Ruminantes20

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A REVISTA DA AGROPECUÁRIA Ano 6 - Nº 20 - 5,00€ janeiro | fevereiro | março 2016 (trimestral) Diretor: Nuno Marques www.revista-ruminantes.com

IRMÃOS RITA Um negócio de paixão e sucesso

SUFFOLK uma raça que acrescenta valor

programa procross uma experiência feliz



EDITORIAL

edição nº20 janeiro | fevereiro | março 2016

INVESTIGAÇÃO AGRÍCOLA APLICADA Recentemente, tive a oportunidade de conhecer, em parte, o negócio do milho de semente em França, Dos vários registos de que tomei boa nota, destaco dois a que gostaria de fazer aqui referência. Um deles refere-se ao trabalho de equipa desenvolvido pelas diversas organizações de agricultores e empresas envolvidas no negócio do milho de semente. A qualidade dos milhos de semente produzidos em França e a sua permanente evolução são reconhecidas pelos agricultores. O seu estatuto é elevado e a responsabilidade de fazer bem e sempre melhor está interiorizada em todos os intervenientes nas várias etapas deste negócio, desde a Federação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo de Semente, passando pelos organismos de fiscalização e certificação, até ao agricultor. A impressão com que fiquei, comum à de outros colegas, é a de que tudo funciona com muito pouca “participação” do Estado, desde a fiscalização, quase por inteiro da responsabilidade de uma organização interprofissional, à definição dos objetivos anuais para melhorar a produtividade e a competitividade do milho, definidos entre todos os players e monitorizados por um instituto de investigação. Todo o trabalho é feito em harmonia com as metas definidas por todas as estruturas existentes e onde o associativismo funciona em prol do negócio de milho de semente “francês”. Um só caminho é traçado e percorrido por todos, ano após ano. Destaco também o trabalho realizado pelo ARVALIS-Institut du Végétal, um organismo francês de investigação agrícola aplicada, financiado maioritariamente por organizações interprofissionais, por receitas de serviços de investigação e pelo Ministério da Agricultura, cuja gestão é assegurada pelos agricultores. Criado em 2002, com a fusão entre o AGPMTECHNIQUE e o ITCF - Institut Technique des Céréales et des Fourrages, este instituto tem como principal missão ajudar os produtores agrícolas, as suas organizações e as empresas da fileira a resolver os problemas técnicos, técnico-económicos (como melhorar a competitividade agrícola, criar oportunidades negócio e aumentar a rentabilidade da produção...), sociais e ambientais. O trabalho deste instituto é respeitado e elogiado pelos agricultores, são desenvolvidos estudos sobre situações de grande interesse prático, com forte divulgação em revistas da especialidade e através de canais próprios e ações de formação, de forma a garantir que o conhecimento e os resultados obtidos chegam aos utilizadores finais, os agricultores. É também através deste organismo, e dos seus centros de pesquisa, estações e explorações experimentais e laboratórios que muitos jovens recém formados podem aplicar no “campo” métodos de trabalho aprendidos nas escolas e universidades, e ao mesmo tempo mostrar-se ao mundo do negócio. É um bom exemplo de como o conhecimento pode ser posto ao serviço do agricultor e da indústria, com um verdadeiro trabalho de extensão rural.

Diretor

Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com Colaboraram nesta edição Abílio Carvalho; Adélio Mariz; Alexandre Arriaga e Cunha; Alexandre Mourato; António Cannas; António Moitinho; Bárbara Nunes; Carlos Vouzela; Carolina Cunha; Cristina Antunes; David Catita; Eduardo Vasconcelos; Fernando Martins; Francisco Marques; George Stilwell; Gonçalo Canha; Guilherme Silva; Helder Rodrigues; Helena Morais Santos; Isabel Faria; João Santos; Jorge Oliveira; Jorge Rita; José Caiado; José Matias; Luís Bandeira; Luis Vilhena Nobre; Marco Rodrigues; Mário Quaresma; Paula Soler; Paulo Costa e Sousa; Pedro António Palazón; Pedro Castelo; Quadrado Filipe; Rúben Rodrigues; Rui Calouro; Teresa Moreira; Tiago Vilaça.

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Design e PrÉ-impressão Sílvia Patrão | prepress@revista-ruminantes.com

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Desejo um Bom Ano a todos os nossos leitores! Nuno Marques www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/revistaruminantes

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Índice Alimentação 12 Rumen school 26 Fatores a considerar ao comprar forragem 52 Micotoxinas, a ameaça invisível

ECONOMIA 34 Observatório de matérias primas 36 Observatório do leite 38 Índice VL e Índice VL erva

empresas 20 Progado, uma nova marca do grupo Cargill

FERTILIZAÇÃO

22

44 Fertilização azotada

forragens 48 Produção de ruminantes com forragem hidropónica

Programa Procross Três anos passados da primeira entrevista a Alexandre Arriaga e Cunha, Casal de Quintanelas, voltámos para saber como tem corrido a implementação do Programa Procross.

50 Beterraba forrageira, como produzir?

Produção 30 Vacas felizes, produtores felizes, indústria feliz

produto 40 CowManager SensOor, monitorizar para poupar 64 Explorações robotizadas, um produtor mais disponível 66 O SOP GOLD COW, por um ambiente mais puro 68 Novidades de produto

reportagem 8

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Venda de embriões

Suffolk

Conversámos com Jorge Rita, dono de uma das explorações portuguesas com maior projeção no ramo da produção e venda de embriões.

Entrevistámos a secretária técnica do Livro Genealógico da raça Suffolk que é considerada uma das melhores raças de ovinos de carne.

As vacas, os concursos, o contraste e o sector do leite

14 Viagem aos milhos de semente em França

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL 56 Primeiros cuidados em vitelos recém-nascidos, em vacarias de leite 62 De que depende a fertilidade numa vacada?

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atualidades

Um probiótico baseado num Bacillus poderá melhorar a produção e a saúde das vacas leiteiras O uso de Bacillus pumillus como um probiótico no período peri-parto das vacas leiteiras (3 semanas antes e 3 semanas depois do parto) poderá ter um impacto positivo na eficiência da produção de leite bem como na saúde das vacas leiteiras. Estas foram as principais conclusões do estudo de Filipe Cardoso e da sua equipa da Universidade de Illinois que teve como objetivo principal estudar a influência do B. Pumilus não só no período peri-parto como também na produção de leite nos meses subsequentes. Estes investigadores concluíram que ao usar este probiótico não só o índice de conversão alimentar foi maior, bem como a imunidade das vacas suplementadas melhorou e a prevalência da cetose subclínica foi menor. Estes melhoramentos podem levar a uma diminuição dos custos de tratamento, bem como a uma maior produção e mais eficiente devido a uma melhoria na saúde dos animais, seja pelo aumento da imunidade ou pela menor prevalência de cetoses subclínicas. Como perspetivas futuras deste estudo, os investigadores pensam agora no potencial de melhoria da imunidade não só para a vaca, bem como para os seus descendentes, podendo levar a uma menor utilização de antibióticos nos vitelos e nos animais adultos. Para mais informações Consultar o estudo “Effects of direct-fed Bacillus pumilus 8G-134 on feed intake, milk yield, milk composition, feed conversion, and health condition of pre- and postpartum Holstein cows” em: http://www.journalofdairyscience.org/ article/S0022-0302(15)00481-6/abstract

para a produção de Leite”, da autoria de António Moitinho Rodrigues, Carlos Vouzela e Nuno Marques. Neste índice, pretende-se reforçar a importância que os Índices VL e Índice VLcomunicações em forma ERVA têm como indicadores de painel. Estes números de rentabilidade numa parecem confirmar a exploração de bovinos importância que a atividade leiteiros. Estes indicadores agrícola está a ter para o resultam da divisão da desenvolvimento do país e receita proveniente da a vitalidade crescente das venda do leite produzido instituições de ensino superior diariamente por uma vaca agrário. tipo, num determinado mês, pelo custo da alimentação diária da mesma por vaca, Índice VL e Índice no mesmo mês. O valor VL-ERVA do indicador é influenciado Uma das comunicações pelo preço do leite e pelo apresentadas centrou-se preço dos alimentos. no trabalho que tem vindo Da análise da evolução a ser publicado pela Revista do Índice VL é possível Ruminantes sob o título concluir que os produtores “Índice VL e Índice VLde leite do Continente ERVA: ferramentas úteis entraram num período altamente penalizador para o sucesso económico das explorações. Já nos Açores, a sobrevivência das explorações leiteiras deve-se, em grande parte, aos apoios regionais existentes, fruto do poder reivindicativo das associações de produtores, já que a sua economia assenta fundamentalmente no sector primário.

I Congresso Nacional das Escolas Superiores Agrárias O interesse dos jovens pela área das Ciências Agrárias está a aumentar, contrariando a tendência que se fez sentir até há três anos atrás. Esta foi uma das constatações dos participantes do I Congresso Nacional das Escolas Superiores Agrárias, que decorreu nos dias 2 e 3 de dezembro, em Bragança, onde se juntaram mais de 200 docentes e investigadores, entre os cerca de 300 participantes das oito escolas superiores agrárias do país. Durante o congresso foram apresentadas 73 comunicações orais e 152

6 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

Victor Fernandes Queijaria Artesanal A Queijaria Artesanal Victor Fernandes, situada na Quinta do Anjo, concelho de Palmela foi a vencedora do concurso de queijos de Portugal 2015. Esta queijaria familiar, que tem visto o seu trabalho ser reconhecido através de vários prémios nacionais e internacionais, voltou a ganhar, em outubro passado, o concurso de queijos de Portugal 2015 organizado pela ANIL, na categoria de melhor queijo de ovelha cura normal. A produção de queijo de Azeitão começou em 1988 pela mão de Victor Fernandes que aprendeu a arte de saber fazer o queijo com o famoso queijeiro Alfredo, mais conhecido pelo “Migalheiro” da Quinta Velha. Através do seu saber e experiência, juntamente com as condições geográficas peculiares desta região, permitem a produção deste queijo único durante todo o ano. A Victor Fernandes Queijaria Artesanal fabrica outros produtos com a mesma excelência do Queijo de Azeitão: queijo de ovelha curado, queijo fresco de ovelha, requeijão de ovelha e ainda manteiga de ovelha.


atualidades

Aumento do uso de antibióticos na produção animal Americana As vendas domésticas de antibióticos nos Estados Unidos da América (EUA) subiram 22% de 2009 a 2014, esta foi uma das conclusões do último relatório da FDA (Food and Drug Administration). A FDA reúne todos os anos informação sobre a quantidade de medicamentos vendidos e distribuídos no país, para uso em animais de produção, cujo ingrediente ativo seja um antimicrobiano. Posteriormente disponibiliza anualmente um relatório que resume esta informação. No ano de 2014 o tipo de antimicrobianos mais utilizados na produção animal foram as tectraciclinas (43%) e os ionóforos (31%). As tetraciclinas pertencem à classe de antibióticos classificados como importantes pela FDA. Esta classe foi a mais vendida e distribuída no ano de 2014 nos EUA, representando 61% da amostra total. Em relação ao ano anterior (2013) as vendas aumentaram 4% e o uso de antibióticos da classe importante subiu 3%, sendo que os de menor importância subiram 5%. Outra conclusão do relatório prendeu-se no facto de cerca de 73% dos antibióticos importantes vendidos e distribuídos para a produção animal, eram de administração no alimento, via frequentemente utilizada na administração de antibióticos com fim preventivo, que normalmente não está ligado a um uso responsável dos antibióticos. Para os Estados Unidos estes números são bastante preocupantes uma vez que se estima que 2 milhões de Americanos são anualmente infetados por micro-oganismos multirresistentes, cuja origem se deve em parte ao excesso de uso de antibióticos na produção animal. Para mais informações Consultar o site: http://www.fda.gov/AnimalVeterinary/ NewsEvents/CVMUpdates/ucm476256.htm

Melhorar a rentabilidade da produção local A Sorgal, em parceria com o seu cliente Joaquim das Rações e a Alltech organizou, no passado dia 15 de outubro, uma palestra aberta a todos os clientes com vista à melhoria da rentabilidade nas engordas de novilhos. Estes encontros na opinião do diretor técnico e comercial da Sojagado, José Vieira, “servem acima de tudo para estreitar laços entre o sector industrial e os produtores, no sentido de podermos conceber soluções integradas e à medida, que aumentem a rentabilidade da produção. E isto só é possível com relações sólidas de parceria, em muito desenvolvidas neste tipo de encontros”.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 7


reportagem

As vacas, os concursos, o contraste e o sector do leite À conversa com Jorge Rita por ruminantes

número de animais do Concurso de Verão, entre 220 a 230 por comparação aos 180 que se apresentam agora.

Falámos com Jorge Rita, Presidente da Associação Agrícola de S. Miguel (AASM) sobre a II Edição do Concurso Micaelense de Outono, que decorreu nos dias 28 e 29 de novembro, nas fantásticas instalações da AASM. Ruminantes - Há alguma novidade relativamente a este concurso que gostasse de destacar? Jorge Rita - Relativamente ao concurso propriamente dito, não há grandes novidades, até porque é difícil inovar num concurso que tem as suas próprias tradições. Este é o 2º ano que realizamos o Concurso de Outono. Estamos bastante satisfeitos porque por um lado estão presentes

65 explorações, praticamente o mesmo número de participantes do Concurso de Verão, e por outro é mais uma oportunidade de potenciar este espaço magnifico. Uma vez que referiu as explorações presentes no Concurso, em termos de número de animais, qual é o saldo? Em termos de explorações o número é muito próximo ao Concurso de Verão. Relativamente ao número de animais, na prática o que nos está a faltar é o Concurso Juvenil, que envolve habitualmente entre 40 a 50 animais. Se não fosse este facto, teríamos aproximadamente o mesmo

8 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

O Concurso atingiu as expetativas? Sim, posso afirmar que as minhas expetativas foram cumpridas. Em termos de adesão, esperava que este ano fosse superior a 2014, mesmo porque quando se faz uma coisa pela primeira vez, existe sempre alguma desconfiança. Este ano ficou claramente demonstrado que as pessoas acabaram por confiar, algumas explorações que não estiveram presentes no ano anterior, vieram em 2015, o que ajuda a abrilhantar o Concurso em si. Fazendo um balanço de forma antecipada, este Concurso de Outono pela sua dinâmica, será mais uma montra da excelência do que se faz em S. Miguel. Um aspeto que ficou atrás do que esperava foi a menor afluência dos colegas do Continente. Mas entendemo-la devido à desconfiança que se vive neste momento no sector. Os açorianos vivem intensamente os concursos da raça Holstein Frísia. Neste sentido, qual a estratégia para o futuro? Sem querer ferir suscetibilidades, os nossos propósitos passam pela possibilidade de fazermos um Concurso Nacional na Região Autónoma dos Açores. Pode

ser um desafio interessante, que tem custos, mas assim que ultrapassarmos algumas barreiras, sobretudo as de caráter sanitário, os demais entraves serão ultrapassados com alguma boa vontade. Fazer um Concurso Nacional aqui na Região Autónoma dos Açores seria estender o braço a uma região que também faz parte do todo nacional. É um desafio que esperamos que em breve se torne uma realidade. O contraste está intimamente associado aos concursos. Como tem evoluído aqui na AASM? O contraste é uma das melhores ferramentas, em termos de compilação de todos os dados que a Lavoura pode ter. É possível fazer toda a gestão de uma exploração apenas com base nos dados do contraste. Os produtores compreendem este facto e o contraste aqui em S. Miguel tem evoluído de forma muito positiva, quer em número de animais, quer nos resultados dos dados. Continua a fazer sentido, no momento critico que o sector do leite atravessa, incentivar a produção de leite através, por exemplo, do investimento em genética e em práticas que potenciam a capacidade produtiva dos animais? Eu sou da opinião que podemos ter sempre menos vacas para produzir o mesmo


reportagem

leite. Se a indústria não quer mais leite, podemos ter sempre melhores vacas e menos vacas com a mesma produção. Na Região Autónoma dos Açores a indústria está cada vez mais vocacionada para a produção de queijo, o que pode implicar que os produtores alterem, no futuro, a postura perante o que produzem, como produzem e quanto produzem. É altura de olharmos com mais atenção para os sólidos do leite. O produtor deve apostar mais a nível de maneio e a nível de genética, por exemplo, relativamente à proteína. Historicamente, a Região Autónoma do Açores oferece, com alguma naturalidade, aquilo que normalmente a indústria pretende. Mas a minha filosofia relativamente às vacas é que não podemos apostar sempre em mais animais para produzirem mais leite, mas devemos ter uma atenção especial em

fazermos animais com maior longevidade, até porque fazer vacas novas também custa muito dinheiro. A escolha e seleção dos touros deve ter em atenção igualmente a longevidade. Por outro lado, com a melhoria das condições sanitárias nos Açores podemos apostar na venda de genética. A venda de novilhas para fora da região é mais um potencial de negócio que pode ajudar a economia da exploração. Se mandasse em toda a fileira do leite da Região Autónoma dos Açores, quais as medidas que tomava para diminuir ao máximo a dependência dos subsídios? Tomava uma medida drástica, de imposição, que seria obrigar a indústria e a distribuição a entenderem-se de uma vez por todas e a valorizarem mais os nossos produtos. Nenhum produto português, e muito menos o açoriano, pode ser

vendido ao preço a que está no mercado. Não é isso que o consumidor quer e nem sequer é isso que o consumidor exige. Enquanto não existir uma política direcionada, sem medos e sem tabus, que consiga por os industriais transformadores dos laticínios e as grandes distribuições nacionais em sentido e com compromissos regionalistas ou nacionalistas, não é possível não depender dos subsídios. O que nos falta é defendermos as nossas produções, leite, carne, etc. Sei que este é um tema muito sensível para a União Europeia, mas há outros países que o fazem, o caso da França, na Europa, e os Estados Unidos da América que, de forma encapotada, são exímios em apoiar os seus produtores fazendo com que haja concorrência desleal em muitos produtos. Se não se tomarem medidas para que isso aconteça, vamos ter

sempre muitas dificuldades e à mínima situação de excedente a indústria negoceia esse mesmo excedente a preços baixos. Os excedentes deveriam ser acomodados para não haver delapidação do preço pelo facto de se descarregarem os stocks abaixo do preço de custo. Nestes momentos é sempre o produtor que paga a maior fatia da fatura. A falsa questão da estratégia comercial da venda ao consumidor final a preços baixos é uma desculpa que não serve para os produtos dos Açores e do Continente. Isto reflete-se a montante da fileira. A indústria não tem resultados económicos negativos e a grande distribuição também não. Apenas os intervenientes a montante da fileira, os agricultores e as suas associações vivem este drama.

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genética

IRMÃOS RITA

PAIXÃO E SUCESSO POR CASTIGO por ruminantes

Como muitas vezes acontece, a história do negócio dos irmãos Paulo e Jorge Rita começou por um acaso, ou melhor, por um castigo. A paixão de Jorge Rita por vacas sempre foi grande, apesar de não ter uma exploração de família. Após um ano letivo menos bem sucedido, em que falhou o ano por faltas, o pai acaba por lhe fazer a vontade, castigando-o… compra vacas e obriga Jorge a trabalhar, como forma de

Sociedade Irmãos Rita Localização: Maia – Ribeira Grande Nº animais: 220 Gerente: Paulo Rita Funcionários: 2 Genética: Serviço de emparelhamento da AASM. Produção: 11.200 litros com 3.95% teor butiroso, 3.17% teor proteico. Ordenha: 2 vezes por dia, móvel, 3 parques de alimentação (unifeed) e pastagem (totalidade do tempo com exceção do período da ordenha).

penalização. A paixão por estes animais cresceu, e entretanto Jorge continuou a estudar e a tratar das vacas em simultâneo. Passados dois anos, em 1974, já com o gosto mais cimentado, a vontade de ter mais e melhores vacas levou-o a comprar dez animais a um criador de excelência, conhecido por Sr. Visconde. O ponto de partida da exploração, em termos genéticos, foi esse, até porque nunca importaram animais com exceção de alguns embriões adquiridos no exterior no princípio da década de 90. Atualmente tem uma exploração em parceria com o seu irmão Paulo que também se dedicou a esta atividade. A Ruminantes conversou com Jorge Rita sobre a produção e venda de embriões, uma vez que esta é uma das explorações portuguesas com maior projeção neste ramo. Ruminantes - Como surgiu a ideia de fazer a produção e exportação de embriões? Jorge Rita – A ideia surge porque já fazíamos alguma venda de embriões para a ilha de S. Miguel. Para o Continente, o negócio aparece após uma visita à exploração de um grupo de produtores do

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Norte, que ficaram de tal forma agradados com as nossas vacas e a nossa genética que quiseram posteriormente negociar embriões dessas mesmas vacas, algumas das quais permanecem ainda na exploração. Para onde estão a exportar? Neste momento vendemos embriões aqui para os Açores, para o Continente e para Espanha, neste último caso através da EmbrioVet/Embriomarket. Atualmente este é um negócio em retração devido sobretudo ao preço do leite, apesar de, na minha opinião, a genética não ser um custo mas sim um investimento. No entanto, compreendo a descapitalização e sobretudo a desmotivação dos agricultores relativamente a este tipo de investimento. A venda de embriões é a principal fonte de receitas da exploração? Não é a mais importante, nem está próximo do que planeamos em termos futuros, mas ajuda muitas vezes a aliviar alguma pressão dos custos inerentes à exploração, até pelo investimento que representa a transferência embrionária. Acaba por ser uma mais-valia para a exploração.


genética

Laura.

Que exigências produtivas, de maneio e registos, tem este negócio? Um cuidado acrescido em termos de maneio, acompanhamento e alimentação dos animais. Relativamente aos registos, são fundamentais para o sucesso. É muito importante que o produtor se organize e goste verdadeiramente de genética. A formação é fundamental, porque o conhecimento permite alargar horizontes e fazer as coisas de uma forma mais correta.

Irmãos Rita Goldwyn Teresa EX- - x  dias 1.kg - .%TB - .%TP Vaca Campeã Jovem 1 Melhor Úbere 1

Maia, São Miguel AZORES - Portugal

Nós tínhamos duas famílias de vacas muito boas, ainda dos animais comprados ao Sr. Visconde e que foram marcantes para o futuro da exploração. Tudo o que conseguimos aproveitar dessas famílias, mesmo machos, foi aproveitado e a partir desse ponto de partida construímos uma base genética de 3 a 4 famílias de vacas. Continuamos a optar por touros de topo, tanto para tipo como para produção, escolhidos entre mim e o meu irmão Paulo, e os técnicos da AASM responsáveis pelos emparelhamentos.

Tania.

Tem alguma vaca premiada? A Tânia (foto acima) é o animal mais premiado e o ex-libris da exploração, apesar de nunca termos feito embriões dela. A vaca de excelência dos embriões é a Laura (foto acima). São animais que desde vitelas sempre foram campeãs e, cumulativamente, são excelentes produtoras. Ao longo destes anos, como selecionam as linhas de animais, tanto para os concursos como para a produção?

Irmãos Rita Goldwyn Telma EX- -1 x  dias 1.kg - .%TB - .%TP Vaca Vice Campeã intermédia 1 Vaca Vice Campeã Adulta de Outono de 1 Vaca Reserva Campeã de Outono de 1

Os Açores são conhecidos pela grande aposta que fazem em genética e pelo entusiasmo com que vivem os concursos da Raça Frísia. É da opinião que os produtores açorianos deveriam apostar mais neste negócio? Este é um objetivo claro da nossa própria exploração, particularmente, e da região em geral. Fomos pioneiros a nível dos Açores e continuamos com resultados muito positivos, que é o que nos importa, porque apenas através da elevada qualidade dos nossos embriões conseguimos fidelizar os clientes.

Irmãos Rita Sanchez Última EX- - x  dias 11.kg - .1%TB - .%TP Vaca Campeã Intermédia 1 Vaca Vice Grande Campeã 1 Vaca Vice Campeã intermédia 1

Irmãos Rita Tee Off Vânia MB-

Irmãos Rita Goldwyn Tânia EX-

- x  dias .1kg - .%TB - .%TP Vaca Campeã Jovem 1

-1 x  dias 11.kg - .%TB - .1%TP Vaca Grande Campeã 1 e 1 Melhor Úbere 1 Vaca Vice Campeã intermédia 1

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alimentação

Rumen School

Os participantes da Rumen School na exploração leiteira de Manuel Balaseiro.

A eficiência alimentar é uma das chaves para a rentabilidade das explorações leiteiras, sendo determinante para a sua performance. por ruminantes

Programa Foi com este pensamento em mente que a Lallemand em conjunto com a Tecadi escolheu o tema “Como otimizar o rendimento de uma exploração através do maneio do rúmen” para organizar uma “Rumen School”. Esta escola teve a primeira sessão no passado mês de novembro em Vila do Conde, tendo tido a colaboração da Cooperativa Agrícola. A Lallemand, especialista na produção de bactérias e leveduras destinadas à alimentação humana e animal e à inoculação de silagens, tem vindo a promover esta “escola” a nível global. Em Portugal este programa decorre em conjunto com a Tecadi, disponibilizando aos seus clientes uma formação teórico-prática neste domínio - “A ideia é ter mais um serviço para ajudar os produtores a fazerem bem”, diz Paula Soler da Lallemand. A eficiência ruminal é uma ferramenta de produtividade e de longevidade das

vacas, mas continua a ser difícil de medir no campo. A Lallemand desenvolveu um programa de avaliação que permite estimar essa eficiência na exploração graças à observação de sinais fáceis de medir.

Critérios de avaliação Os critérios de avaliação estão baseados em 12 sinais visíveis, divididos em quatro critérios principais, que permitem efetuar uma avaliação completa à exploração: • AMBIENTE - Temperatura e humidade do ar. • ANIMAL – Ruminação, locomoção, “bolo” ruminal e condição corporal. • FEZES – Consistência e presença de partículas não digeridas nas fezes. • PERFORMANCE DA VACA LEITEIRA – Produção leiteira, teor butiroso, teor proteico e eficiência alimentar. Para ajudar nesta avaliação são colocadas à disposição dos técnicos fichas de diagnóstico, um kit de análises

12 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

das fezes (com crivos) e um termómetro higrómetro. As fichas de diagnóstico estão disponíveis por inscrição no website da Lallemand, e as licenças de acesso são renovadas periodicamente. Nesta primeira escola estiveram presentes 20 técnicos de diversas empresas de rações e contou com os formadores Paula Soler e Aurelien Piron (Lallemand), Paula Ventura e Manuel Ortigão (Tecadi) e António Ventura (Cooperativa de Vila do Conde, Veterinário responsável pela dissecação de rúmenes realizada na exploração). Ana Gomes, Diretora do Departamento de Nutrição desta Cooperativa, foi uma das pessoas presentes e na sua opinião “a Rumen School foi um programa muito interessante por ter sido muito prático e ter proporcionado uma troca de ideias e experiências entre técnicos de diferentes empresas de rações”. Para que existisse uma componente realmente prática, a formação decorreu na exploração leiteira de Manuel


alimentação

DADOS EXPLORAÇÃO MANUEL RODRIGUES BALASEIRO 16 hectares (8 ha são arrendados) 232 animais 12 vacas secas 98 em produção 29 litros vaca/dia de média estábulo 3 lotes de produção – 3 regimes alimentares Recursos produzidos: 10 ha silagem de erva e 16 ha silagem de milho

Rodrigues Balaseiro, na Junqueira, Vila do Conde (ver caixa para mais informações). No final, foi unânime a opinião de que este tipo de ações são muito úteis para uma melhor identificação das medidas a tomar para aumentar a eficiência das vacas na conversão da matéria seca ingerida em leite.

Recursos comparados / adquiridos: 22 ha de milho para ensilar e 180 ton de palha

Durante o diagnóstico de avaliação dos animais e das fezes.

Programa alimentar proposto pelos técnicos da Cooperativa Agrícola de Vila do Conde

Uso de ferramentas de precisão na medição da produção de leite, mastites e composição do leite Um estudo publicado em junho no Journal of Dairy Science concluiu que apesar de haver uma clara melhoria na tecnologia de precisão utilizada nas explorações leiteiras, a adoção de tais tecnologias pelos produtores Americanos ainda é bastante baixa. Jeffrey Bewley e o seu colega Matthew Borchers da Universidade do Kentucky realizaram um questionário a vários produtores de leite Americanos com o objetivo de perceber qual o grau de adoção das novas tecnologias, bem como entender as principais razões de adoção, as áreas onde estas tecnologias são mais utilizadas e as áreas onde os produtores gostariam de ver mais tecnologias desenvolvidas. Das 104 respostas utilizadas no estudo os investigadores concluíram que as novas tecnologias são mais utilizadas para medir a produção diária de leite (52,3%), a atividade das vacas (41,3%), a prevalência de mastites (25,7%) e a composição do leite (24,8%). Foi ainda denotada uma tendência crescente para a utilização das novas ferramentas tecnológicas noutros aspetos da produção leiteira como o tempo que os animais passam a alimentar-se, a duração da ruminação e as alterações metabólicas. Finalmente foi ainda identificado um interesse crescente em ferramentas que analisem fatores como os níveis de proteína e de gordura no leite e que detetem precocemente sinais de problemas como mastites, claudicações ou cetoses. Os fatores identificados pelos produtores como mais determinantes na escolha das tecnologias a utilizar na exploração foram o rácio custo benefício, o custo total e a facilidade de utilização. Outra das conclusões importantes do estudo prendeu-se com o facto de que as empresas criadoras das diferentes tecnologias deverem investir mais no treino dos utilizadores, para que estes se tornem mais confiantes na utilização das tecnologias, bem como possam utilizá-las de forma mais eficaz. Para mais informações Consultar o estudo “An assessment of producer precision dairy farming technology use, prepurchase considerations, and usefulness” em: http://www.journalofdairyscience.org/article/S00220302(15)00249-0/abstract

Vacas ProCross para Espanha A Ugenes, Lda. continua a desenvolver fortes laços comerciais com os seus clientes, agora também na compra de novilhas/vitelas ProCross para venda a nível nacional e também para exportação essencialmente para o mercado espanhol. No passado mês de novembro foram comercializados um total de 50 animais ProCross para Espanha das explorações Alexandre Arriaga e Cunha - Sabugo e Agro Pecuária da Tilia, Lda - Fronteira.

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Reportagem

VIAGEM AOS MILHOS DE SEMENTe, em frança A convite da Federação Nacional da Produção de Sementes de Milho e de Sorgo (FNPSMS), a revista Ruminantes viajou até Paris e Toulouse para conhecer como se desenvolve o negócio do maior produtor de milhos para sementes. por ruminantes

Esta Federação, criada em 1950, junta os interesses da Federação Nacional dos Multiplicadores de Sementes e Empresas de Sementes, com o objetivo de conseguir um eficiente e eficaz controlo da produção, um desenvolvimento técnico e económico, e a promoção das elevadas performances das sementes de milho e sorgo produzidas em França. A França é o primeiro produtor europeu de milho para sementes e o primeiro exportador mundial. Tem 31 fábricas de processamento, cerca de 4000 produtores multiplicadores e 50% da área semeada na UE (28). Este sector é estratégico para o país que produz anualmente 230 mil

toneladas de sementes de milho e exporta 60% desta produção. Os seus maiores concorrentes são a Roménia e a Hungria. Um sector importante do negócio de produção de milho para sementes é a fiscalização e certificação de todas as fases do processo. O Ministério da Agricultura Francês delega estas funções numa organização interprofissional (SOC). Para este efeito, é utilizado o laboratório fundado pelas organizações envolvidas (FNPSMS, AGPM, Arvalis – Plant Institute), onde se realizam mais de 70.000 análises para certificação e registo de variedades, entre outras. Este laboratório serve cerca de 250 clientes e emprega 20 pessoas.

A qualidade da semente, é a chave para o desenvolvimento da cultura. “As vantagens das sementes de milho francesas estão nos níveis de rendimento constantes e regulares, com mais de 3 ton/ha de milho semente, no número de variedades produzidas anualmente, (resultado da geografia onde se produzem), nos standards de qualidade (acima dos exigidos pelo regulamento europeu) e nos excelentes resultados técnicos (grande pureza varietal e grande capacidade germinativa).” A FNPSMS realçou ainda “o progresso genético” como a outra chave para o desenvolvimento da cultura, “com elevadas melhorias na produção de milho por hectare.”

Área de produção de milho na Europa

Em 2015, a superfície usada na Europa para a produção de milho ascendeu a 27 milhões de hectares. Na UE-28, foram utililzados 15,1 milhões de hectares, dos quais 9,1 milhões para milho grão (Roménia, França, Hungria, Itália e Polónia), e 6 milhões para milho silagem. Os restantes 11,9 milhões de hectares estão repartidos pela Ucrânia, Rússia e Sérvia. Quanto à produção de milho em Portugal, de acordo com o IFAP, em 2015 foram semeados 126.344 hectares dos quais 38% se destinaram à produção de silagem.

14 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes


Reportagem

COMO TUDO SE PROCESSA Todos os anos, a FNPSMS trabalha em parceria com a GNIS (Groupement National Interprofessionnel des Semences), organização responsável pela certificação, para definir um programa técnico ambicioso envolvendo os profissionais do sector das sementes de milho (multiplicadores e empresas). Este programa, executado pela Arvalis-Plant Institute, é desenhado para melhorar a produtividade do milho de semente francês e a sua competitividade. As áreas de estudo focadas vão desde a Competitividade Fisiológica, Proteção de Doenças, Controlo de Pragas, Maquinaria Agrícola, Controlo de Plantas Infestantes, Fertilização e Irrigação, etc. Peças chave no negócio da produção de milho de semente são os produtores multiplicadores, as cooperativas e as interprofissionais que controlam e certificam as sementes (Imagem1). Nesta viagem, visitámos produtores da Cooperativa Arterris, principal multiplicadora em

Imagem 1 Representantes das diversas organizações.

Imagem 2 Controlo de irrigação.

França com um potencial de 6000 hectares e 300 produtores de sementes. Em 2015, esta cooperativa produziu 150 variedades, semeadas em 4600 hectares e com 500 contratos. Para os agricultores este é um negócio interessante porque permite ter um valor acrescentado interessante na produção de milho, ainda que exija muito maior precisão, mais mão-de-obra (castração, etc.), know-how e muitas auditorias externas para confirmar se tudo está a decorrer segundo as regras. Visitámos também um campo

de ensaio a cargo do instituto Arvalis que é financiado obrigatoriamente por todos os agricultores. O teste que aqui presenciámos consistia na utilização correta da água em situações de limites de utilização (Imagem 2). Regar corretamente até às 14 folhas e depois diminuir a quantidade água? Regar todo o ciclo com uma irrigação média? Terminar de regar às 15 folhas? Sao algumas das perguntas respondidas pelo tipo de trabalho que é desenvolvido e publicado pela Arvalis para que os agricultores possam

ter mais informação no momento de decidir. Para assegurar o correto embalamento das sementes, a fábrica de sementes da Arterris está apetrechada de todas as máquinas e processos necessários. Nesta unidade pode-se processar o equivalente a 65 hectares por dia e cada lote tem o seu contentor e respetivo código de barras. O produto é sujeito a 48 horas de ventilação fria, desfolha, microcalibragem, calibragem de 5 níveis, tratamento e embalagem.

NO LABORATÓRIO DA SYNGENTA Uma das empresas associadas da FNPSMS é a Syngenta. O grupo de jornalistas convidado pela Federação visitou o seu Centro de Seleção de Girassol e Cereais para a Europa, em St. Sauver Toulouse, um dos centros europeus de biotecnologia mais avançado no domínio da genética quantitativa, genotipagem, bioinformática e marcadores moleculares, onde setenta pessoas estão envolvidas na seleção e avaliação das sementes (Imagem 3). Um dos principais temas abordados nesta visita centrouse na problemática da água e na sua utilização na cultura do milho. A disponibilidade de água, em quantidade e em qualidade, é um dos fatores mais limitantes à produção, pelo que a Syngenta se preocupa em obter maiores produções e qualidade por hectare, reduzindo o consumo de água, fertilizantes e outros inputs. Nas características dos milhos orientados para a silagem, a empresa está focada na digestibilidade da silagem produzida, no conteúdo de amido e na digestibilidade das

Imagem 3 Estufa no centro de seleção.

paredes das células. Como pilares da estratégia para os milhos na EAME (Europa, África, Médio Oriente) estão os projetos Artesian (Water Efficiency) e Powercell (Silage Quality).

Conclusão Sem dúvida que impressiona o desenvolvimento de todo este negócio, a confiança que existe entre todos os intervenientes e o grande papel das estruturas associativas dos agricultores franceses em associação com as grandes empresas do sector.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 15


Produção

SUFFOLK, uma raça que acrescenta valor Entrevista a Helena Morais Santos, secretária técnica do Livro Genealógico (LG) da Raça Suffolk. Por ruminantes

A raça Suffolk surgiu em 1776 na região de Suffolk em Inglaterra, resultando do cruzamento de carneiros da raça Southdown e ovelhas da raça Norfolk. É considerada uma das melhores raças de ovinos de carne, estando atualmente disseminada por todo o mundo. Em Portugal, a Entidade Gestora do Livro Genealógico desta raça é a APORMOR (Associação de Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da Região de Montemor-o-Novo). A secretária técnica do LG, Helena Morais Santos, deu-nos a conhecer o trabalho realizado pelo livro e os seus objetivos. “A história do LG em Portugal da raça ovina Suffolk, iniciou-se em dezembro de 2014, quando a APORMOR foi reconhecida

pela DGAV como Entidade Gestora do Livro Genealógico, o que levou ao arranque do LG da raça Suffolk em janeiro do ano seguinte. Este arranque consistiu em trabalhos de campo e reconhecimento de efetivos, entre outros trabalhos.“, explicou Helena Morais Santos. Atualmente têm dezassete criadores, distribuídos desde Vila do Bispo (distrito de Faro) até Ponte de Sor (Distrito de Portalegre). A maior concentração de animais inscritos está no Alto Alentejo mas o LG é de âmbito nacional, aceitando criadores de todo o país. Cerca de 200 fêmeas adultas (com mais de 9 meses), de linha pura, estão atualmente inscritas no livro. Os dados das explorações e dos animais

16 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

são introduzidos no programa Genpro, da empresa Ruralbit, que permite aos criadores aderentes ao LG visualizarem o efetivo que têm e os dados de cada animal. A técnica do LG faz igualmente o controlo de performances (pesagens) aos 30 e 70 dias de vida, visitando cada criador pelo menos duas vezes por ano. A recolha de sangue para exames de ADN, para confirmar que as paternidades e maternidades são de linhagem pura e filhos de animais que estão registados no livro, é outro dos serviços prestados pela associação. Um dos objetivos para os próximos anos é a expansão e dinamização da raça, com a presença em várias feiras, e realização de estudos em

cruzamentos com raças autóctones, para demonstrar a mais valia presente na utilização da raça e o seu interesse para cruzamentos industriais. Outro objetivo do LG é a inauguração de uma estação de testagem e melhoramento, que irá ter lugar em abril. Ruminantes - Porque decidiram “trazer” a raça Suffolk para Portugal? Helena Morais Santos – Desde há 20 anos que existem animais em Portugal, mas o interesse aumentou levando a uma procura cada vez maior destes animais, e a uma intensificação dos pedidos de importação. Não fazia sentido continuar a trazer animais registados e não dar continuidade ao processo em Portugal. Esta raça é


Produção

reconhecida e apreciada por um número elevado de produtores. Quais as principais características da raça Suffolk? São dóceis, têm rusticidade adaptando-se muito bem ao nosso clima. A qualidade da carcaça é muito elevada, e são animais de crescimento diário muito rápido, especialmente nos primeiros 3-4 meses, quando facilmente atingem 50 kg de peso vivo. Os carneiros são suficientemente rústicos para se adaptarem ao regime extensivo do Alentejo? Sim. Temos criadores aqui da região (Montemor-o-Novo) que têm os carneiros o ano todo com as fêmeas de raça merino, e não apresentam problemas. Que linhas genéticas existem em Portugal? Existe a francesa, com pais e mães franceses. No ano passado a Associação importou 117 animais (112 fêmeas e 5 carneiros) de França, cujos produtores têm carneiros de linha inglesa e ovelhas de linha francesa. Existem igualmente no LG criadores só com linha inglesa. No passado esta raça era conotada com problemas de foto-periodismo. Continua a fazer sentido falar disto? Creio que não faz sentido falar nisso. O fotoperiodismo é uma característica da espécie ovina e todas as raças o têm de alguma forma. No caso da raça Suffolk, sendo uma raça de alto valor genético, com décadas de melhoramento, o que se pretende é que os animais tenham os partos na época do ano mais favorável, quer para o crescimento dos borregos, quer também para a recuperação das fêmeas para a época de partos seguinte. Estamos a falar de uma raça com um índice de prolificidade bastante alto, cerca de 1,65/fêmea/ano, o que requer uma gestão cuidada do efetivo reprodutor, assegurando

uma boa condição corporal das fêmeas ao longo de todo o ano. Do ponto de vista do produtor, não existe a necessidade de ter 3 partos em dois anos, mas sim muito provavelmente 3 borregos desmamados em dois anos e de alto valor genético. Em que se destaca esta raça das outras raças exóticas presentes em território nacional? Comparativamente a outras raças exóticas, os Suffolk são animais mais rústicos, que se adaptam aos rebanhos nacionais, geram partos fáceis (pois têm a cabeça estreita), e têm as outras características que já comentei previamente, nomeadamente crescimento precoce muito vincado com g.m.d. de 400 gr até aos 70 dias.. Os Suffolk são mais valorizados pelos comerciantes? Sim. Temos várias situações de animais cruzados presentes nos leilões que realizamos aqui na APORMOR. Quando um criador traz um grupo de borregos que resultam de um cruzamento com carneiro Suffolk, e um outro grupo de borregos da mesma idade que não são originários de um cruzamento com carneiro com Suffolk, acaba por lucrar mais com os animais do primeiro grupo. Isto ocorre visto que, apesar dos valores unitários dos borregos serem iguais, os que resultam de um cruzamento com carneiro Suffolk têm mais peso e como tal têm um valor monetário final mais elevado.

Quais as características da carcaça? Os borregos possuem mais massa muscular, maior carcaça e ­baixo teor de gordura. As peças, principalmente o Carré, têm uma boa proporção, em comparação com outras raças, e possuem mais altura e volume. A capa de gordura dos animais Suffolk é fina e bem distri­buída ao longo de toda carcaça. A relação carne/osso na carcaça também é diferenciada, pois os ossos dos animais Suffolk não são excessivamente grossos, proporcionando um rendimento maior de carne na carcaça.

reconhecimento à exploração, e terá igualmente de preencher duas fichas: uma de criador e outra de adesão ao LG. Os custos de ser associados são: 25€ joia + 2€ por ano por animal inscrito no Livro de Adultos.

Têm algum acordo para comercialização da carne? De momento não temos nenhum acordo, mas é um objetivo do LG, pois esta carne é muito apreciada, nomeadamente em Inglaterra, onde fazem muitos concursos e a Suffolk está sempre muito bem representada. São animais com grande rendimento de carcaça (mais de 55%), o que as torna apetecíveis para a indústria, para a distribuição e para o consumidor final.

E como vai decorrer o funcionamento do centro? Os borregos vão entrar com idade entre os 2,5 e os 4 meses, com ganho médio diário mínimo de 350g e um mínimo de 30 kg de peso aos 70 dias. Os animais estarão 60 dias em testagem (10 de habituação mais 50 dias em testagem) onde serão pesados de 15 em 15 dias, e onde serão medidos, por 2 vezes, o músculo e gordura.

Qual o preço dos reprodutores? Os preços indicativos para fêmeas de 3 a 5 meses são de 300 a 350 euros, e para machos com a mesma idade de 350 a 400 euros.. Como se pode tornar associado? Quais são os custos de adesão? Para se tornar associado basta contactar a APORMOR, para que eu possa fazer uma visita de

Um dos objetivos do LG é abrir um estação de testagem e melhoramento. Onde planeiam criar esta estação? Numa exploração de um criador perto de Montemor-o-Novo, a fim de viabilizar o projeto não honorando em demasia dos criadores que pretendam ter machos na testagem.

Quais são os principais objetivos para o futuro do centro? Os objetivos do melhoramento são dirigidos tanto para fêmeas como para machos: aumentos da massa muscular em machos e da velocidade de crescimento, redução dos níveis de gordura, aumento da prolificidade, melhoria do valor leiteiro, precocidade sexual e das qualidades maternais nas fêmeas. Tanto em machos como nas fêmeas serão também avaliados os aspetos morfológicos.

Helena Morais Santos, secretária técnica do LG Associação de Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da Região de Montemor-o-Novo.

APORMOR: T: 266 898 300 / M: 912 450 613 apormor.formacao@gmail.com www.apormor.pt

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Produção

PERFORMANCE da raça suffolk Rendimento da carcaça elevado: 55 a 60% Peso machos adultos: 120 a 140 quilos Peso fêmeas: 70 a 90 quilos Peso médio à nascença: 4 a 6 quilos Ganho médio diário até aos 70 dias: 400500 gramas/dia Peso médio aos 30 dias: 15 a 20 quilos Peso médio aos 70 dias: 35 a 40 quilos Elevada massa muscular, carcaça grande e baixo teor de gordura. Mocha em ambos os sexos.

Quinta do Vale Côvo Uma empresa que aposta na raça Suffolk Os testemunhos de Luis Bandeira e Alexandre Mourato Na Quinta do Vale Côvo, os sócios Luís Bandeira e Alexandre Mourato decidiram apostar na raça Suffolk, depois de vários anos com 60 ovelhas de carne cruzadas. “Queríamos melhorar a qualidade e tamanho das carcaças dos borregos intensivos com que trabalhamos, por isso estudámos várias raças, entre elas a Suffolk” comentou Alexandre Mourato. “Gostámos do resultado do estudo desta raça, havia poucos animais em Portugal e por isso sentimos que poderia ser uma boa oportunidade apostar na Suffolk” explicou Luís Bandeira. “Tudo se desenrolou de forma fácil pois a Associação, através da sua secretária, ajudou nos contactos.” O negócio começou com 10 fêmeas e dois machos Suffolk, e dentro de poucos anos esperam estar com 20 fêmeas, pois os cerca de 3 hectares da quinta não permitem pensar num efetivo maior. Apesar do risco, irão avançar com a inseminação artificial (IA) no rebanho, ainda que com uma probabilidade de insucesso elevada (cerca 40%), permitindo-lhes apostar em genética de elevado potencial, que ainda não existe em Portugal. As palhetas de sémen podem ser compradas através da Suffolk Sheep Society (www.suffolksheep.org) com as características que desejam ver melhoradas. A aposta na IA será já para a próxima cobrição e optimisticamente, irá evitar que comprem um carneiro a cada um-dois anos.

“Como características dos reprodutores que queremos ter para vender, as prioridades são a adaptação perfeita às nossas condições edafoclimáticas e um crescimento e rendimento de carcaça elevados. Este sistema permite-nos estar no cruzamento industrial e na formação de F1 de grande qualidade e rendimento, podendo assim estar com os olhos na restauração, supermercados e grandes superfícies.”

18 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

Agradecimentos Quadrado Filipe, produtor que nos disponibilizou a sua exploração para a reportagem.

Luís Bandeira e Alexandre Mourato.



empresas

PROGADO Uma nova marca do Grupo Cargill O Grupo Cargill adquiriu a marca de rações Progado em abril do ano passado. Entrevistámos Isabel Faria, Diretora de Desenvolvimento de Negócio do Grupo Cargill em Portugal desde janeiro de 2015 para perceber como tem corrido a integração da marca no Grupo e que objetivos tem para a Progado. por ruminantes

Que balanço faz destes primeiros 6 meses da gestão da marca Progado? A aquisição da Progado marcou um passo significativo na nossa estratégia de crescimento permitindo-nos expandir o negócio com mais uma rede de distribuição e uma gama de produtos distinta reforçando assim a nossa posição de liderança no mercado português. A abordagem de integração da marca Progado com a manutenção da estrutura, a rede de distribuição própria e a mesma equipa técnico-comercial permitiunos atingir os objetivos que tinhamos estabelecido inicialmente de trazer a marca tal como ela existia. Quais os pontos fortes da marca Progado? A relação qualidade/preço e o valor intrínseco da marca. A Progado é uma

marca existente no mercado desde 1972 e amplamente reconhecida pela qualidade dos seus produtos, apoiada por uma equipa técnicocomercial experiente que faz uma cobertura a nivel nacional e que atende todas as necessidades que o sector exige. Depois deste período de transição, como se vai posicionar a marca? A Progado irá continuar a operar num canal de distribuição distinto com uma estrutura e equipa técnicocomercial independente das restantes marcas do Grupo Cargill. A marca já detém uma cobertura a nível nacional e a estratégia passa pelo crescimento em zonas onde tenha esse potencial. O posicionamento da Progado continuará a ser o de uma marca de reconhecida

Isabel Faria Isabel Faria assumiu o cargo de Diretora de Desenvolvimento de Negócio no Grupo Cargill em janeiro de 2015, sendo atualmente responsável pelo desenvolvimento de projetos de crescimento interno e externo (M&A). Liderou todo o processo de aquisição e integração da Progado. Anteriormente desempenhou várias funções internacionais no grupo e anteriormente na Provimi. Entre 2004 e 2006 foi Diretora Financeira da Ibéria para a Provimi.

20 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes


empresas

qualidade a um preço competitivo. De que forma está organizada a equipa técnico-comercial? A equipa técnico–comercial é constituida por um Diretor Comercial e por uma equipa de vendas organizada a nível nacional por regiões e capaz de dar todo o apoio comercial e/ou técnico necessário para os canais industrial e rural. De que forma a Progado poderá beneficiar do conhecimento da Cargill em nutrição? O integrar da marca num grupo como a Cargill permitirá naturalmente trazer melhorias que se podem traduzir em vantagens competitivas para os nossos clientes. A Progado possui uma gama de produtos de reconhecida qualidade e uma sólida rede de distribuição que poderá beneficiar muito da integração numa empresa de referência mundial em nutrição animal, como é a Cargill, nomeadamente naquilo que se refere a serviços técnicos e tecnologia. Por outro lado existe uma vantagem de poder contar com a força do Grupo Cargill para fazer crescer ainda mais a marca Progado. Que tecnologia e ferramentas vão ter os técnicos? O Grupo Cargill trabalha com tecnologias e ferramentas próprias desenvolvidas internacionalmente e que permitem trazer valor acrescentado aos nossos clientes em termos de desempenho dos seus animais. Algumas dessas ferramentas já estão ao dispôr dos técnicos da Progado e outras serão

integradas nos próximos meses, entre elas a análise de forragens que já está a ser feita nos laboratórios Cargill. O que vai mudar na imagem e na gama de produtos? Consideramos que a gama de produtos com que trabalhamos atualmente já é bastante completa mas, aproveitando o know-how da Cargill seguramente iremos desenvolver o portefólio de produtos e a imagem, tendo em conta novas necessidades dos clientes. Como gostava que a marca Progado fosse conhecida daqui a cinco anos? A Progado ao longo da sua existência tem mantido uma identidade própria como uma marca com uma forte implantação no mercado e um reconhecimento de qualidade pelos seus clientes. Gostaríamos de manter essa identidade apostando fortemente no crescimento.

Sobre a Progado A Progado foi constituída em 1972 como P.S.P.R. - Progado Sociedade Produtora de Rações. Em 1985, é constituída a RPCS Rações Progado Centro Sul. Em 2011, a marca passou a pertencer ao grupo Montalva e em 2015 foi adquirida pelo Grupo Cargill. A Progado vende para cerca de 200 clientes, maioritariamente através de distribuidores de norte a sul do país, com produtos para todas as espécies de animais de produção.

Transformar a luzerna num componente mais atraente para a alimentação animal Uma equipa da Universidade da Califórnia, Davis (UC Davis) está a estudar a modelação e dormência da luzerna para melhorar o rendimento da cultura, bem como os seus componentes nutricionais. Este projeto surgiu devido a não existir uma evolução clara nas últimas décadas do aumento dos rendimento da cultura da luzerna, apesar da melhoria na resistência às doenças. O projeto iniciou-se com a análise da dormência da planta, bem como uma possível modificação da forma como esta é avaliada na luzerna, uma vez que o teste normalmente utilizado foi desenvolvido para plantas com um tipo diferente de desenvolvimento. Ao estudar as fases de

dormência da planta, os investigadores esperam então retirar conclusões que os poderão ajudar nas próximas fases do projeto. As fases seguintes do projeto destinam-se a estudar e criar plantas com períodos de dormência modificados e também à identificação dos marcadores genéticos que se relacionam com estes períodos de dormência. A melhor compreensão desta fase da planta influencia as outras características da planta, podendo, por exemplo, melhorar o seu valor nutritivo. Os investigadores envolvidos neste projeto iniciado em 2015, preveem que as sementes selecionadas estarão prontas para ser testadas em 2017.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 21


genética

CASAL DE QUINTANELAS 3 anos depois... Três anos passados da primeira entrevista ao proprietário do Casal de Quintanelas, voltámos a falar com Alexandre Arriaga e Cunha para saber como tem corrido a implementação do Programa Procross. por ruminantes

Alexandre Arriaga e Cunha com uma vaca de 3ª geração.

Quando entrevistado pela revista Ruminantes, (nº7 de outubro de 2012), Alexandre Arriaga e Cunha referiu que o Programa Procross (PC), iniciado a 19 julho de 2007, estaria totalmente implementado no final de 2015. Na altura, estabeleceu como objetivos futuros “abrir uma nova entrada de receitas na empresa através da venda de novilhas, passar o número de ordenhas de três para duas, obter mais lactações por vaca e produzir mais leite. “(…) Acredito que consiga alcançar estes 4 objetivos entre os 6 e os 7 anos após a implementação deste projeto”. Ruminantes - Considera que estas expectativas foram cumpridas? Quais as vantagens mais significativas? AAC - As expetativas não foram todas cumpridas, porque estabelecemos outro objetivo que se tornou prioritário: expandir até chegar às 400 vacas em ordenha.

Já alugámos as instalações devolutas de uma vacaria desativada na zona de Mafra, para, num futuro próximo, aí fazermos a recria das nossas vitelas, para podermos transformar as instalações que elas ocupam aqui no Casal, num estábulo para as vacas secas e ocuparmos as instalações das vacas secas com vacas em produção. Depois, faremos um pequeno alargamento do nosso estábulo principal, para chegarmos às 400 vacas em produção. Esse objetivo é alcançável dentro de dois anos se o mercado do leite não nos continuar a forçar a vender animais para mantermos a produção em níveis baixos, como tem acontecido ao longo deste fatídico ano. Como tem sido muito difícil escoar o leite, vendemos, entre outubro e novembro passados, 42 vacas em lactação, para não produzirmos mais leite do que aquele que conseguimos colocar no mercado. Estamos, neste momento, a ordenhar 250

22 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

vacas. Também em outubro, e pela primeira vez na história do Casal de Quintanelas, exportámos 20 novilhas cheias para o país vizinho, o que nos ajudou a atravessar este difícil período de saturação do mercado e consequente baixa do preço do leite. Caso não tivéssemos feito esse negócio, essas novilhas estariam todas paridas antes do Natal e estaríamos agora com maior dificuldade de escoamento do leite. Continuamos com 3 ordenhas pois ainda não nos encorajámos a passar para duas por acharmos que vamos ser penalizados por isso, mas continuamos com vontade de o fazer. Talvez o façamos quando estivermos com um maior avanço em termos de vigor híbrido. Estou curioso em relação ao desempenho da 4ª e subsequentes gerações. O número de lactações por vaca tem aumentado, o que tem confirmado a maior longevidade e resistência das vacas Procross. Em janeiro de 2012 tínhamos 99 vacas com três ou mais lactações e 105 primíparas em produção, agora, passados três anos, estamos com 142 vacas com três ou mais lactações e 96 primíparas em produção. Caso não tivéssemos limitações de mercado, estaríamos agora com 300 ou mais vacas em ordenha, o que, para o Casal de Quintanelas, seria uma grande vitória. Lembre-se de que tínhamos 180 vacas Holstein em produção quando implementámos o programa Procross e ainda só passaram 8 anos. Prevemos, portanto, uma duplicação do efetivo depois do décimo ano de implementação do programa, assim o mercado nos deixe crescer. Neste momento estamos com 94% das vacas em produção cruzadas, temos 307 vacas adultas e 280 vitelas e novilhas com menos de dois anos. Números impensáveis no tempo das vacas Holstein Friesian de “alta genética”.


genética

Que balanço faz da implementação do programa Procross referente a situações como custos com a saúde animal, problemas de cascos, cios e taxa de sucesso das inseminações? No que aos custos com medicamentos diz respeito, passámos de €61/vaca em 2010 (ano em que a primeira vaca cruzada pariu e começou a produzir) para €40 em 2014. Os problemas de cascos foram substancialmente reduzidos, mas continuamos a fazer o corte profilático a todas as vacas na altura da seca e levamos ao tronco para tratamento qualquer animal à mínima dificuldade de locomoção que apresente. No que se refere aos cios, estas vacas manifestam-nos com maior exuberância, e como não têm o período crítico de balanço energético negativo tão evidente como as Holstein, tiramos partido disso, dando-lhes um período de espera voluntário de apenas 40 dias (60 no Verão). Estamos, neste momento, com uma taxa de prenhez de 26%. Costuma estar perto ou mesmo acima dos 30% mas estamos a sair do tempo quente do Verão, que é uma altura muito penalizadora para as vacas leiteiras em termos reprodutivos. A taxa de sucesso das inseminações está nos 30% pelas razões descritas atrás. Repare que estamos quase no Natal e as temperaturas ainda rondam os 20ºC a meio do dia. As vacas ressentem-se muito com isso. Especialmente se o calor for húmido, como é o caso. Qual é a geração mais adiantada que tem no efetivo? Já estamos na 4ª geração, que representa a 1ª geração após o fecho do programa rotacional das três raças. Estava à espera que esta geração fosse mais grosseira que as três anteriores pois representa o recomeço do programa Procross, mas aplicado numa manada já só com 62,5% Holstein, logo, mais grosseira que a manada inicial. As vitelas da 4ª geração que temos na

exploração são muito bonitas e apresentam um bom carácter leiteiro. Tenho esperança de que terão funcionalidade e produtividade. O futuro o dirá. Em 2012 disse que iria ter novilhas em “excesso” e que poderia vir a ter receitas pela venda destes animais. Confirma-se? Sim, embora precisemos do superavit de novilhas para autoconsumo pois decidimos expandir para as 400 vacas em produção. Caso tivéssemos ficado pelas 200 vacas em lactação não seríamos competitivos no mercado atual com preços de leite inconcebíveis há um ano atrás. Temos que expandir e para isso precisamos de conservar todas as vitelas que temos mas, para que a produção não aumente devido ao atual garrote imposto pelo mercado, exportámos 20 novilhas em outubro e pensamos repetir a operação na próxima Primavera, assim haja procura. Quem são os atuais compradores das novilhas? Porque querem este tipo de animal? As manifestações de interesse nas nossas vitelas, até agora, têm vindo de Espanha. São produtores que visitaram o Casal de Quintanelas, confiaram no nosso trabalho, apreciaram especialmente o facto de a nossa vacaria ser fechada à entrada de novos animais desde 1967 e, quando precisaram de aumentar os seus efetivos, lembraram-se de nós e da funcionalidade que viram nas nossas vacas. A confiança que sentimos ao olharmos para uma vaca robusta e funcional, leva-nos a lembrarmo-nos dela quando pensamos em adquirir vacas para o nosso estábulo, naturalmente. As produções de leite destes animais cruzados são semelhantes às dos Holstein puros? As vacas Holstein são, em média, mais produtivas por lactação, mas se tivermos em consideração a produção em vida, estas

Dados gerais da exploração

2012

2015

Nº total de animais Nº vacas em ordenha Produção média anual/vaca (litros) Produção média por dia – (l) (Holstein/Cruzadas) Nº empregados Dias de lactação (Holstein/Cruzadas) Dias em aberto (Holstein/Cruzadas) Idade da 1ª inseminação (meses)

500 230 11.500 33.80/35.90 10 218/178 41/108 13

586 250 *** 35 10 168 120 11/12

*** Está a ser um ano complicado em que estamos a fazer um esforço por baixar a produção. Como a reprodução está muito afinada (intervalo entre partos de 399 dias) temos muitos partos e a tendência de a produção subir tem estado omnipresente. É um ano para esquecer. Se estivéssemos a produzir à vontade estaríamos perto dos 12 mil em 305 dias.

A FMV no Casal - uma relação simbiótica com mais de 30 anos. Na foto George Stilwell, Luis Lamas, Alexandre Arriaga e Cunha e Miguel Saraiva Lima. vacas levam a taça pois, como não sofrem dos efeitos colaterais do balanço energético negativo prolongado das Holstein, reproduzem-se com mais eficiência e, fazendo lactações mais curtas, acabam por fazer mais lactações durante a vida útil. São vacas mais produtivas porque estão mais vezes que as Holstein na fase ascendente da lactação e é por essa razão que dão mais leite durante o tempo que dura a sua passagem pela exploração. A vaca Holstein dá mais leite por lactação; a vaca Procross dá mais leite em vida porque faz mais lactações, o que lhe permite deixar também mais descendência, que é mais uma forma de ser produtiva. Ao longo destas gerações verificou que alguma geração era melhor que as outras em termos produtivos ou comportamentais? Em todas as gerações há animais que se destacam em termos de quantidade de leite produzida, mas, como é fácil de entender, tenho uma predileção especial pelas da 3ª geração, pois são muito semelhantes às vacas Holstein de 1970, altura em que esta magnífica raça apresentava exemplares robustos, fortemente estruturados, de tamanho muito equilibrado, de membros grossos, de frente larga, pouco angulosos e muito resistentes. Eram vacas que enchiam o proprietário de satisfação. É o que sinto pelas minhas vacas, particularmente pelas da 3ª geração. Em termos comportamentais, em todas as gerações têm aparecido vacas mais mansas e vacas mais complicadas. Notou-se uma grande diferença em relação às vacas Holstein, logo na primeira geração de cruzadas. É no entanto de salientar que,

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 23


genética

na 3ª geração nos têm aparecido algumas vacas invulgarmente mansas. O maneio também se tem adaptado à rebeldia natural das vacas Procross, o que nos tem facilitado o relacionamento de proximidade com estes animais. Com o seu conhecimento atual das raças envolvidas no programa, acha que são as raças certas? Penso que sim, são três raças com aptidão leiteira, afastadas umas das outras em termos genéticos, muito compatíveis e que se encaixam muito bem umas nas outras em termos práticos. A consanguinidade deixou de ser assunto, o que é uma grande vantagem. Complementam-se francamente bem, embora a beleza das Holstein desapareça como o sal na água nas duas primeiras gerações. Felizmente reaparece na 3ª. Vejamos como segue daqui para a frente…

Com vacas Holstein, temos que as alimentar para o máximo do seu potencial produtivo pois, em termos genéticos, elas dão prioridade à produção, logo, se lhes restringirmos o alimento elas mantêm a produção mas vão buscar a energia que lhes falta às reservas corporais, emagrecendo, o que tem como consequência o comprometimento da sua performance reprodutiva, logo, a perda económica. A vaca Procross é mais flexível. Se precisarmos que ela baixe a produção basta cortar no alimento que ela continua o seu caminho sem problema, Agora que o efetivo já é mais adulto e desde que tudo seja feito com a devida com mais lactações, tem dados sobre a ciência, ou seja, poupando as que estão eficiência alimentar? nos primeiros 100 dias de lactação. Estas vacas dão prioridade à conservação Atualmente, precisamos que a nossa da sua condição corporal, o que nos facilita produção esteja em níveis parecidos muito a vida, especialmente nesta fase em com o período homólogo do ano que somos forçados a baixar a produção e passado, e por isso acrescentámos não o queremos fazer à custa da redução feno à dieta e cortámos na quantidade drástica do efetivo, pois isso limitar-nos-ia ingerida. Passam mais horas do que é bastante se o mercado se tornasse favorável normal de manjedoura vazia, o que seria num futuro próximo, logo, só nos resta cortar impensável no tempo em que tínhamos no alimento. uma manada Holstein Friesian de alta genética. De facto, não temos alternativa pois o mercado ainda está a refletir a “Equipa do Casal de inundação que se deu com o fim das Quintanelas” - coesão e quotas leiteiras. Estamos a tentar ambição é o objetivo.

24 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

aguentar-nos, à espera que a situação melhore. Assim que melhorar, basta alimentar os animais em conformidade com o seu potencial produtivo que elas respondem. É nesta perspetiva da funcionalidade da vaca Procross que a considero mais eficiente do ponto de vista alimentar. A vaca Holstein bate o recorde em termos de litros por kg de matéria seca ingerida, mas isso não é tudo, falta-lhe flexibilidade e funcionalidade, virtudes que também produzem rendimento. Alguma vez pensou desistir do programa? É importante ter acompanhamento técnico para implementar um programa deste tipo? Pensei desistir do programa depois do primeiro ano de implementação por ter nascido uma vitela extremamente grosseira, que tive o privilégio de mostrar ao próprio Prof. Leslie Hansen, da Universidade do Minnesota, mas ele sossegoume dizendo que era um caso pontual e que eu iria ser amplamente recompensado pela decisão radical que tomara um ano antes. Essa vitela muito grosseira nunca pariu e acabou por ser refugada. Felizmente, não voltou a aparecer outra como ela. Como sabe, depois de assimilada a informação acerca deste programa de cruzamentos e de me ter aconselhado com os meus 3 conselheiros habituais, avancei para a implementação do crossbreeding em 90% do efetivo. Decidi entretanto aplicá-lo a 100%. O Casal de Quintanelas está em funcionamento desde 1957, o que lhe traz um certo reconhecimento no sector, em grande parte devido à invulgar personalidade do seu fundador, o saudoso Eng.º José Manuel Arriaga e Cunha, meu pai, logo, é natural que ao tomar a decisão radical de implementar o Procross sobre uma manada de alta genética Holstein com muitos anos de melhoramento, e que foi tida como um ponto de referência durante décadas, fez com que aparecessem muitos críticos de Norte a Sul do país, vaticinando um futuro desastroso para a exploração. Ora, eu sou apenas um ser humano, logo, é natural que tenha passado por vários períodos de grande incerteza em relação à decisão que tomei em 2007. O que lhe posso dizer é que foi das mais determinantes decisões que tomei no que ao futuro do Casal de Quintanelas diz respeito. O acompanhamento técnico que tive na altura da implementação do programa foi de facto determinante do sucesso do mesmo. Sem esse acompanhamento não me parece que tivesse avançado para a decisão, pela radicalidade que representava. Felizmente havia (ainda há) o entusiasmo de estar a provocar uma viragem de 180º num projeto empresarial com 50 anos e a comprometer-me com essa viragem. Foi uma decisão “tirada a ferros” da qual ainda não me arrependi, bem pelo contrário. Surgiu na altura certa!


O NOVO RANKING PROCROSS FACILITA AS ESCOLHAS DOS TOUROS Para ajudar os produtores de leite a escolher os melhores touros para o seu programa de rotação ProCROSS, a equipe ProCROSS desenvolveu uma ferramenta nova e simples de se utilizar:: ProCROSS Ranking (Denominado PCR). PCR é uma ferramenta de seleção genética prática que classifica os touros através do seu objetivo original de cada uma das raças puras, ISU em França e do NTM na Dinamarca, Finlândia e Suécia. PCR vai ajudar os produtores de leite ProCROSS em todo o mundo a efectuar uma seleção dos touros mais fácil para o seu programa de cruzamentos.

PCR RESUMO DO OBJETIVO DA SELECÇÃO: Obter uma vaca de tamanho médio de longa duração e de alta produção exigindo menos trabalho e menos apoio veterinário. PCR SÓLIDOS & PCR LIQUIDO Devido a variações de políticas de pagamento do leite em diferentes locais, ProCROSS oferece duas opções para escolher entre:

Concentrando-se em touros que transmitem maior quantidade de proteína e gordura

Concentrando-se em touros que transmitem maior volume de leite líquido.

Todas as outras características estão igualmente consideradas em ambas as opções PCR.

PCR: MAIOR ÊNFASE NOS OBJETIVOS DOS CRUZAMENTOS PARA O MELHORAMENTO GLOBAL - QUE CARACTERISTICAS ESPECÍFICAS? COMO DIFERE DO MELHORAMENTO GENÉTICO DAS RAÇAS PURAS? Desde que o ProCROSS é reconhecido como o principal sistema de rotação de 3 raças com altos rendimentos econômicos através da heterose e que transmite as diversas caracteristicas de cada raça pura como a Saúde, fertilidade, produção e a sobrevivência, estas caracteristicas importantes foram mais reforçadas no PCR para os cruzamentos:

TAMANHO

UBERES

A uniformidade no tamanho do rebanho é um dos principais objetivos do PCR. Tendo em conta as três diferenças das raças nesta caracteristica, PCR inclui pontuações mais altas para os touros Vermelhos da Viking,animais reprodutores mais altos, mas também para a Montbeliarde e as Viking Holsteins touros que transmitem vacas da raça de tamanho médio.

Para garantir produções mais elevadas, PCR aumentou o melhoramento nos úberes em ambas as raças, Montbéliarde e as Viking Vermelhas.

PRODUÇÃO Ao longo dos anos, o foco sobre as características da produção no melhoramento nas raças puras tem diminuído a favor das características funcionais mais altas. Graças ao enorme efeito dos cruzamentos favorecendo estas caracteristicas de transmissibilidade mais baixa, o PCR está mais focado nas características da produção.

OUTRAS CARACTERISTICAS ESPECIFICAS Outras caracteristicas específicas foram introduzidas ou modificadas com um peso maior de acordo com cada raça, (Temperamento e facilidade de parto para as Montbeliarde, outras doenças para as Viking Vermelhas, Saúde do casco e úbere para os touros da Viking Holstein). A fim de compensar essas mudanças, o peso de algumas caracteristicas fortes correspondentes a cada raça foram reduzidas, (A facilidade de parto para as Viking Vermelhas, Fertilidade para as Montbeliarde,e os Uberes na Viking Holstein)

WWW.PROCROSS.INFO


Alimentação

pedro castelo Engº agrónomo, reagro sa. pedro.castelo@reagro.pt

Fatores a considerar ao comprar forragem A utilização da forragem é um elemento chave para limitar os recursos a alimentos complementares na alimentação dos animais, de forma a reduzir o custo alimentar e aumentar a sua autonomia. valor azotado e quantidade de macro-minerais.

Valor e qualidade de uma silagem

Gráfico 1 Relação entre o valor energético das forragens (UFL) e a) teor em paredes vegetais não digestíveis (ANDRIEU et al. (1993) e BAUMONT et al. (2007)) e b) valor azotado.

Valor energético O valor energético das forragens exprime-se pelo

a)

PDI (g/kg MS)

Milho Gramíneas Leguminosas

0.60

PDIN - RGA PDIE - RGA

PDIN - Luzerna

R2=0.92

0.80

b)

180

R2=0.94

1,00

UFL

Existe uma enorme variedade de combinações de práticas culturais (escolha de espécies e variedades, fertilização, irrigação), de corte (data e frequência de corte) e de conservação (silagem ou feno) onde é possível encontrar o melhor compromisso entre a quantidade de matéria seca obtida por hectare e o seu valor alimentar. Uma vez que é praticamente impossível saber exatamente todas as práticas culturais utilizadas na produção da silagem aquando da sua compra, é importante efetuar uma análise qualitativa. Existem quatro mediações que devem ser efetuadas para aferir o valor e a qualidade de uma silagem: teor de matéria seca (MS), valor energético,

Teor de matéria seca O teor de matéria seca deve ser o primeiro a ser avaliado, uma vez que dita o preço da forragem. Sem este é impossível aferir o valor exato da mesma. Por exemplo, comprar uma fenosilagem a 80 €/ton de Matéria Bruta com 50 % de MS (ou seja, 160 €/ton MS de forragem) é diferente da mesma fenosilagem com 30 % MS (ou seja, 267 €/ton MS de forragem). Portanto, é conveniente converter sempre o preço das forragens em matéria seca.

seu valor de energia líquida por unidade forrageira, seja este de leite (UFL) ou de carne (UFV). Quando se avalia uma silagem existem vários níveis de energia. A energia total é denominada de energia bruta. O principal fator de variação do teor desta energia é a digestibilidade da matéria orgânica (dMO). A dMO de uma planta forrageira depende essencialmente do seu rácio paredes vegetais/ constituintes intracelulares. Os constituintes intracelulares são na sua maioria totalmente digeridos (açúcares) ou possuem uma digestibilidade bastante elevada (lípidos, matérias azotadas), enquanto que a digestibilidade das paredes celulares apresenta valores mais baixos, variando entre 40 e 90% dependendo

PDIE - Luzerna

140

100

PDIN - Milho

60

PDIE - Milho

0,40 0

26 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

100

200

300

Paredes não digestíveis (g/kg MS)

400

0,60

0.80

UFL

1,00



Alimentação

Elementos absorvíveis (g/kg MS)

4,0

P - Luzerna

Gráfico 2 Relação entre o valor energético das forragens (UFL) e o teor em minerais absorvidos (Éléments absorbables) relativamente ao Fósforo (P) e ao Cálcio (Ca) – Dados do INRA para o milho verde (Mais), azevém inglês (RGA) e luzerna no 1º ciclo vegetativo (BAUMONT et al., 2007)).

P - RGA

Ca - Luzerna

Ca - RGA

3,0

2,0

P - Milho

1,0

Ca - Milho 0,60

0.80

1,00

UFL

do seu teor em lenhina. Este raciocínio também se aplica aos cereais forrageiros, pois a digestibilidade do grão é muito mais elevada e constante (85 %). Estas afirmações poderão ser observadas através do gráfico 1a), onde é possível verificar a relação entre a quantidade de paredes não digestíveis presentes numa forragem e a digestibilidade da mesma e, consequentemente, o seu valor energético. Dependendo de qual seja a família da planta forrageira, existe uma relação direta entre o aumento do teor em paredes não digestíveis e a diminuição da digestibilidade e valor energético. O teor em paredes vegetais aumenta à medida que a planta vai crescendo (DURU et al, 2008). Portanto, haverá uma diminuição do valor energético e da digestibilidade com a idade da planta ou o estado de vegetação durante os ciclos reprodutores. Em relação à

diminuição do valor energético, este é mais acentuado para as gramíneas, sendo mais linear para o caso das leguminosas. No caso da silagem de milho, o enriquecimento da planta em grão, sobretudo em amido, compensa a diminuição da digestibilidade dos caules e folhas e, assim, o seu valor energético aumenta ligeiramente com o avançar do estado vegetativo da planta.

com a digestibilidade da forragem.

Neste contexto são efetuadas duas medições que representam cenários em que há limitações nestes dois fatores. PDIN, representa o valor de PDI numa situação em que o fator limitante para a síntese microbiana é o azoto degradável. O PDIE, representa o valor de PDI quando o fator limitante para a síntese microbiana é a energia. Uma vez que a primeira medida tem em conta a quantidade de azoto disponível, esta está diretamente ligada ao teor de MAT (matéria azotada total), enquanto a segunda (PDIE), uma vez que depende da quantidade de energia disponível na forragem, está diretamente relacionada

5,0

Macro-minerais Finalmente, no que concerne aos macrominerais - fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K), sódio (Na) e cloro (Cl) - o valor mineral das forragens difere fortemente com a família botânica (gráfico 2). É então importante considerando todos os fatores descritos anteriormente e a sua variabilidade, que se faça uma análise prévia das forragens de modo a obter o melhor rácio preço/qualidade no programa alimentar da exploração.

dois arraçoamentos possíveis

Valor azotado No que diz respeito ao valor azotado das forragens (gráfico 1 b)), este exprime-se pelo seu teor em proteínas digestíveis no intestino (PDI) através de síntese microbiana, que posteriormente serão integradas nas proteínas no rúmen. Existem dois fatores principais limitantes da síntese microbiana que dá origem à PDI: a disponibilidade de azoto e a disponibilidade de energia.

De seguida, iremos apresentar dois exemplos de arraçoamentos adequados para vacas aleitantes de 570 kg de peso vivo em fase de gestação (tabela 1). Este arraçoamentos foram formulados de acordo com o nosso caderno de encargos, exemplificando dois cenários em que são disponibilizadas duas forragens de diferentes qualidades: A – com uma forragem de elevada qualidade B – com uma forragem de qualidade reduzida

Preços

em Portugal. No que diz respeito ao núcleo de vacas aleitantes (aporte de vitaminas, minerais, gordura bypass) considerámos

Em relação às forragens (preço e características nutricionais) considerámos valores que facilmente encontramos

tabela 1 Arraçoamentos com forragens de qualidade diferentes.

A - Forragens Elevada Qualidade Custo por Animal/Dia= 1,33 €

(73,76 €/ton MB)

(133,08 €/ton MS)

Quantidade Distribuida Preço (€/ton)

Matéria-Prima

Kg MB

MS

Características Nutricionais (/Kg MS) MS

UFL

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

P g

Silagem de Milho Elevada Qualidade

45,00

5,00

1,60

32,00

0,91

46,10

68,13

16,32

2,00

1,80

Fenosilagem Elevada Qualidade

80,00

8,37

4,19

50,00

0,81

68,73

76,22

23,15

4,60

2,30

Palha de Cevada Núcleo Vacas Aleitantes Total

80,00

4,55

4,10

90,00

0,47

24,00

46,00

12,00

3,60

1,00

600,00

0,12

0,12

98,45

0,21

132,30

-

-

196,46

79,54

-

18,04

10,01

55,42

0,68

47,53

61,65

17,22

6,00

2,60

MB – Matéria Bruta; MS – Matéria seca; UFL – Unidade de expressão do valor energético dos alimentos (Unité Forragère Lait). 1 UFL = 1700 Kcal.; Ca – Cálcio; P – Fósforo

28 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes


Alimentação

B - Forragens Qualidade Reduzida Custo por Animal/Dia= 4,51 €

(74,46 €/ton MB)

(151,27 €/ton MS)

Quantidade Distribuida Preço (€/ton)

Matéria-Prima

Silagem de Milho Qualidade Reduzida Fenosilagem Qualidade Reduzida Palha de Cevada Núcleo Vacas Aleitantes

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

g

0,85

36,88

62,46

13,06

2,00

1,80

50,00

0,67

53,95

64,26

18,49

4,60

2,30

MS

UFL

1,60

32,00

6,74

MB

MS

45,00

5,00

80,00

13,49

P

80,00

1,71

1,54

90,00

0,47

24,00

46,00

12,00

3,60

1,00

600,00

0,12

0,12

98,45

0,21

132,30

-

-

196,46

79,54

-

20,32

10,00

49,22

0,66

47,53

60,40

16,40

6,28

2,93

Total

preços atuais de mercado com custos de fabrico e margens comerciais praticadas. A análise às forragens é indispensável para ser possível realizar um correto maneio alimentar e saber o preço de interesse de cada uma delas. Observando os resultados, numa primeira fase podemos afirmar que é possível realizar um programa alimentar adequado para vacas gestantes a um menor custo, com forragens de elevada qualidade (1,33 €/vaca/dia), quando comparado com forragens de menor qualidade (1,51 €/vaca/dia). Esta diferença

figura 1 Exemplo de um boletim de análise.

Kg

Características Nutricionais (/Kg MS)

Proteína

deve-se a ser possível suprir as necessidades das vacas aleitantes com uma menor quantidade de alimento, uma vez que este tipo de forragem tem um melhor aproveitamento pelo animal. A diferença de custo por animal representa, por cada lote de 100 vacas, 540 € mensais.

Em relação à proteína (Balanço Azotado - tabela 2), os arraçoamentos contêm o mesmo nível de proteína bruta e PDI. Além disso, contêm um valor semelhante relativa à proporção de MAT degradada no rúmen que contribuirá para a proteossíntese microbiana

depois da degradação em amoníaco – DT.

Energia No que concerne à energia (tabela 3), ambos os arraçoamentos apresentam um nível energético adequado ao objetivo pretendido, sendo ligeiramente superior no caso do arraçoamento A.

tabela 3 Balanço azotado dos arraçoamentos. Unidade

A

B

PDIN

g/Kg MS

47,53

47,53

PDIE

g/Kg MS

61,65

60,40

PDIA

g/Kg MS

17,22

16,40

% MS

7,87

7,86

Proteina Bruta DT Total PDIN/Animal/dia

%

70,18

71,84

g/dia

475,00

475,00

Total PDIE/Animal/dia

g/dia

616,00

604,00

Necessidades PDI

Kg/dia

475,00

475,00

Proteina Digestível por Dia

Kg/dia

2,13

2,13

tabela 6 Balanço energético detalhado de cada arraçoamento apresentado. Balanço Energético

Arraçoamento

Unidade

A

B

UFL/Kg MS

0,68

0,66

UFL/Animal/dia

6,80

6,65

Amido + Açucar

% MS

8,28

8,37

Glícidos Rápidos

% MS

6,59

7,08

Matéria Gorda Bruta

% MS

2,08

2,26

UFL Total UFL/Animal/dia

Conclusão Quando se compra uma determinada forragem é importante conhecer os seus parâmetros nutricionais de forma a obter o valor nutricional da mesma, pois este poderá variar significativamente. Assim, para obter o mesmo nível nutricional do arraçoamento é necessário um custo alimentar muito superior quando a forragem é de qualidade inferior. Além disso, devese converter sempre o preço à matéria seca, pois o valor em euros/ton de matéria bruta (ou mesmo por rolo de fenosilagem, por exemplo) poderá induzir em erro.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 29


Produção

VACAS FELIZES, PRODUTORES FELIZES, INDÚSTRIA FELIZ Ao fim de quase um ano do Programa Leite Vacas Felizes, a Ruminantes foi à Ilha açoriana de S. Miguel conversar com Eduardo Vasconcelos e com Rui Calouro, da Bel Portugal, sobre a evolução que este projeto tem tido. Por ruminantes

Ruminantes - Passado quase um ano, quantos produtores estão certificados? Eduardo Vasconcelos – Neste momento, e ainda não decorreu exatamente um ano sobre o início do programa, temos 16 produtores certificados no programa, que representam 13 milhões de litros de leite. o que significa que o objetivo inicialmente proposto foi atingido. Que as vantagens concretas têm os produtores certificados? O principal objetivo do

programa é a valorização do leite ao produtor, facto que assume grande importância, sobretudo no momento que o sector atravessa. Além do imediato retorno financeiro, uma vez que o leite das explorações certificadas é pago de forma diferenciada ao produtor a preço mais elevado, existe todo um acompanhamento técnico fornecido pela Bel: ensaios para melhorar a qualidade da pastagem, aconselhamento para a produção de forragens de maior qualidade nutricional e feitas de forma mais

30 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

sustentável e apoio na elaboração dos registos, entre outras ações. Este suporte é necessário para cumprir o caderno de encargos, mas em simultâneo ajuda os produtores a melhorarem os pontos críticos da exploração.

este Programa inovador vem contribuir para a superiorização do nosso leite e da origem Açores. É uma aposta na superiorização e qualidade do nosso leite que queremos para a marca Terra Nostra como um todo.

Este leite é utilizado em algum produto específico da marca? Neste momento o que pretendemos com este programa é trabalhar para ter o melhor leite. Os Açores são um local único, com chuva Atlântica e erva fresca o ano inteiro, que aliado a

Quais os custos acrescidos para os produtores certificados? Depende do produtor, algumas explorações que aderiram ao programa já se encontravam nesse momento a um nível superior. Por exemplo, alguns preconizavam já


Produção

algumas práticas de maneio comuns ao programa e tinham implementado o seu próprio sistema de registos (utilização de medicamentos, partos, inseminações, datas de secagem, etc.) que assumem cada vez maior importância na gestão de uma exploração na atualidade. Sem registos não é possível tomar decisões relativas ao maneio ou a investimentos a fazer na exploração. Este grupo, com o “trabalho de casa” já feito, passou por um período de adaptação menor e com menos encargos. Em outros casos, foi necessário da parte dos produtores fazer investimentos e alguns continuam a fazê-los para obter a certificação. Qual foi a abordagem da Bel junto dos produtores para a adesão ao programa? O programa foi apresentado a todos num evento inicial. Neste momento continuam a decorrer reuniões com potenciais novos produtores. Convém distinguirmos que o programa é extensível a todos os produtores e até ao final de 2016 todas as

explorações serão auditadas. Estas auditorias permitem ao produtor saber quais os pontos a melhorar e quais os benefícios que pode obter com a implementação de determinadas medidas e com a certificação, como objetivo final. Todas as certificações implicam um caderno de encargos muito extenso, concretamente em relação aos 5 pilares do programa. Qual é a perspetiva dos produtores? O programa foi desenhado com base em cinco pilares fundamentais: a pastagem, o bem-estar animal, a qualidade e segurança alimentar, a produção sustentável e a eficiência da produção. Esta plataforma foi pensada de forma a permitir tirar o máximo partido das características da produção leiteira açoriana, sobretudo relativamente à obrigatoriedade dos animais permanecerem 80% do período diurno na pastagem. A erva é a alimentação mais barata de que dispomos e permite produzir leite mais saudável e com melhores características nutritivas. O programa

pretende igualmente estancar a estabulação, quem quiser estabular não pode entrar no programa. A perspetiva dos produtores que aderem ao programa vai de encontro à nossa. Quais os planos da Bel para a apresentação do programa ao consumidor? Este programa tem sido divulgado através de investimento digital, nomeadamente através de plataformas próprias como a página de facebook da marca e o canal de youtube. A Terra Nostra tem como missão criar valor e fazer o bem, para os nossos animais, produtores, para a marca e para os Açores em geral. Nesse sentido, a efetiva implementação deste programa é fundamental para a marca. Vacas felizes, produtores felizes, indústria feliz? Face ao panorama negro do sector do leite, A Bel entendeu ser uma forma justa e digna de valorizar este produto e consequentemente criar um valor acrescido para os

produtores. Neste momento, os produtores que aderiram ao programa estão mais satisfeitos que os restantes devido ao diferencial do preço do leite. Isto acontece apenas porque conseguimos valorizar este leite. Para a grande maioria dos produtores, este é um tempo muito difícil, esperase que venha a melhorar, mas de facto se as vacas, os produtores e a indústria forem felizes, todos ficam a ganhar, inclusivamente o consumidor que acaba por ter à disposição um produto de maior qualidade.

TESTEMUNHO do PRODUTOR Há quanto tempo aderiram ao programa Leite de Vacas Felizes e quais as razões? José Martins Rodrigues Herdeiros - Aderimos em outubro de 2015. Conhecíamos o programa e já tínhamos ponderado esse assunto. Depois de algumas conversas com o Eng.º Rui Calouro, resolvemos aderir. O facto de não termos de fazer grandes investimentos

dados gerais da exploração Nome da exploração: José Martins Rodrigues Herdeiros, Lda Sociedade de 3 irmãos: Helder, Rúben e Marco Rodrigues Genética: Programa de Emparelhamento feito pela AASM Alimentação: pastagem, complementada com concentrado (na ordenha) e rolo de silagem Total animais: 115 Animais em ordenha: 60 Área: 30 hectares (20 próprios, 10 arrendados) Produção: 1300l/dia

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 31


Produção

Rui Calouro, Helder, Rúben, Marco Rodrigues e Eduardo Vasconcelos.

da informação dos resultados de estudos e de ensaios relacionados com a pastagem, com as forragens e com a qualidade do leite, bem como o acesso a análises da terra, do leite e de forragens e aos quais podemos recorrer a partir do momento em que entramos no programa.

ou alterações, mesmo porque a exploração já tinha algumas práticas comuns ao programa, foi decisivo para a nossa opção. Em termos de investimento, necessitámos apenas de colocar tijoleira na sala de ordenha. Não encontrámos desvantagens no programa, muito pelo contrário, deveria existir há mais tempo. No fundo o que fizemos foi juntar o útil ao agradável. Recomendam o programa? Sim, além do preço do leite, o programa tem outras vantagens, por exemplo, o apoio dos técnicos da Bel, quer em termos da passagem

Quantas horas por dia estão as vacas na pastagem? As nossas vacas estão sempre na pastagem, com exceção do período de ordenha, duas vezes por dia. O que mudou na vossa exploração e nos seus processos com a adesão a este programa? Praticamente nada, os nossos animais já estavam o dia todo na pastagem, com interrupções apenas para a ordenha, e fazíamos alguns registos. Na parte da alimentação dos animais, tivemos de nos organizar, no entanto contamos sempre com a orientação dos técnicos da Bel, sobretudo do Engº Rui Calouro, através da realização de análises e da interpretação dos registos

32 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

da exploração, para maximizarmos a eficiência de produção de alimento e, consequentemente, de leite. A aplicação deste programa teve repercussões nos resultados produtivos e da saúde dos animais? Sim, por exemplo, as pastagens são renovadas todos os anos e, apesar dos custos que isso implica, é compensador porque conseguimos ver os resultados na produção dos animais. Não existe flora infestante na pastagem, é muito positivo para animais que pastam mais de 80% do período diurno. Uma outra vantagem do programa é permitir minimizar a utilização de químicos. Vacas felizes, produtores felizes? Estamos satisfeitos. Os animais são nossos parceiros e os nossos principais aliados, se as vacas estão felizes, produzem mais e melhor leite e acabam por nos fazer mais felizes.

NOTA É notável, senão a felicidade, pelo menos a sintonia e a cumplicidade existente entre a paisagem, os animais e as pessoas, que quem está de fora consegue sentir….


atualidades

Royal De Heus adquire Núter A Royal De Heus, empresa holandesa líder internacional do sector de nutrição animal, chegou a acordo para a aquisição da lusoespanhola Núter, empresa participada por um consórcio de investidores financeiros e detentora do capital da Saprogal Portugal, responsável por um volume anual consolidado superior a um milhão de toneladas de ração animal. A Núter, com a Saprogal Portugal, é a segunda maior empresa de nutrição animal da Península Ibérica, um mercado que movimenta um volume de produção na ordem das 25 milhões de toneladas por ano, das quais aproximadamente 10 milhões são transacionadas no mercado livre. Esta operação financeira está alinhada com a estratégia de expansão internacional da De Heus. Na Península Ibérica, a Núter emprega 500 profissionais e opera doze centros de produção, estrategicamente localizados nas principais zonas pecuárias de Portugal e Espanha, o que lhe permitiu criar e gerir uma forte rede de distribuição. A empresa produz e comercializa uma gama completa de rações para diferentes categorias

de animais: bovinos de carne, bovinos de leite, aves, suínos, coelhos, ovinos, caprinos, cavalos e animais de estimação. Em Portugal, a Núter opera sob a designação Saprogal, sendo “Biona” e “CUF” as principais marcas. Em Espanha, as principais marcas são “Biona” e “Passaranda”. Esta operação, que faz parte da estratégia de crescimento internacional da Royal De Heus para o mercado da nutrição animal, converte a organização holandesa no segundo maior player da Península Ibérica e é mais um passo no objetivo de consolidação global do mercado de rações para animais. “A Núter é uma empresa bem gerida e de sucesso. Como a De Heus, está focada em rações animais para produtores pecuários independentes. Uma vez que as nossas atividades e abordagem ao mercado são altamente consistentes e próximas, estamos convictos de que a complementaridade vai ser total. Ter a De Heus como acionista estratégico a longo prazo só vai fortalecer a Núter. Por outro lado, a De Heus vai beneficiar do conhecimento e experiência da Núter, por exemplo, na área de bovinos destinada à produção de carne, na área de ovinos e caprinos ou através da mobilização de profissionais espanhóis e portugueses para a América Latina”, explica Co de Heus, Administrador-Delegado da Royal De Heus. A De Heus e a Núter complementam-se na perfeição. Ambas as empresas detêm um conhecimento altamente especializado sobre nutrição animal em todas as áreas da pecuária. Este

conhecimento será partilhado e aprofundado, através da rede internacional e do centro especializado da De Heus. Esta sinergia vai permitir à Núter aumentar o seu know-how na área da nutrição animal, tecnologia e automação da produção. É igualmente expectável uma aceleração do processo de inovação de produtos, upgrade na consultoria a clientes e otimização dos processos de produção. A Núter vai manter a atual equipa de gestão. “A De Heus não tinha atividade em Espanha e Portugal. Nos últimos anos, a atual direção da Núter tem operado de forma independente e conseguido um excelente desempenho, num mercado exigente. Além disso, a De Heus defende que as unidades locais devem ser geridas por profissionais locais. Eles, melhor que ninguém, conhecem o mercado, falam a língua e entendem a cultura”, considera Co de Heus, Administrador-Delegado da Royal De Heus. “Fico orgulhoso por a Núter ir integrar o Grupo De Heus. A De Heus é a acionista ideal para a Núter. Com o seu conhecimento e visão de longo prazo, a De Heus vai ajudar a Núter a passar para a próxima fase do seu nível de desenvolvimento. Estamos com muita esperança e energia para o futuro”, explica Julio Muñoz, Presidente da Núter.

Sobre a Royal De Heus A Royal De Heus é líder internacional da indústria de nutrição animal. Fundada em 1911, na Holanda, continua a ser detida pela família De Heus. Graças ao seu rápido crescimento internacional, a empresa integra o top 15 do seu sector a nível global. Atualmente, conta com 3 mil profissionais, em 50 países, como a Polónia, Rússia, República Checa, Egito, África do Sul, entre outros.

Sobre a Núter Núter é uma das principais empresas de nutrição animal da Península Ibérica. Em conjunto com a sua participada Saprogal Portugal, emprega atualmente 500 profissionais e produz 1 milhão de toneladas de ração por ano, através das suas 12 unidades de produção. Os seus produtos são utilizados por mais de 40.000 produtores, a quem a empresa serve através de uma rede de 1.500 distribuidores exclusivos. Nasceu em 2007, como resultado da integração de duas grandes empresas espanholas do sector na nutrição animal: SAPROGAL S.A.U. e Piensos Pascual S.A.U.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 33


economia

weather market

observatório das matérias primas por João Santos

O weather market e a retenção dos agricultores voltaram a dar surpresas..., mas continuamos com stock mundiais ótimos As chuvas no Midwest, em junho, e as condições meteorológicas na Ucrânia, durante o Verão, não sendo as mais favoráveis, puseram o mercado nervoso, em particular no milho. A soja seguiu o mesmo padrão, quebrando a tendência de queda até junho. Mas chegados a meados de novembro, tanto o milho como a soja corrigiram para os valores de antes do verão. Proteínas A sementeira no Brasil correu muito bem, a da Argentina está quase a acabar e também correu bem. As condições meteorológicas nestes dois países têm sido benignas. Na Europa, o Verão passado não foi o melhor para a colza e o girassol, o que eventualmente seria altista para a farinha destas duas matérias primas; no entanto como estas têm que competir com a soja, não tiveram outro remédio que ajustar o preço em baixa. Tendo os stocks mundiais chegado a valores confortáveis em 2014, uma das razões que estava a travar a descida dos preços da soja, atualmente, era a retenção de soja nos agricultores argentinos. As eleições na Argentina, em novembro, e a decisão do novo governo de desvalorizar o peso argentino em relação ao dólar para o nível do praticado no mercado paralelo, medida que o mercado começou a descontar durante o Outono, tiveram como consequência (ou assim esperam os operadores), que

nas próximas semanas/meses, à medida que seja visível que a inflação na Argentina esteja controlada, os agricultores argentinos comecem a vender os seus stocks. E que, chegada a colheita à Argentina, os seus stocks estejam em valores significativamente mais baixos (o stock de soja era usado pelos agricultores como um refúgio contra a inflação). Em termos de produção para a campanha de 15/16, não são esperadas grandes alterações. No entanto, em relação ao último OM vemos uma redução dos stocks finais para 82 milhões de toneladas contra os 93 previstos em junho passado, (fonte USDA s&d report), o que se deve ao incremento do consumo da soja. Os fundos estão curtos de soja (futuros de Chicago), ou seja, continuam a pensar que há mais potencial para que continue a baixar que a subir. O mercado de fretes continua muito baixo, nestes últimos meses tem havido momentos em que se alugam navios de granel a custo/dia zero, combustível à parte. O abrandamento da economia da China não será seguramente um fator que ajude a que recuperem. Em relação ao euro/dólar (1.087), não faço a mais pequena ideia para onde vai. Assim, tudo somado, hoje não há perspetiva de que os preços da soja tenham grande potencial para subir. No entanto, com os futuros de Chicago da farinha de soja a 270 USD (preço historicamente baixo), os fundos

34 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

curtos, e a possibilidade de noticias adversas em relação à progressão da campanha no Brasil e Argentina, poderão ocorrer correções em alta. Cereais As inundações de junho no Midwest e o tempo mais seco do que o desejável na Ucrânia, trouxeram a incerteza suficiente para que o milho que já estava a ser vendido em Portugal à volta dos 170 euros/tonelada subisse, no início de junho, tanto para o disponível como para as posições a deferido. Se nos Estados Unidos tudo não passou de um susto e não houve perdas de rendimento, na Ucrânia houve uma redução da produção que conduziu a alguma retenção dos agricultores ucranianos. No entanto, chegados a meados de dezembro o milho ucraniano voltou a ser competitivo. Com a desvalorização do peso argentino e a medida do novo governo argentino de eliminar os impostos à exportação do milho e do trigo, abrir-se-á mais uma origem de cereais competitiva. Se a isso somarmos a desvalorização do real brasileiro, (ainda que em dólares o milho e a soja estejam a preços relativamente baixos em reais estão a valores altos), o sinal para o agricultor brasileiro é de continuar a plantar mais. Consequentemente, tanto para o milho como para a soja, em comparação ao último OM vemos um incremento das produções expectáveis para os dois produtos.

Os fundos estão curtos de milho, donde continuam a pensar que há mais potencial de que Chicago continue a cair que a subir. Assim, com a informação disponível hoje, não é expectável que os preços em Portugal subam, mas também não é muito provável que desçam muito mais, uma vez que, se Chicago desce muito mais, podem entrar os direitos aduaneiros que neste momento estão a zero. Para concluir, à parte do que aconteça no euro/dólar, os stocks mundiais estão bons e recomendam-se, o tempo no Brasil e na Argentina é benigno, não há perspetiva de os preços subirem; no entanto, os preços em euro/ton. estão relativamente baixos, portanto será de considerar, a estes níveis de preços, ir cobrindo posições. Porém não devemos esquecer que os preços, mais euro menos euro, são iguais para todos, pelo que o importante é ter uma estrutura de custos competitiva e ponderar o racional/ oportunidade de fechar margem contra as vendas (a preço fixo) do respetivo produto final. Colheitas Mundiais fonte: USDA s&d Dez reporte

14/15

15/16

Soja

319,0

320,1

Produção Mundial

77,6

82,6

Stocks finais

24%

26%

Milho

1.008,8

974,9

Produção Mundial

208,2

211,9

Stocks finais

21%

22%

milhões de ton.


2 a 6 Jan

€/ton 350

450

400 300

250

250 200

200 150

100

6 a 10 Jun

23 a 27 Maio

9 a 13 Maio

25 a 29 Abr

11 a 15 Abr

28 a 1 Abr

7 a 11 Nov

5 a 9 Dez 19 a 23 Dez

5 a 9 Dez 19 a 23 Dez

24 a 28 Out

21 a 25 Nov

10 a 14 Out 24 a 28 Out

10 a 14 Out

7 a 11 Nov

26 a 30 Set

26 a 30 Set

21 a 25 Nov

29 a 2 Set 12 a 16 Set

Preços médios semanais no porto de Lisboa de 2011 a 2015

29 a 2 Set

Evolução do preço de matérias primas

12 a 16 Set

1 a 5 Ago 15 a 19 Ago

1 a 5 Ago 15 a 19 Ago

4 a 8 Jul 18 a 22 Jul

4 a 8 Jul 18 a 22 Jul

20 a 24 Jun

bagaço girassol

20 a 24 Jun

6 a 10 Jun

150 9 a 13 Maio

300

23 a 27 Maio

350

25 a 29 Abr

€/ton

11 a 15 Abr

bagaço colza 12 a 16 Mar

200

28 a 1 Abr

250

12 a 16 Mar

170

150 13 a 17 Fev

190

27 a 2 Mar

210

27 a 2 Mar

270

30 a 3 Fev

500

13 a 17 Fev

550

290

30 a 3 Fev

310

16 a 20 Jan

250

2 a 6 Jan

19 a 23 Dez

5 a 9 Dez

21 a 25 Nov

7 a 11 Nov

24 a 28 Out

10 a 14 Out

26 a 30 Set

12 a 16 Set

29 a 2 Set

15 a 19 Ago

1 a 5 Ago

18 a 22 Jul

4 a 8 Jul

20 a 24 Jun

6 a 10 Jun

23 a 27 Maio

9 a 13 Maio

25 a 29 Abr

11 a 15 Abr

28 a 1 Abr

12 a 16 Mar

27 a 2 Mar

13 a 17 Fev

30 a 3 Fev

€/ton

16 a 20 Jan

2 a 6 Jan 16 a 20 Jan

milho

2 a 6 Jan

19 a 23 Dez

5 a 9 Dez

21 a 25 Nov

7 a 11 Nov

24 a 28 Out

10 a 14 Out

26 a 30 Set

12 a 16 Set

29 a 2 Set

15 a 19 Ago

1 a 5 Ago

18 a 22 Jul

4 a 8 Jul

20 a 24 Jun

6 a 10 Jun

23 a 27 Maio

9 a 13 Maio

25 a 29 Abr

11 a 15 Abr

28 a 1 Abr

12 a 16 Mar

27 a 2 Mar

13 a 17 Fev

30 a 3 Fev

16 a 20 Jan

2011

2012

2013

economia 2014

2015

€/ton

bagaço soja 44

600

400

450

230

300

350

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 35


economia

observatório do Leite Por Inês Ajuda Fontes: Rabobank, LTO, USDA

Um regresso ao equilíbrio entre a oferta e a procura, é o que é o previsto pelos principais analistas do sector leiteiro, para o ano de 2016. Em 2015 apesar de ter existido uma queda nos preços do leite (3.5%) esta foi muito menor do que a grande queda de 2014 (48%). No último trimestre de 2015 os preços recuperaram de um dos valores mais baixos dos últimos 13 anos (agosto). Apesar de uma aparente melhoria, o preço do leite continua abaixo do custo de produção para muitos produtores. As previsões para o ano de 2016 apontam para uma estabilização dos stocks de produtos lácteos (principalmente leite em pó) na primeira metade de 2016 devido a uma diminuição da produção dos principais exportadores de leite (Estados Unidos da América, Nova Zelândia, União Europeia, Austrália e Argentina), bem como a um aumento do poder de compra e com isso do consumo de leite dos países

em desenvolvimento como a China. A Nova Zelândia foi o país que viu a maior redução na produção de leite, na ordem dos 6%. Esta redução deveuse a uma diminuição na quantidade de pasto devido a uma menor quantidade de água disponível. A produção de leite nos Estados Unidos teve uma subida de apenas 1%, apresentando no final de 2015 uma desaceleração maior deste crescimento, bem como na Austrália onde também é esperada uma estabilização da produção de leite. A União Europeia teve um crescimento de 1%, principalmente devido ao aumento da produção na Irlanda e Holanda, sendo o único dos principais exportadores que continua a incentivar a produção e tem em vista um aumento da mesma para este ano, que só é esperado estabilizar na segunda metade de 2016. O Rabobank prevê que apenas após a estabilização da produção leiteira na União Europeia é que o impacto da estabilização dos maiores

36 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

exportadores se fará sentir nos stocks mundiais, levando a uma subida do preço do leite ao produtor na segunda metade de 2016 e que refletirá o possível cenário para 2017 e 2018. (tabela 1). As opiniões quanto à importação de leite pelos países em desenvolvimento dividem-se, uma vez que, apesar do poder de compra estar a aumentar em países como a China, um aumento na importação de produtos não parece um cenário muito provável, uma vez que não só a produção de leite na China aumentou 10% no

último ano, como a proibição de importação de leite pela Rússia não aparenta ter um fim próximo. Apesar de haver fortes indicações de que em 2016 os preços do leite continuarão insustentavelmente baixos e o mercado permanecerá volátil, existe uma perspetiva de equilíbrio da balança da demanda e da procura, o que levará a um aumento do preço do leite.

TABELA 1 Previsões do Rabobank para os preços do leite ($/tonelada) nos diferentes quartos do ano de 2016. Quartos do ano de 2016

Preços do leite ($/tonelada)

Primeiro

2500

Segundo

2500

Terceiro

2700

Quarto

3200


economia

preço do leite standardizado (1) países

leite à produção Preços médios mensais em 2015

companhia

preço do leite (€/100kg) outubro 2015

média dos ultimos 12 meses (4)

alemanha

Alois Müller

26,87

28,72

Dinamarca

Arla Foods

28,55

29,80

Danone

30,15

33,61

Lactalis (Pays de la Loire)

31,14

32,51

Sodiaal

33,14

33,68

França

Inglaterra

Dairy Crest (Davidstow)

36,99

34,99

First Milk

28,64

28,25

Glanbia

23,99

27,02

Kerry

26,52

28,38

Granarolo (North)

38,29

39,81

DOC Cheese

24,19

26,80

Irlanda Itália Holanda

FrieslandCampina

Preço médio leite N. Zelândia EUA

(2)

Fonterra EUA

(3)

meses

eur/kg

teor proteico (%)

Contin.

Açores

Contin.

Açores

Contin.

Açores

0,339

0,347

3,84

3,72

3,30

3,25

0,342

0,333

3,82

3,68

3,33

3,27

Dezembro

0,345

0,330

3,87

3,64

3,37

3,21

janeiro

0,320

0,318

3,85

3,57

3,32

3,16

FEVEREIRO

0,316

0,317

3,80

3,52

3,29

3,15

MARÇO

0,313

0,313

3,73

3,51

3,27

3,18

outubro 2014 Novembro

2015

teor médio de matéria gorda (%)

ABRIL

0,334

0,306

3,68

3,59

3,24

3,21

maio

0,283

0,306

3,65

3,65

3,21

3,18

junho

0,280

0,305

3,61

3,66

3,26

3,12

julho

0,277

0,289

3,62

3,63

3,17

3,04 3,05

28,20

30,21

30,03

31,39

AGOSTO

0,278

0,290

3,67

3,65

3,16

22,92

SETEMBRO

0,281

0,297

3,75

3,78

3,23

3,14

36,46

OUTUBRO

0,283

0,294

3,80

3,89

3,26

3,25

23,08 35,29

Fonte: LTO (1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética • (3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente

Fonte: SIMA Gabinete de Planeamento e Políticas

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ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 37


economia

ÍNDICE VL e ÍNDICE VL-erva “Futuro da produção de leite no continente português continua em risco” Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores Nuno Marques, revista Ruminantes

Analisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o trimestre de agosto a outubro de 2015. De acordo com os dados do SIMA-GPP (2015) durante o período em análise o preço do leite pago ao produtor individual no continente aumentou 1,8% passando de 0,278 €/kg em agosto para 0,283 €/ kg em outubro. O preço do leite pago aos produtores dos Açores aumentou 1,38% passando de 0,290 €/kg para 0,294 €/ kg, sendo que nos Açores os preços pagos pelo leite foram sempre superiores aos preços pagos no continente. No entanto, é conveniente realçar que o preço pago pelo leite nos Açores não se reflete de igual modo em todas as ilhas, sendo S. Miguel aquela em que os produtores conseguem melhor preço fazendo-se sentir, desta forma, no valor médio Regional. A diferença entre os preços do leite pago aos produtores do continente e dos Açores poderá dever-se a uma política de maior investimento em produtos de maior valor acrescentado por parte da indústria transformadora açoriana, coadjuvada com uma maior e melhor publicitação dos mesmos junto dos consumidores. Estas ações abrem as portas a maiores exportações nomeadamente para o mercado dito da saudade, ou seja onde a comunidade emigrante açoriana se faz sentir com maior preponderância (América do Norte). Paralelamente, há que realçar a ação mais interventiva das Associações de Lavradores dos Açores junto do poder local e a sua maior capacidade negocial com a indústria transformadora do leite.

De acordo com dados do MMO (2015), a média de preços do leite pago ao produtor no período de agosto a outubro de 2015 foi, em Portugal, muito inferior (0,285 €/ kg) à média europeia (UE28) (0,301 €/kg). Algumas das principais matériasprimas que entram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram uma redução de preços durante o período em análise. Entre agosto e outubro o preço médio mensal do alimento composto utilizado nas formulações dos regimes alimentares baixou 6,9% no continente e 5,5% na Região Autónoma dos Açores. A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em outubro de 2015 foi, respetivamente, de 1,586 e de 2,206. De referir que em outubro de 2014 o Índice VL havia sido de 1,845 e o Índice VL - ERVA de 2,552. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira, um índice entre 1,5 e 2 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável e um índice maior do que 2 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,491 em agosto pelo que se pode concluir que os produtores de leite do continente se encontram num momento menos interessante para o sucesso económico das explorações, contrariamente aos produtores dos Açores que vivem momentos mais favoráveis.

Evolução do

Índice VL e Índive VL-erva de julho de 2014 a outubro de 2015 Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais do preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo. últimos 13 Meses Outubro 2014

2015

Índice VL

Índice VL ERVA

1,845

2,540

novembro

1,845

2,426

dezembro

1,864

2,406

janeiro

1,700

2,288

fevereiro

1,686

2,294

março

1,676

2,269

abril

1,787

2,252

Maio

1,540

2,285

Junho

1,515

2,272

Julho

1,454

2,098

agosto

1,491

2,099

setembro

1,519

2,168

outubro

1,586

2,206

Evolução do Índice VL O Índice VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia) (Rodrigues et al., 2013). Valor do Índice VL

2,0

Valores do Índice VL

DE JULHO DE 2012 A OUTUBRO DE 2015

1,5

1,0 julho 2012

Limiar de rentabilidade

38 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

outubro 2015

Negócio saudável

Forte ameaça para a rentabilidade da exploração


economia

Evolução do Índice VL-erva DE JULHO DE 2013 A OUTUBRO DE 2015 O Índice VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/ verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 23,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado) (Rodrigues et al., 2014).

notas: Em outubro de 2015, o preço do leite pago aos produtores do continente foi muito inferior (0,283 €/kg) ao de outubro de 2014 (0,339 €/kg). O mesmo ocorreu com o preço pago aos produtores individuais da Região Autónoma dos Açores que passou de 0,347 €/kg em julho de 2014 para 0,294 €/kg de leite em outubro de 2015.

Valores do Índice VL Erva

3,0

2,0

1,5

1,0 julho 2013

outubro 2015

Valor do Índice VL - erva Negócio saudável

A evolução dos preços de 3 das principais matérias-primas que entram na formulação dos alimentos compostos (bagaços de colza, girassol e soja) contribuíram para a redução do preço dos alimentos compostos formulados para o cálculo do Índice VL (-6,9%) e Índice VL – ERVA (-5,5%). De um modo geral, os preços dos alimentos forrageiros utilizados na

Limiar de rentabilidade

Forte ameaça para a rentabilidade da exploração

formulação do regime alimentar não apresentaram, no trimestre em análise, diferenças representativas relativamente ao trimestre anterior embora o preço da palha de cevada tenha aumentado ligeiramente. Os 3 aspetos anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em outubro de 2015 foram, respetivamente, de 1,586 e 2,206.

Referências Bibliográfia: Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas os autores disponibilizam bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 39


Produto

CowManager SensOor

Monitorizar para poupar Por ruminantes

Abílio Carvalho, Luís Bouça Nova e Nuno Mateus são os três sócios gerentes da Genética21, uma empresa que nasceu para desenvolver o negócio de sémen em todo o território português (continente e ilhas), sendo esta a sua principal área de negócio, através da comercialização de sémen congelado de bovino da World Wide Sires. A empresa também está na área dos desinfetantes de tetos (pré e pós ordenha), distribuindo os produtos das marcas Tensolac e Higiguima, sendo ainda representante da Techmix International. Recentemente, a Genética21 passou também a comercializar a CowManager SensOor, um produto destinado a monitorizar o bem estar dos animais da exploração. A Ruminantes foi conhecê-lo.

Em que consiste o CowManager System SensOor? Abílio Carvalho – Este é um sistema inovador, desenvolvido pela Agis Automatisering, que ajuda o produtor a promover o bem-estar dos animais da exploração. O produto em si consiste num “chip” inserido no brinco electrónico de uma vaca (imagem 1) para monitorizar uma série de parâmetros do animal 24 horas por dia, 7 dias por semana. É disponibilizado em 4 módulos: Fertilidade, Saúde, Nutrição e “Encontrar a minha vaca” fornecendo ao criador muita informação sobre a exploração e permitindo economizar recursos. O que é que o diferencia dos outros sistemas? O CowManager System SensOor consegue medir a ruminação, a

40 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

Imagem 1 Brinco com Sensor.

quantidade de tempo na manjedoura, a atividade por minuto e ao mesmo tempo a temperatura da orelha – não há outro sistema no mercado que consiga fazer tudo isto simultaneamente. Os comportamentos dos animais, como a ruminação, alimentação ou outros, são medidos por um acelerómetro. A temperatura, por seu lado, é medida através de dois sensores térmicos localizados no brinco que registam as informações e as enviam para o


produto

Gráfico 1 Gráfico mostrando linha da atividade (vermelho) e estado do cio (linha azul).

sistema o qual, a cada 15 minutos, envia alertas ao criador através de sms ou email quando ocorrem alterações em relação ao comportamento base do rebanho. Está adaptado a explorações de “extensivo”? Qual a vantagem sobre os

podómetros? Está adaptado a qualquer tipo de exploração. Nas situações em que os animais saem para uma pastagem, ou lá permanecem, pode ser utilizado um router solar, que tem um alcance de 1.000 metros em relação a outros routers e de 200 metros em relação aos sensores. Os

alertas podem ser recebidos num PC, smartphone ou tablet recorrendo à aplicação CowManager. A vantagem deste sistema sobre os podómetros é bastante expressiva nos Açores, nas explorações de ordenha fixa em que as vacas se deslocam de pastagem em pastagem percorrendo percursos diferentes. O CowManager regista em separado o número de passos do animal (a cor-delaranja) e a atividade elevada relacionada com a deteção de cios (a vermelho). O sistema funciona por módulos? Sim. O módulo base é o da fertilidade e os restantes podem ser comprados separadamente. Funcionam independentemente uns dos outros, embora se complementem.

The SensOor

Vigilância 24/7: Tudo na Orelha da Vaca Mais preciso na deteção dos cios do que os métodos tradicionais.

Que tipo de informação recolhe o módulo “Fertilidade” e como pode ajudar o produtor? Com este módulo, o produtor reduz o número de inseminações porque aumenta a taxa de prenhez, reduzindo os custos com a compra de sémen e permitindo inclusivé a utilização de sémen de valor genético mais elevado. Também leva à redução do intervalo entre partos, com a consequente diminuição dos dias em leite, o que conduz a um aumento da rentabilidade por unidade de produção (isto é, por vaca) (Gráfico 1). Que tipo de informação recolhe o módulo “Saúde” e como pode ajudar o produtor? Neste módulo, o sistema recolhe informação relativa ao tempo que a vaca passa a ruminar, a alimentar-se,

MAIS LEITE. MAIS LUCRO.

Regista a atividade e a temperatura da vaca, os períodos de ingestão, ruminação e descanso. Alerta para as doenças antes da vaca mostrar sinais clínicos. Melhor informação para melhores decisões. Testado para funcionar em qualquer sistema de maneio. Fácil de aplicar e com bateria de longa duração.

NÃO VENDEMOS PRODUTOS. APRESENTAMOS SOLUÇÕES! Contacto: Tel.: 936.114.577 • Email: info@genetica21.pt • Web: www.genetica21.pt

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 41


Produto

em que não está ativa, está ativa ou muito ativa. Recolhe também informação relativa à temperatura da vaca, emitindo um alerta no caso de haver um desvio. Ao fornecer uma precoce e fidedigna deteção das doenças, permite uma enorme poupança de dinheiro ao produtor. Uma precoce deteção das doenças significa menos problemas de saúde, redução do uso de antibióticos, redução das perdas de produção e redução dos custos de mão de obra (Gráfico 2). Como deteta possíveis doenças? Em todas as situações, independentemente do tipo de patologia, em que a vaca diminua o tempo de ruminação, o tempo de alimentação e a sua atividade, e em que aumente o tempo de repouso e/ou se verifique uma alteração da temperatura,

será emitido um alerta. Estes alertas podem surgir, por exemplo, quando ocorrem mastites, infeções urinárias, distorção do abomaso, entre outros. Que tipo de informação recolhe o módulo “Nutrição” e como pode ajudar o produtor? O sistema mede com precisão o tempo que cada vaca passa a comer, a pastar e a ruminar. Muitos produtores não têm noção se todas as suas vacas (em produção ou não) estão a ingerir a quantidade de alimento adequada ao seu estado. Ao fornecer dados sobre o comportamento alimentar de cada animal, de cada grupo e de todo o rebanho, o sistema permite verificar se existem desvios significativos no comportamento alimentar de algum animal. Torna-se especialmente útil no período de transição seca/lactação. (Gráfico 3).

Gráfico 2 Gráfico do módulo “Saúde”.

Gráfico 3 Gráfico do módulo “Nutrição”.

42 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

Que funções tem o módulo “Onde está a minha vaca”? O módulo “onde está a minha vaca” (Find My Cow) é uma função da aplicação Find My Cow para smartphones Androide. Recorrendo a esta aplicação, as vacas que estejam numa lista de alertas são facilmente localizadas quando caminhamos por entre elas. O SensOor comunica diretamente com o smartphone (Imagem 2). Qual é o investimento total para adquirir este sistema e o custo anual de manutenção? Qual é o nº mínimo de vacas por exploração para ser rentável? Em quanto tempo se amortiza? O investimento total depende da dimensão da exploração localização das construções, uma vez que o número necessário de brincos e de antenas é variável. O custo de manutenção pode considerar-se nulo porque não há consumo de baterias nem custos anuais a pagar ao fornecedor (o sistema dispensa o carregamento de baterias e tem uma garantia de 5 anos). Não existe número mínimo de animais para ser rentável, uma vez que todas as explorações enfrentam os mesmos desafios. O tempo de amortização

Imagem 2 Smartphone localizando vacas na lista de alertas.

depende de vários fatores como, por exemplo, a taxa de prenhez atual do rebanho, o objetivo a alcançar, o número de mortes por ano, etc. Para o cálculo da amortização possuímos um calculador, onde são inseridos vários parâmetros, que nos permite achar a taxa de retorno anual relativamente ao investimento. O payback poderá estar entre os 8 e 15 meses, dependendo do ponto de partida da exploração.

O CowManager permite • Ótima deteção de cios • Inseminação no momento certo e uma redução do número de inseminações • Diminuição do intervalo entre partos • Rápida deteção do aparecimento de doenças • Acompanhamento contínuo da exploração • Uma compreensão do comportamento alimentar das vacas e de mudanças na dieta • Medição contínua dos movimentos de ruminação • Permite encontrar facilmente uma vaca no meio do rebanho • A uitilização de uma aplicação no seu “smarphone” Android



FERTILIZAÇÃO

Luis Vilhena Nobre Gestor de Produto, Fertilizantes lnobre@vitas.pt

Fertilização azotada Independentemente da cultura, o agricultor pretende sempre maximizar a produtividade e qualidade do seu produto final.

O caso das pastagens e forragens para alimentação animal é um bom exemplo de querermos produzir o máximo de matéria seca por hectare e com ótimos parâmetros qualitativos. Os animais funcionam como uma “fábrica”, transformam os alimentos que têm à sua disposição em leite e carne. Seguindo a analogia, com boas matérias-primas disponíveis seguramente teremos um produto final de maior qualidade. Podemos concluir que além da quantidade, também a qualidade da alimentação

é essencial na produção animal. Sabendo que a compra de alimentos ao exterior representa um gasto significativo, quer em explorações de carne quer de leite, consideramos ser importante maximizar a produção de alimentos na exploração, tanto a nível quantitativo como qualitativo. Uma boa produção vegetal resulta de vários fatores, aos quais devemos dar igual importância: escolha adequada de sementes e adubos, correta mobilização do solo e sementeira,

44 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

Aproxima-se a altura de aplicação de adubos azotados de cobertura e o agricultor terá que decidir qual o produto a utilizar.

Vacada Mertolenga em pastoreio (Alentejo).

condições climáticas favoráveis, escolha da época de corte mais vantajosa, entre outros. Aproxima-se a altura de aplicação de adubos azotados de cobertura e o agricultor terá que decidir qual o produto a utilizar. Esta escolha é muito importante pois vai ter grande influência na quantidade e qualidade da pastagem/forragem.



FERTILIZAÇÃO

Azoto O azoto é o nutriente mais aplicado na agricultura, por ser um dos elementos mais importantes no crescimento vegetal. No entanto, também é o nutriente que mais perdas apresenta. Pode ser aplicado sob várias formas, todas elas com diferentes comportamentos no solo e com diferentes taxas de absorção e eficácia na planta. Nos adubos azotados podemos encontrar este nutriente sob três formas: ureica (CO(NH2)2), amoniacal (NH4+) e nítrica (NO3-). Observando o ciclo do azoto, (figura 1) verificamos que a forma ureica se transforma em amoniacal e posteriormente em nítrica. As plantas praticamente não absorvem o nutriente na forma ureica (0 a 5%), absorvem algum sob a forma amoniacal (5 a 25%) e absorvem maioritariamente a forma nítrica (70 a 95%). O coeficiente real de utilização do azoto pode ser bastante reduzido porque o somatório das perdas (volatilização, desnitrificação, lixiviação e imobilização), pode variar entre 45 a 75%. Isto significa que restam apenas entre 25 a 55% para aproveitamento pela planta. O agricultor deve estar atento a esta realidade na altura de escolher o fertilizante azotado que vai aplicar, para diminuir as perdas e aumentar a eficiência das unidades aplicadas. Enquanto empresa líder mundial em Investigação e Desenvolvimento de fertilizantes específicos, a Timac Agro desenvolveu duas gamas de produtos

inovadores e totalmente diferenciados: RHIZOVIT e SULFAMMO NPRO. Atuam potenciando o azoto aplicado, mobilizando o que está presente no solo e têm uma ação catalisadora na sua absorção e transformação pela planta. Além disso, os fertilizantes azotados sólidos produzidos pela Timac Agro apresentam na sua composição enxofre (estimula a absorção do azoto), magnésio (estimula a fotossíntese) e não contêm azoto na forma nítrica (permite reduzir as perdas).

Azevém em desenvolvimento (Açores).

RHIZOVIT Os produtos desta gama de fertilizantes atuam como ativadores nutricionais, ou seja, a sua ação não se limita simplesmente a fornecer nutrientes. O complexo Rhizovit atua de três formas: • Ativação do solo - estimula o desenvolvimento da vida microbiana, reduz os bloqueios e aumenta a complexação e transporte de nutrientes para a rizosfera; • Ativação da planta - estimula a absorção radicular, a sistemia e posterior metabolização dos nutrientes; • Ativação da nutrição azotada - estabiliza as formas mistas de azoto, ficando ao dispor da planta as três formas azotadas em

figura 1 Ciclo transformação do azoto no solo.

CO(NH2)2

NH4+

NO3-

Ureia

Amoniacal

Nítrica

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concentrações estáveis e reduz significativamente as perdas. Para o agricultor as vantagens ao utilizar RHIZOVIT 31 são: • Aumento do coeficiente real de utilização dos nutrientes do adubo e do solo; • Melhor desenvolvimento da raiz e planta; • Azoto útil disponível para a planta ao longo de todo o ciclo; • Diminuição do impacto ambiental das adubações.

Sulfammo NPRO Através do complexo NPRO os produtos desta gama atuam como catalisadores das seguintes ações: • Aumento da absorção de azoto pela planta - diminui as perdas do nutriente no solo; • Maior velocidade de transformação do azoto em proteínas no interior da planta - reduz o excesso de azoto nítrico.

Outra característica diferenciadora dos produtos Sulfammo NPRO é o seu equilíbrio ureico-amoniacal, este permite fornecer azoto de ação rápida e continuada ao longo do ciclo da planta. Para o agricultor as vantagens ao utilizar Sulfammo NPRO são: • Aumento da capacidade de absorção e transformação de azoto; • Azoto de ação rápida e disponível ao longo do ciclo; • Aumento do teor de matéria seca e proteína; • Redução das perdas de azoto. Nesta gama existem duas fórmulas vocacionadas para a produção de pastagens/ forragens: SULFAMMO NPRO 26 e SULFAMMO NPRO 21P. Normalmente, utiliza-se o NPRO 26 em culturas de corte único. Devido ao seu equilíbrio, o NPRO 21P é muito utilizado em culturas de cortes múltiplos, pois contém azoto e fósforo, que vão estimular bastante o sistema radicular e a capacidade de rebrote após o corte.


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FORRAGENS

Cristina Antunes1, 2

Produção de ruminantes com forragem hidropónica

Guilherme M. Silva1, 2

Mário Quaresma 2 1

Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa

2 Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa

aspetos a considerar forragem hidropónica A produção de forragem hidropónica é realizada a partir de sementes de cereais praganosos ou de leguminosas. Este tipo de forragem apresenta uma elevada taxa de germinação e um crescimento rápido durante um curto período de tempo (5-8 dias), numa estufa que fornece as condições de temperatura, humidade e luminosidade adequadas (Fazaeli et al. 2012). Dentro das diferentes espécies com aptidão forrageira, a cevada é a mais utilizada na produção de forragem hidropónica, pelo seu elevado valor nutritivo, rendimento em forragem e uso eficiente da água (Al-Karaki & Al-Hashimi 2012). Em situações de difícil produção forrageira, nomeadamente escassez de água, solos de reduzida qualidade e condições edafo-climáticas adversas, a produção de forragem hidropónica é apresentada como uma alternativa ao sistema de produção tradicional (FAO 2001). Contudo,

48 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

é importante ter em consideração que em termos nutricionais a alimentação dos animais com forragem hidropónica apresenta algumas desvantagens comparativamente à utilização de forragem tradicional (Sneath & Mcintosh 2003; Fazaeli et al. 2012), facto que resulta do elevado teor de água da forragem hidropónica (≥ 80%) (Freitas da Silva 2015; Fazaeli et al. 2012).

Produtividade Em termos de produtividade, a forragem hidropónica apresenta um bom coeficiente de conversão (4,6), pois com 1 tonelada de grão é possível obter 4,59 toneladas de forragem hidropónica (Fazaeli 2011). Contudo, o processo de germinação está associado a importantes alterações nutricionais, ou seja a composição nutricional da forragem hidropónica é diferente da composição do grão que lhe deu origem: 1) o aumento de massa que se observa está essencialmente associado à absorção de água durante a germinação; 2) uma redução no teor de matéria seca (5%), devido ao consumo de amido


FORRAGENS

durante o processo de germinação, o que representa uma significativa perda deste importante nutriente (21%); 3) um significativo aumento nos teores de fibra ácido detergente (ADF; 54%) de fibra neutro detergente (NDF; 32%), de proteína verdadeira (4%) e de proteína bruta (25%) (Fazaeli 2011). Na comparação da forragem hidropónica com o feno e a palha de cevada verificamos que o feno e a palha apresentam, para a mesma quantidade, um teor de proteína bruta 3,8 e 1,8 vezes superior, respetivamente. Podemos por isso afirmar que, em termos nutricionais, a utilização de forragem hidropónica não apresenta vantagens que justifiquem a sua utilização na alimentação de bovinos.

Custo de produção Um outro aspecto de máxima importância prende-se com o seu custo de produção. Se tivermos em consideração que 14,3% do custo de produção da forragem hidropónica de cevada está associada ao preço do grão de cevada, que nos últimos 6 meses apresentou o valor médio de 117,93€/tonelada, e que são necessários 218 kg de semente para a produção de

uma tonelada de forragem hidropónica, o custo de semente situa-se nos 25,71 €. A somar a este valor temos os restantes custos inerentes à produção de forragem hidropónica (85,7%), perfazendo um custo total de 179,8€/tonelada de forragem hidropónica (Sneath & Mcintosh 2003). Numa tonelada de forragem hidropónica (12-20% de MS) existem apenas 120-200 kg de MS, o que representa um custo de 900-1500 €/ton de MS. Este valor é 7-11,6 vezes superior ao custo de uma tonelada de MS de grão de cevada (129€). Por outro lado, estudos realizados em bovinos revelaram não existir vantagens significativas na utilização de forragem hidropónica de cevada, nem em termos produtivos nem na qualidade da carne obtida (Fazaeli et al. 2011; Freitas da Silva 2015). Pelo anteriormente exposto e com base nos actuais conhecimentos científicos, a utilização de forragem hidropónica de cevada na produção de bovinos não está associada a nenhuma vantagem produtiva e contribui de forma muito significativa para o aumento dos custos de produção.

Referências bibliográficas Al-Karaki, G.N. & Al-Hashimi, M., 2012. Green Fodder Production and Water Use Efficiency of Some Forage Crops under Hydroponic Conditions. ISRN Agronomy, 2012, pp.1–5. FAO, 2001. Manual Tecnico Forraje verde hidroponico, Santiago: Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacion. Fazaeli, H., 2011. Performance of feedlot calves fed hydroponics fodder barley. Journal of …. Available at: http://jast.modares.ac.ir/ pdf_4708_9a6782d47a5690333bcc66f4f92db1ca. html [Accessed September 30, 2015]. Fazaeli, H. et al., 2011. Performance of feedlot calves fed hydroponics fodder barley. Journal of Agricultural Science and Technology, 13(3), pp.367–375. Fazaeli, H. et al., 2012. Productivity and nutritive value of barley green fodder yield in hydroponic system. World Applied Sciences Journal, 16(4), pp.531–539. Freitas da Silva, G.M.M., 2015. Efeito da suplementação com forragem hidropónica sobre o ganho médio diário, rendimento de carcaça e qualidade da carne de bovino da raça Blonde d’Aquitaine. Lisboa: Faculdade de Medicina Veterinária. Sneath, R. & Mcintosh, F., 2003. Review of Hydroponic Fodder Production for Beef Cattle October 2003. Meat & Livestock Australia Limited.

PROTEÍNA BRUTA É COISA DOS ANOS 80. A ciência e a tecnologia mudaram adaptando-se aos novos tempos. E a sua forma de formular, também se adaptou? Estratégias e formulações nutricionais adequadas frente àquelas já obsoletas, marcam a diferença entre explorações leiteiras, especialmente quando se trata de nutrição proteica. Encontrar a estratégia mais eficaz na formulação com base em aminoácidos para cada exploração e contexto económico, só se pode fazer com aqueles produtos biodisponíveis realmente fiáveis. Para trás ficam os dias em que nos centrávamos somente nos níveis de proteína bruta. Devemos reformular as nossas dietas até alcançar níveis adequados de lisina e metionina com o objectivo de melhorar os custos de produção e a eficiência proteica (rentabilidade da ração), ao mesmo tempo que nos preocupamos pelo meio ambiente. Formular com Smartamine ®, Metasmart ® e LysiPEARL™ permitirá alcançar “grandes rentabilidades”. Reformule as suas dietas. De agora em diante, mais não significa melhor, no que diz respeito à proteína bruta. Para mais informação sobre estes produtos, por favor contacte a Kemin Tel + 351 214 157 501 ou +351 916 616 764 - www.kemin.com MetaSmart® is a Trademark of Adisseo France S.A.S. 2015_advert Smartmilk_port.indd 1

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FORRAGENS

Beterraba forrageira, como produzir? Porque acompanha de perto a agricultura nacional, a Lusosem procura permanentemente novas soluções que permitam aos nossos produtores agrícolas e agropecuários ser mais competitivos, sempre em respeito pelo ambiente e consumidores. Por Gonçalo Canha, técnico da Lusosem, S.A. gcanha@lusosem.pt

Citando o Dr. José Caiado (veterinário e consultor da M.C.Rios) “é necessário os produtores agro-pecuários nacionais produzirem mais e melhores forragens para os seus efetivos, dentro das suas explorações”. A beterraba forrageira surge como uma cultura com características muito interessantes para a

alimentação de ruminantes, como matéria-prima rica em energia. A cultura tem condições para ser também bastante competitiva agronomicamente nas nossas condições. Neste contexto, em parceria com a empresa M.C.Rios e a Florimond Despres/ SesVanderHave, a Lusosem está a implementar campos

50 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

de ensaio, demonstração e produção de BETERRABA FORRAGEIRA, na região centro e sul do país. A região da Beira Litoral, pelo tipo de solos e clima, é onde se prevê um maior incremento na área num futuro próximo. Algumas boas razões para não esquecer esta cultura: a beterraba forrageira produz muitas unidades forrageiras

(UF) por hectare, recupera bem após uma seca, e é totalmente mecanizada. As beterrabas são muito apetentes e fornecem com facilidade 18.000 UFL/ha. O rendimento energético desta cultura é convincente, o rendimento está entre as 90 e 120 toneladas de raízes por hectare, ou seja entre 15 a 20 ton MS/ha.


FORRAGENS

Breve itinerário cultural da beterraba forrageira Eleição da parcela Deverá evitar-se solos muito ácidos (pH<5,5), pH ótimo entre 6,5 e 7. A parcela deverá ser bem drenada. A beterraba forrageira tem uma raiz aprumada e profundante, e só em solos bem drenados poderá exprimir o máximo potencial.

Variedades Os critérios de seleção devem ter em conta, o teor em matéria seca (MS < 12% forrageira, 12% < MS < 16% forrageira-sacarina e MS > 16% sacarina-forrageira), a resistência ao espigamento, a tolerância à rizoctónia e a facilidade de realizar a colheita manual. Utilizar semente monogérmica e tratada com fungicida é uma garantia para atingir melhores produções.

Implementação Deve realizar-se uma mobilização que assegure a quebra do calo de lavoura e a cama de sementeira deve assegurar que as sementes possam ficar distribuídas de forma homogénea, a menos de 3 cm de profundidade. Recomenda-se uma distância entre linhas de 50 cm e cerca de 120.000 plantas/ha e a utilização de semeador monogrão pneumático. A adubação deve ter em conta as necessidades da cultura, cerca de 100-120 UF de azoto (N), 60-70 UF de fósforo (P2O5) e 140-150 UF de potássio (K2O), para uma produção de 100 ton/ ha e em solos com um teor médio destes elementos. O boro é um micro-elemento relevante na cultura, pelo que em muitos solos onde está menos disponível se recomenda uma aplicação foliar.

Proteção fitossanitária À sementeira deve aplicarse inseticida de solo. O controlo das infestantes é também importante, o que se consegue com a aplicação de um herbicida de pré-emergência seguido de duas aplicações de pós-emergência precoce. A cercosporiose e o oídio são as doenças mais importantes na beterraba forrageira, podendo ser necessário fazer tratamentos com fungicidas específicos.

Rega Nas nossas condições climáticas, a rega é necessária entre os meses de fevereiro a agosto.

Colheita Poderá ser feita manualmente ou com maquinaria específica, dependendo da dimensão do efetivo e tendo em conta que uma vaca aleitante pode consumir cerca de 10 kg de beterraba fresca por dia. O pastoreio também é uma solução possível nesta cultura, uma vez que a colheita pode ser realizada ao longo de 2 ou 3 meses.

Durante a campanha de Inverno de 2015/2016 procurarse-á conhecer melhor a cultura nos nossos condicionalismos para que esta solução possa ser uma alternativa viável para os produtores agropecuários nos próximos anos.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 51


Alimentação

Micotoxinas A ameaça invisível por Pedro Antonio Palazón Monreal, Diretor Técnico, IDEAGRO

As micotoxinas são objeto de interesse mundial devido às importantes perdas económicas que os seus efeitos acarretam sobre a produtividade animal e o comércio nacional e internacional, bem como as suas repercussões na saúde humana. Tratam-se de metabolitos secundários tóxicos produzidos por fungos toxicógenos pertencentes na sua maioria aos géneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium. Estas substâncias químicas podem formar-se numa grande variedade de produtos agrícolas e num vasto leque de situações em todo o mundo. A acumulação de micotoxinas nos alimentos e forragens representa uma importante ameaça para a saúde humana e salubridade animal, sendo a causa de intoxicações muito variáveis, tais como distúrbios gastrointestinais, estrogénicos, urogenitais e renais, nervosos e vasculares. Além disso, o carácter teratogénico, mutagénico e carcinogénico de algumas delas, aumenta a necessidade de vigilância relativamente às suas repercussões na saúde humana. Por outro lado, a maioria provoca imunodepressão diminuindo a resistência dos animais às doenças. Segundo a FAO, 25% da produção mundial de grãos (especialmente milho) podem estar contaminados com micotoxinas. Todavia,

este número baseia-se numa visão monotoxina do problema, sendo que até agora os estudos que prevaleciam baseavam-se na pesquisa de um só destes tóxicos. Assim, quando se alarga o espectro e se analisam várias micotoxinas nas mesmas amostras, constata-se que a visão monotoxina subestima claramente o problema. Num dos últimos trabalhos publicados pela Alltech em setembro de 2015, realizaram-se amostragens em grãos de 14 países da UE e de diversos estados dos Estados Unidos e Canadá, de acordo com o programa Alltech 37+ (espectrometria de massa que utiliza a elevada sensibilidade e especificidade da cromatografia líquida para melhorar a definição e quantificação de micotoxinas) que analisa 38 micotoxinas em cada amostra. Os resultados de um total de 84 amostras de trigo e 24 de milho analisadas, indicaram que 99% das amostras continham micotoxinas e 83% continham múltiplas micotoxinas. Por conseguinte, as micotoxinas são consideradas como um dos maiores riscos segundo o Sistema de Alerta Rápido para Alimentos para Consumo Humano e Animal da UE (RASFF). O sector agro-pecuário assumiu nos últimos anos a presença e os efeitos prejudiciais das micotoxinas sobre a saúde

52 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

e produtividade das culturas, mas também dos animais, uma vez que estes últimos também são afetados através das forragens e pastos, e subsquentemente podem trazer repercurssões para a segurança alimentar. O problema das micotoxinas afeta todos os elos da cadeia agro-alimentar, e frequentemente a gestão do problema limitase à transferência de responsabilidades para outro elo da cadeia; no entanto, deve-se ter em conta que no final da referida cadeia está o consumidor. Em todo o caso, o ponto mais fraco corresponde aos agricultores e criadores

de gado, porque assumem um risco direto de perda, quer pelas suas colheitas e culturas, quer pelo impacto na saúde dos animais, rentabilidade reprodutiva e/ou segurança dos seus produtos.

É importante reforçar que NÃO é possível eliminar as micotoxinas sem desenvolver estratégias para limitar a sua presença e/ou reduzir o impacto negativo sobre as colheitas.

Qual a origem das micotoxinas? Para que exista contaminação por micotoxinas, é indispensável a contaminação fúngica prévia e a produção das mesmas por parte dos fungos toxicógenos. As principais espécies de fungos produtores de micotoxinas são: Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Claviceps, Alternaria e Stachybotrys, Cladosporium e Dreschler. Embora esta contaminação por fungos seja indispensável à formação de micotoxinas, é um erro relacionar diretamente a presença ou ausência de fungos com a presença ou ausência

de micotoxinas, uma vez que é possível encontrar amostras que apresentem contaminação fúngica mas não apresentem micotoxinas, por não se terem verificado as condições necessárias para o seu desenvolvimento, ou viceversa. Tal deve-se ao facto de as micotoxinas se formarem quando o fungo não dispõe das condições necessárias para o seu desenvolvimento. Podemos afirmar que se trata de um mecanismo de “defesa”. A importância do fungo produtor traduz-se no facto de a classificação das micotoxinas em função do fungo produtor ser uma das melhor aceites atualmente.


Alimentação

Um mesmo tipo de fungo pode ter capacidade de produzir diversos tipos de micotoxinas, pelo que o mais habitual é encontrar uma contaminação múltipla. (Gráfico 1) De um modo geral podemos afirmar que atualmente a principal origem de infeção por agentes produtores de micotoxinas é o campo, sendo que o solo é a fonte mais importante de contaminação inicial. Por conseguinte, todos estes fungos estão adaptados a este ecossistema e aí se desenvolvem mais frequentemente do que noutras partes da cadeia. É inevitável a presença destes microorganismos no campo uma vez que os seus propágulos perduram ano após ano no restolho, no solo ou suspensos no ar, sendo transportados pela água, vento, insetos, etc. Não obstante,

Gráfico 1 Diferentes tipos de micotoxinas.

MICOTOXINAS

Ocratoxinas A

Penicillium verrucosum

Aspergillus ochraceus

para que a infeção fúngica ocorra, e com esta aumentem as probabilidades de crescimento fúngico no campo e posterior produção de micotoxinas, as culturas deverão estar expostas a condições ambientais extremas, tais como: stress térmico ou hídrico, danos físicos provocados por granizo, insetos ou outros fatores bióticos, práticas de maneio inapropriadas (datas de sementeira e

Tricotecenos

Zearaleconas

Fumonisina B1

Aflatoxinas

Fusarium sporotrichioides

Fusarium graminearum

Fusarium moniliforme

Aspergillus parasiticus e A. flavus

colheita incorretas, densidade excessiva, controlo de doenças ineficiente, etc.) ou susceptibilidade de origem genética ou morfológica. Devido a tudo isto, a presença de contaminação múltipla por micotoxinas numa mesma amostra é muito habitual e deve sempre considerar-se o efeito somatório, podendo conduzir a uma conclusão errada a valorização de cada uma delas de forma independente.

De salientar que, uma vez feita a colheita de uma matéria prima contaminada, apenas se pode evitar a propagação, mas nunca se pode eliminar a toxina. Cada vez é mais aceite a ideia de que os planos de controlo integrados nos quais estejam envolvidos tanto agricultores como intermediários e fabricantes de forragens, são imprescindíveis para minimizar a presença de micotoxinas em matérias-primas e forragens.

Planos de vigilância e controlo de micotoxinas As micotoxinas são provavelmente o problema de maior complexidade e gravidade que se enfrenta no sector agro-alimentar em geral, pela elevada probabilidade de ocorrência, efeito direto sobre a saúde e qualidade das culturas e colheitas, matérias-primas e ração; bem como para a saúde e produtividade dos animais e, por conseguinte, para a segurança dos produtos de origem animal, ao que devemos acrescentar

a ausência de métodos eficazes de descontaminação, sendo os planos de vigilância e controlo fundamentais para a prevenção do problema.

As atuais técnicas de produção NÃO permitem evitar totalmente a contaminação por fungos e/ou o aparecimento de micotoxinas mas,

mediante a aplicação de boas práticas agrícolas, é possível limitar a sua presença e danos posteriores sobre o rendimento da cultura e a qualidade do grão. É portanto necessário dispôr de um sistema adequado de gestão integrada de riscos, que tenha em consideração a gestão prévia da colheita (Boas práticas agrícolas),

a gestão durante a colheita e pós-colheita (Boas práticas de produção e armazenamento). No que respeita à gestão prévia da colheita, as principais ações são: • Preparar as terras de cultura de forma adequada e realizar rotações de culturas. • Utilizar variedades com maior resistência à contaminação por fungos, especialmente Aspergillus. • Realizar a sementeira em condições em que se evitem situações de stress

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 53


Alimentação

para a semente, impedindo situações de calor excessivo e/ou de seca • Respeitar as distâncias adequadas entre sementeiras para evitar densidades excessivas que possam conduzir a situações de stress para as plantas. Durante a colheita, o maior problema é o aumento das micotoxinas. As medidas preventivas passam por manter os tempos apropriados de colheita, evitar mais de 15% de humidade e eliminar materiais estranhos às colheitas. Adicionalmente é necessário: • Assegurar que o risco tem uma distribuição uniforme, evitando zonas de encharcamento. • Aplicar um programa de fertilização, mediante adubos de elevada assimilação que minimizem o risco de stress para as plantas e que melhorem as condições físico-químicas do solo. • Reduzir os fungos fitopatogénicos no solo. • Manter sob controlo as ervas daninhas. • Minimizar os danos causados por insetos, fundamentalmente a perfuração. • Minimizar os danos mecânicos durante a fase de cultivo. Tentar minimizar a quantidade de grãos danificados. • Realizar a colheita quando os grãos de milho atingem a maturidade, exceto nos casos em que as condições de seca ou calor tornem aconselhável uma colheita precoce, sempre com humidade inferior a 15%. Na pós-colheita, o problema é o contínuo aumento de micotoxinas, daí que seja necessário proteger os produtos armazenados sob controlo apertado de humidade, vigiar a incidência de patogénicos e manter os produtos em superfícies limpas e secas.

Na produção animal, e dado que atualmente se conhecem cerca de 400 micotoxinas distintas, é impossível realizar determinações analíticas de todas elas e em todas as matérias-primas e forragens. Deste modo, há que estabelecer prioridades através da conceção de um plano de vigilância e controlo. O primeiro passo é identificar o perigo (micotoxina) e posteriormente os fatores de risco, principalmente as matérias-primas ou ração com maior probabilidade de contaminação. De seguida há que identificar os animais mais susceptíveis de sofrer os efeitos tóxicos e finalmente selecionar as medidas de vigilância e controlo, que permitam quantificar de modo fiável a exposição e a eficácia das medidas preventivas e corretivas aplicadas.

Relativamente à presença de micotoxinas, determinadas colheitas em momentos concretos podem apresentar maior risco de contaminação do que outras, pelo que é essencial identiifcar as suas origens a todo o momento.

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Figura 1 - Projeto “MAIS MILHO” Portugal Em cima: Planta cultura Convenciona. Em baixo: Planta programa ALLTECH

Como enfrentar, portanto, o problema das micotoxinas O sector deve trabalhar de forma conjunta para identificar as micotoxinas e matérias-primas que podem constituir um perigo, fixar os níveis máximos permitidos e estabelecer os procedimentos e a frequência para a amostragem e análise. Para ajudar a solucionar este problema e fruto da estratégia de atuação conjunta entre a Alltech e Ideagro, durante os últimos quatro anos desenvolveram-se mais de 45 ensaios em diferentes culturas com diferentes

Figura 2 Projeto “MAIS MILHO” Portugal Em cima: Maçaroca programa ALLTECH – Em baixo: Maçaroca cultura Convencional

estratégias de atuação e mais de 1.300 análises de micotoxinas em diferentes matrizes. Este projeto permitiu o desenvolvimento de um plano de trabalho designado LOWMYC®, que garante a implantação de um sistema de trabalho e protocolo de cultura sustentável, bem como ações em fase de pós-colheita com o objetivo de reduzir o conteúdo de micotoxinas, aumentar rendimentos de produção e o conteúdo nutricional em cereais (figuras 1 e 2).


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Bárbara Nunes

Primeiros cuidados em vitelos recém-nascidos em vacarias de leite Introdução

Carolina Cunha

George Stilwell Faculdade de Medicina Veterinária Universidade de Lisboa

Atualmente, devido à preocupação crescente com o bem-estar animal e com a imagem do sector, a maioria dos produtores começa a dar uma maior importância ao maneio dos vitelos recém-nascidos. Esta tendência deve-se também ao facto da negligência para com os neonatos poder originar graves perdas económicas relacionadas com a maior incidência de doenças e mesmo fracas taxas reprodutivas. Vários estudos focam a importância decisiva das primeiras 72 horas de vida dos vitelos, principalmente no que diz respeito à correta administração de colostro, pelo facto de um maneio inadequado do mesmo constituir o fator predisponente mais importante para a ocorrência de doenças infeciosas neonatais e, consequentemente, para um aumento acentuado da mortalidade em vitelos com poucos dias de vida. Aliás, é hoje consensual que os cuidados destinados a garantir recém-nascidos saudáveis e resistentes devem iniciar-se ainda antes do parto através do maneio adequado das mães, principalmente nos últimos três meses de gestação.

A importância do último trimestre de gestação Relativamente ao maneio da vaca gestante, deve ter-se especial atenção à duração do seu período seco, ao maneio nutricional, à saúde podal e à administração da “vacina de mãe”, de forma a assegurar a produção de um ótimo colostro em termos de quantidade e qualidade. Assim, as vacas gestantes devem ter um período de seca de pelo menos 45 dias. O maneio nutricional no período seco deve ser pensado com dois objetivos: evitar demasiadas transições que exigem mudanças na microbiota ruminal; evitar oscilações na condição

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corporal da vaca. É de relembrar que tanto a subalimentação como a sobrealimentação tem efeitos negativos sobre o feto. O ideal é que as vacas atinjam uma condição corporal de 3,5 (escala de 1 a 5) na altura do parto, sendo esta a mesma condição que a vaca tem no momento da secagem já que o período de seca não deve ser visto como a altura para engordar ou emagrecer animais. No período de seca, torna-se essencial vigiar os animais com alguma regularidade, não só para avaliação da condição corporal, mas também para a deteção precoce de doenças. Se possível devem evitar-se dietas muito ricas em silagem de milho, tendo como alternativa o fornecimento de fenos de alta qualidade energética e palatáveis ou dietas completas menos energéticas (por exemplo, idênticas à dieta das vacas na fase final de lactação ou préseca), com uma maior proporção de fibra longa. O uso de suplementos à base de vitaminas e minerais está também indicado em algumas circunstâncias, sendo sempre de evitar dietas demasiado ricas em cálcio, potássio e sódio. Associada a uma boa alimentação deverá estar o fornecimento de água limpa e em quantidade adequada, procurando que exista um bebedouro para cada 15 vacas. Durante este período é ainda fundamental evitar fenómenos de stress térmico, muitas mudanças de parque e sobrepopulação. Possíveis problemas podais devem ser corrigidos numa fase inicial levando todas as vacas (e não só as que demonstram claudicação) ao tronco para aparagem funcional no dia da mudança para o grupo das vacas secas e monitorizando qualquer sinal de claudicação durante todo o período de seca. Deve estabelecer-se um programa vacinal adequado a cada exploração, tendo sempre em conta que a estimulação imunitária da vaca no período seco tem um efeito direto no aumento da concentração de anticorpos do colostro. As designadas “vacinas de mãe”, que imunizam contra os agentes mais comuns das diarreias de vitelos (Rotavírus, Coronavírus e E.coli), deverão ser administradas duas vezes:


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Parto

Avaliação imediata dos sinais vitais

Desobstrução das vias aéreas

Estimular a respiração e circulação

Colocar o vitelo em posição esternal

Monitorizar os sinais vitais

Ligadura e/ou desinfeção umbilical

Fornecer colostro

Evitar hipotermia

FIGURA 1 Como abordar vitelos em risco. Adaptado de Mee, J.F. (2008). Newborn dairy calf management. Food animal practice, 24(1), 1-17.

às seis e às três semanas antes do parto. De referir que a garantia de oferta de um colostro fresco de elevada qualidade, acompanhado de um irrepreensível protocolo de administração, pode permitir a poupança desta despesa extra em explorações com condições elevadas de higiene e biossegurança.

O momento do parto A existência de instalações adequadas para o decorrer do parto, as maternidades, são de extrema importância para a viabilidade do vitelo. Assim, as vacas gestantes devem ser movidas para a maternidade nunca antes de 3 dias antes do dia previsto para o parto, sendo que o local destinado ao parto deve estar convenientemente limpo, apresentar espaço amplo, bem como profundas e secas camas de palha ou areia. Quando o parto se inicia deve proceder-se a uma supervisão regular, de forma a saber se o mesmo está a decorrer de forma normal ou, se pelo contrário, será necessária assistência veterinária devido à ocorrência de distócia. De facto, está demonstrado que os vitelos provenientes de partos distócicos estão em maior risco de fazer doença do que aqueles cujo parto foi normal e não necessitou de qualquer tipo de intervenção. De igual modo, deve-se garantir que o pessoal que trabalha na exploração é qualificado e está treinado para lidar com este tipo de situação, de forma a que os problemas relacionados com o parto sejam reduzidos, evitando mortes perinatais e lesões na parturiente. A intervenção no parto não deve ser adiada quando é mesmo precisa, mas também não deve ser precipitada não dando tempo a todo o processo biológico se desenvolver. Num parto normal é aconselhado a

nunca colocar as cordas nas patas do feto dentro da vagina da mãe, porque isso pressupõe que a dilatação ainda não se completou e que qualquer intervenção nesta fase será demasiado precoce.

Maneio do vitelo recém-nascido A sobrevivência do vitelo está relacionada não só com a duração do parto, mas também com a força e duração da intervenção no caso de partos assistidos. A verificação da viabilidade do recém-nascido deve efetuar-se imediatamente a seguir ao parto, através da avaliação de certos indicadores, como os reflexos (de que são exemplo o reflexo de sucção e o palpebral) e o tempo que o vitelo demora a manter a cabeça direita, ficar em decúbito esternal, tentar levantar-se e manter-se em pé. Os tempos são de, respetivamente, 3, 5, 20 e 60 minutos. Para vitelos grandes ou cujo parto durou muito tempo, estes períodos de tempo podem ser alargados. Ainda antes de avaliar o comportamento normal do vitelo recém-nascido, ou seja, no momento imediatamente a seguir ao parto, deve terse como primeiro passo a limpeza e desobstrução das vias aéreas, porque é bastante provável o recémnascido apresentar líquido nos pulmões ou ter inalado muco durante o parto. A remoção do líquido ou do muco pode ser efetuada manualmente ou através de um aparelho de aspiração ou pode pendurarse o vitelo, por exemplo, numa porta ou vedação ou ainda optar pela elevação dos membros pélvicos efetuando movimentos pendulares. Estas manobras só devem

ser efetuadas depois de se garantir que o pulmão está insuflado, ou seja, quando o vitelo já fez a sua primeira inspiração. Em segundo lugar, é fundamental confirmar que o batimento cardíaco é evidente. Caso isto não suceda sugerese que se tomem medidas, tais como, realização de massagem cardíaca com vigor mas cuidadosa de forma a evitar eventuais fraturas de costelas. O estabelecimento da respiração espontânea é outro indicador a ter em conta, devendo ser adequadamente monitorizado, em conjunto com a verificação da cor das mucosas (que devem estar rosadas) e do batimento cardíaco. Efetuar uma força de fricção no dorso do vitelo e molhar a sua cabeça com água fria parecem ser as técnicas mais adequadas para estimular convenientemente a respiração do vitelo recémnascido. Deve-se ainda colocar o vitelo em decúbito esternal com os membros posteriores esticados para cada lado do corpo (posição de cão sentado) para que haja o mínimo de compressão sobre

IMAGEM 1 Mãe e filha.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 57


RUMINANTES SAUDÁVEIS

o pulmão. A estimulação da tosse ou espiro através da introdução de uma palha pelas narinas, pode ser também efetuada. No entanto, se a aplicação das referidas técnicas se revelar insuficiente e sobre orientação do médicoveterinário assistente, poderá optar-se pela utilização de fármacos estimuladores da função respiratória ou recorrer-se à oxigenoterapia com máscara ou com entubação endotraqueal. No caso de se tentar insuflar o pulmão através de máscara ou “soprando” pelas narinas, deve-se comprimir suavemente o esófago, localizado logo atrás da traqueia a meio do pescoço. A causar maior resistência do esófago garantir-se-á que o ar irá para o pulmão e não para o estômago. É ainda importante referir que muitos vitelos podem estar acidóticos quando nascem, devido a uma falta de oxigenação temporária. Esta é uma causa frequente de morte peri-natal. É por isso útil ser capaz de detetar um estado de acidose de forma a aplicar o tratamento adequado precocemente. Assim, sinais como um fraco reflexo de sucção, hipotermia, depressão, sonolência e fraqueza em neonatos podem ser característicos de acidose. O tratamento consiste essencialmente na

IMAGEM 2 Ressuscitação.

administração endovenosa de bicarbonato de sódio e uma boa oxigenação do pulmão. Será também de enorme importância evitar a hipotermia, principalmente no inverno. Para tal deverá monitorizar-se a temperatura rectal do vitelo e, caso se detete uma temperatura inferior a 38ºC, deve recorrerse a cobertores, lâmpadas de calor, secadores de cabelo ou cobertores elétricos, de forma a assegurar a recuperação do recém-nascido. Na falta de melhor, deve cobrir-se o vitelo com palha seca. Por último, em termos de maneio geral do recémnascido, é fundamental assegurar o cuidado com a região umbilical. Logo após o nascimento é natural ocorrer rutura espontânea do cordão umbilical. Deve-se evitar a todo o custo a rutura ou corte do cordão muito próximo do corpo do vitelo. O umbigo é uma importante porta de entrada para infeções bacterianas, dando origem a onfalites, onfaloflebites e onfaloarterites. Apesar da desinfeção do cordão umbilical ser uma prática comum nas explorações leiteiras portuguesas, tanto

58 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

a sua necessidade como o seu modo de realização estão envolvidos em alguma controvérsia. Assim, é nossa opinião de que o cordão deva ser atado com fio sendo esta ação mais eficaz do que as desinfeções com soluções iodadas ou clorhexidina. No entanto, nenhuma destas ações substitui a necessidade de condições higiénicas da maternidade e do viteleiro e, principalmente, a administração adequada de colostro como se verá mais abaixo. O reconhecimento precoce de sinais de infeção umbilical, tais como hipertermia e umbigo aumentado de tamanho e de palpação dolorosa, é fundamental para o sucesso do tratamento e a prevenção das sequelas que são todas potencialmente letais.

A importância do colostro O colostro é o primeiro leite produzido pela vaca nas primeiras ordenhas após o parto, sendo constituído por uma mistura de secreções láteas em conjunto com componentes do soro sanguíneo, dos quais se destacam as imunoglobulinas. Existem vários tipos de

imunoglobulinas, mas as mais abundantes no colostro são a IgG, IgA e IgM, com concentrações normais de 75 mg/mL, 4,4 mg/mL e 4,9 mg/mL, respetivamente. Para além das imunoglobulinas, são de destacar outros importantes componentes do colostro, tais como hidratos de carbono, lípidos, proteínas, minerais, vitaminas e inúmeros micronutrientes. Devem ainda considerarse como componentes importantes os leucócitos maternos, citoquinas e diversos fatores de crescimento. Assim, pode afirmarse que, em princípio, o colostro contém todos os componentes necessários para garantir uma imunidade perfeita nas primeiras semanas de vida. Esta transferência de anticorpos, designada transferência passiva, é essencial porque, ao contrário do que sucede com outras espécies, não há transferência de imunoglobulinas da mãe

FiGURA 2 Benefícios do colostro e pontos-chave do seu consumo.



RUMINANTES SAUDÁVEIS

para o feto através da placenta. Ou seja, apesar dos vitelos recém-nascidos já serem imunocompetentes (conseguem produzir os seus anticorpos), pelo facto de não terem contactado com os agentes infeciosos não têm em circulação os anticorpos necessários. A ingestão do colostro é portanto fundamental, tendo a sua administração inadequada uma influência negativa na saúde dos vitelos recém-nascidos devido à maior predisposição para doenças de carácter infecioso. Deve assegurar-se que o vitelo ingere, através de um biberão ou recorrendo à entubação esofágica, 10% do seu peso vivo em colostro, de preferência durante as suas primeiras 4 horas de vida. A precocidade na administração do colostro relaciona-se com o facto da absorção de imunoglobulinas constituintes do mesmo pelo intestino ser máxima nas primeiras 4 horas de vida do vitelo. Além disso, a concentração de imunoglobulinas presentes no colostro também diminui com o tempo. Apesar da importância do fator tempo, é igualmente crucial que a toma do colostro se estenda até ao terceiro dia de vida do vitelo, pois apesar das imunoglobulinas já não serem absorvidas, estas vão promover uma proteção no interior do intestino contra bactérias e vírus responsáveis pela ocorrência de diarreias neonatais. Em relação à correta administração do colostro, é ainda fundamental controlar a sua temperatura, devendo esta rondar os 37ºC. Poderão ocorrer falhas na transferência da imunidade passiva como resultado de uma inadequada produção, ingestão ou absorção do colostro. Assim, para um controlo eficaz da qualidade do colostro deve recorrer-se a um aparelho denominado

colostrómetro, cuja função é avaliar indiretamente o nível de imunoglobulinas presentes no mesmo através da medição da densidade do colostro. Quanto mais baixa for a densidade, menor será a probabilidade de existir um elevado teor de imunoglobulinas e por isso maior será a probabilidade de desenvolvimento de doenças infeciosas, principalmente diarreias e pneumonias. Um colostro considerado rico em imunoglobulinas deverá apresentar uma concentração de IgG superior a 50 g/L. Para além da quantidade de imunoglobulinas, é desejável que o colostro seja rico em glóbulos brancos, apresente valores nutritivos adequados (em termos de proteína, gordura e sólidos totais) e esteja limpo, ou seja, a concentração de coliformes deverá ser inferior a 10.000 por mL de leite. Pode também avaliar-se a transferência de imunidade passiva através da quantificação de imunoglobulinas no sangue do vitelo, sendo que valores séricos de IgG menores que 6 mg/mL correspondem a uma falha na imunidade passiva e valores acima de 16 mg/ mL dizem respeito a um nível adequado de transferência de imunidade passiva. Para avaliação das IgG pode recorrer-se a um teste rápido (ELISA) ou a medições laboratoriais. Uma alternativa é o uso do refratómetro, que permite a medição de proteínas no soro sanguíneo. Neste caso, se o valor de proteína sérica for inferior a 5,2 mg/dL, considera-se que houve falha na transferência de imunidade passiva. Em relação a este último método, e para sua correta utilização e consequente interpretação, é de extrema importância assegurar que só é colhido sangue de vitelos com 2 a 7 dias de idade e que

60 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

não apresentem sinais de desidratação. O colostro de algumas vacas pode não ter qualidade suficiente e por isso deve ser descartado. É o caso de colostro proveniente de vacas com alguma doença (mastites, por exemplo), com partos prematuros, que produzam grandes quantidades de colostro na primeira ordenha ou que esguichem leite durante dias antes do parto. Por estas razões, torna-se necessária a existência de colostro congelado de boa qualidade nas explorações. No entanto, convém lembrar que uma das razões mais frequentes de falha de transmissão de imunidade em vitelos de vacarias de leite é a perda da qualidade do colostro devido à congelação e descongelação. Se bem que seja aconselhável ter sempre congelado bom colostro para casos de emergências (por exemplo, vaca que morre no parto ou tem uma mastite grave), este não deve substituir por rotina o colostro fresco. Na descongelação, principalmente se mal efetuada, há destruição de proteínas e, portanto, de imunoglobulinas. Adicionalmente tem sido demonstrado que o congelamento elimina completamente as células imunitárias que existem no colostro e que são normalmente absorvidas pelo vitelo e imprescindíveis para a defesa celular inespecífica. É também essencial assegurar máxima higiene na recolha, armazenamento e administração do colostro pois a contaminação por agentes patogénicos reduz a absorção de imunoglobulinas para além de funcionar como fonte de agentes causadores de diarreia.

Conclusão Apesar da crescente evolução do sector leiteiro em termos de cuidados de saúde prestados aos vitelos, em certas explorações a incidência de problemas neonatais, muitas vezes associados a taxas de mortalidade significativas, é ainda considerada elevada. Assim, é de enorme importância uma gestão atempada, baseada na prevenção e que se inicie com os cuidados da vaca reprodutora no último trimestre da gestação e na sua mudança para uma maternidade com boas condições. A assistência adequada ao parto deve ser assegurada, tendo os funcionários da exploração um papel decisivo neste ponto, pois deverão estar aptos para reconhecer os sinais de um parto distócico e recorrer ao médico veterinário sempre que necessário. Poderá também ser útil a implementação de protocolos, tanto para a monitorização adequada do vitelo recém-nascido como para a deteção precoce de sinais de doenças neonatais. Por fim, é necessário não esquecer a importância do colostro e a sua influência na saúde futura do vitelo, procurando sempre respeitar-se a regra dos 3 Q’s: Quality (qualidade), Quantity (quantidade) e Quickly (rapidez). Em conclusão, é importante reter que todos os cuidados prestados ao neonato, por mais precoces que pareçam, se irão refletir na sua performance durante muito tempo.

Nota Os autores escreveram este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.

Referências bibliográficas Godden, S. (2008). Colostrum management for dairy calves. Food animal practice, 24(1), 19-39. Mee, J.F. (2008). Newborn dairy calf management. Food animal practice, 24(1), 1-17.


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Saúde e bem-estar animal

david catita criador limousine, serpa - portugal fontecorcho@gmail.com

Do que depende a fertilidade numa vacada? “Um erro numa vaca pode afetar um bezerro por ano. Um erro num touro pode afetar quarenta bezerros por ano.”

Touro Hercule.

O Plano de Desenvolvimento Rural, que define as ajudas financeiras até 2020, estabelece que as ajudas às vacas aleitantes estão dependentes da fertilidade de cada fêmea. Esta nova abordagem coloca oportunamente em cima da mesa a questão da fertilidade das vacadas, a qual tinha sido relegada para segundo plano nalgumas explorações pecuárias, resultando numa redução da produtividade nacional, e pondo em causa a lógica associada às ajudas atribuídas aos agricultores neste contexto, as quais têm

como objetivo promover a produção e não o contrário. A forma encontrada para garantir que as ajudas do PDR 2020 se traduzissem efetivamente em maior produtividade foi limitar a sua atribuição a vacas que tenham parido nos últimos 18 meses (545 dias), ou seja, no último ano e meio. Analisando a média dos intervalos entre partos de muitas explorações nacionais observa-se que esta é diversas vezes superior a 600 dias, superando o valor estabelecido. Para que os produtores possam diminuir o intervalo entre partos é

62 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

importante analisar a lista de fatores que influenciam o mesmo. Assim, importa analisar que fatores controlam o intervalo entre partos, para que sejam dadas ao bovinicultor as ferramentas de conhecimento necessárias para o reduzir gradualmente. A alimentação, a sanidade e a fertilidade do touro são alguns dos fatores que necessitam de ser geridos da melhor forma possível para que a performance reprodutiva da vacada seja ótima. Outro fator muito importante para a fertilidade da vacada é o rácio entre o número de vacas

e o número de touros. Este rácio é muitas vezes alto, ou seja, demasiadas vacas para um touro, resultando numa redução das vacas em cio que são efetivamente cobertas. A entrada das vacas em cio é fortemente influenciada por fatores externos que afetam todas as vacas da manada em simultâneo, como a entrada dos machos, as fases da lua ou uma alimentação mais nutritiva. Assim, e uma vez que o cio é um processo que se repete ciclicamente, a entrada em cio das vacas faz-se em grupos e repete-se por “ondas”, onde o momento adequado para a cobrição acontece em várias vacas ao mesmo tempo. Assim, é fundamental ter um número suficiente de touros numa vacada para que possam realizar as cobrições durante estas “ondas” de cios, evitando que algumas vacas fiquem por cobrir. Quando existem atrasos na cobrição, existe uma perda de tempo, de dinheiro e também de oportunidade, observando-se que em média por cada treze vacas que se atrasem num ciclo de cobrição, o agricultor perde um vitelo.


saúde e bem-estar animal

Numa vacada todo o trabalho realizado por um touro representa lucro e otimização do potencial produtivo da exploração para o seu proprietário. Tal como não é economicamente viável poupar na semente na altura da sementeira, também não o

é no número de touros numa vacada. Isto deve-se não só a uma redução num dos fatores limitantes, mas também a um desperdício de todos os outros fatores produtivos, já que as vacas continuam a representar um custo, quer estejam gestantes ou vazias.

Como determinar o rácio correto do número de vacas para um touro? O número de touros numa vacada tem que ser calculado baseado no tempo que os touros passam com as vacas. Se pensarmos que queremos evitar os partos nas alturas mais problemáticas do ano (por exemplo, quando há pouca disponibilidade de erva), os touros terão que estar com a vacada apenas em determinados períodos do ano. Assim, considerando por exemplo que o touro estará na vacada seis meses por ano, e tendo em conta que os cios se repetem aproximadamente de 21 em 21 dias, existirão cerca de nove “ondas” de cios durante as quais é espectável que um touro saudável cubra três a quatro vacas. Para que este número de vacas sejam

cobertas numa “onda” de cios, será necessário 1 touro por cada 27 a 36 vacas por época reprodutiva. Naturalmente que se trata apenas de um valor indicativo, mas este tipo de cálculo pode dar algumas indicações importantes para o aumento da fertilidade numa vacada. É importante também sublinhar que em relação ao número de touros considera-se ser sempre melhor ter touros a mais do que touros “à justa” já que, na eventualidade de haver um problema com um touro, o agricultor pode substituílos, conseguindo adaptarse sem que haja redução da produtividade nesse período.

A genética é também um fator importante na fertilidade de uma vacada Uma melhoria na fertilidade só poderá ter efeitos práticos na produtividade se for acompanhada de uma escolha correta da genética. De pouco vale que as vacas se cubram todas num curto espaço de tempo, se posteriormente ocorrem muitos problemas tanto nos partos, como antes e após o desmame, levando a uma redução do número de bezerros viáveis após

o parto e do número de vitelos desmamados. Para que isto não aconteça há que escolher uma raça adequada e na qual estas características se destaquem pela positiva. Um bom exemplo é a Limousine. Esta raça caracteriza-se por produzir vitelos pequenos ao nascimento, e como tal bastante fáceis de nascer, bem como por produzir bons vitelos ao desmame e

mesmo após este, possuindo uma elevada capacidade de crescimento após o parto. Estas características são amplamente conhecidas no meio dos bovinos aleitantes, levando a que os animais desta raça ou cruzados da mesma, sejam uns dos preferidos nos leilões de gado de norte a sul do país. Após implementar medidas na vacada há que averiguar se estas estão a ter o efeito pretendido. A quantidade e qualidade do produto final são sempre bons indicadores de produtividade numa vacada de carne, sendo que esta pode ser medida pelo peso total ao desmame. Para que esta média seja elevada há que: • Possuir touros férteis e com boas aptidões funcionais, numa proporção correta em relação ao número de

vacas, para que haja um maior número de cobrições em cada “onda” de cio • Possuir um maior número de bezerros viáveis ao nascimento, onde uma raça de partos fáceis é a escolha certa; • Um maior peso vivo ao desmame, onde uma raça de bons índices de crescimento é a escolha adequada. Conforme referido inicialmente e considerando que as ajudas do PDR2020 têm como objetivo primordial o incremento da produtividade nacional, cabe a cada produtor investir nos fatores que podem afetar positivamente a produção, sendo os touros das vacadas uma peça fulcral e determinante, que não deverá ser negligenciada, já que deles depende a existência de bezerros.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 63


produto

Explorações robotizadas

Um produtor mais disponível

Jorge Oliveira e Tiago Vilaça.

Reportagem com Jorge Oliveira (produtor de leite) e Tiago Vilaça (delegado comercial e gestor de produto da marca SAC, na Agrovete). por ruminantes

O mercado dos robots de ordenha temse desenvolvido muito rapidamente na Europa. Em Portugal, o número de explorações com robot continua a crescer de ano para ano, embora não existam dados oficiais que permitam perceber a sua utilização por parte dos produtores de leite. Quem opta por um robot em detrimento de uma sala de ordenha convencional tem em mente, na maioria das vezes, melhorar a sua qualidade de vida. Jorge Oliveira, dono da exploração Quinta de Sto Isidro e produtor de leite, viu a sua expetativa alcançada: “Agora consigo fazer coisas para as quais antes não tinha disponibilidade, como ir buscar os meus filhos à escola. Sempre que existe algum incidente durante a ordenha, o sistema emite um alerta via sms ou por email, o que permite não ter que estar

sempre presente na exploração”. O aumento da produção de leite do efetivo, a melhoria da saúde dos animais, a diminuição da necessidade de mão-de-obra e uma maior disponibilidade para controlo dos maneios diários e para a gestão da exploração, foram outras vantagens referidas pelo produtor como associadas ao investimento neste equipamento. A maior disponibilidade para gerir a exploração foi, aliás, corroborada por Tiago Vilaça, delegado comercial e gestor de produto da marca SAC, na Agrovete, que referiu que a quantidade de informação recolhida, ultrapassa com facilidade os 3.000 dados diários, constituindo uma valiosa fonte de informação fundamental para a tomada de decisões fundamentadas”.

64 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

Ruminantes - O que muda no dia-a-dia de um produtor que opta por instalar um robot? Jorge Oliveira - Começa por ter uma disponibilidade muito maior para fazer coisas que antes não conseguia, quer a nível familiar, quer a nível profissional. Todas as manhãs, depois de uma volta pela exploração, a primeira coisa que faço é verificar os relatórios das ordenhas e analisar os desvios aos dados esperados: uma vaca mal ordenhada ou que não foi mesmo ordenhada... No final do dia volto a ver os relatórios com os indicadores para o dia seguinte (vacas que estão para secar ou que poderão estar em cio e devem ser inseminadas). Que informação é recolhida e registada por um robot? A informação é muita, por exemplo a


produto

condutividade por quarto, a deteção da cor do leite (sensor para detetar sangue no leite), o tempo de engate das tetinas, o tempo total de ordenha, o tempo de ordenha por quarto, o número de visitas do animal à box, a quantidade de ração ingerida, a curva de atividade do animal, para além da produção de leite do animal e por quarto, a produção total da exploração... entre outras. Como deve um produtor gerir tanta informação? Diariamente estou sobretudo atento aos alertas que o programa me dá e que aparecem sempre que os resultados são inferiores à média esperada pelo programa. O software que utilizo foi previamente ajustado às necessidades da exploração e filtra os dados que não me interessa analisar

Relatório diário das ordenhas.

diariamente. Nos relatórios diários, vejo apenas aqueles que considero essenciais. Porém, toda a informação fica registada, e isso é importante quando quero analisar o histórico de um animal. Quais são os indicadores mais importantes para si? Dou especial atenção à condutividade dos quartos, à produção e desvio da produção de leite de cada animal, ao número de vacas em atraso na ordenha e ao intervalo entre ordenhas.

Quinta de Sto. Isidro, Soc. Unipessoal, Lda Maganha - Freguesia Bougado - Concelho Trofa; Jorge Oliveira, sócio único; 60 vacas em ordenha; 15 vacas secas; 60 vitelos e novilhas; 3,3 “ordenhas/vaca/dia”; “média diária/vaca/dia 33 litros”; 35 hectares (ha) no total; 25 ha silagem de milho e 25 ha silagem de erva; 10 ha pastoreio.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 65


Produto

O SOP GOLD COW

Por um ambiente mais puro O SOP GOLD COW, desenvolvido pela empresa italiana SOP Srl e distribuído em Portugal pela NutriGenetik, pertence a uma nova geração de produtos que assenta na aplicação prática de princípios da Mecânica Quântica para melhorar as condições de saúde ambiental nos estábulos. por ruminantes

Através de um processo designado Nanotecnologia Frequencial Sirio Operating Process® foram desenvolvidos produtos que conseguem, de uma forma mais eficaz, a bio-higienização, bio-condicionamento e bio-valorização do meio ambiente. Estes produtos, nos quais se inclui o SOP GOLD COW, promovem o crescimento de microrganismos benéficos e, ao mesmo tempo, criam condições desfavoráveis para a atividade e desenvolvimento de microrganismos patogénicos, sem produzir novos microrganismos, bactérias ou enzimas. Basta adicionar o SOP GOLD COW ao reboque unifeed ou à ração para que o produto se torne ativo, sendo completamente inofensivo para os animais. Bastam 2 gramas por dia por animal.

O SOP GOLD COW liberta ondas eletromagnéticas que estão sintonizadas para atuar num amplo espetro de ação e que provocam: • Redução e paragem do crescimento de agentes patogénicos, bactérias (Gram + e Gram-), algas (Prototheca spp.) e leveduras. • Crescimento de bactérias benéficas que são capazes de metabolizar a cama/esterco e desenvolver um processo de humificação. • Redução do cheiro a amoníaco. • Redução do crescimento de larvas das moscas no estábulo.

vantagens Na prática, as vantagens de utilização do SOP GOLD COW podem resumir-se nestes pontos: • Redução de mamites ambientais (clínicas e subclínicas) e, consequentemente, células somáticas mais baixas. • Redução de dermatites ambientais (digitais e interdigitais). • Menores perdas de leite. • Menos humidade na cama levando a animais mais limpos. • Menos stress para os animais e seres humanos causado por emissões de amoníaco. Para que o produto funcione não é importante que cada vaca coma exatamente 2 gr/dia, nem que a homogeneidade do produto no unifeed seja perfeita, pois a vaca apenas serve, através da bosta, de “distribuidora” do produto na exploração. Quer isto dizer que o produto também pode ser espalhado à mão uma vez que o facto de passar pelo trato digestivo não lhe confere nenhuma característica especial, sendo apenas uma forma simples de distribuir o produto.

Alguns produtores são utilizadores habituais deste produto e os seus testemunhos estão aqui registados.

66 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

José Matias MATIAS & SILVA, BEIRIZ-PÓVOA DE VARZIM Nº total de animais: 320 Nº vacas em ordenha: 144 Área exploração: 20 ha Produção média: 30 litros/vaca/dia José Matias utiliza o produto desde final de abril de 2015. Aplica duas vezes por dia no unifeed, na quantidade diária de 2 gr por vaca. “Comecei a utilizar este produto porque tinha problemas de mamites e aconselhei-me junto do veterinário para saber se o Sop Gold Cow seria uma alternativa credível. As instalações da exploração são antigas e o ambiente bastante abafado, ficando com uma carga ambiental elevada e originando mamites ambientais com muita frequência. Com este produto reduzi em cerca de 20% o número de casos de mamites e não vi grandes alterações na Contagem de Células Somáticas. Nunca vou eliminar as mamites por completo mas reduzi bastante a sua ocorrência. Com este produto eliminei os custos com os tratamentos que de certa forma são pesados”.


Produto

do problema que tinha. O custo deste produto é cerca de 3,5€ vaca/ mês e eu tinha um custo médio de 250 € por vaca (tratamento, desperdício de leite...). Já tinha usado desinfectantes nas camas para tentar resolver o problema, mas nunca tinha experimentado este tipo de produto, e a verdade é que foi muito eficaz.”

Fernando Martins SOC ALDEIA, ARCOS-VILA DO CONDE Nº total de animais: 160 Nº de vacas em ordenha: 85 Área da exploração: 20 ha Produção média: 32 litros/ vaca/dia Teor butiroso: 3,6% e Teor proteico: 3,2% Fernando Martins utiliza o produto desde agosto de 2014 (há um ano e meio). Aplica o produto no unifeed, cerca de 2 gr por vaca em produção por dia. Recorreu a este produto porque “o médico veterinário achava que o número de casos de mamites era elevado para uma exploração com boas condições que cumpria as regras de higiene necessárias, e que sempre que uma vaca ganhava mamites passava sempre a mais algumas. Ao fim de um mês já estava a ver resultados, passei dos cerca de 30% de casos de mamites para os 12%. As vantagens da utilização deste produto foram significativas, pois a ocorrência de mamites representa muito leite perdido e trabalho despendido. Por isso, a sua aquisição não foi uma despesa mas sim um investimento, desde que sou agricultor posso dizer que este foi o produto mais eficaz e rápido na resolução

Adélio Mariz ADÉLIO OLIVEIRA MARIZ, S. PEDRO DE RATES, PÓVOA DE VARZIM Nº total de animais: 120 Nº vacas em ordenha: 70 Produção média: 32 litros/vaca/dia “Utilizo o produto desde março de 2014, na quantidade de 2gr vaca dia posto no unifeed. Fiz um intervalo propositado de dois meses sem utilizar o produto e voltaram a aparecer as mamites. Na análise que fiz com o médico veterinário, chegámos à conclusão de que 2014 foi o ano com menos casos de mamites. Recorri a este produto porque sempre tive este problema nesta vacaria. Ao fim de pouco tempo vi resultados e percebi que pagava a despesa e ainda sobrava. A grande vantagem deste produto é claramente a redução de mamites”.

Taxa de mamites DOS ÚLTIMOS 5 ANOS 2015

2014

2013

2012

2011

2010

Soc. Aldeia

37,6%

30,8%

61,8%

63,5%

45,2%

72,3%

Adélio Mariz

42,6%

43,9%

82,6%

41,6%

51,6%

50%

DeLaval - Mini escova rotativa para vitelos e cabras A empresa DeLaval concebeu uma escova especial para vitelos e cabras que promete manter os animais tranquilos, limpos e saudáveis. A Mini Escova Rotativa MSB da DeLaval foi exclusivamente desenvolvida para vitelos e cabras e é energeticamente eficiente e adaptável em altura. Para além de manter os animais limpos e calmos, a sua utilização também tem efeitos benéficos na saúde animal devido ao facto de melhorar a sua circulação sanguínea e diminuir o risco de doenças da pele. Esta escova, que simula dentro do estábulo as condições naturais, permite uma escovagem livre em todas as direções, sendo de fácil instalação (pode montar-se numa parede ou num poste). Para além disso, tem como vantagens acrescidas um baixo consumo de energia e possibilidade de ajustar a altura para o melhor desempenho possível.

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 67


novidades de produto

Ensiladoras Jaguar foram aperfeiçoadas As ensiladoras Jaguar foram atualizadas para se adequarem à Fase IV/Tier 4Final. Nos modelos 840, 850, 860 e 870 são usados motores Mercedes-Benz de seis cilindros, com diferentes cilindradas entre os 10,6 e os 15,6 litros, e potência entre os 408 e os 585 cv. Nos modelos 970 e 980, não abrangidos pelas regras anti-poluição, a Claas continua a usar motores MAN V8 e V12. Entre as atualizações está também o novo sistema de controlo de potência Dynamic Power, que segundo a marca pode reduzir o consumo até 10%, a função Cruise Pilot que permite definir diferentes estratégias de operação, com enfoque na velocidade ou no regime do motor por exemplo. As Jaguar passam a ser controladas através da manete multifunções Cmotion, conhecida das ceifeiras Tucano e Lexion e dos tratores, e contam com novos acessórios de corte e com dois novos tipos de rolo triturador. O controlo de pressão dos pneus passa a estar disponível nos dois eixos. O operador começa por definir a pressão desejada, sendo depois feita uma verificação automática a cada 30 minutos, e reposição de ar se necessário.

ADP Fertilizantes Gama de adubos com nova marca A ADP Fertilizantes criou uma nova marca para a sua gama de adubos mais prestigiada, denominada ADP Exceed Fertilizers. Segundo a empresa, a nova marca constituirá uma garantia adicional para os agricultores que preferem os adubos líderes em inovação e com resultados comprovados. A gama Exceed é fabricada nas unidades de produção da ADP Fertilizantes de Setúbal e Alverca que conta com um Departamento de Desenvolvimento Agronómico da gama ADP Exceed Fertilizers com um quadro de profissionais especializado em constante atividade de intensa pesquisa e experimentação agronómica. Todo este trabalho é desenvolvido em colaboração direta com universidades e centros de investigação especializados e independentes da península ibérica, através de protocolos com

9 organismos em Portugal e 19 em Espanha. A marca Exceed possui uma equipa de técnicos especializados orientada para o negócio de cada agricultor, distribuída pelas diversas regiões do país.

A gama Exceed: • Amicote C-Vida. Adubo com nutrientes potenciados. • Nergetic C-Pro. Adubo com nutrientes protegidos. • Fertijet Z-Tec. Desenvolvido para um efeito imediato e duradouro. • Soluteck. Adubo sólido de alta solubilidade para fertirrigação. • Nutrifluid. Adubo líquido claro para fertirrigação. • Tecnifol. Desenvolvido para adubação foliar. • Profertil. Adubo líquido bio estimulante de alto rendimento.

68 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

FutureCow lançA a ComfortBrush para vitelos A FutureCow lançou a ComfortBrush para vitelos, sendo a primeira escova automática criada especificamente para enriquecimento ambiental de vitelos. Esta escova é o lançamento mais recentemente da linha de ComfortBrushes que foi desenhada para “estimular os animais e mantê-los mais saudáveis e felizes, tornando-os mais produtivos no seu ambiente”, diz Kevin Dole, presidente da empresa. A ComfortBrush para vitelos é adequada para vitelos com 2 a 6 meses. Na fase de testes a escova demonstrou reduzir o stress, incluindo o stress criado por moscas e outros parasitas da pele. Este produto possui um sensor que ativa a escova pelo movimento e não pelo toque, uma omni-joint (articulação) que permite aos vitelos ajustar a escova livremente adaptando-a ao local do corpo que preferem, uma sensibilidade ajustável à velocidade e pressão, um mecanismo de segurança que permite que a escova rode na direção contrária quando o limite previamente estabelecido de pressão é atingido, e possuí também um motor estacionário e uma transmissão que reduzem substancialmente o desgaste do aparelho. Para mais informações www.futurecow.com


Não deixe de...

formação I Encontro Técnico-Científico de Nutrição de Bovinos 12 e 13 de Fevereiro 2016 Vila real

Jornada de Pequenos Ruminantes Dia 24 de Fevereiro 2016 Escola Superior Agrária de Castelo Branco A 24 Fevereiro, decorrerá na Escola Superior Agrária de Castelo Branco uma jornada dedicada ao tema dos pequenos ruminantes. Este evento contará com a participação de oradores das empresas Nanta e Hipra que se juntam à Escola para a organização desta iniciativa dedicada a produtores, técnicos e estudantes.

A Associação de Estudantes de Medicina Veterinária da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (AEMVUTAD) está a organizar mais um evento formativo, sob a temática da nutrição de bovinos, que terá lugar nos dias 12 e 13 de fevereiro. Neste I Encontro Técnico-Científico de Nutrição de Bovinos serão abordadas ambas as vertentes da bovinicultura, carne e leite. Segundo a Associação, o evento contará com a presença de engenheiros zootécnicos, agrónomos, médicos veterinários, investigadores, técnicos da produção, empresários agrícolas, representantes de empresas farmacêuticas e de alimentos compostos, representantes governamentais e estudantes. Entre as temáticas abordadas, incluem-se as seguintes: • Controlo e qualidade de alimentos compostos; • Qualidade de forragens (relacionada com o valor nutritivo, conservação e estabilidade aeróbica); • Distúrbios metabólicos de origem nutricional; • Alimentação em bovinos leiteiros; • Perfis metabólicos; • Novilhas de reposição; • Gestão e otimização de dietas em bovinos leiteiros; • Uso de aditivos alternativos em bovinos leiteiros; • Alimentação em vitelos de carne; • Otimização e gestão nutricional em bovinos de carne. Mais informações: aemv.utad@gmail.com

Mais informações: A inscrição pode ser feita através do telemóvel 919 446 076 (João Mateus) ou contactando a Escola Superior Agrária (Tel. 272 339 900).

2º Encontro Técnico de Produção de Leite Dia 26 de Fevereiro 2016 Hotel Tryp Lisboa Aeroporto Vai realizar-se no próximo dia 26 de Fevereiro o 2º Encontro Técnico de Produção de Leite, promovido pela Serbuvet e patrocinado pelas empresas MSD Animal Health, Hypra e Elanco. Este Encontro, que se destina a todas as pessoas envolvidas de alguma forma na produção leiteira nacional, incluirá apresentações de caráter técnico sobre gestão, sendo também um espaço de debate sobre o papel de cada um na sustentabilidade do sector. Este encontro técnico terá lugar no Hotel Tryp Lisboa Aeroporto. Mais informações: serbuvet@gmail.com

ruminantes janeiro . fevereiro . março 2016 69


Não deixe de...

FEIRAS

formação (Continuação)

FIMA Agricola 16 a 20 de fevereiro 2016 Saragoça - Espanha www.feriazaragoza.com/fima_agricola.aspx

8as Jornadas Hospital Veterinário Muralha de Évora Dia 4 e 5 de março 2016 Évora Hotel

Salon International de l´Agriculture 27 fevereiro a 6 março 2016 Paris - França www.salon-agriculture.com

O Hospital Veterinário Muralha de Évora (HVME) vai realizar nos próximos dias 4 e 5 de março, no Évora Hotel, a 8ª edição das Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora. Sob a temática “Genética: Produzir o Futuro da sua exploração”, técnicos, médicos veterinários e produtores falarão sobre vários assuntos que incluem a iniciação à genética, a importância da seleção de machos e fêmeas, o banco de sémen, entre outros. Procurar-se-á deste modo mostrar a evolução, consolidação e expansão do melhoramento genético, assegurando o progresso indispensável para que a pecuária se constitua num elemento fundamental da cadeia produtiva de carne mas, sobretudo, transmitir aos produtores informação e ferramentas que lhes permitam estar a par do que melhor se faz em Portugal e no mundo em genética. As Jornadas constituem uma oportunidade para que técnicos e outros profissionais possam partilhar ideias, analisar e discutir o estado atual do conhecimento nas temáticas abordadas, bem como perspetivar o futuro. No segundo dia, o programa versa sobre temáticas mais específicas e workshops práticos para médicos veterinários. As Jornadas do Hospital Veterinário Muralha Évora destinam-se a produtores, criadores, proprietários de animais de produção e cavalos, mas também a médicos veterinários e estudantes. Na sua última edição tiveram uma participação que superou os 450 participantes. Mais informações: Programa das jornadas veja o site www.hvetmuralha.pt. Inscrição nas Jornadas: Telefone: 266 771758 ou Email: jornadas.hvme@gmail.com

AGRISHOW 25 a 29 abril 2016 Ribeirão Preto – Brasil www.agrishow.com.br

Salon de l’herbe

IN SAFE HAND

1 e 2 junho 2016 Villefranche d’Allier – França www.salonherbe.com

SPECIALISTS IN TRAILER DESIGN & ENGIN

For 50 years, people have put their trust in they’re not difficult to find. As specialists in

we have continued to set the standard bot TA5

much of Europe. We are an independent c

The TA5 4’ headroom models are slightly wider

than the P6 and P8 at 5’, and feature wider side

FEATURES

vents with flaps giving increased ventilation. With the low headroom and increased floor area,

the best products on the market. More than

the wind resistance is minimised when towing, a bonus when travelling long distances. The

It’s the attention to detail of Ifor Williams trailers that makes

ATRELADOS

2700kg.

each year - but we’re not standing still. Ou

These trailers have the Ifor Williams axle beam and leaf sprung suspension, galvanised steel chassis, aluminium side panels and heat

reflecting roof. The rear ramp is covered with

CHASSIS The underside of the trailer features a galvanized steel chassis and drawbar. BEAM AXLE Ifor Williams beam axle system increases

CROSS DIVISIONS ramp assistor.

To improve the aerodynamics of the trailer the lightweight GRP nose cone reduces drag and improves fuel consumption especially on those long journeys. Available for 6’ and 7’ models only.

TA5size livestock aluminium and ramp BothThe full andtrailer halfincludes size (upper gates, durable pressure treated timber planking lower) cross divisions are available. covered with aluminium treadplate flooring, These bedoor carried on the front of the frontcan access and receiver brackets for the optional cross division. trailer (limitations apply when nose cone is fitted.)

minimum maintenance.

of maintenance are of vital importance to y

FLOOR Floors consist of pressure-treated timber

the driving force behind everything we do.

planking under 2mm slip-resistant aluminium treadplate. ROOF The heat-reflecting white PVC-coated galvanized steel roof panels are similar to BEAM AXLE

those used in the construction industry. ROOF CHANNELS The galvanised steel roof channels add body rigidity and strength. COUPLING HEAD Lockable low profile coupling head ensures optimum clearance of 4x4 rear doors. FRONT ACCESS DOOR

COUPLING HEAD

A single door is fitted to 4’ headroom models for quick easy access. The split door on 6’ and 7’ models allows separate access to lower and upper decks. SIDE VENTS Quick clip vents in either open or closed position. SPARE WHEEL

SPARE WHEEL

Spare wheel fitted as standard.

70 janeiro . fevereiro . março 2016 Ruminantes

models, the centre partition kit converts your livestock trailer to having two side-

P6e/P7e unbraked livestock trailer Our P6e and P7e livestock range offers small unbraked trailers with outstanding flexibility both on and off road. Light enough to be towed by a quad bike, they can be used for moving sheep or calves around the farm on short off-road journeys. With the canopy removed, the trailers become general utility trailers for carrying feed, fertiliser and other goods.

Telemóvel 933 020 191 www.remolquescanero.com jose.remolquescanero@gmail.com The livestock versions include aluminium ramp gates, ventilation louvres in the front of the canopy and fixing points for the optional cross division.

Other standard features of the P6e and P7e include: • Spare wheel and carrier TA510 12’ (6’ headroom) with optional side • 50mm ball coupling gate extensions and large cross division • Front prop stand • Rope hooks • Impact resistant plastic mudguards • Aluminium / steel loading ramps The optional welded mesh side panels are invaluable when carrying large bulky objects such as wool, branches and firewood. They provide a payload of 1010kg for the 6’ long version (4’ headroom) and 960kg for the 8’ long version (4’ headroom). The P7e is slightly longer with a floor space of 1.21m x 2.21m and is ideal for transporting larger quad bikes around the farm. The axle, drawbar and body panels of the P6e and P7e are

Available in 8’, 10’, and 12’ body lengths, the TA5

O ATRELADO DOS PROFISSIONAIS!

4’ headroom models also include the following standard features:

• Front Inspection door

• Spare wheel and carrier

TA5 10’ (4’ headroom)

SUMP TANK

AVAILABLE IN 8’, 10’, 12’ LENGTH

• 50mm locking ball coupling

• Larger side vents and flaps RAMP GATE EXTENSIONS

Two recessed drain points in the floor allow liquid waste to drain into the tank during transit. Drain covers are swung to one side to allow solid waste to be washed out through the tank while the ramp is closed. Screw off covers enable both sides of the tank to be opened for easy and thorough cleaning.

DROPSIDES AND LOADING SKIDS

MUD FLAPS

Available on DP models only, this option allows the fitting of dropsides and/or skids when the trailer is used as a flatbed. This option must be requested at the time of ordering.

Ifor Williams Trailers branded mud flaps. Can be fitted to DP models.

• Aluminium ramp side gates

Available onassistor all 6’ and 7’ models the • Rear ramp extension gates can be used to aid loading/unloading.

G (side height)

15 a 18 novembro 2016 Hanover – Alemanha www.eurotier.com

CENTRE PARTITION

expectations ofby-side ourstalls. customers. We know th

C (loading height)

EuroTier

technologies and materials ensures that ou Only available in the 7’ headroom

WIND DEFLECTOR

These help support and steady the rear of the trailer when loading and unloading (on DP Models, only available as part of integrated skid carrier).

stability and reliability, whilst ensuring CHASSIS & FLOOR

grip face aluminium planking and is fitted with a

PROP STANDS (Pair)

D (overall)

standard features.

H (headroom)

our products so popular with owners. Just take a look at these

twin axles provide a maximum gross weight of

DP CONTAINER DEMOUNT This kit enables you to remove the DP container from the flatbed without the use of a fork lift truck, enabling your livestock trailer to be used as a flatbed trailer.

F (inside)

E (inside)

B (overall)

A (overall)

Dimensions in Metres A B C D E F P6e 2.95 1.65 0.40 1.58 1.98 1.21 P6e 2.95 1.72 0.41 1.59 1.98 1.21 P6e 2.95 1.63 0.40 1.58 1.98 1.21 P6e 2.95 1.63 0.41 1.59 1.98 1.21 COMBINATION RAMP/DOORS P7e 3.18 1.72 0.41 1.59 2.20 1.21 Now available on TA5/TA510 on standard 6’/7’ headroom models. The factory fitted ramp 3.18 1.63 2.21 1.21 operates normally butP7e can also be opened as doors to allow0.40 fork-truck1.58 access. This is ideal for loading pallets etc. *Not available with deck system. P7e 3.18 1.63 0.41 1.59 2.21 1.21 This option must be stated at the time of order as they cannot be offered as a modification.

G 0.31 0.31 0.31 0.31 0.31 0.31 0.31

H 1.12 1.12 1.12 1.12 1.12 1.12 1.12

*Always ensure that the load is distributed evenly and centred over the axles.

See page 10 for unladen weights and page 14 for maximum gross weights and tyre options

P7e with ramp, optional rear prop stands and 20.5 x 8-10 tyres (750kg)




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