Título: « Milaidy, a vaquinha bailarina» conto de Rosa Maria Santos. Outubro 2021

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Milaidy a vaquinha bailarina

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Milaidy, a vaquinha bailarina Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Outubro 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, 5


capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a 6


guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa – Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente – Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado – Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021; Milaidy, a vaquinha bailarina – Outubro 2021.

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

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Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.

Aventuras de Samir e os amigos Samir, o Ratinho – Um rasgo de coragem – Setembro 2021.

Distinções - 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. - 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. - 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). - Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. 8


- Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. - Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. - Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali - 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. - Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020.

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Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs Blog: https://romyflor.blogspot.com/p/blog-page.html 10


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Milaidy, a vaquinha bailarina

Simão, um menino muito astuto, acabara de completar nove anos de idade. Era o único filho dos proprietários da Herdade Orquídea Branca, Sebastião Tourigal, Engenheiro Agrónomo de profissão e Mariana Souto veterinária. 12


No tempo de lazer, gostava de brincar com as ovelhas, as cabras e outros animais. Transformava-se então em pequeno pastor e corria através de cada canto do prado, sempre acompanhado pelo inseparável Fiel, o seu amado cãozinho. Numa dessas incursões pelo Prado, descobriu um esconderijo e logo pensou na vaquinha Milaidy. Quem sabe, ali pudesse praticar a arte de dançar que tanto apreciava, sem que fosse incomodada pelos outros animais. Levála para lá, seria o segredo que iria preservar até que chegasse ao dia do concurso que se aproximava. Havia de se revelar uma grande surpresa, ai se não ia!

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- Meu Fiel, bom companheiro, Vamos ter com a vaquinha Neste dia soalheiro P’ra aproveitar a fresquinha. Ela quer ser bailarina? Pois nosso apoio vai ter, Qual surpresa p’ra mãezinha Que vai gostar de saber. 14


Mas, há que guardar o segredo, Não diremos a ninguém, Não tenhas receio, medo, Ali vem ela, ora bem!

Milaidy, a pequena vitela de nove meses, aproximava-se, como sempre, com passos delicados de bailado. Tinha como professor o Simão, que lhe ia ensinando alguns 15


passos de dança e a aconselhava como sabia. Este, ansioso, esperava inscrever a amiga no Concurso de «Animais com Talento» que estava a ser preparado a preceito. Para ele, Milaidy era dotada de uma esperteza invulgar, com atributos que nenhum outro animal da Herdade Orquídea Branca tinha. Era assim que a via nos seus tenros anos de vida. É claro que na Herdade ninguém imaginava que Milaidy queria ser bailarina, muito menos que se estava a preparar para participar no Concurso de «Animais com Talento».

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Milaidy, essa vaquinha Que gostava de dançar, Queria ser bailarina E em concursos se mostrar. Simão, o seu professor, Cada passo lhe ensinava E o seu cão protetor Aquele espaço guardava. 17


E ali, sem uma plateia, Com o rádio a tocar, Tinha a cegonha Sereia Lá no céu a vigiar. Mas quando o ensaio acabava Corria louca p’ra casa. O Simão a acompanhava, A ave batia a asa. - Cuidado! O chão é incerto Podes a pata partir. Se te magoas, por certo, À festa não podes ir. - Estou-te grata, Simão, Por seres meu treinador. Dizia com emoção Por conhecer seu valor. - Temos que nos despachar Vem aí a tempestade, Começou a trovejar E ainda é longe a Herdade.

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Quando chegaram, Simão acompanhou Milaidy até ao Curral, entregando-a sã e salva a Daisy, a mãe de Milaidy, que já estava em cuidados pela ausência da filha e por não ver a vaquinha no curral. - Onde te meteste, Milaidy? Andas-me a tramar alguma! Bem sabes que não gosto que te afastes para o prado sozinha. Ganha-me juizinho na cabeça, menina. Se o teu pai aqui estivesse, não iria ficar muito satisfeito contigo!

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- O meu pai? Onde anda ele? Certamente, nem sabe que eu existo! Para ele, serei mais uma das criações por essas Herdades fora! - Não fales assim do teu pai! Ele é o melhor barrão desta zona! Quando cresceres, irás certamente dar-lhe mais valor. E, afinal, nada te falta aqui na Herdade. Vá, deita-te e dorme, para que eu possa também dormir descansada. O dia está de inverno e com o tempo assim, não deves andar por aí a calcorrear. Se partes uma pata, ficarás semanas, meses, talvez sem arredares pé daqui. - Longe o agoiro! – pensava Milaidy. Sonhava ser bailarina e nada a ia fazer desistir do seu sonho. Nunca na vida se ia conformar com a vida monótona no meio dos prados, a ruminar o que lhe aparecia pela frente. Depois, logo de manhã, era a ordenha, depois, o pasto, até ao entardecer, altura em a rotina a traria de volta ao Curral. Que vida sem sentido, sem graça. Não, essa vida não era para si. Aspirava algo melhor, ser bailarina, pisar os palcos, ouvir as ovações do público, isso sim, era o sonho que em breve queria concretizar.

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- Ordenha? Mas, nem pensar, Isso não é para mim, Quero ser livre, bailar, Percorrer terras sem fim. Nunca confinada aqui! Vivam à sua maneira Que em breve saio daqui Conhecer a terra inteira. 21


Disse-lhe a mãe a sorrir: - O cheiro da terra molhada, É razão p’ra me sentir Feliz e muito abençoada. Milaidy não entendia, A mãe era conformada. Uma noite, um outro dia, Sempre igual, sem mudar nada. - Depois de participar Nesse concurso de dança, Na ribalta vou brilhar, Vai renascer a esperança. Assim, logo adormeceu E começou a delirar Que ora o palco era só seu, Era tempo de sonhar.

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Ainda no céu não aparecera o primeiro raio de sol e já Milaidy, corria apressada pela Herdade Orquídea Branca em direção ao seu esconderijo junto ao prado Soutorigal. Este estava envolvido dentro de um verdejante prado, bem cuidado, onde nada faltava nem para os animais nem sequer para os pequenos roedores que por ali viviam à procura de alimento. Depois, eram as aves, desde as mais pequenas às maiores, até mesmo aquelas que 23


pela calada da noite se aproximavam em busca de alguma presa que viesse a prover o sustento das pequenas crias que, ansiosas nos seus ninhos, as aguardavam cheias de esperança. O prado era farto e todos eram bem-vindos àquele lugar generoso e acolhedor. A mãe tinha razão, era bom viver ali, onde cada animal encontra o provento que necessitava. Mas Milaidy sonhava algo de diferente para si. Não se conformava em ser uma vitelina que ali se desenvolvia para prover o leite para os seus donos ou, quem sabe, para vir a desaparecer em qualquer prato de qualquer restaurante que, pela sua qualidade, iria presentear os proprietários com qualquer estrela Michelin. Não, não seria esse o seu destino.

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- Vida assim não quero, não, Desejo ser bailarina, O meu amigo Simão Todos os passos me ensina. Sei que vou chegar ao topo, Ser por todos aplaudida, Conquistar voto por voto, Ser, enfim, bem sucedida. 25


Não parava no caminho, Tinha pressa de chegar, Quase nem via o ratinho Que a queria acompanhar. - Bom dia, Milaidy linda, Quero-te ver ensaiar, Não achas que é cedo ainda? São horas de descansar. - Falta pouco, vai chegar O concurso meu amigo, Há muito que praticar, Só assim ganhar consigo.

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Entretanto, no Curral, Daisy acordou sobressaltada. O tempo estava horrível. Quando lançou o olhar sobre a cama de Milaidy, com espanto, apercebeu-se de que estava vazio. Levantou-se rapidamente e, aproximando-se do portal, olhou ao redor. Como se nada conseguisse ver, aflita, gritou: - Milaidy, Milaidy. Onde estás, filha minha. Oh! Onde se terá metido? - desabafava preocupada. Hoje vou ter com ela uma conversa séria, ai se não vou! 27


Longe dali, Milaidy nem imaginava a preocupação da mãe. Ai, se ela soubesse dessa vontade que tinha em querer ser bailarina! Na verdade, era crescente a preocupação da mãe. A filha teria que descer do mundo da lua e começar a pensar a sério na sua vida. Estava a crescer e mais tarde, ou mais cedo seria ordenhada como as outras. Depois, quando mais depressa lhe passasse essa ideia de ser bailarina, melhor. Bem que a avisava Tosga, a vaca mais velha do Curral, quando a criticava por não saber orientar a filha.

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- Há muito que devias ter posto freio na doidice da tua filha. Se já se viu, uma pequena vitela a querer ser bailarina! Arre, diacho, a quem sairá com estas manias malucas? Ó mulher, mete isso na cabeça! Hoje, sem falta, tens que lhe incutir juízo na cabeça desmiolada, esse caminho não a vai levar a lado algum, tenho a certeza! - Olha, Tosga, deixa-me em paz. A filha é minha e sei como cuidar dela. Não te metas neste assunto, por favor. - Se assim queres, assim será, mas olha que só te quero aconselhar a fazer o que me parece mais correto. - Pois sim, trata dos teus e deixa a minha filha em paz. Eu sei como lidar com ela. Não te metas por favor.

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- Tu sabes lidar com ela? Então, o que vais fazer? Coitada, ser uma estrela! É maluca, é bom de ver! Tu sabes, sou tua amiga E estou preocupada, - Vejam como se empertiga A conselheira de nada!

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- Bem sei que é filha tua, Mas falo para teu bem. Coitada, vive na lua E juizinho não tem! Bailarina! Quem já viu, Não tem juízo, coitada. - Cala-te aí, digo eu, Pobre desavergonhada! Vou pastar que tenho fome, Tenho que fazer p’la vida! - Ela mal come, mal dorme, Anda na vida perdida. Anda, sim, desorientada, Minha amiga. E mais não digo, Tu vives amargurada, Sendo assim, é lá contigo.

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Tosga afastou-se. Daisy bem sabia que ela até tinha razão, nunca ouvira falar de vaquinhas dançarinas, mas por outro lado, podia ser mais branda nos seus comentários. Depois, que mal tinha que a filha quisesse ser bailarina? Na verdade, é uma ideia desajustada para uma vaca. Mas, logo ficou a cogitar para consigo: - Hoje saiu antes que eu desse conta disso. Mas, na próxima vez, ai, ai, irei segui-la sem que se aperceba e ver onde raio se mete e a fazer o quê! 32


Estava ela ainda envolta nos seus pensamentos quando avistou o pequeno Simão que saía de casa com o Fiel, o pequeno cão, seu amigo inseparável. Sem mais delongas, com todas as cautelas, logo o começou a seguir, tinha que descobrir o mistério, o lugar onde a filha se preparava para o tal bailarico. O coração quase lhe saltava do peito.

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- Sossega, meu coração, Não me falhes, por favor, Quero seguir o Simão Seja para onde for. Milaidy lá estará; De madrugada saiu - Fiel, não fujas, vem cá! Mas o cão já nem o ouviu. 34


Junto de Daisy chegou E se pôs às marradinhas Quando Simão o encontrou, Lhe agradeceu com festinhas. E logo que Daisy viu, Não quis fazer-se rogado, Para a vaquinha sorriu E se chegou a seu lado. - Vem comigo, por favor, Mas sem barulho fazer, Põe na dança o seu labor, Tu vais gostar de a ver. Não faças qualquer ruído, Pode sentir-se assustada E nem penses em castigo, Só quer ser acarinhada.

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Quando Daisy entra no esconderijo, logo vê a sua filhinha tão querida a bailar com destreza. - Santo Deus, como se equilibra na ponta dos cascos, como rodopia e salta, tal qual uma verdadeira bailarina! Respira fundo, com receio de interromper aqueles passos mágicos proporcionados pela filha. Agora entende

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porque se escapava sempre que podia para aquele esconderijo. Ao vê-la, quase não queria acreditar que era Milaidy, a sua filhinha. Ai se outras vaquinhas do prado a vissem, roer-se-iam de inveja. Agora, tinha a certeza que necessitava apoiar a filha na concretização do seu sonho, o sonho que há tanto tempo acalentava! Como podia ter sido tão cega? - Oh, minha querida filha - sussurrava para consigo – quanta felicidade a minha ao ver-te dançar! As lágrimas de felicidade brotavam agora dos seus olhos como duas fontes e escorriam-lhe pela face como cristais de alegria. Era o amor de mãe que despontava.

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- Minha filhinha querida, Sinto orgulho e alegria Em ser essa mãe amiga Que te gerou algum dia. Como tu, queria ter Essa ousadia e coragem Para alegria trazer Ao verde desta paisagem. 38


- Coragem não senti eu, Mas. Filhinha, podes crer Que ora, cada dia meu Vai alegrar teu viver. Baila solta rodopia E brilha como uma estrela Neste prado de magia Aonde és a mais bela. Quando o seu olhar cruzou, Com o olhar de mãezinha, Milaidy se assustou. - És meu orgulho, filhinha! E num abraço apertado, Chorou de felicidade E a cantar o novo fado, Regressaram à Herdade.

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Simão sentia-se agora bem mais feliz, quando se apercebeu que o segredo de Milaidy, essa vontade de ser bailarina, se tinha espalhado já por toda a Herdade Orquídea Branca. Os pais de Simão, orgulhosos, rejubilavam de alegria porque o filho tivera essa iniciativa inesperada de inscrever Milaidy no Concurso de «Animais com Talento». Esse evento tornar-se-ia uma referência em Planície, mas sobretudo no seio da Herdade da Orquídea Branca… Os dias agora passavam lentamente. Milaidy treinava já sob o olhar dos animais da Herdade Orquídea Branca, o 40


som da música ecoava ao longo do prado e agora muitos dos animais almejavam seguir os passos de Milaidy, tinham tomado consciência que a vida não era apenas a nostalgia do campo, havia ainda muito para descobrir ao redor. E eis que por fim chega o dia do concurso. As ruas estavam engalanadas e sentia-se um clima de alegria em cada canto. Os animais desdobravam-se em iniciativas e o mundo girava ao redor. Muito cedo, o pai do Simão transportou na carinha da Herdade Orquídea Branca, Milaidy, seu pai, o Touro Cinturião e a mãe Daisy. Como estavam felizes! Milaidy ouvia atentamente os últimos conselhos de seu mestre, Simão. Sabia que tinha de os ter em mente para os colocar em prática no momento preciso.

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O recinto estava preparado com rigor. A música para cada interpretação era da escolha de cada um dos concorrentes, que tentavam assim tirar o melhor partido dessa escolha. - Senhoras e Senhores, meninos e meninas – anunciava o altifalante - vamos dar início ao Concurso de «Animais com Talento», a vossa melhor atenção e … que ganhe o melhor! Os concorrentes foram-se sucedendo. Todos estavam encantados com cada participação. Mas sobressaiu no meio deles a apresentação de Milaidy, que logo fez notar 42


os seus dotes de uma verdadeira bailarina. Era a estrela que despontava lá dos céus da Herdade Orquídea Branca. Ao fim de todas as apresentações, voltaram a soar os altifalantes: - Senhoras e Senhores, meninos e meninas, a vencedora é… Milaidy, a vaquinha da Herdade Orquídea Branca. Um coro de animais gritava eufórico: - Viva! Viva Milaidy, a nossa estrela!

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- Oh, quanto orgulho, filhinha Logo o primeiro lugar. - Muito obrigado, mãezinha, És a luz do meu olhar. A ti, querido Simão, Grata pelo que hoje eu sou, Estás no meu coração E este Troféu te dou. 44


- Para ti, meu bom paizinho, Que quiseste estar presente, Também é teu, meu destino E nunca ficaste ausente. Sou vaquinha, diferente, Mas também sou bailarina, O sonho comanda a mente E constrói a nossa sina.

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