
o conceito de desfile de moda. Além disso, o Victoria’s Secret Fashion Show de 2018 trouxe algumas novidades que chamaram a atenção, como a “diversidade” das modelos, que contavam com asiáticas, negras e carecas, com a participação especial de Chantelle Winnie, artisticamente conhecida como Winnie Harlow, a primeira modelo da marca com vitiligo – juntando-se assim com as já esperadas loiras, magras e de olhos claros e cabelos lisos. A canadense de 26 anos se tornou um símbolo da necessidade por mais diversidade na moda ao assumir a doença do vitiligo não como algo a se envergonhar, mas uma qualidade única. 78 | zint.online
Outro destaque é a presença de Kelsey Merritt, que marca como a primeira modelo filipina a andar na passarela da grife. Porém, a mistura e abertura de espaço está longe de ser um dos pilares do Victoria’s Secret Fashion Show. A maioria das modelos ainda encontra-se dentro do padrão de beleza instituído por uma sociedade capitalista e machista, pautado no enaltecimento de uma beleza calcada em na "loira perfeita", refletindo o modelo de beleza exigido pela indústria da moda. Nesse sentido, a marca se recusa ainda, por exemplo, a fazer o casting de modelos trans, por "não se encaixarem na fantasia da marca". Uma decisão que comprova uma amostra de atrações, preconceitos estruturais e até mesmo naturalizados por já fazerem parte da formação e estrutura da marca, bem como suas ideias e a manutenção do seu mercado e consumidores. Dessa forma, é preciso reconhecer o preconceito e a limitação colocados em forma de sofisticação, pelos flashes dos
estereótipos e empresários que, como os setores dominantes da sociedade, reforçam um mesmo tipo de corpo e expressão que barra e impede a diversidade. Apoiados em recursos como a publicidade e o encanto pelo fascinante, que agrada os olhos de quem vê e, de certa forma, contenta quem é visto,
TURMA DE 2018: NO FINAL DE CADA DESFILE, AS ANGELS TIRAM UMA FOTO EM GRUPO COM A PLACA “TURMA DE””, COM O RESPECTIVO ANO DO EVENTO
o desfile, show, ou seja lá o substantivo que achar mais adequado, apenas espelha a beleza e a estética admirada pela nossa sociedade e “merecedora” das grandes passarelas e eventos de moda.
Ainda mais pensando na grandiosidade da marca e do país de origem da mesma, esse perigo é ainda maior. Já que não foi dessa vez, deixa a diversidade para o ano que vem, quem sabe. Sugiro agora desligar as câmeras e holofotes e refletir. Talvez seja esta a grande falta do Victoria’s Secret Fashion Show – seja ele o da realidade ou o montado pela marca. //
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THE VICTORIA’S SECRET FASHION SHOW 2018 NA NETLIX.
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HILDA PARA TODAS AS IDADES por
Clarice Pinheiro Cunha
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O MUNDO DE HILDA É CHEIO DE CRIATURAS FANTÁSTICAS E FRUTO DA MAIS PURA IMAGINAÇÃO, TENDO SIDO CRIADO POR LUKE PEARSON EM UMA GRAPHIC NOVEL DE MESMO NOME
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menina simpática de cabelo azul pode fazer você pensar que HILDA, nova animação da Netflix, é um desenho infantil. Mas, a adaptação do quadrinho criado por Luke Pearson levanta temas de importância universal e atemporais, trabalhando-os a partir da perspectiva de uma criança.
Criada e roteirizada por Kurt Mueller, Stephanie Simpson e pelo próprio Pearson, a série acompanha Hilda (Bella Ramsey), uma garotinha simpática e curiosa em sua jornada com a mãe, Johanna (Daisy Haggard), e a corça-raposa, Twig. A jovem ama os animais e a natureza, tem personalidade forte e se apega por tudo que é considerado bizarro. Por ter morado a vida toda na floresta e afastada da cidade grande, Hilda se vê perdida quando ela e sua mãe precisam se mudar para a cidade de Trollburgo, depois que um gigante esmaga sua casa. Logo no inicio, o desenho nos dá uma lição sobre a dificuldade em passar por grandes mudanças e adaptações. Outro problema enfrentado pela garota é a dificuldade em se conectar com pessoas e fazer amigos novos. Já que estava acostumada a viver na floresta usando de sua imaginação para viver
suas aventuras com animais e seres místicos, a garota encontra dificuldades em se conectar com outras pessoas, mas acaba enfrentando seus medos e faz amizade com Frida (Ameerah Falzon-Ojo) e David (Oliver Nelson). Personagens igualmente importantes, seus novos amigos ajudam a narrativa ao nos ensinarem ótimas lições sobre a superação dos medos e sobre organização. David é um garoto dócil e medroso que sempre atrai insetos para si, já Frida é corajosa, determinada e organizada (fora de seu o quarto). Um dos pontos altos da série é o ótimo trabalho de animação feito por Andy Coyle, que traz um grafismo clássico e um toque vintage para os desenhos ao trabalhar com a animação em 2D. Bella Ramsey, a incrível Lyanna Mormont de Game of Thrones, também se destaca ao entregar um ótimo trabalho na dublagem da protagonista, trazendo doçura, insegurança e delicadeza à voz da personagem. Hilda não é só bonita de ver, com toda a suavidade no design, mas a mistura do mundo mágico com o real cria um universo novo, com regras e lógicas próprias. Uma ótima opção de escape depois de um dia cansativo, com potencial de prender a atenção de adultos e crianças – e a doçura de Hilda é uma promissora aposta da plataforma de streaming, leve e bem humorada. //
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HILDA NA NETLIX.
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À amizade por
CAROLINA CASSESE
diagramação
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– Vo c ê está devendo o imp osto de renda, Sa n dy ! A c h o u q u e o g over no se esq uec e ria de você? - Pergunta No rma n . – É po ssív el , sim. Hollywood esqu eceu. - Re s p o n d e S a n dy. – U$ 3 0 0 .0 0 0 ! É muito dinheiro. – Vo u t e devo lver tudo. Faremos um plano d e U $ 1 . 0 0 0 p o r mê s. – Mat emát ic a não é o seu f orte, né? Isso dá 2 5 a n o s ! S a be o q u ão v elho eu esta rei daqui a 25 anos? Morto! – O k. E se eu t e pagar R$1.100 por mês? – C o nt inuo mo r to. Este exemplo de diálogos A produção é centrada na amizade rápidos com boas pitadas de sarcasmo e um humor ácido, sintetizam perfeitamente O MÉTODO KOMINSKY, série que chegou aos catálogos da Netflix no último mês. 82 | zint.online
de Sandy Kominsky, um ator que já fez muito sucesso em Hollywood, e seu agente Norman, brilhantemente interpretados por Michael Douglas e Alan Arkin, respectivamente. Composta por oito episódios, a
produção conquistou a aprovação da crítica e foi indicada ao Globo de Ouro 2019 nas categorias Melhor Série de Comédia ou Musical, Melhor Ator de Comédia para Douglas e Melhor Ator Coadjuvante para Arkin. As indicações do Critics’ Choice Awards e do SAG Awards (o Sindicato de Atores de Hollywood) também contemplaram a série. Assim como Grace & Frankie (2015–), também disponível na gigante do streaming, a nova produção se debruça sobre as questões relativas ao envelhecimento: a proximidade da morte, a ameaça das doenças e a dificuldade em retomar a carreira depois do ostracismo. Depois de anos afastados de Hollywood, Sandy trabalha como professor de teatro e tem que lidar com o abismo geracional que separa ele e a maior parte de seus alunos. Norman, por sua vez, tem um desafio similar: quando decide voltar para coordenar sua agência, fica chocado ao perceber que as pessoas não conversam mais entre si - apenas se conectam com telas. Se por um lado o protagonista resiste em falar sobre seus problemas de saúde,
Norman passa por dificuldades em como lidar com o luto. Além de contar com Sarah Baker e Nancy Travis no elenco, a comédia tem as excelentes participações de Elliott Gould (o pai de Ross e Monica, em Friends), Danny DeVito e Ann Margret. O idealizador da produção é ninguém menos que Chuck Lorre, responsável por The Big Bang Theory (2007 - 2018) ou Two and a Half Men (2003 - 2015). "Sinceramente, eu queria falar sobre o que estou vivendo, o que é envelhecer, o que acontece com seu corpo, o que acontece com sua mente, como você vai se degenerando”, disse em entrevista ao jornal El País. Para ele, O Método Kominsky é acima de tudo uma carta de amor à amizade. A série é excelente para maratonar em pouquíssimos dias – os oito episódios são repletos de tiradas inteligentes e definitivamente deixam um gostinho de “quero mais”. Se o envelhecimento é um tema geralmente ignorado por grandes produções, que preferem mostrar corpos sarados e as angústias da juventude (afinal de contas, não são poucas narrativas que exploram o ambiente high school), O Método Kominsky dá um passo importante em dar visibilidade a outro grupo que também tem excelentes histórias para contar. //
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O MÉTODO KOMINSKY NA NETLIX.
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AS AVENTURAS DE
SHE-RA melissa vitoriano diagramação vics por
SHE-RA E AS PRINCESAS DO PODER é uma produção da DreamWorks que estreou na Netflix no dia 13 de novembro de 2018. Contando com 13 episódios, com cerca de 20 minutos cada, o desenho se passa no mundo fantasioso de Etéria, onde seres mágicos resistem à ataques que ameaçam a harmonia de seus reinos e aguardam o retorno da guerreira capaz de restabelecer a paz. O desenho inicia dando destaque à personagem Adora (Aimee Carrero), uma jovem soldada da Horda – liderada por Hordak (Keston John) –, criada desde recém-nascida para servir fielmente às ordens de Sombria (Lorraine Toussaint), sua comandante. Contando com a parceria de sua melhor amiga Felina (AJ Michalka), a soldada busca ser totalmente fiél à Horda, mas uma aventura em particular muda o 84 | zint.online
destino da personagem. Após ser promovida a Capitã da Força, Adora sai da Zona do Medo para um passeio com Felina. Na Floresta do Sussurro, Adora encontra a espada de She-Ra e ao
tocar a arma, uma revelação causa o estopim de toda trama. Em meio a uma série de acontecimentos, Adora descobre seu destino como protetora de Etéria e seu dever em guerrear como
She-Ra, pela honra de Greyskull, contra os ataques da Horda. Com o retorno de She-Ra, Adora se alia a Cintilante (Karen Fukuhana) e Arqueiro (Marcus Scribner), habitantes do reino de Lua Clara, e juntos se encarregam de reunir as outras princesas. Cada princesa possui um poder para defender seu reino, mas possuem certa resistência em se juntar a Rebelião novamente devido a adversidades passadas. Apesar das limitações que a Rainha das Princesas (Reshma Shetty) impõe à Cintilante, a princesa não tem medo de enfrentar as ameaças da Horda e tenta reestabelecer a Aliança das Princesas em defesa de Etéria. Contando a história de She-Ra e do mundo de Etéria, a produção se compromete em fazer um desenho com foco exclusivo na guerreira e na luta contra a Horda. Com uma primeira temporada de enredo fluido, a produção deixa algumas histórias a serem contadas. Mas é no meio dessas histórias que a série trabalha com seus personagens
de forma positiva e empoderadora. A aliança entre Adora, Cintilante e as outras princesas, mostra as personagens femininas superando os padrões estabelecidos na maioria dos desenhos em que elas são representações frágeis e sempre estão na sombra de personagens masculinos. Adora, por exemplo, é uma garota destemida e poderosa por conta própria, sem precisar ficar sendo salva por um homem a cada batalha. Arqueiro também destoa do esteriótipo, sendo um guerreiro diferente da imagem recorrente que um personagem masculino possui, carregado de uma sensibilidade e carisma cativante, capaz de conquistar o apego de qualquer audiência. Vale lembra quer She-Ra e as Princesas do Poder não é um remake de She-Ra: A Princesa do Poder, de 1985. A produção da Netflix dá outra cara para o famoso desenho, este desenvolvido por Noelle Stevenson, distanciando-se um pouco do materia original – aqui, He-Man, que em 1985 é o irmão gêmeo de She-Ra e o ponto de partida de todo o enredo, nem mesmo é citado. Deste modo, a produção dá destaque, de fato, à guerreira, desassociando sua imagem de outro personagem e colocando ela como o único foco da trama. Apesar de ainda não ter sido confirmada uma nova temporada, She-Ra e as Princesas do Poder tem tudo para trazer mais histórias em possíveis futuros anos, complementando o enredo com mais aventuras em Etéria, pela honra de Greyskull! //
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A MOR EM QUATRO PATAS
debora drumond diagramação vics por
U
m dos ditados mais conhecidos é que o cão é o melhor amigo do homem. Com certeza, todos nós já testemunhamos como essa relação pode se tornar estreita e como cachorros se tornam companheiros de vida de seus donos. APENAS CÃES, nova série documental da Netflix, explora essa relação mostrando como cachorros mudaram a vida de seus donos, a convivência entre ambos e etc. Prepare-se para chorar com seis histórias reais e emocionantes, mas fique tranquilo: nenhum dos cachorros morre no final. No primeiro episódio, acompanhamos Corine, uma pré adolescente norte-americana que tem epilepsia e, por isso, está no processo de adoção de um cachorro treinado para detectar quando ela tiver ataques. A ONG 4 Patas treina cachorros para ajudar crianças com deficiências, dificuldades de locomoção e doenças como epilepsia. Com a procura por ajuda pelo lado da família da garota, a organização seleciona um cachorro que seja mais apropriado para ela para então colocar a família de Corine em um treinamento de 12 dias para que eles se adaptem com ele, juntamente com outras famílias e seus respectivos cachorros 86 | zint.online
designados. Assim, conhecemos Meghan, uma garotinha que tem dificuldade para se equilibrar por ter nascido com alguns problemas na coluna. Mesmo com a debilitação, a menina está sempre sorrindo e dançando – este último, inclusive, é algo que ela faz desde menor, estando hoje em aulas de dança. Para Meghan, a busca na 4 Patas refere-se a um cachorro que possa servir de apoio para que ela possa se locomover mais facilmente. Ambas as histórias são emocionantes, sendo mostrado como as famílias de Corine e Meghan fazem o possível para que elas tenham uma vida normal e independente – a primeira com futebol, e a segunda com
a dança. Com a ajuda da 4 Patas, os cachorros adotados pelas duas famílias permitem que a vida de ambas as garotas seja mais fácil e mais confortável. Dando continuidade à Apenas Cães, vemos a incrível história de Ayhan e seu cachorro Zeus. Ayham é um refugiado da Síria, que atualmente vive na Alemanha, mas devido alguns acontecimentos seu amigo de quatro patas acabou ficando para trás aos cuidados de um de seus amigos. Como Ayhan já está há dois anos na Alemanha, terminando sua faculdade, e com seu amigo sendo convocado pelo exército na Síria, ele precisa levar Zeus para a Alemanha. Ayhan não pode voltar a Síria pelo contrato de refúgio com a Alemanha, mas consegue encontrar uma ONG na internet que resgata cachorros e os levam até seus donos refugiados na Europa. Assim, apesar das dificuldades, dono e amigo conseguem se encontrar, com direito a documentação do momento em que cena Zeus vê seu dono depois de tanto tempo – um momento emocionante e lindo.
É difícil dizer qual dos seis episódios é o mais comovente, mas o episódio final de Apenas Cães tem grande potencial para levar essa nomeação, ao mostrar a relação de cachorros de rua adotados em Nova York. A cidade conhecida como Big Apple possui uma grande quantidade de cachorros, cujo número é superior à população de Cleveland (de acordo com o censo de 2014, a cidade do estado de Ohio tem aproximadamente 390,000 habitantes). Nova York também é uma das cidades com mais adoção de cachorros em todo EUA. Por mais que o local seja a casa de muitos cachorros de raça, os vira latas e aqueles que têm necessidades especiais ganham o coração dos novaiorquinos. Anna, criadora e organizadora da ONG Hearts and Bones, vive na cidade de Nova Iorque e resgata cachorros por todo país para serem adotados lá. Durante o episódio, acompanhamos sua viagem até o Texas para resgatar mais de trinta cachorros de um abrigo que já não tem condição de cuidar deles. A ativista diz que prioriza resgatar cachorras com seus filhotes, que muitas vezes acabam sendo separados quando são retirados da rua. Ao retornar com os animais para a Hearts and Bones, alguns desses cachorros precisam ir para o veterinário enquanto outros já vão para seus respectivos lares temporários ou eventos de adoção. Para este último, Apenas Cães faz um belo trabalho com cenas comoventes, onde é mostrado diversos animaizinhos atraíndo o interesse de famílias e com a maioria deles saindo do local direto para um novo lar. //
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APENAS CÃES NA NETLIX.
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7 dias de bastidores por
isabela oliveira
O
s apaixonados por moda, videogame, gastronomia, esportes e até ciência já podem ficar animados. Dia 21 de dezembro, a Netflix disponibilizou em sua plataforma um documentário em forma de série. O objetivo de RETA FINAL é acompanhar a última semana de produção de eventos culturais e, em cerca de 45 minutos, mostrar entrevistas com pessoas envolvidas no meio. A abertura, que traz cenas de todos os episódios, já consegue despertar certa curiosidade sobre o que a docsérie guarda. Entre os entrevistados estão alguns nomes já conhecidos, como a modelo e atriz Kaia Gerber, e outros mais de
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diagramação
vics
nichos, menos famosos, como é o caso dos treinadores de Desfile de cães de Westminster. Nesse episódio, o primeiro da temporada, vemos os cãezinhos que disputam o prêmio Best in Show, realizado pelo Westminster Kennel Club, em Nova York. Além dos treinos, o capítulo explora o vínculo desenvolvido entre animal e dono, como é o caso de Esteban Farias, por exemplo: a chegada do pug Biggie ajudou-o a superar a morte de seu antigo pet. Em competições envolvendo animais, é comum que os treinadores ou organizadores sejam pessoas que cresceram no meio, desenvolvendo um apreço muito grande por esse tipo de evento. Em Kentucky Derby (S01E04) vemos a prepa-
ração dos jóqueis para a competição de hipismo mais prestigiada do mundo. Entre os praticantes do esporte estão pessoas que cresceram com os cavalos, como o treinador Dale Romans, que segue a mesma profissão do pai. Mas para os amantes mais ávidos de animais, a série pode causar algumas preocupações. Tendo dois episódios focados em competições, é impossível não levantar um questionamento acerca do tratamento que os bichos recebem em ambientes como esses. Apesar de eles parecerem
ser muito bem tratados, sempre fica a dúvida se há algo (de polêmico) que não é mostrado pelas câmeras. O segundo episódio de Reta Final é ótimo para quem se interessa por empreendedorismo, além de culinária. Eleven Madison Park é dedicado ao processo que antecedeu a reabertura de um dos melhores restaurantes do mundo, avaliado com 4 estrelas pelo The New York Times. Logo após de terem o estabelecimento escolhido pela revista britânica Restaurant como o primeiro na lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo, os donos Daniel Humm e Will Guidara iniciaram a reconstrução do espaço e a reformulação do cardápio. E não só na repaginação arquitetônica de uma restaurante os imprevistos residem. Se a equipe do Eleven Madison Park tem que lidar com os próprios
EPISÓDIO 1: DESFILE DE CÃES DE WESTMINSTER
EPISÓDIO 2: CORRIDA DE CAVALO DE KENTUCHY
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problemas, o mesmo pode ser dito por Yiliang Peter. O jovem faz parte de uma equipe de jogadores de League of Legends, o famoso jogo multiplayer de batalha de arena online – que também dá título ao sexto e último episódio da série. O capítulo mostra um pouco mais do torneio de LoL disputado por diversos times profissionais do e-sport e traz o participante Yiliang Peter,
mais conhecido como Doublelift, tendo que lidar com a perda de sua mãe, que morreu na semana que antecede o campeonato. A melhor característica de Reta Final é a forma como ela consegue fazer o público se sentir envolvido com o evento apresentado, sendo bem ilustrado pelo episódio Missão Cassini da NASA (S01E03). O capítulo mostra a preparação para a desintegração da maior espaçonave interplanetária já construída, a Cassini, após 20 anos de pesquisa em Saturno. Somando imagens aos relatos dos cientistas e engenheiros da NASA, o telespectador consegue se sentir imersos no laboratório
EPISÓDIO 5: DESFILE DE ALTA COSTURA DA CHANEL
EPISÓDIO 6: LEAGUE OF LEGENDS
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onde ocorrem as operações. Além de imagens do espaço que são de tirar o fôlego, Missão Cassini da NASA também conta com representatividade feminina. Um dos pontos altos do episódio é a oportunidade de conhecer o trabalho de mulheres, em um meio (Ciência) dominado por homens. Uma dessas personagens é a cientista de projetos Linda Spilker, que trabalhou na missão espacial Cassini por quase 30 anos, sendo inicialmente uma das únicas mulheres da equipe. A mesma sensação de pertencimento e interesse pode ser sentida em Desfile de alta costura Chanel. Nesse quinto capítulo da docsérie, a equipe da conceituada marca Chanel acerta os últimos detalhes antes de apresentar a nova coleção no Grand Palais, durante a Semana de Moda de Paris. E como a
maior parte dos funcionários do ateliê falam francês, é fácil para o telespectador se sentir mais próximo da cidade. Na Chanel, todas as temporadas são oportunidades de criar um cenário surpreendente e que conte uma história. Reta Final nos dá a oportunidade de mergulhar no preparamento do desfile, que conta, por exemplo, com a construção do cenário que será usado. Para o ano em questão, a temática escolhida é inspirada em jardins franceses, com o palco sendo preparado com muitas flores e tons cor-de-rosa. Mas em um episódio dedicado à Chanel, o grande portagonista é, claro, o figurino. Assim, acompanhamos Karl Lagerfeld, diretor de criação da marca, enquanto ele aprova as peças feitas para a coleção. Nos quatro ateliers de costura, várias pessoas trabalham para garantir que tudo saia perfeito, levando mais de 160 horas para que todas as peças fiquem prontas. No fim, o episódio não deixa a desejar em nada se comparado a documentários conhecidos de moda. E o figurino continua se destacando em alguns outros episódios. Em Kentucky Derby vemos como a competição é considerada parte da cultura da cidade de Louisville (Kentuchy, EUA), sede da corrida. E o traje usado por quem comparece ao evento faz parte disso: homens em ternos e paletós e mulheres em seus mais belos vestidos, acompanhadas sempre por um belo chapéu na cabeça. Se por um lado uma diversidade de assuntos tão grande seja positiva para sanar a curiosidade e aquecer o conhecimento, é de se esperar que Reta Final também possa sofrer por isso. E o motivo é simples: é difícil imaginar que um episódio sobre o desfile de moda da Chanel seja igualmente apelativo para o público que tem interesse, por exemplo, em League of Legends. Mas no final, isso acaba não sendo um problema tão grande: os episódios não possuem nenhuma ligação entre si, sendo possível assistir a um sem precisar ter visto o anterior. //
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RETA FINAL NA NETLIX.
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ARQUIVO MORTO por
BRUNA CURI
“Não são apenas processos em caixas. São pessoas”. Com uma das frases mais impactantes da série, a detetive Lilly Rush (Kathryn Morris) é a protagonista da série COLD CASE (2003-2010), que foi ao ar pela primeira vez há 15 anos atrás. Com um total de sete temporadas e 156 episódios, a produção televisiva é dirigida por Meredith Stiehm, revolucionando as séries de investigação que existiam na época. A série foca na vida da detetive Lilly, integrante da equipe de homicídios da polícia da Filadélfia. Ao invés de resolver os crimes diários que ocorriam na cidade, a missão da detetive é cuidar 92 | zint.online
diagramação
vics
dos arquivos mortos do departamento – casos arquivados que nunca foram solucionados. Além dela, a equipe é formada pelo Tenente John Stillman (John Finn) e os detetives Will Jeffries (Thom Barry), Nick Vera (Jeremy Ratchford), Kat Miller (Tracie Thoms) e Scott Valens (Danny Pino). Ao mesmo tempo em que a série dá um enfoque para os casos, a produção também aborda um pouco da vida pessoal de Lilly. Com um ar blasé, olhar frio e distante, a personagem pode ser considerada um pouco solitária e melancólica, sendo justificado pelo meio onde viveu (sua mãe era uma alcoólatra
e não dava muita atenção para ela e para sua irmã mais nova). Apesar desse jeito reservado, é notório que existe uma atração entre Rush e seu parceiro, o detetive Scott, que, devido ao profissionalismo, nunca chegam a se envolver de fato. O que destaca Cold Case das demais séries do gênero é seus personagens sempre tão bem humanizados. Solucionar os casos não é uma questão de prestígio profissional para os detetives, e sim uma questão de honra e respeito com as vítimas e seus familiares – pois a pior coisa que pode
DA ESQUERDA PRA DIREITA, OS PERSONAGENS JOHN STILLMAN, KAT MILLER, NICK VERA, WILL JEFFRIES, LILLY RUSH E SCOTT VALENS.
acontecer, para eles, é um assassinato ficar sem resposta. E cada uma dessas histórias são trabalhadas cuidadosamente, sempre emocionando o público e os próprios personagens. Os casos investigados, em sua maioria, são datados entre 1950 e 2005, sendo raros os que aconteceram antes da década de 50. Para tornar esse desenvolvimento ainda mais interessante, a série faz o constante uso de flashbacks, que mesclam cenas do passado com o presente para contar os acontecimentos envolvendo o caso e o processo para soluciona-lo. Além disto, ao final de cada episódio, uma canção cuidadosamente escolhida faz a trilha sonora dos minutos finais – quase sempre tendo algum relacionamento lírico com o conteúdo do capítulo. Grande parte dos crimes eram motivados por questões ideológicas, como o racismo, homofobia, machismo ou a hierarquia
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NA IMAGEM AO LADO, CENA DO EPISÓDIO “FACTORY GIRLS”
NA IMAGEM AO LADO, CENA DO EPISÓDIO “SHUFFLE, BALL CHANGE”
social vigente da época. As vítimas eram mortas por seguirem suas paixões, por serem elas mesmas, por amar quem bem entendessem, por seguir um comportamento que era considerado como “diferente” pelas pessoas da sociedade. Desse modo, Cold Case levantava constantemente uma discussão crítica e enriquecedora sobre esses temas. HISTÓRIAS MARCANTES Ao longo dos seus 156 episódios, algumas histórias marcaram a série, como o caso A Time to Hate (S01E07). Nele, Helen Holtz (Lisa Long/Barbara Tarbuck) pede ajuda de Lilly para fazer justiça para seu filho, Daniel Holtz (Patrick Macmanus), assassinado na década de 70, vítima de preconceito sexual. A mulher acredita que, na época, os policiais não chegaram a realmente investigar o caso devido às repercussões que isso traria para a sociedade. No 94 | zint.online
final do episódio, a música escolhida pela produção é Turn! Turn! Turn!, de The Byrds. Em Factory Girls (S02E02), Lilly reabre um caso de 1943, envolvendo a morte suspeita de Alice Miller (Chad Morgan), uma funcionária de uma fábrica. Martha (Stacey Scowley/Anne Bellamy), amiga da falecida, implora para que Lilly e sua equipe investiguem o caso, que recebe novas pistas após uma reunião de colegas. Don't Fence Me, de Bing Crosby, é a música do final. Colors (S03E04) acompa-
nha Rush e Jeffries investigando um caso que ocorreu em 1945, envolvendo a estrela do beisebol Clyde “The Glyde” Taylor (Arlen Escarpeta), assassinado a golpes com seu próprio bastão. A única evidência do caso é uma camisa ensanguentada da vítima. Rush e sua equipe são obrigados a investigar todo o passado do atleta para conseguir solucionar o caso. Doris Day é a escolhida para embalar os créditos, com a música Sentimental Journey. No episódio Shuffle, Ball Change (S04E17) um corpo é encontrado em um depósito de lixo, de forma que a equipe é obrigada a reabrir um caso de 1984, em que o jovem Maurice (Nathan Halliday) foi assassinado. Quando vivo, ele sonhava em ser um dançarino, mas não tinha a aprovação do seu pai, Pat Hall (Chris Mulkey), que considera uma carreira decadente e apenas para os homossexuais. Lily e sua equipe vão investigar a fundo a vida de Maurice e de como era o seu núcleo familiar, descobrindo no final do episódio o triste destino do menino, cuja trilha sonora é a música I Want to Know What Love Is, do Foreigner. Um dos episódios mais intensos de Cold Case é Stalker (S04E24). Tudo
começa quando Kim Jacobi (Ellen Woglom) acorda do coma, meses após um ataque em que toda sua família foi assassinada. Ela não tem muitas lembranças sobre o ocorrido, mas se lembra que tinha um admirador secreto que se denominava de “Romeu”. E nada vai impedir “Romeu” de ficar sozinho com sua “Julieta”, colocando em risco a vida de toda equipe que é mantida refém. Stolen, de Dashboard Confessional, é a música do final. O CANCELAMENTO Apesar da boa recepção que Cold Case teve pela crítica especializada, a série chegou ao fim em 2010, quando foi informado que o canal CBS não seria renovada para uma oitava temporada, sem poder receber um final digno à sua altura. Porém, se tem algo que reconforta todos os fãs da série é que, durante sete anos, histórias emocionantes e memoráveis embalaram a produção – e assim como elas, os tão queridos personagens também permanecerão na memória. E como é dito na série: “Devemos lembrar o melhor das pessoas e não como elas acabaram”. Então, ao invés de se remoer pelo fim de Cold Case, devemos nos lembrar da série em seus dias de glória. //
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