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Ovinos Romane
by RUMINANTES
PRODUÇÃO| ENTREVISTA A HELDER ALVES ROMANE
A RUMINANTES FOI A GARVÃO ENTREVISTAR HELDER ALVES, PRODUTOR DA RAÇA DE OVINOS ROMANE E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CRIADORES DAQUELA RAÇA. HELDER É SÓCIO GERENTE DA EXPLORAÇÃO CARLOS E HELDER ALVES AGROPECUÁRIA, ONDE FAZEM A CRIA E ENGORDA DE BORREGOS. Por Ruminantes Fotos FG
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Araça de ovinos Romane, também conhecida por INRA 401, está representada em Portugal, desde 2016, por uma associação própria. Subjacente à sua criação esteve a vontade de Helder Alves, criador, de “preservar a genética da raça”. Além de representar a Associação Portuguesa de Criadores da Raça Romane, ProOvis, à qual preside, Helder Alves é também produtor de animais. Desde 2004, quando terminou os estudos, que partilha com o irmão, Carlos Alves, a gerência do negócio que foi do pai. Em meados do mês de maio, numa manhã em que as temperaturas de quase verão já se faziam sentir, visitámos a sua exploração que tem sede numa herdade da freguesia de Garvão, em Ourique.
Helder Alves é o presidente da Associação Portuguesa de Criadores da Raça Romane, ProOvis. No final do ano passado, a associação tinha 750 animais em linha pura registados no livro genealógico. No final deste ano, estima-se que sejam mais de 1000.
Como começou este negócio? Quando terminei o curso de engenharia zootécnica, em 2004, fiquei a tomar conta do negócio do meu pai, com o meu irmão. Na altura engordávamos bovinos. Depois mudámos para borregos porque achámos que era um negócio mais interessante e com um investimento menor. Só em 2009 é que introduzimos ovelhas de campo (cruzadas de Merino e Ile de France) e passámos a produzir os nossos próprios borregos.
Quando entrou a raça Romane? Há 6 anos decidimos comprar machos Romane para cruzar com as nossas ovelhas, por causa dos problemas de parto que tínhamos com os machos Ile de France. E depois começámos a investir muito nas F1, devido à sua maior prolificidade e pela sua capacidade maternal.
A carcaça de borregos Romane ou cruzados apresenta boa conformação, com pouca gordura e menor percentagem de osso.
Qual é o objetivo do negócio? Produzir borregos para exportação e venda de carne. Esporadicamente vendo genética.
Para onde vende os borregos? Quando começámos a engordar, vendíamos para as grandes superfícies. Atualmente vendemos sobretudo para grupos de talhos na zona de Lisboa. No mercado estrangeiro já passámos por várias fases; quando deixámos de vender para os hipermercados, na altura em que o negócio dos ovinos estava bastante fraco, passámos a vender para França e Espanha, em carcaça e vivos. Hoje temos também mercado aberto para Israel, Líbia...
Quantos animais vende por ano? Entre 25 a 30 mil. Das 2.000 ovelhas que tenho, produzo cerca de 3.750 borregos. Os restantes são comprados, engordados e vendidos. Metade é exportado e metade fica cá.
Como faz a seleção dos animais? Vou guardando as borregas puras Romane. Neste momento, das 2000 ovelhas, temos 270 Romane puras registadas no livro genealógico, mais de 700 já são cruzadas de Romane e as restantes são de raças autóctones. O objetivo é deixar apenas para reposição animais Romane puros.
Como faz o melhoramento dessa genética? Compramos animais registados de produtores da associação francesa; os machos vêm todos dos centros de testagem da OS Romane (Organisme de Selection Romane).
Em que área andam as ovelhas? Andam em cerca de 700 hectares de muito má qualidade, terrenos pobres. São animais que estão normalmente em parques com o máximo de 100 hectares.
A carne destes animais é diferente da carne das outras? Não, acho que é igual. Mas estes borregos são mais bem conformados do que os das raças autóctones. Para além disso, as carcaças dos borregos Romane e dos F1 apresentam pouca gordura e menor percentagem de osso do que as da maioria das outras raças.
As pessoas que lhe compram preferem os borregos da raça Romane? As que compram principalmente para exportação, sim. Os borregos da raça Romane são animais que têm um crescimento bom até aos 60 a 70 kg, que é o peso com que os abatem. Com as raças autóctones não conseguimos. O mercado nacional não valoriza muito isso, … porque a maioria dos clientes quer borregos de muito baixo peso, entre 10 e 13 kg de carcaça.
DADOS DA EXPLORAÇÃO NOME: CARLOS E HELDER ALVES AGROPECUÁRIA, LDA. LOCALIZAÇÃO: GARVÃO, OURIQUE ÁREA EXPLORADA: 700 HECTARES EFETIVO: 2 000 OVELHAS REPRODUTORAS E 30 000 BORREGOS À ENGORDA/ANO
EFETIVO REPRODUTOR PROLIFICIDADE DAS OVELHAS ROMANE: 2,35 BORREGOS/PARIÇÃO PESO AOS 60 DIAS (DESMAME): 19-20 KG
ENGORDA (DO DESMAME AOS 40 KG) GMD: MÉDIA DE 350 G/DIA PARA MACHOS E FÊMEAS. ÍNDICE DE CONVERSÃO: 3 KG DE CONCENTRADO/KG DE PESO
…Os borregos da raça Romane atingem tão depressa esse peso como as outras raças? Atingem normalmente antes, devido à aptidão maternal das ovelhas.
O que procura como produtor? Aumentar a produção de borregos e os quilogramas de carne produzidos por ovelha.
Qual é o limite de peso interessante na curva de crescimento destes animais, em termos de ganho médio diário? Nos machos, que normalmente abatemos com mais peso, podemos ir até aos 45-50 kg com bons ganhos médios diários e bons índices de conversão. Claro que tem que haver uma transição da alimentação ao longo desse período, porque a alimentação dum animal de 20 kg tem que ser diferente da de um animal de 40 kg.
Referiu as boas características das mães da raça Romane. Qual o efeito dos machos numa ovelha doutra raça? A facilidade de parto e um maior líbido
que dá uma ajuda em épocas de cobrição em anestro.
Que tipo de dados recolhe neste negócio pensando na raça, uma vez que é exigido controlo? Recolho vários tipos de dados: a) Dados de cobrição: identificação dos machos que são colocados à cobrição com um determinado grupo de fêmeas; b) Registos de pesagens: a única obrigatória é feita aos 30 dias; c) Registos da parição, da prolificidade e da mortalidade. Como esta raça é muito prolífica, a mortalidade é elevada, em média 8%, mas aqui tenho menos, cerca de 5% porque faço partos muito concentrados, em ovil, e assim consigo dar assistência. Se os partos forem feitos a campo há maior mortalidade. Nas ovelhas cruzadas a mortalidade é mais baixa porque a prolificidade é menor.
Qual é a diferença da prolificidade entre as cruzadas e as puras? Em raça pura conseguimos valores de prolificidade de 2,35. Nas cruzadas (“cruzado de carne”) de aproximadamente 1,5 a 1,6.
Quantos empregados são? Eu, o meu irmão e mais 5 pessoas. Para as ovelhas de campo (2.000 animais) somos 2 empregados e eu, e também fazemos outros trabalhos de campo.
O maneio das puras e das cruzadas é o mesmo? Sim, é igual.
A que idade são cobertas as borregas? Entre os 7 e os 12 meses. Todos os animais que tenham completado 7 meses em setembro podem ser cobertos porque apanham a época ideal de cobrição que nas borregas ainda é mais importante (outubro-novembro, sem recorrer a sincronização artificial). Tenho as borregas sempre muito bem tratadas até adultas para que na altura da cobrição tenham mais do que 2/3 do peso em adulto. Normalmente o 1º parto ocorre entre os 12 e os 15-16 meses. São animais, tanto as puras como as F1, que já podem ser cobertas aos 5 meses.
Como sincroniza as parições? Tento sincronizar as parições de forma a ter várias épocas de parição ao longo do ano, e
partos concentrados ao longo de 3 semanas. Com flushing e com o efeito macho que é muito importante. Tenho 75 machos adultos. Nas cruzadas meto sempre os machos todos, nas puras só os que venham dos centros de testagem da OS Romane por causa da consanguinidade. Todos os machos que tenho são Romane, mas nem todos vêm dos centros de testagem. Nunca ponho carneiros às ovelhas sem terem um arreio marcador, muito pouca gente os utiliza e é das coisas mais fáceis e mais importantes nos carneiros porque conseguimos perceber as ovelhas que já foram cobertas. Depois, 40 a 45 dias após retirar os machos, faz-se a ecografia.
As parições são feitas no ovil? Sim, as ovelhas parem no ovil e aos 15 a 20 dias vão para o campo com os borregos (já desparasitados), sempre divididos por lotes: ovelhas com 1 borrego, com 2 e com 3, para adaptar a alimentação das mães às suas necessidades. Os borregos estão com as mães até aos 60 dias, e nessa altura são desmamados. Aí são separados aqueles que são para engorda e os que são para reposição. Faço nova cobrição 45 a 60 dias após o desmame. Deixo-as descansar um mês com alimentação normal e um mês a fazer o flushing para a cobrição. Convém esperar este tempo para não comprometer a fertilidade e a prolificidade.
Como faz o maneio alimentar? As ovelhas estão sempre a campo. Só estão
fechadas a ração e palha, ou feno, 10 a 15 dias antes de o grupo começar a parir e 15 a 20 dias depois de parir. Quando há muita erva, não precisam de suplementação. Quanto aos borregos, são suplementados quase todo o ano com comedor seletivo; no ovil, aos 8 a 10 dias de vida começam logo a ir ao comedouro seletivo, e quando saem de lá já sabem procurar aí a comida.
Usa sempre a mesma ração, ou tem rações específicas para as ovelhas de pré-parto? Para as ovelhas, por questões de maneio, é utilizada a mesma ração, sendo feito o ajuste das quantidades às necessidades de cada uma das fases do ciclo produtivo. Estas ovelhas têm uma capacidade de ingestão muito grande para o seu peso. Por isso, pode-se dar um alimento um bocadinho mais pobre para suprir as mesmas necessidades. Para os borregos começo pelo pré-starter, depois passo para o starter e, a seguir, para uma ração de engorda.
Têm problemas sanitários na exploração? Se o plano profilático for cumprido, não temos.
De que consta o plano profilático? A desparasitação para a Coccidiose é a primeira coisa que fazemos entre os 10 e os 15 dias depois do nascimento dos borregos. Depois é feita a vacinação para os clostrídeos e pasteurelas e a desparasitação de largo espetro entre os 30 e os 40 dias. Ao desmame é feito o reforço desta vacinação. Nos animais adquiridos fora da exploração, para engorda, é feita a vacinação para clostrídeos e pasteurelas e ainda a desparasitação para Coccidiose e de largo espetro à entrada para a engorda.
Qual é o objetivo deste negócio a 5 anos? Quero ter as fêmeas todas puras e manter o efetivo atual.
Que indicadores utiliza para perceber se o negócio está no bom caminho? Os indicadores que temos em conta no efetivo reprodutor são o número de borregos desmamados por ovelha e os quilos de borrego desmamados por ovelha. Valores anuais interessantes são: 2 borregos por ovelha e 20 kg de peso vivo por borrego aos 60 dias. Relativamente à engorda, em termos produtivos damos muita atenção à mortalidade e ao índice de conversão. Com o sistema produtivo que seguimos, temos valores na ordem de 1% de mortalidade e um índice de conversão de 3 kg de concentrado por 1 kg de ganho de peso. A rentabilidade económica está dependente de muitos fatores externos, como o preço de compra e venda dos animais e os custos dos fatores de produção. ProOvis - ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CRIADORES DA RAÇA ROMANE
Há quatro anos, Helder Alves e um grupo de criadores da raça Romane fundaram a ProOvis. O objetivo é contribuir para a preservação da genética da raça: “Vou vendo por aí muitos animais que são chamados de INRA 401 ou Romane e que fogem muito às características da raça", refere Helder.
Quantos sócios tem a ProOvis? Atualmente somos cerca de 16 sócios. O ano passado tínhamos 750 animais em linha pura registados no livro genealógico da raça, que é gerido pela OS Romane. Este ano passaremos os 1000 animais, a maioria ainda animais importados e cerca de 250 já nascidos em Portugal. A Romane é a primeira raça exótica presente em Portugal em que a gestão do livro genealógico é realizada pelo organismo oficial do país de origem.
Quem faz os controlos? O controlo é realizado pelos técnicos da OS Romane que se deslocam periodicamente a Portugal. Atualmente temos os mesmos direitos e obrigações que os produtores de França com animais inscritos no livro genealógico.
O que é necessário para ser produtor da raça com animais registados no livro genealógico? Tem que se tornar sócio da associação portuguesa. O valor da quota são 50 euros anuais. Os machos terão que ser provenientes dum centro de testagem da OS Romane e registados no livro genealógico. As fêmeas, independentemente de serem nascidas em Portugal, ou importadas, também terão de estar inscritas no livro. As fêmeas nascidas em Portugal serão inscritas no livro após manifestação de interesse pelo produtor e verificação de todos os requisitos, nomeadamente a inscrição dos progenitores no livro genealógico, e o padrão da raça. O custo de registo são 3 euros por ovelha adulta por ano.
Com que finalidade vendem os outros criadores associados os seus animais? Alguns vendem genética, machos para rebanhos industriais e fêmeas para outros criadores, em linha pura ou sem registo. Cada um é livre de vender como quiser. Os machos são maioritariamente para abate.