LIDERANÇA CRISTÃ: A LIDERANÇA SOB A ÓTICA BÍBLICA

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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

Acreditamos sinceramente que uma obra como esta pode trazer uma importante contribuição à liderança eclesiástica, em nosso país. Este livro foi construído visando temas centrais para a liderança cristã, justamente para que se entenda o que é a liderança e qual o seu papel. Conquanto a palavra “liderança” não apareça no texto bíblico, o conceito, sem dúvida, está presente em diversas passagens da Escritura, com orientações práticas e profundas aos líderes cristãos. Esta obra destaca alguns exemplos notáveis de liderança e lições que se podem colher pela leitura da Palavra de Deus. Fica claro à luz das Escrituras que a liderança é necessária, de modo que “Não havendo sábia direção, cai o povo” (Provérbios 11.14). A liderança é uma necessidade vital em qualquer setor de nossa vivência coletiva: trabalho, família, sociedade e o mesmo podemos afirmar da liderança cristã, voltada a conduzir pessoas que estão inseridas no Reino de Deus. Nosso foco neste trabalho recai sobre a liderança cristã em suas diversas manifestações, não apenas no ministério, mas a liderança na família cristã e até mesmo na individualidade cristã, afinal de contas, o indivíduo é um líder de si mesmo. Este trabalho inicia afirmando sem medo de errar que a liderança cristã é excelente e por excelência superior à qualquer outra forma de liderança (liderança empresarial, política, social, etc.). E por que? Porque a liderança cristã não lida apenas com questões temporais – ela tem implicações eternas. Não se preocupa apenas com os resultados trazidos pelas pessoas, mas antes, ela se preocupa com a própria pessoa que gerará esses resultados, com a formação do caráter dessa pessoa e com suas demandas. Não enxerga apenas o potencial de um indivíduo, mas enxerga primeiro o indivíduo que possui o potencial. Desse modo, vemos que a liderança cristã não é egoísta, ela é altruísta. Não deve ser exercida em prol de um interesse individual, mas em prol de um interesse coletivo. Acima de tudo, ela até segue na contramão dos tempos pós-modernos em que vivemos: se baseia na humildade, onde o maior serve o menor (Leia Lucas 22.24-30). Esperamos assim que o presente trabalho possa contribuir efetivamente para sua edificação.

Liderança Cristã: A liderança sob a ótica bíblica

Liderança Cristã

Liderança Cristã A liderança sob a ótica bíblica Roney Cozzer

& INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ


LIDERANÇA CRISTÃ A LIDERANÇA SOB A ÓTICA BÍBLICA Roney Cozzer


Liderança Cristã

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Liderança Cristã Revisão: Roney Cozzer Diagramação: Roney Cozzer Capa: Michel Pablo M. Sabarense _______________________________

COZZER, Roney. 1984 COZZER, Roney. Liderança Cristã: a liderança sob a ótica bíblica. 2ª ed. Araruama, RJ: Instituto de Educação Cristã CRER & SER, 2019. Liderança. Cristã. Bíblia. 140 pp.: 14 x 21 cm | ISBN: 978-85-923916-1-4 Inclui referências bíblicas e bibliográficas. 1. Liderança Cristã. 2. Bíblia. 3. Ministério É permitida a reprodução parcial desta obra desde que citados o autor e o título da obra e que seja feita sem fins lucrativos.

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Contatos e atividades do autor na internet: Site: teologiaediscernimento.wordpress.com Blog Fundamentos Inabaláveis E-mail: roneyricardoteologia@gmail.com

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SUMÁRIO Lista de siglas úteis....................................................................... 08 Prefácio...........................................................................................

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Apresentação.................................................................................

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1. A importância e o papel da liderança................................... 16 1. A liderança cristã 1.1 Definição 1.2 A necessidade de liderança 2. A liderança cristã visa em primeiro plano a expansão do Reino

2. A liderança vista na Bíblia.....................................................

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1. O conceito de liderança na Bíblia 2. Por uma liderança saudável 3. Por uma liderança compartilhada

3. Aprendendo com os líderes da Bíblia.................................. 1. Neemias, o líder que se levanta em meio ao caos 1.1 O líder que se levanta em meio ao caos 1.2 Neemias, um líder que “viu” o invisível 2. Exemplos de líderes e liderados na Bíblia

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Liderança Cristã 2.1 Líderes da Bíblia com os quais temos a aprender 2.1.1 O líder que se dispõe a mudar sua administração 2.1.2 O líder que se levanta em meio ao caos 2.1.3 O líder que conquista seus liderados 2.2 Liderados da Bíblia com os quais temos a aprender 2.2.1 Liderados crentes em meio à descrença 2.2.2 Os liderados que reconhecem o líder 3. O valor do testemunho pessoal – o exemplo de Paulo

4. A liderança na família.............................................................

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1. Elementos indispensáveis à liderança no lar 1.1 Responsabilidade 1.2 Amor 2. A liderança do homem no lar 3. A liderança da mulher no lar 3.1 Como mãe 3.2 Como administradora do lar

5. A liderança no ministério....................................................... 1. O líder cristão 1.1 O líder 1.1.1 O líder e a comunicação 1.1.2 O líder motivado e que motiva 1.2 A liderança

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Liderança Cristã 2. O líder cristão e os seus liderados 2.1 Serem submissos 2.2 Serem ativos no projeto 3. Erros que o líder cristão deve evitar 3.1 Arrogância 3.2 Visão pequena, sem amplitude 3.3 Não reconhecer quando erra 4. Modelos de liderança a serem evitados 4.1 O líder autocrata 4.2 O líder equivocado 4.3 O líder liberal 5. Modelos de liderança a serem seguidos 5.1 O líder democrático 5.2 O líder carismático Apêndice......................................................................................... 118 A importância da Teologia do Novo Testamento para o líder cristão

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Lista de siglas úteis

om o intuito de ganhar tempo e espaço, no decorrer deste livro são utilizadas algumas siglas. Uma sigla nada mais é do que a abreviatura de um título ou denominação, geralmente composta pelas letras iniciais das palavras que compõe este título ou denominação. Tomemos como exemplo a sigla ARC, que remete ao título Almeida Revista e Corrigida, uma das versões da Bíblia em português publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil1. Frequentemente são utilizadas as siglas AT, para Antigo Testamento, e NT, para Novo Testamento. Neste livro você também encontrará citações bíblicas e versículos bíblicos transcritos. Logo a seguir você encontrará duas tabelas com as siglas dos livros da Bíblia. Como versão oficial para as referências bíblicas transcritas neste livro, foi adotada a versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), publicada pela SBB, por ser ela uma versão de grande aceitação entre o público brasileiro e de mais fácil compreensão para o leitor. Além da ARA, são utilizadas ainda outras versões como a NVI (Nova Versão Internacional), por questões didáticas. Assim, o autor deste livro deseja que os comentários deste livro possam ser uma benção para você e toda a sua família, estimado(a) leitor(a). É para você que este trabalho foi carinhosamente preparado!

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Também representada por uma sigla: SBB.

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Liderança Cristã A seguir, você tem as siglas que utilizamos neste livro com seus respectivos significados e também as siglas dos livros da Bíblia, em ordem alfabética: 1 Co: 1 Coríntios 1 Cr: 1 Crônicas 1 Jo: 1 João 1 Pe: 1 Pedro 1 Re: 1 Reis 1 Sm: 1 Samuel 1 Tm: 1 Timóteo 1 Ts: 1 Tessalonicenses 2 Co: 2 Coríntios 2 Cr: 2 Crônicas 2 Jo: 2 João 2 Pe: 2 Pedro 2 Re: 2 Reis 2 Sm: 2 Samuel 2 Tm: 2 Timóteo 2 Ts: 2 Tessalonicenses 3 Jo: 3 João Ag: Ageu Am: Amós Ap: Apocalipse ARA: Almeida Revista e Atualizada ARC: Almeida Revista e Corrigida AT: Antigo Testamento At: Atos Cap.: Capítulo Cf.: Confira

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Liderança Cristã Cl: Colossenses Ct: Cantares de Salomão Dn: Daniel Dt: Deuteronômio Ec: Eclesiastes Ed: Esdras Ef: Efésios Et: Ester Êx: Êxodo Ez: Ezequiel Fl: Filemon Fp: Filipenses Gl: Gálatas Gn: Gênesis Hb: Habacuque Hb: Hebreus Is: Isaías Jd: Judas Jl: Joel Jn: Jonas Jo: João Jr: Jeremias Js: Josué Jz: Juízes Lc: Lucas Lm: Lamentações de Jeremias Lv: Levítico Mc: Marcos Ml: Malaquias Mq: Miquéias

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Liderança Cristã Mt: Mateus Na: Naum Ne: Neemias Nm: Números NT: Novo Testamento NTLH: Nova Tradução na Linguagem de Hoje NVT: Nova Versão Transformadora Ob: Obadias Os: Oséias Pv: Provérbios Rm: Romanos Rt: Rute Sf: Sofonias Sl: Salmos Ss: Seguintes. Refere-se aos versículos seguintes que podem ir até o fim do capítulo citado ou não. Tg: Tiago Tt: Tito Vv: Indica pluralidade de versículos. Zc: Zacarias

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Prefácio

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Apresentação

magine como seria para nós não termos líderes. Imagine como seria se não tivéssemos líderes no ministério, no trabalho, na governança civil, etc. Imagine uma família que não tenha um líder! Em Juízes 21.25 temos um dos relatos mais tristes da história de Israel e que nos faz pensar como é viver sem uma liderança adequada: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto”(Juízes 21.25). O povo vivia uma verdadeira anarquia, pois não havia um referencial de liderança adequada para conduzir a nação. Cada um fazia como bem achava melhor! Porém, como diz o livro de Provérbios, “Não havendo sábia direção, cai o povo”(11.14). A liderança é uma necessidade vital em qualquer setor de nossa vivência coletiva: trabalho, família, sociedade e o mesmo podemos afirmar da liderança cristã, voltada a conduzir pessoas que estão inseridas no Reino de Deus. Nosso foco neste trabalho recai sobre a liderança cristã em suas diversas manifestações, não apenas no ministério, mas a liderança na família cristã e até mesmo na individualidade cristã, afinal de contas, o indivíduo é um líder de si mesmo. Este trabalho inicia afirmando sem medo de errar que a liderança cristã é excelente e por excelência superior à qualquer outra forma de liderança (liderança empresarial, política, social, etc.). E por que? Porque a liderança cristã não lida apenas com questões temporais – ela tem implicações eternas. Não se preocupa apenas com os resultados trazidos pelas pessoas, mas antes, ela se preocupa 14


Liderança Cristã com a própria pessoa que gerará esses resultados, com a formação do caráter dessa pessoa e com suas demandas. Não enxerga apenas o potencial de um indivíduo, mas enxerga primeiro o indivíduo que possui o potencial. Desse modo, vemos que a liderança cristã não é egoísta, ela é altruísta. Não deve ser exercida em prol de um interesse individual, mas em prol de um interesse coletivo. Acima de tudo, ela até segue na contramão dos tempos pós-modernos em que vivemos: se baseia na humildade, onde o maior serve o menor (Leia Lucas 22.24-30). Esperamos assim que o presente trabalho possa contribuir efetivamente para sua edificação.

Ótima leitura para você! Roney Cozzer

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1 A importância e o papel da liderança “O problema mais crítico que a igreja enfrenta atualmente é o vácuo de liderança... Cristo deixou a sua igreja na terra para fazer uma obra que tem impacto eterno. Se a igreja local não estiver bem liderada, então a noiva de Cristo sofre e não será capaz de cumprir a sua missão para essa geração” (John C. Maxwell, especialista em liderança).

INTRODUÇÃO

O

tema “liderança” está muito em voga hoje em dia. É um assunto bem patente. Reconhecemos que apesar de os princípios sobre liderança cristã serem fáceis de ser aprendidos, na prática são difíceis de ser exercidos! A liderança cristã requer esforço, renúncia, abnegação, humildade, paciência para com o próximo e se preocupa em primeiro lugar em glorificar a Deus. Como afirma o Doutor Maxwell, a Igreja mal liderada terá problemas e sofrerá. Colha ao máximo os princípios aqui exarados e aplique-os em sua vida pessoal e no seu trabalho como líder! Seja um líder que agrada a Deus.

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Liderança Cristã 1. A LIDERANÇA CRISTÃ Fala-se muito em liderança hoje em dia. E não é por acaso. É fato conhecido que uma boa liderança pode gerar resultados os melhores possíveis para determinado objetivo. Uma empresa busca resultados financeiros, uma ONG2 busca resultados para o trabalho social que desenvolve, uma associação de moradores busca realizações em favor da comunidade, e a igreja local, como parte do corpo invisível de Cristo sobre a Terra, busca expandir o Reino de Deus alcançando pessoas. Todos esses grupos citados possuem algo em comum, tem uma necessidade em comum, embora divirjam drasticamente em suas metas. Que elemento comum é esse: todos esses grupos necessitam de boa liderança! A igreja local tem uma meta muito mais elevada: espalhar a semente do evangelho de Cristo, e sendo assim, ela mais ainda necessita de boa liderança para realizar esse ministério. 1.1. Definição A liderança cristã eficaz deve ser um processo contínuo de avanço e crescimento em termos de aplicação, alcance e administração. De fato, liderar é administrar. Hoje, quando se fala em liderança nos meios empresariais, usa-se com muita frequência a palavra “gestão”, que origina-se do latim gestione e significa “o ato de gerir” (Michaellis). “Gerir”, por sua vez, vem do latim gerere e significa ‘trazer’; ‘produzir’, ‘criar’; 2

Organização Não Governamental.

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Liderança Cristã ‘executar’; ‘administrar’ (Aurélio). Não temos dúvida de que a Obra de Deus também necessita de gestão, e de boa gestão, porque lida com pessoas e é movida por pessoas – aprouve a Deus que fosse assim e somos gratos a Ele por este fato. Sendo assim, os líderes devem “trazer”, “produzir”, “criar” e “executar” uma boa administração sobre seus liderados para que a Obra de Deus progrida com equilíbrio, maturidade e proficiência. John C. Maxwell, um conhecido escritor e palestrante na área de liderança, que alcança 350 mil pessoas por ano só com as suas palestras, faz um interessante comentário sobre “a melhor fonte de ensino sobre liderança”: Aonde a maioria das pessoas vai aprender sobre liderança? A resposta a esta questão, hoje, é que elas buscam em muitos lugares. Alguns examinam o mundo da política. Outros buscam modelos na indústria do entretenimento. Muitos olham para o mundo dos negócios. Muitas pessoas parecem buscar executivos de sucesso, consultores ou especialistas altamente graduados para aprender a respeito de liderança. Mas a verdade é que a melhor fonte de ensino sobre liderança, hoje, é a mesma há milhares de anos. Se você quer aprender sobre liderança, busque no maior Livro sobre liderança que já foi escrito: a Bíblia. Você tem em suas mãos uma ferramenta com o potencial para mudar a sua vida e o curso de seu desenvolvimento como um líder espiritual. 3

Das Escrituras podemos extrair princípios para construir uma liderança nobre, compartilhada, edificante e que glorifica a 3

Disponível em: <www.vivos.com.br/437.htm> Acesso em 10 jan. 2013.

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Liderança Cristã Deus e promove o crescimento do corpo de Cristo. O líder é aquele que pode ajudar a aprimorar outras pessoas pela sua influência e ser decisivo para construir um projeto que seja maior que ele mesmo. E ele não poderá fazer isso se de fato não for um líder, pois só um líder verdadeiro é capaz de influenciar outras pessoas a abraçarem um projeto e trabalhar por ele. 1.2 A necessidade de liderança Afirmar que a liderança é uma necessidade a qualquer grupo, inclusive, à uma igreja local, é algo quase axiomático, isto é, não necessitamos provar esta afirmação – ela firma-se e afirma-se por si mesma. Mas embora seja uma verdade muito evidente, é importante ponderarmos aqui sobre a necessidade de líderes capazes na Obra de Deus, pois assim fazendo, haveremos de reconhecer o valor da boa liderança. A Bíblia é rica neste assunto. Por vezes encontramos referências à necessidade de boa liderança, de uma liderança acima de tudo sob a direção de Deus. Neste trabalho encontraremos várias referências à liderança na Bíblia. O fato de que a liderança é uma necessidade vê-se nas seguintes evidências: ▪

Uma equipe, em geral, sempre tem problemas, portanto, precisa de um orientador. Jamais encontraremos uma equipe perfeita, daí o líder ser uma figura central. O líder é um motivador da equipe. A equipe

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sempre precisará de um novo estímulo, e o líder é quem tem essa preciosa responsabilidade em primeira mão, a responsabilidade de colaborar para renovar o ânimo do grupo. Lembremo-nos aqui de Josué e Calebe incentivando o povo à conquista de Canaã (Números 13.25-33). Uma equipe é composta por pessoas, e cada pessoa precisa ter seu potencial corretamente explorado. O líder é a pessoa que deverá estar atenta a cada indivíduo a fim de colocá-lo no lugar certo para desenvolver a atividade certa! Nem todo grupo é, necessariamente, uma equipe. Há grupos que não são equipes, pois uma equipe funciona em harmonia e cooperação contínua em função de uma meta comum, ao passo que um grupo pode agregar muitas pessoas, mas não estar em harmonia e nem em cooperação entre as pessoas que o compõe. Se todo grupo fosse uma equipe, então um ônibus ou metrô superlotado seria uma ótima equipe – e sabemos que não é!

Precisamos de liderança! Isto é um fato. Antes de prosseguirmos discorrendo sobre a liderança cristã, refletiremos um pouco mais sobre a necessidade da liderança, seja para o indivíduo, seja para a coletividade. Destacaremos alguns aspectos que auxiliam na compreensão do significado da liderança.

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Liderança Cristã O primeiro é que a liderança é uma descoberta contínua, mesmo para aqueles que já a exercem há muito tempo. Maxwell comenta: “Ainda estou aprendendo o que é a liderança”.4 E deve ser mencionado ainda que nos processos gerenciais somos, por vezes, surpreendidos com situações novas que requerem reações também inéditas. Com isso, vamos acumulando experiência que servirá a outras circunstâncias. Outro aspecto muito importante sobre a liderança é que o ato de liderar não está, em hipótese alguma, isento de erros. A aquisição de experiência implica em cometer erros. Todavia, vale lembrar que já foi dito que mais doloroso do que aprender com a experiência é não aprender nada com ela!5 Insistir e métodos, práticas e modelos que não funcionam mais pode ser indicativo de arrogância e até estupidez. Uma vez identificado o erro, é preciso mudar a estratégia e algumas vezes é preciso mudar a própria pessoa do líder... Liderança implica também em mudança de paradigmas e de ações. Pode acontecer de uma “rota” que foi traçada não ser mais adequada, e nessa hora, é preciso mudar. É muito comum nos depararmos com pessoas muito resistentes à mudança. Isso acontece na Educação, na Indústria, no mundo corporativo e, claro, na realidade eclesial também. Em função 4

MAXWELL, John C. O livro de ouro da liderança: o maior treinador de líderes da atualidade apresenta as grandes lições de liderança que aprendeu da vida. Trad.: Omar de Souza. 3ª ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2016, p. 10. 5 MacLEISH, Archibald. apud: MAXWELL, 2016, p. 11.

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Liderança Cristã de preservar a tradição, alguns insistem em modelos que simplesmente não funcionam mais. Por vezes o líder precisa ter a atitude de ousar mudar. Apenas saber que se deve mudar não irá resolver o problema; é necessário saber (isto é, reconhecer) e fazer. É a conjugação do saber com o realizar que gera mudanças satisfatórias. Acomodar-se a determinado status quo pode parecer até confortável, mas pode conduzir a uma condição de inércia quando se faz necessário agir, o que prejudica todo o projeto. A construção de uma liderança eficaz, sem dúvida, é feita pela aceitação do desafio de ter atitude e de ousar mudar. “[...] Já tive a oportunidade de testemunhar bons líderes virando empresas de cabeça para baixo, com um impacto altamente positivo na vida de milhares de pessoas”.6 Nesse sentido, preciso acrescentar aqui que liderar significa assumir riscos. Isto não é o mesmo que aventurar-se num projeto de liderança. Aventuras são para pessoas irresponsáveis, assumir riscos é para pessoas altamente responsáveis. Implica em analisar previamente, planejar, dialogar e construir juntamente com a equipe um projeto que gere os resultados esperados. A seguir, compartilhamos algumas definições práticas do que vem a ser a liderança, conforme John C. Maxwell: ▪ ▪ ▪ ▪

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Liderança é a disposição de assumir riscos. Liderança é o desejo apaixonado de fazer diferença. Liderança é se sentir incomodado com a realidade. Liderança é assumir responsabilidades enquanto outros

MAXWELL, 2016, p. 13.

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Liderança Cristã ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪

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inventam justificativas. Liderança é enxergar as possibilidades de uma situação enquanto outros só conseguem ver as dificuldades. Liderança é a disposição de se destacar no meio da multidão. Liderança é abrir a mente e o coração. Liderança é a capacidade de subjugar o ego em benefício daquilo que é melhor. Liderança é evocar em quem nos ouve a capacidade de sonhar. Liderança é inspirar outras pessoas com uma visão clara da contribuição que elas podem oferecer. Liderança é o poder de potencializar muitas vidas. Liderança é falar com o coração ao coração dos liderados. Liderança é a integração do coração, da mente e da alma. Liderança é a capacidade de se importar com os outros e, ao fazer isso, liberar as ideias, a energia e a capacidade dessas pessoas. Liderança é o sonho transformado em realidade. Liderança é, acima de tudo, coragem. 7

São reflexões concisas, mas profundas, reflexos da vida de alguém que dedicou nada menos que 40 anos à liderança. Maxwell compartilha conosco sua experiência e certamente podemos nos ver em várias dessas reflexões. Mas, mais que isso, para a construção de uma liderança eficaz, precisamos transpô-las para a realidade, para o cotidiano, para o nosso escritório, para a nossa empresa, para o nosso cargo... para a nossa igreja. No tópico seguinte refletiremos sobre a liderança cristã em seu objetivo maior: visar o Reino de Deus.

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MAXWELL, 2016, pp. 13,4.

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Liderança Cristã 2. A LIDERANÇA CRISTÃ VISA EM PRIMEIRO PLANO A EXPANSÃO DO REINO A Bíblia já afirma: “Não havendo sábia direção, o povo cai, mas, na multidão de conselheiros, há segurança” (Pv 11.14 – ARC). De partida podemos afirmar que a liderança cristã é essencial para que o povo de Deus caminhe por trilhes seguras. A ideia que encontramos em Provérbios 11.14 é de que a liderança de um povo deve passar pela senda do aconselhamento, o que lhe dará solidez, segurança. É fundamental que bebamos das fontes bíblicas, acima de tudo. De fato, há muito material disponível sobre liderança no mercado, mas a liderança cristã tem um objetivo específico, e às vezes lemos e ouvimos tanta coisa sobre liderança que corremos o risco de perder de vista qual o real papel da liderança cristã. Na liderança, é preciso ter um ponto de referência. Ele é de grande importância. E pensando isto em relação à liderança cristã, não é diferente. Deus nos dá seu próprio posicionamento em sua Palavra. Sem esse posicionamento, ficaríamos à deriva em mar aberto. Deus nos dá sua Palavra e sua vontade, que não constituem meras abstrações intelectuais ou subjetivismos. Justamente por negligenciarmos o fato de que a proposta do evangelho se encontra com o mundo da vida, com a vida concreta, e assim orientarmo-nos pela Palavra de Deus e pela sua vontade, acabamos ficando perdidos. Vemos assim ser produzido um tipo de “liderança” que mais fere pessoas e provoca alienação do que de fato orienta para o 24


Liderança Cristã bem individual e comunitário. Curiosamente, muitos pastores e outros líderes na igreja bebem da literatura não bíblica e não cristã em detrimento da Palavra de Deus. Naturalmente, é preciso olhar além dos próprios limites e buscar auxílio noutras ciências, com seus teóricos, visando ampliar o conhecimento sobre liderança. Mas é preciso lembrar que a Bíblia é nossa regra, nosso padrão, e é por ela que “filtramos” todo conhecimento adquirido. Brian J. Dodd comenta acertadamente: A ausência de um ponto de referência divino é muito óbvia no mercado florescente de livros e seminários sobre liderança. Devoramos a sabedoria do mundo e nos entupimos com práticas, técnicas e jargões seculares. A caricatura dessa tendência apareceu em um recente artigo de jornal, que registrou o encontro dos líderes de duas importantes denominações — atualmente estão em declínio — no instituto Disney: "Palestrantes do instituto Disney incentivaram os líderes locais da igreja a pensar de forma mais criativa para impedir a diminuição do número de membros". O quê?! O Mickey Mouse nos ajudará a fazer crescer nossa participação em baixa no mercado? Isso mesmo, embora saibamos que as igrejas devotadas ao cristianismo bíblico são as únicas que experimentam o crescimento. Isso fez com que a velha piada quase acertasse o alvo, chegando, para mim, bem próximo: "Qual a diferença entre a igreja e a Disneylândia? A Disneylândia tem o verdadeiro Mickey Mouse!" Essa tendência de se confiar nas estratégias de lideranças seculares e de se igualar o ministério às técnicas de gerenciamento afetou e infestou o pensamento de quase toda uma geração de líderes cristãos. No início da década de 1980,

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Liderança Cristã quando, pela primeira vez, comecei a selecionar livros sobre liderança, minha motivação era bem simples. Queria tornarme um pastor mais eficiente. As pessoas de minha igreja não eram o que precisavam ser — conforme meu ponto de vista — , e eu não tinha certeza de como transportá-las do lugar onde estavam para o lugar onde eu achava que deveriam estar. Portanto, busquei gurus de liderança, despercebido de que muito do que ensinavam relacionava-se aos princípios de liderança secular, os quais eram bem contrários aos princípios de liderança do Reino ensinados por Jesus e incorporados por Paulo. O chamariz do sucesso pode ser sedutor. As sirenes levam muitas pessoas a delegar, sem nenhum senso crítico, muita autoridade a líderes de destaque, palestrantes de palanque e pastores de "megaigrejas". Parece que têm muito sucesso (leiase, eram responsáveis por muitas pessoas e muito dinheiro), portanto o que eles têm a dizer deve funcionar como autoridade para mim. Nos Estados Unidos, esse alto valor atribuído ao sucesso é estranho ao valor do Reino de Deus que valoriza a fidelidade e a obediência. Conforme o padrão estadunidense, a vida humana de Jesus foi um fracasso, pois terminou de forma vergonhosa e desonrosa em uma cruz, além de todos os seus seguidores o terem abandonado. 8

Muitos líderes cederam a essa tentação de liderar igrejas nos moldes propostos pelo mercado. Tal tendência contribuiu para transformar de algum modo o púlpito em “vitrine” para autopromoção pessoal, crentes em clientes, igreja em empresa e bênção em produto. 8

DODD, Brian J. Liderança de poder na igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

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Liderança Cristã Essa inclinação de tantos líderes cristãos na Igreja brasileira produziu um formato de liderança insensível, frio, que apenas enxerga rostos perdidos na multidão, não olha o ser humano de forma holística e visa mais a coletividade do que a comunidade de fato. Em linhas gerais, não é bíblico, não é cristão, é desumano, a despeito de ser praticado por pastores e líderes cristãos! Dodd comenta: Aceitei a tendência por um tempo, mas algo estranho aconteceu comigo nesse processo. Lembrei-me do provérbio sobre o sapo e a chaleira. Estava aprendendo as últimas novidades sobre liderança, mas não tinha consciência de que o aumento do calor poderia "cozinhar" meu espírito. Aprendi, em uma época em que tudo era mais simples em minha vida, que aquEle que foi crucificado e ressuscitou era o foco da igreja, e que a mensagem a respeito da cruz "é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus" (1 Co 1.18). Não encontrei essa mensagem nos livros que estava lendo (e, realmente, lia sobre todos os assuntos). Entretanto, por um certo período de tempo, em minha mente, a cruz foi substituída, vagarosa e sutilmente, pelo foco na visão, na excelência e na sensibilidade daquele que busca a Deus. Meu ministério refletia minha maneira de pensar, atualizada, mas sem poder. Não estou afirmando que a culpa é de alguma outra pessoa além de mim mesmo. Por minha conta, estava desviando-me do rumo, sendo levado pelas ondas dos princípios e jargões de liderança, mas, com frequência, ignorando e até mesmo indo na direção contrária ao caminho de Jesus, ao caminho da cruz e ao caminho do Reino de Deus.

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Liderança Cristã Percebo agora que isso não aconteceu apenas comigo. À nossa volta, podemos encontrar exemplos de pessoas que se renderam aos caminhos do mundo. 9

Em nosso tempo, corremos o risco de confundir igreja com empresa, membros com clientes, evangelho com produto! A liderança cristã é caracterizada por aspectos que são indicados pelas Sagradas Escrituras. A liderança cristã procura e preocupa-se com a expansão do Reino de Deus entre os homens e em servir aos santos, os que hão de herdar a salvação. CONCLUSÃO Precisamos estar cônscios de que a liderança cristã segue, muitas vezes, na contramão da liderança secular. Ela baseia-se na humildade. O Dr. Roger Smalling compartilha a seguinte experiência: “Presenciei uma reunião do presbitério de Carolina do Norte nos Estados Unidos, em 1996. Quando o moderador pediu um relatório do Comitê de Missões. O secretário do comitê se levantou e se desculpou porque não tinha preparado o relatório. Imediatamente o moderador começou a repreender o secretário por sua negligência. De repente, um tal pastor, Laxton, levantou-se e disse: "Eu sou o moderador desse comitê. E sou o responsável por não ter preparado o relatório". O moderador do presbitério respondeu-lhe: "Mas este irmão é o secretário, não é mesmo?” 9

DODD, Brian J. Liderança de poder na igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

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Liderança Cristã O pastor Laxton respondeu: "senhor, eu estou encarregado desse comitê. “Se há alguém a quem culpar, este alguém sou eu”. Nesse momento pensei: "Não é de se admirar que opastor Laxtontem mil pessoas em sua igreja".

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Liderança Cristã

Exercícios do capítulo 1 Marque com C para Certo e E para Errado 1. (

)

O problema mais crítico que a Igreja enfrenta hoje é o vácuo de liderança, é que o afirma o Doutor John Maxwel, especialista em liderança.

2. (

)

Afirmar que a liderança é uma necessidade à qualquer grupo, inclusive, à uma igreja local, é algo quase absurdo, porque isso não é verdade.

3. (

)

Um dos fatos que torna a liderança necessária é que nem todo grupo é, necessariamente uma equipe.

4. (

)

A liderança cristã é essencial para que o povo de Deus caminhe por trilhas incertas, pois nenhum homem é perfeito.

5. (

)

Precisamos estar cônscios de que a liderança cristã segue, muitas vezes, na contramão da liderança secular. Ela baseia-se na humildade.

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Liderança Cristã

2 A liderança vista na Bíblia “A Igreja existe em função da missão, assim como o fogo existe em função da combustão” (Emil Brunner).

INTRODUÇÃO

N

ão há como negar que a Bíblia é rica de informações e preceitos sobre liderança. É interessante notar que a palavra “líder” não aparece nas versões da Bíblia de equivalência formal10 com muita frequência. Na ARC a palavra aparece uma vez no plural no texto de Isaías 29.10. Na ARA, nenhuma vez. É que o termo “liderança” vem do inglês, e talvez por isso não apareça com frequência (ou quase nunca) nas versões em português mais antigas. Mas é importante ressaltar que o conceito, a ideia de liderança está presente sim com muita frequência no texto bíblico. A NTLH (que é uma “tradução” de equivalência dinâmica11) traz o termo mais de 350 vezes, o que nos dá uma ideia de como o conceito está presente em toda a Bíblia. A King James utiliza a palavra 10

Versão de Equivalência Formal é aquela que preserva mais a forma original do texto. 11 Versão de Equivalência Dinâmica é aquela que procura adaptar a mensagem do texto bíblico original à língua receptora.

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Liderança Cristã Governor como tradução da palavra “governador” em Mateus 2.6, sendo ali uma referência a Cristo. A ARA utiliza em Mateus 2.6 a palavra “guia”, que no grego é hegeomai (ηγεομαι) e significa, segundo Strong: 1) conduzir, 1a) ir a diante; 1b) ser um líder; 1b1) governar, comandar; 1b2) ter autoridade sobre; 1b3) um príncipe, de poder real, governador, vice-rei, chefe, líder no que diz respeito à influência, que controla em conselho, supervisor ou líder das igrejas; 1b4) usado para qualquer tipo de líder, chefe, comandante; 1b5) o líder no discurso, chefe, porta-voz; 2) considerar, julgar, ter em conta, conceber.12

Caso semelhante ocorre com a doutrina da Trindade, que embora esteja presente no Antigo e no Novo Testamentos, de forma conceitual, não apresenta o próprio termo “Trindade” em lugar algum das Escrituras. Assim também ocorre com liderança. Vemos ela tanto no Antigo como no Novo Testamento de forma conceitual, em narrativas históricas e em textos doutrinários, como nas epístolas, por meio de experiências registradas de personagens bíblicos e de preceitos transmitidos por autores bíblicos. 1. O CONCEITO DE LIDERANÇA NA BÍBLIA O Pastor e Teólogo Russel P. Shedd, em seu livro O Líder Que Deus Usa (2000) alista algumas marcas que devem nortear a 12

Strong, James: Léxico Hebraico, Aramaico E Grego De Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. H8679.

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Liderança Cristã liderança bíblica e que nos dão a base para a liderança tal como ela se acha na Bíblia. Ele menciona a gratidão, a humildade, a disposição para aprender, o interesse pelo Reino, o otimismo, a oração perseverante e o manter a coisa principal como a coisa principal.13 Estas e outras qualidades são encontradas no contexto geral das Escrituras. A Bíblia nos descreve homens e mulheres que assumiram o papel de líderes em circunstâncias diversas e manifestaram estas qualidades em sua liderança. É necessário assim lançar um olhar sobre o que a Bíblia nos oferece neste sentido e podermos assim colher lições preciosas para a liderança, hoje. Shedd cita a gratidão como uma dessas marcas que devem ser identificadas no “líder que Deus usa”. A gratidão é amiga da humildade. Ser grato é reconhecer que fomos ajudados por alguém em algum momento e de alguma forma. Gratidão implica o reconhecimento de que sozinhos não somos tão eficazes como quando estamos com alguém, ou sendo auxiliados por alguém. E sobretudo, gratidão ao Senhor, que sempre nos conduz com sua graça e sabedoria. Na Bíblia encontramos exemplos marcantes de gratidão. Há, no Antigo Testamento, o exemplo de Davi quanto a Jonatas, e no Novo Testamento, o de Paulo, que sempre se lembrava em seus escritos de seus companheiros de obra missionária, fazendo sempre menção deles. E ainda: ele não só demonstrou 13

SHEDD, Russel P. O líder que Deus usa: resgatando a liderança bíblica para a igreja no novo milênio. Trad.: Edmilson F. Bizerra. São Paulo: Vida Nova, 2000.

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Liderança Cristã gratidão de modo concreto, como instruiu a que os crentes a que sejam gratos a Deus: “Em tudo, daí graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Ts 5.18). No caso do líder cristão, ele deve ponderar ainda no fato de que a liderança como dom é um presente dado por Deus. Ele deve ser grato ao Altíssimo por isto. E que coisa aprazível é estar sob a liderança de um homem ou mulher que demonstram gratidão a Deus, aos seus pares e a seus liderados. Tal atitude, como afirmado acima, é também um sinal de humildade. Shedd comenta ainda que “[...] paralelamente à gratidão encontra-se a injunção bíblica para ‘alegrar-se sempre no Senhor’” (Fp 4.4).14 Shedd menciona também a humildade. O obreiro, o pastor, ou mesmo outras pessoas que exerçam outros formatos de liderança em sua congregação não estão imunes de riscos que cercam o ministério da liderança cristã. Um desses perigos é o da arrogância. A popularidade provida pelo ministério, a possibilidade de projeção social e mesmo a ambição de galgar posições junto à denominação em que serve ou órgãos dela, podem também armar laços. Um fato curioso sobre grandes líderes da Bíblia é que eles foram moldados, por vezes, lentamente até chegarem onde Deus quisera trazê-los. Moisés tanto soube viver no palácio egípcio, como soube viver no deserto. Eliseu, antes de assumir a capa de Elias, lavou-lhe as mãos durante anos. Paulo, antes de ingressar nas viagens

14

SHEDD, 2000, [s.p.].

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Liderança Cristã missionárias e tornar-se figura de destaque na Igreja primitiva, permaneceu, ao que parece, 14 anos no anonimato para só então ser lançado ao campo (Gl 1.1-2.1). Deus, lentamente, vai amadurecendo seus servos. A humildade é uma dessas qualidades que vão sendo “forjadas” no líder cristão. A humildade é uma característica maravilhosa. Nos possibilita conviver com todos. Nos torna acessíveis. Sejamos honestos: há pessoas detestáveis, insuportáveis mesmo. Sua fala gira sempre em torno do seu próprio “eu”. Há pessoas que não conseguem de fato olhar para além dos limites do próprio umbigo. São insensíveis à condição do outro. Não se abrem à alteridade. E gente assim existe em todas as classes: empresários, acadêmicos, ricos, pobres, e entre líderes cristãos... Indivíduos arrogantes acabam por tornar difícil a convivência e até mesmo afastar outras pessoas que poderiam ser muito importantes em suas vidas e trajetória, inclusive na sua liderança. Pessoas que não aprenderam a serem humildes, dificilmente ouvem outras pessoas e com isso perdem muito. Erram, ferem, se ferem e cometem às vezes até mesmo verdadeiras atrocidades, por não possuírem humildade. Com efeito, a soberba – como diz a Bíblia – precede a ruína. O pastor Shedd prossegue e comenta que o líder precisa ter como qualidade a disposição de aprender. Há muita gente na Igreja que deseja ser ouvida, mas que não querem sentar para ouvir outros. Só é um bom ensinante quem é um bom aprendente. Shedd comenta:

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Liderança Cristã [...] qualquer líder que pensa ter aprendido tudo o que ele precisa saber, no seminário ou na faculdade, é como uma ostra com cabeça enterrada na areia. Neste mundo em que tudo muda rapidamente, o aprendizado contínuo pode ser a chave para a liderança bem sucedida.15

Nosso conhecimento – como afirmou John F. Kennedy – quanto mais aumenta, mais evidencia nossa ignorância. Estar sempre aberto ao aprendizado, não apenas acadêmico, mas também experiencial (próprio e dos outros), pode abrir horizontes e contribuir no sentido de que o líder cresça e com ele seus liderados. Nenhum conhecimento é perfeito, acabado, completo. E nenhum líder é perfeito, acabado, completo. Podemos sempre crescer mais. Assim, ao invés de dizermos “eu aprendi”, melhor será dizer “estou aprendendo”. Shedd conclui seu comentário sobre esta característica de forma incisiva: “[...] Deixando de lado os livros que tenha lido e as pessoas que tenha encontrado, um líder será a mesma pessoa que era quando começou sua carreira”.16 Shedd alista ainda como uma das características que o líder usado por Deus precisa ter o interesse pelo Reino. Eu diria, no presente trabalho, que esta é uma das principais. A Igreja brasileira convive, felizmente, com líderes marcados e absolvidos pelo interesse sincero pelo Reino de Deus. Gente que tinha carreira promissora, mas deixou para ser pastor de

15 16

SHEDD, 2000, [s.p.]. SHEDD, 2000, [s.p.].

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Liderança Cristã almas. Gente que sofre uma diversidade de aflições e angústias pela obra de Deus, e mesmo assim prossegue avançando e servindo. O que leva um líder a continuar mesmo quando tudo parece concorrer contra? O interesse pelo Reino de Deus! Seus interesses são os interesses de Deus. A chamada o consome. O exemplo maior foi o maior Líder de todos os tempos: Jesus. Ele nos ensinou a buscar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). O “doutor dos gentios” deixou-se consumir pelo cuidado com os coríntios, dizendo: "Assim, de boa vontade, por amor de vocês, gastarei tudo o que tenho e também me desgastarei pessoalmente. Visto que os amo tanto, devo ser menos amado?" (2 Co 12.15 - NVI). 2. POR UMA LIDERANÇA SAUDÁVEL Julgo que as qualidades alistadas por Shedd anteriormente são fundamentais para o líder cristão. Elas precisam ser cultivadas e valorizadas em nosso contexto. A Igreja no Brasil atravessa um momento difícil no que tange à sua liderança. São muitos casos de escândalos das mais diversas ordens (financeira, sexual, ética, etc.) que vem ocorrendo sistematicamente no contexto das igrejas evangélicas e que tem causado enorme desgaste não apenas na imagem da Igreja, mas na própria vivência dos crentes, já que tais fatos tornam, sem dúvida, nossa vida mais difícil. Noutra mão, pode ser mencionado o alarmante e crescente número de casos de pastores que vão ao suicídio. Infelizmente, convivemos com uma geração de obreiros e pastores que 38


Liderança Cristã foram formados em seus contextos locais com uma mentalidade totalmente equivocada a respeito da condição emocional do líder e do obreiro cristão. Ouvimos, por vezes, aquela velha máxima: “O obreiro não deve demonstrar sua fragilidade perante a congregação”. A ideia era de que mesmo destruído emocionalmente, o obreiro deve “mostrar-se firme”, “inabalável”. Tal pressuposto, contudo, leva à uma prática que é extremamente adoecedora. Gera uma cobrança excessiva e um comportamento inumano de pessoas que são humanas. Como se sabe, a fragilidade emocional, em algum momento de nossas vidas, é perfeitamente normal e experienciá-la é até mesmo saudável e contribui de modo direto para o refazimento do sujeito. Reprimi-la o sofrimento e não vivenciálo de modo equilibrado pode ser altamente danoso. Uma igreja local que convive com este tipo de discurso acaba, não raras vezes, exigindo de seus obreiros, líderes e pastores, um comportamento que eles simplesmente não podem oferecer, por serem pessoas reais com demandas comuns a qualquer ser humano. Para uma liderança saudável precisamos que se estabeleça na Igreja brasileira um tipo de relacionamento que seja mais humanizado, e por conseguinte, solidário, tolerante, paciente e amoroso. O ensino da Bíblia contempla líderes e liderados. Em Hebreus 13.17 pode-se ler: “Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês” (NVI).

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Liderança Cristã Liderança cristã, pois, implica uma cooperação mútua e não uma ação que gere total dependência, alienação, indiferença ou apatia em relação às necessidades de quem lidera ou de quem é liderado. 3. POR UMA LIDERANÇA COMPARTILHADA É fundamental que o líder cristão tenha claro em sua mente que não é porque compartilha sua liderança que isso faz dele um líder fraco e sem rumo. Na verdade, o oposto disto é que é verdadeiro: o líder seguro de sua liderança inclui outras pessoas e gera outros líderes. Lamentavelmente, nós temos visto e convivido com uma geração de pastores e demais líderes cristãos que se comportam como déspotas, tiranos e que centralizam a liderança da igreja neles mesmos e em suas famílias, atendendo assim a interesses próprios e não aos interesses da coletividade da igreja local. Para todo Elias há um Eliseu, para todo Moisés há um Josué e para todo Jesus há um grupo de apóstolos. É preciso reconhecer que uma liderança compartilhada é uma liderança que cresce e se multiplica, o que contribui para o Reino de Deus de modo muito significativo. Uma liderança centralizada adoece, fere e exclui outros líderes potenciais e é prejudicial ao Reino de Deus. Enquanto a igreja de Corinto fervia entre seus membros por causa dos grupos que surgiram em seu interior, o apóstolo Paulo lhes escreve procurando fazendo extinguir-se o 40


Liderança Cristã sentimento de rivalidade e competição entre irmãos. E o interessante é que havia o “grupo de Paulo”, como ele mesmo dá a entender: “Quando um de vocês diz: “Eu sigo a Paulo”, e o outro diz: “Eu sigo Apolo”, não estão agindo exatamente como as pessoas do mundo?” (1 Co 3.4).17 O interessante é que longe de alimentar seu próprio ego, por saber que tinha seguidores e admiradores em Corinto, Paulo repreende os cristãos coríntios e procura inibir a continuidade daquele sentimento, escrevendo-lhes o seguinte: “Afinal, quem é Paulo? Quem é Apolo? Somos apenas servos de Deus por meio dos quais vocês vieram a crer. Cada um de nós fez o trabalho do qual o Senhor nos encarregou”. E prossegue registrando as belas palavras que se seguem: “Eu plantei e Apolo regou, mas quem fez crescer foi Deus”.18 Que bela e fantástica lição podemos extrair desse capítulo e do exemplo de Paulo. Nele encontramos a conduta de um líder que reconhece o trabalho de outros colaboradores e, sobretudo, reconhece o fato de “quem fez crescer foi Deus”. Uma liderança só poderá ser realmente compartilhada se o líder dominar seu próprio ego. Ryan Holiday escreveu afirmando, com razão, que “o ego é seu inimigo”, e em dado momento de sua obra alerta-nos sobre o fato de que até mesmo

17

Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, 1 Coríntios 3.4. 18 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora, 2016, 1 Coríntios 3.5,6.

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Liderança Cristã pessoas bem sucedidas vacilam entre a humildade e o ego e como isso traz sérios prejuízos.19 Uma liderança compartilhada é um espaço para o desenvolvimento de pessoas, o que por si só é muito gratificante. E pensando este conceito no que tange à Liderança Cristã, é válido afirmar que a Liderança Cristã compartilhada é um espaço para o desenvolvimento de ministros que melhor servirão ao Reino. Há pastores que chegaram a um ponto alto de seu ministério e até construíram grandes ministérios, mas se encontram a uma certa altura da vida totalmente solitários. Conduziram sua liderança em torno de interesses pessoais e poderiam ter feito muito mais, não tivessem sido dominados pelo ego. Maxwell comenta que a solidão na liderança não é uma questão relacionada à posição em si, mas tem que ver com a personalidade.20 E ele comenta algo muito interessante a esse respeito: Há uma charge na qual um executivo aparece sentado e desolado atrás de uma mesa imensa. Do outro lado, de pé, um homem humilde usando roupas de trabalho confidencia: “Se isso serve de consolo para o senhor, a gente também se sente solitário quando está na base da pirâmide”. Estar no topo não significa que você precisa ficar sozinho. O mesmo vale para

19

HOLIDAY, Ryan. O ego é seu inimigo. Trad.: Andrea Gottlieb. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017, p. 25. 20 MAXWELL, John C. O livro de ouro da liderança: o maior treinador de líderes da atualidade apresenta as grandes lições de liderança que aprendeu da vida. Trad.: Omar de Souza. 3ª ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2016, p. 17.

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Liderança Cristã quem está na base. Já conheci gente solitária na base da pirâmide, no topo e no meio. Hoje percebo que a solidão não é um problema relacionado à posição que se ocupa, mas uma questão de personalidade. 21

Há pastores que se comportam como aquele líder que entende que precisa “manter a distância” para ser respeitado como tal. Mas é preciso lembrar que liderança se confunde com influência, e nenhum líder cristão verdadeiro será capaz de influenciar estando longe dos seus liderados. Paulo escreve ao seu filho na fé, Timóteo, um jovem pastor que foi liderado por ele, dizendo-lhe as seguintes palavras: “Mas você sabe muito bem o que eu ensino, como vivo e qual é meu propósito de vida. Conhece minha fé, minha paciência, meu amor e minha perseverança” (2 Tm 3.10).22 Um líder que se distancia de seus liderados jamais poderá produzir esse tipo de relacionamento. Um líder egoísta e que se orienta pelos seus próprios interesses em detrimento dos interesses da Igreja jamais se permitirá conhecer tão a fundo como podemos perceber nas marcantes palavras de Paulo. Não podemos deixar de notar neste versículo, e por que não dizer, em toda a perícope, a maneira fraterna com que Paulo se dirige a Timóteo, que foi um líder jovem gerado por ele.

21 22

MAXWELL, 2016, pp. 16,7. Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora, 2016, 2 Timóteo 3.10.

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Liderança Cristã CONCLUSÃO Não nos resta dúvida de que não existem líderes perfeitos, e certamente também nem sempre é possível “encaixar” o “líder ideal” no “líder real”. Mas bom é que o líder cristão considere e leve avante em seu ministério as qualidades que foram aqui alistadas. A gratidão o leva a reconhecer Deus em sua vida, em seu ministério, em suas conquistas, ao passo que a humildade o leva a depender sempre de Deus e de seus liderados, afinal, o líder nada pode fazer sozinho. A disposição para aprender sempre o leva a descobrir novos métodos, novos rumos, a traçar novas metas e a revitalizar o antigo. Se um líder pensa que não tem mais nada para aprender porque já sabe muito e é muito experiente, esse líder estará fadado ao fracasso, à inércia, à estagnação! O líder cristão precisa também, de maneira inequívoca, ter interesse pelo Reino de Deus, porque do contrário ele poderá reduzir-se a mero mercenário, que visa apenas seus interesses pessoais e se utiliza do ambiente cristão para realizar seus anseios egoístas. O otimismo deve marcar a vida e o ministério daquele que lidera na Obra de Deus, pois essa qualidade faz com que ele tenha ideais, metas, novos alvos, novos objetivos a serem alcançados e faz com que ele acredite mesmo quando todos não acreditam, faz com que ele invista quando todos não investem. Por fim, a oração perseverante deve acompanhar o líder cristão em todos os seus caminhos, pois ele reconhece que sem Jesus nada pode fazer (Jo 15.5). É pela oração que ele leva ao Pai seus desejos,

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Liderança Cristã seus caminhos, suas decisões, seus anseios. Tudo deve ser levado a Deus em oração (Fp 4.6).

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Liderança Cristã

Exercícios do capítulo 2 Marque com C para Certo e E para Errado 1. (

)

Não há como negar que a Bíblia é rica de informações e preceitos sobre liderança.

2. (

)

A palavra “Guia” no grego é hegeomai (ηγεομαι) e significa, segundo Strong, “1) conduzir; 1a) ir a diante; 1b) ser um líder”.

3. (

)

Russel Shedd, o famoso escritor do século XVIII, perguntou: "Você saberia qual é o maior santo no mundo? Não é aquele que ora mais ou jejua mais. Não é aquele que dá a maior soma de dinheiro [...] mas é aquele que é sempre grato a Deus, aquele que deseja tudo que Deus deseja, e aquele que recebe tudo como um exemplo da bondade de Deus e tem um coração sempre pronto para louvá-lo por ela”.

4. (

)

Um líder cristão, mais do que ninguém, deve entender como a sua visão e os seus objetivos satisfazem os interesses de Deus.

5. (

)

Um líder que negligencia a oração provavelmente terá êxito em seu ministério, enquanto aquele que faz da oração a sua

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Liderança Cristã atividade fundamental tem uma boa chance de fracassar.

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Liderança Cristã

3 Aprendendo com os líderes da Bíblia “A liderança não é uma questão de idade. A idade não tem nada a ver com a liderança. Em qualquer idade podemos exercer influencia e o certo e que você é um modelo, queira ou não. Todos somos líderes em algum aspecto. Cada vez que influencia uma pessoa, você esta assumindo a liderança” (Rick Warren).

INTRODUÇÃO

Q

uando Paulo escreve a Timóteo, em sua primeira carta, este era ainda muito jovem. Acredita-se que ele estava na faixa dos trinta anos e no pensamento judeu, um homem nessa faixa etária é considerado ainda muito jovem. Talvez Timóteo estivesse encontrando dificuldades no exercício da sua liderança em função disto, todavia Paulo, mais velho, reconhecendo que ele era um líder de fato chamado por Deus, o incentiva dizendo: “Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1Tm 4.12). As palavras de Rick Warren logo acima são o reconhecimento de um fato que encontra sua realidade até mesmo na Palavra de

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Liderança Cristã Deus. Acreditamos que a Bíblia tem muito a nos ensinar sobre liderança através dos diversos exemplos de líderes, cujas vidas, com seus erros e acertos, altos e baixos, são relatadas nas páginas sagradas. Consideraremos então alguns desses exemplos, extraindo algumas lições valiosas para nossa vida, para nosso trabalho de liderança. 1. NEEMIAS, O LÍDER QUE SE LEVANTA EM MEIO AO CAOS Neemias é uma biografia de fato inspiradora para nós, hoje, em pleno século 21, embora ele esteja tão distante de nós no tempo. Neemias foi um judeu que foi levado cativo para a Babilônia por ocasião do Cativeiro Babilônico. Os persas, posteriormente, derrotaram os babilônios e foi sob o domínio de um imperador persa que Neemias regressou a Jerusalém com vistas à reconstrução dos muros da cidade, que se achavam em ruínas. Pelo fato de Neemias escrever usando a primeira pessoa do singular do começo do livro que leva seu nome até o capítulo 7 e versículo 5, podemos depreender que ele registra suas próprias memórias pessoais. O livro pode ser assim esboçado: 1. Neemias volta para Jerusalém (1.1—2.20) 2. Reconstrução das muralhas de Jerusalém (3.1—7.73) 3. Leitura da Lei e renovação da Aliança (8.1—10.39)

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Liderança Cristã 4. Outras atividades de Neemias (11.1—13.31).23 1.1. O líder que se levanta em meio ao caos Sem dúvida alguma que Deus levantou este homem, embora estando ele distante de Jerusalém vários quilômetros. O já falecido pastor David Wilkerson, em sua memorável pregação “Um chamado para a angústia” diz o seguinte sobre Neemias: “Toda verdadeira paixão é nascida da angústia. Toda paixão verdadeira por Cristo vem de um batismo em angústia. Busque a Escritura e descobrirás que quando Deus determinava a restauração de uma situação arruinada... Ele compartilhava sua própria angústia por aquilo que Deus viu acontecendo à Sua Igreja e ao Seu povo. E Ele encontraria um homem de oração e Ele tomaria esse homem e literalmente o batizaria em angústia. Você encontra isso no livro de Neemias. Jerusalém está em ruínas. Como Deus vai lidar com isso? Como Deus vai restaurar a ruína? Amigos, olhem para mim... Neemias não era um pregador, Era um homem de carreira. Este era um homem de oração. Deus encontrou um homem que não teria apenas uma faísca de emoção... Não apenas uma grande e repentina explosão de preocupação e depois a deixaria morrer. Ele disse: “Tendo eu ouvido estas palavras,

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BÍBLIA. Português. Almeida. 2013. Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia de estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

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Liderança Cristã assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.”. (Neemias 1.4). Porque estes outros homens, porque eles não tinham uma resposta? Porque Deus não os usou na restauração? Porque eles não tinham uma palavra? Porque não havia nenhum sinal de angústia! Nenhum choro! Nenhuma palavra de oração! É tudo ruína! Você se importa hoje? Você se importa hoje que a Jerusalém espiritual de Deus, a Igreja, esteja casada agora com o mundo? Que haja tamanha frieza varrendo a terra? Mais perto que isso... Você se importa com a Jerusalém que está em nossos próprios corações?” 1.2. Neemias, um líder que “viu” o invisível Jerusalém era escombros, e os muros estavam derrubados. Neemias nem residia em Jerusalém, mas seu coração batia por ela. 2. EXEMPLOS DE LÍDERES E LIDERADOS NA BÍBLIA Nas Escrituras temos em abundância diversos exemplos de líderes e liderados que devem ser seguidos; comecemos por alguns exemplos de líderes com os quais temos a aprender, nos subtópicos seguintes. 2.1. LÍDERES da Bíblia com os quais temos a aprender 2.1.1. O líder que se dispõe a mudar sua administração Vemos isso em Moisés, que demonstrou humildade e disposição para mudar ao reconhecer que sua liderança era 51


Liderança Cristã deficiente em determinado ponto (ler Êxodo 18.13-27). 2.1.2. O líder que se levanta em meio ao caos É o caso de Neemias, que confiante no Senhor trabalhou pela restauração da cidade de Jerusalém e de suas muralhas. Ele é exemplo de líder que é capaz de investir num projeto arruinado e contemplar seu restabelecimento. Que administração! 2.1.3. O líder que conquista seus liderados Vemos isso notadamente em Davi, o homem segundo o coração de Deus. Diz a Bíblia em 1 Samuel 22.1,2, quando Davi se refugiava na caverna de Adulão, que “quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens”. Note aqui as expressões “quando ouviram isso... desceram ali para ter com ele” ou “estar com ele”, e ainda “e eram com ele uns quatrocentos homens”. Estas expressões indicam que os liderados de Davi eram voluntários, estavam ali por sua livre e espontânea vontade, ninguem os obrigara a estar ao lado dele. “E eram com ele...” Seus liderados estão com você, líder? 2.2. LIDERADOS da Bíblia com os quais temos a aprender Considerando a importância do papel dos liderados, procuraremos agora extrair algumas verdades e lições preciosas com os exemplos a seguir: 52


Liderança Cristã 2.2.1. Liderados crentes em meio à descrença Josué e Calebe, liderados por Moisés na caminhada para Canaã. Enquanto a maioria dos espiões (dez) dizia que não valia a pena subir e conquistar Canaã, dada as condições humanas desfavoráveis ao povo israelita, Josué e Calebe apenas, persistiram em confiar no Senhor. São marcantes as palavras de Calebe: “Então, Calebe fez calar o povo perante Moisés e disse: Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente, prevaleceremos contra ela” (Números 13.30). 2.2.2. Os liderados que reconhecem o líder É o que vemos na atitude dos cristãos filipenses, aos quais Paulo agradece pelo valor que eles deram a ele, ajudando-o financeiramente! (Confira Filipenses 4.10-20). Há muitos casos em que os liderados se mostram absurdamente ingratos e indiferentes à entrega dos seus líderes. A liderança, mormente a ministerial, requer renúncia, privação, desgaste financeiro, emocional e espiritual e por vezes, a limitação do próprio bem estar pessoal. Paulo manifesta isto mais de uma vez em seus textos. Escrevendo aos coríntios, ele afirma: "Assim, de boa vontade, por amor de vocês, gastarei tudo o que tenho e também me desgastarei pessoalmente. Visto que os amo tanto, devo ser menos amado?" (2 Co 12.15 - NVI). Ele mesmo sofreu na pele a dor da ingratidão e da indiferença quanto às suas necessidades básicas pessoais. Bons líderes, hoje, enfrentam também este mal. E a ingratidão é algo que de fato dói muito. Quando os liderados demonstram profunda gratidão para 53


Liderança Cristã com seus líderes, isto torna a convivência melhor, mais saudável, produtiva e promove crescimento conjunto. Infelizmente, as pessoas são mais propensas a maximizar erros e minimizar qualidades. Devemos nós, contudo, como liderados, valorizar nossos líderes buscando ser cooperativos e gratos por sua dedicação, empenho e valor para o Reino de Deus. 3. O VALOR DO TESTEMUNHO PESSOAL – O EXEMPLO DE PAULO Em 1 Coríntios 11.1 lemos as conhecidas palavras de Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”. O texto soa para nós hoje até mesmo com um ar de certa arrogância. Mas nesta leitura reside um grande equívoco. Basta uma análise à luz da Exegese para se perceber que não se trata de autoafirmação por parte do apóstolo. Doutor Russel N. Champlin24 explica esta passagem: Quase todos os intérpretes reconhecem que este primeiro versículo do décimo primeiro capítulo desta epístola... Pertence ao décimo e não ao décimo primeiro capítulo. Paulo havia deixado exemplo de como se deve agir para com todos os homens... Visando a salvação de todos quantos fosse possível salvar. Ele se fazia de tudo para todos, a fim de que pudesse ao menos conquistar alguns para Cristo (ver 1 Co 24

O Doutor Russel Norman Champlin é muito conhecido entre estudantes de teologia pelas obras colossais que escreveu, a saber O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo e também O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, ambas publicadas pela Editora Hagnos.

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Liderança Cristã 9.21,22). Ele olhava para o benefício espiritual deles; não agradava a si mesmo; pouco se importava com seu conforto físico e com sua prosperidade individual. Pelo contrário desgastava as suas energias para obter a vantagem espiritual de outros. Ora, isso é o cumprimento prático da lei do amor. Paulo dava porque amava; da mesma maneira que Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu próprio Filho unigênito. E essa atitude de Paulo é digna de ser imitada e seguida, de ser considerada como um exemplo da conduta cristã ideal. Por sua vez, o apóstolo seguia a Jesus Cristo. Esse serviço tão destituído de egoísmo não era ideia dele, de Paulo, não era invenção sua. O próprio Senhor Jesus é o exemplo supremo dessa atitude e ação de que Paulo fala aqui (ver João 13.12-16...). [...] “... Imitadores...” Temos aqui uma correta tradução, que é melhor que “seguidores”, conforme dizem outras traduções. Vemos aqui alguém que duplica um padrão de conduta, que reproduz alguma coisa, que é cópia fiel de uma ideia, de uma atitude. “... como também eu sou de Cristo...” Nenhum espírito de arrogância levou o apóstolo dos gentios a solicitar que outros crentes o imitassem. Antes, assim agia a fim de que a imagem de Cristo se formasse neles, vistoque era imitando a ele, o apóstolo de Cristo, que poderiam imitar automaticamente a Jesus Cristo. Tão somente ele lhes mostrava um exemplo prático de como essa imitação era possível para o crente. Notese que Paulo nos deixou um exemplo de auto-sacrifício; porque esse é o aspecto da imitação de Cristo que realmente impressiona os homens, como também é comum que esse era o aspecto da vida e da personalidade de Cristo que é exposta aos leitores do NT, como o nosso grande exemplo... A vida cristã, quando é bem vivida, requer uma dedicação suprema às realidades espirituais, com a negação de tudo quanto é

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Liderança Cristã meramente material e terreno. O crente precisa reconhecer e desenvolver os poderes de sua alma remida, para glória de Jesus Cristo25.

Vejamos a seguir o que diz o pastor e teólogo presbiteriano Hernandes Dias Lopes sobre a vida e ministério do apóstolo Paulo: A vida cristã não é um mar de rosas. Ser cristão não é viver numa redoma de vidro nem pisar em tapetes aveludados. Vida cristã é uma guerra sem trégua contra o mal; é uma luta sem pausa contra o pecado; é uma batalha contínua contra a carne, o mundo e o diabo. A vida do apóstolo Paulo retrata essa verdade de forma eloquente. A despeito desse bandeirante da fé ser o maior pastor, evangelista, missionário, teólogo e plantador de igrejas da história do cristianismo, encerrou sua carreira enfrentando cinco dramas pessoais. Vejamos quais foram. Em primeiro lugar, o drama da solidão (2Tm 4.9,11,21). Paulo estava preso numa masmorra romana, na antesala do martírio e no corredor da morte. O tempo da sua partida havia chegado. E, nesse momento final da vida, em vez de estar cercado de amigos, estava sozinho, curtindo dolorosa solidão. Mesmo tendo a assistência do céu, carecia da solidariedade humana; mesmo sendo assistido por Deus, desejou ardentemente a presença dos seus amigos. A solidão é uma dor que dói na alma, e Paulo não teve vergonha de expressála publicamente. Em segundo lugar, o drama do abandono (2Tm 4.10). Paulo foi abandonado por Demas no final da vida. Aquele que 25

CHAMPLIN, Russell N. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. vol. 4. São Paulo: Hagnos. pp. 166,67.

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Liderança Cristã deveria estar do seu lado bandeou-se para o mundo e abandonou o veterano apóstolo. Aquele que deveria estar encorajando o apóstolo diante da dura realidade do martírio que se aproximava amou o presente século e afastou-se. Paulo não apenas sentiu a dor da solidão, mas também sentiu na pele o aguilhão do abandono. Mesmo sabendo que Deus jamais o abandonaria, Paulo expressa a dor de ser abandonado por aqueles que um dia caminharam com ele. Em terceiro lugar, o drama da traição (2Tm 4.14,15). Paulo foi traído por Alexandre, o latoeiro. Esse homem causou-lhe muitos males e resistiu também fortemente as suas palavras. Os historiadores afirmam que foi Alexandre, o latoeiro, que delatou Paulo, culminando na sua segunda prisão em Roma e, consequentemente, martírio. Não é fácil ser traído. Não fácil lidar com aqueles que buscam uma oportunidade para puxar o nosso tapete e apunhalar-nos pelas costas. Paulo sentiu de forma profunda esse drama. Em vez, porém, da guardar mágoa, entregou para Deus sua causa, dizendo: "O Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras". Em quarto lugar, o drama das privações (2 Tm 4.13). Paulo enfrentou no final da vida três tipos de privações: a privação emocional, pois sentiu-se só num calabouço úmido, escuro e insalubre; a privação mental, pois estava desprovido de seus livros e pergaminhos e, mesmo no ocaso de sua jornada, estava ainda sedento de aprofundar-se um pouco mais nas verdades eternas de Deus; e a privação física, pois na chegada do inverno precisava desesperadamente de sua capa, talvez velha e surrada, para cobrir-lhe o corpo cicatrizado do frio implacável. O maior expoente do cristianismo de todos os tempos está abandonado, jogado numa masmorra, à beira do martírio sem ter sequer uma capa velha para vestir-se. Em quinto lugar, o drama da ingratidão (2 Tm 4.16). Paulo abre o coração para expressar o seu drama, a dor de ter

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Liderança Cristã enfrentado o tribunal romano e, na sua primeira defesa, ninguém ter sido a seu favor. Aquele que investiu sua vida para plantar igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor foi abandonado por todos. Quando ele mais precisou de um ombro amigo, todos o abandonaram a sua própria sorte. Deus, porém, o assistiu e o revestiu de forças para cumprir, através desse bandeirante da fé, a pregação aos gentios. Deus o livrou não da morte, mas na morte e o levou a salvo para o seu reino celestial. Ao Senhor, portanto, toda a glória!26

De fato, diante das adversidades que colocam diante do líder cristão em sua jornada, somente o Senhor pode sustentá-lo para prosseguir. Foi o que experienciou Paulo e tantos outros líderes da Bíblia. Como escreveu o salmista, "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia" (Sl 46.1 - ACF). Ele continua sendo nosso socorro e fortaleza em nosso dia de angústia, solidão, sofrimento e mesmo desamparo. CONCLUSÃO Nas palavras do próprio apóstolo Paulo, “Porque tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão”. Que possamos extrair para nossa vida,

26

Disponível em: <www.comunhao.com.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=5871:expe ri%C3%AAncias-dolorosas-de-um-homem-de-deus&Itemid=111> Acesso em 31 mai. 2013.

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Liderança Cristã para nossa liderança, os exemplos práticos e positivos que a Bíblia nos ensina e evitar os erros que cometeram aqueles que não exerceram boa liderança, como Saul, que tendo recebido de Deus o trono de Israel, optou por desobedecer a Deus, pecando contra Ele e perdendo por isso a liderança da nação (cf.: 1 Sm 13.13).

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Liderança Cristã

Exercícios do capítulo 3 Marque com C para Certo e E para Errado 1. (

)

A liderança não é uma questão de idade. A idade não tem nada a ver com a liderança. Em qualquer idade podemos exercer influência e o certo é que você é um modelo, queira ou não. Todos somos líderes em algum aspecto. Cada vez que influencia uma pessoa, você está assumindo a liderança.

2. (

)

Neemias é uma biografia de fato inspiradora para nós, hoje, em pleno século 21, embora ele esteja tão distante de nós no tempo.

3. (

)

A palavra “imitadores” em 1 Coríntios 11.1 não é boa tradução do texto grego. A melhor tradução seria “seguidores”.

4. (

)

A vida cristã não é um mar de rosas. Ser cristão não é viver numa redoma de vidro nem pisar em tapetes aveludados. Vida cristã é uma guerra sem trégua contra o mal; é uma luta sem pausa contra o pecado; é uma batalha contínua contra a carne, o mundo e o diabo.

5. (

)

Moisés foi exemplo de um líder da Bíblia que se dispôs a mudar sua administração.

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Liderança Cristã

4 A liderança na família “Como nunca antes a família necessita de liderança, e liderança que seja bíblica, liderança que seja pautada pelos princípios genuinamente cristãos, pois estamos vivendo tempos trabalhosos, tempos em que os valores são invertidos; a liderança cristã funciona na família como um antídoto que a preserva da deterioração moral de nosso tempo” (Roney Cozzer).

INTRODUÇÃO

O

antigo escritor das Assembleias de Deus Orlando Boyer começa seu inesquecível livro Toda a Família contando o seguinte fato: “Querido, está anoitecendo?" perguntou a velhinha de noventa e sete anos. Vendo o marido que ela estava morrendo, inclinou-se para responder: “Sim, Marta, está anoitecendo” No seu delírio, ela pensava achar-se, como no passado, com os seus queridos no culto doméstico, por isso insistiu: “Os filhos estão todos em casa?” “Sim, todos os filhos estão em casa, Marta”. O último fora chamado à casa celestial, havia três anos. Depois de algum tempo, ela continuou: “Vou já para casa, também”. “Sim, Marta, tu vais agora”. “E, tu, querido também irás?”“Sim, pela graça de Deus, irei!” Ela estendeu as mãos e, colocando-as ao 62


Liderança Cristã redor do pescoço do marido, fez com que ele se abaixasse ao seu lado, e balbuciou: “E ele fechará todos nós dentro”. De fato, esse é o querer de Deus: que toda a família esteja dentro de Sua vontade, dentro de Seu plano redentor, embora saibamos que nem sempre isso aconteça. Para que uma família possa manterse coesa e unida na presença do Senhor, a liderança precisa ser exercida dentro do lar com sabedoria, humildade e dedicação. 1. ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS À LIDERANÇA NO LAR Alguns fatores não podem ser relegados à um segundo plano quando o assunto é liderança na família. Consideremos alguns desses elementos: 1.1. Responsabilidade Vivemos em nosso tempo uma crise de responsabilidade, especialmente em relação à família. Responsabilidade é cumprimento do dever, é não transferir a outros o que nos compete fazer, é abnegação, é renúncia. A liderança do homem e da mulher no lar passam pelo quesito responsabilidade – é um item que não pode faltar. Responsabilidade é comprometimento com a causa. Responsabilidade é galhardia. No ambiente familiar a responsabilidade deve estar presente no cumprimento dos deveres. O homem no seu dever para com a família, como líder do lar; a mulher como auxiliadora do marido na manutenção do lar e na educação dos filhos e os

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Liderança Cristã filhos em cumprirem seus deveres, colaborando com os pais e os obedecendo. Podemos encontrar na Bíblia diversas passagens que relacionam as responsabilidades do marido, da esposa e dos filhos. Vejamos: a) Responsabilidades do homem, como marido e como pai: Ef 5.25; 6.4; Cl 3.19,21; 1 Pe 3.7. b) Responsabilidades da mulher, como esposa e como mãe: Ef 5.22-24; 6.4; Cl 3.18; 1Pe 3.1; Tt 2.3-5. c) Responsabilidades dos filhos: Êx 20.12; Dt 5.16; Ef 6.1-3. 1.2. Amor Não temos dúvida de que a liderança cristã, seja no ministério, seja na vida pessoal e seja na família, precisa ser pautada pelo amor. O amor, como elemento intrínseco da liderança cristã, engloba outras qualidades vitais para o exercício e êxito da liderança cristã. Quando a liderança é exercida com amor na família, ela é servil, isto significa dizer que o líder, a exemplo de Jesus, dispõe-se a servir os seus liderados, ele lidera pelos seus liderados, e isso vai contra o conceito secular de liderança tirana e hierárquica27.Também quando a liderança cristã na 27

Por liderança hierárquica, refiro-me aqui àquele modelo de liderança que tende a valorizar mais as pessoas em função da posição por ela ocupa, que incute na mente das pessoas que o valor de um indivíduo está atrelado à sua colocação

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Liderança Cristã família é exercida com amor ela é sacrificial, o que significa dizer que a exemplo de Cristo, o líder se dispõe a sofrer pela família. Quando a liderança na família é exercida com amor ela é também perseverante e paciente, não sendo movida por um impulso momentâneo e fugaz – ela é para a vida toda!Exerça você uma liderança de impacto e de solidez em sua família! 2. A LIDERANÇA DO HOMEM NO LAR Foi ao homem que Deus delegou o papel de exercer a liderança no lar, tendo ao seu lado a sua esposa. Essa liderança abrange vários aspectos: o homem deve ser um líder espiritual do seu lar, educando os seus filhos nos caminhos santos do Senhor e velando para que sua família esteja cercada dos males deste mundo, que jaz no Maligno (1 Jo 5.19). O homem deve exercer também o papel de líder na área financeira da família, cuidando para ser um bom administrador e jamais permitir que a renda da família venha ser empregada de maneira errada. Ele deve focar sempre no bem estar da família, na naquela hierarquia estabelecida. Sabemos pela Palavra de Deus que em Cristo, “... não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam” (Rm 10.12); em Cristo “não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Cl 3.12). Reconhecemos que há variedade ministérios, variedade de dons, variedade de personalidades, variedade de intelectos, variedade de funções no ministério cristão, etc., e nesse sentido a hierarquia é boa e necessária, e precisa sim ser respeitada. Mas cremos pela Bíblia que isso não nos torna melhores ou piores; mais uma vez repito: em Cristo somos iguais.

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Liderança Cristã medida do possível, visando a alimentação, vestuário, habitação, saúde e educação. Mas há homens que não agem assim no lar. Administram mau o dinheiro da família, administram mau o seu próprio salário, investindo a renda de maneira invertida: gastam em primeiro lugar com aquilo que não é prioridade ao invés de investir naquilo que será benéfico para toda a família. Nesse sentido, há homens egoístas, que chegam até a gastar o seu salário sem pensar em primeiro plano no bem estar da família como um todo. É claro que o homem precisa pensar em si também, mas não pode colocar seus caprichos pessoais antes da família. Vivemos também num tempo em que muitos homens (homens!?) chegam até a abandonar o lar, deixando os filhos e a despesa do lar sob os cuidados da mulher, que acaba tendo que levar sozinha esse fardo pesado. Os homens devem imitar a Cristo, que sendo o cabeça da Igreja a serviu com amor incansável e perseverante, ao ponto de dar a sua vida por ela. Que os homens de nosso tempo possam colocar seus olhos em Cristo, imitando-o em seu viver diário. O homem, como líder na família, lidera a esposa e lidera os filhos e, em famílias maiores, lidera outras pessoas também. Como pai, o homem exerce uma liderança que é fundamental para a formação de seus filhos. Infelizmente, nosso tempo, marcado pelo sexo sem compromisso, tem presenciado o surgimento de uma geração de “filhos sem pais”. Mas o cristão, temente a Deus, que ama e cuida de seus filhos,

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Liderança Cristã procura conduzi-los com sabedoria na proteção e aconchego do ambiente familiar. O ser humano, até de modo instintivo, precisa de referenciais positivos. Infelizmente, a Pós-moderna, como a “era do espetáculo”, elege “referenciais” minimamente questionáveis. Vemos multidões aglutinando-se para ouvir e seguir pessoas que não fazem parte do seu cotidiano, das suas vidas e que as influenciam de longe, de modo impessoal e pior, negativamente. A Pós-modernidade tem elegido pessoas “referências” sociais que, o que mais sabemos sobre essas pessoas, é que elas são famosas. Muito pouco ou quase nada sabemos sobre elas. No máximo, conhecemos os resultados de seu talento. Precisamos resgatar a verdade de que as mais poderosas influências sobre nós vêm daquelas pessoas anônimas, sem recursos financeiros em muitos casos e que por vezes sequer gozam de uma posição social privilegiada, mas cujas vidas conhecemos, cujo exemplo nos toca e cujo amor nos alcança. Quem poderá medir a profundidade do impacto sobre nós, gerado por um pai e uma mãe dedicados e amorosos? Sem dúvida, carregaremos conosco, e até o fim de nossas vidas, os exemplos e conselhos dessas pessoas tão fundamentais em nossas vidas. Nosso tempo, a Pós-modernidade, presencia de modo até acelerado, a decomposição da figura masculina. Valoriza-se muito o sexo, a promiscuidade, a infidelidade conjugal masculina, mas há uma perca da identidade masculina e, por

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Liderança Cristã que não dizer, da liderança masculina. A figura do homem responsável, que constrói laços profundos, que assume a paternidade e a conjugalidade vem diluindo-se, infelizmente. É grande o número de progenitores, mas pequeno o número de pais de fato. É grande o número de “garanhões”, pequeno o número de companheiros, de homens que cuidam de uma mulher durante a vida. No Novo Testamento lemos a respeito do papel do homem em relação à mulher no lar: ele deve amála assim como Cristo amou a Igreja e por ela se entregou (cf.: Ef 5.25). Na Pós-modernidade várias estruturas e instituições sociais estão derretendo, e não é diferente com relação à figura masculina. Não que estejamos aqui insistindo que o homem contemporâneo deva ser parametrizado por aquele modelo patriarcal, machista e austero. Não se trata disso. O que defendemos aqui é que o homem, no melhor sentido do termo “homem”, é aquele que se comporta varonilmente, isto é, com coragem, com honra, com dignidade, com ética, com esforço e que possui uma palavra que merece crédito, confiança. Uma identidade construída sob duplicidade de caráter, de maucaratismo e egoísmo jamais poderá atender aos requisitos acima, de varonilidade. À luz da Palavra, contudo, pode o homem resgatar sua identidade masculina e orientar seu comportamento conforme preceitua o ensino do Novo Testamento. Em 1 Coríntios 16.13 lemos a recomendação do apóstolo Paulo: “Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e

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Liderança Cristã fortalecei-vos” (ACF). A Nova Versão Transformadora (2016) traduz assim o mesmo versículo: “ Estejam vigilantes. Permaneçam firmes na fé. Sejam corajosos. Sejam fortes”.28 Craig S. Keener comenta o seguinte a respeito desse versículo: Parte da exortação de Paulo aqui seria adequada em um contexto militar. “Sejam homens” (NVI) em geral significava “portai-vos corajosamente” [...]. A expressão não conotava, necessariamente, masculinidade, embora fosse usada nesse sentido porque a maioria das pessoas, na Antiguidade, associava a coragem à masculinidade.29

Na Palavra de Deus encontramos orientação suficiente para a constituição da subjetividade masculina ideal no indivíduo e para a formação do homem que exercerá de maneira positiva e saudável a sua liderança no lar. Não se trata de portar-se de modo autoritário e tirano para com a esposa e com os filhos. Longe disto, o homem exerce sua liderança no lar objetivando o bem coletivo de sua família e servi-la bem, trabalhando para a constituição saudável da subjetividade dos filhos e bem-estar da esposa.

3. A LIDERANÇA DA MULHER NO LAR A Bíblia é verdadeira quando afirma que a mulher sábia edifica o seu lar (Pv 14.1). Que poder tem uma mulher que conduz seu lar com sabedoria, paciência e articulação. A mulher que não 28

Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, 1 Coríntios 16.13. 29 KEENER, Craig S. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento. Trad.: José Gabriel Said. Thomas Neufeld de Lima. São Paulo: Vida Nova, 2017, 593.

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Liderança Cristã age egoisticamente na vivência familiar, mas que se conduz de forma altruísta e sincera, haverá de gerar incontáveis benefícios para si mesma, para o esposo e para os filhos. Nos papéis que desenvolve, sua liderança deve se fazer sentir de modo significativo e eficaz. 3.1. Como mãe Alguém já disse que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher, mas o autor da presente obra gosta de pensar que ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher! Isso pode muito bem ser aplicado à mulher em seu papel de mãe. O Doutor Russel P. Shedd, comentando a liderança de Moisés e a possível influência de sua mãe sobre ele, conta-nos o seguinte: Um estudo supervisionado pelo Fuller School of World Mission em Pasadena, na Califórnia, avaliou 900 líderes de igrejas do passado e do presente, na esperança de descobrir quais os comportamentos básicos que melhor podiam explicar sua eficiência. A primeira convicção desses líderes afirma que eles acreditam que a autoridade espiritual é um princípio básico do poder espiritual. Já que o impacto de uma vida flui do poder espiritual de um homem, é necessário esclarecer que aqueles que têm melhor servido a Deus são aqueles que têm vivido em relacionamento mais íntimo com ele. Moisés alimentou sua intimidade com Deus através da oração, da comunhão e da obediência. Sabemos muito pouco sobre a mãe de Moisés para tecermos comentários sobre o seu impacto na vida do filho. Podemos ter certeza, porém, que sua criatividade, livrando a vida de seu filho (Ex. 2.3,4), e a

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Liderança Cristã coragem que ela demonstrou aceitando a responsabilidade de criá-lo para a princesa egípcia, foram fatores primordiais na formação do caráter de Moisés. Será que podemos justificar a criação de um paralelo entre a mãe de Moisés e Susanna Wesley que teve um impacto no mundo através da influência que ela exerceu nos seus filhos, John e Charles Wesley, os fundadores do Metodismo do século XVIII, na Inglaterra? Os segredos da criação dos filhos de Susanna foram resumidos da seguinte forma: 1. Ela ensinou autoridade, pela sua reverência. 2. Ela ensinou domínio, pela sua satisfação. 3. Ela ensinou sucesso, pela sua criatividade. 4. Ela ensinou sofrimento, pela sua tolerância. 5. Ela ensinou responsabilidade, pela sua regularidade. 6. Ela ensinou disciplina, pela sua bondade. 7. Ela ensinou liberdade, pela sua lealdade. 8. Ela ensinou planejamento, pela sua determinação. 9. Ela ensinou propósito, pela sua fé. 10. Ela ensinou liderança, pela sua iniciativa. 11. Ela ensinou vitória, pelo amor. 12. Ela ensinou domínio, pela sua segurança. 13. Ela ensinou liberdade, pela sua virtude. 14. Ela ensinou responsabilidade, pela sua firmeza. 15. Ela ensinou alegria, pela sua alegria. É verdade que não podemos saber completamente como a mãe de Moisés demonstrou essas virtudes. Porém, podemos ter uma ideia de que as qualidades que o escolhido de Deus apresentara durante os quarenta anos de exaustivos desafios e tribulações, foram instiladas por um tipo de retaguarda que ele e os Wesleys receberam. Os primeiros sete anos de vida de uma criança são os mais cruciais na formação da sua

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Liderança Cristã personalidade. Será que as mães estão instilando qualidades de caráter bíblico em suas crianças? Qual a influência que a televisão e os filmes têm em nossos jovens? Será que eles estão sendo moldados para o serviço de Deus, líderes que guiarão a Igreja e as organizações cristãs para o próximo milênio de forma bem-sucedida?30

O papel da família é fundamental na formação do caráter cristão no indivíduo desde a primeira infância. Valores, crenças, conduta ética e maneira de reagir às demandas sociais são moldadas a partir do ambiente familiar e exercerão peso profundo por toda a vida adulta da pessoa. Daí a importância de que o lar seja orientado por uma cosmovisão cristã referendada, alicerçada e fundada na Palavra de Deus. A mãe pode contribuir muito neste sentido por ser ela a primeira e maior educadora dos filhos. 3.2. Como administradora do lar A palavra "administração" denota várias coisas. Indica que se pode levar as pessoas a agirem em favor de um objetivo comum, ou ainda, implica conseguir realizar e obter as coisas com auxílio de outros. O sentido da palavra também é "servir" e nos ajuda a pensar a questão da administração sob o prisma do Reino de Deus, e não conforme a tendência em muitas igrejas hoje, em que o administrador é visto como alguém sempre pronto a ser servido, e não como alguém que está 30

SHEDD, 2000, [s.p.].

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Liderança Cristã disposto a servir e que usa sua habilidade administrativa para servir a outros. Marcos registra que Jesus mesmo não veio para ser servido, mas "... para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10.45). Tais verdades a respeito da administração se aplicam muito bem ao ambiente familiar e ao papel da mulher como administradora do lar juntamente com seu esposo. Que poder tem a mulher que sabe conduzir com sabedoria seu lar! Sua influência poderosa contribui de modo significativo no sentido de consolidar a união na família, o equilíbrio nas finanças e a boa educação dos filhos. Ela pode - como visto acima conseguir que os membros da família desempenhem suas atividades juntos tendo em vista um objetivo comum. CONCLUSÃO Como lemos na introdução deste capítulo, o querer de Deus é que toda a família esteja dentro, dentro do projeto divino para a salvação. Ao folhearmos hoje os jornais, ficamos estarrecidos com os fatos que delimitam a nossa sociedade: violência a níveis astronômicos, inversão de valores, propagação de conceitos contrários à Bíblia e à família, desrespeito generalizado de adolescentes e jovens aos pais, aos professores e aos mais velhos. Acreditamos, pelos fatos, que essa crise começa na desestruturação familiar, na desagregação da família. Se temos famílias estruturadas, temos uma sociedade estruturada. Se temos famílias arruinadas espiritualmente, teremos uma igreja arruinada espiritualmente. Aqui vemos o 73


Liderança Cristã papel e a importância da liderança cristã na família como um elemento unificador entre os membros, entre marido e esposa e entre pais e filhos, isso, é claro, quando exercida dentro dos parâmetros aqui apresentados.

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Exercícios do capítulo 4 Marque com C para Certo e E para Errado 1. (

)

A responsabilidade é um elemento essencial para o exercício da liderança cristã na família.

2. (

)

Embora a responsabilidade na família seja um elemento indispensável, não encontramos na Bíblia referências à ela.

3. (

)

Quando a liderança na família é exercida com amor ela é servil.

4. (

)

Foi ao homem que Deus delegou a responsabilidade da liderança na família, e sendo assim, ele não necessita ter o auxílio da mulher, como esposa.

5. (

)

Alguém já disse que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher! Isso pode muito bem ser aplicado à mulher em seu papel de mãe.

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5 A liderança no ministério “Os líderes que trabalham com mais eficiência me fazem perceber que nunca dizem ‘eu’, não pensam ‘eu’. Pensam ‘nós’. Pensam na ‘equipe’. Entendem que seu serviço faz a equipe funcionar. Aceitam responsabilidade e não se evadem, mas ‘nós’ conseguimos o crédito. Há uma identificação (com frequência, um tanto inconsciente) com a tarefa e com o grupo. Isso é o que cria a confiança. O que capacita para conseguir que a tarefa seja feita” (Hans Finzel).

INTRODUÇÃO

F

alando sobre o líder cristão, ao analisar a “biografia” de Barnabé, o pastor e teólogo Hernandes Dias Lopes, comenta que “[...] ser líder é ser servo; ser grande é ser pequeno; ser exaltado é humilhar-se. Barnabé é o único homem da Bíblia chamado de bom. E por quê? É porque quase sempre, ele está investindo sua vida na vida de alguém. Em Atos 4.36,37 ele está investindo recursos financeiros para abençoar pessoas. Em Atos 9.27 ele está investindo na vida de Saulo de Tarso, quando todos os discípulos fecharam-lhe a porta da igreja não acreditando que ele fosse convertido. Em Atos 11.19-26, a igreja de Jerusalém o vê como o melhor obreiro a ser enviado para Antioquia e quando ele vê a graça de Deus 78


Liderança Cristã prosperando naquela grande metrópole, mais uma vez ele investe na vida de Saulo e vai buscá-lo em Tarso. Em Atos 13.2 o Espírito o separa como o líder regente da primeira viagem missionária. Em Atos 15.37-41, Barnabé mais uma vez está investindo na vida de alguém; desta feita na vida de João Marcos. Precisamos de líderes que sejam homens bons, homens que dediquem seu tempo e seu coração para investir na vida de outras pessoas”.31 A liderança ministerial que seja orientada sobretudo pelas Escrituras é altamente benéfica à vida da Igreja e se coloca como uma necessidade premente em nossos dias. Um dos fatores que tem provocado grande sofrimento ao ministério cristão é a presença de líderes comprometidos apenas com eles mesmos, que fazem da obra de Deus negócio pessoal e que ferem outras pessoas. Nossa oração é no sentido de que Deus levante líderes como Barnabé que sejam altruístas e solidários, pois é de líderes que necessitamos como Igreja. Como escreveu o já falecido Doutor Russell P. Shedd: “Liderança faz a diferença, por sinal uma grande diferença, pois ela oferece direção, molda o caráter e cria oportunidades”.32 Em mais este capítulo, o último deste livro, verificaremos quão importante é a liderança no ministério cristão e alguns elementos para os quais o líder cristão deve dar atenção. 31

LOPES, Hernandes Dias. O perfil de um líder cristão. Disponível em: <hernandesdiaslopes.com.br/2010/08/o-perfil-de-um-lider-cristaoexemplar/#.UajsQNI3uKI> Acesso em 31 mai. 2013. 32 SHEDD, 2000, p. 9.

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Liderança Cristã 1. O LÍDER CRISTÃO O líder cristão é alguém chamado por Deus para ocupar esta elevadíssima posição. O líder é aquele ou aquela que trabalhará justamente com o que acabamos de citar anteriormente: administração, gestão. E no que tange à obra de Deus, o líder geri não apenas recursos financeiros e materiais, mas ele pratica também gestão de pessoas. O líder por definição não é aquele que simplesmente dá ordens, mas sim aquele que trabalha junto; o líder não se distancia do grupo que lidera, mas está entre eles e para eles é um referencial; o líder é alguém que não apenas fala, mas faz; é aquele que é o exemplo maior por meio de seus atos. Na liderança cristã, o verdadeiro líder cristão procura seguir sempre o exemplo supremo, que é Cristo, e desse modo ele pode ser imitado por seus liderados. Vemos isso em Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11.1).33 A palavra “imitadores” é uma boa tradução, 33

Muitos cristãos têm visto nestas palavras de Paulo certo grau de arrogância de sua parte, quando ele orienta que os coríntios fossem seus imitadores. Seria tal orientação o reflexo de um caráter vaidoso? Há explicações possíveis para esta passagem do Novo Testamento que indicam outra verdade. E vale destacar que essa leitura de Paulo como alguém arrogante por ter escrito “sede meus imitadores” é, em grande medida, o reflexo de uma leitura anacrônica do texto bíblico por parte do leitor contemporâneo. Keener irá explicar que “[...] era comum citar a vida dos filósofos e de outros sábios como modelo” (KEENER, 2017, p. 574). Russell N. Champlin, por sua vez, indica que os coríntios não haviam convivido eles mesmos com Jesus e, portanto, Paulo agora se coloca como uma espécie de “modelo”, de modo que a ideia de arrogância ou supervalorização do próprio ego lhe era estranha. Trata-se na verdade de estimular entre os crentes o exemplo de Cristo (CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento

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Liderança Cristã melhor do que apenas “seguidores”, pois a ideia aqui transmitida é a de alguém que duplica um comportamento, um padrão de conduta. Paulo não está sendo arrogante, mas está, em outras palavras, dizendo que os coríntios devem imitá-lo porque ele mesmo é um exemplo prático de alguém que imita Aquele a Quem devemos imitar: Cristo! “Sigam o meu exemplo como eu sigo o exemplo de Cristo” foi a forma como a Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduziu este texto. Paulo é um exemplo secundário, Cristo o primário! Diante do exposto, cabe uma importante pergunta: Nossos liderados enxergam Cristo em nós? 1.1. O líder O líder cristão está entre aquelas pessoas que mais nos influenciam e nos marcam em nossa vida. Em nossa trajetória cristã, inegavelmente precisaremos de líderes que nos inspirem e nos motivem. O ser humano necessita de referenciais concretos de vida com Deus, de ética, de vida familiar. Champlin comenta acertadamente que “[...] é fato bem reconhecido que a fé cristã depende da crença em algum guia ou conselheiro espiritual, que se eleve com mais eficácia do que qualquer realidade meramente religiosa”.34 Falando sobre a importância do líder, John C. Maxwell afirma o

interpretado: versículo por versículo. vol. 4: 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios. São Paulo: Hagnos, 2002, p. 166). 34 CHAMPLIN, vol. 4, 2002, p. 166.

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Liderança Cristã seguinte: Deus é o Líder supremo e ele chama cada cristão para liderar outros. Ele podia ter organizado a sua criação de diversas maneiras. Ele escolheu criar o ser humano, que possui espírito e capacidade de se relacionar com ele, embora não seja forçado a isso. Quando o ser humano caiu em pecado, Deus poderia facilmente ter executado um plano de redenção que não incluísse pessoas pecadores no processo. Mas, ele nos chamou para participar e liderar outros, assim como nós o seguimos. Ele deixa isso claro desde o início: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio...” (Gênesis 1.16). Eu sinceramente acredito que tudo começa e termina na liderança. Com isso, quero dizer que, mais do que qualquer outra coisa, a liderança de qualquer grupo ou organização determinará seu sucesso ou seu fracasso. Você pode ver o impacto da liderança com frequência na Bíblia. No Israel antigo, quando o povo de Deus tinha um rei bom, tudo ia bem com a nação. Quando o povo tinha um rei mau, as coisas iam mal para todos. É por isso que as Escrituras ensinam que, sem uma visão, o povo perece (ver Provérbios 29.18). O chamado à liderança é um padrão constante na Bíblia. Quando Deus decidiu erguer uma nação para si, ele não chamou as massas. Ele chamou um líder: Abraão. Quando quis libertar o seu povo do Egito, ele não o guiou como um grupo. Ele levantou um líder para fazer isso: Moisés. Quando chegou a hora de entrar na Terra Prometida, o povo seguiu um homem: Josué. Sempre que Deus desejou fazer algo grandioso, ele chamou um líder para tomar a frente. Ainda hoje ele chama líderes para conduzir a execução de cada grande obra”.35 35

Disponível em: <www.vivos.com.br/437.htm>. Acesso em 10 jan. 2013.

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Liderança Cristã O líder no desempenho do seu trabalho precisa observar critérios importantes para o bom andamento da causa do Senhor. Ele pode aprender a liderar de várias formas: na própria prática da liderança, com os erros e acertos (seus próprios e dos outros), ouvindo conselhos de pessoas idôneas e comprometidas com Deus, ouvindo líderes cristãos mais experientes do que ele e acima de tudo, seguindo o Modelo do Senhor Jesus, o Maior Líder de todos os tempos, insuperável como Ele é. Apresentamos neste trabalho alguns pontos fundamentais para que haja uma boa relação entre líder e liderados, nos subtópicos a seguir. 1.1.1. O líder e a comunicação É fundamental que o líder cristão tenha boa comunicação, pois é através dela que ele transmite aos seus liderados as metas traçadas, o objetivo do trabalho que estão realizando juntos, a mensagem salvadora do evangelho de Cristo, as necessidades referentes ao grupo que lidera e outras informações vitais. Não é exagero afirmar que sem comunicação não pode haver liderança efetiva. Há líderes que pecam muito no quesito comunicação. Retrairse neste ponto é fatal para a liderança e, mormente para a liderança cristã. De partida, consideremos o que é a comunicação, um assunto de grande importância não apenas no âmbito da disciplina Liderança Cristã, mas em outras áreas da Teologia como Hermenêutica, Homilética, Teologia Pastoral (ou Poimênica), dentre outros ramos do saber. De partida, podemos afirmar que por comunicação não se tem em mente apenas a fala. A fala é na verdade um tipo ou um modo de comunicação. Observe a imagem a seguir: 83


Liderança Cristã A comunicação se baseia no seguinte tripé: Palavra

Expressão corporal

Tom de voz

Como você pode ver no gráfico acima, os três elementos da comunicação estão interligados um com o outro, trabalhando de maneira cooperativa. Se um faltar ou for inadequado, isto é, usado de maneira inadequada, a comunicação será deficiente. A palavra, no topo da pirâmide, refere-se aqui, no contexto do nosso estudo sobre Liderança, às palavras empregadas pelo líder. Tom de voz está relacionado à tonalidade da voz, nesse caso, podendo ser alta ou baixa, expressando ira ou calma, respeito ou desrespeito. Expressão corporal é a correspondência física do que você está comunicando – é um complemento e ao mesmo tempo o resultado da comunicação oral. A expressão corporal, ou linguagem corporal, também diz muito na comunicação. O líder deve estar atento, muito atento, para este tripé no sentido de usá-lo com sabedoria em relação aos seus liderados. Ele pode ter boa palavra, mas se usa a 84


Liderança Cristã expressão corporal de maneira negativa, com gestos físicos que indicam obscenidade, ira, revolta, etc., esta comunicação será deficiente. Mas também não adianta ter boa palavra, e ser frio na expressão corporal. Por exemplo, o líder que ao dialogar com um liderado não olha em seus olhos poderá passar à ele a impressão de que não está atendo ao que ele está falando. Como podemos ver, os três elementos que compõe a nossa pirâmide são fundamentais a uma boa comunicação, e a boa comunicação por sua vez é fundamental ao bom andamento desse processo contínuo chamado “liderança cristã”. Dada a importância do assunto “comunicação” em relação à Liderança, é importante determo-nos um pouco mais nele. Já foi escrito que a comunicação “[...] ocorre quando os eventos num dado lugar ou num dado momento estão intimamente relacionados com eventos num outro lugar ou num outro momento”.36 De forma prática, a comunicação pode ocorrer de diversas formas, inclusive pela forma escrita, como está acontecendo agora enquanto você lê este livro. “Comunicar” significa transmitir uma mensagem por meio de códigos comunicacionais que são comuns ao emissor e ao receptor. Você só consegue receber a mensagem comunicada nestas linhas porque o idioma português é comum a mim, autor, e a você, leitor. Do contrário, a comunicação aqui ficaria impedida. A esta altura podemos já perceber a importância de que esses 36

MILLER, George A. (org.). Linguagem, Psicologia e linguagem. Trad.: Álvaro Cabral. São Paulo: Editora Cultrix, [s.d], p. 07.

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Liderança Cristã códigos comunicacionais sejam claros para ambas as partes.37 Alguém já disse que a linguagem é uma fonte de mal entendidos, e isto é uma grande verdade. Quanto mais conhecidos forem os códigos comunicacionais para ambos os lados, mais precisa e eficiente será a comunicação, o que por sua vez, refletirá nas relações humanas, nos processos empresariais, na condução de um rebanho, enfim, nas diversas formas de interações humanas. Dito isto, podemos refletir sobre a importância da comunicação para o líder que, a todo tempo, depende dela para se fazer compreender e para levar seus liderados a compreenderem conceitos e processos fundamentais. George Miller, comentando sobre a relação entre comunicação e a Psicologia, afirma que a linguagem humana, uma das formas de comunicação entre as pessoas, pode ser usada para o “controle” das pessoas: A linguagem é, segundo todas as probabilidades, a técnica mais sutil e poderosa de que dispomos para controlar outras pessoas. Nada do que os psicólogos possam inventar em seus laboratórios é suscetível de influir tanto no controle das pessoas quanto esse instrumento familiar a que chamamos linguagem. A minha tese é muito simples, a saber: não é necessário pensar que todas as técnicas de controle são essencialmente maléficas ou imorais. Algumas delas são 37

Miller, comentando sobre o fato de que muitas vezes apenas o conhecimento gramatical por si só não é suficiente para o entendimento de determinadas frases, afirma o seguinte: “[...] para entendermos como as pessoas entendem a língua, devemos reconhecer que elas usam sua informação conceptual geral, assim como sua informação lexical específica” (MILLER, [s.d.], p. 13).

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Liderança Cristã absolutamente essenciais à existência da civilização, tal como a conhecemos.38

A linguagem na liderança precisa ser bem desenvolvida, um cuidado para o qual muitos líderes cristãos não atentam, infelizmente. Os prejuízos decorrentes para o exercício da liderança decorrentes desse descuido certamente são altos. Um fator muito importante para aprimorar a linguagem é ouvir aqueles que lhe ouvem. É receber deles esse feedback e assim procurar corrigir vícios. Refiro-me aqui não apenas aos cacoetes ou vícios de linguagem que praticamos, mas sim àqueles erros de ordem conceitual, relacionados ao tom de voz, às palavras que empregamos e à nossa linguagem corporal (lembre-se do triângulo que vimos anteriormente). Estamos destacando aqui a linguagem, mas convém lembrar que “[...] em sua forma mais ampla, o estudo psicológico da comunicação inclui não só o estudo da comunicação falada entre pessoas mas, também, as muitas espécies de comunicação não-falada que ocorrem constantemente quando as pessoas interagem”.39 O que se procura demonstrar neste trabalho é que a comunicação é abrangente e fundamental para a liderança. Neste tópico, em que refletimos sobre a pessoa do líder, nada mais importante que considerar a comunicação. No subtópicos a seguir, abordaremos a questão da motivação na liderança, e não é exagero afirmar que motivação se comunica, 38 39

MILLER in MILLER, [s.d.], p. 9. MILLER in MILLER, [s.d.], p. 9.

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Liderança Cristã portanto, os assuntos aqui mantêm certa relação. 1.1.2. O líder motivado e que motiva O líder cristão muitas vezes tem sob sua responsabilidade não apenas um grupo, mas um grupo que é composto por grupos menores, cada um em prol de uma atividade diferente, específica. Na igreja local isto é muito comum. O pastor da igreja, como líder cristão, tem sob sua liderança grupo de jovens, de senhoras, de senhores, obreiros, professores de Escola Bíblica Dominical e outros. É fato que estamos sujeitos ao desgaste emocional, físico e até espiritual dadas as circunstâncias que nos cercam no ministério: limitação financeira, falta de apoio e de visão de outros líderes a quem recorremos, percas pessoais e materiais, descaso de alguns para com a causa, adversidades as mais diversas, enfim, várias circunstâncias que nos encontram na caminhada. Mas é nesse momento que o líder cristão deve recorrer ao Senhor e renovar nele as suas forças. Temos um belo exemplo disso em 2 Crônicas 30, quando Davi, diante de uma situação extremamente adversa ao seu grupo de liderados e à ele próprio, toma uma importante decisão. Diz a Bíblia: “Davi muito se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no Senhor, seu Deus” (v. 6, grifo meu). Após isso, Deus concedeu-lhe a ele e a seus liderados importante vitória. Líder, reanime-se no Senhor, o Seu Deus! 88


Liderança Cristã Outro importante fato a respeito de uma liderança eficaz é que ela não apenas precisa motivar-se, mas motivar os seus liderados. A motivação é um elemento que não pode faltar no exercício da liderança e sua importância é inegável. John C. Maxwell e Les Parrot nos falam justamente sobre o valor da motivação. Os autores comentam que “[...] todos precisam de um estímulo de vez em quando” e acrescentam: “[...] Jamais subestime o poder das palavras de incentivo”.40 É interessante considerar que nas Escrituras por vezes encontramos palavras de ânimo, inclusive do próprio Deus falando ao homem. Em Josué temos certamente uma das passagens mais significativas nesse sentido. Ali podemos ler Deus falando ao líder Josué: “Seja forte e corajoso! Não tenha medo nem desanime, pois o Senhor, seu Deus, estará com você por onde você andar”.41 Imagine que palavra de motivação! A motivação exerce um impacto psicológico muito grande sobre nós. Maxwell e Parrot comenta: Motivação ajuda as pessoas que sabem o que devem fazer... a fazê-lo! Motivação ajuda as pessoas que sabem quais compromissos devem assumir... a assumi-los! Motivação ajuda as pessoas que sabem quais hábitos devem abandonar... a abandoná-los!

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MAXWELL, John C. PARROTT, Les. 25 maneiras de valorizar as pessoas: como fazer todos à sua volta se sentirem especiais. Trad.: Fabiano Morais. Rio de Janeiro: Sextante, 2007, p. 24. 41 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Josué 1.9.

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Liderança Cristã Motivação ajuda as pessoas que sabem qual caminho devem seguir... e segui-lo!42

A motivação por parte da liderança é fundamental, pois os liderados por vezes precisam se deparar com situações as mais adversas que podem desmotivar. Não são apenas os líderes que enfrentam situações difíceis, mas os liderados também. O líder nessa hora pode contribuir muito para os seus liderados no sentido de fazê-los caminhar, avançar e prosperar. O líder pode levar seus liderados a se sentirem admirados, quando há uma tendência geral de os líderes buscarem admiração para si. O líder cristão eficaz usa palavras de incentivo e dá atenção, demonstra empatia pelas pessoas e dá encorajamento. Antes de avançarmos para o próximo assunto, vale considerar ainda a relação entre comunicação e motivação. São assuntos que tem relação vital no exercício da liderança. Miller, já citado, comenta que dentre as formas de comunicação que poderiam ser estudadas na Psicologia, “[...] a comunicação falada entre pessoas é a espécie mais interessante de comunicação e, provavelmente, a mais importante”.43 Curiosamente, nos processos gerenciais, eclesiais, sociais, etc., acontece da comunicação ficar bloqueada por alguma razão. Dificuldade de relacionamento, questões atreladas a temperamento, a incapacidade de ouvir o outro, dentre outros fatores possíveis, podem entravar a 42 43

MAXWELL. PARROT, 2007, p. 24. MILLER in MILLER, [s.d.], p. 10.

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Liderança Cristã comunicação. E comunicação bloqueada é sinal de desmotivação na certa. Uma coisa influi na outra. O diálogo empregado com graça e sabedoria pelo líder é fundamental para incentivar o liderado. E diálogo não é só falar, não é impor e não é autoafirmação. Diálogo consiste de um ir e vir muito saudável, em que ambos os falantes-ouvintes compartilha conhecimentos e experiências que possibilitam crescimento a ambos. A utilização da comunicação, nos termos em que estamos salientando aqui, requer dedicação de tempo ao diálogo e interação com as pessoas. Infelizmente, temos convivido com “líderes” mandatários, que gostam da “imunidade do púlpito” e fogem do sentar-se à mesa com seus liderados. Um líder que esteja realmente disposto a valorizar a comunicação precisa despender tempo com as pessoas, ser capaz de ouvi-las também e compreendê-las. O líder só será capaz de comunicar com eficácia se entender bem os códigos comunicacionais de seus liderados, mas isso só será possível se ele investir tempo de qualidade neles. Assim, fale com seus liderados! Dialogue com eles e tenha sempre em mente que o ouvir é parte fundamental e gratificante do diálogo. 1.2. A liderança A liderança é o processo conduzido por um líder conjuntamente com seus liderados. Isso, claro, numa liderança que opera de modo inclusivo e participativo. Ela deve visar diversos aspectos, como por exemplo as mudanças nas 91


Liderança Cristã perspectivas de gestão de pessoas. A liderança, em nosso tempo, assim como outras práticas, é também muito versátil e dinâmica. Ela deve considerar sempre o fato de que a Igreja está inserida na sociedade, deve influenciá-la mas sente seus reflexos também. Nessa hora, algumas perguntas devem ser levantadas para que se realize uma liderança cristã eficaz e que esteja em constante interação com a realidade das pessoas: ▪ ▪ ▪ ▪

Quais mudanças a Igreja sofreu nas últimas décadas? Quais atualizações são necessárias? O modelo de liderança que minha denominação utiliza funciona de maneira efetiva? Agrega ou desagrega? A liderança que emprega-se em minha congregação local está centrada numa pessoa só ou visa a coletividade da igreja? Qual o perfil das pessoas que frenquentam os cultos em minha igreja, atualmente?

Estas e outras indagações auxiliam no sentido de melhorar esse processo de liderança no contexto eclesial, possibilitando assim uma revisão e consequente melhoramento da realidade que envolve os membros e a liderança. É importante que fique claro aqui que não se trata apenas de mera projeção de perguntas, mas a ideia é refletir sobre o ato de liderar e assim melhorá-lo. A liderança pode também ser definida como a habilidade e a arte de conduzir a equipe em tempos de crise e adversidades. No caso do líder cristão, significa conduzir a congregação ou o

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Liderança Cristã grupo que ele lidera em momentos de dificuldades. Aqui está, sem dúvida, uma grande verdade sobre a liderança. Nenhum líder cristão está imune a momentos difíceis e de grande incerteza. Todavia, já foi dito que os grandes navegadores devem sua fama às tempestades. As situações difíceis devem ser encaradas pelo líder não como o fim da sua estrada, mas como possibilidade de aprendizado e crescimento, crescimento seu e do grupo. A despeito dos muitos desafios que se colocam para ele, o exercício da liderança propicia também as grandes conquistas e vitórias, que glorificam a Deus e edificam pessoas. Moisés precisou lidar com a murmuração do povo, mas viu o Mar Vermelho se abrir. Jesus precisou enfrentar a traição de alguns de seus discípulos, mas seu trabalho com eles os converteu em apóstolos, homens extraordinários que impactaram o mundo. Liderar em momentos de conforto e conveniência é relativamente fácil, mas é a maneira como o líder se comporta nas horas difíceis que determinará a consolidação da sua liderança. Maxwell (2016) afirma que “[...] o fator determinante é a maneira como você age nas fases críticas de sua vida. São essas atitudes que definirão quem você é como pessoa e como líder”.44 Pode ser dito, sem exagero, que os momentos difíceis são também momentos de definição. A vida consiste de momentos bons e ruins, de altos e baixos, de elogios e críticas. A grande questão é como lidaremos com

44

MAXWELL, 2016, p. 34.

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Liderança Cristã esses fatos. Um ponto importante a ser destacado aqui é que quando o líder age com sabedoria em momentos de dificuldade, administrando bem recursos humanos e físicos, administrando bem as emoções, ele acaba por conquistar a confiança de seus liderados, que, obviamente, estão a observar seu comportamento. Naturalmente, a maneira como o líder trata os dilemas revela quem ele de fato é: Em geral, podemos usar máscaras e esconder quem verdadeiramente somos no dia a dia. Nos momentos de definição, porém, isso não é possível. Currículos nada significam. Não importa como trabalhamos o marketing pessoal. Imagem não quer dizer nada. Momentos de definição atraem holofotes diretamente para nós. Não temos tempo de dar explicação sobre nossos atos. Seja o que for que tivermos dentro de nós é mostrado a todos. Nesses momentos de definição, nosso caráter não é construído: ele é revelado! 45

Uma adversidade pode ser uma oportunidade para a consolidação do líder em sua posição de liderança ou para a sua queda definitiva, pode servir para unir mais a equipe ou dispersá-la. Tudo isso dependerá da maneira como o líder se comportará nessa hora. Outro ponto fundamental quando o assunto é liderança é a forma como o líder interage com seus liderados e os trata. Na Palavra de Deus encontramos orientação tanto em relação à maneira como o líder cristão deve proceder com os liderados, 45

MAXWELL, 2016, p. 36.

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Liderança Cristã como também encontramos ensino a respeito da forma como os liderados devem tratar o líder (cf.: 1 Tm 5 [onde o apóstolo Paulo traz uma série de instruções sobre como o jovem pastor Timóteo deveria portar-se com diversas classes de pessoas na igreja; Hb 13.17; 1 Pe 5.2). O líder verdadeiro procura treinar líderes secundários, aprende a ouvir seus liderados, a amá-los, a desenvolver uma liderança participativa em que os desafios e os méritos não são só seus. O líder cristão verdadeiro acompanha seus liderados em seu desenvolvimento pessoal. Alegra-se em ver seu desenvolvimento, por mais desafiador que possa ser acompanhar uma pessoa, quando sabemos que na maior medida, quem define seu progresso ou não é ela mesma. O verdadeiro líder cristão, no relacionamento com seus liderados, precisa prezar pelo exemplo pessoal. Ele pode exercer uma profunda influência sobre eles na medida em que demonstra com sua vida prática que ama a Deus e a Sua Igreja, que é íntegro, reto, justo e que trata as pessoas de modo imparcial. Uma das grandes tragédias para a liderança cristã é quando um líder (ou alguém na posição de liderança) não “encarna” a instituição e o grupo que lidera, quando sua conduta destoa totalmente do objetivo e finalidade do grupo que lidera. Shedd comenta o seguinte: Uma pessoa que incorpora o caráter de uma organização, e identifica-se com sua pessoa e vida, cumpre a chave da função da liderança. Tome Hudson Taylor como exemplo. Ele viveu intensamente, e deu vida à Missão no Interior da China, não só como fundador, mas como o missionário que exemplificou

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Liderança Cristã tudo que caracterizava a Missão. É claro, ele não estava fazendo mais do que Jesus tinha feito [...].46

O líder, mormente o líder cristão, deve ser “consumido” pelo projeto que lidera. Deve ser ele o entusiasta maior, do contrário jamais será capaz de realmente influenciar aqueles que estão sob sua liderança. 2. O LÍDER CRISTÃO E OS SEUS LIDERADOS Em liderança fala-se muito do líder, mas nem tanto dos liderados. Fala-se e escreve-se muito sobre o papel do líder e nem tanto do papel dos liderados. Mas são os liderados os responsáveis por tornar mais fácil ou mais difícil o processo de liderança, e mais fácil ou mais difícil a vida do líder em relação à eles. No contexto do ministério cristão, considerar o papel dos liderados é sobremodo importante. Os liderados exercem importante papel na vida do líder, pois o líder só é líder em função deles. São eles que “moverão” o processo encabeçado pelo líder. Não pode haver líder e nem liderança se os liderados não existirem. Na liderança cristã, os liderados devem atentar para algumas recomendações tendo em vista o bom andamento da Obra de Deus. Veremos a seguir algumas dessas recomendações aos liderados.

46

SHEDD, 2000, p. 78.

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Liderança Cristã 2.1 Serem submissos A ideia de submissão na sociedade está muito atrelada ao conceito de inferioridade – “ser submisso é ser inferior”. Mas tal conceito consiste de um grande equívoco. Ser submisso é aceitar uma missão, é colaborar para a ordem e bom desenvolvimento de um propósito comum, que tem o líder com o orientador e facilitador no processo da liderança. A Bíblia alerta-nos nesse sentido: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hebreus 13.17 – a palavra “guias” aqui é uma referência a líderes, nesse caso, pastores). Note que interessante expressão bíblica: fazer gemer os nossos líderes não é aproveitável nem a nós mesmos! 2.2 Serem ativos no projeto Há liderados que não “abraçam” o projeto pelo qual lutam e se esforçam o líder e o grupo. O líder propõe um trabalho de evangelismo, mas não pode contar com o esforço e colaboração de seu liderado – é um problema crônico, pois o líder sozinho nada poderá fazer. A participação ativa do liderado é indispensável. Repare que há pessoas que são muito boas para indicar falhas no processo e sempre prontas a atribuir responsabilidades a outros, mas nunca assumem para si mesmas os desafios do

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Liderança Cristã processo. Elas nunca se colocam a disposição para ajudar de alguma forma e contribuir de modo direto para corrigir o que necessita ser corrigido. Há pessoas na igreja que se comportam como telespetadores, como observadores apáticos, quando sua postura deveria ser outra. Elas deveriam se comportar como pessoas que fazem parte do projeto, pois sentindo-se parte do projeto elas assumem para si responsabilidades e deveres, e também as alegrias das conquistas obtidas. Não negamos o fato de que há líderes que, infelizmente, contribuem para impedir os liderados de assumirem para si esse sentimento de participação ativa no projeto. Líderes centralizadores e que tratam a obra de Deus como fonte de benesse pessoal, naturalmente vão impedir os liderados de participarem mais ativamente. Mas quando o líder entende a importância de valorizar seus liderados e delegar responsabilidades a eles, o processo tem muito a ganhar e os liderados devem aproveitar para se engajar no ideal comum. 3. ERROS QUE O LÍDER CRISTÃO DEVE EVITAR Passaremos a considerar neste tópico alguns pontos fundamentais em relação à postura do líder diante do grupo que conduz. É natural que o líder cometa erros, assim como os liderados também cometem erros, mas não é natural que ambos permaneçam nestes mesmos erros. Em nossa caminhada encontramos dificuldades e muitas vezes nos achamos em aperto sobre que decisão tomar. Professor Esdras 98


Liderança Cristã C. Bentho, em seu livro Hermenêutica Fácil e Descomplicada (2005), faz uma preciosa declaração que podemos aplicar muito bem aqui: “Na falta de saber qual é o caminho, caminhar por trilhas seguras ainda continua sendo a melhor forma de se seguir à frente”. Queremos nesse momento, compartilhar com o leitor que potencialmente pode ser um líder ou talvez já o seja, algumas orientações fundamentais para o exercício de uma boa liderança, orientações que não temos dúvida: são “trilhas seguras”. A seguir, consideraremos alguns erros a serem evitados pelo líder em relação aos seus liderados. 3.1. A arrogância Aqui está um erro gravíssimo cometido por muitos que estão em posição de liderança. A arrogância tem o poder de afastar do líder bons liderados e bons parceiros. Conviver com pessoas arrogantes é muito difícil e até insuportável em alguns casos. A arrogância também pode cegar o líder, levando-o a cometer erros grosseiros e prejudicar outras pessoas envolvidas no processo. Conta Alexandre Rangel, em seu livro O que podemos aprender com os gansos, o seguinte caso: Dizem que em 1995 houve o seguinte diálogo entre um navio da Marinha americana e as autoridades costeiras do Canadá. Os americanos começaram educadamente: - Favor alterar seu curso 15 graus para o norte, para evitar colisão com nossa embarcação. Os canadenses responderam de pronto:

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Liderança Cristã - Recomendo mudar seu curso 15 graus para o sul. O americano ficou mordido: - Aqui é o capitão de um navio da Marinha americana! Repito, mude seu curso. Mas o canadense insistiu: - Impossível. Mude seu curso atual. O negócio começou a ficar feio. O capitão americano berrou ao microfone: - Este é o porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior da frota americana no Atlântico! Estamos acompanhados de três destroyers, três fragatas e numerosos navios de suporte. Eu exijo que vocês mudem imediatamente seu curso 15 graus para o norte, do contrário tomaremos contramedidas para garantir a segurança do navio. E o canadense respondeu: - Impossível, repito: aqui é um farol... Câmbio! Às vezes nossa arrogância nos faz cegos... Quantas vezes não insistimos em criticar a atitude dos outros, quantas vezes não exigimos mudanças de comportamento nas pessoas que vivem perto de nós, quando na verdade nós é que deveríamos mudar nosso rumo?47 47

RANGEL, Alexandre. O que podemos aprender com os gansos. São Paulo: Editora Original, 2003, pp. 139,40.

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Liderança Cristã Este interessantíssimo incidente (que poderia ter se transformado numa catástrofe) ensina-nos uma preciosa lição: quando agimos com arrogância podemos pensar e agir precipitadamente. Esse relato se aplica muito bem à vida do líder cristão. Uma característica marcante do líder cristão, que ele deve possuir, é ser humilde. Temos no grande líder Moisés um notável exemplo de humildade. Em Deuteronômio 1.9 lemos esta impressionante declaração de Moisés: “Em seguida Moisés disse ao povo: — Quando ainda estávamos ao pé do monte Sinai, eu lhes disse: “Eu sozinho não posso cuidar de vocês” (na Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Veja que exemplo memorável de humildade partindo de um líder ímpar na história de Israel. Moisés profere essas palavras em seu discurso ao povo e o que poderia ser um sinal de fraqueza da parte do líder, foi na verdade uma demonstração de humildade e o reconhecimento de que ele possuía limitações como homem. Lembremo-nos das palavras de Cristo em Lucas 22.25,26. Um ponto muito importante a ser destacado aqui é que a arrogância é aquele sentimento que supervaloriza o “eu”, o próprio ego, e no caso do líder, acaba por embaçar a sua visão no sentido de enxergar aqueles e aquelas que contribuíram para que ele construísse sua própria liderança. Comentando sobre alguns fatos a respeito do topo, John C. Maxwell afirma o seguinte: Poucos líderes alcançam o sucesso sem o trabalho de muita

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Liderança Cristã gente. Nenhum líder é bem-sucedido se não contar com ajuda. Infelizmente, assim que chegam ao topo, alguns líderes perdem tempo tentando empurrar para baixo os que estão lá. Bancam os reis da cocada preta por insegurança ou medo da competitividade. Isso pode até dar certo por algum tempo, mas geralmente não dura muito. Derrubar prováveis adversários é algo que consome tempo e energia demais, e quem faz isso se preocupa com gente que provavelmente está fazendo o mesmo. Em vez disso, por que não estender a mão a essas pessoas para que subam e propor a elas que se juntem a você no topo?48

No contexto eclesial, o ensino compartilhado por Maxwell acima é muito valioso. A Igreja brasileira tem convivido com líderes que encaram talentos na casa de Deus como ameaças, e agem de modo a sufocar essas pessoas que poderiam receber ajuda e investimento por parte da liderança eclesial. Esses liderados, se corretamente trabalhados e apoiados, podem tornar-se líderes notáveis também e contribuir de modo muito significativo para o Reino de Deus. Estabelece-se no contexto cristão um clima de rivalidade e praticam-se boicotes ministeriais, de modo muitas vezes velado (psicologicamente) e algumas vezes, de modo aberto mesmo. O verdadeiro líder cristão, contudo, movido pela graça de Deus e seguro de sua chamada e vocação, não encara seus liderados como ameaças, mas procura trazê-los à posição em que ele mesmo se encontra. O verdadeiro líder cristão não pensa apenas no cargo. Só age 48

MAXWELL, 2016, p. 18.

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Liderança Cristã assim o líder que idolatra seu próprio cargo e as benesses que ele lhe proporciona. Sabemos que esse tipo de líder é recorrente nas igrejas evangélicas, mas devemos entender que esse tipo de liderança é medíocre e não deve jamais ser levada adiante. O verdadeiro líder cristão gera outros líderes, preparando-os de maneira adequada. O verdadeiro líder cristão pratica uma liderança que é compartilhada, altruísta e solidária. 3.2. Visão pequena, sem amplitude É muito triste e altamente prejudicial quando um líder tem visão pequena, atrofiada, limitada. O líder não deve jamais acomodar-se ao “assim está bom”, a “vida é assim mesmo”, ao “isso não vai mudar nunca!” e a outras ideias que refletem na verdade formas de acomodação, conformismo, tranquilidade e indisposição para mudar quando necessário e de dar novos passos. Liderança implica provocar os liderados a uma ação positiva, a uma mudança, quando ela se faz necessária de fato. Veja que exemplo formidável temos em Eliseu: “Disseram os discípulos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos contigo é estreito demais para nós. Vamos, pois, até ao Jordão, tomemos de lá, cada um de nós uma viga, e construamos um lugar em que habitemos. Respondeu ele: Ide. Disse um: Servete de ires com os teus servos. Ele tornou: Eu irei. E foi com eles....” (2 Reis 6.1-4a). O texto revela-nos que o local onde Eliseu estava com os discípulos dos profetas havia ficado 103


Liderança Cristã pequeno e era necessário um local maior, um abrigo maior. Interessante notar que a iniciativa de construir um local maior parte dos liderados e não do líder, nesse caso, Eliseu. Observemos, contudo, algumas atitudes em Eliseu que denotam um líder que tem visão ampla, grande e que não se furta ao crescimento e à expansão: “Respondeu ele: Ide... Eu irei”. Eliseu em primeiro lugar reconhece que a solicitação era legítima, necessária. Em segundo lugar, ele incentiva seus liderados a fazerem o que era necessário: “Ide”. Em terceiro lugar, Eliseu não apenas reconhece e não apenas incentiva, ele mesmo vai! Em outras palavras, Eliseu colocou a mão na massa também, como líder que está integrado ao grupo que lidera. Maxwell afirma o seguinte: Os líderes raramente ficam muito tempo parados. Eles estão em constante mudança. Às vezes, estão descendo a montanha para descobrir novos líderes em potencial. Em outras oportunidades, estão na escalada com um grupo de pessoas. Os melhores dedicam a maior parte de seu tempo servindo outros líderes e levando-os para o alto. Jules Ormont afirmou: “O grande líder nunca se coloca acima daqueles que o seguem, a não ser quando se trata de assumir responsabilidades”. Bons líderes que mantêm a interação com seu pessoal estão sempre se inclinando: é a única maneira de estender a mão para baixo a fim de puxar os outros para cima. Se você deseja ser o melhor líder possível, não permita que a insegurança, a mesquinhez ou o ciúme o impeçam de ajudar outras pessoas. 49

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MAXWELL, 2016, p. 20.

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Liderança Cristã O líder que age assim com certeza tem visão ampla, e está disposto a crescer mais e levar pessoas consigo. O líder que tem visão ampla tem atitude e disposição para ir em direção à realização. Sei de um caso interessante que ocorreu numa dada igreja local. Uma irmã havia perdido sua casa numa forte chuva e houve uma reunião de obreiros para discutir como a igreja poderia ajudá-la. O líder da igreja, nesse caso, o pastor, propôs aos obreiros construir as bases da casa, pelo menos, para a irmã poder recomeçar sua vida. Mas a verdade é que essa irmã não poderia dar continuidade e terminar a casa, dada a sua condição financeira. Sabendo disso, um dos obreiros manifestou-se e disse: “Pastor, nós não vamos fazer apenas as bases, vamos fazer a casa toda!” Aquela palavra foi decisiva e o pastor apoiou. A casa, embora simples, foi de fato construída e entregue à irmã. 3.3. Não reconhecer quando erra Disse o célebre escritor britânico evangélico C. S. Lewis: “Não há nada de progressista em ser um cabeça-dura que se recusa a admitir o erro”. Pensemos nisso! O líder cristão é humano e portanto passível de erro. Mas podemos aprender com os nossos erros. Quando Thomas Edison (1847-1931) inventou a lâmpada, ela não saiu logo à primeira tentativa. Edison realizou mais de mil experiências até ao ponto de um dos seus colaboradores que trabalhava na sua oficina perguntar-lhe se ele não desanimava com tantos fracassos, ao que Edison teria respondido: “Fracassos? Não sei do que falas, em cada 105


Liderança Cristã experiência descubro um dos motivos pelo qual a lâmpada não funciona. Agora sei mais de mil maneiras de como não fazer a lâmpada”. Uma questão de perspectiva do fracasso ou da força de vontade. A 21 de Outubro de 1879 Edison realizou a primeira demonstração pública da lâmpada perante três mil pessoas reunidas em Menlo Park (Califórnia, EUA). Essa lâmpada brilhou durante 48 horas ininterruptamente. A ideia que quero transmitir ao leitor com esta narrativa não é a de que ele deve errar continuamente para aprender, isto é, cometer os mesmos erros continuamente, mas mudar sua postura diante do erro, como Thomas Edison, que mudou mais de mil vezes até chegar ao ponto almejado. Por mais óbvia que esta verdade possa parecer ser, o fato é que temos convivido com líderes teimosos que insistem em modelos obsoletos, não relacionais, algumas vezes até desumanos e nunca se dispõem a mudar. Maxwell (2016) nos aconselha a permanecermos atentos tanto aos fracassos quanto aos aspectos negativos do sucesso: Assim como o fracasso, o sucesso pode ser bem perigoso. Sempre que alguém passa a se considerar “um sucesso”, começa a se apartar das outras pessoas que classifica como “menos bem-sucedidas”. Passa a acreditar que não precisa de sua companhia, por isso se afasta delas. Ironicamente, o fracasso também leva a esse distanciamento, mas por outras razões. Se você se considera “um fracasso”, começa a evitar os outros porque não quer mais ver ninguém. Esses dois extremos podem criar um isolamento que não é nada

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Liderança Cristã saudável.50

O erro é parte do processo de liderança, mas ele pode ser encarado pelo líder como uma “plataforma” de lançamento para ações mais maduras, mais serenas, mais pensadas e que haverão de produzir resultados mais satisfatórios. Há líderes que se frustram diante de erros pessoais, mas prosseguir é preciso. 4. MODELOS DE LIDERANÇA A SEREM EVITADOS Vejamos a seguir alguns modelos de liderança que devem ser evitados por todo aquele que deseja exercer uma boa e positiva liderança sobre a equipe que lidera, sem imposição, mas por conquista. 4.1. O líder autocrata A palavra “autocrata” aponta para um “soberano absoluto e independente” (Aurélio). Alguém que pensa ser independente dos outros, não necessita de ajuda para liderar. Infelizmente, encontramos esse modelo de liderança em nossas igrejas. O líder que segue esse modelo é aquele que não confia nos seus liderados, não partilha as oportunidades e responsabilidades com eles. O líder autocrata procura centralizar toda a direção da igreja em torno de si mesmo. O líder autocrata é aquele que usa aquelas famosas frases autoritárias: 50

MAXWELL, 2016, p. 21.

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Liderança Cristã ▪ ▪ ▪ ▪

“Eu é que estou mandando!” “Porque eu quero assim...”; “Quem manda aqui sou eu!”; “Essa igreja é minha”.

O líder autocrata definitivamente não ama seus liderados. Chego a concluir que amar os liderados e assumir o perfil de liderança autocrática são duas ações autoexcludentes. Mais uma vez recorremos a Maxwell que nos ensina que é necessário compreender que os relacionamentos são vitais à liderança: Os melhores líderes sabem que liderar pessoas pressupõe amá-las também! Líderes menos capazes assumem a atitude oposta, dizendo: “Eu amo a humanidade; o que estraga são as pessoas!” Mas os bons líderes compreendem que as pessoas não se importam com o quanto você sabe até saberem quanto você se importa com elas. É preciso amar as pessoas, caso contrário você nunca lhes agregará valor. E, se você se tornar indiferente a elas, pode estar a apenas alguns passos de se tornar um manipulador. Nenhum líder deve fazer isso. Jamais.51

O grande problema desse tipo de liderança é que ela ignora o fato de grandes realizações e conquistas não são feitas de modo solitário quando o assunto é liderança, mas sempre em equipe. Uma pessoa só jamais superará a equipe. Ninguém é tão bom

51

MAXWELL, 2016, p. 21.

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Liderança Cristã assim. E deve ser lembrado ainda que o próprio líder não chegou na posição de liderança de modo solitário. Ele foi ajudado. Do contrário, pode até ser afirmado que aquele ou aquela que chegou ao topo sozinho(a) fez algo errado no caminho.52 Numa igreja local, o pastor ou outro tipo de líder que assume a postura autocrata é aquela pessoa que, geralmente, quer que as pessoas trabalhem para ela e não trabalhem com ela. O líder autocrata não inclui seus liderados na visão e no projeto, apenas procura usá-los. É de fato uma tragédia! Numa igreja coesa, conduzida por um líder cristão com perfil democrático, as pessoas, cada uma em seu papel, é importante e sua contribuição é valorizada. Trata-se de liderar contando com o apoio e ajuda de todos. 4.2. O líder equivocado O problema maior não é equivocar-se; equivocar-se é parte do processo de liderança. O erro mais grave é insistir no equívoco e não se abrir à possibilidade de rever sua liderança e rever suas ações. O líder que na verdade não é bem um líder, no melhor sentido da palavra, pois ele é inseguro quanto à sua chamada, fica deslocado nessa função. É inseguro quanto à sua posição e teme perde-la. Esse tipo de líder acaba sendo um problema para a igreja, pois ele mesmo acaba por transmitir insegurança para seus liderados, perdendo com isso a 52

MAXWELL, 2016, p. 22.

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Liderança Cristã confiança deles e desestabilizando a igreja. 4.3. O líder liberal É aquele que demonstra irresponsabilidade para com o grupo permitindo que tudo aconteça sem limites e sem ordem. Ele pensa que no final, tudo vai dar certo. Ele não traça metas, não dá diretrizes, não delega responsabilidades e com isso não impõe respeito aos seus liderados, ele não conquista o respeito e a admiração deles. Esse líder também é um problema para a igreja. 5. MODELOS DE LIDERANÇA A SEREM SEGUIDOS Há modelos que podemos e devemos seguir, procurando sempre nos aprimorar nesses modelos, ampliando-os e aperfeiçoando-os cada vez mais no nosso próprio ministério cristão como líderes. Vejamos alguns desses modelos positivos de liderança que devemos seguir: 5.1. O líder democrático Não devemos confundir o líder democrático com o líder liberal, explicado no tópico anterior. O líder democrático é aquele que reconhece o papel, a opinião e a posição de cada um de seus liderados no corpo de Cristo. Sendo assim, ele abre espaço, delega responsabilidades porque confia nos seus liderados e dá valor ao trabalho em equipe e dá valor à equipe! O líder democrático valoriza seus liderados, conta com eles e

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Liderança Cristã contribui para o desenvolvimento de suas habilidades e talentos. Não apenas lhes dá trabalho confundindo tal ação como uma forma de “apoio”. Isso não é uma maneira concreta de apoiar um liderado. Dar trabalho e não dar suporte ao liderado é apenas uma maneira de encaminhá-lo à frustração. O líder democrático, longe disto, dá espaço para o liderado trabalhar, mas o acompanha, está com ele, permite que ele erre e acerte e compartilha com ele suas próprias experiências objetivando orientá-lo da melhor forma possível. Maxwell comenta que no início de sua carreira como líder, tendo chegado ao topo, ele se sentia sozinho, mas afirma que procurou rever isso e sua visão mudou drasticamente: ▪ ▪ ▪ ▪ ▪

“Quem está no topo vive solitário”. “Se estou sozinho no topo, é sinal de que estou fazendo alguma coisa errada”. “Suba até o topo e fique comigo”. “Vamos chegar ao topo juntos”. “Não estou sozinho no topo”.53

A liderança democrática proporciona uma experiência maravilhosa ao líder cristão: permite que ele compartilhe o projeto com seus liderados. “Eu” nunca vencemos, mas sim, “nós” vencemos; “eu” nunca erro, mas sim, “nós” erramos. A liderança é, de certo modo, uma ação conjunta. A liderança democrática trabalha no sentido de explorar as potencialidades dos liderados. O líder precisa ser sensível para perceber os dons espirituais, naturais e as habilidades de seus 53

MAXWELL, 2016, p. 22.

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Liderança Cristã liderados a fim de aproveitar bem o trabalho e a contribuição deles. Há pessoas que são mal aproveitadas não porque não tenham capacidade, mas por estarem na função que não lhes compete. Costumamos brincar dizendo que há presbíteros que são excelentes diáconos e vice-versa. Eis uma verdade! 5.2. O líder carismático Aquele que tem “carisma” para com o grupo, isto é, ele cai na graça do povo. A palavra “carismático” deriva do grego (charis) e significa “fascinação”, “graça”. É um estilo positivo de liderança, mas que precisa de cuidados: não basta ser carismático, é preciso que haja o conjunto do que estamos considerando aqui, do contrário, esse modelo de liderança não será eficaz. E se você, líder, não tem um temperamento e uma personalidade que favoreça a construção de uma liderança carismática? O que fazer nessa hora? Continuar na antipatia sem dúvida não é a melhor saída. Observe o comportamento de pessoas carismáticas, aprenda com elas e peça dicas também. Você com certeza tem amigos que são populares e tem aquela impressionante habilidade de atrair pessoas para si. Fazem amizades com facilidade. Devemos aprender com essas pessoas, especialmente quando desejamos desenvolver uma liderança que seja democrática e carismática. É importante destacar aqui que não estamos, em hipótese alguma, fomentando a prática da bajulação, o que aliás representa uma deturpação do caráter. Bajuladores em geral 112


Liderança Cristã são pessoas com as quais precisamos ter cuidado. Em geral são egoístas. A bajulação na vida de um líder é algo altamente reprovável, pois o leva a ser seletivo em relação à sua equipe, à equipe que lidera, dando mais atenção a uns em detrimento de outros. O líder cristão equilibrado procura tratar a todos de modo igualitário, ainda que como qualquer ser humano, tenha relacionamentos mais profundos com alguns e nem tanto com outros. Isso é perfeitamente normal a qualquer pessoa, mas o líder cristão não age com duas medidas diferentes para com as pessoas e nem deixa de dar atenção e de investir por que fulano ou beltrano não é tão próximo. O líder cristão deve sempre pensar em como pode usar sua liderança para beneficiar as pessoas, sejam elas muito próximas, próximas ou mesmo distantes no que tange ao relacionamento pessoal. Nossa oração é que Deus continua levantando líderes assim em nossa nação, para conduzir o santo rebanho. CONCLUSÃO John McArthur em seu livro Deus, face a face com sua majestade, conta-nos a seguinte lenda: “Há uma antiga fábula sobre seis homens, cegos de nascença, que viviam na Índia. Um dia, eles decidiram visitar um palácio na vizinhança. Quando chegaram lá, havia um elefante em pé no pátio. O primeiro homem cego tocou o lado do elefante e disse: “Um elefante é como uma parede”. O segundo cego tocou sua tromba e disse: “Um elefante é como uma cobra”. O terceiro 113


Liderança Cristã cego tocou sua presa e disse: “Um elefante é como uma lança”. O quarto homem cego lhe tocou a perna e disse: “Um elefante é como uma árvore”. O quinto cego tocou a orelha e disse: “Um elefante é como um leque”. O sexto homem cego tocou-lhe a cauda e disse: “Um elefante é como uma corda”. Devido ao fato de cada cego ter tocado apenas uma parte do elefante, nenhum deles podia concordar a respeito de como um elefante era de fato”. Trazendo essa ilustração para o âmbito da liderança cristã, podemos entender quão importante é o líder cristão procurar ser o mais completo possível, observando os princípios bíblicos e de uma boa liderança que norteiam esse trabalho de conduzir pessoas. É importante conhecer o elefante por completo, e não apenas uma parte!

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Liderança Cristã

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Liderança Cristã

Exercícios do capítulo 5 Marque com C para Certo e E para Errado 1. (

)

“Os líderes que trabalham com mais eficiência me fazem perceber que nunca dizem ‘eu’, não pensam ‘eu’. Pensam ‘nós’. Pensam na ‘equipe’” – essa frase de Hans Finzel deve ser observada e seguida pelos líderes cristãos.

2. (

)

A comunicação se baseia no seguinte tripé: expressão corporal, palavra e tom de voz.

3. (

)

Em liderança fala-se muito do líder e muito pouco dos liderados. Mas são eles, os liderados, os responsáveis por tornar mais fácil ou mais difícil o processo de liderança, mais fácil ou mais difícil a vida do líder em relação à eles.

4. (

)

] O líder autocrata é aquele que compartilha com seus liderados as atividades, os deveres, as alegrias – é o líder que aceita opinião de seus liderados.

5. (

)

O líder liberal é aquele que tem “carisma” para com o grupo, isto é, ele cai na graça do povo. A palavra “carismático” deriva do grego (charis) e significa “fascinação”, “graça”. É um estilo positivo de liderança, mas que precisa de 116


Liderança Cristã cuidados – não basta ser carismático, é preciso que haja o conjunto do que estamos considerando aqui, do contrário, esse modelo de liderança não será eficaz.

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Liderança Cristã

Apêndice A IMPORTÂNCIA DA TEOLOGIA TESTAMENTO PARA O LÍDER CRISTÃO

DO

NOVO

INTRODUÇÃO

A

Teologia Bíblica, como outras disciplinas teológicas, é essencial ao ministério cristão. E isto por uma questão óbvia: a Bíblia é que rege a conduta e o exercício ministerial do líder cristão que de fato teme ao Senhor. A Igreja é serva da Bíblia, e não o contrário. É com isto em mente que entendi ser justificável incluir neste livro, que versa sobre Liderança Cristã, um apêndice que tratasse justamente a respeito de uma disciplina voltada exclusivamente ao estudo cuidadoso das Escrituras, mas infelizmente, pouco explorada pela Igreja, ainda. A Teologia Bíblica lida diretamente com a origem, formação e conteúdo dos livros bíblicos. É a disciplina que busca decifrar a mensagem de cada livro bíblico no contexto em que ela é produzida e transmitida. Compreender questões como essas é essencial para a qualidade do ensino e da pregação. Infelizmente, existe grande negligência no que tange ao conhecimento das Escrituras por parte da liderança eclesiástica no Brasil. Uma área de conhecimento como a Teologia Bíblica se coloca como uma rica fonte de informações que permitem a

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Liderança Cristã construção de uma Hermenêutica melhor, e de homilias mais contundentes do ponto de vista bíblico. O enfoque do presente estudo recai sobre a Teologia do Novo Testamento, apresentando, de maneira sintética, alguns aspectos essenciais dessa ciência de vital importância à Academia teológica e à Igreja. De partida, pode ser mencionada a importante contribuição que a Teologia Bíblica pode dar no sentido de corrigir os excessos cometidos pelo confessionalismo e denominacionalismo, tão presentes no cenário evangélico brasileiro, que por vezes “impõe” ao texto bíblico sentidos que não são compatíveis com o que a Bíblia realmente está dizendo. Usa-se o texto bíblico até de modo leviano, em alguns casos extremos, para legitimar práticas, ritos e convenções que na verdade são denominacionais, culturais ou confessionais. O estudo sério da Teologia Bíblica contribui para o clareamento do sentido das Escrituras e para que se aplique de modo correto e coerente a mensagem bíblica na vida da Igreja, sem necessariamente desrespeitar tradições cristãs e usos e costumes estabelecidos em cada contexto denominacional. 1. O QUE É TEOLOGIA BÍBLICA A Teologia Bíblica pode ser entendida como o estudo dos livros bíblicos e sua mensagem no que tange à sua formação em seu ambiente histórico. E vale destacar ainda que a Teologia Bíblica está preocupada sim em entender a revelação contida nas Escrituras, trilhando caminhos exegéticos para 119


Liderança Cristã alcançar uma compreensão adequada dessa revelação. A Teologia Bíblica não necessariamente precisa ser entendida como um esforço acadêmico que ignore o fato de que Deus se deu a conhecer ao homem através das Escrituras. Não podemos negar, contudo, que por vezes o dogma sobrepuja uma compreensão séria e adequada do texto bíblico, o que sem dúvida representa um problema a ser superado. A Teologia Bíblica presta um relevante serviço ao entendimento da Bíblia quando “rompe” com o dogma da Igreja que limita a pesquisa científica em torno do significado dos textos bíblicos. George E. Ladd (2001) comenta o seguinte: Durante a Idade Média, o estudo bíblico esteve completamente subordinado ao dogma eclesiástico. A teologia da Bíblia foi usada apenas para reforçar os ensinos dogmáticos da Igreja, os quais eram fundamentados na Bíblia e na tradição da Igreja. Nesse período, não apenas a Bíblia, entendida sob uma perspectiva histórica, mas a Bíblia como interpretada pela tradição da Igreja foi considerada como a fonte da teologia dogmática.54

Esse caráter bíblico da disciplina Teologia Bíblica, dá a ela certa isenção55, visto que ela se despoja de aspectos dogmáticos para interpelar o texto bíblico. Não estamos com isto inferindo que o aspecto dogmático não possua certo grau de importância. A 54

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Trad.: Darci Dusilek. Jussara Marindir Pinto Simões Árias. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 13. 55 Não que a disciplina em si esteja totalmente isenta de pressupostos. Já foi dito e escrito que ninguém chega ao texto bíblico totalmente neutro.

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Liderança Cristã Teologia Sistemática dialoga com a Teologia Bíblica e viceversa. Não é incorreto afirmar que a Teologia Bíblica possa beber da Dogmática já que no próprio texto bíblico fica evidente a presença de dogmas no ensino apostólico.56 Todavia, a construção de dogmas nem sempre respeita de fato o texto bíblico no que tange a princípios hermenêuticos e exegéticos. Assim, esse diálogo entre a Teologia Bíblica e a Teologia Sistemática pode produzir frutos satisfatórios. Ladd (2001) comenta que os reformadores entendiam que a Dogmática deveria ser a formulação sistemática dos ensinos contidos nas Escrituras.57 Os reformadores deram ênfase ao estudo das línguas originais e a que a interpretação fosse literal e não mais alegórica, como ocorria. Ladd (2001) reconhece que, de certo modo, foi justamente nesse período, o da Reforma Protestante, que teve início uma teologia verdadeiramente bíblica.58 A despeito dessa importante contribuição, havia imperfeições na exegese dos reformadores e certo anacronismo hermenêutico em sua forma de analisar e compreender as Escrituras. Logo após o período da Reforma, a Bíblia voltaria a ser interpretada de modo a servir de apoio a ortodoxia

56

Cf.: KÖSTENBERGER, Andreas J. A heresia da ortodoxia: como o fascínio da cultura contemporânea pela diversidade está transformando nossa visão do cristianismo primitivo. Trad.: Susana Klassen. São Paulo: Vida Nova, 2014. 57 LADD, 2001, p. 13. 58 LADD, 2001, p. 13.

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Liderança Cristã teológica. À essa postura, houve uma reação racionalista, conforme menciona Ladd (2001): A teologia bíblica como uma disciplina distinta é um produto do impacto do iluminismo sobre os estudos bíblicos. No século 19 surgiu uma nova perspectiva do estudo da Bíblia, a qual gradativamente libertou-se de todo controle eclesiástico e teológico e procurou interpretá-la com “completa objetividade”, vendo-a simplesmente como um produto da história.59

É claro que é perfeitamente possível pensar a Teologia Bíblica não apenas como estando restrita aos termos desse racionalismo científico. E no mais, deve ser lembrado que nenhum campo de conhecimento está absolutamente isento de pressupostos e “dogmas”. Esse racionalismo aplicado ao estudo da Bíblia acabou conduzindo, infelizmente, ao que em nosso entendimento é uma aproximação, em grande medida, indevida do texto bíblico, de modo que “[...] a Bíblia foi considerada como uma compilação de escritos religiosos antigos, que preservam a história de um povo semítico antigo, e deve ser estudada com as mesmas pressuposições utilizadas nos estudos de outras religiões semíticas”.60 O problema dessa forma de abordar Bíblia é que ela acabou por colocá-la no mesmo patamar de outras obras da Antiguidade, sem o “peso” da revelação divina, removendo-a assim do status de Palavra

59 60

LADD, 2001, p. 14. LADD, 2001, p. 14.

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Liderança Cristã de Deus.61 Se de um lado entendemos que era preciso romper com alguns aspectos dogmáticos para que se produzisse uma exegese mais séria, por outra, entendemos que encarar as Escrituras apenas pelo viés do racionalismo representa também uma forma anacrônica de interpretar a Bíblia, já que ela própria é um livro de fé (cf.: Hb 11, especialmente o v. 6). Esse racionalismo excessivo, aplicado ao estudo das Escrituras, sem dúvida alguma trouxe prejuízos.62 Cremos ser perfeitamente possível uma aproximação exegeticamente responsável do texto bíblico sem, necessariamente, deixar de enxergar nele a presença de milagres, inspiração e ensino que seja aplicável a nós, em nossos dias. O teólogo presbiteriano Augustus Nicodemus encara a questão do racionalismo 61

“A Escritura atesta e vive da originalidade originante, fundadora e vivificante da Palavra de Deus-Revelação, que tem como centro e vértice Jesus, o crucificado Ressuscitado, senhor do cosmos e da história. Mas como biblioteca concreta exprime-se em uma série de séculos, de línguas, de gêneros literários que implicam – na fé, dom divino, e na comunidade de fé, fruto da Comunhão, também um dom divino – uma interpretação do crente que não pode eximir-se da tarefa de ler os livros bíblicos, com os critérios histórico-literários com que todos os livros antigos podem ser abertos, lidos e compreendidos pelo leitor contemporâneo. Tudo isso com a viva consciência de que são obra do Espírito que evoca e doa o Senhor, através das páginas que a Igreja de todos os tempos jamais pôs no mesmo nível, embora com uma veneração que os reúne a todos e lhes reconhece a unidade” (PACOMIO, L. Teologia Bíblica in: LEITE, Silvana Cobucci. MARCIONILO, Marcos. et al. Lexicon: Dicionário Teológico enciclopédico. São Paulo, SP: Loyola, 2003, p. 731). 62 O próprio George E. Ladd comenta que o interesse contemporâneo pela Teologia Bíblica, a partir da década de 1920, se deu em parte como resultado da renovação do interesse pela ideia da revelação (cf.: LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Trad.: Degmar Ribas Júnior. ed.rev. São Paulo: Hagnos, 2003, pp. 24,5).

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Liderança Cristã aplicado à interpretação bíblica e à Teologia nos seguintes termos: A ideia de que Deus não se mete com o mundo e com os homens tomou forma “cristã” após o Iluminismo, quando teólogos ingleses resolveram adaptar o Deus cristão da Bíblia às exigências do racionalismo predominante do século 18. Naquela época, o mundo estava sendo concebido como uma grande engrenagem autossuficiente que funcionava de forma ordeira seguindo leis naturais intrínsecas. Cada efeito, cada fenômeno, cada evento da natureza e na história era entendido como resultado de alguma causa natural. Um sistema fechado de causa e efeito que não precisava de nenhuma intervenção externa para manter seu funcionamento ou para explicá-lo. Filósofos e escritores britânicos como Edward Herbert, Charles Bloynt e John Tolarndt entendiam que era preciso submeter as doutrinas do cristianismo ao crivo da razão e repudiar o que não pudesse ser demonstrado logicamente. Tudo isso desencadeou uma revisão do conceito tradicional de um Deus que havia criado o mundo e que o sustentava dia a dia, agindo na história e nos acontecimentos por meio de sua providência [...].63

Conquanto discordemos em parte do referido autor, não podemos deixar de reconhecer que a Bíblia é um livro religioso, um livro de fé e submetê-lo única e exclusivamente ao crivo do racionalismo é, sem dúvida, um erro. Lopes prossegue afirmando que a ciência fez um esforço no sentido de “[...] empurrar Deus para fora da realidade verificável pelos 63

LOPES, Augustus Nicodemus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p. 79.

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Liderança Cristã cânones dos métodos científicos”.64 Nessa esteira, houve um esforço no sentido de “reformular Deus”, numa espécie de adaptação ao racionalismo do Iluminismo. Discordamos de Lopes quando ele apresenta tal explicação como uma conclusão inequívoca e final, como é o que parece em seu texto. Avaliar um momento histórico tão importante e relevante através das lentes de uma tradição cristã apenas é no mínimo reducionista. 2. O QUE É TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO Antes de avançarmos na definição do que vem a ser a disciplina Teologia do Novo Testamento, comecemos primeiro definindo o que é o objeto de estudo da própria disciplina: o Novo Testamento. Muito mais do que um conjunto de textos que lemos em nossas devoções particulares e cúlticas junto à comunidade de fé, o Novo Testamento tem uma história, preserva teologias e reflete tradições e crenças anteriores a ele mesmo. 2.1 O que é o Novo Testamento O Novo Testamento é a “boa nova”, a boa notícia de Deus ao mundo caído no pecado. Boa nova que existe na Pessoa e na Obra de Cristo. Foi escrito em grego koiné, que “[...] foi a linguagem do povo simples e o mais importante instrumento

64

LOPES, 2011, p. 79.

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Liderança Cristã da comunicação entre cerca de 300 a.C. e 550 d.C.”65. O fato do Novo Testamento ter sido escrito em grego permitiu que ele alcançasse lugares longínquos. O Novo Testamento é composto por 27 livros, sendo: quatro evangelhos (três sinópticos), 21 epístolas (13 que compõem o corpus paulinus, a de hebreus e sete católicas) e o Apocalipse (que está no gênero Apocalíptica Judaica). Esse conjunto de livros foram escritos objetivando transmitir a gerações futuras de cristãos e a pagãos a mensagem do evangelho do Senhor Jesus Cristo. Descrevem a vida e o ministério de Jesus, bem como seu sofrimento, ressurreição e registra eventos posteriores, além dos ensinos direcionados às igrejas espalhadas pelos territórios do Império Romano. 2.2 A Teologia do Novo Testamento Erich Mauerhofer (2010), teólogo suíço, comenta que “a ciência introdutória ao Novo Testamento tem por conteúdo as questões sobre o surgimento dos escritos do NT” e que “visa a explicar o fundo histórico de cada escrito”.66 A compreensão dos eventos, personagens e locais que envolvem esse pano de fundo histórico é fundamental para que se entenda, por conseguinte, a mensagem daquele dado livro bíblico e, em nosso caso, os textos neotestamentários.

65

MAUERHOFER, Erich. Introdução aos Escritos do Novo Testamento. Trad.: Werner Fuchs. São Paulo: Editora Vida, 2010, p. 50. 66 MAUERHOFER, 2010, pp. 40,41.

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Liderança Cristã Não se pode deixar de perceber que lidar com a Teologia Bíblica significa realizar um esforço hermenêutico. Não é simplesmente estudar a história da formação dos livros bíblicos. As disciplinas de Introdução ao Novo Testamento e Introdução ao Antigo Testamento, conquanto sejam distintas da Teologia do Novo e do Antigo Testamento, são de grande utilidade para que se perceba ou se identifique a teologia presente nos livros da Bíblia. Elas trabalham de modo colaborativo e podemos até afirmar que existe certa interdependência. Ladd (2003) irá comentar que foi justamente uma nova forma de olhar a Teologia que mudou a natureza do estudo do Novo Testamento. A partir da década de 1920 houve uma recuperação da ideia de revelação, uma perca de confiança no naturalismo evolucionista e “[...] uma reação contra o método puramente histórico que reivindicava uma total objetividade e acreditava que os simples fatos conhecidos seriam adequados para revelar a verdade contida na história”.67 Houve um resgate do Cristo bíblico, diferente do Cristo do liberalismo teológico apresentado pelos críticos bíblicos até então. Dito de outra forma, procurou-se encontrar o Cristo histórico no Cristo kerigmático. E pesquisadores bíblicos defenderam que na pessoa de Jesus, Deus se revelou à humanidade. A pesquisa do Jesus histórico deve ser considerada quando o assunto é Teologia do Novo Testamento. Nomes importantes

67

LADD, 2003, pp. 24,5.

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Liderança Cristã devem ser destacados como Rudolf K. Bultmann (1884-1976), Ernest Käsemann, discípulo de Bultmann (1906-1998), Joachim Jeremias (1900-1979), isto além dos teólogos da assim chamada “Primeira busca do Jesus histórico”. A questão da Busca do Jesus histórico relaciona-se com a Teologia do Novo Testamento pelo fato de que na Busca, analisa-se justamente a teologia dos livros em seu esforço de comunicar determinadas tradições a respeito de Jesus, como foi entendido pelos teólogos que empreenderam esse esforço. Era preciso analisar profundamente os textos neotestamentários para se chegar ou “desenterrar” o Jesus da História, enterrado por séculos de tradições eclesiásticas. É claro que atualmente, e mesmo há décadas, a Teologia do Novo Testamento não se restringe apenas ao esforço de encontrar o Jesus histórico. Este foi um caminho percorrido por muitos teólogos no afã de chegar ao Jesus histórico que exigiu deles profunda análise dos textos neotestamentários. Naturalmente, nem sempre concordamos com todos os resultados apresentados por esses estudiosos, mas não podemos negar que contribuições foram oferecidas no sentido de ampliar o conhecimento do Novo Testamento e sua teologia. 3. A TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO E SEU TRABALHO A Teologia do Novo Testamento analisa individualmente os livros que compõem o Novo Testamento. Considera questões 128


Liderança Cristã fundamentais para sua compreensão e por isso mesmo dialoga estreitamente com outras disciplinas interpretativas das Escrituras, como a Exegese e a Hermenêutica. A Teologia do NT é essencial também para a Teologia Sistemática, quando se reconhece que Deus está “por trás” da produção desses textos, de modo que é “problemático fazer teologia bíblica ou sistemática em um documento escrito e reunido de forma aleatória”68, como afirmam os teólogos liberais. Entende-se que houve progressão na produção dos livros que compõem o cânon bíblico. A Teologia do Novo Testamento tem transitado entre uma abordagem mais “científica”, mais racionalista, e uma abordagem mais “dogmática”69, que se abre ao sobrenaturalismo bíblico e, diferentemente da perspectiva bultmanniana, não vê essas narrativas de milagres como mitológicas.70 Neste trabalho, esta representa a nossa escolha. A Teologia do Novo Testamento irá valorizar muito o pano de fundo histórico em que se formam os textos neotestamentários. Não por acaso, o Método Histórico-Crítico é amplamente utilizado pelo pessoal da área bíblica. Outras críticas são aplicadas também ao estudo do texto, como a Crítica da Forma, da Redação e das Fontes.

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ZUCK, Roy B. (ed.). Teologia do Novo Testamento. Trad.: Lena Aranha. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 12. 69 Para um exemplo, ver: MAUERHOFER, Erich. Introdução aos Escritos do Novo Testamento. Trad.: Werner Fuchs. São Paulo: Editora Vida, 2010. 70 Cf.: LADD, 2003, pp. 28,9.

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Liderança Cristã No cenário americano, conforme informa Ladd (2003), houve quem analisasse o esforço de combinar a leitura liberal com a leitura bíblica normativa na construção de uma Teologia do Novo Testamento, concluindo que tal esforço tenha sido vão, não tendo obtido êxito em combinar Teologia e Exegese, o que só seria possível respeitando-se o campo canônico.71 CONCLUSÃO Precisamos reconhecer que a Bíblia é Palavra de Deus, viva, eterna, imutável, instrutiva e que fala ao homem contemporâneo (cf.: 2 Tm 3.14-17). Existe, nas palavras de Gerhard Hasel, “[...] uma dimensão transcendente ou divina na história bíblica que ultrapassa os limites do método histórico-crítico”.72 Admitindo-se que Deus se revelou ao homem através da História, ou na História, é possível crer Nele, relacionar-se com Ele, pela fé no Cristo vivo que O revela. Concordamos parcialmente com Ladd (2003) no sentido de que a Teologia Bíblica deve ser “[...] elaborada de um ponto de partida cuja orientação seja bíblico-histórica.

71

LADD, 2003, p. 31. Também Andreas J. Köstenberger parece produzir uma crítica semelhante, ainda que em outra discussão, quando evidencia a negligência de exegetas ao não considerarem o próprio texto bíblico como uma fonte absolutamente confiável e primária para a pesquisa bíblica: KÖSTENBERGER, Andreas J. A heresia da ortodoxia: como o fascínio da cultura contemporânea pela diversidade está transformando nossa visão do cristianismo primitivo. Trad.: Susana Klassen. São Paulo: Vida Nova, 2014. 72 HASEL, Gerhard. OT Theology: basic Issues in the Current Debate. 1972, p. 85 apud LADD, 2003, p. 31.

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Liderança Cristã Somente esta abordagem pode tratar adequadamente a realidade de Deus e sua irrupção na história”.73 Não podemos negar que a História foi “palco” dessa graciosa manifestação, dessa self-disclosure of Jesus. O próprio Cristo é a revelação do Pai (Jo 14) aos homens e por Ele podemos chegar a Deus, conforme descrito no Novo Testamento. Mas não podemos deixar de reconhecer que as ciências bíblicas prestam um valioso serviço no sentido de nos auxiliar a “acessar” essa mesma revelação, que pode ser desfrutada pelo homem através sim da fé, mas não às expensas da razão. Por isto, leia, analise, pesquisa, escrutine, sonde, confronte exegeticamente e faça uso das ferramentas hermenêuticas no estudo do Novo Testamento, mas sobretudo, creia no Novo Testamento! Aleluia.

73

LADD, 2003, p. 31.

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O autor Professor Roney Cozzer serve a Deus e a Igreja como presbítero e professor de teologia. É membro da Assembleia de Deus Central de Porto de Santana, Cariacica, ES, igreja esta liderada pelo Pastor Evaldo Cassotto. É casado com Dolarize Alves desde 2003, com quem tem uma linda filha, a Ester Alves Cozzer. Formou-se inicialmente pelo Curso Médio de Teologia da EETAD (Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus), vindo depois a graduar-se em Teologia. Realizou o Curso de Extensão Universitária “Iniciação Teológica” da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). É mestre em Teologia pela FABAPAR (Faculdades Batista do Paraná) na Linha de Pesquisa Leitura e Ensino da Bíblia. Possui formação em Psicanálise Clínica, é Licenciado em Pedagogia com pós-graduação em Psicopedagogia Clínica, e Licenciado em História com pós-graduação em Metodologia do Ensino da História e Geografia. Participou como autor e pesquisador do Projeto Historiográfico do Departamento de Missões das Assembleias de Deus do Vale do Rio Doce e Outros (DEMADVARDO) entre os anos de 2016 e 2018 e é membro do Grupo de Pesquisa "Perquirere: Práxis Educativa na Formação e no Ensino Bíblico". Serviu e serve como professor de teologia em seminários e cursos de teologia na Grande Vitória, além de ministrar palestras nas áreas de Bíblia, Teologia, Família, Educação Cristã e Mídia e Cristianismo. É administrador pedagógico do Instituto de Educação Cristã CRER & SER e coordenador do Curso de Teologia EAD da Faculdade Unilagos, em Araruama, no Rio de Janeiro, onde reside atualmente com sua família. CONTATOS E ATIVIDADE DO AUTOR roneycozzer@hotmail.com roneyricardoteologia@gmail.com Site Teologia & Discernimento Currículo Lattes: lattes.cnpq.br/3443166950417908

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