Revista Ruminantes 41

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RUMINANTES

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ANO 11 | 2021 ABR/MAI/JUN (TRIMESTRAL) PREÇO: € 5.00

A REVISTA DA AGROPECUÁRIA WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM

EXEMPLAR DE OFERTA

Alimentação

FOTOGRAFIA: FRANCISCA GUSMÃO

O contributo da ureia na rentabilidade económica duma exploração

Culturas de cobertura

As recomendações de Ademir Calegari, especialista em agricultura de conservação, para a escolha do mix certo nas culturas de cobertura

Caprinos

Inseminação artificial a tempo fixo

Matérias-primas

Os preços e o consumo dispararam. O Observatório analisa a situação


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EDITORIAL

REVISTA RUMINANTES #41

ABRIL . MAIO . JUNHO 2021 DIRETOR Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

Foto Francisco Marques

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Adam Geiger, Ademir Calegari, André Antunes, António Cannas, António Moitinho, Bastian Hildebrand, Carlos Vouzela, Daniel Luchini, Deolinda Silva, Enrique Pernaute, Filipe Lino, George Stilwell, Isabela Monteiro, Javier Lopez, Joana Silva, João Chagas e Silva, João Maria Barreto, João Paisana, João Santos, José Caiado, Jose Luis Madera, José Moreira, Luís Esteves, Luís Raposo, Luís Reis, Luiza Fernandes, Manuel Rondón, Maria José Moreira, Michelle Harvey, Miguel Vacas de Carvalho, Patrícia Gonçalves, Pedro Castelo, Pedro Castro, Pedro Nogueira, Raquel Cortesão, Regina Menino, Sara Garcia, Teresa Carmona. DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO Francisca Gusmão

Caro Leitor,

N

ão poderia deixar de falar, neste editorial, da forte subida que os preços das matérias-primas têm sofrido. Como é sabido, quase sempre que a China vai às compras de soja e milho ao mercado, os preços sobem. Quando comparamos os preços do primeiro trimestre de 2021 com os do mesmo trimestre de 2020, percebemos que as principais matérias-primas utilizadas na alimentação dos ruminantes subiram, em média, 30 a 45%. Estas subidas tiveram picos bastante acentuados, como o caso do milho, que chegou a estar a 180€/ton e atualmente está a 250€/ton; ou o caso da soja, que esteve a 325€/ton e há pouco tempo atrás chegou a 490€/ton. Este problema não é recente, e continua sem grande solução. Os produtores e as fábricas de alimentos compostos vão tomando as melhores decisões nas compras de matéria-primas, usando as ferramentas que têm ao seu dispor, nomeadamente, comprando a futuros quando o preço é interessante. Mas isso não chega. Nem a indústria nem os produtores são responsáveis por esta situação, mas são eles que acabam por assumir uma boa parte dos custos extra que estas subidas de preços acarretam, ao não conseguirem passar para o mercado os aumentos que tiveram nos custos. As grandes superfícies, de uma forma geral, conhecem os preços elevados das matérias-primas, mas nem sempre reconhecem os aumentos dos custos de produção. E, no caso de terem forma de

REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda

pressionar os produtores e a indústria pela menor subida possível, é isso que, por norma, fazem. Para minimizar os estragos destes períodos de preços altos, há que trabalhar em diversos sentidos. Na verdade, os produtores e as empresas têm procurado muitas formas para fazer face a este problema. E, provavelmente, não há muito mais que possam fazer. A não ser continuarem a sensibilizar, através das associações e cooperativas, o governo e a rede de distribuição, para a necessidade de repercutir os aumentos dos custos de produção na cadeia de distribuição e no consumidor final. É fácil entender que o lóbi dos supermercados, em Portugal e na Europa, é bem aceite pelos políticos, pela influência que detém no controlo da inflação. Por outro lado, depende acima de tudo dos agricultores e dos técnicos, a procura por matérias-primas e subprodutos alternativos, e a menor utilização de matérias-primas nobres. No entanto, quando os preços das matérias-primas sobem, os preços dos subprodutos acompanham estas variações. Procurar incorporar produtos alternativos (como possa ser a ureia no caso das “proteínas” caras) e, também, continuar a produzir forragens de altíssima qualidade, são formas de depender menos da compra de nutrientes; contribuindo, desta forma para a tão falada sustentabilidade. Nuno Marques

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FOTOGRAFIA Francisca Gusmão, Francisco Marques IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas , nº9, Vale Fetal, 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto | 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. | 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque P. M. Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038 DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/ estatuto-editorial www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes


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SUMÁRIO

#41 ABRIL MAIO JUNHO 2021

08 Alimentação | ruminantes O contributo da ureia para a produção de carne e leite

12 Alimentação | vacas de leite As vantagens da utilização de Thermoconfort

14 Alimentação | vacas de leite A influência do Sugarplus à base de melaço

16 Alimentação | vitelos As importância das dietas de transição no desmame

20 Alimentação | bovinos A alimentação no 1º teste de performance Limousine

22 Alimentação | vacas de leite Dietas com DCAD negativo no pré-parto

26 Alimentação | vitelas A importância da nutrição nas primeiras semanas de vida

30 Alimentação | vitelos Alimentar com colostro a seguir ao nascimento

34 Alimentação | vacas de leite Suplementação com metionina, mais leite

36 Produção | borregos Uma engorda de borregos para Israel

40 Forragens Amido vs fibra na forragem de milho

42 Forragens Saiba como participar no Concurso Nacional de Forragens

44 Forragens Como aumentar a digestibilidade da fibra

46 Agricultura regenerativa Entrevista a Ademir Calegari

52 Forragens Go-biochorume: valorização de chorumes de pecuária intensiva

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SUMÁRIO

54 Saúde e bem-estar | bovinos Cálculo do impacto económico da síndrome respiratória bovina

58 Genética | caprinos Inseminação artificial a tempo fixo

62 Saúde e bem-estar | bovinos Avaliar a vitalidade do vitelo recém-nascido

66 Genética | vacas de leite 3 gerações de vacas cruzadas

70 Equipamento | vitelos Alimentadores automáticos de vitelos, prós e contras

74 Equipamento | vacas de leite Adquirir um robot de ordenha. 11 pontos a considerar

76 Produção | vacas de leite 3 robots de rodenha, mais leite e mais tempo

80 Observatório matérias-primas As bazucas

82 Observatório do leite Um ano de pandemia e a luz ao fundo do túnel

82 Índices VL e VL-Erva A produção de leite abaixo do limiar de rentabilidade

82 Notícias Investigação leiteira, o que há de novo

88 Equipamento Dicas para a instalação de cercas elétricas

90 Equipamento Fendt 200 Vario

92 Equipamento SIMA 2021 Seleção de inovações

92 Equipamento Smaxtec TruRumi Monitorizador de ruminação

98 Nutrição "O dilema do Omnívoro", por Michelle Harvey

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REVISTA RUMINANTES

Cristais de ureia sob luz polarizada vistos ao microscópio com um aumento de 100 vezes.

ALIMENTAÇÃO | RUMINANTES

O CONTRIBUTO DA UREIA

EM TEMPO DE CARESTIA DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL, O USO CORRETO DA UREIA NA ALIMENTAÇÃO DOS RUMINANTES AJUDA A MELHORAR A RENTABILIDADE ECONÓMICA DA PRODUÇÃO DE CARNE E LEITE.

N

uma altura em que os custos das matérias-primas destinadas à alimentação animal sofreram um aumento brutal, colocando muitas vezes em causa a rentabilidade das explorações agropecuárias, torna-se decisivo usarmos todos os meios técnicos ao nosso dispor para amortecer o disparar do custo da alimentação. Quando a soja sobe de preço, automaticamente todas as matérias-primas alternativas e concorrentes (colza, girassol, destilados de milho, etc.) à sua utilização também sobem de preço. É, na verdade, o mercado a funcionar. A proteína é o nutriente que mais tem subido de preço. A questão que se coloca é, “o que posso eu fazer para tentar controlar esta realidade e defender a viabilidade do meu negócio?”. Existem várias medidas a tomar, ou a reavaliar, ao nível da exploração, para melhorar a

eficiência alimentar. A redução do peso ao abate, a melhoria da genética mais adequada aos objetivos produtivos, a redução do desperdício através de melhorias no maneio alimentar, a deteção de micotoxinas, as medidas destinadas a assegurar a melhor saúde dos animais (incluindo aqui o bem-estar animal), o uso racional de certos aditivos e a constante otimização das dietas, são claros exemplos da permanente busca de ganhos de eficiência alimentar e produtiva. Este texto apenas abordará a oportunidade do uso da ureia como um meio para atingir os fins atrás descritos. Em Portugal, o uso maximizado e apropriado da ureia na alimentação dos ruminantes, tem ainda uma grande margem de progressão e constitui aquilo a que eu chamaria uma reserva de competitividade não totalmente explorada. Os mitos e as crenças dos produtores à volta do uso da ureia têm 08

sido de algum modo um fator limitante à sua maior utilização, ainda que eu considere que este constrangimento tem vindo a diminuir, felizmente, ao longo dos anos. O natural desconhecimento técnico sobre a sua utilização leva ao medo e nalguns casos a que seja rejeitada a sua inclusão nos alimentos compostos para animais (ACA). Saber o que é a ureia, o seu papel no metabolismo proteico, e as suas limitações na nutrição dos ruminantes, ajuda a compreender a segurança com que pode ser usada e os seus benefícios técnicoeconómicos. Quando a ureia é usada de forma apropriada, constitui a solução com melhor custo-eficácia ao nosso dispor, para fornecer proteína na alimentação dos ruminantes. A inclusão de ureia também permite uma enorme vantagem competitiva sobre as espécies pecuárias que não a podem utilizar, caso das aves,


O contributo da ureia

ALIMENTAÇÃO | RUMINANTES

JOSÉ CAIADO Médico veterinário Dairy Consultant jose.pires.caiado@gmail.com

suínos e animais pré-ruminantes, que não possuem no seu sistema digestivo a urease – a enzima chave que “desfaz” no rúmen a ureia, libertando o amoníaco. É a fração nitrogenada do amoníaco que constitui a matéria-prima usada pelos micróbios do rúmen para produzir a chamada proteína microbiana. Esta fração é uma fonte substancial da proteína metabolizável usada pelo organismo animal para a produção de leite ou carne. O QUE É A UREIA? A ureia é uma forma de nitrogénio não proteico (NNP) composto na sua essência pela união de duas moléculas de amoníaco. Fala-se numa forma não proteica porque consideramos como verdadeira apenas aquela proteína cujo nitrogénio (ou azoto) é proveniente das cadeias de aminoácidos que a compõem. A ciência assume que as proteínas na natureza possuem um teor médio de 16% de azoto na sua composição. Em laboratório, o cálculo da proteína bruta faz-se determinando primeiro o teor em azoto do alimento analisado e, depois, multiplicando esse teor por uma constante de 6,25, valor convencionado para a generalidade dos alimentos que os animais consomem. O produto dessa multiplicação dá-nos a proteína bruta em percentagem desse alimento. Assumindo que 1 quilograma de ureia para uso na alimentação animal tem 46% de azoto, então a multiplicação de 46 x 6,25 resulta no valor 287,5% como a percentagem de proteína bruta da ureia. Este valor parece confuso pelo facto de ser acima de 100%. Contudo, este valor deve assumir-se mais como um valor relativo do que como uma verdadeira percentagem, servindo assim para definir a equivalência proteica do NNP contido na ureia, uma fonte concentrada de azoto. É este racional que está na base da informação obrigatória de etiquetagem sempre que uma ração

destinada a ruminantes contenha ureia ou qualquer outra fonte de NNP. Nas etiquetas de rações com ureia deve estar descrito o teor da ureia em % ou em grama por quilograma de produto, bem como o chamado equivalente proteico da ureia. Como exemplo, se a etiqueta informa que a ração incorpora 1% de ureia, então o Equivalente Proteico do NNP é igual a 2,87%. QUE QUANTIDADE DE UREIA SE PODE USAR NA ALIMENTAÇÁO A utilização correta (e por isso segura ) da ureia depende de um conjunto básico de premissas: - apenas animais com um rúmen totalmente funcional podem ingerir e metabolizar ureia. Sabendo que um bezerro com correto maneio alimentar apenas se torna um ruminante totalmente funcional por volta dos 85 a 90 dias de vida, antes desta idade não tem interesse usar-se ureia. - para que a ureia seja metabolizada e aproveitada ao máximo pelo animal, é necessário que a alimentação inclua níveis elevados de carbohidratos rapidamente degradáveis no rúmen. Ou seja, devem reunir-se as condições de equilíbrio nutricional entre a proteína e a energia da dieta, para que a sincronização metabólica entre ambas seja máxima, permitindo a maior produção de proteína microbiana. Dietas ricas em amidos com diferentes velocidades de degradação ruminal (uso de diferentes cereais) e açúcares rapidamente degradáveis (como os melaços, a beterraba, etc.) permitem uma utilização de ureia em doses mais elevadas e sem quaisquer riscos de toxicidade. - a introdução da ureia nas dietas deve fazer-se de forma progressiva para que a flora ruminal se vá adaptando progressivamente ao aumento do fornecimento de ureia. Esta regra dura geralmente três a quatro semanas. Quanto melhor isto se cumpra, maior é a capacidade dos ruminantes poderem suportar, de forma metabolicamente saudável, um amplo uso da ureia na sua alimentação. Cumprindo estas premissas, pode-se afirmar que os valores de seguida indicados constituem máximos orientativos e seguros na alimentação de ruminantes: - vacas leiteiras: até cerca de 120 gramas/ animal/dia; - novilhos em acabamento: até 1% da Matéria-Seca (MS) ingerida/dia - novilhos em crescimento: até 0,5% da MS ingerida/dia. 09

A investigação cientifica comprovou que os micróbios ruminais poderiam viver apenas da ureia como fonte de azoto. No entanto, está bem estabelecido que os melhores resultados zootécnicos se obtêm com o uso combinado de fontes de proteínas naturais com fontes de NNP, como a ureia. Procura-se que a proteína bruta proveniente da ureia não passe de um terço do total de proteína bruta requerida pelo animal, por forma a garantir a melhor eficiência proteica e a melhor performance dos animais assim alimentados. Esta norma de segurança é um imperativo legal consagrado na seguinte menção das etiquetas de rações que incorporam ureia: "A ureia apenas deve ser dada a animais com o rúmen funcional. A dose máxima de ureia deve ser alcançada de forma progressiva. O teor máximo de ureia apenas deve ser dado aos animais como parte de regimes alimentares ricos em hidratos de carbono de fácil digestão e reduzidos em azoto solúvel. O azoto ureico deve representar no máximo 30% do azoto total da ração diária." SOBRE O MITO DA TOXICIDADE DA UREIA Desde sempre houve a ideia popular de que a ureia “fazia mal aos animais”. E que se usava apenas “por ser muito mais barato que usar a soja”. Felizmente, ao longo dos últimos anos, tenho vindo a confrontar-me no campo com cada vez menos alegações deste tipo, e a verificar que cada vez menos produtores rejeitam o consumo de rações que incorporam ureia. Na minha opinião, esta mudança de mentalidade muito se deve ao trabalho sério de esclarecimento aos produtores pelos seus técnicos nutricionistas. Na verdade, para que a pança funcione bem, o animal precisa da chamada proteína solúvel, venha ela da pastagem, de silagens e fenossilagens do azevém ou das leguminosas (meros exemplos), ou da ureia, o ingrediente que mais proteína solúvel pode fornecer de forma concentrada à alimentação animal.

"PROCURA-SE QUE A PROTEÍNA BRUTA PROVENIENTE DA UREIA NÃO PASSE DE UM TERÇO DO TOTAL DE PROTEÍNA BRUTA REQUERIDA PELO ANIMAL POR FORMA A GARANTIR A MELHOR EFICIÊNCIA PROTEICA E A MELHOR PERFORMANCE DOS ANIMAIS ASSIM ALIMENTADOS."


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REVISTA RUMINANTES

Apesar da intoxicação por ureia poder ser um problema grave, a verdade é que a sua ocorrência é muito rara e, normalmente, resulta de erros associados ao maneio alimentar. As rações à venda em Portugal são formuladas para um determinado modo de emprego e contêm quantidades seguras de ureia. No geral pode afirmar-se que para haver uma intoxicação por ureia é necessário que os animais comam uma quantidade de ração muito acima daquilo para a qual esta foi desenhada. O famoso livro “The Merck Veterinary Manual” (Thompson, L.J., 2018) indica que para a ureia causar problemas, os animais teriam de ingerir 0,3-0,5 gramas por quilograma (g/kg) do seu peso vivo, e que são precisas dosagens entre 1,0 g e 1,5 g por kg de peso vivo para causar mortalidade. Para melhor ilustrar esta situação podemos dar o exemplo de um novilho de cerca de 450 kg de peso vivo que teria de ingerir entre 450 e 675 gramas/dia de ureia para que corresse risco de morte. Ora, estas doses nunca são dadas aos animais através das dietas que eles diariamente consomem. Portanto, a ureia é um suplemento proteico seguro eficaz quando administrada corretamente aos ruminantes. Mais uma vez, trata-se de uma questão de dose. Uma aspirina também pode fazer muito bem. Contudo, se ingerirmos uma caixa de aspirinas também podemos correr o risco de intoxicação ou mesmo de morte. A ureia apresenta um risco mínimo até que seja convertida em amoníaco no rúmen. A verdadeira causa da toxicidade da ureia não está na ureia em si, mas sim na quantidade total de amoníaco libertado na pança pela ureia e por forragens ricas em NNP, que absorvido através da parede ruminal passa ao sangue num fluxo amoniacal a que o metabolismo animal não consegue por assim dizer dar vazão a nível do fígado, o órgão encarregado da sua destoxificação, através do seu novo “embalamento” como ureia excretada posteriormente pela urina. O VALOR ECONÓMICO DA UREIA NA ALIMENTAÇÃO Apesar de que biologicamente falando todos os animais possuem uma necessidade de proteína verdadeira — mais especificamente de aminoácidos — os micróbios da pança podem viver e multiplicar-se usando quer proteínas naturais (como as da soja, etc.) quer o NNP (o azoto contido na ureia) para formar a

QUADRO 1 IMPACTO DO CUSTO DE 1% DE UREIA EM TRÊS TIPOS DE RAÇÃO PARA RUMINANTES Produto para

Nutrientes base

Novilhos de carne

UFL= 1 / PB= 14,5%

Valor 1% ureia/poupança 9,46 €/ton

Ovelhas de leite

UFL= 1 / PB= 20%

9,51 €/ton

Vacas leiteiras

UFL= 1 / PB= 23%

9,41 €/ton

Nota: preços usados neste estudo - soja 398€/ton; ureia 390€/ ton.

chamada proteína microbiana (por assim dizer, é a “massa” proteica dos micróbios) que abastece o intestino dos aminoácidos que são necessários ao metabolismo do animal, para estes produzirem leite ou carne. Usando o bagaço de soja como o padrão para o nutriente “proteína”, poderemos definir o valor nutricional e económico relativo da ureia como uma alternativa para a alimentação dos ruminantes. Normalmente, a ureia custa mais por tonelada que o bagaço de soja. Mas por mais estranho que pareça houve um tempo este ano em que a ureia era mais barata do que o bagaço de soja, por muitos considerado um “ ingrediente nobre” por excelência. Vamos assumir que desde o inicio do ano a ureia custou um valor referencial de 370€/ ton e que o bagaço de soja entre altos e baixos teve um preço de referência a mercado de 440€/ ton. Se contabilizarmos o valor relativo dos seus conteúdos em proteína bruta de 287% e de 44%, respetivamente, o custo da ureia tem sido apenas 18% do custo do bagaço de soja quando apenas, e só, comparamos o nutriente estrela aportado por ambos - a proteína bruta. Podemos fazer outro cálculo simples comparando o custo unitário percentual da proteína bruta do bagaço de soja e da ureia. • Custo da unidade % de proteína bruta do bagaço de soja= 440€:44%= 10€ / 1% • Custo da unidade % de proteína bruta da ureia= 370€ / 287%= 1,29€ / 1% Por esta avaliação simplista, o custo unitário proteico da ureia é de apenas 12,9% do custo unitário da proteína do bagaço de soja. Há todavia que realçar que a ureia apenas fornece proteína bruta ao animal enquanto a soja fornece também energia e outros nutrientes. Para que se tenha consciência da poupança potencial e atual da ureia no custo das rações exemplificamos de seguida o impacto económico da sua incorporação ou não. Ou seja, quanto se poupa na fórmula pela incorporação de 1% de ureia versus a não incorporação (Quadro 1). 010

MENSAGENS PARA CASA - Sendo a proteína o nutriente mais caro de todas as matérias-primas ou concentrados comprados para nutrir os ruminantes, o uso esclarecido e criterioso da ureia oferece uma vantagem competitiva aos ruminantes, quando esta se utiliza como uma fonte alternativa de proteína. - Assegurar um correto equilíbrio entre o NNP (a ureia) e os carbohidratos degradáveis/digeridos na pança é a chave-mestra para se conseguir capturar de forma eficiente e saudável todos os benefícios económicos e de performance, gerados pelo uso correto da ureia. - A comunidade de técnicos nutricionistas ligados à produção pecuária nacional está bem preparada para assessorar os produtores no uso esclarecido da ureia. - Em conclusão, o uso da ureia funciona muito bem na alimentação dos ruminantes, e ajuda a minimizar o impacto do brutal aumento de preço das matérias-primas no custo das rações e dos arraçoamentos para todos os ruminantes. Trata-se de uma oportunidade que deve ser aproveitada de forma cabal no atual contexto de mercado que é muito desafiante para a rentabilidade das explorações pecuárias nacionais. Do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, a vantagem que os ruminantes possuem sobre as outras espécies pecuárias radica no facto de possuírem a pança, uma verdadeira cuba de fermentação que confere aos ruminantes a possibilidade de utilizarem fontes alternativas de proteína e energia, que não são utilizáveis pelos animais monogástricos. Assim, num verdadeiro exemplo de economia circular, os ruminantes, através da fermentação, aproveitam resíduos agroindustriais que de outra forma teriam um custo ambiental para os fazer desaparecer. É um milagre da natureza que transforma recursos alimentares sem valor para o Homem em proteína animal de alto valor como o leite e a carne.


O contributo da ureia

ALIMENTAÇÃO | RUMINANTES

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REVISTA RUMINANTES

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

STRESS TÉRMICO

GLOBALMENTE, AS PERDAS RESULTANTES DO STRESS TÉRMICO SÃO MUITAS E PODEM ULTRAPASSAR OS 400€ POR VACA LEITEIRA. POR ESSE MOTIVO, A ABORDAGEM E A PREOCUPAÇÃO COM ESTE TEMA DEVERÁ SER ACAUTELADA COM ANTECIPAÇÃO.

O

stress térmico (ST) é sentido quando a combinação entre a temperatura e a humidade do ar resultam numa situação em que o animal não é capaz de regular a sua temperatura corporal. Nessas situações, o excesso de calor afeta bastante o metabolismo e o desempenho produtivo da vaca leiteira. É muito importante tentar reduzir ao máximo esse efeito e, para isso, há que agir antes dos meses mais críticos do verão. PORQUE É QUE O STRESS TÉRMICO É UM PROBLEMA? A sensibilidade dos animais às condições de calor é variável individualmente, e essa variabilidade leva também a diferenças no impacto do desempenho reprodutivo e na produção leiteira de cada animal. Essa variação individual poderá ser ainda mais evidente quando comparamos diferentes raças, por exemplo, as vacas Holstein são mais sensíveis do que as vacas Jersey que parecem ser as menos afetadas. Raças mais rústicas revelam-se naturalmente mais bem adaptadas a lidar com o stress térmico por calor. Também é possível verificar que, entre animais na mesma fase

de lactação, existe uma maior sensibilidade térmica nos animais mais produtivos, enquanto em animais em diferentes fases da lactação se verifica uma maior sensibilidade nos que estão em início de lactação (com menos de 100 dias). Em Portugal, encaramos com normalidade a ocorrência de verões quentes, onde as temperaturas ultrapassam facilmente os 25°C, podendo estas temperaturas elevadas manter-se durante longos períodos do dia e durante vários meses. Em paralelo, também é sabido que, geralmente, as vacas leiteiras sentem-se mais preparadas para lidar com as temperaturas frias do que com as temperaturas quentes. A zona de conforto térmico da vaca leiteira situa-se entre os 5°C e os 15°C, sendo que os primeiros distúrbios poderão ser observados a partir dos 25°C, com uma diminuição da produção de leite e um aumento do consumo de água. Quanto mais altas forem as temperaturas e a humidade do ar, maior é a sensibilidade térmica e mais forte será o impacto do stress por calor. Assim, durante um largo período do ano, e no qual o expoente máximo é o verão, o aumento das temperaturas tem consequências visíveis sobre o 012

comportamento, a saúde, o desempenho reprodutivo e, como seria previsível, sobre a produção leiteira! Será que devemos encarar este impacto negativo do stress térmico com a mesma naturalidade com que encaramos a subida da temperatura? COMO IDENTIFICAR O STRESS TÉRMICO POR CALOR? Sob condições de stress térmico, os animais expressam o seu desconforto de diferentes formas. Os primeiros sinais facilmente visíveis são a redução da ingestão e o aumento do ritmo respiratório. Adicionalmente, pode verificar-se uma diminuição da eficiência de absorção de nutrientes pelo intestino, bem como um aumento das necessidades de manutenção. Por outro lado, quando se observa um decréscimo na ingestão de matéria seca, há uma tendência para que essa redução seja mais evidente na componente forrageira ( fibra). Isto acontece porque os animais selecionam mais o alimento e favorecem a ingestão das partículas mais finas em detrimento das partículas mais grosseiras e mais fibrosas). O resultado


Stress térmico

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

Em detrimento do conforto e por forma a dissipar o calor corporal, em situação de ST por calor os animais passam menos tempo deitados. Este comportamento leva a uma diminuição na produção de leite e ao surgimento de alguns problemas locomotores (mais claudicação).

LUÍS RAPOSO Engenheiro zootécnico Dep.to Ruminantes Reagro l.raposo@reagro.pt

deste comportamento será um aumento percentual da ingestão da componente concentrada da dieta e o decréscimo na sua componente fibrosa, que por sua vez, poderá desencadear um declínio acentuado da ruminação e um aumento do risco de acidose ruminal. Tudo isto contribuirá para uma diminuição da produção leiteira. Nos períodos de maior calor, a redução da ingestão de matéria seca, associada a uma atividade ruminal mais lenta, afeta diretamente não só a produção de leite mas também o seu teor em gordura, que diminui. A diminuição na produção de leite poderá atingir até 10 litros por dia nos animais mais produtivos e em início de lactação, e a queda na produção pode ser explicada em cerca de 40% pela diminuição da ingestão de alimento. Do ponto de vista imunitário, o ST contribui para uma diminuição geral das defesas imunológicas e para uma maior vulnerabilidade das vacas às pressões ambientais. Esta situação deve-se a um enorme stress oxidativo causado pela luta do animal contra o ST. A contagem de células somáticas também aumenta geralmente no verão. Já do ponto de vista da fertilidade, o ST leva a uma diminuição da mesma, sendo notório que o sucesso na reprodução durante os meses de verão pode diminuir (10%), quando comparada com os meses de inverno. GRÁFICO 1 PRODUÇÃO DE LEITE BASEADA NUMA AMOSTRA DE 100 VACAS LEITEIRAS EM INÍCIO DE LACTAÇÃO, SOB CONDIÇÕES DE FORTE STRESS TÉRMICO POR CALOR

COMO REDUZIR OS EFEITOS DO STRESS TÉRMICO NA PRODUTIVIDADE DAS VACAS LEITEIRAS? Do ponto de vista alimentar e considerando a influência nutricional, existem algumas formas de tentar controlar ou reduzir o impacto que o ST tem sobre a produtividade e rentabilidade da exploração. No entanto, é importante não esperar até ao último momento para agir e iniciar antecipada e progressivamente essa adaptação. Antecipando uma ingestão de matéria seca fortemente reduzida, há que encontrar formas de incentivar e promover o consumo de alimento. Recomendações para promover o consumo de alimento: - Aumentar o número de distribuições diárias de alimento mantém a forragem mais fresca e mais palatável; - Distribuir a ração preferencialmente ao final do dia, quando a temperatura é mais baixa, de forma a incentivar as vacas a ingerir uma boa parte da sua dieta durante a noite; - Adicionar água na mistura; - Assegurar a quantidade e a qualidade da água disponível para a hidratação do efetivo. Esta recomendação é fundamental ao longo de todo o ano, mas ainda mais nas fases críticas e suscetíveis de ST. - Recorrer à suplementação com aditivos especificamente concebidos para minimizar os efeitos do stress térmico por calor (Thermoconfort). GRÁFICO 2 EVOLUÇÃO BASEADA NUMA AMOSTRA DE 100 VL DISTRIBUÍDAS POR 3 GRUPOS DE ACORDO COM A SUA FASE DE LACTAÇÃO

CONTROLO

COM SUPLEMENTAÇÃO

130

110

120

106

% de controlo

% de controlo

108 104 102 100 98 96 94

110 100 90 80

72 73 74 75 76 77 78 79 80 Índice de Temperatura e Humidade (THI)

70

Início da lactação

Meio da lactação

013

Fim da lactação

UTILIZAÇÃO DE THERMOCONFORT Graças à sua composição à base de extratos de plantas, o ThermoConfort foi desenhado para: • estimular o aumento da ingestão de matéria seca e do consumo de água; • contribuir para uma melhor gestão do estado inflamatório e do stresse oxidativo; • fornecer potássio, mineral exportado no leite e cujas necessidades aumentam em situações de calor, tornando-se necessário fornecer potássio adicional na dieta; • fornecer óxido de magnésio, que contribui com efeito tampão no pH ruminal; • fornecer bicarbonato de sódio, cujo interesse é fornecer iões de carbonato que irão também limitar a queda do pH ruminal e combater o risco de acidose. Como referido anteriormente, em condição de ST o animal limita a ingestão de fibra e seleciona as pequenas partículas de concentrado, aumentando assim os riscos de acidose. Para combater ou minimizar eventuais situações de acidose é importante considerar a utilização de fatores tamponizantes como o bicarbonato de sódio ou de potássio. A incorporação de leveduras na dieta também poderá ser uma forma eficaz de combater não só a acidose, mas também de estimular a flora microbiana. Além disso, o balanço da dieta catião-anião (DCAB) positivo do bicarbonato é útil para aumentar o DCAB total da dieta. Quando o DCAB aumenta a ingestão de matéria seca também aumenta. Um ensaio realizado na Tunísia, sob condições de forte ST por calor, mostrou que através da suplementação da dieta a produção de leite foi melhorada em todos os grupos de animais (Gráficos 1 e 2), mesmo em diferentes fases da lactação. (Fonte: ensaio Techna, Tunisia 2018). CONCLUSÃO O stress térmico por calor é um importante fator responsável pela quebra de produtividade que se observa em muitas explorações leiteiras durante o período de maior calor. Globalmente, as perdas resultantes desta realidade são muitas e podem ultrapassar os 400€ por vaca leiteira. Por esse motivo, a abordagem e a preocupação com este tema deverá ser tida em conta e acautelada com a antecipação necessária… os próximos meses são o melhor momento para o fazer!


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

ALIMENTAÇÃO LÍQUIDA

OS ALIMENTOS LÍQUIDOS SUGARPLUS, À BASE DE MELAÇO, SÃO CAPAZES DE RESTAURAR OS BENEFÍCIOS E ESPECIFICIDADES DA ALIMENTAÇÃO NATURAL À BASE DE FORRAGEM VERDE, DEVOLVENDO OS NUTRIENTES E AS CARACTERÍSTICAS QUE OS RUMINANTES NATURALMENTE NECESSITAM PARA EXPRIMIREM A SUA PERFORMANCE MÁXIMA.

LUIZA FERNANDES Technical Manager na ED&F Man Liquid Feeds Luiza.Fernandes@edfman.com

A

pastagem, verde e fresca, representou a dieta natural dos ruminantes desde os primórdios da agricultura. Porém, atualmente, a imagem das vacas na pastagem pode ser considerada quase um sonho, entre consumidores e produtores pecuários. Um sistema de alimentação baseado exclusivamente em forragens frescas, não é mais viável em muitas regiões porque as condições climáticas e a escassez de terras aráveis limitam a disponibilidade de pasto. Por outro lado, a alimentação exclusivamente à base de forragem não seria capaz de manter os níveis de produção permitidos pela genética das vacas leiteiras modernas e exigidos pela competitividade do mercado. Portanto, a alternativa para garantir o fornecimento constante de forragens, ao longo do ano, é a produção de feno e silagem. Mas, o que perdemos neste processo? A pastagem em verde é caracterizada por: - alto teor de açúcares;

- alto teor de ácidos orgânicos; - alto teor de proteína solúvel; - baixo teor de ADF ( fibra detergente ácida, geralmente mal digerível); - alta palatabilidade e alto teor de humidade. Veremos, nas próximas tabelas, como essas características são parcialmente perdidas durante os processos de produção de feno e ensilamento. Conforme se mostra na Tabela 1, os açúcares são perdidos durante os processos de produção de feno e ensilamento. Além disso, várias publicações destacam que também há uma mudança nos tipos de açúcares afetados. Na verdade, apenas 45% dos açúcares naturais contidos na dieta moderna são digeríveis (Melvin e Simpson 1963; Sullivan et al., 1973; Hoover, 2005). O processo de ensilagem também tem um impacto significativo no conteúdo de ácido orgânico da forragem. Enquanto as forragens verdes tem um elevado conteúdo de ácidos orgânicos (4 a 15% de matéria seca), a diminuição média dos teores dos ácidos cítrico, málico, fumárico e aconítico com o processo de ensilagem é de aproximadamente 44% (Uden, 2018) (Tabela 2). Outro problema importante derivado da conservação de forragens é a redução na eficiência do uso de proteínas, devido a um desequilíbrio no fornecimento de carboidratos e proteínas (Carlier, et al; 2009). Como pode ser visto na Tabela 3, o teor de proteína solúvel pode variar muito, dependendo do processamento das forragens. Além disso, o teor de ADF, que representa a fibra menos digerível, aumenta geralmente com os processos de fenação e ensilagem (Tabela 4). Ademais, a palatabilidade das dietas unifeed é tipicamente mais baixa do que

014

o desejado, o que pode ser parcialmente explicado pelo baixo teor de humidade, e também pelo baixo teor de açúcares e de ácidos orgânicos agradáveis ao paladar dos ruminantes. Todas essas razões inspiraram a SugarPlus a desenvolver alimentos líquidos de alto desempenho com o objetivo de repor todos os benefícios naturais de uma dieta à base de pasto verde fresco. Os alimentos líquidos Sugarplus são compostos de açúcares, ácidos orgânicos e proteína solúvel, ajudando o rúmen a encontrar o seu equilibro ideal, e proporcionando um maior bemestar natural. Além disto, os alimentos líquidos Sugarplus ajudam a aumentar a digestibilidade da fibra e a aumentar a palatabilidade da dieta, deixando a ração unifeed mais equilibrada e muito mais próxima da dieta natural das vacas. Num estudo patrocinado pela EDF Man, da Universidade de Bolonha, em 2018, Palmonari comprovou que o alimento líquido SugarPlus teve um impacto de quase 10% a mais na digestibilidade da fibra do que as fontes de melaço puro e 20% a mais que a sacarose pura (Tabela 5). Por outro lado, tanto na forragem verde como na alimentação líquida, as bases de melaço estimulam as populações microbianas semelhantes, como as bactérias do tipo Butyrivibrio fibrisolvens, fundamentais para uma boa eficiência e saúde ruminal. Portanto, podemos concluir que os alimentos líquidos SugarPlus à base de melaço são capazes de restaurar os benefícios e especificidades da alimentação natural à base de forragem verde, devolvendo os nutrientes e as características que os ruminantes naturalmente necessitam para exprimirem a sua performance máxima.


Alimentação líquida

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

TABELA 1 TEOR MÉDIO DE AÇÚCARES NA MATÉRIA SECA (MS) E SUA DIMINUIÇÃO DURANTE O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FENO E ENSILAMENTO (MANCINELLI, 2019;. CEVOLANI, ET AL, 2014) Variação no conteúdo de açúcar (%, MS) Fresca

Feno

Silo

Alfafa

7,7

5,1

3,3

Azevém

29,7

9,2

4,6

Milho

15,2

-

0,9

Sorgo

7,9

6,1

4

Aumente até aos 6% de açúcares na matéria seca da dieta e aumente a produção das suas vacas!

Melhora o rendimento Aumenta a produção Melhora a qualidade do leite

TABELA 2 O TEOR DE ÁCIDOS ORGÂNICOS DIMINUI COM O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FENO E ENSILAMENTO (FORMIGONI ET AL., 2003) Variação do conteúdo de ácidos orgânicos em luzerna (%, MS) Fresca

Feno

Silo

Cítrico

1,1

-25%

-41%

Málico

2,7

-18%

-28%

Aconítico

0,1

-55%

-62%

Fumárico

0,3

-8%

-16%

TABELA 3 DIMINUIÇÃO DO TEOR DE PROTEÍNA SOLÚVEL COM O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FENO E ENSILAMENTO Variações no conteúdo de proteinas solúveis (%, MS) Fresca

Feno

Silo

Alfafa

8%

-14%

+44%

Azevém

7%

-16%

-53%

TABELA 4 O CONTEÚDO DE ADF AUMENTA COM O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FENO E ENSILAMENTO (MANCINELLI, 2019; CEVOLANI, ET AL., 2014; CROVETTO G., 2006) Variações no conteúdo ADF (%, MS) Fresca

Feno

Silo

Alfafa

30,2

31,7

34,7

Azevém

26,8

39,5

28,3

Milho

23,1

-

25,5

Sorgo

35,4

40

40

Redução do pó e da escolha dos animais nos comedouros

Diminuição do risco de acidose ruminal

Fonte de energia imediata

Aumento da ingestão de matéria seca

TABELA 5 DIGESTIBILIDADE IN VITRO DA UNDF IN VITRO EM 48 H EM COMPARAÇÃO COM UMA DIETA CONTROLO DE SILAGEM DE MILHO (PALMONARI ET AL., BSAS 2019)

Melhora a digestibilidade da fibra

Aumento da digestibilidade da fibra in vitro, 48 horas Sacarose

+7,4%

Amido de Milho

15,0%

Melaço de beterraba

+17,9%

Melaço de cana

+20,2%

Alimento Líquido Sugarplus

+27,2%

www.edfman.com

015

Av Antonio Serpa, 23-7º 1050-026 Lisboa Telef: +351 21 7801488 Fax: +351 21 7965230 Email: lisbon@edfman.com


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

ALIMENTAÇÃO | VITELOS

DIETAS DE TRANSIÇÃO

O DESMAME É SEMPRE UM DESAFIO PARA OS VITELOS E PARA OS PRODUTORES. NESTE ENSAIO PROCURÁMOS AVALIAR O IMPACTO DO LEVUCELL SC NA MATURAÇÃO DO RÚMEN E NAS PERFORMANCES ZOOTÉCNICAS DE VITELOS DE EXPLORAÇÕES LEITEIRAS.

O

desmame é sempre um desafio para os vitelos e para os produtores. Durante o primeiro mês da sua vida, o trato digestivo dum vitelo passa por mudanças significativas. Nesta fase pode ocorrer um atraso no desenvolvimento do rúmen e, consequentemente, uma redução do consumo alimentar e do crescimento, com impacto negativo na sua produção futura (Bach A. e Ahedo J., 2008). O ideal é que a

Por Equipa técnica TECADI

microbiota ruminal esteja completamente estabelecida antes do desmame, em termos de diversidade. Mas o desmame é, acima de tudo, uma transição de dieta na qual é suprimido o leite. A ingestão dum starter deve aumentar fortemente num curto espaço de tempo para suportar o crescimento, estando estável no momento do desmame. Assim, a dieta de transição terá um impacto no pH do rúmen e nas populações ruminais e os criadores devem procurar

que seja o mais suave possível. As leveduras vivas Saccharomyces cerevisiae CNCM I-1077 provaram melhorar a maturação do rúmen e a performance dos jovens ruminantes. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio realizou-se numa exploração leiteira comercial, na Catalunha, Espanha, durante o ano de 2017. Teve a duração de 63 dias, em 2 fases: pré-desmame (do dia 1 ao 54) e pós-desmame (do dia 54 ao 63).

Dias do estudo

d1->d47

d47->d54

d54->d63

Leite de substituição (L/d) (23,5% PB e 19% GB) com 120 g/L

2x2

1x2

0

Concentrado Starter (16% PB, 13% FND, 39% Amido)

Consumo médio ad libitum de 850 g/animal/dia

016


Dietas de transição

ALIMENTAÇÃO | VITELOS

TRATAMENTOS 1) Controlo sem pré nem probióticos, quer no starter quer no leite. 2) Levucell SC: Saccharomyces cerevisiae CNCM I-1077 a 1,5 x 109 UFC/kg de ração, incluído no starter (equivalente a 75 gramas de Levucell SC 20/ton de ração) MEDIÇÕES Semanalmente, mediu-se o crescimento individual e a ingestão de concentrado (pré e pós-desmame) e colheram-se amostras individuais de fluido do rúmen ao dia 63 para mensuração da microbiota ruminal. Verificou-se que: - o Levucell SC melhora as performances durante os dois primeiros meses de vida dos vitelos (Gráfico 1); - o consumo diário de starter aumentou em +25%, o que é um sinal de boa saúde ruminal e de suave transição para o alimento sólido; - o Levucell SC aumenta o consumo de starter ao longo de todos os períodos (p=0,07), levando a uma transição de desmame mais fácil e a um melhor desenvolvimento do rúmen (Gráfico 3); - o Levucell SC facilita a transição para o alimento sólido com efeito positivo nas populações utilizadoras de lactato. - a suplementação com Levucell SC aumenta as populações de utilizadores de lactato, o que tem um efeito positivo na regulação do pH ruminal (Gráfico 4). - o Levucell SC aumenta o lucro a partir do custo do alimento (IOFC) com elevado retorno do investimento (ROI) (Quadro 2). CONCLUSÃO O Levucell SC melhora a performance de crescimento dos vitelos em redor do desmame, ao melhorar a sua condição ruminal. O Levucell SC aumenta o lucro para o criador, permitindo aos vitelos uma transição mais fácil ao desmame.

*

650

61

600 550 500

(Ganho: Consumo)

700

48

GRÁFICO 2 VARIAÇÃO DA EFICIÊNCIA ALIMENTAR

Eficiência alimentar

GMD (0-63d), g/d

GRÁFICO 1 GANHO MÉDIO DIÁRIO, DOS 0 AOS 63 DIAS

+129g/d

450 400

Levucell SC

Controlo

*p<0,05

0,48 0,47 0,46 0,45 0,44 0,43 0,42 0,41 0,40

** 0,47

0,43

+8,5%

*p<0,10

GRÁFICO 3 VARIAÇÃO DO CONSUMO DE CONCENTRADO (MSI), DOS 0 AOS 63 DIAS

Concentrado MSI (g/d)

O estudo envolveu 14 vitelos Holstein machos, com um peso inicial de 47,6 ± 6,7kg, e uma idade inicial de 10,3 ± 3,3 dias. A dieta não contemplou suplementação com forragem. O pré-desmame incluiu: 30% leite de substituição + 70% concentrado starter ad libitum (38% milho, 28% cevada, 14% soja, 4% alfarroba, 0,5% óleo de soja, 15,4% premix com vitaminas, aditivos e minerais). No desmame introduziu-se 100% de concentrado starter ad libitum.

2500 2000 1500 1000 500 0 0-12 d

13-26 d

27-40 d

41-54 d

54-63 d

Pré-desmame

Pós-desmame

GRÁFICO 4 VARIAÇÃO DA ABUNDÂNCIA RELATIVA DAS POPULAÇÕES DE UTILIZADORES DE LACTATO 0,20

0,15

0,10

0,05

0,00 Megasphaera

Selomonas

QUADRO 2 BENEFÍCIO LÍQUIDO DECORRENTE DA UTILIZAÇÃO DE LEVUCELL SC Por 100 animais em 63 dias de suplementação

Controlo

Levucel SC

Ganho médio diário (g/dia)

482 g

611 g

Volume de negócios (€/100 animais)*

9.241€

10.928€

IOFC (€/100 animais)**

3.677€

4.854 €

Benefício líquido (€/100 animais)* *Com preço estimado dum vitelo à nascença: 1,50€/ kg e após o desmame: 2,10€/kg **Incluindo os custos de starter, leite e suplementação com LEVUCELL SC a 0,02€/animal/dia

017

1.177 €

*p<0,05


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

O RÚMEN: UM POTENTE MOTOR QUE IMPULSIONA O RENDIMENTO DA EXPLORAÇÃO

ATÉ

15

% MAIS CARNE

OBTÉM MAIS POTÊNCIA DO RÚMEN LEVUCELL SC, a Levedura Viva Específica para o Rúmen*, pode melhorar o rendimento da exploração durante todas as etapas da produção de leite e carne, ajudando a proteger o meio ambiente ao produzir mais com a mesma quantidade de alimento. LEVUCELL SC ajuda a maximizar a energia e a melhorar o pH do rúmen (reduzindo o risco de acidose ruminal sub-aguda), a favorecer o desenvolvimento do rúmen e a aumentar a digestibilidade da fibra. Alimente todos os dias com LEVUCELL SC, a Levedura Viva Específica para o Rúmen, e prepare a sua exploração para atingir a máxima eficiência.

*Saccharomyces cerevisiae CNCM I-1077

Nem todos os produtos estão disponíveis em todos os mercados, nem se aceitarão alegações em todas as regiões. Distribuído por: Tecadi,Lda Tel: 243329050 @: info@tecadi.pt

018


Dietas de transição

ALIMENTAÇÃO | VITELOS

019


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

Proteina Amido + Açúcar Fibra

CH4 (Metano) Lactato C3

Proteina by-pass Proteina microbiana

Amido by-pass

Aminoácidos

AGV

Fígado

Proteina Amido + Açúcar Fibra

Glucose

CH4 (Metano) Lactato

C3

AGV

Proteina by-pass Proteina microbiana

Aminoácidos

Fígado

MÚSCULO

Amido by-pass

Glucose

MÚSCULO

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS

A ALIMENTAÇÃO NO 1º TESTE DE PERFORMANCE LIMOUSINE NO ÂMBITO DO 1º TESTE DE MACHOS LIMOUSINE EM PORTUGAL, FOI PEDIDO À ZOOPAN QUE FIZESSE UMA BREVE EXPLICAÇÃO DO PLANO ALIMENTAR DESENHADO PARA OS MESMOS, QUE APRESENTAMOS NESTE ARTIGO.

O

primeiro Teste de Performance em Estação de Machos Limousine decorreu na Herdade de Currais e Simalhas, em Évora, Centro de Testagem dos animais de Raça Mertolenga, de janeiro a junho de 2020. Sendo a Zoopan a responsável pela nutrição dos animais de Raça Mertolenga em testagem na Herdade dos Currais, teve que ser feita uma adaptação do plano alimentar, tendo em conta a raça dos animais, a idade e o peso, de forma a ir ao encontro dos objetivos pretendidos. Antes de iniciarem a testagem, os 20 animais foram submetidos a uma fase de adaptação ao novo plano alimentar, durante 36 dias. O teste teve início a 4 de março de 2020 e terminou a 4 de junho de 2020 (duração de 92 dias). Como se trata de machos Limousine cuja finalidade era serem testados para depois virem a ser machos reprodutores, o plano alimentar foi desenhado de acordo com os seguintes objetivos: • Animais de raça Limousine; • Animais jovens, ainda em desenvolvimento (elevado nível de proteína e de qualidade);

• Crescimentos sustentados, de modo a que os animais não engordem (de modo a não prejudicar a fertilidade); • Elevada digestibilidade; • Prevenção de problemas podais; • Plano alimentar seguro (equilibro entre energia/proteína/fibra); • Níveis de vitaminas e minerais (alguns dos quais orgânicos) elevados; • Preocupações ambientais, no que diz respeito às emissões de metano; • Custo por tonelada de matéria seca: otimizar o custo do alimento de acordo com os objetivos de performance que se pretendem. OS ALIMENTOS DISPONÍVEIS Antes de se dar início a um novo plano alimentar, foram recolhidas amostras para análise, de forma a obter o perfil nutricional completo de todas as forragens/matérias-primas que existem na exploração, e feito o levantamento do stock de cada uma delas. Desta forma, na Herdade de Currais e Simalhas tínhamos disponíveis Silagem de Milho e Fenosilagem de Sorgo (1º e 2º corte). Todas estas forragens foram previamente analisadas e com a sua 020

respetiva matriz nutricional definida, tal como referido anteriormente, foi desenhado o plano alimentar de acordo com as necessidades nutritivas dos animais para o objetivo definido (Tabela 1). Como o plano alimentar foi pensado para machos futuros reprodutores Limousine, foi considerado um ganho médio diário pretendido da ordem dos 1450 g, dando prioridade ao desenvolvimento esquelético dos animais. Tendo em conta que as forragens disponíveis tinham que ser complementadas, uma vez que, por si só, não eram suficientes para fazer face às necessidades nutricionais dos animais, foi também desenhado um alimento complementar farinado especialmente rico em proteína digestível, fibra, vitaminas, minerais e aditivos zootécnicos. As suas características nutricionais encontram-se descritas abaixo, e a sua produção ficou a cargo da Nutrimonte, Évora (Tabela 2). Tratando-se de um alimento concentrado destinado a complementar e corrigir eventuais deficiências que existem nas forragens, a sua composição é ajustada de cada vez que existem forragens diferentes na exploração, após análise das mesmas.


A alimentação no 1º Teste de Performance Limousine

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS

PEDRO CASTELO

Diretor Técnico Zoopan Engº Agrónomo pedro.castelo@zoopan.com

SARA GARCIA

Eng. Zootécnica Depto. técnico-comercial sara.garcia@zoopan.com

O PLANO ALIMENTAR Na Tabela 3 (página anterior) apresentase o plano alimentar dos animais, onde se pode verificar, para além da quantidade distribuída por animal e por dia, as características nutricionais do plano completo e de cada matéria-prima utilizada. AS PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS Como foi indicado no início deste artigo, uma das preocupações demonstradas pela Associação de Criadores Limousine, bem como pela Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos, refere-se à questão ambiental e a tudo o que se relaciona com as emissões de metano. Desta forma, quando se pensa nos planos alimentares dos produtores de ruminantes com quem trabalhamos, quer sejam de carne ou de leite, um dos objetivos é sempre a eficiência da digestão e o impacto no ambiente. Assim, é utilizado um aditivo colocado no núcleo incorporado no alimento concentrado – neste caso no Adimix Bovinos 50 – que é uma mistura de leveduras inativas e de óleos essenciais selecionados, cujo objetivo é conduzir as fermentações microbianas de forma a resultar num aumento da produção de ácidos gordos, sem perturbar a flora microbiana. Ao provocar um aumento de ácido propiónico no rúmen, em detrimento do ácido acético, a produção de metano (CH4) vai reduzir significativamente (> 30%), apresentando assim, uma economia de energia por parte do animal e um elevado benefício do ponto de vista ambiental.

OS RESULTADOS Dado o nível de personalização do trabalho nutricional, é também feito um acompanhamento periódico aos animais, de modo a avaliar a sua habituação ao plano alimentar, a condição corporal com as respetivas pesagens a serem conduzidas pela ACL – Associação de Criadores Limousine, e os resultados acompanhados pela equipa da Zoopan. A partir dos dados de ingestão e dos resultados das pesagens, foram calculados os ganhos médios diários (GMD) dos animais em teste, bem como os índices de conversão (IC). Quanto ao índice de conversão, medida usada para avaliar a eficiência alimentar, pode verificar-se um IC médio dos animais em teste de 6,11, o que significa que, em média, estes animais necessitam de ingerir 6,11 kg de matéria seca para colocar 1 kg de peso vivo. É de extrema importância ressalvar que, para o cálculo do IC foi considerada a totalidade da matéria seca ingerida pelo animal, ou seja, a totalidade da mistura forragens + alimento concentrado). Esta informação é relevante uma vez que, em outros testes de performance, o cálculo do IC considera apenas a componente referente ao alimento concentrado, não ficando a informação da quantidade de forragem (palha ou feno) que o animal ingeriu para complementar esse alimento concentrado. No que aos ganhos médios diários diz respeito, como foi indicado anteriormente, o plano alimentar tinha como objetivo médio um acréscimo de 1450 g por animal e por dia. Neste primeiro teste de performance, pôde verificar-se que todos os animais tiveram bons crescimentos, sendo o GMD médio do teste da ordem dos 1787 g, sendo por isso um bom indicativo de que os animais responderam

ao alimento que lhes foi apresentado, conseguindo obter crescimentos sustentados e não exagerados, como pretendido. TABELA 1 VALORES NUTRICIONAIS DAS FORRAGENS DISPONÍVEIS NA HERDADE DE CURRAIS E SIMALHAS Parâmetro kg MS (%)

Fenosilagem Sorgo 2º Corte

Silagem de Milho

Matéria Seca

37,74

36,2

Proteína Bruta

10,84

7

Amido

36,1

PDIN

58,04

42

PDIE

67,38

67

PDIA

17,66

15

Ca

2,3

1,8

P

5,8

2

UFV

0,66

0,86

TABELA 2 CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS DO ALIMENTO CONCENTRADO PERSONALIZADO Parâmetro

Valor

Matéria Seca (%)

88,33

UFV

0,97

Proteína Bruta (%)

18,85

PDIN (g)

134,09

PDIE (g)

120,04

PDIA (g)

69,48

Amido (%)

27,04

Fibra Bruta (%)

8,63

Ca (g)

13,77

P (g)

4,74

Vitamina A (UI)

10 000

Vitamina D3 (UI)

150

Vitamina E (mg)

40

Zinco (mg)

117,68

Manganês (mg)

98,87

TABELA 3 PLANO ALIMENTAR ATUAL E RESPETIVAS CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS Quantidade distribuída Matéria-Prima

Kg

Características Nutricionais (/Kg MS)

MS

UFV

PDIN (g)

PDIE (g)

PDIA (g)

Ca (g)

P (g)

MB

MS

Silagem de Milho ACBM 36.2MS 7PB 36,1AMD

9,48

3,43

36,20

0,86

42,00

67,00

15,00

2,00

1,80

Fenossilagem ACBM - Sorgo 2º Corte

1,58

0,60

37,74

0,66

58,04

67,38

17,66

5,80

2,30

Farinha Crescimento ACBM - 5 Mar 2020

7,11

6,28

88,35

1,17

150,44

135,90

78,87

15,59

5,36

Total

18,17

10,31

56,74

1,04

109,00

109,00

54,07

10,50

4,00

021


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

DIETAS COM DCAD NEGATIVO NO PRÉ-PARTO

NESTE ARTIGO, VAMOS FALAR DE RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NO PERIPARTO, PARA QUE A NOVA LACTAÇÃO SEJA MELHOR SUCEDIDA, E PARA EVITAR AS DOENÇAS MAIS TÍPICAS DESTA FASE, COMO A HIPOCALCEMIA E A CETOSE.

N

os últimos anos, temos vindo a assistir a um aumento da produção das vacas leiteiras. As explorações têm vindo a fazer melhorias nas suas instalações e no maneio dos animais, para melhorar as suas condições de bem-estar animal. Estes avanços no bem-estar animal são essenciais para maximizar o rendimento da exploração que, a par com os recentes melhoramentos genéticos, lhes permite alcançar produções cada vez maiores. Toda esta evolução deve ser acompanhada de um maior cuidado, e vigilância, para satisfazer as necessidades nutricionais dos animais, uma vez que estas aumentam ao mesmo tempo que aumentam as produções. Muitas vezes, ao querer alcançar resultados produtivos elevados modelando a nutrição, pomos continuamente o

foco nas dietas dos lotes dos animais em produção, esquecendo que é fundamental que os animais cheguem ao parto nas melhores condições e com um plano nutricional adequado. Devemos ter em mente que o período do pré-parto é o preâmbulo de uma nova lactação, e que, se o animal não for alimentado adequadamente nesta fase, tudo o que tentarmos melhorar nas dietas de produção será limitado. Neste artigo, vamo-nos concentrar nas recomendações nutricionais no periparto, para que a nova lactação seja melhor sucedida, e para evitar as doenças mais típicas desta fase, como a hipocalcemia e a cetose. HIPOCALCEMIA A hipocalcemia é uma das patologias mais comuns no periparto, em vacas leiteiras. Cerca de 37,5% das vacas do efetivo podem ter hipocalcemia subclínica, 022

enquanto que a hipocalcemia clínica ( febre de leite) tem uma prevalência de 4,2% no efetivo (Reinhardt et al. 2011). Essa prevalência varia em função do número de lactações, é menor em vacas primíparas e aumenta com o número de lactações. Isso acontece, principalmente, devido à multípara produzir maior quantidade de colostro e ao facto de as vacas mais velhas terem menor capacidade de mobilização do cálcio. A hipocalcemia subclínica é, geralmente, considerada quando a concentração de cálcio no sangue é <2mmol ou 8mg/ dl. Uma revisão mais recente aumentou esse limite para 2,125mmol ou 8,5mg/ dl (Martinez et al. 2012),porque abaixo desse nível aumenta drasticamente a probabilidade de metrite e outras doenças. A hipocalcemia clínica é considerada quando o nível de cálcio no sange é de 1,5mmol ou 6mg/dl.


Dietas com DCAC negativo no pré-parto

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

JOSÉ LUIS MADERA Sales Manager Spain and Portugal Kemin EMENA joseluis.madera@kemin.com

Quando falamos de hipocalcemia, pensamos imediatamente na hipocalcemia clínica. No entanto, nas nossas explorações a hipocalcemia subclínica é de enorme importância, pois limita muito o potencial produtivo e aumenta drasticamente a probabilidade de o animal sofrer de outras doenças, sendo uma patologia subdiagnosticada. Antes do inicio da lactação, as necessidades de cálcio aumentam para a produção de colostro. Além disso, após o parto essas necessidades aumentam de forma mais drástica, com o aumento da produção de leite. Isso ocorre porque há um sequestro de cálcio pela glândula mamária. Este cálcio é complexado com caseína. DCAD (DIFERENÇA CATIÃO-ANIÃO NA DIETA) NEGATIVO A estratégia mais comum para evitar a hipocalcemia, em bovinos leiteiros, consiste em administrar uma dieta com um balanço anião-catião negativo. A alimentação com dietas acidogénicas induz um estado de acidose metabólica que aumenta as concentrações de cálcio ionizável no sangue. Isso acontece através de diversos mecanismos (Figura 1). Quando se fornece aos animais dietas com maior quantidade de aniões que de catiões, ocorre uma “acidose metabólica”. A “acidose metabólica” causa uma queda no pH do sangue. Essa acidificação resulta num aumento da atividade osteoplástica

BENEFÍCIOS DE UTILIZAR UMA DIETA COM DCAD NEGATIVO Nos últimos anos, vários estudos foram publicados sobre os benefícios de formular dietas acidogénicas para o préparto. Numa meta-análise (Santos et al,. 2018) concluiu-se que as vacas multíparas com dietas acidogénicas produzem mais leite, gordura e proteína que as vacas que receberam dietas com DCAD positivo no pré-parto (Tabela 1). Nesse mesmo estudo, também se observa um maior IMS nos animais que receberam a dieta com DCAD negativo no pré-parto. Ainda nesse estudo, decidiu-se administrar dietas pré-parto em situações de “febre do leite”. A incidência baixou de 11,7% para 2,8% quando o DCAD foi reduzido de 200 a -100 mEq/kg (Tabela 2), além disso, as concentrações de cálcio no sangue, no dia do parto e durante o pósparto, foram maiores nos animais que receberam dietas com DCAD negativo. Os benefícios das dietas com DCAD negativo, para a retenção de placenta e a metrite, também foram observados. A incidência de placenta retida e metrite diminuiu com uma redução de DCAD, e os benefícios foram observados em vacas nulíparas e multíparas. Nesta mesma meta-análise, foi observada uma redução do número de episódios de doenças em pós-parto, o que é consistente com o que concluíram (Martinez et al., 2012). Neste estudo, foi demonstrado que as vacas que desenvolvem hipocalcemia subclínica sofrem uma depressão da função imunológica inata e têm um maior risco de contrair doenças uterinas. 023

FIGURA 1 ACIDÚRIA (PH URINÁRIO) EM RESPOSTA AO BALANÇO ANIÃO-CATIÃO (DCAD) DA DIETA 8,5

pH da urina

JAVIER LÓPEZ Technical Service Manager Southern Europe Ruminants Kemin EMENA javier.lopez@kemin.com

dos ossos, libertando carbonato cálcico para tamponar o sangue. Ao mesmo tempo, ocorre um aumento na absorção de cálcio, enquanto a excreção na urina aumenta, o que significa que, embora mais cálcio seja excretado, a concentração de cálcio no sangue também aumenta. Ao reduzir o pH sanguíneo, a fração ionizada do Ca aumenta (a fração assimilável), em relação ao Ca total. Ao mesmo tempo, essa acidose metabólica aumenta a secreção de PHT (hormona paratiroide) e a expressão do receptor desta hormona (Rodriguez et al., 2016). A hormona PHT também atua ao nível do rim, convertendo um metabolito da vitamina D a 1,25 dihidroxivitamina D3, que regula a absorção do cálcio pelo intestino (Figura 2).

8,0

Acidificação insuficiente

7,5

Acidificação marginalmente benéfica

7,0 6,5

Acidificação ótima

6,0

Perigo de sobre-acidificação

5,5

Acidose descompensada -400 -200 0 200 400 600

DCAD (mEq/kg Dieta DM)

FIGURA 2 CONVERSÃO DE UM METABOLITO DA VITAMINA D NO RIM, PARA A REGULAÇÃO DA ABSORÇÃO DE CÁLCIO NO INTESTINO

CALCÉMIA (8 a 12 mg/dl)

(+) 12 CALCITONINA 11 (-) 10 9 (+) 8 PHT mg/dl

25 (OH) D3

1-25 (OH)2 D3 Reabsorção óssea Cálcio disponível

Absorção intestinal

RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS AO TRABALHAR COM UMA DIETA COM DCAD NEGATIVO Quando queremos implementar uma dieta com um DCAD negativo, devemos ter em conta uma série de recomendações, tanto ao nível do maneio, como da formulação. O DCAD objetivo nas dietas de periparto deve estar entre -50 e -150 mEq/kg, calculado pela equação DCAD= (mEq K+mEq Na)–(mEq Cl + mEq S). Este número não é um “número mágico”, mas os valores nesta faixa são conhecidos por reduzir drasticamente a febre do leite, hipocalcemia subclínica, retenção de placenta, metrite, e melhoram a produção de leite. Não obstante, formular uma dieta com DCAD negativo sem fazer um seguimento da IMS e do pH urinário pode ser inútil. Se tivermos uma dieta com DCAD -100 mEq/kg, e as vacas tiverem uma ingestão de matéria seca (IMS) de 10 kg, teremos um DCAD de -1000 mEq/dia. Enquanto se tivermos um DCAD de -75 mEq/kg, e uma IMS de 14 kg, teremos um DCAD diário menor que o anterior (-1050 mEq/dia). Devemos analisar os ingredientes (especialmente as forragens) com métodos


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TABELA 1 EFEITO DE REDUÇÃO DO DCAD DE +200 ATÉ -100MEQ/KG NA IMS E PRODUÇÃO DE LEITE E COMPONENTES, EM VACAS HOLSTEIN Primíparas Item IMS pré-parto (kg m.s./dia)

Multíparas

P-valor²

Tamanho (Exp.)

200

-100

200

-100

DCAD

DCAD x parto

115 (36)

10,3±0,5

9,6±0,5

12,4±0,4

12,0±0,4

0,02

0,49

IMS pós-parto (kg m.s./dia)

86(26)

12,9±0,9

13,7±0,9

17,6±0,7

18,6±0,7

0,03

0,81

Leite (kg/dia)

90(28)

25,9±1,3c

24,5±1,3c

36,2±1,1b

37,9±1,1a

0,74

0,03

Leite corrigido por gordura (kg/dia)

84(25)

26,6±1,9c

24,5±1,9d

38,8±1,8b

39,9±1,8a

0,9

0,002

Gordura (kg/dia)

84(25)

0,995,±0,073

0,6

0,006

Proteína (kg/dia)

84(25)

0,755,±0,053c

0,44

0,07

c

d

0,888,±0,073

1,438,±0,066

0,695,±0,053c

1,115,±0,047b

IMS - Ingestão de Matéria Seca

b

1,512,±0,066

a

1,139,±0,047a

(Adaptado de Santos, 2019)

TABELA 2 EFEITO DE REDUÇÃO DO DCAD DE +200 ATÉ -100MEQ/KG NA INCIDÊNCIA DE DOENÇAS, EM VACAS HOLSTEIN Primíparas Item (%±SEM)

Multíparas

P-valor²

Tamanho (Exp.)

200

-100

200

-100

DCAD

DCAD x parto

Febre leite (multíparas)

99 (35)

0

0

11,7±2,8

2,8±0,9

<0,002

NE³

Retenção placenta

73(22)

12,7±0,7

3,5±2,7

17,0±1,6

9,0±1,6

0,05

0,61

Metrite

42(12)

34,4±5,6

12,0±5,6

16,3±2,7

9,9±2,7

0,02

0,34

Casos por vaca, n±SEM

108(35)

0,34±0,07

0,2±0,07

0,39±0,04

0,17±0,04

<0,001

0,56 (Adaptado de Santos, 2019)

analíticos exatos (os NIR não são exatos para medir minerais), e não utilizar valores tabulados. Se não obtivermos valores exatos dos ingredientes, podemos ter desvios no DCAD no que diz respeito à formulação de até 80 mEq/kg. Este ponto é importante: se não tivermos valores exatos podemos encontrar resultados inesperados. Se tivermos um DCAD maior do que o esperado, ou se tivermos um DCAD mais baixo, podemos levar a uma ingestão mais baixa ou um metabolismo de glicose deficiente. Além dos valores de DCAD, devemos ter em consideração os níveis de Ca e P na dieta. As recomendações para o Ca em dietas de pré-parto estão entre 0,9 e 1% na MS em dietas não acidificadas, e 1,4-1,5% em dietas acidificadas (Overton, comunicação pessoal). Existe um debate sobre a conveniência de aumentar o nível de cálcio em dietas acidificadas. O nível de fósforo não deve ultrapassar os 0,25%, uma vez que níveis mais elevados podem predispor à hipocalcemia (Lean et al., 2006). Isso ocorre porque o aumento nas concentrações de P no sangue é inicialmente controlado pela PTH. Além disso, o fator de crescimento de fibroblastos (FGF) 23, produzido por osteócitos e osteoblastos, regula a concentração de P no sangue (Bergwitz e Jüppner, 2010). Em altas concentrações de P no sangue, a expressão do FGF23 regula-se positivamente, o que ajuda a aumentar a perda de P na urina para manter o P no sangue num intervalo

apertado. No entanto, o FGF23 suprime a atividade da 1-α hidroxilase nos rins, a enzima chave responsável pela síntese de vitamina D3 ativa. Portanto, se o fosfato no sangue aumenta devido à sobrealimentação de P, as concentrações circulantes de 1,25 (OH) 2 vitamina D3 diminuem, o que pode resultar em hipocalcemia (Bergwitz e Jüppner, 2010). Outro nutriente a considerar é o magnésio. O magnésio é importante, não apenas para prevenir a hipomagnesemia, mas também para melhorar a capacidade da vaca para mobilizar o Ca do osso quando estimulada pela PTH. O magnésio está envolvido no segundo sistema mensageiro da PTH, e o Mg baixo no sangue afeta a reabsorção de Ca (Robson et al., 2004). Não está claro qual deveria ser o teor ideal de Mg na dieta, mas a maioria das recomendações varia entre 0,40 e 0,45% da MS. Outro ponto importante para monitorizar a dieta pré-parto é analisar os dados de patologias. Por exemplo, a incidência de febre de leite em vacas de 2 ou mais partos deveria ser <2%. Devemos também analisar a incidência de outras patologias (retenção de placenta, por exemplo). Devemos procurar utilizar produtos acidogénicos que não penalizem a ingestão de matéria seca (IMS). Se a IMS já estiver a ser reduzida pela própria acidificação, e se utilizarmos um produto “pouco palatável” irá baixar. Também devemos ter em conta que este tipo de produtos têm um manuseamento complicado, pois são “higroscópicos”. 024

Monitorização do pH na urina: As vacas monitorizadas devem estar em dieta acidificante há, pelo menos, dois dias. É conveniente colher amostras de urina duas vezes por semana. O valor objetivo para todas as vacas deve estar entre 5,0 e 7,0, com um valor médio ótimo entre 6,0 e 6,2 (Figura 1). Se encontrarmos valores muito díspares, devemos procurar o motivo, que poderá, entre outros, ser: a superlotação, a má qualidade da mistura da dieta, a diferença na ingestão entre as vacas, o modelo de alimentação dos animais, o animal ter urinado antes de recolher a amostra ou os padrões de bebida. CONCLUSÕES A hipocalcemia clínica ou subclínica é uma das patologias mais frequentes no período pós-parto em vacas leiteiras. Esta patologia não representa um problema apenas pelas consequências da patologia em si. É também um fator determinante para o aumento da prevalência de outras patologias (metrite, entre outras). Uma das estratégias mais eficazes para reduzir a incidência desta patologia, é a formulação de dietas com DCAD negativo no pré-parto. Este tipo de formulação demonstrou ser muito eficaz na redução deste problema. A acidificação das dietas tem como único inconveniente a diminuição da IMS no pré-parto. Este problema pode ser reduzido usando produtos que não causem uma má palatabilidade da dieta.


Dietas com DCAC negativo no pré-parto

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

025


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ALIMENTAÇÃO | VITELAS

IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO NAS PRIMEIRAS SEMANAS

A NUTRIÇÃO DAS VITELAS NAS PRIMEIRAS SEMANAS DE VIDA CONDICIONA A FUTURA CAPACIDADE DE INGESTÃO DE ALIMENTO DURANTE A LACTAÇÃO, A CAPACIDADE DE REGULAR A SUA CONDIÇÃO CORPORAL E A CAPACIDADE METABÓLICA GERAL DO ANIMAL.

N

o inicio do século XXI, a importância do desenvolvimento da vitela, durante os dois primeiros meses de vida, despertou a atenção de investigadores e produtores. Desde então, vários investigadores demonstraram que o sistema tradicional de alimentação das vitelas (4-5 litros de leite por dia, com um consumo total de leite de substituição de 25-28 kg durante as 8 semanas de aleitamento) aplicado durante décadas, resulta em subnutrição das vitelas, limitando o seu desenvolvimento e produtividade futura, levando a que demonstrem comportamentos indicativos de fome crónica devido a uma dieta restritiva (Paula Vieira et al. 2008). Sabemos que a biologia e a epigenética são fatores que determinam a janela de oportunidade que vai desde as primeiras horas até aos 50-60 dias de vida. Se durante este período a ingestão de nutrientes for adequada, obtemos um desenvolvimento

precoce das vitelas e influenciamos positivamente a produção de leite durante a vida produtiva da vaca. Isto significa que as vacas vão produzir mais leite por lactação, fazer mais lactações (maior longevidade) e, por conseguinte, aumentamos a rentabilidade por animal na exploração (Soberón et al, 2012). Não existem mecanismos compensatórios para estes efeitos: se não aproveitarmos esta janela de oportunidade, as possibilidades de otimizar o desempenho produtivo futuro desaparecem. Nos últimos anos, o nosso departamento de investigação demonstrou como a falta de nutrientes nas primeiras oito semanas de vida afeta profundamente o metabolismo da vaca leiteira adulta. A nutrição das vitelas nas primeiras semanas de vida condiciona a futura capacidade de ingestão de alimento durante a lactação, a capacidade de regular a sua condição corporal e a capacidade metabólica geral do animal. 026

BENEFÍCIOS DE AUMENTAR A INGESTÃO DE NUTRIENTES DURANTE A JANELA DE OPORTUNIDADE

• Animais com maior desenvolvimento inicial (Brown et al., 2005; Shamay et al., 2005; Haisan et al., 2018) • Maior longevidade e produção vitalícia (Leal, Nutreco 2018) • Menor mortalidade e morbidade durante o período de lactação (Godden et al., 2005) • Reduzir os custos veterinários adicionais e de saúde (Overton et al., 2016) • Menos comportamentos anormais, desaparecendo os sintomas de fome crónica (Paula Vieira et al.,2008) • Redução da idade ao primeiro parto e redução do número de animais de reposição (Leal, Nutreco 2018) • Melhoria do bem-estar animal (Khan et al., 2011) • Maior produção futura de leite (Davis Rincker et al., 2011; Soberon and Van Amburgh, 2013) • Maior produção futura de gordura no leite (Leal, Nutreco 2019) • Melhor fertilidade na primeira inseminação (Bruinjé et al 2019)


Importância da nutrição nas primeiras semanas

ALIMENTAÇÃO | VITELAS

A disparidade dos dados de crescimento nas explorações controladas é alta. A média dos GMD registados é de 836 g até ao desmame, para os 4.200 animais controlados, sendo que existem explorações com crescimentos médios superiores a 1.000 g para todas as vitelas criadas durante anos e, em outras, valores médios de 700 g. Isto demonstra que passar da teoria à prática numa exploração comercial é um processo complicado e exigente (Foto 1).

MANUEL RONDÓN Chefe de Produto Bovinos de Leite, Grupo Nanta m.rondon@nutreco.com

PASSOS PARA IMPLEMENTAR COM SUCESSO O PROGRAMA PRIMA Sabemos que cada vacaria é diferente e única, mas podem-se estabelecer objetivos e melhorar os resultados com uma metodologia de trabalho bem orientada e criteriosa, com técnicos de campo especializados na recria de futuras produtoras de leite e, sobretudo, com produtores convencidos dos benefícios de administrar mais leite às vitelas. 1. Compreender a metodologia de trabalho atual da vacaria e recolher dados Antes de fazer qualquer abordagem, há que saber quais os métodos de trabalho e conhecer o maneio diário aplicado às vitelas. Para isso, são necessárias ferramentas de medição, como refratómetro ótico/ digital, termómetro, higrómetro, sonda, balança, e ter uma checklist que nos permita auditar a exploração seguindo uma ordem lógica. Nesta checklist analisamos todos os aspetos relacionados com o colostro, o desmame, o plano de aleitamento e os cuidados diários a ter, sendo neste último ponto onde analisamos aspetos relacionados com as instalações, a socialização e o agrupamento das vitelas, a higiene, a sanidade e a profilaxia.

FILIPE LINO Serviço Técnico Comercial Programa PRIMA, Grupo Nanta filipe.lino@nutreco.com

Posto isto, sabemos que a biologia e a epigenética são fatores importantes a serem considerados ao determinar o melhor sistema de recria de vitelas, contudo não podemos desvalorizar outros fatores de igual importância como a economia e o bem-estar animal. Na Nanta, trabalhamos desde de 2015 na implementação de um método para a recria de vitelas baseado no bem-estar animal: o Programa Prima. Com este método, ajudamos as explorações leiteiras a obter maior e melhor rendimento através de uma abordagem centrada nos primeiros dois meses de vida da futura vaca produtora, melhorando a eficiência e rentabilidade das explorações. Após 5 anos de aplicação do Programa Prima, monitorizámos o crescimento de 4.200 vitelas em 36 explorações entre Espanha e Portugal, através do uso de balanças instaladas nessas explorações.

GANHOS MÉDIOS DIÁRIOS (GMD) 1,400 1,200

0,800 0,600 0,400

Identificação numérica dos animais

027

6426

6424

6425

6423

6422

6419

6420

6417

6418

6414

6415

6413

6411

6412

6410

6201

6202

6200

6197

6199

6196

6194

6195

6191

6192

0,000

6189

0,200 6190

GMD (g)

1,000

2. Priorizar as ações de melhoria e alinhá-las com o produtor é a chave para alcançar os objetivos definidos Na maioria das explorações há oportunidades de melhoria, tanto em aspetos relacionados com o maneio ou com as instalações ou mesmo com a alimentação das vitelas, que limitam o seu desenvolvimento e bem-estar. É essencial ter uma lista de verificação (checklist Prima) para identificar todas essas áreas de melhoria e trabalhar junto com o produtor para encontrar a melhor solução. Não podemos abordá-las todas de uma vez, por isso, é necessário avaliar por nível de importância, e focar no máximo 2 ou 3 áreas para melhoria, dependendo de sua relevância, viabilidade e limitações de cada vacaria. Depois de corrigidos, definimos novos objetivos e novas áreas de melhoria. 3. Estabelecer objetivos claros e realistas, delineados em conjunto com o produtor, e um prazo para conseguir alcançá-los Estabelecer os objetivos a serem alcançados, em que período de tempo vamos alcançá-los e como vamos medi-los, é um exercício fundamental. As instalações, o maneio e as rotinas diárias de uma vacaria são, na maioria dos casos, o maior obstáculo aos objetivos traçados. Assim, em conjunto com o produtor, devemos promover alterações, otimizar processos e avaliar as melhorias resultantes. Trabalhamos com explorações onde conseguimos duplicar o peso do nascimento até aos 56 dias de vida, e atualmente, temos explorações onde o peso médio das vitelas com 8 semanas de vida é 2,4 vezes maior, com médias de peso vivo que variam entre 90 e 94 kg. 4. Adaptar o programa de aleitamento a cada vacaria A arte de combinar um excelente maneio com a administração de grandes volumes de leite de substituição de qualidade, bem como, uma ração de arranque texturizada, palatável e à livre disposição, permite conseguir animais com um grande desenvolvimento (altura e peso vivo) no momento do desmame. Para conseguir isto, é necessário adaptar o plano de aleitamento ao maneio e instalações de cada vacaria: quantidade de leite ou tipo e concentração de leite de substituição, modo de administração do leite, número de tomas, litros por toma, momento de desmame, etc.. O uso de leite de substituição em vez de leite de vaca é rentável num contexto de preços estabilizados, especialmente


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Foto 1 Exemplo de monotorização de dados numa exploração Prima.

porque garante higiene, consistência, estabilidade nutricional e sanitária. Isto é extremamente importante neste novo contexto de nutrição de vitelas, no qual consideramos volumes de leite por animal acima dos 400 litros, quantidades estas, que são incompatíveis com a utilização de leite não comercializável. Há que salientar que o uso de leite de vacas tratadas com antibióticos não é de maneira nenhuma uma prática aceitável, do ponto de vista nutricional ou de uso responsável de antibióticos. A qualidade do leite de substituição assume especial importância neste tipo de planos. Quando administramos 8 litros em duas tomas diárias, o risco de transtornos digestivos pode aumentar devido a uma maior osmolaridade, ao uso de ingredientes não lácteos, fraca digestibilidade, etc. Daí, verificamos que cada vez mais se aposta em leites de substituição de alta qualidade, em relação a alternativas mais económicas, pois só com leite de qualidade as vitelas respondem adequadamente à maior ingestão de leite. Com esta maior ingestão de leite em pó, o desmame também requer mais atenção que no passado. A ingestão de ração atrasa-se de forma natural e obriga-nos a desmamar algumas semanas mais tarde (9-10 semanas de idade) e a aplicar protocolos de desmame gradual e não abrupto. Se assim não fosse, o benefício obtido nas primeiras semanas de vida perder-se-ia devido a uma quebra no crescimento ao desmame e/ou ao aparecimento de problemas de saúde. A composição da ração de arranque tem um papel fulcral na fase de desmame. Sabemos que a elevada ingestão de leite de substituição (+/- 1 kg/dia) melhora o GMD e o desenvolvimento das vitelas até ao

desmame, mas influencia negativamente a ingestão de ração de arranque. Contudo, fornecendo uma ração de qualidade conseguimos que a ingestão na semana antes do desmame seja de 2,5 kg/dia, sendo o consumo total cerca de 75 kg entre o nascimento e os 10 dias posteriores ao desmame, com uma média de peso vivo de vitelas desmamadas de 107 kg aos 69 dias de vida. 5. Monitorizar o crescimento das vitelas Sabemos que crescimentos do nascimento ao desmame entre 850 e 1.000 g/dia estão fortemente correlacionados com alta produção de leite na primeira e segunda lactação (Soberón et al., 2013). Assim, pesar as vitelas de forma regular permite conhecer os GMD e ajuda a aferir o sucesso futuro da recria, numa fase ainda precoce. Segundo os dados, podemos ajustar o maneio para evitar desvios ao objetivo de crescimento marcado para cada fase. Também, os aspetos relacionados com o colostro, como a quantidade total ingerida no primeiro dia de vida, o tempo de administração da 1ª toma, o número de tomas administradas, o operário que o administra e os graus BRIX, permitem antever: • a quantidade de leite que a vitela será capaz de ingerir até ao desmame, • a quantidade de starter que comerá durante o peri-desmame, pois sabemos que administrar mais de 6 litros de colostro nas primeiras horas de vida aumenta a transferência passiva de imunidade e leva a maior consumo de starter; • o aumento da produção de leite na 1ª e 2ª lactação; Além disto, recolher amostras de sangue das vitelas, entre as 24 e 48 horas depois 028

da primeira toma de colostro, permite saber se houve falhas na transferência passiva de imunidade. 6. Obter retorno económico e melhorar o bem-estar animal Melhorar o crescimento até ao desmame é fundamental, mas o GMD é apenas um número e, não conseguiremos atingir os objetivos se não melhoramos o bem-estar das vitelas. A socialização entre vitelas fomenta o consumo de alimentos sólidos e reduz o stress durante o desmame. O aumento do consumo de nutrientes afeta diretamente a saúde das vitelas, proporcionando uma maior robustez metabólica a longo prazo, sendo este o fator de maior retorno do investimento na recria. Isto, representa uma melhoria do bem-estar dos animais adultos e afeta positivamente a rentabilidade da exploração, visto que, a maior ineficiência na produção de leite intensiva advém do excesso de recursos dedicados a manter um grande número de animais de reposição. É evidente que a alimentação das vitelas criadas com um elevado plano nutricional é mais cara do que as vitelas alimentadas com o sistema tradicional, visto que administramos o dobro da quantidade de nutrientes. No entanto, antecipar a idade ao primeiro parto, ter menos novilhas de reposição, reduzir a mortalidade e morbilidade, reduzir custos veterinários e farmacêuticos, aumentar longevidade (mais lactações) bem como o aumento da produção total, são benefícios que eclipsam rapidamente o investimento no desmame das vitelas. O encolostramento adequado, o maneio higiénico das vitelas, o alojamento seco e limpo, não requerem um grande investimento económico, mas sim um investimento pessoal e profissional do produtor. Assistir a partos e encolostrar vitelas pode ter um preço, mas o prémio é muito maior e compensador! Somente os animais saudáveis utilizam eficientemente os nutrientes fornecidos, e só os animais que consomem os nutrientes adequados, nessa curta janela de oportunidade, desenvolvem um fenótipo metabólico saudável a longo prazo. Em resumo, a recria de novilhas de reposição mudou radicalmente nos últimos anos. Melhor nutrição e maneio e, como consequência, melhor sanidade, têm aumentado o bem-estar dos animais. Isto demonstra uma interação positiva entre a responsabilidade produtiva e a rentabilidade económica. Para obter as referências bibliográficas, consulte os autores.


Importância da nutrição nas primeiras semanas

ALIMENTAÇÃO | VITELAS

O seu bem-estar, a sua rentabilidade O Programa Prima da Nanta é um programa de recria que melhora a rentabilidade das explorações através do bem-estar das vitelas. O Prima trabalha em quatro conceitos essenciais para o bem-estar dos animais: o colostro, a lactação, o desmame e os cuidados a ter com o ambiente, a saúde, o maneio, a higiene e o contexto social. O nosso programa oferece benefícios comprovados para o agricultor: maior desenvolvimento das vitelas, melhoria do seu sistema imunitário, redução do stress no desmame, antecipação da primeira inseminação e da idade do primeiro parto, mais produção de leite e maior vida produtiva da vaca.

Com o Prima as vitelas são mais felizes e o agricultor também.

nanta@nutreco.com

www.nanta.es/pt/profissional/programa-prima/ 029


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ALIMENTAÇÃO | VITELOS

ALIMENTAR COM COLOSTRO A SEGUIR AO NASCIMENTO NESTE ARTIGO ABORDAMOS AS RAZÕES PELAS QUAIS DEVEMOS CONTINUAR A ALIMENTAR OS NOSSOS VITELOS COM COLOSTRO NOS DIAS SEGUINTES AO NASCIMENTO, E COMO O COLOSTRO ARTIFICIAL PODE SER UMA FERRAMENTA EFICIENTE PARA MELHORAR A IMUNIDADE E A SAÚDE DOS ANIMAIS.

C

omo o sistema imunitário não está 100% operacional nas primeiras semanas de vida, os animais estão mais suscetíveis a terem diarreias ou doenças respiratórias. Por outro lado, a redução do uso de antibióticos é uma realidade cada vez mais presente. De tal modo que, os produtos à base de colostro bovino estão a ter cada vez mais interesse sendo usados como uma alternativa natural na alimentação e suplementação para os vitelos ou outras espécies animais.

<24 horas

<24 horas

FIGURA 1 IMUNIDADE SISTÉMICA; IMUNIDADE LOCAL

030

Logo após o nascimento, o colostro tem como principal função a transferência da imunidade passiva. Quanto maior a ingestão de colostro de alta qualidade nas primeiras horas de vida, maior a probabilidade de o animal ficar com um nível importante de imunoglobulinas no sangue. Contudo, o colostro é mais do que imunoglobulinas e que um primeiro alimento dos recém-nascidos. Faz todo o sentido alimentar colostro fresco ou artificial após as primeiras 24 horas de vida, como é comum na vida selvagem. Apesar de as imunoglobulinas


Alimentar com colostro a seguir ao nascimento

ALIMENTAÇÃO | VITELOS

BASTIAN HILDEBRAND Technical Manager Central Europe, Biochem

JOÃO MARIA BARRETO (tradução e adaptação) Technical Sales Manager Iberia, Biochem barreto@biochem.net

não conseguirem passar pela barreira intestinal, encontram-se no intestino e ajudam a imunidade local nos dias seguintes ao nascimento (Figura 1). O primeiro colostro tem uma concentração muito alta em imunoglobulinas, além de outras substâncias bioativas. Durante os cinco dias após o nascimento, a concentração do colostro bovino cai para níveis de leite normal. Este leite tem o nome de leite de transição e proporciona fatores de crescimento, substâncias antibióticas, imunoglobulinas e nutrientes que ajudam a proteger e a desenvolver o intestino e o sistema imunitário dos animais. É amplamente aceite que tem uma relevância especial para a suscetibilidade a infeções e ao desempenho dos animais em alturas mais avançadas da vida do animal. Vários estudos demonstram que ao alimentar com colostro bovino ou colostro artificial os vitelos nos primeiros 14 dias de vida, ajuda a reduzir o número de dias com diarreia e o tratamento com antibióticos (Gráfico 1). As imunoglobulinas ligam-se diretamente aos agentes patógenos, prevenindo que estes se liguem e entrem no intestino. Por exemplo, como demonstrado por um grupo de trabalho na América do Sul, observou-se que os vitelos alimentados com um colostro artificial reduziam, em aproximadamente 5 dias,

a diarreia causada pelo rotavírus bovino (BRV). Além disso, os vírus excretados estão capazes de infetar outros animais. Portanto, a libertação é um facto muito importante. Os mecanismos mencionados não são específicos de uma espécie, mas sim específicos de um agente patogénico. De tal modo que é possível usar suplementos de colostro bovino noutras espécies e noutras explorações/países. Por exemplo, a suplementação de colostro bovino no leite de substituição em borregos e cabritos tem efeitos positivos na taxa de mortalidade e na taxa de crescimento. O colostro artificial de bovino pode ser administrado em leites de substituição, na ração ou em suplementos. Num ensaio de campo, machos Holstein-Frísia entre os 7 e 10 dias de vida foram alimentados com um colostro artificial (B.I.O.Ig, Biochem Zusatzstoffe) via leite de substituição durante 35 dias. Como demonstra o Gráfico 2, os vitelos do grupo que se incluiu o B.I.O. Ig via leite de substituição

tiveram maior peso ao dia 84. Consequentemente, o ganho diário dos vitelos foi superior em 39g comparado com o grupo controlo. O uso de colostro bovino artificial em vitelos, borregos, cabritos, leitões, etc, tem demonstrado efeitos económicos positivos tendo como base menos perdas (mortalidade, etc), melhor estado sanitário, melhor ganho médio diário, melhores índices de conversão e menos tratamentos médicos. CONCLUSÃO Após o aumento da procura de alternativas ao uso de antibióticos, com a lista de substâncias banidas a aumentar, de um lado e o aumento da vontade de melhorar a saúde dos animais do outro lado, o colostro artificial pode ser uma ferramenta eficiente para melhorar a imunidade e a saúde dos animais. Nota: As referencias bibliográficas podem ser solicitadas aos autores.

GRÁFICO 1 VÁRIOS ESTUDOS DEMONSTRAM QUE ALIMENTAR COM COLOSTRO BOVINO OU COLOSTRO ARTIFICIAL OS VITELOS NOS PRIMEIROS 14 DIAS DE VIDA, AJUDA A REDUZIR O NÚMERO DE DIAS COM DIARREIA E O TRATAMENTO COM ANTIBIÓTICOS 14

Controlo

12

Suplemento IgG

10 8 6 4 2 0

Nº de dias de diarreia (%)

Nº total de dias de tratamento (%)

GRÁFICO 2 PESO CORPORAL DOS VITELOS DO GRUPO CONTROLO E DO GRUPO B.I.O. IG (MÉDIA, N=16) 120 Controlo

100

Suplemento IgG

80 60 40 20 0

Peso inicial (dia 1)

031

Peso final (dia 84)


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Alimentar com colostro a seguir ao nascimento

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ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

SUPLEMENTAÇÃO COM METIONINA, MAIS LEITE

A METIONINA É UM AMINOÁCIDO NECESSÁRIO PARA TODOS OS ANIMAIS, INCLUINDO A VACA EM LACTAÇÃO. NO NRC DE 2001 SOBRE AS NECESSIDADES DE NUTRIENTES DO GADO LEITEIRO, A LISINA E A METIONINA FORAM IDENTIFICADAS COMO OS DOIS PRIMEIROS AMINOÁCIDOS EM RAÇÕES QUE LIMITAM A PRODUÇÃO DE LEITE.

A

Por Daniel Luchini Ph.D. Responsável Global Ruminantes, I&D, Adisseo; Enrique Fraile Pernaute, Ruminants Technical Advisor, Adisseo Traduzido e adaptado por Teresa Carmona Costa, Indukern, teresa.costa@indukern.pt

metionina é um aminoácido necessário para todos os animais, incluindo a vaca em lactação. No NRC de 2001 sobre as necessidades de nutrientes do gado leiteiro, a lisina e a metionina foram identificadas como os dois primeiros aminoácidos em rações que limitam a produção de leite. A forma biologicamente ativa da metionina é a L-metionina e é assim que ela é encontrada nas proteínas vegetais ou animais, ou quando é produzida por um processo de fermentação. No entanto, quando produzida quimicamente, a D, L-metionina é sintetizada e é uma mistura racémica de 50% D- metionina e 50% L-metionina. A D-metionina pode ser convertida em L-metionina por ação enzimática no animal. O análogo de metionina, ácido 2-hidroxi-4 (metiltio) -butanóico, ou HMBTA, também é produzido quimicamente nas formas D, L. D, L-HMBTA e é um hidroxiácido onde o grupo hidroxilo (OH) substitui o grupo amina (NH2). Como a D-metionina, tanto o D-HMBTA como o LHMBTA podem ser convertidos em L-metionina por processos enzimáticos no animal. A obtenção de L-metionina utilizável no nível celular depende da transformação bioquímica por meio de um intermediário ceto-ácido, o ácido - ceto-metiltiobutanoico (KMB), metabolito comum para D-metionina, D-HMBTA e L-HMBTA Durante anos, os aminoácidos foram

considerados os blocos de construção para a síntese de proteínas. No entanto, na última década, vários estudos evidenciaram que os aminoácidos participam em muitos outros processos biológicos. Em 2010, Wu propôs o conceito de "aminoácidos funcionais", que são definidos como aminoácidos que participam e regulam as principais vias metabólicas para melhorar a saúde, sobrevivência, crescimento, desenvolvimento, lactação e reprodução. Como um aminoácido funcional, a metionina através da S-adenosilmetionina (SAM) participa da metilação do DNA. Por si só, a metionina exibe outras funções que têm vindo a ser descobertas e entendidas, como a sinalização celular, como um modulador ativo da expressão génica. A metionina tem também um papel de doador de metilos, atuando como precursor da carnitina e do glutation, protegendo as células contra o stress oxidativo e como antioxidante (através da cisteína e taurina). A grande maioria dessas descobertas foi investigada usando roedores, pássaros ou porcos como modelos animais. Pesquisas sobre a alimentação com níveis crescentes de metionina em dietas iniciais e de crescimento de frangos mostraram que, embora haja uma quantidade definida de metionina para atender às necessidades de crescimento, taxas de inclusão de metionina mais altas são necessárias para estimular as respostas imunológicas (Jankowsky et al., 2014). Wu et al. (2012) demonstraram que a deficiência de metionina na dieta pode 034

prejudicar a função imunológica celular em frangos de engorda. Até recentemente, havia um número muito limitado de ensaios para avaliar o impacto da alimentação de vacas com metionina como um aminoácido funcional. SUPLEMENTAÇÃO DE METIONINA NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO No fígado, o SAM intervém na metilação das moléculas, dando origem a novos fosfolipídios. A metionina também está envolvida na síntese da carnitina: a carnitina é produzida a partir de uma trimetilação da lisina. Por outro lado, é essencial para a síntese de apolipoproteínas, como ApoB100, o que é muito importante porque apolipoproteínas e fosfolipídios são partes necessárias na síntese de VLDL (lipoproteínas de muito baixa densidade), portanto, a metionina desempenha um papel duplo na síntese correta de VLDL e a correta B-oxidação de ácidos gordos na mitocôndria. Outro aspeto positivo fundamental é que a metionina é um precursor do glutation e da taurina, duas moléculas essenciais para controlar o stress oxidativo que causa dano aos tecidos. O período de transição varia de alguns dias antes do parto, nas últimas duas semanas, a 4-6 semanas após o parto. Durante este tempo, uma série de modificações ocorrem no animal que levam a uma alteração significativa do metabolismo.


Suplementação com metionina, mais leite

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

Há uma diminuição mais acentuada do consumo de matéria seca nos dias mais próximos ao parto, o que coincide com o aumento das necessidades de nutrientes para a síntese de leite, glicose, aminoácidos e minerais. Portanto, o animal entra num balanço nutricional negativo, o que é especialmente evidente no desequilíbrio energético. Para atender a essa necessidade, o animal mobiliza as suas reservas corporais, principalmente tecido adiposo, para obter energia. Como consequência, ocorre a libertação de grande quantidade de ácidos gordos não esterificados (NEFAs) que chegam ao fígado e continuam o seu metabolismo normal; O problema é que a quantidade de NEFA que chega é tão grande que o fígado não é capaz de responder com rapidez suficiente. A B-oxidação não ocorre adequadamente devido à falta de oxaloacetato, libertando mais corpos cetônicos do que o animal é capaz de eliminar, levando a um alto risco de cetose. Por outro lado, a síntese de VLDL é ineficiente, conduzindo à acumulação de triglicerídeos no fígado, o que pode levar à lipidose hepática. O dano do hepatócito causa alterações em outros processos metabólicos do fígado e alteração na resposta inflamatória, levando ao aumento do risco de infecções secundárias. Além do balanço energético negativo, há também um balanço proteico negativo e, portanto, maior deficit de metionina. A suplementação de metionina protegida na dieta tem um efeito muito positivo nessas situações. As recomendações para MetDi (metionina digestível) na ração foram estabelecidas por diferentes sistemas. O INRA estabelece que MetDi deve ser 2,5% PDIE, com um mínimo de 2,2% PDIE e uma relação de 3 Lys/Met; Por sua vez, o Sistema Cornell estabelece as necessidades em 1,15-1,19 g de Met / Mcal de EM e a relação Lys/Met deve ser 2,7. Numerosos estudos têm sido realizados a esse respeito nos quais o efeito positivo é demonstrado durante o período de transição, quando os níveis recomendados de metionina são atingidos. Assim, por exemplo, Osorio em 2013 observou que em animais suplementados com metionina protegida houve aumento no consumo de matéria seca e redução na incidência de cetose. Também Osorio, em 2014, observou um aumento nos níveis de ApoB-100 no sangue em animais suplementados com metionina protegida, que Sun também observou em 2016, e encontrou aumentos

de VLDL no sangue desses animais. Um aspeto muito importante a considerar é o stress metabólico no qual o fígado se encontra, uma vez que tem que enfrentar várias frentes ao mesmo tempo. Esse stress pode causar um aumento da resposta inflamatória, que conjuntamente com uma maior quantidade de radicais livres (provenientes de reações de oxidação) aumentam o dano tecidual. Nessas situações, a suplementação com metionina protegida também oferece uma resposta satisfatória, pois a metionina é precursora dos principais antioxidantes endógenos, glutation e taurina. Isso foi demonstrado por Osorio em 2014, que observou um aumento na concentração de glutation no fígado em vacas suplementadas com metionina protegida, em comparação com as

não suplementadas. Da mesma forma, observou que os níveis de albumina no sangue estavam mais elevados, o que confirma uma melhor resposta inflamatória, menos exagerada, uma melhor resposta antioxidante, enfim, uma melhor função hepática. Dados semelhantes foram observados por Zhou em 2015. A suplementação com metionina protegida, MetaSmart ou Smartamine M, leva a uma recuperação mais rápida do balanço energético negativo, devido a uma função hepática mais saudável, diminuição da inflamação e, finalmente, a uma maior ingestão de matéria seca (IMS) e maior produção de leite. Os benefícios de saúde e produção são mantidos durante a lactação. Nota: para obter as referências bliográficas, contacte o autor.

ENZIMAS BEM IDENTIFICADAS PARA AS DIFERENTES VIAS

1/2

D-methionina O2 +

1/2

1

Oxidase aminoácido D Fígado, rim (peroxisoma)

2

Desidrogenase Mitocondria todos os tecidos

3

L hidroxy acid oxidase Fígado, rim (peroxissoma)

4

Transaminase

L-HMTBA

2 H2O

1

H2O

D-HMTBA

O2

NH3+ H2O2

3

KMB

*

0=AA

1/2

O2

H2O2

NH2 - AA

4

L-metionina

Proteina

L-homocisteína

*KMB: @-keto-metil (thi) butirato Brachet & Puigserver 1992; Knight & Dibner, 1984; Dibner, 2003

Proteina

L-cisteína

EFEITOS DA METIONINA NO METABOLISMO HEPÁTICO DOS LÍPIDOS Corpos cetónicos mitocondria B-oxidação Triglicérido

Colesterol Fosfolípidos ApoB-100

Armazenamento

VLDL

035

Esterificação

Carnitina AcyiCoA

Metionina

Ácidos gordos Não esterificados


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PRODUÇÃO | BORREGOS

UMA ENGORDA DE BORREGOS PARA ISRAEL

NA HERDADE DOS COELHOS, EM CORUCHE, ESTÁ INSTALADA A EXPLORAÇÃO ISRAELITA DE-LEVIE, DEDICADA À ENGORDA DE BORREGOS, PARA EXPORTAÇÃO PARA ISRAEL. FOI LÁ QUE ENTREVISTÁMOS JOÃO PAISANA, MÉDICO VETERINÁRIO E GESTOR DA EXPLORAÇÃO.

A

De-Levie possui vários centros de recolha e engorda de animais para exportação para Israel na Europa, nomeadamente na Roménia, na Lituânia e em Portugal. No nosso país, onde está presente desde 2018, a empresa tem exploração na Herdade dos Coelhos, no concelho de Coruche, e dá emprego a 8 pessoas. Em 2019, passaram pela exploração 40.000 borregos e, em 2020, cerca de 50.000. Todos os animais adquiridos pela DeLevie são nascidos em Portugal, de acordo com o protocolo sanitário entre Portugal e Israel. Os borregos comprados já vêm desmamados e têm mais de 12 kg de peso vivo. O peso com que saem depende da data de saída do navio, mas oscila entre os 30 kg e os 35 kg.

À chegada a Israel, os borregos vão para uma quarentena e depois são vendidos a engordadores. Na região do Médio-Oriente, faz-se o abate de borregos muito maiores do que tradicionalmente é feito em Portugal. A que critérios obedece a compra dos borregos? Para além do peso mínimo, já referido, obviamente têm que entrar saudáveis. Compramos raças de carne (essencialmente Merino, mas também Suffolk, Ille de France, Texel) e de leite (só Assaf e Lacaune). As raças autóctones não são interessantes. Que cuidados têm com os borregos? Vacinamos para a Língua Azul, aqueles que ainda não tenham sido vacinados, 036

e para as doenças respiratórias e clostridioses, bem como desparasitamos. Quando chegam, os borregos são separados em 2 ou 3 categorias de peso, por sexo e/ou raça. Para que parques vão estes animais? Vão para parques com camas de palha triturada, lavados e desinfetados. Temos muita atenção à área por animal e ao número de borregos por metro de manjedoura e bebedouro. Quantos alimentos utilizam na engorda? Quatro. Um para os animais que vêm diretamente do campo e não estão habituados a comer ração, um de engorda e um de engorda apenas para fêmeas. Para os animais próximos dos 12 Kg, temos


Uma engorda de borregos para Israel

PRODUÇÃO | BORREGOS

um alimento diferente, com leite em pó incorporado. Os alimentos de engorda de machos e fêmeas são em farinha, os outros são granulados. Em todas as fases do crescimento, a ração é dada à descrição. Na fase de maior consumo, chegam a ter um consumo diário, por animal, de 1,7kg. O alimento é integral, para não termos que dar palha, embora os animais tenham sempre acesso a alguma palha. Qual é o ganho médio diário (GMD)? Por enquanto só temos um valor global, que inclui fêmeas e machos e as diversas raças que compramos, nem todas com aptidão para carne. Este valor está perto dos 300 g, que é o nosso objetivo, mas ainda não foi atingido. Qual é o fator limitante no desempenho dos animais? É muito difícil apontar um, acho que resulta do somatório de muitos fatores, desde a qualidade dos borregos na origem, às instalações, ao protocolo sanitário, ao bem-estar animal. Se fosse obrigado a escolher um, seria o bem-estar animal. Que indicadores utiliza diariamente para perceber que a atividade está no bom caminho? Todos os dias acompanhamos os borregos e, naturalmente, apercebemo-nos de pequenos sinais de variação na saúde. A taxa de mortalidade é um indicador crítico.

Todos os dias contamos os borregos que morrem e fazemos o cálculo da taxa de mortalidade semanal mensalizada; o objetivo é que esta taxa seja inferior a 1%. Procuramos detetar qualquer patologia tão precocemente quanto possível, para não ter que ser a taxa de mortalidade a dar-nos a indicação de que há um problema. Fazemos também registo dos tratamentos com recurso a um leitor eletrónico de brincos. Ou seja, os grandes indicadores diários são a perceção geral da saúde dos animais e a mortalidade, que é calculada todos os dias até à hora do almoço. Analisamos, também, a distribuição de mortes em dias presentes na exploração (0-7 dias; 8-30; >30) para perceber em que categoria de borregos (mais antigos ou mais recentes) poderá estar a incidir um eventual problema de mortalidade. Classificamos as mortes em 3 categorias: animais não sujeitos a qualquer tratamento (morte súbita); animais sujeitos a algum tratamento; animais que morreram no hospital e fazemos também a análise desta distribuição. Vamos começar a analisar a mortalidade e tratamentos por parque. Mensalmente, fazemos um relatório que engloba a mortalidade mensal, a taxa de refugo (borregos que não são aptos para exportação), consumo de ração, mortalidade por fornecedor, etc.

Quantos vezes são pesados os animais, desde que entram até que saem? No mínimo, temos 3 registos individuais de peso. Quando o GMD é inferior a 100g, os animais são separados para avaliarmos se são exportáveis. INSTALAÇÕES Que cuidados têm com as instalações? Sempre que esvaziamos o parque, é feita a limpeza, lavagem, desinfeção e desparasitação. Existe algum cuidado especial com as horas de luz? Não, não temos qualquer preocupação especial. É basicamente a luz natural e a iluminação do pavilhão, quando necessária. A água para dar de beber aos animais é submetida a algum tratamento? A água merece a nossa maior preocupação. Todos os dias, sem falta, depois de espalharmos a palha, limpamos e lavamos individualmente os bebedouros, por vezes mais do que uma vez por dia. Temos bebedouros automáticos, com uma canalização própria para poderem ser esvaziados de forma fácil e rápida. A água é proveniente de furo e é analisada, no mínimo, uma vez por ano.

1

2 1. Os bebedouros são automáticos, com canalização própria, para poderem ser esvaziados de forma fácil e rápida. 2. João Paisana e Fernanda Machado, médicos veterinários.

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3. Calibradora, essencial para a seleção dos animais.


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VENTILAÇÃO Qual é a importância da ventilação nos pavilhões? A ventilação é critica. A mortalidade sobe em junho e julho, no período em que sobe a temperatura. No verão, chegamos a ter 43 graus nesta zona. Foi por isso que instalámos um sistema de ventilação novo, que cobre a totalidade dos parques. Os israelitas são altamente sensíveis ao efeito do stress térmico nos animais, e decidiram fazer aqui um grande investimento em ventoinhas. Quando é que as ventoinhas são ligadas? Estão calibradas para que, muito antes do humano se aperceber que está a haver stress térmico (sensação de calor) ligarem automaticamente. Percebe-se perfeitamente o efeito que as ventoinhas têm, já que os borregos respondem agrupando-se imediatamente por baixo delas. Como foi pensado este investimento? Anuncio_ventoinhas_CMP.pdf 1 16/03/21 Foi preparado de raiz, como resultado

do know-how israelita e duma prospeção no mercado nacional. Investimos em 45 ventoinhas do tipo mais comummente aceite, atualmente. São ventoinhas de teto de grande dimensão e capacidade de movimentação de ar. As pás tem uma configuração que provoca a deslocação do ar de cima para baixo. Fizeram alterações no pavilhão para melhorar a circulação de ar? Não, tanto os pavilhões antigos como os novos têm cumeeiras, e contamos muito com o apoio das ventoinhas. De que forma a ventilação afeta a qualidade do ar? É sabido que uma má ventilação provoca problemas respiratórios e stress térmico nos animais. Aqui, controlamos regularmente o amoníaco com um medidor portátil, mas nunca estivemos em situação de “perigo” e, por isso, a precisar da “ajuda” das ventoinhas. A densidade de animais é relativamente baixa e renovamos as camas com frequência, o que ajuda muito no 14:49 controlo do amoníaco.

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SOBRE O SISTEMA DE VENTILAÇÃO INSTALADO NA EXPLORAÇÃO O sistema de ventilação instalado nesta exploração cobre a totalidade das instalações dos borregos. No total, foram instalados 45 ventiladores de teto. Trata-se do modelo Zefiro, da marca italiana CMP Impianti, distribuido em Portugal pela empresa Harker XXI. Este modelo de ventiladores vem equipado com variador de frequência. A CMP Impianti foi a primeira empresa a aplicar nos seus produtos a inovação dos motores sem escovas (com ímanes permanentes) que possui um sistema que regula de forma automática e independente a velocidade. Esta inovação permite eliminar o motorredutor existente nos clássicos motores assíncronos, reduzindo desse modo a presença de peças mecânicas sujeitas a desgaste. Tudo isto se traduz em menor necessidade de manutenção, maior eficiência e menores consumos. As pás em alumínio instaladas no rotor possuem uma aerodinâmica caraterística, equipadas com flaps para um maior rendimento, enquanto o perfil monobloco foi estudado para aumentar o fluxo e a resistência. Os ventiladores Zefiro podem ser instalados em qualquer tipo de teto: betão, madeira ou ferro. O rotor com pás monobloco em alumínio está equipado com flaps inclinados para obter o máximo rendimento de potência.


Uma engorda de borregos para Israel

PRODUÇÃO | BORREGOS

A forma de libertação é tudo quando se trata de fornecer aos micróbios do rúmen os níveis necessários de amoníaco. O excesso de amoníaco leva ao aumento de desperdício de nitrogénio, por outro lado um déficit afeta negativamente a digestão da fibra e, em última análise, a energia para o rúmen

Reduza o desperdício com

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FORRAGENS

AMIDO VS FIBRA NA SILAGEM DE MILHO

ALCANÇAR UM BOM COMPROMISSO ENTRE O TEOR EM FIBRA DIGESTÍVEL E O DE AMIDO É O FATOR CHAVE PARA A CONCRETIZAÇÃO DE UMA SILAGEM DE MILHO DE QUALIDADE E QUE, DO PONTO DE VISTA METABÓLICO, PREVINA DISTÚRBIOS RUMINAIS.

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amido ainda continua a ser, em muitos casos, o parâmetro mais valorizado pelo produtor (muitas vezes o único) quando observa uma análise de silagem. O teor em amido é condicionado por diferentes variantes: Variedade: uma variedade, mesmo que de alta produção de grão, dependendo da sua “arquitectura”, poderá, por efeito de dissolução (altura da planta, perímetro da cana e superfície foliar), apresentar um menor teor em amido na análise. Pelo contrário, se for muito produtiva para grão mas com menor biomassa das partes verdes, a relação amido/fibra pode pender fortemente para o amido; Teor em MS: o teor em amido da planta inteira varia numa relação diretamente proporcional com o teor em MS. Isto significa que, quanto maior for o teor em matéria seca, maior será o teor em amido;

Clima: quando submetida a temperaturas muito elevadas (> 33ºC) a planta de milho poderá estar sujeita a circunstâncias de infertilidade que, conjugadas com um mau enchimento do grão, levam a um abaixamento do teor em amido da planta; Maneio: situações de stress hídrico ou de encharcamento (asfixia radicular), afetam a polinização ou o enchimento do grão, e conduzem a uma quebra do teor em amido da silagem. O amido é um hidrato de carbono intracelular que representa uma fração importante da densidade energética fornecida pela silagem de milho. De acordo com o tipo de ligação da glucose na sua composição (ligada de forma mais ou menos compactada), o amido terá maior ou menor fermentescibilidade no rúmen. Por outro lado, este poderá ter uma maior ou menor “exposição” à atividade microbiana do rúmen de acordo com dois fatores: 040

Tempo de fermentação: o período de fermentação, por ação microbiana e enzimática no silo, leva a uma progressiva quebra das ligações entre a proteína e o amido, deixando este último com maior exposição à atividade microbiana do rúmen; Digestibilidade da fibra (NDF): sendo o amido um hidrato de carbono situado no interior da célula, a sua digestibilidade é em parte condicionada pela digestibilidade das próprias fibras que compõem as paredes celulares. Por outro lado, o próprio NDF contribui pelo menos com 25% da energia disponibilizada pela planta, e é também elo, constituído, por hidratos de carbono ditos estruturais (celulose, hemicelulose e a lenhina que não é digestível). A digestibilidade da fibra diminui à medida que a planta se aproxima da maturação. É, pois, necessário encontrar o melhor compromisso possível entre o teor em amido e a digestibilidade da fibra:


Amido vs. fibra na silagem de milho

FORRAGENS

ANTÓNIO CANNAS Desenvolvimento Técnico Lusosem S.A. acannas@lusosem.pt

Silagens com baixo teor em MS contêm menos amido e, embora a digestibilidade da fibra seja elevada, é também elevado o seu teor em NDF, o que conduz a uma menor quantidade de forragem ingerida, visto que esta preenche o rúmen com maior facilidade. Silagens com um teor em MS em torno dos 33% contêm um maior teor em amido, um menor teor em NDF e com boa digestibilidade do mesmo. Nas silagens com elevados teores em MS, o teor em amido é normalmente elevado, mas a sua digestibilidade poderá ser fortemente prejudicada se o grão não estiver altamente processado. Por outro lado, a digestibilidade do NDF também será mais baixa prejudicando não apenas o contributo energético da celulose e da hemicelulose per se, como reduzindo o acesso dos microrganismos do rúmen ao interior celular e à metabolização dos seus conteúdos. O teor em fibra é menor e o teor de amido é maior, o que conjugado com a necessidade de ter uma partícula de menor dimensão de forma a possibilitar uma boa compactação do silo, leva a que a probabilidade de uma silagem de elevado teor em MS causar distúrbios do rúmen seja elevada. Assim sendo, o objetivo do produtor deverá ser o de cortar a silagem quando o teor em MS estiver na proximidade dos 33%. Conseguirá, assim, obter a melhor relação entre o teor de amido, fibra, proteína e açúcares solúveis, estes últimos indispensáveis a uma boa fermentação, com a produção de ácido láctico no silo e rápido abaixamento do pH. O teor em amido não será excessivamente elevado, mas o DNDF (NDF digestível) compensará o balanço energético da silagem. Também a dimensão da partícula, sem prejuízo de uma boa compactação no silo, poderá e deverá nestes casos ser maior, favorecendo a atividade ruminal e a salivação que estabilizam o pH do rúmen. Nota: o autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS

REGULAMENTO CNF

ESTE CONCURSO IDEALIZADO E PROMOVIDO PELA REVISTA RUMINANTES TEM COMO OBJETIVO ENCORAJAR OS AGRICULTORES NACIONAIS A MELHORAR A QUALIDADE DAS FORRAGENS PRODUZIDAS, PROCURANDO DESTA FORMA CONTRIBUIR PARA O REFORÇO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E ECONÓMICA DA PRODUÇÃO PECUÁRIA EM PORTUGAL. 1. Concorrem automaticamente ao Concurso Nacional de Forragens 2021 (doravante “Concurso”) todos os agricultores nacionais, do Continente e Ilhas, que enviem para a ALIP amostras de forragens para análise. 2. São elegíveis para participar no concurso em 2021 todas as amostras passíveis de inclusão em 3 diferentes categorias de forragem, indicadas no ponto 3, que tenham dado entrada na ALIP no período estabelecido no ponto 7, e cujos agricultores remetentes de amostras não se tenham oposto à participação no mesmo. 3. As categorias participantes no concurso são as seguintes: silagem de erva; silagem de milho; forragens emergentes. 4. O custo das análises é apenas o que decorre do envio normal das amostras pelos seus remetentes para o ALIP, não existindo qualquer custo adicional. 5. O Júri do CNF reserva-se o direito incontestável de excluir durante o processo do concurso qualquer amostra que lhe suscite dúvidas quanto à desvirtuação do espírito do concurso. 6. É permitido o uso de conservantes no processo de ensilagem. As amostras de silagem a concurso devem ter um teor de matéria seca entre 25 e 50%. As amostras com teores de matéria seca fora dos limites estabelecidos, ou com sinais de adulteração, serão automaticamente excluídas do concurso. 7. A amostra deverá conter mais de 0,5 kg de forragem, em saco de plástico limpo, transparente e selado sem ar. As amostras devem ser enviadas para: ALIP - Associação Interprofissional do Leite e

Lacticínios, Rua do Agreu, nº302, Ordem 4620-471 Lousada. O remetente deve indicar claramente a sua proveniência. As amostras devem ser enviadas ou entregues nas seguintes datas: - silagem de erva: 1 janeiro a 31 julho 2021; - silagem de milho: 1 janeiro a 31 julho 2021; - forragens emergentes: 1 janeiro a 31 julho 2021; 8. As análises a realizar sobre a amostra visam avaliar a qualidade de conservação e o valor nutritivo da silagem. 9. A classificação final é obtida através de uma análise sensorial (apenas na silagem de erva) e de uma análise bromatológica, com um peso, respetivamente, de 30 e 70%. A análise sensorial será efetuada aquando da chegada da amostra ao ALIP e consistirá na avaliação da cor, cheiro, tamanho de partícula e presença de bolores ou outros materiais estranhos ou contaminantes. As amostras serão secas em estufa para determinação da matéria-seca (MS). Posteriormente, são efetuadas as seguintes determinações: 9.1. Na silagem de erva, por NIR, o pH e os teores em Cinzas Totais (CT), Proteína Bruta (PB), Proteína Solúvel (PS), Azoto Amoniacal (AA), Fibra Detergente Neutro (NDF), Fibra Detergente Ácido (ADF), Fibra Bruta (FB), Açúcares Totais (AT) e a digestibilidade da matéria orgânica (DMO), Proteína digestível no intestino permitida pela energia do alimento (PDIE), Proteína digestível no intestino permitida pelo azoto do alimento (PDIN), Energia Neta Lactação (ENL), Unidades Forrageiras Leite (UFL) e Unidades Forrageiras Carne (UFC). 9.2. Na silagem de milho, por NIR, o pH, 042

os teores em CT, PB, FB, NDF, ADF, Amido, DMO, PDIE, PDIN, ENL, UFL e UFC. 9.3. Nas Forragens Emergentes serão realizadas as determinações que em face do tipo de forragem submetida para análise sejam consideradas pelo ALIP como as mais adequadas para a sua correta valorização nutricional e económica. 10. Ao primeiro classificado de cada uma das categorias de forragem a concurso em 2020 será atribuído um prémio monetário no montante de 500€. O prémio referente à categoria Forragens Emergentes apenas será atribuído se o Júri considerar se encontrar em presença de uma forragem prometedora e merecedora cuja novidade e valor ajudam à persecução dos objetivos deste concurso, expostos no preâmbulo deste Regulamento. 11. Os prémios serão entregues em cerimónia a realizar durante um EVENTO e em DATA a definir, comunicado através da Revista Ruminantes. Para receber o prémio os vencedores do Concurso terão que estar presentes ou informar previamente a Revista Ruminantes da nomeação de um seu representante para esse efeito. 12. O júri referente ao CNF 2021 será constituído por: José Caiado (Revista Ruminantes); Ana Lage (ALIP); Rita Cabrita (Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Universidade do Porto); António Moitinho Rodrigues (Escola Superior Agrária – Instituto Politécnico de Castelo Branco). 13. As decisões tomadas pelo Júri do Concurso são definitivas e em nenhum caso serão passíveis de recurso.


A MELHOR FORRAGEM É A SUA?

CONCORRA AO CNF 2021 ENVIE AS SUAS AMOSTRAS PARA O ALIP ATÉ 31 DE JULHO DE 2021* PRÉMIO POR VENCEDOR DE CATEGORIA: €500

* Ver Regulamento CNF em www.revista-ruminantes.com

Silagem de erva

Silagem de milho

Forragens emergentes


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

FORRAGENS

COMO AUMENTAR A DIGESTIBILIDADE DA FIBRA

A COMPETITIVIDADE DO SECTOR DA PRODUÇÃO DE LEITE, E AS QUESTÕES AMBIENTAIS ASSOCIADAS, OBRIGAM A UMA BUSCA CONTÍNUA PELO AUMENTO DA EFICIÊNCIA NA EXPLORAÇÃO, PRINCIPALMENTE NO QUE À ALIMENTAÇÃO DIZ RESPEITO. NESTE SENTIDO, A PIONEER CONTINUA A PROCURAR AS MELHORES SOLUÇÕES PARA SATISFAZER AS NECESSIDADES DOS PRODUTORES DE LEITE NA PRODUÇÃO DE FORRAGENS.

D

entro da gama de inoculantes, existe uma linha específica — Fiber Technology — para aumentar a eficiência da forragem colhida através do aumento da digestibilidade da fibra. O 11CFT é o inoculante específico para a cultura do milho e oferece-lhe um conjunto de benefícios: 1) melhoria da fermentação; 2) redução do aquecimento ao longo do processo de desensilamento (feedout); 3) melhoria da digestibilidade da fibra (NDFd). A melhoria da fermentação é conseguida com a redução mais rápida do pH no início do processo fermentativo. As bactérias presentes nos nossos inoculantes, adaptadas especificamente a cada umas das culturas, aumentam a eficiência da conversão dos

O 11CFT é o inoculante específico para a cultura do milho

açucares em ácidos permitindo atingir mais rapidamente o pH terminal. Para além do ácido láctico, são também produzidos outros ácidos gordos voláteis, nomeadamente o ácido acético e o ácido propiónico, que são os principais responsáveis pela estabilidade aeróbica do silo após a abertura. A melhoria da digestibilidade da fibra é consequência da ação das enzimas 044

produzidas pela estirpe exclusiva de Lactobacillus buchneri. Estas enzimas têm a capacidade de desacoplar a lenhina, rompendo a fibra e tornando-a mais fácil de digerir pelos animais. Em relação à fibra, nem toda a fração de fibra é digestível rondando normalmente os 50% de digestibilidade (Figura 1). O inoculante 11CFT atua de forma a aumentar a quantidade de fibra digerida pelo animal, permitindo assim um maior aproveitamento da forragem. O aumento do NDFd resulta em maior densidade energética da silagem e aumento do leite produzido por tonelada de silagem. A tabela 1 mostra o retorno do aumento da digestibilidade da fibra em função do preço do leite, e foi gerada a partir da folha de cálculo MILK2006 (Universidade de Wisconsin) usando um NDFd inicial de 60% (48 h). Usando 0,24€/


Como aumentar a digestibilidade da fibra

FORRAGENS

FIGURA 1 FRAÇÕES DIGESTÍVEIS DO ALIMENTO E DA FIBRA EM PARTICULAR PROTEÍNA 7,5% GORDURA 3,5%

RAQUEL CORTESÃO Especialista em nutrição animal Corteva Agriscience raquel.cortesao@corteva.com

53% MS

AÇÚCARES 7%

PROTEÍNA 7,5% GORDURA 3,5%

AMIDO 35%

AÇÚCARES 7%

FIBRA 47%

Lenhina

TODO DIGERIDO

Celulose e Hemicelulose

AMIDO 35%

47% MS

50% DIGERIDO

FIBRA 47% INPUT SILAGEM

OUTPUT DIGERIDO

TABELA 1 IMPACTO ECONÓMICO DOS AUMENTOS DE NDFD NA PRODUÇÃO DE LEITE

litro de leite, o aumento de NDFd em 4% unidades adicionaria 3,39€ em leite potencial por tonelada de silagem de milho fornecida. Podemos igualmente fazer uma avaliação do retorno de investimento com base na redução de custos com a dieta. Existe um padrão de produção esperada com base em valores nutricionais standardizados dos alimentos incluídos nas dietas. Quando fazemos a alteração das características da silagem de milho após o seu tratamento com a tecnologia 11CFT, as taxas de digestão da mesma são alteradas no programa tendo impacto na produção esperada. De acordo com a bibliografia e programas de formulação, este é o aumento da produção de leite potencial quando fazemos uso de silagem de milho FT (Tabela 2). Se, em lugar de permitir este aumento produtivo, optarmos por manter o nível de produção, ganhamos margem para uma redução considerável das matérias primas incorporadas na TMR. Segundo o exemplo, baseado nos dados obtidos nos programas de formulação, a redução esperada de farinha de milho ronda os 725 gramas/vaca/dia e os 453 gramas de farinha de soja/vaca/dia (Tabela 3). É preciso considerar ainda um aumento da ingestão, associada à maior facilidade dos animais em digerir esta forragem. Esta tecnologia está disponível para silagem de milho, silagens de erva e silagens de luzerna.

% de aumento no NDFd

1%

Aumento correspondente em leite/ ton 0,23 € Preço do leite (€/ kg)

2%

3%

4%

5%

3,58 kg

7,16 kg

10,75 kg

14,33 kg

17,92 kg

0,77 €

1,57 €

2,35 €

3,13 €

3,90 €

0,24 €

0,85 €

1,70 €

2,55 €

3,39 €

4,23 €

0,26 €

0,92 €

1,83 €

2,75 €

3,65 €

4,56 €

0,28 €

0,98 €

1,96 €

2,95 €

3,91 €

4,89 €

0,30 €

1,04 €

2,09 €

3,15 €

4,17 €

5,22 €

0,32 €

1,11 €

2,22 €

3,35 €

4,43 €

5,55 €

0,34 €

1,18 €

2,35 €

3,55 €

4,69 €

5,88 €

TABELA 2 AUMENTO DA PRODUÇÃO DE LEITE POTENCIAL COM SILAGEM DE MILHO FT Formulada com valores bibliográficos de silagem de milho

Formulado com silagem CFT (considerando B1, B2, B3 Kd’s per Fermentrics analysis)

Leite ME (kg)

40,8

41,75 (+0,950 kg)

Leite MP (lb)

42,55

44,94 (+2,39 kg)

Proteína Microbiana(g)

1326

1422 (+96 g)

TABELA 3 VANTAGEM ECONÓMICA DA UTILIZAÇÃO DE 11CFT Redução de farinha de milho e soja em 725 gramas e em 453 gramas

Economia de ± 0,33 €/vaca/dia

(observe que o preço do milho é de 190 €/t) Tratamento de 28 kg silagem com CFT

Custo de ± 0,05 €/vaca/dia

(valorizado ao custo de produção) Aumento da silagem CFT em 2,72 kg (em verde) para manter a ingestão de matéria seca com o mesmo custo

± 0,13 €/vaca/dia

(inclui custo de CFT) GANHO LÍQUIDO

0,134 €/vaca/dia e melhor saúde ruminal

(Não inclui o valor agregado da redução das perdas de matéria seca da silagem e melhoria de palatabilidade com CFT)

045


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REVISTA RUMINANTES

ENTREVISTA A ADEMIR CALEGARI

"A MAGIA DÁ-SE QUANDO SE FAZ A MISTURA"

NESTA ENTREVISTA, CONCEDIDA À RUMINANTES, ADEMIR CALEGARI, RECONHECIDO AGRÓNOMO INVESTIGADOR NA ÁREA DA AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO, EXPLICA A IMPORTÂNCIA DE ENCONTRAR AS CONSOCIAÇÕES ADEQUADAS A CADA SITUAÇÃO, NAS CULTURAS DE COBERTURA: "QUANDO SE FAZ UMA MISTURA, AS DIFERENTES FUNÇÕES DAS PLANTAS COMPLEMENTAM-SE, PROMOVENDO O EQUILÍBRIO DOS NUTRIENTES E FAZENDO EXPLODIR A MICROBIOTA FAVORÁVEL." Fotos cedidas pelo autor.

A

POR ANDRÉ ANTUNES Agricultor, Consultor Agrícola e Médico Veterinário chaoricolares@gmail.com Instagram.com/chao.rico.colares

NOTA: Respeitámos o vocabulário e a terminologia usados pelo entrevistado (Português do Brasil, para não desvirtuarmos o seu discurso.

o longo da sua vida profissional, Ademir Calegari desenvolveu trabalhos em 51 países de todos os continentes, ao longo de mais de 40 anos, principalmente com culturas de cobertura e sementeira direta. “Trabalhei com muita gente em Agricultura Regenerativa nos Estados Unidos. Estive lá mais de 30 vezes, e fiz muitos amigos: Ray Archuleta, Gabe Brown, Keith Burns, Bill Hargrove, Wayne Reeves, Jill Claperton, e muitos outros”. “Em Agricultura Regenerativa temos trabalhado com muita área, inclusivamente em modo de produção biológico”, prossegue o investigador. “O nosso maior objetivo da vida toda está focado com o maior impacto na área da agroecologia. O mínimo possível 046

de insumos externos, agrotóxicos em geral e a menor utilização possível de fertilizantes. É nisso que temos trabalhado. Durante todos estes anos, já trabalhámos com 162 tipos de plantas de cobertura entre variedades/cultivares, e diferentes espécies, em 51 países. Isso dá-nos uma maior segurança pela experiência acumulada em agroecossistemas agroecológicos distintos.” Ademir Calegari tem trabalhado com todos os diversos tipos de produtores. “Em Goiás e Minas, regiões grandes, temos áreas de 1.600 ha só de café. Temos produtores de 3000 ha, 5000 ha, 10000 ha. Mas a média é de 500-800 ha. Também temos alguns com integração agricultura/ pecuária, produção de forragens, assim como produtores de soja, milho, trigo, feijão, sorgo, arroz, etc. Hoje estou a


"A magia dá-se quando se faz a mistura"

AGRICULTURA REGENERATIVA

assessorar uma exploração no Uruguai com 112.000 ha e 75.000 cabeças de Aberdeen-Angus – são várias fazendas que constituem a maior fazenda do Uruguai. Buscamos sempre integrar plantas ou Mix (mistura de diferentes espécies, nas áreas de soja, arroz e, também como forrageiras para os animais. Desde que colocámos essas misturas de plantas percebeu-se uma melhoria na qualidade do solo e das forrageiras, juntamente com a bioativação dos solos, ou seja, um aumento do biota do solo (macro, e microrganismos) e também uma melhoria das áreas com animais. Gabe Brown, um dos grandes nomes da agricultura regenerativa mundial, afirmou que foi influenciado por uma afirmação sua, na conferência No Till on the Plains (Salina, Kansas, 2006), onde disse: “É possível usar culturas de cobertura numa exploração, quer tenha 50 ou 5000mm de precipitação disponível. Estas [culturas] devem ser sempre multiespécies (7, 8 ou mais).” Sim, é possível. A esse propósito, lembro uma missão na Eritreia, África, em um Projeto da FAO, onde verificámos uma compactação generalizada dos solos. Estava a ser limitado o crescimento de raízes, infiltração de água e, logo, o índice de crescimento das culturas. Assim, se decidiu a necessidade de um levantamento/diagnóstico. Após a abertura de trincheiras (calicatas) verificou-se uma profunda compactação do perfil do solo. Junto com um grupo de produtoras nos campos, identificámos mais de 28 espécies de leguminosas nativas, pelo menos ao nível de género e que poderiam ser potencialmente utilizadas nos sistemas de produção. Foi fascinante, criámos campos de cultivo e muitas delas passaram a fazer parte dos sistemas de produção. São plantas adaptadas que, com pequenas precipitações, começam a produzir biomassa, a competir e a fazer diminuir a população de plantas invasoras (plantas daninhas). Depois, é só encontrar e ir ajustando a outras plantas mais comuns que vão completando o sistema. Recordo uma palestra em que o mesmo Gabe Brown afirmou ter obtido 1 palmo de crescimento no primeiro ano em que testou as suas ideias. Ao insistir, e refinar a mistura, ano após ano, os resultados foram galopantes. Na Agricultura Regenerativa é necessário paciência

que, muitas vezes, falta a quem está habituado aos resultados imediatos mas enganadores dos fertilizantes sintéticos. Sem dúvida. Muitas vezes, o mundo moderno coloca tudo no consumo imediato. A Natureza tem a sua dinâmica, que se estabeleceu ao longo da história através da lei da seleção de espécies. Para construir solos, para chegar a um clímax de equilíbrio das espécies, leva um tempo que depende do clima, precipitação, nível de fertilidade natural, ocorrência dos organismos do solo, das diferentes espécies, de tudo isso. Temos uma experiência de longa duração a decorrer no Polo de Pesquisas do IAPAR, em PatoBranco, sudoeste do Paraná, num campo experimental que tem já 35 anos, e por onde já passaram várias teses de doutoramento e mestrado, vários professores dos EUA, Alemanha, França, e outros países. Esse campo, com diferentes espécies em rotação com soja e milho, continua em testes para tentar encontrar o caminho mais rápido para alcançar esse equilíbrio. Assim, é fundamental saber ou conhecer com maior profundidade o nível que estão as nossas áreas em termos de equilíbrio dos atributos biológicos, físicos e químicos. Para, então, de posse desse diagnostico, dar os próximos passos da melhor maneira. E com mais lucro para o agricultor que não tem de usar tantos fatores de produção, certo? Sempre. Esse é um aspeto que privilegiamos muito. Não basta apresentar um equilíbrio ecológico muito bonito, também tem que resultar do ponto de vista social e, acima de tudo, económico. Tem de valer a pena e permanecer assim. O normal, aqui em Portugal, quando se fala de misturas de culturas de cobertura, gramíneas, leguminosas, crucíferas, etc., é que, quando são 4 ou 5, já são muitas. Vejo, pelo seu trabalho, que frequentemente advoga o uso de misturas muito mais diversas. Quais as vantagens dessa abordagem? Da minha experiência de 42 anos, 24 dos quais trabalhando com misturas, só nos últimos 10 anos é que começámos a aumentar mais a diversidade. Dantes eram 3 ou 4. Agora são 6, 7, 10, 12. Já trabalhámos até com 20. Para as nossas condições, trabalhar com de 6 a 10 é o ideal. Porquê? Porque são famílias, espécies e até cultivares diferentes que 047

"É FUNDAMENTAL CONHECER COM MAIOR PROFUNDIDADE O NÍVEL EM QUE ESTÃO AS NOSSAS ÁREAS, EM TERMOS DE EQUILÍBRIO DOS ATRIBUTOS BIOLÓGICOS, FÍSICOS E QUÍMICOS.".

QUEM É ADEMIR CALEGARI?

Ademir Calegari Ademir Calegari nasceu numa fazenda do sul do Brasil, em 1957. Filho de agricultores, completou o curso de técnico agrícola em 1974. Três anos mais tarde começou a trabalhar com plantas de regeneradoras de cobertura, com Rolf Derpsch, através dum Projeto de Cooperação Técnica da Alemanha (GTZ) e do Brasil Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), como técnico agricola, quando trabalhava no IAPAR, em Londrina no estado do Paraná, sul do Brasil. Concluiu o curso de Agronomia na Universidade Federal de Pelotas, (UFPEL), estado do Rio Grande do Sul, em 1984, e entrou como investigador no IAPAR. Depois, fez mestrado na Universidade de Aberdeen na Escócia, em 1994-1995, e doutoramento na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, estado do Paraná com um período de quase um ano na Universidade de Paris, com o INRA, Prof. Dr. Daniel Tessier. Finalmente, esteve quase um ano na Kansas State University (KSU), Manhatann, USA, sob a orientação do Dr. William (Bill) Hargrove. Atualmente está jubilado, e trabalha como consultor. É também consultor da FAO, Banco Mundial, União Europeia, Cooperação Alemã GIZ e Cooperação Austríaca.


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REVISTA RUMINANTES

têm um efeito diferenciado no solo. Inicialmente deveremos, quando possível inocular as sementes com as bactérias especificas para cada espécie de planta. • O trigo mourisco, por exemplo. Temos aqui, no Brasil, os IPR91 e IPR92, do IAPAR, que têm um efeito diferenciado nos nematoides – ácidos orgânicos diferentes, ciclos diferentes. • As aveias, temos imensas. A IAPAR61, famosa, com mais de 23 anos, muito utilizada no sul do Brasil, foi trabalhada com 25 tipos de aveias onde se fez um estudo aprofundado nos ácidos orgânicos, exsudados radiculares. Chegou-se à conclusão que cada uma tinha um efeito diferente na produção de biomassa e no impacto nos microrganismos. • O centeio, que tem uma forte atividade alelopática, é muito utilizado para diminuir ervas daninhas, e é também um grande solubilizador de fósforo, só que não produz grande massa em termos de folhagem, apenas colmos muito grandes e, tendo uma relação C/N alta, demora mais tempo para decompor. Quando o combinamos com aveia branca ou preta, que é mais suscetível à ferrugem, vamos diminuir o ataque da ferrugem em até 85%. Funcionam como plantas companheiras. A relação colmo/folha do centeio é alta, a folha/colmo da aveia também. Juntas, equilibram-se e melhoram a cobertura do solo. • As crucíferas, como o nabo forrageiro e a mostarda, não são hospedeiras de micorrizas que, normalmente, solubilizam o fósforo e aumentam a área de absorção, conferindo resiliência à seca, e à salinidade, e também incrementam a enzima fosfatase ácida que ajuda na solubilização de fósforo no solo. • Os tremoços e a tremocilha, leguminosas tão usadas em solos arenosos em Portugal, fixam o N atmosférico. Também não são bons hospedeiros de micorrizas, tal como o trigo comum. Só que Deus, e a Natureza, são tão bons que o tremoço vai solubilizar fósforo via ácido cítrico, e as crucíferas via fosfatase ácida, através de um esforço conjunto dos exsudados radiculares e de alguns microrganismos. • Uma ervilha forrageira, uma mistura de crotolarias, o girassol ou o feijão frade são plantas hospedeiras de micorrizas. • O milheto (pearl millet), campeão mundial na captação de potássio que foi lixiviado, chega aos 3 metros de profundidade. Há 24 anos fizemos um estudo, aqui no Paraná, onde conseguimos

resgatar 386 kg de k2O/ha com o milheto. Algumas destas plantas, como não passaram por melhoramentos genéticos, carregam estas características que eram das plantas antigas. Tal como o trigo duro, que existe em Portugal, Itália, Alemanha, e noutros países da Europa e do Mundo. Já as variedades mais novas, e que foram selecionadas ou melhoradas geneticamente, perderam normalmente essa capacidade e absorvem a maior percentagem dos nutrientes da camada superficial do solo (a maior parte até aos 20 cm de profundidade). Essas são algumas das ferramentas. É necessário plantas de cobertura para buscar os nutrientes que se perderam no perfil ou foram lixiviados, como é o caso do enxofre, do nitrato, do potássio, do boro, etc. No café, uma cultura perene com a qual trabalho há muitos anos, as raízes vão a 4 metros, ou mais, mas apenas para buscar água. A maior percentagem da nutrição faz-se a 30-40 cm, logo, as plantas de cobertura são muito importantes também nesse sentido de ciclar os nutrientes que, de outra forma, não seriam aproveitados pelas culturas comerciais. A magia dá-se quando se faz a mistura. O trigo mourisco, com alta solubilização de fósforo à conta das micorrizas, e que suporta temperaturas elevadas e baixa precipitação, as crucíferas, com alta taxa de reciclagem de enxofre que normalmente se perde com as chuvas se não tivermos uma CTC (capacidade de troca catiónica) e matéria orgânica altas. O mesmo se dá com o nitrato, o potássio, etc. Quando se faz uma mistura, as diferentes funções complementam-se, promovendo o equilíbrio na questão dos nutrientes, além da biomassa que cobre e protege o solo, e também irá contribuir para explodir a microbiota favorável. Temos por exemplo o Eleusine coracana, um tipo de milheto ( finger millet), que produz até 8 toneladas de massa de raízes por ha! Se semearmos com um Azospirillum (bactéria de vida livre) que irá fixar um montante de 50-70kg de N aumentará o teor de proteína da forragem, muito rica para os animais. Também esse N será disponibilizado para ela própria e para outras culturas ou forrageiras posteriores, inclusive aumentando a microbiota do solo e, consequentemente, favorecendo e incrementando o sequestro de carbono do solo. Consegue-se, assim, um melhoramento do sistema inteiro resultando num solo com mais vida, mais equilíbrio, menos doenças, menos pragas, 048

"FOCA-SE DEMAIS, A NÍVEL MUNDIAL, NOS MACRONUTRIENTES ESQUECENDO OS OUTROS. ISTO LEVA A USOS DESREGRADOS, NOMEADAMENTE AO NÍVEL DE FERTILIZANTES QUÍMICOS ."

maior número de inimigos naturais e maior potencial produtivo. Fascinante! Pretende-se portanto um efeito sinérgico? Isso! Exatamente. John Kempf, um dos mais conhecidos consultores e propulsores da agricultura regenerativa de grande escala, nos EUA, diz que, das centenas de explorações de assessoria nos EUA nem uma única vez os fatores limitantes de produção foram o N, o P ou o K. Normalmente, são, sim, a matéria orgânica ou algum micronutriente, como o manganês ou o molibdénio. Os macronutrientes ou estão lá ou podem, alternativamente, fixar-se no solo. A microbiologia é a grande ferramenta que pode ajudar fortemente na disponibilidade desses nutrientes, além de tantos outros benefícios que traz ao solo e às plantas. Mesmo assim, continuam a fazer-se aplicações anuais massivas de macronutrientes sintéticos, com altos teores de sais, que acabam até por inibir a fauna microbiana e, muitas vezes, provocam o desequilíbrio. Correto, André. Estou completamente de acordo. Foca-se demais, a nível mundial, nos macronutrientes esquecendo os outros. Isto leva a usos desregrados, nomeadamente ao nível de fertilizantes químicos que são sais que destroem a vida do solo. Por exemplo, aqui no Brasil, em área de regadio, há já mais de 12 anos que é proibido colocar potássio na linha de plantio, porque as raízes são muito frágeis. Poderão ser destruídas, e em anos secos pior ainda. Sei que recomenda o uso de bioestimulantes e corretivos nutricionais, tanto por via foliar como em aplicação ao solo. Pode desenvolver um pouco este tema? O que a gente aprendeu, ao longo dos anos, é que muitos produtores tradicionais aqui no Brasil acham que os foliares não


"A magia dá-se quando se faz a mistura"

AGRICULTURA REGENERATIVA

funcionam. Hormonas, aminoácidos, “isso é bobagem”, dizem, apesar de terem médias baixíssimas, da ordem dos 3200 kg. Tenho agora um produtor que colheu 6500 kg de soja, mas o normal dos nossos clientes, aqui no Brasil, são 4000 kg a 5000 kg. Depende de quanto se quer colher, e do mercado de commodities. Agora, por exemplo, está muito favorável. Se a relação custo/produtividade for baixa, a cultura pode tornar-se inviável. Se for o caso, pode-se usar hormonas, bioativadores para melhorar os resultados. A soja, por exemplo, precisa de boro e de todo um conjunto de micronutrientes, só que alguns são mais importantes. O boro é necessário para o fortalecimento do tubo polínico. O cálcio, hormonas, aminoácidos, enxofre, tudo isso junto é importante para garantir um maior pegamento das vagens, ou seja, um efeito mais eficiente na fecundação pelos grãos de pólen, e assim uma população de mais vagens com mais grãos viáveis. Se estes nutrientes estiverem em níveis baixos, as plantas sofrem mais com o stress hídrico, luminosidade, excesso de água e ataques de nematoides. Aqui, no Brasil, temos 3 grandes problemas: compactação de solos, populações de nematoides e doenças radiculares. Na análise inicial, temos que diagnosticar qual o fator limitante: numa forragem, será que é excesso de animais, excesso de pastoreio, má formação das plantas; ou será compactação física, ou problemas biológicos ou nutricionais? Por exemplo a falta de cálcio em profundidade impede o crescimento das raízes, que irá dificultar o crescimento do meristema apical. Quase não ocorre divisão celular com a falta de níveis de cálcio na extremidade das raízes das plantas. É

importante ter cálcio em profundidade. Por isso é que o gesso agrícola (sulfato de cálcio) é fantástico. Consegue levar o cálcio em profundidade, ficando em carga zero à superfície. A chuva, a rega, vão levá-lo a percolar, indo combinar-se com o alumínio tóxico que está no perfil e formando sulfato de alumínio, numa complexação inorgânica estável que vai largando o cálcio que as plantas forrageiras necessitam para lançar raízes em profundidade. E, sim, vamos precisar de alguns aminoácidos, e hormonas, que essas plantas usam para resistir ao stress. Depois, há bioativadores que atuam na microbiota, tornando o solo mais vivo, com mais matéria orgânica potencial de crescimento, melhorando todo o metabolislmo das plantas e a vitalidade das culturas. Que tipos de aplicações foliares costuma recomendar mais? Temos de tudo. Alguns aplicam-se logo nas primeiras fases. Por exemplo, agora tivemos aumentos de 360 kg de soja por hectare, devido a um produto que tem 16 aminoácidos, as 3 hormonas (giberelina, auxina, citocinina), o ácido acetilsalicílico (que é um indutor de resistência) e um aminoácido nobre que é a prolina. Isso tem um efeito extraordinário na planta. Aplicam-se 250ml/ha nas fases de V2 -V3, tanto no milho, como na soja e na cevada e, por vezes, também em forragens. Depois, também no R1 a R3, R4, faz-se outra aplicação de 250ml/ha. É um produto quase biológico, já existem vários desses. Com isso, a planta melhora o seu metabolismo e, logo, sofre menos por excesso de chuva, falta de chuva, luminosidade e outros fatores. Pode-se complementar com, por exemplo,

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manganês ou molibdénio para a fixação do azoto. O enxofre é fundamental e quase não se fala dele. É um macronutriente secundário. Temos tido vários problemas, em várias regiões, por falta de enxofre, é quase generalizado. Assim como os níveis baixos de boro, porque o boro também vai embora pelo excesso de chuva. O nitrato vai embora, o enxofre vai embora, o potássio em solos arenosos também. Convém fazer essas compensações. Para chegar aos diagnósticos, que meios costuma utilizar? A análise do solo, para ter a real situação em talhões homogéneos. Por vezes pega-se em 2 ou 3 análises de uma área de 60 ha mas com zonas de montanha, meia-encosta e baixa. Nas partes baixas, o potássio e outros nutrientes são muito mais elevados porque foram lavados. Por isso, temos de ter médias de cada zona. Também se deve verificar se existem problemas de compactação. Já trabalhei com diversos equipamentos e técnicas, a nível mundial, e o melhor continua a ser a trincheira para ver as raízes das plantas. As gramíneas não servem na minha avaliação. Estas conseguem passar através de perfis compactados onde outras plantas de raízes pivotantes não conseguem. Então precisamos buscar, se não houver cultura, plantas daninhas de preferência não gramíneas. A trincheira não precisa ser monstruosa, basta ter 30-50 cm para se ver o comportamento das raízes. Se existir compactação leve, ou média, esta pode ser eliminada com plantas de cobertura. Se eu vir que 60-70% das raízes estão a 1015cm “virando pião”, então é porque existe compactação severa. Aí, eu vou ter que ter uma interferência, um chisel, ou subsolador, seguido de plantas de cobertura.


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Um dos problemas aqui em Portugal, é a predominância tal de gramíneas anuais no pool de sementes no solo, e a sua pujança, devido a muitos anos de lavoura contínua, que torna o estabelecimento de prados perenes muito difícil. Podem, as culturas de cobertura, ser usadas como ferramenta? Uma das coisas que precisamos fazer, no meu entendimento, é pegar numa área dessa fazenda e e verificar primeiro se existe uma compactação severa. Se houver, vamos esperar pela altura certa para passar um chisel e, logo, aplicar uma gama apropriada de sementes. Vocês aí têm a serradela nativa que é maravilhosa! É uma leguminosa extremamente rústica. Há regiões, aqui no Paraná, que são “casca de ovo” como nós dizemos, de 30-40 cm e elas estão lá. A tremocilha nativa, que vocês têm aí. O trigo mourisco, o centeio… Depois, há várias plantas estivais e também de outono-inverno. Podemos fazer uma mistura, para melhorar esse solo. Devemos aplicar, se possível, esterco, composto melhorado. Hoje, temos aditivos para colocar na compostagem, para aumentar as bactérias. Podemos também usar um bioativador. Existe uma empresa Suíça, para a qual presto consultoria aqui no Brasil, que está em diversos países do Mundo e tem um produto muito bom (Penergetic, bioativador de solos e plantas). O que queremos é aumentar a vida desse solo. É importante, depois, um controlo do pastoreio. Foi o que Gabe Brown fez. Perguntou-me o que se podia fazer, e eu disse: “O céu é o limite, tem é que encontrar as espécies corretas.” Foi aí que ele começou. Hoje, faz sementeira direta em cima da cultura perene. Temos que chegar à fórmula dessa salada, que vai dar de comer aos animais e, ao mesmo tempo, recuperar o solo. E há outra coisa, ouviu André, que é uma questão conceptual. Eu já andei por esse mundo fora, já vi muita coisa, estudei e ainda estudo, e a vida é constante aprendizado – estive com os maiores especialistas mas isto eu aprendi há só 5-6 anos atrás. Como é que eu vou aumentar a matéria orgânica? “Não queimar, não fazer mobilização e adicionar resíduo - quanto mais palha eu tiver, melhor”. Só que isso é errado! Isso é um mito! O mais importante em todo o processo é a vida no solo, a microbiota. Então, o que eu preciso é de desenvolver estratégias para explodir a população dos bichinhos no solo. Há 40 anos, eu

imaginava que se tivesse 10 toneladas de matéria seca era melhor do que ter 5 toneladas. Não! A quantidade isolada de matéria seca adicionada ao solo não será a responsável direta pelo sequestro do carbono orgânico do solo. Esse sequestro vai depender da vida do solo. São precisos microrganismos porque são eles que vão produzir enzimas que são sintetizadas na zona das raízes, dos exsudados. Temos vários estudos apontando nesse sentido. A beta-glucosidase por exemplo, que está ligada com os complexos de carbono, vai fazer decompor os resíduos. Há outros fatores, claro, como o clima ou a chuva, entre outros. Um dos fatores mais importantes para que o carbono que está no solo, pela mineralização do material orgânico, leve o caminho da humificação, ao invés de se transformar em CO2 e ser perdido na atmosfera, é a quantidade dessa enzima. Então, temos de aumentar a beta-glucosidase. Se conseguirmos isso, com a explosão de microrganismos, a menor palhada de resíduo pode ter o maior ganho efetivo de carbono orgânico, em menor tempo. Esse é o desafio. Nós, mais do que tudo, temos que ser criadores de microrganismos usando tecnologias que aumentem fungos, bactérias, actinomicetes, protozoários e tantos outros. Com bioativadores, não vão ser precisos 5 a 7 anos. Com 2 a 3 anos, viramos o relógio. São ganhos loucos de matéria orgânica. Quanto? É muito relativo. Depende da região. Importante é saber que, conceptualmente, tenho de eliminar os entraves, que são: problemas de infiltração de água, compactação e dificuldades de armazenamento de água. Como se armazena água? Os macroporos facilitam a entrada. Os microporos seguram a água. A matéria orgânica também segura muito melhor a água do que a argila ou a areia. É o que se chama a “esponja do solo”, correto? Exatamente! Essa esponja é importante para suprir o solo em épocas de deficiência de água e armazená-la quando há excesso. Uma crença enraizada nas zonas mais secas de Portugal é que não é possível estabelecer culturas de primavera-verão sem recorrer ao regadio. Contudo, não há persistência, e são usadas misturas muito básicas de gramíneas e leguminosas. Que conselhos pode dar? Por exemplo, há produtores que fazem 050

soja-milho sem espaço para culturas de cobertura. Desde há uns anos, começámos a recomendar a sementeira de misturas a lanço para cima do milho, quando tem 6-8 pares de folhas. Quando chove, a semente germina. Entretanto, o milho semeado a 45-50 cm cresce e fecha, e a cultura de cobertura pára de crescer. Pode-se usar por exemplo Capim-coracama, Crambe abyssinica, nabo e trigo mourisco, além de ervilhacas, centeio, aveias, se for a época recomendada de semeadura. Quando se colhe o milho, estas plantas estão estabelecidas e restabelecem o crescimento. O solo nunca fica descoberto e, assim, inclusivé diminui a pressão de crescimento de plantas daninhas. Temos feito isso nas regiões mais secas do Brasil, e funciona muito bem. Esta técnica chamase “oversowing” de cobertura. Usam-se plantas mais rústicas. Temos produtores que, embora façam sementeira direta sem mobilização, não conseguem desmamar o uso de glifosato. Outros, que estão em modo de produção biológico, queixam-se das dificuldades com as infestantes em misturas forrageiras de verão. Esse é o maior desafio mundial da agricultura biológica. Precisamos de trabalhar na eliminação do banco de sementes, terminando as gramíneas antes de terem espigas viáveis, e substituí-las por espécies mais valentes. Em 3, 4, 5 anos, essa composição florística vai baixar, esse banco de germoplasma de daninhas vai sendo exausto. Mas não devemos mexer no solo, e aí é que está o problema. Os herbicidas orgânicos estão a chegar. Este ano, e no próximo, espera-se que pelo menos 3 vão aparecer no mercado. Acho que daqui a uns anos vai-se olhar para trás e dizer: “Puxa, pessoal, vocês usavam glifosato??? Ou um outro herbicida?" E assim teremos outras opções de manejo de plantas invasoras. Bem, é no que acreditamos para um futuro não muito longínquo! O desmame de glifosato pode, e deve, ser acompanhado pelo aumento inversamente proporcional de bioestimulantes. Porque o glifosato tem uma ação biocida no solo. Não tenha dúvida. O glifosato e outros herbicidas, para além de outros agrotóxicos fortes. Não só matam as ervas daninhas como também têm efeito na microflora e na fauna. Quanto menos os


"A magia dá-se quando se faz a mistura"

AGRICULTURA REGENERATIVA

utilizarmos, melhor. Agora, como vamos fazer? Eu tenho uma solução com um produtor de 2000 ha, aqui no Brasil, que ao usar plantas de cobertura está a diminuir em 20-40% o uso de herbicidas.

promissora em regiões áridas. A Melillotus também é espetacular e boa forragem. Nós vamos o quê? Recompor essa biota e consequentemente diminuir esses desequilíbrios.

Neste momento temos um grande problema com o fungo do género Phytophtora, que dizimam populações inteiras de sobreiros e azinheiras. Há campanhas agressivas de combate à doença com abates, criação de zonas de exclusão, aplicação de fungicidas, etc. Acredito que a raiz do problema está na destruição da associações micorrízicas de que estas árvores dependem pelos repetidos ataques agressivos ao solo. Tivemos um problema grave com Phytophtora, aqui, no Rio Grande do Sul, e nem um fungicida ao solo deu conta dele. O que é que temos que fazer? É isso mesmo que você falou – temos que aumentar a biodiversidade de plantas e utilizar produtos biológicos. Hoje em dia, temos Trichodermas de alta eficiência, temos grupos de Bacillus. Essas doenças são causadas pela monocultura, pela quebra dos inimigos naturais que estavam aí. Hoje, nós estamos colocando Azospirillum em todas as misturas de plantas, usamos Trichoderma 2 ou 3 vezes ao ano. A maior parte das doenças são produzidas pela ingerência humana. Qual é a essência da matéria orgânica? Microrganismos equilibrados, a própria Mãe Natureza cuida disso. Se começarmos a colocar nessas pastagens trevos diferentes, azevém, serradela, e tantas outras plantas, como as estivais (girassol, feijão frade, crotolarias, trigo mourisco, milheto), vamos conseguir recompor essa biota e, consequentemente, diminuir esses desequilíbrios. Estamos a usar uma leguminosa forrageira – a Stylosanthes que é muito

Há algumas dificuldades em usar misturas de várias sementes com diferentes tamanhos aquando da sementeira devido a entupimentos, falta de homogeneidade, etc. Como ultrapassam estes problemas aí? Há uns semeadores que têm caixas à parte para grãos finos e grãos mais grossos. Então, colocam-se os grãos mais próximos na forma e no tamanho juntos. Há quem faça a lanço, passando um correntão a seguir. Quais as vantagens da utilização do rolo-faca para terminar uma cultura, em vez do corta-mato ou da destroçadora? Se quiser uma cobertura por mais tempo, o rolo-faca é o melhor. Porque ele apenas amassa quando passa, cortando a circulação da seiva. Algumas plantas rebrotam, mas 80-90% vão morrer. Já se passar uma destroçadora, vai ter resíduos pequenos – os microrganismos vão atacar e vão desaparecer rápido – consequentemente, as plantas daninhas vêm. O timing é importante, gramíneas você vai passar no grão leitoso. Assim, assegura menos rebrote e vai assegurar aquela massa, aquela palhada. Para manter cobertura, é melhor o tamanho do resíduo maior.

animais passaram a comer, deixaram estrume, pisaram, deixaram baba, que é muito importante como fonte de microrganismos, produziu mais do que nas área de controlo onde foram deixadas as plantas inteiras. Agora, não podemos rapar o solo – deixar comer toda a cobertura. Devemos deixar 3, 4, 5 toneladas de matéria seca por hectare sobre o solo. Deixar os animais comer até 20-30 cm, para que haja rebrote. Um japonês amigo nosso, de Minas Gerais, o Sr. Isamu Okada que tem 1800 ha de feijão, milho, soja e trigo, começou agora a integrar com animais. Fizemos um mix para os pivots com aveia preta, aveia branca, centeio, nabo, ervilhaca e trigo mourisco. O mix cresceu e os animais comeram até 30 cm. Levou uma rega, rebrotou e fez um segundo pastoreio. Depois, por cima, semeou milho. Colheu 16.000 kg de milho por hectare! Nunca ninguém na história daquela região tinha conseguido isso. Mas ele está usando os bioativadores biológicos, está rotacionando. E utilizando os mix de plantas de cobertura/regeneradoras da fertilidade e capacidade produtiva dos solos. Então, nós temos que encontrar as ferramentas que vamos colocar naquele sistema – esse é o grande desafio. Vamos fazer, fazendo, como se diz. Teremos sempre que ter em mente onde estamos, e qual deverá ser o nosso próximo melhor passo. No caminho de um manejo equilibrado, produtivo, longevo e, acima de tudo, sustentável ao longo dos anos. É possível alcançar isso.

E o pastoreio, para terminar as culturas de cobertura? Depende do critério. Temos áreas do Rio Grande do Sul, com ervilhaca, aveia – uma massa grande onde testámos a diferença. Na zona onde os

Podemos acreditar na possibilidade de estabelecer um serviço de consultoria à distância, em que a sua equipa prestaria esse serviço? Claro que sim.

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Campo experimental com plantação de Paulownia sp. com compasso de plantação de 2,5 x 1,5 m.

FORRAGENS

GO-BIOCHORUME

SISTEMAS BIOLÓGICOS DE UTILIZAÇÃO DO CHORUME PROVENIENTE DE EXPLORAÇÕES DE PECUÁRIA INTENSIVA DE BOVINOS LEITEIROS 1

Por Menino, R.1, Pereira, S.I.A.2, Moreira, H.2, Castelo-Branco, A.1, Gomes, A.A.1, Rodrigues, A.1, Cunha, J.2, Castro, P.M.L.2, Vega, A.2, Cardoso, E.2, Machado, M.J.3, Alves, R.4, Cardoso, F.5, Lopes, F.5, Guedes, R.3 INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária; 2Universidade Católica Portuguesa, CBQF - Centro de Biotecnologia e Química Fina – Laboratório Associado, Escola Superior de Biotecnologia; 3 Aveleda S.A.; 4Forestis – Associação Florestal de Portugal; 5Fenalac - Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite

A

pecuária intensiva de bovinos leiteiros (PIBL) tem uma importância social e económica vital em Portugal, particularmente na região Norte do país. Esta atividade produz quantidades elevadas de efluentes, nomeadamente de chorumes (mistura de urina, fezes e águas de origens diversas), ricos em nutrientes importantes para o crescimento de plantas que podem ser reintroduzidos em sistemas de produção florestal, desde que adequadamente geridos. As estratégias para o tratamento dos efluentes implicam a combinação de processos que reduzem a concentração dos compostos orgânicos e inorgânicos para valores permitidos pelas normas de descarga no meio hídrico recetor. Contudo, a aplicação destas estratégias é desajustada da realidade da maioria das explorações pecuárias e a manipulação dos efluentes é assim uma grande preocupação para os bovinicultores, principalmente em

explorações com um efetivo elevado em relação à área agrícola explorada. A deposição não controlada de elevadas quantidades de chorumes nos solos potencia riscos de contaminação de águas superficiais e subterrâneas com nitratos, refletindo-se também na libertação de elevadas concentrações de compostos voláteis de odores desagradáveis, como o amoníaco e outros gases azotados que contribuem para o efeito de estufa.

Foto 1 Paulownia envasada inoculada em viveiro

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Estes efluentes possuem níveis elevados de macronutrientes, como azoto (N), fósforo (P) e potássio (K), e micronutrientes, como cobre (Cu) e zinco (Zn), constituindo um valioso recurso como fertilizante orgânico para os solos, aumentando o seu conteúdo em matéria orgânica e nutrientes disponíveis e, ao mesmo tempo, melhorando a sua estrutura. Desta forma, a aplicação de chorumes pode ser uma boa alternativa aos fertilizantes minerais, ou como complemento dos mesmos na agricultura e silvicultura. O projeto GO-Biochorume vai ao encontro dos desafios que se impõem em explorações pecuárias, especialmente nas explorações de grande dimensão. Este projeto utiliza novas oportunidades na área agroflorestal, desenvolvendo modelos inovadores de gestão de efluentes de grandes explorações pecuárias numa perspetiva de “economia circular” e “resíduo zero” à escala da unidade de exploração, convertendo os efluentes numa oportunidade e numa mais valia económica e ambiental.


GO-Biochorume

FORRAGENS

PROJETO GO-BIOCHORUME O projeto GO-Biochorume resulta de uma parceria entre diversas entidades, nomeadamente a empresa Aveleda S.A. (coordenação do projeto), o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV. I.P.), a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (Centro de Biotecnologia e Química Fina – CBQF), a Associação Florestal de Portugal (FORESTIS) e a Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (FENALAC). Este projeto visa a valorização de chorumes resultantes da PIBL como fertilizante em plantações de espécies florestais de crescimento rápido e de cariz energético como Paulownia sp. (paulónia) e Populus sp. (choupo), numa perspetiva de economia circular. A escolha destas árvores baseou-se no facto de serem espécies que apresentam uma elevada eficiência na mobilização de nutrientes do solo, nomeadadamente de N, na captação de dióxido de carbono da atmosfera, contribuindo para o combate às alterações climáticas, e cuja biomassa detem um elevado poder calorífico. Por outro lado, as folhas de Paulownia sp. possuem um elevado potencial forrageiro, podendo ser utilizadas como fonte de alimento rico em nutrientes para os bovinos. Por conseguinte, esta espécie, geradora de biomassa para fins energéticos e fonte de alimento para o gado, contribuirá para uma melhor performance económica das empresas leiteiras. Neste projeto foram também aplicados microrganismos como os fungos arbusculares micorrízicos (AMF) e bactérias promotoras do crescimento vegetal (PGPB) que, associados às árvores, potenciam um maior aporte de nutrientes e uma maior resistência a doenças, preparando-as para um transplante e estabelecimento mais saudável. Deste modo, com este projeto pretendese: 1) estabelecer modelos de silvicultura para Paulownia sp. e Populus sp.; 2) implementar técnicas de inoculação com fungos micorrízicos e bactérias promotoras do crescimento vegetal, de modo a favorecer o estabelecimento, a capacidade de crescimento e a resistência a doenças destas árvores; 3) avaliar os acréscimos de produção lenhosa e da biomassa aérea foliar com a aplicação dos chorumes e inoculação; 4) avaliar a evolução das características físicas e químicas dos solos e das taxas de reservatório de C; 5) analisar a composição

química, orgânica e forrageira da biomassa foliar da Paulownia sp. para utilização como suplemento alimentar dos animais; 6) elaborar um caderno de boas práticas de gestão e de aplicação de efluentes. Este é um modelo inovador de gestão de efluentes à escala da unidade de exploração pecuária leiteira, que permite converter os efluentes numa oportunidade e numa mais valia, reduzindo o seu impacto ambiental e os custos da sua gestão. CAMPO DE DEMONSTRAÇÃO Com vista a responder aos objetivos do projeto, foi estabelecido um campo de demonstração em Penafiel, ocupando uma área de 14607 m2, onde foram plantadas árvores de Paulownia sp. e Populus sp. com compassos de 2,5 x 1,5 m e 2,5 x 0,75 m, respetivamente. Parte destas árvores foram inoculadas com fungos micorrízicos e bactérias promotoras do crescimento vegetal quer em viveiro (paulónia, foto 1), quer no campo (choupo). Foram aplicadas doses crescentes de chorume, em faixas contínuas, mantendo parcelas que não foram submetidas a tratamento, de forma a avaliar o efeito dos tratamentos nos diversos componentes em análise. Deste modo, foram incluidas parcelas sem aplicação de chorume, e parcelas em que foram fornecidas diferentes quantidade de chorume que resultaram em taxas de aplicação de 85 kg de N ha-1, 170 kg de N ha-1 e 340 kg de N ha-1. A aplicação de chorume é realizada na primavera, no verão e no outono, totalizando 3 aplicações por ano. Todos os anos são realizadas duas colheitas de solo a duas profundidades (0-25 e 25-50 cm), a primeira antes da 1ª aplicação de chorume anual (início da

primavera), e a segunda no fim de cada ano cultural do ciclo de crescimento (início do inverno). As árvores são monitorizadas do ponto de vista de parâmetros biométricos (ex: altura total, diâmetro da base, diâmetro à altura do peito (1,30 m de altura) com vista a avaliar o acréscimo de crescimento associado às aplicações de chorume. As folhas de Paulownia sp. são recolhidas anualmente para avaliação do poder forrageiro e da carga microbiana associada, nomeadamente no que concerne a microrganismos patogénicos (ex. Escherichia coli, Salmonella, coliformes totais, etc). Foram instalados lisímetros em todas as parcelas experimentais com o objetivo de monitorizar as águas de lixiviação, quer do ponto de vista químico, especialmente N, quer microbiológico (pesquisa de microrganismos patogénicos). Este projeto contempla também uma forte componente de divulgação, onde se pretende transferir o conhecimento obtido sobre este modelo inovador a diversos potenciais beneficiários, quer na área da pecuária, como as explorações pecuárias leiteiras, ou outras explorações pecuárias que produzam este tipo de efluentes, quer a entidades que gerem os efluentes pecuários, a produtores e associações florestais, bem como a empresas de biotecnologia, centrais de biomassa e empresas agrícolas. Agradecimentos Este trabalho é co-financiado pelo FEADER e o governo português através do PDR2020 no âmbito do projeto BIOCHORUME (PDR2020-101-032094). Agradecemos também a colaboração científica no âmbito do projeto FCT UIDB/50016/2020.

VALOR NUTRITIVO DAS FOLHAS DE PAULOWNIA COLHIDAS NAS ÁRVORES DAS PARCELAS DO CAMPO EXPERIMENTAL, COMPARATIVAMENTE COM OS VALORES ENCONTRADOS NA BIBLIOGRAFIA (Stewart et al., 2018) Características avaliadas

Campo experimental

Valores da bibliografia

Folhas velhas

Folhas jovens

(Stewart et al., 2018)

Proteina bruta (%)

19,3

22,6

14-23

Fibra em detergente neutro (%)

36,1

38,1

29-55

Fibra em detergente ácido (%)

25,3

25,7

18-42

Linhina em detergente ácido (%)

12,3

13,2

10-22

Gordura (%)

2,64

2,23

2-4

Cinzas (%)

9,4

8,1

6-9

Fontes: Stewart, W.M., Vaidya, B.N., Mahapatra, A.K., Terrill, T.H. and Joshee, N., 2018. Potential Use of Multipurpose Paulownia elongata Tree as an Animal Feed Resource. American Journal of Plant Sciences, 9:1212-1227. doi: 10.4236/ajps.2018.96090.

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Foto 3 Animal saudável

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS

CÁLCULO DO IMPACTO ECONÓMICO DA SRB

A SÍNDROME RESPIRATÓRIA BOVINA (SRB) É A CAUSA MAIS COMUM DE DOENÇA E DE MORTE NO GADO BOVINO, SENDO ESPECIALMENTE CRÍTICA EM IDADES PRECOCES. ASSIM, TEM UM IMPACTO RELEVANTE, NÃO SÓ EM TERMOS DO BEM-ESTAR ANIMAL, COMO A NÍVEL ECONÓMICO NA EXPLORAÇÕES.

A

síndrome respiratória bovina (SRB) é designada como síndrome ou complexo respiratório bovino porque são vários os agentes que têm um papel no desenvolvimento desta doença multifatorial. Implica tanto os agentes patogénicos, como o vitelo (estado imunitário, colostro, nutrição, etc.), e o ambiente (alterações de temperatura, agrupamento de animais, stresse, etc.). Infelizmente, a síndrome respiratória não é exclusiva dos bovinos. Ocorre igualmente noutras espécies de produção, como os ovinos, os suínos, as aves ou os coelhos, onde a situação é muito similar: vírus,

bactérias (Pasteurellaceae), e micoplasmas têm um papel muito relevante. OS TRATAMENTOS CHEGAM TARDE, POR ISSO HÁ QUE PREVENIR Em qualquer caso, quando se detetam animais com sintomas de SRB, o tratamento é consensual. Pode incluir antibióticos, cujo objetivo é eliminar bactérias e micoplasmas, já que não são efetivos frente a vírus; e anti-inflamatórios, para aliviar a sintomatologia. Apesar disto, quando se define o tratamento, pode-se considerar que já é demasiado tarde, pois os danos pulmonares já podem existir e as capacidades produtivas desse animal podem já ter ficado comprometidas, tanto

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a curto, como a longo prazo. A prevenção é a chave para melhorar o bem-estar animal para cumprir com as novas legislações, que pressionam no sentido de uma redução no uso de antibióticos, e, acima de tudo, para minimizar os custos decorrentes da SRB. São vários os estudos que evidenciam a importância da prevenção, especialmente nas engordas. Num ensaio levado a cabo com mais de 2000 vitelos, entre 55 e 67% dos animais tratados para doença respiratória apresentavam lesões pulmonares no matadouro, apesar do tratamento. É claro que o uso de antibióticos reduziu as perdas económicas potenciais, contudo, não se restaurou o crescimento dos animais tratados,


Cálculo do impacto económico da SRB

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS

DEOLINDA SILVA Diretora Serviços Técnicos Ruminantes, Hipra Portugal deolinda.silva@hipra.com

comparado com o grupo dos animais saudáveis e nunca tratados. Num outro estudo com quase 6000 animais, 74% dos vitelos tratados para a SRB apresentava lesões pulmonares no matadouro. Saliente-se que nos protocolos vacinais em ambos os casos, apenas se incluíam vacinas virais e, portanto, a prevenção frente à pasteurelose era incompleta (Foto 1). APENAS 50% DOS ANIMAIS COM SRB APRESENTA SINTOMAS RESPIRATÓRIOS Embora este dado por si só já seja preocupante, nem só os animais tratados para a SRB desenvolvem lesões pulmonares. Nesses mesmos estudos, entre 39 e 61% dos animais não tratados apresentavam também lesões pulmonares. Tal pode ser explicado de duas maneiras:

Foto 1 Lote de animais em engorda

ou o dano pulmonar era anterior à entrada na engorda, ou nem todos os casos foram detetados (casos subclínicos). Contudo, estima-se que, no melhor dos casos, apenas 50% dos animais com SRB apresenta sintomas respiratórios. Dito de outro modo, pelo menos o dobro dos animais que tratamos sofre de doença respiratória apesar de não o detetarmos clinicamente, embora desenvolvam lesões pulmonares. Recordemos que, na natureza, os bovinos são presas e devem ocultar as suas debilidades para não serem vistos como um alvo fácil pelo seu predador. Não obstante, o desenvolvimento de lesões pulmonares nestes animais tem um impacto no seu rendimento produtivo, o que leva a um menor retorno económico. A incidência total de doença respiratória nas engordas, considerando os casos clínicos e subclínicos, é de 52 a 64%. O número de animais tratados varia entre explorações, anos, lotes, programa vacinal, etc., mas estima-se que, entre 15 a 45% dos vitelos que entram na engorda apresentarão sintomas respiratórios e serão tratados individualmente. Quanto aos programas vacinais, parece importante não só abrangerem os agentes patogénicos adequados, como também considerarem o momento adequado da vacinação. São observados, nos primeiros 55 dias de engorda, 80% dos casos de SRB e, assim, adiar a vacinação não parece ser a melhor opção. Num estudo com mais de 12.000 vitelos, nos animais

vacinados na origem com um programa vacinal que incluía os quatro vírus “mais importantes” (BRSV, IBR, BVD e PI3), juntamente com duas pasteurelas (M. haemolytica e H. somni), a incidência de SRB foi significativamente reduzida se compararmos com animais vacinados à chegada à engorda. Nos animais vacinados na origem, trataram-se menos 12% (23% de tratamentos frente a 11%), e a percentagem foi até 20% menos nos animais que também tinham sido desmamados na origem (23% frente a 2,9%, se vacinados e desmamados anteriormente). O PAPEL DOS VÍRUS E DAS BACTÉRIAS O papel dos vírus dentro da SRB parece claro, atuando na maioria dos casos como iniciadores da doença, sendo responsáveis por surtos “explosivos”. Contudo, entre os vírus, apenas o sincicial (BRSV) provoca lesões pulmonares sem necessidade de intervenção bacteriana. Já as pasteurelas (M. haemolytica, H. somni, P. multocida), para além de poderem iniciar a doença por si mesmas, são em maior medida as responsáveis pelos danos pulmonares. Daí a importância de incluir tanto os vírus, como as pasteurelas no programa vacinal, a fim de reduzir o impacto económico da SRB nas explorações. Recorde-se que estas bactérias são comensais nas vias aéreas superiores do gado bovino e, por conseguinte, existe sempre o risco de que se multipliquem perante a sua existência

Foto 2 Lote com animais com patologia respiratória crónica e atraso de crescimento

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e fatores predisponentes (vírus, stress, alterações de temperatura, mistura de animais, etc.). O IMPACTO ECONÓMICO DA SÍNDROME RESPIRATÓRIA As carcaças de vitelos que apresentam lesões pulmonares no matadouro têm um peso menor, uma pior conformação (qualidade da carcaça) e os animais chegam a passar mais tempo na exploração (maior nº de dias à engorda), o que se traduz em custos maiores a longo prazo. Em animais que sofrem de SRB durante o primeiro mês na engorda, o ganho médio diário pode reduzir-se em 370 g/dia durante esse período. Embora possa depois existir um crescimento compensatório, não se restaurará o crescimento normal, comparado com outros animais do lote. Deste modo, o ganho médio diário de animais com lesões pulmonares visíveis em matadouro é reduzido em 70-90 g/dia, comparativamente com vitelos sãos. Num sistema de engorda com uma duração standard de 6 a 9 meses, pode-se pressupor mais de 16,5kg a 24 kg de diferença entre um animal saudável e um animal com lesões pulmonares, respetivamente (Foto 2). Somado a isto, outro custo a considerar são os dias extra que passam na engorda, se padecem de SRB. Tal pode implicar 5,5 dias a mais até ao abate, a cada quatro meses e meio na engorda. Atrasar o abate destes animais, para além do custo na alimentação, mão-de-obra, etc., implica um custo de oportunidade, já que, durante esses dias, novos vitelos poderiam estar a

ser introduzidos. Como resultado, teremos menos vitelos acabados por ano. É claro que, quando tratamos um animal por SRB, observamos o seu impacto a curto prazo de uma forma muito óbvia: custo do tratamento, mão-de-obra, menor ingestão, mortalidade, frustração, etc. Não obstante, por vezes não é tão evidente o impacto no retorno económico a longo prazo, podendo ser considerado mais grave do que o impacto a curto prazo: menor peso, pior classificação da carcaça e maior tempo de engorda. Na tabela 1, pode-se ver uma estimativa do custo da SRB, tomando como referência os dados mencionados anteriormente. O custo total estimado da síndrome respiratória bovina em 100 vitelos vacinados unicamente para vírus, é de 5.900 €. A IMPORTÂNCIA DAS BACTÉRIAS NA SRB A importância das bactérias dentro da SRB é evidente: até 95% dos surtos respiratórios nos quais se isolam vírus, estão também implicadas bactérias, sendo as mais frequentes as pasteurellas. Dentro delas, o papel da Pasteurella multocida na SRB não parece fácil de determinar. Embora se considere que em alguns casos tem um papel no desenvolvimento de lesões pulmonares, também é identificada frequentemente nos pulmões sem lesões visíveis. Contudo, quando falamos de Mannheimia haemolytica ou Histophilus somni, existe um maior consenso em que têm um papel protagonista no

desenvolvimento da SRB e das lesões pulmonares. Com as técnicas de diagnóstico mais sensíveis, na Europa, a M. haemolytica é detetada em mais de 40% dos casos e a H. somni em cerca de 1 em cada 3 casos. Estes dados confirmam a importância de incluir ambos os agentes patogénicos nos nossos programas vacinais. Felizmente, há vacinas disponíveis no mercado que podem reduzir o impacto da pneumonia bacteriana com implicação destes agentes. Estas vacinas demonstram reduzir em pelo menos 50% os sintomas clínicos e as lesões pulmonares provocadas por estas pasteurellas, para além de diminuírem o uso de antibióticos em 80%. Tal facto reveste-se de grande importância, não só pelo custo do tratamento e da mão-de-obra, como por contribuir para a redução do uso de antibióticos e na luta contra a resistência aos mesmos (Foto 3). CONCLUSÕES Com tudo o que foi exposto, incluir o uso de vacinas virais em conjunto com a vacinação para as pasteurelas nos programas vacinais, pode-se justificar tanto do ponto de vista do bem-estar animal, como pela redução do uso de antibióticos, como ainda pensando no retorno económico deste investimento. Dada a extensa bibliografia utilizada para a redação deste artigo, as referências não foram incluídas no texto. Para mais informações, consulte a autora através do email deolinda.silva@hipra.com.

TABELA 1 CUSTO ESTIMADO DA SÍNDROME RESPIRATÓRIA BOVINA NUM LOTE DE 100 VITELOS DE ENGORDA, VACINADOS APENAS PARA VÍRUS (BRSV, IBR, BVD E PI3) CUSTO

CÁLCULO

€/ANIMAL NO LOTE

Redução do ganho médio diário em 52% animais (clínico + subclínico), 90 g/dia, 9 meses (275 dias) na engorda, 2,30 €/kg peso vivo

90 g/d x 275d x 2,30 €/kgPV = 56,93 €/vitelo com lesões x 52 afetados/100 totais

29,60 €/animal no lote

Custo de tratar 20 vitelos com sintomas de SRB (antibiótico + anti-inflamatório, 2 doses) + custo veterinário (1 visita). Mão-de-obra não incluída

20 x 4 €/animal de 250 kg = 80 € 80 € + 35 € = 115 €

1,15 €/animal no lote

Mortalidade (2%) a 700 € (preço de compra)

700€ x 2mortos/100 totais

14 €/animal no lote

Custo de perda de qualidade carcaça: E3 frente a U3 numa carcaça de 320 kg, assumindo que pelo menos metade dos vitelos tratados baixaria de categoria (10 vitelos) e excluindo subclínicos

E3: 320 kg x 4,09 €/kg = 1.309 € Diferença: 51€ 51€ x 10 tratados/100

5,10 €/animal no lote

Custo de 11 dias a mais na engorda, com um custo de 1,60 €/dia (alimento, instalações, etc.), em 52% dos animais. Não se acrescenta o custo de oportunidade

11d x 1,6 €/d = 17,60 €/vitelo com SRB x 52 afetados/100 totais

9,15 €/animal no lote

Custo total da SRB sem vacinação para as pasteurellas

59 €/animal no lote

Nota: As estimativas são provavelmente conservadoras, já que os custos como a mão-de-obra não estão incluídos, nem os custos de oportunidade, etc.

056


Cálculo do impacto económico da SRB

Vacina inativada com Histophilus somni e leucotoxóide de Mannheimia SAÚDE E (Lkt) BEM-ESTAR | BOVINOS haemolytica em emulsão injetável para bovinos.

A PRIMEIRA E ÚNICA VACINA NA UE COM

HISTOPHILUS SOMNI DUPLA PROTEÇÃO CONTRA

A PNEUMONIA BACTERIANA

50% MENOS SINAIS CLÍNICOS

50% MENOS LESÕES PULMONARES

5 VEZES MENOR UTILIZAÇÃO DE ANTIBIÓTICOS

Consulte o seu médico veterinário para mais informações sobre a implementação de programas de vacinação contra a doença respiratória de origem bacteriana.

HIPRA PORTUGAL Portela de Mafra e Fontainha - Abrunheira · 2665-191 Malveira · Portugal Tel.: (+351) 219 663 450 · portugal@hipra.com · www.hipra.com

057


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GENÉTICA | CAPRINOS

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL A TEMPO FIXO

NESTE TRABALHO, FORAM AVALIADOS FATORES COMO A RAÇA DA FÊMEA, O TIPO DE SÉMEN (FRESCO OU DESCONGELADO) E O INTERVALO DE TEMPO ENTRE A COLHEITA DO SÉMEN E A SUA APLICAÇÃO A FRESCO, QUE PODEM SER RELEVANTES PARA A OBTENÇÃO DE UMA TAXA DE GESTAÇÃO MAIS ELEVADA, NUM GRUPO SUJEITO A UMA ÚNICA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL. 1

Por Luís Martins Esteves1, Pedro Silva Castro2, Isabela Alves Monteiro1, Patrícia Rodrigues Gonçalves2, João Chagas e Silva1* Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal | 2Barão & Barão, Lda., Benavente, Portugal | *Correspondência: nestorchagas@fmv.ulisboa.pt

A

inseminação artificial em caprinos, com recurso à manipulação do ciclo éstrico, é uma técnica que vai sendo cada vez mais utilizada e considerada pelos produtores, para melhorarem a produtividade dos seus efetivos. Na produção leiteira é de extrema importância que as fêmeas fiquem gestantes de forma a serem melhor rentabilizadas, tanto pela produção de leite, como pelos cabritos obtidos. Neste trabalho, foram avaliados fatores como a raça da fêmea, o tipo de sémen ( fresco ou descongelado) e o intervalo de tempo entre a colheita do sémen e a sua aplicação a

fresco, que podem ser relevantes para a obtenção de uma taxa de gestação mais elevada, num grupo sujeito a uma única inseminação artificial. Os resultados obtidos revelaram que o fator raça não teve qualquer efeito significativo na taxa de gestação (Fresco: Alpine - 62%, Saanen - 55%, Cruzadas - 54%, p>0,05; Descongelado: Alpine - 20%, Saanen 38%, Cruzadas - 33%, p>0,05). Porém, o tipo de sémen usado (sémen fresco - 58%; descongelado - 31%; p<0,05), e o intervalo de tempo entre a colheita do sémen e a IA (<1hora: 67%; >1hora: 51%; p<0,05), influenciaram significativamente a taxa de gestação. 058

INTRODUÇÃO Nos últimos anos, em Portugal, a intensificação da produção leiteira em caprinos tem vindo a aumentar, principalmente com recurso a raças exóticas. As raças Saanen e Alpine são as de maior expressão a nível das explorações leiteiras (Pardal et al., 2017). O incremento da produção, tanto a nível leiteiro, como na obtenção do produto secundário, que é o cabrito, tem como principal preocupação o desempenho reprodutivo dos efetivos (Pardal et al., 2017). Os produtores esperam uma produção leiteira eficiente e rentável ao longo do ano, sendo então de extrema


Inseminação artificial a tempo fixo

GENÉTICA | CAPRINOS

importância um bom controlo reprodutivo para que os nascimentos ocorram agrupados, facto que também ajuda nas necessidades fisiológicas e nutricionais dos animais (Fatet et al., 2011). A duração do ciclo éstrico da cabra é, em média, de 21 dias, podendo variar entre os 18 e os 22 dias (Bergstein-Galan et al., 2017). Estas fêmeas são animais de sazonalidade reprodutiva, facto que afeta a disponibilidade dos seus produtos ao longo do ano (Abecia et al., 2011; Fatet et al., 2011), embora a demanda se mantenha. O interesse no sub-produto cabrito sofre oscilações, sendo maior no Natal, Páscoa e Santos Populares, pelo que se procura fazer coincidir os partos com as épocas de maior procura. Para tal recorre-se ao uso de tecnologias reprodutivas, como a Inseminação Artificial (IA), para melhorar qualidade dos produtos e produtividade dos animais, principalmente em sistemas intensivos (Leboeuf et al., 2008; Candappa & Bartlewski, 2011). A reprodução em contra-estação pode ser alcançada com recurso a tratamentos hormonais, manipulação do fotoperíodo ou através do “efeito macho” (Abecia et al., 2011; Fatet et al., 2011). A IA apresenta diversas vantagens, tendo estas sido estudadas ao longo dos anos (Nuti, 2007). A indução e sincronização de estros também tem-se revelado vantajosa para os produtores (Cseh et al., 2012). A manipulação do ciclo reprodutivo das cabras apresenta três vantagens principais: (1) escolha dos nascimentos numa altura específica do ano, suprindo a demanda do mercado; (2) sincronização de nascimentos permitindo uma melhor otimização de recursos, em termos da racionalização da mão-de-obra e da melhoria do maneio neo-natal; (3) planeamento do melhoramento genético (Abebe, 2008; Leboeuf et al., 2008; Abecia et al., 2011; Fatet et al., 2011). Existem três métodos de IA possíveis: vaginal, intracervical e intrauterina (transcervical ou por laparoscopia) (Chemineau et al., 1991; Shipley et al., 2007; Abebe, 2008; Cseh et al., 2012). A seleção das fêmeas a inseminar é de extrema importância para se obter uma boa fertilidade e, com isso, sucesso produtivo. Devem ser tidos em linha de conta aspetos higio-sanitários, nutricionais, a idade, a condição corporal, o número de partos, lactações e eventuais problemas reprodutivos (Simões et al., 2008). Tratamentos hormonais com recurso

a progestagéneos (P4), gonadotrofina coriónica equina (eCG) e prostaglandinas (PGF2α) têm sido estudados e usados ao longo das últimas quatro décadas, permitindo uma sincronização de estro e ovulação, tanto durante a época reprodutiva, como em contra-estação (Abecia et al., 2011; Fatet et al., 2011; Omontese, 2018). A concentração espermática por dose seminal deve ter em consideração o local de deposição do sémen, bem como o método de processamento do mesmo (se fresco, refrigerado ou congelado) (Tsakmakidis, 2010). O sémen de bode quando diluído deve ser usado entre 8 a 10 horas após a colheita, pois está demonstrada uma quebra na fertilidade (por redução da motilidade e da integridade morfológica dos espermatozóides) entre 10-35%, por cada dia de refrigeração (Maxwell & Salomon, 1993; Salamon & Maxwell, 2000). A IA cervical é a mais indicada para a utilização de sémen fresco ou refrigerado, revelando uma taxa de gestação que oscila entre os 40-80% (Chemineau et al., 1991). Estudos realizados em ovinos, demonstraram que com sémen congelado a sua deposição deverá ser intrauterina para se obter uma taxa de gestação aceitável, isto é, de 6080% (Shipley et al., 2007). Os objetivos deste trabalho foram os de tentar avaliar se existia alguma relação entre as raças utilizadas (Alpine, Saanen e Cruzadas), o uso de sémen fresco ou congelado, o tempo entre a colheita do sémen e a inseminação artificial a fresco, e a fertilidade das fêmeas, após uma única IA a tempo fixo (IATF). MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da Exploração O presente trabalho foi realizado numa exploração caprina comercial de produção leiteira intensiva, localizada no concelho de Benavente (Latitude: 38.94° N, Longitude: -8.80° O), Portugal, entre agosto e outubro de 2019. Esta exploração tem recorrido à monta natural para a realização de três épocas de cobrição, duas das quais durante as épocas de reprodução fisiológicas (primavera e outono, nos países mediterrâneos) e uma em contraestação (verão), com a utilização de implantes de melatonina, contando com 500 animais na primeira época (contraestação), 700-800 animais na segunda época (outono) e 500-600, na terceira (primavera). O rácio macho:fêmea tem 059

A REPRODUÇÃO EM CONTRA-ESTAÇÃO PODE SER ALCANÇADA COM RECURSO A TRATAMENTOS HORMONAIS, MANIPULAÇÃO DO FOTOPERÍODO OU ATRAVÉS DO “EFEITO MACHO”

sido de 1:15 em contra-estação e de 1:20 com os cios naturais. Para serem admitidas para reprodução, as fêmeas nulíparas têm de ter entre 6 e 8 meses de idade e 60% do peso vivo adulto. Todas as fêmeas com diagnóstico de gestação negativo após 3 épocas de cobrição são refugadas. As multíparas mantêm-se em reprodução, em média, até à quarta lactação. Caracterização das Fêmeas Para os resultados agora obtidos foram utilizadas 152 fêmeas reprodutoras nulíparas com idades compreendidas entre os 7 e os 18 meses, das quais 68 eram da raça Alpine, 49 da raça Saanen e 35 cruzadas (Alpine com Saanen). Como dadores de sémen, foram utilizados 11 machos, 8 de raça Alpine (7 para sémen fresco e 1 para sémen congelado) e 3 machos Saanen (sémen congelado). Do total das fêmeas, 117 foram inseminadas com sémen fresco e 35 com sémen congelado. Sémen Fresco Todos os machos utilizados tiveram um exame andrológico satisfatório, antes de se iniciar o protocolo hormonal de sincronização de cios para a IA nas femeas (Gouletsou & Fthenakis, 2010; Tsakmakidis, 2010) e o sémen foi recolhido por eletroejaculação. Os parâmetros seminais mínimos considerados foram: Volume - 0,5 ml; Mobilidade massal – 2 (1 a 5); Mobilidade individual - ≥55%; Fluidez – serosa (aquosa a cremosa). A concentração de espermatozóides por dose seminal foi de 400×106 e o diluidor utilizado foi leite UHT magro. A avaliação dos ejaculados foi realizada em microscópio de contraste de fase dotado de platina térmica e o restante processamento do sémen fresco, em banho maria a 32ºC. Sémen Congelado O sémen congelado utilizado neste estudo foi importado de França (Capgenes, em mini-palhinhas francesas). O processo de descongelação foi


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TABELA 1 PLANIFICAÇÃO DO PROTOCOLO DE IATF Dia 0

Colocação dos CIDR

9

Intergonan + Estrumate

11

Remoção dos CIDR

13

IATF

FIGURA 1 ILUSTRAÇÃO DA TÉCNICA DE IA CERVICAL

realizado em banho-maria a 37ºC com a permanência da palhinha totalmente imersa, durante 30 segundos. Protocolo de Inseminação Artificial e Diagnóstico de Gestação Todas as inseminações, quer com sémen fresco, quer com sémen congelado, foram realizadas por via transvaginal e deposição cervical, com recurso a um espéculo vaginal previamente lubrificado com um gel não espermicida, uma cânula de inseminação e uma lanterna de bolso, contando com o auxílio de ajudante sentado numa cadeira e mantendo a fêmea presa entre os joelhos e com os membros posteriores elevados (Figura 1). O material utilizado para a IA foi adquirido à IMV Technologies (L’Aigle, França): cânula miniaturizada de IA para pequenos ruminantes, bainhas de IA esterilizadas, espéculo vaginal e o gel lubrificante não espermicida. Dos inúmeros protocolos de IATF descritos na literatura foi escolhido o seguinte: D0 – colocação do CIDR Ovis 0,35g (Zoetis, Portugal); D9 administração por via intramuscular de 300UI de eCG (Intergonan, MSD Animal Health, Portugal) e 50 µg de cloprostenol (Estrumate, MSD Animal Health, Portugal); D11 – remoção do CIDR; e D13 – IA (±45h). A planificação deste protocolo está ilustrada na Tabela 1. Os diagnósticos de gestação foram realizados pelo médico veterinário assistente da exploração entre os dias 45 e 60 pós-IA, por ultrassonografia transabdominal. Foi considerado diagnóstico negativo aquele que revelou ausência de estruturas embrionárias. Todos as técnicas executadas faziam parte do maneio reprodutivo normal da exploração, não tendo sido os animais sujeitos a intervenções inusitadas na realização do presente estudo (Figura 1). Análise Estatística O processamento dos dados foi feito com recurso ao software R (versão 3.6.3), através do qual foram realizadas regressões

logísticas com funções de modelo linear generalizado. Considerou-se uma associação estatisticamente significativa quando p<0,05. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a realização dos diagnósticos de gestação, 11 das 35 fêmeas sujeitas à IA com sémen congelado apresentaram um resultado positivo, assim como 68 das 117 que foram inseminadas com sémen fresco, resultando em taxas de gestação de 31% (11/35) e 58% (68/117) nas IA com sémen congelado e fresco, respetivamente. Todos os operadores que realizaram mais de 10 inseminações com sémen fresco obtiveram taxas de sucesso entre 54% e 70%, não tendo sido registada uma associação estatisticamente significativa entre o técnico e o resultado da inseminação (p>0,05), situações já anteriormente registadas por Chemineau et al. (1991). As fêmeas de raça Alpine, Saanen e cruzadas, foram avaliadas em relação à taxa de gestação quando inseminadas com sémen fresco: nas Alpine, ela foi de 060

62% (36/58), nas Saanen de 55% (18/33) e nas cruzadas de 54% (14/26). Nas IA com sémen congelado, a taxa de gestação obtida foi de 20% (2/10) nas Alpine, 38% (6/16) nas Saanen e, 33% (3/9) nas cruzadas, não se registando qualquer associação estatisticamente significativa (p>0,05). Foram comparadas igualmente, as taxas de gestação quanto ao tipo de sémen usado ( fresco ou descongelado) e foram apenas consideradas as inseminações efetuadas por um único técnico que obteve uma taxa de gestação de 69% (11/16) com sémen fresco e de 31% (11/35) com sémen congelado, o que revelou uma forte associação estatística com p=0,013, ou seja, com significância (p<0,05), com 4,8 para o “odds ratio” do sémen fresco em comparação com o sémen congelado e com intervalos de confiança de 95%, entre 1,34 e 17,19. Tudo isto significando que, nas mesmas condições, seria de se esperar que uma IA com sémen fresco teria uma hipótese 4,8 vezes mais elevada de resultar em gestação do que a IA com sémen congelado. Esta diferença de resultados entre a utilização de sémen fresco e congelado é consequência das alterações que os espermatozóides sofrem durante o todo o processo de congelaçãodescongelação, que culminam numa menor sobrevivência no trato genital feminino (Nuti, 2007; Parkinson, 2009). A última análise realizada teve como objetivo o estudo da influência do tempo entre a colheita do sémen e a realização da IA. Para tal, as inseminações realizadas foram separadas por 2 classes: com um tempo inferior a 1 hora (Grupo A) e, com um tempo superior a 1 hora (Grupo B). No Grupo A ficaram as IA que ocorreram entre os 21 e os 59 minutos, após a colheita do sémen e registaram-se 57 inseminações, 38 das quais resultaram em gestação, tendo sido obtida uma taxa de gestação de 67% (38/57). Por seu turno, no Grupo B ficaram as IA que ocorreram entre os 63 e 121 minutos após a colheita, com 59 inseminações, 30 das quais resultaram em gestação, tendo sido registada uma taxa de gestação de 51% (30/59), o que veio a revelar uma relação estatisticamente significativa (p<0,05) e um valor de 2,0 para o “odds ratio” do grupo A em relação ao Grupo B, com um intervalo de confiança de 95%, entre 1,15 e 3,47. Estes resultados revelam que seria de esperar que a hipótese de sucesso de uma IA que ocorra nos primeiros 60 minutos após a colheita do sémen seja duas vezes mais elevada do que se vier a acontecer após os 60 minutos


Inseminação artificial a tempo fixo

GENÉTICA | CAPRINOS

GRÁFICO 1 RELAÇÃO ENTRE OS GRUPOS INSEMINADOS COM SÉMEN FRESCO (AMENOS DE 1H ENTRE A COLHEITA E A IA; B- MAIS DE 1H ENTRE A COLHEITA E A IA) E O DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO

DG Gestação

0,7

0,6

0,5

0,4 A

CLASSE

B

(Gráfico 1). Esta influência negativa do intervalo de tempo após colheita está relacionada com uma diminuição do pH do sémen diluído por acumulação de ácido láctico, por ação da atividade metabólica dos espermatozóides (Hahn et al., 2019). Esta acidificação do sémen causa danos à membrana plasmática e leva a morte dos espermatozóides (Latif et al., 2005). Este efeito negativo do pH, que se vai tornando mais evidente com o tempo, pode ter sido acelerado pelo facto de a colheita do sémen ter sido realizada por eletroejaculação que, nos bodes, faz com que o sémen recolhido apresente um pH mais baixo em comparação com o obtido por vagina artificial (Bopape et al., 2015). Num meio de pH ácido, a motilidade dos espermatozóides é afetada e, como sabemos, ela é uma das características mais importantes associada à sua capacidade de fertilização (Latif et al., 2005; Tsakmakidis, 2010). CONCLUSÕES Não foi registada qualquer associação estatisticamente significativa entre a raça da fêmea e a taxa de gestação.

061

No entanto, a IA com sémen fresco afetou positivamente a taxa de gestação, quando comparada com a utilização do sémen congelado. O intervalo de tempo entre a colheita do sémen e a IA também demonstrou afetar o sucesso da técnica. No presente trabalho, foi registada uma associação estatisticamente significativa e positiva entre um intervalo inferior a uma hora e uma taxa de gestação mais elevada. Estes resultados sugerem que a aplicação do sémen fresco diluído deva ser feita o mais próximo possível do momento da colheita, por força da deterioração da sua qualidade ao longo do tempo. Agradecimentos Ao Prof. Telmo Nunes, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa pela ajuda na análise estatística dos dados. Ao Sr. António Barão Gomes pela cedência dos animais e infra-estruturas necessários à realização dos trabalhos. Bibliografia Contactar o autor através do email: nestorchagas@fmv.ulisboa.pt


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SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS

AVALIAR A VITALIDADE DO VITELO RECÉM-NASCIDO

NESTE ARTIGO, PROPOMOS REVER DE UMA FORMA RESUMIDA OS SINAIS QUE NOS PODEM AJUDAR A DETERMINAR O ESTADO DE VITALIDADE DE UM VITELO NOS MOMENTOS APÓS O NASCIMENTO. SE É APENAS UMA QUESTÃO DE TEMPO ATÉ O ANIMAL VIR A ASSUMIR O COMPORTAMENTO NATURAL, OU SE ESTAMOS NA PRESENÇA DE SITUAÇÕES POTENCIALMENTE FATAIS.

M

uitas vezes, tanto produtores como médicos-veterinários, somos confrontados com vitelos recém-nascidos com uma atitude e um comportamento que fazem suspeitar que se estará a desenvolver algum processo mórbido ou que existe uma disfunção grave. Este estado de debilidade está quase sempre associado a partos difíceis, a que foi prestada assistência, ou não, dos quais resultou um sofrimento prolongado do feto. A causa para uma ressuscitação mais lenta ou mais atípica pode ser simples e passageira, ou pode ser muito crítica, ou mesmo fatal. Diversos graus de hipoxia (deficit de oxigenação dos órgãos, incluindo do sistema nervoso central), de acidose (redução do pH do sangue), de

dor devido a traumas sofridos no parto, de carências nutricionais que já vinham da gestação, ou de defeitos congénitos… todos podem justificar um estado mais ou menos comatoso do vitelo no pós-parto. O impacto deste estado de baixa vitalidade tem consequências imediatas e a longo prazo. As causas da baixa vitalidade podem conduzir, só por si, à morte mas, mais frequentemente, podem atrasar ou evitar que o vitelo se levante e vá mamar, ou que beba o leite fornecido por tetina. Daqui poderá resultar uma falta de aporte energético e uma menor ingestão de imunoglobulinas fornecidas pelo colostro e, por isso, uma maior suscetibilidade a doenças infeciosas. Além disso, por não se levantar e seguir a mãe, a cria poderá vir a ser rejeitada por esta. Neste artigo propomos rever, de uma 062

forma resumida, os sinais que nos podem ajudar a determinar o estado de vitalidade de um vitelo nos momentos após o nascimento – se é apenas uma questão de tempo até o animal vir a assumir o comportamento natural, ou se estamos na presença de situações potencialmente fatais. A deteção, a leitura e a interpretação correta destes sinais, o mais precocemente possível, podem fazer uma grande diferença. Podem evitar o adiamento de intervenções, incluindo o pedido de ajuda competente que poderá salvar a vida do recém-nascido. Muitas destas situações são autênticas emergências médicas, e o mais pequeno atraso no seu tratamento pode conduzir a lesões irreversíveis e à morte. Antes de iniciar a apresentação de quais são os sinais de boa ou de deficiente


Avaliar a vitalidade do vitelo recém-nascido

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS

TABELA 1 CRITÉRIOS BASEADOS NA ESCALA DE APGAR PROPOSTA POR BORN (1981) PARA AVALIAR A VITALIDADE DE VITELOS RECÉM-NASCIDOS Critérios a avaliar

GEORGE STILWELL Médico Veterinário Faculdade Medicina Veterinária Universidade de Lisboa stilwell@fmv.ulisboa.pt

vitalidade, devemos considerar dois pontos: - este processo de avaliação pressupõe que o observador conhece o comportamento normal de um bovino recém-nascido. Se tal não for o caso, é muito mais provável que surjam falsos negativos, ou seja, vitelos que precisariam de ser melhor observados, mas são considerados normais por deficiente avaliação. Quando finalmente são identificados… já é tarde. O contrário também pode acontecer, mas é menos grave. - o processo também exige que o observador saiba recolher corretamente os sinais, quer seja através de exame físico, quer seja por observação direta. Por exemplo, saber auscultar o coração ou avaliar as mucosas, é essencial. COMO AVALIAR A VITALIDADE DE UM RECÉM-NASCIDO Primeiro que tudo, temos de saber definir o que é vitalidade num animal que acabou de passar por uma experiência bastante traumatizante como um parto. Temos de perceber o que esperar a cada momento do pós-parto e conhecer as diferenças que podem existir entre espécies, entre raças, entre sexos, entre tamanhos (vitelos muito grandes são normalmente mais lentos a mostrar sinais de vitalidade), entre tipos de partos ( fáceis ou difíceis, cesarianas), etc… Um dos primeiros esquemas de avaliação e classificação metódicos da vitalidade do recém-nascido nasceu na pediatria humana. O sistema mais conhecido é o da Escala ou Índice de Apgar, que foi desenvolvido por uma médica americana de nome Virginia Apgar. A sigla não só serve para homenagear a sua criadora, mas também é uma espécie de mnemónica que nos guia e sistematiza a avaliação clínica do bebé. Assim temos que APGAR corresponde a Appearance,

Pontuação 0

1

2

Força muscular (cabeça erguida, tentativa para se levantar e reação à água fria sobre o corpo)

Ausente

Diminuída

Ativo. Reação imediata

Reflexo interdigital e palpebral

Ausente

Reação ligeira e lenta

Reação imediata aos dois estímulos.

Cor das mucosas

Branca- azulada

Azulado

Rosa - vermelha

Respiração

Ausente ou muito diminuída

Arrítmica

Frequência, ritmo e tipo (torácico) normal

Pulse, Grimace, Activity, Respiration, que em português significa Aparência, Pulso, Expressão facial, Atividade, Respiração. Cada um destes indicadores é classificado segundo uma lista de critérios em 3 graus sendo que pontuação 0 indica uma situação potencialmente grave, 1 é uma intermédia e 2 corresponde a um quadro normal. Assim, a pontuação final vai de 0 a 10, sendo que uma classificação muito baixa exige cuidados imediatos e especializados. Por exemplo, se uma criança apresentar pouco depois do parto uma classificação de 6 deverá ser bem vigiada e a avaliação renovada a cada 5 minutos. Apesar desta escala se basear nalguns indicadores bastante subjetivos, a formação, o treino e a experiência reduzem muito a variabilidade das classificações e é, por isso, possível comparar pontuações efetuadas por pessoas diferentes e em momentos diferentes. COMO AVALIAR A VITALIDADE DE UM BOVINO RECÉM-NASCIDO Tomando a ideia dos pediatras como boa (afinal, os médicos-veterinários têm as mesmas dificuldades em obter informações diretamente dos seus pacientes, como os pediatras), têm sido estudadas, desenvolvidas e propostas diversas variantes para avaliar os problemas dos vitelos após o parto. Qualquer que seja a origem, o destino é o mesmo – garantir um processo de avaliação o mais completo e objetivo possível, sem, no entanto, ser demasiado complexo. Uma das primeiras tentativas de estruturar os critérios a avaliar consideravam os indicadores que apresentamos na Tabela 1. Mais recentemente a Universidade de Guelph (Canadá) desenvolveu um sistema de avaliação a que chamaram Escala 063

VIGOR para vitelos (Tabela 2), que, à semelhança da Escala de Apgar, também serve de mnemónica - Visual appearance, Initiation of movement, General responsiveness, Oxygenation, and heart and respiration Rates, ou seja, Aparência Visual, Início de Movimento, Reação Geral, Oxigenação, e Frequência cardíaca e respiratória. Devemos relembrar que para classificar estes critérios, teremos de proceder a um bom exame físico, incluindo uma cuidadosa auscultação cardíaca e pulmonar e a observação das mucosas.

TABELA 2 ESCALA VIGOR, DESENVOLVIDA HÁ POUCOS ANOS PELA UNIVERSIDADE DE GUELPH


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REVISTA RUMINANTES

TABELA 3 IMAGEM DA APLICAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE WISCONSIN, ONDE SE VÊ OS CRITÉRIOS COM UM CURSOR ASSOCIADO E AINDA OS QUADRADOS COLORIDOS PARA CLASSIFICAÇÃO DAS MUCOSAS

Cada critério é classificado de 0 a 3 (alguns de 0 a 2), de forma a chegar a uma classificação total que nos diz se devemos entrar em alerta e proceder a um exame médico mais completo ou aplicar urgentemente medidas terapêuticas, ou se estamos perante um caso ligeiro e com bom prognóstico (Tabela 2, página anterior). Ainda mais recentemente, a Universidade de Wisconsin resolveu pegar na Escala VIGOR e adaptá-la a uma aplicação para telemóveis de forma a facilitar a avaliação e a armazenagem de informação. Nesta app, que pode ser consultada neste site https://www. vetmed.wisc.edu/fapm/svm-dairyapps/calf-vigor-scorer/, quase todos os indicadores passam a ser classificados numa escala contínua arrastando um cursor ao longo de uma linha (a cor das mucosas é classificada selecionando o quadrado colorido mais próximo do caso real). Este tipo de classificação, designada por Escala Visual Analógica, permite uma maior sensibilidade para casos intermédios (Tabela 3). Como se vê, existem várias formas e feitios para tentar chegar ao mesmo objetivo – perceber se o vitelo precisa de cuidados médicos, de métodos adicionais de ressuscitação ou se está a evoluir bem na sua boa recuperação do parto. Perceber isto é essencial, não só para salvaguardar o bem-estar do animal, mas porque permite salvar vidas ou, pelo contrário, poupar despesas com tratamentos desnecessários. Deixo mais uma sugestão (Tabela 4),

mais extensiva e detalhada, mas nem por isso mais complicada. Nesta, já não se pretende obter uma classificação final que desencadeia uma resposta, mas apontar os sinais que, mesmo de forma individual e isolada, podem fazer soar o alarme. Aliás, esta última forma de avaliar a vitalidade do vitelo recém-nascido foi um dos temas eleitos para ser apresentado a grupos de produtores e médico-veterinários em sessões práticas ao vivo a decorrer em Portugal, França, Irlanda e Alemanha, e que será filmada para ser depois disseminada através da internet. A organização e divulgação destas sessões demonstrativas de boas práticas ou de inovações, faz parte das incumbências do projeto BovINE - Beef Innovation Network Europe, de que a revista Ruminantes é também parceira. A partir de abril ou maio deverá ser possível aceder ao repositório de conhecimento do projeto (https://hub. bovine-eu.net/) e rever os conceitos apresentados neste artigo. CONCLUSÃO Em resumo, uma avaliação cuidada de certos parâmetros de saúde e de comportamento em vitelos recémnascidos, permite detetar problemas a tempo para serem convenientemente resolvidos. Esta avaliação deve ser sistemática e metódica e, por isso, usar uma escala cientificamente validada será a melhor forma de se obter um resultado fidedigno. Para bem do animal e do sucesso dos produtores.

TABELA 4 CRITÉRIOS QUE PODEM AJUDAR A IDENTIFICAR VITELOS COM FRACA VITALIDADE E POR ISSO COM NECESSIDADE DE CUIDADOS IMEDIATOS (ADAPTADO DE MEE, 2008) Critério

Boa vitalidade

Fraca vitalidade

Respiração

50-75 bpm e respiração torácica

Apneia primária ou respiração irregular e abdominal. Vocalização. Arfar

Estado do pelo

Molhado com líquido fetal

Alaranjado, por presença de mecónio no líquido fetal

Edemas periféricos

Ausentes

Edema da cabeça, lingual ou das extremidades

Mucosas

Rosadas. TRC normal

Cianótica (azuladas). TRC lenta.

Reflexos

Reflexos palpebral, de sucção e interdigital evidentes. Agita cabeça.

Ausência ou fraca resposta

Tonicidade muscular

Ativo e cabeça levantada poucos minutos pp

Inativo e musculatura flácida

Frequência cardíaca

100-150 bpm e regular

>150 bpm seguindo-se bradicardia (<80 bpm) e irregular

Temperatura rectal

39-39,5°C após o parto reduzindo-se para 38,5-39°C após 1 hora pp

39,5-40°C após o parto reduzindo-se para <38,5°C após 1 hora pp

Decúbito esternal

Consegue até 5 minutos

Decúbito lateral prolongado

Tentativa de levantar

Tentar levantar até 15 minutos pp. Em estação até 1 hora

Atrasada ou ausente

Sucção

Começa antes das 2 horas

Atrasado ou ausente

bpm – batimentos por minute; pp – postpartum; TRC – tempo de repleção capilar

064


Aber tura fácil

Avaliar a vitalidade do vitelo recém-nascido

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS

Compensa as perdas de água e eletrólitos

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Juntámos o que precisa com o que faltava no COMBATE DA DESIDRATAÇÃO CAUSADA PELA DIARREIA

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Alimento complementar dietético para vitelos. Em caso de risco e durante os períodos de anomalias digestivas (diarreia) ou convalescença das mesmas. Objetivo nutricional específico: Estabilização do equilíbrio hídrico e eletrolítico para apoiar a digestão fisiológica. Características nutricionais essenciais: Principalmente electrólitos e hidratos de carbono facilmente digeríveis. Composição: Dextrose 39,0%, Acetato de sódio, Cloreto de sódio, Cloreto de potássio. Constituintes analíticos: Proteína bruta 0%, Fibra bruta 0%, Matéria gorda bruta 0%, Cinza Bruta 22,0%, Sódio 7,1%, Potássio 2,6%, Cloretos 5,3%, Humidade 51%. Modo de utilização: Administrar 1 frasco monodose de Glutellac (50 ml) misturado no leite, leite de substituição, água ou diretamente na boca do animal duas vezes ao dia, por um período de 1 a 7 dias. Recomenda-se a consulta a um veterinário antes da utilização e do prolongamento do período de utilização. Peso líquido: 50 ml. Fabricante: αDE-BY-1-00022. Elanco AH Portugal, Unipessoal, Lda. Amoreiras Plaza, Rua Carlos Alberto da Mota Pinto, n.º 9, Piso 4, 1070-374 Lisboa, Portugal. NII αPT5AA07218 065 A cor da solução pode variar de incolor a amarelo acastanhado sem que isto afete as características do produto. PM-PT-21-0053 Elanco e a barra diagonal são marcas registadas da Elanco ou das suas filiais.. Glutellac é uma marca registada licenciada à Elanco e às suas filiais.


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REVISTA RUMINANTES

Holstein

Viking Red

ProCROSS Montbéliarde

GENÉTICA | VACAS DE LEITE

3 GERAÇÕES DE CRUZADAS

NO SEGUIMENTO DO ARTIGO PUBLICADO NO NÚMERO ANTERIOR DA RUMINANTES, FOCAMO-NOS NUMA ANÁLISE COMPARATIVA DA VIDA PRODUTIVA E RENDIMENTO DIÁRIO DURANTE A VIDA, E RENTABILIDADE, DAS VACAS CRUZADAS HOLSTEIN X VIKING RED X MONTBÉLIARDE, E DAS SUAS COMPANHEIRAS DE REBANHO PURAS HOLSTEIN. Por A.R. Hazel, B.J. Heins, L.B. Hansen, “Herd life, lifetime production, and profitability of Viking Red-sired and Montbéliarde-sired crossbred cows compared with their Holstein herdmates,” Journal of Dairy Science, 2021. https://authors.elsevier.com/a/1cPvq50bFVpvq

O ensaio que suporta as conclusões a seguir apresentadas, publicado no Journal of Dairy Science (JDS) no passado mês de março, intitula-se “Herd life, lifetime production, and profitability of Viking Redsired and Montbéliarde-sired crossbred cows compared with their Holstein herdmates” e foi realizado pela Universidade do Minnesota. Neste ensaio, que teve a duração de 10 anos, comparou-se o desempenho da raça Holstein pura (HO), com o de um cruzamento de duas e três raças baseado nas raças Holstein, Montbéliarde (MO) e Viking Red (VR). Essas três raças foram consideradas altamente complementares e, desde então, têm sido utilizadas no desenvolvimento dum programa estruturado de cruzamento de três raças comercializado sob a marca ProCROSS. A principal autora do relatório, a investigadora Amy Hazel, trabalhou com os

colegas Brad Heins e Les Hansen durante o ensaio, inscrevendo 3.550 vacas Holstein em 2008, que foram mantidas nos seus rebanhos comerciais, quer cruzadas quer puras. Este foi o maior teste já realizado para avaliar os benefícios do cruzamento numa situação comercial e através dum programa de reprodução altamente estruturado e de longa duração. O relatório final do ensaio referido concluiu que o gado leiteiro cruzado que combina as raças Holstein, Montbéliarde e VikingRed apresenta um lucro por dia de vida de + 0,28 € comparativamente com o Holstein puro. Os fatores que levaram à melhoria da rentabilidade foram numerosos, mas podem ser resumidos na redução de 4% nos seus custos de produção, contrabalançada 066

por uma pequena redução na receita diária de apenas 1%. Isso aumentou a rentabilidade diária das cruzadas em 9% (0,28 €). Este relatório é o terceiro de uma série a ser publicada a partir de um estudo de cruzamentos de 10 anos realizado pela Universidade de Minnesota. Uma ampla gama de parâmetros de desempenho foi investigada em milhares de vacas no estudo, incluindo a produção de leite, gordura e proteína, tempo de vida, fertilidade e uma série de características de saúde e maneio. O desempenho das vacas cruzadas foi publicado periodicamente nos últimos 18 meses, mas foi somente em março passado que o resultado da rentabilidade global foi publicado (JDS 104: No 3, 2021). Não obstante, as vantagens das vacas cruzadas foram observadas pelos


PROGRAMA DE CRUZAMENTOS DE 3 RAÇAS CIENTIFICAMENTE JÁ PROVADO 3 gerações de cruzadas

GENÉTICA | VACAS DE LEITE

+33

%*

LUCRO DE VIDA PRODUTIVA

VIKINGRED

PARTO FACIL LONGEVIDADE SAUDE

+10PTS PONTOS NA TAXA DE CONCEÇÃO

-26%

DE CUSTOS DA SAÚDE

+8%

DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR

ROBUSTEZ FERTILIDADE ADAPTABILIDADE MONTBELIARDE

PRODUÇÃO SÓLIDOS TAMANHO MÉDIO

+147

DIAS EM PRODUÇÃO

+14% VALOR DE REFUGO

VIKINGHOLSTEIN Fonte : Estudo de 10 anos de comparação de animais ProCROSS com as puras Holstein, pelo Professor Les Hansen da Universidade do Minnesota. * Para mais informação : www.ansci.umn.edu/sites/ansci.umn.edu/files/procross_10-year_study_results_kg_new.pdf

Os touros VikingRed, Montbeliarde e VikingHolstein estão disponíveis no nosso distribuidor 067 “Villa Mós” - Lapa - 2665-617 Venda do Pinheiro - Portugal Ugenes-Unipessoal,Lda - Rua da Portela Email: carlosserra@unigenes.com - Telf: +351 917 534 617


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REVISTA RUMINANTES

CRUZADAS GANHAM 0,28€ A MAIS POR DIA DE VIDA

3 O relatório final foi publicado a partir de um grande estudo de 10 anos, comparando gado cruzado e Holstein. 3 O lucro diário é 0,28 € mais elevado para as vacas Holstein x Montbéliarde x Viking Red (agora ProCROSS). 3 O lucro extra reflete os custos reduzidos de -4% das cruzadas, com uma redução da receita de apenas -1%. 3 O lucro mais elevado foi mais influenciado por menores custos de saúde e reposição, além dum maior valor do vitelo. 3 O rendimento diário na vida do animal foi apenas 1% mais baixo para o ProCROSS, em comparação com a Holstein pura. 3 A vida do rebanho ProCROSS foi 147 dias (4,8 meses) mais longa do que a do rebanho Holstein. 3 A gordura e a proteína durante a vida representaram + 346 kg, e a rentabilidade durante a vida foi 33% maior para as vacas ProCROSS.

participantes muito antes de o ensaio com sete rebanhos ter obtido as suas conclusões. De facto, relatórios positivos do cruzamento de raças de vários produtores de leite foram suficientes para desencadear o lançamento duma empresa de produção comercial internacional em 2014, usando as três raças envolvidas. Este programa é atualmente comercializado como ProCROSS pela VikingGenetics e pela Coopex Montbéliarde que forneceram a genética para o estudo. Este programa de melhoramento

RESUMO DAS DIFERENÇAS DAS CRUZADAS COM AS SUAS COMPANHEIRAS DE REBANHO HOLSTEIN

305 dias gordura + proteina

Geração 1

Geração 2

2%

-3%

Gordura diária + proteina

1%

-1%

Nado-mortos no primeiro parto

-4%

-3%

Taxa de conceção à 1ª inseminação

7,30%

8,70%

Dias em aberto

-12%

-16,50%

Custo dos tratamentos com a saúde

-23%

-17%

Perdas por mortalidade

-4%

-4,20%

Dias no rebanho

+158

+147

Lucro diário

+13%

+9%

ProCROSS está a ganhar espaço no Reino Unido, e em todo o mundo, devido à natureza complementar das três raças. Amy Hazel, principal autora do relatório JDS, diz: “As raças utilizadas no ensaio têm uma grande complementaridade: a Holstein oferece características de produção e úbere; a Montbéliarde traz fertilidade, condição corporal e força; e a VikingRed aporta características de parto, saúde do úbere e fertilidade. Além disso, as três raças são complementares em estatura, ajudando a trazer uniformidade de tamanho e facilidade de maneio. ” Acrescentou ainda: “Para garantir uma comparação justa no estudo, era importante que usássemos a melhor genética disponível para cada uma das raças de touros, incluindo a Holstein pura.” Heterose Outro fator que contribui para o sucesso do cruzamento de três raças é o fenómeno da heterose, também conhecido como vigor híbrido. Este confere melhor desempenho à descendência de animais não aparentados, do que o esperado, a partir dos índices de reprodução médios dos pais. “O vigor híbrido é mantido em torno de 86% num programa de cruzamento de raças”, diz Hazel. Todos esses fatores se refletiram na performance dos animais, no estudo, com melhoria da saúde, fertilidade e expectativa de vida, contribuindo no seu conjunto para os custos reduzidos de produção nos animais ProCROSS. De acordo com Amy Hazel, “O menor custo de reposição, o menor custo de tratamento de saúde, o maior valor dos vitelos, e das vacas no fim da vida produtiva, foram os três itens de receita e despesa com maior influência que levaram

Custos de substituição

+

+9% Lucro diário

Custos com a saúde

+33% Lucro vitalício

+ Valor dos vitelos

068

à maior rentabilidade das vacas ProCROSS. “A produção vitalícia de gordura mais proteína foi maior para as vacas ProCROSS do que para as suas companheiras de rebanho Holstein, o que não surpreendeu devido à sua vida de rebanho mais longa”, referiu Hazel. No entanto, o rendimento diário ao longo da vida, de gordura mais proteína (analisado separadamente do estudo JDS), foi de 2,537kg/dia para a ProCROSS, somente 1% mais baixo do que 2,554 kg/dia que a Holstein. Se consideramos a vida de rebanho mais longa (mais 147 dias) e a maior produção durante a vida (+346kg de gordura mais proteína), a rentabilidade no tempo de vida do ProCROSS foi 33% maior. “Esta medida é uma consideração importante para rebanhos em expansão”, disse Hazel. “No entanto — acrescentou— o aumento do lucro diário de +9% é uma medida mais apropriada, do que o aumento da rentabilidade vitalícia de +33% das vacas ProCROSS para a maioria dos rebanhos leiteiros comerciais que, normalmente, têm uma capacidade finita de vacas”, diz ela. Uma vantagem adicional das vacas cruzadas não foi medida neste estudo em particular, mas foi documentada num ensaio separado, explica Hazel: “As cruzadas e as suas companheiras de rebanho Holstein, de cada exploração comercial, foram agrupadas em estábulos e a ingestão de ração não pôde ser recolhida para cada vaca do nosso ensaio”. No entanto, um estudo separado realizado na universidade, em 2019, monitorizou a ingestão de ração e observou uma melhoria de até +8% na eficiência de conversão alimentar em gado ProCROSS, em comparação com as suas companheiras de rebanho Holstein. “Se aplicarmos esses resultados ao custo da alimentação durante a lactação das vacas no nosso estudo, percebemos que o aumento do lucro diário das vacas ProCROSS sobe de 0,28€ para 0,54€ em comparação com as suas companheiras de rebanho Holstein,” disse a investigadora. “Numa época em que devemos olhar com atenção para os recursos usados, bem como para os custos de produção de qualquer alimento humano, estas são considerações importantes”, diz Hazel. E conclui: “Produzir aproximadamente a mesma quantidade de leite, gordura e proteína com menos recursos, com menos intervenções para manter a saúde e a fertilidade e gastando potencialmente menos alimento, é uma vantagem importante neste gado cruzado.”


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Os dados recebidos do alimentador podem facilitar a REVISTA RUMINANTES

observação dos vitelos mas, ainda assim, é necessária mão-de-obra qualificada para ajudar no diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças.

EQUIPAMENTO | VITELOS

ALIMENTADORES AUTOMÁTICOS DE VITELOS

O ALIMENTADOR AUTOMÁTICO DE VITELOS É UMA TECNOLOGIA QUE PODE MUDAR TOTALMENTE O PROGRAMA DE CRIAÇÃO, MAS REPRESENTA UM INVESTIMENTO FINANCEIRO ELEVADO. NESTE ARTIGO APRESENTAM-SE ALGUNS PRÓS E CONTRAS A CONSIDERAR ANTES DE TOMAR A DECISÃO.

N

ovas tecnologias continuam a aumentar a nossa capacidade de alimentar, gerir e monitorizar o gado leiteiro. Uma das mais recentes são os alimentadores automáticos de vitelos. Embora já existam há mais de uma década, só recentemente foram amplamente adotados nas explorações de leite, em todo o mundo. Existem muitas marcas de alimentadores automáticos, mas o seu objetivo é o mesmo: permitir que os vitelos consumam mais leite, no seu próprio horário, sem necessitarem de um ser humano para se conseguirem alimentar. PRÓS E CONTRAS A decisão de instalar e utilizar um

alimentador automático de vitelos não deve ser tomada de ânimo leve, pois o investimento financeiro envolvido pode ser elevado. Alguns prós e contras devem ser considerados, como se mostra na tabela 1. Os comedouros automáticos para vitelos permitem que os animais tenham uma dieta mais "natural", consumindo mais leite ou um substituto do leite do que normalmente fariam numa exploração leiteira, nos seus próprios horários. Esse aumento na ingestão de leite pode aumentar a taxa de crescimento, o que se mostrou positivamente associado à produção de leite na primeira lactação. No entanto, também vai aumentar os custos da alimentação. Além destes, deve ser considerado o custo de investimento 070

no alimentador. O investimento inicial pode ser recuperado pelo aumento do desempenho na lactação e pela vantagem decorrente da grande quantidade de dados fornecidos que vai ajudar na tomada de decisões informadas. Uma ideia errada sobre os alimentadores automáticos de vitelos é que a sua instalação irá diminuir o trabalho. Se a redução da-mão-de obra for o principal motivo para a instalação de um alimentador automático, essa tecnologia pode não ser a abordagem certa para determinadas explorações. É verdade que menos tempo estará envolvido na alimentação dos vitelos. Porém, esse tempo será substituído por aquele que é gasto na limpeza das diferentes partes do alimentador e na observação dos animais


Alimentadores automáticos de vitelos

EQUIPAMENTO | VITELOS

ADAM GEIGER Nutricionista de vacas de leite Global Technical Services, Dairy and Colostrum, Zinpro Corporation AGeiger@zinpro.com

para deteção de possíveis sinais de doença. Os dados recebidos do alimentador podem facilitar a observação dos vitelos mas, ainda assim, é necessária mão-de-obra qualificada para ajudar no diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças. A instalação de um alimentador automático não diminui o trabalho no viteleiro, mas transfere-o para outros aspetos. PRÓS E CONTRAS NO PRECONDICIONAMENTO A maioria dos vitelos não estão prontos para utilizar um alimentador automático no dia em que nascem. Os vitelos devem ser precondicionados antes de serem introduzidos ao alimentador. Um bom programa de precondicionamento inclui os cinco fatores a seguir: Colostro – Uma correta gestão do colostro é obrigatória para vitelos criados com comedouro automático. Como os bezerros serão alojados em grupos, necessitam da imunidade fornecida pelo colostro para ajudar a prevenir a disseminação de doenças. Leite de transição e rações de alta qualidade - Considere alimentar os bezerros com leite de transição, se possível, para melhorar ao máximo a sua condição imunológica, antes de serem introduzidos no alimentador automático.

Não corte custos nas rações. Se investir num alimentador automático, certifique-se primeiro do que está na base do mau desempenho: se a dieta, líquida ou sólida, ou se o método de alimentação. Dieta sem alterações - Não altere a dieta de leite, ou de concentrado, da fase de precondicionamento quando introduzir os vitelos no alimentador. Isso aumentará o stress e a probabilidade de ocorrência de doenças. Tempo - Os vitelos precisam de tempo para aprenderem a beber o leite antes de serem introduzidos ao alimentador. Se a introdução for demasiado cedo, levarão mais tempo a aprender como usar o alimentador e terão quebras no ganho de peso, na ingestão de leite e no estado geral de saúde. Recomenda-se precondicionar os vitelos durante, pelo menos, 5 a 7 dias antes da introdução ao alimentador. O requisito mínimo é que os animais tenham desenvolvido uma boa sucção. Treino - os vitelos precisam de ser treinados antes de serem introduzidos ao alimentador automático. O segredo é fornecer orientação ao animal, sem fazer tudo por ele, para que possa aprender a ser autónomo. Os alimentadores automáticos de vitelos possuem uma série de recursos exclusivos que tornam o seu uso ideal e justificam o investimento. Os identificadores RFID (Radio Frequency Identification) permitem que os animais sejam monitorizados e observados individualmente, bem como estabelecer planos personalizados para

vários grupos de animais com diferenças no tamanho da refeição e na distribuição diária do alimento. O alimentador também mistura continuamente o substituto do leite à medida que os bezerros bebem, em pequenas porções, para garantir que o leite fresco seja sempre bebido e não fique em repouso por longos períodos de tempo. HIGIENIZAÇÃO DOS ALIMENTADORES Uma das maiores mudanças no trabalho no que se refere aos alimentadores automáticos para bezerros refere-se à limpeza e à higienização dos mesmos. Para se conseguirem bons resultados continuadamente, deve ser dedicado um tempo significativo à limpeza. Devem ser verificados os seguintes pontos: 1. Limpeza das tetinas - Alguns modelos de alimentadores vêm com lavagem automática das tetinas entre a entrada de cada vitelo. Independentemente deste processo, as tetinas devem ser regularmente removidas, limpas e substituídas. É ideal dispor sempre de um conjunto sobressalente de tetinas limpas. Cada vez que uma tetina for recolocada, gire-a 90 graus para evitar que fique comprimida. As tetinas devem ser limpas/substituídas 2 a 4 vezes por dia. 2. Limpeza do misturador - A limpeza do misturador é um processo automático presente em muitas marcas de alimentadores automáticos. Pode ser programada para ocorrer em determinados momentos ao longo do dia, para garantir o mínimo de interferência no comportamento de alimentação dos vitelos. Deve ser feita 4 vezes por dia. 3. Limpeza do circuito - Este é um processo de limpeza manual semelhante ao que se faz numa sala de ordenha. Deve ser realizado pelo menos uma vez por dia. A falta de limpeza do circuito é um problema comum nas explorações que leva a problemas na saúde e no desempenho dos vitelos. 4. Substituição de tubagens - Existem tubagens no alimentador e no misturador localizadas nos alimentadores, pelas quais

TABELA 1 POTENCIAIS PRÓS E CONTRAS NA INSTALAÇÃO DE UM ALIMENTADOR AUTOMÁTICO DE VITELOS A favor

Considerações

Comportamento alimentar mais natural

Custos de alimentação acrescidos

Mais dados recolhidos

Investimento inicial elevado

Menos tempo gasto com alimentação

Mais tempo gasto a observar e limpar

Possíves melhoramentos na saúde

Potencial para disseminação de doenças

Melhores condições de trabalho para os empregados

Requer mão-de-obra mais especializada

071


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o leite passa. Essas tubagens devem ser substituídas regularmente pois são um local de grande proliferação bacteriana. Negligenciar a sua substituição é provavelmente uma das maiores causas de doenças no viteleiro. Idealmente, essas tubagens devem ser substituídas a cada 2 semanas. Existe uma variedade de opções disponíveis que variam em preço e em qualidade. 5. Agentes de limpeza – informe-se junto dos fornecedores locais sobre o uso de agentes de limpeza que limpem o seu alimentador de maneira eficaz e que sejam fáceis de adquirir. Certifique-se junto do seu fornecedor de que os tempos de aplicação e as temperaturas adequadas são usados, para maximizar a eficácia dos agentes de limpeza. A IMPORTÊNCIA DE UM PLANO DE ALIMENTAÇÃO ADEQUADO Após a introdução ao alimentador automático, existem várias opções sobre como alimentar e criar bezerros, para melhor atingir os objetivos da exploração. Um dos aspetos mais customizáveis

do alimentador automático é o plano de refeições. Os planos variam desde programas de alimentação muito restritos, à ingestão ilimitada de leite até 30 a 40 dias antes do processo de desmame. Independentemente do plano escolhido, estes devem ser definidos por forma a limitar o congestionamento em volta do alimentador. Planos muito restritivos em termos de tamanho da refeição farão com que os bezerros se amontoem no comedouro e perturbem o comportamento alimentar normal. Fale com um consultor ou especialista para elaborar um plano adequado. A implementação de alarmes para vitelos é de grande utilidade para ajudar a garantir que qualquer animal que não atenda a critérios específicos (leite consumido por dia, velocidade de ingestão) seja sinalizado pelo software. Quando os vitelos podem consumir grandes quantidades de leite, as práticas de desmame devem ser bem definidas. Os vitelos em alimentadores automáticos, geralmente, começam a consumir concentrado por conta própria após

algum tempo, mas esse processo pode ser atrasado. A estratégia de desmame deve remover o leite a uma taxa que incentive a ingestão de alimentos sólidos, mas que não seja agressiva a ponto de reduzir a ingestão geral de nutrientes de forma muito severa. Isso levaria a uma quebra pós-desmame que, geralmente, é a razão de problemas de saúde na exploração. Um período de desmame reduzido não é ideal para vitelos alimentados com leite em alimentadores automáticos. Em última análise, os alimentadores automáticos são uma tecnologia que pode mudar completamente um programa de criação de vitelos. A decisão de incorporar um alimentador não deve ser tomada de ânimo leve, pois requer um investimento financeiro inicial, bem como uma mudança significativa no trabalho que acompanha esta abordagem. No entanto, ao adotar um alimentador, os vitelos tornam-se mais saudáveis e crescem mais rapidamente. O investimento inicial é compensado no futuro pela diminuição dos problemas de saúde e pela melhoria da produção de leite na lactação.

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Encontrámos Luís Reis na exploração agropecuária Montecurrupedrinho, que fica em Padroso, no concelho de Arcos de Valdevez. Esta exploração foi recentemente beneficiada com a construção de um novo pavilhão (foto de cima) junto à vacaria já existente e ainda em fase de acabamentos. Foram também adquiridos dois robots que substituirão a sala de ordenha.

Luís Reis trabalha na Gondimil, empresa distribuidora dos equipamentos GEA para a região norte de Portugal. Foi lá que iniciou a sua atividade profissional, há 17 anos. Atualmente, dedica-se à venda e assistência técnica dos robots de ordenha.

11 PONTOS A CONSIDERAR

ADQUIRIR UM ROBOT DE ORDENHA

"A EXPLOSÃO DO MERCADO DOS ROBOTS ESTÁ A COMEÇAR NO NOSSO PAÍS". ESTA É A OPINIÃO DE LUÍS REIS, RESPONSÁVEL PELOS EQUIPAMENTOS DA GEA NA GONDIMIL, A QUEM PERGUNTÁMOS QUE RECOMENDAÇÕES DARIA A UM PRODUTOR INTERESSADO EM ADQUIRIR UM ROBOT. Quanto representa o investimento em robots comparativamente com uma sala de ordenha? Se compararmos o valor de um Robot com o valor de uma sala de ordenha convencional com um bom nível de equipamento a diferença não é a que aparenta ser. Efetivamente o Robot tem um valor algo mais elevado mas também tem um maior número de sensores que disponibilizam um maior número de dados ao cliente. Por outro lado, o robot permite a realização da terceira

ordenha sem aumento de mão de obra. As vacas ordenhadas por robot têm menos problemas? Sim, uma vez que a rotina de ordenha é sempre bem feita e da mesma forma e também pelo facto de o robot estar desenhado para evitar a contaminação de doenças entre tetos e entre animais. Por outro lado, o robot faculta um elevado número de dados, o que permite ao produtor identificar as incidências de

uma maneira mais precoce, comparando com uma ordenha convencional. É sempre possível converter uma exploração “normal” numa exploração robotizada? A questão do desenho da vacaria é um ponto muito importante no bom desempenho dos robots, mas quase sempre se consegue fazer uma boa adaptação. Em geral os pontos onde se deve ter mais atenção são: - a existência de construções

074

antigas, como uma ordenha, no local ideal para colocar o robot; - a largura dos corredores, que pode dificultar o tráfego das vacas e o seu acesso ao robot; - a inexistência de corredores transversais. Em suma, devemos proporcionar à vaca espaço para se movimentar sem dificuldades. Qual é a localização ideal para um robot? A localização do robot deve privilegiar um bom acesso dos animais ao robot mas também proporcionar um local


Adquirir um robot de ordenha

EQUIPAMENTO | VACAS DE LEITE

de trabalho confortável ao produtor de leite. Geralmente é nos extremos, mas teremos sempre de encontrar um equilíbrio entre o conforto da vaca e o conforto do trabalhador. Quais são as principais exigências no desenho do estábulo para a colocação de um robot? - ter uma porta de pré-seleção, se se quiser rentabilizar a máquina ao máximo, para evitar que as vacas que não têm autorização de ordenha não vão para o robot; - considerar uma zona de pós-seleção para conseguir separar as vacas que necessitem de uma atenção especial (vacas a inseminar, vacas paridas ou que precisem de alguma assistência); - ter corredores com uma largura mínima de 4 metros de largura junto às cornadis; - ter passagens largas para

permitir que as vacas se desloquem por si, com facilidade, até ao robot; - dependendo da marca pode ter um fosso para facilitar o trabalho do operador. Que competências têm que ter as pessoas que vão trabalhar com o robot? Não são necessários conhecimentos técnicos especializados, basta terem conhecimentos básicos de informática e que gostem de lidar com os animais.

controlar todo o processo, é natural que, ao princípio, o produtor tenha dúvidas para saber se está tudo a funcionar de forma correta. Assistimos sempre às primeiras ordenhas e nos primeiros 15 dias estamos mais atentos a esse produtor. Geralmente, os animais estão adaptados ao fim de 15 dias. Mas é só depois de as vacas todas parirem ou seja, passado um ano, que se começa a perceber as vantagens que o robot traz.

Como se deve fazer a transição das vacas para a ordenha robotizada? O ideal seria que os animais tivessem um período de habituação ao robot estando algum tempo apenas a comer ração, para se habituarem ao novo espaço. A partir daí, desliga-se a ordenha antiga e começa-se a ordenhar no robot. Como é o robot a

As vacas baixam o número de ordenhas quando transitam para o robot? Não, nem em termos de produção de leite nem de qualidade de leite, não temos tido problemas. Nas semanas previas ao arranque também há sempre uma atenção redobrada na saúde dos animais (cascos, estado do

075

úbere, etc…) para preparar os animais à nova realidade. Que perguntas lhe fazem os produtores interessados em adquirir um robot? Essencialmente estas: o custo do equipamento; qual o número de vacas vai conseguir ordenhar; qual a localização ideal para o robot, no estábulo. Quais são as manutenções necessárias de um robot? Em relação às manutenções diárias: lavagem do robot, lubrificação de alguns pontos e observação do estado geral do robot. A manutenção preventiva, é feita pela Gondimil com base num contrato de assistência. Alternativamente, é fornecida aos clientes uma lista com todo o material a substituir e a respetiva periodicidade.


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE

3 ROBOTS DE ORDENHA MAIS LEITE E MAIS TEMPO ENTREVISTÁMOS O PRODUTOR DE LEITE JOSÉ FERNANDO, DE SÃO PEDRO DE RATES, QUE RENOVOU RECENTEMENTE A SUA EXPLORAÇÃO COM A CONSTRUÇÃO DE UM ESTÁBULO NOVO E 3 ROBOTS DE ORDENHA.

E

m Portugal, a renovação das explorações leiteiras faz-se cada vez mais por via da adoção de robots de ordenha. Vantagens como uma maior flexibilidade de horários de trabalho e a libertação de mão-de-obra estão na base da decisão dos produtores. José Fernando Moreira e sua esposa, Maria José Moreira, são proprietários da

Sociedade Agrícola Casa Plácidos, junto à Vila de São Pedro de Rates, concelho de Póvoa de Varzim. Em dezembro do ano passado, inauguraram um estábulo novo, feito de raiz, e 3 robots de ordenha Lely. Atualmente têm 198 vacas em ordenha. Como veio para a este negócio? Comecei a trabalhar na vacaria, que na altura era dos meus pais, depois de 076

terminar a formação na escola agrícola. Em 1997 fiz o primeiro projeto, com cerca de 60 vacas. Fomos crescendo e antes de mudarmos para a vacaria nova já tínhamos 200 vacas em produção. Em dezembro do ano passado inaugurámos um estábulo completamente novo, feito de raiz, com capacidade para 4 robots e 260 vacas. Neste momento temos 198 vacas em ordenha e 3 robots.


3 robots de ordenha, mais leite e mais tempo

PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE

O estábulo (foto de baixo) foi construído de raiz e está equipado com 3 robots de ordenha Lely. Atualmente estão 198 vacas em ordenha.

Fazem alguma cultura? Sim, no total cultivamos 50 hectares, a maior parte de regadio, onde fazemos milho e uma cultura de inverno (consociação de azevém com triticale, ou azevém com aveia). Em dezembro de 2020 iniciaram as ordenhas com 3 robots. Que sistema tinham antes? Tínhamos uma sala de ordenha em espinha, 10x2. Porque mudaram para o sistema de robot? Essencialmente, porque traz uma melhor qualidade de vida para todos. Temos maior flexibilidade de horários e, no limite, pode ser apenas uma pessoa a fazer o trabalho todo, o que era impossível no outro sistema. Fazíamos 2 ordenhas por dia. Eramos 2 pessoas e demorávamos cerca de 3,5 horas a fazer cada ordenha. No

total, gastávamos muitas horas por dia. Acho que o sistema de robots é o mais tranquilo, para nós e para as vacas e liberta mais tempo para outras atividades. Quando tempo demorou para que as vacas se adaptassem? Os robots começaram a ser usados no dia 2 de dezembro. A transição foi bem planeada, o que requereu começar uma hora mais cedo a primeira ordenha, no dia da mudança. Depois da ordenha, em grupos, encaminhámos as vacas, a pé, para o estábulo novo. Por volta das 10 horas, fizemos parques, separámos as vacas em 3 lotes, e encaminhámos cada um para o seu robot. Durante 3 dias, 24 horas por dia, fizemos com que as vacas estivessem sempre a passar nos robots, para se habituarem. Depois, progressivamente, começámos a alargar o espaço entre ordenhas. Nos primeiros 3 dias os técnicos da Lely estiveram sempre presentes na exploração. 077

Tiveram quebras de produção e/ou na qualidade do leite? No nosso caso, a quantidade de leite veio sempre a aumentar. Atualmente, estamos a produzir mais 4 a 5 litros por vaca/dia. Mas não podemos atribuir este aumento somente ao robot, porque mudámos vários fatores ao mesmo tempo. Os animais tiveram uma grande melhoria nas suas condições de bem-estar. No que respeita à qualidade do leite, em termos de células e microrganismos está estabilizada. A proteína manteve-se, mas o teor de gordura, naturalmente, baixou. Quantas ordenhas diárias estão a fazer, por vaca? Atualmente 2,6. O meu objetivo é chegar às 3 ordenhas. Mas para as velocidades de ordenha que tenho, os robots estão no limite. Esse será um ponto de melhoria no futuro, para maximizar o leite tirado por robot.


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

Que quantidade de leite tira por robot, por dia? 2500 a 2600 litros. Estamos com uma média de 39,5 kg/vaca/dia. No total, as vacas estão a fazer mais de 500 visitas diárias aos 3 robots. Qual é o limite de litros, por dia, por robot? Para o meu efetivo atual é 2700-2800 litros. Gasta mais dinheiro agora, com a alimentação? Gasto mais com a alimentação, mas menos por litro de leite. No entanto, ainda não tenho os dados fechados para contabilizar. Qual é a primeira coisa que fazem quando chegam à exploração? José Fernando: Por volta as 8 horas faço o unifeed, descarrego-o e depois venho ao computador. Com base nas informações que vejo, faço os tratamentos necessários. Depois faço alguma limpeza aos cubículos. Maria José : Chego aqui às 6 horas, e a primeira coisa que faço geralmente é ir

ver se há alguma vaca atrasada. Depois vou dar uma limpeza nos robots ( faço isso todos os dias). De seguida vou para o viteleiro, dar de comer e beber aos animais, e limpar. No final, volto ao estábulo para terminar a limpeza dos cubículos. O robot trouxe-lhe mais leite, maior qualidade no leite e mais tempo livre. Tudo isto compensa os investimentos que fez? Ainda é um bocado cedo para lhe poder responder, mas sem dúvida que me identifico mais com este sistema. Quais são os alertas mais importantes que o robot envia para o seu telemóvel? O “alarme crítico”, para quando existem situações de emergência; o aviso de que os baldes estão cheios de leite, se estão vacas há demasiado tempo nos parques de espera, ou se o nível dos detergentes está baixo, entre outros. Porque comprou Lely? Porque foi a máquina com que mais

José Fernando e Maria José, proprietários da Sociedade Agrícola Casa Plácido, e seus filhos, André e Daniela.

078

me identifiquei: a maneira como ordenha, como trata as vacas… Se as suas vacas falassem, o que diriam de toda esta mudança? Obrigada, já devias ter feito isto há mais tempo, estamos muito felizes. Elas não falam, mas olhamos pra elas e vemos que estão mais mansas, vêm mais “à cabeça”. Estão muito mais tranquilas. Até ao nível da pelagem se veem melhorias.

DADOS DA EXPLORAÇÃO Produção total em 2020

2.200.000

Produção total esperada em 2021

2.500.000

Efetivo total

450-500

Raça

Holstein

Nº de vacas em ordenha

198

Nº de ordenhas por dia

2,6

Gordura bruta média do leite

3,6

Proteína bruta média do leite

3,26

Nº de células somáticas

110.000

Idade média ao primeiro parto

2 anos


3 robots de ordenha, mais leite e mais tempo

PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE

O novo marco na poupança de energia

A Lely apresenta o Astronaut A5 Nós olhamos para as vacas e ouvimos os clientes. Um novo braço híbrido completo é o resultado. Com o poder do ar, mas sem qualquer consumo. Com um número limitado de movimentos elétricos rápidos e decisivos, tornamos o braço mais eficiente do que nunca. É por isso que o Astronaut A5 lhe oferece a melhor forma de ordenhar, a Si e ás suas vacas.

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#40 | jan. fev. mar. 2021

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

AS BAZUCAS

ANTES DE FALAR DE SOJA E DE MILHO, TENHAMOS PRESENTE QUE, MUITO PROVAVELMENTE, ESTAMOS A ASSISTIR ESTES MESES AO QUE ACONTECEU NOS PÓS-CRISES DE 2001 E 2008. NESSAS ALTURAS, OS GOVERNOS, E EM PARTICULAR O GOVERNO CHINÊS, APROVARAM ENORMES BAZUCAS DE INVESTIMENTO PÚBLICO QUE FIZERAM DISPARAR O CONSUMO DE MATÉRIAS PRIMAS, NOMEADAMENTE AÇO E FERRO Por João Santos; Fonte USDA s&d, relatório de março

E

m consequência destes acontecimentos, o custo dos fretes marítimos duplicaram face aos do ano anterior. A maior parte dos navios graneleiros no mundo transportam minério de ferro e carvão metalúrgico, do Brasil e Austrália, em direção à China. E todos os agricultores que nos últimos meses têm estado a fazer melhorias nas suas explorações pecuárias, seguramente que ouviram os empreiteiros reclamarem de ter que subir os preços devido ao aumento de preço brutal do ferro. Se o governo chinês for tão efetivo nos seus planos de investimento como foi no passado, muito provavelmente vamos ter a China a dar mais um enorme salto económico, algo que os dados do crescimento económico de 2020 já atestam. Dentro de 5 anos, a China terá mais uma significativa percentagem do PIB mundial. Atualmente tem 19,12%, mas durante a dinastia Song, nos séculos X a XIII, tinha 80%, donde há que ver estes assuntos em perspectiva!

O TAMANHO DO MERCADO CHINÊS A China representa 32% da procura mundial de soja, e mais de 60% das importações mundiais, no fim deste ciclo de colheitas, medido com o início da colheita nos Estados Unidos terá 35% dos stock finais. No caso do milho, a produção chinesa é 23% da produção mundial, e a China detem 68% dos stocks finais mundiais. Temos que ver a natureza estratégica do milho para a China, e que um navio dos Estados Unidos ou do Brasil está a um mês de viagem. PROTEÍNAS Os leitores assíduos deste artigo já sabem a importância dos Stocks Finais para a formação do preço. Pois bem, no Quadro 2, comparo os dados do relatório do USDA de março, com a informação existente no final de março sobre as projeções que as organizações agrícolas da Argentina e do Brasil fazem sobre o tamanho da colheita nestes países. Com o excesso de chuva que houve no Brasil durante 080

janeiro e fevereiro, é provável que a colheita acabe por ser 6 milhões menor do que o USDA atualmente projeta. E no caso da Argentina, devido a um início do ano particularmente seco, a perspectiva é que a colheita acabe por ser 3,5 milhões menor que as projeções de março do USDA. Neste quadro também está patente a retenção que os agricultores argentinos fazem da sua colheita de soja, ou seja, comparativamente, o agricultor argentino terá em setembro ainda 52% da sua colheita, enquanto o brasileiro terá 16%. Em relação às importações da China, há consenso que estarão pelas 100 milhões de toneladas, assim, tudo somado podemos estar com menos 9.5 milhões de stock finais do que atualmente é projetado pelo USDA. Se a isto somarmos que os Estados Unidos têm um stock final muito baixo, haverá uma transição, da velha colheita para a nova, muito complicada. Os States consomem mais de 5 milhões de toneladas por mês, para um stock final de 3,3 não é preciso mais palavras!!

Não se deixem enganar pela descida a que se vem assistindo, desde o inico de janeiro até meados de março, no preço da farinha de soja em Lisboa. A China tem por comprar mais de 50% da soja que precisa para maio e para os meses seguintes. Esta paragem nas suas compras de soja, desde o início de janeiro, teve a respectiva correção (em baixa) nos preços. Quando voltarem a comprar o que lhes falta, o preço só terá uma direção, a subida. CEREAIS Os States consomem 25 milhões de tm/mês, com um stock final de potencialmente 34 milhões, pouco pode falhar para uma campanha que ainda não foi semeada. Adicionalmente, o USDA não está a reportar ainda 4.2 milhões tm que estão confirmadas para China nesta campanha. No quadro sobre a China, peço que reparem no salto de importações desta campanha para anterior, mais 16 milhões de toneladas, se já sabemos que a China não irá importar 24 milhões,


As bazucas

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

como diz o USDA, mas provavelmente 32 milhões… Por outras palavras, se antes apenas importava um par de milhões de toneladas a China esta campanha importará o equivalente da totalidade da colheita da Ucrânia, o país que abastece Portugal mais de 8 meses do ano. Este incremento de importações, por parte da China, foi causador do aumento dos preços em Lisboa de +/-170€ para mais de 240€/tm. A colheita no Brasil está atrasada pelas chuvas deste primeiro trimestre que levaram a uma tardia sementeira da soja, e consequentemente atrasará a sementeira da Safrinha, responsável por 80% da produção brasileira de milho. Isto será um fator de risco para um rendimento inferior. Como notícia positiva temos que, com a atual relação de preços entre a soja e o milho, nos States, é previsível que o milho ganhe área de sementeira à soja, pelo que potencialmente poderemos ter uma Mega Millions colheita de milho nos States. CONCLUSÃO Tudo indica que os brotes de Peste Suína Africana que têm sido noticiados recentemente, na China, não passarão de um contratempo que mais não fará que uma ligeira redução no ritmo de expansão da produção de porcos e que, algures ao longo deste ano, a China voltará a ter o mesmo número de efetivos que tinha antes do inicio da crise de PSA em 2017, ao que temos que acrescentar o incremento que teve na aquacultura e nos frangos. A situação de stocks finais é muito apertada tanto na soja como no milho, o que levará a que, pelo menos por um par de anos, vamos ter transições muito tensas das colheitas do Hemisfério Norte para o do Sul e vice-versa. Para terminar, e voltando às Bazucas, a probabilidade da Bazuca chinesa ter o resultado

pretendido é muito alta, como consequência o nível de consumo de carne neste país irá manter-se ou aumentar paulatinamente. Pelo que o preço das matérias-primas não parece que tenha muito

espaço para corrigir em baixa, e teremos uns próximos anos com muita volatilidade nos preços. A acrescentar, é bom que o São Pedro seja generoso e que a ciência melhore as técnicas de produção, para

que os rendimentos por hectare continuem a aumentar. Também seria muito bom que a Bazuca portuguesa conduzisse a ritmos de crescimento como o chinês, mas… Despeço-me com amizade.

QUADRO 1 COLHEITAS MUNDIAIS Milhões de tn

14/15

15/16

16/17

17/18

18/19

19/29

20/21

Produção mundial

319,00

312,80

351,40

342,09

360,30

339,00

361,80

Stock finais

77,60

76,60

96,00

98,56

111,88

96,04

83,74

24%

24%

27%

29%

31%

28%

23%

Produção Mundial

1008,80

961,90

1070,20

1076,20

1123,30

1116,50

1136,30

Stock finais

208,20

210,90

227,00

341,20

320,80

303,10

287,70

21%

22%

21%

32%

29%

27%

25%

Soja

Milho

QUADRO 2 PRODUÇÃO E STOCK DE SOJA Produção USDA

19/20

20/21

Stock mundial USDA

Soja

19/20

20/21

Soja

Stock final - cenário baixo

20/21

Soja

USA

96,7

112,6

USA

14,3

3,3

USA

3,3

Argentina

48,0

47,5

Argentina

26,7

24,5

Argentina

21,0

Brasil

128,5

134,0

Brasil

20,8

21,0

Brasil

19,0

China

18,1

19,6

China

26,8

29,6

China

29,6

Total mundial

339,0

361,8

Total mundial

96,0

83,7

Total mundial

78,2

19/20

20/21

Stock final - cenário baixo

20/21

48,8

38,2

USA

QUADRO 3 PRODUÇÃO E STOCK DE MILHO Produção USDA

19/20

20/21

Stock mundial USDA

346,0

360,3

USA

Milho USA

Milho

Milho 32,2

Ucrânia

35,9

29,5

Ucrânia

1,5

0,9

Ucrânia

0,9

Brasil

102,0

109,0

Brasil

4,8

6,3

Brasil

4,3

China

260,78

20,67

China

200,53

196,18

China

29,6

Total mundial

116,5

1136,3

Total mundial

303,1

287,7

Total mundial

281,7

QUADRO 4 COLHEITAS NA CHINA milhões de tm

19/20

20/21

GRÁFICO 1 PREÇOS MÉDIOS SEMANAIS DE MILHO E SOJA, NO PORTO DE LISBOA, DE 9 DE MARÇO DE 2020 A 12 DE MARÇO DE 2021 600

Soja Produção

18,1

19,6

Importação

98,5

100,0

Procura

109,2

116,7

Stocks finais

26,8

29,6

Milho

400

500

400

300

SOJA

300

200

MILHO

200

Produção

260,8

260,7

Importação

7,7

24,0

Procura

278,0

289,0

Stocks finais

200,5

196,2

100 100

081

0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53

Semanas (1 a 53), de 9 de março de 2020 a 12 de março de 2021


#40 | jan. fev. mar. 2021

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DO LEITE

UM ANO DE PANDEMIA E A LUZ AO FUNDO DO TÚNEL

HÁ UM ANO, QUANDO O MUNDO ENTROU NUM CONFINAMENTO SEM PRECEDENTES, ESCREVÍAMOS ACERCA DA AMEAÇA DE UM ESTRANHO NOVO VÍRUS. UM ANO DEPOIS, AS REPERCUSSÕES DA PANDEMIA COVID-19 SÃO SENTIDAS AINDA A VÁRIOS NÍVEIS, TANTO ECONÓMICOS COMO SOCIAIS. Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes Arla Foods, Australia.Gov.Au, Foodbev Media, Rabobank, Statista

A

s profundas mudanças de hábitos em 2020, fruto da necessidade de confinamento, mudaram em muito os padrões de consumo da maioria dos bens agrícolas: mais tempo em casa significou para muitos uma maior dedicação à preparação de refeições “caseiras”. No Reino Unido, em 2020, os retalhistas alimentares registaram um aumento de vendas de 10%, contrariando a quebra acentuada no setor da restauração e serviços associados. O consumo de queijo terá registado um aumento de 15,7% no ano passado, com crescimentos de 4,1% nos iogurtes e de 16,1% na manteiga. O consumo de cereais também terá aumentado, o que propicia a venda cruzada de bens como o leite. Dados dos Estados

Unidos apontam ainda para uma adoção de novos padrões de consumo concorrenciais com a proteína animal. No final do primeiro semestre de 2020, o consumo de bebidas vegetais alternativas ao leite registou aumentos na casa dos 300%, com as alternativas à carne a crescerem 200%. 2021 apresenta-se como o ano da esperança renovada e da recuperação, mas os indicadores de recessão económica aconselham cautela, mesmo para o setor leiteiro, cuja resiliência em 2020 foi notória. Este será também um ano novo para o comércio entre a União Europeia e o Reino Unido pós-Brexit, à luz do recente Acordo de Comércio e Cooperação que, apesar de não contemplar quotas e taxas aduaneiras, não se livra da aplicação de formalidades alfandegárias previamente inexistentes.

O comandante do leme do setor leiteiro de 2021 será a procura, à medida que os mercados regressam não propriamente à normalidade – o que quer que isso signifique nos dias de hoje – mas sim a território mais familiar, com a aproximação do segundo semestre do ano e da abertura gradual das sociedades com a disseminação da vacinação. O Rabobank prevê um aumento de 1,1% da produção leiteira dos Big-7, os sete maiores produtores mundiais de leite (Europa, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Brasil, Argentina e Uruguai), com os EUA a aportarem maior valor e a usufruírem ainda dos efeitos dos programas de apoio estatais instituídos em 2020. Na pósprodução, os constrangimentos a nível de transporte marítimo estão a causar muitas dores de cabeça: a Oceânia enfrenta atualmente dificuldades com

082

a parca disponibilidade de contentores e, nos Estados Unidos, os elevados custos de transporte estão a impactar as exportações. Noutros casos, de forma a manter a competitividade, alguns intervenientes no setor absorvem o acréscimo dos custos e a consequente perda de rentabilidade. O aumento dos preços das matériasprimas alimentares, bem como dos combustíveis, deverão igualmente surtir efeitos negativos principalmente a partir do segundo semestre de 2021. Com um (reportado) crescimento económico de 2,1% em 2020, a China parece ter saído a ganhar da batalha contra a pandemia, o que agrada aos seus principais parceiros comerciais, como a Austrália. De facto, nos últimos quatro meses de 2020, as exportações australianas


Um ano de pandemia e a luz ao fundo do túnel

OBSERVATÓRIO DO LEITE

suplantaram os volumes prépandemia. Apesar da ávida tendência de importação a curto prazo por parte da China, os preços domésticos bastante atrativos poderão levar a um investimento interno no setor leiteiro e à expansão da produção nacional, diminuindo consecutivamente as importações no médio/longo prazo. Com a luz ao fundo do túnel cada vez mais próxima, este será também um ano marcado por investimentos na inovação do setor. Com a crescente oferta de alternativas vegetais ao leite, surgem agora produtos híbridos que combinam o leite com bebidas vegetais, aportando valores nutricionalmente interessantes de proteína e promovendo simultaneamente um maior aporte de vegetais. Um estudo mostra que, de facto, esta tipologia de produto poderá conciliar o “melhor de dois mundos”, com 36% dos inquiridos a referir que preferem uma dieta que inclua produtos animais e vegetais, contra 23% que privilegiam uma dieta vegan e 22% defensores da proteína animal. A componente do bem-estar e saúde tem vindo a ganhar importância acrescida nos últimos tempos, com a procura de produtos que transcendam apenas a satisfação nutricional. Esta poderá ser uma fonte potencial de crescimento para o setor, com a introdução de ingredientes funcionais que ajudam a melhorar a qualidade do sono e a reduzir o stress e a ansiedade, por exemplo. Comprovou-se já cientificamente que os fosfolípidos do leite, componente lipídica estrutural das células, têm efeitos positivos na gestão do stress e capacidade de concentração. Já na vertente estética, tem-se assistido ao aumento da oferta de produtos lácteos com propriedades benéficas para a pele, cabelo e ossos.

A conveniência do consumo é hoje em dia também uma palavra-chave para o sucesso de venda dos produtos lácteos, e uma das formas de diferenciação num mercado tão vasto. A junção do packaging com tecnologias que permitam aumentar a vida útil dos produtos e que enriqueçam

a experiência de compra (ex: códigos QR com acesso a conteúdos didáticos) serão igualmente tendências. Apesar da ameaça de recessão, as previsões económicas do Rabobank são positivas, apontando para um crescimento global do PIB de 4,5% para 2021, o que

deverá igualmente favorecer a procura nos mercados do leite e derivados. Mais interessante ainda que a análise quantitativa da procura será a observação dos padrões de consumo à medida que as sociedades reabrem, e as implicações que terão no setor e respetiva indústria.

TABELA 1 PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO (1) Países

Companhia

Preço leite (€/100 kg) janeiro 2021

Média útimos 12 meses (5)

Alemanha

Alois Müller

32,61

31,50

Dinamarca

Arla Foods

32,11

32,59

França

Danone Lactalis (Pays de la Loire) Sodiaal

33.41 34,24 34,64

34,83 34,30 34,80

Inglaterra

Dairy Crest (Davidstow)

33,33

30,59

Irlanda

Glanbia Kerry

34,90 32,45

30,50 31,36

Itália

Granarolo (Norte)

39,32

38,29

Holanda

DOC Cheese Friesland Campina

33,44

33,52

Nova Zelândia

Fonterra (3)

32,33

31,10

EUA

EUA

32,50

38,65

Preço médio leite(2) (4)

Fonte: LTO; (1) Preços sem IVA pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG, 3,4% de teor proteico e CCS de 249,999/ml. (2) Média aritmética. (3) Baseado na previsão mais recente (4) Reportado pela USDA. (5) Inclui o pagamento suplementar mais recente.

TABELA 2 LEITE À PRODUÇÃO, PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2020/2021

Contin.

2020

2021

Teor médio de matéria gorda (%)

€/kg

Meses

Açores

Contin.

Açores

Teor proteico (%) Contin.

Açores

JANEIRO

0,314

0,297

3,89

3,70

3,34

3,20

FEVEREIRO

0,312

0,289

3,81

3,65

3,28

3,18

MARÇO

0,311

0,290

3,78

3,62

3,26

3,18

ABRIL

0,312

0,289

3,78

3,66

3,25

3,20

MAIO

0,311

0,280

3,74

3,63

3,21

3,17

JUNHO

0,308

0,281

3,67

3,68

3,19

3,17

JULHO

0,306

0,277

3,68

3,68

3,19

3,13

AGOSTO

0,310

0,273

3,73

3,66

3,18

3,08

SETEMBRO

0,313

0,282

3,73

3,75

3,26

3,20

OUTUBRO

0,315

0,282

3,90

3,83

3,36

3,22

NOVEMBRO

0,315

0,288

3,90

3,90

3,36

3,29

DEZEMBRO

0,315

0,284

3,92

3,89

3,38

3,24

JANEIRO

0,315

0,282

3,94

3,83

3,35

3,20

Fonte: SIMA; Gabinete de Planeamento e Políticas.

083


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

PRODUÇÃO DE LEITE ABAIXO DO LIMIAR DE RENTABILIDADE

ANALISAMOS, NESTE NÚMERO DA RUMINANTES OS ÍNDICES VL E VL - ERVA, PARA O PERÍODO DE NOVEMBRO DE 2020 A JANEIRO DE 2021. DE ACORDO COM OS DADOS DO SIMA-GPP (2021), O PREÇO DO LEITE PAGO AOS PRODUTORES DO CONTINENTE MANTEVE-SE CONSTANTE NOS TRÊS MESES EM ANÁLISE (0,315 €/KG). PELO CONTRÁRIO, NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES O PREÇO MÉDIO DO LEITE PAGO AOS PRODUTORES INDIVIDUAIS VARIOU ENTRE 0,288 €/KG, EM NOVEMBRO DE 2020, E 0,282 €/KG, EM JANEIRO DE 2021. Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela, docente/investigador, Faculdade de Ciências

A

o analisarmos os dados disponibilizados pelo MMO (2021), o preço médio do leite pago ao produtor no período de novembro de 2020 e janeiro de 2021 foi, mais uma vez, muito inferior em Portugal (0,3049 €/ kg) quando comparado com a média da UE27 (0,3500 €/ kg), o que representa uma impressionante diferença de -4,52 cêntimos/kg. Comparando com a vizinha Espanha, o preço pago aos produtores portugueses foi inferior em -2,49 €/kg de leite. Em janeiro de 2021, Portugal foi um dos 3 países da UE onde o kg de leite foi pago ao preço mais baixo. Só na Estónia (0,2970 €/kg) e na Letónia (0,2953 €/kg) o preço do leite pago aos produtores

Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes.

foi inferior. Mais uma vez, consideramos inaceitável que Portugal continue a ser, desde há vários anos, um dos parentes pobres da UE27 com preços mais baixos pagos ao produtor de leite. Como temos vindo a dizer, desde há vários meses, é necessário tomar medidas claras para inverter esta tendência. Corremos a passos largos para uma situação limite em que o leite voltará a ser mais um dos produtos agrícolas que dependerá das importações para satisfazer o consumo nacional per capita, por os produtores não serem capazes de fazer frente aos custos de produção, o que os poderá levar a abandonar este setor produtivo. Relativamente ao trimestre anterior, o preço médio das principais matérias-primas

que entraram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram um acentuado aumento que variou entre +22,5% no bagaço de soja e +8,6% no bagaço de girassol. A evolução do preço das matérias-primas provocou um aumento de 12,6% no preço do alimento composto e de 7,9% no custo da alimentação da vaca leiteira tipo do continente. Na Região Autónoma dos Açores, o regime alimentar do trimestre em análise incluiu menor consumo de pastagem e maior consumo de alimento composto e de alimentos conservados. Este regime alimentar, aliado ao aumento do preço das matérias-primas que entram na formulação do concentrado provocou um aumentou de 19,4% nos custos 084

com a alimentação da vaca tipo. A tendência decrescente do preço do leite e crescente dos custos com a alimentação refletiu-se nos Índices VL e VL - ERVA que em janeiro de 2021 foram, respetivamente, de 1,529 e de 1,509. De referir que em janeiro de 2020, o Índice VL havia sido de 1,735 e o Índice VL - ERVA de 1,784. Um índice igual ou inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração


Produção de leite abaixo do limiar de rentabilidade

ÍNDICES VL E VL-ERVA

ÍNDICE VL JULHO 2012 A JANEIRO 2021 2,0

2

1,91.9 1,81.8 1,71.7 1,61.6 1,51.5

Series1

1,41.4 1,31.3 1,21.2

novembro

janeiro 2021 ja.'21

julho

setembro

maio

março

janeiro jan. 2020 '20

setembro

novembro

maio

julho

março

janeiro jan.2019 '19

setembro

novembro

maio

julho

março

janeiro jan.2018 '18

setembro

novembro

maio

julho

março

Jan-17 jan. '17

setembro

novembro

maio

julho

março

jan.Jan-16 '16

setembro

novembro

maio

julho

março

janeiro jan.2015 '15

setembro

novembro

maio

julho

março

janeiro jan.2014 '14

setembro

novembro

maio

julho

março

janeiro jan.2013 '13

setembro

novembro

1

julho jul.2012 '12

1,11.1 1,0

O ÍNDICE VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

novembro

O ÍNDICE VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).

(Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,529 em janeiro de 2021 tal como o Índice VL-ERVA que, no mesmo mês, atingiu o valor mínimo de 1,509. Estes resultados permitem afirmar que em janeiro de 2021, tanto os produtores de leite do continente como os da Região Autónoma dos Açores, se encontravam numa situação muito difícil, continuando a trabalhar no limiar da rentabilidade da exploração. De realçar que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite muito mais interessante na ilha de S. Miguel onde é produzido cerca de 60% do total de leite dos Açores. Nas outras ilhas do Arquipélago, a conjuntura é bastante mais desfavorável.

NOTAS • o preço do leite pago aos produtores do continente em janeiro de 2021 foi superior em 0,1 cêntimos/kg relativamente ao preço pago em janeiro de 2020. Nos Açores, o valor pago por kg de leite em janeiro de 2021 foi bastante mais baixo (-1,5 cêntimos/kg) do que o valor pago em janeiro de 2020; • registaram-se aumentos acentuados dos custos de alimentação da vaca durante o trimestre em análise, no continente +7,9% e nos Açores +19,4%; • as duas considerações anteriores refletem-se nos Índices VL e VL - ERVA que em janeiro de 2021 foram, respetivamente, de 1,529 e 1,509.

085

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL– ERVA JANEIRO 2020 A JANEIRO 2021 Mês

Índice VL

Índice VL - ERVA

jan-20

1,735

1,784

fev-20

1,716

1,732

mar-20

1,695

1,726 2,054

abr-20

1,695

mai-20

1,726

2,010

jun-20

1,739

2,042

jul-20

1,730

2,015

ago-20

1,757

1,989

set-20

1,704

1,987 1,596

out-20

1,633

nov-20

1,614

1,612

dez-20

1,611

1,590

jan-21

1,529

1,509

Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.

jan.2021 '21 janeiro

setembro

julho

maio

março

novembro

janeiro jan.2020 '20

setembro

julho

maio

março

janeiro jan.2019 '19

novembro

setembro

julho

maio

março

janeiro jan. '18

novembro

julho

setembro

maio

março

Jan-17 jan. '17

setembro

novembro

julho

maio

março

Jan-16 jan. '16

novembro

julho

setembro

maio

março

novembro

janeiro jan.2015 '15

julho

setembro

maio

março

jan.2014 '14 janeiro

novembro

julho jul.2013 '13

setembro

ÍNDICE VL-ERVA JULHO 2013 A JANEIRO 2021 2,72.7 2,62.6 2,52.5 2,42.4 2,32.3 2,22.2 2,12.1 2,0 2 1,91.9 1,81.8 1,71.7 1,61.6 1,51.5 1,41.4 1,31.3 1,21.2 1,11.1 1,0 1


#41 | abr. mai. jun. 2021

REVISTA RUMINANTES

NOTÍCIAS | VACAS DE LEITE

INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO? NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE. Os efeitos de um programa de treino com um robot de ordenha simulado para adaptar novilhas ao sistema de ordenha automática Fonte: Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 1, 2021.

PEDRO NOGUEIRA Engº zootécnico Trouw Nutrition/Shur-Gain Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom

ESTE ARTIGO, DE INVESTIGADORES ALEMÃES, ESTUDOU, SE TREINAR NOVILHAS ANTES DO PARTO NUM ROBOT DE ORDENHA SIMULADO AS AJUDAVA A ADAPTAREM-SE MAIS RAPIDAMENTE AO SISTEMA DE ORDENHA AUTOMÁTICA (SOA) APÓS O PARTO. Os investigadores referem que a introdução de novilhas

ao SOA pode estar associada a um stress considerável tanto para os animais como para os funcionários da exploração, pois novilhas completamente inexperientes normalmente não entram no robot de ordenha voluntariamente. Para o estudo, eles usaram 77 novilhas Holstein-Friesian que foram distribuídas aleatoriamente num de 2 grupos experimentais: controle (CON) ou simulado (SIM). Quatro semanas antes do parto, o grupo SIM teve livre acesso ao robot simulado, que era semelhante ao robot de ordenha real, para que pudessem explorá-lo e serem condicionadas positivamente através do concentrado que recebiam no robot simulado. As novilhas do grupo CON não tiveram contato com o robot

086

antes da primeira ordenha no SOA. As características de desempenho da lactação (produção de leite, fluxo de leite, condutividade elétrica do leite e composição do leite) foram registadas. O robot simulado foi construído de forma semelhante ao Lely Astronaut A4 e foi instalado num canto do estábulo, como o robot de ordenha real, para familiarizar as novilhas com a sua futura posição em termos de ordenha. Porém, o braço de ordenha do robot, apesar de ser visualmente igual ao braço do robot real, foi simplificado e não realizou qualquer contacto com o úbere das novilhas. Além disso, o equipamento técnico necessário para a ordenha no robot de ordenha real foi eliminado. Enquanto o concentrado era


Investigação leiteira, o que há de novo?

VACAS DE LEITE

oferecido, o braço de ordenha simplificado simulado estendia-se sob o abdômen das novilhas sem o tocar ou manipular o úbere. Além disso, o som típico do robot de ordenha foi reproduzido por altifalantes. Durante este período de treino, as novilhas SIM receberam uma dieta unifeed na manjedoura duas vezes ao dia. Esta dieta base continha 0,51 kg de concentrado por animal por dia. Além disso, cada animal recebia como recompensa 1,25 kg de concentrado por dia no robot simulado, dividido em 4 porções, para estimular os animais a visitarem a máquina. Os resultados mostraram que os animais treinados no simulador apresentaram maior frequência de ordenha (2,70 ± 0,14 visitas / d) do que os animais controle (2,41 ± 0,14 visitas / d) entre o 4º e 10º dia de lactação. Além disso, entre o d 1 e o d 5, a proporção de animais que precisaram de ser levados para ordenha foi menor no SIM (35,18 ± 4,16%) do que no CON (48,03 ± 4,46%). Com base nos resultados, os autores afirmam que treinar novilhas no simulador oferece a possibilidade de facilitar o início da lactação precoce dos animais, proporcionando uma contribuição valiosa para a melhoria do bem-estar animal.

Efeitos da substituição do bagaço de soja por espirulina na composição do leite e sua percepção sensorial, numa dieta para vacas leiteiras à base de feno. Journal of Dairy Science Vol. 103 No. 12, 2020

O ESTUDO REFERIDO, REALIZADO POR INVESTIGADORES SUÍÇOS, TEVE COMO OBJETIVO AVALIAR SE O USO DE UMA ALGA, COMO FONTE DE PROTEÍNA METABOLIZÁVEL PARA VACAS LEITEIRAS, AFETARIA OS ANTIOXIDANTES DO LEITE E AS SUAS PROPRIEDADES SENSORIAIS. Esta alga, chamada espirulina (Arthrospira platensis), é uma microalga azul-esverdeada de crescimento rápido e que usa os recursos naturais de forma muito eficiente. Os autores indicaram que a procura de fontes proteicas alternativas ao bagaço de soja para suplementação de forragens com baixo teor de proteína metabolizável é grande, e que a biomassa da cianobactéria Arthrospira platensis é uma promissora fonte proteica que pode representar uma alternativa na dieta de vacas leiteiras. Ao contrário da soja, a espirulina pode ser produzida com uma alta eficiência hídrica, em terras

087

marginais ou mesmo sem terra e, como tal, não compete em termos do uso de terra com recursos necessários à alimentação humana. A espirulina já é utilizada como nutraceutico na alimentação humana e como suplemento alimentar na alimentação animal, principalmente na aquacultura e na avicultura. Para este estudo, os autores usaram 12 vacas alocadas em dois grupos. As vacas foram alimentadas com uma dieta à base de feno, suplementada com polpa de beterraba e flocos de trigo. O conteúdo de azoto das duas dietas por kg de matéria seca foi o mesmo, sendo a dieta 1 suplementada com 5% de espirulina e a dieta 2 suplementada com 6% de bagaço de soja. A espirulina tinha um teor de 62,9% PB (base MS) e o bagaço de soja utilizado neste estudo foi de 42,8% PB. A espirulina é mais rica em proteína bruta do que o bagaço de soja e é substancialmente mais elevada em gordura (6,04% vs 1,14% para o bagaço de soja, neste estudo). O consumo de matéria seca (CMS) não diferiu entre os dois grupos, portanto os autores assumiram que a palatabilidade da dieta não foi afetada pelo nível de inclusão de espirulina (cerca de 1 kg/vaca/dia de algas neste estudo). Os autores referem que outros estudos com espirulina mostraram alguma redução no

CMS, mas neste estudo, talvez por terem adicionado melaço à dieta, não houve redução da ingestão. Após um período de adaptação de 15 dias, houve recolha de dados, bem como amostras de ração, leite, sangue e fluido ruminal. As amostras de leite foram analisadas para diferentes propriedades (perfil de ácidos gordos, cor, vitaminas e provitaminas ( ß-caroteno), etc). Um painel sensorial treinado também avaliou amostras de leite. A substituição do bagaço de soja por espirulina na dieta não afetou o consumo de ração, a produção de leite, o teor de gordura, proteína ou lactose do leite comparativamente ao grupo de controle. No entanto, o leite das vacas alimentadas com espirulina apresentou um teor mais alto em β-caroteno e era mais amarelo. Também houve diferenças no perfil de ácidos gordos da gordura do leite. Nenhuma diferença sensorial foi encontrada entre o leite dos 2 grupos experimentais. Os autores concluem dizendo que a espirulina parece ser uma fonte de proteína promissora para vacas leiteiras, com certas melhorias nos constituintes nutricionalmente favoráveis do leite e sem efeitos colaterais no desempenho animal a curto prazo.


#40 | jan. fev. mar. 2021

REVISTA RUMINANTES

DICAS PARA A INSTALAÇÃO

CERCAS ELÉTRICAS

SAIBA O QUE TER EM CONTA QUANDO INSTALA UMA CERCA ELÉTRICA E AS VANTAGENS EM RELAÇÃO A UMA CERCA CONVENCIONAL Por Miguel Vacas de Carvalho, Departamento Técnico Agrovete

4 As eletrificadoras podem ser alimentadas a energia elétrica: pilha 9V, bateria 12V e rede elétrica 220V, e a energia solar. É através da potência, medida em joule (J), que são classificadas as eletrificadoras.

4 A comparação entre diversas eletrificadoras deverá ser feita pelo valor de saída medido em joule (J). Recomendase a seguinte equivalência: por cada 1 J de saída apresentado numa eletrificadora poderá ser possível eletrificar 1 km de cerca. A quantidade de vegetação é um fator que influencia a capacidade de distância da eletrificadora. Para simplificar, recomenda-se que se tenha como referência a distância a eletrificar em condições com vegetação densa (Tabela 1). 4 O sistema de terra, apesar de muitas vezes ser descuidado, é a parte mais importante numa cerca elétrica, atuando como um íman que absorve a energia

FIGURA 1 FUNCIONAMENTO DE UMA CERCA ELÉTRICA A eletrificadora (fonte de energia) está ligada à cerca e ao sistema terra. A potência é enviada ao longo da cerca através de impulsos elétricos.

Quando o animal toca na cerca, recebe um choque elétrico.

• SEGURA Os animais memorizam e habituam-se a não tocar na cerca elétrica • DURADOURA A pressão dos animais na cerca é reduzida o que aumenta o tempo de vida da cerca elétrica

TABELA 1 COMPARAÇÃO DE ELETRIFICADORAS

FIGURA 2 COMPOSIÇÃO DE UMA CERCA ELÉTRICA

Item

Energia armazenada (J)

Energia máx. do impulso de saída (J)

Tensão máx. de saída (V)

Nº postes de terra aconselhados

Comprimento aconselhado sem vegetação (km)

Comprimento aconselhado com alguma vegetação (km)

Eletrificadora

M5000i

19

15

9000

8x2m

100

60

26

M2800i

21

14

7000

6x2m

80

50

20

M1800i

14

10

7000

5x2m

65

40

17

Terminal da cerca CORRENTE Terminal de terra

TERRA CORRENTE

088

Comprimento aconselhado com muita vegetação (km)

U

ma cerca elétrica é constituída por uma eletrificadora que transforma a corrente elétrica em impulsos elétricos e por um condutor que transmite os impulsos ao longo de todo o comprimento da cerca. A eletrificadora deve ser suficientemente potente de forma a eletrificar todo o perímetro da cerca (Figura 1).


Dicas para a instalação duma cerca elétrica

EQUIPAMENTO

4 É importante salientar que quando se comparam diferentes condutores, a resistência é um fator importante que deve ser sempre considerado.

Força de tração (kg)

Comprimento de cerca recomendado (m)

Corda TurboLine 6+ mm

Resistência (Ohm/ metro)

Corda PowerLine 5+ mm

Voltagem a 1000 metros

Corda Economy 5 mm

Voltagem a 500 metros

TABELA 2 COMPARAÇÃO DA RESISTÊNCIA DOS CONDUTORES Voltagem no início da cerca

4 Os condutores transmitem impulsos de energia ao longo de todo o comprimento da cerca e podem variar dependendo da tipologia da cerca elétrica. Para uma cerca permanente podese utilizar um arame de tripla zincagem, fita ou corda. No caso de uma cerca móvel opta-se por corda ou fio. Deve-se considerar que diferentes condutores apresentam distintas resistências (Ohm/m)

à passagem da eletricidade. Na Tabela 2 verifica-se que a voltagem é de 8 kV no início da cerca nos três tipos de condutores. Contudo, no condutor da gama mais baixa, a corda Economy, a sua voltagem a 1000 m é de 1 kV, o que contrasta com as voltagens de: 2,5 kV e 7 kV na corda PowerLine e TurboLine, respetivamente. De acordo com a gama de produtos da Gallagher, a gama PowerLine é aconselhada para cercas elétricas inferiores a 500 metros e a gama TurboLine para cercas superiores a 500 metros. Como se pode verificar pela Tabela 2, a resistência (Ohm/m) vai diminuindo à medida que se aumenta a gama da corda passando de 3,82 Ohm/m, na corda Economy para 0,06 Ohm/m, na corda TurboLine.

Metros por cada rolo de corda

emitida pela eletrificadora, completando o circuito. Uma forma de aumentar a ligação а terra é através de estacas de terra ligadas entre si. Quanto mais estacas de terra, melhor. Há uma “regra” que se pode utilizar: uma estaca galvanizada de 1 metro por cada joule da eletrificadora, sendo que 3 estacas de terra de 1 metro é o mínimo que garante um bom funcionamento de uma eletrificadora. As estacas devem estar afastadas entre si 3 metros e ligadas а eletrificadora através de um cabo isolado contínuo (Figura 2).

8 kV

2 kV

1 kV

3,82

330

<500

8 kV

4,5 kV

2,5 kV

0,18

330

<500

8 kV

7,5 kV

7 kV

0,06

430

500>

100 m 200 m 500 m 200 m 500 m 200 m 500 m 2x200 m

VANTAGENS DE UMA CERCA ELÉTRICA COMPARATIVAMENTE A UMA CERCA CONVENCIONAL • Metade do custo de uma cerca convencional com rede galvanizada; • Metade do tempo de instalação • Duplica a vida útil de uma cerca convencional quando

se utiliza um arame ligado a uma eletrificadora; • Redução dos custos de manutenção; • Maior versatilidade; • Permite uma melhor gestão do pastoreio.

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089


#40 | jan. fev. mar. 2021

REVISTA RUMINANTES

SIMA 2021 | EQUIPAMENTO

SELEÇÃO DE INOVAÇÕES

TRATORES | EQUIPAMENTO

FENDT 200 VARIO

E

stética renovada à imagem dos modelos mais potentes da marca, mais tecnologia à disposição do operador e uma revisão do interior da cabine, são as alterações mais significativas dos novos 200 Vario. A série 200 Vario é composta por 5 modelos com potências entre os 79 cv e os 124 cv. Todos podem equipar com os packs de equipamento Power, Profi ou Profi+. MOTOR O motor, comum a todos os modelos, é um Agco Power de 3 cilindros e 3,3 litros. Os requisitos da Fase V de emissões são alcançados através de uma combinação DOC+DPF+SCR. Também inclui ventoinha Viscotronic. O novo boost Dynamic Performance existe nesta série exclusivamente no 211 Vario, e fornece uma potência adicional de 10 cv quando solicitado. Ao contrário dos boost habituais, pode entrar em ação mesmo em modo estacionário, o que o torna especialmente útil quando o trator estiver a ser utilizado com um unifeed. TRANSMISSÃO A Fendt, como habitualmente, disponibiliza apenas uma caixa de transmissão de variação contínua. Controlada através do novo joystick multifunções, alcança os 40 km/h.

HIDRÁULICO COM SENSOR DE CARGA O sistema hidráulico é de tipo CCLS. Para o elevador frontal, e como opção, a Fendt disponibiliza um novo sistema de adaptação ao relevo, através do qual o operador pode controlar a pressão sobre o solo, especialmente útil para o trabalho com gadanheiras frontais. CABINE Está mais alta do que na geração anterior e conta com um novo apoio de braço. A pensar nos trabalhos com carregador frontal, a Fendt redesenhou a abertura superior da cabine, assegurando maior e melhor visibilidade. No que respeita ao conceito FendtOne, os 200 Vario equipam com um painel digital de 10” na coluna de direção e, como opcional, com um terminal de 12” instalado no apoio de braço. VERSÃO PROFI+ Na versão mais completa a nível tecnológico, os 200 Vario são compatíveis com ISOBUS, e podem contar com condução automática FendtGuide e software Fendt Task Doc para transferência de dados e documentação.

SULKY-BUREL Speed Control

Os distribuidores de adubo centrífugos da Sulky passam a integrar a tecnologia Speed Control. Trata-se de uma nova tecnologia de aplicação de fertilizantes que permite que o distribuidor centrífugo adapte automaticamente a mancha de distribuição em função da velocidade de avanço.

ZÜRN HARVESTING Aparador-colhedor Top Cut Collect Este aparador-colhedor está equipado com bobinas helicoidais e correias transportadoras que transferem as sementes das ervas daninhas para uma tremonha. Motores hidráulicos, alimentados com óleo do circuito hidráulico do trator, acionam esses órgãos. A sua velocidade de rotação é facilmente ajustada pelo tratorista de acordo com o volume colhido, ou com a velocidade de avanço. Dependendo do tipo de cultura e erva daninha, a velocidade de trabalho varia entre 5 e 10 km/h. As rodas estabilizadoras, reguláveis hidraulicamente em altura a partir da cabine, estabilizam a máquina. O rendimento desta máquina varia, de acordo com as condições, entre 9 e 18 ha/h.

090

SMART-APPLY ® Intelligent Spray Control System™

Sistema de pulverização preciso baseado no LIDAR, que se adapta a todos os pulverizadores a jato de ar, identificando com precisão a densidade do coberto e da folhagem. Controla cada bico, individualmente, para obter uma pulverização precisa em função da densidade. Este sistema pode controlar até 20 bicos por lado, scaneando 120.000 pontos por segundo com uma precisão de 0,5 mm por varredura.

CLAAS Torion 738T Sinus

A carregadora de rodas TORION 738 T pertence a uma categoria de carregadoras compactas com braço telescópico. Combina um sistema direcional e um sistema de proteção inteligente, para evitar que a máquina tombe, de forma a melhorar o desempenho de elevação e a segurança do operador. Este sistema evita paragens sistemáticas e o risco de movimentos automáticos não intencionais que causem a perda de controlo da posição de carga. Apesar do seu tamanho, tem uma capacidade de carga notável: 1,3 ton na extremidade da lança, mesmo quando a esta se encontra na sua extensão máxima, de 4,80m.


Novidades no mercado

EQUIPAMENTO

HYDROKIT Assist’load

A Hydrokit desenvolveu um painel de instruções luminoso — Assist'load, que se instala na lateral da cabina das colhedoras automotrizes, por forma a poder ser visto pelos operadores dos reboques. O operador da máquina automotriz dirá ao motorista do reboque para avançar ou recuar, conforme o enchimento do mesmo.

NEW HOLLAND Nutrisense

O sensor de proximidade infravermelho NutriSense permite que os agricultores conheçam a composição das suas colheitas, incluindo nível de humidade, ADF, NDF, fibra, proteína, cinzas e gordura bruta. O NutriSense está disponível, como equipamento opcional, na ceifeira debulhadora CR Revelation.

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PÖTTINGER Flowtast

A Pöttinger desenvolveu um patim, em matéria compósita, Robalon, que substitui as rodas sob o rotor. Em combinação com a suspensão hidráulica do rotor, esta solução inovadora respeita a camada vegetal e evita a compactação do solo. Está disponível, como opção, nos volta-fenos encordoadores TOP 842 C da marca.

KRONE Krone Dynamics

Com o suporte Krone Dynamics, o voltador Krone Vendro pode ser desengatado em três pontos fixos sem risco de emperrar, ou ferir o operador, ou de tombar ao acoplar. A máquina deixa de estar apoiada sobre as rodas, evitando danos nos pneus durante armazenamentos prolongados.


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DE HEUS | EQUIPAMENTO

APP COOLCARE ANTECIPA O STRESS TÉRMICO A De Heus disponibiliza em Portugal, em estreia mundial, a app CoolCare. Trata-se de uma aplicação web gratuita, disponível para Android e iOS, que permite aos produtores de leite anteciparem os níveis de stress térmico a que as suas vacas possam estar sujeitas, e agirem para limitar o seu impacto negativo. Esteja atento às páginas De Heus no Facebook e LinkedIn, onde em breve será anunciado um webinar onde poderá saber mais sobre o CoolCare. Para mais informações, consulte o site www.deheus.pt ou contacte através do e-mail: marketing.pt@deheus.com

COOLCARE | VACAS DE LEITE

PREVENIR O STRESS TÉRMICO

P

ara combater o problema do stress térmico, a De Heus desenvolveu o CoolCare. Com resultados comprovados internacionalmente, e também em Portugal, este produto pode ser utilizado durante toda a época de calor, ou de forma pontual, nos períodos críticos. Com o CoolCare, através da utilização de tecnologia nutricional e de um conjunto de regras de maneio, procura-se limitar o impacto negativo do stress térmico. Este produto constitui uma solução completa, cobrindo todas as vertentes nutricionais relacionadas com a prevenção do stress térmico. Ao contrário de outros produtos que se concentram apenas numa ou duas vertentes nutricionais, o CoolCare cobre quase todas as possibilidades nutricionais da prevenção do stress térmico. Por exemplo, contém um conservante que mantém o TMR mais fresco, evitando dessa forma o uso de outros produtos, simultaneamente, na exploração. Por isso, poupa trabalho e evita custos adicionais. As substâncias ativas no CoolCare são buffers, antitoxinas, minerais, vitaminas, conservantes

Complementamos a nossa GAMA DIOXIDOS

G-Mix Power

Golden Mix

Power Blue Mix

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e reguladores térmicos bioativos. EFEITOS DO COOLCARE • Produção leite mais estável • Maior ingestão de matéria seca • TMR mais fresco • Maior ingestão de água, animais mais hidratados • Menor descida da gordura e proteína do leite • Melhor taxa de conceção • Menos acidoses • Animais mais saudáveis e felizes COMO DEVE SER USADO O COOLCARE O conselho da De Heus é que o CoolCare seja usado apenas durante os períodos de stress térmico - períodos em que o THI é superior a 68 - e não durante todo o verão, para evitar custos desnecessários. Em explorações de maior dimensão, com vários grupos de produção, pode-se oferecer apenas aos grupos de alta produção (os com maior risco, e que podem sofrer mais com as consequências mais negativas do stress térmico). É, por isso, um produto muito prático de implementar e também eficaz do ponto de vista económico.


Novidades no mercado

EQUIPAMENTO

C-ONE2 | DIGIDELTA SOFTWARE

RAPID REACT® | PIONEER

IDENTIFICAÇÃO ANIMAL A Digidelta Software tem disponível um novo equipamento para venda, o C-One2. Este equipamento oferece uma solução versátil para leitura de identificação animal. Um só aparelho lê brincos FDX e HDX-B e tem um leitor de código de barras integrado. Tem distância de leitura de aproximadamente 20 cm e uma antena RFID externa de 80 cm.

NOVOS INOCULANTES

O equipamento, que é também um smartphone, é produzido pela empresa francesa Coppernic, especialista em soluções para controlo e rastreabilidade de mercadorias, pessoas e animais. O C-One2 está integrado com o software Wezoot e permite fazer a leitura de brincos e o registo de tarefas apenas num equipamento.

Uma questão importante para os produtores de silagem, prende-se com os tempos de fermentação que, tradicionalmente, estão estipulados para os silos. Sabendo desta necessidade, não atendida, os microbiologistas da Pioneer iniciaram a busca por novas estirpes de L. buchneri que permitissem a aberturas dos silos mais rapidamente. Como resultado,

Fertilizantes com futuro

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surgiram os inoculantes da marca Pioneer, com tecnologia de estabilidade aeróbia Rapid React. Um novo portfólio de inoculantes de L. buchneri que podem conferir os atributos de vida útil desejados, somente 7 dias após o seu fecho. Estão disponíveis nos inoculantes Pioneer® 11C33 (silagem de milho), 11B91 (pastone) e 11G22 (erva).


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SELOS DE BEM-ESTAR ANIMAL

H

oje, as grandes superfícies Europeias e Portuguesas estão a apostar na colocação de selos de bem-estar animal. Este selo, em Portugal e em Espanha, chama-se WELFAIR (pode ler mais sobre o selo em www. animalwelfair.com). De uma forma simples, num selo que se coloca em leite, carne, queijo, iogurte e em todo o tipo de processados de origem animal. A FarmIN fez uma parceria com o IRTA - Institute of agrifood research and technology , detentor do selo Welfair, para execução das formações acreditadas por protocolos europeus (Welfare Quality

FARMIN-TRAININGS Network e Animal Welfare Indicators), uma vez que, para os alimentos levarem o selo é preciso que sejam efetuadas auditorias de bem-estar (internamente na exploração e, externamente, por entidades certificadoras). Assim, estes cursos têm os seguintes objetivos: - compreensão do selo de bem-estar e de toda a sua envolvência; - compreensão sobre o protocolo que deverá ser respeitado para colocação do selo; - compreensão, na totalidade, da execução e implementação do protocolo; - autonomia total de execução de auditorias.

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CALENDÁRIO DE CURSOS AUDITOR DE BEM-ESTAR Bovinos de leite Data: 19, 20 e 21 de Abril Formador: George Stilwell (auditor de bem-estar acreditado Welfare Quality e IRTA) Língua: Português Localização: Tomar AUDITOR DE BEM- ESTAR Pequenos ruminantes leiteiros (ovinos e caprinos) Data: 27, 29 e 30 de Abril Formador: George Stilwell (auditor de bem-estar acreditado Welfare Quality e IRTA) Língua: Português Localização: Tomar

AUDITOR DE BEM-ESTAR Borregos de engorda Data: 4,5,6 e 7 de Maio Formador: Roberto Ruiz (membro acreditado AWIN) Língua: Espanhol Localização: Tomar AUDITOR DE BEM-ESTAR Matadouro de Bovinos Data: 28,29 e 30 de Maio Formador: Antoni Dalmau Bueno (auditor de bemestar acreditado Welfare Quality) Língua: Espanhol Localização: Tomar Programa: Brevemente Consulte o programa em: https://farmin-trainings.com


Novidades no mercado

EQUIPAMENTO

SMAXTEC TRURUMI

WILHELM KRISTEN

MONITORIZADOR DE RUMINAÇÃO A tecnologia TruRumi embarcada, da empresa austríaca Smaxtec, informa o criador sobre o número e a duração das contrações ruminais. A tecnologia de monitorização TruRumi mede com precisão a ruminação, graças ao bolo conectado ingerido pelo animal. Este bolo informa o criador sobre o número e a duração

CORNADIS COM COMANDO À DISTÂNCIA

das contrações ruminais. Ao combinar esses dados com a temperatura corporal e a atividade do animal, o operador pode entender melhor os seus animais e melhorar a deteção precoce de problemas, como o deslocamento do abomaso, mastite por bactéria E. coli, parto, estro ou problemas de alimentação.

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A alavanca elétrica para destravar os cornadis, proposta por Wilhelm Kristen, dá ao criador a possibilidade de controlo remoto, através de um aplicativo de smartphone. Portanto, evita que o criador tenha que voltar ao estábulo, propositadamente, para "soltar" os animais

do rebanho. Este sistema, que também possui um temporizador, pode também ser instalado em instalações mais antigas e permite controlar até quatro alavancas, através de uma única unidade de controlo central. Requer uma conexão wi-fi para se comunicar com um smartphone, Android ou iOS.


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NUTRIÇÃO

O DILEMA DO OMNÍVORO

QUAIS OS BENEFÍCIOS DE COMER CARNE, ÓRGÃOS, CALDO DE OSSOS, OVOS OU LATICÍNIOS? TORNA-SE CADA VEZ MAIS IMPORTANTE QUE OS AGRICULTORES, E OUTROS PRODUTORES DO SETOR AGROPECUÁRIO, ESTEJAM INFORMADOS SOBRE O VALOR NUTRICIONAL DESTES ALIMENTOS PARA MELHOR PROMOVEREM O SEU NEGÓCIO. Mais informação sobre dietas nutricionalmente densas em www.westonaprice.org

O Dilema do Omnívoro paira sobre o Homem, desde o início dos tempos. Então, para ter o que comer, o homem tinha que ir à caça ou arriscar alimentar-se de alguns cogumelos que apareciam, esperando que não fossem letalmente venenosos. Agora, que a comida é abundante quase em toda a parte (muitas vezes até em demasia), o dilema é outro: a otimização da nutrição. Estamos cada vez mais preocupados em saber quais os alimentos mais indicados para nós e, além disso, quais os que têm menos efeitos nefastos para o meio-ambiente.

Michelle Harvey é terapeuta nutricional e health food chef. O seu foco são as dietas não-restritivas, os alimentos integrais e a reabilitação dos conhecimentos ancestrais como guia para o bem-estar. Pode segui-la em: michellechristineharvey@gmail.com Instagram.com/michelleharvey

Torna-se cada vez mais importante que os agricultores, e outros produtores do setor agropecuário, estejam informados sobre estas temáticas. A nós, cabe esforçarmo--nos por saciar tanto a curiosidade de saber do leitor, como o seu apetite. Assim, espero que esta coluna ajude a atingir esses objetivos no domínio da nutrição. Quais os benefícios de comer carne, órgãos, caldo de ossos, ovos ou laticínios? Muitas vezes, não é a quantidade de um nutriente 096

que é ingerido que importa, mas sim a forma em que ele se apresenta, existindo tipos diferentes do mesmo nutriente, consoante a sua proveniência. Existem também co-enzimas e co-fatores que nos ajudam a absorver os nutrientes. Estes funcionam como “companheiros” que ajudam o nutriente a ser melhor absorvido pelo organismo. Existem, por outro lado, toxinas vegetais que atrapalham a absorção de alguns nutrientes. São fitatos, oxalatos e lecitinas. Estas toxinas são produzidas pelas plantas como mecanismo de defesa, já que as plantas


Novidades no mercado

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(ao contrário dos animais) não possuem meios de defesa física muito desenvolvidos. Servem para dissuadir os insetos, e outros animais, de as consumirem. Assim, as plantas podem ter um efeito negativo de “anti-nutriente” na nossa alimentação. Alguns exemplos de nutrientes importantes para nós, são: - o zinco: muitas plantas que contêm zinco também contêm fitatos que inibem a absorção do zinco. A dieta vegetariana, tendencialmente, reduz a absorção do zinco em 35%, comparativamente com a dieta omnívora. Logo, mesmo que o seu aporte diário iguale ou ultrapasse a dose diária recomendada, a deficiência pode, ainda assim, ocorrer. Um estudo sugere que, por esta razão, os vegetarianos possam requerer até mais 50% de zinco do que os omnivoros; - o cálcio: a biodisponibilidade do cálcio presente em alimentos de origem vegetal vê-se afetada pelos teores de oxalato e fitato, que são inibidores da absorção de cálcio. Os fitatos formam complexos com minerais no nosso aparelho digestivo, impedindo-os de serem absorvidos. Um estudo refere que é necessário o equivalente a 33 copos de folhas de espinafre,

para obter a mesma quantidade de cálcio biodisponível em 1 copo de leite. - o ferro-heme: a biodisponibilidade de ferroheme é muito maior em produtos animais do que em produtos vegetais. A forma vegetal de ferro-heme é também inibida por outros tipos de alimentos muito comuns, como café, chá, laticínios e suplementos de fibra e cálcio; - a vitamina A: a ideia de que os alimentos contêm vitamina A é uma noção errada muito comum. As plantas contêm beta-caroteno, o precursor da vitamina A (retinol). Porém, apesar de estas substâncias serem convertidas uma na outra no corpo humano, a conversão é muito ineficiente. Por exemplo, uma dose de fígado por semana preenche os requisitos de vitamina A, enquanto que são necessárias 2 xícaras de cenouras, 2 xícaras de couve kale ou 1 xícara de batata doce, por dia, para trazer o mesmo aporte de vitamina A; - a vitamina B12: é um mito muito frequente, entre vegetarianos e vegans, ser possível obter B12 a partir de fontes vegetais, como algas (nomeadamente espirulina), soja fermentada, e levedura de cerveja. Estes alimentos contêm, sim, cobamidas, que são análogos da vitamina

RUMINANTES

B12. Isto explica porque é que estudos apontam para que 77% dos vegetarianos, e 92% dos vegans, tenham deficiência nesta vitamina, comparativamente com apenas 11% dos omnívoros. - os ácidos-gordos: as plantas contêm ácido linoleico (um omega-6) e ácido alfalinoleico (um omega-3), ambos considerados essenciais; ou seja, não podem ser sintetizados no corpo humano, devendo ser, necessariamente, obtidos da dieta. Contudo, cada vez mais estudos apontam para os benefícios dos ácidos gordos omega-3 de cadeia longa, como o EPA e o DHA que se encontram em altas concentrações em peixes como as sardinhas. Estes ácidos gordos têm um papel terapêutico e protetor em várias doenças. Embora algum ácido alfa-linoleico possa ser convertido em EPA e DHA, essa conversão é muito escassa em humanos: entre 5% e 10% para o EPA, e 2% a 5% para o DHA; Espero que estes exemplos sirvam para mostrar como a espécie humana necessita de obter os seus nutrientes tanto de fontes vegetais, como animais. Sendo que, no caso de alguns nutrientes específicos, é mais eficiente adquiri-los exclusivamente a partir de produtos animais.

A RECEITA DA MICHELLE Patê de fígado de vaca Ingredientes • 500 g fígado de vaca • 1 cebola pequena • 2 colheres de sopa de manteiga • 125 g de manteiga ou toucinho • 125 ml de vinho tinto • 2 a 4 dentes de alho • 1 colher de chá de mostarda de Dijon (sem glúten) • 1 ramo de alecrim fresco • 1 ramo de tomilho fresco • 1 colher de sopa de sumo de limão acabado de espremer • sal e pimenta a gosto Numa panela grande, saltear o fígado e as cebolas nas 2 colheres de sopa de manteiga, até o fígado estar dourado e as cebolas translúcidas. Adicionar o vinho, alho, mostarda, alecrim, tomilho e sumo de limão e cozinhar, sem tampa, até a maior parte do líquido evaporar. Transferir a mistura para uma liquidificadora, e triturar com o resto da manteiga ou toucinho (um pouco de cada vez), até obter uma massa suave e cremosa. Adicionar sal e pimenta a gosto. Colocar o patê num prato raso, a refrigerar, antes de servir. Fazer palitos de aipo, cenoura, pepino, pimento, ou outros legumes, para molhar no patê.

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10 ANOS

Índice VL-Erva

A rentabilidade das explorações de leite dos Açores nos últimos 7 anos

Regenerar o montado Entrevista ao agricultor Frederico Macau

Beterraba forrageira

Uma forma inovadora de produzir carne a baixo custo

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Humidade pH Imunoglobulinas Ácido lático Óleo de manteiga

RICO Em ImuNOglOBulINAS PRImEIRA lINHA dE dEFESA ImuNItáRIA

Leite em pó Proteína de trigo hidrolisada

4,0%

Premix

5.8-6.3

Lactose

dos vitelos ao nível do intestino

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Novidades no mercado

EQUIPAMENTO

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