ZINT ⋅ Edição #11: Vingadores

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EDIÇÃO #11 // VINGADORES ABRIL 2018

NA EDIÇÃO arábia, avicii, cardi b, desventuras em série, e v e r y t h i n g s u c k s ! , g r e g n e w s , h ay l e y k y o k o , imagine dragons, o mecanismo, pablo villaça, perdidos no espaço, rampage: destruição t o t a l , t i m e ’ s u p, u m a d o b r a n o t e m p o , u m lugar silencioso, vingadores, zumbo


editorial

Edição de número 11! E os Vingadores estão tomando a conta da nossa Capa! A ZINT #11 não poderia deixar um dos filmes mais aguardados do ano sem uma bela crítica, explicando o que faz de “Vingadores: Guerra Infinita”, muito possivelmente, o melhor filme já feito pela Marvel Studios! O volume também apresenta matérias sobre “O Mecanismo”, a polêmica série da Netflix, assim como matérias que apresentam a cantora Hayley Kiyoko e a rapper Cardi B. Ainda, textos sobre o retorno do Greg News, uma entrevista com o crítico Pablo Villaça e uma analise ponderada sobre a desigualdade de gêneros em Hollywood e o valor do movimento político “Time’s Up”. E o Colab Rafael Rallo retorna com uma nova Tirinha! Três novas palavras figuram o nosso Guia do Entretimento, enquanto o Calendário Cultural lembra você que este mês tem estreias de “Deadpool 2” e “Han Solo”, além do álbum novo Shawn Mendes e Donkey Kong chegando ao Nintendo Switch! Que todos vocês gostem!


A ZINT é uma revista mensal e gratuita voltada às áreas de Arte, Entretenimento e Cultura, em formato de publicação digital. Acreditamos na nossa independência editorial e esperamos que, dentro dos mais variados formatos de textos, possamos trazer alguma abordagem inventiva ou inédita aos assuntos que permeiam o campo do jornalismo cultural.

João Dicker & vics

Editores-chefes e idealizadores da ZINT


O QUê QUE A ZINT TEM? Aproveitando das possibilidades de uma publicação online, a revista conta com algumas interações bem legais. Para que nenhum leitor fique sem usufruir 100% do oferecemos, um manual de como funciona a ZINT.

Com uma publicação online, as possibilidades de interações são promissoras. Usando a plataforma digital ao nosso alcance, a revista pode sempre vir acompanhada de objetos interativos. A

ZINT

aproveita de todos esses recursos, e você pode usufruir de tudo de uma forma bastante simples e rápida. Capítulos

Em primeiro lugar, é interessante apontar que a revista funciona por Capítulos. As barras laterais correspondem ao capítulo correspondente: Verde-Grama para Filmes, Roxo para Música, Laranja para Literatura, Azul-Céu para Séries, Magenta para Indicações, AzulMarinho para Tirinhas, Rosa para Fotografia, Verde Água para Playlists. Assim, fica fácil identificar o tipo de conteúdo em que você se encontra.


Vídeo e Áudio

Com uma revista de Entrenimento e Cultura em mãos, é simplesmente impossível não relacionar as matérias com um conteúdo digital. Um vídeo, um filme, uma música, uma playlist. No papel físico, tais interações são impossíveis de serem atingidas por motivos óbvios. Mas digitalmente, tudo é muito fácil. Toda vez que um matéria vier com qualquer tipo de conteúdo de Vídeo/Áudio, a imagem de destaque virá acompanhada de ícones correspondentes, como a ícone vermelha do Youtube. Se a matéria tiver mais de um conteúdio audiovisual, cada imagem disponível ao longo da matéria terá os mesmos ícones. Basta passar o mouse ou o dedo por cima da imagem, que ela se mostrará como um link. Clique, e seja redirecionado para o conteúdo! No caso de vídeos únicos (e não em playlist), o player será aberto dentro da própria revista, não interferindo na sua experiência.

Links

Além do conteúdo audiovisual principal, as vezes as matérias contém inúmeros outros links de Vídeo/ Áudio, tornando difícil colocar ícones para todos. Também acontece de uma matéria ter um link para outra matéria. Para isso, foi criado uma forma bem fácil de identifica-los: todos os links são sublinhados. O sublinhamento tem o efeito do marca-texto, parecendo que aquela parte do texto foi, de fato, destacada por um. Esta é a identificação de um link; uma linha grossa em Amarelo, a cor oficial da revista. Rodapé

O easter-egg da revista. No rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint. online sublinhado também é um link. Neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog. //


IDEALIZADORES

colab

DESENHO

colab

DIAGRAMAÇÃO

h erois co n tr a th a nos

|


colabs

TEXTO

idealizadores; joão dicker, vics

em ordem alfabética, da esquerda para a direita

equipe da ediç ão

desenho; rafael rallo diagramação; maria nagib, victoria cunha // vics texto; bárbara lima, bruna curi, carolina cassese, deborah almeida, fernanda palazzi, ívens barros, laísa santos, renato quintino, ruth berbert, stephanie torres // joão dicker, vics


CALENDÁRIO CULTURAL q u i.

gringo - vivo ou morto

QU I.

attack on titan: fim do mundo

qu i.

os fantasmas de ismael

qu i.

a noite do jogo

qu i.

teu mundo não cabe nos meus olhos

qu i.

desejo de matar

qu i.

verdade ou desafio

sex.

tranquility base hotel & casino

03 03 03 03 s ex .

04 s ex .

13 s ex .

04

10 10 10 11

álbum de

shusterman

charlie puth

qui.

17

donkey kong country: tropical freeze

q ui .

a mata negra

tudo o que restou

q ui .

querida mãe

q ui .

A Abelhinha Maya: O Filme

se x .

hyrule warriors

o melhor de você uma história de amor

sex .

18

electric light

sheridan

shin megami tensei: strange journey redux

ter.

mega man lecacy collection 1 + 2

apenas amigos

t er .

para nintendo

de kerry

17

switch

17

lonsdale

dear white people

2 A TEMPORADA

17 sex.

11 te r.

15 te r.

15 sex.

qu a .

04 2018

monkeys

voicenotes

o fundo é apenas o começo de neal

álbum de arctic

deadpool 2

16 jan

FEV

18 de mia

para nintendo

de christina

mar

witch

lauren

22 22 abr

para nintendo

switch

álbum de james

para nintendo

bay

switch

state of decay 2 para pc

mai

& xbox one

JUN


a agenda traz as datas dos principais lançamentos e estreias do mês de MAIO para as áreas de FILMES, LITERATURA, MÚSICA, SÉRIES e JOGOS.

han solo: 25 uma história 25 star wars 25

dark souls

Q UI .

não vai dar

SEX.

detroit: become human

Q UI .

eu só posso imaginar

sex.

love is dead

Q UI .

paraíso perdido

sex.

wildness

Q UI .

digimon story cyber sleuth hacker’s memory

SEX.

25

para nintendo

switch

para playstation

4

álbum de Chvrches

álbum de SNOW

PATROL

31 31 31 31

para ps4,

shawn mendes 31

qui.

24

Q UI .

não se aceitam devoluções

Q UI .

gnomeu e julieta: o mistério do jardim

álbum de

q u i.

tully

q u i.

persona 3: dancing moon night

24 24

para Ps4,

antes que eu me esqueça

q u i.

persona 4: dancing all night

24

para Ps4,

31

25

ps vita

alguém como eu

sex.

qu i.

persona 5: dancing star night

te r.

24 q u i.

24 JUL

para Ps4,

ps vita

berenice procura AGO

qu a .

30 SET

A Superfície da Sombra

vibras

25 29

os estranhos: caçada noturna

sex.

q u i.

24

31 Q UI .

ps vita

q u i.

24

shawn mendes

ps vita

álbum de j

balvin

fallen legion: rise to glory

para nintendo

switcj

unbreakable kimmy schmidt 4 A TEMPORADA, pt. 1

OUT

nov

qui.

31 DEZ

2019


dicionário // guia do entretenimento

Não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, ficando sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados pelas pessoas da área. E as vezes, até mesmo quem está inteirado, pode acabar desconhecendo alguma palavra do meio. Por essa e outras, a ZINT se prontificou a explicar alguns dos termos utilizados no mundo do entretenimento, em todas as áreas que a revista cobre. Mês a mês, novas palavras irão figurar por aqui, de acordo com as matérias que forem publicadas e os termos que as mesmas apresentarem. Ficar fora da conversa? Nunca mais!


budge T

orçamento // como já explicita a tradução, o BUDGET é o orçamento que um filme tem para viabilizar o seu lançamento. o seu cálculo é uma soma de inúmeros custos de produção, como o salário dos atores, do diretor, roteiristas, entre outros, alugueis de locação, refilmagens, efeitos especiais, e, é claro, as costumeiras compras de publicidade e o marketing. << Mesmo com a existência, hoje, de “Vingadores: Guerra Infinita”, o filme com o orçamento mais caro da história é “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas”, custando à Disney, em 2011, US$ 378,5 milhões. >>

lip sync

sincronia labial // talvez, lIp sync seja uma das palavras mais conhecidas no mundo da música. a sincronia labial é uma das piores decisões que um artista pode fazer para sua carreira, principalmente por ser muito mal recebido pelo público, que vê no uso um sinônimo para “o artista não sabe cantar”. << Britney Spears é uma das principais artista relacionadas ao uso do Lip Sync, criando a famosa teoria de conspiração de que a voz da cantora é o produto de uma manipulação do auto-tune, levando-a a, algumas vezes, provar que ela sabe cantar. >>

SERIES finale final da série // SERIES FINALE, como a tradução já indica, é utilizado para indicar que uma série chegou ao seu fim (na maioria das vezes, definitivo). << O dia 19 de abril de 2018 é a data do Series Finale de “Scandal”, parte das séries produzidas por Shonda Rhimes. A série durou sete temporada e teve um total de 124 episódios exibidos entre 2012 e 2018. >>


SU M ÁRIO [

]

filmes p.16

A grande saga da Marvel nas telas João Dicker p.26

Uma viagem pelo universo Bruna Curi p.30

O silêncio como condutor do medo João Dicker p.36

A retomada do ser sobre si mesmo Fernanda Palazzi p.38

O entretenimento enquanto bagunça João Dicker p.40

O tempo da desigualdade acabou? Stephanie Torres p.44

Cinema e Sociedade: uma conversa com Pablo Villaça Carolina Cassese

[ séries ] p.48

[

música p.68

]

A polêmica de “O Mecanismo”

Você quer festejar com Cardi?

p.50

A nova voz do pop queer

Bruna Curi

Um show de empatia

Carolina Cassese

O retorno do Greg News p.56

O sucesso dos irmãos Baudelaires Laísa Santos p.58

Perigo! Perigo! Renato Quintino p.62

A volta dos anos 90 Bárbara Lima p.64

ZUMBO’S JUST DESSERTS Laísa Santos

vics

p.76

Deborah Almeida p.80

Ruth Berbert p.86

Para Avicii, com toda admiração Ívens Barros

[

tirinhas p.90

]

Esqueleto no Armário Rafael Rallo

[

playlists p.94

Todas

]


vingadores pรกg. 16

o mecanismo pรกg. 48

cardi b pรกg. 68



[

filmes

]


A grande saga da Marvel nas telas T E X T O //

joĂŁo dicker

d i a g r a m a ç ã o //

vics


N []

Nada mais simbólico do que Vingadores: Guerra Infinita (2018) ser a culminação de toda construção de universo feito pela Marvel nos cinemas. A Casa das Ideias sempre foi conhecida por suas grandes sagas nos quadrinhos, que alongadas por meses em novas edições, reverberam em diversos arcos individuais de heróis e constroem toda a mitologia que os filmes se baseiam. Assim, desde que iniciou sua jornada nas telas de cinema com Homem

de Ferro (2008), a empresa norteou seu caminho com a mesma essência que a consolidou na indústria de quadrinhos, variando entre as histórias solos e os tão aguardados crossovers. Agora, passados 10 anos e 18 longas-metragens, finalmente a maior saga cinematográfica da Marvel chegou as telas, correspondendo à expectativa de que o encontro de praticamente todos os heróis existentes

no MCU não seria apenas um filme, mas sim um evento épico. Sendo assim, o roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely escolhe por transformar Guerra Infinita efetivamente no ponto de encontro de todas as ramificações narrativas que o MCU possui, trazendo todo drama, toda bagagem emocional e psicológica que personagens e público dividem para um novo epicentro personificado na figura de Thanos (Josh Brolin).

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Como era esperado e vinha sendo preparado, o Titã está empenhado em sua busca pelas Joias do Infinito, os seis artefatos que condensam singularidades do universo que, uma vez juntas, asseguram um poder total sobre toda matéria e realidade existente. Como já entramos em contato com 5 das 6 Joias em filmes anteriores, o texto de Guerra Infinita não perde tempo para mostrar como o antagonista está focado em alcançar seu objetivo que, inclusive, é surpreendentemente bem construído. Se outrora a Marvel sofreu com vilões fracos e poucos impactantes, Thanos tem não só toda imponência e sensação de ameça evidente em seu visual, mas também uma personalidade forte que evidencia sua misericórdia, suas motivações

críveis, sua forma deturpada de enxergar as mazelas do universo e, porque não, todo seu carisma e senso de humor. Sua compreensão de que dizimar metade do universo para que uma outra metade tenha uma vida próspera acaba sendo empática devido ao ótimo trabalho do roteiro em dar profundidade e humanidade ao vilão. Outro ponto positivo do roteiro é a demonstração de um amadurecimento na forma como a Marvel tem abordado suas narrativas e apresentado seus conceitos. Se Pantera Negra (2018) soube utilizar perfeitamente do design de produção e da direção de arte para agregar ao enredo, apresentando valores culturais e históricos da civilização de T'Challa em figurinos, cenários e rituais, Guerra Infinita mostra que a dupla de roteiris-

n e s t e l a d o d a i m a g e m : g r o o t, r o c k e t r a c c o o n , t h o r , loki, senhor das estrelas, drax, visão, feiticeira e s c a r l at e , fa l c ã o, c a p i tã o a m é r i c a , v i ú va n e g r a


tas, assim como os irmãos Anthony e Joe Russo fazem no comando da direção, entendem que o cinema é uma arte que prioriza a imagem. Por isso, não somos bombardeados com diálogos exageradamente expositivos e didáticos, sendo introduzidos a conceitos e atualizações das situações de alguns personagens por meio da dinâmica de equipe ou pela ação. Logo na abertura da película acompanhamos Thanos e seus filhos mostrando a força que têm, estabelecendo a ameaça que injeta gás no grandioso conflito que se estenderá por todo filme, sem nenhuma exposição gratuita de informação. Dinâmica e conflito são, inclusive, dois conceitos que permeiam a produção. A extensa lista de personagens obriga os diretores a optarem por

uma divisão de núcleos narrativos, separando os heróis em pequenos grupos com missões próprias, mas que são interligadas pelo objetivo em comum: deter Thanos. Desta forma, é natural que algumas figuras acabem com menos tempo de tela e, consequentemente, menos desenvolvimento, mas o roteiro acerta na escolha de priorizar os heróis que mais tem ligações com Thanos. Nomes importantes do MCU como Viúva Negra (Scarlett Johansson), Capitão América (Chris Evans) e Pantera Negra (Chadwick Boseman), acabam apenas com funcionalidades visuais, participando de sequências de ação incríveis em seus estilos particulares de combates ou então agregando a narrativa devido aos contextos em que estão inseridos, como por exemplo, o próprio Rei

neste lado da imagem: thanos, hulk, gavião-arqueiro, soldado invernal, máquina de c o m b at e , h o m e m -a r a n h a , pa n t e r a n e g r a , d o u t o r e s t r a n h o, m a n t i s, g a m o r a , h o m e m de ferro, nebula, Corvus Glaive, Próxima Meia-Noite, Estrela Negra, Fauce de Ébano


Em um dos arcos, que se passa em Wakanda, na Terra, o time de heróis é composto, principalmente, p o r C a p i tã o A m é r i c a , V i ú va N e g r a , P a n t e r a N e g r a , B u c k y, G e n e r a l Okoye e o Hulk

de Wakanda que participa do longa muito mais pela existência e relevância de sua terra do que propriamente por uma importância na jornada como um todo. Por outro lado, Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), Tony Stark (Robert Downey Jr.), Gamora (Zoë Saldaña), Visão (Paul Bettany) e Thor (Chris Hemsworth), possuem arcos dramáticos bem desenvolvidos, com alguns deles sendo construídos dentro do longa e outros sendo trabalhados a partir do resgate de acontecimentos vindouros na longa construção de universo que tem acontecido nos últimos 10 anos. Dessa divisão de núcleos acaba saindo uma das maiores virtudes da Marvel no cinema: a 20| zint.online

dinâmica de personagens. Desde que compreendeu que uma das principais qualidades de seus longas reside no relacionamento entre seus heróis e no carisma dos mesmos, a empresa passou a trabalhar com as participações especiais em filmes solos. Em Guerra Infinita o acerto reside em resgatar algumas dinâmicas, como a existente entre Homem de Fer-


ro e Homem-Aranha (Tom Holland) ou Peter Quill (Chris Pratt) e Drax (Dave Bautista) para assegurar o tradicional humor e leveza da "fórmula Marvel"; também, o resgate de outras que aprofundam o drama da projeção, como o relacionamento da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) com o Visão. Ainda, a criação de novos encontros reservam cenas hilárias e diálogos prazerosos, ao passo que também criam tensões e arcos interessantes dentro da jornada contra Thanos, mostrando vislumbres e possibilidades de protagonismo para a próxima fase do MCU. Apesar de ser um dos filmes mais sérios e sóbrios do estúdio, Guerra Infinita tem um acerto de tom e dosagem entre humor e drama cirúrgico, conseguindo utilizar das diversas piadas como alívios cômicos e garantia da aura leve descontraída da Marvel, sem exaurir o peso dos acontecimentos. Mesmo que o longa seja mais carregado e tenha consequências verdadei-

ramente profundas para os personagens e para todo o universo criado, os realizadores não se esquecem em momento algum de se divertir e de entreter o espectador, quase que da mesma forma em que Thanos parece ter prazer em edificar sua jornada. Por outro lado, a repetição de uma piada envolvendo o arco do Hulk (Mark Ruffalo) acaba prejudicando uma interessante situação criada para adicionar mais sustância a jornada de Banner, mas que pelo desgaste do punchline acaba sendo repetitivo. Encapando todo esse grandioso encontro de heróis está a direção espetacular dos irmãos Russo, responsáveis por garantir que Guerra Infinita se assuma como o evento épico que prometeu ser. A dupla entrega sequências de ação cativantes que variam desde combates individuais em que cada herói exerce seu poder,

No espaço, há dois times. Um deles reúne parte dos Vingadores (como o Homem de Ferro) e parte dos Guardiões da Galáxia (como o Senhor d a s E s t r e l a s ) . N a i m a g e m a i n d a e s tã o o Homem-Aranha, Drax e Mantis

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habilidade e característica, até confrontos em equipe que entregam momentos que aquecem o coração de qualquer fã. É animador ver os personagens unirem forças em lutas que combinam uma coreografia muito bem pensada e efeitos visuais impecáveis. É tudo muito bem filmado e as claras, demonstrando fluidez visual e domínio no comando de diferentes formas de sequências complexas, sejam elas em ambientes fechados e em escalas menores ou em confrontos que exigem de um escopo maior. O esmero visual é complementado por um design de produção e por uma direção de arte consoantes, que não só criam os mais variados tipos de cenários (desde interiores de naves à planetas com faunas próprias muito particulares), como também mostram criatividade para dar vida, texturas e cores a poderes variados, complementando as sequências de ação. O CGI também é resultado de um trabalho estupendo, capaz de transformar os Filhos de

N o t i m e d o T h o r e s tã o R o c k e t R a c c o o n e u m a v e r s ã o a d o l e s c e n t e d o G r o o t, trazendo para o Deus do Trovão um i n t e r e s s a n t e e i m p o r ta n t e a r c o

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Thanos em figuras ameaçadoras e interessantes, apesar da falta de personalidade que três deles apresentam. Contudo, a criação dos 4 cavaleiros fieis do titã é eficiente a ponto de torná-los boas


figuras a serem enfrentadas antes do antagonista principal. A montagem do filme, assinada por Jeffrey Ford e Matthew Schmidt, faz um trabalho imprescindível para a fluidez narrativa,

o s q u at r o c ava l e i r o s d o a p o c a l i p s e , conhecidos como a ordem negra, são a p r e s e n ta d o s l o g o n o s p r i m e i r o s m i u t o s d o f i l m e . f i é i s a t h a n o s, e s tã o d i s p o s t o s a fa z e r q u a l q u e r c o i s a e m ata r q u a l q u e r u m pa r a ajudar seu mestre em sua jornada

que trabalha em peso a ação como fio condutor e acaba exigindo que a montagem não permita quebras de ritmo e trabalhe com cortes muito bem pensados para manter a continuidade narrativa e o sentido lógico para o espectador. No que diz respeito as atuações, acaba sobrando pouco tempo e espaço para que o vasto elenco mostre as qualidades de trabalho, mas Hemsworth, Cumberbatch, Downey Jr., Holland, Saldaña e Bautista conseguem se destacar com emoções intensas e alguns momentos marcantes dentro da trama. Mas quem realmente rouba a cena é Josh Brolin, que sustentado pelo impecável e arrebatador trabalho de captura de movimento dá vida a um Thanos imponente, carismático e bem humorado, fazendo com que o filme seja um dos mais diferentes do gênero, visto que mesmo com dezenas de heróis a disposição, entrega seu protagonismo para o vilão. zint.online | 23


Josh Brolin dá vida a um Thanos c o m p l e xo e t r i d i m e n s i o n a l , a p r e s e n ta n d o o melhor vilão já construído pela Marvel Studios em seus 10 anos de vida

Ao final, o longa encontra um desfecho digno da grande saga cinemática da empresa, deixando o espectador estupefato pela corajosa escolha de como coroar os 10 anos de Marvel Studios. Uma escolha que não só condiz com a finalidade que Guerra Infinita tem dentro do MCU, ao servir como a primeira parte de Vingadores 4 (que ainda não tem título confirmado), mas também como uma demonstração de que novos tempos e inúmeras possibilidades estão por vir na Casa das Ideias. Com a confirmação de que Thanos é a maior ameaça possível, resta acreditar que a iniciativa de pessoas extraordinárias capazes de lutar as batalhas que ninguém mais consegue encontrará forças para derrotar o titã. E se eles não conseguirem proteger o universo, podemos estar certos de que eles irão vingá-lo. // 24| zint.online


imagens promocionais do filme “vingadores: guerra i n f i n i t a�

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T E X T O //

Bruna Curi

d i a g r a m a ç ã o //

Maria Nagib

Uma viagem pelo universo


B

aseado no livro homônimo de Madeleine L’Engle, Uma Dobra no Tempo (2018) chegou aos cinemas brasileiros no final de março com a aposta de ser um filme infanto-juvenil que em meio a fantasia transmitiria mensagens importantes sobre a autoaceitação, o poder da esperança e sobre os laços familiares e de amizades. A trama gira em torno da adolescente Meg (Storm Reid) e de seu irmão caçula, Charles Wallace (Deric McCabe), que sofrem com a

ausência de seu pai, Dr. Murry (Chris Pine), um renomado físico que trabalhava em um misterioso projeto científico e que desapareceu há quatro anos sem deixar nenhuma pista. Apesar deste tempo sem a presença paterna, os irmãos ainda sentem fortemente essa perda. Nesses últimos anos, Meg acabou se tornando uma jovem hostil, desconfiada, com poucos amigos e que enfrentou diversos casos de bullying na escola. Enquanto isso, Charles Wallace é visto como um esquisito, até mesmo um pouco doido, por ser muito inteligente.


D a e s q u e r d a p r a d i r e i ta : S r a . Q u e m ( M i n dy Kaling), Meg Murry (Storm Reid), Sra. Qual (Oprah Winfrey), Dr. Alex Murry (Chris Pine) e Sra. Queé (Reese Witherspoon)

Quando a esperança de encontrar seu pai estava quase morrendo, Meg e Charles são surpreendidos ao encontrar com as guardiãs do universo, três mulheres responsáveis por ajudar os necessitados de esperança e força no universo. Assim, a Sra. Quem (Mindy Kaling), Sra. Qual (Oprah Winfrey) e a Sra. Queé (Reese Witherspoon), enviam Meg e Charles, que estão acompanhados de um colega da escola chamado Calvin (Levi Miller), em uma aventura para encontrar o pai dos irmãos, viajando em uma dobra no tempo, conhecida como tessering. E para conseguir voltar a Terra e ajudar o seu pai, Meg precisará lutar contra a escuridão que existe dentro de si para derrotar as forças malignas que aos poucos estão envolvendo o universo. Por se tratar de um longa focado para o público infanto-juvenil, fica claro que a diretora Ava Du28| zint.online

Vernay pensou nos mínimos detalhes nos quesitos estéticos: as cores, os cenários e os efeitos especiais. Tudo foi elaborado para criar uma experiência lúdica para o público, desde a fotogra-


fia assinada por Tobias A. Schliessler e a direção de arte de Gregory S. Hooper e Jeff Julian, supervisionados por David Lazan, foram os grandes pontos positivos do filme, fazendo com que Uma Dobra no Tempo seja uma experiência estética interessante e criativa, mas que não consegue cumprir com todas as suas expectativas narrativas. De forma geral, o roteiro é confuso em diversos aspectos. Nem mesmo os grandes nomes como Oprah Winfrey, Reese Witherspoon, Chris Pine, Mindy Kaling, Gugu Mbatha-Raw e Michael Peña conseguem amenizar as falhas presentes no texto. Algumas sequências são muito prolongados, dando a sensação de enrolação, sem contar com a montagem que não ajuda a criar continuidade em diversas cenas, não apresentando uma ligação coerente. Apesar desse viés negativo no roteiro, é importante destacar o caráter representativo que a obra possui, uma vez que não só DuVernay foi a primeira mulher negra a comandar uma produção de mais de 100 milhões de dólares, mas também por possuir um elenco inclusivo que toma papeis de protagonismo na trama e de personagens fortes: como a jovem protagonista ser uma garota negra e as guardiãs do Universo serem vividas por uma negra, uma descendente de indianos e uma branca. Em entrevista para a revista Time, a diretora revelou alguns de seus critérios para a escolha do elenco: “Eu não estava apenas procurando por atrizes. Eu estava procurando por líderes – ícones. Reese é a produtora mais popular da cidade. Oprah é a mais prolífica e venerável lenda da televisão e uma artista e empreendedora. E Mindy é uma das poucas mulheres dirigindo um programa com o nome dela, sobre ela”, contou. Apesar de frequente, a tarefa de adaptar obras literárias para as telas de cinema não é das mais fáceis e, em pleno 2018, parece que a prosperidade das adaptações de obras infanto-juvenis chegou ao seu fim. Foi-se o tempo das adaptações memoráveis como As Crônicas de Nárnia (2005), Ponte Para Terabítia (2007) e das franquias Harry Potter e Jogos Vorazes. Ao final, Uma Dobra no Tempo deixa a desejar, uma vez que apresenta inúmera falhas em seu roteiro. Mas, apesar dos aspectos negativos, o longa consegue cumprir com o seu papel fantasioso, criando um universo lúdico por meio dos efeitos especiais e com alguma representatividade importante, mostrando que as meninas podem sim salvar o mundo. // zint.online | 29


O SILÊNCIO COMO CONDUTOR DO MEDO T E X T O //

joão dicker

d i a g r a m a ç ã o //

vics


S Se em 2017 vimos à entrada de Jordan Peele no gênero do terror com o trabalho fenomenal em Corra!, 2018 parece nos reservar mais uma surpresa de profissionais do âmbito humorístico que deixam a área em que são reconhecidos para demonstrar seu talento como cineasta. Diferindo de Peele, que estreava na direção de um longa-metragem, John Krasinski (o Jim da versão americana de The Office) já havia exercido a função em Brief Interviews with Hideous Men (2009) e Familiar Hollar (2016), mas sem demonstrar tamanhas virtudes como diretor. Agora, com Um Lugar Silencioso, ele surpreende ao entregar um dos filmes mais aterrorizantes dos últimos anos, demonstrando consciência de como trabalhar com gêneros dentro do cinema para criar uma obra memorável que se assume como uma experiência sonora tensa e arrebatadora. Na trama, acompanhamos uma família tentando sobreviver em um mundo pós-apocalíptico em que os humanos estão rodeados de monstros que atacam a partir da emissão de sons. É sim uma premissa simples e até um pouco vazia, mas que o roteiro de Scott Beck e Bryan Woods, que tem contribuição de Krasinski, é perspicaz ao nos apresentar a família Abbot no "dia 89"; ou seja, passamos a acompanhar a família já a 89 dias após o acontecimento que os colocou naquela nova forma de viver. Ao não se valer de explicações didáticas a respeito do que aconteceu com a sociedade, de como

surgiram os monstros que assolam as florestas ou de como os humanos (e a família) passaram a compreender o que precisavam fazer para sobreviver, o roteiro acaba sendo ágil e muito bem decupado, mostrando a compreensão dos envolvidos em sua criação de que o cinema é a arte "do que se deve mostrar" e não "do que se deve falar". Desta forma, nos deparamos diversas vezes ao longo do filme com páginas de jornais ao vento, placas e cartazes, escritos em paredes e anotações em quadros que apontam para elementos importantes da narrativa, mas que não são explicações diretas de nenhum conceito ou informação do mundo criado. A escolha por abrir mão dos diálogos para focar no principal elemento do cinema, a imagem, permite que Krasinski tenha mais espaço para demonstrar suas virtudes na direção, tanto no conduzir da narrativa quanto na construção da tensão e do pavor que não se exaurem em momento algum. A narrativa é desenvolvida com maestria em um ritmo cadenciado que vai apresentando as soluções encontradas pela família para viver em um mundo em que tarefas zint.online | 31


A r e l a ç ã o d e E m i ly B l u n t e John Krasinski vai além d a s t e l a s, j á q u e o s at o r e s são casados na vida real. O filme, inclusive, é a primeira colaboração entre os dois

cotidianas comuns podem te levar a uma morte rápida e sangrenta, permitindo que o senso de perigo se estenda incrivelmente depois do susto. O uso de areia para traçar caminhos seguros para casa, evitando o barulho de plantas e galhos ou o forno construído nas estruturadas da casa são soluções visuais perfeitas encontradas pelo diretor para evidenciar as artimanhas e o domínio que a família tem sob as novas regras de sobrevivência. Ainda, o diretor demonstrar 32| zint.online

engenhosidade e consciência visual ao explorar do vazio como potencializador do medo e desespero do espectador. O uso de planos fechados e de enquadramentos que colocam os personagens nos cantos do plano criam espaços vazios na tela responsáveis por dar a sensação angustiante de que algo vai preencher aquele buraco, em um jogo de antecipação do que pode sair do espaço que rodeia os personagens. Vale ressaltar, também, a escolha por não mostrar os monstros em sua totalidade até o terceiro ato, deixando o imaginário do espectador trabalhando


com a insegurança de não identificar de onde vem o som emitido pelas criaturas, que quando são reveladas se sustentam graças ao bom CGI da produção, que merece ser valorizado ainda mais quando pensamos no baixo orçamento do filme. O design de som é um show a parte, criando um efeito sonoro seco para diferenciar como a filha surda percebe as situações a sua volta, um ruído espec-

tral interessante para os monstros, uma sensibilidade impressionante em como criar sons (ou a falta de sons) dentre de ambientes variados e diferenciando-os, além de, claro, efeitos estrondosos que ficam ainda mais potentes quando rompem o silêncio que permeia a produção. Se muitos filmes de terror utilizam de ruídos altos para assustar, Um Lugar Silencioso se diferencia dos outros por explorar do silêncio como criador da tensão e do anseio do que pode acontecer caso aquela monotonia seja quebrada, utilizando do susto como uma mera ferramenta para incomodar o espectador. A John Krasinski dirige e estrela o filme, t r a z e n d o - o c o m o u m p a i d e f a m í l i a u lt r a protetor, disposto a fazer qualquer coisa para manter seus filhos em segurança. N a i m a g e m , j u n t o à e l e , e s tá o at o r N o a h Jupe, um de seus filhos na película


E m i ly B l u n t m o s t r a c o n t r o l e absoluto sob sua personagem, assim como a estreante das grandes telas, Millicent Simmonds, que assim como na ficção, é surda na vida real

a n a r r at i va e n v o lv e n d o a g r av i d e z de blunt é um dos principais arcos do filme, fazendo com o que o seu parto seja uma das cenas mais tensas e polêmicas de todo o longa

inventividade da obra de Krasinski está, justamente, na compreensão de que em sua trama o verdadeiro perigo vem após o ruído estrondoso, alongando a apreensão do espectador a níveis desconfortáveis. Esse incomodo é, inclusive, a principal sensação do terceiro ato que conta com uma enorme sequência de sobrevivência arrebatadora. Apesar da falta de diálogos, o ótimo elenco tem material para trabalhar. O próprio diretor, que vive o pai da família, tem uma performance sólida ao dar vida a um homem que carrega a dor e a culpa de não ter conseguido proteger sua família em um momento importante da trama. Ao mesmo tempo, ele mostra não só inteligente, apto a sobreviver e amedrontado pelas criaturas ao escolher evita-las ao invés de combate-las, mas também preocupado de que caso morra, sua família também ficará em apuros, demonstrando todo o seu pesar na tentativa de 34| zint.online


proteger dar um porto seguro as pessoas que ama. Noah Jupe vive o filho mais novo da família, demonstrando o pânico e o pavor crescente de um jovem assustado por passar a ser exigido de mais responsabilidades no que diz respeito a vida familiar. A jovem surda Millicent Simmonds faz uma filha carregada de drama, emoções, dúvidas e traumas importantes para a relação familiar construída, suprimindo sentimentos que quando explodem - seja por meio da linguagem dos sinais, ou por espasmos silenciosos de raiva e tristeza - são convincentes e emocionantes. Mas, quem se destaca no elenco é Emily Blunt ao entregar uma mais uma atuação intensa, trabalhando toda sua capacidade de fluir naturalmente e de forma rápida entre o contido e o expressivo para demonstrar o medo e a tristeza existentes

um dos maiores trunfos

naquela família. Partindo de uma premissa simples muito bem trabalhada por um roteiro perspicaz, por uma di-

de “um lugar silencioso” e s tá n o p o d e r d e at u a ç ã o c o r p o r a l e expresssividade de seus at o r e s, p r i n c i pa l m e n t e no trabalho excepcional d a at r i z m i l l i c e n t

reção magistral consciente e por atuações consoantes, Um Lugar Silencioso se assume como um filme de terror que trabalha um extrapola os limites da tela para se assumir como uma experiência sonora agonizante e arrebatadora, tão forte que nos deixa incomodados com desconforto causado pela incessável vontade de gritar de medo ao longo do filme. //

d u r a n t e e n t r e v i s ta s d e p r o m o ç ã o do filme, john comentou que, na verdade, o filme é sobre o quão longe pais irão para proteger seus filhos


A retomada do ser sobre si mesmo T E X T O //

Fernanda Palazzi

d i a g r a m a ç ã o //

vics

A

Arábia (2018) é um filme de tomada de consciência. Isso, por si só, já diz muito sobre ele e sobre os diretores Affonso Uchoa e João Dumans, que repetem a parceria de sucesso criada em A Vizinhança do Tigre (2016). Centrado na cidade de Ouro Preto, o filme passa suas quase duas horas sem mostrar uma igreja ou arte barroca que a caracterizam, e por isso diz uma verdade sobre o que vive por trás dos cartões postais: a cidade que fez fama pela exploração de seres humanos em busca de ouro e hoje sobrevive da exploração de seres humanos em beneficiamento de alumínio e bauxita. Mas antes de falar do filme, preciso falar de mim, essa que vos fala, pois filmes tem contexto e pessoas que os assistem tem contexto, e o meu é da ouropretana que veio para a capital estudar Cinema, e com a experiência de Arábia, reviu sua cidade em uma tela através de olhos que vêem além do que atrai os turistas. Acompanhamos primeiro André (Murilo Caliari), jovem nativo da cidade de Ouro Preto, morador da Vila Operária. Os primeiros minutos do filme mostram André de bicicleta, percorrendo uma grande rodovia alta, com um abismo e arvoredo ao fundo, em seu único movimento de liberdade da narrativa. Alheio a sua realidade, só se importa com seu irmão e parece apático, em negação de sua existência. A direção do filme reforça isso e a câmera vê o mundo assim, com enquadramentos que não mostram o rosto das personagens. Chegamos a transpassar nosso segundo protagonista na visão de André, mas não o reconhecemos nem o damos valor, nem o rosto de sua própria tia, a enfermeira da região, André

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enxerga. Eles são só fantasmas, alienações. No som, ouvimos o tempo todo o barulho da fábrica, um plano de fundo constante e que liga nossos dois protagonistas. A segunda parte começa quando a tia de André pede que ele vá até a casa de um operário buscar documentos e roupas pois o mesmo está sendo hospitalizado, deparando-se com uma carta, o relato da vida daquele desconhecido sem amigos e parentes numa cama de hospital. Ele então conhece


Cristiano, seu eu oposto. Lados diferentes da mesma moeda, Cristiano é o polo que se entrega, se apaixona, se arrisca, e mesmo que de forma efêmera, faz diversos amigos ao longo da narrativa, aprende e tenta entender a todos, e enquanto André nem se importou em enxergar Cristiano, ele não só o faz, mas até empatiza. Cristiano (Aristides de Souza, que também estrela A Vizinhança do Tigre) é um homem pobre nascido no bairro Nacional na cidade de Contagem, que ao sair da cadeia decide não querer mais essa vida e cai na estrada. Seguimos cada passo dele em sua aventura de autodescoberta sobre sua própria significação e da função que desempenha nas engrenagens do mundo. E essa jornada é majoritariamente de amor, não só porque Cristiano considera Ana o único capítulo digno de nota de sua vida, mas porque ele tende a demonstrar uma fé e esperança numa vida feliz que faz com que o espectador se apegue e o defenda, mesmo quando comete atos questionáveis. Ele, então, passa por uma plantação de mexerica, onde aprende pela primeira vez sobre movimento sindical, fato que o marca pelo resto da narrativa, além de nos proporcionar uma das cenas mais bonitas do filme: Cristiano e seu primo tocam juntos um violão. O primo, da roça, toca uma moda sertaneja, enquanto Cristiano, em seguida, pega o violão e toca um rap, um pedaço de sua alma contagense. Ali, duas Minas Gerais diferem, dialogam e se entrelaçam em suas realidades. Mas para Cristiano, ser explorado na roça não é mais pra ele, passando pela reforma de um puteiro e diversos bicos até conhecer Ana numa fábrica de tecidos, por quem se apaixona. A decepção amorosa o leva a aceitar um emprego junto de seu ex-parceiro de cela, Cascão, na fábrica de alumínio, levando-o a cidade e aos acontecimentos que iniciam a narrativa. O filme acerta na beleza e na pessoalidade; Cristiano é facilmente identificável e apesar da vida sofrida, não é um homem sofrido. Sua fala cadenciada, com frases pequenas, mas bem construídas, nos acompanham o filme todo, e apesar de tratar-se de uma leitura constante, a boa conversa entre os diálogos, a montagem e a trilha sonora faz com que não fique maçante, fazendo com que você se sinta preso e inebriado ao diário de Cristiano, sempre querendo mais. Acompanhamos passo a passo enquanto cada

injustiça social assola nosso protagonista, e como cada uma delas erigem a escalada dele até sua tomada de consciência. Os enquadramentos e a quase ausência de decupagem criam quadros bonitos e bem pensados, a fotografia é leve, investindo na luz natural, com cores sutis. O filme nega os planos comuns, como o plano e contra plano que acontece pouquíssimas vezes, e investe no mais distante e afastado com o objetivo claro de desacomodar e ganhar carga dramática para essas cenas. Envolvidos como estamos com essa construção, não é de se surpreender que o monólogo final seja tão impactante. Como já disse, o barulho de fundo da fábrica perpassa todo o filme e liga as realidades de nossos protagonistas, mas é o silêncio do clímax que conta aos nossos personagens a verdade. É o silêncio da grande fábrica barulhenta que ecoa neles e em nós e nos faz cair no fluxo de consciência sobre o ser trabalhador, e que nos faz quase comemorar quando Cristiano se reconhece como dono de sua vida e deseja o fim de sua servidão. Nós nos felicitamos e desejamos que essa liberdade chegue, que se inicie uma revolução como a de Seu Barreto nas lavouras de mexerica. Porém algo nos impede do regozijo; nós já sabemos o fim dessa história, já sabemos o destino de Cristiano. Esse entendimento doloroso é a realidade dura do fim do filme, mas Uchoa e Dumans são generosos e nos deixam por alguns segundos fitando a tela preta e o grande silêncio, para garantir que a mensagem ressoe até nossos ossos. // zint.online | 37


O entretenimento enquanto bagunça T E X T O //

O

joão dicker

cinema sempre teve atores que se assumiram como as principais figuras dos filmes de ação grandiosos. Silvester Stalone, Arnold Schwarzenegger, Keanu Reeves, Liam Neeson, Jean-Claud Van Damme e Jason Statham são alguns nomes que marcaram presença no cinema a partir dos anos 80. Na atualidade, Dwayne “The Rock” Johnson comprova a cada filme que pegou para si o cargo de símbolo da masculinidade bruta dos filmes de ação, participando de produções grandiosas que trazem retorno financeiro para os estúdios muito 38| zint.online

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victoria cunha

graças ao carisma do ator. Independentemente do resultado na bilheteria, Rampage: Destruição Total (2018) é um destes blockbusters de ação grandiloquentes que partem de uma premissa despretensiosa para entreter o espectador, mas que são esquecíveis logo quando saímos da sala de cinema. O longa adapta um jogo dos anos 80 em que o jogador controla um ser humano infectado por uma mistura genética que o transformava em um monstro gigante, passando a destruir prédios e a devastar uma cidade. De uma premissa tão rasa, o roteiro de Ryan J.Condal, Carlton Cuse, Ryan


Engle, e Adam Sztykiel tenta criar alguma forma de estofo para situar a narrativa ao apresentar um acidente na órbita da Terra que causa a liberação de três caixas com um substância genética responsável por transformar três animais em monstros gigantes. Assim, quando George - o gorila albino amigo do perito em primatas vivido por The Rock - passa a ser atraído para Chicago pela dupla de vilões toscos do longa, o astro de ação precisa adentrar na cidade para impedir uma destruição em massa e, acima de tudo, tentar salvar seu amigo primata. O trabalho de quatro roteiristas no comando do texto fica claro no desenvolvimento da narrativa, que parece combinar sequências de cenas escritas separadamente e depois amarradas para um longa de 107 minutos. Contudo, surpreendentemente o primeiro ato consegue estabelecer uma relação crível entre The Rock e o gorila, graças ao ótimo CGI na construção do animal e do carisma do astro de ação em ser descolado, imponente e amigável. O roteiro de Rampage exige do espectador uma alta dose de suspensão voluntária da descrença para que muitas das cenas de ação e das reviravoltas excessivamente expositivas funcionem, mas a sensação é de que em momento algum houve alguma pretensão de se extrapolar o limite da cafonice e diversão. Dentro esse espectro, Brad Peyton refaz a dupla com Dwayne Johnson, assim como em Viagem 2:

A Ilha Misteriosa (2012) e Terremoto: A Falha de San Andreas (2015), para entregar sequências de ação de se assemelham muito com o longa do abalo sísmico. É verdade que a ideia do filme seja priorizar os embates entre os monstros gigantes e as cenas grandiloquentes de destruction porn sobre as situações absurdas em que o personagem de The Rock e a biologia vivida por Naomie Harris conseguem sobreviver, mas essa opção acaba deixando o astro de ação e seu potencial como catalisador dos acontecimentos um pouco de lado, reservando somente a última das últimas batalhas para que o ex-lutador se una a seu amigo primata para salvar o mundo. Os dois atores, assim como Jake Lacy e Malin Akerman fazem ao viver os irmãos antagonistas e Jeffrey Dean Morgan ao dar vida a um agente federal meio cowboy, se divertem ao abraçar a cafonice e superficialidade de seus personagens, transformando aspectos que poderiam incomodar em punchlines visuais. De toda essa experiência datada e cafona, Rampage: Destruição Total se apresenta como um filme de ação dos anos 90 realizado com os meios técnicos e o orçamento de um blockbuster de 2018, trazendo personagens vazios, viradas previsíveis no roteiro, cenas de ação que não destoam da maioria dos filmes de monstros gigantes, mas que funcionam como um longa despretensioso e divertido. //

A relação de melhores amigos entre o personagem de The Rock com o gorila albino George gera d i v e r t i d a s c e n a s , c o m o p r i m ata s e n d o e x t r e m a m e n t e b r i n c a l h ã o e m u i ta s v e z e s “ s e m f i lt r o ”


O tempo da desigualdade acabou? T E X T O //

stephanie torres

d i a g r a m a ç ã o //

A temporada de premiações do cinema no início de 2018 foi marcada por protestos e manifestações políticas. Um dos destaques foi o Time’s Up, movimento criado por mulheres e para apoiar mulheres vítimas de abuso sexual na indústria e garantir igualdade de condições de trabalho entre os gêneros. Mais do que fazer o

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vics

importantíssimo trabalho de criar um espaço seguro onde mulheres possam denunciar assédios sofridos e se prevenir de ataques futuros, a iniciativa também colocou sob os holofotes o principal aspecto que permite que esse problema continue acontecendo: a dominância que os homens exercem na indústria.


Durante o Gobo de Ouro 2018, Oprah Winfrey fez um discurso certeiro sobre a desigualdade de gênero e ta m b é m s o b r e s e r u m a m u l h e r e s n e g r a e m u m m u n d o m a c h i s ta e r a c i s ta , l e va n d o, at é m e s m o, s u s p e i ta s d e u m a p o s s í v e l c a n d i d at u r a à P r e s i d ê n c i a , já desmentida pela própria

Em uma visão extremamente superficial, pode até parecer que a reclamação de desigualdade não se justifica em Hollywood, uma vez que vemos várias atrizes bem sucedidas por lá. Porém, uma análise um pouco mais atenta é suficiente para percebermos que a realidade da indústria cinematográfica não é nem um pouco diferente da realidade do resto das mulheres no mundo, que dificilmente ocupam posição de poder e, quando ocupam, recebem bem menos do que homens na mesma posição. Em 2013, a New York Film Academy publicou um infográfico apresentando uma pesquisa feita por eles sobre a representação feminina na indústria do entretenimento entre os anos de 2007 a 2012. Os resultados, que trazem dados tanto das personagens femininas nas telas quanto das mulheres que trabalham por trás delas, escancaram a discrepância entre os gêne-

ros. Por exemplo, no ano em questão, Angelina Jolie foi a atriz mais bem paga do cinema, acumulando cerca de 33 milhões de dólares. Pode parecer muito dinheiro, até compararmos com os outros nove atores que ganharam mais que ela, todos homens. Robert Downey Jr., o líder da lista, faturou 75 milhões de dólares no mesmo ano, 45 milhões a mais que Jolie. O que não seria um problema se fosse um fato isolado, mas em um contexto em que isso se repete sempre, é importante que se conheça as causas disso. Com o intuito de continuar promovendo essa discussão, potencializada pelos eventos desse ano, a NYFA divulgou recentemente uma atualização dessa pesquisa com dados recolhidos no período de 2007 a 2016, e não surpreendeu em mostrar pouquíssimas diferenças. Além disso, a pesquisa também aponta algumas das mulheres que tem se destacado na indústria, como as diretoras Ava DuVernay e Greta Gerwig e as atrizes Reese Witherspoon e Oprah Winfrey. A pesquisa original publicada em 2018 se encontra disponível aqui. Os dados de 2013 para efeitos de comparação também estão disponíveis aqui. Qual a Importância Disso?

A desigualdade e o machismo são, de uma forma ou de outra, realidade em todas as esferas zint.online | 41


como as mulheres são apresentadas nos 900 filmes mais famosos de 2007-2016

dos personagens falantes são mulheres

das mulheres usavam roupas reveladoras, contrário à 5.7% dos homens

das atrizes ficam parcialmente nuas enquanto para os homens é de 9.2%

dos filmes tem um elenco balanceado onde metade das personagens são mulheres

a proporção média de atores é de 2.3 atrizes para cada 1 ator

m u l he re s n a s t e lonas em 201 7

aumento de 5.4% nas personagens femininas quando uma mulher é a diretora

mulheres compraram metade dos ingressos vendidos nos EUA

aumento de 10.7% quando há o envolvimento de mulheres roteiristas

bilheteria doméstica (EUA)

bilheteria doméstica (EUA)

bilheteria doméstica (EUA)

US$ 619 milhões

US$ 504 milhões

US$ 413 milhões

p a r t e d o i n f o g r á f i c o p r o d u z i d o p e l o n e w y o r k f i l m a c a d e m y // t r a d u z i d o p o r v i c s 42| zint.online


C o m " S e l m a - U m a L u ta P e l a I g u a l d a d e " , Ava D u V e r n ay f o i a primeira mulher negra a concorrer no Globo de Ouro por "Melhor Direção". Com "Uma Dobra no Tempo", ela é a primeira mulher negra a dirigir um filme com orçamento superior à 100 milhões de dólares

de todas as sociedades. Enquanto algumas mulheres ainda lutam pelo direito de serem tratadas como seres humanos em muitos países do mundo, outras lutam pelo direito de serem bem representadas nos filmes. E por que isso é importante? A indústria do entretenimento exerce enorme influência na sociedade. A vida imita a arte e a arte imita a vida. Ao mesmo tempo em que os produtos culturais retratam a sociedade como ela é, eles também tem o poder de incitar mudanças. Quando mulheres são retratadas apenas como objetos de desejo sexual (uma realidade que pode ser notada no infográfico

pela elevada porcentagem de mulheres que aparecem com roupas reveladoras ou parcialmente nuas nos filmes), abrimos um precedente para que os homens pensem que as mulheres da vida real possuem apenas esse papel também. Quando garotas são retratadas sempre como donzelas indefesas, as meninas que assistem a isso são levadas a pensar que vão sempre precisar de alguém para defendê-las também. Quando o principal objetivo das mulheres na tela é chamar atenção do protagonista masculino, quando seu papel é sempre secundário e ela passa a maior parte do tempo calada, a voz das mulheres reais tem seu volume reduzido também. Se levarmos em consideração que em um mundo midiatizado e com facilidades de acesso a informação a todo momento, como na contemporaneidade graças a internet e aos diversos serviços de streaming e transmissão on demand, é impossível negar que essas mensagens sutilmente passadas nos influenciam de alguma forma. Em contrapartida, uma representação correta e responsável, pode inspirar mudança. Mulheres inspiradoras inspiram mulheres. Um exemplo recente e importante se deu em 2012, com o lançamento dos filmes Jogos Vorazes e Valente. Tanto o live action quanto a animação da Disney apresentam protagonistas femininas fortes que praticam arco e flecha. Um estudo publicado pelo Geena Davis Institute on Gender in Media em 2016 mostrou que houve um significativo aumento de garotas nas competições de arco e flecha nos Estados Unidos, sendo que 7 entre as 10 garotas entrevistadas, atribuíram a vontade de praticar o esporte a uma das personagens. E é ai que entra a importância das mulheres também por trás das telas. Quando os homens dominam completamente as posições responsáveis pelas narrativas, vemos o mundo ser representado e imaginado apenas pela visão deles. E quando um grupo detém o ponto de vista, por mais bem intencionado que alguns desse grupo possam ser, eles serão sempre os heróis. Um dado que chama atenção na pesquisa da NYFA é que a única categoria que homens e mulheres estão em igualdade é na compra de ingressos. Então, se elas são metade do público consumidor, são responsáveis pela metade dos lucros, por que o espaço delas ainda é tão pequeno? // zint.online | 43


Cinema e Sociedade: uma conversa com Pablo Villaça T E X T O //

carolina casssese

d i a g r a m a ç ã o //

C

vics

onhecido por ser o idealizador e responsável pela produção de conteúdo do Cinema em Cena, o site mais antigo de críticas de cinema do Brasil, Pablo Villaça é um dos principais nomes da crítica cultural brasileira, tendo participado de diversos eventos a respeito da crítica cultural brasileira, tendo participado de diversos eventos a respeito da crítica cinematográfica e tamvém exercendo a função – em 2007, foi o único profissional estrangeiro a participar de um seminário promovido pelo The New York Times e pelo Museum of The Moving Image. Ao longo da carreira, Villaça produziu para o Cinema em Cena diversas coberturas dos principais festivais e mostras do Brasil, além de renomados e importantes eventos internacionais como os Festivais de Cannes, Berlim e Tribeca. No último dia 24, Villaça participou da palestra "Cinema e Sociedade", que marcou a abertura do Seminário de Crítica da Mídia promovido pela Faculdade de Comunicação da PUC Minas, chegando a participar de uma breve entrevista em que a nossa Colab Carolina Cassesse marcou presença e pôde acompanhar o convidado falar sobre os caminhos da crítica cultural e avaliar as novas relações entre espectador a obra.

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ZINT // Boa parte das críticas de filme, atualmente, são realizadas por youtubers. Qual é o caminho da crítica cultural nos tempos atuais? PABLO VILLAÇA // A gente tem que sempre diferenciar a forma do conteúdo. A forma de fazer crítica pelo youtube é extremamente democrática, pois permite que muitos tenham acesso. Por outro lado, o conteúdo nem sempre é bacana. Uma coisa é dizer o que você acha do filme, outra coisa é você de fato analisar o filme. É importante diferenciarmos opinião de análise. Por outro lado, existem muitos youtubers que realmente tem o intuito de discutir cinema de maneira aprofundada, analisando a linguagem e vários outros aspectos imprescindíveis para a crítica. Z // O filme Arábia, dirigido por dois mineiros ( João Dumans e Affonso Uchoa), já é considerado um dos destaques do ano. Como você avalia o longa? PV // O Arábia é um filme importantíssimo. Não é um filme de trama ou de gênero, é um filme de país. Narra a história de um homem comum, que cresceu sem as oportunidades que o discurso meritocrático vende. Retrata, principalmente, como funciona a estrutura da sociedade brasileira. Nesse processo, através da empatia que o cinema consegue gerar, você é colocado na pele daquele homem e consegue sentir como é difícil a vida que ele leva. É um filme belíssimo e penso que ele vai ser lembrado daqui a 20 anos. Z // Atualmente, boa parte do

conteúdo cinematográfico é consumido por produtos de Streaming. Como você avalia essa relação? PV // Quanto mais o acesso ao cinema for democrático, melhor. Porém, não podemos negar que a experiência do cinema é diferente da experiência da televisão ou do serviço de streaming.Cada formato tem suas forças e fraquezas. Na televisão ou no streaming, por exemplo, não é interessante investir nos planos gerais, pois a tela é muita pequena. Por isso, se trabalha mais com closes. O cinema pode ter uma linguagem mais sutil, pois o espectador está mais concentrado. Os produtos de TV ou de streaming, por outro lado, podem desenvolvem melhor conteúdos e personagens. Uma série de dez temporadas consegue aprofundar melhor num personagem do que um filme de duas horas, por exemplo. Procuro não fazer nenhum juízo de valor, apenas apontar as diferenças. Z // É possível discutir cinema sem discutir política? PV // O cinema é sempre influenciado por fatores externos. Dentro desse contexto, os filmes iniciam debates. O cinema faz com que a gente enxergue o mundo por meio do olhar do outro e entre na pele de outra pessoa. Ao assistir um filme sobre o racismo no Brasil, por exemplo, é possível realmente enxergar que, ao contrário do que o Chefe de Departamento da Globo afirma, existe uma estrutura racista consolidada nesse país. Uma coisa é você ler sobre isso, outra é você realmente visualizar outra realidade através da linguagem cinematográfica. //

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sĂŠries

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A polêmica de “O Mecanismo” T E X T O //

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Carolina Cassese

ssinada por José Padilha, diretor responsável por Tropa de Elite (2007) e um dos nomes envolvidos na criação e produção da série Narcos (2015), a nova série original da Netflix, O Mecanismo, foi pivô de polêmicas desde a sua estreia. Acusada por alguns espectadores de ultrapassar os limites da ficção, a produção foi considerada exageradamente parcial na sua tentativa de retratar um dos processos mais conhecidos e comentados da atualidade brasileira: a Operação Lava Jato. A principal crítica à série reside em uma cena específica: o personagem João Higino (Arthr Kohl), que faz referência ao ex-presidente Lula, profere a frase: “Precisamos estancar essa sangria”. Quem acompanha os acontecimentos da política brasileira sabe: a colocação, na verdade, é de autoria de Romero Jucá (presidente do PMDB). No começo de cada episódio, aparece a seguinte mensagem na tela: “Esse programa é uma obra de ficção inspirada livremente em eventos reais. Persona48| zint.online

d i a g r a m a ç ã o //

Maria Nagib

gens, situações e outros elementos foram adaptados para efeito dramático”. O aviso deixa claro, portanto, que a obra é ficcional. No entanto, ao se tratar de acontecimentos verídicos e recentes, é irresponsável confundir, intencionalmente, os personagens. Mesmo que com “efeitos dramáticos”, a série tem uma responsabilidade com o público por tratar de um tema tão sério e presente na sociedade brasileira contemporânea. Muitos críticos afirmam que a produção também peca pela exaltação que faz aos policiais, o que não é uma surpresa visto os diversos projetos com assinatura de Padilha e que abordam o embate entre a Polícia e os criminosos criando personagens das forças armadas como heróis. Em O Mecanismo os policiais são, em sua maioria, retratados como justiceiros enquanto os políticos, por outro lado, são representados como vilões, em uma criação de uma dicotomia quase que maniqueísta. É uma escolha problemática do texto da produção, uma vez que na realidade nada é tão simplista assim. A série também coloca, explicitamente, a corrup-


ção como a principal mazela da sociedade brasileira. Ou, como nas palavras do personagem Marco Ruffo, um “câncer, que vai se espalhando”. O combate a corrupção é, sem dúvidas, uma causa primordial, mas que já serviu como premissa e justificativa para atrocidades políticas e sociais na história do Brasil como, dentre outras coisas, ter sido a prerrogativa para aqueles que defenderam o Golpe Militar em 1964. Para o sociólogo Jessé Souza, autor de livros como A Tolice da Inteligência Brasileira e A Elite do Atraso, é um equívoco achar que “os problemas brasileiros não vêm da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas sim somente da corrupção do Estado”. Jessé é categórico: a escravidão (e a desigualdade social), e não a corrupção, definem a maior parte das mazelas da sociedade brasileira. Dentro de tantas escolhas polêmicas, é inegável que a primeira temporada de O Mecanismo romantiza a Lava Jato para fins narrativos, mas que traz consequências reais ao não retratar as pertinentes críticas que a operação recebe, fato que torna a série ainda mais parcial por não ilustrar, justamente, os diversos apontamentos de que a operação comandada pela Polícia Federal tem sido seletiva e, também, parcial. Outra importante questão a ser colocada é: seria possível já tirar conclusões sobre a Lava-Jato,

E m d e s ta q u e , C a r o l Abras, que na série é Verena Cardoni, aprendiz de Marco Ruffo. Na sombra, Enrique Díaz é Roberto Ibrahim, doleiro acusado por lavagem de dinheiro

Em “O Mecanismo”, S e lt o n M e l l o é o p r o ta g o n i s ta M a r c o Ruffo, delegado da Polícia Federal e um dos principais policiais a f r e n t e d a L ava- J at o

operação ainda em andamento? Não é preciso mais tempo para de fato compreender o significado e as consequências do processo? Resgatando uma frase da célebre jornalista e escritora Eliane Brum: “A memória é construída depois, é dada pelo futuro. Ainda vivemos o agora - e ele é furioso”. Boicotar a Netflix provavelmente não é a melhor resposta que quem desaprovou O Mecanismo pode dar. A série é apenas mais uma das produções disponibilizadas pela plataforma de streaming. Contando com um bom elenco, mas também com um roteiro fraco e maniqueísta, a produção está longe de ser uma experiência imperdível. O que fica ao final é a noção de que se informar sobre a Lava-Jato é necessário, sempre buscando pontos de vistas diversos e que vão além do senso comum ou da narrativa hegemônica. //



O retorno do Greg News T E X T O //

bruna curi

d i a g r a m a ç ã o //

A

tor, humorista, roteirista, cronista, dublador, poeta e agora apresentador. Essas são apenas algumas das facetas de Gregório Duvivier, que estreou com o seu programa Greg News com Gregório Duvivier em maio do ano passado. O programa é apresentado no modelo late-night talk show, satírico e tem como fonte de inspiração o programa Last Week Tonight with John Oliver, que é apresentado pelo comediante britânico John Oliver, um dos pupilos de John Stewart e ex-integrante da equipe do The Daily Show, e explora do humor para comentar de forma satírica e ácida as principais notícias de cunho político e social que ocorrem nos EUA no período de uma semana. De acordo com o Vice-presidente Corporativo de Produções Originais da HBO Latin America, Roberto Ríos, o talk show estrelando Gregório é uma aposta de um conteúdo inovador e original para o Brasil, além de apresentar uma discussão interessante: “Greg News com Gregório Duviver chega para provocar um diálogo importante e necessário, alinhado com o nosso firme compromisso de fornecer o conteúdo mais instigante e inovador para o nosso público”, afirmou Ríos em uma entrevista, ainda em 2017.

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O Greg News apresenta um espaço sem censura para comentários extremamente críticos. Logo em sua estreia, no dia 5 de maio de 2017, o apresentador começou sua jornada no late-night com o episódio ODEBRECHT, em que Duvivier discutiu por cerca de 12 minutos assuntos relativos ao conglomerado comercial Odebrecht e o seu envolvimento nas nefastas relações políticas no Brasil. Já no piloto, ficou claro que o humorista não deixaria sua veia crítica ser suprimida, explorando de um humor bastante afiado para explicar temas complicados e pontuar críticas necessárias aos respectivos assuntos, sempre sustentados por informações bem apuradas, muitas vezes provenientes de materiais jornalísticos que são pesquisados pela ótima equipe de roteiristas do programa, que inclui nomes fortes do jornalismo brasileiro como Bruno Torturra e Carol Pires. A primeira temporada do talk show contou com 20 episódios que trataram dos mais variados temas como: aborto, fake news, eleições, universidade, carne, lava- jato e até mesmo sobre direitos ou privilégios. Além desses episódios, foi feito

um especial de fim de ano que está disponível no YouTube. Nesse especial, o humorista fala sobre suas expectativas para 2018, que consistem em três itens básicos: saúde, trabalho e que o Bolsonaro não seja o presidente do Brasil. Assim, o apresentador se dedica a explicar como as redes sociais, principalmente o Facebook, são capazes de influenciar esses três fatores. De acordo com o próprio Duvivier, o objetivo de seu programa é aprofundar e explorar algumas questões que são tratadas, na maioria das vezes, de maneira superficial. “Queremos falar de política como um todo, como drogas, economia, sociedade, casamento gay, transporte, alimentação, não só daquilo que acontece em Brasília”, contou em uma entrevista à Folha de São Paulo. Ele também explicou que o seu programa não é imparcial: “Não acredito em imparcialidade e acho que o jovem não acredita também. O programa já parte da premissa da parcialidade. A gente vai bater em todos os lados. Não vai poupar ninguém por afinidades ideológicas. Vamos rir de todos os lados. Você acha o John Oliver neutro? Se tem alguém com viés político é o apresentador de comédia. Não existe o isentão no humor”, afirmou à Folha.

G r e g ó r i o D u v i v i e r d u r a n t e a p r e s e n ta ç ã o d a s e g u n d a t e m p o r a d a d o “G r e g N e w s” , c o m 2 0 n o v o s e p i s ó d i o s d i s c u t i n d o n o t í c i a s d e p e s o d o pa í s d e u m a f o r m a b a s ta n t e á c i d a e c ô m i c a


Melh o res M om e n t os A V ERDA DE S OB RE D IR EI TOS H U M A N OS 2ª Temporada De todos os temas abordados por Duvivier, esse é um dos mais importantes, de forma que ele não poderia ficar de fora dessa lista. A VERDADE SOBRE DIREITOS HUMANOS marcou o retorno do Greg News. Nesse episódio o apresentador comenta sobre a tragédia que ocorreu com a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, que foram executados no dia 14 de março. Gregório desmentiu um meme a respeito da morte de Marielle que estava circulando na internet, além de explicar sobre os direitos humanos (algo que em tese é tão básico, mas que algumas pessoas têm certa dificuldade de compreender). Nas próprias palavras do apresentador: “É tão desesperador escutar gente dizendo que os direitos humanos são inimigos da polícia. Até por que, ao contrário do que muita gente acha, os direitos humanos são uma ideologia. Os direitos humanos são a lei”.

fake n e w s 1ª Temporada No episódio FAKE NEWS, Duvivier explica um pouco mais sobre o fenômeno que tem se tornando cada vez mais recorrente no cotidiano contemporâneo, com o compartilhamento de notícias falsas, sem averiguação e despreocupação com a veracidade das informações. O apresentador também comenta sobre as agências de checagem de fatos, que conferem as informações divulgadas pela mídia e sobre a história de surgimento do fact-cheking. Gregório dá alguns exemplos de fake news e

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Melh o res M om e n t os ressalta a importância das pessoas ficarem atentas às notícias que leem na internet, evidenciando como os efeitos do fake news podem ser profundamente nocivos para a sociedade, usando de exemplo a eleição do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O então presidenciável acusou Barack Obama de ter fundado o Estado Islâmico e mentiu 71 vezes em um discurso de uma hora.

abor to 1ª Temporada No início de março no ano passado, chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a primeira ação que poderia levar à ampla legalização do aborto para qualquer gestação com até 12 semanas. Com o assunto presente em diversas pautas políticas, sociais e jornalísticas, Gregório adentrou a discussão no episódio ABORTO, tentando quebrar alguns tabus sobre assunto, além de comparar a legislação do Brasil com as de outros países, evidenciando a horrenda realidade de que a legislação brasileira se assemelha a de nações em que mulheres são privadas de direitos humanos e civis básicos, como no Sudão, Papua Nova Guiné e Arábia Saudita. Por outro lado, Duvivier analisa o caso de países como a Noruega, França, Canadá e África do Sul, onde o aborto é permitido sem restrições, além de fazer uma dura crítica ao fato do governo querer decidir essa questão: “A Noruega entende que a decisão de ter um filho é da mulher (...) Logo, não tem bolsa família ou kit Johnson's Baby que possa transferir essa decisão para o governo, principalmente se esse governo não tem a menor ideia do que é ser mãe, como é o caso dos homens que dão pitaco sobre o assunto no Congresso”, afirma ao longo de seu monólogo.

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john oliver durante a p r e s e n ta ç ã o d o seu programa “last week tonight”, que serve de inspiração para gregório duvivier (abaixo) com o “greg news”

Segunda Temporada

De visual renovado, sem a típica barba com a qual já estávamos acostumados, Gregório retornou para a segunda temporada do Greg News no dia 23 de março, trazendo toda a expectativa para quais serão os temas de um 2018 que promete temas polêmicos, complexos e que mexem com a paixão das pessoas, como as eleições presidenciais e a Copa do Mundo FIFA, dando a oportunidade para Duvivier usar de seu humor afiado para tratar de tais temas. Para a nova temporada são previstos 20 episódios, com aproximadamente 30 minutos de duração cada. Contudo, por se tratar de ano eleitoral, a segunda temporada do Greg News já tem data para terminar, uma vez que a partir de agosto, passa a valer a Lei nº 9.504, de 1997, que reduz o material permitido às emissoras sobre as eleições. Em entrevista ao blog TelePadi, da Folha, foi revelado que os advogados da HBO concluíram que não seria bom manter o talk show diante de tanto cerceamento, levando o apresentador a lamentar sobre o ocorrido: “O programa vai acabar exatamente na primeira semana de agosto, exatamente

por isso: no Brasil, não dá pra fazer o 'Greg News' durante período eleitoral. Não pode citar nome de político, não pode mencionar número que seja igual ao de uma legenda, e a gente achou que não valia a pena”, ponderou. O Greg News com Gregório Duvivier é exibido toda sexta-feira, às 22h, no canal pago HBO, mas os episódios também estão disponíveis no Youtube, no canal da HBO Brasil. // zint.online | 55


O sucesso dos irmãos Baudelaires

A continuação de Desventuras em Série estreou com dez episódios inéditos e trouxe mais angústia aos espectadores

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victoria cunha


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ada melhor do que uma boa histófundar no drama que envolve a narrativa, deixando-a ria com acontecimentos intrigantes bem mais complexa e com um tom sombrio predopara maratonar durante os finais minando frente ao humor desajeitado do primeiro de semana. Desventuras em Série ano, criando uma diferença latente em relação a (2017) é a escolha perfeita, se você primeira temporada. O autor do livro pressupõe que não tem problema com crianças sendo perseguidas o público já está acostumado com a loucura da trupe e entes familiares mortos por causa de uma enorme de Olaf e coloca empecilhos realmente angustiantes fortuna. Para quem não conhece, Lemony Snicket’s no caminho dos órfãos Baudelaires., interpretaA Series of Unfortunate Events (no original) é dos por Malina Weissman (Violet), Louis Hynes uma saga de 13 livros escritos por Lemony Sni(Klaus) e Presley Smith (Sunny). cket (o pseudônimo do escritor americano Daniel Há introdução de novos personagens para a narHandler) publicados entre 1999 e 2006, tendo sido rativa, sendo que todos eles têm grande importância adaptada para o meio cinematográfico em 2004 pelo nos acontecimentos, principalmente no desenrolar diretor Brad Silberling e estrelada por Jim Carrey. dos fatos entorno a organização secreta CSC (VFD, Depois de um filme que foi até bem recebido no original). Novas pistas são colocadas aos olhos do pela crítica mas falhou em conseguir uma bilheteria espectador que, finalmente começam a ter vislumsólida, a história caiu no esquecimento por mais de bres dos motivos pelo qual todos odeiam o Conde uma década, até a Netflix comprar os direitos auOlaf, assim como porque ele abandonou a organitorais e produzir uma série de três temporadas, que zação, traiu seus amigos de longa data e como tudo contemplariam a adaptação de toda a série literária. isso está ligado ao que de fato ocorreu com seus pais. A notícia criou um alvoroço para os fãs, que só Apesar da estrutura óbvia de dois-episódioshaviam visto os três primeiros livros ganhando vida -por-livros (um para a apresentação e outro para a nas telonas. Dessa vez, no entanto, o papel do Conconclusão do conflito), os arcos acabam tendo bons de Olaf ficou por conta de Neil Patrick Harris. desfechos e reservando ainda um final que não será Não só muito aguardada pelos fãs, a primeira tão feliz igual ao da primeira temporada. Sunny, temporada da série conseguiu conquistar novos Klaus e Violet não vão sair ilesos de cada situação, admiradores e foi muito bem recebida pelos críticos, crescendo e sofrendo consequências emocionais e com “Aclamação Universal” nos agregadores de psicológicas. Afinal, eles são apenas crianças lidando críticas como o Metacritic e o Rotten Tomatoes. com um bando de psicopatas. Embora não tenha conseguido fugir das comparaDesventuras em Série já foi renovada para sua ções entre o filme e os livros e às diferentes atuações terceira temporada e está prevista para Março de para o temido Conde Olaf, a série teve um retorno 2019, concluindo o ciclo. // positivo, fazendo com que a Netflix renovasse a série para a sua segunda temporada, que estreou este mês no serviço de N e i l Pat r i c k H a r r i s streaming. como o Conde OlaF Segunda Temporada

O segundo ano da série utiliza da mesma estrutura que seu antecessor, adaptando um livro a cada dois episódios, sendo eles Inferno no Colégio Interno, O Elevador Ersatz, A Cidade Sinistra dos Corvos, O Hospital Hostil e O Espetáculo Carnívoro, distribuídos em dez episódios de aproximadamente cinquenta minutos cada. Desta forma, o roteiro consegue apro-


Perigo! Perigo! T E X T O //

r e n at o q u i n t i n o

Quem foi criança

nos anos 60 cresceu vendo pela TV séries de ficção científica impulsionadas pela corrida espacial. Enquanto as diversas naves Apolos alcançavam os céus no programa espacial da NASA, até culminarem com a chegada do homem à Lua em 1969, séries como Perdidos no Espaço (1965 - 1968), Star Trek (1966 1969)e Túnel do Tempo (1966 - 1967) faziam grande sucesso e agradavam gostos diversos. Com a criação e produção de Irwin Allen, que nos anos 70 assinaria a produção de filmes de enorme sucesso como Inferno na Torre (1974), e com elenco encabeçado por Guy Williams, que já era famoso como o Zorro, numa série igualmente inesquecível, 58| zint.online

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Perdidos no Espaço firmou-se como uma grande referência na época e também na década seguinte pelos constantes reprises. A produção original começa com a decolagem da nave Júpiter 2 em destino para a Alfa Centauri, que após ser sabotada pelo vilão Dr. Smith ( Jonathan Harris) se perde no Espaço e começa a se aventurar por planetas e galáxias desconhecidas, tentando reencontrar o caminho de volta para a Terra. A família Robson, que possui tal nome em homenagem ao náufrago Robson Crusoé, funcionava dentro do perfil estado-unidense dos anos 60, com toques dos recém terminados anos 50 e ignorando ainda a revolução sexual, o movimento hippie e a contracultura que


assolavam o país. John Robson era o pai de família exemplar, líder natural, protetor e masculino; Maureen (June Lockhart) era a mãe loura dedicada, compreensiva e próxima aos filhos; Judy (Marta Kristen) - a filha mais velha - era igualmente loura, educada, ponderada e recatada; Penny (Angela Cartwright) - a adolescente, filha do meio - era mais ousada e “cientista” e o caçula Will (Bill Mumy) era uma criança fiel às orientações familiares ao mesmo tempo que corajoso e aventureiro. Completando a tripulação estava o sério e rígido Major Don West (Mark Goddard), co-piloto da Júpiter 2 que era atraído por Judy, mas numa relação apenas sugerida e com a tensão sexual vinda do recato comum nas relações homem-mulher dos recém terminados anos 50. E ainda havia o Robô com seu onipresente alarme de “Perigo! Perigo!” e o divertido, amoral, interesseiro, individualista, materialista, traiçoeiro e manipulador Dr. Smith, interpretado de forma inesquecível por Jonathan Harris, o grande personagem da série, que como todos os vilões, era quem movimentava a história. Agora, Perdidos No Espaço (2018) volta a cultura pop sob tutela da Netflix, com efeitos especiais impressionantes, roteiro bem amarrado e personagens bem

A nova família Robson, mais contemporânea e inclusiva

delineados. O reboot estreou no último mês, trazendo os ajustes esperados na composição dos personagens e uma atualização de época. Contemporânea, inclusiva e pela diversidade, a nova versão de Perdidos no Espaço coloca a mãe empoderada como líder do grupo, repete o clichê homem-pai-de-família-distante-e-em-crise, apresenta uma Judy (Taylor Russel) adotada e negra, um Don West (Ignacio Serricchio) latino na


versão mercenário irreverente que lembra Han Solo, uma Dr. Smith (Parker Posey) mulher e a tripulação das outras naves “Júpiter” sendo formada por hindus e asiáticos. E ah! As referências à Star Wars não param na persona de West, uma vez que a nova Júpiter 2 se parece muito com a Millenium Falcon. O trabalho do elenco é ótimo. O argentino Inacio Serricchio está muito bem como Don West, assim como o jovem Maxwell Jenkins em sua performance como Will Robson. O destaque maior está com a ótima Parker Posey, que faz de forma adorável uma detestável Dra. Smith. E o trio símbolo da antiga série que oscilava entre o dramático e o cômico, Will-Robô e o Dr.Smith está bem delineado e promete boas cenas em próximas temporadas, cheia de citações de “Perigo!” pelo androide. Ao final, os ajustes narrativos são compreensíveis e o resultado final é ótimo. A série não se arrasta pelos dez episódios, graças ao ritmo ágil compassado pelas pausas necessárias para desenvolver o arco dramático de cada personagem. O grande ponto positivo é que o coração da série


a s s i m c o m o t o d o o s e u c atá l o g o d e conteúdo original em ficção científica, “ p e r d i d o s n o e s pa ç o” m o s t r a u m i m p o r ta n t e c u i d a d o c o m o s e u v i s u a l , ta n t o e m figurino quanto em efeitos especiais

não está no planeta alienígena, mas sim na saga das relações familiares. Esta primeira temporada é a história da formação da tripulação da Júpiter 2 que terminando por estar completa e “perdida no Espaço” abre o caminho para as próximas, as quais esperamos que sejam confirmadas. Perdidos no Espaço é mais um ponto para a Netflix, que consegue agradar quem cresceu vendo a série e quem vai conhecê-la agora. // zint.online | 61


A volta dos anos 90 T E X T O //

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Bárbara Lima

a cultura pop contemporânea e na indústria do entretenimento atual, os anos 80 tem sido referenciados, homenageados e revisitados em diversas produções nostálgicas que trazem narrativas não só situadas na época, mas que conseguem recriar sensações e aura existente nas produções oitentistas. A série Everything Sucks!, produção original da Netflix, faz esse resgate 62| zint.online

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Maria Nagib

nostálgico ao retratar as dificuldades encontradas na puberdade e os prazeres da adolescência por um grupos de amigos da escola, mas dessas vez nos anos 90. Toda essa vibe faz com que Everything Sucks! lembre o estilo de Stranger Things (2016), sem a pegada sobrenatural. Na trama acompanhamos Luke (Jahi Di’Allo Winston), um garoto fruto de seu tempo e que sofre com o excesso de timidez, mas decide produzir um filme de ficção científi-


D a e s q u e r d a p r a d i r e i ta : M c Q u a i d ( R i o M a n g i n i ) , O l i v e r ( E l i j a h S t e v e n s o n ) , Tyler (Quinn Liebling) e Emaline (Sydney Sweeney)

ca ao lado de seus amigos do Clube de Vídeo. A guns personagens, como todo arco de Tyler (Quinn partir da decisão de Luke, o roteiro de Ben York Liebling), que funciona apenas como alívio cômico Jones e Michael Mohan série faz um resgate da da série. Outro ponto importante que a série erra, é cultura e da tecnologia da época, e também acerta tentativa de transitar entre os diferentes espectro de ao aprofundar em alguns assuntos retratados, mas telespectadores: em alguns momentos, é perceptível de maneira leve e sútil, como o desenvolvimento que o enfoque de certos momentos são os adultos de paixões platônicas, a falta de autoconfiança e que já passaram por isso, em outros os adolescentes a descoberta da própria sexualidade, trabalhando que estão passando e depois as crianças que ainda vão temáticas ligadas a orientação sexual que estão passar. No entanto, por falhas no texto, a série perde a presentes na sociedade e que já eram debatidos na sua identidade com esses problemas. década de 90, sem tanta visibilidade e força como Apesar dos erros de roteiro, Everything Sucks! acontece agora. Essas descobertas sexuais são, é prazerosa de assistir e se beneficia dos 10 episódios inclusive, tratadas de forma sutil na série, mas sem curtos que configuram seu ano de estreia, sendo bem rálimitar o personagem a arcos óbvios. pida, curte e evitando ficar chata e redundante. Ao final, A trilha sonora é de tirar o chapéu. Além de o que fica é a gostosa sensação de um misto da realidade Wonderwall, os produtores acertaram em trazer outros adolescente e suas reflexões, com as músicas marcantes sucessos da década de 90, como Don’t Look Back in de uma época que trazem uma nostalgia imensurável. Anger, Breakfast on Tiffany’s do Deep Blue SomeNo início do mês de abril, no entanto, a Netflix thing e Take It Like A Man, do The Offspring. O anunciou que Everything Sucks! não retornaria para uso das composições é muito acertado, funcionando uma segunda temporada, cancelando o programa. // como reflexos do estado de espírito do adolescente que está escutando, casando imagem e som de forma incrível. Contudo, a produção peca ao explorar exaustivamente algumas tramas, como o romance da mãe de Luke, que não acrescentam a narrativa e não são tão impactantes quanto a transformação sexual de algum dos adolescentes L u k e O ’ N e i l ( J a h i D i ’A l l o W i n s t o n ) , protagonistas. A primein a d i r e i ta , e K at e M e s s n e r ( P e y t o n ra temporada, também, Kennedy), à esquerda trabalha corretamente as mudanças na vida de al63


ZUMBO’S JUST DESSERTS T E X T O //

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laísa santos

éries intrigantes e diferentes sempre estiveram presentes entre as produções da Netflix, sendo que ultimamente a empresa inovou o catálogo com produtos audiovisuais que mesmo se encaixando dentro desses termos, vão na direção oposta do que o público está acostumado. Zumbo’s Just Desserts é um programa gastronômico com uma proposta completamente diferente de Chef ’s Table (2015) e Nailed It (2018), ambos que também compõe a lista de produções 64| zint.online

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do serviço de streaming. A ideia é simples, mas trabalhada com maestria pela empresa australiana Seven Network, que lançou o programa em agosto de 2016, mas que só em 2017 passou os direitos para a Netflix. O programa possui apenas uma temporada com 12 episódios de aproximadamente 50 minutos. Adriano Zumbo é um chef australiano muito renomado e faz parte do time de jurados do MasterChef: Austrália. Conhecido por fazer doces totalmente


extravagantes e inusitados em diferentes vertentes, ele foi denominado como apresentador do novo programa de confeitaria, que também leva o nome dele. Rachel Khoo é uma chef e escritora britânica conhecida por participar de vários programa de gastronomia e pelos livros sobre cozinha francesa, além de ser a co-apresentadora do reality. Zumbo’s Just Desserts funciona da seguinte maneira: doze confeiteiros amadores entram no programa para tentar concorrer a cem mil dólares e a chance de ter uma sobremesa inserida no cardápio da loja de Adriano Zumbo. A cada episódio, os participantes devem passar por dois testes, sendo um deles criativo e outro de técnica. No primeiro, eles devem criar o que quiserem desde que esteja de acordo com o que foi proposto inicialmente por Zumbo. A segunda é bem mais complicada e decisiva, uma vez que os dois competidores que tiveram as piores notas vão ter que recriar uma receita do chef. No final, as sobremesas serão degustadas e um dos participantes é eliminado.

O reality show de confeitaria mostra um grande cuidado com as imagens, ca decoração do local e principalmente com os efeitos na pós produção. Todas as cores e elementos são muito harmônicos e claramente inspirados em A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), de Tim Burton, que inclusive é mencionada inúmeras vezes. Desde o primeiro episódio é possível compreender o estilo do programa que está inserido até nas receitas e nos desafios propostos aos participantes. //

Os doze participantes da primeira temporada do reality

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música

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Você quer festejar com

Cardi? T E X T O & d i a g r a m a ç ã o //

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Em 2017, Cardi B viu a sua fama atingir escala mundial com o single “Bodak Yellow”, chegando ao topo das paradas musicais dos Estados Unidos e quebrando alguns memoráveis recordes no caminho. Não só o público se entregou à Cardi, mas também dezenas de famosos. A rapper ainda provou que sua carreira não se resumiria apenas à um único hit.



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Belcalis Almanzar tem 25 anos. Nasceu em 1992 no Bronx, bairro de Nova Iorque, lar de figuras como Stanley Kubrick, Jennifer Lopez, Mary J. Blige, Steven Tyler, Saiorse Ronan e Al Pacino. Em atividade desde 2015, ela é a rapper que está, atualmente, dominando as rádios e streamings de todo o mundo. E você (provavelmente) a conhece como Cardi B.

Com o seu grande breakthrough acontecendo apenas em 2017, com o summer hit Bodak Yellow, Cardi já figura, em 2018, na lista das 100 Pessoas Mais Influentes no Mundo, da Time. Sua introdução, inclusive, foi escrita pela atriz norte-americana Taraji P. Henson, ganhadora de um Golden Globe Awards por seu papel na série Empire e nomeada uma vez ao The Academy Awards por Estrelas Além do Tempo. Na apresentação, Taraji aponta que a personalidade da rapper, assim como a sua, é o que mais prende o interesse das pessoas, sendo aquilo que consolidou sua fama. E ela não está errada. Cardi B chama atenção aonde quer que vá, devido sua persona "sem filtro", extremamente extrovertida e brincalhona, com uma linguagem coloquial carregada de gírias e um pesado sotaque nova-iorquino, ao qual ela diz herdar de sua avó. Em entrevista à Ellen DeGeneres, no talk show matinal da apresentadora, logo após sua estreia no festival de música Coachella, Cardi diz que sempre foi essa pessoa. A rapper conta que mesmo quando mais jovem, ela era constantemente levada à sala do diretor por estar sempre fazendo piada, mesmo sendo muito boa em algumas matérias, como História. Mas foi justamente isto que garantiu seus milhares de seguidores no Instagram e sua fama na internet quando ela estava surgindo no cenário.

Quando eu comecei, as pessoas diziam “Ela é muito forçada”. Mas eu posso fazer Shakespeare no Parque! Você não pode me julgar baseado de onde eu vim ou no meu coloquialismo, porque é quem eu sou. E quando você está bem consigo mesma, ninguém pode usar isso contra você. Eu me identifico com Cardi B, porque ela sabe disso. A primeira vez que eu fui no Instagram dela, ela era tão crua, vindo na sua cara com tudo! Ela usava gírias e falava abertamente sobre ser uma stripper. E eu estava tão orgulhosa; olha onde isso a levou! Eu apertei o botão de Seguir. Pra mim, ela tinha a voz do povo, sabe? Quando a mixtape dela saiu, eu pensei “É isso! Ela encontrou!”. O talento dela é claro, e ela não estava tentando atrapalhar ninguém. Ela gravou “Bodak Yellow” porque é o que ela ama. E agora ela é grande. E mesmo com todo o mundo assistindo, ela continua sendo ela, sem desculpas. Cardi B veio para ficar, e eu estou muito feliz por testemunhar isso. – Ta r a j i P. H e n s o n , p a r a a T i m e 1 0 0

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O seu primeiro trabalho foi lançado em 2016, com a mixtape Gangsta Bitch Music, Vol. 1, dando à ela um Top 20 na Billboard Top Rap Albums e um Top 30 na Top R&B/Hip-Hop Albums. O trabalho foi seguido pelo Vol. 2, lançado em janeiro de 2017, alcançando o #20 na Independent Albums. E então veio o single que lhe deu a fama mundial. Movimentos Sangrentos

Bodak Yellow foi um um sucesso relativamente repentino. Embora tenha sido lançada em 16 de junho de 2017, a música debutou na Billboard Hot 100 apenas em 22 de julho, quando estreou em #85, subindo para a posição 14 em apenas quatro semanas. Com as rádios tocando a música cada vez mais e os números subindo no videoclipe (atualmente, são mais de meio bilhão de visualizações), o single continuou escalando as paradas, chegando ao #2, em 23 de setembro, ficando logo atrás do recente sucesso de Taylor Swift, Look What You Made Me Do. Com co-composição da própria artista, Bodak Yellow chegou ao topo da Hot 100 logo em seguida, onde permaneceu ao longo de três semanas consecutivas. Considerado um dos hinos do verão norte-americano 2017, a música deu à Cardi o título de "Segunda Artista Feminina de Hip-hop à ter um Single #1 como Artista Solo", depois de Lauryn Hill, em 1998, por Doo Wop (That Thing). E junto às suas participações em MotorSport, do trio de rappers Migos, e No Limit, do rapper G-Eazy,

Cardi B firmou, no final de 2017, uma parceria com Steve Madden para uma coleção d e b o ta s e ó c u l o s de sol assinadas pela rapper e de preço acessível


Cardi se tornou a terceira artista (masculino e feminino) à ter as suas três primeiras entradas na Hot 100 simultaneamente no Top 10 (os outros dois são: The Beatles e Ashanti). O carro-chefe do seu vindouro álbum não só gerou fama à Cardi, mas também alguns prêmios. Em 6 outubro de 2017, a rapper levou para casa o título de Single do Ano no BET Hip Hop Awards, evento de peso promovido pelo canal BET que premia a música negra norte-americana. Ainda, a faixa foi indicada ao Grammy Awards 2018, nas categorias Melhor Performance de Rap e Melhor Música de Rap. Com um Platina Quíntuplo nos EUA (5 milhões de singles vendidos), Bodak Yellow colocou Cardi B no mapa – e lhe deu a oportunidade de mostrar que ela não se tornaria uma artista one-hit wonder.

Em 2015, Cardi fez a s u a e s t r e i a n a t v, c o m o reality "Love & HipHop: New York", da VH1

Sem Limites Para qualquer artista novo no mercado fonográfico mundial, o grande obstáculo é continuar relevante. Qualquer um que finalmente tenha os seus 15 minutos ao Sol mas não consegue fazê-lo durar mais que isso, acaba se tornando um one-hit wonder. O termo, de forma livre, traduz-se como "artista de um só hit", e é a maldição de inúmeros cantores e cantoras que já deram as caras por Hollywood. Não há uma fórmula exata para se manter nos holofotes, é claro, mas um bom caminho para os cantores são as participações. Fazer featuring e conseguir emplaca-los nas rádios é um grande trunfo para os novatos, que enquanto não tem diversas faixas solos em seu repertório, podem ir acumulando versos nas músicas de outros atos consagrados. E é o caminho que Cardi B seguiu. A rapper logo começou a aparecer entoando frases e refrões em algumas faixas. Entre elas, está o single MotorSport, do trio de rapper, Migos, formado por Offset (noivo de Cardi), Quavo e Takeoff. A faixa alcançou


o #6 na Hot 100 e garantiu à artista mais um Top 10. A participação é um grande trunfo, não só por colocar Migos em seu currículo, mas também pela participação de Nicki Minaj, dona de uma carreira consolidada no mesmo gênero. A faixa ajudou a colocar um fim à uma suposta rivalidade que estaria acontecendo entre as duas, com Minaj dizendo dar "suporte total ao verso de Cardi" e estar "cansada das teorias de conspiração" (diversas pessoas apontavam que os versos de ambas eram um ataque uma a outra).

Invasão de Privacidade

Anunciado oficialmente em março, Cardi anunciou que seu debut album seria lançado em abril, logo apresentando a capa e o título. Invasion of Privacy chegou as lojas físicas, virtuais e streamings em 6 de abril, com dois singles lançados e duas músicas promocionais. Apresentado por Bodak Yellow, a promoção do disco seguiu com Bartier Cardi, single que conta com a parceria do rapper 21 Savage. Também co-escrita por Cardi, a faixa foi bem recebida pelos críticos e alcançou o #14 na

Ainda, os vocais de B apareceram também em No Limit, do rapper G-Eazy, trazendo também o featuring de A$AP Rocky, alcançando o #4 no Hot 100. Mas o seu maior sucesso participativo veio com o remix oficial de Finesse, do cantor Bruno Mars. A faixa, que originalmente é solo no álbum 24K Magic, teve seu pico na terceira posição, ganhando Platina Dupla nos EUA e Top 10 em outros 18 países. Assim, Cardi B foi preparando os Estados Unidos (e o mundo) para o seu primeiro álbum.

Hot 100, já tendo uma certificação de Platina nos Estados Unidos. Para ajudar a alavancar a espera pelo trabalho, a rapper liberou outras duas faixas antes do lançamento do disco: Be Careful e Drip, com participação dos Migos. Invasion of Privacy foi bem recebido pelos críticos de música, que davam notas superiores à 8/10. Misturando Hip-Hop, trap e música latina, as revistas apontavam, principalmente, uma mistura de vulnerabilidade, personalidade e músicas para festa, mesclado por um misto de zint.online | 73


No dia 15 de abril, Cardi B apresentou um set de 12 músicas no Coachella, levando o público à c a r ta r b o a pa r t e das faixas

momentos engraçados e uma raiva controlada. A boa recepção também veio por parte do público, que deu à Cardi o topo da Billboard 200 e Top 10 em outros 11 países, além de um certificado de Ouro por mais de 500 mil cópias vendidas. Com o seu conceito muito bem estabelecido, o disco foi o mais ouvido de uma artista feminina, no curso de uma única semana, no Apple Music, com um total superior à 100 milhões de streams. E com as vendas físicas e contagens de streamings, Cardi tornou-se a quinta rapper feminina a colocar o seu álbum no topo das paradas, e, ultrapassando Beyoncé, ela conseguiu colocar, simultaneamente, 13 faixas na Hot 100. Além de Migos e 21 Savage, o álbum traz participações de Chance the Rapper (em Best Life), Bad Bunny e J Balvin (na tropical e divertida I Like It), Kehlani (na R&B melodiosa Ring), YG (She Bad) e SZA (I Do). Uma parte das músicas citadas marcaram presença em seu primeiro show no festival de música Coachella, que aconteceu nos finais de semana do dia 13 e 20 de abril, na Califórnia. Mesmo com um barrigão, o "Bochella" (Bardi + Coachella) trouxe Cardi B fazendo twerking, dançarinas, strippers e algumas participações especiais como G-Eazy e Kehlani, terminando com um público cantando em alto e bom som o sucesso Bodak Yellow. 74| zint.online


Na semana anterior ao festival, a rapper também fez a sua estreia como o número musical do Saturday Night Live, na mesma noite em que o ator Chadwick Boseman, o Pantera Negra, fez a sua estreia como apresentador. Em sua participação, após cantar um medley de Bartier Cardi e Bodak Yellow, a artista aproveitou para confirmar os rumores de sua gravidez com o noivo Offset, durante a apresentação da música Be Careful,

utilizando um vestido colado ao corpo, exibindo a barriga. Dois dias depois, ela foi a co-apresentadora do The Tonight Show Starring Jimmy Fallon, onde também apresentou a faixa Money Bag. Com o seu sucesso atual, Cardi B já deixou sua marca no mundo da música e do Hip-Hop, ultrapassando a linha que prende os artistas one-hit wonder. Mas fica a pergunta: você vai festejar com a Cardi? //

Entre setembro e outubro de 2018, Cardi B abrirá os shows da turnê mundial de Bruno Mars, nos Estados Unidos e Canadá



A NOVA POP QUEER VOZ DO T E X T O //

deborah almeida

d i a g r a m a ç ã o //

h

Hayley Kiyoko, conhecida pelo seu single Girls Like Girls, lançou seu primeiro álbum, Expectations, emergido em questões sobre sexualidade e o universo LGBTQ+. Como boa parte dos artistas pop, Hayley é uma ex-Disney, tendo suas maiores participações como a Velma de Scooby-Doo (2002) e Stella

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de Lemonade Mouth (2011), além de Raven Ramirez na série CSI: Cyber. Apesar de não ser a primeira cantora a se assumir lésbica, ela foi além do convencional e escreveu músicas sobre o assunto. Fugindo de todo o padrão heteronormativo, Hayley foi apelidada de “Lesbian Jesus” (Jesus Lésbico, em tradução literal) pelos seus fãs, termo que já tem definição no Urban Dictionary. O nome veio pois, segundo os fãs, ela surgiu no cenário para salvar o pop de todo o padrão pré-estabelecido e ser uma inspiração para diversas adolescentes que se identificam com ela. Quando Expectations foi lançado, dia 30 de março, Hayley pediu, através da sua conta do Twitter, que todos ouvissem-o na ordem correta da primeira vez. Por mais que o álbum seja baseado nas experiências dela, a sugestão seria para que cada um tivesse sua própria jornada e absorção das mensagens contidas.

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Expectations começa com uma abertura instrumental de mesmo nome, seguida por Feelings. Nesse momento, a sugestão da “Ex-Velma” é muito válida, pelo perfeito encaixa entre as batidas das duas faixas. Sobre exalar sentimentos, ao ponto de não conseguir relaxar ou deixar de se importar com a pessoa, a música é justificada pela cantora não gostar de pensar que deveria ter vergonha de seus sentimentos. Feelings acompanha um clipe, que causou muita repercussão na internet e atingiu mais de 300.000 visualizações em 12 horas de lançamentos. Embora o vídeo não tenha nada de extravagante ou diferente, a história é protagonizada por um casal formado por ela e outra garota. Em seguida temos What I Need, em parceria com a cantora Kehlani, que por acaso é bissexual. A música tem uma batida vibrante e coloca em questão uma necessidade da cantora: a de ter certeza sobre um relacionamento e que a garota não tenha medo de dizer aos outros que estão juntas. O melhor dessa faixa é, sem dúvidas, o quão bem a voz de Hayley combinou com de Kehlani, fazendo necessário participações mais frequentes no futuro. Sleepover é uma música um tanto sofrida, sobre um amor não recíproco. A ex-Disney fala sobre a 78| zint.online

sensação de estar ao lado de alguém que ama você apenas como amiga e o quão doloroso isso pode ser. Porém, você ama tanto essa pessoa que se contenta em tê-la apenas no coração. Quem nunca viveu um crush e não correspondido, certo? Hayley segue no fundo do poço com Mercy/ Gatekeeper, a mais angustiante de todo o disco. A faixa fala sobre dor, solidão e uma pessoa cansada de sofrer, rasgando a alma em uma faixa "dois-em-um". O início é um pouco lento, seguido por uma batida completamente diferente, indicando essa transição de faixas, terminado, então, com o mesmo tom inicial. Essa troca dá uma sensação de uma luta dela consigo mesma. Under the Blue/Take Me In também acompanha o conceito anterior em, apesar de Under the Blue não ser lenta, Take Me In é uma explosão de ritmos e batidas diferentes. Após a sessão de tristeza, Curious é um questionamento sobre uma ex-namorada que agora está com um garoto, mas que ainda dá sinais que está interessada na cantora. O single conta com um clipe que mostra essa relação um tanto quanto à três, e tem uma ótima reviravolta ao final. As batidas sem voz do interlude xx são uma introdução maravilhosa para a faixa seguinte, Wanna Be Missed. A letra


dessa é bem forte e mostra uma necessidade humana de saber que alguém sentirá sua falta. A música é sobre amar alguém tão intensamente que não conseguirá levar sua vida adiante sem essa pessoa. Seguimos com a sincera He’ll Never Love You (HNLY), mostrando grande autoconfiança da artista, e novamente trazendo à luz um casal heterossexual. A “supernerd Velma” contesta uma garota, pois sabe dos seus reais sentimentos mas não entende a razão de estar com outra pessoa. Aparentemente, Hayley teve bastante problemas com triângulos amorosos. Finalmente, temos Palm Dreams, uma música mais leve e uma vibe de verão, com um convite para curtir a vida e a sensação de estar em casa. Seguimos, então, para Molecules, que fala sobre um amor que chegou ao fim e algumas vagas lembranças sobre ele. Aqui, Lesbian Jesus pede para que a pessoa volte, com certo quê de esperança. Por fim, Let It Be é uma música otimista e convida a pessoa de volta para a sua vida, apesar de todos os pesares. A faixa finaliza todos os sentimentos conturbados do álbum deixando claro que, independente de qualquer problema, o amor deve acontecer. Expectations veio para mostrar que Hayley não está para brincadeiras. Ela vai expôr todos os sentimentos sem medo, inclusive usando os pronomes no feminino. Num mundo com tanto preconceito, Lesbian Jesus irá trazer cor e deixar

claro que não tem problema algum em se aceitar do jeito que é. O disco está disponível em seu canal no Youtube e nas principais plataformas de streaming e lojas virtuais e físicas. //

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Um show de empatia T E X T O //

ruth berbert

d i a g r a m a ç ã o //

victoria cunha



No show feito no Lollapaloosa 2018, Dan ergueu a bandeira LGBTQ+ entoando uma frase sobre amor e igualdade

“É uma história bem simples. Há 10 anos quando eu sentei na cadeira com um terapeuta fui diagnosticado com depressão. Tinha depressão e ansiedade. Nós vivemos em um mundo no qual as pessoas escondem isso. Elas escondem em seus corações porque pensam que é uma fraqueza. Estar deprimido não é uma fraqueza. Faz parte da minha vida, mas não me define e não me impede de fazer nada do que eu amo. Eu divido isso com vocês porque existem centenas entre nós essa noite que ou estão lidando com a depressão e ainda não sabem ou eles estão no meio disso, é cinza, é paralisante. Eu entendo vocês. Sua vida sempre vai valer a pena ser vivida. Nunca a tire de nós. Por favor, por favor, por favor. Não guarde isso dentro de vocês. Fale com sua família, fale com seus amigos, se conseguirem arrumem um terapeuta. Nós não deveríamos estigmatizar isso em nossa cultura nem por mais um dia.”

– Dan Reynolds

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A

expectativa para o show da banda Imagine Dragons era de mais uma grande perfomance no palco Onix, com grandes sucessos, efeitos visuais e certa interação com os fãs. Porém, o que cada um recebeu foi muito mais do que isso. Momentos de pura catarse se espalharam pela multidão ao ouvir o desabafo de Dan Reynolds, vocalista da banda, no Lollapalooza 2018. Ansiedade, depressão. Quem não conhece alguém que sofre com essas doenças ou sabe o que é enfrentá-las de perto?! Mas, mesmo sendo muitas, elas ainda se sentem sozinhas. Reféns de seus próprios pensamentos. E, um show que deveria livrá-las destes a partir da diversão, as consolou através da empatia e de um discurso sincero. Setlist Renovadora

BELIEVER Catarse pelos sonhos reprimidos. Pelos discursos de ódio que cada um recebe pelo seu modo de viver e ver a vida. Por aqueles que têm apenas a si próprios para se obrigarem a serem fortes. A acreditar. A persistir. Para enxergar que a dor e as dificuldades vêm para enobrecer a conquista. Àqueles que sofrem pelo desvio, mas que precisam ser arrogantes para defender os seus sonhos. Pelos anseios que são força única para tirar o corpo da cama e lutar.

IT’S TIME Catarse pela necessidade de se firmar como quem se é verdadeiramente. Nunca mudar pela vontade dos outros, para o agrado de todos que não estão nesse mundo para ser você. Mudar no sentido moral é dever evolutivo. Mudar no sentido que fere é afronta ao dom da vida. Pelas inúmeras e dolorosas justificativas. Por ter de provar a própria razão. Pelo som que reverbera o pavor de decepcionar a ninguém. Principalmente ao que é reflexo no espelho. WHATEVER IT TAKES Catarse pela disposição de encarar seus problemas, mesmo quando tudo parece desfazer-se diante dos olhos. Pela vontade de fazer tudo que for preciso pela satisfação de superar-se sempre. Que o corpo é muito pouco perto de tudo que temos de bagagem moral, espiritual e emotiva. Porque nascemos pelo que escolhemos ser. Nada mais. YESTERDAY Catarse por ouvir uma multidão em uníssono que o hoje, o agora, é o que realmente importa. Pela energia positiva ter guiado ao agradecimento de peito aberto ao passado. Por adquirir a momentânea consciência de que o presente é resultado de antigas escolhas. E, que o presente é o passado do que ainda será. Por brindar o futuro abrindo mão de controlá-lo. Ao vislumbrar que a dedicação valerá a pena, quando abraçar a dádiva do presente e se despedir

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de quem foi. Ao conseguir enxergar que o futuro é a caminhada diária e não o destino final. Todo dia, “fui”, “sou” e “serei”. NEXT TO ME Catarse ao escutar que nunca estamos sozinhos e lembrar-se de alguém que sempre foi companhia e casa. Ao sentir uma onda de gratidão preencher o peito no instante que a lembrança veio a mente. Por aceitar que comete erros e que é imprescindível se redimir por eles. Pela vontade súbita de perdoar e reatar laços. E, talvez, por poder olhar para o lado no exato momento em que a música tocava e enxergar uma pessoa essencial. DEMONS Catarse ao ver uma pessoa bem sucedida assumir que já se sentiu impotente. Por ver que mesmo aqueles com tantos admiradores podem acordar em dias cinzas. Por ouvir que se sentir perdido pode ser algo transformador e não um problema. Por reunir forças para assumir seus maiores defeitos, mas quando olhar para dentro, enxergar também toda a luz que tem para emanar. THUNDER Catarse ao chorar o cansaço de decepcionar tantas expectativas equivocadas. Por ir contra a 84| zint.online

corrente e conquistar. Por ser raio antes do trovão. Pelos planos que não são apenas da imaginação, mas sim, previsões de um futuro certo. Ao mentalizar o rosto dos que apóiam hoje e como serão as expressões quando os do time oposto forem surpreendidos. Independente de gênero, ideologia política, orientação sexual, religião ou qualquer posicionamento que gere reações intolerantes. Todos dotados de sonhos e medos, sentimentos que quase sempre andam juntos pelo determinismo da mudança, foram abraçados e puderam se libertar em lágrimas. Não de felicidade, nem de tristeza. Cada choro continha um prazer que só o alívio provê. O alívio sentido quando há compreensão, em qualquer aspecto, sob qualquer falta cometida. Sob qualquer trauma a ser trabalhado. Dan Reynolds também falou sobre homofobia, guerras por poder e os homicídios em massa que tem acontecido no mundo inteiro. Quando o diálogo pauta qualquer uma dessas doenças que assolam a humanidade, apenas se adéquam aplausos. E, em muitos momentos as palmas fervorosas do público eram tudo que podia ser ouvido. O Legado da Banda

Em 2011, as vidas dos integrantes da banda se cruzaram com as de Tyler Robinson e seus familiares. Tyler na época tinha 16 anos e lutava


contra um tipo raro de câncer fazia cinco anos. Como grande fã da banda, ele sempre comparecia às apresentações e um dia seu irmão mais velho mandou uma mensagem a Dan Reynolds, contando a história de Tyler e avisando que eles estariam presentes no show daquela noite. No texto ele não pedia nada, mas sensibilizado com mensagem, o grupo dedicou a Tyler sua música preferida e ao final, os irmãos puderam conversar com eles no camarim. Após esse encontro, uma forte amizade nasceu. Aos 17 anos, Tyler recebeu a notícia de que estava curado, mas quatro meses depois, ele faleceu devido a complicações de tumores que haviam invadido seu cérebro. Foi ai que a banda, juntamente a família do garoto, fundaram a Tyler Robinson Foundation cuja missão é fortalecer famílias, emocional e financeiramente, enquanto elas enfrentam o câncer pediátrico, arrecadando

doações para cobrir os gastos com o tratamento. A cada dois minutos uma criança é diagnosticada com câncer nos Estados Unidos e a fundação já conseguiu ajudar 37 famílias em vários estados do país desde seu início em 2013. “Estou cansado da intolerância. Nós estamos dizendo por anos, mas a raça humana ainda não entendeu. Que nós sejamos um mundo de amor e igualdade”, foi a mensagem que ficou como dever a todos que lá estiveram, aos que assistiram pela televisão e aos que se importam em fazer a diferença em um mundo tão quebrado. Dan Reynolds foi um anfitrião perfeito. Com graça, gentileza, entrega e uma explosão de energia positiva, conquistou cada coração cansado das batalhas, e os fortaleceu para vencer a guerra. Mostrou o caminho, e todos voltaram ao que eram por essência. Enquanto o significado de Festival de Música também regressava às suas mais profundas origens. //

D a e s q u e r d a p r a d i r e i ta : D a n P l at z m a n , B e n M c K e e , W ay n e S e r m o n e D a n R e y n o l d s

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Para Avicii, com toda admiração T E X T O //

ívens barros

d i a g r a m a ç ã o //

E agora, Tim? Não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, não tive chance de lhe agradecer por tudo o que fez por mim, sem ao menos me conhecer. Infelizmente, não tive o privilégio de um dia te mostrar alguma das minhas produções. E agora, Tim? E agora que um pedaço da minha esperança no cenário musical se esfacelou com a sua partida? Estamos cercados de artistas sem alma, que não se agarram a uma ideia de música e que muito pouco fazem para rebuscar a emoção de um fã.

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vics

Você esteve comigo em todos os momentos da minha vida. Tudo começou quando eu frequentava as famosas festas de 15 anos e, ainda inconscientemente, ouvia Levels e sentia uma emoção diferente. Eu simplesmente não sabia quem havia feito aquela obra de arte (naquela época, eu estava mais interessado por outro gênero musical), mas já sentia uma energia muito boa sempre que te escutava. A minha desatenção com o cenário eletrônico da época trouxe um arrependimento incalculável, pois perdi a chance de tê-lo visto se apresentar em minha cidade, quando você veio fazer um show, em 2013. Ano este em que fiz uma breve visita à casa do meu primo, grande amigo meu, onde ele pegou o notebook para colocar algumas músicas enquanto conversávamos. Era para a música ser mera coadjuvante naquela tarde, mas eu simplesmente não conseguia mais prestar atenção no diálogo, já que aquele som que se expandia na sala de estar me agradava de uma forma inexplicável. Era uma música de progressão gostosa e bem compassada, era um ritmo que me dava uma palpitação diferente no coração e a letra parecia ter sido feita para o momento que eu vivia. Era você, Tim, me pedindo para te acordar quando tudo tivesse acabado, era você me explicando que a vida era um jogo feito para todos e que o prêmio disso tudo era o amor. Foi nesse exato momento em que comecei a querer saber quem era o autor de


Wake Me Up e o porquê de sua música mexer tanto comigo. Até pensei que podia se tratar de uma coincidência, mas novamente sua genialidade se encaixou como uma luva em minha vida. Em um momento um pouco confuso, em que minha irmã saía do país para um intercâmbio; eu ouvi aquela sua melodia tão característica, aquele seu desejo de revolucionar um cenário musical tão escasso, Hey Brother para mim virou “Hey Sister”. Mais uma vez você me ensinou lições valiosíssimas, você me ensinou que ainda havia uma estrada ‘sem-fim’ a ser descoberta e também me mostrou que, mesmo que eu não soubesse, não havia nada que eu não fizesse pelos meus irmãos. Você me ajudou a superar desilusões e me incentivou a ter paciência pelo meu amor, com Waiting for Love, me ensinou a confiar em mim, com I Could Be the One, me ajudou a enxergar que há dias que a gente nunca vai se esquecer, com The Days. Além disso, me deu até coragem de fazer uma tatuagem com uma de suas frases que mais levo e que carregarei para o resto da minha vida: viva uma vida que você vai se lembrar (presente em The Nights). Olha, eu queria que você soubesse que sua introversão não atrapalhava em nada seus shows, que infelizmente só acompanhei pela internet. E que também nunca vou julgar o fato de você ter se aproximado do álcool por isso, desencadeando inclusive em uma pancreatite, que te fez cancelar turnês e que também te levou a se afastar dos palcos, seguindo apenas com a produção musical.

Tim, nada disso tira sua genialidade, sua expressividade no mundo sonoro, sua legião de fãs apaixonados e que sentiremos muito a sua falta. Você se foi jovem demais, o dia 20 de abril de 2018 estará sempre no meu pensamento como o dia em que a música perdeu um dos maiores talentos dessa geração. Eu só tenho a agradecer por tudo, pois, como você mesmo colocou em Friend of Mine, só Deus sabe o que seria de mim se você não fosse meu amigo. Você sempre será um dos meus maiores ídolos. Infelizmente, sinto uma tristeza profunda (Divine Sorrow), pois agora tenho que aprender a viver sem você (Without You), mas pelo menos você deve sentir que está de volta aos braços que ama, pois parece que você chegou ao paraíso (como cita em Heaven). Descanse em paz, Avicii! E saiba que eu sou eternamente grato, assim como milhões de pessoas de diversas idades. Missão cumprida, caro amigo. E agora, Tim? Agora você é mais um Deus que se mantém consolidado no meio da música, agora você segue em nossos corações. Cada kick de uma música sua representa a batida do coração dos milhares de fãs espalhados no mundo, cada linha melódica escrita por você representa o trajeto que esperamos seguir em nossas vidas, cada letra desenvolvida (mesmo que em parcerias) representa uma lição que você nos deixa de legado. Olhe por nós, por nossa cena musical, de onde você estiver. Com toda admiração, Ívens Rodrigues Barros //

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[

tirinhas

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tirinha um; Esqueleto no Armário Rafael Rallo

continua na próxima página»

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[

PLAYLISTS

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art ist as


art ist as


art ist as


art ist as


tem รกti cas


tem รกti cas


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