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Um Milagre de Natal
Conto
Rosa Maria Santos 2
Ficha Técnica
Título Um Milagre de Natal Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições
Editado em E-book em Dezembro 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3
Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4
É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.
E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.
E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, 5
capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco-Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a 6
guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa – Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente – Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado – Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021; Milaidy, a vaquinha bailarina – Outubro 2021: Carolina, a pequenina sereia – Outubro 2021: O Pássaro de Fogo – Outubro 2021; Rosy e a bonequinha de papelão – Novembro 2021; Um Milagre de Natal – Dezembro 2021.
Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; 7
Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.
Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.
Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.
Aventuras de Samir e os amigos Samir, o Ratinho – Um rasgo de coragem – Setembro 2021.
Distinções - 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. - 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. - 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal).
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- Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. - Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. - Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. - Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali - 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. - Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020.
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Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs Blog: https://romyflor.blogspot.com/p/blog-page.html 10
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Um Milagre de Natal
A manhã apareceu sorridente nas Terras da Nevolândia. Todo o povoado se transformara num extenso manto de neve. Rino, a fêmea mais velha das renas do trenó do Pai Natal, acordara adoentada. Tinha sido acometida por uma forte constipação e andava combalida, deitada entre o feno reconfortante do seu curral, tendo-se atrasado 12
à chamada para a partida. Sibas, outra rena do grupo, estava preocupada e dirigiu-se ao curral para ver o que estava a acontecer. Logo que chegou e a viu tão combalida, com o coração aos saltos, saiu do curral e foi avisar o Pai Natal.
- Pai Natal, Pai Natal - gritava Sibas enquanto corria aflita para a casa deste.
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Salomão – era esse o nome como o tratavam – levantouse de um salto e estremunhado, esfregou os olhos, olhou o relógio e resmungou consigo mesmo: - Valha-me o Menino Jesus, como fui adormecer, com tantas tarefas que tenho hoje para cumprir? Estou atrasadíssimo. E logo hoje fui adormecer. O que se passará para que Sibas venha a gritar daquela forma? - O que aconteceu, Sibas? – respondeu. - Hoje o dia começa muito mal. Vamos ver como se desenrola e como vai acabar.
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O que se passa com ela Para tanta gritaria? Vou espreitar pela janela… Belo começo, este dia! - O que está a acontecer No curro dos animais? - Vem comigo, tens que ver, Algo vai mal nos currais. - Sibas, o que queres dizer? O que se passa afinal? Mas que estranho amanhecer, Há algo que corre mal.
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Levanta-se e vai ao encontro de Sibas que, logo que a porta se abre, irrompe aflita por lá dentro e esbarra-se com o Pai Natal que num instante tomba redondo no chão. Sibas, que caíra sobre o seu corpo, tentava agora erguer-se, mas logo uma das suas hastes se entrelaça na perna do Pai Natal, provocando-lhe uma fratura no perónio e danos no calcanhar. Muito combalido, o Pai Natal incentivava agora Sibas a levantar-se e ir à procura de ajuda na casa do Doutor Simplório Flor, precisava mesmo da sua preciosa ajuda. 16
- Levanta-te, por favor Não me deixes nesta hora, Vai chamar o doutor Flor Sem delongas, sem demora. Sibas, ainda combalida, Levantou-se num instante E mal dando co’a saída Foi correndo galopante.
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Mesmo co’a haste quebrada, Tinha que se despachar Seu problema era nada Para se preocupar. Ele, deitado no chão, A enfrentar o seu mal, Padecia em aflição Ao ver chegar o Natal. Quando em casa do doutor, O chamava espavorida - Porque gritas? Oh, que horror, Tens uma haste partida! - Esqueça a haste, doutor, Venha comigo depressa. Salomão sofre com dor, A mim só dói a cabeça.
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- Senta-te aqui. Deixa que trate dessa haste. É grande o perigo se andares por aí a correr com a haste partida, Sibas! Como foi que a partiste? Bem, depois contas. Bebe um pouco de água que te vai fazer bem. Depois, vais-me contar o que aconteceu. Com todo o cuidado, Simplório Flor endireitou a haste e imobilizou-a bem com ligaduras e adesivo, após a tratar com alguns unguentos que tinha preparado com ervas medicinais que cultivava no seu jardim. -Já te sentes melhor, Sibas? Se sim, vamos lá contar o que aconteceu ao Pai Natal… e pelos vistos a Rino! Dia 19
azarento hoje. Como foi que o Pai Natal quebrou a sua perna, escorregou? - Não foi bem assim, mas aconteceu. - Vamos lá, conta então o que aconteceu para que possa inteirar-me bem e saber qual a melhor forma de agir. Preciso de colocar na maleta tudo o que se mostrar necessário.
E logo Sibas começou a relatar ponto por ponto o que estava a viver nesse atribulado dia. 20
- Logo pela manhã, levantei-me e fui tratar das minhas tarefas diárias. Como sabe, nestes dias que antecedem o Natal, servicinho é que não falta, cada vez são mais os brinquedos para distribuir e há muitas crianças por esse mundo fora que não podemos desapontar. Cada uma de nós tem as suas próprias tarefas. Hoje era o meu dia de ajudar a Rino, mas como ela tardava em chegar, fui ver o que se passava. Encontrei-a deitada na sua alcova sem se mexer. Chamei-a, pensando que tinha adormecido, como não respondeu, entrei e verifiquei que estava quente, com uma grande carga de febre, quase sem poder falar ou levantar. De imediato, corri para casa do Pai Natal, para o avisar. E pronto, aconteceu. Logo que este abriu a porta, desastrada, irrompi por ali dentro, atropelei-o e caí sobre ele. - Oh, diacho, isso é muito mau. Vamos sem demora ver como ele está. De seguida, vamos cuidar de Rino
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- Hoje corre tudo mal: Sibas não se levantou E a seguir o Pai Natal A sua perna quebrou. Doutor, que vamos fazer Com o Pai Natal doente? - Há primeiro que o ver, Se ficou inconsciente. 22
- Ele me mandou chamar E tenho que o atender, A maleta vou buscar E vamos logo a correr. Vamos ver o que se passa, Não será preocupante. - Doutor, o que quer que faça? Diz-lhe Sibas expectante. - Vamos ver e quando lá, Tenho que o examinar. Começa mal a manhã, Um dia de muito azar. Vamos daqui sem demora, Temos doentes a cuidar, Tem tu mais cautela agora Para não escorregar. A neve não deve vir Mas irei me agasalhar. - Tudo bem, podemos ir, Só falta a porta fechar.
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Sem mais delongas, puseram-se a caminho. Mas a neve acabou por chegar e atrasou a sua marcha. Simplório Flor caminhava agora com dificuldade redobrada. Foi então que Sibas se ofereceu para o levar no dorso. Cansado, o médico acabou por aceitar. Não tardou muito e chegaram a casa de Salomão, o Pai Natal, que ansioso esperava a chegada de ajuda. O Doutor Simplório Flor examinou-o cuidadosamente e logo confirmou que na verdade a perna de Salomão tinha sofrido uma fratura. Com todo o cuidado, desinfetou a ferida e para que não infetasse, aplicou-lhe alguns dos seus 24
unguentos que serviam não só para aliviar a dor, mas tinham anda a função de antibiótico. De seguida, preparou duas talas e imobilizou a perna. Já com o problema estabilizado, recomendou-lhe que se mantivesse em descanso no sofá até que ele regressasse.
Em seguida, foi com Sibas até ao curral de Rino. Constatou então que, embora com uma febre um pouco elevada, a sua condição não apresentava preocupação de maior. Medicou-a e recomendou-lhe repouso. Depressa 25
o mal estaria sanado. Sibas recebeu então a incumbência de o medicar no tempo certo, de forma que o tratamento resultasse em pleno. Algumas doses de xarope e logo Rino ficaria boa de novo. Mas a grande preocupação do Pai Natal era a entrega dos presentes e o escasso tempo que tinham agora para o fazer. Depois, havia ainda muitos presentes que necessitavam de ser acabados. E nenhum menino poderia sentir a frustração de não receber o seu presente. E eram cada vez mais as mensagens que dia a dia lhe caíam na caixa do correio. Ao ver a sua preocupação, o Doutor Simplório Flor prometeu ajudar em tudo o que pudesse.
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- Há sempre uma solução Dizia-lhes a sorrir Mas, meu velho Salomão. Estás disposto a ouvir? Escuta o que vou dizer, Não digo por brincadeira, Muitos vão corresponder Por exemplo, o Silveira. 27
Não é asneira, confia, Ele nos vai ajudar, Sobre Simão e a Maria, Com seu avô irei falar. Pela tarde eu volto aqui Para saber como estão, Sibas não saias daqui Pode haver complicação. - Muito obrigado, doutor, Pela ajuda que nos deste, - Tudo se vai recompor, Mas cuidadinho, obedece.
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Salomão pediu então a Chamusca, outra das Renas do trenó, que levasse o doutor a casa ou a qualquer lugar que precisasse visitar. Ela estava bem mais fresca e não iria recusar o seu pedido. Esta, logo se baixou para que Simplório Flor pudesse subir para o seu dorso e lá foram serra fora, não sem que antes passassem pela casa do seu amigo Silveira. Precisavam conversar. Simão e Maria, ambos de nove anos, eram os netos que desde muito cedo criara, quando aquela enorme avalanche de neve tombou e caiu sobre a modesta casa onde viviam com 29
os pais no sopé da montanha e lhe roubou as vidas da filha e do genro, permitindo no entanto, que os gémeos escapassem por milagre. Quis o acaso que uma Mãe Ursa que descansava ali amortecesse a queda que sofreram quando da derrocada. O seu pelo forte mas macio permitiu assim que fossem salvo duma morte certa. Malgrado tudo isso, Tomia, a cria da Mãe Ursa, teve menos sorte e acabou por sucumbir sob os destroços da casa dos pais das crianças. Desde esse dia, a Ursa Mãe passou a fazer parte da sua vida e por toda a parte por onde elas andavam, ela os acompanhava como se fora um anjo protetor.
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- Estamos quase a chegar, Já se vê a chaminé, Já está a fumegar, É hora de bom café. Mas que frio de rachar, Preciso de me aquecer. Abranda, vamos parar, Vem as crianças conhecer. Eu sei que vais gostar delas, Muito meigas, educadas, Já se veem nas janelas A espreitar p’las fachadas. As portas estão fechadas, Desçamos, mas com cuidado, As ruas estão molhadas, Há neve por todo o lado. Quando eu à porta bater Tu podes comigo entrar, As crianças vão querer Lá na sala conversar.
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Quando chegaram à porta da enorme moradia, subiram os escassos degraus do alpendre atolado de madeira para alimentar o fogo da lareira e do grande fogão que existia na cozinha, e mantinha uma temperatura agradável que se espalhava por toda a casa. Até onde a vista conseguia alcançar, havia um manto vasto de neve branca e pura que brilhava quando recebia os raios do sol se transformava num vasto espelho. Aqui e ali uma árvore a lembrar o verdadeiro espírito de Natal. 32
Agora mais perto, eram já visíveis os rostos das duas lindas crianças a espreitar pelos vidros da janela, cheias de ansiedade e alegria. Quando reconheceram o rosto do Doutor Simplório Flor, correram para a porta logo seguidas pelo avô Silveira. Mal esta se abriu, logo correram para os seus braços e o enlaçaram com ternura. - Tio Flor, o que o traz à nossa casa neste dia de temporal? – perguntam. - Deixem-me olhar para esses olhos lindos – dizia Simplório Flor cheio de alegria – Como estão crescidos!
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- Então, meninos, que educação é essa? Não perturbem o nosso doutor, deixem-nos entrar para que se aqueçam. Ai, ai, essa irreverência! - Desculpe Tio Flor – disse Maria – É tão bom poder abraçá-lo! Prontamente, Simão agarra na mão do Doutor e arrastao para a sala. Só então reparam na Rena atrás do Tio Flor. - Uma Rena? Que gira, nunca tínhamos visto nenhuma ao vivo! 34
- Não é uma Rena qualquer! - responde o doutor - É a Chamusca, uma das Renas do Pai Natal? - Do Pai Natal? Uauuu! Ela fala? - Fala, sim! Trouxe-me aqui porque tenho uma proposta para fazer ao vosso avô. - Entra, tira o casaco e chega-te para junto da lareira, vem-te aquecer, beber um café, que te vai fazer bem.
- Eu nunca vi uma rena Mas é linda, na verdade Respondia-lhe a pequena Com certa cumplicidade. 35
E Silveira perguntou: - O que te trouxe hoje cá? - Muita coisa se passou Desde o início da manhã. - Salomão se magoou… … E os presentes p’ra entregar! Logo, Simão ripostou: - Nós podemos ajudar. - Que bom, avô, diz que sim! É o presente do Natal. - Pois bem, se querem assim, Vai ser algo especial.
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- Queremos conhecer o Pai Natal – gritavam as crianças eufóricas. - Como se chamam as renas, Tio Flor? - As Renas antigas já estavam muito velhinhas, coitadas. Foi assim que Salomão pensou em lhes dar algum descanso e arranjar outras mais jovens e com mais vigor. - Sim, lembro-me de termos ouvido na escola uma história que dizia que elas eram oito e que se chamavam,
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deixa-me ver se me lembro de todas: Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago. Era isso, Simão? - Pergunta Maria eufórica
- Uma delas, Corredora, A segunda, Dançarina, A terceira, Empinadora E Raposa, a mais novinha. Cometa vinha a seguir Cupido, era amorosa, E Trovão, sempre a rugir, Relâmpago, a perigosa. 38
Oito meninas prendadas, Lá iam por todo o mundo Com seu trenó em noitadas No seu serviço fecundo. - Que meninos espertinhos Disse o doutor que sorria. - Para a cama, meus meninos, Vamos ao nascer do dia. - Atuna, Sibas, e a Rino Que não conhecem ainda, A Chamusca, e a Felino Leona, Lorna, Arminda. Sei que vão delas gostar, Mas, calminha, meus amigos Há muito p’ra trabalhar Todos juntos, muito unidos.
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Cá para nós, vai ser uma grande aventura. Vamos no nosso transporte muito especial, tio Flor, connosco vamos levar a nossa Mãe Ursa. Ela levar-nos-á não só ao Pai Natal, mas irá fazer-nos companhia no decorrer de toda esta aventura. Então, estamos todos de acordo. Cá por mim – dizia Simplório Flor – necessito regressar a casa, pois os meus pacientes me esperam. Mas amanhã, muito cedo, logo que cheguem perto do Sítio, Chamusca estará à vossa espera para vos servir de guia. Por agora, a minha missão está 40
cumprida. Desejo o maior êxito no cumprimento desta jornada. E dito isto, despediu-se e saltou para o dorso de Chamusca e partiu em direção ao Sítio. Ia agora mais feliz por ter conseguido que Silveira deixasse os netinhos distribuir as prendas com o Pai Natal.
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- Chamusca vamos voltar, Tenho doentes à espera, Regresso ao lar, doce lar, Deliciosa quimera Quando a casa enfim chegar, Será noite, com certeza, Vou um pouco repousar Ao sabor da natureza. Salomão certo terá Ajuda, no amanhecer, Com as crianças fará O Natal alvorecer.
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E assim, ainda o sol mal surgira no horizonte, já as crianças e o avô Silveira se puseram a caminho até casa de Salomão. Logo, avistaram a rena Chamusca, que os acompanhou até à casa do Pai Natal, Rino, a rena que estivera enferma, tinha recuperado já da sua constipação. O Pai Natal andava numa azáfama incrível a circular com o apoio das duas canadianas que o Doutor Simplório Flor preparara com engenho e arte. O Doutor Simplório Flor acompanhou as crianças, e o avô Silveira ao lugarejo do Pai Natal, não só para ver como 43
estavam os seus pacientes, mas também para se certificar que tudo iria correr bem, conforme tinham planejado. Depois de uma breve apresentação, as crianças sentiram o desejo de ir até à oficina aonde Salomão preparava os seus brinquedos. O avô Silveira era exímio na arte de trabalhar madeira e o seu contributo iria tornar-se precioso.
Quando se aperceberam da chegada de tantos visitantes, logo as renas vieram para os conhecer e todos deram as mãos para que o trabalho corresse da melhor forma. E 44
logo chegou o Natal. Então, Salomão, o Pai Natal, subiu para o seu trenó e partiu por essas terras além a fim de distribuir as muitas prendas pelas criança que ansiosamente as aguardavam naquela noite de paz. Desta vez, acompanhavam-no Maria, Simão e o avô Silveira, montados sobre o dorso da Ursa Mãe Silente. E logo que se ouviu a primeira badalada da meia noite, as prendinhas foram gradualmente colocadas em cada sapatinho que as crianças, expectantes, diligentemente colocaram junto do seu presépio. O Pai Natal, o avô Silveira e os meninos regressaram a casa felizes e contentes, aonde os aguardava Simplório Flor, o bondoso médico, para os abraçar. Os corações de todos eles rejubilavam de alegria e naquele lugar idílico uma vez mais se cumpriu a tradição desta época cheia de magia, enquanto em todo o mundo se entoavam hinos de louvor ao Menino que numa gruta humilde nascera e a sua vida entregara em holocausto pela salvação da humanidade.
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Nasce o Menino Jesus Numa lapinha em Belém E a treva se fez Luz No colo da Virgem Mãe. Glória a Deus nas Alturas, Paz na Terra aos homens de boa vontade.
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