Mundo Cana 3 Sep'10

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MUNDO CaNA Setembro de 2010 | ano 02 | no 03

Dos laboratórios à lavoura, as contribuições da pesquisa Etanol Celulósico: a um passo de se tornar realidade Sistematização do solo reduz custos

Horizonte promissor, afirma Duarte Nogueira Entrevista


mudbum.com.br

$POGPSNF SFDPNFOEBÎÍP UÏDOJDB "SZTUB -JGF4DJFODF

$POGPSNF CVMB EP QSPEVUP $POTVMUF P SFQSFTFOUBOUF "SZTUB -JGF4DJFODF EB TVB SFHJÍP


MUNDO CANA

MUNDO CANA

5

22

ANO 02 - NÚMERO 03 SETEMBRO DE 2010 A revista Mundo Cana é o veículo de comunicação oficial da Arysta LifeScience para o mercado sucroalcooleiro. Coordenação Geral Antonio Carlos Costa Adriana Taguchi Gustavo Gonella

20 Editorial Antonio Carlos Costa Diretor de Marketing da Arysta LifeScience pág.

4

USINA Usina Guarani (SP) Baixos custos, alta produtividade pág.

8

USINA Usina Viralcool (SP) De pai para filho, crescimento sólido pág.

12

CONsultor Antonio Luiz Gazon Organizando a lavoura e colhendo produtividade pág.

18

manejo Uso de Bioestimulantes potencializa a produção pág.

22

Artigo Caio Giusti A importância da seletividade pág.

26

Produção Texto Assessoria de Comunicações

Entrevista Duarte Nogueira “O futuro nos parece bem promissor” pág.

5

USINA Usina São Martinho (SP) Os grandes desafios da maior do mundo pág.

10

FORNECEDORES Irmãos Campanelli, Daniel Aníbal, Valderes Consoli e Antônio Aníbal Importantes produtores do pólo de Ribeirão Preto (SP) pág.

14

Jornalista Responsável Altair Albuquerque (MTb 17.291) Redação Ivan Azevedo Fotos Ivan Azevedo e Arquivo Arysta Projeto Gráfico e Design Ronaldo Albuquerque Tiragem 2.000 exemplres Arysta LifeScience do Brasil Rua Jundiaí, 50 – 4º andar São Paulo/SP – Brasil CEP.: 04001-904 Telefone: 55 11 3054-5000 Fax: 55 11 3057-0525 www.arystalifescience.com.br mundocana@arysta.com.br

pesquisa Carlos Rossell Incremento de 50% na produção nacional pág.

20

projetos em cana Programa Ação Contribuição da Arysta à informação no campo pág.

24 3


MUNDO CANA

A maior safra de todos os tempos Os especialistas dizem que, em uma década, a produtividade média do setor sucroalcooleiro deve dobrar. Com essa expectativa eles interpretam o incontestável avanço tecnológico e as constantes inovações incorporadas à atividade. Essa comprovação é colhida em números. A atual safra brasileira de cana-de-açúcar é simplesmente a maior da história, devendo ultrapassar Antonio Carlos Costa, Diretor de Marketing da Arysta LifeScience >

664 milhões de toneladas. A informação é preliminar e pode mudar até o encerramento da moagem, porém dá a exata noção de como os agentes da cadeia produtiva trabalham em sintonia para impulsionar a cultura e, consequentemente, gerar mais divisas ao país em exportação de açúcar e

Editorial

etanol.

4

Além do volume recorde de cana, destaca-se o aumento da produtividade (+ 0,6%), que coloca em 82,1 t/hectare a média nacional, e da área plantada, que aumentou 9,9% neste ano, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Devido a esse melhor desempenho, serão produzidos mais de 28,5 bilhões de litros de etanol e 38,7 milhões de toneladas de açúcar. Em sua terceira edição, a revista Mundo Cana traz mais exemplos de produtores, especialistas e indústrias que ajudam, e como, a mostrar a força do setor sucroalcooleiro. Também mostra novas tecnologias, inclusive em termos de insumos, que mantêm a atividade em expansão e mais eficiente. Eficiente e ambientalmente responsável. Cada vez mais salta aos olhos a função social da energia renovável que, como informa o ex-secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Duarte Nogueira, nosso entrevistado desta edição, comprovadamente emite menos gases de efeito estufa. A cana é a melhor aposta do planeta para ampliar em 47% o fornecimento de energia até 2050, como deseja a ONU. Mais um desafio que tem tudo para ser vencido pelo setor rural do nosso país. Boa leitura!


Entrevista

>

Duarte Nogueira

MUNDO CANA

Futuro promissor para a cana brasileira Ex-secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e atual deputado federal,

divulgação

Palavras do deputado Duarte Nogueira, um dos mais importantes defensores do meio rural e, particularmente, do setor sucroalcooleiro.

Antonio Duarte Nogueira Júnior é um dos mais atuantes defensores do agronegócio brasileiro e, especialmente, do setor sucroalcooleiro. Ele acompanha a atividade desde o seu florescimento e enxerga um potencial indiscutível de crescimento nas próximas décadas. “O horizonte nos parece muito promissor”, disse com exclusividade à reportagem da revista Mundo Cana. E ele sabe o que está dizendo. Nesta entrevista, Duarte Nogueira aborda os desafios da cana-de-açúcar, mas também as excepcionais possibilidades de avanço e fortalecimento do negócio para produtores, usinas e o Brasil. Qual a importância do setor

“Não há matéria-prima mais competitiva para produção de energia renovável”

sucroalcooleiro para a economia brasileira? Duarte Nogueira – O setor tem importância estratégica

potencial de energia da cana. Ou

tem números de comparação da

para o Brasil. A cana-de-açúcar é

seja, os horizontes para o Brasil são

emissão de CO2 do etanol e da

mais competitiva do que qualquer

os mais promissores. Segundo a ONU

gasolina ou diesel? A questão am-

outra matéria-prima para a produ-

(Organização das Nações Unidas),

biental é um dos pontos favoráveis

ção de energia renovável alternativa

até 2050 será necessário aumentar

ao etanol brasileiro. O etanol polui

ao petróleo e não compete com a

em 70% a produção de alimentos e

menos do que o petróleo – estudos

indústria de alimentos, como ocorre

em 47% a de energia. E temos todas

indicam que pode emitir até 80%

com o milho, que é a base para a pro-

as condições de nos consolidar como

menos – e é um combustível mais

dução do combustível nos Estados

grande fornecedor nessa área.

neutro (o balanço entre a absorção

Unidos. E, além do etanol, dela são

de CO2 durante o crescimento da

extraídos o açúcar, a biomassa e uma

Como a atividade pode se favore-

planta pode anular a emissão duran-

série de outros derivados. Estima-se

cer com a questão ambiental, tão

te a produção e queima do combus-

que utilizamos apenas um terço do

discutida ultimamente? O senhor

tível, se não houver queima da palha > 5


MUNDO CANA da cana). Estudo recente divulgado

Conclui-se então que há espaços

concentrada no Brasil e Estados Uni-

pela Unica (União da Indústria de

para o contínuo fortalecimento do

dos e nenhum outro país arriscará

Cana-de-açúcar), que representa as

setor sucroalcooleiro e também

ficar dependente do fornecimento

usinas, realizado pela Universida-

para a produção de alimentos

brasileiro ou norte-americano. Veja

de de São Paulo e Universidade de

(grão e pecuária) no país?

que as exportações em larga escala

Campinas, mostrou que o uso do

Sem dúvida. Ainda temos áreas

para o Japão, que há anos negocia

etanol reduziu as emissões dos gases

que podem ser liberadas para a

com o Brasil, ainda não se concretiza-

de efeito estufa em 10% entre 1990 e

agricultura, como as pastagens

ram. E, fora isso, há outros pontos a

2006 – excluindo a parcela devida ao

degradadas, e o uso da tecnologia

ser solucionados, como as barreiras

desmatamento. Para 2020, estima-se

proporcionará grandes saltos em

impostas ao etanol e também à ins-

corte de 18% em relação a 1990. Ain-

produtividade, além dos que já

tabilidade da produção brasileira.

da segundo o estudo, em 2006 o uso

tivemos. No início da década de 60,

cionou a redução de 22% das emissões finais dos setores de transporte e geração de energia e chegará a 43% em 2020. Creio que esse balanço caracteriza bem a vantagem do etanol sobre os combustíveis fósseis. E como lidar com as críticas,

Uma vez commodity, haverá im-

pactos no mercado brasileiro sob o ponto de vista da produção?

O setor precisa ter segurança

para produzir mais e isso passa pela

do etanol como combustível propor-

é preciso organizar a produção para evitar as bruscas oscilações de preços na safra e entressafra. Esse é um problema que ainda não conseguimos superar e que gera insegurança

principalmente internacionais, que

necessidade da

no mercado externo. No ano passa-

culpam as grandes áreas de cana

definição de um

do, em plena safra, encontrava-se

pelo desmatamento e concorrência com a produção de alimentos? Esse é um trabalho de convencimento que deve ser feito pelo Brasil constantemente em todas as

marco regulatório

o litro do etanol a R$ 1,00 ou até menos, enquanto em janeiro, na entressafra, em determinadas regiões de São Paulo beirava os R$ 2,00. E se tivéssemos de exportar mais não

instâncias e foros de discussão. É

eram precisos 3,5 hectares para

teríamos condições porque a oferta

quase uma pregação. A cana ocupa

alimentar um habitante e hoje é ne-

estava ajustada à demanda interna.

no Brasil cerca de 8 milhões de

cessário apenas 1 hectare/habitante.

É preciso resolver isso de forma efetiva. O setor precisa ter seguran-

hectares, enquanto a área ocupada

6

Para o etanol se tornar commodity

com grãos é de 47,5 milhões/ha. É

Falando da ligação com o mercado

ça para produzir mais, o que passa

possível ampliar a produtividade

externo, o senhor acredita que o

pela necessidade da definição de

tanto da cana como de alimentos

etanol se tornará commodity? É

um marco regulatório.

com a utilização de tecnologia.

possível estimar em quanto tempo

Há 30 anos, cada hectare de cana

pode ocorrer? Com certeza. Mas é

Acompanhando a tendência de

produzia 3.000 litros de etanol. Hoje,

difícil estimar em quanto tempo isso

formação de grandes grupos de

gera quase 7.000. No caso dos grãos,

ocorrerá porque depende de uma

usinas, como os menores devem

na safra 1979/80 foram produzidos

série de fatores e esse processo é

agir para sobreviver e, mais do que

1.290 kg por hectare enquanto hoje

mais lento do que desejamos. A pro-

isso, se manter atuantes e rentá-

produzimos 3.092 kg/ha.

dução mundial de etanol continua

veis? Sempre digo que em qualquer


MUNDO CANA divulgação

produção do setor –, deverá haver incremento de 10% no volume de cana processada, chegando a 595,8 milhões de toneladas. A produção de açúcar crescerá 19%, totalizando 34 milhões de toneladas, enquanto a de etanol subirá 15%, para 27,3 bilhões de litros. Essas projeções indicam que os embarques de açúcar poderão chegar a 24,3 milhões de toneladas, enquanto os de etanol tendem a ser menores, em torno de 1,8 bilhão de litros. A safra passada foi atípica por conta do alto volume de chuva e sobrou cana em pé. No entanto, o que se estima é um

“Há espaço para que as pequenas e médias empresas se consolidem, buscando parcerias estratégicas”

pequeno aumento de produtividade e a entrada em funcionamento de novas indústrias, o que manterá a produção em ascensão.

cadeia de produção a concentração

interessante. Segundo dados do

é um caminho sem volta. As cerca de

setor, em 2008 a biomassa como um

Fazendo análise de médio pra-

420 indústrias são controladas por

todo, incorporando bagaço de cana

zo, como o senhor enxerga os

200 grupos econômicos. A tendência

e palha, representava menos de 5%

canaviais brasileiros em 2020 em

é de concentração, com participação

da matriz energética. O potencial

termos de produtividade e tecno-

importante de grupos estrangeiros,

de absorção do mercado em 2002

logia? Nesse espaço de dez anos

já que o setor sucroenergético brasi-

era estimado em 12%. Ou seja, há

espera-se que a transgenia seja uma

leiro se mostra um grande negócio.

potencial muito importante por

realidade para os canaviais brasi-

Em 2007, segundo dados da Unica, o

parte do setor sucroenergético no

leiros e, certamente, os institutos

capital estrangeiro controlava 7% do

fornecimento na geração de bioele-

de pesquisas terão colocado no

setor no Brasil e hoje esse percentu-

tricidade. O que é necessário ocorrer

mercado variedades cada vez mais

al chega a 22%. Mesmo assim, creio

é a revisão nas regras dos leilões de

eficientes. Em relação a isso, os

que há espaço para que as pequenas

energia para estimular a participa-

nossos institutos estão entre os

e médias empresas se consolidem,

ção de maior número de projetos de

melhores do mundo e só chegamos

buscando parcerias estratégicas.

cogeração a partir da cana.

neste patamar pela contribuição desses órgãos e seus pesquisadores.

O setor sucroalcooleiro também

E em relação ao desempenho dos

A indústria certamente continuará

contribui e contribuirá ainda mais

segmentos de açúcar, etanol e

ganhando eficiência e até lá o etanol

para a produção de energia limpa

energia (eletricidade) em 2010?

celulósico, já viabilizado economi-

(eletricidade). Como o senhor ana-

O que esperar? Pelas estimativas

camente, representará um salto na

lisa essa questão neste momento?

já divulgadas para a região Centro-

produção do setor. Enfim, o futuro

Sim, já contribui e o potencial é bem

Sul – responsável por 85% da

nos parece bem promissor. 7


MUNDO CANA

Na vanguarda da tecnologia

Investindo em pesquisa e inovação, a Guarani alia produtividade a baixo custo de produção para ganhar mercado

C Safra 2008/2009: 996 mil t de açúcar, 482 mil m3 de etanol e 117,8 MWh de energia, informa Leonardo Cintra >

8

om moagem estimada em 21,5

cas agrícolas de cada unidade”, comenta o

milhões de toneladas na safra

gerente agrícola da unidade de Tanabi (SP),

2010/11, a Guarani ocupa a tercei-

Leonardo Cintra.

ra posição do ranking brasileiro do setor

Com sete usinas em São Paulo e uma em

sucroenergético e tem planos de cresci-

Moçambique, na África, a Guarani produz

mento. Para atingir esse objetivo, investe

cerca de 30% da matéria-prima que esmaga,

em inovações, tendo como base a área de

sendo 70% por meio de colheita mecaniza-

Desenvolvimento de Tecnologia Agrícola.

da. Na última safra o grupo gerou 996 mil

“Este departamento busca melhorias con-

toneladas de açúcar, 482 mil m³ de etanol e

tínuas na companhia, principalmente com

117,8 megawatt hora (MWh) de energia.

a implantação de novas tecnologias na la-

Investindo no aperfeiçoamento do processo

voura e padronização das melhores práti-

produtivo, a área de Desenvolvimento de ivan azevedo


MUNDO CANA Tecnologia Agrícola foca diversas pesqui-

Novas tecnologias ajudam a Guarani a aumentar produção

sas, como testes de novos produtos e equipamentos, avaliação e validação de novas variedades, produção de métodos de controle biológico de pragas e planejamento da sistematização de solo, entre outros. Dentre as tecnologias, a Guarani utiliza a aplicação de calcário e gesso agrícola nas áreas de plantio e soqueira em taxa variada (ATV), seguindo as recomendações geradas a partir dos resultados de amostras de solo georreferenciadas. Além disso, desenvolve um equipamento para aplicação de nitro-

ivan azevedo

gênio, fósforo e potássio em taxa variada,

desenvolvimento ve-

buscando formular o insumo no campo por

getativo dos demais,

meio dos resultados de análise de solo e

viabilizando a corre-

imagens de satélite.

ção antecipada após

Outro ponto relevante é o desenvolvimen-

a identificação do

to interno do controle biológico de pragas,

agente causal (pra-

que atualmente trabalha para combater

gas, doenças, pedo-

dois importantes problemas da lavoura: a

logia etc). “Estamos

broca da cana e a cigarrinha da raiz. A re-

em fases de validação desta ferramenta,

produção da vespinha Cotesia flavipes, para

mas a pretensão é expandir, visando a ver-

controlar a broca, e do fungo Metarhizium

ticalização da produção”, ressalta o gerente

anisopliae, contra a cigarrinha da raiz, são

Leonardo Cintra.

fundamentais para alavancar a produtivi-

Além disso, a Guarani utiliza sistemas especí-

lhorar a qualidade da matéria-prima. Nesse momento, uma das frentes de trabalho de inovação da Guarani é a utilização de imagens de

satélites

para

identificar possíveis anomalias vegetati-

ficos de planejamento de colheita e trans-

Atualmente

porte

de

cana-de-

trabalhamos para

açúcar, auxiliando a

combater as duas pragas

definição das melho-

dade agrícola e me-

de maior prejuízo aos

res áreas para o corte, maximizando a pro-

canaviais: a broca da cana

dutividade das má-

e a cigarrinha

quinas, assim como a

da raiz

vas nos canaviais. O

qualidade da matériaprima. Toda tecnologia desenvolvida pela

Sistema de Informação Georreferenciada

empresa é repassada aos fornecedores em

(SIG) registra imagens amplas da lavou-

reuniões técnicas e publicações específicas,

ra, possibilitando analisar pontos isolados

buscando maior rendimento e qualidade em

(manchas) que não apresentam o mesmo

todas as áreas de atuação. 9


MUNDO CANA

A maior do mundo aposta nas pessoas 4 mil colaboradores motivados movimentam a São martinho, maior usina de moagem de cana do planeta

P

Mário Gandini: o sucesso está em pessoas comprometidas >

10

radópolis é um pequeno município

soas, que realizamos periodicamente por

do interior de São Paulo, com ape-

meio de constante treinamento, rigidez na

nas 16 mil habitantes. Pequeno em

qualificação e foco em produção e eficiên-

tamanho, grande em importância para a

cia”, comenta o diretor agroindustrial da

economia rural. Lá está a Usina São Marti-

unidade, Mário Gandini.

nho, do grupo do mesmo nome. Trata-se da

No total, são 4 mil colaboradores empenhados

maior do mundo em quantidade processada

não apenas em manter a alta produtividade

de cana-de-açúcar e parada obrigatória de

mas em buscar sempre mais. “Levamos muito

líderes empresariais e políticos de várias par-

a sério o aperfeiçoamento técnico dos cola-

tes do planeta que vêm ao Brasil conhecer o

boradores. Entendemos que o conhecimento

setor sucroalcooleiro.

multiplica os resultados e não medimos esfor-

Na última safra, a São Martinho moeu 8,172

ços para ter equipes realmente empenhadas

milhões de toneladas de cana-de-açúcar; nes-

em fazer o melhor”, ressalta Gandini.

ta, pretende utilizar 8,5 milhões de t, o que

O treinamento não fica apenas no campo da

deverá gerar 600 mil t de açúcar tipo exporta-

eficiência. A São Martinho também oferece

ção e 325 milhões de litros de etanol.

palestras sobre educação empresarial aos

“São números que simbolizam os re-

funcionários. “Aqui na unidade trabalhamos

sultados dos investimentos em pes-

sempre com o ‘muito obrigado’, ‘por favor’ e


MUNDO CANA

o conhecimento multiplica os resultados e não

medimos esforços para São Martinho esmaga 8,5 mi t por safra

ter equipes

realmente empenhadas em fazer o melhor

‘com licença’, tornando o clima bem agradável e educado entre os colaboradores. Todos são tratados da mesma maneira, independente do cargo ou tempo de casa, e faze-

ivan azevedo

O grupo são martinho em números A Usina São Martinho é a maior do grupo, mas não a única. Há duas outras unidades estrategicamente localizadas no interior do Estado de São Paulo e em Goiás, além da Omtek, que produz derivados de levedura com base em biotecnologia para alimentação humana e animal. São elas: Usina São Martinho, em Pradópolis (SP)

mos questão de investir nesta área porque

Fundada em 1948 e hoje com 4 mil colaboradores, é uma das mais modernas

acreditamos que o ambiente de trabalho

do país não apenas pelo porte, mas também pelos avançados processos pro-

está diretamente relacionado ao rendimen-

dutivos nas áreas agrícola e industrial e uma logística privilegiada.

to pessoal”, enfatiza o diretor. O aperfeiçoamento é, assim, base de atuação da empresa. Os colaboradores são incentivados a progredir e, para isso, podem receber bolsas de estudo de níveis técnico, graduação e pós-graduação. Com essas e

Usina Iracema, em Iracemápolis (SP) Localizada em um dos primeiros pólos de desenvolvimento da indústria açucareira paulista no século passado, tem mais de 70 anos de experiência na fabricação de etanol e açúcar e conta com 2 mil colaboradores. Usina Boa Vista, em Quirinópolis (GO)

outras iniciativas, a organização tem funcio-

Inaugurada em 2008, é uma das mais modernas usinas do mundo. Sua ca-

nários motivados, atualizados, versáteis e,

pacidade inicial de processamento de cana é de 2,5 milhões de toneladas. A

especialmente, comprometidos.

unidade emprega 1,6 mil colaboradores.

Toda essa preocupação com os funcionários é essencial para a usina ser gerenciada com

a São Martinho utiliza um ramal ferroviário

sucesso. “Moer 45 mil t por dia, buscando

na própria unidade, que escoa etanol e açú-

cana em raio médio de 27 quilômetros, traz

car até o Porto de Santos.

muitos desafios. Como a logística envolve di-

“As 600 mil t de açúcar que produziremos

versos detalhes, o tamanho da operação faz

nesta safra são colocados diretamente

essas surpresas se multiplicarem no dia a dia

nos vagões da nossa unidade. É uma lo-

e o desafio é lidar da melhor forma possível

gística tremenda, que utiliza o trabalho

com cada obstáculo”, explica Mário Gandini.

direto de centenas de pessoas. Ao com-

Uma dessas adversidades é o transporte da

pararmos com o transporte rodoviário,

produção, especialmente por via marítima.

atingimos redução de custos de 20%.

Para ganhar agilidade e reduzir os custos,

É um ganho e tanto”. 11


MUNDO CANA

Antonio Toniello: estilo familiar preserva crescimento e solidez ivan azevedo

Grupo Toniello une gerações para crescer Com 24 anos de atuação, Viralcool preserva estrutura familiar mas evolui com competência e diversificação

D

12

e um simples alambique a um dos

nho, nas proximidades de Ribeirão Preto

mais renomados grupos do setor

(SP). Tudo começou pelo suor e visão de

energético brasileiro. Esta é a

Eduardo Tonielo, pai do atual comandante

trajetória da Família Tonielo, que em 1966

da empresa, Antonio Tonielo.

iniciou na produção de aguardente inaugu-

Representante de uma geração de pionei-

rando a Destilaria Santa Inês, em Sertãozi-

ros e desbravadores, o patriarca Eduardo


MUNDO CANA produção. Assim nasceu a Viralcool Unidade

II”, comenta Antonio Tonielo.

Damos muito valor à

O Grupo Toniello está estruturado e tinha capacidade para moer na última safra

empresa e à história que

6 milhões de toneladas de cana e alcançar

ela carrega. Por isso,

a produção de 3 milhões de toneladas de

avaliamos os riscos e

açúcar, 200 milhões de litros de etanol e 3 mil toneladas de levedura. Adicionalmente,

analisamos os gastos e os

volta sua atenção para a produção de ener-

investimentos com muita

gia elétrica a partir da unidade de Castilho,

atenção. Sem dúvida,

que conta com turbinas a vapor. O sucesso desta empresa familiar, a partir do

este é um dos nossos

trabalho iniciado por Eduardo Tonielo, é fruto

pontos fortes

do zelo daqueles que trabalham com apego ao negócio. “Damos muito valor à empresa e à história que ela carrega. Por isso, avaliamos os riscos e analisamos os gastos e os investimentos com muita atenção. Sem dúvida,

percebeu a oportunidade de crescimento e

este é um dos nossos pontos fortes”, ressalta

impulsionou os negócios. Antonio juntou-se

Antonio Eduardo Tonielo Filho, representan-

ao trabalho do pai e incorporou novos con-

te da terceira geração nos negócios.

ceitos. O resultado comprova que pai e fi-

ivan azevedo

lho souberam aproveitar as oportunidades. Uma terceira geração já se une ao desafio de

Moagem aumenta safra a safra

continuar em expansão. O ano de 1984 é importante para analisar a trajetória dos Tonielo, pois marca o início da construção da Usina Viralcool Unidade I, em Pitangueiras, também na região de Ribeirão Preto. Com este empreendimento, nascia oficialmente o Grupo Toniello. Esta mesma unidade foi responsável pela fabricação de levedura desidratada e açúcar cristal em 1998, incrementando a gama de produtos e visando o mercado externo. Em 2006, foi dado novo importante passo para o fortalecimento do grupo, com a construção de uma unidade em Castilho (SP), próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul. “Com o desenvolvimento sólido que marca a nossa história, identificamos a oportunidade de investir em mais uma usina, ampliando a 13


MUNDO CANA Victor e Fábio Campanelli

No topo, entre os maiores ivan azevedo

Quatro

fornecedores

localizados

nos arredores de Ribeirão Preto (SP) expõem as práticas utilizadas nos canaviais para atingir índices de produtividade de até 115 toneladas por hectare, sendo que ainda esperam melhores resultados com a reforma

14

De olho nos indicadores de produção

Novos investimentos em áreas e o

Vindo diretamente da Itália para o

cana-de-açúcar a partir de 2001.

interior de São Paulo, mais precisa-

Foram 455 hectares de cana no pri-

mente para Ariranha, a 380 quilô-

meiro ano, e a cada safra a área foi

metros da capital paulista, o avô dos irmãos Fábio e Victor Campanelli, Ectore Pascoal Campanelli, começou

pelo

tempo passando. E mais uma vez a família sentiu a necessidade de mudar a lavoura, iniciando o plantio da

se multiplicando, chegando aos 8

Irmãos

mil hectares.

Campanelli apro-

Atualmente, 98%

veitam as moder-

da colheita são

nas tecnologias

Conheça a história de quatro produtores de destaque que apontam tecnologia e mecanização como primordiais para o sucesso.

mecanizados. “A eficiência au-

café o contato

para buscar mais

menta à medida

com a produção

eficiência na

que utilizamos a

agrícola. Com o

produção

colheitadeira”,

de áreas degradadas. São experiên-

passar dos anos,

cias pessoais importantes das diver-

novas terras fo-

sas mudanças no trato da lavoura du-

ram incorporadas, mas a deprecia-

A idade média da lavoura dos Cam-

rante os últimos 30 anos e de quem

ção do preço do café culminou com

panelli é, hoje, de 3,8 anos, com

apostou na cana-de-açúcar e venceu.

a substituição da cultura por laranja.

produtividade média de 110 t/ha.

informa

Victor

Campanelli.


MUNDO CANA “Mas deveremos avançar nos próximos anos devido à reforma de uma área degradada”, ressalta Victor.

De olho no futuro

Daniel Aníbal

No canavial da família, há lavouras

Com visão de futuro aliada à cora-

de 10º corte que proporcionam 95 t

gem, o agricultor Daniel Aníbal, de

de cana por hectare.

Cravinhos (SP), mudou o rumo da

Victor e Fábio são pioneiros na utili-

sua história há nove anos, quando

zação de equipamentos com GPS na

poucas usinas investiam na mecani-

lavoura. Sempre olhando com muito

zação da colheita. O antigo cortador

lavoura e

interesse para as novas tecnologias

de cana percebeu que um dia as má-

comemora os

disponíveis, eles fazem sistemati-

quinas prevaleceriam nos canaviais

zação do solo.

e resolveu sair na frente, apostando

“Estamos melhorando nossa produ-

na redução de custos operacionais.

tividade visando ampliar a colheita,

“Na época, procurei transbordo

porque não há mais terras disponí-

usado em algumas usinas da região

somadas chegam a 2.040 hectares.

veis para expansão. Confiamos na

para reformá-los e levantei crédito

Tomei a decisão certa. Atualmente,

melhoria dos indicadores nos próxi-

para as colheitadeiras. Com juros

fazer investimento em colheitadei-

mos anos a partir do uso contínuo de

baixos do banco e da cooperativa,

ra é um passo arriscado devido aos

técnicas modernas”, afirma Fábio.

tive a oportunidade de adquirir o

altos custos e aos elevados juros.

“Os agricultores precisam estar

equipamento necessário sem pre-

Ainda bem que comecei quando

sintonizados com os avanços. Não

cisar diminuir os tratos culturais”,

poucos acreditavam”, comenta o

podemos mais ficar sem novidades

lembra o produtor.

agricultor de Cravinhos.

nem por uma safra, sob o risco de

Com a utilização do maquinário,

Daniel Aníbal utiliza diversas tecno-

perda de competitividade. Nossa

Daniel incrementou a produtivi-

logias na lavoura para intensificar a

decisão, tomada desde o início do

dade e ampliou a área de plantio,

produtividade, já que não há muitas

investimento em cana-de-açúcar, é

com a compra ou o arrendamento

áreas para ampliação na sua região

estar entre os projetos inovadores.

de terras vizinhas. “Comecei com

ou os preços inviabilizam. “A intenção

Os resultados aparecem”, comple-

uma unidade relativamente peque-

é crescer organicamente, buscando

menta Victor.

na e hoje são 14 propriedades, que

usar o máximo de tecnologia para

investiu antes que muitos na

mecanização da

resultados

Um dos segredos de Daniel Aníbal: investir e ter convicção no sucesso 15


MUNDO CANA incrementar a produção, corrigindo o solo e fornecendo o que há de melhor para a planta. Os resultados aparecem na hora da colheita”, afirma.

Ex-comerciante entrou na agri-

Se hoje pode falar, com orgulho,

Em 1975, Valderes Consoli era ven-

da boa produtividade proporcio-

dedor de arroz em Pitangueiras

cultura na época

nada pela colheita mecanizada,

(SP); em 2010, ele é um dos fornece-

no passado Daniel Aníbal pegava o

dores de usinas no principal pólo ca-

do Proálcool e

facão e cortava cana, assim como

navieiro do País, a região de Ribei-

não se arrepende

a própria mãe, também cortadora.

rão Preto, no interior de São Paulo.

da decisão

“Digo com orgulho que de cana eu

“Na época em que o governo fede-

entendo, até porque nasci (e isso

ral iniciou a campanha de incentivo

não é figura de retórica: ele nasceu

ao álcool, resolvi apostar no futuro.

mesmo no canavial) e cresci em um

Tudo o que conquistei em minha

anos, Valderes considera as inova-

canavial. Fico muito satisfeito ao

vida devo à cana”.

ções tecnológicas os maiores mar-

ver que todo o esforço de uma vida

Apesar das diversas alterações no

cos para os produtores. “Lembro da

gera frutos”, diz.

setor sucroalcooleiro nos últimos 35

época em que dependíamos de mui-

Atenção às necessidades da planta também é fundamental, recomenda Consoli

ivan azevedo

16

Incentivo para o sucesso


MUNDO CANA ta mão-de-obra no trato da lavoura e os índices de produtividade eram baixos. Com o passar dos anos, o advento da mecanização e outras técnicas possibilitaram aumento da eficiência ao mesmo tempo em que os custos operacionais caminharam em sentido contrário. Hoje, praticamente só a máquina trabalha na colheita”, ressalta. Para ele, os detalhes no trato da lavoura no dia a dia fazem diferença na hora do corte da cana.

Novas áreas estão valorizadas: saída é a eficiência, diz Aníbal

Os números da sua lavoura fundamentam essa afirmação e mostram incremento de produtividade de expressivos 40% em cinco anos. “Corrigir o solo, aplicar o herbicida correto e estar de olho no que aparece de novidade são fundamentais para o bom resultado. Isso eu falo e comprovo com as mudanças de trato em minhas terras”, comenta Valderes Consoli.

Da necessidade

ao sucesso

ivan azevedo

maquinário para iniciar a produção”,

técnicas e insumos foram incorpora-

lembra, com orgulho, Antônio Ge-

dos à lavoura. Para Antônio, este é

raldo Aníbal, produtor com 50 anos

mais um dos fatores que proporcio-

de experiência em cana-de-açúcar.

nam, ainda hoje, o crescimento con-

E o negócio deu certo. A família pas-

tínuo da safra. “Nas últimas décadas

sou a colher frutos nas safras seguin-

tivemos inovações importantes e

tes e a aumentar a área plantada a

a tecnologia deve ser empregada

cada ano. Atualmente,

Antônio

tem dez propriedades e arrenda

cada vez mais, principalmente

nosso objetivo, desde o início,

no momento em que não se encon-

Após longos anos cortando cana nas

outras tantas na

lavouras da região de Ribeirão Preto

região de Ribei-

(SP), a família Aníbal decidiu inves-

rão Preto.

tir em um canavial próprio e, assim,

Além do trabalho

proporcionar melhores condições

árduo e do espíri-

de vida. Essa iniciativa ocorreu na

to empreendedor,

década de 1960, época de juros bai-

outro fator fun-

xos e condições favoráveis de inves-

damental foi a aposta na tecnologia.

pretende investir em novas máqui-

timento. Com isso, veio o sucesso do

“Poderíamos iniciar a produção fi-

nas, tornando a colheita mecanizada

planejamento. “Só pude estudar até

nanciando apenas a terra, mas deci-

mais independente, já que as usinas

a quarta série, porque precisei aju-

dimos contar com o maquinário mais

têm diversos fornecedores para aten-

dar meus pais na roça. Com o desejo

moderno da época, porque quería-

der e nem sempre conseguem colher

de sair daquela situação, pegamos

mos introduzir tecnologia, visando

no melhor momento possível. Hoje,

financiamento do governo a juros

produtividade”, comenta o produtor.

30% dos 2.500 hectares de cana já

de 2,5% ao ano e compramos terra e

Assim, com o passar dos anos novas

são colhidos mecanicamente.

foi apostar na

tecnificação.

estávamos certos

tram novas terras para expandir o canavial”. Com

os

bons

resultados

dos

últimos

anos,

Antônio

Aníbal

17


MUNDO CANA

Decisão inteligente

ivan azevedo

>

Sistematização do solo pode otimizar as máquinas e aumentar a produtividade do canavial, com redução de custos

C

18

Antonio Gazon: organizar a colheita e obter produtividade

om a colheita mecanizada se con-

não devem exceder o tempo médio de um

solidando nas lavouras brasileiras,

minuto. “É necessário estudar a área para

a sistematização de solo torna-se

diminuir a quantidade de tiros, buscando

iniciativa essencial para otimização das má-

reduzir os custos operacionais da colheita”,

quinas e garantia da alta produtividade, con-

recomenda o consultor Antonio Luiz Gazon.

tribuindo ainda com a longevidade dos cana-

Acompanhem um exemplo: supondo um

viais e a redução dos custos da colheita.

hectare de 50 metros de largura por 200

A sistematização baseia-se no prolongamen-

de comprimento, com plantação de 133 li-

to das linhas de cana, os chamados tiros, dei-

nhas de cana e espaçamento de 1,5 metro,

xando a máquina colhendo o maior tempo

são necessárias 133 manobras para colher a

possível, sem desperdício de manobras, que

totalidade da área. Como a média das ma-


MUNDO CANA ca investimento na casa de um milhão de

reais, além do transbordo e do custo de

O mundo está cada

uma equipe especializada. “Há máquinas com potencial de colheita de

vez mais interessado

até 1.000 toneladas por dia. Muitos agri-

no combustível limpo

cultores podem não acreditar, porque têm

E, para isso,

precisamos investir no aumento da oferta

lavoura mal distribuída e colhem 400 toneladas por dia devido ao excesso de manobras”, exemplifica Gazon. A sistematização do solo também proporciona incremento de produtividade da lavoura com a retirada das curvas de nível (também conhecidas como terraços), mesmo em áreas de declive, desde que se

nobras gira em torno de um minuto, serão

cubra o solo com palha, evitando exposição

gastas 2 horas e 13 minutos. Já no caso da

à chuva e ao sol. “A retirada dos terraços

disposição da planta inversa, com 33 linhas

requer a mesma atenção devida às águas

em paralelo aos 200 metros, são realizadas

das propriedades vizinhas: se não se cuidar

apenas 33 manobras, com uso de 33 mi-

desviando essas águas, elas arrastarão a

nutos da colheitadeira. Ou seja: economia

palhada e o solo”, comenta o consultor.

de uma hora e 40 minutos em relação à

Ao realizar a renovação da lavoura, Anto-

primeira situação.

nio Luiz Gazon também indica a escolha de

“Esse tipo de vantagem pode significar

uma leguminosa para proteger o solo en-

uma colheitadeira a menos na lavoura”,

quanto não chega a época de plantação da

comenta Gazon. E uma máquina signifi-

cana-de-açúcar. ivan azevedo

Sistematização bem feita pode representar uma colheitadeira a menos 19


MUNDO CANA

Mais uma fronteira na energia renovável Produção de combustível ‘verde’ pode aumentar em 50% com nova tecnologia em desenvolvimento, afirma pesquisador ivan azevedo

A

té recentemente, as usinas descartavam o excedente do bagaço da cana-de-açúcar porque não

tinham o que fazer com ele. Mas isso está mudando rapidamente. Nos próximos anos esses resíduos poderão ser responsáveis por salto de ao menos 50% na produção de combustível. Composto por 65% de celulose e hemicelulose, o bagaço, junto com a palha, pode ser transformado em etanol de segunda geração. Atualmente, a tonelada de cana gera cerca de 90 litros do combustível. Ao se considerar o uso do bagaço, a quantidade final somaria 135 litros, segundo estimativas do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que atua como centro de pesquisas, desenvolvimento e inovação na área de bioetanol de cana no Brasil. “Os cálculos de produção são baseados em processos laboratoriais. Portanto, a indústria pode atingir resultados expressivos com o bagaço”, comenta Carlos Eduardo Vaz Rossell, diretor do Programa Etanol celulósico: novidade pode revolucionar setor energético, confia Rossell 20

Industrial do CTBE. Os pontos positivos para a produção de combustível com o bagaço são diversos.


MUNDO CANA

não há dúvida que o etanol celulósico poderá se tornar

realidade e ajudar a potencializar ainda

mais os benefícios da cana-de-açúcar

Além do consequente aumento de renda para as usinas, o etanol de segunda geração ganha apelo maior em relação à sustentabilidade, ajudando a derrubar a pressão internacional, que aponta indevidamente a cana-de-açúcar como concorrente da

Tecnologias incorporam ganhos indiscutíveis ao setor sucroalcooleiro

produção de alimentos e também por desmatamento de florestas. Além disso, há ganhos na exportação a partir do excedente produzido, já que atualmente consumimos

ivan azevedo

mais de 80% do etanol disponível.

as enzimas utilizadas oneram a produção,

Para tornar o processamento do bagaço

impossibilitando a implantação em sistema

comercialmente viável, alguns gargalos

industrial. O CTBE é um dos centros que

precisam ser eliminados na produção.

trabalham para descobrir uma enzima eco-

Para começar, o bagaço deve ser desestru-

nomicamente viável.

turado, ou seja, submetido a um processo

“As pesquisas desenvolvidas em diversos

para separar a lignina da celulose.

países, tendo os Estados Unidos como

Livre, a celulose é hidrolisada com enzimas

maior investidor mundial, objetivam iden-

específicas convertendo-se em glicose (essa

tificar uma enzima capaz de tornar a hidró-

etapa poderia ser realizada com ácidos, mas

lise rápida e barata. Isso pode acontecer a

estudos recentes mostram que com enzi-

qualquer momento. Por isso, não há como

mas o resultado é mais produtivo).

estipular um prazo para o etanol celulósico

A partir dessa etapa, o processo é seme-

se tornar viável para a indústria, mas não

lhante ao realizado com a garapa: a glico-

há dúvida de que poderá se tornar realida-

se é fermentada, obtendo-se o etanol, que

de e ajudar a potencializar ainda mais os

é destilado.

benefícios da cana-de-açúcar”, completa

O grande gargalo está na hidrólise, já que

Carlos Rossell. 21


MUNDO CANA

Tecnologia a favor da produtividade Demanda crescente exige maior rendimento da produção, que pode ser obtido com o uso de bioestimulantes na cultura

Silvio Tavares verifica no campo os bons resultados gerados em laboratórios

A

>

união da consistente demanda

devido à necessária expansão da cultura em

mundial por etanol e açúcar no

áreas menos favoráveis ao plantio.

momento à tendência de alta para

Apesar de a cana-de-açúcar ter capacidade

os próximos anos faz com que o setor su-

produtiva de até 300 toneladas por hectare,

croalcooleiro se depare com o desafio da

segundo o pesquisador Silvio Tavares, da

produtividade, exigindo a implantação das

Agência Paulista de Tecnologia dos Agrone-

mais modernas tecnologias disponíveis para

gócios (APTA), a média nacional não ultra-

obter ganhos de eficiência, especialmente

passa 90 t/ha, confirmando que melhorias

ivan azevedo

ainda podem e devem surgir no trato da lavoura. Para Tavares, o desafio é fornecer as condições mais próximas possíveis do ideal para a planta. “O ambiente propício e a nutrição são dois pontos fundamentais para a produtividade, e o bioestimulante é uma das formas de oferecer as propriedades básicas para o melhor desenvolvimento da cultura”, comenta o especialista da APTA. O bioestimulante é obtido ao se agrupar dois ou mais biorreguladores, que são hormônios vegetais naturais. Dois hormônios sintéticos constantemente utilizados na lavoura, a Auxina e a Citocinina, responsáveis por estimular o crescimento da planta – aplicados prioritariamente no sistema radicular –, são fundamentais principalmente em solos arenosos, nos quais a profundidade da raiz tem grande influência no resultado final da produção.

22


MUNDO CANA Outros hormônios utilizados no canavial

estipular a quantidade adequada de aplica-

são o Etileno, capaz de maturar a planta,

ção de bioestimulantes na lavoura de cana.

e a Giberilina que, em conjunto com a Au-

Porém, os resultados daquela área não po-

xina e a Citocinina, é utilizada para o cres-

dem ser referência para outras regiões,

cimento da planta. A ausência desses bio-

devido às diferenças de solo, clima e varie-

reguladores diminui a produtividade, mas

dades cultivadas. Atualmente, a APTA de

o excesso também é proporcionalmente maléfico. Por exemplo: quanto maior for a superdosagem menor é a produtivida-

Andradina (SP) tam-

ambiente propício

mentos para levar a

e nutrição são fun-

informação ao pro-

damentais para a pro-

dutor, já que existe

de. “Está aí o maior

dutividade, e o bioes-

obstáculo: identificar

timulante é uma das

a quantidade ideal

formas de oferecer as

de cada substância

bém realiza experi-

o interesse dos agricultores na utilização de bioestimulante. Para Silvio Tavares, a procura e a utilização

para os diferentes

propriedades básicas

ambientes e varie-

para o melhor desen-

nos canaviais devem

dades. Adicionamos

volvimento da cultura

crescer nos próximos

do crescimento de

os hormônios visan-

de

bioestimulante

anos. “O mercado é exigente e busca no-

raízes e pontas, mas quanto mais ultrapas-

vas tecnologias em prol da produtividade

samos o nível ideal mais desfavorável será

e os bioestimulantes devem ser considera-

o resultado”, explica Tavares.

dos. Imagino que será um insumo muito útil

Nesse sentido, a unidade da APTA, de Pi-

nos canaviais, contribuindo para dobrar a

racicaba (SP), realizou diversos testes para

produtividade da cana até 2020”.

ivan azevedo

Experimento mostra diferença entre as canas tratadas com e sem bioestimulantes

23


MUNDO CANA

Disseminando informação ao campo Programa Ação, da Arysta, fornece informações técnicas para produtores intensificarem os resultados produtivos ivan azevedo

A

recorrente necessidade de novos conhecimentos por parte de produtores e técnicos do setor sucro-

alcooleiro levou a Arysta Lifescience a idealizar o Projeto Ação, cuja principal função é suprir essa carência no dia a dia do campo contribuindo para incrementar a produtividade nacional a partir da utilização dos recursos técnicos e das novas tecnologias disponíveis. “Nossa proposta é chegar ao agricultor e fazer a diferença no seu cotidiano, introduzindo novidades necessárias nos processos para melhorar os tratos culturais, visando melhor rendimento de colheita”, explica Ricardo Dias, gerente de marketing da Arysta Lifescience. A primeira etapa do projeto envolve duas cooperativas de São Paulo. Na sequência, o Projeto Ação será levado às demais regiões produtoras de cana do Brasil. Os diversos serviços prestados pela empresa, como o Aplique Bem (apoio itinerante aos produtores rurais para a utilização correta de defensivos agrícolas, evitando danos ambientais e reduzindo custos sociais), forArysta trabalha para colocar novas tecnologias no campo

24

necerão suporte ao projeto. “A demanda por informações não vem apenas de produtores, mas também do corpo técnico das


MUNDO CANA

Manejo pós-colheita está entre os tópicos do programa da Arysta ivan azevedo

conforme a necessidade do cliente. Não é um pacote pronto no qual os parceiros devem se encaixar”, aponta Ricardo Dias.

Primeiro passo

Entre os pontos mais importantes do Pro-

é identificar as

necessidades dos pro-

dutores e, então,

elaborar projetos personalizados

jeto Ação estão as informações privilegiadas de novas tecnologias, palestras e dias de campo, treinamento, informações de mercado e de tratos culturais e até consultoria. Um dos braços fundamentais, além do Aplique Bem, é o Projeto Kenkou, que já treinou mais de nove mil agricultores em todo o País e em 2010 recebeu o Prêmio Mérito Fitossanitário, da Associação

cooperativas e da equipe de vendas. Por

Nacional de Defesa Vegetal (Andef). “O

isso, utilizaremos esse suporte dos progra-

programa oferece todo o apoio possível ao

mas consolidados e criaremos novos bra-

aprimoramento da cultura sucroalcooleira,

ços de comunicação entre as cooperativas

visando os grupos de produtores que lidam

e a Arysta, facilitando a disseminação das

diretamente com defensivos agrícolas. Por

novidades tecnológicas”, comenta o geren-

meio de sete conceitos, introduzimos há-

te de vendas de cana, Cláudio Ramos.

bitos de segurança em relação à utilização

O primeiro passo se baseia na identificação

dos insumos. Com o projeto, a Arysta deve

das necessidades das próprias cooperativas

integrar o conhecimento de ponta às ne-

para, depois, elaborar o projeto personali-

cessidades do homem do campo, levando

zado conforme a demanda específica. “O

inovações para o setor sucroalcooleiro”,

diferencial deste trabalho é que ele é versátil,

enfatiza Cláudio Ramos. 25


MUNDO CANA

Artigo

>

por Caio Giusti *

A importância da seletividade dos herbicidas Conhecimento técnico é fundamental na busca dos melhores resultados da cana

das regiões tradicionais do Estado de São Paulo, como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Leme, e em outros estados, como Goiás, onde

se a molécula herbicida aplicada se

portamento dos herbicidas em

posiciona intrínseca à palha, sob ou

diferentes variedades de cana-de-

sobre a palha, o que determinará a

açúcar torna-se de fundamental

dose segura a ser pulverizada para

relevância para a tomada de deci-

alcançar o índice máximo no tripé

são no posicionamento a campo

eficácia/residual/seletividade.

das doses dos produtos. Aliando-

Antecipando-se às necessidades

se a outros parâmetros de análise,

futuras dos nossos clientes, a Arys-

como característica da brotação e

ta LifeScience desenvolve projetos

teriormente para geração de dados

adaptabilidade de cada variedade

inovadores no mercado direciona-

ajustados a um modelo prático de

em épocas e ambientes distintos,

dos a desmistificar a questão da

análise. Estes dados de sensibili-

percentagem de matéria orgânica

seletividade em variedades de alta

dade dos produtos por variedade

e argila dos solos, características de

expressão de cultivo atual e futuro

estudada são utilizados para supor-

drenagem do solo, época da aplica-

que estão ou poderão ser tratadas

tar as recomendações pontuais que

ção (pluviometria), temperatura e

com herbicida. Com isso, o depar-

nosso time de consultores técnicos

presença ou não de palha no solo,

tamento de desenvolvimento de

comerciais aplica a campo nas prin-

está a questão da fotodegradação

produtos e mercados trabalhou

cipais usinas produtoras e usuárias

do produto, independentemente

profundamente

da linha Arysta Cana.

>

26

as condições de clima são distintas

A importância do estudo do com-

para

identificar

da região tradicional de cultivo do Estado de São Paulo. Utilizando doses crescentes de herbicida, o objetivo foi aferir as doses limites suportadas pelas variedades, considerando todos os parâmetros de análise citadas an-

junto aos clientes as principais va-

Esta ação contínua de desenvolvi-

riedades cultivadas atualmente e

mento do Projeto Seletividade Arys-

com grande expressão regional,

ta LifeScience é o resultado da busca

como também variedades de alto

em atender cada vez mais e melhor

potencial de cultivo futuro, como

as necessidades dos clientes, pro-

as do Centro de Tecnologia Cana-

curando índices de produtividade

vieira (CTC).

elevados, antecipando a demanda

Identificados estes dados, a Arysta

referente ao comportamento em

implantou, em 2009, inúmeros pro-

novas variedades de cana. Por trás

jetos em seu Centro de Pesquisa e

disso, está o comprometimento em

Desenvolvimento, em Pereiras (SP),

levar segurança ao produtor em re-

em parceria com uma usina próxi-

lação à recomendação técnica seg-

ma, além de projetos com usinas

mentada também por variedades.

*Caio Giusti, Especialista em Desenvolvimento, Produto e Mercado de Cana-de-Açúcar da Arysta LifeScience




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