Título: Tomás e o infortúnio de não ter mãos. Conto de Rosa Maria Santos. Junho 2021

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Tomás e o infortúnio de não ter mãos

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Tomás e o infortúnio de não ter mãos Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Junho 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

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E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa - Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o 6


Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021;

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia - Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; - Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo - Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil - Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; - Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020. 7


Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021.

Distinções 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020.

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Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesiavideopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020.

Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs

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Tomás e o infortúnio de não ter mãos

Era alta a madrugada. No seu sono irrequieto, de repente, Deolinda desperta em sobressalto, abana o marido e grita: - Chegou a hora, Feliciano, já se faz tarde! - Tarde? O que se passa, querida? São três e trinta da manhã. Sossega. Precisamos repousar um pouco mais. E fica descansada, logo que chegue a hora, chamo por ti, levanto-me e vou à minha vida. Não fiques preocupada.

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- Ó meu marido querido, Nosso bebé vai nascer! Ele, meio adormecido, Não tem pressa de se erguer. - Levanta-te, está na hora, Eis que o momento é chegado! Num salto, sai cama fora E ei-lo quase estatelado. Vai para a maternidade E logo diz p’rá mulher: - Estou feliz, na verdade, E seja o que Deus quiser. 11


- Tenho fé e esperança Que tudo vai correr bem - Sim, tenhamos confiança, Olha, o médico aí vem.

Era uma criança muito desejada pelo casal. Como estava feliz, a calcorrear ali no corredor de um lado para o outro. A Maternidade do Anjo era acolhedora e o pessoal técnico muito competente. Estava confiante.

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Após vinte minutos que mais pareceram uma eternidade, o pequenino Tomás nasceu. A ansiedade pairava ao longo daquele corredor.

- Mas que lindo rapazinho Para o médico sorria. E logo, um forte chorinho Por toda a parte se ouvia.

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Mas algo não estava bem. O médico, apreensivo, não sabia como transmitir aos pais o que acabara de constatar. O rosto dos pais irradiava felicidade. O que fazer? Por má formação congénita, Tomás nascera sem as suas mãozinhas. Perplexo, olhou a enfermeira, que chorava e não tirava os olhos da linda criança que tinha nos braços. Os pais aguardavam ansiosos que lhe colocassem o filho nos braços.

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- Senhor Doutor, por favor, Quero ver o meu filhinho, Foi feito com tanto amor, Com todo o nosso carinho! - Não sei como vos falar É bom vê-los nascer sãos! O que se está a passar? - Vosso bebé não tem mãos. 15


- Como pode acontecer? Diga-nos, Senhor Doutor! Vai ele sobreviver? Ai, meu marido, que horror! - Aqui está vosso filhinho. Olharam-no com amor Afagaram seu rostinho Rosadinho, linda cor.

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O choque foi tremendo. O casal quase nem queria acreditar. - O que fizemos de mal? – questionava-se, olhando o marido. - Tanto amor, tanto cuidado, não quero crer. O pai pegou na criança com carinho, aconchegou-a nos braços e tentou recompor-se do choque. - Nada lhe vai faltar, querida, vamos dar-lhe ainda mais amor e carinho. Deolinda enlaçou-o pai e filho num mesmo abraço e segredou: - O nosso filho vai ser o mais amado dos filhos, prometo-te. Vamos fazer dele um homem forte e inteligente que há de mostrar ao mundo a força do nosso amor. Na verdade, os seus corações choravam revoltados e tristes, quase querendo transmitir sentimentos de raiva. Sentiam-se postos à prova, perante um dilema que não imaginavam ainda como enfrentar. Mas era grande a vontade de vencerem, de mostrarem ao mundo como enfrentar as perplexidades e desafios com que todos os dias se iam confrontar. Haviam de vencer todas as vicissitudes.

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- Meu filho muito amado, Muito feliz hás de ser. O destino te há negado Tuas mãos, para viver

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Feliciano olhava a criança com um misto de ternura e compaixão. Mais do que nunca, o filho dependeria deles para crescer e viver. - Havemos de fazer de ti uma criança especial, e tu, meu filho, então serás um homem feliz. …

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Naquele lar de amor, Tomás cresceu. Era uma linda criança. Pele rosada, cabelo loiro, olhos negros, lábios de rubi e sempre aquele largo sorriso que encantava todos os que a ele se achegavam com carinho. Vivo e perspicaz, estava sempre atento a tudo o que o rodeava e depressa aprendeu a depender dele próprio. Na falta das mãos, era a boca que utilizava para as substituir em muitas ocasiões. Filho e aluno exemplar, era o orgulho dos pais e de todos que com ele se cruzavam no dia a dia.

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Mãe Deolinda cantava Na cozinha, ao cozinhar, Tomás, sorria, explorava Um livrinho p’ra pintar. Como vive este menino Encantado p’la pintura, Pinta a flor, pinta um velhinho, Na boca o pincel segura. 21


Olha e tenta ver a mão, Uma e outra, não as tinha E agradece em oração A sua bela boquinha. - Pai Nosso que estás no céu, Ajuda-me em cada hora, Sou diferente, sou eu, Não irei daqui p’ra fora.

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Um dia, Tomás ouviu dizer que chegara à aldeia um pintor. Alguém se cruzara com ele lá no monte da Gervásia. E logo a curiosidade se acercou dele e saiu ao seu encontro. Ao vê-lo, educadamente cumprimentou: - Bom dia, Senhor Pintor. Meu nome é Tomás. - Senhor Pintor? Como sabes que sou pintor? - Basta olhar para o cavalete, a tela e os pincéis que traz consigo. Só pode ser pintor - Sim – disse sorrindo – és um menino atento. Gostas de pintar? Olha, dá-me aqui uma ajudinha, dás?

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Tomás olhou para ele atrapalhado e disse: - Bem que lhe daria, sim, mas… - Pega lá neste pequeno balde, pouco pesa! Quando Tomás se baixou para o segurar com a boca, o Mestre olhou espantado e, aflito, logo disse: - Desculpa, Tomás. Só agora reparei. - Não faz mal, senhor Pintor, eu consigo mesmo assim. Nasci sem mãos, mas estou aprendendo a viver sem elas. Júlio, o Mestre, lançou-lhe um terno sorriso e disse: - Gostavas de ser pintor? - Ó, se gostava! - Então, mãos à obra – disse com um sorriso irónico – vamos a isso. Vais ser um belo pintor. Vem daí comigo!

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Tomás seguiu-o com entusiasmo. De longe, a mãe, que já tinha cumprimentado o Mestre, olhava interessada o desenrolar dos acontecimentos. Como ela sabia o quanto o filho gostava de um dia ser pintor! Num ponto estratégico, Júlio montou o cavalete, pegou na paleta, misturou algumas tintas e, cuidadosamente, colocou o pincel na boca de Tomás. Este, entusiasmado, começou a desbravar a tela e a misturar as cores. Júlio estava de olhos abertos olhando a tela, fascinado com a destreza e a criatividade do pequeno pintor que parecia nascer. Estava estupefacto. 25


E ali ficaram tempos sem fim até que na tela nasceu uma obra de arte.

Por longos dias, era vê-los logo de manhã a procurarem os prontos estratégicos para uma nova criação. As aulas sucederam-se e agora, Tomás, já com o seu novo cavalete, a sua paleta e as suas tintas, dava azo à sua criatividade, imaginando já o ver com os seus trabalhos expostos na singela galeria de arte que havia lá na aldeia. Um dia, o velho Mestre não apareceu. Partira sem deixar rasto. Atrás de si, deixara um artista nato, cheio de

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volutuosidade, que cada dia mais surpreendia as gentes que vinham à aldeia para ver as exposições de arte do menino que pintava com a boca.

À volta das suas telas, observando tudo, o pequeno Tomás olhava pela janela e parecia vislumbrar ao longe o vulto do seu amigo Júlio, O Mestre Pintor, que num abrir e fechar de olhos fizera dele um pintor, ora amado e reconhecido por todas aquelas redondezas. Saudades, saudades do Mestre Júlio. Onde andaria?

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- Obrigado, meu amigo, Por tudo que me ensinaste, Foi tão bom estar contigo, Quanta saudade deixaste! - Foste um anjo para mim Que apareceu neste mundo; Como fui feliz assim, Contigo, cada segundo! 28


- Ensinaste-me a pintar, Quão agradecido estou, Aí, de qualquer lugar, Deus te trouxe e te levou!

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