ÉTICA CRISTÃ: A BÍBLIA E AS QUESTÕES MORAIS DE NOSSO TEMPO

Page 1

&

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

& INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

& INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ


ÉTICA CRISTÃ A BÍBLIA E AS QUESTÕES MORAIS DE NOSSO TEMPO Roney Cozzer


Ética Cristã

1


Ética Cristã Revisão: Roney Cozzer Diagramação: Roney Cozzer Capa: Michel Pablo M. Sabarense _______________________________

COZZER, Roney. 1984 COZZER, Roney. Ética cristã: a Bíblia e as questões de nosso tempo. Cariacica, ES: Instituto de Educação Cristã CRER & SER, 2018. Ética. Moral. Bíblia. 118 pp.: 14 x 21 cm | ISBN: 978-85-923916-5-2 Inclui referências bíblicas e bibliográficas. 1. Ética. 2. Cristã. 3. Moral É permitida a reprodução parcial desta obra desde que citados o autor e o título da obra e que seja feita sem fins lucrativos.

_______________________________

Contatos e atividades do autor na internet: Site: teologiaediscernimento.wordpress.com Blog Fundamentos Inabaláveis E-mail: roneyricardoteologia@gmail.com

2


Ética Cristã

3


Ética Cristã

SUMÁRIO Lista de siglas utilizadas neste livro.........................

08

Prefácio...........................................................................

12

Apresentação.................................................................. 14 1. Ética e fundamentos da Ética Cristã...................... 1. Ética 1.1 Definição etimológica da palavra “Ética” 1.2 Ética e Moral 2. Posições éticas 2.1 Antinomismo 2.2 Situacionismo 2.3 Generalismo 3. Os fundamentos da Ética Cristã Fundamentos da Ética Cristã

16

2. A ética vista na Bíblia............................................... 34 1. Deus, um Ser ético 2. A ética presente na Bíblia 3. A ética bíblica em face da ética secular 3. A ética e a família...................................................... 50 1. A Ética Cristã na vida conjugal 4


Ética Cristã 2. A Ética Cristã e a educação dos filhos 3. A Ética Cristã e a sexualidade 4. A ética e a Igreja........................................................ 1. A ética do culto a Deus 2. A ética e o obreiro A necessidade do obreiro e da obreira na Obra de Deus 3. O obreiro e as diversas faces de sua vida 3.1 O obreiro e a sua devoção a Deus 3.2 O obreiro e seu preparo bíblico e teológico 4. Obreiro, por favor, evite isso! 4.1 O erro de não orar na preparação de seus sermões 4.2 O erro de chegar atrasado ao culto 4.3 O erro de subir à tribuna e sair cumprimentando todas as pessoas que ali estiverem, caso tenha chegado atrasado(a) ao culto 4.4 O erro de ser indiscreto ao púlpito 4.5 O erro de usar o microfone e o púlpito para desabafar 4.6 O erro de usar o microfone e o púlpito para lançar indiretas 4.7 O erro de tornar público problemas internos da igreja ou da denominação à qual você pertence 4.8 O descuido com a aparência 4.9 Cuidados gerais com a aparência 5

60


Ética Cristã 4.10 O uso correto da gravata 4.11 Cuidados no trajar 4.12 Cuidados no falar e gesticular 4.13 Cuidado com o sexo oposto 5. Questões éticas contemporâneas........................... 1. Aborto 2. Célula-Tronco 2.1 O que é Célula-Tronco? 2.1.1 Células-Tronco embrionárias 2.1.2 Células-Tronco adultas 2.2 O que diz a Bíblia? 3. Controle de natalidade 3.1 O que é o controle de natalidade? 3.2 Fatores motivadores do controle de natalidade 3.2.1 Fatores negativos 3.2.2 Fatores positivos 4. Homossexualismo 4.1 O que dizem os dicionários? 4.2 O que diz a Ética Cristã? 4.3 A Bíblia condena a prática homossexual? 4.4 Qual deve ser a postura da Igreja face aos homossexuais? 5. Relativismo moral

6

84


Ética Cristã Bibliografia...................................................................

7

116


Ética Cristã

Lista de siglas utilizadas neste livro

C

om o intuito de ganhar tempo e espaço, no decorrer deste livro são utilizadas algumas siglas. Uma sigla nada mais é do que a abreviatura de um título ou denominação, geralmente composta pelas letras iniciais das palavras que compõe este título ou denominação. Tomemos como exemplo a sigla ARC, que remete ao título Almeida Revista e Corrigida, uma das versões da Bíblia em português publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil1. Frequentemente são utilizadas as siglas AT, para Antigo Testamento, e NT, para Novo Testamento. Neste livro você também encontrará citações bíblicas e versículos bíblicos transcritos. Logo a seguir você encontrará duas tabelas com as siglas dos livros da Bíblia. Como versão oficial para as referências bíblicas transcritas neste livro, foi adotada a versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), publicada pela SBB, por ser ela uma versão de grande aceitação entre o público brasileiro e de mais fácil compreensão para o leitor. Além da ARA, são utilizadas ainda outras versões como a NVI (Nova Versão Internacional), por questões didáticas. Assim, o autor deste livro deseja que os comentários deste livro possam ser uma benção para você e toda a sua família, estimado(a) leitor(a). É para você que este trabalho foi carinhosamente preparado!

1

Também representada por uma sigla: SBB.

8


Ética Cristã A seguir, você tem as siglas que utilizamos neste livro com seus respectivos significados e também as siglas dos livros da Bíblia, em ordem alfabética: 1 Co: 1 Coríntios 1 Cr: 1 Crônicas 1 Jo: 1 João 1 Pe: 1 Pedro 1 Re: 1 Reis 1 Sm: 1 Samuel 1 Tm: 1 Timóteo 1 Ts: 1 Tessalonicenses 2 Co: 2 Coríntios 2 Cr: 2 Crônicas 2 Jo: 2 João 2 Pe: 2 Pedro 2 Re: 2 Reis 2 Sm: 2 Samuel 2 Tm: 2 Timóteo 2 Ts: 2 Tessalonicenses 3 Jo: 3 João Ag: Ageu Am: Amós Ap: Apocalipse ARA: Almeida Revista e Atualizada ARC: Almeida Revista e Corrigida AT: Antigo Testamento At: Atos Cap.: Capítulo Cf.: Confira Cl: Colossenses

9


Ética Cristã Ct: Cantares de Salomão Dn: Daniel Dt: Deuteronômio Ec: Eclesiastes Ed: Esdras Ef: Efésios Et: Ester Êx: Êxodo Ez: Ezequiel Fl: Filemon Fp: Filipenses Gl: Gálatas Gn: Gênesis Hb: Habacuque Hb: Hebreus Is: Isaías Jd: Judas Jl: Joel Jn: Jonas Jo: João Jr: Jeremias Js: Josué Jz: Juízes Lc: Lucas Lm: Lamentações de Jeremias Lv: Levítico Mc: Marcos Ml: Malaquias Mq: Miquéias Mt: Mateus Na: Naum

10


Ética Cristã Ne: Neemias Nm: Números NT: Novo Testamento NTLH: Nova Tradução na Linguagem de Hoje NVT: Nova Versão Transformadora Ob: Obadias Os: Oséias Pv: Provérbios Rm: Romanos Rt: Rute Sf: Sofonias Sl: Salmos Ss: Seguintes. Refere-se aos versículos seguintes que podem ir até o fim do capítulo citado ou não. Tg: Tiago Tt: Tito Vv: Indica pluralidade de versículos. Zc: Zacarias

11


Ética Cristã

Prefácio

O

autor deste trabalho debruçou-se sobre o tema da Ética Cristã e as questões morais de nosso tempo. Procura demonstrar com clareza a diferença entre ética e moral, temas que se confundem ou são confundidos por muitas pessoas. E o faz com muito discernimento. Em seu texto, Roney Cozzer destaca o valor da Ética Cristã, com fundamento na Palavra de Deus, em meio a um imenso caudal de abordagens éticas que existem, atravessando os séculos e chegando aos dias atuais, no Século XXI, onde o pós-modernismo é dominado pela ética relativista, pelo humanismo e o materialismo avassalador das consciências da maioria dos povos. Após cada capítulo, o autor inseriu exercícios para reflexão, que tornam seu livro um manual prático sobre o tema em análise; e leva o leitor a refletir melhor sobre o que está apreciando em sua leitura. Com perguntas apropriadas, cada capítulo é revisto de forma a que os tópicos sejam bem compreendidos e deles se extraiam lições e aplicações para a vida prática. Ele demonstra que a Bíblia é “o nosso padrão ético para hoje”. Certamente, o Livro Sagrado é a nossa “regra de fé e prática”, como defenderam os reformadores protestantes do Século XIV e seguintes, que levantaram a bandeira do evangelho como referencial norteador da 12


Ética Cristã conduta humana, conforme os princípios emanados do próprio Deus. Roney Cozzer enfatizou a ética na família. Como núcleo básico e fundamental para a estabilidade social, a família deve ser preservada e valorizada. Sem esse cuidado ético, a “célula-mater” da sociedade pode degenerar-se e resultar em um câncer moral e espiritual. A família cristã deve ser um exemplo de comportamento ético, moral e espiritual para o mundo, visto que o cristão deve ser o “sal da terra” e “luz do mundo”, como preceituou Jesus Cristo. Assim, o autor coloca à disposição dos leitores um trabalho sério e edificante que contribui para a reflexão sobre a ética, no sentido vivencial, e não apenas teórico ou filosófico. Que Deus abençoe a todos que possam aproveitar bem a leitura deste livro que enriquece o acervo literário cristão.

Elinaldo Renovato de Lima, Pastor Em 09 de dezembro de 2013 Parnamirim, RN.

13


Ética Cristã

Apresentação

O

assunto abordado neste livro – Ética Cristã – é sempre um assunto atual, e também por isso mesmo muito interessante. Convivemos com muitas coisas no nosso dia a dia sem sequer nos darmos conta disso, e a ética é uma dessas coisas. Quando eu era adolescente com frequência ouvia minha mãe dizer: “Isso é antiético meu filho!” Ela sempre dizia isto quando nos ensinava a nos comportar corretamente em alguma situação, principalmente no ambiente da congregação. Parece que ainda posso ouvi-la, mesmo depois de tantos anos! A ética lida diretamente com o comportamento humano, com o caráter das pessoas. Ela é um conjunto de princípios norteadores da vida das pessoas, e nesse sentido, tanto para bem quanto para mau. Vemos a presença de questões éticas até mesmo em situações aparentemente triviais e que consideramos serem sem importância, como quando alguém nos devolve cinquenta centavos a mais no troco e nós então nos perguntamos: “Devo devolver?” Essa é uma pergunta com conotação ética. Aliás, a ética é um assunto que perpassa vários setores de nossa vida: família, igreja, trabalho, sociedade, etc. A mídia, seja televisiva, online, impressa, etc., está sempre tratando de assuntos éticos, ora valorizando a ética como um conjunto de bons valores, ora ignorando-a com seus programas imorais e amorais. Com frequência vemos 14


Ética Cristã na mídia abordagens sobre assuntos relacionados à ética, como por exemplo, escândalos envolvendo políticos famosos, como o que saiu na revista Veja de 12 de junho de 2013, que cita o caso do governo Obama, na questão da espionagem dos cidadãos americanos pelo Governo Estadunidense. Temas relacionados ao aborto, homossexualismo, adultério, etc., são sempre um prato cheio. Assim, somos confrontados todos os dias com vários dilemas éticos que nos colocam como que numa encruzilhada com duas direções apenas, na qual temos que escolher uma só! E o cristão, como lidar com essas decisões éticas que precisa tomar? É seguro se pautar eticamente num livro que foi escrito há mais de 1.900 anos atrás, a Bíblia? Teria a Bíblia resposta para os desafios éticos de nosso tempo, de tanta pósmodernidade e avanço científico e da razão? É o que vamos descobrir neste livro!

Ótima Leitura Para Você! Roney Cozzer Porto de Santana, Cariacica, ES Novembro de 2013.

15


Ética Cristã

1 Ética e fundamentos da Ética Cristã “Quando a lei de Deus é escrita em nosso coração, nossos deveres são nossos prazeres” (Matthew Henry, antigo teólogo inglês).

INTRODUÇÃO

S

em dúvida alguma que a ética pode ser definida de maneiras diferentes, por diferentes autores e essa palavra é usada em vários ramos: ética pública, ética política, ética do Direito, ética da Medicina, ética Ministerial (eclesiástica), etc. O filósofo e professor da PUC 2 de São Paulo, Mario Sérgio Cortella, faz um interessantíssimo trocadilho de palavras para definir o que é ética; ele diz: “Ética é um conjunto de valores e princípios que você e eu usamos para decidir as três grandes questões da vida que são: Quero? Devo? Posso?... Tem coisas que eu quero mas não devo, tem coisas que eu devo mas não posso e tem

2

PUC (Pontifícia Universidade Católica).

16


Ética Cristã coisas que eu posso mas não quero!” 3 Embora possamos “beber de várias fontes” na busca pelo significado do que é a ética, para a Igreja a fonte primária e essencial de ética é a Palavra de Deus. Para o cristão o assunto da ética cristã não pode jamais ser relegado à um segundo plano – é tema da mais alta relevância, por abranger diversas faces da sua vida. É mesmo uma questão crucial! Dietrich Bonhoeffer, conhecido teólogo alemão martirizado no fim da Segunda Guerra Mundial, é incisivo ao falar sobre a ética cristã. Ele diz que não é tanto uma questão de perguntar “como eu faço o bem?”, mas antes, “perguntar pela vontade de Deus” 4 . Existe uma confusão muito grande quando o assunto é ética e moral, pois os dois termos se intercambiam muitas vezes, sendo por isso mesmo confundidos. Mas eles possuem suas distinções e passaremos a considerar a ética, inicialmente como uma ciência social e depois a ética sob o ponto de vista bíblico-cristão e suas implicações para o crente em Jesus. 1. ÉTICA Além de estar presente nos variados setores da

3

Fala do filósofo Mario Sérgio Cortella em participação em um programa de TV. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=L_V0Y0lFJUs> Acesso em 17 jun. 2013. 4 BONHOEFFER, Dietrich. Ética: Edción y Traducción de Lluís Duch. Editorial Trotta: 2000, p. 41

17


Ética Cristã sociedade, como citamos acima (na política, nas ciências humanas, etc.), a ética também possui várias aplicações. Com isto queremos dizer que ela pode ser aplicada de formas variegadas tendo assim diferentes conotações: - Ética Imediatista - Ética da Tradição - Ética Hedonista - Ética Naturalista - Ética Relativista - Ética Estética e, - Ética Cristã5. Quando falamos de ética temos logo de pensar em convivência, afinal, a ética pode ser definida como o conjunto de princípios que regem o comportamento humano, que incluem os padrões de “certo” e “errado”. É claro que visto desta forma, a ética irá variar muito em seu bojo de práticas e ações, pois um comportamento tido como correto aqui, isto é, “ético”, poderá não ser bem visto em outras regiões, isto é, poderá ser tido como contrário à ética. Não estamos defendendo aqui o relativismo moral, mas reconhecendo apenas um fato. Se no Brasil a poligamia é vista como antiética, no Oriente ela é aceita normalmente, sem comprometimento moral. 5

Estes tipos de aplicação da ética citados aqui constam do livro: OLIVEIRA, Raimundo Ferreira de. Ética Cristã: A Vida Cristã no Dia a Dia. 4ª ed. Campinas, São Paulo: EETAD, 2003.

18


Ética Cristã Vejamos a seguir algumas sentenças breves e muito objetivas que definem de maneira clara a ética: Mario Sérgio Cortella: “Afinal, o que é ética? A ética é o que marca a fronteira da nossa convivência. Seja com as outras pessoas, seja com o mercado, seja com os indivíduos. Ética é aquela perspectiva para olharmos os nossos princípios e os nossos valores para existirmos juntos”. 6 Russell N. Champlin: “A teoria da natureza do bem e como ele pode ser alcançado” e “A ética é a conduta ideal do individuo”.7 R. C. Sproul: “Ética é uma ciência normativa, em busca dos fundamentos principais que prescrevem obrigações ou deveres. Está interessada primariamente no que é imperativo e nas premissas filosóficas sobre as quais os imperativos estão baseados”.8 1.1 Definição etimológica da palavra “Ética” A palavra “ética” vem do grego ethos e significa "disposição”, “costume”, “hábito”. Vem de uma raiz que significa “estábulo”, uma lugar para cavalos.

6

CORTELLA, Mario Sérgio. Qual é a Tua Obra? : inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. 19ª ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes: 2012, p. 105. 7 CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 2. São Paulo: Candeia, 1991, p. 554. 8 SPROUL, R. C. Discípulos hoje. São Paulo: Editora Cultura Cristã: 1998, p. 209.

19


Ética Cristã 1.2 Ética e Moral Historicamente falando, as duas palavras – ética e moral – tinham sentidos bem distintos. Ética do grego ethos significando “estábulo” e “moralidade” da palavra mores, que descreve os padrões de comportamento de certa sociedade. Enquanto a moral descreve o que as pessoas fazem, a ética o que as pessoas deveriam fazer. A ética, portanto, tem um caráter normativo. 2. POSIÇÕES ÉTICAS Há várias visões éticas que são abordadas e discutidas nos tratados teológicos sobre ética. Essas visões, com seus posicionamentos, fazem-se sentir no nosso dia a dia, diante das questões morais de nosso tempo. Há a que defende que não há normas universais, ao passo que outra reconhece que há absolutos morais, enquanto outra defende que o que é certo ou errado depende da situação. A partir daqui, consideraremos resumidamente, algumas das principais posições e apresentaremos contra-argumentações a esses posicionamentos que chocam-se com a ética cristã: 2.1 O Antinomismo O Antinomismo se caracteriza pela não aceitação de leis e normas como fontes para um padrão ético. No Antinomismo, não há leis e não há regras. Desse modo, tudo que diz respeito à ética e a moral, irá depender do 20


Ética Cristã indivíduo e das circunstâncias que o circundam. O filósofo Jean Paul Sartre, considerado um dos promotores da ética antinômica, chega a afirmar que o homem é plenamente livre; Sartre escreve: “Eu sou minha liberdade; eu sou minha própria lei”. A palavra “antinomismo” vem da fusão de duas palavras gregas: anti, que significa “contra”, e nomos, que significa “lei”. 2.2 O Situacionismo O pastor e teólogo Altair Germano explica que de “modo contrário àquilo que a palavra “situacionismo” talvez parece subtender, ela não é usada aqui para representar uma ética completamente sem normas. Conforme um dos seus proponentes mais vigorosos, Joseph Fletcher, o situacionismo está localizado entre os extremos do legalismo e do antinomismo. Os antinomistas não tem lei, os legalistas tem leis para tudo, e o situacionismo só tem uma lei, a lei do amor. “Um fim amoroso justifica qualquer meio”. Há uma dificuldade na aplicação do situacionismo quando acontece um conflito na aplicação do “amor”. Quando e como termos a certeza que agimos por “amor” em tais casos”9. 2.3 O Generalismo Já o generalismo fica em outra extremidade do exagero. Se o antinomismo procura dispensar normas e leis para 9

Blog do Pastor Altair Germano. Disponível em: <www.altairgermano.net/2008/12/bblia-o-cdigo-de-tica-divino-1.html>

21


Ética Cristã a ética, o generalismo prega que há regras, normais e leis gerais, mas não universais. Os generalistas concluem que o que deve ser “posto na balança” são os resultados – “Os fins justificam os meios”. É a filosofia de Nicolau Maquiavel. O generalismo acaba sendo relativista em sua filosofia, pois o certo e o errado irão depender dos resultados que serão gerados para o indivíduo. 3. OS FUNDAMENTOS DA ÉTICA CRISTÃ O que vem a ser a Ética Cristã propriamente dita? A Ética Cristã pode ser definida como o conjunto de valores que devem reger o comportamento cristão. Por isso, a ética cristã deverá ser encarada pelo cristão como um conjunto de valores oferecidos pela Palavra de Deus e que devem nortear a sua vida. É importante frisar que a Bíblia está acima das culturas, seus valores morais aplicam-se a qualquer povo, em qualquer lugar do mundo. Seus princípios são imutáveis, e não estão sujeitos a determinados aspectos culturais, uma vez que muitos deles são mesmo contrários a vontade de Deus. Por exemplo, recentemente no Brasil, uma grande discussão ocorreu em torno da prática de algumas tribos indígenas da Amazônia de enterrar recémnascidos e crianças vivas portadoras de deficiência física, ou por serem gêmeas, entre outras motivações dos indígenas. Há os que defendem que o governo não deve intervir por se tratar de um aspecto cultural 22


Ética Cristã daqueles povos! Como podemos ver, trata-se de um aspecto cultural totalmente contrário à Bíblia, que condena a prática do assassinato. Em todo o mundo, várias práticas estão sendo aceitas como “normais” e sendo até incentivadas pela sociedade, como a prostituição, a pedofilia, etc. Todavia, a Bíblia é supracultural e é o padrão divino para a conduta da Igreja, o que significa dizer que os cristãos não devem conformar-se com tais práticas, uma vez que elas são contrárias ao padrão ético da Igreja, a Bíblia. Uma boa definição do que é ética cristã nos é oferecida pelo pastor Elinaldo Renovato em seu livro Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais de Nosso Tempo (2006): Para o cristão, a ética pode ser entendida como um conjunto de regras de conduta, aceitas pelos cristãos, tendo por fundamento a Palavra de Deus. Para os que crêem em Jesus Cristo como Salvador e Senhor de suas vidas, o certo ou o errado devem ter como base a Bíblia Sagrada, considerada como “regra de fé e prática”, conforme bem a definiram Lutero e outros reformadores. A ética cristã pode valer-se de argumentos filosóficos, de modo complementar, mas prescinde deles nas definições do que é certo ou errado. Segundo Gardner, “a tarefa da ética cristã seria bem mais fácil se, por um lado, o cristão pudesse aceitar as conclusões da razão natural, pura e simplesmente, portanto, sem crítica, acrescentandoas ao que é do seu conhecimento pela fé, ou, por outro lado, se as pudesse repudiar sumariamente.

23


Ética Cristã Estes dois processos de relacionar a ética cristã com o pensamento ético secular são, no entanto, insatisfatórios...” (Fé Bíblica e Ética Social, p. 33). Os padrões da ética humana mudam conforme as tendências dos valores morais da sociedade. De país para país, verifica-se que há o fenômeno chamado de “nova moralidade”, que envelhece em pouco tempo. Entretanto, na visão de Rudnick, “a ‘nova moralidade’, que estamos experimentando desde os anos sessenta não é o tipo de atualização natural e necessária dos pontos de vista éticos, com base em nova informação. É, na verdade, uma revolução ética, na qual os princípios da ética cristã têm sido agredidos e repudiados por muitos” (Ética Cristã para Hoje, p.18). Assim temos de admitir que a ética cristã tem sua própria lógica e consistência, quando baseada na Bíblia, pois esta é infalível, imutável e inerrante.10

Fundamentos da Ética Cristã A Ética Cristã está alicerçada sobre o fundamento principal que é a Palavra de Deus. Como já dito, quando tratamos de ética, tratamos de conduta, de vivência diária, de relacionamento com pessoas. Tratase da busca pelo bem, pelo que é correto. Numa época em que se valoriza tanto o relativismo moral e mesmo ético, o cristão genuíno orienta-se pela Palavra de Deus, tendo-a como base segura para a sua moralidade, para a sua conduta no mundo. O pastor e teólogo Elinaldo 10

LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais de Nosso Tempo. 3ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 8.

24


Ética Cristã Renovato alista alguns princípios normativos encontrados na Bíblia que devem servir para nossa orientação na vida cristã. Seguindo a lista proposta pelo referido autor, consideremos cada um desses princípios, individualmente: 1. O primeiro que ele cita 11 é o princípio da fé, onde o cristão age baseado na convicção de que está correto, diante de Deus. Nas palavras de Paulo, “A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bemaventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm 14.22,23). Fé nesse contexto indica “’uma relação invisível entre o homem e Deus, uma confiança tão completa em Deus, que o homem que a tem sabe que nenhum escrúpulo religioso pode alterar a confiança do seu relacionamento com Deus’. Mas no momento em que tal fé começa a desfilar como uma exibição egoísta de liberdade, ela deixa de ser fé” 12 . Paulo indica neste texto que em determinadas ocasiões, o crente que é mais maduro na fé se abstém de determinados alimentos ou práticas que possam levar o crente mais fraco a tropessar. Ele reconhece que “É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se 11

Op cit. GREATHOUSE, William M. in: Comentário Bíblico Beacon. vol. 8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 177. 12

25


Ética Cristã enfraquecer” (Rm 14.21). Paulo está tratanto, portanto, de exceções e não necessariamente de uma regra geral. Vemos nesse texto que a ética cristã, tendo como base o princípio da fé, considera o próximo e não se pauta tanto pelo juízo do que é estritamente certo ou errado em determinada ocasião, mas sim pelos resultados que determinada ação poderá causar no próximo. Desse modo, prevalece na ética cristã a lei do amor. É melhor não comer (mesmo que isso não seja pecado) do que se comendo escandalizo (faço tropeçar) meu irmão! 2. O segundo princípio citado é o princípio da licitude e da conveniência, onde o cristão reconhece que não deve fazer tudo o que é lícito (i.e., admissível, permitido), mas sim o que é conveniente ao cristão fazer em coerência com a Bíblia. Este princípio baseia-se nas palavras de Paulo em 1 Coríntios 6.12: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. O contexto dessa passagem é de contendas e litígios entre irmãos. Paulo reconhece que era lícito uma irmão levar outro a juízo, mas afirma que embora lícito, não era conveniente. Paulo percebeu que as ações judiciais movidas pelos cristãos de Corinto um contra o outro eram sinal de fraqueza espiritual. Sobre este texto, explica com propriedade Donald S. Metz: Paulo aqui (1 Co 6.12-14 – grifo do autor) apresenta a sua famosa proclamação de emancipação espiritual: Todas as coisas me são lícitas. Ele não se refere a coisas que não são conhecidas por serem erradas, seja

26


Ética Cristã na prática civil ou nas Escrituras. Ele não se tornaria um anarquista espiritual, rebelando-se contra a lei proveitosa e tentando anular todas as restrições. Paulo aplicou o princípio principalmente em referência ao alimento, afirmando que ele se sentia em liberdade para satisfazer a sua fome com qualquer tipo de alimento disponível. Esta atitude contradizia a lei cerimonial judaica, que considerava alguns alimentos como imundos (cf. Lv 20.25; At 10.13-14).Os coríntios tinham ampliado a idéia de Paulo para incluir a livre satisfação de todos os apetites do corpo, mas o líder missionário fechou a brecha definitivamente. Para o apóstolo, todas as coisas podem ser lícitas... mas nem todas as coisas convêm. Portanto, a liberdade não é uma medida final da conduta cristã. A liberdade deve ser exercida à luz de todos os fatos... todo o uso da liberdade cristã deve ser benéfico – a nós mesmos e aos outros. Um cristão não tem o direito de participar de atividades que possam parecer inocentes a ele, mas que podem ser prejudiciais aos outros13.

Considerando ainda esse princípio, vale ressaltar que muitos de nossos governantes cada vez mais lutam pela aceitação e implantação de leis contrárias aos princípios bíblicos em nossa nação. Por exemplo, a leglaização do aborto e profissionalização da prostituição. Desse modo, pode ser lícito, mas para a Igreja de Cristo não será conveniente aceitar tais práticas como corretas. Na vida pessoal, há casos em que o cristão se vê de fato em 13

METZ, Donal S. in: Comentário Bíblico Beacon. vol. 8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 288.

27


Ética Cristã condições lícitas de praticar determinado ato, mas este ato é contrário à ética cristã, como sendo ela um conjunto de valores bíblicos. Inseridos numa sociedade extremamente relativista e pluralista, ficamos cada vez mais expostos ao lícito; convém-nos perguntar pelo que é conveniente! 3. Há ainda o princípio da licitude e da edificação, onde o cristão reconhece que há coisas que são lícitas, mas não edificam em nada. Um exemplo comum nesse caso: assistir a determinados programas de TV é algo perfeitamente lícito, mas não edificante (pelo menos na maioria dos casos!). Paulo admoesta: “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” (1 Co 10.23). A palavra “edificam” aqui vem da palavra grega oikodomeo e é definida como “promover crescimento em sabedoria cristã, afeição, graça, virtude, santidade, bemaventurança; cresçer em sabedoria e piedade”.14 4. Um princípio que não poderíamos deixar de citar aqui é o da glorificação a Deus, onde o crente age para glória de Deus; isso nos faz lembrar as palavras do Mestre Jesus: “... para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16b). A conduta ética do cristão deve redirecionar as pessoas a Deus. Se por um lado o cristão deve guardar-se de 14

Strong, James: Léxico Hebraico, Aramaico E Grego De Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. H8679.

28


Ética Cristã qualquer ostentação (cf. Mt 6.1-5,16), ao mesmo tempo é natural que ao proceder com sabedoria diante dos homens ele seja notado: “Havia em Jope uma discípula por nome Tabita, nome este que, traduzido, quer dizer Dorcas; era ela notável pelas boas obras e esmolas que fazia” (At 9.36). 5. Há ainda os princípios da ação em nome de Jesus baseado também num texto paulino: “E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3.17). A expressão “em nome do Senhor Jesus” aponta, evidentemente, para a Pessoa de Cristo, em Quem nossas ações devem estar baseadas. Denota Cristo como a inspiração de todas as nossas ações, verbais ou físicas. Desse modo, é correto pensar que as obras do crente são as obras do próprio Cristo! A expressão “em nome do Senhor Jesus” com seus equivalentes aparece várias vezes na Bíblia Sagrada. Vejamos: a) em nome de Jesus aparece 18 vezes; b) em o nome de Jesus aparece 8 vezes15. É interessantíssimo considerar a abrangência deste texto sobre a vida cristã: “tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação...”. O “tudo” aqui indica as diversas esferas da vida e da ética cristã que por sua vez devem ter Cristo e seu exemplo pessoal como modelo. A idéia de Cristo como a referência máxima 15

Na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA).

29


Ética Cristã para os crentes é sempre muito frequente nos escritos paulinos e uma tônica. A expressão “em Cristo” é súper frequente na teologia paulina. Ela aparece 181 vezes em suas cartas! 6. Por fim, o princípio de fazer para o Senhor, onde o crente em Jesus sempre indaga a si mesmo se o que faz é em nome de Jesus e é de fato para o Senhor. Há pessoas com grande volume de trabalho no ministério cristão, mas o que fazem não é para o Senhor; fazem por conveniência pessoal, pensando mais no seu próprio bem-estar do que no Reino de Deus propriamente dito!16 CONCLUSÃO “No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade. Os termos possuem origem etimológica distinta. A palavra “ética” vem do Grego ethos que significa “modo de ser” ou “caráter”. Já a palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos costumes”. Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica. É uma 16

Os princípios alistados como bases da ética cristã foram extraídos da obra: LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais de Nosso Tempo. 3ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

30


Ética Cristã reflexão sobre a moral. Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau. No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade” 17 . O cristão, portanto tem sua conduta ética e moral regida pela Palavra de Deus, que é rica nesse assunto, como veremos logo adiante, na próxima lição.

17

Disponível em: <http://www.significados.com.br/etica-e-moral/> Acesso em 14 jul. 2013

31


Ética Cristã

Exercícios do capítulo 1 Assinale com X a alternativa correta 1) De acordo com o capítulo um, a ética pode ser definida como um “Conjunto de valores e princípios que você e eu usamos para decidir as três grandes questões da vida que são: a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

Dinheiro, fama, poder Quero? Devo? Posso? Quero? Não quero? Devo querer? Devo? Não devo? Posso? Sucesso, trabalho, família

2) Quando o assunto é ética, logo temos de pensar em... a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

Convivência Isolamento social Problemas de relacionamento A falta de normas A falta de leis

3) De acordo com o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, a ética: a. ( b. (

) )

c. (

)

d. (

)

e. (

)

Não é uma questão relevante Não é uma questão de perguntar como eu faço o mal Não é uma questão de perguntar como eu faço o bem É uma questão de perguntar pela vontade Deu As alternativas “c” e “d” estão corretas 32


Ética Cristã f. (

)

Nenhuma das alternativas anteriores estão corretas

4) Enquanto a moral descreve o que as pessoas fazem, a ética: a. ( b. ( c. ( d. (

) ) ) )

O que as pessoas deveriam fazer O que as pessoas não fazem O que as pessoas gostam de fazer O que as pessoas não gostam de fazer

5) A Ética Cristã pode ser definida como: a. ( b. (

) )

c. (

)

d. (

)

O conjunto de valores sociais O conjunto de valores que devem reger o comportamento do cristão O conjunto de valores que devem reger o comportamento do não cristão Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

33


Ética Cristã

2 A Ética vista na Bíblia “O Deus da Bíblia, e nenhum outro, pode satisfazer as necessidades humanas. Seu código moral atravessou durante séculos as chamas da controvérsia, mas não ficou nem mesmo com cheiro de queimado” (D. J. Burrel).

INTRODUÇÃO

S

em dúvida que o assunto “Ética” está presente em toda a Bíblia, mas assim como acontece também com as disciplinas teológicas, não haveremos de encontrar na Bíblia esse assunto de forma sistematizada e organizada, afinal, a Bíblia não é propriamente um compêndio específico sobre ética. Uma vez que a ética está diretamente relacionada com os mais variados aspectos que envolvem a vivência humana, tais como decisões, comportamento, opinião, etc., é de se esperar encontrar na Bíblia muito de ética! E de fato encontramos na Palavra de Deus muito desse tema. É importante ressaltar, inclusive, que a Bíblia é para a Igreja o seu padrão ético supremo. O nosso modo de vida deve ser coerente com aquilo que nos ensinam as Sagradas Escrituras. Considerar isso e por em prática não é de todo uma tarefa fácil, haja vista que a Bíblia requer renúncia quanto ao seguir a Cristo. Não 34


Ética Cristã devemos usar a Bíblia de maneira irresponsável, escolhendo apenas aqueles textos ou conceitos que nos agradam, mas deixando de lado ou mesmo excluindo aqueles que não estejam de acordo com nossas opiniões pré-concebidas ou com algum modo de vida que possamos estar levando, mas que seja contrário à vontade de Deus. 1. DEUS, UM SER ÉTICO Uma vez que a ética pode ser definida como um “conjunto de valores que modelam o caráter de uma pessoa”, podemos então atribuir esse conceito à Pessoa de Deus, porém numa escala infinitamente maior. Pensando assim, usarei a expressão “ética divina” para indicar esse conceito. É fato, a Bíblia nos apresenta Deus com diversas qualidades morais. É interessante ressaltar também que já a partir da criação identificamos qualidades éticas em Deus. A Bíblia diz que as obras de Deus são feitas em sabedoria e justiça – qualidades éticas. A própria história, como um evento linear (ou uma série de ventos sucessivos), governada por Deus, revelará a glória, sabedoria e justiça de Deus. Ao considerarmos a teologia dos livros bíblicos logo percebemos que Deus possui qualidades como amor, justiça, santidade, veracidade, fidelidade, retidão, perfeição moral entre outras qualidades de cunho moral. As diversas Teologias Sistemáticas que temos publicadas em português alistam dezenas dessas 35


Ética Cristã qualidades divinas encontradas na Pessoa de Deus. Wayne Gruden, por exemplo, em sua Teologia Sistemática Atual e Exaustiva, publicada pela editora Vida Nova, classifica os atributos divinos em “comunicáveis” e “incomunicáveis”. Comunicáveis são aqueles que residem no ser humano em escala bem menor, é claro, ao passo que os incomunicáveis, como a própria designação indica, são exclusivos da divindade. Dentre os atributos comunicáveis estão aqueles de ordem moral (há outras categorias como “Atributos de Propósito”, por exemplo):        

Bondade Amor Misericórdia (graça, paciência) Santidade Paz (ou ordem) Retidão (ou justiça) Zelo Ira18

Vale ressaltar que Deus, sendo um Ser moral, criou seres com moralidade. Logo, somos inerentemente seres morais (com senso de moralidade) porque fomos criados por um Ser que também é moral. A chave da criação – o homem – é desde o ventre um ser moral. Uma recente pesquisa científica revelou que bebês já 18

GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática atual e exaustiva. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 132.

36


Ética Cristã apresentam traços de moralidade. O próprio sacrifício de Cristo na cruz, pela humanidade inteira, tem também um fundo ético, pois ali vemos demonstrados de maneira clara a justiça e o amor de Deus, contrabalanceados, num eterno equilíbrio – isso é ético. Consideremos agora os atributos morais de Deus, apresentados anteriormente, em sua relação direta com a ética divina. Nesse sentido, podemos considerá-los como diferentes aspectos da ética divina. Começando pela bondade, percebemos que a ética divina implica em preocupação e interesse de Deus pelas suas criaturas. Uma vez que Deus é bom, é correto afirmar, à luz da Bíblia, que Deus se interessa pelo homem e com ele se relaciona, diferentemente da proposta do Deísmo19 que parece negar essa relação de Deus com sua Criação e especificamente, o homem. Vemos na bondade de Deus um aspecto relacional de Deus, em que Ele “dá a partida” na relação com o homem, realizando a sua obra redentora. Ele assim faz justamente porque é Bom! Sua bondade implica também no fato de que “tudo” o que Ele faz é digno de ser aprovado, porque é bom. 19

Filosofia que nega a relação de Deus com o Universo por Ele criado. Uma comparação muito interessante e que ilustra bem o Deísmo é a do relojoeiro que fabrica o relógio, dá partida nele, mas depois o deixa funcionar sozinho, sem ter nenhuma ingerência nele. Assim, nesse pensamento, Deus cria o Universo e o deixa funcionar por si mesmo, sem ter participação nele. Deus co-existe ao lado do Universo, mas não interfere.

37


Ética Cristã No amor de Deus, o segundo atributo moral mencionado, encontramos o aspecto da ética divina que identifica o seu ser, isto é, Deus é identificado como sendo Ele mesmo o amor: “Deus é amor” (1 Jo 4.8). Em seu amor, Deus se doa eternamente aos outros. Porque Deus não destrói todos os seres humanos e acaba de vez com tudo que Ele mesmo criou? Ele pode fazê-lo e Ele tem poder para fazê-lo, mas não o faz. Porquê? Porque “Deus é amor”. Em sua ética pautada pelo amor, Ele prefere dar oportunidade e possibilidade de arrependimento ao pecador: “Tenho eu algum prazer na morte do ímpio? diz o Senhor Deus. Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva” (Ez 18.23). Na misericórdia divina vemos o aspecto da ética divina em que Deus se importa com aqueles que estão sofrendo de algum modo, em angústia, aflitos. Deus é misericordioso e deseja que seus filhos também o sejam: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5.7). A santidade é o aspecto da ética divina que repulsa o pecado nos seus mais variados aspectos. A santidade de Deus possui um aspecto positivo e um negativo. No aspecto positivo ela significa a essência do Ser de Deus, que é absolutamente perfeito, inteiramente separado daquilo que é mau. No aspecto negativo, a santidade divina consiste em seu ódio ao mau e ao pecado. É um atributo extremamente ético de Deus. Ninguém o obriga a Ser assim. Ele é assim por Si mesmo. 38


Ética Cristã A paz, apontada aqui como um atributo da divindade, indica o aspecto ético de Deus em que Ele, em suas decisões e em seus atos, procura a quietude, tranquilidade, a ordem em relação à Sua criação, embora o mundo esteja agora em desordem e em confusão. Mas não é a vontade de Deus que fosse como é. A Bíblia diz que “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (1 Co 14.33). A paz, como qualidade que deve existir em nós, seus filhos, é uma qualidade ética, relacional, que melhora nosso convívio com as pessoas, inclusive as não cristãs. É também um requisito fundamental para se chegar ao céu: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). A retidão ou justiça divinas são qualidades éticas de Deus que apontam para sua relação com os seres criados. Em seu trato com o homem, Deus é imparcial, justo, coerente e íntegro. Não pode ser corrompido, nem comprado. A teologia bíblica tinha de forma bem clara a visão de que Deus “porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17.31). O conceito de juízo e justiça são inerentes ao Deus da Bíblia: “Nuvens e escuridão estão ao redor dele; justiça e equidade são a base do seu trono” (Sl 97.2). O zelo de Deus implica no seu cuidado consigo mesmo e com o seu povo. O Deus da Bíblia é o “Deus zeloso” 39


Ética Cristã (Êx 20.5). Ele zela pela sua própria honra e fidelidade, de modo que se “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido na fé e no amor que há em Cristo Jesus” (2 Tm 2.13). Já a ira de Deus é um atributo ético, no qual Deus se volta contra tudo o que é pecaminoso, contrário à sua santidade. A ira de Deus, diferentemente da ira humana, não se baseia em presunção, egoísmo, intriga, mero capricho pessoal. É a resposta divina àquilo que se opõe ao seu caráter moral. Preocupa-nos o fato de alguns cantores evangélicos e também pregadores só apresentarem Deus como Deus de amor e nada mencionarem sobre a ira divina, sobre a santidade de Deus e a sua justiça, com que há de julgar os homens! Pensemos nisso. Como vimos, os atributos morais de Deus indicam que Deus é ético e portanto, Deus é um Ser ético. Isso nos faz pensar na relevância da ética e como ela deve ser orientada, uma vez que nosso Deus, em Cristo Jesus, é nosso padrão ético. Prova disso é que o Novo Testamento, várias vezes, é enfático ao declarar que nós devemos imitar a Cristo em nosso comportamento e maneira de ser (cf. 1 Co 11.1; 1 Pe 1.15,16; 1 Jo 2.6). Consideremos ainda o uso da palavra “cristão” em Atos 11.26 indicando a semelhança dos discípulos com o seu Mestre – Cristo.

40


Ética Cristã 2. A ÉTICA PRESENTE NA BÍBLIA Tudo o que a Bíblia nos ensina, desde a criação até a consumação de todas as coisas, ou porque não dizer, do Gênesis ao Apocalipse, carrega uma qualidade ética e consequentemente, traz também implicações éticas. Na Bíblia temos a revelação escrita de Deus para nós, e é nela que encontramos em abundância o que Deus deseja que pensemos e creiamos a respeito dele. É interessante aqui considerar o texto de 2 Timóteo 3.16 e 17 que afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Note a expressão “para a educação na justiça” – isso é de conteúdo ético. Aqui temos embutido o conceito de que nossa vida deve ser pautada pelas Escrituas, porque elas nos instruem ou nos educam na justiça, de modo que não podemos ignorar certas partes da Bíblia, mas devemos amar a toda a Bíblia. Desse modo, a Bíblia inteira e não apenas parte dela é nosso parâmetro ético comportamental. Há quem conclua que a Bíblia, por ser um livro antigo – muito antigo – não tenha nada a nos dizer hoje, mas, isso é um grande equívoco. John R. Higgins explica melhor: “A Bíblia, correlacionada com a natureza complexa do ser humano, lida com todas as

41


Ética Cristã áreas essenciais de nossa vida. À medida que uma pessoa lê a Bíblia, esta, por sua vez, lê a pessoa”20. Greg L. Bahnsen, em seu artigo Toda a Bíblia é o Padrão para Hoje, descrevendo a relação da Bíblia com a ética, comenta: Deus espera que nos submetamos a toda sua palavra, e não que escolhamos apenas aquilo que esteja de acordo com nossas opiniões pré-concebidas. O Senhor requer que obedeçamos a tudo que ele estipulou no Antigo e Novo Testamento - que vivamos "de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4.4). Nosso Senhor respondeu à tentação de Satanás com essas palavras, citando a passagem do Antigo Testamento registrada em Deuteronômio 8.3, que começa da seguinte forma: "Todos os mandamentos que hoje eu vos ordeno cuidareis de observar" (8.1). Muitos crentes em Cristo falham em imitar sua atitude aqui, e são totalmente descuidados quanto a observar cada palavra da ordem de Deus na Bíblia. Tiago nos diz que se uma pessoa vive e guarda todo preceito ou ensino da lei de Deus e, todavia, desconsidera ou viola um único ponto, essa pessoa é de fato culpada de desobedecer toda a lei (Tiago 2.10). Portanto, devemos tomar toda a Bíblia como nosso padrão de ética, incluindo cada ponto da lei do Antigo Testamento. Nenhuma palavra que procede da boca de Deus pode ser invalidada ou tornada inoperante, assim como o Senhor declarou ao entregar sua lei: "Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe 20

HIGGINS, John R. in: HORTON, Stanley M. (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. 10ª ed. Trad.: Gordon Chown. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 89.

42


Ética Cristã acrescentarás nem diminuirás" (Dt 12.32). A Bíblia inteira é o nosso padrão ético hoje, de capa a capa. Mas a vinda de Jesus Cristo não mudou tudo isso? A lei do Antigo Testamento não foi cancelada ou pelo menos reduzida em seus requerimentos? Muitos cristãos professos são enganados na direção dessas perguntas, a despeito do claro requerimento de Deus que nada seja subtraído da sua lei, a despeito do ensino claro de Paulo e Tiago que toda escritura do Antigo Testamento - mesmo cada ponto da lei - tem uma autoridade ética obrigatória na vida do cristão do Novo Testamento. Talvez o melhor lugar para verificar na Escritura, a fim de livrarmo-nos dessa inconsistência teológica por detrás dessa atitude negativa para com a lei do Antigo Testamento, são as próprias palavras de Jesus sobre esse assunto, em Mateus 5.17-19. Nada poderia ser mais claro do que Cristo negar aqui duas vezes (para enfatizar) que sua vinda ab-rogaria a lei do Antigo Testamento: "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir". Repetindo, nada poderia ser mais claro que isso: nem mesmo o aspecto menos significante da lei do Antigo Testamento perderá sua validade até o fim do mundo: "Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a Terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido". E se houver alguma dúvida remanescente em nossas mentes quanto ao significado do ensino do Senhor aqui, ele imediatamente remove-a aplicando sua atitude para com a lei ao nosso comportamento: "Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será

43


Ética Cristã chamado grande no reino dos céus". A vinda de Cristo não ab-rogou nada na lei do Antigo Testamento, pois cada til da lei permanecerá até que passe esse mundo; por conseguinte, o seguidor de Cristo não deve ensinar que algum requerimento do Antigo Testamento foi invalidado por Cristo e sua obra. Como o salmista declarou: "A soma da tua palavra é a verdade, e cada uma das tuas justas ordenanças dura para sempre" (Sl 119.160). Assim, então, tudo da vida é ético, e a ética requer um padrão de certo e errado. Para o cristão, o parâmetro é encontrado na Bíblia - toda a Bíblia, do princípio ao fim. O crente do Novo Testamento repudia o ensino da própria lei, dos Salmos, de Tiago, de Paulo e do próprio Jesus quando os mandamentos de Deus expressos no Antigo Testamento são ignorados ou tratados como um mero padrão antiquado de justiça e retidão. "A palavra de nosso Deus subsiste eternamente" (Is. 40.8), e a lei do Antigo Testamento é parte de cada palavra que procede da boca de Deus, pela qual devemos viver (Mt 4.4).21

Neste sentido, a Bíblia continua sendo um livro atual e amado pela Igreja. É correto afirmar que seus valores e princípios morais devem ser observados, não de forma mecânica, fria, temerosa, mas encarando-se esses valores e princípios como “luzes no caminho” que conduzem a uma vida melhor, a uma postura pessoal que seja mais relacional e solidária e a uma relação com 21

Disponível <http://www.monergismo.com/textos/lei_evangelho/toda-bibliapadrao_banhsen.pdf> Acesso em 15 jul. 2013.

44

em:


Ética Cristã Deus que seja amorosa, de entrega verdadeira e não utilitária. 3. A ÉTICA BÍBLICA EM FACE DA ÉTICA SECULAR O escritor e jornalista estadunidense A. J. Jacobs relata sua inusitada experiência vivida entre os anos de 2005 e 2006 no livro que escreveu com o título “Um Ano Bíblico” (traduzido em português). O autor se esforçou por viver literalmente, durante um ano inteiro, alguns mandamentos bíblicos. Ele deixou a barba crescer, pastoreou ovelhas, teve de comprar (segundo ele mesmo explica) um banquinho de uso exclusivo para poder sentar-se, já que a Bíblia proíbe ao homem sentarse num mesmo assento em que uma mulher menstruada sentou-se (no caso dele, sua esposa) e até chegou a atirar pedrinhas em um senhor por causa de adultério ( ! ), além de outros mandamentos que ele procurou seguir a risca. Já no começo de sua impensável experiência “percebeu que o mandamento bíblico de não cobiçar era quase impraticável em uma cidade tão consumista como Nova York... Jacobs lembrou que o versículo ainda mandava não cobiçar ‘a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo’. Concluiu que ‘o boi e o jumento não eram um problema para a Manhattan pós-agrária de Nova York’. Todo o resto 45


Ética Cristã era”22. Fica mais do que evidente que este jornalista não compreendeu corretamente a mensagem da Bíblia como padrão de vida para as pessoas enquanto ele se ateve a preceitos que se perderam no contexto histórico do AT. Mas sua experiência serviu, ao menos em parte, para demonstrar o quanto a nossa sociedade é falha em termos de ética. O próprio autor, em um vídeo, declara que o mandamento de não mentir foi um dos mais difíceis para ele cumprir, ainda mais em função de sua profissão que, segundo ele, era quase inevitável, todos os dias. Como já dito, essa experiência só serve para demonstrar a fragilidade da ética em nossa sociedade que se serve de meios escusos para suas relações. Nesse aspecto, o cristianismo se sobressai, dada o seu elevado código ético. Os preceitos ensinados por Jesus, em alguns aspectos, vão totalmente contra os nossos impulsos naturais. Nenhum outro código moral se assemelha a Bíblia nesse aspecto. CONCLUSÃO Um dos maiores desafios à Igreja hoje, em pleno século 21, é o desafio do relativismo moral que ganha espaço cada vez mais na sociedade e até mesmo em ambientes evangélicos. Para muitos hoje, falar em moral significa ser “moralista”, e isso soa sempre mau numa conversa. 22

Folha de São Paulo online. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/966160-foi-dificil-seguir-abiblia-relata-jornalista.shtml> Acesso em 02 nov. 2013.

46


Ética Cristã Mas a Igreja de Cristo é uma “contracultura”, sendo moldada pela Palavra de Deus. Há muitas coisas que são convencionais em nossa cultura e até aceitas e incentivadas, especialmente na mídia, mas que são práticas contrárias à vontade de Deus. Não é fácil ser o diferente, mas é justamente o que Jesus quer de nós – que sejamos diferentes para fazer a diferente com o nosso comportamento e padrão ético. Diz a Bíblia: “... para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa, entre a qual resplandeceis como luminares no mundo” (Fp 2.15).

47


Ética Cristã

Exercícios do capítulo 2 Assinale com X a alternativa correta 1) Segundo D. J. Burrel, o ________________ e nenhum outro pode satisfazer as necessidades humanas. a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

Deus da Bíblia Código moral Valor ético Homem Nenhuma das alternativas anteriores está correta

2) Não devemos usar a Bíblia de maneira ______________, escolhendo apenas aqueles textos ou conceitos que nos agradam. a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

Responsável Consciente Irresponsável Ética Individual

3) De acordo com a lição, uma vez que a ética pode ser definida como um “conjunto de valores que modelam o caráter de uma pessoa”, a. (

)

b. (

)

c. (

)

Então podemos atribuir esse conceito à Pessoa de Deus Então não podemos atribuir esse conceito à Pessoa de Deus Então podemos atribuir esse conceito à Pessoa de Deus numa escala muito menor 48


Ética Cristã d. (

)

Todas as corretas

alternativas

anteriores

estão

4) A própria _______________, como um evento linear (ou uma série de ventos sucessivos), governada por Deus, revelará a glória, sabedoria e justiça de Deus. a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

História Ética Teologia Igreja Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

5) Deus, sendo _____________. a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

um

Ser

moral,

criou

seres

Sem moralidade Com ética Com moralidade Imorais Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

49


Ética Cristã

3 A Ética e a família “O cristão como sal da terra e luz do mundo, tem dificuldade em se movimentar num mundo em que os valores morais estão invertidos. Entretanto, tem a vantagem de não adotar como referencial ético a sociedade sem Deus. Enquanto os referenciais do mundo são movediços, instáveis e mutantes, ao sabor do tempo e do lugar, o guia infalível do crente em Jesus é a Palavra de Deus, que é lâmpada para os pés e luz para o caminho” (Elinaldo Renovato).

INTRODUÇÃO

J

á vimos anteriormente que a ética cristã pode ser definida como um conjunto de valores oriundos da Palavra de Deus que devem pautar a nossa vida. Sabemos que há visões éticas que são contrárias à Bíblia Sagrada, mas para nós, que recebemos as Escrituras como inspiradas por Deus e como o nosso “mapa” nesta vida, ela funciona para nós como o nosso código de ética divino! A ética tem tudo a ver com a família e em nosso tempo de pós-modernidade são muitos os ataques contra a estabilidade e segurança familiar. Estamos vivenciando um tempo de verdadeiro bombardeio contra a família, através de conceitos que 50


Ética Cristã desagregam o lar, idéias opostas às disciplinas cristãs e um número incontável de imagens, sons e vídeos que chegam até nossas casas através das mídias eletrônicas, hoje tão presentes em nossas casas e que aos poucos vão minando nossos valores familiares, valores esses tão importantes para a manutenção e união da família. Só para termos um exemplo de como a sociedade vem se corrompendo cada vez mais e de como a mídia colabora para isso, uma pesquisa revelou que em algumas cidades do interior, onde o sinal de determinada emissora de TV não chegava, o índice de divórcios era baixo. Mas depois que o sinal desta emissora começou a chegar, o índice de divórcios aumentou significativamente, justamente em paralelo à chegada do sinal da emissora nessas cidades. É que as pessoas começaram a assimilar em seu comportamento pessoal o que os programas imorais dessa emissora propagam: sexo casual, infidelidade conjugal, imoralidade sexual, etc. Estejamos atentos, e façamos uso da ética cristã na família, a fim de que possamos preservar nosso casamento, nossos filhos, nosso cônjuge, etc., destes verdadeiros ataques malignos. 1. A ÉTICA CRISTÃ NA VIDA CONJUGAL Muitas pessoas se iludem em relação à vida a dois quando estão no começo da relação, pensando que a paixão durará para sempre. Mas a verdade é que o “encanto” passará com a vivência diária, com os 51


Ética Cristã dissabores que todo casal enfrenta, adversidades, problemas das mais diversas ordens. Tudo isso pode desgastar o relacionamento. Daí a importância do casal cultivar o amor em função do casamento. Os dois, no casamento, tem uma aliança, firmada perante Deus (quando assim ocorre de fato) e portanto devem lutar sempre para manter-se unidos. A ética cristã no casamento ocorre e está presente quando os cônjuges agem com lealdade um com o outro, quando empregam linguagem cortês e se esforçam para compreender um ao outro. Há casais que são totalmente antiéticos um com o outro em seu relacionamento, o que é lamentável e acaba gerando um desgaste terrível na relação. Quanto ao casal fazer um planejamento familiar, consideraremos esse assunto mais adiante. De início, afirmamos que estamos diante de uma questão muito interessante e que gera também muita discussão, estando incluída aqui por estar relacionada diretamente com a vida conjugal. O posicionamento da Igreja Católica frente a esse assunto é que os métodos contraceptivos devem ser mesmo evitados, e não é apenas a Igreja Católica que entende assim, mas denominações evangélicas, inclusive, pensam dessa forma. No entendimento deles, impedir a concepção seria uma forma de desobedecer à ordem divina contida no texto de Gênesis 1.28: “Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as 52


Ética Cristã aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra...”. Mas é verdade também que a discussão vai mais longe do que estamos expondo aqui. Alguns católicos também haverão de argumentar que a Bíblia também não deterimina que os casais devam ter mais de uma dezena de filhos e assim por diante. Nosso posicionamento quanto a este assunto deve pautar-se pelo equilíbrio. É preciso que digamos que a ordem divina citada acima não foi só para Eva ou só para qualquer mulher apenas! Ali, o primeiro casal representava, evidentemente, a humanidade inteira. A ordem foi para que a humanidade inteira se reproduzisse e ocupasse a terra. Nesse sentido, pensar que a procriação deve ser ininterrupta não encontra qualquer apoio na Bíblia. Mas é preciso que se diga também que “Os filhos são um presente do Senhor; eles são uma verdadeira bênção” (Sl 127.3 na NTLH). Estamos convencidos de que não ter filhos no casamento por questões de mera vaidade e egoísmo é pecado aos olhos do Senhor. Sem dúvida alguma que o casal deve considerar também sua condição sócio-econômica, pois se por um lado não ter filhos pode se constituir em pecado, por outro pode ser um ato de tremenda irresponsalidade gerar vários filhos e não ter condições favoráveis para a educação de todos eles. Aquele velho adágio que diz “Onde come um comem dez” deveria ser reformulado: “Onde um passa necessidades, dez passam mais necessidades ainda!” 53


Ética Cristã 2. A ÉTICA CRISTÃ E A EDUCAÇÃO DOS FILHOS A educação dos filhos é um processo – todos sabemos – que despende anos de nossa vida, e ainda assim sabemos que vamos errar no caminho, por mais que nos esforcemos. Daí a importância de dedicar o melhor de nós para que possamos oferecer o melhor em termos de educação aos nossos filhos. O famoso cientista Albert Einstein disse: “Educação é o que resta depois de ter esquecido tudo que se aprendeu na escola”. Ele estava certo. Educação deve ser fornecida ao ser humano em primeiro plano pelos pais. A escola e outras agências de educação são secundárias. A educação como um conjunto de saberes benéficos para a vida chega a nós de várias formas, mas sem dúvida alguma a forma que mais nos marca para todo o resto de nossa existência, é a do exemplo. Os seres humanos vivem por modelos de imitação e os pais são as primeiras pessoas com quem temos esse contato. Daí a importância de os pais terem uma conduta coerente, a fim de comunicar aos filhos valores que durarão para o resto de suas vidas. 3. A ÉTICA CRISTÃ E A SEXUALIDADE A sexualidade é uma área fundamental do ser humano, responsável por profundas mudanças físicas e psíquicas. O criador da Psicanálise, Sigmund Freud, percebeu que o desenvolvimento da sexualidade 54


Ética Cristã humana se dá já a partir do nascimento e não da puberdade, como se cria até então. Desse modo, é correto afirmar que o ser humano é por natureza um ser sexual em sua estrutura bio-psíquica. A Bíblia não ignora esse assunto, mas já de partida lida com a questão no livro de Gênesis, quando Deus ordena que o primeiro casal se multiplique, evidentemente, através do intercurso sexual (cf. Gn 1.28). Não há dúvida de que o sexo foi criado por Deus e por ele abençoado. O tema da sexualidade humana é frequente na Bíblia e podemos até considerar o livro de Cantares como o livro que talvez mais trate desse assunto. Alguns até questionaram no passado se um livro tão sensual assim deveria estar de fato na Bíblia. Houve até uma escola judaica, a escola de Shammai, no século 1 da Era Cristã, que levantou dúvidas sobre a inspiração divina do livro de Cantares de Salomão. Todavia, um rabino chamado Akiba bem Joseph, foi conclusivo em suas palavras: “"Deus nos livre! - Ninguém em Israel jamais contestou o Cântico dos Cânticos... pois todas as eras não valem o dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel; pois todos os escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o mais Santo dos Santos". É importante frisar que o sexo foi criado por Deus e Paulo corrobora o fato de que “tudo que Deus criou é bom” (1 Tm 4.4). Portanto, o sexo em si, não é pecado. Pecaminoso é o sexo quando pervertido, imoral, sem os limites da ética cristã. 55


Ética Cristã CONCLUSÃO A família é a célula-mãe da sociedade, geradora de indivíduos. Se a família estiver desajustada, a sociedade, inevitavelmente, também estará desajustada. A ética é de grande peso na construção de valores, da boa moralidade e do caráter. Sob a visão bíblica, a ética funciona como um “mapa” para a família comportar-se em meio a uma sociedade cada vez mais mergulhada em tudo aquilo que é contrário à vontade de Deus. Que nossas famílias sejam reflexo da glória de Deus e do cristianismo bíblico, demonstrando através de um santo comportamento o caráter de Cristo refletido em nós.

56


Ética Cristã

57


Ética Cristã

Exercícios do capítulo 3 Assinale com X a alternativa correta 1) De acordo com a lição 3, as Escrituras funcionam para nós... a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

Como o nosso código de ética humano Como o nosso código de ética ministerial Como o nosso código de ética divino As alternativas “a” e “c” estão corretas Nenhuma das alternativas anteriores estão corretas

2) A Ética cristã no casamento ocorre e está presente... a. (

)

b. (

)

c. (

)

d. (

)

e. (

)

Quando os cônjuges agem com deslealdade um com o outro Quando os cônjuges agem com lealdade um com o outro Quando os cônjuges empregam linguagem cortês um com o outro Quando os cônjuges se esforçam para compreender um ao outro Somente a alternativa “a” está errada

3) A ordem divina contida em Gênesis 1.28 foi dada... a. ( b. ( c. ( d. (

) ) ) )

Não exclusivamente ao primeiro casal Exclusivamente ao primeiro casal Não exclusivamente a uma mulher apenas Ao primeiro casal no sentido em que eles eram representantes da humanidade 58


Ética Cristã e. (

)

As alternativas “a” e “d” estão corretas

4) A educação dos filhos é um _________________, todos sabemos, que despende anos de nossa vida e ainda assim sabemos que vamos errar no caminho, por mais que nos esforcemos. a. ( b. ( c. ( d. (

) ) ) )

Erro Processo Objetivo secundário Risco desnecessário

5) A _____________ é uma área fundamental do ser humano, responsável por profundas mudanças físicas e psíquicas. O criador da Psicanálise, Sigmund Freud, percebeu que o desenvolvimento da sexualidade humana se dá já a partir ______________ e não da puberdade, como se cria até então. a. ( b. ( c. ( d. ( e. (

) ) ) ) )

Sexualidade, da puberdade Psiquê, nascimento Espiritualidade, conversão Sexualidade, nascimento Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

59


Ética Cristã

4 A Ética e a Igreja “Ética é a ciência que nos ensina sobre o que somos obrigados a fazer, o que somos permitidos fazer e o que somos proibidos de fazer. Em suma, é a ciência que trata dos nossos deveres para com Deus, para com o próximo e para conosco mesmos. Apliquemos esses princípios no campo espiritual relacionado com o culto divino realizado no templo, ou seja onde for, e teremos um culto cristão de qualidade” (Antonio Gilberto).

INTRODUÇÃO Nesta lição consideraremos a ética em relação à Igreja do Senhor, abordando especificamente dois pontos: 1) a ética e o obreiro e 2) a ética do culto. 1. A ÉTICA DO CULTO A DEUS Em artigo publicado no CPAD News 23 , o Pastor Antonio Gilberto comenta sobre a ética no culto cristão: A adoração a Deus e o zelo Toda adoração a Deus requer de nós um preço a pagar. Adoração sem preço, sem renúncia, não é verdadeira adoração. Veja o exemplo de Davi: "Porém

23

O CPAD News é um portal de notícias cristão mantido pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus).

60


Ética Cristã o rei disse a Araúna: Não, porém por certo preço to comprarei, porque não oferecerei ao Senhor, meu Deus, holocaustos que me não custem nada. Assim, Davi comprou a eira e os bois por cinquenta siclos de prata", 2Sm 24.24. Sempre existiram dois tipos de adoradores: os bons e os maus. Há muitos exemplos na Bíblia: Abel e Caim (Gn 4); Maria de Betânia e Judas Iscariotes (Jo 12); Abraão e Ló (Gn 18). O assunto que passo a abordar relaciona-se ao melhoramento do culto divino, isto é, sua ordem, decência, reverência e espiritualidade, principalmente no templo. Todos os salvos têm uma parcela de responsabilidade na obra de Deus, e isso inclui a cooperação para a boa ordem no culto. Há necessidade de que cada um de nós sinta dores de coração, angústia e preocupação pelo estado de coisas por que passa o culto ao Senhor em nossas Casas de Oração atualmente. O que ocorre com este autor deve ocorrer com você também, que ama a Casa e a causa do Senhor. Que em nós se cumpra o que está escrito em João 2.17: “O zelo da tua casa me devorará”. Isto é, me consumirá.24 A plataforma, o recinto do templo, o serviço de som, a música e os cantos O exemplo quanto à conduta na Casa de Deus durante o culto deve partir dos pastores e demais obreiros que ocupam a plataforma. Aquele que conversa ou se comporta indevidamente no púlpito é irreverente, contraditório, intemperante, sem controle. 24

Disponível em: <http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/?POST_1_42_%C9 TICA+CRIST%E3+NO+CULTO+(PARTE+I).html> Acesso em 21 jul 2013.

61


Ética Cristã Não se apercebe o tal que quem está na plataforma fica em destaque e que seus gestos, postura e atitudes são imediatamente notados pelos que estão em toda a nave do templo. Também é reprovável o mau costume de certos obreiros ficarem subindo e descendo da plataforma sem uma imperiosa razão que justifique isso. O que poderão pensar os visitantes, crentes e descrentes? Quando um crente se comporta mal no culto, seja onde for, isso significa que ele não cresceu em sentido algum. Precisamos de um culto mais solene, mais espiritual e mais pentecostal. O que está acontecendo em certos lugares é algo estranho, que nos leva a perguntar: "Que Deus é esse de vocês, que recebe esse tipo de culto, inferior, deturpado e misto?" O templo não consiste apenas no seu recinto interior. O seu recinto exterior também é templo. Ali não deve haver mais desatenção, irreverência e conversa. Não deve haver aglomeração desnecessária de pessoas antes do começo do culto, e quem estiver de fora na frente e nos corredores externos do templo por falta de lugar no seu interior deve manter-se em atitude reverente como quem está na presença do Senhor. O serviço de som, a música e os cantos Se é costume da igreja a execução de música gravada ou não antes de o culto começar, que isto seja sob as ordens do pastor da igreja. Que a música seja em tom suave e apropriada para coadjuvar os momentos devocionais dos fiéis que estão chegando para o culto. Deve haver um limite de números musicais a serem executados durante o culto pelos órgãos musicais da

62


Ética Cristã igreja e pelos cantores. Deixar essa definição por conta deles revela falta de sabedoria do dirigente do culto. Além disso, muita música hoje nas igrejas não é sacra, não é espiritual, não arrebata a alma, não fala ao coração, não edifica, não inspira, nem nos move a adorar a Deus. Não é “música de Deus”, como está escrito em 1 Crônicas 16.42. A música no culto deve ser um meio e um ministério para Deus revelar e manifestar a sua presença em nosso meio. Quando a música foi profanada nos primórdios da raça humana, como vemos em Gênesis 4.21-24 (essa passagem está em forma de cântico no original), veio mais tarde o julgamento divino. Infelizmente, enquanto a congregação canta no máximo dois ou três hinos em todo o culto, solistas, conjuntos, corais e bandas cantam e tocam até 21 números (Como este autor sabe de casos!). Isso é também desequilíbrio, mau gosto, falta de discernimento. Segundo as Escrituras, o incenso sagrado, o qual simboliza a oração e a adoração ao Senhor, era composto de vários ingredientes, mas todos de peso igual (Êx 30.34). O azeite vinha na frente (Êx 30.22-32) e depois vinha o incenso (Êx 30.34-38). O azeite fala do Espírito Santo. A predominância do Espírito de Deus na vida do crente e no ambiente do culto leva-o a uma profunda e santa adoração ao Senhor. Os diáconos na igreja O pastor ou dirigente do culto jamais poderá fazer tudo sozinho. Nem eles podem ver tudo sozinhos. No culto, os diáconos desempenham um papel muito importante. Uma de suas funções é acomodar o povo que vai adentrando o templo e, a seguir, ajudar a

63


Ética Cristã manter a boa ordem durante todo o culto, circulando discretamente, olhando discretamente, aproximandose sabiamente de locais onde notar movimento e comportamento anormais. Os diáconos escalados para o culto não devem ficar sentados. Seu trabalho é executado sempre em pé. Devem estar sempre atentos a qualquer sinal do púlpito para ajudar. Mesmo o diácono que não está escalado para o culto deve estar sempre atento para ajudar a sanar qualquer dificuldade que venha a surgir. Uma das lembranças mais queridas da minha vida inicial na fé é a dos diáconos da minha igreja, empenhados com todo amor e boa vontade e sempre solícitos na boa manutenção do culto25.

Recomendações para um culto mais solene e espiritual Vejamos agora algumas recomendações gerais para que tenhamos um culto mais solene e espiritual: 1) Não entrar no santuário enquanto a congregação estiver orando coletivamente ou lendo a Palavra de Deus. 2) Não adentrar o templo apressadamente, nem pisando com força. Os descrentes não fazem isso no cinema, por exemplo, e a Casa do Senhor é um lugar santo em todo tempo. Ela foi consagrada a Deus. 3) Se você chegou um pouco cedo, não espere o culto começar para entrar no templo. Se você não entra, sem uma razão que justifique isso, você está contribuindo para a desordem no culto sagrado. Antes de sentar-se, ore primeiro a Deus. Não faça uma 25

Disponível em: <http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/?POST_1_43_%C9 TICA+CRIST%E3+NO+CULTO+(PARTE+II).html> Acesso em 20 jul 2013.

64


Ética Cristã oração por mera formalidade. Fale mesmo com Deus, orando pelo culto. 4) Procure sentar-se nos bancos ou assentos da frente (em relação ao púlpito). Deixe os bancos de trás para os retardatários, etc. 5) Não frequente banheiro do templo. Você tem casa para ir ao banheiro. Banheiro de templo é para casos específicos ou emergências. Pessoas que no culto ficam entrando e saindo de banheiro ou estão doentes, ou são viciadas nisso, ou estão se exibindo, ou não querem santificar o culto ao Senhor. 6) Após sentar-se, cumprimente alegre e discretamente as pessoas ao seu redor, fazendo-as assim sentirem-se à vontade na Casa de Deus, mormente se são visitantes, crentes ou não. 7) Não fique a conversar com ninguém durante o culto, sob pretexto nenhum. Controle sua mente e sua língua. Se você não controla a sua língua, não controla nada mais na sua vida. É verdade. 8) Ensine suas crianças a se comportarem na Casa de Deus: como entrar no templo, como andar dentro do templo sem chamar a atenção, como sair do templo em ordem, etc. A Casa de Deus não é parque de diversão para criança correr e brincar. Caso isso aconteça, os primeiros culpados são os pais ou responsáveis pela criança. Os segundos, terceiros e quartos responsáveis são: obreiros omissos nesse sentido, igreja sem obreiros nesse sentido e criança abandonada quanto à sua formação em geral. 9) É reprovável durante o culto ao Senhor o costume de mascar chiclete ou qualquer outra goma, chupar balas ou comer qualquer coisa. Você tem casa para isso. A Casa do Senhor não é lugar para tais coisas. Na antiga lei mosaica, essas pessoas sairiam mortas do

65


Ética Cristã templo. Mas o espírito da lei continua em vigor. São por essas coisas que muitos crentes em nossos dias já perderam o fervor espiritual, o temor de Deus e estão frios na fé, sem saber o porquê. Para você saber que tudo o que foi dito acima tem apoio na Palavra de Deus, leia as passagens da Palavra de Deus que se seguem, meditando bem no que lê: Levítico 19.30; Salmos 89.7 e 93.5; Eclesiastes 5.1; Habacuque 2.20; João 2.13-17; 1 Coríntios 11.22 e 1 Timóteo 3.15. No culto ao Senhor, a sua dimensão espiritual, o seu efeito poderoso e duradouro, a sua eficácia em geral para nos abençoar e a edificação espiritual que pode promanar de suas diversas partes, inclusive uma mensagem poderosa do pregador, dependem muito das atitudes e da conduta do púlpito e da própria congregação26.

2. A ÉTICA E O OBREIRO De partida, conceituemos o termo “obreiro” a fim de desenvolver bem nosso assunto. A palavra “obreiro” como aparece no texto de 2 Timóteo 2.15 significa, segundo Strong, “1) trabalhador, obreiro; 1a) geralmente aquele que trabalha por salário, especialmente um trabalhador rural; 2) alguém que faz, operário, perpetrador”. 27 A palavra “obreiro” aparece 26

Disponível em: <www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/?POST_1_45_%C9TICA+C RIST%E3+NO+CULTO+(PARTE.html> Acesso em 21 jul. 2013. 27

Strong, James: Léxico Hebraico, Aramaico E Grego De Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. H8679.

66


Ética Cristã oito vezes na Bíblia (na Versão Almeida Revista e Atualizada), sendo cinco vezes de maneira negativa e três de maneira positiva (os textos são: 1 Crônicas 4.21, Salmo 14.4; 36.12 e 53.4; 1 Coríntios 16.16; 2 Coríntios 11.13; Filipenses 3.2 e 2 Timóteo 2.15. Pelo que podemos depreender dos textos do Novo Testamento que citam a palavra obreiro, a Igreja já naqueles tempos teve problemas graves por causa de “obreiros fraudulentos” e dos “maus obreiros” (2 Coríntios 11.13 e Filipenses 3.2). Embora não encontremos a palavra “obreira” (feminino) na Bíblia, é válido incluir aqui neste estudo a atuação e o papel que as mulheres exercem no Reino de Deus, haja vista a expressiva presença e atuação das mulheres na Igreja, hoje (especialmente na Assembleia de Deus). No sentido de que o obreiro é alguém que realiza uma obra, não temos problema algum em estender o conceito às mulheres que trabalham na Seara do Mestre, ainda mais quando levamos em conta o significativo papel que as mulheres exerceram na Igreja do Novo Testamento. Sendo assim, este estudo bíblico alcança nossas irmãs também – ele não fica restrito apenas ao quadro de obreiros que é composto exclusivamente por homens (OBS: o conceito de “obreira” que utilizo neste trabalho é amplo, refere-se ao papel da mulher nas diversas atividades que ela pode exercer na igreja, seja como professora, conselheira, líder de grupos, etc., em outras palavras, o 67


Ética Cristã conceito de “obreira” que utilizo aqui se refere ao “ministério feminino” na igreja. Minha posição teológica quanto ao “pastorado feminino” é que este conceito não encontra apoio nas Escrituras, mas percebo que com clareza que a Bíblia aprova e honra o “ministério feminino”, mas não o “pastorado feminino”. Meu conceito aqui nada tem que ver com preconceito ou machismo, é uma posição teológica imparcial – ainda mais para mim que fui educado na fé por uma mulher – minha mãe!). A necessidade do obreiro e da obreira na Obra de Deus O obreiro e a obreira se fazem necessários para a Igreja porque são eles que “movem” os trabalhos e atividades que compõem uma igreja local. Desse modo, o evangelismo, a educação cristã, a assistência social da igreja, a liderança de uma forma geral, etc., passam pelo trabalho do obreiro e da obreira. Como igreja, precisamos orar pedindo ao Senhor que envie obreiros para a Seara, pois o trabalho é muito, o desafio é grande, o campo é vasto, mas, como disse Jesus, “... os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara” (Lucas 10.2 – ARC). 3. O OBREIRO E AS DIVERSAS FACES DE SUA VIDA Para que tenha um ministério aprovado por Deus, pela Igreja e pelo mundo, o obreiro e a obreira do Senhor 68


Ética Cristã devem estar atentos ao seu procedimento diário em relação à família, à igreja, aos vizinhos, ao mundo e quanto a si mesmo. Como diria Leonard Ravenhill, “Em cada um de nós existem três pessoas: a que nós achamos que somos, a que os outros pensam que somos, e a que Deus sabe (sic) que somos” (RAVENHILL, Leonard. Por que Tarda o Pleno Avivamento? Ed. Betânia. 1ª Ed. 1989. p. 31). Oremos sempre ao Senhor para que Ele, pelo Espírito Santo que nos foi dado, venha moldar-nos à semelhança de Cristo. Os itens que passaremos a considerar são indispensáveis à vida do obreiro e da obreira do Senhor. Se os negligenciarmos, corremos o risco de fracassarmos como despenseiros dos mistérios de Deus (1 Coríntios 4.1). 3.1 O obreiro e a sua devoção a Deus A palavra “devoção” vem do latim devotione que significa sentimento religioso, observância das práticas religiosas; dedicação. Devoção é a piedade posta em prática, sendo as duas, portanto, indissociáveis. Em nosso tempo, a Igreja e especialmente os obreiros e obreiras, vivem uma crise de devoção a Deus. Já não temos mais “os nossos momentos a sós com Deus”, já não investimos mais tanto tempo orando, lendo e estudando a Bíblia. Ao analisar os grandes avivamentos da Bíblia e da história da Igreja, logo percebemos que os agentes humanos que Deus usou para trazer esses 69


Ética Cristã avivamentos eram sempre pessoas de grande piedade cristã. Esta é uma área que o obreiro e a obreira do Senhor não devem negligenciar jamais, procurando estar sempre em estreita comunhão com Deus. Nossa geração tem visto grandes líderes caírem em flagrante pecado, e a origem disso está na ausência de uma profunda vida devocional. Que Deus nos guarde! 3.2 O obreiro e seu preparo bíblico e teológico Aqui devemos ter o cuidado para não cairmos no intelectualismo seco, vazio, desprovido de unção e da graça de Deus. Mas reconhecemos que grandes vultos do Novo Testamento, na Igreja primitiva e ao longo dos séculos, que foram tremendamente usados por Deus, foram homens e mulheres de grande intelecto, de profundidade bíblica e teológica e que se colocaram à disposição de Deus para que Ele os usasse conforme Sua Soberana vontade. Paulo, Agostinho, Tomás de Aquino, John Wesley, Jonatham Edwards, Charles Finney e outros que a Igreja conheceu foram homens de elevado calibre mental e ao mesmo tempo, homens de profunda devoção a Deus! Uma idéia corrente no meio do povo de Deus é a de que “o conhecimento esfria o crente”, mas é preciso que consideremos que o que esfria o crente não é o conhecimento em si, desde que ele seja orientado e equilibrado, mas antes, a arrogância e a falta de equilíbrio na fé – essas sim têm levado muitos ao intelectualismo seco e vazio. A Bíblia valoriza 70


Ética Cristã o conhecimento e incentiva-nos a obtê-lo: “Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento” (Provérbios 3.13). Mas a balança precisa estar equilibrada; diz o apóstolo Pedro: “... crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2 Pedro 3.18). Notemos que o conhecimento a que se refere o apóstolo aqui é ao “conhecimento de Cristo”, denotando a necessidade de o conhecermos cada vez mais, o que nos leva a pensar na necessidade de que nosso conhecimento seja direcionado a Cristo, acima de tudo. Nosso conhecimento deve ser subjugado a Ele (2 Coríntios 10.5). 4. OBREIRO, POR FAVOR, EIVTE ISSO! Após alguns servindo ao Senhor, tenho coletado algumas informações fundamentais no âmbito da ética e da etiqueta para o obreiro em suas diversas atividades na igreja local. É importante que você leia com atenção cada uma dessas orientações e as pratique em seu ministério. Algumas pessoas consideram o que vamos abordar aqui algo um tanto incômodo e até irrelevante, mas muitos, por ignorar essas informações acabam cometendo verdadeiras "atrocidades" ao púlpito. Daí a importância de você conhecer as orientações a seguir a fim de não cometer os erros decorrentes de se não observá-las. Desse modo, salientamos os erros não para valorizá-los, mas para conhecê-los e desse modo evitá71


Ética Cristã los. Sendo assim, obreiro(a), procure sempre evitar os erros que passamos a considerar a seguir. 4.1 O erro de não orar na preparação de seus sermões Infelizmente, isso pode acontecer – um obreiro ou obreira não orar a Deus na preparação de suas mensagens. Por mais que o preletor (ou preletora) possua um grande cabedal de conhecimento bíblico, teológico e mesmo secular, é somente em oração que receberá de Deus poder para ministrar com intrepidez a Sua poderosa Palavra. É um grande erro nos apoiarmos em nossa própria sabedoria, não dependendo de Deus em oração para o exercício da pregação. Procure sempre cultivar uma vida de oração. 4.2 O erro de chegar atrasado ao culto Cabe ao obreiro ser pontual quanto ao horário dos cultos, chegando mais cedo sempre que possível. Em relação à pregação, há quem faça isso intencionalmente (chegar atrasado), para chamar a atenção mesmo. Mas o obreiro que se preocupa em glorificar a Deus e simplesmente pregar a Sua Palavra, não atenta para isso. Porque razão não participar do culto? Seria melhor ainda chegar algum tempo antes do culto começar e orar a Deus pelo seu desenrolar, pedindo para que vidas sejam ganhas para Cristo e que tudo seja conduzido no culto de modo a agradar a Deus, inclusive o sermão que será pregado.

72


Ética Cristã 4.3 O erro de subir à tribuna e sair cumprimentando todas as pessoas que ali estiverem, caso tenha chegado atrasado(a) ao culto Bom mesmo é não chegar atrasado! Lembro-me de ter visto certa feita um pastor chegar atrasado em um culto e fazer isso – sair cumprimentando todas as pessoas. Ele acabou chamando tanto a atenção na tribuna que o outro pastor que conduzia o congresso (lotado!) acabou parando de falar, por não conseguir mais se concentrar. Felizmente o pastor que dirigia o culto acabou levando a situação de forma bem humorada. Mas a verdade é que atrapalha muito. É falta de ética. Se você não conseguiu chegar no começo ou mesmo antes do culto começar, ao subir à tribuna apenas acene com a mão para as pessoas. Isso já é suficiente. Esse ponto vale também para quem não estará assentado no púlpito, pois sair cumprimentando as pessoas quando o culto já começou, ao púlpito ou fora dele, atrapalha o andamento do trabalho, para quem está ao microfone e para os demais que ouvem. 4.4 O erro de ser indiscreto ao púlpito Alguns assim são usando brincadeiras que deixam as pessoas constrangidas ou em situações que possam causar algum tipo de mal estar. É claro que é sempre bom o pregador levar a congregação a interagir com a mensagem, mas faça isso de maneira equilibrada e moderada, sem excessos. Hoje em dia, tornou-se 73


Ética Cristã comum ouvirmos os pregadores dizerem: "faça isso", "faça aquilo", "diga isso", "diga aquilo", "levante", "bata no ombro do seu irmão e diga...", etc., etc. Lembro-me de ter assistido em um DVD a pregação de um conhecido pregador no Brasil. Durante a mensagem, veja o que ele disse: “Dê um tapinha no ombro do seu irmão como quem está limpando caspa” (!). É realmente deprimente ouvir este tipo de coisa, ainda mais de uma pessoa de quem você espera conteúdo bíblico. Outra verdade que precisa ser dita aqui é que pessoas que usam excessivamente este tipo de coisa podem estar querendo, na verdade, é manipular a congregação com subterfúgios psicológicos, a fim de levar o povo a se mostrar animado durante a pregação. O pregador genuinamente bíblico simplesmente prega a Palavra de Deus e isso acima de tudo! Não estou dizendo com isso que o preletor não deve ser atento e preocupado com as pessoas que o irão ouvir, mas a exposição bíblica é mais que suficiente e ela não depende dessas inovações que estamos presenciando em nossos dias. 4.5 O erro de usar o microfone e o púlpito para desabafar Isso é lamentável. Nas mãos do pregador, do obreiro e obreira, o microfone é uma poderosa arma que ele ou ela deverá usar contra as forças das trevas, e não contra pessoas. Há pessoas que por estarem magoados com alguém presente durante o culto, usam o microfone para descarregar do púlpito os seus sentimentos contra 74


Ética Cristã aquela pessoa, o que por si só já é um ato de covardia, pois uma vez que ele não tem coragem de ir diretamente àquela pessoa e resolver o problema, passa então a usar irresponsavelmente o microfone e o púlpito. Isso não traz nenhuma edificação, só confusão e mais problemas. Pessoas saem feridas e magoadas e quando não, a congregação fica toda dividida. Vigiemos! 4.6 O erro de usar o microfone e o púlpito para lançar indiretas Talvez você possa não concordar com alguma postura do pastor, ou de algum membro da igreja, ou de uma situação qualquer que possa estar relacionada à igreja. Todos têm o direito de ter uma opinião própria, mesmo que diferente da maioria. Mas nunca use o púlpito para lançar indiretas - o obreiro e a obreira devem ser francos e diretos e só dizerem ao púlpito o que é apropriado. O púlpito não foi feito para a resolução de problemas internos da igreja ou entre pessoas, para isto existe o diálogo aberto e as reuniões que são realizadas periodicamente. Jamais use o púlpito e o microfone para lançar indiretas! 4.7 O erro de tornar público problemas internos da igreja ou da denominação à qual você pertence Lembre-se sempre obreiro e obreira: quando você prega, dirige um culto, conduz uma reunião de oração, etc., pode estar se dirigindo a todo tipo de pessoas: 75


Ética Cristã crentes e não crentes, congregados, desviados, visitantes, novos convertidos, etc. Muitas pessoas poderão não saber lidar com as informações transmitidas (que podem até ser verdadeiras) e acabarão até mesmo pecando contra o Senhor e perdendo a bênção. 4.8 O descuido com a aparência É bem verdade que a igreja não é palco para desfile de moda e o obreiro e a obreira não são pop stars, mas é importante que eles vistam-se bem, de acordo com suas possibilidades. Abaixo, algumas dicas de etiqueta para o obreiro, em específico, aos homens: 4.9 Cuidados gerais com a aparência O obreiro deve ter o cuidado de ter sempre os sapatos bem engraxados, o cabelo sempre penteado e bem cortado, deve ter cuidado com a barba, ter cuidado com as unhas, mantendo-as sempre limpas e bem cortadas; cuidado com o hálito e com os dentes. 4.10 O uso correto da gravata Um dos grandes problemas no uso da gravata é o seu comprimento. Gravatas finas, curtas ou longas demais são ridículas. As imagens a seguir ajudam-nos a entender a posição correta da gravata: 76


Ética Cristã

Modo incorreto

Modo Correto A ponta da gravata fica próximo à fivela do cinto, não a cobrindo.

77


Ética Cristã 4.11 Cuidados no trajar O obreiro deve procurar combinar discrição com elegância. As roupas precisam ser coerentes em sua combinação e devem sempre estar limpas. Um obreiro que se veste mal e com roupas manchadas passa a impressão de que é desleixado. Às vezes acaba até sendo evitado pelas pessoas. É necessário também estar atento para não andar mal cheiroso, o que é ruim. É claro, após um dia de trabalho, especialmente para quem trabalha braçalmente, isso às vezes é até inevitável, mas há pessoas que estão sempre assim, demonstrando pouco cuidado com sua higiene pessoal. 4.12 Cuidados no falar e gesticular O obreiro e a obreira devem ter linguagem santa, irrepreensível, exemplar para os mais jovens, cordial e construtiva. É lamentável ouvir pessoas que ocupam até mesmo posição de liderança na igreja local com uma linguagem vulgar, baixa mesmo. Lembremo-nos do caso de Roboão, que por não saber falar acabou causando a divisão do reino de Israel (cf. 1 Reis 12). O obreiro e a obreira também deve estar atentos ao tom de sua voz – há pessoas que falam gritando – o que pode passar uma impressão ruim e dificultar a comunicação (Aqui, é bom rever o tópico sobre comunicação na lição um sobre “Liderança Cristã”). Cuidado também com o gesticular, de modo a evitar gestos obscenos (as vezes até sem se dar conta disso!). 78


Ética Cristã 4.13 Cuidado com o sexo oposto! Aqui, todo cuidado é pouco. Somos suscetíveis a pecar e, portanto, toda vigilância é necessária. Podemos estar passando por momentos de carência afetiva e o contato com uma pessoa do sexo oposto pode despertar em nós uma atração, ou vice-versa. Precisamos saber como lidar com essas situações. Jamais devemos ficar totalmente à sós com uma pessoa do sexo oposto e empregar sempre uma linguagem imparcial para com ela, sem demonstrar ambiguidades. Não devemos dar margem e nem flertar com o pecado. Vale ressaltar que isso não significa ser apático ou evitar a todo custo pessoas do sexo oposto – a idéia não é essa. O obreiro e a obreira do Senhor devem ser pessoas cordatas, simpáticas, abertas ao diálogo. Devem procurar falar com todos e todas na congregação sem fazer acepção de pessoas. Em geral, a popularidade acompanha o ministério do obreiro e da obreira, mas ele ou ela jamais deve deixar de lado a atenção e o cuidado em relação ao sexo oposto. Deve ter contato, mas contato com prudência, discrição e moderação. CONCLUSÃO Reconhecemos humildemente que nosso trabalho aqui é pequeno em face da amplitude do tema, nas suas mais variadas abordagens. Mas esperamos colaborar para o ministério de todos aqueles que estão de fato 79


Ética Cristã empenhados na obra do Senhor que desejam fazê-la com eficácia, zelo e amor. Procure por em prática os princípios aqui explicitados, pois isso sem dúvida contribuirá para que você seja um obreiro ou obreira aprovada!

80


Ética Cristã

81


Ética Cristã

Exercícios do capítulo 4 Marque C para Certo e E para Errado 1. (

)

De acordo com o Pastor Antonio Gilberto, toda adoração a Deus requer de nós um preço a pagar. Adoração sem preço, sem renúncia, não é verdadeira adoração.

2. (

)

Uma das recomendações para a solenidade do culto é que ao chegarmos ao templo devemos entrar logo, a despeito se a leitura bíblica esteja sendo feito ou se a congregação esteja orando.

3. (

)

Os diáconos escalados para o culto têm liberdade de ficar sentados, pois o seu trabalho pode ser feito mesmo estando eles assentados.

4. (

)

Muita música hoje nas igrejas não é sacra, não é espiritual, não arrebata a alma, não fala ao coração, não edifica, não inspira, nem nos move a adorar a Deus. Não é “música de Deus”, como está escrito em 1 Crônicas 16.42. A música no culto deve ser um meio e um ministério para Deus revelar e manifestar a sua presença em nosso meio.

5. (

)

Uma das recomendações para um culto mais espiritual é que durante o culto o crente deve controlar sua língua e sua 82


Ética Cristã mente, com vistas a somente adorar a Deus!

83


Ética Cristã

5 Questões éticas contemporâneas “No pára-choques de um automóvel na Flórida, li o seguinte: ‘O lugar mais perigoso para se viver na América é no ventre de uma mãe’” (Abraão de Almeida).

INTRODUÇÃO Nesta última lição consideraremos alguns assuntos que estão, com muita força, atrelados à ética: o Aborto, Célula-Tronco, Planejamento Familiar, Homossexualismo e Relativismo Moral. São temas frequentes em nossas conversas e que carecem de elucidação com confrontação bíblica. Não devemos ignorar questões tão latentes como essas, mas buscar de Deus e na Sua Palavra sabedoria para lidar com essas questões que geram tanta discussão e discórdia. A Bíblia deve ser nosso padrão de conduta e de pensamento, pois ela é a infalível Palavra de Deus. Comecemos então abordando a questão do aborto. 1. O ABORTO Já é conhecida a história da mulher e do médico que lhe dá uma resposta inusitada. A história é narrada pelo 84


Ética Cristã missionário Lawrence Olson no Mensageiro da Paz de Julho de 1965: Certa vez uma mulher procurou o seu médico levando em sua companhia o filho de um ano. — Doutor, quero que me ajude com o meu problema. Este bebê tem apenas um ano e já concebi outra vez. Não quero dois filhos tão perto um do outro. O médico perguntou: E o que a senhora quer que eu faça? Oh! — disse ela. — Dá um jeito qualquer para que eu fique livre da gravidez. Após uns momentos de pensar, ele falou: — Minha senhora, vou sugerir um método mais prático: já que não deseja dois filhos tão perto um do outro, o melhor jeito é matar este que está no colo e deixar o outro vir. Para mim tanto faz, e para a senhora é mais seguro. A única diferença seria então a idade do sobrevivente. Com isso, ele buscou um pequeno machado sugerindo a solução ao dilema. A mulher quase desmaiou e bradou: — Assassino! Então, o médico explicou que ela também seria assassina. Matar a criança no ventre da mãe traria a mesma culpa de matar a criança no colo28.

O Pastor Hernandes Dias Lopes em artigo publicado no site Palavra da Verdade com o título “Aborto, O Grito Silencioso dos que não Nasceram”, comenta o seguinte: A questão do aborto esteve no topo da lista das grandes discussões políticas em nossa nação. Este é 28

MESQUITA, Antonio. Ilustrações para Enriquecer Suas Mensagens. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, pp. 167,8.

85


Ética Cristã um assunto solene, que merece nossa maior atenção. Não devemos ser frívolos em sua análise. O aborto sempre foi e ainda é assunto de debates entre juristas e legisladores; é tema da ética cristã que exige um posicionamento da igreja. Algumas ponderações precisam ser feitas no trato dessa matéria: Quando começa a vida? Quem tem o direito de decidir sobre a interrupção da vida? Em que circunstâncias um aborto pode ser justificado? O que a Palavra de Deus tem a dizer sobre o assunto? Não queremos, neste artigo, discutir aqueles casos de exceção, onde a medicina e a ética cristã precisam fazer uma escolha entre a vida da mãe ou do nascituro. Queremos, sim, alertar para a prática indiscriminada e irresponsável do aborto, fruto muitas vezes, de uma conduta imoral. Embora seja ainda matéria de discussão, é consenso geral que a vida começa com a fecundação. A ciência apresenta o fato de que a vida humana inicia com a fecundação e termina com a morte. Desde a concepção, todos os componentes da vida já estão potencialmente presentes para o seu pleno desenvolvimento. É desse óvulo fertilizado que se desenvolve o ser humano pleno, corpo e alma. Na perspectiva bíblica, Deus é o autor da vida e ele mesmo é quem forma o nosso interior e nos tece no ventre da nossa mãe. É Deus quem nos forma de maneira assombrosamente maravilhosa. O salmista diz: “Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.15,16). A Bíblia fala do ser antes do nascer. Davi

86


Ética Cristã diz: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Jó descreve sua existência pré-natal afirmando: “Porventura não me vazaste como leite e não me coalhaste como queijo? De pele e carne me vestiste, e de ossos e tendões me entreteceste” (Jó 10.10). Fica claro na perspectiva da Escritura, que a vida começa na concepção. A lei de Deus é enfaticamente clara: “Não matarás” (Ex 20.13). Deus é o autor da vida e só ele tem autoridade para tirá-la (1Sm 2.6). A decisão acerca do aborto não pode ser apenas uma discussão restrita à mãe e ao seu médico. O direito à vida é um direito sagrado e deve ser amplamente discutido, sobretudo, à luz da ética cristã. O aborto é a eliminação de uma vida. É um assassinato. E o mais grave: um assassinato com requintes de crueldade. O aborto é matar um ser indefeso, incapaz de proteger-se. É tirar uma vida que não tem sequer o direito de erguer a voz e clamar por socorro. Ah! Se os milhões de crianças que não chegaram a nascer pudessem gritar aos ouvidos do mundo, ficaríamos estarrecidos diante dessa barbárie. Ficamos chocados com o Holocausto, onde seis milhões de judeus foram mortos nos campos de concentração e nos paredões de fuzilamento. O aborto, entretanto não é menos perverso. O ventre materno em vez de ser um refúgio da vida, torna-se o corredor da morte; em vez de ser o berço da proteção, torna-se o patíbulo da tortura; em vez de ser o reduto mais sagrado do direito à vida, torna-se a arena mais perigosa da morte. O aborto é um crime com vários agravantes, pois não raro, a criança em formação é envenenada, esquartejada e, sugada do ventre como uma verruga pestilenta e indesejável. Oh, que Deus tenha misericórdia da nossa

87


Ética Cristã sociedade! Que Deus tenha piedade daqueles que legislam! Que Deus tenha compaixão daqueles que favorecem ou praticam tamanha crueldade!29

Norman Geisler e Frank Turek escrevendo sobre absolutos morais versus desacordos morais, comentam o seguinte sobre a questão do aborto: Os relativistas frequentemente apontam para a controversa questão do aborto para demonstrar que a moralidade é relativa. Alguns acham que o aborto é aceitável, enquanto outros pensam que ele é homicídio. Contudo, o simples fato de existirem opiniões diferentes sobre o aborto não torna a moralidade relativa. De fato, em vez de fornecer um exemplo de valores morais relativos, a controvérsia sobre o aborto existe porque cada lado defende o que acha ser um valor moral absoluto: proteger a vida e permitir a liberdade (i.e., permitir que uma mulher "controle seu próprio corpo"). A controvérsia dá-se em relação a quais valores se aplicam (ou assumem precedência) à questão do aborto. Se os não nascidos não fossem seres humanos, então o valor pró-liberdade deveria ser aplicado na legislação. Contudo, uma vez que o não nascido é um ser humano, o valor pró-vida deveria ser aplicado na legislação, pois o direito de uma pessoa à vida sobrepõe-se ao direito de outra pessoa à liberdade individual (o bebê não é simplesmente uma parte do corpo da mulher; ele tem 29

Site Palavra da Verdade. Disponível em: <http://hernandesdiaslopes.com.br/2010/11/aborto-o-grito-silenciosodos-que-nao-nasceram/#.UexlS9KsiSo> Acesso em 21 jul. 2013.

88


Ética Cristã seu próprio corpo, com seu código genético único, seu próprio tipo sanguíneo e seu gênero). Mesmo que houvesse dúvidas quanto ao momento em que a vida se inicia, o benefício da dúvida deveria ser concedido à proteção da vida — pessoas racionais não atiram com uma arma a não ser que estejam absolutamente certas de que não vão matar um ser humano inocente. Lembre-se de que nossa reação a uma prática em particular revela aquilo que realmente pensamos sobre sua moralidade. Ronald Reagan brincou certa vez: "Percebi que todos aqueles que são favoráveis ao aborto realmente nasceram". De fato, todos os favoráveis ao aborto se tornariam imediatamente a favor da vida caso se vissem de volta ao ventre materno. Sua reação à possibilidade de serem mortos serviria de alerta ao fato de que o aborto é realmente errado. Naturalmente, a maioria das pessoas, lá no fundo do coração, sabe que uma criança não nascida é um ser humano e, portanto, sabe que o aborto é errado. Mesmo alguns ativistas favoráveis ao aborto estão finalmente admitindo isso. Desse modo, no final das contas, esse desacordo moral não se dá porque a moralidade é relativa ou porque a lei moral não seja clara. Esse desacordo moral existe porque algumas pessoas estão suprimindo a lei moral com o objetivo de justificar aquilo que elas querem fazer30.

É curioso o fato de que alguns defensores do aborto reconheçam que o aborto é uma forma de assassinato.

30

GEISLER, Norman L. TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. Trad.: Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2006.

89


Ética Cristã A presidente do Planned Parenthood (organização que tem ocupado uma posição importante nos Estados Unidos na questão do aborto), durante um período de 14 anos e enfermeira, Faye Wattleton, admitiu que o aborto consiste numa forma de assassinato. Numa entrevista concedida à revista americana Ms. Magazine disse que “... nós temos nos iludido ao acreditar que as pessoas não sabem que o aborto é assassinato. Assim, qualquer pretensão de que o aborto não é assassinato é um sinal de nossa ambivalência, um sinal de que não podemos dizer que sim, ele mata um feto”. Outro caso curioso é o da militante pró-aborto Naomi Wolf, uma representante do movimento feminista, que declara em seu livro Nossos Corpos, Nossas Almas, que “contextualizar a luta para defender o direito ao aborto dentro de uma estrutura moral que admite que a morte de um feto é uma verdadeira morte”. No livro Uma Defesa do Abortamento, o filósofo pró-aborto David Boonin afirma o seguinte comentário sobre o ultrassom de seu próprio filho: “(…) Esta imagem foi registrada no dia 7 de setembro de 1993, 24 semanas antes do meu filho nascer. A imagem do ultrassom está escura, mas é clara o suficiente para revelar a cabecinha ligeiramente inclinada para trás, os braços levantados e dobrados, com a mão apontando de volta para o rosto e o polegar estendido em direção à boca…. Não há dúvidas que a posição que defendo neste livro implica que teria sido moralmente admissível acabar com sua vida neste 90


Ética Cristã momento”. Note a expressão que ele usa ao referir-se ao seu filho ainda no ventre: “... teria sido moralmente admissível acabar com sua vida neste momento”31. 2. CÉLULA-TRONCO Outro assunto bem atual é o da bioética. A bioética é uma ciência que perpassa outros ramos do saber humano, tais como as Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Filosofia e Direito 32 . O termo “bioética” foi utilizado pela primeira vez em 1970 por um médico oncologista chamado Van Rensselaer Potter. Débora Carvalho Meldau, em artigo publicado no site InfoEscola, comenta que as principais razões para o surgimento da Bioética foram:  

Abusos na utilização de animais e seres humanos em experimentos; Surgimento acelerado de novas técnicas desumanizantes que apresentam questões inéditas, como por exemplo, clonagem de seres humanos; Percepção da insuficiência dos referenciais éticos tradicionais, pois devido ao rápido progresso científico, torna-se fácil constatar

31

Site Viver o Dom da Vida! Disponível em: <http://diasimdiatambem.com/2011/02/21/militantes-pro-abortodeclaram-aborto-e-assassinato/> Acesso em 27 out. 2013. 32 Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bio%C3%A9tica> Acesso em 27 out. 2013.

91


Ética Cristã que os códigos de ética ligados a diferentes profissões não acompanharam o rápido progresso científico, sendo diversas vezes insuficientes para julgar os temas polêmicos da bioética33. O uso de células-tronco está contido no “bojo” da Bioética e diretamente ligado à Ética Cristã, especificamente no uso de células-tronco embrionárias. 2.1 O que é Célula-Tronco? A célula-tronco (ou simplesmente CT) são células indiferenciadas, isto é, “não possuem uma função determinada. Sua principal característica é a capacidade de se transformar em vários tipos de tecidos que constituem o corpo humano” 34 . As CTs são também chamadas de “Células-Mãe” por causa de sua capacidade reprodutora. Elas podem ser de dois tipos, como se pode ver a seguir. 2.1.1 Células-Tronco embrionárias São aquelas retiradas do animal ainda na fase do embrião. Como característica principal apresentam uma 33

Site InfoEscola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/medicina/bioetica/> Acesso em 27 out. 2013. 34 Site Toda Biologia. Disponível em: <http://www.todabiologia.com/genetica/celula_tronco.htm> Acesso em: 27 out. 2013.

92


Ética Cristã enorme capacidade de se transformar em qualquer outro tipo de célula. Embora apresentem esta significativa capacidade, as pesquisas genéticas com estes tipos de células ainda encontram-se em processo de testes. 2.1.2 Células-Tronco adultas Podem ser encontradas em várias partes do corpo humano. Porém, são mais usadas para fins medicinais as células de cordão umbilical, da placenta e medula óssea. Pelo fato de serem extraídas do próprio paciente, oferecem pequeno risco de rejeição nos tratamentos médicos. Possuem uma desvantagem em relação às células-tronco embrionárias: a capacidade de transformação é bem pequena35. O grande dilema ético (especialmente sob a ótica cristã) consiste no fato de que a extração de CTs do embrião implica na sua morte, e se o embrião já é um ser humano, então se trata da morte de um ser humano. Desse modo, se os governos permitirem o uso das CTs em pesquisas e tratamentos médicos, milhares (ou milhões) de vidas humanas serão perdidas em nome da saúde, mas isso também é questionado por muitos especialistas no assunto. É importante salientar que esse dilema surge quando se trata do uso de CTs embrionárias, não das CTs adultas, que podem ser 35

Idem.

93


Ética Cristã extraídas de outros locais, como por exemplo, o cordão umbilical, como anteriormente citado. Como podemos perceber, algumas das questões atinentes às CTs são também abordadas na questão do aborto: o início da vida humana e a sua interrupção proposital pelo homem. 2.2 O que diz a Bíblia? Não temos dúvida de que Deus além de considerar o feto ou mesmo o embrião como um ser humano, se relaciona com ele. É maravilhoso considerar alguns textos bíblicos sobre esse assunto. Em Jeremias 1.5 Deus diz a Jeremias que o havia consagrado mesmo antes de ter vindo ao mundo: "Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações". No Salmo 139 o salmista afirma que Deus o conhecera quando ele ainda estava no processo de formação no ventre materno: Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. Que

94


Ética Cristã preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! (vv. 13-17)

Que o embrião é um novo indivíduo, não há dúvida uma vez que se trata de um ser vivo nas primeiras fases de desenvolvimento. Portanto, do ponto de vista da ética cristã, se para usar a células do embrião é preciso matar o embrião (e matar o embrião é matar um novo indivíduo), então consideramos isso uma forma de aborto. Fatores éticos devem aqui ser colocados em pauta, como a proibição divina do assassinato (Êx 20.13) e a questão de que o embrião tem o mesmo valor da vida de alguém que já nasceu. Considere-se que tanto o feto em Isabel, que era de mais de seis meses e o feto em Maria, que era de menos de oito semanas (cf. Lc 1.26-44, especialmente os vv. 36 e 39) eram seres humanos. É claro que dentro dessa temática, assim como acontece com o tema do aborto, cabem outras considerações, como o uso de CTs de embriões naturalmente mal desenvolvidos, i.e., abortos espontâneos, para fins de pesquisa. Há que se considerar ainda que CTs possam ser extraídas de outros locais do corpo, que não necessariamente o embrião. É preciso reconhecer que as CTs são também criação divina e cumprem seu papel na reprodução da

95


Ética Cristã vida humana. Fechamos este tópico com a brilhante argumentação de Geisler36 sobre o embrião humano: Se um embrião não é plenamente humano, o que é, então? É sub-humano? Pode ser tratado como um apêndice — uma extensão descartável do corpo da mãe? A resposta a isto é "Não". Um nenê não nascido é uma obra de Deus que aumenta enquanto se desenvolve... Talvez não se deva dar ênfase demasiada a esta descrição poética de um embrião, mas parece razoável concluir que há uma grande diferença entre um nenê não nascido e um apêndice. O primeiro pode tornar-se um ser humano completo, o outro não pode. O embrião humano é potencialmente um ser humano, e um apêndice não o é. Há uma vasta diferença entre o que se pode desenvolver até ser um Beethoven ou um Einstein, e um apêndice da anatomia humana. O primeiro tem diante dele a imortalidade na imagem e semelhança de Deus; o último é meramente um tecido descartável do corpo humano. Realmente, Cristo foi o Deus-homem a partir da concepção (Lc 1.31,32).

3. CONTROLE DE NATALIDADE É claro que quando usamos a expressão “controle de natalidade” estamos nos referindo àquele controle de natalidade feito pelo casal e não aquele feito pelo Governo dos países, como acontece na China, por exemplo, que na década de 70 implantou uma lei que 36

Veja: GEISLER, Norman L. Ética Cristã: alternativas e questões contemporâneas. São Paulo: Editora Vida Nova.

96


Ética Cristã permitia que cada casal só tivesse um filho, em função da expectativa de uma explosão populacional. Parece que o plano fez efeito, pois na virada do século a China tinha 1,2 bilhões de habitantes contra os 1,5 bilhões previstos. Dois aspectos importantes desse tema precisam aqui ser considerados. O primeiro é que precisamos definir corretamente o que é o controle de natalidade por parte de um casal. O segundo aspecto é considerar o que motiva esse controle. 3.1 O que é o controle de natalidade? Deve-se ter em mente que o controle de natalidade a que nos referimos nesta obra está mais relacionado à medidas tomadas por um casal ou por uma mulher individualmente no sentido de não gerar filhos. Desse modo, é importante ressaltar que não estamos usando essa expressão – “controle de natalidade” – no sentido exato dela, como se segue abaixo: É o conjunto de medidas de emergência, incluindo legislações específicas, que o governo de um determinado país adota, para atingir metas demográficas restritivas, consideradas indispensáveis ao desenvolvimento sócio econômico. Isso ocorre na China e na Índia, onde a população é excessiva em relação aos recursos econômicos”37.

37

LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais de Nosso Tempo. 3ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 7.

97


Ética Cristã 3.2 Fatores motivadores do controle de natalidade Vivemos novos tempos, em que as famílias estão mudando cada vez mais. Nosso modelo atual de família não se parece em nada com aquele modelo mais patriarcal, em que o homem trabalhava para sustentar a família e a esposa/mãe cuidava do lar enquanto o homem estava fora. Hoje, tanto o marido/pai quanto a esposa/mãe trabalham para melhorar a renda da família, o que acaba tirando os dois do lar. Em parte, para muitos casais, isso acontece simplesmente porque querem manter o status financeiro e social, mesmo em detrimento do convívio com os filhos. Na outra mão, estão os casais que realmente necessitam e procuram conciliar o trabalho e a relação com os filhos. Diante da necessidade, optam por trabalhar os dois, esposo e esposa, tendo em vista, inclusive, oferecer uma melhor condição de vida para os filhos. Esse fato por si mesmo já demonstra que o tempo em que vivemos apresenta grandes desafios para a família. Ter muitos filhos na conjuntura atual de dificuldades sociais e financeiras pode ser um desafio enorme para muitos casais. O controle de natalidade, então, não deve ser encarado apenas como resultado de egoísmo e vaidade por parte das pessoas, mas também como uma questão de responsabilidade e de qualidade de vida. Nesse assunto, algumas questões éticas, à luz da Bíblia, devem aqui ser consideradas: 98


Ética Cristã a) Deus valoriza a maternidade e determina a procriação. Em Gênesis 1.28 lemos: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra...”. É preciso ter cuidado aqui para não se interpretar erroneamente o texto. A ordem de procriação e multiplicação foi dada ao primeiro casal no sentido em que eles eram representantes da raça humana. Portanto, isso não justifica a ideia de que todo casal deve ter muitos filhos, com base nesse texto. b) Os filhos, na Bíblia, são vistos como uma singular bênção de Deus. E quem tem filhos e de fato os ama, reconhece isso! Diz o salmista: “Os filhos são um presente do Senhor; eles são uma verdadeira bênção” (Sl 127.3 na NTLH). No Antigo Testamento o não ter filhos era sinal de infelicidade e de sofrimento, como vemos no caso de Ana, mãe do profeta Samuel (1 Sm 1.2,4-8). Se a família era numerosa, isso era sinal da bênção de Deus. No Novo Testamento, temos o exemplo de Zacarias, o sacerdote, com sua esposa Isabel, que não tinham filhos porque ela era estéril. Interessante notar que naquela época, na Palestina, uma mulher que não tivesse filhos, segundo a crença de então, não seria abençoada por Deus!

99


Ética Cristã Após considerar esses aspectos fundamentais e fundantes nesta questão, voltemos ao assunto sobre o que motiva o controle de natalidade. Como já citado, estamos usando a expressão “controle de natalidade” no sentido de inibição da gravidez, da geração de filhos. Dentre os vários fatores que podem motivar o casal a não ter filhos, alistamos os seguintes, subdividos em duas classes: Fatores Positivos e Fatores Negativos: 3.2.1 Fatores negativos: a) Vaidade pessoal, temendo perca da beleza física em função da gravidez. É o caso de mulheres que supervalorizam a beleza e a estética, mesmo em detrimento de algo maior: ter um filho. b) Egoísmo por parte do casal no sentido de não quererem serem “incomodados” por uma criança ou mesmo por não gostarem de crianças. 3.2.2 Fatores positivos: a) Por questão de saúde. Nesse caso, quando a saúde da mulher fica comprometida num caso de gravidez. Esse é um motivo legítimo para impedir a gestação, uma vez que a mulher pode ser tremendamente prejudicada em função de uma gravidez. b) Planejamento familiar. Esse é outro motivo importante para que o casal limite o número de filhos. Nesse caso, o planejamento familiar não 100


Ética Cristã implica necessariamente o não ter filhos, mas sim a limitação da quantidade e/ou a espera para que o casal tenha tempo para poder estruturar-se financeiramente com vistas a oferecer aos filhos boa alimentação, saúde, educação e moradia. Enfim, condições dignas de vida. Diante de tudo que aqui já foi exposto, precisamos pontuar que: a) A limitação de filhos deve pautar-se pelos princípios bíblicos e ético-cristãos, considerando os fatores relevantes para a construção de um lar digno, que possa oferecer no mínimo condições básicas de vida aos filhos. b) O uso dos métodos contraceptivos deve ser pautado pela ética cristã, pelo temor a Deus acima de tudo como uma ferramenta de planejamento familiar, e não como resultado de um uso irresponsável e inconsequente do sexo38. O casal que se pauta pela ética cristã precisa ter muito cuidado com motivações erradas para não ter filhos. Que ter filhos é a vontade de Deus para um casal, isso é fato, mas o casal também tem liberdade e o dever de 38

A referência aqui é ao sexo pervertido, entre pessoas que não tem vínculos matrimoniais, que usam sua sexualidade de maneira irrefletida, pensando apenas em seus prazeres individuais.

101


Ética Cristã ponderar sobre sua alocação no mercado de trabalho bem como no meio social, no qual estão inseridos. Eles deve sim considerar sua condição financeira e fazer as seguintes perguntas: a) Nosso desejo de não ter filhos agora é por mera vaidade pessoal e egoísta? b) Nossa condição financeira nos permite ter quantos filhos? Ou ainda: nossa condição financeira nos permite oferecer a um filho condições básicas de vida? c) Estamos encarando a questão do planejamento familiar com temor a Deus? 4. HOMOSSEXUALISMO Se há um assunto que gera muita discussão e polêmica no campo da Ética Cristã, esse assunto é sem dúvida o homossexualismo. A começar pela própria palavra – homossexualismo – que é tremendamente discutida, principalmente por aqueles que defendem a prática homossexual. É que o sufixo “ismo” teria conotação de doença, dando a entender que os homossexuais são doentes e que o homossexualismo é uma doença. De fato, a palavra só foi excluída da lista de distúrbios mentais da OMS (Organização Mundial da Saúde) em 1990. Desse modo, justamente para evitar essa conotação pejorativa, adotou-se o termo "homossexualidade". 102


Ética Cristã 4.1 O que dizem os dicionários? O Dicionário Aurélio 39 define homossexualismo e homossexualidade da seguinte maneira: a) Homossexualismo: Prática do comportamento homossexual. b) Homossexualidade: Caráter de homossexual; homossexualismo, inversão. Já o Dicionário Houaiss é mais claro na definição de “homossexualismo”: “prática amorosa ou sexual entre indivíduos do mesmo sexo”. A Enciclopédia Barsa define “homossexualismo” como “Atração sexual entre pessoas do mesmo sexo. Essa atração, em geral, mas nem sempre, leva ao contato físico, culminando em orgasmo. O homossexualismo feminino é comumente denominado lesbianismo, palavra derivada de Lesbos, nome de uma ilha do Egeu onde a poetisa Safo atuava como guia de um grupo de mulheres” 40 . Vale ressaltar que embora tendo sido considerado até mesmo como uma forma de sexualidade superior a heterossexualidade na Grécia antiga, nas sociedades posteriores, especialmente nas ocidentais, a prática homossexual, bem como os homossexuais, foram rejeitados e condenados. Na Idade Média, a pena para os homossexuais era a tortura 39

Versão eletrônica. Enciclopédia Barsa. vol. 9. Encyclopedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1995, p. 109. 40

103


Ética Cristã e a morte. Na Suíça do período da Reforma Protestante, as pessoas que eram pegas em ato homossexual eram esquartejadas vivas e assim deixadas durante sete dias, para depois serem queimadas! Outras nações européias como Portugal, Itália e França aplicam medidas da mesma severidade41. Mesmo no século 18 houve casos de homossexuais levados à fogueira em Paris 42 . Nos Estados Unidos, já no século 20, em alguns estados, a lei prescrevia para os homossexuais apenas que iam até a prisão perpétua. Mesmo hoje, em pleno século 21, embora haja uma aceitação social muito maior para o homossexualismo na sociedade, muitos são vítimas de atentados e agressão psicológica e física. Em 1897, na Alemanha, aconteceu o primeiro movimento social que buscava o reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais. No início do século 19 começam as tentativas de explicar pelo viés da ciência a prática homossexual, mas não houve êxito. Freud desenvolveu uma teoria que explica o homossexualismo a partir de aspectos psíquicos. A maioria dos profissionais da Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise vêem “o homossexual como alguém que não amadureceu de todo e por isso é incapaz de se relacionar plenamente com o sexo oposto”43. É preciso que se diga também 41

ALMEIDA, Abraão de. 201 respostas para o seu enriquecimento espiritual e cultural. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 253. 42 Enciclopédia Barsa. vol. 9. Encyclopedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1995, p. 109. 43 Op. Cit.

104


Ética Cristã que o conceito de “cura” aplicado aos homossexuais é muito discutido também pelos profissionais dessas áreas, tendendo-se a rejeitar essa idéia, pelo fato de homossexualismo não ser considerado uma doença. O termo “cura” acaba assumindo assim uma conotação de preconceito e discriminação. 4.2 O que diz a Ética Cristã? A Ética Cristã, como já dissemos anteriormente, está embasada na Palavra de Deus. A Bíblia, sem sombra de dúvida alguma, condena a prática homossexual. Se o termo “homossexualidade” procura indicar a prática homossexual como algo perfeitamente aceitável e normal, especialmente no campo da moral, então rejeitamos essa palavra e o cabedal intelectual que ela traz consigo. Cada vez mais a sociedade brasileira (e mundial, especialmente o Ocidente) vem recebendo o homossexualismo como algo aceitável, normal e até digno de ser incentivado. Cada vez mais programas de TV e rádio vem dando espaço para a idéia homossexual e a apresentando sistematicamente. Homossexuais recebem espaço na TV e falam de suas experiências sexuais com a maior naturalidade e programas antes exibidos depois das dez horas da noite, dado o seu conteúdo explicitamente pornográfico, agora chegam a ser exibidos no horário nobre! Já existem até mesmo segmentos ditos “evangélicos” que apóiam e incentivam a prática homossexual. Existem, inclusive, 105


Ética Cristã as chamadas “Igrejas Gays” com seus pastores e pastoras gays! Recentemente houve grande repercussão do lançamento de uma “Bíblia Gay”, por assim dizer. Trata-se de uma versão adulterada da Bíblia, que mutila textos que mencionam a prática homossexual, alterando grosseiramente o seu sentido. Isso, além de ser desonestidade, é deslealdade para com a Palavra de Deus. Um típico exemplo (nada novo) de grupos que para defender sua própria conduta imoral e seus próprios conceitos, adulteram o texto bíblico procurando condicioná-lo a seu bel-prazer. 4.3 A Bíblia condena a prática homossexual? Sem dúvida que sim. Na Bíblia existem sete passagens que são conclusivas sobre a questão da prática homossexual ser pecado; são eles: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Gênesis 19.5-7 Levítico 18.22 Levítico 20.13 Juízes 19.22,23 Romanos 1.21-31 1 Coríntios 6.9,10 Judas 6 e 7

No texto de Romanos 1.26 e 27, assim como em 1 Coríntios 6.9 e 10, o apóstolo Paulo chega a distinguir as formas de relação homossexual, indicando que 106


Ética Cristã ambos os casos são contrários à vontade de Deus. No primeiro ele chega a citar o homossexualismo feminino e no segundo (um texto até curioso), o apóstolo chega a fazer a distinção entre o homossexual ativo e o passivo. Champlin pontua que a palavra “efeminado”, como um substantivo, “significa ‘suave’, ‘efeminado’, tendo sido largamente aplicado à homossexualidade por vários autores antigos, indicando homens que aceitam os afagos de outros homens, como se fossem mulheres”44. Já o termo “sodomitas” tem ligação com a homossexualidade em vista desse pecado ser prevalente em Sodoma, quando Ló ali habitava. Champlin45 é categórico: No grego, essa palavra, literalmente traduzida, indica ‘ato sexual de homem com homem’. A sodomia, portanto, é apenas um eufemismo, sendo largamente empregada pelos tradutores, a fim de suavizar o impacto da expressão. Não sabemos precisar se Paulo quis estabelecer contraste entre essa palavra e o vocábulo anterior, que também indica homossexualidade. Talvez a primeira dessas palavras indique os homens que fazem um papel feminino, ao passo que esta última indique os pederastas 46

44

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado: versículo por versículo. vol. 4: 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios. São Paulo: Hagnos, 1998, ed. Hagnos, p. 83. 45 Op. Cit. 46 Não podemos afirmar qual a intenção exata de Champlin ao usar a palavra “pederasta” em referência aos homossexuais, mas neste trabalho a admitimos (e o texto de Champlin aqui citado também parece

107


Ética Cristã positivos. Paulo condenou severamente a uns e a outros, em Romanos 1.26,27, onde essa prática, tanto de mulheres com mulheres como de homens com homens, é condenada.

4.4 Qual deve ser a postura da Igreja face aos homossexuais? Embora estejamos nós, a Igreja de Cristo, convencidos pela Bíblia Sagrada, de que Deus condena a prática homossexual, devemos ter as seguintes posturas: a) Aceitar e acolher o pecador, mas jamais a sua prática pecaminosa. Não é tarefa fácil fazer essa separação, mas cremos e temos visto na vida de muitos homossexuais o poder transformador do evangelho de Cristo. A Igreja deve sempre repudiar o pecado e tudo o que ele traz consigo, mas jamais deve estar fechada ao perdido. Foi para isso que Jesus veio: salvar o perdido (cf. Lc 5.31,32; 19.10). b) Jamais apoiar ou incentivar qualquer prática de violência contra homossexuais, seja violência física ou psicológica. Embora devamos sempre nos posicionar com segurança e firmeza nessa questão, deixando claro que a prática homossexual é pecaminosa e contrária a vontade de Deus (repito: pecaminosa e contrária a indicar isso) com o sentido único de “Homossexualismo masculino”, como consta da versão eletrônica do Dicionário Aurélio.

108


Ética Cristã vontade Deus), não é conveniente que façamos uso de termos pejorativos, depreciativos, humilhantes e menos ainda que usemos de violência física. Precisamos separar as coisas! c) Possibilitar a essas pessoas a oportunidade de serem recebidas e acolhidas em nossos templos, sem seres tratadas como se fossem “seres de outro planeta”47. Ao tratar desse tema em sala de aula, costumo perguntar aos meus alunos se nós, em nossas igrejas evangélicas, estamos de fato preparados para receber pessoas assim. É fato que muitos homossexuais, especialmente agora, em que o assunto ganha espaço na mídia, entram em nossos templos com o objetivo de tripudiar e escarnecer. Mas é verdade também que muitos homossexuais respeitam o culto cristão e vão a ele com o objetivo de participar, genuinamente. 5. RELATIVISMO MORAL Já é conhecida a máxima que afirma: “Não existem verdades absolutas!” Essa frase é uma boa síntese da ética social de nosso tempo, marcada pelo relativismo moral. Antes de prosseguir considerando essa questão, conceituemos o termo “relativismo”:

47

Essa foi apenas uma comparação com fins didáticos. Não creio que haja vida em outros planetas.

109


Ética Cristã Essa palavra portuguesa vem do latim relatus, “relativo”, “cognato”, de alguma coisa... O relativismo é a teoria que diz que a base para nossos juízos no conhecimento, na cultura e na ética difere de acordo com as pessoas, acontecimentos ou situações. Dá a entender um estado mental e uma maneira de pensar que repele as reivindicações absolutas... O relativismo ético assevera que não existem critérios absolutos para os juízos morais... isso significa que a ética sempre em estado de fluxo48.

Como podemos ver, no relativismo não há absolutos morais e o juízo do que é certo ou errado passa a ser condicionado a fatores locais, culturais e temporais. Desse modo, o que é certo no Brasil, pode não ser certo na Europa. De fato, coisas que aqui são reprovadas pelas autoridades e pela sociedade, como a pedofilia, na Europa já estão sendo recebidas como práticas aceitáveis. O relativismo, como fundamento filosófico, está presente não apenas nas questões éticas e morais, mas também no campo da religião, da cultura, do conhecimento49 e na crença. Voltando a frase no início deste tópico – “Não existem verdades absolutas” – é interessante notar que ela se autodestrói, pois ela mesma pretende ser uma verdade absoluta ( ! ). Se alguém dizê-la a você, devolva com a seguinte pergunta: “Essa frase que você acabou de dizer é uma verdade absoluta?” Os relativistas tendem a negar fortemente os valores absolutos e a verdade absoluta, afinal, tudo é relativo. A frase acima citada acaba se

48

CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 5. São Paulo: Candeia, 1991, p. 636. 49 O relativismo epistemológico.

110


Ética Cristã tornando uma antífrase, que se desconstrói em seu sentido. Afirmações como “Não existe verdade!” (mas isso é verdade?), “Toda verdade é relativa” (essa verdade é relativa?) e “A verdade não pode ser conhecida por você!” (então como você sabe isso?”) 50 são declarações que não podem firmar-se sobre o bom senso por se autodestruírem. Todavia, negar os valores absolutos e a verdade absoluta é algo até mesmo irracional, uma vez que a verdade, como fato concreto, não depende de nós e não depende se gostamos ou não dela! Verdade é verdade sempre, a aceitemos ou não, e verdade é verdade mesmo que dita por um grande mentiroso. Geisler e Turek comentam: "Basicamente, qualquer declaração que não possa ser afirmada (porque contradiz a si mesma) deve ser falsa. Os relativistas são derrotados por sua própria lógica"51.

CONCLUSÃO A ética cristã tem um valor extraordinário para o cristão, uma vez que ela lhe permite lidar bem com questões da vida diária, bem como com os desafios que se lhe apresentam. Como é bom ter uma postura e poder responder, criticamente, ao que o mundo, como um sistema contrário à vontade de Deus, nos oferece. Se ficamos perplexos diante das muitas “vias éticas” que se põem diante de nós, vale considerar que caminhar por trilhas conhecidas e já trilhadas, ainda continua sendo a melhor forma de se seguir adiante. A ética cristã pode ser comparada nesse sentido à 50

GEISLER, Norman L. TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. Trad.: Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2006. 51 Op. Cit.

111


Ética Cristã uma bússola, que nos orienta diante das decisões que não podem ser relegadas ao “depois”, mas que exigem o “agora”.

112


Ética Cristã

113


Ética Cristã

Exercícios do capítulo 5 Marque com C para Certo e E para Errado 1. (

)

O aborto é sem dúvida um assunto da ética cristã que exige um posicionamento da Igreja. Algumas ponderações precisam ser feitas no trato dessa matéria: Quando começa a vida? Quem tem o direito de decidir sobre a interrupção da vida? Em que circunstâncias um aborto pode ser justificado? O que a Palavra de Deus tem a dizer sobre o assunto?

2. (

)

Não temos dúvida de que Deus de fato não considera o feto ou mesmo o embrião como um ser humano, e por isso mesmo não se relaciona com ele.

3. (

)

Que o embrião é um novo indivíduo, não há dúvida uma vez que se trata de um ser vivo nas primeiras fases de desenvolvimento.

4. (

)

O controle de natalidade é o conjunto de medidas de emergência, incluindo legislações específicas, que o governo de um determinado país adota, para atingir metas demográficas restritivas, consideradas indispensáveis ao desenvolvimento sócio econômico. Isso ocorre na China e na Índia, onde a população é excessiva em relação aos 114


Ética Cristã recursos econômicos. 5. (

)

Dentre as posturas que a Igreja deve assumir em relação aos homossexuais, está o acolhimento do pecador, mas jamais do pecado por ele praticado. Não é tarefa fácil fazer essa separação, mas cremos e temos visto na vida de muitos homossexuais o poder transformador do evangelho de Cristo. A Igreja deve sempre repudiar o pecado e tudo o que ele traz consigo, mas jamais deve estar fechada ao perdido. Foi para isso que Jesus veio: salvar o perdido.

115


Ética Cristã

Bibliografia ALMEIDA, Abraão de. 201 Respostas para o seu enriquecimento espiritual e cultural. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. BONHOEFFER, Dietrich. Ética: Edción y Traducción de Lluís Duch. Editorial Trotta, 2000. CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 5. São Paulo: Candeia, 1991. CHAMPLIN, Russell N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. vol. 4. São Paulo: Hagnos, 1998. CORTELLA, Mario Sérgio. Qual é a Tua Obra? : inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. 19ª ed. Petrópolis / Rio de Janeiro: Vozes: 2012. Enciclopédia Barsa. vol. 9. São Paulo: Encyclopedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1995. GEISLER, Norman L. TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. Trad.: Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2006. GREATHOUSE, William M. Comentário Beacon. vol. 8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

116

Bíblico


Ética Cristã GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática atual e exaustiva. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2010. HIGGINS, John R. in: HORTON, Stanley M. (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. 10ª ed. Trad.: Gordon Chown. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã. Confrontando as Questões Morais de Nosso Tempo. 3ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. MESQUITA, Antonio. Ilustrações para Enriquecer Suas Mensagens. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. METZ, Donal S. in: Comentário Bíblico Beacon. vol. 8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. OLIVEIRA, Raimundo Ferreira de. Ética Cristã: A Vida Cristã no Dia a Dia. 4ª ed. Campinas / São Paulo: EETAD, 2003. SPROUL. R.C. Discípulos Hoje. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998. STRONG, James: Léxico Hebraico, Aramaico E Grego de Strong. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005.

117


Ética Cristã

O autor Professor Roney Cozzer serve a Deus e a Igreja como presbítero e professor de teologia. É membro da Assembleia de Deus Central de Porto de Santana, Cariacica, ES, igreja esta liderada pelo Pastor Evaldo Cassotto. É casado com Dolarize Alves desde 2003, com quem tem uma linda filha, a Ester Alves Cozzer. Formou-se inicialmente pelo Curso Médio de Teologia da EETAD (Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus), vindo depois a graduar-se em Teologia. Realizou o Curso de Extensão Universitária “Iniciação Teológica” da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). É mestre em Teologia pela FABAPAR (Faculdades Batista do Paraná) na Linha de Pesquisa Leitura e Ensino da Bíblia. Possui formação em Psicanálise Clínica, é Licenciado em Pedagogia com pósgraduação em Psicopedagogia Clínica, e Licenciado em História com pós-graduação em Metodologia do Ensino da História e Geografia. Participou como autor e pesquisador do Projeto Historiográfico do Departamento de Missões das Assembleias de Deus do Vale do Rio Doce e Outros (DEMADVARDO) entre os anos de 2016 e 2018 e é membro do Grupo de Pesquisa "Perquirere: Práxis Educativa na Formação e no Ensino Bíblico". Serviu e serve como professor de teologia em seminários e cursos de teologia na Grande Vitória, além de ministrar palestras nas áreas de Bíblia, Teologia, Família, Educação Cristã e Mídia e Cristianismo. É administrador pedagógico do Instituto de Educação Cristã CRER & SER e coordenador do Curso de Teologia EAD da Faculdade Unilagos, em Araruama, no Rio de Janeiro, onde reside atualmente com sua família. CONTATOS E ATIVIDADE DO AUTOR roneycozzer@hotmail.com roneyricardoteologia@gmail.com Site Teologia & Discernimento Currículo Lattes: lattes.cnpq.br/3443166950417908

118


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.