Selina e o sonho da liberdade, Conto de Rosa Maria Santos, março 2022

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Selina e o sonho da liberdade

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Selina e o sonho da liberdade Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Março 2022 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018; Vidas Suspensas (romance) – Janeiro 2022.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

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E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco-Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões 6


– Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa – Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente – Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado – Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021; Milaidy, a vaquinha bailarina – Outubro 2021: Carolina, a pequenina sereia – Outubro 2021: O Pássaro de Fogo – Outubro 2021; Rosy e a bonequinha de papelão – Novembro 2021; Um Milagre de Natal – Dezembro 2021; Selina e o sonho da liberdade – Março 2022.

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Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.

Aventuras de Samir e os amigos Samir, o Ratinho – Um rasgo de coragem – Setembro 2021.

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Distinções - 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. - 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. - 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). - Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. - Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. - Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. - Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali - 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020.

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- Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020.

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Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs Blog: https://romyflor.blogspot.com/p/blog-page.html 11


Selina e o sonho da liberdade

Selina era a única criança que ficara em Sisménia, uma pequena aldeia. Antes, havia ali muitos meninos e meninas mas, gradualmente, as crianças começaram a desaparecer, para aflição dos pais que não entendiam o que se estava a passar. As pobres mães choravam o desaparecimento dos seus filhos, não havia meio de os encontrarem. Quando chegava a noite, deitavam-nos, mas quando ali chegavam de manhã, já elas misteriosamente tinham desaparecido. As

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mães bem que as procurava por toda a parte, mas nada de as encontrar. Havia uma lenda antiga lá na aldeia que dizia que um dia elas haviam de voltar. “Quando a luz da lua, se cruzar com a luz do sol, tudo pode acontecer e a última criança da Aldeia Sisménia viajará pelos confins da terra até as encontrar. Só ela as poderá salvar. Por isso, estejam atentos, protejam-na. Apenas ela restará para cumprir essa missão.” E toda a gente se lamuriava:

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- Onde estão nossas crianças? – Dizia uma pobre mãe Ainda há réstias de esperanças De as encontrar além. E tentavam proteger Selina, a sobrevivente, Tinha o dom de as trazer De regresso à sua gente E de olhos postos no céu, Viam a lua brilhar Por entre um manto de breu Que tentavam alcançar. - O que podemos fazer Para que possam voltar? Não temos nada a perder, Precisamos de tentar.

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Lá em casa, a mãe de Selina mantinha-se vigilante. Afinal, era sua a última menina, sob quem recaía o propósito de libertar todas as outras crianças. Com regularidade, mudava de casa em casa, na tentativa de a proteger. E se a levassem também? O povo lá da Aldeia ajudava em tudo o que podia, mantendo-se atento e alheio a crendices ancestrais. De uma coisa estavam certos, os seus filhos tinham desaparecido sem deixar rasto. Nem elas, apesar de todas as canseiras e cuidados conseguiram protegelos. Passaram quase dois meses desde que a última criança tinha desaparecido. E quando chegava a aurora boreal, 15


olhavam o céu a ver se algo anunciava o fim do vil presságio dos ancestrais escritos: “Quando a luz da lua se cruzar com a luz do sol, tudo pode acontecer”.

- Vê de! Quando a luz da lua Com a do sol se cruzar, Depressa saí à rua Pois tudo vai começar. E quando isso suceder, Saia a criança à procura Com vontade de querer Dar início à aventura. 16


Se Selina adormecer Logo, acordada será Pois terá que percorrer Longo caminho até lá. Enquanto não suceder, Façam a vida normal Pois a irão proteger Do poder de qualquer mal.

Ao receberem estas orientações, todo o povo da Aldeia Sisménia se juntou para protegerem a menina, através da 17


qual, aos olhos seus, viria a salvação de todas as crianças da aldeia que poderiam assim voltar ao lar. Dizia-se por toda a aldeia que forças ocultas espreitavam por todo o lado e logo a menina era levada de lugar em lugar em busca de proteção. Era o futuro da Aldeia Sisménia que tentavam preservar. - Selina, acorda, filha, temos que sair daqui imediatamente - dizia com voz preocupada Celeste, a sua mãe. - Mãezinha, por favor, deixa-me dormir mais um pouquinho! Estou tão cansada! - Não pode ser, filhinha, temos que sair imediatamente ou estaremos perdidas! - Estou cansada de fugir, não temos sossego algum desde que o paizinho e os homens da Aldeia Sisménia partiram à procura dos meninos da nossa aldeia. - Eu sei, minha querida, mas quando eles voltarem, tudo vai ser como dantes, vais ver que a nossa vida vai ser transformada. E não mais vamos sentir necessidade de fugir de nada nem de ninguém. As crianças irão regressar e tudo se vai compor, tenho a certeza. Vá lá, vamos despachar-nos, o dia começa a clarear. E pode ser muito perigoso! Embora sentisse exausto o frágil corpito, acabou por aceder aos apelos da mãe. De repente, ouviram-se gritos aflitos. Eram de Celeste, a mãe da menina. - Foge, filhinha, foge e não olhes para trás! Guarda o meu conselho.

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- Foge, princesinha minha, Vai daqui deste lugar, No esconderijo, filhinha, Há alguém p’ra te ajudar. Desse esconderijo sais, Vais com quem está lá fora, Com essa pessoa vais Bem depressa, sem demora. 19


- Leva esta chave contigo, Não a entregues a ninguém Pois na mão de um inimigo Não te fará nada bem. - Eu vou ficar por aqui, Tenho que os atrasar, Vai por essa porta aí Sem nunca p’ra trás olhar. Não te atrases, por favor, Não chores, minha querida, É o teu gesto de amor P’ra transformar nossa vida. Até um dia anjo meu, Que Deus esteja a teu lado, Eu vou entregar ao céu Meu coração apertado.

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E lá foi a menina a correr, com a chave bem apertada na mão para rapidamente transpor aquela porta espessa que logo se fechou atrás de si. Logo, uma voz rouca se fez ouvir. Apavorada, gritou: - O que faço agora, Mãezinha? Como sair desta escuridão? Tenho medo, mãe, vem-me buscar! Mas logo se lembrou das palavras de mãe: “Quando te sentires só e não souberes o que fazer, roda a chave e logo vais encontrar o caminho que hás de seguir. Não permitas nunca que alguém te roube essa chave ou nela toque, pois isso poderia significar não só a tua vida, mas a de todas as crianças da Aldeia Sisménia. Por isso, nunca 21


te separes dela e não fales nela a ninguém. Eu sei que ainda tens pouca idade, mas um dia hás de crescer e entender o porquê desta nossa vida errante. Roda essa chave sempre que necessites, minha querida, e lembra-te destas palavras.”

“Pelo poder desta chave Hei de a missão terminar Sem que haja algum entrave Para as crianças salvar. 22


Noite e dia, a qualquer hora, Que não haja impedimento, Só depois me irei embora Quando chegar o momento”

Foi bom ter recordado aquelas palavras da mãe, ainda tão vivas na memória. - A mãe ama-te acima de todas as coisas, nunca te esqueças. Um dia, a Aldeia Sisménia vai voltar a ser esse lugar acolhedor, o espaço onde cada criança vai crescer feliz e sadia, onde, como sempre, vão poder brincar e vi-

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ver em comunhão. Nunca te esqueças que estarei sempre a teu lado, embora de momento necessite ficar aqui para que eles não descubram a porta secreta que agora vais cruzar.

- Já sinto tanta saudade De ti, querida mãezinha, P’ra ninha felicidade, Vou rodar a chavezinha.

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Mas sinto dificuldade, A chavezinha encravou E eu fico na verdade Sem saber para onde vou. O meu coração se agita, Qual caminho a seguir? E a coelhinha Gita Acabava de surgir - Vem comigo, com cuidado, Pois podes escorregar Há lagos por todo o lado E não podemos parar. É perigoso imergir E p’la água ser levada. Pois ainda vais cair Numa praia abandonada.

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- Quem fala comigo? Não te consigo ver, aqui está muito escuro! - Sou Gita a Coelhinha. Vou-te ajudar nesta nova etapa, sou uma das cinco guardiãs da Chave Mágica. Sempre que a rodes, uma das guardiãs virá ter contigo. Eu sou a guardiã da noite, da escuridão, das trevas. Mas não te assustes, pois logo a escuridão vai já terminar. É só cruzarmos mais este labirinto. Segura bem a chave e nada te irá acontecer. Depois, é só voltares a pronunciar as palavras mágicas que a tua mãe te ensinou:

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“O poder da chave mágica Vai libertar nossa Aldeia Desta aventura tão trágica De que a gente está tão cheia. Pelo bem da nossa gente, Dos jovens desaparecidas, Nós vamos seguir em frente E salvar as suas vidas. 27


Que a Lua seja o meu guia E envie à terra o luar, Pra me guiar noite e dia E o caminho encontrar.”

Silene, com a Chave Mágica bem junta ao seu coração, seguia Gita, a Coelhinha, pelo Labirinto, quando apareceu um raio de luz lá bem ao fundo do Labirinto. Gita, então, parou e disse:

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- Minha missão acabou, não posso sair do labirinto para além do raio de luz. A partir de agora, vais seguir na companhia de uma nova Guardiã. Segue-a e vais chegar ao teu destino. Não temas, Selina, velarei por ti. Despediram-se e logo Selina se encontrou de novo sozinha. Apertou bem forte a chave de encontro ao coração e sentiu uma forte dor. Logo após, ouviu uma voz frágil que chamava: - Não tenhas medo, Selina, sou Trovão, o Pinguim, o Guardião do Frio e do Gelo, que vamos percorrer. Teremos que atravessar o Lago Gelático. Mas tem cuidado para não escorregares. Se isso acontecer, podes cair num dos poços do Lago e não sei o que te possa acontecer. Segura bem a chave, não a deixes cair nunca. Vais sentila bem gelada, mas pelo poder que esconde, só tens que proferir as palavras mágicas:

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“P’lo poder desta chave O frio não vou sentir, Pois ela protege e sabe Que ali não irei cair. Muita criança me espera Para que as possa salvar E ao chegar a primavera Irão de regresso ao lar.”

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Quando o frio mais apertou, Selina de novo encostou a chave ao peito e logo sentiu o conforto de algum calor. Sentada sob o dorso do pinguim, lá foram através da neve, cantarolando e proferindo algumas palavras mágicas, tendo por fim chegado ao fim da caminhada. Foi então que, Trovão o Pinguim, parou e lhe disse: - Minha amiga, a minha missão termina aqui. Segue através desse estreito, com muito cuidado. Segura bem a chave e quando chegares ao fim do estreito, uma nova Guardiã vai estar à tua espera e vai ajudar-te a percorrer um novo desafio. Eu velarei por ti. 31


“Quanta criança te espera! Boa sorte princesinha, Neste tempo de quimera Algo novo se adivinha. Mas isto vai terminar, Nunca desistas, pequena, E no fim vais constatar Que tudo valeu a pena.”

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E com alguma tristeza, Selina viu partir Trovão, o Pinguim. Com a chave bem junta ao coração, seguiu sozinha, levando na mente bens gravadas as palavras mágicas que a mãe lhe ensinara. Duas lágrimas descaíram pelo rosto frágil da menina, mas logo ouviu uma voz que lhe disse: - Cuidado, Selina, retém as lágrimas. Se caem no gelo, este derrete e vais correr perigo. Gira a chave que trazes contigo. De imediato, Selina obedeceu, mesmo a tempo de as ver escorrer para o gelo. 33


- Caramba, quase caiam no chão. O que seria então das crianças e da Aldeia Sisménia? – perguntou a si mesma – Nem quero pensar que iria fazer malograr minha missão! Bem, vamos prosseguir o nosso caminho! E bem depressa chegou ao seu destino. De imediato, avistou um extenso areal aonde bandos de gaivotas corriam nas areias finas e brancas do imenso areal que se estendia para além do seu olhar. Um dos bandos levanta voo e uma bela gaivota cor de fogo voa ao seu encontro e lhe diz: - Sou Cor de Fogo, a Gaivota Guardiã do Fogo, do Calor e da Claridade. Vamos atravessar um deserto, lugar aonde a areia se estende por todo a parte. Vais precisar de proteger os olhos, pois a claridade pode cegar-te. Não deixes cair a chave, nunca. Se isso acontecesse, de imediato serias tragada pelas areias movediças que vamos atravessar. Mas não temas, sobe para o meu dorso e vamos cruzar os céus. E não estranhes, por aqui, o céu é branco como a neve. Segura-te bem e vamos à nossa aventura. À tua espera, encontram-se todas as crianças da Aldeia Sisménia

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- Pelo céu vamos voar, Vá lá, segura-te bem, A chave vai-te ajudar Com o poder que ela tem. - Essa Chave faz magia E dela vais precisar Quando o sol por todo o dia O infinito vai clarear.

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E não precisas ter medo, A ti ninguém fará mal Tem essa chave um segredo Que vais saber no final. O teu coração franzino Tem o poder do Amor. Mas ao chegar ao destino, Tem cuidado, por favor. Não há muito que enganar, Os olhos não deves abrir, Como estamos a chegar, Já tudo nos vai sorrir.

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E ei-las no fim de mais uma jornada. Logo, a Gaivota Cor de Fogo lhe diz: - Segue agora o teu caminho, Selina, eu velarei por ti até ao fim da tua caminhada que está quase a atingir o seu fim. Sei que no fim vais cantar vitória, quando te vires rodeada de amigos no teu regresso ao lar. Nunca te esqueças. O mais importante é que sejas sempre pura de coração. Segue este trilho e logo vais atingir a tua meta. Não te esqueças, se te encontrares em apuros e necessitares de ajuda, profere a frase mágica que te vou ensinar:

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“Pelo poder da chave mágica, venha a mim a ajuda dos Guardiões”. - Que bom ter podido contar com a tua ajuda, Guardiã Cor de Fogo! Bem hajas. E assim Selina de novo se pôs a caminho para alcançar aquele espaço lindo revestido de um maravilhoso azul celeste. Agora, aos seus olhos, tudo era azul, majestoso. Quando se preparava para colocar os pés, naquele solo, ouviu uma voz trémula que lhe disse:

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- Para aí, nem mais um passo, Vê onde pões os teus pés! E alguém lhe lança o braço E a puxa a um convés. Logo nesse barco entrou, Foi sentar-se num banquinho E o Guardião lhe falou: - Sou um Guardião peixinho! Lentuga, que ali se encontra Como guardião do mar, Vai e chama a amiga Lontra Para o barco velejar. - Vamos lontra nesta viagem, Descansa um pouco, Selina, - Quão estranha esta paisagem! Desabafou a menina. E entre o mar e o céu, Sob esse azul tão perfeito, O seu corpo estremeceu E apertou a chave no peito.

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- Este é o ponto onde o mar tem o princípio e o fim. diz-lhe Lentuga, o peixinho Sombra, guardião do Mar Agora, chegou o momento da Lontra te levar ao teu porto de abrigo. - Vejo agora que a Lontra é também uma das Guardiãs da Chave Mágica! - É sim - respondeu Lentuga, o Peixe Sombra. Cheia de curiosidade, Selina virou o seu olhar em direção à Lontra e percebe que ela se dirige a si com um fato de mergulhadora. - Tens de vestir este fato, mas antes deixa-me apresentar. Sou Furacão, a Lontra. Vamos viajar a alta velocidade. 40


Prepara-te não te assustes, nada te vai acontecer. É apenas porque está quase na hora da Luz do Sol se juntar com a Luz da Lua. Antes disso acontecer, é tempo de libertar todas as crianças, ou falhamos a missão e eles estarão perdidas para sempre. - Isso não vai acontecer. – respondeu Selina - Vamos que não há mais tempo a perder.

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À velocidade da luz Cruzaremos o espaço, Viagem que nos conduz Ao mais caloroso abraço. E ei-las no céu voando Com o tempo a esgotar, Imaginando até quando Vai sua missão durar. Selina ia enlaçada À Guardiã Furacão A sua chave apertada Junto do seu coração. De repente, o azul do céu Se tornou rubro, encarnado, Algo estranho aconteceu Quando pousou num telhado. A Lontra se escafedeu Ei-la de novo sozinha, À sua Chave acorreu E encontrou uma portinha.

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- Oh! Selina nem queria acreditar. Ei-la estendida sobre um vasto telhado cor de prata. A Chave Mágica rodopiava na sua mão, como se ganhasse vida. E viu-se a voar no céu, seguindo o rumo traçado pela Chave Mágica. Depressa esta entrou na fechadura de uma porta dourada, rodando três vezes. Selina entrou e deparou-se com um grupo de crianças que suavemente dormia sobre o chão muito limpo e envernizado. Selina aproximou-se e com carinho tentou despertar uma a uma, que pareciam não querer deixar o seu sono. Não havia tempo a perder, o céu estava toldado, agora de cor laranja no lado direito 43


e mantendo a cor encarnada do lado esquerdo. A belíssima cor azul anterior era agora muito ténue, o que anunciava que a Luz do Sol estava quase numa metamorfose com a Luz da Lua. Então, Selina rodou a Chave e gritou: - “Pelo Poder da Chave Mágica, venho clamar pela ajuda dos Guardiões!” E logo as crianças foram levamos daquele espaço delicadamente pela Legião de Guardiões.

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- O Eco da Sombra, chamo, Por favor, vem até aqui, Minha mãe, como te amo, Como preciso de ti! Fogo, Calor, Claridade, Frio, Gelo, Solidão, Vão nos dar a Liberdade A que Tormenta diz não! E eis no mar a surgir O Barco para as levar, Mesmo que vão a dormir, Ao porto vamos chegar. Sempre co’a chave na mão E encostada bem ao peito, Selina dobra a atenção E segue de qualquer jeito.

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No meio de toda aquela turbulência, ei-las que chegam ao Riacho da Aldeia Sisménia. Na faina da pesca, os homens encontravam-se ainda a descansar nos barcos, enquanto as mulheres permaneciam nos campos, mergulhadas num sono profundo. Toda a Aldeia dormia. Amanheceu e a Aldeia Sisménia, começou a despertar. Era o tempo para Selina agradecer aos Guardiões da Chave Mágica toda a sua ajuda de terem participado na libertação de todas as crianças lá da Aldeia. Depressa, para que não fossem vistos, os Guardiões regressaram aos seus lares e finalmente Selina olhou o céu, aquele 46


vasto céu azul celeste, que então brilhava com todo o esplendor. E, feliz, sorriu. Ao vê-la, a mãe correu para si e envolveu-a num longo abraço. O que foi feito de ti, minha filha, por onde andaste? Oh! Salvaste as nossas crianças! Como estou feliz! - Eu também, mãezinha, o Paizinho deve estar à nossa espera. Além disso – sorriu – estou mesmo cansada!

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- Bem vinda sejas, filhinha, Bem precisas descansar Nessa suave caminha Que te está a esperar. Há crianças a cantar Pois a seu lar regressaram, É tempo de olvidar As coisas que lá deixaram. As crianças são futuro Mas são também o presente E neste lugar tão puro Hão de viver para sempre!

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