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Border Collie

BORDER COLLIE EXCELENTÍSSIMOS PASTORES

EMANUEL FREITAS E PAULO RATO, QUE ENTREVISTÁMOS EM MAIO PASSADO, SÃO CRIADORES E ADMIRADORES INCONTESTÁVEIS DA RAÇA BORDER COLLIE. É NA EXPLORAÇÃO MONTE DAS AREIAS, EM IDANHA-A-NOVA, QUE OS SEUS CÃES SÃO TREINADOS E TRABALHAM DIARIAMENTE COM UM REBANHO DE MIL OVELHAS.

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Texto Ruminantes | Fotos Francisco Marques

O Tagus, o Gift e a Nan trabalham diariamente em equipa com os rebanhos: conduzir os animais para um determinado sítio, ir buscar animais atrasados ou que ficaram presos, ou ainda impedir que vão pastar em parcelas cultivadas, são tarefas que fazem parte do seu dia-a-dia.

Há uma piada antiga que os ingleses contam, acerca dum homem que queria levar o seu Border Collie para ser treinado por alguém muito experiente. O objetivo era melhorar alguns comportamentos do cão. Porém, o treinador sugeriu-lhe que em vez de levar o cão, o deixasse em casa e fosse ele próprio ao treino.

Quem conhece bem a raça, sabe que há alguma verdade nesta história. Depende em grande parte dos donos que os seus cães demonstrem as suas melhores qualidades inatas: instinto de pastoreio, obediência, inteligência e sentido de serviço.

Oriunda da Grã-Bretanha, onde tem forte expressão no pastoreio de animais, a raça

Border Collie está bem representada no nosso país. Emanuel Freitas [EF] e Paulo Rato [PR] são criadores desta raça há mais de uma década. Paulo Rato, é dono e gerente do Monte das Areias, uma exploração pecuária com uma vertente agrícola. No total, são 300 hectares, 60 dos quais em regadio, e os restantes de sequeiro e de montado. No regadio fazem culturas arvenses, milho, sorgo, nabo, e 40 hectares de cereal de inverno. Fazem ainda pastagem em sub-montado. O principal negócio desta exploração são as ovelhas de carne, predominando largamente a Merino da Beira Baixa. Para controlar as ovelhas, um efetivo de mil animais, Paulo Rato depende do trabalho dos seus cães, Border Collie. Atualmente tem oito: “o Pip e o Cap, que já estão reformados mas ainda fazem trabalho em distâncias curtas, e mais seis. “Já não sei trabalhar sem eles”, confessa. Lembra-se bem de quando comprou o primeiro cão, uma fêmea chamada Lua que lhe custou, na altura, 120 contos. “Até tive vergonha de contar ao Zé

[empregado] quanto tinha dado por ela, disselhe que tinha custado metade do que realmente custou, mas mesmo assim ele ficou a olhar para mim com ar incrédulo. A cadelinha chegou aqui com 2 meses, era uma bolinha de pelo. Assim que a pus no chão, arrancou para as ovelhas. Passados uns anos perguntei ao Zé o que faria se saísse uma lei que proibisse a utilização dos cães no pastoreio das ovelhas. Ele respondeu-me: Olhe, guardava-as você, que eu já não sei trabalhar sem cães.”

Emanuel Freitas é criador da raça Border Collie e dá formação em pastoreio. Foi durante o período em que viveu em Inglaterra que começou a interessar-se pela raça. Nessa altura, recorda, costumava ver um programa de televisão muito conhecido lá, chamado “One man and his dog”, sobre provas de pastoreio … em que os cães e os seus donos trabalham em conjunto para “dominar” os rebanhos.

"UM CÃO QUE CUMPRA AS 3 ORDENS 'IR PARA A ESQUERDA', 'IR PARA A DIREITA' E 'PARAR', JÁ É UMA AJUDA PRECIOSA."

…Já a viver em Portugal, em 2006, Emanuel teve a sua primeira criação duma cadela que comprou no País de Gales, a Nan, que foi cruzar à Holanda com um cão campeão. Conheceu Paulo Rato quando este levou a Lua para cruzar com um cão seu. Desse cruzamento nasceram o Pip e, na ninhada seguinte, o Cap. Foi a partir daí que começaram a desenvolver, em conjunto, ações de formação e concursos de pastoreio com cães da raça Border Collie. A vertente do pastoreio é a que Emanuel mais aprecia. Da Grã-Bretanha tem vindo a trazer exemplares das melhores linhagens, mas também pessoas de referência para ensinar pastores e agricultores. Atualmente tem três cães treinados: o Tagus com 9 anos, o Gift com 5, e a Nan com 4. Para além destes, tem ainda uma cadela da ninhada anterior, um cão com 2 anos que é filho do campeão continental atual, e alguns cachorros, dois dos quais irão brevemente para o Brasil.

Pensa-se que a raça Border Collie (em tradução livre "Collie da fronteira") tenha sido desenvolvida na região da fronteira anglo-escocesa na Grã-Bretanha para o trabalho de pastorear gado, em especial gado ovino. Por isso tem um grande instinto de pastoreio, explica Emanuel Freitas: “Sabe arrebanhar e não deixa ovelhas para trás, as ovelhas respeitam-nos”. Qualidades essenciais para o trabalho que faz diariamente: conduzir os rebanhos para as pastagens, guardar linhas, procurar ovelhas que pariram ou encontrar animais que ficaram presos. Como conta Paulo Rato, no Monte das Areias as ovelhas são soltas e guardadas todos os dias. “De verão, regressam ao ovil de manhã e voltam a sair à tarde. E há alturas do ano em que pastamos três rebanhos ao mesmo tempo: o das paridas, o das vazias e o das cabras. Enquanto os animais pastam, o Emanuel está sentado a ler, ou a ouvir música, com um cão em cada lado a guardar as ovelhas”. Além do instinto de pastoreio, Paulo e Emanuel consideram que a obediência, a inteligência, o sentido de serviço e a destreza física são qualidades muito acentuadas nos cães desta raça.

Quanto tempo demora a treinar um cão? EF - Depende, há cães que começam mais tarde e vêm a ser muito bons cães e há outros que começam muito cedo e são estragados por excesso de treinamento. Os ingleses dizem que um cão destes atinge a maturidade aos 4 anos.

Quais são os comandos principais para juntar as ovelhas? PR - Um cão que cumpra as 3 ordens “ir para a esquerda”, “ir para a direita” e “parar”, já é uma ajuda preciosa. Os cães treinados para campeonatos têm que ter uns comandos extra.

Emanuel Freitas e Paulo Rato, no Monte das Areias, com os seus cães: São Roque Gift, São Roque Tagus, e São Roque Tua (com 5 meses).

Os cães treinados têm que ter reciclagem? EF- Se quiser que ganhem concursos, uns dias antes há que afinar certas coisas.

Os comandos são universais ou cada pastor pode ir a concurso com um dialeto próprio? PR - Sim, pode ter o seu próprio dialeto. Mas existe um padrão. Os comandos de voz internacionais são: Away, Come bye, Lay down, Walk on. A suavidade da voz é muito importante para que eles cumpram os comandos.

De que consta um concurso? PR – O concurso mostra o pastor a trabalhar com o cão e com as ovelhas. Através dum conjunto de códigos de comando, de voz e de apitos, os pastores conseguem que os seus cães executem aquilo que pretendem, como conduzir o rebanho para um determinado sítio seguindo um percurso pré-definido. A pontuação é dada em função duma série de parâmetros que avaliam o desempenho do cão e do pastor.

Qual a relação do número de cães para o de ovelhas? PR- Tenho sempre dois cães a trabalhar e um de reserva. Na altura da bolota, por exemplo, há vantagem em ter o número maior possível de cães.

Nas alturas de maior trabalho, os cães trabalham o dia todo? EF - Sim, embora nos períodos em que as ovelhas estão a pastar, eles possam estar a dormir à sombra. Quando é altura de recolher as ovelhas, chamo-os e eles começam a trabalhar.

Que cuidados especiais têm com os cães? EF - Têm alimentação ad libitum, e podem tomar banho sempre que tiverem calor.

Qual é o preço de um cão treinado? PR - Cá, o valor médio de um cão treinado com 20 meses ronda os 5500 €. Mas sei de casos de cães que vieram da Irlanda por mais de 7000 euros. Na Irlanda e na Escócia estes cães são muito utilizados. Há muitos sítios onde devido aos declives tão acentuados só os cães conseguem lá andar, nem motos conseguem, daí o seu grande valor. Foi falado o caso de uma cadela Border Collie vendida o ano passado num leilão em Inglaterra por mais de 20 mil euros. Chamava-se Maggie, tinha 2 anos, e foi para um rancho americano, em Oklahoma.

Há cerca de dez anos, foi vendido um cão em Portugal por 4000 euros.

Para efeitos de segurança social, que salário vale um cão destes treinado? PR - Vale 3 salários mínimos. Eu não concebo ter ovelhas sem ter um cão. É evidente que um pastor consegue fazer o que faz um cão, mas isso é se as condições não forem variáveis, tudo o que saia da rotina fica complicado. Dou-lhe alguns exemplos: - No verão fazemos pastoreio cronometrado, as ovelhas vão aos pasto durante um determinado período de tempo. Sem o cão seria muito mais difícil e moroso condicionar o caminho que as ovelhas levam, assim como condicionar o pastoreio à área que nós pretendemos. - Na altura da bolota, os pastores teriam que percorrer distâncias ainda maiores a pé, se não fosse a ajuda dos cães. - Há uns anos fizemos uma transumância com 1050 ovelhas e os cães até Idanha-a-Nova, para as ovelhas comerem a erva seca do local onde ia decorrer um festival. Atualmente estamos a utilizá-las para a limpeza de pomares de nogueiras em intensivo.

Se quiser saber mais sobre este assunto, contacte a APUCAP (Associação Portuguesa de Utilizadores de Cães Pastores) contacte através de: apucap. sheepdog@gmail.com

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