Ruminantes 35

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ANO 9 - Nº 35 - 5,00€ OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2019 (TRIMESTRAL) WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM

A REVISTA DA AGROPECUÁRIA

TECNOLOGIA

Investimentos numa exploração de vacas leiteiras Entrevista a António e André Barão

PROCROSS SUMMIT 2019

Conheça os resultados do maior estudo de rentabilidade do programa ProCross

ENTREVISTA AO PRODUTOR JORGE SILVA Quatro robots de ordenha, e vacas felizes

O QUE OS CHEIROS NOS PODEM DIZER Saiba os sinais que deve valorizar

QUEIJOS DE OVELHA DE PASTA MOLE de leite pasteurizado e coalho vegetal


Quer avançar? Estamos aqui para o ajudar a progredir. Fornecemos programas nutricionais adaptados à fase produtiva e às forragens consumidas pelos seus animais. Em apresentação granulada e/ou em tacos, as nossas soluções nutricionais asseguram-lhe os melhores resultados. É assim que o ajudamos a desenvolver a sua exploração.


EDITORIAL REVISTA RUMINANTES EDIÇÃO 35

OUTUBRO - NOVEMBRO - DEZEMBRO 2019 DIRETOR Nuno Marques nm@revista-ruminantes.com COLABORARAM NESTA EDIÇÃO André Barão; António Barão; António Cannas; António Moitinho; António Pedro Malva; Ben Andersen; Carlos Vouzela; Cristina Miguel; Diogo Ribeiro; George Stilwell; Inês Mexia de Almeida; Javier Lopez; Joana Silva; João Bengala Freire; João Santos; Joaquim Neto de Carvalho; John Pretz; Jorge Silva; José Freire; José Maria Rasquilha; Luís Raposo; Maria Garrido; Mário Mendes; Mário Quaresma; Miguel Campos; Montserrat López; Pedro Castelo; Rafael Tabla; Ruben Garcia-Gonzalez; Teresa Montero; Vitor Santos. AGRADECIMENTOS José Alberto Chula & Fº. Lda. PUBLICIDADE E ASSINATURAS Nuno Marques comercial@revista-ruminantes.com

Caro leitor,

N

otícias recentes dão conta que um grupo de produtores, em França, conseguiu que uma das maiores empresas de laticínios passasse a ter em conta, na sua fórmula de formação do preço do leite aos produtores, os respetivos custos de produção do leite. Para conseguirem chegar a este acordo, estes produtores tiveram que recorrer ao mediador das relações comerciais do setor agrícola. A lei francesa que dá suporte a esta situação foi um dos baluartes do governo Macron, e procura equilibrar o preço na cadeia de produção. Os custos de produção passam a entrar de forma explícita na fórmula de cálculo do preço do leite. Este é um bom exemplo que poderia ser seguido em Portugal, até porque este “modelo” não é novo no “mercado da carne” na Península Ibérica. No negócio de produção de frangos e porcos de “marcas brancas” para a grande distribuição, os custos de produção estão presentes mensalmente na fórmula de cálculo do preço a pagar às empresas que fornecem esses animais.

REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda, Margarida Carvalho FOTOGRAFIA DE CAPA Nuno Marques DESIGN GRÁFICO E PRÉ-IMPRESSÃO Ruminantes prepress@revista-ruminantes.com IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda Rua Quinta Conde de Mascarenhas nº9, Vale Fetal 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque Pereira Monteiro Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038

DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/estatuto-editorial ENVIE-NOS AS SUAS CRÍTICAS E SUGESTÕES PARA:

A propósito do “caso” da cantina da Universidade de Coimbra (UC) lembrei-me de uma frase de Agostinho da Silva em que diz que “o homem tem preguiça, em geral, de pensar todo o pensável e contenta-se com fragmentos de ideias, recusa-se a uma coerência absoluta. Não leva até ao fim o esforço de entender....”. Vem isto a propósito de tantas opiniões que foram escritas e faladas sobre o assunto, a maioria vinda de gente que dele nada percebe. Parafraseando uma vez mais o filósofo, gente que “compara o pouco que entendeu com o menos que outros entenderam, jamais com o muito que os mais raros puderam perceber”. Não vou falar de todas as medidas que poderiam, com mais efeito, serem tomadas na UC para se chegar à pegada de carbono “zero”, não tenho suficiente informação, mas gostaria de saber, por exemplo, se foi feita alguma avaliação do desempenho energético dos edifícios e se existe um plano de ação para que cheguem o mais rapidamente possível à “classe A+”; e se existe um plano para passar todos os veículos da UC, e que acedem à UC, a elétricos. A pegada de carbono das vacas de carne depende de muitos fatores e deve ser calculada para cada caso, entre eles a proximidade da região onde são criados, ou a forma como são alimentados. No caso da carne vaca é muito importante conhecer a origem dos animais que chegam à UC, são criados e abatidos perto de Coimbra ou são importados? Não tem o mesmo impacto consumir animais criados no extensivo das “Américas” ou num país do leste europeu, ou no concelho de Coimbra. O transporte tem grande peso no calculo da pegada de carbono, seja marítimo ou terrestre, e aqui é mesmo dióxido de carbono, e não metano como nos bovinos. Os animais criados em extensivo não têm necessariamente o mesmo impacto que aqueles criados de forma intensiva. E mesmo em relação a estes, os de criação intensiva, há que saber se foram criados com subprodutos da indústria local (repiso de tomate, casca arroz, polpa beterraba… que, se não fossem para os bovinos, iriam para aterros sanitários ou queimas) originados perto de Coimbra, ou com matérias primas vindas de longe... Quanto ao balanço das emissões, seria bom conhecer os estudos que serviram de base à decisão para o caso concreto da UC. Para perceber o raciocínio que foi seguido. Por agora, com os dados de que disponho, não consigo entendê-la. Como já vi escrito, talvez fosse mais pedagógico definir um caderno de encargos em que os fornecedores de carne de vaca (e não só) para a cantina da UC apenas pudessem vender animais produzidos em sistemas de “baixas emissões”. Despeço-me, com amizade.

nm@revista-ruminantes.com WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM WWW.FACEBOOK.COM/REVISTARUMINANTES

NUNO MARQUES

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ÍNDICE DE CONTEÚDOS

GENÉTICA

PRODUÇÃO

8 Entrevista a Mário Mendes

84 Investimentos com retorno

A empresa Barão & Barão fez investimentos recentes na sua exploração que conta atualmente com um efetivo de 520 vacas em lactação: melhorias no arrefecimento dos estábulos e a aquisição dum unifeed Siloking automotriz 4.0 Premium 2215, equipado com sitema NIR.

Este ano, a raça Merina Precoce comemora o 60º aniversário do arranque oficial em Portugal do seu livro genealógico. Entrevistámos o presidente da direção da associação da Raça, Mário Mendes, sobre o interesse da mesma e sobre o trabalho que se tem vindo a fazer a seu favor.

PRODUÇÃO

AGRO INDÚSTRIA 68 Queijos de ovelha de pasta mole fabricados a partir de leite pasteurizado e coalho vegetal ATUALIDADES 12 Setor agroalimentar premiado pelo trabalho em bem-estar animal ALIMENTAÇÃO 26 Dietas pré-parto DCAD completas, parciais e não-DCAD 30 Sucesso da recria das cabritas do nascimento ao desmame 32 Periparto em cabras leiteiras 36 Claudicação em bovinos de carne 40 Importância do período de transição em vacas leiteiras de alta produção 42 Fungos, bolores e micotoxinas, o ataque pode ser a melhor defesa 54 Dietas equilibradas em aminoácidos 60 Nutrição suplementada com microminerais orgânicos ECONOMIA 46 Observatório de matérias primas 48 Observatório do leite 50 Índice VL e Índice VL erva FORRAGENS 76 Fertiprado: “Trabalhamos com paixão num setor desafiante"

78 Quatro robots de ordenha, e vacas felizes

Jorge Silva, dono de uma exploração com 220 vacas leiteiras, em Alfeizerão, decidiu mudar o sistema de ordenha. Este ano, comprou 4 robots de ordenha DeLaval VMS™ V300 e já sente melhorias no bem-estar e na produtividade dos animais.

GENÉTICA 22 Inseminação artificial, ferramenta indispensável? Melhoramento genético numa vacada Limousine? PRODUÇÃO 58 Maneio dos bovinos para abate 64 Melhorar a eficiência reprodutiva em bovinos leiteiros PRODUTO 92 Novidades de produto SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL 70 O que os cheiros nos podem dizer 74 Linfadenite Caseosa

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NOTÍCIAS

TEMPOS DE MUDANÇA NO SETOR DE LEITE DOS EUA

Segundo a investigação levada a cabo pelo Rabobank, a indústria da produção de leite nos EUA está a mudar, com uma crescente percentagem do leite a ser produzida por explorações de maiores dimensões em regiões sem tradição neste setor, como o Idaho ou o Texas. De acordo com a USDA, em 2017 a maioria das vacas de aptidão leiteira (55%) viviam em explorações com mais de 1000 animais. O aumento das explorações tem levado também ao aumento da produção em novos pontos do país e irá desafiar as explorações de pequenas dimensões a encontrar formas inovadoras de diferenciação. Para o Rabobank, o aumento da dimensão das explorações pode ser uma forma eficiente de diminuir os custos de produção pela quantidade de leite produzida. Se, por um lado, é necessária mais mão de obra e mais quantidade de alimentos para animais em explorações de maiores dimensões, por outro a mão de obra contratualizada neste tipo de explorações é mais diferenciada e gera maiores receitas. Adicionalmente, a grande dimensão dá a estas empresas maior capacidade negocial.

PRODUÇÃO DE LEITE NA CHINA CONTINUA A CRESCER

A China tornou-se o maior importador e exportador de vacas, produtos lácteos e pastagens, atingindo os cerca de 11 bilhões de dólares na soma das importações e exportações totais. A produção de leite na China tem vindo a crescer nos últimos anos, em parte sustentada pelo desenvolvimento das técnicas de produção e pela ordenha mecânica em produções de larga escala. Paralelamente, foram feitos progressos significativos na qualidade e capacidade de produção de lácteos processados. De acordo com Li Defa, diretor da China Dairy Association, 61.4% das explorações chinesas tinham em 2018 mais de 100 vacas, o que representa um aumento de 40% em relação a 2008. Em 2018 foram produzidas na china 26.8 milhões de toneladas de produtos lácteos. As indústria de lácteos de média e grande dimensão totalizou 79% das empresas nacionais de leite com as três maiores empresas do setor a representar quase 50% das receitas da indústria de leite no país. A receita das médias e grandes explorações e empresas de leite atingiu 49.4 bilhões de dólares. Segundo o relatório publicado da USDA, é expectável que a produção de leite na China continue a crescer durante o presente ano de 2019 em cerca de 2.3%.

UM ACORDO JUSTO PARA OS PRODUTORES

A união francesa de produtores que entregam o seu leite à Lactalis (UNELL), conseguiu chegar a um acordo histórico com a multinacional francesa. A UNELL, que representa 4000 produtores de leite agrupados em 9 organizações de produtores, recorreu ao mediador de relações comerciais para estabelecer um acordo com a Lactalis para que o preço do leite passe a ter em conta os custos de produção. Celebrado este acordo, os custos de produção passam a entrar de forma explícita na fórmula de cálculo do preço do leite. Além disso, estes custos serão reavaliados anualmente, antes das negociações comerciais anuais, e esta reavaliação terá em conta uma série de indicadores nacionais entre os quais os publicados pela CNIEL (Interprofession Laitiere Francaise). Este acordo, que é um dos primeiros deste género, é um passo importante para que se estabeleçam relações comerciais justas no setor agrícola e alimentar e contribui de forma bastante positiva para o equilíbrio da cadeia de produção.

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MELHORAR A REPRODUÇÃO EM OVINOS SEM HORMONAS SINTÉTICAS Em Espanha, o instituto Nacional de Investigación y Tecnología Agraria y Alimentaria em parceria com a Facultad de Veterinaria de la Universidade CEU Cardenal Herrera, estão a desenvolver novos protocolos reprodutivos em ovinos. Um dos trabalhos de investigação incide na indução e sincronização de cios e ovulação em ovinos recorrendo à utilização de progesterona natural em alternativa à utilização de hormonas sintéticas. Esta mudança vai ao encontro das expetativas do consumidor que cada vez mais procura produtos livres de resíduos medicamentosos e uma produção animal o mais natural possível. Outra novidade consiste na utilização de dispositivos intravaginais de silicone inerte CIDR (controlled internal drug release) que acarretam a diminuição da duração dos tratamentos com a consequente diminuição da probabilidade de infeção e a melhoria no bem-estar dos animais. Também relevante nesta investigação é o objetivo de eliminar a utilização de eCG (gonadatofina coriónica equina) por uma questão de bem-estar animal, neste caso das éguas gestantes das quais é retirada a hormona tradicionalmente utilizada em protocolos reprodutivos. Com estes novos protocolos pretende-se, por um lado, responder às preocupações crescentes do consumidor, mas também aumentar a prolificidade dos animais e o lucro da produção.


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GENÉTICA

RAÇA MERINA PRECOCE 60 ANOS EM PORTUGAL TEXTO E FOTOS RUMINANTES

Este ano comemora-se o 60º aniversário do arranque oficial em Portugal do Livro Genealógico Português da raça Merina Precoce. No último concurso nacional, que decorreu na EXPOMOR, em Montemor-o-Novo, em agosto passado, entrevistámos o Presidente da Direção da Associação, Mário Mendes, que é também criador e um profundo conhecedor desta raça.

M

ário Mendes, Presidente da APCORMP, apresentou-se assim: Quando nasci, já a Casa Agrícola de meu pai (João Gordo Mendes) tinha ovelhas da raça Merina Precoce, pois fez parte dos criadores fundadores do Livro Genealógico Português da raça Merina Precoce (associado nº 14), por isso desde pequeno fui apreciando as características essenciais desta grande raça melhoradora.

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Tive a sorte de, desde tenra idade, ter acompanhado meu pai e outros grandes criadores como António Torres, Marcelino Tavares e Irmão, Bento Charrua e André Tavares, tendo aprendido com todos eles a apreciar as características morfológicas desta raça, tanto nos concursos ibéricos realizados em Madrid e Zafra, como nos concursos nacionais realizados por todo o nosso país.

Em França, assisti a vários concursos em Paris, visitei vários rebanhos e conheci pessoalmente criadores franceses como Lévéque, Sordel, Deschamps, Irmãos Marcoux, entre outros. Como presidente da Associação desde 30 março de 2017, sempre com a cooperação dos colegas de direção (António Veiga Marques dos Santos e José Marcelino Palmeiro Tavares) e do técnico da Associação Luís Cesteiro,


Raça Merina Precoce

criadores, sendo a grande maioria do Alentejo. No tempo em que o Livro Genealógico esteve sedeado na Coudelaria de Alter, estavam aderentes cerca de 40 criadores, alguns deles novos criadores. O decréscimo do efetivo e dos criadores aderentes deveu-se e deve-se a vários e inúmeros fatores, mas constata-se que hoje em dia, continua a haver muitos reprodutores da raça Merina Precoce espalhados pelos rebanhos do sul do país. A procura é muitas vezes superior à produção destes exemplares melhoradores.

temos trabalhado no sentido da divulgação da raça, mostrando todas as suas características de excelência como melhoradora de carne e lã nas raças nacionais, adaptabilidade ao meio, aumento da prolificidade, melhoria de ganhos médios diários, etc." Quantos associados tem a APCORMP? A Associação Portuguesa de Criadores de Ovinos da raça Merina Precoce foi constituída em 14 outubro de 1997, com apenas 9 associados. Neste momento temos 12 criadores, 3 dos quais foram fundadores do Livro em 1959. A raça Merina Precoce passou por diversas fases em Portugal. Desde a fase com a introdução no Ribatejo, no anos 30 do século passado, até à extensão da raça ao Alentejo, onde viria a ter

forte influência no melhoramento dos rebanhos em carne e lã, ao seu apogeu nos anos 60-70, com os concursos ibéricos em Madrid e Zafra, e à exportação para Espanha, passando pela fase pós-revolução de 1974, onde praticamente desapareceu, à fase dos Serviços sedeados na Coudelaria de Alter, em que houve um florescimento da raça entre as décadas de 80 e 90. Quando os serviços oficiais deixaram de prestar apoio aos livros genealógicos e começaram a aparecer as associações de criadores, também os criadores da raça Merina Precoce tiveram que se juntar, sob pena de se perder um trabalho genético de décadas. Só para se ter uma ideia, de 1959 (ano do arranque oficial do Livro Genealógico Português da raça Merina Precoce) até 1963, aderiram 53

Quais são as características de um bom criador desta raça? As características de um bom criador desta raça são, em primeiro lugar um gosto pela seleção e melhoramento animal, aliado a um conhecimento profundo sobre ovinos e em especial sobre esta raça, dos seus criadores, das suas origens, do seu maneio, da sua realidade, além de muita dedicação e uma certa intuição, na hora de selecionar os futuros reprodutores, que se aprende com muita experiência adquirida. Se alguém não tem tantos conhecimentos sobre a raça, deverá contactar a associação e/ou os criadores mais antigos da raça. No seu entender, o que é que faz alguém decidir ser criador desta raça? Quando um agricultor decide ser criador da raça Merina Precoce é porque conhece as suas qualidades, não só de conformação e alto rendimento mas também pela grande adaptabilidade desta raça ao ecossistema envolvente, em que se encaixa perfeitamente no sistema de produção extensivo. Também importa referir que, sendo sempre uma raça melhoradora, mantém as características reprodutivas do tronco Merino, como o ciclo ovárico contínuo. Isto dá-lhe uma considerável vantagem em relação a outras raças melhoradoras mais sazonais. Os resultados notam-se em pouco tempo.

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GENÉTICA

FOTO 1 IMAGEM DE UMA MERINO PERCOCE NO CONCURSO AGRÍCOLA EM PARIS (1929)

Só para se ter uma ideia, de 1959 (ano do arranque oficial do Livro Genealógico Português da raça Merina Precoce) até 1963, aderiram 53 criadores, sendo a grande maioria do Alentejo.

Os primeiros animais da raça foram introduzidos no país ainda na década de 30. Em que diferem os animais que temos atualmente dos que vieram de França nessa altura? A diferença entre os animais atuais da raça e os que vieram de França nessa altura (Foto 1) é, sem dúvida, a orientação da seleção efetuada pelos criadores portugueses ao longo dos anos. Procurou-se eliminar alguns defeitos, como pregas no pescoço, sem contudo perder a conformação e as formas tradicionais da raça Merina Precoce. Se, durante muitos anos, os criadores portugueses puderam ir buscar a França exemplares ao gosto de cada um, porque aí havia criadores de referência mundial, como Leveque, Japiot, Sordel, Payen, entre outros, cada qual com as suas caraterísticas, nos anos 80 do século passado todos esses criadores desapareceram, por motivos vários, o Livro fechou em França e a raça perdeu toda a sua importância e praticamente desapareceu. A partir daí, os criadores portugueses tiveram que “jogar” com o que tinham e fazer uma seleção

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muito rigorosa dos seus animais, indo nos últimos anos, pontualmente, refrescar o sangue com animais vindos de Espanha. De que forma se relaciona a Associação com o meio académico? Neste momento temos um protocolo de cooperação com o Instituto Politécnico de Castelo Branco – Escola Superior Agrária. Procuramos estudar a qualidade da lã da raça Merina Precoce, como lã fina de excelente qualidade, que é da melhor do País, segundo alguns especialistas estrangeiros e dos poucos técnicos que atualmente conhecem de lãs em Portugal. Mas também temos contactos com outras escolas agrárias e profissionais (já tivemos estudantes a estagiar na associação) e estamos sempre ao dispor para colaborar. E com as associações de criadores de outros países? Têm os mesmos objetivos? Temos uma excelente relação com a AECOP (Asociación Española de Criadores de Ovinos Precoces), com a qual temos uma relação de grande amizade que já vem de várias gerações. Depois de muitos anos sem acontecer, reativámos o Concurso Ibérico da raça Merina Precoce

em 2002, que é realizado de dois em anos e, alternadamente nos dois países ibéricos. O último que realizámos foi em 2017. Os objetivos das associações são os mesmos, pois os problemas são os mesmos sofridos por esta raça, com o decréscimo de efetivos puros inscritos, quer em Portugal, quer em Espanha, por isso temos trabalhado em conjunto para reverter essa situação. Com o país de origem da raça, França, temos tido alguns contactos (Institut de l’Elevage) bem como com alguns Criadores da Raça. Este ano, no Concurso Nacional, na Expomor 2019, em Montemor-o-Novo, contámos com a presença de um criador francês da Raça Merina Precoce, como parte do júri: M. Yves-Pierre Malbec, da zona de Toulouse, que faz um trabalho interessante com a lã dos seus animais (mantas artesanais e até tem a sua marca própria “le Mérinos du Causse”). E também de um criador espanhol, D. Pedro Javier Perez, de Córdova, um apaixonado pelo Merino Precoce. Para presidente do júri, convidámos o Dr. José Reis, ex-secretário técnico do Livro, sobejamente conhecido no meio da pecuária nacional e um dos últimos veterinários zootecnistas do nosso país. No Concurso Nacional deste ano, tivemos 9 criadores a concurso, num total de 69 animais, divididos em 5 secções, uma das melhores representações dos últimos anos, o que revela um empenho de todos para que consigamos atingir os nossos objetivos, a curto e a longo prazo.


Raça Merina Precoce

Qual o papel da associação na promoção dos produtos de ovino (carne e lã)? O papel da associação tem sido o de promover e valorizar, dentro das possibilidades, a raça Merina Precoce. Em relação à lã, pelo segundo ano, fizemos a concentração de toda a lã dos animais puros inscritos dos nossos associados, tendo em conta que conseguimos negociar e contratar preços acima do valor de mercado. Em relação à carne, a raça não tem uma marca protegida por legislação comunitária, mas está contemplada, noutras marcas, através do cruzamento industrial com as raças ovinas autóctones do Alentejo. De salientar que a Associação participa anualmente, com animais dos seus associados, nas principais feiras agropecuárias do sul do país, quer em exposição pecuária, quer em concurso pecuário.

FOTO 2 JÚRI DO XXXVII CONCURSO MORFOLÓGICO NACIONAL DA RAÇA MERINA PRECOCE, NA EXPOMOR 2019

CARACTERÍSTICAS DA RAÇA MERINA PRECOCE

TABELA 3 CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS

Os exemplares da raça Merina Precoce são animais corpulentos, robustos e com boa aptidão para a produção de carne e lã, com boa rusticidade e perfeitamente adaptados, o que justifica a sua presença no nosso país há mais de 50 anos. Tem boa aptidão para a produção de carne, com carcaças bem conformadas e de muito boa qualidade, com um rendimento médio de 54% em borregos e de 51% na idade média de 3,5 meses, com peso vivo médio de 30 Kg (identificação Baron). Apresenta bons resultados quando utilizada em cruzamentos. É na verdade um melhorador, com efeitos muito bons de heterose. A sua utilização conduz, no abate das borregadas, ao aparecimento de carcaças de boa conformação e de maior peso, com 12 a 15 Kg ± aos 100 dias de abate. Como produtores de Lã, produzem velos de cor branca, finos (18 – 23 micrones), compridos (8 – 10 cm) e com pesos médios que oscilam de 3,5 e 6 kg respectivamente, para fêmeas e machos adultos.

Índice de Fecundidade

96 a 98%

Índice de Fertilidade

93 a 95%

Índice de Prolificidade

103 a 150%

TABELA 1 CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS (ATUAIS) PESO (KG)

MACHOS

FÊMEAS

5a6

4a5

Peso aos 6 meses

48 a 50

30 a 40

Peso em adulto

80 a 100

60 a 75

Peso ao Nascimento

TABELA 2 RAÇA MERINA PRECOCE - QUADRO DE EVOLUÇÃO DO PESO VIVO E DO PESO DO VELO PESO DO VELO (Kg) SEXO E IDADE

PESO DO VELO (Kg)

1940

1985

1940

1985

Carneiros

65

92

3

6

Malatos (18 meses)

45

75

2,5

5,8

Borregos (6 meses)

22

39

1,0

2

Ovelhas

39,5

63,5

2,5

4,2

Malatas (18 meses)

34

55

2,6

4,148

Borregas (6 meses)

21

35

0,9

1,8

PROGRESSO DA RAÇA OBJETIVOS A ATINGIR Aumento da precocidade Melhoria da conformação por aumento das massas musculares do dorso, rim, garupa e coxa e diminuição do vazio subesternal; Aumento da capacidade leiteira das mães; Aumento da prolificidade; Aumento do comprimento da fibra lanar; Redução da variação da espessura da lã no sentido do merino fino; Eliminação total das pregas.

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NOTÍCIAS

Good Farm Animal Welfare Awards SETOR AGROALIMENTAR PREMIADO PELO TRABALHO EM BEM-ESTAR ANIMAL

O

bem-estar dos animais de produção está a ganhar momentum a nível global na indústria agroalimentar. A Compassion in World Farming, ONG de bem-estar de animais de produção, fez questão de destacar isto na sua cerimónia de prémios, Good Farm Animal Welfare Awards, no passado dia 21 de junho em Bruxelas. A veterinária, apresentadora e autora Dra. Emma Milne, foi a apresentadora da cerimónia que premiou empresas do setor que se comprometeram a melhorar a vida dos animais na sua cadeia de fornecimento. A Dra Emma Milne comentou: “ Estou extremamente grata de ter sido convidada para apresentar a cerimónia de prémios deste ano. Devemos sempre ter em conta que quando consumimos produtos de origem animal devemos sempre tentar melhorar o bem-estar dos animais que utilizamos para os produzir, não só durante a sua vida, mas também no seu abate. Estes prémios reconhecem quem leva este assunto a sério e para a frente”. Este ano foram atribuídos um total de 50 prémios que celebraram as empresas líderes de mercado na área da produção alimentar pelas suas práticas e políticas de bem-estar animal, que poderão beneficiar até 39 milhões de animais, todos os anos. Este ano foi lançado um novo prémio, “Good Calf Award” que foi atribuido ao Tesco UK, à Buitelaar UK e à Veau Plaisirs. Este prémio tem como objetivo premiar produtores de carne que engordam vitelos de explorações leiteiras em sistemas de elevado nível de bem-estar animal. O Tesco é o maior

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supermercado britânico e foi premiado devido à implementação de alojamento de vitelos em pares ou grupos desde o seu nascimento, em toda a sua cadeia de fornecimento de leite e queijo da marca Tesco (cerca de 700 explorações leiteiras). Os vitelos utlizados para produzir vitela e vitelão são também alojados em sistemas de bem-estar animal mais elevado, tornando o Tesco um líder no mercado britânico, no que toca ao bem-estar animal neste setor. O produtor de carne Buitelaar Group (UK) foi outro dos vencedores do Good Calf Award, pelo seu excelente trabalho a desenvolver uma cadeia de fornecimento com sistemas de produção com um elevado nível de bem-estar animal. A companhia criou uma cadeia de fornecimento integrada que engorda os vitelos e vitelas que não serão utlilizados nas explorações leiteiras onde nasceram. A Buitelaar também estabeleceu uma cadeia de fornecimento que permite utilizar os vitelos vindos de explorações localizadas em zonas não indemnes de tuberculose. Tal como a Terra Nostra em 2016, a Minibel em França recebeu a Good

Dairy Commendation por se ter comprometido a providenciar acesso ao pasto a todas as vacas que fornecem leite para os seus queijos. A Fanprix também recebeu o mesmo prémio. Foram também atribuídos prémios noutros setores de produção como ovos, frangos, perus e coelhos, bem como um prémio de sustentabilidade. Entre os premiados estiveram empresas como o Carrefour (França), Aldi (Itália), Avril (França), grupo Compass (Europa), Co-Op (Suécia), EDEKA Südwest (Alemanha) e Woolwotrth (Austrália). Também este ano, o prémio bianual para o melhor supermercado e melhor campanha publicitária efetuada por um supermercado foram recebidos pelo Waitrose & Partners, pelo trabalho em todas as espécies de animais de produção na sua cadeia de fornecimento, mas também pelo brilhante trabalho em comunicar sobre isso. Tracey Jones, diretora da equipa de parcerias agroalimentares da Compassion disse: ”Existem muitos stakeholders preocupados e envolvidos em melhorar o bem-estar dos animais de produção, mas é a indústria agroalimentar que torna este movimento uma realidade. Os nossos prémios são uma ótima forma de reconhecer isso e felicitamos todos os vencedores deste ano pelo seu impacto na vida dos animais de produção. Esperamos que outros sigam os seus exemplos e contribuam para este movimento pelo bem-estar dos animais, pela nossa saúde e pela saúde do planeta”.


Após muitos anos de experiência no desenvolvimento de pastagens e forragens, construímos um portfólio exclusivo de gramíneas festulolium. Mas não estagnámos nessa categoria. Estamos constantemente a desenvolver gramíneas PLUS novas e aprimoradas, com potencial para melhorar o rendimento, a qualidade e a persistência numa ampla variedade de climas.

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GENÉTICA

PROCROSS SUMMIT 2019

Foi no início de julho que a revista Ruminantes esteve em Tilburgh, no sul da Holanda, a convite do ProCross Summit 2019. O evento, que durou 3 dias, incluiu a visita a explorações de referência e várias palestras em torno da rentabilidade do programa ProCross. TEXTO E FOTOS RUMINANTES

RENTABILIDADE PROCROSS: APRESENTAÇÃO DE UM ESTUDO

U LES HANSEN INVESTIGADOR NA UNIVERSIDADE DO MINNESOTA

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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

m grupo de investigadores da Universidade do Minesota, liderado por Les Hansen, Amy Hazel e Bradley Heins, realizou um estudo que teve a duração de dez anos, em 7 explorações comerciais de grandes dimensões na região. Nesse estudo compararam a performance dos animais ProCross (Viking Red, Montbeliarde e Holstein) com a dos da raça Holstein Frisia. Os resultados, apresentados no ProCross Summit 2019 pelo Professor Les Hansen, permitem concluir que o programa ProCross traz vantagens aos produtores: os animais

resultantes do cruzamento obtiveram os melhores resultados no que respeita à rentabilidade diária e à rentabilidade vitalícia, em particular os animais fruto do cruzamento de duas raças. A rentabilidade do ProCross neste estudo é avaliada como o somatório dos vários fatores que englobam não só a produção e a qualidade do leite, mas também a fertilidade, os custos com saúde e com a alimentação, entre outros (Figura 1). Alguns destes fatores diferem significativamente entre as vacas ProCross e as Holstein contribuindo para o sucesso dos cruzamentos.


ProCross Summit 2019

FIGURA 1 FORMA DE AVALIAÇÃO DA RENTABILIDADE VITALÍCIA

PRODUÇÃO (LEITE, GORDURA, PROTEÍNA, OUTROS SÓLIDOS, CÉL.) VALOR VITELOS VALOR VACA REFUGO/CUSTO PERDA POR MORTE

-

• GASTOS COM ALIMENTAÇÃO • CUSTOS DE REPOSIÇÃO • CUSTOS FIXOS • CUSTOS COM TRATAMENTOS • CUSTOS DE MANUTENÇÃO (SINCRONIZAÇÃO, INSEMINAÇÃO, PALPAÇÃO, PODÓLOGO)

=

RENTABILIDADE VITALÍCIA

TABELA 1 PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS ANIMAIS PROCROSS E HOLSTEIN-FRÍSIA DIFERENÇAS ENTRE PROCROSS E HOLSTEIN FRÍSIA

2 RAÇAS

Prod. 305-dias gordura + proteína

+2

Gordura + proteína diárias (%)

+1

Mortalidade neonatal (0-48h) (%)

-2,5

Êxito 1ª IA (%)

+7,3

Dias em aberto

-12,0

Custos com tratamentos de saúde (%)

-23

Mortalidade das vacas (%)

-4

Dias produtivos no estábulo

+158

Rentabilidade diária (%)

+13

+ + + + + + + + +

3 RAÇAS -3 -1 -1,7 +8,7 -16,5 -17 -4.2 +147 +9

+ + + + + + +

FOTO VIKING GENETICS

As três raças do cruzamento contribuem para o sucesso, como afirma Les Hansen: “É preciso ter em mente que o ProCross é um pacote. Rodamos as três raças e cada uma delas oferece tudo o que é necessário (...) são três raças que se complementam perfeitamente com o que cada uma delas traz para o pacote”. Exemplo disso são as características morfológicas. As Holstein tendem a ser vacas maiores, mais angulosas e com maior profundidade, o que resulta em maiores necessidades energéticas e também numa maior probabilidade de sofrerem deslocamentos de abomaso. Também a conformação do úbere dos animais ProCross confere vantagens no que toca à ordenha. Ao longo da sua apresentação, Les Hansen guiou-nos por uma avaliação multifatorial dos animais de ambas as raças numa espécie de “frente-afrente” dos resultados. A síntese das principais diferenças pode ser vista na Tabela 1.

FOTO DE GRUPO AS PESSOAS QUE ASSISTIRAM AO PROCROSS SUMMIT 2019

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GENÉTICA

ENTREVISTA A BEN ANDERSON

"Adoro trabalhar com vacas e acho que [a exploração] é um ótimo local para criar uma família."

BEN ANDERSEN, PRODUTOR DE LEITE SEAGULL BAY DAIRY E ANDERSEN DAIRY, EUA

B

en Anderson é produtor de leite no estado norte americano de Idaho, e pai de nove filhos. Após ter concluído a sua formação académica em ciência animal e gestão dedica-se, desde 2002, à gestão de duas explorações que eram da sua família e é um caso de sucesso na conversão ao programa ProCross. Foi acerca desse processo que falou na entrevista que deu à Ruminantes. Falounos também sobre os problemas que encontrou no tempo em que a exploração utilizava exclusivamente vacas Holstein puras. Em 2003, introduziu genética Jersey na sua exploração, mas foi com a adesão ao programa ProCross que os resultados efetivamente melhoraram: alcançou-se uma produção semelhante de sólidos do leite enquanto melhorou a eficiência reprodutiva, reduziu-se a mortalidade e a mortalidade neonatal e a necessidade de reposição (Tabela 2). Ben Anderson contou que acabou por abandonar os cruzamentos com Jersey pela variação de tamanhos dos animais, pelos valores elevados de células somáticas, pelo número de mastites e pelo baixo valor dos vitelos machos ao abate. Nessa altura, percebeu que as outras raças “tinham mais a oferecer”. Todos estes fatores que, além da genética se deveram também a melhorias no maneio, contribuíram positivamente para a rentabilidade do negócio e para uma melhoria na sua qualidade de vida, como nos explicou na entrevista que se segue.

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Porque decidiu ser produtor de leite? Vivi grande parte da minha vida na exploração de leite da minha família. Adoro trabalhar com vacas e acho que é um ótimo local para criar uma família. Fez alguma formação na área? Sim, tenho formação em ciência animal e em gestão. Como descreve a sua exploração? É uma sociedade com os meus pais e o meu irmão. No total, temos 30 empregados entre duas explorações. A Anderson Dairy está em Declo, no Idaho, e tem 2000 vacas em ordenha e 1400 novilhas com mais de 7 meses. A Seagull Bay Dairy está em American Falls, também no Idaho, tem 750 vacas em ordenha e faz a recria de vitelas desde o nascimento até aos 7 meses. Temos uma sala de ordenha paralela numa exploração e uma rotativa na outra. Os animais adaptam-se bem a ambas. A produção combinada das duas explorações é de 40kg de leite/vaca/ dia, em média, corrigida pela energia (ECM) com contagem de células somáticas de 150.

Qual é o traço de personalidade que faz de si um melhor produtor? Tenho uma verdadeira paixão por tratar das vacas. Quais são os seu maiores desafios enquanto produtor? A legislação e os recursos humanos. Porque decidiu começar a fazer cruzamentos? Não estava satisfeito com os resultados reprodutivos e com os problemas de saúde das nossas Holstein. Começou com Jersey. Porque mudou para ProCross? O que me levou a mudar foi a saúde do úbere e também o valor dos vitelos ao abate. Começámos em 2005 com Viking Red e em 2006 com Montbeliarde. Visitámos explorações na Califórnia que já utilizavam ProCross e gostámos do que vimos. Quais são as características deste programa de cruzamento de raças? São animais produtivos como as Holstein, mas com melhores resultados reprodutivos e de saúde. Quando introduzimos o ProCross, os nados mortos na exploração desceram de 10% para 5%.

TABELA 2 RESULTADOS DE AMBAS AS EXPLORAÇÕES QUE BEN ANDERSEN GERE EM 2002, 2016 E 2019 20021

2016

2019

Nº de vacas em ordenha

500

1750

2000

Mortalidade das vacas (%)

10

5,50

3,70

Mortalidade neonatal entre 0 e 48 h (%)

10

4,50

3,60

3,50

0

0

40

35

28

12-16

23-27

36-40

Deslocamentos do abomaso (%) Taxa de reposição (%) Taxa de gravidez - 21 dias (%)

RAÇAS: 2019 - ProCross • 2016 - ProCross • 2002 – Holstein

1


PROGRAMA DE CRUZAMENTOS DE RAÇAS CIENTIFICAMENTE JÁ PROVADO

+33%

LUCRO DE VIDA PRODUTIVA*

O estudo da Universidade do Minnesota ( USA) liderado pelo Prof.Les Hansen já demonstrou que as vacas ProCROSS são mais rentáveis que as puras Holstein. Elas estão preparadas para converter os Alimentos mais eficientemente (+8%), necessitam de menos gastos com a saúde (-26%). Com as vacas ProCROSS mais férteis, com uma vida produtiva mais longa, mais saudáveis e com valor de abate mais elevado , os rebanhos de vacas ProCROSS conseguem atingir até +33% de lucro na vida dos animais comparado com as puras Holstein.

-26% +8% +9%

DE CUSTOS DA SAÚDE* DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR*

DE LUCRO DIÁRIO*

*PARA MAIS INFORMAÇÃO https://www.ansci.umn.edu/sites/ansci.umn.edu/files/ procross_10-year_study_results_kg_new.pdf

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GENÉTICA

E nos vitelos, nota diferenças? Comparativamente com os Holstein, os vitelos ProCross são mais rápidos a pôr-se de pé e a alimentar-se assim que nascem. Que percentagem da vossa exploração tem o vigor hibrido? Cerca de 80% da exploração é resultado de cruzamento e 20% é Holstein. Por enquanto acho que iremos manter estes números. Mantém paralelamente um negócio de genética pura Holstein. Porquê? É um negócio lucrativo que nos permite diversificar. Além disso, os animais de raça pura são importantes para o sucesso de um programa de cruzamentos. Somos sócios na Winstar Genetics. Mensalmente são implantados 450 embriões na Cannon Dairy (outro parceiro) e na Andersen Dairy. Os melhores exemplares são comprados pela Winstar Genetics a um preço pré-determinado. Os machos são vendidos para empresas de IA e as fêmeas são usadas como dadoras.

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A PEGADA DE CARBONO PROCROSS VS HOLSTEIN FRISIA

G

iovanni Bittante, professor na Universidade de Padova, trouxe à discussão o impacto ambiental da produção animal com base na avaliação comparativa, que tem levado a cabo, da pegada de carbono de animais ProCross e Holstein. Na apresentação que fez durante o ProCross Summit GIOVANNI BITTANTE PROFESSOR 2019, Bittante disse que é expectável que num futuro NA UNIVERSIDADE próximo nos deparemos com menos terras disponíveis. DE PADOVA A contribuir para este cenário entram, de acordo com o especialista, a competição entre a produção alimentar e a produção de biomassa para energia, e ainda a subida do nível do mar. Para além disto, referiu "os sistemas leiteiros irão sofrer com menor energia e água disponíveis, com episódios de calor mais frequentes e de maior intensidade e com uma maior flutuação dos preços dos alimentos." De acordo com Bittante, “temo-nos direcionado para sistemas de produção de precisão com elevados níveis de genética e de reprodução, que necessitam de elevados níveis de energia. No futuro, serão necessárias “explorações e animais mais resistentes e resilientes. Os animais têm sido indicados como fonte de poluição, mas são também vitimas desta poluição. São vários os fatores que contribuem para um impacto negativo sobre o meio ambiente e não se limitam às emissões de metano." Bittante quis “desmistificar” alguns assuntos, falando da curta duração que o metano (geralmente apontado como vilão) tem na atmosfera, comparativamente com o CO2, afirmando que “embora seja um problema, não é o verdadeiro problema para o futuro da humanidade”. Referiu a este propósito que as emissões de metano não se devem exclusivamente à produção animal e que a forma como se produz pode fazer variar o impacto ambiental da produção.


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GENÉTICA

ENTREVISTA A JOAQUIM JOSÉ NETO DE CARVALHO

ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES LIMOUSINE COMEMORA 30 ANOS TEXTO E FOTOS RUMINANTES

Joaquim José Neto de Carvalho é presidente da Associação de Criadores Limousine desde março de 2019, tendo feito parte dos corpos sociais da associação em 2018. É também criador de Limousine em Oliveira do Hospital, com um efetivo de 12 fémeas em linha pura, ativas. Tem mestrado em Zootecnia e exerce funções como Técnico Superior na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

F

oi assim que Joaquim José Neto de Carvalho definiu aquilo que é hoje a Associação Criadores Limousine (ACL) e o que faz pelos seus associados: "A ACL é uma associação constituída por 245 sócios que se distribuem de norte a sul de Portugal Continental e também em todas as ilhas do Arquipélago dos Açores e que assume a gestão do Livro Genealógico da raça Limousine, bem como a divulgação da raça em Portugal, através da certificação de animais puros,

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certames agropecuários, entre outras atividades. Num trabalho de grande mérito reconhecido, a ACL tem vindo a capacitar os criadores com novas competências, tecnologias e aptidões que possibilitam a manutenção da elevada reputação da raça Limousine. Neste âmbito destaca-se o imenso trabalho da ACL na formação dos criadores na preparação de bovinos em termos estéticos, na docilidade, melhoria na nutrição e reprodução, para melhor poderem promover os produtos da sua atividade económica, num contexto económico em que a promoção e o marketing assumem extrema importância. De realçar que todo o mérito deste trabalho é atribuído aos criadores sócios da ACL, que têm como objetivo e ambição a melhoria e a profissionalização deste sector, com uma raça excecional como a Limousine." Quais os objetivos da ACL para os próximos 3-5 anos? Como sempre, comprometemo-nos a dar continuidade ao trabalho das direções anteriores e a promover animais com garantia de melhoramento genético, nos concursos e leilões da raça, bem como dos criadores sócios da ACL. Será iniciada em breve a construção da nova sede da ACL, em Odemira, e iremos procurar formas de financiamento para a construção de um centro de testagem de reprodutores ou tentar parcerias para o seu desenvolvimento. A procura de animais inscritos em livro genealógicos tem trazido vantagens inegáveis aos compradores, sendo uma evidência

em leilões em que os animais da raça Limousine e seus cruzamentos atingem preços mais elevados. Pretendemos incentivar a implementação da rotulagem da carne Limousine Portugal, com designação específica associada à raça, proveniente de animais Limousine nacionais puros ou em cruzamento industrial, devidamente validados pela ACL. No que respeita à inscrição no livro genealógico da raça, respeitamos a adaptação às regras do regulamento europeu, colaborando com a EUROLIM, e validadas pela autoridade nacional competente, a DGAV. Continuaremos também a incentivar a preferência por animais melhoradores, com as características inatas da raça como a facilidade de parto, rendimento de carcaça e docilidade, garantindo aos compradores e consumidores que os sócios da ACL respeitam as regras de bem-estar animal e os seus animais são dos mais eficientes ao nível alimentar. A Limousine é uma das raças que apresenta melhores índices de conversão, em relação ao alimento consumido para a carne produzida. Falando em termos genéticos, qual foi a grande evolução da raça nos últimos 10 anos? A diminuição da consanguinidade, através do aconselhamento na escolha dos animais a utilizar nas vacadas, em que a ACL se tem empenhado, foi um dos aspetos. Aumentou também a disponibilidade de animais com facilidade de parto confirmada, capacidade de crescimento,


Associação de Criadores Limousine

desenvolvimento muscular e esquelético, traduzindo-se em maior eficiência e rentabilidade. A utilização de reprodutores puros tem permitido obter performances superiores, tanto nos crescimentos obtidos até ao desmame e engorda,

como nos pesos e rendimentos de carcaça obtidos. Um animal puro, de raça melhorada, consome aproximadamente a mesma quantidade de alimento que um animal cruzado, manifestando contudo índices de crescimento muito mais elevados e consequentemente

um maior rendimento de carcaça. Esta diferença encontra-se associada à riqueza e pureza genética dos progenitores. Creio que a evolução do desempenho da bovinicultura nacional, através da promoção de genéticas melhoradas de origem nacional, foi visível na produção de melhores animais, quer pela melhoria da linha maternal, quer do património genético dos machos reprodutores, traduzindo-se em maior ganho médio diário a partir da mesma base de alimentação, resultando num incremento da rentabilidade das explorações. Tudo isto traduz-se num melhor desempenho nacional na produção de carne, bem como no contributo para exportações de animais e consequentes repercussões positivas na balança comercial do nosso país.

12 BOAS RAZÕES PARA ESCOLHER

FACILIDADE DE PARTOS

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PARCEIRO IDEAL EM CRUZAMENTOS CARCAÇAS SEM RIVAL

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PRECOCIDADE SEXUAL

QUALIDADES MATERNAIS E LEITEIRAS

TRANSMISSÃO DE GENÉTICA MELHORADORA

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GENÉTICA

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL FERRAMENTA INDISPENSÁVEL? MELHORAMENTO GENÉTICO NUMA VACADA DE RAÇA LIMOUSINE

O JOSÉ MARIA RASQUILHA MÉDICO VETERINÁRIO J.RASQUILHA.VET@GMAIL.COM

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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

melhoramento genético de bovinos de carne existe em Portugal e está a ser cada vez mais explorado, uma vez que os produtores pretendem obter animais com maior qualidade e as restrições de mercado são cada vez mais exigentes. No entanto, este melhoramento, comparado com o dos bovinos de leite, está num nível inferior, pois a indústria do leite usa há mais tempo ferramentas indispensáveis como é o caso da inseminação artificial. Este melhoramento tem que começar com raças puras, havendo depois a hipótese de fazer cruzamentos com outras raças puras e obter produtos F1. Conjugando as características de interesse de ambas as raças e tirando partido de patrimónios genéticos diferentes, é possível alcançarse o vigor híbrido, isto é, manifestaremse as melhores características dos

progenitores, resultando em animais com maior qualidade. Não podem ser menosprezados outros cruzamentos (F2, F3 e F4) tendo em conta a região, as condições de terreno, o clima e a disponibilidade alimentar existentes. Contudo, para obter produtos com qualidade é fundamental a utilização de reprodutores puros. Caso contrário, dilui-se muito a genética e o resultado fica aquém do desejado, acabando por dar origem a animais heterogéneos e indefinidos. A Casa Agrícola Monte do Tojal (CAMTO) é uma empresa agropecuária que se dedica maioritariamente à produção de gado bovino, com objetivos de cruzamento industrial e de seleção da raça Limousine para venda de reprodutores.


Inseminação artificial

TABELA 1 RESULTADOS OBTIDOS COM TOUROS DE MONTA NATURAL Bezerro

Sexo

Nascimento

Peso ao nascimento (kg)

Peso aos 4 meses (kg)

GMD (Kg/dia)

A

M

2018-03-01

47,0

109,6

0,48

B

F

2018-01-21

44,0

144,1

0,88

C

M

2018-04-17

50,0

110,9

0,56

D

M

2018-06-10

49,0

148,8

1,01

E

F

2018-02-17

48,0

188,1

1,10

F

M

2018-06-13

48,0

137,6

0,79

G

M

2018-02-17

50,0

187,6

1,13

H

F

2018-02-25

48,0

158,0

0,88

I

M

2018-01-28

49,0

161,9

0,90

J

M

2018-05-27

48,0

127,4

0,63

L

M

2018-06-12

50,0

170,2

1,06

M

M

2018-06-14

49,0

141,1

0,84

N

M

2018-02-25

50,0

174,0

1,10

Na vertente de seleção da raça, existia um efetivo de 100 vacas reprodutoras, as quais se encontravam num sistema de monta natural, com dois touros de classificação ouro (segundo os critérios de classificação da ACL- Associação Portuguesa de Criadores de Bovinos da Raça Limousine) provenientes de outras explorações, com genética e morfologia diferentes. A Tabela 1 representa os resultados referentes ao ano de 2018, com as características acima mencionadas.

O INÍCIO DA MUDANÇA Há cerca de um ano, com foco na melhoria da raça Limousine, o produtor (Engº Pedro d’Orey Manoel) decidiu mudar de estratégia com a intenção de fazer uma seleção e um melhoramento genético de forma a produzir Limousines de topo: elevada rusticidade, facilidade de partos, boas qualidades maternais e leiteiras, rapidez de crescimento e rendimento de carcaça. Assim, selecionou as 40 melhores vacas e separou-as das restantes 60, com o

objetivo de, num curto espaço de tempo, obter produtos com qualidade, que dignifiquem esta raça, que tanto representa no património da bovinicultura nacional e mundial. O primeiro passo desta transição focouse em avaliar ecograficamente as 40 vacas selecionadas, de forma a ver qual o seu estado reprodutivo. Deste grupo, 9 vacas estavam gestantes e 31 estavam a ciclar, das quais 4 eram novilhas de primeira barriga, com o aparelho reprodutivo íntegro e com boa condição corporal (índice de condição corporal – ICC - 4 em 5). Após estes resultados, tomou-se a decisão de iniciar um protocolo de sincronização de cios (Ovsynch) seguido de inseminação artificial em 29 vacas. Duas delas tinham parido há 1 mês e não foram inseminadas. Este protocolo consiste na combinação de três administrações hormonais em tempos determinados e com três objetivos pré-definidos: Administração de GnRH e colocação de dispositivo intravaginal à base de progesterona natural, absorvida pela mucosa. Este passo visa conseguir o aparecimento de uma nova onda folicular 1,5 a 2 dias depois da administração e a ovulação do

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GENÉTICA

TABELA 2 RESULTADOS OBTIDOS APÓS INSEMINAÇÃO

Bezerro

Sexo

Pai

Nascimento

Peso ao nascimento (kg)

Peso aos 3 meses (kg)

1

M

Dieunordic

01-03-2019

50,0

160

1,14

2

M

Abot

05-03-2019

51,0

159

1,16

3

M

Chaumeil

05-03-2019

51,0

157

1,14

4

F

Grenache

06-03-2019

47,0

146

1,08

5

M

Abot

07-03-2019

51,0

162

1,22

6

F

Abot

07-03-2019

48,0

163

1,26

7

M

Abot

09-03-2019

51,0

162

1,25

8

M

Chaumeil

10-03-2019

49,0

148

1,13

9

M

Excell

10-03-2019

51,0

192

1,60

10

M

Bavardage

10-03-2019

49,0

138

1,01

11

M

Excell

23-03-2019

50,0

167

1,56

12

M

Excell

23-03-2019

51,0

153

1,36

13

F

Dieunordic

13-04-2019

49,0

104

1,02

14

F

Dieunordic

24-04-2019

47,0

103

1,30

15

F

Grenache

24-04-2019

41,0

80

0,91

16

M

Abot

01-05-2019

49,0

77

0,78

17

F

Dieunordic

01-05-2019

48,0

96

1,33

18

F

Dieunordic

25-04-2019

49,0

99

1,19

folículo dominante. No caso desta primeira administração coincidir com os primeiros três dias de uma onda folicular espontânea, a ovulação não ocorre e a onda folicular segue o seu desenvolvimento normal com seleção de um folículo dominante nos 7 dias seguintes; Remoção do dispositivo intravaginal e administração de PGF2α, 7 dias depois. Tem como objetivo a indução da luteólise, que faz com que haja o crescimento e a maturação do folículo dominante; Realização da inseminação artificial, 52 horas após o passo anterior, seguida de nova administração de GnRH para se cumprir o terceiro objetivo: a indução de um pico de hormona luteinizante (LH)

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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

Peso aos 2 meses (kg)

GMD (Kg/dia)

que resulta na ovulação do folículo dominante (pré-ovulatório). Em relação ao sémen foram escolhidos 7 touros diferentes (Grenache, Excell, Dieunordic, Chaumeil, Abot, Bavardage e Branceille) todos eles testados em França e recomendados como reprodutores, tendo-lhe sido atribuída a classificação de ouro segundo o regulamento da ACL. Nas 4 novilhas de primeira barriga foi utilizado um sémen (Grenache) que transmite facilidade de partos. Por sua vez, nas vacas tentou-se fazer o emparelhamento ideal com os restantes seméns, na tentativa de obter um bezerro com as características desejadas.

RESULTADOS Um mês após a inseminação realizaramse diagnósticos de gestação para observar os resultados. Das 29 vacas inseminadas 15 estavam gestantes (51,7%). Nesse dia, as vacas que não estavam gestantes voltaram a fazer o protocolo utilizado anteriormente e, passado um mês, um novo controlo ecográfico. Deste último grupo, 6 em 14 (42,8%) estavam gestantes, ficando no final do protocolo 72,4% das vacas gestantes. Os resultados do primeiro lote estão de acordo com a taxa de sucesso da inseminação artificial baseada na bibliografia existente, que corresponde a 50%. No entanto, o resultado do segundo lote foi um pouco abaixo da expectativa. A razão aparente para este resultado menos positivo foi a altura do ano em que foram inseminadas julho 2018), onde as temperaturas no Alentejo rondavam os 32ºC. Das 21 gestações existentes acabaram por sobreviver 18 bezerros, devido a 2 absorções embrionárias e um morto ao nascimento. Todas as vacas que não ficaram gestantes e as duas que absorveram o embrião foram para o touro de monta natural, vindo a parir 3 meses depois das outras, havendo 2 lotes de bezerros diferentes nascidos no mesmo ano. A Tabela 2 ilustra o número de filhos por touro, fruto de inseminação; o sexo; o respetivo peso ao nascimento, aos 3 meses de um lote e aos 2 meses de outro; bem como os ganhos médios diários (GMD).


Inseminação artificial

GRÁFICO 1 PESO MÉDIO AO NASCIMENTO DE AMBOS OS GRUPOS 49,2 49,0 48,8 48,6 48,4 48,2 48,0

Bezerros fruto de monta natural

Bezerros fruto de inseminação

GRÁFICO 2 GANHO MÉDIO DIÁRIO (GMD) DE AMBOS OS GRUPOS 1,3 1,2 1,1 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

Bezerros fruto de monta natural

Ganho médio diário (GMD), kg/dia

Peso médio ao nascimento, kg

DISCUSSÃO

BREVES

Comparando com os dados dos anos anteriores, em que não houve inseminação, obtiveram-se os seguintes resultados: Os bezerros ao nascimento apresentaram pesos semelhantes, ainda que com uma diferença em média de 0,6 kg a mais nos bezerros fruto de inseminação (Gráfico 1); O GMD dos bezerros fruto de inseminação foi, em média, 1,37 vezes maior que o dos bezerros de monta natural, traduzindo assim um aumento a mais de 0,32 kg por dia (GMD inseminaçãoGMD monta natural) (Gráfico 2).

Bezerros fruto de inseminação

A variabilidade genética, que é um fator fundamental, aumentou consideravelmente, tendo em conta que foram utilizados 6 tipos de sémen diferentes e um touro de monta natural.

CONCLUSÃO Com este trabalho e graças à evolução da medicina veterinária e da biotecnologia reprodutiva (ecografias, sincronização de cios e inseminação artificial) foi possível, num ano: - Aumentar a variabilidade genética desta exploração; - Melhorar a qualidade dos animais; - Obter dois lotes de bezerros homogéneos;

- Diminuir o intervalo entre partos; - Guardar genética de qualidade para a exploração - ficar com as fêmeas para futuras reprodutoras e com alguns machos para as vacadas de cruzamento industrial, de forma a dar animais mais pesados e com melhor morfologia. Por fim, este melhoramento genético visando a venda de futuros reprodutores certificados está a contribuir para a melhoria da raça e para a melhoria do património bovino nacional, pois a genética será transmitida aos seus descendentes ao longo da sua vida reprodutiva.

Duração da lactação vs longevidade em cabras da raça Florida A Universidade de Córdoba em conjunto com a Universidade de Las Palas Gran Canaria e a Acriflor (associação espanhola de criadores da raça Florida), realizaram um estudo que analisa o impacto da duração da lactação sobre a longevidade, vida produtiva e produção vitalícia das cabras da raça florida. Neste estudo foram analisados os dados detidos pela associação da

raça correspondentes a 9397 cabras, 38 rebanhos e um total de 28.943 lactações. Os resultados obtidos permitiram concluir que existe uma correlação positiva forte entre variáveis relacionadas com a longevidade, vida produtiva e produtividade acumulada para leite, gordura e proteína pelo que a seleção de alguma destas variáveis tem também uma repercussão positiva nas outras duas. Foi encontrada uma grande

variabilidade o que dá aos agentes envolvidos uma ampla margem de otimização tanto da genética como da produção. Verificou-se ainda uma correlação negativa entre a percentagem de lactações curtas e todas as variáveis relacionadas com a produtividade de onde se infere que não existem inconvenientes fisiológicos associados a lactações longas.

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ALIMENTAÇÃO

DIETAS PRÉ-PARTO DCAD COMPLETAS, PARCIAIS E NÃO-DCAD

P POR RUBEN GARCIA-GONZALEZ PHD. DAIRY TECHNOLOGY MANAGER. PHIBRO ANIMAL HEALTH CORPORATION

TRADUZIDO E ADAPTADO POR ANTÓNIO PEDRO MALVA ENGº ZOOTÉCNICO DIRECTOR TÉCNICO E COMERCIAL ALL4FARM, LDA.

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or muitos anos, as expectativas de alta produção de leite, saúde animal e desempenho reprodutivo estavam em desacordo umas com as outras. Acreditava-se que não se conseguiria e não se poderia esperar atingir altos rendimentos de produção de leite sem comprometer a saúde do animal e o desempenho reprodutivo. À medida que aumentaram os conhecimentos sobre os desafios metabólicos e fisiológicos das vacas na fase de transição, juntamente com uma maior compreensão da importância da alimentação e do maneio adequados para o sucesso dessas vacas, surgiram estratégias que ajudam a atingir essas expectativas de alta produção de leite, saúde e desempenho reprodutivo. Os três são objetivos atingíveis e devem ser esperados. Um dos desafios mais significativos que impede o alcance desses objetivos é a hipocalcemia (baixas concentrações de cálcio no sangue). Como a exigência de cálcio das vacas aumenta abruptamente no parto, a vaca pode experimentar um período transitório de hipocalcemia. Embora isso seja normal e provavelmente necessário, existem estratégias disponíveis para ajudar a reduzir os impactos da hipocalcemia na saúde e na produtividade da vaca. A hipocalcemia clínica tem sido reconhecida no campo há muitos anos. Por outro lado, a hipocalcemia subclínica, observada nos primeiros dias após o parto, foi recentemente identificada como uma questão-chave que afeta 50% ou mais das vacas recém

paridas e está fortemente correlacionada com outras desordens de vacas recém paridas (por exemplo metrite, retenção de placenta e, deslocamento de abomaso, etc.) (Venjakob et al., 2017; Rodriguez et al., 2017). A alimentação com uma dieta catiãoanião (DCAD) negativa durante o período de transição, é uma estratégia comprovada para ajudar a reduzir os impactos da hipocalcemia na saúde e produtividade da vaca. Este artigo irá rever os principais efeitos da alimentação com uma dieta DCAD negativa e como esses efeitos mudam positivamente o metabolismo do cálcio na vaca leiteira em transição para atender à alta exigência de cálcio lácteo no início da lactação.

DIETAS ACIDOGÉNICAS ALTERAM O METABOLISMO DO CÁLCIO Uma dieta DCAD negativa contém uma carga maior de iões sulfato e cloreto (iões com carga negativa) em comparação com iões potássio e sódio (iões com carga positiva). Alimentar com uma dieta DCAD negativa resulta consequentemente numa maior absorção pelo sangue de iões carregados negativamente, criando uma acidose metabólica compensada, onde o pH da urina é significativamente reduzido, enquanto o pH do sangue é mantido num valor considerado seguro. Em resumo, as dietas com DCAD negativo são dietas acidogénicas. É importante notar que a acidose metabólica causada pela alimentação de uma dieta DCAD negativa não causa acidose ruminal. Quando o pH da urina é reduzido, há


Dietas pré-parto DCAC completas, parciais e não-DCAD

evidências repetidas que mostram um aumento da excreção de cálcio através da urina, aumentando o fluxo de cálcio. O fluxo de cálcio é o movimento do cálcio para dentro e para fora do sangue da vaca. O cálcio excretado na urina, quando é fornecida uma dieta acidogénica, torna-se imediatamente disponível para atender ao súbito aumento na demanda de cálcio quando a produção de colostro começa no parto, ajudando a superar o deficit de cálcio em vacas recém paridas. Baixas concentrações séricas de cálcio no parto estimulam a secreção da hormona da paratiroide (PTH), que aumenta a libertação de cálcio do osso e a ativação da vitamina D no rim (que, por sua vez, melhora a absorção de cálcio no trato digestivo). Alimentar com uma dieta DCAD negativa tende a diminuir ligeiramente o pH sanguíneo, o que tem mostrado melhorar a capacidade de resposta dos tecidos-alvo da PTH, aumentando a libertação de cálcio dos ossos e a ativação da vitamina D no rim. Esta é outra razão pela qual as dietas de DCAD negativas funcionam para suportar o nível de cálcio na altura do parto.

ser melhorados quando uma dieta pré-parto é parcialmente acidogénica em comparação com uma dieta não acidogénica. Uma dieta DCAD totalmente acidogénica mantém o pH da urina entre 5,5 e 6,0, frequentemente usando dietas com uma DCAD de -100 a -150 mEq por Kg

de MS. Estas dietas mostraram reduzir significativamente a prevalência de hipocalcemia, aumentando drasticamente o fluxo de cálcio, devido às reduções significativas do pH da urina. Uma dieta totalmente acidogénica no pré-parto fornece o máximo de benefícios no desempenho de vacas

DIETAS PARCIAIS E TOTALMENTE ACIDOGÉNICAS Uma dieta acidogénica deve reduzir o pH da urina abaixo da neutralidade, ou seja, abaixo de pH 7. Denotamos uma dieta parcialmente acidogénica quando o pH da urina cai entre 6,0 e 7,0. Normalmente, essas dietas contêm um DCAD de cerca de 0 a -100 miliequivalentes (mEq) por Kg de matéria seca (MS). Essa estratégia de alimentação é eficaz na redução da hipocalcemia clínica e pode diminuir a prevalência de hipocalcemia subclínica. Embora a resposta à PTH seja provavelmente melhorada, o fluxo de cálcio não é aumentado significativamente devido à redução relativamente pequena do pH da urina. No entanto, a ingestão das vacas recém paridas e a produção de leite podem

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ALIMENTAÇÃO

recém paridas, com maior ingestão e maior produção de leite (Tabela 1).

MELHORES DIETAS DURANTE UM DETERMINADO PERÍODO Valores baixos de K e elevados Mg são aspetos básicos, mas críticos, de uma boa dieta durante o período seco e o pré-parto. Ao implementar uma estratégia DCAD negativa na exploração, dietas parcialmente acidogénicas têm sido frequentemente a norma a adotar, e elas mostraram ser uma melhor abordagem do que as dietas padrão não-DCAD em termos de maneio nutricional de vacas. De facto, dietas parcialmente acidogénicas têm sido frequentemente a escolha prática, porque o impacto na ingestão causada pelos sais aniónicos habituais impediu a obtenção de resultados totalmente acidogénicos consistentemente. A alimentação complementar dietética de alta qualidade Animate® fornece um aprovisionamento balanceado, concentrado e palatável de aniões de cloreto e sulfato. Este aprovisionamento permite não apenas uma fácil implementação de dietas parcialmente acidogénicas, mas também a implementação efetiva de dietas totalmente acidogénicas para um melhor maneio nutricional de vacas em transição. Esta estratégia de alimentação no pré-parto permite que a vaca expresse todo o seu potencial genético para produção de leite, saúde e desempenho reprodutivo (Tabela 1).

NÍVEL DE CÁLCIO DIETÉTICO DURANTE DETERMINADO PERÍODO

2,0% de cálcio na dieta, em comparação com 1,1 ou 0,5% de cálcio na dieta (Amundson et al., 2018). Alimentar com quantidades superiores de cálcio pode aumentar a absorção passiva de cálcio no intestino, para fornecer mais cálcio nas trocas efetuadas na pool de cálcio. O melhor desempenho das vacas alimentadas com uma dieta totalmente acidogénica é obtido quando todas as necessidades nutricionais, incluindo os minerais, são tidas em conta. As nossas recomendações para as concentrações de minerais e as ingestões diárias, quando é usada uma dieta totalmente acidogénica, são apresentadas na Tabela 2. A alimentação de dietas DCAD negativas durante determinado período, como

NOTA: Para qualquer informação contacte os nossos serviços técnicos: António Pedro Malva • Email: pedro.malva@all4farm.pt • Produto comercializado em Portugal por All4farm Lda.

TABELA 1 BENEFÍCIOS DA ALIMENTAÇÃO DE UMA DIETA TOTALMENTE ACIDOGÉNICA COM ANIMATE (dados de Leno et al., 2017)1

pH da urina

Totalmente acidogénica

p1

8,22

5,96

<0,001

Cálcio urinário, g/d

0,7

8,2

<0,001

DMI, kg/d

13,6

13,2

NS

Cálcio sérico, mg/dL

2,16

2,27

0,002

DMI, kg/d

20,2

21,3

0,09

Produção de leite, kg/d

40,8

43,9

0,03

Pós-parto (primeiras 3 semanas)

1 Um grupo de tratamento intermediário (intermediário DCAD) foi omitido nesta apresentação de resultados; Valores de p correspondem ao contraste de efeitos lineares.

TABELA 2 RECOMENDAÇÕES MINERAIS DA PHIBRO ANIMAL HEALTH AO ALIMENTAR COM UMA DIETA TOTALMENTE ACIDOGÉNICA COM ANIMATE®

1

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Controlo Pré-parto (últimas 3 semanas)

A resposta a dietas totalmente acidogénicas durante determinado período pode ser melhorada pela ingestão de mais cálcio do que é habitual. Investigaçöes efetuadas recentemente mostraram maiores níveis de iões de cálcio sérico em vacas alimentadas com dietas totalmente acidogénicas com

28

parte de um programa nutricional adequado, é uma estratégia comprovada para ajudar a controlar a incidência de hipocalcemia clínica e subclínica na fase periparto. A escolha de uma fonte de aniões de qualidade é fundamental para facilitar a implementação dessa estratégia na prática. O Animate® permite não apenas uma fácil implementação de dietas parcialmente acidogénicas padrão, mas também a implementação efetiva de dietas totalmente acidogénicas para obter melhores resultados. Este último tipo de dietas pode ser obtido de forma simples e eficaz, pois o Animate® é extremamente palatável e basta ajustar a sua dose (400 a 1000g/vaca/dia), até obter o pH pretendido.

% MS

g/d1

Cálcio

≥ 1.5

≥ 180

Fósforo

≥ 0.38

≥ 45

Magnésio

0.45 – 0.50

54 – 60

Potássio

1.00 – 1.50

120 – 180

Sódio

0.10 – 0.20

12 – 24

g/d baseado numa DMI de 12 kg/d.


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ALIMENTAÇÃO

SUCESSO DA RECRIA DAS CABRITAS DO NASCIMENTO AO DESMAME A condução e o maneio das cabritas de hoje influenciam as performances técnicas e económicas das explorações de amanhã, uma vez que o custo de recria de uma cabrita tem um impacto económico muito significativo nas contas de uma exploração. Por isso, os produtores de caprinos leiteiros têm-se dedicado à procura de sistemas de produção que lhes permitam, cada vez mais, antecipar a idade ao primeiro parto. O QUE OS PRODUTORES PROCURAM

AS DIFICULDADES ENCONTRADAS

Uma cabrita com bom gabarito

A gestão da fase de lactação

Uma futura cabra produtiva

Os problemas sanitários

Uma cabra com o parto com um ano

O desmame

Um maneio alimentar económico

PEDRO CASTELO DIRETOR TÉCNICO ZOOPAN PEDRO.CASTELO@ZOOPAN.COM

Alimentação adaptada aos seus objetivos (autonomia alimentar, economia, simplificação de trabalho…)

COMO CONDUZIR AS CABRITAS DO NASCIMENTO AO DESMAME

DIOGO RIBEIRO TÉCNICO COMERCIAL ZOOPAN DIOGO.RIBEIRO@ZOOPAN.COM

No primeiro dia existem alguns pontos fundamentais a ter em consideração: Desinfeção do cordão umbilical; 100 g de colostro por kg de peso vivo, em duas refeições; Distribuição do colostro nas primeiras 6 horas de vida; 10 a 18 ºC nas maternidades. Do segundo dia ao desmame os objetivos são os seguintes: Animais com 10kg de peso vivo aos 30 dias; Desmame possível a partir dos 12 kg, normalmente realizado entre os 15 e 17 kg de peso vivo; Alimentação lactante: 1 tetina / 10 a 15 cabritos; Alimentação lactante em biberão: 1 tetina/cabrito; Alimento Starter com nível nutricional adequado e feno fibroso ou palha à discrição;

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A dificuldade de reprodução, as diferenças nos períodos de partos.

Importante a regularidade do leite em pó (160 a 200 g/litro) e temperatura fornecida; Verificar as condições sanitárias (limpar todos os dias as manjedouras, baldes, biberões); Constituir lotes de 20 cabritas para ter crescimentos homogéneos (acesso ao alimento, agua, fibra, baixa concorrência); Desmame possível quando as cabritas comem 300 g de concentrado por dia; Utilizar aditivos para prevenir coccidiose e problemas respiratórios.

MONITORIZAR O DESENVOLVIMENTO DAS CABRITAS Para uma gestão eficaz da alimentação e para facilitar o seguimento sanitário do grupo, devem conduzir-se os animais por idade e por peso. Este acompanhamento é mais simples quando os partos são concentrados em curtos períodos de tempo.


Sucesso da recria das cabritas

IDADE

OBJETIVO

PESO INDICATIVO PARA UMA CABRA DE 70 KG PESO VIVO

1 dia

Todas as possibilidades para o animal.

Parto simples = 4,5 kg Parto duplo = 4 kg Parto triplo = 3,5 kg

Do 2º dia ao desmame

Desenvolver o seu gabarito (estrutura corporal)

10 kg aos 30 dias

Desmame aos 60 dias

Evitar o stress e continuar com maneio alimentar adequado para atingir os aumentos de peso pretendidos

20 % do peso de adulta

Dos 2 aos 4 meses

Desenvolver a capacidade de ingestão

4 meses >= 24 kg

5 meses 7 meses

Criar hábitos alimentares de ruminantes

UTILIZAÇÃO DE LEITE DE SUBSTITUIÇÃO NUMA RECRIA DE CABRITAS Um dos pontos fundamentais para o correto desenvolvimento das cabritas é a fase lactante, sendo a utilização de leite de substituição uma alternativa técnica e economicamente mais eficiente. Este sistema, para além de permitir uma maior quantidade de leite de cabra disponível para venda, tem inúmeras vantagens nomeadamente: assegurar a quantidade ingerida por animal; diminuir o custo de recria por animal; grupos de animais mais homogéneos; diminuir a ocorrência de mamites traumáticas, etc. Os dados apresentados foram recolhidos numa exploração comercial de leite de cabra, com uma genética de cabras murcianas em linha pura, e conta com informação de 640 animais durante a época de parição de fevereiro. O leite em pó utilizado, com 60% de leite de origem animal, tem na sua constituição 25 % de proteína bruta, 24% de matéria gorda bruta e conta também com a incorporação de Saccharomyces Cerevisiae. Este foi distribuído segundo o programa alimentar (Tabela 1). Durante este período os animais tiveram alimento concentrado ad libitum bem como palha. Para a recolha de dados os animais foram pesados ao nascimento e ao desmame, sendo contabilizado todo o leite em pó utilizado. O peso médio ao nascimento foi de 2,3 kg, tendo um peso médio ao desmame de 9,5 kg com uma média de

50 % do peso de adulta

50 dias de idade, conseguindo um GMD de 144 g. Durante este período as cabritas tiveram um consumo de 8,3 kg de leite em pó.

CONCLUSÃO Com esta demonstração confirmamos que a utilização de um correto plano alimentar (leite e concentrado adequados) permite um ótimo desenvolvimento das cabritas nas

primeiras semanas de vida. Permitindo assim uma inseminação mais precoce (por volta dos 7/8 meses de vida) e, consequentemente, uma diminuição da idade do primeiro parto – 1 ano. Pelas razões apresentadas, a utilização de leite de substituição em cabritas é uma ação tecnicamente apreciável. Economicamente a utilização de leite em pó torna-se ainda mais interessante mediante o preço do leite de cabra.

SEMANA (APÓS COLOSTRO)

REFEIÇÕES/DIA

LITROS DE ÁGUA POR REFEIÇÃO

LEITE EM PÓ g/REFEIÇÃO

1

2

0,4

65

2

2

0,5

80

3

2

0,8

130

4

2

0,9

145

5

2

1,0

160

6

2

0,9

145

7

2

0,8

130

8

2

0,7

115

TABELA 1 PROGRAMA ALIMENTAR, DISTRIBUIÇÃO DE LEITE EM PÓ PARA CABRITAS

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ALIMENTAÇÃO

PERIPARTO EM CABRAS LEITEIRAS

A

MIGUEL PENAFORT CAMPOS ASSISTENTE TÉCNICO DE RUMINANTES MJPENAFORT@DEHEUS.COM

exploração de cabras com aptidão leiteira tem vindo a evoluir de forma exponencial, exigindo cada vez mais conhecimentos técnicos a nível nutricional e de maneio destes animais. É fundamental compreender muito bem o ciclo de produção destes animais, sendo importante salientar que existem dois períodos fundamentais – período seco e arranque de lactação. Estes períodos, que devem ser preparados com rigor para garantir um parto sem problemas e um arranque de lactação adequado que permita a manifestação de todo o potencial genético do animal.

PERÍODO SECO Período que corresponde às últimas seis semanas antes do parto. Neste período, é fundamental evitar animais demasiado gordos ou demasiado magros, uma vez que isso poderá levar ao aparecimento de um ou mais dos problemas indicados na Tabela 1. É importante que neste período a condição corporal dos animais se mantenha entre os 3 e os 3,5 (numa escala de 1 a 5). A separação dos animais em lotes, com

base no número de cabritos/gestação, condição corporal, hierarquia social e tamanho é aconselhável. As forragens utilizadas neste período devem ser de elevada qualidade e fornecidas ad libitum (ex. feno de gramíneas e/ou palha de boa qualidade) com uma ingestão de 1,5 a 2,5 kg/100 kg PV. As leguminosas, devido ao seu elevado teor em cálcio, não devem ser utilizadas neste período. O recurso a forragem verde várias vezes durante o dia irá ajudar a manter um adequado consumo de matéria seca. Recomenda-se a utilização de um concentrado específico para este período (cabras secas e pré-parto), equilibrado em vitaminas e minerais e com uma concentração energética adequada. Esta concentração não deve promover o aumento da condição corporal, mas deve permitir um arraçoamento adequado a um período de baixo consumo de matéria seca. O concentrado de produção deve ser gradualmente introduzido, de forma a permitir a adaptação das bactérias ruminais e evitar rejeições do próprio alimento. O consumo deverá ser, a título indicativo, entre 1 a 2% PV (MS) antes do parto.

TABELA 1 PROBLEMAS RESULTANTES DE UMA ALIMENTAÇÃO DEFICITÁRIA OU EXCESSIVA CABRAS MUITO GORDAS

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CABRAS MUITO MAGRAS

Diminuição do apetite

Aborto

Toxémia de gestação

Toxémia de gestação

Prolapso rectal e vaginal

Cabrita(o)s muito débeis ao nascimento (peso muito baixo)

Problemas ao parto por cabrita(o)s demasiado grandes

Menor pico de lactação

Fígado gordo e cetose

Menor GMD nas cabrita(o)s


Periparto em cabras leiteiras

As necessidades nutricionais das cabras dependem largamente do seu estado fisiológico e grau de actividade. Muitos outros fatores como a idade, raça, tamanho corporal e número de cabritos ao parto também influenciam essas necessidades. Uma má alimentação das cabras leiteiras durante o período seco (Figura 1) é responsável pela fraca produtividade dos animais, reflectindo-se em elevadas mortalidades dos cabritos, comprometendo a viabilidade e futura fertilidade das fêmeas, e no fraco desenvolvimento dos fetos, levando a graves perdas económicas. Além disso, o peso dos cabritos após o desmame, assim como a condição corporal e a qualidade do colostro das mães, diminui drasticamente como resultado de uma má alimentação e nutrição destes animais.

É também muito importante salientar que, neste último trimestre de gestação (onde se enquadra o período seco) as cabras se encontram em balanço energético negativo (BEN), devido a uma gestação com dois ou mais cabritos e um natural decréscimo do consumo de matéria seca, que as impede de suprir as elevadas necessidades de energia que caracterizam este período. Quando este BEN é muito acentuado surge uma patologia conhecida como toxémia de gestação. É uma condição que deve ser tratada e, se não for vigiada, pode ser fatal. Os animais mais predispostos são aqueles que estão demasiado magros (CC<2) ou demasiado gordos (CC>4) e têm uma gestação múltipla (dois ou mais cabritos). Esta patologia leva a uma alteração comportamental dos animais (isolamento, letargia, irritabilidade,

relutância ao movimento), edema dos membros, anorexia e inúmeros problemas metabólicos, como a acumulação de corpos cetónicos, baixa concentração de glicose no sangue, acidose e morte dos fetos, resultante de uma rápida mobilização das reservas de gordura corporais. Subsequentemente, a acumulação destas gorduras no fígado dá origem à síndrome do fígado gordo pós-parto. A prevenção é a melhor arma contra esta doença. Tal como já foi referido, uma alimentação adequada durante o último trimestre de gestação, com ingestão de forragem de elevada qualidade e um concentrado próprio para esta fase, juntamente com exercício físico diário (ex. pasto) e um maneio de grupos de animais onde não exista stress (ex. separar cabras dominantes de cabras submissas), irá certamente, evitar o aparecimento desta patologia.

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ALIMENTAÇÃO

ARRANQUE DE LACTAÇÃO Este período corresponde às primeiras três semanas após o parto. Neste período, é fundamental que os animais tenham uma ingestão elevada de nutrientes, através de um arraçoamento rico em energia e proteína. Não obstante existir sempre alguma perda de condição corporal nesta fase, é importante que esta se mantenha entre os 2,5 e os 3 (numa escala de 1 a 5). As forragens utilizadas neste período devem ser de elevada qualidade e fornecidas ad libitum (ex. luzerna desidratada, feno de gramíneas) garantindo que correspondem a 50% da MS total da dieta, pelo menos. O recurso adicional a forragem verde e/ ou pasto várias vezes durante o dia irá ajudar a manter um adequado consumo de matéria seca e potenciar a produção. O concentrado de produção deverá continuar a ser administrado, aumentando a sua quantidade em cerca de 0,1 kg/dia durante as primeiras duas semanas, tendo em mente que os animais terão uma ingestão média de 0,5 kg de concentrado/litro de leite, que irá variar consoante o seu peso vivo,

capacidade de produção, idade e raça. A sua composição proteica deverá variar consoante a base forrageira escolhida. Os animais que ingerem concentrado nas salas de ordenha deverão fazê-lo numa base nunca superior a 0,6 kg/ ordenha, caso contrário, poderão correr algum risco de acidose ruminal se o concentrado for muito rico em hidratos de carbono rapidamente fermentescíveis. É muito importante que sejam efetuadas

análises regulares às forragens disponíveis para poder adequar o melhor concentrado à alimentação base dos seus animais. Se o produtor optar por seguir estas recomendações a nível nutricional e de maneio para as suas cabras leiteiras irá, certamente, obter melhores resultados zootécnicos e económicos na sua exploração, rentabilizando o investimento e os animais e produzindo um leite de maior qualidade.

FIGURA 1 EFEITOS DE UMA MÁ ALIMENTAÇÃO

Altera viabilidade das cabritas

1º TRIMESTRE

ANTES DA COBRIÇÃO DURANTE A COBRIÇÃO APÓS A COBRIÇÃO

Má fertilização Ovulação fraca Mau desenvolvimento embrionário

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Compromete metabolismo Efeito negativo sobre deposição de gordura e eletrólitos

2º TRIMESTRE 3º TRIMESTRE

Toxémia de gestação Inadequada renovação mamária Colostro de má qualidade Morte (eventual)

Afeta placenta e peso ao nascimento dos cabritos

Fraca condição corporal Redução da atividade Menor pico de lactação Maior predisposição a doenças


O IMPULSO CERTO PARA TER MAIS QUALIDADE E EFICIÊNCIA MEAT PLUS é uma mistura de açúcares líquidos que optimiza o arraçoamento de bovinos de carne.

PRINCIPAIS VANTAGENS E BENEFÍCIOS

6-8% AUMENTO DOS GANHOS MÉDIOS DIÁRIOS

ARRAÇOAMENTO ARRAÇOAMENTO MAIS HOMOGÉNEO E MAIS PALATÁVEL

DIGESTIBILIDADE AUMENTO DA DIGESTIBILIDADE DO ALIMENTO

PH RUMINAL PH RUMINAL MAIS ESTÁVEL E ANIMAIS MAIS SÃOS

00351 914 937 848 | alledier.geral@gmail.com — 00351 910 454 951 | alledier.ruigodinho@gmail.com — 00351 910 212 749 | alledier.joaociriaco@gmail.com

Atingindo a necessidade de açúcar de 8%, obtém-se um arraçoamento mais balanceado com a garantia de maior eficiência digestiva. Os mais recentes estudos científicos reconhecem que os açúcares são uma necessidade importante a satisfazer no arraçoamento dos bovinos de carne. A necessidade de açúcar é de 8% em matéria seca. No arraçoamento típico encontramos valores entre 2 a 3%.


SAÚDE & BEM-ESTAR

CLAUDICAÇÃO EM BOVINOS DE CARNE DIFERENTES PERCEÇÕES SOBRE O MANEIO, FORMAÇÃO E IMPACTO NO BEM-ESTAR

John Maday

ADAPTAÇÃO DO ARTIGO: “PERCEPTION GAPS REGARDING FEEDYARD LAMENESS”, 2014 DE SHANE TERREL (DVM); DAN THOMSON (PHD, DVM); CHRIS REINHARD (PHD); MIKE APLEY (PHD, DVM); CONNIE LARSON (PHD, ZINPRO); KIM STACKHOUSE-LAWSON (PHD).

A claudicação é um problema frequente na produção intensiva de bovinos de carne. Ainda assim, os produtores frequentemente subestimam o seu impacto económico e no bem-estar animal.

A

claudicação em bovinos de engorda tem um impacto económico na exploração, bem como na performance, saúde e bemestar dos animais. Os custos associados à claudicação incluem os custos de tratamento e perda de animais por morte ou refugo precoce, ou cronicidade da doença. Adicionalmente, os custos associados com a perda de performance

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são aqueles que parecem ter maior impacto. Tibbets et al. demonstrou uma diminuição de 0,049kg no ganho médio diário em bovinos diagnosticados com pododermatite na fase de acabamento, e uma média de 14,3 dias adicionais de engorda para os animais afetados. A claudicação tem também impacto no bem-estar animal. Marti e colegas (2018) demonstraram que a claudicação

em bovinos de engorda aumenta os indicadores sanguíneos de dor e de stress. Embora a claudicação seja um problema de saúde com alguma prevalência em bovinos de carne (cerca de 16%), a sua investigação e partilha de informação ainda não está tão desenvolvida como em vacas de leite. Para colmatar esta lacuna e conhecer a perspetiva dos membros da indústria da produção de


Claudicação em bovinos de carne

QUAL É A INCIDÊNCIA DE CLAUDICAÇÃO? A média estimada pelos enquiridos da prevalência de claudicação nos feedlots (3,8%) foi menor do que as anteriormente reportadas em outros estudos. O mesmo aconteceu num inquérito realizado a profissionais da indústria leiteira, onde a prevalência de claudicação foi subestimada pelos produtores que reportaram uma prevalência de 5,7% enquanto se documentava uma prevalência de claudicação clínica de 22,1% em 53 explorações. Adicionalmente um estudo de 2011 demonstrou que 15% dos bovinos de carne vendidos nos leilões no oeste dos EUA apresentavam algum grau de claudicação. Os dados disponíveis sobre claudicação em bovinos de carne incidem sobre as taxas de prevalência durante o período de engorda. Um estudo efetuado ao longo de 7 anos numa exploração no Nebraska, demonstrou uma incidência de

GRÁFICO 1 PERCENTAGEM DE GADO ESTABULADO QUE SOFREU DE CLAUDICAÇÃO DE ACORDO COM A ESTIMATIVA DE GESTORES DAS ENGORDAS, NUTRICIONAISTAS CONSULTORES E VETERINÁRIOS CONSULTORES INQUIRIDOS 6

Percentagem de gado (%)

5 4 Moda

3

Mediana

2

Média

1 0 Todos os participantes

Nutricionistas

Veterinários

Gestores Fonte: Kansas State University

GRÁFICO 1 PERCEÇÕES DOS GESTORES DAS ENGORDAS, NUTRICIONISTAS CONSULTORES E VETERINÁRIOS CONSULTORES ACERCA DA CLAUDICAÇÃO COMO SENDO UMA PREOCUPAÇÃO DO BEM-ESTAR ANIMAL 100 90

Percentagem de participantes (%)

carne de bovino sobre a claudicação e o seu impacto na saúde e bem-estar , a Kansas State University em conjunto com a Zinpro Corp. e NCBA realizaram um inquérito. Este foi efetuado a profissionais desta indústria englobando médicos veterinários, nutricionistas e produtores, de forma a identificar as causas de maneio, as opções de tratamento e filosofias de diagnóstico mais frequentes, com o objetivo de identificar áreas de foco para futura investigação e formação. O estudo incluiu a participação de 37 consultores de nutrição animal, 47 médicos veterinários e 63 produtores de carne dos EUA e Canadá, a maioria dos quais (98%) gere ou trabalha em instalações de engorda de bovinos ao ar livre e com pavimento de terra. O questionário online englobou perguntas sobre incidência, gestão, perceção e impacto da claudicação.

80 70 60

Sim

50

A crescer

40

Não

30 20 10 0 Gestores

Veterinários

Nutricionistas

Todos os participantes Fonte: Kansas State University

pododermatite de 6,5% em vitelos alimentados ao longo de 262 dias (em média). Consequentemente, os bovinos diagnosticados com pododermatite foram alimentados, em média, durante mais cinco dias e tiveram uma diminuição no ganho médio diário de 0,02 kg. Num estudo semelhante, que incidiu sobre

1,8 milhões de bovinos, 12% experienciaram problemas de saúde durante o período de engorda, com 16% dos problemas de saúde associados a claudicação, e uma incidência de aproximadamente 2% de claudicação durante todo o período de engorda.

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SAÚDE & BEM-ESTAR

QUAL O IMPACTO DA CLAUDICAÇÃO? Uma grande parte dos inquiridos (81%) estimou a contribuição da claudicação para a mortalidade total da exploração em menos de 10%. De forma semelhante, cerca de dois terços (64%) dos participantes no inquérito estimaram a contribuição deste problema para as perdas associadas a cronicidade ou venda em menos de 10%. Quando desafiados a estimar os custos associados com os animais tratados para o problema ou os animais que foram deixados por tratar, os participantes deram diferentes respostas com as estimativas a começar numa perda económica de $200 por cabeça. A grande variabilidade nas respostas sugere que o impacto económico da claudicação nos bovinos de carne não está ainda bem conhecido ou definido. O conhecimento da forma como o impacto da claudicação é percecionado pelos intervenientes na industria pode abrir caminho a mais investigação sobre a influência da claudicação na saúde e bem-estar animal.

TRATAR OU NÃO TRATAR A CLAUDICAÇÃO? E QUAIS AS CAUSAS? Cerca de 40% dos participantes acreditam que pelo menos metade dos bovinos com claudicação precisam de tratamento. Entre os participantes, 42% indicaram a pododermatite como a afeção mais frequente, enquanto 35% selecionaram lesões e 10% abcessos da úngula. Os principais fatores nomeados como associados a causas não infeciosas de claudicação foram o maneio dos bovinos antes e após a chegada à exploração, a superfície e condição dos pavimentos e o temperamento dos animais. Já para as causas infecciosas como a pododermatite necrótica (footrot), foram apontados como principais

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fatores de risco a superfície e condição dos pavimentos, o maneio dos animais antes da chegada à exploração e o clima.

QUAIS AS FERRAMENTAS NECESSÁRIAS PARA UM AUMENTO DO CONHECIMENTO NO ASSUNTO? Outra das questões colocadas aos participantes foi sobre as ferramentas que teriam maior probabilidade de os ajudar na gestão da claudicação em bovinos: 44% dos produtores, 21% dos médicos veterinários e 32% dos nutricionistas apontaram novos tratamentos como uma ferramenta promissora. Já o apoio na formação de empregados foi selecionado por 32% dos produtores, 30% dos veterinários e 24% dos nutricionistas. 13% dos produtores, 28% dos veterinários e 24% dos nutricionistas indicaram que seria útil alguma assistência no design das instalações dos animais. Os médicos veterinários são considerados fontes criticas de informação sobre o problema. A maioria dos produtores (97%) apontaram estes profissionais como a principal fonte de informação sobre a prevenção da claudicação. Já os médicos veterinários inquiridos apontaram como fontes de informação os nutricionistas (36%), ações de formação (34%), empresas de nutrição (21%) e, internet e revistas (17%).

E SERÁ REALMENTE UM PROBLEMA DE BEM-ESTAR ANIMAL? Mais de metade do inquiridos (78%) considerou a claudicação como uma preocupação atual ou uma preocupação crescente de bemestar animal. Quando analisadas as diferentes classes de inqueridos, as perceções sobre o problema e sobre as suas implicações no bem-estar animal variaram. Os médicos veterinários revelaram-se os mais conscientes e

sensibilizados para este problema, sendo que a maioria (94%) declarou que sente ser necessário mais trabalho para perceber as claudicações. Esta preocupação verificou-se em 70% dos nutricionistas e 81% dos produtores. De forma semelhante, a maioria (96%) dos médicos veterinários consideraram que a claudicação é já um problema ou um problema crescente de bem-estar animal, contra 73% dos nutricionistas e 66% dos produtores. O bem-estar animal é um assunto relevante tanto para os consumidores como para as indústrias de produção de proteína de origem animal. As faculdades de medicina veterinária dos EUA classificaram a produção de carne de bovino como tendo um nível de bem-estar animal abaixo da produção de leite, suínos e aves. Adicionalmente, mais de 70% dos membros universitários acreditam que, no mínimo, pequenas alterações nas condições das explorações de engorda devem ser efetuadas, para proporcionar um nível mais alto de bem-estar animal. Devido ao seu impacto, bem como a uma indústria claramente alerta para o problema e com vontade de atuar mais sobre o mesmo, reduzir a claudicação é uma oportunidade para fazer alterações positivas e melhorar o bem-estar dos animais nestes sistemas de produção. Algumas estratégias de prevenção de claudicação, bem como canais de informação foram identificados neste inquérito e devem sem dúvida ser exploradas para melhorar o diagóstico das causas específicas e dos fatores que para elas contribuem, mas também para avançar a investigação afim de identificar meios de prevenção, diagnóstico e tratamento. Estes são passos importantes para uma produção de carne mais eficiente e com um nível mais elevado de bem-estar animal. Para mais informações sobre a bibliografia citada, contacte o autor.



ALIMENTAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO PERÍODO DE TRANSIÇÃO EM VACAS LEITEIRAS DE ALTA PRODUÇÃO

VITOR SANTOS ENGº ZOOTÉCNICO, TERRITORY MANAGER RUMINANTS, CARGILL VITOR_SANTOS@CARGILL.COM

O

período de transição: 21 dias antes e 21 dias após o parto - é um grande desafio para a vaca leiteira de alta produção. As mudanças de parques/estábulos, alteração do metabolismo e do arraçoamento, acrescentam stress, aumentado as necessidades energéticas das vacas. Ao mesmo tempo, a sua capacidade de ingestão está comprometida (-30%), especialmente nos 5 dias antes do parto. Entender os desafios que as nossas vacas recém-paridas enfrentam é essencial para mudar a forma de as tratar e, com essa alteração, conseguirmos atingir

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outubro . novembro . dezembro 2019

todo o potencial de cada exploração. Por cada litro a mais que a vaca dê no arranque de lactação, o produtor terá aproximadamente mais 200 litros por cada vaca no final da mesma. Assim, podemos verificar que é neste período até aos 60 dias pós-parto, que as vacas definem a performance que irão ter no futuro. Em relação à produção de leite, existe um limite definido pelo potencial genético de cada animal. Contudo, é possível minimizar muitos dos obstáculos e permitir-lhe que expresse todo o seu potencial. Considerando que não há obstáculos, a vaca tem potencial para atingir, em menos de 60 dias, os 60 litros de leite no pico de produção e passar dos 13 aos 27 Kg de ingestão de matéria seca, em menos de 70 dias. Considerando este objetivo, a vaca precisa de ser preparada para o parto e, após este, necessita receber a dose certa de energia e aminoácidos. Assim, abordagens no pré-parto como, por exemplo, dietas restritivas de energia, com alta concentração de fibra e com sais aniónicos, são essenciais para permitir reduzir problemas metabólicos. Estas estratégias são apenas metade da solução da equação. Temos também, de preparar o ambiente ruminal para o rápido aumento de consumo de alimentos e preparar o fígado para que, de um modo eficiente, processe as reservas corporais mobilizadas durante o período pós-parto. Todos os “sistemas” da vaca devem estar preparados para “disparar” na ingestão e na produção em menos de 70 dias.

READY2MILK®

De modo a podermos assegurar uma transição mais suave e com melhor performance, a Cargill Nutrição Animal desenvolveu a abordagem Ready2Milk®. Este programa combina pontoschave de maneio/alimentação, saúde e indicadores específicos de performance (IEP) num único índice, refletindo a performance e as oportunidades de melhoria ao longo do período de transição. Ao longo do tempo permite-nos medir o progresso que resulta da aplicação do programa Ready2Milk®. Para uma exploração atingir os seus objetivos, o programa alimentar das vacas recém-paridas deve ser uma prioridade. Reduzir o número de problemas metabólicos não deve ser a única preocupação. É também neste período que, com a ajuda da tecnologia, podemos suprir as necessidades das vacas e conduzir a produção das mesmas até ao seu máximo potencial.

Redefina o sucesso do seu negócio e faça a si mesmo esta pergunta: “Quanto leite posso ganhar, alterando apenas a estratégia alimentar de pré e pós-parto?” Consulte a nossa abordagem Provimi/Cargill - Ready2Milk


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ALIMENTAÇÃO

FUNGOS, BOLORES E MICOTOXINAS O ATAQUE PODE SER A MELHOR DEFESA

Tendo sido no passado um assunto menos relevante, o tema das micotoxinas em ruminantes tornou-se gradualmente uma preocupação mais evidente. Ainda que os ruminantes sejam menos sensíveis que os monogástricos, o poder de desintoxicação de um rúmen saudável não é suficiente nem justificativo para despreocupação.

F LUÍS RAPOSO ENGENHEIRO ZOOTÉCNICO DEPARTAMENTO RUMINANTES DA REAGRO L.RAPOSO@REAGRO.PT

ruto do aumento do conhecimento temos hoje uma maior consciencialização da realidade e dos riscos inerentes. Principalmente após primavera chuvosa em áreas forrageiras de colheita difícil ou em culturas de cereais (particularmente de trigo ou milho) mais afetadas pelo desenvolvimento de fungos, quer em lavouras quer em pastagens as condições envolventes de humidade e temperatura são determinantes e podem ser muito favoráveis à produção de micotoxinas.

O QUE SÃO MICOTOXINAS? Micotoxinas são substâncias tóxicas produzidas pela atividade de fungos e bolores (fungos microscópicos), recorrentemente presentes em cereais e forragens. Essas toxinas têm impactos negativos na saúde, no desempenho produtivo e reprodutivo dos animais e esse impacto varia de acordo com a concentração existente nos alimentos que ingerem. A produção de micotoxinas é tanto maior quanto mais propícias forem as condições de temperatura e humidade. Além disso, ao contrário dos fungos que lhes dão origem, as toxinas são muito resistentes e não são destruídas pela temperatura ou pela acidificação. A presença de fungos não implica necessariamente a produção de micotoxinas, da mesma forma que a quantidade desses fungos e bolores também não tem qualquer relação direta

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com o teor de micotoxinas produzidas. No entanto podemos suspeitar da contaminação com micotoxinas quando a presença de fungos é visível e, normalmente, quando há uma má conservação das matérias-primas. Existem centenas de diferentes fungos que poderão dar origem a outras tantas centenas de diferentes toxinas, que por sua vez poderão interagir entre si e gerar múltiplas contaminações. No entanto estas podem ser categorizadas em 2 grupos: Micotoxinas produzidas no campo: fungos do género Fusarium poderão produzir Zearalenona em forragens no campo durante períodos de calor e precipitação. No caso dos cereais, uma primavera chuvosa e fria poderá reunir as condições para o desenvolvimento de Fusarium. Além disso, elevada humidade e temperaturas em torno de 20 °C são muito favoráveis à produção de desoxinivalenol (DON). Micotoxinas produzidas em situações de armazenamento: micotoxinas encontradas em fenos armazenados são principalmente provenientes de fungos do género Aspergillus, Fusarium e Claviceps. As principais toxinas associadas são Zearalenona (Zea), Desoxinivalenol (DON) e Ergotamina. Para cereais armazenados nas explorações, devemse acautelar as condições de humidade e temperatura. Grãos ainda muito húmidos permitem o aquecimento dos


Fungos, bolores e micotoxinas

açúcar leva à produção de ácido butírico, que por sua vez reduz o seu valor nutricional e traz impactos negativos no desempenho dos animais. No caso da silagem de gramíneas, o risco de contaminação reside em diferentes elementos relacionados com a confeção dos silos: cobertura; compressão; humidade; dimensão. Outros fatores importantes são o estágio aquando do corte e as condições climáticas do local. Um estágio muito tardio não permite uma queda rápida do pH devido à falta de açúcares. Colheitas em solos muito húmidos podem

montes de cereais, proporcionando condições de humidade e calor que favorecem o desenvolvimento do Penicillium verrucosum, potencial produtor de Ocratoxina A. A contaminação das forragens por bolores ocorre principalmente no campo e na colheita, quando as condições de humidade e temperatura ainda estão presentes. O método de preservação da forragem (feno/fenosilagem, silagem) deverá estabilizar e impedir o crescimento de microrganismos. Uma fermentação de uma forragem com muita humidade e baixos níveis de

IMAGEM 1 RISCO DE CONTAMINAÇÃO DE ENSILADOS DE ERVA COM BOLORES

Est abi

lida de

aer óbi

a

Intensidade da contaminação

CONTAMINAÇÃO 2 CONTAMINAÇÃO 1

n

to téc

Defei

ação nserv

e co ico d

Estabilização da forragem

Campo

Colheita

Diferentes etapas da produção de silagem

Armazenamento

Abertura Fonte: Boudra, 2009.

promover o desenvolvimento de esporos butíricos e contaminação da silagem. Relativamente aos fenos, a colheita na fase de floração e o aquecimento dos fardos, provavelmente, reduzirão a qualidade nutricional das forragens. Além disso, o desenvolvimento de Aspergillus fumigatus, que é permitido pelo aquecimento do feno, é um fator de risco para o desenvolvimento de aspergilose pulmonar e mastite em ruminantes (Boudra., 2009). Por fim, as forragens das pastagens inundadas são geralmente mais ricas em matéria mineral, o que dilui os valores nutricionais e poderá diminuir o apetite. Quais são as soluções disponíveis? Em anos de primaveras chuvosas, a qualidade geral da forragem armazenada (silagem de feno e erva) provavelmente será inferior, isto é, forragens com fungos serão menos apetentes e apresentarão valores nutricionais mais reduzidos. Assim sendo, é importante reter que: Forragens com elevada presença de bolor devem ser excluídas do consumo animal; Forragens de baixa qualidade devem ser distribuídas em quantidades menores e diluídas em rações. Podem também ser distribuídas por animais menos sensíveis (novilhos, touros, animais não gestantes com idade superior a 1 ano).

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ALIMENTAÇÃO

EFEITO DAS MICOTOXINAS EM RUMINANTES Os efeitos das micotoxinas no desempenho animal são variáveis uma vez que a resistência dos ruminantes às micotoxinas depende não só do tipo de toxinas envolvidas mas também de eventuais alterações na dieta e outras possíveis perturbações a decorrer em simultâneo. Da mesma forma, os sinais clínicos também poderão depender não só das variáveis anteriores como do grau de contaminação do alimento, do tipo de dieta implementada no efetivo e da suscetibilidade individual de cada animal em função do seu stress produtivo. A monitorização dos aspetos produtivos, reprodutivos e de saúde do efetivo deverão ser prioritários

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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

em qualquer exploração. Muito frequentemente o produtor deteta redução nos níveis de ingestão e/ou produção mas associa-os a eventuais patologias, a diarreias ou desordens metabólicas sem causa justificada. A presença de micotoxinas em ruminantes tem um impacto direto sobre o seu crescimento, sobre a sua eficiência reprodutiva e sobretudo na qualidade do leite. Em ruminantes em produção leiteira, um dos maiores handicaps é o risco de rações contaminadas com Aflatoxina-B1 que produzem leite contaminado com Aflatoxina-M1 (AFM1). Além disso, os ruminantes também se vêm afetados por Zearelenona e os Tricotecenos, sendo pouco sensíveis à Ocratoxina A.

PREVENIR O RISCOS DE CONTAMINAÇÃO E CONTROLO DAS MICOTOXINAS A contaminação por micotoxinas e as consequências para a saúde na produção animal apresentam desafios cada vez maiores para a segurança alimentar do consumidor final. Acontece que a eliminação completa dessa contaminação parece ser praticamente impossível e apesar de todos os esforços que se fazem para reduzir o nível de micotoxinas em matérias-primas e alimentos, existe sempre algum grau de contaminação. A sua presença, ainda que em pequenas quantidades, pode sempre representar um risco, dado que os seus efeitos negativos combinados com outros poderão desencadear efeitos maiores e mais graves.


Fungos, bolores e micotoxinas

Aflatoxinas (AFB 1e2, AFG 1e2)

Ocratoxinas A (OTA) e Citrinina

Tricotecenos Grupo A: Toxina T-2

Tricotecenos Grupo B: DON ou Vomitoxina

Zearalenona

Fumonisinas (FB1, FB2)

X

MILHO

X

X

X

X

X

TRIGO

X

X

X

X

X

CEVADA

X

X

X

X

CENTEIO

X

X X

X

AVEIA

X

SORGO

X

X

CONCLUSÕES

bem como no maneio de alimentos complementares e manjedouras, por forma a reduzir também o perigo de contaminação. Numa primeira barreira de prevenção e controlo é recomendável um programa de gestão que avalie o risco e identifique os pontos críticos na exploração para que medidas como a utilização de inibidores de fungos, o controlo da temperatura e

Apesar do impacto económico causado, os prejuízos derivados da contaminação por micotoxinas nos alimentos nem sempre são evidentes para o produtor. No entanto eles existem e traduzem-se em perdas de rendimento e eficiência produtiva, bem como aumento de custos. Mais do que a resolução de problemas, a chave do sucesso pode estar na aposta na prevenção!!!

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Por todos estes motivos, a prevenção das micotoxinas deverá começar com a tentativa de minimizar o mais possível o crescimento de fungos ainda na planta, nomeadamente através das práticas agrícolas e processos de ensilagem, bem como nos posteriores processos de maneio na exploração, focando especial atenção nos processos de armazenagem do grão e restantes matérias-primas

humidade do ar na armazenagem ou a proteção contra os danos provocados por insetos e roedores surtam efeito. Da mesma forma, na preparação de alimentos concentrados e rações, a prevenção deverá ser feita através da incorporação de agentes desintoxicantes e absorventes.

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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

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ECONOMIA

OBSERVATÓRIO DE

MATÉRIAS PRIMAS POR: JOÃO SANTOS

APESAR DE ALGUNS SUSTOS, MAIS UM ANO DE COLHEITA NORMAL

O

titulo deste Observatório de MP quase dispensa a leitura do artigo. A verdade é que, a não ser que alguma geada em outubro cause algum dano na colheita americana de soja, a colheita será normal. Em relação ao milho já se sabe que o resultado final não será muito pior que o do ano passado. Na soja ainda há algum perigo, o clima ainda pode afetar a produção, a área plantada foi menor e o rendimento esperado também é mais baixo. Por outro lado, o mercado chinês adquiriu uma pequena fração que costumava comprar de soja americana, devido à guerra comercial. Os stock finais dos americanos ainda continuam muito elevados, um valor que apenas em sonhos parecia possível, um bilião de bushels em stock no final 18/19. Ou seja, no final de 19/20 estaremos como os mesmos stocks finais mundiais que em 17/18, e com menos de cerca de 50% dos porcos na China. No final, são os stocks e a capacidade instalada que importam e esses continuam de muito boa saúde.

CHINA Não pretendendo ser um especialista em assuntos da China, parece-me oportuno criar um espaço neste Observatório de MP para falar deste país no que se refere ao consumo de soja, pela importância que tem no lado da procura da mesma e nos preços da carne. Assim, de notar: i) A guerra comercial com os Estados Unidos, não parece ter fim à vista. O mais relevante destes últimos meses terá

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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

sido a afirmação do Presidente Trump, em meados de setembro, de que já não era necessário chegar a um acordo de capitulação com os chineses, e que afinal este poderia ser um acordo parcial em que as questões de propriedade intelectual e de transferências de tecnologias seriam algo para se ir trabalhando. Mas com acordo ou sem acordo, o consumo de soja a nível global será o mesmo, o que mudará serão os fluxos de soja para a China. ii) No último Observatório, comentámos o número de 23%, segundo fontes governamentais, de redução de efetivos de porcos na China devido à peste suína. Agora, a mesma fonte do ministério da agricultura fala em 39%, havendo fontes privadas que apontam para mais de 50%. Já há casos no Vietnam e na Coreia do Sul. Fazendo umas “contas de algibeira” estamos a falar de menos 150 milhões de porcos, versus o que exista à 12 meses na China, o que equivale a +/- 21 milhões de toneladas a menos de consumo de farinha de soja por ano, ou seja, 26 milhões de toneladas de grão de soja. Tendo em conta que os stocks mundiais baixaram este ano 12 milhões de toneladas e que a produção tenha tido uma quebra de 21 milhões de toneladas (Tabela 1), não há, a meu ver, razão para preocupações. O que nos devia preocupar era saber como é que as estatísticas na China e nos Estados Unidos são feitas, para perceber onde foi parar a soja que, em teoria, a China importa e não necessita (ainda que,

marginalmente, haja um incremento de produção de frangos ou aquacultura na China). É esperado um incremento de produção de soja na América do Sul na próxima campanha, ou devido à desflorestação da Amazónia ou pela desvalorização do real brasileiro e do peso argentino que incentiva o agricultor a plantar. Mais, a China aprovou a importação de farinha de soja da Argentina, representando esta perto de 50% de toda a farinha exportada no mundo, pelo que entre o grão brasileiro e a a farinha argentina, a China mostra ao Presidente Trump que tem muitas alternativas à compra do grão americano.

PROTEÍNAS A sementeira tardia nos EUA fez com que a colheita também o fosse, e assim ainda temos umas semanas de incerteza. No entanto, embora o USDA fale de um rendimento menor este ano, ainda assim se trata de uns respeitáveis 47,9 bushels por acre, ou seja, traduzido “por miúdos”, menos 24 milhões de toneladas. Segundo o USDA e outros analistas, há potencial de o rendimento ser superior a este, em particular se as geadas não vierem antes de tempo. Este cenário é bastante provável uma vez que a previsão meteriológica até ao início de outubro também o é. Em relação à sementeira no Brasil, as previsões meteorológicas também são favoráveis com chuva prevista para as próximas semanas. Na América do Sul,


Observatório matérias-primas

a volatilidade política, e em particular as eleições na Argentina em outubro, levaram à desvalorização do peso, o mesmo acontecendo com o Brasil. O que fará com que os agricultores voltem a plantar o máximo que puderem, uma vez que a comercialização da soja é feita em dólares, sendo esta a melhor forma de se proteger da inflação. Algo a acompanhar é a reação do agricultor argentino que, à semelhança do que fez entre 2013-2017, pode voltar a armazenar a sua colheita nos famosos silo-bag de 200mt cada, e vendê-la muito pouco a pouco. Chegaram a estar mais de 10 milhões de toneladas armazenadas desta forma nos campos argentinos. Este fenómeno não tem acontecido no Brasil, uma vez que este agricultor pensa mais em reais do que em dólares. A diferença em relação ao passado recente está na guerra comercial, pelo que o grão sul americano vale cerca de 25% mais do que o grão dos EUA devido aos direitos de importação que os chineses puseram sobre a soja americana. Assim, pode ser que aproveitem para vender antes que o Presidente Xi e o Presidente Trump façam as pazes. Temos que ir seguindo o “weather market”, em particular as geadas nos EUA, mas de momento aparentemente os preços atuais não tem demasiado potencial de subida. Na colza o comentário continua a ser o mesmo do Observatório MP anterior: há muita colza (canola) no Canadá, e barata, uma vez que a China continua zangada com o Canadá por causa da Huawei. A Europa acaba por ser o único recetor, e até ao final do primeiro trimestre de 2020 não há demasiado potencial de subida de preço com todas as fábricas na Europa a produzir ao máximo. Em relação ao girassol, tudo indica que vamos continuar sem grandes novidades com os preços da farinha em linha com os valores que se falaram na campanha passada.

TABELA 1 PRODUÇÃO MUNDIAL E STOCKS FINAIS DE MILHO E SOJA 14/15

15/16

16/17

17/18

18/19

19/20

SOJA

319

312,8

351,4

340,47

362,1

341,4

PRODUÇÃO MUNDIAL

77,6

76,6

96,0

98,56

112,41

99,19

STOCK FINAIS

24%

24%

27%

29%

31%

29%

1008,80

961,9

1070,2

1076,2

1122,2

1104,9

PRODUÇÃO MUNDIAL

208,2

210,9

227,0

341,2

329,6

306,3

STOCK FINAIS

21%

22%

21%

32%

29%

28%

MILHÕES DE TM

MILHO

FONTE: USDA e relatório de setembro

CEREAIS Este ano foi o ano do trigo, em todas a regiões do mundo a produção foi muito boa. No milho, o excesso de chuva nos EUA em maio/junho, não teve um impacto significativo na produção americana. Se a isto acrescentarmos que o Brasil teve um excelente ano, e que é esperado um ano recorde na Ucrânia, temos que tanto a produção mundial como o consumo se manterão em linha com os valores do ano passado. A mesma pergunta feita em relação à soja pode ser feita em relação ao milho: com o impacto da peste suína na China, onde é que estão os milhões de toneladas que os 150 milhões de porcos a menos não comeram? Concluindo, em relação ao hemisfério norte já não é expectável nenhuma surpresa negativa, e agora todos os olhos estarão postos na sementeira na América do Sul. Assim, após o susto de junho/julho com os preços do milho a subirem para valores que já não víamos há uns bons 5 anos, voltamos a ter em setembro os preços em Lisboa em linha com os mínimos a que nos tínhamos habituado, à volta dos 170€/ton.

NOTAS FINAIS Nas últimas semanas assistimos aos fogos na Amazónia, algo que qualquer alma amiga da Terra não pode deixar de

ficar triste por ver. Este fenómeno não aconteceu só este ano, é uma realidade que se repete todos os anos, mas talvez este ano tenha sido mais mediatizado! Na maioria dos casos, este fogos são de origem criminosa com a finalidade de depois se utilizar a terra para a agricultura. Num país como o Brasil no “great scheme of things”, olhando só no prisma económico não tem nenhum sentido. Devia ser do interesse do governo brasileiro ter mão dura contra estas práticas, que no final têm uma repercussão negativa sobre o setor da carne e da soja brasileira, mas também de outras origens. Se considerarmos que nos estados onde já se planta soja, esta ocupa uma pequena parte da área agrícola disponível e que o grosso da área é ocupado por gado em pastoreio, em particular nos estados mais a norte, o simples facto de os estabular libertaria muita terra para plantar milho e soja. Se considerarmos que estes estados estão muito mais perto dos portos do que a Amazónia, e que os custos de transporte são brutais, porquê ir para uma zona mais escondida e virgem do interior, longe de tudo, senão para alimentar a avareza de alguns?!! Estes hectares queimados, acabarão por ter agricultura em cima, mais área haverá disponível. Despeço-me com amizade...

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ECONOMIA

OBSERVATÓRIO DO LEITE POR: JOANA SILVA, MÉDICA VETERINÁRIA FONTES: EDAIRYNEWS, RABOBANK, USDA

E

ntramos agora no último trimestre de 2019, um ano que passou por nós a correr, e que com ele trouxe algumas novidades no setor leiteiro. Mas nem tudo mudou. Ao revisitar esta mesma edição de há dois anos, verifiquei que já aí falávamos da incerteza do Brexit e suas consequências para o setor leiteiro. Hoje, dois anos depois, esta é ainda uma carta sobre a mesa. Mas há outras. Falaremos delas nesta edição, ao olharmos para o futuro da produção leiteira global, mas sem deixar de revisitar o passado recente. Uma oferta mais constrita, stocks reduzidos e preços estáveis são, de acordo com o mais recente relatório do Rabobank, as variáveis-chave que controlam os ventos do setor. No primeiro semestre de 2019, a produção leiteira nos chamados “big 7”, os sete maiores exportadores mundiais – Europa, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Uruguai, Argentina e Brasil – foi inferior ao ano anterior, o que criou alguma tensão nos mercados. Por outro lado, este foi um ano mais favorável ao mercado do leite em pó que, aproveitando os bons ventos da redução de stocks, registou preços bem mais apelativos face ao que tinha vindo a ser o seu histórico. Apesar da seca que ainda se faz sentir em alguns pontos da Europa, os crescentes volumes de produção no Reino Unido, Polónia e Irlanda impulsionarão o crescimento da produção continental até ao final do semestre. Ainda assim prevê-se que, no final do ano, a produção

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total seja apenas 0.6% superior à do ao anterior, crescimento que deverá manter-se após entrada em 2020. Nos Estados Unidos, a conjugação entre a redução dos efetivos leiteiros – com menos 90 000 cabeças no fim do primeiro quadrimestre do ano – e a produção média aquém do esperado assombram agora as previsões para o final do ano e para 2020. As previsões de abrandamento da economia nacional renovam o interesse na exportação de leite e seus derivados, no entanto será difícil para os produtores americanos estabelecerem-se como parceiros comerciais interessantes com importadores atraentes como a China enquanto as tarifas alfandegárias se mantenham entre os 25 e os 45%. Na Oceânia, a temporada favorável da produção leiteira está a chegar ao fim de forma mais abrupta do que o habitual, especialmente na Nova Zelândia, fruto das condições sazonais longe do ideal. Para a temporada 2019/2020 as previsões apontam para uma produção mais tímida face à temporada anterior na Nova Zelândia e na Austrália. Na Argentina, o primeiro semestre de 2019 ficou marcado por uma quebra acentuada na produção leiteira, fruto da

volatilidade do clima e chuvas intensas, fraca procura interna e limitação dos investimentos no setor. Ainda assim, as margens de lucro dos produtores têm-se mantido estáveis. A inflação continua ser um problema-chave do país, com valores mensais na ordem dos 4%, e a diminuição do PIB expectável para o resto do ano não se afigura nada positiva para a procura de leite e derivados por parte dos consumidores nacionais. 2020 poderá trazer com ele uma recuperação do setor, mas sempre dependente dos resultados das eleições presidenciais de outubro. Já no Brasil assiste-se às consequências de uma das piores recessões do país, com a recessão económica a constituir uma pesada ameaça ao setor. Também aqui um cenário mais animador em 2020 estará dependente de importantes decisões políticas a tomar no final deste ano. A maré da produção leiteira nos principais exportadores começará, ainda que timidamente, a encher à medida que nos aproximamos do final do ano, condição positiva que se prevê que navegue para o ano de 2020. Do lado dos consumidores, as tendências são mistas. Se do lado da China as


Observatório do leite

Tabela 1 PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO (1)

Tabela 2 LEITE À PRODUÇÃO, PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2018/2019 TEOR MÉDIO DE MAT. GORDA (%)

TEOR PROTEICO (%)

Açores

Contin.

Açores

Contin.

Açores

0,290

3,63

3,63

3,17

3,12

0,301

0,292

3,64

3,65

3,17

3,12

0,303

0,295

3,68

3,68

3,22

3,16

0,315

0,300

3,78

3,79

3,29

3,25

2018 NOVEMBRO

0,324

0,307

3,95

3,87

3,35

3,29

31,44

DEZEMBRO

0,323

0,308

3,91

3,85

3,33

3,26

31,41

32,02

JANEIRO

0,318

0,297

3,92

3,73

3,34

3,20

Granarolo (North)

38,84

38,20

FEVEREIRO

0,328

0,296

3,89

3,68

3,30

3,20

DOC Cheese

-

MARÇO

0,312

0,291

3,82

3,59

3,29

3,20

Friesland Campina

35,48

35,83

ABRIL

0,314

0,290

3,77

3,65

3,29

3,23

MAIO

0,311

0,285

3,72

3,64

3,27

3,19

JUNHO

0,310

0,286

3,71

3,65

3,30

3,15

JULHO

0,310

0,285

3,70

3,62

3,28

3,14

COMPANHIA

PREÇO DO LEITE (€/100 KG) JULHO 2019

MÉDIA DOS ULTIMOS 12 MESES (5)

ALEMANHA

Alois Müller

31,72

32,79

Contin.

DINAMARCA

Arla Foods

32,47

33,46

JULHO

0,306

Danone

34,37

34,91

AGOSTO

Lactalis (Pays de la Loire)

34,50

35,00

SETEMBRO

Sodiaal

34,09

35,28

OUTUBRO

Dairy Crest (Davidstow)

30,93

33,10

Glanbia

30,68

Kerry

PAÍSES

FRANÇA INGLATERRA IRLANDA ITÁLIA HOLANDA PREÇO MÉDIO LEITE

MESES

(2)

N. ZELÂNDIA EUA (4)

Fonterra (3)

29,43

28,97

EUA

35,89

34,17

2019

Fonte: LTO - (1) Preços sem IVA pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG, 3,4% de teor proteico e CCS de 249,999/ml. (2) Média aritmética. (3) Baseado na previsão mais recente. (4) Reportado pela USDA. (5) Inclui o pagamento suplementar mais recente.

importações continuam robustas, a economia da Zona Euro tem vindo a funcionar a meio gás desde 2018, o que tem limitado o crescimento da procura. Já nos Estados Unidos, as previsões económicas não são propriamente famosas para 2020. E quais são as (in)certezas que 2020 trará para o setor? As tensões comerciais entre potências como a China e os Estados Unidos manter-se-ão, e existem agora ameaças que as relações comerciais entre a Europa e os EUA possam ser abaladas por inimizades, o que poderá prejudicar os

®

NUTRIÇÃO ANIMAL

CONSULTADORIA

OBJECTIVOS

Fonte: SIMA - Gabinete de Planeamento e Políticas

produtores europeus, em paralelo com a ainda que modesta reconciliação entre os EUA, México e Canadá. A China continuará a ser abalada pela devastação da Peste Suína Africana, a qual terá um impacto na produção suína na ordem dos 25 a 35%, com consequente diminuição da importação de proteína whey e lactose. Por outro lado, o impacto negativo na confiança dos consumidores poderá levar a um aumento do consumo de carne bovina, promovendo uma maior taxa de abate de animais leiteiros e consequente diminuição da produção leiteira.

PREMIX

EUR/KG

Existe ainda outra ameaça ao setor que não poderíamos deixar de referir, e quiçá uma das mais complexas: a diminuição do consumo de leite por parte dos consumidores atuais. Nos últimos dez anos, o consumo de leite na Europa e nos Estados Unidos registou diminuições de 3% e 2% ao ano, respetivamente. A inversão desta tendência será talvez a mais desafiante não só para os produtores mas para todos os intervenientes na cadeia de valor do leite. E, quem sabe, será este o Ás a encontrar para ganhar este nosso jogo comercial.

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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

49


ECONOMIA

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL – ERVA

NADA DE NOVO, O LEITE PRODUZIDO EM PORTUGAL CONTINUA POUCO VALORIZADO ANTÓNIO MOITINHO RODRIGUES, DOCENTE/INVESTIGADOR, ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO CARLOS VOUZELA, DOCENTE/INVESTIGADOR, DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE DOS AÇORES/IITAA • NUNO MARQUES, REVISTA RUMINANTES

D

esde há 7 anos que a revista Ruminantes tem vindo a publicar o Índice VL. É um indicador muito útil que, se for aplicado à própria exploração, permitirá ao produtor monitorizar a rentabilidade da sua atividade muito dependente dos custos com a alimentação das vacas. Analisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o período de maio a julho de 2019. Durante o trimestre em análise, o preço do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,311 €/kg em maio e 0,310 €/kg em junho e julho, tendo o preço médio sido inferior (-2,41%) relativamente ao trimestre anterior. Na Região Autónoma dos Açores o preço do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,285 €/kg em

maio e julho e 0,286 €/kg em junho, sendo o preço médio do trimestre inferior (-2,39%) em relação ao trimestre anterior (SIMA-GPP, 2019). Os dados publicados pelo MMO (2019) permitem verificar que o preço médio do leite pago ao produtor no período de maio a julho de 2019 foi, mais uma vez, muito inferior em Portugal (0,3024 €/ kg) quando comparado com a média da UE28 (0,3359 €/kg). Esta diferença -3,35 cêntimos/kg de leite seria determinante para melhorar a rentabilidade das explorações em Portugal. Significa que as principais organizações que recolhem e transformam leite em Portugal não conseguem acrescentar valor ao produto leite e que a grande distribuição valoriza pouco este produto. Só acrescentando valor ao leite recolhido é que será

ÍNDICE VL JULHO 2012 A ABRIL 2019

possível pagar melhor aos produtores. Estes são os elementos da cadeia de produção mais fracos mas fundamentais para garantirem um produto de qualidade. Considera-se inadmissível que, no mês de julho de 2019, Portugal tenha voltado a integrar o lote dos 6 países da UE28 com preços mais baixos pagos ao produtor (Portugal 0,3024 €/kg, Hungria 0,2983 €/kg, Bulgária 0,2966 €/ kg; Letónia 0,2844 €/kg, Roménia 0,2843 €/kg, Lituânia 0,2621 €/kg) MMO (2019). No trimestre em análise, com exceção da cevada, os preços médios das outras 4 principais matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado utilizado neste trabalho sofreram um aumento de preço que se traduziu num acréscimo de 0,8% com os custos da alimentação. No entanto, o preço da palha diminuiu

Negócio saudável

Limiar de rentabilidade

Forte ameaça para a rentabilidade da exploração

2.0 1.9 1.8 1.7 1.6

1.4 1.3

O ÍNDICE VL É INFLUENCIADO PELA VARIAÇÃO MENSAL DO PREÇO DO LEITE PAGO AO PRODUTOR NO CONTINENTE E PELAS VARIAÇÕES MENSAIS DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS QUE CONSTITUEM O REGIME ALIMENTAR DA VACA LEITEIRA TIPO (CONCENTRADO 9,5 KG/ DIA; SILAGEM DE MILHO 33 KG/DIA; PALHA DE CEVADA 2 KG/DIA).

50

ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

jul. 2019

jan. 2019

jan. 2018

jan. 2017

jan. 2016

jan. 2015

jan. 2014

jan. 2013

1.2 jul.. 2012

Valor do Índice VL

1.5


Índice VL

ÍNDICE VL-ERVA JULHO 2013 A JULHO 2019

2.7

O ÍNDICE VL – ERVA É INFLUENCIADO PELA VARIAÇÃO MENSAL DO PREÇO DO LEITE PAGO AO PRODUTOR NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E PELAS VARIAÇÕES MENSAIS DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS QUE CONSTITUEM O REGIME ALIMENTAR DA VACA LEITEIRA TIPO (PRIMAVERA/VERÃO 60 KG/DIA DE PASTAGEM VERDE, 10 KG/DIA DE SILAGEM DE ERVA E DE MILHO, 5,6 KG/DIA DE CONCENTRADO; OUTONO/INVERNO 47 KG/DIA DE PASTAGEM VERDE, 13,3 KG/DIA DE SILAGEM DE ERVA E DE MILHO, 6,7 KG/DIA DE CONCENTRADO).

2.3

2.6

Negócio saudável

2.5

Limiar de rentabilidade

Forte ameaça para a rentabilidade da exploração

2.4 2.2 2.1 2.0 1.9 1.8 1.7 1.5 1.4 1.3 1.2 1.1

9,5% durante o trimestre em análise. Na Região Autónoma dos Açores, como consequência da maior utilização de pastagem na alimentação da vaca tipo durante a Primavera / Verão, os custos com a alimentação dos animais diminuíram 11,7% relativamente ao trimestre anterior. A evolução do preço do leite e dos custos com a alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em julho de 2019 foi, respetivamente, de 1,713 e de 2,045. De referir que em julho de 2018 o Índice VL havia sido de 1,648 e o Índice VL - ERVA de 2,062. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Com um Índice VL de 1,713 pode concluir-se que os produtores de leite do continente se encontram muito próximo do limiar de rentabilidade da exploração. Nos Açores o Índice VL-ERVA foi de 2,045 em julho, situação interessante que, no entanto, reflete melhor a realidade dos produtores da ilha de S. Miguel onde se produz cerca de 60% do total de leite dos

jan. 2019

Açores e onde os preços pagos aos produtores são mais elevados do que nas restantes ilhas do Arquipélago.

EVOLUÇÃO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL–ERVA JULHO 2018 A JULHO 2019

NOTAS

OS VALORES SÃO INFLUENCIADOS PELA VARIAÇÃO MENSAL DO PREÇO DO LEITE PAGO AO PRODUTOR INDIVIDUAL DO CONTINENTE (ÍNDICE VL) E DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES (ÍNDICE VL - ERVA) E TAMBÉM PELAS VARIAÇÕES MENSAIS DOS PREÇOS DE 5 MATÉRIAS-PRIMAS UTILIZADAS NA FORMULAÇÃO DO ALIMENTO COMPOSTO E PELO PREÇO DOS OUTROS ALIMENTOS QUE INTEGRAM O REGIME ALIMENTAR DA VACA LEITEIRA TIPO.

- comparando com o mês de julho de 2018, em julho de 2019 o preço do leite pago aos produtores do continente foi +0,4 cêntimos e o preço pago aos produtores dos Açores foi -0,5 cêntimos; - durante o trimestre em análise houve aumento nos preços das principais matérias-primas que entram na formulação dos alimentos compostos da vaca tipo. Esta situação implicou aumento de custos com alimentação no continente. No entanto, como nos Açores entre abril e setembro a quantidade de pastagem que entra na alimentação da vaca tipo é maior, verificou-se uma redução do custo total do regime alimentar formulado para calcular o Índice VL – ERVA (-11,7%); - no trimestre em análise, a palha, um dos alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar, apresentou uma redução de preço; - as três considerações anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em julho de 2019 foram, respetivamente, de 1,713 e 2,045.

Mês

Índice VL

Índice VL - ERVA

jul-18

1,648

2,062

ago-18

1,651

2,045

set-18

1,692

2,104

out-18

1,767

1,792

nov-18

1,802

1,823

dez-18

1,783

1,826

jan-19

1,761

1,764

fev-19

1,831

1,768

mar-19

1,746

1,742

abr-19

1,757

2,080

mai-19

1,754

2,053

jun-19

1,698

2,040

jul-19

1,713

2,045

jul.. 2019

jan. 2018

jan. 2017

jan. 2016

jan. 2015

jan. 2014

1.0 jul. 2013

Valor do Índice VL

1.6

Bibliografia: MMO (2019). European milk market observatory – EU historical prices. https://ec.europa.eu/agriculture/market-observatory/ milk acesso em 20-09-2019. Schröer-Merker, E; Wesseling, K; Nasrollahzadeh, M (2012). Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 – Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN Dairy Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published by IFCN Dairy Research Center, Schauenburgerstrate, Germany. SIMA-GPP (2019). Leite à produção - Preços Médios Mensais. Sistema de Informação de Mercados Agrícolas, Gabinete de Planeamento e Políticas. http://sima.gpp.pt:8080/sima/default/lacteos?la=1&ini=2019 acesso em 20-09-2019.

ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

51




ALIMENTAÇÃO

DIETAS EQUILIBRADAS EM AMINOÁCIDOS Formular as dietas procurando o equilíbrio de aminoácidos traz infinitas oportunidades para maximizar a produção e os lucros das explorações de leite.

JAVIER LOPEZ TECHNICAL SALES MANAGER RUMINANTES KEMIN EM ESPANHA E PORTUGAL

importância, como o primeiro e segundo aminoácidos limitantes (respetivamente) para vacas em lactação. Os aminoácidos disponíveis no intestino têm origem na proteina metabolizável que tem três fontes distintas: proteína microbiana, proteína não degradável no rúmen e proteína endógena. Destas fontes, os aminoácidos protegidos da ação ruminal são a melhor forma de administrar aminoácidos limitantes.

VANTAGENS DE EQUILIBRAR OS AMINOÁCIDOS DA DIETA

A

investigação realizada ao longo dos últimos anos levou a um maior conhecimento sobre as necessidades de proteína dos bovinos de leite. Os aminoácidos são considerados um dos nutrientes mais importantes na nutrição das vacas de leite. Muitos têm que ser suplementados na dieta uma vez que, ou não podem ser sintetizados pela própria vaca em quantidade suficiente para atenderem aos seus requisitos quando em produção, ou não são sintetizados de todo pelos animais. Estes aminoácidos são, por isso, chamados de aminoácidos essenciais. Os aminoácidos podem também ser classificados como limitantes quando a sua presença na dieta das vacas leiteiras limita a produção de leite. A metionina (Met) e a lisina (Lys) têm sido amplamente reconhecidos, por ordem de

54

ruminantes outubro .novembro . dezembro 2019

A metionina e a lisina trabalham em conjunto sendo ambas necessárias na dieta de forma a conseguir otimizar a performance produtiva sem utilizar ou necessitar de demasiada proteína. Atualmente recomenda-se a formulação de rações de forma a atingir o equilíbrio de aminoácidos desejado em vez da percentagem de proteína bruta. As vantagens deste método ao nível da produção, reprodução e saúde animal ultrapassam qualquer custo adicional:

MELHORA A PERFORMANCE PRODUTIVA, AUMENTA A PRODUÇÃO DE LEITE E A SÍNTESE DE PROTEÍNA DO LEITE Garthwaite et al. (1998) sumarizou o efeito da suplementação das rações com Lys e Met. Os resultados indicam uma melhoria na performance produtiva. Um aspeto importante é que o efeito positivo é mais forte se se iniciar a administração de aminoácidos protegidos da ação

ruminal durante o período seco. Vários estudos indicam o efeito positivo da metionina na performance produtiva das vacas de leite. E em relação à lisina? Diversos estudos demonstram o efeito da administração de lisina protegida da ação do rúmen na produção de leite corrigida para energia (ECM). Estes estudos estão agrupados de acordo com o nível de ECM antes de formular as rações com lisina protegida. Assim, concluiu-se que o aumento da lisina metabolizável melhora a performance, independentemente do nível produtivo.

AUMENTA A EFICIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DE PROTEÍNA METABOLIZÁVEL Quando um dos aminoácidos é limitante, as vacas de leite tendem a consumir quantidades exageradas de todos os outros aminoácidos. Assim, ao administrar o aminoácido em falta, uma nova molécula de leite pode ser sintetizada e a necessidade exagerada de todos os outros aminoácidos desce, otimizando a eficiência da proteína metabolizável. Na maioria dos casos, se não em todos, quando os nutricionistas confiam na quantidade de proteína metabolizável disponível sem ter em consideração os aminoácidos limitantes, a produção de leite é menor do que a esperada. Isto indica claramente que embora a quantidade de proteína metabolizável seja a necessária, o balanço de aminoácidos pode estar incorreto, limitando assim a produção de leite.


Dietas equilibradas em aminoácidos

Schwab et al. (2004) compararam a proteína metabolizável, a lisina e a metionina administradas como preditores da produção de leite e de proteína do leite. Os resultados indicam que a metionina e a lisina administradas funcionam como melhores indicadores do que a proteína metabolizável, sendo que a lisina administrada demonstrou ser o melhor preditor (r2 = 0,90). A utilização do conceito do equilíbrio na oferta de lisina e metionina diminui a variação na previsão de produção de leite, aumentando a produção de leite e componentes do leite, diminuindo a oferta excessiva dos outros aminoácidos. Sabe-se que uma melhoria na eficiência de utilização de proteína metabolizável se traduz numa oportunidade para formular dietas com um menor conteúdo de proteína bruta, sem comprometer a produção de leite e componentes do leite.

DIMINUI A INCIDÊNCIA DE DOENÇAS METABÓLICAS Equilibrar as dietas para os requisitos de metionina e lisina aumenta a capacidade antioxidante do animal, melhora a condição de saúde e a função do sistema imunitário e metabolismo. Quando o primeiro aminoácido limitante não é administrado em quantidade suficiente vai haver um aumento de todos os outros aminoácidos sem que estes sejam utilizados na síntese de proteínas. Por isso, estes aminoácidos têm de ser catabolizados, primeiro no fígado, para produzir amónia que depois é convertida em ureia. A excreção da amónia em excesso sob a forma de ureia é um processo que consome energia. Consequentemente, quando as rações são equilibradas em lisina e metionina é necessária menos energia para a excreção do excesso de nitrogénio em ureia. Consequentemente a energia preservada pode ser utilizada de forma mais produtiva, o que é extremamente útil no inicio da lactação quando os animais estão numa fase de balanço

energético negativo e ter mais energia disponível no período de transição é vital para vacas em lactação, podendo ajudar a minimizar a incidência de doenças metabólicas. Adicionalmente, a metionina desempenha um papel fundamental na síntese de apoproteína B. Esta é um componente necessário para a síntese e secreção de lipoproteína de baixa densidade (VLDL), responsável por exportar os triglicéridos do fígado para os tecidos periféricos. A deficiência de metionina com a diminuição da síntese de apoproteína B, e consequente diminuição da síntese e secreção de VLDL resulta na acumulação de triglicéridos no fígado e a formação de corpos cetónicos. Além da síntese de VLDL a metionina e a lisina têm outro papel importante no metabolismo das gorduras: ambas são necessárias para a síntese de carnitina, essencial para o transporte de NEFA do citosol para as mitocôndrias para a subsequente oxidação de ácidos gordos (Drackley, 1999). Além disso, sabe-se que a carnitina tem outras funções importantes como na proteção dos organismos do stress oxidativo, promoção da oxidação de substrato no tecido adiposo castanho e regulação da divisão da energia (Wu, 2013).

MELHORA A FERTILIDADE NAS EXPLORAÇÕES DE LEITE Alimentar com níveis elevados de proteína bruta, proteína degradável no rúmen, ou uma dieta não equilibrada em aminoácidos, pode causar um aumento da concentração de ureia plasmática (PUN) e de ureia no leite (MUN). Valores elevados de PUN e MUN têm sido associados a uma pobre performance reprodutiva em vacas leiteiras em inicio de lactação (Butler et al., 1996). Os mecanismos através dos quais o aumento da ureia pode afetar a fertilidade são: 1. A amónia ou ureia podem afetar

o ambiente uterino impedindo o desenvolvimento e sobrevivência dos espermatozoides e dos óvulos ou o desenvolvimento do embrião. 2. Exacerbação dos efeitos do balanço energético negativo durante o período de transição, devido ao “custo” da excreção de ureia e à acumulação de amónia no fígado que impede a conversão do propionato para glucose. 3. Concentração plasmática de progesterona diminuída. 4. Aumenta a secreção de PGF2α , interferindo com o desenvolvimento e sobrevivência do embrião. A investigação demonstrou que a taxa de conceção desce quando o valor de PUN é superior a 19 mg/dL, ou quando o o valor de MUN excede os 16 mg/dL. Os valores de PUN e MUN podem ser diminuídos através do balanço dos primeiros dois aminoácidos limitantes, o que aumenta a eficiência da proteína metabolizável e diminui a excreção de nitrogénio como ureia. A formulação de rações com base nos aminoácidos leva a uma melhor saúde e a menos perdas gestacionais.

AUMENTA A CASEÍNA E CONSEQUENTEMENTE O RENDIMENTO PARA A PRODUÇÃO DO QUEIJO A composição proteica do leite é muito importante na produção de queijo, mas o fator mais importante que afeta a produção de queijo por kg de leite é a caseína. O teor de caseína do leite é cerca de 80%. Existem fortes evidências que dietas bem equilibradas podem aumentar o conteúdo em caseína do leite. Resultados de trabalhos de investigação demonstram um efeito positivo da administração de Lys e Met protegidas da ação do rúmen na gordura do leite, proteína do leite e conteúdo em caseína (Tabela 1).

ruminantes outubro .novembro . dezembro 2019

55


ALIMENTAÇÃO

COMO ATINGIR OS NÍVEIS DE LISINA E METIONINA QUE SE PRETENDEM NA PROTEÍNA METABOLIZÁVEL? 1. As dietas devem ser formuladas para maximizar a síntese de proteína microbiana pois esta tem um excelente perfil de aminoácidos essenciais que vai ao encontro do perfil de aminoácidos da proteína do leite. 2. Uma forma de maximizar a proteína microbiana pode passar pela sincronização da disponibilidade de carbohidratos fermentáveis com uma quantidade adequada de proteína digestível no rúmen. 3. As rações devem ser equilibradas para atingir os níveis de Lys e Met e manter o rácio recomendado de 3:1, aproximadamente. 4. Disponibilizar um suplemento de elevada qualidade de lisina de forma a atingir os níveis recomendados de lisina. Com o recente lançamento de lisina protegida da ação do rúmen, torna-se possível compensar dietas deficientes neste aminoácido sem sobrecarregar a dieta. 5. Administrar metionina protegida em quantidades suficientes para atingir o nível desejado. É importante que o nutricionista tenha em mente que a lisina e metionina protegidas não são aditivos, mas sim nutrientes essenciais, que devem ser utilizados na formulação de rações para ir ao encontro dos níveis desejados destes nutrientes na proteína metabolizável. Procurar o equilíbrio de aminoácidos na dieta não é simples. Por isso, é importante procurar produtos de elevada qualidade, e ter um aconselhamento experiente que permita um suporte constante e esteja a par das constantes alterações do mercado. O Programa de Aminoácidos da Kemin é baseado em dados de investigação que utilizam modelos sofisticados, validados num processo de três passos – laboratório, animal e na exploração e indústria.

56

ruminantes outubro .novembro . dezembro 2019

As tabelas 2 e 3 demonstram os resultados de meta-analise da implementação de um programa de aminoácidos vs um grupo de controlo, e da implementação dos suplementos de lisina Kemin (LysiGEM™ or LysiPEARL™) vs grupo de controlo.

CONCLUSÃO Pode concluir-se que equilibrar dietas para os aminoácidos em alternativa à proteína bruta é atualmente o método recomendado no que toca à nutrição de proteínas. Este método pode trazer infinitas oportunidades para maximizar o lucro da exploração de leite. Com os constantes aumentos nos preços dos alimentos para animais e dos custos da produção de leite, a reformulação de dieta com um baixo conteúdo de proteína bruta, enquanto se procura

um equilíbrio de aminoácidos com a utilização de metionina e lisina protegidas da ação ruminal, pode melhorar a utilização de energia metabolizável e maximizar a produção. Um dos grandes benefícios deste método é aumentar a produção de leite e dos componentes do leite utilizando menos proteína protegida, com custo semelhante ou mesmo inferior. Os aumentos da produção de leite são mais frequentes nas vacas em inicio de lactação, pelo que será benéfico implementar este equilíbrio ainda no período seco. Para além disso, equilibrar as rações para estes aminoácidos limitantes permite diminuir a ureia no leite e a excreção de nitrogénio, melhorando a saúde e reprodução da vaca leiteira. Bibliografia: consultar o autor para mais informações.

TABELA 1 PARÂMETROS DO LEITE DE VACAS ALIMENTADAS COM UMA RAÇÃO EQUILIBRADA EM MET E LYS COMPARATIVAMENTE A UM GRUPO DE CONTROLO CONTROLO

TESTE (SMARTAMINE® M, AND LYSIPEARL™)

DIFERENÇA

Proteína do leite %

3,29

3,40

+0,11

Gordura do leite %

3,41

3,57

+0,16

Caseína %

2,48

2,59

+0,11

Caseína/proteína %

75,4

76,3

+0,90

PARÂMETRO

TABELA 2 RESULTADOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE AMINOÁCIDOS KEMIN VS GRUPO DE CONTROLO AUMENTO VS GRUPO DE CONTROLO Produção Gordura de leite do leite Programa de aminoácidos Kemin

+7,5 %

+8,6 %

Proteína Caseína do leite do leite +5,6 %

+5,2 %

Ureia plasmática

ROI*

-26,7 %

4,9

TABELA 3 RESULTADOS DA ADMINISTRAÇÃO DE SUPLEMENTOS DE LISINA KEMIN VS GRUPO DE CONTROLO PERCENTAGENS DE AUMENTO VS GRUPO DE CONTROLO Produção de leite Suplemento de lisina +7,7 % Kemin (LysiGEM™ / LysiPEARL™)

Gordura Proteína do leite do leite

Caseína do leite

Contagem cél.somát.

Eficiência de azoto

+6,2 %

+10,0 %

-10,0 %

+5,8 %

+4,2 %



PRODUÇÃO

MANEIO DOS BOVINOS PARA ABATE COMO MELHORAR A QUALIDADE DA CARNE Por Margarida Carvalho, Médica Veterinária

M

uito se tem estudado sobre as características que conferem qualidade à carne de bovino. O consumidor tende a avaliar a qualidade da carne pelas suas características organoléticas que incluem além do sabor outros atributos como a tenrura, o “flavour” e o aspeto (cor, quantidade de gordura, etc). A estas características somam-se outras como o modo de produção ou a região de origem, que refletem a crescente preocupação do consumidor com a sustentabilidade e o bem-estar animal. Sabe-se que as características físicas da carne apreciadas pelo consumidor estão intimamente relacionadas com fatores como a idade, a raça, o sexo e a dieta dos animais. No entanto, por muito cuidado que o produtor tenha na escolha da genética, com a saúde dos animais e com a alimentação ao longo da vida na exploração, por vezes não tem consciência de como outros fatores, e em particular os últimos momentos na exploração, são cruciais para a qualidade da carne.

REDUZIR O STRESS E AS LESÕES Os músculos são ricos em glicogénio que após o abate é convertido em ácido láctico, diminuindo o pH da carne. Esta diminuição de pH é responsável pela tenrura da carne tão apreciada pelo consumidor. É sabido que um aumento do stress e da atividade física no final de vida dos animais faz com que exista um decréscimo das reservas de glicogénio nos músculos, aumentando assim o pH da carne, o que está associado a uma carne mais escura, mais firme e com mais água. Estas características levam a uma depreciação da carne por parte

58

ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019

dos consumidores. Também contusões levam a cortes das peças no matadouro reduzindo o rendimento da carcaça. Assim, um bom maneio, realizado rotineiramente por tratadores cuidadosos e preocupados no final de vida, tem o papel fundamental de reduzir o stress dos animais, aumentar o bem-estar e preservar a qualidade da carne.

INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS DE CONTENÇÃO Por vezes esquecidos, estes elementos podem ser responsáveis por lesões nos animais que além de comprometerem o seu bem-estar e aumentarem os níveis de stress, podem dar aso a rejeições no matadouro por comprometerem o aspeto visual da carne. De forma a evitar contusões, é importante ter em atenção e evitar cantos angulosos onde os animais possam embater ou pavimentos escorregadios. O design das instalações

e equipamentos deve ser feito tendo em conta os animais (idade, sexo, raça e tamanho), os recursos humanos e financeiros, o maneio habitual e a localização das instalações. Algumas soluções podem passar pela substituição de ângulos por curvas e a utilização de laterais altas com ocultação, de forma a evitar o stress. Além das lesões, o mau planeamento das instalações e equipamentos pode resultar em ruídos exagerados que põem os animais em alerta (por exemplo portões ruidosos), percursos em que os animais fiquem encandeados, etc. Outro fator relevante é o dimensionamento das instalações de forma a evitar uma elevada densidade de animais.

TRANSPORTE O transporte é por si só uma fonte de stress. O tempo de viagem deve ser reduzido ao mínimo e os percursos devem ser estudados de forma a evitar


Maneio dos bovinos para abate

pisos muito irregulares ou grandes oscilações de velocidade. Também o tamanho do veículo deve ser adequado ao número de animais a transportar, de forma a evitar uma grande densidade de animais, embora a existência de demasiado espaço propicie a ocorrência de quedas e lesões. A carga e descarga dos veículos deve ser feita calmamente evitando situações de maior stress. Para esse efeito é preciso que o pavimento da rampa tenha uma inclinação adequada e não seja escorregadio. A hora do dia deve ser escolhida de forma a evitar temperaturas extremas.

GRUPOS DE ANIMAIS Os bovinos são animais gregários, ou seja, animais que vivem em grupos. Nestes grupos estabelecem-se hierarquias e relações de dominância. É importante tentar preservar a

estabilidade dos grupos mesmo nos animais para abate. Deve evitarse a formação de novos grupos, principalmente de machos, uma vez que pode desencadear situações de agressividade e luta resultando em lesões e aumento de stress. Por outro lado, também o isolamento e a separação dos animais do seu grupo podem resultar em stress acrescido.

ALIMENTAÇÃO Existe a tendência para limitar o acesso a alimentos nos dias que antecedem o abate para, dessa forma, reduzir a atividade do trato gastro intestinal, a sujidade dos animais e a contaminação das carcaças. Embora tudo isto seja verdade, pode resultar em maiores níveis de stress devendo questionar-se o custo/beneficio desta medida. Vários especialistas referem que é preferível dar

primazia ao bem-estar dos animais mantendo-os bem alimentados e hidratados.

INJEÇÕES Os locais de inoculação de vacinas e as injeções intramusculares de medicamentos originam frequentemente lesões persistentes e infeções que obrigam a cortes nas peças de carne. Assim, a escolha dos locais a inocular deve incidir sobre zonas de menor valor comercial, como a tabua do pescoço. A execução destes procedimentos deve ser feita de acordo com o folheto informativo do fabricante, sob alçada do médico veterinário responsável da exploração, cumprindo os requisitos de higiene necessários. As seringas e agulhas usadas não devem ser reutilizadas.

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Especialista em nutrição e saúde animal, a D.I.N – Desenvolvimento e Inovação Nutricional, S.A. disponibiliza aos seus clientes soluções nutricionais inovadoras cuja conceção se encontra suportada na constante evolução técnica em nutrição animal. A nossa equipa multidisciplinar garante a prestação permanente de serviços técnico – veterinários e laboratoriais indo de encontro às necessidades específicas de cada cliente.

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ALIMENTAÇÃO

NUTRIÇÃO SUPLEMENTADA COM MICROMINERAIS ORGÂNICOS

RESULTA EM MAIOR PRODUTIVIDADE E RENDIMENTO Por John Pretz, PhD, Alltech

A

nutrição à base de microminerais (ou oligoelementos) e a sua aplicação em rações para vacas leiteiras é uma das áreas que merece grande atenção por parte de investigadores e técnicos de campo. Historicamente, os nutricionistas suplementavam as rações das vacas leiteiras com sais inorgânicos, constituídos por metais unidos por ligações iónicas a sulfatos ou óxidos (p. ex., sulfato de cobre, sulfato de zinco, óxido de zinco, etc.), para prevenir as deficiências em minerais e responder às necessidades do metabolismo, do crescimento e da reprodução do animal. O desenvolvimento do setor leva os produtores de leite a buscar permanentemente formas de melhorar a produtividade e a rentabilidade dos seus efetivos. Pensando no futuro, uma maneira fácil de ajudar a maximizar a produtividade do efetivo é explorando o potencial genético do animal através do uso de microminerais orgânicos. Os microminerais (ou oligoelementos) orgânicos fazem parte dos metais antes referidos, são minerais quelatados, unidos a sequestrantes ou unidos através de ligações covalentes a aminoácidos, análogos de aminoácidos, proteínas ou ácidos orgânicos. Desta forma, tendem a ter uma maior biodisponibilidade no intestino (Figura 1). Em comparação, quando se suplementa com minerais inorgânicos, uma parte dos mesmos degrada-se diretamente no rúmen antes de chegar ao intestino. Isto leva a que os minerais formem complexos indigeríveis quando adicionados a outros componentes da dieta, pelo

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que a suplementação mineral inicial perde parte da sua disponibilidade de absorção, e pode inclusive matar os microrganismos benéficos do rúmen. Nas últimas décadas, realizaram-se diversas investigações universitárias sobre microminerais orgânicos na área da nutrição. A maioria dos estudos realizados até à data centraram-se em substituir, parcial ou totalmente, os sulfatos ou os óxidos por fontes orgânicas de zinco, cobre ou manganês. Uma revisão das publicacões recentes indica que os resultados apresentam grande variabilidade entre estudos. De qualquer modo, a maior parte das investigações onde foram substituídos os minerais inorgânicos por microminerais orgânicos sugeriam os resultados que descrevemos seguidamente.

PRINCIPAIS CARATERÍSTICAS DOS MICROMINERAIS ORGÂNICOS EFICAZES Para que um micromineral orgânico seja eficaz deve cumprir quatro critérioschave: • Ter alta solubilidade na água • Permanecer estável ao longo do processo de digestão • Melhorar a absorção intestinal • Gerar uma resposta economicamente vantajosa no animal

SOLUBILIDADE A alta solubilidade na água é um componente crítico indispensável para que um micromineral orgânico seja eficaz. Os elementos insolúveis não são absorvidos em concentrações suficientes, passando através do sistema digestivo do animal.



ALIMENTAÇÃO

FIGURA 1 ABSORÇÃO DE METAIS NO INTESTINO Zn+2

Antagonista

Ingerido

Zn+2 Zn

AA

Não absorvido Não absorvido

Zn+2 Agente sequestrante+

Zn+2

Intestino delgado Zn

AA

ESTABILIDADE Os microminerais orgânicos de alta qualidade devem permanecer estáveis através do processo digestivo. Estes minerais não deveriam interagir com os fitatos, a fibra e os minerais que se encontrem no trato digestivo, para minimizar o risco de antagonismos. Estas mesmas características de estabilidade também deveriam minimizar as interações com a microflora ruminal, o que por sua vez ajudaria a manter e promover uma digestão apropriada.

ABSORÇÃO E BIODISPONIBILIDADE A capacidade de melhorar a absorção intestinal é uma das características mais relevantes de um micromineral orgânico. O tamanho molecular dos microminerais orgânicos é fundamental para melhorar a sua absorção. Quanto mais pequeno for o agente sequestrante do mineral, mais facilmente será absorvido o dito mineral, sempre que ambos os elementos formem uma união coesa. Na maior parte dos casos utilizam-se aminoácidos como transportadores, que formam ligações muito fortes com os metais. Isto protege-os de qualquer antagonismo na sua rota através do sistema digestivo, melhorando desta forma a sua absorção. A biodisponibilidade define-se como a proporção do conteúdo total em nutrientes de um ingrediente que é utilizado pelo animal. A biodisponibilidade é difícil de medir, salvo em ensaios com condições e ambiente totalmente controlados. Os estudos realizados demonstram que

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Absorção

Absorção

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os microminerais orgânicos apresentam muito maior biodisponibilidade para o animal do que os microminerais inorgânicos.

RESPOSTA ECONOMICAMENTE VANTAJOSA Considerando as melhorias no rendimento da produção de leite e na reprodução; a diminuição do número de células somáticas e a melhoria da saúde dos cascos, pode afirmar-se com toda a certeza que os resultados ultrapassam uma margem de retorno do investimento de 2:1. Mais ainda, os animais atingirão o seu potencial genético mais facilmente, pois é minimizada a excreção de microminerais orgânicos, que de outra forma acabariam por ir parar ao campo.

O USO DOS MINERAIS BIOPLEX NA NUTRIÇÃO DE MICROMINERAIS Os microminerais orgânicos proporcionam uma nutrição mineral da forma mais parecida possível com a natureza. Os minerais Bioplex são microminerais ligados a aminoácidos e a um conjunto de péptidos. São facilmente absorvidos e rapidamente metabolizáveis, otimizando o rendimento do animal. Os microminerais Bioplex (zinco, manganês, cobre, ferro e cobalto) funcionam como co-fatores de enzimas críticos para o sistema de defesa do animal (Figura 2), o seu crescimento e reprodução. A alimentação das vacas leiteiras com dietas que contêm maior disponibilidade de microminerais orgânicos, como os proporcionados por Bioplex, é uma forma eficaz de melhorar a absorção e biodisponibilidade dos minerais no animal. É importante referir que a resposta à nutrição com microminerais orgânicos se traduz, na maior parte dos casos, em melhorias subtis na saúde, rendimento e reprodução dos animais. Os minerais Bioplex são um produto propriedade da Alltech.

FIGURA 2 AS VANTAGENS DOS MINERAIS NAS VACAS LEITEIRAS Manganês Desenvolvimento dos ossos Função imunitária Produção de hormonas

Selénio Saúde pós-parto Saúde do úbere e qualidade do leite Estado antioxidante

Zinco Desenvolvimento reprodutivo Manganês Desenvolvimento dos ossos Função imunitária

Cobre, Manganês e Selénio Otimização da reprodução Fertilidade

Cobre e Zinco Maior produção de leite

Selénio e Zinco Redução da contagem de células somáticas Ferro Metabolismo e imunidade

Zinco Saúde reprodutiva Saúde dos cascos



PRODUÇÃO

MELHORAR A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA EM BOVINOS LEITEIROS

A

INÊS MEXIA DE ALMEIDA ENGª. ZOOTÉCNICA MONTE DO PASTO

MÁRIO QUARESMA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA, UNIVERSIDADE DE LISBOA

principal raça usada nas explorações de produção de leite de bovino é a HolsteinFrísia (HF). Nas últimas décadas, a tónica da seleção desta raça foi no sentido do aumento da sua produção, com consequências negativas para a fertilidade. De uma forma geral, para a resolução deste problema, teria de se inverter esta situação. Ou seja, estabelecer um programa de melhoramento animal orientado para as características morfológicas e funcionais, em detrimento de características produtivas. Não querendo fazer esta involução da seleção, existem estratégias de maneio, ao nível da exploração, que podem ser adotadas para minimizar os efeitos negativos do aumento da produção leiteira na eficiência reprodutiva.

CONTROLAR A CONSANGUINIDADE

JOÃO BENGALA FREIRE INST. SUPERIOR AGRONOMIA UNIVERSIDADE DE LISBOA

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O aumento de 1% na percentagem de consanguinidade, conduz ao decréscimo de 3,3% na taxa de conceção, ao aumento de 0,17 inseminações por conceção e ao aumento de 2 dias ao intervalo parto-conceção. O aumento da percentagem de consanguinidade pode ser amenizado através de um maior cuidado na altura de delineamento do plano reprodutivo da exploração. Isto é, na altura em que se seleciona o sémen para inseminar, verificar que o touro respetivo tem um baixo grau de parentesco com a vaca a inseminar. Para um efeito mais marcado, deverá optar-se pelo cruzamento com raças diferentes, como sejam a

Montbeliard, Parda Suíça ou Jersey. Nestes cruzamentos, embora se observe uma diminuição da produção leiteira, quando comparado com a raça HF, beneficia-se da heterose, havendo uma melhoria da fertilidade e maior resistência a doenças, que se traduz num aumento da vida produtiva das vacas.

CONTROLAR O BALANÇO ENERGÉTICO NEGATIVO O balanço energético negativo (BEN) ocorre quando as necessidades energéticas e nutricionais do início da lactação não são cobertas pela capacidade de ingestão voluntária das vacas, obrigando-as a recorrer à mobilização de reservas corporais para satisfazer as necessidades energéticas e nutricionais. Por forma a atenuar o BEN das vacas leiteiras no pós-parto, é aconselhável a inclusão de gordura nos regimes alimentares (sem comprometer a quantidade de fibra). Desta forma, há uma maior disponibilidade energética e maior eficiência de utilização das fontes de energia. A taxa de conceção das vacas suplementadas com gordura é superior (59,1 % à primeira inseminação e 59,3% nas inseminações subsequentes) à das vacas que não recebem esta suplementação (42,6% à primeira inseminação e 40,7% nas inseminações subsequentes). Durante o período de transição, é, também, importante estimular a ingestão voluntária de alimento, uma vez que esta será determinante para o grau de BEN que se atinge no início da lactação. Para este efeito devem usar-se alimentos palatáveis e distribuir alimento com maior frequência.


Melhorar a eficiência reprodutiva em bovinos leiteiros

CONTROLAR O REGIME E MANEIO ALIMENTAR Com o objetivo de atenuar o problema do BEN, no início de lactação as vacas leiteiras recebem alimento concentrado rico em amido. Mas tal estratégia resulta no aumento da incidência de acidoses, o que é consequência de uma mudança brusca na dieta (passagem de alimentação rica em alimentos grosseiros - ricos em fibra - para alimentação rica em alimentos concentrados - ricos em amido). É essencial uma alteração progressiva da composição da dieta dos animais, para assegurar um período de transição livre de distúrbios alimentares. Assim, no pré-parto deve introduzir-se de forma gradual o alimento concentrado, permitindo a gradual adaptação da flora ruminal microbiana àquela que será a dieta do pós-parto. Para tal é necessário assegurar a transição da flora ruminal predominantemente celulolítica para uma flora maioritariamente amilolítica.

A quantidade de fibra efetiva no regime alimentar das vacas leiteiras e a frequência de distribuição do alimento também devem ser tidos em conta para evitar os distúrbios. A quantidade de fibra é determinada em função da capacidade de ingestão voluntária e da quantidade de amido do regime alimentar (Tabela 1), devendo ter em consideração que a elevada quantidade de fibra pode comprometer a capacidade de ingestão voluntária. A distribuição do

alimento, deverá ser feita em pequenas quantidades e com maior frequência ao longo do dia. Para contornar o problema da quebra de fertilidade associada ao fornecimento de proteína degradável no rúmen (PDR), deve fornecer-se às vacas leiteiras alimentos com elevado teor de proteína não degradável no rúmen (PNDR), como seja o bagaço de soja. Verifica-se que o aumento do fornecimento de níveis sub-ótimos de PNDR (90% das

TABELA 1 - NECESSIDADE DE FIBRA EFETIVA (8 MM), EXPRESSA EM % MS, RECOMENDADA PARA A DIETA DE VACAS LEITEIRAS, EM FUNÇÃO DA QUANTIDADE DE AMIDO PRESENTE NA DIETA E DA CAPACIDADE DE INGESTÃO VOLUNTÁRIA DE MATÉRIA SECA (IMS) Amido total (%MS) 14

IMS (kg/dia) 12

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15

16

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15

17

18

22

16

17

19a

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20a

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a — a quantidade de ingestão voluntária fica comprometida para valores de fibra superiores a 18% MS, podendo não se atingir a IMS expectável; IMS — ingestão de matéria seca

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PRODUÇÃO

necessidades) para o fornecimento de níveis excedentes de PNDR (110% das necessidades) leva a um aumento da taxa de conceção de 25 para 75%. Assim, é possível concluir que mais importante que a quantidade de PB disponibilizada no regime alimentar é a qualidade da mesma. Devendo optar-se por fontes de PNDR (ao invés de PDR) para favorecer a eficiência reprodutiva.

CONTROLAR O STRESS TÉRMICO Uma vez que os efeitos do stress térmico são tão marcados na fertilidade das vacas leiteiras, o seu controlo é de extrema importância nas explorações. A principal forma de controlo passa pela utilização de instalações e equipamentos que permitam minimizar este tipo de stress nos animais. Pode optar-se pela utilização de ventiladores, aspersores e nebulizadores. Há que ter em atenção que em climas/regiões de elevada humidade, a eficácia dos aspersores e nebulizadores fica comprometida, uma vez que a humidade relativa do ar elevada não permite o arrefecimento evaporativo. Por outro lado, em climas secos e quentes, a utilização de ventiladores não será a mais adequada, pois embora ajude na circulação do ar este continua a ser bastante quente. Assim sendo, o ideal é que o produtor escolha o sistema de arrefecimento que melhor se adequa à sua exploração, dentro dos sistemas disponíveis no mercado.

CONTROLAR AS PATOLOGIAS A principal e mais eficaz forma de controlar o aparecimento das doenças do peri-parto passa pela aplicação de um maneio adequado durante o período de transição, o que inclui o estímulo da ingestão de alimento e a manutenção dos parques limpos,

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para minimizar ao máximo a prevalência dos agentes patogénicos. Nas vacarias em que exista a possibilidade de criar espaços de enfermaria/maternidade, recomenda-se a deslocação da vaca em final de gestação para estes espaços, o que beneficiará não só a saúde da parturiente, mas também a saúde do vitelo.

SINCRONIZAÇÃO DA OVULAÇÃO O aumento do tamanho médio das explorações e a crescente utilização de vacas de elevada produção – com comportamento de cio menos evidente – obriga a que ocorra um ajuste das técnicas de maneio reprodutivo. A tradicional deteção de cio, através da observação visual, seguida de inseminação artificial tornou-se ineficaz, ficando comprometida a conceção, podendo levar a taxas de conceção por inseminação na ordem dos 30%. O conhecimento e compreensão da fisiologia reprodutiva destes animais foi a chave para que se pudessem desenvolver técnicas de sincronização de ovulação, que eliminam a necessidade de deteção de cio e permitem a inseminação artificial a tempo fixo (IATF), levando a uma maior eficiência reprodutiva. Esta estratégia de maneio reprodutivo apresenta ainda como vantagens: 1) diminuição do intervalo entre o parto e a primeira inseminação; 2) diminuição do intervalo entre o parto e a conceção; e, consequentemente, 3) diminuição do intervalo entre partos. Tendo em conta os benefícios que advêm da sua aplicação, a IATF tem sido uma das técnicas mais utilizadas nas explorações leiteiras modernas, para melhorar a eficiência reprodutiva.

CONCLUSÃO A melhoria da eficiência reprodutiva dos bovinos leiteiros passa por diferentes estratégias, todas elas essenciais ao sucesso:

O aumento do tamanho médio das explorações e a crescente utilização de vacas de elevada produção, com comportamento de cio menos evidente, obriga a um ajuste das técnicas de maneio reprodutivo. Criteriosa seleção de reprodutores não aparentados com as vacas por forma a diminuir a taxa de consanguinidade; Maneio alimentar adequado à vaca leiteira, realizando uma progressiva mudança na composição da dieta no período de transição, para preparar a flora microbiana para a digestão de dietas ricas em amido. Paralelamente, a distribuição do alimento deverá ser feita em pequenas quantidades e com maior frequência ao longo do dia; Estratégias nutricionais para a promoção da fertilidade. A este nível existem várias estratégias que podem ser utilizadas simultaneamente, nomeadamente: o aumento da carga energética da dieta pela inclusão de gordura e a utilização de alimentos com elevado teor de proteína não degradável no rúmen; Adequação das condições da exploração para minimizar os efeitos negativos do stress térmico; Higienização dos parques e criação de espaços enfermaria/maternidade, para que o parto ocorra em ambientes com menor carga microbiana; Sincronização da ovulação, esta é sem qualquer dúvida a estratégia cujos resultados se observam mais facilmente e rapidamente. Contudo, falhas no maneio, nutrição ou higiene podem vir a comprometer o sucesso dos protocolos de sincronização da ovulação.


Melhorar a eficiĂŞncia reprodutiva em bovinos leiteiros


AGRO INDÚSTRIA

QUEIJOS DE OVELHA DE PASTA MOLE FABRICADOS A PARTIR DE LEITE PASTEURIZADO E COALHO VEGETAL Cristina Miguel Pintado1, António Moitinho Rodrigues1, Teresa Montero2, María Garrido2, Montserrat López2, Rafael Tabla2 1 CATAA - Centro Apoio Tecnológico Agro Alimentar 2 INTAEX - Instituto Tecnológico Agroalimentario de Extremadura

Neste trabalho descreve-se a adaptação da tecnologia de fabrico de queijo de ovelha de pasta mole com leite cru à utilização de leite pasteurizado, para internacionalização destes produtos tradicionais. INTRODUÇÃO São 14 os queijos tradicionais qualificados com DOP fabricados em Portugal com leite cru. Este facto impede que estes produtos cheguem a países com elevado poder económico, onde as imposições higiossanitárias inviabilizam a importação de produtos lácteos obtidos com leite cru. No âmbito do projeto INNOACE - Inovação Aberta e Inteligente na EUROACE – e com o objetivo de ultrapassar esta dificuldade, estudou-se a possibilidade de produção de queijos de pasta mole utilizando leite pasteurizado e coalho vegetal. Neste trabalho descreve-se a adaptação da tecnologia de fabrico de queijo de ovelha de pasta mole com leite cru à utilização de leite pasteurizado, para internacionalização destes produtos tradicionais. O projeto foi cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do Programa Interreg V-A Espanha-Portugal (POCTEP) 2014-2020.

QUEIJOS DE OVELHA DE PASTA MOLE FABRICADOS NA REGIÃO EUROACE Nas regiões fronteiriças do Centro, do Alentejo (Portugal) e da Extremadura (Espanha), os queijos de ovelha de pasta mole são fabricados com leite cru e coalho vegetal (Cynara cardunculus), o que lhes confere sabor e textura

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diferenciadores (Figura 1). A fermentação espontânea do leite, em que a microbiota pode ter origem na ordenha, no transporte e no fabrico, promove grande variabilidade do produto, nem sempre indicadora de boa qualidade. A pasteurização visa a segurança alimentar, a uniformização da matériaprima e, consequentemente, da qualidade do queijo. Também elimina microrganismos benéficos, obrigando à adição de culturas microbianas que, simultaneamente, garantem a qualidade sensorial e a segurança alimentar. Atualmente, a utilização de fermentos não é exclusiva do fabrico de queijo com leite submetido a tratamento térmico, sendo também recomendada para leites com menor quantidade de microrganismos (≤ 1000 UFC/ml).

PROCESSO DE FABRICO O leite de ovelha deve apresentar pelo menos 6% de gordura, com um rácio gordura/proteína de aproximadamente 1,2-1,3. Deverá ser refrigerado e laborado no máximo até 72 horas após a ordenha, para minimizar o desenvolvimento de microrganismos psicrotróficos. Deverá ser aplicado um processo contínuo de pasteurização, no mínimo 72oC durante 15 segundos. Após aquecer o leite (30oC±0,5oC) adicionam-se 0,01% de cloreto de cálcio e 1% de cloreto de

sódio, o que vai proporcionar melhor controlo da acidificação. Cerca de 10-15 minutos antes da coagulação juntam-se os fermentos de acidificação e de afinação. Para a coagulação de 100 L de leite de ovelha em 50 minutos a 30oC, recomendase 50 g de flor de cardo seca (Cynara cardunculus). Após secagem e moenda da flor, preparar uma infusão a frio (4oC±2), em água destilada ou mineral (Figura 2). Utilizar 1 a 2 litros de água para preparar o extrato; se for empregue um pano ou uma gaze para a separação de fases adicionar muita água, mas se este processo for por centrifugação preparar um extrato mais concentrado. Este coalho pode ser congelado (-20oC) durante 3 meses sem perder a atividade coagulante. Deve realizar-se o corte da coalhada com liras quando esta apresentar uma granulometria homogénea (Figura 3). Promove-se agitação suave, para evitar a agregação e a rotura dos grânulos, e aquecimento lento e progressivo da coalhada (32-33oC), para facilitar o dessoramento. Os grânulos mantêm-se em suspensão (15-30 minutos) para que, mediante a sinérese, diminuam o seu tamanho até apresentarem dimensão de grão de arroz cozido. Nesta etapa, pode ser útil a determinação do extrato seco da coalhada (33-35% para queijo mole a muito mole e 37-39% para queijo mole a semimole). Quando o grão da coalhada alcança o


Queijos de ovelha de pasta mole a partir de leite pasteurizado e coalho vegetal

FIGURA 1 QUEIJOS DE OVELHA DE PASTA MOLE, FABRICADOS COM LEITE CRU E COALHO VEGETAL, SÃO PRODUTOS TRADICIONAIS DAS REGIÕES FRONTEIRIÇAS DO CENTRO, DO ALENTEJO (PORTUGAL) E DA EXTREMADURA (ESPANHA).

teor de água desejado, retira-se 50% do soro da cuba e coloca-se a massa nos moldes de rede e posteriormente nos moldes onde se realiza a prensagem (50-90 minutos, consoante o tamanho do queijo). Aplica-se um gradiente de pressão, inicialmente 1 kg/cm2 e na fase final 2 kg/cm2. Recomenda-se uma temperatura de 20oC. A concentração salina e o tempo de permanência na salmoura dependem do tamanho do queijo, da temperatura ambiente e da concentração de sal do produto final. Para obter 1,5% de sal num queijo de 800 g, utilizar salmoura com 16o Baumé, pH 6,20±0,1, durante 30 minutos a 4oC. No início da maturação ocorre a acidificação numa câmara a 5±1oC, 80–90% humidade relativa (HR), com velocidade de circulação do ar baixa. Posteriormente, na afinação, a temperatura da câmara é superior, 7–10oC, 80% de HR e a velocidade do ar um pouco superior para promover a secagem da crosta. A velocidade de circulação de ar depende muito da consistência do produto, das características das câmaras e da disposição dos queijos nestas. Deve efetuar-se a lavagem para preservar a humidade da crosta e inibir o

desenvolvimento de bolores (adição de fungistáticos à agua, como sorbatos e/ou natamicina). A duração das etapas de maturação é flexível. Para estes queijos o pH mínimo deve ser 5,1±0,1 e valores inferiores poderão comprometer o sabor e a textura, especialmente em queijos de pasta mais mole. Como orientação, a acidificação prolonga-se até duas semanas nos queijos mais moles e uma semana nos semimoles. Após atingir o mínimo de pH, os queijos permanecem na câmara de acidificação durante mais uma semana e a etapa de afinação inicia-se após estabilização ou aumento de pH. O período mínimo de maturação é de 45 dias, mesmo que o sabor e o aroma alcancem o pleno desenvolvimento após 60 dias. Durante a última semana, o incremento de 2oC da temperatura da câmara promove a intensificação do sabor e do aroma.

CULTURAS MICROBIANAS Como culturas iniciadoras recomendase Lactococcus lactis lactis, Lactococcus lactis cremoris e Lactococcus lactis lactis biov. diacetylactis e, opcionalmente, incluir Streptococcus thermophilus. Não exceder 4,5-5,0 log UFC/mL de leite. Quando a presença de olhos é desejável,

FIGURA 2 PREPARAÇÃO DE INFUSÃO DE FLOR DE CARDO (CYNARA CARDUNCULUS), APÓS SECAGEM E MOENDA | FIGURA 3 CORTE DA COALHADA COM LIRAS

juntar Leuconostoc mesenteroide numa proporção de 1:10, relativamente à cultura acidificante. Relativamente às culturas de afinação, utilizar leveduras Debaryomyces hansenii e Kluyveromyces lactis, que contribuem para a complexidade organolética e favorecem o desenvolvimento de bactérias de afinação sensíveis a meios ácidos. Consoante a cor da crosta, incluir no consórcio bactérias Arthrobacter nicotianae (amarelo palha) ou Brevibacterium linens (ocrealaranjado). O fermento também pode ser enriquecido com Staphylococcus xylosus, que favorece o desenvolvimento de bactérias lácticas. Se necessário, adicionar também culturas de afinação ao soro ou à salmoura para lavar a crosta do queijo. Estas substâncias fungistáticas (sorbato e/ou natamicina) não interferem no desenvolvimento das culturas de afinação propostas.

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SAÚDE E BEM-ESTAR

O QUE OS CHEIROS NOS PODEM DIZER Devemos começar este artigo por dizer que os humanos são bastante maus no que concerne ao uso do sentido do olfacto. Habituámo-nos a usar muito mais a visão, e isso tornou os nossos outros sentidos muito mais preguiçosos. Mas mesmo assim, não cheiramos assim tão mal.

E TEXTO E FOTOS GEORGE STILWELL MÉDICO-VETERINÁRIO FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA – UNIVERSIDADE DE LISBOA

m muitos momentos o olfacto pode ser usado para uma primeira detecção de animais doentes ou para confirmação de uma suspeita ou de um diagnóstico. Não raras vezes, ao entrar num parque com vacas, percebemos que qualquer coisa não está bem pelo odor que pode vir das fezes, da urina, do hálito ou mesmo da pele dos animais. Esse primeiro sinal pode ser crucial na detecção precoce de um ou mais animais a precisar de assistência. É por isso útil andar sempre de nariz no ar quando nos movemos entre os nossos animais.

O CHEIRO A MAÇÃ-REINETA Apesar de eu nunca ter conseguido identificar o cheiro a maçã-reineta no hálito das centenas de vacas que tratei para cetose ou acetonemia, esta é a descrição que mais vezes encontramos na literatura especializada. Especialmente em vacas leiteiras nos primeiros meses da lactação (e nos pequenos ruminantes na fase final da gestação), pode haver uma mobilização exagerada de gordura para responder às avultadas necessidades energéticas, típicas destas fases do ciclo produtivo. Não conseguindo usar de forma eficiente toda a gordura mobilizada, o organismo acaba por produzir os corpos cetónicos. Um destes é a acetona que é libertada pelo pulmão dando ao hálito um cheiro bastante característico – a fruta

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acidificada ou a verniz das unhas. Os outros corpos cetónicos são libertados pela urina e pelo leite, mas a sua detecção pelo cheiro é impossível para humanos. Algumas pessoas conseguem detectar animais com cetose de uma forma muito eficiente, às vezes sem sequer estarem muito próximos da cabeça. Se bem que seja essencialmente um sinal de uma doença individual que se pode tornar perigosa, o cheiro pode também para ser usado para identificar um grupo de animais em balanço energético negativo permitindo tomar medidas correctivas precocemente.

MAUS CHEIROS Os cheiros mais frequentemente detectados nas explorações são os maus cheiros normalmente derivados de gases produzidos pelas bactérias envolvidas em infecções ou na putrefacção de material orgânico. As bactérias especialistas em produzir maus cheiros são as chamadas anaeróbicas e uma das grandes campeãs é uma chamada Fusobacterium necrophorum. Esta bactéria encontra-se em infecções relativamente frequentes nos nossos animais como seja o panarício interdigital ou a metrite puerperal (logo após o parto). O cheiro nauseabundo (há quem o compare a couves em putrefacção) é bastante característico. Num parque onde se encontram vacas


O que os cheiros nos podem dizer

recém-paridas é importante usar o sentido do olfacto porque permite perceber que entre estes animais se encontram um ou mais a fazer uma infecção uterina, que se podem vir a revelar bastante perigosa. O cheiro pode provir dos fluidos uterinos expelidos espalhados pelo chão ou do gás que se liberta através da vulva quando as vacas contraem o abdómen devido ao incomodo caudado pela infecção e/ou retenção placentária. No caso das infecções podais, o olfacto pode ser precioso para distinguir uma vaca com uma lesão da úngula (por exemplo, úlcera da sola), uma dermatite digital ou um panarício (a mesma bactéria pode também infectar ovelhas com peeira). Enquanto que as primeiras lesões não libertam qualquer odor detectável, o panarício apresenta o tal cheiro nauseabundo (pode ser preciso passar o dedo com luva pelo espaço interdigital). Muitas outras bactérias (mesmo aeróbicas) libertam gases com cheiro mais ou menos característico. Os clostrídeos, por exemplo, podem causar infecções subcutâneas ou intramusculares com a produção de gás que apresentam cheiros variáveis – de leite azedo ao de carne em putrefacção. Se bem que seja praticamente impossível diagnosticar o agente bacteriano pelo cheiro (há estudos que sugerem que o Clostridium difficile dá um cheiro muito próprio às fezes dos doentes), permite confirmar que se trata de uma infecção e descartar outras hipóteses.

Fig. 1 Pequeno tronco retirado da fossa nasal de uma vaca Jersey na Nova Zelândia. O cheiro nauseabundo que saía da narina esquerda permitiu suspeitar de corpo estranho alojado nessa fossa nasal.

OUTROS CHEIROS Para além do que atrás se referiu há uma série de outros cheiros que nos podem alertar para situações a requerer atenção rápida. O cheiro acidificado das fezes podem indiciar uma situação de acidose ruminal; o cheiro a cebola surge muitas vezes após o tratamento prolongado ou excessivo com propilenoglicol (para tratar cetoses); o cheiro enjoativo a leite podre é bastante característico das

Fig 2 Miíases na base dos cornos de um carneiro. O cheiro é muito característico e permite suspeitar de infecções mesmo escondidas pela lã.

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SAÚDE E BEM-ESTAR

diarreias de vitelos por E. coli; o cheiro nauseabundo proveniente da zona do úbere pode ser detectado na ordenha de vacas com seborreia flexural (na virilha) ou na dermatite que surge entre os quartos mamários anteriores; o mau cheiro do hálito pode indicar que há um abcesso junto às vias respiratórias; o cheiro adocicado e enjoativo do hálito é, normalmente, indicação de infecção por Actinobacillosis lignieresii (actinobacilose ou língua de pau); o cheiro também é muito característico nas feridas ocupadas por miíases de moscas, sendo o olfacto muito importante na sua identificação e localização já que podem estar escondidas pela lã, pêlo ou pregas de pele. Quando exerci clínica na Nova Zelândia várias vezes fui chamado para tratar de vacas com respiração ruidosa. Na maior parte das vezes o mau-cheiro do ar expirado por uma das narinas mostrava de que haveria uma infecção nas vias respiratórias superiores – quase sempre um ramo ou pequeno tronco alojado bem fundo na fossa nasal (não sei porque é que as vacas neo-zelandesas fazem isto mais do que as portuguesas, mas a verdade é que em Portugal muito raramente vi casos semelhantes).

CHEIRO NO AMBIENTE E NO ALIMENTO Nem sempre o cheiro provém do animal, mas tem antes a sua origem no ambiente. Nem por isso deixa de ser significativo. O cheiro ambiental mais importante a detectar é o do gás amoníaco. Este gás é produzido pela degradação da ureia da urina pelas bactérias que se encontram no estrume/fezes dos animais. Se bem que existam métodos tecnológicos para medir os níveis de amoníaco nos estábulos, o nariz pode servir como primeiro detector. Os riscos de ter um ambiente com elevados níveis de amoníaco são enormes especialmente em animais jovens já que este e outros gases arrasam as defesas do aparelho respiratório abrindo caminho a

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pneumonias bacterianas normalmente fatais. Muitos outros gases são libertados por diversas bactérias que se desenvolvem em camas húmidas e conspurcadas, sendo por isso que a detecção de cheiros estranhos é um forte indício de um factor de risco que pode explicar uma elevada prevalência de mastites. Alimentos húmidos onde houve crescimento de bactérias e fungos nocivos, libertam também cheiros que podem ser significativos. Sabemos que muitas micotoxinas produzidas por fungos que se desenvolvem nestes alimentos mal conservados, podem causar enormes prejuízos, muitas vezes encapotados. Por outro lado, o cheiro ácido de uma boa silagem é um bom sinal enquanto que o cheiro pouco ácido ou a húmus é sinal de fermentações deficientes na presença de oxigénio.

USAR OS QUE CHEIRAM MELHOR Como já se disse o olfacto não é um dos maiores talentos da espécie humana. Apresentámos os cheiros que considerámos mais importantes não apenas por causa do seu significado, mas, principalmente, porque são os únicos que conseguimos detectar. Mas há quem tenha olfacto muitas mil vezes maior. E, felizmente, até são nossos fiéis aliados e mesmo considerados os nossos melhores amigos. Refiro-me, claro, aos cães. Os narizes destes possuem uma capacidade olfactiva que pode ser 10.000 a 100.000 vezes superior à dos humanos. O valor mínimo de detectabilidade de um composto volátil pelo nariz do cão é de uma parte num trilião (1,000,000,000,000). O que é que isso quer dizer? Vamos ser modestos e pensar que os cães são apenas 10 mil vezes melhores do que nós. Se fizermos a analogia para distância, quer dizer que um cão veria tão bem ou melhor um objecto a 5.000 quilómetros como o caro leitor se este estivesse a 500 metros. São por isso, sem

Não raras vezes, ao entrar num parque com vacas, percebemos que qualquer coisa não está bem pelo odor que pode vir das fezes, da urina, do hálito ou mesmo da pele dos animais. dúvida, os campeões do olfacto. Agora imaginem que conseguimos colocar esta extraordinária habilidade a trabalhar para nós. Se conseguirmos treinar um cão a detectar o odor de corpos cetónicos na urina ou no leite ou o cheiro das feromonas libertadas no leite no momento do estro, não precisaríamos de tecnologia nem de métodos sofisticados para identificar muito precocemente e com uma enorme certeza, vacas no início de uma doença ou prestes a entrar em cio. A investigação neste campo já dura há alguns anos, com resultados promissores quer seja na medicina humana (detectar cancros!) seja na medicina e produção animal. E tudo em troca de apenas uma festa e um bom osso para roer.

CONCLUSÃO Fica assim demonstrado que o nosso olfacto, por muito fraco que seja, continua a ser uma arma fundamental para o tratador de animais. Com ele podemos muitas vezes detectar mais cedo doenças ou problemas que só viriam a ser evidentes muito mais tarde ao olhar ou aos métodos tecnológicos de detecção. Não tenha, por isso, vergonha de andar sempre de nariz empinado quando passeia e trabalha entre os seus animais. NOTA: O autor não escreve pelo acordo ortográfico vigente.


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SAÚDE & BEM-ESTAR

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O QUE É A linfadenite caseosa (LC), também conhecida como pseudotuberculose, é uma doença infecciosa, extremamente contagiosa, causada por uma bactéria - Corynebacterium pseudotuberculosis. Ocorre em ovinos e caprinos, mas também noutras espécies como bovinos ou equídeos tendo também potencial zoonótico, ou seja, pode afetar o homem. Tem distribuição mundial e acarreta prejuízos económicos importantes na exploração, uma vez que pode provocar quebras na produção, desvalorização da lã, problemas reprodutivos, gastos com saúde dos animais, refugo e rejeição de carcaças no matadouro. Esta doença começa por afetar os linfonodos (gânglios linfáticos) periféricos podendo atingir também os linfonodos viscerais e outros órgãos. A infeção torna-se crónica uma vez que não existe uma terapêutica realmente eficaz. Isto deve-se provavelmente à dificuldade dos antimicrobianos em penetrar a cápsula dos abcessos característicos da doença. Uma vez dentro da exploração, torna-se uma doença difícil de erradicar. A doença tem um período de incubação longo em que não existem sintomas, tornando-se difícil identificar os animais doentes. SINTOMAS A doença caracteriza-se pela formação de abcessos preenchidos por pus nos linfonodos e em alguns órgãos. Quando afeta os linfonodos periféricos, a doença é mais facilmente reconhecida. Em caprinos, os gânglios afetados são frequentemente os da cabeça e do pescoço mas outros também podem ser afetados. O acometimento dos órgãos internos como o pulmão, rim,

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fígado e linfonodos viscerais é mais difícil de perceber. Por vezes está associado a sinais pouco específicos como emagrecimento ou problemas reprodutivos. TRANSMISSÃO E PREVENÇÃO A infeção dos animais pode ocorrer por via respiratória, oral, ou através de lesões da pele. As lesões dos animais doentes, onde se incluem as lesões pulmonares ou os abcessos superficiais, são importantes fontes de contágio. Os abcessos, após rutura, podem libertar bactérias para a pele e pêlo dos animais ou para o meio ambiente onde, pelas características desta bactéria, resistem durante muito tempo. Assim, a infeção pode ocorrer por contacto direto com secreções de animais infetados, mas também através do ambiente, de objetos contaminados (ex. máquina de tosquia), água e alimentos. Normalmente, a doença é introduzida numa exploração através de um animal doente assintomático pelo que é importante fazer a quarentena dos novos

animais. De forma a evitar a entrada da infeção na exploração, estes animais devem ser selecionados de explorações livres da doença, e deve ser feito um exame cuidadoso dos animais a comprar que inclua análises laboratoriais para identificação do agente. Quando se identificam animais infetados, estes devem ser rapidamente removidos da exploração. Paralelamente, deve-se ter o cuidado de limpar e desinfetar cuidadosamente instalações e equipamentos. A tosquia parece ser um fator de risco uma vez que causa com frequência pequenas lesões na pele que permitem a entrada do agente. Além disso, o equipamento de tosquia é partilhado entre vários animais e muitas vezes entre explorações. Em Portugal não existe vacina comercial contra o C. pseudotuberculosis, alguns estudos sugerem a utilização de vacinas de rebanho. Nota: para informação mais detalhada sobre esta doença consulte o número 9 da revista Ruminantes em htts://issuu.com/ruminantes/docs/ruminantes_9.


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ENTREVISTA A JOSÉ FREIRE, FERTIPRADO

TRABALHAMOS COM PAIXÃO NUM SETOR DESAFIANTE

JOSÉ FREIRE RESPONSÁVEL DE MARKETING E VENDAS, FERTIPRADO JFREIRE@FERTIPRADO.COM

N

o início de mais um ano agrícola, quisemos saber quais as tendências do setor pecuário na ótica da Fertiprado. Qual a visão da Fertiprado sobre o setor pecuário de hoje? O setor pecuário é historicamente aquele que maior capacidade tem para se adaptar a todos os desafios e mudanças que os tempos têm imposto. Tanto os produtores de leite como os produtores de carne têm tido uma capacidade inigualável para responder a todos os reptos que lhes têm sido lançados: a subida dos custos de produção, os baixos preços do leite e da carne, as exigências de segurança, de qualidade e de respeito pelo ambiente – todas estas e outras adversidades têm sido absorvidas pela enorme capacidade de trabalho e de engenho dos produtores pecuários. Hoje, o setor pecuário é altamente profissionalizado e tecnológico e tem pautas de sustentabilidade ímpares, nada comparáveis com outros setores. Qual tem sido o impacto desta evolução do setor para a Fertiprado? A Fertiprado tem uma base de princípios muito sólida: defendemos uma pecuária sustentável onde a alimentação dos

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animais é sustentada pelas pastagens e forragens de qualidade, onde as leguminosas e a biodiversidade desempenham um papel fundamental. A Fertiprado é uma empresa familiar cuja dimensão não nos permite pensar que temos capacidade para ter muita responsabilidade na evolução do setor, mas na verdade esta evolução tem sido sempre favorável aos princípios que sempre promovemos. A crescente busca pela sustentabilidade económica e ambiental, passa incontornavelmente por uma alimentação baseada na erva e, obviamente, pela erva de qualidade. Felizmente vivemos num país com um clima que facilita o pastoreio e a produção de forragens ricas em leguminosas. Isto dá-nos independência de dois fatores de produção basilares para a produção agropecuária: o azoto e a proteína. Por outro lado, temos sempre estado ao lado do setor, até porque na nossa génese também somos produtores pecuários. Temos os mesmos problemas e sentimos as mesmas dificuldades. Assim sendo, como encara a Fertiprado o futuro do setor? Encaramos com muito otimismo. As vantagens que a nossa região tem para


Entrevista a José Freire, Fertiprado

produzir carne e leite são excepcionais, se considerarmos a sustentabilidade do sistema e a qualidade dos produtos que origina. O futuro do setor é verdadeiramente promissor. Basta reparar no ritmo das exportações de animais para carne e a mudança de paradigma na produção de leite, por exemplo, nos Açores. E como é que a Fertiprado se encaixa neste futuro? Aquilo que podemos fazer é continuar a trabalhar com afinco. Intensificar a nossa aposta na qualidade e na busca pela inovação constante. Ainda este ano lançámos uma nova mistura forrageira: o C-MIX. Voltamos a ser pioneiros e somos os primeiros a lançar uma mistura com uma variedade híbrida, neste caso uma cevada. A ideia é juntar as vantagens do vigor híbrido de uma gramínea à biodiversidade e à

qualidade que as leguminosas aportam. Há 3 anos que testamos o C-MIX e os resultados são promissores. Esse é também um ponto de honra para a Fertiprado: nada fazemos que não acrescente valor às explorações agropecuárias. A inovação tem que ter um propósito e esse é sempre a melhoria constante. Seguramente teremos mais novidades para apresentar nos próximos anos. O nosso setor de I&D está a inscrever novas variedades pratenses e forrageiras a um ritmo muito interessante. Nos últimos anos inscrevemos mais de 20 novas variedades. Isto garante-nos que poderemos continuar a melhorar os nossos produtos e a lançar novas misturas. Quer rematar? Trabalhamos com paixão num setor desafiante. Somos privilegiados por

poder partilhar com o mercado soluções em que todos saem a ganhar: ganham os animais com uma melhor alimentação, ganha o produtor que produz mais com menos, ganha o consumidor com produtos de maior qualidade, ganha o ambiente com o sequestro de carbono, a proteção dos solos, a melhoria dos aquíferos e o aumento da biodiversidade. Um bem-haja a todos os que em nós depositam a sua confiança!

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PRODUÇÃO

ENTREVISTA A JORGE MANUEL JACINTO SILVA

4 ROBOTS DE ORDENHA E VACAS FELIZES TEXTO E FOTOS RUMINANTES

Há negócios que vêm de pais para filhos, e há outros que vêm mesmo por paixão. É o caso de Jorge Silva, que começou a atividade com 9 animais, em 1989, e hoje é dono de uma exploração com 220 vacas em ordenha e de uma queijaria em Alfeizerão, no concelho de Alcobaça, para quem o êxito de tudo o que tem se deve “às vacas”. 78

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4 robots de ordenha, e vacas felizes

produzido, cerca de metade é consumido na própria queijaria e o restante vai para o agrupamento de produtores Pingo de Leite.

Nesta zona do Oeste, ao longo dos últimos anos, desapareceram a maioria das vacarias. Qual é o segredo para se manter na atividade? Uma boa parte das pessoas que estava no negócio do leite desistiu porque já tinham uma idade avançada e não havia quem continuasse o negócio. Na altura em que vi muitos fechar até receei pela decisão de ficar, mas o meu segredo tem sido a persistência e a dedicação às vacas. Tenho como objetivo criar melhores condições de bem-estar aos animais e desenvolver o negócio da queijaria, que iniciei em 2014, de forma a poder canalizar para lá mais leite da exploração. Do leite

Qual é o principal fator no custo de produção? A aquisição de terra, porque há poucos terrenos disponíveis, e na maioria são parcelas pequenas, sem água e muito caras. O setor da pera e maçã são mais interessantes, torna-se difícil competir com eles na aquisição de terra. Mas o principal é a alimentação; ainda que eu perceba que estou a comprar ao preço justo, representa um valor muito elevado em relação ao valor do leite que, na minha opinião, está muito aquém do valor justo. De que mais se orgulha na exploração? De ter conseguido resistir estes anos todos, e da obra feita. Costumo dizer que “nada tenho e do nada vim”, mas o que aqui está feito deve-se às vacas. Este negócio vive períodos difíceis e há meses em que o balanço é negativo. O preço justo para o leite deveria andar

nos 35 cêntimos/litro, um valor com o qual ninguém iria enriquecer e tão pouco traria gente nova ao negócio, mas que daria possibilidade às explorações de se manterem com dignidade. Em março deste ano investiu na ordenha robotizada. Que sistema tinha antes e quantas ordenhas por dia fazia? Tinha uma sala de ordenha em espinha com 2x8/16 pontos onde, desde 2008, fazíamos 3 ordenhas por dia a todas as vacas. Em março deste ano adquirimos 2 robots, em abril o terceiro e estamos agora a montar o quarto. Que motivos o levaram a optar pelos robots? Uma das razões foi a mão de obra, quer pela disponibilidade, quer pela qualidade. Não se encontram facilmente pessoas que queiram e gostem de trabalhar com os animais. Por outro lado, visitei várias vacarias com robots e percebi que hoje em dia o trabalho realizado pelos robots é bem feito e traz tranquilidade e bem estar aos

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PRODUÇÃO

para lhe fazer uma festa, e este modelo permite isso. Outro requisito tem a ver com a precisão e a suavidade na colocação das tetinas que neste modelo funciona muito bem.

animais. E às pessoas também, embora continuemos a ter que estar 24 horas disponíveis, não temos que estar sempre ao lado do robot porque o sistema de alertas nos dá mais liberdade. Por outro lado, como ponto negativo, tem o valor do investimento por vaca ordenhada, e o potencial de crescimento do efetivo porque o número de animais que cada robot ordenha é limitado. Quantas vacas tem por robot? Atualmente tenho 2 robots para 100 animais e um outro para 60 animais, mas dependendo dos objetivos um robot pode dar para 70 vacas ou 3500 litros.

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Porque é que a sua opção recaiu no DeLaval VMS V300? Em parte, a opção por esta marca está relacionada pelo facto de assistência estar próxima, por ser representada por pessoas que conheço há muitos anos e pela confiança que tenho no seu trabalho, mas não foi o fator principal. Depois de analisar as diferentes marcas que existem no mercado, percebi que este modelo preenchia na totalidade os meus requisitos para os robots. Como fiz a ordenha durante muitos anos e estou habituado a mexer nas vacas, é muito importante para mim ter acesso à vaca e poder tocar-lhe nem que seja para

Com que extras comprou os robots? Para além do que é indispensável para a ordenha, foram todos os que entendi serem importantes para a garantia da qualidade do leite e do bem-estar das vacas: - laboratório OCC (Online Cell Counter), que faz a contagem das células somáticas. Para além da medição da condutividade elétrica do leite, que todos fazem, este robot faz a contagem efetiva das células somáticas e envia um alerta quando alguma vaca ultrapassa o valor que estabeleci como máximo, e permite verificar a tendência evolutiva desse animal; - desinfeção das tetinas por vapor (SBF); - câmara de condição corporal (BCS), que dá uma boa ajuda no controlo alimentar e na perceção da condição de cada animal, permitindo-nos reagir por antecipação. Guia-se pelo leite produzido no robot por dia, ou no que cada vaca produziu? Neste momento, é mais no que cada vaca produziu porque ainda não temos


4 robots de ordenha, e vacas felizes

os robots ocupados a 100%. O objetivo é ter as vacas a produzir o máximo possível com condições ideais de bem estar. Quantas ordenhas é que os robots fazem por dia e por vaca? 3 em média, mas temos algumas vacas que chegam a ser ordenhadas 5 e 6 vezes por dia. Em relação ao sistema que tinha (3 ordenhas diárias) e àquilo que tem hoje, perdeu produção de leite? Não houve quebras, como eu já vinha fazendo 3 ordenhas há muito tempo, isso não aconteceu, a produção manteve-se. De facto, com a introdução dos robots houve muitas vacas que passaram de 3 para 2 ordenhas, mas essas eram também vacas com menos leite, logo a quebra de produção também se sentiu

menos. Por outro lado, para compensar, há as vacas paridas há menos tempo, com necessidade de serem ordenhadas mais vezes, que acabam por ir ao robot mesmo para serem ordenhadas e não para irem comer. A entrada dos animais no robot é completamente livre, e o robot é que “decide” se ordenha ou se abre a porta para elas saírem. Para que indicadores olham diariamente? Para os que estão sempre presentes no ecrã: produção diária, a média de produção dos últimos 7 dias e a das últimas 24 horas. Com os robots temos que aprender a analisar os dados no ecrã antes de ver as vacas, ao contrário do sistema convencional em que se vai estando em

DADOS DA EXPLORAÇÃO Nome da exploração: Jorge Manuel J. Silva Localização: Valada de Sta. Quitéria, em Alfeizerão, Alcobaça. Área de cultivo: 40 hectares Nº empregados: 6 DADOS GERAIS DO REBANHO Efetivo total – 510 animais Raça - Holstein Nº vacas em ordenha - 220 Nº médio de ordenhas/dia – 3,0 Produção leiteira média aos 365 dias (em 2018) - 11.740 litros Nº de lactações, média anual - 2,4 GB (%) – 3,8 PB (%) – 3,3 CCS – 200.000 cél/ml Taxa de refugo anual -30% Idade ao 1º parto – 22 a 24 meses IEP (intervalo entre partos) - 410 Nº I.A. vaca adulta gestante - 2,7 doses

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PRODUÇÃO

contacto com a vaca e na hora se tomam decisões. Temos uma pessoa que está quase em permanência encarregada de fazer as manjedouras e de verificar e tocar as vacas que estão atrasadas e incompletas. Qual é a primeira coisa que fazem quando chegam à vacaria de manhã? O primeiro e o último trabalho é identificar as vacas que estão por ordenhar ou incompletas e tentar perceber porquê. Todos os dias de manhã, a meio do dia e à noite temos que ver, no robot ou no computador, quais as vacas que estão nessa situação e, depois de as identificar, encaminhá-las ou tentar perceber se estão com algum problema. O que leva as vacas a atrasarem-se? Em circunstâncias normais, não existindo algum problema de saúde ou alimentar, ou distúrbios na vacaria, as vacas atrasadas são quase sempre as mesmas. Aquilo que estamos a tentar fazer, mas que demora algum tempo, é mudar as rotinas a que os animais estavam habituados na ordenha tradicional, e procurar que criem a sua própria rotina. Esse é o trabalho mais difícil, tem que se ir mudando a hora a

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que se vai tocar a vaca para ir ao robot para ela não estar à espera que se vá lá e comece a ir por sua iniciativa.

consegui reduzir a mão-de-obra em 2 pessoas, apesar de ainda ter 60 animais em ordenha tradicional.

Passados 6 meses de utilização, que balanço faz? Não vejo, até à data, motivos de arrependimento. Mantivemos a produção e a qualidade do leite. Receei que pudesse haver um aumento das células somáticas (por ter deixado de existir um horário fixo da ordenha) e alterações na contagem microbiana, mas tal não aconteceu. Por outro lado, já

Se as suas vacas falassem, o que diriam de si? Acho que diriam bem. Claramente estão satisfeitas. A nível de bemestar, ganharam muito em descanso e tranquilidade. Com o robot, os períodos de ordenha deixaram de ser fatores de stress como acontecia na ordenha tradicional em que os animais por vezes se “atropelavam”.


4 robots de ordenha, e vacas felizes

Tem objetivos anuais para o negócio? Quais são? Por um lado, pretendo baixar a taxa de refugo, sobretudo o involuntário porque penso que vai haver menos acidentes e menos problemas com as vacas. Vai ser possível manter as vacas por mais tempo dado que têm maior tranquilidade e uma alimentação muito mais controlada. Que forragens utiliza? Feno, palha e silagem de milho. Como transformo uma parte do leite, e quero que tenha características específicas, a alimentação tem que ser o mais homogénea possível ao longo do ano, (à exceção de pequenos ajustes nutricionais). Na base está a silagem de

milho, algum feno (azevém fenado, seco), palha, bagaço de soja, concentrado e o núcleo de premix. O produto é todo misturado e distribuído pelo unifeed. Como é calibrado o robot para a quantidade por vaca? Da forma que se quiser, através de tabelas de alimentação que se podem construir no Dellpro ou, até, vaca a vaca. Atualmente tenho o robot calibrado para nunca dar menos de 2 kg nem mais de 5 kg (vaca/dia). É importante dar a ração no robot porque é um incentivo para a vaca e é uma personalização da alimentação. A quantidade é definida pelo robot em função da produção e dos

dias em lactação que tem. Atualmente, a média de ração/vaca/dia está nos 3,5 kg. Montei agora uma segunda tulha nos alimentadores para poder complementar com minerais ou algum produto em pequenas quantidades. Montámos em todos os alimentadores para evitar ter que mudar as vacas de espaço. A ração do robot tem características especiais para ser apelativa? Tem que ser uma ração granulada com alguma consistência, (porque ao andar algum tempo através senfins tem tendência a partir-se mais), para que seja mais fácil a vaca conseguir comê-la. De acordo com o nutricionista, devemos torná-la atrativa ao paladar e ao olfato.

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PRODUÇÃO

ENTREVISTA A ANTÓNIO E ANDRÉ BARÃO

INVESTIMENTOS COM RETORNO Foi em setembro que visitámos a Barão & Barão para conversar com António Barão e André Barão acerca dos recentes investimentos em infraestruturas e em equipamento. Pioneira na utilização de novas tecnologias, a empresa continua a fazer melhoramentos em várias frentes para aumentar a sua produtividade, apoiada num modelo de gestão que privilegia a complementaridade inter-geracional. FOTOS E TEXTO RUMINANTES

A EQUIPA Na Barão & Barão as decisões são tomadas em conjunto e o conceito de equipa tem um valor preponderante, “se não for assim, as pessoas não estão motivadas”. Foi assim que António Barão, pai de André, começou por explicar o modo como atualmente é feita a gestão da empresa. A complementaridade entre o pai e o filho, com formações e experiências diferentes é de uma grande importância para que as coisas funcionem, explica António: “Eu tenho um conhecimento prático que advém da experiência de 40 anos a fazer isto. E sempre tive abertura para as novas tecnologias. O André (que trabalha na empresa há 3 anos) é formado em gestão e tem gosto pelas tecnologias, dedicando-se bastante à análise dos dados.”

A VACARIA No total, a exploração conta com 1000 hectares e 30 empregados entre os setores de produção de leite de cabra, produção de leite de vaca e vacas de carne, e o agrícola. Na altura das colheitas recorremos a prestadores de serviços para corte de forragens. Fora as terras que estão arrendadas para horticultura, trabalha-se cerca de 600 hectares que se dividem entre as culturas do milho, azevém e consociações. Existem algumas preocupações de ordem económica e também ambiental

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que fazem com que nem tudo seja produzido na empresa, como é o caso do milho que é todo usado para forragem. Na nova estratégia da empresa, como nos explicou António, tudo o que resulta da consociação outono-inverno é utilizado para feno-silagem: “O objetivo, em termos médios, é ter 40% de matéria seca. Foi uma das mudanças que fizemos e que tem contribuído muito para a melhoria dos resultados nos últimos anos. Antes fazíamos feno, mas apesar de termos todo o equipamento para realizar as tarefas rapidamente, a meteorologia pregava-nos quase sempre alguma partida. Por essa altura, começámos a perceber que o primeiro corte para feno-silagem dava sempre forragens de alta qualidade, (tínhamos valores de 19-20% de proteína e um valor de fibra neutra detergente baixíssimo), e por isso passámos a fazer sempre feno-silagem e “abandonámos” o feno, que tinha normalmente 10-11% de proteína e uma digestibilidade muito baixa... Ao mesmo tempo percebemos que para a saúde ruminal da vaca não é preciso ter feno na dieta, basta que a fibra tenha as dimensões corretas. Essa foi uma das verdades que demorámos mais tempo a aceitar. Antes dávamos, no mínimo, 2 a 3kg de feno às vacas e atualmente ocupamos o espaço da matéria seca do feno com uma forragem com 18-19% de proteína o que melhora os resultados produtivos.”

INVESTIMENTOS EM BEM ESTAR No último ano subiram a produção em média perto de 3 litros por vaca. Como é que o conseguiram? A genética é a mesma. Conseguimos isto com grandes investimentos na área do bem-estar animal. Concretamente, com o cooling na ordenha, nomeadamente através da melhoria dos sistemas de ventilação e a colocação de chuveiros nos parques. Melhorámos também o sistema de ventilação dentro dos pavilhões dentro do possível tendo em conta que já são pavilhões antigos. Todas estas intervenções tiveram por base um levantamento que foi feito à exploração para definir onde melhorar tanto nas vacas, como nas cabras, como na recria. Investimos, por outro lado, num reboque unifeed automotriz equipado com o sistema NIR. Para dar uma ideia, ao desensilar, a fresa recolhe 300 amostras para análise, o que nos permite ser muito eficientes no controlo da matéria seca que os animais vão comer, para além de controlar o que sobra, fazer a gestão de stocks... Como somatório de todas as alterações e com a qualidade de informação obtida, fizemos uma reestruturação da nossa alimentação e conseguimos reduzir 30% os custos alimentares.


Investimentos com retorno

Porque decidiram fazer estes investimentos? António – Em relação ao cooling, tivemos a colaboração dum consultor israelita de renome que defende a importância de as vacas terem um mínimo de 6 horas diárias sem stress térmico. Então decidimos adaptar o espaço que tínhamos, transformando uma parte do parque onde se selecionam as vacas que precisam de maneio num parque onde as vacas permanecem antes de passarem para o parque de espera propriamente dito: desta forma, conseguimos que as vacas estejam duas horas em cada uma das três ordenhas a receber água e vento. A água é o quanto baste de forma a que sintamos que a pele da vaca está realmente molhada, mas não encharque e escorra para os tetos. Atualmente está 12 segundos a deitar água e 7 minutos a ventilar. Uma prova de que as vacas gostam é que nos dias de mais calor se concentram todas ao portão na expectativa de virem para debaixo do chuveiro.

DADOS DA EXPLORAÇÃO Localização Benavente Área total 1000 ha Área em exploração 600 ha Nº Empregados 30 (Apenas contratamos o corte de forragem) Nº vacas em ordenha 500 a 520 Nº vacas de carne 500 (Limousine x Charolês /Charolês Alentejana x Limousine) Nº cabras 2000 (Saanen e Alpina) Culturas • Milho: 100 ha para silagem (50 ha comprados localmente) • Consociação gramínea + leguminosa, nas terras que não têm muito estrume (450 ha) • Gramínea (azevém) nas terras mais perto da vacaria com mais estrume (70ha) • Fenosilagem com 40% de MS Produção de leite média/vaca: - 12700litros/305dias - Proteína: 3,2 • Gordura: 3,5

Que forragens e ingredientes utiliza no sistema alimentar? António – Em relação às forragens trabalhamos com milho e feno-silagem de uma gramínea e leguminosa. Também utilizamos bastantes subprodutos das indústrias locais, como a levedura de cerveja e a sêmea de arroz. Para além de soja, e de milho que compramos em grão, e ainda melaço. Mensalmente, todas as matérias primas na terceira semana do mês são analisadas e é em função da cotação das matérias primas que desenhamos o concentrado. Brevemente iremos a Espanha para o lançamento de um milho BMR. Segundo afirmam, é um milho com mais digestibilidade e com mais proteína, importante para a otimização da forragem. Hoje, com a ajuda do sistema NIR apercebemo-nos ainda melhor que a qualidade das forragens é uma ajuda impressionante para a produção e, consequentemente, para a maximização dos resultados da empresa.

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PRODUÇÃO

SILOKING AutoMotriz 4.0 modelo Premium 2215 Modelo de 2 sem fim-verticais, capacidade de 22 m³. Solução ideal para grandes explorações. Este modelo pode carregar a alimentação até 5 metros de altura. Está equipado com um motor Volvo turbo diesel de 4 cilindros com 175hp, e pode ter 218hp como opção. O chassi de 3 pontos proporciona um raio de viragem mínimo. Equipa com DG Precision Feeding (NIR FeedScan, Software DTM presision feeding, comunicação por GPRS e software na Cloud). Sistema de alimentação de precisão, com tecnologia NIR, que permite ao agricultor distribuir uma alimentação equilibrada aos animais de acordo com a recomendação do nutricionista, graças a uma análise contínua dos ingredientes utilizados e ao ajuste ótimo e em tempo real do peso. O ponto central do sistema é um analisador de tecnologia NIR que indica o valor dos nutrientes como o amido, proteína, gordura total etc.. assim como a matéria seca de cada ingrediente durante a fase de carga.

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INVESTIMENTOS EM EQUIPAMENTO

Há cerca de oito meses, a empresa investiu num novo reboque unifeed automotriz, de 2 sem-fins verticais com 22 m3 de capacidade, equipado com sistema NIR. Na exploração fazem-se diariamente 5 unifeeds, nas vacas em produção distribui-se duas vezes ao dia, às 8 h e às 15 h, e nas outras apenas uma vez. Quais os principais critérios para optarem por este modelo? António - Em primeiro lugar, tivemos que decidir entre um modelo automotriz ou um rebocável. No nosso caso, devido à dimensão e ao número de unifeeds que


Investimentos com retorno

fazíamos, percebemos que o rebocável estava permanentemente engatado ao trator. Ou seja, não tirávamos a vantagem de poder utilizar um equipamento caro como o trator para outras tarefas. Por isso decidimos por um equipamento automotriz. Depois fomos avaliar, dentro das novidades do mercado qual era a máquina que nos garantia a maior fiabilidade, que nos desse menos problemas. A verdade é que estas máquinas são excecionais, mas criam uma enorme dependência. Hoje, se um destes unifeeds avariasse não saberíamos como alimentar todos estes animais e teríamos prejuízos da

ordem dos milhares de euros. É preciso comprar uma máquina fiável. Não fazer a escolha só em função do preço, mas da relação qualidade-preço. E no meio desta pesquisa, chegámos ao sistema NIR. Os melhores equipamentos do mercado tinham o sistema NIR. E aí surgiu o Siloking como a melhor solução, até porque a partir dessa altura a marca era representada em Portugal pela mesma empresa que representava o NIR. A capacidade do unifeed que tínhamos era de 18m3, (o atual é de 22 m3). O que significava que tínhamos que fazer mais algumas cargas devido a limitação do espaço físico. Tínhamos um sistema de balança e trabalhávamos com duas pens. O operador vinha de manhã buscar o arraçoamento que era feito para as vacas e à tarde trocava por outra com a programação da tarde. Através do NIR instalado no reboque que adquirimos, recebemos toda informação no computador por wireless, a sincronização é feita através de uma cloud. A avaliação da matéria seca e a composição das forragens e da mistura são permanentemente avaliadas, antes mandávamos analisar uma vez por semana ou de quinze em quinze dias. Atualmente continuamos a mandar analisar, mas só para aferir. Além disso, economizamos cerca de duas a três horas por dia. André - A Siloking é a única marca certificada pela DLG, o que nos dava algumas garantias de fiabilidade. Além disso, para nós a qualidade de mistura é o mais importante e, ao avaliarmos os comparativos americanos sobre unifeeds, apenas esta e outra marca de unifeeds de reduzida dimensão tinham as pontuações máximas. António - Em relação a outros orçamentos que tínhamos o valor desta máquina estava 20% acima. Teve que haver ali uma ponderação. Foi uma grande aposta.

Há quanto tempo tem este equipamento? António - Chegou em dezembro de 2018. Começou a funcionar em pleno no dia 9 de fevereiro, depois de todas as alterações e adaptações. Passados 8 meses de utilização, encontra vantagens no equipamento? António - Sim. Posso dizer que uma semana depois de a máquina começar a trabalhar em pleno, no inicio de fevereiro, as vacas tinham subido dois litros, e passado um mês 3 litros. Claro que isto aconteceu tudo em simultâneo, as obras que tínhamos feito, as questões de bem-estar, a inauguração daquele pavilhão para que as novilhas e vacas secas tivessem um tratamento de excelência... André - Em relação às maiores vantagens do unifeed são sem dúvida a fiabilidade da mistura, controlo e tempo de fabrico. O NIR trouxe-me qualidade da informação e consistência na alimentação. Sabemos que é exatamente o que desenhamos que é dado na manjedoura. Conseguimos ter mais precisão na avaliação nutricional. António - Evitamos o desperdício, pois graças ao sistema NIR e ao acerto feito pela Matéria Seca das forragens em tempo real, a alimentação é consistente diariamente o que leva a consumos mais regulares. André - Nós passámos de uma taxa de erro de 12% do operador para uma taxa de erro de 3%. Com a qualidade de informação que conseguimos ter somos também muito mais rápidos a agir. Isso faz com que os operadores também se sintam controlados. Isto alterou muito o paradigma. Antigamente fazíamos análises para poder desenhar a alimentação. Agora estamos a utilizar as análises do NIR

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PRODUÇÃO

A aferição dos resultados do NIR foi feita com o mesmo processo que fazia anteriormente? António - Sim mantivemos as análises mensais de todos os alimentos e da TMR dos animais em produção e secas.

cobrir exatamente as necessidades, damos um pouco mais. O nosso objetivo é recolher, em média, cerca de 5%. Este valor permiteme fazer ajustes de acordo com a ingestão. Quando, por exemplo, no verão, existe uma redução de ingestão, quanto mais depressa eu for ao encontro dessa redução menos desperdício tenho.

Que informação dá o NIR em termos de análises? André - Amido, proteína, cinzas, NDF, ADF, gordura e matéria seca. A matéria seca é medida e faz o ajuste em tempo real. Os outros parâmetros são informativos e temos acesso a todos eles em tempo real. E tenho também a informação da mistura total por parque. Consigo acompanhar todo o processo, e com os erros que podem acontecer ao longo do processo, como tudo fica registado, consigo saber exatamente o que chega no final a cada parque e porquê. Além disso, consigo também calcular exatamente o que é que cada parque comeu uma vez que também me pesa os desperdícios. Queremos maximizar a ingestão de matéria seca, por isso, em vez de alimentarmos para

É aí que está a poupança? Por conseguirem reagir muito rapidamente a estas oscilações? André - É uma parte da poupança, mas não é tudo. António - Permite-nos otimizar. Neste momento sabemos exatamente o que cada parque come. E os 5% não são perdidos, são reaproveitados em animais de recria. André - Sim, para que estes restos possam ser aproveitados os mesmos têm que estar em perfeitas condições, o que não acontecia anteriormente com uma mistura inadequada. António - A poupança advém também de todos os investimentos fizemos e que levaram à diminuição dos custos de produção. No entanto este sistema, devido à sua fiabilidade

para redesenhar a alimentação. Nós alimentamos o próprio sistema para melhorar cada vez mais.

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permitiu também rever todas as nossas matérias primas e até as origens com que trabalhamos. Como é que a informação lhe chega? André - Recebemos tudo no computador, sincronizado através de uma cloud. Quando analisam os dados quais são os principais indicadores que utilizam para aferir se estão no bom caminho? André - Para mim o principal indicador é a ingestão de matéria seca média diária da exploração. Além disso o income over feed cost (IOFC). E este investimento trouxe-vos melhores resultados em termos de uniformidade da qualidade do leite? António – Sim, em relação ao investimento global podemos dizer que sim. Não só o investimento no unifeed mas também todas as alterações que promovem o bem-estar animal, o que inclui o cooling. Temos mais proteína no leite. Historicamente, este valor não chegava aos 3,2 e agora andamos à volta dos 3,28. O valor de gordura mantém-se nos 3,5.


NOTÍCIAS

CRIADA PARA VENCER No final do mês de agosto, no 38º Concurso Nacional da Raça Holstein Frísia que decorreu na AgroSemana, sagrou-se Jovem Grande Campeã Nacional a novilha M&S Jordy Adya, do produtor Miguel Matias, da Sociedade Agrícola Matias & Silva. O sucesso desta novilha com 12 meses já era expectável, uma vez que conta com uma genética de elite: filha de Jordy Red e Pereira Archrival M&M Arianna (embrião importado dos Estados Unidos) e neta de MS Doorman Armani. Ainda assim, o produtor quis assegurar-se de que, ao crescer, este animal tiraria o melhor proveito desta genética. Para isso, contou com a ajuda do programa de recria Kaliber (De Heus). Este programa

está desenhado em 4 fases, ajustandose aos requisitos dos animais em cada fase de crescimento, e acompanhando as vitelas e novilhas nos primeiros 24 meses de vida. Com este programa é possível recriar vitelas de forma económica e eficiente, ajudando-as a

expressar todo o seu potencial genético e a tornarem-se altas produtoras. A novilha tornou-se assim uma grande vencedora e um exemplo dos excecionais resultados que se pode alcançar aliando uma genética de excelência à melhor nutrição.

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GEA DairyRobot R9500

Excecionalmente eficiente como monobox ou multibox: ordenha automatizada a qualquer momento

gea.com


O braço de ordenha adapta-se facilmente aos movimentos naturais da vaca. Isso evita o mau posicionamento do jogo de ordenha, quedas e respirações. Se uma tetina cai, ela nunca toca o chão é rapidamente recolocada, e nunca se perde o bom posicionamento das ressaltantes tetinas. As mangueiras de leite curtas proporcionam estabilidade e evitam flutuações de vácuo.


PRODUTO

COLEIRAS DE CONTENÇÃO COM GPS

O fabricante Agersens colocou no mercado um tipo de coleiras a que chamou “E-shepherd” (pastor digital), com tecnologia GPS e com uma aplicação digital que permite controlar os animais. Utilizando o Google Maps num computador ou tablet, o produtor pode estabelecer limites virtuais, em qualquer zona da propriedade, limites estes que são gravados nas coleiras que os animais utilizam. Este sistema funciona como uma cerca elétrica mas utiliza uma pista áudio em vez de uma pista visual. Perante uma cerca elétrica, o animal, depois de receber uma descarga, passa a associar a cerca à descarga e só posteriormente começa a evitá-la. Com este sistema, quando o animal se aproxima dos limites virtuais definidos, a coleira emite um sinal sonoro. Se o animal o ignorar e continuar em direção ao limite, a coleira emite uma única e ligeira descarga elétrica (menor do que a emitida pelas cercas). Se, quando ouvir o sinal sonoro, o animal parar e se virar na direção oposta ou se afastar, não acontece nada. Tal como com as cercas elétricas, os animais aprendem, por associação, que precisam de parar ou de se afastar quando ouvem aquele sinal. O E-shepherd funciona com energia solar. Em relação às cercas elétricas tem a vantagem de não haver o perigo de os animais ficarem presos e de serem sujeitos a descargas elétricas não controladas. Além disso, não afeta a fauna selvagem, as aves ou as pessoas. Para saber mais: www.agersens.com

TRANSFORMAR O LEITE EM "OURO"

Em França, um conceito inovador, o Glace-concept, pretende valorizar o preço pago ao produtor de leite criando, na própria exploração, uma indústria de fabrico de gelados. Esta empresa dá margem para a criatividade dos produtores enquanto

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os acompanha e apoia na elaboração dos seus projetos proporcionando estudos de mercado, suporte na comunicação, formação, instalação dos equipamentos necessários e apoio no controlo e fabrico dos produtos. O método proposto permite ao produtor a criação de receitas próprias, independentemente da raça de animais que detenham ou do método de produção adotado. A marca apresentase como sendo amiga do ambiente, dando como exemplo a sua linha de embalagem biodegradável.

POUPAR COM OS EQUIPAMENTOS MANITOU

O sistema Ecostop da Manitou, premiado no último salão francês SIMA, permite que o motor do equipamento se desligue automaticamente quando este estiver parado durante algum tempo ou sempre que o condutor se ausente da cabine. Esta função pode ser configurada para tempos de paragem de 1 a 30 minutos e foi desenhada para funcionar em todos os equipamentos agrícolas sempre tendo em vista a produtividade do utilizador. Para ativar e desativar o sistema Ecostop, o utilizador só tem que pressionar um botão dentro da cabine. Esta função tem um grande impacto nos custos totais de um equipamento pois permite ao agricultor poupar em três áreas fundamentais: na depreciação da máquina, no consumo de combustível e manutenção da mesma. Para saber mais: www.manitou.com

ROBOT PARA CAMAS DE ANIMAIS Em resposta às dificuldades dos produtores com a distribuição e manutenção das camas, a Inateco lançou o Robot Sentinela. Com um alcance de 200 metros, distribui automaticamente todo o tipo de


PRODUTO

material sem ser necessário retirar os animais das instalações. Segundo o fabricante, permite poupar em material 30% a 50%, em tempo e, simultaneamente, vai ao encontro das necessidades dos produtores em termos de biossegurança e bem-estar animal. Dotado de inteligência artificial e feito a partir de um material leve, a mobilidade e o facto de se conectar a outros equipamentos da exploração permitem o mapeamento de dados importantes para a produção como: temperatura do ar e das camas, CO2, amónia, humidade, velocidade do vento etc. Ao Robot Sentinela podem ainda ser adicionadas outras tecnologias para limpeza e desinfeção automáticas, controlo da saúde dos animais, maneio de pododermatites, vigilância dos edifícios e equipamentos, etc. Para saber mais: www.dussau-distribution.com

TERMÓMETRO ELETRÓNICO COM BLUETOOTH O Smart Thermometer é um termómetro eletrónico para vitelos e bovinos adultos equipado com ligação Bluetooth a um smartphone e com a tecnologia CalfCloud da Förster-Technik. Após o registo do número de identificação do animal, a temperatura retal do animal e o tempo de medição são registados e enviados pela internet para o CalfCloud onde já estão os outros dados do animal. O termómetro comunica diretamente com um smartphone com a app “CalfApp VITAL”. Nesta aplicação, pode ser carregada uma lista de animais aos quais o produtor deve medir a temperatura e podem ser registrados outros resultados importantes, como corrimento nasal, fezes ou tosse, para uma avaliação global da saúde do animal. Para saber mais: www.foerster-technik.de/

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PRODUTO

DELAVAL EVANZA™

CERCAS TODO-O -TERRENO

As unidades de ordenha DeLaval Evanza™ são as primeiras no mundo a utilizar cartuchos em alternativa ao forro. Os cartuchos The DeLaval Evanza™ foram testados e observou-se um aumento no fluxo de leite de até 9.3% e um melhor encaixe com uma redução no tempo de ordenha de até 30 minutos por cada sessão, levando a uma redução total de tempo de 7%. Adicionalmente, o score de condição dos tetos melhoraram. Os 4 cartuchos substituem-se em 1 minuto. Para saber mais: www.delaval.com

Parte 1: 1 e 2 de novembro 2019 Parte 2: 21, 22 e 23 de novembro 2019

As cercas do fabricante francês Mazeron cobrem uma extensão que vai de 6 a 36m e são facilmente manipuláveis permitindo uma rápida montagem e arrumação. Foram desenhadas para a contenção de gado e a sua utilização é adequada mesmo em terrenos inclinados. A uma estrutura central com 6 metros de comprimento estão ligados vários segmentos articulados com rodas que permitem deslocar o equipamento sem esforço. Podem ser usadas para delimitar zonas, criar barreiras ou mesmo para criar um parque. Para saber mais: www.mazeron-sas.com

CURSO INTENSIVO DE GESTÃO E DECISÃO ECONÓMICA EM EXPLORAÇÕES LEITEIRAS ORGANIZAÇÃO PELA START-UP

FORMADORES Victor Cabrera Ph.D Consultor Mundial em Bovinos de leite • Professor na Universidade Wisconsin nos USA • Aficionado por ferramentas práticas, fáceis de usar na gestão de explorações • Desenvolveu mais de 40 ferramentas de gestão leiteira • Distinguido com mais de 5 prémios Steven Rosen • Consultor nas áreas de nutrição, gestão, análise financeira, economia, reprodução e fertilidade. • Nutricionista de cerca de 25% das explorações de Israel • Graduado em Dairy Science pelo instituto da agricultura de Israel • Professor de gestão na Univ. de Ruppin, Israel • Coordenador do departamento animal do min. agric.Israel Membro do comité “Israel Dairy Board”

PROGRAMA 1 e 2 nov. • Indicadores económicos • Alcançando o lucro máximo • A visão sobre Israel • Gestão Ambiental • Diferentes formas de instalação • Indicadores de Saúde • Minimizando o stress metabólico • Uma vista de olhos na nutrição Israelita • Leite e saúde do úbere • Novas tecnologias • Engordar antes do abate? • O que fazer com excesso de novilhas?

21, 22 e 23 nov. Ferramentas de apoio à decisão • A função da produção • Encaixando a curva de lactação • A melhor gestação para... • Maximizando o retorno sobre o preço da alimentação • O valor real dos alimentos • FeedVal Toom • Agrupando as vacas em função da nutrição • Ferramenta da estruturação • A suplementação de concentrado ótima • (Re)formulação da dieta •

Mais informações: Tomar | Parte 1: 1 e 2 de novembro 2019 | Parte 2: 21, 22 e 23 de novembro 2019 www.farmin-trainings.com | farmin@farmin-trainings.net | Preço: 750€ (+IVA) até 1 de agosto, 900€ (+IVA) até 29 de Setembro

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21, 22 e 23 nov. (contin.) Decisões de reposição • O valor da "Cow tool" • O valor do rebanho e o valor da reprodução • Estrutura do efetivo e reposição • O valor de programas reprodutivos • UW-Cornell Dairy Repro$ (ferrramenta) • A ferramenta do sémen de carne •



O seu bem estar, a sua rentabilidade O Programa de recria Prima da Nanta melhora a rentabilidade das explorações através do bem estar das vitelas. O Prima trabalha em quatro conceitos essenciais para o bem-estar dos animais: o colostro, a lactação, o desmame e os cuidados a ter nas diferentes variáveis como o meio ambiente, a saúde e ambiente social. O nosso programa oferece benefícios comprovados para o agricultor: maior desenvolvimento das vitelas, melhoria do seu sistema imunitário, redução do stress no desmame, antecipação da primeira inseminação e da idade do primeiro parto, mais produção de leite e maior vida produtiva da vaca. Com o Prima as vitelas são mais felizes e o agricultor também.

nanta@nutreco.com


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