Poemas Dispersos
Falando com Deus
Sábado movimentado. Amigos, filhos, parentes. Todos ali estavam, estavam todos presentes.
Para o marido mais caprichado. Mingau de maizena e um mamãozinho picado. E não podia esquecer, o remédio ali do lado.
Conversamos muito. Assuntos diversos, política, futebol e mais coisas, eu nem sei.
Agora tudo em ordem, minhas orações fui rezar. Reconheço, eu sou um tanto atrevida. Comecei com Deus a falar as dúvidas da minha vida. Eu sou feliz Senhor mas, as vezes, não entendo. Pela manhã tudo bem e a tarde já estou sofrendo.
Servi um lanche gostoso. Empadas, bolo, brigadeiro e para encerrar a tarde um cafezinho mineiro. Depois, as despedidas. Voltem mais é um prazer. Sei que são nossos amigos, venham sempre nos ver,
Sofrendo mais de saudades não sei de onde, não sei de quem. Dos que não estão presentes ou dos que foram pro além. Ensina-me senhor Tu que és o Deus do amor, da paz e da ciência, o que é que eu devo fazer? E, olhando na parede quase pude perceber os lábios de Cristo a dizer:
Estava feliz, mas cansada. Guardei a louça do lanche, fim de semana sem empregada. Levantei-me bem disposta, fui para cozinha nosso lanche preparar. Para mim café com leite, biscoitos de água e sal.
FAZ CALO NA PACIÊNCIA!
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Albina Souto de Carvalho
Natal!
Música, luzes, encantamento! Toda terra está em festa, um Deus vai nascer e a humanidade O vai conhecer. As estrelas têm mais brilho, o sol tem mais calor e todos cantam bem alto: – Bendito o que vem em nome do Senhor! Ele é rei, mas, veio com humildade... Quis nascer entre os humildes numa pobre manjedoura. Estrela brilhante vai mostrar aos reis, onde está o Rei maior. E eles vão seguindo... obedecendo o sentido da luz e junto a José Maria encontram a criança – Jesus! Ajoelham-se. Oferecem seus presentes e são por Jesus abençoados. Tudo é paz, alegria, felicidade. Glória a Deus nas alturas Paz na terra aos homens de boa - vontade!
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Poemas Dispersos
O anjinho
Estava doente, muito fraquinho Quase não vivia e já sofria.
Fui logo para a cozinha por água para esquentar. Ia o anjinho banhar. Eu chorava. A mãe não.
Nada o animava era uma caveirinha coberta de pele.
Sei que sofria, sempre a olhar. Um olhar distante, um olhar sem ver.
A mãe , sofrida, não demonstrava pesar por acabar-se uma vida. Outros filhos à sua volta cabelos em desalinho “Mãe me dá água!” E lá foi ela tirar a água do pote Pegou o filho na rede e foi matarlhe a sede.
Tudo acabou. O filho parou de sofrer. Estava limpinho, bem lavadinho. Ia chegar ao céu mais um anjinho. Depois de arrumado, de flores coberto, Coloquei-lhe na cabecinha pelada uma coroa dourada. Onde arranjei nem sei... Acho que foi com a Ritinha, que os anjos vestia para a coroação da Rainha.
Tudo tão pobre, tanta miséria... D. Emília, a vizinha, chegou e receitou: “Só leite de égua pode dar jeito” E lá se foi o pai, cansado, desajeitado, buscar o leite receitado.
Tudo arrumado, fui à igreja falar com o padre José: “Padre, posso subir para bater o sino? Morreu um menino...”
Demorou, mas chegou. O menino a custo tomou, mas tossiu , engasgou, e desse engasgo não voltou.
Lá fui eu... Sino dobrado, bem repicado, um anjinho ia ser enterrado.
Eu era menina, mas gostava de ajudar. 22 poesia finalizada.indd 22
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Albina Souto de Carvalho
Pouca gente no enterro. O pai acompanhou, mas também não chorou. a mãe ficou a olhar da janela... Sofria?
Cheguei em casa. Naquela tarde, não quis brincar de roda.
Com certeza, mas para o filho acabou-se a pobreza. Fui até o cemitério. Meu Deus grande mistério! Uma criança tão nova era mais uma flor entre as flores da cova.
As meninas chamavam Vem... Não quis, Não estava feliz. Ouvia ao longe vozes a cantar “Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar.” Era a hora do Ângelus e eu comecei a chorar.
Tudo acabou.
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Poemas Dispersos
O feijãozinho perdido
Era uma vez um feijãozinho tão bonito, tão bonzinho. Ia ele empacotado, bem feliz, bem apertado, junto com os irmãozinhos. De repente escorregou e por um buraco passou. Caiu à beira do passeio, ficou preso ao meio fio. Ali ficou a chorar. Feijãozinho chora ? Acho que sim. Veio uma chuva fina, parecia uma menina. Ele começou a inchar, inchar... De repente arrebentou e grande susto levou. Que surpresa. Folhinhas pequeninas apareceram e devagarinho foram crescendo, crescendo... Começou a entender e viu com grande emoção, que já estava virando um pèzinho de feijão. A noite foi chegando... Percebeu barulho estranho. O céu escurecendo e nuvens negras descendo. Teve medo. A chuva começou a cair e o vento assobiava e o podre feijãozinho rodopiava, rodopiava. 24 poesia finalizada.indd 24
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Albina Souto de Carvalho
Ia para lá e para cá. Caiu... Ficou preso na areia. Sentiu-se em uma cadeia. Passou por lá um Senhor e vendo o seu sofrimento, condoeu-se e teve amor. Cercou-o bem com pedrinhas fincou seu pé com varinhas. O tempo passou e o feijãozinho se firmou. Quatro vagens apareceram e vinte oito feijõeszinhos nasceram. Lá vem o Senhor bondoso que salvou a sua vida. Carregou toda a família, feijão pai, feijão mãe, feijões filhos. Lá se foram todos unidos com muito amor e carinho para o sítio do Paulinho. Vai ser uma grande família sempre a se multiplicar Assim acontece na vida... Amparados por pedrinhas e cercados com varinhas todos podem se firmar. Desde que encontrem na vida um Quinca para ajudar.
1994
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Poemas Dispersos
O mar
Sozinha na praia. Em cima de uma pedra eu olhava à distância...
Eu sei, ó mar gigante, é do sol que tens ciúmes? Ele vem cedo e cobrindo-a de raios a faz iluminar.
Que imensidão! Lembrava-me de tudo, da vida passada da infância feliz, despreocupada.
Olhando à distância eu pude ver. Tanta luz, tanto brilhante. Sabes mar, são as jóias que ela recebeu do teu rival recebeu do seu amante.
Admirava a força daquele mar gigante, que vinha arrastando tudo numa fúria incontida virando barcos ceifando vidas.
Mas, ele só tem o dia, á noite se vai.
Ó’ mar porque tanta fúria? Porque estás tão irado? Tens ciúmes da tua mulher, mas, olha ela não tem namorado. Ama-te com sinceridade, espera-te com lealdade.
E tu a tens dia e noite sempre por ti a esperar... Não tenhas ciúmes não sejas irônico ela tem pelo sol grande amizade seu amor é platônico.
Fiquei à pensar... Só tu mar, terás pela eternidade amante ardente, calorosa. E o sol? Cobrirá sempre teu corpo com lindos raios azuis - cor de rosa.
Onde estará a mulher do mar? E logo pude entender. Ele veio outra vez naquele lençol de espumas, cheio de abraços, cheio de beijos naquela ânsia louca de beijar a mulher de beijar a areia de beijar sua boca.
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Albina Souto de Carvalho
O velho e o menino
Lá vai o velhinho devagarinho... com ar cansado, desanimado.
Eu vim prá ficar. Muita coisa há de mudar. Vai em paz, vai descansar.
Parou para descansar à beira do caminho.
E o bom velhinho fez um sorriso. fechou os olhos na terra e abriu no Paraíso.
Mas, não descansa... um ano inteiro em sua lembrança.
E o menino continuou a falar.......
Olhos embaçados, Tristes, sem esperança.
Para todos o meu abraço junto com meu grande desejo. Vida alegre, bem feliz, música de realejo.
Fui bom para todos, velho, criança?
Este ano será de festa. Muita paz, grande alegria. Terá de Jesus a benção, de Deus–Pai, Virgem Maria.
Dei pão ao pobre, Enchi-lhe a sacola? E para a criança, eu dei uma escola?
Que o pão não falte para ninguém. Lar abençoado, gruta de Belém.
Não sei o que fiz, mas, depois de tudo, não sou feliz.
Ajudem, mas, não esperem retorno. É como um livro que eu já li...
A noite chegou... Na simplicidade deste poema, guardem com amor este lema:
Ao seu encontro vem um menino. Alegre, sorridente, feliz e contente!
“Dar de si antes de pensar em si”. São os votos sinceros do Ano Menino.
Oi, como vai? Não fique triste meu bom velhinho.
1998–1999
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