Título: "Gisela e a Prenda de Reis", conto para o Dia de Reis, de Rosa Maria Santos

Page 1

1


Gisela e a Prenda de Reis

Conto para o Dia de Reis

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Gisela e a Prenda de Reis Tema Conto para o Dia de Reis Autora Rosa Maria Santos. Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Janeiro de 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; VALE DO VAROSA: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

5


E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa - Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021. 6


Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia - Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; - Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo - Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil - Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; - Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Brevemente Vidas Suspensas, romance.

Distinções 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019.

7


10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesiavideopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020. https://issuu.com/rosammrs?fbclid https://romyflor.blogspot.com/p/blog-page.html 8


9


A Princesinha Gisela

O Reino de Siracusa, era governado por um jovem Rei de nome Afonso Ricardo. Sua esposa, a Rainha Isabela Santiago, era alegre, leal companheira. Era muito esbelta, meiga, dedicada à família e ao povo. O casal tinham seis lindas princesas, o sétimo filho não tardaria a nascer. O povo ansiava por um filho varão, mas, quando do último nascimento, o destino assim não entendeu e a rainha deu à luz a sua sexta linda princesinha. 10


O dia seis de janeiro, estava a chegar. Era, segundo a tradição, o Dia de Reis, que comemorava o dia em que os Reis do Oriente chegaram a visitar o Menino Jesus.

Durante os festejos, a Rainha entrara em trabalho de parto e passado algum tempo acabara de dar à luz a nova princesinha. Afonso Ricardo, o rei, estava radiante, bem que desejava ter um filho varão, mas, se Deus lhe enviou uma nova filha, Ele lá tinha os seus propósitos. O que é certo, é que o nascimento desta nova filha o encheu de alegria. A notícia logo se espalhou pelos corredores do castelo. Não tardou que o jovem Rei o exibisse feliz percorrendo os principais aposentos do Castelo, levando-o até ao varandim do 11


Palácio para o mostrar ao povo que ao longe lhe acenava feliz, manifestando o desejo de um bom augúrio para a menina e a sua Rainha. O Rei aceitava essa condição e agradecia aos céus a dádiva de tão grato rebento.

- Obrigado, Deus do Céu, Por esta tão bela flor Que Isabela me concedeu Pelo seu tão grande amor. É mais uma princesinha A animar nosso reinado. Meu e da minha Rainha Sempre sentada a meu lado. 12


Vê bem como ela é tão bela, Branca como a neve pura, É do céu pequena estrela Que ilumina a noite escura. É a sétima florzinha A animar a nossa vida, Bem-vinda, filhinha minha, Minha princesa querida.

Desde muito novo que o Rei Afonso Ricardo ouvira falar de uma maldição que parecia preocupá-lo. Corria entre os anciãos da Corte e rezava que quando um 13


casal tivesse a sétima filha sem haver filho varão, haveria de acontecer algo que ele nunca conseguira decifrar. Que soubesse, esse prenúncio nunca tinha até então acontecido a ninguém ao seu redor. Mas agora, ele era o protagonista. Foi então que pensou reunir os sábios da Corte para os impelir a quebrar esse ciclo estranho de tão mau presságio.

- Acredita, princesinha, Que nada se vai passar E que em toda a vida minha Velarei, p’ra te cuidar.

14


Presságios? Não me acredito, Ninguém te vai fazer mal, Apenas algo predito Por um qualquer ancestral.

Isabela Santiago era bondosa para com o seu povo e mês após mês, vestia-se de plebeia e, incógnita, passeava entre os seus súbitos, tentando manter-se assim a par de tudo o que se passava no Reino, sempre atenta às necessidades do povo. Ela sabia o quanto era difícil colocar na mesa de cada um os bens 15


essenciais para a alimentação dos seus filhos, sabia por experiência da necessidade das crianças serem bem alimentadas. Por isso, fazia questão de em segredo fazer essas incursões secretas no meio do seu povo. Conseguia assim ouvir os seus lamentos, as suas lamúrias, a falta de recursos para conseguirem os bens básicos para satisfação das suas necessidades. O Rei apercebia-se dessas saídas, mas nunca o manifestava, para não a constranger e cada vez que disso se apercebia, suplicava a Deus para que a protegesse de qualquer mal. Até que um dia, receoso do que lhe poderia acontecer, aproximou-se dela e, disfarçadamente, perguntou.

16


- Minha rainha, aonde vais Com vestes de pobrezinha? - Meu marido, que há de mais? Não confiais na Rainha! - Confio, sim, queridinha, Ides visitar o povo! O tempo que se avizinha Nos trará algo de novo. Há um assunto premente Para juntos resolver Temos tempo, nada urgente, Vai, tens muito que fazer. Mas há que nos precavermos Que nada vai correr mal Porque não nos esquecemos Desta filha especial. A rainha, apreensiva E sem dar uma resposta, Pareceu ficar perdida, Até algo de indisposta. Não seria este o momento, Tinha que a ver crescer Sem sentir constrangimento E a solução aparecer. 17


E lá foi a meditar nessa conversa inquietante. O assunto era deveras preocupante, mas com o tempo, Isabela Santiago e o seu marido, o Rei, haviam de encontrar uma solução. Afinal, até poderia não ter qualquer sentido toda a sua preocupação. Depois, não iria nunca aceitar um destino que não era o seu e que, abusivamente, alguém traçara um dia para a sua filha, nascida de reis, como rezava a lenda. Na corte havia muitos sábios que haviam de saber como contornar tudo isso. Isabela Santiago continuava na sua atividade quotidiana lá pelo castelo, a educar as filhas, ensinando-lhes 18


todos os ditames que deveriam seguir quando crescessem. Explicava-lhes que deveriam ser educadas e bondosas para com o povo, indo de encontro às suas necessidades básicas: alimentação, educação, saúde, e tudo o que para eles se mostrasse essencial. Deveriam ser generosas e aprender a partilhar, respeitar o povo para serem respeitadas. E as princesas pareciam entender e corresponder aos anseios da mãe. Eram inteligentes e aprenderiam a ser bondosas e humildes como a mãe. - Prestem atenção ao que vos digo:

19


Carolina, Clementina, Rita, filhas tão formosas, Carlota, Mariazinha, Jaquelina, que bondosas! Minha sétima menina Está no berço a dormir Vê de como é queridinha, Crescendo, nos vai seguir.

As sementes eram lançadas assim, em pequenas, para que pudessem assimilar os conceitos a seguir, e

20


quando crescessem, os ensinamentos fossem seguidos com naturalidade. Cada fim de semana, Isabela Santiago chamava ao salão, alguns dos seus aios e dava-lhes instruções que eles deviam acatar rigorosamente, ninguém podia levantar uma suspeita sequer que era a Rainha que enviava aqueles cabazes de bens necessários para os carenciados e fazia-lhes todas as recomendações de como deviam proceder para que ninguém desconfiasse de nada. Claro que todo o povo sabia bem quem enviava aqueles cabazes com provisões que enchiam a despensa dos necessitados, mas nada diziam sobre isso.

21


- Fieis e leais amigos Vão a todos entregar Cereais, carne, pão, figos Que nada possa faltar. Um cabaz p’ra cada lar, Roupa e mercearia E em todos se inteirar Se aumentou a família. Se houver filhos a nascer Há que o cabaz aumentar Há despesas a fazer E devemos ajudar. Neste tempo tão precário Há coisas a acontecer E neste correr diário Não quero vê-los sofrer. O tempo era de feição. Com cada lar apoiado O seu nobre coração Parecia acomodado.

22


Estava sempre atenta ao que acontecia. Isabela Santiago era o exemplo que todos deviam seguir. O povo estava contente com a sua Rainha e agradeciam a Deus por tão nobre senhora a comandar as suas vidas. Tudo corria bem no reinado de Siracura e toda a gente vivia feliz. O tempo ia passando, os Reis continuavam apreensivos com o velho presságio. Magos, filósofos e curandeiro não havia meio de vislumbrar a solução para o enguiço, herança dos ancestrais do Rei Afonso Ricardo. Precisavam de uma solução que insistia em não aparecer. 23


Quase seis anos se passaram após o nascimento da sétima filha do casal real. Isabela Santiago andava atarefada para as visitas de mais um Natal que se aproximava. Desta vez, seguindo o exemplo dos anos anteriores, preparava-se para a última distribuição mensal do ano. Como ela gostava do Natal! Esse ano, gostaria de fazer uma grande festa lá no Paço, convidando o povo para ali se deslocar e assistir. Haveriam de comer, beber, dançar, e divertir-se todo o dia. E aos casais mais humildes haveria de distribuir um cabaz de todo especial, a fim de poderem usufruir de uma magnífica noite de consoada. 24


No meio de todos estes planos, sentia-se tristeza no olhar da Rainha e do seu amado Afonso Ricardo. O dia para o cumprimento daquela insana profecia aproximava-se e criava no seu espírito um clima de apreensão nada agradável. Como proteger Gisela, a pequena princesinha?

- Isabela, minha flor, Vem junto a mim – pede o Rei. Chega-te aqui, por favor, Quero falar-te e nem sei.

25


- Sim, depressa, Majestade, Vou buscar a Princesinha Grande a generosidade Ao cuidar sua cabrinha. - Rainha, não vás agora, Entra nos meus aposentos, Presto vai chegar a hora, De acordo com os documentos. Passou tão rapidamente P’ra encontrar a solução! Não a temos, infelizmente, Para por fim à maldição. Tudo o que ali é escrito Causa tanta confusão!... No silêncio ouviu-se um grito Que causou preocupação.

26


Logo o palácio entrou em alvoroço. Correram por tudo o que eram salas, corredores, cada aposento. Isabela dirigiu-se apreensiva aos quartos das princesas e nada parecia encontrar de anormal. Mas, quando chegou ao quarto da princesa Gisela, não a encontrou. Ainda há pouco a tinha deixado a brincar com a Lolita, a pequenina cabrinha. Divertia-se muito a dar-lhe de comer. A cabrinha Lolita, tinha-lhe sido oferecida por Mário, o pastor, como presente, pelo seu terceiro aniversário. Quando o simples humilde pastor lá foi levá-la, recomendou à princesa: - Trata bem a Lolita. Ela livrar-te á de todos os perigos. Sempre que alguma coisa acontecer, se a tiveres junto de ti, nada te irá acontecer. 27


O curioso, é que desde esse dia a princesinha só estava bem ao lado da cabrinha Lolita. Lolita, dormia num pequeno cesto ao fundo da cama e, caso se ausentasse por um segundo que fosse, a princesinha abria os olhos e corria à sua procura. E assim, se tornaram amigas inseparáveis. Os Reis entreolharam-se, como parecendo agora compreender o porquê daquele singela oferta do humilde pastor. Aos seus olhos, surgia-lhes agora como o talismã que iria proteger a sua princesinha.

- Querido rei, meu amado, Gisela desapareceu, Procurou-se em todo o lado, Que será que aconteceu? 28


É noite de consoada, Um novo ano virá E, maldição consumada, Que mais acontecerá? Logo chega o aniversário, Algo aqui não bate certo, Busquemos o pastor Mário Na casa do pai, o Alberto.

E sem perder mais tempo, Afonso Ricardo e Isabela Santiago, o casal Real, acompanhados de alguns 29


súbditos, partiram do Castelo, vestidos com trajes de camponeses, e foram em direção à casa de Mário e Alberto. Precisavam falar com ele do desaparecimento da filha e tentar inteirar-se do porquê das suas palavras quando lhe ofereceu aquela cabrinha. Percorreram montes e vales mas não havia meio de chegarem a sua casa. Um dos seus súbditos, que tinha a fama de conhecer toda a gente, ficara sem palavras quando não encontrou a casa dos humildes pastores. Tinha desaparecido. O que teria acontecido? Não havia ainda muito tempo e jurava que tinha estado ali a conversar com Alberto. Na verdade, ele sentiu-o algo agastado e apreensivo, mas nada entendera. Será que era alguma coisa relacionada com o agora desaparecimento de Gisela, a princesinha?

30


- O que foi que aconteceu À cabana do pastor? A casa desapareceu Mas que aconteceu, que horror? E aos seus olhos apareceu Alguém vestido de branco O seu corpo estremeceu Ao olhá-lo com espanto! Alguém estava a chamar: - Onde estás, princesa minha? … E uma lágrima a tombar Pela face da Rainha.

31


Envoltos em todo aquele mistério, logo tentavam entender o que teria tudo isto a ver com o desaparecimento da sua querida princesa. Não, Mário e Alberto nunca teriam tocado sequer num cabelo de Gisela, era tão submissa, tão carinhosa! Estariam, isso sim, a tentar protege-la. Precisavam de os encontrar. Isabela Santiago aproximou-se de um canteiro de lírios brancos, imaculados. Nunca imaginara que no seu Reino houvesse flores tão belas. Cuidadosamente, para que não os pisasse, baixou-se e passou dedicadamente a sua mão sobre um deles. Deus Santo, como era macio. Que fragância tão suave! Foi então que sentiu uma brisa suave que parecia sussurrar-lhe ao ouvido: - Não tenhas receio, Isabela Santiago, em breve vais encontrar a tua menina. Num ápice, inspirou aquela fragância e logo se viu envolta num manto de lírios em tudo semelhantes. Logo, Pégaso, o cavalo mágico, voou na sua direção e a convidou a montá-lo. Sem perder tempo, saltou para o seu dorso e voaram céus adentro, cruzando o celeste azul dos céus, em direção a um vasto prado vestido de verde esperança.

32


E com Pégaso voou Com a mais terna esperança Que pelo céu que cruzou Visse por fim sua criança. Naquela estranha aliança, Lá vinha um camaleão Que com toda a confiança Caminhava pelo chão. Num manto multicolor Em silencio caminhavam, Num misto de luz e cor Logo os dois se entreolhavam. 33


Sentia-se surpreendida e estranha ao ver o Pégaso descer sobre aquele prado vestido de verde esperança e logo ali avistar o simpático camaleão, que, enquanto seguia, lhe dizia: - O meu nome é Azetec. Não tenha receio, Isabela Santiago, rainha nossa, far-lhe-ei companhia no decorrer do nosso pequeno passeio, se não a incomodar, sua majestade siga-me por favor, serei o seu acompanhante.

34


E lá foram seguindo prado fora enquanto Azetec explicava à Rainha o porquê do desaparecimento da sua menina, mesmo à chegada do seu aniversário. Era o tempo do cumprimento da profecia. Mas os guardiões do universo não concordavam com esse mau presságio que sobre ela recaía e, sendo filha de reis tão bondosos, não podiam permitir que ficassem privados da sua presença. A princesinha ser-lhes-ia devolvida no dia que se seguia ao seu aniversário, quando passasse o tempo da maldita predição. Até lá, tinham que ter muito cuidado, porque a Fada da Curta Distância tinha os seus olhos espalhados naquela floresta multicolor. A rainha Isabela Santiago percorria agora o 35


amontoado de folhas multicolores, disfarçada, para fugir aos olhares da Fada da Curta Distância.

No jardim nada se ouvia; O meigo camaleão Bem lesto disfarçaria As pegadas pelo chão. A tal da Curta Distância Com seus olhos sempre alerta, Cuidava da cartomancia Para aquela chaga aberta.

36


Com muita, muita cautela, Os dois seguiram caminho E ao verem um barco à vela Seguiram outro destino.

Naquela caminhada mergulhada de silêncios, o som do vento era o ruido que os ajudava no prosseguimento daquela tão dedicada missão. Quando chegaram ao término da floresta, encontraram um areal de areia branca muito fina. Foi então que Azetec, o camaleão, se despediu da rainha. Para sua surpresa, dentro da embarcação encontrou Mário, o pastor, que saindo do barco, se dirigiu à Rainha com uma enorme vénia, convidando-a a entrar. 37


No castelo, a pequena princesa aguardava ansiosa a chegada da mãe.

- Vamos, Sua Majestade, Porque a sua princesinha Está morta de saudade À espera da mãezinha. Logo após o aniversário, Vai regressar ao castelo; Tudo isto é necessário P’ra findar o pesadelo.

38


O tempo voou e depressa se encontraram numa gruta, oculta nos confins daquela ilha. Acostaram, entraram num pequeno bote e seguiram através de um trilho estreito, até chegarem a um castelo de largas paredes douradas, aonde eram esperados por seu pai, Alberto, o velho pastor, que pacientemente esperava junto a um enorme portão que abriu, tendo franqueado a entrada à Rainha Isabel Santiago. Entrou então num belíssimo jardim, com canteiros repletos de lírios brancos, quando de repente avista uns delicados braços correndo na sua direção. Era Gisela, a sua querida princesinha, agora e sempre acompanhada de Lolita, a sua tão querida cabrinha. Correu para ela e enlaçoua no mais longo e carinhoso abraço. 39


Entretanto, lรก no Reino, Afonso Ricardo, o Rei, ansioso, que tentara entrar pelo pequeno espaรงo por onde a Rainha tinha desaparecido, tendo regressado ao Paรงo, ali vivia esperanรงado de que em breve voltaria na companhia da sua amada menina. Era o Dia de Reis. No palรกcio, tudo estava ansioso pelo desenrolar dos acontecimentos e preparavam a habitual festa para tentar trazer um pouco de luz ao mundo em trevas que ali se vivia.

40


Noite dentro, quando bateram as vinte e quatro horas, as portas do palácio abriram-se e, alegres e felizes, envolvidas num abraço, Gisela, a princesinha, a sua amada mãe, a Rainha Isabel Santiago, e a cabrinha Lolita, entravam triunfantes sobre os aplausos de toda a gente que ali se encontrava. Era o fim da maldição. Durante toda a noite, houve festa no Palácio. A partir desse dia, não teriam, nunca mais de enfrentar aquela maldição sem sentido que tanto acabara por afetar as suas vidas.

41


Terminou-se a maldição, A Princesa regressou, Alegre-se o coração!... E todo o povo dançou… Cantemos com alegria Até quando alvorecer Haja paz, e harmonia E vontade de viver. Dia de Reis, que haja festa, Porque nosso Deus o quis, E essa Fada que não presta Parta p’ra sempre, a infeliz. 42


43


44


45


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.