EspEcial sHoW rural
FEVEREIRO DE 2015
camPo dEsafia a tecnologia
Show Rural cresce e seleciona expositores
Em uma década, produtividade das lavouras de soja tem potencial para alcançar 4 mil quilos por hectare
2015: pressão sobre grãos e impulso na pecuária
[editorial um ciclo de superação
d
epois de uma década de ouro, período em que a produção ganhou área, renovou seu parque de máquinas e conquistou mercados, surgem novos desafios à agricultura globalizada. Com uma oferta pra lá de confortável e uma demanda que está cada vez mais longe de estabelecer um equilíbrio entre esses dois fundamentos, o impacto nos preços das principais commodities agrícolas ganha intensidade. Por questões bastante particulares do setor, ou então pela condição macroeconômica mundial, o fato é que 2015 estabelece um novo ciclo ao agronegócio. Um ciclo que não é de todo ruim, porque, apesar do cenário não muito otimista ao mercado de grãos, a pecuária chega com tudo e segue o caminho inverso da agricultura. Com tendências de alta na produção e no consumo, a proteína animal anuncia o ano da carne no Brasil. De qualquer forma, na agricultura ou na pecuária, a palavra de ordem é superação, em busca de eficiência e competitividade. O diferencial, agora como condição, será definido no manejo, na tecnologia e na gestão. A criação de um ambiente cada vez mais sustentável é que vai definir o futuro do negócio. E na revista de hoje, a primeira de seis publicações que serão editadas neste ano, o Agronegócio Gazeta do Povo mostra um pouco do que o setor tem feito e como tem se preparado para esse novo ciclo. Uma estratégia que passa pela meta de elevar a produtividade da soja e do milho, ampliar o mercado das carnes e, é claro, pelo Show Rural, a motivação primeira desta revista e também a maior vitrine de tecnologia agrícola a céu aberto do país.
[índice
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COOPAVEL EM 2015 Cooperativa busca elevar lucro em proporção maior que a da renda bruta e mantém ritmo de investimentos
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SOBE-DESCE NA RENDA Valor Bruto da Produção da agricultura sobe, mas arrecadação do produtor por tonelada de soja está em queda
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DEMANDA NO COMANDO Agricultura global acumula safras recordes de milho, soja e trigo e o consumo passa a ditar novo patamar de lucratividade
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LENTIDÃO NO MERCADO As vendas da safra de soja ainda não acompanham o ritmo das colheitadeiras, nem o compasso do plantio de milho
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BRAÇOS DE FERRO Entram em
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EXPEDIÇÃO SAFRA Técnicos
operação dois novos shiploaders em Paranaguá, que prometem acelerar o carregamento dos navios
Boa Leitura!
Giovani Ferreira Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo. giovanif@grpcom.com.br
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AGRONegócio – especial Show Rural Fevereiro de 2015
e jornalistas percorrem nas próximas duas semanas os estados do PR, SP, MS, MT e RO
[destaques Jonathan Campos /Gazeta do Povo
8 Hugo Harada/Gazeta do Povo
SHOW RURAL SELETIVO Feira da Coopavel amplia número de estandes e faz seleção de expositores para garantir perfil técnico do evento
CONFIRA O MAPA sHoW ru ral
PECUÁRIA REVIGORADA O suíno, o frango e principalmente o boi registram altas que fazem de 2015 um ano de investimento na produção de carne.
Arquivo /Gazeta do Povo
pÁg.12
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ESCALADA DA SOJA Dentro de dez anos, produtividade média de estados como o Paraná pode atingir pico de 4 mil quilos por hectare e inaugurar uma nova era no cultivo da oleaginosa
ExpEdiEntE A revista Agronegócio Gazeta do Povo é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Editor Executivo: Giovani Ferreira. Edição: José Rocker. Editor Executivo de Imagem: Marcos Tavares. Editores de Arte: Acir Nadolny e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole. Diagramação: Rodrigo Montanari Bento. Tratamento de Imagem: Edilson de Freitas e Mauro Cichon. Capa: Jonathan Campos. Redação: (41) 3321-5050. Fax: (41) 3321-5472. Comercial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: agro@gazetadopovo.com.br Site: www.agrogp.com.br Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente. Impressão e acabamento: Gráfica Editora Posigraf.
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[notas :: A tendência de retomada na exportação de soja no Paraná – após quebra de 2 milhões de toneladas registrada um ano atrás – sustenta previsão de que haverá um salto na movimentação de granéis no Porto de Paranaguá em 2015. No último ano o embarque da oleaginosa se limitou a 6,8 milhões de toneladas e agora pode se aproximar de 9 milhões. Considerando embarques e desembarques, a administração do porto planeja movimentar 26 milhões de toneladas de granéis, 5 milhões a mais do que em 2014. Não se trata apenas de crescimento na demanda, mas de reflexo de medidas como troca de shiploaders, dragagem do canal de acesso e redução da fila de navios.
Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Paranaguá quer movimentar 5 milhões de toneladas extras
Volume de granéis embarcado e desembarcado tende a passar para 26 milhões de t.
Começa discussão sobre o próximo Plano Agrícola e Pecuário
:: Os ataques severos da Helicoverpa armigera, registrados duas safras atrás, levaram o agronegócio a revalidar o controle biológico de pragas e o monitoramento constante das lavouras em 2014/15, mecanismos reforçados nesta temporada. Os sistemas que vêm sendo desenvolvidos e discutidos pelos pesquisadores e produtores tornam-se atração nas feiras agrícolas e estarão em estandes de instituições públicas e privadas no Show Rural, em Cascavel, nesta semana. Mesmo com perdas relativamente controladas, a preocupação permanece e, em estados como o Piauí, o quadro ainda é considero emergencial. Produtores vigiam os campos semanalmente. Ataques preocupam setor há duas safras.
:: Os cortes de gastos anunciados pelo
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Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
Em tempo de Helicoverpa, a ordem é vigiar a lavoura
governo federal deram início às discussões sobre o orçamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) de 2015/16. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento perdeu R$ 47,5 milhões para despesas mensais, mas promete evitar cortes na oferta de crédito para custeio e investimento. A nova titular da pasta, Kátia Abreu, busca argumentos para manter o volume de recursos – que somam R$ 156 bilhões em 2014/15. Somente em janeiro, com os gastos da safra de verão consolidados e a apenas cinco meses do fim do ciclo, é que a distribuição de recursos chegou à metade do valor disponibilizado. A demanda por crédito será medida após a “safra” dos financiamentos de máquinas e armazéns – que segue até junho – e o custeio da safra de inverno.
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show rural 2015
Em nome da produtividade Feira da Coopavel – de 2 a 6 de fevereiro – faz seleção de expositores para manter perfil de evento tecnológico
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Visitante precisa de dois a três dias para conferir novidades da 27ª edição do evento.
:: Quando um frequentador assíduo do Show Rural – feira agrícola e tecnológica da cooperativa Coopavel que deve atrair 220 mil visitações nesta semana (do dia 2 ao dia 6) em Cascavel – explica por que sempre volta ao evento, invariavelmente relata seu interesse por uma vitrine tecnológica. Os produtores dizem não estar a passeio, mas à procura de informações que possam elevar produtividade, limitar custos, facilitar serviços. Para não perder pontos nesse sentido, os organizadores exercem controle sobre a expansão da feira, que passa pela seleção de expositores. Neste ano, o evento conta com 480 expositores, 40 a mais que o total de 2014. Mesmo assim, outras 100 empresas ficam de fora, conforme a Coopavel. O presidente da cooperativa e do Show Rural, Dilvo Grolli, afirma que não se trata de impor barreira a novos expositores – e dar privilégio às empresas tradicionais. “É até obrigação abrir espaços para as empresas que trazem novidades”, aponta. Por outro lado, diz ser “preciso fazer uma triagem”. A saída tem sido ponderar a situação. “O número de interessados é sempre maior que o espaço ofertado. Mas, não se pode ter quantidade excessiva de empresas [multiplicando os estandes] até para não prejudicar os visitantes”, acrescenta. A intenção é permitir que, em dois ou três dias, cada frequentador possa percorrer todo o espaço do evento. Se depender desse critério, a expansão será gradual. O Show Rural só deve abrir espaço para exposição de tecnologias diretamente relacionadas aos avanços na produção. Agricultores como Erwin Soliva esperam uma feira objetiva, de resultados. “Quem planta mal, fica fora do mercado”, sentencia. Ele cultiva soja e milho em 300 hectares da Fazenda Jangada, em Cascavel. Frequentador do Show Rural há 15 anos, diz ter aprendido que “tecnologia eleva custo, mas proporciona rentabilidade sobre o que é investido”. E contabiliza avanços: 30% de ganho em produtividade e 40% de avanço na renda das princi-
pais culturas no período. Soliva relata que, no início dessa escalada, não era fácil chegar perto de 3 mil quilos de soja por hectare. “Hoje a expectativa já é de 200 sacas por alqueire [83 sacas ou 4,96 mil kg/ ha]. E esta é a minha meta.” Na última safra, colheu 3,84 kg/ha de soja. A produtividade média do milho safrinha ficou em 8 mil kg/ha e a do trigo em 3,1 mil kg/ha. “O ‘Show’ ajuda muito, porque expõe resultados de pesquisas, como variedades de sementes mais produtivas, resistentes a doenças e de diferentes ciclos, e agroquímicos mais eficientes contra pragas”, opina. O Show Rural chega aos 27 anos, incluindo seis anos de Dia de Campo. Soliva relata que, todo ano, encontra novidades. Ele atribui essa vantagem à “seleção das empresas”. Em sua avaliação, os expositores selecionados entendem a praticidade necessária à agricultura. “Ninguém está ali para fazer gracinha, mas para expor tecnologia e know-how”, avalia. O público esperado no 27.º Show Rural Coopavel é 5% maior que o de 210 mil visitações registrado em 2014. Além dos 480 expositores, estão incluídas na área de 72 hectares, às margens da BR 277, 5 mil parcelas experimentais. Para amenizar o calor do sol, a feira tem 5,53 mil metros quadrados de ruas cobertas. Trabalham no evento 4.120 pessoas, além dos 1.080 funcionários e contratados da cooperativa. A entrada e o estacionamento (com 12 mil vagas) seguem gratuitos.
6 sacas de soja a mais por hectare são colhidos na região de abrangência do Show Rural, na comparação com os índices de uma década atrás. Apesar de ter enfrentado duas quebras no período, Oeste é líder em produtividade no estado e tem contato com novas tecnologias por meio da feira.
220 mil visitações são esperadas no 27º Show Rural Coopavel, público 5% maior que o do ano passado. O número de expositores foi elevado em 9%, para 480, com redistribuição de espaços. Os principais fabricantes e empresas de pesquisa que atuam no país estão confirmados (veja mapa na página 12).
Fotos: Hugo Harada/ Gazeta do Povo
síLvIo oRICoLLI, espeCIaL paRa a Gazeta Do povo
Milho atinge 10 mil kg no verão e 5,6 mil kg por hectare no inverno na região.
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lançamentos A revista Agronegócio Especial Show Rural pediu a marcas líderes que apontassem o que estão trazendo de novidade ao evento. Confira apostas das indústrias para 2015.
Plantadeira de precisão Líder no segmento de colheitadeiras – vendeu 2.549 unidades em 2014 –, a John Deere lança no Show Rural a plantadeira DB40, da Série 2100, com inovações – Sistema de Transmissão Variável e RowCommand – que prometem aumento de produtividade operacional. A precisão na distribuição das sementes evita, por exemplo, desperdício do insumo.
Leve e forte A New Holland aumenta o seu portfólio de implementos com o lançamento, no Show Rural, da carregadeira agrícola montada no trator TL plataformado, com capacidade para até 1.900 kg e que pode atingir até 3,85 metros de altura. Por ser de estrutura leve, o produto exige menos esforço do trator. Em 2014, a empresa vendeu 10.031 tratores.
Aumento da família A Massey Ferguson lança nova série de tratores MF 6700R Dyna-4 (MF 6711R, MF 6712R e MF 6713R), equipados com motores AGCO POWER Turbo de quatro cilindros com 112 cv, 122 cv e 132 cv, dependendo do modelo, assegurando desempenho, eficiência, produtividade e economia de combustível. A marca lidera o setor de tratores.
Com pedigree Projetada para ser a melhor máquina axial da classe 7 já fabricada no Brasil e inspirada na colheitadeira BC8800, a BC7800, da Valtra, chega ao mercado, a partir do Show Rural, com capacidade média de até 550 sacas (33.000 kg) de soja por hora. Itens inovadores e exclusivos a destacam entre as máquinas desta categoria.
Embrapa debate contribuição do solo para o trigo
Iapar tem três novas variedades de feijão
Dois temas serão discutidos por iniciativa da Embrapa Trigo no Show Rural:
Três cultivares de feijão carioca do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – batiza-
qualidade do cereal e conservação do solo. Os especialistas vão analisar o clima
das de Curió, Bem-te-vi e Quero-quero – chegam o mercado no Show Rural. Elas têm
e a quebra de mais de 1 milhão de toneladas registrada no último ano no
indicação para Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso
Rio Grande do Sul e descrever a importância de práticas como rotação de culturas,
do Sul e prometem mais resistência ante estiagens. Outra vantagem é que as plantas
plantio direto, terraceamento. A “intolerância” do consumidor à presença
se desenvolvem bem em solos ácidos e com baixa disponibilidade de fósforo, confor-
de glúten nos alimentos também será abordada no estande.
me a pesquisadora Vania Moda-Cirino.
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Entrevista
O presidente da Coopavel e do Show Rural, Dilvo Grolli, conta que, apesar da pressão sobre as cotações da soja, a cooperativa prevê faturamento crescente e deve elevar investimento em proporção ainda maior
Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Investimento sem pausa chegar a R$ 54 milhões, crescendo mais de 13% na comparação com os R$ 47,5 milhões esperados para o exercício anterior.
vale a pena destinar r$ 6 milhões à realização do show rural? Um dos princípios do cooperativismo é a valorização das pessoas. A cooperativa é uma empresa baseada em valores que visam à eficiência e competitividade, ao mesmo tempo em que tem de preparar e orientar o associado para o futuro. Por isso, tem um papel diferente de uma cerealista ou de uma distribuidora de insumos, por exemplo, que busca elevar as vendas e obter lucros maiores. Uma cooperativa pensa também no cooperado. E o Show Rural se encaixa nesse esforço de preparação para o futuro dos nossos associados.
a expectativa é de queda no valor dos negócios que surgem a partir do evento? por SÍLVIO ORICOLLI, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO :: Às vésperas de receber milhares de visitantes no Show Rural, a Coopavel difunde avaliação de que, mesmo com as limitações da cotação da soja, o ano será de negócios. O presidente da cooperativa e responsável pelo evento, Dilvo Grolli, relata que essa prospecção vai além da tentativa de empolgar os participantes da feira. Imersa num cenário de crescimento na oferta global de grãos, a empresa pretende elevar investimentos em 10% e busca ampliar os lucros em 2015. Leia os principais trechos da entrevista:
a coopavel vai conseguir elevar investimentos neste ano? Em 2014, investimos R$ 90 milhões em projetos de ampliação e recepção, secagem e armazenamento de grãos, na construção de unidades, na área de produção de ovos férteis e na ampliação e melhoria nas agroindústrias. Para este ano, estão previstos R$ 100 milhões nesses mesmos setores. O faturamento da Coopavel deve chegar a R$ 1,8 bilhão, perto de 10% sobre a receita de R$ 1,64 bilhão de 2014. E o resultado líquido deste ano deve
A expectativa é movimentar R$ 1,8 bilhão [em negócios envolvendo os expositores] no Show Rural deste ano, ou seja, uma queda de 10% na comparação com os R$ 2 bilhões comercializados em 2014. Contribuirão para isso a situação econômica do país e também a renovação expressiva do parque de máquinas nos últimos dois anos.
como será o ano para o setor de grãos? Vejo um quadro de preço menor para a soja, ante um patamar bom de comparação firmando nos últimos anos. Os estoques estão sendo elevados. No caso do milho, a produção cai um pouco num momento em que os estoques estão em nível confortável. E no trigo a produção mundial deve ser equilibrada. A pressão sobre os preços é maior na soja, tem força diferente para cada produto.
como as tecnologias podem ajudar nas contas? Nos próximos 15 anos, 80% das necessidades de alimentos do mundo serão atendidas pelo incremento da produtividade nas áreas existentes. Por trás disso está o avanço da tecnologia em busca do aumento do volume produzido por área e do surgimento de mais alternativas econômicas, que contribuirão para viabilizar a propriedade e, consequentemente, elevar a renda do produtor. GAZETA DO POVO
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2 a 6 de fevereiro
480 5 mil 4 mil 220 mil
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produtividade
Jonathan Campos / Gazeta do Povo
4 mil quilos 14
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Hugo Harada/Gazeta do Povo
Colheita estimada em 96 milhões de toneladas em 2014/15 pode ser 30% maior com avanço de 1 mil quilos por hectare na produtividade, sem ampliação da área.
por hectare com respaldo em tecnologia refinada, soja promete atingir novo patamar de produtividade dentro de uma década
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produtividade CaRLos GuImaRães FILho :: Mesmo que reduza o ritmo de expansão das lavouras, o Brasil tende a colher consecutivas safras recordes de soja. A tendência surge das estatísticas que apontam que, dentro de uma década, estados como o Paraná e Mato Grosso, devem atingir pico de 4 mil quilos por hectare. Se todo o país atingisse essa média, com a área atual, a safra passaria de 96 milhões para 124 milhões de toneladas. O agronegócio tem apostado em pacotes tecnológicos que levam a um crescimento contínuo da colheita – sementes adaptadas, manejo rigoroso, solo recomposto, máquinas modernas. Mesmo com custo maior, essa estratégia promete resultados melhores aos produtores e configura o que vem sendo chamado de “escalada da produtividade”. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade nacional na soja cresceu 25% nos últimos dez anos. A média Brasil de 2.419 quilos por hectare registrada na safra 2005/06 deve saltar para 3.033 quilos/ha na atual temporada (previsão). Considerando a taxa média anual de crescimento do país neste período (2,3%), mesmo com as quebras do período, a produtividade média de 4 mil quilos por hectare pode ser atingida em 13 safras. No Paraná, o processo deve ser mais acelerado. Aplicando a taxa anual de crescimento da produtividade registrada nos últimos dez anos (3,2%, de 2005/06 até 2014/15, incluindo anos de quebra), os 4 mil quilos por hectare podem ser atingidos em apenas seis temporadas. Isso não significa que o estado não voltará a marcas de 2 mil ou 3 mil quilos por hectare em anos de quebra, mas estabelece uma nova meta para o setor. O prazo sobe para nove temporadas quando o cálculo compara a safra atual com a média das três temporadas entre 2002 e 2005. Com esta fórmula, os técnicos evitam tomar como base de comparação somente 2004/05, que foi de quebra. Ainda assim, o crescimento é de mais de uma saca por hectare ao
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ano (69 kg). No caso de Mato Grosso, maior produtor nacional, os 4 mil quilos por hectare devem ser atingidos antes de o número se tornar média nacional. Nesta safra, MT espera mais de 3,1 mil kg/ha, enquanto o país tenta ultrapassar os 3 mil kg/ha – e retomar a linha de crescimento interrompida há três temporadas, em 2010/11.
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69 quilos de soja (1,1 saca) a mais por hectare ao ano são colhidos no Paraná, que tem atingido picos de produtividade e busca ultrapassar a marca de 3,3 mil kg/ha em 2014/15 – como aconteceu em 2010/11 e 2012/13.
Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Tecnologia contida nas sementes , que amplia o interesse do produtor, evolui no controle de pragas e na reação ao estresse hídrico.
Setor persegue aumento na rentabilidade :: As tecnologias disponíveis têm potencial para 4 mil quilos por hectare de soja, mostram picos de mais de 5 mil quilos alcançados em fazendas que são modelos de produção. No entanto, as inovações se difundem somente quando os produtores constatam chance de elevar renda e garantir sustentabilidade financeira à agricultura. “Com os novos avanços em genética e no sistema de produção, é possível manter crescimento de uma saca e meia por hectare a cada temporada”, aponta o assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) Robson Mafioletti. “Mas o incremento na produtividade tem que vir com sustentabilidade. De nada adianta aumentar a quantidade de grãos por hectare se isso significar custos de produção cada vez maiores. O resultado final tem que trazer ganho financeiro para o produtor”, detalha.
Para o pesquisador da Embrapa Soja Amélio Dall’Agnol, esse avanço na produtividade está relacionado à evolução de diversos fatores. “O refinamento no uso de pacotes tecnológicos mudou a forma de se fazer agricultura”, observa. Ele destaca tratar-se de uma série de mudanças, que funcionam em conjunto. “Se pegarmos a [semente de] soja de trinta anos atrás e adotarmos o manejo de hoje, é capaz de render como há três décadas”, supõe. Dentre as novidades disponíveis no mercado, as variedades de sementes mais resistentes a estresses hídricos estão no topo do ranking de interesse dos produtores, conforme os especialistas. Isso por que o clima tem se mostrado indefinido nas últimas temporadas, com quebras em importantes regiões produtoras do país, como Paraná e Mato Grosso. “As condições climáticas adversas dificultam cada vez mais as previsões do clima. Como isso influencia muito a safra, sementes resistentes à seca dão segurança aos produtores”, aponta Orley Jair Lopes, engenheiro agrônomo e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR). (CGF)
“O refinamento no uso de pacotes tecnológicos mudou a forma de se fazer agricultura. A semente, sozinha, não garante safra maior. A soja de trinta anos atrás [com o] manejo de hoje, é capaz de render como há três décadas.” amélio dall’agnol, pesquisador da Embrapa.
“O incremento na produtividade tem que vir com sustentabilidade. De nada adianta aumentar a quantidade de grãos por hectare se isso significar custos de produção cada vez maiores.” robson mafioletti, assessor técnico-econômico da Ocepar.
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produtividade
Linha de frente
Uma parcela do agronegócio nacional já tem produtividade média acima dos 4 mil quilos por hectare de soja. Esse “grupo de elite” é composto por produtores que investem regularmente em novas tecnologias e pode ultrapassar 5 mil quilos por hectare nas próximas temporadas. Como o interesse por novas máquinas agrícolas, sementes e fertilizantes deve continuar intenso a cada safra, a produtividade tende a crescer continuamente. O Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), por exemplo, propõe como meta para o setor fazer com que 10% da área plantada no país (o equivalente a 3 milhões de hectares) produzam entre 4 mil e 5,5 mil quilos por hectare até 2020. Há produtores muito perto desses resultados. Em Corbélia, região Oeste do Paraná, Marcos Roberto Forte conta nunca ter deixado de investir em insumos, mesmo em temporadas com quebra. Essa regra teria colocado sua propriedade em destaque, entre as cinco mais produtivas do estado, conforme o Cesb. Na safra 2014/15, ele plantou apenas soja nos 1,2 mil hectares de sua propriedade. Com o bom andamento do clima, a expectativa é colher, em média, 4,2 mil quilos por hectare. Há cinco anos, a produtividade era de 3 mil quilos – atual média estadual –, relata. “Invisto no conjunto completo, desde máquinas, variedades e fertilização. Para a próxima temporada já estou programando corrigir o solo e buscar novas sementes”, acrescenta. (CGF)
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Cesar Machado/Gazeta do Povo
“Grupo de elite” já passou meta da soja
Marcos Roberto Forte, de Corbélia, atingiu média estadual do Paraná com cinco anos antes.
novo padrão
Milho abandona a baixa tecnologia O milho avança mais que asoja em produtividade no Brasil. A explicação para os saltos anuais vem da eliminação gradual da baixa tecnologia. Até poucos anos atrás, mesmo áreas rudimentares serviam para rotação de cultura com a soja e redução de problemas como ervas daninhas e doenças. “Antes era produção de Jeca Tatu, com plantio fora de época e sem uso de semente [selecionada]. Quando se usava, não era híbrida”, pontua o pesquisador da Embrapa Soja Amélio Dall’Agnol. Os produtores começaram a usar mecanismos já adotados na oleaginosa como agricultura de precisão, sementes registradas, máquinas modernas. E os centros de produção mais tecnificados continuaram avançando. A região de Guarapuava, no centro
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do Paraná, ultrapassa 12 mil quilos por hectare, equiparando-se ao Corn Belt dos Estados Unidos, referência mundial em produtividade. “As tecnologias no milho avançaram muito rápido nos últimos dez anos. Isso gerou um crescimento exponencial. Hoje o produtor quer um ganho semelhante ao de outras culturas”, destaca Orley Jair Lopes, agrônomo e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR). A meta do Brasil é alcançar o resultado das lavouras norte-americanas, de 10 mil quilos por hectare. Para tanto, precisa dobrar seu desempenho. Isso já aconteceu na soja e não é impossível, mesmo que exija tempo e mais profissionalização, diz o gerente econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar),
Jonathan Campos/Gazeta do Povo
renda em 2015
Produtor precisa reduzir custos para manter renda líquida, apontam as contas de 2015.
VBP encobre desvalorização da soja Com previsão de colheita recorde, o estado e o país devem faturar mais com a oleaginosa. No entanto, receita bruta por tonelada será 3,65% menor, assume o Ministério da Agricultura Da Redação :: O emaranhado de projeções sobre a renda do agronegócio em 2015 indica alta na arrecadação bruta do setor, mesmo no caso da soja, cujas cotações estão sob pressão no mercado internacional. A contradição deve-se ao fato de que o valor por tonelada cai, mas o crescimento na produção compensa esse recuo com folga, aponta o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O Paraná se tornou o caso mais expressivo dessa tendência de dupla face. Como a colheita está avançando de 14 milhões para 17 milhões de toneladas, as primeiras projeções do Valor Bruto da Produção (VBP) dizem que o setor produtivo vai arrecadar 12,3% mais com o grão, algo próximo dos R$ 16,2 bilhões. Porém, segundo o Mapa, a queda no valor por tonelada deve ser de 3,65%, de R$ 980 para R$ 945, em todo o país. Como não há alta expressiva nas cotações de outros grãos, a oleaginosa deve continuar representando
36,9 milhões
R$ 35 reais
de toneladas de grãos estão sendo produzidas no Paraná em 2014/15, volume 1 milhão acima do registrado na temporada passada. A projeção considera estabilidade na área do milho de inverno, além de recuperação com incremento na produção de soja, que deve passar de 17 milhões de toneladas depois de um ano de quebra climática. A oleaginosa deve responder por 45% do volume e 43% da renda da agricultura estadual em 2015.
a menos por tonelada devem ser arrecadados pelos produtores brasileiros de soja em 2015 na comparação com o ano passado. Essa conta é uma projeção do Ministério da Agricultura que considera o valor médio a ser praticado no ano (três quartos da produção ainda não foram vendidos). Trata-se de renda bruta, sem considerar variação nos custos de produção, que tendem a limitar a renda líquida da agricultura.
30% da renda da agricultura no país e cerca de 43% no estado. O VBP da agricultura do Paraná caiu 8,8% no Paraná e 1,8% no
Brasil, de acordo com os números oficiais. E a reação na renda da soja dão esperança de índice positivo em 2015.
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mercado global
Grãos buscam novo equilíbrio Descompasso entre oferta e demanda, que colocou os preços dos grãos em trajetória quase vertical na última década, está sendo vencido com sequência de safras recordes ao redor do globo em 2014/15
:: Após uma década de pujança para o agronegócio, em especial para o mercado de grãos, o setor entra em um período de transição no ciclo 2014/15. Num ano em que o mundo colhe, pela primeira vez, safras recordes de soja milho e trigo em uma mesma temporada, os preços dos três grãos mais negociados no globo derretem e lançam no mercado questões cruciais. Teria o superciclo de produção finalmente chegado ao fim? Seria o “milagre chinês”, que sustentou boa parte da escalada da soja, uma bolha prestes a estourar? Teria o mercado do etanol, que impulsionou os preços do milho e deflagrou o início do ciclo de alta dos grãos, atingido um platô? Analistas de Brasil e Estados Unidos consultados pela reportagem são unânimes ao afirmar: sim, os tempos são outros e a safra 2014/15 marca o ponto de inflexão. Mas o que se convencionou chamar de “o novo patamar de preços” não ficou para trás. “Acredito que no longo prazo o mercado vai continuar oscilando na mesma banda de variação em que vinha trabalhando nos últimos anos. Mas a história mostra que, dentro de um grande ciclo, as cotações podem passar períodos prolongados tanto na extremidade superior quanto no intervalo inferior dessa banda. E atualmente vivemos esta última situação”, explica
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GAZETA DO POVO
US$ 11 por bushel de soja e US$ 4,60 por bushel de milho é o preço médio projetado pela Universidade de Illinois para a “nova era dos grãos”. Valores são inferiores aos que o mercado trabalha atualmente na Bolsa de Chicago, mas bem acima da média histórica.
Darrel Good, economista da Universidade de Illinois (EUA) especializado no mercado de grãos. Nos últimos anos, o desequilíbrio entre oferta e demanda colocou os preços dos grãos em uma trajetória quase vertical (veja matéria na página ao lado). Mas a conjuntura fundamental altista começou a ruir em meados do ano passado, fazendo com que soja e milho perdessem perto de 40% de seu valor em dólar em um intervalo de poucos meses. Na comparação com os picos de 2012, a queda é de 38% na oleaginosa e de 60% no cereal. Para Good, trata-se do início de uma longa trajetória de queda nos preços, como a observada ao longo dos anos 80 e 90, mas ainda dentro de um superciclo de alta.
AGRONegócio – especial Show Rural Fevereiro de 2015
Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Luana Gomes
Com a melhora do clima no Brasil no final de janeiro, a ideia de uma produção recorde na América do Sul é latente – fato que, somado à colheita de uma supersafra nos EUA, tende a manter os preços sob pressão. Mas, num mercado em que a demanda é firme, safras recordes não resultam, necessariamente, em estoques recordes, considera Aedson Pereira, da Informa Economics FNP em São Paulo. Em seu estudo anual sobre as perspectivas para o agronegócio global, divulgado no final do ano passado, o banco holandês Rabobank observa que as reservas mundiais estão sendo recompostas, mas alerta que o momento ainda é de transição. O ano de 2015 será “interessante”, disse Stefan Vogel, chefe mundial da área de estudos de
Fundamentos macroeconômicos ampliam oscilações :: Colheitas recordes de soja, milho e
Estoques reduzem cotações mas não derrubam novo patamar de preços.
mercado agro da instituição. “Fatores macroeconômicos permanecem em jogo e os preços continuarão respondendo a oscilações no balanço de oferta e demanda, uma vez que os estoques da maioria das commodities ainda não estão nos níveis necessários para proporcionar uma margem de segurança suficiente”, detalhou às agências de notícias. Pereira explica que, numa conjuntura em que a produção mundial supera o consumo, o mercado fica bastante sensível a qualquer perturbação na demanda, respondendo com quedas ao menor sinal de desaceleração. Por outro lado, eventuais choques de oferta, como problemas climáticos ou reduções de plantio, teriam efeito contrário, elevando as cotações.
116 dias de consumo é o tempo que os estoques mundiais de soja poderão atender ao final da safra 2014/15– quase um mês a mais do que na temporada passada e o maior nível da história. No milho, reservas ao final do ciclo atual serão suficientes para suprir a demanda global por 71 dias – 5 dias a mais do que na safra anterior e o maior nível desde 2002/03, segundo o Usda.
trigo ao redor do globo em 2014 comprimiram os preços internacionais dos grãos a patamares que o mercado acreditava já ter vencido anos atrás. Em 2008, quando a soja rompeu a barreira dos US$ 16 e o bushel de milho alcançou US$ 7,50 na Bolsa de Chicago, muita gente ficou se perguntando se o mercado teria fôlego para superar os picos pré-crise econômica mundial. Mas o pouco provável aconteceu e, quatro anos depois, o cereal batia US$ 8,30 e a oleaginosa chegava perto de US$ 18 por bushel. O feito disseminou no mercado um sentimento de que as cotações haviam atingido um novo patamar e que as médias históricas (soja a US$ 6 e milho a US$ 2,50) haviam ficado definitivamente para trás. Os fundamentos pareciam sólidos. Programas de biocombustíveis que desviavam quase metade da safra de milho dos Estados Unidos para a produção de etanol e a crescente demanda de economias emergentes como China e Índia, combinados a uma série de frustações climáticas que reduziu a produção nas principais regiões produtoras de cereais do mundo, alçaram os preços a uma banda mais elevada. Em meados do ano passado, contudo, os fundamentos do mercado começaram a ser alterados– e a soja, até então oscilando de US$ 12,5 a US$ 16,30 por bushel, caiu rapidamente, chegando a romper os US$ 10 pela primeira vez em mais de quatro anos. O crescimento econômico das nações emergentes, que avançava em ritmo galopante até 2012, a uma média de 8% ao ano, desacelerou para cerca de 5%. No mundo desenvolvido, o Japão, maior importador de milho, entrou oficialmente em recessão em 2014. A zona do euro, perto de um quarto da economia global, escapou à recessão, mas cresce a taxas cada vez menores. A China, destino de 65% da soja comercializada no mundo, cresce a 7,5%, bem abaixo de taxas de dois dígitos. (LG) GAZETA DO POVO
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carnes
reviravolta na pecuária Produção de proteína animal atrai investimentos e promete boas margens ao produtor em 2015. Cenário rebate ano de pressão nas cotações agrícolas IGoR Castanho :: Se a queda nas cotações internacionais põe fim à lua-de-mel entre os agricultores e o mercado de soja e milho, a pecuária vive um ciclo inverso. Após enfrentar anos de retração – que resultaram no fechamento de empresas e na redução de planteis – o setor supera a instabilidade com custos controlados e equilíbrio de oferta e demanda. Com alta de dois dígitos em um ano nos preços, atividades como a suinocultura e a bovinocultura voltam a atrair investimentos e buscam uma retomada em 2015. O boi encara a situação mais privilegiada, após um longo período de perda de área para a soja. Desde a década passada, a pecuária reduz as
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pastagens e, no caso do Paraná, também os planteis, com abate de fêmeas. O ajuste gerou escassez e o valor da arroba atingiu cotação recorde, próxima de R$ 140 no estado. “Além do aperto na oferta, a exportação subiu muito no ano passado ampliando a pressão da demanda interna sobre os preços”, indica o zootecnista Paulo Rossi, coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura (LapBov), na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Considerando apenas os embarques da proteína não processada (in natura), 2014 gerou receita recorde de US$ 5,73 bilhões (7% a mais que no ano anterior). Como o apetite externo deve continuar intenso, as cotações vão se manter em um patamar elevado
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neste ano, aponta Aedson Pereira, analista de mercado da Informa Economics FNP. “O ciclo da pecuária é mais longo. Então, até reestruturar a oferta os preços deve continuar em alta”, explica. Os custos de reposição também aumentaram, então o ajuste vai levar tempo, salienta. Os preços da carne bovina chegaram a patamares históricos em 2014 e continuam em alta. O boi gordo subiu 13,5% ante a média do ano passado, conforme monitoramento do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral). A reação do setor produtivo, em busca de animais para engorda, aparece na elevação da cotação da arroba boi magro, que foi de 14,1% no mesmo período.
Cotação da arroba bovina cresce 13,5% sobre médias recordes registradas em 2014.
Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Cotações indicam que mercado quer volume e qualidade :: O quadro favorável à pecuária deixa os produtores otimistas. Em Candói (Centro-Sul do Paraná), o agropecuarista Gibran Araújo ainda tem na agricultura a principal fonte de renda, mas sente-se mais estimulado pelo resultado da pecuária. E interpreta a elevação das cotações como um indício de que o mercado quer não só volume, mas também qualidade. “A expectativa é de que o ano seja bom, pois a demanda está aquecida”, avalia. Ele aposta no início das opera-
ções do frigorífico da Cooperaliança, que pretende iniciar neste ano a produção de cortes nobres em Guarapuava, na mesma região, para alcançar o mercado de Curitiba. “Estamos ampliando o rebanho anualmente”, revela. A atuação em grupo busca estabilidade. “A cooperativa não nos deixa refém dos frigoríficos e garante uma boa remuneração”, acrescenta. O setor deve buscar ganho de produtividade, aponta o analista da
Informa Economics Aedson Pereira. A integração lavoura-pecuária vem crescendo, o que favorece uma retomada nas pastagens, considera. No Paraná, regiões como o Arenito Caiuá (Noroeste) vêm apostando nesse modelo para ampliar a rentabilidade no campo. A aposta é de longo prazo, mas tem potencial, destaca Paulo Rossi, especialista do LapBov. “A demanda global por carne é crescente, e o Brasil é o país que pode ampliar a produção”, frisa. (IC)
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novos mercados
Aves e suínos para o mundo Com custos controlados, altas pouco expressivas no valor das carnes passam a dar respaldo a investimentos de peso. Só duas novas plantas somam R$ 650 milhões
Igor Castanho
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Suínos rendem mais na exportação e no preço interno, perdendo apenas para os bovinos.
Giuliano Gomes / Gazeta do Povo
inferior à da bovinocultura, as cadeias de suínos e aves também registram crescimento. E reforçam investimentos mirando nova expansão em 2015. Representante dos dois setores, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, aponta que, “mesmo que repita as marcas de 2014, o ano de 2015 será positivo”. “Mas é possível ir além”, acrescenta. Ele avalia que a valorização do dólar e a abertura de novos mercados são fatores benéficos para as exportações, num momento em que o custo dos insumos permanece estável. Em real, o preço da soja caiu 5% e do milho subiu 10% no último ano no Paraná, equilibrando o valor da ração. Já o quilo do suíno vivo pago ao produtor subiu 3,5% e o do frango cresceu 2% no período, numa tendência que promete perdurar. A retomada tem atraído investimentos de cooperativas como o trio ABC, dos Campos Gerais (Castrolanda, Batavo e Capal). O grupo está injetando mais de R$ 200 milhões em uma Unidade Industrial de Carnes instalada em Castro (Campos Gerais), com capacidade para abate de 2,3 mil suínos por dia. “A meta é dobrar essa produção até 2019. Então, depois da inauguração vamos continuar investindo”, revela o superintendente da unidade, Ivonei Durigon. Batizada de Alegra Foods, a unidade lança nova marca das cooperativas holandesas, com foco no merca-
Josué Teixeira / Gazeta do Povo
:: Mesmo acumulando valorização
Frango acumula valorização de 2% no Paraná em um ano.
do interno e no exterior. “Percebemos que ou agregávamos valor à produção ou a suinocultura deixaria de ser rentável na região”, relata o executivo. No Oeste do Paraná, quem faz investimento semelhante é o grupo da Frimesa, comandado pelas cooperativas C.Vale (Palotina), Copacol (Cafelândia), Copagril (Marechal
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Cândido Rondon), Lar (Medianeira) e Primato (Toledo). Aplica R$ 450 milhões na construção de um frigorífico de suínos em Assis Chateaubriand (Oeste), com capacidade de abate de 7 mil animais por dia até 2022. A meta é realizar um aporte complementar de R$300 milhões e chegar a 14 mil animais abatidos por dia em 2030.
planejamento
Lavouras aceleradas, vendas retraídas Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Colheita de verão e plantio de inverno ganham ritmo, mas comercialização ainda segue compasso lento diante de cotações abaixo das expectativas Carlos Guimarães Filho :: As vendas antecipadas de soja no Paraná não estão acompanhando a velocidade das máquinas agrícolas que percorrem as lavouras. Cotações abaixo da expectativa de R$ 60 por saca fazem com que parte dos produtores segure o produto apostando na melhora dos preços ao longo da colheita que se estende até abril. Conforme a França Junior Consultoria, o Paraná comercializou apenas 16% da soja antes da colheita, que deve chegar a 17,2 milhões de toneladas de soja, de acordo com projeção da Expedição Safra Gazeta do Povo. O índice é sete pontos menor que o do ano anterior (23%) e seis pontos inferior à média das últimas cinco temporadas (22%). Tradicionalmente é a região Oeste (Cascavel e Toledo) que puxa as vendas, junto com Guarapuava. “As vendas deslancharam um pouco no final do ano passado por conta da melhora do câmbio. Isso trouxe a soja para níveis remuneradores e reanimou os produtores”, contextualiza o consultor Flávio de França Junior. Porém, nem mesmo uma nova alta no dólar deve ser suficiente para destravar as vendas de soja no estado em fevereiro. A safra recorde aliada aos estoques altos não devem permitir que o preço da oleaginosa melhore significativamente. Paralelamente, a colheita avança para um terço da área plantada. E abre espaço para o plantio de milho de inverno, que, apesar dos contratempos ligados à falta de chuva que se acumu-
Milho de inverno tende a ocupar mais de 1,8 milhão de hectares, como em 2014.
lam desde setembro, tende a ocupar área próxima da registrada em 2014, que foi de 1,88 milhão de hectares, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral). Caso os negócios continuem fracos, o Paraná pode enfrentar problemas pontuais com a armazenagem da safra. Atualmente o estado tem capacidade para abrigar 23 milhões de toneladas de grãos, para uma produção anual de grãos que passa de 35 milhões de toneladas. O setor considera que o ideal seria dobrar essa estrutura. “Além da soja, é preciso considerar que está entrando a safra e milho e existe o saldo de trigo e milho do inverno de 2014. Pode dar alguma embolada, mas nada generalizado”, diz França.
Milho As vendas antecipadas do milho de inverno ainda não têm índices precisos. Mas, diante de preços próximos de R$ 20 por saca, muitos produtores paranaenses estão preferindo comprometer o cereal do que a soja, em contratos de troca por insumos. De acordo com a técnica da Secretaria Estadual de Agricultura e Abaste-cimento (Seab) Juliana Yagushi, as cooperativas estimulam negócios, até como forma de incentivar o cultivo, reduzido no verão. “O que está ocorrendo bastante é venda antecipada em troca de insumo, principalmente no Oeste e Norte, grandes polos produtores do cereal”, ressalta Juliana.
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Investimento
Novos braços para o porto Dois dos quatro novos shiploaders que o Porto de Paranaguá vem instalando começam a operar nesta semana. Cada um deles é capaz de carregar 2 mil toneladas de grãos por hora, 500 a mais que os antigos Carlos Guimarães Filho :: Às vésperas do escoamento da safra de grãos, o Porto de Paranaguá inaugura nesta semana dois dos quatro novos shiploaders (carregadores de navios) em instalação. Características técnicas dos novos equipamentos prometem acelerar as atividades do Corredor de Exportação, onde atracam os graneleiros. Os shiploaders prometem funcionar como “braços de ferro” sobre os navios. Eles são maiores (veja comparativo na próxima página) e podem despejar grãos em diferentes pontos sobre as embarcações. Os carreadores antigos exigem pausas para que máquinas espalhem os grãos de forma homogênea no convés. A velocidade das correias também é apontada como vantagem. Os resultados são medidos em volume. Serão mil toneladas a mais por hora – 500 t extras por shiploader, prevê o Porto. Quatro dos seis carregadores em uso, que enchem os porões de três navios simultaneamente, serão substituídos. O trabalho deve ser concluído em agosto. A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) investiu R$ 59,4 milhões na compra dos equipamentos, fornecidos por uma indústria do Rio Grande do Sul. Os próximos dois shiploaders a serem substituídos estão em uso há cerca de 40 anos, desde a década de 1970. Permanecerão instalados dois equipamentos com uma década de uso. Além do Paraná, os estados de Mato Grosso, Mato Grosso dos Sul, São Paulo, Goiás e Santa Catarina devem ser beneficiados pelo investimento. 26
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“Vamos continuar montando o terceiro [shiploader] sem interromper o escoamento da safra para não prejudicar nossos clientes. Assim que baixar a movimentação, em agosto, o trabalho será concluído.” Luiz Henrique Dividino, superintendente da Appa.
Lança gigante
PAUSAS que somavam 900 horas ao ano, no três berços de atracação de graneleiros do Corredor de Exportação, eram necessárias pelo uso dos carregadores antigos, instalados há pelo menos uma década. Os próximos dois a serem substituídos são usados desde a década de 1970.
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Peso: 52 toneladas Comprimento (a partir do trilho): 36,5 metros Altura do suporte da lança: 18 metros Alcance sobre o navio: 30 metros Comparação: A lança dos carregadores antigos, a partir do trilho, tem comprimento entre 22,5 metros e 26,5 m, ou seja, 10 m de alcance a menos que os novos equipamentos. O suporte fica 2 m mais baixo (14,5 m a 16 m) e permite projeção de 20 metros sobre os navios (que têm 32 metros de largura).
Jonathan Campos / Gazeta do Povo
30 metros de lança representam alcance 33% maior, para o carregamento de navios mais largos. A distância onde os grãos são despejados pode ser ajustada ao ponto conveniente.
35 navios a mais por ano (1,5 milhão a 2 milhões de toneladas) poderão ser carregados com a troca de quatro dos seis carregadores de Paranaguá, prevê o superintendente do porto, Luiz Henrique Dividino.
95 caminhões de grãos a mais por dia podem descarregar em Paranaguá, caso haja demanda, com o novo ritmo de embarque proporcionado pela troca de carregadores e correias. GAZETA DO POVO
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máquinas agrícolas
Ano de vendas apertadas Indústria de tratores, colheitadeiras e implementos vai testar previsão de recuo na comercialização durante o Show Rural Coopavel. Setor deve determinar o faturamento da feira
Sílvio Oricolli, especial para a Gazeta do Povo :: Diante da retração de 17,4% nas vendas de máquinas agrícolas em 2014 em relação ao exercício anterior – foram 14.476 unidades a menos que em 2013, ou 68.516 no total –, as montadoras esperam ao menos sustentar os últimos índices neste ano. A estimativa vale também para as vendas durante o Show Rural, o primeiro termômetro de 2015 sobre esse mercado. Os organizadores assumem estimativa de queda de 10% nos negócios a serem gerados na feira. Se for confirmado, o índice reduz o faturamento bruto de R$ 2 bilhões para R$ 1,8 bilhão (considerando contratos assinados e prospecções). Para Dilvo Grolli, presidente da Coopavel e do Show Rural, a retração “é consequência da situação econômica do país”. Ele observa que, nos últimos dois anos, “houve uma acentuada renovação no parque de máquinas pelos produtores rurais”. As 82.922 unidades vendidas em 2013 representam recorde histórico. Os produtores estão reduzindo compras, principalmente de máquinas maiores. No balanço de 2014, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontou que foram vendidos 55.623 tratores, 14,5% a menos que os 65.089 do ano anterior, e 6.330 28
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colheitadeiras, queda de 25,9% ante o saldo de 8.539 mil de 2013. A base alta de comparação torna esses recuos mais expressivos.
Rebate A disponibilidade de crédito tende a amortecer o impacto dessa tendência, avalia a indústria. Outro fator que deve ter influência sobre a decisão do produtor em investir em maquinário é o lançamento de modelos que agregam mais tecnologia às máquinas agrícolas. Segundo Alessandro Maritano, vice-presidente da New Holland para a América Latina, este ano deve se aproximar de 2012 (quando foram vendidas 70,1 mil unidades) e 2014, que são considerados bons para o setor. A expectiva é confirmar esse quadro já no Show Rural. “Devemos manter, em 2015, a posição que temos no mercado nos últimos dez anos, com participação de 31% no setor de colheitadeiras e de 20% em tratores”, acrescenta. Mirco Romagnoli, vice-presidente da Case IH para a América Latina, não descarta a possibilidade de o mercado ficar “um pouco abaixo” de 2014, dependendo de alguns fatores, como o preço das commodities. “Melhoria geral vai haver no setor sucroenergético, com renovação de frotas e crescimento de mercado para tratores de baixa e média potência”, aponta.
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Para o comércio de colheitadeiras, 2015 será sombrio. Isso após recuo de 25,9% em 2014.
68,5 mil máquinas agrícolas foram vendidas no Brasil em 2014, com recuo de 17,4% ante o recorde histórico de 2013. Previsões são de que, em 2015, essa retração seja menor, apesar de um incremento nos negócios estar condicionado à improvável valorização das commodities no mercado global.
André Rodrigues/ Gazeta do Povo
Meio termo
10% de queda
Conforme as previsões das indústrias, o Brasil deve vender entre 68 mil e 70 mil máquinas agrícolas em 2015, marcas atingidas em 2014 e 2012, respectivamente.
Para baixo
Para cima
A desvalorização das commodities agrícolas no mercado internacional deixa o agronegócio com um pé atrás. Apesar de a alta do dólar amortecer o impacto nos preços em real, os produtores devem registrar margens mais apertadas. Além disso, houve intensa renovação no parque de máquinas nos últimos anos, o que reduz a urgência de novas aquisições.
A oferta de crédito – as instituições financeiras informam ter orçamento de sobra para financiar máquinas agrícolas – e as novidades tecnológicas prometem estimular as vendas. A indústria avalia que a expansão da produção exige contínua renovação do maquinário e que ainda há milhares de máquinas com mais de 10 anos no campo.
no faturamento bruto do Show Rural (incluindo negócios fechados e prospecções) são previstos pelos organizadores do evento. Indústria prefere falar em ano parecido com 2014 ou 2012. Para o setor industrial, o alto desempenho de dois anos atrás foi um ponto fora da curva.
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expedição safra
Produção e mercado pautam discussão
Hugo Harada/Gazeta do Povo
Nas próximas duas semanas, equipes de técnicos e jornalistas percorrem regiões agrícolas do PR, SP, MS, MT e RO.
Agronegócio de regiões como o Oeste do Paraná reforçam aposta no cultivo de grãos como forma de ampliar receita bruta e exportações Da Redação :: O agronegócio busca suporte no aumento da produção de 2014/15 para elevar sua renda bruta e a receita das exportações deste ano, confere a Expedição Safra Gazeta do Povo, numa nova série de roteiros para monitoramento da colheita de verão em 16 estados do país. Técnicos e jornalistas do projeto percorrem, nesta semana, o Oeste do Paraná – com passagem pelo Show Rural, em Cascavel –, região onde essa aposta vem se confirmando. Expansão em área e produtividade configuram estratégia de duplo suporte no caso da soja. É a primeira vez que o Oeste bate a marca de 1 milhão de hectares, com 3% de crescimento ante a temporada 2013/14 – área que corresponde a 20% das lavouras da oleaginosa no estado.
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Líder em volume por talhão, a região tenta avançar 3% também em produtividade, alcançando média de 3,55 mil quilos por hectare (59 sc/ha) – 6% ou três sacas além da média estadual. A equipe da Expedição vai conferir com líderes do setor, técnicos e produtores se as escolhas tecnológicas e o trabalho de campo vêm surtindo os resultados previstos, bem como qual o impacto das variações climáticas nas lavouras. As entrevistas serão realizadas durante visitas a lavouras, empresas do setor e durante o Show Rural.
Suporte no inverno A expansão da soja exige que o Oeste, pela escassez de áreas, reduza cada vez mais o milho no verão. Desta vez, o corte foi de 40% e limitou o cereal a 30 mil hectares. Isso não significa
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3 sacas de soja por hectare além da média estadual. Essa é a vantagem que o Oeste do Paraná, com 20% das lavouras do estado, pretende abrir nesta temporada.
que a região vai produzir menos milho em 2014/15. A área do verão corresponde a apenas 4% da extensão prevista para o ciclo de inverno: 700 mil hectares. Enquanto outros centros agrícolas recuam, a região busca condições climáticas para sustentar ou até ampliar o cultivo da próxima estação.
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