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Marly a pequenina duende
Conto
Rosa Maria Santos 2
Ficha Técnica
Título Marly, a pequenina duende Tema Conto Autora Rosa Maria Santos. Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições
Editado em E-book em Abril 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3
Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4
É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.
E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.
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E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa - Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o 6
Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021.
Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia - Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; - Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo - Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil - Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; - Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.
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Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.
Distinções 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia8
videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020. Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs
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Marly, a pequenina duende
Era sexta feira, fim de semana, um dia invernoso, embora fosse Primavera. Sofia acordou com o ribombar de trovões e assistia apreensiva ao vento que fustigava as portadas da janela. Puxou os lençóis e enfiou-se por debaixo, procurando ali alguma proteção. Tinha um pavor tremendo à trovoada e era ainda muito cedo para se levantar. Passado algum tempo, o movimento em casa começou-se a sentir. Preocupado com o temporal, Júlio, o pai levantou-se, vestiu-se à pressa e saiu para avaliar os estragos causados pela intempérie. O pomar ficara 10
uma lástima e as trepadeiras de morangos que ali colocara, jaziam no chão.
Depressa, chegou a vez de Sofia se levantar e se preparar para ir para as aulas. Ansiosa, espreitava pela janela do seu quarto, no primeiro andar da moradia. Helena, a mãe, Matias, o irmão, e Eva, a avó paterna eram os outros componentes do agregado familiar. Sofia estava sempre atenta ao que se passava ao redor, fosse em casa, no jardim ou no pomar de frutos, lugar a que os pais dedicam todo o seu tempo, cultivando, tratando do vasto pomar de pereiras, macieiras, pessegueiros, ameixoeiras, e outros ou da mata de castanheiros e pinheiros mansos. 11
No jardim tinham colocado alguns morangueiros, kiwis e maracujás que faziam as delícias de Sofia e de Matias, gostavam dos sumos e compotas preparados pela avó Eva, que vivia com eles desde o dia em que o avô Jacinto repousara das suas fadigas. Mas esta noite tinha sido terrível, muito mal dormida. Sofia despertara em sobressalto com o ribombar dos trovões e a ventania forte que se fizera sentir e olhava agora entristecida para as flores das macieiras e de todas as outras árvores espalmadas no chão. As pequeninas peras que brotavam das árvores tremelicavam com o vento, prestes a cair.
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- Porquê isto, senhor vento, Onde vai tão apressado? Espere lá um momento! E seja mais delicado! Tenha pena do pomar, Dê-lhe um pouco de atenção, Não o vá prejudicar E o lançar pelo chão! E já nem falo nos frutos Que sem dó nem piedade Vi caídos há minutos, Abrande essa intensidade! 13
Já são horas de parar, A noite foi agitada, Trovões, chuva a acompanhar E a seara estragada… E Sofia, desolada Com o estrago que ali via, Olhava, quase chorava, O manto que o chão cobria
Estupefacta, através dos vidros da janela, dialogava com o vento, tentando consciencializa-lo de toda aquela tragédia. No meio da sua tristeza, reparou de repente num ser minúsculo a saltitar feliz e contente entre aquele manto de florinhas brancas, rosa e amarelas. Tenta abrir a janela, mas o vento era tão forte 14
que não teve força para o conseguir. E volta a avistar o minúsculo ser a saltitar entre aquele manto de flores que cobriam o chão. O que seria? Por momentos, deixou de o ver, questionou-se:
- O que vem a ser aquilo? Pensa de si, para si Será talvez um esquilo De verdade mal o vi! Saltitava entre as flores Num bailado tão suave, Olhava p’los arredores Como se fora uma ave. 15
Quem sabe, algum estorninho, Melro de bico amarelo!... Não, não era um passarinho, Diferente, muito belo. O vento, a soprar depressa, Faz as flores rodopiar E aquele ser regressa Para tudo começar.
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Seus olhos esbugalhados E de boca bem aberta, Olha p’ra todos os lados E algo logo a desperta. - Ó, parece uma menina Tão pequena, mas que estranho, Mas é linda, tão franzina, Apesar do seu tamanho. E chega a avó. – Vem, netinha Esta na hora da escola Hoje vais com a mãezinha, Prepara a tua sacola.
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E lá se foram aqueles momentos mágicos. Com a entrada da avó no quarto para se certificar se estava acordada, sente alguma frustração, mas tenta conterse e disfarça. - Bom dia, minha querida netinha, são horas de te preparares, e ir para a escolinha! - Bom dia querida avó Eva, esta noite dormi muito mal. O vento, a trovoada e a chuva, que susto, avó. Olha, vem aqui à janela ver, avó, vê os estragos que o vento provocou no jardim e no pomar. No meio desta desgraça, repara no bailado das flores pelo chão. Tão trágico e ao mesmo tempo tão lindo poder vê-las rodopiar.
- A natureza é mesmo assim, imprevisível. O paizinho já saiu de casa faz duas ou três horas. Foi aperceber18
se do estado das vinhas. Com este tempo assim lá se vão as uvas e os frutos. Mas foi sempre assim e irá ser no futuro. Depois, Deus provê as nossas necessidades e no fim há sempre frutinha com fartura, não te preocupes, netinha querida. Vá lá, são horas de te vestires e desceres para tomar o pequeno almoço, já lá está na mesa à tua espera. Outra coisa, hoje é a mãezinha que te leva à escola! Como está a chover e com este vento forte, o melhor mesmo é ires de carro, para não ficares encharcada com água toda a manhã. - Está bem avó Eva, eu já desço.
- Não demores! Vou ver como está o Matias. Sorte a dele que só tem aulas após o almoço.
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Sofia espreita de novo pela janela e lá está, como se à sua espera a pequena menina, como se fora uma das suas bonecas que alcançara o dom da vida. - Uma menina anã! Fascinante! - pensava Sofia sustendo a respiração - Será que sabe falar? No meio de todas estas cogitações, uma coisa era certa, ia ser muito divertido se conseguisse manter com ela qualquer tipo de conversa e transformá-la numa amiga de referência. Mas algo a intrigava. Como podia ela dançar ao vento e suportar a chuva? Algo parecia incoerente. Se com o frio e a chuva se constipasse, pela certa que ia cair doente. Afinal, a mãe não se cansava de recomendar:
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- Sofia, agasalha-te, Sofia vais ficar doente! Não sejas teimosa, Sofia. Não tires o casaco que te constipas! Coisas de mãe-galinha, como dizia o paizinho: - Nem deixas as crianças crescerem à vontade. Se eles se constiparem, paciência, é uma forma de ganharem defesas. Não sejas tão obstinada, Helena, preocupaste demasiado. Nós fomos criados a brincar no campo e somos fortes e rijos, deixa que eles façam o mesmo, ou acabas por criar duas florinhas de estufa. Preocupas-te se ficarem doentes – continuava - mas pequenas mazelas que todos ganham quando crianças, só lhes vai fazer bem. - Pois é, mas quando o Matias teve o Sarampo, não achaste graça nenhuma. Ficaste tão preocupado que passaste dias e noites à sua cabeceira. - Sim, é verdade, mas no fim de tudo, o Matias ficou forte como um pero. Recordações que passaram pela mente de Sofia. Foram dias de aperto, mas tudo passou com um final feliz.
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- Tempo de me despachar Pois está quase na hora O meu leite vou tomar E saltar para a escola. Minha mãe me vai levar Por causa deste mau tempo E quando a aula acabar, Logo se vê, no momento. Quando a casa regressar, Vou procurar por ali E entre as flores hei de encontrar A menina que hoje eu vi. 22
A manhã foi terrível, o vento sacudia as árvores com tal violência que os frágeis galhos gemiam e as folhas eram arrancadas sem dó nem piedade, deixando o solo coberto com um manto delicado, preço pesado para a flora local, sobretudo, para as árvores de fruto. A escola não ficava distante da herdade. Habitualmente, aquela distância era percorrida depressa, na companhia da avó Eva, mas naquela manhã, só mesmo o carro conseguia suprir a necessidade de se deslocar com mais segurança.
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- Sofia, princesa minha Vem daí para a escola. - Vamos sim, minha mãezinha, É só pegar na sacola. - Mas que tempo tão horrível! No fim, vou-te lá buscar, Para a avó é impossível, É mais seguro aqui estar.
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Ainda nos cai doente, Pois já tem alguma idade, O vento é impenitente, Às vezes, sem piedade. A intempérie é normal, Não tenhas medo princesa, Depois de todo este mal, Recompõe-se a natureza.
O vento soprou forte e sacudiu um pinheiro com uma violência terrível e em poucos segundos viram cair um pequeno ninho. Com o impacto, três pequenas crias rolaram no solo e começaram a rodopiar, gemendo 25
aflitas, como que apelando ao socorro dos seus progenitores que, prontamente, se fizeram presentes, impotentes por verem o ninho estendido no chão. Sofia olhava consternada para a mãe que espontaneamente saltou e delicadamente pegou no ninho e ali recolocou as três crias, perante a observação dos progenitores e de pequenos outros pardais que dali se abeiraram.
Pegou no ninho e levou-o para um lugar seguro dentro de um barracão de alfaias agrícolas, abrigados de intempéries. As aves acompanhavam toda a atividade e logo ali se refugiaram. Mais feliz agora, Sofia desabafava com a mãe. 26
- Mãezinha já viste que lindo está o chão? Pena é que a fruta vá ressentir-se, as árvores perderam muita da sua flor. - Verdade, filha, mas não fiques preocupada, estes problemas são comuns e logo os mais adultos encontram outras soluções.
Sem que a mãe se apercebesse, os olhos de Sofia procuravam encontrar ao redor a sua menina, aquele ser pequenino que avistara da sua janela. E eis que de repente a encontrou. Disfarçadamente, o pequenino ser olhou-a com um sorriso e fez uma careta malandra. E logo se escondeu sob um montículo de flores, ali
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mesmo ao lado. Sofia rejubilava de alegria e nem queria acreditar no que acabara de ver. E gritou: - Mãezinha, reparaste no que aquela coisinha tão querida fez para mim? Olhou para mim e fez uma careta para logo de seguida se enfiar sob o manto de florinhas.
- Sempre com as tuas fantasias! Que menina esta – disse - Entra no carro que estamos a ficar atrasadas. Mas, qual quê! Sofia, cheia de curiosidade, correu para o pequeno montículo e procurou encontrar o pequeno ser. Quando lá chegou, mexeu, remexeu, mas nada de o encontrar. É então que sente que algo a mordia no dedo e grita. 28
- Ai, ui, que dor no meu dedinho, fui mordida. Que dores!
- Vem, mãezinha, por favor Vem ver o que aconteceu! Grita Sofia com dor Acode-me, Deus do céu! Com o seu dedo a sangrar, Sofria agora com medo, Quando ouve alguém falar: - Gosta do filme, do enredo?
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Algo surge à sua frente, Um ser pequeno demais A quem disse eloquente: - Isso nunca faças mais! - Se não fosses curiosa Nunca serias mordida! - Tu foste muito manhosa, Nessas flores escondida! - Não sei como conseguiste Encontrar-me nas florinhas. - Eu também! – E não resististe Em dar-me umas mordidinhas
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- O que foi que aconteceu Sofia? Nunca mais deixas de brincar com tudo, princesa? Vem, estamos atrasadas para a escola! - Ai, o meu dedinho que dói tanto! - Não devias ter vindo aqui, pirralha, vai ter com a tua mãe. Quem sabe, nos voltamos a encontrar. - Senti curiosidade em te conhecer, por isso vim. Mas não precisavas ter mordido o meu dedo! - Nunca ouviste dizer que a curiosidade matou o gato? - Sim, mas, insisto, não era razão para me morderes deste modo. Olha o meu dedo, não para de sangrar.
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- Ai sim? Paciência, da próxima vez tem mais cuidado. Nunca devemos meter a mão sem saber o que está por baixo escondido.
- Senti curiosidade. Quem és tu? És muito pequeninha, do tamanho das minhas bonecas. - Sou uma menina duende, só aparecemos em dias de temporal, no meu mundo dos duendes só podemos sair quando a chuva cai e o vento sopra, nessas alturas, as crianças não saem à rua e não corremos riscos desnecessários. Não devemos ser vistos por crianças como tu, é perigoso. Mas, na verdade, tu deves ser alguém especial porque conseguiste ver-me. - Pois vi. E logo fui mordida por ti. 32
- Vai servir-te de lição. Vai ter com a tua mãe, está a chover demasiado, ainda apanhas alguma gripe. - Vou sim, mas logo que esteja livre da escola, prometo que venho aqui para estar contigo, quero ter-te como amiga. - Diz-me o teu nome. - Sofia, e tu como te chamas? - Podes chamar-me Marly. Não sei se logo posso estar por aqui, mas logo vemos. Não sei ainda bem se devo ou não conhecer-te ou fazer amizade contigo.
- Para que hei de conhecer Uma pirralha mimada O que eu tenho a fazer É esperar… e mais nada. 33
E a duende, a sorrir Olhou bem para Sofia: - Curiosa em descobrir O que fazes cada dia. Sempre que houver temporal Talvez aqui possa vir Não para te fazer mal Mas para me divertir.
Com um sorriso nos lábios, Sofia virou costas a Marly e partiu. Deu alguns passos e voltou-se de novo. Mas, apenas viu algumas florinhas a mexerem-se com o soprar do vento. E continuou o seu caminho em direção à mãe. 34
- Então, Sofia, parece não teres pressa de chegar à escola. Entra lá no carro, olha-me bem as horas que são, miúda, vamos chegar atrasadas à escola. O que tens no dedo? Estás a sangrar, o que aconteceu? Deixa cá ver! – e examinando – É um golpezinho, nada de especial. Mas o melhor é desinfetar, tenho aqui uma pequena caixa de primeiros socorros, não tarda ficas nova.
Quando chegaram à escola, o toque da sineta anunciava o início das aulas. Sofia despediu-se à pressa da
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mãe e entrou na escola a correr. À porta, como sempre, estava a professora a receber cada aluno. - Bom dia, professora Sara – cumprimentou. - Olá, Sofia, o que aconteceu ao teu dedo? - Fui mordida por uma menina duende. A minha mãe desinfetou a ferida e colocou este penso. - Sempre a sonhar, Sofia, uma menina duende, só mesmo vindo dessa cabecinha sonhadora. Fosse o que fosse, fizeram bem desinfetar e tratar. Essas pequenas feridas podem-se transformar em casos complicados. Ainda mais, vindo dos dentinhos de uma menina duende – sorriu, estendendo-lhe a mão e fechando a porta da sala.
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Sofia sentou-se na sua cadeira, abriu a mala para retirar o caderno, o livro e o lápis. Surpresa, sentiu de repente algo que lhe saltava para a mão. Nem quis acreditar, era a menina duende do pomar. Com os pequenos olhos esbugalhados de surpresa, tentou ocultá-la do olhar dos seus colegas. Como se teria ela infiltrado na sacola? - Psiu, não digas nada, mantém-te em silêncio, ninguém pode aperceber-se de que estás aqui. Como entraste na minha sacola, Marly? Marly olhou-a com um sorriso malandro e piscandolhe os olhos, disse:
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- Estava curiosa por ver como era uma sala de aulas de meninas iguais a ti! - Mas não te podes expor a outras crianças, escondete por favor! - Eu não deixo que me vejam, fica calma. E logo Marly se metamorfoseou na cor acastanhada das mesas e das cadeiras da sala de aulas e, saltitando daqui para acolá, acabou por chamar a atenção de Antoninho, um menino vivaço, com uns enormes óculos enfiados nas orelhas. - Uau – disse - temos algo estranho, professora Sara! Que coisa mais gira, nunca antes vi nada assim. E logo, lança a mão em cima da menina duende que, combalida, cai na fria pedra do chão.
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Ao aperceber-se, Sofia logo acorreu para apanhar Marly que ali ficara inerte, sem dar sinal de vida. - Como foste capaz de magoar a minha amiguinha, Antoninho? Isso não se faz, deixas-me muito triste. Antoninho com uma lágrima a correr pelo rosto, logo pediu desculpa e debruçou-se sobre o pequeno ser, inerte no chão. - Oh! Parece uma menina! E, com o olhar cheio de tristeza, desabafou:
- Só lhe dei uma palmada Para não me incomodar, Sou alérgico a picada Que até me pode matar. 39
Desculpa-me, pequeninha, Mal não queria fazer! Tens um rosto de menina! E todos o querem ver. - Que lindo, que engraçadinha! Sofia ergue-a do chão Coloca-a sobre a mesinha E a acaricia co’a mão. Não se deixando abater Perante o risco tamanho Não sabia o que fazer Nesse lugar tão estranho. Depois de se recompor, Salta p’ra a mão de Sofia E sentiu o seu calor Expresso em tanta alegria.
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Agora, ao sentir Marly mais calma, os alunos desmultiplicaram-se em perguntas às quais Marly ia respondendo como podia. A turma estava encantada com aquela visita inesperada. Lá fora, sentia-se ainda um dia terrível de temporal. Dado esse condicionante, o tempo de recreio ia agora ser passado junto daquela menina fascinante, de tudo tão diferente. Ali, Marly lhes contou sobre a vida dos duendes. No seu mundo, tinham também a sua escola e coisas mais. Viviam em comunidade e, embora tivesse encontrado algumas semelhanças, havia algo que era muito diferente no País dos Duendes. Ali não havia ódios, maldade ou fome. Todos eram iguais, ninguém mais do que ninguém. Quando algum adoecia, os restantes membros 41
da comunidade recebiam-no como família, até que pudessem recuperar. E assim viviam todos em paz e harmonia numa comunidade feliz.
Nesse dia, todos estavam tão entretidos que nem lhes apetecia voltar para casa, nem queriam pensar em despedir-se de Marly, não sabiam se a podiam reencontrar. Foi então que Marly, agora de pé sobre a mão de Sofia, lhes disse: - A partir de hoje, prometo-vos visitar uma vez por mês aqui na escola. Aceitam? Mas há um senão, não podem contar a ninguém este nosso acordo. Gradualmente, irei contar-vos como é a nossa vida no Reino 42
dos Duendes. Em troca, vocês ensinar-me-ão tudo sobre a vossa vida. Que dizem?
- É muito bom ter amigos, Viver em comunidade, Libertar-nos de perigos E acabar co’a maldade. Os duendes são assim, Amigos de toda a gente, Viveremos no jardim Como amigos, para sempre.
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Temos um rumo traçado, Tornar o mundo melhor, Trabalhemos lado a lado Na construção do amor. E todos em união, Com os olhos no futuro, Juntos de alma e coração Erguemos um mundo puro.
- Sim – responderam todos E logo se despediram, regressando cada um a seu lar. Não antes de Antoninho renovar o pedido de desculpas pela palmada que instintivamente lhe deu. 44
- Desculpa-me, amiguinha, juro que a minha intenção não era fazer-te mal. - Eu sei que não, Antoninho, mas sabes uma coisa? Qualquer ser vivo, têm direito à vida, mesmo os mais pequeninos ou aparentemente nocivos para a nossa saúde. - Terei mais cuidado de futuro, prometo. Depois, não sabemos se entre esses pequenos seres existe algum duende lindo como tu a quem possa causar mal.
Até à próxima, amiguinha Marly - despediram os meninos. Sofia, com Marly metida no aconchego do bolso do Anorak, saltou para a rua, aonde sua mãe já a esperava para a levar de regresso a casa. - Estou com uma fome que nem imaginas, mãe. 45
- É só mais um pouco e logo chegamos a casa. Então, já podes saciar essa tua fome – sorriu. Quando chegou, Sofia saltou do carro e foi a correr para colocar Marly num amontoado de florinhas ali junto do jardim, bem perto da janela do seu quarto. - Vou almoçar, amiguinha Marly, espero que aqui consigas o conforto que precisas antes do teu regresso a casa. - Não te preocupes, Sofia, vai com Deus e que ele te proteja sempre.
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Fizemos uma aliança P’ró resto da nossa vida Haja pois, fé e esperança Disse Marly comovida Somos ainda crianças Com responsabilidade, Ponhamos as esperanças Neste pacto de amizade. Juntos vamos construir Um tempo de paz e amor Para podermos sorrir E agradecer com louvor.
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