Temática de educação

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Curitiba, quarta-feira, 2 de junho de 2010

Vida e Cidadania

GAZETA DO POVO

saúde

Campanha contra a gripe A termina hoje com 70 milhões de vacinados Página 9

Editor responsável: Sérgio Luís de Deus – vidaecidadania@gazetadopovo.com.br

Educação

Segundo dirigentes de

MUDANÇAS À VISTA

educação, cidade

O Fundeb é uma das mais importantes fontes de financiamento da educação básica brasileira. Entenda como ele funciona:

contribui com muito, mas recebe pouco. No entanto, a ideia do

De onde vem o dinheiro

Estados, municípios e Distrito Federal devem recolher no Fundeb 20% das seguintes receitas:

fundo é ajudar as

• Fundo de Participação dos Estados – FPE • Fundo de Participação dos Municípios – FPM • Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS • Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações– IPIexp • Desoneração das Exportações (LC nº 87/96) • Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações – ITCMD • Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores – IPVA • Cota parte de 50% do Imposto Territorial Rural-ITR devida aos municípios.

cidades mais pobres Tatiana Duarte z Curitiba reclama a perda de

R$ 172 milhões no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) desde 2008. Com o montante que a cida­ de deixou de receber, seria possível atender mais 39.306 crianças em um ano, se considerado o investi­ mento médio feito por aluno em 2009, de R$ 4.375,76. De acordo com a União Nacional dos Di­­ rigentes Municipais de Educação (Undime), cerca de 20 cidades no Paraná passam por situação seme­ lhante à de Curitiba: contribuem muito e recebem pouco retorno do Fundo. No entanto, o Fundeb foi criado justamente para ser uma espécie de “Robin Hood” da educa­ ção. O objetivo é fazer com que os recursos cheguem aos municípios mais pobres. Para isso, as cidades mais ricas acabam recebendo menos recursos do que destina­ ram ao fundo. Cada estado tem o seu Fundeb, onde são depositados 20% da recei­ ta de um cesta de impostos arreca­ dados por estados e municípios. Os recursos depositados no fundo são redistribuídos com base no núme­ ro de alunos matriculados, segun­ do o censo da educação feito pelo Ministério da Educação (MEC). O governo federal só coloca recursos no fundo para comple­ mentar a verba dos municípios e estados que não conseguem che­ gar ao custo mínimo nacional por aluno, que em 2010 é de R$ 1.415,97. “O recurso retirado do Fundo é proporcional ao número de alunos matriculados. Cada caso tem de ser olhado de maneira par­ ticular, mas geralmente quem coloca muito dinheiro e tem pou­ co aluno recebe pouco em relação ao que contribuiu”, afirma o dire­ tor de articulação e apoio aos Sistemas da Educação Básica do MEC, Romeu Caputto.

Diferenças regionais Essa diferença provocou uma insa­ tisfação por parte de estados e municípios, que passaram a rei­ vindicar uma contribuição maior da União. A sugestão da Confe­ rência Nacional de Educação (Conae), realizada em abril em Brasília, é que o governo federal passe a depositar no fundo 1% do Produto Interno Bruto (PIB). “O Fundeb não foi capaz de resolver todos os problemas de má distri­ buição de recursos para a educa­ ção. Não podemos penalizar os grandes para diminuir as dispari­ dades regionais. Temos de lembrar que dentro de Curitiba temos mui­ tos bairros pobres e que precisam de atenção”, diz Jorge Wekerlin, supervisor da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba. No caso de Curitiba, no período em que há a reclamação das perdas houve aumento no número de alunos atendidos, que não foi revertido para os cofres do municí­ pio. O número de matrículas pas­ sou de 127.257, em 2008, para

Como é distribuído

Estados e municípios recebem de retorno do Fundeb um valor que tem como base o número de alunos matriculados, de acordo com o censo escolar, do Ministério da Educação. Valor mínimo Fator de por ano do Fundeb ponderação (em 2008, em R$)

Modalidade de ensino

Creche (tempo integral) Pré-escola Ensino Fundamental – anos iniciais urbano Ensino Fundamental – anos iniciais rural Ensino Fundamental – anos finais urbano Ensino Fundamental – anos finais rural Ensino Médio urbano

Hoje

R$ 31,4 bilhões é o valor que a Conferência Nacional da Educação sugere como aporte da União ao Fundeb, para que pudesse ser colocado em prática o Custo Aluno Qualidade Inicial (Caqi), sistema que calcula o custo por aluno com base em padrões de qualidade.

R$ 4.375,76 por aluno é o investimento médio feito em 2009 para a rede pública de ensino na cidade de Curitiba.

144.889, em 2009. Na educação infantil, foi de 21.187 para 35.971. Porém, de acordo com Wekerlin, apenas no ano passado o Fundeb passou a contemplar o total de matrículas da educação infantil e ensino médio. Como uma matrí­ cula na educação infantil vale menos, devido a fatores de ponde­ ração para cada etapa, o município perdeu recursos porque é ele quem atende o ensino infantil.

Benefícios De acordo com o presidente da Undime, Carlos Eduardo Sanches, aproximadamente 20 municípios em todo o estado estão em situação semelhante à de Curitiba. “Temos de garantir que a União invista mais em educação proporcional­ mente ao que arrecada. Não dá para ficar mais na responsabilida­ de só de estados ou municípios. Mas o Fundeb foi bom para as cida­ des que não tinham recursos para investir na educação”, diz. Este é o caso de Tunas do Paraná, no Vale do Ribeira, uma das re­­ giões com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. De acordo com a secre­

tária de Educação do município, Elisângela Krepel Krasota, sem o Fundeb seria impossível manter o ensino municipal. “Nossa arreca­ dação é muito baixa e não dá con­ ta. Se com o Fundeb vivemos no limite para o pagamento da folha dos professores, imagine sem”, diz. Já em Cerro Azul, também no Vale do Ribeira, o Fundeb foi essencial para garantir o atendimento da educação infantil. “Mas nossa edu­ cação ainda é precária”, diz a presi­ dente da Comissão do Fundeb no município, Sirlei de Oliveira. O presidente do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb, César Callegari, que também preside a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, ressalta que com o Fundeb não houve mais recursos para municípios de esta­ dos como Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. “É o mesmo recurso que já circulava, distribuído de uma maneira um pouco melhor. É preciso uma par­ ticipação mais intensa da União, que pode usar o Fundeb como um mecanismo para fazer a verba che­ gar a estados e municípios”, diz.

z

1,10 1,00 1,00 1,15 1,10 1,20 1,20

Caqi 2008 (em R$)

1.251 1.024 1.137 1.194 1.251 1.308 1.365

4.900 1.900 1.814 2.774 1.788 2.296 1.849

O que pode mudar

O custo anual mínimo por aluno é definido a partir da divisão do total arrecadado pelo número de matrículas.

O custo é calculado de acordo com padrões mínimos de qualidade. Cada etapa de ensino tem o seu valor.

Cada matrícula tem um fator de ponderação que varia de acordo com a etapa de ensino, sem levar em conta a questão da qualidade.

Vários insumos como local, manutenção do prédio, pagamento de professores, entre outros, compõem a conta do Caqi (Custo Aluno Qualidade Inicial).

AJUDA DA UNIÃO

AJUDA DA UNIÃO

Se estados e municípios não atingirem o custo mínimo, a União complementa o Fundeb. Em 2009, essa verba representou 0,16% do PIB.

Para que o Caqi passe a funcionar é necessária a complementação de 1% do PIB no Fundeb, o que corresponde a R$ 31,4 bilhões.

NO VERMELHO

Ano

As perdas de Curitiba 2007 acumulam R$ 172 milhões 2008 desde a criação do Fundeb. Veja o balanço: 2009 TOTAL

Saldo Fundeb (em R$)

Matrículas

+7.139.694,12 -70.981.892,22 -108.794.048,07 -172.636.246,17

113.153 127.257 144.889

Fontes: FNDE, Campanha Pelo Direito à Educação, Relatório da Cona, Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Undime.

Infografia: GP

financiamento

Governo corta R$ 1,28 bi no orçamento do MEC no momento em que Conae pede mais investimentos O Ministério da Educação foi a pasta mais afetada em um corte no orçamento definido anteontem pelo governo federal: terá R$ 1,28 bilhão a menos para gastar em 2010. Com este novo corte, o orçamento da Educação encolheu R$ 2,34 bilhões em relação aos valores aprovados pelo Congresso Nacional. No total, o Executivo está reduzindo despesas no valor de R$ 7,5 bilhões para tentar conter o consumo do governo e, por consequência, o crescimento da economia e da inflação. Na opinião da doutora em Educação Andréa Barbosa Gouveia, pesquisadora e professora de Financiamento da Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o corte no orçamento significa menos recursos para investimento. “Pode pôr em risco novos repasses de recursos e afetar os investimentos na rede federal. O Reuni [programa de reestrutu-

ração e expansão das universidades federais] está em execução com um porcentual grande de recursos em ampliação de câmpus”, afirma.

Aporte A medida do governo vai na contramão das propostas feitas durante a Conferência Nacional da Educação (Conae), que ocorreu em Brasília, em abril, e poderiam alterar o modelo de financiamento da educação. A Conae reuniu mais de 4 mil pessoas para debater e eleger diretrizes para o novo Plano Nacional de Educação (PNE) para os próximos dez anos. As decisões ainda precisam ser acatadas pelo Executivo e aprovadas pelo Congresso Nacional. Entre as sugestões está a implantação do “Custo Aluno Qualidade Inicial” (Caqi). De acordo com o presidente executivo do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves

Ramos, o Caqi inverte a lógica de definição do custo mínimo de aluno por ano. Hoje, explica Ramos, este custo é definido pelo total de valor arrecadado pelo Fundeb em todas as unidades da federação e dividido pelo número de matrículas. Com o Caqi, este valor mínimo passa a ser definido a partir de uma conta que prevê quanto seria necessário por aluno para que a educação fosse oferecida com qualidade em cada uma das etapas. Para que o Caqi seja implantado, a proposta dos participantes da Conae é que a União passe a contribuir no Fundeb com 1% do PIB ao ano, o que representa cerca de R$ 31,4 milhões. “O ponto central é o aumento da contrapartida da União no Fundeb, porque os estados e municípios estão no limite dos seus recursos para investir”, afirma Ramos. (TD, com Agência Estado)


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