A REVISTA DA AGROPECUÁRIA
Ano 6 - Nº 21 - 5,00€ abril | maio | junho 2016 (trimestral) Diretor: Nuno Marques
FOTO Francisco Marques
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Produção de leite de cabra Entrevista a um produtor
Comedouros para palha e feno Pontos a considerar
INRA 401 no Alentejo Uma raça rústica, maternal e altamente produtiva
EDITORIAL
edição nº21 abril | maio | junho 2016
Custo de produção, o árbitro! O preço do leite está baixo e tudo indica que assim irá permanecer até ao final do ano. Por sorte para a fileira do leite, os preços das matérias primas estão baixos, e parece que se vão manter por mais alguns meses, permitindo que a rentabilidade das explorações leiteiras seja ainda aceitável para os produtores. Esta situação de preço baixo do leite tem vindo a criar grandes preocupações aos produtores, mesmo àqueles que produzem muito bem e têm uma boa rentabilidade, porque têm sido obrigados a diminuir a produção, a deitar leite fora, ou são fortemente penalizados no preço por produzirem leite a “mais” pois os compradores habituais não têm colocação para o seu leite. O momento exige grande profissionalismo e a tomada de decisões importantes com impacto no futuro do seu negócio; a diminuição do efetivo da exploração passando de 2 para 3 ordenhas de forma a manter (ou diminuir se a isso estiver obrigado) a produção com menos animais, ou a partilha da utilização da maquinaria agrícola para não ter que investir na renovação do parque de máquinas..., são exemplos de decisões que se podem traduzir numa maior rentabilidade do negócio quando pensar “ao cêntimo” se torna imprescindível. Aqueles que tiverem uma melhor visão do negócio irão ter maior probabilidade de sobreviver. O custo de produção de leite será o árbitro, produtores com custos elevados verão seguramente, mais tarde ou mais cedo, o cartão vermelho, como resultado dos efeitos financeiros de uma crise prolongada. Mas será que ainda é possível continuar a baixar os custos de produção do leite? Esta questão foi abordada no “1º Encontro Técnico Científico de Nutrição de Bovinos em que participei. Na altura disse, e continuo a pensar o mesmo, que esta pergunta deve ser formulada pelo produtor a si mesmo, todos os dias, em todos os processos que realiza, e semestralmente ou anualmente aos seus técnicos e assessores. Quase sempre é possível baixar custos, apesar de podermos não querer fazê-lo por diferentes motivos, mas devemos conhecer onde estão essas oportunidades para quando necessitarmos de as implementar já as termos identificadas. Esta é a altura em que os produtores (e empresas do sector) se têm que adaptar à situação atual para conseguirem permanecer no negócio. Para isso têm que ter na equipa os melhores “jogadores” para, em conjunto, como equipa, analisarem bem a situação da exploração e tomarem as melhores decisões. Neste negócio, os detalhes têm um impacto forte nos resultados e no período atual são a chave para a viabilidade económica. A informação que temos de todas as áreas da exploração (alimentação, reprodução, bem-estar animal...) deve ser estudada e servir de base para a tomada de decisões que possam fazer diminuir os custos de produção e aumentar a rentabilidade.
Diretor
Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com Colaboraram nesta edição Ana de Prado; António Cannas; António Moitinho; Balbino Rocha; Carlos Vouzela; Catarina Pereira; Daniel Dias; David Catita; Deolinda Silva; Fernanda Brito; Fernando Capelas; Francisco Marques; George Stilwell; Gonçalo Martins; João Mateus; Joaquim Carneiro; José Caiado; Margarida Capelas; Marta Cruz; Nuno Marques; Nuno Vieira; Paulo Costa e Sousa; Pedro Castelo; Susana Carneiro; Teresa Moreira; Tyler Turner; Vitor Ricardo.
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Este ano vamos realizar o segundo concurso nacional de forragens, na mesma categoria mas com mais dois parâmetros técnicos (proteína solúvel e azoto amoniacal) analisados em todas as amostras recebidas, e as cinco melhores serão sujeitas a uma análise ainda mais completa. Continuamos a contar com a sua participação. Veja o regulamento nesta edição. Nuno Marques
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ruminantes abril . maio . junho 2016 3
Índice Alimentação 14 Polifenóis na nutrição animal, que papel podem desempenhar? 26 Engordas de bovinos, modelo alternativo 40 Vitelos: o início da rentabilidade da sua exploração
ATUALIDADES 18 3ª Jornada Técnica de Pequenos Ruminantes 24 A crescente importância da sustentabilidade no sector animal 30 2º Encontro Técnico de Produção de Leite
ECONOMIA
20
32 Observatório de matérias primas 34 Observatório do leite 36 Índice VL e Índice VL erva
INRA 401
empresas
Na Herdade da Sancha Velha, concelho de Vila Viçosa, dois irmãos dedicam-se à produção da raça de ovinos INRA 401, altamente produtiva e perfeitamente adaptada ao clima do Alentejo.
08 De Heus, fornecedor global de rações e serviços para animais
forragens 16 Regulamento do 2º Concurso Nacional de Forragens
Produção 42 Genética de bovinos com provas dadas em condições naturais 46 Menos despesa e maior rendimento
produto 64 Salas de ordenha, robotização é a tendência 67 Novidades de produto
10
60
Produção de leite de cabra
Comedouros para bovinos
Vítor Ricardo produz leite de cabra com apenas uma ordenha diária. Saiba porque escolheu a raça MurcianaGranadina.
Antes de adquirir, conheça as vantagens e as opções existentes no mercado.
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL 49 Dicas - Acenda a luz às vacas em lactação (e apague às vacas secas….) 50 IBR – uma vacina inovadora 52 Porque razão não se controla facilmente a Doença Respiratória Bovina? 56 Incidência e importância do vazamento de leite em vacas secas
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atualidades
Comunicar com o consumidor nunca foi tão fácil!
Land and Soil Management Award - Portugueses ganham 1º Prémio O prémio Land and Soil Management Award foi este ano atribuído, pela European Landowners Organization (ELO), a dois portugueses: Nuno Marques e Mário Carvalho. O projeto apresentado pela equipa vencedora, sob o tema “Criação de novas oportunidades de gestão da terra e do solo sob as limitações de solo e clima Mediterrânicos” foi distinguido com o 1º lugar entre todas as candidaturas apresentadas.
alguns. Achámos que deveríamos procurar reconhecimento para o trabalho que temos em conjunto com mais alguns agricultores com sistemas de Agricultura de Conservação, e esse reconhecimento foi-nos dado a nível europeu Ficámos muito satisfeitos que o nosso projeto tenha sido o melhor ainda mais tendo em conta que 2015 foi o Ano Internacional dos Solos.”
Em conversa com a Ruminantes, Nuno Marques contou como surgiu a ideia de concorrer. “Em setembro do ano passado, o Professor Mário Carvalho enviou-me um email com a aplicação do “Land and Soil Management Award” em anexo, e o seguinte comentário: Acho que devias concorrer para ganhar! Após a leitura do regulamento, percebi que o projeto se destinava a empresários agrícolas, agrupamentos, etc., mas que poderia ter como parceiro um investigador. Liguei ao Professor a dizer que só concorria se ele fosse parceiro do projeto. Assim foi, e em outubro submetemos a candidatura. O projeto foi gratificante porque reflete a forma como gerimos o solo nos dias de hoje com o conhecimento que ambos desenvolvemos, no meu caso nos últimos quase 30 anos, no caso do Professor em mais
Este concurso recompensa o uso da terra e as práticas agrícolas que mitiguem as ameaças para o solo ou seja, a degradação do solo, a erosão, a redução do teor de matéria orgânica, a contaminação difusa, e a compactação, bem como a redução da biodiversidade do solo, salinização, selagem, inundações e deslizamentos de terra. Ao fazê-lo, o prémio dá enfoque aos projetos que se destacaram, encorajando novos conceitos de proteção dos solos e a sua aplicação na gestão da terra, bem como destaca a consciência sobre a importância das funções da terra e do solo. Podem concorrer agricultores, proprietários de explorações agrícolas, gestores de exploração, grupos de agricultores, por si só ou em colaboração com institutos de investigação, universidades e/ou empresas privadas.
Sobre o Prémio
6 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Produtores de leite alemães estão agora a comunicar diretamente com o consumidor através de filmes no Youtube. A Associação de Produtores de Leite do distrito da Baixa Saxónia tem vindo a apostar cada vez mais na reformulação e inovação da imagem dos produtos da região. A comunicação com os consumidores é um aspeto fulcral deste projeto da Associação, cujo objetivo é reconstruir a ligação do consumidor aos métodos de produção do leite que bebe todos os dias. Foi com este objetivo que 20 produtores começaram a gravar o seu dia-a-dia partilhando-o em diferentes vídeos. Ao visitar o “My KuhTube” (canal de Youtube do projeto) é possível ver desde uma ordenha, a uma saída das vacas ao pasto, ou simplesmente os produtores a mostrarem os seus animais favoritos. Durante estes vídeos, além da perspetiva visual que é oferecida ao consumidor, os produtores vão também explicando diferentes tarefas e problemas que surgem no seu dia-a-dia, como por exemplo o porquê de uma grande quantidade de chuva numa determinada época do ano incapacitar a saída das vacas para o pasto. MAIS INFORMAÇÃO Pode visualizar estes vídeos em: My Kuh Tube
“DRY YOUR BEST” secagem para Vacas de leite Pela primeira vez, os produtores têm a possibilidade de beneficiar de todas as vantagens de uma secagem abrupta, sem as habituais consequências, graças a uma simples injeção que reduz a produção de leite no úbere. Esta nova abordagem revoluciona os métodos tradicionais de secagem, tendo um impacto positivo no maneio, saúde do úbere e bem-estar da vaca, numa altura crucial para o ciclo produtivo do animal. Uma simples injeção do facilitador de secagem reduz rapidamente a produção de leite no úbere, prevenindo assim que este fique ingurgitado e provoque dor e vazamento de leite, que, como é sabido são portas de entrada para novas infeções intramamárias. Para ajudar os produtores a reavaliar o seu processo de secagem, a Ceva desenvolveu a plataforma “Dry Your Best”. Esta plataforma é um recurso que permite, através de um rápido teste online, reavaliar os métodos de secagem, assim como providenciar ferramentas para melhorar a eficiência da exploração, a qualidade do leite e o bemestar animal. Visite. MAIS INFORMAÇÃO www.dryyourbest.com
atualidades
Eurodeputados aprovam regras para prevenir resistência aos antibióticos O Parlamento Europeu (PE) aprovou em março passado alterações a uma proposta de regulamento sobre os medicamentos veterinários, que visa melhorar a sua disponibilidade, reduzir os encargos administrativos, estimular a inovação no sector e lutar contra a resistência aos antibióticos. Os medicamentos veterinários antimicrobianos não devem, em circunstância alguma, ser utilizados para melhorar os níveis de produção ou para compensar a inobservância de boas práticas de criação de animais, diz o PE. A resistência aos medicamentos antimicrobianos para uso humano e animal é um problema de saúde
crescente na UE e a nível mundial. Muitos dos agentes antimicrobianos utilizados em animais são igualmente utilizados em seres humanos. Alguns desses agentes são essenciais para a prevenção ou o tratamento de infeções potencialmente fatais nos humanos.
Reduzir a quantidade de antibióticos no prato dos consumidores “A luta contra a resistência aos antibióticos deve começar nos locais de criação de animais. Pretendemos, em especial, proibir a utilização puramente preventiva dos antibióticos,
restringir os tratamentos em massa a casos bem específicos, proibir a utilização veterinária de antibióticos de importância crítica para a medicina humana e pôr fim à venda através da Internet de medicamentos antimicrobianos. Graças a estas medidas, esperamos reduzir a quantidade de antibióticos que se encontram no prato dos consumidores”, disse a relatora do Parlamento Europeu sobre esta proposta de regulamento, Françoise Grossetête (PPE, FR). “Não devemos, no entanto, reduzir o arsenal terapêutico dos veterinários. Este regulamento deve ser feito de modo a facilitar o seu trabalho. É essencial encorajar a investigação e a inovação neste setor”, acrescentou. A utilização profilática de rotina de agentes antimicrobianos será proibida, de acordo com as alterações aprovadas pelo Parlamento Europeu. A sua utilização só deve ser permitida, “individualmente, em animais e, desde que devidamente justificada por um veterinário, com indicações excecionais”. O PE realça também a importância de garantir a produção de medicamentos veterinários seguros, eficazes e acessíveis. Os eurodeputados aprovaram ainda alterações a uma proposta que dissocia as disposições que regulam os medicamentos veterinários das que regem os medicamentos humanos. Os dois textos legislativos serão agora negociados entre o Parlamento Europeu e o Conselho tendo em vista chegar a um acordo.
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EMPRESAS COMUNICADO DE HEUS
De Heus, Nutrição animaL, mais de 100 anos de progresso em produção leiteira Enquanto fornecedores globais de rações e serviços para animais, dedicamo-nos a cada dia a oferecer aos produtores pecuários as melhores soluções de alimentação, independentemente do tipo de produtos nutricionais de que precisem. São soluções que não só garantem animais saudáveis, como também um valor acrescentado de resultados operacionais com uma saúde ótima. A De Heus, Nutrição Animal, pertence e é gerida pelos seus fundadores, a família De Heus, desde o seu primeiro dia de atividade, há mais de 100 anos. Desde a sua fundação, a De Heus expandiu-se, crescendo de companhia regional de rações até se tornar num grupo líder em nutrição animal, com atividade em mais de 50 países em todo o mundo. Em 2016, entrámos no mercado português, unindo esforços com a Núter/ Saprogal. Acreditamos que podemos ajudar os nossos clientes portugueses de bovinos de leite a progredir,
pensando em soluções nutricionais inovadoras, em detrimento dos produtos tradicionais.
Abordagem da De Heus à atividade presencial na exploração A força da nossa abordagem reside no facto de sermos capazes de oferecer um produto feito à medida de todas as situações específicas locais de cada cliente individual. Com as nossas raízes holandesas, somos parte da posição de liderança que o nosso país de origem detém no mercado da produção leiteira. Os colaboradores da De Heus estão presentes nas explorações e nos estábulos todos os dias, a analisar todas as variáveis que influenciam a conversão de matériasprimas em proteína animal. Esta abordagem de presença na exploração faz com que falemos a mesma língua que os produtores de gado, equipando-nos com uma total
compreensão acerca do que os move e motiva. De igual modo, esta abordagem significa que a De Heus tem um pensamento construtivo, especialmente quando tratamos de fatores locais específicos. A saúde, o bemestar e as necessidades dos animais são sempre uma prioridade. Os consultores da De Heus ajudam a analisar o negócio e a explorar novas oportunidades. Como a situação de cada cliente pode ser muito diferente, uma análise individual é sempre o primeiro passo. Quando estamos a desenvolver as nossas soluções nutricionais, fazemos uma utilização ótima de rações e ingredientes previamente disponíveis localmente. Esta é a base para as soluções nutricionais fabricadas à medida e para as recomendações específicas que estão plenamente em linha com as exigências de cada produtor de gado em particular. Este método permite-nos oferecer fórmulas flexíveis de rações.
De Heus liderança em nutrição animal • • • •
Top 20 mundial de empresas fabricantes de rações Ativa em mais de 50 países Mais de 3200 colaboradores Locais de produção globais: • • • • • • • • • • • • •
Espanha 10 Holanda 8 Polónia 7 Vietname 6 África do Sul 4 Portugal 2 República Checa 2 Rússia 2 (parceria) Brasil 2 Etiópia 1 Sérvia 1 Egito 1 (2° fábrica em 2016) China 40+ (participação minoritária)
A Royal De Heus encontra-se presente em Portugal desde o passado mês de Novembro de 2015, através da aquisição da Saprogal Portugal S.A., detentora das marcas Biona, CUF e Formax
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Entretanto, fazemos uma monitorização constante de todas as atividades: os resultados são exaustivamente discutidos para otimizar ainda mais, se necessário, as nossas soluções de rações fabricadas à medida. Só assim conseguimos ser, como somos, um verdadeiro parceiro de negócio dos nossos clientes.
Soluções nutricionais feitas à medida para todos os nossos clientes de bovinos de leite Porque estamos ativos em mais de 50 países, evidentemente ganhamos uma grande quantidade de conhecimento e experiência. A De Heus tem as suas próprias instalações laboratoriais e de investigação, onde novos conhecimentos nascem e são testados. Para além disso, uma colaboração profunda com universidades de renome e institutos de pesquisa (como a Universidade de Wageningen, na Holanda, e a Universidade Estatal de Londrina, no Brasil) é mantida de forma regular. Ao tornarmos o nosso conhecimento local globalmente acessível, ao mesmo tempo que o aplicamos a soluções práticas no imediato, podemos oferecer aos nossos clientes portugueses de bovinos de leite soluções nutricionais totalmente feitas à medida das suas situações específicas. Com conceitos para cada etapa da vida do vosso gado leiteiro, podemos realmente ajudar-vos a avançar na direção certa.
atualidades
Redução da utilização de herbicidas através do aumento da densidade da sementeira Um novo método de plantação baseado numa sementeira com uma densidade mais elevada de sementes e uma distribuição mais uniforme, poderá reduzir ou até mesmo eliminar a utilização de herbicidas. O professor Jacob Weiner e a
sua equipa do departamento de ciência das plantas e ambiente da Universidade de Copenhaga tem a vindo a estudar nos últimos anos possibilidades de redução do uso de herbicidas nas diferentes culturas, utilizando os mecanismos de
competição das plantas. A equipa de investigação efetuou ensaios com diferentes densidades de sementes de milho por m2 (5, 7, 10,5), chegando à conclusão que quanto maior a densidade e a uniformidade de distribuição das sementes, maiores eram as suas possibilidades de competirem com as plantas invasoras impedindo que estas últimas se desenvolvessem. O milho e os cereais, no geral, apresentam uma planta geralmente maior do que as espécies de plantas invasoras. Se a densidade de sementes for grande, aquando do crescimento da cultura, as plantas invasoras terão menor exposição ao Sol, o que leva ao desaceleramento do seu crescimento
impossibilitando-as de prejudicar a cultura. Este processo permite assim reduzir, ou mesmo eliminar, a necessidade da utilização de herbicidas. O método continua em desenvolvimento, sendo que neste momento um dos maiores desafios para tornar esta ideia comercialmente viável é o desenvolvimento de um máquina que possibilite uma sementeira nestes moldes. O grupo de investigação dinamarquês está agora a explorar a possibilidade de eliminar totalmente os herbicidas utilizando a teoria evolucionária na produção das plantas, analisando as características que possam ser mais vantajosas numa planta cuja sementeira é baseada num método com maior densidade e mais uniformidade.
ruminantes abril . maio . junho 2016 9
produção
Produção de leite de cabra com uma ordenha diária Entrevista a Vítor Ricardo sócio-gerente da exploração do Vale Feijoal. POR RUMINANTES
A exploração do Vale Feijoal está situada em Vale de Cavalos, freguesia de Alegrete em Portalegre. Está implantada numa propriedade com 6,5 hectares, tem um total de 410 caprinos, dos quais 250 são cabras em ordenha. Vítor Ricardo, proprietário e gestor desta exploração de cabras de leite, está nesta atividade desde 1999, e ao longo deste período experimentou diversos tipos de maneio, tendo hoje encontrado a solução ideal para o seu estilo de vida: produzir leite de cabra com apenas uma ordenha diária.
Porque escolheu a raça Murciana-Granadina? A escolha desta raça foi uma questão de “amor” à primeira vista, não sabia nada de cabras, fui pesquisando até que cheguei às várias raças leiteiras existentes na altura (1999), havia as raças nacionais sem grande potencial para o que eu queria e as raças exóticas. Após estudar as três melhores raças de cabras leiteiras do mundo, decidi-me pela Murciana – Granadina.
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Agora, depois de 15 anos de trabalho, vejo que não me enganei na escolha que fiz, em primeiro lugar pela sua rusticidade, em segundo pela qualidade do leite (quantidade de gordura e proteína), em terceiro pelo seu maneio excecional. Qualquer raça permite optar por apenas uma ordenha diária? Na minha opinião, não. Esta raça tem uma “fábrica” pequena e um “armazém”
grande, permitindo o “fabrico e armazenamento” do leite durante mais tempo. As outras raças que conheço são exatamente ao contrário, “grandes fábricas com armazéns pequenos”, obrigando a fazer duas ordenhas para não ter problemas de “armazenamento”. É verdade que fazer apenas uma ordenha diária, mesmo com uma boa genética, representa uma quebra de produção que pode chegar aos 10%.
Produção
Quando cobre as cabras? O maneio reprodutivo até 2015 foi feito desta forma: as cabritas são postas ao macho com 30 kg de P.V., 70 % do peso adulto, entre os 9 e 11 meses de idade, sem qualquer método artificial, só efeito macho, e assim vamos continuar. Nas cabras adultas temos um método que se resume no seguinte: controlamos o animal no que diz respeito à produção leiteira todos os dias, mas só a partir do 60º dia de lactação é que começamos a agir e após essa data de 15 em 15 dias controlamos todos os animais. Sempre que se verifique uma produção média abaixo dos 2 litros de leite/dia esse animal é posto à cobrição, se nunca baixar dos 2 litros de leite/dia essa cobrição acontece aos 210 dias de lactação para que desta forma aconteça uma lactação de 300 dias, ou seja, um parto por ano. Quando a cabra baixa a produção e é colocada no lote com o macho, também a alimentação vai sofrendo alterações estando sempre adequada para a produção que o animal está a ter, desta forma e com monta natural ao fim de 8 – 10 dias os animais estão em cio e dá-se o início de mais um ciclo reprodutivo. Com este controlo apertado diminuímos drasticamente a percentagem de animais na exploração com períodos de secagem acima dos 60 dias e mantemos sempre lotes grandes de animais em alta produção, permitindo que a produção leiteira anual se divida em 55% no primeiro semestre e 45 % no segundo semestre, ideal para a exploração e queijarias. Que parâmetros produtivos utiliza na avaliação da sua exploração? Para me ajudar na gestão de toda a informação recolhida diariamente uso o sistema de gestão do rebanho
Não quero ver animais doentes. O bem-estar dos animais é essencial
intimamente ligado à rapidez de ordenha com um úbere perfeito. Quando estão secas controlamos os dias em que estão sem produzir, tentando que não passem de 75 dias entre lactações. Finalmente, com esta informação toda, tomamos as nossas decisões em consciência.
Gestimilk, que se baseia em dados de 12 parâmetros recolhidos mensalmente. Estes parâmetros funcionam como indicadores, que se correlacionam com outros dados, permitindo fazer uma gestão da exploração baseada em indicadores e dados concretos. O Gestimilk permite fazer benchmarking com a média da base de dados do próprio programa e com isto perceber onde estão as oportunidades para melhorar os resultados. Utilizo também um programa da GEA – Westfalia Surge chamado Dairi Plan G 21.
Quais são para si os três principais indicadores para tomar decisões? Um deles é uma regra que temos de não gastar mais de 0,33€ em alimentação por cada 1€ de leite vendido. Todos os 15 dias analiso os dados registados no computador para ver se todos os animais estão nos lotes de produção adequados e caso seja necessário faço as mudanças, de forma a que esta regra seja cumprida. Outro indicador é o número de dias que as cabras estão secas, número esse que não pode ultrapassar os 75 dias. Também utilizamos um indicador anual: cada cabra tem que dar de receita anual bruta mínima 450 euros em leite.
Qual a sua principal preocupação diária? Começo por ver o estado geral dos animais, dando uma volta à exploração. É fundamental para o negócio que eles estejam de boa saúde. Não quero ver animais doentes. O bem-estar dos animais é essencial. Que dados da exploração recolhe e analisa? Recolhemos todos os dados possíveis de recolher numa exploração deste género, por exemplo controlamos os pesos dos nossos animais em várias idades (nascimento, desmame, cobrição), começando aqui a nossa seleção. Assim que começam a dar leite analisamos diariamente a produção, a condutividade e o tempo de ordenha. O tempo de ordenha é um fator determinante para uma boa seleção no que diz respeito à conformação do úbere, visto que está
Como faz o maneio alimentar? Desde 2013 que estou com o sistema Caprikomplet da Nanta, que consiste num alimento especifico dado praticamente à descrição, e palha. A única coisa que faço é relacionar o sistema alimentar com as produções de leite dos animais. Sempre que baixam de dois litros diários acontecem duas coisas em simultâneo, pomos as cabras à cobrição e baixamos a quantidade de alimento para que não engordem. No passado chegámos a produzir as nossas próprias forragens e a utilizar o unifeed, mas a estabilidade alimentar não era a mesma, por exemplo, com o atual sistema os problemas de diarreias terminaram. Com o sistema
O que é o KOMPLET CONCEPT? É um novo e completo conceito nutricional para pequenos ruminantes. O Komplet está fundamentado com o conhecimento da cinética ruminal e com a previsão da resposta produtiva dos animais. Depois de mais de 10 anos de investigação num modelo nutricional próprio da Nutreco para a alimentação de ruminantes, foi possível incorporar equações de cálculo para nutrientes próprios da Nutreco. Estes nutrientes permitem prever com maior exatidão a resposta das ovelhas e das cabras, perante diversas estratégias de alimentação.
anterior, quando fazia as contas mensalmente com as forragens ao preço de mercado, saía mais caro que o atual sistema. Repare, eu comprava fenos a 9 cêntimos em maio ou junho que, em janeiro, poderiam estar a 14 cêntimos. Outra coisa curiosa com este sistema é que apesar das cabras ruminarem menos, porque a relação ração/palha é de 80/20, a qualidade do leite manteve-se ou mesmo melhorou. Estou rendido ao sistema. Que conselho dá a alguém que queira começar agora com este negócio? Os conselhos que dou a toda a gente que me visita é que em primeiro lugar vejam como funciona o mercado do leite de cabra na zona onde vão montar as explorações, depois que visitem o maior número de explorações possível, principalmente em
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produção
Quais os objetivos para os próximos anos? Continuar a melhorar o nível genético dos nossos animais não perdendo a resistência física (longevidade), para que dessa forma sejam animais que durem muitos anos com níveis produtivos acima de 650 litros de leite por ano com 6% de gordura, 4% de proteína e com contagens de células somáticas baixas. Dessa forma iremos aumentar a nossa produção leiteira e também a oferta de animais (fêmeas e machos) de alta qualidade para explorações que necessitem de animais de topo. Quais são os fatores limitantes deste negócio? Que oportunidades existem? Para mim a mão-de-obra de qualidade é o fator limitante. As oportunidades são muitas, desde a carne de cabrito que não é bem explorada, aos derivados do leite e ao próprio leite de cabra para consumo, penso que há muito por onde evoluir em Portugal.
Dados da exploração em 2015 Raça: Murciana-Granadina Efetivo total: 410 Cabras em ordenha: 250 Total leite produzido por ano: 124.587 litros Total de empregados: 2 Sala de ordenha: • 18 pontos de saída rápida (200 animais por hora = 5,4 minutos/animal) • Possui retiradores e pulsações alternadas. Número de ordenhas por dia: 1 Número de adultos: 252 Litros / Cabra / dia: 1,85 GB (%): 5,62 PB (%): 3,92 Extrato Queijeiro (%): 9,53 Litros / Animal presente / Ano: 494,88 Litros / Animal ordenhado: 666,83 Eficácia de ordenha (%): 74,21
Evolução leite e extrato queijeiro (%)
Litros
12
2
10 1,5
8 6
1
12 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
4
0,5
2 0 Média extrato queijeiro Média linear ext. queijeiro
Média leite/dia Média queijeiro Média extrato Média queijeiro eextrato xtrato queijeiro Média leite/dia Média leite/dia Média linear leite/dia Média linear Média ext. queijeiro linear ext. qextrato ueijeiro queijeiro Média linear Média leite/dia linear leite/dia Média linear Fonte: GestiMilk
854
892
840
820
783
790
739
756
725
715
Média leite/dia Média linear leite/dia
723
648
626
628
620
0 611
Que percentagem dos custos totais representam os custos fixos? Os custos fixos (ordenados, luz, amortizações...) representam o mesmo que a alimentação, cerca de 33%.
618
Qual é o tamanho ideal de um efetivo de cabras? O tamanho dos efetivos tem de estar sempre relacionado com a mão-de-obra e com as infraestruturas existentes na exploração, em média podemos considerar como ideal a existência de um funcionário para cada 200 animais. A quantidade produzida
diariamente também é muito importante, porque se vendem melhor 1000 litros de leite por dia do que 100. A exploração ideal, para mim, deve ter um efetivo de 250 a 300 cabras, da Raça Murciana, explorada por um casal, em que façam uma ordenha pela manhã e produzam o seu próprio queijo, conseguindo dessa forma maior rentabilidade.
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Espanha e França, e ainda que façam uma exploração adequada para o número de animais que vão querer ter, que seja racional. Eu defendo um modelo de exploração, a que chamo de H. Basicamente consiste em 4 pavilhões com a sala de ordenha no centro. Os pavilhões não devem ter mais de 12 metros de largura e o seu comprimento está sempre relacionado com a quantidade de animais que queremos pôr lá dentro, nunca excedendo os 100 metros, (exemplo de um pavilhão para 600 animais). Também defendo que o pavilhão deve ter um corredor central com 3 a 3.5 m de largura, que serve para alimentar e controlar mais rápida e facilmente todos os animais. Outra questão fundamental são os parques de lazer exteriores que devem ter uma área 3 a 5 vezes a área coberta. No que diz respeito à sala de ordenha, deve ser dimensionada para que as ordenhas não ultrapassem as duas horas por cada leva ou parque, e que esteja equipada com um sistema de medição diária porque só dessa forma será possível ter um controlo diário de tudo o que acontece na exploração. Em relação aos animais, devem ser adquiridos o mais novos possível (entre os 3 e 6 meses de idade), com um estado sanitário “100% limpo”, com genética comprovada e com garantia.
ALIMENTAÇÃO
Tyler Turner, PhD Dairy Nutritionist (traduzido) t.turner@josera.de
Que papel podem desempenhar
os polifenóis na nutrição animal? O que são polifenóis? Muitos compostos naturais bioativos à base de plantas têm sido utilizados na medicina tradicional durante séculos, e os seus efeitos benéficos constituem a base da investigação farmacêutica moderna. Os flavonoides, um tipo de polifenóis encontrado em muitas espécies de plantas, são amplamente reconhecidos como tendo uma atividade anti-inflamatória e antioxidante muito significante (González et al. 2011). Algumas fontes comuns de polifenóis são o vinho tinto, o café, o cacau, nozes e outros frutos secos, ervas aromáticas e chás. O chamado “Paradoxo Francês”, elevado consumo de vinho tinto e baixa incidência de casos de doenças inflamatórias, é um exemplo claro dos efeitos benéficos dos polifenóis ( Georgiev et al. 2014). A estrutura química dos polifenóis determina o seu efeito bioativo, o que significa que nem todos os polifenóis funcionam da mesma forma. Combinando diferentes fontes de polifenóis, pode-se atingir um largo espectro de bioatividade e efeitos benéficos.
Podemos usar polifenóis na produção animal? Atualmente, a aplicação de compostos bioativos, como os polifenóis, na alimentação animal é um importante campo de investigação científica - a nutrigenómica (termo usado para
descrever a investigação sobre a influência das estratégias nutricionais na expressão genómica e consequente desempenho produtivo dos animais). Após a proibição do uso não terapêutico de fármacos em animais de produção pela União Europeia em 2006, vários países também tomaram medidas para reduzir ou eliminar a sua utilização (E.U.A., Canadá, Brasil, entre outros). Embora esta tendência tenha sido bem recebida pelos produtores, as causas subjacentes que contribuem para o desenvolvimento de doenças comuns na produção animal ainda permanecem, sendo dada a máxima prioridade à prevenção do desenvolvimento da doença, de modo a garantir um elevado nível de bem-estar, bem como melhorar a produtividade do animal e a viabilidade económica da exploração. Estudos recentes indicaram efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes bastante positivos dos polifenóis na nutrição animal. Por exemplo, polifenóis obtidos a partir de sementes de uva demonstraram reduzir a resposta inflamatória em células de bovinos (Li et al. 2014). Assim, novas soluções têm vindo a ser alvo de investigação, resultando em novos produtos introduzidos para ajudar os produtores na adaptação ao mercado em mudança, com o intuito de aumentar o foco na nutrição preventiva e reforçar o sistema imunitário natural
14 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
O ruído de fundo é omnipresente e influencia o desempenho produtivo e o bem-estar.
do animal, obtendo animais mais capazes de lidar com os desafios que podem levar ao aparecimento da doença. Em síntese, o uso de polifenóis como estratégia de nutrição preventiva, salvaguarda o desenvolvimento da resposta inflamatória pelo metabolismo.
Quais as causas destas respostas inflamatórias permanentes? Os animais são frequentemente estimulados com pressões de baixo nível
que, a nível celular, ativam os genes responsáveis pelos processos inflamatórios, mantendo o animal em constante alerta. Alguns destes estímulos são óbvios, como por exemplo, a falta de equilíbrio nutricional no arraçoamento ou a higiene no estábulo ou na ordenha, enquanto outros podem não parecer tão óbvios, como a sobrelotação, fatores ambientais ou até mesmo o maneio animal. Estes fatores de pressão provocam respostas inflamatórias, causando stress celular e aumentando a exigência de energia de
ALIMENTAÇÃO
Classe
Principais fontes de polifenóis em alimentos
Flavonóides
Côco, uvas, frutos secos Vinho Tinto Chá preto, chá verde Oregãos, chá de camomila Frutos vermelhos Soja
Lignanos
Linhaça, sementes de sésamo
Ácidos fenólicos
Café, frutos secos, frutos vermelhos
Estilbenos
Vinho tinto, vinho branco
Outros
Azeitonas, açafrão
manutenção, o que leva a que esta energia não esteja disponível para a produção. Assim, estas pressões de baixo nível omnipresentes deixam o animal mais susceptível ao risco de desenvolvimento da doença. Quando os sinais clínicos da doença são evidentes, o animal já sofreu um revés significativo na performance produtiva, alargando o intervalo entre partos, bem como a sua longevidade produtiva e vida útil.
Como podem os nossos animais beneficiar do uso de polifenóis? Os polifenóis / flavonoides reduzem a ativação dos genes associados à resposta inflamatória, permitindo ao animal lidar melhor com as pressões de baixo nível exercidas no seu dia-a-dia, e direcionando mais energia para a produção. Por exemplo, na fase de transição, as vacas de leite são submetidas a grandes alterações metabólicas, o que coloca uma enorme pressão sobre o rúmen, o fígado, o úbere e as reservas de gordura corporal. Se a isto adicionarmos outros fatores de stress, como o desequilíbrio nutricional, as micotoxinas, a falta de higiene, a pressão social do grupo, o stress térmico e os distúrbios metabólicos que sobrecarregam o sistema imunitário do animal,
a vaca torna-se muito mais suscetível ao desenvolvimento de doenças no período mais vulnerável da produção. O desenvolvimento de doenças metabólicas (cetoses, acidoses, fígado gordo) durante esta fase, limita o pico de produção de leite, afetando a produção total na lactação e prolongando o período de balanço energético negativo, o que leva a um atraso na próxima inseminação e consequente adiamento do próximo período produtivo. Ao tomarmos medidas para ajudar o animal a lidar com os período de stress elevado e gerir melhor a resposta inflamatória, este terá uma capacidade produtiva mais elevada. Além disso, reduzir a resposta inflamatória a estes estímulos de baixa pressão, permite uma resposta mais adequada e efetiva a um estimulo realmente grave. Através da implementação de estratégias de nutrição preventiva, muitos dos distúrbios metabólicos mais comuns podem ser tratados com maior taxa de sucesso, garantindo uma transição suave até ao pico de produção e durante todo o período de lactação. Referências bibliográficas Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas o autor disponibiliza bastando enviar um email.
ruminantes abril . maio . junho 2016 15
Concurso
REGULAMENTO DO 2º CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS DA REVISTA RUMINANTES - 2016 Este concurso idealizado e promovido pela REVISTA RUMINANTES tem como objetivo encorajar os agricultores nacionais a melhorar a qualidade das forragens produzidas, procurando desta forma contribuir para o reforço da sustentabilidade ambiental e económica da produção pecuária em Portugal.
1 - Podem concorrer ao 2º Concurso Nacional de Forragens (doravante “Concurso”) todos os agricultores nacionais, do Continente e Ilhas. A participação está limitada ao envio de apenas uma amostra de forragem produzida pelo agricultor na sua própria exploração agrícola ou agropecuária.
atribuído ao concorrente. A amostra deverá ser imediatamente congelada ou mantida num local frio até à sua imediata expedição pelos CTT (embalagem Mod. L) em correio azul ou verde ou por entrega direta no ALIP (Associação Interprofissional do Leite e Lacticínios, Concurso Nacional de Forragens- Nº (código atribuído) 2 - A participação no Concurso obriga R. do Agreu Nº302, Ordem 4620-471 Lousada). O remetente deve indicar a efetuar uma pré-inscrição através claramente a sua proveniência. de formulário on-line no site da As amostras devem ser enviadas Revista Ruminantes (www.revistaou entregues nas duas primeiras ruminantes.com). A confirmação da semanas de julho. Recomenda-se, participação está limitada às primeiras no caso de envio por CTT, que as 120 inscrições recebidas. Todos os amostras sejam enviadas a uma 2ª participantes serão devidamente ou 3ª feira de forma a melhor garantir notificados por email da sua inscrição, que as mesmas cheguem nas conferida pela atribuição de um código melhores condições de conservação de participante para sua identificação. ao laboratório para posterior análise. 3 - As amostras de silagem a colher A data de envio será controlada por referir-se-ão ao silo resultante de carimbo de correio. um corte de erva do presente ano, 6 - As análises a realizar sobre a designando a forragem a concurso amostra visam avaliar a qualidade como SILAGEM DE ERVA. de conservação e o valor nutritivo da 4 - É permitido o uso de conservantes silagem. no processo de ensilagem. As 7 - A classificação final é obtida amostras de silagem de erva devem através de uma análise sensorial e de ter um teor de matéria seca entre 25 e uma análise bromatológica, com um 50%. A silagem de erva deve mostrar peso, respetivamente, de 30 e 70%. sinais de normal fermentação. As A análise sensorial será efetuada amostras com teores de matéria seca aquando da chegada da amostra fora deste intervalo ou com sinais de ao ALIP e consistirá na avaliação adulteração serão automaticamente da cor, cheiro, tamanho de partícula excluídas do concurso. e presença de bolores ou outros 5 - A amostra deverá preparar-se através da recolha de 1,5-1,8 kg de forragem em saco de plástico limpo, transparente e selado sem ar. A identificação da mesma faz-se por afixação ao plástico de autocolante branco onde deverá obrigatoriamente estar escrito o Código de Inscrição
materiais estranhos ou contaminantes. As amostras serão secas em estufa para determinação da matériaseca (MS), sendo, posteriormente, determinados, por NIR, o pH e os teores em Cinzas Totais (CT), Proteína Bruta (PB), Proteína Solúvel (PS), Azoto Amoniacal (AA), Fibra Detergente
Neutro (NDF), Fibra Detergente Ácido (ADF) e a digestibilidade da matéria orgânica (DMO). Nas cinco amostras melhor classificadas será, ainda, determinada a digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca (IVTD). A classificação final destas amostras será obtida atribuindo um peso de 70% à classificação obtida anteriormente e 30% à IVTD. 8 - Haverá atribuição de prémios monetários aos primeiro, segundo e terceiro classificados, no montante de 1000€, 700€ e 500€, respetivamente. 9 - Os prémios serão entregues em cerimónia a realizar durante um EVENTO e em DATA a definir, comunicado através da Revista Ruminantes. Para receber o prémio os vencedores do Concurso terão que estar presentes ou informar previamente a Revista Ruminantes da nomeação de um seu representante para esse efeito. 10 - A todos os participantes no concurso será entregue um certificado de participação bem como o resultado da análise laboratorial. 11 - O júri referente ao 2º CNF será constituído por: José Caiado – Revista Ruminantes Ana Lage – ALIP Rita Cabrita – Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Universidade do Porto António Moitinho Rodrigues – Escola Superior Agrária – Instituto Politécnico de Castelo Branco As decisões tomadas pelo Júri do Concurso são definitivas e em nenhum caso serão passíveis de recurso.
FICHA DE PRÉ-INSCRIÇÃO (MODELO)
m e m e s o c . a s v e e t r n c a n i ins m u r a t s i v e ww.r
2º CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS Identificação
Nome da Exploração ...................................................................................................................................................................................................................................................... Morada ........................................................................................................................................................................................................................................................................................
Localidade....................................................................... Código Postal........................................................................Área de silagem erva (ha)............................
Pessoa para Contacto....................................................................................................................................................................................................................................................... NIF.................................................................................. TLM......................................................................Email...................................................................................................................
w
Atesto por minha honra que a informação fornecida é a correta , que a amostra foi recolhida de acordo com as condições estabelecidas pelo regulamento e que a amostra pertence ao lote descrito e inscrito.
Assinatura...............................................................................................................................Data............/............/2016
16 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
atualidades
3ª Jornada Técnica de Pequenos Ruminantes por ruminantes
Realizou-se no passado dia 24 fevereiro mais uma jornada dedicada ao tema dos Pequenos Ruminantes, com organização a cargo da Nanta e da Escola Superior Agrária de Castelo Branco. da utilização de melatonina no controlo da reprodução dos rebanhos. O controlo reprodutivo permite controlar o período de produção leiteira e de borregos em função do preço e da disponibilidade forrageira, organizar o trabalho, compactar o período de partos e sincronizar os lotes. O controlo reprodutivo com melatonina em Portugal deve ser feito entre janeiro e junho, através da colocação de implantes na base da orelha por via subcutânea. Como já é hábito, o evento junto mais de duzentas pessoas, entre produtores, técnicos e estudantes. Celestino Almeida, Diretor da Escola e António Santana, Diretor da Nanta abriram a palestra pondo a tónica na importância da transferência de conhecimentos entre empresas, escolas, produtores e técnicos para o desenvolvimento da atividade pecuária. “Gostamos de colaborar com os Institutos e Universidades, nós próprios temos um centro de investigação, os pequenos ruminantes são neste momento um negócio que se pode apelidar de sexy, e estamos nele há muitos anos, com muitas histórias de sucesso” , disse António Santana. A primeira intervenção coube a Miguel Sanz, da Hipra, que abordou o tema da vacinação no controlo das mastites em
pequenos ruminantes. O técnico da Hipra chamou a atenção para a correlação entre o número de células somáticas (CS) e a produção de leite, e deu alguns exemplos concretos para mostrar como decresce a produção de leite com o aumento da CCS: de 200 mil CS para 1 milhão, a produção caía 11%; em explorações com menos de 1 milhão e mais de 1,6 milhões CCS, a diferença de produção foi da ordem de 39%. Referiu ainda aspetos os aspetos mais importantes para o controlo e a prevenção das mastites: rotinas de ordenha, manutenção das máquinas de ordenha, limpeza das camas, eliminação de casos crónicos e clínicos, programa vacinal, correto maneio de secagem. Pedro Rosado, da Ceva, falou do maneio reprodutivo em pequenos ruminantes, e
18 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
João Mateus e José Maria Bello, dos serviços técnicos de Ruminantes da Nanta, abordaram o tema da recria de animais de reposição. O objetivo de uma recria para reposição é conseguir borregas com maturidade sexual a uma idade adequada (13 a 18 meses dependendo da raça), com o 1º parto na altura certa, e animais com um desenvolvimento correto e com elevada capacidade de ingestão. Como índices zootécnicos de referência para uma exploração referiu que a taxa de reposição deverá situar-se entre os 20-30%, e a maturidade sexual deverá ser atingida aos 7-8 meses, com pesos mínimos de 65% do peso adulto. Para se atingirem estes objetivos é necessário uma alimentação adequada a cada uma das fases (aleitamento/cria/recria). José Maria Bello apresentou as potencialidades do programa
Gestimilk na gestão de uma exploração de pequenos ruminantes (Informar e prever os resultados da exploração). José Fragoso de Almeida, professor do ESA-IPCB, abordou o tema “valor nutritivo das pastagens de sequeiro, variação sazonal e limitação na produção de ovinos de leite”. Considera-se valor nutritivo o produto entre a quantidade ingerida pelos animais e a concentração de nutrientes. Como considerações finais do trabalho pode referir-se que a qualidade da pastagem é limitante apenas no fim do ciclo; que o valor nutritivo depende do encabeçamento porquanto limita a quantidade ingerida; que se podem compensar as variações sazonais com suplementações de alimentos ou, diminuindo o encabeçamento pode-se reduzir as suplementações por ovelha. Pedro Vaz, da EABL (Estação de Apoio à Bovinicultura Leiteira) apresentou as perspetivas e potencialidades do contraste leiteiro. As vantagens de ter a exploração monitorizada com o contraste são muitas e este trabalho pode ser “transportado” do bovinos para os pequenos ruminantes. O programa das jornadas terminou com a apresentação da exploração do Vale Feijoal, de Vitor Ricardo (reportagem nesta edição).
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Produção
INRA 401 NO ALENTEJO Uma raça rústica, maternal e altamente produtiva
Entrevista a Fernando e Margarida Capelas. por ruminantes
Margarida Capelas e o seu irmão Fernando nasceram numa família de agricultores e desde cedo que tomaram gosto pelas atividades que faziam parte da exploração. Tendo frequentado a licenciatura de engenharia mecânica no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, Margarida optou por dedicar-se ao negócio de família antes de terminar os estudos devido a um problema de saúde do irmão. A pouco e pouco foi-se envolvendo na reconversão da exploração, em parceria com o seu irmão e atualmente
produzir o mesmo número de borregos com menos de metade do efetivo passou a ser o objetivo a longo prazo
na Herdade da Sancha Velha, no concelho de Vila Viçosa. A superfície total ronda os 400 hectares (ha), dos quais 20 ha são de regadio para produção de cereal, 60 ha para silagem, 50 ha para feno, e o restante pastagem natural. A Ruminantes foi descobrir as razões da preferência pela raça INRA 401.
este projeto ocupa-a a tempo inteiro.
Porque decidiram investir na raça INRA 401? O primeiro contacto com a raça foi através do nosso pai que importou de França os primeiros exemplares no
Atualmente, a atividade está dividida em duas herdades, sendo o centro da exploração
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ano 2000, com o intuito de produzirmos a nossa própria F1 na exploração, em cruzamento com a raça merina local. Foi no sentido de continuar este projeto, outrora interrompido, que adquirimos os primeiros machos em 2008. O nosso objetivo foi introduzir melhorias genéticas (especificamente um aumento da prolificidade e da capacidade leiteira) no nosso rebanho base, de modo a rentabilizar a exploração. No ano de 2010 o nosso efetivo era composto por 150 F1, com as quais trabalhámos até 2014, e cerca de 700 ovelhas merinas.
Produção
O intuito de querer otimizar a gestão da nossa exploração levou-nos a analisar a taxa de rentabilidade do nosso efetivo merino (700 fêmeas) versus a do efetivo INRA 401 puro (300 fêmeas) que na altura ponderávamos adquirir. Em contas rápidas: - 700 ovelhas merinas x 0,85 fertilidade x 1 parto ano x 1,3 prolificidade = 773 borregos ano; - 300 ovelhas INRA x 0,94 fertilidade x 1,35 partos ano x 2 prolificidade = 761 borregos ano. Os números falam por si e produzir o mesmo número de borregos com menos de metade do efetivo passou a ser o objetivo a longo prazo. Decidimos assim substituir gradualmente, as 700 ovelhas merinas por 300 ovelhas INRA 401. O balanço não podia ter sido melhor e em 2013 surgiu a oportunidade de adquirirmos mais 300 fêmeas no âmbito de um projeto de instalação de jovem agricultor.
Desde 2014 que trabalhamos exclusivamente com a raça pura e o nosso objetivo até 2018 passa por um aumento do efetivo de forma a totalizar as 2200 cabeças. Qual é o objetivo do negócio? A nossa ideia foi sempre produzir carne de forma rentável independentemente do valor dos subsídios atribuídos à exploração. Para isso foi necessário investir ao nível das infraestruturas (pavilhão para os partos e lactação), nas máquinas necessárias à produção da nossa própria forragem e nas reprodutoras nascidas na nossa exploração. Como os resultados têm superado as expetativas, e já com cerca de metade do efetivo previsto, decidimos também abrir a possibilidade de vender parte dos nossos melhores animais como reprodutores, e fazer crescer o nosso efetivo de forma mais lenta.
Como foi a adaptação dos animais ao extensivo do Alentejo? A INRA 401 é uma raça perfeitamente apta a viver num regime extensivo e de fácil adaptação ao clima do nosso Alentejo, contudo é necessário referir a exigência em termos alimentares. O potencial produtivo de uma raça como a INRA passa obrigatoriamente pela qualidade e teor dos alimentos fornecidos e pelo equilíbrio da dieta adotada. Costumamos alertar os nossos clientes para a necessidade de fornecer forragens de qualidade durante o periodo seco, acompanhadas de um complemento de concentrado no último terço da gestação, devido à elevada percentagem de partos múltiplos. Sempre tivemos estes animais a campo e nunca houve problemas de adaptação. Inicialmente, apenas os partos eram efetuados com as ovelhas estabuladas. Ao
fim de 8 dias as ovelhas regressavam ao campo com as respetivas crias, onde permaneciam até à idade de desmame. Qual é o maneio reprodutivo que pratica? O ciclo reprodutivo da nossa exploração é fixo, ou seja, existem três épocas de cobrição por ano (com monta natural, com recurso ao efeito macho) e por conseguinte três épocas de parição. Estas datas foram escolhidas de acordo com as épocas de maior consumo e valorização da carne de borrego no mercado ibérico. Deste modo, o efetivo encontra-se dividido em dois rebanhos que formam dois grupos distintos – o grupo que está em cobrição/gestação, e o grupo que esta em parição/ lactação. Para a organização destes grupos é essencial o recurso ao diagnóstico de gravidez por volta dos 45 a 60 dias após o término da cobrição. No geral todo o maneio é efetuado com base no ciclo reprodutivo, os animais andam a campo, e são estabulados apenas durante a época de partos e respetivo período de lactação. Neste processo há que destacar a importância da assistência durante o parto e pós-parto, para o sucesso e viabilidade das crias, sobretudo nas mães com trigémeos que constituem cerca de 30% dos nossos partos. No caso da lactação, optámos recentemente por manter os animais estabulados devido à dimensão, de modo a facilitar a gestão e o controlo das mães e crias.
Fernando e Margarida Capelas.
ruminantes abril . maio . junho 2016 21
Produção
Dados da exploração Nº trabalhadores: 3 (2 sócios + 1 trabalhador fixo) Nº animais: 1000 fêmeas e 40 machos Partos: 380 em janeiro (das quais 58 primeira barriga) / 330 em maio / 500 em setembro Dados parição janeiro 2016: • Taxa de fertilidade: 1ª barriga: 92%; ovelhas adultas: 94% • Nº borregos/ovelha (prolificidade): 1ª barriga: média 1,9; ovelhas adultas: média 2,2 • Taxa mortalidade ao nascimento: 1ª barriga: 7%; ovelhas adultas: 5% • Taxa mortalidade ao desmame e recria: 2% • Peso médio aos 2 meses: 24 kg
Características da raça A INRA 401 - também conhecida como La Romane - foi desenvolvida através de um programa de melhoramento genético realizado pelo INRA (Instituto Nacional Francês para a Investigação Agrícola), que está em funcionamento desde 1963. A INRA 401 foi criada pelo cruzamento da raça Romanov (pelos seus traços de prolificidade) com a raça Berrichon du Cher (pela produção de carne e qualidade da carcaça). A raça INRA combina as características destas duas raças.
Borregas com 8 meses de idade
Qual é o plano alimentar? O plano alimentar é elaborado de acordo com as necessidades de cada animal em função da fase do ciclo reprodutivo em que se encontra. Durante as últimas semanas antes do parto, fase a que atribuímos o nome de pré-parto, é fornecido um suplemento alimentar na forma de concentrado (formulado,
Os objetivos da seleção visam melhorar as características maternas de ambas as raças (prolificidade, capacidade de amamentação e fertilidade) e as capacidades de produção de carne (crescimento, conformação, rendimento de carcaça), assim como a resistência ao tremor epizoótico (scrapie).
22 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
misturado e produzido na própria exploração). Durante a lactação, este concentrado é mantido na dieta e a quantidade apenas se ajusta em função do números de crias a amamentar (mães com partos triplos, duplos ou simples); a matéria seca fornecida durante o parto e a lactação é feno. O restante tempo da gestação, a cobrição e o período vazio, são feitos a campo, em pastagens naturais e prados. Com a caída da Primavera e
durante toda a época seca, os animais mantêm-se a campo e a alimentação passa pelo fornecimento de silagem produzida na exploração. Como faz a seleção dos animais para reprodutores? No geral os nossos reprodutores são escolhidos essencialmente pelo historial da mãe, pela conformação corporal e pelo seu temperamento. Em cada parição é feito o registo de todos os detalhes de cada mãe e respetivas
Produção
crias desde o parto até ao desmame, permitindo-nos assim saber a prolificidade e capacidade leiteira individual de cada reprodutora dentro da nossa exploração. No caso da seleção dos machos, os partos triplos em que a média de peso das 3 crias seja pelo menos 14 kg aos 30 dias, têm uma grande importância na nossa decisão final. A quem vende os borregos? Salvo raras exceções a carne é vendida para o mercado espanhol. No caso dos reprodutores, o mercado é muito variado e temos registado, apesar de estarmos neste mercado há tão pouco tempo, um interesse e uma procura crescente pela raça e pelas características que a distinguem e que fazem dela uma raça de excelência.
Que benefícios pode trazer esta raça num cruzamento industrial? Os F1 que resultem do cruzamento entre a raça INRA e uma qualquer raça local, como é o caso da Merino, podem usufruir de: • Melhoria ao nível da sazonalidade pelo seu potencial genético permitir cobrir fora da época natural de cobrições sem o recurso a tratamentos hormonais, ou seja, aumento do número de partos por ano; • Um aumento da prolificidade, que se reflete no aumento da média do número de borregos por parto; • Melhoria da capacidade leiteira e instinto maternal (parição e adoção fácil); • Maior rendimento de carcaça.
Os benefícios estão associados a um aumento da produtividade no rebanho em geral, o que se refletirá num aumento da rentabilidade da exploração. Afinal, a questão para a qual todos procuramos uma resposta é: “Como rentabilizar o nosso negócio?”. Penso que a este nível a INRA poderá
vir a desempenhar um papel importante ao nível da ovinocultura em Portugal.
Contactos Margarida Capelas Telemóvel - 926949388 inra401portugal@hotmail.com
PROTEÍNA BRUTA É COISA DOS ANOS 80. A ciência e a tecnologia mudaram adaptando-se aos novos tempos. E a sua forma de formular, também se adaptou? Estratégias e formulações nutricionais adequadas frente àquelas já obsoletas, marcam a diferença entre explorações leiteiras, especialmente quando se trata de nutrição proteica. Encontrar a estratégia mais eficaz na formulação com base em aminoácidos para cada exploração e contexto económico, só se pode fazer com aqueles produtos biodisponíveis realmente fiáveis. Para trás ficam os dias em que nos centrávamos somente nos níveis de proteína bruta. Devemos reformular as nossas dietas até alcançar níveis adequados de lisina e metionina com o objectivo de melhorar os custos de produção e a eficiência proteica (rentabilidade da ração), ao mesmo tempo que nos preocupamos pelo meio ambiente. Formular com Smartamine ®, Metasmart ® e LysiPEARL™ permitirá alcançar “grandes rentabilidades”. Reformule as suas dietas. De agora em diante, mais não significa melhor, no que diz respeito à proteína bruta. Para mais informação sobre estes produtos, por favor contacte a Kemin Tel + 351 214 157 501 ou +351 916 616 764 - www.kemin.com MetaSmart® is a Trademark of Adisseo France S.A.S. 2015_advert Smartmilk_port.indd 1
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ruminantes abril . maio . junho 2016 23
atualidades
A crescente importância da
sustentabilidade no sector animal A produção animal é um sector onde a sustentabilidade está a ganhar uma crescente importância, não só porque faz todo o sentido ter uma perspetiva sustentável na produção animal, mas também porque este sector é muitas vezes apontado como um exemplo de insustentabilidade. Por Inês Ajuda
Foi neste contexto que a Global Farm Platform (GPF) foi formada. Esta plataforma tem como objetivos promover a partilha de conhecimento sobre sustentabilidade na produção animal, ajudando a encontrar soluções viáveis para tornar o sector mais sustentável. A GFP promove boas práticas em diferentes partes do globo, que podem ser especificas ou não para determinada região. A GFP organizou no passado mês de outubro o seu primeiro congresso sobre sustentabilidade na produção animal (Steps to Sustainable Livestock). O congresso deu origem a uma grande partilha de informação e promoveu discussões fulcrais sobre
o significado da palavra sustentabilidade para o sector da produção animal, bem como os próximos passos a seguir para tornar o sector mais sustentável. Avaliar a sustentabilidade da produção animal foi um dos temas mais discutidos no congresso, uma vez que está longe de existir um consenso entre especialistas. Existem vários indicadores que podem ser utilizados para fazer a avaliação da sustentabilidade de um determinado tipo de produção, desde a quantidade de solo ou água utilizada, à proteína originada por quilo de matéria seca consumida. Harinder Makkarda da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) falou sobre os múltiplos desafios que a organização tem na avaliação da sustentabilidade da produção animal em diferentes partes do globo. Uma das grandes mudanças efetuadas na metodologia utilizada pela FAO, foi a adoção de um maior número de indicadores com um maior detalhe, para tornar a avaliação mais fiável e objetiva, uma vez que é agora reconhecido pela organização que devido à abrangência do tema, é inevitável a inclusão de um maior número de indicadores.
24 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Os ruminantes, mais particularmente os bovinos de carne, foram utilizados ao longo do congresso como um bom exemplo de desmistificação de conclusões erradas sobre a sustentabilidade na produção animal, principalmente devido a uma incorreta escolha de indicadores. A produção de carne de bovino é muitas vezes apontada como insustentável, porque apenas um indicador é utilizado para chegar a esta conclusão (por exemplo, a quantidade de alimento ou de água consumida para produzir um quilo de carne). Vários investigadores no congresso demonstraram que ao tornar estes indicadores mais detalhados se pode chegar a uma conclusão bastante diferente. Por exemplo, se a quantidade de alimento utilizada para produzir um quilo de carne de bovino for na sua maioria pastagem, apesar de um bovino de carne necessitar de mais alimento para produzir um quilo de carne, do que por exemplo um porco, o tipo de alimento que este vai consumir nunca poderia ser consumido diretamente por um humano, ao contrário dos cereais que um porco necessitaria de consumir para produzir carne. Logo, apesar de comer mais, o bovino estará a aproveitar um tipo de alimento que
de outro modo não seria diretamente utilizado pelos humanos, fazendo um aproveitamento sustentável dos recursos naturais. Este e outros exemplos de produção sustentável só poderão ser aplicados no sector de produção de bovinos de carne se existir abertura para a utilização de sistemas que tenham como base a pastagem. Os sistemas de bovinos em pastoreio são um bom modelo de produção sustentável. As diferentes indústrias estão a trabalhar para adotar metodologias mais sustentáveis e o sector da produção animal não deve ser a exceção. A medição mais precisa da sustentabilidade ajuda não só à desmistificação de várias conclusões erradas sobre o sector, como também ajuda a perceber a direção que o sector deve tomar para se tornar mais sustentável, tornando-se assim menos vulnerável às dificuldades futuras que possam advir da escassez de recursos e de um maior exigência relativamente aos padrões de sustentabilidade.
MAIS INFORMAÇões Para mais informações sobre a Global Farm Platform: www.globalfarmplatform.org
Alimentação
pedro castelo Engº agrónomo, reagro sa. pedro.castelo@reagro.pt
Engordas de bovinos modelo alternativo Neste artigo irei descrever um modelo possível de engorda de bovinos (em pastagem) que acompanhámos noutros países através de parceiros internacionais, e que atualmente começamos a utilizar tanto nos Açores como em Portugal continental.
figura 1 Previsões de crescimento da população mundial até 2050 (Fonte: Nações Unidas, Projeção da população mundial, 1998). 9
América do Norte Europa América Latina e Caribe África Subsariana África do Norte / Oeste Asiático Ásia e Oceania
8 7 6 5 4 3 2
atualmente ainda estamos em desvantagem com muitos países onde se produz a um custo inferior, devido a vários fatores. Neste artigo irei descrever um modelo possível de engorda de bovinos (em pastagem) que acompanhámos noutros países através de parceiros internacionais, e que atualmente começamos a utilizar tanto nos Açores como em Portugal continental. Faz todo o sentido analisar um sistema destes, uma vez que em Portugal existe um grande número de produtores cujo tipo de explorações permite optar por este sistema de produção, tendo como principal
26 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
2050 -2054
8
2040
2020
7
-2028 2030
6
2010 -2013
1980
1970
-1987 1990 5
9
objetivo reduzir custos alimentares. Em condições mediterrâneas de sequeiro a curva de produção é bastante irregular, sendo escassa ou nula no outono, inverno e verão, ao passo que na primavera normalmente apresenta um crescimento elevado (figura 3). Pelo contrário, em condições de regadio a produção de pastagem no outono não está dependente das primeiras chuvas, o que garante uma maximização da produção durante o período no qual as temperaturas ainda
figura 2 Área global destinada à produção agricultura. Diminuição Mil milhões de hectares
4
-1999 2000
Milhares de Milhões: 3
-1974
1960
1 0
1950
População (Mil milhões)
Como é do conhecimento de todos atravessamos uma fase menos favorável devido aos baixos preços pagos aos produtores, tanto na produção de carne de bovino como na de leite. No entanto, há uma forte possibilidade de que o contexto do setor poderá ser positivo devido à previsão do crescimento populacional. Estima-se que a população poderá chegar aos 9 000 milhões de habitantes, o que representa um crescimento de cerca de 30% até 2050, sendo esse crescimento essencialmente devido a um aumento populacional na Ásia e África (figura 1). Como consequência desse crescimento prevê-se um aumento do consumo de carne e de produtos de origem animal. Contudo, é fundamental apostar numa melhor eficiência alimentar uma vez que a área destinada à agricultura tem decrescido desde 1998 (figura 2). Além disso há que procurar sempre produzir produtos de qualidade que sejam valorizados pelo mercado. Por outro lado, ao comparar produto a produto,
5,0
1998-2011
Decréscimo
4,9 4,8 4,7 4,6 4,5 4,4 1961 1966 1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011
Alimentação
figura 3 Curva de crescimento de pastagem em condições mediterrâneas de sequeiro. a) quando a ocorrência de precipitação acontece em quantidades significativas, cedo na estação (início de setembro). b) quando as primeiras chuvas com alguma expressão só acontecem mais tarde.
a)
75
50
140
Crescimento diário (Kg MS/ha-1/dia-1)
Crescimento diário (Kg MS/ha/dia)
10,0
figura 4 Curva de crescimento de pastagem em condições mediterrâneas de regadio.
25
b) 0 Outono
Inverno
Primavera
105
70
35
0
Verão
Outono
Inverno
Primavera
Verão
tabela 1 Arraçoamento de engordas na pastagem.
Engordas na Pastagem 200-400 kg Peso Vivo Custo por Animal/Dia= 1,05 €
120 €/animal
0,60 €/kg Crescimento
Quantidade Distribuida Preço (€/ton)
Matéria-Prima
Pastagem
50,00
Nucleo Crescimento Pastagem Total
Kg MB
MS
32,61
4,32
Características Nutricionais (/Kg MS) MS
UFL
20,00
0,82
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
P g
120,00
103,00
50,00
5,60
4,00
250,00
4,00
3,52
87,91
1,18
98,36
119,76
59,12
13,18
3,55
-
36,61
7,84
30,61
0,98
110,29
110,52
54,09
9,00
3,80
MB – Matéria Bruta; MS – Matéria seca; UFL – Unidade de expressão do valor energético dos alimentos (Unité Forragère Lait); UFV – Unidade de expressão do valor energético dos alimentos (Unité forragère viande – Carne); PDI - sistema que classifica, quantifica as proteínas digestíveis no intestino delgado; PDIN - proteína verdadeira absorvível no intestino delgado, quando a energia é limitada no rúmen; PDIE - Proteína verdadeira absorvível no intestino delgado, quando o azoto é limitado no rúmen; PDIA – Representa a quantidade de proteínas alimentares não degradáveis no rúmen e disponíveis ao nível intestinal (by-pass); Ca – Cálcio; P – Fósforo.
são favoráveis ao crescimento da pastagem. O mesmo se passa no verão, particularmente nas zonas do interior, onde as temperaturas poderão ser excessivamente elevadas para as gramíneas, mas a produção de pastagem poderá ser elevada, principalmente devido à contribuição das leguminosas (figura 4). Relativamente ao programa alimentar, neste artigo é apresentado um arraçoamento adaptado a animais (após o desmame) na pastagem de primavera, considerando animais de genética melhorada, como por exemplo os cruzados de charolês ou limousine. Como a composição e o valor nutricional das pastagens variam ao longo do ano, o alimento concentrado foi adaptado a um valor
28 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
de referência para as pastagens na primavera. Além disso, a grande maioria dos partos das vacas em sistema extensivo em Portugal ocorre entre setembro e janeiro, o que torna possível ter animais com 5-6 meses na primavera, prontos para usufruir da pastagem. A análise foi efetuada através de um arraçoamento para animais dos 200 aos 400 kg de peso vivo, com um crescimento médio diário de pelo menos 1550 g, ao longo de 4 meses na pastagem (tabela 1). No que diz respeito à pastagem, considerámos valores nutricionais que facilmente se encontram em Portugal. Em relação aos preços para a pastagem (10 €/ton matéria seca) e para o alimento concentrado (250€/ton) foram considerados
tabela 2 Balanço azotado do arraçoamento. Balanço Azotado
Arraçoamento Unidade
Proteina Bruta
% MS
15,20
PDIN
g/Kg MS
110,29
PDIE
g/Kg MS
110,52
PDIA
g/Kg MS
54,09
DT
%
67,77
g/dia
865,00
Total PDIE/Animal/dia
g/dia
866,00
Necessidades PDI
Kg/dia
710,00
Total PDIN/Animal/dia
Alimentação
preços atuais de mercado. Numa primeira fase pode-se afirmar que é possível ter um bom nível nutricional e consequentemente, um bom crescimento dos animais com um custo alimentar interessante de 0,60 € por kg de crescimento. No que diz respeito à proteína (tabela 2), o arraçoamento satisfaz as necessidades nutricionais para o objetivo de crescimento proposto. No que concerne à energia (tabela 3), o nível energético do arraçoamento está correto assim como os níveis de amido, açúcares e glúcidos rápidos (energia rapidamente fermentescível no rúmen, necessária à população microbiana). Em relação aos teores de fibra (tabela 4), o arraçoamento contem níveis adequados que possibilitam uma boa valorização alimentar por parte do animal. Com o objetivo de mostrar o balanço técnico deste modelo alimentar, apresentamos na tabela 5, os níveis de crescimento possíveis com este perfil nutricional, tanto a nível energético como proteico.
tabela 3 Balanço energético do arraçoamento. Balanço Energético
tabela 4 Balanço de fibra do arraçoamento. Arraçoamento
Balanço de Fibra
Unidade
UFV Total UFV/Animal/dia
Arraçoamento
Unidade
UFL/Kg MS
0,98
MS
%
30,61
UFL/Animal/dia
7,68
Fibra Bruta
% MS
15,22
UF
6,80
NDF
% MS
36,94
Necessidades UFV Amido
% MS
24,73
ADF
Amido + Açucar
% MS
32,00
IF
Glícidos Rápidos
% MS
15,69
Matéria Gorda Bruta
% MS
2,98
Balanço Económico
Arraçoamento Unidade
Arraçoamento
Unidade
GMD permitido por UFV
g/dia
1750
GMD permitido por PDIN
g/dia
1890
GMD permitido por PDIE
g/dia
1890
GMD limitante
g/dia
1750
Finalmente, uma análise económica torna-se imprescindível para analisar a importância deste sistema alimentar na engorda de animais na pastagem. Através da observação da tabela 6, pode-se concluir que um custo alimentar de 1,05 €/animal/dia (considerando um animal de 320 kg de peso vivo) e de 0,60 €/kg de crescimento são valores, no mínimo, interessantes.
19,42 32,94
tabela 6 Balanço económico do arraçoamento.
tabela 5 Balanço de eficácia técnica do arraçoamento. GMD permitido por UFV
% MS min/kg MS
Custo alimentar Animal/dia
€/animal/dia
1,05
Custo alimentar por kg crescimento
€/animal/dia
0,60
Custo concentrado por animal/dia
€/animal/dia
0,76
Custo concentrado por kg crescimento
€/animal/dia
0,43
Conclusão Este é um sistema alimentar para qual é necessário um determinado tipo de exploração. Se assim for, penso que poderá ser uma alternativa interessante à engorda de animais. É possível, através deste modelo alimentar, obter um produto de qualidade com características físicas e organolépticas indiscutíveis. No entanto, é importante ter acompanhamento de um técnico para garantir que o produto, além de ser produzido a um preço interessante, contenha características que vão ao encontro do que o consumidor procura.
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C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
CICLO
600
CICLO
CICLO
600
CICLO
500
400
BERMEO
CARELLA
ALMAGRO
ATLAS
Grande potencial de produção de silagem
Rendimentos excepcionais
Peso e secagem numa só variedade
Grande qualidade de grão com elevado peso específico
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ruminantes abril . maio . junho 2016 29
atualidades
2º Encontro Técnico de Produção de Leite por ruminantes
Organizado pela Serbuvet, o segundo Encontro Técnico de Produção de Leite teve a casa cheia com a presença de mais de 220 produtores e técnicos. Apesar de o ambiente em torno do negócio do leite não ser o melhor, os intervenientes deste sector marcaram presença sugestionados pelo interesse do programa. necessário que os produtores façam análises do mercado, e projetem a produção de leite, os resultados económicos e a tesouraria de forma continuada, (...) “O custo de produção será o futuro árbitro”, disse.
Efeitos das Interações Sociais na Performance no Periparto e Problemas e Soluções no Período de Transição
Perspetivas do mercado mundial do leite A primeira intervenção deste encontro, sob o tema “Perspetivas do mercado mundial do leite”, coube a Marc Piera, do Centro Veterinário de Tona. Citando números da FAO, este veterinário referiu que a produção mundial de leite tem vindo a crescer desde 2003, altura que que este organismo começou a registar os dados da produção leiteira mundial, passando de pouco mais de 600 milhões de toneladas para cerca de 800 milhões de toneladas em 2015. Nesse ano, a produção europeia representou um quinto da produção mundial. Logo a seguir na lista de maiores produtores, vêm a Índia e os EUA, respetivamente com 18,4 e 12%. Portugal representa 1,2% da produção europeia e 0,2% do
A equipa da Serbuvet
total mundial. Como principais conclusões à sua intervenção, o veterinário de Tona referiu que o excesso de oferta e a fraca procura mundial de leite, aliados ao baixo preço do petróleo e à recuperação dos stocks de produtos lácteos, fazem pensar que o preço do leite não vá ser o motor económico das explorações nos próximos meses. Na sua opinião, “o custo de produção será o fator que ditará a continuidade das explorações agrícolas, assim como a tendência de crescimento das explorações será uma ajuda para o caminho da eficiência”. Referiu ainda que a tendência da quebra dos preços das matérias primas ajudará a manter as margens do negócio do leite. Por fim, concluiu: É
30 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Ricardo Chebel, da Universidade da Flórida, falou sobre “Efeitos das Interações Sociais na Performance no Periparto” e dos “Problemas e Soluções no Período de Transição”. Explicou como a lotação e a dominância afetam a “sobrevida” dos animais e como o risco de doenças (infeções) é mais provável em vacas dominantes e com muitos conflitos (interações). Relativamente ao segundo tema, referiu que se não se investir no período seco, não existirá retorno. “Secar uma vaca gorda vai dar problemas, vacas com baixa produção devem ser cobertas cedo”, concluiu.
Controlo de mamites: novas soluções para um velho problema Luís Pinho (especialista em qualidade de leite), a convite da HIPRA, palestrou sobre as novas soluções no controlo de mastites. Foram evidenciados os custos associados a mastites, tendo sido apresentadas diferentes estratégias de
prevenção, nomeadamente a eficácia da vacinação.
Otimização da produção de Milho para Silagem João Coimbra, produtor de milho grão, falou acerca da “Otimização da produção de Milho para Silagem, no aspeto agronómico da cultura e de toda a gestão que fazem na exploração que definiu como uma gestão de precisão em todos os aspetos – agronómica, contabilística, fiscal, apoios públicos, comercialização com garantias, condições de trabalho...” “A produção de leite aos olhos dos consumidores” e “Estratégia e Liderança” foram dois dos temas apresentados na segunda parte deste encontro por Pedro Moreira, Professor no ISCTE. Na sua abordagem a estes temas, explicou que o problema dos produtores de leite não é diferente do problema dos hoteleiros do Algarve, no sentido em que a produção está muito pulverizada, “a indústria está, basicamente, em situação de monopólio, e a distribuição em duopólio”. Para resolver este assunto a produção terá que “crescer”, ou em hierarquia ou em rede, referiu. Esta última obrigará a que os produtores confiem uns nos outros, (algo que, na sua opinião, será difícil na cultura portuguesa), ou então a arranjar um líder que tenha a confiança de todos.
economia
Quando se vai inverter esta situação?
observatório das matérias primas por Paulo Costa e Sousa
Felizmente, no mundo das matérias primas há poucas alturas tão aborrecidas como esta, até mesmo os que condenavam a volatilidade sentem agora saudades deste fenómeno tão inerente à própria existência de um mercado. Estamos num período realmente estranho porque, embora as matérias estejam a preços historicamente muito baixos, isso não se traduz num período de maior rentabilidade, muito pelo contrário, vejam-se as manifestações dos produtores de produtos pecuários, um pouco por toda a parte, reivindicando ajuda estatal para a crise do sector. Quer nos cereais, quer nas proteínas, um nível alto de stocks conjugado com uma procura fraca e uma boa colheita, tudo envolvido por um contexto macroeconómico débil, determinaram uma espécie de tempestade perfeita em que não se vislumbra um fim. Parece que os preços não param de deslizar, pontualmente repontam um par de euros, num dia de câmbio menos favorável, para logo afundarem alguns dias depois; sim, porque os preços parecem variar mais com o euro/usd do que com os movimentos das bolsas em dólares, já que essas têm tido volatilidades e
amplitudes muito reduzidas. Este fenómeno de deslize de preços, e pouca variação dos mesmos, deu tempo aos produtos pecuários para acompanhar e estabelecer um diferencial reduzido de rentabilidade, onde mais uma vez se prova que a volatilidade é amiga da rentabilidade, porque além de gerar oportunidades aos que a souberem ler melhor, dá menos tempo aos produtos finais para se ajustarem a um nível determinado de preços de matérias primas. Que fazer então neste ambiente, em que apesar disto os preços dos produtos pecuários também estão numa baixa histórica? O comprador tem duas opções, e neste ambiente será difícil escolher qual a mais certa: • Navegação à vista sobretudo depois de me ter equivocado já tantas vezes em compras que sempre se revelaram menos boas, e como não se vislumbra grande alteração da conjuntura, não necessito de tomar uma posição hoje, vou comprando à medida das necessidades e fico com uma certeza, estou sempre a comprar a mercado. • Comprar ao prazo mais largo possível - à medida que os preços estão aos níveis históricos mais baixos dos últimos 10 ou
32 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
15 anos, a probabilidade de que subam por algum fenómeno normal é na verdade muito grande. O que pode melhorar quando tudo está bem? Pouca coisa. E o que pode piorar? Tudo. Então, o comprador mais amigo de tomar risco a diferido pode partir deste princípio e entrar nesta dinâmica. Quem tem razão? Mais uma vez se aplicará a máxima futebolística de que prognósticos só no fim do jogo, com uma diferença importante, este jogo não tem fim. O que têm feito alguns compradores de maior volume por essa Europa? Tomam uma espécie de atitude mista, diversificando ao máximo possível, compram uma parte do seu consumo ao prazo mais largo que consigam, deixando ainda por comprar uma parte, que vai cobrindo a pouco e pouco e à medida das necessidades. E, no caso das proteínas, compram ainda uma parte em prémios e outra em preço fixo, de modo a ter um portfólio de compra o mais variado possível; uma vez que o rumo é incerto, um dos caminhos, ou vários, poderão ter sucesso. Como pode tudo isto parar? Obviamente qualquer fenómeno meteorológico mais ou menos drástico pode afetar a oferta, inundações, secas, o el Niño, la Niña etc. Os fundos
financeiros encontrarem outros mercados e resolverem sair do seu atual curto poder, também pode determinar uma subida das bolsas. No caso da Europa, alguma medida que possa afetar a relação do euro, especialmente com o dólar, pode determinar alguma subida das matérias primas de modo indireto. Uma diminuição drástica das áreas semeadas ou ainda, e mais provavelmente, uma forte retenção de mercadoria por parte dos agricultores espalhados duma forma geral pelos países exportadores, uma vez que a estes níveis de preço também a sua rentabilidade está ameaçada. Embora não se veja para já nada que possa adivinhar uma mudança próxima estamos em acreditar, por senso comum e probabilidade estatística, que ela virá, é uma questão de tempo, e provavelmente quando vier determinará uma subida drástica e rápida em vez de uma subida gradual. Essa parece ser a grande questão - quando se vai inverter esta situação - um mês, três, seis, uma ano, mais? ou melhor, daqui a quantas colheitas, uma, duas, três ou mais? Adivinhar não é fácil, e também pode não sair barato, por isso há que estar atento, definir uma estratégia e cumpri-la em tempo e forma.
2 a 6 Jan
150 9 a 13 Maio
300 450
400 300
250
250 200
200 150
100
23 a 27 Maio
9 a 13 Maio
25 a 29 Abr
11 a 15 Abr
28 a 1 Abr
7 a 11 Nov
5 a 9 Dez 19 a 23 Dez
5 a 9 Dez 19 a 23 Dez
24 a 28 Out
21 a 25 Nov
10 a 14 Out 24 a 28 Out
10 a 14 Out
7 a 11 Nov
26 a 30 Set
26 a 30 Set
21 a 25 Nov
29 a 2 Set 12 a 16 Set
Preços médios semanais no porto de Lisboa de 2011 a 2016
29 a 2 Set
Evolução do preço de matérias primas
12 a 16 Set
1 a 5 Ago 15 a 19 Ago
1 a 5 Ago 15 a 19 Ago
4 a 8 Jul 18 a 22 Jul
4 a 8 Jul 18 a 22 Jul
6 a 10 Jun
350
20 a 24 Jun
bagaço girassol
6 a 10 Jun
€/ton
20 a 24 Jun
23 a 27 Maio
350
25 a 29 Abr
€/ton
11 a 15 Abr
bagaço colza 12 a 16 Mar
200
28 a 1 Abr
250
12 a 16 Mar
170
150 13 a 17 Fev
190
27 a 2 Mar
210
27 a 2 Mar
270
30 a 3 Fev
500
13 a 17 Fev
550
290
30 a 3 Fev
310
16 a 20 Jan
250
2 a 6 Jan
19 a 23 Dez
5 a 9 Dez
21 a 25 Nov
7 a 11 Nov
24 a 28 Out
10 a 14 Out
26 a 30 Set
12 a 16 Set
29 a 2 Set
15 a 19 Ago
1 a 5 Ago
18 a 22 Jul
4 a 8 Jul
20 a 24 Jun
6 a 10 Jun
23 a 27 Maio
9 a 13 Maio
25 a 29 Abr
11 a 15 Abr
28 a 1 Abr
12 a 16 Mar
27 a 2 Mar
13 a 17 Fev
30 a 3 Fev
€/ton
16 a 20 Jan
2 a 6 Jan 16 a 20 Jan
milho
2 a 6 Jan
19 a 23 Dez
5 a 9 Dez
21 a 25 Nov
7 a 11 Nov
24 a 28 Out
10 a 14 Out
26 a 30 Set
12 a 16 Set
29 a 2 Set
15 a 19 Ago
1 a 5 Ago
18 a 22 Jul
4 a 8 Jul
20 a 24 Jun
6 a 10 Jun
23 a 27 Maio
9 a 13 Maio
25 a 29 Abr
11 a 15 Abr
28 a 1 Abr
12 a 16 Mar
27 a 2 Mar
13 a 17 Fev
30 a 3 Fev
16 a 20 Jan
2011
2012
economia 2013
2014
2015
bagaço soja 44
2011
2012
2013
2014
2015
€/ton
2016
600
400
450
230
300
350
ruminantes abril . maio . junho 2016 33
economia
observatório do Leite Por Inês Ajuda Fontes: Rabobank, LTO, USDA
34 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
2015 que a produção de leite tem registado um aumento mensal na ordem dos 5%. Este aumento tem sido maioritariamente devido a países como a Irlanda, onde a grande disponibilidade de erva possibilita que o preço da alimentação animal seja mais baixo. Por outro lado, as exportações a nível mundial continuam a aumentar 2% por ano, equivalente a cerca de 1,5 mil milhões de litros de leite. Este aumento continua a dever-se maioritariamente a um aumento da capacidade de compra dos países em
desenvolvimento (a China, por exemplo), cuja produção nacional ainda não tem capacidade de resposta para a procura. Este aumento das exportações só representa 30 % do aumento anual da produção de leite mundial, o que leva a um aumento dos stocks mundiais e impede uma subida do preço do leite pago ao produtor (Figura 1). Os próximos tempos não se afiguram positivos para a indústria dos laticínios, cuja esperança numa maior valorização do preço do leite assenta num pouco provável equilíbrio no mercado global.
10,000
40,000
8,000
32,000
6,000
24,000
4,000
16,000
2,000
8,000 0
0
Balanço do Stock (toneladas)
FIGURA 1 Balanço do stock mundial de leite. Fonte: AHDB.
entrada
saída
Balanço do stock
Jan -16
Dez -15
Out -15
Nov -15
Sep -15
Jul -15
Ago -15
Jun -15
Abr -15
Mai -15
Mar -15
Jan -15
-24,000 Fev -15
-16,000
Dez -14
-4,000 -6,000 Out -14
-8,000
Nov -14
-2,000
Sep -14
uma maior disponibilidade de erva no período de verão. No primeiro trimestre de 2016, a produção de leite na Nova Zelândia foi 3% mais baixa do que em igual período do ano passado, e as previsões apontam para que a produção continue a diminuir entre 7 a 10% , o que retirará do Mercado Mundial até 1,5 mil milhões de litros de leite. Nos Estados Unidos, a produção de leite continua mais direcionada para o mercado interno sendo que devido à recente valorização do dólar, não é esperado um aumento na exportação e, por conseguinte, esta não terá um grande impacto no lucro total da produção norte-americana. Recentemente o Conselho das Exportações de Leite dos Estados Unidos da América, projetou uma descida da exportação de 6,5% para 3,7% para 2016, o que revela uma diminuição de quase 50% na exportação total. A balança da procura e demanda continua desequilibrada no mercado, em parte pelo aumento da produção de leite que se continua a registar na Europa após o cessamento das quotas. Desde março de
Produto que entra/sai (toneladas)
Contrariamente à previsão do último trimestre, o preço do leite ainda não demonstrou subidas, principalmente na Europa. Os principais órgãos de previsão dos preços do leite (AHDB, USDA, Fonterra, entre outros) admitem agora que a melhoria dos preços de leite não se irá concretizar até ao próximo ano. Esta estimativa é contrária à do final do ano passado na qual se previa que os preços subiriam na segunda metade de 2016. A Comissão Europeia prevê mais descidas no preço do leite europeu, não havendo ainda indicações de que a dinâmica do mercado do leite vá melhorar para os produtores. Com a descida contínua, os preços do leite estão agora a metade do que estavam em 2013, levando a que o custo de produção esteja ainda mais perto de igualar o valor pago ao produtor. Na Nova Zelândia a queda da produção de leite está a revelar-se mais lenta do que o que fora inicialmente previsto no final do ano passado. Segundo a Fonterra, esta diminuição mais “suave” poderá estar relacionada com
economia
preço do leite standardizado (1) países
leite à produção Preços médios mensais em 2015/2016 meses
eur/kg
teor médio de matéria gorda (%)
teor proteico (%)
companhia
preço do leite (€/100kg) janeiro 2016
média dos ultimos 12 meses (4)
alemanha
Alois Müller
27,37
28,05
Contin.
Açores
Contin.
Açores
Contin.
Açores
Dinamarca
Arla Foods
28,66
29,08
janeiro
0,320
0,318
3,85
3,57
3,32
3,16
Danone
32,17
32,93
FEVEREIRO
0,316
0,317
3,80
3,52
3,29
3,15
França
Lactalis (Pays de la Loire)
29,30
31,71
MARÇO
0,313
0,313
3,73
3,51
3,27
3,18
Sodiaal
31,68
32,78
ABRIL
0,334
0,306
3,68
3,59
3,24
3,21
Inglaterra
Dairy Crest (Davidstow)
30,65
34,00
maio
0,283
0,306
3,65
3,65
3,21
3,18
junho
0,280
0,305
3,61
3,66
3,26
3,12
julho
0,277
0,289
3,62
3,63
3,17
3,04 3,05
Glanbia
23,99
26,21
Kerry
25,56
27,88
Granarolo (North)
38,29
38,68
AGOSTO
0,278
0,290
3,67
3,65
3,16
DOC Cheese
25,16
26,32
SETEMBRO
0,281
0,297
3,75
3,78
3,23
3,14
FrieslandCampina
28,44
29,71
OUTUBRO
0,283
0,294
3,80
3,89
3,26
3,25 3,24
Irlanda Itália Holanda
Preço médio leite N. Zelândia EUA
2015
28,86
30,34
NOVEMBRO
0,283
0,293
3,85
3,92
3,26
Fonterra
21,22
21,83
DEZEMBRO
0,282
0,297
3,84
3,92
3,24
3,24
EUA (3)
32,16
35,64
JANEIRO
0,283
0,293
3,82
3,88
3,21
3,20
(2)
Fonte: LTO (1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética • (3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
2016
Fonte: SIMA Gabinete de Planeamento e Políticas
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ruminantes abril . maio . junho 2016 35
economia
ÍNDICE VL e ÍNDICE VL-erva “MAIS UM TRIMESTRE E O FUTURO DA PRODUÇÃO DE LEITE NO CONTINENTE PORTUGUÊS CONTINUA EM RISCO” Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores/CITA-A Nuno Marques, revista Ruminantes
Analisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o trimestre de novembro de 2015 a janeiro de 2016. De acordo com os dados do SIMA-GPP (2016) durante o período em análise o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente manteve-se entre os 0,282 e os 0,283 €/kg, enquanto que o preço médio do leite pago aos produtores individuais da Região Autónoma dos Açores se situou entre os 0,293 e os 0,297 €/kg. O preço mais elevado do leite pago aos produtores dos Açores deve-se a uma política de investimento em produtos de maior valor acrescentado por parte da indústria transformadora açoriana, associada a uma maior e melhor publicitação dos mesmos junto dos consumidores. Estas ações, também, abrem portas para a exportação de leite e produtos lácteos para o mercado dito da saudade, ou seja, onde a comunidade emigrante açoriana se faz sentir com maior preponderância (América do Norte). Paralelamente, há que realçar a ação mais interventiva das Associações de Lavradores dos Açores junto do poder local e a sua maior capacidade negocial com a indústria transformadora do leite, fundamentalmente, em São Miguel. De realçar que o preço pago pelo leite nos Açores não se reflete de igual modo em todas as ilhas, sendo São Miguel a ilha, com maior produção leiteira, em que os produtores conseguem melhor preço. Esta situação tem vindo a influenciar de forma positiva o valor médio regional disponibilizado pelo SIMA-GPP.
De acordo com dados do MMO (2016), a média de preços do leite pago ao produtor no período de novembro de 2015 a janeiro de 2016 foi muito inferior em Portugal (0,287 €/kg) relativamente à média europeia (UE28) (0,303 €/kg). As principais matérias-primas que entram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram uma redução de preços relativamente ao trimestre anterior. Esta situação traduziuse numa redução do preço do alimento composto de 5,21% no continente e de 3,59% na Região Autónoma dos Açores. A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em janeiro de 2016 foi, respetivamente, de 1,611 e de 2,198. De referir que em janeiro de 2015 o Índice VL havia sido de 1,700 e o Índice VL - ERVA de 2,288. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira, um índice entre 1,5 e 2 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável e um índice maior do que 2 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,565 em novembro pelo que se pode concluir que os produtores de leite do continente se encontram num momento difícil, muito penalizador para o sucesso económico das explorações.
Evolução do Índice VL e Índive VL-erva de janeiro de 2015 a janeiro de 2016 Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais do preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo. últimos 13 Meses
2015
2016
Índice VL
Índice VL ERVA
janeiro
1,700
2,288
fevereiro
1,686
2,294
março
1,676
2,269
abril
1,787
2,252
Maio
1,540
2,285
Junho
1,515
2,272
Julho
1,454
2,098
agosto
1,491
2,099
setembro
1,519
2,168
outubro
1,586
2,206
Novembro
1,565
2,130
Dezembro
1,605
2,227
1,611
2,198
Janeiro
Evolução do Índice VL
O Índice VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia) (Rodrigues et al., 2013). Valor do Índice VL
36 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
2,0
Valores do Índice VL
DE JULHO DE 2012 A JANEIRO DE 2016
1,5
1,0 julho 2012
Limiar de rentabilidade
janeiro 2016
Negócio saudável
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
economia
Evolução do Índice VL-erva DE JULHO DE 2013 A JANEIRO DE 2016 O Índice VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/ dia de pastagem verde, 23,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado) (Rodrigues et al., 2014).
notas: Em janeiro de 2016, o preço do leite pago aos produtores do continente foi muito inferior (0,283 €/kg) ao preço de janeiro de 2015 (0,320 €/kg). O mesmo ocorreu com o preço pago aos produtores individuais da Região Autónoma dos Açores que passou de 0,319 €/kg em janeiro de 2015 para
Valores do Índice VL Erva
3,0
2,0
1,5
1,0 julho 2013
janeiro 2016
Valor do Índice VL - erva Negócio saudável
0,293 €/kg de leite em janeiro de 2016; A diminuição do preço das principais matérias-primas que entram na formulação dos alimentos compostos contribuiu para a redução do preço dos alimentos compostos formulados para o cálculo do Índice VL (-5,21%) e Índice VL – ERVA (-3,59%); De um modo geral, os preços dos
Limiar de rentabilidade
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar não apresentaram, no trimestre em análise, diferenças representativas relativamente ao trimestre anterior; Os 3 aspetos anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em janeiro de 2016 foram, respetivamente, de 1,611 e 2,198.
Referências Bibliográfia: Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas os autores disponibilizam bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.
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ruminantes abril . maio . junho 2016 37
atualidades
A HIPRA patrocinou III Seminário da Segalab Ao encontro da produção de leite No passado dia 12 de fevereiro, a HIPRA marcou presença no seminário “Ao encontro da produção de leite” organizado pela Segalab, para produtores de leite, no espaço AGROS. Carla Azevedo, da HIPRA EMEA & CIS abordou o tema “Mastites: o que sabemos do retorno económico da vacinação” para uma audiência de cerca de 700 produtores de leite. Esta apresentação enquadra-se no âmbito da inovadora vacina da HIPRA para a prevenção de mastites. Foi apresentado um estudo de campo de 2015 que demonstra um retorno ao investimento da vacinação na relação de 2.6:1, reforçando a mais valia económica na inclusão da vacinação num programa de qualidade de leite. Esta parceria entre a HIPRA e a Segalab reforça o posicionamento da HIPRA como referência na prevenção da saúde animal e consolida o seu empenho em contribuir para a formação e apoio técnico dos produtores de leite.
Prevenção de IBR em bovinos - HIPRA lança inovadora vacina viva HIPRA patrocinou VIII Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora Em março último, a HIPRA marcou presença nas VIII Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora, patrocinando uma palestra sobre “Desafios num programa de erradicação de IBR: a realidade espanhola” e um workshop com o tema “Medicina de Produção em Feedlots”. Na palestra, Ignacio Arnaiz Seco, do Laboratório de Sanidade e Produção Animal da Galiza, partilhou a sua experiência com o plano de controlo de IBR, que decorre na zona da Galiza, reforçando a necessidade de formação, diagnóstico, biossegurança e utilização de vacinas para IBR marcadas. O workshop, que decorreu no Centro de Recria e Testagem da Raça Mertolenga, esteve a cargo do
38 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Juan Pineda Bosh, Consultor Liberal em Medicina de Produção em Bovinos. Com inscrições limitadas, este evento superou as expectativas de participação contando com cerca de 25 médicos meterinários que tiveram a oportunidade de adquirir conhecimentos sobre como auditar uma exploração de engorda intensiva e avaliar as possíveis soluções para melhor gerir a exploração, aumentando a sua rentabilidade. Esta parceria entre a HIPRA e o HVME reforça o posicionamento da HIPRA como referência na prevenção da saúde animal, consolidando o seu empenho em contribuir para a formação técnica de médicos veterinários e produtores de carne.
A HIPRA apresentou recentemente em Portugal uma vacina inovadora que marca uma nova tendência no controlo de IBR. Para além de possuir uma elevada concentração antigénica, esta é a única vacina, a nível mundial, que possui uma dupla deleção genética (gE- e tk-) que permite conjugar eficácia, segurança e estabilidade, indo de encontro aos requerimentos de um programa de controlo e/ou erradicação de IBR. Associada à nova vacina, a HIPRA oferece um inovador serviço de diagnóstico, o Seromilk Marker, ferramenta essencial para o diagnóstico, controlo e monitorização de IBR no leite de tanque. Para o lançamento destas novidades, a HIPRA organizou um evento técnico de referência “Novas tendências no controlo de IBR”. A apresentação contou com a participação de duas peritas de renome internacional — Jet Mars, Animal Helth Center, Holanda, e Adelaide Pereira, Segalab, Portugal, que abordaram a temática nas suas diferentes áreas. Neste evento estiveram presentes mais de 70 veterinários que tiveram a oportunidade de atualizar e debater os conhecimentos sobre o controlo e monitorização de IBR. Com o lançamento desta vacina, a HIPRA consolida a sua posição como referência na prevenção, lançando no mercado produtos diferenciados e inovadores para a saúde animal. MAIS INFORMAÇÃO Contacte: deolinda.silva@hipra.com
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Vitelos: o INÍCIO da rentabilidade da sua exploração A diarreia é uma manifestação clínica comum em vitelos e que leva a uma perda económica significativa nas explorações pecuárias, assumindo um papel de extrema importância com a progressiva intensificação, devido aos seus efeitos a curto e longo prazo. A diarreia é definida como um incremento da frequência, fluidez ou volume das fezes e pode ser um sinal de uma doença primária do sistema digestivo, ou uma resposta não específica a toxemia, septicemia ou doença de um outro órgão ou sistema. É uma doença complexa e multifatorial em que ocorre uma interação entre o animal, o meio envolvente e os agentes infeciosos.
De acordo com a sua origem, a diarreia poderá ser de origem alimentar ou infeciosa. No caso das diarreias infeciosas, estas são causadas por bactérias, tais como Escherichia coli (E.coli) e Salmonella spp., vírus, como rotavírus, coronavírus e vírus da diarreia viral bovina, e protozoários como Cryptosporidium parvum (C.parvum) e Giardia duodenalis (G. duodenalis).
figura 1 Fatores predisponentes da diarreia neonatal em vitelos.
40 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Destes agentes apresentados, E. coli, rotavírus, coronavírus e C. parvum são responsáveis por cerca de 75 a 95% das infeções nos vitelos com menos de um mês de idade. As diarreias alimentares ocorrem de forma abrupta e sem sinais clínicos evidentes e geralmente são causadas por erros no maneio alimentar de vitelos em aleitamento (leite estragado, má diluição do leite de substituição,
quantidade inadequada de leite, temperatura do leite, mudanças bruscas de dieta,…).
Importância da hidratação em vitelos com diarreia Seja qual for o agente causal, as diarreias geralmente resultam numa grande perda de água e eletrólitos, podendo causar danos na mucosa intestinal. A água é o principal nutriente para o organismo, sendo que o corpo do recém- nascido é composto por 70% - 75% de água, tendo esta um papel essencial na manutenção do bom funcionamento de todos os sistemas do organismo. Assim, a manutenção do balanço de eletrólitos nos fluidos e tecidos do corpo tem uma grande importância porque afeta o metabolismo do animal. Na maioria dos casos de diarreia, a morte do vitelo acontece por
Alimentação
Sem desidratação • Vitelos em estação • Alerta • Forte reflexo de sucção
figura 2 Representação da relação entre a percentagem de desidratação e os sinais clínicos exibidos pelos animais (adaptado de Wattiaux M. A. 2005).
Desidratação ligeira (5-8%) Desidratação moderada (8-12%)
• Vitelo em estação • Deprimido • Fraco reflexo de sucção
• Vitelo em decúbito esternal • Deprimido • Sem reflexo de sucção
Desidratação severa (12-15%) • Vitelo em decúbito lateral • Deprimido • Sem reflexo de sucção
Morte (> 15%) desidratação e perda de eletrólitos, e não diretamente por ação do agente infecioso. A manutenção do balanço de água e de eletrólitos é um fator crítico para a sobrevivência do vitelo.
Gama STARTER A diarreia afeta os vitelos principalmente nas primeiras semanas de vida, sendo responsável por grandes perdas económicas, não só pela mortalidade, mas também pelos custos com medicamentos e mão-deobra para tratar os animais afetados. Para além disso, existem ainda perdas económicas indiretas que não devem ser descuradas, como o aumento da morbilidade a outras patologias por quebra imunitária, a diminuição do ganho de peso diário, o aumento da idade ao primeiro parto, entre outros, levando a que a ocorrência de diarreias gere consequências negativas na futura vida produtiva do animal. Tendo em conta o impacto que as diarreias neonatais
têm nas explorações de bovinos, o Grupo Roullier, através da sua filial Hypred, criou uma gama de produtos com o objetivo de ajudar os produtores a conseguirem um adequado desenvolvimento dos vitelos: a GAMA STARTER. De seguida, apresentamos 5 produtos desta gama: COLOFEED, HYDRAFEED, HYDRAFEED GEL, DIAFEED e DIGESFEED.
COLOFEED O COLOFEED é um complemento do colostro para vitelos qua fortalece a imunidade passiva do animal, graças ao colostro de bovino IBR negativo e a imunoglobulinas de ovo. Os ácidos gordos esterificados fornecem energia rapidamente assimilável e os oligoelementos quelatados garantem uma maior biodisponibilidade. Indicado para administrar a vitelos cujas mães têm instintos maternais diminuídos, que sejam filhos de novilhas com colostro de pior qualidade, quando há incerteza se o vitelo tomou o colostro ou não, e sempre que seja necessário melhorar a imunidade do vitelo.
O COLOFEED apresenta-se sob a forma de gel numa seringa.
HIDRAFEED e HYDRAFEED Gel O HYDRAFEED e o HYDRAFEED Gel são rehidratantes orais que têm como objetivo estabilizar o equilíbrio hídrico e electrolítico em situações de diarreia e fornecer energia rapidamente assimilável ao animal. Indicado para situações de diarreias secretoras, em que não há destruição da mucosa intestinal. O HYDRAFEED apresenta-se sob a forma de pó solúvel para diluir em água e o HYDRAFEED Gel apresenta-se sob a forma de um gel numa seringa.
DIAFEED e DIGESFEED O DIAFEED e o DIGESFEED são rehidratantes orais que têm como objetivo estabilizar o equilíbrio hídrico e electrolítico em situações de diarreia e fornecer energia rapidamente assimilável ao animal. Acrescentam à sua composição protetores da mucosa intestinal e
estimulantes da flora digestiva, sendo indicados para diarreias exsudativas, em que há comprometimento da mucosa intestinal. O DIAFEED apresenta-se sob a forma de pó solúvel para diluir em água e o DIGESFEED apresenta-se sob a forma de gel numa seringa.
Sendo a recria a base de qualquer exploração de bovinos, os vitelos representam o futuro e a rentabilidade de uma exploração. Neste contexto, temos de otimizar o arranque dos vitelos, desde o nascimento, de forma a melhorar e maximizar o potencial do animal. A gama STARTER é assim uma ferramenta para o produtor conseguir vitelos mais robustos e saudáveis. A Hypred continua a defender uma busca permanente de novas e mais adequadas soluções para os seus clientes.
Nota Para mais informações e esclarecimentos, não hesite em contactar o técnico Hypred mais próximo de si.
ruminantes abril . maio . junho 2016 41
Produção
Genética de bovinos com provas dadas em condições naturais Nuno Marques, engenheiro agrícola e proprietário da Herdade da Parreira (Ciborro, Montemor-o-Novo), deu-nos a conhecer o seu negócio de bovinos de carne e o seu novo projeto: produzir reprodutores Limousine e Angus, à medida dos clientes, e cujas condições de vida são semelhantes às condições em que são criados os bovinos de cruzamento industrial da exploração. POR RUMINANTES
Com um trabalho de cerca de 30 anos na área da agricultura de conservação (sementeira direta). Nuno Marques é um adepto rendido a este tipo de agricultura desde o tempo da Universidade e da altura em que contactou com a agricultura sul-americana. Apesar desta ligação com a agricultura, a escolha por enveredar por este caminho
não foi emocional. Prova disso são as produções elevadas que no último ano deram origem a mais de 6000 kg de trigo por hectare, e a maximização do pasto que neste momento possui a capacidade de ter animais logo após 5 dias de ter chovido, sem que isso tenha impacto no solo ou na qualidade da
42 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
pastagem (ver caixa para mais informações sobre a gestão desta pastagem). “No total exploramos cerca de 800 hectares, entre a Herdade da Parreira (430), a de Fonte Portas (280) e a do Mirante (80) — que se dividem entre culturas, montado e barragem”, disse-nos Nuno Marques. Em 1972, o seu pai adquirira a Herdade da
Parreira para caça, mas um acidente fez com que ficasse impossibilitado de o fazer e se começasse a dedicar à agricultura. O negócio de produção de forragem, cereais e vacas leiteiras foi, anos mais tarde, continuado pelos filhos e, no ano 2000 o negócio do leite foi reconvertido para produção de carne.
Produção
O objetivo é chegar às 50 vacas puras de cada uma das raças. Quais as raças que a exploração vende e para que fins? A ideia é vender reprodutores puros Limousine e Angus, e produzir carne com o cruzamento industrial do Limousine com Angus. Há quanto tempo iniciou o negócio de produção e venda de reprodutores puros? Começámos há um ano, quando entendemos que tínhamos instalações, maneio e alimento em quantidade e qualidade suficiente para produzir reprodutores. O nosso princípio relativamente aos reprodutores é que eles vivam nesta casa como qualquer outro animal que cá esteja, são tratados da mesma forma, estão sujeitos ao mesmo maneio, e são os que se evidenciam nestas condições que são eleitos para reprodutores. Porquê as raças Limousine e Angus? A raça Limousine foi escolhida porque em Portugal é a mais valorizada, os comparadores pagam mais pelos animais Limousine. O Angus, porque tem um maneio mais fácil que as outras raças, as vacas são mais ciosas dos seus bezerros, são boas mães e a performance dos novilhos na engorda é boa. O que diferencia os reprodutores produzidos na Herdade da Parreira? São reprodutores com origem em sémen e embriões de alta qualidade que importamos. Os protocolos de transferência de embriões (TE) importados e produzidos na exploração são liderados pelo Professor Nestor, da Faculade de Medicina Veterinária de Lisboa
(FMV) e os protocolos de Inseminaçao artificial (IA) são liderados pela Vetagromor. Ao usarmos genética de animais que foram testados em condições de produção reais, sabemos que os nossos reprodutores têm maior probabilidade de transmitir à descendência índices que vão desde a facilidade de parto, fertilidade, capacidade leiteira, até à produção de carne. Acreditamos também que este método permite que os animais evidenciem o seu potencial, uma vez que têm que competir com todos os animais da exploração em condições naturais. O programa de seleção é aplicado nestas condições. Pensamos que desta maneira podemos oferecer reprodutores bem adaptados à vida real e às necessidades de uma exploração comercial de carne. Referiu que utiliza transferência de embriões (TE). Porque tomou esta decisão e como gere este programa na exploração? Este ano vamos fazer 73 transferências para aumentar os números de vacas puras de ambas as raças. O objetivo é chegar às 50 vacas puras de cada uma das raças. Queríamos aumentar o número de vacas puras na exploração e tínhamos duas hipóteses, ou comprávamos novilhas prontas a parir em que o critério principal de seleção fosse “peso” (ao desmame, Ganho médio diário), mas sem registos de história de fertilidade, capacidade leiteira ou facilidade de parto, ou comprávamos embriões de que conhecíamos todos os parâmetros atrás referidos.
ruminantes abril . maio . junho 2016 43
Produção
Decidimo-nos pela última opção. Importámos embriões congelados e produzimos embriões através de uma vaca Limousine que está cá há 7 anos, cujos os filhos têm sido sempre os melhores da exploração, inseminando com sémen de animais no top mundial. O programa de TE é gerido na totalidade pelo Prof. Nestor, sendo o maneio necessário à manutenção do programa assegurado pela nossa equipa. Quais os critérios da seleção que utiliza? Os principais critérios são: que os animais vendidos sejam filhos de mães que parem todos os anos um bezerro (toda e qualquer vaca que não parir um bezerro por ano será automaticamente refugada), e que apresentam um intervalo entre partos de 380 dias. Outro critério é que sejam filhos de pais de inseminação artificial (o que permite que tenham índices conhecidos). Ao venderem estes animais, estes podem ser escolhidos em função de diversos objetivos, e os compradores ficam a saber a probabilidade que têm de transmitir ao rebanho determinada característica. Quantos reprodutores pensa vender por ano? A ideia é vender cerca de 50 machos. Equacionamos também vender novilhas aptas para a cobrição e também já cobertas.
Nuno Marques na Herdade da Parreira.
produzir reprodutores Limousine e Angus, à medida dos clientes Com que periodicidade são pesados os animais? Cada dois meses passam na balança. Que garantias dá dos reprodutores vendidos? O procedimento que adotamos no processo de venda é: inicialmente na visita do potencial comprador à nossa exploração, é escolhido o reprodutor. Posteriormente apresentamos os dados e as principais características que o animal possui, tal como a probabilidade de estas serem transmitidas à descendência. Uma vez tomada a decisão pelo comprador, chamamos o veterinário para fazer o exame andrológico e colher sangue para despiste de IBR e BVD. Se estiver tudo em conformidade, telefonamos ao cliente para vir levantar o animal. Estes procedimentos trazem segurança tanto para o comprador como para nós. Como quer que os seus animais sejam conhecidos? Eu gostaria que fossem conhecidos por “produtos honestos”, ou seja, que cumprem com os requisitos pelos quais foram comprados, melhorando os resultados dos rebanhos para onde vão trabalhar. Em suma, queremos ser conhecidos por produzirmos animais de confiança.
dados gerais da exploração Área Total: 800 ha • 300 ha culturas (incluindo 220 ha de regadio) • 425 ha de montado • 75 ha de barragens Empregados: 5 Parque de máquinas: apenas o da alimentação animal, o resto é por prestação de serviços. Forragens: • 150 ha de azevém x trevo (semeado na primeira semana de setembro, nasce com rega, desde final de outubro e até final de fevereiro é pastoreado sempre que o tempo deixa, depois deixam de entrar animais para em meados de abril ser cortado para silagem e feno-silagem. Depois é regado e volta ao pastoreio em maio e junho). • 32 ha Vicia x Tremocilha x Triticale Efetivo total: 700 cabeças • Vacas à cobrição: 350 • Vacas puras Limousine: 20 • Vacas puras Angus: 10
44 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Produção
MENOS DESPESA E MAIOR RENDIMENTO
Da esq. para a dta.: Joaquim e Susana Carneiro, produtores, com Balbino Rocha, veterinário da exploração.
Em 2006, a exploração J. Carneiro, Lda. situada no concelho de Vila Nova de Famalicão, converteu todo o seu efetivo ao vigor híbrido. A Ruminantes entrevistou Joaquim e Susana Carneiro para saber que balanço fazem desta mudança. POR RUMINANTES
Joaquim Carneiro é produtor de leite desde 1989. Começou com apenas 4 animais e desse tempo até chegar às 100 cabeças que tem atualmente em produção sofreu alguns percalços que o obrigaram a começar de novo mais de uma vez. Desde 2009 é também dirigente da Fagricoop, Cooperativa Agrícola de Famalicão. A exploração J. Carneiro, Lda. está situada em Landim, concelho de Vila Nova de Famalicão, e tem atualmente cerca de 220 animais e 104
vacas em ordenha. Conta com 3 trabalhadores, contando com ele e a sua filha. Está equipada com uma sala de ordenha de 8 pontos. Durante o Inverno, e sempre que o tempo deixa, os animais vão para o campo. Porque recorreu ao vigor híbrido? Que diferença encontra nestes animais? Em 2006 comecei a detetar muitos problemas de fertilidade na vacaria e em agosto de 2012 comecei a usar o vigor híbrido em todo o efetivo. Notei diferenças nítidas. Estes
46 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
animais estão muito mais “vivos”, são mais resistentes e chamo menos vezes o veterinário. Estava cheio de problemas, com a viabilidade económica da exploração muito comprometida, e depois de ver a vivacidade e alegria dos animais Procross na exploração do Casal de Quintanelas decidi avançar com este programa. Porque estava cheio de problemas? Acho que nunca tive cuidado com a genética, o meu critério era o preço, só punha o sémen
mais barato, e talvez por isso pudesse ter ficado com problemas de consanguinidade e todos os problemas que daí advêm. As produções de leite destes animais cruzados são semelhantes às dos Holstein puros? Estes animais não atingem o pico da lactação tão depressa nem é tão elevado, mas têm uma curva de produção muito persistente, estão muito tempo a dar muito leite. São vacas mais constantes e muito
QUAL É A VALIDADE DO PCR COMO FERRAMENTA DE SELEÇÃO DE TOUROS? QUEM O DESENVOLVEU? ProCROSS Ranking foi desenvolvido pelos departamentos genéticos da VikingGenetics, fornecedor das Vikings Vermelhas e Viking Holstein, e da Coopex Montbeliarde, fornecedor dos touros Montbéliarde. Este ranking classifica os touros, a fim de ajudar no emparelhamento das vacas ProCROSS. Devido à sua aplicação especifica nos cruzamentos, ele não representa um índice de seleção a longo prazo dentro de qualquer uma das 3 raças puras do ProCROSS.
O QUE SIGNIFICA A EXPRESSÃO PCR? SERÃO AS LISTAS DO PCR DAS 3 RAÇA COMPARÁVEIS? A expressão PCR “Ranking” baseia-se numa média de 500 pontos unitários tanto para as PCR de líquidos e de sólidos, com o menor a 400 pontos e o mais elevado ligeiramente mais dos 600 pontos. Todas as três raças têm a sua própria lista PCR exclusiva e, portanto, não podem ser comparadas entre as diferentes raças.
ONDE POSSO ENCONTRAR LISTAS PCR? Depois de cada actualização dos indexes das raças puras, o ProCROSS Rankings (ambos líquidos e sólidos) de todos os touros Montbéliarde, Vikings Vermelhos e Viking Holstein disponíveis será atualizada. Entre em contato com seu distribuidor local para obter informações sobre as listas do PCR locais. Lista global PCR disponível aqui:
http://www.procross.info
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NAS VIKINGREDS NO NTM PARA O PCR • • • •
Peso na produção e úberes foram aumentados - Objetivo de altos níveis de produção. Peso na estrutura foi aumentado - Assegurando um tamanho homogéneo do rebanho. Peso em outras doenças foi aumentado - VikingRed Ponto Forte - altamente correlacionado com a longevidade. Peso em facilidade de parto foi diminuído - VikingRed Ponto Forte- todos os touros VikingRed são execelentes.
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA COOPEX MONTBELIARDE NO ISU PARA O PCR • • • •
Peso na conformação Úbere foi aumentado - Manutenção de altos níveis de produção. Peso na estatura foi aumentado - Favorecimento tamanho médio - Penalizar alto ou pequeno. Peso no temperamento positivo e parto Fácil .Obtendo uma vaca e vitelos de maneio mais fácil. Peso na fertilidade e garupa diminuiu ligeiramente - Pontos Fortes da raça Montbeliarde.
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NAS VIKINGHOLSTEIN NO NTM PARA O PCR • • • •
Peso na produção foi aumentado - Objetivo de altos níveis de produção. Peso nos partos foi diminuído - Ambas as outras raças se destacam nos partos maternais. Peso na saúde casco foi aumentado - Mais correlação entre saúde casco e a longevidade. Peso conformação Úbere foi ligeiramente reduzido -Força da raça, peso usado em outras partes do PCR.
WWW.PROCROSS.INFO
Produção
ter uma recria mais pequena e consequentemente melhor aproveitamento da área das explorações, que no Norte é sempre reduzida. Considera que as expetativas foram cumpridas? Sem dúvida, eu esperava ter menos despesa e maior rendimento, e é isso que eu estou a conseguir. Tenho a noção que tenho uma exploração mais “saudável”. previsíveis na quantidade de leite que vão dar. Que percentagem do efetivo tem vigor híbrido? Desde 2012 que cruzo todos os
Dados reprodutivos Holstein: Dias no leite 1ª IA - 70 dias Dias vazia - 135 dias IPP - 415 dias IA média - 3.1 por vaca grávida Idade ao 1ºparto - 28 meses Dados Procross: Dias no leite 1ª IA - 51 dias Dias vazia - 59 dias IPP - 339 dias IA média - 1.2 por vaca grávida Idade ao 1º parto - 25 meses
animais com Sueca Vermelha ou Montebelliard. Atualmente, em ordenha estão cerca de 35% cruzadas. Qual a média de produção diária por vaca? Está nos 32,5 litros por vaca ordenhada e 26,5 litros por vaca presente (vacas em ordenhas + vacas secas), com Proteína Bruta de 3,2% e Gordura Bruta de 3,8%. Existem diferenças em termos de saúde animal? Chamo menos vezes o veterinário e gasto menos dinheiro em medicamentos. Tenho menos deslocamentos de abomaso, as vacas “limpam” muito melhor depois do parto e não têm problemas de hipocalcemia. A diferença é notória. Como se comportam? Algumas são ariscas, nas primeiras ordenhas tem que
48 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
se ensinar os animais, pois algumas são difíceis. Qual a duração média da lactação? As vacas cruzadas são quase todas de 1ª lactação, pegaram e vão secar-se nos prazos previstos, atualmente temos animais com produções de 30 litros por dia para secar. O pico de lactação não é elevado, ainda não temos vacas de 60 litros de leite por dia, mas a produção é muito constante ao longo de todo o período, não têm mamites e penso que no final vão produzir mais leite ao fim de poucas lactações. Recomendaria tecnicamente este modelo para a produção de leite nesta região? Acho que faz todo o sentido porque estes animais comem menos e são menos problemáticos, podendo
Nota alguma diferença entre os vitelos puros e cruzados? Nota-se bem, são vitelos logo à nascença muito mais “vivos”, mais resistentes, quase sem problemas de diarreias e pneumonias, e com uma reação espetacular ao tratamento. Não me lembro de ter morrido algum vitelo destes na exploração e os tratamentos, quando necessários, são eficazes e baratos. Tem alguma mais valia económica quando vende os vitelos cruzados? São vitelos que se desenvolvem muito mais rapidamente, crescem muito mais que os puros, e por isso são economicamente mais interessantes, não vendo mais caro por kg de carne, mas como têm mais carne que os puros com a mesma idade, vendo por valor superior. Se as suas vacas falassem, o que diriam elas de si? “Temos um bom patrão, que não nos falta com alimento”.
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
10 Dicas...
Acenda a luz às vacas em lactação (e apague Às vacas secas….) Por Teresa Moreira Médica Veterinária – Leicar – mtereza.mor@leicar.pt
É do senso comum que boas instalações melhoram a eficiência, o conforto e a segurança dos animais. Nestes dias complicados para a produção de leite, existem pormenores que nos podem tornar mais eficientes, facto que se traduz por produzir a um menor preço. A luz, artificial ou natural, é essencial a inúmeros processos fisiológicos, entre os quais, a produção de leite e pode jogar a favor do produtor, se manipulada de forma correta.
01 A luz do sol e os raios ultravioletas são benéficos para a saúde dos ruminantes e aumentam a sua produtividade, desde que não estejam acompanhados de temperaturas ambientais elevadas.
02 Os ruminantes preferem locais bem iluminados, por diferentes motivos: • Construção da hierarquia social; • Prevenção de acidentes e traumatismos; • Bem-estar; • Acesso a alimento/água; • Informação constante sobre o ambiente que os rodeia.
03 O fotoperíodo (definido como a duração da exposição à luz num período de 24h) é importante, não apenas por questões de bem-estar animal, mas igualmente porque influencia o crescimento, a maturidade sexual, a expressão de comportamentos típicos de cada espécie e a produção de leite.
Luz
Olho (retina)
Fotorecetores
Glândula Pineal Melatonina
04 O esquema ao lado explica, de forma resumida, como funciona a perceção e a influência da luz nos bovinos. A manipulação do fotoperíodo constitui um estímulo efetivo e não-invasivo da produção de leite e da performance em geral dos bovinos. A gestão do fotoperíodo pode ser facilmente integrada em praticamente todos os tipos de estabulação. Os efeitos da luz sobre os animais são transversais à morfologia, à fisiologia e mesmo ao comportamento.
05
Nas vacas em lactação, períodos de luz superiores a 12h podem significar um aumento da produção de leite até 10%, sem afetar a concentração de sólidos (gordura e proteína).
07
Os fotoperíodos curtos são benéficos para as vacas secas e novilhas pré-parto, uma vez que as tornam mais resistentes a determinados patógenos, por um lado, e por outro permitem que o seu “relógio biológico” volte a zero, maximizando a produção futura.
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Esquema 1 O olho bovino é capaz de distinguir diferenças na intensidade da luz entre 3 a 4 lux ( 1lux – unidade de iluminação. Corresponde à incidência perpendicular de 1 lúmen em uma superfície de 1 metro quadrado.
Prolactina
Figado
Insulina (IGF-1)
IGF1 Prolactina
ÚBERE Efeito galactopoiético Produção de leite
Existem 2 tipos de fotoperíodo, o longo –LDPP (entre 12 a 16h-18h/dia de luz e 8h de escuridão) e o curto-SDPP (8h de luz e 16h a 18h de escuridão). Devem ser utilizados de acordo com o estado fisiológico dos animais (ver tabela).
06 Luz (h)
Obscuridade (h)
Vitelas novilhas
Vacas em lactação
Vacas secas novilhas pré-parto
16h – 180 lux
16h-180lux
8h – 180 lux
8h
8h
16
Sala de ordenha - Média - 180 lux / Máximo - 250 lux
09
Nas vitelas e novilhas, a luz influencia de forma positiva o ganho médio de peso, a eficiência alimentar, o crescimento do parênquima mamário e a manifestação de cio.
Se esta não for a melhor altura para investir num sistema de iluminação que contemple a instalação de novos equipamentos, é útil tentar pelo menos que a iluminação seja uniforme ao longo de todo o estábulo. Por vezes é suficiente substituir pequenas partes do telhado por “telhas” transparentes ou de fibra de vidro. O importante é os animais estarem de alguma forma expostos à luz durante periodos de tempo ao longo das 24 horas.
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Nota
Referências bibliográficas
A autora escreveu este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.
Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas a autora disponibiliza bastando enviar um email.
ruminantes abril . maio . junho 2016 49
entrevista
IBR - Uma vacina inovadora POR RUMINANTES
A HIPRA lançou este ano, em Portugal, uma vacina inovadora que marca uma nova tendência no controlo de IBR.
Com esta nova solução, a HIPRA reforça o seu posicionamento como referência na prevenção da saúde animal, continuando a desenvolver e disponibilizar produtos inovadores e diferenciados no mercado de ruminantes. Deolinda Silva, Médica Veterinária e Diretora Técnica e de Marketing da Unidade de Negócios de Ruminantes da HIPRA Portugal, contextualiza esta nova solução da HIPRA. Qual a importância do controlo de IBR no contexto europeu? As campanhas de erradicação de IBR estão a avançar em toda a Europa, afetando quase 2 terços do censo bovino adulto europeu. Atualmente existem já 6 países livres de IBR (Áustria, Dinamarca, Suíça, Suécia, Finlândia e Noruega), expandindo-se por toda a Europa a implementação de programas de controlo e erradicação da doença. Qual o panorama a nível nacional? De momento, existem 3 programas voluntários implementados por entidades privadas englobando explorações de bovinos leiteiros e de carne. No entanto, a sensibilização para dar um passo em frente no controlo desta doença tem vindo a aumentar no seio da comunidade veterinária e no sector da produção. Qual o impacto deste vírus na produtividade e rentabilidade de uma exploração? É importante relembrar que esta doença é altamente contagiosa e que clinicamente pode originar pneumonias, conjuntivites e abortos, com todos os prejuízos produtivos e económicos associados. No entanto, não podemos ignorar que em todo o mundo a infeção
50 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
subclínica pelo vírus IBR provoca milhões de euros de prejuízo devido a quebras de produção leiteira (podendo ocorrer baixas na produção de leite a nível individual até 14L/dia, representando perdas de cerca de 815€ por lactação), problemas de fertilidade (abortos, aumento do intervalo entre parto e conceção), atrasos de crescimento, custos com tratamentos veterinários, refugos e mortes, etc. De que forma esta inovadora solução da HIPRA marca uma nova tendência no controlo de IBR? Esta nova vacina, além de possuir uma elevada concentração antigénica, é a única a nível mundial a possuir uma dupla deleção genética (gE- e tk-), permitindo a conjugação da eficácia, segurança e estabilidade vacinal, indo de encontro aos requerimentos de um programa de controlo e/ou erradicação de IBR. Associada à sua proposta, a HIPRA oferece também um inovador serviço de diagnóstico e de monitorização da doença. Em que consiste? O serviço de diagnóstico associado à nova vacina marcada de IBR é o Seromilk Marker. Esta ferramenta laboratorial permite a deteção dos níveis de anticorpos gE no leite de tanque, essencial para o diagnóstico, controlo e monitorização regular de IBR nas explorações. Qual a inovação desta nova ferramenta de diagnóstico disponibilizada pela HIPRA? Esta técnica é inovadora porque permite detetar prevalências reais de doença em explorações com níveis muito baixos, a partir de 4%, comparando com os métodos de diagnóstico convencionais
Deolinda Silva Technical and Marketing Manager Ruminants da Hipra
que detetam a partir de 20 a 25% de prevalência. Nota-se que todos os anos a HIPRA tem envidado esforços no desenvolvimento e lançamento de novas vacinas no mercado da produção animal. Porquê? É importante referir que o foco da HIPRA como empresa farmacêutica, na medicina veterinária, é a prevenção. A nossa visão e posicionamento é ser o laboratório de referência mundial na prevenção da saúde animal, desenvolvendo e disponibilizando produtos (vacinas e testes de diagnóstico) inovadores e diferenciadores, indo de encontro às necessidades dos nossos clientes.
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
ruminantes saudáveis
George Stilwell Clínica das Espécies Pecuárias Faculdade de Medicina Veterinária – Universidade de Lisboa stilwell@fmv.ulisboa.pt
Porque razão não se controla facilmente
a Doença Respiratória Bovina? A Doença Respiratória Bovina é capaz de ser a doença mais estudada em bovinos em crescimento e/ou engorda, e, no entanto, continuam a adoecer e a morrer milhões de animais todos os anos. Só nos Estados Unidos da América é responsável direta por perdas superiores a 3 mil milhões de dólares. Os produtores menos atentos poderão sentir-se tentados a dizer que os prejuízos provêm das despesas com tratamentos e das mortes, e que portanto a situação que enfrentam nas suas explorações até não é assim tão má. Mas o que é verdade é que esses fatores compõem apenas a ponta de um enorme icebergue. As grandes perdas resultam do atraso de crescimento, das rejeições de carcaças e da reduzida qualidade da carne, sem falar do inimigo mais escondido de todos – a perda de mercado e de clientes.
FRAGILIDADES É por isso essencial que qualquer pessoa envolvida na produção de bovinos, e especialmente de bovinos jovens, seja para reposição seja para engorda, perceba bem o que é a Doença Respiratória Bovina, como ela surge e como se evita. Como se trata é provavelmente o menos importante.
Comecemos pela razão mais difícil de resolver, e por isso
52 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
aquela que deve estar sempre na nossa mente – os bovinos apresentam inúmeras fragilidades anatómicas e fisiológicas que os tornam especialmente suscetíveis a fazer pneumonias: MAIOR ACESSO – os vitelos apresentam uma frequência respiratória relativamente elevada e portanto uma maior velocidade de circulação ar, o que favorece o transporte de aerossóis (tóxicos ou contaminados) até ao pulmão MENOR LIMPEZA – o grande mecanismo de defesa do trato respiratório inferior (pulmão e brônquios) é o aparelho muco-ciliar, que é responsável por expulsar tudo o que de estranho chega ao pulmão. Nos bovinos funciona 50% mais devagar do que noutras espécies. AMBIENTE MAIS PROPÍCIO – o pulmão dos bovinos apresentam brônquios e bronquíolos estreitos e alvéolos terminais, favorecendo o estabelecimento de becos onde os agentes infeciosos se desenvolvem mais facilmente. MENOS DEFESAS – o exército imunitário a circular no pulmão (macrófagos alveolares) é muito menos numeroso comparando com outras espécies.
MAIOR SUSCEPTIBILIDADE a algumas bactérias extremamente patogénicas e tóxicas (M. haemolytica). MAIORES NECESSIDADES – o pulmão dos bovinos é pequeno relativamente ao peso e portanto mesmo pequenas perdas da área funcional tem efeitos dramáticos sobre o funcionamento (e crescimento) do animal. RECUPERAÇÃO DEFICIENTE – a espessura elevada e a elasticidade reduzida dos septos interalveolares, assim como a elevada compartimentação prejudica a recuperação do parênquima pulmonar atingido. A cronicidade é portanto fácil e frequente. Ou seja, estamos a tentar proteger uma espécie que apresenta já de si uma propensão grande para fazer doença respiratória. Como que temos uma casca de noz a tentar flutuar com dificuldade. Se por cima desta fragilidade agitarmos violentamente a água, não é de estranhar que muitas acabem por se afundar.
ÁGUAS AGITADAS Muitos fatores concorrem para tornar o mar demasiado revolto. Comecemos pelo princípio da vida dos vitelos. A deficiente oferta de colostro ou a oferta de colostro deficiente, conduz
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
a imunodepressão e ao aumento de suscetibilidade a doenças infeciosas até vários meses depois do nascimento. Incluindo a doença respiratória. Isto é especialmente frequente entre os machos nas vacarias de leite. Num ensaio que conduzimos numa engorda perto de Lisboa, comprovámos que 37% dos vitelos comprados com menos de 15 dias não tinham ingerido colostro suficiente. A diferença do número de mortos devido a pneumonia foi enorme quando comparado com os que tinham bebido bom colostro – 16% versus 2%. Na lista dos fatores adjuvantes segue-se o transporte para a exploração de engorda, tantas vezes feito à pressa, sem cuidados e em condições de temperatura e humidade completamente impróprias para animais. A ideia de que os bovinos aguentam tudo e só à força obedecem, vem a refletir-se mais tarde na prevalência da doença respiratória e, claro, no atraso de crescimento. Carregamento, condução e descarregamento cuidadosos são sinónimo de ausência de problemas. Conhecer o comportamento e reações naturais da espécie faz muita diferença. Por exemplo, uma ação tão simples como cobrir com uma camada de palha a plataforma de subida para o camião pode significar um carregamento calmo e pacífico. A prontidão com que os animais sobem é completamente diferente quando comparado com o que acontece quando se usa uma pouco convidativa e escorregadia chapa de metal. Um estudo no Brasil mostrou que depois de ações de formação dos tratadores reduziu-se drasticamente a incidência da doença e aumentouse a qualidade da carne no abate. Mas cuidado: embora o facto de se obrigar os transportadores a fazerem cursos sobre bem-estar animal seja positivo, de nada serve se os humanos não perceberem o impacto que podem ter sobre o rendimento e saúde dos animais, e não só sobre o seu bem-estar. Segue-se a chegada à exploração de engorda. Aqui inúmeros fatores de stress vão acumular-se ao do transporte. O agrupamento, a mudança de ambiente, o encontro com animais mais agressivos, as vozes (gritos!) de pessoas estranhas e a prisão na manga onde são administradas injeções dolorosas, são responsáveis por medo, ansiedade, perda de apetite e imunodepressão. Com a resistência enfraquecida, o caminho está cada vez
mais acessível aos microrganismos que esperam ansiosamente por uma oportunidade para invadir o pulmão. Se há fatores que dificilmente se conseguem eliminar – como por exemplo o transporte – o mesmo já não se pode dizer de outros como a agressividade no maneio, a sobredensidade, o agrupamento de animais com tamanhos muito diferentes, a proximidade de outras espécies como cães ou as mutilações (castrações) sem anestesia. Estes fatores são tão mais importantes quanto mais nervosos e temperamentais forem os vitelos e por isso é que é tão importante conhecer o tipo de animal. E finalmente temos a estadia na exploração. Aqui alguns fatores podem fazer a diferença, como do dia para a noite, no que concerne à incidência e evolução da doença respiratória. No cimo da lista está a ventilação. É ESSENCIAL que quem faz engorda de animais perceba como a falta de ventilação predispõe para problemas respiratórios gravíssimos – muitos gases produzidos pelas camas
conspurcadas com fezes e urina, para além de irritativos, são tóxicos para as células do epitélio muco-ciliar, que acima se descreveram como sendo imprescindíveis para uma boa limpeza e remoção eficaz de tudo o que não deve estar no pulmão – aerossóis, poeiras, vírus, bactérias, etc.… Ou seja, ao eliminar este coletor de sujidade o que se está fazer é favorecer a colonização do pulmão pelas bactérias que acabarão por matar o animal. Fechar portas e janelas, mesmo que seja no dia mais frio do ano, é mais perigoso do que a exposição a algum clima mais agreste. Muitos outros fatores concorrem para o aparecimento da Doença Respiratória, mas é garantido que se os anteriormente enunciados forem devidamente controlados, a incidência e gravidade serão infinitamente menores. Até porque todas as bactérias que acabam por provocar a doença e morte, residem normalmente nas fossas nasais e trato respiratório superior. Ou seja, o maior risco não é deixar as bactérias do exterior chegar ao animal, mas sim deixar que as bactérias residentes no animal atinjam o pulmão.
Fatores predisponentes ligados ao animal e ao ambiente e os impactos mais importantes da Doença Respiratória Bovina.
Fatores pré-entrada
Fatores pós-entrada
Estado nutricional
Stress - Transporte...
Imunidade de origem materna
Ventilação - Gases e poeiras
Portadores de vírus (BVD) Doenças anteriores Temperamento
Agrupamento origens diversas
estado imunitário
Genética - Raça...
Mau maneio Intervenção • sanitárias • mutilações • marcações Carências nutricionais • energia e proteína • fibra • vitaminas e anti-oxidantes • minerais
Doença Respiratória Bovina crescimento saúde tratamento + mortalidade
qualidade carcaça bem-estar e imagem do sector
ruminantes abril . maio . junho 2016 53
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
O IMPACTO SOBRE O SECTOR
OUTRAS FORMAS DE PREVENIR A DOENÇA Muitos produtores ou por ignorância ou por preguiça ou simplesmente porque não acreditam, preferem não aplicar o que acima se defendeu. Preferem culpar os agentes infeciosos e por isso concentrar o combate nesses. É verdade que alguns vírus podem cooperar ou mesmo liderar a abertura do caminho em direção ao pulmão ao destruir as diversas barreiras de defesa, mas raramente causam doença grave na ausência da imunodepressão e dos fatores ambientais. A vacinação parece ser uma boa prática, principalmente quando se prevê que estes últimos fatores não irão ser eliminados, se bem que diversos estudos têm mostrado poucas diferenças na incidência da doença quando comparados com animais não vacinados mantidos em boas condições. Já indefensável é basear a prevenção no uso de antibióticos. Se bem que numa vez ou outra pareça que esta prática foi útil, no final os inconvenientes serão sempre superiores – aumento de resistências das bactérias aos antibióticos, redução da qualidade da carne, desenvolvimento de doenças crónicas e aumento dos custos. Mais do que isso – arriscamos a perder algumas das armas terapêuticas mais importantes.
54 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
IMAGEM 2 Respiração de boca aberta é sinal de doença respiratória grave.
O TRATAMENTO Se bem que este não seja o local para se discutir pormenores sobre o tratamento da Doença Respiratória, há uma série de considerações que podem fazer uma enorme diferença. • O tratamento precoce é IMPRESCINDÍVEL pois, como vimos, os bovinos muito rápida e facilmente desenvolvem lesões crónicas. Isto implica uma vigilância apertada, um perfeito conhecimento dos sinais de doença e do comportamento natural dos bovinos. • Todos os animais doentes devem ser tratados. Um estudo da nossa faculdade numa engorda mostrou que 23% dos vitelos que mostravam lesões de pneumonia ao abate, nunca tinham sido detetados como doentes ou tratados. Feita a análise das pesagens durante o tempo de permanência na exploração, mostrou-se que estes animais tinham menores ganhos de peso. Ou seja, a doença “subclínica” causa prejuízos. • Vitelos tratados repetidas vezes e que revelem ao exame médico uma pneumonia crónica devem ser eutanasiados por motivos humanitários e económicos.
Inicio esta parte como terminei a Introdução – um dos piores e mais encapotados impactos da Doença Respiratória Bovina, é o seu efeito sobre a imagem do sector. Assim como imagens de bonitos e saudáveis vitelos em pastoreio atraem consumidores nos supermercados e talhos, também imagens de vitelos esqueléticos, prostrados, com dificuldade em respirar ou simplesmente a tossir, afastam multidões de potenciais consumidores. Assim, o impacto da doença sobre o bem-estar animal, e, por essa via, sobre as opções de compra do público é talvez a maior causa de prejuízo para a produção animal. Muitos consumidores refugiam-se na ideia da produção orgânica como mais amigas dos animais, mas nem esta consegue afastar da mente da sociedade atual imagens de sofrimento que são típicas de vitelos com pneumonia. Se a essa má publicidade se adicionar recentes divulgações dos efeitos sobre a saúde das carnes vermelhas, temos os fatores necessários para levar à descida drástica do consumo e deslocação para alternativas no menu.
CONCLUSÃO A Doença Respiratória Bovina pode boicotar o futuro de uma exploração e de todo o sector da carne, através do seu impacto económico e sobre o bem-estar animal. O seu controlo tem de deixar de depender dos antibióticos, quer na forma terapêutica quer profiláctica, e tem de se basear em boas práticas nomeadamente através da redução do stress, melhores instalações e tratadores de qualidade.
Nota O autor escreveu este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.
Saúde e bem-estar animal
Ana de Prado Global Technical Manager - Ceva Santé Animal - Libourne, França
Incidência e importância
do vazamento de leite em vacas secas
Introdução O período seco é crucial para a maximização da produtividade na lactação seguinte (Dingwell et al., 2001). Alterações imunológicas, fisiológicas e anatómicas ocorrem na glândula mamária durante esse período, especialmente no início (involução ativa) e na fase imediatamente pré- e pós-parto (colostrogénese) (Oliver & Sordillo, 1989). A importância dessa fase na epidemiologia da mastite no periodo peri-parto é estudada há anos. Foi demonstrado que uma percentagem significativa de novas infeções intramamárias (novas IIM) observadas durante o período seco continuam a ocorrer na lactação seguinte (Bradley & Green, 2000, 2001, 2004). O índice de IIM causadas por bactérias gram-negativas é 3 a 4 vezes maior no período não lactante do que durante a lactação, sendo as taxas mais
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elevadas observadas nas primeiras 2 semanas de involução da glândula mamária e nas 2 semanas pré-parto (Smith et al., 1991). Foi demonstrado que 36% dos casos clínicos de infeções por estreptococos ambientais, no parto, foram inicialmente identificados na primeira metade do período seco. Além disso, 55% das infeções por estreptococos ambientais identificadas no início do período seco persistiram até à lactação seguinte (Todhunter et al., 1995) A involução ativa no início do período seco começa com a interrupção da ordenha na secagem, que acarreta alterações drásticas na composição da secreção. O leite deixa de ser retirado da glândula, mas as vacas continuam a produzi-lo por alguns dias. Consequentemente, há um ingurgitamento acentuado dos espaços da cisterna, ductos e alvéolos da glândula. O volume e a pressão no úbere aumentam devido à acumulação de leite e pode haver vazamento, facilitando a penetração de bactérias no canal dos tetos nos primeiros dias até à involução total (Oliver & Sordillo, 1989). Acredita-se que todas as alterações bioquímicas, o aumento da pressão intramamária e o posterior vazamento de leite, contribuem para a suscetibilidade a novas IIM no início do período seco (Oliver & Sordillo, 1989; Shukken et al., 1993). Neste artigo é apresentada uma revisão da importância e da incidência do vazamento de leite, com dados recentes sobre a prevalência desse problema em explorações no México e nos EUA.
Causas, incidência e importância do vazamento de leite O vazamento caracteriza-se pela perda de leite de um ou mais tetos, na ausência de ordenha. A ocorrência de perdas de leite é identificada quando se observa leite a escorrer do(s) teto(s); a presença de uma gota na sua ponta ou ainda, indiretamente, no piso sob o úbere (Imagem 2). De acordo com dados de algumas publicações, o vazamento pode ocorrer
IMAGEM 2 Perda de leite de um ou mais tetos, na ausência de ordenha.
Saúde e bem-estar animal
se o mecanismo de encerramento do canal dos tetos for danificado. Por exemplo, se a ponta apresentar alguma lesão (JØrstand et al., 1989). Foi também observado que os índices de fluxo do leite são maiores nos quartos com vazamento, do que nos outros (Persson et al., 2003; Rovai et al., 2007). Isto não é uma característica exclusiva de vacas altas produtoras. Num estudo realizado em 15 explorações comerciais na Alemanha, mesmo animais primíparos de baixo rendimento, com índices maiores de picos de fluxo de leite, apresentavam risco de vazamento. Além disso, tetos curtos ou com pontas invertidas e protrusão do canal dos tetos, que podem ter menos tónus muscular no esfíncter, aumentam o risco de vazamento de leite em vacas multíparas (Klaas et al., 2005). O canal dos tetos é a primeira linha de defesa contra patógenos causadores de mastite, sendo o elo de ligação entre a glândula mamária e o ambiente. Qualquer lesão no canal dos tetos pode aumentar o risco de perdas de leite e de novas IIM. Quando uma grande quantidade de leite se acumula no úbere, a pressão intramamária sobe, podendo causar vazamento dos tetos em canais mais curtos (Rovai et al., 2007) (Gráfico 1). A relevância desta situação foi demonstrada, quando foi observado que vacas com esse problema póssecagem apresentavam 4 vezes maior probabilidade de desenvolver mastite clínica e 6,1 maior risco de desenvolver IIM causadas pelos principais patógenos, durante o período seco, do que vacas que não apresentam vazamento (Schukken et al., 1993). A perda de leite dos quartos permite que bactérias penetrem no canal dos tetos e colonizem a glândula mamária (Cousin et al.,1980). A percentagem de vacas com vazamento de leite foi associado a um aumento da taxa de incidência de mastite clínica por E. coli e S. aureus em rebanhos com contagens baixas de células somáticas (CCS) (Schukken et al., 1990, 1991). O vazamento de leite também pode melhorar o ambiente para microrganismos da cama, aumentando, assim, a exposição ambiental. O risco de infeções no úbere associado a perdas de leite aumentou quando as condições de higiene no ambiente em que as vacas estão inseridas, sobretudo na cama, eram precárias. Foi também maior a probabilidade de ocorrência de mastite
Gráfico 1 Rotas de novas infeções intramamárias (IIM)
Secagem (interrupção da ordenha)
Pressão Intramamária Vazamento de leite Canal dos Tetos Danificado O aumento da pressão provoca encurtamento e alargamento do canal dos tetos
Aumento do risco de penetração de patógenos Atraso na formação do tampão de queratina
Fonte: A. Bradley
em novilhas com vazamento de leite (Waage et al., 1997) A quantidade de produção de leite na época da secagem é outro fator de risco a ser considerado na questão da mastite. Assim sendo, por cada 5 kg de aumento na produção de leite na secagem acima de 12,5 kg, a probabilidade de a vaca apresentar IIM no arranque aumenta 77% (Rajala-Shultz et al., 2005). Foi levantada a hipótese de que existe também uma relação entre a produção de leite e o fechar do canal dos tetos. A formação do tampão natural de queratina durante o período seco foi prejudicada em vacas com produção igual ou superior a 21 kg. Após 6 semanas de período seco, 47% dos quartos permaneceram abertos nessas vacas, em comparação a somente 19% dos quartos, nas vacas com produção inferior a 21 kg (Dingwell et al., 2003). Essa informação sugere que vacas altas produtoras podem apresentar atraso na formação do tampão natural de queratina, o que pode induzir a vazamento de leite, que por sua vez aumenta o risco de penetração de agentes patógenos no úbere. Contudo, também pode ser observada perda de leite em vacas de baixa produção. Num estudo, 30% das vacas que foram submetidas à secagem com menos de 5 kg por dia de produção de leite apresentaram vazamento na semana pós-secagem (Schukken et al.,1993). Existem muito poucas publicações onde se podem encontrar dados sobre a incidência real das perdas de leite
no período seco. Em vacas lactantes, Persson et al., (2003) demonstraram que o vazamento é mais comum nos sistemas de ordenha automática do que nos convencionais. Nos Automáticos, 62% das vacas primíparas e 28% das multíparas apresentaram, no mínimo, uma ocorrência de vazamento de leite. A proporção de vacas individuais com, no mínimo, uma incidência de perda de leite foi maior nos Automáticos (39%) do que nos Convencionais (11,2%) (Persson et al., 2003). Uma forma de avaliar a pressão intramamária e o risco de infeções no úbere é observar a percentagem de vacas e de quartos com vazamento de leite.
Incidência de vazamento de leite em explorações de leite Para obter informações sobre a atual incidência das perdas de leite em explorações comerciais, a Ceva realizou estudos no México e nos EUA (dados inéditos) (Tabela 1). Nos meses de julho e setembro de 2014, 1611 vacas foram secas com interrupção abrupta da ordenha. As vacas eram provenientes de nove explorações de duas regiões no México. Todas as vacas foram observadas para verificar a
ruminantes abril . maio . junho 2016 57
Saúde e bem-estar animal
Conclusão
tabela 1 Resumo dos estudos realizados. País
Número de explorações participantes
Número de vacas secas
Vacas com vazamento de leite (%)
México
9
1611
24
EUA
3
312
32
ocorrência de vazamento de leite após a secagem (DS) durante três visitas consecutivas a cada uma das explorações: DS+1620h; DS+24-28h; DS+42-46h. Observou-se que 24% de todas as vacas incluídas no estudo apresentaram vazamento de leite em pelo menos um dos períodos de observação, e que as menores e maiores variações entre as explorações foram de 17% e 47%, respectivamente. A maioria das ocorrências de vazamento foi identificada na segunda visita. Nos EUA, 3 explorações com um total de 312 animais participaram no estudo conduzido entre setembro e dezembro de 2014. Os intervalos de observação após
a secagem (DS) foram: DS+4h; DS+8h, DS+12h, DS+24h, DS+36h, DS+48h. A percentagem média de vacas com vazamento de leite durante algum dos intervalos de observação foi 32% e a variação entre as explorações foi de 21 % a 45%. A maior perda de leite foi observada 36 horas pós-secagem. Estes resultados mostraram que atualmente a percentagem de vazamento de leite nas explorações é muito elevado e, em muitos casos, subestimado.
Referências bibliográficas Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial mas podem ser obtidas através do email - cevaportugal@ceva.com
8º Dia Aberto Limousine O dia aberto Limousine reúne anualmente os criadores da raça numa visita de campo a explorações dedicadas para partilha de experiências, englobando também algumas sessões técnicas entre a Associação de Criadores Limousine (ACL) e os seus associados.
De 11 a 13 de março, realizouse o Dia Aberto Limousine 2016, que pela primeira vez na história da ACL decorreu no arquipélago dos Açores, nas Ilhas do Faial e da Terceira, contando com uma comitiva de cerca de 50 Continentais e 35 ilhéus. A enorme facilidade de
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Não há diretrizes bem definidas para o maneio de vacas de leite na época da secagem. Nos últimos anos tem crescido a perceção da importância do maneio no final do período seco, devido ao grande desafio imunológico e metabólico que este constitui para as vacas e, consequentemente, para o úbere. Porém, é necessário realizar mais pesquisas para esclarecer o que acontece no início da secagem, quando começa a involução do úbere. É vital saber como fazer o maneio na época da secagem e, portanto, minimizar a ocorrência de novas IIM, o desconforto das vacas e, simultaneamente, simplificar este processo. A observação de perdas de leite pós-secagem pode dar-nos uma ideia da pressão intramamária e do risco de novas IIM no início do período seco. Embora sejam necessárias mais pesquisas, é possível concluir que pouco se sabe sobre a percentagem de vacas com vazamento de leite e o risco daí resultante de penetração de bactérias no úbere. A diminuição do nível de produção leiteira na secagem poderia aumentar a resistência do úbere no início do período seco, ao diminuir a pressão intramamária, a percentagem de vacas com vazamento de leite e, portanto, a suscetibilidade a IIM (Dingwell et al., 2003).
adaptação da raça Limousine e a sua elevada produtividade nos mais diversos ambientes de Portugal tem sido o mote para a realização dos dias abertos Limousine um pouco por todo o País, e este ano nos Açores, onde esta raça apresenta um importante número de criadores de elevada qualidade, promovendo-se desta forma um fundamental intercâmbio entre os criadores Limousine do Continente e das Ilhas. O programa abrangeu a visita a explorações Limousine na ilha do Faial e na ilha Terceira, num total de doze, para além da Quinta Açores, um inovador e dinâmico projeto liderado por um criador desta raça que congrega a transformação de carne, lacticínios, e derivados como iogurtes e gelados. A Queijaria Vaquinha,
propriedade de um familiar dum criador da raça fez também parte do roteiro. A Direção Regional de Agricultura dos Açores acompanhou os três dias do evento, tendo o seu diretor referido a importância deste tipo de ações que revelam o dinamismo e a importância da raça Limousine em Portugal. A sessão técnica Limousine realizou-se no dia 12 de março, tendo sido apresentados os relatórios de exploração que analisam detalhadamente as performances dos reprodutores da raça, tendo sido unânime que as adequadas condições do arquipélago para a pecuária devem ser complementadas com a escolha de uma raça de elevada produção como a Limousine, quer em linha pura quer em cruzamento.
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Comedouros de bovinos para palha e feno Geralmente os animais nas explorações pecuárias são alimentados com palha e feno, sendo este procedimento realizado de diversas formas e com diferentes tipos de comedouros.
Alimento no chão A versão mais simplista, mas não necessariamente a pior, é o espalhamento da palha em cordão ao longo do terreno. Esta técnica apresenta duas vantagens principais. Por um lado evita que a zona de alimentação seja demasiadamente restrita providenciando uma melhor oportunidade aos animais que tenham dificuldade, por ocuparem uma posição inferior na hierarquia da vacada, de se alimentarem. Por outro, pode também reduzir o desperdício em redor dos comedouros, caso o terreno no qual é colocado o alimento esteja seco e a forragem seca seja fornecida diariamente. Para que estas vantagens sejam observadas importa garantir que o alimento é fornecido sempre em locais diferentes, idealmente zonas relativamente limpas de excrementos e na quantidade diária correta, para que não sobre alimento de um dia para o outro. Esta técnica tem uma vantagem suplementar relativamente à distribuição da matéria orgânica pela exploração, uma vez que se os locais de alimentação
forem percorrendo a exploração, reduzem-se as acumulações excessivas de excrementos junto aos comedouros que podem ser prejudiciais para a vegetação e para o solo. O espalhamento pelo terreno pode ser realizado de duas maneiras. A distribuição em pastas, realizada manualmente, e a distribuição com um unifeed, criando um cordão mais contínuo e com menor necessidade de recursos humanos. A distribuição com unifeed é a que traz mais vantagens para o criador, uma vez que o aproveitamento do alimento é maximizado, evitando também os conflitos em redor das pastas de alimento.
Alimento em comedouros Em termos de comedouros existem dois grandes grupos: comedouros em que o alimento é depositado numa zona em que os animais podem introduzir a cabeça, e aqueles em que os animais apenas conseguem puxar pedaços de alimento através de um ripado ou grelha. Os primeiros, em que os animais podem meter
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IMAGEM 1 Comedouro linear Ourimira.
a cabeça, possibilitam a retirada de pedaços de maior dimensão, favorecendo o desperdício caso se tratem de alimentos não cortados. Existem inúmeras tipologias de comedouros deste tipo. Alguns são lineares abertos, sem separação entre os animais, podendo ser colocado um fio de choque para evitar que os animais entrem demasiado dentro dos comedouros ou possam passar para o outro lado. Uma das opções mais robustas são os comedouros em betão pré-esforçado, do tipo Ourimira (Imagem 1), de perfil trapezoidal,
já que têm um custo reduzido e uma elevada durabilidade. São francamente mais adequados do que opções menos profissionais, como conjuntos de meias manilhas, que acabam por implicar um investimento e não são uma solução duradoura. Existem outros comedouros abertos com separação entre animais, geralmente metálicos, com menor dimensão, podendo ser retangulares ou redondos, que pretendem que os animais não derivem pelo comedouro e assim ocupem um espaço menos variável. Apresentam igualmente
Produto
alguns problemas em termos de desperdício, já que os animais podem retirar grandes pedaços dos fardos, que geralmente caem numa zona em que são imediatamente pisados e não se aproveitam. É favorável neste tipo de comedouros, que geralmente não têm fundo, colocar umas paletes, de modo a evitar que a humidade do solo degrade o fundo do fardo. É também importante que o fardo não fique excessivamente saliente no comedouro para que a saída de alimento passe pelas aberturas e assim se reduza a quantidade que cai para o chão. Os diferentes sistemas de limitação do movimento da cabeça dos animais podem resultar em acidentes, geralmente graves, caso o animal seja derrubado com a cabeça num dos encaixes
(Imagem 2). Existem outros comedouros em que os animais apenas conseguem puxar pedaços de alimento através de um ripado ou grelha onde o desperdício tende a ser reduzido, caso o comedouro se adeque à dimensão dos fardos e das vacas. São comedouros bastante práticos, onde a forragem se mantém longe do chão, evitando que se degrade com a humidade. Existem inclusivamente comedouros deste tipo com um pequeno telheiro, que protege a forragem caso chova. Estes têm habitualmente um tabuleiro por baixo da zona ripada, que permite um melhor aproveitamento do alimento, em especial se for feno cortado ou com
grão, evitando que caia diretamente para o chão. Importa no entanto, ter algumas barras verticais que evitem que os animais mais jovens possam ser empurrados para dentro dessa zona, onde podem cair e morrer. Em relação à sua dimensão os comedouros devem ser amplos
IMAGEM 2 Acidente com novilho.
ruminantes abril . maio . junho 2016 61
PRODUTO
IMAGEM 3 Exemplo de um comedouro ripado desadequado para a vacada em questão.
(maiores que os fardos) para que o fardo se possa expandir depois de se retirarem os atilhos. Os comedouros redondos em ripado são pouco funcionais já que o espaço para colocação dos fardos é limitado e estes ficam frequentemente presos na parte superior. Acresce ainda que as barras inferiores dos ripados são em V o que pode resultar na prisão da cabeça de animais mais jovens, de onde podem resultar danos e até a morte, uma vez que o animal tende a puxar a cabeça para trás o que não permite a sua saída, podendo cair por exaustão e asfixiar. Os comedouros mais adequados devem ser retangulares, pelo menos 50% maiores que o lado maior dos fardos da exploração (contar com o maior fardo possível, em caso de compra) e ter uma altura superior à máxima altura da cabeça das vacas, para que estas não possam comer por cima do ripado (Imagem 3). Considera-se que o principal inconveniente deste tipo de comedouro é a sua reduzida dimensão, dificultando a chegada de todos os animais de uma só vez, já que em cada comedouro deste tipo dificilmente se alimentam mais de dez vacas de uma só vez (menos ainda em vacas com cornos), implicando que
alguns animais só se possam alimentar quando as primeiras saírem, situação que pode ser potenciadora de conflitos na vacada, da qual podem resultar prejuízos. Para evitar esta situação deverão existir comedouros suficientes para o número de animais presentes na vacada, os quais devem ser distribuídos pela área onde a vacada esteja, mas com alguma distância entre eles, facilitando a alimentação de animais menos dominantes. A escolha do tipo de comedouro ripado deverá ter em consideração a dimensão e forma dos fardos consumidos na exploração, já que alguns comedouros são demasiado apertados para os fardos maiores, levando a que fiquem presos acima da zona que os animais conseguem alcançar, sendo fundamental escolher um comedouro com uma zona para deposição do fardo compatível com os fardos maiores, quer retangulares quer redondos, sendo neste âmbito mais polivalente um comedouro com o ripado em U do que um comedouro com o ripado em V (Imagem 4). Todas as opções de comedouros deverão ter o
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IMAGEM 4 Comedouro ripado Montero.
mínimo de vértices possíveis, idealmente arredondados e protegidos, sendo mais favorável uma forma oval do que retangular. Um comedouro com menos vértices, evita danos nos animais, que geralmente exercem bastante tensão e carga sobre o comedouro. A estabilidade de um comedouro é também fundamental, sendo favorável a escolha de comedouros com baixo centro de gravidade depois de carregados com o feno, uma vez que caso o centro de gravidade seja muito alto e se o fardo ficar demasiado alto, pode levar a que os animais exerçam força sobre o comedouro de forma desequilibrada, levando a que
este tombe e possa cair sobre os animais.
Em suma A alimentação dos animais deve ser realizada para que sejam suprimidas as necessidades nutricionais de forma adequada mas que em simultâneo sejam reduzidos os desperdícios de alimento, os conflitos dentro da vacada e os acidentes com animais. Em simultâneo, deve ser maximizada a distribuição de estrume na exploração, a qual deve ser realizada de forma ativa retirando periodicamente o estrume acumulado em redor dos comedouros e realizando a sua incorporação no solo, idealmente após compostagem.
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SALAS DE ORDENHA ROBOTIZAÇÃO É A TENDÊNCIA por ruminantes
“Dentro de dez anos, um elevado número de salas convencionais serão substituídas por sistemas robotizados.” Assim pensa Daniel Baltazar Dias, da GEA Farm Technologies Iberica que, em entrevista à Ruminantes, apresentou a sua perspetiva sobre as tendências do mercado. Daniel Baltazar Dias formou-se na Escola Superior Agrária de Coimbra e desde há 8 anos integra os quadros da GEA Farm Technologies Ibérica onde começou por desempenhar as funções de delegado comercial para Portugal. Há cerca de 3 anos assumiu o cargo de Sales Manager Milking & Cooling para toda a Península Ibérica estando responsável pela introdução de novos produtos, como o robot multicabine Mlone, o sistema de post-dip automático Apollo ou, mais recentemente, o robot Monobox que irá em breve ser introduzido em Portugal.
Na Península Ibérica é onde os robots ordenham mais animais, mais vezes e com maior quantidade de leite ordenhado por dia. Como carateriza o mercado português em termos de salas de ordenha e inovação tecnológica? Em Portugal, temos duas realidades diferentes.
No Norte prevalecem as vacarias de pequena e média dimensão com efetivos de 40 a 150 animais em ordenha onde a mão-de-obra utilizada é maioritariamente familiar. No Sul estão as vacarias maiores que utilizam mão-deobra assalariada. Desta forma, no Norte são procuradas soluções que permitam uma maior rapidez no processo de ordenha e que funcionem com um número reduzido de trabalhadores (preferencialmente familiares). Os clientes pretendem salas convencionais com
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muita tecnologia ou robots (para facilitar a gestão do rebanho) e, por outro lado, que permitam ordenhar todo o rebanho num máximo de aproximadamente 2 horas por ordenha. No Sul, os clientes têm como objetivo otimizar ao máximo as potencialidades da máquina de ordenha (ordenhar o máximo de animais na máquina ao longo do dia) assim como otimizar a quantidade mão-de-obra utilizada em toda a exploração leiteira utilizando também como apoio a tecnologia
existente nos equipamentos. Em termos de tecnologia, temos em Portugal o mesmo nível que se utiliza no norte da Europa ou nos Estados Unidos. Salas com bons sistemas de informatização, medições electrónicas e de identificação e monitorização do comportamento dos animais. Para ter uma ideia, na Península Ibérica é onde os robots ordenham mais animais, mais vezes e com maior quantidade de leite ordenhado por dia. No caso das salas de ordenha de grandes dimensões, a GEA tem o sistema de ordenha e frio da maior exploração da Europa, em Espanha. Qual a tendência do mercado em termos de tecnologia? Está claro que a tendência vai no sentido de as explorações de pequena/média dimensão optarem pela automatização do processo de ordenha (robot) procurando maior flexibilidade dos horários de trabalho e também combater a escassez de mão de obra especializada para a ordenha. Por outro lado, as explorações de maior dimensão procuram máquinas com elevada cadência de ordenha para tentarem ter o máximo de vacas ordenhadas por posto de máquina de ordenha. Ou seja, pretendem retirar a maior
Monobox – Unidade de ordenha robotizada GEA A nossa formula funciona! O novo conceito de ordenha robotizada de uma única cabine que incorpora os mais avançados sistemas de ordenha automática ideal para as explorações leiteiras.. O único sistema robotizado com Post-Dip automático dentro da tetina GEA Farm Technologies Ibérica S.L. Avda. Sant Julià 147, 08403 Granollers, España Telefono: +34 938 617 120, e-mail: agricola@gea.com / www.gea.com
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rentabilidade do investimento feito na instalação utilizando uma quantidade de mão de obra bastante regrada. Há que ter em conta que a robotização também está a ser instalada nas rotativas, em que cada posto de ordenha tem um braço robotizado fazendo com que se consiga um número elevado de ordenhas por hora com apenas um operador a vigiar o sistema. Penso que, dentro de dez anos, um elevado número de salas convencionais serão substituídas por sistemas robotizados, tanto por robots monoboxes como multiboxes assim como com salas grupais robotizadas (rotativas robotizadas), em que o homem apenas terá o papel de vigiar o processo de ordenha. Por exemplo, no leste da Alemanha têm investido em rotativas robotizadas em que para ordenhar 1000 vacas três vezes por dia, utilizam somente 3 ordenhadores (1 por turno), ou seja, a máquina trabalha só
com uma pessoa. No ano passado, no norte da Europa, mais de metade dos novos sistemas de ordenha vendidos foram sistemas de robots em boxes. Como compara o mercado português com o espanhol? São parecidos, o nosso Norte é semelhante a toda a zona norte de Espanha e o Sul é equivalente à zona de Levante/ Catalunha. Quais são as principais preocupações dos produtores quando pensam em investir em salas de ordenha? Em que indicadores se baseiam para tomar a decisão? Normalmente as pessoas procuram eficiência e utilizam indicadores como o número de animais ordenhados por dia ou hora; a quantidade de leite ordenhado por dia ou hora, ou a quantidade de trabalhadores na exploração por número de vacas; e aí procuram os
melhores resultados. No caso dos robots, o objetivo de quase todos é controlar e gerir melhor os seus animais com o menor uso de mão-de-obra externa e ao mesmo tempo ter a possibilidade de realizar uma terceira ordenha por dia. Os consumos energéticos e de manutenção nas salas de ordenha convencionais até à data não têm sido uma preocupação de maior, mas nos robots são efetivamente indicadores utilizados na decisão. O custo operacional das máquinas (consumo de água fria e quente, de energia, de detergentes, desinfetantes, dips, etc.…) é já bastante falado no norte da Europa e pensamos que será algo a ter em conta no momento de comprar uma nova máquina de ordenha ou tanque de refrigeração. Que novidades vão aparecer em termos de limpeza e tratamento de dejetos?
A pressão existente nas vacarias para armazenar/ tratar os resíduos é cada vez maior. A utilização de sistemas eficientes de separação sólido/líquido e centrifugação que permitam a reutilização das águas dos sistemas de limpeza dos parques de espera das salas de ordenha ou dos corredores dos pavilhões. Por outro lado, nos sistemas de limpeza convencionais por rodos, começa a haver a preocupação de utilizar sistemas elétricos energeticamente mais eficientes. E novidades para os pequenos ruminantes? As rotativas para cabras não são uma novidade, mas são cada vez mais procuradas em Portugal e Espanha. Existem algumas em Portugal e também em Espanha onde os resultados são muito satisfatórios.
Kubota, Novas versões M7001 A Kubota apresentou as novas versões Premium (SemiPowershift) y Premium KVT (transmissão contínua) do Kubota M7001. O novo M7001 Premium permite um controlo mais preciso na transmissão Powershift robotizada (24+24 ou 40+40; 4PS) e inclui novas possibilidades de controlo como a limitação do limite de viragem, o gestor de cabeceiras ou o controlo do elevador por patinagem. O novo sistema hidráulico Centro Fechado Load Sensing de 110 l/min e os seus distribuidores electro-hidráulicos permitem simplificar todas as operações hidráulicas, que estão perfeitamente incluídas no gestor de cabeceiras. O novo M7001 Premium KVT inclui todas as vantagens do M7001 Premium com transmissão CVT.
K-Monitor – Opcional nos modelos modelos Premium y Premium KVT, este terminal táctil de 12” permite uma completa integração dos parâmetros de controlo do trator (controlo de esforço automático, cambio automático ou controlo de cabeceiras, entre outros), das alfaias via ISOBUS, geocontrolo e condução automática.
66 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Transportar fardos sem reboque Murray Machinery, fabricante sediado em Aberdeen, no Reino Unido, propõe um grande leque de acessórios, tanto para carregadores frontais como para telescópicos, muitos deles destinados ao manuseamento de fardos. O acessório que aqui apresentamos, que na verdade são dois acessórios, um para a traseira e outro para a dianteira do trator, dá pelo nome de Octa-Quad e permite transportar até doze fardos redondos num trator de grande potência. Oito são transportados no elevador hidráulico traseiro e quatro no elevador dianteiro. Tratando-se de fardos quadrados, os mesmos acessórios permitem transportar um total de seis, dois na frente e quatro atrás. Na versão mais completa, as secções laterais são dobráveis hidraulicamente, o que possibilita o transporte por estrada sem exceder a largura permitida.
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COLHEITA Venha descobrir os benefícios duma forragem de qualidade com a KUHN.
Sistema de pesagem dinâmica em reboques A firma belga, Joskin, lançou um sistema de pesagem dinâmica que pode equipar os espalhadores de estrume, as cisternas para distribuição de chorume, ou ainda os reboques, inclusive nos destinados à silagem. O requisito necessário é que o reboque possua suspensão hidráulica da lança e um trem de rodagem hidráulico, onde são instalados sensores de pressão. Estes enviam sinais via rádio, ou através de um cabo, de modo a que o peso seja mostrado num painel, na cabine do trator. Há a possibilidade de instalar um painel adicional numa segunda máquina que esteja a trabalhar em conjunto com o reboque, como uma ensiladora ou um carregador telescópico, para que também o operador desta máquina saiba qual é o nível de carga. Segundo a Joskin, quando comparado com um sistema de básculas, é mais barato e não rouba espaço ao nível do compartimento de carga. É compatível com ISOBUS e tem uma margem de erro máxima de 2%.
Macaco de oficina para tratores As oficinas e os agricultores que necessitam de mudar com frequência rodas de tratores sabem que nem sempre é fácil encontrar pontos próprios para colocar um macaco, como vemos nos automóveis. Normalmente levanta-se uma roda de cada vez e, como os macacos são baixos, é preciso pôr calços de madeira, o que nem sempre é seguro. O Trakjak foi pensado para levantar a parte traseira de um trator. O seu funcionamento é muito simples. Basta engatar os braços do hidráulico nos pontos de afixação, e depois subir o hidráulico, o que faz com que o trator seja levantado do chão. Do equipamento standard faz parte uma peça para ligar o dispositivo à barra de puxo, para que em caso de necessidade se possa retirar os braços do hidráulico, duas esperas de apoio, e duas rodas de borracha que permitem deslocar o trator num chão direito, mesmo sem as rodas traseiras. Pesa 350 kg, o tamanho é universal, e suporta 12 toneladas. Na Irlanda, país onde é fabricado, custa 2400 Eur.
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ruminantes abril . maio . junho 2016 67
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Melofeed® Drink Uma nova solução com propriedades antioxidantes A Lallemand Animal Nutrition lançou uma nova bebida para vacas chamada Melofeed® Drink. Trata-se de uma inovadora solução com propriedades antioxidantes baseada num concentrado de sumo e polpa de melão naturalmente ricos em enzimas antioxidantes primários, superóxido dismutase (SOD) e catalase. A Melofeed® Drink é a forma dispersível em água desta solução antioxidante para utização na água de beber de todas as espécies animais. Desenvolvida pela Lallemand e pela Bionov e testada em explorações com aves, suínos e coelhos, a Melofeed® Drink é estável em água durante 24 horas e assegura uma concentraçãoo homogéna de SOD. Esta nova solução facilita uma aplicação flexível da fonte antioxidante, permitindo uma rápida intervenção em situações de fortes estímulos oxidativos como o stress por calor, vacinação, doenças e outros. O Melofeed® Drink pode ser incorporado diretamente nos bebedouros nas explorações na dosagem exata e na altura certa de intervenção para todas as espécies animais. Dosagem: Vacas de leite: 50mg/vaca/dia; Bezerros: 10-50 mg/bezerro/dia.
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68 abril . maio . junho 2016 Ruminantes
Eco Paper EP1000 - Simples e eficaz na higiene dos úberes Eco Paper EP1000 é a mais recente inovação desenvolvida pela DeLaval para a higiene dos úberes. Consiste em papel 100% reciclado comercializado sob a forma de rolos, para a limpeza dos úberes antes da ordenha. Esta solução, desenvolvida em conjunto pela TetraPak e a DeLaval, ajuda a evitar a transferência de bactérias do úbere ou dos tetos durante a ordenha. O papel tem como principais caraterísticas a suavidade (para otratamento suave dos úberes e tetos), absorvência e resistência. O Eco Paper EP1000 possui a Certificação Ecolabel que garante o cumprimento dos rigorosos critérios ambientais a nível Europeu.
AWINGoat - Uma app que avalia o bem-estar de cabras leiteiras A AWINGoat é a nova app para smartphones que avalia o bem-estar das cabras leiteiras na exploração. Disponível por agora apenas para o sistema Android, esta aplicação foi desenvolvida por investigadores da Faculdade de Medicina Veterinaria da Università degli Studi di Milano e da Universidade de Lisboa, no final do projeto Europeu AWIN. A app guia o utilizador passo a passo pelo protocolo de avaliação de bem-estar animal** criado durante o projeto, permitindo registar os dados à medida que se faz a avaliação. O número de animais com coxeiras graves e o número de animais com mau pelo são exemplos dos indicadores utilizados na avaliação que também inclui um método inovador de bem-estar animal que avalia a qualidade do estado emocional dos animais (QBA). No final, o utilizador obtem um gráfico de resultados que pode comparar com os das explorações avaliadas durante o projeto AWIN, tendo a possibilidade de enviar os dados recolhidos para o seu email.
Para mais informações A AWINGoat está disponível na Google Play Store. * Animal Welfare Indicators – Indicadores de Bem-estar animal ** Protocolo de avaliação de bem-estar animal disponível em: http://dx.doi.org/10.13130/AWIN_goats_2015
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Telemóvel 933 020 191 www.remolquescanero.com jose.remolquescanero@gmail.com The livestock versions include aluminium ramp gates, ventilation louvres in the front of the canopy and fixing points for the optional cross division.
Other standard features of the P6e and P7e include: • Spare wheel and carrier TA510 12’ (6’ headroom) with optional side • 50mm ball coupling gate extensions and large cross division • Front prop stand • Rope hooks • Impact resistant plastic mudguards • Aluminium / steel loading ramps
70 abril . maio . junho 2016
The optional welded mesh side panels are invaluable when carrying large bulky objects such as wool, branches and firewood. They provide a payload of 1010kg for the 6’ long version (4’ headroom) and 960kg for the 8’ long version (4’ Ruminantes headroom). The P7e is slightly longer with a floor space of 1.21m x 2.21m and is ideal for transporting larger quad bikes around the farm.
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4’ headroom models also include the following standard features:
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Available onassistor all 6’ and 7’ models the • Rear ramp extension gates can be used to aid loading/unloading.
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in either open or closed
models, the centre partition kit converts your livestock trailer to having two side-
expectations ofby-side ourstalls. customers. We know
enance.
and upper decks.
CENTRE PARTITION
2.95 2.95 2.95 2.95
B
C
D
E
F
G
1.65 1.72 1.63 1.63
0.40 0.41 0.40 0.41
1.58 1.59 1.58 1.59
1.98 1.98 1.98 1.98
1.21 1.21 1.21 1.21
0.31 0.31 0.31 0.31
DROPSIDES AND LOADING SKIDS
MUD FLAPS
COMBINATION RAMP/DOORS
Available on DP models only, this option allows the fitting of dropsides and/or skids when the trailer is used as a flatbed. This option must be requested at the time of ordering.
Ifor Williams Trailers branded mud flaps. Can be fitted to DP models.
Now available on TA5/TA510 on standard 6’/7’ headroom models. The factory fitted ramp 3.18 1.63 2.21 1.21 operates normally butP7e can also be opened as doors to allow0.40 fork-truck1.58 access. This is ideal for loading pallets etc. *Not available with deck system.
P7e P7e
3.18 1.72 0.41 1.59 2.20 1.21 0.31 0.31 3.18 1.63 0.41 1.59 2.21 1.21 0.31
This option must be stated at the time of order as they cannot be offered as a modification. *Always ensure that the load is distributed evenly and centred over the axles.
See page 10 for unladen weights and page 14 for maximum gross weig and tyre options
P7e with ramp, optional rear prop stands and 20.5 x 8-10 tyres (750kg)