Revista Conviver #12

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UNIMED: UMA MARCA NO SEU TEMPO

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• DR. JOAQUIM AMORIM NETO • INTERCÂMBIO UNIMED • COOPERATIVISMO DIA-A-DIA • PÓLO COMERCIAL DE CAMPINA GRANDE COMPRA IDEIA - SAÚDE É COM UNIMED

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

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• AMIGOS, AMIGOS, GENEROSIDADE FAZ PARTE • CHICO MNDES - QUANDO A CAUSA É MAIOR QUE A VIDA

ARTES EM MOVIMENTO PONTO DE VISTA - A VIDA EM DEBATE

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• A ÉTICA MÉDICA, DO COMEÇO AO FIM... DA VIDA • NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA • DEMOCRACIA - UMA PALAVRA ESFACELADA ENTRE AS TEMPORALIDADES • DO RISO AO SISO - DA PIADA À FILOSOFIA • ÉTICA E CIDADANIA • NATUREZA MÉDICA - BRASIL, VAMOS MOSTRAR A NOSSA CARA

NOSSO PATRIMÔNIO • O MATUTO REVERSO NA PROSA DE AMAZAN

MEDICINA PREVENTIVA

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• A PREVENÇÃO TAMBÉM É A MELHOR ESTRATÉGIA • CÂNCER BUCAL • NÓDULOS DE TIREÓIDE • A SAÚDE DE UM PAÍS CHAMADO BRASIL

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• NO BRASIL, SEMPRE DEU SAMBA! • A REPÚBLICA INDEPENDENTE DE CAMPINA GRANDE • VIVENDO CAMPINENSEMENTE • ANTÔNIO CARLOS NÓBREGA - UMA PARTE DO BRASIL • LUIZ GONZAGA CANTA MÉDICO

CIDADE - QUE GRANDE CAMPINA • UMA CHANCE DE MUDAR A HISTÓRIA • A BOA IMAGEM DE CAMPINA NA TV DIGITAL

SAÚDE AUTO ASTRAL

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• TRAÇO DE HUMOR • CONVIVA!


COLUNISTAS UMA MARCA NO SEU TEMPO

SENSIBILIDADE CRÔNICA

DR.JOSÉ MORAIS LUCAS Médico Anestesiologista, Cooperado da Unimed Campina Grande, Membro da Academia Campinense de Letras.

MICA GUIMARÃES Jornalista, Professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba, Radialista.

O RISO E O SISO DR. EDMUNDO DE OLIVEIRA GAUDÊNCIO Médico Psiquiatra, Cooperado da Unimed Campina Grande, Professor de Psiquiatria da UFCG.

NATUREZA MÉDICA DR. FLAWBER ANTONIO CRUZ Perito médico do INSS - Especialista em Pediatria - Membro do Conselho Regional de Medicina.

ECOSCIENTE

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DR.JOSÉ ALVES NETO Médico Ultrassonografista, Cooperado da Unimed Campina Grande.

TRAÇO DE HUMOR FRED OZANAN Jornalista, chargista, design gráfico, sócio fundador da Fundação Nacional do Humor (PI), membro da Associação dos Cartunistas do Brasil (SP).

CONVIVA! EQUIPE CONVIVER

ROSÂNGELA ALVES DE SOUTO Graduada em Ciências Biológicas, Mestre em agronomia, Doutoranda em Recursos Naturais.

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ALINE DURÃES Jornalista e graduanda em Letras-Inglês/UEPB. Especializanda em Mídia e Assessoria de Comunicação/CESREI e mestranda em Literatura e Interculturalidade/UEPB.

DALVÉLIO MADRUGA Medico Cirurgiao Geral, Proctologista - Professor do Curso de Medicina UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA Membro do Conselho Federal de Medicina - e Ex- Presidente do Conselho Regional de Medicina - PB

ÉRIKA CASTRO Graduada em Comunicação Social (UEPB), Especialista em Mídia e Assessoria de Comunicação, Repórter.

GABRIEL ALVES Jornalista formado pela UEPB e mestrando em Desenvolvimento Regional pela UEPB/UFCG. Atua na Unidade de Comunicação da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba.

DR. IVO MARQUIS BESERRA JÚNIOR Médico-Cirurgião de Cabeça e Pescoço; Mestre em Ciências da Saúde pelo curso de pós-graduação do Hospital do Heliópolis; Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial.

JANAIR FERNANDES Dra. Maria Janair Fernandes CROPE 5986– Cirurgiã Dentista, formada pela Universidade Estadual da Paraíba , com aperfeiçoamento em Cirurgia Oral Menor e Periodontia.

JOSÉ OTÁVIO DE AGUIAR Doutor em História e Culturas Políticas pela UFMG, Pós Doutorando em História pela UFPE. Professor do Curso de Mestrado em História UAHG/UFCG, Professor do Curso de Mestrado e Doutorado em Recursos Naturais/UFCG.

LUÍS ADRIANO MENDES COSTA Luís Adriano Mendes Costa é Mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB, Jornalista e Professor.

DR. NORBETO JOSÉ DA SILVA NETO Diretor Médico Operacional da Unimed Campina Grande. Presidente da Associação Médica de Campina Grande e Vice-Presidente do CRM/ PB.

DR. KÉOPS DE VASCONCELOS AMARAL VIEIRA PIRES Juiz de Direito. Delegado Seccional da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas na Paraíba

ROSSANDRO KLINJEY Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba (1998) e mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual da Paraíba (2002). Atua como Psicólogo Clínico na Clínica Reabilitar, professor da Facisa e FCM.

XICO NÓBREGA Jornalista cultural repórter de A União em Campina Grande, especialista em Luiz Gonzaga.


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Espaço doLeitor

CARTAS

Sei da dificuldade que há, em abandonar a bebida, sem dúvida uma questão de obsessão mental “pelo elixir da vida” o álcool. Sou psicóloga e tenho presenciado ao longo de 20 anos de carreira, famílias inteiras se destruírem físico, mental e espiritualmente através do seu doente alcoólico. Tenho indicado aos meus pacientes os grupos familiares Al-anon. Portanto, bem providencial esta matéria, já que, alcoólicos Anônimos esteve comemorando mais um ano de existência no mundo. Meus parabéns. Rossana Pereira

Agradecemos a to- EDIÇÃO ANTERIOR dos que fazem a Revista Conviver - UNIMED, pela brilhante matéria publicada na edição de junho/2010 “Vencendo o Alcoolismo - só por hoje um gole de sobriedade”, pois sabemos que o alcoolismo é uma doença progressiva, incurável e com determinação fatal, onde leva o portador a loucura ou a morte prematura. Divulgado da forma que foi, é realmente levar conhecimento a todos que necessitam e que ALCOÓLICOS ANÔNIMOS existe, onde estamos de portas aberta aguardando aquele que um dia venha precisar de nossas experiências e conseguir permanecer sóbrio, seguindo uma programação de recuperação, para retornar a uma vida de felicidades. Rossana Pereira

Gostaria de parabenizar toda a equipe de redação da Revista CONVIVER pela excelência, seriedade e competência com que abordam os temas ali veiculados. Acabo de ler a Revista n 11 de junho/2010 onde, entre tantas outras grandes reportagens, há uma que chama a atenção de todos indistintamente; trata-se do tema abordado nas páginas 42 a 44 sobre o alcoolismo. Creio que, dado a seriedade do assunto, outras reportagens sobre o tema em breve serão veiculadas. Parabéns a todos. J. M. Figueiredo Recebi de um amigo esta revista e me vejo no dever de parabenizar a equipe responsável pela publicação de nº 11 junho/2010, onde abordaram dois temas de suma importância para reflexão e ação pública. Como leitor gostaria de ver outra matéria sobre esta doença, enfatizando a área psiquiátrica, cito o hospital Dr. Maia, que trata de pacientes em estados avançados de alcoolismo. Biagio Grisi

CONVIVENDO COM VOCÊ A IDENTIDADE DO BRASIL

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definição de identidade, de forma mais objetiva, na maioria das vezes sempre foi mais próprio de áreas afins, como a Antropologia, no qual se explicava as identidades culturais. Segundo o sociólogo Stuart Hall, “as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado”. Já Manuel Castells entende a identidade como “o processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais interrelacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado”. Toda esta conceituação nos leva a refletir: qual a identidade do brasileiro? Como estamos nos

vendo no reflexo espelhado de nossos costumes e hábitos? Indagações mais que pertinentes nos levam à relações bastante atuais. O brasileiro a cada dia modela e remodela a visão de si mesmo como cidadão e indivíduo. Conforme teorias sociais, a identidade não consiste em conceitos fixos, uma vez que a fluidez dos momentos está cada vez mais efêmera. Contribuindo com esta multiplicidade de aspectos identitários, o nosso país se apresenta com uma só língua, mas vários sotaques, muitos sabores, inúmeros ritmos e danças. Um país singular, exatamente por ser plural. O mapa do país está grudado em nosso rosto, e disso não há como fugir. A bandeira verdeamarela está encravada em nossas mãos e, ao contrário do que muitos dizem, isto nos deixa feliz. O brasileiro descobre a cada dia

sua identidade, tem prazer de pintar a cara, de se mostrar cidadão e reconhecer-se como um só e também como bilhões. Uma nação que apesar de mutante no compasso do tempo, não perde sua cara, sua essência... seu nome: Brasil.



Da Unimed

NÓS COOPERAMOS COM O BRASIL

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xiste um país que precisa ser redescoberto, uma nação que precisa ser tirada da gaveta, um Brasil com necessidade de se enxergar. A pluralidade multicultural presente neste país de dimensões continentais, traz em seu contexto a grande soma da cultura do conviver com as diferenças, e nesse contexto a edificação da história de um país. Aqui colonizadores e colonizados deram ao Brasil um perfil tão etnicamente multicultural que mal podemos dizer onde começa uma cultura e termina a outra, tamanha a força das influências. Somado ao grande fluxo de imigrantes que aqui consolidaram com a força da mão de obra, podemos afirmar que o Brasil que precisa ser revisto, é em grande parte uma nação de sucesso, edificada com base no trabalho cooperado. Desde quando aqui chegou trazida pelo francês Jean Maurice Faivre a prática do trabalho solidário exemplificada na colônia Santa Tereza em 1847 no sertão do Paraná, o ideal cooperativista em terras brasileiras encontrou terreno fértil para florescer numa nação movida a trabalho. Se somos a maior economia latino-americana, com um poder de influência mundial inquestionável, o cooperativismo tem sim seu grande contributo. Diante do Produto Interno Bruto as cooperativas respondem por 6,8%, ressaltando que este modelo de trabalho constitui em nossa nação um dos modelos de negócios onde a democracia a justiça e a igualdade se faz mais presente. No tocante a oportunidade de trabalho e valorização de classes o cooperativismo brasileiro tem sido uma referência. Para se ter uma ideia o cooperativismo pode ser encontrado no Brasil em treze ramos de atividades econômicas distribuída em 7.518 cooperativas. Atualmente quase 275 mil pessoas trabalham tanto no campo como nas cidades graças ao cooperativismo. No campo da saúde o sistema de cooperativismo médico é um exemplo mundialmente seguido, o Sistema Unimed criado no Brasil tem mostrado a sua força graças ao cumprimento fiel do parâmetro do trabalho solidário. Sendo o segundo maior seguimento cooperativista no Brasil ficando atrás apenas do cooperativismo agropecuário, o Sistema Unimed é responsável pelo emprego de mais de 47 mil cidadãos no Brasil ocupando atualmente mais de 83% dos municípios brasileiros. Na prática este Brasil quase ninguém vê, pois o cooperativismo ainda merece mais espaço e reconhecimento como um braço da economia nacional que é exemplo para muitas categorias. E não somos nós que afirmamos, segundo a edição mais recente Revista EXAME o ranking das 1000 maiores empresas do País, 75 são cooperativas, destas, onze fazem parte do Sistema Unimed no ramo serviços médicos. Em nossa cidade a Unimed Campina Grande se orgulha a quase quatro décadas em contribuir junto a um ritmo chamado evolução. Cumprindo com as nossas obrigações tributárias federais e municipais, investimos neste último ano no mercado em torno de R$ 10 milhões de reais, o que na prática se constitui em valorização a todos que representam a marca Unimed Campina Grande, tendo como consequência maior trabalho e qualidade no que fazemos. Para a assistência à saúde suplementar em Campina Grande, a Unimed representa cerca de 80% dos ativos financeiros repassados a hospitais, clínicas, laboratórios e consultórios, como prova da nossa solidez e franca participação na economia da cidade. Se somos a segunda maior receita do município, é por que representamos a confiabilidade que você, quer cliente ou não, deposita em nossa cooperativa. A Unimed Campina Grande é parte de um Brasil que dá certo, por cooperar para que isto aconteça. Um Brasil que como nós se reinventa a cada dia, acreditando sempre que trabalho e solidariedade fazem desta nação um lugar de orgulho a todos aqueles que dela fazem parte.

Dr. Francisco Vieira de Oliveira PRESIDENTE DA UNIMED


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Janeiro de 2010

Campina Grande

DIRETORIA 2006/2010 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: Dr. Francisco Vieira de Oliveira Diretoria Administrativo – Financeira: Dr. Alexandre de Castro Batista Leite Diretoria Médico – Operacional: Dr. Noberto José da Silva Neto Diretoria de Mercado: Dra. Teresa Cristina Mayer Ventura da Nóbrega VOGAIS Dr. Antonio Dimas Cabral Dr. Emílio de Farias Junior Dra. Gesira Soares de A Florentino Dr. Giovannini Cesar A L de Figueiredo Dra. Waldeneide Fernandes Azevedo CONSELHO TÉCNICO E DE ÉTICA Dr. Carlos Roberto de S Oliveira Dra. Deborah Rose Galvão Dantas Dr. Ericsson Albuquerque Marques Dr. Juarez Carlos Ritter Dr. José Protássio de Vieira Dr. Saulo Gaudêncio de Brito CONSELHO FISCAL 2010 Dr. Gladstone Botto De Almeida Dr. Henrique Cesar Feitosa Pereira Dr.Flavio Ventura P. De Oliveira Dra. Andrea De Amorim P Barros Dr. Guilherme Veras Masceno Dr. Marcienio Oliveira Medeiros ASSESSORIA JURÍDICA Dr. Giovanni Bosco Dantas Medeiros Dra. Maria Rodrigues Sampaio COMITÊ DE COMUNICAÇÃO Dr. Evaldo Dantas Nóbrega Dr. Joaquim Monteiro Franca Filho Dr. José Alves Neto Dr. José Morais Lucas Dr. José Moisés Medeiros Neto DIREÇÃO/EDIÇÃO Drª. Teresa Cristina M. V. da Nóbrega Alice Rosane Correia Ribamildo Bezerra de Lima Ulisses Praxedes Yonnara Araújo JORNALISTA RESPONSÁVEL Ribamildo Bezerra - DRT 625/99 REDAÇÃO Ulisses Praxedes – DRT 2787/08 FOTOGRAFIA Leonardo dos Santos Silva ASSESSORIA DE MARKETING Alice Rosane Correia REVISÃO Aline Durães DIREÇÃO DE ARTE E VISUAL 9Ideia Comunicação www.9ideia.com.br IMPRESSÃO Gráfica Moura Ramos CIRCULAÇÃO 2.000 exemplares Distribuição Gratuita Edição Trimestral

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ESPAÇO DO LEITOR ATENDIMENTO (83) 2101.6576 / 2101.6580 revistaconviver@cg.unimed.com.br PARA ANUNCIAR LIGUE: (83) 2101.6580 (Alice) alice@cg.unimed.com.br

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Da Redação

O QUE REALMENTE SOMOS

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osso país é multifacetado. Sua história mistura a história de várias raças, cores, credos. Parece instigante a ideia de uma extensão territorial imensa, onde seus habitantes falam a mesma língua, compartilham mesmos modos, enfim, se encontram regidos por um signo único: o de “brasileiro”. Tal signo tem uma função a mais que a simples demarcação do território natal, soa carregado das significações que lhe foram atribuídas pelos enunciados dos quais emergiu. O brasileiro hospitaleiro, festeiro; o Brasil de linha de cor, formado por um encontro pacífico das etnias; o “País do Carnaval”... estas são formas bastante recorrentes de se referir a este povo. Mas também existem outras formas de reconhecermos nossa identidade: um povo que pintou a cara e foi para as ruas tirar um presidente do poder, um povo que faz da cidadania seu modo de vida. E pra retratar este povo em suas essências e potencialidades é que a Conviver vem com sua edição número 12. Nesta edição, nosso pesquisador e médico anestesista Dr. José Morais Lucas nos traz a história do Dr. Joaquim Amorim Neto, um nome marcante na ginecologia de nossa cidade. Uma publicação conjunta dos médicos Dr. José Norberto e Dr. Dalvélio Madruga nos remete a uma importante discussão nos dias atuais: o

novo Código de Ética Médica. Daí em diante, vários outros nomes nos trazem discussões bastante elaboradas sobre a nossa fase atual. A democracia é um tema bastante recorrente nos textos desta edição que traz o Brasil em sua cara. Na seção “Nosso Patrimônio”, mais comumente conhecida como “páginas verdes”, um grande artista de nossa terra conta sua trajetória, mostrando todo potencial. Amazan narra como começou sua carreira e fala da importância da cultura para a formação do nosso povo. Ainda mostrando toda preocupação que o nosso povo tem em se ajudar e proporcionar um pouco de alegria ao seu próximo, temos o exemplo da Associação Amigos dos Portadores de Câncer (AAPC) retratada em mais uma de nossas páginas. Entrando pelo aspecto multicultural que envolve todo povo brasileiro, as várias expressões artísticas se encontram na seção “Artes em Movimento”, quando falamos desde o saudoso Luiz Gonzaga até o Samba e a sua relação com nossa brasilidade. São vários temas que juntos formam um só, que refletem um só povo que é formado de maneira múltipla. Uma nação de muitos que tem um só rosto, uma só identidade. Boa leitura! Equipe conviver.

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DR. AMORIM NETO UMA VIDA DEDICADA A OBSTETRÍCIA

E

sta edição da revista CONVIVER, leva aos seus leitores por intermédio deste colunista/ memorialista, informações curriculares importantes do Dr.Joaquim Amorim Neto, professor da Faculdade de Medicina de Campina Grande na cadeira de Obstetrícia, falecido em 31/10/2007. Mesmo tendo sido seu companheiro de trabalho na antiga Maternidade Elpídio de Almeida, hoje ISEA (Instituto de Saúde Elpídio de Almeida), ele como obstetra ou médico parteiro como gostava de ser chamado, e eu como anestesista, fui colher mais informações do homenageado na melhor fonte, ou seja, com sua querida esposa Léa. A Professora/Historiadora Léa Agra Amorim, nem precisou falar, pois, mostrou-me e logo me emprestou um trabalho que fez sobre o homenageado, onde está devidamente registrado em verso, tudo o que se possa imaginar sobre Amorim, através de uma completa historiografia constando fotos e documentos. Basta dizer que encontramos foto do pimpolho aos

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quatro meses de idade, além de importantes registros e depoimentos após o seu desenlace; até mesmo o recibo da Funerária que cuidou do sepultamento, lá se encontra. Amorim Neto nasceu em Campina Grande em 30.03.1934, sendo filho de Joaquim Amorim Filho e Albertina Ramos de Amorim. Casou-se com Léa em 06.09.1966, na Catedral de N. S. da Conceição, tendo como filhos as médicas Melânia e Denise, além do caçula Alexei, que é advogado. São seus irmãos, Agnelo e Tota Amorim, este último falecido antes dele. Formou-se no dia 08 de dezembro de 1961 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa. Sua inclinação pelo ramo da obstetrícia veio logo cedo, pois ainda estudante passou a frequentar a Maternidade Cândida Vargas como estagiário. Neste Serviço, pertencente ao Departamento de Ginecologia e Obs-

tetrícia da Faculdade de Medicina, após ter estagiado pelo período de dois anos como acadêmico, depois de formado, permaneceu por mais dois anos na condição de pós-graduado voluntário. Sua paixão e dedicação pela obstetrí-


José Morais Lucas

cia não parou por ai, constando em seu currículo ao longo de sua vida profissional 123 diplomas ou certificados, por sua participação em congressos, cursos, palestras, seminários, simpósios, jornadas, como ouvinte ou palestrante. Fez cursos de atualização na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Hospital das Clínicas), bem como na Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia, ambos com 120 horas de duração. No Hospital das Clínicas de São Paulo, visando o aprimoramento, voltou várias vezes onde fez amizades, chegando a trazer o Professor Bussamara Neme para proferir um curso em Campina Grande, isto, quando ainda não existia Faculdade de Medicina na cidade. Nos avanços da especialidade introduzidos pelo Dr.Amorim em Campina Grande, Léa cita o parto Leboyer (parto humanizado), que sua filha,

Dra.Melania, também professora da Faculdade de Medicina, deu continuidade; a incisão de Pfannestiel em cesárea – que é aquele corte cirúrgico encoberto posteriormente pela camada de pêlos pubianos; além da sua dedicação ao estudo da Gestação de Alto Risco, o que lhe valeu

Sua inclinação pelo ramo da obstetrícia veio logo cedo uma homenagem prestada pelo ISEA, quando denominou Unidade de Gravidez de Alto Risco “Prof. Joaquim Amorim Neto” a este serviço inaugurado na Maternidade Municipal em 2001, conforme placa comemorativa existente no local. Ainda em vida Amorim Neto recebeu em dezembro de 2005 a “Medalha de Honra ao Mérito” concedida pela

SOGOPA – Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Paraíba; Na oportunidade, ele era o Presidente da sucursal da SOGOPA em Campina Grande. Várias homenagens lhe foram prestadas após o seu falecimento. 1 – Curso de Humanização do Parto: ”Professor Joaquim Amorim Neto”, promovido pela Sociedade Médica de Campina Grande no dia 30 de Novembro de 2007; 2 – Prêmio “Professor Joaquim Amorim Neto”, concedido ao melhor aluno de Medicina do ano, no Centro de Convenções Raymundo Asfora, em 2008; 3 – Criação do IPESQ – Instituto Professor Joaquim Amorim Neto de Desenvolvimento, Fomento e Assistência à Pesquisa Científica e Extensão; 4 – Nome de Rua “Doutor Joaquim Amorim Neto”, no bairro do Catolé, em 2009, onde coincidentemente reside o filho Alexei. O título de especialista

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PROFESSOR JOAQUIM AMORIM NETO

fornecido pela Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia conhecido nacionalmente como TEGO, que é conquistado através de uma prova aplicada anualmente para os inscritos, o Dr.Amorim ganhou legitimamente em 1972, sendo motivo de citação e orgulho para os seus amigos e familiares. Consta que foi o primeiro TEGO conquistado em Campina Grande. Além do consultório particular, foi médico do INAMPS servindo no serviço de pré-natal, tendo se aposentado nesta função como servidor federal. No magistério superior, foi professor de Obstetrícia, inicialmente na Faculdade de Medicina de Campina Grande, quando era de caráter particular e posteriormente na UFPB, quando o curso de medici-

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na foi absorvido pelo Campus II da Universidade. Para esta nova etapa, Amorim Neto teve que submeter-se a um concurso público, quando foi aprovado e nomeado professor da UFPB, posteriormente UFCG. Entre os cargos de direção ocupados pelo professor Amorim Neto, podemos citar: Diretor da Maternidade Elpídio de Almeida; Coordenador da Clínica Obstetra do Departamento de Saúde Materno Infantil do Campus II da UFPB; Presidente da Sociedade Médica de Campina Grande; Chefe do Departamento de Saúde Materno Infantil, do Centro de Ciências Biológicas e de Saúde – CCBS, do Campus II; Delegado em Campina Grande da Seccional do Conselho Regional de Medici-

na da Paraíba. Foram seus colegas de turma os médicos Assis de Souza, Raimundo Gomes e Porfírio Fernandes (falecido), que também se instalaram para trabalhar e residir em Campina Grande. No que diz respeito aos seus descendentes, são netos de Amorim e Léa, André Filipe - filho de Melania; Alexei Filho - filho de Alexei; além de Dennis, Mario Filho e Marina, filhos de Denise e Mário. Foi este o Amorim que conheci. Foi este o Amorim que deixou muitas saudades entre familiares e amigos. Foi este o Amorim que partiu deixando uma árvore plantada na medicina campinense que está dando bons frutos.


Colaborador

INTERCÂMBIO UNIMED

SEGURANÇA E QUALIDADE ONDE VOCÊ ESTIVER

Hoje o Intercâmbio Unimed é um processo dinâmico envolto na troca de serviços entre as singulares do sistema e leva em consideração a implantação sempre de novos processos tecnológicos e as tendências mercadológicas.

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Dra. Ana Cantalice. Gerente de Auditoria e Intercâmbio

uito já se ouviu falar sobre a palavra “intercâmbio”, porém o seu significado ainda é um pouco confuso na mente de alguns. Na Saúde Suplementar não é diferente. Os serviços de intercâmbio no sistema Unimed tem muita importância para o bom andamento de todas as singulares. Neste momento, deve estar se formando uma indagação: Como assim, intercâmbio entre Unimeds? Vamos explicar em palavras gerais: Cada Unimed no Brasil é independente administrativa e financeiramente. Se um cliente de uma “Unimed X” está fora de sua cidade de origem e precisa de atendimento, a “Unimed Y” presta este atendimento sem complicação alguma ao usuário. Só que, por este usuário ser cliente de outra singular, haverá a comunicação e/ou autorização do atendimento e posteriormente um “encontro de contas” entre as duas Unimeds. O setor responsável por estas relações com outras Unimeds é o Intercâmbio.

A relação entre as singulares do Sistema Unimed é algo tão vital que o Presidente da Unimed do Brasil Dr. Eudes Aquino assim destacou: “O intercâmbio é o coração do Sistema Unimed, a certeza de que você cliente será bem atendido em todo o Brasil. Todo um investimento em tecnologia e gestão é primordial para que a harmonia e a qualidade do atendimento padrão em nosso sistema, não se perca de uma Unimed para outra”. Na Unimed Campina Grande, o setor de Intercâmbio faz parte da Gerência de Intercâmbio e Contas Médicas. Trabalham realizando os procedimentos de intercâmbio atualmente quatro colaboradores. O “Intercâmbio Unimed CG” passou recentemente por uma reestruturação, como ressalta a Gerente de Intercâmbio e Contas Médicas, Dra. Ana Cantalice: “Esta reestruturação veio em boa hora e era realmente necessária para que pudéssemos agilizar os processos de cobrança e pagamento de procedimentos e consequentemente

melhorar a prestação de serviços aos nossos usuários, o que é o nosso maior foco e a razão do nosso trabalho”. Dra. Ana Cantilce também ressalta aos usuários a necessidade de atentar para o prazo de resposta de autorizações, que significa a comunicação entre Unimeds e as autorizações para procedimentos. Em caso de procedimentos simples o prazo máximo de resposta é de 48 horas, e se houver solicitação de uso de materiais este prazo se estende até 10 dias. Com a reestruturação realizada, prática nova em todo país, as atividades foram delegadas de maneira que o fluxo de trabalho fosse descongestionado, proporcionando uma maior fluidez nos serviços. Dessa forma, o setor de Intercâmbio se responsabiliza principalmente pelos pagamentos realizados à outras Unimeds que atendem usuários de Campina Grande, enquanto a cobrança de serviços de usuários de outras singulares na Unimed Campina Grande é feita pelo setor de Contas Médicas. Para se ter uma ideia, apenas no processo de pagamentos de intercâmbio, o setor contabiliza quase duas mil contas por ano. Vale lembrar que todo este trabalho é regido principalmente pelo Manual de Intercâmbio Nacional e pelas Normas de Auditoria Médica e de Enfermagem. Prova de um trabalho bem realizado é a participação da Unimed Campina Grande através da nossa Gerente, Dra. Ana Cantalice como representante do Norte/Nordeste no Colégio Nacional de Auditores Médicos Unimed, participação essa que possibilita inúmeros acréscimos à prática do intercâmbio bem como da Auditoria, sempre em contato com novidades da área.

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COOPERATIVISMO DIA-A-DIA

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oda cooperativa é regida por sete pilares básicos, que traduzem toda uma prática de valorização ao trabalho, não importa a modalidade em que trabalhe a cooperativa, estes princípios deverão fazer parte de sua rotina na prestação de serviço. Na Unimed Campina Grande é possível perceber a dinâmica destes princípios que ajudam a explicar o por que do sucesso do cooperativismo médico em nossa cidade e no mundo. 1 - Por ser organização volun-

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tária, para pessoas aptas a utilizar e assumir as responsabilidades como cooperados sem discriminação de sexo, classe, política e religião, podemos dizer que os nossos cooperados aderiram a Unimed de forma voluntária e livre 2 - Composta por um conselho administrativo formado e eleito por cooperados, a Unimed Campina como toda cooperativa tem uma gestão democrática, onde todos os membros da cooperativa participam das políticas e tomadas de decisões

inclusive com poder igual de voto geralmente exercido nas Assembleias . 3 – A mesma corresponsabilidade nas decisões também é tida na participação econômica dos membro, onde cada cooperado contribui equitativamente para o capital da sua cooperativa que acaba constituindo um patrimônio comum. Todos os ganhos (sobras) e perdas deste investimento é de responsabilidade compartilhada com todos o membros da cooperativa. O investimento para a evolução


Cooperado

do patrimônio comum da cooperativa e uma filosofia sempre aplicada por sua gestão. 4 - Autonomia e independência - Controlada por seus membros, as cooperativas são organizações autônomas, caracterizadas pela ajuda mútua. Este ponto só reforça a soberania das cooperativas, que conserva em sua independência a prática sem vínculos políticos, religiosos ou econômicos com outras instituições. Em caso de parceria institucional a soberania cooperativista deve sempre prevalecer 5 - Educação, formação e informação – Educar e promover a filosofia cooperativista é uma prática sempre presente

na Unimed Campina Grande, em seus cursos de formação de novos cooperados, assim como a educação de seus colaboradores como forma de difusão do trabalho solidário, reforça ainda mais o conhecimento sobre esta vivência de trabalho compartilhado. 6 - Intercooperação - É lema das cooperativas atuarem em conjunto, através de suas representações locais, regionais, nacionais e internacionais. Tudo isso para dar força ao movimento cooperativista. Um exemplo mais recente está na parceria entre a Unimed Campina Grande e a Unicred Campina Grande que já traçam projetos visando a criação de um instituto de res-

ponsabilidade sócio-ambiental 7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas também devem trabalhar para o desenvolvimento das suas comunidades. A Unimed Campina Grande ao realizar ações de valorização a qualidade de vida junto a comunidade exemplifica muito bem os laços de importância, valorização, investimento e respeito que esta cooperativa médica tem para o esta cidade. Através destes princípios podemos enxergar o quanto o cooperativismo tem importância no nosso dia a dia e o quanto ele nos ajuda a entender e explicar a história da Unimed junto a comunidade campinense.

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Cliente PÓLO COMERCIAL DE CAMPINA GRANDE COMPRA A IDEIA

SAÚDE É COM UNIMED

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Conhecida como a Capital do trabalho, Campina Grande sempre teve no seu pólo comercial uma das suas maiores referências. A Associação Comercial de Campina Grande e o Câmara de Dirigentes Lojistas - CDL traduz e muito bem o lastro da força do comércio em nossa cidade. Entidades de forças complementares ACCG e CDL junto aos representantes do comércio de Campina Grande apostam na idéia de que investir em saúde sempre será um bom negócio.

riada em 1926, a Associação Comercial de Campina Grande tem congregado pessoas físicas e jurídicas que através da atividade comercial e empresarial contribuem de alguma forma para o engrandecimento da cidade. Tanto é que na história da instituição existem muitos fatos onde os comerciantes campinenses puderam de forma conjunta modificar situações desfavoráveis através da união. Um desses episódios se deu na aplicação do chamado ‘Imposto de Indústria e Profissão’, determinando que os contribuintes estabelecidos em Campina Grande teriam que pagar alíquotas mais elevadas em comparação aos demais municípios da Paraíba no início do século passado. Na época Campina Grande era um dos principais pólos comerciais do Nordeste, e o novo tributo a colocaria em desvantagem aos demais municípios. A luta dos empresários em nome da soberania de Campina Grande marcou a essência da filosofia da Associação Comercial de nossa cidade. Na vanguarda e no reforço a visão empreendedora e comercial de Campina Grande surge em 1966 o Clube de Diretores Lojistas, que apenas um ano depois passou a denominação de Câmara de Dirigentes Lojistas de Campina Grande. A entidade possibilitou mais segurança com a criação do SPC, evitando prejuízos

para lojistas e consumidores no suporte a análise de crédito, oferecendo um lastro maior de segurança no processo do fluxo comercial junto aos lojistas campinenses. Contextualizadas ao paradigma da atualidade, onde a saúde de uma classe ou grupo é investimento certo no tocante produtividade, as diretorias da ACCG e CDL fecharam parceria com a Unimed Campina Grande no objetivo de motivar juntos seus públicos a oportunidade de obter um plano de saúde. Através do produto Uniempresa os empresários filiados a Associação Comercial e Empresarial de Campina Grande firmaram um consórcio que possibilita a aquisição de um plano nacional com acomodação apartamento ou enfermaria de dois leitos em condições bastante especiais. Para o presidente da ACCG o empresário Luiz Alberto Leite “Essa parceria mudou a história da entidade empresarial. Esta oportunidade junto a Unimed reforça ainda mais os laços de respeito e retribuição aos mais de 500 associados desta instituição, o que mostra que a causa do empresário sempre será a nossa causa”. Com um leque de produtos diferenciados e voltados para o lojista e o empresário, a CDL também pode sentir o impacto positivo deste serviço aos seus associados. Além do Unimepresa, o empresário que quiser levar a Unimed para sua empresa

pode contar com Plano Empresarial Participativo. Para o presidente da CDL Campina Grande o empresário Tito Motta, “o grande elo nesta parceria está em proporcionar maior produtividade nas empresas associadas, através de tratamentos preventivos de saúde, que podem ser feitos pelo empresário e pelo trabalhador”. A Câmara de Dirigentes Lojistas possui quase 660 empresas vinculadas a entidade. Para o presidente da Unimed Campina Grande Dr. Francisco Vieira de Oliveira a parceria com a Associação Comercial e a Câmara de Dirigentes Lojistas de Campina Grande só reforça a certeza de que entidades como estas mostram o quanto souberam amadurecer em sua história, tendo a seriedade exemplificada na oferta de melhores oportunidades de investimentos no campo da saúde. A Unimed Campina Grande vibra e cresce ainda mais no quesito credibilidade e responsabilidade junto a estes novos parceiros.

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A ÉTICA MÉDICA, DO COMEÇO AO FIM... DA VIDA DR. NORBERTO JOSÉ DA SILVA NETO

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morte é um acontecimento que ninguém pode evitar, e passar por ela com naturalidade deveria ser essencial para todo ser humano. A morte é mais uma etapa da vida, por isso deve ser tratada como tal. Se vivemos todas as outras etapas com naturalidade, mesmo com todas suas dificuldades, com a morte não poderia ser diferente. A entrada em vigor do novo Código de Ética Médica desde o dia 13 de abril passado, trouxe a reboque novos desafios que deverão ser enfrentados pelo médico, pelo paciente e por seus familiares. A questão da terminalidade da vida ou de como lidamos com ela, exemplifica bem o quanto o exercício ético do nosso ofício pode consolidar com equilíbrio e sobriedade a relação junto a quem cuidamos, mesmo estando diante de um fato inexorável . Destaco o que estabelece o art. 41 que assim se anuncia: “É vedado ao médico abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal”. Sumariamente o código se opõe a prática da eutanásia, o que

é por demais correto, não cabendo a nenhum profissional decidir o momento da morte do paciente. Em sua extensão, o artigo 41 apresenta um único parágrafo que estabelece: “Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal” e aqui se faz imperioso a prescrição de cuidados paliativos, em outras palavras, o código chama a atenção de todos envolvidos no processo para importância dos cuidados a um paciente com uma doença incurável e progressiva e diante da qual devemos prevenir o sofrimento, proporcionando a máxima qualidade de vida ao doente e a seus familiares. Já foi dito que a abordagem trazida pelos cuidados paliativos muda a percepção da morte e da vida entre pacientes e familiares. As pessoas estão entendendo melhor o que é deixar que uma doença incurável siga seu curso e nestes casos não há omissão de socorro, desde que o médico cuide do doente até o último instante. Outro artigo que deverá proporcionar uma melhor relação médico-paciente é o art. 39, não menos importante, e que reza: “É vedado ao médico opor-se à

realização de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente ou seu representante legal”. O médico assistente neste caso deve ter todo respeito para com o paciente, levando em consideração aspectos físicos, emocionais, familiares, sociais, espirituais, esclarecendo todos os detalhes do tratamento no que diz respeito a diagnóstico, procedimento a ser realizado e prognóstico e lhe oferecendo o direito de ouvir uma outra opinião sem que seja quebrada a relação médico-paciente. O médico sempre foi visto como o agente libertador, aquele que detém a técnica e o “poder” de curar, mas o emprego de novas técnicas e novas drogas proporciona, atualmente, abordagens e procedimentos diferentes para tratamento de uma mesma doença e este fato deve ser levado em conta, deixando que o paciente ou seu responsável legal tenha este conhecimento e possa escolher o que mais lhe convier. Afinal se acreditamos e investimos na ética como importante apoio junto ao ofício do cuidar, na motivação ao paciente e aos seus quanto qualidade de vida, porque não refletirmos na vivência desta mesma ética num momento tão singular e único na vida de qualquer pessoa diante da soberania maior da natureza que é a terminalidade.

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NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA UMA NOVA REALIDADE DR. DALVÉLIO MADRUGA

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Código de Ética surgiu para aprimorar o exercício da Medicina, voltado para os pacientes, médicos, e a sociedade como um todo. Portanto, após dois anos de ampla consulta, de apreciação de 2.575 sugestões encaminhadas, reconhecendo que o homem e o mundo mudaram, estamos desde o dia 13 de abril sob a égide do um novo Código de Ética Médica, revisado, atualizado e ampliado. Entre outros temas foi revisto e atualizado, direitos dos médicos, direitos humanos, responsabilidade profissional, relação com pacientes e familiares, relação entre médicos. Sendo abordados temas da atualidade, doação e transplantes, manipulação genética, sexagem (técnica que permite conhecer o sexo a partir da oitava semana), pacientes terminais, limitação de tratamento, reprodução humano, ensino e pesquisa médica. Temos um novo Código, mas não uma nova ética. O Brasil já teve cinco códigos de ética, o primeiro foi o Código de Deontologia Médica aprovado em outubro de 1944 no IV Congresso Médico Sindicalista. Em 1953 a Associação Médica Brasileira produziu o segundo. Após a implantação da Lei 3268-57 tornando o Conselho Federal entidade normativa e tribunal de ética, com o surgimento dos Conselhos Regionais, foi elaborado em 1963 o Código de Ética Médica, que entrou em vigor em janeiro de 1965. Esse Código perdurou até 1984, quando foi promulgado

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o chamado Código Brasileiro de Deontologia Médica. O próximo, pouco tempo depois, como parte do processo de redemocratização do país foi em 1988. Portanto o atual e sexto Código de Ética Médica, aprovado no dia 29 de agosto de 2009, entrou em vigor após publicação no Diário Oficial da União depois do interstício de 180 dias. Esse novo Código é composto de um preâmbulo com 06 incisos, 25 incisos de princípios fundamentais, 10 incisos sobre “direitos”, 118 artigos de normas deontológicas e 04 incisos de disposições gerais. Preserva a essência do Código anterior (1988), melhorando a redação de artigos, enfatiza com mais vigor os princípios fundamentais da ética. Subordinado à Constituição Federal e à legislação brasileira, reafirma os direitos do paciente, a necessidade de informar e de proteger a população assistida. A Comissão de elaboração desse novo Código buscou constituir um Código justo, respeitando o principio da liberdade do médico, bem como a liberdade do paciente, a dignidade humana, os direitos fundamentais do Estado de Direito, da igualdade e da justiça. No dia do lançamento afirmou o Presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d’Avila, “com as mudanças implementadas, não perdemos de vista a ética profissional e conseguimos responder à altura aos desafios impostos pelos avanços científicos, tecnológicos e as relações sociais. Por isso, o Código de Ética Médica é um significativo elemento

de progresso social e de qualidade sanitária”. Para realização do novo Código, consideraram-se novas questões éticas, impostas pela evolução dos conhecimentos e das práticas atuais da Medicina. Como resultado dessa nova realidade, a prática médica está comprometida com a sociedade, com o paciente em particular, com os colegas e com o prestígio e bom conceito da profissão. O professor Leocir Pessini, um dos representantes da sociedade na Comissão de Revisão, filósofo e teólogo, falando na ocasião do lançamento do Código assim se expressou: “ Fizemos um exercício de comunidade, de respeito às diferenças. Nasce hoje a carta de cidadania dos médicos do século XXI”. Foi citado na imprensa, “O novo Código nasce para aprimorar o exercício da Medicina, em benefício da sociedade”, o que concordamos, pois a Medicina, além de ser uma ciência biológica, é sobretudo uma profissão humanística, portanto temos a oportunidade de ratificar o calor humano existente na nossa profissão. Devemos ressaltar que ética médica brasileira é reconhecida e conceituada no mundo inteiro, condição esta que haveremos de manter. A íntegra do novo Código pode ser encontrada no site www.cfm.org.br. Os CRMs darão publicização do novo Código com palestras, orientações e divulgação.


DEMOCRACIA

UMA PALAVRA ESFACELADA ENTRE DIFERENTES TEMPORALIDADES JOSÉ OTÁVIO E ROSSANDRO KLINJEY

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História é um saber caracterizado pela reunião de vestígios que trazem aos nossos dias uma presença transfigurada do passado. Esta operação de transfiguração, entretanto, não se faz ao acaso. A evocação dos mortos e sua ressurreição, tem como móvel questões que dizem de nossa contemporaneidade. Os efeitos de real construídos pelos historiadores alimentam certa fome de respostas, e nunca é supérfluo recordar que os passados recompostos pelas mãos que historiam não correspondem a nada mais que uma seleção de vestígios e fontes, baseada em dada quantidade de escolhas. Lidamos sempre, não com reflexos reais de

um pretérito presente, mas, antes de mais nada, com nossa capacidade de construir uma versão a respeito dele. A Antiguidade clássica grecoromana exerceu uma enorme presença no pensamento político e social do ocidente europeu. Tributários que somos de sua influência, devemos atentar para uma modificação substancial em nossa forma de encarála. Desde a Segunda Grande Guerra do Século XX, a literatura clássica vem perdendo espaço nos sistemas educacionais do mundo. Isso se reflete na diminuição do número de centros de estudo de literatura grega e latina nos mais tradicionais programas de pós-graduação em Letras Clássicas e, enfim, na redução da carga horária da disciplina “História Antiga” nos cursos de graduação no Brasil e em quase todo o mundo. Não obstante a esta ausência, frequentemente deparamo-nos com a permanência de referências, mesmo que inconscientes, a demandas antigas, ressignificadas e incorporadas conceitualmente ao jargão do mundo político moderno. O tema da democracia

revestido de diversas nuances, ainda ocupa a pauta central de muitas de nossas interrogações às portas do século XXI. Apropriada de várias formas, essa milenar instituição ateniense serviu aos mais variados interesses discursivos e ainda gera polêmicas quanto à sua possibilidade de sobrevivência num mundo marcado por constante instabilidade. A democracia dos atenienses era excludente em relação a escravos e estrangeiros, porque restringia-se aos cidadãos da Pólis. Somente os machos livres poderiam interferir diretamente nas decisões políticas. A noção de igualdade se referia aos pares, nunca àqueles que, por princípio, eram considerados desiguais. A democracia grega nunca incluiu em seu horizonte concreto ou imaginário, uma ideia tão moderna como a de que todos os homens são iguais. Nosso horizonte contemporâneo de democracia, resultante de uma releitura iluminista, incorporou diversos setores econômicos e sociais sob o estandarte da cidadania, mas as sociedades modernas não conseguiram realizar o ideal de segurança e participação, Revista Conviver | 23


nem lograram ainda mobilizar suficientemente o interesse público em favor de suas demandas constitucionais. Perguntamo-nos ainda, nos dias de hoje, se os que não querem se organizar de forma democrática devem ser tolerados, se seria possível conciliar participação política e exclusão econômica, enfim, se o próprio modelo democrático não se afiguraria, em alguns casos, à semelhança de uma imposição cultural externa para muitas sociedades que, depois de séculos de coexistência política diversa, foram obrigadas a adotá-lo. Conviver com governos que se pretendem totalmente democráticos, é uma experiência relativamente nova até para os ocidentais modernos. Muitas sociedades que de direito se dizem democráticas – a despeito do que seus dirigentes e parte das organizações civis e militares gostariam que acreditássemos – são de fato oligárquicas. A

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democracia de representação ainda não conseguiu equacionar o problema de atender a cada setor interessado em que o governo represente seus interesses. Ela ainda não renunciou à pretensão de legislar em nome dos outros, mas não consegue convencer a muitos setores insatisfeitos da veracidade da operação simbólica, a partir da qual um indivíduo passa a representar os interesses de atores sociais tão diferentes. Como observou o grego Cornelius Castoriadis, um horizonte de democracia para todos é uma significação imaginária de importância, criada há alguns séculos pela Europa ocidental moderna, que esconde um certo controle compartilhado entre oligarquias no poder: “... Constatemos que é completamente sem razão falar de igualdade política entre um lixeiro e um proprietário de uma cadeia de televisão. Em todos os países em que há um regime parlamentar ou algo semelhante, e com o regime econômico que existe, pode-se facilmente demonstrar que apenas um sobre mil da população

participa de uma maneira ou de outra do poder. É uma cifra que faria morrer de inveja a oligarquia romana ou a aristocracia veneziana”[1] O problema entretanto não termina aí. A desigualdade real transparece por entre a cortina que separa os diversos mundos culturais, econômicos e políticos que constituem esta humanidade que se pretende igual. Haveria direitos humanos para os americanos, os ingleses, os russos e não para os chechenos, os iraquianos, os afegãos...? Seria, de outro lado, possível conceber uma sociedade política de participação sem inclusão social? Como pensar os regimes políticos obscuros, de inspiração autoritária ou totalitária, que pregavam a desnecessidade da participação e do gozo dos direitos políticos frente à garantia dos direitos sociais? Estes temas ocuparam a pauta de discussões que marcaram, de uma forma ou de outra, o século XX. Quero entretanto, aqui permitirme uma digressão genealógica em direção ao passado dos conceitos. Estes últimos, longe de se calcarem em mitos de ancianidade, tem sua gênese histórica precisa, e nunca é demais identificá-la para um público


que sobre isso se interroga, para que possamos, como na sugestão de Nietzsche, “exorcizar a quimera de sua origem”. Como observou Finley a propósito do julgamento de Sócrates: “Tanto Sócrates quanto a democracia ateniense estão mortos, mas seu julgamento sobrevive na condição de um grande mito; e, como todos os mitos, é tido – por quem nele crê – como exemplo de uma verdade universal. Eis a prova, afirma-se, da tirania da maioria, da sujeição da voz da razão e da consciência individual ante o domínio das massas, do ódio que sente o homem comum pelo homem de gênio. Sócrates está morto, mas estas questões não estão”[2] A palavra democracia vem do grego Demokratia, termo que reunia uma composição de demos (povo) e kratia (originalmente kratos, governo, força ou potência de dominação). Este governo do povo teve seu apogeu entre os séculos VI e IV a. C, na Atenas imperial. Muito já se escreveu sobre as diversas formas de organização política das póleis gregas, bem como sobre as reflexões de Platão e Aristóteles sobre esse objeto. Trabalhos como o do helenista José Antônio Dabdab Trabulsi, inovaram por se interrogarem sobre a motivação responsável pela mobilização

política dos atores históricos que se movimentavam em direção a esse ou aquele objetivo. Buscando analogias que se fundem para além da simples análise do passado e das possíveis heranças clássicas no mundo ocidental moderno, o autor estabelece interessantes paralelos que nos levam a pensar o lugar ocupado pela participação cidadã em culturas políticas autoritárias, como as da América Latina. Pensar uma sociedade que organizava assembléias para decidir sobre o ostracismo de cidadãos que possivelmente poderiam se tornar tiranos, é interrogar-se também sobre a forma pela qual os atenienses eram mobilizados para estes eventos democráticos. Por outro lado, como pensar a Pólis na perspectiva dos que, hipoteticamente, não desejassem participar? O professor Dabdab se interrogou sobre os artifícios de que os antigos gregos se valiam para mobilizá-los.[3]

Bibliografia [1]CASTORIADIS, Cornelius. A criação Histórica. Porto Alegre: Artes e Ofícios: 1992. p.100. [2]FINLEY, M.I. Aspectos da Antigüidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 75. [3]TRABULSI, José Antônio Dabdab. Ensaio sobre a mobilização política na Grécia Antiga. Belo Horizonte: UFMG, 2001.

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do Riso ao Siso

DA PIADA À FILOSOFIA EDMUNDO DE OLIVEIRA GAUDÊNCIO

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iada é coisa séria – uma vez que mecanismo de defesa contra aquilo de que se ri. Como estudante da psicanálise, não posso negar: anedota é chiste com que exorcizamos nossos fantasmas. Tomo a piada abaixo como exemplo dessas propostas, a piada, aliás, mais comum sobre o Brasil nos sites da internet: “Um sujeito morreu e foi para o céu. ‘Aqui não é seu lugar – disse-lhe São Pedro –, seu lugar é no Inferno’. Depois de muita choradeira por parte do indivíduo, São Pedro falou: ‘Tudo bem. Dou-lhe a chance de escolher entre o Inferno norte-americano e o Inferno brasileiro’. ‘E qual a diferença?’, o outro perguntou. ‘É

que no Inferno norte-americano você tem que comer um balde de esterco uma vez por semana...’, explicou São Pedro. ‘E no Inferno brasileiro?’, indagou de novo. ‘No Inferno brasileiro você terá que comer um balde de esterco por dia’. Escolheu: ‘É claro que quero ir para o Inferno norte-americano.’ Certo dia, de tanto comer o indigesto prato, o infeliz adoeceu e foi levado à enfermaria do Inferno norte-americano onde se encontrava. Passando diante de uma porta, de lá de dentro escutou música, risadas, tilintar de copos e, curioso, perguntou ao diabo que o acompanhava: ‘O que é que há do lado de lá dessa porta?‘ Respondeu-lhe o capeta,

‘ Ah, é o Inferno brasileiro...’. ‘Mas, ora, – perguntou surpreso –, se no Inferno brasileiro tem-se que comer um balde de esterco por dia, por que tanta alegria e felicidade?’ Explicou-lhe, então, o diabo: ‘Ora, é simples: É que há dias em que há esterco, mas não há baldes... Há dias em que há esterco e baldes, mas não há carregadores... há dias que há baldes e carregadores, mas não existe esterco, de modo que aqui no inferno brasileiro não se come merda faz já não sei quantas eternidades...’” Tomando o riso como seriedade e lendo a piada como coisa séria, concluímos: Há três maneiras de se ler as coisas do mundo: o modo otimista, o modo Revista Conviver | 27


pessimista, o modo realista. Como no exemplo dos três sujeitos e a taça de vinho: Otimista é aquele que, diante de uma meia taça de vinho, diz: Que maravilha, uma taça quase cheia; o pessimista, diante do mesmo cálice, afirma: Uma taça quase vazia; ao que o realista retruca: Apenas uma taça meia de vinho.O realista, bem entendido, dizem os filósofos, nada mais é que um otimista bem informado. Para o caso da piada, a mesma coisa: ou “O Brasil vai de mal a pior”; ou “O Brasil está à beira do melhor”. Gente, o Brasil é o que é, com toda a sua beleza, com todos os seus encantos e todas as suas feiúras e todas as suas vicissitudes – e viva o Brasil, por

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isso, e por isso viva o povo brasileiro. Da riqueza mais ostensiva à pior miséria, viva o Brasil; país da seca e das enchentes, da fome e do desperdício. Da violência, da corrupção e da impunidade – mas também e sobretudo do riso e da alegria; país que vai da fortuna verde dos verdes das matas às crianças esverdeadas de anemia e inanição. País verde-amarelo que sorri e sangra nos tempos de Copa do Mundo. Mas não interessam os argumentos extremos, de ambas as partes, o otimista gritando “Vai sempre melhor”, enquanto o pessimista grita: “De mal a pior”. O Brasil é o que é, este Paraíso único no Universo, país do samba, para além da epidemia de crack; país do carnaval,

para além das mulheres assassinadas por seus companheiros; país da cerveja, para além das centenas de milhares de vítimas no transito; país do futebol, para além da mendicância e dos meninos de rua. E exatamente por isso, quem é realista argumenta: “Sejamos sinceros: o Brasil, de fato, é como todas as coisas do mundo, imbuídas de qualidades e defeitos, bondades e ruindades, mas únicas no mundo. E por isso não há como não amar essa desordem adorada, essa bagunça querida, essa festa irresponsável, essa capacidade maravilhosa, única no mundo, de rir de suas próprias tragédias e misérias – o que se constitui como excelente exercício a releitura da piada!


ÉTICA E CIDADANIA KÉOPS DE VASCONCELOS AMARAL VIEIRA PIRES

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ivemos em um mundo de constantes transformações, nos mais diversos setores, sejam os políticos, econômicos, jurídicos, sociais, culturais, e até mesmo nos fenômenos da natureza que modificam a paisagem com seus terremotos, maremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, furacões, enchentes e secas dramáticas. Dessa ordem natural das coisas ninguém escapa. E nos parece razoável que assim seja, pois em um mundo globalizado como o que hoje se vive tudo se encadeia de modo inevitável. Os resíduos vulcânicos lançados de uma erupção na Islândia impede o voo de aeronaves, afetando a economia de diversos países da Europa; uma crise política decorrente de ditaduras em países da América Latina afetam a economia e a política nos países vizinhos; o vazamento de óleo em uma tubulação submarina do Golfo do México traz prejuízos ao meioambiente e ao turismo nas cidades litorâneas de vários países. As exigências que hoje se fazem em relação aos governantes, de um modo geral, são cada vez mais intensas. Não mais se admite nos

tempos modernos o isolacionismo de um Estado em relação aos outros. O mundo todo acompanha atento e ansioso às campanhas eleitorais nos outros países, especialmente os mais poderosos, porque sabe que a depender do candidato eleito, reflexos importantes se irradiam por todo o planeta. Outro fenômeno que dá mais transparência a tudo o que acontece no mundo é a internet, que permite o conhecimento em tempo real dos fatos, com detalhes inimagináveis há apenas alguns poucos anos. A rede internacional de computadores, interligando a tudo e a todos, embora com suas virtudes incontestáveis, tornando cada vez menores as distâncias, também é motivo para muitas preocupações quando se trata do uso indevido e até mesmo ilícito. De fato, não se pode ter por absolutamente confiáveis à segurança e o sigilo das informações contidas na rede. A atuação de pessoas com inteligência acima da média e com conhecimento profundo em informática, mas com conteúdo moral duvidoso, os chamados hackers, é capaz de invadir os mais indevassáveis sistemas

de segurança, seja dos bancos, dos sites de relacionamentos e até mesmo do Pentágono, nos Estados Unidos, causando prejuízos e riscos incalculáveis à população, usuária ou não da internet. Pode-se observar, por outro lado, uma massificação cada vez maior das denúncias de corrupção em todas as esferas de poder. As notícias em tempo real pluralizam e intensificam a indignação da população com tal estado de coisas, de sorte a promover uma cobrança mais viva por providências das autoridades constituídas. E não é à toa que tantos e tantos governantes e agentes políticos perderam seus cargos, seja por renúncia ou por decisão judicial, após acusações Revista Conviver | 29


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de desvios de dinheiro, de prática de extorsões, de uso indevido da máquina pública, corrupção desenfreada, atos de improbidade administrativa e outras tantas mazelas morais. Inevitavelmente se funda uma nova ordem social, em que já não mais se admite a atuação política de forma aética. A mobilização social em prol de uma postura mais condizente com os preceitos morais e éticos resultou, no Brasil, na edição da Lei Complementar nº 135/2010, apelidada de Lei da Ficha Limpa, que veda a candidatura de agentes que já tenham sido condenados por um órgão colegiado por crimes contra a administração pública, contra o sistema financeiro, por ilícitos eleitorais, atos de abuso de autoridade, prática de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, tortura, racismo, trabalho escravo ou formação de quadrilha. É uma expressão eloquente de cidadania, em que os próprios eleitores, estimulados por uma mídia bem estruturada, deram ensejo à iniciativa popular de uma lei de moralização da classe política. Que não pode contemporizar com os desonestos, os corruptos, os criminosos. Essa mudança de paradigma

afeta não apenas a classe política. Qualquer que seja a área de atuação profissional, a disposição geral é a de não mais aceitar a falta de ética. Bons e maus profissionais existem em qualquer área de atuação, porém algumas exigem muito mais atenção e responsabilidade. A guisa de exemplo, podemos nos deter apenas em duas delas, quais sejam a medicina e a magistratura. Recordo-me de um médico reumatologista a que fui ao RecifePE, para tratar de um problema de saúde que me acometia, aos 14 de anos de idade. Não me puderam acompanhar os meus pais, na ocasião. Fui sozinho. Médico conceituado e requisitado, sequer olhou para mim, ouviu meu relato do problema, postando-se de costas, olhando pela persiana da janela para o lado de fora e, ao final da narrativa, sentou-se, receitou uns exames e uns medicamentos e dispensou-me de modo impessoal e frio. Nem preciso dizer que não fiz os exames nem adquiri os medicamentos receitados. Procurei outro profissional que me atendesse de forma digna, humana, respeitosa, atenciosa, o que se espera de qualquer profissional. Com os magistrados não é diferente. Embora não se possa escolher o juiz que irá julgar as

nossas causas, é obrigação legal e moral de qualquer juiz tratar de forma digna e humana os advogados, os servidores e também os sujeitos do processo. Não se pode mais admitir um juiz-carrasco, um juiz autoritário e mordaz, que se julga superior a tudo e a todos, como se não estivesse exercendo um cargo público e prestando um serviço público mediante remuneração, que em última análise, provém do contribuinte que busca a Justiça para resolver seus conflitos de interesses. A palavra de ordem é “fazer ao próximo aquilo que gostaríamos que fizessem conosco”. É apenas uma questão de se colocar no lugar daquele que busca os serviços médicos e judiciais e visualizar como gostaria de ser atendido por aquele profissional. Certamente ninguém gosta de ser mal atendido, destratado, humilhado, daí não ser difícil compreender como se sente o paciente ou o jurisdicionado quando são assim tratados. E dia virá em que teremos que prestar contas de nossos atos, e tanto melhor será se estivermos em condições de fazer um exame de consciência e verificar que a ética foi uma ferramenta que não se afastou de nossa atuação como cidadãos e como profissionais.

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BRASIL, VAMOS MOSTRAR A NOSSA CARA DR. FLAWBER ANTONIO CRUZ

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este mundo interligado por uma rede virtual de troca de informações, onde as distâncias e o tempo parecem ser superados por cliques diante da tela de um computador, conceituar o que caracteriza um povo, uma nação, torna-se um exercício quase antropológico de revirar o passado. Pois que o presente tende a sobrepujar idiomas e costumes, de forma que tudo é instantaneamente traduzido, tudo pode ser instantaneamente partilhado por todos. Contudo, é inegável a

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Os Operários, Tarsíla do Amaral (1933) sobrevivência de alguns arquétipos. A pontualidade dos ingleses, a precisão dos suíços, o pragmatismo dos japoneses, o poder dos norte-americanos. É como se, quanto mais rico e poderoso um povo, maior a capacidade de preservar sua identidade. Aos povos pobres, ou em desenvolvimento, o conceito de sua identidade é inequivocamente impreciso, indefinido. Os indianos são exóticos e coloridos. Os africanos também. Os latinos alegres, acolhedores, festivos. Os brasileiros, naturalmente, idem.

Mesmo neste mundo aparentemente sem distâncias, sem os interstícios do tempo, continuamos sendo o povo do samba contagiante, o povo do futebol imbatível, o povo das mulatas semi-nuas. Mas, o que realmente significa ser brasileiro? Pois que o samba termina mesmo que à exaustão. Pois que os times derrotam-se, as Copas se vão. Pois que as mulatas se vestem e dormem. Pois que somos ainda um grande contingente de pessoas atrofiadas por comida escassa, por educação rarefeita, e que portanto


Natureza MÉDICA raramente podem ser alegres, acolhedoras, festivas, raramente aproveitam as notas do samba, a emoção dos gols, a visão de mulatas pelas praias. Ao nos determos no muro de rostos que figura na obra “Operários”, de Tarsila do Amaral, talvez nos induziremos a encontrar na multiplicidade de etnias que compõem nosso povo o seu próprio conceito de identidade. Ser brasileiro é ser um pouco de cada raça, branco, negro, asiático. Ser um pouco de cada crença, cristão, muçulmano, ateu. E sermos todos dispostos para o trabalho difícil por trás das chaminés. Tal conceito nos provoca uma cascata de auto-definições que tantas vezes nos fez trilhar por uma comiseração desmedida ou por um ufanismo postiço com a nossa própria história. Se somos vários povos, somos democráticos. Somos incontestavelmente tolerantes. Somos avessos a discriminações. Somos portanto o país feito para todos, propício a todas as chances e sonhos. Somos de muitas vozes, de brado retumbante. Somos, desde então, o país do futuro. Aonde o futuro foi então parar? Ou, melhor, que identidade, definitivamente, esse futuro que há tanto proclamamos nos deu? O futuro ainda canta-se nos melódicos ou frenéticos sambas. Ainda sacoleja na rede quando é gol. Ainda resvala pela beleza dos corpos nas praias. Embora sejamos um Brasil menos pobre e menos chagásico, um pouco mais alfabetizado, um pouco mais democrático que há poucos anos, somos ainda feitos da matéria incandescente da brasa que nos originou. A brasa que o mundo dos povos pontuais, precisos, pragmáticos

e poderosos, séculos atrás fez cruzar as distâncias e o tempo e, acesa, incendiou parte do nosso. Matou gente, matou bicho, matou árvore, e desse incêndio abriram-se as clareiras para uma nova terra, um novo país iluminado ao sol de um novo mundo. Somos o destino desse fogo vívido que cruzou os mares de séculos antigos, dessa chama que se perpetuou após o ciclo de impérios e repúblicas, desse ímpeto que desbravou o território de um continente, somos o que restou do desafio à própria morte dos que foram dessa terra antes da nação, dos que vieram das inesperadas caravelas em busca de novas pátrias. Somos, os brasileiros, herdeiros de um gigante, um colosso de terra, silêncio, dicotomias, que, sob o formoso céu que nos ri e nos resplandece misteriosas estrelas, dorme em seu berço de eterna resignação. Se temos o passado de tão vigorosa chama, se repousa um colosso continental sob nossos pés, ser brasileiro deveria trazer em seu sinônimo vigor, persistência, indiferença ao medo de morrer lutando pela pátria amada, a pátria gentil cuja terra boa em se plantando tudo dá, cujas fontes murmurantes sempre saciam a sede. Porém, de que luta mais pode o brasileiro fugir, já não bastasse a luta do dia a dia de cada um dos que se dispuseram aquele difícil trabalho por trás das inúmeras chaminés que invadem as cidades? Que amor maior pode o brasileiro por seu Brasil, cujas terras nem sempre dão o que se planta, cujas fontes quase sempre secam antes de findar a sede, e mesmo assim, como um doce amante, prefere adormecer na espera da grandeza que o futuro espelha? Cada brasileiro é em parte o

índio dizimado, o europeu errante, o escravo sem pátria. Nisto, cabe a cada brasileiro ser uma proposta de reconstrução de nossa história, uma proposta de refazer um país que, gigante cansado de seu passado, dorme omisso aos desencontros de cinco séculos. Restou em nós a possibilidade da brasa. Somos, sim, fogo que acordará nossa pátria-mãe de seu berço, de seu sono injusto com o muro de rostos de gente que, acordada, diariamente luta pela vida nestas terras. Somos, sim, uma identidade para a qual falta apenas um nome. Não precisamos da pontualidade, da precisão, do poder, que outros povos assumiram. Nosso povo assumiu, diferentemente, os passos por sobre uma esperança equilibrista, cujo balanço não garante a todos os ricos a felicidade, nem a todos os pobres castiga a fome, não garante a todos os jovens lugar, mas também não reserva a todos os iletrados ignorância, não garante de todos os que governam verdade, porém não desfere a todos os injustiçados pena. Mais que letras e números, o brasileiro detém o contínuo aprendizado do equilíbrio. Enquanto muitos países não encontram resposta para o que os legitima neste mundo atual, pode o Brasil demonstrar para a humanidade o caminho possível do equilíbrio entre a riqueza e a escassez, entre poder e paciência, entre Natureza e homem. Sejamos mais que uma parede de múltiplos rostos, múltiplas cores, múltiplas falas. Basta que o nome de nossa identidade seja respeito. Brasil, vamos mostrar nossa cara.

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O MATUTO VERSO NA PROSA DE AMAZAN

O

RIBAMILDO BEZERRA

Poeta José Amazan da Silva cresceu no melhor berço para sua alma, numa infância repleta de referências na cidade Jardim do Seridó, Estado do Rio Grande do Norte. O menino poeta tirou do grande palco das feiras livres a sonoridade dos cantadores e declamadores. A paixão pela música e pela poesia o levou para o contato com a sanfona, uma ligação tão forte que o fez proprietário de uma fábrica deste instrumento. Mesmo nascido em Campina Grande em 5 de outubro de 1963, seu retorno a cidade se deu 20 anos depois, quando chegou a trabalhar como pedreiro, mas a argamassa da arte nunca o separou do seu destino. Hoje Amazan, casado e pai de 4 filhos, convive com seu ‘matuto interno’ que aflora sempre em suas composições ou escritos literários. Entre CDs, Livros e Dvds, Amazan consegue dosar em sua poesia, humor e lirismo, mostrando o perfil de um matuto reverso, ou seja, alguém que muito além do estereótipo do homem sofrido, sabe driblar as dificuldades com improviso e humor.

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CONVIVER - Quem nasceu primeiro o AMAZAN músico, cantor ou o poeta? AMAZAN - O matuto ainda vive entranhado em mim, apesar de influenciado pela modernidade, pela cidade grande, pela vida diferente da que vivi quando morei no seridó. Mas ainda está dentro de mim e de vez em quando ele aflora. CONVIVER - Em muitos dos seus ‘causos’, os personagens mesmo numa situação extrema sempre se sobressai com uma boa sacada de humor, existe alguns destes causos autobiográficos onde Amazan foi o próprio personagem? AMAZAN - Existem alguns casos em que eu fui personagem, por exemplo, Um Marimbondo na Testa, que conta uma ferroada que sofri, aqui na minha chácara. Matuto nas Oropa, mesmo tendo algumas coisas que foram criadas, muitas foram vividas por mim, quando fui pela primeira vez à Europa, com os Tropeiros da Borborema, como a histó-

ria da cueca que fui comprar e ninguém entendia, e outras situações que estão no poema. CONVIVER - Como a sanfona chegou a sua vida, e qual a sua relação com este instrumento musical a ponto do senhor montar uma fábrica de sanfonas?


AMAZAN - A sanfona chegou através de um primo meu, Hamilton, que foi passar uns dias lá em casa e levou a sanfona. Comecei a tocar escondido e depois minha mãe recebeu essa sanfona em troca de um rádio. Foi nela que eu comecei a aprender tocar. E a fábrica é uma história recente. Há sete anos, quando vi o vazio de instrumentos bons, fabricados aqui no Brasil, me inquietei. E com a chegada das bandas a procura era muito grande por sanfona boa. Então, ouvindo um amigo meu dizer: você devia abrir uma fábrica de sanfonas aqui. Aquela idéia, de Lídio do Acordeom, meu amigo, não saiu da minha cabeça e eu resolvi abrir a fábrica. CONVIVER - Em uma conhecida música de forró é cantado o seguinte trecho “São João tá diferente, tá melhor...” em sua opinião que diferenças podemos encontrar nos festejos juninos antes de se transformar nesta mega estrutura que hoje é a festa? AMAZAN - Cada época é sua época. O São João de antigamente, tendo como referência a festa grande que se faz aqui em Campina Grande, há 20 anos atrás eu lembro que era descentralizado, acontecia nos bairros, tinha as quadrilhas... Hoje em dia está mais centralizado no Parque do Povo. As quadrilhas acontecem

lá, na pirâmide. Antes era nos bairros, que enfeitavam suas ruas, faziam suas próprias festas. Então, se a gente olhar para Campina Grande já tem uma diferença. E se você olhar para 30 anos atrás, para outras regiões, como onde eu morei, no seridó, aí sim é que é diferente mesmo! O São João tinha mais coisas regionais, a própria música era mais voltada só para o São João, os temas eram mais regionais. Mas tudo muda, as gerações mudam. Tudo se renova hoje em dia

CONVIVER - E o forró, o que podemos dizer deste ritmo tão nosso, a produção musical vigente tem honrado as raízes plantadas a geração contemporânea a Luiz Gonzaga?

AMAZAN - Com relação ao forró você pode ouvir o que quiser. Você pode ouvir Alcimar Monteiro, Jorge de Altinho, Flávio José, Assizão, Os Três do Nordeste, Pinto do Acordeon, Novinho da Paraíba, que apesar de gravar vaneirão também mantém no seu repertório músicas tradicionais. Mas você pode se aprofundar nesses artistas que gravam, apeA sanfona chegou sar da modernidade dos arranatravés de um primo jos atuais, muita coisa voltada meu, Hamilton, que para o nosso forró, vamos dizer, mais autêntico. Agora é evidente foi passar uns dias que tem outros artistas e outras lá em casa e levou a bandas que gravam coisas difesanfona. Comecei a rentes. Mas é só procurar. A protocar escondido e depois dução atual realmente tem muita minha mãe recebeu essa diferença, mas tudo muda, como eu disse na questão anterior, tudo sanfona em troca de muda. O próprio Luiz Gonzaga, um rádio. Foi nela que você olhando as produções, os eu comecei a aprender arranjos do início e do final da carreira, são totalmente diferentocar. tes. Contrabaixo eletrônico, bateria, guitarra; diferente do melê, com muita rapidez. A cada 5 anos do violão, dos arranjos originais você tem uma geração diferente, com os quais ele começou graentão o São João não poderia vando. ficar estagnado. E tudo tem que mudar, então o São João mudou. CONVIVER - Dos Cordéis Essas diferenças a gente pode para os Livros, como anda a notar, são facilmente percebidas. sua produção literária, a mes-

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ma força da poesia declamada a Minha Terra não precisa dizer também se mostra na constru- que é uma belíssima obra, uma das mais belas obras construídas ção poética escrita? por um poeta, um violeiro que, no AMAZAN - Sim, o que eu decla- caso é o Severino Feitosa e pela mo é fruto do que escrevo. Pri- qual eu sou apaixonado. Gravei meiro eu escrevo, depois decoro e há mais de 15 anos num ritmo de declamo. Então lançamos recen- xote e, por gostar muito dela e satemente um livro com nossa obra ber que quem tem 20 anos hoje, completa. Depois já escrevi ou- não lembra o que eu gravei há tros poemas, como Mané Pipoca, 15, gravei novamente. que ainda não foi lançado, mas fará parte de uma próxima obra A cada 5 anos você escrita, além de outros que escretem uma geração vo de vez em quando. CONVIVER - Em seu mais recente trabalho você produziu duas canções de características bem próprias “Grito de Paz”, que mostra um desejo por um mundo melhor e uma regravação “Voltando à Minha Terra” qual a justificativa destas duas músicas nestes 20 anos de carreira? AMAZAN - 90% das músicas que eu gravo são por que eu gosto. Nem tudo que eu faço eu gravo. E assim tem muitas músicas minhas que não foram gravadas. E quando os compositores mandam, eu escuto, e se gosto gravo. Então Grito de Paz eu gostei muito da melodia, 80 a 90% da letra é minha. Fiz na melodia original do compositor. E Voltando

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diferente, então o São João não poderia ficar estagnado. E tudo tem que mudar, então o São João mudou. Essas diferenças a gente pode notar, são facilmente percebidas.

CONVIVER - Poderíamos dizer que a poesia seja ela erudita ou matuta, seria o resultado de um dom ou exercício constante de criatividade e improvisação? AMAZAN - Sem sombra de dúvida não se aprende fazer poesia em escola! Você pode até juntar palavras, metrificar contando as

sílabas, mas poesia é mais do que isso. Poesia realmente tem que está no sangue. Não basta você escrever poemas; tem que dizer alguma coisa, tem que ter sentido, tem que prender a atenção de quem escuta ou de quem lê. Então, eu acho que poesia é um dom, a pessoa trás dentro de si. Pode aprimorar, é claro. Quando eu comecei a escrever, escrevia rimas erradas porque não tinha uma orientação. Mas depois que eu comecei a ver, e um poeta me disse como era a rima perfeita, aí eu aprimorei. Mas a métrica já estava dentro de mim, à jocosidade, a malícia de dizer as coisas com lirismo...


A PREVENÇÃO TAMBÉM É A MELHOR ESTRATÉGIA ULISSES PRAXEDES

Promovendo saúde e educação continuada, o Comitê de Medicina Preventiva da Unimed Campina Grande se antecipa às inovações no mercado da saúde suplementar, evidenciando a preocupação da cooperativa com a qualidade de vida dos seus públicos.

A

saúde sempre foi uma preocupação constante na vida de todo ser humano. Com o fim de cuidar deste bem foi que, no Brasil, surgiu o Sistema Único de Saúde (SUS) e posteriormente o ramo da Saúde Suplementar, mais conhecido como “os Planos de Saúde”. Porém, este cuidado não se resume apenas ao ato curativo, quando alguma patologia já se encontra evidente, mas também o ato preventivo, evitando que novas doenças surjam e prejudiquem a qualidade de vida do indivíduo. Com o intuito de gerenciar e promover com maior eficácia atos de promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças é que foi criado o Comitê de Medicina Preventiva da Unimed Campina Grande. Uma equipe de oito médicos de diferentes especialidades que juntos promovem estratégias e ações que melhorem a saúde do cliente Unimed Campina Grande. O Comitê foi criado há cerca de cinco anos e se reúne mensalmente, onde todas as ações passadas são avaliadas e as ações futuras são planejadas. O Comitê é formado pelos profissionais: Dra. Andréa de Amorim P. Barros, Dr. Alberto José Santos Ramos, Dra. Erotildes Alexandre Costa, Dr. Francisco Salomão de Medeiros, Dr. Hamilton Belo França Costa, Dra. Itamara Maria Rodrigues Farias, Dr. Manoel Leonardo G. de Almeida e

Dra. Maria de Lourdes Queiroga. Dentre os grandes projetos em andamento pelo Comitê de Medicina Preventiva podemos citar a Semana de Saúde Alpargatas/ Unimed, que acontece anualmente

A Semana de Saúde Alpargatas/Unimed, que acontece anualmente e leva ao funcionário da Alpargatas uma semana inteira de atividades e palestras sobre saúde no lar. e leva ao funcionário da Alpargatas uma semana inteira de atividades e palestras sobre saúde no lar, no trabalho e também prevenção de acidentes e doenças. São três apresentações diárias que atingem cerca de mil funcionários com palestras como: Alimentação Saudável, Combate ao fumo e ao consumo de Álcool, Diabetes, A importância da atividade física, e muitos outros assuntos. Outro grande projeto em realização pelo Comitê é o

Congresso de Saúde – Outubro Médico Unimed, que este ano está em sua segunda edição e ocorrerá de 14 a 16 de outubro no Centro de Convenções Raymundo Asfora. Consiste em um evento de grande porte que recebe profissionais da área de saúde de várias regiões e aborda temas das principais especialidades, indo da discussão entre ciência e ética na terminalidade, perpassando por várias temáticas e encerrando com a arte de cuidar em cada fase da vida. Existem muitas outras atividades em andamento e que fazem parte do cotidiano do Comitê de Medicina Preventiva, como participação em eventos, ações no Dia Mundial da Saúde e distribuição de material educativo não só aos clientes, mas a toda comunidade campinense. Tudo isto faz parte da dinâmica da cooperativa, preocupando-se em aplicar ao dia-a-dia sua finalidade maior: disponibilizar soluções em saúde e promover a qualidade de vida de todos os seus públicos.

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CÂNCER BUCAL QUANDO A PREVENÇÃO DEVE ESTAR NA PONTA DA LÍNGUA DRª MARIA JANAIR FERNANDES

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ma das consequências diretas do tabagismo associado ao alcoolismo é o câncer de boca, patologia a alcançar o 7º lugar no ranking dos dez tipos de câncer com os mais altos índices do país. Para definirmos o câncer de boca é preciso entender que esta denominação inclui os cânceres de lábio e de cavidade oral, que corresponde a mucosa bucal, gengiva, palato duro, língua e assoalho da boca. O câncer de lábio é mais frequente em pessoas brancas, e registra maior ocorrência no lábio inferior em relação ao superior. Revista Conviver | 40

O câncer em outras regiões da boca acomete principalmente pessoas que fumam e consomem bebidas alcoólicas excessivamente. No quesito fumo a Paraíba apesar de grandes campanhas antitabagistas ainda ocupa o espaço nos Estados da nação com maior número de fumantes: Acre (22,1%), Rio Grande do Sul (20,7%) e Paraíba (20,2%). Sintomáticamente em 2010 já foram diagnosticados 300 novos casos de câncer de boca no Estado da Paraíba. Chegando no Estado a ser o quinto caso mais comum de câncer entre pessoas do sexo masculino e o sétimo entre pessoas


do sexo feminino, representa de 10 a 15 por cento de todos os tipos de câncer registrados em território paraibano. Outros fatores também podem contribuir para o surgimento desta neoplasia a exemplo da má higiene bucal e o uso de próteses dentárias malajustadas. Recente pesquisa publicada em março no “British Medical Journal” pela equipe do médico Hisham Mehanna, do Hospital Universitário de Coventry, no Reino Unido associam a maior presença do HPV (papilomavírus humano) vírus sexualmente transmissível e tradicionalmente ligado a câncer no pênis, ânus e colo do útero a tumores na boca, o que ligaria a prática do sexo oral entre vários parceiros ao surgimento do câncer de orofaringe (que começa na raiz da língua e vai até a faringe), mas neste caso a pesquisa ainda não é conclusa. Nem sempre é possível

visualizar os primeiros sinais que indicam a existência do câncer bucal, o que aumenta a importância das consultas regulares ao dentista. Se não for detectado de maneira precoce , o câncer pode exigir tratamento que vai da cirurgia para sua retirada , à radioterapia ou quimioterapia. O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento, portanto, além das visitas ao profissional da saúde, todos devem fazer um auto exame da boca observando se existem: - feridas nos lábios, gengivas ou no interior da boca, que sangram facilmente e não parecem melhorar; - caroço ou inchaço na região das bochechas; - manchas brancas ou vermelhas nas gengivas, língua ou qualquer outra parte da boca; - dificuldade para mastigar ou engolir; - inchaço que impede a adaptação correta da dentadura; - dor sem razão aparente ou sensação de ter algo preso na garganta, mudança de voz. A prevenção para o câncer de boca inicia-se ao evitar a exposição ao sol sem proteção (filtro solar e chapéu de aba longa). O combate ao tabagismo

é igualmente importante na prevenção deste tipo de câncer. Evitar traumas crônicos na mucosa bucal, tais como: prótese mal adaptada, coroas dentais fraturadas, raízes residuais, manter a higienização adequada, escovando os dentes no mínimo 3 vezes ao dia, fazer uso do fio dental além do auto exame são ações de prevenção com grande eficácia. A alimentação balanceada e completa (rica em frutas, verduras e legumes), evitando uso do açúcar em excesso (prevenção da cárie) e principalmente fora das refeições. Isto sem destacar a necessária visita regular ao dentista ou médico principalmente em caso de aparecimento de qualquer lesão que não regrida no espaço de 7 a 14 dias. O câncer de boca quando diagnosticado precocemente possui mais 80% de chances de cura, algo possível e real desde que tomemos a prevenção como um hábito mais do que saudável, uma atitude necessária.

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NÓDULOS DE TIREÓIDE DR. IVO MARQUIS

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glândula tireóide é um órgão do sistema endócrino do corpo humano. Ela se localiza na porção central e inferior do pescoço. Essa glândula é produtora dos hormônios tireoidianos (T3 e T4), que são responsáveis pelo controle de diversas partes do metabolismo do nosso organismo. A tireóide pode sofrer de doenças que acometam sua forma (aumento difuso ou nodular). Os nódulos de tireóide podem ser únicos ou múltiplos, benignos ou malignos, produtores de hormônio ou não. A grande maioria dos nódulos tireoidianos são benignos e não produzem hormônios. Devido à presença dos nódulos, a glândula pode adquirir grandes dimensões, causando sintomas compressivos cervicais (falta de Revista Conviver | 42

ar ou dificuldade para engolir). Porém, nem todas as tireóides aumentadas têm nódulos, uma vez que a glândula pode estar difusamente aumentada (em geral devido à deficiência de Iodo ou a doenças autoimunes). O tão famoso Bócio Tireoidiano é definido como um aumento da glândula tireóide. Este aumento pode ser devido aos nódulos, doenças inflamatórias (tireoidites) ou aumento difusos da glândula. A frequência de bócio multinodular chega a 30% da população mundial. As principais razões para se realizar as ressecções cirúrgicas na glândula tireóide são os casos já confirmados de câncer; os nódulos suspeitos de malignidade; nódulos volumosos que cursão com compressão cervical, desvio de traquéia ou os bócios

mergulhantes para o tórax, os quais, geralmente, causam dificuldades para engolir e respirar. Outra indicação seria o hipertireoidismo refratário ao tratamento clínico: Indicando-se tireoidectomia quando o paciente não tolera o tratamento com remédios ou este não está sendo suficientemente eficaz para controlar o hipertireoidismo. E até mesmo por motivo estético: Embora não seja uma indicação comum, nódulos que levam a um desconforto estético podem justificar uma cirurgia de tireóide. Falando mais especificamente do câncer de tireóide: O carcinoma de tireóide, geralmente se apresenta como um nódulo palpável na região cervical, é mais comum em paciente do sexo feminino (a frequência em mulheres é duas vezes maior que


e os dois primeiros tipos, os mais comus, são classificados como carcinomas bem diferenciados de tireóide: Carcinoma papilífero: o mais frequente e normalmente de boa evolução. Ocorre em 75 a 80% dos casos. Carcinoma folicular: apresenta em geral boa evolução, ocorrendo de 10 a 15 % dos casos. Está incluído um subtipo que é o carcinoma de células de Hürthle, com frequência de 3%. Carcinoma Medular: apresenta pior evolução e menor chance de cura. Mais raro, ocorre em 3,5% dos casos. Carcinoma Indiferenciado ou anaplásico: Quase sempre é fatal mas felizmente muito raro, aconos homens), na faixa etária dos metendo até 1,5%. 30 aos 50 anos. Quando o diagnóstico é feito, os nódulos tireoiO câncer de tireóide dianos se apresentam entre um e quatro centímetros de diâmetro representa 1 a 2% e as metástases linfonodais são diagnosticadas em um terço dos de todos os câncecasos, porém as metástases a disres. tância são raramente encontradas. É pouco frequente o câncer Basicamente o tratamende tireóide causar rouquidão ao to do câncer de tireóide é cirúrgiser descoberto. co e consiste em realizar a tireoi O câncer de tireóide representa 1 a 2% de todos os cân- dectomia total. A cirurgia retira ceres. Todavia é o tipo de câncer a glândula tireóide e resseca os endócrino mais comum e é um gânglios linfáticos adjacentes dos poucos tipos de câncer que acometidos pelo tumor, o que se tem aumentado sua incidência chama de esvaziamento cervical. com o tempo. Estima-se que 18 No pós-operatório faz-se a suem cada 100.000 mulheres de- pressão hormonal, que consiste senvolvem câncer de tireóide no em repor o hormônio tireoidiano com uma dose um pouco supeBrasil anualmente. Os principais tipos de rior a necessária para o organiscâncer de tireóide serão listados mo, com o intuito de diminuir a

produção pela hipófise do TSH, um hormônio que estimula o crescimento do câncer da tireóide. O objetivo é deixar o nível de TSH em um valor muito baixo. Às vezes,é preciso que o médico indique o tratamento complementar com Iodo radioativo, este só acontece após a cirurgia de tireoidectomia total. É necessário que o paciente esteja em hipotireoidismo, o que só ocorrerá após 30 dias sem o uso da reposição hormonal tireoidiana. Há, também, uma rigorosa dieta a ser seguida e é necessário evitar contato com qualquer substância que contenha Iodo em sua composição. Os cânceres de tireóide, em estágios iniciais, tem chance de cura maiores que 90%. Diversos estudos revelam que pacientes submetidos a tratamento de câncer bem diferenciado de tireóide (carcinoma papilífero e folicular) tem até 95% de chance de estarem vivos após 20 anos do tratamento. Você pode avaliar a sua tireóide procurando um médico Cirurgião de Cabeça e Pescoço ou um Endocrinologista que examinará clinicamente a sua tireóide e se necessário, solicitará exames de sangue e ultra-sonografia para checar se você apresenta algum nódulo tireoidiano. Se for detectado um ou mais nódulos na tireóide, pode ser necessário realizar um exame de punção aspirativa por agulha fina (PAAF), que é a melhor forma de avaliar se um nódulo é maligno ou benigno. Revista Conviver | 43


A SAÚDE DE UM PAÍS CHAMADO BRASIL ULISSES PRAXEDES O Brasil é conhecido mundialmente pelo seu Carnaval e pelo talento no Futebol, características que orgulham o nosso povo. Porém existem outros aspectos da nossa sociedade que ainda possuem várias deficiências e não são motivos de tanta exposição assim. A saúde do brasileiro melhorou, mas ainda há muito caminho pela frente. Para alcançar este objetivo (sustentabilidade da saúde) é preciso que a saúde seja pensada e priorizada nos planos de desenvolvimento como componente estratégico do próprio desenvolvimento e não como um agente secundário.José Gomes Temporão – Ministro de Estado da Saúde

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iz o famoso ditado que o brasileiro dá um “jeitinho” para tudo. Só que ao se falar de saúde as coisas são um pouco mais complexas, ou seja, não dá pra dar um “jeitinho”, mas procurar estratégias de melhorá-la e consequentemente aumentar a qualidade de vida no país. São vários os fatores que influenciam nas decisões e na operacionalização para uma melhoria da saúde do brasileiro. Uma das principais e primeiras atitudes seria a priorização nos planejamentos, como diz logo acima o Ministro da Saúde José Temporão. A saúde do brasileiro depende, basicamente, de dois sistemas nacionais: o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema de Saúde Suplementar. O primeiro consiste em um sistema público, financiado com Revista Conviver | 44

verbas governamentais e que atende a todos os brasileiros sem exceção, proporcionando a assistência à saúde sem custos, já que o financiamento é público. O segundo, como o próprio nome já nos remete, veio para suplementar as deficiências no SUS, promovendo uma assistência à saúde de maior qualidade e de forma mais ágil, só que para isso não são dispensadas verbas públicas, mas é necessário o pagamento do próprio usuário. O sistema público é ainda manifestamente insuficiente e carente de qualidade, mas que vem melhorando consideravelmente nos últimos anos. Os planos privados de saúde no Brasil estão amplamente disponíveis e podem ser comprados em uma base individual, ou obtidas como um benefício trabalho (geralmente alguns empregadores oferecem seguros de saúde privados a

seus empregados). O sistema de saúde público é ainda acessível para aqueles que optam por obter planos de saúde privados. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a partir de março de 2007, mais de 37 milhões de brasileiros tinham algum tipo de seguro privado de saúde. E baseando-se nestes dois sistemas de assistência à saúde é que podemos ver através de algumas pesquisas realizadas, como anda a saúde do brasileiro. No tocante à saúde feminina, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Saúde 2003, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que 34,4% das brasileiras com mais de 40 anos nunca foram submetidas a um exame clínico de mamas por profissional de saúde. A pedido do Ministério


da Saúde, a pesquisa do IBGE incluiu, pela primeira vez, perguntas relacionadas a exames preventivos, como exame clínico de mama, mamografia e exame preventivo para câncer de colo de útero. Os resultados da pesquisa mostram uma inadequação nos cuidados preventivos ao câncer de mama expresso pela cobertura maior de mamografias do que de exames clínicos de mama. Segundo o site Folha Online, já a proporção das chamadas doenças crônicas varia de acordo com o sexo e com a idade. O percentual de mulheres que apresentam doenças crônicas chega a 33,9% e o de homens, a 25,7%. Estas doenças são ainda mais frequentes entre os idosos: o percentual de homens e mulheres com 65 anos ou mais que declararam ter ao menos uma doença crônica chega a 77,6%. A

Pnad ainda mostra que o número de brasileiros que nunca foram ao dentista permanece alto: 27,9 milhões de pessoas, o equivalente a 15,9% da população. Mas também existem boas notícias! A pesquisa ainda mostra que o brasileiro começou a ir mais ao médico. Os números de consultas aumentaram e consequentemente diminuíram o número de automedicações e de diagnósticos tardios de patologias. Todos estes aspectos contribuem para que o brasileiro viva mais e melhor. A Pnad também contraria a tradicional imagem de insatisfação com os atendimentos prestados nos serviços de saúde no país. De acordo com os dados da pesquisa, 86% dos atendimentos foram avaliados como “muito bom” ou “bom”. Nos casos de atendimentos odontológicos, o

percentual sobe para 92,6%. É impossível falar no desenvolvimento da saúde do brasileiro sem falar em política. Mas entenda-se política como conjunto de medidas adotadas por uma sociedade para promover o seu bem estar e não entendase como política eleitoral. A diminuição da desigualdade financeira ainda é um fator preponderante para o sucesso dos sistemas de saúde no Brasil. A saúde que nós temos ainda está um pouco distante de ser a ideal. Existem ramificações que oferecem melhor prestação de serviços e outras que nem tanto. Mas o importante é que mudanças, tanto no setor público, quanto no privado estão ocorrendo e o próprio cidadão também está sendo alertado para um maior cuidado com o seu bem maior: a saúde. Revista Conviver | 45


AMIGOS, AMIGOS, GENEROSIDADE FAZ PARTE!

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ALINE DURÃES omos recebidos para essa reportagem com o impacto da frase “Deus Proverá” e o sorriso no rosto das pessoas que estavam na sede da Associação Amigos dos Portadores de Câncer (AAPC). O projeto se localiza na Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), no bairro de Bodocongó em Campina Grande. Em funcionamento há cinco anos, a rotina das voluntárias começa muito cedo de segunda à sexta-feira. Precisamente antes das 5 horas da manhã, afinal nesse horário elas já estão com as panelas no fogo preparando o café da manhã que será servido para

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os pacientes e acompanhantes que são atendidos no hospital, especialmente nos setores de ambulatório, quimioterapia e radioterapia. Conta Maria Lúcia de Araújo Gomes, coordenadora e esposa do presidente da AAPC Francisco do Bú, que a ideia desse trabalho surgiu de uma visita que o seu esposo fez a uma vizinha que estava internada na FAP. “Nessa ocasião ele presenciou a necessidade das pessoas que vinham de outras localidades e não tinham uma alimentação certa, chegavam com fome. Ele me perguntou se eu o ajudaria a desempenhar um trabalho de

assistência, servindo lanches aos carentes. Eu me comprometi em ajudá-lo e começamos com poucos voluntários, passamos um ano planejando e recolhendo os alimentos. Quando falamos com a diretoria da FAP, eles nos deram todo o apoio e o lema “Deus Proverá” veio para justificar todas as nossas ações, pois é Ele quem supre as nossas necessidades”. AAPC auxilia os pacientes e seus familiares além da alimentação, através de doação de medicamentos, materiais auxiliares, cestas básicas, roupas para pediatria e maternidade. Tudo é conseguido por meio de doações ou venda


Grupo de Voluntárias

de rifas, bingos, toalhas que são bordadas pelas voluntárias. Para a dona de casa, Regina Clara, a Associação é um socorro sempre presente: “Às vezes não tenho comida em casa e saio logo cedo para fazer o tratamento. Quando eu chego aqui tenho esse amparo, sei que posso contar com essa ajuda, serei sempre grata a essas pessoas”. Atualmente a maior campanha é para a construção de um necrotério, pois para levar os corpos para o já existente é necessário passar pelo jardim onde os lanches são distribuídos, ocasionando dessa forma um triste impacto com a morte nessas pessoas já tão sensíveis pela doença. Outro problema é a lotação. “Há 10 anos que o hospital tem oncologia, mas só tem o necrotério do hospital isso tem ocasionado superlotação. Já que estamos aqui para somarmos com a FAP, vamos batalhar para ampliarmos esse espaço oferecendo assim dignidade para os familiares até que

venham buscar os seus entes queridos” afirma a coordenadora. Para Severino Santiago da Silva, Gerente Administrativo/ Financeiro da FAP: “AAPC agregou uma ajuda substancial não só ao hospital, mas também aos pacientes e seus familiares. Não temos palavras para enumerar os pontos positivos dessa ajuda”. Atualmente o projeto conta com 20 voluntárias. Uma delas é a professora aposentada, Maria do Carmo Coutinho: “Gosto de levar mensagens de conforto e paz. Principalmente porque sei que a doença fragiliza as nossas emoções”. Para a voluntária Maria Antonieta, doadora de leite desde o inicio do projeto, participar dessa associação é um prazer: “Todos aqui merecem carinho e atenção e é muito bom saber que o meu trabalho faz diferença na vida dessas pessoas, assim convido mais voluntários a participar e digo que ‘O Senhor é meu pastor e nada me faltará’, dessa forma

Severino Santiago - Ger. Financeiro FAP e Maria Lúcia de Araújo Gomes, Coordenadora da AAPC

vamos cooperar, pois quanto mais à gente se doa mais nos é acrescentado”. Por tudo que observamos na AAPC. Pelos gestos de carinho e ajuda ao próximo que presenciamos é que oferecemos por meio deste exemplo, uma reflexão sobre as atitudes e escolhas que tem guiado as nossas vidas. Assim, lembramos que nunca é tarde para estender as mãos a quem precisa.

COMO AJUDAR? Basta entrar em contato com a Associação pelos números 83 9925-4523/ 83 9332-0001 ou fazendo doações através: Banco do Brasil Agência 1634-9 Conta Corrente 14.768-0. e-mail: aapcdeusprovera@ uol.com.br. Revista Conviver | 47


CHICO MENDES QUANDO A CAUSA É MAIOR DO QUE A VIDA ROSÂNGELA SOUTO

Chico Mendes não era um líder sindical qualquer. Seu extraordinário alcance mundial se deve ao fato de perceber como era necessário combinar a luta pela justiça social no Brasil com a preservação do meio ambiente. Fernando Gabeira

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ivemos em um mundo ainda dominado por grandes corporações que de forma impiedosa não mede esforços para alcançar seus objetivos econômicos, não importando os custos ambientais e sociais agregados a tais atitudes. Quantas vezes nos perguntamos quando veremos mudanças expressivas no mundo em que vivemos, e o pior, em que condições estaremos ao chegar esse dia, se considerarmos a gravidade das desordens sócio-ambientais que imperam nos dias atuais. São louváveis algumas iniciativas por parte de uma parcela Revista Conviver | 48

da sociedade em reaproveitar e reciclar o lixo, consumir produtos orgânicos, plantar árvore, poupar água, ser solidário, doar cesta básica, etc., mas sabemos que é preciso bem mais que isso para vermos transformações significativas no mundo. Será que ações como essas acima citadas evitarão as catástrofes ambientais e diminuirão as desigualdades sociais? Ou serão essas as soluções apontadas pelos mesmos grupos dominantes e manipuladores da sociedade vigente? Onde está então a resolução desses problemas? Quais são os exemplos a seguir? Francisco Alves Mendes

Filho, o Chico Mendes, foi um líder sindical e ambiental, tornando-se um grande exemplo para a humanidade. Este seringueiro, acreano, nascido no seringal Porto Rico, em Xapurí, disse “NÃO” a exploração dos seringueiros e da floresta amazônica. Organizou varias ações em defesa da posse de terra para os seringueiros, além de lutar ativamente contra o desmatamento da floresta. Em outubro de 1985, lidera o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, quando é criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), do qual torna-se a principal referência. A partir de


então, a luta dos seringueiros, sob a liderança de Chico Mendes, começa a ganhar repercussão nacional e internacional, principalmente com o surgimento da proposta de União dos Povos da Floresta, que busca unir os interesses de índios e seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco e populações ribeirinhas, em defesa da floresta amazônica, propondo ainda a criação de reservas extrativistas que preservam as áreas indígenas, a própria floresta, ao mesmo tempo em que garantem a reforma agrária desejada pelos seringueiros. Durante o ano de 1988, Chico Mendes, cada vez mais ameaçado e perseguido, principalmente por ações organizadas após a instalação da União Democrática Ruralista (UDR) no Acre, continua sua luta percorrendo várias regiões do Brasil, participando de seminários, palestras e congressos, com o objetivo de denunciar a ação predatória contra a floresta e as ações violentas dos fazendeiros da região contra os trabalhadores de Xapuri. Por outro lado, Chico participa da realização de um grande sonho: a implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre, além de conseguir a desapropriação do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, em Xapuri. Em resposta ao domínio e manipulação dos fazendeiros que instigavam os seringueiros a punirem os grupos indígenas que se rebelava contra a tomada do seu território, Chico resgatou a união entre os povos da floresta e os di-

recionou ao resgate de seus valores e suas terras. Seu discurso era claro e objetivo: “Nosso povo é o mesmo povo, nós não somos mais brancos. Temos uma cultura diferente da dos brancos e pensamos diferentes dos civilizados. Aprendemos todas as nossas necessidades básicas e já criamos uma cultura própria, que nos aproxima muito mais da tradição indígena do que da tradição dos ‘civilizados’. Nós já sabemos disto, agora o Brasil precisa saber disto. Nunca mais um companheiro nosso vai derramar o sangue do outro, juntos nós podemos proteger a natureza que é o lugar onde nossa gente aprendeu a viver, a criar os filhos e a desenvolver suas capacidades, dentro de um pensamento harmonioso com a natureza, com o meio ambiente e com os seres que habitam aqui”, CHICO MENDES. Chico Mendes resistiu bravamente à tortura e ameaças de morte, continuando a sua brava jornada em busca de melhores condições de vida ao povo da floresta, mas no dia 22 de dezembro de 1988 é assassinado na porta de sua casa. É preciso destacar que antes de ser um ecologista, Chico Mendes foi um agente transformador de um sistema dominante e degradante na floresta amazônica, como muitos que existe no nosso país. Tentaram calar o homem, mas só conseguiram eternizar seus exemplos, exemplos que nos mostram que alguma coisa muito importante mudou. Revista Conviver | 49


NO BRASIL, SEMPRE DEU SAMBA! UM GÊNERO MUSICAL EXPLICA A IDENTIDADE DE UM POVO RIBAMILDO BEZERRA

O samba ainda vai nascer O samba ainda não chegou O samba não vai morrer Veja o dia ainda não raiou O samba é o pai do prazer O samba é o filho da dor O grande poder transformador (Caetano Veloso)

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Samba como gênero musical é um marco no Brasil. E não se pode afirmar que isto seja um exagero. Tido como gênero proibido no final do século 19 até meados da segunda década do século vinte, os sambistas foram perseguidos sendo sinônimo por parte das autoridades policiais de contraventores, o samba era a expressão maior da contravenção, da bagunça, os espaços onde era executado eram tidos como locais de perdição. Na verdade o que existia era uma não aceitação da sociedade do convivio com os negros recém libertos desde 1888 que como mão de obra não qualificada na maioria das vezes optavam por assumir a sua cultura como forma de ganho de vida. Tamanho era o preconceito da sociedade carioca na época capital

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do Brasil , que os primeiros salões de dança abertos por negros , em tese não deveria ser frequentado pela aristocracia carioca o que seria um grave exemplo de gafe. Partindo desta ideia um dos proprietários não menos critivo abriria logo em seguida o primeiro salão de Gafieira do Brasil. Este exemplo só ratifica o que afirmou o antropólogo Gilberto Freire em 1926 em artigo publicado no Diário de Pernambuco onde afirmava que ‘o Brasil oficial e postiço tapava o outro Brasil, este real, a ser valorizado junto com o preto’. A palavra Samba, derivada do banto semba - umbigada -, gesto coreográfico quase onipresente na expressão corporal dos negros africanos desde a sua introdução forçada no Brasil. A partir do século 19, veio a designar uma variedade enorme de bailes tradicionais, identificados genericamente como batuques. Segundo o antropólogo Marcelo Manzatti, “ele aparece simultaneamente em vários pontos do Brasil, com variadas formas, porém, mantendo a essencialidade da música praticada pelos africanos”. O que cai por terra um dos vários mitos que envolve o samba de que este gênero

musical tenha nascido neste ou naquele lugar. Um dos registros mais antigos da palavra samba apareceu na revista pernambucana O Carapuceiro, datada de fevereiro de 1838, a palavra aparece no contexto de folguedo (dança dramática) popular de negros daquela época. O certo e que na capital do Brasil, Rio de Janeiro, o Samba entre a década de 20 e 30 do século passado vive a sua maior transformação, quando passa de gênero marginal e perseguido, para a música que mais identifica o Brasil em seu aspecto cultural. Eis aí o que o pesquisador Hermano Vianna traduz como o Mistério do Samba. Mesmo não existindo uma só resposta que justifique num curto espaço de tempo este súbito e sólido reconhecimento, podemos entender alguns aspectos que contribuíram para que o samba se tornasse um patrimônio nacional, mas para tanto é preciso um olhar além dos mitos. O Samba por exemplo, não pode ser lido como um gênero musical puro, ou genuinamente africano isto porque sendo o Brasil em toda sua história um espaço de mediações culturais, este gênero influenciou e recebeu influência de outras manifestações culturais.


Mesmo nas mediações a força das raízes culturais africanas em muitas vezes esteve sempre em primeiro plano. Isto graças a presença não só do ritmo mas da sincopa presente no toque dos tambores e na ginga da dança. Segundo o Professor Marcos Napolitano a sincopa no samba equivale a lacuna de tempo preenchida pela marcação corporal de palmas, meneios, balanços, um convite a interação. A sincopa no samba é o que incentiva as marcações, incluindo as umbigadas (semba- na língua quimbundo), gesto coreográfico quase onipresente na expressão. Pela interação tão presente no samba, outros mitos se desfazem em meio a cadencia sonora do samba, os quais aqui destacamos: O samba não nasce no morro A falsa ideia de que o samba carioca teria nos morros o seu lugar primeiro, acaba não se sustentando pois é na cidade, na Casa da Tia Ciata, famosa mãe de santo que melhor representou a ponte entre a cultura afro da Bahia para o Rio de Janeiro, que o samba acontece como gênero agregador junto a diversas linguagens culturais. Segundo Pixinguinha a casa tinha seis cômodos , um corredor e um terreiro (quintal). Na sala de visitas , realizavam-se bailes, (polca, lundus, etc.) na parte dos fundos, samba de partido alto ou samba raiado; no terreiro a batucada, um exemplo de toda uma estratégia de resistência a marginalização erguida contra os negros. Como a posição social dos donos da casa estava acima do habitual, gozando de certo prestígio perante as autoridades, usava-se o disfarce do choro na sala da frente e sambava-se à vontade no quintal sem que a polícia batesse à porta. O morro na verdade, além de cenário de inspiração e poesia para alguns compositores, era sim o espaço geográfico mais adequado para que

o samba de roda fosse exercido em sua plenitude com segurança, sem a perturbação das autoridades policiais. O samba não se restringe a fronteiras sociais, culturais ou étnicas A rusga criativa entre Noel Rosa e Wilson Batista exemplifica o grau de possiblidades discurssivas que o samba pode carrega. Surgindo da força criativa de abnegados operários da música. Noel Rosa, branco, estudante de medicina e que não concordava com a associação a malandragem e restrição ao morro é o contraponto diante das composições de Wilson Batista. Este último compositor negro, que trazia em suas musicas a exaltação do morro como lugar de resistência, assim como a malandragem como meio de defesa e preservação a cultura do samba ainda visto por parte da sociedade como gênero menor. Nesta disputa de ideias perolas como Palpite Infeliz de Noel Rosa e Conversa Fiada de Wilson Batista enriqueceram ainda mais o nosso cancioneiro. A paz entre os dois só foi selada com a construção da música Deixa de Ser Convencida. E para quem acha o samba restrito apenas ao Rio de Janeiro, é bom não esquecer que Lupcinio Rodrigues, um dos pais do samba canção era natural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O samba nunca empobreceu a língua portuguesa As composições de Noel Rosa, Sinhô, Donga, Ismael Silva partiram na vanguarda do que anos depois os modernistas viriam espalhafatosamente pregar, uma estética cultural tida como genuinamente brasileira. A ‘despoetização’ proposta pelos modernistas, em nome valorização da linguagem mais próxima da vida cotidiana brasileira, era tudo o que os ‘poetas’ do samba faziam sem que necessariamente estivessem ideologicamente ligados a um movimento de transformação cultural como foi o Modernismo durante as

suas três fases entre 1922 a 1930. O samba não nasce com o carnaval Apesar de sempre associado a folia de momo, o samba como gênero musical já existia independente do carnaval, os festejos na verdade serviam espaços para que vários gêneros musicais pudessem ser executados a exemplo da marcha rancho junto aos cordões e blocos carnavalescos. O sucesso no carnaval era garantia certa para a execução de muitas canções durante o ano todo, seja no recém chegado rádio ou mesmo em gravação de discos. Foi assim com Pelo Telefone, tido como o primeiro samba registrado oficialmente, Ô abre alas de Chiquinha Gonzaga, Amélia de Ataulfo Alves e Mario Lago, entre tantos outros sucessos. Poderíamos dizer, que assim como o frevo se assimilou ao carnaval pernambucano, o samba encontrou no carnaval carioca a sua melhor simbiose. As escolas de samba, por exemplo, seriam na verdade agremiações de sambistas exemplarmente representadas por Ismael Silva que tão bem se coadunou com os festejos momescos. O Samba que não é um, mas vários; samba de partido alto, samba de roda, samba canção, acabou ajudando a explicar um pouco da nossa história cultural e plural, ainda que temporariamente seja abafado por outros gêneros, o samba sempre ressurge, que o diga o exemplo de Nara Leão uma bossa novista que surpreende e resgata antigos sambistas gravando Cartola, Nelson Cavaquinho entre outros na década de 60, fato este repetido mais recentemente por Cazuza, Marisa Monte e cantores de outras gerações. No samba podemos encontrar raízes da religião à gastronomia, ou simplesmente nos darmos conta que basta um pequeno balanço tão característico para ter ciência do quanto somos bons da cabeça e saudáveis no pé.

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A REPÚBLICA INDEPENDENTE DE CAMPINA GRANDE DR. JOSÉ ALVES NETO

DOMÍNIO DOS HOLANDESES NA PARAÍBA

A

nossa querida Parayba (Paraíba), já sofreu bastantes convulsões sociais; uma quando houve a invasão dos holandeses ao nosso Estado. Em 1624, prenderam o Governador Geral e o enviaram para a Holanda, passando o nome da nossa capital de Nossa Senhora das Neves para Filipéia de Nossa Senhora das Neves (Homenagem ao rei da Espanha). Após a invasão pelos holandeses, passou a se chamar Frederikstad (Frederica), a partir de 1635. Depois da expulsão, a cidade retoma o nome de Cidade de Nossa Senhora das Neves, em 1655; passando para Cidade da Paraíba, em 1817. No dia 26 de Julho de 1930, o Presidente da Província, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, é assassinado no Recife, com isso, atendendo ao apelo do povo, a cidade passa a se chamar Cidade de João Pessoa. As invasões holandesas atingem também a Paraíba e através de ataques contínuos a Cabedelo, onde a resistência foi muito acentuada, tentam se fixar em nossas terras, porém só concretizando em 1634, quando desembarcam ao norte da foz do Jaguaribe e conseguiram vitória sobre as tropas do governador paraibano Antônio de Albuquerque Maranhão, depois partiram para dominar Cabedelo, onde tiveram êxito. Sob o domínio holandês, os donos de engenhos da região de todo

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o litoral (zona da várzea) queimaram os seus canaviais para não deixar nada que servisse para a utilização dos invasores. O controle holandês sobre a Paraíba durou apenas vinte anos, de 1634 a 1654, e nunca se fez por total. A repressão holandesa caracterizou-se pela brutalidade. Alguns engenhos e propriedades foram confiscados. A pena capital foi igualmente aplicada em 1645. A luta, doravante, iria travar-se em campo aberto, e, nela, André Vidal de Negreiros (filho de dono de engenho da várzea paraibana) revelaria dons de estrategista. Participante das duas batalhas dos Montes Guararapes, figurou entre os chefes que receberam a rendição holandesa, na Campina da Taborda. Anteriormente, não hesitara em atear fogo aos canaviais do próprio pai, na Paraíba.

REPÚBLICA DA ESTRELA Em 1903, outro movimento revolucionário aconteceu no interior da Paraíba, distrito de Misericórdia, atual cidade de Itaporanga, no final século XIX ao início do XX, tendo o “coronel” Zuza Lacerda (José Cavalcanti de Lacerda) o protagonista principal. Figura de baixa estatura, alvo, de faces avermelhadas, rosto redondo, olhos miúdos e claros ligeiramente azulados. Não tendo uma educação aprimorada, possuía, contudo, o dom

das boas maneiras que lhe davam um toque de pessoa fidalga. Zuza Lacerda ganhou notoriedade, quando como delegado do termo de Misericórdia, culminou com a prisão e fim do bando dos “Viriatos”, até o último deles, merecendo citação no relatório do presidente da província da Paraíba, em 1879. Após esta façanha, o coronel Zuza viu seu prestígio e fama crescerem e foi outorgado com uma patente de coronel da Guarda Nacional, tornando-se um líder político em Misericórdia, posteriormente, um deputado provinciano. Amigo íntimo do desembargador José Peregrino de Araújo, candidato ao governo do Estado. Nas eleições estaduais para o mandato 1901-1904, deu-se um fato curioso: a chapa oposicionista elegeu João Tavares, Antônio Massa e Flávio Maroja; a chapa oficial elegeu José Peregrino. Ao mesmo tempo, dois presidentes (hoje, governador) haviam sido empossados para governar a Paraíba. O coronel Zuza Lacerda deslocou o seu pessoal armado para auxiliar ao amigo, se preciso fosse à conquista do poder. No Sertão, acabara de chegar para residir em Misericórdia, o deputado Wenceslau Lopes, genro do presidente José Peregrino, o que feria o prestígio e o poder local do coronel Zuza Lacerda perante o governo, apoiando incondicionalmente, o seu genro, ferindo o prestígio do velho Zuza, aos poucos pendendo o seu prestígio para o forasteiro que se


HISTÓRIA OU ESTÓRIA?

firmou como líder político na cidade, sem se conformar com a perda de poder local, armou-se convenientemente e anunciou a independência de Misericórdia. Estava fundada a República da Estrela, no Distrito de Boa Ventura que se tornou seu reduto político. Diz à tradição que o velho Zuza tratou logo de organizar seu ministério, entre os amigos mais íntimos. Havia os ministérios da Fazenda, Justiça, Guerra e por via das dúvidas, o da Marinha. Partiu para o combate, travando luta com o pessoal do deputado Wenceslau Lopes, seguindo-se fortes reações na tentativa de acabar com o movimento de independência. Não conseguindo penetrar no reduto da República da Estrela, e já no final do governo do seu sogro José Peregrino a frente do Estado, o deputado Weceslau simplesmente deixou em paz o movimento realizado por Zuza Lacerda. Este também se aquietou, com o seu rival indo embora do município. O velho Zuza, também com seu prestígio arranhado, via-se sem sentido a existência da República da Estrela. Foi mais um movimento reacionário que uma luta ideológica.

A GUERRA DOS DOZE A guerra do Doutor Santa Cruz, contra o Governo da Paraíba, acontecida, provavelmente entre: 1910 a 1912. Uns chamam-na: “A Guerra de Doze”; outros: “A Guerra de Catorze”. No final do século XIX o país passava por muitas mudanças. Havia grandes desavenças políticas, e os Partidos: Liberal e Conservador, readaptavam-se à nova ordem. Foi nesse contexto de profundas transformações políticas que cresceu Augusto de San-

ta Cruz Oliveira, nascido em 1875, na vila de Alagoa do Monteiro, na região do Cariri paraibano. O Dr. Augusto de Santa Cruz Oliveira, era mais afeito à política que os irmãos Arthur e Miguel, que preferiram dedicar-se à magistratura. Aos 23 anos, em 1898, já era promotor público em Monteiro. No início do século XX, o presidente da província da Paraíba, Álvaro Machado, querendo desmantelar o poder exercido pelos Santa Cruz na região, resolveu investir na liderança do Cel. Pedro Bezerra da Silveira Leal, homem de origem humilde que havia galgado seu posto à custa de esforço pessoal, sem proceder de família importante. A mesma coisa havia ocorrido no município paraibano de Teixeira, onde o comando político havia sido transferido para o Coronel Dário Ramalho de Carvalho Lima, em detrimento do Dr. Franklin Dantas, médico, líder político, até então. O Dr. Augusto Santa Cruz protagonizou uma série de episódios onde imperou a violência, com perseguições, espancamentos, invasões de vilas, tiroteios e mortes. Em 1910, rompeu com Pedro Bezerra. Envolveu-se em emboscadas e invadiu a vila de São Tomé (Atualmente a cidade de Sumé/PB). Por esses crimes foi pronunciado pela Justiça. Inconformado, em maio de 1911, cercou a vila de Monteiro com 200 homens armados sob o seu comando, quebrou a cadeia, libertou os presos e fez vista grossa aos desatinos que seus homens cometeram pela cidade. O governador enviou força policial à Monteiro para prendê-lo. A fazenda Areal foi atacada pelas tropas. Mas, Santa Cruz não desistiu, reorganizou suas forças, aliou-se a Franklin Dantas, líder também desprestigiado no Teixeira, junto com o qual traçou

planos de invadir a capital da Paraíba, reunindo um “exército” de mais de 400 homens, entre moradores, empregados, fugitivos da justiça, ex-cangaceiros, amigos e parentes. Em maio de 1912, o Dr. Augusto Santa Cruz com a sua coluna, invadiram: Patos, Taperoá, Santa Luzia do Sabugi, Soledade e São João do Cariri. A partir daí, frente à resistência oferecida pelo governo estadual, e vendo a impossibilidade de continuar tendo sucesso no desvairado projeto, fugiu para Pernambuco. Em março de 1913 foi submetido a júri popular em Monteiro, com os irmãos Miguel e Arthur atuando na defesa, sendo absolvido por unanimidade. Depois, exerceu o cargo de juiz de Direito em várias localidades de Pernambuco, vindo a falecer em 1944, com 69 anos.

A GUERRA DE PRINCESA ISABEL Esta guerra foi pródiga de episódios interessantes e cruéis, onde tudo começou através de discórdias políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior do Estado e o governador eleito da Paraíba, em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. João Pessoa discordava da forma como o grupo político que o elegera, conduzia a política paraibana. Era valorizado os grandes latifundiários de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Entre os embates ocorridos, podemos listar uma maior perseguição do governo estadual aos grupos de cangaceiros e cobrança de taxas de exportação do algodão. Por esta época, os coronéis exportavam o produto principalmente através do porto de

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Pernambuco, em Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma os coronéis que passaram a chamar o governador de “João Cancela”. Os embates políticos entre o governador e os coronéis foram crescendo, deste embate, nasceu o maior conflito do Brasil Republicano. A contenda teve início em 28 de fevereiro de 1930, quando ocorreu a invasão da então vila do Teixeira/ PB, por parte da polícia paraibana, com o aprisionamento da família Dantas, ligada por profundos laços de parentescos e interesses ao coronel José Pereira. Com o apoio discreto, mas efetivo, do Presidente da República e dos governadores: de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra e do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria; o coronel José Pereira decidiu criar o “Território Livre de Princesa” com absoluta autonomia, separando-se durante o período do conflito do restante do Estado da Paraíba, tornando-se uma verdadeira fortaleza, com um exército com mais de 1.800 homens prontos para a luta armada. No lado do presidente João Pessoa, suas tropas estavam sob o comando do Coronel Comandante da Polícia Militar da Paraíba, Elísio Sobreira; do então Delegado Geral do Estado, Severino Procópio; e do Secretário de Interior e Justiça, José Américo de Almeida. Na tentativa de desbaratar os sediciosos de Princesa, estes comandantes dividiram os efetivos policiais, compostos por cerca de 890 homens, em colunas volantes, aquartelada no povoado de Olho D’Água, então pertencente ao município de Piancó/PB. Houve outros episódios sangrentos e terríveis na Guerra de Princesa, mas após a morte, em Recife, na Confeitaria Glória, do governador João Pessoa e a consequente eclosão da Revolução de 30, o conflito em Princesa acabou. Era o dia 26 de julho de 1930. O conflito durou cerca de quatro meses e vinte e oito dias. Observação se faça: Princesa não

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foi conquistada pela polícia paraibana, só depois, tropas do exército nacional, ocuparam a cidade de forma tranquila. O coronel José Pereira e muitos dos que lutaram com ele, fugiram da região.

REPÚBLICA INDEPENDENTE DE CAMPINA GRANDE Antônio Hamilton Fechinne é um empresário bem sucedido, inteligente, idealista, ex-vereador da cidade de Campina Grande, e tem incrustado nos seus ideais que Campina Grande, deveria ser o polo do progresso para toda à Paraíba, ou seja, dever-se-ia criar o “Estado da Borborema”. Justificativa se faz, em vista: da sua posição geográfica, econômica, o grande polo tecnológico, e o grande potencial de um povo altaneiro que tem a coragem de trabalhar com um total vigor e uma capacidade de invenções que só são encontradas no Vale do Silício, nos Estados Unidos e na Cidade Sol, no Japão. Um potencial nato, desta grande cidade que já nasceu grande de berço, tendo um verdadeiro espírito fenício. Para tanto, faço expor aqui uma constituição que eu guardo com muito carinho, os artigos escritos pelo grande ex-professor, advogado e jornalista Virgínius da Gama e Melo que redigiu a seguinte “Constituição para a GRAN CAMPINA”:

CONSTITUIÇÃO DE GRAN CAMPINA Artigo primeiro: Fica autorizado a funcionar em nível de Estado, por seus vários meios: a República da Grã Campina, com sede, for e suscetibilidade na região antes denominada Reino Unido de Campina Grande podendo ser representada nos negócios internacionais pelo embaixador Virgínius da Gama e Melo, marquês de Boqueirão e Visconde de Tambiá. Artigo segundo: O Estado de que trata o presente dispositivo será governado por um Doge (não confundir com o vice-governador do vizinho lugar Paraíba) e uma corte de Delfins, que,

nas horas de lazer, comprometem-se a passear suas reais figuras em convenientes gôndolas especialmente conservadas na Regido das Lagos, antes conhecida pela denominação de Açude Velho. Parágrafo único. Ficam proibidos todos os voos noturnos ou diurnos de aves, aeronaves ou petardos de todos os gêneros sobre as venerandas torres de iluminação do estádio Big Friend, que doravante passa a incorporar o patrimônio artístico-cultural da nação. Artigo terceiro: Um grupo de trabalho constituído pelos Ministros de Solos e Subsolos, Águas e Litorais encarregar-se-á da elaboração de um estudo sobre a viabilidade de drenar os recursos hídricos e marinhos do oceano Atlântico para a zona fisiográfica do Cariri, espraiando-se preguiçosamente por toda a orla da Grã-Campina. Parágrafo primeiro: O salso elemento funcionará somente aos domingos e feriados; Parágrafo segundo: Aos cidadãos usuários de tão marítima obra não será permitido o acesso a outras praias, localizadas em países vizinhos. Parágrafo terceiro: Fica instituída uma Zona Franca na fronteira entre Paraíba e Grã Campina, destinada à venda de artefatos, utensílios e eletrodomésticos e utilidades várias porventura fabricadas no país. Artigo quarto: notificar-se-á o Chefe do Estado do Vaticano para que, no prazo não superior a trinta dias, nomeie um Núncio Apostólico, com poderes de representar a Santa Sé em todas as instâncias. Artigo quinto: revogam-se as disposições em contrário. Espero que os paraibanos reconheçam e façam esta independência sem uso de armas ou derramamento de sangue. Só são necessários: reconhecimento, bom senso, entendimento e boa vontade de todos os nossos dirigentes. Quero ter duas identidades: uma, emitida na República Independente de Itaporanga e outra, pela República Independente de Campina Grande.


SENSIBILIDADE CRÔNICA

VIVENDO CAMPINENSEMENTE MICA GUIMARÃES

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ão é coisa de bairrista, não. Campina Grande tem um jeito especial de ser. Ser campinense é mais do que uma designação geográfica. Ser campinense é um modo de vida. Em meio a dezenas de pessoas de outras cidades, é fácil identificar o campinense. É impossível não identificar um campinense. O campinense da gema é alegre, espirituoso, hospitaleiro, gozador, dinâmico, decidido e intransigente quando se trata de defender os interesses de sua terra. Daí que o campinense legítimo não está nem aí para as grandes metrópoles do país e do mundo, alvo da atenção de turistas de todos os quadrantes. Não trato aqui da Campina das universidades, do comércio, da indústria, das festas, da informática; refiro-me ao instante mágico de sentir-se campinense. Não é que signifique ser campinense em detrimento de outras cidades. Claro que não! Todas as cidades e seus cidadãos merecem respeito. Mas Campina tem uma aura de luz em seu derredor. Por isso, Campina é a cidade das possibilidades. O campinense tem uma filo-

sofia de vida que lhe é bem peculiar. Eu próprio me sinto semelhantemente incomum. Nada mais é do que esse não-sei-quê de um campinismo exacerbado. Quando não posso demonstrar tudo isso em minhas ações cotidianas, sufoco-me, inquieto-me, nego-me. Por este motivo decidi escrever estas linhas, traçando o meu perfil inequívoco de um campinense laureado graciosamente. Em definitivo, vou deixar qualquer outro projeto de lado, as perspectivas e os sonhos, para viver campinensemente. Crio o advérbio para traduzir o sentimento que se agita no coração do filho desta terrinha abençoada. A partir de agora, tal expressão deverá fazer parte do jargão comum aos campinenses. Assim, não vai ser difícil, durante uma conversa, alguém dizer, ao emitir opinião: “Campinensemente falando, quero afirmar que...”. Pois é! Ou se não: “Fulano agiu campinensemente”. Outra: É campinensemente viável investir...”. Como já disse, eu vou viver campinensemente. Não vou estar preocupado em ver a vida com os olhos alheios. Vou considerar apenas as ruas da minha infância, as lembranças da adolescência, os

telhados, as igrejas, as praças, os colégios, as árvores, o ar da serra, as noites frias sobre o Açude Velho, os bairros, suas ladeiras, as pessoas humildes da periferia e todos aqueles filhos legítimos ou adotados que amam orgulhosamente a terra dos nossos antepassados. Isso é viver campinensemente. Considerar o berço natal como a permissão divina para o mistério da vida em condição humana; dela provém toda seiva que nos alimenta e é igualmente dela que emanam os eflúvios sagrados de um atavismo saudoso e animador. Por estas vias caminharam nossos bravos ascendentes, de cujo empenho nos foi possível atualmente realizar tanto. No entanto, a maior realização do campinense autêntico é ser simplesmente campinense e vibrar campinensemente, sorrir campinensemente, abraçar campinensemente, empreender campinensemente, dar a mão campinensemente, enfim, nascer e, sobretudo, morrer campinensemente, que é uma forma de imortalizar-se, de projetar-se do planalto acima. Nada mais desejo a não ser viver campinensemente. Sinto-me campinensemente realizado. E só.

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ANTÔNIO CARLOS NÓBREGA

UMA PARTE DO BRASIL LUÍS ADRIANO MENDES COSTA

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o dia 6 de abril desse ano, no Teatro SESC Pinheiros, em São Paulo, aconteceu à cerimônia de entrega do prêmio Melhores de 2009, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Entre os premiados na área de Dança, categoria Pesquisa, estava o pernambucano Antonio Carlos Nóbrega, com seu mais novo espetáculo Naturalmente – Teoria e jogo de uma dança brasileira. Um reconhecimento merecido e digno para quem vem a anos levantando a bandeira, cultuando valores, num processo claro de valorização e preservação de elementos diversos da cultura popular, sobretudo a Nordestina. Essa honraria a exemplo de tantas outras já recebidas pelo artista, no entanto, não atrai os apoios institucionais. Por outro lado, questiona-se se esse reconhecimento precisa vir de São Paulo. Digo isso porque no carnaval desse ano em Recife, Nóbrega foi retirado do palco principal, o do Marco Zero, no Recife Antigo. Esteve presente num outro palco, no Pólo do Arsenal, também na parte antiga de Recife, mas que tem uma estrutura menor, sem a

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visibilidade do anterior. Mesmo assim, a apresentação de Nóbrega foi uma das mais intensas e significativas dentro da programação multicultural. Seja como for, em anos anteriores, ele sequer figurou na programação. E isso é o não reconhecimento para com um artista que eleva o nome não somente de uma cidade, estado ou região, mas do país. Isso se não bastasse o próprio mercado, retirando o direito de escolha de muitos, daqueles que não tem acesso aos lançamentos preteridos pela indústria, aqueles trabalhos que se dissolvem antes mesmo do público conhecer os rostos dos personagens. Uma indústria que parece esconder as pedras preciosas e exibir uma porção das, às vezes, semipreciosas e, por várias vezes, as de preciosidade nenhuma. Esses aspectos acabam por refletir no desconhecimento da grande maioria das pessoas, inclusive, públicos privilegiados, como o acadêmico. Explico melhor. Ainda estudante de Jornalismo, passei a dedicar boa parte de minha produção à obra do artista e, mais que isso, dividia com meus colegas informações e novidades do

Antonio Nóbrega. Ouvia uns dizer: “Que Antonio Carlos Nóbrega? Aquele do banquinho da praça?”. Outros diziam: “O que é esse movimento marmorial?”, fazendo referência ao Movimento Armorial, criado pelo escritor Ariano Suassuna na década de 70, que apontou outro destino para a vida musical de Nóbrega, uma transformação diante dos caminhos que ele já trilhava, tocando músicas da Jovem Guarda, dos Beatles e de Roberto Carlos num conjunto que fizera com suas três irmãs, paralelamente aos rígidos estudos da música acadêmica. Confesso que daquele tempo pra cá, pouca coisa mudou. Lá se foram 10 anos e não vimos mudar o panorama, nem tampouco se apresentam previsões mais animadoras. Mas, eis aqui outra oportunidade para levar mais alguns leitores ao encontro com Antonio Carlos Nóbrega. Foi numa apresentação da Orquestra Sinfônica do Recife em 1972, tocando um concerto de violino de Bach, que ele conheceu Ariano Suassuna e foi convidado a integrar o Quinteto Armorial. Daí em diante muita coisa mudou para o músico de formação já cristalizada pelos estudos


na Escola de Belas-Artes, em Recife, com o professor catalão Luis Soler. Foi assim que passou do violino para a rabeca e mergulhou no rico universo da cultura popular, que nem lhe havia sido ensinado nas escolas de música, nem muito menos apresentado através do rádio. A partir de sua entrada para o Quinteto Armorial, Nóbrega passou a desenvolver seus próprios projetos, criando inicialmente o Boi Castanho Reino do Meio-Dia. Em seguida, encenou dois espetáculos: Bandeira do Divino e Mateus rabequeiro mágico e professor (1976). Depois, veio à criação de A arte da cantoria (1981). A partir de então, seguia-se uma série de espetáculos que confirmavam toda estética armorial: O Maracatu misterioso (1982), Mateus Presepeiro (1985), O Reino do Meio-Dia – A dança das onças (1989), Figural (1990), Brincante (1992) e Segundas Histórias (1994). Depois vieram seus espetáculos recitais. Inicialmente o Na pancada do ganzá (1995), grande sucesso em todo Brasil e exterior, recebendo os prêmios “Shell”, “APCA” e “Mambembe”. Em 1997, o artista lançou Madeira que cupim não rói, nome de uma consagrada marcha-de-bloco do compositor pernambucano, Capiba. O ano seguinte

foi à vez do Pernambuco falando para o mundo, título que faz referência ao slogan da Rádio Jornal do Commercio de Recife, que após sua inauguração, no ano de 1948, foi por muitos anos, a emissora brasileira de radiodifusão de maior alcance, com modernos transmissores que chegavam a grande parte da América do Sul, na América do Norte e na Europa. No ano 2000, estreou em Lisboa, com a colaboração da primeira Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil, o Marco do Meio-Dia. O espetáculo também se apresentou em Paris e Hannover, até chegar a várias cidades brasileiras. Em 2002, o artista lançou o espetáculo Lunário Perpétuo, que marcou os trinta anos do convívio de Nóbrega com a cultura popular. O título do disco e de uma de suas canções é versão abreviada do livro que circulou no Nordeste brasileiro até meados do século passado: Lunário e Prognóstico Perpétuo para Todos os Reinos e Províncias, de autoria do valenciano Jerônimo Cortez, cuja primeira edição remonta aos anos 1750. Mais recentemente, em 2006, Nóbrega produziu em dois volumes o trabalho Nove de Frevereiro, que representa um resgate de clássicos do ritmo pernambucano, com inúmeros frevos de bloco, canção, e de rua. Nesse

período o artista ainda apresentou outros dois trabalhos, em 1998 a aula espetáculo Sol a Pino e no ano de 1999 o espetáculo Pernambouc, exibido no Festival D’Avignon, na França, especialmente para o público francês. Ao todo são vinte espetáculos, uma trajetória que mostra a diversidade desse artista. Durante esse tempo, Nóbrega atingiu um nível significativo de caracterização de palco, fruto da sua dedicação para com os estudos de obras de escritores que registraram e interpretaram a cultura popular, como é o caso de Silvio Romero, Câmara Cascudo e Pereira da Costa, entre outros, até as cantigas, danças e versos de artistas populares, conhecidas por ele através de inúmeros encontros e viagens por diversas regiões brasileiras. Foi assim que ele passou a ter contato com Mestre Olimpio Boneca, do Crato; Mestre Kenura, de São Paulo; Capitão Pereira e Mateus Guariba, de Recife; para citar apenas alguns. Todos eles encontram em Nóbrega a imagem do filho que aprendeu a lição e leva adiante os saberes de uma vida inteira. Todos eles estão aí representados, seja no cantor, ator, dançarino, mímico (pantomima), instrumentista, bonequeiro ou no malabarista Tonheta, uma parte de Nordeste, retalhos dos tipos populares diversos que povoam as ruas, praças e avenidas do Brasil.

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LUIZ GONZAGA CANTA MÉDICO* XICO NÓBREGA, DE CAMPINA

O maior compositor de Luiz Gonzaga é um médico, José de Souza Dantas, conhecido Zédantas. O profissional médico e a medicina popular ao afrodisíaco figuram em diversas músicas da obra poética e musical do grande cantador.

A

s músicas do Rei do Baião são riquíssimas de referências a tipos populares e ofícios da vida rural e urbana do Brasil, destacando-se o vaqueiro, o lavrador, o sanfoneiro, o padre, o militar, o carteiro, o engenheiro. O médico, e situação da fisiologia humana que esse profissional bem explica, inspira diversas músicas de Luiz Gonzaga, entre elas o clássico Xote das Meninas (1953) e a prosa Samarica Parteira (1973), ambas de autoria do compositor e médico-obstetra pernambucano José de Souza Dantas, conhecido Zédantas. Luiz Gonzaga canta no baião Vem Morena (1949) a circulação sanguínea alterada pelo toque sensual e pelo remelexo da morena no resfolego da sanfona,

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no fungar da morena no cangote do cavalheiro, capaz de fazer até velho ficar moço, e o coração de repente por “o sangue em arvoroço”. O mesmo Zédantas é co-autor de outra obra-prima de Luiz Gonzaga, O Xote das Meninas, de 1953, cuja narrativa dar-se em consultório médico, para onde o pai levara a filha mudada de hábitos, sem querer mais estudar, comer, dormir. “Mas doutor nem examina / Chamando pai de lado / Lhe diz logo em surdina / Que o mal é da idade / Aqui pra tal menina / Não tem um só remédio em toda medicina / Ela só quer, só pensa em namorar”. Em 1958, Luiz Gonzaga gravou Xote das Moças, uma versão d’O Xote das Meninas, chamando a menina pro seu coração,

ela que já estava moça, Rosa feita e não mais botão, “sou o doutor que te examina, quero o teu amor para cumprir a minha sina”. Ovo de Codorna e Capim Novo ao vigor sexual Luiz Gonzaga lançou dois discos seguidos nos anos 70, com músicas títulos inspiradas na crença popular das panacéias afrodisíacas do velho sertanejo: os discos LPs Capim Novo (1976) e o Chá Cutuba (1977), justamente no começo do seu namoro com a jovem Edelzuíta Rabelo, o seu derradeiro grande amor. Em 1972, Luiz Gonzaga lançara Ovo de Codorna, cantando à falta de vigor sexual, o conselho do doutor seu amigo para ele comer o tal ovo de codorna,


para a felicidade da sua companheira na cama. No disco LP Capim Novo, de 1976, Luiz Gonzaga desmente o tal efeito afrodisíaco do ovo de codorna ou de qualquer raiz ou casca, e até mesmo das “drogas novas”, e que o doutor seu amigo dissera que o problema dele não era nada fisiológico, mas psicológico. “Certo mesmo é o ditado do povo / Pra cavalo véio / O remédio é capim novo”. A música Chá Cutuba, que dá título ao disco de Luiz Gonzaga de 1977, ainda versa sobre essa sub-temática sensual luiz-gonzaguiana, de chás de raiz, de casca de pau, e de um tal pinhão de cheiro, a mezinha milagrosa que tirou Tomé do caixão a sair de espinguelado, perseguindo uma mulher. Samarica Parteira fiel ao folclore da mãe-de-pegação sertaneja A prosa Samarica Parteira de autoria de Zédantas é a obra-prima de todas as narrativas de Luiz Gonzaga, do segmento da sua obra no qual ainda se destacam a regravação de Respeita Januário (1979) e Karolina com K, de 1977. Como médico-obstetra amantíssimo da cultura popular, de violeiros, cordelistas, causos e do anedotário, Zédantas sintetiza o universo folclórico da antiga e heróica parteira nordestina: a personalidade e presença marcantes dela, e seus hábitos e ritos de parto, tendo como pano de fundo da narrativa, tipos populares sertanejos e a sua encantadora

paisagem de inverno. O médico cirurgião grau na Faculdade de Medicina Humberto Macário e a opera- da Universidade do Recife em 1949, justamente no ano em que ção que abalou o Cariri Luiz Gonzaga gravou a suas duas O pai de Luiz Gonzaga, primeiras músicas, Vem Morena Januário, chegou ao consultório e Forró de Mané Vito, do total de do médico Humberto Macário 52 delas, contra a vontade do pai, de Brito, na cidade do Crato, em o coronel Zeca Dantas. Em 1950, o médico Zé1974, com retenção urinária por edema de próstata benigno. Janu- dantas mudou-se para o Rio de ário foi operado no Hospital São Janeiro, onde atuou durante anos Francisco dessa cidade, para o no serviço de obstetrícia do Hosqual o filho famoso fizera show pital dos Servidores daquela ci(1949) em benefício da conclu- dade. Num intervalo e outro de são da obra do prédio, em sua um parto, ele produzia músicas. “Zédantas regressava primeira apresentação pública no para casa com os bolsos cheios Nordeste. O sucesso da cirurgia em de rascunhos, anotações e monsJanuário inspirou uma música em tros das músicas, baiões, xotes, Luiz Gonzaga, O Vovô do Baião, toadas, que se tornaram enormes lançada em 1973, onde ele can- clássicos” (Dominique Dreyfus). Ele é o mais genial parta a expectativa de toda família Gonzaga com a cirurgia do pai ceiro do Rei do Baião, diante da de 90 anos, a qual Humberto Ma- quantidade e da qualidade da cário, “famoso cirurgião”, faria obra da dupla imortalizada na nele, abalando o Cariri cearense, música popular brasileira. Entre esses clássicos, A admirando todo povo do Crato ao ver Januário sair inteirinho do Dança da Moda, Cintura Fina, A Volta da Asa Branca, Sabiá, ImHospital São Francisco. Além de Zédantas, há ou- balança, O Xote das Meninas, A tro compositor de Luiz Gonzaga Letra I, Algodão, ABC do Sertão, do ramo da medicina, ainda vivo e outras obras imortais. Zédantas morreu precoe médico atuante, chamado Jan- duhy Finizola, norte-rio-granden- cemente, em 1962, aos 42 anos se de origem, naturalizado carua- de idade. ruense, de quem o Rei do Baião gravou diversas músicas, entre elas Frei Damião e Cavalo Crioulo, que marcaram o repertório do grande cantador nos anos 70 do séc. XX. Quem é Zédantas José de Souza Dantas, Zédantas, nascido em Carnaíba das Flores (PE), em 1921, colou Revista Conviver | 59


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Grande Campina

UMA CHANCE DE MUDAR A HISTÓRIA GABRIEL ALVES

Projeto Vira Vida busca a reintegração de jovens e adolescentes na sociedade e a inserção deles no mercado de trabalho.

T

odos nós sonhamos possuir uma casa própria confortável, ter um emprego com salário digno, viajar nas férias, poder comprar aquela televisão moderna ou o celular do momento. Passamos boa parte da vida buscando realizar esses desejos. Alguns conseguem facilmente desfrutar de tudo isso, mas a grande parte da população ainda encontra-se em um difícil cenário de pobreza, sem chances para alcançar aquilo que sonhou. O problema toma dimensões ainda maiores quando mergulhamos no universo dos jovens brasileiros mais carentes. São filhos de pais desempregados oriundos de famílias desestruturadas, que acabam encontrando na marginalidade o caminho para ter o que comer ou vestir. Como falar de sonhos para esses adolescentes? Como incentivá-los para os estudos? Foi diante desse contexto que o Serviço Social da Indústria (SESI), começou a pensar em alternativas capazes de transformar em realidade os sonhos de milhares de jovens do país. Criado em 2008, o projeto Vira Vida nasceu com o objetivo de reintegrar à sociedade adolescentes vítimas do risco social, através de ações de educação básica, aprendizagem industrial e comercial, além de orientações para a formação de cooperativas e incubação de pequenos negócios.

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O pernambucano Anderson Santos*, 18 anos, conseguiu virar uma triste página de sua vida através da ação do projeto. Como vários de seus colegas, Anderson cresceu no dia a dia das favelas de Pernambuco. Em sua rotina, estudar sempre ficava em segundo plano, pois o jovem só gostava de estar nas ruas. “Não queria saber de estudar. O que eu tinha vontade mesmo era de badernar e brincar com meus colegas de escola. Eu só estudava quando minha mãe pegava no meu pé e puxava minha orelha ou quando tinha prova”, comenta. Anderson conta ainda que, para ganhar algum trocado ele reunia a turma de amigos, e todos saíam pelas ruas procurando qualquer objeto que pudesse ser colocado à venda. Não importava como esse artefato tinha sido conquistado, para eles o que valia mesmo era sempre ter matériaprima. “Entrava no quintal dos outros e pegava fruta para poder vender na rua. Eu não gostava de trabalhar com meu pai porque ele era muito chato, por isso encontrava na rua uma forma de ganhar dinheiro”, desabafa. A trajetória de vida do jovem só começou a mudar quando o Vira Vida apareceu no caminho dele. Depois de ser aprovado na seleção para ingresso no projeto, ele se matriculou no curso de Agente de Eventos. No início, o estudante não acreditava que


o Vira Vida pudesse transformar sua rotina, mas o convívio com as ações do programa fez o então aluno mudar de opinião. “Quando entrei no Vira Vida eu não botava fé. Com o passar do tempo foi que percebi a força desse projeto para nosso crescimento. Então eu foquei naquilo que eu desejava e hoje já estou no mercado de trabalho”, comemora. Atualmente, o jovem trabalha como auxiliar administrativo na Schincariol, considerada a segunda maior cervejaria do Brasil. Histórias como a de Anderson conseguem demonstrar alguns dos resultados práticos do Vira Vida, indicando a força de sua contribuição social. Centenas de outros jovens estão tendo suas vidas transformadas através do programa, como é o caso da cearense Joyce Silveira, 21 anos. Natural de Fortaleza, Joyce nasceu cercada pela pobreza de sua família. Seu comportamento rebelde sempre foi um grande problema para a convivência com os parentes e amigos. Ela conta ainda que não conseguia se imaginar casada, pois

1º passo A virada na vida desses jovens e adolescentes inicia-se quando eles são abordados por instituições governamentais, religiosas, ONGs, Casas de Passagem e Conselhos Tutelares que atuam na Rede Pública de Enfrentamento do Risco Social. A atribuição dessas instituições é recrutar e inscrever os jovens e adolescentes no processo de seleção dos cursos profissionalizantes. Têm também a incumbência de acompanhar os selecionados ao longo do processo de formação, promovendo o aconselhamento e encaminhamento.

queria mesmo era aproveitar a vida, sem compromissos ou responsabilidade. Foi o curso de Vestuário do Vira Vida que começou a mudar os planos da jovem. Cansada da ociosidade de sua rotina, ela resolveu se dedicar às aulas, investindo o dinheiro que ganhava para montar seu próprio negócio. A ideia deu tão certo, que hoje ela preside a Cooperativa de Vestuário Caxangá, fundada por 20 jovens do Vira Vida no Estado do Ceará. “Minha vida melhorou em todos os sentidos. Tenho agora um ótimo relacionamento com minha família. Hoje sou uma mulher casada e muito feliz por possuir uma casa digna para morar. Conquistei minha independência financeira graças ao Vira Vida, que fez nascer nossa cooperativa”, acrescenta. Segundo o Presidente do Conselho Nacional do SESI, Jair Meneguelli, o projeto pretende profissionalizar 200 jovens em situação de risco social na Paraíba, inserindo todos eles no mercado de trabalho. “Além da oportunidade de fazer cursos, com duração, de 8 a 10 meses, os jovens contam com apoio psicossocial,

2º passo Instituições do Sistema S (SESI, SENAI, SESC, SENAC E SEBRAE), sob a coordenação do Conselho Nacional do SESI, respondem pelo processo de seleção, formação, avaliação, encaminhamento ao mundo do trabalho e acompanhamento de egressos. Cada um atua em sua área de competência: SESI – educação básica; SENAI aprendizagem industrial; SENAC – aprendizagem comercial; e SEBRAE – orientação à formação de cooperativas e incubação de pequenos negócios.

atendimento a família, auxílio médico odontológico, e durante o período do curso, o programa disponibiliza uma ajuda de custo, de aproximadamente um salário mínimo, para que eles mantenham frequência nas aulas. Ainda ao final do curso, nós garantimos aos jovens a inserção deles no mercado de trabalho” ressalta. A iniciativa nacional já contabiliza mais de 800 jovens e adolescentes atendidos, sendo 70% do sexo feminino. Do total dos assistidos 274 jovens foram inseridos no mercado de trabalho, 132 estão participando de processo seletivo para ingressar no mercado e cerca de 400 alunos encontram-se em processo socioeducatico. O Vira Vida está implantado em nove cidades de oito estados diferentes: Fortaleza (CE), Recife (PE), Natal (RN), Belém (PA), Brasília (DF), Teresina (PI), Salvador (BA), Campina Grande (PB) e João Pessoa (PB). O programa encontra-se em fase de implantação nos municípios de Curitiba, Londrina e Foz de Iguaçu (PR); Parnaíba (PI) e Rio de Janeiro (RJ).

3º passo Empresas públicas e privadas são parceiras na divulgação do projeto e na empregabilidade dos participantes, seja por meio de programas de aprendizagem, estágios, contratação direta ou oferta de microcrédito para fomentar o empreendedorismo.

*Anderson Santos é um nome fictício utilizado pelo repórter para identificar o jovem pernambucano. O projeto Vira Vida trabalha com o sigilo dos dados pessoais de seus alunos.

Nome

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Grande Campina

A BOA IMAGEM DE CAMPINA NA TV DIGITAL ÉRIKA CASTRO Referência na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no Brasil, a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) participa ativamente no desenvolvimento de tecnologias para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD).

F

oi desenvolvido dentro do campus da UFCG o canal de interatividade e o transcodificador de vídeo, tecnologias inovadoras que, aprovadas pelo Governo Federal para serem incluídas no modelo de TV digital brasileiro, ainda não estão à disposição da população em sua totalidade. O SBTVD foi inaugurado no País em 2 de dezembro de 2007, em São Paulo, e vem sendo adotado em várias cidades paulatinamente. De acordo com informações do Fórum do Sistema Brasileiro de

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Televisão Digital, de 2007 até agora, o processo de migração do sistema analógico para o digital já atingiu 7 milhões de aparelhos no país. Até 2013 será obrigatório à cobertura da TV digital em todo o território e em 2016, o sistema analógico será extinto. Desde que o governo decidiu pelo desenvolvimento de um sistema baseado no padrão japonês para o Brasil, em 2003, está sendo realizado um intenso cronograma de trabalho para a criação e melhoria do sistema de

transmissão e recepção de sons e imagens digitais. O modelo de TV digital brasileiro está sendo instalado aos poucos, ainda sem todas as facilidades que o padrão nacional oferece, mas promete revolucionar o conceito de televisão no Brasil, de forma ainda mais marcante do que a novidade daquela caixa quadrada que invadia a sala do brasileiro nos anos 50 e mais impressionante do que a possibilidade de conhecer um mundo novo, mais próximo do “real”, quando chegou a TV em cores em 1972.


Entre emissoras de TV, fabricantes de equipamentos de recepção e transmissão, e indústria de software, a UFCG é uma das poucas instituições que vem contribuindo para o aperfeiçoamento dessa tecnologia, desenvolveu entr e os anos de 2003 e 2005, no Instituto de Estudos Avançados em Comunicações (Iecom), três projetos, dos 20 grandes projetos constituídos, após a submissão de 90 projetos à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do governo, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Católica de Pernambuco e Universidade de Brasília (UNB). Tecnologia Uma das ferramentas é o transcodificador de vídeo, que tem a função de mudar o sinal digital originário de um país para o sinal do padrão brasileiro, facilitando a recepção dos canais internacionais, não interferindo na qualidade do que chega a sua casa. Segundo o professor Marcelo Sampaio de Alencar, presidente do Iecom, o sistema atua como interface entre sistemas diferentes, convertendo a programação televisiva de um país para o outro. “Dessa forma podemos assistir no Brasil a programação da TV européia, por exemplo, depois que o sinal é convertido de um padrão para outro”, explicou o professor Marcelo Alencar. Uma novidade do sistema brasileiro, que representa um diferencial em relação a outros sistemas de TV digital do mundo,

foi também desenvolvida no Iecom. O canal de interatividade faz a comunicação entre o usuário e a emissora de televisão digital. “Com essa tecnologia, o usuário pode opinar sobre o programa que está assistindo, solicitar compra de um produto, e até votar em uma eleição presidencial, usando um código específico para votação”, explicou o professor. Para ele, o canal de interatividade é a parte mais rica do projeto, que também pode ser aplicado em ensino à distância, para permitir a interação entre o professor e aluno em tempo real (e-learning – aprendizado eletrônico), o telespectador pode comprar um produto que está sendo oferecido sem tirar o controle das mãos (e-commerce - comércio eletrônico), e ainda participar de pesquisas de opinião pública e escolher seu candidato nas eleições (e-gov - governo eletrônico). “Esta é a parte mais interessante do projeto, que teve a primeira etapa encerrada. O governo definiu o transcodificador e o canal de interatividade que havíamos proposto. A função de interatividade ainda não entrou em ação porque depende das empresas a implantarem”, contou Marcelo Alencar. Desenvolvido no Iecom, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, o terceiro projeto foi o Middleware,

um software que controla os canais, dando a possibilidade ao usuário de escolha da programação, controle sobre os canais e o tipo de transmissão, no entanto cada possibilidade é dada pela emissora. Hoje, os estudantes trabalham em pesquisas para melhorar a qualidade da transmissão e definição da imagem da TV Digital. “Estamos desenvolvendo um suporte que realize a transmissão de dados, imagens e sons intrabanda, utilizando os canais vazios de transmissão”, explicou Marcelo Alencar, afirmando que essa tecnologia daria ainda mais rapidez no processo e qualidade dos dados recebidos e que a UFCG, ainda tem muito a contribuir para o desenvolvimento desta nova tecnologia. “A universidade ganhou a concorrência para participar desse processo, o que demonstra a qualidade do seu trabalho de pesquisa de seus alunos e professores. Esse é mais um exemplo do potencial de Campina Grande para a área de tecnologia e da excelência dos cursos oferecidos, a exemplo da graduação e pósgraduação em Engenharia Elétrica”, completou.

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Um paĂ­s de fachada?

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RECONHECIMENTO NACIONAL

A Revista Conviver passou por grandes emoções nos últimos dias. O projeto foi inscrito no prêmio de Comunicação do Sistema Unimed, que avalia as ações de comunicação em todas as singulares do Brasil. A Revista Conviver foi escolhida a segunda melhor publicação na categoria “Revista”, algo que só vem reconhecer em nível nacional todo trabalho que Campina Grande realiza na divulgação do conhecimento.

CONGRESSO DE SAÚDE AGRADECE

A Comissão Científica que organiza o 2º Congresso de Saúde – Outubro Médico Unimed, atesta neste espaço o sucesso do evento e transfere este sentimento a todos os parceiros que contribuíram para que o mesmo acontecesse. Toda realização do Congresso só se fez possível porque princípios de cooperação e parceria nortearam todas as ações. Muito obrigado a todos os parceiros e a todos que se fizeram presentes no 2º Congresso de Saúde – Outubro Médico Unimed. Em 2012 tem mais!

DUAS VEZES IMORTAL Um raro caso de puro merecimento, é o que podemos classificar a posse do Médico Evaldo Dantas da Nóbrega que este ano assumiu duas cadeiras e duas importantes instituições a Academia Campinense de Letras e a Academia Paraibana de Medicina. Na ACL Dr. Evaldo passou a ocupar a Cadeira de número 11 que foi do imortal e saudoso Amaury Vasconcelos, a posse ocorreu em março na Federação das Indústrias do Estado da Paraíba – FIEP. Já no dia 24 de setembro a Academia Paraibana de Medicina empossou o seu mais novo imortal numa concorrida cerimônia na sede do Conselho Regional de Medicina em João Pessoa. Dr. Evaldo Nóbrega passa a ocupar a cadeira de número 2 que foi do não menos saudoso médico campinense Dr. Ulisses Pinto Brandão.

UNIMED E PREFEITURA DE CAMPINA GRANDE LANÇAM A ACADEMIA DO POVO A primeira Academia do Povo com moldes na experiência chinesa que existe há mais de 10 anos na Praça de Pequim será implanta em Campina Grande as margens do Açude Velho. A Unimed Campina Grande e a Prefeitura Municipal firmaram um acordo de parceria, onde a cooperativa será responsável pela compra dos equipamentos e a prefeitura dará o suporte de profissionais de saúde. A Academia do Povo tem sido fonte de qualidade de vida para o povo chinês e deverá ser um forte referencial em nossa cidade com o apoio da Unimed, destacou o Prefeito em exercício José Luiz Júnior.

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