ESPECIAL EXPOLONDRINA
abril de 2015
falta boi,
falta boiada Com a arroba a R$ 150, pecuária de corte estreia um novo ciclo, de desafios e oportunidades, que vai da falta de boi no pasto à reorganização da atividade
Meta da ExpoLondrina 2015 é elevar público e faturamento
Dólar favorece exportação de grãos, mas aumenta custo
Páginas 6 e 8
Página 26 e 27
[editorial O ano é do boi. Mas para quem tem boi
O
s Estados Unidos têm o menor rebanho bovino desde a década de 30. No Paraguai, a pecuária de corte assume participação expressiva no PIB. E o Brasil se consolida como o maior exportador de carne bovina do mundo. Um cenário que promove uma estruturação, ou restruturação, da cadeia produtiva. Com a arroba do boi a preço de barril de petróleo, sobra mercado, falta boi no pasto e a picanha vira artigo de luxo . Foi-se o tempo de vacas magras. Hoje, quem tem boi tem ativo. O problema é que há pouco boi no pasto. Uma realidade onde a oportunidade pode virar frustração. A pecuária se justifica no avanço da soja, que estaria tomando área do boi. O outro lado dessa moeda é que a criação de boi precisa ganhar em produtividade. Não dá mais para permitir um animal/hectare quando é possível acomodar de dois a três na mesma área. Aí é possível ter uma pecuária mais rentável convivendo com a expansão da soja. O manejo e o ganho genético, que têm melhorado carcaça e ocupação no pasto, prometem mudar esse histórico. Um desafio que precisa caminhar lado a lado com a sanidade e estratégia de mercado, de forma a dar garantias à base da cadeia. Não por acaso, a pecuária de corte é a capa da segunda edição do ano da revista Agronegócio Gazeta do Povo, publicação que tem como motivação a ExpoLondrina, tradicional reduto da criação de boi e da genética bovina no Paraná e no Brasil. Boa Leitura! Giovani Ferreira, coordenador do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo giovanif@gazetadopovo.com.br
[índice
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ExpoLondrina em expansão
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América do Sul em evidência
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Turbulências econômicas impõem desafio de elevar público e faturamento em 2015
Expedição Safra consolida rota sul-americana. Região supera as 160 milhões de t de soja
Novas regras nas estradas Lei do Caminhoneiro promete baratear escoamento da produção de grãos
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Produtividade turbinada Entrevista: Luiz Meneghel
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Gado programado
Neto, presidente da Fundação Meridional
Genética encurta ciclo do boi com agilidade na reposição dos planteis
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Churrasco gourmet
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Arco Norte em reformulação
Febre da gastronomia chega aos açougues e faz gado europeu ganhar espaço
Complexos logísticos do Norte e Nordeste consolida uma nova rota à exportação
Expediente A revista Agronegócio é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Editor Executivo: Giovani Ferreira. Edição: José Rocher e Luana Gomes. Editor Executivo de Imagem: Marcos Tavares. Editores de Arte: Alexandre L. De Mari, Carlos Bovo e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole, Joana dos Anjos e Marcos Tavares. Diagra mação: Rodrigo Montanari Bento. Tratamento de Imagem: Edilson de Freitas. Foto Capa: Brunno Covello. Redação: (41) 3321-5050. Fax: (41) 3321-5472. Comercial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: agro@gazetadopovo.com.br Site: www.agrogp.com.br. Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente. Impressão e acabamento: Gráfica Serzegraf
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GAZETA DO POVO
AGRONegócio Abril de 2015
Daniel Castellano /Divulgação
[destaques
16 a 21 Cadê o boi que estava aqui? Boom dos grãos levou pecuaristas a descartar matrizes para abrir espaço à soja nas fazendas e agora simplesmente não há bezerro suficiente para alavancar rapidamente a produção de carne bovina, como pedem as cotações de R$ 150 a arroba no Paraná
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Duas faces de uma mesma moeda Se por um lado o dólar acima de R$ 3 confere mais competitividade às exportações brasileiras e abre espaço para o Brasil ampliar o embarque de grãos, por outro, produtor vai ter que desembolsar mais para semear a próxima safra e, em tempos de estoques recordes pode obrigar o país a reduzir, pela primeira vez, o plantio de soja no ciclo 2015/16
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AGRONegócio
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[ExpoLondrina 2015
Em tom de recuperação Cenário otimista para a agropecuária paranaense aumenta as expectativas para a exposição. Feira aposta em eventos técnicos para capacitar produtores
Fotos: Roberto Custódio / Jornal de Londrina
Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do Povo
Atrações como o parque dediversões e a praça de gastronomia chamam público urbano.
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AGRONegócio Abril de 2015
:: Depois da tempestade, vem a bonança. O ditado resume bem o que se passou com a agricultura paranaense nas duas últimas safras de soja no Paraná, especialmente na região Norte do estado. Mas agora, com a confirmação de boa safra em 2014/15, o panorama é bem mais otimista. E a pecuária, com a arroba do boi gordo subindo a R$ 150, completa um quadro distinto das dificuldades econômicas do país. Este é o cenário que embala a 55ª ExpoLondrina, de 9 a 19 abril, realizada pela Sociedade Rural do Paraná (SRP). As previsões de faturamento e público consideram que, mesmo com o pessimismo do momento econômico nacional, o panorama do agronegócio é favorável. “Eu posso dizer que estou confiante”, diz Moacir Sgarioni, presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP). A confiança é reforçada pelos bons números que a feira alcançou em 2014, mesmo diante de tantas dificuldades nas lavouras. Foram 539,9 mil visitas (7,5% de aumento em relação ao ano anterior) e uma movimentação de R$ 424,65 milhões (alta de 5,5%). Em sua 55ª edição, a ExpoLondrina espera receber neste ano pelo menos 500 mil pessoas no parque de exposições nos 11 dias de evento. O Parque de Exposições Governador Ney Braga ainda irá receber quase 10 mil animais, de 30 raças bovinas, além de caprinos, ovinos, equinos e muares, segundo a SRP. Na agenda, cerca de 20 leilões de
todas as raças de animais, além de julgamentos, exposições e rodeios. A programação técnica tem ainda cursos, oficinas, palestras e encontros sobre os mais variados temas do agronegócio. Sgarioni evita fazer previsões de faturamento pra edição 2015, porém enfatiza: “Se vamos vender mais em relação ao ano passado, eu não sei, mas vamos tentar. Nós estamos em crise no país, portanto, se mantivermos esse faturamento global, principalmente com veículos e máquinas, já vai estar ótimo.”
Para todos os campos Em 2015, a ExpoLondrina repete o slogan “A Melhor do Brasil”. “Melhor porque é completa”, defende o presidente da SRP. “Eu já visitei várias feiras, a nossa é a única que contempla todo o segmento agropecuário. Vamos ter baterias de palestras e atividades em várias áreas, como piscicultura, meio ambiente e economia voltada para o agronegócio.” Entre as apostas da edição de 2015, está o apoio à diversificação nas propriedades. O diretor de aquicultura da Sociedade Rural, Ricardo Neukirchner, conta que os seminários em piscicultura e até a visita do ministro da pesca pretendem capacitar produtores em uma atividade que cresce a taxas de 25% a 28% ao ano em todo o país. “Hoje a rentabilidade está em 30% sobre o capital investido, depois de seis meses que o sistema é implantado. como o consumo interno vem crescendo muito, quem iniciar na atividade vai ter demanda certa. E isso pelos próximos 20 anos”, frisa Neukirchner.
Em constante expansão anos, o agronegócio passou por altos e baixos. Mas a ExpoLondrina seguiu em expansão. E em ritmo forte. De 2010 a 2014, o volume de negócios fechado durante a feira aumentou 118,81%, chegando a R$ 424,65 milhões no ano passado. Uma das explicações para o crescimento está em uma relação quase direta: se há mais vendas, é provável que haja mais vendedores. É o que mostram os números: se em 2010, a Expo tinha 1.423 expositores, no ano passado foram 2.487, um incremento de 74,77%. O único item que oscilou de 2010 pra cá foi o público, característica marcante do evento, que se orgulha por unir campo e cidade. Apesar do número de visitantes ter crescido 16,46% no período, houve pontos fora da curva. Em 2012, por exemplo, a feira recebeu 29,3 mil visitantes a menos que no ano anterior. Nas edições seguintes, porém, veio a recuperação e, em 2014, a ExpoLondrina fechou com 539,9 mil visitantes. (FB)
Roderto Custódio / Jornal de Londrina
:: O cenário nem sempre foi o ideal. Ao longo dos últimos
Expectativa da organização é reunir ao menos 500 mil pessoas.
Programação Técnica Além das atrações voltadas ao público urbano, como o parque de diversões, a praça gastronômica, a Feira de Sabores e os shows musicais, a 55ª edição da ExpoLondrina tem uma extensa programação técnica. Confira os principais cursos, oficinas, palestras e encontros da exposição:
Silvicultura e Sustentabilidade
Agricultura
Leilões
•
Encontro do Café (15/04 )
Pecuária
• 13º Seminário Estadual de Aquicultura (13/04) • 3º Simpósio de Ovinocultura Moderna (15/04) • 1º Seminário de Ovinocultura Leiteira (18/04 ) • 3º Curso de Andrologia de
• 1º Simpósio Bem Estar na Fazenda (14/04 )
Tecnologia
• Captação e armazenamento de (14/04 )
• V Simpósio Eficiência em
• Soja: Manejo integrado de
(16/04 )
tecnologia de aplicação de
Produção e Reprodução Animal
• • 15º Leilão Golden Night Quarto de Milha (11/04 ) • 1º Leilão Paraná Promoções (13/04 ) • 1º Leilão de Reprodutores Nelore (14/04 ) • 4º Leilão Primor Rural (15/04) • 1º Leilão Trabalho Mangalarga Leilão 10 Marcas (09/04 )
Marchador (17/04 )
Agronegócio e economia
Oficinas
Sardenberg (13/04 )
Solo Cimento (14/04 )
água da chuva e saneamento
Pequenos Ruminantes (18/04 )
• Palestra com Carlos Alberto
• Proteção de Nascentes a Base de
pragas, doenças e solos e
agrotóxicos (14/04, 15/04, 16/04 e 17/04 )
• Pomar caseiro produtivo/ fruticultura (14/04 )
• Equipamentos para Café Adensado (15/04 )
• Cultivo de Maracujá (15/04 ) • Produção de Palmeiras para Produção de Frutos e Palmitos (15/04 )
• Melhoramento Genético do gado de Corte (15/04)
• Criação de Abelhas sem Ferrão (13/04)
• Cultivo de Morango em estufas (16/04 )
• Manejo de Pastagens (17/04) GAZETA DO POVO
AGRONegócio
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[ ExpoLondrina 2015
Uma vitrine para o agronegócio Presidente da Sociedade Rural do Paraná diz que setor tem ajudado a pagar as contas do país e, por isso, precisa de mais recursos. Em 2015, desafio é driblar a crise econômica e manter o público
Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do Povo na para escapar de um cenário de retração, o agronegócio parece caminhar por outros trilhos. No ano passado, por exemplo, mesmo diante de adversidades climáticas, a movimentação financeira da ExpoLondrina cresceu 5,5%, alcançando R$ 424,65 milhões. Para 2015, a expectativa é pelo menos manter o volume de negócios. A feira funciona como uma espécie de vitrine para que o setor consiga mostrar força e buscar mais investimentos. Para o presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Moacir Sgarioni, os R$ 180 bilhões de crédito anunciados no último Plano Safra, em maio do ano passado, já não dão mais conta de cobrir as despesas de custeio e investimento dos produtores. Isto porque, com o dólar em disparada, ainda que faça a soja ganhar no quesito exportação, eleva os custos de produção. “O Brasil importa muitos fertilizantes, somos o quarto maior consumidor de adubo do mundo, e o governo parou de investir na possibilidade de explorar fertilizantes daqui”, afirma Sgarioni. Para 2015, o setor pleiteia R$ 207 bilhões junto ao governo federal. O desafio neste ano é fazer com que essa afeição pelo campo leve o público a tirar a carteira do bolso. Com a inflação em disparada e quase tudo mais caro ultimamente, a ten-
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Roberto Custódio / Jornal de Londrina
:: Enquanto a economia brasileira pati-
Em um momento como esse, você tem que chamar o público. E, para isso, é preciso investir.” Moacir Sgarioni, presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP)
dência é de que as pessoas se segurem um pouco mais na hora de gastar. Para isso, a receita de Sgarioni é exatamente o oposto: investir. “Em um momento assim, você tem que chamar o público. Para isso, investimos, por exemplo, R$ 400 mil a mais na grade de shows e rodeios”, cita o presidente. O ingresso para o show principal, que antes custava R$
35 antecipado ou R$ 70 na hora, hoje sai R$ 25 e R$ 50, respectivamente. “Desde que assumimos, em 2013, estamos mantendo o preço dos shows e a entrada para feira em R$ 10 em dias normais e R$ 12 nos fins de semana, com direito a meia entrada. É uma forma de dar ao pai a chance de trazer o filho para exposição”, completa Sgarioni.
[Expedição Safra
América do Sul confirma maior safra de soja da história Quarteto formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai colhe mais de 160 milhões de toneladas, aponta sondagem técnico-jornalística
Depois de percorrer Brasil e Paraguai, Expedição consolida os dados da temporada 2014/15 com a incursão à Argentina e Uruguai.
Da Redação percorre nesta semana a Argentina e o Uruguai para uma avaliação do tamanho da safra sul-americana de soja, que deve ser a maior já registrada na região. Depois de conferir os resultados de lavouras de 16 estados do Brasil e o cinturão de produção do Paraguai, o projeto consolida os dados da temporada 2014/15 com a incursão pelos dois países vizinhos, onde a colheita começa a ganhar ritmo. A Argentina registra uma série de previsões locais que divergem entre si, mas apontam para uma colheita recorde de soja, de pelo menos 55 milhões de toneladas. O Ministério da Agricultura do país prevê 58 milhões de toneladas, enquanto a Bolsa de Cereais de Buenos Aires aponta para 57 milhões de toneladas. Pelas previsões do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o mercado espera 56 milhões de toneladas, 2 milhões a mais do que no ano passado. No Uruguai, a colheita da soja começa com previsão de safra estabilizada em torno de 3,5 milhões de toneladas, 3 milhões delas destinadas ao mercado externo. Já a Argentina, deve remeter ao exterior 8 milhões de toneladas da ole-
Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo
:: A Expedição Safra Gazeta do Povo
Equipe de técnicos e jornalistas visitou produtores em 16 estados brasileiros.
aginosa, 1 milhão a mais do que no ano anterior. A meta da região, que inclui também Brasil e Paraguai, é manter sua participação nas exportações globais da oleaginosa próxima de 64%, aponta a Expedição Safra. Juntos, os quatro países devem retirar das lavouras 160 milhões de toneladas de soja e 62 milhões serão exportados na forma grãos. Essa participação no mercado global é 25% maior que a prospectada para os Estados Unidos, líder na colheita e no embarque, que deve ser de aproximadamente 48 milhões de toneladas em 2014/15.
62 milhões de toneladas devem ser exportados na forma de grão pelo quarteto da soja nesta temporada. Com colheita recorde, região deve concentrar cerca de dois terços do comércio global da oleaginosa, participação 25% maior que a prospectada para os Estados Unidos, líder na colheita e no embarque.
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[escoamento
Impacto imediato Lei do Caminhoneiro entra em vigor no próximo dia 17 com a previsão de baratear o transporte de grãos
Carlos Guimarães Filho :: A Lei do Caminhoneiro, assinada a toque de caixa pelo governo federal após a onda de protestos que paralisou as estradas brasileiras no final de fevereiro, começa a valer a partir da zero hora do dia 17 de abril, em meio ao escoamento da safra recorde de grãos. Ainda com alguns pontos aguardando regulamentação dos órgãos competentes, a projeção inicial do setor produtivo é de que o agronegócio seja beneficiado pela nova medida, inclusive com a redu-
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ção no custo do transporte do campo até os portos e indústrias. “No contexto geral, a lei tem pontos que beneficiam as cooperativas de transportes e agropecuárias”, afirma João Gogola Neto, coordenador de desenvolvimento cooperativo da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). “Não podemos dizer que todos os pontos vão desonerar, pois, por exemplo, a exigência de exames toxicológicos traz aumento de custo para as empresas. Mas, no contexto geral, ela [a lei] é benéfica e ameniza a margem apertada”, com-
plementa. Entre as medidas previstas na nova legislação, Gogola destaca três pontos que irão trazer impactos imediatos para o agronegócio. O pedágio passa a ser calculado de acordo com a quantidade de eixos em contato com o asfalto e não mais sobre o número total de eixos do veículo. “Hoje eu ando com dois eixos erguidos e tenho que pagar pedágio. Essa mudança traz economia”, avalia o caminhoneiro Adinaldo Paixão. Outro item positivo é a possibilidade do motorista dormir no veículo,
Fotos: Jotnathan Campos / Gazeta do Povo
Mudanças na jornada de trabalho, períodos de descanso e cobrança de pedágio estão entre as principais medidas da nova legislação.
“Se as mudanças não acarretarem em redução de salário, a nova legislação trará vantagens para os caminhoneiros e não será muito difícil se adaptar.” José Carlos Silveira, caminhoneiro
o antes era proibido. “Isso desonera o contratante”, segundo Gogola. Por último, a prorrogação da jornada de trabalho permite manter o caminhão rodando por mais tempo. Antes, o motorista era obrigado a fazer um intervalo de 30 minutos a cada 4 horas – período que foi estendido a 6 horas na nova legislação. As hora extras, antes limitadas a 2 horas, poderão chegar a 4 horas, desde que exista acordo coletivo entre as partes. “Agora teremos o caminhão rodando mais tempo, ou seja, a ferramenta de trabalho estará em produ-
ção. Isso é importante para o momento do escoamento da safra”, aponta Gogola.
Na estrada Para quem passa boa parte do tempo na estrada, ainda não há consenso sobre os impactos da nova lei. Muitos motoristas não estão totalmente a par do assunto. Porém, a análise inicial é de que as novas regras são um avanço, apesar da necessidade de ajustes. “Não existem muitos pontos de descanso, e não dá para estacionar
em qualquer lugar da estrada. Além disso, como muitos caminhões vão ficar parados simultaneamente pode haver aumento no f luxo das estradas”, contextualiza o motorista Odilon Bohm. Com 25 anos de boleia, José Carlos Silveira acredita que não haverá dificuldades para se adaptar às novas regras. Como ele é contratado, a própria empresa vai exigir o cumprimento da legislação. “Para os motoristas autônomos realmente será mais complicado”, pondera. Colaborou Igor Castanho GAZETA DO POVO
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[escoamento
Jonathan Campos / Gazeta do Povo
“A lei vai ser boa em algumas coisas e ruim em outras. A mudança da cobrança de pedágio traz economia e as regras de descanso são positivas, mas não existem muitos pontos de parada e nem é seguro ficar na estrada.” Adinaldo Paixão, caminhoneiro autonômo
Autônomo “pode” rodar 24 horas :: Parte considerável da frota brasileira de caminhões é comandada por motoristas autônomos. Essa parcela, fundamental para o escoamento da safra de grãos, também é atendida pela nova legislação. Apesar de não constar na pauta inicial, a Lei do Caminhoneiro prevê que o dono de caminhão contrate um auxiliar. Desta maneira, caso seja de interesse e havendo carga, o veículo “pode rodar 24 horas”, diz João Gogola Neto, coordenador de desenvolvimento cooperativo da Ocepar. A lei permite que o auxiliar seja contratado sem carteira assinada, o que resulta em economia para o contratante, que não precisa pagar vários impostos. Neste caso, o funcionário seria um novo autônomo, com registro específico na Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). (CGF) 12 GAZETA DO POVO
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O que diz a lei Conheça alguns dos pontos da Lei do Caminhoneiro que entra em vigor no próximo dia 17.
Dirigir por mais de 5 horas e •meia ininterruptas será
Veículos que circulam vazios não •pagarão pedágio sobre os eixos
proibido. A cada 6 horas na condução estão previstos 30 minutos para descanso.
suspensos.
Dentro do período de 24 •horas, 11 horas de descanso
Multas por excesso de peso dos •últimos dois anos serão perdoadas. haverá tolerância •deNaatépesagem, 5% sobre os limites de peso bruto total e de 10% sobre os limites de peso bruto transmitido por eixo de veículos à superfície da estrada. Exames toxicológicos serão •exigidos na admissão e no
serão obrigatórias, mas poderão ser fracionadas. Nas viagens de longa •distância, o repouso diário poderá ser feito no veículo. superiores a sete •dias,Emoviagens repouso semanal será
desligamento do motorista, que terá direito a contraprova e confidencialidade dos resultados.
de 24 horas por semana ou fração trabalhada, sem prejuízo do intervalo de repouso diário de 11 horas, totalizando 35 horas.
A jornada diária será estendida a •8 horas, com prorrogação por até 2
casos de dois motoristas •noNos mesmo veículo, o tempo de
horas ou, se previsto em acordo coletivo, por até 4 horas.
repouso poderá ser com o veículo em movimento.
[entrevista
Incremento via laboratório Roberto Custódio / JL
Hugo Harada / Gazeta do Povo
Carlos Guimarães Filho :: Os limites apertados para expansão territorial das
Luiz Meneghel Neto destaca a importância do refúgio e da rotação para o prolongando funcional das tecnologias
lavouras brasileiras colocam ainda mais pressão no desenvolvimento tecnológico das sementes. Em época de cotação baixa nos grãos e custo de produção elevado, o rendimento das lavouras assume papel de destaque na viabilidade do negócio. É a opinião de Luiz Meneghel Neto, diretor presidente da Fundação Meridional, em Londrina. O executivo ainda ressalta que, após alguns percalços, as empresas nacionais desenvolveram variedades excepcionais, fundamental para elevar a parcela de participação no mercado de cultivares. Confira na entrevista outros pontos sobre a pesquisa genética no segmento dos grãos.
O que é mais desafiante: a irregularidade climática ou a pressão das pragas?
Até que ponto o ganho de produtividade pode ser atribuídos à genética?
Qual a tendência de remuneração paga pela tecnologia na semente?
O melhoramento genético continua sendo o único fator preponderante para o real incremento de produtividade na cultura de soja. Mas sem dúvida, o manejo adequado da cultura permite a expressão do potencial genético com muito mais eficiência, aproximando-se do valor máximo.
O estabelecimento de valores, para qualquer tipo de tecnologia, é uma prerrogativa do seu obtentor. É claro que cada um interpreta esta situação à sua maneira. Todas as vezes que buscamos uma negociação com o proprietário de uma determinada tecnologia visamos as condições tanto com o produtor de sementes, como com o agricultor.
Quais cases de avanço genético estão em evidência no mercado? Como resultado de nossa parceria com a Embrapa, podemos citar a variedade BRS 284 (soja convencional), pois o sistema radicular agressivo consegue buscar água em maiores profundidades, além de apresentar resistências nematoides formadores de galhas. Outro excelente exemplo é as variedades que possuem eventos transgênicos como Bt e RR2 em seu germoplasma. É o caso da cultivar BRS 1001IPRO, que possui a base genética da BRS 284, associada à tecnologia Intacta RR2 PROTM, conferindo-lhe resistência a um grupo de lagartas e a tolerância ao glifosato.
Atualmente, acreditamos que fatores climáticos são bem mais desafiadores, pois além de interferirem diretamente na fisiologia das plantas, também exercem uma pressão negativa na aplicação e no funcionamento dos defensivos agrícolas.
Quais as perspectivas de participação de empresas nacionais no mercado? Nos últimos 10 anos, empresas obtentoras de genética se instalaram no Brasil, aproveitando uma mudança radical no sistema produtivo. Neste contexto, as variedades já estavam prontas e bastou fazer alguns testes de adaptação. As empresas nacionais precisaram de um tempo maior para buscar o ajuste em seus programas de melhoramento. Hoje temos variedades de soja excepcionais em todos os aspectos. As empresas nacionais continuam com uma significativa parcela de participação no mercado de cultivares.
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[pecuária
Mercado pede carne,
mas falta boi Redução contínua do rebanho, aumento das exportações, falta de planejamento... as razões são muitas, mas o fato é que a boiada ficou pequena para a demanda por carne bovina. Cotações rondam R$ 150 por arroba e abrem porta à expansão
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:: A cotação da carne bovina ultrapassou todos os seus limites e está rondando os R$ 150 por arroba no Paraná. Não há sinal de queda nos preços há mais de dois anos, mas falta boi no pasto. A valorização da carne tem sido contínua e, com novo impulso da alta do dólar, estende o convite à expansão da bovinocultura. A força da escalada dos preços apresenta uma questão: por que o setor não programou incremento no rebanho? A cotação média anual nunca havia chegado perto de R$ 100 no Paraná até 2013, quando alcançou R$ 99,69. A redução de 10% no rebanho de corte em dez anos mostra que o setor ainda não respondeu a esse apelo do mercado. De 2004 a 2013, o plantel total do estado, hoje estimado em 9,39 milhões, perdeu 880 mil cabeças. E o gado de corte, por sua vez, caiu de 7,7 milhões para 7 milhões de cabeças. Um recuo que se somou aos fatores que elevaram o preço da carne no mercado internacional, inclusive em regiões onde houve expansão da atividade. O momento agora é de reação, mesmo onde o rebanho vinha encolhendo. Prova disso é o preço do bezerro, que ultrapassou R$ 1 mil com reajustes 30% maiores que os da arroba do boi gordo (veja infográfico na página 19). As razões para o recuo são simples. Considerando os custos e a rentabilidade de outras atividades, a pecuária valia pouco a pena enquanto a arroba estava abaixo de R$ 100, aponta o produtor Antônio Sampaio, de Londrina (Norte). Ele reduziu seu rebanho de 600 para 100 cabeças e destinou 285 hectares de pasto para grãos, que agora ocupam praticamente toda sua propriedade. “Quem tinha área boa de lavoura foi para a soja e quem não tinha acabou mudando para a cana”, comenta.
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Hugo Harada/Gazeta do Povo
Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do Povo
[pecuária
MAPA DO GADO O Paraná abateu 200 mil matrizes nos últimos 2 anos – o que significa 100 mil bezerros a menos por ano. Se hoje há falta bezerro é porque faltou planejamento, avalia o zootecnista Paulo Rossi, coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o LapBov. Seja para reduzir ou para expandir a produção, o setor precisa se pautar em indicadores de longo prazo, considera. “Sabíamos da situação, mas não conseguimos nos antecipar. Poderíamos ter diminuído o rebanho, mas para isso teríamos que aumentar a produtividade”, crava Rossi. Embora não haja avaliações precisas sobre o tamanho do espaço que a pecuária tem para se expandir, o consenso é que a tendência ainda é de alta nos preços. O aumento nas exportações, neste momento, soa como agravante da escassez na oferta. Os embarques, ainda que considerados fracos para o tamanho do rebanho, cresceram 32,4% nesta década, de 22,2 mil toneladas (2010) para 29,4 mil toneladas (2014). Apesar disso, a participação do estado nas exportações brasileiras ainda é pequena, de 1,9%.
RR
AM
AP
Norte
+12%
PA
Se não houver reação, o Paraná pode se tornar um comprador assíduo de carne de outros estados, cogita o presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Moacir Sgarioni. “O produtor que sai da pecuária não volta. A agricultura tem sido mais rentável”, avalia. Para Sgarioni, existem alternativas que podem estimular a produção além dos preços recordes: investimentos em reprodução e redução de impostos sobre a circulação dos animais. “É muito caro comercializar um bezerro de uma região para outra. No Paraná, pagamos 12% de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços]”, reclama.
Motivação O consultor da Associação Brasileira de Criadores de Zebuínos (ABCZ) em Londrina, Gustavo Garcia Cid, acredita numa recomposição do rebanho
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CE
M MA
Nordeste PI
AC
TO
RO
+12%
Saldo
Centro-Oeste
Entre 2004 e 2013, o rebanho bovino nacional aumentou em 7,25 milhões de cabeças, de acordo com os dados do IBGE.
RN PB PE AL SE
BA
MT
0%
GO
DF
MG
Sudeste
MS
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No entanto, juntos, os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo passaram a criar 8,46 milhões de cabeças a menos considerando o mesmo intervalo de tempo, segundo o IBGE. Fonte: IBGE. Infografia: Gazeta do Povo.
Atenuantes
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Entre os principais criadores de bovinos, quatro estados seguiram na contratendência do país, reduziram seus rebanhos e ajudaram a elevar o preço da carne.
nos próximos anos por conta dos preços, o que ajudaria a tornar a cadeia toda mais lucrativa, e não apenas uma ponta dela. “[Quando os ganhos são limitados], se o vendedor de bezerro ganha muito, alguém está perdendo”, frisa. Garcia Cid, no entanto, avalia que os preços não devem frear o consumo. “Aqui no Brasil, isso pode ocorrer um pouco, com a migração para outras proteínas, como o frango e suíno. Mas o consumo mundial é menos flexível”, acrescenta. O consenso é que as cotações abrem espaço para o Paraná retomar a produção de carne bovina com mais planejamento e sustentabilidade. “É uma grande oportunidade de se consolidar, dez anos depois da crise da aftosa [que se def lagrou em 2005 e atingiu em cheio o estado em
SP
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RS
Variação (%)
Mato G. do Sul Paraná Rio G. do Sul São Paulo
-15 -9 -4 -24
211,8 milhões de cabeças é o tamanho do rebanho bovino brasileiro, conforme o IBGE - o segundo maior plantel do mundo. O país é o maior exportador da carne do mundo, com 2,03 milhões de t. embarcadas em 2014, segundo o Usda.
2006]”, avalia Rossi, do LapBov. Hoje, o estado encontra-se na 11.ª colocação no cenário nacional, com apenas 4,4% do rebanho brasileiro e pouco mais de 1 milhão de cabeças abatidas anualmente.
Para quem ficou, hora de colher os frutos nos surte efeito na ExpoLondrina, com queda no número de animais expostos desde o ano passado. Neste momento, essa escassez tem seu lado positivo, af irma o presidente Sociedade Rural do Paraná. “Muitos criadores estão vendendo direto nas propriedades, o mercado está mais comprador. Isso faz com que ele evite gastos com a logística”, analisa Moacir Sgarioni. A demanda é considerada forte. “Nunca tinha visto uma procura como essa. Hoje o pessoal reserva o bezerro dentro da barriga da vaca”, conta o produtor Alexandre Turquino, cuja família trabalha com pecuária de corte há mais de 40 anos na Região Norte do Paraná. Os períodos de baixa são considerados sazonais. “A gente continua, não adianta ficar pulando de galho em galho.” Turquino não só permaneceu como resolveu investir na bovinocultura. Ele atua em duas propriedades, uma no Mato Grosso do Sul, onde cria as matrizes, e outra no Paraná, em Bela Vista do Paraíso, destinada à engorda. “A gente viaja e acompanha. Eu vi que isso iria acontecer. No Noroeste do Paraná, por exemplo, antes tinha muito gado e agora é só soja e cana. Então, resolvi apostar no retorno da bovinocultura”, conta. Nos últimos cinco anos, aumentou de 2 mil para 3 mil o número de matrizes. Ao todo, o rebanho está com 5 mil cabeças: “Agora estamos começando a pagar as contas”, pondera. (FB)
“Nunca tinha visto uma procura como essa. Hoje o pessoal reserva o bezerro dentro da barriga da vaca.” Alexandre Turquino, pecuarista
Roberto Custódio/Jornal de Londrina
:: A redução da cria e recria de bovi-
Migração em massa para cana e soja era sinal de que faltaria boi, diz Turquino.
NA DIANTEIRA O valor que os pecuaristas BEZERRO do Paraná pagam por um Preço da cabeça bezerro subiu 60 pontos percentuais a mais que o preço da arroba do boi gordo na última década. BOI GORDO
R$ 138,65
Preço da arroba
121,86
78,49 57,07
95,57 81,12 93,12
99,69
936,97 742,86 629,96 567,90
73,80
48,86
R$ 1.174,55
759,49
774,40
581,69
407,31 341,92
06 07 08 09 10 11 12 13 14 15
06 07 08 09 10 11 12 13 14 15
+184%
+244%
Fonte: CIA/LapBov/UFPR. Infografia: Gazeta do Povo.
GAZETA DO POVO
AGRONegócio 19
[pecuária
Escalada das cotações deve durar até o fim de 2016 :: A grama do vizinho é sempre mais verde, diz o ditado. No caso dos pecuaristas paranaenses, por muito tempo foi assim. E era mais verde principalmente por causa da soja, que manteve sempre boas cotações. Agora, com a arroba do boi gordo sendo negociada na faixa de R$ 140 – 18% a mais do que na mesma época do ano passado –, a mesa virou e deve continuar assim por um bom tempo. “Nós temos contratos futuro que estão sendo fechados em R$ 153 a arroba para outubro. Se continuarmos exportando, o valor deve chegar a R$ 160 para este mesmo mês”, prevê o analista Paulo Rossi, ligado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Isto porque a alta ocorreu antes mesmo da entressafra, que começa em abril e, por conta dos períodos de estiagem, prejudica o crescimento das pastagens. Aí vem o efeito dominó: menos alimento significa menos gado disponível.
“O valor mínimo previsto para a arroba em 2015 é de R$ 135 e, em 2016, R$ 130. E estamos falando de valor mínimo, para cobrir os gastos”, pontua Paulo Rossi, que atua como consultor e faz planejamentos para dois anos. “Eu acredito que, mesmo depois desse período, o preço não deve ser menor que R$ 120, por causa dos custos de produção.” Os especialistas alertam para novos sinais do mercado. “A gente vê que a arroba não cede, mas o consumo de carne bovina já está um pouco menor. O consumidor é a última ponta da cadeia e eu não descarto que a redução no consumo seja um indicativo de que os preços chegaram perto de um teto”, observa Guilherme Dias, técnico da Comissão de Bovinocultura de Corte da Federação da Agricultura do Paraná (Faep). “A indústria está pagando caro pelo boi. Eles acabaram compensando nos subprodutos, mas chegaram ao limite. E você também não pode subir demais o preço da carne, senão o mercado engasga. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio”, frisa Paulo Rossi. (FB)
PLANTEL PARANAENSE Mesmo que, proporcionalmente, o rebanho leiteiro tenha aumentado de forma significativa, houve queda no plantel total do Paraná. A explicação está no gado de corte, cujo rebanho diminuiu em 7,4% entre 2006 e 2012 Evolução do rebanho total e rebanho leiteiro no Paraná, em milhões de cabeças
7,73 7,56 7,68 7,43 7,20 7,21
2,03 1,93 1,90 2,13 2,21 2,27 Rebanho total
2006
2007
9,76 9,49
2008
2009
Rebanho de corte
7,16
Variação
-7%
2,31 +14%
2011
2012
9,59 9,56 9,41
9,48
9,47
-3%
*Não há dados definitivos entre 2013 e 2015, porém, de acordo com números do Deral, o rebanho de corte está em aproximadamente 6,89 milhões de cabeças e representa 73,4% do total. Fonte: CIA/LapBov/UFPR. Infografia: Gazeta do Povo.
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AGRONegócio Abril de 2015
:: O momento é bom, os preços estão em alta, sobra cliente e falta mercadoria. Um cenário que, a princípio, pode atrair muitos investidores. Mas é preciso paciência para quem está começando do zero ou, pelo menos, sem uma estrutura bem montada. Significa que vai levar um bom tempo até que os produtores consigam dar uma resposta à demanda do mercado. “Serão pelo menos quatro anos”, avalia o zootecnista Paulo Rossi, da UFPR. “O ideal seria de 15 a 16 meses para emprenhar uma vaca, mas o que a gente vê nas propriedades é que isso leva, no mínimo, 20 meses, mais 9 meses de gestação e 7 meses para o bezerro desmamar. Se o sistema for muito eficiente, ele pode virar um boi gordo em 12 meses. Estamos falando de 48 meses no total.” “Teve produtor que acabou com as fêmeas. E não tem perspectiva de voltar, porque pra pagar o investimento pode levar 10, 15 anos...”, conta o criador Alexandre Turquino. Ainda que a redução dos rebanhos seja uma constante no Centro-Sul, a geografia favorece o Paraná. Para o professor Sérgio De Zen, da Esalq/USP, a localização do estado é um facilitador. “É até melhor do que São Paulo, pois você pode buscar o nelore em Mato Grosso do Sul ou trazer raças europeias do Rio Grande do Sul”, analisa. (FB)
2006-2012
Rebanho leiteiro
2010
Situação vai levar anos para voltar ao normal
43 kg de carne bovina é o consumo anual per capita do Brasil. Índice, que era de 35 kg/ habitante/ano em 2004 e vinha aumentando a uma taxa média de 2% ao ano na última década, vem desacelerando o crescimento desde 2012.
:: O aumento recente – e significativo – do preço da carne bovina está deixando o corte preferido do churrasco de fim de semana com um gosto salgado. Uma pesquisa rápida em açougues e supermercados de Curitiba mostra que é difícil encontrar o quilo da picanha por menos de R$ 70. E, dependendo da qualidade da carne, o preço pode ser ainda maior. Estaria a picanha se tornando presença VIP na churrasqueira? Para Fábio Nuceti, dono de uma casa de carnes na capital, a resposta é não. “O que nós temos percebido hoje em dia é que o brasileiro, muitas vezes, está abrindo mão da quantidade pela qualidade”, explica. No açougue de Nuceti, que funciona há oito anos e trabalha exclusivamente
Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Pasto “vazio” salga churrasco Churrasco de picanha para seis pessoas não sai por menos de R$ 270.
com a raça Angus, o quilo chega a R$ 89,90 – valor suficiente para levar, por exemplo, três quilos de contra-filé. Um churrasco só de picanha para um grupo pequeno, de seis pessoas, sairia R$ 270 no total. Mas há opções ainda mais salgadas. Um único quilo de picanha da raça de Wagyu, origem japonesa, alcança exorbitantes R$ 134,90. “É
um gado alimentado com cevada, que recebe massagem, o tratamento é especial. Ele tem o máximo de marmoreio, que é gordura entremeada nas fibras, que é o que dá o sabor e a maciez”, justifica o empresário. Além disso, todos os cortes são rastreados, o que, segundo Nuceti, aumenta a confiança do consumidor. (FB)
GAZETA DO POVO
AGRONegócio 21
[genética
Mais carne em menos tempo Pecuária de corte investe na redução do ciclo de abate, medida necessária para atender à crescente demanda do mercado
Carlos Guimarães Filho :: Com o aumento da demanda por proteína vermelha nos mercados interno e externo, a pecuária de corte brasileira passa por uma transformação iniciada em laboratório. Há cerca de uma década, o setor investe pesado no melhoramento genético dos animais. A medida vem de encontro a uma demanda comum às duas pontas da cadeia, produção e consumo: gado mais gordo, com carne de melhor qualidade, no menor tempo possível. O melhoramento genético ocorre na base dos planteis de seleção, tanto nos machos como nas fêmeas. Por
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AGRONegócio Abril de 2015
meio da inseminação artificial, os touros melhoradores acumulam material de “elite”. Já nas vacas, a evolução genética propicia fêmeas sexualmente precoces, ou seja, cada vez mais produtivas, e com habilidade maternal melhor – quanto mais amamentar, o bezerro desmama mais pesado. Posteriormente, os planteis de seleção são transferidos para os rebanhos comerciais. Apesar de ainda ter um ciclo longo quando comparado a outras cadeias como a avicultura, a bovinocultura de corte contabiliza ganhos significativos. Há 10 anos, o processo completo, do nascimento ao abate, demorava 48
meses. Hoje, a média nacional está em 36 meses. A intenção é alcançar 24 meses na próxima década. “Nós estamos no linear para uma transformação [do setor] com as novas aquisições da ciência e as formas diferentes de selecionar os animais. Nos próximos anos, teremos uma segmentação muito forte em função do sistema de produção”, contextualiza Luiz Antonio Josahkian, professor de melhoramento genética das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), em Minas Gerais, e superintendente técnico da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ).
Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Melhoramento genético encurta ciclo do boi e assume papel fundamental num momento em que o mercado busca agilidade na reposição dos planteis.
Antônio More / Gazeta do Povo
Além de redução do ciclo de abate, seleção genética busca também avanços de produtividade e na qualidade da carne .
Produtividade e qualidade postas à prova ::Paralelo ao trabalho de redução do ciclo, a seleção genética busca obter um rebanho com maior facilidade de converter ração em carne. E de qualidade. Animais mais pesados significam ganhos financeiros em diversas fases da cadeia, seja com a economia na alimentação ou a abertura de novos mercados. “Hoje existe premiação para os criadores interessados em produzir um boi com melhor acabamento. Por conta da exigência do consumidor, que quer um produto macio, os mercados nacional e internacional pagam bônus por carne de qualidade”, conta Gilson Katayama, criador da Katayama Pecuária, com sede em Guararapes, no estado de São Paulo. A empresa produz cerca de mil touros anualmente. O avanço genético também contribui para a formação estrutural do animal. Hoje, o rebanho brasileiro possui uma arcada mais baixa, fazendo com que a carcaça seja mais volu-
36 meses É quanto dura hoje, na média, o ciclo da pecuária de corte, do nascimento ao abate. Apesar de ainda ser longo quando comparado a outras cadeias como a avicultura, setor contabiliza ganhos significativos. Há 10 anos, o processo completo demorava 48 meses. Meta é reduzir ciclo a 24 meses na próxima década.
mosa, principalmente na parte posterior, onde está localizada a carne nobre. Além disso, aumentou as áreas com gordura subcutânea, importantes após o abate, pois funcionam como isolante térmico durante o processo de resfriamento, evitando o endurecimento, a queda de peso e o escurecimento da carne.
Antigamente, o consumidor comprava e torcia para ser uma picanha mole. Hoje, existe uma infinidade de marcas, tudo a vácuo e com garantia de qualidade.” Gilson Katayama, criador da Katayama Pecuária, com sede em Guararapes (SP)
O desafio é ter animais mais eficientes em ganhar peso. Mas não pode crescer em osso.” Luiz Antonio Josahkian, professor da Fazu (MG) e superintendente da ABCZ
“No Brasil, frigoríficos pagam mais por animais jovens, com bom acabamento, rastreados para mercado europeu e que atinjam a cota Hilton [determinada quantidade de carne bovina fresca ou resfriada, sem osso e com alto padrão de qualidade]”, comemora Katayama, que há anos aposta no setor. (CGF) GAZETA DO POVO
AGRONegócio 23
[boi gourmet
Gado poliglota Aos poucos, raças europeias conquistam produtores e consumidores. Animal apresenta características que permitem uma carne mais macia Carlos Guimarães Filho semana ganhou novas nacionalidades. Nos últimos anos, o consumo de carne de raças europeias tem aumentado significativamente no Brasil. Apesar do setor não possuir números fechados, o produto conquista cada vez mais espaço entre os criadores que buscam ciclos mais curtos e consumidores ávidos por carnes diferenciadas, tanto na qualidade como no preço. São os chamados cortes especiais. A “invasão” europeia se intensificou há cerca de cinco anos, quando os animais começaram a ser inseridos no rebanho nacional. As raças como o Angus, oriundo da Escócia, e o Hereford, originário da Inglaterra, hoje se misturaram ao Nelore, que ainda compõe 80% do plantel brasileiro. Destes cruzamentos surgiram animais mais precoces, com maior rendimento carcaça (relação carne X osso) e com mais gordura entre as fibras. “Essa camada de gordura confere mais maciez e suculência à carne. É fundamental para dar o sabor”, avalia Clóvis Antonio Bassani, médico veterinário que trabalha com controle de qualidade e autor do livro “Aspectos e generalidades sobre a carne bovina”. “Essa gordura também serve para evitar a queima da carne durante a estocagem na câmara fria”, complementa. De olho no mercado ascendente, alguns núcleos especializados em carnes especiais se estabeleceram
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Jonathan Campos / Gazeta do Povo
:: O tradicional churrasco de fim de
Demanda por cortes nobres faz gado europeu ganhar espaço do rebanho brasileiro.
no Paraná. Em Londrina, no Norte do estado, a cooperativa Maria Macia precisou elevar a produção para atender à demanda crescente. Em 2008, quando abriu as portas, abatia 20 cabeças por semana. Hoje, chega a 250 animais/semana. “No início, o pessoal achava que era loucura. Mas quando a clientela começou a conhecer os cortes diferenciados o crescimento foi espantoso, rápido demais”, contextualiza Bassani. Na mesma toada, boutiques de
carnes e restaurantes se especializaram em oferecer cortes especiais como shoulder, choriço, ancho e prime rib, que chegam a ter preços até 30% superiores aos de peças tradicionais encontradas nos supermercados. “Diferente da carne de raça não definida, o consumidor não terá surpresa negativa ao comprar uma picanha de Angus”, garante Marcos Canan, sócio da Bull Prime, açougue e restaurante de carnes nobres em Curitiba.
[aves & suínos
Carne brasileira amplia destinos Apesar de elevar os custos de produção, dólar alto favorece exportações e desenha ano positivo para
Jonathan Campos/Gazeta do Povo
os dois setores em 2015. Com novos mercados, avicultura e suinocultura querem expandir embarques
Com China e Paquistão, avicultura quer embarcar 3% a 4% mais carne de frango em 2015.
Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do Povo :: Equilibrando-se entre os efeitos positivos e negativos do dólar em disparada, a pecuária de aves e suínos mantém o otimismo para 2015. Começando pelos contras: com a moeda norte-americana valorizada diante do real, a soja e o milho – que compõem a base da alimentação animal e têm seus preços regulados pela Bolsa de Chicago (EUA) – andam mais caros. Além disso, alguns insumos que são importados, como vitaminas e sais minerais, também já foram afetados pela alta do dólar. Isso sem contar os reajustes no combustível e na energia. Por outro lado, o dólar a mais de R$ 3 estimula as exportações. O setor está empolgado com a possibilidade de ampliar os destinos da carne bra-
sileira. No caso da avicultura, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgou recentemente que o Paquistão – com seus 170 milhões de habitantes – abriu as portas para o frango brasileiro. O setor também pretende aumentar as exportações para a China. “Estamos apenas esperando a aprovação dos chineses para habilitar novas plantas. Temos várias empresas com condições para isso, principalmente no Paraná”, afirma o vice-presidente de aves da ABPA, Ricardo Santin. “As exportações devem aumentar entre 3% e 4% em 2015. Isso vai nos ajudar a manter a posição de maior exportador de frango do mundo”, ressalta. Em 2014, o Brasil embarcou, ao todo, 4,1 milhões de toneladas de carne de frango e 505,7 mil toneladas de carne suína. Para a suinocultura,
depois de uma baixa no fim do ano, a ABPA prevê que a Rússia deve retomar as importações e a Coreia do Sul também pode abrir seus mercados para o produto brasileiro. Hoje, o Brasil ocupa a quarta colocação no ranking dos principais exportadores mundiais de suínos e, pela estimativa da associação, o volume embarcado deve subir 2,5% neste ano.
Mercado Interno Ainda que o preço da carne de frango e de porco possa aumentar, por conta da alta nos custos de produção, Santin acredita que o consumo não vá diminuir. Pelo contrário. Com a carne bovina mais cara, aves e suínos tendem a substituir o boi na mesa dos brasileiros. No caso do frango, por exemplo, 70% da produção fica no país para atender à demanda doméstica. GAZETA DO POVO
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[grãos
Um olho no dólar e outro no clima Moeda valorizada, que neste momento ajuda o produtor, pode jogar contra na próxima safra.
Luana Gomes :: Desde que o dólar cruzou a barreira dos R$ 3, no mês passado, produtores começaram a fazer contas. Depois de quase uma década de expansão, eles podem ser obrigados a reduzir o plantio de grãos no próximo verão. Se por um lado a alta da moeda destrava os negócios e ajuda a exportação da safra que está sendo colhida, por outro pesa nos custos de produção e desenha um cenário preocupante para a temporada 2015/16. “Plantar vai exigir muito planejamento”, alerta o analista da FCStone Vinícius Xavier. Mesmo com a queda de 55% na cotação do petróleo, o que, teoricamente, deixaria os preços de alguns insumos mais baratos, a taxa de câmbio deve anular esse ganho ou até provocar aumento, explica o consultor
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da Cerealpar, Steve Cachia. O grande desafio de 2015 será acertar a tendência do dólar e a melhor forma de se proteger é eliminar o risco da volatilidade, recomendam os especialistas. “É preciso tomar cuidado para não assumir um custo de largada alto e depois acabar tomando um tombo se o dólar voltar a cair”, pontua Xavier. Ele recomenda o barter, modalidade de compra de insumos com pagamento em produto em que as relações de troca são travadas na hora da contratação. “Um dólar a R$ 4 pode significar valores maiores na hora da venda, mas também custos de produção mais elevados. Por outro lado, um dólar recuando de volta para próximo a R$ 3 seria sinônimo de preços em queda no mercado interno, mas não necessariamente custos de produção caindo tão cedo
Albari Rosa / Gazeta do Povo
Desempenho das lavouras norte-americanas também vai ser determinante
ou tão rapidamente”, compara o analista da Cerealpar. As consequências da disparada atual da moeda norte-americana se tornarão mais graves caso o dólar passe a cair no segundo semestre, como preveem alguns economistas. O descasamento cambial (insumos comprados a um dólar alto e produção vendida a uma cotação mais baixa) esmagaria as margens do produtor, num movimento oposto ao que ocorre hoje. Neste momento, a alta do dólar beneficia os produtores brasileiros porque sustenta os preços dos grãos no mercado interno enquanto as cotações internacionais estão sob pressão, explica Cachia. “A soja caiu 30% nos últimos 12 meses na Bolsa de Chicago, mas o valor da saca não recuou no mercado doméstico porque o dólar valorizou 35% frente ao real”, compara. Com isso, o Brasil também passou a ser mais competitivo nas exportações.
“Mas não podemos esquecer que este é um ano de estoques recordes e quem tiver o melhor preço acaba levando o cliente”, adverte Xavier. Na sua avaliação, a soja brasileira tende a continuar competitiva no mercado internacional até julho, quando o clima nos Estados Unidos começa a ditar o rumo das cotações. Uma safra sem problemas climáticos nos EUA elevaria os já recordes estoques de soja a níveis ainda maiores. Já as reservas de milho, apesar de ainda abundantes, ficaram menos folgadas. “Isso seria suficiente para fazer a soja recuar a patamares que não vemos desde 2010 na Bolsa de Chicago”, alerta Cachia. “Mas o mercado não tem mão única”, ameniza, explicando que dificilmente os EUA terão clima tão perfeito quanto em 2014. “Além do mais, preços mais baixos tendem a estimular a demanda e no final os estoques podem até ficar menores”, completa.
Nem safra recorde derruba Chicago :: “Acabamos de sair de um ciclo de preços historicamente altos para um de cotações menores. Mas isto não significa necessariamente que a bolha estourou”, garante Steve Cachia, analista da Cerealpar. Prova disso, complementa o consultor, é que mesmo com cotações mais baixas ainda não há um movimento por parte de produtores ao redor do mundo para reduzir área. “Os estoques recompostos já estão precificados”, concorda Vinícius Xavier, da FCStone. “Até porque, sem o colchão do dólar, o produtor norte-americano não tem mais muita gordura para queimar”, diz . Na sua avaliação, os preços já teriam caído demais no último ano e novas baixas travariam as negociações no mercado físico, realinhando as cotações novamente para cima. (LG)
[logística
Arco Norte ganha impulso no Nordeste Com novos investimentos, Portos de Itaqui, em São Luís (MA) e Cotegipe, em Salvador (BA), ampliam espaço e concentram maior parcela dos embarques de soja e milho na região
Igor Castanho :: A exportação de grãos pelo Arco Norte se consolida como nova opção logística para o agronegócio brasileiro puxada por dois portos situados no Nordeste do país. Juntos, os terminais de Itaqui, em São Luís (Maranhão) e Cotegipe, em Salvador (Bahia), movimentaram 5,1 milhões de toneladas de soja em 2014. O volume equivale a 11,2% dos embarques nacionais, numa participação que tende crescer ainda mais com a conclusão de investimentos que pretendem alavancar a capacidade operacional da região no curto prazo. 28 GAZETA DO POVO
AGRONegócio Abril de 2015
Sozinhos, os dois terminais já respondem por metade da movimentação de grãos do Arco Norte. A liderança é do porto maranhense, que ganha novo fôlego a partir desta safra com o início das operações do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Porto de Itaqui. Financiada pelo setor privado, a estrutura terá capacidade para movimentar 2 milhões de toneladas de grãos em 2015, e a meta é chegar a 10 milhões de toneladas em menos de uma década, detalha o porta-voz do projeto, Luiz Claudio Santos. O grande trunfo do Tegram será a integração com a ferrovia Norte-Sul,
controlada pela VLI, braço losgístico da Vale, e que garante uma conexão direta entre a região produtora de Porto Nacional (centro de Tocantins) e a cidade Açailândia (Oeste de Maranhão). De lá as cargas seguem para São Luís pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), também controlada pela Vale. No auge das operações, esse modal vai responder por 70% da movimentação do terminal, projeta Santos. No contraponto, a estrutura de Cotegipe ainda é fortemente concentrada no modal rodoviário. As cargas mais próximas, oriundas do Oeste da Bahia, em praças como Barreiras e
10,5 milhões
Daniel Castellano/Gazeta do Povo
de toneladas de soja foram exportadas pelos principais portos do Arco-Norte em 2014. Além dos dois terminais nordestinos, complexo logístico também contempla os portos de Barcarena e Santarém, no Pará, além estrutura instalada ao redor do rio Amazonas, que se concentra em Manaus (AM).
Nilson Fogolin, de Cristalina (GO): aposta no milho.
Primeiro carregamento a usar a nova estrutura do Tegram foi realizado em março com navio que segue para a China.
Luís Eduardo Magalhães, precisam percorrer 700 quilômetros sobre rodas para serem encaminhadas à exportação, elevando os custos. Para reverter esse cenário, o setor aguarda o avanço das obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que deve abrir uma nova rota para a exportação de grãos via Porto de Ilhéus, no Sul baiano. O projeto deve ser concluído em 2018. “Quando essa obra ficar pronta vamos poder reduzir os gastos com transporte e ainda garantir o frete de retorno com cargas de fertilizante”, prevê o presidente da Associação de
Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato. Enquanto esses projetos não avançam, o consórcio responsável pelo Tegram defende que será viável transportar cargas oriundas de toda a fronteira agrícola do Matopiba (formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além do Oeste de Mato Grosso e Norte de Goiás. “O Porto de Itaqui não está restrito ao Maranhão. Cada vez mais, ele será uma estrutura focada em atender toda a região da nova fronteira agrícola”, defende o CEO da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Ted Lago.
Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Novos terminais potencializam mercado de milho :: O aumento na capacidade exportadora dos portos do Arco Norte promete dar novo fôlego à expansão das lavouras de milho na fronteira agrícola do Matopiba. Atualmente, a maior parte da produção regional é direcionada ao abastecimento das granjas avícolas locais, já que o alto custo com frente inviabiliza o escoamento do cereal para locais mais distantes. “Esse mercado doméstico compra um volume baixo. Isso impede que o agricultor produza em escala, já que o risco é alto. A partir de agora essa realidade tende a mudar”, defende o porta-voz do Tegram, Luiz Claudio Santos. A janela de exportação aberta pelo Tegram ocorre em meio à expansão da oferta do cereal na região. Conforme estimativa da Expedição Safra Gazeta do Povo, o Matopiba vai colherá uma safra 3% maior neste verão, chegando a 4,85 milhões de toneladas, num movimento contrário ao observado no resto do país, que terá a primeira safra do cereal reduzida no ciclo 2014/15. (IC) GAZETA DO POVO
AGRONegócio 29
[ porto
Rejuvenescimento estrutural Paranaguá investe em obras de aprofundamento dos berços e da baía de evolução e na troca dos shiploaders, para viabilizar navios maiores e chegar a 10 milhões de toneladas de soja exportadas a partir de 2017
:: O Porto de Paranaguá como se conhece hoje deixará de existir nos próximos dois anos, garante o superintende da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Henrique Dividino. Um conjunto de projetos em andamento promete rejuvenescer o “velhinho” de 80 anos, recém-completados no dia 17 de março, com maior agilidade no embarque dos produtos e menor tempo entre a manobra das embarcações na baía de evolução e as operações de carrega e descarga. “A partir de 2017, nosso desafio será trazer caminhão e vagão para não faltar carga, porque vamos aumentar bastante a velocidade de carregamento”, contextualiza Dividino. Entra ainda nesta equação a possibilidade de navios graneleiros maiores, com capacidade para 90 mil toneladas, coloquem o Porto de Paranaguá nos seus roteiros. Hoje, o limite é de até 70 mil toneladas. Desde o início do ano, a Appa investe na retirada de sedimentos do fundo do mar por meio do serviço de dragagem para aumentar a profundidade dos berços de atracação e da área de manobra dos navios. A primeira etapa do projeto, que teve início em janeiro com previsão de terminar em junho de 2016, irá deixar os berços de atração com 13,8 metros de profundidade. Atualmente existe um desnivelamento, sendo áreas com no máximo 8,5 metros 30 GAZETA DO POVO
AGRONegócio Abril de 2015
Débora Alves / Gazeta do Povo
Carlos Guimarães Filho
Novos shiploaders ampliam em 30% a velocidade de carregamento dos navios.
(berços mais antigos). O custo para deixar o cais simétrico será de R$ 90 milhões, recurso oriundo integralmente dos cofres da Appa. A segunda etapa, prevista para começar no segundo semestre, inclui a dragagem da baía de evolução, área utilizada pelos navios para manobrarem antes de atracar. A empresa responsável pelo ser viço – DTA Engenharia – já está contratada por meio de licitação. Faltam questões burocráticas para que a draga comece a operação. A expectativa é, ao término de um ano e quatro meses, retirar sete milhões de metro cúbicos de sentimentos, deixando o local com 16 metros de profundidade. A operação será realizada ao custo de R$ 394
milhões, dinheiro cedido pelo governo federal. “Quando o navio entra na baía, tem onda, vento e correntes. Isso exige mais profundidade, porque o navio trabalha no movimento pendular, para dar segurança, inclusive em dias de ressaca”, diz Dividino. A instalação de dois dos quatro novos shiploaders (carregadores de navios) do porto já está concluída. Os equipamentos, que estão em operação desde o início de fevereiro, aumentaram em 30% a velocidade de carregamento. São mil toneladas a mais por hora – 500 toneladas extras por shiploader. Os outros dois carregadores estão em processo de montagem, com expectativa de conclusão em agosto.
GAZETA DO POVO
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