Fevereiro/2017
ESPECIAL PÓS-GRADUAÇÃO
O cenário econômico do país vem causando uma piora sensível no comportamento do mercado de trabalho – já são 12 milhões de pessoas sem ocupação no país. Mais procura do que demanda aumentam a competição por uma vaga, situação que requer foco, profissionalismo e, sobretudo, estudo. páginas 26 a 30
• Conhecimento acadêmico é valioso nas empresas - Páginas 14 a 16 • Agronegócio: setor promissor para a carreira - Páginas 42 a 46 OFERECIMENTO
[editorial Tempo de reestruturação
E
xtensas filas para disputar uma vaga de trabalho: essa imagem, esquecida por anos no cotidiano brasileiro, voltou a ser comum . O desemprego é uma das faces mais dramáticas da recessão econômica no país, e assusta pela velocidade do aumento. No final de 2016, 12% da população estava desempregada – 12,3 milhões de pessoas.No mesmo período de 2015, o índice era de 8,1%, de acordo com o IBGE. Quando os dados são desmembrados por faixa etária, a situação é ainda mais preocupante, pois a desocupação atinge sobretudo os jovens de 14 a 24 anos. Nos seis primeiros meses de 2016, 26,5% desse grupo estava sem trabalho. Em 2015, eram 19,3%. Planos e sonhos, infelizmente, são deixados de lado nessas situações. Entretanto, é necessário calma e organização para enfrentar esse período de recuo, e torná-lo útil. Nesses momentos, os estudos, cursos ou uma pós-graduação ajudam o candidato a estar mais preparado para quando o mercado reagir. Esses caminhos possíveis estão em nossa reportagem de capa, que dá um panorama de como será o trabalho em 2017. Os especialistas garantem: o ano será de reorganização, e as oportunidades voltarão a aparecer aos poucos. Mas é importante dizer: há setores que estão resistindo ao período de crise. Portanto, quem quiser apostar em um segmento promissor, deve olhar atentamente para as áreas de tecnologia e para o agronegócio. Outra alternativa é o empreendedorismo, o quarto principal sonho dos brasileiros, de acordo com pesquisa do Sebrae. Logo, quem quer ser o dono do próprio negócio precisa se planejar antes de começar. E tentar pensar positivo, apesar de tudo: a neurociência vem mostrando que o otimismo torna nossas decisões mais prudentes. Espero que o leitor faça bom proveito desse Guia de Pós-Graduação. E não esqueça: a lista dos mais de três mil cursos disponíveis no Paraná, entre Especialização, MBA, Mestrado, Doutorado e opções na modalidade EAD, estão disponíveis em: www.gazetadopovo.com.br/guiadepos. Ótima leitura Isadora Rupp, Editora
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Guia Pós-graduação 2017
GAZETA DO POVO
Expediente O Especial Pós-Graduação é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretor de Redação: Leonardo Mendes Jr. Editor Executivo de Economia: Guido Orgis. Editora: Isadora Rupp. Diagramação: Rodrigo Montanari. Reportagem: Giorgio Dal Molin, Gisele Eberspächer e Lucas França. Editor Executivo de Imagem: Marcos Tavares. Editores de arte: Alexandre L. De Mari, Carlos Bovo e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole e Marcos Tavares. Tratamento de Imagem: Edilson dos Santos Redação: (41) 3321-5000. Co mercial: (41) 3321-5904. E-mail: economia@gazetadopovo. com.br Site: www.gazetadopovo.com.br/guiadepos. Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Impressão e acabamento: Serzegraf. Não pode ser vendido separadamente.
[índice
Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
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Agronegócio – vagas de emprego no segmento vão além das Ciências Agrárias
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Seleção – Saiba os passos para escolher uma pós-graduação, e a diferença entre os tipos existentes
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Meio acadêmico – Diplomas stricto
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Otimismo – pensar positivo pode
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Tecnologia – setor precisará de
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Oportunidade – o que esperar do
sensu extrapolam a academia e são valorizados nas empresas
ajudar sua carreira, segundo a neurociência
mão de obra qualificada para continuar crescendo
mercado de trabalho em 2017
Guia Pós-graduação 2017
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Organização – como administrar
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Empreender – especialização
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Educação – formação de docentes melhora ensino básico, mas ainda é desafio
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o tempo enquanto estuda e trabalha
pode ajudar novos empresários na gestão dos negócios
Entrevista – consultor José Augusto Figueiredo fala sobre autoconhecimento e carreira
Cursos
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[escolha
Pós-graduação: em busca do curso certo Cursos
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Perfil profissional e pessoal deve guiar o estudante, que precisa avaliar itens como currículo, disciplinas e qualidade da instituição. Em expansão, modalidade a distância é boa opção para quem quer gastar menos
GiorGio dal Molin, especial para a Gazeta do povo :: A pergunta recorrente antes de começar uma especialização, MBA ou mestrado costuma ser “qual fazer”? Mas, antes de decidir, os especialistas recomendam mudar a questão: “para que eu preciso de uma pós-graduação”? Identificar o perfil pessoal (se é técnico, gerencial ou acadêmico) é o primeiro passo. “É preciso ter objetivos claros e conhecer a linha de aprendizagem que se busca seguir”, diz o professor e coordenador do Mestrado Internacional da FGV/EBAPE, Marco Zanini. Cursos identificados como lato sensu têm características mais técnicas, que complementam o conhecimento em áreas específicas. “É o caso da Segurança do Trabalho”, exemplifica. Já profissionais que coordenam suas próprias empresas ou procuram cargos executivos devem optar pelo MBA ou mestrado pro-fissional. “São opções que dão uma visão geral de disciplinas de gestão, como Marketing e Administração”, completa.
prós e contras
A consultora de carreira e diretora da Chess Human Resources, Michele Gelinski, costuma ouvir uma frase recorrente sobre especializações: “a pós não me serviu para nada”. Para não cair nessa armadilha, ela recomenda que o futuro estudante avalie o currículo da pós-graduação e faça uma lista de cinco pontos positivos e cinco negativos das alternativas de curso escolhidos. Além disso, é preciso analisar as disciplinas, a qualidade da instituição e conversar com ex-alunos. Para quem pensa em um curso a distância, é necessário analisar caso a caso. A opção de estudar em casa com f lexibilidade pode
ser boa em áreas técnicas. Caso contrário, o contato com os colegas é fundamental. “Um MBA executivo, por exemplo, não é transmissão de conteúdo: esta é uma parte do curso. A outra é relacionamento, em que você aprende en- quanto busca soluções com os colegas”, destaca Zanini.
Quando começar?
Muitos estudantes tendem a “emendar” a graduação com uma pós, o que nem sempre é produtivo. “Procuro orientar o profissional a fazer uma pós depois que está trabalhando”, afirma Michelle. Ela aposta que essa escolha pode trazer benefício pessoal – na rotina profissional é possível identificar quais conhecimentos extras buscar – e financeiro, uma vez que muitas empresas fornecem bolsas de estudo. A exceção, segundo Zanini é para profissionais que querem especialização imediata em uma área não contemplada na graduação – ele cita como exemplo médicos que cursam Gestão Hospitalar como pós-graduação. Outro elemento que deve pesar na decisão é a garantia de que irá concluir o curso, evitando perda de tempo e dinheiro. Isso pode acontecer com estudantes que estão desempregados. “Muitos pensam que após três meses em uma pós conseguirão emprego, mas acabam tendo que deixar o curso”, alerta Michelle. Segundo o professor da FGV/ EBAPE, se tiver fôlego financeiro, a pessoa precisa considerar se o curso pode dar um novo rumo à carreira. “Em vez de disputar vagas ruins, é preferível se qualificar para oportunidades melhores, já que a previsão para 2017 é de continuidade do desemprego”, recomenda.
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[escolha ÁREAS QUENTES Segmentos de Pós-Graduação que estarão em alta durante 2017:
- Controladoria - Finanças e Contabilidade - Marketing e Produtos - Inovação - Direito Tributário - Gestão Empresarial Divisão
Veja as diferenças entre lato e stricto Gisele Eberspächer, especial para a Gazeta do Povo
Hugo Harada/Gazeta do Povo
Lato sensu:
A gerente de recursos humanos Emanueli Castagnoli (à esq) procurou ajuda da consultora Michele Gelinski para aproveitar uma oportunidade de redirecionamento da carreira.
Pós pode facilitar migração de área :: Apesar de ser a tendência natural, quem deseja se especializar não precisa, segundo a coach de carreira Michele Gelinski e o professor da FGV/ EBAPE Marco Zanini, procurar um curso que se relacione diretamente com a graduação. E ainda: a pós pode ser um auxiliar na transição de carreira, caso o profissional esteja pensando em outros rumos. “Ela capacita para um novo conjunto de conhecimentos que pode qualificar a carreira”, diz Marco. Foi exatamente o que aconteceu com a Gerente de Recursos Humanos Emanueli Castagnoli. Formada em
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Ciências Contábeis, a profissional teve a oportunidade de direcionar sua carreira para o segmento em que trabalha hoje. Com apoio da empresa, ela começou uma especialização em Gestão Estratégica de Pessoas. “Eu trabalhava com 800 pessoas ligadas a mim. Na pós, tive acesso a metodologias que me levaram a aplicar novos recursos”, salienta a gerente, que diz usar os conhecimentos do curso até hoje. Com a qualificação, veio o convite para assumir o cargo atual – sua meta é cursar uma nova pós-graduação, para continuar a progressão de carreira.
Do latim, significa “em sentido amplo”, e tem como objetivo o aperfeiçoamento profissional. São as especializações (que visam o aprofundamento da área de atuação do profissional) e o MBA, voltado para o setor de Administração. Segundo regulamentação do MEC, esses cursos têm uma duração mínima de 360 horas, e podem ser presenciais ou a distância.
Stricto sensu Do latim “em sentido específico”. São os mestrados, mestrados profissionais (ambos com duração média de dois anos) e doutorados (quatro anos), para interessados em seguir carreira acadêmica. O processo seletivo é longo: inclui prova, análise de projeto e entrevista, em datas diversas, conforme edital de seleção aberto pelos programas durante o ano. O objetivo é desenvolver um projeto de pesquisa científica sobre um objeto, com o qual se obtém o título de mestre ou doutor. Os cursos devem ser reconhecidos pelo MEC e aprovados pela Capes. Tanto no mestrado como no doutorado, existe a modalidade “sanduíche”, quando parte do curso pode ser feito em uma universidade do exterior.
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Alunos com o perfil de estudar a distância têm uma tendência muito grande de permanecer nessa modalidade.” Benhur Gaio, reitor da Uninter.
O reitor da Uninter, Benhur Gaio: horário e preço acessível são fatores que atraem o aluno para os cursos a distância.
Flexibilidade e custo baixo ampliam a procura por cursos a distância Gisele Eberspächer, especial para a Gazeta do Povo ::: Os números crescem: de acordo com a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), em 2015, mais de 5 milhões de pessoas estavam matriculadas em algum curso de modalidade EAD – o aumento, em relação a 2014, foi de quase 1
milhão de alunos. Para Benhur Gaio, reitor da Uninter, centro universitário que oferece 68 especializações a distância, a procura por esse tipo de curso aumenta no Brasil principalmente pelas facilidades para o estudante: flexibilidade de horários e acessibilidade de preço. “O aluno pode escolher quando assistir a aula, sem interromper o fluxo de trabalho e outras atividades”, comenta. As aulas gravadas e o suporte online também deixam os preços mais competitivos. O reitor vê ainda uma ligação entre esse aumento com o número de alunos que fizeram uma graduação não
presencial: “para quem já tem o perfil de estudar a distância, existe uma tendência muito grande de permanecer nessa modalidade”, explica. As instituições de ensino têm liberdade para formatar esses cursos – as provas podem ser presenciais, por exemplo. Além disso, a quantidade de horas de dedicação por semana pode variar – o aluno deve estar atento para essas características na hora da inscrição. Segundo Censo de Ensino a Distância 2015 da (ABED), as especializações são o tipo de curso mais ofertado nessa categoria de ensino – os MBAs estão na quarta posição.
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[stricto sensu
Cresce valorização de profissionais que unem prática e conhecimento acadêmico Cursos
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Áreas ligadas à tecnologia, pesquisa e
lucas França, especial para a Gazeta do povo
inovação lideram esse movimento de
:: No meio acadêmico, fazer mestrado ou dou-
união entre universidades e empresas, que necessitam cada vez mais de equipes hiperespecializadas para melhorar a competitividade
Trabalhabilidade O conceito tem sido estudado por quem analisa a área de carreira e liderança. É a habilidade que o profissional tem de gerar fontes alternativas de renda além do emprego tradicional. A pesquisa da consultoria Produtive mostrou que trabalhadores que unem experiência com uma pós-graduação stricto sensu tem essa capacidade aumentada.
torado é garantia de melhora profissional, seja em possibilidades de atuação ou no salário. Por outro lado, as empresas começam a olhar para essa parcela especializada com mais atenção. Segundo pesquisa da consultoria Produtive, com executivos das regiões Sul e Sudeste, trabalhadores de mercado que investiram em mestrado/doutorado tiveram 21,4% de aumento na média de remuneração, entre o primeiro semestre de 2014 e o mesmo período de 2015. De R$ 13.804, a média salarial desses gestores passou para R$ 17.561. Além disso, o levantamento aponta para o aumento do nível de “trabalhabilidade”: a capacidade de gerar fontes alternativas de renda, além do emprego tradicional. A valorização desses profissionais que unem experiência prática e conhecimento acadêmico, para Rafael Souto, CEO da Produtive, é resultado da exigência do mercado. “É preciso profissionais com profundidade, hiperespecializados. Ambiente mais competitivo, margens de lucro pequenas, busca por resultado, requerem profissionais altamente capazes”, comenta. Outro aponto que Rafael levanta é a diferenciação dos níveis de aprofundamento. “Especializações lato sensu são como commodities, todos têm e já se espera que tenha”, frisa. “Bem por isso, os contratantes hoje olham muito em que escola a pessoa fez o curso, se tem pontuação boa junto ao MEC, inclusive”. Para ele, acontece hoje, no Brasil, uma aproximação entre empresas e universidades, no intuito de colocar pesquisadores e profissionais da área para pensarem, juntos, em melhores soluções. “Os cursos stricto sensu são o elo desse movimento”, afirma Souto. Apesar disso, conforme explica Daniella Forster, psicóloga e coordenadora do PUC Talentos, o reconhecimento de profissionais de mercado com especialização stricto sensu não atinge todos os ramos. “Em geral, as áreas mais ligadas com pesquisa e inovação, onde é preciso profundidade de conhecimento para criar coisas novas são mais valorizadas”, indica. Campos ligados à tecnologia, áreas de pesquisa e desenvolvimento – alimentos, agronegócios, farmácia – são alguns exemplos. “Empresas que querem entrar em setores de manufatura, além da indústria como um todo, também buscam profissionais mais completo”, diz o CEO da Produtive.
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[stricto sensu
Planejamento é fundamental para quem pretende investir em mestrado
Henry Milleo/Gazeta do Povo
::: A decisão de focar em uma especiali-
O mestrando em Turismo, Sandro Mendes, fez aulas como ouvinte para conhecer o curso e ter noção da nova rotina.
Ganhos
Além da parte salarial, investir em uma especialização stricto sensu torna o profissional mais preparado para crescer e aumentar as possibilidades de atuação. De acordo com Rafael Souto, esses trabalhadores tendem a ser valorizados por trazerem mais soluções de negócio. “É como um músculo: sozinho não ganha a luta, mas te dá estrutura. A perspectiva e a curva de crescimento se tornam mais rápidas, e a chance de agregar valor é muito
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maior”, pontua. Além disso, destaca Danielle, o profissional ganha consistência: consegue manter o emprego por mais tempo, tem maiores oportunidades de crescimento e recebe até propostas internacionais. “Muitas vezes ele chega a um nível em que as empresas – que tem áreas de desenvolvimento fora do país – preferem mandá-lo para fora do que mantê-lo aqui, onde se valoriza pouco esse tipo de profissional”, acrescenta.
zação stricto sensu pode ser natural, mas a volta às carteiras da universidade não é tão simples. Com 50 anos e começando o mestrado em Turismo 10 anos depois de ter terminado a graduação em Administração, Sandro Mendes se viu desafiado para dar conta do recado. “Não tive licença do trabalho, moro na Região Metropolitana de Curitiba, tenho esposa e filhos e precisei abrir mão de muitas atividades nesses dois anos”, relata. Por outro lado, os conhecimentos que ia adquirindo durante o curso foram auxiliando de imediato os projetos que vinha desenvolvendo, além da melhora salarial prevista e da ampliação de atuação em diferentes projetos. Antes de começar no programa, Sandro cursou uma disciplina isolada para conhecer o curso. É o que aconselha Rafael Souto, da Produtive. “É preciso ter noção do desafio no qual estamos entrando, conversar com quem já tenha feito, além de planejamento intenso, porque muda nossa rotina. Muitos entram sem ter noção do que é e acabam desistindo”, diz. Já para Cláudio Rocha, que demorou 11 anos entre graduação e o mestrado em Medicina Veterinária, o ingresso veio a convite de um professor da Universidade Federal do Paraná. “Eu tinha muitos relatos de problemas reprodutivos pós-parto em vaca leiteira que poderiam ser tabulados e publicados”, explica. Sem ter feito aula experimental e nem ideia do que o esperava, ele conta que, apesar de ter experiência na área, teve receio de concorrer com alunos recém-saídos da graduação. “Foi difícil, principalmente a adaptação ao novo ritmo. Requer muita vontade e persistência. Me valorizei profissionalmente e tenho uma segurança para o futuro”, completa Rocha.
[neurociência
Insatisfeito com a sua carreira? Procure pensar positivo Não é clichê: emoções otimistas ampliam nossa atenção e regulam emoções. Mas também é necessário agir
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Isadora Rupp,
especial para a Gazeta do Povo
::: O fascínio sobre o “poder da mente” não é de hoje: o assunto vem ganhando espaço desde a década de 1960, auge da contracultura. Mais recentemente, o tema entrou no mundo dos negócios e do trabalho – muitos especialistas passaram a pregar que pensar positivo ajuda a mudar os rumos da carreira para melhor. Parece clichê, mas a neurociência (que estuda o funcionamento do sistema nervoso central e periférico) vem comprovando as benesses do otimismo e da gratidão. As atitudes ajudariam a regular as nossas emoções, tornando as decisões mais prudentes. “A metodologia do neurocoaching, criada por David Rock [fundador do Neuro Leadership Institute], parte do princípio que nosso cérebro tem um mecanismo primitivo, que ele chama de oportunidade e perigo. Quando nosso cérebro reconhece uma oportunidade, ele entra em um modo de aproximação. No modo perigo, de afastamento”, explica a neurocoaching e especialista em neurociência Lívia Humaire. Por conta dessa origem, emoções positivas e negativas também afetam a maneira como lidamos com situações cotidianas. “O foco para se direcionar ao predador gera um afunilamento da nossa atenção. A emoção negativa serve para a sobrevivência, mas, às vezes, pode ser disfuncional.
Do lado da emoção positiva, o efeito é o contrário: ela amplia a atenção e conseguimos perceber mais coisas do ambiente, o que pode ter efeito na criatividade, por exemplo”, explica o professor Paulo Sergio Boggio, responsável pelo curso de Neurociência e Psicologia Aplicada, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. De acordo com Lívia, quando estamos em um processo de pensamento negativo, nossa concentração se direciona para essas questões pessimistas o tempo todo. “Se algo der 10% certo e 90% errado, a pessoa só se volta para o negativo, o que impacta diretamente em como ela age no dia a dia.” O professor da área de Programação Neurolinguística do Isae/FGV Marco Túlio Costa salienta que esse comportamento também afeta o nosso campo das crenças. “Se acredito que não é bom conversar com o fulano, de forma inconsciente, nem chegarei perto dele. Se acho que a minha carreira está estagnada, é a mesma coisa. A não ser que se use essa frustração para mudança.” Resistência, inf lexibilidade e imaturidade são outros fatores, além da postura negativa, que inf luenciam os objetivos profissionais, explica o presidente do IBC Coaching, José Roberto Marques. “A pessoa que não conhece suas habilidades e competências tem dificuldades em chegar a resultados. Lembrando que a vida profissional deve ter congruência com aquilo em que acreditamos.
Quando a pessoa não se reconhece naquela posição prof issional, menos chances de sucesso.”
Metas
Só pensar que “tudo vai dar certo” sem atitudes concretas, dizem os especialistas, não resolve nada. Por mais que a nossa mente esteja com a atenção ampla quando otimistas, criar um plano de tarefas que levará ao propósito é mais efetivo. “Coloque tudo no papel. Veja quanto tempo vai gastar, quais os recursos vai precisar e o que é necessário fazer para correr atrás do que quer – sempre analisando o que é possível ou não. E deixe essas metas visíveis”, sugere Marco. Também é importante dar o passo adiante depois de formular os objetivos. “Vejo que, no meio do processo de coaching, muitas pessoas param de fazer as ações”, conta Lívia. E mudar um costume requer, segundo ela, ao menos três meses, e com esforço contínuo. “É importante identificar o hábito que não quer mais, e substituir por outro que traga ganhos”, recomenda. E não se preocupe quando o pessimismo dominar: o professor Paulo Boggio acredita que há certo exagero em bater na tecla de que é preciso pensar sempre positivo. “Fica uma coisa meio ‘Pollyanna’, onde não pode ter mais raiva, tristeza, sentimento de solidão. As emoções negativas também são importantes e excelentes para se guiar no mundo.
Muita gente tem visto o pensamento positivo como uma grande salvação. E aí vira autoajuda, o guru da vez na área de carreira. Por isso, se você estiver procurando alguém para ajudar no desenvolvimento pessoal, vale olhar se o profissional tem uma base em neurociência e entende dos processos básicos”. Paulo Sergio Boggio, professor responsável pelo curso Neurociência e Psicologia Aplicada, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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Qualificação ainda é “luxo” no setor de TI 20
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[mão de obra
Com crescimento do segmento, empresas precisarão de capital humano para transformar conhecimento em produtos e processos inovadores. Brasil é o país da América Latina que mais investe na área
lucas França,
especial para a Gazeta do povo
:: A crise político-econômica que deixou o Brasil em recessão nos últimosdois anos não foi capaz de frear o setor de TI no país: o segmento investiu, no ano passado, US$ 60 bilhões – 7ª posição mundial e 1º na América Latina, com 45% do total. O crescimento desse mercado foi de 3%, diante dos 2,4% de aumento no resto do mundo. Os dados são da Associação Brasileira das Empresas de Software em parceria com a International Data Corporation (IDC). Para Sérgio Mainetti Junior, presidente da Associação das Empresas do Parque de Software em Curitiba (APS), dois fatores explicam o avanço. “O Brasil estava parado nos últimos três anos e agora corre para não ficar defasado. E as empresas estão vendo que investir em automação dos processos, software, informática, é a melhor maneira de sair da crise”, pontua. Tudo isso, segundo Paulo Cayres, coordenador do Núcleo de Educação a Distância da Faculdade da Indústria IEL, também mune os gestores de informação na hora de tomada de decisões. Diante da evolução do setor – que aumenta, também, a velocidade dos avanços tecnológicos – as empresas começam a buscar profissionais que tenham experiência prática no mercado aliada ao conheci-
mento teórico de um curso de pós-graduação – perfil que é relativamente raro nesta área. “Ainda é uma tendência. De 5 a 10% das empresas, apenas, procuram o profissional com as duas frentes”, explica Sérgio Mainetti Jr. Além dos trabalhadores com cursos lato sensu (que realizaram especialização ou MBA), os mestres e doutores devem ser valorizados dentro do campo de TI – portanto, quem é da área e investe na academia também consegue atuar além da sala de aula com mais facilidade. “A inserção de mestres e doutores é fundamental nas empresas e indústrias. Na Coreia do Sul, país da Samsung, 80% desses acadêmicos trabalham nas empresas. No Brasil, apenas 20%”, compara Filipe Cassapo, especialista em Indústria 4.0 da Fiep. “Assim como é necessária a presença de técnicos e tecnólogos, mestres e doutores dão capacidade à companhia de transformar conhecimento em produtos e processos inovadores”, completa.
tendências
Com o setor de TI se desenvolvendo e, sendo ele, um campo inovador por excelência, as áreas com potencial de crescimento trarão transformações na forma como nos relacionamos com o mundo. Uma delas é a machine learning: fazer algoritmos de software que aprendem por si só. “É a coqueluche
3% Foi quanto o setor de TI cresceu no Brasil no ano passado, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software e a International Data Corporation (IDC) – no resto do mundo, o segmento teve avanço menor, de 2,4%. No país, o investimento na área em 2016 foi de US$ 60 bilhões, o maior da América Latina.
7ª É a colocação do Brasil no ranking mundial de investimento no setor de tecnologia. De acordo com especialistas, o avanço tem a ver não só com a expansão desse mercado, mas também com o receio das empresas de ficarem defasadas.
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Henry Milleo/Gazeta do Povo.
[mão de obra
do Vale do Silício [região da Califórnia, nos EUA, conhecida pelo pioneirismo tecnológico] e deve chegar por aqui em cinco anos”, comenta o presidente da APS. “Um curso chamado Data Science alia desenvolvimento de software e estatística para lidar com machine learning. Quem investir nessa ideia será muito requisitado no futuro”, diz. Já Filipe Cassapo pontua cinco áreas que estão esperando para serem desbravadas: a Internet das Coisas: sistemas autônomos e inteligência artificial; big data: manipular e extrair conhecimento de enorme quantidade de dados; processamento e armazenamento em nuvem; manufatura aditiva (impressão 3D); e segurança cibernética: segurança e confiabilidade dos dados e informações. Outra tendência, que, segundo Cassapo, deve estar consolidada em 2020, é a chamada Indústria 4.0. “Nada mais é do que a digitalização (internet das coisas, big data machine learning, realidade virtual) dos processos industriais, para aumento da produtividade e da competitividade”, esclarece o especialista.
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Brasil investiu quase R$ 190 bilhões no setor de TI em 2016 - é o país que mais aplicou recursos no segmento na América Latina
Mais competências O coordenador do Núcleo de Educação a Distância da Faculdade da Indústria IEL, Paulo Henrique Cayres, salienta algumas aptidões profissionais que vão além da técnica, e são valorizadas no setor de TI:
Comunicação Tanto a verbal quanto a escrita. Desenvolver essa habilidade ajuda a apresentar ideias, defender posições e saber se
colocar em uma reunião, por exemplo. “Tecnicamente, existem muitos profissionais bons. Mas, como instituição de ensino, as empresas nos cobram esses diferenciais humanos”, frisa Cayres.
Segundo idioma De acordo com o coordenador, ainda é incomum profissionais de TI falarem um idioma estrangeiro. Inglês continua sendo a língua mais requisitada.
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Pós-graduação cria ambiente ideal para consolidar startups
Primeiro coworking do Sul do Brasil é exemplo de empreendimento que teve empurrão acadêmico para deixar de ser apenas uma ideia
JORGE OLAVO,
Vida e Carreira vai ajudar e a grade curricular pode ser mudada e adaptada ao longo do curso”, explica o coordenador da Pós-Graduação em Marketing da FAE Uma pós-graduação pode ser o Business School, Douglas Zela. ambiente ideal para materializar planos Com uma grade modular, Dória dese dar o pontapé inicial em uma startup. taca ainda a possibilidade que teve Para isso, o estudante precisa escolher a para ampliar a sua rede de contatos. O instituição e o curso certos e estar ciente método de livre escolha para compor a de que a grande oportunidade da sua grade de disciplinas faz com que os vida necessita de dedicação, esforço e estudantes nunca tenham os mesmos ideias. Foi assim com o publicitário o gatilho Ricardo Dória, que, aos 25 anos e traba- Para o empresário, o gatilho para o colegas. “O networking, o contato com lhando como diretor de arte em uma desenvolvimento do negócio foi a inclu- novas ideias e a interação aumentam, agência de propaganda, decidiu voltar são da disciplina de Empreendedorismo ampliando também a troca entre proaos estudos para aumentar seu escopo na sua grade curricular pelo coordena- fessores e outros alunos. Sem contar de competências e acabou desenvolven- dor do curso. “Esse é um diferencial da que todos são profissionais que estão nossa instituição. Todos os alunos pas- no mercado, podendo se tornar parceido um negócio inovador. Durante a jornada, nasceu produzido o Aldeia pelo sam por uma entrevista de ingres-Content, ros de em trabalho ou a ponte para chegar Conteúdo GPBC – Gazeta do antes Povo Branded parceria Coworking, que está no aseu sexto ano sar no curso e, conforme os anseios de do a uma nova empresa”, diz Zela, ressalcom empresa patrocinadora. Conteúdo de responsabilidade anunciante. de atividades. “Eu trabalhava de dia e cada um, a grade de disciplinas é molda- tando que o estudante pode ingressar fazia a pós em Marketing na FAE à noi- da. Se você não sabe onde quer estar nos cursos da FAE em qualquer época te. Usei a pós para estruturar o raciocí- daqui a 10 anos, não tem problema. A do ano, tendo até três anos para connio do que eu queria fazer. Pensava em disciplina de Autogerenciamento de cluir o ciclo. ESPECIAL PARA O GPBC
uma cooperativa de ‘frilas’ [freelancers] e, durante as pesquisas e trabalhos, acabei chegando no conceito de coworking”, lembra Dória, fundador do primeiro espaço do gênero do Sul do Brasil. O projeto foi lapidado ao longo do curso, usado em trabalhos de diferentes disciplinas e como exemplo em debates com colegas e professores.
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Para Ricardo Dória, a inclusão da disciplina de Empreendedorismo no seu programa de pós-graduação foi o gatilho para desenvolver a sua startup.
DICAS DE OURO
Hugo Harada / Gazeta do Povo
Saiba como aproveitar ao máximo a pós-graduação para tirar sua startup da cabeça:
Arriscar 100%? Só na pós Enquanto arriscar é uma palavra que gera calafrios em quem pensa abrir um negócio, a pós-graduação torna-se o espaço ideal para que ideias sejam testadas e falhas não acarretem prejuízo financeiro. Todo erro acaba se tornando um aprendizado para o futuro empreendedor e o curso gera a possibilidade de o aluno expor seus planos para que passem pelo crivo dos professores e colegas, agregando sugestões e até apontando novas direções. Na FAE Business School, por exemplo, além da troca em sala de aula, os alunos têm a oportunidade de ver seus negócios concretizados com o acompanhamento do corpo docente. Uma vez por ano, um edital convida os estudantes – da graduação e da pós-graduação – a inscreverem projetos para serem desenvolvidos no centro universitário ao longo de dois anos, com a consultoria gratuita dos professores em diversas áreas. Em 2016, dos 55 projetos
“A pós abriu minha cabeça diante do que eu já idealizava. Permitiu que eu colocasse em prática o que eu estava pensando. O curso faz você não ficar só na ideia. Faz pensar, apresentar projetos e puxa você para a realidade.” Ricardo Dória, 31 anos, empresário e fundador do Aldeia Coworking, sobre como a pós na FAE Business School contribuiu para desenvolver sua startup.
inscritos, 16 foram selecionados para serem materializados na instituição. Outra possibilidade além-classe é a Workatona, uma maratona de 12 horas em que os estudantes são desafiados a encontrar soluções na área de negócios para problemas reais de empresas que estão no mercado. “Na FAE, o aluno encontra o ambiente propício para o desenvolvimento do empreendedorismo com modelos de negócios que trazem inovação para a sociedade e sustentabilidade financeira. Temos a formação do empreendedorismo inovador e sustentável em nosso DNA”, afirma o pró-reitor Acadêmico, Everton Drohomeretski.
Antes Pesquise; avalie a instituição e o currículo para ver se estão de acordo com seus interesses; busque referências sobre os professores; procure saber a opinião de ex-alunos. Se você deseja abrir um negócio, por exemplo, opte por uma instituição que tenha tradição na área de business. Durante Lembre-se de que você não está na pós só pelo conteúdo. O curso é um ambiente de experimentação, onde você deve colocar à prova todas as ideias e aprender com os erros. Aproveite para ampliar sua rede de contatos e adote uma postura profissional, já que seus colegas e professores podem se tornar parceiros ou convidá-lo para atuar em outra empresa. Depois Mantenha o vínculo com a instituição e seus colegas. Estabelecendo um bom relacionamento com os professores, eles podem ajudá-lo e dar dicas mesmo após a conclusão do curso. Caso sinta a necessidade de ampliar conhecimentos, veja a possibilidade de cursar disciplinas isoladas. Fontes: Ricardo Dória e Douglas Zela.
Competitivo e exigente, como será o trabalho em 2017
segundo especialistas, ano será de reestruturação. Qualificação é essencial para disputar vagas e se sair bem em processos seletivos, que se tornaram mais extensos
Cursos
Veja as opções de pós-graduação disponíveis no Paraná
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Gisele eberspächer, especial para a Gazeta do povo :: Procurar um emprego faz parte da rotina de 12,3 milhões de brasileiros – segundo o IBGE, 12% da população do país estava desempregada no quarto trimestre de 2016. Nesse cenário, entender o mercado de trabalho e atender as necessidades das empresas são medidas essenciais para se tornar um candidato mais competitivo. Depois de um período difícil, 2017 não deve ser um ano de expansão, mas sim de reestruturação, defende Bruno Melo, consultor de transição de carreira da Thomas Case & Associados. “Hoje se buscam competências mais alinhadas com a cultura da empresa”, afirma. Por isso, os cargos mais valorizados são aqueles que afetam diretamente a produção, e funcionários com olhar crítico que conseguem contribuir com a melhora do desempenho manterão seus postos. “Já um profissional que está procurando uma nova oportunidade tem de mostrar como vai impactar a empresa”, ensina Lucas Oggiam, gerente de recrutamentos da Page Personnel. “Ninguém precisa mais de um cara que quer sentar na cadeira e
só fazer o trabalho dele. E sim de pessoas interativas e interessadas”, salienta. Oggiam também lembra que, apesar do momento complicado, algumas empresas já passam por melhora e contratam funcionários. Usar redes sociais (como o Linkedin), cadastrar currículos em sites e manter contato com possíveis empregadores são algumas medidas que ajudam a chegar nas novas vagas. Segundo o Guia Salarial 2017 da Robert Half, empresa internacional de recrutamento, o cenário faz com que os processos seletivos para colocações corporativas fiquem mais longos – com o baixo número de contratações, os candidatos são escolhidos a dedo. A pesquisa também mostra as características mais valorizadas pelos empregadores de acordo com a área de atuação: ter inglês fluente é uma unanimidade entre todas. Nas questões comportamentais, habilidade de comunicação, proatividade e interatividade são valorizadas.
Lentidão
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o desemprego irá aumentar no
mundo inteiro em 2017, sendo que a estimativa chega a 1,2 milhão de novos desempregados no Brasil. Melo vê momentos de retração como bons períodos para reavaliar a situação profissional e melhorar seu autoconhecimento. Mudanças de carreira, cita ele, podem ser uma saída para evitar a inatividade. Marcelo Weishaupt Proni, professor do Instituto de Economia da Unicamp, explica que sempre existe uma defasagem entre as oscilações do mercado e as taxas de ocupação. Assim, quando começa a desaceleração, demoram cerca de seis meses para isso ficar visível nos índices de desemprego. O mesmo acontece na recuperação. “A economia estava em uma recessão profunda e 2017 terá uma pequena melhora. Mas, provavelmente, vai ser um ano de estagnação, com um crescimento muito lento”, aponta. Outro fator que trará alterações, diz Proni, é a diminuição de vagas em concursos públicos nos próximos anos, o que deve aumentar a concorrência no setor privado.
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Vilson Fogaça fez o caminho inverso ao de milhares de pessoas: retornou ao mercado formal após uma passagem bemsucedida pelo empreendedorismo.
Mudança de carreira é cada vez mais frequente :: Em tempos de carreiras mais longas, é comum que profissionais mudem de atuação durante a vida – a migração é uma tendência, comenta o gerente de recrutamentos da Page Personnel, Lucas Oggiam. “Tenho visto mais pessoas trocando de carreira nos últimos 18 meses do que nos últimos anos”, frisa. Ainda assim, as transições exigem cautela. Para Bruno Melo, consultor de carreira da Thomas Case & Associados, outro movimento é o de funcionários que deixarão o mundo corporativo para ter o próprio negócio. “Muita gente entrará no empreendedorismo nos próximos 10 anos”, indica. Vilson Fogaça é um exemplo: trocou de carreira duas vezes nos últimos anos. Depois de quase 20 anos de experiência na área de logística e supply chain, ele se desligou da empresa e optou pelo empreendedorismo. A escolha foi feita principalmente para melhorar o estilo de vida – queria passar mais tempo com a
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família e cuidar da sua saúde. Inspirado por um amigo que tinha aberto uma loja de bolos artesanais em Londrina, Fogaça desenvolveu um negócio semelhante em Curitiba, em 2013. Depois de seis meses de pesquisa e planejamento, feitos quando ainda estava trabalhando em uma multinacional, saiu do emprego para abrir o espaço. Depois de um ano e meio, Fogaça resolveu retornar para a formalidade. “Queria mais segurança financeira, sim, mas também estava com saudade do mundo corporativo”, conta. Começou a participar de processos seletivos e voltou a atuar com logística e supply chain. A loja foi vendida depois de mais alguns meses, resultado de uma oportunidade de negócio: surgiu um comprador interessado. Fogaça avalia a experiência no negócio próprio com bastante otimismo. “Foi uma grande escola para mim. Comecei a ter uma visão muito melhor de como uma empresa funciona. Quando você é o dono, pensa duas vezes antes de imprimir um papel. Cada centavo sai do seu bolso”, fala. Ele sente que a mudança não prejudicou sua carreira. “A minha saída
foi planejada, e a volta antecipada”. E, mesmo que no momento seu foco esteja no mundo corporativo, afirma ter vontade de voltar a empreender em algum momento.
prudência
Antes de migrar de área, é preciso de análise: o primeiro passo é avaliar o que é necessário ser feito. Para carreiras semelhantes, trocar de emprego ou fazer um curso de pós-graduação podem ser suficientes. Oggiam afirma que redirecionar a atuação dentro de uma mesma empresa pode ser bem visto. “Ser sincero e transparente sobre isso é muito mais fácil. O profissional consegue agregar conhecimentos dentro da companhia. É um movimento recebido de forma positiva internamente”, explica. Em casos de nova graduação, é preciso se planejar financeiramente, tanto para os anos de estudo como para o começo de atuação na nova profissão. O mesmo vale para profissionais que desejam empreender, já que é necessário aguardar o tempo do retorno financeiro.
Henry Milleo/Gazeta do Povo
Filas de candidatos para vagas de trabalho: 12 milhões de pessoas estão desempregadas no país.
ESTRATÉGiAS
Melhore suas chances Bom currículo e postura responsável em processos de seleção aumentam a probabilidade de conseguir um emprego. Veja dicas de profissionais de recrutamento e gestão de carreira:
LÍnGuas EstranGEiras Ter domínio do inglês é essencial, mas outros idiomas são desejáveis. Lucas Oggiam, gerente de recrutamentos da Page Personnel, lembra também que o domínio de línguas asiáticas será uma grande vantagem nos próximos anos.
pÓs-Graduação Uma especialização ajuda a destacar um candidato de uma pilha de currículos. Outros cursos, mesmo que de curta duração, também devem ser incluídos.
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MBa
postura na EntrEVista
São mais relevantes para pessoas em cargos de chefia. “São um diferencial para profissionais em posições de gestão. Procure um curso que se aplique de alguma forma com a atuação da empresa”, orienta Bruno Melo, consultor de transição de carreira da Thomas Case & Associados.
A relação entre o candidato e o possível empregador começa no envio do currículo – formate o texto para chamar atenção de quem está lendo. Nos processos seletivos e entrevistas, seja maduro e claro na hora de se comunicar. “A empresa quer saber o que você é capaz ou não de fazer e entender suas expectativas com o cargo. Ser sincero é importante”, orienta Oggiam. Mostrar como pode contribuir com o que já é realizado torna o candidato mais competitivo. “É necessário traduzir o que sabe em interesse para a empresa”, complementa o gerente.
nEtWorkinG Ainda que a rede social não tenha a contratação de profissionais como objetivo, muitos recrutadores buscam contatos pelo Linkedin. Para Melo, participar de forma relevante no site pode criar oportunidades profissionais – mas é preciso contribuir diariamente para que o perfil atraia a atenção. E é claro: formas distintas de networking, como participação em eventos e até cursos de pós-graduação, continuam sendo importantes.
Bigstock
[organize-se
Estudos em dia Apps e lista de tarefas são boas ferramentas para quem concilia trabalho e pós-graduação, e ajudam a abandonar o hábito de protelar compromissos
Opções Aplicativos ajudam a gerir o tempo. Conheça alguns:
Remember The Milk e ToDoIst Estes dois aplicativos permitem listar e receber lembretes sobre tarefas.
Evernote Giorgio Dal Molin, especial para a Gazeta do Povo ::: Cursar uma pós-graduação enquanto trabalha pode deixar o profissional sobrecarregado. Porém, mais do que tempo, às vezes, a falta maior é a de organização – listar tarefas e reservar alguns minutos por dia para estudar deixam o dia a dia menos pesado. Para o especialista em gestão de tempo Christian Barbosa, a primeira atitude é criar uma lista semanal de afazeres. “Fica mais fácil ter uma visão geral das tarefas, e selecionar as urgentes”. Para facilitar o processo, a consultora em organização pessoal Thais Godinho (e criadora do blog Vida Organizada) indica ferramentas de organização on-line (confira no box ao lado). Encontre um período em que é mais produtivo para a leitura acadêmica, mas sem horários rígidos. “A pessoa deve ter flexibilidade para não
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gerar ansiedade quando surgir uma demanda urgente”, frisa Barbosa. Thais aconselha ter acesso fácil ao material de estudos – assim, é possível aproveitar uma janela no trabalho para adiantar conteúdos. Caso a disciplina exija um grande volume de textos, leia em dias subsequentes. Dessa forma, segundo Barbosa, o aluno consegue desenvolver o raciocínio sobre o conteúdo. Em caso de provas ou trabalhos, não deixe para a véspera. “Estudar um dia antes gera um problema de urgência”, lembra.
Protelar
O hábito de adiar tarefas pode ser combatido pela técnica Pomodoro. Thais ensina: cronometre 25 minutos de estudos por cinco de descanso. Durante o período, não veja e-mails ou redes sociais. Nos outros cinco, use a pausa como quiser. Criar um ambiente adequado é
Ideal para criar notas em texto, áudio, vídeo e imagens, assim como anexar documentos de texto e planilhas online.
Neotriad Plataforma de gestão de equipes e organização pessoal, que permite compartilhar projetos e ideias. Tem planejamento semanal e priorização diária.
outra prioridade. Uma mesa bem iluminada e organizada faz o cérebro criar um padrão de comportamento para a atividade, assim como dormir bem e se alimentar antes. “É um combustível para o cérebro”, diz Barbosa. E tenha um tempo livre. “Não adianta se trancar aos sábados para estudar sem avisar a esposa. Você precisa conversar com a família. Assim, ninguém fica frustrado”, salienta Thais.
[aprendizado
Empreender também requer técnica Cursos de longa ou curta duração podem ajudar os novos empresários a começar um negócio com mais segurança. No Brasil, quatro em cada dez pessoas estão envolvidas na criação de uma nova empresa
Gisele Eberspächer, especial para a Gazeta do Povo ::: São muitos os fatores que influenciam na sobrevivência ou na mortalidade das empresas. A motivação e a experiência do empreendedor estão entre eles. Mas o estudo e a informação também interferem: pessoas que fizeram cursos para melhorar a administração dos negócios têm mais chance de sucesso do que as que não fizeram, segundo a pesquisa “Sobrevivência das Empresas no Brasil” divulgada pelo Sebrae em outubro do ano passado. Quatro em cada dez pessoas com idade entre 18 e 64 anos estão envolvidas com a criação de uma nova empresa no Brasil (segundo levantamento do Global Entrepreneurship Monitor feito em 2015). A verdade é que nenhum tipo de diploma ou certificado é obrigatório para quem quer ser o próprio chefe, mas conhe-
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Depois de buscar emprego formal por meses, Raphael D´Avila enxergou no empreendedorismo uma saída. E garante: “arrisque, vale a pena”.
Antônio More/Gazeta do Povo
Empresas
43,5%
Micro ou pequenas representam 98,5% de todos os negócios no Brasil, e geram 27% do PIB do país, segundo dados do Sebrae.
Foi a proporção dos empreendedores por necessidade em 2015, de acordo com o levantamento do Global Entrepreneurship Monitor. Um ano antes, esse porcentual era de 29,1%.
cimentos de administração e gestão podem ajudar a resolver vários dos problemas cotidianos. Além disso, os processos iniciais de planejamento são determinantes para a implementação de um novo negócio. O cenário mostra que o empreendedorismo será cada vez mais forte. Maiores taxas de desemprego incentivam os que migram para o segmento por necessidade – em 2015, de acordo com o GEM, 36% dos empreendedores nascentes (com menos de três meses), e 46% dos novos (entre três e 42 meses) se tornaram empresários porque precisaram. Por outro lado, jovens tendem se direcionar para novas formas de negócio mais cedo. “Por isso, o empreendedorismo deve crescer cada vez mais como uma área de estudo e formação”, avalia o professor José Vicente Cordeiro, diretor de pós-graduação da FAE Business School. “Ter informação é essencial”, diz Márcia Giubertoni, gerente do Sebrae/
PR. Para ela, existem várias fontes para ajudar um gestor novato: pós-graduação, cursos de curta duração em instituições como o próprio Sebrae, conversa com consultores e muita pesquisa. “Somos imediatistas. Quando alguém pensa em ter um negócio, já abre e esquece de resolver vários detalhes antes. É importante pesquisar”, adverte. Segundo Cordeiro, o ideal é que os cursos sejam procurados antes da abertura – as aulas contribuem para o planejamento. Em algumas instituições, é possível cursar matérias avulsas, para suprir necessidades específicas. Para Márcia, a parte mais importante é o planejamento. “Você vai entrar no mercado oferecendo o que para quem? Será que essas pessoas estão interessadas no produto? Quem serão os fornecedores? Tem alguém no mercado fazendo algo similar? Pensar sobre esses pontos e ter respostas claras pode ajudá-lo a minimizar os riscos de vir a fechar depois”, recomenda.
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[aprendizado
negócio próprio
Raphael D’Avila trabalhou durante quatro anos com gestão de Recursos Humanos em uma empresa, mas foi desligado em março de 2016. Depois de alguns meses tentando uma realocação no mercado de trabalho sem sucesso, resolveu que a saída era empreender e, no último dezembro, abriu o restaurante e pizzaria Avila´s, no bairro Tatuquara. Para ele, a experiência tem sido um aprendizado todo dia. “Chega um ponto da carreira em que você acha que já viu muita coisa, mas acabei descobrindo que não tinha aprendido nada ainda”, fala. Entre as dificuldades que encontrou, D’Avila aponta a falta de conhecimento do negócio: “não sabia nada sobre abrir uma empresa, a burocracia, a demora”. Mesmo assim insistiu na ideia e hoje tem 10 funcionários. “A parte de gestão não é tão difícil, porque eu tinha experiência com isso. O mais pesado é o dia a dia. Estou aprendendo agora sobre a produção de alimentos”, conta. Ainda que abrir o restaurante não fosse um plano que pudesse ser feito em pouco tempo, D’Avila se dedicou para pesquisar e procurou outros profissionais com negócios semelhantes para tirar dúvidas. Estudou também a região e conta que sua maior dificuldade até agora foi lidar com a parte burocrática. Sobre o empreendedorismo, ele diz: “arrisque, vale a pena”.
A grande sacada do empreendedorismo é fazer algo que você goste. Ou, encontre uma oportunidade no seu círculo social. Identificar necessidades de um grupo também é um outro caminho para essa grande tendência. Os jovens não querem mais trabalhar com carteira assinada, eles não têm medo de arriscar. É um caminho sem volta”. Márcia Giubertoni, gerente do Sebrae/PR.
DESENVOLVIMENTO Em 2015, 4 em cada 10 brasileiros empreenderam; número quase dobrou desde 2002. Por porcentual da população entre 18 e 64 anos:
39% 40
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20
32 21
27 20
10
Fonte: Sebrae. Infografia: Gazeta do Povo.
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51%
É o porcentual de jovens que pretendem seguir para o empreendedorismo em dois ou cinco anos, entre os 71% que desejam mudar de emprego ou atividade no período. Os dados são da pesquisa “Jovens Digitais: Geração Transformadora”, realizada em 2016 pela Mind Miners e pelo Centro de Inteligência Padrão.
[educação
Formação de professores ainda é desafio Meta é que 50% dos docentes da rede básica estejam pós-graduados até 2024. Mensalidades dos cursos e rotina pesada de trabalho em sala de aula são fatores que afastam os educadores
::: Uma das metas do Plano Nacional da Educação (PNE) – projeto de 2014 que visa melhorar, democratizar e ampliar o acesso à educação no país – pretende formar 50% dos professores da rede básica de todo o Brasil em nível de pós-graduação, e garantir a formação continuada até 2024. Três anos depois, cerca de 30% dos docentes do país têm uma pós, e o Paraná está no segundo lugar entre os estados com maior número de professores (60%), atrás apenas do Espírito Santo, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). Entre as formas de tentar atingir a meta está o Sistema Universidade Aberta do Brasil, do governo federal. A rede integra instituições federais para promover cursos a distância para setores da população com menos acesso à universidade. No Paraná, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed), os cursos precisam ser voltados para a área de educação
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Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Lucas França, Especial para a Gazeta do Povo
para serem considerados na carreira. Nessa área, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu, é referência. São vários cursos lato sensu para professores da rede básica, como Atendimento Especializado e Educação Inclusiva, Ensino de Matemática e Ciências para Séries Finais. Entre as mais procuradas na UNILA está o curso de Nutrição e Saúde Alimentar na Escola, que aborda as relações do tema com o ambiente escolar, e já formou 50 profissionais. “É preciso mapear demandas e
potencialidades para traçar políticas e estratégias de fomento das especializações para os professores”, ressalta o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da universidade, Dinaldo Filho. Para ele, o professor-pesquisador também inspira o aluno a questionar e desenvolver o gosto pela área. “É interessante que tenham mestres e doutores. Eleva o debate e melhora a formação dos estudantes”, acredita. A pesquisadora da Fundação Carlos Chagas Patrícia Albieri de Almeida crê que a meta nacional não é efetiva isoladamente. “Mas é importante que ela
a professora Evely Martins conseguiu elevação de nível na carreira com a pós, mas afirma que conciliar estudos e trabalho foi complicado por conta da jornada de trabalho e pelo valor das mensalidades.
exista para que a abertura de oportunidades seja uma política pública, com incentivos, bolsas, parcerias com universidades. A intenção é importante e, junto de outras ações como plano de carreira, melhorará a qualidade do docente e, em consequência, do ensino.”
promoções e progressões
No Paraná, se especializar é regra para professores subirem nos níveis de carreira na rede estadual e conseguirem aumento salarial. E até mesmo para quem quer ingressar. Por exemplo: um
professor especialista que presta concurso inicia a carreira pelo nível II – Especialização, com salário de R$ 1,7 mil por 20 horas. Só com a graduação começa pelo nível I – Licenciatura Plena (R$ 1,4 mil). O estado também conta com o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), criado em 2010. Para Evely Martins, 48 anos e professora há 20, as elevações de nível não são tão simples de serem realizadas por conta da rotina da sala de aula. “Procurei o curso que podia pagar e que não me tirasse tempo de
trabalho”, explica. Por outro lado, a pós abriu novas possibilidades de atuação para Evely, como educação especial e libras. Patrícia Albieri salienta que a graduação é apenas a formação inicial. “Ações de continuidade são necessárias, seja nas secretarias, nas escolas ou nas universidades. É fundamental se especializar, principalmente se lembrarmos que a graduação deixa lacunas.”
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[ entrevista
Não se conhecer freia a carreira, diz consultor
Isadora Rupp, especial para a Gazeta do Povo :: Falta de autoconhecimento e orientação nas escolhas: esses são os dois principais erros que impedem a evolução profissional, na opinião de José Augusto Figueiredo, presidente no Brasil e vice-presidente na América Latina da consultoria Lee Hecht Harrison, empresa líder global em desenvolvimento de talentos e transição de carreira. Agir em uma premissa – quando todas as outras pessoas têm uma visão distinta – é outro equívoco comum no mundo do trabalho, cometido sobretudo por líderes, segundo o consultor. Formado em Engenharia Mecânica, antes de trabalhar ajudan-
do pessoas a desenvolverem suas carreiras, ou migrarem de uma para outra, Figueiredo passou por um processo semelhante: na área de formação, descobriu que gostava mais da parte comercial, marketing e vendas, do que processos técnicos. Trabalhou em posições de liderança e percebeu que o que queria fazer era ajudar outros executivos a “encontrarem seus caminhos”. “Esse processo culminou com o convite de trabalhar na consultoria. Pensei durante seis meses e decidi aceitar esse novo mundo”, conta ele, que cursou Psicologia em paralelo, para conhecer o meio “profundamente”. Certificado em coaching pela Columbia Uni-versity, ele conversou com a Gazeta do Povo sobre mundo corporativo, emprego e qualificação:
Divulgação
Presidente no Brasil da consultoria Lee Hecht Harrison, José Augusto Figueiredo salienta que comportamento afeta o desenvolvimento de lideranças em empresas
José Augusto Figueiredo trabalhou em grandes corporações e hoje ajuda executivos a pensarem suas carreiras.
O coaching é fundamental no desenvolvimento do autoconhecimento, o que te ajuda a compreender determinadas ações. Se você é um líder, seu comportamento impacta outras pessoas. E o desenvolvimento de liderança é um problema nas empresas, seja um jovem com potencial ou um CEOexperiente.” 40
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As lideranças das empresas são compostas por perfis heterogêneos, e essas diferenças se agravam em um ambiente competitivo. O clima não fica bom. Geralmente, por mais que o presidente da empresa peça para a equipe discutir a relação, os diretores não querem e fogem, alguns acham que é besteira. Nessas horas, o papel da consultoria é desenhar e entregar uma solução para esses problemas.” Para quem está pensando em um processo de coaching: o que é e qual é o melhor momento de procurar? O coaching é um processo de desenvolvimento que você conta com um profissional para te ajudar a ver outras perspectivas e tirar o melhor de você. O coaching libera seu potencial. Pode ser feito em qualquer momento da vida, não há um ideal, mas sim, quando a pessoa está mais exposta. E é fundamental no desenvolvimento do autoconhecimento, o que te ajuda a compreender determinadas condutas. Caso você seja um líder, seu comportamento impacta outras pessoas.
Há demandas e problemas mais recorrentes nas companhias que procuram o seu serviço? As empresas nos contratam para trazer soluções. Cada caso é um caso, cada líder tem uma demanda no detalhe, e todas são fruto de percepções internas ao redor deles. Somos chamados e ampliamos o diagnóstico. Definitivamente, o problema mais recorrente é o desenvolvimento de liderança, seja para um jovem com potencial ou para um CEO experiente. As empresas não têm mapeado potenciais sucessores, e descobre isso quando um importante colaborador anuncia a aposentadoria.
O sr. foi executivo em grandes corporações. Que erros os profissionais mais cometem
no ambiente de trabalho? São muitos. Talvez os mais graves sejam: arrogância em achar que sabe quase tudo, não ouvir as pessoas ao seu redor, não se colocar empaticamente nos sapatos dos outros, negligenciar as emoções, ignorar a cultura da empresa. Outro erro que leva o profissional a não evoluir, e que depende dele, é a falta de autoconhecimento. Achar que é uma coisa e agir nessa premissa, quando na verdade todos estão vendo outra coisa.
Estamos em um momento bastante complicado no mercado de trabalho. Quais são os seus conselhos para conseguir uma nova vaga? Entre vários, recomendo: ter foco naquilo que ele realmente pode contribuir e buscar identificar empresas que precisam dele. Bater na porta e conversar sobre as necessidades da empresa. Ou seja: não atuar com um candidato a uma vaga, e sim um provedor de serviços que olha as empresas como potenciais clientes.
Muitas pessoas que são demitidas empreendem. É uma boa saída? Quando se está desempregado, precisando gerar o sustento, qualquer forma de trabalho (ético) é digna. Entretanto é preciso avaliar bastante se você está diante de uma necessidade pontual ou se você realmente tem um projeto ou um sonho. Existem muitas desilusões em empreendimentos por
falta de conhecimento do empreendedor.
Uma alegação recorrente do mercado é que, no Brasil, ainda é difícil achar um profissonal qualificado. Isso é verdade? É sim. Temos muitos profissionais desqualificados para a complexidade que nossos negócios e empresas vivem. Em um momento recessivo, é difícil identificar quais seriam essas faltas, mas, quando o mercado se aquece, faltam profissionais como engenheiros, tributaristas, técnicos na indústria de petróleo, motoristas de carga de grande porte, entre outros.
Para ser um profissional qualificado e requisitado: o que é necessário fazer? Ele precisa saber para quê ele quer se qualificar. Se é realmente conhecimento que busca. Se for habilidades, talvez uma atividade on the job (processo de ações práticas realizadas em uma empresa) com um mentor pode ser melhor e mais efetivo. Num curso também se desenvolve muito networking com pessoas diferentes e interessantes. Talvez, o mais importante é compreender que o comportamento e determinadas atitudes é que são decisivos numa carreira. Um bom curso te coloca no jogo, mas não joga para você.
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[campo
Agronegócio é terreno fértil para carreira Setor cresceu 3% em 2016 e responde por 22% do PIB. Profissionais de diversas áreas, que vão do Direito ao Turismo, podem conseguir boas experiências no ramo. E sem sair das grandes cidades
Cursos
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:: Em tempos de crise econômica, quem busca especialização pode mirar um setor que está “salvando a lavoura” no Brasil: o agronegócio. Com crescimento estimado de 3% em 2016 pela Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), o agronegócio responde por 22% do PIB. E as oportunidades para atuar no segmento abrangem várias áreas profissionais, como Direito, Turismo e Economia – afinal, grande parte do trabalho acontece fora das fazendas. “A produção envolve a transformação de produtos e demanda infraestrutura para
transporte, armazenagem, conceitos de economia e tecnologia da informação”, exemplifica Eugenio Stefanello, doutor em Economia Agrícola e coordenador do curso de Pós Graduação em Direto Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Stefanello identifica forte carência de determinados especialistas, sobretudo em economia rural. Por isso, economistas e contadores peritos no setor agro, e profissionais com formação em agrárias e especialização em economia encontram boas oportunidades. Karina Neves Gonçalves é um exemplo. Analista fiscal da cooperativa Frísia, ela destaca a importância
de conhecer o “outro lado da porteira”. “Para nós, contadores, não basta fechar balanços e números. Precisamos saber sobre a produção para passar segurança nas informações que produzimos”, enfatiza. A contabilista ingressou recentemente na pós-graduação em Inovação e Gestão Estratégica no Agronegócio, promovido pelas cooperativas Frísia e Castrolanda, em parceria com a Universidade Positivo (UP). Cerca de 50% das aulas são presenciais, em Carambeí. “A outra metade acontece em atividades expositivas nas fazendas, no porto, e em outros locais. Mais de 80% dos professores são executivos que atuam no mercado”, destaca o coordenador Giovani Ferreira, que
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Albari Rosa / Gazeta do Povo
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[campo
Felipe Rosa/Tribuna do Paraná.
também é gerente do Núcleo de Agronegócios da Gazeta do Povo. Cerca de cinco projetos da cooperativa surgiram por causa de trabalhos desenvolvidos para o curso (que está na quarta turma). “Incentivamos que, além de funcionários, produtores rurais participem”, conta o gerente de pessoas da Frísia, Walter Perpetuo Ribas.
setor amplo
A evolução dos “cursos agro” é natural, acredita Ferreira, pelo avanço do negócio no país. “O Brasil praticamente dobrou a produção na última década, o que torna o mercado dinâmico. Particularmente, o Paraná é o estado mais agroindustrial do país, com um forte diferencial logístico: seus portos”, opina. Neste sentido, ele destaca a importância de especialistas em infraestrutura, como em transportes, para o mercado agrário. Como todo o trabalho de produção é multidisciplinar, muitos acabam “se encontrando” nesse meio. “E sequer precisam sair dos grandes centros urbanos”, aponta Ferreira. Tanto ele quanto Stefanello reforçam que cooperativas e empresas rurais têm forte demanda por profissionais de tecnologia da informação para automatizar processos e aumentar a produtividade. Advogados também podem impulsionar a carreira no setor pelo Direito Ambiental, com conhecimento em licença ambiental, leis hidrográficas e florestais para o uso de terras.
turismo
Outra ótima oportunidade para quem deseja trabalhar no setor do agronegócio é a exploração do turismo rural. “Já ouvi reclamações que falta gente especializada no campo. Inclusive, nos cursos relacionados ao agronegócio não há esse ensino [de turismo]”, diz o professor Stefanello, destacando que tanto turismólogos quanto pessoas que já vivem e trabalham no meio agrícola podem se especializar nessa vertente.
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Agronegócio avança mesmo na crise econômica, e cresceu cerca de 3% em 2016.
215 milhões É o número de toneladas que a safra de grãos 2016/17 deve alcançar no Brasil, segundo previsão da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) – com destaque para o milho e a soja. O Paraná está entre os maiores produtores de grãos do país, com cerca de 11% da produção nacional, segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
22% É a participação do agronegócio no PIB brasileiro, segundo a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). Em 2016, o setor avançou 3%, e deve continuar na mesma tendência neste ano.
Divulgação/UP
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Frísia e Castrolanda promovem aulas de especialização dentro da cooperativa, e incentivam a participação de funcionários e produtores rurais.
Especialização é essencial para trabalhar no ramo ::: A capacidade produtiva e a expansão brasileira no mercado internacional também incentiva a agricultura familiar, sendo que uma especialização auxilia no processo de sucessão no campo, indica o coordenador da PósGraduação em Inovação e Gestão Estratégica no Agronegócio da Universidade Positivo (UP), Giovani Ferreira. E também fomenta novos negócios, favorecendo o empreendedorismo. Neste quesito, entre as universidades públicas, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) se destaca. A UEM é a única paranaense no ranking das universidades mais empreendedoras do Brasil, elaborado pela Confederação Brasileira de Empresas Juniores – reconhecimento em parte ligado ao bom trabalho do Centro de Ciências Agrárias. “A maioria dos nossos professores tem projetos desenvolvidos em parceria
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Guia Pós-graduação 2017
GAZETA DO POVO
com cooperativas, propriedades de agricultores e institutos de pesquisa”, relata Antônio Carlos Saraiva da Costa, coordenador da pós em Agronomia da universidade. Da universidade, já saíram herbicidas utilizados em estados e países que comportam a Bacia do Paraná – região geológica que vai do triângulo mineiro ao Uruguai, passando por Paraguai e Argentina. “Como resultado, o estudante acaba desenvolvendo novas soluções para o mercado ou é contratado por cooperativas e empresas”, afirma Saraiva. De acordo com Saraiva, a profissionalização da área no Paraná é maior. “Exportamos agrônomos para o Brasil inteiro”, frisa. Uma prova desse prestígio são os cursos de graduação em Agronomia da UEM e da UEL (Universidade Estadual de Londrina): 7º e 10º lugares no Ranking Universitário Folha 2016. Outro diferencial, lembra Saraiva, está no mercado de trabalho: as cooperativas agropecuárias Coamo e Cocamar, por exemplo,
estão entre os 200 maiores grupos empresariais do Brasil.
Indispensável
Se habilitar é essencial para avançar no setor agro, salienta o gerente de pessoas da Frísia, Walter Perpetuo Ribas. “O mínimo que qualquer profissional precisa para fazer carreira é apresentar uma titulação de agronegócios, como uma pós-graduação. Se dois candidatos empatarem no processo seletivo, a pós sempre vai ser o diferencial, já que a empresa não precisará dispender tempo nem recursos para ensinar”, fala. Fora que os cursos auxiliam nas especificidades do segmento. “O profissional que ainda não está neste meio não entende como funciona troca de insumos por grãos, ou o funcionamento de bolsas como a de Chicago [que trabalha com operações ligadas ao agronegócio]”, exemplifica o coordenador de gestão de pessoas da Castrolanda, Amilton Pires.