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Bogalha a macaquinha irreverente
Conto
Rosa Maria Santos 2
Ficha Técnica
Título Bogalha, a macaquinha irreverente Tema Conto Autora Rosa Maria Santos. Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições
Editado em E-book em Março 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3
Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4
É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.
E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.
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E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa - Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o 6
Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Fevereiro 2021.
Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia - Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; - Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo - Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil - Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; - Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.
Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.
Distinções 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. 7
3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesiavideopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020. Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs
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Bogalha, a macaquinha irreverente
No Reino da Macacalândia, havia uma pequena macaquinha que era muito irrequieta. A sua mãe, Nancy, passava o tempo todo com o coração nas mãos e, ao mínimo descuido seu, Bogalha logo se envolvia em sarilhos. Nancy mal podia descansar, quer de dia, quer de noite. Bastava fechar os olhos e logo despertava aflita, frequentemente, com Bogalha já longe do seu olhar. A danada da macaquinha, ainda com pouca idade, nem se apercebia dos perigos que a cercavam, as ocorrências sucediam-se umas atrás das outras. Many, 10
a matriarca do reino da Macacalândia, uma vez por outra ficava com a pequena Bogalha a seu cargo, para que sua mãe pudesse aliviar-se um pouco dessa canseira de estar constantemente em cima da filha, a vigiar as suas tropelias. Nesses raros momentos, Many contava-lhe histórias de macaquinhas, irrequietas como ela, que passaram por maus momentos dado a sua irreverência e porque não davam ouvidos aos conselhos dos seus progenitores e dos amigos mais velhos. Tentava assim incutir um pouco mais de bom senso na sua mente irrequieta.
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- Bogalha, toma atenção Many assim lhe dizia Não nos causes aflição, Poupa-me essa energia. Tua mãe está cansada E precisa descansar Mas tu não entendes nada, Precisas de te acalmar. Precisas crescer, pequena, Para ela respirar, Pois senão, com grande pena, Acabas por a matar. Já perdeste o teu paizinho Quando certo alvorecer (Tu eras um bebezinho) Não mais o irias ver. Então, olhava por ti Com cuidados redobrados, Perigos? Fora daqui, Era assim, tempos passados.
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Certa tarde, num momento de distração de sua mãe, mal esta fechara os olhos de cansaço, ei-la lançada de liana em liana a voar pelas alturas. A dado momento, desprendeu-se da liana e caiu redondamente num riacho. Mas não se atemorizou. Divertida com o sucedido, chapinava na água sem atentar nos perigos que dali podiam advir. De rompante, surge um grupo de jacarés, lançando já os olhos esbugalhados sobre o petisco que tinham pela frente e que tinha aparecido lá do céu. Rodearam-na atentos para a tentar apanhar. A sorte foi que o petisco era demasiado pequeno para tanto jacaré. No meio de grande algazarra, começaram a lutar uns com os outros.
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O Barulho foi tanto que a pobre Nancy acordou sobressaltada, tinha agora um mau presságio sobre o que se estaria a passar. Aflita, correu de ramo em ramo sem que a encontrasse. Ao aproximar-se do riacho, coitada, quase lhe dava um colapso, ao ver Bogalha lá no meio, despreocupada, sem se aperceber do risco que estava a correr em se transformar numa iguaria para os famintos jacarés. Gritou com toda a força dos seus pulmões e logo uma série de outros macacos se aproximaram e lançaram sobre os jacarés tudo o que encontravam à mão, pedaços de tronco, pedras, bananas, tudo servia para os afastar de Bogalha. Um 14
deles preparava-se já para desferir um ataque a Bogalha. Foi então que um duro coco bateu em cheio na sua boca. Toda aquela algazarra chamou a atenção de Bogalha que, ao virar-se, se deparou com aqueles dentes afiados que se preparavam para um ataque mortal. Estupefacta, encarou o jacaré que se preparava já para desferir uma nova investida. Não fosse Pirulito, um macaquinho amigo, que seguro de si, preso numa liana, lançou a mão sobre o rabo de Bogalha, e quase seria o seu fim. Puxou-a para cima e arrastou-a nas alturas no momento exato em que o jacaré se preparava para desferir o ataque. Foi por um triz.
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- Bogalha, mas que loucura! Vamos daqui, fica alerta. Um pouco mais, criatura, E seria morte certa. Pobre da tua mãezinha Que nem pode descansar, Irreverente filhinha Que quase era um manjar. A mãe assistiu, aflita, Sem saber o que fazer E com a alma contrita Logo foi agradecer. Quanto a Bogalha, coitada, Sempre metida em sarilhos, Já não fazia mais nada Que livrá-la de cadilhos. Desta vez foi por um triz Que Bogalha se livrou, Nancy ficou bem feliz E sua filha abraçou.
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E uma vez mais tentou fazer ver à filha os riscos que corria com as suas atitudes desastradas. - Tens que ser mais responsável, Bogalha, se não assentares bem essa cabecinha no sítio, não sei, não o que te poderá acontecer. - Eu sei, mãe, prometo que de futuro irei ser diferente, estarei mais atenta ao que se passa ao meu redor. Desculpa, sim? Mas tudo aquilo não era senão conversa. A mãe bem sabia que Bogalha herdara o feitio do pai. Durante três dias, Bogalha manteve-se mais sossegada, sempre ao seu lado. Tinha ainda bem presentes 17
os momentos porque passara na aventura com os jacarés e isso assustou-a um pouco.
Nesse entretanto, Nancy foi pedir conselho a Many, a chefe do grupo. - Bom dia, Many. Estou na verdade muito preocupada com Bogalha. - O que se passa agora? Porquê essa preocupação, Nancy? - Falei com a minha filha e ela parece ter atinado um pouco. Mas agora temo que esteja doente. Ficou melancólica de repente.
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- Doente, Nancy? Não será apenas uma impressão tua? - Depois dessa alhada em que se meteu há três dias atrás, pareceu assentar as ideias. Mas desde aí, anda acabrunhada e parece distante de tudo. Será que aprendeu a lição? - Não fiques preocupada, vamos ver se continuará assim. Se acalmou, parabéns, é uma grande vitória para ti. Nancy tinha ainda em mente as últimas palavras que disse à filha, tentando alertá-la para os perigos que corria.
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- Sarilhos não são comigo Disse Bogalha a sorrir. - O que se passa contigo? Não pensas no teu porvir? - Gosto de me divertir, De galgar de ramo em ramo E tu sempre a advertir Todos os dias do ano. Um dia, quando eu crescer, Quero ser como o paizinho, Uma heroína, saber Levar a água ao moinho. - Por esse teu caminhar, Nunca adulta tu vais ser, Ainda te vão apanhar, Nem te vais aperceber. Eu só desejo o teu bem, Mete isso na cabecinha, E sabe que mais ninguém Te ama como a mãezinha.
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- Não sei Many, depois da conversa que tive com ela, custa-me vê-la ali parada, sem qualquer ação, como se um fantasma estivesse à sua frente. Ainda tenho em mente as palavras que proferiu antes de ter ido para o riacho e não entendo esta mudança brusca. - Minha querida, olha à tua volta, e diz-me o que vês. Todas as crias deitadas ao lado das mães. Deixa que também Bogalha, por uma vez, esteja descansada perto de ti. Porque razão estaria doente? Vamos ver até quando fica assim. Tenho a certeza que não vai ser por muito tempo. Aproveita o momento, amiga, e descansa um pouco, bem precisas. - Obrigado, vou tentar fazer isso. Mas o que me preocupa, é vê-la para aí encostada a um tronco sem ação. 21
Sabes o que Bogalha me dizia antes, quando lhe pedia para descansar?
- Dormir? Não vou dormir, não! Quero estar bem acordada Sentir o meu coração A pulsar de madrugada. Meu tempo não vou poupar, Quero o mundo conhecer - Para! Tu tens que escutar O que eu tenho para dizer!
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Presta pois muita atenção Ao que a mãe te vai falar, A vida é mera ilusão, Não te deixes enganar. Não podes te aproximar De uma série de animais, Pois logo vão-te apanhar, Não serás livre, jamais!
- Foi essa a nossa última conversa, tia Many. Se por um lado devia estar contente por ver Bogalha mais calma, há algo que me incomoda nesta falsa acalmia.
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Nancy não entendia uma mudança tão radical no comportamento da filha. O que passaria agora na sua cabeça? Na verdade, via-a agora apreensiva e passava o tempo a dormir.
- Tia Many, que aflição, Estou tão preocupada! Sinto preso o coração, Mas que sorte tão macabra. Será que ela está doente? Lhe dizia entristecida Vejo-a tão diferente, Tão apagada, sem vida! 24
- Vá, Nancy, vai descansar, A Bogalha está normal. - Normal? Vai me desculpar, - Que queres tu, afinal? Vê-la sempre irrequieta, Envolvida em tropelias? É melhor vê-la quieta. Não era o que tu querias? Descansa, minha querida, Ela a lição aprendeu, Agradece, minha amiga, O sossego que te deu. Ela agora vai crescer E tornar-se responsável, Vai aprender a viver, Tudo vai ser mais estável.
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Nancy despediu-se de Many, e foi até junto de Bogalha que descansava no topo daquela árvore centenária aonde um dia viu a luz do dia. Apesar de toda esta mudança, a vida de Nancy não encontrara sossego. Mal dormia e parecia não aceitar a nova condição da filha, tão parada, tão envolta em si. Parecia faltar-lhe agora a filha irrequieta de antes. Tudo isto se tornara demasiado parado para ela. Algo de mal estava a acontecer. Tinha que tomar alguma iniciativa. Decidiu então ir aconselhar-se com a Coruja Sábia, queria saber a sua opinião. 26
Quando caiu à noite, certificou-se que Bogalha estava a dormir e foi ao encontro da Coruja Sábia, que morava no reino da Corujulândia. Decorrido algum tempo, de liana em liana, chegou ao ninho da Coruja Sábia. Esta ficou surpreendida com a sua presença e perguntou:
- O que te traz até mim, amiga Nancy, que fazes por aqui? - Boa noite, minha amiga Coruja Sábia. Precisava do teu conselho. - Conselho? Diz-me que tipo de conselho precisas, Nancy? - Não sei o que fazer com Bogalha, a minha filha. Anda tão estranha! Antes, era muito irrequieta. De repente, 27
tornou-se apática e passa a vida a dormitar à sombra da árvore da sua preferência. - Hum, muito interessante o que me dizes! Desde há quanto tempo está assim? - Há três dias caiu no riacho e alguns jacarés foram no seu encalce, com vista a fazerem dela uma bela refeição. Felizmente, Pirulito conseguiu resgatá-la a tempo e salvar-lhe a vida. Nem quero imaginar como ficaria se ela fosse tragada por aqueles monstros. - Bom, na verdade, tiveste sorte. Mas isso felizmente já passou. Agora, o que preciso é de consultar os meus livros de sapiência e ver se ali encontro um meio de acabarmos com esse enguiço à volta da tua filha. Ela não tem culpa de ser assim! E por isso, vamos tentar encontrar um meio de remediar tudo isso.
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- Ó Coruja, por favor, Tens mesmo que me ajudar, Porque eu vivo em grande dor, Põe-te lá no meu lugar. Talvez doente ela esteja E isso é preocupante. - Recapitulemos, seja, Fica boa num instante.
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- Sempre a correr, a saltar, Em aventuras metida, Quero com ela ficar O resto da minha vida. Não gosto de a ver assim, Parada, sossegadinha, Será que é medo de mim? Gosto de a ver mexidinha - Leva estas ervas fresquinhas Que colhi no meu jardim, Bastam vinte colherinhas E vais vê-la nova, enfim.
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Lá longe, sob a sua velha árvore, Bogalha acabava de despertar. Ao sentir a ausência da mãe, partiu à sua procura. Lembrava-se que nem chegara a conhecer o pai e tinha medo que a mãe tivesse partido também. Era noite cerrada, e ela sentia-se atemorizada. Antes, despreocupada como era, nem sequer teria pensado nisso. Mas agora, algo na sua consciência lhe dizia que era diferente. Aquele episódio no riacho, quando se viu arrastada fortemente por Pirulito, mexera com ela. E tomou consciência dos perigos à sua volta. A partir daí, ficou diferente. 31
- Minha mãezinha querida, Eu não te quero perder E viver desprotegida Sem saber o que fazer. Preciso de te encontrar; Irei já à tua procura E a nossa casa voltar, Apesar da noite escura.
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De hoje em diante, serei Um exemplo para ti, Prometo que esquecerei Essa vida que vivi.
E lá se foi, saltando de ramo em ramo, atravessando na noite a floresta com cuidados redobrados, escolhendo o melhor percurso. Agora, entendia porque a mãe tantas vezes a alertava para os perigos. Era uma nova fase da sua vida, mais calma, certamente, mas também mais segura. Não esquecia nunca os olhos da mãe cobertos de tristeza e preocupação e isso a fez entender melhor o mundo ao seu redor. 33
- Que Deus me proteja agora, Num momento de aflição, Caí em mim, é hora De uma grande alteração. E foi voando, à procura Da sua linda mãezinha E nesta nova aventura, Ei-la presa, a macaquinha
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Uma estranha criatura Que ali estava à sua espera E a levou, noite escura, Nesse voo de quimera. Ao ver-se prisioneira, Sem saber o que fazer, Ei-la ao fim numa clareira Entre bocas p’ra a comer. - Vou ser repasto? Que horror! Virem p’ra lá o biquinho Vou por-me ao fresco, é melhor, Não vou ficar no teu ninho. E logo se defendia Das crias esfomeadas E tinha ao romper do dia O corpo com mil picadas.
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Ali bem perto, quando Nancy terminou a sua visita à Coruja Sábia, logo tratou de regressar a casa a fim de preparar a infusão caseira para a sua querida filhinha Bogalha. Mas, para sua surpresa, Bogalha não se encontrava lá. Nancy bem que gritava, mas nada, a filha não respondia. - Tia Many, acuda-me, por favor, viu por aí Bogalha? Desapareceu, não consigo encontrá-la. - Desapareceu? Desapareceu como? Que andas a fazer por aqui a esta hora da madrugada? - Fui visitar a Coruja Sábia, em busca de um remédio para curar Bogalha da sua apatia. Ela ficou lá na sua árvore, sossegadinha, a dormir Tia Many! O que vou
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fazer agora? Ajude-me, Tia Many! Tenho que a encontrar. O que vai ser da minha vida sem ela? - Sossega, havemos de a encontrar. Ela não pode estar longe.
- Encontraremos Bogalha, Mas não fiques tão aflita Vou procurar nesta tralha Uma corda compridita.
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Algo que possa ajudar, Pode bem ser uma aposta Quem sabe, para escalar Uma ravina, uma encosta. - Com Luigy vou falar, Veremos o que ele diz, Gosta sempre de ajudar Para me ver mais feliz. Sempre que algo corre mal, Ele encontra solução, É um gorila especial, Para mim, como um irmão.
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- Pois bem, vamos lá procurar Luigy, o gorila. Ele conhece todos os recantos aonde se dirigir uma macaquinha traquina. Talvez a Águia Olho Manso a tenha surpreendido por aí e tu sabes bem como essas aves são, quando têm crias, tudo lhes serve. - Não me diga isso, até fico toda arrepiada. - Vem daí, vamos ao lugarejo do Luigy, o tempo urge, vamos depressa. Quando chegaram a casa do Gorila Luigy, puseram-no ao corrente do que se passava. E partiram a toda a pressa diretamente para a clareira da Águia Olho Manso. Lá ia ela como sempre a voar em busca de mais alimento para as suas quatro esfomeadas crias.
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De repente, ouvem gritos que logo identificam. Era de Bogalha que a todo o custo tentava saltar do ninho. As pequeninas águias lutavam esfomeadas para evitarem que a sua refeição lhes fugisse do ninho. E logo Nancy gritou: - Bogalha, minha filha, estamos aqui, aguenta mais um pouco. Sem mais delongas, Luigy meteu-se a escalar o mais rápido que conseguia aqueles pedregulhos pontiagudos, até chegar à clareira. Ao ver Bogalha cheia de picadas, lançou-lhe a cauda que logo se prendeu o melhor que soube, quase fazendo Luigy desequilibrar-se. Em baixo, Many e Nancy assistiam perplexas a tudo. Quando conseguiu resgatar Bogalha, logo as desalmadas crias, desvairadas, a grasnar, apelavam à atenção da mãe, para que viesse salvar o seu almoço, agora em vias de o perderem.
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Luigy, agora com Bogalha ao colo, acompanhado de Nancy e Many, corriam através da clareira, na tentativa de fugirem da fúria da Águia Olho Manso, que não ficaria nada satisfeita com o acontecido. Logo que se viram envoltos no meio daquelas salvadoras lianas, o lugar da sua segurança, voaram de árvore em árvore de regresso a casa. Logo, Luigy foi ao encontro do seu irmão Rany, o gorila doutor, que ali cuidou dos seus ferimentos, aliviando as suas dores com unguentos de folhas de árvore. Quando se viu restabelecida, Bogalha agradeceu e pediu-lhes desculpa pelo sarilho em que de novo os envolveu. E 41
prometeu que a partir desse dia se tornaria uma macaquinha dócil, delicada e obediente.
- Peço desculpa, mãezinha Pelo que te fiz passar, Eu fui uma má filhinha Que só queria brincar. De hoje em diante, prometo Sempre, sempre obedecer. E que de um modo dileto Contigo eu hei de viver.
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- Entrego minha emoção Aos ditosos amiguinhos Que abriram seu coração E me encheram de carinhos. No nosso lar, doce lar, Nesta tão doce morada, Em tudo quero ajudar A minha mãe tão amada.
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