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Arte e Poesia Moldadas Ă MĂŁo
Barbara Santos Rosa Maria Santos
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Ficha Técnica
Título
Entre BARROS, Arte e Poesia Moldadas à Mão Pintura
Bárbara Santos Poesia Rosa Maria Santos Capa
Pintura de Bárbara Santos Arranjo de José Sepúlveda Revisão
Rosa Maria Santos Formatação
José Sepúlveda
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Bárbara Santos Barbara Santos nasceu a 12 de julho de 1941, em Vale da Senhora da Póvoa, uma aldeia da Beira Baixa. É a mais nova de 8 irmãos, e até fazer exame da admissão ao liceu permaneceu na sua aldeia, continuando depois os estudos no Colégio Dr. Joaquim Diniz da Fonseca, em regime de internato. Aos 18 anos começou a trabalhar na Câmara Municipal de Lisboa. Foi depois emigrante na Alemanha e desde sempre esteve empenhada na luta antifascista. É mãe de cinco filhos e sempre enfrentou as dificuldades da vida, não como um drama, mas como algo a vencer. Ao ficar só, num casarão, o seu ânimo decaiu, mas a solidão e a depressão, uma consequência da outra, também fizeram com que procurasse novos caminhos. Primeiro, encontrou apoio nos profissionais de saúde da Unidade de Saúde Eça de Queiroz, depois inscreveu-se na Universidade da Terceira Idade do Barreiro, na cadeira de desenho e pintura, onde assistiu a duas aulas. O Professor fora tão explícito que passou a sonhar com a pintura, belos quadros e atreveu-se a seguir o sonho. No fundo quis provar a si mesma que a idade não lhe retirava a capacidade de criar e reinventar para si uma vida cheia de encanto. E nas suas pinturas vão aparecendo rostos semiescondidos, pensamentos, tristeza, amor, fúria, benevolência, personagens que, em sonhos, a vêm visitar e que, só mais tarde, reconhece nos veios da tinta. Bárbara bem sabe que pintar foi a sua tábua salvação. Nas aulas de pintura, aprendeu o principal: que se podia pintar com total liberdade; que todos os suportes e meios são possíveis; que as mãos podem substituir os pinceis. Tudo o mais, a pintora conheceu como, verdadeiramente, se aprende – sozinha, experimentando, descobrindo, criando, reinventando as técnicas que lhe serviam. E passou a pintar sem mais parar, desde então. Foi na génese dessa 4
reinvenção que adquiriu a sua formação. É sob forte ação emocional que exprime o que sente. Expurgando tensões e sentimentos, cria ambientes oníricos, de sonho e pesadelos, por vezes sombrios, mas, também, celebrando a vida em cores e ritmos de expansividade e inexcedível alegria. Para realizar essa obras, Bárbara Santos lança tinta, que faz escorrer e espalha, afaga, arranha e alisa, em ações manuais contínuas, até chegar àquilo que pretende e que, por vezes, é revelado em sonhos. Hoje nem um contratempo chamado Parkinson a faz desistir, mas antes, formam consigo uma parceria de amor à arte. Nunca desistir dos seus sonhos, é a sua força, o lema da sua vida. Com orgulho próprio, desabafa: “Comecei a pintar aos sessenta e oito anos e é comum eu olhar para aqueles rostos semiescondidos e criar com eles um ambiente de almas, segredando coisas do coração, sociais. espiritualidade, desilusões, mas acima de tudo a verdade que existe em mim.”
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Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas Poesia, portuguesas e italianas.
de
É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar; VALE DO VAROSA: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal, todas editadas em e-Book. É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLarSi-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – julho 2018. E-Books: Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado - Dezº 2017; Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio de 2018; Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) – Capa: 6
Glória Costa – Maio 2018; Bolachinha vai à Hora de Poesia – Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo – Novembro 2018; Sinos de Natal, Natal de 2018; O Natal de Bolachinha, Natal de 2018; Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril de 2019. Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019, Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora. Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora. A editar, em breve: Histórias da Bolachinha – Capa e ilustrações de Glória Costa. Distinções: Maio de 2017 - 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2019 - 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). -Itália, agosto de 2019.
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Uma apreciação da pintura de
Bárbara Santos Bárbara Santos - Um abstracionismo com figurações ocultas À semelhança dum fio de tinta sobreposta a outras linhas, lançadas sobre sucessivas camadas coloridas, que formam as deslumbrantes manchas e texturas das suas telas, o meu caminho cruzou-se com a pintura de Bárbara Santos. Bárbara, sei agora, teve uma experiência de vida extraordinária: cinco filhos e uma postura contra o regime ditatorial, que a habituou a quotidianos clandestinos, desejosos de liberdade. Tirou o brevet de aviadora – foi das primeiras em Portugal – e, mais tarde, aos sessenta e oito anos de idade, essa vontade de liberdade trouxe-a à pintura. Teve duas aulas onde aprendeu o principal: que se podia pintar com total liberdade; que todos os suportes e meios, são possíveis; e que as mãos podem substituir pinceis – como a pintura contemporânea redescobriu. Coisa evidente, pois foi só com e através delas, que a Arte nasceu, expressando o mais íntimo do Homem e ligando-a, para sempre, ao transcendente, integrando-a em ações demiúrgicas. Tudo o mais, a pintora conheceu como, verdadeiramente, se aprende – sozinha, experimentando e descobrindo. Inventando as técnicas que lhe serviam, pintando, quotidianamente, desde então. Foi e é essa a sua formação. A primeira aproximação, a alguns dos quadros, leva-nos à ideia, simplista, de estarmos em presença de uma artista muito influenciada por Jackson Pollock e pelo gestualismo da action painting. Os pontos de contacto são evidentes, mas não se trata de mimetismo, até porque, Bárbara, por não ter um percurso académico formal, os desconhecia. Mas não se pense, por isso, que estamos apenas em presença de uma pintura naïf, de expressão abstrata. Aquela relação resulta das técnicas utilizadas – em parte, comuns, como o dripping – e, principalmente, pela liberdade expansiva e gestual no modo de pintar e no alargamento dos limites convencionados. Poucos atos deverão ser tão libertadores e apaziguadores da alma, como pintar desse modo, mas só os artistas conseguem a sua transmutação numa obra de arte que, em si, encerra 8
e transmite emoções e o sentimento dessa libertação. E isso experimenta-se na apreciação dos quadros de Bárbara Santos. É sob forte ação emocional que aquela pintora trabalha. Expurgando tensões e sentimentos, cria ambientes oníricos, de sonho e pesadelos, por vezes sombrios mas, também, celebrando a vida em cores e ritmos de expansiva e inexcedível alegria. Tudo isso perpassa, de um modo enigmático, para a tela e de uma maneira a que não se consegue ficar indiferente. Para realizar estas obras, Bárbara Santos, lança tinta que faz escorrer e espalha, afaga, arranha e alisa, em ações manuais contínuas, até chegar ao que pretende. Por vezes, isso é revelado em sonhos. As manchas resultantes trazem inesperadas imagens: vultos de homens e meninas, caras, bichos, monstros, barcos, palhaços, caveiras e sereias – entre outras figurações que a nossa imaginação nos leve a visualizar – que teimam em aparecer e que ela, surpreendida e espantada, por tão imprevistas presenças, oculta em novas camadas ou deixa permanecer. À primeira vista, o resultado é um quadro abstrato mas, a sua leitura atenta, revela figurações. Pode-se, até fazer um jogo, ensinado pela autora, de fotografar excertos da tela que essas imagens revelam “coisas” que não se vêm de outro modo. Resultando essa riqueza de leitura, tanto da casualidade da ação ou da sobreposição de sucessivas pinturas, como da figuração, propositadamente oculta. Bárbara Santos é pintora ao ponto de precisar de o fazer. Por isso, pinta compulsivamente. Não dispondo de telas ou não obtendo o resultado que pretendia, trabalha, sucessivamente, por cima das experiências anteriores. Possuindo, muitas vezes, uma tela, vários quadros, refletindo-se isso até no peso físico que adquirem. Optando, nesta fase, predominantemente, por grandes formatos, as paredes da sua casa também foram utilizadas como suporte da sua pintura. Mas, o essencial da Arte não se explica: sente-se e usufrui-se pessoal e intimamente e, por si só, o resultado da experiência plástica da apreciação da obra de Bárbara Santos é muito forte. Essa intensidade poderá ter múltiplas razões, mas o importante e o que se deve salientar, é que ela existe. E isso acontece porque se está face a excelente Pintura. Pena é que nem todos a conheçam. Prof. Rui Maneira Cunha
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Quando a caneta e o pincel se entrecruzam, as tintas adquirem a forma da poesia e as mãos que moldam os barros as transformam em arte. (José Sepúlveda)
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Mulher Coragem Com as mãos acarinhaste Os filhos que Deus te deu, Os sonhos teus tu guardaste Com a graça lá do céu. Escusaste ser mulher Zelando em favor dos outros, Foram anos sem viver E o tempo se foi aos poucos. Um dia, quando acordaste, Olhaste o espelho da vida E nesse dia notaste A mocidade perdida. O tempo trouxe incerteza, Foram sonhos e quimeras; Nos teus traços de beleza Ficaram marcas severas. Mas como mulher coragem Inventaste a esperança Numa nova aprendizagem Tão cheia de confiança!
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A Magia da Cor Silente, neste fresco alvorecer, Minha alma junto ao mar, triste, divaga E perde-se na praia, a percorrer O areal sem fim que não apaga. Minha alma, descuidada, mal se ajeita Perante a imensidão, o mar infindo, Que quase rejubila e mal aceita A peregrina lágrima caindo. No horizonte há réstias de alegria, Há tons de fogo, há cor, há fantasia, Magia, nesse terno recolher. O sol vai declinando. E no seu sonho, É com encanto, com olhar risonho, Que ali no mar aguarda o amanhecer.
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Espero
Ainda estão viçosas as flores No meu jardim cheio de cor E tu, meu amor, não vens… Perdido entre as algas do teu mar, Eis-te a navegar em areias movediças, Enquanto eu, sozinha no meu canto, Vivo o desencanto De meu ser.
E quando ao sol-pôr, Chama por mim, meu amor, Segue a minha estrada Nunca alcançada!
Ó, se me lembro do teu sorriso! Lembro sim, Dentro de mim, Cristalinas gotas Vão caindo deste olhar Nas rochas da vida Em tempos tão sentida!
E um dia na eternidade, (É esta a minha esperança) Não mais terei saudade!
Não sonhes, bem, Deixa-me sonhar a mim, Ser pétala suave no meu jardim, Sentir a brisa, A ventania, Mesmo que seja apenas num só dia! Se me sentir magoada, Cansada, irada, Deixa, não é nada! .
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Retém-me em ti, Seja eu a lembrança Que te sorri.
Nesse dia, meu amor, Sentirei a liberdade De ir por onde for, Cruzar o mar E amar-te de verdade!
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Escuridão
Medo desta escuridade? Perdida com pensamentos? Ou é medo da verdade Ofusca por sentimentos? Se tentaram me embrulhar, Emaranhar meus tormentos, Eu terei que a volta dar E não me perder em lamentos. Ai, quem me dera soltar Das amarras que me prendem Lutar co’as ondas do mar Que tantas vezes me ofendem. Desamarrem os meus braços, Deixem de me perturbar, Que no fim dos embaraços Eu hei de me libertar. Vivo nos paços perdidos De minha longa guerra E meus sonhos esquecidos Já toda a gente os enterra. No vale da minha infância Eis meu corpo atormentado; Como é longínqua a distância De quando era um ser amado!
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Haja Alegria
Em cada alvorecer, um despertar, Um novo dia pode acontecer, De novo o sol que brilha sobre o mar Na natureza tudo a renascer. No horizonte, promessas de paz, No céu, de novo as harpas a tocar, Será que o mundo há de ser capaz O nosso sonho vai concretizar? Em cada olhar há réstias de esperança Em cada rosto nota-se um sorriso O amanhã será de confiança Trazendo para nós o que é preciso. Dançam as ninfas lá no rio Tejo Como que a agradecer ao Deus do mundo Como isto é bom, meu Deus, que privilégio, A paz, a união, o amor profundo! Em toda a parte, estende a tua mão E vive a tua vida com vontade; Depois, sê grata a Deus, em oração, Por permitir a tua em liberdade.
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Cores do Tempo
A lava incandescente de fulgor Em chamas, jorra dentro do meu peito, Momentos de paixão, de grande amor No seio deste meu amor perfeito. Desejos já maduros deste Outono Que causam no meu peito um arrepio Entrego-me em teus braços, sem retorno, E vivo o nosso amor em desvario. O estio se reveste em fantasia E faz em mim viver todo o meu sonho Mas logo se dissipa a euforia E sinto o novo dia mais tristonho. Na Primavera vivo o renascer Que faz vibrar o amor dentro de mim E em êxtase procuro o alvorecer Do nosso novo encontro, flor jasmim. Quer seja no Inverno, ou primavera, Bem sei que tudo pode acontecer, A vida não é mais que uma quimera Que quero cada dia ver nascer.
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A Tela Ondas que invadem as margens Num corrupio inconstante Como pinceladas selvagens Cobrem a tela num instante. Traços de sonhos na areia, Gaivotas no firmamento, Instante que nos premeia Com o seu encantamento. Linhas e curvas vão surgindo Naquela tela alargada, São olhos que vão sorrindo Duma forma inesperada Em cada cor espelhados O amor, arte, paixão, Brancos, verdes, encarnados, Eis a tela, a perfeição!
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Arco Iris
O sol espreita pela fresta Da nuvem acinzentada O arco-íris em festa, A natureza enfeitada. O arco de sete cores Faz alegre uma criança, Sentem-se os tons, os odores Daquela velha aliança. O vento surge a correr E o arco há de ocultar, É hora de recolher O sol no imenso mar. O céu se cobre de estrelas, Surge a lua a bocejar E a natureza vem vê-los Numa noite de luar.
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Noite
Quando o amor adormeceu Nesse lindo alvorecer A Estrela d’Alva no céu Fez seu brilho aparecer. Como que esperando alguém Num tempo que desatina Minha mente se retém Nos meus sonhos de menina. Desejei um dia ouvir Tantas promessas de amor Para nesse amor sentir Beijos cheios de fulgor. Meu amor, luar de agosto, Em teus braços vou ficar, Quero sentir no meu rosto Teu coração a pulsar.
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Mar
Navego entre sentimentos Não sabendo onde pousar, Turbilhão de pensamentos, Como um barco lá no mar. Noite fria, desalento Procuro-te no meu leito E espero cada momento P’ra que entres no meu peito. Porque não vens, meu amor? Guardo noites de paixão Ansiosa, em grande dor, P’ra sentir teu coração. Rangem as nossas janelas, Parecem querer chamar, Lá no céu não há estrelas, Não as consigo encontrar. A chuva que cai na rua Faz minha alma gritar A cama parece nua, Vem, amor, vem-me buscar!
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Tempestade
Santa Engrácia me proteja, Me dê sorte neste dia E que este sol que me beija Traga consigo a alegria. Teu manto cheio de cor, Estrelas, pontos de luz, Vem apagar minha dor, Alivia a minha cruz. Meu coração apertado Se dobra numa oblação E olha o céu estrelado Em busca do Teu perdão. Dá-me, ó Deus, misericórdia Num dia que não tem pressa E num tempo de discórdia Tua força prevaleça. Estrelas do universo Que longe de mim estais Mesmo num tempo adverso Não me abandoneis jamais!
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Sabes, Amor?
Pintei em ti a cor da natureza Deixei fluir os sentimentos meus E encontrei nas cores tal beleza Como as que vivo nesses olhos teus. Olhando as cores, senti à distância O mesmo colorido, a cor do mar, E vi em cada cor nova fragância Que dava um novo tom ao teu olhar. E sem querer, olhei para as estrelas E encontrei pinturas, aguarelas, Em cujas telas a pintar me vi. E um arco íris vi cruzar o céu Olhei toda essa cor que Deus me deu, Depois, no colo teu adormeci.
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Meu Amor Ausente
Quando rompe a aurora a cascata chora, As águas aflitas murmuram baixinho, Estou tão sozinha, o que faço agora? A cascata chora por meu amorzinho. … O rio é bravio pois procura alguém Corre pelo vale com forte corrente Meu amor me disse não ser de ninguém, Que seu coração era meu somente…. Mouras, ninfas que o vale encantais Vinde proteger-me nesta madrugada, Lindas estrelinhas que no céu brilhais Ó, não acordeis a musa encantada Sinto o burburinho da cascata amiga Que ao descer o rio se faz melodia Às vezes parece cantilena antiga Nesse turbilhão pela noite e dia Os tons outonais, ao entardecer O meu coração, querem encantar Mas minha alma chora, sinto-me a sofrer Porque não te sinto, não te posso amar
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Entardecer
Foge-me o tempo da esperança, O mesmo tempo que a ti dava E fazia de mim escrava, Do tempo que me restava Quando olhava o horizonte Esse horizonte que me levava ao mar, Ao azul céu, Mesmo quando o breu Sentia no ar E te via chegar Ao entardecer. Em cada amanhecer Foge-me o tempo de mim E aqui fico esperando A ver-te surgir Qual cavaleiro andante, Sempre, cada instante. Deliro em meus sonhos infindos, Paira uma nuvem no ar E o meu sonho a voar, a voar… Foge-me o tempo, O tempo que era meu E se perdeu, Deixei de sonhar. E paro no tempo E fico a esperar Confiante que um dia Tu hás-de voltar!
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Perdida Entre Estrelas
No teu leito vi gaivotas Chapinando o ondular A nadar livres e soltas No meio de tanto mar Ergui meus olhos aos céus Quis com elas viajar Meu olhar se humedeceu Quando me vi a voar E sobre a areia molhada Sentei-me no infinito Gaivotas alienadas Soltavam seu forte grito Voavam ao meu redor Tentavam-me erguer no ar Transformada num condor Cruzei o céu a voar E naquela imensidão Corri mundo, vi estrelas E só nessa ocasião Eu me senti como elas
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Silêncio, quero Amar-te
Quando no meu sonho Toco uma estrela, Acordo calma e serena Ao sopro da manhã E sinto teu rosto tocar no meu No silêncio que te traz para mim. Ao longe, o marulhar das ondas Que me chama aflito para ti. E quando o vento toca nos meus lábios, Sinto os teus lábios nos meus E saboreio o teu beijo de amor. E logo Sinto um desejo de sonhar De esperar em ti Momentos de amor. Meu coração vibra mais forte como o vento E o meu pensamento Voa para ti. As tuas palavras São o murmúrio suave Que me canta em meu ouvido Delírio incandescente De um longo amor Que jamais se extingue E me convidam a ficar Para te amar. E nesta harmonia Hei de voar Até ser dia. 43
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Anjo Meu
Anjo que vives em mim, Fazes de mim o teu luar, Vem ver-me em noites sem fim Deixa-me em ti pernoitar. Na penumbra de meu ser Vagueia o teu coração, Sinto em mim o teu poder, Mesmo sendo uma ilusão. Quando minha alma cansada Grita em meu peito aflito, Não quero saber de nada Pois és tu esse meu grito. Anjo que em mim permanece E dá força ao meu viver, Ouve a alma que padece Apenas por te querer!
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Caminho
Caminho lentamente à beira mar, Olhando o mar sereno, o azul celeste, Pisando a areia, calma, a caminhar Sentindo no meu rosto o vento agreste. A maresia sinto em meu nariz E ouço a solidão por mim chamar Porque me sente alegre, tão feliz E quer essa alegria partilhar. E vou dar asas ao meu pensamento Olhar o mundo livre que me acena, E expressar assim o sentimento De que viver alegre vale a pena. E neste turbilhão de luz e cor, Caminho pela praia, só, discreta, Esqueço a solidão, o mal, a dor, E enxergo lá mais longe a minha meta. As ondas, na mais pura liberdade No seu vaivém, deslizam pela areia, E trazem toda a sua liberdade Até que chegue, enfim, a maré cheia.
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Sonho
Hoje sonhei, vivi-te meu amor, Qual cavaleiro andante, me livravas Dos meus grilhões, qual santo protetor, E com teus braços longos me enlaçavas. E livre me senti entre os mortais; E nesse abraço, cheio de loucura, Senti-me a esvoaçar em voos tais Que não mais quis sair dessa aventura. Sonhos! Quimeras, gritos de coragem, Se ouviam entre a bruma, na voragem Do nosso tempo feito liberdade. E do meu sonho não mais vou sair Iremos a viagem prosseguir E havemos de atingir a eternidade.
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Revolta
Angústias de tempos idos, Há choros por aí fora, São muitos sonhos perdidos Pela alma que em ti chora. Mas o que importam os sonhos Que na vida não vivi, Fossem felizes, medonhos, Se sei que já os perdi. Passei tempos invernais E no outono da vida Despertei e nada mais Eu tenho, vivo perdida. Quase no fechar o tempo, Quando olho à minha volta Na roda do pensamento Apenas sinto revolta. Ergo os olhos para céu E suplico em oração Que Deus me guarde o que é meu, Este pobre coração.
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Dorme, Meu Filho
Criança, diz porque choras, Será por dor, fome, frio? É noite, dorme, são horas, Deixa este tempo vadio. Tenta dormir, meu menino, Não percas tempo a sofrer! És ainda pequeninho, E com tempo p’ra viver. Vem e ouve esta canção Que te vou contar, meu lindo, Guarda-a no teu coração Neste tempo se esvaindo. Não te agites, meu amor, Olha as estrelas no céu E descansa, por favor, No amor que Deus nos deu. Meu filhinho, minha vida, Qual riqueza da minh’alma, Ouve minha voz ferida E adormece, te acalma.
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Rosa Jasmim
Rosa jasmim, linda flor Que vive dentro de mim E exala o puro olor, O melhor do meu jardim. Liberdade num tom quente Respira dentro do peito E busca tranquilamente A essência do amor-perfeito. Lírio, rosa de toucar, Juntinhos num grande amor, Aprendendo a partilhar A beleza em esplendor. Se algo quiser alcançar, Não deixe de ser quem é E tente ao mundo mostrar O rasgo da sua fé. Reinvente em cada verso A paz, a felicidade, E encontre no universo O direito à liberdade
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Mar Bravo
- Homem ao mar! - Quem gritou? - Alguém no convés, aflito! O vento o barco arrastou E logo se ouviu um grito. Forte agitação no mar, As ondas se agigantavam E os homens a balançar, Contra essas ondas lutavam. Todo um mar em turbulência, Ó Senhor, tem compaixão, Usa a tua omnipotência, Responde à nossa oração. Mar nosso de cada dia, Temos os nossos no lar Alimenta essa alegria De bem cedo regressar. O barco quase se perde No teu ondular fendido, Se afundar, de nada serve, Tudo em nós está perdido.
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A Barca
Homem, diz-me, que procuras? Neste teu longo peregrinar, Vais em busca de aventuras? De alguém que te saiba amar? Mar dentro, na madrugada, Sentes medo, solidão, Espreitas e não vês nada, Só sombras na escuridão! Homem do leme, atenção, Há caminhos tortuosos, Procura em teu coração Os trilhos menos perigosos. Busca o auxílio dos céus, Só Deus te pode ajudar E segue os ensinos seus: Caminha e aprende a amar. Homem do leme, perscruta, O tempo passa e não volta Que a viagem é mais curta No teu mar bravo em revolta.
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Parece Que Estamos Todos
Seja bendita a razão Da nossa vida na terra Que é em si contradição, Prega-se paz, faz-se guerra. Os demónios aparecem Cá no nosso imaginário Maldades se fortalecem Como o conto do vigário. Todas as sombras ocultam No nosso quotidiano E pela manhã se exultam Com o seu agir insano. Ó santa misericórdia, Vem ter de nós compaixão. Protege-nos na discórdia, Dá-nos paz ao coração. A Carta do Pai, tão bela, Nos conforta na agonia E em cada dia apela À paz e à harmonia
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À Fraternidade, Paz e Harmonia
Vinde a mim as criancinhas Neste tempo conturbado Vinde a mim porque sois minhas E quero-vos a meu lado. As sombras vão aparecer Neste mundo em agonia, O homem deixou de ser O raiar de cada dia. Pobrezinhas, inocentes, De pensamentos tão puros, Homens néscios, imprudentes, Vos tornaram inseguros. Sendo eles pecadores, Vão ter que se redimir, Ou as guerras, seus senhores, Vão a terra destruir. Numa ambição desmedida, Todos irão padecer, E a terra, desprotegida, Irá desaparecer. Só então ao Pai irão Para pedir que Seu filho Venha a nós, por compaixão, Livrar-nos deste sarilho.
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Um Mar de Flores
São rosas senhor, são rosas, Que se encontram no jardim, Fragrâncias harmoniosas, Malmequeres e jasmim. Quantas rosas encarnadas Dadas com amor, paixão, Tão belas e perfumadas, Enlevo do coração. Rosas com tons de alegria, Pétalas aveludadas Que, quer de noite ou de dia, São por todos almejadas. Os caminhos têm espinhos Como estas rosas em flor Mas envoltas em carinhos, Nos caminhos do amor. Rosas de rara beleza Que a natureza nos deu E com sua singeleza Se fazem altar do céu.
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Tempos Difíceis
Tempos difíceis, Senhor? Movem-se as almas no céu Gritam por perdão e amor, P’la terra tornada breu. Trauteia cada palavra À procura de mudança, Criança, mulher deitada À procura de esperança. Tentáculos nos espaços Outrora nossos, Deus meu. Um mundo feito em pedaços Pelas mãos que os fendeu. A esperança há de voltar, Trazer um mundo melhor E de novo consagrar No nosso lar, teu amor. A terra grita: aleluia, O Senhor de novo vem, Eis que raia um novo dia, Os anjos cantam. Amem!
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O Meu Último Sonho
Gotículas de orvalho p’la manhã Flutuam no jardim da minha mente, São versos com o gosto de hortelã Que fazem minha alma transparente. Na madrugada, o sol se abriu agora, São raios envolventes de poesia Que surgem ao romper da bela aurora E enchem o meu peito de energia. Qual verso soletrado com fulgor, Rejubilando em plena liberdade, Essência perfumada, rosa em flor, Vagueando pelas ruas da cidade. Existe em cada sonho uma esperança, Caminho que nos leva à eternidade, Momento de alegria, de bonança, Um hino de louvor, felicidade.
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Insatisfeita
A minha alma insatisfeita Respostas ocas rejeita Porque tenta perceber Sem conseguir entender Brilha o sol, o azul celeste, Logo negro, acinzentado, Quando se vai, aparece Um novo céu estrelado. É hora de retirar, Volta ao seu mundo de sonhos, Deixa estrelas, o luar, E uns longos lábios risonhos. As pedras da minha rua Alegram nossa cidade, Na minha mente e na tua, Nossa eterna mocidade. Quando surge a nova aurora, Com a mesma realidade, Então, brilha de hora em hora Com maior intensidade. Em mim existe saudade Sempre que se vai embora Pois sinto necessidade De ti, sol, e por ti chora.
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Vagueio
Entre mentira e verdade, Sonhos em nós incutidos Roubam a felicidade De tempos ora perdidos. Quais rosas aveludadas Revestidas com espinhos, São as coisas desejadas Que rastejam os caminhos . Palavras por nós sentidas Perfumam nossas paixões São duas almas unidas Em constantes convulsões. Na vida há vários caminhos Que tanto fazem sonhar São rosas mas com espinhos Nas quais quero acreditar. O que leva a escolher O caminho do amor É nunca querer perder O que temos de melhor.
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Nova Aurora
Quando surge a nova aurora, Abro os olhos e a sorrir Penso que chegou a hora Desta solidão partir. Olho atenta à minha volta, O vento teima em soprar, É o soprar da revolta Por tanto que quero dar. Olho as pedras da calçada. Uma a uma, tão escuras. E minha alma apaixonada Vive as suas amarguras. Sempre que passo por elas, Parecem cheias de vida, Daqui das minha janelas Vejo-as belas, coloridas O amor é mesmo assim, Faz-nos viver nossos sonhos, Lembro-me de ti, de mim, De tempos idos, risonhos.
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Onde estás, Meu Mar?
Meu mar imenso e azul, quanta saudade Eu sinto neste meu mundo inconstante, Recordo o ondular, a liberdade No seu vai vem eterno e triunfante. Recordo aquele céu. Quanto queria Voltar a ver a tua água prateada, Um misto de ilusão e fantasia Que a tornaria em água abençoada. Meu sonho é voltar pra junto a ti, E ver meus pés nas ondas mergulhar, Viver as aventuras que vivi Sentir a pele húmida, sonhar! Desta janela, tento perscrutar O pôr do sol, que via ao entardecer E agora não consigo vislumbrar Gaivotas a voar com tal prazer. Estranha dor no peito está cravada, Falta o perfume, o cheiro a maresia, Quando na praia as ondas procurava Vestida de prazer e de alegria.
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O Furor da Guerra
Viver é para mim um vil desejo Que envolve este meu ser e toda a terra, De manhã cedo acordo, oiço e vejo Notícias que me vão falar de guerra. Besteira que pra nós se fez demónio Que em trevas quis lançar o nosso povo É tanta a confusão, o pandemónio, E o velho guerrear surgiu de novo. Riqueza, só ganância, vil poder, Cada país em pleno desgoverno, Olhamos sem saber o que fazer O que esperar enfim do tempo hodierno. O povo chora inconsolado, à fome, Vagueia pela rua a procurar O pão que há muito tempo já não come E nem consegue ter para o seu lar. Caem torpedos, bombas, na cidade, A ambição, agora, é desmedida, Há corpos espalhados, sem idade, Que jazem pelas ruas já sem vida.
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Memórias
O relógio marca o tempo Que a pródiga vida empresta É coisa que num momento Se lança fora, não presta. Noutro tempo fui feliz, Era então frágil criança, E tudo aquilo que fiz Fui guardando na lembrança. Pelo tempo vou passando Com tristezas, alegria E a mente vai recordando Aquilo que então fazia. Sentimentos do meu peito, Momentos apaixonantes, Mas num mundo contrafeito Já nada é com dantes. Algum dia contarei Em qualquer noite, ao serão – As memórias que guardei Gravadas no coração.
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Esperança
Corremos tantos caminhos Para algum dia encontrar Qualquer rosa sem espinhos Que nos possa consolar. Há momentos de esperança, Outras, quem sabe, a sofrer, E os sonhos de criança Os vemos desvanecer. Nossa vida, uma labuta Que levamos a sorrir, Faz parte da mesma luta Que todos vamos seguir. Há boas recordações, Uma lágrima, um sorriso, Sofrimentos, orações, A ânsia do paraíso Seja o mal irradiado Desta vida, para sempre, Almejo ter lado a lado O meu Deus, Omnipotente.
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No Milheiral
Com chapĂŠu de abas largas, Procurava prazenteiro Retirar algumas larvas Das folhas do seu milheiro. Pareceu ver num momento Um vulto no milheiral E um estranho pensamento Lhe veio Ă mente, afinal. Saiu, sorrateiramente, Daquele esguio caminho E, lento, seguindo em frente, Encontrou um pobrezinho. - Tenho sede, tenho fome, O milho estava maduro E aquele que nĂŁo come Fica doente, inseguro. Convidou-o para o jantar, Ele, contente, o seguiu.. - Vem comigo, se calhar, Dou-te trabalho. E sorriu.
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Deserto
Chegam ventos do deserto Furiosos, provocantes, Fustigam searas, por certo Não germinam, como antes. São linhas que se descasam E se espalham pelo mundo Sentimentos que não casam Com o seu poder profundo. O deserto nos premeia Com tudo o que nele habita E depois se pavoneia Na terra, frágil, aflita Neste seu breu tão profundo, Cai em seu plano inclinado E o nosso pequeno mundo Se vê triste, incomodado. Sopram os ventos vadios Levam sementes no ar E em campos, regadios, Hoje e sempre vão soprar.
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Luta
Quadro negro, controverso, Linhas em contrafação, Fazem da tela o universo Que busca consagração. Do cimo vêm os cordéis, Poder, força, delação, É com eles que ofendeis A nossa população. O povo diz governar, Mas é pura hipocrisia E acabam por se instalar Nessa torpe tirania. Falam de paz, altruísmo, Mas procuram mais poder, Digamos não ao fascismo Porque o povo irá vencer.
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Natura
Olhei, pus-me a magicar O que a tela transmitia E de tanto matutar Alguma ideia surgia. Redobrei-me em atenção: E o que vi ao seu redor, Era singela oração Pedindo grãos p’ra colher. E quando chegou a altura, A resposta do Senhor Chegou de forma segura. Nas pétalas duma flor. A nossa necessidade E ver essa terra dura Dar fruto de qualidade, Na sua forma mais pura. Cai a chuva, sopra o vento Tudo se enche de verdura, Logo, o nosso pensamento, Vem encher-nos de frescura. A natura se recria Nos nossos versos de amor Haja paz, haja alegria, Bendito seja Senhor.
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Ao Correr da Pena
Quantas vezes olho o céu E acho que finalmente As estrelas entre o breu Brilham sempre, eternamente. São parte da nossa infância Dão alento vida fora E são parte dessa herança Que em nosso coração mora. Uma lágrima humedece Nosso rosto. Lembro o mar E meu coração parece Com vontade de voltar. O sol brilha intensamente E me sinto agradecida O vento vem de repente Bafejar a nossa vida. O inverno, os tons cinzentos A primavera, florida O verão tem seus momentos, Outono, é despedida.
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A Dama de Vermelho
É tarde. Logo a dama de vermelho Se orgulha dessa sua silhueta Vaidosa, fica junto do espelho Voando, tal qual uma borboleta. E salta para a rua, provocante, Como se fosse uma mariposa, Olhares que se veem mais distante E a fazem sentir mais presunçosa. O seu olhar a todos nos encanta Caminha pela rua sem cautela E todos os olhares aonde anda Parecem concentrar-se mas só nela. O mal que a persegue, qual desgraça, Num só momento de infelicidade A levam no caminho que ela abraça Trilhos impróprios de perversidade. Na noite, quando chega a tempestade, A dama de vermelho cai em si E ao ver fugir-lhe a sua mocidade Para um momento e chora: - Me perdi! Ao ver que num farrapo se transforma E a vida já perdeu o seu sentido, Voltou atrás. E agora, doutra forma, Partiu atrás do tempo já perdido.
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Furacão
Sopra o vento da paixão Nesse rio incandescente E o poder do furação Leva tudo à sua frente. Caminhava a passos largos P’ra na terra penetrar, Ao redor, olhares amargos, Viam torrentes no ar. Destrói tudo no caminho Que sem pudor destruía, Mesmo o filho, no seu ninho, Ao passar, desaparecia. Amargor, destruição, Vai tudo na enxurrada, Uma dor imensa no coração Com tanto que se fez nada . É a lei da natureza, A terra se manifesta Com toda a sua crueza E agora nada mais resta.
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Mãe
Tens um filho em teu regaço, Trá-lo aqui, mostra-o ao povo, Não sintas medo, cansaço, Porque vai ser teu de novo. Tudo louva em oração, Só ele pode salvar, Basta dar-lhe o coração E logo se aprende a amar Cada dia da jornada Cantemos com alegria Pois durante a caminhada Vai ser nossa companhia. Perdoar, pedir perdão, Tê-lo sempre ao nosso lado Nesta tão bela ilusão De amar, se sentir amado. Entrega com humildade Teu coração por Jesus, Porque é nossa liberdade E do mundo inteiro a luz.
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Haja Esperança
Transforma-se a leveza do ser E a saudade vem anunciar Que alguma coisa há de renascer, Uma vontade firme de te amar Dentro do peito, surges, na lembrança Daquele sentimento de paixão; Vontade de voltar a ser criança, Volver meus versos puros em canção. Saudades de viver a minha infância, O tempo já passado, bem melhor, Sentir no seu regaço segurança Carinho em seu abraço, o seu amor. No seu olhar de mãe, quanta ternura Me dedicou em dias ao sol-pôr, E oiço os seus conselhos, qual doçura, Que fazem de si ser superior. Saudades das histórias contava; Pensava ser a vida fantasia! Cresci. Dos contos seus, pouco restava, Mas não se apaga nunca essa alegria.
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Perdi-me Com a pressa de viver, Esqueci-me da minha alma… E perdi a minha calma.
Perdi-me Soltei-me Das amarras dos meus medos Corri caminhos, enredos, Senti a terra nos pés Ergui as mãos p’ra Deus Quis rezar, então, e rezei: Dos pecados me livrei.
Perdi-me Na solidão da infelicidade, Deixei voar a liberdade Que cruzava minha vida Um pouco incerta, tremida. Soltei-me Das amarras da saudade, Deixei voar minha mente Entre paredes, contente, Dei comigo a declamar Um poema de encantar.
Corri Nos areais lá da praia E senti-me qual catraia Pelo mar a navegar. Olhei o céu, vi a lua, Nela vi a face tua Pela rua a esvoaçar.
Deixei Essa eterna solidão No fosso da escuridão, Não lhe dei mais atenção, Limpei-a do meu coração
Aprendi Uma palavra: vencer, E vi teu rosto a sorrir, Felicidade a fluir. E só então encontrei O amor que tanto almejei E me ensinou a sorrir.
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O Rico e o Pobre “Separa-se o trigo do joio,” Nos diz o provérbio antigo, Logo me falta o apoio Porque não estás comigo. O rico sempre tem mais, P’ra nossa lamentação, O pobre vive seus ais, Mal tem para a refeição. Dizem patrões meliantes: Não te posso dar aumento E unem-se aos governantes, Fazendo um bom casamento. O povo vive cansado Das regras que ninguém quer Caminha desanimado Sem dinheiro. O que fazer? O filho chora, tem fome, Sente o coração vazio Sonha, acorda, já nem dorme, Vê seu futuro sombrio.
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À Deriva No meu mundo de saudade Vivo perdida no tempo, Procuro normalidade Neste meu caminho lento. Coração amargurado, Tantas obscuridades, Vive triste e agitado, E perdendo faculdades. São as carências da vida Na dança que vai na alma, Uma bola colorida Que nos faz perder a calma. Coração apaixonado Em solidão permanente, Sorriso quase enjeitado Neste meu rosto carente. O meu pensar mal desperta Nesta longa madrugada, Sou tal qual janela aberta Aquém dum vidro, encerrada.
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Dores de Mim Dores se espalham em ti, Momentos indesejados, São lembranças que vivi Cantando os versos de um fado. Silêncios presos em nós Que nos consomem a mente, Nos estrangulam a voz Cada dia, agora e sempre. São momentos de paixão, Choro de contentamento, Achaques de coração Que escondem meu sofrimento. Lágrimas correm no rosto Corrida desenfreada, Como é grande o meu desgosto Numa vida inesperada E se o tempo apaga tudo, Minha alegria não volta, Neste viver surdo, mudo, Para mim, tudo é revolta.
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Sofrer O sol perfura-me a mente Sempre, sempre, a cada instante, Me entranha profundamente Quando vou rua adiante. Depois, se lança no mar Para aquecer o meu dia E corre p’ra me saudar Cheio de graça, harmonia. Logo, desde o alvorecer Quero ouvir a cotovia E do seu canto sorver Um pouco mais de energia. As árvores, se agitando, Nesse seu bailar infindo, Acalmam de quando em quando P’ra me saudar, como é lindo! O mar se espraia na areia Com seus beijinhos de amor, Maré rasa, maré cheia, Nunca para em seu fulgor. Cansado das brincadeiras, O sol põe-se no horizonte E logo as sombras matreiras O ocultam lá no monte. Terra cheia de magia Com tanto para oferecer, A sua sabedoria É cartilha em meu viver. 111
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Ocaso Escurece, meu amor Meu peito vive a sofrer, É tanta a tristeza, a dor, Que mal suporto viver. O meu sol já declinou. Na minha lenta ansiedade, Olho o meu rosto. Chorou Porque te sente. É saudade. Desde que te foste embora, Meu coração não sossega E minha alma por ti chora E à vida não se apega. Sem ti não quero viver, Chamo por ti porque te amo, Vem amor, vem me trazer A paz a meu corpo insano. Quando à noitinha adormeço, Quero contigo sonhar, O teu olhar não mereço, Mas vivo para te amar.
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Como Era Bom Como era bom eu ousar Ter momentos de ilusão, Nos teus olhos mergulhar, Viver contigo a paixão. Como era bom te abraçar, E sentir-te bem presente, Sentir teu olor no ar Mesmo estando tu ausente. Como era bom eu sentir Que tu pensas sempre em mim, Ver tua estrela luzir No meu peito em frenesim Como era bom, meu amor, Recordar esse momento, Junto ao mar, quando ao sol pôr, Eras tu meu pensamento. Juntos, sempre em sintonia, Lá na praia, a caminhar, Meu amor, que bom seria, Viver contigo a cantar.
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Índice Ficha Técnica ................................................................................................................................... 2 Bárbara Santos ............................................................................................................................... 4 Rosa Maria Santos ........................................................................................................................ 6 Uma apreciação da pintura de Bárbara Santos .................................................................. 8 Mulher Coragem ......................................................................................................................... 13 A Magia da Cor ............................................................................................................................ 15 Espero .............................................................................................................................................. 17 Escuridão ........................................................................................................................................ 19 Haja Alegria ................................................................................................................................... 21 Cores do Tempo .......................................................................................................................... 23 A Tela ............................................................................................................................................... 25 Arco Iris ........................................................................................................................................... 27 Noite ................................................................................................................................................ 29 Mar ................................................................................................................................................... 31 Tempestade ................................................................................................................................... 33 Sabes, Amor? ................................................................................................................................ 35 Meu Amor Ausente .................................................................................................................... 37 Entardecer ...................................................................................................................................... 39 Perdida Entre Estrelas ................................................................................................................ 41 Silêncio, quero Amar-te ............................................................................................................ 43 Anjo Meu ........................................................................................................................................ 45 Caminho ......................................................................................................................................... 47 Sonho .............................................................................................................................................. 49 Revolta ............................................................................................................................................ 51 Dorme, Meu Filho ....................................................................................................................... 53 Rosa Jasmim .................................................................................................................................. 55 Mar Bravo ....................................................................................................................................... 57 A Barca ............................................................................................................................................ 59 Parece Que Estamos Todos ..................................................................................................... 61 À Fraternidade, Paz e Harmonia ............................................................................................ 63 Um Mar de Flores........................................................................................................................ 65 117
Tempos Difíceis ............................................................................................................................ 67 O Meu Último Sonho ................................................................................................................. 69 Insatisfeita ...................................................................................................................................... 71 Vagueio ........................................................................................................................................... 73 Nova Aurora .................................................................................................................................. 75 Onde estás, Meu Mar? .............................................................................................................. 77 O Furor da Guerra ....................................................................................................................... 79 Memórias ....................................................................................................................................... 81 Esperança ....................................................................................................................................... 83 No Milheiral................................................................................................................................... 85 Deserto ............................................................................................................................................ 87 Luta ................................................................................................................................................... 89 Natura.............................................................................................................................................. 91 Ao Correr da Pena....................................................................................................................... 93 A Dama de Vermelho ................................................................................................................ 95 Furacão............................................................................................................................................ 97 Mãe................................................................................................................................................... 99 Haja Esperança .......................................................................................................................... 101 Perdi-me ...................................................................................................................................... 103 O Rico e o Pobre ...................................................................................................................... 105 À Deriva ....................................................................................................................................... 107 Dores de Mim ............................................................................................................................ 109 Sofrer ............................................................................................................................................ 111 Ocaso ............................................................................................................................................ 113 Como Era Bom .......................................................................................................................... 115
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