Mundo Cana 2 Apr'10

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MUNDO CaNA Abril de 2010 | ano 02 | no 02

Berço da Cana, o Nordeste aposta em tecnologia Histórias de profissionais e empresas da região mostram a vitalidade do setor sucroalcooleiro.

“A energia ‘verde’ tem um futuro promissor” Por que a gestão das pessoas é tão importante?

Maílson da Nóbrega, economista

Corda-de-viola: esse mal tem cura


*Conforme recomendação técnica Arysta LifeScience.

mudbum.com.br

*Conforme recomendação técnica Arysta LifeScience.


MUNDO CANA

MUNDO CANA

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ANO 02 - NÚMERO 02 ABRIL DE 2010 A revista Mundo Cana é o veículo de comunicação oficial da Arysta LifeScience para o mercado sucroalcooleiro.

16 Editorial Antonio Carlos Costa Diretor de Marketing da Arysta LifeScience pág.

4

USINA Grupo Arakaki (SP) Investimento em pessoas e tecnologia pág.

8

USINA Usina Seresta (AL) Irrigação por gotejamento pág.

12

Produtor Benon Barreto Decano da economia canavieira do Nordeste pág.

16

pesquisa Pedro Christoffoleti e a colheita mecanizada pág.

20

manejo Corda-de-viola: Controle é possível pág.

24

Coordenação Geral Antonio Carlos Costa Adriana Taguchi

24

Supervisão Gustavo Gonella

Entrevista Maílson da Nóbrega A energia “verde” tem um futuro promissor pág.

5

USINA Japungu Agroindustrial (PB) Vontade de crescer e enfrentar os desafios pág.

10

USINA Grupo Jalles Machado (GO) Alta produtividade e atenção às pessoas pág.

14

CONsultor Djalma Euzébio Simões Neto Avanço acadêmico garante novas variedades de cana pág.

Produção Texto Assessoria de Comunicações Jornalista Responsável Altair Albuquerque (MTb 17.291) Redação Felipe Fonseca Fotos Felipe Fonseca e Arquivo Arysta Projeto Gráfico e Design Ronaldo Albuquerque Tiragem 2.000 exemplres Arysta LifeScience do Brasil Rua Jundiaí, 50 – 4º andar São Paulo/SP – Brasil CEP.: 04001-904 Telefone: 55 11 3054-5000 Fax: 55 11 3057-0525 www.arystalifescience.com.br mundocana@arystalifescience.com.br

18

projetos em cana Projeto Big Bag Equipamento facilita distribuição de defensivo pág.

22

Artigo Coriolano Xavier e José Luiz Tejon Marketing Rural no Brasil pág.

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MUNDO CANA

Triunfo nordestino A alta da atividade sucroalcooleira no Nordeste é um bom termômetro para se observar claros avanços do setor nesta primeira década do novo milênio. Um dia porta de entrada dos colonizadores europeus, hoje não apenas vende etanol e açúcar para o exterior como conquista números excepcionais de vendas. Entre as atividades produtivas do Nordeste, a cana ainda é o destaque de uma lista crescente que inclui, entre outros itens, algodão, frutas e grãos. Deve-se realçar também a forte atuação da indústria petroquímica, naval e as universidades, que estão cada vez mais próximas do setor rural, sempre Antonio Carlos Costa, Diretor de Marketing da Arysta LifeScience >

em busca de melhorias de produtividade e eficiência. Nessa segunda edição da Mundo Cana, o objetivo foi falar de cases vitoriosos que brotaram da cana nordestina e que ilustram esse positivo cenário. As histórias aqui relatadas pela nossa reportagem confirmam a incontestável importância da região para o crescimento da economia. E

Editorial

também ilustram a vocação natural do Nordeste na arte de gerir pessoas,

4

assunto recorrente em nossas reportagens. Afinal, é a energia das pessoas que move os negócios. A diferença é sempre feita por elas. Seguimos a trilha de acertos do setor sucroalcooleiro também na direção de Goiás e do interior de São Paulo. Nestes trajetos, conhecemos usinas, profissionais e agentes do segmento que ajudam, de forma inovadora, a compor o mosaico de sucesso do agronegócio do País. O cenário que se desenha a partir de iniciativas como as que o leitor encontrará nas páginas seguintes mostra que a expectativa do agronegócio para o país como um todo é otimista. Espera-se que o Brasil continue exportando matéria-prima, pensadores e tecnologia. E como diz o paraibano Maílson da Nóbrega, nosso entrevistado nessa edição, o Brasil já virou gente grande nas exportações de commodities agrícolas, fruto dos avanços tecnológicos proporcionados pelas pesquisas da Embrapa e da maior profissionalização na gestão do agronegócio. No papel de liderança que conquistamos no cenário global, renovamos aqui o cumprimento aos produtores rurais, nossos parceiros e fornecedores das matérias-primas para alimentação, energia, vestuário e tantos outros itens indispensáveis em nosso dia a dia. Boa leitura!


Entrevista

>

Maílson da Nóbrega

MUNDO CANA

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega é uma unanimidade: ninguém fica indiferente ao que ele diz. Por isso, é um dos economistas mais admirados do País.

divulgação

O economista que tem o que falar

Empresários dos mais diferentes setores e das maiores organizações brasileiras param quando toma a palavra o economista Maílson da Nóbrega. Afinal, esse paraibano de 67 anos tem muito o que falar quando o assunto é o destino do País e da própria economia mundial. Com longa carreira na área pública e privada, Maílson foi ministro da Fazenda entre 1988 e 1990, período de grandes dificuldades para o País. Saído do governo, foi um dos fundadores da MCM Consultores e, mais tarde, em 1997, da Tendências Consultoria, onde está até hoje e atende empresas brasileiras e internacionais, que desejam entender os novos desafios que se apresentam num

“O Brasil virou gente grande nas exportações de commodities agrícolas”

mundo cada vez mais globalizado. Nesse cenário, a bioenergia brasileira é um componente importante e com potencial de avanços consideráveis nos próximos anos. Maílson da Nóbrega sabe disso e, nesta

Mundo Cana – Como o sr. vê o

oferta e preço. O país caminha para

futuro da energia “verde” no Brasil?

ter toda sua frota de carros leves na

Maílson da Nóbrega – A energia

tecnologia flexfuel.

“verde” tem um futuro promissor.

entrevista exclusiva à revista Mundo

O Brasil é muito competitivo na

O Brasil ocupa posição de lideran-

Cana, joga luz sobre a participação

produção de etanol. Os brasileiros

ça em produção de etanol, mas o

do governo no fortalecimento do

já se acostumaram a usar o álcool

que barra/trava as exportações,

segmento sucroalcooleiro e nas ne-

como combustível e o carro flex

considerando que o mundo busca

gociações internas e internacionais

permitiu optar entre gasolina e ál-

opções ao petróleo? O Brasil é o

para exportação de etanol e açúcar.

cool de acordo com as condições de

segundo maior produtor, depois

>

5


MUNDO CANA dos Estados Unidos. Uma barreira

vos processos de abertura da capital.

E o açúcar? Como o sr. avalia a im-

natural às exportações é o fato de

As empresas têm compromissos

portância dessa matéria-prima na

o biocombustível ser normalmente

éticos internos e com seus acionis-

pauta de exportações e o seu po-

mais caro do que outras alternativas,

tas e clientes, que não podem ser

tencial de crescimento? O Brasil é o

particularmente nos países desen-

manchados por notícias de trabalho

maior produtor e exportador de açú-

volvidos. Assim, é preciso um esfor-

escravo. Por outro lado, a imagem

car. Em anos recentes, fomos surpre-

ço, que não é fácil, para convencer

dessas empresas na opinião pública

endidos pelo aumento do consumo

os consumidores a aceitar o álcool

é fundamental para a continuidade e

mundial, que se imaginava caminhar

como combustível, o que se acentua

a ampliação de seus negócios, o que

para a estagnação ou baixo cresci-

quando entram em cena questões

constitui um incentivo adicional para

mento, dadas as restrições ao uso do

associadas à soberania (criar uma

a adoção de práticas corretas na

produto pelos consumidores de mais

nova dependência externa para

contratação de seus empregados, na

alta renda (caso nos países ricos que

suprimento de combustíveis).

sua remuneração e na forma como

produzem e/ou importam açúcar).

são tratados dentro das empresas.

O crescimento recente do consumo

dendo corretamente a bionergia perante as grandes nações? Hoje se pode dizer que o setor privado tem sido muito mais ativo do que o governo na defesa dos interesses da bioenergia. Infelizmente, a política externa do governo Lula, muito contaminada por visões ideológicas,

pobreza nos países emergentes, de que são exemplos relevantes a China

Hoje se pode

e a Índia. Opera-se, nesses países, um fenômeno conhecido, qual seja o

dizer que o setor

da melhoria dos padrões de alimen-

privado tem sido

tação à medida que a renda cresce.

muito mais ativo do

Essa situação aponta para excelentes perspectivas para o açúcar nos pró-

terceiro-mundistas e antiamerica-

que o governo na

ximos anos, admitindo que os países

nas, tem deixado a desejar quando

defesa dos interesses

emergentes continuarão crescendo

se trata da defesa dos interesses da produção de bioenergia. O que pode ser feito para melhorar a imagem da produção rural no

6

se explica pela redução dos níveis de

O governo brasileiro está defen-

da bioenergia

a um ritmo superior ao das nações ricas. Mais tarde, os consumidores desses países, ao atingirem níveis mais altos de renda e de educação, podem reduzir o consumo, mas isso

Brasil – cana-de-açúcar, inclusive –

De que maneira a bioenergia pode

levará tempo para ocorrer. O cenário

internacionalmente, considerando

ser um agente positivo na negocia-

é, pois, muito positivo.

que somos acusados de não ofere-

ção comercial de outros produtos

cer condições dignas de trabalho

do Brasil? Não creio que a bioener-

O agronegócio brasileiro é um gi-

e até trabalho infantil? É preciso

gia possa constituir um instrumento

gante e tem relevância indiscutível

insistir que são marginais os casos

de barganha nas negociações de

na pauta de exportações. Por outro

de trabalho escravo no Brasil. No

comércio. A rigor, pode-se dar o

lado, assistimos a um endureci-

caso da cana-de-açúcar, os grandes

contrário, isto é, o Brasil admitir tra-

mento nas negociações comer-

produtores são empresas de capital

tamento favorecido na importação

ciais, com utilização de barreiras

aberto e exportam grande parte de

de produtos oriundos de países que

aos produtos nacionais. Como o sr.

sua produção. Esse é cada vez mais

se dispuserem a derrubar barreiras

visualiza esse embate nos pró-

o padrão do setor, pois veremos no-

contra o biocombustível brasileiro.

ximos anos? O Brasil virou gente


MUNDO CANA os subsídios americanos em favor do algodão. Temos necessidade de contar, cada vez mais, com a consultoria de escritórios especializados em defesa comercial no exterior e em lobby perante os governos e os parlamentos dos países que impõem barreiras aos nossos produtos. E em relação à questão tributária do setor produtivo. Alimentos e bionergia não poderiam ter algum benefício? Infelizmente, o sistema tributário brasileiro se tornou um verdadeiro caos e vem piorando. Não basta lutar por tratamentos Felipe Fonseca

específicos para determinados produtos, mas por uma reforma abrangente. Por exemplo, talvez mais importante do que eventuais benefícios específicos para alimentos e bioenergia seria evitar a pesada tributação dos insumos utilizados em sua produção, particularmente itens sensíveis como combustíveis, “Precisamos ter gente qualificada nas negociações internacionais”

lubrificantes, transportes, comunicações e energia, brutalmente tributados pelo ICMS. E como o agronegócio pode contri-

grande nas exportações de commo-

no jamais poderá ser a fonte quase

buir para obter redução de tributos

dities agrícolas, fruto dos avanços

exclusiva, como foi no passado.

incidentes sobre os elos da cadeia?

tecnológicos proporcionados pelas

Importante para o agronegócio seria

pesquisas da Embrapa e da maior

O setor produtivo também tem

mobilizar Estados e municípios em

profissionalização na gestão do agro-

de fazer a sua parte... Sim. E essa

torno de uma reforma do ICMS,

negócio. Deixamos de ser tomadores

consciência já está presente nas

capaz de reduzir substancialmente

de preço para nos transformar em

lideranças do agronegócio, mas

suas disfuncionalidades atuais e as-

formadores. Esse novo status exige

precisa ser expandida. Iniciativas

segurar a plena desoneração das ex-

preparação para defender nossos

como as da UNICA e da assessoria

portações. Infelizmente, essa é uma

interesses e expandir mercados.

do governo em negociações no âm-

tarefa gigantesca, que exige nível de

Precisamos ter gente qualificada nas

bito da OMC têm nos proporcionado

coordenação e liderança política não

negociações internacionais. O gover-

vitórias como a do processo contra

disponível na atualidade. 7


MUNDO CANA

Respeito e qualidade: dogmas do Grupo Arakaki Investimento em pessoas e o uso de novas tecnologias compõem a receita de sucesso do grupo, localizado no interior de são paulo

A

Mais de 9 mil hectares do Grupo Arakaki destinam-se à produção da Usina Alcoeste >

imigração japonesa trouxe inúme-

Arakaki, que desempenha trabalho agrícola

ros benefícios para o Brasil. Motiva-

de referência em Fernandópolis (SP).

dos pelo potencial que a cafeicultu-

Em 1983, quando o grupo iniciou as ativida-

ra apresentava no início do século XX, muitos

des no setor sucroalcooleiro, os dirigentes

japoneses deixaram família e emprego para

não esperavam chegar aos atuais números.

construir histórias de sucesso em outros

O braço agrícola do grupo administra atual-

continentes. Muitos deram certo na nova

mente área de 16.834 hectares, sendo que,

terra, como foi o caso dos antepassados dos

desse total, 9.500 hectares são destinados

fundadores do Grupo

à produção da Usina Alcoeste e 4.282 hectares para produção da Usina Ouroeste. No caso da Alcoeste, 100% da produção vêm dos canaviais da Agrícola Arakaki. Ao todo, são fornecidas 716.300 toneladas de cana para a Alcoeste e 325.500 toneladas para a Usina Ouroeste. Mas o diferencial da empresa não está apenas nos números e sim nas pessoas. Ao todo, são 3 mil colaboradores. A estrutura conta com cinco diretores e não tem diretor-presidente. Segundo um dos dirigentes, Luis Antonio Arakaki, a comparação entre diferentes usinas brasileiras mostraria que elas se parecem bastante no que diz respei-


MUNDO CANA Para Luis Arakaki, o fator humano é um diferencial da usina

felipe fonseca

to às máquinas, mas em relação às pessoas

O investimento nas pessoas garante tam-

são bastante diferentes. “Como não traba-

bém destaque em outras áreas, como a de

lhamos com economia de escala e volume,

inovações tecnológicas. O grupo foi o único

nosso maior investimento e patrimônio é a

escolhido no Brasil para os testes com a co-

equipe, que precisa estar motivada para tra-

lheitadeira manual, novidade que deve mo-

balhar com agilidade”, explica.

vimentar o setor especialmente em regiões

a organização em um único objetivo, o grupo realiza treinamentos e investe em administração participativa. “As portas estão sempre abertas aos funcionários. Sa-

onde a máquina não chega ao canavial. Outro destaque veio

nosso maior

investimento e patrimônio

Para motivar toda

por meio da Usina Alcoeste, do grupo.

é a equipe, que precisa

A unidade participou

estar motivada para

do primeiro embar-

trabalhar com agilidade

bemos que o mercado exige velocidade

que de etanol para o mercado europeu. No caso específico desta usina, são pro-

e, para isso, precisamos de tecnologia de

duzidos anualmente 75 milhões de litros de

ponta e pessoal disposto a realizar o traba-

álcool e 700 mil toneladas de açúcar. “Nossa

lho com competência”, explica Arakaki, lem-

expectativa é que, ainda que tenhamos difi-

brando que a empresa só pôde se destacar

culdades de comercialização, estejamos pre-

no mercado pelo aspecto humano porque,

parados para assimilar as novas tecnologias

acima de tudo, sempre ofereceu qualidade

e continuar desempenhando um bom traba-

em seus produtos e serviços.

lho”, conclui Arakaki. 9


MUNDO CANA

Japungu v ence os desafios com cautela As dificuldades normais do plantio e da industrialização não são maiores que a vontade de crescer nesta usina paraibana

S José Bolivar lembra que o sucesso exige empenho e paciência

e fosse necessário resumir a histó-

prêmios da atividade em nível nacional. Para

ria da Japungu Agroindustrial numa

citar alguns: MasterCana (em 2001, 2003,

única frase, provavelmente a mais

2004 e 2007), Revista Fisco (2003), Visão da

adequada seria “cautela nos momentos de

Agroindústria, entre outros.

euforia e serenidade para enfrentar os desa-

Nenhum destes prêmios foi conquistado

fios”. Mas um resumo deixaria passar muita

sem esforço e dedicação. Um dos desafios

informação preciosa sobre as vitórias con-

para atingir alta qualidade produtiva foram

quistadas desde que os empresários Luis-

as barreiras naturais da região onde a usina

mar Melo, Paulo Fernando e José Ivanildo

está localizada. A topografia de grande par-

compraram uma usina em Santa Rita, na Pa-

te do Nordeste é conhecida pelos obstáculos

raíba. Em 1989, eles deram um passo rumo

que impõe à mecanização da colheita. No

ao sucesso e deixaram de ser grandes forne-

caso da região onde a Japungu se encontra,

cedores de cana para se tornarem importan-

a dificuldade é outra: embora o relevo seja

tes referências no setor sucroalcooleiro. A >

maioria das vitórias está simbolizada pelos troféus, medalhas e diplomas dos principais


MUNDO CANA plano, o solo é arenoso. “Isso exige conhecimento e tecnologias que permitem atingir bons índices produtivos”, explica José Bolívar de Melo Neto, diretor do grupo. Os desafios, porém, não são maiores do que a vontade de produzir cana. E com alta produtividade. A parceria com bons fornecedores garante que 25% da produção sejam terceirizados. Considerando a unidade adquirida pelo grupo em Goiás, a Agroval, o total de colaboradores envolvidos gira em torno de 6 mil pessoas. A empresa possui filosofia de valorização destes trabalhadores e, no caso dos colhedores de cana, a usina já ultrapassou a Estrutura enxuta para escoar melhor a produção

marca de 8 toneladas diárias por pessoa. O foco do grupo se divide entre álcool e açúcar. No caso deste, a previsão para 2010 é de 3 milhões de sacos. A proximidade com o

felipe fonseca

Porto de Suape, em Pernambuco, é um trun-

de cada vez”, diz o diretor agrícola.

fo que permite exportar aproximadamente

Para quem deseja continuar crescendo no

7% do total produzido. “Trabalhar com mer-

setor, Bolívar dá mais uma dica da receita

cado interno e externo permite se equilibrar

de sucesso da Japungu. A organização inter-

acompanhando a situação em cada um deles. Mas ainda assim a missão é árdua, pois é difícil prever o que vai acontecer em médio prazo”, explica Bolívar Neto.

na se divide em duas

frentes

Nos últimos anos,

o setor cresceu em uma velocidade acima do

normal e, embora as

básicas:

o

mercado, que é instável e imprevisível, mas que permite negociar no momento da comercialização e guardar produto em

É devido a esta insta-

perspectivas sejam muito

bilidade do mercado

boas para quem produz

lentas; e a produção

financeiro que o gru-

cana, preferimos dar

agrícola, com gran-

cautela. Na crise eco-

po opta por agir com

um passo de cada vez

nômica mais recente, a Japungu não sofreu

épocas menos turbu-

des possibilidades de aumento de lucros. Especialmente nesta área a Japungu não

tantos abalos como se observou em outras

dispensa o uso de tecnologias que permitam

empresas. “Nos últimos anos, o setor cresceu

aumentar a produtividade. “Temos uma his-

em uma velocidade acima do normal e, em-

tória de sucesso, mas nosso foco está no fu-

bora as perspectivas sejam muito boas para

turo, na melhoria contínua para acompanhar

quem produz cana, preferimos dar um passo

o mercado lá fora”, aponta Bolívar. 11


MUNDO CANA

Irrigar é preciso Usina Seresta implantou método via gotejamento subterrâneo e colhe bons resultados por acreditar na tecnologia

André Borges: gotejamento é opção lucrativa

D

>

e gota em gota, os canaviais

há 11 anos o método de irrigação por go-

da Usina Seresta, em Teotônio

tejamento e a tecnologia tem demonstra-

Vilela (AL), se desenvolvem com

do ser uma escolha acertada. A área total

alta qualidade, chamando a atenção do

com cana irrigada por este processo che-

mercado nacional pelos elevados índices

ga a quase 1.500 hectares, sem contar os

de produtividade. A empresa implantou

17 hectares que foram usados como teste para validar o sistema. “Quando optamos por irrigação por gotejamento havia no mercado receio em introduzir a prática em grandes áreas. Nós fomos os maiores implantadores do


MUNDO CANA Equipamento garante irrigação contínua e eficaz

Com a irrigação por

gotejamento, temos a oportunidade de distribuir melhor a

água em grandes áreas,

além de controlarmos a umidade do solo

felipe fonseca

método, considerando a introdução de

plantação e outra, a Seresta constatou eco-

uma única vez e não nos arrependemos

nomia ao aderir a esta tecnologia. Isso se

desse pioneirismo”, explica André Borges,

explica porque o equipamento evita desper-

gerente agrícola da Seresta.

dício ao jogar água em pontos específicos

Entre as vantagens desta tecnologia desta-

do canavial. A manutenção não tem custos

ca-se o maior tempo necessário para reali-

elevados e não exige grande interferência

zar a reforma do canavial. Enquanto áreas

humana no equipamento.

onde a irrigação é feita com técnicas mais

Em pouco tempo, a chamada “irrigação plena”

tradicionais (aspersão ou via pivô rebocável)

incentiva positivamente os índices de produ-

precisam ser reformadas a cada seis anos

tividade do canavial. No caso da Seresta, os

(média), a reforma nas áreas com goteja-

números chegam a 120 toneladas por hectare

mento subterrâneo atinge intervalos de até

por ano, enquanto a cifra normalmente gira

o dobro desse período.

em torno das 55 toneladas anuais por hecta-

O processo de funcionamento é basicamen-

re. “Com a irrigação por gotejamento, temos

te simples. A água é transportada por uma

a oportunidade de distribuir melhor a água em

rede de gotejadores até as áreas onde es-

grandes áreas, além de controlarmos a umida-

tão as raízes da cana. Estes gotejadores es-

de do solo”, lembra André Borges. Este controle

tão ligados a uma mangueira alimentadora

garante menor infestação de plantas daninhas

principal, que garante o abastecimento con-

e melhor qualidade fitossanitária da cana.

tínuo de água. Para introduzir a tecnologia,

A resistência que esta tecnologia ainda en-

a Usina Seresta contou com a experiência da

contra no país se explica pelo custo inicial do

empresa israelense Netafim, que também

investimento e, em muitos casos, pelo des-

tem projetos no Rio Grande do Norte, Cea-

conhecimento dos benefícios que o método

rá, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. “Nosso

traz. “O aumento de produtividade com-

objetivo é chegar aos 5.500 hectares irriga-

pensa o investimento, sem dúvida alguma.

dos via gotejamento”, adianta Borges.

Nossa expectativa é chegar à margem de

Além do maior tempo entre uma reforma da

130 toneladas por hectare”, avisa Borges. 13


MUNDO CANA

Tecnologia e responsabilidade social >

felipe fonseca

Usina de Goiás comprova que Eficiência produtiva e atenção às praticas geram excelentes resultados e conquistas

O

14

Patrick Campos: investimentos constantes são marcas da Jalles Machado

respeito ao meio ambiente, o in-

atinge cerca de 85% do canavial. Ao todo,

vestimento em tecnologia de ponta

são 22 máquinas e, neste ano, está prevista

e as boas negociações comerciais

a chegada de outras quatro unidades. “Utili-

são características praticamente obrigató-

zamos agricultura de precisão para não des-

rias em empresas de sucesso. O Grupo Jalles

perdiçar produtos que fazem a diferença no

Machado, de Goianésia (GO), é um bom

canavial, como os defensivos agrícolas e os

exemplo de que estas práticas abrem portas

corretivos de solo”, explica Patrick Francino

para novos e promissores negócios. A história

Campos, gestor de projetos e processos da

do grupo começou no início dos anos 1980,

Jalles Machado. Para garantir o bom uso

quando o governo de Goiás decidiu fomentar

destes equipamentos e dos processos da

a produção de cana-de-açúcar no estado.

empresa, o grupo conta com cerca de 3 mil

Em 1993, veio uma nova fase para a empre-

colaboradores diretos.

sa, que entrou no mercado de açúcar cristal.

Na usina, o investimento em tecnologia ca-

Desde então, o grupo coleciona avanços

minha de mãos dados com a responsabili-

que o transformaram em uma referência em

dade social. “Só na região de Goianésia, já

cana de Goiás.

plantamos 800 mil árvores nativas, o que

Um dos pontos de destaque da usina é o

está em sintonia com a filosofia de cuidados

investimento em colheita mecanizada, que

com o meio ambiente”, lembra Campos.


MUNDO CANA Graças a esta filosofia e à intensa profissiona-

A preocupação ambiental também pode ser

lização do trabalho, a Jalles Machado obteve

notada pela área de cana orgânica plantada,

certificações de qualidade, como a ISO 14000,

que corresponde a 20% dos 40 mil hectares

e está em busca da ISO 22000. É possível iden-

do grupo. Mesmo com as elevadas exigências

tificar esta filosofia na frase de Otávio Lage de

de manejo e produção apresentadas por com-

Siqueira, presidente do Conselho de Adminis-

pradores internacionais, a usina consegue se

tração do grupo: “Uma empresa que investe

destacar nesse tipo de produção. Hoje, cerca

em tecnologia e contribui para a economia de

de 90% do mercado de açúcar orgânico dos

seu país é vista como empreendedora. Mas,

Estados Unidos estão nas mãos da Jalles Ma-

dita em cada de seus colaboradores acima de tudo, faz a diferença e se torna uma referência”.

chado. Nas negociações de etanol, o foco

empresa acredita nos

se ela vai além e acre-

seus colaboradores e isso

‘faz toda a diferença’

A abertura ao conhecimento e à tecnolo-

é o mercado interno. A área plantada permite que a Jalles Machado seja autossuficiente na produção de cana. De 1983

gia fez com que a Jalles Machado buscasse

para cá, a produção subiu de 1,5 milhão de to-

variedades da cana adaptadas ao clima, solo

neladas anuais para 2,9 milhões de toneladas.

e precipitação de chuva da região. Entre os

E as projeções seguem otimistas. Para este

vários tipos utilizados, o grupo utiliza as va-

ano, ainda que o Brasil continue dependen-

riedades CP 867515 e IAC-SP 911099. “Antes

do do desempenho dos preços na Índia, as

de iniciar o uso, fizemos testes com estas

expectativas são positivas. A Jalles Machado

espécies e percebemos que elas têm bom

dará continuidade ao preparo de uma nova

desempenho, o que para nós e para o mer-

unidade em Goiás, que deve entrar em produ-

cado é muito desejado”, explica o técnico

ção em 2011. A nova unidade deverá envolver

responsável pelos tratos culturais da usina,

1.600 novos colaboradores. A empresa ainda

Antonio Ricardo Neto.

tem outro trunfo: a ferrovia Norte-Sul ficará

Por ser a terra a primeira fonte do lucro da usi-

bem próxima da unidade e vai facilitar muito

na, os cuidados com o meio ambiente e com a

o escoamento de produto. A previsão é de

qualidade da produção estão sempre presen-

mais sucesso para a usina.

tes. No combate a plantas daninhas, como brachiaria, corda-de-viola e capim colchão, a Jalles Machado utiliza amicarbazone há pelo menos três anos e, na área onde é aplicado, o repasse chega a ser zero (repasse é a nova aplicação para eliminar plantas daninhas que tenham brotado posteriormente à aplicação durante a cultura instalada ou após a colheita da cana). “Realizamos monitoramentos periódicos e temos observado o sucesso destas aplicações”, completa o técnico.

felipe fonseca

Na usina, a busca pela excelência contínua


MUNDO CANA

Cana produzida com conhecimento Apaixonado pelo setor sucroalcooleiro, Benon Barreto é conhecido como o “decano da atividade do Nordeste”

Q

uando Benon Barreto se formou

por um arado, tracionado por juntas de bois,

em Engenharia Agronômica pela

sob o comando do “velho carreiro”. Condena

Universidade Federal Rural de

literalmente o plantio de enxada, operação

Pernambuco, a realidade do setor sucro-

ainda realizada com muita constância na re-

alcooleiro era outra. Era 1959 e, embora o

gião. Sua história também foi enriquecida pelo

país já tivesse um histórico de quase cinco

trabalho com entidades como IAA (Instituto

séculos na plantação de cana, havia muitas

do Açúcar e do Álcool), SUDENE (Superinten-

melhorias a ser feitas. Cinquenta anos de-

dência do Desenvolvimento do Nordeste), GE-

pois, o engenheiro agrônomo, produtor e

RAN (Grupo de Estudos para Racionalização

consultor acredita que muita coisa ainda vai

da Agroindústria Açucareira do Nordeste) e em

mudar, mas comemora as importantes con-

viagens internacionais onde conheceu e estu-

quistas no segmento. Benon: experiência e paixão na produção de cana >

dou a realidade produtiva

Uma de suas marcas é a sinceridade com que

de países como Cuba,

analisa todos os lados da produção pernam-

Austrália, Filipinas,

bucana. Seus comentários são feitos com a

Estados

Unidos

segurança de quem observa o agronegócio

(Havaí), África do

desde os 12 anos, quando via o plantio de

Sul e outros.

cana nas encostas declivosas ser efetuado


MUNDO CANA Em 1980, quando Benon Barreto começou

do sucesso é explicado pelo conhecimento

a produzir cana, o país tinha cinco anos de

que conseguiu reunir sobre o setor, já que

experiência com o Programa Nacional do

presta consultoria na faixa que vai do Mara-

Álcool (Proálcool). Inclusive, o engenheiro

nhão a Goiás. “Cada vez que viajo me certi-

agrônomo teve participação em pelo me-

fico que representamos um setor dinâmico

nos 60% na elaboração dos projetos reali-

e pungente”, diz. A outra parte da explica-

zados pela TECAL (Tecnologia Açucareira

ção deste sucesso está na sua escolha pela

Ltda.) relativos a esse programa. Não é a

honestidade, solidariedade e espírito de

toa que é chamado por muitos “o decano

união na condução de seus negócios. Cole-

da economia canavieira do Nordeste”.

cionador de frases, ele resume sua filosofia

Nestes quase 30 anos de produção e meio

numa única sentença: “Não se pode semear

século acompanhando de perto o cenário

de punhos fechados” (Adolfo Esquivel).

sucroalcooleiro, Benon Barreto viu usinas ser criadas, outras ser extintas, investidores chegarem e novos colegas se somarem ao time da cana no país. Como produtor, porém, ele não esconde a preocupação com as exigências sobre o agricultor, que muitas vezes se equilibra entre a cobrança do Estado e a rapidez do mercado. “A questão da queima do canavial é um exemplo de assunto que precisa ser estudado com mais cuidado. Aqui no Nordeste temos muitos terrenos acidentados onde a máquina não chega e por isso é necessário o corte manual da lavoura e a queima”, detalha o consultor e produtor. Segundo ele, os empresários estão atentos às novidades nesse assunto, especialmente quem produz em áreas onde a topografia é bastante irregular. Além da colheita, este tipo de terreno dificulta por demais as outras operações agrícolas, tais como plantio, tratos culturais, aplicação de fertilizantes e corretivos. “Em regiões mais planas, é possível atingir produtividade de 8 toneladas por dia na colheita da cana, enquanto nas áreas acidentadas gira entre 3,5 e 4 toneladas dia”, compara Benon. Como produtor rural, Benon Barreto exerce essa atividade no Estado da Paraíba, com produção anual em torno de 20.000 t de cana. Parte Logística de Pernambuco é facilitada pela proximidade de usinas

>

logística favorável Apesar dos terrenos acidentados, Pernambuco tem muitas vantagens econômicas na produção de cana. Segundo o produtor e consultor Benon Barreto, o Porto de Suape, localizado entre os municípios pernambucanos de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, é um dos trunfos da região. Instalado a apenas 40 km da capital Recife, ele é ponto de saída de etanol e açúcar. Enquanto produtores de outras regiões do Brasil estão num raio de mais de mil quilômetros de áreas portuárias, Suape situa-se no raio médio de 100 km das unidades produtoras do Estado e em torno de 300 km dos grandes pólos produtivos do Nordeste. “Além disso, nossa lavoura foi instalada nos tempos coloniais, o que nos dá um histórico muito grande de aprendizado e crescimento econômico ligado no campo”, observa Barreto.

felipe fonseca


MUNDO CANA

Conhecimento

que brota Pesquisas constantes garantem novas variedades de cana, proporcionando aumentos seguidos de produtividade

Djalma: o mundo está de olho no combustível limpo

Q

>

Benjamin

sas para aumentar o rendimento da lavoura.

Franklin disse que “investir em

“Os experimentos voltados para a atividade

conhecimento sempre rende os

estão focados no aprimoramento do trabalho

melhores juros”, ele provavelmente não se

realizado no campo. O resultado é o contínuo

referia ao setor sucroalcooleiro. Mas a frase

aumento da produtividade da cana”, ressal-

se encaixa perfeitamente. Desde que o Brasil

ta Djalma Euzébio Simões Neto, engenheiro

recebeu os primeiros portugueses, vem cole-

agrônomo, consultor e professor da Universi-

cionando novas técnicas de plantio e pesqui-

dade Federal Rural de Pernambuco.

felipe fonseca

uando

o

inventor

Não faltam provas da relevância das pesquisas científicas para a cana. O próprio professor Djalma comanda uma equipe envolvida em diferentes experimentos. Ele coordena o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar. “Mesmo que leve algum tempo, a universidade coloca nas mãos do agricultor a tecnologia que pode alavancar a produção. As variedades da cana são exemplos incontestáveis disso”, explica. Quando descobertas em território nacional, as variedades canavieiras levam no nome a sigla RB (República do Brasil ou RIDESA Brasil) somadas ao ano do cruzamento genético e ao código de experimentação daquela cultivar. Por exemplo: a variedade RB867515 (a mais plantada no país) foi hibridizada em 1986, embora tenha sido lançada comercialmente 12 anos mais tarde, em 1998. O mais importante é que estas cultivares


MUNDO CANA contêm as características que os empresários do setor sucroalcooleiro buscam. O trabalho para chegar ao padrão desejado é árduo. Os pesquisadores chegam a fazer centenas de cruzamentos e produzem até três milhões de plantas geneticamente diferentes para selecionar três, duas, uma e em alguns anos de cruzamentos nenhuma, após mais de 10 anos de experimentação. As cultivares precisam atender às exigências climáticas, variações de solo e topografia da região em que será plantada. “Nos últimos meses, nós vimos o país comemorar a notícia sobre a reserva de combustíveis fosseis, o pré-sal, o que é fantástico. Mas não podemos nos esquecer que essas são fontes esgotáveis. O mundo está cada vez mais Pesquisas de cultivares consomem pelo menos uma década

interessado no combustível limpo. E, para isso, precisamos investir em produtividade da cana”, acrescenta Simões Neto. O consultor comemora as conquistas do

felipe fonseca

setor. Ao acompanhar a visita de estrangei-

existem quase 100 milhões de hectares no

ros interessados no know-how brasileiro,

Brasil disponíveis para agricultura e a cana,

ele percebe que os mais de 500 anos plan-

que ocupa hoje cerca de 8 milhões de hec-

tando cana geraram conhecimento como

tares, pode ser cultivada sem afetar outros

em nenhum outro lugar

do

planeta.

“Quando o assunto é etanol, o Brasil é a principal referência mundial”,

resume.

Em solo de nações

sistemas produtivos,

atingindo 15 milhões

O mundo está cada

vez mais interessado

no combustível limpo.

como Angola, Mo-

E, para isso, precisamos

çambique e países

investir em

da América Central

produtividade da cana

diversas tecnologias brasileiras, inclusive

e do Sul, existem

para atender a demanda crescente de etanol. E para quem tem receio em relação a este crescimento, o professor Djalma adverte: “A cana-de-açúcar não vai invadir o que não deve”. O foco, no momento, é abastecer a

variedades surgidas no Brasil.

demanda interna e aumentar a quantidade

E a expectativa é de que o país produza

de produto e tecnologia para exportação.

ainda mais. Segundo dados do Instituto

Conhecimento, tecnologia e experiência

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

acumulada para isso não faltam. 19


MUNDO CANA

Lombos quebrados em busca do lucro Manejo da cana traz desafio (e solução) para produtores que já optaram pela colheita mecanizada

A

Colheita mecânica trouxe desafio para produtores, explica Christoffoleti >

colheita mecanizada trouxe diver-

O desafio aparece justamente na hora da

sos benefícios para o setor sucro-

colheita feita com máquina, pois este des-

alcooleiro. É possível citar o avan-

nível impede que o equipamento corte a

ço da produtividade por hectare, o menor

cana inteira até o solo. A solução, assim, é

desgaste humano e a proteção do meio

adotar uma prática chamada nacionalmen-

ambiente, pois a técnica dispensa a quei-

te de “manejo de quebra-lombo” (ou cien-

ma da palha no canavial. Existe, porém,

tificamente classificada como “operação

um desafio que surgiu apenas quando este

mecânica de sistematização do solo”). Fun-

tipo de colheita começou a ser implantado

ciona assim: 90 dias após o plantio da cana

no País. Por ser necessário fazer sulcos na

planta, revolve-se a terra onde se formará o

terra para a instalação da primeira safra do

canavial. Isso ni-

canavial, cria-se no solo um desnível entre

vela o terreno e

estes sulcos. Essas áreas mais elevadas

permite o maior

são popularmente conhecidas como lombo.


MUNDO CANA aproveitamento pela colheitadeira. Dessa

Outra conquista é a organização crescente

forma, uma área do Centro-Sul (sudeste,

do setor, o que mostra independência em

centro-oeste e sul do Brasil) que recebe a

relação às decisões governamentais. “Não

cana planta em fevereiro terá manejo de

temos mais cotas de produção, o que mos-

quebra-lombro entre maio e junho. O professor dr. Pedro J. Christoffoleti, do

Departamento

de Produção Vegetal da Esalq/USP, lembra que existe outra

tra que o negócio está totalmente desregulamentado e na

Hoje temos mais

disputa por merca-

disponibilidade de

dos”. A maior ajuda

bons produtos, inclusive

do Estado continua

para períodos secos.

questão importante

A perda de produtividade

a ser considerada: o

é cada vez menor e

com a colheita me-

tende a zero

canizada pode inibir a ação dos defensi-

revolvimento do solo

sendo o incentivo. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por exemplo, é responsável pela maior parte dos financiamentos

em

vos agrícolas aplicados no início do plantio.

cana. Outra ajuda importante é a divulgação

“Então, é necessário fazer uma segunda

internacional, o que deve atrair ainda mais

aplicação. O ideal é trabalhar com produ-

a atenção de compradores estrangeiros de

tos especializados como os que têm ótimo

etanol, tecnologias e práticas de manejo

desempenho em períodos secos”, afirma.

que estão sendo desenvolvidas neste mo-

Para o pesquisador, esse tipo de adapta-

mento no país.

ção mostra como o setor sucroalcooleiro

Quem conhece pessoalmente Pedro Chris-

se adapta com facilidade aos desafios im-

toffoleti sabe que uma de suas paixões é

postos pelo meio produtivo e também pelo

o conhecimento. Isso pôde ser observado

mercado. Desde 1981, quando Christoffo-

durante o “I Simpósio de manejo de plan-

leti se formou em Engenharia Agronômi-

tas daninhas na cultura da cana-de-açúcar”,

ca, muitas tecnologias foram incorporadas

realizado em outubro de 2009, na Esalq. O

pelos produtores. “Tivemos avanços muito

professor coordenou o evento, que abordou

significativos em produtividade neste perí-

temas preciosos à produção de cana, como

odo, com aumento de até 20 toneladas por

manejo em cana crua, em solo seco, colhei-

hectare”, lembra. De modo especial, ele

ta mecanizada e custo-benefício da aplica-

cita entre estes avanços as pesquisas e vá-

ção de herbicidas no canavial.

rias soluções em melhoramento genético, irrigação, fertilidade do solo e controle de plantas daninhas. “Hoje temos mais disponibilidade de bons produtos, inclusive para períodos secos. A perda de produtividade é cada vez menor e tende a zero”, completa o professor. 21


MUNDO CANA

Embalagem tamanho família Sistema para descarregamento de Big Bags traz lucro, evita desperdício e permite maior controle da aplicação de defensivos agrícolas

Q

Horacio: bolsões facilitam manejo e reduzem custos

uem trabalha com a proteção do

mediate Bulk Containers) ou, simplesmente,

canavial sabe que a aplicação de

bolsões que comportam grande quantidade

defensivos agrícolas exige aten-

de produto, já estão à disposição e oferecem

ção e cuidados especiais. O manuseio do

facilidades na hora de proteger o canavial.

produto precisa ser feito com qualidade e

Como o peso destes bolsões é de mil quilos,

precisão para evitar desperdícios. Também é

a empresa Dynamic Air adaptou um de seus

preciso considerar outro fator: as realidades

60 tipos de Bulk Buster para usar a Big Bag.

dos aplicadores espalhados pelo país são di-

Usando o herbicida amicarbazone, a empresa

versas e alguns ficam distantes dos centros

criou o equipamento ideal para o uso correto

de distribuição de produtos (o que encarece

deste defensivo em grandes embalagens no

o reabastecimento das propriedades).

campo. “O Bulk Buster reduz o risco de con-

Atento a esses dois importantes dados, o

taminação dos aplicadores, pois não há con-

mercado encontrou uma solução para permi-

tato humano diretamente com o produto”,

tir lucro aos canavieiros.

explica Horacio Paez, diretor da Dynamic Air.

As chamadas emba-

O funcionamento do Bulk Buster é simples:

lagens Big Bag, tam-

quando o Big Bag chega à propriedade, alças

bém conhecidas como

mecânicas elevam o defensivo até a parte su-

FIBCs (Flexible Inter-

perior do equipamento; depois, uma lâmina perfura o bolsão e despeja o produto em um

>

tanque de dispersão, onde ele é misturado com água; neste processo, um sistema de dosagem garante que o herbicida seja fracionado em parcelas entre 10 kg e 40 kg, com pequenos intervalos; finalmente, a tubulação felipe fonseca

de transporte carrega o defensivo devidamente dosado e misturado para o sistema de aplicação a campo. “Já fizemos Bulk Busters para indústrias dos


MUNDO CANA

mais variados segmentos de pelo menos 130

tornam-se empresários e agora desejam in-

países. Este foi totalmente pensado para

vestir em soluções que melhorem sua atua-

vencer os desafios na hora de usar Big Bags

ção no mercado. “O futuro da produção rural

na cana”, reforça Paez. Para a adaptação do

caminha junto da tecnologia. Sem ela, hoje é

equipamento, a Dynamic Air consumiu me-

impensável o bom desempenho produtivo. A

ses na avaliação de soluções para superar

automação do segmento da cana é uma con-

determinadas barreiras. Entre elas, estava a

quista inquestionável dos últimos anos e sem

proibição de energia pneumática (que vem da

dúvida alguma ainda trará resultados surpre-

compressão de ar atmosférico). Caso contrá-

endentes”, analisa Paez.

rio, o Bulk Buster demandaria a instalação de

O equipamento já está disponível no merca-

outros equipamentos, o que poderia tornar

do e pode ser usado em qualquer usina.

>

divulgação

Equipamento criado pela Dynamic Air facilita distribuição de defensivos

o projeto inviável. Por isso, ele foi adaptado para funcionar apenas com energia elétrica. Para garantir a pesagem correta de cada dose a ser misturada em água, o Bulk Buster traz

VANTAGENS DA EMBALAGEM DE 500 kg • Menor desgaste físico de quem manuseia o produto

um sistema interessante de medição. Cha-

• Redução do total de embalagens

mado de Loss In Weight Feeding (dosagem

• Precisão na dosagem

por perda de peso), o processo soma os quilos

• Maior limpeza do ambiente no processo de mistura em água

do Big Bag quando ele chega ao equipamen-

• Menor custo com mão de obra

to e vai descontando a cada dosagem. Todo o

• Proteção do meio ambiente e das pessoas

peso do Bulk Buster já é descontado pela balança digital que acompanha o sistema. Essa tecnologia faz parte do novo momento do agronegócio, no qual os produtores

• Gastos menores com manutenção • Controle das paradas na produção Evita fraudes e roubos por causa do seu tamanho

23


MUNDO CANA

Controle de pragas: corda-de-viola Espalhada pelo Brasil, planta daninha tem ação agressiva e aumenta o custo do canavial, mas controle é possível

Planta daninha proliferou com o avanço da colheita mecanizada

U

>

ma das mais conhecidas e fre-

ção é feita por sementes, com adaptação a

quentes plantas daninhas da

qualquer tipo de solo. Segundo a Embrapa

cana é a corda-de-viola, planta

(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá-

herbácea trepadeira da família das Convo-

ria), a corda-de-viola possui mais de 140

vulaceae. Com ação em todo o continente

espécies. Ela se tornou um grande desafio

americano, ela pode chegar a três metros

para o setor sucroalcooleiro porque é ex-

de comprimento. Suas flores têm aparên-

tremamente agressiva para a cana, que não

cia vistosa e suas cores variam conforme a

consegue sobreviver se não houver contro-

espécie. Essa planta é anual e sua reprodu-

le. “Mesmo se houver baixa infestação desta praga e a cana sobreviver, ocorrerá significativa queda da produtividade e ficará mais caro produzir”, informa Rodrigo Gimenes, especialista de Desenvolvimento de Produto e Mercado da Arysta LifeScience. A corda-de-viola ganhou destaque após o avanço da colheita mecanizada. O espaço onde havia o chamado colchão de palha (que poderia impedir o aparecimento de plantas daninhas) tornou-se o ambiente preferido da planta invasora. “O desafio maior está no controle do banco de sementes. Esta espécie se espalha com facilidade pelo canavial, inclusive com ajuda da própria colhedora”, completa Gimenes. Para a colheita mecânica, ela é um desafio maior ainda. Essas pragas atrapalham significativamente o processo, pois se enrolam nas máquinas e seguram grande quantidade de

24


MUNDO CANA

o mais adequado

é o uso de defensivo que impeça o

nascimento desse tipo de planta

palha de cana. Isso compromete o rendimento em até 30%. Há casos em que a presença da corda-de-viola é tão forte que as plantas em criar soluções inteligentes para defen-

preciso, então, realizar a desinfecção mecâ-

der o canavial contra espécies invasoras”,

nica ou química do canavial, práticas paliati-

resume Rodrigo Gimenes.

vas que aumentam os custos de produção.

>

chegam a inviabilizar a colheita mecânica. É

O ideal é prevenir o nascimento da planta na lavoura de cana

solução inteligente O ideal é prevenir. O mais adequado é o uso de produtos que impeçam o nascimento desse tipo de planta na lavoura de cana. Estes insumos precisam ter ação prolongada, pois a corda-de-viola pode germinar durante todo o desenvolvimento do canavial, mesmo que seja com poucas sementes. Há alguns anos, a Arysta iniciou trabalhos em cana-de-açúcar com amicarbazone, o princípio ativo do herbicida Dinamic. Os primeiros testes já mostravam a alta eficácia do produto para combater a corda-de-viola. Ele demonstrou eficiência ao combater tanto espécies de folha estreita como as de folha larga. O resultado surpreendeu com o controle altamente satisfatório das trepadeiras como nenhum outro defensivo do mercado. “O controle de corda-de-viola com Dinamic é uma ilustração do compromisso da Arysta 25


MUNDO CANA

Artigo

>

por Coriolano Xavier e José Luiz Tejon *

O espetáculo do agronegócio Como o marketing pode ajudar a expandir ainda mais o setor rural no Brasil

>

O

26

qualidade dos nossos produtos, especialmente de mercados mais exigentes, como a União Europeia. O agronegócio não desempenha apenas o papel de fornecedor tradicional de commodities. O foco inclui o exterior, com operações e marcas internacionais já presentes em praticamente todos os cantos do mundo. Neste novo cenário, o marketing é essencial para gerenciar os riscos. Não podemos nos expor a erros em

agronegócio e a sociedade

60% da população no campo. Porco

responsabilidade social, ambiental ou de

estão mais próximos.As pes-

era sinônimo de gordura para cozinhar

sanidade em nossos produtos, marcas

soas estão mais interessa-

e conservar alimentos e era difícil con-

e imagem. Não investir na boa imagem

das em conhecer a origem dos alimen-

vencer o agricultor a usar novidades

seria correr atrás do próprio rabo.

tos, modos de produção, processos

tecnológicas. O país mudou muito e,

Em um mercado acirrado e em cons-

envolvidos no cultivo, sustentabilidade

hoje, quase 80% da população estão

tante profissionalização, os empresá-

do setor e garantia de qualidade dos

nas cidades. O porco tornou-se carne

rios rurais podem utilizar as campa-

produtos. Para terem mais transparên-

ultralight e hoje temos agricultura de

nhas de marketing e diálogos com as

cia, fornecedores de alimentos, fibras e

precisão, GPS e satélite.

mais diversas mídias para mostrar os

bioenergia precisam usar ferramentas

Essa modernização permitiu aban-

diferenciais do seu negócio, sustenta-

de mercadologia, planejamento e mar-

donar pouco a pouco a cultura geren-

bilidade e compromisso com a socieda-

keting. Há mais ou menos 50 anos, o

cial de agricultura de sobrevivência.

de. Tudo isso favorece a construção e a

Brasil era um país rural, com cerca de

O produtor virou empresário rural. O

consolidação de imagem no mercado.

bom marketing

Nos setores em ascensão, como o do

em agronegócio

etanol, essa comunicação tem papel

exige observa-

fundamental ao aproximar fornecedo-

ção de todo o

res, distribuidores e consumidores.

setor, que é uma

O agronegócio precisa se ver como

cadeia produtiva

parte do espetáculo da comunica-

que agrega valor

ção. As pessoas cultuam cada vez

movida por de-

mais o prazer, bem-estar, felicidade

manda derivada.

aparente, moda, valor estético, reco-

As percepções

nhecimento e visibilidade social. Es-

de

demanda

ses valores foram assimilados pelos

se formam da

estrategistas empresariais e transfor-

ponta do consumo para trás. Não

mados em poderosa ferramenta per-

importa o elo: é fundamental enxergar

suasiva, por meio das tecnologias de

a cadeia inteira, pois cada segmento é

marketing. Na prática, isso significa

influenciado pelas outras etapas pro-

usar apelos emocionais na propagan-

dutivas. As ferramentas de marketing

da, especialmente de forma indireta.

são fundamentais para chamar a aten-

Está aí uma lição a ser aprendida e mul-

ção dos países importadores sobre a

tiplicada pelo campo.

*Coriolano Xavier (à direita) é coordenador adjunto do Núcleo de Agronegócio da ESPM e professor da FGV-Pec; José Luiz Tejon é responsável pelo núcleo de agronegócios na pós-graduação da ESPM, especialista em agronegócio por Harvard e professor da FGV. Em conjunto, eles publicaram, em 2009, o livro “Marketing & Agronegócio: A nova gestão – diálogo com a sociedade” (Editora Pearson Education).


mudbum.com.br

*Conforme recomendação técnica Arysta LifeScience.



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