ZINT ⋅ Edição #14: RuPaul's Drag Race

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zint edição #14: RuPaul’s Drag Race

jul. 2018



e di to ri al

Mais um mês, mais uma Edição! Em julho, a #14 traz matérias sobre os 10 anos de RuPaul’s Drag Race, relembrando os melhores momentos de todas as temporadas, os 20 anos de Sex and the City, falando sobre o legado da famosa série da HBO, e o mais novo álbum do cantor brasileiro Silva! Ainda, textos sobre o centenário do diretor sueco Ingmar Bergman, os 50 anos de “2001: Uma Odisséia no Espaço” e a exposição artística com as peças de Basquiat! Novas três palavras figuram no nosso Guia pra você aprender e o Calendário Cultural te lembra que em agosto teremos o novo filme de Mamma Mia, o jogo PES 2019 e álbuns novos de Nicki Minaj, Iggy Azalea, Ariana Grande e Troye Sivan. Aproveitem!


O QUê A ZINT TEM?

como uma publicação digital, as possibilidades de interações são promissoras. usando a plataforma ao nosso alcance, a revista sempre vem acompanhada de interatividade. aproveitamos de todos esses recursos e você pode usufruir de tudo sem muito mistério. »


paleta de cores;

para ficar fácil diferenciar as áreas de cobertura, cada uma delas possuem suas próprias cores, que ficam visíveis nas barras laterais da revista

vídeo;

stories;

com uma revista de Cultura & Entretenimento, estamos sempre escrevendo sobre algo que possui um trailer ou um videoclipe, por exemplo. o ícone do Youtube é sempre visível para encontrar esse conteúdo audivisual. ao clicar na imagem, uma janela com o player será aberto e você poderá assistir ao vídeo!

se você está pelo app Issuu, é possível ler as principais matérias da Edição em versão “Stories”. na parte superior direita você pode ver um ícone de barras; basta clicar nele para ser levado para a área onde o conteúdo está em um formato de texto corrido

playlists;

links;

algumas das nossas matérias vem acompanhadas playlists. quando isso acontece, eles são encontradas ao final da respectiva matéria. ainda, nas páginas finais de cada publicação, você pode encontrar todas as listas, com ícones para ouvi-las no Deezer, Spotify e Youtube

além do conteúdo audiovisual principal, as matérias contém outros tipos de links, como para páginas da internet, ou até mesmo outros vídeos e áudios. toda vez que essa identificação visual aparecer saiba que ela corresponde a um link. é só clicar!

rodapé;

o easter-egg da revista. no rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint.online sublinhado também é um link. neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog


colabs da edição a cada publicação, o nosso time de colaboradores muda um pouco

joão

vics

idealizador; editor de conteúdo

idealizador; diretor de arte

a variação ocorre como o resultado da disponibilidade de cada um dos colabs

colabs da edição


10 colaboradores participam dessa edição, com matérias sobre séries, filmes, literatura, música, indicação e até mesmo nas playlists

alisson millo

bárbara lima

bruna curi

carolina cassese

debora drumond

deborah almeida

giovana silvestri

mike faria

renato quintino

vics

clique aqui e veja todos os nossos colabs t e m in t eresse em pa rt icipar? sai ba como aqui !


agenda cultural as principais datas de estreias e lançamentos de agosto [veja o calendário completo clicando aqui]

01

02

02

O SONHO DO TIGRE

acrimony

ana e vitória

COLLEEN HOUCK

02

Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo

03

surviving the summer iggy azalea

09

10

megatubarão

madden nfl 19 pc, ps4, xbox 360

10

queen nicki minaj

16

o protetor 2


16

16

mentes sombrias

Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

17

17

Thank You for Today

(Dis)enchantment

Death Cab for Cutie

estreia da 1ªT

23

23

Meu Ex é um Espião

Te Peguei!

17

SWEETeNER ariana grande

28

24

Pro Evolution Soccer 2019

F1 2018

PC, PS4, Xbox One

PC, PS4, Xbox One

30

Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas

30

hotel artemis

31

Treat Myself Meghan Trainor

31

31

Jack Ryan

bloom

estreia da 1ªT

TROYE SIVAN


guia do en tre te ni men to

não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, podendo ficar sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados na área. por essa e outras, mês a mês, nos prontificamos a trazer três palavras, traduzidas, explicadas e exemplificadas

veja o dicionário completo


smash hit o smash hit é um termo usado para designar uma faixa que adquiriu um sucesso (quase que) instantâneo nas paradas mundiais, tornando-se bastante reconhecível em inúmeros países. Havana, de Camila Cabelo, e GANGNAM STYLE, de Psy, são exemplos de smash hits.

feature film o feature film é, de uma forma bem simples e direta, uma película em longa-metragem. para as maiores associações de cinema do mundo, para ser um longa, o filme precisa ter, pelo menos, 40 minutos de duração. O feature film é um termo utilizado prioritamente por premiações e associações de cinema.

best seller best seller são todos os livros que são muito vendidos ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos. por serem muito populares, são geralmente considerados como “literatura de massa”.. Há milhares de livros bem vendidos, como a saga Harry Potter, de J. K. Rowling, ou O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien.


CONTEÚDO séries 16

p.16

RuPaul’s Drag Race

Debora Drumond p.32

Hannah Gadsby Carolina Cassese p.36

Sex and the City Carolina Cassese, vics

filmes p.46

Ingmar Bergman Renato Quintino

46

p.52

Todo Dia Bruna Curi p.56

Do Jeito Que Elas Querem Deborah Almeida p.58

2001: Uma Odisséia no Espaço Mike Faria

especial p.64

Basquiat Carolina Cassese


NA EDIÇÃO

literatura p.70

Harry Potter

70

Bárbara Lima

música p.76

Silva

Mike Faria

p.80

Demi Lovato

Giovana Silvestri p.86

Ghost Alisson Millo

indicação p.94

Mulheres na animação Carolina Cassese

playlists p.102

Todas as listas musicais produzidas pelos nossos Colabs [ duas novas ]

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[

sĂŠries

]


RUPAUL

UMA DÉCADA DE RUPAUL'S DRAG RACE por

Debora Drumond diagramação

vics


Este texto contém diversos spoilers!

Gentlemen, start your engines and may the best woman win!

S

em sombra de dúvida, RuPaul's Drag Race é um dos grandes responsáveis pela propagação mundial da cultura drag. O reality show possui uma legião de fãs por todo o mundo e até inspirou outros programas de competição de drag queens como o brasileiro Academia de Drags, e o tailandês Drag Race Thailand. Caso você não conheça a série, RPDR consiste em uma competição para eleger a próxima America’s Next Drag Superstar (A Próxima Drag Superestrela da América, em tradução livre), que recebe um prêmio em dinheiro, além de um cetro e uma

coroa de ouro cravejados de pedras preciosas, um estoque vitalício de maquiagem e destaque na próxima tour do programa pelos EUA. A escolha da vencedora é feita por meio de desafios que podem variar entre ter que atuar, dançar, cantar, dublar, criar uma roupa e, as vezes, fazer tudo isso ao mesmo tempo. No ano em que o Drag Race completa uma década, achamos justo que você conheça um pouco mais do reality, as vencedoras e os melhores momentos da competição que é o equivalente à Miss Universo do mundo LGBTQ+. E para você que é fã, fica aqui a nossa retrospectiva.

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DRAG RACE Em 2008, o orçamento era baixo e cenários bem simples. Isso não foi empecilho para que as participantes mostrassem todo o seu Carisma, Originalidade, Tenacidade e Talento (um jogo de palavras que forma C.U.N.T., na sigla original, uma outra palavra para o órgão sexual feminino – e também, um palavrão) nos desafios. Nessa temporada, conhecemos grandes queen como Nina Flowers, Shannel e Bebe Zahara Benet, que foi a vencedora da vez. As principais premiações foram um estoque “vitalício” de maquiagem da MAC Cosmetics e 20 mil dólares. E essa não seria a última vez que Bebe deu as caras em RuPaul’s Drag Race... BEBE ZAHARA BENET

TYRA SANCHEZ

Após o lip sync, RuPaul anuncia a ganhadora falando SHANTAY YOU STAY! Quem sai, recebe o SASHAY AWAY!

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DON’T BE JEALOUS OF MY BOOGIE A segunda temporada já trouxe cenários mais com cara de reality show, uma workroom (onde as queens desenvolvem os desafios) maior e mais equipada e um palco principal com mais iluminação e uma passarela digna de desfile de grifes. O segundo ano trouxe o desafio que se tornou o favorito de todo o público: o Snatch Game é um jogo de perguntas e

respostas que as queens participam enquanto personificam uma celebridade, e acima de tudo, dão um show de humor. Elas precisam fazer a gente rir! No game, Tatianna roubou a cena com sua Britney Spears e ganhou o desafio, que também teve a latina Jessica Wild se atrevendo a fazer a própria RuPaul. Foi nesta temporada que público teve um primeiro gostinho de Shangela Laquifa Wadley,


que na época se montava há cinco meses, mas conquistou Ru com sua personalidade. Mesmo tendo deixado a competição no primeiro episódio, a queen já ficou na memória de todos por emplacar seu bordão “halelooo”,

Se você quer falar mal de alguém,

não sendo a última vez que Shangela usaria-no no RPDR. O top três da vez é Tyra Sanchez, Raven e Jujubee, com a primeira levando a coroa (The other, other Tyra). A vitória de Tyra é questionada até hoje por conta da postura que a queen tinha com suas colegas na workroom, muitas vezes sendo grossa e rude. Recentemente,

a winner se envolveu em uma polêmica ao publicar uma carta aberta à RuPaul em suas redes sociais, expondo a indiferença da apresentadora em relação a repercussão negativa que o programa causou em sua carreira. Tyra também disse em sua carta sobre o racismo que acontece tanto dentro do reality show quanto por parte dos fãs.

você faz SHADE. Se você quer fofocar, é

RAJA

hora do TEA.

YOU’RE A CHAMPION, AND YOU’RE ALWAYS BE A HERO Na terceira temporada, Michelle Visage, melhor amiga de Mama Ru, se torna uma das juradas do programa. Essa temporada foi marcada por muitos looks icônicos, principalmente de Manila Luzon e Raja, que chegaram ao top três junto com Alexis Mateo (BAM!). As queens dos looks se juntaram com as amigas Carmem Carrera e Delta Work e formaram o grupo The Heathers, por se considerarem as mais talentosas e bonitas da competição – as outras eram apenas as booguers. Após a entrada das queens no primeiro episódio, Ru decide surpreender a todos trazendo de volta Shangela para concorrer nesta edição do programa, o que não foi do agrado da maioria da colegas. A queen chega bem mais confiante e preparada, chegando ao top seis. Seu retorno causa conflito com as Heathers, que a criticam constantemente por repararem que Shangela sempre tinha ajuda de outras colegas durante os desafios. Yara Sofia e Alexis Mateo, a dupla dinâmica de Porto Rico

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SHARON NEEDLES

se manteve firme durante a competição e se aproximaram muito, mas durante o lip sync de Make Dat Money Ball veio um dos momentos mais emocionantes da terceira temporada: na performance, Yara rasga todo o seu look, desaba no palco e começa a chorar. Ela queria muito continuar na competição mas duelar com sua melhor amiga ali dentro foi demais para ela. Quando Alexis para de dublar e vai até a amiga, todos no palco se emocionam, mas Ru decide que Alexis continuaria na competição. Quem levou a coroa dessa edição foi Raja, que ao longo da temporada

Ao final de todo o episódio, após a queen eliminada sair da passarela, Ru coloca todo mundo pra dançar com um POSSO TER UM AMÉM AQUI?

demonstrou ser uma queen muito talentosa. Mesmo sendo categorizada como uma rainha fashion, a queen teve um bom desempenho em desafios que demandaram outras habilidades, como o Snatch Game. Hoje, ela tem um quadro no canal do Youtube da WOW Presents, produtora do reality, em que ela avalia looks das drags em alguns eventos, juntamente com uma queen convidada.

SHE’S LIKE A FEMALE FENOMENON, SHE’S A GLAMAZON A quarta temporada trouxe uma vibe diferente ao programa, com queens mais diversificadas. Os fãs puderam conhecer grandes personalidades como Latrice Royale e Phi Phi O’Hara. Falando em Phi Phi, os momentos de atrito que ela teve com Sharon Needles não foram poucos: em uma das cenas mais clássicas de todo o programa é O'Hara dizendo “Pelo menos eu sou uma showgirl. Volta para festejar na cidade, que é onde você pertence, vadia" quando Sharon a chama de “Showgirl estragada”. Sharon surpreendeu a todos por ter uma estética diferente, meio Tim Burton, ganhando o primeiro o desafio do Rupocalipse. Ela foi mais ainda contra a maré quando decidiu imitar Michelle Visage no Snatch Game, deixando tanto suas colegas quanto Ru receosas. Sharon ganhou esse desafio, mais uma vez, e a jurada amou a performance da queen. Em um dos desafios, as queens tiveram que desenvolver a capa de uma revista da qual tiveram o tema designado por Latrice, que ganhou o


mini desafio. Jiggly Caliente, uma queen plus size, ficou com uma revista sobre saúde e ginástica. Algumas colegas a aconselham a fazer algo cômico por ela ser uma queen de humor além de plus size, mas ela começa a pensar a fazer algo sério realmente como uma revista real desse nicho seria. Quando ela discute essa ideia, Phi Phi diz que se ela sente que isso é o que ela deve fazer, mas é mostrada logo em seguida cochichando com William rindo a escolha. Jiggly vai mal no desafio e perde o lip sync contra Latrice. No episódio da final, descobrimos que Phi Phi e William armaram para convencer Jiggly a fazer algo que ela se daria mal para que ela fosse eliminada. No top seis, as queens têm que preparar uma performance em dupla com a queen

com quem menos se identificam. Para a surpresa de todos, ou não, Phi Phi é pareada com Sharon, Latrice com William e Chad com Dita. Phi Phi e Sharon têm muita dificuldade durante os ensaios porque realmente não se entendem e não conseguem fazer com a química funcione. Chad e Dita têm uma performance nem boa nem ruim. William e Latrice conseguem trabalhar muito bem juntas e sair da zona de conforto. Após anunciarem as vencedoras Latrice e William, ambas vão para o fundo do palco, enquanto Phi Phi e Sharon vão para a eliminação. Mas é após o lip sync que Ru pede que William venha para a frente do palco, causando uma dos momentos mais chocante e memoráveis do programa. RuPaul revela, bem séria, que chegou a seu conhecimento que William quebrou uma das regras do pro-

grama e que por isso ela teria que deixar a competição imediatamente – um momento inédito no show. Assim, Phi Phi e Sharon continuam no programa. O top três é formado por Sharon Needles, Phi Phi O’Hara e a melhor imitadora de Cher, Chad Michaels. Sharon se sente muito surpresa por estar na final, mesmo sendo a primeira queen na história do programa a ganhar quatro desafios. Assim, ela acaba levando a coroa dessa edição, adotando um perfil mais creepy e diferente. Ru mostrou que não importa que tipo de queen você é, basta que você tenha talento, você é capaz de ganhar. Após o programa, Sharon começou uma carreira musical e lançou três álbuns: PG-13, Taxidermy e Battle Axe.

Até a sexta temporada, quando as queens recebiam uma mensagem da Mama Ru na televisão, falando enigmamente de um desafio, antes de Ru entrar na sala, o vídeo era anunciado com um UH, GAROTA, VOCÊ TEM SHEMAIL. O problema era que shemail é um termo utilizado para designar transexuais e travestis. Após muita crítica, na sétima temporada, a frase foi trocada. SHE DONE ALREADY DONE HAD HERSES não só era um verdadeiro trava-língua, como ninguém sabia o que significava. Ru, na oitava temporada, precisou contar uma “história” explicando de onde surgiu a bendita frase, que traduz, muito livremente, em algo como “Ela já fez o que ela já era dela”.

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CHAD MICHAELS

THE FIRST RETURN Pela primeira vez, RuPaul decide trazer de volta queens que não foram capazes de levar a coroa em suas temporadas para competir de novo em RuPaul’s Drag Race All Stars. Agora, as drags devem se enfrentar em duplas, algo que surpreendeu a todas. As duplas formadas são Mimi Imfirst e Pandora Box (Mandora), Tammie Brown e Nina Flowers (Brown Flowers), Manila Luzon e Latrice Royale (Latrila), Yara Sofia e Alexis Mateo (Yarlexis), Jujubee e Raven (Rujubee) e Chad Michaels e Shannel (Shad). A cada desafio, as queens eram julgadas como um conjunto e se uma da dupla tivesse ido mal, isso podia ser suficiente para colocá-las na eliminação. Durante o lip sync, apenas uma das queens de cada dupla participava, entretanto, a outra poderia substituí-la no primeiro minuto da performance se sentisse a necessidade. O top dois de All Stars ficou com Chad Michaels e Raven e, mais uma vez, Raven se viu no segundo lugar e Chad levou a coroa.

Quando uma queen é muito feminina/ parece muito uma mulher, ela é chamada de FISH. THIS IS THE BEGINNING OF THE REST OF YOUR LIFE

JINX MONSOON

Na quinta temporada, finalmente, temos a presença da surpreendente Alaska Thunderfuck, que tentou entrar na competição desde a primeira edição e, na época, era namorada de Sharon Needles. Alaska logo se aproximou de Detox e Roxxxy Andrews, formando o trio Rolaskatox. As três sempre se juntavam em desafios em gru-

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po e se ajudavam nos individuais. Michelle alertou Alaska que ela precisava se destacar na competição e estar em um grupinho não ia ajudar nisso, então Alaska decidiu focar em si e deixar as amigas de lado. Outro grande drama dessa temporada foi a presença de Alyssa Edwards e Coco Montrese. As duas queens eram melhores amigas até


Ler uma

BIANCA DEL RIO

Alyssa ganhar o título de queen, falando Miss Gay America e Coco, “verdades” que ficou em segundo lugar, assumir a coroa, por razões (sempre que até hoje são desconhede forma cidas. Quando as duas se engraçada), é viram na workroom, foi um dos momentos mais tensos da chamado de temporada, causando dúvidas READ entre as outras queens, que queriam saber porque as duas não se gostavam. Durante toda a temporada a tensão permaneceu entre as duas drags, até que ambas foram para a eliminação em um dos lip syncs mais lembrados de todo o programa, com Alyssa deixando a competição. O melhor desafio da temporada definitivamente foi o RuPaul Roast, em que as queens tinham que fazer um show de comédia de insulto em a homenagem a própria Ru. As melhores apresentações ficaram por conta de Alaska, Jinkx Monsoon e Coco, que ganhou o desafio ao fazer sua performance como a amiga do gueto de Ru antes de ser famosa. As queens que chegaram ao top três na quinta temporada foram Alaska, NOW SISSY Roxxxy e Jinkx, que muitas acreditaTHAT WALK va-se que ela seria a primeira a ser eliminada. Jinkx era muito criticada por Na sexta temporada, seus looks, por ter uma estética diferenRuPaul decide dividir as te, um humor diferente. Mesmo indo queens em dois grupos para para o palco esperando o pior, desafio ter dois episódios de estréia, após desafio ela foi surpreendendo e dessa forma uma queen ficou apenas uma vez na eliminação. seria eliminada de cada No final, foi Jinkx quem ganhou, mosgrupo sem conhecer o outro. trando mais uma vez que o diferente Quando o segundo grupo e o inesperado também têm lugar no entra pela primeira vez na mundo drag. Após sua vitória, Jinkx workroom, parece que houve lançou os álbuns The Inevitable Aluma festa ali, vários copos bum, The Ginger Snapped e ReAniusados, bolinhos comimated. Além da carreira musical, Jinkx dos. Ao final do primeiro estreou em 2015 seu documentário desafio desse grupo, todas Drag Becomes Him, que retrata o inías queens se conhecem e já cio de sua carreira como drag até um é perceptível uma certa rixa ano depois de ter vencido o reality. entre os grupos. Bianca Del

Rio é o destaque da temporada, com vários bordões como “Not today satan, not today” e “Need help packing, queen?”. Com uma personalidade forte, Bianca tem um humor on point, sabe costurar e atua bem. Mesmo sendo respondona, é possível ver momentos em que ela mostrava um lado amigável, como quando ajudou Adore Delano com o corset e Trinity K zint.online | 23


Bonet no desafio do comercial. O Snatch Game é um dos melhores de todo o programa, trazendo Adore totalmente dissimulada como Anna Nicole Smith, BenDeLaCreme muito engraçada e no personagem como Maggie Smith em Downton Abbey (ganhando o desafio) e Bianca hilária como Judge Judy. O top três dessa temporada foi Bianca Del Rio, Adore Delano e Courtney Act. Bianca foi a que teve um melhor desempenho durante a competição e foi mais versátil. Adore e Courtney se destacaram nos desafios de canto, mas Adore não sabia costurar e Courtney, segundo

os jurados, não tinha muita personalidade. Por esses motivos, Bianca levou a coroa. Após o programa, a queen gravou seus dois filmes Hurricane Bianca (2016) e Hurricane Bianca: From Russia with Hate (2018), que caíram no gosto dos fãs. Uma das queens mais bem sucedidas do ramo, ela também faz aparições em alguns episódios futuros do reality, desde 2014 viaja pelo mundo com os seus aclamados comedy shows (The Rolodex of Hate, Not Today Satan e Blame It On Bianca del Rio) e até já lançou um livro intitulado Blame It On Bianca del Rio, onde ela se auto-intitula a "expert em nada que tem uma opinião sobre tudo".

É muito comum queens terem um bordão. Na sexta temporada, um

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dos mais famosos é de Adore Delano: PARTY!

VIOLET CHACHKI

WE’RE ALL BORN NAKED AND THE REST IS DRAG A sétima temporada tem queens bem excêntricas como Max, com um estilo old hollywood e que só usa perucas cinzas, Katia, que se autodefine como uma prostituta russa e sua personalidade engloba muito humor, e Trixie Mattel, com uma estética exagerada inspirada na Barbie. Violet Chachki foi a fashion queen da temporada trazendo looks inovadores como no desafio da Hello Kitty e no que elas deveriam demonstrar sua morte, com a queen morrendo pela falta de ar por ter a cintura mais fina da história de RuPaul’s Drag Race. No início da temporada, Violet tinha um jeito ríspido e poucas amigas, evoluindo muito sua personalidade no decorrer da competição. Aqui, as queens que vão para o top três são Violet, Pearl e Ginger Minj, que ganhou o Snatch Game com sua performance de Adele. Muitos que pensaram que estava na hora de uma big girl ganhar, acabaram ficando decepcionados quando Ru anunciou que o cetro seria de Violet Chachki. Apostando mais em uma carreira como modelo e seu estilo pin-up, Violet apareceu recentemente no comercial da coleção Outono/Inverso da Prada, estrelada pela atriz Sarah Paulson.


BOB THE DRAG QUEEN

O termo SICKENING significa, em português, na língua drag, algo tão incrível que chega a ser nauseante, no bom sentido

I KNOW WHAT I FEEL, WHAT I FEEL IS REAL A oitava temporada trouxe muitas personalidades fortes, principalmente o trio vindo de Nova Iorque: Acid Betty, Bob The Drag Queen e Thorgy Thor. Nesta temporada, Derrick Barry é a queen número 100 a entrar na workroom e a melhor imitadora de Britney Spears de toda Las Vegas, possuindo seu próprio show na cidade. Uma dupla de Porto Rico também está presente para representar as latinas: Cynthia "Cucu" Lee Fontaine e Naysha Lopes. No primeiro desafio, cada queen teve que fazer uma releitura de um desafio passado diferente. Bob The Drag Queen ficou com o Gone With The Wind, em que

teria que fazer um look usando o tecido de cortinas. Ela não só fez o look, como usou o tecido que sobrou e fez uma bolsa de mão que usou para criar seu bordão que depois virou single “Purse first, purse first, walk into the room purse first”. Enquanto isso, o trio de NY têm alguns problemas entre si: Acid não gosta de Thorgy, que não de Bob. No entanto, as três tentam se unir nos desafios em grupo para irem bem, como no qual elas têm que formar uma banda de new wave. A tensão começa a surgir quando Bob e Thorgy ficam no top dois em diversos desafios, com Bob sempre vencendo e Thorgy elaborando a ideia de uma conspiração contra ela, pela drag ser tão boa quanto sua oponente. Um dos momentos mais chocantes da temporada acontece logo no segundo episódio. Após o desafio, Dax Exclamation Point e Laila Mcqueen vão para a eliminação e se enfrentam no lip sync com a música é I Will Survive, de Gloria Gaynor, um hino da comunidade LGBTQ+. O que ninguém esperava é que a performance de nenhuma delas fosse capaz de impressionar RuPaul o suficiente para que elas continuassem na competição, levando as duas a serem eliminadas. Quem vai para o top três é Bob The Drag Queen, Kim Chi e Naomi Smalls. Durante os desafios, Bob teve mais wins e se demonstrou muito mais versátil que as colegas. Sua performance no Snatch Game foi única, com Bob sendo a única queen a representar dois personagens no desafio: as atrizes Uzo Aduba, de Orange Is The New Black, e Carol Channing. Por esses motivos, acabou levando a coroa. Uma ativista LGBTQ+, Bob já apareceu em algumas músicas de suas amigas queens, tem o seu próprio podcast (Sibling Rivalry) e em 2017 teve seu comedy show exibido na tv como o especial Bob the Drag Queen: Suspiciously Large Woman. zint.online | 25


Na sétima temporada, o bordão COME ALASKA THUNDERFUCK

THROUGH é de Violet Chachki (além do meme SHOW US YOUR DICK). No seu “discurso” de ganhadora, a queen grita a primeira frase, comemorando a coroa.

CAUSE YOU'RE GONNA SEE ME HANGING IN THE HALL OF FAME! Depois de quatro anos, chega a segunda temporada de All Stars, trazendo de volta as queens favoritas dos fãs que não venceram suas respectivas temporadas. Na segunda temporada da redenção, temos quase metade do elenco da quinta temporada (Alaska, Alyssa, Coco, Detox, Roxxxy), Phi Phi O’Hara, Tatianna, Adore Delano, Katya e Ginger Minj. A grande mudança desse ano é anunciada logo no começo, quando Ru avisa que ela não vai eliminar ninguém na temporada, ficando a cargo das próprias queens decidirem. Enquanto se preparam para o primeiro desafio na workroom, Alaska comenta com as queens que sente que mesmo assim alguém vai para casa naquele dia. E ela estava certa. Após o desafio, RuPaul revela que ao invés de as duas queens piores terem que duelar para continuar na competição, as

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duas melhores iriam disputar por 10 mil dólares e pelo direito de eliminar uma das piores, mudando toda a dinâmica do programa. Durante as críticas dos jurados do primeiro episódio, Adore se sente atacada por Michelle e se demonstra chateada com isso. No segundo episódio, ela está mais quieta na workroom e quando Ru vai até lá para orientá-las sobre o desafio e a vê com os vermelhos de chorar, Adore diz que quer ir para casa, que ser criticada daquela forma é demais para ela. Ru insiste que ela converse com Michelle e mesmo após essa conversa, em que a jurada se desculpa com a queen e diz que nenhuma crítica foi com intenção de magoá-la, ela decide deixar a competição voluntariamente. Alaska e Katya ficam entre as duas melhores diversas vezes e Alaska sempre vence, para a sorte de Roxxxy, que fica entre as piores em quase todas as tarefas e acaba sendo salva pela amiga. Tudo muda quando, no desafio em que as queens tem que transformar uma parente em drag, Alaska se vê entre as piores pela primeira vez em toda a competição. Ela tem um colapso e até diz que paga 10 mil dólares às queens no top para que não a eliminassem. Eventualmente, o top três é formado por Alaska, Detox e Katya, com Alaska levando a coroa graças a seu desempenho na competição. Mesmo antes de AS2, Thunderfuck já tinha uma grande carreira musical com seus álbuns Anus e Poundcake, no qual uma das músicas é titulada Come to Brazil e teve o clipe gravado no Rio de Janeiro quando ela veio ao país em sua tour mundial.


BOA SORTE... E NÃO CATEGORY IS: BRING IT TO THE RUNWAY

boa sorte que RuPaul dá as queens antes do lip sync

SASHA VELOUR

A nona temporada começou com 13 queens inéditas e Cynthia Leane Fontaine. O elenco é bem variado, desde a caloura Valentina, que se montava a dez meses, até Charlie Hides, com uma carreira de 20 anos. A temporada contou com a presença de grandes celebridades como Lady Gaga, homenageada no primeiro desafio, e Lisa Kudrow, a Phoebe de Friends, no segundo episódio. Durante a temporada, Nina Bonina Brown se sente para baixo e justifica isso dizendo que as outras queens falam mal dela, acabando por afetar o seu desempenho durante a competição e uma discussão com Shea Couleé, uma das colegas que mais a apoiava. No quinto episódio, Eureka tem que deixar a competição por conta de uma lesão que sofreu durante o desafio de líder de torcida no segundo episódio. RuPaul faz questão de dizer que a queen tem uma vaga garantida na décima temporada. Ao longo dos desafios, Shea e Sasha Velour são as queens que mais se destacaram, obtendo os melhores desempenhos. Inclusive, as duas ganharam dois desafios em que competiram em dupla, o Good Morning Bitches e o Your Pitot’s on Fire. No Snatch Game, Sasha como Marlene Dietrich e Alexis Michele como Liza Minnelli foram grandes os

FODA TUDO é o manto de

destaques, dando um show de humor interpretando personagens que não são declaradamente engraçados. Nina se mostrou super confiante performando como Jasmine Masters, participante da sétima temporada, e surpreendeu aos jurados. O desafio RuPaul Roast está de volta, agora com homenagem a Michelle Visage, que descobriu que seria o tema da noite na hora da apresentação. As queens que saíram melhor foram Sasha e Peppermint, que ganhou o desafio depois de algumas semanas na eliminação. A temporada também deu para o público o inesquecível lip sync do desafio Club Kid, em que Nina e Valentina foram para a eliminação. Valentina estava usando uma máscara em seu look e quando a música começou todos ficaram se perguntando quando ela iria tirar o adereço, o que não aconteceu. RuPaul teve que parar a dublagem e dizer a ela “Isso é uma dublagem, que parte disso você não entendeu? Precisamos ver seus lábios”. Valentina, então, pede para continuar com a máscara, mas é repreendida por Ru, que insiste que ela tirasse. No resto da performance, foi notório o moti-

vo de ela não querer tirar: Valentina não sabia a letra!, o que acabou resultando nela indo para casa. Dessa vez foi formado um top quatro por Sasha Velour, Shea Couleé, Trinity Taylor e Peppermint. Pela primeira vez em toda história do programa, as queens do top quatro disputam a coroa com lip syncs. O primeiro foi entre Shea e Sasha, as melhores amigas, o mais emocionante da noite. Em vários momentos da canção, Sasha fez revelações com pétalas de rosas (nas luvas, embaixo da peruca) e levou a melhor, indo para o lip sync final. Trinity e Peppermint disputaram pela segunda vaga e foi Peppermint que avançou na competição. Na etapa final, embora ambas as participantes tenham ido muito bem, Sasha se doou mais a canção e às revelações, fazendo ela levar a coroa. zint.online | 27


Lá fora, drag race também é o nome dado para corridas de carros turbinados. Em uma brincadeira, antes do desfile, RuPaul fala a famosa frase MENINAS, LIGUEM OS MOTORES

TRIXIE MATTEL

E QUE A MELHOR MULHER GANHE!

HEY KITTY GIRL, IT’S YOUR WORLD Mais uma vez as queens que não ganharam estão de volta e dessa vez não foi preciso esperar quatro anos. O All Stars 3 é composto por Aja, Trixie Mattel, Shangela (pela terceira vez!), Morgan McMichaels, Chi Chi DeVayne, Thorgy Thor, Kennedy Devenport, BenDeLaCreme, Milk e, a vencedora da primeira temporada do reality, Bebe Zahara Benet. O esquema de eliminação continua o mesmo de AS2, em que as duas melhores do desafio vão para o lip sync e a vencedora ganha 10 mil dólares e o direito de eliminar uma das piores. Shangela e BenDeLa dominaram os lip syncs sendo as melhores em praticamente todos os desafios da temporada. Quem ganha a maioria deles é Shangela, com a exceção do lip sync de I Kissed a Girl em que elas empatam e

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ambas têm o direito de eliminar alguém, escolhendo Chi Chi. Shangela escolhe ser bem estrategista durante suas escolhas de eliminação e fazer alianças, sempre mencionando o comportamento de Daenerys em Game of Thrones para conquistar os reinos. Com certeza um dos momentos mais chocantes de todo RPDR e o mais chocante da temporada acontece no episódio do top cinco quando as queens eliminadas voltam na competição, os dois grupos competem entre si e uma das eliminadas tem a chance de voltar à competição. O top cinco ganha e BenDeLa e Bebe são as melhores, enquanto Trixie, Shangela e Kennedy estão entre as piores. BenDeLa ganha a dublagem e decide que Morgan volta a competição, anunciando então sua chocante decisão: ela não iria eliminar ninguém, mas sim deixar a competição voluntariamente! Nem mesmo a própria RuPaul consegue entender a decisão da queen, ficando completamente chocada enquanto a drag explica que se sente grata pela oportunidade e que já se sente uma vencedora e que por isso quer ir pra casa. No último episódio, RuPaul revela que as queens eliminadas que irão decidir quem irá para o top dois. Elas escolhem Kennedy e Trixie, em uma decisão que causa completa discórdia entre os telespectadores do programa, que até mesmo criam a campanha "Shangela Deveria ter Ganhado". É Trixie quem acaba levando a coroa. Antes de AS3, Trixie já tinha uma carreira como cantora country com seus álbuns One Stone e Two Birds. A queen também tem um programa televisivo com Katya, chamado The Trixie & Katya Show, que surgiu do quadro que ambas tinham no canal do Youtube da WOW Presents chamado UNHhhh.


AQUARIA I AM AMERICAN JUST LIKE YOU TOO Na décima temporada de RuPaul’s Drag Race temos a volta de Eureka e mais 13 queens inéditas. Essa edição do programa comemora os dez anos da realização do reality e por isso a workroom passa por mais uma reforma que a torna ainda mais pink e fabulosa. O primeiro episódio traz consigo o drama entre Aquaria e Miz Cracker, ambas queens de Nova Iorque, que sempre são comparadas e até confundidas por serem muito parecidas. A primeira eliminada não seria a queen esquecida na temporada: Vanessa Vanjie Manteo quebrou a internet quando, no momento de sua saída da runaway, ficou repetindo a frase “Miss Vaaaaaaaanjiiiiiie”, que acabou se tornando o maior meme do décimo ano do show e até mesmo virou parte da língua LGBTQ+. Fazendo jus a sua entrada, The Vixen realmente veio para brigar. A queen teve vários atritos com as colegas durante a temporadas. Um dos mais marcantes foi

durante o RuPaul's Drag Race: Untucked, um bônus do programa que mostra o momento em que as participantes são mandadas para relaxar enquanto os jurados deliberam. Na ocasião, no desafio Ball on Mars, a queen tem uma discussão calorosa após ser provocada por Eureka: a Elephantqueen diz que ela e Monique Heart são drags mais “espertas” por saberem se virar com pouco tempo e material. Vixen se sente ofendida e questiona o sentido em que ela disse isso, pois pareceu ser pejorativo. Eureka diz que ela é quem está dando um tom negativo a conversa e Vixen se diz cansada de ser sempre colocada nesse papel. As duas discutem e gritam uma com a outra até que Eureka sai do meio das colegas e confessa à Maihen Miller que provocou Vixen de propósito. Outro desses momentos aconteceu no episódio do Snatch Game. Após as críticas dos jurados, Ru pergunta às queens quem deveria ser eliminada e a maioria diz o nome de Vixen, por ela ter ido mal no desafio. Quando Vixen é questionada, ela diz que quem deve ir pra casa é Eureka pois ela não tem profissionalismo ou ética profissional ao trabalhar com outras queens. No Untucked, Vixen diz que aquele momento serviu para que ela percebesse que ela não tinha amigos ali e que todas as queens tinham sido falsas com ela. As colegas explicam que não se trata de uma questão

de amizade e sim do desafio, que o que ela disse sobre Eureka é que se refere à pessoa em si. O top quatro da vez é formado por Aquaria, Eureka, Kameron Michaels e Asia O’Hara. Na mesma linha da nona temporada, as queens disputam a coroa através dos lip sync. O primeiro é entre Kameron (que passa para a próxima etapa), que se mostrou uma excelente performer durante a temporada sobrevivendo a quatro eliminações, e Asia, uma queen que foi bem nos mais variados desafios durante a temporada e trouxe looks únicos. O segundo lip sync da noite é entre Aquaria e Eureka, com as duas avançando para a disputa final em um shantay you stay a três. A disputa final foi muito acirrada mas ali se iniciou a muito merecida Age of Aquaria (Era de Aquaria, em tradução literal). A queen que mais ganhou desafios durante a temporada arrasou no Snatch Game como Melanie Trump e venceu mesmo não sendo muito forte na comédia. Com apenas 21 anos, Aquaria é uma das mais novas a participar de RPDR e a sua evolução como pessoa durante a competição é algo que é emocionante. zint.online | 29


Na oitava temporada, em um dos desafios iniciais, as queens tinham que tirar uma foto no meio das ganhadoras do programa até então. Na foto, RuPaul posa com Violet Chachki (S07), Chad Michaels (AS1), Bebe Zahara Benet (S01), Raja (S03), Sharon Needles (S04), Jinkx Monsoon (S05), Tyra Sanchez (S02) e Bianca Del Rio (S06).

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Sendo um absoluto sucesso com o público, o programa vem acumulando diversos prêmios desde 2009. Foi apenas em 2015 que o programa recebeu a sua primeira nomeação ao Primetime Emmy Awards (até aqui, o Emmy já havia virado piada para Ru, que sempre era esnobado pelo programa, mesmo com a crescente fama), concorrendo em uma categoria técnica. Em 2016, no entanto, o reality entrou na premiação mais mainstream, quando RuPaul levou a estatueta de Melhor Apresentador de Reality (e uma técnica). Em 2017, foram oito novas nomeações, das quais o programa venceu novamente a categoria de apresentação, além de outras duas técnicas. Em 2018, o reality bate um novo recorde e concorre a 12 prêmios, inclusive o de Melhor Reality Show e Melhor Apresentador. A premiação vai ao ar no dia 17 de setembro.


Para comemorar os 10 anos do programa, no S10E01, as queens tiveram que desfilar em uma passarela em formato X (o número 10, em algarismo romano), cuja plateia era formada por diversas ex-participantes do Drag Race.

Se você é fã de RuPaul’s Drags Race, precisa conhecer o canal da DaCota Monteiro. Ela é uma queen de Ribeirão Preto que faz resenhas sobre os episódios da série, ou como ela chama: Ruviews. Sempre com aquela pitada de bom humor, ela têm vídeos opinando sobre a 9ª e 10ª temporada, além do All Stars 3. Sempre lembre de valorizar o trabalho das queens que estão próximas da gente, não é? //

PLAYLIST TEMÁTICA

Deezer

Spotify

Youtube


PORQUE RIR NÃO É O MELHOR REMÉDIO por

carolina cassese

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“Você compreende o que autodepreciação significa quando vem de alguém que já é marginalizado? Não é humildade, é humilhação. Eu me rebaixo para poder falar e não vou mais fazer isso. Nem comigo, nem com ninguém que se identifica comigo”

Essa frase ilustra a potência do monólogo Nanette, estrelado pela comediante Hannah Gadsby e disponível na Netflix. Suscitando o debate sobre temas importantes como a romantização da saúde mental e os desafios de fazer parte de grupos minoritários, o espetáculo ganhou notoriedade nas redes sociais do mundo inteiro. Gadsby é uma mulher lésbica, nascida na região da Tasmânia, uma das mais conser-

vadoras da Austrália. Formada em história da arte, já foi atriz da série Please Like Me (20132016), exibida pela TV australiana e incorporada pela Netflix em 2017. Trabalha há mais de uma década como comediante e é especialmente conhecida no país natal e Nova Zelândia. O espetáculo disponível no serviço de streaming, foi filmado há cerca de um ano na Ópera House, em Sydney. A primeira parte da produção funciona mais como um stand-up convencional, aproximando o público da história da comediante. O segundo ato é mais tenso e reflexivo, dando espaço para que Gadsby revele mais

detalhes sobre a sua trajetória e questione, inclusive, piadas que ela mesma escreveu e fez no começo do monólogo. Há quem enxergue o humor de Nanette como uma linha “politicamente correta”. Mas o que Gadsby faz é muito mais inteligente e complexo do que isso. Ela muda o alvo das piadas e realmente reflete sobre como o humor pode ser um mecanismo de perpetuar exclusões ou de aliviar tensões que, na verdade, não deve-

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riam ser aliviadas. Muitas vezes, ao rir de determinado grupo que é historicamente ridicularizado e marginalizado na sociedade, estamos apenas reforçando essa marginalização e deixando de refletir sobre temas imprescindíveis. É nesse contexto que a comediante diz:

“Rir não é o melhor remédio. O que cura são as histórias. O COLAB riso é só o COLAB mel que adoça o remédio amargo”. por

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Quando a humorista muda o alvo do seu show de comédia para homens brancos heteronormativos, o que ela faz não é “preconceito reverso”, como muitos podem pensar. Ao rir de pessoas que estão no topo, Gadsby não colabora com nenhum tipo de exclusão que tenha respaldo na sociedade, pelo contrário: ela desperta reflexão sobre

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como as relações de poder funcionam. É interessante também quando a comediante afirma, ironicamente (tipo #forçaguerreiros), que “são tempos difíceis para homens brancos, já que é a primeira vez que eles são enxergados como uma subcategoria da humanidade”.

Ou seja, homens brancos sempre se viram como o centro, o padrão vigente. Diante dessa lógica, mulheres, negros, homossexuais e transexuais eram classificados como “os outros”. Gadsby fala, portanto, a partir dos acontecimentos recentes, em

Desde que foi lançado, Nanette vem sendo aclamado pela mídia (e público) de todo o mundo, que destacam, principalmente, a sinceridade de Hannah em falar sobre problemas tão sérios.

que homens brancos poderosos finalmente têm sido condenados por crimes que cometeram (Harvey Weinstein seria um bom exemplo). Sabe-se, porém, que esses homens continuam sendo o grupo hegemônico da sociedade. Não é de se espantar que Nanette tenha despertado tanto debate em diferentes países, considerando que o mundo inteiro está discutindo sobre a ascensão de grupos minoritários. Todas essas lutas ainda têm um longo caminho a ser percorrido, mas o espetáculo deixa claro que a comédia possui um grande potencial narrativo e que nunca é “só uma piada”. //

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N ota do Edi t or: Este texto c ont ém d ive r sos s p oi l ers

Quatro Mulheres e uma Cidade por

carolina cassese

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á 20 anos, o público norte-americano conhecia um quarteto icônico: Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha. As quatro nova-iorquinas são as protagonistas de Sex and the City, seriado da HBO que marcou a história do entretenimento. A produção é inspirada no livro homônimo de Candace Bushnell, que por sua vez era uma compilação da sua coluna semanal no jornal New York Observer. A protagonista do seriado, Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker, também era colunista de um jornal nova-iorquino. Na série, cujo primeiro episódio foi ao ar no dia 6 de junho de 1998, Carrie trabalha falando sobre a vida de uma solteira em Nova Iorque, usando de acontecimentos da sua vida

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para fazer determinados questionamentos, que (quase) sempre giram em torno do amor e sexo. A jornalista é apaixonada por moda, seus Manolo Blahnik e espera encontrar o homem certo um dia, se envolvendo com alguns casos ao longo do programa, sendo o principal dele Mr. Big (Chris Noth), um advogado quarentão que não é muito amante de relacionamentos e fica indo e voltando com Carrie ao longo de 10 anos. Para acrescentar nas aventuras, está a sua melhor e mais antiga amiga, Samantha Jones (Kim Catrall), uma mulher que trabalha com relações públicas, é muito bem resolvida, independente, detesta relacionamentos e ama homens e sexo. Miranda Hobbes (Cynthia Nixon), uma advogada meio carrancuda que detesta homens, mas eventualmente se envolve com Steve Brady (David

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Eigenberg), com quem acaba tendo um filho e se casando. Por fim, Charlotte York (Kristin Davis) é uma mulher cuja única inspiração é encontrar o príncipe encantado perfeito para se casar e passar o resto de sua vida. Após se desiludir com Trey MacDougal (Kyle MacLachlan), com quem ela casa e se divorcia, quebrando completamente sua expectativa, Charlote acaba se apaixonando por Harry Goldenblatt (Evan Handler), um homem completamente contrário do que ela esperava: baixinho, gordo e com cabelos até mesmo nas costas. Carrie ainda é acompanhada, eventualmente, de Stanford Blatch (Willie Garson), seu melhor amigo gay. Sex and the City foi ao ar até 22 de fevereiro de 2004, quando foi exibido o episódio 94. Ao contrário do que acontece com muitas

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séries, SATC melhora ao longo das temporadas, com destaque para a 4ª e 6ª (a última), que apresentam muitos episódios com boas premissas e ótimos desenvolvimentos. Afinal, quem não se lembra de The Post-It Always Sticks Twice (S06E07), quando Jack Berger (Ron Livingston) termina com Carrie por um post-it, ou An American Girl in Paris (S06E19 e E20), quando a protagonista se muda para Paris com seu atual namorado, o russo Aleksandr Petrovsky (Mikhail Baryshnikov)? A série ganhou, ao longo de sua exibição, sete Primetime Emmy Awards e oito Golden Globe Awards. SJP, por sua vez, ganhou

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um Emmy por sua atuação como Carrie, enquanto Kim levou um Golden Globe por seu papel como Samantha. NOVA YORK Nova York era, sem dúvida, uma das personagens principais de Sex and the City (isso é perceptível até mesmo na abertura). E a cidade nunca mais foi a mesma após o sucesso do seriado. Depois de um episódio em que Carrie e Miranda apareceram comendo cupcakes na loja Magnolia Bakery, o lugar teve que contratar um segurança para lidar com a quantidade de pessoas que passaram a frequentá-lo. Em 2012, o apartamento

onde Carrie morava foi vendido por US$ 9.65 milhões. Até hoje, existem excursões que visitam locações do seriado, como a própria loja Magnolia Bakery e o bar Onieals, que na série se chamava Scout e pertencia aos personagens Aidan e Steve. FEMINISMO Muitos acreditam que a produção foi a precursora do empoderamento feminino, pois em 1998 já tratava de temas como liberdade sexual/prazer da mulher, poliamor e carreiras independentes. Apesar de não ser a protagonista, a personagem que melhor representa a mensagem de empoderamento é Sa-


mantha Jones, com seus múltiplos parceiros sexuais e nunca reprimindo seus desejos. Ao assistir o seriado 20 anos depois é interessante perceber como discussões que elas tinham em 1998 ainda são assustadoramente atuais. É curioso também reparar como eram as relações sem interferências de redes sociais (afinal, Carrie mal sabia mandar e-mails). É importante ressaltar, no entanto, que Sex and the City não foi revolucionária em todos os aspectos. A série tem um apelo significativamente consumista e trata da vida de quatro mulheres brancas, magras e privilegiadas, que passam por um ou outro problema financeiro, mas moram em regiões nobres de uma

No contrato de cada uma das atrizes, havia uma cláusula falando que, após as gravações, elas poderiam ficar com as peças do figurino que não fosse emprestado pelas grifes.

das cidades mais caras do mundo. Em alguns momentos, Charlotte demonstra ser elitista, com Carrie quase sempre puxando a orelha da amiga, chamando-a de “Maria Antonieta”. É importante notar também que a personagem principal também vacila em diversos momentos (retrospectivamente, ela é analisada como egoísta e narcisista) e demonstra ter falta de sororidade com algumas mulheres (como Natasha, que se casa com Mr. Big). Ainda, a sua com Big também é extremamente problemática, considerando que ele age como imbecil incontáveis vezes e ela sempre o perdo, acabando por se casarem no

primeiro filme da franquia – e Carrie a traí-lo no segundo, com seu segundo grande amor, Aidan Shaw (John Corbett). Ainda sim, Bradshaw é uma das personagens mais amadas da televisão, com o seu senso de moda sendo constantemente colocada nas listas de personagens mais fashionistas da história (assim como a série em si). O sucesso da produção é tamanha que acabou gerando dois filmes (e incontáveis rumores de um terceiro) e até mesmo um spin-off em livro e série.

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FILMES Quando se fala de Sex and The City, é muito comum pensar logo nos filmes, já que o seriado não passou em nenhum canal aberto do Brasil, principalmente pelo forte teor "para maiores", que chegava até a ser censurado na tv paga, 40 |

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mesmo em horários tardios. Como fã de carteirinha da série, sempre digo: não julgue SATC pelos filmes (que na minha opinião, são péssimos).

Sex and the City: O Filme foi lançado em 2008, sendo recebido pela crítica de forma morna, mas tornando-se um estrondoso sucesso comercial. Com um orçamento de 65 milhões de dólares, o filme arrecadou pouco mais de US$ 415 milhões, o que não criou nenhum problema para uma sequência ser anunciada. Sex and the City 2 estreou em 2010, sendo ainda menos bem recebido pela crítica, dessa vez acompanhada do público. Mesmo com US$ 295 milhões em bilheteria, a produção nunca chegou a ganhar um capítulo final, com rumores cons-

tantemente chegando à mídia afirmando que o terceiro filme finalmente está em produção (sendo sempre desmentido por alguém da produção). Ainda que sejam considerados inferiores à série, o público sempre se mostra bastante aberto em ter um último capítulo da história, sendo sempre apoiado por SJP, Cynthia e Kristin, que mostram-se sempre empolgadas em uma reunião. Porém, os planos são sempre interrompidos por Kim, que não só afirma estar farta de interpretar Samantha, como também possui uma grande inimizade com SJP desde a


época da série, o que acaba envolvendo também grande parte da equipe de produção e elenco. Em ambas as produções cinematográficas, o quarteto viaja para fora dos EUA: primeiro, para o México, depois, férias em Abu Dabhi. Os dois lugares são retratados de maneira bem estereotipada e até mesmo pejorativa – o que dizer da cena em que Charlotte engole uma mísera gota de água do México, enquanto toma banho, e por isso passa mal pelo resto da viagem? SPIN-OFF Sex and the City, como já citado, é baseado em um livro

de mesmo nome, lançado em 1997 por Candace Bushnell. O livro é uma compilação de diversas de suas colunas, publicadas em 1994, e possui uma breve aparição de uma versão literária de Carrie Bradshaw, que daria protagonizaria a série um ano depois. Com o sucesso da personagem e a crescente curiosidade na vida passada da fictícia escritora, vagamente contada na produção televisiva, Burshnell publicou um spin-off da franquia. Os Diários de Carrie é o primeiro de dois livros sobre a adolescência de Carrie. Nesse primeiro capítulo,

somos apresentando à família Bradshaw, nos anos 80. Na série televisiva, Carrie, uma filha única, conta que seu pai fugiu das responsabilidades quando ela ainda era criança, e sua mãe a criou sozinha. No livro, no entanto, ela tem duas irmãs mais novas (Dorrit e Missy) e um pai muito presente e amoroso, mas meio afetado pela precoce morte de sua esposa, mãe de Carrie, vítima de um câncer. Aqui, a jovem tem como melhores amigos

Roberta "The Mouse" Castells, a garota mais inteligente da escola, e os namorados muito sexualmente ativos Walt e Maggie, que eventualmente terminam quando Walt sai do armário. Sonhando um dia se tornar uma escritora, ela acaba se apaixonando por um jovem descolado chamado Sebastian Kydd e tem como inimiga a popular Donna LaDonna, com quem acaba virando amiga (e é a prima de uma famosa personagem da série). No segundo livro, O

O vestido de noiva de Carrie foi realmente feito pela estilista Vivienne Westwood – assim como o cartão escrito por ela, onde a estilista dá o vestido de presente para a jornalista!


AnnaSophia Robb, a jovem Carrie (abaixo) ganhou a benção de SJP para interpretar a personagem. Em 2013, a veterana mandou uma carta à jovem atriz, encorajando-a a se divertir no papel.

Verão e a Cidade, Carrie está morando em Nova Iorque e divide apartamento com ninguém menos que Samantha Jones. Tentando se descobrir como escritora, ela faz aulas de escrita enquanto desbrava a cidade. Aqui, Bradshaw se apaixona por um homem mais velho, esbarra acidentalmente com uma Miranda Hobbes mega ativista e feminista e, retornando para NY após uma temporada em casa, tem o (des)prazer de sentar ao lado de uma menina mimada que está se mudando para a Big Apple com o sonho de casar com o seu príncipe encantado. 42 |

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Com o sucesso de SATC, os livros não poderiam ficar de fora da televisão. Por ser muito mais leve que o seu material-mãe, os direitos autorais foram vendidos para o canal The CW, que produziu e exibiu a série The Carrie Diaries entre 2013 e 2014. Baseada (bem) livremente na história de Bushnell, o seriado, estrelado por AnnaSophia Robb, teve uma primeira temporada irregular e cheia de alterações, sendo renovado apenas por apelo dos fãs. Com 26 episódios, foi cancelada em sua segunda temporada.

Sex and the City chega ao seu vigésimo aniversário sendo uma das séries mais memoráveis e adoradas pelo público. Um tanto quanto imortal, tornou-se um símbolo para a moda, o feminismo e a comunidade LGBTQ+. E sentados aqui, não nos deixamos de nos perguntar: será que é pecado pedir pra trocar a Samantha só para podermos ter um terceiro filme? //


Embora boa parte do figurino de SATC seja formado por peรงas de grifes, o famoso tutu usado por Carrie na abertura do programa foi comprado em um brechรณ por US$ 5!



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filmes

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Se vivo, o cineasta suéco INGMAR BERGMAN completaria 100 anos no último dia 14 de julho 46 |

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Chopin não é uma velha chorona por

RENATO QUINTINO

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Muita gente diz hoje "não ter saco para Bergman". Outro argumento comum usado também é que seria "datado". Para mim seria como dizer o mesmo para Shakespeare. Tudo é datado se levarmos em conta a época em que foi realizado, seus contextos históricos e sociais que ali são retratados. Ao mesmo tempo, tudo é atemporal e permanente, desde as tragédias gregas às peças de Shakespeare e ao cinema de Ingmar Bergman, quando estes retratam relações interpessoais, sentimentos humanos e estados psíquicos. A indecisão de Hamlet ao agir por ser intelectualizado e reflexivo, o ciúme de Otelo, a inveja de Iago, a ingenuidade do poderoso arrogante que divide a herança em vida do rei Lear são bons exemplos em Shakespeare. Assim como serão sempre atemporais as questões que Bergman escreveu e filmou, como a relação entre mãe e filha retratadas em Sonata de Outono (1978); entre marido e mulher em Cenas de um Casamento (1973); entre poderosos conservadores e artistas criativos originais em Através de um Espelho (1971); entre a doença perpassando as relações familiares burguesas em Gritos e Sussurros (1972); entre o Homem e a morte em O Sétimo Selo (1957); na revisão da vida a partir da volta ã infância em Morangos Silvestres (1957) e no mergulho dentro de sí mesmo retratado em Face a Face (1975).

A genialidade e a originalidade da obra de Bergman está no fato do cineasta ter sido o roteirista e diretor de todos os seus filmes, realizando obras autorais que iam da primeira ideia à realização final. Como escritor, Bergman era generoso, sempre acabava seus livros-roteiros dizendo que tinha sido daquela forma que ele tinha imaginado e entendido a história e os personagens, seus destinos e sua conclusão, mas que se o leitor entendesse de outra forma ou imaginasse um desfecho diferente, para ele estava bem. Bergman escreveu e filmou sobre as relações familiares, sobre a presença ou ausência de Deus, sobre a angústia da morte, sobre as angústias em geral, sobre o dinheiro perpassando as relações pessoais e sobre o tempo, este presente em todos os seus filmes onde o “tic-tac”de relógios de parede são onipresentes. O jornalista Paulo Francis bem observou que o cineasta foi uma espécie de Proust do cinema. O passado, a infância, a temporalidade nas relações humanas, sua finitude, foram temas permanentes de sua obra. Bergman era conhecido como um brilhante, meticuloso e exigente diretor de atores, mas seu texto é de grande originalidade e sutileza, onde pode-se ver a grandeza do seu lado escritor. Embora nunca tenha feito sessões de análise, são inevitáveis associações freudianas, especialmente no que toca nas relações familiares e no inconsciente através dos sonhos. O excelente Quando Duas Mulheres Pecam (1966), por exemplo, é um filme sobre a transferência, onde uma atriz (vivida por Liv Ulmann) após ter uma ausência e esquecer um diálogo numa montagem de Electra é levada para tratamento e recuperação numa ilha (a mesma Färo que se tornaria depois sua residência) com a enfermeira Alma (Bibi Anderson). Num ambiente isolado, entre cenas externas de caminhadas na praia

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cada vez mais recluso na ilha de Faro. Filme brilhante e hoje as vezes ridicularizado em esquetes de humor sobre a sisudez sueca, O Sétimo Selo mostra a capacidade do diretor em filmar com orçamento modesto cenas de impacto já na abertura do filme quando a morte aparece numa praia ao cavaleiro medieval recém chegado das cruzadas. A famosa estrutura narrativa onde o ex-cruzado joga xadrez com a morte evoca Sísifo na Europa do século XIII. Como diz a Morte no filme, o protagonista pode adiar seu fim a desafiando no jogo de e cenas de interiores numa casa de veraneio, a relação se inverte e os papéis de trocam. O silêncio da atriz faz com que a enfermeira fale o tempo todo, entre em análise”, reveja sua vida através de um interlocutor que é apenas o ouvinte e revele suas fantasias, emoções, medos, anseios e traumas. O tema do isolamento da sociedade numa ilha em busca de uma vida livre das máscaras e da demanda social está também em A Paixão de 48|

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Ana (1969), A Hora do Lobo (1968),e por sua vez o isolamento como fator determinante do afloramento de crises emocionais está em Através de Um Espelho, completando a chamada "Trilogia do Silêncio". Há muito de Bergman nestes filmes, ele mesmo dividido entre uma vida profissional intensa dirigindo cinema, teatro e especiais para a TV, além de comandar também o Teatro de Estocolmo, mas ao mesmo tempo reservado e


xadrez, mas no final ela sempre vence. Tema pouco retratado no cinema, o dinheiro perpassando as relações familiares e pessoais em Bergman é retratado como na dívida do filho com pai e na senhora de idade rica que só recebe visitas de familiares quando querem pedir dinheiro emprestado, visto em Morangos Silvestres e na cena

onde a família burguesa expressa sua mesquinharia a não querer recompensar financeiramente a empregada Ana, que cuidou da irmã doente e recém falecida Agnes na trama de Gritos e Sussuros. Este filme tem também grande ousadia estética, todo filmado em três cores básicas, no contraste entre as cores vermelho (a cor da alma para Bergman), branco e preto, enfocando a

No seu c entenário, o d oc um e n tár io "I n g m ar Bergman - Por T r ás da Máscara" estreou n a t e l e v is ão f ocan do princ ipalm e n t e n o s b as t id o r e s d o fi lme "Quando Duas M ul h e r e s Pe c am "

complexidade do desnudamento da personalidade de duas irmãs que cuidam da outra irmã doente e sofrendo de grandes dores, da criada, de seus maridos e amante. O diretor inovou por ter sido o primeiro cineasta a filmar a volta à infância como recurso narrativo onde o personagem mais velho se vê de fora em cenas de seu passado, como feito em Morangos Silvestres, ou então quando optou por filmar sonhos como realidades concretas na mesma película, como na cena inicial do filme (um impressionante “travelling” expressionista) e em quase todo o tempo de duração de Face a Face, que se passa literalmente no mundo interior onírico da protagonista, a psiquiatra Jenny. São muitos os filmes e sua grande maioria são obras primas dentro do seu estilo. Sorrisos de uma Noite de Amor (1955) citando Sonhos de uma Noite de Verão de Shakespeare é uma das poucas comédias de Bergman, mas que demonstram o timing cômico perfeito. Já O Olho do Diabo (1960) trata de uma aposta faustiana sobre a conversão de Don Juan, abordando os temas recorrentes em sua filmografia de forma leve, sensual e irônica. Por falar em sensualidade, Mônica e o Desejo (1953) pode soar hoje em nada ousado, mas nos anos cinquenta escandalizou plateias conservadoras mostrando uma protagonista que vive sua sexualidade de forma independente. Sonata de Outono tem o feliz encontro de Ingrid Bergman e Liv Ulmann na história do reencontro de mãe e filha depois de anos de separação. Na famosa cena central do filme, Eva decide tocar para a mãe o segundo prelúdio de Chopin, conhecido pela melancolia e pelo sentimento de morte do próprio compositor já doente. É um dos muitos exemplos do brilhantismo, da sensibilidade e do apuro estético de Bergman. Na cena, o olhar maternal da mãe para a filha mostra tudo, saudade, culpa, arrependimento, amor, carinho, vontade de cuidar, distanciamento e condescendência. Em seguida Charlotte (a zint.online | 49


ce na d o f i l m e mãe) ajeita a partitura e toca com perfeição, assumindo a postura de concertista de renome internacional ao contrário da filha que era a pianista da paróquia do marido ,explicando antes a alternância entre a dor e o alívio nos acordes do prelúdio enquanto agora por sua vez Eva (a filha) a olha com admiração, saudade, distanciamento, inferioridade, rancor, sofrimento e idealização. Bergman ainda dá uma aula de sensibilidade musical através da explicação que a mãe dá a filha, falando da diferença entre ser “emocional, mas não emotivo. Chopin não era uma velha chorona”. Em Fanny & Alexander (1982), o diretor se propôs a fazer seu último filme, embora depois tenha feito algumas produções para a TV que foram lançadas no cinema como Depois do Ensaio (1984), Na Presença de um Palhaço (1997) e Sarabanda (2003). Mas de qualquer forma, Fanny & Alexander foi seu testamento cinematográfico, uma síntese perfeita do seu trabalho, tratando o filme 50|

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“o s é ti m o s e l o”


I ngmar d urant e as f il m age n s d o f il m e “Q uando Duas M ul h e r e s Pe c am ” , C e n a d o f il m e “Atrav és de um E sp e l h o”

basicamente do não limite real entre realidade e fantasia, entre o mundo objetivo e o subjetivo, entre o material e o espiritual, dicotomia esta penetrando seus temas como a família, amores, Deus e a morte. Para um cineasta sueco que nunca quis ir para Hollywood, o sucesso internacional de Bergman que ganhou oito Oscars, sendo três deles de Melhor Filme Estrangeiro, seis Globo de Ouro, sete dos principais prêmios em Cannes (incluindo a única Palma das Palmas já entregue, em 1997), o Urso de Ouro no Festival de Berlim e três prêmios no Festival de Veneza, deveu-se a coerência e à qualidade de seu trabalho e sua obra. Avesso à premiações, estando ausente da maior parte delas, Bergman vivia coerente ao que representava em todos os seus filmes, na vida reclusa e discreta, na busca da complexidade subjetiva da experiência humana ao mesmo tempo como espelho e defesa ao caos e a violência do mundo exterior. // zint.online | 51


por

bruna curi

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TODO DIA UM NOVO CORPO, TODO DIA O MESMO AMOR


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avid Levithan é um escritor norte-americano que se tornou extremamente popular entre o público infanto-juvenil, sendo o autor de obras conhecidas como Will & Will, lançado em 2010, em co-autoria com John Green, e Todo Dia, lançado em 2012. Agora, seis anos depois, o livro ganhou uma adaptação que chegou aos cinemas brasileiros em julho. Os primeiros minutos de Todo Dia (2018) mostram a adolescente Rhiannon (Angourie Rice) matando aula com seu namorado, Justin (Justice Smith). Os dois resolvem tirar o dia para fazer um passeio romântico na praia e para se divertir um pouco, o que pode ser considerado um comportamen-

to atípico pelo fato de Justin ser frio e distante. Porém, Rhiannon não vê nada de estranho nisso e acha que essa é uma tentativa de seu namorado ser mais presente e atencioso. Nesse mesmo passeio eles aproveitam para conversar sobre assuntos delicados e profundos, como a situação delicada dos pais de Rhiannon. Esse encontro é o suficiente para dar esperanças para a adolescente de que seu namorado está mudando, que ele está se esforçando para ser um cara melhor. Contudo, no dia seguinte, ela estranha o fato de Justin não se lembrar da tarde romântica que tiveram no dia anterior, e como se a situação já não fosse estranha o suficiente, uma garota nova no colégio, Amy (Jeni Ross), se junta a Rhiannon e começa a defendê-la de uma forma

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extremamente protetora. Além disso, durante uma festa organizada por seus amigos, um cara chamado Nathan (Lucas Jade Zumann) aborda Rhiannon e juntos eles dançam a música preferida dela: This Is The Day. Tanto Amy quanto Nathan agiram de forma peculiar, fazendo referências ao encontro que Rhiannon e Justin tiveram na praia. Como duas pessoas estranhas sabiam tanto de sua vida? Será que aquilo era uma pegadinha que seu namorado estava fazendo junto de alguns amigos? A adolescente está determinada a descobrir o que está acontecendo, mas ela nem precisa se esforçar muito já que é procurada por Megan (Katie Douglas), uma garota que tem resposta para todas as dúvidas e perguntas de Rhiannon. A verdade por trás do comportamento estranho de Justin, Amy e Nathan podem ser explicadas por A. A não possuiu gênero e nem família; está mais para um andarilho. Todos os dias ele/ela acorda no corpo de uma pessoa diferente, sem variar muito a idade e o local de seu corpo anterior. Desde bebê A passava por essas mudanças e achava que isso era algo completamente normal, até que começou a perceber que esse fenômeno acontecia somente com ele/ela. Dessa maneira A começou a tomar mais cuidado ao acordar no corpo de outra pessoa, sempre fazendo o possível para não atrapalhar a vida de seu hospedeiro, de forma a não levantar desconfiança de outras pessoas. Durante toda sua vida A nunca chegou a interferir na vida de alguém, até o dia em que conheceu Rhiannon.

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Em um primeiro momento a adolescente não acreditou na história, afinal era algo muito absurdo. Mas após pensar em todas as coisas que aconteceram com ela, desde seu encontro atípico com Justin, ela resolve acreditar em A e começa a se encontrar diariamente com ele/ela, que sempre está em um corpo diferente. Por mais que seja uma verdadeira loucura, Rhiannon e A resolvem manter um relacionamento, apesar de todas as dificuldades que implicam na relação. Angourie Rice se destaca ao dar vida Rhiannon. A atriz possuiu um jeito gracioso e um tanto quanto inocente que agregam à personagem. Enquanto isso, A foi interpretado (a) por diversos atores e atrizes, mas o grande destaque vai para Owen Teague, que possui um carisma que funciona em uma dinâmica e química incríveis. Dirigido por Michael Sucsy, que ficou conhecido por seu trabalho em Grey Gardens (2009) e Para Sempre (2012), o filme Todo Dia está longe de ser um romance água com açúcar. Apesar de apresentar algumas falhas em seu roteiro como, por exemplo, não aprofundar muito nos problemas da família de Rhiannon, a película consegue emocionar e encantar o público. O romance construído entre Rhiannon e A é desenvolvido de forma cuidadosa, e o sentimento entre os dois é o mais belo e puro que há. Rhiannon não se apaixona por uma pessoa, ela se apaixona pela alma, pela essência de A, independente do gênero, cor da pele, etnia ou o físico da pessoa. Todo Dia passa uma importante mensagem sobre o amor e é capaz de gerar uma profunda reflexão. //


Rhiannon (Angourie) e o namorado Justin (Justice)

Rhiannon e A, q u e a g o r a h a b i ta o corpo de Amy (Jeni Ross)

Aqui, Rhiannon conversa com A, que agora é o jovem J a m e s ( J a c o b B ata l o n )

Rhiannon dança com A, a g o r a N at h a n ( L u c a s Jade Zumann), ao som d e “ T h i s I s T h e D ay ”

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Uma discussão a respeito do prazer na terceira idade por

DEBORAH ALMEIDA

O filme Do Jeito Que Elas Querem, dirigido por Bill Holderman, conta a história de quatro amigas, todas na terceira idade, que começam a questionar suas vidas sexuais quando deparam-se com o romance Cinquenta Tons de Cinza. A leitura é

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diagramação

sugerida por uma delas, a ser feita e discutida no clube do livro mensal que elas participam. Assim, somos primeiro apresentados às personagens principais. Vivian (Jane Fonda) é dona de um hotel e mostra-se como uma mulher rica, independente e segura de si. Ela é a ousada do quarteto (sendo a responsável pela escolha de leitura do romance erótico), com vida sexual ativa e tem em o seguinte lema de vida: jamais

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dormir ao lado de um homem. Contudo, esse mantra é abalado ao reencontrar seu primeiro namorado e perceber que não é tão insensível ao amor quanto pensava. Sharon (Candice Bergen) é uma juíza federal recém-divorciada que vive sozinha com seu gato e pensa


que não é capaz de relacionar-se novamente. Contudo, após receber a notícia que seu ex-marido vai casar com uma mulher bem mais jovem, ela decide entrar em um site de relacionamentos. Assim, Sharon deixa de lado sua postura um tanto quanto conservadora e embarca na jornada de voltar a namorar. A terceira integrante é Carol (Mary Steenburgen), uma chefe de cozinha que vê seu casamento sendo esfriado pelas dificuldades enfrentadas na vida sexual com seu marido. Ela é a que mais fica instigada pelo romance Cinquenta Tons de Cinza e passa a tentar reverter sua situação amorosa e apimentar a qualquer custo seu relacionamento. A última participante do grupo e narradora do filme é Diane (Diane Keaton), que ficou viúva há pouco tempo e precisa ficar provando para as duas filhas que, apesar de sua idade, não é uma pessoa frágil e incapaz. Em uma

viagem de avião, Diane conhece um piloto bastante romântico e que faz de tudo para conquistá-la. Ainda que ela enfrente dificuldades relacionadas às filhas super protetoras e o receio de estar muito velha para namorar, Diane começa e tentar permitir-se viver novamente. Ao longo da película, vamos vendo o desenrolar da história de cada uma das mulheres. Por mais que seja um comédia romântica com piadas um tanto quanto clichês sobre a terceira idade, a temática do filme tem uma interessante proposta de quebrar tabus sobre a vida sexual de mulheres mais velhas. Cada uma das protagonistas, de sua maneira, mostram desafios do cotidiano a

serem vencidos e debatem o tema de forma leve e delicada. Apesar do final previsível, o desenvolvimento da trama é cativante. As personagens são encantadoras e a escolha do elenco traz bastante força ao filme. É importante ressaltar que Jane Fonda, Candice Bergen, Mary Steenburgen e Diane Keaton trazem toda a carga de suas idades mais avançadas, tendo 80, 72, 65 e 72 anos, respectivamente, carregando a essência do filme, baseada na ideia que a idade não deve levar embora todo o entusiasmo, vigor e sonhos da pessoa. Do Jeito Que Elas Querem, ainda que não tenha destaque por um enredo intrigante e genial e caia nos clichês de comédias românticas, traz à tona a sexualidade das mulheres na terceira idade, que não costuma ser discutida na sociedade. É um filme leve, divertido e que trata do tema de forma delicada e descontraída. //

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por

MIKE FARIA

diagramação

VICS

50 anos da revolução científico-cinematográfica


C

Cena escura e som obscuro. Assim começa um dos grandes clássicos do cinema, 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), que neste ano completa 50 anos desde sua primeira exibição ao público, nos cinemas, em 1968. O filme de Stanley Kubrick (1928-1999) revolucionou o cinema ao explorar técnicas, cenários, recursos, temas pouco trabalhados anteriormente, além de trazer ao homem uma nova perspectiva sobre si próprio.

O longa, com roteiro assinado pelo próprio cineasta em parceria com o grande escritor do gênero sci-fi, Arthur C. Clarke (1917-2008), traça a trajetória do homem, desde os primórdios quando ainda eram primatas e lutavam por sobrevivência, até o alcance do espaço e do ‘‘infinito’’ que determina o ambiente espacial, passando ainda por uma viagem a estação espacial na órbita da Terra e uma chamada Missão Júpiter para investigar o monolito, uma desconhecida estrutura do espaço. Dessa forma, são apresentadas as vivências dos astronautas a bordo da nave Discovery, acompanhados da supermáquina HAL 9000, um computador que desafia os feitos práticos ao apresentar o que parecem ser emoções e habilidades humanas.

A produção é até hoje lembrada pela qualidade dos efeitos especiais e figurinos e cenários bem feitos, apoiados no experimental e no conhecimento, para trazer a tela, um espetáculo do passado e do futuro que desafia a humanidade a realmente abrir os olhos, para a ciência, para a tecnologia e, principalmente, para a vida. Além disso, o visual e a interpretação trouxeram ao longa a admiração do público e da crítica, que em um primeiro momento acharam-no cansativo e até mesmo sem imaginação para as telas de cinema. Porém, muitos ainda hoje se perguntam: ‘‘Do que trata ‘2001’, afinal?’’. Talvez seja este o grande feito de Kubrick ao apostar em uma produção inovadora, ainda mais para a época, que permanece atual. Temas

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CURIOSIDADES

#1: Não há diálogo nos primeiros 25 minutos de filme (o silêncio acaba com a voz da comissária de bordo em 25:38) e nem nos últimos 23 minutos (sem contar os créditos finais). Somando essas duas sequências, e outras duas mais curtas, há 88 minutos sem diálogos na película.

como tecnologia, inteligência artificial, evolução humana e vida extraterrestre são lançados aos olhos do espectador, apoiados em uma base científica apurada e até então, distante da humanidade, pelo menos no cinema. Na época, o mesmo homem que ainda não conhecia a Lua, podia alcançar o espaço por meio da visão de Stanley Kubrick, um visionário que proporcionou a chegada ao satélite no cinema antes mesmo do real. 2001 se consolidou como uma narrativa a frente do seu tempo, ultrapassando os modelos e o mercado, ao apresentar um ritmo filosófico e desafiador que percorre a viagem do homem ao longo do tempo e do espaço e suas evoluções. À medida que nos aven60 |

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#2: Para as cenas na superfície da Lua, Kubrick mandou importar, lavar e pintar centenas de toneladas de areia. #3: Com 2001: Uma Odisseia no Espaço, Kubrick ganhou o Oscar de Melhores Efeitos Visuais, além de ser indicado para o prêmio de Diretor e Roteiro Original, o qual compartilhou com Arthur C. Clarke.

turamos nos detalhes ousados do filme e do diretor, que passaram de pioneiros a referências no campo das ficções científicas, percebemos como toda a trajetória da humanidade é caracterizada por conhecimento, ferramentas, tentativas e atitudes marcantes de cada período. Nesse contexto, percorremos uma viagem pelo tempo que nos revela o passado e muito do futuro que ainda não conhecemos, inclusive nós mesmos e nossas capacidades de interferir no meio onde vivemos e no nosso destino. Além disso, a relação humana com técnicas elaboradas da ciência e a tecnologia que determinam nossa forma de ver o mundo, conhecer, comunicar e, enfim, viver. Certamente, Kubrick alcançou a ficção científica em sua essência e produziu a obra-prima do gênero. Segundo o próprio diretor, o filme cumpre seu objetivo ao penetrar no homem uma experiência emocional e filosófica capaz de tirar da zona de conforto e trazer certa consciência que ultrapassa o

discurso verbal e explicações meramente humanas, afinal, o sujeito tem que admitir que não é mais o centro do universo. Em virtude disso, seja no cinema, no espaço, no passado ou no futuro, a narrativa visual de 2001: Uma Odisseia no Espaço evidencia as relações subjetivas e demarca o caminho da humanidade em meio a ficção científica. Na última parte do filme ascende um novo ser, como se o destino da evolução fosse transcender a si própria. Surge aí um novo olhar para o futuro. Agora cabe a nós, enquanto sociedade, dar continuidade a essa direção, seja para contestar a ciência e a tecnologia, ou usá-las ao nosso favor. Desafio lançado. //


#5: Após sessões da préestreia e com a produção já em cartaz, Kubrick cortou o filme, que passou a ter 149 minutos (ou 19 minutos a menos que a versão original).

CURIOSIDADES

#4: Originalmente, Kubrick pediu ao maquiador Stuart Freeborn para criar um visual primitivo, mas humano, para os primeiros homens. O problema é que a maquiagem criada exigia que os atores estivessem nus, o que levaria o filme a ganhar uma classificação 18 anos. Kubrick, então, optou pelo visual dos macacos. Com exceção dos filhotes de chipanzé, todos os personagens foram interpretados por humanos.


Jean-Michel Basquiat




BASQUIAT EM RETROSPECTIVA por

carolina cassese

diagramação

Depois de uma temporada em Brasília, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Belo Horizonte apresenta a exposição Jean-Michel Basquiat – Obras da coleção Mugrabi, que ficará em cartaz até o dia 24 de agosto. A mostra conta com mais de 80 obras do artista nova-iorquino e apresenta também uma retrospectiva de toda sua trajetória. O conjunto de peças, avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão, exposto pertence ao israelense Jose Mugrabi, um dos principais colecionadores de arte do mundo. Na coletiva de imprensa que aconteceu no último dia 13, o

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holandês Piete Tjabbes, curador da exposição, falou um pouco sobre o artista e a montagem das obras. Basquiat, conhecido por ter levado diversos elementos da arte de rua para as galerias, é um representante do neoexpressionismo. Quando era adolescente, grafitava os muros de Nova York e assinava como SAMO, que significava same old shit (“mesma droga de sempre”, em tradução livre). Esse personagem surgiu quando o artista fazia um trabalho de escola e resolveu escrever sobre SAMO, um vendedor de religiões. No entanto, como explica Tjabbes, Basquiat não se

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reconhecia como grafiteiro, já que pintou os muros de Manhattan por apenas um ano. A Nova York da época era o lugar ideal para os artistas que se expressavam de forma inovadora. “Todos que não eram do balé clássico ou do violino iam pra lá”, afirmou o curador. Suas obras apresentam características marcantes. Uma delas é o fato de que o processo de construção está sempre aparente nas telas. Basquiat frequentemente escrevia algumas palavras e depois as riscava, pois acreditava que as pessoas se empenham muito mais para ler algo 66|

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que está rasurado. Outro proposta do pintor era sempre liberar “a falta de foco”. Os quadros apresentam múltiplos elementos, que nem sempre dialogam entre si. Por esse motivo, o curador da exposição acredita que os jovens conseguem se identificar bastante com Basquiat. “Sabemos que, em um mundo com bombardeio de informações, é difícil se concentrar e pensar em uma coisa só. Basquiat trabalhava

Basquiat, em 1987, no seu estúdio, em Nova Iorque com o raciocínio associativo. Ao ler em voz alta as palavras que estão escritas em qualquer um dos seus quadros, é possível ouvir o artista pensar”, afirmou. É importante ressaltar também o cunho ativista de suas obras. Basquiat tinha consciência de que era um dos únicos negros no meio artístico. Fazia questão,


portanto, de homenagear outras pessoas negras de destaque. “Ele vivia em um ambiente controverso. Muitas vezes, ao sair de um evento de gala, onde era super prestigiado, não conseguia pegar um táxi na rua porque era negro”, contou Tjabbes. Suas obras trazem, portanto, reflexão sobre o racismo presente na sociedade estadunidense e em todo o meio artístico. Em 1985, expressou o desejo de ser cineasta justamente para quebrar estereótipos preconceituosos na TV e no Cinema. “Quero fazer filmes em que negros são retratados como pessoas da raça humana, e não como alienígenas. Tampouco todos vão ter imagem negativa, de ladrões e traficantes de drogas”, disse. Uma das frase mais icônicas e representativas de Basquiat era: “Acredite ou não, eu sei desenhar. Mas quase sempre luto contra isso”. O pintor, portanto, não tinha a pretensão de alcançar os princípios da chamada “arte erudita”. Era um artista significativamente versátil, influenciado pelos desenhos animados que assistiu na infância, pelo que via na televisão e também pela curiosa interpretação que tinha das histórias bíblicas. A parceria com Andy Warhol, figura maior do movimento pop art, é um dos destaques da exposição. Pierre Tjabbes

conta que a crítica não recebeu bem os trabalhos da dupla, o que afetou significativamente Basquiat, acostumado a ser prestigiado. No entanto, os dois conservaram um forte laço de amizade. Com a morte de Warhol, em 1987, o pintor se viu desolado. Um ano depois, com apenas 27 anos, Jean-Michel Basquiat faleceu de overdose. Após o ocorrido, os preços de suas obras não pararam de subir. MOSTRA Sobre questões mais técnicas da exposição, o curador revela alguns truques. Um deles é iluminar com

mais intensidade os quadros que merecem maior destaque, como o Flash em Napoles, de 1983. Ele afirma também que as telas contam com um sensor, que ressoa quando qualquer pessoa se aproxima demais. “Temos que fazer isso porque muitas pessoas, especialmente aquelas que têm o discurso ‘até o meu filho de 6 anos faz melhor que isso’, realmente se sentem no direito de tocar na obra, sem nenhum tipo de cuidado”. A mostra, que é a maior exposição de Basquiat em países latinos, está no CCBB de quarta a segunda e conta com entrada franca. //

Pa rt e da e xposição, a peça f oi pintada e m 1982 e v e n di da em 2017 por 110 mil hões de dóla re s, t ornando-se a peça artística a me ri ca n a ma i s cara da história

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literatura

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Primavera em Hogwarts bárbara lima diagr amação VICS por

O

inverno de Julho floresce o coração com duas primaveras. Para quem é fã de Harry Potter, a querida Joanne Rowling (J. K. Rowling, ou apenas Jo) e nosso amado Harry, Daniel Radcliffe, comemoram mais um aniversário. Leoninos com personalidade forte e ambiciosos, os dois se encontraram no mundo fantástico de Jo Rowling, e sua imagina70|

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ção construiu uma série de livros de popularidade mundial. Joanne aproveitou a sua infância como qualquer outra daquela época. Viveu em várias cidades inglesas, nasceu em Yate e se mudou para aldeias próximas durante a sua juventude. Com pouco menos de um ano de idade, viu a sua irmã Diane nascer, esta que influenciou para a sua brilhante carreira. Desde pequena, J. K. escrevia as histórias que contava para sua irmã e lia

todos os livros de Jessica Mitford, a autora que é a sua inspiração. Apesar de ter tido uma infância alegre nas aldeias inglesas, a autora ressalta que a sua adolescência foi difícil de absorver. Em tempo de conhecer a si mesma para formar uma personalidade, J. K. enfrentou dias árduos, cinzas, que marcaram a sua trajetória. A sua querida mãe havia adoecido, e a relação ruim com o pai, com quem não conver-


sava, levou-a à depressão profunda, motivo para em vários momentos pensar em tirar a própria vida. Durante essa metamorfose, Rowling se apaixonou por The Smiths. Quando mais velha, escrevendo o romance Harry Potter, as letras de Morrissey despertaram ideias mirabolantes, e uma delas foi a de criar a plataforma imaginária nove três-quartos, ou a famosa estação de King’s Cross, onde seus pais se conheceram durante uma viagem de trem. J. K. revelou também que baseou a personagem Hermione Granger em si mesma quando tinha onze anos; uma menina carismática, gananciosa e inteligente, que sempre se destacava entre os colegas. Hermione era nota A em Feitiçaria, e, Jo tirava as melhores notas em inglês, motivo pelo qual deu monitoria da língua em boa parte de sua juventude.

E foi numa viagem de trem de Manchester para Londres que as ideias da série foram desabrochando em sua mente criativa. Harry Potter havia nascido a partir de então, com a sua história que marcou a vida de quem leu a obra e assistiu a adaptação para o filme. J. K., quando pôs à venda os exemplares de Harry Potter e a Pedra Filosofal, teve a sua vida indo da pobreza para uma das autoras mais procuradas do mundo. Daniel Radcliffe, o retrato

Até 2016, Rowling foi a primeira e única pessoa a ficar bilionária apelas pela venda de livros. Em 2017, no entanto, este status foi perdido devido generosas doações feitas pela autora.

de Harry Potter, conseguiu transformar a obra de Jo para o universo do audiovisual. Ambicioso desde pequeno alcançou o que mais almejava: ser o Harry de Rowling. Em mínimos detalhes o personagem foi construído, e hoje, Daniel é conhecido popularmente por ser um Potter, que lutou contra Voldemort e vivenciou grandes aventuras ao lado de Hermione Granger (Emma Watson) e Rony Weasley (Rupert Grint). Criado em Londres, Radcliffe vem de uma família judia,


Desde Harry Potter, Radcliffe vem atuando apenas em papeis mais experimentais no cinema. De acordo com o ator, em 2016, a escolha é um resultado de não precisar se preocupar com o seu salário, uma vez que boa parte da fortuna adquirida por fazer Potter por 10 anos, continua intacta.

a sua infância como a de J. K., foi marcada por costumes ingleses. Aos cinco anos teve interesse em começar a atuar, e desde então, sempre conseguiu o que desejava. Em 1999, aos dez anos, ganhou o papel em uma adaptação televisionada em duas partes do romance David Copperfield. Não demorou para o pequeno Daniel ser o protagonista de uma das maiores séries, e ao conseguir o protagonismo em Harry Potter, optou por dedicar-se unicamente para a atuação e não fazer faculdade. Após passar por oito audições para o papel, Chris Columbus, o

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diretor do filme afirmou “esse é Harry Potter”. Daniel, a cópia perfeita do jovem bruxo, estudante de Hogwarts, tornou-se ainda jovem, a atração dos anos 2000. E como se não bastasse ter atuado brilhantemente no primeiro filme da série, as outras adaptações conquistaram ainda mais os fãs do bruxo. O resultado não podia ser diferente, ator com dez anos ganhou um milhão de libras pela atuação em Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001), e aproximadamente quinze milhões pelo sexto filme, Enigma do Príncipe, em 2009. Segundo Daniel, no entanto, a quantia de dinheiro não importa, mas sim, ter conseguido o papel na série. E mesmo com todas essas conquistas, o nosso querido Harry Potter passou por


momentos de superação. Em 2008, no auge da sua juventude, descobriu que sofre de dispraxia, uma doença que afeta levemente a sua aprendizagem e coordenação motora, levando-o a ter tido muita dificuldade no processo de aprendizagem escolar. Ao longo desse tempo, devido às frustrações com a sua saúde, tornou-se dependente de bebidas alcoólicas, e em 2010, percebendo essa sua necessidade de suprir as suas infelicidades com álcool, decidiu parar de consumir. Hoje, com 29 anos, Daniel continua sendo o Harry Potter que traz de volta os sonhos de ir para Hogwarts, vagar pelos seus corredores, e aprender truques de mágica. O querido Harry, aventureiro, inteligente e perseverante, deu um toque a mais na carreira de Daniel. O seu legado jamais será esquecido, e mesmo com o fim da série, Radcliffe sempre estará guardado na memória.

Daniel e J. K. têm muito em comum. Ao florescer as fantasias de Jo, criou-se Daniel Radcliffe, que como dito anteriormente, é Harry Potter em todos os mínimos detalhes. Hogwarts está em festa no salão comunal, comemorando mais uma primavera destes dois grandes nomes. Os olhos de Rowling estão marcados por um perfeito delineado, que aprendeu a fazer ainda quando era adolescente, e lacrimejando, cheios de orgulho. E Harry Potter, sente uma imensa gratidão em ter sido construído por Daniel Radcliffe, que desde então, é mais conhecido por ser “o menino que sobreviveu”. //

Ao longo de sua jornada nos cinemas, Harry Potter já fez quase US$ 3,2 bilhões em bilheteria (com a inflação ajustada). Mundialmente, até janeiro de 2018, já foram vendidos mais de 500 milhões de livros da saga.

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música

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RECONHECIMENTO E EXALTAÇÃO

UM MANIFESTO SOBRE 76|

por

A

MIKE FARIA

diagramação

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VICS

pós lançar cinco álbuns, o último há quase dois anos com releituras de grandes sucessos de Marisa Monte, Lúcio Silva de Souza, popularmente conhecido pelo nome artístico Silva, se mostra novamente com o novo disco Brasileiro, uma libertação do artista que começou a carreira musical apostando na influência gringa que marcava o seu som. O projeto, acompanhado de referências em artistas nacionais, explora os sons próprios do Brasil e a

brasilidade do cantor, com o uso principalmente do violão que determina a melodia das 13 músicas, acompanhado da voz e da percussão. Seu novo trabalho ainda conta com a parceria com seu irmão Lucas Silva, além de artistas como Arnaldo Antunes, Ronaldo Bastos e Dé Santos. Com uma voz leve e romântica, o cantor de 29 anos reencontra suas raízes e apresenta um material mais maduro e honesto, com inspirações em elementos e produções marcantes da cultura brasileira, como a


Canção do Exílio, de Gonçalves Dias e o livro O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. Desde canções como Nada Será Mais Como Era Antes que inicia o álbum com um discurso forte de questionamento ao povo brasileiro, a Brasil, Brasil, vemos um artista que caminha pela política e pelo cotidiano para propor uma maneira positiva de lidar com a nossa realidade e expor os desafios de ser brasileiro nos dias de hoje. As faixas, disponibilizadas nas plataformas digitais, e o disco, lançado pelo selo musical Slap, trazem um visual poético que traduz para a arte, toda a realidade brasileira. Inclusive, todas as imagens do álbum são de ruas e lugares reais do país, ultrapassando as produções de estúdio, comuns em muitos trabalhos, para deixar falar o olho comum, a rua e as belezas naturais. O primeiro single divulgado ini-

ciando a nova fase do artista, intitulado A Cor É Rosa mostra Silva desbravando sua cidade natal Vitória, no Espírito Santo. As várias cenas e paisagens da capital são o cenário do clipe, evidenciando assim, a aposta no próprio país e, acima de tudo, na exaltação das belezas da própria cidade, admirada pelo artista e pouco explorada no Sudeste, região famosa pelas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

‘‘Olha só, olha só Derrubaram a palmeira do bicho Bob diz, tudo bem Nunca vi um sabiá por aqui Eu já me perguntei Como a gente vai ser brasileiro Não abrace o desdém Muita gente não gosta daqui’’ NADA SERÁ MAIS COMO ERA ANTES

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O relógio/tempo é uma parte importante do conceito do vídeo. A ideia é uma referência ao escritor português José Saramago, que tinha vários relógios parados em casa marcando a hora em que conheceu sua mulher.

Outro destaque é Fica Tudo Bem, uma parceria inusitada com a cantora Anitta, a maior artista pop nacional da atualidade, trazendo toda a sua herança cultural para somar a diversidade do álbum. A canção encanta e cativa ao falar sobre o amor de uma forma atraente, promovida pela harmonia da união dos dois músicos. Além disso, o clipe apresenta uma história visual de um casal próximo, contada aos poucos, a medida que vão tentando construir novamente sua relação e o amor existente entre ambos, enquanto o tempo demarca a trajetória. Dessa forma, o cantor deixa a timidez de lado e inova ao apresentar um disco eclético e com uma sonoridade mais pop, na tentativa de trazer ao público uma identidade cultural que é nossa e ainda, a riqueza de nosso povo. Silva deixa claro que não tem medo das novidades ao apresentar um trabalho que ultrapassa os clichês e temas batidos da música, trazendo assim um lugar de fala seguro e sem modelos.

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OUÇA O ÁLBUM

Vemos emergir um artista versátil que passa pelo MPB, samba e bossa nova, apoiado ao pop para trazer um discurso de amor, sua marca registrada, e celebração dos elementos naturais e do país de origem.

Silva termina o álbum cantando "Brasil, Brasil / Onde é que fica o Brasil? / Brasil, Brasil / Quem conhece o Brasil? / Ouvi dizer / Que é um lugar bem bom pra se morar / Quem mora lá / Não quer nem viajar’’, mostrando a cara

e a harmonia do Brasil para quem quiser ouvir. Afinal ser brasileiro é ver o lado bom da realidade e lidar com os desafios da melhor maneira possível. Algo que a música do cantor faz muito bem. //

Apple Music

Spotify

Deezer

Youtube

Tidal

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STAY STRONG. por

giovana silvestri

O dia 24 de junho, uma terça-feira, foi um dia assustador para o lovatics. No meio da tarde, todos os sites de entretenimento do mundo anunciavam que Demi Lovato, a cantora norte-americana de 25 anos, havia sido internada as pressas decorrente uma suposta overdose.

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Segundo fontes ao site de notícias TMZ, a cantora ficou entre a vida e a morte. Pouco antes do meio-dia em Los Angeles (16h, no horário de Brasília), a compositora foi levada de sua casa em Hollywood Hills, na Califórnia, para o hospital. Tanto artistas quanto os amigos mais próximos

diagramação

vics

da cantora se pronunciaram sobre o ocorrido. Poucas horas depois, a assessoria de Demi disse que ela está acordada e consciente. A causa da overdose não foi divulgada oficialmente. Quando a TMZ noticiou a internação de emergência da cantora, foi divulgado uma nota delicada ao


comentar sobre a possível causa da overdose. Segundo o site, fontes da polícia disseram que encontraram Demi inconsciente em sua casa em Hollywood e que parecia ser uma overdose por heroína. Horas depois, o site do TMZ atualizou a notícia dizendo que “quebrou a história”, segundo uma fonte ligada a cantora a overdose não foi por heroína. O portal alegou que “fontes da polícia envolvidas no caso nos disseram que era uma overdose de heroína aparente, mas a fonte próxima a Demi diz que não”. Após ser encontrada inconsciente, a artista foi tratada com Narcan, substância usada contra overdoses de drogas opioides, como heroína. A RECAÍDA Na segunda-feira, 23, Demi havia realizado uma festa em sua casa, durando a noite inteira. Antes disso, a cantora havia participado do aniversário de uma de suas dançarinas no bar e restaurante Saddle Ranch – segundo fontes, ela parecia feliz e lúcida. Não há informações sobre os participantes do aniversário, se faziam parte do grupo que esteve na festa na casa de Demi. Quando a equipe médica chegou ao local, não havia mais nenhum convidado. Sites internacionais, como o TMZ, a revista People e até a NBC News noticiaram o fato

e atualizaram o estado da cantora na noite de terça. Um comunicado da assessoria da cantora criticou a cobertura da imprensa, afirmando que há informações incorretas sendo veiculadas: "Algumas informações sendo reportadas estão incorretas e eles respeitosamente pedem por privacidade e não às especulações, já que sua saúde e sua recuperação são as coisas mais importantes agora". Demi está acordada e responsiva, segundo a notícia dada pela sua

tia Kerissa Dunn compartilhada nas redes sociais para comunicar amigos e familiares, apagada pouco tempo depois. Em outra nota para a imprensa, o representante da cantora afirmou que “Demi está acordada e com a família, que quer expressar sua gratidão a todos pelo amor, preces e apoio". A polícia não achou drogas na casa da artista, que se recusou a dizer para as autoridades quais substancias tinha usado. Logo,


foi descartada a possibilidade de abrir uma investigação criminal em relação ao caso, já que não se pôde determinar se ela tinha posse de alguma substância ilegal. Segundo o TMZ, amigos de Demi disseram que a internação da cantora não foi um choque, uma vez que há algumas semanas já haviam percebido sinais de que a cantora havia tido recaídas e aparentava usar drogas. Alguns afirmaram ainda que os sinais se tornaram mais alarmantes com o passar dos dias, com um deles informando que há semanas ela já estava em uma “zona de perigo”. Contudo, nem todos os amigos notaram sinais em Demi. Segundo uma outra fonte próxima, que frequentou sua casa a algumas semanas atrás, disse que a cantora aparentava estar bem. Outra questão 82|

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de alerta foi que, este mês, a pop star teve um grande desentendimento com seu coach (conselheiro de sobriedade) que a auxiliava em sua batalha contra o vício, acusando-o de traí-la. A equipe de Demi também mostrou preocupação com a saúde da cantora. Semanas antes do incidente, eles tentaram encenar uma intervenção para ajudá-la a combater o vício, sugerindo uma clínica de reabilitação para a cantora, que negou a opção. Na mesma época, Demi cortou vínculos com seu agente de longa data, Phil McIntyre – meses antes, ele participava do grupo que incentivava a cantora a recorrer a intervenção. SUPORTE De acordou com a revista People, o ex-namorado da cantora, Wilmer


Valderrama, ficou em choque com o fato e foi visita-la no hospital na quarta, 25. “Ele sabia que ela estava passando por um momento difícil, mas ele não estava preparado para isso. Ele a viu passar por muitos altos e baixos e foi seu porto seguro em alguns dos momentos mais sombrios. Ver seu triste retrocesso é doloroso para ele”, disse uma fonte próxima ao ator para a revista. Demi e Wilmer tiveram uma relação de seis anos, desde quando a cantora tinha 17 anos, terminando a relação em 2016. Amigos, familiares e colegas de trabalho foram ver Demi um dia após a internação, quando seu estado de saúde ficou estável. Celebridades que fizeram parte da vida tanto pessoal quanto profissional da cantora a visitaram, como Miley Cyrus. Através das redes sociais, inúmeras celebridades se mobilizaram e manifestaram carinho a respeito de sua hospitalização, como Ariana Grande, Lily Allen, Ellen DeGeneres, Bruno Mars, Kesha, entre outros. A hashtag #You-

AreNotAloneDemi foi levantada por fãs remetendo a união e apoio à Demi, retomando (ou até respondendo) a uma das frases que ela diz em vários trechos de seu recente single, Sober: “Eu faço isso toda, toda, toda vez (...) É só quando estou sozinha”. A faixa, lançado no mês passado, foi uma confissão sobre suas recaídas e pode ser interpretado como um sinal do estado psicológico e emocional da cantora. Relatando estes momentos, com trechos como “Sinto muito pelos fãs que perdi, que me viram ter uma nova queda (...) Eu queria ser um modelo, mas sou só uma humana" ou quando se volta para seus país, “Mamãe, me desculpe por eu não estar mais sóbria (...) E papai, por favor me perdoe pelas bebidas derramadas no chão". Demi completou em março deste ano seis anos sóbria e sua dependência química nunca foi um segredo para os fãs, que sabem desde 2013. No mesmo ano, ela declarou seu vício e sua sobriedade desde 2012, livre de álcool, cocaína e oxycontin. Sober retrata a zint.online | 83


luta pela sobriedade com uma narrativa em primeira pessoa, uma confissão emocionante sobre o poder destruidor do vício. O single estava fora do top 100 das músicas mais vendidas pelo iTunes dos Estados Unidos, mas após o anúncio da hospitalização da cantora e a consequente repercussão midiática, a canção subiu rapidamente no ranking, adentrando o Top 10, alcançando a sétima posição no iTunes (dia 27/07). Há quase um mês atrás, no dia 24 de junho, Demi se emocionou no palco do Rock In Rio Lisboa ao cantar Sober, encantando e emocionando seu público. Após o show, a cantora postou em seu Instagram uma declaração sobre o que sentia em relação a sua música: "Nesta noite, sou uma

nova pessoa com uma nova vida. Obrigado a todos que me deram força nesta jornada". Além do vício, Lovato já sofreu outras dificuldades e doenças em sua vida, como bullying, automutilação, anorexia, bulimia e transtorno bipolar. LINHA DO TEMPO Nascida no Novo México em 20 de agosto de 1992, Demetria Devonne Lovato demonstrou desde pequena sua vocação artística, inspirada em sua mãe, uma cantora de country nos anos 80 e cheerleader profissional do time de futebol americano Dallas Cowboys. O histórico da cantora com doenças mentais começa com seu pai, ausente na vida das filhas, Demi e Dallas Lovato (irmã mais velha). Por sofrer

de transtorno bipolar, ele tinha um comportamento abusivo, que, segundo Demi, foi difícil aceitar que a conduta de seu pai não era totalmente culpa dele. Demi contou em uma entrevista com a apresentadora e comediante norte-americana Ellen DeGeneres que sofreu bullying na escola e isso a incomodava tanto que pediu a sua mãe que passasse a ter aulas em casa. “Me chamavam de gorda. E essas meninas nunca me explicaram o porquê dessa intimidação. Então eu pensava: 'ah, então eu não tenho amigos porque sou gorda'", relatou a artista. Em 2010 uma reviravolta aconteceu em sua vida. No início do ano a cantora fechou duas parcerias musicais e em março fez uma participação especial na


série televisiva Grey's Anatomy, que em 2018 marca sua 15ª. O ano foi marcado também por duas continuações televisivas que Demi protagonizava, o lançamento da segunda temporada de Sunny Entre Estrelas (2009-2011) e a estreia do filme Camp Rock 2: The Final Jam, em parceria com os Jonas Brothers. Para promover o filme, foi anunciada uma turnê mundial com os artistas, mas no final do ano Demi abandonou os shows e outras estreias para cuidar de sua saúde. Ainda não divulgados, os problemas de saúde mental que Demi enfrentava eram graves e muitos, como depressão, automutilação, anorexia e dependência química. Para se tratar, a cantora recorreu a uma clinica de reabilitação em Chicago onde ficou durante 3 meses. Quando saiu, a cantora

continuou frequentando centros de tratamento e para se lembrar da importância de continuar lutando contra seus vícios e doenças, ela tatuou nos pulsos a mensagem “Stay Strong” (permaneça forte). A frase se tornou um lema para Demi, além de ser o nome do documentário que ela lançou onde retratava abertamente sobre tudo que enfrentou, para assim inspirar outras pessoas, que estivessem passando por problemas parecidos com os dela, a permanecerem fortes. SUCESSOS Demi sempre demonstrou vocação para a música, performance e atuação. A compositora lançou vários sucessos desde 2011, como Skyscraper, Heart Atack, Neon Lights, Really Don’t Care e Cool for the Summer, além de emprestar a voz

para uma das animações de maior sucesso dos últimos anos. Let it Go, música tema da animação Frozen - Uma Aventura Congelante (2013), viralizou na internet gerando diversas paródias. Em 2018, lançou seu sexto albúm, Tell Me You Love Me. Demi, assim como tantos outros artistas que já passaram ou passam por essa mesma realidade, é exemplo de luta: ao expor sua vida pessoal ela permite ser uma identificação, uma inspiração e até mesmo um ser humano imperfeito, desmistificando a perfeição de vida que criamos sob as celebridades. Sua história nos mostra que estamos suscetíveis as doenças mentais, problemas familiares ou pessoais, mesmo tendo uma carreira de sucesso, fama e dinheiro. //

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Desejamos informar que black metal nem sempre quer dizer música satânica com vocais agressivos.

por

alisson millo

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Mensagem do Clero


A

A banda Ghost foge a 50% da regra e usa de um som bem melódico para fazer suas “adorações”. Formado não oficialmente em 2008, na Suécia, o grupo é liderado pelo vocalista e seus alteregos. Até 2017, havia muita especulação sobre quem eram os membros até então desconhecidos, mas um processo judicial trouxe à tona os nomes de seus ex-integrantes e a identidade de Tobias Forge, que se juntou a novos músicos, novamente secretos, para dar prosseguimento a seu projeto. Por conta de tempos tão conturbados no backstage, o novo álbum foi cercado de especulações, desconfiança e hype pelos fãs. Até que no dia 1 de junho de 2018 foi lançado Prequelle, quarto trabalho de estúdio da banda. Prequelle debutou Cardinal Copia nos microfones, um “novo” vocalista que substituiu Papa Emeritus III, dando um twist na linha de sucessão dos Emeritus, todos filhos de Papa Nihil. Pareceu confuso? De fato é. Mas tudo pode ser explicado.

OUÇA MINHAS PRECES, SATAN Ghost foi um fenômeno da finada rede social MySpace. Na página oficial da banda não havia informações sobre integrantes, imagens, nada. Apenas um fundo preto e a descrição que dizia algo como “Kansas se tocasse música satânica”. Eram apenas duas pessoas à frente do projeto que, embora tivessem muitas pretensões, não possuíam um direcionamento claro a seguir. Depois de um longo trabalho de contatar possíveis interessados no som que eles faziam, a banda explodiu e chamou a atenção pelo caráter inovador e, claro, pela qualidade. Sendo assim, precisou deixar de ser uma dupla e ganhar aspectos de banda mesmo. Se aproveitando do anonimato, Forge vislumbrou uma espécie de igreja aos avessos onde os monges músicos ficavam cobertos para dar destaque total ao líder, uma espécie de padre ou papa. Por se achar desinteressante de cara limpa, Tobias criou, para si mesmo, o personagem Papa Emeritus, uma máscara de caveira acompanhada de uma longa batina preta. Os outros membros são os Nameless Ghouls, todos com roupas pretas e máscaras compradas em uma loja de departamento na Suécia. Baixo custo e muita efetividade Em 2010, o Ghost lançou seu primeiro álbum, Opus Eponymous. Nove faixas (dez se incluir o cover de Here Comes The Sun dos Beatles, lançado apenas em uma edição especial) que incluiam o EP independente e outras composições. Nascia assim, dessa vez oficialmente, Ghost. Faixas como Ritual, Con Clave Con Dio e Elizabeth davam, logo na estreia, o recado que a banda vinha para ficar. Para fugir ainda mais do padrão e para dar sempre um aspecto de novidade

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para a banda e para os fãs, eles criaram uma storyline para seu líder, envolvendo seu passado. Emeritus seria filho de Nihil, um papa já mais idoso e incapaz de levar seu clero adiante. Essa história levantou ainda mais intriga nos fãs, que antecipavam pelo desenrolar da trava tanto quanto pelo novo disco. CHEGA UMA NEBLINA SECULAR O novo capítulo foi descoberto em 2013. A banda lançou Infestissumam, seu segundo álbum, e apresentou Papa Emeritus II, irmão do primeiro, mas com um aspecto um pouco mais intimidador e agressivo, coerente as músicas um pouco mais pesadas do novo trabalho, cujo título pode ser traduzido do latim como “o mais hostil”. Ainda assim, a banda não perdeu seu tom melódico característico, contrastando com o peso das letras. Foi em Infestissumam que foi gravada Year Zero, talvez a música mais abertamente satânica do Ghost. O ano zero seria em alusão à contagem católica de data pós nascimento de Cristo. No caso, o novo 88|

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marco seria a ascensão de Satan acima das estrelas de Deus, como a própria letra diz. Não menos polêmica, a faixa título abre o disco com uma espécie de prece em cântico para os poderes da entidade hostil venerada na obra. Foi nesse álbum também que saiu Monstrance

Clock, até hoje usada pela banda para encerrar seus shows. Essas três, em conjunto com as outras sete, renderam o Grammy de Melhor Álbum de Hard Rock/ Metal para a banda, em 2014. Depois de Papa II, veio Papa Emeritus III, irmão mais novo


dos outros dois, filho de um relacionamento extraconjugal de Nihil. Com uma aparência mais amigável e uma personalidade mais carismática, muito se acreditou que seria ele a levar adiante a banda por mais tempo. Nos shows, imediatamente anterior à música final, Papa III explicava do que se tratava a letra, “uma construção que venera o orgasmo feminino e mostra como alcançá-lo de uma maneira ritualística”. VOCÊ PODE OUVIR O TROVÃO? Foi na voz dele que foram gravados o disco Meliora e o EP Popestar. No álbum, lançado em 2015, clássicos instantâneos como Cirice e He Is chamam a atenção. A primeira, inclusive, ganhou o

Grammy no ano seguinte como a Melhor Música de Metal. O disco abre com a música Spirit, passando a ideia de um espírito superior que está ausente. Para fechar, Deus in Absentia mostra uma revolta de Deus, que teria ido embora. Também em 2016, Popestar é

lançado e apresenta Square Hammer. Tobias Forge descreve a música como uma obra grandiosa, feita para abrir os shows e dar uma sensação de um espaço grande e lotado. Desde o dia de seu lançamento, até esse ano, a faixa foi usada como a primeira de todas as apresentações. No clipe, um easter egg: com um tom predominantemente verde ao longo dos quatro minutos de vídeo, um pássaro cardeal vermelho se destaca em um breve período. Em inglês, o nome da ave é Cardinal, adiantando a troca nos vocais para os mais atentos. As outras quatro faixas do EP são covers. Fazer versões de músicas famosas é uma característica da banda que, desde o primeiro álbum, inclui, mesmo que em uma versão especial, músicas de bandas variadas. Beatles, Abba, Echo & the Bunnymen, Pet Shop Boys são alguns artistas que fazem parte do seleto grupo de homenageados pelo Ghost nesses oito anos de lançamentos.

A banda está, atual mente, em turnê. Na atual etapa, Ghost percorre a europa pel os próximos dois meses, antes de ir pra os eua e canadá entre outubro e dezembro zint.online | 89


NÃO SE ESQUEÇA

Em 2013, Ghost fez a sua primeira apresentação no Brasil, participando da edição do ano do Rock in Rio. Desde então, a banda já esteve no país fazendo shows em 2014 e 2017.

DA SUA AMIGA MORTE Em um show no início do ano, Emeritus III passa mal, é socorrido por seu pai, mas acaba falecendo. Sem outros filhos, há uma crise na linha de sucessão dos Papas. Em uma série de promos, Cardinal Copia é revelado pela irmã superiora da igreja como o escolhido, mesmo não participando a linha sanguínea. Vale muito a pena assistir, mesmo que ainda não seja um fã, porque são três vídeos curtos, mas genuinamente muito engraçados. No trabalho mais recente, Prequelle mantém a tendência das dez

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faixas e, até o momento, Rats e Dance Macabre foram escolhidas como singles. Também muito bem aceitas, Pro Memoria e Witch Image podem ganhar videos oficiais. VOCÊ ME DEIXARIA TOCAR A SUA ALMA PARA SEMPRE? Para adicionar à mística da banda, Tobias Forge não aparece de cara limpa em entrevistas, mesmo que não acompanhado pelos outros integrantes. Hora vestido de Nameless Ghoul, hora todo paramentado


de Papa ou Cardinal, ou simplesmente pedindo para seu rosto ser borrado em vídeo. Mesmo com sua imagem exposta, é admirável seu comprometimento em manter o tom misterioso cultivado ao longo da década de existência de um dos maiores fenômenos recentes do Metal. Muito se fala negativamente de Ghost, cujos argumentos usados pelos críticos são a comercialidade e a sutileza das melodias, mas é justamente por causa do musical leve e acessível que a banda atraiu (e continua atraindo) tantos fãs. Afinal, é devido o grande apelo na mídia que a banda se tornou o sucesso comercial que é hoje. Talvez Ghost seja a entrada mais fácil para o metal e para canções mais pesadas. E, segundo o próprio líder, ele fez músicas e ambienta os shows para seu público se sentir bem. O heavy metal não precisa ser um banho de ácido, pode ser bonito e cativante também. Lição muito bem ensinada pela mente brilhante e talentosa de Tobias Forge. //

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INDICAÇÕES

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Mu lheres f or tes nas anim aç ões Personagens caricatas, mal construídas e repetitivas. Infelizmente, muitas produções não se preocupam em representar bem as mulheres. Para espanto de alguns, até nos filmes de princesa os homens detém a maior parte das falas. Em A Pequena Sereia, por exemplo, cerca de 70% dos diálogos são monopolizados por homens. No caso de outros clássicos como Aladdin e Toy Story, a porcentagem chega a 90%. O estudo completo, que associa diálogos de filmes com questões de gênero, foi realizado pelo instituto Polygraph. Até mesmo nos dias atuais, sabe-se que a indústria cinematográfica continua falhando no quesito representatividade. Afinal de contas, a construção da maior parte das personagens femininas ainda é rasa e esbarra em estereótipos. Até mesmo as chamadas super-heroínas empoderadas estão confinadas em diversos padrões, especialmente estéticos. No recente sucesso Os Incríveis 2, a Mulher Elástica assume maior protagonismo, por ter sido a heroína escolhida para testar uma nova tecnologia. Dessa forma, o Senhor Incrível fica responsável pelos afazeres domésticos - que não são nada simples. Em determinado momento, o herói se mostra até mesmo incomodado com o sucesso de sua esposa (comportamento que muitos homens reproduzem frequentemente, sabemos). O novo longa se apresenta, portanto, como uma amostra da tendência de maior presença feminina nas telas. Selecionamos aqui outras mulheres incríveis (do mundo da animação) que protagonizam as próprias histórias.

// TEXTO CAROLINA CASSESE // Diagramação vics

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» Marjane Persepólis; 2007 Em Persepólis, inspirado na graphic novel homônima de Marjane Satrapi, o espectador acompanha a jornada de uma jovem iraniana com espírito revolucionário. Narrado a partir do ponto de vista da protagonista, a animação retrata as dificuldades de ser mulher tanto no oriente quanto no ocidente - já que a personagem sofre diversos tipos de violência, inclusive enquanto mora na Europa, continente conhecido como “mais civilizado”. O filme é denso e também funciona como uma verdadeira aula de história.

» LILO Lilo e Stitch; 2002 Lilo e Stitch se destaca, principalmente, por apresentar mulheres reais. As irmãs havaianas Nani (Tia Carrere) e Lilo (Daveigh Chase) têm um tipo físico mais crível do que a da grande maioria das personagens da Disney, com pernas grossas e quadris largos. Lilo é uma personagem muito bem construída e cheia de personalidade: enquanto as outras garotas brincavam de Barbie, ela tinha sua própria boneca, considerada estranha e diferentona demais. Pode-se dizer que o desenho realmente se preocupa em ser realista, já que fica claro que as duas irmãs não vivem com regalias e lutam para superar os momentos de depressão econômica do Havaí.


» Elsa Frozen - Uma Aventura Congelante; 2013 A trama da rainha do gelo de Frozen não gira em torno de um homem, o que já é consideravelmente inovador para um filme da Disney. O principal desafio de Elsa (Idina Menzel) é conseguir se aceitar, para assim poder controlar seus poderes. A relação entre a rainha e sua irmã, Anna (Kristen Bell), é a verdadeira história de amor do longa, que também acerta por problematizar uma premissa clássica dos filmes de princesa: como uma mulher pode resolver se casar com um homem que acabou de conhecer? Apesar do filme apresentar duas mulheres como protagonistas, elas são praticamente as únicas personagens femininas da narrativa. Frozen é, inclusive, mais um filme da Disney em que a maior parte dos diálogos são dominados por homens. É importante ressaltar também que tanto Anna quanto Elsa são bem padronizadas - magras, com olhos claros e cinturas finíssimas.


» Florzinha, Lindinha e Docinho As Meninas Super-Poderosas; 1998-2005 O desenho dos anos 90 conta a história de Florzinha (Cathy Cavadini), Lindinha (Tara Strong) e Docinho (Elizabeth Daily), três garotas com super poderes que frequentemente salvam a cidade de Townsville. Elas tinham a capacidade de derrotar os mais terríveis monstros e praticamente nunca falhavam nas missões. Foram criadas pelo Professor Antônio, cientista que deu origem às meninas. Essa estrutura rompe com o conceito tradicional de família e funciona significativamente bem, já que o professor é um ótimo pai para as garotas, sempre atencioso e dedicado. Elas reconhecem os próprios poderes e não aceitam ser submissas. Em um dos episódios, Florzinha chega a dizer: “Toda vez que a masculinidade deles é ameaçada, se encolhem em tamanho”. Em outro episódio, um super-herói da cidade tenta convencer as meninas de que existem algumas funções que só podem ser desempenhadas por mulheres. “Peguem a sua família como exemplo. Quem cozinha? Quem lava as roupas? Quem faz o bolo?”, ele indaga. As meninas respondem em coro: “Nosso pai!”. Ele insiste, e dessa vez pergunta sobre uma função que só poderia ser realizada por homens: “Então quem corta a grama do quintal e lava o carro?”. Elas afirmam: “A Lindinha!”.


» Merida Valente, 2012 Com seus icônicos cachos ruivos, Merida (Kelly Macdonald) problematiza logo no começo do filme outra premissa conhecida dos clássicos Disney: o casamento arranjado. A garota está mais interessada em se aventurar e explorar novos lugares do que em arrumar um marido. Sua mãe, uma mulher conservadora, insiste que Merida deve se comportar de acordo com os padrões de feminilidade e, em uma cerimônia, até esconde os cachos da garota. A princesa, claro, não se abala e faz questão de sempre mostrar sua identidade. A principal história de amor da trama é a de Merida com sua mãe.

» Moana Moana: Um Mar de Aventuras; 2016 Além de apresentar uma maior diversidade étnica, trazendo diversos elementos da cultura e mitologia polinésia, o filme conta com uma protagonista aventureira que não está preocupada em encontrar um par romântico. Moana (Auli’i Cravalho) não precisa ser salva por alguém e está disposta a lutar, pilotar barcos, salvar um recife de corais e derrotar qualquer vilão. A garota, de personalidade forte, também não tem medo de enfrentar o próprio pai e faz questão de ser independente. Osnat Shurer, produtora do longa, declarou: “É uma protagonista com quem posso, finalmente, como mulher, se identificar. Nenhum príncipe encantado pode mostrar a você qual é sua própria voz”.


» Lisa Os Simpsons; 1989 – atual Os Simpsons são a família mais conhecida da televisão. Representam bem a sociedade norte-americana e são, no geral, personagens bem tradicionais. A adolescente Lisa, uma garota questionadora, se destaca justamente por desafiar o conservadorismo. “Por que é que quando uma mulher é confiante e poderosa, ela é chamada de bruxa?”, chegou a perguntar. Ela também se incomoda com brinquedos que são considerados “femininos”, como a boneca Malibu Stacy, que diz: “não me pergunte, sou apenas uma garota”. Em resposta, cria outra boneca falante, que traz mensagens mais empoderadoras, como: “confie em si mesma e conseguirá tudo que deseja”. Além disso, Lisa é vegetariana e se torna budista após sua igreja começar a propagar a doutrina protestante até nas escolas.

» Mulan Mulan; 1998 Por último mas nunca menos importante, Mulan. Em uma sequência musical, logo na primeira cena do filme, a protagonista é cercada e arrumada para um encontro com a casamenteira. De cara, é orientada a ser uma mulher correta e submissa. “A moça vai trazer a grande honra ao seu lar / Achando um bom par / Com ele se casar / Mas terá que ser bem calma / Obediente / E ter vigor / Com bons modos e com muito ardor”, diz a música. Mulan entra em conflito ao perceber que não se encaixa nesse padrão de comportamento. Em seguida, soldados do império aparecem na vila com o intuito de convocar os homens para a guerra. Ela, então, se finge de homem e vai lutar no exército chinês, ocupando o lugar de seu pai, que se encontra debilitado. No final das contas, a protagonista consegue salvar o imperador e se torna uma verdadeira heroína para a China.



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PLAYLISTS

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a revista possui suas próprias playlists temáticas, fruto das matérias que produzimos. ao todo, são 23 listas, que você pode usufruir e escutá-las pelo Deezer, Spotify e Youtube! PARA ACESSAR A LISTA, CLIQUE NA IMAGEM!








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